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DIDÁTICA E-book 1 Janice Natera Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 A HISTÓRIA DA DIDÁTICA E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR ������������������4 A história da Didática ��������������������������������������������� 4 A história da didática brasileira ����������������������������� 7 TENDÊNCIAS �����������������������������������������������15 Liberais �����������������������������������������������������������������15 PROGRESSISTA ������������������������������������������18 DIDÁTICA NA FORMAÇÃO E NA FUNÇÃO DO PROFESSOR ��������������������� 22 Organizar e dirigir situações de aprendizagem �� 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������30 SÍNTESE ��������������������������������������������������������31 2 INTRODUÇÃO Em algum momento da sua vida escolar você deve ter ouvido esta velha frase: “Aquele professor sabe muito, tem conteúdo, mas não tem didática���”� Portanto, surgem algumas dúvidas, alguns questionamentos: ● Estudar Didática: Por quê? Para quê? O quê? Como? ● Afinal, o que é Didática? A Didática é o ato, a ação, a forma, a decisão, a fun- ção do ato de ensinar, a metodologia que o professor utiliza em sala de aula e como o professor ensina a seus alunos os conteúdos que deverão ser aplicados em sua aula� Aqui você verá como surgiu a Didática e como o professor também pode aplicá-la. Vamos a nossa aula, bons estudos� 3 A HISTÓRIA DA DIDÁTICA E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR A Didática está relacionada ao ensino� Didática vem da expressão grega techné didaktiké e significa arte de transmitir conhecimentos e técnica de ensinar. A Didática tem como finalidade o ato de ensinar usando métodos e técnicas no ensino. À Didática é reservada, portanto, função especial no conjunto dos estudos sobre o ensino e seu praticante. A ela é reservado o papel de área de ligação entre o que se sabe e espera do ensino, e o que e como se pode, e deve, coerentemente, fazer para consegui- -lo, preenchendo o vazio histórico (MARIN, 2005, p. 27). É uma forma prática de metodologias que o pro- fessor aplica em sala de aula para o aprendizado do aluno� A história da Didática O processo de ensino vem desde a Antiguidade, com os gregos e romanos, porém nos sistemas de ensino daquela época não estava presente a Didática. A 4 teoria da Didática no ensino-aprendizagem ocorre no século 17, quando o filósofo João Amós Comênio (Iohannes Amos Comenius em latim) começa a falar e escrever sobre a Didática� Apesar de suas ideias não repercutirem na época, o método do ensinar era o ensino intelectualista, verbalista e dogmático, ou seja, repetição e memorização por parte dos alunos� No século 18 surge outro importante filósofo, Jean Jacques Rousseau, que traz uma nova concepção de ensino, baseada nos interesses das necessidades das crianças� Castro afirma: “enquanto Comenius, ao seguir as ‘pegadas da natureza’, pensava em ‘domar as paixões das crianças’, Rousseau parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido” (2006, p� 17)� Rousseau não colocou suas ideias em prática, porém, mais tarde, surgiu um pedagogo suíço cha- mado Henrique Pestalozzi, que desenvolveu a ideia de Rousseau, valorizando a psicologia da criança para o seu desenvolvimento e conhecimento� Já no século 19 surge o pedagogo e filósofo alemão Johann Friedrich Herbart, influenciado pelas ideias de Comenius, Rousseau e Pestalozzi, que também defendia e pensava em uma nova Pedagogia, para deixar de ser um ensino “mecânico”� Para dar continuidade à história da Didática, aten- te-se às ideias de mais alguns pensadores: ● Lev Vygotsky fala da valorização do papel da es- cola e que um bom ensino é o que adianta ao de- senvolvimento, sendo que o papel do outro é impor- tante. Ele fala que o papel mediador do professor é 5 http://bemvin.org/a-paideia-intelectualista-de-scrates.html http://bemvin.org/plano-de-ensino-1--ementa.html importante na dinâmica das interações interpessoais e na interação com os objetos de conhecimento� Diz, ainda, que quanto mais se aprende, mais se desenvolve o aprendizado� ● Jean Piaget, em seus estudos, chegou à conclusão de que as crianças não raciocinavam como os adul- tos� Portanto, recomendou uma abordagem diferente para lidar com as crianças, modificando o conceito da Pedagogia tradicional, que afirmava que a cabeça da criança era vazia� Ele dizia que as crianças são as próprias construtoras ativas do conhecimento� Piaget deixou uma percepção sobre a criança que serve como base de muitas linhas educacionais atuais� Ele acredita que o aluno se desenvolve e depois ocorre a aprendizagem� ● Paulo Freire dizia que o ensino não é estático, é uma educação dialógica. Freire criou um método inovador para a alfabetização, ele dizia que não po- dia aplicar uma alfabetização sem significação para aluno. Para ele, a educação não é neutra, sempre tem uma intencionalidade. