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CONTROLADORES LÓGICOS PROGRAMÁVEIS AULA 4 Profª Carla de Lara 2 CONVERSA INICIAL Começaremos esta etapa tratando a respeito das interfaces de comunicação que podem ser implantadas com os controladores lógicos programáveis para otimizar a comunicação entre o sistema e o operador. Em seguida, veremos como esses dispositivos podem ser programados e quais suas relações com os demais elementos de um sistema automatizado. Abordaremos a instalação de inversores de frequência com o controlador lógico programável, a fim de realizar a interface dos inversores com o Controle Lógico Programável (CLP). Na sequência, analisamos os relés de interface, que, como o próprio nome sugere, são destinados ao interfaceamento do CLP com os sensores e atuadores. Por fim, estudaremos os relés inteligentes, que podem ser considerados como tipos de CLPs compactos, sendo esses utilizados em aplicações de pequeno porte. TEMA 1 – INTERFACE HOMEM-MÁQUINA (IHM) Nossos estudos iniciaram-se com as interfaces homem-máquina (IHMs), que podemos definir como ferramentas ou dispositivos que facilitam a comunicação dos operadores com as máquinas. Além do nome IHM, elas são conhecidas por outras nomenclaturas, como MMI, que se trata da sigla do nome em inglês man-machine interface, GUI (graphical user interface – interface gráfica do usuário) e OIT (operator interface terminal – terminal de interface do usuário). Porém, mesmo com esses diversos nomes, sempre estão referidos aos dispositivos de comunicação entre usuário e máquinas. O uso de interfaces para usuários está cada vez mais presente não só na indústria, mas também na sociedade como um todo. É impossível não pensarmos nas diversas interfaces que fazem parte do nosso dia a dia. Como exemplo, podemos citar o uso de dispositivos como totens em restaurantes, nos quais podemos fazer o pedido da refeição que desejamos e o sistema envia para a cozinha. Outros ambientes em que as interfaces são muito comuns são os bancos, nos quais elas podem ser empregadas desde a triagem no atendimento ao cliente até os caixas eletrônicos. Portanto, podemos perceber que é cada vez mais comum o uso desses dispositivos em todos os ambientes. 3 Na Figura 1 está representada uma aplicação de IHM para um sistema de segurança, no qual o usuário pode observar as imagens obtidas por uma câmera de segurança em uma tela que contém, além da imagem, outras funcionalidades. Com isso, podemos verificar que as IHMs estão presentes nos mais diversos tipos de ambientes, sendo utilizadas em diferentes aplicações. Figura 1 – Exemplo de aplicação de IHM Crédito: metamorworks/Shutterstock. Na indústria não poderia ser diferente, pois é fundamental que os operadores façam intervenções nas máquinas que controlam para ativar dispositivos ou processos, além de obter informações sobre eles. Quando não tínhamos IHMs tão desenvolvidas como hoje, era comum o uso de botoeiras, chaves e sinalizadores para realizar essas intervenções. Entretanto, conforme discutido por Lamb (2015), os avanços tecnológicos permitiram a substituição dos equipamentos mencionados anteriormente por textos dedicados e displays gráficos, empregando teclados equipados com botões de membrana e telas sensíveis ao toque (touch screens). Existem diferentes tipos de interfaces no ambiente industrial, como os computadores industriais munidos de monitor com teclado e mouse para comunicação com os processos. Porém, é comum a presença de IHMs nos dispositivos, inclusive no CLP, que é nosso objeto de estudo. Dependendo do 4 fabricante ou do modelo, as IHMs presentes no CLP podem assumir diferentes características, por isso, estudaremos as diferentes possibilidades para essa funcionalidade. Independentemente do modelo de IHM, temos que ela apresenta duas partes básicas, sendo elas os componentes de hardware (parte física) e os componentes de software, os quais se referem à lógica de funcionamento. A IHM oferece duas funções principais, além da comunicação com o operador. • Entrada: permite o envio de comandos, sinais ou dados para o sistema ou controlador por parte do usuário; • Saída: permite que o sistema controle os efeitos da manipulação dos usuários por meio de envio de comandos aos atuadores. O principal objetivo da utilização de IHMs é permitir a operação da máquina de uma forma mais simplificada e eficaz. O operador precisa oferecer parâmetros de entrada para que as funções sejam executadas. Por outro lado, a IHM deve oferecer as informações necessárias de resposta ao operador. Esses fatores influenciam diretamente no planejamento das informações que serão trabalhadas nos menus das IHMs, que devem ser otimizadas a fim de permitir a melhor comunicação possível entre operador e sistema. Nas seções a seguir, analisaremos algumas possibilidades de IHMs empregadas nos sistemas automatizados. 