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Composição dos Ovos No Brasil, a maioria dos ovos consumidos são de galinha, mas também podem ser consumidos os ovos de pata, de codorna, de galinha d’angola, de gansa, de tartaruga e de peixe (ovos de sturjão, caviar). Ainda existem ovos exóticos como o de avestruz e o do crocodilo. Composição • Um ovo contém aproximadamente: • 82 Kcal; • 6,45 g. de proteína; • 5,75 g. de gorduras; • 0,4 g. de carboidratos; • 30,5 mg. de cálcio; • 111 mg. de fósforo; • 1,6 mg de ferro; • E ainda: enxofre, vitaminas A, D, E, K e as do complexo B • A quantidade de minerais (principalmente o ferro) depende da alimentação da ave; a cor da gema varia segundo a presença de carotenóides (xantofilas); • O ovo é fonte de colesterol e por este motivo deve-se evitar consumo excessivo. • A proteína do ovo é de alto valor biológico. •Camadas da albumina: Densa (saco albuminoso) Líquido externo Líquido interno Calazíferas Calazas •Camadas da gema: Gema branca Gema amarela Germe •Casca do ovo •Membranas: Membrana do ovo Membrana da casca Cutícula •Câmara de ar ESTRUTURA DO OVO ESTRUTURA Gema – Mais concentrada do que a clara, a gema contém menos água (50%), mais proteínas (16%) e gordura (34%). As proteínas da gema são as livitinas (formada por alfa, β e δ livitinas) e as fosfoproteínas, mais complexas. A maior parte das fosfoproteínas está combinada frouxamente com fosfolipídeos, formando lipoproteínas. A fosfovitina contém aproximadamente 10% de fósforo na molécula e 12% de nitrogênio, representa 80% das fosfoproteínas e se liga aos ions de ferro. Outra fosfoproteína é a ovovitelina, que se combina com a lecitina formando as lecitoproteínas, responsáveis por muitas das reações da gema na cocção. Os lipídeos da gema incluem gorduras simples, fosfolipídeos, como as lecitinas e esteróis, numa emulsão óleo em água. Algumas lecitinas, juntamente com as lipoproteínas são responsáveis pelo efeito emulsificante da gema. Gema branca g er m e Gema amarela • A gema apresenta a propriedade de poder incorporar gordura em forma de emulsão; • A cor da gema depende da alimentação da galinha, assim como do conteúdo de vit A. O amarelo é devido aos pigmentos como xantofila, caroteno e criptoxantina. • O conteúdo de vit D da gema dependa da alimentação da galinha e da sua exposição ao sol; ESTRUTURA Clara – distribuída em 3 camadas ao redor da gema: uma fluída, uma mais espessa e outra fluída Camada espessa (ou saco albuminoso) adere à casca em cada extremidade do ovo e envolve a camada albuminosa fina, mais interna. Compreende mais da metade da clara fresca total. A clara é composta quase que somente de proteína (10%) e água (90%), com traços de gordura. Prof. Mariangela de Araújo e Prof. Elaine Gomes Fiore ESTRUTURA Clara – A albumina (ovoalbumina e conalbumina) representa 70% da proteína total. Existem também as glubulinas, dentre estas, a lisozima, a qual protege o ovo da “invasão” bacteriana e é inativada pelo calor e as ovoglubilinas, responsáveis pela estabilização da espuma; A clara também tem a avidina, que se combina com a biotina e a torna indisponível. A avidina, no entanto, é inativada pelo calor. A textura mais espessa da clara se deve à proteína ovomucina, devido ao seu conteúdo em hidratos de carbono. A estrutura da ovomucina retém a albumina líquida em seu interior. Esta proteína é resistente ao calor e apresenta viscosidade em meio alcalino. Outra glicoproteína existente no ovo é a ovomucóide, facilmente desnaturada pelo calor. •A riboflavina atua como pigmento dando à clara seu tom •amarelo-esverdeado. Em resumo, com relação ao conteúdo nutricional da clara: Proteínas Albumina Globulinas Lizozima (defesa microbiana) Ovoglubulinas – estabilização da clara Avidina (+ biotina) = biotina não disponível Inativada pelo calor Glicoproteínas Ovomucina Ovomucóide Textura mais espessa retém albumina líquida no interior Viscosidade – facilmente Desnaturada pelo calor Ovalbumina (retenção do ar) Conalbumina ESTRUTURA Casca – É composta basicamente por uma armação de substância