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ARTIGO ORIGINAL Hospital costs of renal colic diagnosis and management in a Brazilian private emergency service* Custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal em um serviço de emergência privado brasileiro Maria Fernanda Zorzi Gatti1, Marcos Bosi Ferraz2, Eliseth Ribeiro Leão3, Edna Aparecida Bussotti4, Rafaela Aparecida Marques Caliman5 * Recebido do Hospital Samaritano de São Paulo. São Paulo, SP. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A incidência de cólica re- nal tem aumentado nos países em desenvolvimento por diversos fatores e leva o indivíduo ao serviço de emergência em função da necessidade de alívio da dor aguda e intensa que esta provoca. O impacto econômico do diagnóstico e tratamento em caráter emer- gencial é desconhecido em nosso meio. O objetivo deste estudo foi avaliar o custo do diagnóstico e tratamento da cólica renal em serviço de emergência privado e as variáveis que influenciam neste custo. MÉTODO: Trata-se de um estudo retrospectivo em que foram analisados os prontuários de pacientes atendidos com cólica renal entre agosto e setembro de 2010 em um serviço de emergência privado de São Paulo. RESULTADOS: Foram avaliados 136 prontuários de pacientes de ambos os sexos, com idade média de 39 anos, 52% com anteceden- te de cálculo e 30% com outras comorbidades. A escada analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi utilizada em 48% dos casos. O custo total foi em média R$453,62 e a influência do tempo de permanência do paciente no custo foi significante. CONCLUSÃO: O custo foi bastante variado, tendo em vista o estudo ter sido realizado em uma instituição privada, com fontes pagadoras diversas. O tempo de permanência do paciente no ser- viço de emergência foi a única variável com significância estatística em relação ao aumento dos custos. Estratégias eficazes de tratamen- to e qualidade assistencial, que reduzam o tempo de permanência do paciente no serviço de emergência poderão refletir na redução dos custos do atendimento. Descritores: Cólica renal, Custos e análise de custo, Dor, Serviço hospitalar de emergência. INTRODUÇÃO A necessidade de tratamento da dor aguda ou crônica agudiza- da representa um dos fatores de maior procura aos serviços de emergência, situação essa que é vivenciada por pacientes e equipes assistenciais de forma, muitas vezes, desastrosa do ponto de vista da estrutura existente nos hospitais públicos e privados do país1,2. Pesquisas sobre o manuseio da dor em serviços de emergência revelam que o seu subtratamento ainda é uma realidade e a dor de origem visceral se destaca2-6. Do ponto de vista clínico, o tratamen- to da dor aguda se mostra como uma das oportunidades de melho- 1. Mestre em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Chefe de Enfermagem do Pronto Socorro Adulto do Hospital Sa- maritano. São Paulo, SP, Brasil. 2. Professor Adjunto do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, Univer- sidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Professor Diretor do GRIDES da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil. 3. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Hospital Israelita Albert Einstein. São Paulo, SP, Brasil. 4. Doutoranda pela Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora de Responsabilidade Social do Hospital Samaritano. São Paulo, SP, Brasil. 5. Enfermeira do Pronto Socorro Adulto do Hospital Samaritano; Especialista em Emergên- cia pela Faculdade São Camilo. São Paulo, SP, Brasil. Apresentado em 31 de maio de 2012. Aceito para publicação em 9 de janeiro de 2013. Endereço para correspondência: Maria Fernanda Zorzi Gatti Rua Aimberê nº 233/32 – Perdizes 05018-010 São Paulo, SP. E-mail: maria.gatti@samaritano.org.br Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 12 Sociedade Brasileira para o Estudo da Dorc ABSTRACT BACKGROUND AND OBJECTIVES: The incidence of renal colic is increasing in developing countries due to several factors, and takes people to the emergency