1.1 Interfaces baseadas em texto As interfaces baseadas em texto consistem na exposição de informações referentes às instruções ou estados de máquina ao operador por meio de dispositivos que exibem textos, como display. Além disso, esses sistemas podem ou não conter botões para interação entre o sistema e o usuário. Existem diferentes opções de display que podem ser empregados nesse tipo de interface, como o de LCD e de LED, sendo um exemplo desse o apresentado na Figura 2, por meio da qual podemos observar um painel de LED. O uso de painel de LED normalmente está envolvido no fornecimento de informações a distâncias maiores entre o usuário e as máquinas, pois costumam ter dimensões maiores. 5 Figura 2 – Exemplo de display de texto empregado como IHM Crédito: komar_off/Shutterstock. 1.2 Interfaces gráficas Uma forma mais completa de fornecer informações e possibilidade de interação entre usuários e máquinas são as interfaces gráficas, que foram desenvolvidas por meio dos avanços tecnológicos. Essas interfaces costumam apresentar ilustrações da máquina ou da linha de produção para facilitar a interpretação das operações do sistema e o diagnóstico. Ainda, existe a possibilidade de integrar essas interfaces com sistemas supervisórios, o que torna a operação ainda melhor, pois facilita o monitoramento e a própria operação do sistema. As telas desenvolvidas para as interfaces podem ser coloridas ou monocromáticas, além de serem equipadas com botões ou telas sensíveis ao toque. Esses fatores vão depender dos fabricantes e das aplicações. Um exemplo de interface gráfica é apresentado na Figura 3, na qual podemos verificar um sistema representado por meio de seu esquemático, além de outras variáveis. 6 Figura 3 – Exemplo de interface gráfica Crédito: Mohd Rodi/Shutterstock. As interfaces gráficas são desenvolvidas pela maior parte dos fabricantes de CLP, ou então, por fabricantes terceirizados especializados nesse tipo de tecnologia. Além disso, esses dispositivos empregam software e sistemas operacionais, porém, esse assunto será abordado no próximo tópico. Além disso, esse tipo de interface permite a criação de diferentes telas e objetos de interfaces. Outra possibilidade para interface gráfica é o faceplate, o qual consiste em um objeto que contém um conjunto padronizado de botões e indicadores que são operados via software com diferentes dados de dispositivos. Ainda, diferentes dispositivos de um mesmo tipo, como motores, podem utilizar o mesmo faceplate, sendo que cada um conta com seus botões de acionamento e indicadores de estados (Lamb, 2015). 1.3 Telas sensíveis ao toque As telas sensíveis ao toque, também conhecidas pelo seu nome em inglês touch screen, têm se tornado cada vez mais comuns em todos os ambientes. 7 Essas telas consistem em displays eletrônicos visuais que têm a capacidade de detectar a presença e a localizaçãode um toque feito neles (Lamb, 2015). A localização do toque é feita por meio de um sistema de coordenadas x e y, e esse toque permite a interação direta com o que está sendo exibido na tela. A Figura 4 apresenta um exemplo de IHM que faz uso de telas sensíveis ao toque. Figura 4 – Exemplo de interface por meio de touch screen Crédito: genkur/Shutterstock. Existem diferentes tipos de telas sensíveis ao toque, sendo as mais comuns a resistiva, a capacitiva e a infravermelho. A seguir, comentaremos sobre as diferenças entre elas e suas características. • Resistiva: esse tipo de tela é feito por meio de três camadas bem finas, sendo a primeira resistiva, seguida de uma camada de vidro normal coberta por uma camada de um material condutor. Entre a camada resistiva e a condutora existem espaçadores, sendo que entre elas circulam correntes elétricas de baixa intensidade. Ao pressionar essa superfície, as camadas interiores tocam-se e o painel atua como um par de divisores de tensão, criando correntes elétricas que indicarão a 8 localização em que a tela foi pressionada. E, por fim, essa informação é enviada para o controlador que a interpretará (Lamb, 2015); • Capacitiva: nesse tipo de tela existe uma camada de material isolante, como o vidro, revestido por um condutor transparente. Além disso, o corpo humano também é um condutor, portanto, quando em contato com a superfície da tela, ocorre a alteração do campo eletroestático, indicando uma variação na capacitância do sistema. Essa alteração indica a localização do toque realizado, sendo enviada para o controlador, assim como na tela resistiva. Diferentemente do que acontece em uma tela resistiva, não é possível acionar uma tela capacitiva com um material isolante, sendo assim, no caso de luvas isolantes estarem sendo usadas, não será possível acionar a tela. Esse problema pode ser resolvido com o uso de canetas capacitivas ou então luvas com as pontas dos dedos feitas de material condutor; • Infravermelho: esse tipo de tela conta com um