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tanto se resultar lesão corporal de natureza grave como se resultar morte. O resultado agravador (lesão corporal de natureza grave ou morte) pode ser doloso ou culposo. Não se cuida de crime essencialmente preterdoloso. As lesões leves e a tentativa de homicídio não qualificam a rixa. ■ Rixa e legítima defesa: Não é possível suscitar a legítima defesa no crime de rixa, pois quem dele dolosamente participa comete ato ilícito. ■ Ação penal: É pública incondicionada, qualquer que seja a modalidade do delito. ■ Lei 9.099/1995: A rixa simples e a rixa qualificada são infrações penais de menor potencial ofensivo. Os limites máximos da pena privativa de liberdade autorizam a transação penal, se presentes os demais requisitos legais, e o processo e julgamento desse crime seguem o rito sumaríssimo (arts. 76 e 77). ■ Jurisprudência selecionada: Rixa e homicídio: “Não tendo sido apurado o autor do tiro causador do homicídio, não é admissível que por ele respondam todos os participantes da rixa, que pressupõe grupos opostos” (STF: AP 196/PB, Rel. Min. Aliomar Baleeiro, Tribunal Pleno, j. 10.06.1970). Rixa qualificada: “Se o Ministério Público e a decisão de pronúncia reconhecem a existência da rixa em que duas facções lutaram em completa confusão e não se aponta quem teria vibrado o único golpe de que resultou a morte de um dos contendores, seria iníquo responsabilizarem-se todos esses do lado oposto ao da vítima sob fundamento de coautoria. A rixa caracteriza-se exatamente pelo conflito quase sempre subitâneo, confuso e generalizado, que torna impossível a fixação da autoria, como aconteceu no caso” (STF: RHC 43.756/SP, Rel. Min. Aliomar Baleeiro, 2.ª Turma, j. 08.11.1966). Capítulo V DOS CRIMES CONTRA A HONRA ■ Conceito de honra: Honra é o conjunto das qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser humano, que o fazem merecedor de respeito no meio social e promovem sua autoestima. É um sentimento natural, inerente a todo homem e cuja ofensa produz uma dor psíquica, um abalo moral, acompanhados de atos de repulsão ao ofensor. Representa o valor social do indivíduo, pois está ligada à sua aceitação ou aversão dentro de um dos círculos sociais em que vive, integrando seu patrimônio. Trata-se de patrimônio moral que encontra proteção como direito fundamental do homem no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal (fundamento constitucional dos crimes contra a honra). ■ Espécies de honra: a)Honra objetiva e honra subjetiva. A honra objetiva é a visão que as demais pessoas da coletividade têm acerca das qualidades físicas, morais e intelectuais de alguém, ou seja, é a reputação de cada indivíduo no meio social em que está imerso; em suma, é o julgamento que as pessoas fazem de alguém. Já a honra subjetiva é o sentimento que cada pessoa possui acerca das suas próprias qualidades físicas, morais e intelectuais, o juízo que cada um faz de si mesmo (autoestima). Subdivide-se em honra-dignidade (conjunto de qualidades morais do indivíduo) e honra-decoro (conjunto de qualidades físicas e intelectuais). b) Honra comum e honra especial. Honra comum é a atinente à vítima enquanto pessoa humana, independentemente das atividades por ela exercidas. Honra especial, ou honra profissional, é a que se relaciona com a atividade particular da vítima. ■ Subsidiariedade: Os crimes contra a honra estão previstos também em diversas leis extravagantes, como o Código Penal Militar e o Código Eleitoral. Os tipos previstos no Código Penal somente serão aplicados quando não se verificar nenhuma das hipóteses excepcionalmente elencadas pela legislação especial. Se o fato cometido no caso concreto ostentar os elementos especializantes contidos na lei especial, esta terá preferência sobre a lei geral (princípio da especialidade). ■ Classificação: são crimes de dano (deve-se efetivamente lesionar a honra da vítima, não bastando a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo). Sem prejuízo, são delitos formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, bastando a prática daquela para a consumação. ■ Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Algumas pessoas, todavia, são imunes aos crimes contra a honra. Não os praticam, ainda que ofendam a honra alheia, pois o ordenamento jurídico as afastam da incidência do Direito Penal. a) Imunidades Parlamentares: A imunidade material protege o parlamentar em suas opiniões, palavras e votos, desde que relacionadas às suas funções, não abrangendo manifestações desarrazoadas e desprovidas de conexão com seus deveres constitucionais. A imunidade material abrange os deputados federais e senadores. De acordo com o art. 27, § 1º, da Constituição Federal, aos deputados estaduais serão aplicadas as mesmas regras sobre imunidades relativas aos deputados federais e senadores. No tocante ao Poder Legislativo Municipal, dispõe o art. 29, inciso VIII, da Constituição Federal que os municípios serão regidos por lei orgânica, que deverá obedecer, entre outras regras, a da inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos, no exercício do mandato e na circunscrição do Município. b) Advogados. De acordo com o art. 7º, § 2º, da Lei 8.906/1994, “o advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer”. O Supremo Tribunal Federal, na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.127-8, declarou a inconstitucionalidade da expressão “ou desacato” constante deste dispositivo legal. A imunidade profissional do advogado não se estende ao crime de calúnia. ■ Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa física. Os crimes contra a honra supõem, em sua configuração estrutural e típica, a existência de sujeito passivo determinado e conhecido. Não é imprescindível, contudo, que a pessoa moralmente ofendida seja objeto de expressa referência nominal. Basta que o ofendido seja designado de maneira tal que torne possível a sua identificação, ainda que na limitada esfera de suas relações pessoais, profissionais ou sociais. Os desonrados, os doentes mentais e menores de 18 anos também podem ser vítimas de todos os crimes contra a honra. A pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia (apenas quanto a crimes ambientais) e difamação, mas