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Conceitos Fundamentais sobre Ética e Cidadania Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Fundamentos de Ética e Cidadania ..................................................... 10 Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética e da Moral ......................................... 10 Conceito de Cidadania .............................................................................. 18 Ética Social e Política ................................................................................26 A Ética e a Moral na Contemporaneidade ........................................ 32 7 UNIDADE 01 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Você sabia que estudar ética e cidadania tem uma importância significativa nos tempos atuais? Isto porque os indivíduos estão cada vez mais confusos em relação à construção de suas atitudes e pensamentos quanto às rápidas e volumosas transformações de nossa sociedade. Trata- se de entender como e de que forma devemos interagir com os diferentes sujeitos sociais e seus diferentes pertencimentos culturais e políticos. Enquanto a ética imprime uma ideia de valores e normas sociais construídos historicamente de acordo com as diferentes demandas sociais dos grupos que integram a sociedade, a ideia de cidadania nos remete ao pertencimento a uma localidade e ao compartilhamento de valores e normas sociais dela. Portanto, tanto a questão da cidadania quanto a ideia da ética fornecem mapas referenciais para nossas ações e interações, com o objetivo de identificar a qual conceito de moral estamos submetidos. Entendeu? Vamos explorar mais este debate ao longo desta unidade. Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Diferenciar os conceitos de ética e moral. 2. Identificar o conceito de cidadania. 3. Demonstrar o conceito de ética social e sua relação com a ética política. 4. Ponderar a relação entre ética e moral em tempos contemporâneos. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Ética e Cidadania 10 Fundamentos de Ética e Cidadania OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá dominar os conceitos de ética e moral, sabendo diferenciá-los e identificar sua importância para a vida em sociedade. Na atualidade, quando os indivíduos não sabem identificar situações de caráter moral, podem emitir julgamentos e agir de forma a serem julgados negativamente pela ordem social constituída. Vamos lá?. Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética e da Moral Iniciamos nossos estudos sobre ética e moral procurando entender a definição desses conceitos e a diferença entre eles. Para Cortella (2009), a ética é o princípio orientador de nossa conduta em sociedade, ela nos permite distinguir e definir nossas ações e pensamentos em relação a diferentes experiências no mundo social. A ética está em nosso dia a dia. Em qualquer situação ou acontecimento, vemos várias inferências dos moralistas a solicitar necessidade de afirmação ética. Realmente, há um desgaste em falar de ética em tempos atuais, mas ainda é muito necessário entender o conceito e valorizar sua aplicação. Pode-se ousar dizer que é impossível avançar no conceito de ética sem abordar o conceito de valores. O que são valores, então? Desde que nascemos, somos ensinados sobre o que é certo e errado, a partir daí, vamos direcionando nosso olhar, bem como disseminamos valores impostos pela sociedade. Se considerarmos que o valor moral é uma necessidade para a sobrevivência em sociedade, estaremos começando a entender mais sobre ética, moral e vida social, no sentido relacional — ou seja, de interação de uns com os outros. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Ética e vida coletiva Fonte: Pixabay Por isso, Cortella (2009) afirma que a ética é compreendida no bojo dos estudos da filosofia e tem relação com a construção da moralidade, pois, a partir dessa relação, nasce a ideia de um “exercício de condutas”. Isso significa para o autor que, a partir da concepção ética, espera-se de um indivíduo que ele aja de uma forma previsível em uma determinada situação, pois entende-se que incorporou as regras morais para compor seu comportamento social. Com essa definição pode-se inferir que a ética é a vida pensada, isto é, uma proposta de ação a partir do que a moral estabelece. Nesse sentido, precisamos compreender que a ética está no centro da construção de relações sociais harmônicas e benéficas para a preservação do todo social, isso porque ela aponta a ideia de uma ação que leva em conta o outro e que se fundamenta na forte presença dos valores morais. DEFINIÇÃO: Ética: define-se como um modo de agir a partir de uma norma moral incorporada, refere-se à uma orientação de vida que deve, supostamente, levar em consideração a preservação positiva da vida em sociedade. Ética e Cidadania 12 Ainda explorando o conceito de ética como parte da Filosofia, a qual fundamentalmente implica em entendimento do comportamento moral, vejamos de forma ágil como os clássicos filósofos consideravam esse conceito. Nos estudos de Chauí (2010), encontramos que, para os sofistas, a ética era relativista, pois, em suas concepções, não havia normas universais de definição para a vida social. Sócrates, tanto quanto Kant, buscava o entendimento da ética a partir da compreensão da alma humana, pois acreditava que nela residiriam fundamentos da moral. Já nos ideais de Platão, vemos a separação entre corpo e alma, para ele, o corpo sujeito a paixões poderia desviar-se do bem, por isso, o Homem só conseguiria desenvolver a ética para o bem comum na Pólis. Ainda em Chauí (2010), vemos que, para os estoicos, a