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O autor deste livro e a editora empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelo autor até a data de fechamento do livro. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências, as atualizações legislativas, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre os temas que constam do livro, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as informações contidas no texto estão corretas e de que não houve alterações nas recomendações ou na legislação regulamentadora. Fechamento desta edição: 31.01.2023 O Autor e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Atendimento ao cliente: (11) 5080-0751 | faleconosco@grupogen.com.br Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2023 by Editora Atlas Ltda. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Travessa do Ouvidor, 11 – Térreo e 6º andar Rio de Janeiro – RJ – 20040-040 www.grupogen.com.br mailto:faleconosco@grupogen.com.br http://www.grupogen.com.br/ Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da Editora Atlas Ltda. Capa: Danilo Oliveira Produção digital: Ozone CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. V575d Venosa, Sílvio de Salvo Direito civil: reais / Sílvio de Salvo Venosa. – 23. ed. – Barueri [SP]: Atlas, 2023. (Direito civil; 4) Inclui bibliografia e índice ISBN 978-65-5977-486-9 1. Direitos reais – Brasil. 2. Propriedade – Brasil. I. Título. II. Série. 22-75918 CDU: 347.2(81) Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439 1.1 1.2 1.3 1.4 1.4.1 1.4.2 1.4.3 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 3.1 3.2 3.3 3.4 4.1 4.2 SUMÁRIO 1 – Universo dos Direitos Reais Relação das Pessoas com as Coisas Direitos Reais e Direitos Pessoais Divagações Doutrinárias Acerca da Natureza dos Direitos Reais Situações Intermediárias entre Direitos Reais e Direitos Pessoais Obrigações Propter Rem Ônus Reais Obrigações com Eficácia Real 2 – Efeitos do Direito Real Denominação: Direito das Coisas. Direitos Reais Direito Real e Eficácia Erga Omnes Ações Reais Classificação dos Direitos Reais Tipicidade Estrita dos Direitos Reais e Normas de Ordem Pública 3 – Da Posse Defesa de um Estado de Aparência Posse e Propriedade. Juízo Possessório e Juízo Petitório Conceito de Posse: Corpus e Animus. Detenção. Fâmulos da Posse Objeto da Posse. Posse de Direitos 4 – Classificações da Posse Posse Direta e Indireta Composse https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-4-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/07_chapter01.xhtml#ch1-4-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml#ch2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml#ch2-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml#ch2-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml#ch2-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/08_chapter02.xhtml#ch2-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/09_chapter03.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/09_chapter03.xhtml#ch3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/09_chapter03.xhtml#ch3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/09_chapter03.xhtml#ch3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/09_chapter03.xhtml#ch3-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-2 4.3 4.4 4.5 4.6 5.1 5.1.1 5.1.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.2 5.3 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4 5.3.5 5.3.6 5.4 5.5 5.6 Posse Justa e Injusta. Posse Violenta, Clandestina e Precária Posse de Boa-fé e de Má-fé. Justo Título Princípio de Continuidade do Caráter da Posse Posse ad Interdicta e Posse ad Usucapionem. Posse Nova e Posse Velha 5 – Aquisição, Conservação, Transmissão e Perda da Posse Aquisição da Posse Apreensão da Coisa ou Exercício do Direito. Aquisição Originária e Derivada. Presunção de Posse dos Móveis Modalidades de tradição Disposição da Coisa ou do Direito Modos de Aquisição da Posse em Geral Quem Pode Adquirir a Posse Transmissão da Posse Conservação e Perda da Posse Perda da Posse pelo Abandono Perda da Posse pela Tradição Perda ou Destruição da Coisa. Coisas Postas Fora do Comércio Posse de Outrem. Perda da Posse do Ausente Perda da Posse pelo Constituto-Possessório Perda da Posse de Direitos Perda ou Furto da Coisa Móvel e Título ao Portador Atos que não Induzem Posse Posse de Móveis Contidos em Imóvel 6 – Dos Efeitos da Posse (I): Frutos, Produtos e Benfeitorias. Indenização pela Perda ou Deterioração da Coisa. Usucapião https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/10_chapter04.xhtml#ch4-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1-1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-1-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-3-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-4https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/11_chapter05.xhtml#ch5-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 7.1 7.2 7.3 7.3.1 7.3.2 7.3.3 7.3.4 7.3.5 7.3.6 7.3.7 7.3.8 7.3.8.1 7.3.9 7.4 7.5 7.6 7.7 Efeitos da Posse. Sua Classificação. Proteção Possessória Percepção dos Frutos Indenização por Benfeitorias e Direito de Retenção Indenização dos Prejuízos. Indenização pela Deterioração ou Perda da Coisa Usucapião 7 – Dos Efeitos da Posse (II): Defesa da Posse. Interditos. Processo. Outras Ações de Defesa da Posse Fundamentos e Âmbito da Proteção Possessória. Histórico Legítima Defesa da Posse. Desforço Imediato Interditos Possessórios. Ações Possessórias no Código de Processo Civil Ação de Esbulho ou de Indenização Movida contra Terceiro Fungibilidade das Ações Possessórias Aplicação das Ações Possessórias às Coisas Móveis Ação Real ou Ação Pessoal Cumulação de Pedidos nas Ações Possessórias Natureza Dúplice da Ação Possessória Exceção de Domínio Ações de Força Nova e de Força Velha. A Medida Liminar nas Ações Possessórias Quando mais de uma pessoa se disser possuidora Carência de Idoneidade Financeira do Autor Beneficiado pela Liminar Interdito Proibitório Manutenção de Posse Reintegração de Posse Embargos de Terceiro https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml#ch6-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml#ch6-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml#ch6-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml#ch6-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/12_chapter06.xhtml#ch6-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-8-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-3-9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-7 7.8 7.9 7.10 7.11 8.1 8.2 8.2.1 8.3 8.4 8.5 8.6 9.1 9.1.1 9.1.2 9.1.3 9.2 9.3 9.3.1 9.3.2 9.3.3 9.3.4 Nunciação de Obra Nova Ação de Dano Infecto Imissão de Posse Servidões e Proteção Possessória 8 – Propriedade Notícia Histórica Aspectos da Finalidade Social da Propriedade. A Expropriação do Art. 1.228, § 4º O Estatuto da Cidade Sobre a Natureza Jurídica da Propriedade Objeto do Direito de Propriedade Restrições ao Direito de Propriedade Noção de Patrimônio 9 – Aquisição da Propriedade em Geral. Aquisição da Propriedade Imóvel. Usucapião e suas Modalidades Propriedade Móvel e Imóvel. Princípios Gerais Sistemas de Aquisição da Propriedade Ação Pessoal para Entrega de Coisa. Aspectos Processuais Aquisição Originária e Derivada; a Título Singular e a Título Universal Aquisição da Propriedade Imóvel pela Transcrição. Registro de Imóveis: Princípios Gerais. Registro Torrens Acessão Acessão por Formação de Ilhas Acessão por Formação de Aluvião Acessão por Avulsão Acessão por Álveo Abandonado https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/13_chapter07.xhtml#ch7-11 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/14_chapter08.xhtml#ch8-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-1-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-1-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-4 9.3.5 9.3.5.1 9.3.6 9.4 9.4.1 9.4.2 9.4.2.1 9.4.3 9.4.4 9.4.4.1 9.4.5 9.4.6 9.5 10.1 10.2 10.3 10.4 10.5 Construções e Plantações Construções em imóvel alheio. Disposições do Código de 2002 Acessão Natural de Animais Usucapião: Introdução. Notícia Histórica Fundamentos da Usucapião Requisitos da Usucapião. Usucapião Ordinária e Extraordinária no Código de 1916 Justo título e boa-fé na usucapião ordinária no Código de 1916 Usucapião no Código de 2002. Modalidades. Uma Nova Perspectiva Usucapião Especial. Constituição de 1988. Usucapião Familiar Usucapião coletiva instituída pelo Estatuto da Cidade. Aquisição de propriedade de imóvel reivindicando (art. 1.228, § 4º, do Código) Processo de Usucapião Reconhecimento Extrajudicial de Usucapião Aquisição pelo Direito Hereditário 10 – Ação Reivindicatória e Outros Meios de Tutela da Propriedade Juízo Possessório e Juízo Petitório. Tutela da Propriedade Ação Reivindicatória Ação Declaratória Ação Negatória Outros Meios de Tutela da Propriedade 11 – Aquisição da Propriedade Móvel https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-5-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-3-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-4-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/15_chapter09.xhtml#ch9-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml#ch10-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml#ch10-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml#ch10-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml#ch10-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/16_chapter10.xhtml#ch10-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml 11.1 11.2 11.2.1 11.2.2 11.2.3 11.2.4 11.3 11.4 11.5 11.6 12.1 12.2 12.3 12.4 12.5 12.6 12.6.1 12.6.2 12.6.3 12.6.4 12.6.5 12.6.6 12.6.7 12.6.8 12.6.9 Introdução Ocupação Caça Pesca Invenção ou Descoberta Tesouro Especificação Confusão, Comistão e Adjunção Usucapião da Coisa Móvel Tradição 12 – Perda da Propriedade. Desapropriação Hipóteses de Perda da Propriedade Móvel e Imóvel Alienação Renúncia Abandono Perecimento do Objeto Desapropriação. Natureza Modalidades de Desapropriação Objeto da Desapropriação Declaração Expropriatória Processo da Desapropriação Indenização e Pagamento Desapropriação Indireta Desistência da Desapropriação. Revogação e Anulação do Ato Expropriatório Retrocessão Servidão Administrativa, Requisição e Ocupação Provisória https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-2-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-2-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-2-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/17_chapter11.xhtml#ch11-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/18_chapter12.xhtml#ch12-6-9 13.1 13.1.1 13.1.2 13.2 13.3 13.3.1 13.4 13.5 13.6 13.7 14.1 14.2 14.3 14.4 14.5 14.6 14.7 14.8 15.1 13 – Direitos de Vizinhança. Uso Nocivo da Propriedade Uso Nocivo, Mau Uso e Prejuízo Decorrentes de Direito de Vizinhança Dificuldade da Noção de Uso Nocivo da Propriedade Ações Decorrentes do Uso Nocivo da Propriedade. Dano Infecto Árvores Limítrofes Passagem Forçada Passagem de Cabos e Tubulações Águas Limites entre Prédios. Demarcação Direito de Construir Direito de Tapagem 14 – Condomínio em Geral Comunhão de Direitos e Condomínio Antecedentes Históricos e Natureza do Condomínio Modalidades e Fontes do Condomínio Direitos e Deveres dos Condôminos Administração do Condomínio Venda da Coisa Comum. Venda de Quinhão Comum. Divisão e Extinção do Condomínio Condomínio em Paredes, Cercas, Muros e Valas Compáscuo 15 – Condomínio Edilício. Outras Modalidades de Condomínio. Multipropriedade Denominação e Natureza Jurídica. Duplicidade de Natureza no Direito de Propriedade: Unidades Autônomas e Áreas Comuns. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-1-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/19_chapter13.xhtml#ch13-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/20_chapter14.xhtml#ch14-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-1 15.2 15.3 15.4 15.4.1 15.5 15.5.1 15.6 15.7 15.8 15.9 15.9.1 15.9.2 15.10 16.1 16.2 16.3 17.1 17.2 Personificação Constituição e Objeto. Incorporação Imobiliária Convenção de Condomínio. Regimento Interno Direitos e Deveres dos Condôminos. Infrações e Penalidades. Restrição aoDireito do Condômino. Possibilidade de Exclusão de Condômino ou Ocupante Terraço de Cobertura. Vagas de Garagem e Áreas de Lazer e de Utilização Comum Despesas de Condomínio. Cobrança. Obras e Reformas Inquilino na Unidade Autônoma. Lei do Inquilinato Assembleia Geral de Condôminos Administração do Condomínio. O Síndico Extinção do Condomínio Horizontal Novas Manifestações Condominiais: Loteamentos Fechados, Shopping Centers, Clubes de Campo, Cemitérios Multipropriedade (time sharing) Particularidades Legais da Multipropriedade Do Condomínio de Lotes 16 – Propriedade Resolúvel Hipóteses Legais Propriedade Sujeita a Condição ou Termo Propriedade Resolúvel por Causa Superveniente 17 – Garantia Fiduciária. Propriedade Fiduciária Alienação Fiduciária em Garantia. Origens. Conceito. A Propriedade Fiduciária no Código Civil de 2002 Garantia Fiduciária dos Bens Móveis. Requisitos e Alcance. Lei nº 10.931/2004. Sujeitos https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-5-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-9-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-9-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/21_chapter15.xhtml#ch15-10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/22_chapter16.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/22_chapter16.xhtml#ch16-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/22_chapter16.xhtml#ch16-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/22_chapter16.xhtml#ch16-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-2 17.2.1 17.2.2 17.2.3 17.3 17.3.1 17.3.2 17.3.3 18.1 18.2 18.2.1 18.2.2 18.2.3 18.2.4 18.2.5 18.2.6 18.3 18.3.1 18.3.2 18.3.3 19.1 Consequências do Inadimplemento na Alienação Fiduciária de Bens Móveis Obrigações do Credor na Alienação Fiduciária de Bens Móveis Garantia Fiduciária de Móveis na Falência Alienação Fiduciária de Coisa Imóvel Extinção da Alienação Fiduciária Imobiliária Leilão Outras Disposições: Cessão de Posição Contratual, Reintegração de Posse, Fiança, Insolvência. Forma 18 – Direitos Reais sobre Coisas Alheias. Enfiteuse e Superfície Propriedade e Direitos Reais Limitados Enfiteuse. Conceito. Notícia Histórica Enfiteuse. Efeitos. Constituição. Objeto Direitos e Deveres do Enfiteuta Direitos e Deveres do Senhorio Extinção da Enfiteuse Ações Decorrentes da Enfiteuse Enfiteuse da União Direito de Superfície. Conceito e Compreensão Direito de Superfície no Estatuto da Cidade. Cotejo com o Código Civil Direitos das Partes. Pagamento. Transmissão do Direito. Preferência Extinção 19 – Servidões Conceito. Notícia Histórica https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-2-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-2-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/23_chapter17.xhtml#ch17-3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-2-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-3-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-3-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/24_chapter18.xhtml#ch18-3-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-1 19.1.1 19.1.2 19.2 19.3 19.4 19.5 19.6 19.7 20.1 20.2 20.3 20.4 20.5 20.6 20.7 20.8 20.9 20.10 20.11 20.12 20.13 20.14 Servidões e Limitações Decorrentes de Vizinhança. Servidões Administrativas Modalidades de Servidão. Origem Histórica Classificação Características Exercício do Direito de Servidão Origem e Constituição das Servidões Extinção das Servidões Ações Decorrentes das Servidões 20 – Usufruto. Uso. Habitação Conceito de Usufruto. Notícia Histórica Natureza Jurídica. Características, Finalidades e Objeto. Usufruto Impróprio. Constituição e Transcrição. Acessórios Afinidade e Distinção com Outros Institutos. Usufruto e Fideicomisso. Usufruto Sucessivo Modalidades. Usufrutos Especiais Inalienabilidade Direito de Acrescer entre Usufrutuários Direitos do Usufrutuário Deveres do Usufrutuário Direitos e Obrigações do Nu-proprietário Usufruto de Pessoa Jurídica e sobre Patrimônio Extinção do Usufruto Direito Real de Uso Direito Real de Habitação Ações Decorrentes de Usufruto, Uso e Habitação 21 – Rendas Constituídas sobre Imóveis (Leitura Adicional) https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-1-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-1-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/25_chapter19.xhtml#ch19-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-2https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-11 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-12 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-13 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/26_chapter20.xhtml#ch20-14 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml 21.1 21.2 21.3 21.4 21.5 21.6 22.1 22.2 22.3 22.4 23.1 23.2 23.3 23.4 23.5 23.6 23.7 23.8 23.9 Contrato de Constituição de Renda e Direito Real. Notícia Histórica Características do Direito Obrigacional de Constituição de Renda Características como Direito Real Direitos e Obrigações do Credor e do Rendeiro Extinção Ações Decorrentes da Constituição de Renda 22 – Promessa de Compra e Venda com Eficácia Real. Direito do Promitente Comprador Origens. Conceito Natureza Jurídica Adjudicação Compulsória Lineamentos Gerais da Promessa de Compra e Venda 23 – Direitos Reais de Garantia Conceito. Notícia Histórica. Natureza. Bens Móveis e Imóveis. Penhor, Hipoteca e Anticrese Relação entre o Crédito e a Garantia. Eficácia contra Terceiros. Excussão. Especialização. Preferência Garantia Prestada por Terceiros Indivisibilidade. Remição. Direito Real de Garantia no Condomínio Capacidade para Instituir a Garantia e seu Objeto Proibição do Pacto Comissório Princípio da Prioridade Antecipação de Vencimento das Obrigações. Substituição e Reforço da Garantia Real Extinção dos Direitos Reais de Garantia https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/27_chapter21.xhtml#ch21-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/28_chapter22.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/28_chapter22.xhtml#ch22-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/28_chapter22.xhtml#ch22-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/28_chapter22.xhtml#ch22-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/28_chapter22.xhtml#ch22-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/29_chapter23.xhtml#ch23-9 24.1 24.2 24.2.1 24.3 24.4 24.4.1 24.5 24.6 24.7 25.1 25.2 25.2.1 25.3 25.4 25.5 25.6 25.6.1 25.7 25.8 25.8.1 25.8.2 25.9 24 – Penhor Conceito. Características. Modalidades Penhor Convencional. Constituição. Objeto Direitos e Obrigações do Credor e Devedor Pignoratício Penhor Legal Modalidades Especiais de Penhor. Penhor Rural (Agrícola e Pecuário). Penhor Industrial. Penhor Mercantil Penhor de Veículos Penhor de Direitos e Caução de Títulos de Crédito Extinção do Penhor Ações Decorrentes do Penhor 25 – Hipoteca Notícia Histórica Princípios Gerais Registro da Hipoteca. Dúvida Hipoteca Convencional Hipoteca Legal Hipoteca Judicial Pluralidade de Hipotecas e Insolvência do Devedor Abandono do Imóvel Hipotecado pelo Adquirente Efeitos da Hipoteca Remição Perempção da Hipoteca Prefixação de Valor do Imóvel Hipotecado para Fins de Arrematação, Adjudicação e Remissão Hipotecas Contraídas no Período Suspeito da Falência https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-4-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/30_chapter24.xhtml#ch24-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-2-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-6-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-8-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-8-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-9 25.9.1 25.10 25.11 25.12 25.13 26.1 26.2 26.3 26.4 27.1 27.2 28.1 28.2 28.3 28.4 28.5 28.6 28.7 28.8 Loteamento ou Constituição de Condomínio no Imóvel Hipotecado Extinção da Hipoteca Cédula Hipotecária Habitacional Execução da Dívida Hipotecária. Execução Extrajudicial da Dívida Hipotecária Hipoteca Naval, Aérea e de Vias Férreas. Minas e Pedreiras 26 – Anticrese. Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia e Concessão de Direito Real de Uso Conceito. Notícia Histórica Direitos e Deveres do Devedor e do Credor Extinção da Anticrese. Anticrese de Bens Móveis Concessão de Uso Especial paraFins de Moradia e Concessão de Direito Real de Uso 27 – Outros Direitos Reais: Laje. Fundos de Investimento A Laje Fundo de Investimento 28 – Direitos de Autor Conceito. Conteúdo Objeto do Direito Autoral Conceituação de Autor. Direitos Morais Direitos Patrimoniais do Autor. Cessão de Direitos Direitos Conexos Registro das Obras Intelectuais Direitos Autorais no Campo da Informática Associações de Titulares de Direito de Autor https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-9-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-11 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-12 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/31_chapter25.xhtml#ch25-13 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/32_chapter26.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/32_chapter26.xhtml#ch26-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/32_chapter26.xhtml#ch26-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/32_chapter26.xhtml#ch26-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/32_chapter26.xhtml#ch26-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/33_chapter27.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/33_chapter27.xhtml#ch27-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/33_chapter27.xhtml#ch27-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-2 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-4 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-8 28.9 28.10 Alguns Aspectos dos Direitos Autorais. Obra Feita sob Encomenda. Obra Publicitária. Transmissões Radiofônicas e Televisivas. Obras de Artes Plásticas. Obra Fotográfica. Obra Jornalística. Obras Fonográficas e Cinematográficas Tutela dos Direitos Autorais Bibliografia https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/34_chapter28.xhtml#ch28-10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9786559774869/epub/OEBPS/Text/35_bibliography.xhtml �.� � UNIVERSO DOS DIREITOS REAIS RELAÇÃO DAS PESSOAS COM AS COISAS Na convivência e realidade social, existe uma infinidade de bens e coisas à nossa volta. Nem sempre a doutrina logra atingir unanimidade nos conceitos de bens e coisas. Lembremos do que foi dito em nosso Direito civil: parte geral, Capítulo 16: sem que isso represente verdade definitiva, entendemos por bens tudo o que nos possa proporcionar utilidade. Em visão leiga, não jurídica, bem é tudo o que pode corresponder a nossos desejos. Na compreensão jurídica, bem deve ser considerado tudo o que tem valor pecuniário ou axiológico. Nesse sentido, bem é uma utilidade, quer econômica, quer não econômica (filosófica, psicológica ou social). Nesse aspecto, bem é espécie de coisa, embora os termos sejam, por vezes, utilizados indiferentemente. Assim, amor, pátria, honra, amor ao próximo, à família, por exemplo, são bens. O valor axiológico que se lhes atribui não se amolda ao vocábulo coisa. Perde totalmente o sentido filosófico, social e, por que não dizer, jurídico, se denominarmos coisa os elevados valores de amor, pátria e honra. Desse modo, pelo sentido linguístico e vernacular, é preciso entender que bem é espécie de coisa. Se o ar, o mar, os rios, o universo, enfim, são entidades, nem sempre apropriáveis, reserva-se o termo coisas para os bens que, sem dúvida, também representando utilidade para o homem, podem por ele ser apropriados. Nesse diapasão, sem que com isso possamos contrariar a doutrina com compreensão diversa, concluímos que todos os bens são coisas, mas nem todas as coisas são bens. Como dissemos ao iniciar o estudo do direito civil, a palavra bem deriva de bonum, felicidade, bem-estar. A palavra coisa (res) tem sentido mais extenso, compreendendo tanto os bens que podem ser apropriados, como aqueles objetos que não o podem. Em razão dessa origem etimológica, existem bens juridicamente considerados que não podem ser denominados coisas, porque sua apropriação pelo homem segue regime de ordem mais moral e filosófica do que jurídica, como ocorre, por exemplo, com a honra, a liberdade, o nome da pessoa natural. São eles denominados direitos da personalidade, os quais seriam sumamente restringidos em sua compreensão, se denominados coisas. Muitos doutrinadores apresentam visões mais sofisticadas desses termos, coisa e bem, o que acarreta certa dificuldade de compreensão, mormente ao iniciante, nada que possa ter repercussão maior em termos práticos. Como temos enfaticamente apontado a inúmeros leitores que, com a facilidade do correio eletrônico nos questionam exatamente sobre essa diferenciação, nesse tema, como em outros, não há que complicar aquilo que é imanentemente simples, e não traz maiores dificuldades na prática. O jurista e, por via de consequência, o professor têm o dever de se debruçar mais profundamente naquilo que verdadeiramente representa institutos jurídicos com repercussões efetivas na vida social. O tema é antes filosófico do que jurídico e assim deve ser compreendido. Ao encetarmos o estudo dos direitos reais ou direito das coisas, importa, principalmente, definir seu objeto, pois somente pode ser objeto desse direito aquilo que pode ser apropriado. Coisa pode ser entendida como unicamente os bens corpóreos, como faz o direito alemão, porém pode abranger tanto os objetos corpóreos como os incorpóreos, conforme adota nossa doutrina. Nosso Código não define os dois termos, daí maior confusão em sua conceituação. O Código português, no art. 202, define: “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. O Código italiano, no art. 810, diz que são bens as coisas que podem ser objeto de direitos, no sentido que ora reafirmamos. Portanto, os bens que podem participar das relações jurídicas e podem integrar patrimônio, juridicamente considerados, são as coisas que neste estudo nos interessam. Por vezes, apenas o caso concreto pode dar a noção. Assim sendo, a água do mar é um bem, em princípio inapropriável pela pessoa; porém, a água do mar passível de ser tratada, dessalinizada, para se tornar potável, torna-se possível de integrar patrimônio e relação jurídica. Como sempre enfatizamos, a ciência do Direito não se compraz com afirmações peremptórias. Assim como não existem direitos absolutos, não há conceituações jurídicas absolutas. Nossa legislação inclina-se por tratar indiferentemente ambas as noções; às vezes, coisa é gênero e bem é espécie, ou vice-versa. O termo bens, que serve de título ao Livro II da parte geral do Código Civil, possui significação extensa, incluindo coisas, bens e respectivos direitos em geral. Na parte especial, o Código, tanto o antigo como o atual, trata do que denomina Direito das Coisas, dedicando-se exclusivamente à propriedade, direito real mais amplo, e respectivos direitos derivados, todos eles de extensão menos ampla do que a propriedade. No direito das obrigações, vimos que o objeto das relações jurídicas é um dar, fazer ou não fazer. O objeto dessa relação jurídicaé uma prestação de parte do devedor, em prol do credor; uma atividade ou conduta, conjunto de atos mais ou menos extensos. Vimos também que essa obrigação pode servir de veículo, a fim de que o credor venha fazer com que integre seu patrimônio uma utilidade apropriável. O contrato não é a única modalidade, único instrumento de aquisição da propriedade, constituindo-se, porém, na principal ou que mais ocorre na prática. Ora, uma vez fixado que o objeto de uma obrigação pode ser uma coisa, ou seja, bem economicamente apreciável e apropriável, importa agora desvincularmo-nos dessa relação pessoal credor-devedor, que faz parte do direito obrigacional, para debruçarmo-nos nessa relação que liga a pessoa às coisas. Pois bem. Se existe possibilidade de ligação estreita entre a pessoa e a coisa, adentramos, sem dúvida, no campo dos direitos do sujeito; portanto, dos direitos subjetivos. No momento em que o ser humano primitivo passa a se apropriar de animais para seu sustento, de caverna para abrigo, de pedras para fabricar armas e utensílios, surge a noção de coisa, de bem apropriável. A partir daí entende o indivíduo que pode e deve defender aquilo de que se apropriou ou fabricou, impedindo que intrusos invadam o espaço em que habita, ou se apropriem dos instrumentos que utiliza. Essa noção psicológica, e, portanto, subjetiva, embasa, desde os primórdios, os denominados direitos reais, ou direito das coisas (terminologia que tecnicamente se equivale). Os sujeitos de direito, as pessoas, travam contato em sua existência com número mais ou menos amplo de bens e coisas. Há bens que se sabe inapropriáveis, de forma geral, como o ar, o mar, os bens públicos. Há, no entanto, coisas passíveis de apropriação. Há coisas que estão ligadas por um nexo jurídico e psicológico às pessoas que lhe estão próximas, e assim integram seus respectivos patrimônios. Do maltrapilho que guarda míseros bens em sua choupana ao mais abastado, que se cerca de valores sofisticados, existe essa noção psicológica de apropriação, a qual emergirá no mundo jurídico, quando necessário. A generalidade das coisas existentes será absolutamente indiferente, para a maioria das pessoas. No entanto, pode ocorrer que determinada situação coloque uma pessoa até então estranha em relação direta com a coisa ligada psicologicamente a outro sujeito. É o caso do vizinho que invade e edifica em terreno alheio; do larápio que se apropria da coisa de outrem. Nessas situações, cujos exemplos podem variar à exaustão, aqueles bens ligados a um sujeito determinado passam a ser colocados em choque ou na berlinda por terceiros até então absolutamente estranhos a essa relação senhor-coisa. É dessa relação de senhoria, ou senhoridade como dizem os italianos, de poder, de dominus, que devemos aqui nos ocupar. Reside nessa singela descrição toda a grandeza dos direitos reais, para qual acorrem os doutos na tentativa de explicar sua natureza jurídica. Como o direito subjetivo, o direito de senhoria é poder outorgado a um titular; requer, portanto, um objeto. O objeto é a base sobre a qual se assenta o direito subjetivo, desenvolvendo o poder de fruição da pessoa com o contato das coisas que nos cercam no mundo exterior. Nesse raciocínio, o objeto do direito pode recair sobre coisas corpóreas ou incorpóreas, como um imóvel, no primeiro caso, e os produtos do intelecto (direitos de autor, de invenção, por exemplo), no segundo. O direito das coisas estuda precipuamente essa relação de senhoridade, de poder, de titularidade, esse direito subjetivo que liga a pessoa às coisas; o direito de propriedade, o mais amplo, o ápice do direito patrimonial, e os demais direitos reais, de menor extensão, passando pela grandeza de conceituação da posse. Todos esses direitos, em seu maior ou menor âmbito, decorrentes de modalidade de direito subjetivo, dizem-se erga omnes, ou seja, devem ser respeitados por todos, perante todos, noção à qual retornaremos. A preposição erga não significa oposição ou confronto, como seria a palavra contra, também latina, mas dá a ideia de respeito perante todos. A noção de confronto não integra a compreensão do direito real. O confronto social ao direito de propriedade, e seus consectários, é patológico e excepcional; se, por hipótese, tornar-se regra, traduz um segmento social desajustado. Cabendo ao Estado e ao Direito corrigi-lo. Os direitos reais regulam as relações jurídicas relativas às coisas apropriáveis pelos sujeitos de direito. Essa noção psicológica de senhoria necessita de regulamentação jurídica para adequar a sociedade aos anseios e necessidades individuais. Como as coisas apropriáveis são finitas, cabe ao Estado regular sua apropriação e utilização. Relacionado com o conceito maior de propriedade, o direito real é o que mais recebe reflexos históricos, políticos e econômicos nas diversas épocas e nos diversos Estados, isto é, altera-se no espaço e no tempo. A amplitude da senhoria sobre os bens será de maior ou menor grau de acordo com a orientação político-estrutural de cada Estado no curso de sua respectiva história. Isto porque, com frequência cada vez maior nas conjunturas atuais, o Estado intervém, com maior ou menor intensidade, para regular e limitar o poder de utilização das coisas pelas pessoas. O Direito recepciona de forma direta e permanente o conflito social em torno da luta pelas coisas. As pressões sociais de uma população mundial crescente deságuam nos tribunais, que não mais podem enfocar a propriedade, os demais direitos reais e a utilização dos bens, neste século XXI, como se fez no passado. Na contemporaneidade, a proteção absoluta da propriedade cede lugar a sua proteção social, sem que com isso se coloquem à margem da Lei e do Direito os seculares princípios resguardadores do domínio. É esse o sentido que a Constituição Federal de 1988 procurou dar e do qual não pode fugir o direito privado. �.� 1. DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS Cumpre agora distendermos a compreensão dessa distinção já feita no estudo das obrigações (Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, Cap. 1, seção 1.3). A ideia básica é que o direito pessoal une dois ou mais sujeitos, enquanto os direitos reais traduzem relação jurídica entre uma coisa, ou conjunto de coisas, e um ou mais sujeitos, pessoas naturais ou jurídicas. O exemplo mais adequado de direito pessoal é a obrigação, e o exemplo compreensível, completo e acabado de direito real é a propriedade. Advirta-se, porém, que em qualquer ramo do Direito nunca há que se divisar compartimento estanque ou antagonismo: interpenetram-se o direito público e o direito privado, bem como o terceiro gênero, denominado mais recentemente de direito social. Com maior razão, não se mostram isolados os campos do direito privado, tanto nos direitos pessoais, como nos direitos reais. O Direito é organismo complexo, vivo e completo, que somente encontra homogeneidade na integração de todos os seus ramos e princípios. Relembremos, agora com maior profundidade, o que foi dito acerca das diferenças mais marcantes entre os direitos reais (ius in re) e os direitos pessoais (ius ad rem): O direito real é exercido e recai diretamente sobre a coisa, sobre um objeto basicamente corpóreo, embora não se afaste a noção de realidade sobre bens imateriais, enquanto o direito obrigacional tem como objeto relações humanas. Sob esse aspecto, embora essa noção deva ser aprimorada, afirma-se ser o direito real absoluto, exclusivo, exercitável erga omnes. Por outro lado, o direito obrigacional é relativo. A prestação é o objeto do direito pessoal ou obrigacional, somente podendo ser exigida do devedor. 2. 3. 4. O direito real caracteriza-se pela inerência ou aderência do titular à coisa. Como consequência desse poder de senhoria sobre a coisa, o direito real não comporta mais do que um titular. Advertimos de início, porém, que essa assertiva não conflita com a noção de condomínio, em que a propriedade continua a ser exclusiva, mas com vários titulares. O sujeito titular de direito realexerce seu poder sobre a res, a coisa objeto de seu direito, de forma direta e imediata, sem intermediários. O direito obrigacional traz a noção primeira de um sujeito ativo (um credor), um sujeito passivo (um devedor) e a prestação, qual seja, o objeto dessa relação jurídica pessoal. Nesse aspecto, afirmamos que o direito real é atributivo, porque atribui uma titularidade, uma senhoria ao sujeito, enquanto o direito obrigacional é cooperativo, porque implica sempre uma atividade pessoal. Pelo que se percebe, portanto, o direito real concede o gozo e fruição de bens. O direito obrigacional concede um direito a uma ou mais prestações, a serem cumpridas por uma ou mais pessoas. O direito real define inerência ou aderência da coisa ao titular, expressão que serve para caracterizar o que comumente chamamos de soberania, poder ou senhoria sobre a coisa. É dito, em geral, que a obrigação é por natureza essencialmente transitória: nasce para cumprir função social e jurídica, mas se extingue uma vez cumprido seu papel, com o adimplemento ou pagamento. O direito real teria sentido mais extenso de permanência, de inconsumibilidade. No entanto, essa afirmação somente pode ser vista do ponto de vista aparente desses dois fenômenos. Há direitos reais limitados no tempo, como sucede, por exemplo, no usufruto; e há obrigações sem limite de tempo, como ocorre nas obrigações negativas. O que se permite concluir 5. é que os direitos de crédito são preponderantemente transitórios, enquanto os direitos reais, preponderantemente permanentes, guardam característica básica de inconsuntibilidade e durabilidade de maior ou menor extensão temporal. O chamado direito de sequela é corolário do caráter absoluto do direito real: seu titular pode perseguir, ir buscar o objeto de seu direito com quem quer que esteja. O direito pessoal não possui tal característica. O credor, detentor de direito pessoal, quando recorre à execução forçada, tem apenas a garantia geral do patrimônio do devedor, não podendo escolher, como regra, determinados bens para garantir a satisfação de seu crédito. O direito de perseguição, direito de sequela ou direito de seguimento dos direitos reais “significa que o direito segue a coisa, perseguindo-a, acompanhando-a, podendo fazer-se valer seja qual for a situação em que a coisa se encontre” (Moreira e Fraga, 1970-1971:47). Esse direito de sequela se traduz tanto em uma apreensão material da coisa por terceiros como também em apreensão jurídica. Em ambas as situações, o titular de direito real pode reivindicar a coisa. A reivindicação é a forma processual mais clara, embora não a única, pela qual o direito de sequela concretiza-se. Esse direito de perseguir a coisa, amplo na forma mais completa de direito real que é a propriedade, também se manifesta nos outros direitos reais, sejam eles de gozo (ou fruição), sejam de garantia. O nu-proprietário e o usufrutuário podem reivindicar a coisa de terceiro que dela se aposse. Por igual razão, o credor hipotecário pode continuar na execução do bem hipotecado, objeto de sua garantia, independentemente de não mais pertencer ao primitivo titular que constituiu a hipoteca.1 6. 7. O termo sequela pretende destacar o aspecto dinâmico do direito real, apresentando-se mais como imagem figurativa do que como fato externo. É, contudo, elemento forte de valoração jurídica de cunho didático. O direito de sequela, explicação dinâmica do fenômeno, faz lembrar também o direito de inerência, domínio ou senhoria sobre a coisa, explicação estática do mesmo fenômeno jurídico. Consequência do direito de sequela é o fato de o direito real ser necessariamente individualizado. O objeto do direito real deve ser individualizado no nascedouro, pois doutro modo não há como exercer a sequela. Nos direitos obrigacionais, a prestação pode ter como objeto coisas apenas determináveis pelo gênero, quantidade e qualidade, coisas fungíveis. Como vemos, somente a completa individualização do objeto do direito real permite a perseguição, a sequela. Questão fundamental, muito debatida pela doutrina mais antiga, diz respeito ao número limitado de direitos reais. Os direitos reais não são numerosos ao infinito, porque, em síntese, são finitos os bens disponíveis e apropriáveis pelo homem. A regra enunciada é que os direitos reais se inserem em numerus clausus, número fechado, isto é, somente podem ser considerados direitos reais, mormente em nosso ordenamento, aqueles assim considerados pela lei. Por essa razão, seu elenco é facilmente enunciável. Por outro lado, os direitos obrigacionais são em número ilimitado, porque as facetas do relacionamento pessoal são infinitas. Os direitos pessoais apresentam-se, destarte, como número indeterminado. As necessidades sociais estão sempre a exigir criação de novas fórmulas jurídicas para atendê-las. 8. Podemos lembrar também, como elemento distintivo, que somente os direitos reais podem ser objeto de usucapião, não existindo possibilidade dessa modalidade de aquisição nos direitos de crédito. O usucapião (ou a usucapião como prefere o Código Civil de 2002) é, destarte, forma de aquisição de propriedade. Porém, nem todos os direitos reais são passíveis dessa aquisição: somente o serão a propriedade e os direitos reais de gozo ou fruição que permitam a utilização em favor de um titular. Como consequência, tanto a propriedade material poderá ser objeto de usucapião, como o gozo de direitos de domínio imaterial (e não exatamente os direitos, uma vez que há muito se estabeleceu a celeuma sobre a posse de direitos, questão a ser enfocada). Por essa razão, parte da jurisprudência majoritária mais recente admite o usucapião do direito de uso de linha telefônica e situações assemelhadas, por exemplo. Não é a concessão da linha que se apropria, mas o direito de uso, o qual pode ser turbado por terceiros. A questão tem a ver com situações especiais que admitem apropriação. Nesse sentido, o Código argentino anterior, em disposição acrescida à redação original do art. 2.311, dispõe: “As disposições referentes às coisas são aplicáveis à energia e às forças naturais suscetíveis de apropriação”. Se, de um lado, não se pode qualificar a energia na qual se coloca a linha telefônica e situações assemelhadas na internet, as mais variadas, como coisa sem desvirtuar seu conceito, é, no entanto, um bem regido pelos mesmos princípios das coisas. A matéria atinente à posse e propriedade de linha telefônica tinha sentido em nosso país quando absurdamente representava um bem de difícil aquisição. Pelas vias ordinárias, o cidadão esperava anos por sua linha 2 3 telefônica. Havia até modalidade informal de Bolsa de Telefones. A situação mudou nos últimos anos, felizmente, inserindo o Brasil, ao menos no setor de telecomunicações, no nível de Primeiro Mundo. Refutamos, assim, a teoria que repele a aplicação dos princípios de direitos reais à energia. Se nem toda modalidade de energia é apropriável, o que reforçaria a não admissão de seu conceito no direito real, existem, doutra face, direitos reais que não admitem apropriação por terceiros ou usucapião, como os direitos de garantia. De toda essa diferenciação, recordemos mais uma vez que não existem compartimentos estanques no Direito. Como foi dito, direitos reais e direitos pessoais interpenetram-se e completam-se para formar o universo harmônico da ciência jurídica. Há institutos, como as obrigações com eficácia real e as obrigações propter rem, estudadas por nós em Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, que se situam em zona transitória entre um e outro compartimento. Há direitos reais que servem precipuamente para garantir direitos obrigacionais, como ocorre com o penhor e a hipoteca. Esse aspecto de direito subjetivo nos direitos reais foi originalmente ligado à ideia de coisas corpóreas, embora mesmo no Direito antigo não deixasse de existir a noção de titularidade sobre direitos. A compreensão mais intensa emergente no direito real é essa titularidade, senhoria, poder imediato do homem sobre acoisa. Esse entendimento dogmático, todavia, sofreu temperamento histórico. Como consequência da Revolução Industrial e das transformações nas economias liberais, as novas fontes de riqueza tendem a desprender-se do conceito exclusivamente concreto de direito real, com criação de novos direitos subjetivos, como aqueles relativos aos direitos de autor e de inventor, bem como sobre a propriedade industrial (Comporti, 1980:8). Há bens que, embora materiais, escapam do âmbito dos direitos reais, como ocorre com o corpo humano. À primeira vista, repulsa ao conceito moral que partes do corpo humano tenham valor patrimonial. Seu conteúdo deve ser visto exclusivamente sob prisma não patrimonial, considerando-se ineficaz negócio jurídico oneroso que os tenha como objeto. É princípio na prática não alcançado. Deve existir mitigação necessária quando se cuida de partes do corpo humano dele separadas sem ofensa ou prejuízo à integridade do organismo, ou a princípios morais, como o leite materno, o cabelo e o sangue, elementos regeneráveis. Esse princípio é consagrado no Código em vigor, dentro do capítulo dedicado aos direitos da personalidade (art. 13). De qualquer modo, devem ser coibidos os atos de disposição de partes do corpo humano que ocasionem diminuição permanente da integridade física, ou que contrariem a lei, a ordem pública e os bons costumes. Deve-se ter em mente as lei regulamentadoras, já superadas, que trazem a ideia aqui exposta, quando se trata de doador vivo de órgãos. �.