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1 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I UFPR Epistemologia I AULA 00 Prof. Fernando Andrade CURSO INTENSIVO 2023 O que é Filosofia; Razão; Mito; Nascimento da Filosofia; Pré- socráticos; Sócrates; Platão; Aristóteles; Razão e fé; Renascimento www.estrategiavestibulares.com.br 2 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Sumário APRESENTAÇÃO 3 Filosofia no Vestibular 4 Filosofia na UFPR 4 Metodologia 6 Quem Sou Eu? 7 PLANO DE AULAS 8 Áreas da Filosofia 8 Programação 9 1. O QUE É FILOSOFIA 10 2. TEORIA DO CONHECIMENTO 11 2.1.Razão 13 2.2. Características do Discurso Racional 15 2.3. A Importância da Razão 16 2.4 Quadro Sinóptico 16 3. O MITO 17 4. NASCIMENTO DA FILOSOFIA 19 4.1. Pré-Socráticos 19 4.2. Parmênides versus Heráclito 21 4.3. Filosofia e Senso Comum 22 5. MUDANÇA NA FILOSOFIA: SÓCRATES E OS SOFISTAS 23 5.1. Sócrates 23 5.2. Os sofistas 24 5.3. Apologia de Sócrates 25 3 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 5.4 Quadro sinóptico 26 6. A FILOSOFIA SISTEMATIZADA: PLATÃO E ARISTÓTELES 26 6.1. Platão (428-348 a.C) 27 6.2. Aristóteles (384-322 a.C) 30 5.2.1 Metafísica 32 5.2.2 Quadro sinóptico 33 7. FILOSOFIA HELENÍSTICA: O CETICISMO 33 8. A TEORIA DO CONHECIMENTO NA ERA DA FÉ 34 8.1. O “Milagre” do Cristianismo 34 8.2. Santo Agostinho (354-430 d. C.) e o Papel da Razão 35 8.3. São Tomás de Aquino (1225-1274 d. C.) e a Escolástica 36 9. RENASCIMENTO 37 9.1. Galileu Galilei (1564-1642 d.C.) 37 9.2. Pensamento a Partir do Renascimento 38 10. QUESTÕES 38 10.1 Gabarito 52 10. QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS 52 11. VERSÕES DE AULAS 73 12. CONSIDERAÇÕES FINAIS 74 13. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 75 Apresentação Prezado vestibulando, 4 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Seja bem-vindo! Você inicia agora uma jornada para a conquista de uma vaga em um dos grandes Vestibulares do país. A tarefa do Estratégia Vestibulares é auxiliá-lo nos seus estudos para que seu esforço seja eficiente. Neste pdf específico, meu objetivo é fornecer o que for necessário para que você resolva com sucesso todas as questões de Filosofia. O desafio é grande. Geralmente, “as provas serão elaboradas conforme as Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Puxa, o que isso significa? O Vestibulares estariam simplesmente cobrando o básico de Filosofia durante o aprendizado do Ensino Médio. O problema passa a ser: como é que se determina o “básico” em Filosofia? Por isso, parceiro de viagem, fiz a revisão e análise de questões que já caíram na UFPR e em alguns vestibulares sobretudo o da UNESP e o da UEL, os dois grandes modelos de questões de filosofia. Isso me permitiu selecionar cirurgicamente aquilo de que você necessita, para você não se perca no mundo maravilhoso da filosofia (sim, eu gosto muito de filosofia). Repito isso: filosofia é um mundo, porque é possível abordar um pensador em diversos níveis analíticos e a internet traz todos eles, tudo junto e misturado, ou seja, se você recorrer à internetland, estará irremediavelmente perdido. Minha finalidade: oferecer de forma didática o material completo para que você possa resolver todas as questões que vai encontrar pela frente. Obrigado pela sua companhia e confiança. Pode estar certo que será recompensado. “Bora lá”? Filosofia no Vestibular Há quatro maneiras de se cobrar filosofia nos vestibulares: ✓ Filosofia como adendo da História; ✓ História da Filosofia, com destaque aos principais pensadores e suas ideias; ✓ História da Filosofia a partir de interpretação textual; e ✓ Temas filosóficos. Filosofia na UFPR Tem por objetivo avaliar a capacidade de identificação e compreensão de teses, argumentos, conceitos, polêmicas e problemáticas filosóficas presentes nos textos ou deles decorrentes, bem como de conhecimento das circunstâncias históricas mais imediatas da produção e da recepção dos textos em análise, mediante a consideração das suas interlocuções com a tradição filosófica e cultural. Nesse sentido, espera-se que o candidato apresente: entendimento dos conceitos filosóficos abordados; compreensão da pergunta; clareza discursiva e analítica; respostas em conformidade com os textos e conteúdos solicitados. A prova de Filosofia do Processo Seletivo contemplará os conteúdos trabalhados na disciplina de Filosofia pelos professores das escolas de Ensino Médio. Os temas já divulgados correspondem aos tópicos das Diretrizes para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio do Estado do Paraná, com a subdivisão que se encontra na página da SEED, referência central para professores montarem seus planos de aula e 5 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I selecionarem seus materiais didáticos. Esses conteúdos, no vestibular da UFPR, porém, serão abordados de duas formas distintas. Na primeira fase, de que todas as candidatas e todos os candidatos participam, serão feitas 5 questões objetivas sobre alguns desses temas, ao modo como são estudados a partir dos livros didáticos de Filosofia recomendados pelo MEC. Na segunda fase, com a prova dissertativa, voltada apenas para os cursos que incluem a prova de Filosofia nessa fase do vestibular, os conteúdos serão abordados a partir dos textos indicados para essa finalidade. Trata-se, assim, no seu conjunto, de contemplar tanto os conteúdos expostos em sala de aula quanto algumas diferentes abordagens desses conteúdos. Na primeira fase, uma abordagem mais ampla e conceitual, e, na segunda, uma abordagem de temas de Filosofia a partir da fala de um filósofo registrada em seu texto. A UFPR seleciona autores que devem ser lidos. Para o último vestibular, a banca selecionou os seguintes autores e obras: Sendo assim, as questões da prova serão circunstanciadas em determinados textos filosóficos e, para uma boa preparação que contemple uma maior familiaridade com os objetos de análise nas questões e com a terminologia consagrada pelos textos empregados na sua formulação, recomenda-se a leitura prévia desses textos. Os textos indicados são os seguintes: Para 1ª fase: 1. ARENDT, Hannah, A Condição Humana, capítulo 2 [4, 5 e 6]. Trad. Celso Lafer, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, pp. 31-58. 2. HERÁCLITO DE ÉFESO (A - Doxografia; B - Fragmentos; C - Crítica Moderna: 1. Georg W. F. Hegel e 2. Friedrich Nietzsche). Trad. de Wilson Regis, José Cavalcanti de Souza, Ernildo Stein e Rubens R. Torres Filho. Coleção Os Pensadores. Vol. I. São Paulo: Victor Civita, 1973, pp. 81-116. 3. LOCKE. Ensaio acerca do entendimento humano - Introdução, Livro I [cap. 1, 2 e 3]; Livro 2 [cap. 1, 2, 12 e 23]. Trad. Anoar Aiex. Coleção Os Pensadores, vol. XVIII. São Paulo: Victor Civita, 1973, pp. 145-171, pp.189-191, pp. 212-214. 4. MAQUIAVEL. Discursos sobre a Primeira década de Tito Livio. Seleção de textos, tradução e notas Carlo Gabriel Kzsam Pancera. In: MARÇAL, J. (org.) Antologia de textos filosóficos, SEED, 2009, pp. 426- 450. 5. PLATÃO. Excerto do Diálogo Hípias Maior e excerto de A República (livro X). Seleção de textos e notas Roberto Figurelli. Tradução Carlos Alberto Nunes. In: MARÇAL, J. (org.) Antologia de textos filosóficos, SEED, 2009, pp. 548-563. Para 2ª fase: Leitura obrigatória 6 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 1. ARENDT, Hannah, A Condição Humana, capítulo 2 [4, 5 e 6]. Trad. Celso Lafer, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, pp. 31-58. 2. HERÁCLITO DE ÉFESO (A - Doxografia; B - Fragmentos; C - Crítica Moderna: 1. Georg W. F. Hegel e 2. Friedrich Nietzsche). Trad. de Wilson Regis, José Cavalcanti de Souza, Ernildo Stein e Rubens R. Torres Filho.Coleção Os Pensadores. Vol. I. São Paulo: Victor Civita, 1973, pp. 81-116. 3. LOCKE. Ensaio acerca do entendimento humano - Introdução, Livro I [cap. 1, 2 e 3]; Livro 2 [cap. 1, 2, 12 e 23]. Trad. Anoar Aiex. Coleção Os Pensadores, vol. XVIII. São Paulo: Victor Civita, 1973, pp. 145-171, pp.189-191, pp. 212-214. Essa relação pode sofrer alteração. Um pfd com explicações sobre esse conteúdo será providenciado para você, tão logo a banca publique a lista de obras. Metodologia Para cumprir a tarefa de ofertar um material suficiente para seu preparo, elaborei um curso no qual: METODOLOGIA História sistematizada da Filosofia Ideias mais importantes dos principais filósofos Interpretação de fragmentos filosóficos Resolução e comentários de questões inéditas Simulados Resumos 7 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Atenção: Todo esse trabalho só terá efeito se você tiver uma perspectiva apropriada sobre essa área do conhecimento. Filosofia é estranha? Pode até ser, mas você deve se esforçar por entender o conceito ou o raciocínio. Não precisa concordar com a ideia e não deve decorá-la. Quem Sou Eu? Prazer! Leia cada tópico, faça suas anotações e anote as dúvidas. Faça os exercícios de fixação Leia o quadro sinóptico e veja se você compreendeu os pontos mais importantes. Faça a bateria de exercícios ao terminar o pdf Tire as dúvidas através do Fórum de dúvidas Antes da prova, releia suas anotações e o quadro sinóptico. O que oferecemos a você: ✓ Livro digital completo com muitos exercícios ✓ Videoaula ✓ Fórum de dúvidas – um canal de comunicação entre o vestibulando e o professor que fica disponível na área do aluno ✓ Simulados ✓ Sala VIP ✓ Aulas especiais 8 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Meu nome é Fernando Andrade. Minha formação acadêmica inclui duas graduações e uma pós- graduação. Sou Bacharel em Letras Português/Alemão e Bacharel e licenciado em Filosofia, ambos títulos obtidos na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, sou pós-graduado em Teoria Literária pela mesma instituição. Atualmente sou Professor de Literatura Portuguesa em uma faculdade privada de São Paulo. Até a minha imersão no Estratégia Vestibulares, fui Professor de Filosofia Ensino Médio e Professor de Redação em um grande cursinho de São Paulo. Tenho mais de 20 anos dedicados ao magistério, sendo que, desses, 15 anos passei no tablado de algum curso pré-vestibular, transitando entre as três matérias: Filosofia, Redação e Literatura. Conte comigo nesse projeto de assimilar o que é mais importante em Filosofia. Seu esforço será recompensado. Plano de Aulas Preparei um curso com 4 aulas. Serão bastante informativas e longas, mas darão conta do recado. Elas estão organizadas de acordo como as áreas da filosofia. Áreas da Filosofia Para começar falar das áreas da filosofia é precisoentender o básico dessa área de conhecimento ou melhor do desconhecimento. Lembre-se, apesar de todos os sistemas filosóficos criados, FILOSOFIA É QUESTIONAMENTO. Ao explicar o que isso significa, Marilena Chauí em Convite à Filosofia dá um exemplo que acho esclarecedor. No dia a dia questionamos as coisas, mas não fazemos isso de forma radical até porque estamos inseridos num cotidiano prático, no qual a dúvida é pontual, e as respostas requeridas têm uma finalidade prática e definida. Por exemplo, para que você possa organizar suas tarefas num dia, é preciso que tenha consciência dos horários a cumprir. Eventualmente, você vai perguntar para alguém: Que horas são? O pensamento filosófico vai além. Há equivalência entre essa convenção em horas, minutos e segundo e a passagem de tempo? A preocupação com o tempo sempre existiu? Por que perguntar sobre o tempo? Afinal, o que é o tempo? Ele existe?1 As perguntas definem as áreas da Filosofia. 1 O quadro de Salvador Dali retrata justamente o tempo sob a perspectiva da subjetividade,que tem outra lógica. Imagem disponível em https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/, acessado em 08.05.2019. Detalhe do quadro de Salvador Dali “A persistência da memória”. 1 https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/ 9 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I O curso está dividido nessas áreas e conforme o peso dessas áreas no Vestibular. A maioria das questões gira em torno de Epistemologia (teoria do conhecimento) e Ética. Por isso, esses temas serão trabalhados mais extensivamente. Metafísica, área que é especulativa, não será abordada em uma aula específica. Basicamente, é necessário que você saiba o que significa essa palavra Além disso, é importante ressaltar que um pensador normalmente desenvolve um sistema filosófico que contempla dois, três ou até mesmo todos esses campos. Como dividi em áreas para o estudo, serei obrigado a discutir um pensador mais de uma vez. Programação TEMA CONTEÚDO AULA 01 – Teoria do Conhecimento I Área da Filosofia. Teoria do Conhecimento (definição). Razão. Mito. Pré-socráticos. Sócrates. Sofistas. Platão. Aristóteles. Filosofia helenística (Ceticismo). Filosofia medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Filosofia no Renascimento. AULA 2 – Teoria do Conhecimento II Filosofia Moderna: Bacon, Descartes, Hume e Kant. Noções Gerais do Iluminismo segundo Kant. Filosofia Contemporânea. A crise da racionalidade: Schopenhauer, • O que é o falso e o verdadeiro? • Como reconhecer a verdade? O que é o real?Epistemologia • O que é o bem e o mal? Como viver? Existe o bem absoluto? O mal existe?Ética • O que é o belo e o feio? Existem critérios universais para o belo? Por que o homem precisa do belo?Estética • O que é o poder? Por que nos submetemos ao poder? Quem tem o direito de exercer o poder?Política • De onde veio tudo o que existe? Há alguma causa que não pode ser explicada pela natureza? Há alguma fonte do bem? Metafísica 10 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Nietzsche e Freud. A racionalidade na História: Hegel e Marx. Filosofia do Século XX: Escola de Frankfurt. AULA 3 – Ética, Estética. Ética: Platão. Aristóteles. Helenistas. Santo Agostinho. Montaigne (ceticismo ético) Kant. Mill. O liberalismo como ética (Iluminismo). Freud. Relativismo. Estética. Platão e Aristóteles. A arte no Iluminismo. Schopenhauer e Nietzsche. Escola de Frankfurt. Aula 4 – Política e Lógica Introdução ao pensamento político: Democracia Grega e percepções de Platão e Aristóteles; Política na Idade Média: a concepção medieval do poder; Renascimento e Maquiavel; Iluminismo e os Contratualistas; Liberalismo; Crítica do pensamento político: Marx; Contemporaneidade: Habermas e Hanna Arendt; Considerações sobre a crise da ideia de política. Introdução à lógica 1. O que é filosofia A palavra Filosofia vem do grego, e estranhamente significa amor/ amizade (filo) à sabedoria (sofia). Preste atenção nessa tradução, ela, às vezes, frequenta questões. Mas isso diz pouco, porque o próximo passo é definir sabedoria. No caso da história da filosofia ocidental (a que nasceu na Grécia), sabedoria significa não se entregar à opinião ou ao achismo. Ou seja, a filosofia problematiza os conceitos que usamos no cotidiano e estuda os seus significados. Você estar pensando que isso é um desperdício de tempo. Não é bem assim. Vamos considerar algo muito importante para alguém que deseja ser policial. Essa é uma atividade executiva da justiça, executiva porque põe em prática o que o juiz decidiu. Ora, para saber o que é próprio da atividade de um policial, é preciso saber como definir a tal da justiça. Há várias definições e cada uma produz um efeitodiferente. Se considerarmos, como Rousseau, que a propriedade privada é injusta, um policial que protege a tal propriedade não está exercendo a justiça. 11 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Por outro lado, posso considerar o que dizia Locke. Para ele, cada ser humano tem direito àquilo que conseguiu pelo trabalho, sendo sua propriedade. Isso significa que se alguém toma algo de uma vítima, o prejudicado tem o direito de se vingar. Numa sociedade “civilizada”, diria Locke, esse direito individual foi dado ao Estado. O policial, portanto, é aquele que, no Estado, faz cumprir a justiça, no caso uma vingança. Ou seja, por essa premissa, o trabalho policial é justo. Adivinha qual das premissas fundamentam a nossa Constituição? Mas voltemos à definição e vou repeti-la para você fixar bem: a filosofia problematiza os conceitos que usamos no cotidiano e estuda os seus significados. Ela é muito parecida com a ciência, também na ciência, há problematização do cotidiano. Mas qual a diferença? Considere a seguinte questão: do que a água é formada? Esse é um problema da ciência ou da filosofia? Essa resposta é fácil porque você estuda água em química. É uma pergunta científica porque diz respeito ao mundo natural. A água pode ser observada como coisa no mundo que está aí. O começo do processo é empírico. E, nesse momento, gostaria que você assimilasse outra palavra, empirismo. Essa palavra significa conhecimento que se tem a partir da experiência da realidade. Se você aprendeu trocar a resistência do chuveiro da sua casa tomando choque, você tem conhecimento empírico, se você aprendeu lendo um livro, seu conhecimento é teórico. Pois é, o conhecimento científico parte da empiria (realidade), enquanto a filosofia parte do conceito. Voltando à nossa questão anterior. Quando eu pergunto “o que é justiça?”, o começo do processo é conceitual. O que se pode responder? Será preciso um esforço sistemático do pensamento para podermos responder algo que não seja desmentido pelo mundo empírico. Todos aqueles problemas que não podem ser respondidos pelo método científico são objeto da filosofia: deve-se dizer a verdade? Por que esse objeto é belo? Como se dão as relações de poder? Deus existe? É possível realmente conhecer a realidade? Essas perguntas nos levam às 5 áreas da filosofia, vistas no começo deste pdf. 2. Teoria do conhecimento A filosofia nasce como uma oposição ao senso comum. Mas por que se colocar contra aquilo que todo mundo acredita como verdade? Justamente por causa dessa palavrinha, “a verdade”. O problema da verdade Qual é o problema da "verdade"? É que cada um tem a sua. Ora, isso não é “verdade”. Se considerarmos que verdade é um termo que se trata de um discurso que se refere ao mundo, entenderemos que qualquer asserção da qual se possa dizer "é verdade" deve estar adequada ao real. Se dizemos "chove" 12 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I e realmente chove, isso é verdade. Para chuva isso é fácil. Mas e se dissermos "existe buraco negro"? “O átomo pode ser divisível”? “O melhor sistema de governo é a democracia”? Aí você já viu, né, isso não é fácil. Os gregos achavam que o Cosmo era organizado e através da lógica seria possível se chegar à verdade. Os medievais acreditavam que Deus tinha organizado o universo e seria possível através da razão chegar à verdade. Os modernos perderam a certeza de que o cosmos é organizado. Ora, não