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51ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO TÓPICO 1 - LOCALIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES DE MANUFATURA Segundo Petrônio (2005), A seleção da localização da implantação de uma em- presa, fábrica ou depósito de produtos é uma decisão delegada à estratégia empresarial. Por exemplo, por que, na década 60, a indústria automobilística foi implantada na região do ABC paulista? E por que, no limiar do século XXI, essa mesma indústria está deixando o ABC e sendo implantada em outros locais do Brasil, de maneira pulverizada e não mais concentrada em uma única região? Que razões estão levando a indústria têxtil a deixar Santa Catarina e São paulo e ir para o Ceará? Fator Globalização da economia Ainda de acordo Petrônio (2005), nos anos de 1960, as grandes multinacionais instaladas no Brasil possuíam como característica era a geração de lucros para a matriz da empresa: o comando e a cultura da empresa eram bastantes rígi- dos e com pouca variação do seu país de origem. Os produtos fabricados no brasil visavam completar a amortização dos cursos de desenvolvimento do pro- duto no país de origem. Aos poucos, as multinacionais se transformaram em empresas transnacionais. As empresas não mais se prendiam a suas matrizes originais, ultrapassando a barreira da nacionalidade (PETRÔNIO, 2015). Neste contexto, o que importava era o lucro para a empresa no Brasil e não mais para a matriz. A lealdade dos funcionários era para a empresa, e não mais para com o país onde a empre- sa nasceu, no entanto, ainda segundo Petrônio (2005), a política de fabricação dos seus produtos não mudaram muito, os produtos fabricados nos países em desenvolvimento ainda serviam para fechar o ciclo da amortização dos cursos de desenvolvimento com uma certa flexibilidade que permitia certa regionaliza- 52ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO ção dos produtos, com a intenção de adequá-los aos clientes de cada país. A concorrência acirrada, de acordo Silva (2018), obrigou as empresas a repen- sarem suas estratégias, para ele, não havia mais o chamado “mercado cati- vo”, ou seja, os países buscavam comprar e vender seus produtos onde fosse possível. Houve um grande esforço por parte das redes de transporte, das tec- nologias da comunicação e do apelo da competitividade para que os produtos desenvolvidos tivessem alta qualidade e preços competitivos. Diante deste cenário, segundo os autores Petrônio (2005) e Silvia (2018), surge o conceito de globalização para buscar a competitividade, para tal, o desenvol- vimento dos produtos e das fabricas são dimensionadas e projetadas em cen- tros de excelência, e esses modelos são exportados para os países em desen- volvimento e para países já desenvolvidos. Para os autores, os produtos po- dem ser importados ou fabricados no próprio país, ficando dependente do fator competitividade para a empresa. Acontece também a regionalização do produto que não necessariamente é realizada no país consumidor, mas no centro de excelência mais adequado. A visão mercadológica da empresa não é mais o Brasil ou um conjunto de países, mas o mundo (PETRÔNIO, 2005). A competitividade depende da localização do empreendimento, grandes redes, como Mcdonalds, Pizza Hut, Carrefour, têm levado seus conceitos de seus ser- viços, seus produtos e até o layout de suas lojas para diversos pontos do mun- do (PETRONIO, 2005). O cenário da localização A determinação da localização de instalações de empresas depende de inú- meros fatores. Blaskovsky (2010) colocam que: “Para uma decisão adequa- da quanto à localização deve-se determinar: a capacidade que é necessária, quando é necessária e a localização dessa capacidade”. Para a autora, uma análise adequada deve levar em conta a forma de medir a capacidade, deter- minar a demanda para os próximos anos e determinar qual a capacidade a ins- talar. Medida da capacidade A capacidade é a máxima produção de uma empresa. Em outras palavras, ca- pacidade pode ser explicada como o nível máximo de atividade de valor adi- cionado que pode ser conseguido, em condições normais de operação e por um determinado período de tempo (PETRONIO, 2005). A capacidade pode ser vista como: 53ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO a) capacidade do projeto, também denominada capacidade teórica: