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05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO AULA 3 Profª Elisângela Gonçalves Branco Gusi 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18 CONVERSA INICIAL Nesta aula aprofundaremos nossos estudos sobre Jean Piaget, ícone do estudo sobre o desenvolvimento da inteligência e das relações biopsíquicas do indivíduo e sobre os instrumentos para a aprendizagem e os estágios de desenvolvimento. Vamos conhecer as provas piagetianas, relevantes para compreender as capacidades cognitivas dos indivíduos e seu desenvolvimento. Na escola, vamos observar as considerações sobre os conceitos como diretriz ao trabalho pedagógico, ao favorecer a aprendizagem e fortalecimento cognitivo dos alunos. TEMA 1 – ABORDAGEM COGNITIVISTA 1.1 EDUCAÇÃO DA LIBERDADE Piaget, ao estudar o desenvolvimento dos animais e mais tarde a observação dos seus próprios filhos, direciona suas pesquisas para os processos cognitivos do conhecimento. A superação de que a mente é uma tabula rasa e de que o conhecimento precisa ser gravado com a repetição de conteúdo trouxe uma evolução para a educação. Com uma visão otimista, foram realizadas pesquisas científicas que repensaram a forma de se ensinar e de se aprender. A valorização dos interesses e das capacidades que cada indivíduo possui em determinado momento de sua vida é fundamental no processo de aprender, e a escola precisa levar em conta esse processo. Piaget apresenta subsídios que levam a se repensar o fazer pedagógico, respeitando as fases e promovendo situações que favoreçam o processo de aprender. Para isso, as condições dos métodos 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18 de ensinar devem levar em conta a pesquisa espontânea da criança ou do adolescente. Todos os conteúdos investigados devem ser reinventados pelo aluno, ou seja, é preciso reconstruir o conteúdo com suas próprias investigações. O professor tem um papel fundamental, pois será o responsável por criar situações, armar dispositivos capazes de suscitar problemas úteis ao aluno, organizar outros exemplos que levem à reflexão, ao controle de soluções apressadas. Com esse olhar, o professor deixa de ser somente um conferencista e estimula a pesquisa, o esforço, em vez de trazer soluções e conteúdos prontos. Para tanto, é fundamental que o professor não seja limitado ao conhecimento dos conteúdos que precisa trabalhar, mas levar em conta as peculiaridades do desenvolvimento psicológico da inteligência do aluno com o qual irá trabalhar. Para Piaget (1988, p. 17), o princípio fundamental dos métodos ativos só se pode beneficiar com a História das Ciências e assim pode ser expresso: compreender é inventar, ou reconstruir através da invenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir. É a libertação de pensamentos, uma educação voltada às reflexões e não ao depósito de conteúdo. A inteligência é revista em função da qualidade e não da quantidade, e a criatividade e o interesse por aprender geram elementos fundamentais para o desenvolvimento cognitivo do aluno. A educação da liberdade visa à busca de elementos reais para a compreensão dos conceitos, cuja complexidade é motivo de reflexão e elaboração de novos mecanismos, os quais levam ao aprimoramento cognitivo e o desenvolvimento do aluno. O prazer por aprender está presente, visto que a busca é pelo interesse, pela pesquisa e pelo desejo de superar desafios. TEMA 2 – PIAGET: VIDA E OBRA Jean Willian Fritz Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, na cidade de Neuchâtel na Suíça, e faleceu em 1980. Era filho de professor doutor de língua e literatura medievais, chamado de Arthur Piaget e de Rebecca Suzane, socialista suíça. A família de Piaget tinha posses financeiras e grande acesso à cultura. Desde muito cedo demonstrou interesse pela pesquisa científica e aos 10 anos publica numa revista da Sociedade dos Amigos da Natureza de Neuchâtel o relato sobre um Pardal Branco e com 11 anos foi assessor no museu de história natural de sua cidade. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/18 Em 1915, Jean Piaget se forma em Biologia. Em 1918, defende a tese de doutorado sobre moluscos e inicia seus estudos em Psicologia com enfoque em Psicanálise. Em 1919, ingressa na Universidade de Paris para trabalhar com testes de inteligência infantil. Em 1921, iniciou pesquisas destinadas à formação de professores em Genebra, no Instituto Jean Jacques Rousseau. Em 1923, lança o livro A linguagem do pensamento da criança. Em 1924, casa-se com Valentine Châtenay, deste casamento nascem: Jacqueline em 1925, Lucienne em 1927 e Laurent em 1931. Em 1925, inicia a docência em psicologia, história da ciência e sociologia. Em 1929, leciona a disciplina História do Pensamento Científico e se dedica aos assuntos pedagógicos assumindo o Gabinete Internacional de Educação. Na década de 30, com base na observação de condutas dos próprios filhos e suas pesquisas, escreve vários trabalhos sobre as fases do desenvolvimento infantil. Na década de 40, assume o laboratório de psicologia como professor-diretor. Em 1941, publica trabalhos, com a colaboração de outros pesquisadores, sobre a formação de conceitos matemáticos e físicos. Em 1946, torna-se membro do Conselho Executivo da Unesco e por muitas vezes assume cargos importantes no departamento de Educação. Na década de 50, faz a publicação da Epistemologia genética, tese sobre a teoria do conhecimento. Em 1954, assume a presidência da União Internacional de Psicologia Científica, com gestão de 3 anos. Em 1955, na Universidade de Sorbonne Paris, assume o lugar do filósofo Merleau-Ponty e funda o Centro Internacional de Epistemologia Genética, o qual era destinado a realizar pesquisas 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/18 interdisciplinares sobre a formação da inteligência. Em 1967, lança a obra Biologia e conhecimento. Recebeu título de doutor honoris causa em 1936 pela Universidade Harvard, 1946 Universidade Sorbone e 1949 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Em 16 de setembro de 1980, morre na cidade de Genebra, aos 84 anos. Obras de sua autoria: A Construção do Real na Criança. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. 360 p. A Epistemologia Genética e a Pesquisa Psicológica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974. A Epistemologia Genética. Trad. Nathanael C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971. 110p. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Problema central do desenvolvimento. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad. Fernando Becker e Tania B.I. Marques. Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993. Traduzido de: Intellectual Evolution from Adolescence to Adulthood. Human Development, v. 15, p. 1-12, 1972. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Trad. Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. A Linguagem e o Pensamento na Criança. Trad. Manuel Campos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. 307 p. A Noção de Tempo na Criança. Rio de Janeiro: Distribuidora Record, (s.d.). A Origem da Ideia do Acaso na Criança. Rio de Janeiro: Distribuidora Record, (s.d.). A Práxis na Criança. In.: Piaget. Rio de Janeiro: Forense, 1972. A Psicologia da Inteligência. Trad. Egléa de Alencar. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1958. 239 p. A Representação do Mundo na Criança. Rio de Janeiro: Distribuidora Record, [s.d.]. A Situação das Ciências do Homem no Sistema das Ciências. Trad. Isabel Cardigos dos Reis. Amadora: Bertrand, Vol. I, 1970. 146 p. A Vida e o Pensamento do Ponto de Vista da Psicologia Experimental e da Epistemologia Genética. In.: Piaget. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972.Abstração Reflexionante: Relações lógico-aritméticas e ordem das relações espaciais. Trad. Fernando Becker e Petronilha G. da Silva, Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Aprendizagem e Conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979. Biologia e Conhecimento. Trad. Francisco M. Guimarães. Petrópolis: Vozes, 1973. 423p. Conversando com Jean Piaget. Rio de Janeiro: Difel, 1978. Da Lógica da Criança à Lógica do Adolescente. São Paulo: Pioneira, 1976. Ensaio de Lógica Operatória. São Paulo: Editora Globo/EDUSP, 1976. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973. Fazer e Compreender. Trad. Cristina L. de P. Leite. São Paulo: Melhoramentos; EDUSP, 1978. 186 p. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/18 Gênese das Estruturas Lógicas Elementares. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. 356 p. Inconsciente Afetivo e Inconsciente Cognitivo. In.: Piaget. Rio de Janeiro: Forense, 1972. O Estruturalismo. Trad. Moacir R. de Amorim. São Paulo: Difel, 1970. 119 p. O Juízo Moral na Criança. São Paulo: Summus, 1994. 