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Edição 2011 
o Gravidez Conceitos Generalidades
o Diagnóstico de Gravidez
o Alterações Gerais do Organismo
o Resumo das Alterações Gerais do Organismo
Alexandre Trajano
Professor Titular de Obstetrícia da UERJ e da Unigranrio
Professor do PPGSCM da IFF - FIOCRUZ
 Flavio M. Souza
Professor Adjunto de Obstetrícia da UERJ 
Cadernos de 
OBSTETRÍCIA
Alexandre Trajano
Coordenador e professor titular da disciplina de Obstetrícia 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 2 
 
1. Gravidez: conceito, duração, definições. 
 
 Introdução e conceito de gravidez. 
• A gravidez é um fenômeno normal, que promove 
alterações sistêmicas maternas essenciais para a 
manutenção da gestação, o desenvolvimento do feto, o 
parto e a lactação. 
• Para que haja gravidez, é necessário que exista uma 
interação entre o ovo fecundado e o organismo materno. 
Não basta haver o fenômeno reprodutivo, para que haja 
gravidez. 
• Do ponto de vista essencialmente materno, a gestação só 
começa no momento da nidação quando ocorre o início da 
interação que é, a princípio, hormonal, com a secreção 
pelo ovo da gonadotrofina coriônica (HCG – hormônio 
coriônico gonadotrófico) produzida pelo sincíciotrofoblasto. 
O HCG terá como principal função manter o corpo lúteo 
ovariano materno, impedindo a queda dos níveis 
hormonais ovarianos e a conseqüente menstruação. 
 Duração e cronologia da gravidez. Cálculo da idade 
gestacional e da data provável do parto. 
• A idade embriológica da gestação - contada a partir da 
fecundação do óvulo, de difícil datação. 
• Idade obstétrica da gravidez - convencionou-se contar a 
idade da gravidez a partir de um marco mais fácil de 
identificar: o primeiro dia do último período menstrual da 
mulher. Quando o clínico ou o ultrassonografista se refere 
a qualquer idade gestacional, está usando como marco 
esta data. 
• A idade gestacional (IG) é definida como o tempo 
transcorrido entre o primeiro dia da última menstruação 
(DUM) e a data atual, medido em semanas e dias. 
 
 
 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 3 
 
 Cronologia da gravidez e cálculo da idade gestacional 
Duração média da 
gravidez 
(Contada a partir da 
DUM (1º dia da data 
da última 
menstruação) 
280 dias 
40 semanas 
10 meses lunares 
9 meses solares e 7 dias 
Cálculo da data 
provável do parto 
(Nägele) 
Somar sete dias à DUM e 9 meses ao mês 
da DUM. 
Alternativamente, para meses além de 
março, somar sete dias aos dias e subtrair 
três meses ao mês da DUM. 
Cálculo da idade 
gestacional (IG) em 
semanas e dias 
Contar o número de dias entre a DUM e o 
dia para o qual se deseja calcular a IG e 
dividir por sete. O quociente é o número de 
semanas e o resto o número de dias. 
 
 
 
Precisão aproximada da ultrassonografia para a avaliação da 
idade gestacional 
Trimestre da gravidez Margem aproximada de erro do 
exame 
1° trimestre (0 a 13 
semanas) 
Uma semana para mais ou para menos 
2° trimestre (13 a 26-28 
semanas) 
Duas semanas para mais ou para menos 
3° trimestre (28 semanas 
ao final da gestação) 
Três semanas para mais ou para menos 
 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 4 
 
 
Períodos da gestação 
Gravidez a termo Entre 37 semanas completas e 42 
semanas incompletas. 
Gravidez pós-termo 42 semanas completas e mais. 
Gravidez pré-termo ou 
prematura 
Menos de 37 semanas e mais de 20-21 
semanas completas. 
Período de abortamento Concepto com menos de 500g (gravidez 
de menos de 20-22 semanas). 
 
 
 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 5 
 
2. Diagnóstico de Gravidez 
 
Diversas alterações bioquímicas são necessárias para garantir a 
sobrevivência do concepto e configuram o cenário hormonal onde se 
desenvolverá a gravidez. 
Pré-Nidação 
A gravidez impõe grandes alterações de natureza hormonal. Diversos 
estudos experimentais demonstraram que, imediatamente após a 
fertilização, o próprio ovo recém formado começa a adotar 
providências essenciais para a sua sobrevivência como a produção de 
proteínas e de progesterona, que irão favorecer o seu trajeto pela 
trompa e a garantir a sua implantação no organismo materno. 
Desta forma, logo após a penetração do espermatozóide, começa a ser 
liberado um Fator de Ativação Plaquetária (PAF) que irá estimular 
as plaquetas e o tecido ovariano materno e também o próprio ovo a 
produzir uma substância protéica similar denominada FATOR 
GESTACIONAL PRECOCE (EPF). O EPF possui potente ação 
imunossupressora e acredita-se que exerça um importante papel na 
imunossupressão necessária para que não haja rejeição, facilitando a 
invasão da decídua pelo trofoblasto e viabilizando a nidação. 
O EPF é o mais precoce marcador da gravidez. Entretanto a sua 
detecção depende de ensaios biológicos complexos e caros pelo que 
não estão disponíveis para a prática clínica. 
Antes da implantação, o ovo também produzirá progesterona, que 
através de interferência na musculatura e movimento ciliar da trompa 
irá modular a movimentação tubária, favorecendo a sua jornada até a 
cavidade uterina. A Progesterona também favorece a implantação do 
ovo participando da inibição da rejeição tissular mediada pelos 
linfócitos T ao nível da decídua. 
Pós Nidação 
As células da região mais central do ovo darão origem ao embrião. A 
camada mais externa constituirá o trofoblasto. O trofoblasto, por sua 
vez é constituído por duas camadas. A camada mais externa é o 
SISNCICIOTROFOBLASTO e a mais interna o CITOTROFOBLASTO. Com 
a evolução da gravidez o citotrofoblasto gradualmente desaparece. 
O citotrofoblasto produz fatores de liberação semelhantes aos hormônios 
hipotalâmicos CRH, TRH e GnRH enquanto que o sincíciotrofoblasto parece responder 
a esta estimulação, produzindo as respectivas trofinas: ACTH, hCT (tireotropina 
corônica humana) e hCG (gonadotrofina coriônica). Esta interação de alguma forma 
reproduz as ações do eixo hipotalâmico-hipofisário. 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 6 
 
Com o crescimento fetal, desenvolve-se uma complexa interação entre o organismo 
materno, placenta e os órgãos fetais, em especial as adrenais, o fígado e os rins. 
Como resultado desta interação, são produzidas grandes quantidades de estrogênios, 
progesterona e adrenocorticosteróides. 
A adrenal se desenvolve de forma surpreendente, em especial entre 32 e 36 
semanas. Este desenvolvimento da glândula se deve à parte da massa celular 
cortical denominada ZONA FETAL que corresponde a 80% da adrenal. Após o parto a 
adrenal encolhe abruptamente em função da apoptose que ocorre principalmente na 
zona fetal. 
 
O diagnóstico da gravidez evoluiu de tal forma nas últimas décadas, que se 
transformou em procedimento precoce e de grande fidelidade. A importância da 
realização do diagnóstico precoce da gestação se relaciona não só às necessidades 
da mulher moderna, no que diz respeito às esferas físicas e emocionais, mas 
também apresenta relevância clínica como, por exemplo, a prevenção da 
teratogênese associada ao uso de medicações comuns e quimioterápicos e a 
realização de exames com radiação ionizante. 
O diagnóstico pode ser feito por métodos clínicos (anamnese e exame clínico) ou 
complementares (imunológico, ultrassonográfico, radiológico). 
 
Diagnóstico clínico 
O diagnóstico clínico baseia-se em um conjunto de sinais e sintomas 
próprios da gravidez. Os sinais e sintomas costuma ser classificados 
como de presunção, de probabilidade e de certeza. Os sinais e 
sintomas de presunção seriam achados gerais do exame clínico e da 
anamnese. Os de probabilidade seriam os achados do exame clínico do 
útero. Os sinais de certeza são de origem fetal e representados pelos 
Decídua Parietal
Decídua Capsular 
CórioFrondoso placenta 
Decídua Basal
Cório Liso membranas 
Embrião
Âmnio membranas
Cordão umbilical
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 7 
 
batimentos cardíacos e movimentos fetais, quando observados pelo 
médico. Embora esta seja uma clasificação tradicionalmente 
empregada, acreditamos ser mais adequada a classificação em duas 
catgegorias: 1 – Suspeita da gravidez: sinais e sintomas conseqüentes 
às alterações do organismo materno resultantes da gravidez; 2: 
Certeza de gravidez: Evidência clínica ou complementar da existência 
do feto. Os sinais que permitem o diagnóstico clínico de gravidez 
estão sumarizados nas Tabelas 1 e 2. 
 
