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E-book 3 JOGOS, BRINCADEIRAS, CULTURA E ARTE Agda Malheiro Ferraz De Carvalho Neste E-book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 DESENVOLVIMENTO ���������������������������������4 Competição e cooperação ����������������������������������� 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������29 SÍNTESE ��������������������������������������������������������31 Processos Educativos Do Brincar 2 E-book 3 INTRODUÇÃO Olá, estudante! Chegamos à metade de nossos estudos sobre jo- gos, brincadeiras, cultura e arte� Seu percurso de leituras e interação com o material até aqui permi- te a compreensão que a Educação é processo e as circunstâncias lúdicas podem (e devem) fazer parte deste caminho� Este tópico inicia-se com um propósito reflexivo so- bre a ação dos pedagogos e abre espaço para dois subtemas, que serão abordados com maior profun- didade e especificidade; você verá o desígnio do jogo dividido em duas categorias: competição e coopera- ção� Essas duas categorias, com intencionalidades diferentes, podem complementar a prática docente ofertada e compartilhada na escola� Também serão abordadas atividades e algumas ma- neiras de organizá-las para garantir a criação de um clima de real aprendizagem no ambiente escolar, em que professores e alunos construam um ambiente de conhecimento, sistematizado e envolvente� Bons estudos! 3 DESENVOLVIMENTO Durante muito tempo, os professores utilizaram em suas aulas apenas a forma expositiva para minis- trá-las, partindo da premissa que os alunos eram depositórios de palavras e que o conhecimento era apenas transmitido� Com a ampliação e consolidação da Pedagogia como ciência, essa postura profissional “sai de cena” e há espaço para o professor tentar outras formas de ensi- nar, utilizando métodos mais eficazes e organizando o ambiente escolar, assim também abrindo mão de ter como apoio apenas giz, lousa e discurso (oratória)� Uma gama de brincadeiras e jogos passa a constar no planejamento diário como recurso (ferramenta) de apoio ao ensino-aprendizagem e a interação pro- fessor-aluno passa, consequentemente, a ser menos autoritária e mais dialógica� Quando o elemento lú- dico é mais utilizado, há mais chances de haver um despertar de interesses nos alunos, sendo este um evento que torna o aluno potencialmente mais ativo e o professor um inovador de práticas pedagógicas, além de ser um facilitador das relações interpessoais entre os alunos� Segundo Rau: Um dos aspectos que justifica a ludicidade na educação básica seria justamente a possibi- lidade da utilização de recursos pedagógicos que venham ao encontro dos diferentes estilos de aprendizagem encontrados em sala de aula, 4 o que atualmente é um grande desafio para o professor da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental (RAU, 2012). Esta afirmação, quando trata das modalidades de atuação dos professores (Educação Infantil e Ensino Fundamental), provoca a ideia de uma educação lú- dica que seja permanente, que valide o papel do pro- fessor como agente de socialização e que considere o aluno como humano, em constante processo de desenvolvimento� Figura 1: Tradução: crianças dizem “Escola!”; na carta “A criança apre- senta graves dificuldades em sua socialização, prefere isolar-se. Se sugere inserção em classe especial. A professora.”. Fonte: Wikimedia. 5 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=Special:Search&limit=20&offset=20&profile=default&search=tonucci&advancedSearch-current={%22namespaces%22:[6,12,14,100,106,0]}#/media/File:Frato_14.jpg A ilustração mostra uma criança com uma postura livre, fora do ambiente escolar, em contato com a natureza e sorridente, brincando� Há interação da criança com o meio� No julgamento e avaliação da professora desta criança, não lhe cabe estar incluída entre seus pares, aconselhando um processo de se- gregação� Pode-se inferir que a escola não acolheu essa criança, ou ainda, que a escola pretende moldar, “formatar” os alunos, como se estes tivessem apenas a dimensão cognitiva, ignorando o potencial criativo dos estudantes e suas formas de estabelecer rela- ções com pessoas e ambientes� Será que professora e aluno “falam a mesma língua”? Figura 2: Criança diz: “Bom dia”. Professora diz: “Oi querido”. Fonte: Wikimedia. 