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Custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal em um serviço de emergência privado brasileiro

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ARTIGO ORIGINAL
Hospital costs of renal colic diagnosis and management in a Brazilian private 
emergency service*
Custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal em um serviço de emergência 
privado brasileiro
Maria Fernanda Zorzi Gatti1, Marcos Bosi Ferraz2, Eliseth Ribeiro Leão3, Edna Aparecida Bussotti4, Rafaela Aparecida 
Marques Caliman5
* Recebido do Hospital Samaritano de São Paulo. São Paulo, SP.
RESUMO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A incidência de cólica re-
nal tem aumentado nos países em desenvolvimento por diversos 
fatores e leva o indivíduo ao serviço de emergência em função da 
necessidade de alívio da dor aguda e intensa que esta provoca. O 
impacto econômico do diagnóstico e tratamento em caráter emer-
gencial é desconhecido em nosso meio. O objetivo deste estudo 
foi avaliar o custo do diagnóstico e tratamento da cólica renal em 
serviço de emergência privado e as variáveis que influenciam neste 
custo. 
MÉTODO: Trata-se de um estudo retrospectivo em que foram 
analisados os prontuários de pacientes atendidos com cólica renal 
entre agosto e setembro de 2010 em um serviço de emergência 
privado de São Paulo. 
RESULTADOS: Foram avaliados 136 prontuários de pacientes de 
ambos os sexos, com idade média de 39 anos, 52% com anteceden-
te de cálculo e 30% com outras comorbidades. A escada analgésica 
da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi utilizada em 48% 
dos casos. O custo total foi em média R$453,62 e a influência do 
tempo de permanência do paciente no custo foi significante. 
CONCLUSÃO: O custo foi bastante variado, tendo em vista o 
estudo ter sido realizado em uma instituição privada, com fontes 
pagadoras diversas. O tempo de permanência do paciente no ser-
viço de emergência foi a única variável com significância estatística 
em relação ao aumento dos custos. Estratégias eficazes de tratamen-
to e qualidade assistencial, que reduzam o tempo de permanência 
do paciente no serviço de emergência poderão refletir na redução 
dos custos do atendimento.
Descritores: Cólica renal, Custos e análise de custo, Dor, Serviço 
hospitalar de emergência. 
INTRODUÇÃO 
A necessidade de tratamento da dor aguda ou crônica agudiza-
da representa um dos fatores de maior procura aos serviços de 
emergência, situação essa que é vivenciada por pacientes e equipes 
assistenciais de forma, muitas vezes, desastrosa do ponto de vista 
da estrutura existente nos hospitais públicos e privados do país1,2. 
Pesquisas sobre o manuseio da dor em serviços de emergência 
revelam que o seu subtratamento ainda é uma realidade e a dor de 
origem visceral se destaca2-6. Do ponto de vista clínico, o tratamen-
to da dor aguda se mostra como uma das oportunidades de melho-
1. Mestre em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade 
de São Paulo (EEUSP). Chefe de Enfermagem do Pronto Socorro Adulto do Hospital Sa-
maritano. São Paulo, SP, Brasil. 
2. Professor Adjunto do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, Univer-
sidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Professor Diretor do GRIDES da Escola Paulista 
de Medicina da UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil. 
3. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Instituto de Ensino 
e Pesquisa Albert Einstein – Hospital Israelita Albert Einstein. São Paulo, SP, Brasil. 
4. Doutoranda pela Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. 
Coordenadora de Responsabilidade Social do Hospital Samaritano. São Paulo, SP, Brasil. 
5. Enfermeira do Pronto Socorro Adulto do Hospital Samaritano; Especialista em Emergên-
cia pela Faculdade São Camilo. São Paulo, SP, Brasil. 
Apresentado em 31 de maio de 2012.
Aceito para publicação em 9 de janeiro de 2013.
Endereço para correspondência:
Maria Fernanda Zorzi Gatti
Rua Aimberê nº 233/32 – Perdizes
05018-010 São Paulo, SP. 