� DIVAGAÇÕES DOUTRINÁRIAS ACERCA DA NATUREZA DOS DIREITOS REAIS Em matéria tão rica de detalhes e importância, inevitável que no curso da história tenham surgido, e continuem a surgir, muitas teorias para explicar a natureza jurídica dos direitos reais. Transcende o âmbito proposto nesta obra que enunciemos longa série contrastante de opiniões jurídicas, nem sempre com efeito prático eficaz. No entanto, é importante que tomemos conhecimento das linhas mestras de pensamento que alicerçam a problemática dos direitos reais. Importa que se explique esse relacionamento da pessoa com a coisa. Qualquer que seja a corrente adotada, cumpre não esquecermos ser o direito real projeção da própria personalidade sobre a coisa. Essa posição, que se prende ao direito subjetivo, pode ser denominada de personalista ou clássica, porque explica o direito real como direito absoluto. Não se olvide, porém, e nunca se escapou dessa evidência no curso da história, que a projeção jurídica da pessoa sobre a coisa deve ter sempre em mira o aspecto da dignidade e do desenvolvimento do homem na comunidade social. Daí percebermos representar esse direito um absolutismo técnico e não um absolutismo real. O direito essencialmente absoluto seria sua própria negação, por excluir a vida em comunidade e por tornar inviável a sociedade. O titular de um direito real, que projeta um direito seu sobre a coisa, deve relacionar-se, ainda que contra sua vontade, com outras pessoas na sociedade. Isto tem muito a ver com o que será examinado a respeito do aspecto erga omnes, e a teoria, admitindo que toda sociedade é sujeito passivo da relação de direito real, a nosso ver serve unicamente para início didático de compreensão da matéria. Nisso levamos em consideração que as relações jurídicas visam assegurar um bem de vida às pessoas. É na estrutura dessa relação jurídica que se justifica a natureza de cada direito e, consequentemente, do direito real. Nesse esquema, não é muito relevante entender a relação entre sujeito e coisa, mas a relação sujeito-coisa com os demais sujeitos de direito. Nesse sentido, em nosso entendimento, pecam as teorias que veem no direito real toda sociedade como sujeito passivo universal, isto é, todos devendo respeitar o direito de propriedade. Ou, em outras palavras, existiria um dever geral de abstenção de toda a sociedade de não invadir o âmbito do direito real alheio. Não havendo interesse algum de terceiros sobre determinado direito de propriedade, eles são, na verdade, totalmente estranhos a essa relação, não podendo ser colocados em polo de relação jurídica, que lhes é absolutamente estranha. Sobre tal aspecto, podemos dizer que também as relações obrigacionais estejam protegidas, uma vez que, como regra, terceiros não se imiscuem em relações obrigacionais alheias. Nesse prisma, todos os direitos são oponíveis contra terceiros. Daí então a afirmação da existência de sujeição passiva universal, a qual leva em conta o aspecto meramente eventual da relação jurídica. Concluímos, então, que o “direito real é um direito absoluto, por oposição aos direitos relativos. A sua tutela funda-se em razões absolutas, e não na demonstração de que o sujeito passivo está individualmente vinculado por uma relação constitutiva de direito” (Ascensão, 1987:59). A conceituação de direito absoluto não é identificativa exclusivamente do direito real, porque existem direitos reais não absolutos, como os direitos da personalidade. No direito real percebe-se claramente uma ligação, afetação da coisa à pessoa, o que dá o caráter substancial a essa categoria. Essa afetação explica o aspecto de direito subjetivo no direito real. Desse modo, percebemos que o ordenamento protege certos direitos subjetivos perante terceiros, como forma de harmonizar a convivência social. Este o grande sentido dos direitos reais. O vínculo entre a pessoa e a coisa é útil para o Estado, o qual procura manter equilibrada a sociedade. Disso decorre a ductibilidade política do conceito de propriedade. A orientação política do Estado, com maior ou menor liberdade individual, com maior ou menor igualdade social, ditará o âmbito de proteção dos direitos subjetivos com relação às coisas. Portanto, na estrutura do Estado situa-se o âmbito dos direitos reais, mesmo porque, em nosso ordenamento, somente a lei pode criá-los. Assim como pode criá-los, cabe ao legislador ampliar ou restringir seu uso e gozo, ou seja, o direito subjetivo. Nesse sentido, os direitos reais em um sistema liberal-individualista serão diversos daqueles de um sistema social-intervencionista. Esse enquadramento, como vimos, é histórico e espacial: varia no tempo e no espaço. Evidentemente, a jurisprudência recebe e responde diretamente à posição estrutural e histórica dos direitos reais. Dessa amplitude maior ou menor do direito subjetivo decorre a tutela jurídica ditada pelo Estado, e o Poder Judiciário representa uma manifestação do Estado, com respeito à propriedade e a outros direitos reais, no que toca às ações e aos meios jurídicos de defesa. Nessa concretização do direito subjetivo aflora a relação jurídica de direito real. Reserva-se a possibilidade de gozo da propriedade ou de outros direitos reais limitados como faculdade própria do titular, emanada de um poder sobre a coisa. O conteúdo dos direitos reais é complexo, porque ora aparece como um poder do titular sobre a coisa, ora estampa uma faculdade para exercitar esse poder sob o prisma da tutela jurídica. Afinal, sempre importa a proteção ao bem jurídico relacionado, levando-se em conta a harmonização social. No plano processual, o direito real concretiza-se fundamentalmente na ação reivindicatória. Nessa ação existem dois pedidos: o de reconhecimento de um direito real e de entrega da coisa indevidamente em poder de terceiro. O aspecto externo e mais palpável da propriedade é protegido pelas ações possessórias, em que a proteção e tutela jurídica limitam-se ao invólucro, à embalagem, ao aspecto exterior, e não ao conteúdo, seu interior, exame dedicado à propriedade propriamente dita. Por essa razão veremos que nem sempre o proprietário ou o possuidor ostensivo será protegido na ação possessória. Mas a ação reivindicatória é instrumento exclusivo do proprietário que exerce seu direito de sequela. �.� SITUAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS Existem várias situações na vida negocial que deixam o intérprete e o estudioso perplexos diante de aparente interpenetração conceitual de direito real e direito pessoal.No entanto, esses casos duvidosos, como sustentamos, não têm características suficientes para gerar uma terceira categoria, um terceiro gênero. Hipótese marcante dessa situação é o denominado ius ad rem, direito à coisa. Trata-se de denominação técnica para designar direito pessoal estampado na obrigação de entregar certas coisas para transferir o domínio ou constituir direitos reais sobre elas. Em última análise, há um direito subjetivo de obter a posse, um direito à posse que não se confunde com a posse propriamente dita. Para esse desiderato o ordenamento processual coloca à disposição da parte a pretensão da obrigação de dar, conforme examinamos na parte geral de obrigações. Ali expusemos que a palpitante dúvida na execução das obrigações de dar coisa certa reside na possibilidade da execução in natura. Nas obrigações de dar coisa certa levamos em consideração que antes da tradição dos móveis e do registro dos imóveis ainda não existe transmissão da propriedade. A dúvida é concluir se restará ao credor, na recusa da entrega pelo devedor, tão somente o pedido de indenização por perdas e danos, ou se há possibilidade de obrigar o devedor a entregar a coisa. Em qualquer hipótese, o Direito não pode tolerar a injusta recusa. Se a coisa injustamente retida está na posse e patrimônio do devedor, não há razão para a recalcitrância, e deve o ordenamento munir o credor de armas para havê-la ou reavê-la. Esse é o chamado ius ad rem aqui mencionado. Se, por outro lado, a execução in natura impossibilita-se porque a coisa não mais pertence ao devedor, porque se perdeu ou está com terceiros de boa-fé, a solução cai na vala comum das perdas e danos. Como afirmamos, somente se pode tolher a execução para a entrega da própria coisa, substituindo-se por perdas e danos, quando ela se tornar impossível, ou juridicamente inconveniente. Esse é o sentido dado pelos arts. 806 ss. do CPC, quando se cuida da execução para entrega de coisa certa, permitindo e obrigando sempre que possível a execução in natura. No entanto, como a ação não versa sobre o domínio, que até então inexiste, é pessoal e não real, porque se pede o cumprimento de obrigação. Destarte, nessa situação de ius ad rem, não há que se ver categoria intermediária, a meio caminho entre o direito pessoal e o direito real. Lembre-se sempre do que enfatizamos: não há compartimentos estanques no Direito, e o direito pessoal, com muita frequência, é meio idôneo, instrumento que serve de ponte para a aquisição de direito real. Pelas mesmas razões são repudiados os chamados direitos reais in faciendo. A sistemática do direito real não admite que se vincule pessoa a determinado comportamento positivo. A questão que surge nas servidões, como se verá, coloca-se exclusivamente dentro do direito real, porque o que se onera, no caso, é o imóvel, e não seu titular. O fazer imposto a uma pessoa decorre sempre de uma obrigação e não de um direito real. �.�.� Obrigações Propter Rem Nas obrigações reais ou reipersecutórias, os pontos de contato entre os dois compartimentos do Direito são mais numerosos, como estudamos nas obrigações em geral (Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, Cap. 4, na qual deve ser estudada a matéria). Vimos que existem situações nas quais o proprietário é por vezes sujeito de obrigações apenas porque é proprietário (ou possuidor), e qualquer pessoa que o suceda assumirá essa obrigação. Embora ligadas à coisa, essas obrigações não se desvinculam totalmente do direito pessoal e de seus princípios. O elemento obrigacional é fornecido pelo conteúdo dessa obrigação, enquanto o elemento real se realça na vinculação do proprietário como sujeito passivo da obrigação. Cuidamos, pois, de obrigação que ostenta características especiais no tocante a origem, prazo e extinção. Lembra Edmundo Gatti (1984:108) que a lei desempenha fator decisivo ou exclusivo para o surgimento e as vicissitudes das obrigações propter rem, porque nascem elas ope legis. A rotulação bem explica o conteúdo dessa obrigação: propter rem, ob rem ou reipersecutória. Trata-se, pois, de obrigação relacionada com a res, a coisa. Como essa obrigação apresenta-se sempre ligada a um direito real, como um acessório, sua natureza fica a meio caminho entre o direito obrigacional e o direito real, embora sua execução prenda-se ao primeiro aspecto. Como concluímos no estudo anterior sobre o instituto, a íntima relação da obrigação propter rem com os direitos reais significa um elemento a mais à própria noção de direito real aqui examinada. A obrigação real é particularização do princípio erga omnes do direito real: determinada pessoa, em face de certo direito real, está “obrigada”, juridicamente falando, mas essa obrigação materializa-se e mostra-se diferente da obrigação erga omnes do direito real, porque diz respeito a um único sujeito, apresentando todos os característicos de obrigação. A propriedade deve ser respeitada por todos, mas o vizinho, em face do muro limítrofe, não apenas deve respeitar a propriedade confinante, como também concorrer para as despesas de conservação desse bem. A doutrina longe está da unanimidade a respeito da natureza jurídica do fenômeno. A nosso ver, bem conclui Edmundo Gatti (1984:110), para quem as obrigações reais são “obrigações legais, estabelecidas por normas que, principalmente, são de ordem pública, cujo sentido é o de estabelecer restrições e limites legais a cada um dos direitos reais 4 �.�.� e cuja função consiste, portanto, em determinar, negativamente, o conteúdo normal de cada um dos direitos reais”. No entanto, essa faceta do instituto não transforma a obrigação em direito real; não se pode dizer que o direito do credor seja direito real, pois a situação não tem o significado funcional de realizar em benefício dele a afetação de uma coisa. Continua a ser mero credor, numa obrigação cujo sujeito passivo é mediatamente determinado (Ascensão, 1987:63). Como exemplos de obrigações reipersecutórias, mencionamos: a obrigação do condômino em concorrer, na proporção de sua parte, para as despesas de conservação ou divisão da coisa (art. 1.315); o mesmo caráter tem as despesas de condomínios em edifícios ou similares; a obrigação de o proprietário confinante proceder com o proprietário limítrofe à demarcação entre dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas (art. 1.297); a obrigação de índole negativa de proibição, na servidão, do dono do prédio serviente de embaraçar o uso legítimo da servidão. Essas obrigações podem decorrer da comunhão ou copropriedade, do direito de vizinhança, do usufruto, da servidão e da posse. No âmbito do direito administrativo, têm esse caráter as multas infligidas a veículos automotores decorrentes de infrações de trânsito. Ônus Reais Em Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, seção 4.2, tivemos oportunidade de conceituar ônus real como gravame que recai sobre uma coisa, restringindo o direito do titular de direito real. Vimos ser bastante controvertida a distinção entre ônus real e obrigação real. Apontamos, contudo, que no ônus real a responsabilidade é limitada ao bem onerado, ao valor deste, enquanto na obrigação propter rem o devedor �.�.� responde com seu patrimônio em geral, sem limite. O ônus desaparece, esvaindo-se seu objeto. Por outro lado, os efeitos da obrigação reipersecutória podem permanecer, enquanto não satisfeita, ainda que desaparecida a coisa. Apontamos também como diferença que o ônus real se apresenta sempre como obrigação positiva, enquanto a obrigação real pode surgir como obrigação negativa. A doutrina discute se esses ônus são direitos reais. Nosso direito positivo não se refere expressamente aos ônus reais. Emprega, porém, o termo em várias oportunidades, no título relativo aos direitos reais sobre coisas alheias. Mesmo nas legislações que admitem positivamente o instituto, persiste certa dúvida. A palavra ônus tem várias acepções noDireito. No entanto, a compreensão de ônus real deve ser reservada ao direito cujo conteúdo é “poder exigir a entrega, única ou repetida, de coisas ou dinheiro, a quem for titular de determinado direito real de gozo” (Ascensão, 1987:63). Nesse diapasão, é colocada como ônus real a constituição de renda sobre bem imóvel no Código de 1916 (arts. 1.424 a 1.431). No Código de 2002, a constituição de renda é exclusivamente um contrato, sem reflexos de direito real (arts. 803 a 813). Não se trata, porém, de categoria autônoma em nosso direito, não podendo ser generalizado o ônus real como direito real. A constituição de renda, entre nós, estava estruturada como direito real no Código de 1916, sem que a lei mencionasse a terminologia em exame. Os arts. 1.424 a 1.429 do estatuto anterior disciplinavam a constituição de renda no capítulo dos contratos, mas o art. 1.431 transformava a avença em direito real, remetendo aos arts. 749 a 754. Cuida-se de exemplo típico de ônus real, pelo qual o proprietário do imóvel se obriga a pagar prestações periódicas de soma determinada. A importância prática era restrita em razão do desuso do instituto da constituição de renda como direito real. Obrigações com Eficácia Real É princípio básico que somente a lei pode criar direito real. Nossa legislação traz exemplos de relações contratuais que, por sua importância, podem ser registradas no cartório imobiliário, ganhando eficácia que transcende o direito pessoal. Lembremos do que foi estudado em nosso livro Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil (seção 4.3). Assim era na revogada Lei do Inquilinato (Lei nº 6.649/79, art. 25), e assim é na lei inquilinária atual (Lei nº 8.245/91). Nos termos do art. 33 da vigente lei, o contrato de locação, com o registro imobiliário, permite que o locatário oponha seu direito de preferência na aquisição do imóvel locado erga omnes, isto é, perante qualquer adquirente da coisa locada. Outro exemplo é o do compromisso de compra e venda, que, uma vez inscrito no registro imobiliário, faz com que o compromissário goze de direito real, habilitando- o à adjudicação compulsória (art. 1.417 do Código). Trata-se de opção do legislador. Quando este entende que determinada relação obrigacional merece tratamento de maior proteção, transforma-a em direito real, ou seja, concede eficácia real a uma relação obrigacional. De qualquer forma, tal situação deve ser vista como exceção à regra geral dos efeitos pessoais das relações obrigacionais. “Compra e venda de veículo. Ação de busca e apreensão. Tutela de urgência indeferida. O pedido inicial de busca e apreensão do bem não está previsto na legislação vigente, exceto em casos de alienação fiduciária, não possuindo os autores o direito de sequela ou jus persequendi. Necessidade de aditamento do pedido, na forma do art. 329, II, do CPC, se o réu já foi citado. Recurso improvido, com observação” (TJSP – AI 2096016- 16.2022.8.26.0000, 9-5-2022, Rel. Gomes Varjão). “Apelação Cível – Direito Privado não especificado – Ação Reivindicatória. Petitória. Imóvel. Contrato de Cessão de Direitos Hereditários. Requisitos. A ação reivindicatória funda-se no direito de sequela e requisita prova do 5 1 domínio do reivindicante sobre a coisa, da individualização do bem e de posse injusta do réu, em observância das disposições dos art. 1.227, art. 1.228 e art.1.245 do Código Civil. Circunstância dos autos em que se impõe manter a sentença de improcedência” (TJRS – AC 70082958976, 29-1-2020, Rel. Des. João Moreno Pomar). “Apelação cível – Propriedade e direitos reais sobre coisas alheias – Ação reivindicatória – Reivindicatória – Requisitos – A ação reivindicatória funda-se no direito de sequela e requisita prova do domínio do reivindicante, individualização do bem e posse injusta do réu – Circunstância dos autos em que presente os requisitos; E se impõe manter a sentença. Recurso desprovido” (TJRS – AC 70081106106, 25-4-2019, Rel. Des. João Moreno Pomar). “Agravo de instrumento – Ação de imissão de posse – Liminar deferida para que o agravante desocupe o imóvel no prazo de 15 dias. A ação de imissão de posse é a ação real de quem tenha título legítimo para imitir-se na posse de bem decorrência do exercício do direito de sequela do direito real para quem, sendo proprietário, ainda não obteve a posse da coisa. Caso dos autos. Os agravados justificaram o direito de posse com fulcro em seu título de domínio. Liminar mantida. Agravo desprovido” (TJSP – AI 2201703- 55.2017.8.26.0000, 22-1-2018, Rel. Silvério da Silva). “Ação reivindicatória – Existência de escritura pública de demarcação – Alteração da linha divisória originalmente definida – Titularidade do domínio do autor – Individualização da área – Recurso especial. Processual civil. Ação reivindicatória. Existência de escritura pública de demarcação. Alteração da linha divisória originalmente definida. Titularidade do domínio do autor. Individualização da área. Posse injusta dos réus. Arts. 524 do CC/1916 e 1.228 do CC/2002. Requisitos reconhecidos pelas instâncias ordinárias. Súmula nº 7 /STJ. Recurso improvido. 1. A reivindicatória, de natureza real e fundada no direito de sequela, é a ação própria à disposição do titular do domínio para requerer a restituição da coisa de quem injustamente a possua ou detenha (CC/1916, art. 524 e CC/2002, art. 1.228), exigindo a presença concomitante de três requisitos: a prova da titularidade do domínio pelo autor, a individualização da coisa e a posse injusta do réu. 2. A distinção entre demarcação e reivindicação, segundo o entendimento doutrinário, reside na circunstância de que, na reivindicação, o autor reclama a restituição de área certa e determinada; havendo incerteza quanto à área vindicada, prevalece a demarcação. Ademais, conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, ‘o ponto decisivo a distinguir a demarcatória em relação a reivindicatória é ‘a circunstância de ser imprecisa, indeterminada ou confusa a verdadeira linha de confrontação a ser estabelecida ou restabelecida no terreno’’ (REsp 60.110/GO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª T., DJ de 02.10.1995). 3. Reconhecida pelas instâncias ordinárias a titularidade do domínio do autor, a efetiva individualização da coisa vindicada e a posse injusta dos réus, e inexistindo, por outro lado, dúvida quanto à linha divisória entre os imóveis, previamente definida por meio de escritura pública, a simples constatação da alteração do traçado original da linha divisória anteriormente fixada não pressupõe a necessidade de nova demarcação, sendo cabível, na espécie, a demanda reivindicatória. 4. Recurso especial improvido” (STJ – REsp 1.060.259 – 2008/0112989-5, 4-5-2017, Rel. Min. Raul Araújo). “Ação de imissão na posse – Autor que requer a posse do bem com fundamento no direito de sequela – Ausência de prova da propriedade do bem – Improcedência do pedido. Recurso não provido” (TJSP – Ap 0005576- 42.2012.8.26.0587, 1-2-2016, Rel. Luis Mario Galbetti). “Agravo de instrumento – Civil – Reipersecutória de domínio – Tutela antecipada – Requisitos do art. 273 do CPC – Prova inequívoca da propriedade de área rural – Dano de difícil reparação – Transmissão de imóvel – Contrato de parceria rural em vigência – Flâmulo da posse – Impossibilidade de transmissão – Recurso parcialmente provido – 1 – Nas ações petitórias o autor busca ser restabelecido na posse de seu bem, objetivando exercê-la como uma das características inerentes à sua propriedade, com base no direito de sequela. 2 – A concessão da antecipação de tutela recursal deve obedecer aos requisitos estipulados no art. 273 do Código de Processo Civil, devendo haver a prova inequívoca das alegações do autor, associado ao perigo de dano irreparável ou difícil reparação. 3 – Demonstrada a propriedade da agravante por meio de título de propriedade emitido por cartório de registro de imóveis, bem como o dano de difícil reparação consumado na transmissão do imóvel localizado nos limites da propriedade rural, possível é a concessão da antecipaçãode tutela. 4 – Recurso parcialmente provido” (TJAC – AI 0100120-62.2014.8.01.0000 – (945), 3-7-2014, Relª Desª Regina Ferrari). A Corregedoria do CNJ publicou em 12/2017, texto submetido a consulta pública desde 2016, o Provimento 65 estabelecendo as diretrizes para o procedimento da usucapião extrajudicial nos serviços notariais e de registro de imóveis, que pode ser utilizado tanto para bens móveis quanto bem imóveis. Neste sentido a Súmula 193, do Egrégio STJ: “O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião”. “Condomínio – embargos à execução – Débitos condominiais – Obrigação propter rem – Execução em face da proprietária/vendedora relativa a débitos anteriores à notificação de entrega das chaves ao compromissário comprador – Discussão sobre a responsabilidade pelo débito condominial anterior à entrega das chaves – Aplicação do Recurso Repetitivo nº 1.345.331 – Embargante que é parte legítima para figurar no polo passivo da execução – Débito regular – Responsabilidade pelo pagamento, resguardado o direito de regresso – Pretensão de aplicação ao caso dos autos da Lei nº 13.786/18, que ‘disciplina a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano’ – Descabimento – Questões relativas à relação contratual entre comprador e vendedor inoponíveis ao condomínio, a serem discutidas pelas vias próprias – Sentença de improcedência dos embargos mantida. Honorários advocatícios de sucumbência majorados, em aplicação ao disposto no artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil. Apelação não provida” (TJSP – Ap 1001128-58.2022.8.26.0037, 11-10-2022, Rel. Sá Moreira de Oliveira). “Recurso inominado. Ação indenizatória. Compra e venda de imóvel. Sala comercial. Quotas condominiais. Obrigação propter rem. Responsabilidade pelo pagamento condicionada à entrega das chaves. Cobrança indevida. Dever de restituir configurado. Despesas com confecção de chaves. Reembolso devido. Danos morais ocorrentes, no caso concreto. Quantum reduzido. Termo inicial dos juros de mora, a contar da citação. 1. Cotas condominiais. Embora as despesas condominiais se configurem em obrigação propter rem, a possibilidade de cobrança da dívida relativa às despesas condominiais está atrelada à entrega das chaves do imóvel pela ré, ou seja, à efetiva ocupação do bem. E não houve a entrega das chaves na integralidade ao autor, o que vem 2 3 4 comprovado pelas conversas de whatsapp (fls. 67/68), de modo que não há falar em imissão na posse, até que a entrega tenha ocorrido. Antes de operada a posse no imóvel, é descabida a cobrança das cotas condominiais, devendo o adquirente ser restituído pelas quantias indevidamente pagas. [...]. Danos morais. Caso concreto, em que é devida indenização por danos morais, excepcionalmente, considerando que o autor adquiriu mediante pagamento à vista, sala comercial, a fim de estabelecer seu escritório profissional, cuja posse foi concedida com o pagamento em atraso das cotas condominiais, que colocaram o autor em situação de constrangimento perante o condomínio. Não foram fornecidas as chaves de acesso ao portão principal, gradil do prédio e gradil da porta da sala, cuja confecção foi realizada pelo demandante. Além disso, até a data da realização da audiência de instrução e julgamento, não havia o autor recebido a escritura de compra e venda do imóvel” (TJRS – AC 71009100090, 2-12-2020, Rel. Elaine Maria Canto da Fonseca). “Despesas condominiais – Natureza ‘propter rem’ – Ajuizamento correto da ação contra todos os coproprietários, pela solidariedade passiva caracterizada. Débito bem provado. Ausência de necessidade de dilação probatória. Cerceamento de defesa inexistente. Preliminares rejeitadas, apelo improvido” (TJSP – AC 0068580-59.2012.8.26.0100, 8-4-2019, Rel. Soares Levada). “Despesas condominiais – Ação de cobrança – Obrigação ‘propter rem’ – Copropriedade – Solidariedade – Penhora da totalidade da unidade – Possibilidade – As obrigações condominiais são propter rem, de modo que é possível a penhora da totalidade do imóvel que deu causa à dívida, ainda que eventual detentor de fração ideal da unidade condominial não tenha figurado no polo passivo da demanda. Recurso provido” (TJSP – AI 2000919- 28.2018.8.26.0000, 21-2-2018, Rel. Antonio Nascimento). “Agravo regimental no agravo em recurso especial – Fornecimento de energia elétrica – Obrigação de natureza pessoal – Ilegitimidade passiva do recorrido – Conclusão do tribunal de origem mediante análise das provas dos autos – Incidência da Súmula 7/STJ – Agravo regimental da concessionária desprovido – 1- Consoante a jurisprudência pacífica desta Corte, a obrigação de pagar por serviço de natureza essencial, tal como água e energia, não é propter rem, mas pessoal, isto é, do usuário que efetivamente se utiliza do serviço. 2- Na espécie, o Tribunal de origem consignou que no período em que foi constatada a irregularidade no medidor de energia, o Agravado não era o usuário do serviço (fls. 188/189). Assim, para alterar tal conclusão, necessário o revolvimento do suporte fático-probatório dos autos, o que é vedado em Recurso Especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ. 3- Agravo Regimental da Concessionária desprovido” (STJ – AgRg-AG-REsp. 45.073 – (2011/0119980-7), 15-2-2017, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho). “Ação de cobrança de despesas de condomínio – Fase de cumprimento de sentença – Substituição processual pelo arrematante da unidade – Inadmissibilidade – Recurso provido – Tem prevalecido na jurisprudência a orientação de que, quando o edital de arrematação for omisso quanto aos ônus incidentes sobre o imóvel, não há que se falar em automática cobrança do arrematante ou que tampouco deva figurar no polo passivo da execução, mesmo diante da natureza propter rem da obrigação. Entendimento contrário, implicaria nítida violação ao princípio da segurança jurídica que deve nortear as relações contratuais”(TJSP – AI 2082792-21.2016.8.26.0000, 24-6-2016, Rel. Renato Sartorelli). “A obrigação de pagar despesa de condomínio resulta da propriedade sobre o bem – Propter rem. Quem deve é a coisa, metáfora para dizer que quem deve é o dono, cujo nome importa pouco. Prevalece o interesse da coletividade. Daí que, em tese, a legitimidade passiva para a demanda por cotas toca tanto ao proprietário quanto ao promitente comprador. 2 – Nas peculiaridades do caso, porém, que se associa a outro processo de alongada tramitação e em que a posse sobre a unidade geradora da despesa se dividiu no tempo, fixa-se o termo final da legitimidade da proprietária, que corresponde ao termo final de sua obrigação, e se reduz a parcial o Decreto de procedência. 3 – Porque a prescrição da pretensão à cota condominial dá- se em cinco anos, como definiu o Superior Tribunal de Justiça, e por força da regra de transição do Código Civil de 2002, repele-se a arguição. 4 – Em face da decadência recíproca, que reclama a incidência da regra do art. 21 do Código de Processo Civil, arbitram-se os honorários de sucumbência em doze por cento, que, de modo proporcional e sobre o crédito do condomínio, favorecerão seu advogado e que, sobre o débito excluído, favorecerão o advogado da ré, compensando-se” (TJSP – Ap. 0056481-25.2006.8.26.0114, 5-2-2015, Rel. Celso Pimentel). “Apelação Cível. Locação. Ação Adjudicatória. Despropósito do reconhecimento de revelia. Matéria eminentemente de direito, sobre a qual não incide a presunção de veracidade. Alegação do direito de preferência para aquisição do imóvel. Não reconhecimento. Ausência de cumprimento dos requisitos formais. Falta de averbação do contrato locatício junto ao registro imobiliário. Imprescindível requisito para resguardar o direito dos locatários em relação à eventuais terceiros interessados na aquisição do imóvel. Fundamentos que se coadunam à improcedência dos pleitos da exordial. Recurso desprovido” (TJRS – Ap. 70082771288, 19-11-2020, Rel. Deborah Coleto Assumpção de Moraes). “Direito processual civil –Agravo de instrumento – Locação – Alienação de imóvel – Direito de preferência – Averbação junto à matrícula do bem – Ausência – Decisão mantida – 1– Consoante dispõe o art. 27 da Lei 8.245/1991, no caso de venda, o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, devendo o locador dar-lhe conhecimento do negócio mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência inequívoca. Consoante seu parágrafo único, a comunicação deverá conter todas as condições do negócio e, em especial, o preço, a forma de pagamento, a existência de ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser examinada a documentação pertinente. 2– Por sua vez, a fim de que o direito de preferência tenha eficácia real e permita ao locatário haver para si o imóvel locado, deve o locatário averbar o contrato de locação junto à matrícula do imóvel, no prazo mínimo de trinta dias da alienação, na forma do art. 33 da Lei em referência. 3– No caso dos autos, a parte autora não comprovou que tenha efetuado a averbação devida. 4– Recurso conhecido e desprovido” (TJDFT – Proc. 07029068620198070000 – (1176034), 14-6-2019, Rel. Sebastião Coelho). “Apelação cível – Prescrição – Não ocorrência – Contrato ‘de gaveta’ – Negócio fiduciário, sem garantias – Inexistência de simulação na venda posterior pelo proprietário registral – Transmissão da propriedade imobiliária – Promissário comprador anterior – Contrato particular não registrado – Inexistência de eficácia real – Direito obrigacional – Eficácia constitutiva do registro – Sentença reformada – Recurso principal provido e recurso adesivo prejudicado – Não se verifica a prescrição de quatro anos da pretensão anulatória de negócio jurídico simulado considerando que o objeto da anulação foi celebrado em 2014 e ação ajuizada em 2015 – Negócio registral 5 imobiliário celebrado juntamente com reversa promessa de compra e venda não registrada, não pode ser assumido como aparente, por repousar apenas no dever moral de satisfação ao titular da expectativa, o que constitui a fidúcia cum amico, negócio jurídico sem existência de sanção de nulidade ou anulação, que por isso cede ante a venda a terceiro, com escritura pública e registro, pelo proprietário registral – Apenas com o registro do título há a substituição subjetiva na cadeia dominial sobre bem imóvel. Sem a providência exigida na legislação, pode até haver lesão a direito, mas de natureza meramente pessoal ou contratual – Nem se diga que o promitente comprador está desprotegido. Afinal, a legislação confere eficácia real ao título celebrado, porém desde que seja registrado no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.417 do Cód. Civil de 2002).V.V.: Para que haja a revogação da tutela antecipada, a qual pode ser requerida a qualquer momento nos termos do art. 296 do CPC/25, deve a parte trazer fatos a subsidiar a revogação, cuja decisão deve ser fundamentada pelo julgador. Comprovado por meio dos documentos juntados e oitiva de testemunhas de que o Espólio foi o verdadeiro adquirente dos imóveis, tendo optado por colocar o bem no nome do irmão, conclui-se que houve a simulação de negócio jurídico de compra e venda entre os Réus. Não deve ser incluído na determinação de adjudicação compulsória o imóvel que não constou nos pedidos iniciais, considerando inclusive que referido bem não foi objeto do negócio jurídico simulado” (TJMG – AC 1.0433.15.008506-9/002, 14-11-2018, Rel. Marcos Henrique Caldeira Brant). “Direito civil – Recurso especial interposto sob a égide do CPC/73 – Embargos de terceiro – Compromisso de compra e venda não registrado – Natureza jurídica – Efeitos – Alegação de negativa de prestação jurisdicional afastada – Ausência do registro do memorial de incorporação e demais documentos previstos no art. 32 da lei nº 4.591/1964 – Ônus da incorporadora – Nulidade afastada – Sucumbência – Princípio da causalidade – 1- Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos. 2- O descumprimento, pela incorporadora, da obrigação prevista no art. 32 da Lei 4.591/64, consistente no registro do memorial de incorporação no Cartório de Imóveis e dos demais documentos nele arrolados, não implica a nulidade ou anulabilidade do contrato de promessa de compra e venda de unidade condominial. Precedentes. 3- É da natureza da promessa de compra e venda devidamente registrada a transferência, aos adquirentes, de um direito real denominado direito do promitente comprador do imóvel (art. 1.225, VII, do CC/02). 4- A promessa de compra e venda gera efeitos obrigacionais adjetivados, que podem atingir terceiros, não dependendo, para sua eficácia e validade, de ser formalizada em instrumento público. Precedentes. 5- Mesmo que o promitente-vendedor não outorgue a escritura definitiva, não tem mais ele o poder de dispor do bem prometido em alienação. Está impossibilitado de oferecê-lo em garantia ou em dação em pagamento de dívida que assumiu ou de gravá-lo com quaisquer ônus, pois o direito atribuído ao promissário-comprador desfalca da esfera jurídica do vendedor a plenitude do domínio. 6- Como consequência da limitação do poder de disposição sobre o imóvel prometido, eventuais negócios conflitantes efetuados pelo promitente-vendedor tendo por objeto o imóvel prometido pode ser tido por ineficazes em relação aos promissários-compradores, ainda que atinjam terceiros de boa-fé. 7- Recurso especial provido” (STJ – REsp 1.490.802 – (2014/0256631-0), 24-4-2018, Rel. Min. Moura Ribeiro). �.� � EFEITOS DO DIREITO REAL DENOMINAÇÃO: DIREITO DAS COISAS. DIREITOS REAIS Já apontamos que o Livro II de nosso Código Civil de 1916 iniciava-se sob o título “Do Direito das Coisas”. No Código de 2002, a matéria está colocada no Livro III. O vocábulo reais decorre de res, rei, que significa coisa. Desse modo, nada obsta que se denomine indiferentemente este compartimento do Direito Civil sob uma ou outra denominação. No entanto, como vimos, coisa possui conotação mais propriamente subjetiva. Os direitos reais cuidam de um ramo objetivo da ciência jurídica. Sob tal prisma, nada impede que se utilize das duas expressões, consagradas pela doutrina nacional e estrangeira. Advertimos que decorre da palavra latina res toda terminologia básica deste ramo do Direito Civil: reivindicação, ação reivindicatória, ação real, obrigação real ou reipersecutória etc. Nada impede, portanto, que tais termos sejam usados indiferentemente. �.� DIREITO REAL E EFICÁCIA ERGA OMNES Apenas para melhor entendimento didático, e em homenagem à tradição, reafirma--se que os direitos reais são absolutos. Esse absolutismo, como já acenamos, tem sentido exclusivamente técnico. Não se admite direito algum estritamente absoluto, sob pena de se negar a própria existência do Direito, e em especial dos direitos subjetivos. Aponta com clareza José de Oliveira Ascensão (1987:56) que o caráter absoluto dos direitos reais deve ser visto em paralelo com os chamados direitos relativos. Destarte, a ótica desloca-se para a devida conceituação dos direitos ditos relativos. Lembre-se do que dissemos, no capítulo introdutório, acerca da diferenciação dos direitos reais e dos direitos pessoais ou obrigacionais. A relação jurídica dos direitos obrigacionais é pessoal, porque aí se estabelece um vínculo fundamental entre pessoas, basicamente entre credor e devedor. O vínculo do direito real estabelece-se primordialmente entre um senhor titular e a coisa. Não se exclua, porém, como examinamos, toda uma série de relações envolvendo pessoas no direito real. Afinal, o Direito somente existe para os seres humanos, para a sociedade. No entanto, a relação jurídica, que é o baluarte da relação obrigacional e, portanto, pessoal, é figura perfeitamente delineada e delimitada. A relação jurídica pessoal, salvo exceções que sempre confirmam a regra, limita-se aos sujeitos nela envolvidos. A relação do credor é exclusivamente com seu devedor. Por outro lado, há outros direitostambém tratados como absolutos que não são reais, como os direitos da personalidade, cuja operosidade subjetiva é diversa da dos direitos reais. No entanto, existem direitos que não se assentam sobre relação jurídica perfeitamente delineada, ao menos no nascedouro. A relação desses direitos com os respectivos titulares é absoluta, porque assim estabelece a ordem jurídica, prescindindo de qualquer relação com outro sujeito. Essa é a razão pela qual são referidos como erga omnes os direitos reais, perante todos, em face de todos, não no sentido de que podem ser impostos contra qualquer pessoa, mas no sentido de que podem ser opostos ou apostos perante quem os ameace ou deles se aproprie. Essa relação de oposição ou aposição do direito real é característica sua, mas não integra a respectiva origem ditada pelo ordenamento jurídico. Nessa ordem de raciocínio, justifica-se o direito do proprietário de reivindicar a coisa de quem quer que dela se aproprie, bastando provar ser proprietário. O titular do direito real, portanto, impõe-se perante o terceiro, porque na realidade opõe ou apõe seu direito de forma absoluta. Em apertada síntese, podemos sustentar que o absolutismo do direito real se materializa em seu exercício. Sua origem é elemento estranho. Daí por que o detentor da coisa deve restituir o bem ao dono, pouco importando que o tenha adquirido de boa ou má-fé, por ser esse aspecto irrelevante ao proprietário. Ele tem direito à coisa porque é dono, apenas isso. Basta provar a propriedade. Nesse aspecto reside o absolutismo do direito real. A inerência e afetação à coisa são predicados dos direitos reais. Esse significado, se bem apropriado para o direito de propriedade, direito real mais amplo, também se aplica, com a devida mitigação, aos outros direitos desse campo, direitos reais limitados, como, por exemplo, aos direitos reais de garantia (hipoteca, penhor e anticrese), em que se supera o conceito estritamente material. Sob tais premissas, afirma-se que o direito real diz respeito à estática patrimonial, enquanto o direito pessoal ou obrigacional liga-se à dinâmica patrimonial (Moreira e Carlos, 1970-1971:13). �.� AÇÕES REAIS Ação real típica é aquela na qual o titular reivindica a coisa. O conceito é de direito material, e o processo tão somente a considera, não a define. Basicamente, nessa ação o autor pede que se reconheça seu direito real (pretensão de declaração) juntamente com a entrega da coisa indevidamente em poder de terceiro. Desse modo, o efeito declarativo (presente em qualquer sentença) da ação reivindicatória julgada procedente é o reconhecimento do direito real. Acrescentemos que toda ação, seja ela finalisticamente condenatória, seja constitutiva, tem sempre efeito declaratório fundamental. Por outro lado, na ação pessoal, o credor demonstra o vínculo pessoal ou obrigacional que o une ao devedor por meio de contrato, ato ilícito, negócio jurídico unilateral etc. O efeito declaratório fundamental em qualquer ação pessoal é o reconhecimento dessa ligação. Desse reconhecimento advirá a condenação em perdas e danos, rescisão do contrato, obrigação de fazer ou não fazer etc. Na ação real, abstrai-se, em regra, qualquer afetação pessoal do réu à coisa. Na ação pessoal, essa afetação pessoal à relação jurídica é essencial. O devedor paga porque se comprometeu no contrato ou por ato ilícito, prometeu recompensa, geriu negócio alheio, firmou título de crédito etc. Importante notar que, se for cumulado à ação reivindicatória pedido de perdas e danos, este decorre de ato ilícito e extrapola o âmbito estritamente real do pedido principal. Essa pretensão decorrente da ilicitude é pessoal, tanto que pode ser versada autonomamente contra o causador do dano à coisa, o qual pode não ser o terceiro contra quem é dirigida a reivindicação. As ações reais visam precipuamente tornar operacional a disciplina da propriedade e dos direitos reais limitados, cuja definição fundamental vem na parte final do art. 1.228 do Código Civil. Permite-se ao proprietário reaver seus bens do poder de quem quer que injustamente os possua ou detenha. Sem elas, o direito real deixaria de cumprir seu papel catalisador e centralizador do mundo econômico. A adequação social aqui mais uma vez se faz em prol da pacífica convivência. Mesmo nos regimes políticos que negaram de forma quase absoluta a propriedade privada, hoje, ao que parece, definitivamente superados, o conceito não deixou de existir. Nesse teor, os direitos reais servem para manter o status patrimonial. �.� CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS Várias são as classificações doutrinárias dos direitos reais que facilitam seu estudo. A primeira e mais importante distingue os direitos reais sobre a própria coisa e sobre coisa alheia. Essa divisão obedece à possibilidade de desdobramento da titularidade do direito real, tornando limitado o direito de propriedade. Propriedade, condomínio, propriedade horizontal são direitos reais sobre coisa própria. São direitos sobre coisa alheia, usufruto, uso, habitação, enfiteuse, servidões, hipoteca, penhor, anticrese. Nestes últimos, perante o titular ativo e ostensivo do direito se coloca o proprietário da coisa. Os direitos reais sobre coisa alheia, por sua vez, dividem-se em direitos de gozo e de garantia. São de gozo ou fruição os que conferem ao titular faculdades de uso, atividade e participação efetiva sobre a coisa. Nessa categoria, estão o usufruto, o uso, a habitação e as servidões positivas. Nos direitos reais de garantia, o respectivo titular extrai modalidade de segurança para o cumprimento de obrigação. A garantia está relacionada com uma obrigação, que fica colocada como direito principal. A garantia é acessória. No entanto, na pureza originária do instituto, no penhor, por exemplo, cede-se parcela de fruição ao titular da garantia, com a transferência da posse do bem. Os direitos reais de gozo estão regulados pelos arts. 678 ss, enquanto os direitos reais de garantia são disciplinados pelos arts. 766 ss no Código anterior. No Código em vigor, com introdução de novos institutos, há uma nova divisão. Outra divisão a ser mencionada é a dos direitos reais principais e acessórios, cuja noção é a da lógica da teoria geral. São principais os direitos reais autônomos, que não dependem de qualquer outro, destacando- se os direitos reais sobre coisa própria e coisa alheia já citados. A hipoteca, o penhor e a anticrese, bem como as servidões, são acessórios, pressupondo a existência de outro direito real. De todas as classificações, não podemos esquecer ser a propriedade o direito real mais amplo. Dela decorrerão os outros direitos reais qualitativa e quantitativamente menos amplos. Por essa razão, o Código Civil de 1916 apresentou conceito indireto de propriedade: “A Lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua” (art. 524). No Código de 2002, no art. 1.228, está expresso o mesmo princípio. O condomínio, por exemplo, é modalidade de propriedade em comum, não exclusiva, apenas no tocante à titularidade e não quanto ao exercício dos poderes inerentes ao instituto. O usufruto, o uso e a habitação nada mais são do que decomposição do direito maior, a propriedade. Os direitos reais de garantia arraigam-se unicamente ao valor da coisa onerada. Nesse sentido, o Código de 1916 ressaltava que “é plena a propriedade, quando todos os seus direitos elementares se acham reunidos no do proprietário; limitada, quando tem ônus real, ou é resolúvel” (art. 525). Questão que importa diretamente à matéria tratada é a distinção entre propriedade e domínio. Muitos veem ambos os termos como sinônimos. Para outros, o vocábulo propriedade possui extensão mais ampla, englobando tanto as coisas corpóreas, como incorpóreas, reservando-se à concepção de domínio apenas os bens incorpóreos. Por esta última posição inclina-se a doutrina majoritária. Nem todos os direitos reais, por outro lado, são compatíveis com a posse. Assim éa hipoteca. Também no penhor não há posse, nas hipóteses em que a lei permite que o devedor permaneça com a coisa empenhada, como o penhor agrícola, por exemplo. �.