6 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=tonucci&title=Special%3ASearch&go=Vai#/media/File:Frato_9.jpgTradução Além de “falar a mesma língua”, professora e es- tudante pensam da mesma forma? O universo in- fantil, fora da escola, pode, inúmeras vezes, ser um universo baseado no brincar, em que o brinquedo é ferramenta para atingir processos mentais mais ele- vados. Essa é uma linguagem acessível aos alunos e os professores perdem oportunidade de promover aprendizagem ao abrir mão de um diálogo que se ancore no que o aluno já sabe, no que o aluno já gosta e compreende, para posteriormente oferecer novos conhecimentos� Isso não quer dizer, de forma alguma, que a linguagem com as crianças deve ser simplificada. Ela deve ser acessível, envolvente e princípio para muitas outras interações. Figura 3: Tradução: “Como professor de letras, devo ser interessado e crítico. Com matemática... Humilde e submisso. Inglês... Divertido e desenvolto. ‘Técnica’ ativo e empreendedor. Esse esforço de contentar todos!”. Fonte: Wikimedia. 7 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=tonucci&title=Special%3ASearch&go=Vai#/media/File:Frato_10.jpg A criança tem vários papéis: filho, amigo, estudante, primo, vizinho, etc� Mas ela é uma só, independente do local ou em relação a quem� Já os professores, nunca um é igual ao outro� Pode-se lembrar de al- guns professores ao longo da jornada acadêmica, e lembrar disso permite comparar as diferenças entre eles. As exigências de professores de um mesmo ano escolar – ou durante a jornada na Educação Básica em relação aos alunos – podem ser diferentes, no que diz respeito às especificidades das disciplinas ou áreas de conhecimento, mas exigir que o aluno aja de acordo com o esperado por diversos profes- sores, sem respeitar a subjetividade e preferências dos alunos, não é justo� 8 Figura 4: Tradução: Professora: “Cada um escreverá uma carta a um amigo seu...”. Registro escrito da criança: “Querida parede”. Fonte: Wikimedia. Analisando a ilustração, pode-se ter até pena da criança por brincar com uma parede� Ou pode-se ter um outro olhar, analisando a quantidade de brin- cadeiras que uma criança pode criar e mais ainda: os desafios que a criança se impõe e impõe ao ato de brincar. O desafio estimula e move para querer superar-se quando é prazeroso e contém a criação de estratégias, estimulando o raciocínio e novas ações. 9 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=tonucci&title=Special%3ASearch&go=Vai#/media/File:Frato_8.png Saiba Mais As ilustrações apresentadas aqui são de Frances- co Tonucci, que, por vezes, utiliza o pseudônimo Frato. Você pode saber mais sobre esse pensa- dor italiano nas referências deste tópico ou ainda no link, disponível em: http://pgl.gal/francesco-to- nucci-grande-apreco-pelas-criancas� Acesso em: 31 jan� 2019� Competição e cooperação Há uma falsa ideia que a indisciplina está no aluno� A indisciplina está atrelada a muitos fatores, entre eles, cita-se a dificuldade nas relações interpesso- ais� Não combina com a escola que pretende formar pessoas críticas, autônomas, “pensantes” e criativas, ter professores controladores� Um ambiente com clima colaborativo em que haja competições sadias pode ser uma alternativa às posturas autoritárias de alguns docentes� Vamos pensar sobre isso? Reflita A professora Mariana leciona para um terceiro ano do Ensino Fundamental – anos iniciais� No encontro semanal para planejamento de aulas, ela, conversando com Célio, professor de Educa- ção Física, queixa-se do comportamento de seus 10 http://pgl.gal/francesco-tonucci-grande-apreco-pelas-criancas/ http://pgl.gal/francesco-tonucci-grande-apreco-pelas-criancas/alunos, pois identifica neles um clima de compe- tição� Ela conta que as crianças discutem sobre times de futebol, sobre quem termina primeiro a lição, quem chega primeiro ao refeitório, quem ti- rou a nota mais alta, quem fez o melhor passeio no fim de semana... E que ela dá muitas broncas, mas isso não tem resolvido� O professor Célio, que também é professor dessa turma, diz que nas aulas de Educação Física eles não se com- portam dessa maneira� Mariana desconfia. Como pode? É a mesma turma e ela sabe que Célio oferta jogos