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“A PSICOSE NA INFÂNCIA A PARTIR DO VIÉS WINNICOTTIANO, E O SETTING NO DISPOSITIVO DE SAÚDE MENTAL PÓS REFORMA PSIQUIÁTRICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM CAPS INFANTIL” Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei (Universidade Estadual de Londrina) email: carolsfantini@gmail.com mairabonafe@gmail.com INTRODUÇÃO O movimento da Luta Antimanicomial iniciado no Brasil na década de 1970, contribuiu para o delineamento de novas propostas de cuidado e reabilitação, que culminaram na lei 10.216 de 6 de abril de 2001. Por meio dela propôs-se uma reorganização da atenção em saúde mental no Brasil, com um cuidado focado na inserção da pessoa com transtorno mental no próprio território (BRASIL, 2001). Neste cenário, pensa-se que a "experiência institucional com psicóticos, possibilita ao analista confrontar-se com uma atuação que requer uma abordagem diferenciada daquela habitualmente adotada no âmbito do consultório privado" (MONTEIRO; QUEIROZ, 2006, p. 133), sendo necessário buscar referenciais que primem pela flexibilização do setting. Winnicott se foi um autor que atendeu casos graves e adaptou teoria e técnica da Psicanálise para outros contextos, indicando que se pode ser um psicanalista que faça algo mais pertinente para aquele momento, saindo do enquadre ortodoxo psicanalítico. Para Winnicott (1990), a psicose é uma doença que “se origina num estágio em que o ser humano imaturo é inerentemente dependente do que o meio lhe propicia" (p. 34). Tendo em vista a importância do período da infância como determinante para a saúde mental do indivíduo, reflete-se sobre o papel social desempenhado pelo CAPS-i, acreditando que ele se organiza como um dispositivo em saúde que pode operar mudanças significativas no âmbito da saúde mental. MÉTODO Objetiva-se relatar a experiência advinda do acompanhamento de um grupo terapêutico realizado no CAPSi da cidade de Londrina/PR, sob coordenação de uma fonoaudióloga, com observação de uma estagiária de Psicologia. Buscou-se entender e refletir sobre o trabalho desenvolvido no CAPSi e o manejo de crianças em sofrimento psíquico. RESULTADO E DISCUSSÃO Ao se refletir sobre as estratégias e equipamentos para a reabilitação psicossocial, pode-se entender que o ambiente se configura como um importante elemento no tratamento de transtornos mentais graves. Segundo Winnicott (1983 p.63), deve-se “prover o ambiente que facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional”. No caso das psicoses, acredita-se que tenha havido alguma falha nas provisões ambientais, compreendendo-se que o CAPSi, contemplando as questões relacionadas a essas falhas, poderia reinventar vias de ofertar uma nova provisão ambiental, agora suficientemente boa. O cuidado no caso da psicose centra-se mais no manejo, visto que se trata de indivíduos que vivenciaram falhas no momento da dependência absoluta, mailto:carolsfantini@gmail.com mailto:mairabonafe@gmail.com interferindo nos processos de integração, personalização e realização. Assim, a relação terapêutica se assemelha à relação mãe-bebê, com o terapeuta devendo apreender o que a criança necessita. Na experiência do grupo realizado no CAPSi em questão, notou-se uma postura acolhedora, carinhosa e atenciosa por parte da coordenadora, que facilitava a fala das crianças acerca de seus sentimentos e mostrava-se sensível às necessidades relativas à história de vida de cada um.Assim, a despeito das expectativas dos profissionais, pôde-se notar uma adaptação da profissional às demandas das crianças. Os cuidados devem se pautar pela necessidade não do analista, mas do bebê-paciente (DIAS, 2010), deixando-se que o outro adoeça e enfraqueça se necessário, sem que a vontade do cuidador obrigue o paciente a estar sempre bem. Para Tenório (2002), “a atenção psicossocial e a própria idéia da atenção psicossocial, passa a designar um novo paradigma de cuidados em saúde mental que afirma: tratar a psicose é uma tarefa que diz respeito à própria existência do sujeito assistido" (p. 57), algo que foi observado nas intervenções realizadas no CAPSi em questão. A despeito das características concernentes ao contexto institucional, nota-se a necessidade de um acompanhamento caso a caso, mesmo num espaço coletivo, apontando as diferenças entre as estratégias de atenção psicossocial e a clínica do sujeito (TENÓRIO, 2002). Além disso, parte-se do pressuposto que “se saúde é maturidade, então imaturidade de qualquer espécie é saúde mental deficiente, sendo uma ameaça para o indivíduo e uma perda para a sociedade”. Diante desta concepção acredita-se que o papel dos profissionais refere-se à provisão de “1- tolerância para com a imaturidade e saúde mental deficiente do indivíduo; 2-terapia; 3- profilaxia” (WINNICOTT, 1983, p. 63). Em consonância, Amarante (2007) explicita que devemos buscar estabelecer uma relação com as pessoas em sofrimento psíquico, escutando e acolhendo seus sentimentos e vivências em prol da produção de subjetividade e trocas interpessoais. A experiência possibilitada pelo estágio em Psicologia proporcionou justamente esta sensibilização acerca do lugar do profissional neste cuidado e do papel ambiente e do manejo na promoção da saúde, primando-se não só "a ética da autonomia, mas a do cuidado" (DIAS, 2010, p.31). Convoca-se, assim, o profissional a oferecer um espaço de cuidado, a entender a necessidade caso a caso e potencializar o vir a ser das crianças e adolescentes atendidos no CAPSi. Palavras-chave: clínica ampliada, caps infantil, saúde mental, psicose, winnicott. REFERÊNCIAS AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007. BRASIL, Ministério da Saúde. Lei n. 10.216/2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm> DIAS, E. O. (2010). O cuidado como cura e como ética. Winnicott e-prints, v. 5, n. 2, p. 22-39 MONTEIRO, C. P.; QUEIROZ, E. F. A clínica psicanalítica das psicoses em instituições de saúde mental. Psicologia clínica, v. 18, n. 1, p. 109-121, 2006. TENÓRIO, F. A reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos dias atuais: história e conceitos. História, ciência, saúde-Manguinhos, v. 9, n. 1, p. 25-59, 2002. WINNICOTT, D.W O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Arte Médicas, 1983. WINNICOTT. D. W. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990.