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MARIA FERNANDA TONCHIS FERNANDES

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Questão 1:
A principal diferença entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral está no momento do compromisso entre as partes, i.e., antes ou depois do conflito. De acordo com o artigo 4º da Lei 9.307/96, a cláusula compromissória “é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato”. Deste modo, verifica-se que a cláusula compromissória é aquele acordo feito entre as partes antes de o conflito ocorrer. Como explica Eduardo Silva da Silva, apud Joel Dias Figueira Jr, na obra Arbitragem (2019, p.175),
De qualquer forma, “a cláusula compromissória é, desde sua gênese, um pacto ético. As partes, ao firmar a cláusula compromissória, fazem-no em um regime de confiança recíproca de que, quando da superveniência de algum fato controverso, ambas se encaminharão ao processo arbitral. Esse liame de confiança permeia o próprio processo de arbitragem, estabelecendo e ditando as regras de condutas das partes entre si, destas com os árbitros e de todos com a instituição arbitral e vice-versa.
“Por fim, como indica, aliás, a praxe, as partes tendem espontaneamente a executar a decisão arbitral, já que aceitaram e escolheram submeter-se a ela. Um fio e um espírito de confiança, portanto, sustentam o conteúdo da arbitragem e dinamizam seus efeitos. Confiança que está no núcleo da boa-fé objetiva. 
	
Por sua vez, o compromisso arbitral é uma decisão de se submeter à arbitragem após um conflito. De acordo com o artigo 9º da mesma lei, “o compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial”. 
Explica Figueira Jr (p.185) que se trata de um negócio jurídico no qual as partes renunciam à jurisdição do Estado. Mazzuoli (2023, p.177), na obra Curso de Direito Internacional Público, ainda explica que a terminologia é normalmente empregada para se referir à decisão, majoritariamente bilateral, de se submeter à arbitragem para a resolução de um conflito existente. Por suas próprias palavras:
Compromisso. Terminologia normalmente empregada na fixação de um acordo (quase sempre bilateral) pelo qual dois ou mais Estados comprometem-se a recorrer à arbitragem para resolver os litígios existentes entre eles, ou quaisquer outras lides que venham aparecer no futuro. Daí a designação conhecida por compromisso arbitral, normalmente quando já existe tratado de arbitragem anterior prevendo essa cláusula geral de resolução de conflitos.
Questão 2: 
De acordo com Vezzoni (2016, p.09), em Direito Processual Civil, como jurisdição “temos a função do Estado de prestar uma tutela jurisdicional adequada. Tutelar significa proteger, e só há proteção quando o Estado dá à parte tudo aquilo que merece e busca, inclusive no tempo e modo necessários”.
Em outras palavras, significa o dever e o poder do Estado de agir. O juiz é, por sua vez, o porta voz do Estado, solucionando os conflitos por meio de uma sentença que profere ao ser provocado pelas partes. Ela possui, além disso, princípios e espécies. 
Seus princípios são a investidura (o poder de alguém agir em nome do Estado), aderência ao território (há soberania nacional), indelebilidade (não pode delegar funções – elas já são pré-estabelecidas), inafastabilidade (o judiciário não pode se recusar a resolver um litígio), juiz natural (não pode haver tribunal de exceção) e a improrrogabilidade (os limites poder jurisdicional está na Constituição Federal).
A jurisdição também é dividida em espécies, como civil (questões patrimoniais) ou penal (questões que lidam com a liberdade do sujeito), especial (que tem a União como parte) ou comum (situações mais comuns), superior (recursos e revisões de decisões) ou inferior (o processo desde o início), contenciosa (quando já existe o litígio) ou voluntária (que é administrativa ou burocrática do Estado), entre e outras.
A competência, por sua vez, é a organização deste poder estatal, pois o delimita. Estas competências estão descritas tanto na Constituição Federal, como nos Códigos de Processo Civil ou Penal e nas Leis Estaduais de Organização Judiciária. 
Como exemplo de competência, a Constituição Federal determina que o Supremo Tribunal Federal é competente para 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
Portanto, a jurisdição de julgar os Governadores, por exemplo, é de todo o Brasil. O Estado tem este poder, mas deve ser exercido, exclusivamente, pelo Supremo Tribunal Federal, pois é algo que somente ele, dentro da jurisdição, tem legitimidade para fazer.
Questão 3: Apresente um texto indicando as diferenças entre a jurisdição exclusiva e a jurisdição concorrente da justiça brasileira.
O termo concorrente diz respeito à possibilidade de a autoridade brasileira ter o poder, ou seja, a jurisdição para resolver conflitos. Contudo, estes tipos de conflitos poderão também ser resolvidos por autoridades de outros países. 
Esta competência está nos artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil. Segundo Marcelo Ribeiro (2023, p.249), na obra Processo Civil, a competência pode ser relativizada quando há interesses de particulares, desde que a parte opte por outra jurisdição. 
Considerando que a competência relativa protege interesses eminentemente privados, justifica-se a possibilidade de alteração desse regime jurídico, permitindo então que um determinado órgão do Judiciário passe a conhecer de demandas que em princípio não lhe foram imputadas pelo legislador. Quatro são as causas de modificação dessa competência relativa: conexão, continência, vontade dos particulares e a inércia das partes. (RIBEIRO, p.248)
São eles:
1) Situações em que o réu é domiciliado no Brasil;
2) A obrigação deve ser cumprida no Brasil;
3) O ato for praticado no Brasil;
4) Ações de alimentos, com credor no Brasil ou com vínculo com o Brasil;
5) Relações de consumo; ou
6) As partes se submeteram à jurisdição brasileira.
Em contrapartida, a competência chamada de exclusiva significa que o Brasil exerce jurisdição absoluta sobre o assunto, não podendo, em hipótese alguma, ser discutida em outro local. São as descritas no artigo 23 do Código de Processo Civil e são, na lição de Ribeiro (p.249), aquelas que são de interesse público.
O regime jurídico da competência absoluta, como se disse, atende a interesses públicos e não permite que manifestações individuais alterem as disposições normativas estabelecidas pelo legislador. Por essa razão, admite-se que o magistrado as conheça ex officio.
	
São estes interesses:
1) Relativos a imóveis no Brasil;
2) Sucessão hereditária, confirmação de testamento, ainda que o autor seja estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil;
3) O divórcio, a separação judicial, a dissolução da união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou domiciliado fora do Brasil.

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