esportivos em suas aulas (basquete e voleibol já foram ensina- dos na quadra), o que pode, no entender de Maria- na, estimular essas brigas por “quem pode mais”. Célio explica para a colega que ele, primeiramen- te, não “dá broncas”. Que ele orienta, e isso tem um sentido diferente tanto para ele, como para os alunos em suas aulas� Continua a conversa, contando para Mariana que existe uma diferença entre jogos competitivos e jogos cooperativos, e que ambos são utilizados em suas aulas� A questão é que Mariana ainda tem um modelo de aulas de Educação Física de sua época de estu- dante no Ensino Fundamental, época que só havia a prática esportiva de jogos coletivos� Atualmen- te, o que inclui as aulas de Célio, os alunos apren- dem, no esporte ou no jogo recreativo, que é preci- so respeitar o adversário, analisar estratégias, ser 11 um bom jogador, o que implica em pensar e agir em equipe, não apenas “estar” em um grupo. Após escutar atentamente a fala e a explicação do colega, Mariana decide “apostar” na forma de conduzir a aula empregada por Célio� Pede para o professor contribuir com ela nesses momentos de planejamento semanal, dividindo suas experi- ências, pois sabe que, em se tratando de Educa- ção, a formação continuada de professores é um espaço privilegiado de aprendizagem do adulto profissional. Mariana compreende que, na sala de aula, é possível promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos alunos� Para que os alunos se percebam capazes de serem agentes transformadores de uma sociedade, é ne- cessário que desenvolvam empatia, ou seja, a ca- pacidade de compreensão do fator emocional do outro� Com jogos colaborativos (ou cooperativos), isso é possível. A questão que permeia aqui é que, imaginando o ponto de vista do outro, é possível cunhar probabilidades de qualificar, positivamente, as relações estabelecidas no âmbito escolar� Neste ponto do estudo, é importante significar três conceitos: 12 Colaborativo Que envolve ou contém colaboração, auxílio, ajuda; cooperativo� Produzido em conjunto com outras pessoas; desenvolvido com a contribuição de� Cooperativo Que coopera, auxiliando, contribuindo ou ajudando outras pessoas na realização de alguma coisa; que trabalha em conjunto com: para chegarmos a algum lugar nesta empresa, terá de haver um trabalho cooperativo� Em que há cooperação, auxílio, colaboração� Competitivo Que se refere a ou faz parte de uma competição� Que diz respeito a uma competição; que integra uma competição� Figura 5: Fonte: Dicionário On-Line de Português. Fonte: Dicio. Acesso em: 31 jan. 2019. Percebeu a semelhança entre os dois primeiros ter- mos? Cooperar e colaborar são sinônimos e, sendo assim, podem, ambos, serem antônimos de competir� A diferença básica está em se ter ou não um anta- gonista� O fato de ter um adversário caracteriza a competição, seria um contra o outro� Na colaboração ou cooperação, há uma ajuda mútua, uma noção de todos por um objetivo em comum� Pois então, é pos- 13 https://www.dicio.com.br/ sível que você encontre os dois nomes ao pesquisar esses jogos (colaborativos ou cooperativos)� Ao jogar, os jogadores (participantes) estão envolvi- dos em conjunturas em que precisam levar em con- sideração o seu próprio ponto de vista e o ponto de vista do outro (realizando deduções), deparando-se com diversas perspectivas, tendo que pôr em prática o controle de conduta, momento em que os jogos podem atuar como mediadores da aprendizagem e do desenvolvimento� Fique Atento Quando se trata de Educação Infantil e Ensino Fundamental, a legislação brasileira traz a no- menclatura “professor polivalente”, que é o(a) Pedagogo(a) que leciona em todas as áreas de conhecimento� Sendo assim, ser polivalen- te significa lecionar com o enfoque em corpo e movimento (atividades que envolvem a motrici- dade em jogos) na ausência de um profissional de Educação Física ou em parceria com esse profissional. É comum encontrarmos opiniões de pessoas que consideram que a sociedade está cada vez mais individualista, não é mesmo? Independentemente de essa opinião estar certa ou não, porque aí entra- ríamos na análise sobre em que a opinião destas pessoas se baseia, é possível considerar que, quando 14 emitem essa opinião, estão pautando-se numa ob- servação de uma