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AULA 2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NA ERA DIGITAL Prof. Joselmo Rezende 2 TEMA 1 – MARKETING DIGITAL A chegada de novas tecnologias fez com que os profissionais de marketing tivessem que se reinventar, tendo uma visão mais holística dos processos e do ambiente digital no qual estão inseridos atualmente. Uma das grandes mudanças obtidas com a aplicação das tecnologias diz respeito à mobilidade dos clientes de uma organização. O profissional de marketing atual não pode estar limitado a preceitos de limitação territorial, sistemas de transporte ou mobilidade. O uso de tecnologias de comunicação TIC no Brasil também sofreu uma alteração muito grande. Segundo o último levantamento de domicílios com acesso a equipamentos de comunicação, é fato que o uso de telefones celulares é uma realidade na vida dos indivíduos, sendo este igualado ao número de televisores nos lares. Gráfico 1 – Domicílios que possuem equipamentos TIC no Brasil Fonte: CGI.br/NIC.br, 2019. Segundo Gabriel (2010, p. 76), “o acesso à informação começa na palma da mão das pessoas”. Para a autora, o consumidor passa a ter uma presença ativa em meio às marcas, e essas são responsáveis pela experiência receptiva. Gabriel (2010) ainda reforça que cinema, televisão, computador e celular coexistem na vida dos indivíduos, fazendo com que esses sejam multiteleinterativos. Em resumo, a tecnologia e o mundo virtual passaram a ter um tipo de simbiose no mundo material, de modo que a linha que separa o real do virtual é muito tênue e as pessoas estão interagindo o tempo todo. 3 Gráfico 2 – Usuários de Internet que usaram telefone celular de forma exclusiva, por área, região, sexo, cor ou raça, faixa etária, grau de instrução e classe (2019) – Total de usuários de Internet (%) Fonte: CGI.br/NIC.br, 2019. Os dados do gráfico anterior mostram que a estratégia de comunicação das organizações deve ser alterada. O acesso à tecnologia móvel independe de classe social, idade ou região geográfica. Assim, é importante que as organizações criem modelos de monitoramento e inteligência, fiquem atentos à gestão de crises e desenvolvam ferramentas de respostas rápidas com seus clientes ou prospects. Nesse sentido, Lauterborn, citado por Amaral (2000), descreve uma revisão dos conceitos sugeridos por McCarthy, referente aos 4P’s. • Produto: o peso deve estar na necessidade do cliente e não na necessidade de a empresa produzir. Entender a necessidade do cliente torna seu produto mais atraente; • Preço: pela facilidade de pesquisas, o importante aqui é entender o custo que o consumidor está disposto a pagar para satisfazer sua necessidade; • Praça: segundo o gráfico, com o acesso a tecnologias de mobilidade, o cliente pode comprar fora de sua área geográfica, assim, as empresas devem pensar na conveniência para o indivíduo ter acesso ao produto; 4 • Promoção: nesse ponto, as organizações devem focar na comunicação com o cliente individualmente, criar relacionamento e trabalhar com conteúdo. Essa visão propõe uma mudança na visão dos 4P’s para 4C’s, olhando para o cenário da web e considerando o empoderamento do indivíduo. Dessa forma, ela é mais apropriada e atualizada para o marketing digital, a saber: • Produto Cliente • Preço Custo • Praça Conveniência • Promoção Comunicação Nessa perspectiva, ressaltamos a teoria de Anderson (2006), descrito em seu livro A Cauda Longa, no qual o autor ressalta o empoderamento do indivíduo e a necessidade de as organizações olharem para os mercados de nicho. Segundo o autor, as grandes mídias perderam a força, da mesma forma que os mercados se disseminaram e os clientes estão cada vez mais espalhados. Essa massa de nicho sempre existiu, mas com a queda do custo de acessá-la – para que os consumidores encontrem produtos de nicho e produtos de nicho encontrem consumidores, ela, de repente, se transformou em força cultural e econômica a ser considerada. (Anderson, 2006, p. 6) Para o autor, o que acontece agora é a era dos consumidores em rede, na qual todas as coisas são digitais, os nichos