1. Suspeita de Gravidez 
• Náuseas e vômitos 
Surgem por volta de 5 a 6 semanas de gravidez e são muito comuns 
até 12 semanas (50 a 60% das gestantes). Associam-se aos níveis de 
gonadotrofina coriônica. Ocorrem principalmente no período da 
manhã. . São exacerbados em situações como a gravidez gemelar, a 
mola hidatiforme ou em casos de tensão psíquica materna. Em raras 
circunstâncias os vômitos aumentados podem, cursar com 
desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico, 
configurando a hiperêmese gravídica. 
• Amenorréia, atraso ou falha menstrual. 
É o sinal mais precoce de gravidez, sendo muito valorizado quando 
ocorre em mulher saudável, jovem, com vida sexual ativa, que não 
esteja em uso de método anticoncepcional e que apresentava ciclos 
menstruais anteriores regulares. Quanto maior o atrazo menstrual, 
maior a probabilidade de gravidez Entretanto, a falha menstrual pode 
ocorrer também em diversas outras situações que não a gravidez. 
• Polaciúria 
Secundária à compressão vesical pelo útero que aumenta de tamanho 
no 1º trimestre, particularmente a partir de seis semanas de gravidez. 
Com a evolução do crescimento uterino, quando o útero começa a 
ocupar a cavidade abdominal, a freqüência urinária vai diminuindo 
gradativamente. 
• Fadiga e sonolência 
Provavelmente se relaciona à vasodilatação generalizada, sendo 
sintoma comum nas primeiras semanas de gravidez. 
• Alterações mamárias 
As alterações mamárias são mais características nas primigestas, já 
que, nas multíparas, muitas alterações podem não involuir totalmente 
após a amamentação. A partir de cinco semanas inicia-se processo de 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 8 
 
congestão que torna as mamas mais doloridas, por vezes com 
sensação de estarem “inchadas”. Projeções areolares secundárias 
(tubérculos de Montgomery, secundários à hipertrofia de glândulas 
sebáceas e glândulas mamárias acessórias) aparecem a partir da 8ª 
semana, junto com a hiperpigmentação da aréola primária. Com 16 
semanas, o colostro pode aparecer à expressão mamária e o aumento 
da vascularização venosa leva à formação da rede venosa de Haller, 
observável mais tipicamente em mulheres de pele clara. Com 20 
semanas, os limites das aréolas tornam-se menos nítidos pela 
hiperpigmentação, havendo a formação da aréola secundária (sinal de 
Hunter). 
• Lanugem 
Pode haver o crescimento de finos fios de cabelo na testa, junto aos 
limites do couro cabeludo, constituindo o sinal de Halban. É 
provavelmente secundário ao aumento da vascularização dos folículos 
pilosos, alterações hormonais e vasodilatação generalizada da 
gravidez. 
• Aumento da tireóide 
As alterações hormonais da gravidez, com aumento de produção dos 
hormônios tireoidianos, leva a uma hipertrofia difusa desta glândula. 
• Coloração da mucosa vaginal 
Coloração violácea da mucosa vaginal (sinal de Kluge) e da vulva 
(sinal de Jackemier ou de Chadwick), secundária à congestão intensa 
da pelve. São observáveis a partir de 6-8 semanas.. 
• Hiperpigmentação e estrias 
A gravidez leva a uma hiperpigmentação de algumas áreas do corpo 
feminino, possivelmente secundárias a hiperfunção hipofisária com 
aumento da produção de hormônio melanotrófico. Este sinal é muito 
pouco sensível ou específico para o diagnóstico da gravidez. O cloasma 
facial (ou máscara gravídica) é decorrente da hiperpigmentação da 
face, difusa ou circunscrita, de tonalidade escura, mais comum no 
nariz e região zigomática (áreas mais expostas ao sol), sendo mais 
observado em mulheres melanodérmicas. A “linha nigra” decorre do 
aumento da concentração de melanina na linha alba. O aparecimento 
de estrias, principalmente nas mamas e no abdome, sugere gravidez. 
• Percepção do movimento fetal pela mãe 
A partir da idade gestacional em torno de 16 semanas (multíparas) ou 
de 20 semanas (primigestas) a mulher pode perceber suaves 
ondulações no abdome. Na pseudociese (falsa gravidez ou “gravidez 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 9 
 
psicológica”) a movimentação fetal é sempre referida pela mulher, 
motivo pelo qual a referência de movimentação fetal deve ser 
considerada como sinal de suspeita, mas não de certeza de gravidez. 
• Alterações no muco cervical 
O muco cervical fica espesso e, se deixado desidratar e examinado em 
microscópio, não apresenta cristalização. Se observarmos cristalização 
com padrão semelhante a folhas de samambaia, provavelmente não 
há gravidez, ou trata-se de sinal de rotura prematura das membranas 
ovulares. 
• Aumento do volume uterino 
O examinador experiente costuma identificar o aumento uterino já nas 
primeiras semanas, através do toque bi-maunal. Útero é palpável 
acima da sínfise pubiana a partir de 12 semanas. Com 16 semanas 
está a meio caminho entre a sínfise pubiana e a cicatriz umbilical, com 
20 semanas se encontra ao nível da cicatriz umbilical e próximo às 40 
semanas atinge o apêndice xifóide. O diagnóstico diferentcial pode ser 
feito com tumores uterinos ou ovarianos que podem apresentar 
quadro semelhante à palpação. 
• Contrações de Braxton-Hicks 
São contrações uterinas percebidas como elevação da consistência 
uterina, periódica e não dolorosa, a partir de 28-30 semanas. 
• Alterações da forma 
O útero, que fora da gravidez tem forma semelhante a uma pêra, 
durante a gestação torna-se cada vez mais globoso e arredondado 
• Alterações de coloração da vagina 
A mucosa vulvar assume coloração mais arroxeada (violácea), 
principalmente no vestíbulo e meato uretral, aparecendo por volta de 
oito semanas. É conseqüente à congestão pélvica. (Este é o sinal de 
Jacquemier ou de Chadwick. O sinal de Kluge é a mesma coloração arroxeada, nas 
paredes da vagina.) 
• Alterações da consistência 
 Amolecimento do colo uterino, que adquire consistência 
semelhante à dos lábios, enquanto fora da gravidez a 
consistência é semelhante à da cartilagem nasal. Esta 
alteração é observável a partir de 6-8 semanas. 
 
 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 10 
 
• Outros sinais genitais 
• Sinal do “piparote” 
Pesquisa semelhante à da ascite, quando se percebe a presença de líquido 
amniótico ao se dar pequeno piparote na parede lateral do útero (sinal de 
Rasch). 
• Palpação do feto 
Identificação de partes fetais pelo examinador. Pode ser mimetizada por 
tumores abdominais (miomas, tumores de ovário), motivo pelo qual não deve 
ser tido como sinal de certeza. 
• Percepção do pulso vaginal 
Pelo toque vaginal, pode-se sentir a pulsação arterial no fundo de saco, 
achado característico do útero em crescimento rápido e da congestão pélvica 
(sinal de Osiander). 
• Sinal de Piscacek crescimento assimétrico da região cornual, próximo à 
região onde o ovo se implantou, podendo esta área ser mais amolecida no 
fundo de útero (Figura 1). 
• Sinal de Nobile-Budin - ocupação dos fundos-de-saco laterais pelo útero 
grávido ao toque vaginal (Figura 1). 
• Sinal de Hegar – sensação do corpo uterino ser separado do colo pelo 
extremo amolecimento do istmo (Figura 2). 
• Sinal de Gauss – pelo amolecimento do istmo, a mobilizaçãolateral do 
colo é muito fácil e independente da mobilização do corpo uterino. 
• Sinal de MacDonald – semelhante ao sinal de Gauss, porém é descrito 
como a facilidade de se dobrar o útero em relação ao colo no sentido 
antero-posterior, como se fosse uma dobradiça. 
• Sinal de Landin – amolecimento localizado do istmo, em sua parede 
anterior. É um dos sinais mais precoces de alteração de consistência 
uterina. 
 
 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 11 
 
 
 
 
Figura 2 – Sinal de Hegar. Amolecimento do istmo uterino observado ao toque 
bimanual. 
 
2. Sinais de certeza 
• Freqüência cardíaca fetal (FCF) 
A identificação da FCF pelo estetoscópio de Pinard se dá a partir de 
18/20 semanas e com o Sonar-Doppler com 10/12 semanas. 
• Percepção dos movimentos fetais pelo examinador 
A percepção dos movimentos pelo profissional de saúde ocorre a partir 
de 18-20 semanas. 
• Percepção do rechaço fetal pelo examinador 
A partir de 14 semanas de gravidez, pode-se perceber sensação de 
rechaço fetal através do toque vaginal, quando o examinador produz 
Figura 1 – Sinais de Piskacek 
(abaulamento da parede uterina no 
local de implantação do ovo) e de 
Nobile-Budin (preencimento dos 
fundos de saco laterais). 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 12 
 
um discreto impulso no útero, sentindo o feto retornar e tocar seu 
dedo. Trata-se do sinal de Puzos e é considerado por alguns como 
sinal de certeza e por outros como sinal de probabilidade. 
Tabela 1 – Sinais e sintomas de suspeita e certeza de 
gravidez. 
Presunção Sintomas subjetivos: náuseas, distúrbios urinários, 
fadiga, percepção da movimentação fetal etc. 
Sinais: atraso menstrual, alterações mamárias, 
coloração vaginal, cloasma etc. 
Probabilidade Achados do exame clínico do útero 
Certeza Identificação positiva do feto 
 
Tabela 2 – Sinais e sintomas clínicos da gravidez 
Gerais Náuseas e vômitos 
Atraso menstrual 
Alteração no muco cervical (espesso) 
Polaciúria 
Fadiga e sonolência 
Aumento da tireóide 
Hiperpigmentações (cloasma, linha nigra) e estrias. 
Face Cloasma: máscara gravídica 
Halban: lanugem próxima à linha de implantação do 
cabelo 
Mamas Aumento do volume e congestão 
Estrias 
Hiperpigmentação da aréola primária 
Tubérculos de Montgomery 
Rede venosa de Haller 
Hunter: aparecimento da aréola secundária 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 13 
 
Abdome Linha nigra 
Estrias 
Aumento do volume abdominal 
Palpação de partes fetais 
Identificação dos batimentos cardíacos fetais 
Percepção dos movimentos fetais pela mãe 
Percepção dos movimentos fetais pelo examinador 
Vulva e 
vagina 
Jacquemier ou Chadwick: coloração arroxeada ou 
violácea do vestíbulo e meato uretral 
Kluge: coloração violácea da vagina 
Osiander: percepção do pulso vaginal 
Útero (corpo 
e colo) 
Aumento do volume uterino 
Rasch: sinal do “piparote”, semelhante à ascite 
Puzos: rechaço fetal 
Coloração violácea do colo uterino 
Alterações da forma 
Piscacek: crescimento assimétrico na área de 
implantação do ovo 
Nobile-Budin: Ocupação dos fundos de saco 
laterais 
Forma globosa do útero 
Alterações da superfície 
Holzapfel: preensibilidade uterina aumentada 
(peritônio rugoso) 
Alterações da consistência 
Amolecimento do colo uterino 
Hegar: amolecimento do istmo uterino 
Braxton-Hicks: percepção de contrações 
uterinas 
Gauss: amolecimento do istmo, permitindo 
sua mobilização. 
MacDonald: amolecimento do istmo, 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 14 
 
permitindo sua mobilização como dobradiça. 
Landin: Amolecimento localizado na face 
anterior do istmo 
 