ética constituía uma ideia de autocontrole que levava a uma aceitação da realidade, uma clara noção de destino traçado sob a égide de uma razãouniversal, o que levava à imperturbabilidade da alma. Em contrapartida, os epicuristas ao falarem de ética e imperturbabilidade da alma mostravam que esta era uma finalidade dela. Entretanto, os epicuristas adotavam quatro princípios para o entendimento da ética: o primeiro era que o homem não devia temer aos deuses; o segundo indicava que o homem não devia temer a morte; o terceiro apontava que a felicidade era possível de ser alcançada; e, por fim, o quarto princípio dizia que qualquer dor pode ser suportada. Com essas ideias, esses filósofos pretendiam afirmar que a ética, enquanto bem fundamental, é a defesa do prazer, não o prazer sexual, mas o prazer relacionado ao sentimento de amizade. Em Aristóteles veremos, mais adiante, que a ética está relacionada à busca pela felicidade, que deve ser encontrada no bem comum e na ação do homem na Pólis. Ética e Cidadania 13 Figura 2 - Reflexão sobre ética Fonte: Freepik Falamos muito sobre o conceito de ética, e não podemos deixar de nos aprofundar sobre o conceito de moral. Portanto, o que é a moral? Podemos inferir que a moral é um conjunto de regras, normas de uma sociedade ou localidade, tornando-se relevante pela proporção do desrespeito das pessoas às leis. A moral funciona como um conjunto de condutas que devem direcionar as diferentes formas de agir dos indivíduos. DEFINIÇÃO: Moral: o conjunto de condutas e normas que os indivíduos costumam aceitar como válidas. Essas regras são adquiridas na educação, por meio da cultura e das tradições dos diferentes grupos sociais. Cada grupo tem suas regras e concepções morais. Para Chauí Kant (1921), que foi quem mais discutiu a ética formal, a moral do comportamento reside na vontade e nos motivos do agente considerado. Ética e Cidadania 14 IMPORTANTE: É importante entender que aquilo que não é moral, pode ser: IMORAL: com conotação de tudo aquilo a que se opõe a moral, por exemplo, o questionamento da atuação dos políticos no Brasil. AMORAL: um homem que se comporta de forma independente dos juízos sobre o bem e o mal, ele não considera qualquer parâmetro de moral para sua conduta. Figura 3 - Perspectivas da ética Ética e Cidadania 15 Fonte: Pixabay Figura 4 - Regras morais para o erro ou acerto social Fonte: Freepik EXPLICANDO MELHOR: A ética e a moral andam de mãos dadas, mas são essencialmente conceitos diferentes. É preciso saber que a ética é importante porque revela o respeito aos outros e à dignidade humana. Todos nós temos ética, só temos que desenvolver e acreditar no bem. A ética orienta-nos e ajuda-nos para que tenhamos uma vida boa. Observe o quadro abaixo sobre as diferenças entre esses conceitos: Quadro 1 - Ética e moral: apontamentos diferenciais ÉTICA MORAL Princípio teórico-reflexivo Regras de condutas específicas Ética é temporal Moral é temporária Ética é universal Moral é cultural Fonte: Elaborado pela autora (2021). Ética e Cidadania 16 Assim, a ética pode ser entendida como um parâmetro, a lei do que seja ato moral, o controle de aplicação da moral. Dessa forma, são os códigos de ética que devem ser exercidos para os diferentes conjuntos de grupos dentro do sistema social mais abrangente. Já a moral, por sua vez, de acordo com Kant em Chauí (2010), “é tudo aquilo que precisa ser feito, independentemente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. Se praticarmos um ato moral, podemos até sofrer consequências negativas, já que o que é moral para uns pode ser amoral ou imoral para outros. Quadro 2 - Diferenças entre ética e moral ÉTICA MORAL Lida com o CERTO e o ERRADO. Lida com o CERTO e o ERRADO. Modo social de agir: implica no consenso e na adesão da sociedade. Modo pessoal de agir: é adquirida e formada ao longo da vida por experiências. Normas e regras sociais: é guiada pela cultura da sociedade. Normas e regras pessoais: é guiada pela consciência. Coletivo: se constrói a partir do consenso de várias morais. Individual: é o que fundamentada a ética. Fonte: Elaborada pela autora (2021). SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso ao vídeo “Moral e ética: conceitos e diferenças”, o qual traz uma boa discussão sobre a diferença entre ética e moral. Disponível aqui. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=dzX88EsmHr0 17 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu um pouco mais? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que ética e moral são conceitos complementares, porém, diferentes em sua essência. Procuramos marcar que ética é a reflexão e a teoria da internalização dos valores morais, que são específicos para cada grupo ou sociedade. Cada grupo social possui suas normas e orientações de conduta. Ao escolhermos orientar nossa ação pensando na preservação positiva da interação social e no bem do outro, estamos atuando de forma ética. Nem sempre, durante a história, a ideia de ética foi pensada como o conceito que hoje devemos adotar. A ética nos faz discernir entre certo e errado, mas com foco na organização e preservação do social e da manutenção do bem-estar alheio. Ética e Cidadania 18 Conceito de Cidadania Pensar em um conceito de cidadania nos remete a um sentimento de pertencimento a um Estado, uma nação ou um Estado-nação. Devemos entender que esse conceito vem a ser um grande ponto de referência para extrairmos a compreensão de direitos, obrigações e deveres de cada indivíduo mediante o todo social que, a partir de uma representação política, pode direcionar ou não os interesses de um grupo de indivíduos em um sistema político. Esses