Prévia do material em texto
RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA SP 3.1 – TEM TRATAMENTO – EPILEPSIA DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA 1. DEFINIR CRISE EPILÉPTICA E EPILEPSIA A EPILEPSIA, a doença neurológica grave mais comum, ocorre em todas as idades e se caracteriza por uma variedade de apresentações e etiologias. É definida como um distúrbio cerebral caracterizado por predisposição permanente de gerar crises epilépticas e por suas consequências neurobiológicas cognitivas, psicológicas e sociais. CRISE EPILÉPTICA é a ocorrência de sinais e/ou sintomas transitórios devidos a uma atividade neuronal anormal, excessiva e síncrona no cérebro. Se for só uma vez, é uma crise epiléptica isolada. Também é assim se algo específico tiver causado a crise, como febre, doença, ou até remédios. Mas se o paciente tiver mais de uma crise e nada específico tiver causado, pode ser epilepsia. Descargas elétricas anormais e excessivas do cérebro interrompem temporariamente sua função habitual e produzem manifestações involuntárias no comportamento, no controle muscular, na consciência e/ou na sensibilidade do indivíduo. Do ponto de vista operacional define-se epilepsia como uma doença encefálica caracterizada por uma das condições seguintes: 1. Pelo menos duas crises não provocadas (ou reflexas) ocorrendo em intervalo superior a 24 horas. 2. Uma crise não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de crises subsequentes semelhante ao risco geral de recorrência (pelo menos de 60%) após duas crises não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos. 3. Diagnóstico de uma síndrome epiléptica. Epilepsia é considerada resolvida para indivíduos que tiveram uma síndrome epiléptica idade dependente mas agora passaram a idade vulnerável ou aqueles que permaneceram livres de crises por pelo menos 10 anos, sem medicações antiepilépticas pelos últimos 5 anos. ------------------------------------------------------------------------ Uma CONVULSÃO consiste na ocorrência transitória de sinais ou sintomas devido a uma atividade neuronal anormal, excessiva ou sincrônica. Refere-se a uma manifestação motora, que pode ou não ser decorrente de uma crise epiléptica. Um paciente pode apresentar convulsão, por exemplo, durante um episódio de síncope, cuja causa é diferente de uma crise epiléptica. A epilepsia é caracterizada por convulsões recorrentes. No entanto, nem todas as convulsões são de natureza epiléptica. Algumas pessoas podem sofrer uma convulsão e não ser diagnosticadas com epilepsia. O significado do termo convulsão tem de ser cuidadosamente distinguido daquele de epilepsia. Embora diversos fatores influenciem a incidência e prevalência de convulsões, cerca de 5 a 10% da população apresentará pelo menos uma convulsão, sendo as maiores incidências verificadas no início da infância e na idade adulta avançada. A epilepsia descreve uma condição em que uma pessoa corre risco de convulsões recorrentes devido a um processo subjacente crônico. Essa definição subentende que uma pessoa que sofre uma única convulsão, ou convulsões recorrentes em consequência de circunstâncias corrigíveis ou evitáveis, não tem necessariamente epilepsia (embora uma única convulsão associada a determinadas manifestações clínicas ou eletrencefalográficas específicas possa estabelecer o diagnóstico de epilepsia). Epilepsia diz respeito a um fenômeno clínico mais do que a uma entidade patológica única, pois existem muitas formas e causas de epilepsia. Não obstante, entre as muitas causas de epilepsia figuram várias síndromes epilépticas, cujas características clínicas e patológicas são distintivas e sugerem uma etiologia subjacente específica. CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES EPILÉPTICAS Em 1981 a Comissão de Terminologia da ILAE avaliou centenas de registros de vídeo-EEG para desenvolver recomendações que dividiram as crises epilépticas entre as de início parcial e generalizado, e as crises parciais em crises parciais simples e complexas e vários tipos específicos de crises generalizadas. Essa RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA classificação ainda é amplamente utilizada nos dias de hoje. A determinação do tipo de convulsão é fundamental para concentrar a abordagem diagnóstica em etiologias específicas, selecionar o tratamento apropriado e fornecer informações potencialmente vitais acerca do prognóstico. A Comissão de Classificação e Terminologia da International League Against Epilepsy (ILAE) forneceu uma abordagem atualizada para a classificação das convulsões em 2017. Esse sistema baseia-se nas manifestações clínicas das convulsões e nos achados eletrencefalográficos associados. A classificação das crises epilépticas de 2017 A nova Classificação das Crises Epilépticas da ILAE publicada em dois esquemas, um simplificado para uso por leigos e um expandido, para profissionais da área, considera quatro grupos de crises epilépticas: 1. crises focais; 2. crises generalizadas; 3. crises de início desconhecido 4. crises não classificáveis. ____________________________________________ → CRISES EPILÉPTICAS FOCAIS São aquelas que se originam em redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, as quais podem ser restritas ou distribuídas de forma mais ampla. As convulsões focais em geral estão associadas a anormalidades estruturais do cérebro. O eletrencefalograma (EEG) interictal (entre as convulsões) de rotina em pacientes com convulsões focais está frequentemente normal ou pode demonstrar descargas breves, denominadas pontas epileptiformes ou ondas agudas. Como as convulsões focais podem surgir no lobo temporal medial ou no lobo frontal inferior (regiões distantes do couro cabeludo), o EEG registrado durante a convulsão pode não localizar o foco. Crises focais são divididas em perceptivas (parcial simples), quando a percepção de si próprio e do meio ambiente é preservada, ou seja, não há comprometimento de consciência; e disperceptivas (parcial complexa) ou com comprometimento da percepção quando a percepção é comprometida. As crises focais, podem ser motoras (sete subtipos) ou não motoras (cinco subtipos), e ambos os tipos podem evoluir para crises tonicoclônicas bilaterais. Convulsões focais perceptivas: As convulsões focais podem ter manifestações motoras (como movimentos tônicos, clônicos ou mioclônicos) ou não motoras (como sintomas sensitivos, autonômicos ou emocionais) sem comprometimento da percepção. Vale a pena mencionar três características adicionais das convulsões motoras focais: • Primeiramente, em alguns pacientes os movimentos motores anormais podem começar em uma região muito restrita, como os dedos, e avançar de modo gradual (em questão de segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do membro. Esse fenômeno, originalmente descrito por Hughlings Jackson e conhecido como “marcha jacksoniana”, representa a disseminação da atividade convulsiva para uma região progressivamente maior do córtex motor. • Em segundo lugar, os pacientes podem apresentar paresia localizada (paralisia de Todd) durante alguns minutos a muitas horas na região acometida após a convulsão. • Em terceiro, em casos raros, a convulsão persiste durante horas ou dias. Tal situação, denominada epilepsia parcial contínua, muitas vezes é refratária ao tratamento clínico. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA As convulsões também podem manifestar-se como alterações na sensibilidade somática (p. ex., parestesias), na visão (luzes piscando ou alucinações bem formadas), no equilíbrio (sensação de queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor, sudorese, piloereção). As convulsões focais que surgem do córtex temporal ou frontal também podem causar alterações na audição, olfatoou estado emocional. Elas incluem a sensação de odores incomuns e intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou sons (grosseiros ou altamente complexos), ou uma sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax para a cabeça. [Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares, como medo, sensação de mudança iminente, dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de que os objetos estão se tornando menores (micropsia) ou maiores (macropsia). Esses eventos “internos” subjetivos, que não são diretamente observáveis por outra pessoa, são designados auras. ____________________________________________ Convulsões focais disperceptivas: As convulsões focais também podem ser acompanhadas de comprometimento transitório da capacidade do paciente de manter contato normal com o ambiente. O paciente é incapaz de responder adequadamente a comandos visuais ou verbais durante a convulsão e tem memória ou percepção da fase ictal comprometidas. As convulsões costumam começar com aura (convulsão focal sem distúrbio cognitivo), estereotipada para cada paciente. O início da fase ictal consiste frequentemente em olhar fixo imóvel, que assinala o começo do período de comprometimento da percepção. A percepção comprometida é habitualmente acompanhada de automatismos, que são comportamentos automáticos involuntários, com ampla variedade de manifestações. Os automatismos podem consistir em comportamentos muito básicos, como mastigar, estalar os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar objetos com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, como a expressão de emoção ou o ato de correr. Em geral, o paciente