orgânica (escleroproteína e colágeno) e minerais (carbonato de cálcio e magnésio). A cor da casca depende da raça de galinha e não está relacionada à qualidade do ovo ou à cor da gema. É granulosa em sua estrutura e suficientemente porosa para permitir a respiração do embrião quando em desenvolvimento e o intercâmbio entre o ar interno e o externo A casca é coberta com uma cutícula externa fina, composta principalmente de matéria orgânica. No interior da casca têm duas membranas que se separam para formar a câmara de ar na extremidade mais larga do ovo. Qualidade do ovo Os ovos com melhor classificação são aqueles onde a câmara de ar é menor, a clara mais espessa e a gema menos distinta. Estes ovos, ao serem quebrados, apresentam gema bem definida e clara igualmente espessa. Ovos de pior qualidade, pelo contrário, apresentam gema espalhada e achatada quando o ovo é quebrado; Pelo ovoscópio também é possível verificar anormalidades como manchas de sangue, desenvolvimento de embriões e deterioração; Uma estratégia caseira de verificar a qualidade do ovo é colocá-lo em um copo com água e sal: o ovo fresco ficará parado no fundo e o velho, flutuará. Qualidade AA Casca limpa e intacta Câmara 0,3cm ou – Clara limpa e firme Gema centralizada Sem defeitos Qualidade A Casca limpa e intacta Câmara 0,6cm ou – Clara limpa e razoavelmente firme Gema centralizada, praticamente sem defeitos Qualidade B Casca limpa e ligeiramente manchada, intacta Câmara 0,9cm ou – não espumosa Clara pode ser ligeiramente enfraquecida Gema pode ser descentralizada Pode ter defeitos não sérios Qualidade C Casca de limpa a ligeiramente manchada e intacta Câmara 0,9 cm ou + - pode ser espumosa Clara pode ser fraca e aquosa e conter pequenas manchas de sangue Gema descentralizada, aumentada e espalhada; pode mostrar claramente o desenvolvimento do germe e outros defeitos, mas com contorno visível As manchas de sangue ocorrem devido à ruptura de um vaso sanguíneo no saco da gema (folículo) dentro do ovário da galinha. Ovos com pequenas manchas de sangue são classificados como qualidade C (má qualidade). Se as manchas forem grandes, são inaproveitáveis. Do ponto de vista prático de comércio, os ovos podem ser classificados segundo o peso: Quadro 1 – Pesos médios de ovos segundo o tipo TIPO PESO MÉDIO (g) Industrial < = 42 Pequeno 43 – 49 Médio 50 – 54 Grande 55 – 62 Extra 63 – 72 Jumbo > = 73 Fonte: PHILIPPI 2004 Conservação • Melhor método: refrigeração • – evitar guardar na porta; • Umidade tão alta quanto possível sem causar mofo; • Em temperatura de 0 a 4 0C , o armazenamento pode ser feito por 9 a 10 meses; • Armazenamento à temperatura ambiente, em 1 semana, causa um decréscimo na classificação do ovo de A para B, na classificação pelo Ovoscópio. • Na utilização de qualquer tipo de ovo cru, a cocção é obrigatória, à menos que sejam utilizados os ovos industrializados, pois são pasteurizados e, portanto, seguros do ponto de vista higiênico-sanitário. Ovos industrializados • Podem apresentar-se líquidos ( 7 dias) ou desidratados (sete meses). • Permitem economia de equipamentos e mão-de- obra para o processo de separação de clara e gema, controle de entrada de gêneros, etc Mudanças dos ovos durante o armazenamento Logo que o ovo é posto, começa o seu processo de mudanças, que baixam a qualidade e podem deteriorá-lo: •Câmara de ar » aumenta; •Gema » se alarga; •Membranas » enfraquecem; •Clara » torna-se mais rala; •Alcalinidade » aumenta; •Odor e sabor » deterioram • ALTERAÇÕES NO ODOR E SABOR: • Motivos: • O ovo pode absorver odores ruins na câmara de armazenamento; • Podem ocorrer modificações da proteína e da gordura do ovo que ocasionam sabor e odor mais azedos. • Pode ocorrer alteração microbiana, apóso ovo ser colocado, devido à porosidade da casca principalmente se estiver suja ou for lavada. Ainda assim, existem as defesas naturais da clara (membranas da casca, o pH alcalino e a lisozima). • Processos ocorridos pela culinária do ovo: • Desnaturação da proteína: devida ao aumento de temperatura, ação mecânica e adição