� TIPICIDADE ESTRITA DOS DIREITOS REAIS E NORMAS DE ORDEM PÚBLICA A ideia central enuncia que somente a lei pode criar direitos reais. São eles em número fechado (numerus clausus). A esse respeito, nosso Código anterior, após tratar da propriedade, elencava no art. 674 os direitos reais além da propriedade. O presente Código descreve o rol de todos os direitos reais no art. 1.225. A Lei nº 13.465/2017 acrescenta mais um direito que será aqui comentado, direito real de laje, adicionando os arts. 1.510-A a 1.510-E ao Código Civil. A Lei da Liberdade Econômica (13.874/2019) cria o fundo de investimento, no art. 1.368-C, também como uma modalidade especial de direito real em condomínio. Nesse artigo 1.225, a Lei nº 11.481, de 31-5-2007, acrescentou dois incisos para constar também como direitos reais a “concessão de uso especial para fins de moradia” e a “concessão de direito real de uso”. A Lei nº 13.465/2017 acrescentou, no inciso XIII, o direito real de laje. Somente a lei pode criar outros direitos reais. Embora não tenhamos conceito peremptório em nosso ordenamento, como, por exemplo, o do art. 2.502 do Código argentino (os direitos reais somente podem ser criados pela lei), outra não pode ser a conclusão em nosso sistema. Assim era também o sistema romano de direitos reais. O Direito Romano reconhecia, ao lado da propriedade, um pequeno número de direitos reais, especialmente definidos. Esse sistema foi abandonado em parte na Idade Média, criando fonte permanente de disputas, com prejuízo da exploração dos bens (Gatti, 1984:117). Os Códigos Civis modernos, como o alemão, o suíço, o italiano e o brasileiro, adotaram de forma expressa o numerus clausus. Na falta de texto direto em nossa lei, muitos comentadores primevos do Código sustentaram o número aberto de nossos direitos reais, posição de logo superada. Como acrescenta Darcy Bessone (1988:10), “deve-se ter em vista que, destinando-se o direito real a operar contra todos, não deve ter origem apenas na vontade das partes, recomendando-se, por isso mesmo, que tenha base legal”. O direito real impõe restrições aos membros da sociedade, e não é de se admitir que a vontade privada possa ampliá-las e agravá-las. Isso somente será possível onde e quando a lei entender oportuno e conveniente (Moreira e Fraga, 1970-1971:116). A ordem pública é preponderante na disciplina dos direitos reais. Existe, porém, grande margem de atuação da vontade em seu ordenamento. São de ordem pública as normas definidoras dos direitos reais e da respectiva amplitude de seu conteúdo. Essa preponderância guarda relação direta com o conteúdo institucional da propriedade, que varia no tempo e no espaço. Os ditames fundamentais do direito de propriedade devem vir sempre disciplinados na Lei Maior. A razão de ser da propriedade deve ser buscada em cada país, em cada ordenamento, em cada época, em sua organização política, social e econômica. Em termos gerais, podemos afirmar que, enquanto os direitos pessoais ou obrigacionais são estruturados para satisfazer basicamente às necessidades individuais, os direitos reais buscam o aperfeiçoamento dos estágios políticos, sociais e econômicos, procurando não apenas satisfazer a necessidades individuais, mas também principalmente a coletivas. Por essa razão, a Constituição Federal assegura o direito de propriedade (art. 5º, XXII), mas acrescenta que ela “atenderá sua função social” (art. 5º, XXIII). Nesse sentido, acrescentando-se ao já exposto, deve ser entendida a afirmação de que os direitos reais são absolutos. Desse modo, a tipicidade do direito real apenas resulta da lei. Há tipicidade estrita, diversamente dos direitos obrigacionais, nos quais a vontade das partes pode predeterminar condutas, ocorrendo, pois, uma tipicidade aberta. A vontade privada não pode constituir direito real que não subsuma a um dos tipos descritos na lei, nem pode atribuir conteúdo diverso daquele contido na definição legal. Desse modo, somente se admite a aquisição da propriedade por usucapião, por exemplo, porque a lei o permite, assim mesmo dentro das balizas estabelecidas pelo ordenamento. Também como exemplo, o compromisso de compra e venda de imóvel ganha foros de direito real dentro dos limites e segundo procedimentos estabelecidos pela lei. Destarte, não se pode constituir direito real por meio de contrato se a lei não o permite. �.� � DA POSSE DEFESA DE UM ESTADO DE APARÊNCIA Sem a credibilidade da sociedade nos estados de aparência, inviável seria a convivência. A cada instante, defrontamos com situações aparentes que tomamos como verdadeiras e corretas. Assim, não investigamos se cada empregado de um estabelecimento bancário possui relação de trabalho com a instituição para nos dar quitação a pagamento que efetuamos; não perguntamos ao professor que adentra em sala de aula e inicia sua preleção se ele foi efetivamente contratado pela escola para essa função; não averiguamos se o motorista que dirige o táxi ou ônibus que utilizamos é habilitado, e assim por diante. Se a sociedade não pode prescindir da aparência para sua sobrevivência, o Direito não pode se furtar de proteger estados de aparência, sob determinadas condições, porque se busca, em síntese, a adequação social. Sempre que o estado de aparência for juridicamente relevante, existirão normas ou princípios gerais de direito a resguardá-lo. Não é, no entanto, a aparência superficial que deve ser protegida, mas aquela exteriorizada com relevância social e consequentemente jurídica. Como enfatizamos em outra obra, ao tratar do herdeiro aparente (Direito civil: Família e Sucessões, Capítulo 25), cabe ao Direito ordenar a sociedade, não podendo prescindir das aparências. Embora não seja categoria jurídica autônoma, por vezes a lei dá valor preponderante à aparência, em prol da boa-fé e da justa adequação social. Lembramos que o erro, como causa de anulação do negócio jurídico (art. 138), o pagamento feito ao credor putativo (art. 309), a presunção de autorização para receber pagamento por quem seja portador da quitação (art. 311) são situações típicas de aparência protegidas pela lei. No Direito Penal, a legítima defesa putativa é situação protetiva de aparência. Conquanto inexista disposição expressa, a defesa da boa-fé em cada caso concreto é modalidade de aceitação da aparência no campo jurídico. Nesse diapasão, reflitamos sobre a realidade social que nos envolve. Nosso vizinho reside em imóvel que presumivelmente é seu; o transeunte, que porta um relógio, deve ter relação jurídica com o objeto; provavelmente é seu proprietário. Não nos incumbe questionar a cada momento se o morador é proprietário, locatário, comodatário ou usurpador do imóvel; nem se o relógio pertence legitimamente a seu portador. Esse questionamento permanente é inimaginável. Por essa razão, em prol do resguardo da verdadeira acomodação social, cabe ao Direito fornecer meios de proteção àqueles que se mostram como aparentes titulares de direito. Não fosse assim, restabelecer-se-ia a justiça de mão própria, dos primórdios da civilização. Desse modo, a doutrina tradicional enuncia ser a posse relação de fato entre a pessoa e a coisa. A nós parece mais acertado afirmar que a posse trata de estado de aparência juridicamente relevante, ou seja, estado de fato protegido pelo direito. Se o Direito protege a posse como tal, desaparece a razão prática, que tanto incomoda os doutrinadores, em qualificar a posse como simples fato ou como direito. Destarte, houvesse o possuidor, desapossado da coisa, que provar sempre, e a cada momento, sua propriedade ou outro direito real na pretensão de reaquisição do bem, a prestação jurisdicional tardaria e instaurar-se-ia inquietação social. Por essa razão, o ordenamento concede remédios possessórios, de efetivação rápida. Protege-se o estado de aparência, situação de fato, que pode não corresponderao efetivo estado de direito, o qual poderá ser avaliado, com maior amplitude probatória e segurança, posteriormente. Assim, a situação de fato é protegida, não somente porque aparenta um direito, mas também a fim de evitar violência e conflito. O legislador prefere, num primeiro enfoque, proteger o possuidor, ainda que este não tenha relação juridicamente perfeita e técnica com a coisa. O ordenamento permite a autotutela, tanto a legítima defesa como o desforço imediato, de acordo com o art. 1.210, § 1º, e as ações possessórias (reintegração e manutenção de posse e interdito proibitório), bem como outros remédios que serão examinados. Por outro lado, esse estado de aparência, que inicialmente pode surgir sem substrato jurídico, pode servir para a aquisição da propriedade. Esse é o sentido da usucapião. Também o prazo de posse gera maior proteção no juízo possessório, permitindo a concessão de liminar initio litis nas respectivas ações, se a posse questionada for de menos de ano e dia (art. 507 do Código Civil de 1916). Esse conhecido prazo de ano e dia, ausente no atual ordenamento material, é mantido pelo art. 558 do CPC. Nesse sentido, o procedimento especial das ações possessórias somente se aplica quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou esbulho; passado esse prazo, será comum, não perdendo, contudo, o caráter possessório (art. 558 do Código de Processo Civil). Essas referências dizem respeito a dois importantes efeitos da posse, quais sejam, a proteção possessória e a possibilidade de gerar usucapião. Embora não se conceda à aparência o estado de categoria jurídica, aparência e posse devem ser examinadas do ponto de vista axiológico. Tanto numa como noutra, a segurança das relações sociais justifica a proteção de situações, não de direitos adquiridos, mas de direitos prováveis. Defende-se a posse porque é uma situação de fato que provavelmente envolve um direito. Como examinaremos, essa proteção provisória da posse concedida pelo ordenamento poderá ter palavra final acerca do direito real, propriedade ou outro de menor extensão, no juízo petitório, quando então não mais se discutirá a posse, mas o domínio. De outro lado, sendo um dos fundamentos da usucapião a posse continuada por certo tempo, o estado de aparência surge, nessa hipótese, como base para um direito (Trigeaud, 1981:562). No entanto, não se eleve essa conjuntura, não somente em nível de posse, como em qualquer outro estado de aparência, à categoria jurídica, como dissemos. A aparência deve ser vista como um adminículo a mais no conceito de posse. Porém, embora possa ser colocado em posição axiológica menos importante segundo a doutrina, o estado de aparência na posse explica e justifica a compreensão vulgar desse estado de fato que relaciona o sujeito à coisa. Essa proteção ao estado aparente pressupõe a compreensão e definição legal de propriedade e dos demais direitos reais, bem como sua harmonização com a destinação econômica da coisa. A aparência é conceito com utilidade técnica. Seria um contrassenso proteger-se estando de fato em favor de quem não busca a utilização social do bem, ou age contra a lei e os bons costumes. 1 2 �.� POSSE E PROPRIEDADE. JUÍZO POSSESSÓRIO E JUÍZO PETITÓRIO A posse continua sendo, sem dúvida, o instituto mais controvertido de todo o Direito, não apenas do Direito Civil. De fato, tudo quanto a ela se vincula é motivo de divergência doutrinária: conceito, origem, elementos, natureza jurídica etc. Essas dificuldades devem-se em parte aos textos romanos, na maioria das vezes contraditórios e interpolados. Na história romana, o próprio conceito de posse foi sendo alterado nas diversas épocas, recebendo influências do direito natural, direito canônico e direito germânico. Ademais, os ordenamentos jurídicos existentes não são homogêneos, tratando do tema com enfoques diversos. Enfim, o conceito de posse nunca logrará atingir unanimidade na doutrina e nas legislações. Na concepção mais aceita, o vocábulo posse provém de possidere; ao verbo sedere apõe-se o prefixo enfático por. Nesse sentido (semântico), posse prende-se ao poder físico de alguém sobre a coisa. Há também os que sustentam que o termo deriva de potis (senhor, amo). Rudolf von Jhering (1976:49), baluarte da teoria da posse, inicia sua obra A teoria simplificada da posse afirmando que se distingue o jurista dos demais membros da sociedade pela diferença imediata que ele estabelece entre as noções de posse e propriedade. Isso porque vulgarmente não se estabelecem distinções entre os institutos, sendo vocábulos de uso equivalente. Nesse sentido, é comum ouvir dos leigos referências a pessoas de grandes posses, grandes posses imobiliárias, quando a referência é à propriedade e não à posse. No entanto, como expusemos até aqui, mesmo ao leigo a distinção entre posse e propriedade é instintiva e aflui com facilidade até aos espíritos mais toscos. Como descreveu o grande mestre alemão, a propriedade sem a posse seria o mesmo que o tesouro sem a chave que o abrisse, a árvore frutífera sem a escada que colhesse seus frutos... Assim, a posse é o fato que permite e possibilita o exercício do direito de propriedade. Quem não tem a posse não pode utilizar-se da coisa. Essa a razão fundamental, entre outras, de ser protegido esse estado de aparência, como vimos. Sem proteção à posse, estaria desprotegido o proprietário. Por conseguinte, prefere o ordenamento proteger sempre e com maior celeridade e eficácia o que detém aspecto externo da propriedade, a investigar em cada caso, e demoradamente, o título de proprietário e senhor. Distinção importante, portanto, com inúmeros efeitos dela derivados, é a que diz respeito ao ius possidendi e ao ius possessionis. Ius possidendi é o direito de posse fundado na propriedade (em algum título: não só propriedade, mas também outros direitos reais e obrigações com força real). O possuidor tem a posse e também é proprietário. A posse nessa hipótese é o conteúdo ou objeto de um direito, qual seja, o direito de propriedade ou direito real limitado. O titular pode perder a posse e nem por isso deixará sistematicamente de ser proprietário. Quando não por sua própria vontade, sua inércia, não interrompendo a posse de terceiro, poderá fazer com que perca o domínio. Ius possessionis é o direito fundado no fato da posse, nesse aspecto externo. O possuidor, nesse caso, pode não ser o proprietário, não obstante essa aparência encontre proteção jurídica, pelos motivos até agora cogitados. Essa é uma das razões pelas quais nosso Código estatui: “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade” (art. 1.196). Além de a posse, a princípio, merecer proteção por si mesma, ela é base e estrutura de um direito. Interessante anotar a outra redação ao art. 1.196, proposta pelo Projeto nº 6.960/2002, o qual buscava alterar inúmeros dispositivos do Código de 2002: “Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem de vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de 3 exercício inerente à propriedade ou outro direito real suscetível de posse”. Percebe-se claramente nessa dicção de profunda técnica a preocupação em açambarcar o conceito de posse, num sentido unitário. O bem de vida mencionado poderá ser material ou imaterial. Não será posse, e não merecerá proteção do ordenamento, aquela relação entre o ser humano e a coisa que não apresenta utilidade e operosidade social. Ainda que a possibilidade de exercício desse poder de fato seja meramente potencial, ele deve existir para que seja reconhecido o ius possessionis. Ao mencionar-se que a posse se debruça sobre bem de vida, engloba-se aí, como defendemos, qualquer bem econômica e individualmente aproveitável, seja material ou imaterial. Coloquemos, desde já, a compreensão das palavras domínio e propriedade, contidas no art. 485 do Código de 1916,como falamos no capítulo anterior. Domínio é vocábulo que, em doutrina, refere-se maiormente às coisas incorpóreas. Direito que submete a coisa incorpórea ao poder de seu titular. Propriedade é termo que engloba tanto as coisas corpóreas, como incorpóreas. Contudo, no Direito Romano, as expressões eram sinônimas. Nossa doutrina não se preocupa muito com essa distinção. Para nosso Código Civil de 1916, também como sinônimas devem ser entendidas (arts. 524, 533, 622, 623, entre outros) (França, 1964:24). Com muita frequência, os juristas empregam as duas palavras para exprimir a mesma coisa, ou como sinônimos. O Código Civil de 2002 procura ser mais técnico (art. 1.245, por exemplo), sem se preocupar, contudo, com a distinção. Desse modo, o ius possidendi (faculdade jurídica de possuir) refoge à teoria da posse. Somente o ius possessionis (fato da posse) é objeto da teoria possessória propriamente dita (Alves, 1985:28). Assim, a posse pode ser considerada em si mesma, independentemente de título jurídico, ou pode ser examinada como uma das facetas que integram o domínio ou propriedade e os direitos reais limitados. A teoria pura da posse, isto é, faculdade jurídica de direitos, reflete-se, portanto, no ius possessionis. Posse e propriedade, como se percebe, possuem elementos comuns, ou seja, a submissão da coisa à vontade da pessoa. Daí aflorar a noção de aparência no conceito de posse, pois a posse é a forma ordinária de ser exercido o direito de propriedade. Por isso, existe presunção de ser o possuidor da coisa seu proprietário. É certo que cessa essa presunção tão logo o possuidor declare, ou de algum modo se saiba, que ele possui outro título, como locatário, comodatário, depositário, representante do proprietário etc. ou como usurpador. Essa noção é importante porque será essencial marco divisor da posse de boa ou de má-fé, a ser examinada, pois, no momento em que o possuidor tem ciência de não possuir validamente a coisa, cessa sua boa-fé. Nesse sentido, estatui o art. 1.201: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção”. Completa a noção o art. 1.202, que explicita o momento em que cessa a boa-fé do possuidor, questão a ser examinada em cada caso: “A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”. Prepondera sempre a regra geral de Direito pela qual a má-fé não se presume; a boa-fé, sim. Como a posse é considerada um poder de fato juridicamente protegido sobre a coisa, distingue-se do caráter da propriedade, que é direito, somente se adquirindo por título justo e de acordo com as formas instituídas no ordenamento. Podemos afirmar que a posse constitui aspecto de propriedade do qual foram suprimidas alguma ou algumas 4 de suas características. Da propriedade decorrem todos os demais direitos reais (usufruto, uso, habitação, superfície, servidão, hipoteca, penhor etc.). Ou, em outras palavras, não existe direito real mais amplo do que a propriedade. Em última análise, a propriedade é o epicentro das relações obrigacionais, sucessórias e familiares (Gentile, 1965:8). Pelo fato de o sistema permitir a aquisição da propriedade pela usucapião, a posse assume relevo todo especial no ordenamento, merecendo maior proteção. Essa tradição vem do Direito Romano, seu criador original, valorizando a produção e o trabalho, a função econômica dos bens, principalmente os imóveis. Nesse sentido, deve restar absolutamente clara a distinção entre os juízos possessório e petitório. Nas ações possessórias (interditos), trata-se exclusivamente da questão da posse. Nas chamadas ações petitórias (petitorium iudicium), leva-se em conta exclusivamente o direito de propriedade. Daí por que, na singeleza do conceito, é vedado examinar o domínio nas ações possessórias. Geralmente, na prática, o mau possuidor procura baralhar no procedimento possessório os conceitos de posse e propriedade, para camuflar sua posse ruim ou ausência de posse. Doutro lado, a decisão que dirime o conflito possessório não inibe nem prejulga o âmbito petitório. Isto é, vencido que seja alguém na litigância da posse, lhe restará ainda a via petitória, para provar seu direito de propriedade, ou outro direito real, para haver a coisa, exercendo assim seu direito de sequela. Desse modo, é possível, sendo risco calculado do ordenamento, que o não proprietário triunfe sobre o proprietário no juízo possessório. Porém, a ação reivindicatória (juízo petitório) permite, na maioria das vezes, que o proprietário recupere a coisa contra o possuidor temporariamente protegido. Essa proteção temporária conferida ao possuidor é risco assumido pelo ordenamento, como vimos, em prol da adequação social. Surge, no dizer de Jhering (1976:81), “como um resultado não querido, mas inevitável”. Nas ações petitórias, ressalta-se um caráter ofensivo por parte do titular do domínio, que deve provar juridicamente sua qualidade de senhor da coisa. Por outro lado, na posse sobreleva o caráter defensivo (Lopes, 1964:95). Prepondera a posse como meio de defesa, primeiro anteparo outorgado pelo ordenamento para proteger a propriedade. Daí por que esse remédio mais rápido e eficiente requer tão só a prova pura e simples do fato externo, da posse, enfim. Por tais razões, o juízo possessório tem mero caráter temporário, mas suficiente para manter íntegro um estado de fato, sem o qual inserir- se-ia elemento de insegurança e incerteza social. Como consequência, a coisa julgada em ação possessória não decide acerca do domínio. Por essa razão, o proprietário5 ou titular do domínio vencido em ação possessória pode discutir a propriedade e reivindicá-la no juízo petitório. Também por essas razões, afigura-se, na prática, em grande parte das vezes, suficiente o juízo possessório para manter o estado de fato, tornando-se desnecessário o recurso ao juízo petitório, se o proprietário, ou titular de outro direito real, já alcançou proteção suficiente com a defesa de sua posse, ou seja, manteve tão só com a proteção possessória a paz social buscada pelo ordenamento. A posse é protegida pelo Direito, não para conceder simples satisfação de aproximação corpórea da coisa ao sujeito, poder físico sobre a coisa, poder de sujeição, mas para possibilitar-lhe a utilização econômica do bem. Ninguém, como regra, apossa-se de coisas inúteis. O sentido de utilidade leva em conta a situação do sujeito. Essa é a noção fundamental do reconhecimento jurídico da posse. O exame da utilidade da coisa para o possuidor, por vezes, torna-se aspecto fundamental no contexto discutido. Por outro lado, quando há necessidade de célere remédio para socorrer um direito aparentemente violado, “é difícil demonstrar o domínio, principalmente quando haja necessidade de fazê-lo prontamente, razão porque não se deve condicionar a proteção à posse, ou ao exercício de fato do domínio, à prova deste” (Bessone, 1988:250). Ou, no dizer de Manuel Rodrigues (1981:12), “a posse é uma forma de proteção indiferenciada dos direitos sobre as coisas, uma proteção geral e rápida, e supõe, em certo modo, deficiência formal do título do direito, lentidão nos processos normais com que se defendem determinados direitos”. Nesse diapasão, visto que a posse serve de base ao direito de propriedade e merece proteção de per si, cai por terra qualquer interesse prático em distingui-la como fato ou direito. Sendo o fato da posse protegido pelo ordenamento, é evidente que existe reconhecimento jurídico do instituto. Irrelevante, nesta altura de nosso estudo, investigar o fenômeno sob tal prisma, tal como fizeram tantos juristas. Nessa orientação, a posse é conteúdo de exteriorização do exercício da maioria dos direitos reais (excetuam-se, em princípio, a hipoteca e algumas servidões). É meiode aquisição da propriedade pelo instituto da usucapião. É, por fim, fundamento de um direito: como poder de fato sobre uma coisa, a posse por si mesma dá lugar aos interditos possessórios. �.� CONCEITO DE POSSE: CORPUS E ANIMUS. DETENÇÃO. FÂMULOS DA POSSE De qualquer ponto que se decole para compreender a posse, devem ser caracterizados os dois elementos integrantes do conceito: o corpus e o animus. O corpus é a relação material do homem com a coisa, ou a exterioridade da propriedade. Esse estado, explicado anteriormente, é caracterizador da aparência e da proteção possessória. Nessa ligação material, sobreleva-se a função econômica da coisa para servir à pessoa. Como corolário, afirma-se que não podem ser objeto de posse os bens não passíveis de ser apropriados. Em princípio, a posse somente é possível nos casos em que possa existir propriedade ou manifestação mitigada dela. Posse e propriedade, em compreensão jurídica, caminham juntas. Não nos olvidemos do conceito que abrange tanto os bens corpóreos, como os incorpóreos. Desse modo, os bens incorpóreos, passíveis de apropriação, também podem ser objeto de posse. O animus é o elemento subjetivo, a intenção de proceder com a coisa como faz normalmente o proprietário. Na compreensão desses dois elementos, gravitam as teorias da posse com as clássicas posições de Savigny e Jhering, que detonaram infindáveis posições intermediárias. Para o leigo que se debruça desprevenidamente sobre o problema, possuir é ter uma coisa em seu poder, podendo dela usar e gozar. É a compreensão daquilo que a mão toca e mantém fisicamente junto ao corpo. Essa é a noção primitiva. No entanto, quando a civilização se torna mais complexa, surge a compreensão de posse que não requer o permanente contato físico com o objeto, nem a observação constante ou fiscalização permanente do titular. Posso ser possuidor de bens sem estar presente no local. A possibilidade física não exige a detenção. “Basta qualquer ato externo que denuncie um poder de fato, um poder de supremacia duradouro sobre a coisa. A natureza deste e casos de realização, estão dependentes da natureza do objeto possuído e da forma como costuma ser exercido” (Rodrigues, 1981:73). Savigny desenvolveu sua teoria principalmente em seu Traité de la possession en droit romain. Sustenta que a posse supõe a existência de dois elementos essenciais: corpus e animus. O corpus é o elemento físico, sem o qual não existe posse. Em sua forma mais típica, compreende a possibilidade de ter contato direto e físico com a coisa. O que verdadeiramente caracteriza o corpus é a possibilidade de fazer o que se queira com ela, impedindo qualquer interferência estranha. No entanto, para que alguém seja verdadeiramente considerado possuidor, é necessário que tenha a intenção de possuir a coisa. Trata-se do elemento subjetivo. Se alguém detém a coisa sabendo-a pertencer a outrem, não há animus, não existindo posse. Na teoria de Savigny, é o animus que distingue o possuidor do simples detentor. O elemento exterior, o corpus, não permite essa distinção, pois aos olhos de terceiros tanto o possuidor, como o detentor têm relação aparentemente idêntica com a coisa. Sua teoria é denominada subjetiva. A maior crítica feita a essa teoria é a dificuldade de explicar as chamadas posses anômalas, como a do credor pignoratício, por exemplo. Savigny procurou superar esse obstáculo qualificando-as como hipóteses de posse derivada. Ao credor pignoratício se transmitiria o ius possessionis do devedor pignoratício. Porém, a explicação não resistia a críticas, quando se tentava explicar a posse do usufrutuário e do enfiteuta que não gozam dessa posse derivada (Gentile, 1965:10). Jhering bateu-se vivamente contra a posição de Savigny em suas obras Fundamentos da proteção possessória e Papel da vontade na posse. Esse autor principia por negar que o corpus seja a possibilidade material de dispor da coisa, porque nem sempre o possuidor tem a possibilidade física dessa disposição. Por outro lado, por vezes será impossível provar o animus, porque se trata de elemento subjetivo. Em razão disso, a teoria de Jhering é dita objetiva. Para ele, o conceito de animus não é nem a apreensão física, nem a possibilidade material de apreensão. O importante é fixar o destino econômico da coisa. O possuidor comporta-se como faria o proprietário. O animus está integrado no conceito de corpus. É o ordenamento jurídico que discrimina a seu arbítrio, sobre as relações possessórias, criando assim artificialmente a separação da chamada detenção jurídica relevante de outras situações não protegidas. De qualquer modo, após Jhering um ponto ficou definitivamente claro na doutrina da posse, qual seja, de que a distinção entre esta e a detenção não pode depender exclusivamente do arbítrio do sujeito (Gentile, 1965:11). Há que se examinar em cada caso se o ordenamento protege a relação com a coisa. Quando não houver proteção, o que existe é mera detenção. Como consequência, a posse deve ser a regra. Sempre que alguém tiver uma coisa sob seu poder, deve ter direito à proteção. Somente por exceção o direito a priva de defesa, quando então se estará perante o fenômeno da detenção (Arean, 1992:105). Ou seja, em cada caso deve ser examinado se a pessoa se comporta como dono, existindo corpus e animus. Quando no caso concreto prova-se que existe degradação nessa posse, e o ordenamento a exclui, ocorre uma causa detentionis, relação jurídica excludente da posse. Nesse sentido, devem ser lembrados dispositivos de nosso Código Civil que tipificam exclusão da posse em determinadas situações. A própria lei estabelece as causae detentionis, traçando perfil objetivo do qual não pode fugir o julgador. Nesse sentido, o art. 487 de 1916: “Não é possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”. Mantendo o mesmo sentido, mas referindo-se expressamente ao detentor, redige o presente Código no art. 1.198: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário”. Os Códigos conceituam nesses dispositivos o que se entende por fâmulo da posse ou servidor da posse, o qual possui relação com a coisa em nome do dono ou do verdadeiro possuidor. Como podemos perceber, nesse aspecto o ordenamento retira do sujeito os característicos 6 de posse. Dentro da teoria objetiva esposada maiormente pela lei, ocorre a decantada degradação do estado de posse, ou seja, uma causa detentionis. Na definição de Maria Helena Diniz (1991:33), “fâmulo da posse é aquele que, em virtude de sua situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa (possuidor direto ou indireto), exerce sobre o bem, não uma posse própria, mas a posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução”. O detentor, ou fâmulo, nesse caso, não usufrui do sentido econômico da posse, que pertence a outrem. Nessa situação, colocam-se os administradores da propriedade imóvel; os empregados em relação às ferramentas e equipamentos de trabalho e segurança fornecidos pelo empregador; o bibliotecário em relação aos livros; o almoxarife em relação ao estoque etc. Desse modo, o conceito amplo de posse, descrito no art. 1.196, deve ser examinado não somente em consonância com a descrição dos arts. 1.198 ss, como também com a ressalva dos arts. 1.208: “Não induzem posse atos de mera permissão ou tolerância”. O exame será do caso concreto, sendo por vezes tênue na prova e na intenção das partes a linha divisória 7 8 entre atos de mera tolerância e posse efetiva. Nesse aspecto, torna-se inevitável o exame do animus dos sujeitos pelo julgador. Aquele que transitoriamente apreeende objeto paraexaminá-lo ou transportá-lo tem contato material com a coisa, pode ter aparência de posse, mas não tem posse. Não existe vontade ou ânimo nessa posse. Nesse aspecto, com clareza aduz Arnoldo Wald (1991:66): “Também não constitui posse o simples contato material sem vontade deliberada e consciência de praticar certos atos sobre o objeto. Assim o espectador no cinema não é possuidor da cadeira que ocupa, nem a pessoa que janta num restaurante tem a posse dos talheres e dos pratos que lhe são servidos”. Não apenas o detentor que legalmente exerce o aspecto material da posse não possui a proteção possessória, mas a degradação da posse mencionada também ocorre nas hipóteses de causas obstativas de aquisição de justa posse, em situações de apossamento violento, clandestino ou precário. Daí dizermos que a posse não pode ocorrer nec vim, nec clam, nec precario. Dispõe o art. 1.200: “É justa a posse que não for violenta, clandestina, ou precária”. 9 Por tais razões, no exame da posse no processo judicial, grande é a importância dos aspectos de fato circundantes da relação do sujeito com a coisa. Há um fator importante na posição do fâmulo, que foi ressaltado pelo parágrafo único do art. 1.198 do mais recente diploma, aqui transcrito. A ideia básica é no sentido de que quem inicia a detenção como mero fâmulo ou detentor não pode alterar por vontade própria essa situação e tornar-se possuidor. Para que o detentor seja considerado possuidor, há necessidade de um ato ou negócio jurídico que altere a situação de fato. Isso porque o fato da detenção da coisa é diverso do fato da posse. Por essa razão, como sufragado de há muito pela doutrina, mas por vezes obscuro nas decisões judiciais, presume-se que o fâmulo se tenha mantido como tal até que ele prove o contrário. Essa modificação de animus, como apontamos, não depende unicamente da vontade unilateral do detentor. O administrador de uma propriedade não se torna proprietário ou possuidor se não ocorrer um negócio jurídico que transformou sua condição jurídica. Quando o detentor for demandado em nome próprio, o CPC de 1973 determinava que declinasse o possuidor ou proprietário para responder no processo, por meio do instituto da nomeação à autoria, modalidade de intervenção de terceiro. O estatuto processual de 2015 simplificou a conduta, determinando que na contestação o réu indique a parte legítima, ficando facultada ao autor a alteração da petição inicial para substituição do réu (art. 338). Cuida-se de verdadeiro ônus do detentor ou fâmulo da posse, pois o estatuto processual dispõe no art. 339 que, quando o réu deixar de indicar o verdadeiro possuidor, conhecendo-o, responderá pelo pagamento de despesas processuais e prejuízos causados ao autor, na hipótese. O ônus do detentor é indicar o verdadeiro possuidor. Se o autor da demanda recusar o nomeado, ou se este negar sua qualidade de possuidor (ou proprietário), a causa será decidida com a parte passiva originária. Provado, a final, ser o demandado mero fâmulo, a decisão será de extinção do processo sem resolução do mérito, por ilegitimidade passiva de parte (art. 485, VI, do CPC). O autor da causa assume o risco no prosseguimento da ação contra o réu originário, que se diz mero fâmulo. Em matéria possessória, as questões processuais com frequência estarão intimamente ligadas ao conceito material de posse em razão, primordialmente, de os interditos possessórios (ações possessórias) serem seus principais efeitos. Atualmente, importa, no estudo da posse, desprender- se de posições extremadas. Essa compreensão leva ao exame com acuidade dos novos fenômenos jurídicos e técnicos surgidos após a enunciação das teorias clássicas. Há novas manifestações do direito de propriedade. Há novo sentido social da propriedade. Tudo isso deve efetivamente ser levado em conta no exame da posse. Nosso ordenamento sobre posse repousa em grande parte, mas não exclusivamente, na corrente objetiva de Jhering, ao estatuir: “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade” (art. 1.196). Veja o que expusemos neste capítulo sobre a nova redação proposta ao art. 1.196. A posse é, enfim, a visibilidade da propriedade. Quem de fora divisa o possuidor, não o distingue do proprietário. A exterioridade revela a posse, embora no íntimo o possuidor possa ser também proprietário. Nessa mesma ideia, a detenção seria nada mais nada menos do que espécie de posse à qual o ordenamento não concede proteção, ou uma modalidade de posse degradada ou diminuída. Nesse diapasão, assim Jhering (1959:59) faz sua proposição a respeito da proteção possessória: “a proteção da posse, como exterioridade da propriedade, é um complemento necessário da proteção da propriedade, uma facilidade de prova em favor do proprietário, que 10 necessariamente aproveita também o não proprietário”. Por essa razão, o vocábulo detenção deve ser evitado sempre que estudamos a teoria pura da posse. A superioridade da teoria de Jhering repousa exatamente na maior facilidade de distinguir-se a posse da detenção. Em princípio, toda situação material envolvendo o titular à coisa é posse, salvo se o ordenamento a exclui, quando então se considerará a situação como de mera detenção. Por conseguinte, pode ser concluído existir na detenção o corpus, mas não o animus. Ou seja, o próprio ordenamento concede o balizamento ao julgador para, no caso concreto, concluir que o detentor tem a coisa sem a intenção de exercer poder material sobre ela. Por vezes, no entanto, torna-se imperioso o exame do animus como ocorre na usucapião entre nós, em que do usucapiente examina-se a intenção de possuir como dono. O art. 1.238 dispõe sobre aquele que “possui como seu um imóvel”. Indubitavelmente, aqui existe ponto de contato com a teoria subjetiva, que leva sempre em consideração o animus. Também o exame da situação do fâmulo da posse, como vimos, enunciada pelo art. 1.198, obriga que se adentre no animus do sujeito. Por essa razão, sustenta-se que, embora o ordenamento nacional tenha adotado a teoria objetiva, abre válvulas para o exame subjetivo das características da posse, notadamente na posse ad usucapionem, não ocorrendo adesão servil do legislador à teoria objetiva da posse. Em outras oportunidades, o próprio legislador presume ocorrer a posse, independentemente de qualquer ato consciente do titular, como ocorre na transmissão da posse dos bens do falecido a seus herdeiros. Pelo princípio da saisine, “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (art. 1.784). O corrente Código substituiu os termos “domínio e posse da herança”, constantes do Código anterior, por simplesmente “herança”, sem que se perca a compreensão originária. Essa transmissão ocorre ainda que os herdeiros não saibam da morte do autor da herança. As exceções, como é curial acontecer, confirmam a regra geral: não há necessidade, como sustenta Savigny, de a cada caso ser analisada a vontade íntima do titular em relação à coisa. Seguindo a tradição romana e dentro da teoria exposta por Jhering, adotada como regra geral em nosso Direito, enfoca-se a posse como um postulado da proteção da propriedade. Trata-se de complemento necessário do direito de propriedade. A proteção possessória, pelas vias processuais adequadas dentro do ordenamento, surge então como complemento indispensável ao direito de propriedade. �.� OBJETO DA POSSE. POSSE DE DIREITOS Vem de muito tempo a discussão acerca da posse dos direitos pessoais, isto é, não materiais. A princípio, o Direito Romano somente conheceu a posse de coisas como exteriorização do direito de propriedade. Somente as coisas corpóreas eram suscetíveis de posse. Posteriormente, os direitos reais limitados, como as servidões, foram merecendo a proteção possessória. Com a espiritualização do conceito de posse, na Idade Média, houve momento no curso da História, no direito intermédio, em que se reconheceu a posse não apenas sobreas coisas apropriáveis, mas também sobre situações de estado (por exemplo, posse de estado de filho legítimo), a chamada posse de direitos pessoais, concedendo-se proteção possessória a ocupantes de funções públicas ou cargos eclesiásticos. Na Idade Média, a Igreja passa a sustentar a proteção possessória dos bispos, que com frequência eram expulsos de suas dioceses. A questão, pois, não se colocava na conceituação de direitos pessoais como sinônimo dos direitos obrigacionais, mas naqueles ligados à personalidade, honra, liberdade etc. No Direito brasileiro, a discussão ganhou viva voz na candente palavra de Ruy Barbosa, em episódio no qual professores da Escola Politécnica do Rio de Janeiro foram suspensos do exercício de suas funções por ato da presidência da República, no ano de 1896. O fato marcou importante estudo histórico acerca da matéria. O ingresso do mandado de segurança em nosso ordenamento, que serve precipuamente para amparar tais situações, veio colocar paradeiro à controvérsia. Quando se protege a aparência de um direito real, protege-se inelutavelmente um direito, pois a propriedade e os demais direitos reais também são direitos. No entanto, quando a doutrina se refere a essa chamada posse de direitos, por tradição relacionada à discussão histórica, refere-se a direitos distintos dos direitos de propriedade e assemelhados. “Assim sendo, não existe posse de proprietário, de usufrutuário ou de locatário, mas sim uma posse em que os atos praticados são os normalmente exercidos pelo proprietário, usufrutuário ou locatário, podendo tal posse pertencer ou não aos respectivos titulares do direito, pois a aparência pode coincidir ou não com a realidade” (Wald, 1991:54). Modernamente, portanto, em nossa jurisprudência, não sem alguma resistência, predomina a ideia de que é suscetível de proteção possessória tudo aquilo que puder ser apropriado e exteriormente demonstrado (Wald, 1991:43). Como exemplo, hoje histórico, recorda-se a mencionada hipótese de linha telefônica, que teve importância no passado em nosso país, em face do seu valor de mercado. Não há possibilidade de defesa da posse contra a concessionária ou concedente dos serviços de telefonia ou assemelhados. Contudo, existem hipóteses nas quais sujeitos ameaçam o exercício manso e pacífico da linha telefônica concedida regularmente e de uso de outrem. Nessa situação, a exterioridade, a aparência de um domínio é evidente, merecendo a proteção possessória. Vejamos, por exemplo, a hipótese de alguém que tenha locado linha telefônica do usuário titular, como acessório de imóvel também locado ou não, pouco importa; e se vê ameaçado pelo locador da linha (que não a empresa concessionária) da supressão de sua utilização. A correta e mais recente tendência jurisprudencial é amparar possessoriamente essas situações (ver julgado do Superior Tribunal de Justiça mencionado no Capítulo 1 desta obra, Recurso Especial nº 41.611-6; ali também foi transcrita disposição do art. 2.311 do Código Civil argentino, a qual determina a aplicação dos princípios de direito real “à energia e às forças naturais suscetíveis de apropriação”). Na linha telefônica, ou outras linhas assemelhadas para transmissão de dados, reconhece-se um direito real de uso de coisa móvel; portanto, passível de posse. Em idêntica situação, colocam-se outras modalidades de uso de energia, como as televisões a cabo, transmissão de dados a distância, por exemplo. A proteção possessória nunca há de ser deferida contra o concedente do serviço, mas contra aqueles que turbam a utilização da linha telefônica, da televisão a cabo, dos dados transmitidos a distância etc. O Direito não pode ignorar as novas manifestações tecnológicas da era da informática. Desse modo, volta-se com nova roupagem ao mesmo tema que origina a proteção possessória: a posse é meio de defesa protetivo do poder físico e da utilização econômica da coisa. A esse respeito, manifesta-se Pontes de Miranda (1971:7), dizendo que não há direitos suscetíveis de posse. “Há direitos entre cujos poderes há o de possuir e até o direito a possuir; porém é usar de linguagem incorreta falar-se de posse de direitos, direitos suscetíveis de posse, possessio iuris, e quejandas impropriedades. O que se tem de perguntar é quais os poderes, contidos no direito de propriedade, que podem ser possessórios, isto é, estado fático de posse”. Por essa razão, nosso Código apresenta vantagens em relação a outras legislações na conceituação do art. 1.196. Essa disposição não se refere aos direitos reais, mas a poderes inerentes ao domínio ou à propriedade: considera- se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Com isso, o legislador trouxe para o mundo jurídico o fato da posse. Antes de entrar no mundo jurídico, a posse é apenas fato. Por essa razão, também se protege a posse de bens imateriais quando suscetíveis de uso e apropriação, como ocorre com a marca comercial e os símbolos que a acompanham (RT 626/45). Destarte, embora inexata a expressão posse de direitos, tem ela perfeita compreensão na doutrina. No entanto, deve ser afastada a ideia de que essas manifestações de domínio aqui exemplificadas ficam fora da proteção possessória, como errônea interpretação do tema poderia sugerir. Desse modo, como corolário da teoria objetiva da posse, há de ser concebido como possuidor todo aquele que no âmbito das relações patrimoniais exerça um poder de fato sobre um bem. Mas, em qualquer situação, a posse deve estampar uma exterioridade ou aparência. Sem esta, não há como defendermos a existência da posse, porque impossível torna-se o animus, porque não existirá o fato passível de posse. Por essa razão, não chegamos ao extremo de admitir a posse de um direito de crédito, por exemplo, como também não deferimos proteção possessória à manutenção de um cargo ou função pública, para cujo resguardo existem medidas específicas, distantes da noção possessória. Não negamos, portanto, a proteção possessória a direitos incorpóreos. “INTERDITO PROIBITÓRIO – PATENTE DE INVENÇÃO DEVIDAMENTE REGISTRADA – DIREITO DE PROPRIEDADE. I – A doutrina e a jurisprudência assentaram entendimento segundo o qual a proteção do direito de propriedade, decorrente de patente industrial, portanto, bem imaterial, no nosso direito, pode ser exercida através de ações possessórias. II – O prejudicado, em casos tais, dispõe de outras ações para coibir e ressarcir-se dos prejuízos resultantes de contrafação de patente de invenção. Mas tendo o interdito proibitório índole, eminentemente, preventiva, inequivocamente, é ele o meio processual mais eficaz para fazer cessar, de pronto, a violação daquele direito. III – Recurso não conhecido” (DJU 149:9997 de 5-8-91 – Rec. Esp. nº 7.196/ RJ – Reg. nº 91.00000306-9 – Rel. Min. Waldemar Zveiter, 10-6-1991). “Apelação cível – Usucapião (bens imóveis) – Usucapião extraordinária – Ausência de preenchimento dos requisitos elencados no art. 1.238 do CC/2002 – Lapso temporal – Reforma da sentença hostilizada. I. Em se tratando de usucapião extraordinária, prevista no art. 1.238 do diploma civil, devem ser atendidos, de forma concomitante, os seguintes requisitos: posse mansa, pacífica e ininterrupta sobre o 1 imóvel usucapiendo, com ânimo de dono, por, no mínimo, 15 anos. II. Hipótese em que a prova coligida aos autos demonstra que o demandado já havia ajuizado prévia ação de usucapião, na qual declarado seu domínio sobre a integra- lidade da área ocupada pelos autores. Assim, o prazo da prescrição aquisitiva somente pode ser contado a partir do trânsito em julgado da sentença que deu origem à propriedade registral do réu, ocorrido em 2007. III. Destarte, considerando- se que a presente demanda foi proposta em 2012, conclui-se não haver prova do preenchimento do lapso temporal exigido por lei. IV. Reforma da sentença de procedência, para que seja afastada a declaração do domínio dos autores sobre a área usucapienda. Deram provimento ao apelo. Unânime. (TJRS– Ap 70084045913, 7-10-2020, Rel. Dilso Domingos Pereira). “Apelação – Usucapião especial – Alegação de posse mansa, pacífica e ininterrupta – Não comprovação do exercício da posse sem oposição pelo lapso temporal exigido pela lei. Imóvel com pendências financeiras junto ao proprietário. Oposição. Ocorrência. Requisitos para a aquisição do domínio não preenchidos. Sentença mantida. Adoção do art. 252 do RITJ. Recurso improvido” (TJSP – AC 1005335-87.2016.8.26.0271, 21-10-2019, Rel. Jair de Souza). “Agravo de instrumento – Imissão na posse – Alegação, por terceiro prejudicado, da usucapião – Hipoteca incidente sobre imóvel – Dação em pagamento do bem hipotecado ao terceiro – Posse mansa, pacífica e longeva – Justo Título – Cenário que não recomenda a concessão de tutela provisória à recorrente – Agravo desprovido – I- A existência da cláusula ‘constituti’ opera uma tradição ficta, razão pela qual, a partir do respectivo negócio jurídico, o adquirente passa a figurar como possuidor do bem, ainda que de forma indireta. II- O negócio jurídico entabulado fora uma escritura pública de dação em pagamento, a qual, pelo menos em tese, constitui justo título, haja vista figurar expressamente no art. 167, I, item 31, da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). III- Conforme clássico princípio jurídico, ‘ninguém pode transferir mais direitos do que tem’, razão pela qual, no caso em apreço, existe dúvida fundada acerca da possibilidade de transferência, pela instituição financeira, do domínio do terreno em questão, após operada, hipoteticamente, a usucapião. IV- A existência de hipoteca sobre determinado bem imóvel não tem o efeito de impedir eventual incidência da usucapião, desde que preenchidos os requisitos legais, visto que qualquer gravame que conste do registro do imóvel não altera, por si só, a qualidade da posse do usucapiente. V- Recurso desprovido” (TJES – AI 0001804- 73.2017.8.08.0045, 13-8-2018, Rel. Des. Jorge do Nascimento Viana). “Agravo de instrumento – Reintegração de posse de imóvel rural – Deferida tutela de urgência, para determinar a reintegração em benefício da autora-agravada, proprietária registral do imóvel maior. Inconformismo dos réus, trabalhadores rurais. Pretensão de serem mantidos em extensão parcial do imóvel, onde alegam ter consumado prazo de prescrição aquisitiva. Não provimento. Decisão mantida. 