vetor de LEDs infravermelhos e pares de fotodetectores ao redor de suas bordas que identificarão a interrupção no padrão dos feixes de luz. Esses feixes de luz são dispostos na horizontal e vertical, formando uma espécie de grade com eixos X e Y. Sendo assim, os sensores conseguem identificar exatamente a localização do toque. Esse tipo de tela pode detectar praticamente qualquer tipo de toque, como por meio de um dedo, com luva ou caneta. Além disso, é muito empregada em situações em que não se pode utilizar condutores, podendo ser mais duráveis que as capacitivas e resistivas (Lamb, 2015). A escolha do tipo de tela que será adotada depende de diversos fatores, assim como todos os dispositivos dos sistemas de automação, sendo necessário avaliar as situações em que serão empregadas, o ambiente físico e os demais elementos que farão a integração com a tela. Por isso, será necessária toda uma avaliação para a escolha de qual modelo será mais adequado, assim como para as demais interfaces que apresentamos. TEMA 2 – PROGRAMAÇÃO DE IHMS Neste tópico, vamos tratar das especificações de IHM, falando sobre suas características quanto a software e hardware, além de tratar da comunicação e 9 da compatibilidade dela com os demais dispositivos. Ainda, antes desses assuntos, abordaremos outras características e a evolução que as IHMs sofreram ao longo dos anos para, então, entendermos o contexto. Em nosso primeiro tópico, definimos o que é uma IHM, introduzimos suas aplicações e falamos a respeito dos principais tipos existentes. As IHMs estão presentes próximo às máquinas com as quais elas fazem a interface de comunicação, ou seja, são dispositivos que ficam no chão de fábrica. Nesse cenário, é importante que a IHM seja robusta o suficiente para aguentar um ambiente agressivo, com umidade, temperatura e poeira. As IHMs também estão sujeitas aos graus de proteção da Comissão Eletrotécnica Internacional, ou seja, a classificação IP. Além disso, quando falamos no uso de IHMs com o CLP estamos dizendo que a função da IHM é traduzir os sinais do CLP para uma apresentação de fácil entendimento e mais amigável para o operador do sistema (Moraes, 2015). Outro ponto relevante para o uso de IHMs trata-se das diversas vantagens que esses dispositivos trouxeram para a comunicação entre operador e sistema quando comparados às antigas interfaces de comunicação utilizadas, no caso, os painéis sinóticos. Conforme discutido por Moraes (2015), o desenvolvimento de IHMs equipadas com visores alfanuméricos, teclados de funções e comunicação serial teve como vantagens: • Economia com fiação e acessórios, pois com a possibilidade de comunicação serial ou utilizando meios sem fios, diminuíram-se os gastos com pontos de entradas e saídas, além da conexão desses com sinaleiros e botões; • Redução da mão de obra com a montagem dos painéis, pois com a IHM é preciso apenas o desenvolvimento de suas telas e programação; • Eliminação do painel sinótico físico; • Melhoria na capacidade de comando e controle, pois a IHM auxilia o CLP em funções envolvidas nesses processos; • Aumento da flexibilidade diante das possíveis alterações necessárias no sistema; • Operação e interface amigável e de fácil compreensão; • Facilidade de programação e manutenção. 10 Quando falamos nas aplicações e utilizações das IHMs, precisamos apontar as que também são apresentadas por Moraes (2015): • Visualização de alarmes acionados por condições anormais do sistema; • Visualização de dados dos diversos atuadores envolvidos nos processos que são controlados pelo CLP; • Visualização de dados dos processos controlados pelo sistema; • Alteração de parâmetros dos processos; • Operação manual de componentes das máquinas; • Alteração e configuração de equipamentos envolvidos no sistema. Temos que a maioria dos fabricantes de CLP também produzem IHMs, principalmente para o interfaceamento de comunicação deles com os operadores. Porém, existe ainda a possibilidade de combinar CLP de um fabricante com IHM de outro fabricante, sendo necessário apenas a compatibilidade entre esses dispositivos. Sobre essa questão, discutiremos mais a respeito nas próximas seções. Voltando à fabricação de IHMs pelos fabricantes de CLP, temos que elas podem tanto empregar sistemas operacionais proprietários (desenvolvidos pelos próprios fabricantes) quanto utilizar sistemas operacionais contidos em plataformas de computadores, como o Windows, da Microsoft, e o Linux. Já os programas empregados na programação da IHM tendem a ser propriedade dos fabricantes, estando os drivers disponíveis para a maioria das plataformas de controle comuns no meio (Lamb, 2015). A seguir, vamos discutir sobre a comunicação de IHMs, além dos fatores a serem observados quando falamos do uso de dispositivos de diferentes fabricantes, ou seja, sobre a compatibilidade. 