se multiplicam justamente pelo fato de possibilitar que indivíduos e pequenas organizações tenham acesso a uma tecnologia que reduz drasticamente os custos de mídia, possibilitando um acesso quase ilimitado às tecnologias de comunicação. Em resumo, a teoria da cauda longa reforça que a economia está se afastando dos produtos e mercados de tendência dominantes e indo em direção a uma grande quantidade de nichos de mercado. Destacamos que a teoria apresenta três grandes forças: 5 Tabela 1 – Forças da Cauda Longa Força Negócio Exemplo 1 Democratização da produção Produtores e fabricantes de ferramentas de cauda longa Câmeras de vídeos digitais, software para edição de música e vídeo, ferramentas de blogging 2 Democratização da distribuição Agregadores da cauda longa Amazon, E-bay, Netflix 3 Ligação da oferta e demanda Filtros da cauda longa Recomendações do Google, dos blogs, Influencers Fonte: Anderson, 2006, p. 55. Ainda devemos considerar a importância do tempo real no marketing. Gabriel (2010, p. 92) destaca que “clientes e consumidores se manifestam em tempo real sobre uma marca, produto ou empresa” e isso implica ter um monitoramento constante e eficiente sobre o mercado e uma estrutura com ferramentas preparadas para uma resposta rápida ao consumidor. Por fim, uma das principais características da web é a possibilidade de mensuração, assim, é possível conhecer detalhadamente os gostos, preferências e a mobilidade dos indivíduos a fim de proporcionar a melhor experiência para eles como consumidores. Com base nos dados apresentados e nas perspectivas, é notório que as organizações devem alterar sua forma de se relacionar com seus clientes, criar ferramentas de inteligência para monitorar seus mercados, ser ágil nas respostas e ter ferramentas de comunicação preparadas para um cenário de mobilidade. TEMA 2 – PRINCIPAIS CANAIS DE MARKETING ON-LINE Podemos olhar para os canais de marketing on-line como sendo os meios pelos quais as organizações se comunicam ou se relacionam com seus clientes potenciais ou atuais. Gabriel (2010, p. 108) reforça que as tecnologias e plataformas digitais, somadas a tecnologias e plataformas tradicionais, oferecem uma infinidade de combinações que podem ser exploradas nas estratégias de marketing – é a estratégia que determina as ações a serem combinadas para alcançar um objetivo de marketing desejado. Lévy (2010, p. 64) “define mídia como o suporte ou veículo da mensagem” e reforça que um dos fatores que devemos considerar para a rápida evolução da 6 web é o desenvolvimento de plataformas e sites de redes sociais em todo o mundo. Para o autor, “a Internet promoveu uma revolução na comunicação distribuída e interativa multimídia que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação” (Lévy, 2010, p. 67), e essa comunicação é de muitos para muitos. Ao analisar esse conceito, Gabriel (2010, p. 121) reforça que “uma página digital na web é um documento HTML (Hyper Text Language Markup) que inclui textos, imagens, scripts de programas e recursos similares”. Na tabela a seguir, vemos a classificação estabelecida pela autora para essas páginas. Tabela 2 – Definição de páginas digitais Página Digital Definição Site Uma organização de dados e conteúdos para serem encontrados facilmente, possui uma arquitetura de informação, focada na organização de conteúdos Minisite Criados com uma informação verticalizada, abordando um tema específico Hotsite Sites com prazo de validade determinado, utilizados para uma determinada ação Portal Sites com conteúdos verticalizados voltados para seu público Blogs Em formatos de diário, apresentam textos regulares, denominados “posts” Perfis em redessociais Páginas específicas inseridas em redes sociais. Normalmente, são constituídas dentro das limitações da plataforma, sendo utilizadas para relacionamento com seus públicos Landing page Páginas específicas que aparecem para um indivíduo quando esse realiza uma pesquisa em buscadores e, ao localizar a informação, acessa o link apresentado. Geralmente, esse link leva a uma página do conteúdo procurado, denominada landing