aquela que o fornecedor ou fabricante dos equipamentos apresentam para o produto (MARTINS, 2013). b) capacidade efetiva ou real: a que o equipamento apresenta após o descon- to de todos os tempos de parada tecnicamente necessários para que o equi- pamento ou o sistema implantado funcione adequadamente (MARTINS 2013). Ainda segunda Martins (2013), está incluso neste tempo o tempo de manuten- ção programada obrigatórias, os tempos de preparação ou setup, os tempos de aquecimento das máquinas ou de processo, os tempos de limpeza e de des- contaminação entre outros. A capacidade pode ser medida como toneladas de alumínio por dia ou ano, de acordo Martins (2013). Já Petrônio (2005) diz que a capacidade está rela- cionada à dimensão tempo, ele cita ainda que outro aspecto importante é não confundir capacidade com volume. O volume de produção é o que se produz atualmente já capacidade é o máximo que se pode ser produzido. Petrônio (2005) leva em consideração ainda o caso de empresas de multipro- dutos. Para o autor não faz sentido medir a capacidade de uma montadora de veículos em função do modelo A de um carro ou do modelo B. Aqui, a alternati- va correta é expressar a capacidade em termos do valor das vendas. Desta forma, a definição do que deve ser tomado por base para a medida de capacidade vai depender se é uma empresa de produtos ou uma empresa de serviços. Nas empresas de serviços, a capacidade é medida em função do in- sumo que é entendido como o insumo mais crítico ou mais restritivo (PETRO- NIO, 2005). Nas empresas industriais, a capacidade é definida em função do volume da produção que é desejada. A tabela 1 a seguir apresenta exemplos dos tipos de empresas. 54ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Tabela 1 - Medida da capacidade em empresas industriais e de serviço Empresa Insumos Medidas de Capacidade de volume de produção Fábrica de refrige- radores Horas máquinas disponíveis Número de unidade/ano Hotel Leitos disponíveis Número de hóspedes/dia Cinema Números de assentos Número de espectadores/ semana Escola Número de alunos Número de formados/ano Fábrica de cimento Volume de forno do clinquer Toneladas/dias Empresa de trans- porte Número de poltronas Número de passageiro/ ano Usina hidroelétrica Tamanho das turbinas Potencia gerada Loja Área da loja Vendas/mês Fonte: Adaptado de Martins (2013). Para determinar a capacidade, é necessário primeiro identificar a forma de me- di-la, considerando os aspectos de empresas multiprodutos e o tipo de empre- sas, caso necessário. Em seguida, deve-se verificar as horas de trabalho no empreendimento e se será considerado o pico de capacidade, ou não (MAR- TINS, 2013). Determinação da demanda A decisão da implantação de uma empresa repercute na operação da empresa durante um longo período de tempo, sendo necessário um estudo adequado da demanda para o futuro. A projeção da demanda fornece estimativas de neces- sidades ao longo do tempo (ORTOLON, 2013). Determinação da capacidade a instalar Para Petrônio (2005), a projeção da demanda é necessária para fornecer infor- mação da estimativa da necessidade ao longo do tempo. Segundo o autor, a capacidade a ser instalada irá dependerá da precisão da estimativa da deman- da e da parcela de mercado, uma vez que a avaliação econômico-financeira do mercado e da empresa também deve ser realizada para ajudar a determinar a capacidade a instalar, Petrônio (2005) ilustra a determinação da capacidade com o seguinte exemplo: 55ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Vamos imaginar que a demanda projetada para todo o mercado esteja ilustrado na tabela 2: Tabela 2 – Demanda de mercado Ano 1 2 3 4 5 PRODUTO (UNIDADE) 100.000 110.000 123.000 138.000 155.000 Sabe-se que a precisão da estimativa é de 10% (para mais ou menos) paraos anos 1 e 2, e de 20% para os demais anos. A empresa decide que vai abranger uma participação de mercado de 35%. Portanto, o cenário de capacidade para a empresa está na tabela 3: Tabela 3 – Atual cenário para cada empresa Ano 1 2 3 4 5 Capacidade máxima 38.500 42.350 51.660 57.960 65.100 Capacidade mínima 31.500 34.650 34.440 38.640 43.400 Qual a capacidade que a empresa vai considerar? A decisão é bastante com- plexa e envolve o aspecto econômico-financeiro, além da questão da demanda do produto e da possibilidade que a empresa tem de abranger a parcela de mercado