nunca de injúria. Nada obstante estabeleça o art. 138, § 2º, do Código Penal a punibilidade da calúnia contra os mortos, a lei protege a honra dos falecidos relativamente à memória da boa reputação, bem como o interesse dos familiares em preservar sua dignidade, não sendo o morto o sujeito passivo do crime. Vítimas do crime, portanto, são o cônjuge e os familiares do falecido. Se o sujeito passivo da calúnia e da difamação for o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, a conduta pode ser deslocada do Código Penal para o art. 26 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional. ■ Elemento subjetivo: Em regra é o dolo, direto ou eventual, não havendo crime contra a honra de natureza culposa. No subtipo de calúnia, definido pelo art. 138, § 1º, do Código Penal, admite-se exclusivamente o dolo direto, pois consta a expressão “sabendo falsa a imputação”. Não basta praticar a conduta descrita pelo tipo penal de cada um dos crimes contra a honra. Exige-se um especial fim de agir(teoria finalista = elemento subjetivo do tipo ou elemento subjetivo do injusto; teoria clássica = dolo específico), consistente na intenção de macular a honra alheia (animus diffamandi vel injuriandi). ■ Consentimento do ofendido: A honra é bem jurídico disponível. Portanto, o consentimento do ofendido, se prévio, emanado de pessoa capaz e livre de qualquer tipo de coação ou fraude, exclui o crime. O consentimento posterior, por outro lado, pode ensejar a renúncia ou o perdão, extinguindo a punibilidade, pois os crimes contra a honra, em regra, somenteprocedem-se mediante queixa. O consentimento prestado pelo representante legal de um menor de idade ou incapaz não afasta o crime, pois a honra não lhe pertence, e a ninguém é dado dispor validamente de direito alheio. Calúnia Difamação Injúria Classificação no tocante à intensidade do mal visado pela conduta Crimes de dano Classificação quanto à relação entre conduta e resultado naturalístico Delitos formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado Sujeito ativo Regra: crimes comuns ou gerais Exceções: imunidades parlamentares e advogados, entre outras Sujeito passivo Qualquer pessoa física e pessoa jurídica (na calúnia, relativamente aos crimes ambientais) Qualquer pessoa física Meios de execução Crimes de forma livre Elemento subjetivo Dolo, direto ou eventual Dolo, direto ou eventual (exceto no § 1.º em que o dolo só pode ser o direto) Lei 9.099/1995 Infrações penais de menor potencial ofensivo Infração penal de menor potencial ofensivo (exceto injúria qualificada – art. 140, § 3.°) Causas especiais de exclusão da ilicitude (art. 142) Não se aplicam Aplicam-se Retratação Admitem (obs.: causa extintiva da punibilidade de natureza subjetiva – não se comunica aos demais querelados que não se retrataram) Não admite Pedido de explicações Admitem Ação penal Regra: Privada Exceção: • Pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça no crime contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. • Pública condicionada à representação do ofendido no crime contra funcionário público, em razão de suas funções. Regra: Privada Exceções: • Pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça no crime contra o Presidente da República ou contra chefe de gov-erno estrangeiro; • Pública condicionada à representação do ofendido no crime contra funcionário público, em razão de suas funções. Regra: Privada Exceções: • Pública incondicionada na injúria real, se da violência resulta lesão corporal; • Pública condicionada à representação do ofendido no crime contra funcionário público, em razão de suas funções; • Pública condicionada à representação do ofendido no crime de injúria qualificada previsto no art. 140, § 3.º; • Pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça no crime contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. Calúnia Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º É punível a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Classificação: Crime comum Crime de forma livre Crime unissubsistente ou plurissubsistente Crime instantâneo Crime unissubjetivo (regra) Crime comissivo Crime de dano Crime formal Informações rápidas: Atinge a honra objetiva da pessoa (o crime consumase quando a imputação falsa de crime chega ao conhecimento de terceira pessoa). Imputação falsa de crime (qualquer espécie – não abrange contravenção penal), fato determinado, verossímil e contra pessoa certa e determinada. A tentativa é ou não possível, dependendo do meio de execução do crime. A calúnia é o único crime contra a honra que tutela os mortos. A regra é a admissibilidade da exceção da verdade. ■ Introdução: Caluniar consiste na atividade de atribuir falsamente a alguém a prática de fato definido como crime. ■ Objeto jurídico: O bem jurídico tutelado é a honra objetiva, ou seja, a reputação da pessoa na sociedade. ■ Objeto material: É a pessoa que tem sua honra objetiva ofendida pela conduta criminosa. ■ Núcleo do tipo: É “caluniar”. O legislador foi redundante. Com efeito, caluniar é imputar, razão pela qual não era necessário dizer: “caluniar alguém, imputando-lhe...”. A conduta consiste em atribuir a alguém a prática de determinado fato. Esse fato, entretanto, deve ser previsto em lei como criminoso. Imputação falsa de contravenção penal atinge a honra, configurando crime de difamação, mas não calúnia. O fato deve ser também verossímil, pois em caso contrário não há calúnia. Se não bastasse, é fundamental seja a ofensa dirigida contra pessoa certa e determinada. ■ Elemento normativo do tipo – “falsamente”: A imputação do fato definido como crime deve ser falsa. Essa falsidade pode recair sobre o fato: o crime atribuído à vítima não ocorreu; ou sobre o envolvimento no fato: o crime foi praticado, mas a vítima não tem nenhum tipo de responsabilidade em relação a ele. ■ Consumação: No momento em que a imputação falsa de crime chega ao conhecimento de terceira pessoa, sendo irrelevante se a vítima tomou ou não ciência do fato. ■ Tentativa: É ou não possível, dependendo do meio de execução do crime, ou seja, se o delito apresentar-se como plurissubsistente (exemplo: carta que se extravia) ou unissubsistente (exemplo: ofensa oral). ■ Subtipo da calúnia (art. 138, § 