sociedade injusta e pouco fraterna� A escola, para além de ensinar a ler, escrever e contar, é lugar de convivência. Sendo a escola uma comuni- dade educativa, cabe-lhe incentivar e desenvolver um clima de cooperação� A capacidade de relacionar-se em grupo e ser colaborativo neste contexto pode pro- duzir boas condições de desenvolvimento individual e coletivo. Afinal, ninguém é uma ilha... Nas atividades e jogos competitivos, que possuem um viés de rivalidade e até tensão, a vitória pertence a um grupo exclusivo, ela não pode ser compartilhada, pois se ganha “do outro”. Já nas atividades e jogos cooperativos ou colabo- rativos, os objetivos são comuns aos membros do grupo, todos estão propensos a caminhar na mesma direção, em uma atmosfera de solidariedade, divi- dindo a vitória� Ser pertencente a um grupo pode ser característica de uma cultura e isso evita, quando há respeito e responsabilidade, o sentimento de isolamento� Da mesma forma, não há uma competição pessoal e é preciso que se crie, se não houver, previamente, vínculos entre os participantes; para a manutenção deste vínculo, ao término das partidas ou ativida- des, dialogar sobre o que viveram, sentiram e con- seguiram é de suma importância para a satisfação da equipe� 15 Atente-se para uma mesma atividade que pode ser dada com embasamento competitivo ou cooperativo: a Dança das Cadeiras� Essa é uma brincadeira tradi- cional no Brasil, comum de acontecer em escolas, festas e até programas televisivos� Primeiramente, olhemos como funciona a brincadeira da forma competitiva� Há um número X de cadeiras e um número menor de participantes� Os participantes circulam pelas cadeiras, em volta delas e, ao término ou pausa de uma música, todos os integrantes devem sentar� Mas há menos cadeiras que pessoas, então, aos pou- cos, um a um, os participantes vão deixando o jogo. Esses que deixam o jogo são os perdedores. Se há perdedor, há ganhador e esse é o último a sentar, na última cadeira� Esse participante é o vencedor! Criou as melhores estratégias, foi mais rápido, mais atento e alguns podem ter tido até mais “sorte”. Numa perspectiva colaborativa/cooperativa, o mes- mo jogo (Dança das Cadeiras) pode ser oferecido, mas as regras mudam (lembrando aqui que, se é um jogo, tem regras pré-definidas). O mote nessa pers- pectiva é ser solidário� Se os participantes conhecem a primeira forma desse jogo, a que é competitiva, pode-se pedir a eles que alterem um fator no jogo primeiramente citado: não é mais necessário que sente apenas um participante por cadeira! A partir daí pode-se constatar as diversas configurações que os participantes traçam: sentam dois por cadeira, sentam no colo, juntam duas cadeiras e sentam em 16 três, quatro... Enfim, criam condições de todos par- ticiparem e todos ganharem� Percebeu a diferença? Um ganha ou todos ganham? Todos vencem e é criado um “espírito de equipe”. Cooperação e Competição são aspectos de um mesmo espectro, que não se opõe, mas se compõe. No entanto, essa composição dos contrários, depende de inúmeros fatores que a condiciona a um estado depermanente atenção e cuidado. [...] Competição e Colaboração são processos so- ciais e valores humanos presentes no Jogo, no Esporte e na Vida. São características que se manifestam no contexto da condição humana e da vida em geral. Porém não representam, nem definem e muito menos substituem, a natureza do Jogo, do Esporte e da Vida (BROTTO, 1999). As atividades em grupo permitem que haja uma si- tuação de cooperação ou uma situação de compe- tição, independentemente de ser um jogo ou outra atividade desenvolvida em aula. É imprescindível que o docente saiba a meta da atividade e que tenha perceptibilidade se está gerando uma atmosfera em que as ações e resultados sejam benéficos para um ou para todos� 17 Figura 6: Atividades em grupo permitem conhecer o outro em função de seu modo de agir no coletivo. Fonte: Unsplash. O quadro abaixo, feito por Brotto (1999) é um exce- lente sintetizador de conceitos sobre o tema que está sendo abordado e permite compreender a noção do momento em que o jogo está sendo realizado: Situação cooperativa Situação competitiva Percebem que o atingimento de seus objetivos é, em parte, consequência da ação dos outros membros� Percebem que o atingi- mento de seus objetivos é incompatível com a obtenção dos objetivos dos demais� São mais sensíveis às solicita- ções dos outros� São menos sensíveis às solicitações dos outros� Ajudam-se mutuamente com frequência. Ajudam-se mutuamente com menor frequência. 