302 p. O Julgamento Moral na Criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977. O Nascimento da Inteligência na Criança. Trad. Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. 387p. O Possível e o Necessário. Evolução dos necessários na criança. Porto Alegre: Artes médicas, v. 2, 1986. O Raciocínio na Criança. Trad. Valerie Rumjanek Chaves. Rio de Janeiro: Record, 1967. 241p. O Trabalho por Equipes na Escola: bases psicológicas. Trad. Luiz G. Fleury. Revista de Educação. São Paulo: Diretoria do Ensino do Estado de São Paulo. vol. XV e XVI, 1936. p. 4-16. Para Onde Vai a Educação? Trad. Ivete Braga. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. 89 p. Psicologia e Epistemologia: Por uma teoria do conhecimento. Trad. Agnes Cretella. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1973. 158 p. Psicologia e Pedagogia. Trad. Dirceu A. Lindoso; Rosa M.R. da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1970. 182 p. Sabedoria e Ilusões da Filosofia. Trad. Zilda A. Daeir. São Paulo: Difusão Européia, 1969. 200 p. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria A.M. D'Amorim; Paulo S.L. Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 146 p. Tratado de Psicologia Experimental: A inteligência. Trad. Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Forense, v. 7, 1969 Em coautoria com Bärbel Inhelder A Psicologia da Criança. Trad. Octavio M. Cajado. São Paulo: Difel, 1968. 146 p. Memória e Inteligência. Trad. Alexandre R. Salles. Rio de Janeiro: Artenova; Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1979. 410 p. O Desenvolvimento das Quantidades Físicas na Criança. Conservação e atomismo. Trad. Christiano M. Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar. 1970. 359 p. A Imagem Mental na Criança.Trad.António Couto Soares. Porto: Livraria Civilização- Editora.1977.525p. Em coautoria com Paul Fraisse Tratado de Psicologia Experimental: A percepção. Trad. Eliseu Lopes. Rio de Janeiro: Forense, v. 6, 1969. Tratado de Psicologia Experimental: Aprendizagem e memória. Trad. Agnes Cretella. Rio de Janeiro: Forense, v. 4, 1969. 300 p. Tratado de Psicologia Experimental: História e método. Trad. Agnes Cretella. Rio de Janeiro: Forense, v. 1, 1969. 188 p. Tratado de Psicologia Experimental: Linguagem, comunicação e decisão. Rio de Janeiro: Forense, v. 8, 1969. Tratado de Psicologia Experimental: Motivação, emoção e personalidade. Trad. Agnes Cretella. Rio de Janeiro: Florense, v. 5, 1969. Tratado de Psicologia Experimental: Psicofisiologia do comportamento. Trad. Agnes Cretella. Rio de 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/18 Janeiro: Forense, v. 3, 1969. 163 p. Tratado de Psicologia Experimental: Psicologia social. Rio de Janeiro: Florense, v. 9, 1970. Tratado de Psicologia Experimental: Sensação e motricidade. Trad. Agnes Cretella. Rio de Janeiro: Florense, v. 2, 1969. 158 p. Em coautoria com Rolando Garcia Psicogênese e História das Ciências. Trad. Giselle Unti. Petrópolis: Vozes, 2011, 376 p. Outras coautorias Com Louis Meylan e Pierre Bovet: Edouard Claparède: A escola sob medida e estudos complementares sobre Claparède e sua doutrina. Trad. Maria Lúcia E. Silva. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973. 246 p. Com A. Szemninska: A Gênese do Número na Criança. Trad. Christiano Monteiro Oiticia. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. 331 p. Com vários: A Tomada da Consciência. Trad. Edson B. de Souza. São Paulo: Melhoramentos e EDUSP, 1977. 211 p. Educar para o Futuro. Trad. Rui B. Dias. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1974. 110 p. Problemas de Psicolinguística. Trad. Alvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1973. 252p. (Wikipedia, 2020) TEMA 3 – NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO E AS RELAÇÕES COM O AMBIENTE FÍSICO E SOCIAL Para Piaget, a criança passa por estágios de desenvolvimento sensorial e seu desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da informação, percepção e experiência que cada indivíduo tem na relação com conceitos e novas aprendizagens. Esse processo é chamado de assimilação e acomodação. Funciona da seguinte forma: o indivíduo recebe uma informação, a qual encaixa com as suas estruturas cognitivas. Em seguida, irá compreender, ou melhor, assimilar a informação. Se uma informação não encaixar com suas estruturas cognitivas, a informação é rejeitada, mas caso haja prontidão de compreensão por parte do indivíduo, então há modificação interna e acomodação da informação. A assimilação consiste na capacidade de interpretar novas experiências, pelas estruturas mentais, já existentes no indivíduo, sem que se alterem. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/18 A acomodação é a capacidade de alterar as estruturas mentais para que integrem novas experiências/conceitos. A essa estrutura mental, Piaget chamou de esquemas, os quais seriam as possibilidades de processar a informação e modificar-se à medida que o indivíduo vai crescendo e se desenvolvendo. Em seus estudos, definiu que os esquemas seriam de dois tipos: os esquemas sensoriomotores (ações) e os esquemas cognitivos (conceitos) (Tavares et al., 2007). Os esquemas ocorrem todas as vezes que contactamos com uma nova informação ou experiência, o que, possivelmente, repercutirá em uma nova aprendizagem. Ao longo da vida, cada indivíduo vai realizando seu processo de assimilação e acomodação. O equilíbrio entre as duas é chamado de equilibração, que, por sua vez, favorece os esquemas mentais de cada indivíduo, sendo fundamental para que seu processo de desenvolvimento cognitivo ocorra. A equilibração cria a harmonia e adaptação, tornando cada vez mais estável e complexa a inteligência. Com base nesse conceito de desenvolvimento, fica claro que, para Piaget, a aprendizagem é um processo de construção individual, com a formação da própria interpretação pessoal e única de suas experiências. É relevante destacar que, para aprender, é indispensável que haja mudança na estrutura e esquema existente, pois a associação de estímulos e respostas ou o acúmulo de conhecimentos não garantem a aprendizagem. Tavares et al. (2007) destacam os critérios que definiriam os estágios de desenvolvimento definido por Piaget: 1. os indivíduos passam pelos estágios de maneira sequencial, ou seja, é fundamental superar um estágio para avançar ao próximo. Já as idades são definidas por aproximação e possam variar de um indivíduo para outro; 2. em cada estágio, há uma estrutura das funções, as quais caracterizam reações individuais; 3. há uma sequência de estruturas em cada estágio, ou seja, é necessário superar a anterior para avançar de maneira integrativa. 3.1 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MENTAL 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/18 Piaget dividiu em quatro estágios de formação do desenvolvimento mental, que ocorrem com base em esquemas que são organizados em operações, as quais se equilibram e dão origem aos estágios de desenvolvimento cognitivo qualitativamente diferentes. Os estágios definidos por Piaget possuem idade aproximada,mas podem variar de indivíduo para indivíduo. Estágio sensoriomotor (do nascimento aos 2 anos), estágio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos), estágio das operações concretas (dos 7 aos 11-12 anos) e as operações formais (a partir dos 11-12 anos). Em cada estágio são definidos comportamentos, como vamos ver a seguir: Sensoriomotor: esse estágio vai desde o nascimento até aproximadamente os 2 anos. É uma fase em que a criança vai superando os reflexos à imagem mental dos espaços e situações. Tem crescente controle das coordenações, passando do rastejar, engatinhar e andar. Percebe os objetos e os busca, havendo a invenção de novos meios, imagem mental e a formação de símbolos; Pré-operatório: esse estágio vai dos 2 anos a aproximadamente 7 anos. A criança brinca com o faz de conta, acha que tudo é dela (egocêntrica). Seu pensamento é mágico, desenvolve a linguagem e o desenho. Pensamento intuitivo, rígido e tem dificuldade com a flexibilidade do pensamento; Operações concretas: esse estágio vai dos 7 anos a aproximadamente 11 ou 12 anos. Possui a capacidade da reversibilidade mental, a passagem da intuição à lógica concreta. Compreende a ação sobre o real. É capaz de fazer operações mentais de classificar, contar, medir, seriar. Compreende a conservação de matéria sólida, líquida, peso e volume. É capaz de compreender a relação de tempo e velocidade; Operações formais: esse estágio compreende a idade a partir dos 11-12 anos. O pensamento abstrato é presente. Raciocínio hipotético dedutivo, define conceitos e valores. É capaz de realizar um pensamento lógico, independente da ação. TEMA 4 – MÉTODO CLÍNICO DE JEAN PIAGET Jean Piaget desenvolveu seu próprio método clínico baseado em observações e experiências com crianças que apresentavam