2.1 Comunicação de IHMs A comunicação de IHMs refere-se a como esses dispositivos farão a troca de dados e informações com os demais dispositivos do sistema, como o CLP. Como podemos perceber, esse é um ponto muito importante, pois sem essa comunicação não existe o interfaceamento entre a máquina e o operador. Existe a possibilidade de comunicar a IHM diretamente com o CLP, nesse caso, empregando algum cabo de comunicação, ou ainda, conectá-la por meio de uma rede de comunicação. 11 Quando empregamos a comunicação serial, usualmente ela é implementada seguindo o sistema ponto a ponto, sendo a IHM conectada diretamente ao CLP por meio de cabeamento utilizando as portas de comunicação dos dispositivos. Como exemplos de padrões de comunicação serial podemos citar o RS-232, RS-485 e USB. Porém, vale ressaltar que podem existir sistemas que não são ponto a ponto e trabalham em rede de comunicação.Entretanto, as IHMs não precisam necessariamente se comunicar por meio de comunicação serial, sendo possível comunicá-las também por meio de protocolo TCP/IP, via ethernet. Inclusive, podem existir modelos de IHMs que apresentem tanto a possibilidade de comunicação serial quanto por protocolo TCP/IP, como é o caso da IHM da fabricante Delta, que é apresentada na Figura 5. Figura 5 – Exemplo de IHM com porta serial e via TCP/IP Crédito: Jefferson Schnaider. 2.2 Compatibilidade entre fabricantes Já havíamos comentado que a IHM e o CLP não precisam ser necessariamente do mesmo fabricante, ou seja, podemos ter uma IHM de marca 12 X sendo instalada com um CLP de marca Y. Porém, é importante mencionar que não são todos os dispositivos que apresentam essa possibilidade, sendo assim, para que o uso de dispositivos de diferentes marcas seja possível, é importante que exista a compatibilidade entre eles. Podemos classificar a compatibilidade entre a IHM e o CLP considerando dois aspectos importantes, a compatibilidade de hardware e a de software. Quando falamos em compatibilidade de software, estamos falando sobre a parte da programação, como o sistema operacional, já o hardware corresponde à parte física dos dispositivos, como as portas de comunicação. Outro fator importante de mencionarmos é que essa questão de compatibilidade não serve apenas para a IHM e o CLP, mas também para todos os demais equipamentos que vamos adicionar ao sistema automatizado. Portanto, a criação de protocolos e tecnologias abertas (não proprietárias) facilitou e muito a questão de compatibilidade entre as marcas, tornando possível o desenvolvimento de soluções para a automação que fazem uso de dispositivos de diferentes marcas operando em conjunto para realizar o controle de processos. Ainda, temos que a questão de compatibilidade não é algo a se preocupar em modelos de CLPs que já venham com interface do operador integrada, uma vez que esse dispositivo já apresenta na sua própria estrutura a IHM, embora esse fato não seja característica de todos os CLPs, por isso, quando não trabalhamos com modelos com IHM integrada, a compatibilidade deve ser um dos pontos avaliados no projeto do sistema. TEMA 3 – INTERFACE COM INVERSORES DE FREQUÊNCIA Neste tópico, nosso objetivo será explicar como os CLPs podem operar em conjunto com os inversores de frequência no acionamento de motores elétricos. Sabemos que grande parte dos atuadores empregados nas indústrias são do tipo motores, entre os quais motores elétricos são a maioria. Existem diferentes formas de acionarmos um motor elétrico, inclusive por meio de circuitos eletromecânicos. Entretanto, com as tecnologias avançando e criando dispositivos cada vez mais robustos e multifuncionais, temos que se configuram como tecnologias emergentes para o acionamento de motores o inversor de frequência e o CLP (Petruzella, 2013). 13 O inversor de frequência pode ser definido como um equipamento que permite o acionamento do motor com diferentes velocidades, ou seja, é possível o acionamento de cargas que operem em uma ampla faixa de velocidades por meio do motor elétrico. Nas seções a seguir, abordaremos como o inversor de frequência atua nesse acionamento, por hora, vamos considerar que esse controle da velocidade do motor pode aumentar a eficiência e o desempenho da operação dos motores (Petruzella, 2013). Já o CLP também vem sendo cada vez mais utilizado no acionamento de motores elétricos, substituindo os circuitos de acionamentos tradicionais que incluem a montagem física de componentes. Sendo assim, podemos dizer que o CLP atua no acionamento dos motores elétricos considerando a programação inserida nele, eliminando o número de conexões físicas e tendo possibilidade de reprogramação. Ambas as tecnologias apresentadas neste tema são eletrônicas, portanto, nas próximas seções falaremos mais a respeito dos inversores de frequência e sobre os requisitos de instalação desses sistemas eletrônicos. 