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PRÁTICA PEDAGÓGICA I: EDUCAÇÃO FÍSICA E SOCIEDADE A prática pedagógica se forma no/ou em contato com o outro, e é esse outro que oferece o espaço de possibilidade para a prática. Paradoxalmente, observamos que essas práticas podem funcionar como um espaço de resistência e múltiplas reflexões. Pode-se dizer que as práticas educativas operam a partir de um diálogo fecundo, crítico e reflexivo entre múltiplos atores, entre a intenção e a ação. Bons estudos! AULA 01 – FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Ao final deste estudo, você será capaz de: • Compreender o conceito de práticas pedagógicas. • Entender como o aluno tornar-se reflexo do professor. • Identificar os princípios norteiam as práticas pedagógicas. 1 FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Fonte: https://bityli.com/XBmOS Desde o ano de 2002, com a reestruturação das licenciaturas decretada pelo governo federal, a terminologia “prática pedagógica” causou uma grande e salutar polêmica entre os educadores da formação de professores. Viram-se obrigados a dominar tal conceito para delimitar as atividades que seriam validadas nos novos currículos de formação docente. Definir prática pedagógica tornou-se quase um tormento, pois poucos haviam se dedicado a tal zelo, uma vez que para muitos, prática não se teoriza, prática se pratica. Colocava-se a descoberto a filosofia da educação que fundamenta a prática de cada um. Os comportamentalistas entendem a prática pedagógica como a atividade exclusivamente observável, que gere uma atividade concreta, cujos resultados possam ser registrados, comprovados. Os cognitivistas entendem a prática pedagógica como a atividade que desenvolva o raciocínio do educando e que o leve a resolver problemas. Os humanistas validam todo o processo de ensino- aprendizagem, priorizando as relações humanas (MOREIRA, 2004).. Em resumo, as práticas pedagógicas consistem em um conjunto de atividades que incluem desde o planejamento e a sistematização da dinâmica dos processos de aprendizagem até a caminhada no meio de processos que ocorrem para além da aprendizagem, para garantir o ensino de conteúdos e atividades que são considerados fundamentais para aquele estágio de formação do aluno e, por meio desse processo, criar nos alunos mecanismos de mobilização de seus saberes anteriores construídos em outros espaços educativos. O professor, em sua prática pedagogicamente estruturada, deverá saber recolher, como ingredientes do ensino, essas aprendizagens de outras fontes, de outros mundos, de outras lógicas, para incorporá-las na qualidade de seu processo de ensino e na ampliação daquilo que se reputa necessário para o momento pedagógico do aluno. Ainda conceituando práticas pedagógicas, Veiga (1994, p. 16) diz ser “uma prática orientada por objetivos, finalidades e conhecimentos e, inserida no contexto da prática social sendo então a prática pedagógica uma dimensão da prática social”. Sendo assim, conhecimentos e hábitos da rotina pedagógica, desenvolvidas em sala de aula, podendo também estar relacionada com muitas teorias ou de acordo com a realidade e com a experiência adquirida durante a prática docente. 1.1 Breve histórico das práticas pedagógicas no Brasil Após a chegada dos portugueses, no ano de 1500, tivemos a escola fundada pelos padres jesuítas, com a instalação do primeiro estabelecimento de ensino, em 1549. A prática didática era tradicional, tendo essa escola clássica, como princípio básico a ideia de professor como aquele que age, comandando o ensino, enquanto o aluno é um ser passivo, como afirma a Teoria Behaviorista. Suas regras são baseadas no autoritarismo, como normas disciplinares bem rígidas. As aulas centradas no professor que transmítia os seus conhecimentos como irrefutáveis. Ainda hoje podemos encontrar resquícios da escola tradicional, pois muitos dos professores hodiernos, mesmo professando a escola sociointeracionista, na prática são tradicionalistas (LIRA, 2019). Podemos dizer que, historicamente, a escola tradicional, como paradigma, vai até 1932, quando surge um novo modelo com a escola crítica, a partir do Estado Novo proposto no governo de Getúlio Vargas. Mesmo após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, tanto de Portugal como das suas colônias, a chegada de D. João VI e de toda sua corte ao Brasil, em 1808, como também, após a Proclamação da República, em 1889, a tendência da escola tradicional em nada se modificou. Como dissemos acima, foi em 1932 que se iniciou um movimento com intenções declaradas de mudanças nas tendências do ensino brasileiro, no governo de Getúlio Vargas. Era o início da chamada “escola nova”, em que o professor não se comportava mais como um transmissor ativo do conhecimento na perspectiva autoritária, mas assumia o dever de facilitar a aprendizagem. O aluno passa a ser ativo e sujeito no processo de ensino-aprendizagem, tornando-se a escola democrática e para todos (não somente para as classes sociais dominantes). A escola nova vai de 1932 até a instalação da ditadura militar, em 1964, momento do início da “escola tecnicista” baseada no modelo americano. O professor passa a ser um técnico com eficiência e eficácia. O aluno, por sua vez, um elemento para quem o material “didático” é preparado. O tecnicismo empregado em todas as áreas impede o estudante