dificuldades de aprender. A característica é realizar um misto de ações pela experimentação e observação. Quando o interrogador gera hipóteses e, com base na fala da 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/18 criança, coloca condições e situações para saber como a criança irá reagir. Na observação direta, percebe-se o contexto mental e comportamental da criança, oscilando em deixar a criança conduzir e em outro momento fazer a condução da situação. Primeiramente se faz necessário permitir que a criança se coloque de maneira espontânea para compreender como ela reage na relação com o objeto, com outras pessoas, como compreende a representação no mundo. O método clínico crítico considera as expressões da criança, antes da interferência do adulto, assim como o erro, como um processo para aprender. Sobre a noção de pensamento, Piaget definiu três estágios: · 1º estágio: idade média 6 anos, espontaneidade. As crianças acreditam que o pensamento vem da boca, o pensamento é confundido com as coisas, e as palavras são parte delas. Não há subjetividade no ato de pensar; 2º estágio: o pensamento se situa na cabeça, mas tem característica material. O pensamento ainda não se diferencia das coisas, nem as palavras das coisas nomeadas. A criança entra em conflito com o que pensa, já questiona, mistura suas ideias, algumas são reais, outras figurativas; 3º estágio: idade média de 11-12 anos, compreende a noção do pensamento e da matéria física. É capaz de localizar o pensamento e de perceber que é invisível; consegue distinguir entre a palavra e o nome das coisas; embora localize os sonhos na cabeça, compreende que se a abríssemos, eles não estariam lá, de forma visível. O método clínico critico consiste inicialmente na exploração da espontaneidade da criança, em seguida a investigação com perguntas envolvendo temas como: 1. Pensamos com a boca; 2. O pensamento é idêntico à voz; 3. Nada se passa na cabeça ou no corpo quando se pensa; 4. O pensamento é localizado na cabeça; 5. Pensar é pensar nas coisas; 6. O pensamento é diferente da voz; 7. Confunde as palavras e as coisas, ou seja, as palavras têm força; 8. A criança atribui materialidade ao pensamento: sangue, veias, etc.; 9. A criança invoca palavras aprendidas, como cérebro, alma, etc., mas não as compreende; 10. O pensamento pode ser visto ou ouvido; 11. A criança procura compreender as palavras como cérebro, inteligência, memória, etc.; 12. A criança distingue entre as palavras e as coisas, ou seja, não acredita que as palavras têm força; 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/18 13. O pensamento não pode ser visto nem tocado (é imaterial); 14. A criança localiza os sonhos na cabeça e acredita que estes não podem ser vistos nem tocados (César, 2009). Para o diagnóstico do comportamento operatório, propõem-se as seguintes provas: 1. Conservação de conjuntos discretos Material: 12 fichas vermelhas e 10 fichas azuis. Procedimento: 1. Disponibilizar sobre a mesa 6 fichas de uma mesma cor, alinhando-as. Pedir à criança que faça outra fileira igual com as fichas da outra cor, dizendo: – Coloque a mesma quantidade de suas fichas como eu fiz com as minhas, nem mais, nem menos, ou – Faça com suas fichas uma fileira igual à minha, com o mesmo tanto de fichas. Modificar as hipóteses e a ordenação das fichas e verificar se a criança compreende termo a termo e as quantidades. 2. Prova da conservação do líquido Material: dois copos idênticos, um copo mais estreito e mais alto, um copo mais largo e mais baixo. Procedimento: Colocar água nestes dois copos (A e A’). Quando eles estiverem com a mesma quantidade de água, você me avisa? Colocar a água até um pouco mais da metade dos copos e perguntar: – A e A’ estão iguais? Há a mesma quantidade de água nos dois copos? Você tem certeza? Por quê? Se você tomar a água deste copo (A) e eu tomar a água deste (A’), qual de nós dois (duas) toma mais água? Por quê? 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/18 Transferir a água para outros copos, questionando se as quantidades são iguais ou diferentes, formulando hipóteses para concluir se a criança percebe a quantidade. 3. Conservação da quantidade de matéria Material: 2 bolas de massa para modelar com cores diferentes. Procedimento: Apresentar a criança as massas de modelar, ambas de mesmo tamanho. 