têm certeza de que o cosmo é organizado, não tem certeza de que a razão matemática possa dar conta do real. É possível falar em verdade nesse contexto? A verdade deve ser revelar a partir de um processo de conhecimento da realidade. Então... Vamos falar de conhecimento? O que é conhecer? Observe atentamente, esse quadro de como se dá o conhecimento. Comece olhando pelo fenômeno e acompanhe as flechas. Essa arte mostra como se dá o processo de conhecimento. O olhos (ou os sentidos) captam os fenômenos que são absorvidos pela mente como imagem do real. Basta você imaginar que a imagem captada pelo olho fica invertida no fundo do olho, fato que exige um trabalho mental para inverter novamente a imagem. Ou seja, a percepção que temos do real é mediada por um jogo corporal que altera a sensação que temos do real. É impossível que tenhamos percepção do real tal como ele é. Lembre-se de que algo que é corporal, como a temperatura do corpo, altera toda sua compreensão do que ocorre a sua volta. Já percebeu que o mundo fica diferente quando você está com febre? Mas é por isso que entra em jogo a elaboração mental da realidade. As observações de fenômenos que se repetem levam os homens a produzirem explicações, hipóteses ou teorias. Fo n te im ag em : P ix ab ay ; g áf ic o : s h o w w ee t 13 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Quando se elabora uma explicação que parece estar adequada ao mundo, dizemos que o conhecimento é verdadeiro; se elaboramos uma afirmação que não se adequa à realidade, ela deve ser falsa. Por muito tempo, acreditava-se que não se poderia comer manga com leite. É falso. Ingerir etanol para se curar do coronavirus leva a morte é uma hipótese que, infelizmente, adequa-se à realidade. É verdadeira. O que determina a falsidade ou veracidade de nossas afirmações? O real. Então, como ter certeza de que a hipótese que fazemos da realidade é verdadeira? Essa é a questão da Epistemologia. O termo segundo o dicionário Houaiss significa “reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, e nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte”. O desenvolvimento da Epistemologia (Teoria do Conhecimento) foi lento. Os filósofos a formaram paulatinamente, propondo perguntas e métodos ao longo dos séculos. Cronologicamente, as fases estão descritas abaixo. Então o que vamos estudar em Epistemologia? ✓ Racionalidade ✓ Nascimento da Epistemologia (e da filosofia) ✓ Os primeiros métodos reconhecidos como sendo aceitáveis para explicar o real: Idealismo e Realismo ✓ Inatismo, Dogmatismo, Empirismo ✓ Conhecimento científico 2.1.Razão Bom, vamos para a pergunta que qualquer filósofo adora fazer....O que é razão ou lógica? Duvida radical: os pensadores duvidaram da realidade e das teorias que existiam sobre a realidade Criação de métodos: começa-se a discutir que método poderia diminuir a chance de errar. Verificação do procedimento metodológico: os filósofos passam a ter como tarefa verificar se as teorias propostas seguem os protocolos Dúvida do próprio método 14 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Bom, podemos definir quais são as habilidades mentais, no mínimo, em 6: intuição, emoção, sensações (os 5 sentidos), imaginação, memória, razão etc. As cinco primeiras são naturais e as exercemos a todo momento, mas e a razão? A palavra vem do latim e significa cálculo. Isso aponta para um tipo de habilidade que o homem adquiriu a partir da união entre intuição, imaginação e memória. Percebemos que há fenômenos regulares, como as estações do ano, devido à memória e algo próprio da mente humana (intuição), que compara momentos diferentes e consegue perceber repetições. Você observa que quando há nuvens carregada, chove Isso aconteceu várias vezes, de tal maneira que você olhando para o céu, fala para sua mãe, que vai sair, que leve o guarda-chuva. Qual é a equação? Nuvens carregadas é causa de chuva. Há nuvens carregada, vai chover. Nesse frase, dois termos que se referem a dois fenômenos estão interligados, “nuvens carregadas” e “chuva”, em uma relação de causa e consequência. Toda vez que juntarmos dois fenômenos estabelecendo uma relação entre eles para mostrar umdado da realidade, tomando cuidado para fazer a relação certa entre os termos e apresentando os motivos que nos levaram a juntar um coisa à outra, estamos nos valendo do discurso racional. A equação seria a seguinte: Por que se diz que os gregos inventaram a razão? Óbvio que esse processo mental pode ser realizado por qualquer ser humano, se não fosse assim, só alguns aprenderiam matemática. Em outras civilizações, as pessoas também fizeram cálculos ou previsões. Contudo, esse tipo de atividade era espontâneo de acordo com a exigência do cotidiano. Os gregos vão eleger essa habilidade mental como a mais importante e vão postular a primazia da razão diante de todas as outras habilidades. Isso leva a uma pedagogia da razão. Ela deve ser ensinada. Fo n te : S h o w ee t 15 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 2.2. Características do Discurso Racional Quais as características do discurso racional? A finalidade desse tipo de pensamento é chegar a uma generalização que possa servir para explicar e prever qualquer situação particular. Aristóteles dizia que não era possível fazer ciência do fenômeno particular. Pense na queda de objetos. Se você se fixa na caneta que cai, na pena que cai, na bigorna que cai etc, você não consegue chegar a nenhuma conclusão. O pensamento racional começa com a abstração e a generalização. Para tanto, há um método. Devem-se observar os fatos concretos, pensando-os em termos de conjuntos de evidências. Consideram-se as semelhanças entre os fatos, expressando a observação em termos linguísticos. A partir daí, devem-se encadear as observações segundo a relação de causa e efeito para chegar a uma conclusão que, pela construção rigorosa dos motivos, deve nos convencer da veracidade do que se é afirmado. A outra características de tal discurso é sua ambição de universalização, quem se vale do discurso racional, não deseja expressar uma ideia só sua, deseja que os outros entendam que aquilo que foi dito vale para todos os homens Resumindo: Palavras-chave associadas à razão: Lógica, unir duas informações, pensamento relacional, método, regras aceitas de verificação, casos particulares para abstrações, universalidade. A razão é a capacidade da mente unir duas informações a partir de um método. Esse método deve atender a regras aceitas pelos envolvidos. A razão se movimenta dos casos particulares para as abstrações. A razão tende a universalidade. 16 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 2.3. A Importância da Razão Afinal, por que tanta discussão e por que tantos homens gastaram tantas páginas para discutir essa tal de razão? Se o homem é capaz de perceber a realidade, ele consegue avaliá-la, prever o que vai acontecer e se preparar de forma reativa (proteção) ou de forma ativa controlando as forças da natureza a seu favor. Pense em todas as grandes conquistas humanas da domesticação da natureza, entre elas, por exemplo, o controle das infecções. Somente com a invenção do microscópio foi possível descobrir que várias doenças poderiam ser provocadas por microrganismos e, a partir desse conhecimento, foi possível combatê-los. 2.4 Quadro Sinóptico ✓ A filosofia se opõe ao senso comum (Disponível em http://miningtext.blogspot.com/2014/07/a-evolucao-da-populacao-mundial-desde.html, acessado em 09.05.2019) “o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA, 1993, p.35).” Meio pelo qual o indivíduo consegue realizar essa reflexão: RAZÃO Crítica: Indagar pelos fundamentos da ideia apreciada; testá-la. Reflexão: Construção de um conceito melhor para sustentar a ideia Conclusão Submeter a ideia a uma cadeia de argumentos coerentes e lógicos http://miningtext.blogspot.com/2014/07/a-evolucao-da-populacao-mundial-desde.html 17 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I ✓ A filosofia difere da ciência quanto ao objeto. Vocabulário da filosofia: Empírico: relativo à realidade, diz-se do conhecimento que se adquire pela experiência. Dogmático: uma opinião que ganha status de verdade absoluta; crença. 