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ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 DISFUNÇÃO DO APARELHO LOCOMOTOR EPIDEMIA: TRÂNSITO • 80% de afastamento previdenciário estão relacionados a ortopedia – as dores musculoesqueléticas. • 2% PIB do Brasil em 2005, estava envolvido com o custo de acidentes de trânsito. Atualmente, esse dado deve ser maior. • 90% dos acidentes são automobilísticos. o Considerando que como é uma grande epidemia, todos os centros devem estar preparados para receber esse tipo de acidente. • Entre 2001 e 2011, houve um aumento de 363% no número de mortes. Isso deve ser maior, porque os veículos estão cada vez mais potentes, além disso pelo uso de motocicletas. • Devidos às medidas de segurança, a melhora da performance dos freios e airbags, percebe-se que houve uma curva descendente no número de mortes nos últimos anos. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL • A curva de longevidade natural impulsiona o para que a população chegue cada vez mais a idades mais tardias. • Com o envelhecimento populacional, há o aumento da osteoporose e doenças degenerativas, além da queda da qualidade de vida, tornando o paciente sujeito a fraturas por insuficiência. Dessa forma, o médico irá atuar diminuindo o impacto na qualidade de vida do paciente. • Estão cada vez mais exigindo qualidade de vida, porém com o decorrer da idade temos uma queda na qualidade de vida. O idoso não quer só ser tratado e curado, ele quer também voltar para as atividades que ele tinha. ANATOMIA APLICADA DO SISTEMA OSTEOMIOARTICULAR REVISÃO DE ANATOMIA • Posição anatômica: ortostase + palmas da mão voltadas para frente. • Planos: coronal ou frontal, sagital, axial ou transversal. • Eixos: o Eixo longitudinal ou crânio-caudal: articulação que gira utilizando – a rotação do pescoço, pronosupinação do cotovelo. o Eixo latero-lateral: esse é o eixo que a articulação utiliza para se movimentar, a flexão do cotovelo utiliza o eixo latero-lateral. o Eixo anteroposterior. • Cada eixo desse representam a intersecção de dois planos. • O coronal está se interceptando com o sagital e ao se cruzarem, forma-se o eixo longitudinal. Esse eixo formado corta o plano que não a forma, isto é, fura o plano axial. Ele faz um ângulo de 90º e perfura o plano axial ou transversal. • Um eixo que se forma da interseção de 02 planos, e o plano que não faz parte dessa interseção ele perfura. • Interseção entre o plano sagital e o transverso – forma o eixo ântero-posterior e fura o plano coronal. TIPOS DE OSSOS • Temos 206 ossos no corpo humano. • Ossos longos – úmero, ulna (cúbito), rádio, fíbula (perónio), tíbia, fêmur, metacarpo, falanges. • Ossos curtos – ossos do carpo e do tarso, osso da calota craniana, ossos sesamoides. • Ossos chatos ou estreitos – alguns dos ossos do crânio, costelas, esterno, escápula (omoplata). ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 • Ossos irregulares – vértebras, ilíaco, alguns dos ossos do crânio, osso inominado (confluência de três ossos: ilíaco, púbis e ísquio). • Ossos sesamoides – patela (rótula). OSSOS LONGOS Os ossos longos são divididos em 03 partes: • Diáfise: o corpo, constituído por uma espessa substância (osso) cortical, preenchida por medula óssea. • Metáfise: parte ampliada do osso perto da extremidade, normalmente constituída por substância esponjosa (osso trabecular). • Epífise: extremidade (geralmente articular) do osso, formada por centros de ossificação secundários. Formados pela ossificação endocondral (exceto a clavícula): centros de ossificação primários (no corpo – “diáfise”) e secundários. TECIDO ÓSSEO – MACROSCOPIA • A imagem acima: um fêmur em dissecção coronal. Observem como a cortical do fêmur é bem densa e como zonas de maior carga possuem uma densidade maior de trabéculas ósseas – metáfise no centro. • Observamos que vai havendo um alargamento da cortical até a metáfise. Quando chega na diáfise fica ainda mais larga. • Em contrapartida a quantidade de osso esponjoso que é aquele osso trabecular que suporta mais carga, o estresse cíclico e repetitivo está na metáfise. Na parte metafisária tem a riqueza do trabeculado. • A diáfise é mais rígida, perde esse trabeculado ósseo. • Na epífise também existe o trabeculado ósseo, mas existe uma camada cortical para dar suporte, ou seja, para suportar a carga direta. o No fêmur proximal existem as trabéculas de compressão primária, tração primária, compressão secundária etc. • A carga no osso – pega peso na parte superior – região que sustenta o peso. Esse osso tem que ser forte suficiente para poder aguentar a compressão e tensão. • O osso responde a uma LEI de Wolff – responde ao estresse, o peso, ou seja, quanto mais carga ele pega mais trabeculado fica. Tem que fazer atividade muscular, pois é quem dar carga ao osso, ela nunca vai fortalecer o osso. Nosso organismo só responde à carga. • Um idoso com osteoporose tem que fazer uma atividade muscular, não apenas tomar a medicação. • Quando opera um osso fraturado, coloca um dispositivo para fixar o osso dele. Sempre colocamos um dispositivo pensando em uma mobilidade precoce. Em alguns casos, como no fêmur queremos além da mobilidade precoce das articulações, que ele tenha carga precoce. A carga precoce, desde que o dispositivo seja bem implantado e que a fratura permita – ela facilita, auxilia na consolidação do osso – justamente respeitando a LEI de WOLFF (responde ao estresse). • O desaparecimento das trabéculas na radiografia sugere osteopenia radiográfica e, nesses casos, vamos iniciar a investigação de osteoporose. o Lembrem-se que osteoporose é um diagnóstico realizado através da densitometria óssea, mas a suspeita pode ser feita por meio da radiografia simples. Temos as vertebras – suportam pressão o tempo todo. Elas têm tipo um sanduiche cortical entremeado por uma matriz de osso trabecular aerado – isso serve para dar a complacência, ou seja, o poder de suportar carga e absorver o impacto. Acima (vértebra): observem a cortical bem densa e outra região bem esponjosa que confere certa flexibilidade/resiliência a esse osso para que ele possa sustentar tanta carga por tanto tempo. o Esse osso é diferente do anterior: ele não tem as três regiões (diáfise, metáfise, epífise) especificadas. É um osso chato, com uma cortical bem densa e um tecido bem esponjoso (para sustentação de carga). Nossos ossos jovens têm as fises de crescimento – placas de crescimento. As “fises” promovem o crescimento longitudinal (em comprimento) nos ossos longos. Ela é dividida em várias zonas, cada uma com uma função diferente. Tem uma em cada extremidade do osso longo. (metacarpais, metatarsais, falanges da mão e do pé apresentam, tipicamente, apenas uma fise/lâmina epifisial). Há outra “fise” em cada epífise (de organização similar) responsável pelo crescimento epifisial (e não longitudinal). ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 Há também uma “fise” normalmente no local da apófise imatura (p.ex.: tuberosidade da tíbia) que se funde com a maturidade óssea. SUBSTÂNCIA COMPACTA (CORTICAL): • Osso forte, denso: compõe 80% do esqueleto. • Cortical é parte mais densa dos ossos longos, mecanicamente mais resistente. • Composto por vários ósteons (sistemas de Havers), com lamelas intersticiais intermediárias. • Os ósteons são constituídos por lamelas ósseas concêntricas com um canal central (canal de Havers) contendo osteoblastos (nova formação óssea) e uma arteríola para suprir o ósteon. • As lamelas são conectadas por canalículos. • Linhas cimentantes marcam o limite externo do ósteon (limite final da reabsorção óssea). • Canais de Volkmann: orientados radialmente, horizontais, possuem arteríolas e conectam os ósteons adjacentes. - Uma substância cortical espessa é encontrada na diáfise dos ossos longos. SUBSTÂNCIA ESPONJOSA(TRABECULAR): • Estrutura entrelaçada, compõe 20% do esqueleto. • Alta taxa de renovação óssea. • O osso é reabsorvido pelos osteoclastos nas lacunas de Howship, e é formado por osteoblastos no lado oposto das trabéculas. • A osteoporose é comum na substância esponjosa, o que a torna suscetível a fraturas (p. ex., corpos vertebrais, colo do fêmur, extremidade distal do rádio, “platô tibial”). • Comumente encontrada na metáfise e na epífise dos ossos longos. Na imagem acima: epífise, metáfise e diáfise. Observem a placa de crescimento (“growth plate”), a epífise de crescimento e a “fise”. A “fise” é justamente essa linha (pode ser confundida com fratura por leigos). • RX: esse é um esqueleto imaturo em que há osso sendo formado, por isso há uma placa de crescimento (local onde há a deposificação cálcica para mineralizar o osso). • À medida que crescemos, vamos depositando osso da região epifisária para região metafisária. • Nos ossos longos tendem a ter maior região metafisária. o Na parte metafisária, há um entremeado trabecular que é justamente o osso esponjoso com essa arquitetura mais aerada que conferem ao osso uma maior elasticidade. o Metáfise é uma região do osso, principalmente dos ossos longos – tem osso trabecular, que é esponjoso e possui maior resiliência. o Tem mais osso trabecular no esqueleto axial e ossos longos, além disso na coluna. o O osso trabecular sofre mais remodelação durante a vida, quando ocorrem doenças como osteoporose, ele sofre fatores de interferência nutricional e hormonal, e, devido a isso, tem maior degeneração. Diáfise: resistência solida. Dor do crescimento: adolescentes com queixas de dor no joelho no período do estirão de crescimento, produção de muito GH, podem cursar com dor do crescimento. A epífise é um molde cartilaginoso e as suas camadas vão sendo mineralizadas aos poucos, assim quando o estirão é muito grande, essas camadas não são totalmente mineralizadas, fica fragilizada e pode fazer com que a bainha envolta inflame, gerando um desconforto por estresse mecânico (correr, pular, brincar...). Epifisiólise: – Ocorre um deslizamento da fise de crescimento da epífise proximal do fêmur sobre a metáfise. CRESCIMENTO • Existem duas formas de se formar osso: OSSIFICAÇÃO ENDOCONDRAL ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 Acima temos um osso de um esqueleto imaturo. Quando fazemos a radiografia, parece que está faltando coisa, parte do osso não tem densidade ainda para aparecer na chapa. Temos essa sensação porque a região meta-epifisária ainda é cartilaginosa. Nessa região se localiza a placa de crescimento, a epífise ainda cartilaginosa. Ossificação endocondral: formação de um osso a partir de um molde de cartilagem hialina. Esse molde, gera um centro primário de ossificação diafisário, que designa uma região dele para ser a placa de crescimento (ou seja, onde as células vão se depositar – “como se fosse uma empilhadeirazinha”), com consequente deposição de material mineral naquele molde. Há um aumento da vascularização com estímulo das células de deposição, grande densidade e robustez. Após isso, surge um centro secundário de ossificação – epifisário, na extremidade do osso, que se desenvolve também de forma radial, até ele se fundir completamente ao osso que foi criado pelo molde primário (osso diafisário e metafisário). • Isso acontece muito em ossos longos e curtos. • Ex. a patela e o carpo. O centro primário da ossificação fica em cima da metáfise e diáfise e o centro secundário da ossificação é na epífise. • Quando se verifica que há um fechamento dos núcleos de ossificação, se faz cálculos para determinar a perspectiva de crescimento da pessoa. • A idade óssea pode ser definida considerando esses núcleos de ossificação. § Temos certeza de que parou de crescer quando a metáfise fecha. Na radiografia – as epífises desaparecem, pois estão dentro do molde de cartilagem onde vão ser depositado o osso para que haja a formação do osso propriamente dito. **Displasia do desenvolvimento do quadril – é importante dar o diagnóstico precoce logo ao nascimento, pois se deixar surgir o núcleo secundário de ossificação da epífise proximal antes de dar o diagnóstico e colocar o quadril dentro do acetábulo pode conferir uma deformidade piorando o prognóstico do paciente. Resumo (ossificação endocondral): o Forma osso a partir de um modelo de cartilagem hialina. o Centro primário (metáfise e diáfise) e secundário (epífise) de ossificação. o Ossos longos e alguns ossos curtos. o Ossificação Endocondral – Figura acima. 1. Molde cartilaginoso. 2. Invasão celular na diáfise; 3. Vascularização + deposição óssea nas extremidades + placa de crescimento. 