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AULA 1 CONTABILIDADE GERENCIAL Prof.ª Adriana Berno CONVERSA INICIAL Convidamos você a adentrar nesse universo amplo, porém provocador, que é a discussão/reflexão sobre contabilidade gerencial. A partir da leitura do material podemos juntos construir e articular a teoria com a prática. Vamos entender o conceito de contabilidade gerencial com vistas a mostrar a importância de informações agrupadas para ter uma projeção, resultado e/ou direcionamento acerca do caminho mais adequado a seguir, para um estudo, pesquisa ou atividades profissionais para uma tomada de decisão ou uma previsão de diagnóstico do passado, presente ou futuro, importante a administradores, contadores, economistas e áreas afins com os principais aspectos da contabilidade gerencial a obtenção de dados confiáveis. TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE GERENCIAL Os temas abordados tratam da contabilidade gerencial, área utilizada por contadores, economistas, administradores e afins para atuarem de maneira colaborativa na gestão estratégica e empresarial. Para tanto, são utilizados dados financeiros e econômicos visando à produção de relatórios contábeis e gerenciais para auxiliar no processo de tomada de decisão. Nesse sentido, é necessário o conhecimento de teorias, conceitos e finalidade a fim de que a ferramenta seja empregada para fins empresariais e governamentais. 1.1 Contabilidade Para seguir com o tema, precisamos apresentar conceito da contabilidade e a visão de alguns autores. Pode-se dizer que se trata de uma ciência que compila dados para análise cronológica das operações financeiras e econômicas a fim de serem utilizados como instrumento contínuo de informações para interpretação da situação patrimonial, financeira e econômica e favorecer as tomadas de decisões. Ribeiro (2003, p. 19) a define como “uma ciência que possibilita, por meio de suas técnicas, o controle permanente do patrimônio das empresas”. Na percepção de Gouveia (2001, p. 1), a “contabilidade é um sistema muito bem idealizado que permite registrar as transações de uma entidade que possam ser expressas em termos monetários e informar os reflexos dessas transações na situação econômico-financeira dessa entidade em uma determinada data”. Marion (1998, p. 24), complementa que ela “é o instrumento que fornece o máximo de informações úteis para a tomada de decisões dentro e fora da empresa”. É importante esclarecer que a definição de contabilidade é crucial ao entendimento da relação entre finanças, economia e entidade empresarial (seja privada, seja pública). Ela constitui um instrumento de informações úteis para verificar e validar relatórios gerenciais para tomada de decisões. Para Ávila (2012, p. 27), o conceito de contabilidade se resume na técnica para os registros monetários de uma entidade econômico-financeira. Contabilidade é a ciência que se ocupa do registro, por meio de técnicas próprias, dos atos e fatos da administração das entidades econômico- financeiras, que possam ser expressos monetariamente, possibilitando o controle, o estudo e a interpretação das variações do patrimônio da empresa, bem como fornecendo informações a todos os usuários interessados. 1.1.1 Função da contabilidade A função da contabilidade é gerar informações, registrar, organizar cronologicamente demonstrativo para análise e acompanhamento das transações financeiras e patrimônio, em virtude da atividade econômica e social em empresas e órgãos. 1.1.2 Princípio contábil Em primeiro momento vamos refletir que os princípios são um conjunto de normas e/ou padrões de conduta a serem seguidos por uma instituição. Nesse aspecto, estão relacionados ao início de um procedimento ou processo de determinada área. Os princípios fundamentais da contabilidade são normas básicas aplicadas para o registro contábil. Fipecafi (2007, p. 91-93), no livro citado, apresenta os tipos e define os princípios contábeis: • Princípio da entidade – patrimônio da entidade, a necessidade de separar patrimônio dos sócios como a empresa, ou seja, autonomia patrimonial. • Princípio da continuidade – vida/duração da entidade por tempo indeterminado, ou seja, ilimitado. • Princípio da oportunidade – tempestividade e integridade, ou seja, tempo certo e registros patrimoniais. • Princípio do registro pelo