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História da Educação Mário Fernandes Ramires E-book 3 Neste E-book: Brasil colonial: Jesuítas e as reformas Pombalinas ������������������������������� 3 Brasil Império ���������������������������������������������10 Primeira República �����������������������������������16 Considerações Finais ������������������������������ 23 Síntese ���������������������������������������������������������24 2 História da Educação E-book 3 BRASIL COLONIAL: JESUÍTAS E AS REFORMAS POMBALINAS Conforme estudamos no tópico anterior, durante a Era Moderna, muitos países europeus surgiram em torno da figura do rei, fortalecido pelo apoio da bur- guesia e da nobreza após o feudalismo. Os primei- ros países a surgir foram os pioneiros nas Grandes Navegações, sendo eles Portugal e Espanha, que colonizaram o território americano desde o final do século XV até o século XIX. Quando pensamos no encontro entre povos nativos e europeus, devemos refletir sobre o termo “desco- brimento”, pois, o continente americano já estava povoado por milhões de pessoas, que possuíam as mais diversas culturas e formas de organização. Desde o extremo Sul ao norte do continente, havia sociedades com seus idiomas, religiões, formas de ver e vivenciar o mundo bem distintas dos europeus e, conforme observado no tópico anterior, a princi- pal função da educação aplicada pelos europeus nessas culturas era ensinar os hábitos e costumes do colonizador. No caso do Brasil, os portugueses se deparam com uma enorme população da etnia Tupi, que viviam principalmente espalhados pelo litoral em pleno processo de expansão e ocupação territorial. Além 3 desses, inúmeros outros povos indígenas habita- vam o território que formaria o Brasil. Entre esses povos a educação era realizada no cotidiano, apren- dendo técnicas e valores que utilizariam na vida adulta, como a tradição oral e rituais para ressaltar esses valores. No entanto, foram os europeus colonizadores que criaram as primeiras instituições de ensino em nosso território, sendo os padres jesuítas os responsáveis pelo modelo educacional na colônia durante cerca de dois séculos, até serem expulsos de todo o território português, inclusive das colônias, no ano de 1759. Trata-se de um período de intensa catequização de indígenas e africanos, além da conversão de judeus ao cristianismo, no qual os jesuítas fundaram esco- las e modelos de ensino distintos, destinados, cada qual, a um segmento da sociedade. Nesse caso, os filhos dos senhores de terras e en- genhos, por exemplo, não tinham a catequização como objetivo de ensino: geralmente o filho mais velho era preparado para herdar a administração dos negócios da família, um ou mais filhos poderia estu- dar em universidades europeias. Poderia ser que o filho mais novo se tornasse seminarista, talvez pelo cumprimento de alguma promessa e as mulheres da elite eram educadas nos modos e costumes de comportamento da elite. Após uma tentativa na vila de São Vicente, os pa- dres da Companhia de Jesus criam, no ano de 1554, 4 o Colégio de São Paulo, no planalto de Piratininga. Nesse momento, iniciam o processo de catequiza- ção, no qual lançavam mão de metodologias como o teatro, a música e a dança, para ensinarem os valores da fé cristã aos indígenas. Geralmente, as aulas ocorriam na área externa do colégio, ou seja, em seu pátio, pois os naturais da terra não estavam acostumados a ficar em locais fechados, como as salas de aula. Dentro dos métodos utilizados pelos jesuítas no processo de catequização dos povos nativos, des- taca-se o fato de aprenderem o idioma dos indíge- nas e seu uso como “língua geral”, inclusive, em alguns casos, substituindo o latim nos púlpitos das igrejas. Ou seja, ao passo que os padres missioná- rios se enveredavam na cultura tupi, também ab- sorviam a cultura dos indígenas e, para fortalecer essas relações, criaram aldeamentos e missões, locais nos quais conviviam com os indígenas e eram praticadas atividades como a agricultura e a criação de animais, além dos ensinamentos religiosos. Podcast 1 5 Figura 1: Padre José de Anchieta, que chegou ao Brasil com apenas 19 anos de idade para iniciar o processo de catequização e acultura- mento dos indígenas. | Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_ of_Anchieta A partir do século XVII, com o início das bandeiras – movimento de pessoas que saíam de São Paulo em busca de riquezas pelo interior do Brasil –, muitos aldeamentos e missões foram atacados e