E-mail: maria.gatti@samaritano.org.br
Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6
12 Sociedade Brasileira para o Estudo da Dorc
ABSTRACT
BACKGROUND AND OBJECTIVES: The incidence of renal 
colic is increasing in developing countries due to several factors, 
and takes people to the emergency service to relieve the acute and 
severe pain it induces. The economic impact of emergency diagno-
sis and management is not known in Brazil. This study aimed at 
evaluating the cost of renal colic diagnosis and management in a 
private emergency service and the variables influencing such cost.
METHOD: This is a retrospective study evaluating the medical 
records of renal colic patients seen between August and September 
2010 by a private emergency service of the city of São Paulo.
RESULTS: We have evaluated 136 medical records of patients 
of both genders, with mean age of 39 years, 52% with history of 
stones and 30% with other comorbidities. WHO’s analgesic scale 
was used in 48% of cases. Mean total cost was R$ 453.62 and the 
impact of patients’ length of stay on cost was significant.
CONCLUSION: Cost has widely varied since the study was 
carried out in a private institution with different paying sources. 
Length of stay in the emergency service was the only variable with 
statistical significance with regard to increased costs. Effective 
management and quality of assistance strategies, which decrease 
length of stay of patients in the emergency service, may contribute 
to decrease assistance costs.
Keywords: Costs and cost analysis, Emergency service, Pain, Re-
nal colic.
ria em termos de processo assistencial, a qual pode ser trabalhada a 
fim de obter-se ganho para o paciente e para a estrutura, em termos 
de qualidade, custo e tempo do tratamento. 
A dor da cólica renal se apresenta de forma aguda e intensa e, fre-
quentemente, leva o indivíduo em busca de atendimento emer-
gencial. A incidência de cálculo renal tem aumentado nos países 
em desenvolvimento em decorrência de mudanças sociais e conse-
quente mudança dos hábitos alimentares, além do fator climático 
com temperaturas quentes em algumas áreas geográficas. O custo 
da doença envolve o diagnóstico, o tratamento, a prevenção e as 
potenciais complicações, além do afastamento do indivíduo do 
trabalho7.
No que diz respeito à Diretriz de tratamento da dor, a Organização 
Mundial da Saúde (OMS) enfatiza a terapia analgésica de forma 
muito didática, denominada de Escada Analgésica da OMS. Para 
o tratamento da cólica renal a utilização de anti-inflamatório não 
hormonal (AINH) e opioides tem sido citada como grau de re-
comendação “A”, ou seja, diretamente aplicável à população alvo 
com consistência geral dos resultados. Vários estudos8-10 têm sido 
realizados para comparar a efetividade dos fármacos utilizados no 
tratamento da dor aguda em cólica renal, no entanto, as pesquisas 
não avaliam comparativamente os custos desse tratamento.
O manuseio adequado da dor propicia, além do alívio do sintoma, 
a diminuição do tempo de permanência do paciente no setor de 
emergência, a diminuição dos custos com o tratamento e, conse-
quentemente, o aumento da satisfação do paciente com a quali-
dade da assistência. Este estudo justifica-se pela quase inexistência 
de publicações nacionais relacionadas aos custos hospitalares do 
diagnóstico e tratamento da cólica renal, bem como pode ser útil 
para propor reflexões acerca da importância dos protocolos institu-
cionais, do manejo adequado da dor, bem como de características 
associadas que facilitem a gestão da assistência e dos serviços. 
O objetivo deste estudo foi avaliar o custo do diagnóstico e trata-
mento da cólica renal em serviço de emergência privado e as 
variáveis que influenciam neste custo. 
MÉTODO
Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo exploratório com 
abordagem quantitativa dos pacientes atendidos com o diagnósti-
co de cólica renal no pronto socorro adulto (PSA) de um hospital 
privado, filantrópico, de médio porte, da cidade de São Paulo. 
Para a coleta de dados, mediante análise documental, foi utilizado 
o sistema de prontuário eletrônico Tasy para acesso aos registros 
do prontuário,bem como para a seleção da amostra de acordo com 
o Código Internacional de Doenças (CID) dos pacientes que ti-
veram diagnóstico de dor aguda consequente de cálculo no trato 
urinário. 
Foram incluídos no estudo os pacientes atendidos no PSA no 
período de agosto e setembro de 2010 e que tiveram como hipótese 
diagnóstica o CID N20 – calculose do rim e do ureter, N21 – cal-
culose do trato urinário ou N23 – cólica nefrética.