3. O Mito A primeira forma de conhecimento que o homem desenvolveu foi o pensamento mitológico. Nele, os fenômenos resultam das vontades e interações dos deuses com os homens. Três características básicas definem o mito: A explicação se dá de forma narrativa Ingerências de forças sobrenaturais Através dessas histórias, explica-se a origem dos fenômenos físicos. Mundo mental: conceitos, ideias Mundo empírico: coisas do mundo 18 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Até pouco tempo atrás, havia uma certa relutância em se aceitar o mito como uma forma de conhecer. Normalmente, acreditava-se que tal forma de se relacionar com o mundo era totalmente ilusória e que não haveria nada de verdadeiro nesse mecanismo que os nossos ancestrais desenvolveram para se situar no mundo. Qualquer tipo de explicação nasce da necessidade do homem de aplacar seu medo de estar no mundo. O ser humano é, sem dúvida, um animal estranho. O medo, que é uma reação natural para defesa da sobrevivência, no indivíduo homem, deixa de ser totalmente natural. O que o homem teme? Aquilo que ele não pode conhecer. Os mitos não versam simplesmente sobre os deuses. Normalmente, as histórias envolvem homens que são requisitados a viver aventuras de interesse das deidades, surgem os heróis. Desse jogo entre deuses e humanos, o mito se presta também a ensinar à geração mais nova alguns valores de socialização passados dos mais velhos através dessas histórias que vão além da explicação do mundo físico. Abaixo, você encontra um quadro com as principais funções do mito. Por mais que esse tipo de explicação revele um conhecimento de como as pessoas de uma tribo devem agir, o conhecimento do mundo natural é bastante inadequado. - Explicar a origem: o os fenômenos naturais são explicados a partir dos desejos dos deuses. - Confortar: acreditando em justificativas que parecem coerentes, o indivíduo se sente mais confiante. - Ensinar: as histórias mitológicas vão revelando uma série de regras que devem ser observadas. - Dar segurança diante da vida: o mito leva o indivíduo a encarar a desgraça e, ao mesmo tempo, permite que ele perceba que há uma lei de compensação universal, há justiça. - Preparar para a vida cotidiana: as histórias mitológicas oferecem ao sujeito toda gama de situações que ele deverá enfrentar: a morte, o trabalho, a traição etc; ele se prepara para a vida. 19 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 4. Nascimento da filosofia A filosofia nasce como questionamento do mito e da Religião. Costuma-se considerar Tales de Mileto como o primeiro filósofo. Lógico que em algum momento, a representação que os antigos tinham da realidade através dos mitos ia claudicar. Essa falha em relação ao que se pensa que o mundo é levou a filosofia de primeira hora a questionar sobretudo a natureza ou, segundo o vocabulário grego, a Physis. Esses filósofos serão chamados de Pré-Socráticos. 4.1. Pré-Socráticos Lembre-se de que Filosofia adora pergunta. No século VII a. C, na Grécia, muda-se a pergunta. A religião e o mito partiam da questão: “quem criou” todas as coisas? Os primeiros filósofos abandonam a pretensão de saber quem criou e procuram saber como funciona. Passa-se da teogonia (a história do nascimento dos deuses e das coisas)para cosmologia (o estudo do ordenamento da universo) Em segundo lugar, os Pré-socráticos se atêm em causas materiais, não mágicas, aquilo que Nietzsche chama de “fabulação”, ou seja, sem apelar para fatores mágicos. A explicação deve ser mecânica e causal. Um elemento material deve ser o que causou o movimento das coisas e o que produziu tudo o que observamos. Percebe-se um ímpeto desses pensadores de encontrar o elemento originário ou a arché. Arché: essa palavra grega está no português em “arquétipo”, o que significa uma ideia originária, por exemplo a ideia de pai que cuida do filho é um arquétipo, pois ele é uma ideia antiga que molda até hoje nossas ideias sobre paternidade. Os pré-socráticos procuram não uma ideia, mas um elemento que fosse originário de todos os outros. Fo n te : P ix ab ay 20 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Eles imaginam o universo como se fosse uma construção de lego. Tudo o que vemos como variedade deve ter sido montado por peças iguais, únicas, bastaria reconhecer o que seria esse “um”. Como começou essa brincadeira? Começou com Tales de Mileto propondo que tudo é feito de água. O pensador, nascido numa das colônias da Grécia em 624 a.C., observou que sem água tudo seca, tudo morre. Além disso, a água parece ser o único elemento que se encontra nos três estados conhecidos: sólido, gasoso e líquido. Para ele, a peça que constrói tudo é única; o que vemos como diferença é ilusão, a realidade é feita de um único elemento. Nem tanto, corujinha encanada. Veja que ainda não abandonamos muito essa ideia, a ideia de átomo ou de partículas tem como base a mesma concepção dos antigos gregos. Aliás, quem imaginou pela primeira vez essa coisa de átomo foi um pré-socrático, o tal de Leucipo (século V a. C) . Obviamente, agora deveríamos considerar cada um dos pré-socráticos. Mas, sinceramente, isso terá pouco valor nos vestibulares. Quando cai, a lógica é a mesma, a banca dá um texto e pede que o candidato o interprete. O examinador entende que exigir o conhecimento de cada pré-socrático é transformar a prova de Filosofia em “decoreba”. Se cair algo sobre o tema, você conseguirá se sair bem com o básico que apresentei aqui. Contudo, para que você tenha uma noção geral, segue um quadro dos principais filósofos e qual elemento eles postulavam como sendo o elementar. 21 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Há um elemento em comum a todos esses pensadores e muito importante: eles partem do pressuposto de que o real (o elemento primordial que anima o mundo) é diferente daquilo que percebemos como real. O mundo da multiplicidade é uma ilusão. 4.2. Parmênides versus Heráclito Esses dois pré-socráticos merecem especial atenção. Defendem ideias opostas que vão configurar uma grande questão a ser resolvida na filosofia. Dentro do pensamento grego, a efemeridade das coisas sempre incomodou os pensadores. Haveria algo que permaneceria além da mudança ou tudo muda constantemente? Heráclito (540-470 a.C) Heráclito defendia que a mudança era a constante no universo e que nada, absolutamente nada, poderia estar parado. A mudança, para ele, era produto da luta dos contrários que deveria levar à mais bela harmonia. Não se tratava de dizer que alguma coisa muda, mas que todas as mínimas partículas não encontrariam descanso. É de Heráclito a famosa frase: “Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas” ou, na sua versão mais corriqueira, “Não se entra duas vezes no mesmo rio”. O pensador aponta para o fato de “rio” ser apenas uma palavra que cria a ilusão de que há algo permanente, quando alguém retorna ao rio do qual acabou de sair, as margens já mudaram e as águas são outras, aliás, até o indivíduo que entra no rio é outro. Parmênides (530-460 a. C) O pensamento de Parmênides é complicado, mas vou traduzir da seguinte forma, ele está certo de que as coisas em estado de mudança não têm essência. Por exemplo, o vento que muda o tempo todo não pode ser entendido nem estudado, mas o ar, que é elemento que forma o vento e é estático, esse tem essência. Mas ele não para no ar. Deve haver um outro elemento que subjaz ao ar e deve ser imóvel. Ele procura o “Ser”, aquilo que não muda. O principal de Parmênides é que ele estabelece um parâmetro para o conhecimento. Só podemos conhecer aquilo que não se altera. Fonte: Showeet Fo n te : P ix ab ay Parmênides Tudo está em mudança. Harmonia dos contrários. 22 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 4.3. Filosofia e Senso Comum Entendi...a filosofia foi importante para nos livrar do mito, mas hoje ninguém acredita mais em mito. Para que filosofia? Por causa do senso comum, que muitas vezes se torna dogmático. Segundo Maria L. A. Aranha e Maria H. P.Martins, o senso comum pode ser definido como “o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA, 1993, p.35).” Podemos apontar algumas das características do senso comum que mostram o perigo de se valer desse expediente quando o conhecimento da realidade de faz necessário. A essência não muda. Existe essência. Conhecer é conhecer a essência. Heráclito Fo n te : P ix ab ay 23 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Sendo assim, corujinha, essa mania da Filosofia de questionar ainda se faz necessária para que a gente não caia em verdades absolutas que, mais tarde, demonstrem ser uma grande fantasia. Palavras-chave associadas aos pré-socráticos: Physis, naturalismo (preocupação com a natureza); Arqué; movimento; a unidade da multiplicidade. 5. Mudança na Filosofia: Sócrates e os Sofistas No século V a.C, observa-se no mudança, a passagem da filosofia da Physis (natureza) para a filosofia do Antropos (Homem), que é a marca do que chamaremos filosofia socrática e, de certa forma, de toda filosofia desde então. Mas então, vamos abandonar a Teoria do Conhecimento? Nada disso, ele vai dar mais um passo na determinação de métodos para se conhecer a realidade. 5.1. Sócrates Sócrates viveu no auge de Atenas. Ele não deixou nada escrito e, basicamente, a sua grande filosofia que mudou os rumos do pensamento estava condensada na sua forma de agir. Como ele conseguiu isso? Na época em que ele viveu, os aristocratas se dirigiam ao mercado para encontrar os amigos e participar de rodas de discussão tão apreciadas pelos gregos. Sócrates dirigia-se para lá e começava a Ingênuo ou não-crítico Fragmentário, parcial Generalizante Superficial Fo n te : S h u tt er st o ck 24 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I interrogar quem encontrasse pela frente. Ele tinha um método. Começava com uma pergunta do senso comum e que um ilustre ateniense, com todo seu orgulho, achasse que era fácil de responder, como por exemplo, “o que é justiça?”