1º): Verifica-se essa espécie de calúnia quando alguém, depois de tomar conhecimento da imputação falsa de um crime à vítima, leva adiante a ofensa, transmitindo-a a outras pessoas. Propalar é relatar verbalmente, enquanto divulgar consiste em relatar por qualquer outro meio (exemplos: panfletos, outdoors, gestos etc.). Essa modalidade do crime de calúnia é incompatível com o dolo eventual, pois o tipo utiliza a expressão “sabendo falsa a imputação”. ■ Calúnia contra os mortos: A lei tutela a honra das pessoas mortas relativamente à memória da boa reputação, bem como o interesse dos familiares em preservar a dignidade do falecido. Vítimas do crime são o cônjuge e os familiares do morto, pois este último não tem mais direitos a serem penalmente protegidos. ■ Exceção da verdade: É o instrumento adequado para viabilizar aquele a quem se atribui a responsabilidade pela calúnia a prova da veracidade do fato criminoso por ele imputado a outrem, e se fundamenta no interesse público em apurar a efetiva responsabilidade pelo crime para posteriormente punir seu autor, coautor ou partícipe. Trata-se de incidente processual e prejudicial, pois impede a análise do mérito do crime de calúnia. Ademais, constitui-se em medida facultativa de defesa indireta, pois o acusado pelo delito contra a honra não é obrigado a se valer da exceção da verdade, e pode defender-se diretamente (exemplo: negativa de autoria). Em razão de ser a falsidade da imputação uma elementar do crime de calúnia, a regra é a admissibilidade da exceção da verdade. Entretanto, a exceção da verdade não poderá ser utilizada em três situações expressamente previstas pelo § 3º do art. 138 do Código Penal, a saber: I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141; e III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Esse rol é taxativo e não pode ser ampliado pelo intérprete da lei. ■ Ação Penal: Em regra, a ação penal é privada. Exceções: a ação será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça no crime contra o Presidente da República ou contra chefe do governo estrangeiro, ou pública condicionada à representação do ofendido no crime contra funcionário público, em razão das suas funções. ■ Lei 9.099/1995: Em face da pena máxima cominada ao delito, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo. ■ Jurisprudência selecionada: Direitos indígenas – competência – Justiça Federal: “Compete à Justiça Federal – e não à Justiça Estadual – processar e julgar ação penal referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputapela posição de cacique em comunidade indígena. O conceito de direitos indígenas, previsto no art. 109, XI, da CF/1988, para efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias que envolvam a organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compreendendo, portanto, a hipótese em análise” (STJ: CC 123.016/TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Seção, j. 26.06.2013, noticiado no Informativo 527). Dolo: “O agente que atribui falsamente a terceiros a prática de fatos criminosos incorre na prática do delito de calúnia. Dolo específico que, em juízo de delibação da exordial acusatória, revela-se demonstrado. Imputação de fatos desabonadores e ofensas que, em juízo de admissibilidade da exordial acusatória, demonstram-se apto a atingir a reputação profissional e a honra do ofendido” (STJ: APn 574/BA, rel. Min. Eliana Calmon, Corte Especial, j. 18.08.2010). Dolo e imunidades parlamentares: “As afirmações tidas como ofensivas pelo Querelante foram feitas no exercício do mandato parlamentar, por ter o Querelado se manifestado na condição de Deputado Federal e de Presidente da Câmara, não sendo possível desvincular aquelas afirmações do exercício da ampla liberdade de expressão, típica da atividade parlamentar (art. 51 da Constituição da República). O art. 53 da Constituição da República dispõe que os Deputados são isentos de enquadramento penal por suas opiniões, palavras e votos, têm imunidade material no exercício da função parlamentar. Ausência de indício de animus difamandi ou injuriandi, não sendo possível desvincular a citada publicação do exercício da liberdade de expressão, própria da atividade de comunicação (art. 5º, inc. IX, da Constituição da República)” (STF: Inq. 2.297/DF, rel. Min. Carmen Lúcia, Tribunal Pleno, j. 20.09.2007). Exceção da verdade – autoridade com prerrogativa de foro – juízo de admissibilidade: “A exceção da verdade oposta em face de autoridade que possua prerrogativa de foro pode ser inadmitida pelo juízo da ação penal de origem caso verificada a ausência dos requisitos de admissibilidade para o processamento do referido incidente. Com efeito, conforme precedentes do STJ, o juízo de admissibilidade, o processamento e a instrução da exceção da verdade oposta em face de autoridades públicas com prerrogativa de foro devem ser realizados pelo próprio juízo da ação penal na qual se aprecie, na origem, a suposta ocorrência de crime contra a honra. De fato, somente após a instrução dos autos, caso admitida a exceptio veritatis, o juízo da ação penal originária deverá remetê-los à instância superior para o julgamento do mérito. Desse modo, o reconhecimento da inadmissibilidade da exceção da verdade durante o seu processamento não caracteriza usurpação de competência do órgão responsável por apreciar o mérito do incidente. A propósito, eventual desacerto no processamento da exceção da verdade pelo juízo de origem poderá ser impugnado pelas vias recursais ordinárias” (STJ: Rcl 7.391/MT, rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, j. 19.06.2013, noticiado no Informativo 522). Exceção da verdade e presunção de falsidade da imputação: “Não tendo o acusado, por meio de exceção da verdade, provado a veracidade da imputação, presume-se a falsidade desta” (STF: AP 296/PR, rel. Min. Moreira Alves, Plenário, j. 20.05.1993). Extensão das imunidades parlamentares: “A inviolabilidade (imunidade material) não se restringe ao âmbito espacial da Casa a que pertence o parlamentar, acompanhando-o muro a fora ou externa corporis, mas com uma ressalva: sua atuação tem que se enquadrar nos marcos de um comportamento que se constitua em expressão do múnus parlamentar, ou num prolongamento natural desse