Diagnóstico complementar 
1. Testes laboratoriais 
Os testes laboratoriais são baseados na síntese de gonadotrofina 
coriônica (hCG) pelas células trofoblásticas (sincício trofoblasto). A 
gonadotrofina coriônica é produzida logo após a fecundação, mas seus 
níveis só são detectáveis no organismo materno depois da nidação. 
Seu mecanismo de ação é através dos receptores do LH nas 
membranas plasmáticas e sua função principal na gravidez inicial é o 
estímulo do corpo lúteo, não o deixando degenerar e mantendo a 
produção de progesterona e estrogênio, impedindo a menstruação. 
A dosagem ou identificação da gonadotrofina coriônica não é teste de 
certeza de gravidez, e sim de probabilidade, pois pode haver 
resultados falso-positivos quando há reação cruzada com outros 
hormônios, especialmente o LH. As dosagens com resultados 
superiores a 1000 mUI/ml asseguram a gestação em 95% dos casos. 
Abaixo disso, aumentam as possibilidades de resultados falso-
positivos. Também pode haver resultados falso-negativos quando a 
concentração de gonadotrofina coriônica é inferior à sensibilidade do 
teste. 
A reação cruzada com o LH ocorre em especial em situações onde a 
secreção deste hormônio está elevada, como por exemplo: 
• Climatério 
• Castração cirúrgica 
• Uso de substâncias psicotrópicas 
• Hipertireoidismo com aumento de LH 
A concentração sangüínea de hCG duplica a cada 72 horas. Os níveis 
plasmáticos e urinários atingem um pico em torno de 10 a 12 semanas 
e os seus valores mais baixos são encontrados em torno de 20 a 24 
semanas (Figura 3). A gonadotrofina coriônica pode ser identificada 
tanto na urina quanto no sangue materno. A molécula de hCG 
apresenta 2 sub-unidades: alfa e beta. A subunidade alfa é comum a 
vários outros hormônios hipofisários (como o FSH, LH e TSH) e a beta 
é específica da gonadotrofina, não apresentando reação cruzada com 
outros hormônios. 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 15 
 
 
 
Figura 3 – Valores máximos, médios e mínimos de gonadotrofina 
coriônica (hCG) na evolução de uma gestação normal. 
 
A sensibilidade depende da técnica utilizada. O radioimunoensaio 
identifica concentrações tão pequenas quanto 5 mUI/ml, o que 
equivale ao período logo depois da nidação (3 semanas após a última 
menstruação). O teste enzimático (ELISA) possui sensibilidade de 25 
mUI/ml, equivalente a 3/4 semanas após a última menstruação. 
Os testes habitualmente realizados na urina (teste imunológico de 
gravidez – TIG) costumam ser menos específicos por detectarem tanto 
a cadeia alfa quanto a beta, e possuem sensibilidade variável. São 
qualitativos, não permitindo a quantificação da concentração do hCG . 
O mais sensível e específico é o da “aglutinação reversa”, com 
sensibilidade de detecção de 1000 mUI/ml de hCG, podendo identificar 
a gravidez com 4/5 semanas após a última menstruação (na época da 
falha menstrual). Os outros testes na urina devem ser solicitados 
apenas depois de 10 a 14 dias de atraso menstrual, por possuírem 
menor sensibilidade. 
 
2. Ultrassonografia 
Os exames ultrassonográficos vieram facilitar enormemente o 
diagnóstico de gravidez, possibilitando que se tenha certeza da 
gestação muito precocemente. A ultrassonografia pode ser realizada 
Generalidades e Diagnóstico da Gravidez Alexandre Trajano & Flavio M. de Souza pg. 16 
 
pela via abdominal ou pela via transvaginal. A via transvaginal é a 
preferida nas gestações iniciais por permitir melhor identificação das 
estruturas do ovo. 
Pela ultrassonografia transvaginal é possível identificar o saco 
gestacional com quatro semanas (4-5 mm – Tabela 3). Com cinco 
semanas visualiza-se a vesícula vitelina e com 6-7 semanas pode se 
perceber o eco embrionário, medir-se o comprimento cabeça-nádega e 
identificar os batimentos cardíacos fetais, atestando a vida do 
embrião. Entre 10 a 12 semanas a cabeça fetal e o local de 
implantação da placenta podem ser identificados. Além do diagnóstico 
da gravidez, a idade gestacional também pode ser aferida com 
precisãoTabela 3 – Comparação entre a ultrassonografia vaginal e 
abdominal na identificação da gravidez e avaliação de 
parâmetros da idade gestacional 
 Vaginal Abdominal 
Saco gestacional 4 semanas 5 semanas 
Batimentos cardíacos 
fetais 
5-6 semanas 7 semanas 
Aferição do diâmetro 
biparietal 
10 semanas 11 semanas 
 
 
3. Radiologia 
Em exames radiológicos simples de abdome pode-se identificar o 
esqueleto fetal a partir de 16/17 semanas. Por ser pouco prático e 
haver temores sobre a exposição fetal à radiação, os exames 
radiológicos são raramente utilizados com esta finalidade. 
 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 17 
 
3. Alterações Gerais do Organismo Materno 
Aspectos gerais 
Os órgãos, aparelhos e sistemas do corpo da mulher interagem num 
harmonioso e complexo processo de adaptação que resulta em 
modificações estruturais, funcionais e imunológicas do organismo materno. 
O organismo da mãe irá constituir-se, na grande maioria dos casos, em 
ambiente excepcionalmente favorável para o desenvolvimento do 
concepto. 
Exemplificando a integração dos sistemas, observamos que para o 
desenvolvimento de um novo ser torna-se necessária maior produção de 
energia (a partir de substâncias energéticas, como a glicose), assim como 
maior disponibilização de matéria prima (elementos estruturais, como os 
aminoácidos). 
Para atender a esta demanda verificamos que ocorre maior captação 
destes nutrientes pelo aumento da ingesta. O transporte de maior 
quantidade de glicose às diversas células do organismo se dará por meio 
da circulação sangüínea mais intensa, mais veloz e mais volumosa. A 
massa aumentada de hemoglobina carreará o adicional de oxigênio 
necessário à oxidação lenta da glicose. Este oxigênio é obtido por meio das 
alterações respiratórias maternas. Estas alterações metabólicas e 
circulatórias serão responsáveis pelo aporte à placenta de oxigênio, 
nutrientes e de todos os elementos necessários ao desenvolvimento fetal. 
Além dos fatores adaptativos, outros três aspectos são importantes para o 
entendimento das alterações do organismo materno na gravidez: 
• Os fatores compressivos, decorrentes da presença do útero grávido, 
comprimindo órgãos pélvicos, abdominais, os grandes vasos 
retroperitoniais (aorta e cava inferior) e até mesmo o diafragma, 
repercutindo sobre os órgãos torácicos. 
• O relaxamento da musculatura lisa presente em todos os aparelhos 
e sistemas. Este relaxamento é determinado pela ação hormonal em 
especial da progesterona. 
• Os fatores psicológicos e emocionais que interagem com a maioria 
das respostas fisiológicas do organismo da mulher. 
 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 18 
 
Assim, para compreendermos as alterações gerais do organismo na 
gravidez devemos, primeiramente, atentar para as seguintes questões: 
• Qual resposta seria mais adequada para aumentar o aporte de oxigênio 
e nutrientes para a circulação útero-placentária ? 
• Qual resposta seria esperada em função do relaxamento da 
musculatura lisa ? 
• Qual resposta seria esperada em função da compressão exercida pelo 
útero grávido ? 
Alterações do Aparelho Genital 
Útero 
Fora da gravidez o útero pesa cerca de 70g e a cavidade uterina tem a 
capacidade de apenas 10 ml. No final da gravidez a capacidade uterina 
aumenta mais de 500 vezes atingindo, em média, 5000 ml, podendo 
chegar a 10.000-20.000 ml. O peso do órgão é, em media, de 6 Kg, assim 
distribuídos: 
• útero: 1000g, 
• feto 3.500g 
• placenta 500g 
• líquido amniótico 800 - 1000 g 
O crescimento uterino não é simétrico, sendo mais acentuado no fundo, o 
que pode ser evidenciado pela posição relativa das trompas: no início estão 
próximas ao fundo, no final estão pouco acima da linha média. A parte do 
miométrio mais próxima da placenta aumenta mais rapidamente que o 
restante do órgão. 
No começo do primeiro trimestre, o útero mantém o seu aspecto piriforme 
(forma de pêra). À medida que a gravidez evolui, o corpo uterino vai se 
tornando arredondado estando totalmente esférico na 12a semana. O 
crescimento torna-se mais acentuado e no final do primeiro trimestre o 
órgão sai da pequena pelve e pode ser palpado na borda superior do pube. 
Durante o seu crescimento, o útero geralmente apresenta discreta rotação 
para a direita (dextrorrotação) provavelmente secundária à presença do 
sigmóide no lado esquerdo da pelve. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 19 
 