service to relieve the acute and severe pain it induces. The economic impact of emergency diagno- sis and management is not known in Brazil. This study aimed at evaluating the cost of renal colic diagnosis and management in a private emergency service and the variables influencing such cost. METHOD: This is a retrospective study evaluating the medical records of renal colic patients seen between August and September 2010 by a private emergency service of the city of São Paulo. RESULTS: We have evaluated 136 medical records of patients of both genders, with mean age of 39 years, 52% with history of stones and 30% with other comorbidities. WHO’s analgesic scale was used in 48% of cases. Mean total cost was R$ 453.62 and the impact of patients’ length of stay on cost was significant. CONCLUSION: Cost has widely varied since the study was carried out in a private institution with different paying sources. Length of stay in the emergency service was the only variable with statistical significance with regard to increased costs. Effective management and quality of assistance strategies, which decrease length of stay of patients in the emergency service, may contribute to decrease assistance costs. Keywords: Costs and cost analysis, Emergency service, Pain, Re- nal colic. ria em termos de processo assistencial, a qual pode ser trabalhada a fim de obter-se ganho para o paciente e para a estrutura, em termos de qualidade, custo e tempo do tratamento. A dor da cólica renal se apresenta de forma aguda e intensa e, fre- quentemente, leva o indivíduo em busca de atendimento emer- gencial. A incidência de cálculo renal tem aumentado nos países em desenvolvimento em decorrência de mudanças sociais e conse- quente mudança dos hábitos alimentares, além do fator climático com temperaturas quentes em algumas áreas geográficas. O custo da doença envolve o diagnóstico, o tratamento, a prevenção e as potenciais complicações, além do afastamento do indivíduo do trabalho7. No que diz respeito à Diretriz de tratamento da dor, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza a terapia analgésica de forma muito didática, denominada de Escada Analgésica da OMS. Para o tratamento da cólica renal a utilização de anti-inflamatório não hormonal (AINH) e opioides tem sido citada como grau de re- comendação “A”, ou seja, diretamente aplicável à população alvo com consistência geral dos resultados. Vários estudos8-10 têm sido realizados para comparar a efetividade dos fármacos utilizados no tratamento da dor aguda em cólica renal, no entanto, as pesquisas não avaliam comparativamente os custos desse tratamento. O manuseio adequado da dor propicia, além do alívio do sintoma, a diminuição do tempo de permanência do paciente no setor de emergência, a diminuição dos custos com o tratamento e, conse- quentemente, o aumento da satisfação do paciente com a quali- dade da assistência. Este estudo justifica-se pela quase inexistência de publicações nacionais relacionadas aos custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal, bem como pode ser útil para propor reflexões acerca da importância dos protocolos institu- cionais, do manejo adequado da dor, bem como de características associadas que facilitem a gestão da assistência e dos serviços. O objetivo deste estudo foi avaliar o custo do diagnóstico e trata- mento da cólica renal em serviço de emergência privado e as variáveis que influenciam neste custo. MÉTODO Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo exploratório com abordagem quantitativa dos pacientes atendidos com o diagnósti- co de cólica renal no pronto socorro adulto (PSA) de um hospital privado, filantrópico, de médio porte, da cidade de São Paulo. Para a coleta de dados, mediante análise documental, foi utilizado o sistema de prontuário eletrônico Tasy para acesso aos registros do prontuário,bem como para a seleção da amostra de acordo com o Código Internacional de Doenças (CID) dos pacientes que ti- veram diagnóstico de dor aguda consequente de cálculo no trato urinário. Foram