está confuso após a convulsão, e a transição até a recuperação plena da consciência pode demorar de segundos até 1 hora. O exame imediatamente após a convulsão pode revelar amnésia anterógrada ou déficits neurológicos transitórios (como afasia, heminegligência ou perda visual) causados por inibição pós-ictal das regiões corticais mais envolvidas na convulsão. A variedade de comportamentos clínicos possivelmente vinculados às convulsões focais é tão extensa que se aconselha extrema cautela antes de concluir que os episódios estereotipados de comportamento bizarro atípico não advêm de atividade convulsiva. Nesses casos, EEGs detalhados adicionais podem ser úteis. ____________________________________________ DEPENDENDO DA REGIÃO DO CÓRTEX ACOMETIDA, O PACIENTE APRESENTARÁ MANIFESTAÇÕES ESPECÍFICAS: CRISES DO LOBO TEMPORAL: As crises epilépticas mais comuns são as do lobo temporal (70% das crises). Nas crises do lobo temporal perceptivas, o paciente pode apresentar sensação de cheiro ruim e ainda sintomas de “déjà-vu” e “jamais vu”, termos em francês que significam, respectivamente, “já vi” e “nunca vi”. No primeiro caso, durante a crise, o paciente tem a impressão de que já viveu uma situação inédita; no segundo, sente-se como se fosse a primeira vez diante de uma situação corriqueira para ele. As crises de início focal disperceptivas são quase sempre decorrentes do comprometimento do lobo temporal. O quadro clássico costuma ser caracterizado por perda de contato com o meio, olhar fixo, automatismos orais e manuais e, eventualmente, postura distônica do RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA membro superior contralateral ao hemisfério comprometido. CRISES DO LOBO FRONTAL Nas crises do lobo frontal (20% das crises), as manifestações motoras são as mais frequentes. Além de abalos musculares contralaterais, algumas crises frontais podem levar a movimentos proximais dos membros bilaterais e a desvio da cabeça e/ou dos olhos para o lado contralateral (versão cefálica e versão ocular). Após a crise motora, alguns pacientes exibirão, no período pós-ictal, um quadro de hemiparesia que poderá durar horas: paralisia de Todd. Ela deve ser diferenciada de outras causas de hemiparesia, como a encontrada no paciente com AVC. CRISES ORIGINADAS EM OUTROS LOCAIS Quando originadas na ÍNSULA, as crises podem caracterizar-se pela clássica sensação de mal-estar epigástrico ascendente, que, apesar de inespecífica, é relativamente comum e deve ser investigada na anamnese. Nas crises OCCIPITAIS, o paciente deverá relatar que percebe imagens que não existem na realidade. Podem ser relatadas luzes piscantes ou fixas brancas ou coloridas, objetos inespecíficos coloridos e brilhantes ou distorções visuais (macro ou micropsia, metamorfopsia, discromatopsia). Os pacientes com crises PARIETAIS podem relatar parestesias no hemicorpo contralateral quando houver acometimento da área somatossensitiva primária (giro pós-central). __________________________________________ EVOLUÇÃO DAS CONVULSÕES FOCAIS PARA CONVULSÕES GENERALIZADAS As convulsões focais podem disseminar-se e comprometer ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma convulsão generalizada, em geral do tipo tônicoclônica. Essa evolução é observada com frequência após convulsões focais, que surgem a partir de um foco no lobo frontal, mas também pode associar-se a convulsões focais que ocorrem em outras áreas do cérebro. Muitas vezes, é difícil diferenciar uma convulsão focal que evolui para uma generalizada de uma convulsão tônico-clônica primária de início generalizado, visto que as testemunhas tendem a enfatizar a fase convulsiva generalizada, mais dramática, da convulsão, e omitir os sintomas focais mais sutis presentes no início. Em alguns casos, o início focal da crise só fica evidente quando uma anamnese minuciosa identifica uma aura prévia. Porém, com frequência o início focal não é clinicamente evidente e só é estabelecido por uma análise cuidadosa do EEG. Entretanto, a diferenciação dessas duas entidades é de suma importância, visto que pode haver diferenças substanciais na avaliação e no tratamento das epilepsias caracterizadas por convulsões de início focal versus generalizado. ____________________________________________ → CRISES EPILÉPTICAS GENERALIZADAS São aquelas que se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais. As convulsões generalizadas podem decorrer de anormalidades celulares, bioquímicas ou estruturais que têm distribuição mais disseminada. Crises generalizadas são também subdivididas em crises motoras e não motoras (ausências). Há oito subtipos de crises generalizadas motoras e quatro subtipos de ausências como não motoras. A diferenciação destes subtipos de ausências é fundamental para o estabelecimento do diagnóstico sindrômico e do prognóstico. NÃO MOTORA 1) Crises de ausência típicas As crises de ausência típicas caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da consciência sem perda do controle postural. Em geral, a convulsão dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão rapidamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. EPIDEMIOLOGIA: As crises de ausência típicas estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 10 anos) ou no início da adolescência e são RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA o principal tipo de convulsão em 15 a 20% das crianças com epilepsia. SINTOMAS ASSOCIADOS: Embora a breve perda da consciência possa não ser evidente clinicamente ou ser a única manifestação da descarga convulsiva, as crises de ausência em geral acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. FREQUÊNCIA: As convulsões podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. Como os sinais clínicos das convulsões são sutis, especialmentepara pais que podem não ter nenhuma experiência prévia com convulsões, não causa surpresa o fato de que o primeiro indício da epilepsia de ausência muitas vezes corresponda a “devaneios” inexplicados e piora do rendimento escolar identificada por um professor. EEG: A marca eletrofisiológica das crises de ausência típicas é uma descarga em ponta-onda lenta generalizada simétrica de 3 Hz, que começa e cessa bruscamente, em um EEG de base normal. Períodos de descargas em ponta-onda lenta com duração de mais de alguns segundos em geral correlacionam-se com sinais clínicos, mas o EEG muitas vezes demonstra um número muito maior de períodos de atividade cortical anormal do que se poderia suspeitar clinicamente. FATOR DESENCADEANTE: A hiperventilação tende a desencadear essas descargas eletrográficas e até mesmo as próprias convulsões, e é uma manobra rotineira durante o registro do EEG. ____________________________________________ 2) Crises de ausência atípicas As crises de ausência atípicas exibem características que as distinguem das manifestações clínicas e eletrofisiológicas das crises de ausência típicas. Por exemplo, a perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos, e a convulsão acompanha- se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. O EEG mostra um padrão lento e generalizado de ponta-onda lenta, com frequência ≤ 2,5 por segundo, além de outros tipos de atividade anormal. As crises de ausência atípicas costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Além disso, em comparação com as crises de ausência típicas, apresentam pior resposta ao tratamento com anticonvulsivantes. ____________________________________________ MOTORA 1) Convulsões tônico-clônicas generalizadas: As convulsões tônico-clônicas de início generalizado são o principal tipo de convulsão em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia. Também são o tipo mais comum de convulsão nos distúrbios metabólicos e, portanto, são frequentes em muitas situações clínicas diferentes. SINTOMAS: A convulsão costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas premonitórios vagos nas horas que a antecedem. Esse pródromo é distinto das auras estereotípicas associadas a convulsões focais com generalização. FASES: A fase inicial da convulsão costuma ser de contração tônica dos músculos de todo o corpo, tônica, fato responsável por diversas características clássicas do evento: A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da convulsão produz um gemido alto, ou “grito ictal”. A respiração é prejudicada, as secreções acumulam-se na orofaringe e surge cianose. A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da convulsão evolui para a fase clônica, produzida pela sobreposição de períodos de relaxamento muscular e a contração muscular tônica. Os períodos de relaxamento aumentam progressivamente até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA A fase pós-ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias aéreas. Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, há um período de confusão pós-ictal. Mais tarde, os pacientes queixam-se de cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas. A duração da alteração de consciência na fase pós-ictal pode ser extremamente longa (muitas horas) nos pacientes com convulsões prolongadas ou doenças subjacentes do sistema nervoso central (SNC), como atrofia cerebral alcoólica. EEG: O EEG durante a fase tônica da convulsão exibe um aumento progressivo da atividade rápida e generalizada de baixa voltagem, seguido por descargas polipontas generalizadas de alta amplitude. Na fase clônica, a atividade de alta amplitude é interrompida por ondas lentas, criando um padrão de ponta-onda lenta. O EEG pós-ictal revela supressão difusa de toda atividade cerebral e, em seguida, lentidão que gradualmente se recupera à medida que o paciente acorda. ____________________________________________ 2) Convulsões atônicas: As convulsões atônicas se caracterizam por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. Uma convulsão muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma convulsão mais longa faz o paciente a cair. Isso pode ser extremamente perigoso, pois existe um risco substancial de traumatismo craniano na queda. O EEG evidencia descargas em ponta-onda breves e generalizadas, seguidas imediatamente por ondas lentas difusas que se correlacionam com a perda do tônus muscular. À semelhança das convulsões tônicas puras, as convulsões atônicas em geral são vistas associadas a síndromes epilépticas conhecidas. ____________________________________________ 3) Convulsões mioclônicas: A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. Uma forma fisiológica comum e normal de mioclonia é o movimento de abalo súbito observado ao adormecer. Mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. Embora a distinção de outras formas de mioclonia seja imprecisa, as convulsões mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção cortical (subcortical ou espinal). O EEG revela descargas sincrônicas bilaterais em ponta- onda lenta imediatamente antes do artefato de movimento e muscular associado à mioclonia. As convulsões mioclônicas costumam coexistir com outras formas de convulsões generalizadas, mas são a característica predominante da epilepsia mioclônica juvenil (EMJ). ____________________________________________ 4) Espasmos epilépticos: Os espasmos epilépticos caracterizam-se por flexão ou extensão brevemente sustentadas dos músculos predominantemente proximais, incluindo músculos do tronco. Em geral, o EEG revela hipsarritmia, que consiste em ondas lentas gigantes e difusas, com fundo caótico de pontas multifocais irregulares e ondas agudas. Durante o espasmo clínico, observa-se uma supressão acentuada do EEG de fundo (a “resposta eletrodecremental”). A eletromiografia (EMG) também revela um padrão romboide característico, que pode ajudar a distinguir os espasmos das convulsões tônicas e mioclônicas breves. Os espasmos epilépticos ocorrem predominantemente em lactentes e resultam provavelmente de diferenças da função neuronal e da conectividade no SNC imaturo versus maduro. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ → CRISES DE INÍCIO DESCONHECIDO Por não terem sido integralmente testemunhadas, por exemplo, que seriam referidas pela simples palavra “não classificadas” na Classificação de 1981 podem agora receber características adicionais, incluindo motoras e não motoras. Um tipo de crise de início desconhecido pode posteriormente ser classificado tanto como de início focal quanto de início generalizado quando estiverem disponíveis exames complementarescomo EEG, neuroimagem ou testes genéticos. ____________________________________________ → CRISE EPILÉPTICA NÃO CLASSIFICADA Finalmente, pode ser impossível classificar uma crise epiléptica, tanto por informações incompletas como pela natureza incomum da crise; nesse caso deverá ser chamada de crise epiléptica não classificada. Categorização como não classificada deve ser feita somente em situações excepcionais quando o clínico está seguro de que o evento é uma crise epiléptica, mas não consegue prosseguir na classificação do evento. 2. CLASSIFICAR AS SÍNDROMES EPILÉPTICAS As síndromes epilépticas são distúrbios nos quais a epilepsia é uma característica predominante, e existem evidências suficientes (por observações clínicas, eletrencefalográficas, radiológicas ou genéticas) em favor de um mecanismo subjacente comum. EPILEPSIA MIOCLÔNICA JUVENIL A EMJ é um distúrbio convulsivo generalizado de causa desconhecida, que surge no início da adolescência e que se caracteriza geralmente por abalos mioclônicos bilaterais que podem ser isolados ou repetitivos. As convulsões mioclônicas são mais frequentes pela manhã, após o paciente acordar, e podem ser provocadas por privação do sono. A consciência é preservada, a menos que a mioclonia seja especialmente intensa. Muitos pacientes também apresentam convulsões tônico-clônicas generalizadas, e até um terço tem crises de ausência. Muitas vezes, há história familiar de epilepsia, e estudos de ligação genética sugerem uma causa poligênica. Embora a remissão completa seja relativamente incomum, as convulsões costumam responder bem à medicação anticonvulsivante apropriada. ____________________________________________ SÍNDROME DE DRAVET • Epilepsia mioclônica severa do lactente • Início com convulsão febril geralmente no primeiro ano de vida. • Evolui com crises afebris, com grande sensibilidade à febre baixa. • Crises podem ser CTCG, miocônicas, ausência, clonicas, focais. • Fotosensibilidade. • Crises refratárias, evolui com atraso do DNPM. • Alterações neurológicas: ataxia, sinais piramidais. • EEG: pode ser normal no início do quadro. Seguem- se surtos de complexos de espícula-onda generalizados ativados pela sonolência ou, em alguns casos, pela fotostimulação e descargas multifocais. Alentecimento da atividade de base. • Três a quatro anos após o início, ocorre interrupção da deterioração neurológica com tendência ao desaparecimento das crises parciais, das ausências e das mioclonias. ____________________________________________ SÍNDROME DE WEST • Encefalopatia hipoxica isquêmica • Início geralmente entre 4 a 10 meses de idade. • Espasmos epilépticos, em salva, início do sono ou despertar. • Atraso do DNPM. • EEG apresenta hipsarritmia. • Atraso do DNPM. • Tratamento: vigabatrina, ACTH, prednisolona em altas doses. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ SÍNDROME DE LENNOX-GASTAUT A síndrome de Lennox-Gastaut ocorre em crianças e é definida pela seguinte tríade: 1. múltiplos tipos de convulsões (que costumam incluir convulsões tônico-clônicas generalizadas, atônicas e crises de ausência atípicas); 2. EEG com descargas em ponta-onda lentas (< 3 Hz) e várias outras anormalidades; 3. disfunção cognitiva na maioria dos casos, mas não em todos. A síndrome de Lennox-Gastaut associa-se a doença ou disfunção do SNC de várias etiologias, incluindo mutações de novo, anormalidades do desenvolvimento, hipoxia/isquemia perinatal, traumatismo, infecção e outras lesões adquiridas. A natureza multifatorial dessa síndrome sugere que se trata de uma resposta inespecífica do cérebro à disfunção neuronal difusa. Infelizmente, muitos pacientes têm prognóstico reservado em razão da doença subjacente do SNC e das consequências físicas e psicossociais da epilepsia grave mal controlada. • É o protótipo das encefalopatias epilépticas. • Início entre 1 e 10 anos de idade (pré-escolares). • Crises tônicas, principalmente durante sono, ausências atípicas, crises tônico-clônicas, mioclônicas e parciais. • Deterioração neuropsicológica; • EEG: atividade de base lenta, complexos de pontaonda ritmados, < 2,5 Hz, de alta amplitude, a menos do que 3s, surtos de ritmo recrutante epiléptico durante sono, que podem ou não corresponder a crises clínicas; • Tratamento: valproato, benzodiazepínicos, felbamato, topiramato, lamotrigina (refratário ao tratamento). ___________________________________________ SÍNDROME DE EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL MESIAL A síndrome de epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM) é a síndrome mais comum associada a convulsões focais com comprometimento da consciência e é um exemplo de uma síndrome epiléptica com características clínicas, eletrencefalográficas e anatomopatológicas distintas. A ressonância magnética (RM) de alta resolução pode detectar a esclerose hipocampal típica que parece ser essencial à fisiopatologia da ELTM em muitos pacientes. O reconhecimento dessa síndrome é especialmente importante, pois ela tende a ser refratária ao tratamento com anticonvulsivantes, mas responde bem à intervenção cirúrgica. 3. ESTUDAR A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, CLASSIFICAÇÕES, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA EPILEPSIA EPIDEMIOLOGIA • Estima-se que acometa 60 milhões de pessoas no mundo e que a cada ano somem-se aproximadamente 3 milhões de novos casos. • A doença acomete cerca de 2% da população brasileira • Existem entre 1.1 a 1.7 vezes mais homens do que mulheres com epilepsia. • 1 em cada 20 pessoas pode ter um ataque epiléptico uma vezna vida. • Crianças e idosos apresentam maior taxa de incidência. • 1% da população dos países desenvolvidos são acometidos pela epilepsia. • Nos países em desenvolvimento 2% da população é acometida pela epilepsia. FISIOPATOLOGIA CAUSAS DAS CONVULSÕES E DA EPILEPSIA As convulsões resultam de um desvio no equilíbrio normal entre excitação e inibição no SNC. Em função das várias propriedades que controlam a estabilidade neuronal, não causa surpresa o fato de existirem muitas formas diferentes de perturbar esse equilíbrio normal e, portanto, muitas causas diferentes para as convulsões e a epilepsia. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Três observações clínicas importantes enfatizam como diversos fatores determinam por que certas condições causam convulsões ou epilepsia em um dado paciente. 