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, ensinar não é transmitir, o professor precisa possibilitar e facilitar ao alu- no o autoaprendizado. Além disso, o aluno precisa ser crítico, pois assim deixa de ser uma formação conservadora� Podcast 1 6 https://famonline.instructure.com/files/407237/download?download_frd=1 A história da didática brasileira Gadotti faz uma análise histórico-pedagógica brasileira: Uma das sínteses mais conhecidas é a de Demerval Saviani, que esboça a presença, na história da edu- cação brasileira, de quatro grandes tendências [���]: o humanismo tradicional, marcado por uma visão essencialista do homem; o humanismo moderno, com uma visão de homem centrada na existência, na vida, na atividade; a concepção analítica, sem definição filosófica clara (de início, positivista, e, mais tarde, tecnicista); e a concepção dialética, mar- cada por uma visão concreta (histórica) do homem (2006, p� 15)� Na década de 1920, a escola renovada queria inserir a população infantil� O aluno seria o centro da aten- ção no processo do conhecimento escolar� Para o indivíduo, a escrita tornou-se uma das formas fun- damentais, sendo uma técnica racional. A prática da leitura oral no período anterior foi substituída pela leitura silenciosa� Eles diziam que teriam mais acesso a informações, e os alunos eram levados a observar fatos e objetos� Nas décadas de 1920 e 1930, a maioria das reformas educacionais baseou-se nos princípios de desenvol- vimento educacional europeu e norte-americano, ini- ciado no século anterior, que ficou conhecido como Escola Nova. Nesse período, a abordagem pedagó- gica para lidar com as dificuldades de aprendiza- 7 gem estava diretamente relacionada à Psicologia, devido às diferenças individuais de personalidade, intelecto e habilidades, além das diferenças culturais e étnicas. A partir de 1930, a disciplina de Didática foi im- plantada no Brasil no currículo da formação de professores e levou o Brasil a uma nova fase� Em 1932 foi constituído o Ministério da Educação, pelo Presidente Getúlio Vargas, e ocorreu a manifesta- ção da “Escola Nova”, liderada por Anízio Teixeira, buscando mudanças na educação brasileira: A Escola Nova representa o mais vigoroso movimento de renovação da educação de- pois da criação da escola pública burguesa. A ideia de fundamentar o ato pedagógico na ação, na atividade da criança, já vinha se for- mando desde a “Escola Alegre” de Vitorino de Feltre (1378-1446), seguindo pela pedagogia romântica e naturalista de Rousseau. Mas foi só no início do século XX que tomou forma concreta e teve consequências importantes sobre os sistemas educacionais e a menta- lidade dos professores [...]. A Escola Nova propunha que a educação fosse instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se transformasse porque a sociedade estava em mudança (GADOTTI, 1999, p. 142). A proposta propunha uma nova concepção, na qual a criança estava presa à escola tradicional� Essa 8 proposta visava à renovação da mentalidade dos professores e das práticaspedagógicas� Segundo Gadotti, “[���] a teoria da Escola Nova propunha que a educação fosse instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se transformasse porque a sociedade estava em mudança” (1999, p� 142)� Entre os anos de 1945 e 1960 a Didática estava li- gada ao liberalismo e ao pragmatismo, forma da Didática renovadora tecnicista� Não havia estudo sobre a inter-relação entre a disciplina e o contexto político e social. A partir de 1964, o movimento escolanovista come- çou a se desenvolver e contrapor o que era chamado de tradicional, contra uma visão fragmentada de valor, chamando a atenção para a realidade integral das pessoas� Isso está ligado a certas concepções de John Dewey, que acredita ser a educação o