3.1 Introdução aos inversores de frequência Quando falamos em acionamento de velocidade variável eletrônico temos que a principal função é o acionamento de velocidade, torque, aceleração, desaceleração e sentido de rotação de uma máquina. Conforme discutido por Petruzella (2013), uma unidade de acionamento de velocidade variável possibilita selecionar um número finito de velocidades dentro de sua faixa de operação. Para entendermos como o CLP atua no acionamento de um inversor de frequência, precisamos primeiramente entender como o inversor atua sobre os motores elétricos. Sendo assim, podemos dizer que um inversor de frequência é capaz de controlar a velocidade, o torque e o sentido de rotação de um motor de indução em corrente alternada (CA). O inversor de frequência é alimentado por entrada de tensão e frequência CA fixas e atua fazendo a conversão dessas em uma saída de tensão e frequência CA variáveis. Esse processo de conversão é importante no controle da velocidade, pois a frequência é diretamente proporcional à velocidade em motores CA. Um inversor de frequência é formado por blocos conectados com a função de converter tensão e frequências fixas em variáveis, sendo que esses blocos 14 podem ser observados na Figura 6, na qual é ilustrado o diagrama em bloco de um inversor de frequência trifásico. Figura 6 – Diagrama em blocos de um inversor de frequência trifásico Fonte: Petruzella, 2013, p. 305. Analisando a Figura 6, podemos observar que o inversor de frequência é formado pelos blocos: conversor, barramento CC, inversor e lógica de acionamento, os quais analisaremos a seguir. • Conversor: consiste em um retificador de onda completa responsável por converter a tensão CA, aplicada à entrada do inversor, em tensão CC; • Barramento CC: esse barramento é responsável por conectar a saída do conversor à entrada do inversor, atuando como um filtro sobre a saída irregular e com ondulação, com a intenção de garantir que a saída retificada seja o mais próxima possível da tensão CC; • Inversor: esse bloco recebe a tensão CC filtrada e converte em uma forma de onda CC pulsante, o que torna possível que tenhamos na saída do inversor de frequência uma forma de onda CC pulsante que simula uma forma de onda CA de frequências diferentes; 15 • Lógica de acionamento: temos o sistema de acionamento que é responsável por gerar os pulsos necessários para controle do disparo dos dispositivos semicondutores de potência que são empregados nos sistemas do conversor e do inversor (Petruzella, 2013). Agora que conhecemos os elementos que formam um inversor de frequência, poderemos discutir na próxima seção como ele é acionado por um CLP. Sendo assim, a seguir, trataremos das entradas e saídas de acionamento e como elas podem ser ativadas pelo CLP. 3.2 Acionamento de inversor de frequência por CLP Nesta seção, nosso objetivo será mostrar quais entradas e saídas o inversor de frequência apresenta. Ainda, vamos discutir sobre como essas entradas podem ser acionadas e controladas pelo CLP e como o inversor aciona o motor elétrico. Nesse contexto, temos a representação das entradas e saídas de um inversor de frequência dadas na Figura 7. Analisando a Figura 7, podemos observar que um inversor de frequência tem tanto entradas digitais (que podem assumir apenas dois valores – ligado/desligado) quanto entradas analógicas (podem assumir qualquer valor dentro de uma faixa). Sendo assim, o acionamento e a velocidade do motor elétrico conectado ao inversor dependerão do acionamento dessas entradas. As entradas digitais do inversor de frequência são a interface da unidade de acionamento com os dispositivos empregados nessa função, como botoeiras, contatos de relé e, no caso que estamos discutindo, saída digitais de um CLP (Petruzella, 2013). É comum que cada entradadigital tenha uma função previamente definida, como a partida/parada, sentido direto/reverso, falha externa e seleções de velocidades predefinidas. Portanto, para conectar as saídas do CLP às entradas do inversor precisamos analisar a função predefinida para cada entrada, a fim de identificar como realizar a conexão correta. Já as entradas analógicas do inversor são responsáveis pelo interfaceamento com um sinal externo, no caso, podemos conectá-las a saídas analógicas do CLP. Dessa maneira, será possível controlar a velocidade com um sinal analógico. Além das entradas digitais, o inversor também tem saídas digitais, sendo essas utilizadas para o envio de sinais a lâmpadas piloto, alarmes, relés 16 auxiliares ou ainda, ao módulo de entrada digital do CLP, enquanto as saídas analógicas são empregadas para o envio de sinais analógicos, como o enviado a um medidor que poderá apresentar velocidade ou corrente (Petruzella, 2013). Figura 7 – Entradas e saídas de acionamento de um inversor de frequência Fonte: Petruzella, 2013, p. 320. Considerando o que foi mencionado a respeito das entradas e saídas do inversor e