1. O cérebro normal é capaz de sofrer uma convulsão sob as circunstâncias apropriadas, havendo diferenças entre as pessoas na suscetibilidade ou no limiar para as convulsões. Por exemplo, as convulsões podem ser induzidas por febre alta em crianças normais sob outros aspectos e que nunca desenvolvem outros problemas neurológicos, incluindo epilepsia. Porém, as convulsões febris ocorrem apenas em uma proporção pequena de crianças. Isso implica que há vários fatores endógenos subjacentes que influenciam o limiar para uma convulsão. Alguns desses fatores são genéticos, visto que a história familiar de epilepsia tem uma clara influência na probabilidade de ocorrência de convulsões em pessoas normais sob outros aspectos. O desenvolvimento normal também desempenha papel importante, pois o cérebro parece apresentar limiares diferentes para convulsão em diferentes estágios de maturação. 2. Há uma variedade de condições que apresentam altíssima probabilidade de acarretar um distúrbio convulsivo crônico. Um dos melhores exemplos disso é o traumatismo craniano grave penetrante, associado a risco de quase 45% de epilepsia subsequente. A alta propensão da lesão cerebral traumática grave de gerar epilepsia sugere que a lesão resulte em uma modificaçãopatológica persistente no SNC que transforma uma rede neural presumivelmente normal em uma anormalmente hiperexcitável. Esse processo é conhecido como epileptogênese, e as alterações específicas que resultam em diminuição do limiar para convulsões podem ser consideradas fatores epileptogênicos. Outros processos associados à epileptogênese incluem acidentes vasculares cerebrais (AVCs), infecções e anormalidades do desenvolvimento do SNC. De modo semelhante, as anormalidades genéticas associadas a epilepsia provavelmente envolvem processos que desencadeiam o surgimento de conjuntos específicos de fatores epileptogênicos. 3. As convulsões são episódicas. Os pacientes com epilepsia têm convulsões de maneira intermitente e, de acordo com a causa subjacente, muitos permanecem completamente normais por meses ou até mesmo anos entre as convulsões. Isso sugere a existência de fatores desencadeantes ou precipitantes importantes que induzem convulsões no paciente com epilepsia. De modo análogo, fatores desencadeantes são responsáveis pela ocorrência da convulsão isolada em indivíduos sem epilepsia. Os fatores precipitantes incluem aqueles que decorrem de processos fisiológicos intrínsecos, como estresse psicológico ou físico, privação do sono ou alterações hormonais. Também incluem fatores exógenos como exposição a substâncias tóxicas e a certos fármacos. Essas observações enfatizam o conceito de que muitas causas de convulsões e epilepsia resultam de uma interação dinâmica entre fatores endógenos, fatores epileptogênicos e fatores desencadeantes. O papel em potencial de cada um precisa ser cuidadosamente analisado ao se definir a conduta apropriada para um paciente com convulsões. Por exemplo, a identificação de fatores predisponentes (história familiar de epilepsia) em paciente com convulsões febris pode aumentar a indicação para acompanhamento mais atento e avaliação diagnóstica mais agressiva. A descoberta de uma lesão epileptogênica ajuda a estimar a recorrência das convulsões e a duração da terapia. Por fim, a remoção ou modificação de um fator desencadeante pode ser um método eficaz e mais seguro de prevenir novas convulsões do que o uso profilático de anticonvulsivantes. MECANISMOS BÁSICOS MECANISMOS DE INÍCIO E PROPAGAÇÃO DA CONVULSÃO A atividade convulsiva focal pode começar em uma região bem definida do córtex e, depois, lentamente invadir as regiões vizinhas. A característica fundamental de uma convulsão bem definida é uma “ponta” eletrográfica devido a disparos intensos quase simultâneos de um grande número de neurônios excitatórios locais, resultando em uma hipersincronização aparente dos disparos excitatórios em uma região cortical relativamente grande. A atividade paroxística em neurônios individuais (o “desvio paroxístico da despolarização”) é causada por despolarização de duração relativamente longa da membrana neuronal decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca 2+), o qual leva à abertura dos canais de sódio (Na +) dependentes de voltagem, influxo de Na + e geração de potenciais de ação repetitivos. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Isso é seguido de um pós-potencial hiperpolarizante mediado pelos receptores do ácido γ-aminobutírico (GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo celular. Os disparos sincronizados de um número suficiente de neurônios resultam na chamada descarga em ponta no EEG. A onda de disseminação da convulsão é alentecida e, por fim, interrompida pela hiperpolarização intacta e uma inibição “circundante” criada pela ativação progressiva de neurônios inibitórios. Com ativação suficiente, há recrutamento dos neurônios circundantes por diversos mecanismos sinápticos e não sinápticos, incluindo: (1) aumento do K+ extracelular, que amortece a hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos; (2) acúmulo de Ca 2+ nos terminais présinápticos, levando a maior liberação de neurotransmissores; (3) ativação induzida pela despolarização do subtipo N- metil-D-aspartato (NMDA) do receptor de aminoácidos excitatórios, que causa influxo adicional de Ca 2+ e ativação neuronal; (4) interações efáticas relacionadas a alterações da osmolaridade tecidual e edema celular. O recrutamento de uma quantidade suficiente de neurônios leva à propagação de correntes excitatórias para áreas contíguas por meio de conexões corticais locais, e para áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas como o corpo caloso. Muitos fatores controlam a excitabilidade neuronal e, dessa maneira, existem muitos mecanismos com o potencial de alterar a propensão do neurônio a apresentar atividade paroxística. Os mecanismos intrínsecos ao neurônio incluem alterações na condutância dos canais iônicos, nas características de resposta dos receptores da membrana, no tamponamento citoplasmático, nos sistemas de segundo mensageiro e na expressão de proteínas determinada pela transcrição, tradução e modificação pós-traducional dos genes. Os mecanismos extrínsecos ao neurônio abrangem modificações na quantidade ou no tipo de neurotransmissores presentes na sinapse, modulação de receptores por íons extracelulares e outras moléculas e propriedades temporais e espaciais dos impulsos aferentes sinápticos e não sinápticos. As células não neuronais, como os astrócitos e oligodendrócitos, também exercem um papel importante em muitos desses mecanismos. Determinadas causas reconhecidas de convulsões são explicadas por esses mecanismos. A ingestão acidental de ácido domoico, um análogo do glutamato (o principal neurotransmissor excitatório do cérebro), causa convulsões intensas por meio da ativação direta de receptores de aminoácidos excitatórios em todo o SNC. A penicilina, capaz de reduzir o limiar convulsivo em humanos e um potente convulsivante em modelos experimentais, reduz a inibição ao antagonizar os efeitos do GABA no seu receptor. Os mecanismos básicos de outros fatores desencadeantes de convulsões, como privação do sono, febre, abstinência alcoólica, hipoxia e infecção, são menos bem compreendidos, mas presume-se que envolvam perturbações análogas da excitabilidade neuronal. Do mesmo modo, os fatores endógenos que determinam o limiar convulsivo do indivíduo também podem estar relacionados com tais propriedades. O conhecimento dos mecanismos responsáveis pelo início e pela propagação da maioria das convulsões generalizadas (incluindo os tipos tônicoclônico, mioclônico e atônico) ainda é rudimentar e reflete a compreensão limitada sobre a conectividade do cérebro no nível de sistemas. Sabe-se muito mais sobre a origem das descargas em ponta-onda generalizadas das crises de ausência. Elas parecem ter relação com os ritmos oscilatórios normalmente gerados durante o sono por circuitos que conectam o tálamo e o córtex. Esse comportamento oscilatório envolve uma interação entre receptores GABA, canais de Ca 2+ do tipo T e canais de K+ localizados dentro do tálamo. Estudos farmacológicos indicam que a modulação desses receptores e canais pode induzir crises de ausência, e há boas evidências de que as formas genéticas da epilepsia de ausência possam estar associadas a mutações de componentes desse sistema. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA MECANISMOS DA EPILEPTOGÊNESE Epileptogênese refere-se à transformação da rede neuronal normal em uma rede que é cronicamente hiperexcitável. Muitas vezes, há um atraso de meses a anos entre a lesão inicial do SNC, como traumatismo, AVC ou infecção e a primeira convulsão. A lesão parece desencadear um processo que gradualmente diminui o limiar convulsivo na região afetada, até que ocorra uma convulsão espontânea. Em muitas formas genéticas e idiopáticas de epilepsia, presume-se que a epileptogêneseseja determinada por eventos regulados ao longo do desenvolvimento. Estudos patológicos do hipocampo de pacientes com epilepsia do lobo temporal levaram à sugestão de que algumas formas de epileptogênese teriam relação com alterações estruturais nas redes neuronais. Por exemplo, muitos pacientes com ELTM sofrem perda altamente seletiva de neurônios, que normalmente contribuem para a inibição dos principais neurônios excitatórios contidos no giro denteado. Há também evidências de que, em resposta à perda de neurônios, ocorre reorganização dos neurônios sobreviventes de uma forma que afetaria a excitabilidade da rede. Algumas dessas alterações são vistas em modelos experimentais de convulsões elétricas prolongadas ou lesão cerebral traumática. Assim, uma lesão inicial como o traumatismo craniano pode gerar uma região focal de modificação estrutural que causa hiperexcitabilidade local. A hiperexcitabilidade local origina novas alterações estruturais que evoluem ao longo do tempo, até que a lesão focal produz convulsões clinicamente evidentes. Modelos semelhantes forneceram fortes evidências de alterações em longo prazo nas propriedades bioquímicas intrínsecas das células contidas na rede, como alterações crônicas na função do receptor de glutamato ou GABA. A indução de cascatas inflamatórias também pode constituir um fator crítico nesses processos. ____________________________________________ CLASSIFICAÇÃO O esquema diagnóstico para a classificação das epilepsias oferece a possibilidade de diagnóstico em múltiplos níveis, dependendo da informação e dos recursos disponíveis. Nele, o primeiro passo (nível 1) consiste em estabelecer se um determinado evento paroxístico é uma crise epiléptica. Uma vez que este diagnóstico tenha sido estabelecido clinicamente (ou através de exames auxiliares, como EEG, vídeo-EEG ou ambos), o próximo passo será classificar o(s) tipo(s) de crise(s). Algumas vezes o diagnóstico precisará ser interrompido a este nível, pois em algumas situações, como quando estamos diante de uma primeira crise epiléptica, não será possível prosseguir para os próximos níveis. Na maioria das vezes, no entanto, será possível chegar ao nível 2, ou seja, tentar classificar a epilepsia com base no(s) tipo(s) de crise(s). No nível 2 as epilepsias deverão ser classificadas como focais, generalizadas, focais e generalizadas (quando ambos os tipos de crises estiverem presentes) ou desconhecidas (quando for impossível classificar as crises como focais ou generalizadas). No próximo passo (nível 3) vamos tentar estabelecer o diagnóstico de uma síndrome epiléptica. Uma síndrome epiléptica é um conjunto de características clínicas, eletroencefalográficas, imagenológicas e etiológicas. Este diagnóstico terá muita importância para o tratamento e o estabelecimento do prognóstico. Embora o esquema diagnóstico enfatize em todos os seus três níveis que é fundamental estabelecer a etiologia da epilepsia (no esquema diagnóstico à direita, na barra vertical, estão os seis grupos etiológicos), é o quarto nível (nível 4) que define o diagnóstico da epilepsia e sua etiologia. Em algumas circunstâncias, mesmo sem o estabelecimento da síndrome epiléptica, é possível estabelecer o RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA diagnóstico etiológico. Em qualquer momento, devemos estabelecer um dos seis diagnósticos etiológicos (quarto nível) entre os seguintes: estrutural; genética; infecciosa; metabólica; imune; ou desconhecida. ____________________________________________ ABORDAGEM AO PACIENTE Quando um paciente é atendido logo após uma convulsão, as prioridades iniciais são atenção aos sinais vitais, suporte respiratório e cardiovascular e tratamento das convulsões, caso elas retornem. Condições potencialmente letais, como infecção do SNC, desequilíbrios metabólicos ou intoxicação por substâncias, devem ser identificadas e tratadas da maneira adequada. Quando o paciente não está agudamente enfermo, a avaliação inicial concentra-se na pesquisa da história de convulsões prévias. Se essa for a primeira convulsão, deve-se enfatizar o seguinte: (1) definir se o episódio descrito foi uma convulsão ou outro evento paroxístico, (2) determinar a causa da convulsão pela identificação de fatores de risco e eventos desencadeantes e (3) decidir se é necessário instituir terapia anticonvulsivante além do tratamento da doença subjacente. No paciente com convulsões prévias ou história conhecida de epilepsia, a avaliação é dirigida para: (1) identificação da causa subjacente e fatores precipitantes e (2) determinação da adequação da terapia atual do paciente. ____________________________________________ ANAMNESE O primeiro objetivo é determinar se o evento de fato foi uma convulsão. Uma anamnese minuciosa é essencial, pois em muitos casos, o diagnóstico de uma convulsão se baseia unicamente em critérios clínicos – o exame físico e os testes laboratoriais costumam ser normais. As perguntas devem concentrar-se nos sintomas que ocorreram antes, durante e após o episódio a fim de discriminar entre convulsão e outros eventos paroxísticos. As convulsões com frequência ocorrem fora do ambiente hospitalar, e o paciente pode não ter consciência das fases ictal e pós-ictal imediata; portanto, as testemunhas do evento devem ser questionadas cuidadosamente. A anamnese deve concentrar-se nos fatores de risco e eventos predisponentes. Os indícios de predisposição a convulsões incluem história de convulsões febris, história familiar de convulsões e, de importância particular, auras ou convulsões breves anteriores não reconhecidas como tais. Fatores epileptogênicos, como traumatismo craniano anterior, AVC, tumor ou infecção do SNC, devem ser identificados. Nas crianças, uma avaliação cuidadosa dos marcos do desenvolvimento pode proporcionar evidências de uma doença subjacente do SNC. Também é necessário identificar fatores desencadeantes como privação do sono, doenças sistêmicas, desequilíbrios eletrolíticos ou metabólicos, infecção aguda, fármacos que reduzem o limiar convulsivo ou uso de álcool ou substâncias ilícitas. ____________________________________________ EXAME FÍSICO O exame físico geral inclui uma pesquisa de sinais de infecção ou enfermidade sistêmica. Um exame cuidadoso da pele pode revelar sinais de distúrbios neurocutâneos, como esclerose tuberosa ou neurofibromatose, ou de uma doença renal ou hepática crônica. A detecção de organomegalia pode indicar uma doença metabólica de depósito, e a assimetria dos membros fornece um indício de lesão cerebral no início do desenvolvimento. Devem-se procurar por sinais de traumatismo craniano e uso de álcool e substâncias ilícitas. A ausculta cardíaca e das artérias carótidas pode evidenciar uma anormalidade que predisponha a doença cerebrovascular. Todos os pacientes necessitam de exame neurológico completo, com ênfase especial na pesquisa de sinais de doença hemisférica cerebral. Uma avaliação cuidadosa do estado mental (incluindo a memória, a linguagem e o pensamento abstrato) pode sugerir lesões nos lobos frontal anterior, parietal ou temporal. O teste dos campos visuais ajuda no rastreamento de lesões das vias ópticas e dos lobos occipitais. Os testes de rastreamento da função motora, como queda em pronação, reflexos tendíneos profundos, marcha e RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA coordenação, podem sugerir lesões do córtex motor (frontal), e os testes de sensibilidade cortical (p. ex., estimulação simultânea dupla) podem detectar lesões no córtex parietal. ____________________________________________ EXAMES LABORATORIAIS A realização de exames complementares em todos os pacientes que apresentam a primeira criseepiléptica é obrigatória. No contexto da emergência, devemos realizar exames laboratoriais e de neuroimagem para a avaliação de causas agudas. Em pacientes ambulatoriais, os exames têm a função de estabelecer a etiologia e realizar o acompanhamento terapêutico dos pacientes com epilepsia já diagnosticada. Exames de sangue de rotina estão indicados para identificar as causas metabólicas mais comuns das convulsões, como anormalidades nos eletrólitos, glicose, cálcio ou magnésio e doenças hepática ou renal. Também se deve solicitar rastreamento para toxinas no sangue e na urina de todos os pacientes que pertençam aos grupos de risco apropriados, principalmente se não for identificado um fator precipitante claro. A punção lombar para coleta de líquor é indicada se houver qualquer suspeita de meningite ou encefalite (neuroinfecção) ou hemorragia subaracnóidea, e é obrigatória em todos os pacientes infectados pelo HIV, mesmo na ausência de sinais ou sintomas sugestivos de infecção. O teste para autoanticorpos no soro e no líquido cerebrospinal (LCS) deve ser considerado em pacientes com uma forma muito agressiva de epilepsia associada a outras anormalidades, como sintomas psiquiátricos e distúrbios cognitivos. ____________________________________________ EXAMES ELETROFISIOLÓGICOS O EEG no diagnóstico das epilepsias é fundamental, porque oferece sinais de distúrbio epileptiforme causado por disfunção neuronal durante o período em que o paciente se encontra assintomático, isto é, entre crises, ou durante o período ictal (registro de crises). Todos os pacientes com suspeita de um distúrbio convulsivo devem ser avaliados com EEG assim que possível. A atividade elétrica do cérebro (EEG) é facilmente registrada por meio de eletrodos aplicados no couro cabeludo. A diferença de potencial entre os pares de eletrodos posicionados no couro cabeludo (derivação bipolar) ou entre eletrodos específicos e um ponto de referência comum relativamente inativo (derivação referencial) é amplificada e exibida na tela de um computador, no osciloscópio ou no papel. As características do EEG normal dependem da idade e do nível de vigília do paciente. Em geral, a atividade rítmica registrada representa os potenciais pós sinápticos das células piramidais orientadas verticalmente