18 https://unsplash.com/photos/0N4UJja6jEU Situação cooperativa Situação competitiva Há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações� Há menor homogenei- dade na quantidade de contribuições e participações� A produtividade em termos qualitativos é maior� A produtividade em termos qualitativos é menor� A especialização de atividades é maior� A especialização de ativi- dades é menor� Tabela 1: Quadro de Brotto (Situação Cooperativa e Situação Competitiva). Podcast 1 O docente, ao observar, registrar e constatar as mudanças ocorridas nos níveis de aprendizagem de seus alunos tem uma obrigação ética com a Educação� Dessa forma, disponibilizando jogos co- operativos, o compromisso ético passa também a fazer parte do cotidiano e das ações dos estudantes, pautado principalmente no respeito mútuo e na em- patia, que podem ser conscientizados, por estudan- tes e professores, por meio da prática de jogos, em que ganhar ou perder desvelam comportamentos e atitudes� 19 https://famonline.instructure.com/files/47656/download?download_frd=1 Saiba Mais Fazer parte de um grupo pode ser desafiador e nem sempre rápido e fácil� Sente quem quer entrar no grupo e sentem aqueles que já fazem parte do grupo. Diversas emoções podem ser identifica- das nos participantes e o resultado é que todos se transformam, com maior ou menor impacto� Neste vídeo da Pixar, nomeado de “Coisas de Pássaros” (ou For the Birds, em inglês) nota-se a função da comunicação entre participantes e a convergência (ou não) dos objetivos dos partici- pantes de situações de convívio coletivas. Divirta-se e reflita! https://www.youtube.com/watch?v=qsJoRrIoMKs Atividades e organização didática Com tantas setas no caminho, apontando para onde seguir, é fundamental que o docente consiga organi- zar o cotidiano escolar. Jogos e brincadeiras têm um viés motivacional: impulsiona na busca de resultados positivos e aquisição de conhecimentos gerais e es- pecíficos. Mas, para que se consiga este resultado de boa qualidade (para professores e alunos), é ne- cessário um procedimento metodológico adequado� Esse procedimento metodológico é o planejamento, chave-mestra de boas aulas e boa gestão da sala de aula� 20 https://www.youtube.com/watch?v=qsJoRrIoMKs Ao planejar suas ações e intervenções que utilizem como recurso-base o escopo da educação lúdica, os docentes devem levar em contar e priorizar que as aulas devem ser para todos os alunos e que a totalidade deles deve aprender o conteúdo� Figura 7: Pesquisar, selecionar e traçar metas a serem atingidas: pla- nejar. Fonte: katemangostar / Freepik. Podcast 2 Partindo do princípio de que o brincar é da na- tureza de ser criança, não poderíamos deixar de assegurar um espaço privilegiado para o diálogo sobre tal temática. Hoje, os profissio- nais da docência estão diante de uma boa oportunidade de revisão da proposta pedagó- gica e do projeto pedagógico da escola, pois chegaram, para compor essa trajetória de nove anos de ensino e aprendizagens, crianças de 21 https://www.freepik.com/free-photo/close-up-pensive-woman-writing-out-ideas-diary_3799012.htm https://famonline.instructure.com/files/47657/download?download_frd=1 seis anos que, por sua vez, vão se encontrar com outras infâncias de sete, oito, nove e dez anos de idade. Se assim entendermos, esta- remos convencidos de que este é o momento de recolocarmos no currículo dessa etapa da educação básica o brincar como um modo de ser e estar no mundo [...] (BEAUCHAMP, PAGE e NASCIMENTO, 2007). Com tantas decisões a serem tomadas, corre-se o ris- co de um professor tornar o dia a dia de seus alunos repleto de tarefas sem sentido ou que desgastem a relação professor-aluno� Então, ao planejar, algumas estratégias podem ser adotadas para não esquecer a importância do lúdico e suas contribuições ao pro- cesso de ensino-aprendizagem� Após a pesquisa e apropriação do que consta nos documentos oficiais e no Projeto Político Pedagógico da escola, cabe ao profissional da educação, regente de sala, decidir, com