valor original – registro inicial da transação. • Princípio da competência – reconhecimento e/ou registro das despesas incorridas e/ou receitas realizadas. • Princípio da prudência – registro do menor valor para ativo, e maior valor para passivo. Vale esclarecer que alguns autores relatam a correção monetária como princípio, ao passo que outros entendem que já está em desuso, por isso não foi apontado nesta abordagem. O assunto pode ser aprofundado com leituras específicas. Os princípios são o início de pontos a ser considerado para conhecimentos contábeis, ponto de origem a razão de criar a metodologia e organização das transações e relatórios para a tomada de decisão. 1.1.3 Tipo de contabilidade Neste tópico vamos averiguar as modalidades da contabilidade. Na visão de Salotti et al. (2019, p. 36-37) os tipos de contabilidade são: • Fiscal: atua na elaboração e/ou cálculo para recolhimento de tributos incidentes sobre a empresa mediante procedimentos, princípios e normas vigentes na legislação tributária federal, estadual, municipal e outras para os órgãos regulamentares, ou seja, o fisco. Também pode ser utilizada para fins de planejamento tributário, com aplicação de benefícios fiscais de acordo com a operação da empresa. • Gerencial: atua na administração das atividades operacionais e financeiras para os usuários internos na tomada de decisão. • Financeira: atua na elaboração e publicação das demonstrações contábeis e na disponibilização de informações financeiras, patrimoniais para os usuários externos. Alguns autores incluem também a perícia contábil e a auditoria contábil como tipos de contabilidade. Os interessados no assunto podem buscar aprofundá-lo. Vamos praticar? Agora é sua vez! Questões (Ávila, 2012, p. 40): 1) Qual o conceito de contabilidade? 2) Quais as áreas de atuação em que a contabilidade pode desenvolver suas atividades? 3) Estudo de caso: Brealey, Myers e Allen (2019, p. 655). Com base no relatório de demonstração de resultado da rede de materiais de construção do ramo varejista da empresa Lowe's de determinado exercício, ou seja, do ano, que análises podem ser realizadas pelas informações e valores apresentados? Faça uma análise crítica e elabore considerações sobre a situação financeira mostrada na demonstração de resultado (Quadro 1). Quadro 1 – Demonstração de resultado Receitas $ 48.230 (-) Custos 31.729 (-) Despesas administrativas 11.158 (-) Depreciações 1.539 (=) LAJIR 3.804 (-) Encargos de juros 298 (=) Impostos sobre rendimentos 3.506 (-) Impostos 1.311 (=) Lucro líquido 2.195 Dividendos 491 Adição aos lucros retidos 1.704 Fonte: elaborado com base em Brealey, Myers e Allen, 2019, p. 655. (As respostas estão disponíveis no final desta abordagem). TEMA 2 – DIFERENÇA ENTRE CONTABILIDADE GERENCIAL E FINANCEIRA Os temas abordados estão relacionados à contabilidade gerencial na gestão e a contabilidade financeira nas normas e regras para atender aos acionistas e às demandas legais na visão monetária e econômica. 2.1 Contabilidade gerencial Trata-se de uma ferramenta de gestão destinada à interpretação de dados financeiros e não financeiros para contribuir com gerenciamento nas atividades financeiras, fiscais e de custos e gerenciais, para a avaliação de desempenho das empresas em suas áreas, para atuar nas melhores decisões a fim de se manter competitivas no mercado (Salotti et al., 2019, p. 40).A contabilidade geral tem o objetivo de viabilizar os recursos de cunho econômico das empresas privadas e públicas. 2.2 Contabilidade financeira A contabilidade financeira segue normas, princípio e legislação para atender aos acionistas quanto à sua saúde financeira e com base para as demandas legais do Brasil. Isso ocorre por meio de demonstrações contábeis como: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) e outros (Salotti et al., 2019, p. 40). A atividade relacionada à contabilidade segue padrões organizacionais dos dados financeiros e econômicos. 