. Dada a resposta, Sócrates procurava na afirmação feita alguma exceção, alguma falha, e fazia outra pergunta que expunha a primeira resposta dada como falsa ou incompleta. Ele continuava no jogo até seu interlocutor afirmar algo que fosse o contrário do que tinha dito anteriormente. Óbvio que, nesse momento, a pessoa que estava sendo questionada ficaria visivelmente irritada e diria para Sócrates, “ok , espertalhão, eu reconheço que não sei o que é justiça, então diga você o que é?” Ao que ele responderia, provocando irritação maior: “Sei que nada sei”.Por dois motivos. Primeiro, ele queria despertar as pessoas do sonho das certezas, mostrar que a convicção que elas tinham a partir do senso comum era frágil. O conhecimento exige inconformismo. Quem se conforma com o que sabe, nada sabe. Em segundo lugar, o filósofo acreditava que cada um tinha que buscar a verdade. Sócrates tinha certeza de que todos os homens, por serem racionais, seriam capazes de encontrar a verdade, só precisavam de um método. Método Socrático 5.2. Os sofistas O milagre “Sócrates” só foi possível porque ele vivia na Democracia grega, mesmo assim era de se esperar que ele não gostasse do sistema, pois predominava a opinião de pessoas que não se preocupavam com a verdade. Dialética: através do diálogo que colocava ideias em disputa, Sócrates despertava o indíviduo para o encontro com sua sabedoria. Ironia: método de perguntar sobre uma coisa em discussão, contradizendo o interlocutor, com a finalidade de purificar o pensamento, desfazendo ilusões. Maiêutica:depois do impasse, o interlocutor era obrigado a refletir por si mesmo. Nesse momento, a pessoa questionada paria uma verdade. Maiêutica significava a arte da parteira. 25 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Os filhos da aristocracia precisaram aprender a falar em público e a dominar técnicas de convencimento. Surgem os professores de retórica, ou seja, do bem falar. Esses novos personagens serão conhecidos como Sofistas. Há vários sofistas importantes, mas o mais respeitado, inclusive por Sócrates era Protágoras. Ele tinha uma máxima: “O homem é a medida de todas as coisas”. A ideia que ele defendia era a de que não haveria uma verdade universal e se houvesse, ela não poderia ser alcançada pelos ser humano, pois cada indivíduo vê a realidade de uma forma e pode defender o ponto de vista que lhe é mais conveniente. No mundo moderno, essa ideia recebeu o nome de Relativismo. Toda verdade é relativa. Sócrates não poderia concordar com tamanho desprezo pela verdade. Ele até concordava que cada um tinha que trilhar o caminho do conhecimento por conta própria, contudo, a verdade, por ser como um sol que brilha, deixaria sua marca em todos aqueles que a procurassem. 5.3. Apologia de Sócrates Se os sofistas pareciam se adequar muito bem ao seu tempo, o mesmo não acontecia com Sócrates. Ele era inconformado, desafiava e incomodava as pessoas bem colocadas na sociedade ateniense e, portanto, ele era subversivo. Por perturbar a ordem, ele foi condenado à morte por um Tribunal; sua execução: beber um copo de cicuta, veneno mortal. Platão, seu jovem discípulo na época, presenciou seus últimos momentos e narrou esse momento no texto que tem esse nome: “Apologia de Sócrates”. Há vários ensinamentos nesse texto, mas podemos destacar dois, um de ordem ética outro própria à teoria do conhecimento. O tribunal havia acusado Sócrates de desencaminhar a juventude e ofereceu ao filósofo algumas possibilidades de escapar da morte: que ele ficasse em silencio ou que fosse para o exílio. Ele recusou as duas. Quando perguntado por que, ele respondeu que uma “uma vida sem reflexão não vale a pensa ser vivida.” Essa ideia própria do campo ético ecoa até hoje. Vale a pena viver por viver? Ou é preciso uma boa causa? Palavras-chave associadas a Sócrates: Maiêutica, dialética, ironia, método socrático; verdade. Palavras-chave relacionadas aos Sofistas: O homem é a medida de todas as coisas; relativismo; utilidade (as ideias devem ser úteis e práticas) (A morte de Sócrates de Jacques-Louis David, 1787 Jacques-Louis David - https://www.metmuseum.org/collection/the- collection-online/search/436105 https://en.wikipedia.org/wiki/en:Jacques-Louis_David https://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436105 https://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436105 http://vestibular.upf.br/_uploads/a77f672a-4bd4-4992-a7c1-6f19ce4c254b.pdf http://vestibular.upf.br/_uploads/a77f672a-4bd4-4992-a7c1-6f19ce4c254b.pdf 26 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 5.4 Quadro sinóptico 6. A Filosofia Sistematizada: Platão e Aristóteles Era de se esperar que seus discípulos não ficassem só no estágio da dúvida, mas que também formulassem respostas para as dúvidas inquietantes propostas pelo filósofo grego. As respostas dadas Método Socrático Diálogo: fazia perguntas para despertar o interlocutor Ironia: Suas perguntas direcionavam o interlocutor a afirmar o contrário do que tinha dito. Maièutica: A contradição deveria levar o interlocutor a reconhecer que não sabia e a fazer um esforço para parir um novo conhecimento Encontrar a verdade 27 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I pelos dois grandes pilares da filosofia, Platão e Aristóteles configuraram todo o caminho posterior da filosofia. 6.1. Platão (428-348 a.C) Platão foi discípulo de Sócrates e escreveu A República, uma coletânea de textos em forma de diálogos. Há uma contextualização em que os personagens do diálogo são apresentados; a seguir, alguém propõe um tema e, depois, alguém defende uma tese que será questionada por um interlocutor capaz de ir mostrando as deficiências do argumento. Nesses diálogos, ele registra algo dos diálogos que ele testemunhou entre Sócrates e seus interlocutores, mas na verdade, na maioria das vezes, ele põe da boca do Sócrates sua própria teoria sobre a realidade. Dizemos, portanto, que, nos “diálogos”, o Sócrates que aparece é um personagem de Platão, com raras exceções. Sua ideia mais famosa que, de certa forma, explica o sentido da filosofia aparece no livro VII, da República, onde ele conta o Mito da Caverna. Mito da Caverna Ele começa esse com Sócrates pedindo que Glauco imagine uma situação inusitada. Numa caverna, vários prisioneiros estariam acorrentados, presos pelos braços, pernas e também pescoços de tal forma que não poderiam olhar para o lado. Deveriam estar nessa condição desde que nasceram. O que eles veem é simplesmente a projeção das sombras do que ocorre ao lado deles, pois há uma fogueira e um espaço entre a fogueira e o lugar onde estão. Nesse espaço, passam outras pessoas. Isso significa que a percepção que eles têm da realidade é falsa. Veem sombras que acham que são reais e, quando ouvem barulhos, atribuem às sombras. Num dado momento, um deles é liberto. De imediato, ele se recusa a crer no que está vendo. Vê seus amigos presos e entende que também estava preso. Vê o fogo. Suas vistas doem. E vê que há uma luminosidade maior atrás do fogo, que indica o lado de fora da caverna. Ele sai. Não , a luz o cega. Mas ele quer ver onde está. Olha para chão, depois para as árvores e depois olha diretamente para o sol. Entende que o que viveu sempre foi uma grande ilusão. Resolve voltar para contar a verdade para os seus companheiros prisioneiros. Mas quando volta, é ameaçado de morte. Ao final de história, Sócrates diz: nós somos esses prisioneiros. O que ele quer dizer? Que nós vivemos num mundo que nos engana e, por isso, formamos opiniões totalmente equivocadas sobre a realidade. Lição de Alex Gendler, animação de Stretch Films, Inc.(Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1RWOpQXTltA , acessado em 13.05.2019) Fo n te : P ix ab ay 28 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Trata-se de uma alegoria, uma grande metáfora. Podemos traduzir os elementos da seguinte forma: O importante nessa história toda é o radicalismo da incerteza. A ideia de Platão é que não podemos jamais conhecer a realidade das coisas, pois estamos presos no corpo que se conecta com o mundo externo através dos sentidos. Então nunca vou chegar a conhecer nada da realidade? Calma,há o mundo de fora da caverna. Para Platão, se nós nos desligarmos de todas as nossas experiências dos cinco sentidos e nos aprimorarmos na mentalização dos conceitos, das ideias que estão dentro de nossa cabeça, perceberemos que trazemos ideias perfeitas das coisas, e essas ideias nós vamos chamar de modelos. Os modelos de perfeição que habitam nossa mente trazem a verdade sobre o mundo. Você deve estar se perguntando, como a mente pode trazer ideias perfeitas do mundo. Para Platão, já fomos alma e, nesse mundo do além, conhecemos a essência e a perfeição das coisas, pois no mundo espiritual, os seres e objetos existem como conceito já que não são materiais. • Mundo em que vivemosCaverna • Cada ser humano, todos nós.Prisioneiros • Como vemos a realidadeSombras 29 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Nesse outro mundo, estão todas as formas de tudo o que existiu e existirá na Terra. Essas formas não têm materialidade, são simples esqueletos como figuras da geometria, pura matemática, que são a essência de qualquer objeto ou ser que exista aqui na Terra. Seriam como aquelas forminhas de areia que as crianças ganham dos pais. As formas permitem a reprodução da mesma figura, mas a materialidade da areia faz com que cada boneco criado seja diferente, pois apresenta falhas em diferentes pontos. O quadro ao lado exemplifica isso a partir da forma gato. Há no outro plano uma ideia de gato, essa forma que é perfeita, dá origem aos vários gatos que potencialmente virão à existência no mundo, isso explicaria por que nenhum deles é perfeito e, ao mesmo tempo, explicaria a variedade entre os gatos. No vocabulário filosófico, esse