Foram excluídos do estudo os pacientes com qualquer outro CID 
que não os descritos anteriormente; os pacientes que necessitaram 
internação após o atendimento no PSA, uma vez que o tempo de 
permanência no setor para aguardar vaga de internação poderia al-
terar sobremaneira os valores de a conta hospitalar, bem como os 
pacientes que tinham o CID N20, N21 ou N23, porém não relata-
ram dor como queixa principal.
As variáveis estudadas foram: o custo dos exames diagnósticos realiza-
dos, média de tempo de permanência no PSA, idade, presença de 
comorbidades e recursos terapêuticos empregados.
Para determinar os custos do atendimento da cólica renal (na 
perspectiva da fonte pagadora) foi utilizado o sistema de custo 
por doença e verificado individualmente na conta hospitalar a sua 
composição. A conta é apresentada para a fonte pagadora dividida 
em três partes, a saber: materiais e medicamentos (Mat/Med), 
taxas de sala e de serviços e exames diagnósticos, dessa forma foi 
possível separar os custos para determinação do diagnóstico e do 
tratamento. Todos os custos foram apresentados de acordo com os 
valores pagos pelas diferentes Fontes Pagadoras para cada item. A 
fim de estabelecer uma equiparação dos valores que são dependen-
tes de cada contrato do paciente com sua operadora, os resultados 
serão apresentados com os valores do custo por média, mediana e 
desvio-padrão.
O tempo de permanência do paciente para o tratamento da cólica 
renal correspondeu ao intervalo entre a admissão e a alta do paciente
O tratamento analgésico utilizado segundo a utilização ou não da 
Escada Analgésica da OMS, em conformidade com a indicação 
para a intensidade dolorosa referida, divididos respectivamente em 
grupos A e B. A escala utilizada para avaliação da intensidade do-
lorosa, pelos enfermeiros, foi a Escala Numérica Verbal (ENV)11.
Os dados demográficos, clínicos e variáveis de interesse anterior-
mente mencionados foram coletados em programa Excell. 
Para a análise dos dados foi utilizado o Software de Pesquisa e 
Análise de Dados Sphinx versão 5.1. A análise descritiva dos dados 
foi realizada por meio dos índices percentuais para frequências das 
variáveis quantitativas e para as variáveis quantitativas contínuas 
foram calculados a média, desvio-padrão, valores máximo/mínimo 
e mediana. O test t de Student foi utilizado para avaliar as variáveis 
quantitativas com média amostral. O teste de Qui-quadrado foi 
utilizado para as variáveis qualitativas. Em todas as análises foi uti-
lizado o nível de significância de 5%. O coeficiente de correlação 
de Pearson foi utilizado para avaliar as variáveis de custo e tempo 
de permanência.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da 
instituição, sob o protocolo nº 42/2010.
RESULTADOS 
Do total dos 13692 prontuários dos pacientes atendidos no PSA 
no período do estudo, em 180 prontuários foi observada a hipótese 
diagnóstica o CID N20 – calculose do rim e do ureter, N21 – cal-
culose do trato urinário ou N23 – cólica nefrética, ou seja, 1,31% 
do total de atendimentos do PSA. Dos 180 prontuários, 136 aten-
deram aos critérios de inclusão e 44 foram excluídos do estudo por 
não apresentarem queixa de dor, caracterizar atendimento ambu-
latorial, não se tratar de adultos, terem sido atendidos no pronto 
socorro obstétrico ou ainda, por necessitarem de internação. 
A média de idade foi de 39,7 anos, ou seja, adultos em fase produ-
tiva. Na tabela 1 estão apresentadas a caracterização demográfica e 
clínica dos grupos separadamente e depois agrupados.
13
Gatti, Ferraz, Leão e col.
 
 
 Grupo A
R$ 42,44
R$ 1733,71
R$ 259,11
Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6
Todos os pacientes foram incluídos no estudo por queixa álgica, 
sendo que dos que foram atendidos na triagem de enfermagem, 
54,5% apresentava o registro do escore de dor como 5º sinal vital e 
45,5% tinha o registro da dor somente na evolução do enfermeiro.