2.2.1 Principais demonstrações financeiras Salotti et al. (2019 p. 63) definem as principais demonstrações financeiras: ● Balanço Patrimonial (BP) – apresenta a posição patrimonial e financeira de uma empresa em determinada data. ● Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) – apresenta o resultado operacional positivo ou negativo da empresa a fim de mostrar o desempenho dela em determinado período. ● Demonstração do Patrimônio Líquido (DMPL) – a mutação do patrimônio líquido é possível pelo aumento ou redução do patrimônio líquido de origem do resultado, das distribuições de dividendos e do prejuízo acumulado. ● Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) – registra a movimentação de saída de caixa derivada das atividades operacionais da empresa. ● Demonstração do Valor Adicionado (DVA) empresas na bolsa de valores – identifica a origem das riquezas da entidade, geradas ou distribuídas. Os demonstrativos são ferramentas para visualizar a viabilidade financeira e econômica das entidades privadas e públicas. 2.3 Pontos que diferenciam a contabilidade gerencial da financeira Neste momento vamos esclarecer a diferença entre a contabilidade gerencial e a financeira. Para tanto, vamos mencionar pontos para melhor entendimento desse contexto. Carraro, Prates, Araújo e Silva (2019, p. 18, citados por Atkinson, 2012) relatam os pontos divergentes entre a contabilidade financeira e a gerencial. A contabilidade financeira tem seus aspectos assim definidos: ● Seu foco é fornecer informações financeiras e patrimoniais aos usuários externos, ou seja, investidores e fisco. ● Registra as transações do passado. ● É obrigada a publicar as demonstrações em órgãos competentes. ● Segue normas, princípios e procedimentos legais. ● As informações são monetárias. ● Sua finalidade e/ou função é registrar, organizar cronologicamente as movimentações patrimoniais e financeiras da entidade apresentada nas demonstrações contábeis. Por sua vez, a contabilidade gerencial tem seus aspectos assim descritos: ● Seu foco é fornecer informações para usuário interno, ou seja, os gestores. ● Fornece informações para o futuro da organização. ● É de uso exclusivo da entidade, internamente. ● Não há procedimentos e normas a serem seguidos ou preestabelecidos. ● As informações podem ser monetárias e não monetárias. ● A sua função é apoiar a tomada de decisão. As diferenças alocadas predominantemente presentes na contabilidade financeira são a transação passada, e no caso da contabilidade gerencial, as operações futuras. Entretanto, mas ambas levam ao fator de tomada de decisão, sejam considerando o que aconteceu, seja para projetar. Vamos praticar! Agora é sua vez. A sugestão é você assistir ao filme “O contador” visando ao aprimoramento profissional acerca de uma visão da contabilidade gerencial. O filme trata de um profissional da área contábil que descobre uma fraude. Nesse momento, pode refletir o papel da gestão estratégica em verificar “fraude”, no caso da reprodução em questão, e realizar um crítica colocando em evidência a importância da contabilidade gerencial em detectar irregularidade antes que aconteça o ato ilícito ou desvio, e em caso de erro, propor ajustes necessários para regularizar a situação. Com uma nova visão, profissionais da área de contabilidade, administração, finanças e economia vão assistir ao filme com uma perspectiva sistêmica dos pontos a serem questionados para tomada de decisões empresariais, visando descobrir a fraude, demonstrativos que despertaram a atenção para a busca de novos registros a fim de apurar desvio e fraude na empresa. TEMA 3 – CONTABILIDADE GERENCIAL E GESTÃO ESTRATÉGICA A contabilidade gerencial é uma ferramenta que coleta dados e informações visando contribuir no processo da gestão estratégica dentro da organização para possíveis decisões de novos investimentos, transformações de processos estratégicos. 3.1 Gestão estratégica Gestão estratégica é a implementação de ações voltadas à geração de resultados com foco em melhoria de processo para se manter à frente no mercado competitivo. De acordo com Cerqueira Neto (1993, p. 18), é “o processo de buscar a compatibilização da empresa com seu meio ambiente externo, através de atividades de planejamento, implementação e controle, consideradas as variáveis técnicas, econômicas, informativas, sociais, psicológicas e políticas”. Por sua vez, Rocha (1999, p. 46) a define como “o processo de tomada de decisões e a implementação de ações que visa a conceber, desenvolver, implementar e sustentar estratégias que garantam vantagens competitivas a uma organização”. A gestão estratégica é importante à implementação de ações para a gestão organizacional por ser um ferramenta para melhorias contínuas e para manter-se no mercado competitivo. 