Prévia do material em texto
1 1 CAPÍTULO 5 ELETRICIDADE E MAGNETISMO PARTE 2 5.5 CORRENTE ELÉTRICA Nas seções anteriores discutiu-se a eletrostática, isto é, a física das cargas estacionárias, embora o movimento de cargas sempre esteja presente nesses fenômenos. Introduz-se a partir de agora o conceito de corrente elétrica ou de cargas em movimento de forma ordenada. A biologia em particular tem um interesse muito grande no estudo das correntes elétricas. Biólogos, profissionais da bioengenharia e áreas afins estudam sistematicamente as correntes que fluem através das ramificações nervosas do corpo humano e diferentes espécies de animais. Médicos analisam continuamente danos causados por choques elétricos e engenheiros procuram desenvolver sistemas mais eficazes de proteção contra esses efeitos algumas vezes mortais. Definição de Corrente Elétrica Em condutores metálicos as cargas livres são elétrons, isto é, cargas negativas. Os elétrons livres que existem em um condutor metálico constituem um tipo de “gás de elétrons” dentro de um material. Em um eletrólito (água salgada, por exemplo), as cargas livres são íons, tanto positivos quanto negativos. Em um gás como nas lâmpadas fluorescentes, suas cargas livres são íons positivos e negativos e também elétrons. Sob condições ordinárias o movimento de elétrons em um metal é completamente randômico ou aleatório. Considerando uma seção transversal do fio metálico por onde elétrons atravessam, existem tanto elétrons movendo-se para direita quanto para esquerda através da seção visto na Fig. 4-18. Isto significa que não existe nenhum fluxo líquido de elétrons através de qualquer seção transversal do fio, portanto, nenhuma corrente elétrica é observada. Fig. 4-18. Em um pedaço de condutor isolado, o movimento dos elétrons através de uma seção de área transversal se dá tanto para direita quanto para a esquerda, sendo a corrente líquida igual a zero. A 2 2 Quando se deseja manter continuamente uma corrente em um condutor, deve se manter continuamente um campo elétrico. Para isto, basta conectar os terminais do fio a uma bateria de modo a formar um circuito elétrico, como ilustrado na Fig. 4-19. Os elétrons são atraídos na direção do terminal positivo e são repelidos do terminal negativo. Como resultado, existe um movimento líquido de elétrons através de qualquer seção transversal do condutor (da direita para esquerda na Fig. 4-19). Isto é, existe um fluxo de corrente no fio. Assim, definimos corrente elétrica como: Fig. 4-19. Com uma bateria ligada aos terminais de um condutor de seção transversal A, existe um movimento líquido de elétrons na direção do terminal positivo da bateria. Por convenção, a direção do fluxo de corrente é oposta ao movimento dos elétrons. A corrente elétrica no fio é a quantidade de carga que passa através de uma seção transversal desse fio em um intervalo de tempo. V + − A Movimento Líquido de elétrons Fluxo de corrente 3 3 Em símbolos: Unidade de corrente (i) no SI coulomb (C) C = =Ampère (A) segundo (s) s Sentido da Corrente Quando um condutor é ligado aos terminais de uma bateria, os elétrons movem-se sempre do terminal negativo da bateria percorrendo o circuito externo, nesse caso o fio, para o terminal positivo da própria bateria. Contudo, por convenção definimos fluxo de corrente como o movimento de carga do terminal positivo para o negativo como visto na Fig. 4-19, ou seja, o fluxo de corrente elétrica num fio, tem o mesmo sentido com que uma carga positiva deveria mover-se, este sentido é denominado sentido convencional de corrente. A física não depende da direção em que dizemos que os elétrons estão fluindo. O movimento de cargas negativas para a esquerda (figura 4-19) é totalmente equivalente ao movimento de cargas positivas para a direita. Observação: Sempre que o sentido do campo elétrico for mantido, embora possa variar sua intensidade, a corrente é denominada contínua (CC ou DC), como no caso de uma pilha, ou bateria de carro. Quando o sentido do campo se inverte periodicamente, o sentido da circulação de cargas também se inverte periodicamente, a essa corrente se dá o nome de alternada (CA ou AC), como no caso de rede elétrica de nossa casa. quantidade de carga (dq) Corrente elétrica (i) = unidade de tempo (dt) dq i dt 4 4 5.6 RESISTÊNCIA ELÉTRICA E A LEI DE OHM Por hipótese, se aplica uma diferença de potencial (V) pelo uso de uma bateria, através de um fio condutor metálico (de cobre por exemplo) aos terminais de uma lâmpada. Em seguida reproduz-se o mesmo esquema, trocando o fio de cobre por um fio de borracha, um material isolante. Um medidor de corrente conectado aos esquemas montados acusará resultados distintos para cada um deles. Essa resposta dependerá da resistência elétrica de cada material. Denomina-se R a resistência dos materiais, assim definida Em símbolos: ou As duas expressões podem ser