dizimados, sendo os indígenas que lá habitavam escravizados e vendidos aos proprietários de grandes extensões de terra. A mão de obra indígena foi substituída pe- 6 los africanos que, escravizados, se tornaram uma mercadoria valiosa em transações transatlânticas. Os africanos também passaram pelo processo de aculturamento, no entanto, no que diz respeito à escravidão, não tiveram a mesma proteção que os indígenas dispunham por parte dos jesuítas. Suas práticas religiosas foram intensamente perseguidas e combatidas, sempre relacionadas ao mau e ao de- mônio presentes no pensamento cristão. Durante o século XVIII, a monarquia portuguesa passou por uma série de reformas, inclusive nos modelos de administração colonial e educacional. O encarregado por essas mudanças foi o Marquês de Pombal (1699-1782), tendo sido Secretário de Estado do Reino e aplicando as chamadas Reformas Pombalinas, que atingiram diretamente o modelo educacional colonial: Com Pombal, iniciou-se uma fase de reformas educa- cionais (...). Com as reformas, O Estado assumiu dire- tamente a responsabilidade sobre a instrução escolar, cobrando um imposto, o subsídio literário, e introdu- zindo as aulas régias. O governo, além disso, movido por uma visão pragmática do conhecimento científico, tomou uma série de medidas culturais e educacionais a fim de dinamizar a produção de matérias primas na Colônia em benefício da Metrópole, entre as quais o apoio às constituições de academias científicas e lite- rárias, e a criação de instituições educacionais e aulas voltadas para o estudo prático e científico. (VILLALTA, 1997, pp. 348-349). 7 Contudo, devido às grandes dificuldades para se- rem colocadas em prática, as medidas previstas por Pombal não surtiram grande efeito, ou seja, havia uma grande distância entre o que se idealizava e aquilo que poderia, de fato, ser implementado. As aulas avulsas substituíram as aulas em classe nos ensinos das primeiras letras e secundário, fragmen- tando, assim, o processo pedagógico; faltavam pro- fessores, materiais e estrutura para realizar esses projetos. Mesmo o ensino tendo se tornado público, não garantia acesso de todos ao ensino, pois as au- las avulsas acabavam por ser particulares. De qualquer forma, Pombal teve força política para expulsar os jesuítas da Colônia, mas seu projeto não se concretizou plenamente. Influenciado pela revolu- ção científica e pelas descobertas que ocorriam na Europa, o Secretário Real desejava inserir o estudo científico nas escolas coloniais e as instituições je- suítas, por possuírem um viés religioso, se tornaram um problema. Ele acusava a Companhia de Jesus de ser um poder paralelo ao poder da Coroa. Dessa forma, podemos pensar que, durante o perí- odo colonial, a educação foi pautada pela relação entre Estado e Igreja. Conforme destacado por Villalta (1997): 8 Estado e Igreja, descuidando desse ensino escolar eloquente, retórico e imitativo – e, de resto elitista e ornamental -, adotaram uma perspectiva geral de edu- cação claramente reprodutivista, voltada para a perpe- tuação de uma ordem patriarcal, estamental e colonial. (VILLALTA, 1997, p. 351). A partir dessas reflexões, podemos pensar que as estruturas de organizaçãodo ensino existentes na atualidade ainda carregam consigo traços de nosso passado colonial, assim como refletem a desigual- dade social a que nossa sociedade está submetida. Hoje em dia, ainda percebemos diferentes oportu- nidades na educação, em que as diferentes clas- ses sociais possuem acesso a uma educação tão distinta. Ou seja, ainda faz parte de nossa missão, enquanto educadores, lutar por uma escola pública de qualidade, a qual todos poderão ter acesso ao estudo científico e conhecimento de sua cidadania. Podcast 2 9 BRASIL IMPÉRIO Conforme vimos no tópico anterior, durante o sécu- lo XVIII, o mundo ocidental iniciou um processo de transformações influenciadas pelos ideais do ilumi- nismo e do liberalismo. Essas novas perspectivas de organização política e econômica previam a diminui- ção da influência do Estado monárquico absolutista nas decisões relacionadas às cobranças de impostos e criação de leis, assim como maior liberdade de comércio e a livre atuação da iniciativa privada. Com a Independência dos EUA e a Revolução Francesa, esses ideais, guiados pelo lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, se proliferaram pelo mun- do, inclusive atingindo as colônias americanas dos países europeus, entre essas, o Brasil. Napoleão Bonaparte, personagem fruto