3.2 Vantagens A gestão estratégica garante algumas vantagens para organização se manter no mercado competitivo. É uma ferramenta que contribui nas tomadas de decisão mais assertivas, com a implementação de melhorias na redução de desperdício no processo de custo, no aumento de produtividade dos processos, melhor precificação de produtos e/ou serviços e eficiência na gestão econômica e financeira da organização. 3.3 Avaliação de desempenho na visão de controle de gestão Para um controle de gestão eficiente, há um caminho a ser seguido no sentido de avaliar e analisar a empresa e suas áreas. Carraro et al. (2018, p. 45) apresentam quatro etapas a serem aplicadas para a contabilidade gerencial: • Elaboração das estratégias: o objetivo de longo prazo e o caminho a ser percorrido para alcançar. • Planejamento: preparar informações, organizá-las para priorizar metas e prever e/ou medir a execução dos planos preestabelecidos. • Execução: realização das ações para atingir o objetivo estabelecido. • Revisão: dados coletados do plano iniciado com o executado para análise de melhoria no processo. Nascimento e Reginato (2007, p. 174) apresentam a avaliação de desempenho a ser praticada pelos gestores a traçar um objetivo de ser atingido pela organização e um particular de cada área, com apresentação de indicadores para direcionar a desempenho e melhorias nos processos no prisma operacional e gerencial. Para tanto algumas premissas são consideradas: ● Fixar objetivo; ● Implementação de recursos para melhoria dos resultados; ● Estar em linha com a expectativa esperada pelos gestores; ● Sistema de informação e o registro das informações para a avaliação de desempenho. Os indicadores podem ser econômicos – financeiros e não financeiros. Para os financeiros há quatro categorias: ● Indicadores de liquidez – avalia o nível de endividamento e rentabilidade da organização. ● Indicadores de atividade – mensura as etapas do ciclo da organização, como o tempo médio do estoque até o prazo dado para receber do cliente a venda. ● Indicadores de endividamento – apresenta o quanto a organização deve a terceiros; ● Indicadores de lucratividade – apresenta o lucro da organização. A avaliação de desempenho é uma ferramenta que mede as atividades em diversas áreas da empresa e serve para melhoria no ciclo organizacional, pois coleta e traduz os dadosdas diversas áreas que necessitam de alguma melhoria operacional, financeira, tributária e não financeira. As informações não financeiras podem ser citadas com alguns exemplos como a pesquisa satisfação do cliente, a fidelização do cliente ,a motivação de seus colaboradores entre outros. TEMA 4 – CONTABILIDADE GERENCIAL E SISTEMA DE INFORMAÇÃO O sistema de informação é um conjunto de elementos fundamentais voltados à consolidação de informações operacionais e gerenciais aos gestores para a gestão organizacional na tomada de decisão. Entre os exemplos, podemos citar os relatórios de vendas, custo do produto, movimentação do estoque etc. 4.1 Sistema de informação Para Nascimento e Reginato (2007, p. 7), “compreende o registro das operações ocorridas na atividade da empresa nos segmentos contábil, fiscal e de ativos entre outros”. 4.1.1 Finalidade do sistema de informação Nascimento e Reginato (2007, p. 66) explicam que o objetivo do sistema de informação “é fornecer informações para apoio às operações e gerenciamento da organização na tomada de decisão através de disponibilização de dados relevantes e confiáveis para os gestores através de ferramentas tecnológicas da informação”. Nascimento e Reginato (2007, p. 66, citados por Davis; Olson, 1985) entendem que o sistema de informação é um facilitador para orientar a empresa na gestão em todas as suas fases por meio de relatório para análise de dados com vistas à tomada de decisão. 