1- Conjunto probatório nos autos ilustra a titularidade dominial do imóvel à parte autora-agravada e evidencia prática de esbulho praticado no imóvel, objeto de pedido de usucapião pelos réus- agravantes, dada a presença de notificação extrajudicial para desocupação com prazo decorrido em branco e a ausência de elementos probatórios a caracterizar a posse longeva, mansa e pacífica, especialmente diante de instrumento negocial que atestava o arrendamento da área maior a sociedades empresárias e permitia o uso das residências que se encontrassem no local. 2- Recurso desprovido” (TJSP – AI 2192131-12.2016.8.26.0000, 20-6-2016, Rel. Piva Rodrigues). “Apelação – Imissão na posse – Improcedência – Duas cessões de direitos realizadas pelo mesmo compromissário comprador – Primeira transferência remonta ao ano de 2001 e justifica a posse de boa-fé da atual ocupante do imóvel – Segunda transferência realizada aos apelantes em 2008, cientes da posse exercida pela apelada – Requerida comprovou justo título, boa-fé e posse de mais de 5 anos a justificar a improcedência da ação – Aplicação do art. 252 do Regimento Interno do TJSP – Decisão Mantida – Recurso Improvido” (TJSP – Ap 0005913-43.2009.8.26.0229, 31-3-2016, Rel. Egidio Giacoia). “Possessória. Reintegração de posse e usucapião. Apelante que jamais exerceu a posse sobre o imóvel. Conjunto probatório que demonstra a posse longeva dos apelados. Posse mansa e pacífica por mais de dez anos. Usucapião configurado – Recurso improvido” (TJSP – Ap 9089999- 30.2008.8.26.0000, 7-7-2014, Rel. J. B. Franco de Godoi). “Apelação. Ação de usucapião. Processo extinto, sem resolução de mérito, por ausência de interesse processual. Inconformismo. Posse mansa e pacífica iniciada sob a égide do Código Civil de 1916. Aplicação do Novo Código Civil, que reduziu o prazo prescricional, porque não transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Prazo prescricional que deve ser contado a partir da entrada em vigor do Código Civil de 2002. Lapso temporal necessário à prescrição aquisitiva que pode se completar no curso da demanda. Precedentes deste Tribunal e do E. STJ neste sentido. Interesse processual configurado, no caso em tela. Afastamento da extinção do processo com resolução do mérito, com apreciação da questão de fundo, haja vista que a causa está madura, nos termos do artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil. Autores que preenchem os requisitos do artigo 1.238 do Código Civil, especialmente o prazo estabelecido no parágrafo único deste dispositivo legal. Declaração da prescrição aquisitiva que é de rigor. Recurso provido” (TJSP – Ap. 0006579-36.2007.8.26.0028, 20-5-2013, Relª Viviani Nicolau). “Apelação cível – Direito Civil – Direito processual civil – Ação de reintegração de posse – Requisitos preenchidos – Negócio jurídico realizado com pessoa que não detém poderes para negociar – Negócio jurídico inválido – Teoria da aparência – Inaplicável – Erro inescusável – Ônus da prova – Recurso conhecido e não provido – Sentença mantida – 1– Nos termos do artigo 1.204 do Código Civil, ‘considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade’. 2– A medida possessória deve ser concedida àquele que comprova a posse sobre o imóvel objeto da lide. 2.1. Havendo nos autos a prova da posse da autora da demanda e do esbulho praticado pelos réus, deve ser mantida a sentença que concedeu a tutela reintegratória com amparo nos artigos 1.210, caput, do Código Civil e arts. 560 e 561 do CPC. 3– Para a aplicação da teoria da aparência faz-se necessário que o terceiro de boa-fé, ao realizar o negócio jurídico, tenha agido com prudência e diligências requeridas para a compra de um imóvel. 3.1. No caso dos autos, o apelante cometeu erro escusável, pois ao negociar o imóvel, não se certificou da cadeia possessória do imóvel, além de não ter buscado a cadeia de procurações ou ao menos uma procuração que conferisse poderes ao filho da apelada para a negociação do terreno. 4– Honorários advocatícios majorados. Art. 85, § 11 do Código de Processo Civil. 5– Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida” (TJDFT – Proc. 00072630920178070005 – (1181127), 4-7-2019, Rel. Romulo de Araújo Mendes). “Apelação – Ação de reintegração de posse cumulada com perdas e danos – Bem móvel – Contrato de comodato assinado pelo gerente – Teoria da aparência – Legitimidade passiva do empresário individual – Aplica-se ao caso sob análise a teoria da aparência, considerando-se válido o contrato de comodato assinado pelo gerente da empresa, pois ele atuou como legítimo representante da microempresa perante terceiro de boa-fé, respondendo a ré, empresária individual, pelas 2 obrigações assumidas pela microempresa de sua titularidade. Dessa forma, não se há de falar em ilegitimidade passiva da ré. Apelação desprovida, com observação” (TJSP – Ap 1008674- 28.2016.8.26.0506, 22-5-2018, Rel. Lino Machado). “Ação reivindicatória – Imóvel situado em extensa gleba de terras foi prometido à venda pela autora a uma associação, que parcelou o solo de modo irregular e alienou os lotes a adquirentes de boa-fé, entre eles a ré – Posse justa da requerida sobre o imóvel para efeito petitório, a obstar o acolhimento do pleito reivindicatório – Aplicação da teoria da aparência – Ademais, em face do inadimplemento contratual da associação adquirente, autora promoveu ação de cobrança, a qual foi julgada procedente e se encontra em fase de execução – Impossibilidade de a requerente pretender exigir judicialmente o cumprimento do contrato pelo qual alienou o imóvel e, simultaneamente, reivindicá-lo nesta ação – Ausênciade pagamento do preço, por parte do promitente comprador, abre ao promitente vendedor obrigação alternativa a seu favor: ou executa a prestação, ou resolve o contrato – Sentença que comporta única modificação, para excluir a condenação da autora às penas por litigância de má-fé – Decreto de extinção do feito sem julgamento do mérito mantido – Recurso parcialmente provido” (TJSP – Ap. 1009019- 65.2014.8.26.0020,17-8-2015, Rel. Francisco Loureiro). posse exigida pelo artigo 1.228 do Código Civil não se confunde com a posse boa, inerente ao direito meramente possessório do artigo 1.201 do referido Diploma Legal. Extinção afastada. Precedentes desta C. Corte. 2. Recurso provido” (TJSP – Ap 1000422-22.2020.8.26.0045, 17-12-2021, Rel. Ademir Modesto de Souza). “Possessórias – Ação de reintegração de posse – Decisão agravada que manteve ordem de reintegração liminar do autor na posse do imóvel. Inconformismo manifestado com fundamento em vício na transmissão da propriedade. Inadmissibilidade. Manutenção da decisão atacada. É cediço que nas demandas possessórias não é dado pleitear com fundamento em domínio. Perquire-se, nesta sede, a respeito de quem exerce a melhor posse sobre o bem, máxime porque posse é poder de fato sobre a coisa, enquanto a propriedade é poder de direito. Não se confundem, destarte, o ius possessionis (direito de exercer as faculdades de fato sobre a coisa) com ius possidendi (direito de ser possuidor). Por isso, ao menos a princípio, em tese, em incipiente estágio processual, e nesta estreita sede cognitiva permitida pelo agravo de instrumento (cognição perfunctória) é despiciendo à solução da lide perquirir a respeito de eventual vício na transmissão da propriedade do imóvel. A definição a respeito de quem exerce melhor posse sobre o imóvel virá após a cognição exauriente do conjunto probatório a ser produzido. Mas, nos panoramas fático e jurídico reinantes atualmente nos autos, a decisão agravada não está a merecer reparo. Agravo não provido” (TJSP – AI 2142263-60.2019.8.26.0000, 2-9-2019, Relª Sandra Galhardo Esteves). “Agravo de instrumento – posse (bens imóveis) – Ação de manutenção de posse – Turbação – Domínio – Salvo situações muito excepcionais, no juízo possessório é irrelevante a alegação de domínio, tendo em vista que somente é possível a discussão envolvendo o fato da posse. O domínio deve ser objeto de análise em ação petitória, própria para a tutela dos direitos de propriedade e onde o fundamento é o ius possidendi (posse causal). Na ação possessória a análise deve ficar restrita ao ius possessionis (posse autônoma). Agravo de instrumento desprovido” (TJRS – AI 70075227447, 29-3-2018, Rel. Des. Marco Antonio Angelo). “Apelação – Ação Reivindicatória – Coisa Julgada – Inexistência – Ação reivindicatória calcada no direito de propriedade, que não se confunde com as ações possessórias. A ação reivindicatória é espécie de ação petitória, fundada no jus possidendi, ajuizada pelo proprietário, em face do possuidor sem propriedade, ao passo que as ações possessórias têm fundamento no ius possessionis. Teoria da causa madura – Cabimento – Título de propriedade – Retomada de imóvel com base no direito de propriedade – Possibilidade – Consta das alegações dos apelantes a existência de uma permuta entre imóveis com os apelados, para solucionar o litígio judicial de ação de enriquecimento sem causa. Em troca do imóvel em litígio, os apelados lhes cederiam outro. A transação não se aperfeiçoou. Imóvel de propriedade dos apelados que já lhes foi devolvido. O direito de propriedade sobre o imóvel em litígio foi devidamente comprovado (fls. 23/24). Possibilidade de imissão na posse. Não ocorrência. Sucumbência. Inversão. Recurso provido”(TJSP – Ap 1004479-41.2016.8.26.0072, 10-7-2017, Relª Rosangela Telles). “Ação de imissão na posse. Juízo petitório. Ius possidendi. Direito possessório. Discussão descabida. Comprovação da propriedade. Resistência do terceiro ocupante. Imissão na posse devida. Sentença mantida. 1) A ação de imissão na posse encontra-se dentro do juízo petitório, cujo objeto a ser tutelado é o domínio ou propriedade da coisa, podendo ser proposta pelo proprietário que nunca tenha exercido a posse em face daquele que se encontra no bem e resiste em entregá-lo. 2) Versando o feito sobre o direito de propriedade (ius possidendi), descabida se mostra qualquer discussão atinente à posse e seus desdobramentos (ius possessionis) pelo terceiro que irregularmente encontra-se ocupando o imóvel. 3) Para que o pedido de imissão na posse, objeto do feito, resulte procedente, basta apenas que o autor comprove ter adquirido a propriedade da coisa e que não tenha ingressado no imóvel em razão da resistência do ocupante em lhe entregar voluntariamente o bem. 4) Comprovada a aquisição da propriedade do imóvel por escritura pública e registro na matrícula do imóvel, bem como a resistência da ocupante em entregar voluntariamente o bem, impedindo o adquirente de exercer a totalidade dos direitos inerentes à propriedade, correta se mostra a ordem de imissão de posse determinada na sentença. 5) Recurso conhecido e não provido” (TJDFT – Proc. 20131010004626 – (766048), 10-3-2014, Rel. Des. Luciano Moreira Vasconcellos). “Apelação cível. Ação de imissão na posse. Sentença de procedência. Arrematação do imóvel pelos autores em contexto de leilão extrajudicial. Registro na matrícula e escritura pública de compra e venda que comprovam a legítima propriedade dos autores. Jus possessionis pacífico e incontroverso, o que confirma o direito de imissão na posse. Ratificação dos fundamentos da r. sentença – art. 252 do RITJSP. Recurso desprovido” (TJSP – Ap 1001201-59.2017.8.26.0084, 28-9- 2022, Rel. João Baptista Galhardo Júnior). “Reivindicatória. Extinção sem julgamento do mérito. Anterior demanda possessória. Inexistência de coisa julgada. Decisão reformada. 1. A ação petitória se baseia no “jus possidendi” e não no “jus possessionis”, como a reintegração de posse, o que repele a incidência de coisa julgada ou a falta de interesse de agir. A justeza da “Ação reivindicatória – Requisitos – Instrumento particular de cessão e transferência de direitos e obrigações – Posse amparada em justo título e boa-fé – Eventual nulidade do contrato a ser dirimida através da via própria – Decisão correta, que integralmente se mantém – 1– A ação reivindicatória é típica ação do proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário, e que decorre, conquanto não esteja contemplada na legislação processual civil, da disposição legal prevista no artigo 1.228 do Código Civil. 2– A formulação extemporânea da parte autora alegando a nulidade do contrato de cessão deve ser deduzida em via própria, uma vez que estranha ao objeto do processo e incluída quando já não mais era lícito alterar a causa de pedir e o pedido. Até que o negócio jurídico seja desconstituído a posse do autor é legítima e impede a procedência de demanda reivindicatória. 3– Restando comprovado que a posse dos réus está amparada em justo título e exercida de boa-fé, por improcedente se tem o pedido 3 4 reivindicatório, uma vez que afastado se encontra o argumento central de que a posse por eles exercida é ilegal. Desprovimento do recurso” (TJRJ – AC 0002067- 97.2009.8.19.0007, 29-10-2019, Rel. Des. José Carlos Maldonado de Carvalho). “Processo civil – Reintegração de posse – Esbulho – Não comprovado – Posse legítima e de boa-fé – Honorários majorados – 1- Inexiste ofensa ao art. 93, IX da CF/88 quando o juízo a quo firma o seu convencimento após o cotejo das provas colacionadas aos autos pelas partes, inclusive das informações coletadas na audiência de justificação. 2- Não comprovado o esbulho e restando caracterizada a posse legítima e de boa-fé dos réus, a improcedência do pedido de reintegração de posse é medida que se impõe. 3- Diante da sucumbência recursal, devem os honorários advocatícios serem majorados nos termos do art. 85, § 11 do NCPC. 4- Recurso conhecido. Preliminar rejeitada. Apelo não provido” (TJDFT – Proc. 20160710172176APC– (1074762), 20-2-2018, Relª Ana Cantarino). “Apelação Cível – Civil – Processo Civil – Ação de resolução de contrato cumulada com reparação de danos e pedido de tutela antecipada de reintegração de posse – Sentença que acolheu resolução do contrato e deferiu reintegração de posse – Pleito de aplicação de cláusulas penais na forma contratada – Decisão de primeiro grau que afastou danos morais, diminuiu cláusula penal e afastou a aplicação das arras para evitar enriquecimento ilícito – Oposição julgada improcedente – Recurso do autor na demanda principal parcialmente acolhido – Pleito de nulidade da sentença afastado – Retorno ao status quo ante – Perda pelo inadimplente do valor relativo a arras – Em valor razoável e proporcional aos limites do contrato, evitando enriquecimento indevido – Danos morais indevidos – Cláusula penal devida no percentual de 10% sobre o valor contratado – Recurso parcialmente provido – 1- A posse justa (objetiva) é aquela exercida de forma não violenta, não clandestina e não precária, nos termos do art. 1.200 do Código Civil. 2- A posse de boa-fé (subjetiva) é presumida. O exercício da posse se caracteriza como de boa-fé enquanto o possuidor ignora vício ou obstáculo que impedem sua aquisição, consoante o art. 1.201 do Código Civil. 3- Cessa a boa-fé a partir do momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor tomou conhecimento do vício ou obstáculo que o impedia de possuir a coisa. Inteligência do art. 1.202 do Código Civil” (TJPR – AC 1454579-0, 26-1-2017, Rel. Des. Roberto Portugal Bacellar). “Agravo de instrumento – Embargos de terceiro – Aquisição do imóvel após o ajuizamento de ação de anulação de negócio jurídico – Agravante que adquiriu imóvel sem requerer certidões dos distribuidores forenses. Prevalência do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial nº 956943/PR, nos termos do art. 543-C do CPC, que concluiu que ‘a presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, sendo milenar a parêmia: a boa-fé se presume; A má-fé se prova’ em casos análogos ao dos autos. Decisão do STJ que afirma não ser suficiente para o reconhecimento da má-fé do adquirente o mero fato de não haver solicitação de certidões dos distribuidores. Agravados deveriam comunicar o Registro de Imóveis a respeito do litígio envolvendo o bem, fazendo constar na respectiva matrícula o registro da ação judicial reipersecutória envolvendo o bem e em curso desde 2009, nos termos do art. 167, nº 21, da Lei nº 6.015/73. Agravante que promoveu o registro da compra na matrícula do imóvel dois dias depois de lavrar a respectiva Escritura Pública. Demonstração de sua boa-fé diante da ausência de registro indicativo da existência de ação relacionada ao bem em questão. Reconhecimento de que o agravante é adquirente de boa-fé e, com isso, deverá ser preservada a sua posse relacionada ao imóvel. Recurso provido” (TJSP – AI 2200945-47.2015.8.26.0000, 15-2-2016, Rel. Hamid Bdine). “Apelação – Usucapião extraordinária – Autores que pretendem a declaração de domínio sobre pequena área, em curva, contígua à sua propriedade. Sentença de improcedência. Inconformismo dos autores. Não acolhimento. Suspeição alegada em razões de apelo e em petição protocolada após interposição do recurso, requerendo a anulação da sentença. É imprescindível o oferecimento de exceção para o reconhecimento da suspeição, no prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, sob pena de preclusão. Inteligência dos artigos 305 e 312 do CPC. Quanto ao mérito, reconhecida a ausência de prova por parte dos requerentes capaz de demonstrar o exercício da posse com animus domini pelo prazo prescricional aquisitivo. Atos de posse que foram praticados pelos autores mediante expresso consentimento do antigo proprietário da área usucapienda, enquanto a mesma não fosse vendida. Sentença mantida. Negado provimento ao recurso” (TJSP – Ap. 9000009-78.2008.8.26.0048, 11-2-2015, Relª Viviani Nicolau). “Agravo de instrumento – Ação de sonegados em fase de cumprimento de sentença – Decisão que julgou parcialmente procedente impugnação apresentada pelo agravante – Pleito de reforma da decisão para o fim de que seja reconhecida a irregularidade da penhora, com inversão do ônus sucumbencial, afastando-se imposição de pena por litigância de má-fé – Decisão que reconheceu a regularidade da penhora efetivada nos autos sobre imóvel de propriedade dos coexecutados, que são irmãos – Impossibilidade de reconhecimento de usucapião em sede de impugnação – Posse exercida a título precário – Ausência de‘animus domini’– Verbas de sucumbência corretamente fixadas – Litigância de má-fé caracterizada – Comportamento do agravante que revela deslealdade processual, reputando-se razoável a sanção aplicada – Manutenção da decisão agravada. Nega-se provimento ao recurso” (TJSP – AI 2041838-35.2013.8.26.0000, 9-5-2014, Relª Christine Santini). “Agravo de instrumento. Ação de imissão de posse. Imóvel arrematado pelo credor hipotecário em ação de execução contra devedor de cédula de crédito bancário e posteriormente vendido aos agravados. Alegação de ‘vício’ no domínio do imóvel. Inexistência. Decisão mantida. Recurso desprovido” (TJSP – AI 0002014-06.2013.8.26.0000, 10-5-2013, Rel. José Carlos Ferreira Alves). “Conflito negativo de competência. Ação de usucapião, de um lado, e ação reivindicatória de posse, de outro lado. Inexistência de conexão. Ações que possuem causas de pedir e pedidos distintos. Eventual reconhecimento de direito possessório que independe da solução judicial dada ao domínio do bem imóvel. Ausência de risco de decisões conflitantes. Inteligência do artigo 55 do código de processo civil. Precedentes. Conflito julgado procedente. Competência do juízo suscitado da 1ª vara cível da comarca de Itaquaquecetuba para processar e julgar a ação de usucapião”. (TJSP – CC 0009724-62.2022.8.26.0000, 1-4-2022, Rel. Issa Ahmed). “Reintegração de posse – A proteção possessória independe do domínio – Nos termos do arts. 1.204 e 1.210 do Código Civil, cabe a proteção àquele que exerce em nome próprio qualquer dos poderes inerentes à propriedade, em caso de turbação, esbulho ou justo receio de ser molestado na posse – Demonstrado que após o falecimento da proprietária, o imóvel foi deixado em situação de abandono pelo apelante, herdeiro do bem – Em seguida, a ré adentrou e cuidou da limpeza do imóvel, instalou portas, vasos sanitários, pias, negociou os pagamentos de impostos, bem como procedeu a instalação de água e luz no local – Nem mesmo os impostos eram pagos pelo apelante – A recorrida foi quem negociou as dívidas tributárias, bem como procedeu à ligação de água, energia elétrica e quitou dívidas pretéritas – A posse da ré é melhor do que a dos 5 apelantes, devendo ser mantida a improcedência da pretensão de reintegração de posse. USUCAPIÃO – Demonstrada a ocupação da ré de forma mansa e pacífica do imóvel por mais de oito anos – Contudo, embora possa ser arguida como matéria de defesa, inviável o reconhecimento da prescrição aquisitiva nesta sede com efeito ‘erga omnes’, ou direito a registro – Eventual direito à usucapião com efeito ‘erga omnes’ somente poderá ser reconhecido na ação especial própria – O reconhecimento da prescrição aquisitiva nesta demanda não é oponível a terceiros, mas tão somente a parte contrária para fins defensórios na ação possessória – Precedentes da Corte – Majoração dos honorários de R$ 1.000,00 (mil reais) para 15% do valor da causa que melhor atende aos critérios do art. 85 do CPC – Sentença de improcedência reformada em parte – Recurso dos autores desprovido e parcialmente provido o apelo da ré para majorar os honorários devidos ao seu patrono de R$ 1.000,00 (mil reais) para 15% do valor da causa” (TJSP – AC 1002723-76.2015.8.26.0445, 4-6-2019, Rel. Mendes Pereira). “Apelação Cível – Ação de reintegração de posse – Ausência de prova da posse anterior – Ônus probandi do autor – IPTU – Inocorrência de exceptio dominii – Sentença reformada – Recurso conhecido e provido– 1-Para o reconhecimento da procedência do pedido de reintegração de posse, faz-se necessário que o autor comprove (i) a sua posse, (ii) o esbulho praticado pelo réu, (iii) a data do esbulho e (iv) a perda da posse, nos termos do art. 561 do Código de Processo Civil. 2- A proteção possessória tem por objeto a posse em si mesma (jus possessionis), e não o direito de possuir (jus possidendi), visto que a ação visa resguardar quem já é possuidor e é turbado (manutenção na posse), esbulhado (reintegração de posse ou reintegratória) ou tem receio de o ser (interdito proibitório), e não o proprietário que teria o direito de ingressar no bem em razão de sua condição. 3- In casu, o autor sustentou ser possuidor do imóvel com base em sua propriedade, o que é veemente vedado pelo art. 1.210, § 2º do Código Civil, destarte, não se desincumbiu de, ao menos, comprovar sua posse anterior do bem em litígio, o que é fato constitutivo do direito do autor, e sua ausência constitui elemento suficiente a justificar a improcedência desta ação de reintegração de posse. 4- O contribuinte do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana não é, necessariamente, o possuidor do bem, eis que o contribuinte poderá ser, outrossim, o proprietário ou o titular do domínio útil (art. 34 do CTN). 5- O Supremo Tribunal Federal tem decidido que, em posse, não se toma conhecimento do domínio, salvo quando os vários contendores disputam a posse exclusivamente a título de domínio, isto é, quando o fato material da posse não é claro e cada um deles se diz dono, invocando títulos incompatíveis entre si. 6- Na hipótese, somente o autor invocou o domínio como motivação para reaver a suposta posse, o que inviabiliza o instituto da exceptio dominii para solucionar a presente demanda. 7- Recurso provido para, reformando a sentença, julgar improcedente a ação de reintegração” (TJES – Ap 0089592-05.2010.8.08.0035, 13-7-2018, Relª Desª Eliana Junqueira Munhos Ferreira). “Agravo de instrumento – Ação de reintegração de posse – Liminar Possessória – Comprovação da posse – Ausência – Separação legal entre os juízos petitório e possessório – Exceptio Dominii – Não Cabimento – Na forma do art. 1.210, § 2º, CC e do art. 557, CPC/2015, a alegação de propriedade não pode ser deduzida nas ações possessórias típicas, tampouco como defesa em ação de usucapião, eis que o ordenamento pátrio adotou a separação absoluta entre os juízos possessório e petitório, de modo que a alegação de propriedade (exceptio dominii) não é apta a comprovar a posse do autor, o que impede o deferimento da liminar possessória” (TJMG – AI-Cv 1.0000.17.024502-1/001, 26-9-2017, Rel. Vasconcelos Lins). “Agravo de instrumento – Execução Fiscal – Exceção de pré- executividade – Compromisso de compra e venda de imóvel – Registro no cartório imobiliário – Não comprovação – Domínio que somente se transfere com o respectivo registro, nos termos do art. 1.245 do Código Civil – Repercussão geral da matéria sub judice – Julgamento definitivo do mérito do REsp nº 1.111.202/SP e do REsp nº 1.110.551 (DJe de 18-6-2009) pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, que reconheceu a legitimidade passiva tanto do possuidor do imóvel (promitente comprador) quanto do seu proprietário (promitente vendedor) pelo pagamento do IPTU – Recurso provido” (TJSP – AI 2221656-73.2015.8.26.0000, 6-4-2016, Rel. Henrique Harris Júnior). “Apelação cível – Ação de reintegração de posse – Demonstração de exercício indireto da posse por meio de detentores – Procedente – Consonância dos depoimentos colhidos em audiência de instrução – Demonstração da verticalidade da relação havida com os servidores da posse – Art. 1.198, CC – Recurso provido – Sentença reformada – 1– Conforme extrai-se dos cônsonos depoimentos produzidos em audiência de instrução (fls. 121), ainda que obliterando-se quanto aos atos de posse demonstrados pela edificação de cerca no perímetro do imóvel e pela regular comparecência do proprietário à localidade, encontrando-se a fazenda sob testilha habitada por pessoa detentora de sua posse, bem como vistoriada por duas outras, tão como, usufruidoras de seus pastos, evidente torna-se o indireto exercício da posse sobre o bem de raiz, através dos fâmulos da posse. 2– Como delineado pelo art. 1.198 do Código Civil, afigura-se por detentor da posse aquele que, atuando como instrumento da vontade de outrem, exercite os atos de posse em nome daquele. 3– Dito isto, ao rememorarmos o discurso das testemunhas arroladas, podemos aferir nitidamente a condição de permissionários ostentada por aqueles, visto que a todo momento ressaltaram de quem se tratar a propriedade e da benesse que lhes seria estendida por este, seja por manter-lhe a moradia, seja por autorizar-lhes o usufruto dos pastos, demonstrando, assim, a verticalidade da relação havida entre 6 estes” (TJBA – Ap 0004445-77.2014.8.05.0027, 31-10-2019, Rel. Ivanilton Santos da Silva). “Bem Público – Reintegração de posse – Ocupação sem autorização – Detenção – Caracterização – “Embargos de declaração. Apelação. Direito administrativo. Reintegração de posse. Município de Carapicuíba. Bem público ocupado sem autorização. Mera detenção que, precária, não goza de proteção civil. Prova coligida evidencia o domínio público e a indevida ocupação. A ocupação irregular de bem público caracteriza mera detenção, de natureza precária, e não posse. Ausência de direito de retenção ou indenização pelas benfeitorias. Sentença mantida. Alegação de omissão quanto à ausência de recolhimento de preparo. Inocorrência. Apelante beneficiária da assistência judiciária. Ausência de vícios no acórdão. Embargos de declaração improvidos” (TJSP – EDcl 1003450- 82.2016.8.26.0127, 19-2-2018, Rel. Maurício Fiorito). “Ação de usucapião – Faixa de imóvel lindeiro – Sentença de procedência, para declarar o domínio – Redistribuído por força da Resolução 737/2016 – Apelam os réus sustentando haver confissão de permissão para utilização da área; Ausência de posse; Apelados não conseguiram retificação administrativa da área e o IPTU do imóvel, inclusive da faixa do terreno pretendida, foi paga pelos apelantes. Descabimento. Em depoimento pessoal, um dos autores-apelados disse que, na época dos fatos, a estrutura que ele e seu sócio pretendiam utilizar no terreno deles para construção do barracão era maior e não podia ser cortada, adentrando assim no terreno pertencente aos adversos. Esclareceu que o proprietário à época, antecessor dos réus-apelantes, permitiu a utilização da faixa, que seria somente de 20 centímetros. Circunstância iniciada em 1976. Referida faixa de 20 cm lineares, equivalente a 2,985 m2. Permissão mencionada no depoimento por pessoa leiga apenas pode ser interpretada como uma aceitação, uma concordância de que a posse da pequena porção de área passasse a ser exercida pelo vizinho. Insuscetível de reconhecimento da usucapião é a permissão que representa mera autorização do proprietário a qualquer tempo revogável por pura conveniência. Situação diversa quando se concorda com a fixação de uma pequena parte de uma gigantesca estrutura de um barracão que não pode ser decotada, sob pena de destruição de toda a construção. Apelados não são meros fâmulos da posse. Obtiveram consentimento que somente pode ser compreendido como transmissão da posse da pequena área, que para eles era imprescindível para instalação do galpão e para o antecessor dos apelantes era provavelmente de somenos importância. Inexistente prova do alegado empréstimo. Rejeição do pedido de retificação administrativa da área e pagamento do IPTU pelos apelantes não afastam dos adversos a posse com ‘animus domini’. Recurso improvido” (TJSP – Ap 1000433-63.2014.8.26.0400, 7- 4-2017, Rel. James Siano). “Reintegração de posse – por se tratar de bem público, os réus possuíam apenas mera detenção do bem – direito de usucapião – bem público que, por sua natureza, é insuscetível de prescrição aquisitiva, nos termos do art. 102 do Código Civil, e art. 183, § 3º da Constituição Federal – Ocupação indevidada área. Esbulho caracterizado. Ausência de provas aptas a demonstrar o tempo de ocupação do imóvel antes da aquisição pelo Município. Incabível o pedido de homologação de acordo quanto à indenização pelas benfeitorias, ante a inexistência de posse por parte dos réus. Preliminar de prescrição afastada. Ação principal julgada procedente e reconvenção improcedente. Sentença mantida. Recurso improvido” (TJSP – Ap 0004538- 30.2009.8.26.0189, 8-6-2015, Relª Leme de Campos). “Apelação cível – Reintegração de posse. Bem público. Ocupação por particular que configura mera detenção e não posse. Por não se tratar de posse não há que se falar em indenização por benfeitorias introduzidas no imóvel. Sentença de procedência mantida. Recurso improvido” (TJSP – Ap. 0004973-16.2011.8.26.0615, 10-5-2013, Relª Maria Laura Tavares). “Apelação – ação de usucapião – Improcedência – Insurgência dos autores – Apelantes que são meros fâmulos da posse exercida pelo pai – Pai que, enquanto herdeiro da proprietária (avó dos apelantes), e apesar de sua condição financeira, sempre morou no imóvel e o possuiu em seu nome e dos demais herdeiros – Contribuição dos filhos com despesas de manutenção, depois de crescidos, que não é hábil a transmitir a posse dos pais aos filhos, que permaneceram como herdeiros presuntivos e fâmulos da posse dos pais – Sentença mantida – Recurso desprovido” (TJSP – Ap 1001663-22.2019.8.26.0318, 30-5-2022, Rel. Costa Netto). “Embargos de terceiro. Ação de reintegração de posse em fase de cumprimento de sentença. Reintegração de posse determinada em relação à área maior, na qual está inserido o imóvel sobre o qual a autora alega ter posse mansa e pacífica. Hipótese em que ficou reconhecido, na ação de reintegração de posse, o esbulho praticado em relação à área maior. Indícios de que os terceiros embargantes, dentre eles a recorrente, estivessem como meros fâmulos da posse exercida pela igreja comodatária desta área maior. Recurso não provido” (TJSP – AI 2110830-67.2021.8.26.0000, 27-5-2021, Rel. Gilberto dos Santos). “Usucapião – Posse com ânimo de dono, mansa e pacífica por mais de vinte anos – Comprovação – Agravo interno no agravo em recurso especial. Ação de usucapião. Procedência do pedido. Posse com ânimo de dono, mansa e pacífica por mais de vinte anos. Comprovação. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Agravo desprovido. 1– Não configura ofensa aos arts. 165, 458 e 535 do CPC/1973 o fato de o col. Tribunal de origem, embora sem examinar individualmente cada um dos argumentos suscitados, 7 adotar fundamentação contrária à pretensão da parte, suficiente para decidir integralmente a controvérsia. 2– Afasta-se a alegação de julgamento extra petita quando o provimento jurisdicional decorre de uma compreensão lógico-sistemática dos fatos e fundamentos expostos na petição inicial, entendido como aquilo que se pretende com a instauração da demanda. 3– O reconhecimento da nulidade de atos processuais exige efetiva demonstração de prejuízo suportado pela parte interessada, em respeito ao princípio da instrumentalidade das formas (pas de nullité sans grief). 4– O Tribunal de origem, à luz do acervo fático-probatório carreado aos autos, concluiu que a parte autora comprovou os requisitos da usucapião e a parte ré não demonstrou que se opôs à posse da autora. A pretensão de alterar tal entendimento, considerando as circunstâncias do caso concreto, demandaria o reexame de matéria fático- probatória, o que é inviável em sede de recurso especial, nos termos da Súmula nº 7/STJ. 5. Agravo interno a que se nega provimento” (STJ – Ag Int-AREsp 977423/ PR, 1-7-2019, Rel. Min. Raul Araújo). “Usucapião – Pedido declaratório – Posse mansa, pública e pacífica comprovada – Tempo de posse configurado – Condição de fâmulo da posse não demonstrada – Recurso Provido – Usucapião – Pedido declaratório – Prova dos autos que comprovou a posse mansa, pública e pacífica da autora sobre o bem há muitos anos, posse que era exercida anteriormente por sua família. Alegação da ré de que ocorreu mera permissão. Prova não produzida. Ônus da ré, por se tratar de fato impeditivo do direito da autora. Sentença reformada. Recurso provido” (TJSP – Ap 0004459-22.2009.8.26.0619, 24- 8-2018, Rel. J. B. Paula Lima). “Agravo de instrumento – Direito processual civil – Intervenção de terceiros – 1– Ação civil pública – Interdição de imóveis situados às margens da Rodovia dos Imigrantes e que apresentavam risco de desabamento, com demolições de imóveis ordenadas e efetivadas. Moradores que tiveram suas 8 residências demolidas que buscam ingressar nos autos na qualidade de terceiros interessados, com arrimo na inteligência do comando inserto no artigo 119, do CPC/2015. Inadmissibilidade. Residências inseridas em área de risco de desabamento e situadas em área pública desapropriada e pertencente ao DERSA ou DER, afetada ao serviço público de construção da Rodovia dos Imigrantes. Ocupação exercida a título de mera detenção ou tolerância administrativa. Bem público inalienável e insuscetível de prescrição aquisitiva. Condição de meros detentores ou fâmulos da posse. 2– Decisão mantida. Recurso não provido” (TJSP – AI 2043471- 71.2019.8.26.0000, 27-6-2019, Rel. Oswaldo Luiz Palu). “Ação de usucapião – Sentença de procedência – Apela a ré sustentando nulidade da sentença em razão da ausência de citação pessoal de um dos confrontantes; Os autores reconhecem a propriedade pela ré do imóvel; Os autores são meros permissionários, agindo na qualidade de fâmulos da posse; Inexiste animus domni; O imóvel e metragens são expressivos. Descabimento. Prescrição aquisitiva reconhecida com lastro no art. 1.238 do CC, que exige a posse mansa e pacífica do imóvel por 15 anos, sem estabelecer restrições quanto à metragem, valor ou finalidade do bem. Prova testemunhal uníssona no sentido de asseverar que os autores utilizam-se do imóvel para pastoreio de animais desde meados de 1990. O fato de não ostentarem a titularidade do domínio não desnatura o animus domni, sendo a finalidade precípua da ação de usucapião justamente ao reconhecimento da propriedade em prol daquele que conforme o preenchimento dos requisitos legais tiver exercido a posse não resistida do imóvel. Na hipótese em apreço restou, inclusive, demonstrado que mesmo após vistoria no local por preposto da ré em que se apurou a existência de terceiros no imóvel e o pastoreio de animais não houve a tomada de nenhum ato pela ré visando reaver a posse esbulhada do bem. A inércia teve o condão de demonstrar a ausência de resistência à posse pelos autores, autorizado o reconhecimento da prescrição aquisitiva. Recurso improvido” (TJSP – Ap 0003115-10.2011.8.26.0498, 26-1-2017, Rel. James Siano). “Possessória. Reintegração de posse. Bem imóvel. Demanda proposta em face de mero detentor. Posse exercida pela ex-nora do autor, que se vale dos serviços do réu, na condição de caseiro. Ilegitimidade passiva do fâmulo da posse. Sentença de improcedência mantida. Teoria da asserção. Análise das condições da ação segundo a afirmação da pertinência subjetiva com a lide. Precedentes do STJ. Recurso improvido” (TJSP – Ap. 0000731-20.2010.8.26.0495, 28-2-2013, Rel. Mario de Oliveira). “Apelação Cível – Ação de reintegração de posse de bens móveis – Agravo retido interposto em audiência de instrução e julgamento não reiterado nas razões de apelação não conhecimento do agravo (art. 523, § 1º, do CPC/73) – Bens móveis (mobília e eletrodomésticos) comprados pelo doador e deixados no imóvel em questão – Não preenchimento dos requisitos legais – Art. 927, CPC/73 – Ausência de demonstração de esbulho – Posse não derivada de violência, clandestinidade ou precariedade. Doação do imóvel que faz presumir posse, até prova contrária, a dos bens móveis – Art. 1.209, CC – Impossibilidade do acolhimento do pleito de reintegração – Sentença mantida – Honorários recursais – Autos nº 1637672-6 2. 1– Não se conhece do agravo retido interposto na vigência do Código de Processo Civil de 1973 se não houver reiteração nas razõesou contrarrazões recursais. 2– A procedência de pretensão possessória não pode agasalhar-se na alegação de propriedade. A seu turno, quem busca se reintegrar na posse deve provar, além de posse anterior, ter havido esbulho, e este se caracteriza por vício objetivo da posse que, por isso, se torna injusta. Não demonstrada a existência de posse violenta, clandestina ou precária, a pretensão possessória resulta improcedente. 3– Segundo inteligência do art. 1.209, do Código Civil, ‘A posse do imóvel faz presumir, 9 até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.’ 4– Considerando a sucumbência recursal e o trabalho adicional realizado em segunda instância, é devida a majoração dos honorários advocatícios, com fundamento no art. 85, § 11 do Código de Processo Civil. recurso conhecido e não provido” (TJPR – AC 1637672-6, 23-4-2019, Rel. Des. Fernando Paulino da Silva Wolff Filho). “Apelação Cível – Ação de reintegração de posse – Ilegitimidade Passiva – Fâmulo da posse – Mera detentora do bem no interesse de outrem – Posse Indireta – Parte ilegítima para figurar no polo passivo – Art. 1.198 do Código Civil – Sentença mantida – Recurso conhecido e improvido – Honorários recursais devidos – Unânime – A doação do imóvel que se pretende discutir na demanda está em nome da irmã da requerida, sendo que esta é apenas detentora do imóvel, não possui posse direta, ocupando o bem no interesse de outrem, considerado fâmulo da posse, e portanto não pode figurar no polo passivo da demanda considerando a disposição contida no art. 85, § 11, do CPC, impõe-se o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, razão pela qual majoro o percentual fixado para 20% sobre o valor da causa” (TJSE – AC 201700814276 – (20745/2018), 14-9-2018, Rel. Des. Alberto Romeu Gouveia Leite). “Apelação Civil – Direito civil e processual civil – Ação de reintegração na posse – Preliminar – Cerceamento de defesa – Não realização das provas requeridas – Insurgência – Preclusão – Impossibilidade de reanálise – Posse – Exercício dos poderes inerentes à propriedade pelo autor – Esbulho – Caracterização – Posse clandestina – Recurso conhecido e provido – Sentença reformada – 1- Não caracteriza cerceamento de defesa quando operou-se a preclusão temporal sobre decisão que indefere a produção de prova pericial e indica o julgamento antecipado da lide. 2- Se o autor demonstra que exerceu os poderes inerentes à propriedade, tendo murado o imóvel e pago os tributos e taxas relativos ao bem, resta cumprido o requisito de demonstração da posse. 3- Nos termos do art. 1.200 do CC, é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária, restando caracterizada a clandestinidade quando há notícia nos autos de que a requerida invadiu o bem na ausência da representante do autor, ressalvando-se ao propósito que a ré não logrou êxito em comprovar as alegações referentes a forma de aquisição dos direitos incidentes sobre a coisa. 4- Recurso conhecido e provido. Sentença reformada” (TJDFT – Proc. 20150510093782APC – (997195), 15-3-2017, Rel. Romulo de Araujo Mendes). “Agravo de instrumento – Decisão interlocutória que indeferiu medida liminar de reintegração na posse de área urbana – Ocupação a título de comodato por tempo determinado – Formalização de notificação prévia depois de findo prazo – Injusta recusa da restituição da coisa no termo assinado – Esbulho configurado – Legitimidade da proteção possessória – Recurso provido” (TJSP – AI 2218961-83.2014.8.26.0000, 9-4- 2015, Rel. César Peixoto). “Agravo de instrumento – Ação de reintegração de posse – Tutela provisória – Bem público – Impossibilidade de exercício dos poderes inerentes à propriedade – Mera detenção de natureza precária – 1– Os bens públicos observam regime específico, sendo impenhoráveis, inalienáveis e imprescritíveis. 2– Em razão da proibição legal à prescrição aquisitiva dos bens públicos, é vedado o exercício de poder inerente à propriedade pelo particular. 3– Nesses termos, é inócua a discussão acerca do período transcorrido desde a ocupação do imóvel, o que impõe a manutenção da decisão que deferiu a tutela provisória de reintegração de posse em favor do ente municipal” (TJMG – AI 1.0000.19.032651-2/001, 19-7-2019, Rel. Carlos Henrique Perpétuo Braga). “Direito civil – Agravo de instrumento – Ação de reintegração de posse – Pleito de liminar deferido na primeira instância – 10 Juntada de título de propriedade, boletim de ocorrência e boletos de IPTU pelo autor. Documentos insuficientes para indicar posse anterior. Necessidade de designação de audiência de justificação. Recurso conhecido e provido. Decisão anulada. 1– Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão interlocutória que deferiu a liminar de reintegração de posse pleiteada pelo autor. 2– Na presente irresignação, os agravantes defendem a reforma do decisum combatido com fundamento: a) na ausência de comprovação da posse anterior pela parte adversa; B) na aquisição da posse do bem pelos recorrentes há mais de quatro décadas; C) na necessidade de realização de audiência de justificação. 3– O Código de Processo Civil estabelece como requisitos para concessão da tutela jurisdicional possessória, nos termos do art. 561, a comprovação, pelo autor, I– Da sua posse; II– Da turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III– Da data da turbação ou do esbulho e IV– Da continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. 4– Sendo a ação proposta dentro de ano e dia do esbulho afirmado na petição inicial e estando a exordial devidamente instruída, ‘o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada’, consoante disposto no art. 558 c/c 562, ambos do CPC, sendo desnecessário, nessa hipótese, a configuração dos pressupostos inerentes à tutela de urgência. 5– É inquestionável que o bem em questão encontra-se registrado em nome do autor/agravado, conforme se verifica nos documentos anexados aos autos do processo de origem, quais sejam, a matrícula do bem (FL. 19) e a escritura pública de compra e venda (FLS. 21- 22), datada de 21 de julho de 1995. 6– Ocorre que, em regra, a titularidade do domínio não ostenta relevância nas ações possessórias, pois, sendo a posse um direito autônomo em relação à propriedade, aquela pode ser oposta inclusive contra o proprietário, entendimento extraído do disposto no art. 1.210, § 2º do Código Civil, segundo o qual ‘não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa’. 