único meio realmente efetivo para a construção de uma sociedade democrática, que respeite as caracterís- ticas individuais de cada pessoa, inserindo-o em seu grupo social com respeito à sua unicidade, mas, como parte integrante e participativa de um todo� Influenciou pedagogicamente o ensino público e as universidades, proporcionando reformas educacio- nais em outros países. O escolanovismo acredita que a educação é a cons- trução de uma sociedade democrática, com diversi- dades, porém sempre respeitando a individualidade. A criança vem a ser o centro da aprendizagem� Ela 9 começa a ter o ato de observação na construção de conhecimentos� Durante a década de 1960, a Didática teve um en- foque teórico denominado tecnicista, deixou o hu- manismo para um processo ensino-aprendizagem técnico; devido ao desenvolvimento industrial, viu-se a importância de uma formação técnica. Nas décadas de 1970 e 1980 o ensino, conservador, seguia um paradigma tradicional e o objetivo do professor era o de julgar/classificar o aluno, ou seja, era um ensino mecânico, onde o aluno aprendia e treinava o que “aprendeu”� A prática pedagógica do professor era ensinar, ou melhor, passar o conteúdo para o aluno aprender� Aparentemente, nesse período, os alunos respeita- vam mais os professores, ou melhor, sentiam medo� Na verdade, esse “respeito” poderia ser traduzido pelo medo que o aluno tinha da reprovação� Com índices de retenção e evasão escolares elevados, muitos professores utilizavam sua autoridade como uma defesa, para que pudessem conseguir ministrar suas aulas� Ou seja, seu autoritarismo era utilizado como uma “arma” para controlar especialmente o comportamento dos alunos, num contexto amea- çador e excludente� O professor fazia um planejamento no início do ano escolar e tinha que ser cumprido no fim do período letivo, independentemente da qualidade do ensino� 10 No ano de 1971 foi implantada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 5�692), revogan- do a 4.024/61, lei que contemplava as finalidades da educação, mas não apresentava preocupações específicas em relação aos professores ou à equi- pe de profissionais que desenvolviam atividades técnico-pedagógicas. Nesse período, o aluno depen- dia do professor, que o ameaçava e o controlava, e isso transformava o ensino em autoritário, ou seja, o poder estava com o professor� Mas o despertar de uma nova década traria novas perspectivas para a educação no Brasil� Começava a retomada da democracia, impulsionada por grandes manifestações de todos os segmentos da sociedade� A década de 1980 foi marcada politicamente no Brasil pelo fim do período de Ditadura Militar, que imperou desde 1964, dando abertura à democracia e o direito aos brasileiros de escolher os governadores pelo voto direto� O Brasil conseguiu efetivar sua nova Constituição Federal em meio a grandes modificações no cenário político e econômico: inflação em alta, baixo inves- timento de fundos públicos, sucessivos planos eco- nômicos. Na sociedade, tivemos o aprofundamen- to de questões sociais e, intimamente, as pessoas começaram a questionar seus próprios valores� No Brasil, como no mundo, foi nessa década que houve um grande avanço tecnológico, especialmente na área da informática� 11 Durante o processo de elaboração da Constituição Federal (1986-1988), essas concepções e propos- tas foram amplamente debatidas e apresentadas ao Congresso Constituinte, assegurando-se no texto constitucional princípios fundamentais, como os que aparecem nos artigos 205 e 206 (Constituição da República Federativa do Brasil – Capítulo III; Seção I): Art. 205. A educação, direito de todos e de- ver do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da socie- dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cida- dania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condi- ções para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções peda- gógicas e coexistência de instituições públi- cas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, asse- gurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão 12 democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. Esse conjunto de princípios norteia o Estado no sen- tido da eliminação da exclusão social que vinha mar- cando a educação brasileira ao longo de décadas. A partir dos anos 1990, até agora, a Didática dei- xou de ser apenas