suas conexões com o CLP, podemos concluir que por meio de um programa de instruções definido pelo usuário no CLP, é possível controlar o acionamento de um inversor de frequência. Na sequência, esse inversor será responsável por acionar e controlar a velocidade de um motor elétrico. Sendo assim, por meio do programa de instruções, que pode ser desenvolvido em qualquer linguagem de programação de CLPs dentro das possibilidades do 17 modelo escolhido, podemos fazer o acionamento e controle do motor elétrico, utilizando como interface o inversor de frequência. TEMA 4 – RELÉS DE INTERFACE Passaremos agora a discutir sobre os relés de interface, que, conforme veremos ao longo deste tópico, são dispositivos fundamentais quando falamos no acionamento de atuadores utilizando CLP. Primeiramente, vamos relembrar sobre os tipos de saídas de CLP que estudamos em conteúdo anterior. Naquela ocasião, vimos que um CLP pode ter saídas a relé, a transistor e a TRIAC. No caso dos CLPs com saída a relés, a corrente pode chegar até 5 A, enquanto em CLPs com saída transistor a corrente máxima fica em 1 A. Segundo podemos perceber, existe uma diferença significativa entre as correntes de um tipo de saída para outra. Sendo assim, dependendo da corrente necessária para acionar a carga conectada à saída do CLP, será necessário adequar seu valor. Isso pode ser realizado por meio de um dispositivo chamado relé de interface, o qual vamos estudar durante este tema. Antes de falarmos sobre como os relés de interface atuam e suas características, é importante discutirmos sobre os tipos de saídas do CLP. Precisamos entender que os custos de CLPs com saída a transistor são mais atrativos que os modelos que empregam saídas à reles, além das outras características que já estudamos sobre eles. Isso faz com que seja necessário utilizar modelos de CLP com saída a transistor, que, consequentemente, fornecem correntes menores quando comparados aos que têm saídas a relés. Outro fator muito importante a respeito dos relés de interface é sua função de proteção da saída do CLP. Para entender melhor essa proteção, basta pensarmos em um CLP acionando um contator trifásico que trabalha com potências relativamente maiores que os níveis da saída do CLP. Nesse caso, se conectarmos diretamente os dispositivos, podem ocorrer dados às saídas do CLP, portanto, quando conectamos um relé de interface entre o CLP e o elemento que ele acionará, teremos uma segurança maior na operação. Outra função importante do relé de interface é a adequação do nível de tensão. Por exemplo, se tivermos um CLP que fornece uma tensão na saída de 24 V e precisamos acionar uma bobina de contator a 220 V, será necessário um relé de interface que faça a adequação dessa tensão. 18 Um avanço tecnológico importante no acionamento de contatores foi o desenvolvimento de modelos que têm bobinas que podem ser conectadas diretamente às saídas do CLP. Porém, vale lembrar que esses dispositivos são recentes e não são os mais comuns dentro das plantas industriais, portanto, é necessário o conhecimento a respeito dos relés de interface. Isso porque será muito comum o uso desses dispositivos quando empregamos o CLP para acionar contatores ou outros atuadores que envolvam níveis de tensão e potência diferentes dos fornecidos pelos CLPs. A seguir, analisaremos o funcionamento dos relés de interface e quais critérios são necessários na avaliação de sua especificação. 4.1 Funcionamento dos relés de interface Conforme já comentamos, o relé de interface é um dispositivo instalado entre a saída do CLP e o acionamento do atuador, como a bobina de um contator ou um solenoide. Podemos dizer que o relé de interface atua como interruptor elétrico capaz de acionar ou desligar um circuito eletromecânico ou eletrônico por meio de seus contatos auxiliares. Um relé de interface tem uma bobina com terminais A1 e A2 e contatos auxiliares, que podem ser normalmente fechados (NF) ou normalmente abertos (NA). Os contatos do tipo NA são naturalmente abertos, e quando a bobina é energizada, esses se fecham. Já os contatos do tipo NF são naturalmente fechados, e quando ocorre a energização da bobina, esses contatos se abrem. A Figura 8 apresenta a simbologia adotada para o relé de interface. Figura 8 – Simbologia do relé de interface Fonte: Lara, 2022. Um relé de interface é formado por uma bobina que, quando conectada a uma fonte de tensão, passará a ser percorrida por uma corrente elétrica, gerando o campo eletromagnético. A presença desse campo faz com que os contatos do 19 relé troquem suas posições naturais, ou seja, o contato NF abre e o NA fecha. Sendo assim, os circuitos são acionados ou desligados. Uma representação para a estrutura interna de um relé de interface é apresentada na Figura 9, por meio da qual podemos observar a bobina que passará a gerar campo eletromagnético quando a chave é acionada