de sais, ácidos, bases e outros reagentes. • Quando o ovo é submetido ao calor a proteína coagula e quando submetido a um ácido, a proteína precipita (coalha) • A proteína desnaturada torna-se menos solúvel. Durante a desnaturação, as cadeias de peptídeos “desenrolam-se e desdobram-se”, formando novas pontes entre estas cadeias, o que resulta na desnaturação. • A coagulação dos ovos permite espessamento e liga, típicos de muitas preparações culinárias: A clara se torna espessa formando gel, quando a temperatura se aproxima de 620C; a 650C perde a fluidez; a 700C apresenta-se mais firme, porém macia. Temperatura mais elevada torna a clara rígida; • A gema coagula-se em temperatura um pouco mais elevada do que a da clara: Começa a engrossar a 650C. Aplicação Quadro 3 – Função do ovo como ingrediente de preparações Preparações Função Cremes, mingaus, sopas e molhos Espessamento Pães de ló, suflês e musses Crescimento, aeração Bife à milanesa Cobertura/estrutura Bolos, pudins, flã União Superfície de pães e tortas Conferir cor, brilho e sabor Maionese, molhos em geral e sorvetes Emulsão Recheios Conferir liga Pastéis e tortas Vedação Ovo inteiro, picado, ralado Decoração Fonte: PHILIPPI 2004 Consumo puro • Ovo frito; • Ovo pochê; • Ovos mexidos; • Omelete; • Gemada (não permitida pelo perigo da salmonelose, a não ser que o ovo seja pasteurizado). • Ovo cozido; • O tempo para que a clara e a gema estejam cozidas é de 10 minutos, mas o ovo também cozinhará em água fervente, desligando-se o fogo e deixando-se, em panela tampada, por 20 minutos. No cozimento dos ovos até ficarem duros a gema pode ficar esverdeada, devido à formação de sulfeto de ferro durante a cocção, devido à reação do Enxofre e do ferro. O pH alcalino da gema também poderia contribuir para a cor verde. Função dos componentes dos ovos • Clara • Ao ser batida, retém ar devido à viscosidade da ovalbumina, conferindo esponjosidade e leveza às preparações. • Se batida por tempo prolongado, divide-se em duas fases, pois o tempo de aeração foi ultrapassado. Adição de ácido e açúcar conferem maior estabilidade às claras batidas, mas a adição de sal compromete a qualidade da espuma, diminuindo o volume e a estabilidade. • Desta forma, a adição de determinados ingredientes podem exercer influência à batedura das claras, conforme Quadro 3: Quadro 3 – Características da clara em neve segundo presença de ingredientes Ingrediente Tempo Volume Estabilidade Gema Açúcar Sal Água ácido = aumenta = diminui = não altera Orientações práticas • Utilizar os ovos à temperatura ambiente, pois melhora o rendimento; • Esfriar rapidamente após a cocção para evitar a formação de camada de sulfeto de ferro (esverdeada) – o enxofre aquecido e volátil da clara reage com o ferro da gema; • O cozimento excessivo do ovo também libera gás sulfeto de hidrogênio, o qual causa odor desagradável e coloração esverdeada ao redor da gema; • Nunca quebrar ovos diretamente sobre a preparação ou sobre outros ovos; • Adicionar ácidos à agua de cocção de ovos ou ao ovo pochê acelera a coagulação das proteínas; no caso dos ovos cozidos, a clara coagula rapidamente e evita que o ovo extravase; • Aquecimento prolongado de mistura de ovo com ácido (vinagre ou limão) produz liquefação da preparação por hidrólise das proteínas; • O sal também acelera a coagulação das proteínas; • Utilize faca quente para cortar ovos para que a gema não esfarele; • Nas preparações à milanesa preferir somente clara pois espirra menos óleo durante a fritura o produto final fica mais crocante; • Não coloque o ovo para cozinhar em água gelada porque a diferença da pressão interna do ovo é súbita, provocando a ruptura da casca. • GRISWOLD RM. Estudo experimental dos alimentos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974. • ORNELLAS, L.H. Técnica Dietética. Seleção e Preparo de Alimentos. 7ª ed. São Paulo: Atheneu, 1995. • PHILIPPI, P.T. Nutrição e Técnica Dietética. São Paulo: Manole, 2003 • Prof. Mariangela de Araújo e Prof. Elaine Gomes Fiore - aulas da disciplina de Técnica Dietética da UMG