page Fonte: elaborado com base em Gabriel, 2010. Para entendermos essa perspectiva de canais de comunicação entre organizações e indivíduos, vale fazermos uma analogia com as mídias tradicionais. Gabriel (2012) propõe uma correlação entre as páginas digitais e as mídias tradicionais com uma maior ressignificação, conforme a tabela a seguir: 7 Tabela 3 – Relação de páginas digitais com mídias tradicionais Página digital Equivalência Site Um livro ou catálogo Portal Uma revista de informações como a Veja Blog Equivale a um jornal diário Minisite Um folheto informativo Hotsite Um folheto promocional Perfil em redes sociais Uma página de catálogo específico, como um catálogo de produtos ou uma lista de diretórios Landing page Flyer promocional que entrega somente o que foi solicitado Fonte: Gabriel, 2010, p. 124. Além dos canais de comunicação supracitados, é importante que haja canais de atendimento on-line, como o WhatsApp e o CRM implantado, bem como um “funil de vendas” definido e estruturado para atender ao cliente a qualquer momento do processo de compras. Veja, na figura a seguir, um exemplo dos canais de comunicação integrados. Figura 1 – Canais de marketing digital Fonte: Rezende, 2021. Na figura anterior, procuramos mostrar de forma integrada como podemos utilizar os canais de marketing para interagir com o consumidor digital. A experiência de compra nasce no acesso aos canais de comunicação das organizações com o mercado. Com base no interesse do consumidor pelas informações, produtos ou serviços das organizações, é necessário ter um protocolo de comunicação que 8 seja integrado e dê continuidade às informações anteriormente recebidas pelos indivíduos, a fim de que a experiência de compras do indivíduo seja satisfatória e fidelizada. TEMA 3 – MARKETING DE CONTEÚDO Segundo Gabriel (2010), presença, por definição, significa existir em determinado momento. No que diz respeito à presença digital, refere-se à presença de algo no campo digital e ao que ocorre por meio de conteúdos digitais disponibilizados nos ambientes digitais, como sites, blogs, redes sociais, entre outros. Para a autora, existem três tipos de presença digital (Gabriel, 2010, p. 249). • Presença própria: ativos (conteúdos) digitais com a marca da empresa, construídos e mantidos pela própria entidade, como sites, perfis em redes sociais, blogs, entre outros; • Presença gratuita (ou ganha): ativos digitais com a marca da empresa, gerados e ganhos de forma orgânica na internet, como fazer parte de busca orgânica nos buscadores, comentários de terceiros e conteúdos gerados nas redes sociais; • Presença paga: ativos digitais com a marca da empresa, comprados e pagos pela empresa, como anúncios, links patrocinados ou outros tipos de conteúdos pagos. Esses ativos digitais garantem o contato com o público de interesse e podem ser determinados de acordo com a estratégia definida pela organização. Segundo Garritano (2017, p. 103), “o Marketing de Conteúdo é um termo relativamente recente que surge como uma evolução de ideias predecessoras nos campos do marketing direto, marketing de relacionamento, internet marketing e relações públicas”. Assim, uma organização pode criar seus ativos digitais por meio de conteúdos responsáveis por construir a imagem da organização, atrair novos clientes, relacionar-se com os clientes atuais e aumentar o volume de vendas, podendo ser utilizados de formas diferenciadas, de acordo com a estratégia definida pela organização. Seraj (2012) destaca que as pessoas estão no universo on-line acessando sites, blogs, comunidades virtuais e demais redes sociais porque, de alguma 9 forma, percebem certo valor que as faz querer interagir com os mesmos. Essa percepção de valor se dá por meio de postagens e conteúdos que são de interesse desse público, razão pela qual são cada vez mais compartilhados e seguidos. A base da formação das redes sociais está de acordo com os pressupostos de Guglio (2005), que define o ser humano por: • Racionalidade: comportamento movido pela razão; • Emocional: comportamento movido por afetos conscientes e inconscientes; • Social: comportamento movido pelas regras do grupo (Rezende, 2015). Assim, promover o relacionamento por meio de laços e interesses comuns baseados nas regras do grupo são inerentes ao ser humano. Essa promoção se dá por meio de conteúdos, os quais promovem a interação dos indivíduos nas redes sociais, por isso temos o objetivo de entender melhor o marketing de conteúdo. A web tornou-se uma fonte insubstituível para a criação do conhecimento e consumo e, comunidades online tornaram-se a nova forma de plataformas de socialização para o cumprimento de certas necessidades, como o fornecimento ou a aquisição de informação [...] (Seraj, 2012, p. 209) Esses laços comuns construídos ao longo das redes sociais, das plataformas on-line e das diversas formas de interação constroem o que chamamos de “capital social”, o qual tem como premissa a ideia do investimento nas relações sociais com a expectativa de retorno esperado, o que aumenta o valor das redes sociais (Rezende, 2015). Pensemos na seguinte analogia: o capital financeiro se dá por meio de retorno, em moeda, de um capital empregado. Nesse caso, da mesma forma, o capital social surge como um resultado da interação das relações e resultado positivo ou negativo dessas relações. Segundo Seraj, (2012), três conjuntos de valores constroem o valor da comunidade on-line, a saber: • Valor intelectual: são os aspectos que contribuem para a cocriação de conhecimento e a qualidade do conteúdo gerado. Em outras palavras, o valor intelectual é cocriado com a participação de profissionais e entusiastas, garante a manutenção de conteúdo ao adicionar comentários e opiniões à mensagem divulgada ou item visual, todos contribuem para o conteúdo gerado e a totalidade torna-se um ativo da comunidade virtual (Rezende, 2015); 10 • Valor social: estimula a qualidade do conteúdo e valores da comunidade virtual. Esse valor deve ter um ambiente interativo, o qual serve como experiência de conexão da comunidade, incluindo a participação, socialização e experiências comunitárias. Essa interatividade motiva as pessoas a se conectarem, desenvolvendo laços mais fortes e criando lealdade para com a comunidade (Rezende, 2015); • Valor cultural: caracteriza-se por um conjunto de valores, ideias, significados e símbolos que possibilitarão aos indivíduos se comunicarem, se interpretarem e se identificarem como membros de uma comunidade. Em outras palavras, é a identidade de compreensão do comportamento (Rezende, 2015). Em resumo, assim como no comportamento do mundo físico, o que faz um indivíduo participar de determinado grupo no ambiente virtual é motivado por aquilo que é produzido no grupo de interesse desse indivíduo (valor intelectual), a interatividade e o sentimento de pertença do grupo (valor social) e a identificação dos valores do indivíduo com os valores do grupo (valor cultural). Esses três pilares baseiam a interatividade, a qualidade e a forma com que os conteúdos são publicados em determinado ambiente virtual. Essas definições são congruentes com o Content Marketing Institute, o qual afirma que: O marketing de conteúdo é uma abordagem de marketing estratégica focada na criação e distribuição de conteúdo valioso, relevante e consistente paraatrair e reter um público claramente definido - e, em última análise, para impulsionar uma ação lucrativa do cliente. (CMI, 2020, livre tradução) Segundo CMI (2020), são três os motivos pelos quais as empresas devem utilizar o marketing de conteúdo: • Incremento de vendas; • Redução de custos; • Aumento da fidelidade dos clientes. Garritano (2017) reforça que o marketing de conteúdo não apresenta obstáculos, independentemente do tamanho da organização, permitindo que até pequenas empresas ou profissionais autônomos se beneficiem, utilizando-se da web como principal plataforma, com acesso até a ferramentas gratuitas para criação de sites, blogs ou perfis em redes sociais. O autor ainda destaca a diferença do marketing de conteúdo para a mídia paga, a saber: 11 Tabela 4 – Publicidade x Marketing de Conteúdo PUBLICIDADE MARKETING DE CONTEÚDO Requer investimentos em compra