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ANálISE DE MERCADOS CONSUMIDORES | cAPÍtuLo 6 177176 pARTE 3 | CONEXÃO COM OS ClIENTES As decisões de compra são igualmente influenciadas por valores centrais, o sistema de cren- ças que embasa as atitudes e o comportamento do consumidor. Os valores centrais estão em um nível mais profundo do que o comportamento ou a atitude e determinam fundamentalmente as escolhas e os desejos das pessoas no longo prazo. Os profissionais de marketing que buscam atrair consumidores com base em seus valores acreditam que, ao apelar para o subconsciente das pessoas, é possível influenciar seu consciente — isto é, seu comportamento de compra. Principais fatores psicológicos O ponto de partida para compreender o comportamento do comprador é o modelo de estímulo e resposta mostrado na Figura 6.1. Estímulos ambientais e de marketing penetram no conscien- te do comprador, e um conjunto de fatores psicológicos combinado a determinadas caracterís- ticas o leva a processos de decisão e decisões de compra. A tarefa do profissional de marketing é entender o que acontece no consciente do comprador entre a chegada do estímulo externo e a decisão de compra. Quatro fatores psicológicos — motivação, percepção, aprendizagem e memória — influenciam a reação do consumidor aos estímulos de marketing. Figura 6.1 Modelo do comportamento do consumidor Estímulos de marketing Bens e serviços Preço Distribuição Comunicação Processo de decisão de compra Decisões de compra Escolha do produto Escolha da marca Escolha do revendedor Montante de compra Momento da compra Forma de pagamento Outros estímulos Econômico Tecnológico Político Cultural Psicologia do consumidor Motivação Percepção Aprendizagem Memória Características do consumidor Culturais Sociais Pessoais Reconhecimento do problema Busca de informações Avaliação de alternativas Decisões de compra Comportamento pós-compra moTivação Cada um de nós possui diversas necessidades o tempo todo. Algumas delas são biogênicas; surgem de estados de tensão fisiológicos, como fome, sede ou desconforto. Outras necessidades são psicológicas, decorrentes de estados de tensão psicológicos, como necessidade de reconhe- cimento, estima ou pertencimento. Uma necessidade passa a ser um motivo quando alcança um nível de intensidade suficiente para levar uma pessoa a agir. A motivação possui tanto um direcionamento — selecionamos um objetivo em detrimento de outro — como uma intensida- de — perseguimos um objetivo com mais ou menos vigor. Três das mais conhecidas teorias sobre a motivação humana — as de Sigmund Freud, Abraham Maslow e Frederick Herzberg — trazem implicações bem diferentes para a análise do consumidor e a estratégia de marketing. A TEORIA DE FREUD Sigmund Freud concluiu que as forças psicológicas que formam o comportamento dos indivíduos são basicamente inconscientes e que ninguém chega a en- tender por completo as próprias motivações. Quando uma pessoa avalia marcas, reage não somente às possibilidades declaradas dessas marcas, mas também a outros sinais menos conscientes, como forma, tamanho, peso, material, cor e nome. Uma técnica chamada lad dering permite traçar as motivações de uma pessoa, desde as declaradas até as mais profun- das. Assim, o profissional de marketing pode decidir em que nível desenvolver a mensagem e o apelo.35 BOOK_KOTLER_OK.indb 176 05/12/18 18:41 ANálISE DE MERCADOS CONSUMIDORES | cAPÍtuLo 6 177 Os pesquisadores da motivação geralmente realizam entrevistas em profundidade com al- gumas dezenas de consumidores a fim de descobrir os motivos mais profundos desencadeados por um produto. Eles usam várias técnicas projetivas, como associação de palavras, comple- mentação de sentenças, interpretação de imagens e simulação, muitas delas introduzidas por Ernest Dichter, um psicólogo vienense que viveu nos Estados Unidos.36 A partir de suas pesquisas, Dichter concluiu que, para as mulheres, tirar um bolo do forno era como ‘dar à luz’. Visto que deixar a elas apenas a tarefa de adicionar água a uma mistura de bolo poderia parecer marginalizar seu papel, os estudos do psicólogo sugeriram fazer com que também adicionassem um ovo — símbolo de fertilidade —, uma prática que se sustenta até os dias de hoje.37 Outro pesquisador da motivação, o antropólogo cultural Clotaire Rapaille, estuda como des- vendar o ‘código’ por trás do comportamento do consumidor em relação aos produtos — o signi- ficado inconsciente que as pessoas atribuem a determinada oferta de mercado. Rapaille trabalhou para a Boeing em seu 787 Dreamliner para identificar recursos no interior do avião que tivessem um apelo universal. Com base, em parte, na pesquisa dele, o Dreamliner tem um foyer espaçoso; compartimentos de bagagem maiores e curvilíneos mais próximos do teto; janelas maiores, escure- cidas eletronicamente; e um teto iluminado discretamente por LEDs ocultos.38 A TEORIA DE MASLOW Abraham Maslow queria explicar por que os indivíduos são mo- tivados por determinadas necessidades em determinados momentos.39 Ele concluiu que as necessidades humanas são dispostas em hierarquia, da mais urgente para a menos urgente — necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de estima e necessidades de autorrealização (Figura 6.2). As pessoas tentam satisfazer as mais importantes em primeiro lugar, e depois vão em busca da satisfação da