Ao longo da gravidez o útero apresenta contrações esporádicas, 
irregulares, não ritmadas, indolores, com intensidade entre 5 e 25 mmHg, 
denominadas contrações de Braxton-Hicks. No final da gravidez 
tornam-se mais ritmadas e intensas, podendo causar algum desconforto e 
levando ao quadro de falso trabalho de parto. 
A musculatura uterina é objeto de intensa hipertrofia e estiramento. A hiperplasia 
(produção de novos miócitos) é limitada. No início da gravidez ocorre aumento da 
espessura da parede. Com a evolução, a parede vai se tornando mais fina. No final da 
gravidez a espessura é de aproximadamente 1,5 cm. As fibras musculares estão 
distribuídas em três camadas: 
• Na mais externa, de forma semelhante a um “capuz”, as fibras se encurvam sobre o 
fundo e se estendem pelos ligamentos redondos, útero-ovarianos e trompas. 
• Na mais interna, atuam como esfíncteres dos orifícios tubários e do orifício interno do 
colo. 
• A camada intermediária consiste em densa rede de fibras musculares e é perfurada 
em todas as direções por vasos sangüíneos. 
O adequado fluxo sangüíneo útero-placentário, que chega a 500-600 ml por minuto no 
final do terceiro trimestre, é essencial para o desenvolvimento normal da gravidez. 
A artéria uterina tem o seu diâmetro duplicado e a velocidade do fluxo aumenta oito 
vezes. Esta vasodilatação depende da interação de várias substâncias como estrogênio, 
progesterona, e do fator relaxante derivado do endotélio (EDRF) que hoje se sabe ser o 
óxido nítrico (NO). O NO é um potente vasodilatador produzido pelo endotélio que 
também reduz a agregação plaquetária e sua adesão à parede endotelial. 
Colo 
Desde o primeiro mês de gravidez ocorre amolecimento e coloração 
violácea do colo em função do aumento da vascularização e edema, além 
de hipertrofia e hiperplasia das glândulas cervicais. O exame especular irá 
mostrar eversão do epitélio glandular endocervical, que irá ocupar a porção 
ectocervical – ectrópio ou ectopia. 
Logo após a concepção forma-se um “tampão” de muco cervical espesso 
que obstrui o canal. No começo do trabalho de parto, ou até poucos dias 
antes, ocorre a eliminação do tampão mucoso, chamado por alguns de 
“sinal” do parto, prenunciando o fim da gravidez. 
O muco cervical quando colocado sobre uma lâmina e deixado secar 
apresenta um aspecto fragmentado, típico da ação progesterônica. A 
cristalização do muco cervical em forma de samambaia (Figura 4) sugere a 
presença de líquido amniótico e é empregado no diagnóstico da amniorrexe 
prematura ou redução da ação progesterônica (indicando mau prognóstico 
para a evolução da gestação.. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 20 
 
 
 
Figura 4 Cristalização do muco cervical em forma de samambaia: Indica ação estrogência 
e, na gravidez, sugere rotura das membranas (contaminação com líquido amniótico) ou 
redução da ação progesterônica (indicando mau prognóstico para a evolução da gestação. 
Ovários 
Durante a gravidez cessam a ovulação e a maturação de novos folículos. O 
corpo lúteo irá produzir progesterona sob estímulo da gonadotrofina 
coriônica sendo esta ação importante até a sétima semana. Após 8 
semanas a placenta substitui a função ovariana na produção dos 
hormônios sexuais. A partir desta idade gestacional a retiradacirúrgica 
dos ovários geralmente é compatível com a evolução da gravidez. 
O corpo lúteo, durante toda a gravidez, produz a relaxina, hormônio 
proteico possivelmente responsável pelas alterações das fibras de colágeno 
e adaptação do canal do parto aos mecanismos da parturição. 
Vagina 
Ocorre aumento da vascularização, hiperemia e afrouxamento do tecido 
conjuntivo da vagina, vulva e períneo. Verifica-se espessamento da 
mucosa e hipertrofia das fibras musculares. Estas alterações levam ao 
crescimento da parede vaginal que em algumas multíparas pode se 
manifestar por protrusão da parede anterior da vagina pelo orifício vulvar. 
As papilas da mucosa vaginal também apresentam considerável hipertrofia. 
A secreção cervical está aumentada, verificando-se corrimento vaginal de 
pH mais ácido que antes da gravidez (3,5 a 5), em função do aumento da 
produção de ácido lático pelos lactobacilos - Lactobacilus acidophillus 
(Bacilos de Doderlein) 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 21 
 
A citologia vaginal no início da gravidez mostra padrão secretório 
semelhante ao observado na segunda fase do ciclo menstrual. Com a 
evolução da prenhez dois padrões podem ser observados: 
• Células naviculares isoladas ou em freqüentes grupamentos densos, 
com núcleos longos e vesiculados. 
• Núcleos vesiculados sem citoplasma (núcleos nus) que geralmente são 
observados juntamente com grande quantidade de lactobacilos. 
Mamas 
As alterações mamárias são discutidas no capítulo sobre diagnóstico clínico 
da gravidez. 
 
 
Tabela 1 – Principais alterações do aparelho genital na gravidez 
 
Órgão Alteração 
Útero Forma passa de piriforme para globosa 
Hiperplasia e hipertrofia do miométrio 
Contrações de Braxton-Hicks 
Aumento do fluxo sangüíneo para até 500-600 ml/min 
Colo 
uterino 
Amolecimento 
Modificação da coloração (violáceo) 
Eversão da mucosa endocervical (ectopia ou ectrópio) 
Formação de tampão mucoso 
Ovários Corpo lúteo gravídico, importante no 1º trimestre 
Produção de relaxina pelo corpo lúteo 
Vagina Aumento da vascularização, hiperemia e afrouxamento 
do tecido conjuntivo. 
Espessamento da mucosa e hipertrofia muscular 
Padrão citológico gravídico pelo estímulo progesterônico 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 22 
 
(células naviculares e núcleos sem citoplasma) 
 
Alterações do Aparelho Digestivo 
Ingesta 
A gestante precisa de mais nutrientes. Por esta razão tem mais fome e, 
conseqüentemente, aumenta a ingesta, com acréscimo calórico de 
aproximadamente 300 Kcal/dia. 
Boca 
Pode ocorrer ptialismo ou sialorréia na gravidez inicial como conseqüência 
de hipertonia vagal, estímulos do segundo e terceiro ramos do trigêmeo ou 
fatores emocionais ou psicológicos. 
Não há aumento das cáries dentárias. Entretanto os temores das gestantes 
e de alguns dentistas em realizar os tratamentos dentários necessários 
podem contribuir para o comprometimento da saúde oral da paciente. 
Irritação e sangramento da gengiva caracterizam a gengivite gravídica, 
conseqüente à embebição gestacional secundária à ação da progesterona. 
Esvaziamento gástrico e refluxo 
O tono e a motilidade gástrica estão diminuídos em função dos efeitos 
relaxantes da progesterona. Entretanto, esta alteração parece mais 
consistente nas mulheres com queixas de pirose decorrente do refluxo 
gastroesofagiano. 
Com o crescimento do útero, o estômago sofre dextrorrotação e elevação 
do fundo. Esta mudança de posição, a redução da motilidade e a 
embebição gravídica podem levar à hérnia de hiato, verificada em até 
20 % das gestantes e que regride após o parto. 
Acidez e Úlcera péptica 
Durante a gestação ocorre aumento da Histaminase Placentária, com 
conseqüente redução das taxas da histamina materna e redução da 
secreção de Ácido Clorídrico, aumento da produção de Mucina pelo 
estômago, o que leva a maior proteção da mucosa gástrica, e aumento da 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 23 
 
resistência imunológica ao Helicobacter pilori. Estas alterações justificam 
a melhora observada nas gestantes portadoras de doença péptica. 
Intestinos 
São menos evidentes as queixas ao tubo digestivo baixo, porém os poucos 
estudos sobre a fisiologia colônica parecem sugerir certa redução da 
motilidade intestinal. Clinicamente se observa maior freqüência de 
constipação embora também se verifique alguns casos de diarréia. 
Absorção pouco se altera exceto por algum aumento na de cálcio, fósforo, 
água e sódio. 
As alterações decorrentes da compressão pelo útero gravídico fazem com 
que o ceco se desloque progressivamente para cima fazendo com que, na 
gravidez avançada, o apêndice cecal possa ser encontrado no flanco 
direito. 
Fígado 
A morfologia hepática (macroscópica, microscópica e peso), assim como a 
função hepática, não se alteram de forma significativa. Falsos sinais de 
comprometimento funcional como telangectasias e eritemas palmares são 
decorrentes do aumento do estrogênio. A fosfatase alcalina está muito 
aumentada em função da produção placentária desta enzima. 
Alteração na concentração de proteínas 
Durante a gestação ocorre queda da concentração das proteínas totais e 
albumina em função da hemodiluição e do aumento da perda renal. No 
final da gravidez a concentração de albumina está reduzida em 25%. 
A atividade da Fosfatase Alcalina está aumentada 2 a 4 vezes no 3º 
trimestre, em grande parte como resultado da produção placentária de 
isoenzimas. 
Outras proteínas aumentadas são o fibrinogênio, a transferrina e as 
proteínas carreadoras de: corticóides, esteróides sexuais, hormônios 
tireoidianos e vitamina D. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 24 
 
Hepatograma 
Exceto a fosfatase alcalina aumentada em função do aumento da produção 
placentária, estão normais: bilirrubina, Aspartato aminotransferase (AST 
ou TGO), Alanino Aminotransferase (ALT ou TGP), Creatinina Fosfoquinase 
(CPK) e a Desidrogenase Lática (LDH). 
Bile e Vesícula biliar 
Pode haver certo grau de colestase intra-hepática e prurido cutâneo em 
função dos altos níveis de estrogênios circulantes que reduzem o 
transporte intraductal de ácidos biliares. Alguns estudos mostram discreto 
aumento da produção de ácidos biliares. Outros não mostram alterações. 
A vesícula biliar tem o seu volume duplicado e apresenta esvaziamento 
lento em função da hipotonia muscular conseqüente à ação da 
progesterona que termina por levar à estase biliar, favorecendo à formação 
de cálculos de colesterol. Os estrogênios e a progesterona aumentam a 
saturação de colesterol e diminuem a síntese de ácidos biliares. A maior 
paridade e fatores genéticos também contribuem para a formação de 
cálculos. 
Náuseas e vômitos 
É queixa comum, ocorrendo em cerca de 70% das gestantes. Geralmente 
têm início precoce, entre 4 a 8 semanas, servindo, por isso, para o 
diagnóstico clínico da gravidez. Atingem maior intensidade entre 14-16 
semanas. Existem diversas teorias que tentam explicar a sua causa que, 
no entanto, permanece desconhecida. 
É interessante observar que as náuseas e vômitos são mais comum em 
mulheres gerando fetos femininos (56x44%) e que, entre as mulheres que 
enjoam, parece ocorrer melhor desenlace gestacional e menos 
abortamentos. 
 