incluídos no estudo os pacientes atendidos no PSA no período de agosto e setembro de 2010 e que tiveram como hipótese diagnóstica o CID N20 – calculose do rim e do ureter, N21 – cal- culose do trato urinário ou N23 – cólica nefrética. Foram excluídos do estudo os pacientes com qualquer outro CID que não os descritos anteriormente; os pacientes que necessitaram internação após o atendimento no PSA, uma vez que o tempo de permanência no setor para aguardar vaga de internação poderia al- terar sobremaneira os valores de a conta hospitalar, bem como os pacientes que tinham o CID N20, N21 ou N23, porém não relata- ram dor como queixa principal. As variáveis estudadas foram: o custo dos exames diagnósticos realiza- dos, média de tempo de permanência no PSA, idade, presença de comorbidades e recursos terapêuticos empregados. Para determinar os custos do atendimento da cólica renal (na perspectiva da fonte pagadora) foi utilizado o sistema de custo por doença e verificado individualmente na conta hospitalar a sua composição. A conta é apresentada para a fonte pagadora dividida em três partes, a saber: materiais e medicamentos (Mat/Med), taxas de sala e de serviços e exames diagnósticos, dessa forma foi possível separar os custos para determinação do diagnóstico e do tratamento. Todos os custos foram apresentados de acordo com os valores pagos pelas diferentes Fontes Pagadoras para cada item. A fim de estabelecer uma equiparação dos valores que são dependen- tes de cada contrato do paciente com sua operadora, os resultados serão apresentados com os valores do custo por média, mediana e desvio-padrão. O tempo de permanência do paciente para o tratamento da cólica renal correspondeu ao intervalo entre a admissão e a alta do paciente O tratamento analgésico utilizado segundo a utilização ou não da Escada Analgésica da OMS, em conformidade com a indicação para a intensidade dolorosa referida, divididos respectivamente em grupos A e B. A escala utilizada para avaliação da intensidade do- lorosa, pelos enfermeiros, foi a Escala Numérica Verbal (ENV)11. Os dados demográficos, clínicos e variáveis de interesse anterior- mente mencionados foram coletados em programa Excell. Para a análise dos dados foi utilizado o Software de Pesquisa e Análise de Dados Sphinx versão 5.1. A análise descritiva dos dados foi realizada por meio dos índices percentuais para frequências das variáveis quantitativas e para as variáveis quantitativas contínuas foram calculados a média, desvio-padrão, valores máximo/mínimo e mediana. O test t de Student foi utilizado para avaliar as variáveis quantitativas com média amostral. O teste de Qui-quadrado foi utilizado para as variáveis qualitativas. Em todas as análises foi uti- lizado o nível de significância de 5%. O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para avaliar as variáveis de custo e tempo de permanência. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sob o protocolo nº 42/2010. RESULTADOS Do total dos 13692 prontuários dos pacientes atendidos no PSA no período do estudo, em 180 prontuários foi observada a hipótese diagnóstica o CID N20 – calculose do rim e do ureter, N21 – cal- culose do trato urinário ou N23 – cólica nefrética, ou seja, 1,31% do total de atendimentos do PSA. Dos 180 prontuários, 136 aten- deram aos critérios de inclusão e 44 foram excluídos do estudo por não apresentarem queixa de dor, caracterizar atendimento ambu- latorial, não se tratar de adultos, terem sido atendidos no pronto socorro obstétrico ou ainda, por necessitarem de internação. A média de idade foi de 39,7 anos, ou seja, adultos em fase produ- tiva. Na tabela 1 estão apresentadas a caracterização demográfica e clínica dos grupos separadamente e depois agrupados. 