da Revolução Francesa, lidera diversas campanhas na Europa para destituir as monarquias e propagar os ideais revolucionários, alinhados ao pensamento burguês. Entre os países invadidos por Napoleão estava Portugal, aliado da Inglaterra, potência que rivalizava com a França na disputa por rotas de comércio em regiões europeias e coloniais. Com isso, a França napoleônica ocupa Portugal e a Família Real portuguesa, pela primeira vez na histó- ria das monarquias europeias, deixa a metrópole e ruma para a colônia, no ano de 1807, quando chega a Salvador na Bahia. Logo em seguida, os membros 10 da Corte rumam para o Rio de Janeiro, chegando em 1808 na cidade que se tornou a capital do Império. A partir de então, se intensificam os debates e dis- cussões sobe uma possível independência em rela- ção a Portugal. Inúmeros jornais surgem em centros importantes como Pernambuco, Rio de Janeiro e Bahia. Essa propagação de ideais e a contestação do modelo colônia português levaram à independência e ao surgimento do Império do Brasil, no ano de 1822. Dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil, reinou de 1822 a 1831, quando abdicou ao trono, após desgastes políticos, crises econômicas e o envol- vimento do Brasil na Guerra da Cisplatina. Entre os anos de 1831 e 1840, o Império do Brasil vivenciou o período Regencial, quando, devido à menor idade do Imperador, o governo foi exercido por regentes, membros das elites, inclusive religiosos. Após as regências, iniciou-se o Segundo Reinado, tendo Dom Pedro II, que assumiu o trono com apenas 14 anos de idade, como seu único monarca até o ano de 1889. Em relação ao desenvolvimento nas áreas do conhe- cimento e da cultura, as mudanças são marcantes, principalmente com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, no ano de 1808. Tendo em vista que o Rio se tornou a capital de um vasto império, era necessário transformar a cidade em uma capital eu- ropeia. Sendo assim, foram tomadas medidas que previam essas transformações, como a criação da Imprensa Régia (1808), a Biblioteca Nacional e o Jardim Botânico (1810), o Museu Real (1818), além 11 da importante missão cultural francesa, que chegou ao Brasil no ano de 1816. Contudo, em outros aspectos, a sociedade brasileira não sofreu grandes transformações em relação ao período colonial, pois permaneceram a escravidão, o latifúndio e a monocultura, uma grande desigualdade social e a monarquia como modelo político adminis- trativo. Nesse sentido, os modelos educacionais não eram os mesmos oferecidos a todas as camadas da população. Desde a primeira Constituição brasileira, de 1823, existe uma ideia de formação e instrução da popu- lação. Tendo em vista que esse documento nunca entrou em vigor, esse primeiro movimento foi uma tentativa em vão. Em 1827, surgiu uma lei que previa a criação de escolas em todas as vilas, cidades e vi- larejos do Império, o que infelizmente não se cumpriu por falta de estrutura e interesses diversos. No ano de 1834, foi realizado um Ato Adicional que previa a separação entre os ciclos do ensino, o qual previa que o poder central do Império administraria o ensi- no superior e o ensino elementar ficaria a cargo das províncias. Essa divisão do poder público na gestão do ensino criou um abismo entre o ensino básico e o ensino superior, na verdade, muito pouco se investiu no ensi- no primário ou secundário. Não havia uma estrutura de ensino sólida prevista na legislação, tampouco critérios para aprovação e reprovação em escolas 12 elementares. Geralmente, os alunos de classes fa- vorecidas aprendiam conteúdos e disciplinas volta- das ao curso superior que desejassem seguir. Aos mais pobres era destinada uma educação bem mais básica, limitada ao aprender a ler, escrever e contar, sem o estudo de leis, ciências exatas ou naturais. Não havia continuidade ou diálogo entre os ensinos primário e secundário. Não há vinculação entre os currículos dos diversos níveis, aliás, nem há propriamente currículo, devido à escolha aleatória das disciplinas, sem qualquer exi- gência de se completar um curso para iniciar outro. Ao contrário, são os parâmetros do ensino superior que determinam a escolha das disciplinas no ensino secun- dário, obrigando-o a ser cada vez mais propedêutico, ou seja, destinado a preparar os jovens para a faculdade. (ARANHA, 2000, p. 154). Obviamente, as pessoas preparadas para o ensino superior eram os filhos das classes mais ricas. Nesse sentido, é importante destacar que, durante o período imperial, o maior investimento do poder governamen- tal estabeleceu-se na criação de cursos superiores e faculdades. A Academia Real da Marinha, criada no ano de 1808, foi a primeira dessas instituições, que também abarcavam cursos na área da medici- na, economia e os cursos jurídicos, de Olinda e de São Paulo. 