apoio e parceria dos pares e da equipe gestora, quais os direitos de aprendizagem de seus alunos para aquele determinado período letivo, quais conteúdos serão apresentados e com quais estratégias de ensino� É neste momento que o jogo e a brincadeira, como recursos pedagógicos, não podem ser esquecidos� Jogos e brincadeiras podem ser facilitadores para o desenvolvimento das dez competências gerais citadas na Base Nacional Comum Curricular, que intencionam a educação integral� 22 Analise abaixo quais são estas competências (e re- flita, a partir do que indica cada uma delas, sobre a interface com a educação lúdica): 1. Conhecimento; 2. Pensamento científico, crítico e criativo; 3. Repertório cultural; 4. Comunicação; 5. Cultura digital; 6. Trabalho e projeto de vida; 7. Argumentação; 8. Autoconhecimento e autocuidado; 9. Empatia e cooperação; 10. Responsabilidade e cidadania� O professor, no começo do ano e ao longo dele, pode listar os brinquedos e jogos que a escola possui (ma- terial físico); junto a isso, pode listar brincadeiras e jogos tradicionais, competitivos e cooperativos (ma- terial cultural)� Essa lista será consultada à medida que os alunos estejam vivenciando e em contato com os conteúdos escolares� Aqui cabe uma importante reflexão: o que é jogo educativo? Jogo educativo é qualquer jogo que está sendo uti- lizado pelo estudante e que o professor tenha um objetivo de aprendizagem para ele, sendo que, na escola, tudo é aprendizagem. Pode-se então afirmar que jogo educativo não necessariamente é uma mo- 23 dalidade na classificação de jogos – jogar, qualquer jogo, é um aprendizado� Cabe ao professor selecionar em que momento um determinado jogo pode ser útil para alavancar a aprendizagem� Desse caminho inicial, selecionando o que será com- partilhado, o professor planeja o dia a dia, aula a aula� Toda aula precisa ter um jogo ou um brinquedo? Não. Há uma receita de quantos jogos serão oferecidos por dia? Não. Mas há saberes docentes que colabo- rarão nesta medida. É um “olhar atento”, com base na avaliação do percurso� Saiba Mais O site da revista eletrônica Nova Escola dá aces- so a muitos planos de aula para a Educação Básica. É possível consultá-los e adequá-los às necessidades de cada grupo de alunos, além de muitos deles indicarem situações ou atividades- -guia lúdicas� Navegue pelo site e conheça esses planos de aula� http://novaescola.org.br/plano-de-aula.Acesso em: 01 fev� 2019� Outra lista importante de ser registrada é a lista de interesse dos alunos, feita mediante caracterização da turma� Questioná-los acerca do que gostam pode dar pistas para incluir campos de atenção e aprofun- 24 http://novaescola.org.br/plano-de-aula/ damento em conteúdos, além de manter a atenção e promover a concentração� O foco não pode ser ape- nas o interesse do aluno; este é o ponto de partida, pois cabe ao docente despertar novos interesses e motivações� Cabe também conhecer o espaço físico da escola e sua estrutura, encontrando quais são ambientes e quais têm potencial de sofrer intervenção dos edu- cadores e se tornar um mediador na e para aprendi- zagem dos alunos e alunas� Neste planejamento também deve constar um es- paço para registro de intervenções pontuais, pois, apesar da escola ser lugar da vivência, da coletivi- dade, ela precisa prover situações que abarquem as singularidades dos indivíduos. Nem todos os alunos “caminham” juntos. Jogos e brincadeiras podem co- laborar tanto na indicação da defasagem, como na indicação do sucesso na aprendizagem, além de serem cruciais como apoio para boas intervenções pedagógicas que visem à superação de uma dificul- dade ou a aquisição de um novo saber� Todos esses dados podem ser tabulados� Para replanejar é preciso avaliar e reavaliar, perio- dicamente� Durante e após as atividades práticas voltadas e moldadas no lúdico, o docente necessita manter a relação com as áreas de conhecimento ou os campos de experiências trabalhados. Também para favorecer um bom planejamento e boas ações didáticas existem categorias de con- teúdos a serem trabalhados na escola e na estru- 25 tura da aula� Para Zabala (2010), o termo conteúdo surge como forma de expressar aquilo que se deve aprender� Os conteúdos podem ser: a) Conteúdos conceituais: envolvem