um professor falante e um aluno ouvinte� Passou a ser uma Didática dialógica� Hoje ela compõe uma gama de características visando tanto à formação do professor quanto à do aluno� Em 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394), a qual determina que o ensino seja contínuo e cumulativo e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantita- tivos. Um dos objetivos da nova LDB é a progressão continuada, que visa respeitar os ritmos individuais de aprendizagem de cada aluno, garantindo uma vida escolar de sucesso� Essa nova forma de ensino, continuamente, passou a ser chamada de formativa e muitos veem nela uma “oposição” ao ensino tradicional, também conhecido como somativo ou classificatório, ou seja, dizer se os alunos aprenderam ou não e ordená-los� Na verdade, as duas não se opõem, mas servem para diferentes fins. A avaliação somativa é o melhor jeito de listar os alunos pela quantidade de conhecimentos que eles dominam, enquanto a formativa é muito mais adequada ao dia a dia da sala de aula� 13 Hoffmann (2001) mostra que a metodologia tradicio- nal, apesar de ser muito criticada, ainda vem sendo muito usada pelos educadores, principalmente em relação à classificação. Antes da LDB (9394/96), um ensino de boa qualidade era aquele em que se aplicavam provas e atribuíam- -se notas ou conceitos� Dessa forma, os interessa- dos (direção, família) tinham uma “visão clara” da “garantia” do processo de aprendizagem do aluno, que seria aprovado ou reprovado, e a escola perpe- tuava seu caráter disciplinador� As inovações, ou mesmo as propostas oficiais de aprendizagem, trazem um significado diferenciado sobre o que é Didática de ensino, com mudanças de valores e de concepções acerca da relação profes- sor-aluno; sobre o que é necessário, ou mínimo, para ser adquirido pelos alunos para cursarem as séries subsequentes; sobre as estratégias para recuperar as defasagens ou dificuldades de aprendizagem etc. Para dar um suporte ao sistema educacional, es- pecialmente em relação à avaliação, o Ministério da Educação, elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), uma proposta para subsidiar as escolas nas suas práticas pedagógicas. Também elaborou outras propostas, como a Base Nacional Comum Curricular(BNCC) para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, em 2017, e para o Ensino Médio, em 2018. 14 TENDÊNCIAS Para fixarmos esse processo, acompanhemos uma retrospectiva das tendências pedagógicas brasileira: Liberais ● Pedagogia tradicional: TRADICIONAL ESCOLA ALUNO Passivo PROFESSOR Autoritário, era o centro Só tinha acesso os filhos dos burgueses Figura 1: Diagrama da Pedagogia tradicional. Fonte: Elaboração própria. ● Professor: era autoritário, suas aulas eram expo- sitivas, de repetição e memorização� ● Alunos: eram passivos, memorizavam o conteúdo, com avaliações primitivas, inclusive a indisciplina na sala de aula era motivo para punição e atingia suas notas� 15 FIQUE ATENTO A formação do professor era tradicional, por- tanto, refletia na sua prática pedagógica, era um ciclo� Formado sem reflexão – formava alunos sem reflexão ● Pedagogia renovada: RENOVADA ESCOLA ALUNOEra o foco PROFESSOR Facilitador, auxiliava o aluno no seu aprendizado Acesso para toda sociedade Figura 2: Diagrama da Pedagogia renovada. Fonte: Elaboração pró- pria. Professor: deixou de ser o centro e passou a ser o facilitador, o mediador� Aluno: o professor torna-se facilitador, ele es- timulava os alunos à curiosidade e criatividade� 16 FIQUE ATENTO A educação não vinha só da escola, mas também: • Da família; • Do trabalho; • Por fim: professor/aluno. ● Pedagogia tecnicista: TECNICISTA ESCOLA ALUNO Preparado para o mercado de trabalho PROFESSOR Prepara o aluno para o trabalho Só tinha acesso os filhos dos burgueses Figura 3: Diagrama da Pedagogia tecnicista. Fonte: Elaboração própria. ● Professor: preparava suas aulas bem elaboradas, com eficiência e produtividade. ● Aluno: “aprendia” as atividades sem reflexão e com repetição, passando a ser um mero reprodutor do conhecimento� A sociedade transferiu para a escola todo o aprendizado técnico, ou seja, a escola defen- dia que o aluno estava preparado para o mercado de trabalho� 17 PROGRESSISTA ● A tendência progressista libertadora LIBERTADORA ESCOLA ALUNO Reflexão do seu cotidiano PROFESSOR Conselheiro Democrata e inclusiva Figura 4: Diagrama da tendência progressista libertadora. Fonte: Elaboração própria. ○ Professor: estava à disposição do aluno, fazia com que ele refletisse com livre-expressão, sem punição� ○ Aluno: aprendia com a realidade� A escola é garantida a todos os cidadãos com uma educação de qualidade, passou a ser democrática, trazendo para dentro dela a família, a sociedade. 