13 Figura 2: Hoje pertencente à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Faculdade de Direito de Olinda foi fundada em 1827. | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Direito_da_Universidade_ Federal_de_Pernambuco Após 80 anos de sua expulsão, os jesuítas retornam ao Brasil, sendo responsáveis pela fundação de diver- sos colégios, entre os anos de 1860 e 1889. Essas instituições, apesar de utilizarem a metodologia jesu- ítica, também estavam alinhadas aos ideais iluminis- tas. Destaca-se, ainda, a iniciativa dos protestantes, que fundam o colégio Mackenzie, em São Paulo, no ano de 1870, entre outras instituições. Instituições leigas, ou seja, sem qualquer vinculo religioso tam- bém desempenharam importante papel: 14 Os colégio leigos da época são os mais progressistas e renovadores. Acrescentando-se a esses os já referidos colégios religiosos, percebe-se que uma grande massa de alunos dirige-se às escolas particulares. Além disso, os poucos liceus provinciais fundados pela iniciativa pública enfrentam dificuldades diversas, decorrentes da falta de organização e de recursos, professores mal habilitados e até de insuficiente número de alu- nos, o que leva muitos a fecharem as portas. (ARANHA, 2000, p.154). Com todas essas dificuldades, algumas medidas fo- ram tomadas, como a criação de cursos de formação de mestres, por exemplo. Na verdade, eram cursos de apenas dois anos de duração, que atendiam poucos alunos, formados para atuar no ensino secundário. 15 PRIMEIRA REPÚBLICA Entre os anos de 1889 e 1930, o Brasil viveu o mo- mento histórico conhecido como Primeira República,que se iniciou com a queda do Império e teve fim com o início da Era Vargas. Esse primeiro período republicano foi caracterizado por uma sociedade extremamente excludente e desigual, com o projeto de modernização, baseado na belle époque, atingindo de forma violenta os mais pobres. Nesse processo, os cortiços foram destruídos no centro do Rio de Janeiro, que era a capital do país, e os mais pobres passaram a habitar os morros, localizados nas regi- ões mais afastadas das áreas centrais. Em relação à política, houve uma grande descentra- lização do poder. Os poderes locais eram exercidos pelos chamados coronéis, que agiam de forma au- tônoma, aplicando leis e punições, de acordo com seus interesses. As eleições eram restritas aos al- fabetizados, que representavam uma pequena por- centagem da população, mesmo assim, o voto era aberto e havia coerção e intimidações, envolvendo compra de votos e violência corporal em períodos eleitorais. Esse procedimento era conhecido como “voto de cabresto”, em alusão ao cabresto utilizado para guiar equinos. Durante quase todo esse período, os presidentes se alternaram entre mineiros e paulistas, que represen- tavam os estados mais ricos e com maiores núme- 16 ros de eleitores do país. Esse período também foi conhecido como “República do café com leite”, em alusão às elites cafeeira de São Paulo e às criadoras de gado, de Minas Gerais. Dessa forma, percebemos que a economia do país estava nas mãos de grandes agricultores e latifundiários, proprietários de grandes quantidades de terra, que voltavam suas produções ao mercado exterior. Contudo, o período da Primeira República não foi estático e presenciou intensas mudanças sociais, culturais e econômicas. No contexto internacional, as principais potências europeias estavam envolvidas com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o que fez com que seus investimentos e indústrias fossem quase totalmente voltados para o conflito bélico. Entre as décadas de 1920 e 1930, houve uma grande crise na economia mundial, tendo como principal ex- poente a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, no ano de 1929. Em 1940, o mundo entrava em outro grande conflito, que duraria até 1944. Por conta desses acontecimentos, os países com pouco desenvolvimento industrial passaram a inves- tir na industrialização “substitutiva de importação”, inclusive o Brasil. As indústrias surgem e crescem principalmente nos locais que possuíam capital acumulado por conta da economia cafeeira, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Esses polos industriais