Em relação ao tratamento antálgico, 48,5% recebeu esquema anal-
gésico de acordo com a escada preconizada pela OMS (grupo A) 
para o manuseio da dor aguda, sendo que para os demais pacientes 
(grupo B) outros esquemas analgésicos foram prescritos (51,5%). 
Com relação aos exames complementares para realizar o diag-
nóstico da cólica renal, 71,8% dos pacientes realizou ao menos três 
exames laboratoriais. A média de exames foi de 2,37, mediana de 
1, com variação de zero a 15 exames laboratoriais, de um total de 
124 exames realizados. Quinze radiografias foram realizadas para 
11% dos pacientes e a ultrassonografia foi realizada para 75,7% dos 
pacientes. Para 33,8% foi realizada tomografia computadorizada. 
A média de permanência do paciente no PSA foi de 4h49’ (desvio-
padrão = 3h59’), mediana de 3h59’ e com variação de 31’ à 23h27’. 
O custo da cólica renal variou do valor mínimo de R$ 42,44 e 
máximo R$ 1936,98 com média de R$ 453,62. O custo total dos 
grupos A e B estão apresentados na tabela 2.
Não houve diferença estatisticamente significante com relação ao 
custo total entre os grupos A e B (p = 0,26). 
A idade e a presença de comorbidades foram variáveis que não in-
terferiram no custo (p = 0,49). A existência (ou não) de comorbi-
dade não influenciou o número de exames solicitados (p = 0,85) 
ou o custo total (p = 0,15). Da mesma forma não houve influência 
de antecedentes de cálculos (p = 0,79) no custo total. 
Os exames diagnósticos foram responsáveis por 57% do custo total 
e estão apresentados na tabela 3. 
O coeficiente de correlação de Pearson está representado no gráfico 1 
cujo r = +0,99, o que indica correlação positiva direta entre as variáveis: 
tempo de permanência e custo total. O tempo de permanência, por-
tanto, foi a única variável com significância estatística neste estudo. 
DISCUSSÃO 
Diversos estudos comprovaram a eficácia do programa para o alívio 
da dor oncológica proposta pela OMS. Essa proposta ultrapassou a 
recomendação inicial para controle da dor no câncer e passou a ser 
diretriz para o controle da dor de modo geral12.  
A escada analgésica proposta pela OMS é composta de três degraus 
e associa a conduta terapêutica à intensidade dolorosa referida pelo 
paciente. O 1º degrau está relacionado ao tratamento da dor leve 
e recomenda a utilização de analgésico simples e AINH; o 2º de-
grau diz respeito à dor moderada e associada ao analgésico simples 
14
Custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal 
em um serviço de emergência privado brasileiro
Gráfico 1 – Correlação entre tempo de permanência e custo total 
dos 136 casos acompanhados.
p valor > 0,005 para as variações de custo total entre os grupos A e B.
Variáveis Grupo A Grupo B Grupos A e B
 n % n % n %
Distribuição por grupo 66 48,5 70 51,51 36 100
Sexo masculino 42 63,6 28 40 70 51,5
Apresenta outras comorbidades 20 30,3 21 30 41 30,2
Apresenta antecedente de cálculo renal 36 54,6 35 50 71 52,2
Atendimento no PSA com cólica renal nos 10 15,1 10 14,3 20 14,7
6 meses que antecederam a coleta de dados 
Tabela 1 – Distribuição dos pacientes nos grupos A e B.
p valor > 0,005 para todas as variáveis entre os grupos A e B (não houve significância estatística). 
PSA = pronto socorro adulto.
 
 
 Grupo A
R$ 42,44
R$ 1733,71
R$ 259,11Grupo B
R$ 117,31
R$ 1936,98
R$ 285,99
Valor Mínimo
Valor Máximo
Mediana
 
 
Grupos A e B
R$ 42,44
R$ 1936,98
R$ 269,38
Tabela 2 – Distribuição do custo total por grupos.
Tabela 3 – Distribuição do custo total por grupos.