7– Além dos documentos que comprovam a propriedade do bem, o requerente também juntou ao caderno processual boletos do IPTU do imóvel referentes aos anos de 2007 a 2011( FL. 25) e 2012 (FL. 26), certidão negativa de débitos estaduais (FL. 27), fotografia da área em que constam tijolos na lateral direita, bem como indivíduos com pás nas mãos (FL. 28), boletim de ocorrência (FL. 29), inquérito policial (FL. 30). 8– Não obstante, em um juízo de cognição sumária, essa documentação não se mostra suficiente para comprovar a posse anterior, que, de acordo com a teoria objetiva proposta por Rudolf Von Ihering, adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, é compreendida como uma situação de fato, concernente à manifestação da conduta de dono, com a promoção ostensiva de atos de conservação e defesa do bem, independente do cenário jurídico relativo à propriedade. 9– Portanto, antes de decidir sobre o pedido liminar de reintegração de posse mostra-se necessária a designação de audiência de justificação para melhor esclarecimento acerca do cenário fático existente, mormente considerando que os agravantes sustentam que ocupam o bem há mais de quarenta anos. 10– Recurso conhecido e provido. Decisão anulada” (TJCE – AI 0621563-95.2019.8.06.0000, 12- 7-2019, Rel. Heráclito Vieira de Sousa Neto). “Apelação Cível – Reintegraçãode posse – Ônus da prova do autor – Posse não comprovada – 1- Para que se verifique a efetiva ocorrência da posse, não é necessária a configuração do elemento subjetivo (animus), mas deve ser observado o comportamento objetivo, qual seja a conduta do possuidor, pois a partir da teoria objetivista da posse de Ihering, o possuidor é aquele que tem o exercício de fato, pleno ou não, sobre a coisa (corpus) com as mesmas atribuições conferidas pelo direito de propriedade (art. 1196 do Código Civil). 2- É do autor o ônus de demonstrar sua posse, a prática da turbação ou do esbulho, a data do ato atentatório a sua posse, e a continuação da posse, de modo a ter deferida a proteção possessória, nos termos do art. 561 do Código de Processo Civil. 3- Diante da inexistência de provas, nos autos, de que o autor tenha exercido a posse, direta ou indireta, sobre o bem, o pedido deve ser julgado improcedente. 4- Recurso conhecido e não provido” (TJDFT – Proc. 20150110728526APC – (1078832), 8-3-2018, Rel. Alvaro Ciarlini). “Apelação Cível – Direito Civil – Direito Processual Civil – Ação de reintegração de posse – Comprovação pelo autor do exercício, em nome próprio, dos poderes inerentes à propriedade sobre o imóvel em litígio – Domínio Fático – Teoria objetiva da posse – Inteligência do art. 1.196 c/c art. 1.204, ambos do Código Civil – Esbulho Possessório – Recurso conhecido e não provido – Sentença Mantida – 1- Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. E mais, adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade (CC, arts. 1.196 e 1.204). 2- O Código Civil, adotando a Teoria Objetiva (defendida por Ihering), ensina que a constituição da posse é atribuída àquele que exerça um dos atributos do domínio fático, mesmo que desprovido do animus domini. Eis a lição do doutrinador Flávio Tartuce sobre o tema: ‘[...] Teoria objetiva ou objetivista – Teve como principal expoente Rudolf Von Ihering, sendo certo que para a constituição da posse basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilidade de exercer esse contato. Esta corrente dispensa a intenção de ser dono, tendo a posse apenas um elemento, o corpus, como elemento material e único fator visível e suscetível de comprovação. O ‘corpus’ é formado pela atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo este com o intuito de explorá-la economicamente. Para esta teoria, dentro do conceito de ‘corpus’ está uma intenção, não o ‘animus’ de ser proprietário, mas de explorar a coisa com fins econômicos. [...]’ (Manual de Direito civil: volume único/Flavio Tartuce. 2.ed.rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012). 4- Do conjunto probatório é possível verificar que autor é proprietário do imóvel e a contratação de terceiro para realizar cuidados como construção e cerca consolidou sua posse. 5- Nessa linha, os depoimentos corroboram o entendimento de que o autor permitiu a permanência dos réus enquanto lhe prestavam serviços, razão pela qual o esbulho está configurado com o termo final do prazo de desocupação assinado pelas partes. 6- Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida. Unânime” (TJDFT – Proc. 20140610084110APC – (1018972), 29-5-2017, Rel. Romulo de Araujo Mendes). “Agravo de instrumento – Ação de reintegração de posse – Juíza a quo que, após a audiência de justificação prévia, deferiu a reintegração liminar. Insurgência do réu. Nulidade da decisão por suposta violação ao devido processo legal. Inocorrência. Juridicidade das medidas liminares há muito chancelada no direito brasileiro. Efetividade das decisões judiciais que não seria alcançada sem o expediente das tutelas prévias à angularização da relação processual. Aplicação do art. 928 do Código de Processo Civil. Tutela possessória e garantia constitucional da propriedade. Distinção do poder de fato em face do poder de direito. Estreitos limites cognitivos da demanda que repousa no exercício fático da titularidade (exteriorização da propriedade segundo a teoria objetiva de Jhering). Alegação de‘fidúcia’,‘liberalidade’e‘comodato verbal’que não encontram, pelo menos por ora, respaldo nos autos. Caso concreto em que, apesar da propriedade do imóvel continuar em nome do agravante, há elementos que corroboram a venda do bem em favor dos agravados. Exordial que foi instruída com minuta de contrato com anotações de próprio punho do agravante. Recorrente, aliás, que inclusive reconheceu a alienação do imóvel em notificação extrajudicial. Por outro lado, recorridos que comprovaram o exercício fático da sua titularidade (contratação de serviços de vigilância, locação do imóvel, realização de benfeitorias e pagamento da taxa de ocupação e do IPTU) que remonta ao ano de 1999. Alegação de preclusão da valoração da prova rechaçada. Despacho inicial que designou a audiência de justificação prévia que não tem o condão de influir nos seus fundamentos. Afastamento, a seu turno, da suspeição sobre a prova documental e oral. Depoimentos colhidos na audiência que corroboraram a posse e o esbulho perpetrado (ocupação de terceiros do imóvel no final de 2013 com a autorização do agravante). Força nova igualmente demonstrada. Medida liminar reintegratória devida. Manutenção da decisão recorrida que se impõe. Irresignação desprovida” (TJSC – AI 2014.034306-8, 25-5-2015, Relª Desª Rosane Portella Wolff). �.� � CLASSIFICAÇÕES DA POSSE POSSE DIRETA E INDIRETA Da natureza e espécie de posse decorrem variados e diversos efeitos. O art. 486 do Código anterior já assinalava a possibilidade de bipartição do exercício da posse ao estatuir: “Quando, por força de obrigação, ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, se exerce temporariamente a posse direta, não anula esta às pessoas, de quem eles a houveram, a posse indireta”. Nesse dispositivo, a lei reconhecia a possibilidade de coexistência de duas categorias simultâneas de possuidores, qualificando-os como possuidores diretos e possuidores indiretos. As situações de usufrutuário, credor pignoratício e locatário são apenas exemplificativas: diversas outras poderão ocorrer, decorrentes de direito pessoal ou real, nos termos que indica a dicção legal. A lei de 1916 descrevia situações decorrentes de relações contratuais, as quais não constituem a única possibilidade. O Código de 2002 nos transmite uma compreensão melhor do fenômeno, no art. 1.197: “A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”. Houve proposta no sentido de que esse artigo passasse a ter a seguinte redação: “A posse direta dos bens, mesmo que em caráter temporário e decorrente de direito pessoal ou real, não anula a posse indireta de quem foi havida, podendo qualquer um deles agir em sua defesa, inclusive por ato praticado pelo outro possuidor” (Projeto nº 6.960/2002). Como decorre dessas disposições, possuidor indireto é o próprio dono ou assemelhado, que entrega seu bem a outrem. A tradição da coisa faz com que se opere a bipartição da natureza da posse. Possuidor direto ou imediato é o que recebe o bem e tem o contato, a bem dizer, físico com a coisa, em explanação didática simplificada. Nesse diapasão, serão possuidores diretos, também exemplificando, os tutores e curadores que administram bens dos pupilos; o comodatário que recebe e usufrui da coisa emprestada pelo comodante; o depositário que tem a obrigação de guardar e conservar a coisa recebida etc. Todos estes detêm posse de bens alheios. A lei ou o contrato, como regra geral, determinará a forma e lapso temporal dessa posse direta. Não apenas relações de direito obrigacional ou real podem desdobrar a posse, mas também de direito de família e de sucessões. Como enfatizamos em nossa obra Direitocivil: Família e Sucessões (seção 42.5), o art. 1.579 do Código anterior dispunha: “Ao cônjuge sobrevivente, no casamento celebrado sob o regime da comunhão de bens, cabe continuar até a partilha na posse da herança com o cargo de cabeça do casal”. Essa disposição, atualmente derrogada, era vista em consonância com a ordem de nomeação de inventariante estabelecida pelo art. 617 do CPC, a qual na verdade a explicita. O inventariante é auxiliar do juízo e representante do espólio. Essa posse mostrava-se em aparente contradição com o princípio fundamental de nosso direito possessório, a saisine, estabelecido pelo art. 1.784: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. A aparente contradição dos princípios da saisine dos herdeiros e da posse do inventariante desaparece com a compreensão da posse direta e indireta. Ao inventariante era atribuída a posse direta, enquanto aos herdeiros era deferida a posse indireta, salvo situações de fato que invertessem o desdobramento ou fizessem desaparecer, quando, por exemplo, o próprio herdeiro era nomeado inventariante. Tanto aos herdeiros, separada ou conjuntamente, como ao inventariante era dado defender os bens hereditários com os remédios possessórios. A situação não se altera na atualidade. Desse modo, faz-se necessária a existência de uma relação jurídica negocial ou legal entre possuidor direto (imediato) e indireto (mediato). Ocorre um desdobramento da relação possessória. Foi solução encontrada pela lei para contornar situação em que o simples exame do animus e do corpus se mostrou insuficiente. São consideradas duas posses, paralelas e reais: a direta ou imediata de quem temporariamente, por força de ato ou negócio jurídico, a exerce, e a indireta ou mediata do titular da coisa, do dominus. Como vemos, a lei reconhece duas modalidades de posse coexistentes. Como consequência, tanto o possuidor direto como o indireto podem valer-se das ações possessórias para se defenderem de turbação ou esbulho. Do mesmo modo, o possuidor direto pode opor-se pelas vias possessórias contra a turbação ou esbulho praticado pelo possuidor indireto. Destarte, assim se pode defender o locatário contra ato turbativo do locador; o usufrutuário contra ato do nu-proprietário; o comodatário contra ato do comodante etc. Nesse mesmo sentido, como vimos, foi expresso o Código em vigor, oriundo do Projeto de 1975, no art. 1.197. Por outro lado, ambos os possuidores, direto e indireto, estão legitimados às ações de defesa da posse contra terceiros que a turbem ou ameacem, ou mesmo um possuidor contra o outro, se turbada a posse em seu respectivo âmbito, como enfatiza a redação do Projeto. Também, nada impede que haja um sucessivo desdobramento da posse. No usufruto, por exemplo, o nu- proprietário tem a posse indireta, e é possuidor direto o usufrutuário. Este pode dar a coisa em locação, originando a posse direta do locatário. O primitivo possuidor direto passa a ser também possuidor indireto. Como veremos ao tratar da composse, a exemplo do condomínio, os compossuidores exercem o poder de fato sobre a coisa de forma horizontal, de acordo com o mesmo título e com as mesmas peculiaridades. No desdobramento de posse imediata e posse mediata, existe um plano vertical para a pluralidade de sujeitos; portanto, um plano hierárquico ligado à natureza do fato jurígeno. Na distinção entre possuidores e detentores, por outro lado, tendo em vista o âmbito mais restrito conferido pela lei aos detentores, existe também uma hierarquia entre os diversos sujeitos, levando-se em conta que neste último caso a “hierarquia manifesta-se de um modo absoluto ou com alta intensidade. Nenhum é o direito do detentor em relação à coisa confiada ao seu poder” (Lopes, 1964, v. 6:128). Como percebemos, as posses direta e indireta convivem harmoniosamente e não colidem. O possuidor direto, por ter poder de fato sobre a coisa, objeto da posse direta, tem posse real, efetiva (Alves, 1985, v. 2: 449). Como o possuidor indireto não tem a coisa em seu poder, a aparência por nós enfatizada não é tão manifesta. O possuidor indireto pode circunstancialmente estar colocado na posição de simples detentor (o nu-proprietário utiliza-se da coisa por ordem do usufrutuário, por exemplo), ou pode vir a obter do possuidor direto essa mesma característica (o nu-proprietário toma em locação a coisa objeto do usufruto); no entanto isso configura questões circunstanciais que não afetam a estrutura sob exame. Sempre será indispensável que examinemos a relação jurídica existente entre os dois sujeitos. Observe que a repulsa à invasão de sua esfera possessória, a ser oposta pelo possuidor direto contra o indireto, permanece apenas enquanto durar o título ou fato jurígeno autorizador do desdobramento da posse. Decorrido o prazo contratual do comodato, por exemplo, ou notificado o comodatário por prazo indeterminado para restituir a coisa, estará ele praticando esbulho contra o comodante. Nessa hipótese, o comodatário já se despiu do título que lhe permitia a posse direta perante aquele que detém a senhoria da coisa. Na mesma situação, coloca-se o inventariante, cujo cargo se extingue com a partilha dos bens da herança. Entre as hipóteses referidas, examinemos a situação da locação, para melhor entendimento. Consideramos possuidor direto o locatário, porque é ele quem se encontra imediatamente ligado à coisa, em seu uso e gozo. O locador ou proprietário manterá a posse indireta. Se o locador ameaçar a utilização plena da coisa entregue em locação (transgredindo, portanto, regra elementar e essencial do contrato de locação), o locatário pode defender-se contra o senhorio, utilizando-se dos remédios possessórios. Como aduz Pontes de Miranda (1971, v. 10:108), “a ação do locatário contra o locador é relação pessoal; mas, se ele tem posse e há ofensa por parte do locador, a ação que ele tem – como possuidor imediato – é a mesma que teria contra qualquer terceiro que lhe turbasse ou esbulhasse a posse”. Na vigente Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), entre as obrigações do locador elencadas no art. 22 encontra-se a de garantir, durante o tempo da locação, o uso pacífico do imóvel locado (inciso II). Esse dever do locador é inerente à locação. Contra terceiros, tanto o locador como 1 o locatário podem utilizar-se das ações possessórias. No entanto, em virtude da natureza da relação negocial, cumpre ao locatário, ainda que não se valha do remédio possessório, levar prontamente ao conhecimento do locador eventuais turbações de terceiros contra a coisa locada, para evitar perecimento de direitos e sujeitar-se a pagar indenização ao locador, sem prejuízo da rescisão do contrato por descumprimento de obrigação legal. Na lei inquilinária, essa obrigação do locatário vem descrita no art. 23, IV: “levar imediatamente ao conhecimento do locador o surgimento de qualquer dano ou defeito cuja reparação a este incumba, bem como as eventuais turbações de terceiros”. Mutatis mutandis, a mesma conjuntura aplica-se às outras relações negociais em que a natureza da posse se biparte em direta e indireta. Interessante notar, como aponta a doutrina, que essas modalidades não se harmonizam nem com a teoria de Savigny, nem com a de Jhering. Para Savigny, a posse dependeria da intenção, do animus de ser dono. Não existe esse animus para o locatário, usufrutuário, depositário etc. pela própria natureza da relação contratual envolvida. Pela teoria de Jhering, haveria necessidade de exterioridade do domínio, o que não ocorre com o locador, nu-proprietário, depositante, porque não se apresentam eles ostensivamente perante a sociedade como titulares do direito real. Quem efetivamente se mostra com os poderes aparentes de proprietário são efetivamente o locatário, o usufrutuário, o depositário etc. Aplica-se a regra de aparência à qual nos referimos no capítulo precedente. Desse modo, concluímos que o Direito brasileiro adotou solução de ordem técnica, sem recorrer diretamente às fonteshistóricas tradicionais, embora inspirado no Código alemão, para dirimir questões de difícil deslinde nessas relações negociais, não se preocupando com a filiação numa ou noutra corrente doutrinária acerca da posse. A maior dificuldade, como aponta José Carlos Moreira Alves (1985, v. 1:350), é caracterizar outras hipóteses de desdobramento de posse direta e indireta que não as expressas exemplificativamente na Lei de 1916. Para tal, será necessário o exame da natureza da posse e, se, no caso concreto, existe realmente um desdobramento, ou simples detenção. A esse respeito mencionamos, exemplificativamente, a natureza da posse do inventariante e dos herdeiros. É fato que essa criação jurídica é de notória praticidade e sua ausência em ordenamentos alienígenas dá margem a dificuldades. Essas duas modalidades podem efetivamente coexistir sem afetar os fundamentos estruturais da posse. A nosso ver, de certa forma, também não atenta frontalmente contra a teoria de Jhering, porque, 2 sem muito esforço, no seio da sociedade, aflora ao conhecimento do leigo a relação de locação, usufruto e depósito, por exemplo, levando-se em conta que tanto locador como nu-proprietário e depositante não se despojam completamente da relação de fato com a coisa entregue por certo tempo e por determinado fato jurígeno a um possuidor imediato. Por outro lado, não temos que confundir as hipóteses de posse direta ou indireta com a conceituação e compreensão de fâmulo da posse do art. 1.198, situação por nós já enfocada no Capítulo 3. O fâmulo é mero agente instrumental da posse, que exerce a situação de fato em nome de outrem ou por ordem deste. Nesse raciocínio, diz-se que a posse direta é a detenção interessada (Pontes, 1977:55). Ou seja, nessa relação jurídica da posse direta, não existe a degradação legal que a converteria em detenção. A própria lei reconhece a posse temporária do possuidor imediato. Daí então alguns qualificarem-na de posse derivada. Assim como pode o legislador degradar a situação de fato em mera detenção, pode elevar situação de aparente degradação a estado possessório. Em suma, pode o legislador ordenar e coordenar as situações de detenção e de posse direta e indireta sem que as descrições legais (tipificações) sejam exaustivas. Em matéria de posse, sempre se traçarão caminhos gerais a serem examinados nos casos sob exame. Finalmente, enfatizemos que, se não ocorrerem os fatos jurígenos (fatos típicos, tipificações) que dão origem ao desdobramento ora estudado, não temos que falar em posse direta ou indireta (mediata ou imediata), mas simplesmente em posse (posse plena), acolhida em nosso ordenamento na descrição do art. 1.196, pois, na verdade, somente existe a posse imediata. Nesse sentido, salvo expressa menção, falaremos aqui, como alhures, ao ser estudada a matéria, simplesmente em posse. Tendo em vista sua estrutura, a posse direta é, de maneira geral, uma posse derivada, como alguns a denominam, sendo limitada no tempo. Isto porque haverá sempre uma pretensão de entrega, a certo tempo, em favor do possuidor mediato quando, por exemplo, findo o comodato, a locação, o depósito etc. Convivem, contudo, ambas as posses, a direta ou imediata e a indireta ou mediata, não podendo um possuidor turbar a posse do outro, de acordo com sua respectiva natureza. Interessante anotar a redação sugerida no mencionado Projeto nº 6.960/2002, a qual menciona expressamente ao final do art. 1.197 que qualquer desses possuidores pode agir em defesa da posse, “inclusive por ato praticado pelo outro possuidor”. �.� COMPOSSE Duas ou mais pessoas podem possuir a mesma coisa, com vontade comum, ao mesmo tempo. Assim como existe o condomínio, existe a composse, pois esta é a manifestação de aparência da propriedade, conforme vimos. Essa composse pode ocorrer, como deflui do que já foi exposto, tanto na posse imediata como na posse mediata. Desse modo, podem coexistir dois ou mais locadores, dois ou mais locatários; dois ou mais comodantes, dois ou mais comodatários. Dois sujeitos podem ter a posse da mesma coisa como se condôminos fossem, caso se tratasse de propriedade. Essa composse pode ocorrer ainda que dela não tenham ciência os compossuidores, como ocorre na hipótese de herdeiro que se acredita único, quando de fato não o é. Ainda que ele não saiba da existência de outros herdeiros, todos têm a posse dos bens hereditários desde o momento da morte do autor da herança, por força do princípio da saisine mencionado. Assim, serão compossuidores do mesmo terreno todos que conjuntamente o tomaram. Nesse diapasão, são compossuidores os condôminos da parte indivisa, parte comum, do edifício de apartamentos, embora se possa aí divisar uma posse mediata, pois a posse direta ou imediata 3 será do condomínio, como entidade com personificação anômala (ver, a esse respeito, nosso Direito civil: parte geral, Cap. 14). Pontes de Miranda distingue esses exemplos como de posse simples, separando-os da composse de mão comum. Na composse simples, ou composse propriamente dita, cada sujeito tem o poder fático sobre a coisa, independentemente do outro consorte, que também o tem. São exemplos os aqui citados. Na composse de mão comum, nenhum dos sujeitos tem poder fático independente dos demais. É o caso da posse dos herdeiros, isto é, os herdeiros A, B e C são titulares em conjunto da posse e não cada herdeiro especificamente. Enfatiza o autor (1971, v. 10:112) que em regra a composse mediata é de mão comum. Quer se trate de posse simples ou de posse de mão comum, com relação a terceiros são irrelevantes as quotas- partes de cada um. Assim, se duas pessoas possuem um cavalo, ainda que uma delas detenha parcela mínima de seu valor, ambas podem defender sua posse contra terceiros. Nosso Código Civil não se referiu a quotas. Dispõe o art. 1.199: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. Assim, no caso dos herdeiros, enquanto não partilhada a herança, não pode pretender um deles exercer a posse exclusiva sobre bens hereditários, excluindo arbitrariamente os demais. Questão que, no entanto, não fica clara é o limite de proteção da posse de um dos compossuidores contra outro. Não nos resta dúvida de que um compossuidor poderá defender-se com remédios possessórios da turbação que outro consorte lhe intentar no âmbito do exercício de seu poder de fato. A situação concreta definirá a relação fática de cada compossuidor com a coisa. De qualquer modo, os compossuidores gozam, uns contra os outros, dos interditos possessórios, caso reciprocamente se lhes ameacem o exercício de seu âmbito possessório. “Haverá turbação de composse, se um compossuidor usar da coisa comum praticando atos contrários à sua destinação, ou se perturba o seu exercício normal por parte de outro compossuidor” (Pontes, 1977:66). Nesse raciocínio, a jurisprudência tem defendido a composse da companheira, em relação ao imóvel comum do casal e a seu companheiro. “Reintegração de posse – Composse – Concubina expulsa de sua residência pelo companheiro – Pretensão ao retorno e à 4 retirada do réu do imóvel – Inexistência de prova de posse exclusiva – Concessão da liminar assegurando-lhe o direito de morar no imóvel, sem excluir igual direito do compossuidor – Art. 488 do CC – Recurso Parcialmente provido para esse fim” (1º TACSP, Ap. 377.213/88, 1ª Câmara, Rel. Celso Bonilha). O vínculo concubinário ou de união estável, na nomenclatura adotada pela Constituição, confere ao companheiro os mesmos direitos possessórios do cônjuge legítimo, havendo união estável (RT 665/129). Por outro lado, se os compossuidores acordam em delimitar o terreno objeto de sua posse, ou a extensão fática do objeto da posse, passa cada um a exercer a posse exclusiva sobre o torrão escolhido, desaparecendo nesse caso a composse. Composse localizada é mera aparência de posse em comum. É posse exclusiva. Nada obsta que seja ajuizada ação declaratória para delimitaro âmbito da posse ou posse localizada. Nesse caso, distingue-se a posse pro diviso da posse pro indiviso. Se o possuidor tem posse delimitada sobre a coisa, sua posse é pro diviso, exercitada sobre parte certa e determinada. Se a posse em comum em terreno mostra-se indeterminada, sem fixação clara de limites, cuida-se de posse pro indiviso, a 5 verdadeira composse, “o compossuidor tem direito de nele instalar-se, desde que não exclua os demais. O Código Civil, no art. 623, nº I, assegura-lhe esse direito” (Monteiro, 1989:81). A posse pro indiviso é aquela em que os sujeitos possuem a mesma coisa por vontade comum. O verdadeiro estado de posse em comum pressupõe o estado de fato pelo qual diversos sujeitos possuem em comum a mesma coisa indivisa (Pontes, 1977:65). A composse extingue-se por vontade dos sujeitos que faz desaparecer o estado de indivisão ou quando cessa a causa que a determinou. Com a partilha, por exemplo, cada herdeiro recebe seu quinhão, desaparecendo a posse em comum. Da mesma forma, sendo dois os usufrutuários da mesma coisa, falecendo um deles, desaparece a composse se houver direito de acrescer estipulado (art. 740). 6 �.� POSSE JUSTA E INJUSTA. POSSE VIOLENTA, CLANDESTINA E PRECÁRIA O conceito de posse justa encontra-se definido de forma negativa na lei. “É justa a posse que não for violenta, clandestina, ou precária” (art. 1.200), (nec vim, nec clam, nec precario). A posse exige, em princípio, que sua origem não apresente vícios. Posse viciada é aquela cujo vício originário a torna ilícita. Como alerta Pontes de Miranda (1971, v. 10:120), no mundo fático não existe o justo ou o injusto. Estes são conceitos jurídicos. Procede injustamente aquele que atenta contra o Direito. A justiça ou injustiça da posse é conceito de exame objetivo. Não se confunde com a posse de boa ou de má- fé, que exigem exame subjetivo, ou seja, exame da vontade do agente. Para sabermos se uma posse é justa, não há necessidade de recorrer à análise da intenção da pessoa. A posse pode ser injusta e o possuidor ignorar o vício. A violência, clandestinidade ou precariedade não são da posse em si mesma porque somente a vítima pode alegá-la. Terceiros não têm legitimidade para arguir a injustiça da posse. A posse somente será viciada em relação a alguém. Quem invade terreno somente terá contra si o vício em relação ao justo possuidor; quem furta 7 ou rouba só tem posse viciada com relação ao dono da coisa surrupiada. Assim, como consequência, essa posse injusta, sendo relativa, pode ser protegida pelos interditos contra terceiros que a ameacem e pretendam-na para si. Vemos, pois, que não se trata de posse totalmente desamparada como à primeira vista pode parecer. Examina-se a injustiça da posse apenas em relação ao adversário. Cuida-se de mais um aspecto em que é protegida a aparência em prol da paz social (Monteiro, 1989:29). Essa posse justa é relativa aos envolvidos na relação jurídica. A posse pode ser justa com relação a um sujeito e ser injusta com relação a outro. Tudo dependerá da relação existente entre os envolvidos. Assim, “a posse oriunda de contrato não inscrito ou averbado só pode ser admitida como justa entre as próprias partes que se bastaram com o instrumento particular ou mesmo público, se não registrado; não assim quando oposta ao verdadeiro titular do domínio, regularmente transcrito” (TJSP – 6ª Câmara, Ap. nº 127.868- 1, Rel. Des. Ernani Paiva). Como a posse se transmite com os mesmos caracteres aos sucessores (arts. 1.206 e 1.207), estes sucedem como 8 possuidores justos ou injustos, de acordo com a natureza da posse de seus antecessores. O art. 1.212, no entanto, dispõe: “O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era”. Nessa hipótese, a natureza viciada da posse adquire caráter subjetivo. Ao contrário, se o possuidor adquire coisa não sabendo do esbulho, poderá valer-se dos remédios possessórios. Neste aspecto, o fato da posse se traduz em direito próximo ou semelhante à sequela. Quem detiver a coisa esbulhada, sabedor do vício, será parte legítima passiva para figurar na ação possessória. Cuida-se do cúmplice do esbulho. Assim, a ação poderá ser intentada contra o receptador de coisa furtada ou roubada e todo aquele que recebeu coisa imóvel sabedor do vício na pessoa de quem lhe transmitiu. Nada impede que a ação de esbulho seja cumulada com o pedido de perdas e danos, como vimos. Pode o autor optar pela ação singela de indenização, na qual pede o preço da coisa usurpada (valor do dano), com eventuais lucros cessantes. A ação possessória pode ser intentada contra os que praticaram o esbulho ou contra as pessoas que os representam ou sucedem. A impossibilidade de identificar os réus, ou todos os réus, não pode ser óbice para a propositura. Se há dezenas, centenas de invasores, torna-se impossível identificá-los todos. Deve o autor nominar os que conseguir, ou os chefes da invasão, informando o juiz a existência de uma tribo ou horda no local, conjunto de pessoas que atualmente invade a propriedade privada de forma institucionalizada, sob o beneplácito e a condescendência ativa dos governantes. Neste artigo, o Código indica que mesmo o terceiro que recebeu a posse viciada pode figurar no polo passivo. A origem da posse deve ser viciada, devendo o autor evidenciar a má-fé nesse aspecto. Esses vícios são, portanto, relativos. Somente as vítimas podem argui-los. Tão só a posse justa, com a relatividade enfocada, é amparada pelos interditos. A regra geral a ser observada é não merecer a posse injusta proteção. Os efeitos da posse injusta são os da posse de má-fé para os fins de percepção dos frutos e indenização por benfeitorias (arts. 1.214 ss.) a partir do momento em que o possuidor tem consciência da ilicitude de sua posse. Posse violenta é aquela obtida pela força ou violência no início de seu exercício. Pelo oposto, a posse obtida com tranquilidade, e assim mantida no curso de seu exercício, se diz mansa e pacífica. Não é necessário que a violência seja exercida contra o possuidor para macular a posse: basta que se trate de fato ou ato ofensivo, sem permissão do possuidor ou seu fâmulo. Entende-se como violência tanto a vis compulsiva (coação moral) como a vis absoluta (coação física), isto é, não perde o caráter de violenta a posse obtida por vis que não inibe totalmente a vontade do atingido. Embora o conceito de posse injusta seja objetivo, a posse violenta, ao menos em sua origem, vem imbuída da mácula da má-fé. Ocorre posse violenta se tomamos a coisa móvel das mãos de outrem contra sua vontade. Há violência na posse do imóvel se nele adentramos, expulsando o possuidor ou quem lá se encontre, ou impedimos o possuidor de ali ingressar ou retornar. Destarte, existe também violência quando alguém invade propriedade na qual não encontrou pessoa alguma, violência esta que se concretiza a partir do momento em que o possuidor despojado seja impedido de nela reentrar (Lopes, 1964, v. 6:136). Suponhamos, nesse caso, a situação de alguém que ingressa em imóvel ou se apossa de coisa na ausência do dono ou possuidor, sem resistência. Quando, porém, retorna o verus dominus, o ocupante opõe-se pela força a seu reingresso. Concluímos, portanto, que existe posse violenta quando esta é obtida ou mantida por esse meio. Essa violência pode partir do próprio agente ou de terceiros que atuam por sua ordem e subordinação. Da mesma forma, a violência pode atingir o possuidor ou quem detém a coisa em nome dele. A origem violenta vicia a posse, conquanto tenha efetiva ou aparentemente cessado posteriormente. A violência é dirigida contra o possuidor anterior, contra pessoas. Não é a violência praticada contra a coisa. Não atenta contra posse quem rompe obstáculos para ingressar em imóvel abandonado, não possuído e por ninguém reclamado, ou nas mesmas condições se apossa de coisa móvel de ninguém ou abandonada, porque nessas hipóteses não existe posse anterior. Do mesmo modo,não praticamos ato contrário ao direito se rompemos cadeado de porta de coisa da qual temos posse. A violência citada na lei para a situação do fato da posse é aquela tipificadora da coação como vício dos negócios jurídicos em geral, cujos princípios são aqui de plena aplicação. Pode caracterizar-se por atos materiais ou morais. A chantagem é também violência moral. Quando alguém firma contrato de venda de um imóvel sob ameaças e em seguida entrega a posse, é elementar presumir que cumpre o pacto cedendo às mesmas ameaças que o obrigaram a firmá-lo (Borda, 1984, v. 1:74). Por outro lado, pode ocorrer que a avença tenha sido firmada sob violência, mas a entrega de posse não, porque o outorgante se convenceu posteriormente da conveniência do negócio. Nessa hipótese, não haverá vício na posse. Posse clandestina é aquela obtida à socapa, às escondidas, com subterfúgios, estratagemas, manhas, artimanhas e ardis. Quem tem posse justa não tem necessidade de ocultá-la. É no momento da aquisição da posse que se avalia a clandestinidade. Não é clandestina a posse obtida com publicidade e posteriormente ocultada. A inventividade humana para transgredir o justo é infinita. Examina-se o estado de clandestinidade no caso concreto. Não é necessária a intenção de esconder ou camuflar, porque o conceito é objetivo, como vimos. Para a clandestinidade da posse, é bastante que o possuidor esbulhado não o saiba: “a posse clandestina se estabelece às caladas, às ocultas daquele que tem interesse em preservá--la” (Pontes, 1977:69). É o ato de possuir clandestinamente que vicia a posse. Posse precária é aquela que se situa em gradação inferior à posse propriamente dita. O possuidor precário usualmente está comprometido a devolver a coisa após certo tempo. Há obrigação de restituição. A coisa é entregue ao agente com base na confiança. O adquirente de coisa ainda não integralmente paga pode receber sua posse precária em confiança, devendo devolvê-la se não honrar o preço e solver a obrigação. A precariedade resulta de ato volitivo de quem concede posse nesse nível. No entanto, a precariedade não se presume. Se não houver expressa menção ou não decorrer o fenômeno de circunstâncias usuais, a posse não assume o caráter de precariedade. É necessário que o outorgado da posse concorde com a cláusula de poder a concessão ser revogada a qualquer tempo, tornando-se precarista da posse. Ordinariamente, a posse imediata é precária. Como repousa na confiança, a outorga concedida ao precarista pode ser suprimida a qualquer tempo, surgindo a obrigação de devolver a coisa. O vício dá-se a partir do momento da recusa em devolver. Nesse aspecto, distingue- se da violência e da clandestinidade, vícios que partem da origem da relação da coisa com o possuidor viciado. “O vício dessa posse dá-se a partir do momento em que o possuidor precarista se recusa a atender à revogação da situação possessória que lhe foi conferida, pois a autorização inicialmente concedida pode ser a qualquer momento retirada. Tal é o característico da posse precária” (Lopes, 1964, v. 6:137). É o que sucede quando cessa o comodato, a locação e o depósito, por exemplo. É precária também a posse do empregado com relação a veículos, máquinas, instrumentos, mostruários etc., que recebe em razão do desempenho da relação de trabalho, quando não mera detenção: “Reintegração de posse – Bem móvel – Posse e propriedade de motocicleta decorrente de contrato de trabalho – Empregado que não restitui o bem findo o vínculo empregatício, sob fundamento de que o tinha adquirido – Ausência de prova a respeito – Art. 497 do Código Civil – Posse precária configurada – esbulho demonstrado – Reintegratória procedente” (1º TACSP, Ap. 481.394/93, 1ª Câmara, Rel. Elliot Akel). Essa posse precária não se confunde com a situação descrita no art. 1.208: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância, assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência, ou clandestinidade”. Na posse precária, há sempre um ato de outorga por parte de um possuidor a outro. Nos atos de tolerância ou permissão citados no dispositivo, essa relação de ato ou negócio jurídico não ocorre. �.� POSSE DE BOA-FÉ E DE MÁ-FÉ. JUSTO TÍTULO Enfatizemos, de plano, que o interesse para a conceituação de posse de boa-fé diz respeito a dois fenômenos, quais sejam, a aquisição da coisa por usucapião e a questão dos frutos e benfeitorias da coisa possuída. Quando discutimos esses dois aspectos, a tipificação de posse de boa ou má-fé tem vital importância. Para a defesa da posse não é essencial a boa- fé, basta que seja uma posse nem violenta, nem precária, nem clandestina (Lopes, 1964, v. 6:139). O art. 1.201, em seu caput, já por nós mencionado anteriormente, estatui: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa”. Completa o art. 1.202: “A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”. Embora existam críticos desses dispositivos que sustentam que o legislador criou aspecto objetivo à conceituação de boa-fé na posse, as dicções legais fazem o caso concreto depender sempre do exame da vontade do possuidor. Nesses termos, temos que examinar, no caso sob testilha, se o possuidor ignora o vício da posse. Em seguida, concluiremos cessada a boa-fé no momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Ora, a ignorância é um estado mental. Para fins de anulação do negócio jurídico, equipara-se ao erro como vício de vontade (ver o título da Seção I do Capítulo que encabeça os defeitos dos atos jurídicos, a partir do art. 138. Desse modo, não se afasta a necessidade do exame do psiquismo do agente para concluir por sua boa ou má-fé. Essa boa-fé na posse não interfere por si só no aspecto dominial e na ação petitória. “A justiça ou injustiça da posse determina-se com base em critérios objetivos, diversamente do que ocorre com a posse de boa ou de má-fé que tem em vista elementos subjetivos, pois decorre da convicção do possuidor. O reconhecimento de injustiça da posse, levando à procedência da reivindicatória, não obsta, por si, tenha-se presente a boa-fé” (STJ, RE nº 9.095/SP, Rel. Min. Cláudio dos Santos). Destarte, ao contrário de, por exemplo, Darcy Bessone (1988:270), que critica o legislador por ter o Código feito depender a tipificação da boa-fé de circunstâncias imprecisas, o critério é essencial para permitir ao julgador analisar a vontade do agente em cada caso concreto. Poderia a lei ter colocado como marco divisor da boa e da má-fé tão somente a citação, como faz a lei italiana. Mas é evidente que nessa hipótese restariam, antes de qualquer procedimento judicial, situações de suma iniquidade, deslocando-se a suposta imprecisão criticada em nosso ordenamento para a insegurança das relações possessórias. Haverá posse de má-fé quando “o possuidor está convencido de que sua posse não tem legitimidade jurídica, e nada obstante, nela se mantém” (Pontes, 1977:70). No caso em exame, o julgador avaliará as circunstâncias referidas na lei, concluindo que na espécie reunia o agente, tomando-se como padrão o homem médio, condições de conhecer a ilegitimidade de sua relação de fato com a coisa. O critério é a subjetividade. Não bastará, contudo, alegar apenas ausência de ciência de ilicitude, atitude passiva do sujeito. A consciência de possuir legitimamente deve vir cercada de todas as cautelas e investigações idôneas para caracterizar o fato da posse. Há necessidade, portanto, de um aspecto dinâmico nessa ciência de boa-fé. Não basta ao possuidor assentar- se sobre um terreno que se encontra desocupado, sem investigar se existe dono ou alguém de melhor posse. Tão somente a atitude passiva do agente não pode caracterizar boa-fé, porque é curial que ao homem médio incumbe verificar ordinariamente se a coisa tem outro titular.O estado de boa-fé requer ausência de culpa, devendo, pois, o possuidor empregar todos os meios necessários, a serem examinados no caso concreto, para certificar-se da legitimidade de sua posse. A situação poderá exigir o exame da gradação de culpa, equivalendo a culpa grave ao dolo. Aplicam-se ao conceito de ignorância os princípios do erro como vício dos negócios jurídicos (ver nosso estudo sobre o tema em Direito civil: parte geral, Cap. 22). De igual maneira, o aspecto da escusabilidade do erro, no tocante ao erro de Direito. Evidente que o erro de fato produz uma situação de boa-fé. A problemática levanta-se em razão do princípio pelo qual a ninguém é lícito desconhecer a lei. Dispõe o art. 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, atual Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, Lei 12.376 de 30-12-2010: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Assim como defendemos na obra de teoria geral, em matéria de posse não se configurará a posse de boa-fé quando a ignorância derivar de circunstâncias facilmente perceptíveis pelo comum dos homens. Também ali concluímos que, em determinadas circunstâncias, o erro (e também a ignorância) de direito, de lei não cogente, pode caracterizar posse de boa-fé, enquanto não alertado ou não ficar ciente o possuidor. “Conclui-se, portanto, que quem é levado a falso entendimento, por ignorância de lei não cogente, não a está desobedecendo”. Logo, em nossa sistemática, “nada impede que se alegue erro de direito se seu reconhecimento não ferir norma de ordem pública ou cogente e servir para demonstrar descompasso entre a vontade real do declarante e a vontade manifestada”. Adapte-se o que foi dito a respeito dos negócios jurídicos à consciência; portanto, à vontade do agente, no fato da posse. Darcy Bessone (1988:270), ao analisar as duas correntes antagônicas, uma admitindo a ignorância ou erro de direito e outra não, conclui por nosso entendimento: “A boa-fé pertence ao terreno ético, e, por isso, não se pode levar a tal rigor o princípio segundo o qual a ignorância da lei não pode ser alegada. Essa corrente considera, pois, que, para efeito de admitir-se a boa-fé, pode-se invocar tanto o erro de fato como o erro de direito”.9 Portanto, nos termos do art. 1.202, não apenas a citação, como fato objetivo, pode fazer cessar a boa-fé, mas também opera o mesmo efeito qualquer circunstância anterior ao processo que faça presumir a consciência da ilicitude por parte do sujeito. As circunstâncias podem ser tão notórias que a definição da má-fé independe de procedimento. A citação, por outro lado, não transforma sistematicamente a posse de boa em má-fé. “A citação, com o conhecimento que passa a ter da demanda o possuidor, marca momento em que, se não cessou antes a boa-fé pode cessar para o vencido” (Pontes de Miranda, 1971, v. 10:135). Conquanto citado, o sujeito pode manter a convicção de que possui legitimamente. Desde a citação o possuidor de má-fé responde pela entrega da coisa e pelos frutos em decorrência de princípios processuais e obrigacionais. Isto, é claro, para o vencido na ação. A sentença retroage à época da citação. “Assim, mesmo que a má-fé não se caracterize no momento em que é demandado, a posse adquire essa qualidade para o efeito da restituição dos frutos” (Gomes, 1983:40). Por outro lado, a contestação, dando ciência ao possuidor, autor da demanda, da invalidade de sua posse, converte-a em posse de má-fé, segundo a doutrina majoritária (Monteiro, 1989:30). Com a contestação, o possuidor passa a ter ciência dos vícios que maculam sua 10 posse. Cuida-se de aplicação do texto legal que manda analisar as circunstâncias que a cercam (art. 1.202). Postos esses princípios, não há dificuldade em conceituarmos a posse de má-fé: é aquela na qual o possuidor sabe ter a coisa consigo indevidamente; tem ciência do vício ou do obstáculo impeditivo. “É de má-fé a posse daquele que sabe que sua posse é viciosa; ou o deve saber, por não ter título de aquisição, nem presunção dele; ou ser este manifestamente falso, ou por outras circunstâncias” (Rodrigues, 1981:294). Nosso ordenamento faz presumir a boa-fé decorrente de justo título. Dispõe o parágrafo único do art. 1.201: “O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção”. Justo título é empregado nesse dispositivo não como documento ou instrumento, pois esse é o sentido mais usual, mas como fato gerador do qual a posse deriva. O exame desse fato jurígeno diz respeito à aptidão para gerar efeitos possessórios. Assim, por exemplo, a jurisprudência tem sufragado o correto entendimento de que a companheira tem justo título na posse de bens comuns do casal, quando do falecimento do companheiro: “Reintegração de posse – Bem Móvel – Ajuizamento por espólio contra concubina do de cujus – aquisição na constância do concubinato – possibilidade de demonstração, pela concubina, da vida em comum more uxorio há mais de dez anos, em função do (de) que tinha posse a justo título” (JTASP 115/129). O justo título configura estado de aparência que permite concluir estar o sujeito gozando de boa posse. Lembremos do caso do herdeiro aparente cujo título e ignorância da existência de outros herdeiros faz presumir ser ele um justo possuidor. Destarte, um título defeituoso faz presumir a boa-fé até que circunstâncias demonstrem o contrário. “Justo título é o título hábil para transferir o domínio e que realmente o transferiria, se emanado do verdadeiro proprietário. Mas essa presunção cede ante prova em contrário” (Monteiro, 1989:30). Alguém, por exemplo, adquire coisa de menor, não sabendo dessa incapacidade; o sujeito apresenta-se como representante, com procuração falsa etc. Justo título é tanto aquele existente, mas defeituoso, como aquele inexistente que o possuidor reputa como tal. O Código argentino refere-se a “título putativo” nessas circunstâncias (art. 2.357). A esse respeito, foi decidido que colonos, ocupantes de dependência de imóvel rural autorizados pelo proprietário, têm posse com justo título: “Reintegração de posse – Área ocupada na condição de colonos – Posse derivada de justo título equiparado ao comodato – Possibilidade do ajuizamento da possessória dependente de anterior resilição ou rescisão do ajuste – Ação procedente” (1º TACSP, Ap. 417.438, 3ª Câmara, Rel. Araújo Cintra). O fato gerador da posse, portanto, definirá em cada caso o justo título. Orlando Gomes (1983:38) qualifica a posse com justo título de posse de boa-fé presumida, diferenciando-a daquela que denomina posse de boa-fé real, que independe do exame do chamado justo título, decorrente da simples convicção do possuidor, como aqui expusemos. Nem sempre se confundem os conceitos de posse justa e posse de boa-fé. Um possuidor de boa-fé pode ter posse injusta, se adquiriu a coisa de quem, por sua vez, a obteve com violência, clandestinidade e precariedade. Embora esteja de boa-fé o adquirente, essa posse é injusta porque apresenta um dos vícios originários já examinados. Também é perfeitamente possível que alguém possua de má-fé, sem que tenha obtido a posse de forma violenta, clandestina ou precária. �.