indivíduos podem, ou não, constituírem-se como cidadãos. O que é ser cidadão? O que podemos entender sobre cidadania? Para Carvalho (2002), o conceito de cidadania foi relacionado a um costume de desdobrar esta em direitos civis, políticos e sociais. Nesse olhar, segundo o autor, o cidadão pleno seria aquele que tivesse os três direitos, mas ainda teríamos os cidadãos incompletos, cujos direitos se resumiriam em alguns poucos; já aqueles que não tivessem direitos seriam considerados não cidadãos. Para ele, ao se resumir o conceito de cidadania a posse e gozo de direitos civis, políticos e sociais, também é preciso compreender o que significa cada um desses direitos. Nesse sentido, de acordo com o autor, vemos que: • Direito civil – aquele que garante o ir e vir, bem como o agrupamento em movimentos, como sindicatos, a realização de greve etc.; possuir seus próprios bens (propriedade privada); livre organização religiosa ou mesmo ideológica. • Direito político – realiza-se no ato de votar e ser votado, na participação da vida política do país. O indivíduo pode ser candidato à representação e também pode escolher quem quer que o represente. • Direito social – refere-se a ações governamentais e da sociedade civil organizada em prover serviços ao cidadão, como saúde, educação e políticas sociais. Ética e Cidadania 19 Figura 5 – Cidadania e relação com os direitos e deveres Fonte: Elaborada pela autora. (2021). Marshall (2002), ao desenvolver a discussão sobre o conceito de cidadania, mostra que essa foi construída na Inglaterra antes da Revolução Industrial, em contexto de necessidade de afirmação de direitos, uma vez que o reconhecimento de direitos aos nobres, e posteriormente aos burgueses e até à classe trabalhadora, mostrou-se uma tarefa primordial à organização das relações de produção, que se consolidariam mais tarde na sociedade moderna. Para o autor, a evolução da cidadania só se concretiza com a conquista de direitos ao longo da história. A cidadania é pensada por ele considerando aspectos civis, políticos e sociais. Então, se buscarmos a origem histórica do conceito, com- preenderemos que sua origem como palavra vem do latim “civitas”,que significa cidade. Essa palavra, “cidadania”, era comumente utilizada no contexto da Roma Antiga para identificar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa poderia usufruir. Com esse histórico de debates e conceitos, vemos que a ideia de cidadania não é algo estável, definido ou adquirido sem um entendimento de ação. Com isso, destaca-se que não é a conquista de um direito que significa que ele vá de fato ser efetivado. A cidadania é um exercício de saber e agir que é preciso ser incluído e desejar participar da construção de novas relações e consciências de efetivação de direitos. Ética e Cidadania 20 VOCÊ SABIA? É muito comum acharmos que a ideia de cidadania pode ser resolvida apenas com a efetivação de direitos para cada indivíduo ou grupo social? Pois é, seria necessário destacar que a cidadania envolve uma compreensão dos deveres de cada um para com a sua cidade, estado ou localidade onde habita. Ter deveres é assumir que há uma relação de troca recíproca entre receber, obter ou conquistar direitos e praticar a realização de deveres. Exercitar o cumprimento de um papel social que possui tarefas para continuamente fortalecer e ressignificar a vida social. Figura 6 – Direitos e deveres do cidadão brasileiro DIREITOS CIVIS DIREITOSSOCIAIS DIREITOS POLÍTICOS DEVERES Direito à vida Educação Garantia de voto direto e secreto, com igual valor para todos. Participar das eleições, escolhendo e votando nos seus candidatos. Direito à liberdade de expressão Saúde Direito a ser candidato a um cargo nas eleições. Estar atento ao cumprimento das leis do país. Liberdade de ir e vir. Alimentação __________ Pagar os impostos devidos. Igualdade entre homens e mulheres Trabalho __________ Participar da escolha das políticas públicas. Proteção da intimidade e da vida privada Moradia __________ Respeitar os direitos dos outros cidadãos. Liberdade para exercer sua profissão. Transporte __________ Proteger o patrimônio público. Direito à propriedade Lazer __________ Proteger o meio ambiente. Fonte: Elaborada pela autora. com base em Lenzi ([s. d.]). Ética e Cidadania 21 Figura 7 – Cidade e cidadania Fonte: Freepik IMPORTANTE: Com toda a discussão apresentada, é possível lembrar de uma obra de Dimenstein (1994), O cidadão de papel, que aborda o fato de que, no Brasil, a cidadania está no papel, mas não existe de verdade. Isso é perceptível, uma vez que o autor destaca a violência social e a juventude dos anos 1990, a ausência de projetos de educação, informação e a pobreza. De lá para cá, muitas situações se atualizaram, mas, de todo modo, essa obra nos faz refletir o quanto ainda temos por conquistar com atitudes verdadeiramente de participação e reclamação de nossos direitos. Vale a pena conhecer mais esse debate. Ética e Cidadania 22 Figura 8 – Obra O cidadão de papel Fonte: Reprodução de Oliveira (2014). DEFINIÇÃO: Cidadania: refere-se a um conjunto de ações com caráter de reivindicação que se volta para o interesse coletivo. É em seu exercício que se aprimoram práticas de convivência melhores e tratam a qualidade de vida dos habitantes da cidade. É um conceito diretamente ligado a uma ideia de aprendizagem social, que busca a culminância do atendimento de direitos e a compreensão de compromisso e deveres a cumprir. SAIBA MAIS: Saber que as possibilidades de debate para a compreensão do conceito de cidadania e como podemos alcançá-lo é um privilégio, vamos ler mais um pouco? Então, clique aqui. Ética e Cidadania