passaram a receber pessoas que provinham de diversas regiões do Brasil, da Europa e do Japão. Essa imigração estrangeira 17 já existia no século XIX, principalmente após as leis contra a escravidão serem colocadas em vigor. No caso dos europeus, a maioria provinha de paí- ses como Itália, Espanha e Alemanha, principalmen- te os dois primeiros. Em São Paulo, por exemplo, surgiram diversos bairros operários, com inúmeros cortiços que passaram a ser construídos próximos das regiões fabris. Nesse contexto de urbanização e industrialização, surge um novo grupo social, for- mado pelos operários das indústrias que passaram a se organizar em grupos e realizar movimentos por direitos, como a Greve Geral de 1917. No que diz respeito à educação nesse período de nossa história, Paulo Ghiraldelli Júnior (1994) aponta a atuação de duas vertentes, o “entusiasmo pela edu- cação” e o “otimismo pedagógico”. Segundo o autor: O entusiasmo pela educação teve um caráter quantita- tivo, ou seja, em última instância resumiu-se na ideia de expansão da rede escolar e na tarefa de desanalfabeti- zação do povo. O otimismo pedagógico insistiu na oti- mização do ensino, ou seja, na melhoria das condições didáticas e pedagógicas da rede escolar. (GHIRALDELLI Jr, 1994, p. 15). Nesse momento histórico, os países europeus sa- íram arrasados do conflito mundial e os EUA se tornaram a referência econômica e cultural, o que atingiu também a educação, como o Movimento da 18 Escola Nova, encabeçado por John Dewey e William Kilpatrik. Este movimento propunha uma educação que oferecia alternativas aos modelos tradicionais. Essa discussão chegou ao Brasil e muitos intelectu- ais passaram a propor uma transformação no mode- lo educacional do país, que presenciou um embate entre a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária. O modelo Tradicional era baseado no ensino religio- so, tendo como referência a educação jesuíta e o Ratio Studiorum, seu modelo educacional desde o século XVI. Esse modelo previa uma disciplina rígi- da, sem práticas de reflexão social ou respeito às especificidades dos educados, além de prever que os alunos deveriam ser educados, no decorrer dos anos, pelo mesmo mestre. No entanto, o modelo Tradicional não deve ser resumido ao ensino dos jesuítas, pois importantes pensadores contribuíram com esse segmento educacional. O alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841) e o suíço Johan Henrich Pestalozzi (1746-1827), por exemplo, pre- viam o ensino laico, marcado por uma sequência passo a passo do processo de ensinar e pela ideia de “psicologizar a educação”. Esses métodos tradicionais, geralmente, propunham um controle em relação ao corpo e às emoções dos educandos, prevendo métodos de memorização para a aprendizagem de conteúdos. Em oposição a esse modelo, surgiu a Pedagogia Libertária, que contava com escolas e organizações de ensino fundadas por 19 imigrantes europeus que viviam nos bairros operá- rios. Influenciados por ideais que previam a liberdade do ser humano, principalmente o anarquismo, esse modelo contava com a criação de um novo homem, que seria capaz de construir seus conhecimentos sem a presença de dogmas do capitalismo, que influenciavam a concorrência e a desumanização das pessoas. Figura 3: Escola Moderna n° 1 fundada por João Penteado (1877- 1965). Essa instituição de ensino possuía a ideologia anarquista como base para as ações educacionais e sociais e foi fundada em 1912, no bairro do Belenzinho, na capital paulista. | Fonte: https://anarquismo. lppe.ifch.uerj.br/textos/texto4.html | O modelo libertário propunha quatro diretrizes no processo pedagógico, sendo elas: educação de base científica e racional, dicotomia entre educação e instrução, educação moral e solidariedade e, por 20 fim, adaptação do ensino ao nível psicológico das crianças. Dessa forma, percebemos a rejeição aos pressupostos religiosos, fortalecendo o estudo da ciência e a confraternização humana. Também indo ao encontro do modelo Tradicional, a Pedagogia Nova trouxe importantes debates acerca da educação durante a Primeira República do Brasil. Nesse sentido, é importante ressaltarmos que: O Movimento da Escola Nova enfatizou ‘métodos ativos’ de ensino-aprendizagem, deu importância substancial à liberdade da criança e ao interesse do educando, adotou métodos de trabalho em grupo e incentivou a prática de trabalhos manuais nas escolas; além disso, valorizou os estudos de psicologia experimental e, finalmente, procurou colocar