4. Núcleo de ossificação secundário – um de cada lado sempre com a presença do osso. 5. Epífise formada completamente. 6. Placa de crescimento fechada. Imagem do RX – temos ossos numa forma mais avançada de ossificação e alguns não conseguimos visualizar dentro do molde. Geralmente o homem para de crescer longitudinalmente entre os 17 e 18 anos da idade. As mulheres se desenvolvem um pouco mais rápido, mas param de crescer mais cedo (principalmente após a menarca). A estatura final das mulheres, em geral, aparece em torno dos 15 a 16 anos. • As fises se fecham com no máximo 18 anos. OSSIFICAÇÃO INTRAMEMBRANOSA Ossificação intramembranosa: formação de um osso a partir do mesênquima – formam as sinartroses. As células mesenquimatosas se diferenciam e se transformam em grupos de osteoblastos que sintetizam uma matriz ainda não mineralizada, o osteoide, que logo se mineraliza. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 Os osteoblastos que acabam sendo totalmente envolvidos pela matriz se tornam osteócitos. Surgem, simultaneamente, vários desses grupos de células no centro de ossificação e ocorre confluência de pontes ou traves de tecido ósseo recém- formadas, mantendo espaços entre si preenchidos por células mesenquimais, células osteoprogenitoras e vasos sanguíneos, o que confere ao osso uma estrutura esponjosa. As células mesenquimatosas presentes nesses espaços dão origem à medula óssea. Isso ocorre muito na formação óssea fetal e nos ossos chatos (ossos do crânio, escápula). • Imagem do RX – temos ossos numa forma mais avançada de ossificação e alguns não conseguimos visualizar dentro do molde. HISTOLOGIA DE TECIDO ÓSSEO As lamelas formam unidades laminais chamadas ósteons, que são unidades formadoras – estruturas funcionais do osso. Nela, temos os: 1. Osteoblastos: células responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos da matriz óssea (colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas), são células progenitoras que depositam osso - células que se diferenciam em osteócitos, se transformando em osso. Estão localizadas na superfície do osso. São as unidades funcionais do osso. 2. Osteoclastos: reabsorvem e remodelam o tecido ósseo – compõem a matriz óssea. 3. Osteócitos: “tijolos que formam os ossos”, células estruturais do osso – formam as lamelas – são os osteoblastos maduros e envelhecidos. Os osteoblastos se diferenciam em osteócitos. Por esse motivo os osteoblastos são formadores de osso e, para reabsorver e gerar um equilíbrio, existem os osteoclastos. Ósteon: é a unidade estrutural do osso. Têm no centro um vaso e as lamelas que são as camadas formadas por osteócitos. Parece um “rocombole” de osso com um vaso no meio. Tem a matriz orgânica e inorgânica, a trabécula. De acordo com suas funções, patologicamente, uma lesão osteoblástica – significa uma lesão produtora de osso – tumor. Já uma lesão osteoclástica é um tumor que come osso. Periósteo e endosteo: tecido colágeno onde os vasos penetram e lançam arteríolas por canais (Volkmann e Haversiano). Periósteo é um tecido vascularizado – cheio devasos que nutrem o osso, vasos que através do canal de Volkmann são introduzidos no osso. • Canais Harversianos: eixo da unidade formadora de osso. • Remodelação óssea: processo de transformação de osteoblastos em osteócitos. • A parte trabecular tem as reentrâncias que conferem o aspecto aerado ao osso. • O osso é um órgão hematopoiético e esse local no osso que é de tutano. Existe um equilíbrio dinâmico, o osso não é um tecido inerte, ele está em extrema harmonia com o nosso organismo – é um tecido vivo que responde ao estresse. Está em constante atividade de remodelamento ósseo, de acordo com fatores ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 nutricionais e de atividade física, (atende a lei de Wolf – quanto mais o estresse, maior a reatividade). • Atividade física/muscular estressa o osso, ganhando força. Existem doenças na ortopedia que geram um desequilíbrio no metabolismo do osso e vamos estudá-las posteriormente. A matriz orgânica (osteócitos) e fibras colágenas (tipo I, principal e proteoglicanos) constitui cerca de 40% do osso e a matriz inorgânica (hidroxiapatita de cálcio) em torno de 60% - confere resistência e rigidez ao tecido. O osso é uma importante fonte mineral para o nosso organismo, principalmente reserva de cálcio. Tem que haver sempre o equilíbrio entre osteoblastos e osteoclastos, pois um deposita e o outro retira, sob o comando do ritmo homeostático do organismo. Qualquer um que sobreponha o outro nessa atividade dinâmica pode causar um problema. Por conta disso, temos doenças que são blásticas e outras que são clásticas. CASO CLÍNICO • Masculino, 22 anos, vítima de queda de moto há 01 hora com trauma direto sobre a perna esquerda, evoluindo com dor e deformidade. Deformidades presentes no membro da imagem: edema, rubor, definhamento (“rotação lateral do terço distal da tíbia e um encurtamento da perna”, giro de rotação no eixo longitudinal, rotação externa do segmento distal da pena). “O joelho parece que está olhando para o teto e a perna rodando lateralmente”. Isso sugere um desvio rotacional. Vemos uma rotação lateral do pé em relação ao eixo anatômico da tíbia. Nossa suspeita: esse cidadão tem uma fratura. Primeira coisa que temos que nos preocupar: avaliação neuromuscular. É importantíssimo, em uma situação dessas, alinhar o membro e fazer a palpação. Quais seriam os riscos para que esse membro evolua mal? Se tiver comprometimento vascular. Viu a perna deformada – se for mantida assim, ela pode estar comprimindo pela rotação ou obliterando algum vaso. O próprio edema pode também fazer um grau de compressão dos vasos. Essa perna pode entrar em risco de SÍNDROME COMPARTIMENTAL. Então, a primeira coisa a se fazer é realinhar o membro e fazer palpação dos pulsos. Se fosse o eixo latero-lateral, sua deformidade seria em flexo- extensão. Ex.: fratura do rádio. A perna é dividida em três compartimentos: anterior, posterior (superficial e profundo) e lateral. • O grupo muscular anterior inclui: tibial anterior, extensor longo do hálux, extensor longo dos dedos e o fibular/peroneal terceiro. • O compartimento