e ela começa a ser percorrida pela corrente elétrica da fonte CC. Ainda, temos que a função da bobina magnética é gerar força para atrair a placa metálica que está no contato NA (no caso da representação da Figura 9), portanto, esse contato se fechará. O contrário vai acontecer quando a bobina não estiver mais conectada à fonte de tensão, ou seja, a bobina não produzirá mais a força que atrai a placa metálica, sendo assim, o contato voltar a abrir. Ainda, é importante mencionar que esse tipo de circuito fornece isolamento elétrico, protegendo a saída do CLP quando esta é usada para acionar elementos que possam ter níveis de tensão e potência elevados. Figura 9 – Representação da estrutura interna de um relé de interface Fonte: Lara, 2022. 4.2 Especificação de relés de interface Assim como todos os equipamentos, principalmente componentes eletromecânicos ou eletrônicos, devem ser adotados alguns critérios quando realizada sua especificação. Com os relés de interface isso não poderia ser 20 diferente. Dessa forma, é preciso avaliar requisitos de tensão, corrente e potência a fim de identificar a melhor e mais adequada opção de relé de interface considerando a aplicação. Quanto à importância do relé de interfaceamento, já vimos que esses são fundamentais para que as saídas do CLP estejam protegidas eletricamente, além disso, eles possibilitam o acionamento de elementos que necessitem de maiores capacidades que as disponíveis pelo modelo de CLP utilizado. Todos os dados referentes ao relé de interface são fornecidos pelo fabricante do modelo. Nesse sentido, para conhecer suas especificações e analisar se são compatíveis com os demais elementos com os quais o relé fará o interfaceamento, basta comparar as especificações do fabricantecom os requisitos dos elementos. Basicamente, as informações sobre os relés de interface consistem em informações sobre os circuitos de comando e de carga, além de aspectos relacionados à sinalização, segurança e proteção. Podemos observar na Figura 10 um exemplo de relé de interface, o qual é produzido pela Wago. Por meio dessa figura, podemos observar que existe na parte superior a bobina do relé, que pode ser facilmente substituída, seja para atender a novos requisitos de acionamento, seja em casos de problemas com a bobina anterior. Além disso, os modelos costumam apresentar identificações dos terminais da bobina e dos contatos que formam o relé. 21 Figura 10 – Exemplo de relé de interface Crédito: Elias Aleixo. O uso de relés de interfaceamento nos sistemas envolvendo CLP é muito comum e traz inúmeros benefícios para o sistema automatizado, como maior proteção, fornecimento de isolamento elétrico e diminuição da sensibilidade à interferência. TEMA 5 – RELÉS INTELIGENTES Os CLPs são amplamente empregados nos sistemas de automação, tanto industrial quanto nos demais tipos. Entretanto, existem aplicações nas quais mesmo os modelos de pequeno porte são superestimados para o sistema, ou seja, que ofertaram muito mais recursos do que o necessário. Isso traz alguns problemas, como o custo mais elevado de implantação de um dispositivo que, de certa forma, terá funções ociosas. 22 Com a intenção de oferecer uma opção com uma melhor relação custo- benefício, foram criados os relés inteligentes. Esses dispositivos podem ser definidos como relés eletromecânicos de acionamento de motores elétricos que apresentam capacidades e funcionalidade adicionais, como comunicação com outros dispositivos. Além disso, esses relés permitem a operação dos sistemas de forma remota e eficiente, sendo empregados no controle de partidas dos motores e das cargas. No contexto que já discutimos, podemos perceber que os relés inteligentes oferecem mais segurança no acionamento de motores elétricos, executando funções comuns aos CLPs, porém, com custos menores. Ainda, temos que esses dispositivos são produzidos com alta tecnologia, sendo capazes de atuar no controle inclusive de sistemas eletrônicos. Esses fatores são responsáveis por tornar o uso dos motores elétricos mais eficientes. Os relés inteligentes têm estrutura parecida com os CLPs, tendo entradas e saídas, podendo ser apenas um módulo, como o CLP compacto, ou ainda possibilitando a expansão em módulos acionais, como o CLP modular. Sendo assim, apresentamos na Figura 11 um exemplo de relé inteligente do tipo modular, fabricado pela Schneider Electric, no qual podemos observar as entradas e saídas, além de uma tela que serve de interface de comunicação. Figura 11 – Exemplo de relé inteligente modular Crédito: Jefferson Schnaider. 23 Assim como acontece com os CLPs, existem diversos modelos, podendo tanto ser compactos quanto modulares, conforme já mencionamos. Além disso, eles podem apresentar diferentes especificações, sendo comum um mesmo fabricante ofertar diferentes modelos, visando favorecer a aplicação em diferentes cenários. Portanto, para especificarmos um modelo para determinada aplicação, precisamos consultar e analisar as características do relé inteligente. A seguir, trataremos sobre as vantagens do uso de relés inteligentes e algumas aplicações comuns para esses dispositivos. 