a criança (e não mais o professor) no centro do processo educacional. (GHIRALDELLI Jr, 1994, p. 25). É possível perceber em diversos modelos de ensino que surgiram entre as duas Guerras Mundiais, como a Pedagogia Waldorf e o Método Montessori, essas ca- racterísticas da Nova Escola. No entanto, a legislação e a organização escolar não atendiam a essas ideias de mudanças. Dessa forma, não havia um ensino público voltado aos mais pobres, sendo as escolas municipais frequentadas por alunos provenientes da classe média. Os alunos mais ricos frequentavam as escolas particulares e também as públicas, desse 21 modo,as reformas realizadas na educação foram voltadas para o ensino secundário e superior. A partir dessas análises, percebemos que o período da Primeira República foi marcado pela desigualdade social e educacional. As diferentes partes do Brasil perceberam a educação e evoluíram seus métodos de forma distinta. Em São Paulo, por exemplo, cria- ram-se as escolas preliminares, intermediárias, gru- pos escolares, escolas provisórias, escolas noturnas e escolas ambulantes. 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS No Brasil do período Colonial você viu a colonização portuguesa da América, a educação por meio da ca- tequização pelos Padres da Companhia de Jesus e o processo violento de conversão e aculturamento dos povos indígenas e africanos. Tivemos também o ensino diferenciado aos filhos dos senhores que eram preparados para exercer car- gos importantes nos negócios, nas leis ou na política, as reformas de Marquês de Pombal no Império e expulsão dos jesuítas, além da influencia de ideais iluministas. Já no período Imperial tivemos o fortalecimen- to dos ideais iluministas, liberais e positivistas, a Independência do Brasil, o abandono do ensino primário e secundário, a educação sem um proje- to consolidado e uma legislação concreta, apenas o desenvolvimento do ensino superior: Escolas da Marinha, Faculdades de Direito de Olinda e São Paulo. Na Primeira República você viu a extrema desigual- dade social, o “entusiasmo” e “otimismo” pela educa- ção Pedagogia Tradicional, e a Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária. Você também aprendeu sobre os importantes debates acerca da educação no Brasil e escolas anarquistas vinculadas aos imigrantes. 23 Síntese Parabéns! Chegamos ao final do terceiro tópico do nosso curso. �������� • Colonização portuguesa da América • Padres da Companhia de Jesus responsáveis pela educação por meio da catequização • Processo violento de con- versão e aculturamento dos povos indígenas e africanos • Colégio de São Bento em São Paulo Brasil: Período Colonial Brasil: Período Imperial • Fortalecimento dos ideais iluministas, liberais e positivistas • Independência do Brasil • Ensino primário e secundário: praticamente abandonados • Sem legislação concreta ou projeto de educação consolidado • Desenvolvimento apenas do ensino superior: Escolas da Marinha, Faculdades de Direito de Olinda e São Paulo • Extrema desigualdade social • “Entusiasmo” e “otimismo” pela educação • Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Libertária • Importantes debates acerca da educação no Brasil • Escolas anarquistas vincula- das aos imigrantes • José de Anchieta, Azpilcuelta Navarro e Manoel da Nóbrega • Ensino diferenciado aos filhos dos senhores que eram preparados para exercer cargos importantes nos negócios, nas leis ou na política • Reformas de Marquês de Pombal no Império e expulsão dos jesuítas • Influencia de ideais iluministas • Ratio Studiorum • Separação: Ensino superior a cargo do poder central e demais ciclos sob responsabilidade das províncias • Colégios leigos Brasil: Primeira República Referências ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006. ________. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Editora Moderna, 2000. FARIA FILHO. Luciano Mendes de. Pensadores so- ciais e História da Educação. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. GHIRALDELLI Jr. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994. (Série Formação do Professor). RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: lín- gua, instrução e leitura. In: História da vida privada no Brasil, V. 1. Cotidiano e vida privada na América por- tuguesa. Laura de Mello e Souza (org.). Fernando A. Novais (dir.). São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Brasil colonial: Jesuítas e as reformas Pombalinas Brasil Império Primeira República Considerações Finais Síntese