https://www.cafecomsociologia.com/o-que-e-cidadania/ 23 É muito importante entender também a relação entre o conceito de cidadania e a educação, pois, com o processo educativo, desenvolvem- se valores e consciência da preocupação com o outro, além da questão da responsabilidade para com a vida social. Nesse sentido, no Brasil e na América Latina, a partir das décadas de 1980 e 1990, a discussão sobre cidadania, direitos humanos e democracia ganha muito destaque, sobretudo nos exercícios da educação formal e informal. Dessa forma, foram criados documentos formais para orientar a educação para a formação da cidadania. Exemplos claros dessas iniciativas encontram-se nos documentos listados a seguir: • Constituição de 1988. • Lei de Diretrizes e Bases (LDB) - 1996. • Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - 1990. • Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) - 1996. • Propostas de Políticas Educacionais. É notável que existem sentimentos e valores educacionais que podem ser desenvolvidos e aprendidos na família ou na escola, na educação formal ou informal, e que podem colaborar para o despertar da cidadania. São eles: cooperação, perdão, respeito, sinceridade, diálogo, solidariedade, combate à violência e bondade. A princípio podem parecer valores presentes em nossa humanidade, mas de fato o são, e, quando bem trabalhados, podem otimizar responsabilidades e aptidões para o fortalecimento de relações sociais pautadas na garantia recíproca de efetivação de direitos e deveres. SAIBA MAIS: Veja como a LDB nº 9394/96 direciona suas diretrizes para uma educação voltada à formação de um sujeito cidadão acessando-a aqui. Em seguida, assista ao vídeo sobre educação e formação do cidadão clicando aqui. Ética e Cidadania https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf https://www.youtube.com/watch?v=P8FW5KKZnWI 24 Sacristan (2000) infere que a distância entre os direitos no papel e a efetiva cidadania só é possível quando os envolvidos tomam para si a atitude de fomentar ideias práticas. Almeida e Soares (2010) apontam que a ligação entre vida individual e comunitária só ocorre quando há um reconhecimento mútuo da relevância recíproca entre os dois. Este, para os autores, é o verdadeiro sentido da cidadania, sem exclusões sociais. Sobre a relação cidadania e educação, Freire (2011) orienta que o homem deve ser o sujeito da sua ação, criando e transformando o mundo. Em seu olhar, a escola deve funcionar como um espaço que tende a oferecer ao indivíduo exercício da cidadania e possibilidade de redefinição da realidade. Figura 9 – Escola e cidadania Fonte: Freepik Ética e Cidadania 25 RESUMINDO: E então, como foi a experiência de aprendizagem com o conceito de cidadania? Vamos resumir um pouquinho sobre o que vimos para que você realmente possa fixar mais o estudo deste capítulo. Você deve ter aprendido que é muito importante compreender que cidadania é um conceito que articula nossos direitos e deveres, bem como que o exercício dela torna a coletividade ativa e integrada para uma harmonia social. A cidadania destaca a liberdade e a convivência comunitária muito mais do que qualquer questão de relações de poder ou governo constituído. Ser cidadão é participar de forma ativa da realidade social em que se está inserido, protagonizando a busca de qualidade de vida para seus membros pela via da efetivação de direitos. No entanto, não devemos esquecer de que também possuímos deveres com a nossa comunidade. Por fim, vimos o importante papel que a educação ocupa na formação do cidadão. Por meio da educação formal e a informal, é possível transmitir os valores da formação à cidadania, oferecendo liberdade e autonomia para os indivíduos atuarem na sociedade de forma digna. Ética e Cidadania 26 Ética Social e Política Iniciamos nossos estudos sobre a ética e a política considerando o pensamento de Arendt (2003), que nos mostra que política é ação e, portanto, nenhuma questão política pode, segundo ela, estar submetida a subjetividade. Na visão dessa autora, o entendimento da ideia de práxis é a mola mestra para a compreensão de seu conceito de ética, que muito está relacionado com o que já vimos aqui. Para ela, ética envolve-se com o cuidado com o mundo, com o espaço das relações humanas e também com o local que permite avida e a singularidade humanas. Arendt (2003) preocupa-se não com a subjetividade do homem, mas sim com os homens em pluralidade. Assim, percebemos que o conceito de ética social está direcionado para este olhar. Arendt (2003) nos aponta que as atividades humanas são o resultado da produção desenvolvida no mundo da vida ativa, é no mundo (na práxis) que o homem transita e desenvolve atividades que ele condiciona sua existência. O cuidado com o mundo é, por conseguinte, o cuidado com a singularidade humana, para a autora. Permanecendo nesse raciocínio, colabora para nosso conhe- cimento sobre a questão política, pois ela define que a política não deve se submeter às questões morais. Ela se contrapõe ao pensamento de Maquiavel, ao afirmar que a política não deve ser guiada para atingir meios e fins. Como sabemos, Maquiavel, clássico da política, aponta que os fins justificam os meios. Já Arendt (2003) acredita que se a praticidade é o agir, então a forma instrumentalizada que o autor traz de calcular formas para atingir objetivos em política acabam por se configurarem em pré-ação e teoria para controlar a ação. Segundo ela, a política não deve seguir qualquer natureza ou espírito, mas sim ter o compromisso com o “espírito correto”, algo que se define em si mesmo, sem qualquer teleologia ou previsibilidade. A ação política informa a distinção articular