� PRINCÍPIO DE CONTINUIDADE DO CARÁTER DA POSSE Dispõe o art. 1.203: “Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. Com isso, uma posse de origem violenta mantém o vício. Do mesmo modo, é mantida a posse de boa ou de má- fé, direta ou indireta, a título de propriedade ou de outro Direito Real. Daí a máxima de origem romana segundo a qual ninguém, por si só, pode mudar a causa ou o título de sua posse (nemo si ipsi causam possessionis mutare potest). A simples mudança de vontade é incapaz de mudar a natureza da posse. O possuidor precário sempre o será, salvo expressa concordância do possuidor pleno. Por isso, é admitida prova em contrário. O locatário somente poderá possuir como proprietário se adquirir a coisa do senhorio. A isso parte dadoutrina denomina de interversão do título (Bessone, 1988:271). Essa alteração do título da posse pode ocorrer por negócio bilateral. Discute-se se pode ocorrer por ato unilateral. No contrato de compra da coisa locada, o locatário inverte seu título de posse por contrato. Se o depositário se recusa a devolver a coisa, argumentando ter outro título para possuí-la, o título da posse poderia, em 11 tese, ser modificado por ato unilateral. Nesta última hipótese, porém, a simples vontade do possuidor não tem o condão de modificar a natureza da posse. O que modificaria sua natureza seria ato material exteriorizado em outra relação de fato com a coisa. O art. 1.207 deve ser visto em consonância com o que aqui discutimos. Estampa que “o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”. O sucessor a título universal não pode alterar a natureza de sua posse. Se o autor da herança transmite ao herdeiro posse injusta, esta continuará necessariamente com o vício. O sucessor singular tem a prerrogativa de escolher unir sua posse à do antecessor ou não. Esse aspecto ganha importância na usucapião. Se o sucessor recebe posse injusta, ser-lhe-á conveniente iniciar e defender a existência de novo período possessório para livrar-se da mácula da posse anterior. 12 �.� POSSE AD INTERDICTA E POSSE AD USUCAPIONEM. POSSE NOVA E POSSE VELHA Toda posse passível de ser defendida pelas ações possessórias é denominada ad interdicta, isto é, a que possibilita a utilização dos interditos para repelir ameaça, mantê-la ou recuperá-la. Na verdade, toda situação de fato definida como posse merece, em princípio, proteção possessória. Vem à baila tudo o que dissemos a respeito da posse justa e da posse de boa-fé. Mesmo o possuidor injusto ou de má-fé com relação a determinado sujeito poderá defender a posse contra terceiros, em relação aos quais a exerce sem qualquer vício. Mais adiante, nesta obra, dedicaremos estudo a essas modalidades de ações possessórias. Nesse sentido, o art. 507 do antigo Código Civil, que dispunha também da posse nova e da posse velha: “Na posse de menos de ano e dia, nenhum possuidor será manutenido, ou reintegrado judicialmente, senão contra os que não tiverem melhor posse”. Vimos que essa disposição persistirá, no corrente ordenamento, por força do estatuto processual (art. 558). Um dos principais efeitos da posse é a possibilidade de, com ela, alcançar-se a propriedade pelo decurso de certo tempo. A posse hábil para isso denomina-se ad usucapionem. Quando do capítulo específico da usucapião, estudaremos seus requisitos. Como veremos, até mesmo a posse sem boa-fé pode gerar a propriedade. Já nos referimos ao prazo de ano e dia, de origem histórica obscura, na posse e a sua importância. À questão voltaremos ao tratar dos remédios possessórios. Contudo, enfatizemos por ora a proteção conferida pelo ordenamento a quem tem posse de mais de ano e dia. O art. 562 do CPC confere a possibilidade de concessão de liminar initio litis ao possuidor despojado ou ameaçado em sua posse quando intentada a ação dentro de ano e dia da turbação ou esbulho. Passado esse prazo, o procedimento será o comum, não perdendo, contudo, o caráter possessório. Cuida-se da posse nova, de menos de ano e dia, e posse velha, de mais de ano e dia. Mostra-se obscura na origem dos tempos a fixação desse marco divisor temporal. Há notícia de que o prazo estaria relacionado com o plantio e as colheitas, que geralmente levam um ano (Bessone, 1988:263). O Código Civil de 1916 já estampava em seu art. 508: “Se a posse for de mais de ano e dia, o possuidor será mantido sumariamente, até ser convencido pelos meios ordinários”. O parágrafo único do aqui citado art. 507 do Código antigo fornece os elementos para se concluir por quem tem melhor posse, o que acentua a relatividade do enfoque da posse diante de um ou outro sujeito: “Entende-se melhor a posse que se fundar em justo título; na falta de título, ou sendo os títulos iguais, a mais antiga; se da mesma data, a posse atual. Mas se todas forem duvidosas, será sequestrada a coisa, enquanto se não apurar a quem toque”. Esses aspectos circunstanciais não são mais enunciados no ordenamento de 2002. No caso concreto, caberá ao juiz avaliar a melhor posse, e esse enunciado do ordenamento passado pode servir de ponto de partida. O sequestro, mencionado na antiga lei, é modalidade de processo cautelar consistente na ordem de apreensão do bem. A noção processual deve persistir no presente ordenamento, dependendo, como sempre, do convencimento do juiz. Como examinamos, a proteção possessória por si já é provisória, porque sempre se poderá discutir o domínio da coisa no juízo petitório. A possibilidade de liminar garantidora do estado de fato no estatuto processual é medida provisória dentro do processo possessório. Ela deverá perder eficácia na improcedência do pedido possessório. É mantido, no início da lide, o estado de fato aparentemente mais viável em favor da paz social. Findo o processo possessório, mantém-se o estado de fato emergente das provas do processo, segundo a sentença. Recorrer-se-á posteriormente ao juízo petitório, se necessário, oportuno e conveniente para qualquer das partes da lide possessória, autor ou réu, vencedor ou vencido. Lembremo-nos do que foi dito a respeito da diferença entre o juízo possessório e o petitório. Na ação possessória, ainda que se torne inviável a liminar pelo transcurso do prazo de ano e dia, o âmbito da ação, por disposição expressa do legislador, será possessório, não sendo inviável até mesmo a concessão de tutela de urgência, denominada anteriormente de tutela antecipada, com contornos similares, porém com os requisitos estritos do art. 300 do CPC. Nem sempre será útil à parte recorrer ao rito ordinário se houver posse velha. Poderá ser mais conveniente recorrer à ação reivindicatória. “Reintegração de posse – Imóvel – Propriedade e posse indireta da autora comprovados – Ré desmunida de qualquer título ou documento ancorador de justa posse – Posse clandestina e de má-fé – Esbulho caracterizado – Reintegração determinada – Requisitos do art. 561 do CPC evidenciados – Súmula nº 487 do STF – Procedência mantida – Recurso improvido” (TJSP – AC 1079219-12.2018.8.26.0100, 28-6-2019, Rel. Correia Lima). “Reintegração de posse – Imóvel – Domínio e posse indireta da autora comprovados – Réu desmunido de qualquer título ou documento ancorador de justa posse – Ocupação do imóvel, ademais, por mera permissão ou tolerância em razão da relação de parentesco havida entre o comodante e o 1 comodatário – Art. 1.208 do Código Civil – Mera detenção que não induz posse – Esbulho caracterizado – Reintegração determinada – Requisitos do art. 561 do CPC evidenciados – Súmula nº 487 do STF – Procedência parcial mantida – Recurso improvido” (TJSP – Ap 1011701-84.2016.8.26.0161, 3- 5-2018, Rel. Correia Lima). “Agravo interno no agravo em recurso especial – Processual Civil – Ação de reintegração de posse – Cabimento – Posse Indireta – Acórdão recorrido e entendimento desta corte – Consonância – Reexame de provas – Impossibilidade – Súmula nº 7 /STJ – 1- O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que é cabível a ação de reintegração de posse quando o autor comprova o exercício de posse indireta adquirida mediante constituto possessório. 2- Rever a conclusão do aresto impugnado acerca da existência de posse indireta e de esbulho possessório encontra óbice, no caso concreto, na Súmula nº 7 /STJ. 3- Segundo jurisprudência pacífica, a incidência da Súmula nº 7 /STJ obsta o seguimento do recurso por qualquer das alíneas do permissivo constitucional. 4- Agravo interno não provido” (STJ – AGInt-AG- REsp 1.081.186 – (2017/0076936-6), 28-9-2017, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). “Agravo interno em recurso especial – Ação Rescisória – Usucapião – Requisitos – Ausência – Imóvel financiado pelo SFH – Negativa de prestação jurisdicional– Art. 535 do CPC/1973 – Não Ocorrência – Reexame de provas – Inviabilidade – Súmula nº 7/STJ – Art. 485, inciso V, do CPC/1973 – Violação frontal e direta – Não ocorrência – 1- Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 2- A reforma do julgado demandaria o reexame do contexto fático-probatório, procedimento vedado na estreita via do recurso especial, a teor da Súmula nº 7/STJ. 3- Segundo a jurisprudência desta Corte, a posse decorrente de contrato de promessa de compra e venda de imóvel por ser incompatível com o animus domini, em regra, não ampara a pretensão à aquisição por usucapião. 4- A viabilidade da ação rescisória por ofensa de literal disposição de lei pressupõe violação frontal e direta contra a literalidade da norma jurídica, sendo inviável, nessa seara, a reapreciação das provas produzidas ou a análise acerca da correção da interpretação dessas provas pelo acórdão rescindendo. 5- Agravo interno não provido” (STJ – AGInt-REsp 1.520.297 – (2015/0054606-4), 1-9-2016, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). “Apelação – Usucapião especial urbana – Suficiência da prova documental e oral no sentido de afastar os requisitos da usucapião, em especial o animus domini – Decurso de prazo ocorrido durante a tramitação do processo que não tem o condão de alterar o caráter precário da posse. Decisão Mantida. Aplicação do artigo 252 do Regimento Interno do TJSP. Recurso Improvido” (TJSP – Ap. 0017873-53.2002.8.26.0451, 11-2-2015, Rel. Egidio Giacoia). “Apelação. Ação de extinção de comodato cumulada com reintegração de posse. Sentença de procedência. – 1 – Cuidando-se de posse decorrente de comodato verbal, não faz jus o réu ao reconhecimento da usucapião, porque o comodatário não exerce atos de posse com ‘animus domini’. Correta a sentença ao não acolher a exceção de usucapião. 2 – Benfeitorias e acessões realizadas antes da notificação decorrem da posse de boa-fé e merecem, além de indenização, ser amparadas pelo direito de retenção. Embora o art. 1.219 do CC/2002 refira-se apenas às benfeitorias, aplica-se também às acessões. Enunciado nº 81 do CJF. Direito de retenção do imóvel pelo réu, possuidor de boa-fé, reconhecido. Princípio da vedação ao enriquecimento sem causa. Recurso, no tema, provido. Sentença reformada. Recurso provido em parte” (TJSP – Ap. 0015418-74.2011.8.26.0007, 25-8-2014, Rel. Sergio Gomes). Dispõe o § 868 do BGB: “Se alguém possui uma coisa como usufrutuário, credor pignoratício, locatário, arrendatário, depositário ou em virtude de uma relação análoga, por causa da qual ele está temporariamente autorizado ou obrigado a exercer a posse em face de terceiro, é este também possuidor (posse mediata)”. posse indireta dos comodantes, a qual lhes confere o direito de usucapir o imóvel dado em comodato. 2- O decurso do prazo quinzenário em relação à prescrição aquisitiva em favor dos autores não foi em nenhum momento interrompido, tornando indiscutível o reconhecimento do direito reclamado. 3- Logo, restando comprovado que a posse ad usucapionem dos autores se prolongou por prazo bem superior ao estabelecido em lei, consolidado se encontra definitivamente o direito dominial em favor destes. Provimento do primeiro recurso. Não conhecimento do segundo” (TJRJ – AC 0004394- 30.2011.8.19.0044, 10-7-2017, Rel. José Carlos Maldonado de Carvalho). “Agravo regimental – Agravo em recurso especial – Embargos de terceiro – Ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil – Não demonstração – Enunciado 284 da súmula do STF – Apreciação de prova – Princípio do livre convencimento – Art. 131 do CPC – Penhora de safra de arroz – Verificação de composse – Reexame de matéria fática da lide – Súmula 7/STJ – Sucumbência – Não provimento – 1- Ao apontar ofensa aos arts. 535 do CPC, a agravante não esclareceu os motivos de reforma do julgado proferido pela Corte de origem, o que faz incidir o Enunciado 284 da Súmula do STF. 2- Se as questões trazidas à discussão foram dirimidas, pelo Tribunal de origem, de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões deve ser afastada a alegada violação ao art. 535 do CPC. 3- Como destinatário final da prova, cabe ao magistrado, 2 respeitando os limites adotados pelo Código de Processo Civil, a interpretação da produção probatória, necessária à formação do seu convencimento. 4- Inviável o recurso especial cuja análise impõe reexame do contexto fático-probatório da lide (Súmula 7 do STJ). 5- A sucumbência recíproca ou em parte mínima, estabelecida pelo Tribunal de origem, envolve contexto fático-probatório, cuja análise e revisão revelam-se interditadas a esta Corte Superior, em face do óbice contido na Súmula 7 do STJ. Precedentes. 6- Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ – AgRg-AG-REsp. 568.285 – (2014/0208662- 7), 12-2-2016, Relª Minª Maria Isabel Gallotti). “Alienação de coisa comum – Pretensão contra ex-cônjuge de extinção de composse sobre imóvel em razão de partilha na proporção de 50%, decretada em sentença homologatória de divórcio. Sentença de procedência. Apela o réu sustentando impossibilidade jurídica do pedido por ausência de condomínio; Falta de registro matrícula; Necessidade de indenização por benfeitorias e impostos pagos. Descabimento. Inexistência de impedimento à alienação judicial de direitos possessórios. Verdadeira forma de cessão forçada, por aplicação analógica dos dispositivos que disciplinam a extinção de condomínio, e se sustentam no princípio de que ninguém é obrigado a viver em comunhão. Indenização por benfeitorias e impostos pagos durante o período de fruição exclusiva. Ausência de apresentação de reconvenção para discussão da temática. Falta de especificação do estado e custo das melhorias. Recurso improvido” (TJSP – Ap. 0078869-25.2010.8.26.0002, 4- 9-2015, Rel. James Siano). “Apelação. Ação de reintegração na posse de bem imóvel movida por espólio em face de um dos coerdeiros. Hipótese de composse. Sentença de improcedência. Inconformismo do espólio. Sem razão. Imóvel transmitido por herança. Inequívoco o direito possessório conjunto de todos os herdeiros sobre o bem. Não havendo notícia de partilha dos bens deixados pelo de cujus, todos os herdeiros permanecem como condôminos e 3 compossuidores do imóvel. Inteligência do artigo 1.199 do Código Civil. Esbulho não caracterizado. Sentença mantida. Gratuidade da justiça concedida. Recurso desprovido, com observação” (TJSP – Ap 1028608-51.2018.8.26.0554, 10-10- 2022, Rel. Roberto Maia). “Bem comum – Propositura da ação para extinguir condomínio sobre bem que ficou com ambos os litigantes após o divórcio, tendo a requerida permanecido no local como residência – Inadequação da via eleita – Não configuração – Possibilidade de extinguir um condomínio de direitos sobre o bem, ainda que se fale apenas em composse em razão de os litigantes não constarem na matrícula do imóvel, uma vez que se trata de construção realizada por eles em terreno dos genitores do autor – Titularidade conjunta de direitos que pode ser extinta, sem persistir por tempo indefinido - Utilização da coisa exclusivamente por um dos titulares – Fixação de alugueres – Necessidade – Valores devidos a partir da citação, que é o momento em que a parte adversa possui conhecimento da pretensão do autor – Recurso improvido”. (TJSP – Ap 1009490- 24.2020.8.26.0068, 20-8-2021, Rel. Alvaro Passos). “Coisa Comum – Composse – Possibilidade de extinção, como se condomínio fosse, desde que haja descrição mínima da área, de seus limites e da natureza da posse a fim de não prejudicar terceiros. Hipótese dos autos a não indicar a titularidade do respectivo direito e muito menos descrever minimamente o bem a ser alienado judicialmente. Recurso provido para julgar improcedente a pretensão”(TJSP – AC 1007362-14.2017.8.26.0625, 28-3-2019, Rel. Coelho Mendes). “Agravo interno no agravo em Recurso Especial – Ação de reintegraçãode posse – Requisitos reconhecidos pela instância ordinária – Modificação que esbarra no óbice da súmula 7 do STJ – Agravo desprovido – 1- O eg. Tribunal de origem, mediante análise soberana do contexto fático-probatório dos autos, concluiu pela ausência de composse no imóvel rural discutido, bem como pela presença de todos os requisitos para autorizar o deferimento da proteção possessória. A modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido demandaria o revolvimento de suporte fático-probatório dos autos, o que é inviável em sede de recurso especial, a teor da Súmula 7 deste Tribunal. 2- Agravo interno a que se nega provimento” (STJ – AGInt-AG-REsp 1.275.715 – (2018/0081969-8), 10-8-2018, Rel. Min. Lázaro Guimarães). “Acórdão Apelação – Ação de usucapião extraordinário – Requisitos – Art. 1.238 do Código Civil/2002 – Comodato verbal celebrado entre irmãos – 1- O exercício de posse direta pelos comodatários não exclui a “Apelação cível. Ação de interdito proibitório. (1) requisitos ausentes. Fatos narrados pelos autores que claramente não configuram ameaça à posse. Réus que foram impedidos pelos autores de entrar no imóvel. Réus que, então, ajuizaram demanda indenizatória e procuraram vender sua quota-parte do imóvel para terceiros. Ajuizamento de demanda que é mero exercício do direito constitucional de ação. Meio legítimo para se tutelar pretensões conflituosas. Ação judicial que não configura turbação ou esbulho. Busca de compradores da quota-parte do réus que não tem relação alguma com a posse exercida pelos autores. Inexistência de ameaça. Improcedência mantida. (2) pedido contraposto de reintegração de posse. Cabimento. Usucapião que não impede o ajuizamento de ação possessória pelo lá demandado. Desnecessidade de julgamento conjunto. Requisitos e causa de pedir da reintegração de posse que não se confundem com os da usucapião. (3) exame dos requisitos da reintegração. Presença. Posse dos autores e dos réus que têm origem no mesmo negócio jurídico de aquisição de direitos possessórios. Negócio que havia estabelecido composse entre os adquirentes, sem limitações internas no imóvel. Alegação dos autores de que os réus não teriam posse a ser esbulhada, portanto, que é contraditória com a própria afirmação de posse dos autores. 4 Presunção de que a posse continua com o mesmo caráter que foi adquirida, qual seja, de composse. Art. 1.203 do CCB. Única situação noticiada de oposição dos autores à posse dos réus que é o esbulho que originou o presente pedido de reintegração. Réus que não instalaram sua residência no imóvel e que não auxiliam com as custas de manutenção do imóvel. Irrelevância. Questões que não são requisitos da posse. Esbulho demonstrado. Sentença mantida. Honorários advocatícios sucumbenciais majorados. Art. 85 § 11º do CPC. Apelo desprovido” (TJPR – Ap - 0004909-40.2015.8.16.0034, 24-5-2021, Rel. Fernando Paulino da Silva Wolff Filho). “Apelação – Extinção de composse c.c – Alienação judicial – Sentença de improcedência, que concluiu que o autor não fazia jus à extinção do condomínio por não ser proprietário do bem. Área objeto de concessão de direito real de uso. Ex-cônjuge que pretende a extinção da relação jurídica e alienação dos direitos possessórios. Possibilidade. Direitos possessórios que têm valor econômico e que podem ser alienados. Possibilidade de extinção da cotitularidade do direito e alienação judicial dos direitos possessórios. Anuência da Municipalidade que não constitui óbice para a extinção da composse e à alienação judicial. Sentença anulada. Recurso Provido” (TJSP – AC 0083386-52.2011.8.26.0224, 30-4-2019, Relª Hertha Helena de Oliveira). “Coisa Comum – Composse – Possibilidade de extinção, como se condomínio fosse, desde que haja descrição mínima da área e de seus limites a fim de não prejudicar terceiros. Hipótese dos autos a não indicar a titularidade do respectivo direito e muito menos descrever minimamente o bem a ser alienado judicialmente. Sentença de improcedência mantida. Recurso não provido” (TJSP – Ap 1013021- 72.2016.8.26.0161, 2-7-2018, Rel. Coelho Mendes). “Direito Civil – Ação de reintegração de posse – Pressupostos não implementados – Composse decorrente da saisine – Ausência de comprovação de esbulho praticado por compossuidor – Posse exclusiva também não comprovada – Recurso conhecido e desprovido – 1- Cuidando-se de ação de reintegração de posse, necessário para a concessão da medida é que a parte autora demonstre a posse anterior sobre o imóvel e a turbação ou o esbulho praticado pelo réu. 2- A situação dos autos indica que, por força da ‘saisine’, todos os litigantes são compossuidores do bem objeto da ação de reintegração. Isto porque alegou a autora que morava no imóvel individualizado nos autos, juntamente com sua genitora e irmão. Diz que o imóvel lhe pertence, mas que com o falecimento de sua mãe, o réu, irmão da autora, estaria esbulhando o imóvel que fora adquirido pela demandante. 3- Todavia, o que restou comprovado nos autos foi a composse decorrente da saisine e ausência de esbulho. Com efeito, para o êxito da reintegração de posse de um herdeiro contra o outro, deve ser comprovada de forma robusta a posse exclusiva da autora e o esbulho praticado pelo réu, o que não restou evidenciado pela prova dos autos. 4- Recurso conhecido e desprovido” (TJDFT – Proc. 20140310326440APC – (1019396), 29-5-2017, Rel. Robson Barbosa de Azevedo). “Agravo – Contrato de hospedagem – Reintegração de posse – A interpretação mais harmônica, que se pode ter do pactuado, considerando os dados coligidos aos autos e as regras definidas pela doutrina, para interpretação dos contratos, é a de que as partes celebraram contrato de hospedagem e não de locação. Destarte, é inaplicável à espécie, a Lei de Locação (Lei nº 8.245/91) – Nulidade Processual – Eventual violação da convenção condominial, supostamente praticada pelos proprietários (agravados) é questão estranha à relação jurídica ora analisada (hospedagem), frisando-se que os efeitos do contrato de hospedagem têm efeito somente entre as partes que o celebraram. Destarte, é despicienda em relação ao agravante, eventual infração praticada pelos agravados, no que tange ao condomínio – Simulação – A simulação, dentre outras, tem a característica de corresponder a uma falsa declaração bilateral de vontade. A declaração é sempre concertada com outra parte, com o intuito de iludir terceiro. Logo, se simulação houve, quando da celebração do contrato, em tese, houve concerto entre os litigantes. Destarte, há que se aplicar à espécie, o brocardo nemo auditur turpitudinem propriam alegans – ‘ninguém deve ser ouvido sobre a própria torpeza’ – Inexistência de Nulidade Processual – Composse – A alegação acerca do litisconsórcio necessário é inócua, tendo em vista que a ação foi proposta pelos proprietários em face da hóspede e do usuário, partes que firmaram o contrato – A corré se deu por citada e o réu interpôs recurso de agravo – Direito de defesa preservado – Reintegração de Posse – Os arts. 131 e 335, do CPC, dão conta de que o legislador acolheu os princípios do livre convencimento e da persuasão racional. Bem por isso, o Juiz pode, por força de lei, formar livremente seu convencimento, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos – Elementos coligidos aos autos, dão conta de que o esbulho possessório restou caracterizado, tendo em vista que o agravante foi notificado extrajudicialmente a desocupar o imóvel e não o fez – Posse precária de força nova reconhecida – Desnecessidade de realização de audiência de justificação – Manutenção da Liminar – Recurso desprovido” (TJSP – AI 2122788-60.2015.8.26.0000, 2-9-2015, Rel. Neto Barbosa Ferreira). “Ação de reintegração de posse ajuizada contra o marido. Não ocorrência de citação da esposa. Alegação de nulidade. Caso peculiar. Composse. Liminar de reintegração de posse deferida. Ciência inequívoca da ação. Decadência. Direito real imobiliário. Inexistência de prova pré-constituída do direito líquido e certo. Necessidade de dilaçãoprobatória. Inviabilidade na via do mandado de segurança. Recurso desprovido – 1 – Nas ações possessórias, em regra, não há necessidade de promover a citação do cônjuge da parte ré, exceto no caso de composse ou de ato por ambos praticados. Ademais, o contrato de promessa de compra e venda de imóvel averbado à margem da matrícula no serviço registral configura direito real imobiliário, o que tornaria necessária a citação do cônjuge. 2 – Se havia composse e a impetrante sofreu as consequências do cumprimento da ordem liminar de reintegração de posse, tendo que desocupar o imóvel em que residia com o marido, é evidente que, nesse momento, tomou ciência inequívoca do ato impugnado, ficando inerte por vários anos. O direito de requerer mandado de segurança extingue-se decorridos cento e vinte dias da ciência do ato impugnado. 3 – O mandado de segurança exige prova pré-constituída do direito líquido e certo, não sendo admitida a dilação probatória. Se, à época do ajuizamento da ação possessória, não havia notícia de que o promitente comprador do imóvel era casado, não há como, na estreita via do mandado de segurança, anular todo o processo com base na falta de citação do cônjuge, se essa informação só foi levada a conhecimento público após o trânsito em julgado do processo. 4 – Recurso ordinário desprovido” (STJ – RMS 45.071 – (2014/0044234-0), 1-9-2014, Rel. Min. João Otávio de Noronha). “Agravo de instrumento – Composse – Posse exclusiva de bem comum – Tutela antecipada que fixou aluguel provisório a título de indenização – Admissibilidade – Inteligência do art. 1.199 do Código Civil – Não demonstração de plano de manifesta desproporção do valor fixado pelo juízo de origem – Valores que ficarão consignados em juízo, podendo ser prontamente restituída eventual diferença posteriormente apurada, ou a totalidade, se for o caso – Recurso desprovido” (TJSP – AI 2187064-95.2018.8.26.0000, 1-2-2019, Rel. Alcides Leopoldo). “Coisa Comum – Composse – Possibilidade de extinção, como se condomínio fosse, desde que haja descrição mínima da área e de seus limites a fim de não prejudicar terceiros. Hipótese dos autos a não indicar a titularidade do respectivo direito e muito menos descrever minimamente o bem a ser alienado judicialmente. Sentença de improcedência mantida. Recurso 5 não provido” (TJSP – Ap 1013021-72.2016.8.26.0161, 2-7- 2018, Rel. Coelho Mendes). “Agravo de instrumento – Reintegração de posse – Composse – Antecipação de tutela – I – A prova inequívoca da verossimilhança da alegação está configurada. Deferida a antecipação de tutela para que mãe-agravada e filha-agravante exerçam composse do imóvel no qual a última morava e para o qual retornou após tratamento de saúde. II – Agravo de instrumento provido” (TJDFT – AI 20150020297327AGI – (923134), 8-3-2016, Relª Vera Andrighi). “Agravo de instrumento – Ação possessória – Fração ideal vendida em alienação judicial – Imissão na posse – Embargos de terceiro liminarmente rejeitados – Proteção Possessória Indeferida – Recurso – Composse – Titular de 50% do domínio – Impossibilidade de se conferir imissão em imóvel aparentemente pro indiviso. Recurso provido com observação” (TJSP – AI 2222679-88.2014.8.26.0000, 19-1-2015, Rel. Carlos Abrão). “Alienação judicial de coisa comum. Bem em comum, após separação consensual. Carência de ação decretada. Titularidade do imóvel não regularizada no Registro de Imóveis. Composse. Possibilidade de extinção, tal como se condomínio fosse. Direitos sobre o imóvel que possui valor econômico e pode ser levado à hasta pública. Decreto de extinção afastado. Procedência decretada. Sucumbência a cargo do réu. Aplicação do art. 515, § 3º, do CPC. Recurso provido” (TJSP – Ap. 0028907-09.2005.8.26.0002 – São Paulo, 20-8-2013, Rel. Miguel Brandi). “Ação de reintegração de posse – Pretensão à reintegração de posse de imóvel residencial adquirido na constância de união estável entre autor e ré – Composse pro indiviso evidenciada – Inteligência do art. 1.199 do CC – Prova documental produzida evidenciando não praticou a ré atos tendentes a obstar o exercício simultâneo da posse pelo autor – Autor reconheceu 6 na petição inicial foi afastado do lar e impedido de coabitar no imóvel, em decorrência de medida judicial protetiva concedida à ré, após ser o autor denunciado por ameaças à integridade física da ré e filhos – Esbulho não caracterizado – Descabimento da pretensão de recebimento de aluguéis, por inexistente ofensa ao exercício da posse simultânea do autor – Recurso negado”. (TJSP – Ap 1013173-80.2021.8.26.0344, 10- 8-2022, Rel. Francisco Giaquinto). “Agravo de instrumento – Ação de obrigação de fazer para desocupação do imóvel c.c indenização por fruição do bem - Tutela provisória de urgência para desocupação do imóvel e acesso da agravante a fim de que promova a alienação do bem - Cuidando-se de hipótese de composse pro indiviso, em que, em princípio, cada um dos compossuidores tem o direito de usar e gozar da coisa, havendo a ocupação a título de sucessio possessioni pelos agravados do imóvel objeto da lide, não se justifica a concessão de medidas possessórias entre as partes até a alienação ou adjudicação do bem, como é vedado no condomínio – Pretensão de desocupação imediata a fim de viabilizar a venda do imóvel e não para uso próprio – Ausência dos requisitos do art. 300, CPC/15 - Recurso desprovido”. (TJSP – AI 2279263-34.2021.8.26.0000, 22-12-2021, Rel. Alcides Leopoldo). “Ação de reintegração de posse – Improcedência – Composse – Ausência de esbulho – Observância de que não pode um possuidor excluir a posse dos demais enquanto não for oficialmente dividida a propriedade – Recurso não provido” (TJSP – AC 1007375-87.2018.8.26.0007, 22-7-2019, Rel. Paulo Pastore Filho). “Reivindicatória – Composse de imóvel “pro indiviso” – Ocupação pela apelada na qualidade de ex--convivente e mãe de herdeira menor, do coproprietário – Bens doados pelo falecido sujeitos à colação para assegurar divisão equânime entre herdeiros necessários – Esbulho não caracterizado – Cabe a recorrente valer-se de outros mecanismos para resolver o entrave com a apelada, tais como o recebimento de alugueres de seu quinhão ou, ainda, a via judicial da extinção do condomínio – Sentença de improcedência mantida – Recurso desprovido” (TJSP – Ap 1000239-21.2015.8.26.0047, 23-1- 2018, Rel. J. B. Paula Lima). “Apelação – Arbitramento e cobrança de aluguel – Bem recebido por herança – Uso exclusivo do imóvel por um dos herdeiros – Sentença de procedência – Fixado o valor proporcional da percepção de frutos em R$ 461,54 (quatrocentos e sessenta e um reais e cinquenta e quatro centavos) mensais, devidos a partir da citação. Reconvenção improcedente, por não estar comprovada a utilização do material de construção adquirido, no imóvel em litígio tampouco, a anuência dos demais herdeiros. Irresignação do requerido. Preliminar de cerceamento de defesa, obstada a produção de provas, em razão do julgamento antecipado. Reitera os termos da contestação e reconvenção. Ressarcimento dos valores despendidos com o imóvel, e indenização por dano moral. Descabimento. Preliminar rejeitada. Incontroversa a ocupação exclusiva do imóvel, objeto do litígio, pelo requerido. Condomínio pro indiviso entre os herdeiros (CC art. 1791, par. ún.). Aquele que ocupa exclusivamente imóvel deixado pelo falecido deverá pagar aos demais herdeiros valores a título de aluguel proporcional, quando demonstrada oposição à sua ocupação exclusiva. Valor devido e bem arbitrado, pelo juiz singular, desde a citação. Ineficiência da documentação, quanto à demonstração de uso do material adquirido, no imóvel em questão. Sentença mantida. Recurso a que se nega provimento. Recurso Adesivo. Inconformismo do espólio autor e demais herdeiros. Majoração do valor mensal fixado, bem como, que sua exigência seja a partir do falecimento da genitora, face à ciência inequívoca do requerido, quanto à pretensão dos demais herdeiros. Descabimento. Indenização ao condômino que não usufrui o bem comum que sóé devida a partir da exigência inequívoca de remuneração pelo uso. Termo inicial da obrigação que se dá, in casu, a partir da citação para esta demanda e não a partir da abertura da sucessão. Sentença mantida. Recurso a que se nega provimento” (TJSP – Ap. 0000064-57.2012.8.26.0400, 14- 9-2015, Rel. José Rubens Queiroz Gomes). “Manutenção de posse. Imóvel rural. Condomínio pro indiviso. Construção de cerca pelo réu com a pretensão de delimitação de área comum, tornando-a exclusiva. Inadmissibilidade de exclusão da posse dos outros condôminos, nos termos do artigo 1.119, do Código Civil. Turbação configurada. Proteção possessória reconhecida. Pedido inicial julgado procedente. Sentença mantida. Recurso improvido” (TJSP – Ap. 0002584-05.2010.8.26.0450, 24-9-2013, Rel. João Camillo de Almeida Prado Costa). “Apelação cível. Ação de reintegração na posse c.c. indenização por danos materiais e morais. Sentença de improcedência. Inconformismo. Pretensão dos autores de verem declarado o direito de purgarem o débito na forma do artigo 39 da Lei 9.514/97 cc artigo 34 do DL 70/66, ou a reversão em perdas e danos conforme a Lei 13.465/17. Inviabilidade de conhecimento. Evidente inovação em sede recursal. Inteligência do Art. 932, III, CPC. Reintegração na posse e indenização. Descabimento. Autores que não se desincumbiram de seu ônus probatório, nos moldes delineados pelo Art. 373, inciso I, do CPC. Ausência dos requisitos previstos no Art. 561 do CPC. Propriedade do imóvel consolidada à credora fiduciária em procedimento extrajudicial da Lei n. 9.514/97. Transmissão do domínio licitamente aos réus. Esbulho não caracterizado. Posse justa, sem os vícios da violência, clandestinidade ou precariedade (Art. 1.200, CC). Decisão escorreita de primeiro grau, ao indeferir à autora reintegração na posse. Ausência de ilícito a ensejar a indenização dos autores por danos morais. 7 Réus que se encontram em exercício regular de direito (Art. 188, I, CC). Danos materiais, por seu turno, que não restaram comprovados nos autos. Sentença mantida. Recurso em parte não conhecido e, na parte conhecida, desprovido”. (TJSP – Ap 1011378-72.2017.8.26.0152, 7-10-2022, Rel. Rodolfo Pellizari). “Apelação. Teórica carência de ação pela inexistência de posse anterior dos autores. Atribuição de nomen juris incorreto à demanda que não obsta seu conhecimento, na medida em que as razões de fato e de direito revelam se tratar de ação petitória. Interpretação do pedido que deve considerar a totalidade da postulação (art. 322, § 2º, CPC). Promissário comprador que detêm legitimidade ativa para pleitear o ingresso originário na posse do imóvel injustamente ocupado por terceiros. Ocupação clandestina do imóvel pela apelante da qual resulta a natureza injusta de sua posse (art. 1.200 do Código Civil). Sentença mantida. Recurso desprovido”. (TJSP – Ap 1003635-64.2020.8.26.0068, 10-6-2021, Rel. Rômolo Russo). “Usucapião especial urbana – Autora que exerce a posse como locatária – Posse precária, ausente o animus domini – Pagamento de IPTU e de taxas de água e luz que é de responsabilidade dos ocupantes do imóvel, a qualquer título – Sentença de improcedência mantida – Recurso desprovido” (TJSP – AC 0113641-17.2007.8.26.0229, 25-4-2019, Rel. Moreira Viegas). “Apelação Cível – Reintegração de posse – Comodato Verbal – Posse Precária – É precária a posse originada de ato de mera liberalidade do proprietário do imóvel, que permitiu que os réus criassem animais no terreno objeto da lide, – Demonstrado nos autos por meio que a posse exercida pelos recorrentes é precária e, mesmo após receber notificação para desocupação do imóvel permaneceu inerte, caracterizando esbulho possessório, deve ser mantida a sentença que julgou procedente o pedido de reintegração de posse” (TJMG – AC 1.0016.15.011630-5/002, 21-2-2018, Rel. Marco Aurelio Ferenzini). “Direito Civil – Agravo interno no agravo em recurso especial – Usucapião – Posse precária de bem imóvel – Animus Domini – Incidência da Súmula 7/STJ – 1- O acórdão recorrido entendeu que a autora exercia posse precária e sem animus domini sobre o bem cujo reconhecimento de usucapião se buscava. Tais conclusões não se desfazem sem o reexame de provas, o que é vedado por força da Súmula 7/STJ. 2- Não há que se falar na aplicação de honorários sucumbenciais recursais, uma vez que, de acordo com a orientação que vem se firmando nesta Corte, o art. 85 do CPC/2015 não autoriza a majoração dos honorários a cada recurso interposto no mesmo grau. Precedentes. 3- Agravo interno a que se nega provimento” (STJ – AGInt-AG-REsp 1.012.678 – (2016/0294240-4), 29-9- 2017, Rel. Min. Luis Felipe Salomão). “Apelação cível – Ação de imissão na posse – Analogia à ação reivindicatória – Posse injusta dos réus – Ausência de comprovação requisitos usucapião – A ação de imissão da posse era prevista no antigo Código de Processo Civil, Decreto- lei nº 1.608/39, e não foi recepcionada pelo CPC/73. Dessa forma, nas ações de imissão na posse, devem ser aplicadas, por analogia, as regras determinadas na ação reivindicatória. Para a procedência da ação de imissão na posse, é necessária a prova de titularidade do domínio sobre o bem, a sua individualização e que ele esteja injustamente em poder do réu. A posse injusta, para fins desta ação, não necessita ser aquela clandestina, violenta ou precária, bastando que seja sem justo título. Com efeito, comprovada a propriedade do imóvel pelos autores, bem como a posse injusta exercida pelos réus, que não demonstraram o preenchimento dos requisitos para o reconhecimento da usucapião arguida em defesa, deve ser julgada procedente a pretensão inicial” (TJMG – AC 1.0701.11.003192-2/002, 3-5-2016, Wagner Wilson). “Posse – Ação de reintegração – Contrato de arrendamento – Posse Precária – Preservação do caráter da posse – O art. 492 do Código Civil de 1916, cuja redação foi reproduzida no art. 1.203 do Código Civil atual, estabelece presunção relativa de que a posse mantém o mesmo caráter com que foi adquirida. A posse direta do arrendatário não exclui, evidentemente, a posse indireta do arrendante. E se o arrendatário permite que um filho seu o suceda na posse, a presunção que se extrai, diante do referido dispositivo legal e ausente prova em sentido contrário, é de que essa posse mantém seu caráter original, sem exclusão ou interferência na posse indireta do arrendante. Ação procedente. Recursos de agravo retido e de apelação não providos” (TJSP – Ap 0035017-23.2012.8.26.0602, 12-3-2018, Rel. Itamar Gaino). “Agravo de instrumento – Fundamentação genérica da decisão – Inocorrência – Ilegitimidade ativa da CAESB – Posse precária e de má-fé do imóvel – Reconhecimento da propriedade em processo conexo – excesso de execução – demonstrativo discriminado e atualizado de cálculo – Impossibilidade de análise – Agravo regimental prejudicado – Agravo conhecido e não provido – I- Conquanto o julgador não esteja obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos deduzidos pelas partes, o novo Código de Processo Civil, exaltando os princípios da cooperação e do contraditório, lhe impõe o dever, dentre outros, de enfrentar todas as questões pertinentes e relevantes, capazes de, por si sós e em tese, infirmar a sua conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de se reputar não fundamentada a decisão proferida. II- Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo, sob pena de não ser examinada ou, se for o único fundamento da impugnação, liminarmente rejeitada. III- A liquidação de sentença jamais 8 inicia a ação de execução de per se, mas apenas perfectibiliza o título executivo que sustenta a ação executiva, configurando, portanto, ação autônoma à execução. O trânsito em julgado do acórdão proferidos nos autos nº 2008.01.11087519-0 se deu em 26/11/2015 (fl. 177-v) e o pedido de liquidação de sentençae cumprimento de sentença foi protocolado em 7/3/2016 (fl. 183), não havendo que se falar em prescrição da pretensão de cobrança. II- Agravo Regimental prejudicado. Agravo conhecido e não provido” (TJDFT – Proc. 20160020388904AGI – (989237), 23-1-2017, Rel. Gilberto Pereira de Oliveira). “Ação de manutenção de posse. Negada a liminar. Agravo de instrumento. Em ação possessória discute-se quem tem a melhor posse e não a propriedade. Art. 1.210, § 2º, CC. Documentos comprovando a sucessão da cadeia possessória. Elementos probatórios suficientes para demonstrar que o autor exerce a posse do imóvel. Decisão reformada. Recurso provido” (TJSP – AI 0079261-63.2013.8.26.0000, 5-7-2013, Rel. Virgilio de Oliveira Junior). “Civil e processual civil. Ação de imissão de posse. Preliminares de cerceamento de defesa e de inadequação da via eleita rejeitadas. Mérito. Pretensão fundamentada em contrato de compra e venda. Litigiosidade do bem. Desconhecimento por parte do comprador. Boa-fé caracterizada. Validade do negócio jurídico. Reconvenção. Bem objeto de contrato de doação simulada. Nulidade da doação reconhecida. Reconvenção. Pedido reconvencional de declaração de nulidade de doação. Simulação configurada. Nulidade reconhecida. Manutenção. 1. O indeferimento de produção de prova oral desnecessária à solução do litígio não configura hipótese de cerceamento de defesa. 2. O acolhimento de pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário, constitui medida excepcional para fins de prova de simulação na aquisição de bem, devendo ser indeferido quando for possível o esclarecimento dos fatos com base no acervo probatório constante dos autos. 3. É admissível a apresentação de reconvenção em face do autor e de terceiros pretensão 9 reconvencional contra autor e terceiros, quando demonstrada a existência de liame entre os fundamentos invocados pela reconvinte em relação às questões debatidas na lide principal. 4. Quem adquire imóvel envolvido em processo judicial fica sujeito a suportar as consequências das decisões judiciais exaradas na demanda em curso, ressalvada a hipótese de boa- fé na aquisição, caracterizada pelo desconhecimento da existência do litígio. 5. Não estando evidenciado que o autor da Ação de Imissão de Posse tinha efetivo conhecimento a respeito da litigiosidade que pendia sobre a posse e a propriedade do imóvel por ele adquirido, não há como lhe ser estendidos os efeitos da sentença exarada nas demandas judiciais em curso à época da celebração do contrato de compra e venda. 6. A existência de contradição entre a vontade externada e a verdadeira intenção das partes, na pactuação de um negócio jurídico, caracteriza simulação, ocasionando a sua nulidade. 7. A doação de bem litigioso, realizada com a finalidade de impossibilitar a perda da propriedade por força de decisão judicial em favor de terceiro, caracteriza ato simulado, a justificar a declaração de nulidade do ato jurídico. 8. Apelações Cíveis conhecidas. Preliminares rejeitadas. No mérito, recursos não providos. (TJDFT – Ap 07081315520178070001, 24-2- 2021, Rel. Nídia Corrêa Lima). “Ação de manutenção de posse – Alegação de que a requerida tentou construir uma cerca invasora no imóvel objeto da lide, com o fito de esbulhar a posse dos requerentes – O arrendatário comunicou o fato aos requerentes, que acionaram a Polícia Militar – Mesmo após o comparecimento dos policiais, os prepostos da requerida continuaram afirmando que, a qualquer momento, voltarão ao local para fazer e terminar a cerca invasora – A requerida alega que a área não é de propriedade dos requerentes – Sentença que julgou a ação procedente, por vislumbrar que os requerentes cumpriram os requisitos da proteção possessória – Quadro probatório que atesta o alegado em exordial – Verificada a posse dos apelados por documentos e oitiva de testemunhas – Confirmado o ato de esbulho praticado pela apelante – Litigância de má fé afastada – Recurso não provido” (TJSP – AC 0003788- 35.2014.8.26.0615, 30-5-2019, Relª Mônica de Carvalho). “Ação de manutenção de posse – Alegação autoral de turbação por atos dos réus, caracterizada por óbice à realização de obra no imóvel, negativa de transferência de titularidade da conta de energia elétrica e ajuizamento de ação de usucapião – Sentença de improcedência – Apelação cível dos autores – Decisum proferido sob a égide do CPC/1973 – 1- A presente ação tem como finalidade a defesa da posse em caso de turbação e, para seu manejo, devem estar devidamente comprovadas a posse anterior, a turbação, a data do ato e a continuação da posse, nos termos do art. 927 do CPC/1973, vigente à época (correspondente ao art. 561 do CPC/2015). 