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O Último Teorema de Fermat
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Pierre de Fermat.
Em uma de suas edições de 1993, o prestigioso diário americano The New York Times
abriu espaço, em sua primeira página, para uma matéria verdadeiramente rara no
âmbito jornalístico. Com o título de "Finalmente, um grito de eureka! num mistério
matemático secular" o artigo revelava alguns detalhes de vçomo um teorema enun
ciado em 1637 pelo matemático francês pierre de Fermat (1601-1665) havia sido
finalmente provado pelo inglês Andrew Wiles, professor da Universidade de Princeton,
MATEMAT1CA: ClfcNCIA E APLICAÇÕES
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reputado um dos matemáticos mais talentosos de sua geração. Um retrato de Fermat,
certamente a aguçar mais a curiosidade do surpreso leitor, ilustrava o artigo. Muitos
outros jornais, nesse mesmo dia ou em dias que se seguiram, entre eles a Folha de 5.
Paulo e o Estado de 5. Paulo, também deram destaque a essa realização matemática.
Fermat, ao contrário de Wiles, não era um matemático profissional. Era, isto sim,
um competente e zeloso jurista que reservava talvez o melhor de suas horas de lazer
à matemática. Fascinado pelas obras gregas matemáticas da Grécia antiga, muitas
delas já resgatadas na Europa de sua época, em traduções latinas, dedicou-se, entre
outras coisas, a generalizar resultados encontrados nessas obras.O Último Teorema de
Fermat é exatamente a mais notável dessas generalizações. Estudando o livro II da
Aritmética do grego Diofanto (século III ?), chamou a atenção de Fermat o problema
8, que pede a decomposição de um quadrado numa soma de dois quadrados. Esse
problema recai em resolver a equação z7 = x2 + yJ, que, como já era sabido pelo menos
desde Euclides (séc. III a.C.), tem infinitas soluções no universo a inteiros positivos. Mas
Diofanto, como costumava fazer nesses casos, só deu uma solução: fixando z = 16,
16 12encontrou x= — - ey= - . Inspirado no problema, Fermat teve a idéia de conjeturar
que para n & 3 não existem inteiros positivos x ,y e z tais que x" + y" = zn. Enunciada
em linguagem corrente, em latim, na margem de seu exemplar da Aritmética, essa
proposição passou à história como Último Teorema de Fermat (UTF). Depois Fermat
acrescentou ter encontrado uma prova verdadeiramente maravilhosa para a proposição,
mas grande demais para caber na margem do livro.
Vale salientar que o exemplar de Fermat da Aritmética se perdeu e que o UTF, bem
como os comentários aludidos, tornaram-se conhecidos por terem sido adicionados a
vuma edição póstuma de suas obras, publicada por seu filho Clement 5. de Fermat.
O ÚltimoTeorema de Fermat é, talvez,o exemplo mais expressivo de como a invenção
de um problema pode ser uma realização matemática tão importante quanto as que
mais o sejam O desafio lançado por um problema instigante, especialmente quando sua
resolução qstá além dos limites do conhecimento matemático da época em que é
formulado,costuma levar ao alargamento das fronteiras da matemática, com a criação
de novas e importantes teorias e técnicas.No caso do UTF, isso aconteceu em várias áreas,
como a da Teoria dos Números, a da Álgebra e a da Geometria, por exemplo. Mas Fermat
não se notabilizou apenas por ser um inventor de grandes problemas. Criou a moderna
Teoria dos Números, com contribuições como a que deu ao UTF, ao formulá-lo e
demonstrá-lo para n = 4 ;divide com René Descartes (1596-1650) a criação da Geometria
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Analítica e com Blaise Pascal a da moderna Teoria das Probabilidades; e é um dos
pioneiros da criação do Cálculo Diferencial e Integral. Por todas essas razões, ele é
considerado justamente o maior matemático francês de sua época.
Andrew Wiles, por sua vez, desde criança cultivou uma paixão muito grande pela
matemática. Aos 10 anos de idade, gostava não só de resolver problemas como tam
bém de inventá-los. Um dia, por essa época, quando voltava da escola para casa,
descobriu, numa biblioteca que costumava freqüentar, um livro que iria marcar sua
vida.O livro era The Last Problem ("Oúltimo problema"), de EricTemple Bell (1883-1960),
e o assunto, exatamente a história do UTF. Impressionou sobretudo a Wiles o fato de,
apesar de o problema ter um enunciado extremamente simples, grandes matemáticos
da história não terem conseguido resolvê-lo, mesmo entregando-se intensamente à
tarefa. E determinou-se a resolvê-lo.
Em fins de junho de 1993, aos 40 anos de idade, Wiles voou dos Estados Unidos
para sua cidade natal, Cambridge, na Inglaterra, onde se graduara e defendera sua tese
Andrew Wiles.
MATEMÁTICA: CIÊNCIA l APUCAÇfii-S