Tabela 2 – Principais alterações do aparelho digestivo na gravidez 
 
 Alteração 
Boca Ptialismo, sialorréia 
Gengivite gravídica secundária à embebição gravídica 
Estômago Náuseas e vômitos no primeiro trimestre 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 25 
 
Redução da motilidade e do esvaziamento 
Plenitude pós-prandial 
Pirose, refluxo e hérnia de hiato 
Melhora da doença péptica por redução dasecreção de 
ácido clorídrico 
Intestino Constipação não muito freqüente ou intensa. 
Elevação do apêndice até o hipocôndrio direito 
Fígado Aumento da produção de proteínas, porém diminuição 
de sua concentração pela hemodiluição 
Falsa hepatopatia – eritema palmar, telangectasias e 
aumento da fosfatase alcalina. 
Sistema 
biliar 
Colestase intra-hepática (típico prurido e F. Alcalina 
elevada) 
Estase biliar favorecendo cálculos de colesterol 
Alterações do Aparelho Cardiovascular 
Para atender às demandas decorrentes da formação do novo ser, a 
gravidez impõe alterações adaptativas ao sistema cardiovascular, em que 
se verifica aumento do volume sangüíneo, da velocidade circulatória e do 
débito, freqüência e força contrátil cardíacos. 
Sangue 
Hemácias e volume plasmático. 
Para carrear maior quantidade de oxigênio para as células, a quantidade 
total de hemácias está aumentada cerca de 18 a 25%. As necessidades de 
ferro e ácido fólico estão, portanto, aumentadas. Nas mulheres que 
recebem suplementação de ferro este aumento chega a 30%. Entretanto, o 
hemograma da gestante revelará redução dos valores da série vermelha 
com queda de 2 a 3 pontos no hematócrito. Isto ocorre devido ao aumento 
do volume plasmático, que pode chegar a 50% (Figura 2). Esta condição é 
denominada por alguns de anemia fisiológica da gravidez, expressão 
criticada por não se tratar de verdadeira anemia e sim de quadro 
dilucional. Com esta hemodiluição, a velocidade de hemossedimentação 
(VHS) também se eleva. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 26 
 
O aumento do volume sangüíneo se inicia no primeiro trimestre chegando 
ao máximo em torno da 32ª semana (40–45%), pouco se modificando até 
o parto. Outra importante justificativa fisiológica para este significativo 
aumento do volume sangüíneo é compensar a perda inevitável por ocasião 
do parto: 500 a 600 ml no parto transpélvico e cerca de 1000 ml na 
cesariana não complicada. 
Leucócitos 
A contagem de leucócitos aumenta até a 36-38 semanas, dependendo 
essencialmente do incremento de neutrófilos segmentados. Verifica-se 
também tendência a monocitose e progressiva redução de basófilos e 
eosinófilos. A leucocitose é mais evidente no puerpério. Não há desvio para 
a esquerda, elemento que, quando presente, poderá fazer suspeitar de 
infecção. 
A imunidade celular geralmente está deprimida, o que se evidencia pela 
redução das relações linfócitos T/B e linfócito/monócito e pelo 
aumento da relação célula T supressora/célula T auxiliar (natural 
Killer/Helper). 
Coagulação 
A partir do 3º mês os fatores da coagulação estão, na sua maioria, 
aumentados, principalmente o VII e X e, em especial, o fibrinogênio, que 
tem a sua concentração aumentada de 50 a 80% (200-400mg% para 300-
600mg%). Os fatores XI e XIII estão diminuídos e os fatores II, V e IX 
sofrem discreta elevação ou não se alteram. 
A atividade fibrinolítica do plasma permanece baixa até o fim do 
secundamento, voltando ao normal cerca de uma hora após a saída da 
placenta que parece ser a responsável pela inibição da fibrinólise. 
Estas alterações da coagulação, que também protegem a mulher de 
grandes perdas sangüíneas por ocasião do parto, favorecem complicações 
tromboembólicas. 
As plaquetas parecem apresentar pequena redução no terceiro trimestre, 
por conta da hemodiluição. 
Coração 
Débito (FCxVS) 
O débito cardíaco é o produto do volume sistólico pela freqüência cardíaca. 
O aumento do débito cardíaco na gravidez pode ser evidenciado já na 5ª 
semana, como resultado do aumento da freqüência cardíaca e redução da 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 27 
 
resistência vascular periférica. A freqüência cardíaca aumenta 10 a 15 bpm 
e o volume sistólico cerca de 30%. Entre 10 e 20 semanas ocorre 
significativo aumento do volume sangüíneo e do volume sistólico. 
Com 8 semanas o aumento do débito já alcançou 50% do incremento 
máximo e com 12 semanas, 75%. O débito aumenta até em torno de 24 
semanas (cerca de 40 -50 % em relação aos níveis pré-gravídicos), após o 
que parece não se alterar ou apresenta certa redução até o termo (Figura 
3). Volta a aumentar no trabalho de parto sendo máximo no pós-parto 
imediato. (7,2 l/min no trabalho de parto, 8,9 l/min no período expulsivo e 
9,3 l/min no pós parto imediato). Na primeira hora após o parto ocorre 
parte significativa das mortes maternas. 
Desta forma, a descompensação cardíaca é mais preocupante no 1º 
trimestre que no 3º uma vez que se o coração descompensa com 
sobrecarga menor, sinal maior gravidade da cardiopatia. Outro fator é que 
não se consegue impedir o aumento da sobrecarga cardíaca que ocorre 
entre o 1º e o 3º trimestre. 
 
Alterações anatômicas e exame do precórdio 
A elevação do diafragma faz a ponta do coração deslocar-se para cima e 
para esquerda. A silhueta cardíaca nos raios-X de tórax dá uma falsa 
impressão de cardiomegalia. 
O exame clínico do precórdio mostra o ictus cardíaco desviado para cima e 
para esquerda, sopro sistólico de ++ a +++/++++, pancardíaco e 
holosistólico, sem frêmito (sopro funcional). O sopro pode também ser 
mais audível na ponta e/ou área pulmonar, sendo curto, tipo ejeção, 
usualmente mesossistólico. Pode haver também sopro sistólico suave, 
audível na área aórtica, que pode diminuir ou mesmo desaparecer no 
último trimestre da gestação. Ocasionalmente podemos ouvir sopros 
sistólicos extracardíacos, secundários ao aumento do fluxo arterial, como 
por exemplo, o “sopro mamário” da gravidez. 
Além do aumento da freqüência já mencionada, observa-se também 
hiperfonese. Extra-sístoles também são comuns. Pode-se auscultar ritmo 
em 3 tempos, por causa de uma terceira bulha cardíaca, que é mais bem 
ouvida na ponta, no início da diástole, ou conseqüente a uma primeira 
bulha desdobrada e hiperfonética devido ao fechamento precoce da valva 
mitral. 
O ECG apresenta apenas desvio do eixo elétrico para a esquerda e inversão 
da onda P em D3. Estas últimas alterações são usualmente abolidas pela 
inspiração profunda 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 28 
 
ver: Gilberto Barcelos Alterações Eletrocardiográficas na Gravidez Revista da 
Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul - Ano XIV nº 04 Jan/Fev/Mar/Abr 2005 em 
http://sociedades.cardiol.br/sbc-rs/revista/2005/05/Artigo02.pdf 
Pressão sangüínea 
Pressão arterial 
A despeito dos fatores hipertensivos (aumento da freqüência cardíaca, da 
força contrátil do miocárdio e do volume circulante) presentes na gestação, 
a pressão arterial não aumenta na gravidez normal, já que estes fatores 
são compensados pela redução da resistência vascular periférica. 
Esta redução da resistência vascular periférica é secundária a 2 
mecanismos distintos: 
• vasodilatação (relaxamento progesterônico e maior resistência dos 
vasos à ação de substâncias vasopressoras como a angiotensina II e a 
endotelina: ocorre refratariedade vascular ao sitema renina-
angiotensina-aldosterona) 
• fístula artério-venosa representada pela circulação placentária. 
Desta forma, na gravidez normal, a PA pouco se altera, apresentando 
tipicamente discreta redução, em especial na PA diastólica, no primeiro 
trimestre. No segundo trimestre esta redução é um pouco mais acentuada, 
e a PA retorna aos níveis do primeiro trimestre no terceiro trimestre. No 
trabalho de parto, a PA volta ao normal, podendo apresentar certa 
elevação, mais evidente durante as contrações uterinas. 
Pressão venosa 
A pressão venosa não se altera na parte superior do corpo, não havendo 
mudanças na pressão medida na veia umeral. 
Já nos membros inferiores e no plexo hemorroidário a pressão venosa está 
aumentada, justificando queixas comuns na gravidez tais como varizes dos 
membros inferiores, varizes vulvares e hemorróidas. 
Hipotensão supinaQuando a grávida se coloca em decúbito dorsal, na segunda metade da 
gravidez, o útero comprime a veia cava inferior. Isso dificulta o retorno 
venoso, reduzindo o débito cardíaco e provocando queda na pressão 
sistólica em mais de 30%. Após 4 ou 5 minutos, sobrevém bradicardia, por 
reflexo parassimpático (vagal). Essa associação de hipotensão com 
bradicardia reduz o débito cardíaco em até 50%, ocorrendo lipotímia. O 
fluxo sangüíneo para a placenta também se reduz, predispondo ao 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 29 
 
sofrimento fetal agudo. A correção deste distúrbio pode ser conseguida 
com o decúbito lateral da gestante, ou deslocando-se o útero lateralmente 
(afastando-o da veia cava inferior) quando a gestante está em decúbito 
dorsal. 
 
Tabela 3 – Principais alterações do aparelho cardiovascular na 
gravidez 
 
 Alteração 
Sangue Aumento absoluto de hemácias queda do 
hematócrito pela hemodiluição 
Aumento absoluto e relativo dos leucócitos 
Aumento da maioria dos fatores da coagulação 
exceto XI e XIII (diminuídos) e II, V e IX (discreta 
elevação ou não se alteram). 
Pequena redução na contagem plaquetária 
Aumento da VHS 
Redução da resposta imunológica 
Aumento das necessidades de ferro e ácido fólico 
Coração 
 
 
 
 
 
Aumento do débito (FCxVS) do início até 24 
semanas, após o que se mantêm ou ocorre discreta 
redução. 
Precórdio: sopro sistólico funcional, taquicardia, B3, 
desdobramento e hiperfonese de bulhas 
ECG sem alterações (inversão de P em D3, desvio do 
eixo elétrico para cima e esquerda). 
RX- falsa impressão de aumento da área cardíaca em 
função da horizontalização do coração. 
Pressão 
sangüínea 
Pressão Arterial: discreta redução mais acentuada no 
2º trimestre. Decorre da redução da resistência 
periférica: vasodilatação e fístula placentária. PA 
normal no trabalho de parto com aumento durante as 
contrações. 
Hipotensão supina por compressão da veia cava inferior 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 30 
 
na segunda metade da gravidez 
Pressão Venosa: aumento na metade inferior do corpo. 
 