1. Perguntar: – Estas duas bolinhas são iguais? Elas têm a mesma quantidade de massa? - Você tem certeza? Se eu der esta bolinha para você e ficar com esta para mim, quem terá mais massa? Por quê? Observações: Se a criança responder que uma vai ganhar uma bola maior que a outra, perguntar se confirma que elas não são iguais. 2. Transformar uma das bolinhas em rolinho ou salsicha e coloque-a sobre a mesa. Perguntar: – E agora, onde tem mais massa? Por quê? Como sabe disso? Modificar e subdividir uma das bolinhas para compreender se a criança entende que a quantidade de massa é a mesma, indiferente do formato que ela ocupe. 4. Prova de Inclusão de Classes (Flores) Material: 7 flores de plástico ou naturais sendo: 5 rosas e margarida. As flores devem ser pequenas e não podem ser desenhadas. Procedimento: 1. Perguntar: – O que é tudo isso? Explicar que são flores, rosas e margaridas. – Você conhece outras flores? Quais? 2. Pegar uma flor de cada vez e perguntar à criança: - O que é isto? Se a criança responder é uma flor, perguntar: – Qual é o nome dela? 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/18 Se a criança responder é uma rosa ou é uma margarida, perguntar: – O que a rosa (ou a margarida) é? 3. – O que você está vendo aqui sobre a mesa? Se a criança disser flores, perguntar, apontando para as rosas: – Estas como se chamam? Apontando as margaridas – E estas? 4. Dar prosseguimento perguntando: – Aqui na mesa há mais rosas ou mais flores? Por quê? Como sabe disso? 5. Apresentar duas margaridas e uma rosa e proceder da mesma maneira que nos itens 2, 3 e 4. 5. Prova de seriação de bastonetes Material: 10 bastonetes de 10,6 cm a 16 cm; 10 bastonetes de 10,3 a 15,7 cm colocados numa prancha. Procedimento:1. Construção da série – Esses pauzinhos chamam-se bastonetes. Você vai pegá-los e fazer uma bonita escada ou fileira em ordem, um ao lado do outro. Se a criança fizer uma escada sem base comum, sugira o seguinte: – Você não poderia fazer sua escadinha? Quando a criança terminar perguntar-lhe “Como você fez para escolhê-los?”, anotar as características das escolhas. Apontar para o primeiro e depois para o último bastonete e perguntar: – Por que você colocou este aqui? Fazer a mesma pergunta com alguns do meio. 2. Na intercalação, verificar se tentou seriar pequenas séries, com ensaio e erro. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/18 Apresentar à criança a série de bastonetes colados numa prancha. Dar à criança um a um em ordem bagunçada, para que a criança organize na ordem correta. Pedir para que a criança lhe entregue outros, para que você monte uma escada sem ela ver, ou seja, ela terá que entregar na ordem por tamanho. 6. Conservação do comprimento Material: dois fios flexíveis de comprimentos diferentes. Procedimento: Levar a criança constatar e afirmar a desigualdade entre os fios. Movimentar os fios, deixando-os em formatos diferentes para que a criança 7. Conservação do peso Material: 2 bolas de massa pequenas e uma balança com dois pratos. Procedimento: explorar com a criança como funciona a balança, depois pedir para que transforme em dois pedaços com o mesmo peso. Em seguida, explorar formas com as massas investigando se a criança compreende a relação de peso, forma e quantidade. 8. Conservação do volume Material: dois copos com água até o mesmo nível, duas pequenas bolas de massa plástica. Procedimento: Primeiro constata as quantidades de massa e água, depois explora a possibilidade de colocar a massa dentro do copo e o que acontece com a água e as quantidades em seus respectivos copos. 9. Mudança de Critério (dicotomia) Material: fichas em figuras geométricas, sendo: 6 círculos pequenos vermelhos, 6 azuis; 6 círculos grandes vermelhos e 6 azuis; 6 quadrados pequenos vermelhos e 6 azuis; 6 quadrados grandes vermelhos e 6 azuis; 1 retângulo grande dividido em duas partes ou duas caixas baixas iguais. Procedimento: 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/18 Explorar a classificação espontânea e a dicotomia, separando em dois grupos, construindo a partir de combinações e explorando a variação de possibilidades. 10. Intersecção de classes Material: 3 espécies de fichas do mesmo material e tamanho, sendo: 5 redondas vermelhas, 5 redondas amarelas e 5 quadradas amarelas; 1 folha de papelão com dois círculos desenhados, 1 preto e outro azul que se entrecruzam delimitando 3 partes, das quais uma é comum aos 2 círculos. Procedimento: Colocar as fichas nos círculos, as redondas vermelhas e as quadradas amarelas nas partes exteriores e as redondas amarelas nas partes comuns. Explorar com a criança essa disposição; perguntar se há mais fichas vermelhas ou mais amarelas; se há mais fichas quadradas ou mais redondas. Se há a mesma quantidade, mais ou menos fichas redondas do que amarelas e a mesma situação com as fichas quadradas na comparação com as amarelas. 