princípios e conceitos; b) Conteúdos procedimentais: envolvem a habilida- de de saber fazer; c) Conteúdos atitudinais: envolvem valores e atitudes� As brincadeiras e jogos têm a capacidade de po- tencializar a intersecção desses conteúdos, afinal, por intermédio do lúdico, trabalha-se tantos fatos quantos procedimentos e julgamentos de valores� Está aí mais uma maneira de pensar e efetivar aulas que ajudem no desenvolvimento integral de crianças e jovens� Já na sala de aula, para atuar mediante os desafios diários da educação, uma boa indicação para organi- zar a rotina são as modalidades organizativas� Esse termo, cunhado pela Professora Délia Lerner em seus livros, remete a três blocos que facilitam modelar as situações de aprendizagem oferecidas pelo profes- sor, além de ser um apoio para traçar o desenho das aulas� Imprevistos podem surgir, mas, tendo uma organização prévia, prejuízos são minimizados. São as três modalidades organizativas: 26 11. Atividades permanentes: são aquelas que criam um hábito para os alunos� Podem ser diárias, sema- nais ou quinzenais. Criar um hábito qualifica a reali- zação de uma atividade, pois, a cada vez, os alunos adquirem mais noção de como fazer. Exemplo: cantar diariamente, brincar livremente na quadra duas vezes por semana, utilizar os “cantinhos” da sala sempre ao final do dia. 12. Sequência didática: são propostas sobre um mes- mo tema que, crescentemente, aumenta o grau de dificuldade. Elas têm um conteúdo bem específico e um tempo determinado para começar e acabar� Elas têm que ter continuidade. Exemplo: montar quebra- -cabeças, aumentando o número de peças e dificul- dade em concluí-lo. Começar um mesmo jogo com regras simples e ampliar o desafio com as regras, paulatinamente� 13. Projeto didático: Sempre tem um produto final, porém a atenção está nas etapas e não apenas em sua culminância. São excelentes para privilegiar o interesse dos estudantes por certos temas e apro- fundar pesquisa sobre eles, gerando maior conheci- mento� Podem envolver mais de uma área de conhe- cimento. Exemplo: aprender sobre as brincadeiras nacionais indígenas, como também experimentar e inventar brincadeiras a partir de obras de arte (pin- turas) de artistas brasileiros� Com essas indicações de atividades e organização didática abre-se e pretende-se consolidar uma traje- tória com cada turma de estudantes que considere a 27 aprendizagem empoderada pelas situações e ações lúdicas como forma de tornar alunos protagonis- tas da aprendizagem, com bons educadores que, conscientes da sua ética profissional e condições de intervenções pedagógicas, sejam gestores de um trabalho em que brincar e jogar constituem media- dores do saber escolar� 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 8: Estar com seus pares é também uma forma de autoconhe- cimento da criança. Fonte: Shutterstock. Um contra o outro ou todos por um objetivo único e comum? Qual dessas perspectivas adotar em sala de aula depende, sempre, da intencionalidade do professor� Cabe ao docente estabelecer se o jogo ou a brincadeira serão individuais ou coletivos e, nesta segunda opção, objetiva-se que o trabalho em equipe tenha comunicação� Neste tópico – que iniciou com a abordagem neces- sária para ser um docente que perceba, interprete e conecte-se com seus alunos ludicamente –, foi plausível compreender que o docente precisa ter habilidades para proporcionar e desenvolver ativida- 29 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/kids-playing-cheerful-park-outdoors-concept-419185651?irgwc=1&utm_medium=Affiliate&utm_campaign=Kratochvil&utm_source=39150&utm_term= des que alcancem o maior número de alunos pos- sível – quiçá todos! Assim, é uma das maneiras de desenvolver nos alunos as competências indicadas pela Base Nacional Comum Curricular� Projetar o que acontecerá em um ano letivo e sempre se perguntar como qualificar as atitudes e situações lúdicas é princípio para um bom docente. 