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Fonte: elaborado com base em Atlas do Agronegócio, 2018. Disponível em: https://br.boell.org/sites/default/� les/ atlas_agro_� nal_06-09.pdf. Acesso em: 28 jul. 2020. Comissão Pastoral da Terra – Massacres no campo https://www.cpt nacional.org.br/ mnc/index.php O site disponibiliza um memorial dos episódios de violência no campo ocorridos no Brasil. F I C A A D I C A O conhecimento dos povos tradicionais tem sido valorizado como modelo socio- econômico alternativo ao imposto pela lógica capitalista do agronegócio, do lati- fúndio e da monocultura. Simultaneamente se reconhece o papel dessa população na promoção da agrobiodiversidade. Isso ocorre sobretudo por causa da emergên- cia da agroecologia, que congrega características de ciência, práticas e movimento social, para promover e orientar produção e consumo sustentáveis, com o objetivo de garantir qualidade de alimentos e saúde. A agroecologia estimula a busca de redução da perda genética das espécies. Um exemplo são os esforços para a proteção das sementes crioulas, ou seja, varieda- des tradicionais que sofreram melhoramentos a partir de práticas camponesas de produção, sem o uso de agrotóxicos, fertilizantes industriais, etc. Esse processo teve início há aproximadamente 10 mil anos, quando as mulheres faziam a seleção das sementes na natureza. Os sistemas agroflorestais também merecem atenção. Praticados por agricultores no mundo todo há milhares de anos, eles estão sendo revalorizados. Na agrofloresta, busca-se produzir em consonância com a natureza, cultivam-se muitas variedades juntas, e a poda da vegetação é utilizada para cobrir o solo (o que garante a conser- vação da umidade e o fornecimento de nutrientes pelo processo de decomposição). Por se basear na policultura e priorizar a manutenção e o cultivo de espécies nativas, esse sistema agrícola é menos danoso à fauna local. Em alguns casos, é associa- do à criação de animais. Entre as vantagens do sistema agrofl orestal estão o controle da erosão dos solos, a efi ciência na ciclagem dos nutrientes, a manutenção da biodiversidade e a redução da necessidade de desmatar para produzir. Foto em São José dos Campos, São Paulo, 2019. BRASIL: TERRAS INDÍGENAS QUE AGUARDAM CONCLUSÃO DE DEMARCAÇÃO (2018) Região Nordeste Nessa região, 31 terras indígenas estão em processo demarcatório, entre elas a TI Jeripancó, que aguarda há 25 anos a conclusão dos estudos de identi�cação da área. Região Sul São 48 terras indígenas em demarcação nos estados do Sul do Brasil. Boa parte delas aguarda há mais de dez anos a �nalização de estudos de identi�cação. Amazônia Legal Nessa região, 85 terras indígenas aguardam a �nalização de processos de reconhecimento. A região, palco de grandes projetos infraestruturais e megaextrativistas, é também onde há o maior número de terras indígenas à espera de homologação. Mato Grosso do Sul Estado com um dos cenários mais críticos do país, por conta dos casos de violência: 26 terras indígenas aguardam a �nalização de processos de demarcação. Equador 55° O 0° OCEANO ATLÂNTICOOCEANO PACÍFICO Trópico de Capricórnio 0 525 km Terras indígenas aguardando conclusão de demarcação Amazônia Legal Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress P o rt a l d e M a p a s /A rq u iv o d a e d it o ra 53 V3_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap2_036a057_LA.indd 53V3_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap2_036a057_LA.indd 53 9/27/20 12:58 PM9/27/20 12:58 PM A agricultura orgânica também visa preservar a agrobiodiversidade e os ciclos biológicos naturais, sem a utilização de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos ou trans- gênicos. Nos últimos anos, tem crescido a produção de alimentos dessa natureza. Como são produzidos em pequena ou média escala, esses alimentos alcançam um maior valor no mercado, tornando-se uma boa alternativa para a agricultura familiar. Em algumas regiões do país, tem crescido a relação entre o consumidor (que reside na cidade) e os produtores (que moram no campo). São as chamadas Comuni- dades que Sustentam