mister. Assim, não pode ser um predicamento intuitu personae, mas rigorosamente intuitu funcionae, alojando-se no campo mais estreito, determinável e formal das relações institucionais públicas, seja diretamente, seja por natural desdobramento; e nunca nas inumeráveis e abertas e coloquiais interações que permeiam o dia a dia da sociedade civil. No caso, ficou evidenciado que o acusado agiu exclusivamente na condição de jornalista – como produtor e apresentador do programa de televisão –, sem que de suas declarações pudesse se extrair qualquer relação com o seu mandato parlamentar.” (STF: Inq 2.036/PA, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, j. 23.06.2004). Imunidade parlamentar: “A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 53, caput) exclui a possibilidade jurídica de responsabilização civil do membro do Poder Legislativo por danos eventualmente resultantes de suas manifestações, orais ou escritas, desde que motivadas pelo desempenho do mandato (prática ‘in officio’) ou externadas em razão deste (prática ‘propter officium’), qualquer que seja o âmbito espacial (‘locus’) em que se haja exercido a liberdade de opinião, ainda que fora do recinto da própria Casa legislativa, independentemente dos meios de divulgação utilizados, nestes incluídas as entrevistas jornalísticas. Doutrina. Precedentes. – A EC 35/2001, ao dar nova fórmula redacional ao art. 53, caput, da Constituição da República, explicitou diretriz, que, firmada anteriormente pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 177/1375-1376, Rel. Min. Sepúlveda Pertence), já reconhecia, em favor do membro do Poder Legislativo, a exclusão de sua responsabilidade civil, como decorrência da garantia fundada na imunidade parlamentar material, desde que satisfeitos determinados pressupostos legitimadores da incidência dessa excepcional prerrogativa jurídica. Essa prerrogativa político-jurídica – que protege o parlamentar em tema de responsabilidade civil – supõe, para que possa ser invocada, que exista o necessário nexo de implicação recíproca entre as declarações moralmente ofensivas, de um lado, e a prática inerente ao ofício legislativo, de outro. Doutrina. Precedentes. Se o membro do Poder Legislativo, não obstante amparado pela imunidade parlamentar material, incidir em abuso dessa prerrogativa constitucional, expor-se-á à jurisdição censória da própria Casa legislativa a que pertence (CF, art. 55, § 1º)” (STF: AI 473.092/AC, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. 07.03.2005). Necessidade de imputação de fato determinado: “Em relação ao crime de calúnia, são manifestamente atípicos os fatos imputados ao querelado, pois não houve em suas declarações a particularização da conduta criminosa que teria sido praticada pelo querelante (STF, Inq. 2.134/PA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, j. 23.03.2006). Vereadores e imunidades parlamentares: “O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que a imunidade material concedida aos vereadores sobre suas opiniões, palavras e votos não é absoluta, e é limitada ao exercício do mandato parlamentar sendo respeitada a pertinência com o cargo e o interesse municipal” (STF: RE-AgR 583.559/RS, Rel. Min. Eros Grau, 2.ª Turma, j. 10.06.2008). Difamação Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Exceção da verdade Parágrafo único – A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Classificação: Crime comum Crime de forma livre Crime unissubsistente ou plurissubsistente Crime instantâneo Crime unissubjetivo (regra) Crime comissivo Crime de dano Crime formal Informações rápidas: Atinge a honra objetiva da pessoa (o crime consuma-se quando a imputação chega ao conhecimento deterceira pessoa). A imputação deve versar sobre fato (verdadeiro ou falso) ofensivo à reputação. Se versar sobre fato definido como contravenção penal, haverá difamação. A tentativa é ou não possível, dependendo do meio de execução do crime. ■ Introdução: Trata-se de crime que ofende a honra objetiva e, da mesma forma que na calúnia, depende da imputação de algum fato a alguém. Esse fato, todavia, não precisa ser criminoso. Basta tenha capacidade para macular a reputação da vítima, isto é, o bom conceito que ela desfruta na coletividade, pouco importando se verdadeiro ou falso. A imputação de fato definido como contravenção penal tipifica o crime de difamação, pois a calúnia depende da imputação falsa de crime. ■ Objeto jurídico: A lei penal protege a honra objetiva. ■ Objeto material: É a pessoa que tem sua honra objetiva atacada pela conduta criminosa. ■ Núcleo do tipo: É imputar a alguém um fato ofensivo à sua reputação. Consiste, pois, em desacreditar publicamente uma pessoa, maculando os atributos que a tornam merecedora de respeito no convívio social. ■ Consumação: O crime se consuma quando terceira pessoa toma conhecimento da ofensa dirigida à vítima. ■ Tentativa: Pode ou não pode ser admitida, dependendo do meio de execução do crime (delito unissubsistente – exemplo: ofensa oral, ou plurissubsistente – exemplo: difamação por escrito, como na carta ofensiva que se extravia). ■ Exceção da verdade: Em regra não se admite a exceção da verdade no crime de difamação, pois pouco importa se a falsidade da imputação não funciona como elementar típica. Excepcionalmente, entretanto, o legislador autoriza nos casos em que o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. ■ Ação Penal: Em regra, a ação penal é privada. Exceções: será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça no crime contra o Presidente da República ou contra chefe do governo estrangeiro, ou então pública condicionada à representação do ofendido na difamação cometida contra funcionário público, em razão das suas funções. ■ Lei 9.099/1995: Em face da pena máxima cominada ao delito, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo. ■ Jurisprudência selecionada: Difamação – elemento subjetivo específico: “O paciente responde à ação penal pelo crime de difamação, por ter afirmado, ao peticionar em processo judicial em que atuava como advogado, que a juíza do feito, ainda que temporariamente, ausentou-se do interrogatório do seu cliente, deixando de assinar o referido ato. Ciente dessa manifestação, a juíza