posterior consiste em sete músculos no total, divididos nos grupos superficial e profundo. Perna é aquilo que está entre o joelho e o tornozelo. Coxa está entre quadril e joelho. TIPO DO TRAUMA Trauma direito: o vetor de ação do agente agressor é no ponto específico da região anatômica lesada, ou seja, é quando a lesão é no local do impacto. Trauma indireto: o vetor de ação do agente agressor não é na região que sofreu a lesão e sim sobre uma segunda região anatômica. Ex.: pessoa que cai com a mão espalmada → o vetor do trauma ocorre na mão, porém se ela tiver resistência mecânica suficiente para tolerar o trauma, ela pode sofrer uma fratura no cotovelo ou no ombro ou no punho. EXAME FÍSICO DO SISTEMA OSTEOMIOARTICULAR • Exame Físico: devemos procurar sinais de gravidade e sempre avaliar a parte neurovascular (palpação das artérias). Não conseguimos palpar a artéria fibular, por sua localização. As artérias tibial anterior e tibial posterior, por sua vez, são palpáveis. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 Na primeira imagem vemos a palpação da artéria tibial posterior. Na segunda imagem, o examinador está palpando a artéria pediosa (ramo direto da tibial anterior). Temos que ter uma boa noção da anatomia para avaliar adequadamente. Às vezes o paciente sofre um trauma de alta energia que pode lesionar múltiplos vasos. • Se houver lesão da tibial anterior, mas a tibial posterior estiver íntegra, muitas vezes ela consegue compensar. Isso depende muito da anatomia da pessoa, da qualidade vascular do membro em questão etc. • Temos que estar atentos à presença ou ausência desses pulsos para evitar sequelas no membro (ou até mesmo uma amputação). Compartimento anatômico é um compartimento limitado por aponeuroses e facias, que são nutridos e inervados por um plexo e com um grupo muscular com funções sinérgicas. A perna apresenta espaços anatômicos que são delimitados por faces da aponeurose ou por ossos. Os compartimentos são: o Anterior – artéria tibial anterior, veia safena; o Fibular ou lateral – artéria fibular (ramo da artéria tibial anterior); o Posterior profundo – artéria tibial posterior; o Posterior superficial – artéria tibial posterior. Compartimento anterior: palpamos o pulso pedioso que é um ramo (continuação) do tibial anterior. Palpação das artérias e avaliação de perfusão periférica: só é possível sentir o pulso na palpação das artérias fazendo pressão no vaso sobre uma estrutura mais rígida. Se um membro está sem pulso, chama-se atenção para um colapso vascular que pode culminar com uma hipoperfusão do membro, que é uma síndrome de compartimento e até acabar em amputação, ratificando a importância de sempre avaliar esses pulsos. PRINCÍPIOS DA AVALIÇÃO RADIOGRÁFICA DO SISTEMA OSTEOARTICULAR Raio-X: em ortopedia o RX deve sempre abranger o membro integralmente, incluir os seguimentos distal e proximal integralmente – se for um osso longo deve incluir a articulação acima e a articulação abaixo (distal e proximal) – e sempre deve ser em dois planos (ex. AP e perfil). Sendo assim, podemos dizer que essa radiografia está adequada? Não! Vejam que não conseguimos visualizar o joelho com detalhes. Tem que ver sempre em duas posições anatômicas diferentes, no mínimo. • Se o RX não for feito integral, se perde a cominuição (fragmentação múltipla do osso) que é um sinal de agravamento e de mal prognostico. Vemos na radiografia do slide acima, a fíbula íntegra (de forma inusitada) e uma fratura complexa da tíbia, o que demostrar que esse trauma não foi de baixa energia. Foi um trauma suficiente forte e intenso que levou ao desvio do osso e múltiplos fragmentos – cominuição = fratura cominutiva. Observem um desvio completo do osso. Em caso de fraturas dessa natureza, indicamos cirurgia. • Baixa energia – a pessoa cai e fratura o osso. • Alta energia – acidente de moto, atropelamento – energia cinética muito grande. A energia sempre se transforma. • Cominuição é um preditor de gravidade. DESCREVA A RADIOGRAFIA... o Qual segmento anatômico? Perna. Lembrem que membro inferior (fêmur proximal até o pé) não é sinônimo de perna (região entre joelho e tornozelo). o Quais incidências devo pedir? PA e perfil, ou seja, coronal e sagital (minimamente). Em ortopedia, precisamos olhar em pelo menos duas incidências (sagital e coronal) para formar uma opinião. Na imagem: vemos uma AP ou PA malfeita e um perfil malfeito. Por quê? Porque não tem inclusão da articulação proximal e poderiam ter feito um alinhamento mais adequado do osso. o Quais as alterações encontradas? Fratura médio- diafisária da tíbia (ou seja, no terço médio da diáfise da tíbia) de característicacominutiva (fragmentação das bordas ósseas). A cominuição indica que foi uma alta energia, pois ela foi tão alta que não só cortou o osso, como o fragmentou. o Qual a topografia da lesão? Terço médio da tíbia – diáfise da tíbia. o Quais as características da lesão? Lesão com múltiplos fragmentos (ou lesão com cominuições). Quanto temos várias fraturas dessa forma chamamos de cominuição. A presença de fraturas cominutivas são sugestivas de um trauma de alta energia (trauma foi tão intenso que fragmentou o osso, estrutura densa capaz de ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 suportar altas cargas e impactos). É um sinal de gravidade e de maior dificuldade na abordagem. FRATURAS TIPOS DE FRATURA ESPIRAL: faz uma espiral no osso, geralmente, é um trauma torcional, torce o corpo sobre o próprio eixo. Trauma indireto, ex. mantem a perna fixa no solo e gira o corpo. Esse tipo de fratura é comum em idosos e jogadores que caem ao girar o próprio corpo sobre o membro. OBLÍQUA: geralmente é um trauma direto com considerável energia envolvida, com vetor mais angular. TRANSVERSA: é um trauma direto com uma energia muito maior envolvida, para corromper o osso dessa forma, como uma navalha. É mais instável do que a fratura oblíqua, uma vez que a energia necessária para gerar uma fratura com essas características é maior. COMINUTIVA: possui vários fragmentos. Indica uma dissipação ainda maior de energia através do tecido ósseo do que nos casos anteriores. A energia foi tão grande que “implodiu” o osso. “WEDGE” – ANGULAR: fratura em "asa de borboleta". É