de ser criativo e pensante, tornando-se, simplesmente, um reprodutor do livro didático e das anotações do professor. Para a escola tecnicista, os alunos aprendiam a exercer o seu papel social, ditado pelos militares que detinham o poder. Nesse período, foram divulgados modelos e métodos educacionais que impressionam e dão contornos às formas de ensinar. Pode-se tudo pelo bem do tecnicismo, exceto a vontade popular de criar e recriar. Foi nesse período que se instalaram os recursos audiovisuais, a instrução propaganda e o ensino individualizado (LIRA, 2019). Com a queda da ditadura militar, os movimentos democráticos, sobretudo das minorias, eclodiram, e junto com eles, em 1983, iniciou-se a “escola crítica” (teorias críticas do currículo), embalada pelos anseios de liberdade que fizeram retornar ao país muitos de seus cidadãos munidos de novas ideias e novos métodos de ensino. Na escola crítica, em que encontramos as características do modelo sociointeracionista, o professor é o educador/parceiro que direciona a forma de aprendizagem com participação concreta do aluno. Este, por sua vez, é um cidadão que faz, cria e recria a história; um verdadeiro construtor de conhecimento. A escola é valorizada em sua totalidade e encontra-se, novamente, aberta para todas as camadas sociais da população, portanto, uma escola inclusiva. Na “escola crítica”, existe uma articulação entre o educador e o educando, e o conteúdo programático é construído ao longo do processo, tendo o aluno função primordial para a sua construção, avantajando objetos e estruturas de conteúdos que tenham significados para interferirem em seu cotidiano (LIRA, 2019). Estamos em pleno século XXI e observamos as Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs) dominarem os espaços de maneira positiva, sobretudo, dentro dos sistemas educacionais. Tais tecnologias, quando bem utilizadas, surgem como facilitadoras de aprendizagem. Por outro lado, podem impedir o diálogo interface e, consequentemente, a transmissão dos sentimentos (trabalho pedagógico com as emoções) e ainda, podem individualizar o ser humano e fechá-lo em um mundo egocêntrico em que se esquece a presença do outro, tornando-o um mero espectador e, provavelmente, um elemento sem coragem de estabelecer rupturas e interpretações dialéticas nos seus espaços de relações (LIRA, 2019). Vivemos em um mundo cada vez mais individualistae especializado, onde os estudantes devem ser levados a fazer leituras mais sociais e a refletir sobre as estruturas holísticas, ou seja, abrir-se às novas visões na perspectiva do todo, entendendo que a máquina (computador), mesmo facilitadora de aprendizagem, nunca poderá substituir a mediação do professor (LIRA, 2019). Diante dessa constatação, surge a dúvida: Podemos ou não retornar ao tecnicismo? Sabemos da importância de todos os momentos e tendências da educação no Brasil, mas uma relação com o social não poderá ser supressa, pois não podemos conviver somente com máquinas, sem produção de significados. A máquina opera somente com sintaxe, enquanto os seres humanos com semântica; portanto, as duas estruturas são importantes e eficazes para o processo de ensino- aprendizagem quedesponta em nosso contexto social atual. Buscamos o melhor para a educação, aproveitamos todas as formas de comunicação entre o aluno e o professor; por isso devemos aperfeiçoar os métodos e, sem excluir o tecnológico, não esquecer a importância da convivência com os outros durante todo o processo de ensino-aprendizagem, pois uma das finalidades da educação é a humanização do homem, e issonão poderá acontecer somente com máquinas (LIRA, 2019). 1.2 Quais princípios norteiam as práticas pedagógicas? Aprender é dar novos significados A aprendizagem ou construção do conhecimento é a apropriação, por parte do aprendiz, do objeto a ser conhecido. Em outras palavras, ao conhecer, ela ressignifica as informações adquiridas, tornando-as um novo conhecimento e, consequentemente, modifica-se também. Ser estudante é um processo permanente A aprendizagem constrói-se na relação com o outro, a partir das necessidades e situações do dia a dia, tendo, portanto, um caráter aberto. Está sempre em processo de formação e transformação, ou seja, tem existência histórica, daí a importância de cultivar na criança uma postura de estudante que permaneça ao longo de sua vida. O conhecimento humano é instrumento de ações modificadoras O currículo deve constituir-se de competências, habilidades e conteúdos que sejam instrumentos para que as crianças desenvolvam capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais, tecnológicos e econômicos. Portanto, precisam conter, além de fatos e conceitos, procedimentos, valores, normas e atitudes. A aprendizagem é coletiva, dinâmica e reflexiva Os planos de curso devem admitir a possibilidade de conhecimentos diversos, propiciando a utilização de vários procedimentos (como seminários, pesquisa, observação, leitura, registros, experiências, etc.), permitindo a apropriação do conhecimento de forma dinâmica e fundamentada por meio da interação com o grupo. A escola desenvolve competências para a sociedade contemporânea A sociedade contemporânea caracteriza-se pelo volume, diversidade e velocidade de informações que circulam. Portanto, a escola deve instrumentalizar as crianças com competências como criticidade, flexibilidade, criatividade, liderança