de cada homem. Ainda seguindo seu pensamento, a ética é a pluralidade humana constitutiva do mundo, o que faz a ideia de uma ética social ser mais forte e presente para que as relações humanas se processem de forma operativa. Visto dessa forma, Arendt (2003) mostra que a ética varia de acordo com o espaço político. O agir é livre de qualquer determinação. Ética e Cidadania 27 A discussão que trouxemos até aqui serve para evidenciar que a experiência coletiva das pessoas e sua respectiva construção cultural têm em si mesmas um valor significativo para a compreensão do conceito de ética social. Isso pois, ao abordarmos tal conceito, estamos, na verdade, no campo de pensar, o que pode ou não ser aceitável socialmente, isso se deve ao próprio princípio que o conceito traz consigo: a ideia de que os membros de uma comunidade precisam de cuidados de forma homogênea. DEFINIÇÃO: Ética social: conjunto de regras e diretrizes que balizam escolhas e comportamentos de uma sociedade que resolveu adotar aqueles padrões de conduta. Ela funciona como um roteiro, um código de conduta. Não há necessidade de dizer o que se deve ou não seguir, apenas fundamentalmente seguir. A ética social apresenta princípios que precisamos conhecer: a dignidade da pessoa, o direito de propriedade, a primazia do trabalho, a primazia do bem comum, a solidariedade e subsidiariedade. Sá (2010) desenvolve a ideia de que existem hábitos dignos de louvor, isto é, existe uma conduta virtuosa padrão que serve de referência quando pensamos no respeito a todos os seres humanos. O autor busca em Aristóteles a lógica da virtude. Para ele, se um homem adota uma conduta virtuosa em um local onde não há a prática comum dessa conduta, então este seria um homem virtuoso. Em Aristóteles (1997), vemos também uma iniciativa em considerar que o verdadeiro sentido da ética é voltar-se para a comunidade na amplitude desta e no exercício da cidadania, objetivando a formação e organização da consciência política humana. Para ele, “o homem é um animal político”. Ética e Cidadania 28 Figura 10 – Obra de Aristóteles Fonte: Reprodução de Livraria da Travessa. Dessa forma, é possível traçar imediatamente uma relação entre a ética social e a política. A política é o campo da busca do bem comum, conforme Aristóteles demarca em seus estudos. Nesse sentido vale a ideia de que ética e política devem caminhar lado a lado, uma vez que ambos os conceitos apresentam um viés corporativo, aquele que conduz ao bem-estar da comunidade, do coletivo, do social. Dissecando sobre a palavra política, observamos que ela é originária do grego pólis (politikós) e seu significado diz respeito ao urbano, ao civil, ao que é da cidade (da pólis). Weffort (1987) mostra que os clássicos da política podem nos guiar muito mais sobre o conceito de política que consideramos fundamental para sustentar a relação ética e a política, já iniciada anteriormente. Segundo o autor, para Thomas Hobbes a humanidade vivia em estado Ética e Cidadania 29 de anarquia e, ao criar a sociedade, por meio do pacto social, criou conjuntamente a chamada sociedade política. Segundo ele, os homens, mediante seu estado de guerra, abriram mão de suas decisões e escolhas mais individuais para constituírem o estado soberano, que não permitiria a volta ao estado de natureza. Tal movimento fez com que a representação política desses homens fosse delegada ao soberano, que deveria garantir o grupo ao exercer seu poder em favor do bem comum. O autor também revela que, em John Locke, vemos que o estado de natureza não teria significado de caos, mas ordem e razão. Segundo ele, o Estado surgiu para assegurar a lei natural, bem como para manter a harmonia entre os homens. Locke não destaca que houve uma cessão dos direitos naturais ao Estado, pelo contrário, acredita que a soberania é um valor e que deve ser exercido pela maioria, assim como o respeito aos direitos à vida, à liberdade, à propriedade. Weffort (1987) apresenta, ainda, a teoria de Jean Jacques Rousseau, que parte do princípio de que houve um estado de natureza que não se constituía no caos de Hobbes e nem no mundo ordeiro e racional, como assegurava John Locke. Os homens viviam em caráter de desigualdades, mas eram livres e felizes. A sociedade política surge, então, como um mal necessário para manter a ordem e evitar o retorno das desigualdades. Assim, na criação do Estado a partir do contrato social, o indivíduo cedeu parte de seus direitos naturais para a criação de uma entidade detentora de uma vontade geral, portanto, a soberania do Estado é a incorporação da vontade geral de todos. NOTA: Os clássicos da política, John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau integram os teóricos que discutem a criação do Estado a partir de um pacto social fomentado pelos homens. Para saber mais sobre tais teorias, leia: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Editora Ática, 1989. Ética e Cidadania 30 Figura 11 – Clássicos da política Fonte: Sabedoria Política. A questão é que todos esses pensadores falam de política como um lugar de representação de todos, e essa possibilidade de ação está diretamente vinculada à concepção de ética social. Isso porque quando se analisa a criação do contrato social, a organização da sociedade política e a soberania da vontade geral, deve-se considerar o princípio de comando político com referência da orientação ética, do governar para o outro. Semelhante a como pensamos, a questão da ética social nas empresas na atualidade, vemos que na sociedade empresarial existem comportamentos de valorização e dimensionamento da preservação ambiental. Ideias e projetos ecológicos