13 Gatti, Ferraz, Leão e col. Grupo A R$ 42,44 R$ 1733,71 R$ 259,11 Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 Todos os pacientes foram incluídos no estudo por queixa álgica, sendo que dos que foram atendidos na triagem de enfermagem, 54,5% apresentava o registro do escore de dor como 5º sinal vital e 45,5% tinha o registro da dor somente na evolução do enfermeiro. Em relação ao tratamento antálgico, 48,5% recebeu esquema anal- gésico de acordo com a escada preconizada pela OMS (grupo A) para o manuseio da dor aguda, sendo que para os demais pacientes (grupo B) outros esquemas analgésicos foram prescritos (51,5%). Com relação aos exames complementares para realizar o diag- nóstico da cólica renal, 71,8% dos pacientes realizou ao menos três exames laboratoriais. A média de exames foi de 2,37, mediana de 1, com variação de zero a 15 exames laboratoriais, de um total de 124 exames realizados. Quinze radiografias foram realizadas para 11% dos pacientes e a ultrassonografia foi realizada para 75,7% dos pacientes. Para 33,8% foi realizada tomografia computadorizada. A média de permanência do paciente no PSA foi de 4h49’ (desvio- padrão = 3h59’), mediana de 3h59’ e com variação de 31’ à 23h27’. O custo da cólica renal variou do valor mínimo de R$ 42,44 e máximo R$ 1936,98 com média de R$ 453,62. O custo total dos grupos A e B estão apresentados na tabela 2. Não houve diferença estatisticamente significante com relação ao custo total entre os grupos A e B (p = 0,26). A idade e a presença de comorbidades foram variáveis que não in- terferiram no custo (p = 0,49). A existência (ou não) de comorbi- dade não influenciou o número de exames solicitados (p = 0,85) ou o custo total (p = 0,15). Da mesma forma não houve influência de antecedentes de cálculos (p = 0,79) no custo total. Os exames diagnósticos foram responsáveis por 57% do custo total e estão apresentados na tabela 3. O coeficiente de correlação de Pearson está representado no gráfico 1 cujo r = +0,99, o que indica correlação positiva direta entre as variáveis: tempo de permanência e custo total. O tempo de permanência, por- tanto, foi a única variável com significância estatística neste estudo. DISCUSSÃO Diversos estudos comprovaram a eficácia do programa para o alívio da dor oncológica proposta pela OMS. Essa proposta ultrapassou a recomendação inicial para controle da dor no câncer e passou a ser diretriz para o controle da dor de modo geral12. A escada analgésica proposta pela OMS é composta de três degraus e associa a conduta terapêutica à intensidade dolorosa referida pelo paciente. O 1º degrau está relacionado ao tratamento da dor leve e recomenda a utilização de analgésico simples e AINH; o 2º de- grau diz respeito à dor moderada e associada ao analgésico simples 14 Custos hospitalares do diagnóstico e tratamento da cólica renal em um serviço de emergência privado brasileiro Gráfico 1 – Correlação entre tempo de permanência e custo total dos 136 casos acompanhados. p valor > 0,005 para as variações de custo total entre os grupos A e B. Variáveis Grupo A Grupo B Grupos A e B n % n % n % Distribuição por grupo 66 48,5 70 51,51 36 100 Sexo masculino 42 63,6 28 40 70 51,5 Apresenta outras comorbidades 20 30,3 21 30 41 30,2 Apresenta antecedente de cálculo renal 36 54,6 35 50 71 52,2 Atendimento no PSA com cólica renal nos 10 15,1 10 14,3 20 14,7 6 meses que antecederam a coleta de dados Tabela 1 – Distribuição dos pacientes nos grupos A e B. p valor > 0,005 para todas as variáveis entre os grupos A e B (não houve significância estatística). PSA = pronto socorro adulto. Grupo A R$ 42,44 R$ 1733,71 R$ 259,11Grupo B R$ 117,31 R$ 1936,98 R$ 285,99 Valor Mínimo Valor Máximo Mediana Grupos A e B R$ 42,44 R$ 1936,98 R$ 269,38 Tabela 2 – Distribuição do custo total por grupos. Tabela 3 – Distribuição do custo total por grupos. Variações do Custo Total (R$) Coeficiente de correlação de Pearson r = +0,99 Exames Laboratoriais R$ 22,80 R$ 25,09 Radiografia R$ 31,51 R$ 13,10 Ultrassonografia R$ 84,98 R$ 30,58 Tomografia R$ 509,74 R$ 209,46 Variações do Custo dos exames diagnósticos (R$) Valor Médio Desvio-padrão Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 e ao AINH um opioide fraco; já o 3º degrau, que considera o trata- mento de pacientes com dor intensa, substitui o opioide fraco por forte13. A analgesia multimodal