estipulada. Identificar e avaliar as alternativas O segundo passo, após identificar a capacidade com que a empresa vai operar, é identificar os fatores que influem na localização e elaborados diferentes mo- delos de avaliação que permitam comparar as diversas localizações alternati- vas. Seleção da alternativa mais adequada Para que o modelo de decisão seja validado, é necessário que sejam identi- ficados e estudados os objetivos obrigatórios e os objetivos desejáveis a que cada alternativa deve obedecer (PETRONIO, 2005). O aturo continua sua obra dizendo que todas as alternativas necessitam atender aos objetivos obrigatório além de ser necessário montar um modelo para avaliação dos objetivos dese- jáveis para uma melhor comparação das alternativas sempre levando em conta modelos quantificáveis que englobam variáveis de custo, de mercado e de dis- 56ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO tância de transporte, entre outras variáveis quantitativas. Esses modelos, segundo Petrônio (2005), precisam ser compostos por outras considerações estratégicas e táticas para que se tenha um modelo de decisão adequada. Fatores subjetivos ou de difícil quantificação devem ser buscados e incorporados ao modelo decisório. A decisão tomada deve estar de acordo com a visão que a empresa tem de seu negócio. Fatores que influem na localização Para Alves (2013), que um requisito seja considerado um fator importante para a localização de um empreendimento, ele deve: - Depender da localização: Alves (2013) exemplifica que a existência de cursos de engenharia somente é um fator importante o suficiente para ser levado em conta se for relevante para a empresa e não existir em todas as possíveis loca- lidades que a empresa está analisando. - Ser importante para os objetivos da empresa. Para Alvez (2013) como os fato- res de pessoal, podendo ser citado a disponibilidade de mão de obra compatí- vel com as necessidades da empresa, outra fato é a importância da localização dos mercados consumidores e fornecedores de insumos, qualidade da rede de transportes e as facilidades oferecidas, como isenção de impostos e a oferta de serviços específicos existente no local, como água tratada, energia elétrica, estação coletiva para tratamento de esgotos industriais, linhas digitais de te- lecomunicação, escolas técnicas especializadas, hospitais e o comportamento sindical. O autor cita ainda outros fatores que são importantes serem levados em conta: qualidade de vida, aspectos culturais da região, clima, proximidade de empresas da mesma indústria, custo do terreno e da construção, os regula- mentos ambientais e o comportamento da comunidade. Já para as empresas de serviço, os fatores importantes costumam ser rede de transporte e comunicação, proximidade com mercado e com os concorrentes, facilidade de comunicação com clientes e aspectos locais, como a existência de estacionamento para clientes (PETRONIO, 2015). 57ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Cluster como fator competitivo Petronio (2015) define cluster é um nome dado para caracterizar um grupo na- tural de empresas de porte e objetivos similares em uma dada região geográfi- ca, essas empresas devem apresentar as mesmas características econômicas. Podemos citar diversos exemplos como a região da Barra Funda, em São Pau- lo, como um cluster de oficinas mecânicas e rua Santa Efigênia, também em São Paulo, como um cluster de lojas de produtos eletrônicos. Na área de servi- ços, podemos citar os clusters de restaurante do bairro Bexiga em São Paulo. Normalmente, os clusters bem-sucedidos organizam-se naturalmente, fruto do nível de consciência da comunidade em relação aos interesses coletivos. Assim, ações governamentais que visam a formação de um cluster, no geral, não são eficazes. Os clusters podem ser simples, como o agrupamento de um determinado tipo de lojas, ou complexos como a região do Vale do Silício nos Estados Unidos (PETRONIO, 2015). Para que a evolução do cluster ocorra na região, é necessário que a comunida- de tenha uma afinidade com as empresas ali instaladas, desta forma a região irá apoiar seu crescimento. A afinidade pode ser dar por meio de um histórico em comum, cultura, religião, valores ou tradição. Esta condição é necessária para que se iniciem os processos de colaboração para um objetivo comum de competitividade (PETRONIO, 2015).