Variações do Custo 
Total (R$)
Coeficiente de correlação de Pearson r = +0,99
 
 
Exames Laboratoriais
R$ 22,80
R$ 25,09
 
 
Radiografia
R$ 31,51
R$ 13,10 
 
 
Ultrassonografia
R$ 84,98
R$ 30,58 
 
 
Tomografia
R$ 509,74
R$ 209,46
 
Variações do Custo 
dos exames 
diagnósticos (R$)
Valor Médio
Desvio-padrão
Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6
e ao AINH um opioide fraco; já o 3º degrau, que considera o trata-
mento de pacientes com dor intensa, substitui o opioide fraco por 
forte13. A analgesia multimodal também é recomendada para o 
tratamento da dor aguda, que combina classes de fármacos com 
mecanismos de ação diferentes e segue a proposição da escada anal-
gésica, de forma a graduar a necessidade do fármaco com a inten-
sidade dolorosa14.
Em estudo conduzido na Turquia com 574 pacientes atendidos 
em serviço de emergência, também por cólica renal, evidenciou-
se a utilização de AINH em 86,8% dos casos e em apenas 4% foi 
realizada a analgesia com opioides15, o que denota que a utiliza-
ção dos opioides de forma combinada com os AINH, conforme 
recomendação sugerida, ainda não é uma prática consolidada não 
apenas em nosso meio.
Os analgésicos e os opioides têm a função de diminuir o tempo de 
vigência da dor, embora na presente pesquisa não tenha sido obser-
vada nenhuma relação de custo e de tempo de permanência com 
os diferentes grupos de analgesia utilizados, ou seja, a adoção ou 
não de esquema terapêutico proposto pela OMS não torna o trata-
mento mais efetivo ou mais ou menos dispendioso.
A dor da cólica renal se deve à obstrução do fluxo urinário e con-
sequente aumento da tensão na parede do trato urinário, ocorre a 
síntese e a liberação de prostaglandinas que estimulam a vasodilata-
ção e o aumento da pressão intrarrenal, além de atuar diretamente 
induzindo espasmo do ureter. O uso dos AINH é indicado, pois 
atuam na causa principal da dor inibindo a liberação das prosta-
glandinas, a distensão das vias excretoras e o espasmo, contudo, o 
mecanismo de ação desses fármacos é mais lento e menos potente 
se comparado aos opioides, por este motivo sua utilização é reco-
mendada de forma combinada8 e, justamente nesse ponto, há di-
vergências entre as diversas condutas terapêuticas. O desenvolvi-
mento de diretrizes e protocolos assistenciais visa à facilidade de 
acesso às melhores evidências científicas publicadas, todavia, a adesão ao 
protocolo na prática clínica pelos profissionais de saúde e a análise 
constante do desempenho das ações ainda constituem um desafio. 
Embora não seja o objetivo principal, os protocolos também são 
úteis para evitar custos desnecessários com procedimentos redun-
dantes ou de alto custo.
Benefícios indiretos do gerenciamento da dor podem ser obtidos, 
conforme evidenciado em pesquisa que observou aumento do custo 
com a utilização de fármacos a partir da implantação de um serviço 
de tratamento da dor aguda em sala de recuperação pós-anestésica 
(SRPA), no entanto houve redução do tempo para melhora do sin-
toma e maior otimização dos leitos da SRPA, com diminuição do 
índice de cancelamento de cirurgias por falta de vaga neste setor16. 
O tempo de permanência foi apresentado como a única variável 
capaz de influenciar o custo do atendimento da cólica renal, e os 
achados sugerem que pode ter sido prolongado em função da realiza-
ção de exames diagnósticos. Outros fatores operacionais não foram 
avaliados neste estudo.
Os exames complementares influenciaram de forma expressiva o 
custo total, dado corroborado por outros autores que apontam a 
investigação diagnóstica do cálculo renal como maior componente 
do custo de atendimento15.
O tamanho e a localização do cálculo foram relatados em estudo 
como variáveis que interferem diretamente no custo da investiga-
ção diagnóstica. Cálculos maiores de 5 mm ou com localização 
mais distal em ureter foram associados à maior custo, que no caso 
atingiu o valor de 55,77 euros, ou seja, aproximadamente U$8015. 
Todavia, as características do cálculo não foram objeto de investi-
gação na presente pesquisa.