ofereceu representação ao Ministério Público Federal, requerendo que fossem tomadas as medidas criminais cabíveis, originando-se a denúncia pelo crime de difamação. A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para trancar a ação penal por atipicidade da conduta do paciente, por não ter sido caracterizado o animus difamandi, consistente no especial fim de difamar, na intenção de ofender, na vontade de denegrir, no desejo de atingir a honra do ofendido, sem o qual não se perfaz o elemento subjetivo do tipo penal em testilha, impedindo que se reconheça a configuração do delito” (STJ: HC 202.059/SP, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, j. 16.02.2012, noticiado no Informativo 491). Direitos indígenas – competência – Justiça Federal: “Compete à Justiça Federal – e não à Justiça Estadual – processar e julgar ação penal referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique em comunidade indígena. O conceito de direitos indígenas, previsto no art. 109, XI, da CF/1988, para efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias que envolvam a organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compreendendo, portanto, a hipótese em análise” (STJ: CC 123.016/TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Seção, j. 26.06.2013, noticiado no Informativo 527). Dolo e intenção de criticar (animus criticandi): “A tipicidade do crime contra a honra que é a difamação há de ser definida a partir do contexto em que veiculadas as expressões, cabendo afastá- la quando se tem simples crítica à atuação de agente público, revelando-a fora das balizas próprias” (STF: Inq 2.154/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. 17.12.2004). Injúria Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão de um a três anos e multa. Classificação: Crime comum Crime de forma livre Crime unissubsistente ou plurissubsistente Crime instantâneo Crime unissubjetivo (regra) Crime comissivo ou omissivo (unicamente na injúria) Informações rápidas: Ofende a honra subjetiva da pessoa (a consumação ocorre quando a ofensa a dignidade ou ao decoro chega ao conhecimento da vítima). Basta a atribuição de qualidade negativa, prescindindose da imputação de fato determinado. A tentativa é possível somente quando praticada por escrito. Crime de dano Crime formal Não admite exceção da verdade. Único crime contra a honra que prevê hipótese de perdão judicial. A injúria real impõe concurso material obrigatório (injúria real + crime resultante da violência). Injúria qualificada e racismo: no primeiro, a vítima é individualizada; no segundo, são proferidas manifestações preconceituosas generalizadas (a todas as pessoas de uma raça qualquer) ou pela segregação racial. ■ Introdução: Caracteriza-se o delito com a simples ofensa à dignidade ou ao decoro da vítima, mediante xingamento ou atribuição de qualidade negativa. ■ Objeto jurídico: Tutela-se a honra subjetiva. ■ Objeto material: É a pessoa cuja honra subjetiva é atacada pela conduta criminosa. ■ Núcleo do tipo: Injuriar equivale a ofender, insultar ou falar mal, de modo a abalar o conceito que a vítima tem de si própria. ■ Consumação: No momento em que a ofensa à dignidade ou ao decoro chega ao conhecimento da vítima. ■ Tentativa: É possível quando a injúria for praticada por escrito (crime plurissubsistente). ■ Exceção da verdade: Não se admite. O crime de injúria é incompatível com a exceção da verdade, pois é irrelevante a natureza falsa ou verdadeira da ofensa. ■ Perdão judicial (art. 140, § 1º, I e II): Trata-se de causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, inc. IX), cabível quando o ofendido, de forma, reprovável, provocou diretamente a injúria ou no caso de retorsão imediata. Também se admite o perdão judicial no tocante à injúria praticada por escrito. ■ Injúria real (art. 140, § 2º): Quando a injúria consiste em violência ou vias de fato que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes. A contravenção penal de vias de fato é absorvida pela injúria real, pois o Código Penal prevê autonomia (soma de penas) exclusivamente para as lesões corporais. ■ Injúria qualificada (art. 140, § 3º): Ocorre quando para a pratica do crime de injúria se utiliza de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. ■ Estatuto do Idoso (lei 10.741/2003): caracteriza o crime tipificado pelo seu art. 96, § 1º, a conduta de desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo. ■ Injúriacontra funcionário público e desacato – distinção: Se a ofensa é realizada na presença do funcionário público, no exercício da função ou em razão dela, não se trata de simples agressão à sua honra, mas de desacato, arrolado pelo legislador entre os crimes contra a Administração Pública (CP, art. 331). ■ Injúria cometida pela internet e competência: Os crimes de injúria cometidos pela internet são de competência da Justiça Estadual, mesmo se forem utilizadas redes sociais sediadas no exterior. ■ Ação Penal: Ver comentários ao art. 145 do CP. ■ Lei 9.099/1995: Em face da pena máxima cominada aos delitos do caput e do § 1º, são infrações penais de menor potencial ofensivo, incidindo as disposições da Lei 9.099/1995. Os benefícios, contudo, não se aplicam à injúria qualificada prevista no § 3º do art. 140. ■ Jurisprudência selecionada: Distinção entre injúria e difamação: “A difamação pressupõe atribuir a outrem fato determinado ofensivo à reputação. Na injúria, tem-se veiculação capaz de, sem especificidade maior, implicar ofensa à dignidade ou ao decoro” (STF: Inq. 2.543/AC, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. 