4.1.2 Tipos de sistemas de informação De acordo com Nascimento e Reginato (2007, p. 66-69), os sistemas de informação podem ser assim classificados: ● Sistema de Informação Gerencial (SIG): são informações disponibilizadas de dados para contribuir na melhoria dos processos organizacionais e na qualidade na tomada de decisões (Oliveira, 1997, p. 39). ● Sistema de Apoio à Decisão (SAD): Nascimento e Reginato (2007, p. 68, citados por Sprague, 1991) definem como um sistema computacional que serve de apoio para a tomada de decisão por meio de dados confiáveis, claros e a flexibilidade da informação. ● Sistema de Informações Executivas (SIE): projetado para executivos, tem como foco o desenvolvimento do planejamento estratégico e processos decisórios da organização. Os dados são fornecidos na forma de gráficos e imagens de acesso rápido e fácil para a análise de desempenho da empresa. Nascimento e Reginato (2007, p. 69, citados por Pechuán, 1997) ressaltam a aplicação para realinhar as prioridades e criação de novas iniciativas. A finalidade da contabilidade gerencial do sistema de informação é registrar e organizar dados para medir indicadores visando projetar projetos de melhorias em diversas áreas da organização. TEMA 5 – ESTUDO PRÁTICO 1: CONTABILIDADE GERENCIAL COMO FERRAMENTA DE DECISÃO Neste tópico serão apresentados alguns casos aplicados à prática da contabilidade gerencial dentro de uma organização privada e pública. 5.1 Contabilidade gerencial para empresas privadas Trata-se de um estudo de caso da empresa ACR Fashion, do segmento de confecção no setor têxtil, com foco em identificar o ciclo de vida dela em uma visão gerencial. Com a leitura do artigo, vamos refletir sobre a contabilidade gerencial de uma organização privada. O relato descreve o uso de artefatos de contabilidade gerencial ao longo do ciclo de vida de uma pequena empresa do ramo de confecção do setor têxtil, analisa o desenvolvimento dela, a dimensão dos dirigentes e os sócios que exerceram papel protagonista nas estratégias. Contudo, vale observar que não havia artefatos gerenciais formais, mas a intenção em determinados comportamentos. Também podem ser analisados o ciclo de vida e os modelos de gestão simplificados e enxutos que contribuíram para nortear as decisões corporativas. A gestão demonstra informalmente que existe a contabilidade gerencial que influencia a tomada de decisão da empresa. O artigo de Alessandro Souza de Paulo e Yara Consuelo Cintra, intitulado “O uso de artefatos de contabilidade gerencial no ciclo de vida de empresa do setor têxtil: O caso ACR Fashion”, foi publicado na Revista de Contabilidade do Mestrado de Ciências Contábeis da UERJ (v. 23, n. 1, 2018) e está disponível no seguinte link: <https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/39297>. 5.2 Contabilidade gerencial para empresas públicas A contabilidade gerencial veio para ser utilizada na estratégia empresarial, e aqui relataremos uma prática adotada pelo Banco do Brasil. Carraro et al. (2018, p. 20) apresentam um caso em um órgão público na visão gerencial da mudança realizada na década de 1990. Segundo os autores, “na década de 1990, o Banco do Brasil não possuía um modelo de gestão claramente definido, mas tinha noção da necessidade de reduzir custos para evitar novos resultados negativos”. Sua diretoria promoveu um conjunto de ações visando melhorar os resultados, entre elas: reestruturação de pessoal, reavaliação de clientes, levantamento da necessidade de investimentos para atualização tecnológica; e estruturação do capital necessário para suportar os ativos e seus respectivos riscos. Os principais fatores que motivaram a mudança na contabilidade gerencial do banco foram: • ambiente empresarial mais competitivo a partir da década de 1990; • redução do processo inflacionário da economia brasileira a partir da instalação do Plano Real; https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/39297 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/39297 • significativos prejuízos do Banco do Brasil nos anos 1995 e 1996. Diante do novo cenário apresentado à época, sua administração implementou um profundo processo de mudança organizacional. Os instrumentos de gestão – e em particular a contabilidade gerencial – demonstraram estar completamente desalinhados em relação ao novo modelo de gestão adotado pelo banco. Após a implantação da contabilidade gerencial, ocorreram mudanças significativas decorrentes das seguintes ações: • adoção de custeio direto e margem de contribuição em substituição ao custeio por absorção; • ênfase na gestão baseada em resultados econômicos em substituição àquela baseada em custos e volumes; • implementação de centros de resultados em substituição a centros de custos; • implementação do conceito de preços de