30 Síntese • As competências da Base Nacional Comum Curricular podem ser alcançadas por meio, também, de atividades lúdicas, sendo essas atividades estratégias para atingir o produto final da Educação: que os alunos aprendam. • Na rotina da sala de aula, utilizar modalidades organizativas (atividade permanente, projeto didático, sequência didática e atividade inde- pendente) permite a boa prática do planejamento; • Uma boa organização do professor permite que haja uma grande diversidade de jogos e brincadeiras que os alunos vivenciem, e isso é determinante para aumentar repertório dos alunos; • O professor pode selecionar e conduzir qual jogo (competitivo ou colaborativo) cabe melhor nos diversos momentos da rotina escolar; • Uma das diferenças entre jogo colaborativo e jogo competitivo é que, no primeiro, a vitória é compartilhada; • Ao jogar, os participantes se envolvem para ter estratégias e a partir das regras dos jogos, vencê-los – ou de forma colaborativa ou de forma competitiva, a depender do tipo de jogo; • Boas situações de aprendizagem reduzem questões relativas ao que chamam de indisciplina escolar; • Atividades lúdicas que contêm desafios ou resolução de situações problemas podem, e devem ser utilizados na escola; • Há jogos e brincadeiras dirigidos (que têm in- fluência e controle do educador) e jogos e brin- cadeiras livres (que são propostos pelos própri- os alunos e o educador deve ter uma postura de apenas observar); E-book 3 • Utilizar jogos e brincadeiras deixa as aulas mais atrativas, participativas, envolventes e prazerosas aos estudantes; PROCESSOS EDUCATIVOS DO BRINCAR Referências Bibliográficas & Consultadas BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (orgs�)� Ensino fun- damental de nove anos: orientações para inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica, 2007� BRASIL� Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: 568 http://basenacionalcomum. mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf� Acesso em: 22 jan� 2019�BROTTO, Fábio Otuzi� Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física. Campinas: Unicamp, 1999� CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida� Jogos e brincadei- ras na educação infantil. Campinas: Papirus, 2015. JOBIM e SOUZA, Solange� Infância e linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin� Campinas: Papirus, 1994� KISHIMOTO, Tizuko Morchida� O brincar e suas teo- rias. São Paulo: Cengage Learning, 2008. KISHIMOTO, Tizuko Morchida� O jogo e a educação infantil. São Paulo: Cengage Learning, 2016. KRAMER, Sonia; LEITE, Maria Isabel Ferraz Pereira (Orgs�)� Infância e produção cultural. Campinas: Papirus, 1998. LERNER, Délia� Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2007. MACEDO, Lino de� Jogos, psicologia e educação: teoria e pesquisas� São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009� MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe� Aprender com jogos e situações- problema. Porto Alegre: Artmed, 2007� RAU, Maria Cristina Trois Dorneles� A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: Intersaberes, 2012� TONUCCI, Francesco; NOVO, María. Seja bem-vindo! Cartas a uma criança que vai nascer. Porto Alegre: Artmed, 2009� VIGOTSKI, Lev Semionovich. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico� São Paulo: Ática, 2009� ZABALA, Antoni� A prática educativa: como ensinar� Porto Alegre: Artmed, 1998. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (orgs�)� Ensino fun- damental de nove anos: orientações para inclusão da criança de seis anos de idade. 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São Paulo: Cengage Learning, 2016. KISHIMOTO, Tizuko Morchida� O jogo e a educação infantil. São Paulo: Cengage Learning, 2016. KRAMER, Sonia; LEITE, Maria Isabel Ferraz Pereira (orgs�)� Infância e produção cultural� Campinas: Papirus, 1998. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 08 ago� 2019� LERNER, Délia� Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2007. MACEDO, Lino de (organizador)� Jogos, psicologia e educação: teoria e pesquisas� São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 08 ago� 2019� MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe� Aprender com jogos e situações- -problema� Porto Alegre: Artmed, 2007� RAU, Maria Cristina Trois Dorneles� A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica� Curitiba: Intersaberes, 2012� TONUCCI, Francesco; NOVO, María. Seja bem-vindo! Cartas a uma criança que vai nascer� Porto Alegre: Artmed, 2009� VIGOTSKI, Lev Semionovich. 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