mundo ficou conhecido como mundo das ideias, mundo inteligível ou mundo das formas. O contrário disso, o lugar onde habitamos, seria o mundo sensível. Para Platão, a filosofia significa essa recusa no que percebemos como verdadeiro e procura pelas ideias verdadeiras. E ele propõe um método. Começa-se pela percepção da realidade, depois pela formação de opinião, a seguir o exercício do pensamento abstrato através da matemática até chegarmos a conceitos sobre o mundo marcados pela perfeição e pela coerência. Nesse ponto, duas palavras são importantes para você interpretar uma questão de filosofia: idealismo e inatismo. Eikasía: Imagens das realidades sensíveis Dóxa: opinião sobre as coisas sensíveis Dianóia: Exercício de raciocínio, pensamento matemático Episteme: conhecimento das ideias, intuição puramente intelectual Fo n te s: S h o w ee t e P ix ab ay 30 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 6.2. Aristóteles (384-322 a.C) Aristóteles foi o brilhante discípulo de Platão e um dos cotados para suceder o mestre na Academia platônica; como isso não ocorreu, o filósofo criou seu próprio liceu. Viveu na época em que a Grécia perde sua independência e passa a fazer parte do Império macedônio. Aliás, ele foi o professor de Alexandre, o Grande. Esse grande pensador ficou conhecido por trazer “as ideias do céu à terra”. Ele acreditava que Platão tinha ido longe demais na sua teoria das formas ao jogar o suporte do real para um mundo que não poderia ser conhecido, a não ser na morte. Aristóteles acredita que o conhecimento está aqui mesmo na Terra. Onde? Ele percebe que a variedade e as transformações obedecem a certo padrão. Um cacto pode mudar bastante desde que começa a se desenvolver, mas não se transforma em uma baleia. Ele deduziu que o padrão de mudança dos seres e o padrão do que é permanente devem estar nos próprios seres (hoje falaríamos em código genético no campo da biologia). Algo interno ao cacto faz com que o cacto em particular que eu vejo pertença a um grupo de Idealismo: as ideias são mais verdadeiras que a realidade; um amor idealizado é mais verdadeiro que o amor real Inatismo: temos ideias inatas ( ideias que nascem conosco), por exemplo a ideia dos números ou a ideia de justiça. Fo n te : P ix ab ay Forma= aquilo que é comum a coisas da mesma espécie. Matéria = aquilo que materialmente forma o objeto particular que vemos. Um indivíduo é homem (forma) como espécie é o João (enquanto ser único em sua materialidade) 31 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Para se chegar ao conhecimento, o pesquisador deve observar a natureza, diferenciar as espécies e descrevê-las pelas características fundamentais. Aquilo próprio da materialidade ou das sensações não deve ser considerado. Por exemplo, para entender o que é o ser humano, devem-se desprezar os atributos acidentais: cor da pele, cor do cabelo, altura do indivíduo etc, e procurar o elemento essencial, aquilo que o diferencia de outros seres: o homem é um animal racional. Esse valor dado ao que se observa e a crença de que existe uma racionalidade do real leva parte da crítica a classificar Aristóteles como realista. O que quer dizer isso? Que o filósofo não deve procurar somente nas suas ideias, o conhecimento do mundo, mas olhar para o mundo e deduzir dele formas que expliquem as características de conjuntos de coisas ou seres. O método de Aristóteles inclui uma parte empírica (experiência) e outra de reflexão. Por isso, além de tudo, ele vai desenvolver toda uma teoria sobre lógica. Ele vai separar as duas formas de raciocínio válidas e vai estudá-las para propor como podemos chegar a conclusões mais acertadas sobre o mundo. Segundo o dicionário Houaiss on line, REALISMO (filosófico) é a crença na "precedêcia do mundo objetivo sobre a cognição humana, que se limita a fornecer significado ou compreensão a uma realidade autônoma e previamente existente". As premissas iniciais são generalizantes, segue-se a particularização. Todos os cactos têm espinhos. A planta que ganhei é um cacto. A planta que ganhei tem espinhos. Dedução As premissas iniciais são particularizantes, a conclusão generaliza. Eu vi um cacto na casa do meu amigo e ele tinha espinhos. Eu vi outro cacto no barbearia e ele tinha espinhos. Eu vi...outro, ele tinha espinhos. Todos os cactos têm espinhos. Indução 32 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Segundo o dicionário, lógica é “parte da filosofia que trata das formas do pensamento em geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc.) e das operações intelectuais que visam à determinação do que é verdadeiro ou não”. Esse será o método desenvolvido por Aristóteles. 5.2.1 Metafísica Tendo elaborado um método para o conhecimento, Aristóteles se perguntou sobre o objeto do conhecimento. O pensador dividiu a realidade em física e metafísica. A primeira se refere ao mundo em sua materialidade e regido por preceitos mecânicos de causa e consequência. Um fenômeno qualquer deve ter uma causa que pode ser observável ou que tenha deixado marcas de sua ação inicial. Trata-se de um conhecimento “materialista” ou “naturalista”. Toda explicação deve ser encontrada na própria natureza. Obviamente, isso leva ao questionamento das mudanças. Toda mudança é movimento e o movimento sempre é causado por outro corpo. Contudo, ao refletir sobre o movimento surge um problema. Se o movimento é sempre causado por outro corpo, essa relação causal seria infinita e impossível de ser determinada. A Racionalidade exige que se suponha a existência de um motor imóvel, algo ou alguém que deu movimento ao universo, mas que não é movimento por nada. Qual o problema desse tipo de conhecimento sobre “as causas primeiras”? Tal conclusão é totalmente dedutiva e não tem qualquer respaldo da materialidade das coisas nem da natureza. Trata- se de um estudo que está “meta”, termo grego que significa “além”, em relação à física. Estuda-se, em Metafísica, o infinitoe aquilo que dá suporte ao pensamento sobre o sobrenatural. 33 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 5.2.2 Quadro sinóptico 7. Filosofia Helenística: O Ceticismo Aristóteles é último grande filósofo da Antiguidade a compor um sistema de pensamento e explicação das coisas de forma tão abrangente. Depois dele, entre a anexação da Grécia à Macedônia e ascensão de Roma, surgem outras vertentes filosóficas que discutem aspectos diferentes de todo o caldo filosófico desenvolvido durante o período clássico, por Sócrates, Platão, Aristóteles e mesmo pelos sofistas. Essa filosofia vai atender a outras necessidades do momento. A questão mais importante passa a ser: como viver bem? Ou seja, trata-se de uma preocupação ética. São várias as escolas que discutirão o tema: Estoicismo, Epicurismo, Ceticismo, Neoplatonismo e o Ceticismo. Todas elas têm grande importância para o campo da ética (e serão estudadas em outro pdf), mas uma delas desenvolve uma ideia cara à Teoria do Conhecimento: o Ceticismo. 34 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I A palavra “cético” vem do grego “skeptikos” e significa “aquele que reflete, que indaga”. Melhor seria aprender a viver bem abdicando das certezas. Esse era a opinião de Pirro (360 – 270 a.C), filósofo e pintor grego. Como toda terapêutica, a filosofia cética era prática. Primeiro, era preciso reconhecer que não temos condição de conhecer qualquer coisa. Se houver um mundo das ideias, não somos aptos para alcançá-lo através de nosso esforço. Somos limitados e geralmente nos enganamos em relação à realidade. Segundo, deveríamos, de forma procedimental, sempre contrapor uma tese contrária àquela que se acredita ser verdadeira. Esse procedimento leva à suspensão do juízo e consequentemente ao abandono das ilusões dogmáticas (ilusões provocadas pelas certezas absolutas). No final desse processo, o indivíduo estaria livre da praga das certezas. Por ora, é importante reter esses pares fundamentais que foram sendo construídos na história do pensamento ocidental: 8. A Teoria do Conhecimento na Era da Fé Na sessão anterior, tínhamos deixado a filosofia no mundo da dúvida, onde ela sempre se sentiu à vontade. Mas eis que nossa protagonista terá que enfrentar novos tempos, nos quais enfrentará o desafio de conviver com ideias dogmáticas próprias do pensamento religioso. 8.1. O “Milagre” do Cristianismo A história é conhecida e, portanto, posso passar por esses capítulos do pensamento bem rapidamente. A Grécia sucumbe ao Império Macedônio que, por sua vez, será anexado por um Império ainda maior e mais importante, o Romano. DOGMATISMO CETICISMO 35 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I Fo n te : P ix ab ay Mas enquanto o Império se expandia, surgiu de forma bastante tímida um líder desprezível do ponto de vista dos romanos, nascido numa província esquecida: era Jesus de Nazaré, da província da Judeia. Os romanos não tinham qualquer admiração por aquele povo. A mensagem ética do líder religioso, Cristo, era até simples, “Amai ao próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas”. Ele arrebanhou alguns discípulos que perceberam a novidade da pregação. Um deles merece especial consideração, um apóstolo tardio, chamado Paulo de Tarso, pois foi chave para o que aconteceu com a fé cristã. Paulo era judeu com cidadania romana, conhecia filosofia grega. Viveu no momento da decadência e descrédito da religião pagã oficial de Roma. Teve a oportunidade, portanto, de divulgar entre os romanos a nova fé, mas para isso, ele teria que adaptá-la às exigências do pensamento romano. Paulo, portanto, vai construindo uma teologia que deve ser provada pela razão. Esse movimento será fundamental para uma grande fusão jamais imaginada: a racionalidade terá lugar de destaque dentro da teologia cristã. Nos séculos seguintes, os escravos e as pessoas mais humildes abraçaram a nova fé, devido à mensagem salvacionista que exaltava os mais humildes. Mas também personagens importantes da elite romana começaram a reconhecer na teologia sistematizada pelas mãos de Paulo uma coerência difícil de contradizer. Esse movimento do pensamento preparou o movimento político. A partir do século IV a. C, o impensável se realiza. O Cristianismo se torna a religião do Estado. A Igreja se institucionaliza, sem deixar de lado a filosofia. 