transferência. A significativa intensidade dessas mudanças foi tanta que colocava em risco a eficácia do processo de institucionalização dos novos conceitos. Estes foram traduzidos em regras e rotinas da organização, materializadas na forma de manuais de procedimentos e sistemas de informações corporativos. Já pelo foco da teoria institucional, as mudanças nos processos ocorreram quando: • os novos conceitos introduzidos começaram a fazer parte dos hábitos das pessoas, das rotinas e regras da organização; • as novas instituições deram significado ao grupo social em termos de avaliação de desempenho ou na forma de comunicação; • os novos conceitos foram aceitos sem questionamento (taken for granted); • “as instituições são materializadas na forma de artefatos concretos na organização”. Fonte: elaborado com base em Pereira e Guerreiro, 2005. Taken for granted: dar como certo; realizar corretamente. 5.2.1 Contabilidade gerencial mundial O cenário nacional contemporâneo apresenta evolução nas últimas décadas, com destaque para a avaliação de desempenho e a estratégia. Propomos aqui a reflexão sobre a contabilidade gerencial mundial, e a sugestão é a leitura do artigo de Elizangelo Tomachevski e Alessandro Lepchak, intitulado "O estado da arte da contabilidade gerencial no Brasil: um comparativo com resultados internacionais contemporâneos", publicado na revista Enfoque: Reflexão Contábil (v. 38, n. 1, 2019). Ele está disponível no seguinte link: <https://www.redalyc.org/journal/3071/307160600004/html/>.https://www.redalyc.org/journal/3071/307160600004/html/ REFERÊNCIAS ÁVILA, C. A. Gestão contábil para contadores e não contadores. 2. ed. Curitiba: InterSaberes, 2012. BREALEY, R.; MYERS, S.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. CARRARO, W. B. W. H. et al. Destaques da contabilidade gerencial. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2018. (Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias). CERQUEIRA NETO, E. P. Gestão da qualidade: Princípios e métodos. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1993. FERRARI, E. L. Contabilidade geral. 12. ed. Niterói: Impetus, 2012. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Introdução à teoria da contabilidade. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. NASCIMENTO, A. M.; REGINATO, L. Controladoria – um enfoque na eficácia organizacional. São Paulo: Atlas, 2007. PAULO, A. S.; CINTRA, Y. C. O uso de artefatos de contabilidade gerencial no ciclo de vida de empresa do setor têxtil: O caso ACR Fashion. Revista de Contabilidade do Mestrado de Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 3-17, jan./abr. 2018. Disponível em: <https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/39297/pdf>. Acesso em: 10 fev. 2023. ROCHA, W. Contribuição ao estudo de um modelo conceitual de sistema de informação de gestão estratégica. 148 f. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. SALOTTI, B. M. et al. Contabilidade financeira. São Paulo: Atlas, 2019. TOMACHEVSKI, E.; LEPCHAK, A. 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Gerencial: tem por objetivo auxiliar a administração na otimização dos recursos disponíveis na entidade por meio de um controle adequado do patrimônio. Financeira: elabora e consolida as demonstrações contábeis para disponibilizar informações aos usuários externos. 3. Estudo de caso (Brealey; Myers; Allen, 2019, p. 655). “Veja o demonstrativo de resultados resumido apresentado”. A Lowe’s vendeu produtos no valor de $48.230 milhões; o custo total de compra e de venda desses produtos foi de $31.729 + $11.158 = $42.887 milhões. Além desses custos, a empresa também fez uma dedução para fins de depreciação de $1.539 milhão no valor do imobilizado utilizado para a produção dos bens. Portanto, os ganhos dela, antes de pagar juros e impostos sobre rendimentos (LAJIR), foram: LAJIR = total das receitas − custos − depreciação = 48.230 − 42.887 − 1.539 = $3.804 milhões. Desse total, foram utilizados $298 milhões para pagamento de juros da dívida de curto e de longo prazos (lembre-se de que os juros da dívida são pagos do rendimento antes dos impostos) e $1.311 milhões foram para o governo sob a forma de impostos. Os $2.195 milhões que sobraram pertencem aos acionistas. A Lowe’s pagou $491 milhões com dividendos e reinvestiu o restante no negócio.