O custo da cólica renal foi analisado neste estudo na perspectiva 
da fonte pagadora, o que explica a grande variabilidade encontrada 
entre o valor mínimo de R$ 42,44 e máximo R$ 1936,98 com mé-
dia de R$453,62. Isso pode dificultar a comparação com estudos 
que tenham os valores estipulados em uma única tabela, como por 
exemplo, os realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por 
outro lado, uma grande variação de custos de U$80 a 750U$, tam-
bém foi observada em estudos conduzidos em hospitais da Europa 
e América16, que guardam relação com o custo observado nesta pes-
quisa, que convertido em dólar na cotação de 22/09/2011, variou 
de U$73 a U$1119. 
Com base em dados do Departamento de Informática do SUS 
(DATASUS), foi verificado o custo para o SUS das internações 
por litíase renal no ano de 2010 e o valor médio encontrado foi 
de R$423,42. Foi observado também aumento progressivo (69%) 
do número de internações nos últimos 15 anos, o que representou 
0,61% das internações pelo SUS em 2010. O custo com o atendi-
mento ambulatorial e a investigação diagnóstica neste nível não 
compõem o valor divulgado, o que sugere um gasto ainda maior 
não conhecido e revela uma oportunidade para investimento na 
prevenção de forma que as internações possam ser evitadas17. 
Outros custos não mensuráveis a partir do desenho metodológi-
co proposto, tidos como limitação do presente estudo, podem 
ser considerados em estudos prospectivos, tais como: o custo 
operacional das reavaliações do paciente pela equipe assistencial 
em função de persistência da dor, o subjetivo “custo do sintoma” 
para o paciente que pode estar relacionado com a avaliação da 
qualidade assistencial recebida, uma vez que quanto mais tempo 
o paciente permanece com dor menos satisfeito ele pode estar 
com o atendimento recebido, além do custo do leito ocupado em 
um serviço que trabalha com a capacidade máxima de ocupação 
frequentemente.
Pode-se inferir que o custo do tratamento da litíase renal é uma 
somatória de diversas situações seja no âmbito ambulatorial, 
emergencial ou de internação propriamente dita. Ainda, soma-se 
aos custos diretos a redução de produtividade do paciente e os 
custos intangíveis representados pela dor e pelo sofrimento do 
indivíduo. 
Uma vez conhecido os fatores de risco populacional, as limita-
ções de estrutura e de acesso aos serviços de saúde e as evidên-
cias de aumento progressivo de internações nos últimos anos, 
entende-se que o custo total pode diferir em diferentes países em 
função dessas características e que a comparação desses valores 
deve levar esses aspectos em consideração. A ênfase na contenção 
de custos e melhora da eficiência dos sistemas de saúde têm criado 
a necessidade explícita de realizar quantificação e justificativa de 
custos e benefícios associados a terapias específicas, no sentido de 
haver decisões terapêuticas mais racionais18. 
15 
 Tipos de Dor
 Lombalgia Fibromialgia Valor
 Média ± DP Média ± DP 
Idade
 
Número de filhos 1,8 ± 1,623 2,5 ± 1,911 <0,001(2)
Renda familiar (salários mínimos) 2,5 ± 1,121 2,6 ± 1,1840,774(2)
(1)Teste t de Student; (2)teste de Mann-Whitney
 16 45,7 6 17,6
 19 54,3 28 82,4 0,019
Gatti, Ferraz, Leão e col. Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6
16 
CONCLUSÃO 
O custo foi bastante variado, tendo em vista o estudo ter sido realiza-
do em instituição privada, com fontes pagadoras diversas. O tempo 
de permanência do paciente no serviço de emergência foi a única 
variável que apresentou significância estatística com o aumento dos 
custos.
A adoção de estratégias eficazes de tratamento e qualidade assisten-
cial, que possibilitem reduzir o tempo de permanência do paciente 
no serviço de emergência poderá refletir na redução dos custos do 
atendimento.
Estudos que relacionam custos e dor aguda são escassos na litera-
tura. Esta pesquisa contribui, portanto, para as reflexões sobre a 
gestão da assistência da dor aguda no que tange qualidade versus 
custos e pode modelar outras investigações em outros tipos de al-
gias atendidas nas emergências em hospitais públicos ou privados.
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