18 ● A tendência progressista libertária LIBERTÁRIA ESCOLA ALUNOEspontaneaidade PROFESSOR Atua junto com os alunos Superação da desigualdade Figura 5: Diagrama da tendência progressista libertária. Fonte: Elaboração própria. ○ Professor e alunos: o professor deixou de ser autoritário e passou a coordenar suas atividades juntamente com os alunos� Assim ele conhecerá a realidade de seus alunos, podendo facilitar o apren- dizado e a relação professor-aluno� ● Pedagogia crítica: CRÍTICA ESCOLA ALUNO Aprende de acordo com o seu cotidiano PROFESSOR Mediador Garantida a toda sociedade Figura 6: Diagrama da Pedagogia crítica. Fonte: Elaboração própria. 19 ○ Garantir uma educação igualitária� Com o passar dos anos, a educação teve várias mu- danças devido a pesquisas para melhorar o ensino e foi dividida em tendências. Para fixá-las, faça uma leitura na seguinte tabela sobre as tendências pe- dagógicas brasileiras: Nome da Ten- dência Pedagó- gica Papel da escola Conteúdos Métodos Professor x aluno Aprendiza- gem Pedagogia Liberal Tradicional Preparação intelectual e moral dos alunos para assumir seu papel na sociedade� São conhe- cimentos e valores sociais acumulados através dos tempos e repassa- dos aos alunos como verdades absolutas� Exposição e demonstra- ção verbal da matéria e/ou por meio de modelos� Autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno� A apren- dizagem é receptiva e mecânica, sem se considerar as característi- cas próprias de cada imagem� Tendência Liberal Renovadora Progressista A escola deve adequar as necessidades individuais ao meio social� Os conteúdos são esta- belecidos a partir das experiências vividas pelos alunos frente às situações problema� Por meio de experiências, pesquisas e método de solução de problemas� O professor é auxiliador no desen- volvimento livre da criança� É baseada na motivação e na esti- mulação de problemas� Tendência Liberal Renovadora Não Diretiva (Escola Nova) Formação de atitudes Baseia-se na busca dos conhecimen- tos pelos próprios alunos� Método baseado na facilitação da aprendizagem� Educação centralizada no aluno e o professor é quem garantirá um relacio- namento de respeito� Aprender é modificar as percepções da realidade� Tendência Liberal Tecnicista É modeladora do comporta- mento humano através de técnicas específicas. São infor- mações ordenadas numa sequ- ência lógica e psicológica� Procedimentos e técni- cas para a transmissão e recepção de informações� Relação ob- jetiva onde e professor transmite informa- ções e o aluno vai fixá-las. Aprendizagem baseada no desempenho� 20 Nome da Ten- dência Pedagó- gica Papel da escola Conteúdos Métodos Professor x aluno Aprendiza- gem Tendência Progressista Libertadora Não atua em escolas, porém, visa levar professores e aluno a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca de transformação social� Temas geradores� Grupos de discussão� A relação é de igual para igual, horizontal- mente� Resolução da situação problema� Tendência Progressista Libertária Transformação da persona- lidade num sentido liber- tário e auto gestionário� As matérias são coloca- das, mas não exigidas� Vivência grupal na forma de auto-gestão� É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres� Aprendizagem informal, via grupo� Tendência Progressista "crítica social dos conteúdos" ou "histórico- -critica" Difusão dos conteúdos� Conteúdos culturais universais que são incorporados pela huma- nidade frente à realidade social� O método parte de uma relação direta da experiência do aluno, confrontada com o saber sistematizado� Papel do aluno como participador e do profes- sor como mediador entre o saber e o aluno� Baseadas em estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos� Tabela 1: Tendências pedagógicas. Fonte: Pedagogia para Concursos. 