 
Alterações do Aparelho Respiratório 
Alterações ventilatórias 
As alterações descritas até este ponto do texto demandam maior consumo 
de oxigênio. Assim, para atender a esta demanda, a gestante aumenta a 
ventilação, realizando movimentos respiratórios mais profundos, ou seja, 
aumentando o volume corrente. Não há aumento da freqüência respiratória 
e a elevação diafragmática pelo útero grávido leva à redução do volume 
residual. 
Do ponto de vista anatômico, observa-se aumento do diâmetro torácico e 
do ângulo subcostal. 
A progesterona age nas vias aéreas superiores e, mais acentuadamente no 
terceiro trimestre, causa edema e hipersecreção da mucosa respiratória, 
ocasionando congestão nasal, complicação comum na gravidez. 
O aumento da perda de CO2 decorrente da hiperventilação leva a certo 
grau de alcalose respiratória compensada. 
 
Tabela 5 – Principais alterações do aparelho respiratório na 
gravidez 
 Alteração 
Espirometria Não se alteram: freqüência respiratória, capacidade 
vital, volume de reserva inspiratória 
Aumentam: volume corrente (35%) e capacidade 
inspiratória (5%) 
Diminuem: volume residual (-20%), volume de 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 31 
 
reserva expiratória (-20%), capacidade pulmonar 
total (-5%) 
Outros Aumento do diâmetro torácico e do ângulo subcostal 
Aumento da secreção, edema e obstrução nasal 
Alcalose respiratória compensada. 
 
Alterações do Sistema Urinário 
Alterações anatômicas 
O rim apresenta aumento de 1 cm de comprimento sendo a dilatação 
pielocalicial de 1,5 cm à direita e 0,5 cm à esquerda. Os ureteres estão 
dilatados (ureter direito com até 2 cm de diâmetro). A estase urinária é 
comum, predispondo a bacteriúria assintomática, que deve ser sempre 
tratada. Esta estase é decorrente tanto da ação relaxadora da 
progesterona sobre a musculatura lisa, quanto das ações compressivas do 
útero grávido. 
Estas alterações começam no 2º mês, são máximas no 2º trimestre 
ocorrendo a normalização na 6ª semana do puerpério. 
Alterações funcionais 
Fluxo sangüíneo renal 
Aumenta 75% do começo da gravidez até 16 semanas. Até 34 semanas o 
aumento é discreto, ocorrendo redução de 25% até o termo. Estas 
alterações de fluxo são mais acentuadas com a gestante sentada do que 
em decúbito lateral esquerdo. 
Índice de filtração glomerular (IFG) e depuração da creatinina 
 O IFG está 50% aumentado no final do 1 trimestre. A depuração da 
creatinina aumenta de 120 para 150 a 200ml/min. Estas alterações 
ocorrem entrem a 5ª e 7ª semanas e permanecem até o termo. 
Escórias Nitrogenadas 
A creatinina cai de 0,8 para 0,5 mg/dl. A Uréia também é reduzida pela 
hemodiluição e pelo aumento do IFG. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 32 
 
Ácido Úrico 
Declina até a 24ª semana quando atinge o valor mínimo, de 2 a 3 mg/dl. 
Até o termo vai aumentando até os níveis pré-gravídicos. Deve-se ter 
atenção para não confundir este aumento com pré-eclâmpsia, já que o 
ácido úrico é um marcador desta enfermidade. 
Nictúria 
A retenção de sódio e água e a permanência em posição supina durante o 
dia favorece a nictúria quando a mulher deita em decúbito lateral. 
Reabsorção 
Potássio 
Apesar dos altos níveis de aldosterona, a gestante retém 350 mmol de 
Potássio. 
Glicose 
Maior quantidade de glicose chega aos túbulos proximais pelo maior fluxo 
plasmático renal e conseqüente aumento da filtração glomerular. A 
capacidade de reabsorção da glicose, no entanto, não aumenta, sendo 
mais freqüente a glicosúria com taxas de glicemia que, normalmente, não 
acarretariam na perda de glicose (glicosúria “fisiológica” da gravidez). 
 
Proteinúria 
Aumento não significativo na mulher normal, chegando a valor 
médio de 116 mg/24h, e máximo de 260 mg/24h (95º percentil). A 
proteinúria na gravidez é considerada positiva quando superior a 
300mg/24 horas. 
Em pacientes com proteinúria prévia ocorre aumento da perda de proteína. 
Em diabéticas com nefropatia observa-se variação de 1.7g 4,8g/24h do 
1º para 3º trimestre. 
Hematúria 
Excluída contaminação durante a coleta, a hematúria na gravidez é 
compatível com doença do sistema urinário. Outra causa de hematúria 
pode ser o trauma vesical ou uretral durante parto traumático ou 
cesariana. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 33 
 
Sistema Renina angiotensina aldosterona 
Como a reatividade vascular está diminuída na gravidez normal, em 
resposta ocorre ativação deste sistema. Assim, a gestante normal tende a 
apresentar renina alta. 
 
 
Tabela 6 – Principais alterações do sistema urinário na gravidez 
 
 Alteração 
Anatomia Rim aumento de 1cm; sistema pielocalicial direito 
aumento de 1,5cm, esquerdo +0,5cm; ureter +2cm. Do 
2º mês até 6 meses pós-parto 
Função Aumento do fluxo sangüíneo renal de 75% até 16 
semanas. Menor aumento até 34 semanas. Redução de 
25% até o termo. 
De 7 semanas até o termo: índice de filtração 
glomerular aumenta 50%, depuração de creatinina 
aumenta de 120 para 180ml/min. 
Dosagens Redução de uréia e creatinina 
Redução do ácido úrico até 24 semanas quando 
apresenta recuperação (diagnóstico diferencial de 
hipertensão crônica com pré-eclâmpsia) 
Proteinúria. Aumento não significativo. Patológico se > 
300 mg/24h 
Outros Predisposição à bacteriúria assintomática, que deve ser 
sempre tratada 
Glicosúria “fisiológica” 
Nictúria 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 34 
 
Alterações Metabólicas 
Metabolismo hídrico 
Na gravidez normal ocorre retençãode água que, ao termo, chega, no 
mínimo, a 6,5 litros (feto, placenta e líquido amniótico – 3,5 litros e 
sangue, útero e mamas – 3 litros). Na maioria das gestações ocorrerá 
algum grau de edema que, quando restrito a 1 a 2+, significará retenção 
de mais 1 ou 1,5 litro de água. 
A retenção hídrica é parcialmente mediada pela queda da osmolalidade 
plasmática de 10 mOsm/Kg (278 para 268 mOsm) verificada já a partir da 
5ª semana e induzida por alterações no limiar da sede e da secreção de 
vasopressina. 
Metabolismo glicídico 
A gravidez é considerada um estado diabetogênico pelo fato de favorecer a 
hiperglicemia pós-prandial observada a partir de 20 semanas. Verifica-se 
também tendência à hipoglicemia de jejum e hiperinsulinemia e maior 
resistência à insulina. Para isso contribuem os hormônios placentários 
antiinsulínicos como o Hormônio Lactogênio Placentário (HLP), além de 
outros hormônios e enzimas com concentrações elevadas na gestação 
(progesterona, estrogênio, cortisol e insulinases placentárias). 
Entretanto, no início da gravidez, pode-se observar redução nas 
necessidades maternas de insulina em diabéticas insulinodependentes. Na 
segunda metade da gravidez estas pacientes têm necessidade de aumentar 
as doses de insulina exógena, em relação às necessidades pré-gravídicas. 
Alguns casos de diabete gestacional não insulinodependente têm indicação 
de insulinoterapia durante a gravidez. 
Na gravidez adiantada, em jejum e imediatamente antes das refeições, 
verifica-se hipoglicemia, mas a concentração de insulina é semelhante à da 
não grávida. Após as refeições verifica-se tanto hiperglicemia quanto 
hiperinsulinemia. 
Alterações ácido-básicas 
A hiperventilação verificada na gravidez leva a aumento da p02 e perda de 
CO2, com conseqüente alcalose respiratória. Este quadro é parcialmente 
compensado pelo aumento da excreção renal de bicarbonato cujos níveis 
plasmáticos caem de 26 para 22 mEq fazendo com que o aumento do pH 
seja muito discreto. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 35 
 
Este aumento do pH, embora discreto, é capaz de desviar para esquerda a curva de 
dissociação da Hemoglobina (Efeito Bohr) o que reduziria a capacidade de liberação de 
oxigênio para o feto. Entretanto, este mínimo aumento do pH irá aumentar a 
concentração de difosfoglicerato nas hemácias maternas o que irá compensar o efeito 
Bohr, desviando para direita a curva de dissociação da hemoglobina e facilitando a 
liberação de oxigênio. 
No início do trabalho de parto a parturiente incrementa a hiperventilação 
havendo tendência a descompensação da alcalose respiratória. Esta 
característica ácido-básica da gestação e trabalho de parto parece 
harmonizar-se com a liberação de valências ácidas conseqüentes à intensa 
atividade muscular no trabalho de parto, em especial, durante o período 
expulsivo. 
Ganho ponderal 
O ganho ponderal médio na gravidez é de cerca de 12,5Kg. Nos últimos 
anos tem sido questionada a importância de limites precisos para o ganho 
ponderal, sendo difícil estabelecer um padrão de normalidade. A tabela a 
seguir ilustra o ganho ponderal recomendado em função do índice de 
massa corporal (IMC) pre-gravídico. O IMC é calculado dividindo-se o peso 
em Kg pelo quadrado da altura em metros (Kg/m2). 
Tabela 7 – Ganho ponderal na gravidez segundo o índice de massa 
corporal 
IMC pré-gravídico Ganho ponderal recomendado 
(Kg) 
baixo (<19,8) 12,5 – 18 
normal (19,8-26) 11,5 – 16 
alto (26-29) 7-11,5 
obeso (>29) <7 
 
Tabela 8 – Principais alterações metabólicas na gravidez 
 
 Alteração 
Metabolismo 
hídrico 
Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 36 
 