uma fratura com fragmento angular, tem um terceiro fragmento. Também requer uma energia muito grande. FRATURA DO TIPO IMPACTAÇÃO/ COMPRESSÃO: frequente em osso imaturo, cuja elasticidade é muito grande, possui uma matriz orgânica mais densa e rica, não tem muita matriz mineral. Também chamamos esse tipo de fratura de “fratura do tipo touro”. Muito comum na região radio-distal (menino cai, bate com o punho e faz essa fratura que tem aspecto de impactação). Pode acontecer também em quedas de trauma axial. Esse tipo de lesão é mais comum em pacientes jovens. FRATURA DESCOLADA: quando há um desvio dos fragmentos. FRATURA EXPOSTA OU ABERTA: quando temos uma comunicação entre o hematoma fraturário e o meio externo. Energia do trauma é suficiente para romper o osso e destruir e romper a cobertura de partes moles – pele, musculo e tecido celular subcutâneo. O osso não precisa estar necessariamente visível. Muitas vezes, no exame físico, percebemos aquele ferimento rico em exsudato do ferimento, às vezes puntiforme, que promove a comunicação do meio externo (ar) com a foco fraturário. Nesses casos já classificamos a fratura como exposta. Pode ter mais de um tipo de fratura numa mesma lesão. Ex. caso clínico: fratura cominutiva exposta. Quanto mais energia envolvida na lesão = maior gravidade. CARACTERÍSTICAS DAS FRATURAS • Tipo/descrição: Transversa, oblíqua, em espiral, cominutiva, segmentar, impactada, por avulsão. • Deslocamento: Não desviada, minimamente desviada, desviada. • Angulação: Direção do fragmento distal (p. ex., desvio dorsal) ou direção do ápice (p. ex., ápice volar). • Exposta versus fechada: Exposta se o osso penetrou a pele resultando em uma ferida aberta (emergência cirúrgica - risco de infecção). o Classificação de fraturas expostas de Gustilo e Anderson (I, II, III a, b, c) é muito utilizada. • Por compressão: fratura do osso por uma força compressiva. • De Salter-Harris: fratura pediátrica envolvendo a fise ainda aberta (“placas” de crescimento). • Em “galho verde”: fraturas pediátricas com rompimento somente de uma parte da substância cortical. • Curvatura/em torus: fratura pediátrica envolvendo a impactação da substância cortical. • Patológica: fratura resultante de um tumor ósseo ou doenças ósseas. • De acordo com a gravidade da lesão, se determina o prognostico do paciente. Traço da fratura: simples, em cunha (dois traços) ou cominuição (múltiplos traços); Comprometimento articular: intra-articulares ou extra- articulares; Comprometimento das partes moles: aberta (expostas, contato do foco da fratura com o meio externo) ou fechada (sem contato com meio externo - maioria). ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 FASES DE CONSOLIDAÇÃO ÓSSEA Precisamos de 2 coisas: preservar o hematoma da fratura (matriz de substâncias e elementos fundamentais para consolidação do osso) e estabilização. Esquematizando: osso quebrou → abre a fase inflamatória – hematoma (faz um pico, com depósito de várias citocinas e “coisas” naquele local). → calo mole – revascularização e formação de matriz colágena → calo duro – fase de remineralização → remodelação. FASES DE CONSOLIDAÇÃO: A consolidação óssea inicia no momento do rompimento do osso, já é a fase inflamatória. A consolidação da fratura ocorre como um evento contínuo de três fases: (1) inflamação, (2) reparo (formação de calo) e (3) remodelamento. • Osso é um tecido que se regenera. Ocorre a fratura e, por conseguinte, formação do hematoma (obviamente, uma ruptura vascular). Dia 0 – médico fixou – trouxe estabilidade. o Fase Inflamatória: 7 dias - necrose das bordas da fratura e migração de polimorfonucleares e fibroblastos. Elementos inflamatórios são jogados no hematoma ósseo para resolver. o Essa fase apresenta um pico alto e breve, só compreendendo 10% da fase de consolidação. o Essa fase se intercepta com a fase reparadora ou reparativa. 7º dia – já existe uma reação periostal, uma reação tecidual, com uma nuvem de tecido sendo depositada. Observem na imagem a reação inflamatória periostial, que está em seu final. Você vê uma nuvemzinha que aponta para uma resposta inflamatória tecidual e um início de deposição óssea. Essa deposição óssea continua nos dias seguintes, chegando a ficar exagerada (observe dia 21), para depois começar a ser reabsorvida (mais ou menos na quarta semana). Lembrar que temos duas camadas de formação óssea que são fundamentais: fora do osso é o periósteo e dentro o endósteo. Para estimular essas camadas precisamos ter mobilidade e carga. Assim elas formaram o calo ósseo. o Fase reparadora ou reparativa: 7 a 21 dias – início da reparação óssea com osteoblastos e angiogênese, é uma fase mais extensa, com reparação tecidual exacerbada. o Ela ocupa boa parte do tempo (40%). 14º dia – tem a formação de calo ósseo, ao olhar o osso está consolidado, já vemos uma consolidação radiográfica em andamento, formação de mineralização, do calo ósseo (para garantir a consolidação) (calo mole). • Essa fase envolve um processo de angiogênese e formação de um “calo mole”, cartilaginoso. Em outras palavras, o hematoma é diferenciado em um tecido cartilaginoso, dessa forma, é uma fase importante porque ele vai servir como substrato para a formação do calo ósseo. 21º dia – totalmente consolidado, bem formado (calo duro), já começou a remodelar. 28º dia – já há a reabsorção óssea e depósito de peso. Ação de osteoblastos e osteoclastos. o Remodelação: é quando ocorre a consolidação completa, um processo que demora até 4 meses, quando ocorre de forma adequada. § Modela a reparação tecidual exacerbada. § Essa fase é induzida por estresse, atividade muscular e pela atividade do segmento, sendo mais longa e cuidadosa. § É a fase mais alongada da consolidação óssea, dura cerca de 70% do tempo total de consolidação. § Quem participa dessa fase é o osteoclasto (lei de Wolf – osso responde a uma carga que lhe é oferecida); § Para consolidar, as fraturas necessitam de um bom suprimento sanguíneo (mais importante) e estabilidade. Na imagem acima: fraturou, mas prontamente houve uma intervenção ortopédica. Com frequência abordamos o paciente logo na fase inflamatória para que, quandoele entrar na fase de reparação, ele tenha um alinhamento adequado para passar pelas fases seguintes. A formação do calo não ocorre após a fixação rígida das fraturas (RAFI); em vez disso, a consolidação ocorre de maneira primária/direta. • Tanto o tabagismo quanto os AINES inibem o reparo ósseo/consolidação de fraturas. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 • Em 07 dias após a haste intramedular permite que a gente coloque carga no membro. “Professor, qual parte do osso dói?”. O que dói, na realidade, são as estruturas em torno do osso: pele, músculo e periósteo. INTERVIR OU NÃO NA FASE INFLAMATÓRIA? Quando vamos intervir na fase inflamatória, temos que fazer nas fases iniciais. O cara caiu agora, faço a abordagem e “já jogo duro”: faço a síntese (fixação do osso). Se por acaso o paciente estiver no pico da fase inflamatória (exposição do tecido muscular à inflamação, formação de edema, empastamento do membro), aguardamos pelo decaimento dessa fase para uma abordagem definitiva. Por quê? Porque, em toda fratura, é muito importante tentar manter a integridade do envelope de partes moles. Como na perna possui pouco tecido mole, uma abordagem imediata é recomendável (demora mais tempo para aquele tecido reagir à inflamação de forma abundante). Então, se temos a oportunidade de abordar imediatamente, assim o faremos. Abordar antes daquele infiltrado inflamatório, edema etc. Se perdemos essa fase, já mudamos o prognóstico da lesão (por isso que fratura exposta é emergência). Dessa forma, nos casos de lesões com intenso estado inflamatório, nossa primeira conduta não vai ser uma abordagem definitiva (não vamos partir de imediato para uma placa ou haste). Vamos colocar uma fixação externa, realinhar o membro e esperar a redução da fase inflamatória das partes moles. Somente depois entramos com uma abordagem definitiva. • Em relação aos medicamentos, é importante dar conforto ao paciente (analgesia) e abordar o mais breve possível (seja realinhando o membro, colocando algum dispositivo provisório). • Para a analgesia, usamos mais analgésicos mesmo. • Não é comum usar anti-inflamatórios, principalmente em casos de fratura. Porque inibiria uma reação importante. • Em uma fratura exposta, a primeira coisa que fazemos é o ATB profilático. INFLAMAÇÃO - ORIGEM DO HEMATOMA Temos aqui as camadas importantes – periósteo e o endósteo – são camadas celulares ricas em osteoblastos. Os osteoblastos começam a reconstruir e colocar a matriz orgânica para consolidação do osso. Existe uma organização do hematoma. Inflamação: O hematoma desenvolve-se e fornece células hematopoéticas/osteoprogenitoras. Formação do tecido de granulação. Na imagem acima temos o periósteo integro. Nesse caso a fratura não rompeu o periósteo: é uma fratura fechada. Foco no periósteo e hematoma organizado. Percebam um hematoma bem evidente, rico em vasos. Esse sangue extravasado vai ser substrato para a consolidação. Já os osteoblastos estão na íntima do periósteo. Assim, o hematoma é envelopado pelo periósteo, que é um tecido celular rico em osteoblastos e bem vascularizado, que favorece a reconstrução óssea. Estamos falando de fraturas fechadas, mas em casos de fraturas abertas, há perda do poder de envelopar o hematoma inicial. O osso está envolvido pelo envelope celular chamado de periósteo, que fica grudado no osso ajudando na nutrição, defesa e na remodelação (que osso faz naturalmente independente da fratura). Quando ele é rompido e descolado do osso pelo hematoma, ele solta osteoblastos, macrófagos e outras células responsáveis pelo processo cicatricial. Existe também um tecido celular formado por osteoblastos dentro do canal ósseo chamado de endósteo. Ambos vão depositar substratos e elementos para ajudar na consolidação do osso, organizando o hematoma fraturado. REPARO CALO MOLE Calo mole: células produzem o calo cartilagíneo (mole) que une as extremidades do osso (pontes do calo). ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 • Após o hematoma haverá depósito de cartilagem com diferenciação dos osteoblastos e a reorganização dos vasos. • Inicia um processo de angiogênese e calcificação progressiva do osso. Primeiro ele fica cartilaginoso para depois ocorrer uma deposição mineral e ele se tornar osso. Para isso, o hematoma precisa estar estável. CALO DURO Calo duro: substitui o calo mole pelo TECIDO ÓSSEO PRIMÁRIO (imaturo/reticular) (ossificação endocondral). • Depósito de material mineral, com densidade óssea (presença no RX), tornando-o mais resistente a estresse mecanismo. REMODELAMENTO • A fase de remodelação vai definir como esse osso vai ficar. • O tecido ósseo primário (imaturo/reticular) é substituído pelo TECIDO ÓSSEO SECUNDÁRIO (MADURO/LAMELAR). • Retirada do excesso pelos osteoclastos. O periósteo é um tecido extremamente vascularizado e rico em células. Em um trauma muito grande pode haver perda do periósteo e, assim, o osso perde a nutrição). Nesse estado, completamente desvitalizado, desludo, sem o periósteo dificilmente vai se consolidar. O endósteo é outra parte vascular e celular de dentro do osso. É como se fosse um sanduíche: por fora o periósteo e por dentro o endósteo. Quando o periósteo e o endósteo se encontram no hematoma, eles começam a trabalhar para construírem novos vasos e, a partir dali nutrir o tecido. O ruim da fratura exposta é que o hematoma não fica contido e ele é fundamental para dar substrato e elemento para consolidação do osso. Então, quando expõe a fratura e o hematoma entra em contato com o meio externo além de contaminar, que já é uma tragédia, perde esses elementos que ajudam na consolidação do osso. ESTABILIDADE X CONSOLIDAÇÃO ÓSSEA Dependendo do movimento do foco de fratura e, portanto, do tipo de estabilização utilizada: o Muito movimento - instabilidade - não consolida. • Forma-se uma coisa chamada pseudoartrose ou pseudoarticulação. o Pouco movimento - estabilidade relativa - consolida com calo ósseo – em alguns casos é necessário, depende de cada caso; o Ausência de movimento - estabilidade absoluta - consolida sem calo ósseo. • É importante manter o osso estável para haver a consolidação óssea, isso depende do movimento do foco de fratura. Se você tem muito movimento no foco fraturário, ou seja, se você tem instabilidade, você não consegue