2- Tratando-se a posse de situação fática, sua comprovação requer a demonstração do exercício dos poderes sobre a coisa, consoante disposição do artigo 1.196 do Código Civil, verbis:‘Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à proprie- dade’. 3- A posse restou bem demonstrada por meio dos documentos juntados à inicial, mormente ante a existência de correspondências enviadas ao endereço constante nos autos, endereçadas ao 1º apelante, e a afirmação dos apelados de que o 1º recorrente é seu filho e, de fato, ocupa o imóvel por liberalidade deles. 4- Ainda que houvesse prova contundente nos autos sobre a informação de obra irregular à autoridade competente ter advindo de ato dos apelados, a paralisação desta se deu por culpa exclusiva dos apelantes, ante a inexistência de projeto, tratando-se, em verdade, de exercício do poder de polícia pela prefeitura de Itatiaia. 5- Tampouco o fato de a titularidade da conta de energia elétrica se encontrar no nome de um dos apelados caracteriza ato de perturbação da posse, estando os recorrentes em poder de fato do bem e, conforme aduziram, em nada impedidos da utilização do serviço fornecido. 6- O mero ajuizamento de ação de usucapião pelos recorridos não configura turbação, tendo em vista que esta tem como fundamento a propriedade e, conforme se extrai do art. 557, parágrafo único, do CPC/2015 (correspondente ao art. 923 do CPC/1973), a alegação de propriedade não obsta a manutenção da posse. 7- Não restando demonstrada a turbação, a improcedência dos pedidos é medida que se impõe. Precedentes: 0014041-36.2015.8.19.0003 – Apelação – Des(a). José Carlos Paes – Julgamento: 29/11/2017 – Décima Quarta Câmara Cível; 0021280-98.2014.8.19.0206 – Apelação – Des(a). Marco Antonio Ibrahim – Julgamento: 14/11/2017 – Quarta Câmara Cível. 8- Recurso desprovido” (TJRJ – Ap 0000315-52.2015.8.19.0081, 17-5-2018, Relª Marianna Fux). “Apelação Civil – Direito civil e processual civil – Ação de reintegração na posse – Preliminar – Cerceamento de defesa – Não realização das provas requeridas – Insurgência – Preclusão – Impossibilidade de reanálise – Posse – Exercício dos poderes inerentes à propriedade pelo autor – Esbulho – Caracterização – Posse Clandestina – Recurso conhecido e provido – Sentença reformada – 1- Não caracteriza cerceamento de defesa quando operou-se a preclusão temporal sobre decisão que indefere a produção de prova pericial e indica o julgamento antecipado da lide. 2- Se o autor demonstra que exerceu os poderes inerentes à propriedade, tendo murado o imóvel e pago os tributos e taxas relativos ao bem, resta cumprido o requisito de demonstração da posse. 3- Nos termos do art. 1.200 do CC, é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária, restando caracterizada a clandestinidade quando há notícia nos autos de que a requerida invadiu o bem na ausência da representante do autor, ressalvando-se ao propósito que a ré não logrou êxito em comprovar as alegações referentes a forma de aquisição dos direitos incidentes sobre a coisa. 4- Recurso conhecido e provido. Sentença reformada” (TJDFT – Proc. 20150510093782APC – (997195), 15-3-2017, Rel. Romulo de Araujo Mendes). “Civil – Ação de reintegração de posse – Condomínio – Existência – Esbulho – Falta de comprovação – coproprietário – Direito de ocupação – Danos Morais– Não caracterizado – Sentença mantida – 1- Nos termos do art. 1.791 do Código Civil, enquanto não consolidada a partilha, o direito dos coerdeiros, no que tange à propriedade e à posse da herança, será indivisível, regulando-se pelas normas do condomínio. 2- Não há elementos nos autos que comprovem e demonstrem a possibilidade de tipificar a conduta da Apelada como esbulho possessório, não havendo que se falar em posse violenta, clandestina ou precária, até porque, a Apelante jamais exerceu a posse direta do bem. 3- Ocupação da Apelada, como coproprietária, em imóvel desocupado, exercendo direito legítimo de ocupação, não sendo possível tipificar a conduta como esbulho possessório, nem falar em posse violenta, clandestina ou precária. 4- Contratempos, tribulações e dissabores inerentes ao convívio social, aos relacionamentos pessoais e ao intercâmbio jurídico não são suficientes para caracterizar o dano moral. Por mais intensos que sejam não vulneram diretamente os predicados da personalidade, a não ser em situações excepcionais devidamente justificadas, o que não é o caso dos autos, em razão de a apelada ser coproprietária, exercendo seu direito de uso, e o imóvel em questão, estar desocupado. 5- Não caracterizado qualquer ato ilícito, descabe falar em indenização por danos morais. 6- Apelação conhecida e desprovida” (TJDFT – Proc. 20130110955885APC – (951832), 6-7-2016, Relª Gislene Pinheiro de Oliveira). “Apelação cível – Ação de reintegração de posse – Requisitos – Prova da posse anterior e do esbulho superveniente – Ato ilícito configurado – Apelação conhecida e desprovida – 1– Restando evidenciado que efetivamente existe o imóvel, objeto da ação possessória, fato corroborado pelo cumprimento do mandado 10 de reintegração de posse pelo oficial de justiça e no endereço apresentado pelo autor, afastam-se as alegações de carência de ação veiculadas nas razões recursais. 2– Consoante a teoria objetiva de Ihering, adotada pelo Código Civil, caracteriza a posse o efetivo exercício do poder de fato sobre a coisa. 3– Para que seja deferida reintegração de posse, o autor deve demonstrar o efetivo exercício de posse e a ocorrência de esbulho, nos termos do artigo 561 do Código de Processo Civil. 4– Estando clara a ocorrência do esbulho e tendo o autor demonstrado sua posse de fato sobre a área litigiosa há mais de 10 anos e que, segundo a prova documental, a adquiriu dentro de uma cadeia sucessiva de transferência entre antigos posseiros, é forçoso reconhecer como legítima sua pretensão de reintegração de posse, nos termos do artigo 1.120 do Código Civil. 5– Apelação conhecida e desprovida” (TJDFT – Proc. 07015974920188070005 – (1211033), 30-10-2019, Rel. Luís Gustavo B. de Oliveira). “Apelação cível – Direito Civil – Direito processual civil – Ação de reintegração de posse – Posse – Não comprovação pelo autor do exercício, em nome próprio, dos poderes inerentes à propriedade sobre o imóvel em litígio – Domínio Fático – Teoria objetiva da posse – Inteligência do art. 1.196 c/c art. 1.204, ambos do Código Civil – Imóvel não regularizado – Melhor Posse – Função Social – Demonstração – Ocupação pacífica e de boa-fé – Recurso conhecido e não provido – Sentença Mantida – 1- Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. E mais, adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade (CC, arts. 1.196 e 1.204). 1.1. O Código Civil, adotando a Teoria Objetiva (defendida por Ihering), ensina que a constituição da posse é atribuída àquele que exerça um dos atributos do domínio fático, mesmo que desprovido do animus domini. 2- Tratando-se o caso específico dos autos de imóvel situado em área não regularizada, a proteção possessória deve ser concedida àquele que possui a “melhor posse”, evidenciada, inclusive, a partir do implemento da função social da propriedade. 2.1. O conjunto probatório produzido nos autos, não demonstra que o autor desempenha e exerce, no plano fático, os atributos dominiais de usar, gozar e dispor do bem, não evidenciando, pois, sua legítima e melhor posse. 2.2. A não existência do domínio fático e da influência socioeconômica sobre o bem, tampouco o exercício dos poderes inerentes à propriedade afasta a alegação de posse do imóvel pelo autor, na medida em que possuidor é aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade (artigo 1.196 do Código Civil). 3- Honorários advocatícios majorados em atenção ao disposto no art. 85, § 11 do Código de Processo Civil. 4- Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida” (TJDFT – Proc. 20170310158413APC – (1072387), 7-2-2018, Rel. Romulo de Araujo Mendes). “Apelação cível e recurso adesivo – Ação Ordinária – Sentença de parcial procedência – Demandantes que alegam terem adquirido o imóvel objeto de ordem de reintegração de posse expedida em favor da segunda ré, em ação por ela aforada contra o corréu (primeiro acionado). Autores que não participaram da aludida demanda, de modo que a sentença lá proferida não tem o condão de lhes prejudicar, a teor do que dispunha o art. 472 do CPC/73. Hipótese que não envolve alienação de coisa litigiosa (art. 42 do códex revogado). Ausência, todavia, de prova da alegada aquisição da propriedade. Documentos que revelam que o primeiro réu jamais obteve a titularidade do imóvel, o que o impedia de promover a transferência do mesmo aos autores. Ausência de justo título oponível ao proprietário. Decisão mantida no ponto em que manteve o reconhecimento do direito da ré de ser reintegrada na posse do bem. Indenização. Hipótese que caracteriza acessão. Intelecção do art. 1.255 do diploma substantivo. Ausência de prova da má-fé dos autores, tal como sustenta a ré/apelante adesiva. Condenação mantida. Indenização que, todavia, deve corresponder ao valor patrimonial da acessão, sob pena de enriquecimento sem causa. Pedido de reembolso dos valores dispendidos por força do contrato celebrado entre os autores e o primeiro réu. Viabilidade. Restituição, entretanto, que deverá ser adimplida unicamente pelo primeiro acionado, que foi quem recebeu os importes. Honorários sucumbenciais. Ausência de fixação na origem em virtude do reconhecimento da sucumbência recíproca. Pedido de quantificação acolhido. Recursos conhecidos, provido em parte o principal e desprovido o adesivo” (TJSC – AC 2011.034984-1, 19-4-2016, Rel. Des. Jorge Luis Costa Beber). “Agravo de instrumento. Imissão de posse. Ação ajuizada por legítimos proprietários contra antigos mutuários ocupantes do imóvel. Cabível a concessão da liminar. Aplicação da Súmula 4 da seção de direito privado. Agravantes considerados adquirentes de boa-fé e detentores de justo título. Tutela antecipada concedida. Recurso provido” (TJSP – AI 0043416- 67.2013.8.26.0000, 26-4-2013, Rel. Luiz Antonio Costa). “Apelação cível. Ação de usucapião. Ausência de comprovação de posse ‘animus domini’, mansa e pacífica. Prova oral colhida a informar que a autora ingressou no imóvel na condição de locatária. Inviabilidade de transmudação da causa da posse. Exegese do art. 1.203 do Código Civil. Prova bem examinada pelo d. Juízo a quo. Ratificação dos fundamentos da r. sentença – art. 252 do RITJSP. Recurso desprovido”. (TJSP – Ap 1097518-71.2017.8.26.0100, 14-9-2022, Rel. João Baptista Galhardo Júnior). “Possessória – Reintegração de posse - Necessidade de estarem preenchidos os requisitos previstos no art. 561 do atual CPC para a caracterização do pedido como possessório – Hipótese em que ficou comprovado o exercício da posse por parte do autor, que cedeu o imóvel, em comodato verbal, para que a sua neta nele residisse – Fatos noticiados 11 pelo autor na exordial que, além estarem corroborados por diversos documentos anexados aos autos, foram presumidos verdadeiros em razão da revelia da ré. Possessória – Reintegração de posse – Demonstrado o esbulho possessório praticado pela ré – Posse da ré, recebidaem comodato, que mantém a característica da precariedade – Art. 1.203 do atual CC – Ré que passou da condição de possuidora direta para esbulhadora quando, instada pelo autor para que desocupasse o imóvel disputado, recusou-se a dele sair – Citação válida da ré que se revelou suficiente para constituí-la em mora – Legítimo o pleito de reintegração de posse por parte do autor – Apelo da ré desprovido”. (TJSP – Ap 1002797- 73.2019.8.26.0451, 19-11-2021, Rel. José Marcos Marrone). “Direito civil – Usucapião extraordinária – ‘Acessio possessionis’ – Ausência de provas – Reconvenção – Extinção – Honorários – I– O reconhecimento da usucapião extraordinária requer a comprovação da posse sem oposição, do‘animus domini’e do decurso de tempo, sendo possível o possuidor acrescentar à sua posse a dos seus antecessores, contanto que todas sejam contínuas e pacíficas. II– Não havendo prova robusta da posse dos antecessores sobre a integralidade do imóvel cuja propriedade se pretende, nem prova da continuidade da posse pelo autor, deve-se julgar improcedente o pedido. III– A reconvenção constitui ação autônoma e, não sendo conhecida, deve ser extinta sem resolução do mérito, com a condenação dos reconvintes às custas e honorários. IV– Deu-se parcial provimento ao recurso” (TJDFT – Proc. 07130183020188070007 – (1197163), 4-9- 2019, 4-9-2019, Rel. José Divino). “Apelação Cível – Direitos reais sobre bens imóveis – Ação de usucapião extraordinária – Acessio possessionis – Preliminar. Satisfaz o requisito da dialeticidade o recurso que enfrenta a contento os fundamentos da sentença. Mérito. Demonstrados no caso concreto os requisitos da usucapião extraordinária, quais sejam, posse mansa e pacífica, imbuída de animus domini, exercida pelo prazo legal de forma ininterrupta e sem oposição. Manutenção da sentença de procedência. Preliminar rejeitada. Apelação desprovida” (TJRS – AC 70076396811, 23- 8-2018, Relª Desª Mylene Maria Michel). “Apelação cível – Usucapião extraordinária e urbana – Proposta de compra e venda – Assinatura – Validade – Prescrição Aquisitiva – Ausência dos requisitos – 1- A simples contestação da assinatura despida de elementos capazes de ilidi-la não subtrai o valor probante do documento (proposta de compra), mormente quando os demais documentos coligidos se coadunam com a situação descrita e documentação colacionada pela contestante. 2- Se o imóvel foi adquirido por meio de contrato, porém não quitado, essa relação contratual afasta a possibilidade de pleitear a prescrição aquisitiva, porquanto a posse mantém o mesmo caráter com que foi adquirida. Apelação conhecida e desprovida” (TJGO – AC 201391190653, 10-6-2016, Rel. Fernando de Castro Mesquita). “Apelação cível. Ação de manutenção de posse. Sentença de improcedência. Inconformismo. Descabimento. Necessidade de que estejam preenchidos os requisitos previstos no Art. 561 do CPC para a caracterização do esbulho ou turbação. Autor que não se desincumbiu de seu ônus probatório, nos moldes delineados pelo Art. 373, I, do atual CPC. Ainda que o autor tenha alegado a acessio possessionis (Art. 1.207, CC), para fins de proteção possessória, não é suficiente que comprove que tenha direito à posse. É imprescindível que se demonstre que a exercia realmente, quando da ocorrência da alegada turbação ou esbulho. Prova pericial que não identificou qualquer vestígio da posse do autor na área objeto da ação. Depoimentos de moradores vizinhos, ademais, que também afastou a alegada situação fática. Terreno nu, que se encontrava abandonado. Testemunhas arroladas pelo autor, por seu turno, que evidentemente desconhecem a área sob litígio, ao afirmarem que havia construção no local. Improcedência 12 mantida. Recurso desprovido” (TJSP – Ap 1002018- 85.2016.8.26.0108, 28-7-2022, Rel. Rodolfo Pellizari). “Reais – Usucapião Ordinário – ‘Acessio possessionis’ – Impossibilidade de soma de posse exercida por proprietário – Lei exige homogeneidade das posses que se pretende somar (CC 1.243) – Precedentes – Recurso improvido” (TJSP – Ap 1011265-20.2016.8.26.0196, 8-2-2019, Rel. Luiz Antonio Costa). “‘Acessio Possessionis’– Antecessor dos Apelantes titular de fração ideal do imóvel – Condômino podia exercer posse exclusiva sobre parte do imóvel e assim adquirir sua propriedade por usucapião – Entendimento apoiado em jurisprudência e doutrina – Sentença anulada – Recurso provido” (TJSP – Ap 1002460-92.2016.8.26.0450, 7-6-2018, Rel. Luiz Antonio Costa). “Apelação – Ação de usucapião extraordinária – Direito intertemporal – Lei civil no tempo – Posse mansa, pacífica e ininterrupta – Lapso Temporal – Ônus da prova – Fatos constitutivos do direito – Artigo 373, do novo Código de Processo Civil c/c inteligência do art. 1.238, § único, do Código Civil – Acessio Possessionis – Requisitos – Procedência do pedido – Sentença mantida – Comprovados os requisitos ensejadores à usucapião extraordinária, bem como a posse exclusiva e os demais requisitos legais, a procedência do pedido é medida que se impõe, conforme disposto no art. 1.238, § único, do CC/2002. É do autor o ônus da prova dos fatos constitutivos do direito alegado, de conformidade com o disposto no art. 373, inciso I, do atual Código Processo Civil” (TJMG – AC 1.0461.13.003314-9/001, 24-3-2017, Rel. Newton Teixeira Carvalho). “Apelação cível – Usucapião (bens imóveis) – Ação de usucapião – Terreno adjudicado pelo estado – Posse com animus domini implementado em período anterior ao ingresso do imóvel ao patrimônio público – Acessio Possessionis – Requisitos da usucapião preenchidos – Sentença modificada – Em regra o bem público é insuscetível de ser usucapido, nos termos do art. 183, § 3º, da Constituição Federal e Súmula 340 STF. Entretanto os autores comprovaram o implemento dos requisitos da usucapião extraordinária em data anterior ao ato que incorporou o imóvel usucapiendo ao patrimônio do Estado do Rio Grande do Sul. Sentença modificada. Apelo provido. Unânime” (TJRS – AC 70069221596, 30-6-2016, Rel. Des. Giovanni Conti). �.� � AQUISIÇÃO, CONSERVAÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE AQUISIÇÃO DA POSSE Para a compreensão do fenômeno da aquisição da posse, é fundamental a compreensão de seu conceito. Já perpassamos a dificuldade e diversidade da doutrina em conceituá-la. Sem recorrermos novamente à dicotômica compreensão das teorias objetiva e subjetiva da posse, e suas nuanças, para fins práticos a aquisição da posse deve partir de um ato de vontade ou, às vezes, da lei. Somente a pessoa, natural ou jurídica, é sujeito de direitos e obrigações. Somente a pessoa, por seu ato de vontade, pode possuir, assim como pode ser proprietária. É o ato de ciência ou consciência do sujeito criador do estado de aparência que, circunstancialmente, surge aos olhos da sociedade como relação de posse. A segurança da posse repousa, como vimos, na proteção que o ordenamento concede a esse estado de fato. Para Savigny, a aquisição da posse depende de um ato físico (corpus), juntamente com um ato de vontade (animus). Justifica que nem sempre esse ato físico necessita ser de ordem material; pode ser ficto, isto é, pode existir posse sem o contato material com a coisa, como o recebimento de imóvel, simbólico, com a entrega da chave. Jhering procurou afastar a ideia de necessidade de contato físico com a coisa, sustentando ser isso relativo. Nem sempre há posse com a presença ou o contato físico do possuidor. Defendeu o autor que a origem da posse não tem a mesma importância da origem da propriedade. Como a posse é estado de fato, incumbe provar sua existência para caracterizá-la. Para a propriedade, sendo direito, é essencial fixar o momento de sua aquisição. Na posse, apenas circunstancialmente e para fixar alguns efeitos ressaltará de importância o momento de sua aquisição. Como a posse é aparência, esta é, na maioria das vezes, facilmente perceptível pelo corpo social. Tendo aparência de propriedade, verifica-se em cada caso se o sujeito se comporta como se proprietário fosse. Já estudamos a situação da detenção, resolvidapor nosso legislador no tocante ao fâmulo. A detenção é relação material com a coisa na qual falta o comportamento do sujeito como proprietário, ou quando a lei entende que a situação de fato não deve caracterizar posse, relação protegível pelos interditos. O art. 493 do Código anterior detalhou três situações de aquisição da posse, as quais sempre guardarão interesse doutrinário. Adotada a teoria de Jhering como regra geral no Código, não se sustenta a necessidade da descrição casuística desse dispositivo, não originário do projeto de Clóvis, mas proveniente de emenda da Câmara. Dispunha: “Adquire-se a posse: I – Pela apreensão da coisa, ou pelo exercício do direito. II – Pelo fato de se dispor da coisa, ou do direito. III – Por qualquer dos modos de aquisição em geral. Parágrafo único. É aplicável à aquisição da posse o disposto neste Código, arts. 81 a 85”. Como acentua Darcy Bessone, em face da teoria objetiva, esse dispositivo seria desnecessário, pois, segundo Jhering, a aquisição da posse resulta apenas da circunstância de ser fixada uma exteriorização da propriedade (1988:279). A vontade de ter a coisa para si, como descrito, resulta do comportamento do agente. Toda vez que se evidenciar essa situação de fato, existirá posse. O Código de 1916, porém, preferiu particularizar situações de aquisição. No entanto, essa enumeração, além de redundante, não é taxativa, pois aquisição de posse haverá sempre que presentes os estudados pressupostos de fato, independentemente de tipificação legal. Orlando Gomes (1983:48) justifica com clareza a posição legislativa: “A incoerência doutrinária incriminada ao legislador por haver especificado modos de aquisição da posse teria a escusa de não ser o Código obra teórica, que devesse guardar fidelidade absoluta à doutrina que aceitou”. Não devemos esquecer que esse dispositivo mandava aplicar à aquisição da posse a teoria dos negócios jurídicos, ao referir-se aos arts. 81 a 85. Como não poderia ser diferente, toda teoria da existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos, nulidades e anulabilidades, por nós estudada na obra de teoria geral, aplica-se não somente à aquisição, mas também aos atos de manutenção e perda da posse. O Código de 2002 atendeu aos reclamos da doutrina e enunciou o princípio de aquisição da posse de maneira lapidar, no art. 1.204, de acordo com a singela noção de posse: “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”. A dicção da atual lei guarda perfeita sintonia com o conceito de posse do art. 485, redação mantida no diploma em vigor em seu art. 1.196. Há, no entanto, outra redação sugerida pelo Projeto nº 6.960/2002, a esse art. 1.204: “Adquire-se a posse de um bem quando sobre ele o adquirente obtém poderes de ingerência, inclusive pelo constituto-possessório”. Essa �.�.� versão tem a ver com o conceito de posse útil, conforme referimos no Capítulo 4. Apreensão da Coisa ou Exercício do Direito. Aquisição Originária e Derivada. Presunção de Posse dos Móveis A apreensão consciente da coisa importa em posse. Pode decorrer de ato ou de negócio jurídico, bem como de disposição de lei, em que, neste último caso, não se revela clara, mas presumida, a ciência do sujeito (veja a posse dos herdeiros transmitida com a morte do autor da herança). Tal como o domínio, a posse pode ser adquirida de modo originário ou derivado. É originária a posse que ocorre sem qualquer vinculação com possuidor anterior. Cuida-se da ocupação da coisa, apropriação de seu uso e gozo. O ato do agente é unilateral. A aquisição unilateral realiza-se pelo exercício de um poder de fato sobre a coisa, no interesse daquele que o exerce. É derivada a posse quando decorre de transmissão da posse de um sujeito a outro. Há um ato ou negócio jurídico bilateral (compra e venda, depósito, comodato etc.). No caso de morte, pelo princípio da saisine, a aquisição derivada decorre da lei. Também é posse derivada da lei, por exemplo, a dos frutos que caem em meu terreno, provenientes de árvore do vizinho (art. 1.284). Por ato entre vivos decorre da vontade das partes, como a tradição, a entrega da coisa, a deslocação. É importante essa distinção entre posse originária e derivada. Quando a aquisição é originária, não havendo vínculo com possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios para o novo possuidor. Se o possuidor recebeu a posse de outrem, derivada, portanto, as mesmas características lhe são transferidas, ou seja, com os vícios ou virtudes anteriores. Trata-se de aplicação da regra do art. 1.203.1 É importante distinguir, sempre, a situação típica de posse daquelas de simples detenção, desmerecedora de proteção jurídica possessória. O termo apreensão, estampado na lei, deve ser entendido dentro do conceito de posse. Assim como pode haver mera apreensão material sem posse: pego um objeto para simplesmente examiná-lo, pode ocorrer posse sem apreensão: transfiro a posse por contrato e autorizo o adquirente a apanhá-la no local onde se encontra dentro de certo prazo. Para a posse, há necessidade da vontade e da consciência de apropriar-se da coisa. Para que o servidor da posse, fâmulo, torne-se possuidor, não basta sua vontade, há necessidade de ato ou negócio jurídico. Se a apreensão da coisa é facilmente perceptível nas coisas móveis, o fenômeno não pode ser o mesmo com os imóveis. No caso dos imóveis, a ocupação da coisa será possível na origem da posse ad usucapionem, por exemplo. A herança é considerada imóvel por disposição legal (art. 80, II) e sua transmissão independe do conhecimento do herdeiro, o possuidor, embora possa posteriormente renunciá-la. Destarte, no imóvel nem sempre ocorrerá evidente apreensão material. Pode ocorrer que simples direitos possessórios sejam transferidos por contrato. Nessa hipótese, basta o pacto para transmitir a posse, não havendo necessidade de apreensão material. Por outro lado, pode ser transferida a propriedade, sem que a posse o seja, ou porque assim não deseja o alienante, ou porque essa posse pertence a terceiros. Como vimos, pode ser passível de posse não somente a coisa, mas também a exteriorização do exercício de um direito. Como regra geral, tudo o que pode ser utilizado pode ser objeto de posse. É suscetível de proteção possessória tudo aquilo que puder ser apropriado e exteriormente demonstrado (Cap. 3, seção 3.4). O exercício do direito é o poder de usá-lo e gozá-lo. Na realidade, quem exerce direito sobre a coisa já exerce a posse. O locatário adquire a posse da coisa locada quando recebe a coisa. O usuário de linha telefônica, como enfatizamos, exerce o direito perante �.�.�.� terceiros quando lhe é franqueada a utilização pela concessionária do serviço. Modalidades de tradição A tradição é, pois, modo derivado de apossamento da coisa. A tradição efetiva ocorre quando materialmente a coisa é deslocada para a posse de outrem. Tem, portanto, conteúdo real. Tradição significa entrega. Há tradição quando uma pessoa voluntariamente entrega uma coisa à outra que voluntariamente a recebe (art. 2.377 do Código Civil argentino). Distinguem-se a tradição efetiva da simbólica e da consensual. É efetiva também a tradição referida pelas fontes como traditio longa manu, segundo a qual o transmitente da posse leva o adquirente a um local do imóvel que está entregando, mostrando-lhe e apontando-lhe a área e seus limites. Aplica-se às situações em que o transmitente está presente e indica a coisa, suas pertenças e extensão. O objeto é mostrado e posto à disposição do adquirente. Na tradição simbólica, ou ficta traditio, a entrega da coisa é traduzida por atitudes, gestos, conduta indicativa da intenção de transferir a posse. A entrega das chaves de imóvel é exemplo característico. Orlando Gomes (1983:48) denomina de tradição consensual duas modalidades clássicas de tradição, em que não ocorre a transferência real da posse. Trata-se da traditio brevi manu e o constituto possessório, formas interessantíssimase de corrente uso na prática. Nessas modalidades de tradição haverá uma alteração do animus de possuir. Na tradição brevi manu, quem possuía em nome alheio passa a possuir em nome próprio. O locatário, por exemplo, adquire a coisa locada. Sua posse de locatário, direta e imediata, transforma-se em posse de proprietário, posse plena (ou simplesmente posse). 2 �.�.� No constituto possessório (art. 494, IV do Código de 1916), o possuidor em nome próprio altera seu animus e passa a possuir em nome de outrem. O Projeto nº 6.969/2002 mencionou o constituto possessório no art. 1.204, como vimos. A compreensão desse instituto é fundamental para várias situações jurídicas. É o exemplo do proprietário que aliena a coisa e continua em sua posse como locatário. De posse plena de proprietário, passa a ter a posse imediata de locatário por exemplo. A chamada cláusula constituti não se presume. As partes devem ser expressas a esse respeito. Na tradição brevi manu e no constituto possessório, não ocorre exteriorização da tradição. Existe somente inversão no animus do sujeito. Há uma modificação subjetiva na compreensão da posse pelos sujeitos envolvidos. Aplicam-se tanto aos móveis, como aos imóveis. Disposição da Coisa ou do Direito Devemos ter cautela com a equivocidade do termo dispor. O vocábulo na lei não tem o significado vulgar e também jurídico de abrir mão, perder. O termo é usado para determinar o uso da coisa. Nesse sentido, a possibilidade de dispor da coisa ou do direito é mais uma manifestação da aparência de propriedade. Está contido na noção de domínio – abutendi – (ius utendi, fruendi et abutendi). “Nenhum outro fato, como a disponibilidade da coisa, é capaz de traduzir melhor a intenção de ser proprietário” (Lopes, 1964:157). Após o início do poder fático sobre a coisa, continua-se, permanece-se no mesmo estado, utilizando-se da coisa. Quem é apenas proprietário e não possuidor, e aliena a coisa, não dispõe nem dá destino à posse que não exerce. Quem adquire a posse da coisa já adquire também o poder de exercê-la. Quem perdeu a coisa e desistiu de procurá-la perde definitivamente a posse sobre ela. Enquanto o perdente busca e utiliza meios de localização �.�.� �.�.� da coisa, mantém intacto seu poder de fato sobre ela (Pontes de Miranda, v. 10, 1971:150 ss.). Por seu lado, quem acha coisa perdida deve restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Se isso não for possível, deve entregá-la à autoridade competente (art. 1.233). No entanto, quem acha tem posse enquanto não entrega a coisa, a qual, inclusive, pode ser sem dono (res nullius), ou abandonada (res derelicta), o que pode legitimar inclusive o domínio. Se o achador está de má-fé, evidente que sua posse será injusta e viciosa. Aquele que se apossa de coisa sem saber que era perdida tem posse. Modos de Aquisição da Posse em Geral A doutrina entende que bastava essa regra geral do inciso III do art. 493 do Código anterior para especificar as modalidades de aquisição da posse. Esse inciso engloba na verdade os anteriores. Serve-nos e sempre servirá de norte. Qualquer que seja a natureza da posse, originária ou derivada, examina-se a origem. Entende-se que a posse pode ser obtida por qualquer forma lícita. Pressupõe justa causa, justo título, a abertura da herança na posse dos herdeiros (aquisição causa mortis) e o contrato (inter vivos) na posse do adquirente. Na maioria das vezes, teremos um negócio jurídico. Aplicam-se as regras que regem os negócios jurídicos em geral e sua respectiva doutrina (arts. 104 a 114). Devem ser examinados os requisitos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Sempre há que se avaliar se a situação fática de aquisição é permitida pelo ordenamento. A posse ad usucapionem, por exemplo, pode até independer de boa-fé, pois há hipótese autorizada por lei. Quem Pode Adquirir a Posse Somente a pessoa é sujeito de direitos e obrigações. Desse modo, o estado de posse somente pode ser defendido pelos sujeitos, pela pessoa ligada à coisa. Dispunha o art. 494 do Código de 1916: “A posse pode ser adquirida: I – Pela própria pessoa que a pretende. II – Por seu representante, ou procurador. III – Por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. IV – Pelo constituto-possessório”. Esse dispositivo legal não apresentava maior utilidade que não a de colocar na lei a possibilidade do constituto possessório já examinado. O vigente Código sintetiza as mesmas hipóteses no art. 1.205, não mais se referindo ao constituto-possessório, que nem por isso deixa de existir e ser bastante utilizado: “A posse pode ser adquirida: I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação”. Nunca se duvidará que a pessoa interessada pode adquirir a posse, por seu representante, seja essa representação legal ou convencional (veja nosso estudo a esse respeito na obra Direito civil: parte geral, Capítulo 19). Nos casos de representação legal, o representante age por força de lei; na representação voluntária ou convencional, existe acordo de vontades declinado pelo mandato. O Código, ao citar o procurador ao lado do representante, foi redundante porque o fenômeno da representação é uno. A procuração é instrumento da representação voluntária. O legislador, porém, desejou espancar dúvidas. O possuidor ou representante podem adquirir tanto a posse imediata, como a posse mediata, não havendo proibição na lei ou na convenção. O locador pode alienar a coisa alugada, transferindo a posse indireta. Da mesma forma, o locatário pode ceder sua posição contratual, transferindo a posse imediata. Nada obsta, por outro lado, que o menor adquira a posse por ato seu, pois o fato da posse independe da capacidade. O fato da posse preexiste ao direito. Existe no mundo natural. A apreensão da coisa caracteriza-o. Parece que a intenção do legislador foi apenas enfatizar que a posse também pode ser adquirida em nome e por ordem de terceiros, até mesmo sem mandato, havendo posterior ratificação. No caso concreto é que se examinará se este terceiro agiu por conta e ordem de outrem ou em nome próprio. Examinar- se-á se o terceiro recebeu incumbência de outrem ou com este tem vínculo jurídico que possibilite a aquisição da posse. O núncio pode ter essa função: peço a alguém que apanhe ou adquira um objeto para mim. O gestor de negócios também aí se coloca, merecendo seus atos a ratificação posterior. O gestor age em nome de outrem, sem mandato, sem ter recebido qualquer incumbência nesse sentido. É imprescindível a necessidade de ratificação na ausência de mandato, porque não pode ser dispensada a vontade daquele em favor de quem é adquirida a posse. Essa confirmação retroage ao momento da aquisição da posse e tem os mesmos efeitos da representação voluntária. O constituto-possessório, como técnica de aquisição derivada de origem romana, colocado ao lado e ao inverso da traditio brevi manu, como modificação do animus do possuidor, já foi examinado (seção 5.1.1).3 �.� TRANSMISSÃO DA POSSE A transmissão da posse (assim como da propriedade) pode ocorrer a título universal ou a título singular. A transmissão a título universal ocorre quando se transfere uma universalidade. É característica da sucessão mortis causa. O herdeiro é sucessor universal porque sucede em uma universalidade uma quota-parte da herança, uma fração não individualizada. Veja-se o que dissemos a respeito do conceito de coisas coletivas e universalidades na obra introdutória ao Direito Civil (Direito civil: parte geral, seção 16.7). Nada impede que em certas situações ocorra por ato entre vivos uma transmissão universal: quando se transfere, por exemplo, um estabelecimento comercial, que igualmente se constitui universalidade. Destarte, não é correta a afirmação de que na transmissão universal transfere-se todo o patrimônio. Essa afirmação deve ser vista com reservas, assim como afirmar-se que somente ocorre na sucessão hereditária. A transmissão a título singular ocorre quando se transfere umbem ou bens determinados e individualizados. É o que sucede negocialmente inter vivos. Na sucessão causa mortis, também existe transmissão singular quando no testamento se institui legatário: este recebe coisa certa e determinada entre os bens da herança. Em geral, mas não exclusivamente, a transmissão entre vivos é a título singular. Sobre a matéria estampa o art. 1.206: “A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres”. O art. 1.207 dispõe: 4 “O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”. Nessas dicções legais, parece que a intenção do legislador foi assimilar o conceito de sucessor universal ao herdeiro. O sucessor universal continua a posse do antecessor. Desse modo, se a posse do autor da herança era viciada, continuará viciada com o herdeiro. Tal situação pode levar a iniquidades. Essa postura legislativa, repetida também no presente Código, é bem criticada por Sílvio Rodrigues (1984:42) em nota ao comentário do artigo: “Não me agrada tal solução. Mas é a da lei. Não vejo inconveniente em se admitir, mesmo para o sucessor universal ou para o legatário, a possibilidade de considerar sua posse como uma situação de fato nova, inteiramente desligada da anterior. A posse, mera relação de fato, gera efeitos em virtude da circunstância de existir, sem que o fato de sua origem deva, de qualquer modo, interferir nesses efeitos”. O art. 1.206 estende os mesmos efeitos aos herdeiros e legatários, embora estes últimos sucedam a título singular. Preferiu o legislador tratar ambos da mesma forma, talvez porque a origem comum seja a transmissão mortis causa. Por outro lado, no tocante ao adquirente singular, este poderá unir sua posse à do antecessor, se lhe for conveniente. Se recebe posse boa de oito anos, basta a posse de mais dois anos para a usucapião ordinária (art. 1.242). Se receber posse viciada, ser-lhe-á adequado iniciar novo lapso possessório, livrando-se assim da mácula. �.� CONSERVAÇÃO E PERDA DA POSSE Conservação e perda da posse são fenômenos paralelos e indissociáveis. É evidente que a continuidade da posse, como situação de fato, depende de ela não ter sido perdida. Mantém-se na posse, dentro da concepção objetiva, aquele que mantém o comportamento de exteriorização do domínio. Esse comportamento se dará por conduta do próprio agente ou de seus prepostos e representantes. Cessa a posse de um sujeito quando se inicia a posse de outro. Na casuística deve ser encontrado e definido esse momento de importantíssimas consequências. Como regra, um direito, uma vez adquirido, mantém-se, independentemente da atuação de seu titular, “por sua força orgânica, por sua virtualidade interna” (Rodrigues, 1981:257). Entendemos que há continuidade na posse, enquanto não houver manifestação voluntária em contrário. A posse deve ser entendida como subsistente, quando a coisa possuída se encontra em situação normalmente tida pelo proprietário (Borda, 1984, v. 1:109). Dispunha o art. 520 do antigo Código: “Perde-se a posse das coisas: I – Pelo abandono. II – Pela tradição. III – Pela perda ou destruição delas, ou por serem postas fora do comércio. IV – Pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado em tempo competente. V – Pelo constituto possessório. Parágrafo único. Perde-se a posse dos direitos, em se tornando impossível exercê-los, ou não se exercendo por tempo, que baste para prescreverem”. O legislador de 1916 foi repreendido por ter sido casuístico também nas hipóteses de perda da posse, uma vez que poderia ter adotado forma genérica. Em resumo, perde-se a posse sempre que o agente deixa de ter possibilidade de exercer, por vontade própria ou não, poderes inerentes ao direito de propriedade sobre a coisa. Desse modo, não há de se ter como exaustiva a enumeração legal. Perde-se a posse por iniciativa do próprio possuidor ou de terceiro, ou por fato relacionado à própria coisa. Perde-se a posse quando não mais se exerce, ou não se pode exercer, poder fático sobre a coisa. O ato de terceiro que se apossa violentamente da coisa é causa para extinção de uma posse e início de outra. A posse mediata também se perde pelos mesmos fatores. Destarte, perde-se a posse com o desaparecimento do animus ou do corpus, bem como pelo desaparecimento conjunto do corpus e do animus. Nesse rumo, atendendo a essas críticas, foi mais apropriado o Código em vigor ao ressaltar no art. 1.223 que “perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196”. Isto é, perde-se a posse quando desaparecem os poderes inerentes à propriedade com relação à coisa que eram exercidos pelo possuidor, qualquer que seja sua causa. Ainda, o art. 1.224 complementa: “Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”. O esbulho é a perda dos poderes inerentes à posse, que pode se dar de forma violenta ou não. O que está presente e deixa que terceiros tomem conta da coisa, perde a posse. Incumbe a ele, se desejar manter o poder de fato sobre a coisa, que se valha dos remédios possessórios para defender sua posse, até mesmo do desforço imediato que o ordenamento possibilita. O mesmo ocorre se o possuidor toma conhecimento do esbulho e nada faz para impedi-lo. A lei civil de 2002, porém, afirma, repetindo a noção presente no art. 522 do antigo diploma, que, se na tentativa de recuperação, �.�.� o possuidor esbulhado for “violentamente” repelido, também perde a posse. Não nos agrada essa expressão no texto legal, que pode fomentar a violência. O que o legislador pretende dizer, a nosso ver, é a hipótese de o esbulhado ser “prontamente” repelido, com os meios necessários. Uma disposição normativa não pode, em qualquer hipótese, incentivar ou sufragar a violência. O fato é que, enquanto o possuidor esbulhado busca recuperar sua posse, pelos vários meios a seu dispor, não houve perda da posse. Como, pela própria natureza, a posse é estado de fato, o deslinde da perda da posse dependerá sempre do exame do caso concreto, mormente das circunstâncias que o cercam. É muito importante o papel do magistrado nas questões da posse, pois deve ser ele o elo da pacificação no estrépito e tumulto social que essas questões podem gerar. De qualquer modo, ao lado da forma mais genérica encontrada pelo legislador de 2002, analisemos os casos descritos no velho Código, que se inserem na norma geral do art. 1.223 da mais recente lei. Perda da Posse pelo Abandono Quando o possuidor se despoja da coisa, deixando de existir a intenção de mantê-la, ocorre o abandono (derelictio). Não basta para o abandono que o sujeito deixe de exercer continuamente atos de posse. O fato de alguém não ocupar continuamente um imóvel de veraneio, ou não usar diariamente um automóvel, não caracteriza abandono. No abandono, o agente não mantém o desejo de dispor da coisa. É ato voluntário. É desinteresse do titular. Cumpre que o sujeito seja capaz, pois o abandono equivale a ato de renúncia e que seja espontâneo, sem vício de vontade. Não ocorre abandono da coisa com a entrega mediante erro, dolo ou coação, aplicando-se os princípios desses defeitos da vontade. A derrelição da coisa faz perder a posse e a propriedade (art. 589, III, do Código de 1916). Quem joga fora a coisa a abandona. �.�.� Para os imóveis, o abandono caracteriza-se pela ausência do sujeito, que não se utiliza da coisa e manifesta desejo de ali não retornar. “A ausência prolongada e o desinteresse revelado pelo possuidor são circunstâncias indicativas do abandono, por falta de diligência de um interessado cuidadoso” (Monteiro, 1989:73). A mera ausência temporária não significa abandono. Os fatos circundantes da ausência do sujeito devem ser examinados. O abandono pode ser tanto da posse mediata, comoda posse imediata. No abandono, existem ao mesmo tempo perda do animus e do corpus. Nem sempre será fácil ser apurada a perda do animus, se não houver vontade expressa do sujeito: o locatário deixa o imóvel locado, sem rescindir contrato, sem comunicar ao senhorio, e ali deixa seus pertences. Devem-se analisar as circunstâncias e fixar o ânimo de renunciar à coisa e, no caso, à locação. Distingue-se da perda da coisa em que a posse não se extingue, em regra, enquanto o sujeito estiver à procura e no encalço da coisa. Definitivamente perdida a coisa, a posse desaparece contra a vontade do titular. Como o representante pode adquirir a posse, também pode abandoná- la. No caso, deve ser analisada a intenção do representado em de fato não reaver a coisa ou manter a posse. Também não se confunde o abandono da coisa com a perda contra vontade do possuidor, que pode se ver esbulhado da coisa e perder o poder sobre ela, conforme menciona do art. 1.223 do Código. Perda da Posse pela Tradição �.�.� Tradição é entrega da coisa. É forma pela qual, em nosso Direito, transfere-se ordinariamente a propriedade de coisa móvel. A propriedade imóvel transfere-se pelo registro do título, que tem o efeito translatício da posse (Pereira, 1993:42). Analisamos suas várias modalidades na seção 5.1.1.1. Na tradição, o alienante transfere a posse a outrem, em razão de negócio jurídico. Também nessa hipótese, desaparecem o animus e o corpus. Na tradição, enquanto um sujeito adquire a posse, outro a perde. Os atos que importam na perda da posse pela tradição são os mesmos que importam em sua aquisição. Para operar a transferência, há necessidade da intenção do transmitente em transferir a coisa. Quando há desdobramento da posse a título de usufruto, locação etc., o agente mantém a posse indireta. Simples entrega da coisa sem intenção de transferir não implica perda da posse. Perda ou Destruição da Coisa. Coisas Postas Fora do Comércio Desaparecido o objeto da posse, desaparece o corpus. Torna-se inviável a posse. Não se confundem as coisas perdidas ou destruídas com as coisas abandonadas. Na perda, enquanto o perdedor vai ao encalço ou procura a coisa, ainda não se despojou da posse. Nesse sentido, o art. 2.450 do Código Civil argentino: “Enquanto haja esperança provável de encontrar uma coisa perdida, a posse se conserva pela simples vontade”. A perda dá-se quando o possuidor não mais a encontra definitivamente ou não a recebe do inventor. Perde-se, assim, a coisa móvel. Perde-se a posse de imóvel pelo desuso e desinteresse em sua disposição. Na destruição, a posse desaparece de plano. O que se apossa de coisa sem dono, o inventor, tem posse. O inventor ou descobridor de coisa perdida deve entregá-la ao legítimo possuidor. Na destruição, aplicava-se a �.�.