8.2. Santo Agostinho (354-430 d. C.) e o Papel da Razão Agostinho viveu em Cartago, era pagão e começou a se interessar por Filosofia. Deixa-se seduzir pelas ideias maniqueístas, lê autores como Plotino, filósofo neoplatônico, mas percebe que nada realmente é capaz de suprir sua inquietação existencial. Depois de flertar com vários sistemas religiosos ou filosóficos, ele se rende à racionalidade da mensagem de Cristo. Essa experiência de Agostinho deixou profundas marcas na sua produção teológica e filosófica. Veja, ele não foi educado na religião cristã, aderiu a ela por força dos argumentos lógicos que encontrava no sistema teológico ainda em formação. Nesse sentido, o filósofo defendeu que a razão não se opunha à religião, mas antes era o guia que levava o fiel até a porta de entrada da fé. Diante de tantas ideias diferentes e de tantas religiões em conflito, a racionalidade poderia discernir qual era a mais coerente, aproximar-se de Deus por essa via Razão e fé 36 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I para, finalmente, receber a graça divina que leva o fiel à fé. O postulado importante de Agostinho é o de que não há contradição entre fé e razão. 8.3. São Tomás de Aquino (1225-1274 d. C.) e a Escolástica São Tomás é um grande expoente da final da Idade Média, escreveu a extensa obra : A Suma Teológica. Frequentemente se diz que um mortal não poderia estudá-la durante toda uma vida, tal a quantidade de temas e a profundidade das informações. O filósofo partia do pressuposto de que, sendo Deus perfeito, sua racionalidade deveria se exprimir na natureza. Logo, não poderia haver em hipótese nenhuma contradição entre fé e razão. Mas o que dizer dos dogmas da Igreja como, por exemplo, a Santíssima Trindade, que coloca em xeque a regra lógica da não contradição? Nesse caso, postula Tomás, deve-se entender que fé e religião são campos distintos que seguem lógicas próprias. A teologia não deve tentar desvendar o mundo físico, assim como os critérios para estudar a natureza não devem ser utilizados para avaliar ou julgar a fé. De onde o filósofo tirou essa ideia de racionalidade? O filósofo cristão tentará adaptar Aristóteles a cada ideia cristã. Um exemplo é o da alma. Para São Tomás, a alma se identifica com a forma de Aristóteles e o corpo, com a matéria. Em relação à história do pensamento, vale destacar a importância de São Tomás para o Renascimento. Ao separar razão e fé, dizendo que cada uma dessas faculdades tem sua área específica, ele permitiu que a ciência se desenvolvesse no ocidente. Nas questões da religião, a fé predomina; nas questões do mundo físico; a razão predomina. Santo Agostinho é um dos mais importantes representantes da PATRÍSTICA Nome dado ao sistema teológico filosófico criado pelos primeiros padres da Igreja; a Patrística mantém no seio da fé a própria razão. Razão e Fé Aristotelismo 37 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 9. Renascimento Contudo esse caso de amor entre fé e razão estava com os dias contados. Não necessariamente por causa de discussões abstratas restritas a monastérios e universidades, mas devido às mudanças materiais pelas quais passava a Europa. O comércio floresce na região, outra classe social torna-se um ator social importante, o burguês, e novas necessidades surgem,demandando respostas criativas e técnicas para situações como a das navegações. Dos séculos XIV ao XVI, toda uma nova cultura é criada no velho continente: novas artes, novos conhecimentos, novos métodos de abordar o real. Por incrível que pareça, a filosofia ficou a reboque desse movimento. Quem de fato vai revolucionar o conhecimento será um dos primeiros físicos modernos Galileu Galilei (1564-1642 d.C). 9.1. Galileu Galilei (1564-1642 d.C.) Antes de mais nada, vamos para o básico desse senhor que ousou descobrir mais do que devia. É sabido seu grande pecado, que demorou séculos para ser perdoado pela Igreja. Ele aperfeiçoa lentes e faz um telescópio com qual começa a observar as estrelas. Contraria Aristóteles em relação ao que o pensador havia falado sobre a lua e começa a questionar seriamente o geocentrismo. Valendo-se da observação da realidade, de instrumentos e de cálculos matemáticos, ele revolucionou o conhecimento e colocou novas questões para a Teoria do Conhecimento que só seriam sistematizadas mais tarde. Mas o que havia de tão subversivo nessa forma de conhecer do italiano? Pensamento sistematizado durante a Idade Média que postulava a conciliação entre fé e razão. A fé deve se ocupar dos dogmas relacionados às coisas espirituais; a razão deve ter como objeto o mundo físico. Não deve haver conflito entre campos tão distintos. 38 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 9.2. Pensamento a Partir do Renascimento RENASCIMENTO IDADE MÉDIA ANTROPOCENTRISMO: as discussões intelectuais têm como foco as necessidades humanas TEOCENTRISMO: as discussões intelectuais giravam em torno dos dogmas e das questões divinas RACIONALISMO: a racionalidade e a experimentação valem como princípio de verdade RACIONALISMO SUBMETIDO À FÉ: a racionalidade tem limites SABER ATIVO: conhecer para alterar o mundo SABER CONTEMPLATIVO HELIOCENTRISMO GEOCENTRISMO MATEMÁTICA APLICADA; RACIOCÍNIO INDUTIVO MATEMÁTICA CONTEMPLATIVA; RACIOCÍNIO DEDUTIVO. 10. Questões 1.(Ufpr 2020) De acordo com Tales de Mileto, a água é origem e matriz de todas as coisas. Essa maneira de reduzir a multiplicidade das coisas a um único elemento foi considerada uma das primeiras expressões da Filosofia, porque: a) é um questionamento sobre o fundamento das coisas. Abandonou o argumento de autoridade, do senso comum e desprezou a tradição. O experimento dever ser programado, organizado com o objetivo de confirmar uma hipótese. Usou a matemática como instrumento do conhecimento.. Há dois livros: um sagrado e outro da natureza, a fé não pode interferir na leitura da natureza. 39 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I b) enuncia a verdade sobre a origem das coisas. c) é uma proposição que se pode comprovar. d) é uma proposição científica. e) é um mito de origem. 2.(Ufpr 2019) Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor. (PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.) O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada: a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação. b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão. c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade. d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso. e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso. 3. (Ufpr 2019) Considere as três premissas abaixo: 1. Devemos proibir legalmente apenas o que é moralmente incorreto. 2. Os filhos mentirem para os pais é moralmente incorreto. 3. Todavia, os filhos mentirem para os pais não deve ser legalmente proibido. A partir dessas premissas, é correto inferir que: a) Não é verdade que devemos proibir legalmente apenas o que é moralmente incorreto. b) Os filhos mentirem para os pais não é moralmente incorreto. c) Tudo o que é moralmente incorreto é ilegal. d) Nem tudo que é moralmente incorreto deve ser legalmente proibido. e) Deveria ser proibido que os filhos mentissem para os pais. 4. UFPR 2020 Entre os fragmentos de Heráclito, encontra-se o seguinte: “O combate é de todas as coisas pai, de todas rei, e uns ele revelou deuses, outros, homens; de uns fez escravos, de outros livres.” (Heráclito, Fragmentos. In Os pensadores). Esse fragmento manifesta a) uma dimensão política, no qual se legitima o poder dos mais fortes. b) uma perspectiva epistemológica, oposta ao imobilismo de Parmênides. c)um ponto de vista idealista, que serviu de base para as ideias de Platão. d) reverência metafísica, que expõe o alinhamento do pensador com o Logos divino. e) uma denuncia ética, condenando o conflito como um grade mal da humanidade. 