21 https://pedagogiaparaconcursos.blogspot.com/2014/08/quadro-tendencias pedagogicas.html https://pedagogiaparaconcursos.blogspot.com/2014/08/quadro-tendencias pedagogicas.html DIDÁTICA NA FORMAÇÃO E NA FUNÇÃO DO PROFESSOR Para termos um norte, analisaremos a função e a importância dos elementos da Didática presentes na prática pedagógica: ● Professor: quem ensina� Exerce diversas funções na prática pedagógica, primeiramente a de ensinar, ou seja, transmitir ao aluno o conteúdo proposto da disciplina. Ele pode utilizar vários métodos, para não ficar sempre na mesmice, assim despertará no aluno o interesse de aprender; ● Aluno: quem ensina� O principal papel do aluno é aprender, é fundamental que o aluno não pense somente nas notas e em passar de ano� O aluno deve se preocupar em aprender com qualidade e não em quantidade, isso será consequência de um bom estudo; ● Disciplinas: são diferentes campos do conheci- mento, História, Geografia, Matemática, Artes, entre outros, por meio das quais o professor passa os conteúdos aos alunos; ● Conteúdos: são os assuntos que o professor deve ensinar, de acordo com sua disciplina; ● Contexto escolar: o professor deverá inserir nas suas aulas o cotidiano de seus alunos, deverá contextualizar o que o aluno vê em sua realidade, assim ele poderá absorver o conteúdo com maior facilidade;22 ● Estratégias e métodos de ensino: como ensina, existem várias estratégias e metodologias que se- rão citadas ao longo da aula� O professor que aplica diferentes estratégias de ensino-aprendizagem em sua aula consegue que seus alunos obtenham me- lhores resultados; ● Objetivos: ensinar para a construção de conhecimentos; ● Ambiente: pode-se ensinar dentro da sala de aula ou fora, com a possibilidade de isso ser preestabele- cido de acordo com o planejamento e a necessidade do que se está ensinando� Para uma boa prática pedagógica, o professor pre- cisa se desvencilhar de um ensino tradicional e con- servador e dar-se a oportunidade de compreender a reforma educacional, o que auxiliará sua prática docente no acompanhamento escolar do aluno� Principalmente na realidade em que vivemos hoje, com novos instrumentos, novas técnica e, princi- palmente, novas tecnologias� REFLITA Você não pode confundir técnica com tecnicismo. Lembre-se: Tecnicismo foi um processo ensino- -aprendizagem técnico. Técnica é o saber fazer e como fazer. Existem técnicas e métodos de ensino� Não é possível sustentar uma prática contínua e sistemática de ensino escolar se não houver a conscientização das mediações necessárias, ou 23 seja, se no planejamento de ensino não se pro- puser o que irá acontecer na sala de aula, se não se pensar na teoria pedagógica que será adota- da em suas mediações com as teorias que de- vem sustentar o processo de ensino� Um bom professor precisa ser um bom pesquisador, ele não pode se limitar apenas ao ensinamento, tam- bém tem que saber conduzir seus conhecimentos além das aulas expositivas (o que não se pode deixar de lado)� O professor deve transmitir o conteúdo ao aluno de formas variadas, ele deve ser capaz de ensinar� Por isso a necessidade da formação continuada do professor, que na realidade inicia-se na sua gradu- ação� Hoje nos cursos de licenciatura tem-se a dis- ciplina Didática na grade curricular, que é de grande importância para a formação dos professores� O professor precisa ter uma formação didática para desenvolver com os alunos e auxiliá-lo no cotidiano do seu trabalho como professor� Não se pode falar de formação de professor sem se falar de didática� Um bom professor precisa de uma boa didática, ela está ligada à qualidade do ensino� Para se ter uma boa didática o professor precisa estar em constante atualização. A didática não é apenas um instrumento de ensino, ela é a relação professor-aluno� As escolas estão exigindo cada vez mais que os professores tenham diferentes conhecimentos e 24 abordagens didáticas, para que haja uma educação de qualidade e para que o aluno tenha uma apren- dizagem significativa e completa. É importante trabalhar com o aluno a ideia do aprendizado como um processo de formação� Isso ajudaria a modificar os significados negati- vos que têm sido trazidos no ensino e, dessa forma, o aluno saberá como ele aprende e de que modo pode efetivamente saber o grau de aprendiza- gem que desenvolveu durante todo o processo de ensino-aprendizagem� O professor tem o papel de planejar a aula, executar atividades, preparar os conteúdos, organizar ativi- dades e estimular o aluno para suas criatividades, proporcionando um