de mídia e produção: na maioria, acessível para grandes corporações Você é o proprietário da sua própria mídia (site, blog, canais de vídeo, perfis em redes sociais) Foco no curto prazo: duração das campanhas Foco no longo prazo: construção de confiança, autoridade O produto/serviço é o foco da comunicação: a fim de extrair o máximo de retorno do investimento realizado O produto/serviço não é o foco: 90% do orçamento é investido em conteúdos que educam, inspiram e entretém Tempo de exposição limitado (espaços de poucos segundos em veículos de mídia) e a mensagem praticamente desaparece com o fim da campanha Conteúdo continua disponível e pode ser localizado em resultados orgânicos de mecanismos de buscas (sem custo), compartilhado por usuários em redes sociais etc. Relação de apenas “uma via” Abertura de conversas com consumidores em “duas vias” Fonte: Garritano, 2017. As vantagens são muitas em relação ao marketing de conteúdo, entretanto, é necessário que haja uma estratégia definida e documentada dos conteúdos a serem postados. Abaixo, vemos uma guia de orientação para o marketing de conteúdo: Figura 2 – Marketing de conteúdo Fonte: Pulizzi, 2011. Segundo a figura, existem sete passos para uma organização trabalhar com o marketing de conteúdo (Pulizzi, 2011), a saber: 12 1. Conhecimento da marca: nessa etapa, é necessário conscientizar os indivíduos sobre seu produto ou serviço. Por ser orgânico, essa estratégia pode gerar engajamento com sua marca; 2. Conversão e nutrição de leads: a organização (por meio da troca de conteúdo envolvente) encoraja os indivíduos a fornecerem informações suficientes para que ela tenha permissão para “comercializar” para eles; 3. Relacionamento com o consumidor: nessa etapa, o objetivo é converter em clientes, assim, profissionais de marketing podem ilustrar para o cliente em potencial por que sua solução é melhor ou atenderá de forma exclusiva às suas necessidades; 4. Serviço ao consumidor: as organizações devem usar o conteúdo para criar valor ou reforçar a decisão do cliente após a venda. Exemplo: as melhores práticas de como usar seu produto ou serviço; 5. Retenção e lealdade do consumidor: o objetivo aqui é transformar clientes em assinantes apaixonados que compartilham suas histórias e experiências de contato com sua marca, produto ou serviço; 6. Novas vendas: aqui a organização deve criar engajamento contínuo para os outros produtos e serviços que oferece. Comunique-se com os clientes com mais frequência e envolva-os com valor adicional; 7. Clientes apaixonados: aqui, o conteúdo – e, especialmente, o conteúdo gerado por clientes satisfeitos – é a maneira mais poderosa de atingir qualquer objetivo de negócios. É quando o marketing de conteúdo começa a trabalhar de forma exponencial. O objetivo final é criar uma comunidade de evangelistas preparados para defender sua marca. Os passos vistos acima traduzem com sucesso a forma de se trabalhar com o marketing de conteúdo e como utilizá-lo de forma estratégica na organização. Nota-se que o marketing de conteúdo possui uma atuação maior do que somente o Inbound marketing (que falaremos a seguir), pois ele torna a experiência de compra do usuário mais atraente. TEMA 4 – INBOUND E OUTBOND MARKETING Podemos afirmar que o consumo dos indivíduos nos dias atuais está associado a informações sobre produtos ou serviços, seja por meio da mídia ou por indicação, o conhecido WOW (boca a boca). A indicação de usuários e o 13 referencial positivo de consumo de outro indivíduo é uma ferramenta forte para a propagação da marca, dos produtos ou serviços de uma organização. A web é, sem dúvida, a principal fonte de consulta na busca por produtos e serviços, havendo muitas estratégias das organizações para se chegar ao consumidor. Além disso, “a percepção do público fica cada vez mais apurada à medida que surgem novas formas de obter informação” (Moreira Junior, 2018, p. 2). Dessa forma, em um cenário no qual o indivíduo tem o poder de decisão e escolha, as organizações precisam utilizar estratégias diferenciadas para chamar a sua atenção e ter relevância na decisão do indivíduo. Basicamente, duas estratégias são necessárias, o inbound e o outbound, que veremos a seguir. 