19.06.2008). Elemento subjetivo: “Os delitos contra a honra reclamam, para a configuração penal, o elemento subjetivo consistente no dolo de ofender na modalidade de ‘dolo específico’, cognominado ‘animus injuriandi’, consoante cediço em sede doutrinária e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e deste Superior Tribunal de Justiça. A doutrina pátria leciona que: O dolo na injúria, ou seja, a vontade de praticar a conduta, deve vir informado no elemento subjetivo do tipo, ou seja, do ‘animus infamandi’ ou ‘injuriandi’, conhecido pelos clássicos como dolo específico. Inexiste ela nos demais ‘animii’ (‘jocandi’, ‘criticandi’, ‘narrandi’ etc.) Tem-se decidido pela inexistência do elemento subjetivo nas expressões proferidas no calor de uma discussão, no depoimento como testemunha etc.” (STJ: APn 555/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Corte Especial, j. 14.05.2009). Injúria – Internet – Competência: “A Seção entendeu que compete à Justiça estadual processar e julgar os crimes de injúria praticados por meio da rede mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas internacionais, tais como as redes sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que o simples fato de o suposto delito ter sido cometido pela internet não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Destacou-se que a conduta delituosa – mensagens de caráter ofensivo publicadas pela ex-namorada da vítima nas mencionadas redes sociais – não se subsume em nenhuma das hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF. O delito de injúria não está previsto em tratado ou convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, por exemplo, os crimes de racismo, xenofobia, publicação de pornografia infantil, entre outros. Ademais, as mensagens veiculadas na internet não ofenderam bens, interesses ou serviços da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Dessa forma, declarou-se competente para conhecer e julgar o feito o juízo de Direito do Juizado Especial Civil e Criminal” (STJ: CC 121.431/SE, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Seção, j. 11.04.2012, noticiado no Informativo 495). Injúria qualificada – dignidade da pessoa humana – proporcionalidade da pena: “Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma denegou habeas corpus em que se alegava a desproporcionalidade da pena prevista em abstrato quanto ao tipo qualificado de injúria, na redação dada pela Lei 10.741/2003 (‘Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: ... § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão de um a três anos e multa’). (...) Destacou-se que o tipo qualificado de injúria teria como escopo a proteção do princípio da dignidade da pessoa humana como postulado essencial da ordem constitucional, ao qual estaria vinculado o Estado no dever de respeito à proteção do indivíduo. Observou-se que o legislador teria atentado para a necessidade de se assegurar prevalência desses princípios” (STF: HC 109.676/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, j. 11.06.2013, noticiado no Informativo 710). Disposições comuns Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I – contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II – contra funcionário público, em razão de suas funções; III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. Informações rápidas: Os incisos e o parágrafo único são causas de aumento da pena. Presidente da República: calúnia e difamação – podem ser regidas pela Lei 7.170/1983); injúria – sempre regida pelo CP. Funcionário público: a ofensa deve se relacionar com o exercício de suas funções (vida privada não está abrangida). Presença de várias pessoas: devem existir no mínimo três (não se incluem nesse número a vítima, o autor da conduta criminosa, nem eventuais coautores ou partícipes). Imprensa: lei inconstitucional (STF). Aplica-se o CP. Idoso: exige que o agente conheça a idade da vítima. Crime mercenário: pena em dobro (a vantagem paga ou prometida não precisa ser econômica). ■ Natureza jurídica: São causas de aumento da pena aplicáveis a todos os crimes contra a honra. São elas: – Inciso I – Honra do Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro: A conduta criminosa, além de atentar contra a honra de uma pessoa, ofende também os interesses da nação. O ataque à honra de chefe de governo estrangeiro, com ou sem motivação política, caracteriza crime comum, com aumento da pena. – Inciso II – Honra do funcionário público, em razão de suas funções: é imprescindível a relação de causalidade entre a ofensa e o exercício da função pública. Pouco importa seja o crime cometido quando o funcionário público estava em serviço ou não: incide o aumento desde que o fato se relacione ao exercício de suas funções. Não se aplica o aumento da pena quando a conduta se refere à vida privada do funcionário público. – Inciso III – Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria: na primeira parte do inciso III (“na presença de várias pessoas”), devem existir no mínimo três pessoas. A parte final do dispositivo em estudo (“ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria”) diz respeito a instrumentos e objetos que facilitem a propagação da ofensa, ainda que não se esteja na presença de várias pessoas. Com o julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 130-7/DF, decidindo pela não recepção da Lei 5.250/1967 (Lei de Imprensa) pela Constituição Federal de 1988, aos crimes contra a honra praticados por meio da imprensa (oral ou escrita) incidirão as disposições previstas nos arts. 138 a 145 do Código Penal. – Inciso IV – Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria: esse inciso foi inserido no Código Penal pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, e somente se aplica quando o sujeito tinha conhecimento da idade ou da peculiar condição da vítima. A ressalva final – “exceto no caso de injúria” – visa evitar o bis in idem. – Parágrafo único – crime cometido mediante paga ou promessa de recompensa: Paga e promessa de recompensa caracterizam o crime mercenário ou crime por mandato remunerado, motivado pela cupidez, isto é, pela ambição desmedida, pelo desejo imoderado de riquezas. Exclusão docrime Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível: I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. ■ Natureza jurídica: São causas especiais de exclusão de ilicitude. ■ Alcance: Aplicam-se à injúria e à difamação, por expressa previsão legal. ■ Hipóteses de exclusão da ilicitude: São três: Inciso I: Trata-se da imunidade judiciária, que alcança tanto a ofensa oral como também a ofensa escrita. A expressão “ofensa irrogada em juízo” reclama uma relação processual instaurada, ligada ao exercício da jurisdição, inerente ao Poder Judiciário, afastando-se as demais espécies de processos e procedimentos, tais como os policiais e administrativos. Partes são o autor e o réu, bem como seus