que, inclusive, fundem-se com perspectivas de responsabilidade social, muitos líderes corporativos precisam, por normas éticas, doar uma porcentagem dos lucros anuais para instituições de caridade. Essa pode ser uma ação que está diretamente vinculada com a real necessidade de ajuste para condutas que são aceitas, valorizadas e instituídas socialmente. Temos muitos padrões que fortalecem a ética social e que se incluem nos valores familiares, nas crenças religiosas, na moralidade e na integridade. Ética e Cidadania 31 Figura 12 – Problemas para a ética social Fonte: Elaborada pela autora (2021). Os desafios para a ética social, aliada a representação política, são desafios do mundo atual. Com base neles, é preciso rever práticas e condutas de gestão de comunidades, recursos e da própriaconcepção de coletividade e bem comum. SAIBA MAIS: Para saber mais, assista ao vídeo: “Aristóteles: Ética e política” clicando aqui. RESUMINDO: Entendeu um pouco da relação entre ética social e política? Neste capítulo, procuramos demonstrar como os conceitos de ética social e política devem estar associados para a prática do bem comum. Pois reforçamos que a ética consiste em uma regra usada para focar na construção do relacionamento com os outros. O sentido e o conceito de ética social foram desenvolvidos como verdadeiros códigos de conduta que são aceitos e praticado pelos membros de um grupo social. Falamos dos clássicos da política, Hobbes, Locke, Rousseau, com o intuito de mostrar que, em meio ao caos social, os homens criam a ordem, delegam sua concepção de representação ao estado, acreditando que este pode gerir suas vontades comuns. Cada uma com sua teoria, mas no bojo conceitual, o principal é entender que a política deveria conduzir a sociedade pela lente da ética, já que em sua originalidade conceitual, elas podem voltar-se para o bem comum. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=eRPhNiqbsgk 32 A Ética e a Moral na Contemporaneidade Chegamos até uma reflexão que será muito importante para o olhar sobre diferentes situações nos tempos atuais que vivemos. Devemos abordar a relação ética e moral na sociedade contemporânea para que possamos entender mais sobre diferentes posicionamentos em diferentes culturas e grupos sociais. Vimos no tópico anterior que existem desafios impostos à nossa análise da ética social, vinculada à política, mas, a partir de agora, precisamos pensar na generalidade da concepção de ética e moral já aprendidas para o entendimento de tais desafios. Vamos iniciar escolhendo um dos grandes desafios da humanidade, cuja dimensão nos entristece: a fome mundial. A fome é uma questão social. Mas observe que podemos eleger a relação que os países de primeiro mundo têm em relação ao trato da questão. Você poderá entender melhor acionando os conceitos de ética e moral para pensar sobre as reportagens a seguir. PRIMEIRA REPORTAGEM Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo África é o continente mais afetado Influenciado por conflitos armados Mais de 113 milhões de pessoas em 53 países sofreram “insegurança alimentar aguda” em 2018, afirma um relatório global da ONU sobre a crise alimentar divulgado nesta terça-feira (02/04). O relatório apresentado pela União Europeia (UE), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outras organizações, destaca que o problema afeta principalmente o continente africano. Os países que atravessaram as mais graves crises alimentares são: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Etiópia, Síria, Sudão, Sudão do Sul e o norte da Nigéria. Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, afirmou que os países Ética e Cidadania 33 africanos são atingidos de forma “desproporcional” pela fome aguda, com quase 72 milhões de pessoas afetadas. Segundo o documento, nos últimos três anos, cerca de 50 países vivem dificuldades cada vez maiores para alimentar a suas populações. A principal causa da insegurança alimentar em todo o mundo foram as guerras. Cerca de 74 milhões de pessoas, ou seja, dois terços da população que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios localizados em zonas de conflito, assim como já havia ocorrido em 2017. “Nesses países, até 80% das populações afetadas dependem da agricultura”, afirmou Burgeon. “Estas pessoas precisam receber assistência humanitária de emergência para poder se alimentar e condições para impulsionar a agricultura.” Em 2018, o número total de pessoas que sofreram fome aguda apresentou leve redução em comparação a 2017 (124 milhões). Isso pode ter ocorrido em razão de alguns países estarem menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas. “Este recuo no valor absoluto é um epifenômeno”, minimizou Burgeon. A redução ocorreu “devido à ausência do fenômeno climático ‘El Nino’, que afetou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017”. “Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Malawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem”, observou. José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, avalia que, apesar da ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda, a forma mais extrema de fome, “o número ainda é alto demais”. Ele diz que é preciso investimentos de grande porte no desenvolvimento, ajuda humanitária e na construção da paz “para construir a resiliência das populações afetadas e pessoas vulneráveis”, acrescentando que “para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência”. O diretor-executivo do PAM, David Beasley, observou que para erradicar a fome é necessário atacar suas causas fundamentais. “Conflitos, instabilidade, impacto dos choques climáticos. Rapazes e moças precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam ser verdadeiramente fortalecidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objetivo de fome zero”, destacou. Ética e Cidadania 34 O relatório pede o fortalecimento da cooperação entre a prevenção, preparação e reação no atendimento às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem as mudanças climáticas, choques econômicos, conflitos e deslocamentos. Fonte: WELLE, D. Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo. Poder 360. 2019. Disponível aqui. Acesso em: 10 ago. 2021. SEGUNDA REPORTAGEM Saiba quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões a Notre- Dame Viúva de banqueiro, ela tem sala em sua homenagem no Louvre Uma brasileira está entre os bilionários que doaram grandes somas para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, de Paris, atingida por um grande incêndio na segunda-feira (15). Lily Safra, 81 anos, viúva do banqueiro Edmond Safra, enviou para a campanha de reconstrução um cheque de 20 milhões de euros - cerca de R$ 88 milhões. Segundo o Glamurama, ela tem fortuna estimada em 1,3 bilhão de dólares (R$ 5,1 bilhões). A bilionária atualmente se divide entre casas que tem na Europa - vive entre Mônaco, Londres, Nova York e a própria Paris. Ela já recebeu uma Légion d’Honneur, uma medalha de honra dada para pessoas que contribuíram com a França. Uma sala no Museu do Louvre, a Galeria Edmond et Lily Safre, é batizada em homenagem a ela e ao falecido marido. O ambiente é todo decorado com mobiliário do século 18 doado pelo casal. Um livro da jornalista canadense Isabel Vincent chama a bilionária de “Lily Dourada”, nome da biografia. A escritora, que era na ocasião repórter do New York Post, passou cerca de um ano no Brasil entrevistando pessoas sobre o casal. A publicação traz detalhes sobre o suicídio do segundo marido de Lily, o empresário Alfredo Monteverde. No almoço antes da morte, Lily e o marido discutiram detalhes do divórcio. Quando ela saiu, ele tirou a própria vida. O pai de Lily era um inglês do ramo de ferrovias que chegou ao Brasil no início do século XX. Ela nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul. Seu primeiro marido, o argentino Mario Cohen, era um milionário fabricante de meias de náilon. O casal viveu no Brasil, Argentina e Uruguai e teve três filhos - o mais novo, Claudio, morreu em 1986 em um acidente de carro. A relação com Monteverde veio depois - ela se divorciou para ir morar no Rio Ética e Cidadania https://www.poder360.com.br/internacional/fome-extrema-atinge-mais-de-113-milhoes-no-mundo/ 35 com a nova paixão, que era empresário e foi fundador da rede Ponto Frio. Monteverde tirou a própria vida em 1969. Eles tiveram dois filhos. Depois, Lily se mudou para o ReinoUnido, onde morou por 10 anos. Ela chegou a casar em 1972 com um inglês, mas o casamento foi posteriormente anulado. Então conheceu Safra, na época o brasileiro mais rico do mundo. Os dois se aproximaram durante uma disputa em um leilão, segundo a revista Joyce Pascowitch. Edmond, já quarentão, ganhou e comprou a escultura, mas presenteou Lily com a obra. Libanês naturalizado brasileiro, era um homem muito discreto. Viveram muitos anos em Nova York, em uma cobertura repleta de pinturas e esculturas - arte era uma paixão de ambos. O casamento durou 23 anos, até que em 1999 Safra morreu. Em Mônaco, onde passavam temporadas, Edmond Safra foi vítima de um incêndio. Seu corpo foi achado na banheira de uma suíte, próximo ao de sua enfermeira. O julgamento sobre o caso considerou culpado pelo incêndio um de seus enfermeiros, Ted Mahrer, que teria ateado fogo a uma lixeira para salvar o patrão, como herói, depois. Trancado no banheiro por seis horas, o empresário morreu asfixiado pela fumaça. Safra lutou nos últimos anos de vida contra o Mal de Parkinson e tinha acompanhamento especializado em casa. Em 1998, ao revelar que sofria a doença, ele fez doação de 50 milhões de dólares a uma instituição de pesquisa sobre o tema. Desde a morte do marido, Lily passou a se desfazer de parte dos bens e se envolver mais com ações filantrópicas, com a Fundação Edmond J. Safra. Em 2004, ela doou 10 milhões de dólares à Universidade Harvard e o mesmo valor para uma entidade criada pelo ator Michael J. Fox para pesquisar a origem do Mal de Parkinson. Em 2005, colocou à venda 800 peças de sua coleção particular de arte pela casa de leilão Sotheby’s. “Minha vida e meus interesses mudaram, e já não tenho tempo nem escala nas casas para apreciar a coleção como fazíamos antes. Tive então que tomar uma decisão difícil: é hora de transferir aos outros o prazer de possuir estes tesouros”. Arrecadação. A campanha para reformar Notre-Dame arrecadou até agora quase 1 bilhão de euros. Entre os doadores famosos está François-Henri Pinault, marido da atriz Salma Hayek, do grupo Kering, que afirmou que vai contribuir com 100 milhões de euros. O grupo LVMH, da bilionária família Arnault, também doou € 200 milhões (R$860 milhões). A empresa francesa de cosméticos, L’Oréal, dará 200 milhões de euros, um valor agregado aos 200 milhões doados pelo grupo LVMH e aos 100 milhões prometidos respectivamente pela família Pinault e pela petrolífera Total. Ética e Cidadania 36 O presidente francês Emmanuel Macron disse que a França iria contar com ajuda de “talentos” para reconstruir a torre mais alta da construção, que ficou destruída. Ela afirmou que em 5 anos o local estará totalmente renovado e “ainda mais bonito” [...] Fonte: SAIBA quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões a Notre-Dame. Correio 24 horas. 