4.1 Inbound marketing O inbound marketing parte do princípio de que devemos ter as métricas de SEO (Search Engine Optmization), ou Otimização do Motor de Busca, que se traduz em um conjunto de técnicas para melhorar o resultado orgânico do Google. O inbound tomou maiores proporções nos últimos anos e as organizações descobriram que investimento em inbound que não está relacionado à compra de mídia na web traz resultados mais consistentes, porém, são de longo prazo, necessitando de investimento e conhecimento para levar o conteúdo certo até a pessoa certa, no momento que ela necessita. Uma estratégia de Inbound Marketing é baseada em 3 pontos: Momento, lugar e conteúdo. São esses os princípios que norteiam a prática do Inbound Marketing. Uma boa estratégia deve sempre levar em consideração que o objetivo é entregar o conteúdo certo, no momento certo e no lugar certo para que seu cliente ou lead se encante com uma empresa ou marca. (Moreira Junior, 2018, p. 5) São quatro os pilares que devemos considerar numa estratégia de inbound: 1) geração de tráfego; 2) geração de leads; 3) conversão; e 4) análise e mensuração dos resultados. Moreira Junior (2018) destaca algumas técnicas mais comuns de inbound: • Blogs: constituem um ambiente que leva conteúdo específico aos indivíduos. É necessário fazer a gestão de conteúdos e estar preparado para interagir com os ingressantes no blog; • Keywords: são as palavras-chave que identificam uma página ou conteúdo. As palavras-chave devem ser trabalhadas nas páginas 14 institucionais, como home e contatos, e nas páginas de produtos e conteúdo específico; • Otimização em buscadores: são as técnicas que têm por objetivo melhorar o posicionamento do site nos resultados de busca orgânica. Assim, devemos tomar todos os cuidados necessários e ficar atentos à taxa de abandono de nosso site, além de verificar se as campanhas estão gerando tráfego; • Redes sociais: a estratégia de rede social deve ser bem planejada. Segundo Rezende (2015), os três valores indicados por Seraj (2012) são consistentes para que as pessoas determinem o valor da rede social e sigam a empresa até o final, a fim de realizarem negócio. São eles: 1. valores sociais: ações que a empresa realiza para promover a interação dos indivíduos da rede social; 2. valores intelectuais: conteúdos postados por técnicos e conhecedores que promovem o conhecimento; 3. valores culturais: como sua empresa age e sobre o que ela pensa; • Re-marketing ou re-targeting: segundo Gabriel (2010), “trata-se de apresentar o anúncio de um produto a um consumidor individual após ele ter manifestado algum tipo de interesse nesse produto em ocasiõesanteriores”. A ferramenta de re-marketing grava seu cookie, que é um identificador do indivíduo, assim, quando ele acessa um site parceiro de publicidade, é possível apresentar um anúncio do produto por meio do histórico de navegação do usuário; • Formulários: são encontrados em páginas da internet para disponibilizar conteúdo ao usuário mediante preenchimento de dados de contato; • Landing Pages: são páginas de conversão ou de lançamento de algum produto específico, entregam o conteúdo de busca do usuário diretamente; • CTA: call to action é uma chamada para ação de conversão que deve estar disposta nos materiais de comunicação, disponibilizando um canal direto para resposta; • CRM: Customer Relationship Management deve ser utilizada para qualificação do lead e para desenhar o processo de compra do usuário, entregando a melhor experiência a fim de fidelizá-lo; 15 • Workflows: automatizam as ações de Marketing, entregando a informação correta ao lead, considerando o estágio do funil de compras no qual este se encontra. Técnicas de pull (inbound) e push (outbound) devem ser utilizadas de forma conjunta, pois uma técnica complementa a outra e devem ser utilizadas em maior ou menor relevância, dependendo do período e objetivo a que se propõe. 