no córtex cerebral e é classificada com base em sua frequência. Nos adultos normais despertos e deitados tranquilamente com os olhos fechados, o EEG mostra, nas regiões posteriores, um ritmo alfa de 8 a 13 Hz, entremeado com quantidade variável de atividade (beta) mais rápida (> 13 Hz) generalizada; o ritmo alfa é atenuado quando os olhos são abertos. No estado de sonolência, o ritmo alfa também diminui; no sono superficial, as atividades mais lentas nas faixas teta (4- 7 Hz) e delta (< 4 Hz) tornam-se mais evidentes. Durante uma crise epiléptica, essas ondas costumam apresentar aumento de sua amplitude em decorrência do aumento da atividade elétrica cortical ou, ainda, pela sincronização das atividades de circuitos neuronais. Contudo, a ausência de atividade convulsiva eletrográfica não exclui um distúrbio convulsivo porque convulsões focais podem originar-se de uma região do córtex que não pode ser detectada por eletrodos no couro cabeludo. Como as convulsões são, em geral, infrequentes e imprevisíveis, muitas vezes é impossível realizar o EEG durante um evento clínico. Nessas situações, procedimentos ativadores são geralmente realizados, enquanto o EEG é registrado na tentativa de provocar anormalidades. Esses procedimentos costumam incluir hiperventilação (por 3-4 min), estimulação fótica, sono e privação de sono durante a noite que antecede o exame. O EEG feito fora da crise é chamado de interictal. Ele tem uma sensibilidade baixa para detectar alterações RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA epileptiformes. A maioria dos EEG interictais é normal. Mesmo sem manifestações clínicas, podemos encontrar alterações chamadas de paroxismo epileptiformes. As principais alterações tipicamente encontradas no EEG são: → Crises de ausência típica: espícula-onda (também chamada de ponta-onda) generalizada a 3Hz, que pode ser desencadeada por hiperventilação. → Epilepsia benigna da infância: ponta-onda centrotemporal, que pode ocorrer durante o sono; → Síndrome de Lennox-Gastaut: onda aguda-onda lenta generalizada; → Síndrome de West: hipsarritmia (espículas e ondas lentas aleatórias em todas as regiões corticais); → Epilepsia idiopática occipital fotossensível (IPOE): ponta, multiespícula ou espícula-onda occipital desencadeada por fotoestimulação; → Epilepsia mioclônica juvenil: multiespícula-onda generalizada desencadeada por privação de sono e fotoestimulação. ____________________________________________ EXAMES DE IMAGEM CEREBRAL Quase todos os pacientes com convulsões de início recente devem ser submetidos a exames de imagem cerebral para determinar se existe uma anormalidade estrutural. A única exceção em potencial a essa regra são crianças que apresentam uma história inequívoca e um exame físico sugestivo de distúrbio convulsivo generalizado benigno, como epilepsia de ausência. Ou seja, exceto aqueles com formas típicas de epilepsia generalizada primária (p. ex., epilepsia mioclônica juvenil, ausência da infância) ou epilepsias focais autolimitadas da infância com clínica e EEG característicos e resposta adequada às drogas antiepilépticas (DAEs). Existem duas situações básicas para a realização de exames de neuroimagem em pacientes com diagnóstico de epilepsia. A primeira se aplica a pacientes recém-diagnosticados e aqueles com epilepsia de longa data que ainda não foram devidamente investigados. A segunda se aplica a pacientes com epilepsia de difícil controle e, portanto, candidatos a tratamento cirúrgico. Demonstrou-se que a RM é superior à tomografia computadorizada (TC) na detecção de lesões cerebrais associadas à epilepsia. Em alguns casos, a RM identifica lesões como tumores, malformações vasculares e outras patologias que exigem tratamento urgente. Nesses casos, os achados podem não levar a terapia imediata, mas proporcionam uma explicação para as convulsões do paciente e apontam para a necessidade de terapia farmacológica antiepiléptica crônica ou possível ressecção cirúrgica. No paciente com suspeita de infecção do SNC ou lesão expansiva, deve-se obter uma TC em regime de emergência caso não se disponha imediatamente de RM. Do contrário, é satisfatório obter uma RM alguns dias após a avaliação inicial. Procedimentos de imagens funcionais, como a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), também são usados para avaliar determinados pacientes com convulsões refratárias ao tratamento clínico. Tomografia computadorizada A tomografia computadorizada tem a vantagem de ser disponível na maioria dos serviços de médio porte e ter custo operacional relativamente baixo. Portanto, este é o exame de imagem ideal para urgências. A tomografia computadorizada pode detectar grande parte dos tumores, malformações arteriovenosas e malformações cerebrais extensas, acidentes vasculares, lesões infecciosas e é sensível para detecção de lesões calcificadas (neurocisticercose) e lesões ósseas. Ela é pouco sensível para detectar, de modo geral, pequenas lesões corticais e particularmente lesões na base do crânio, como nas regiões orbitofrontal e temporal medial. Pequenos gliomas de baixo grau geralmente não são detectados pela tomografia. A porcentagem total de sucesso da tomografia computadorizada na detecção de lesões em epilepsias focais é baixa, cerca de 30%. Ressonância magnética A extraordinária capacidade de contrasteinerente à RM é a principal diferença entre esta técnica e outras RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA modalidades de imagem por raios X, como a tomografia computadorizada. A investigação por neuroimagem tem importância fundamental no diagnóstico e no tratamento dos pacientes com epilepsia. É um exame de imagem mais sofisticado, porém com custo mais elevado e não tão amplamente disponível. Ela é capaz de detectar alterações mais sutis, não percebidas pela tomografia, incluindo esclerose de hipocampo e displasias corticais. A introdução da RM foi fundamental no diagnóstico e na compreensão das diferentes síndromes epilépticas. As imagens de RM tornam possível caracterizar a lesão quanto a sua natureza e comportamento evolutivo, isto é, pelo caráter progressivo (p. ex., neoplasias, encefalite de Rasmussen) ou estático (p. ex., lesões isquêmicas, malformações congênitas). Tomografia por emissão de fóton único (SPECT) Os exames de medicina nuclear vêm conquistando importância cada vez maior no cuidado aos pacientes com epilepsia. A tomografia por emissão de fóton único, SPECT, usa um radiotraçador e permite um retrato da circulação cerebral no momento da injeção. Esse traçador permanece estável por longos períodos e permite que a imagem seja capturada após horas. O SPECT ictal pode ser realizado em pacientes internados para vídeo-EEG, com a infusão do radiofármaco no momento da crise. Ele mostra hiperperfusão focal com hipoperfusão ao redor da lesão. Nos períodos interictal e pós-ictal, ele revela hipoperfusão regional. Há a possibilidade de fundirem-se as imagens do SPECT com a ressonância para avaliar se uma área anatomicamente anormal está relacionada com a alteração funcional detectada no SPECT. Esse sistema chama-se SISCOM e tem sido usado no planejamento operatório de pacientes com epilepsia. ____________________________________________ TRATAMENTO O tratamento de um paciente com distúrbio convulsivo quase sempre é multimodal e envolve o tratamento das condições subjacentes que causam ou contribuem para as convulsões, a exclusão de fatores precipitantes, a supressão das convulsões recorrentes por terapia profilática com antiepilépticos ou cirurgia e a discussão de diversas questões psicológicas e sociais. Os planos terapêuticos devem ser individualizados, tendo em vista os muitos tipos e as diversas causas de convulsões e as diferenças da eficácia e toxicidade dos antiepilépticos em cada paciente. TRATAMENTO DAS CONDIÇÕES SUBJACENTES Se a única causa da convulsão for um distúrbio metabólico, como anormalidade dos eletrólitos séricos ou da glicemia, o tratamento visa reverter o problema metabólico e prevenir sua recorrência. A terapia com antiepilépticos em geral é desnecessária, a menos que seja impossível corrigir prontamente o distúrbio metabólico e o paciente corra risco de apresentar novas convulsões. Se a causa aparente de uma convulsão tiver sido um fármaco (p. ex., teofilina) ou o uso de substâncias ilícitas (p. ex., cocaína), o tratamento apropriado consiste em evitar a substância; os antiepilépticos em geral são desnecessários, a menos que ocorram novas convulsões na ausência desses fatores desencadeantes. PREVENÇÃO DE FATORES PRECIPITANTES Um fator precipitante quase universal para convulsões é a privação do sono, de modo que os pacientes devem se empenhar o máximo possível para otimizar a qualidade do sono. Muitos pacientes são capazes de identificar outras situações particulares que parecem reduzir o seu limiar convulsivo, e essas situações devem ser evitadas. Por exemplo, podem perceber uma associação entre o consumo de álcool e as convulsões, de modo que devem ser incentivados a modificar seus hábitos de consumo de álcool. Também existem casos relativamente raros de pacientes com convulsões induzidas por estímulos altamente específicos, como monitores de videogame, música, ou a voz de um indivíduo (“epilepsia reflexa”). Como costuma haver uma associação entre estresse e convulsões, técnicas de redução do estresse, como exercício físico, meditação e psicoterapia, podem ajudar. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ TERAPIA FARMACOLÓGICA ANTIEPILÉPTICA QUANDO INICIAR AS MEDICAÇÕES ANTIEPILÉPTICAS A decisão de iniciar um tratamento deve levar em consideração que os FAEs também oferecem um risco potencial e podem ter impacto negativo na qualidade de vida do paciente. Esta decisão é ainda mais relevante considerando que a duração do tratamento em geral é longa. Portanto, o início do tratamento deve ser cuidadosamente ponderado, sobretudo nos pacientes com crise epiléptica única. Em geral o tratamento medicamentoso é instituído após uma segunda crise não provocada. Contudo, o tratamento precoce é justificável nos pacientes com vários fatores de risco para recorrência das crises ou naqueles em que a recorrência oferece potenciais consequências relacionadas com a direção de veículos, o trabalho e a segurança em geral. QUANDO PARAR AS MEDICAÇÕES ANTIEPILÉPTICAS Entre as razões para interromper o tratamento estão os efeitos adversos, potencial efeito teratogênico, inconveniências do tratamento medicamentoso e efeitos adversos associados ao uso crônico de um FAE. O seguinte perfil de paciente tem maior probabilidade de permanecer sem convulsões após a suspensão do tratamento farmacológico: (1) controle clínico completo das convulsões por 1 a 5 anos; (2) um único tipo de convulsão, com melhor prognóstico para as convulsões generalizadas do que para as convulsões focais; (3) exame neurológico normal, incluindo inteligência; (4) ausência de história familiar de epilepsia; (5) EEG normal. O intervalo livre de convulsões ideal é desconhecido e, sem dúvida, varia para as diferentes formas de epilepsia. Entretanto, parece razoável tentar suspender o tratamento após 2 anos em um paciente que preencha todos os critérios já citados, que esteja motivado para suspender a medicação e compreenda claramente os riscos e benefícios em potencial. Na maioria dos casos, é preferível reduzir a dose do fármaco de modo gradual ao longo de 2 a 3 meses. A maioria das recidivas ocorre nos primeiros 3 meses após a suspensão da terapia, e os pacientes devem ser aconselhados a evitar situações potencialmente perigosas como conduzir veículos ou praticar natação wdurante esse período. ____________________________________________ REGRAS GERAIS PARA O TRATAMENTO DAS EPILEPSIAS Existe uma ampla disponibilidade de FAEs e formas de apresentação para o tratamento das epilepsias. 1) O princípio mais importante na escolha do FAE é selecionar a medicação mais eficaz para o tipo de crise ou síndrome epiléptica em questão, o que pode ser encontrado nos guias com base em evidência. 2) O segundo passo é considerar o perfil de efeitos adversos da medicação escolhida. Neste passo, as características individuais de cada paciente devem ser analisadas. Portanto, identificar se o paciente se enquadra em classes especiais, como idosos, crianças, mulheres em idade fértil ou a presença de comorbidades como depressão, migrânea, dor crônica e obesidade, auxilia na escolha do FAE mais apropriado. 3) Finalmente, precisamos considerar a conveniência da medicação selecionando, então, a apresentação mais adequada. FAEs com uma ou duas tomadas diárias facilitam a adesão ao tratamento. O custo também é um importante ponto a ser avaliado. O uso de monoterapia é preferido, e a titulação da medicação selecionada deve ser realizada de forma gradual, minimizando o risco de efeitos adversos. Em caso da falha no controle das crises, a dose deve ser aumentada até a máxima tolerada antes de afirmar que uma medicação foiineficaz. Dose máxima tolerada é a maior quantidade de FAE que o paciente é capaz de tomar sem a indução de efeitos adversos. ____________________________________________ ESCOLHA DA MEDICAÇÃO Existem vários medicamentos usados no tratamento das epilepsias. Eles são chamados atualmente de fármacos antiepilépticos (FAE). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Os principais mecanismos de ação dos FAE são: • potencialização da ação do GABA; • inibição da função dos canais de sódio; • inibição da função dos canais de cálcio. A ação sobre o GABA leva à abertura de canais de cloreto, deixando o neurônio refratário à transmissão do impulso elétrico. As principais medicações com esse mecanismo são os benzodiazepínicos, os barbitúricos e a vigabatrina. A inibição funcional dos canais de sódio dependentes da voltagem afeta a excitabilidade da membrana, bloqueando a excitação das células que estão disparando repetitivamente o impulso, como durante a crise epiléptica. Os principais representantes dessa classe são: fenitoína, valproato, carbamazepina, oxcarbazepina, lamotrigina e a lacosamida. A etossuximida bloqueia especificamente o canal de cálcio do tipo T, cuja ativação acredita-se desempenhar um papel na descarga rítmica associada com as crises de ausência. Algumas drogas apresentam múltiplos mecanismos de ação. Os maiores exemplos são o valproato de sódio e o topiramato. Levetiracetam e os ligantes de canal alfa- 2-delta (gabapentina e pregabalina) apresentam outros mecanismos de ação. ____________________________________________ PRINCIPAIS FÁRMACOS ANTIEPILÉPTICOS BENZODIAZEPÍNICOS Atuam principalmente no receptor tipo A do ácido gamaaminobutírico (GABAA) aumentando a frequência de abertura dos canais de cloro. Os mais utilizados para o tratamento das epilepsias são o clobazam e o clonazepam. Prática clínica: os benzodiazepínicos, e principalmente o clobazam, são geralmente utilizados na terapia adjuvante de epilepsias refratárias. O clonazepam pode ser utilizado para o tratamento de mioclonias. Em pacientes com epilepsia mioclônica juvenil o uso do clonazepam deve ser feito com cautela, pois as mioclonias podem ser o único aviso de uma crise tonicoclônica generalizada iminente. CARBAMAZEPINA Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com canais de sódio em estado ativo prolongando o estado de inativação rápida. A carbamazepina é metabolizada no fígado pelo citocromo P450 e principalmente pela enzima 3A4. Seu metabólito mais importante é o carbamazepina12,11epóxido. É um metabólito ativo também responsável por alguns efeitos adversos. A carbamazepina é um potente indutor enzimático. Desta forma, esta medicação reduz o nível sérico de medicações e substâncias endógenas metabolizadas pelo sistema enzimático do citocromo P450. Prática clínica: a carbamazepina permanece como uma das medicações de primeira linha para o tratamento das epilepsias focais. Seu efeito indutor deve ser considerado durante a escolha. Seus feitos colaterais incluem confusão, sonolência e síndrome cerebelar. Ela deve ser monitorizada quanto à ocorrência de trombocitopenia, leucopenia, hepatopatia e hiponatremia, por meio de exames de sangue periódicos. Carbamazepina e oxcarbazepina não devem ser prescritas a pacientes com mioclonias porque podem PIORAR os sintomas. ETOSSUXIMIDA O mecanismo de ação é por meio do bloqueio das correntes de cálcio tipo T explicando sua ação nas crises de ausência. Prática clínica: é a medicação de escolha para epilepsia ausência quando o indivíduo apresenta apenas crises de ausência. FENITOÍNA O mecanismo de ação da fenitoína é semelhante ao da carbamazepina. Ela bloqueia os canais de sódio reduzindo o disparo neuronal de alta frequência. É uma medicação com elevada taxa de ligação proteica (90%), portanto sua fração livre pode variar na insuficiência hepática e renal, em situações de hipoproteinemia, durante a gestação, em idosos e na presença de outras medicações com alta ligação proteica como o valproato. Prática clínica: Ela pode ser usada para crisesde início focal ou generalizado, mas não é considerada de primeira escolha para nenhuma delas. Possui apresentação parenteral sendo ainda muito utilizada no tratamento do estado de mal epiléptico. O uso da fenitoína tem diminuído por ser medicação indutora enzimática e em decorrências de seus efeitos adversos como hipertrofia gengival; hirsutismo; rash cutâneo RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA (incluindo a síndrome de Stevens-Johnson); depleção de folato (anemia megaloblástica); osteoporose; confusão; dificuldade de fala; diplopia; ataxia (atrofia cerebelar); neuropatia (após uso crônico). FENOBARBITAL Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com o receptor GABAA prolongando a abertura do canal de cloro associado. Prática clínica: o fenobarbital é pouco utilizado por ser um potente indutor enzimático e em decorrência dos efeitos adversos na esfera cognitiva. Entretanto, por ser uma medicação amplamente disponível, ministrada em uma tomada diária e de baixo custo pode ser uma opção para indivíduos com níveis socioeconômicos inferiores. LAMOTRIGINA É um bloqueador de canal de sódio como a fenitoína e a carbamazepina. Entretanto, deve ter outros mecanismos de ação para explicar sua eficácia contra ausências. É amplamente metabolizada no fígado predominante por glucuronidação. A lamotrigina é um FAE de amplo espectro, porém para ausências é menos eficaz do que o valproato e a etossuximida. Sua titulação deve ser feita de forma lenta para evitar reações cutâneas. A titulação precisa ser feita de forma ainda mais lenta na presença do valproato. Os anticoncepcionais orais reduzem em até 50% o nível sérico de lamotrigina. Assim, quando se inicia o tratamento com anticoncepcionais orais frequentemente é necessário aumentar a dose da lamotrigina. Prática clínica: a lamotrigina é uma medicação de primeira linha para