consolidar a fratura. • A estabilidade é quando se reduz a quantidade de movimento no foco da fratura a quase zero. • Não precisa ter estabilidade plena, pode ser estabilidade relativa, ter micromovimento. Estabilidade relativa: quando existe micromovimentos que não são detectados visualmente, é um movimento desejável que demanda o estresse na fratura suficiente para estimular a consolidação com calo. Nesse caso, a consolidação será com calo de osso. o Ex.: placa em ponte (O objetivo dessa técnica é não desvitalizar os seguimentos da cominuição que está aí no meio. Passa a placa rente ao periósteo só com um cortezinho em cima e outro em baixo) e haste medular. Estabilidade absoluta: impedir que haja movimento, tornando- o nulo. Nesse caso, o osso se consolida sem o calo ósseo, pois o sistema é completamente travado. o Ex.: placa de compressão dinâmica e parafuso de tração. o Utilizamos esse princípio em: 1. Fraturas diafisárias (não obrigatoriamente); 2. Fraturas de ossos chatos em que precisamos fazer uma redução direta; 3. Fraturas articulares. Toda vez que tiver muita força deformante, muito movimento, temos que utilizar o princípio “mais estável possível”. Ø Tem-se usado muito em fratura de diáfise estabilidade relativa. * o Ex: placa de compressão dinâmica – apresenta ranhuras ovais, e ao apertar uma face do osso vai sendo ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 comprimidacontra a outra, o que minimiza a quase 0 o movimento, formando uma consolidação linear. o Ex: Parafuso de tração. Quando você está fixando uma fratura, é desejável, muitas vezes, que haja um movimento no foco, mas um movimento mínimo, para estimular aquele foco de fratura a produzir o calo ósseo. Por isso que os dispositivos mais atuais são intramedulares. Preservam a anatomia, o eixo anatômico ósseo e preservam o invólucro em torno do osso. Eles direcionam a carga do osso, mas não impedem a consolidação óssea com o micro movimento que eles permitem. • Quando você não tem movimento nenhum, o osso também é consolidado, porém, sem calo ósseo. É quando a gente utiliza o princípio de estabilidade absoluta. Então, quando a gente usa, por exemplo, uma placa. PSEUDOARTROSE Quando você tem uma instabilidade óssea perene, muita instabilidade, o osso tenta consolidar, mas não consegue. Não existe um direcionamento, nem uma contenção daquele hematoma. Aí gera uma pseudoartrose, devido ao movimento excessivo no foco. É para isso que o ortopedista trabalha: para estabilizar esse foco e impedir a ocorrência da pseudoartrose. A pseudoartrose é como uma falsa articulação, o osso não consegue consolidar, é uma falha na consolidação. Isso pode ocorrer por diversas causas. Basicamente: 1. Falta de estabilidade no foco da fratura – fica mexendo muito, impossibilitando a formação de um calo estável; 2. Falha biológica – tecido ficou danificado e não há mais uma boa vascularização nesse foco, eu posso colocar o implante que for, que não vai consolidar. Quando uma fratura é muito cominutiva – estabilidade relativa. Não consegue encaixar pedacinho por pedacinho em um encaixe perfeito, uma redução perfeita, pois desvitaliza os fragmentos. Tem que usar técnica menos agressiva aos fragmentos, portanto temos a estabilidade relativa. DICA = usamos muito estabilidade relativa em diáfise de membro inferior e no úmero também. Mas, em situação como de fratura dentro da articulação e como fraturas no antebraço (como tem 02 ossos que trabalham juntos consideramos também articulação) usamos geralmente estabilidade absoluta, pois a redução tem que ser perfeita. Padrão fraturário – indica qual princípio vamos usar para obter maior sucesso. A predileção por estabilidade relativa ou absoluta varia de acordo com o tipo de fratura, natureza, lesão de partes moles, disponibilidade de material, segmento fraturado (diáfise ou metáfise), o osso fraturado etc. • Os dispositivos para essa estabilização podem ser intra ou extramedulares (medula óssea). • A tala engessada não é um tratamento definitivo em fraturas de maior gravidade. • Em geral, fixadores externos são para estabilidade relativa. Obs.: Fratura incompleta: quando não vai de uma cortical a outra. Fratura completa sem desvio: vai de uma cortical a outra, mas não faz desvio. Tipos de consolidação: • Primária: nenhum grau de mobilidade – não forma calo ósseo – o contato possibilita a proliferação dos canais de Havers; • Secundária: movimentação controlada no foco da fratura, forma calo ósseo – possui estágios de 1 a 5 – hematoma, inflamação, calo mole, calo duro, remodelação óssea. Um dos dispositivos utilizados para isso é a haste intramedular. Outra maneira que a gente tem para fazer isso é utilizando a placa em ponte, ela passa junto ao periósteo. CASO CLÍNICO 2 Paciente masculino, 70 anos, aposentado. Queixa de dor em joelhos há cerca de 3 anos, com piora importante nos últimos 6 meses. Refere piora em ortostase prolongada e ao descer escadas. Refere sensação de “areia” dentro do joelho. HAS controlada. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 ANAMNESE: Dados importantes: idade, dor, duração da dor, fator de piora (ortostase prolongada e ao descer escadas), crepitação e sensação de areia. É importante também perguntar os fatores de melhora (ao colocar gelo, no repouso). EXAME FÍSICO: paciente em ortostase com carga nos 02 joelhos – edema no joelho direito, mais arqueado – varo, aumento de volume e assimetria das pregas. Geno = joelho. Geno varo: pernas arqueadas para fora. Geno valgo: pernas arqueadas para dentro. FIZEMOS UMA RADIOGRAFIA! • Radiografia do paciente – normal. • Aumento de volume. • Genu varo. • Compartimento medial completamente obliterado dos dois lados – diminuído. Do lado direito ainda pior. • Pedir os seguintes exames: RX com apoio monopodal (bom parâmetro para avaliar artrose). Moeda = marcador. Se for do mesmo tamanho da moeda de 1 real (marcador), significa que o tamanho do joelho do paciente é real. Respeitando o tamanho da moeda está respeitando o tamanho real do joelho do paciente. • A relação do eixo = essa relação entre o fêmur e a tíbia fica com desvio (para dentro). A tíbia fica desviado do eixo, faz um vértice. • No joelho normal tem uma relação harmônica. QUADRO CLÍNICO • Dor; • Incapacidade funcional; • Impotência funcional; • Deformidade. Atentar sempre para: queixa de dor localizado em algum segmento associada a um desses fatores acima + imagem sugestiva de fratura. EXAME FÍSICO DEFORMIDADES NO PLANO CORONAL: o Vértice angular: valgo, varo, recurvato, anticurvato (vetor para frente). o Varo: aquilo cujo vértice da angulação se afasta do centro do corpo. O vértice angular está voltado para fora. o Valgo: o vértice da angulação se aproxima do centro do corpo, está direcionado ao centro. § “quem valga não cavalga”. o Recurvato: o vértice angular está voltado para trás, desvio angular posterior. Deformidade no plano sagital. o Antecurvato: o vértice está voltado para frente. o Verificar alterações anatômicas, funcionais e neuromusculares; OBS.: avaliar e inspecionar em busca de lesão de tecidos moles; palpar pulsos distais, observação do tempo de enchimento capilar, examinar função motora, sensória e discriminação entre dois pontos (distal a fratura). Gonartrose – artrose do joelho. Pinçamento articular – sem espaço da cartilagem. Desvio da tíbia para dentro – varo – o côndilo medial formado pelo fêmur e tíbia tem um pinçamento grande. • Artrose: diminuição do espaço articular, presença de osteofitos marginais, erosões. • Artrose em ambos os joelhos. • Ideal é pedir o raio x em ortostase, as vezes a gente ainda pede em ortostase monopodal. • Identificar varo no RX: Ao traçar uma linha, tangenciando o côndilo ou femoral, ela não corta o côndilo tibial, significando que o eixo está desviado para dentro. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 • Normal: ao tangenciar o côndilo femoral, essa linha também se corta o côndilo tibial. • Alinhamento do eixo. EXAMES E TRATAMENTO: • Exame radiológico: 2 incidências (AP e perfil); • Tratamento: alívio da dor, redução da fratura, imobilização e restauração da função; • Questões: a. Que tipo de estabilidade desejo? b. Que implante é necessário para garanti essa estabilidade? c. Que tipo de consolidação eu espero? TIPOS DE IMOBILIZAÇÃO: • Contenção externa: aparelho gessado ou tala gessada. • Fixação cirúrgica externa: fixadores externos (circulares – Ilizarov. • Fixação cirúrgica interna - uso de placas e parafusos. COMPLICAÇÕES: • Osteomielite, lesão arterial, síndrome compartimental, TVP e TEP, necrose avascular, pseudoartroses; • Retardo de consolidação é quando uma fratura demora entre 4 e 6 meses para consolidar completamente. • Quando a fratura demora mais de 9 meses para consolidar ou quando há 3 meses consecutivos sem progressão radiológica da consolidação, chamamos de PSEUDOARTROSE. • Consolidação viciosa: quando ocorre uma consolidação com fragmentos em posição desviada, pode ocorrer se o membro não for alinhado ou for imobilizado de forma inadequada na recuperação. • Embolia gordurosa: ocorre caracteristicamente após fraturas da DIÁFISE de ossoslongos, especialmente do FÊMUR. Na diáfise dos ossos longos há a medula óssea amarela, formada por gordura e com função de preenchimento. Ao ocorrer a fratura da diáfise de ossos longos, como o fêmur, temos a liberação de conteúdo gorduroso que pode embolizar para vasos sanguíneos do pulmão, causando dificuldade respiratória; do cérebro, causando rebaixamento do nível de consciência; e trombocitopenia, causando petéquias cutâneas! O tratamento consiste em suporte ventilatório e hemodinâmico na UTI e correção da fratura; diagnóstico é clínico; FRATURAS DA FASE DE CRESCIMENTO: • Trauma nas epífises dos ossos longos; • Pode provocar fechamento precoce das fises - alterar crescimento e angulação óssea; • Geralmente em rádio distal, fêmur distal, cotovelo e tíbia distais. ARTROSE MACROSCOPIA • É a degeneração da cartilagem articular, que pode ter presença de estrias e erosões de vários tamanhos. • Gera dor e rigidez. Observação das imagens: estrias, ranhuras na tróclea e fêmur, deposição óssea formando osteófitos, erosão na cartilagem, degeneração completa. • Mascroscopicamente a cartilagem do joelho fica cheio de estrias, erosões = artrose. • Degeneração com erosões, rotura e desgaste da cartilagem. • Articulações de carga que sofrem mais. • Artroses nas interfalangeanas principalmente quando tem artrite reumatoide associada (nódulos de bouchard). ARTROSE X ARTRITE REUMATÓIDE: A artrose pode ocorrer em diversas articulações, sendo a mão uma delas. o Os nódulos nas mãos relacionados a artrose geralmente são os da interfalangeana proximal, chamado NÓDULOS DE BOUCHARD, são nódulos artrósicos, degenerativos, relacionados ao envelhecimento. o Os nódulos nas falanges distais nas mãos estão mais relacionados com a artrite reumatoide, são os ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 1A - RODRIGO NUNES 23/03/2022 NÓDULOS DE HEBERDEN, que também gera uma artrose, porém secundária a uma doença inflamatória. o Ambos podem estar nas mãos juntos, acometendo o mesmo paciente. Nódulos de Heberden falam mais a favor de artrite reumatoide (articulações mais distais – interfalangianas distais) e nódulos de Bouchard falam mais a favor de artrose (articulações mais proximais). ACHADOS RADIOLÓGICOS • Redução do espaço articular – articulação do lado direito sumiu. • Esclerose óssea: região mais densa no raio x (radio opaco – branco) – o osso fica mais esbranquiçado, reativo. • Osteófitos: formação de osso em excesso para tentar compensar o desequilíbrio articular, fica com pedaços ósseos marginais na tentativa do organismo de estabilizar a articulação. • Cisto subcondral ou geodos: elemento de agravamento no processo de artrose de uma articulação, degeneração – significa que teve uma área de má absorção do osso, que a cicatrização não conseguiu absorver a inflamação. o É invasão do líquido sinovial que gera essas erosões chamados cistos ou geodos. o Bolas no Raio x – cavernas. OUTROS TERMOS: • Luxação é quando a faces da articulação perdem a relação intima. • Subluxação: os ossos na articulação ficam parcialmente fora de posição; • Osteofito curtino: formação óssea nas bordas articulares. TRATAMENTO: • Mudanças nos hábitos de vida; • Atividade física; • Perda de peso; • Reabilitação; • Medicamentos para alívio de dor; • Cirurgia – quando a situação é avançada e há perda da qualidade de vida.