Retenção de, no mínimo, 6,5l de água 
Queda da osmolaridade plasmática com retenção de 
sódio 
Sódio e potássio elevados em valores absolutos, mas 
diluídos (concentração sérica diminuída). 
Metabolismo 
glicídico 
Níveis elevados de hormônios que prejudicam a ação 
periférica da insulina (hormônio lactogênio 
placentário, estrogênio, progesterona, cortisol, 
insulinases placentárias). 
Hipoglicemia de jejum 
Hiperglicemia pós-prandial 
Hiperinsulinismo 
Alterações 
ácido-
básicas 
Alcalose respiratória compensada 
Hiperventilação no trabalho de parto com piora da 
alcalose 
Aumento da pO2 materna 
Redução da pCO2 materna 
Ganho 
ponderal 
12,5 Kg (aproximadamente 20% do peso pré-
gravídico) 
Aumento na ingesta de 300 Kcal para a grávida e 
400Kcal para a lactante 
Alterações do Sistema Locomotor 
As modificações do sistema articular ocorrem pelo relaxamento dos seus 
ligamentos, decorrente da embebição gravídica. Este relaxamento é mais 
notado nas articulações pélvicas e, em especial, na sínfise púbica, 
favorecendo sua abertura em até 12mm. Esta disjunção retorna ao normal 
após 3 a 5 meses do parto. Nesta alteração, temos a ação do estrogênio 
(aumentando a vascularização e a hidratação do tecido conjuntivo dos 
ligamentos articulares) e da progesterona e relaxina (diminuindo o tônus 
da musculatura responsável pela estabilização dessas articulações). 
A grávida altera a sua postura para corrigir o eixo corporal modificado pelo 
peso do útero, dos anexos e do feto. Assim, apresenta involuntariamente 
lordose lombar e ampliação da base de sustentação com o afastamento dos 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 37 
 
pés, o que levam a uma marcha característica: marcha anserina 
(semelhante a um ganso andando). 
Estas alterações acabam por predispor à dor lombar por espasmos dos 
músculos intervertebrais e diminuição dos espaços entre as vértebras, com 
possibilidade de compressões radiculares. 
 
Tabela 9 – Principais alterações do aparelho locomotor na gravidez 
 
 Alteração 
Articulares Relaxamento dos ligamentos por embebição gravídica 
Postura Lordose compensatória pelo aumento do útero e 
mamas 
Marcha anserina (semelhante à do ganso) 
Dor lombar e possibilidade de compressão radicular 
 
Alterações Sensitivas e do Sistema Nervoso 
As modificações no sistema nervoso se manifestam no psiquismo e no 
sistema nervoso vegetativo. A gestante apresenta reações neuropsíquicas, 
dentre as quais o vômito. Por vezes encontramos melancolia, medo, pânico 
e medo do parto. O caráter e a afetividade também podem estar 
modificados. A gestante pode se mostrar irritável e agressiva para o 
marido e pessoas íntimas ou não. A psicoterapia pode auxiliar na condução 
destas alterações. 
Algumas alterações sensitivas podem estar também presentes: 
• Visão: podem ocorrer hipertensão ocular por vasoespasmo arteriolar 
localizado, anisocoria e hipersecreção lacrimal e, ocasionalmente, 
hemianopsia bitemporal pelo aumento da hipófise. 
• Olfato: podem ocorrer epistaxe e rinite vasomotora por aumento da 
vascularização e espessamento da mucosa nasal, levando 
ocasionalmente a hiposmia, anosmia e parosmia. 
• Audição: algumas grávidas queixam-se de zumbidos e vertigens, que 
seriam decorrentes de alterações circulatórias. Outras referem 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 38 
 
diminuição da acuidade auditiva principalmente para tons altos, 
secundária à hiperemia da trompa de Eustáquio. 
• Tato: parestesias das extremidades podem ser atribuíveis a 
alterações vasomotoras e deficiências metabólicas. 
• Paladar: alterações do apetite, como perversão, mudança dos 
hábitos alimentares e baixa sensibilidade gustativa. 
Alterações Cutâneas 
Ocorre aumento da pigmentação da aréola mamária, períneo, axilas e linha 
alba por ação dos estrogênios, da progesterona e, provavelmente, dos 
mineralocorticóides. Também aparecem estrias gravídicas principalmente 
nas mamas, coxas, abdome e glúteos. Podem aparecer telangectasias 
capilares (“aranhas vasculares”)e eritema palmar, conseqüentes à 
vasodilatação, além de varizes, já discutidas no capítulo de pré-natal. A 
hipersecreção das glândulas sebáceas, decorrente da ação da 
progesterona, torna a pele mais gordurosa e facilita a queda de cabelo e o 
surgimento de acne. 
 
Tabela 10 – Principais alterações sensitivas e cutâneas na gravidez 
 
 Alteração 
Sensitivas Hipertensão ocular 
Pode ocorrer anisocoria, hipersecreção lacrimal e, 
ocasionalmente, hemianopsia bitemporal 
Hiposmia, anosmia, parosmia 
Zumbidos, vertigens, diminuição da acuidade auditiva 
Parestesias das extremidades 
Perversão do apetite 
Cutâneas Hiperpigmentação 
Estrias 
Telangectasias capilares 
Hipersecreção das glândulas sebáceas 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 39 
 
 
Alterações Hormonais e Endócrinas 
Diversas alterações bioquímicas são necessárias para garantir a 
sobrevivência do concepto e configuram o cenário hormonal onde se 
desenvolverá a gravidez. 
Pré-Nidação 
A gravidez impõe grandes alterações de natureza hormonal. Diversos 
estudos experimentais demonstraram que, imediatamente após a 
fertilização, o próprio ovo recém formado começa a adotar providências 
essenciais para a sua sobrevivência como a produção de proteínas e de 
progesterona, que irão favorecer o seu trajeto pela trompa e a garantir a 
sua implantação no organismo materno. 
Desta forma, logo após a penetração do espermatozóide, começa a ser 
liberado um Fator de Ativação Plaquetária (PAF) que irá estimular as 
plaquetas e o tecido ovariano materno e também o próprio ovo a produzir 
uma substância protéica similar denominada FATOR GESTACIONAL 
PRECOCE (EPF). O EPF possui potente ação imunossupressora e acredita-
se que exerça um importante papel na imunossupressão necessária para 
que não haja rejeição, facilitando a invasão da decídua pelo trofoblasto e 
viabilizando a nidação. 
O EPF é o mais precoce marcador da gravidez. Entretanto a sua detecção 
depende de ensaios biológicos complexos e caros pelo que não estão 
disponíveis para a prática clínica. 
Antes da implantação, o ovo também produzirá progesterona, que através 
de interferência na musculatura e movimento ciliar da trompa irá modular 
a movimentação tubária, favorecendo a sua jornada até a cavidade 
uterina. A Progesterona também favorece a implantação do ovo 
participando da inibição da rejeição tissular mediada pelos linfócitos 
T ao nível da decídua. 
Pós Nidação 
As células da região mais central do ovo darão origem ao embrião. A 
camada mais externa constituirá o trofoblasto. O trofoblasto, por sua vez é 
constituído por duas camadas. A camada mais externa é o 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 40 
 
SISNCICIOTROFOBLASTO e a mais interna o CITOTROFOBLASTO. Com a 
evolução da gravidez o citotrofoblasto gradualmente desaparece. 
O citotrofoblasto produz fatores de liberação semelhantes aos hormônios 
hipotalâmicos CRH, TRH e GnRH enquanto que o sincício trofoblasto parece 
responder a esta estimulação, produzindo as respectivas trofinas: ACTH, 
hCT (tireotropina coriônica humana) e hCG (gonadotrofina coriônica). Esta 
interação de alguma forma reproduz as ações do eixo hipotalâmico-
hipofisário. 
Com o crescimento fetal, desenvolve-se uma complexa interação entre o 
organismo materno, placenta e os órgãos fetais, em especial as adrenais, o 
fígado e os rins. Como resultado desta interação, são produzidas grandes 
quantidades de estrogênios, progesterona e adrenocorticosteróides. 
A adrenal se desenvolve de forma surpreendente, em especial entre 32 e 
36 semanas. Este desenvolvimento da glândula se deve à parte da massa 
celular cortical denominada ZONA FETAL que corresponde a 80% da 
adrenal. Após o parto a adrenal encolhe abruptamente em função da 
apoptose que ocorre principalmente na zona fetal. 
 
HCG 
Ações 
A produção de gonadotrofina coriônica mantém o ovário ativo na produção 
dos hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) pelo corpo lúteo, 
indispensáveis para a estabilidade da decídua (endométrio durante a 
gravidez). Na falta de concentrações suficientes de progesterona, como 
acontece em cada ciclo menstrual em função da inibição da produção de 
gonadotrofina no SNC pelos níveis elevados de esteróides sexuais (feed-
back negativo), o endométrio modificado – a decídua – como que 
desabaria levando consigo o ovo e causando um abortamento precoce. 
Mulheres ooforectomizadas e submetidas à transferência de embrião 
resultante de óvulos doados, necessitam de administração exógena de 
progesterona e de mais nenhum outro hormônio ovariano nas primeiras 
semanas de gravidez. 
Esta ação da HCG dá apenas uma explicação parcial para o seu papel 
fisiológico na gravidez, uma vez que a produção máxima de HCG se dá em 
torno da 10ª semana e a produção de progesterona pelo ovário começa na 
6ª semana. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 41 
 