ambiente agradável de estudo dentro da sala de aula. Ele precisa ser crítico, criativo e reflexivo� Para isso, o professor precisa estar em constan- te aperfeiçoamento, sempre buscando a formação continuada� Antigamente, somente com a graduação você conseguia ser um “bom professor”, porque ape- nas passando o conteúdo ao aluno ele “aprendia”, ou seja, a quantidade de conteúdo prevalecia e não a qualidade� O conceito de formação continuada foi introduzido na LDB 9394/96 e nela orienta-se e valoriza-se a formação do profissional da educação. É de direito a formação continuada para os profissionais que ensinam em qualquer estabelecimento de ensino� É muito importante para o professor e para os alu- 25 nos, assim eles estarão prontos para a inserção no mercado de trabalho� As universidades estão proporcionando muito para a formação continuada do professor� Com cursos práticos e atualizados, eles podem ser de curta ou de média duração. É muito importante a formação continuada para os professores e é fundamental para a educação de qualidade, dessa maneira, os professores precisam cada vez mais se atualizar� Hoje, um dos grandes instrumentos para auxiliar o professor é a tecnologia. Ela faz parte do cotidiano do aluno e, dessa forma, é cada vez mais importante para a formação continuada dos professores� Os alunos estão vindo com um conhecimento relevante� Para um bom ensino, os professores precisam ter um trabalho de qualidade e, para isso, é preciso sempre estar se atualizando. Existem vários benefícios para a formação continuada dos professores: ● Organizar e planejar novas metodologias de ensino; ● Aderir a novas tecnologias e outras mídias; ● Proporcionar uma aula mais atrativa envolvendo o aluno como protagonista; ● Ao colocar sempre como prioridade a aprendiza- gem significativa, é importante que o professor rea- lize uma autoavaliação, isso o ajudará nas diversas dimensões de sua atuação, pessoal e profissional. Ao falarmos de formação continuada, podemos dizer que é necessário ter-se uma formação de qualidade para o professor poder formar cidadãos críticos, num 26 futuro que consiste em uma formação de qualidade para o aluno: [...] a Didática deveria propiciar a análise crítica da realidade do ensino por parte dos professores em formação, inicial ou continu- ada, buscando compreender e transformar essa realidade, de forma articulada a um pro- jeto político de educação transformadora (FRANCO; PIMENTA, 2010, p. 89). É importante que a relação professor-aluno tenha uma interação na sala de aula no processo ensino- -aprendizagem� Não há ensino se os alunos não desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais� O professor deve estar pronto para dar um ensino com boa didática, atraindo o aluno para a construção de uma aprendizagem significativa. Ele transmite os seus conhecimentos e experiências de vida que ele adquiriu durante a sua formação� O professor tem a capacidade de mudar uma so- ciedade, ele é formador de opiniões, e é muito im- portante na vida dos alunos� Ele deve estimular os seus alunos a criar situações para participar de uma forma ativa e atrativa no seu ensino-aprendizagem, que estimule a pensar, analisar e refletir� O professor precisa exercer sua atividade com pai- xão, atento ao fato de que cada aluno tem o seu tem- po para aprender� Aluno e professor devem caminhar juntos, não pode existir superioridade do professor, o aluno pode desenvolver o seu lado crítico com relação ao mundo em que vive� 27 A Didática não é apenas o ato de ensinar. O professor precisa estar aberto às mudanças e sempre pronto para aprender a ensinar; precisa ter consciência e buscar uma formação continuada, para cada vez mais contribuir no seu papel como professor� FIQUE ATENTO A Didática é fundamental na formação do pro- fessor, sendo que o ensino só é eficaz quando deixa de entender a Didática como orientações tecnológicas e mecânicas, e passa a entendê-la como a busca por um ensino prazeroso que es- timula o desejo de aprender� O professor precisa ter consciência de que ele tem papel transfor- mador na sociedade� Didática é a arte de ensinar, é uma mediação entre professor e aluno com objetivo de ensinar os conte- údos� Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), documento oficial, norteiam e orientam o processo de escolarização brasileira� Os PCN’s dão um norte para o