11. Prova de combinação de fichas duplas para pensamento formal Material: 6 fichas de cores diferentes Procedimento: Instigar a criança a fazer a maior quantidade de duplas com as fichas. 12. Permutação possíveis com um conjunto determinado de fichas. Material: 6 fichas de cores diferentes Procedimento: Fazer a maior quantidade possível de combinações utilizando 4 fichas. TEMA 5 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ESCOLARES As implicações da teoria piagetiana para a educação trouxeram grandes benefícios, os quais corroboraram uma visão que valorizava o ser humano, suas tentativas e o prazer por aprender, com o olhar construtivista, mais focado no processo de construção do que no resultado final. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/18 Para que o fazer pedagógico gerasse sentido, foi fundamental que os materiais, o currículo, os materiais, os espaços, tudo fosse adaptado às necessidades individuais de cada estudante, sejam físicas, cognitivas, sociais e emocionais. Exemplo disso seriam espaços para crianças pequenas com cadeiras e mesas pequenas, ornando com espaços para movimentação livre e seguro. Tavares et al. (2007) apontam os principais indícios que movimentaram o repensar pedagógico com vistas à teoria piagetiana: 1. Atenção ao processo de pensar da criança e não apenas no que esta produz. Os professores, além corrigir as respostas dadas pelas crianças em suas atividades, compreendem o processo que as levou chegarem a esse resultado; 2. Encorajamento da criança na busca por respostas. Reconhecer a autoiniciativa e a ativa participação em atividades, por meio de uma interação espontânea com os espaços, o ambiente e o conhecimento. Instigar a curiosidade com várias atividades, as quais permitam refletir sobre o meio em que vivem, o mundo físico; 3. Valorizar a diversidade de ideias, respeitando suas capacidades registradas nos estágios que se encontram. Todo programa educacional deve ter adaptação de técnicas adequadas as possibilidades de cada criança, respeitando e flexibilizando adequação ao perfil de cada um; 4. Respeito à individualidade. Cada criança tem um ritmo de progressão e isso deve ser respeitado. Mesmo que haja uma sequência de estágios, o professor deve estar atento a fornecer subsídios dentro das individualidades, ou pequenos grupos de crianças, e jamais considerar todas as crianças fazendo parte de um só grupo. Em uma sala de aula, cada criança apresenta seu próprio processo construtivo da aprendizagem, o professor precisa estar atento à construção de cada uma. NA PRÁTICA Vamos para a prática? Pesquise em uma escola próxima a você se existem atitudes realizadas em sala de aula que expressam a teoria piagetiana. Faça uma relação das práticas que encontrar. FINALIZANDO 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/18 Nesta aula, aprendemos sobre a história e a teoria de Jean Piaget, grande pesquisador que colaborou imensamente para a humanidade, principalmente nas áreas de educação e psicologia, envolvendo grandes estudos no desenvolvimento infantil e a forma de pensar da criança. Criador da epistemologia genética, articulou métodos e técnicas ao fazer terapêutico e pedagógico, com as provas piagetianas capazes de identificar o estágio cognitivo que a criança pertence no momento. Revolucionou a escola, promovendo um olhar cuidadoso para a individualidade de cada criança, instruindo os mestres a buscarem, criteriosamente, técnicas e estratégias que favorecessem a aprendizagem e validassem o processo de construção do conhecimento. REFERÊNCIAS CÉSAR, J. S. C. As ideias das crianças a respeito de suas dificuldades no sistema escrito. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1988. _____. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1978. TAVARES, J. et al. Manual de psicologia do desenvolvimento e aprendizagem. Porto, PT: Porto Editora, 2007. WIKIPEDIA. Jean Piaget. Wikipedia, 25 fev. 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget>. Acesso em: 8 mar. 2020. 05/03/2024, 22:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/18