e cooperação que lhes permitam fazer uso do conhecimento que constroem. O conhecimento é interdisciplinar As áreas que compõem o currículo são separadas apenas para efeito didático, estando permanentemente coligadas num dinâmico processo. Disciplina possibilita a construção da autonomia A disciplina é trabalhada para a formação de cidadãos capazes de gerir a si próprios, participando do contexto social e político em que estão inseridos, construindo valores éticos e promovendo o bem-estar social. O professor e o tutor são os mediadores da aprendizagem O professor desenvolve uma postura de escuta do grupo, buscando compreender o que imerge na interação das crianças com o objeto de conhecimento para poder introduzir novos elementos e procedimentos que lhes permitam ir além do que já sabem. A avaliação é parte do processo de aprendizagem A avaliação faz parte do processo de aprendizagem e ocorre no dia a dia da escola. Permite ao professor e ao aprendiz compreenderem como estão sendo elaborados os conteúdos estudados e, a partir daí, planejar e redirecionar intervenções para facilitar a construção do conhecimento. A escola é um espaço democrático A dinâmica de relações entre alunos, pais, professores e funcionários baseia-se em princípios democráticos, ressaltando-se direitos e deveres, possibilidades de expressão, respeito e senso de responsabilidade. 1.2 Como se dá a formação da prática pedagógica? Os cursos de formação de professores precisam explicitar com clareza qual a prática pedagógica é adotada em seus cursos, e seus professores e estudantes precisam ter clareza de que tal prática os ensina a ser professor. Precisamos perceber que a prática que oportunizamos e/ou a que nos permitimos participar é parâmetro para as projeções do ser professor em construção. Referimos à construção inicial de nossos estudantes e à nossa construção continuada, bem como dos estudantes já iniciados. É muito importante que se repita o óbvio: nossos alunos dos cursos de licenciatura veem em seus professores e nas experiências com estes, as condições de sustentação para projetos de vida profissional, pessoal, acadêmica e cidadã. Todos os participantes que compõem uma turma fazem parte do processo de ensino- aprendizagem do ser professor. A participação de todos reunidos em sala de aula se constitui em atos pedagógicos de qualidade equiparada ao papel do professor da turma. 1.3 O reflexo da prática pedagógica na formação do aluno O outro imediato na formação de professores é o colega da turma. A vontade em participar está vinculada à vontade de aprender, mesmo para ser, porque se deve saber que prática pedagógica não se ensina, mas se aprende. Ela é formada de intenções de fazer educação e se constitui, antes de tudo, de um querer ser. Este querer ser é legitimado por um querer saber para fazer bem. Poderíamos ainda dizer que todos nós, em formação inicial ou permanente, estamos sempre aprendendo a prática pedagógica. Portanto, quem exerce a profissão de professor, seja em qual nível for; ensino básico ou superior, desenvolve uma prática pedagógica, esteja consciente ou não disto. É preciso dizer que a prática pedagógica nem sempre vai ensinar o que apregoam os objetivos de ensino do plano a que se refere, mas sempre oportunizarão uma aprendizagem aos envolvidos. Exemplos: o professor relapso ensina o aluno a ser relapso, mesmo que saiba bem o conteúdo a que se propõe trabalhar. O professor autoritário ensina o aluno a ser autoritário. O professor exigente ensina o aluno a ser exigente. O professor amoroso ensina o aluno a ser amoroso. Isto nos remete à questão de que a aprendizagem significativa pode ser correta ou incorreta. Muitos professores e alunos têm se perguntado o que é afinal de contas considerado prática pedagógica em uma disciplina da formação de professores. Uma pergunta poderia ajudar a identificar quais atividades propostas aos estudantes pode ser considerada prática pedagógica: O que estamos propondo como atividade vai auxiliar na formação docente do estudante? Ao estudante deve ser perguntado: O que vocês estão aprendendo que esteja oportunizando o desenvolvimento de um arcabouço que vá orientar a prática pedagógica? O que precisa ficar claro na formação de professores é haver uma distinção entre a prática pedagógica vivenciada na formação inicial e as outras práticas pedagógicas que irão experimentar no decorrer de sua formação continuada. É importante lembrar que o professor da atualidade já não tem condições – em virtude da crise paradigmática – de definir uma prática que irá sustentar para o resto de sua vida. Precisamos “avisar” aos estudantes da formação de professores que precisamos reformular nossas intenções de práticaspermanentemente, sob o risco de esquecer a autocrítica. Daí se pode concluir que, mais importante do que definir que atividade pode ser considerada prática pedagógica, é se o estudante está disposto a tomar consciência do que irá oportunizar o início da construção da sua identidade como professor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. Porto Alegre: E.P.U., 2004. LIRA, Bruno Carneiro. Práticas pedagógicas para o século XXI: a sociointeração digital e o humanismo ético / Bruno Carneiro Lira. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. VEIGA, I.P. A. A pratica do professor de didática. 3 ed. Campinas: Papirus 1994.