próxima necessidade. Por exemplo, um homem passando fome (necessidade 1) não tem interesse pelos últimos acontecimentos do mundo da arte (necessidade 5), não quer saber como é visto pelos outros (necessidade 3 ou 4), tampouco está preocupado com a qualidade do ar que respira (neces- sidade 2). Mas, quando ele dispõe de comida e água suficientes, a próxima necessidade mais importante torna-se relevante. A TEORIA DE HERZBERG Frederick Herzberg desenvolveu a teoria de dois fatores, que dis- tingue os insatisfatores (fatores que causam insatisfação) e os satisfatores (fatores que causam satisfação).40 A ausência de insatisfatores não basta para motivar uma compra; os satisfatores devem estar claramente presentes. Por exemplo, um computador que não tem garantia implica um insatisfator. Contudo, a garantia não funciona como um satisfator ou motivador de compra porque não é uma fonte de satisfação intrínseca. A facilidade de uso seria um satisfator. A teoria de Herzberg possui duas implicações. Primeiro, os vendedores devem fazer o pos- sível para evitar os insatisfatores (por exemplo, um manual de instruções de má qualidade ou uma política de atendimento precária). Embora esses elementos não sejam o que vende um pro- duto, podem perfeitamente ser aqueles que evitam que ele seja vendido. Segundo, o fabricante deve identificar os principais satisfatores ou motivadores de compra no mercado e fornecê-los. c ré di to : © j oh n k ea te s/ al am y. uma pesquisa motivacional profunda sobre o significado dos produtos ajudou a Boeing a projetar seu 787 dreamliner. BOOK_KOTLER_OK.indb 177 05/12/18 18:41 ANálISE DE MERCADOS CONSUMIDORES | cAPÍtuLo 6 179178 pARTE 3 | CONEXÃO COM OS ClIENTES percepção Uma pessoa motivada está pronta para agir — o modo como ela agirá é influenciado pela percep- ção que ela tem da situação. No marketing, as percepções são mais importantes do que a realidade porque elas afetam o comportamento real do consumidor. Percepção é o processo de seleção, organização e interpretação das informações recebidas para criar uma imagem significativa do mundo.41 Os consumidores percebem diversos tipos de informação por meio de seus sentidos, conforme examinado na seção Memorando de marketing: O poder do marketing sensorial. Figura 6.2 Hierarquia das necessidades de Maslow Necessidades �siológicas (comida, água, abrigo) Necessidades de segurança (segurança, proteção) Necessidades sociais (sensação de pertencimento, amor) Necessidades de estima (autoestima, reconhecimento, status) Necessida- des de autor- realização (desenvolvimentoe realizações pessoais) 1 2 3 4 5 Fonte: mASLoW, A. H. Motivation and personality. 3. ed. upper Saddle river, nJ: Prentice Hall, 1987. impresso e reproduzido eletro- nicamente com permissão de Pearson education, inc., upper Saddle river, nJ. M E M O r a n d O d E Marketing o poder do mArketing sensoriAl o marketing sensorial foi definido como aquele que “envolve os sentidos dos consumidores e afeta sua percepção, julgamento e comportamento”. em outras palavras, significa aplicar a compreensão da sensação e da percepção ao campo do marketing. os cinco sentidos podem ser envol- vidos no marketing sensorial: visão, audição, olfato, paladar e tato. em um artigo de 2012 do Journal of Consumer Psychology, Aradhna Krishna apresenta uma excelente análise das pesquisas acadêmicas que rapida- mente se multiplicam sobre esse tema. Ao fazê-lo, ela observa: “dada a gama de apelos de marketing explíci- tos apresentados aos consumidores todos os dias, os ‘desencadean- tes’ subconscientes que podem atrair os sentidos básicos podem ser uma maneira mais eficiente de engajar os consumidores”. em outras palavras, as próprias inferências dos consumidores sobre os atributos de um produto podem ser mais persuasivas, ao menos em alguns ca- sos, do que as reivindicações explícitas de um anunciante. Krishna argumenta que os efeitos do marketing sensorial podem ma- nifestar-se de duas formas principais. Primeiro, o marketing sensorial pode ser usado subconscientemente para moldar as percepções do consumidor das qualidades mais abstratas de um bem ou serviço (por exemplo, diferentes aspectos de sua personalidade de marca, como sofisticação, robustez, cordialidade, qualidade e modernida- de). Segundo, o marketing sensorial também pode ser usado para afetar as percepções de atributos específicos de bens ou serviços, como cor, gosto, cheiro ou forma. certamente, os profissionais de marketing reconhecem a importância do marketing sensorial. muitos hotéis, varejistas e outros estabeleci- mentos de serviços usam fragrâncias personalizadas para definir um estado de espírito e, assim, distinguir-se perante a concorrência. o aroma de chá branco da rede hoteleira Westin fez tanto sucesso que a empresa começou a vendê-lo para uso residencial. embora nBc, intel e Yahoo! tenham conseguido registrar os jingles (ou yodels) de sua marca, a Harley-davidson não conseguiu fazer a mesma coisa com o ronco distintivo de seu motor. nas embalagens, as empresas tentam encontrar formatos que sejam agradáveis ao toque e, na propaganda de alimentos, representações visuais e verbais tentam estimular as pa- pilas gustativas dos consumidores. BOOK_KOTLER_OK.indb 178 05/12/18 18:41 Administração de marketing Parte 3: Conexão com os clientes Capítulo 6 – Análise de mercados consumidores Principais fatores psicológicos