5.1 Vantagens da utilização de relés inteligentes O uso de relés inteligentes traz diversos benefícios, os quais passaremos a discutir agora. Um dos pontos que já mencionamos é a possibilidade de comunicação com outros equipamentos, que pode influenciar diretamente no diagnóstico preciso de falhas, no comando remoto e na comunicação em rede. Além disso, existem vantagens sob aspectos de produção, como melhoria da produtividade, diminuição de tempo de máquinas paradas e melhoria no desempenho dos motores. Considerando tanto as vantagens quanto a instalação, temos que o uso dos relés inteligentes permite a detecção de falhas antes mesmo que elas ocorram. Os relés estão relacionados com o aumento da vida útil dos equipamentos. Ainda, temos que eles são responsáveis por fornecer acionamento com proteção confiável aos motores elétricos ou qualquer outro atuador que eles controlem. 5.2 Aplicações dos relés inteligentes As aplicações dos relés inteligentes podem ser as mais diversas, pois existem muitos modelos disponíveis no mercado. Por exemplo, temos os compactos ou modulares, com interfaces de comunicação tipo IHM ou sem, entre outros fatores. Um exemplo de relé inteligente sem IHM é apresentado na Figura 12, que também é fabricado pela Schneider Electric. Esse modelo trata-se de um compacto com relógio, com 12 entradas e oito saídas. 24 Figura 12 – Exemplo de relé inteligente compacto Crédito: Wasteresley Lima. Assim como no CLP, a quantidade e o tipo de entradas e saídas dos relés inteligentes podem variar conforme o modelo e o fabricante. Sendo assim, suas aplicações também serão variadas. Entre os setores nos quais mais se aplicam esses relés, podemos citar: • Indústrias químicas e farmacêuticas; • Indústrias alimentícias; • Indústrias de produção discreta em geral. A utilização dos relés inteligentes é uma alternativa para automações menores e com melhores custos, sendo assim, podemos pensar no uso desses dispositivos como opções para essas aplicações. FINALIZANDO Estamos finalizando esta etapa sobre os controladores lógicos programáveis, sendo que, nesta etapa em específico, abordamos os dispositivos que auxiliam o CLP. Começamos pelas interfaces de operadores, também chamadas de IHM, que são fundamentais na comunicação entre o operador e o sistema. Além disso, elas são responsáveis por fornecer uma interface amigável e de fácil compreensão. 25 Na sequência, tratamos do uso de CLP no acionamento de inversores de frequência, os quais, por sua vez, atuam no acionamento de motores elétricos. Esse tipo de aplicação em conjunto torna possível o controle de velocidade de motores elétricos (principalmente os motores trifásicos em CA), sendo possível a intervenção e controle por meio do CLP. Ainda, por caracterizarem as duas tecnologias mais utilizadas no ambiente industrial, a operação em conjunto do CLP com o inversor de frequência otimiza o acionamento de motores elétricos. Outro fator muito importante que foi discutido nesta etapa é o uso de relés de interface. Vimos que esses dispositivos oferecem proteção às saídas do CLP, além de permitirem o emprego deles no acionamento de diferentes atuadores. O uso dos relés de interface proporciona maior confiabilidade e proteção nas aplicações envolvendo o CLP. E, por fim, analisamos os relés inteligentes, os quais se apresentam como uma alternativa para a automação em relação aos CLP. Vimos que eles têm características de dispositivos programáveis como o CLP, porém, são considerados relés programáveis. É comum confundir CLPs de pequeno porte com os relés programáveis, no entanto, as características construtivas que mencionamos nesta etapa nos permitem diferenciá-los. 26 REFERÊNCIAS LAMB, F. Automação industrial na prática. Tradução de Márcio José da Cunha. Porto Alegre: AMGH, 2015. MÓDULO de relés; Tensão de entrada nominal: 24 VDC; 1 contato reversível; Corrente contínua de limite: 6 A; Indicador de status amarelo; Largura do módulo: 6 mm; 2,50 mm²; cinza. WAGO, 2022. Disponível em: <https://www.wago.com/br/m%C3%A3%C2%B3dulos-de-rel%C3%A3s-e- acopladores-%C3%A3%C2%B3ticos/m%C3%B3dulo-de-rel%C3%A9s/p/857- 304#downloads>. Acesso em: 3 jan. 2023. P&R AUTOMAÇÃO Industrial. IHM Delta DOP-BO7E415 7 polegadas com Ethernet. 2017. PETRUZELLA, F. D. Motoreselétricos e acionamentos. Tradução de José Lucimar do Nascimento. Porto Alegre: AMGH, 2013. RELÉS inteligentes. Schneider Electric, 2022. Disponível em: <https://loja.se.com/reles-inteligentes-compactos-zelio-logic-sr3b-da--- controlador-programavel-26-e--ss-24-v-dc-com-lcd-sr3b261bd/p>. Acesso em: 3 jan. 2023. Conversa inicial FINALIZANDO REFERÊNCIAS