também é recomendada para o tratamento da dor aguda, que combina classes de fármacos com mecanismos de ação diferentes e segue a proposição da escada anal- gésica, de forma a graduar a necessidade do fármaco com a inten- sidade dolorosa14. Em estudo conduzido na Turquia com 574 pacientes atendidos em serviço de emergência, também por cólica renal, evidenciou- se a utilização de AINH em 86,8% dos casos e em apenas 4% foi realizada a analgesia com opioides15, o que denota que a utiliza- ção dos opioides de forma combinada com os AINH, conforme recomendação sugerida, ainda não é uma prática consolidada não apenas em nosso meio. Os analgésicos e os opioides têm a função de diminuir o tempo de vigência da dor, embora na presente pesquisa não tenha sido obser- vada nenhuma relação de custo e de tempo de permanência com os diferentes grupos de analgesia utilizados, ou seja, a adoção ou não de esquema terapêutico proposto pela OMS não torna o trata- mento mais efetivo ou mais ou menos dispendioso. A dor da cólica renal se deve à obstrução do fluxo urinário e con- sequente aumento da tensão na parede do trato urinário, ocorre a síntese e a liberação de prostaglandinas que estimulam a vasodilata- ção e o aumento da pressão intrarrenal, além de atuar diretamente induzindo espasmo do ureter. O uso dos AINH é indicado, pois atuam na causa principal da dor inibindo a liberação das prosta- glandinas, a distensão das vias excretoras e o espasmo, contudo, o mecanismo de ação desses fármacos é mais lento e menos potente se comparado aos opioides, por este motivo sua utilização é reco- mendada de forma combinada8 e, justamente nesse ponto, há di- vergências entre as diversas condutas terapêuticas. O desenvolvi- mento de diretrizes e protocolos assistenciais visa à facilidade de acesso às melhores evidências científicas publicadas, todavia, a adesão ao protocolo na prática clínica pelos profissionais de saúde e a análise constante do desempenho das ações ainda constituem um desafio. Embora não seja o objetivo principal, os protocolos também são úteis para evitar custos desnecessários com procedimentos redun- dantes ou de alto custo. Benefícios indiretos do gerenciamento da dor podem ser obtidos, conforme evidenciado em pesquisa que observou aumento do custo com a utilização de fármacos a partir da implantação de um serviço de tratamento da dor aguda em sala de recuperação pós-anestésica (SRPA), no entanto houve redução do tempo para melhora do sin- toma e maior otimização dos leitos da SRPA, com diminuição do índice de cancelamento de cirurgias por falta de vaga neste setor16. O tempo de permanência foi apresentado como a única variável capaz de influenciar o custo do atendimento da cólica renal, e os achados sugerem que pode ter sido prolongado em função da realiza- ção de exames diagnósticos. Outros fatores operacionais não foram avaliados neste estudo. Os exames complementares influenciaram de forma expressiva o custo total, dado corroborado por outros autores que apontam a investigação diagnóstica do cálculo renal como maior componente do custo de atendimento15. O tamanho e a localização do cálculo foram relatados em estudo como variáveis que interferem diretamente no custo da investiga- ção diagnóstica. Cálculos maiores de 5 mm ou com localização mais distal em ureter foram associados à maior custo, que no caso atingiu o valor de 55,77 euros, ou seja, aproximadamente U$8015. Todavia, as características do cálculo não foram objeto de investi- gação na presente pesquisa. O custo da cólica renal foi analisado neste estudo na perspectiva da fonte pagadora, o que explica a grande variabilidade encontrada entre o valor mínimo de R$ 42,44 e máximo R$ 1936,98 com mé- dia de R$453,62. Isso pode dificultar a comparação com estudos que tenham os valores estipulados em uma única tabela, como por exemplo, os realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por outro lado, uma grande variação de custos de U$80 a 750U$, tam- bém foi observada em estudos conduzidos em hospitais da Europa e