4.2 Outbound marketing O outbound marketing, ou push marketing, é direcionado para vendas de curto prazo, necessita de ações de mídia paga e um grande esforço financeiro. Podemos dizer que esse é um processo mais tradicional do marketing. Enquanto o inbound gera interesse do público por meio de conteúdo e este vem para seu site como resultado desse interesse, no outbound o conteúdo é levado ao público por meio de anúncios pagos. Os métodos de outbond marketing incluem: • Google ads: existem basicamente 5 tipos de anúncios possíveis nessa modalidade. Anúncios na rede de displays, na rede de pesquisas, anúncios no Youtube, no Google Shopping e campanhas de APPs. “É uma das estratégias off-page de SEM” (Gabriel, 2010, p. 351) e trata-se de uma compra de mídia web. Devemos utilizar essa técnica quando temos novos produtos em campanhas promocionais, ou quando queremos aumentar o resultado em vendas ou promover um produto ou serviço. Figura 3 – Tipos de campanhas do Google Ads Fonte: Google, [S.d.]. • Callcenter: é importante ter uma estratégia bem definida, assim como uma régua de contatos bem desenhada, considerando o funil de vendas com as mensagens bem definidas. A operação de um callcenter exige a 16 implantação de um software de CRM para automatizar a operação e garantir não somente os resultados, mas também o controle da operação; • SMS: assim como o callcenter, o SMS é utilizado como uma ferramenta de apoio para as ações de contato. O SMS é uma mensagem curta, de no máximo 156 caracteres, assim, ela deve ser direta e o mais precisa possível; • E-mail marketing: uma das principais ferramentas de contato com o indivíduo, deve estar integrada ao processo de vendas a fim de converter o lead em cliente. O site E-mail Manager listou 50 técnicas de boas práticas para disparo de e-mail marketing, das quais listamos as 10 principais aqui: 1. Pense na linha do assunto: embora pareça simples e óbvio, é necessário dar a devida importância ao assunto do e-mail. Ela influencia as taxas de abertura; 2. Evite remetentes genéricos: e-mails enviados com remetentes personalizados e reais são mais confiáveis. Coloque no remente o nome de uma pessoa e não o nome da empresa; 3. Inclua links no seu texto e imagens: links externos aumentam suas chances de engajamento e conversão. Pense que nesse material deve conter as informações ou os caminhos necessários para o cliente chegar no que necessita; 4. Inclua imagens no corpo do e-mail: imagens dão vida aos e-mails e influenciam o resultado. Não utilize imagens tipo GIF, JPEG ou similares, utilize HTML para não ter problemas com spam com arquivos carregados; 5. Aparelhos móveis: designs responsivos garantem que os e-mails serão lidos em qualquer aparelho, a qualquer hora; 6. Combine com estratégias móveis: e-mails e SMS são uma boa tática para dobrar as suas chances de contato; 7. Evite anexar arquivos: anexos diminuem a entrega dos e-mails e você não pode acompanhar quem abriu ou não o seu arquivo; 8. Use áudio em seus e-mails: vídeos, gifs e áudios devem ser usados de forma criativa. Divirta seu leitor, clipes de áudio são uma boa forma de encorajá-los a compartilhar o e-mail; 9. Reenvie e-mails que não foram abertos: o seu cliente pode não ter lido o seu e-mail, então talvez seja válido tentar de novo; 17 10. Use um serviço de e-mail marketing: usar um serviço de e-mail marketing tem inúmeros benefícios, pois você pode acompanhar os seus resultados, segmentar suas listas, personalizar seus e-mails, enviar autorrespostas e muito mais (Redação Emailmanager, 2016). Acima de tudo, ao se trabalhar com e-mail marketing, devemos utilizar o bom senso. Não envie o que não gostaria de receber, não seja inconveniente e deixe sempre um botão que faça o cancelamento da assinatura do e-mail. Caso o indivíduo selecione essa opção, respeite. Da mesma forma, utilize as boas práticas de ética na sua comunicação, não desperdice dinheiro, então analise os horários de pico de sua audiência para que seu investimento e esforço não seja desperdiçado. TEMA 5 – MARKETING DE BUSCA Gabriel (2010, p. 210) destaca que no ambiente digital on-line, as buscas são feitas por meio de search engines, mais