professor organizar os objetivos e conteúdos de acordo com a realidade do aluno� O objetivo e a finalidade do processo educativo do professor são os aspectos práticos e teóricos, métodos, processo e o sistema de avaliação do aluno� Podcast 2 28 https://famonline.instructure.com/files/407238/download?download_frd=1Organizar e dirigir situações de aprendizagem O bom professor não é aquele conteudista, que joga o conteúdo, e sim aquele que se preocupa com o aluno na sua aprendizagem� É preciso que o conte- údo seja aplicado de acordo com a faixa etária do aluno, para que surja um bom resultado� A Didática também é uma técnica de aprender a ensinar� Ser professor implica formar alunos pen- santes e críticos, ser um formador de opiniões e, junto com seus alunos, fazer a diferença para que se tenha uma sociedade melhor� Ensinar é transmitir conhecimento, educação para libertação e comunicação� O professor precisa es- tar aberto a mudanças para poder passar os seus conhecimentos, para possibilitar que alunos sejam pensantes no seu cotidiano� O estudo sobre a apren- dizagem do aluno nos diz que cada um tem o seu tempo e devemos respeitar isso� É o momento em que o professor transforma os seus conhecimentos para também aprender a ensinar. 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo analisamos que a história da Educação pode contribuir para a didática do profes- sor em sala de aula� O professor deve sempre estar pronto a aprender a ensinar, portanto, a importância da formação continuada do professor é fundamental. Didática e a arte de ensinar, o professor e o aluno devem caminhar juntos e não existir desigualdades� O papel do professor nada mais é que ajudar o aluno para que ele seja um aluno atuante, participativo, pensante, crítico para que tenha um uma posição crítica no mundo em que vive. 30 SÍNTESE • Formação do professor e sua didática em sala de aula. • Tendências da educação: LIBERAIS Tradicional Renovada Tecnicista • A história da Didática brasileira ao longo das décadas do século 20 até os dias de hoje, incluindo as leis e documentos oficiais. DIDÁTICA • Significado de Didática. • A história da Didática desde o século 17 até os dias de hoje. Ideias de alguns pensadores como: Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Herbart, Vygotsky, Piaget e Paulo Freire. PROGRESSISTAS Libertadora Libertárias Crítica Referências Bibliográficas & Consultadas ANTUNES, C. Como desenvolver competências em sala de aula. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. [Biblioteca Virtual]. ARAÚJO, U. Temas transversais, pedagogia de projetos e mudanças na educação� São Paulo: Summus, 2014. [Biblioteca Virtual]. BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento� 2� ed� Porto Alegre: Artmed, 2012� [Minha Biblioteca]. BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996� Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil). Brasília, 1996. BRASIL. Parâmetro Curricular Nacional – Introdução (PCN). Brasília: MEC, 1998 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. CANDAU, V. M. F. Rumo a uma nova didática. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. CASTRO, A. D. A Trajetória Histórica da Didática. Série Ideias, n.11. São Paulo: FDE, 1991. COMENIUS, J. A. Didática magna. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011 FRANCO, M. A. S.; PIMENTA, S. G. (orgs.). Didática: embates contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2010. GADOTTI, M. Pensamento pedagógico brasileiro� 8. ed. São Paulo: Ática, 2006. GADOTTI, M. Histórias das ideias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 1999. HOFFMANN, J. Avaliação, mito e desafio: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2001� MALHEIROS, B. T. Didática Geral. Rio de Janeiro: LTD, 2017. [Minha Biblioteca]. MARIN, A. J. et al� Didática e trabalho docente� 2� ed. Araraquara: Junqueira&Marin Editores, 2005. MELO, A.; URBANETZ, S. T. Curitiba: InterSaberes, 2012� Fundamentos de Didática� [Biblioteca Virtual]. ZABALA, A. et al Didática Geral� Porto Alegre: Penso, 2016. [Minha Biblioteca]. _GoBack _Hlk16767029 Introdução A história da Didática e a formação do educador A história da Didática A história da didática brasileira Tendências Liberais Progressista Didática na formação e na função do professor Organizar e dirigir situações de aprendizagem Considerações finais Síntese