A HCG parece estimular a replicação das células de Leydig no testículo 
fetal levando à produção de testosterona, essencial para a diferenciação 
sexual do feto masculino. A produção máxima de testosterona coincide 
com o pico de HCG. Estimula também a esteroidogênese adrenal e 
placentária e também tem efeito tireotrófico. Mulheres com coriomas e, 
às vezes, com hiperêmese gravídica, podem apresentar hipertireoidismo. 
ACTH 
A secreção de CRH e ACTH na circulação materna induz o hipercortisolismo 
mediado pelo eixo hipotálamo-hipofisário materno. 
Somatomamotrofina ou Hormônio Lactogeno Placentário 
A partir da 5ª semana, a placenta produz a Somatomamotrofina Coriônica 
(ou hormônio lactogênio placentário – HPL), que antagoniza a ação da 
insulina, induz a intolerância materna à glicose e favorece a transferência 
de glicose e aminoácidos para o feto. 
Hormônios esteróides sexuais 
Para a síntese dos hormônios esteróides na gestação, a placenta necessita 
de precursores maternos e fetais, já que ela não dispõe de algumas 
enzimas necessárias, como a 21-hidroxilase e a 17-hidroxilase. 
Progestogênios 
A progesterona e a pregnenolona são produzidas, até a 7ª semana, pelo 
corpo lúteo. A partir da 8ª semana o trofoblasto torna-se importante fonte 
de progestogênios e, a partir da 10ª semana, cessam as funções do corpo 
lúteo. A progesterona e a pregnenolona são produzidas pela placenta a 
partir do LDL-colesterol materno, não havendo necessidade de enzimas 
fetais (Figura 4). 
A progesterona é fundamental na adaptação inicial e na manutenção da 
gravidez, tendo como principais funções: 
• Atuar no endométrio facilitando a nidação do blastocisto, pela 
produção de enzimas (fosfatase alcalina e catepsina) que 
decompõem o colágeno. 
• Inibir a atividade contrátil do útero por bloquear a resposta da 
musculatura lisa. 
• Estimular o crescimento dos alvéolos mamários. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 42 
 
• Inibir a formação de lactoalbumina nas células glandulares mamárias 
e, em associação com o estrogênio, bloquear os receptores de 
prolactina impedindo a lactação antes do parto. 
• Ativar o centro respiratório aumentando a ventilação pulmonar sem 
alterar a freqüência respiratória ou a capacidade vital. 
• Auxiliar na supressão imunológica materna aos antígenos fetais 
impedindo a rejeição do trofoblasto. 
Estrogênios 
No início da gravidez a principal fonte de estrogênios é o corpo lúteo, 
sendo o estradiol o principal hormônio produzido nesta estrutura. Da 8ª 
semana em diante, a placenta passa a produzir esses hormônios a partir de 
precursores androgênicos de origem materna e, sobretudo, fetal (Figura 
5), já que o trofoblasto não possui as enzimas necessárias (17-alfa-
hidroxilase e 17-alfa-desmolase). Os níveis de estradiol e de estrona são 
100 vezes maiores na gravidez em relaçãoàs mulheres não grávidas e a 
concentração de estriol aumenta em mais de 1000 vezes. Como o estriol 
surge de precursores exclusivamente fetais, sua dosagem se presta para a 
avaliação do bem-estar fetal. No entanto, sua grande variabilidade entre as 
gestantes e mesmo na mesma mulher, associada à existência de métodos 
biofísicos mais precisos (Dopplerfluxometria, cardiotocografia, 
ultrassonografia), limita a aplicação das dosagens hormonais atualmente. 
Os estrogênios atuam nas adaptações cardiovasculares à gestação por 
aumentar o volume sangüíneo por estímulo do sistema renina-
angiotensina-aldosterona, promover a vasodilatação, facilitar o fluxo útero-
placentário e estimular a contratilidade do miocárdio. Na hipófise, 
estimulam a síntese de prolactina. No fígado, a síntese de proteínas 
transportadoras de esteróides, como a TBG, a CBG e a TeBG. No 
miométrio, induzem hiperplasia e hipertrofia, além de estimular sua 
contratilidade. 
Sistema Endócrino 
Hipófise 
A adenohipófise aumenta 2 a 3 vezes seu tamanho pré-gravídico, pela 
hiperplasia das células produtoras de prolactina. Raramente pode haver 
compressão do quiasma óptico, com sintomas característicos. Os níveis de 
LH, FSH e GH estão muito baixos, ao contrário da produção de prolactina, 
que aumenta continuamente atingindo o máximo durante o trabalho de 
parto. Depois do parto, os níveis de prolactina se reduzem, sendo este 
hormônio liberado em pulsos secundários ao estímulo da sucção pelo 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 43 
 
recém-nascido. A prolactina estimula a síntese de DNA e a multiplicação 
das células dos epitélios glandulares e alveolares pré-secretórios da mama, 
aumenta o número de receptores de estrogênio e de prolactina nestas 
células, participa ativamente na galactopoiese e incentiva a produção de 
caseína, lactoalbumina, lactose e lipídeos na secreção mamária. 
Tireóide 
Aumenta moderadamente, com hiperplasia do tecido glandular e aumento 
da vascularização. Este aumento é conseqüente à diminuição da 
concentração plasmática de iodo (aumento da filtração glomerular e maior 
demanda fetal), maior captação de iodetos (para equilibrar a depuração 
renal elevada) e necessidade de maior secreção para saturar a globulina 
transportadora de tiroxina (TBG). 
A concentração plasmática da TBG eleva-se no primeiro trimestre, 
duplicando de valor até 20 semanas. Por causa deste aumento, observa-se 
incremento nos níveis de T3 e T4, mais acentuado até 18 semanas, para 
que ocorra a saturação da TBG. Embora os níveis de T3 e T4 total estejam 
aumentados, os níveis de T3 e T4 livres encontram-se normais, não 
exibindo a gestante sinais ou sintomas de hipertireoidismo. Os níveis de 
TSH encontram-se também dentro da normalidade. 
Paratireóide 
As concentrações de paratormônio (PTH) e calcitonina estão discretamente 
diminuídas no 1º trimestre, aumentando progressivamente a partir de 
então. Para que o aporte de cálcio ao feto seja mantido, observa-se 
hiperparatireoidismo fisiológico decorrente do bloqueio da ação do PTH pelo 
estrogênio e aumento da filtração glomerular com diminuição do cálcio 
plasmático não ionizado. 
Adrenal 
• Cortisol: aumento na concentração plasmática por redução da 
depuração renal, em sua maior parte ligado à globulina 
transportadora do cortisol. Os níveis de ACTH diminuem no início da 
gravidez, aumentando com o progredir da gestação. 
• Aldosterona: aumenta a sua secreção a partir de 16 semanas, pela 
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Este aumento 
provavelmente exerce ação protetora contra o efeito natriurético da 
progesterona e do peptídeo natriurético atrial. 
• Desoxicorticosterona: aumento acentuado pela conversão periférica 
da progesterona em sítios não-adrenais como o rim, a pele e os 
vasos sangüíneos. 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 44 
 
• Androstenediona e testosterona: elevados na gestação, sendo 
convertidos em estradiol pela placenta. 
 
Tabela 11 – Principais alterações hormonais e endócrinas na 
gravidez 
 Alteração 
Esteróides 
sexuais 
Elevação acentuada da progesterona e do estrogênio 
(principalmente o estriol) 
A progesterona é principalmente sintetizada pela 
placenta isoladamente 
A síntese de estrogênios necessita de precursores 
fetais 
Hipófise Aumento de 2 a 3 vezes seu volume pré-gravídico 
Secreção aumentada de prolactina 
Níveis de TSH normais 
Redução da secreção de FSH, LH e GH 
Tireóide Aumento moderado 
Aumento da TBG 
T3 e T4 totais aumentados, frações livres normais 
Paratireóide Redução discreta da secreção de PTH e calcitonina no 
início da gestação, com aumento gradativo até o 
termo 
Adrenal Aumento do cortisol plasmático pela redução da 
depuração renal 
Aumento da aldosterona e da androstenediona 
Aumento da dezoxicorticosterona pela produção 
periférica 
 
 
Resumo das alterações dos principais sistemas 
Aparelho Digestivo 
ganho • 12,5 Kg 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 45 
 
ponderal • Aumento na ingesta de 300 Kcal para a grávida 
e 400Kcal para a lactante 
estômago • Redução da motilidade e do esvaziamento. 
Plenitude pós-prandial 
• Pirose, refluxo e hérnia de hiato 
• Melhora da doença péptica 
intestino • Constipação não muito freqüente ou intensa. 
• Elevação do apêndice até o HD. 
fígado • Aumento da produção de proteínas 
• Falsa hepatopatia – eritema palmar, 
telangectasias e aumento da F. alcalina. 
sistema 
biliar 
• Colestase intra-hepática (típico prurido e F. 
Alcalina elevada) 
• Estase biliar faveorecendo cálculos de 
colesterol. 
 
Aparelho Cardiovascular 
sangue • Aumento absoluto de hemácias queda do 
hematócrito pela hemodiluição 
• Aumento absoluto e relativo dos leucócitos 
• Aumento da maioria dos fatores da coagulação 
exceto 11 e 13. 
coração • Aumento do débito (FCxVS) do início até 24 
sem. , após o que = ou redução. 
• Precórdio: SS funcional, taquicardia, 
desdobramento e hiperfonese de bulhas 
• ECG s/ alterações (inversão de P em D3, desvio 
do ÂQRS para cima e esquerda). 
• RX- falsa impressão de cardiomegalia em 
função da posição. 
pressão 
sanguínea 
• P. Arterial: discreta redução mais acentuada no 
2 trimestre. Decorre da redução da resistência 
periférica: vasodilatação e fístula placentária. 
PA normal no trabalho de parto com aumento 
Alterações Gerais do Organismo Alexandre Trajano & Flavio Monteiro pg. 46 
 
durante as contrações. 
• P. Venosa: aumento da cintura para baixo. 
 
Aparelho Respiratório 
espirome
tria 
• Não se alteram: FR, CV, VRI 
• Aumentam: VC+35%, CI +5% 
• Diminuem: VR-20%, VRE-20%, CPT-5% 
outros • Aumento do diâmetro torácico e do ângulo 
subcostal 
• aumento da secreção edema e obstrução nasal 
 
Sistema Urinário 
anatomia • Rim +1cm; pielocalicial Dir. +1,5cm, Esq. 
+0,5cm; Ureter +2cm 
• do 2 mês até 6 meses pós-parto. 
função • Aumento FSR 75% até 16 semanas. Menor 
aumento até 34. Redução de 25% até o termo. 
• De 7 sem até o termo: IFG aumenta 50%, Cl 
Creat. au menta de 120 para 180 
dosagens • Redução de Uréia e Creatinina 
• Redução do Ac. Úrico até 24 sem quando 
apresenta recuperação (D. dif c/ PE) 
• Proteinúria. Aumento não significativo. 
Patológico se > 300 mg/24h

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