2019. Disponível aqui. Acesso em 10 ago. 2021. Vejamos possíveis análises para a questão da fome. Sob a ética do bem comum, quando comparamos as duas reportagens, logo nos vêm uma ideia de que a bilionária que doou milhões para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, na França, não está apresentando uma preocupação ética em relação aos números da fome africana, apresentada na segunda reportagem. Esse tipo de reflexão, na verdade, é importantíssimo para nossa compreensão sobre ética e moral. Pois vemos que, devido à bilionária ter tanto dinheiro e pensar na reconstrução de um patrimônio histórico da humanidade, a Catedral de Notre-Dame, poderíamos compreender que para sua moral (a moral que a formou e a cultura que pertence) há um sentido de nobreza em tal atitude. No entanto, podemos conceber como imoral a atitude dela em relação a não se disponibilizar para doar qualquer dinheiro para o combate à fome na África. Esta é só uma forma de debatermos questões contemporâneas com o olhar da ética e da moral. Semelhante a essa reflexão, vemos também a situação da violência que invade as escolas no mundo inteiro. Há diversos casos de jovens e adultos que cometeram atentados sem qualquer melindre, fazendo alunos e alunas inocentes vítimas fatais de suas ações, de forma que nos colocamos perplexos, sem palavras, transtornados e tristes diante dessas notícias. Ética e Cidadania https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-notre-dame/ 37 Figura 13 - Bullying Fonte: Pixabay Tal fenômeno suscita nossas reflexões sobre a moralidade do contexto em que ocorre, sobre nossas próprias crenças éticas e sobre se é possível explicar tais atitudes assassinas por uma suposta situação de violência que o assassino tenha sofrido na infância ou uma situação de bullying, por exemplo. Isso serviria para explicar que as escolas precisam estar atentas na formação de seus alunos, fortalecendo valores morais de bem comum, de promoção pessoal de cada aluno. Ética e Cidadania 38 IMPORTANTE: O importante em todas essas ideias e reflexões é compreender a relatividade das situações, além da profundidade e contextualização dos conceitos de ética e moral. Com isso, não estamos aqui a defender assassinos, indivíduos negligentes com a questão social, estamos mostrando que matar não é ético, mas a qual moral pertence àquele que o pratica. Dessa forma, consideramos que, na atualidade, com as situações desafiadoras trazidas pela era da globalização, a crise das representações políticas, a recessão econômica, a individualização, a tendência ao xenofobismo, o avanço das tecnologias digitais e os estudos das possibilidades de mutações genéticas, vemos a grande importância da educação para a formação da moralidade nos indivíduos. Bencostta (2007) afirma que as instituições educacionais são fundamentais para a aprendizagem de conhecimentos específicos na formação de indivíduos autônomos capazes de interagir com as diferentes situações que podem vivenciar no mundo contemporâneo. Vázquez (2003) nos lembra bem que a função social da moral deve ser a de regulamentação das relações entre os homens para contribuir na manutenção e garantia da sociedade. Além disso, a ética é uma prática diretamente relacionada à ação humana. Bencostta (2017) fala do trabalho de Svitras (2017), que reforça que a atividade em sala deve ser capaz de desenvolver habilidades e competências que colaborem e definam soluções para dilemas sociais. É na escola que se pode criar um ambiente ideal para prática e aprendizagem da ética e a formação do caráter; é possível falar de respeito, justiça, solidariedade e moral. Ética e Cidadania 39 O autor relaciona propostas de trabalho para que isso aconteça na escola: • Trabalhar conceitualmente – definir o conceito de ética e promover o debate criativo. Aceitar e mediar as opiniões das turmas. • Construir uma atividade relacional – fornecer desafios para que os alunos e alunas convivam com a diferença. • Incentivar a tomada de decisões – Levar alunos e alunas a pensar nas situações concretas e como seria decidir pelo certo ou errado naquela situação. Como exemplo, desde contar uma mentira para sair mais cedo da escola a até mesmo pensar a corrupção na política. • Jogar com situações limítrofes – apresentar situações em que o aluno é levado a pensar como se um familiar ou amigo estivesse em situação de risco, por exemplo. • Criação de regras com a turma – essa situação leva a debates quanto ao que os alunos querem para suas rotinas em termos de normas de conduta e o que realmente fazem, uma reflexão de pensamento e ação. Figura 14 - Discussão sobre ética na sala de aula Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 40 SAIBA MAIS: Para você se aprofundar ainda mais neste tema, leia o artigo Moral e ética no mundo contemporâneo, de Yves de La Taille. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste tópico, fomos capazes de revisar nossos conceitos de ética e moral, você percebeu? Pensando sobresituações do contexto contemporâneo, vimos que a ética está sempre ligada à nossa formação moral. Ética e moral são conceitos que devem ser trabalhados na educação formal, na escola. Não se pode prescindir de considerar que na crise de valores, os indivíduos deixem de agir desconsiderando a moral e a ética vigentes. Ética e Cidadania https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/125319/122350/237788 41 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Claudia C. MariaM.; SOARES, Keila K. Cristina C. Dambinski. Pedagogo Escolar: as funções supervisora e orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010. ARANHA, Maria M. Lúcia. de Arruda.; & MARTINS, Maria M. Helena . P.. 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