América16, que guardam relação com o custo observado nesta pes- quisa, que convertido em dólar na cotação de 22/09/2011, variou de U$73 a U$1119. Com base em dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), foi verificado o custo para o SUS das internações por litíase renal no ano de 2010 e o valor médio encontrado foi de R$423,42. Foi observado também aumento progressivo (69%) do número de internações nos últimos 15 anos, o que representou 0,61% das internações pelo SUS em 2010. O custo com o atendi- mento ambulatorial e a investigação diagnóstica neste nível não compõem o valor divulgado, o que sugere um gasto ainda maior não conhecido e revela uma oportunidade para investimento na prevenção de forma que as internações possam ser evitadas17. Outros custos não mensuráveis a partir do desenho metodológi- co proposto, tidos como limitação do presente estudo, podem ser considerados em estudos prospectivos, tais como: o custo operacional das reavaliações do paciente pela equipe assistencial em função de persistência da dor, o subjetivo “custo do sintoma” para o paciente que pode estar relacionado com a avaliação da qualidade assistencial recebida, uma vez que quanto mais tempo o paciente permanece com dor menos satisfeito ele pode estar com o atendimento recebido, além do custo do leito ocupado em um serviço que trabalha com a capacidade máxima de ocupação frequentemente. Pode-se inferir que o custo do tratamento da litíase renal é uma somatória de diversas situações seja no âmbito ambulatorial, emergencial ou de internação propriamente dita. Ainda, soma-se aos custos diretos a redução de produtividade do paciente e os custos intangíveis representados pela dor e pelo sofrimento do indivíduo. Uma vez conhecido os fatores de risco populacional, as limita- ções de estrutura e de acesso aos serviços de saúde e as evidên- cias de aumento progressivo de internações nos últimos anos, entende-se que o custo total pode diferir em diferentes países em função dessas características e que a comparação desses valores deve levar esses aspectos em consideração. A ênfase na contenção de custos e melhora da eficiência dos sistemas de saúde têm criado a necessidade explícita de realizar quantificação e justificativa de custos e benefícios associados a terapias específicas, no sentido de haver decisões terapêuticas mais racionais18. 15 Tipos de Dor Lombalgia Fibromialgia Valor Média ± DP Média ± DP Idade Número de filhos 1,8 ± 1,623 2,5 ± 1,911 <0,001(2) Renda familiar (salários mínimos) 2,5 ± 1,121 2,6 ± 1,1840,774(2) (1)Teste t de Student; (2)teste de Mann-Whitney 16 45,7 6 17,6 19 54,3 28 82,4 0,019 Gatti, Ferraz, Leão e col. Rev Dor. São Paulo, 2013 jan-mar;14(1):12-6 16 CONCLUSÃO O custo foi bastante variado, tendo em vista o estudo ter sido realiza- do em instituição privada, com fontes pagadoras diversas. O tempo de permanência do paciente no serviço de emergência foi a única variável que apresentou significância estatística com o aumento dos custos. A adoção de estratégias eficazes de tratamento e qualidade assisten- cial, que possibilitem reduzir o tempo de permanência do paciente no serviço de emergência poderá refletir na redução dos custos do atendimento. Estudos que relacionam custos e dor aguda são escassos na litera- tura. Esta pesquisa contribui, portanto, para as reflexões sobre a gestão da assistência da dor aguda no que tange qualidade versus custos e pode modelar outras investigações em outros tipos de al- gias atendidas nas emergências em hospitais públicos ou privados. REFERÊNCIAS 1. Sabino RS, Turra V. Dor no pronto-socorro do hospital de base de Brasília. Rev Dor. 2003;4(2):81-8. 2. Marubayashi PM, Shimoda TY, Constantino E, et al. Avaliação da intensidade, tipo e lo- calização da dor em pacientes que procuram o pronto-socorro municipal de uma cidade de médio porte. Rev Dor. 2009;10(2):135-40. 3. Tsai FC, Tsai YF, Chien CC, et al. Emergency nurses’ knowledge of perceived barriers in pain management in Taiwan. 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