resumidas como Diferença de potencial (V) Resistência (R) = corrente elétrica (i) V R = i V i = R V = i R 5 5 Medindo a corrente em cada circuito, verifica-se que a corrente no material condutor é bem maior que no material isolante. Como a diferença de potencial é a mesma em cada uma das barras, concluímos que a resistência do fio condutor é muito menor que a resistência do fio isolante. O que acontece se aumentamos a diferença de potencial através dos fios? Em 1826, o físico alemão Georg Simon Ohm (1787 – 1854) descobriu que: a corrente que flui através de um condutor metálico é proporcional a diferença de potencial aplicada sobre ele (desde que a temperatura permaneça constante). Isto significa que, se você dobrar o valor da ddp sobre o condutor, o valor da corrente irá dobrar, se você triplicar a ddp, a corrente irá triplicar, portanto, esse aumento é proporcional. Contudo, em situações onde a temperatura aumenta rapidamente, essa lei não se aplica, como no caso de lâmpadas incandescentes. Circuitos Elétricos e Força Eletromotriz A maior parte dos circuitos elétricos que lidamos no dia a dia é formada por associação de elementos resistivos que se pode generalizar por resistores. Por exemplo, as lâmpadas, chuveiros elétricos, ferros elétricos e os aparelhos eletrodomésticos em geral, fazem o papel dos elementos resistivos em um circuito elétrico. Contudo, os elementos de um circuito poderão estar dispostos diferentemente, isto é, em série, em paralelo ou em uma combinação mista, como visto adiante. A lei de Ohm afirma que a corrente que atravessa um resistor é sempre diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada aos seus terminais. 6 6 As figuras 4-20 são exemplos de um circuito elétrico simples, no qual uma fonte de força eletromotriz (fem) (uma pilha ou bateria, por exemplo) realiza trabalho sobre portadores de carga e mantém uma corrente constante “i” em um resistor de resistência R no circuito da esquerda, enquanto que no circuito da direita uma lâmpada faz o papel do resistor R. O sentido da fem é o sentido em que uma carga positiva é forçada a se deslocar de um potencial mais baixo (terminal negativo) para o potencial mais alto (terminal positivo), o que corresponde ao sentido contrário ao campo. Deste modo torna-se claro a necessidade da realização de um trabalho para se deslocaressa carga de um ponto a outro do circuito. Define-se assim força eletromotriz da fonte por Em símbolos: Variação do trabalho (dW) Força eletromotriz ( ) unidade de carga (dq) dW dq i i i R + i − a b _ + Lâmpada Fig. 4-20. Circuitos elétricos. Na esquerda o elemento resistivo é um resistor R, no segundo o elemento resistivo é uma lâmpada. 7 7 Considerando uma fonte de tensão ideal, como aquela que não apresenta nenhuma resistência ao movimento das cargas de um terminal para o outro, pode-se supor que a força eletromotriz é igual à diferença de potencial entre os terminais da fonte. Nesse caso ideal, = V, e portanto, pode-se escrever ou Associação de Resistores em Série e Paralelo O assunto associação de resistores é muito importante porque a maioria dos circuitos elétricos e formado por associação de elementos resistivos que podemos generalizar por resistores dispostos de diferentes maneiras, ou seja, em série ou em paralelo. Associação em Série Em uma associação de resistores em série, todos eles são percorridos pela mesma corrente “i”, porém cada um deles está sujeito a uma ddp ou voltagem diferente. A Fig. 4-21 ilustra um circuito com uma fonte de fem () e três resistores, R1, R2 e R3 percorridos pela mesma corrente i. i R V i R 8 8 Assim, Onde Req é a resistência equivalente ou a resistência que substitui todas as demais do circuito. No circuito série ela representa a soma dos resistores do circuito. Assim, para o caso de N resistores, têm-se: Portanto, i i i R2 a b R3 R1 i 1 2 3 eq i ou i R R R R 1 2 3R eq NR R R R Dois ou mais resistores encontram-se ligados em série quando são percorridos pela mesma corrente i. Fig. 4-21. Associação de resistores em série. 9 9 Associação em Paralelo Em uma associação de resistores em paralelo, todos os resistores estão sujeitos a mesma diferença de potencial (ddp) ou voltagem, mas percorridos por diferentes valores de corrente i. A Fig. 4-22 ilustra um circuito com uma fonte de fem () e três resistores, R1, R2 e R3 sujeitos a mesma ddp. Assim, Onde Req é a resistência equivalente ou a resistência que substitui todas as demais do circuito. No circuito paralelo, o seu inverso, representa a soma dos inversos dos resistores do circuito. Assim, para o caso de N resistores, têm-se: 1 2 3 1 2 3 1 1 1 eq i i i i ou i R R R R 1 2 3 1 1 1 1 1 R eq NR R R R R2 R3 R1 i2 i3 i a b i1 i Fig. 4-22. Associação de resistores em paralelo. 10 10 Portanto, Dois ou mais resistores encontram-se ligados em paralelo quando estiverem sujeitos a mesma diferença de potencial (V).