a Agricultura (CSA). Por meio do pagamento de um valor men- sal, os consumidores financiam a produção e recebem toda semana uma cesta de produtos orgânicos variados, de acordo com a estação. Assim, o cliente se torna um coagricultor e pode, inclusive, fazer visitas periódicas à propriedade para participar do plantio, da colheita e de mutirões. As CSA elevam a renda do produtor, promovem a valorização de produtos locais e causam menos impactos ao meio ambiente. QUESTÕES EM FOCO Agronegócio, alimentação e ética A alimentação é uma questão ética? O agronegócio tem o poder de determinar o que comemos? Que práticas alimentares podemos adotar para contribuir com a sustentabilidade socioambiental da produção de alimentos? Leia os textos a seguir para refletir sobre essas questões. T E X T O I É fácil discernir as linhas gerais de uma ética verdadeiramente ambientalista. Ao seu nível mais fundamental, uma tal ética promove a consideração pelos interesses de todas as criaturas sencientes, incluindo as gerações subsequentes que se projetam no futuro distante. É acompanhada por uma estética de apreço pelos lugares selvagens e pela natureza intacta. […] Uma ética do meio ambiente rejeita os ideais de uma sociedade materialista [...]. Em seu lugar, ajuíza o êxito em termos do desenvolvimento das potencialidades de cada qual e da conquista da autorrealização e da felicidade. Promove a frugalidade, na medida em que é necessária para minimizar a poluição e garantir que tudo pode ser reutilizado vezes sem conta. […] No que diz respeito à alimentação, a grande extra- vagância não é o caviar ou as trufas, mas a carne de vaca, a carne de porco e o frango. Cerca de 38% da produção mundial de cereais serve atual- mente para alimentar animais, assim como grande quantidade de soja. Há três vezes mais animais domésticos neste planeta que seres humanos. […] Os fertilizantes químicos usados para a produ- ção de rações para o gado e os porcos e galinhas criados em recintos fechados produzem óxido nitroso, outro gás que causa o efeito de estu- fa. Depois há a perda das florestas. Por todo o lado, os habitantes das florestas, tanto humanos como não humanos, estão a ser escorraçados. SINGER, P. ƒtica pr‡tica. Lisboa: Gradiva, 1993. p. 191. T E X T O I I Quando a cineasta galega Xiana do Teixeiro faz as compras, seu critério ao encher a sacola tem pouco a ver com o preço ou a marca. Busca alimentos sazonais, que sejam produzidos nos arredores e de modo responsável. Aposta na venda a granel e em marcas que incentivem a reutilização de embalagens. Não se aproxima dos plásticos descartáveis. “A saúde do planeta é a minha primeira preocupação quando se trata de consumo”, diz, em Cabanas, uma pequena cidade da Corunha localizada na foz do Pontedeume. Sua dieta não é saudável só para ela, também é para o restante do ecossistema e, sem saber, ela faz parte do grupo de pessoas conhecidas como climatolarians. É assim que são chamados os que “escolhem o que comer de acordo com o que for menos nocivo ao meio ambiente”, de acordo com a definição do britânico Cambridge Dictionary.” SÁNCHEZ, Nacho. Nem vegano nem onívoro: para ser respeitoso com o planeta é preciso comer como um ‘climatarian’. El País, Meio Ambiente, 30 ago. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/26/ estilo/1566830849_215631.html. Acesso em: 28 jul. 2020. ■ Com base nesses textos e em seus conhecimen- tos, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “Impasses ético-políticos das trans- formações tecnológicas no mundo rural e alimen- tação”. Apresente uma proposta de intervenção que respeite os princípios de sustentabilidade socioambiental e os direitos humanos. Brasil orgânico Direção de Kátia Klock e Lícia Brancher. Brasil, 2013. Duração: 58 min. O documentário mostra como os alimentos orgânicos são produzidos e como chegamà mesa do consumidor, trazendo histórias de pessoas que têm a agricultura orgânica como princípio. F I C A A D I C A 54 V3_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap2_036a057_LA.indd 54V3_CIE_HUM_Vainfas_g21Sa_Cap2_036a057_LA.indd 54 9/27/20 12:58 PM9/27/20 12:58 PM