pacientes com epilepsias focais e generalizadas. A lamotrigina apresenta uma das mais baixas taxas de teratogenicidade podendo ser utilizada em mulheres. VALPROATO (ÁCIDO VALPROICO E DIVALPROATO) Apresenta múltiplos mecanismos de ação incluindo potencialização do GABA, bloqueio dos canais de cálcio tipo T (explicando a eficácia contra crises de ausência) e bloqueio de canais de sódio. Liga-se altamente a proteínas (90%). Sua fração livre aumenta com o aumento da dose e com a coadministração da fenitoína que compete pela ligação proteica. O valproato é um potente inibidor enzimático reduzindo o clearance do fenobarbital, lamotrigina e do epóxido da carbamazepina. Prática clínica: o valproato é uma medicação de primeira linha no tratamento das epilepsias generalizadas idiopáticas. Permanece como primeira escolha em homens com estas síndromes. Entretanto, o valproato não deve ser utilizado em mulheres, pois é o FAE mais teratogênico. ____________________________________________ EPILEPSIAS FOCAIS: A carbamazepina apresentou o melhor equilíbrio entre eficácia e tolerabilidade em um estudo comparativo que também incluiu fenitoína, fenobarbital e primidona. A partir deste estudo, a carbamazepina é geralmente considerada uma das primeiras opções para monoterapia inicial em pacientes adultos com epilepsias focais. O uso da carbamazepina diminuiu com o aparecimento de novas medicações com perfil farmacocinético melhor. A lamotrigina é mais tolerada que a carbamazepina de liberação imediata. Entretanto, estudos avaliando a carbamazepina de liberação prolongada mostram perfil semelhante à lamotrigina e ao levetiracetam também consideradas medicações de primeira linha para o tratamento das epilepsias focais. EPILEPSIAS GENERALIZADAS: O valproato é a medicação consideradamais eficaz para pacientes com crises generalizadas incluindo ausências e mioclonias. Levetiracetam e lamotrigina também são considerados FAEs de primeira linha neste grupo de epilepsias. O valproato deve ser evitado em mulheres devido ao risco de teratogenicidade. A etossuximida é classicamente avaliada como a medicação de escolha para crises de ausência, entretanto ela não tem ação contra outros tipos de crise. Os autores concluíram que, na epilepsia ausência infantil, a etossuximida é a terapia ótima inicial tanto pelo melhor controle das crises, quanto pelo menor efeito adverso na atenção destas crianças. Bloqueadores de canal de sódio como a carbamazepina e a fenitoína não devem ser utilizados nas epilepsias generalizadas idiopáticas, porque podem piorar as crises e induzir estado de mal epiléptico. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ESTADO DE MAL EPILÉPTICO Cerca de 99% das crises epilépticas duram até 2 minutos. Existem mecanismos protetores intracelulares que são capazes de interromper o processo de hiperatividade neuronal, evitando assim que ocorra lesão e morte desses neurônios. Entretanto, em certas situações, esses mecanismos falham e a crise epiléptica prolonga-se. A partir de 30 minutos de atividade epiléptica contínua, existe uma alta probabilidade de ocorrer lesão neuronal e essa situação recebe o nome de estado de mal epiléptico. Ele pode manifestar-se através de crises focais ou generalizadas. O estado de mal epiléptico também pode evoluir com várias complicações clínicas graves, o que poderia colocar a vida do paciente em risco. Por esse motivo, ele é considerado uma emergência neurológica. Do ponto de vista operacional, já podemos diagnosticar o estado de mal epiléptico quando a duração da crise for maior ou igual a 5 minutos. A justificativa é que, até que o paciente seja posicionado no leito, submetido à monitorização, garantir acesso venoso, coletar exames e todos esses procedimentos iniciais obrigatórios, além da infusão de medicamentos e da espera pelo tempo de ação desses fármacos, minutos preciosos já teriam passado e o risco de lesão neuronal aumentaria. Se fôssemos esperar até os 30 minutos de atividade elétrica, nosso paciente estaria correndo um sério risco de sofrer uma lesão grave e muitas vezes fatal. O estado de mal epiléptico (EME) é definido por: → uma crise com duração igual ou superior a 5 minutos; → duas ou mais crises sem recuperação da consciência entre elas. ____________________________________________ MANEJO DE EMERGÊNCIA A fase inicial, o paciente deve ser submetido a um rápido exame neurológico para avaliação do tipo de estado de mal epiléptico e a possível etiologia. 1) ABC • Avaliação vias aéreas; • Avaliação respiratória; • Avaliação circulatória (aturação de O2); • Acesso venoso periférico (não se deve puncionar acesso central nesse momento); • Monitor cardíaco e de PA; Coleta de exames: cálcio, fósforo, magnésio, sódio, potássio, glicose, função hepática, hemograma, toxicológico, nível sérico de fármacos antiepilépticos. ....................................................................................... 2) GLICEMIA Hipoglicemia = tiamina (vitamina B1) + glicose hipertônica (profilaxia da encefalopatia de Wernicke-Korsakoff). ....................................................................................... 3) BENZODIAZEPÍNICO • Diazepam EV ou vu=ia retal (nunca IM) • Midazolam IM ou EV ....................................................................................... 4) ANTICONVULSIVANTE • Fenitoína 20 mg/Kg A fenitoína em doses habituais leva muito tempo para atingir o nível sérico adequado. A solução encontrada é administrá- la em doses elevadas, até que a concentração desejada seja obtida. Esse processo segue uma regra e recebe o nome de hidantalização, derivado do nome comercial (Hidantal®). ....................................................................................... 5) FENOBARBITAL ....................................................................................... 6) SEDAÇÃO CONTÍNUA + IOT • Midazolam: 0,2 mg/kg em bolus (2mg/min) e 0,1mg/kg/h; • Propofol: 1-2mg/kg em 5 min e 10-12mg/kg/h; • Tiopental: 5mg/kg em 10 min e 1-5mg/kg/h. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 5. COMPREENDER A NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA EPILEPSIA Na maioria dos casos, é possível distinguir as convulsões de outras doenças por meio de uma anamnese meticulosa e exames laboratoriais relevantes. Ocasionalmente, podem ser necessários outros exames, como monitoração por vídeo-EEG, estudos do sono ou eletrofisiologia cardíaca para chegar ao diagnóstico correto. ____________________________________________ SÍNCOPE O dilema diagnóstico mais frequente é diferenciar entre uma convulsão generalizada e síncope. As características de uma convulsão incluem a presença de aura, cianose, inconsciência, manifestações motoras por >15 segundos, desorientação pós-ictal, dores musculares e sonolência. Em contrapartida, a probabilidade de um episódio sincopal é maior se o acontecimento tiver sido provocado por dor aguda ou ansiedade ou ocorrido logo após levantar-se da posição deitada ou sentada. Pacientes com síncope costumam descrever uma transição estereotipada da consciência para inconsciência que inclui cansaço, sudorese, náusea e visão em túnel, e apresentam uma perda relativamente breve da consciência. Cefaleia ou incontinência em geral sugerem uma convulsão mas às vezes também ocorrem na síncope. Um período breve, 1-10 s, de atividade motora convulsiva é frequentemente observado logo após o início de um episódio sincopal, sobretudo se o paciente permanecer em postura ereta após desmaiar (p. ex., na cadeira de dentista) e, portanto, tiver redução persistente da perfusão cerebral. Raramente, um episódio sincopal induz uma convulsão tônico-clônica completa. Nesses casos, a avaliação deve concentrar-se na causa do evento sincopal e na possibilidade de o paciente ter propensão a convulsões recorrentes. As observações feitas pelo paciente e por testemunhas capazes de ajudar a discriminar as duas são: _______________________________________ CONVULSÕES PSICOGÊNICAS As convulsões psicogênicas são comportamentos não epilépticos que se assemelham a convulsões. Com frequência, fazem parte de uma reação de conversão precipitada por sofrimento psicológico subjacente. Certos comportamentos, como virar a cabeça de um lado para o outro, movimentos de abalos assimétricos e de grande amplitude dos membros, abalos dos quatro membros sem perda de consciência e impulsos pélvicos, estão mais associados a convulsões psicogênicas do que a convulsões epilépticas. As crises psicogênicas muitas vezes duram mais do que as convulsões epilépticas e podem ir e vir durante minutos a horas. Entretanto, a distinção às vezes é difícil com base apenas no exame clínico, e existem muitos exemplos de erros diagnósticos cometidos por epileptólogos experientes. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Isso é especialmente válido no caso das convulsões psicogênicas que se assemelham a convulsões focais, pois as manifestações comportamentais de convulsões focais (sobretudo as originárias do lobo frontal) podem ser extremamente incomuns e, em ambos os casos, o EEG de superfície rotineiro pode ser normal. A monitoração por vídeo-EEG costuma ser útil quando as observações clínicas não permitem o diagnóstico. Convulsões tônico-clônicas generalizadas sempre produzem anormalidades acentuadas no EEG durante e após a convulsão. Para suspeita de convulsões focais que se originam no lobo temporal, o uso de eletrodos adicionais pode ajudar a localizar