conhecidos como buscadores. Segundo a autora, search engine “é um sistema de recuperação de informações que tem finalidade específica de auxiliar na busca de informações armazenadas em sistemas computacionais” (Gabriel, 2010, p. 210). Além de buscadores tradicionais, novas ferramentas e aplicativos foram lançados com finalidades específicas para localizar produtos e serviços, e todos se apropriam de tecnologias de geolocalização para entregar o resultado de busca próximo ao usuário. Da mesma forma, as plataformas de redes sociais se apropriaram dessas ferramentas a fim de entregar uma melhor experiência aos usuários. Os indivíduos sempre recorreram a buscadores na busca por produtos ou serviços, ou mesmo para identificar contatos de pessoas, empresas ou instituições. Mesmo antes do advento da web, as listas telefônicas eram os buscadores físicos usados para suprir alguma necessidade de informação. As páginas amarelas (classificados) das listas telefônicas eram organizadas por produtos ou serviços, já reforçando a necessidade de busca desses itens pelos indivíduos. Os buscadores na web substituíram essas listas e trouxeram para o digital o mesmo serviço, buscando categorizar e facilitar a busca dos usuários. Ainda que não tenha o diretório à vista como na lista impressa, a lógica e uso da taxonomia é imprescindível na construção dos buscadores. 18 Uma pesquisa realizada em maio de 2020 pela agência Opinion Box traz o perfil do usuário brasileiro com relação a hábitos de pesquisa por informações, produtos e assuntos diversos. Para o resultado, foram realizadas 3.299 entrevistas on-line com homens e mulheres acima de 16 anos em todo o Brasil. Figura 4 – Distribuição dos hábitos de pesquisa Fonte: Bazon, 2020. A pesquisa foi assim organizada por representar a distribuição de internautas no Brasil. Nela, foi levantado que os dispositivos móveis foram responsáveis por 85% das pesquisa realizadas, sendo que a maioria dos entrevistados faz em média 5 pesquisas por dia, seja por texto ou por voz. Gráfico 3 – Quantidade de pesquisas por dia Fonte: Bazon, 2020. A busca por informações diversas aparece com destaque, porém, na sequência, a busca por produtos e serviços supera a busca por assuntos gerais. 19 Figura 5 – Principal finalidade das buscas Fonte: Bazon, 2020. Quantoaos buscadores, o Google aparece disparado na liderança como a principal ferramenta de busca. Figura 6 – Principais canais de busca Fonte: Bazon, 2020. A pesquisa também revelou que 18,8% das pessoas não fizeram nenhum tipo de pesquisa antes de comprar, ao passo que 81,2% fizeram algum tipo de pesquisa antes de ir às compras. 28,9% das pessoas fizeram uma pesquisa no Google ou outro buscador antes de ir até a loja física. A pesquisa também revelou que somente 7,7% das pessoas nunca fizeram compras on-line e que 53,4% 20 realizaram compras nos últimos 30 dias da pesquisa. Esse número vai para 56% quando a compra foi especificamente pelo smartphone. Em relação ao comportamento de busca, 61% dos indivíduos rolam a página de resultado até o final. O que chama a atenção é que somente 21% dos indivíduos vai para a segunda página de resultados e 44% das pessoas não clicam nos anúncios, ou seja, o resultado orgânico é altamente relevante para a grande maioria dos usuários e reforça a importância de se utilizar as técnicas de inbound marketing. Além da confirmação da importância do inbound marketing, devemos olhar para outras perspectivas, como o uso do Youtube como buscador de informações, a pouca adesão a anúncios nas respostas do Google, o uso de voz para pesquisas em vez de digitação, além do grande percentual do uso de dispositivos móveis. Esses pontos são importantes na orientação do comportamento do consumidor quanto ao uso das plataformas de busca, pois mostram o quanto as organizações deverão estar preparadas para atender a essas demandas da mudança do comportamento. 21 REFERÊNCIAS AMARAL, S. A. Os 4Ps do Composto de Marketing na Literatura da Ciência da Informação. Transinformação, v. 12, n. 2, p. 51-60, jul./dez. 2020. 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