assistentes e as demais pessoas admitidas de qualquer modo na relação processual, tais como o chamado à autoria e o terceiro prejudicado que recorre. Procuradores, por sua vez, são os advogados, constituídos ou dativos. Subsiste a excludente da ilicitude, contudo, quando a ofensa for proferida contra terceiro, desde que relacionada à discussão da causa. Com relação ao magistrado prevalece o entendimento de que não se aplica a excludente da ilicitude àquele que o ofende. No tocante ao membro do Ministério Público, subsiste a imunidade como parte ou como fiscal da lei, bastando a relação moderada entre o fato e o exercício da função. Advogado: Há regra específica disciplinada pelo art. 7º, § 2º, da Lei 8.906/1994 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. A expressão “ou desacato” foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.127-8. Essa nova regra é mais ampla, pois exclui a ilicitude na injúria e na difamação ainda quando a ofensa não seja proferida em juízo, bem como quando o advogado não esteja na discussão da causa, isto é, basta que se encontre no regular exercício da advocacia. Inciso II: A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar: A crítica honesta e moderada de cunho literário, artístico ou científico é lícita, pois se coaduna com a liberdade de expressão, direito fundamental assegurado pelo art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal. Caracteriza, todavia, o crime de injúria ou de difamação quando evidente a intenção de ofender a honra alheia. Inciso III: O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento do dever de ofício: Essa causa de exclusão da ilicitude é necessária para assegurar a independência e tranquilidade dos servidores públicos, para o perfeito desempenho das suas funções, no interesse da coisa pública. ■ Jurisprudência selecionada: Alcance e fundamento das imunidades dos magistrados: “O magistrado, no exercício de sua atividade profissional, está sujeito a rígidos preceitos de caráter ético-jurídico que compõem, em seus elementos essenciais, aspectos deontológicos básicos concernentes à prática do próprio ofício jurisdicional. A condição funcional ostentada pelo magistrado, quando evidente a abusividade do seu comportamento pessoal ou profissional, não deve atuar como manto protetor de ilegítimas condutas revestidas de tipicidade penal. A utilização, no discurso judiciário, de linguagem excessiva, imprópria ou abusiva, que, sem qualquer pertinência com a discussão da causa, culmine por vilipendiar, injustamente, a honra de terceiros – revelando, desse modo, na conduta profissional do juiz, a presença de censurável intuito ofensivo – pode, eventualmente, caracterizar a responsabilidade pessoal (inclusive penal) do magistrado. O magistrado não pode ser punido ou prejudicado pelas opiniões que manifestar ou pelo teor das decisões que proferir, exceto se, ao agir de maneira abusiva e com o propósito inequívoco de ofender, incidir nas hipóteses de impropriedade verbal ou de excesso de linguagem (LOMAN, art. 41). A ratio subjacente a esse entendimento decorre da necessidade de proteger os magistrados no exercício regular de sua atividade profissional, afastando – a partir da cláusula de relativa imunidade jurídica que lhes é concedida – a possibilidade de que sofram, mediante injusta intimidação representada pela instauração de procedimentos penais ou civis sem causa legítima, indevida inibição quanto ao pleno desempenho da função jurisdicional. A crítica judiciária, ainda que exteriorizada em termos ásperos e candentes, não se reveste de expressão penal, em tema de crimes contra a honra, quando, manifestada por qualquer magistrado no regular desempenho de sua atividade jurisdicional, vem a ser exercida com a justa finalidade de apontar equívocos ou de censurar condutas processuais reputadas inadmissíveis” (STF: QC 501/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. 27.04.1994). Imunidade de magistrados: “O querelado, no estrito cumprimento do dever legal, a teor do art. 41 da LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), não pode ser punido ou prejudicado pelas opiniões que manifestar ou pelo teor das decisões que proferir. No caso concreto, nem houve excesso de linguagem ou conduta ofensiva” (STJ, Cf. APn 482-PA, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Corte Especial, j. 17.10.2007, noticiada no Informativo 336). Relação de causalidade entre a ofensa e o exercício do direito: “Deve existir, ainda, relação de causalidade entre a ofensa proferida e o exercício da defesa de um direito em juízo” (STF: HC 98.237/SP, rel. Min. Celso de Mello, 2.ª Turma, j. 15.12.2009). Retratação Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. ■ Conceito: Retratar-se significa retirar o que foi dito, desdizer-se, assumir que errou. ■ Natureza jurídica: Trata-se de causa de extinção da punibilidade conforme se extrai do art. 107, inciso VI, do Código Penal. Tem natureza subjetiva: não se comunica aos demais querelados que não se retrataram. ■ Alcance: É cabível unicamente na calúnia e na difamação. Na injúria, por sua vez, a retratação do agente não leva à extinção da punibilidade, pois a lei não admite e também porque não há imputação de fato, mas atribuição de qualidade negativa e atentatória à honra subjetiva da vítima. ■ Ação penal privada: A retratação somente é possível nos crimes de calúnia e de difamação de ação penal privada. ■ Forma: A retratação deve ser total e incondicional, cabal, em decorrência de funcionar como condição restritiva da pena. Precisa abranger tudo o que foi dito pelo criminoso. É ato unilateral, razão pela qual prescinde de aceitação do ofendido. ■ Momento: A retratação há de ser anterior à sentença de primeira instância na ação penal (“antes da sentença”). Ainda que tal sentença não tenha transitado em julgado, a retratação posterior é ineficaz. Nos crimes de competência originária dos Tribunais, a retratação deve preceder o acórdão. ■ Jurisprudência selecionada: Retratação – calúnia: “A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que alegada ausência de justa causa para a ação penal em virtude de retratação por parte do acusado, nos termos do art. 143 do CP. Na espécie, o paciente fora denunciado pela suposta prática do crime de calúnia (CP, art. 138), com a causa de aumento de pena prevista no art. 141, II, do CP (‘contra funcionário público, no exercício das funções’), porquanto imputara a magistrado o delito de advocacia administrativa ao deferir reiterados pedidos de dilação de prazoà parte contrária. Salientou-se que a retratação seria aceitável nos crimes contra a honra praticados em desfavor de servidor ou agentes públicos, pois a lei penal preferiria que o ofensor desmentisse o fato calunioso ou difamatório atribuído à vítima à sua condenação. Porém, reputou-se que, no caso, não houvera a retratação, uma vez que o paciente apenas tentara justificar o seu ato como reação, como rebeldia momentânea, ao mesmo tempo em que negara ter-se referido ao juiz em particular” (STF: HC 107.206/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, j. 06.03.2012, noticiado no Informativo 657). Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. ■ Natureza jurídica: O art. 144 do Código Penal veicula o instituto do pedido de explicações nos crimes contra a honra. ■ Introdução: Inferência é o processo lógico de raciocínio baseado em uma dedução. Parte-se de um argumento para se chegar a uma conclusão. No campo dos crimes contra a honra, tem lugar quando uma pessoa se vale de frase equívoca, pela qual, mediante uma dedução, pode-se concluir que se trata de ofensa a alguém. Mas não há certeza sobre o ânimo de atacar a honra alheia, ou, ainda que presente essa certeza, não se sabe exatamente qual pessoa foi atacada. Para afastar a dúvida sobre eventual ofensa, a lei permite àquele que se sentir prejudicado pedir explicações em juízo, previamente ao oferecimento da ação penal. É medida facultativa, pois a pessoa ofendida não precisa dele se valer para o oferecimento da ação penal. ■ Momento: O pedido de explicações somente pode ser utilizado antes do ajuizamento da ação penal. ■ Procedimento: Não há procedimento específico para o pedido de explicações. Obedece, portanto, ao rito das notificações avulsas. No entanto, o requerido não pode ser compelido a prestar as informações solicitadas, razão pela qual à sua omissão veda-se a imposição de qualquer espécie de sanção. O magistrado não julga o pedido de explicações. ■ Prescrição e decadência: O pedido de explicações não interrompe nem suspende a prescrição nem a decadência. Contudo, torna prevento o juízo para futura ação penal. ■ Jurisprudência selecionada: Características do pedido de explicações: “O pedido de explicações tem natureza cautelar. É cabível em qualquer das modalidades de crimes contra honra, não obriga aquele a quem se dirige, pois o interpelado não poderá ser constrangido a prestar os esclarecimentos solicitados, é processável perante o mesmo órgão judiciário competente para o julgamento da causa penal principal, reveste- se de caráter meramente facultativo, não dispõe de eficácia interruptiva ou suspensiva da prescrição penal ou do prazo decadencial, só se justifica quando ocorrentes situações de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade e traduz faculdade processual sujeita à discrição do ofendido, o qual poderá, por isso mesmo, ajuizar, desde logo, a pertinente ação penal condenatória” (STF: Pet-ED 2.740/DF Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. 26.03.2003). Natureza jurídica e cabimento do pedido de explicações: “O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal condenatória. A notificação prevista no Código Penal (art. 144) traduz mera faculdade processual sujeita à discrição do ofendido. E só se justifica na hipótese de ofensas equívocas. O pedido de explicações em juízo acha-se instrumentalmente vinculado à necessidade de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou ambiguidade. Ausentes esses requisitos condicionadores de sua formulação, a interpelação judicial, porque desnecessária, revela-se processualmente inadmissível. Onde não houver dúvida objetiva em torno do conteúdo moralmente ofensivo das afirmações questionadas ou, então, onde inexistir qualquer incerteza a propósito dos destinatários de tais declarações, aí não terá pertinência nem cabimento a interpelação judicial, pois ausentes, em tais hipóteses, os pressupostos necessários à sua utilização” (STF: Pet-AgR 4.444/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. 26.11.2008). Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. ■ Ação penal privada: É a regra geral nos crimes contra a honra, pois “somente se procede mediante queixa”. Contudo, há exceções. ■ Ação penal pública incondicionada: A ação será pública incondicionada na injúria real, se da violência resulta lesão corporal (art. 145, caput, parte final). A injúria real praticada com emprego de vias de fato é crime de ação penal privada. ■ Ação pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça: Nos crimes contra a honra do Presidente da República ou de chefe de governo estrangeiro (CP, art. 145, p. único, 1.ª parte). ■ Ação penal pública condicionada à representação do ofendido: Nos crimes contra a honra praticados contra funcionário público, em razão de suas funções (CP, art. 145, p. único, 2.ª figura); de injúria qualificada pela utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, na forma do art. 140, § 3º, do Código Penal (CP, art. 145, p. único, in fine, com redação dada pela Lei 12.033/2009). No tocante ao crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções, se não há relação entre o delito contra a honra e o exercício das funções públicas, a ação penal é privada. Também é privada a ação penal quando a ofensa se dirige a pessoa que já deixou a função pública. E, nos termos da Súmula 714 do STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.” ■ Jurisprudência selecionada: Ação penal pública condicionada e eficácia da representação: “A representação nos crimes contra a honra constitui-se em delatio criminis postulatória, traduzindo elemento subordinante e condicionante do ajuizamento, pelo Ministério Público, da ação penal de que é titular. De igual modo, limita a atuação do Parquet, o qual não pode agir ultra vires, ou seja, não pode extrapolar os limites da representação, ampliando seu objeto” (STF: HC 98.237/SP, rel. Min. Celso de Mello, 2.ª Turma, j. 15.12.2009).