40 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 5. (Autoral) “A filosofia é o aperfeiçoamento da alma humana através da apreensão das coisas e a confirmação das verdades especulativas e práticas, de acordo com a capacidade humana. A filosofia relativa às coisas especulativas, as quais devemos conhecer mas que não precisamos praticar, é chamada filosofia especulativa. A filosofia relativa às coisas práticas as quais devemos conhecer e praticar, chama-se filosofia prática.” (Avicena. “ A filosofia e sua divisão”. In: Marçal, Jairo (org.). Antologia de textos Filosóficos. Curitiba: SEED, P. 2009) “Não é permitido haver nada de hipotético em nossas reflexões. Toda explicação tem que sair e em seu lugar entrar apenas descrição. E esta descrição recebe sua luz, isto é, seu objetivo, dos problemas filosóficos. Estes, sem dúvida, não são empíricos, mas são resolvidos por um exame do funcionamento de nossa linguagem, ou seja, de modo que este seja reconhecido: em oposição a uma tendência de compreendê-lo mal. Estes problemas não são solucionados pelo ensino de uma nova experiência, mas pela combinação do que de há muito já se conhece. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de nosso intelecto pelos meios de nossa linguagem.” (Wittgenstein. “Investigações Filosóficas”. Marcondes, D. "Textos Básicos de Filosofia". Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007.) A partir da leitura dos dois textos, são feitas as seguintes afirmações: I. O texto 1 supõe uma função ética da filosofia, enquanto o texto 2 supõe que a função da filosofia é manter o senso crítico aceso, ou seja, teria caráter epistemológico. II. O Avicena, filósofo árabe que viveu entre os século X e XI c. C., valia-se da filosofia para reforçar a fé; algo contra o qual Wittgenstein se opõe, na medida em que ele supõe ser a filosofia um antídoto contra o enfeitiçamento religioso. III. Avicena tem uma concepção bastante ampla de filosofia, enquanto Wittgenstein considera a filosofia a partir da perspectiva linguística. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmações I e III são corretas. b) Somente as afirmações I e II são corretas. c) Todas as afirmações são corretas d) Somente as afirmações II e III são corretas. e) Somente a alternativa I é correta. 6. (Autoral) “O relato mítico surge, então, como expressão do sentimento de separação e como tentativa de restaurar a unidade e a inocência perdidas.Eis por que todo mito, como sustenta Mircea Eliade, é sempre um relato 41 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I das origens com finalidade instauradora. A forma de consciência que o produz apreende o tempo como um agora permanente que, de algum modo, permanece grudado ao tempo das origens”. (Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. Revista Philósophos 7. 35-56, 2002. São Paulo: PUC). Esse texto revela um concepção do mito a) arquetípica e totalizante. b) fantasiosa e alienante. c) metafísica e mágica. d) finalista e fragmentária. e) mágica e restauradora. 7. (Autoral) Também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo. ARISTÓTELES, Metafísica, A 2, 982 b 18 “É certo que o lógos, assumindo progressivamente, na era clássica, o sentido de “discurso regrado” e, a partir daí, o de “raciocínio” que remete à “razão”, ao “cálculo” e à “medida”, assumiu um uso filosófico que tendia a se opor ao mito como narrativa sagrada. Entretanto, antes de chegar a uma oposição, mythos e lógos estiveram unidos, pelo menos segundo a antiga etimologia que identifica mythos e palavra.” (Perine, Marcelo. “Mito e Filosofia”. In: Philósophos 2002.) Comparando os dois textos, são feitas as seguintes afirmações: I. Os textos parecem indicar perspectivas opostas no que se refere à relação entre filosofia e mito. Aristóteles vê a filosofia como uma continuidade da fase mítica; já o segundo texto aponta para uma diferença radical entre uma fase e outra: o mito se baseia em narrativas; a filosofia num discurso metódico. II. O texto II oferece um argumento decisivo contra a perspectiva aristotélica. III. Tanto o primeiro texto quando o segundo fazem avaliação do mito segundo os mesmos parâmetros. IV. O uso da expressão restritiva “até certo modo” em Aristóteles nos permite inferir que ele também acreditava que mito e filosofia se opunham. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmações I e II são corretas. b) As afirmações I, II e III são corretas. c) Todas as afirmações são corretas d) Somente a afirmação I é correta. e) As afirmações I e III são corretas. 42 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I 8. (Autoral) “A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral enquanto realizada por liberdade e por dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e tornava-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.” (Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000), A autora, nesse fragmento, considera a passagem da filosofia pré-socrática para a filosofia pós-socrática. O que marca esses dois momentos é a passagem a) da metafísica para a física. b) da física para a filosofia antropocêntrica. c) do naturalismo para o idealismo. d) do materialismo para a filosofia espiritual. e) da ciência para a epistemologia. 9. (Autoral) “É por isso, Sócrates, que as pessoas nas cidades, especialmente em Atenas, consideram que deliberar sobre os casos de excelência artística ou bom exercício da profissão é um assunto de poucos entendidos, e se alguém de fora desse grupo faz qualquer deliberação, eles a rejeitam, como você diz, e com razão, segundo penso. Mas quando se encontram para um conselho a respeito da arte política, em que devem ser guiados pela justiça e pelo bom senso, naturalmente permitem as deliberações de todos, já que todos têm de partilhar dessas virtudes, ou então o Estado não poderia existir.” (Marcondes, D. “Textos básicos de Filosofia”. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2007) Nesse fragmento, tirado de um diálogo de Platão, pode-se ler o embate entre Sócrates, que manifesta ideias platônicas, e Protágoras, um grande sofista. A partir da leitura do texto e do seu conhecimento sobre as ideias de Platão e dos sofistas, assinale a alternativa correta. a) Para Protágoras, a justiça deve ser encontrada no consenso da praça pública, algo com o qual Platão não concorda. b) Tanto Platão quanto Protágoras acreditam numa justiça ideal além das circunstâncias cotidianas. c) Segundo Protágoras, sem um ideal de justiça emanado daqueles que têm a sabedoria, não há genuíno Estado. d) Protágoras ironiza o saber proporcionado pela arte e valoriza a política; Platão faz exatamente o contrário. e) Protágoras deixa claro que há duas espécies de pessoas, os entendidos e a grande massa, somente os primeiros deveriam ser ouvidos na política. 10. (Autoral) 43 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I “De todos os argumentos por meio dos quais demonstramos a existência das ideias, nenhum é convincente. Alguns dentre eles não conduzem a uma conclusão necessária e outros conduzem a ideias de coisas das quais, na nossa opinião [sc. nós os platonistas], não pode haver ideias. Com efeito, segundo os argumentos provenientes da existência das ciências (ἐκ τῶν ἐπιστηµῶν) haverá ideias de todas as coisas das quais houver ciência; segundo o argumento da unidade de uma multiplicidade (τὸ ἕν ἐπὶ πολλῶν), haverá ideias mesmo de negações (ἀποφάσεων); enfim, segundo o argumento de que é possível pensar o perecido (τὸ νοεῑν τι φθαρέντος), haverá ideias de coisas perecíveis, pois podemos ter destas coisas uma imagem. (Aristóteles. A metafísica) O texto acima de Aristóteles discute uma postura contrária a do seu mestre Platão no que se refere a) à forma de argumentar, já que Platão por utilizar de analogias e até mitos não consegue ser convincente. b) ao apelo a um tipo de ciência que não se baseava em conhecimento observável. c) à confusão entre unidade e multiplicidade, já que Platão não demarcava com precisão essas duas categorias. d) à existência do mundo ideal, já que Platão não conseguiu provar a existência do idealismo. e) à ideia de negação das coisas perecíveis por Platão, já que para ele aquilo que perece não existe. 11. (Autoral) Segundo o dicionário, maiêutica significa “método socrático que consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto”. Sócrates, ao aplicar esse método, investia contra a) a relatividade das ditas verdades. b) a censura da liberdade de expressão. c) a pseudo infalibilidade dos dogmas. d) a arrogância do orgulho intelectual. e) a certeza das ciências naturais. 12. (Autoral) Para responder a próxima questão, observe o texto abaixo. "Estou mais interessado no microcosmo do que no macrocosmo. Estou mais interessado em como um homem vive do que em como uma estrela morre, em como uma mulher abre seu caminho no mundo do que em como um cometa risca o céu. O mistério humano, e não a condição do cosmos, é o que me fascina" (Sherwin Nuland) Assinale a alternativa correta. 44 CURSO INTENSIVO 2023 Aula 00 – Epistemologia I a) Esse trecho expressa a ideia de Parmênides, na medida em que o autor fala que o que interessa é o mistério humano, mistério característico do Ser de Parmênides. b) Esse trecho expressa a ideia de Heráclito, na medida em que o autor fala vida e da morte do ser humano, ou seja, do caráter mutável da vida e do universo. c) Esse trecho expressa a ideia dos pré-socráticos que se preocupavam com a physis, por isso o autor se refere a morte da estrela. d) Esse trecho expressa a virada ética, na medida em que o autor se refere a duas formas de refletir sobre a realidade manifestando preferência pelo ética. e) Esse trecho expressa a visão socrática sobre a morte, pois o autor fala sobre o mistério humano, ou seja a vida pós a morte, mesma preocupação que Sócrates manifesta no momento de sua morte quando