� dicção do art. 77 do Código de 1916: “Perece o direito, perecendo seu objeto”. O art. 78 explicitava as formas pelas quais perece o objeto do direito. A destruição pode resultar de fato natural ou de ato de vontade. A lei equiparara o fato de a coisa ter sido colocada fora de comércio à perda ou destruição. Em nossa obra de teoria geral, estudamos as coisas fora do comércio, a inalienabilidade (Direito civil: parte geral, seção 16.10). A situação deve ser vista com ressalva, porém. As terras públicas estão fora de comércio. Não podem ser usucapidas. Não negamos, contudo, que sujeitos possam delas ter a posse, relação de fato com a coisa, defendendo-a contra terceiros que a molestem. É evidente que não podem opor essa relação de fato perante o Estado. “A inalienabilidade é frequentemente compatível com a cessão de uso ou posse alheia” (Pereira, 1993:43). O próprio Estado pode ceder o uso de seus bens a título precário. A regra geral, no entanto, é a impossibilidade jurídica de posse sobre os bens inalienáveis. Posse de Outrem. Perda da Posse do Ausente O dispositivo legal do antigo Código sob exame acrescentava que a perda da posse pode ocorrer “pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado em tempo competente” (art. 520, inciso IV). Essa noção foi magnificamente sintetizada pelo art. 1.223 do Código de 2002. O preço da posse para o titular é a permanente vigilância sobre o objeto de sua posse, sobre o bem. O animus possidendi é um estado permanente. Desaparecendo ou ameaçado o corpus por atividade de terceiro, e tomando conhecimento o possuidor de turbação ou esbulho na coisa possuída, deve incontinenti lançar mão dos meios postos a sua disposição pelo ordenamento para defender sua posse. Mantendo-se silente ou inerte, sujeitar-se-á à perda da posse, como inclusive aduz o art. 1.224 do mais recente ordenamento. Como vimos, o possuidor tem prazo de ano e dia a contar da turbação ou esbulho para obter a concessão de liminar na ação possessória (art. 562 do CPC). Ultrapassado esse prazo, não poderá ser concedida a liminar initio litis. A posse inconturbada do violador inicia novo prazo possessório, podendo convalescer, quando cessada a violência, ou clandestinidade. O art. 522 do antigo Código, no entanto, dispunha: “Só se considera perdida a posse para o ausente, quando, tendo notícia da ocupação, se abstém de retomar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”. A matéria é de prova, como apontamos anteriormente, ao mencionar o art. 1.224 do Código. O dispositivo deveria estar inserido dentro do artigo que trata da perda da posse (520). No sentido geral, considera-se ausente quem deixa seu domicílio sem dar notícias de seu paradeiro (veja nosso Direito civil: parte geral, seção 10.8). O art. 522, no entanto, mencionava ausente no sentido vulgar, e não no sentido técnico, que exigia declaração judicial de ausência do art. 463. Ausente no caso é aquele que não está presente e não se conhece o paradeiro para defender sua posse. O ausente deve intentar o desforço imediato ou a ação possessória, tão logo tenha notícia da ocupação (veja observação acerca da autotutela da posse, Capítulo 7, seção 7.2). Quem impede o retorno do possuidor a sua coisa é esbulhador. No estudo da defesa da posse, serão examinados outros procedimentos que servem para o mesmo propósito. O permanente estado de vigilância também é assegurado pelo ordenamento que permite a legítima defesa da posse, a autodefesa, o desforço imediato: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se, ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo. �.�.� �.�.� Parágrafo único. Os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse” (art. 502 do Código de 1916). Examinaremos o instituto no Capítulo 7, dedicado à defesa da posse. Afora a possibilidade de composse já examinada, a posse é exercida com exclusividade, como exteriorização do domínio. Os interditos têm justamente a finalidade de manter o possuidor na posse ameaçada ou reintegrá-lo na hipótese de posse perdida. Perda da Posse pelo Constituto-Possessório Por várias vezes, neste capítulo, referimo-nos ao constituto, inclusive ao comentar o Projeto nº 6.960/2002. O presente Código preferiu não o mencionar de forma expressa. Cuida-se de inversão do animus, que serve para modificar a natureza da posse. O possuidor que transfere o objeto a outrem, utilizando-se do constituto-possessório, perde um título de posse e passa a ter outro. O proprietário aliena a coisa e continua a residir no imóvel precariamente, com posse em nome do adquirente. Externamente, nada muda. Assim como o constituto é modalidade de aquisição, também o é de perda. Perda da Posse de Direitos O parágrafo único do art. 520 do velho Código mencionava a perda da posse dos direitos pela impossibilidade de exercê-los, ou pelo não exercício no prazo de prescrição. Tivemos oportunidade de analisar a problemática referente ao tema posse de direitos. Evidentemente, pelo exposto, a dicção legal aqui não se refere à posse de direitos pessoais, tal como discutida no início de vigência do Código. Como enfatizamos (seção 5.3.4), quandose protege a aparência de um direito real, protege-se inevitavelmente o exercício de um direito. Protege- se o estado de fato tipificado como posse, porque ele estampa a possibilidade de exercício de direito. No entanto, a crítica que se fez continuamente ao dispositivo é referir-se a essa terminologia equívoca, posse de direitos, que poderia dar azo à compreensão de ter o legislador admitido a posse de direitos pessoais. Sendo passível de posse tudo o que for passível de utilização, o exercício desse poder de utilização deve ser inserido na compreensão do termo legal. Cuida-se do exercício dos direitos reais, enfim. Aplica-se tanto aos direitos corpóreos, como incorpóreos. Assim, não há como defendermos a posse de uso de energia elétrica, se o concessionário suprimiu esses serviços, ou se o usuário não possui título para tal. Não há como defendermos o exercício de direitos inerentes ao usufruto, se a ele renunciou o usufrutuário. Aduz Tito Lívio Pontes (1977:239): “O melhor era dizer que a expressão ‘posse de direito’ abrange toda situação legal, por força da qual uma coisa fica à disposição de alguém, que a pode usar e fruir, como se fora a própria. Esta definição é mais abrangente e compreensiva, transcendendo a esfera dos direitos reais, sem todavia incluir os chamados direitos obrigacionais, que proteção possessória não têm, pois são simples vínculo ligando pessoas nas obrigações de dar, fazer ou não fazer alguma coisa”. Desse modo, como já expressamos, na jurisprudência atual predomina a ideia de que é suscetível de proteção possessória tudo aquilo que puder ser apropriado e exteriormente demonstrado. Em cada caso, cumpre examinar quais os poderes contidos no direito de propriedade, ou outro direito real, que podem ser possessórios, ou seja, o estado fático da posse. Portanto, a perda da posse de direitos, estabelece a lei, equivale à perda da coisa, pois fica o sujeito impossibilitado dela dispor (ius abutendi). Essa impossibilidade pode provir de ato de terceiro ou de fato natural, cujos efeitos são idênticos. A situação vê-se absorvida pela dicção do art. 1.223, que se refere à cessação do poder sobre a coisa, de forma geral. A disposição da antiga lei refere-se não apenas ao que denomina perda da posse de direitos, mas também à falta de exercício que possibilita a usucapião por outrem. São, portanto, duas as hipóteses legais. A omissão do possuidor por certo lapso de tempo possibilita a perda de sua posse. Os direitos devem ser conservados por atos que revelem o interesse dos agentes. A inércia do titular pode ocasionar a perda da posse. Como dissemos, o preço da posse é sua permanente vigilância. As servidões, por exemplo, perdem-se pelo não uso, se seu possuidor não demonstrar sinais palpáveis de sua utilização, caracterizadores da intenção de mantê-la. O simples não uso, porém, não é suficiente para a perda da posse. É necessário que a essa conduta omissiva do titular junte-se conduta ativa de outrem, que passa a usufruir da coisa. A situação é idêntica à propriedade, uma vez que a posse é sua exteriorização. �.� PERDA OU FURTO DA COISA MÓVEL E TÍTULO AO PORTADOR O antigo art. 521 do Código de 1916 estatuía: “Aquele que tiver perdido, ou a quem houverem sido furtados, coisa móvel, ou título ao portador, pode reavê-los da pessoa que os detiver, salvo a esta o direito regressivo contra quem lhos transferiu. Parágrafo único. Sendo o objeto comprado em leilão público, feira ou mercado, o dono, que pretender a restituição, é obrigado a pagar ao possuidor o preço porque comprou”. Essa disposição estava deslocada, porque dizia respeito à propriedade, não à posse. Referia-se à aquisição e perda da propriedade móvel (arts. 592 e 622). Cuidava-se de aplicação de regra geral da ação reivindicatória. Trata-se de corolário da regra estabelecida no art. 622 do antigo Código: “Feita por quem não é proprietário, a tradição não alheia a propriedade”. O proprietário privado da coisa pode reivindicá-la de quem quer que a detenha. Destarte, a posse da coisa móvel, por si só, não induz domínio em nosso ordenamento. Quem encontra coisa perdida tem a obrigação de devolvê-la; o furtador ou roubador não tem título para conservar a coisa. Pelo princípio de sequela, o titular reivindica a coisa com quem estiver, ainda que com terceiros. A estes ficará reservada somente a ação regressiva contra quem lhes transferiu a coisa. O título ao portador é equiparado à coisa móvel pela lei. O título ao portador espelha um direito de crédito, líquido e certo e transmissível. Nesse instituto, a obrigação confunde-se com o próprio título. Por essa razão, sua perda está equiparada às situações de posse, exteriorizações de propriedade, portanto. O direito nos títulos ao portador confunde-se com a própria cártula. Daí a proteção do artigo. O título é equiparável a coisa móvel corpórea. Sua perda pode dar margem ao novo detentor se valer dos benefícios do crédito ali estampado. Cabe a reivindicação tanto no caso de perda, como no de furto. A lei protege com a ação reivindicatória a vítima de furto ou roubo. Se esta transfere a coisa por sua vontade, mas sob a conduta de estelionato, falsidade ou apropriação indébita, o remédio jurídico será outro, possivelmente a anulação do negócio contra o agente autor da conduta ou indenizatória de perdas e danos, se alienada a coisa a terceiros de boa-fé. Nessas condutas, houve vontade do que deixou de ter a coisa, embora viciada. A regra do caput do artigo sofria a limitação do parágrafo. Na hipótese de a coisa ter sido adquirida em leilão público, feira ou mercado, o reivindicante deveria pagar o possuidor. Procurou-se dar segurança aos negócios realizados nesses locais e circunstâncias, onde o exame do título da coisa adquirida é mais custoso. Protegia-se a segurança do comércio. O legislador procurou defender o interesse social em detrimento do individual nesse dispositivo. Washington de Barros Monteiro (1989:77) lembra que, embora o texto referia-se apenas a leilão, feira ou mercado, a hipótese estendia-se a locais assemelhados, tais como hastas públicas, bolsas de valores e mercadorias e corretores de gado. Sempre haverá possibilidade de ação de regresso, no caso, contra aquele que viciou o título. Ausente dispositivo nesse diapasão no Código de 2002, nem por isso deixam de ser aplicados os princípios gerais da ação reivindicatória. �.� ATOS QUE NÃO INDUZEM POSSE Em nosso sistema, a relação fática com a coisa que tem início violento ou clandestino não é de posse, enquanto permanece a violência ou clandestinidade. Torna-se posse após cessados os vícios. Tenhamos em mente o exemplo de coisa roubada ou furtada. Enquanto mantido esse estado ilegítimo, não há posse. Se o dono concorda com a posse do furtador ou do roubador que não mais a esconde, cessa a injustiça e inicia-se a posse. Do mesmo modo, aquele que adentre terreno à socapa, na ausência do dono ou possuidor, ainda não tem relação possessória. Contudo, tornando- se pública sua relação ou dela tendo conhecimento o esbulhado que se queda inerte, o invasor faz-se possuidor. Enquanto permitida a relação com a coisa, não há esbulho. Suprimida a permissão ou tolerância, abre-se ensancha à defesa da turbação, que então passa a existir. Pontes de Miranda (1971, v. 10:58) denomina tença a esse período em que a relação com a coisa ainda não é posse. Essa proposição deflui do art. 1.208: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância, assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência, ou a clandestinidade”. Tanto a cessação da violência e da clandestinidade, como o exame da tolerância ou mera permissão, dependerão exclusivamente da casuística. Quem permite ou tolera a apreensão da coisa não renuncia a sua posse. Suponhamos a hipótese do proprietário que permite que terceiro transite por seu terreno; ou o possuidor de um livro que autoriza alguém a lê-lo. Tais atos, por si sós, não devem induzir posse, porque até mesmo a posse precáriadeve decorrer da vontade do agente. A mera permissão ou tolerância não podem converter-se em posse. Os atos originalmente violentos ou clandestinos podem tornar-se posse somente depois de cessada a violência ou clandestinidade. �.� POSSE DE MÓVEIS CONTIDOS EM IMÓVEL O art. 1.209 do Código dispõe que “a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem”. Aplica-se, na hipótese, o princípio de acessoriedade. A lei presume que os móveis integram o imóvel ou são seus acessórios. Essa presunção é relativa. Desse modo, pela vontade das partes e pelas circunstâncias do caso concreto, pode ocorrer que as coisas móveis ou nem todas as coisas móveis que se encontram no imóvel sejam de posse do possuidor do imóvel. Assim, por exemplo, não se presume que um imóvel tenha sido locado mobiliado, ou com toda a mobília que ali está, se não houve vontade expressa das partes nesse sentido. Muito desse aspecto é traduzido pelos usos. É necessário que em cada caso se atente à natureza e aos limites da posse. Não se vai admitir, por exemplo, que a venda ou locação de uma residência inclua também o anel de pedras preciosas que a ex-moradora esqueceu em uma de suas dependências. Há expressões usuais nos negócios que enfatizam essa presunção legal, quando, por exemplo, a venda de uma propriedade rural é feita com “porteira fechada”, significando que o negócio inclui tudo que ali dentro se encontra. Pelo principal, o que a lei desejou significar é que o possuidor do imóvel também será possuidor dos móveis que ali se encontram. Esse princípio não exclui nem conflita com a regra geral pela qual o acessório segue o principal, estampado no art. 92. Nesse caso, como traduz a lei, o acessório é aquele bem cuja existência supõe a do principal. No artigo sob exame, a lei estabelece uma presunção que tem a mesma compreensão com alcance mais específico. Note que o Código vigente procurou restringir um pouco o alcance do dispositivo, não mais se referindo, como fazia o antigo art. 498, a objetos, mas apenas aos móveis que estiverem no imóvel. “Usucapião extraordinária. Sentença de improcedência. Irresignação dos autores. Preliminar de cerceamento de direito. Inocorrência. Suficiência da prova documental para análise da controvérsia. Inteligência dos arts. 355 e 370 do CPC. Mérito. Posse que deve manter o mesmo caráter com que foi adquirida (art. 1.203, CC). Necessidade de comprovação inequívoca da alteração do ‘animus’ durante o exercício dos atos possessórios. Inocorrência. Pagamento das despesas e impostos correspondentes que não constitui comportamento exclusivo do proprietário. Ausência de resistência a ser encarada como o consentimento dos titulares do domínio, após o falecimento dos locadores originais, com o prolongamento do contrato, tanto que o bem foi relacionado na ação de inventário proposta. Oposição exercida por meio de possessória. ‘Animus domini’ não configurado. Sentença mantida. Honorários advocatícios sucumbenciais majorados para 15% do valor atribuído à causa (art. 85, § 11, CPC), ressalvada a gratuidade concedida à parte vencida. Recurso desprovido”. (TJSP – Ap 1053292- 15.2016.8.26.0100, 3-6-2022, Rel. Alexandre Marcondes). “Possessória – Reintegração de posse - Necessidade de estarem preenchidos os requisitos previstos no art. 561 do atual CPC para a caracterização do pedido como possessório – Hipótese em que ficou comprovado o exercício da posse por parte do autor, que cedeu o imóvel, em comodato verbal, para que a sua neta nele residisse – Fatos noticiados pelo autor na exordial que, além estarem corroborados por diversos documentos anexados aos autos, foram presumidos verdadeiros em razão da revelia da ré. Possessória – Reintegração de posse – Demonstrado o esbulho possessório praticado pela ré – Posse da ré, recebida em comodato, que mantém a característica da precariedade – Art. 1.203 do atual CC – Ré que passou da condição de possuidora direta para esbulhadora quando, instada pelo autor para que desocupasse o imóvel disputado, recusou-se a dele sair - Citação válida da ré que se revelou suficiente para constituí-la em mora – Legítimo o pleito de reintegração de posse por parte do autor – Apelo da ré desprovido”. (TJSP – Ap 1002797-73.2019.8.26.0451, 19-11-2021, Rel. José Marcos Marrone). “Processual civil – Recurso Especial – Ação de reintegração de posse – Negativa de prestação jurisdicional – Não ocorrência – Embargos com propósito de prequestionamento – Súmula nº 98 do STJ – Multa afastada – Cerceamento de defesa – Litigância de má-fé – Reexame 1 do conjunto fático-probatório dos autos – Inadmissibilidade – Incidência da súmula nº 7 do STJ – Constituto Possessório – Escritura Pública – Posse Indireta – Caracterização – Recurso parcialmente provido – 1– Inexiste afronta ao art. 535 do CPC/1973 quando a Corte local pronunciou-se, de forma clara e suficiente, acerca das questões suscitadas nos autos, manifestando-se sobre todos os argumentos que, em tese, poderiam infirmar a conclusão adotada pelo Juízo. 2– ‘Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório’ (Súmula nº 98 /STJ). 3– O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula nº 7 do STJ. 4– No caso concreto, o acolhimento da pretensão da recorrente, a respeito do cerceamento de defesa, demandaria incursão no acervo probatório dos autos. 5– O Tribunal de origem entendeu que estariam presentes circunstâncias a justificar a penalidade por litigância de má-fé. Alterar esse entendimento demandaria reexame das provas produzidas nos autos, vedado em recurso especial. 6– Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, é cabível o ajuizamento de ação possessória pela posse indireta exercida pelo autor, decorrente da inserção de cláusula ‘constituti’ na escritura pública de compra e venda de bem imóvel. Precedentes. 7– Recurso especial a que se dá parcial provimento, somente para afastar a multa do art. 538 do CPC/1973” (STJ – REsp 1147826/PR, 20- 9-2019, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira). “Direito Civil – Apelação Cível – Ação de usucapião extraordinário – Ausentes os requisitos previstos no art. 1.238 do Código Civil – Recurso conhecido e desprovido – I- Para aquisição da propriedade, por meio do Usucapião Extraordinário deve o autor comprovar: (a) decurso do prazo de 15 (quinze) anos ou, 10 (dez) anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo; (b) posse mansa e pacífica, livre de qualquer oposição; (c) manifesta intenção de ter a coisa como dono (animus domini), conforme previsto no art. 1.238, do Código Civil. II- O possuidor pode acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (acessio possessionis), desde que as posses anteriores reúnam os mesmos requisitos que a lei exige para a posse exercida pelos Recorrentes, quais sejam, posse mansa, pacífica e com ânimo de dono, consoante disposto no art. 1.243, do Código Civil. III- Os Recorrentes não se desincumbiram do ônus probatório deixando de comprovar o exercício da posse com aparência de proprietário pelos seus antecessores, o que, com base no instituto da acessio possessionis, seria fato constitutivo de seu direito. IV- Nos termos da Jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça ‘é possível o reconhecimento da usucapião no curso do próprio processo, não tendo a contestação, por si só, o condão de interromper o prazo da prescrição aquisitiva. Precedentes. 2- Recurso especial conhecido e provido’. (STJ – REsp Nº 1.592.502 PR 2016/0072297-3, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 09.03.2017, DJe 21.03.2017). V-In casu, os Recorrentes lograram êxito em comprovar que, além do caráter produtivo, detinham a posse do imóvel vindicado sem interrupção, nem oposição, por aproximadamente 6 (seis) anos, até outubro de 2015, sendo certo que, agora em julho de 2017, os mesmos detêm a referida posse por aproximadamente8 (oito) anos, tempo esse, bem é de ver, inferior ao previsto no parágrafo único, do art. 1.238, do Código Civil de 2002, qual seja, de 10 (dez) anos. VI- Recurso conhecido e desprovido, por maioria de Votos, vencido o Eminente Desembargador Relator, CARLOS SIMÕES FONSECA, que votou pelo provimento do Recurso para reformar a Sentença a quo e jugar procedente o pedido inicial para ‘declarar usucapida a área do terreno urbano de 153,19 m , situada na Rua Dr. Amilcar Figliuzzi, nº 88, Bairro Coronel Borges, Cachoeiro de Itapemirim/ES pelos apelantes’. VII- Recurso conhecido e não provido” (TJES – Ap 0006663-79.2013.8.08.001, 23-8-2017, Rel. p/ o Ac. Namyr Carlos de Souza Filho). “Administrativo – Embargos de terceiros – Tradição – Ausência de comprovação da posse – 1- Nos termos do disposto no art. 1267 do Código Civil, a transmissão da propriedade de bem móvel se dá com a tradição e não pela simples realização do negócio jurídico. 2- Nos termos do art. 674 do CPC, quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. 3- Em que pese os documentos acostados aos autos, não há quaisquer elementos que deem amparo à versão do embargante, ou que demonstrem que este ostentava o domínio ou a posse do bem. 4- Não comprovando o embargante ter a propriedade ou a posse do bem julgam-se improcedentes aos presentes embargos” (TRF-4ª R. 2 2 – AC 5000152-62.2016.4.04.7207, 22-10-2019, Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida). “Agravo interno no agravo em recurso especial – Processual Civil – Ação de reintegração de posse – Cabimento – Posse Indireta – Acórdão recorrido e entendimento desta corte – Consonância – Reexame de provas – Impossibilidade – Súmula nº 7 /STJ – 1- O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que é cabível a ação de reintegração de posse quando o autor comprova o exercício de posse indireta adquirida mediante constituto possessório. 2- Rever a conclusão do aresto impugnado acerca da existência de posse indireta e de esbulho possessório encontra óbice, no caso concreto, na Súmula nº 7 /STJ. 3- Segundo jurisprudência pacífica, a incidência da Súmula nº 7 /STJ obsta o seguimento do recurso por qualquer das alíneas do permissivo constitucional. 4- Agravo interno não provido” (STJ – AGInt-AG-REsp 1.081.186 – (2017/0076936-6), 28-9-2018, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). “Apelação Civil – Reintegração de posse – Bem Móvel – Veículo Automotor – Aquisição de veículo – Tradição – Inexistência – Veículo produto de fraude – Negócio Jurídico Nulo – Ausência de restrição à época da transação – Boa- Fé Subjetiva – Despicienda – Sentença mantida – 1- A propriedade sobre coisa móvel é adquirida no momento da tradição, inteligência do art. 1.267 do Código Civil. 2- A aquisição de veículo, mediante transação realizada por quem não é o proprietário, não obstante gere a presunção de boa-fé ao adquirente, não transfere a propriedade (CC, art. 1.268, § 2º), haja vista ser nulo de pleno direito o negócio realizado com quem não seja proprietário do bem móvel, visto que forja a manifestação de vontade do proprietário. 3- Recurso conhecido e desprovido” (TJDFT – Proc. 20150610153329APC – (1001827), 14-3-2017, Rel. Carlos Rodrigues). “Apelação – Reintegração de posse – Cláusula ‘constituti’ possessória – Posse – Origem – Prova – Necessidade – Para a propositura das ações possessórias pressupõe-se a posse anterior da coisa. A origem da posse deve ser demonstrada para a expedição do mandado possessório. A cláusula constituto-possessório por si só, ainda que de forma indireta, não demonstra que os antigos proprietários do imóvel exerciam a posse sobre ele” (TJMG – AC 1.0701.11.013875-0/005, 20-5-2016, Rel. Antônio Bispo). “Ação de reintegração de posse. Comodato. Há tradição pelo constituto possessório (art. 1.267, parágrafo único, do Código Civil). – Havendo comodato, a caracterização do esbulho pela notificação desatendida, é pressuposto processual da ação de reintegração de posse – Inexistência de notificação. Extinção do processo sem resolução do mérito. Recurso prejudicado” (TJSP – Ap 9065910-06.2009.8.26.0000, 15-4-2014, Rel. Alcides Leopoldo e Silva Júnior). “Processual civil, consumidor e civil – Embargos à execução – Aquisição de veículo – Tradição do bem móvel – Inocorrência – Contrato declarado nulo – Mera proposta de financiamento – Artigos 1.226 e 1.267 do Código Civil – Litigância de má-fé afastada – Art. 80 do CPC – Sentença parcialmente reformada – 1- Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição (Art. 1.226 do Código Civil). 2- A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; Quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; Ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico (Art. 1.267 do Código Civil). 3- Assim, na medida em que o consumidor sequer chegou a receber o veículo na concessionária, a nulidade do contrato é medida que se impõe, ainda mais quando demonstrado que o instrumento firmado pelo devedor tem aparência de orçamento, com validade da proposta, inclusive. 4- Apesar do negócio jurídico não ter sido perfectibilizado, na medida em que não houve a tradição do automóvel, que sequer chegou a sair da concessionária, cabe ressaltar que o embargante recebeu o carnê de pagamento e antecipou a primeira parcela, conforme consta do recibo de pagamento colacionado pelo próprio embargante, o que afasta a má-fé da instituição financeira. 5- Recurso parcialmente provido” (TJDFT – Proc. 07038155020188070005 – (1164683), 24-4-2019, Rel. Josapha Francisco dos Santos). “Possessória – Imóvel arrendado da Caixa Econômica Federal em nome da agravada – Existência de cláusula contratual exigindo ocupação pela arrendatária/mutuária sob pena de rescisão contratual – Parcelas que vão vencendo em nome dela – Varão que detém outro imóvel financiado em seu nome no próprio prédio – Existência de união estável e partilha a ser dirimida pela via própria – Respectiva ação já em andamento no Juízo de Família – 3 Alegação de que emprestara seu nome para irmã adquirir o outro apartamento que depende de provas a serem produzidas e sopesadas oportunamente – Posse da autora comprovada, constando do contrato a transferência a ela por meio do constituto possessório – Alegações de continência e pedido de reunião de processos que é mera inovação recursal – Questões sequer alegadas na contestação – Razoável que a posse seja atribuída em caráter liminar à mutuária/arrendante, como de fato foi – Decisão mantida – Agravo de instrumento desprovido” (TJSP – AI 2053263- 83.2018.8.26.0000, 26-6-2018, Rel. Mendes Pereira). “Agravo de instrumento – Ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais. Compromisso de compra e venda de imóvel, com constituto possessório. Suposto esbulho mediante a locação do bem a terceiro. Pedido acautelatório de depósito dos alugueres recebidos pelos requeridos. Decisão interlocutória que indeferiu liminarmente o pleito provisório. Recurso dos autores. Pedido de reforma da decisão ao argumento de restarem demonstrados os requisitos autorizadores da concessão da medida. Insubsistência. Contrato de compra e venda desacompanhado de prova da satisfação pelos agravantes/adquirentes das contraprestações pactuadas. Esbulho igualmente não comprovado. Suposta locação do imóvel pelos requeridos não evidenciada. Consignação incidental de alugueres que exige demonstração objetiva da avença locatícia em ofensa à posse dos autores. Elementos probatórios initio litis que não evidenciam plausibilidade das alegações autorais. Situação fática que impõe a manutenção da decisão agravada. Inteligência do art.300 do novo Código de Processo Civil. Necessidade de formação do contraditório e da ampla defesa. Decisão de primeiro grau acertada. Recurso conhecido e desprovido” (TJSC – AI 4016656-62.2016.8.24.0000, 23-5-2017, Relª Desª Denise Volpato). “Apelação cível – Ação de reintegração de posse impossibilidade de discussão acerca do domínio – Art. 1.210, § 2º, do Código Civil – Constituto- possessório – Não configuração – Proprietário que cede o uso de imóvel para instalação de horta comunitária – Situação não transitória – Ingresso dos hortelões no imóvel por autorização da prefeitura municipal – Caráter de programa social – Posterior alienação do domínio – Posse indireta do proprietário registral não caracterizada – Transmissão ao comprador – Impossibilidade – Requisitos para reintegração não preenchidos – Art. 927, do Código de Processo Civil – Posse coletiva que confere função social à propriedade – Tutela que se impõe – Ponderação de valores – 1- No constituto-possessório, aquele que possuía o bem como proprietário passa a exercer sua posse derivada, em virtude de negócio jurídico, mediante o qual há novação do animus da posse. 2- ‘A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os juízos possessório e petitório’ (Enunciado nº 79 CFJ/ STJ, da I Jornada de Direito Civil). 3- Ao ajuizar o interdito possessório, o possuidor tem o ônus de comprovar o efetivo exercício da posse, ainda que na modalidade indireta, em momento anterior ao esbulho, nos termos do art. 927, do Código de Processo Civil. 4- A exteriorização da posse indireta se dá mediante a identificação do desdobramento dos poderes de fato sobre a coisa. 5- Tendo o proprietário deixado de exercer a posse indireta do imóvel, se lhe torna impossível transmiti-la aos adquirentes por força de contrato de compra e venda. 6- Merece ser tutelada a posse coletiva que confere função social à propriedade, em detrimento do domínio daquele que não demonstra ter exercido, durante prolongado período de tempo, qualquer poder de ingerência sobre a coisa. Recurso conhecido e não provido” (TJPR – AC 1410738-1, 14-3-2016, Relª Desª Rosana Amara Girardi Fachin). Ver nota 11 do Cap. 9.4 �.� � DOS EFEITOS DA POSSE (I): FRUTOS, PRODUTOS E BENFEITORIAS. INDENIZAÇÃO PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA. USUCAPIÃO EFEITOS DA POSSE. SUA CLASSIFICAÇÃO. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA Entende-se por efeitos da posse as consequências jurídicas que dela advêm, sua aquisição, manutenção e perda. Como importante situação de fato, exterioridade da propriedade, a lei confere uma série de efeitos e direitos ao possuidor que tem sua posse mantida ou suprimida. A doutrina não é uníssona a respeito das consequências jurídicas da posse. Ponto de partida importante é a própria lei. Nossos Códigos, no Capítulo da posse, ao cuidar dos efeitos da posse, principiam pela descrição dos meios procedimentais de defesa, interditos e autotutela, arts. 1.210 a 1.222). Nos arts. 1.214 ss, o1 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Código dispõe acerca dos frutos da coisa possuída. O estatuto regula, nestes últimos dispositivos, a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa e o destino e indenização por benfeitorias. De acordo com Clóvis (1938, v. 3:26), são sete os efeitos da posse, classificação sem dúvida a mais completa. O autor do projeto de 1916, em seu comentário ao art. 499, enumerava: direito ao uso de interditos (ou defesa da posse em geral, em que se inclui a autodefesa); percepção dos frutos; direito de retenção por benfeitorias; responsabilidade do possuidor por deteriorações; usucapião; inversão do ônus da prova para quem contesta a posse, pois que a posse se estabelece pelo fato; o possuidor goza de uma posição favorável em atenção à propriedade, cuja defesa se completa pela posse, ainda que, no sistema do Código, não induza sempre a presunção de propriedade em favor do possuidor. Se a posse for examinada exclusivamente como um estado de fato, protegido pelo Direito, reduziremos seus efeitos a sua proteção (interditos) e à possibilidade da 2 usucapião. No entanto, é evidente, ainda que não fosse outra a razão, que o legislador se refere a efeitos secundários da posse, como as indenizações pelas benfeitorias, frutos e indenizações pela coisa, consequências que devem ser consideradas. De outro lado, esses efeitos enunciados na lei têm importantes consequências práticas em muitos processos em que é discutida a posse, o que, por si só, justifica a preocupação didática e legislativa. De qualquer forma, o realce da matéria centraliza-se nos meios de defesa da posse, nos interditos ou ações possessórias. Algumas legislações, como a nossa atual, relegam a matéria para a parte processual. Contudo, as ações possessórias encontram o respaldo e o ponto de partida no direito material. Cabe ao estatuto processual dar os contornos procedimentais àquilo que tradicionalmente pertence ao Direito Privado. É indissociável o fenômeno da posse de sua proteção. A solidez da relação possessória reside nas regras de direito material. As regras de processo darão vida e dinâmica à proteção da posse enunciada pelo direito material. Por essa razão, mostra-se indestacável o estudo dos meios de proteção da posse dos princípios processuais, o que faz por merecer exame conjunto. Inelutável que se analisem os processos de defesa da posse. Destarte, o estudo a ser feito no Capítulo 7 abrange direito material e direito processual da posse e não poderia ser diferente. Não há como examinar a defesa da posse sem o exame das regras dos procedimentos possessórios. Aliás, essa necessidade ocorre com muita frequência, pois o processo confere dinâmica às tipificações estáticas fornecidas pelo ordenamento material. De nada adiantaria possuir um direito se o ordenamento não fornecesse instrumento, procedimento para resguardá-lo, mantê-lo, protegê-lo e torná-lo eficaz e operativo; dinâmico, enfim. Esse o sentido do Direito Público subjetivo do direito de ação, lato sensu. Inobstante, há institutos de direito material que se ligam de forma mais acentuadamente íntima com o processo. A posse é exemplo típico. Lembremos do que ocorre também, por exemplo, com a consignação em pagamento e com a execução das obrigações de fazer estudadas na parte geral das obrigações, nas quais também o apelo aos enunciados processuais é indelével e inafastável. Como diz o grande Clóvis (1938:26), “se, no Brasil, se entregasse aos códigos processuais a matéria dos interditos, teríamos, dispersando os elementos da teoria possessória, tornado muito precária sua firmeza”. O Código Civil de 2002 manteve a mesma orientação, relegando, porém, toda a matéria tipicamente procedimental, para o Código de Processo Civil. Se a inovação é boa, o tempo nos dirá. Parece-nos que a jurisprudência, no geral, está reagindo corretamente. No mesmo sentido, coloca-se Orlando Gomes (1983:58): “Sem embargo de ser a matéria de direito adjetivo, a lei civil traça-lhe algumas regras, com o objetivo de disciplinar o direito aos interditos, considerado dos principais efeitos da posse e, até mesmo, parte integrante do seu conteúdo. Entrosadas como se acham, em consequência, as disposições de direito substantivo e processual, é desaconselhável tratá-las separadamente. Seu estudo deve ser reservado, por questão de método, para o capítulo da proteção possessória”. �.� PERCEPÇÃO DOS FRUTOS Os arts. 1.214 ss pressupõem a existência de discussão sobre os frutos na posse e sua destinação, em espécie ou em valor equivalente. Essa discussão independe do título da posse. É examinada apenas a boa ou má-fé daquele que se despoja da coisa. Se não existissem essas regras na lei, em tese todos os frutos deveriam ser restituídos, ocasionando enriquecimento injustificado. A reivindicação da coisa implicaria sua devolução com todos os acréscimos e proveitos. Em Direito civil: parte geral, referimo-nos aos frutos (seção 16.8.1). O art. 6º do Código anterior expressavaque “entram na classe das coisas acessórias os frutos, produtos e rendimentos”. Os arts. 95 e 96 do Código em vigor traduzem a mesma noção. Os frutos podem ser vistos como utilidades periodicamente produzidas pela coisa, sob o aspecto objetivo. Pela visão subjetiva, frutos são riquezas normalmente produzidas por um bem, podendo ser uma safra, como os rendimentos de um capital. Nosso Código trata dos frutos sob o aspecto subjetivo. Esses frutos podem ser naturais, industriais e civis. Naturais, os provenientes da força orgânica, como os frutos de uma árvore, as crias dos animais. Industriais são os decorrentes da atividade humana, como a produção industrial. Civis são as rendas auferidas pela coisa, provenientes do capital, tais como juros, alugueres e dividendos. Produtos são bens extraídos da coisa, que diminuem sua substância porque não se reproduzem periodicamente como os frutos. Assim se colocam as riquezas minerais como o ouro, o petróleo, as pedras etc. Rendimentos são frutos civis. Ao mencioná-los, o Código de 1916 foi redundante. Os frutos podem ser naturais ou civis, portanto. Todos esses bens ingressam na categoria de acessórios. Como expressamos na obra referida, reputam-se pendentes os frutos quando ainda unidos à coisa que os produziu; percebidos ou colhidos, depois de separados; estantes, após separados e armazenados; percipiendos, os que deveriam ter sido colhidos e não o foram, e consumidos, os frutos já utilizados, não mais existentes. Essas modalidades têm vital importância em razão das consequências derivadas da perda da posse. Tanto aqui como no tocante às construções, plantações e benfeitorias, o princípio geral que rege a indenização desses acréscimos da coisa objetiva evitar o enriquecimento injusto (ver, sobre o tema, o capítulo sobre a matéria em nossa obra Direito civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, Cap. 9). O art. 1.215 dispõe que os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos tão logo separados; os civis reputam-se percebidos dia a dia. O art. 1.214, parágrafo único determina que os frutos pendentes, quando cessar a boa-fé do possuidor, devem por ele ser devolvidos. Nessas disposições, portanto, atentemos que o legislador refere-se unicamente aos frutos naturais, ou frutos propriamente ditos. De acordo com a dicção do art. 1.215, os frutos civis, rendimentos, são contados dia por dia, o que significa que o possuidor de má-fé responde por eles desde o dia em que esta se iniciou. Para os frutos civis, cada dia representa uma fração de tempo. Não reclamam, ao contrário dos frutos naturais e industriais, a percepção efetiva. O pagamento dos rendimentos é decorrência automática desejada por nossa lei. O possuidor de boa-fé tem direito aos rendimentos até o dia em que ela cessa. Ou, em outros termos: o possuidor de boa-fé responde como o de má-fé desde o momento em que cessou a boa-fé. Já examinamos que a má-fé pode existir antes mesmo da citação ou da ação judicial. Tanto em matéria de frutos, como no respeitante aos outros acréscimos na coisa possuída, a linha divisória entre a boa e a má-fé do possuidor fará decorrer importantes efeitos. Evidentemente, privilegia-se a boa-fé. Ao possuidor de má-fé apenas se impede que propicie um injusto enriquecimento a terceiros. Ver o que falamos a respeito da posse de boa e de má-fé no Capítulo 4 (seção 4.4), bem como sobre a conceituação legal de possuidor de boa-fé do art. 1.201. Da qualificação de uma ou outra ciência da posse decorrerão os efeitos relativos aos frutos 3 ora examinados. Lembremos, por outro lado, do que dissemos ali: nem sempre se confundem os conceitos de posse justa e posse de boa-fé. O momento divisório, a transmutação da posse de boa para a posse de má-fé já foram objeto de nosso estudo. A regra geral é a de que, sendo os frutos acessórios, pertencem ao titular da coisa principal. Por isso, quando alguém reivindica ou retoma a coisa de outrem que a usufrui, faz jus à restituição dos frutos percebidos. O princípio sofre exceção, no entanto, em favor do possuidor de boa-fé. “O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos” (art. 1.214). Destarte, na sentença deve ser fixado o início da indenização pelos frutos, estabelecendo-se o momento de início da má-fé. É aplicado tudo o que foi dito a esse respeito. O legislador valora duas condutas: a do possuidor que não tinha consciência de sua má posse e a do retomante da coisa, que tinha direito a ela. Protege-se a boa-fé, punindo-se o possuidor de má-fé, que deve indenizar pelos frutos percebidos. Em cada caso, analisa-se se existe a linha divisória entre a boa ou má-fé para aplicação dos efeitos legais. Se a posse é de má-fé desde o início, não há por que aplicar os princípios dedicados ao possuidor de boa-fé. Os frutos ainda pendentes e os antecipadamente colhidos devem ser abonados ao retomante a partir do momento em que cessar a boa-fé. De acordo com o art. 1.216, também no intuito de impedir o injusto 4 enriquecimento, o possuidor de má-fé que entrega os frutos faz jus às despesas de produção e custeio: “Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio”. Segundo o art. 1.214, parágrafo único, as despesas de produção e custeio também devem ser indenizadas ao possuidor de boa-fé, no tocante aos frutos pendentes: “Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação”. A colheita de frutos antecipadamente pode sugerir má-fé; todavia, mesmo que não ocorra, os frutos não podem pertencer ao possuidor, porque deveriam ser colhidos quando a boa-fé já cessara. Se não tivessem sido colhidos antes do tempo, ainda estariam pendentes e pertenceriam ao novo possuidor. Desse modo, o possuidor de má-fé deve não somente devolver os frutos colhidos e percebidos, como também 5 indenizar pelos frutos que por sua culpa deixou de colher, ou seja, os percipiendos. �.� • INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS E DIREITO DE RETENÇÃO O mesmo princípio que rege a responsabilidade dos frutos na posse determina o regime das benfeitorias. Trata- se de mais uma situação legal a impedir o enriquecimento injusto. O conceito de benfeitorias já foi por nós examinado no estudo da parte geral (Direito civil: parte geral, seção 16.8.2). Note que sob o diploma de 2002 a questão mais importante é distinguir, no caso concreto, benfeitorias de pertenças. Benfeitorias são obras ou despesas feitas na coisa, para o fim de conservá-la, melhorá-la ou embelezá- la. Decorrem, portanto, da atividade humana. Não são benfeitorias os acréscimos naturais à coisa. O art. 96 do Código fornece a divisão tripartida das benfeitorias: são necessárias as que têm por finalidade conservar a coisa ou evitar que se deteriore nesse sentido, serão benfeitorias necessárias o reparo nas vigas de sustentação de uma ponte; a substituição de peça de motor que impede ou prejudica seu funcionamento; a cobertura de material colocado ao relento, sujeito a intempéries; • • são úteis as que aumentam ou facilitam o uso da coisa. Serão benfeitorias úteis, por exemplo, a pavimentação do acesso a um edifício; o aumento de sua área de estacionamento e manobras; a pintura para evitar a oxidação de veículo; são voluptuárias as benfeitorias que redundam em acréscimos de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual da coisa, ainda que a tornem mais agradável, ou de elevado valor. Serão benfeitorias voluptuárias, por exemplo, a colocação de piso de mármore importado; a pintura de um painel no imóvel por artista premiado; a substituição dos metais de banheiro por peças de ouro ou prata etc. As situações concretas permitirão classificar as benfeitorias numa ou noutra categoria, bem como diferençá-las das pertenças. As consequênciasdessa classificação surgem quando da restituição da coisa. Dispõe o art. 1.219 que: “O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se lhe não forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis”. Desse modo, o possuidor de boa-fé não apenas tem direito a receber o valor das benfeitorias necessárias e úteis, como também pode reter a coisa enquanto não forem pagas. O direito de retenção do possuidor de boa-fé é modalidade de garantia no cumprimento de obrigação. Com a retenção, o possuidor exerce coerção sobre o retomante para efetuar o pagamento. O direito de retenção é oposto como modalidade de defesa do possuidor, que inibe a entrega do bem até que seja satisfeita a obrigação. Cuida-se de faculdade à disposição do possuidor de boa-fé de conservar a coisa alheia até o pagamento das benfeitorias mencionadas. Discute-se se a alegação de existência de benfeitorias deve estar presente já na fase de conhecimento. O meio processual idôneo para o exercício do direito de retenção são os embargos. Não aduzindo na forma e no momento processual oportuno os embargos o credor pode versar o pedido de indenização em ação autônoma (RT 627/88, JTASP 100/186). A nova redação da Lei nº 11.382/2006 ao art. 745, IV, menciona o art. 621 e diz respeito à execução para entrega de coisa certa constante de título executivo extrajudicial. Essa posição reforça a ideia no sentido de que, em se tratando de ação que tenha por objeto a entrega 6 de coisa (art. 461-A), o direito de retenção deve ser versado na contestação, ou ao menos no curso da instrução, devendo ser reconhecido na sentença. A jurisprudência de há muito inclinava-se no sentido de que o direito à retenção, nas ações possessórias, deve ficar reconhecido na sentença. Destarte, não alegadas ou não provadas benfeitorias no curso da ação possessória, fica inibida a defesa por meio de embargos de retenção (RT 653/187, 681/91, JTASP 100/361, RTJSP 130/314). No entanto, ainda que não seja possível esse procedimento, o credor poderá sempre recorrer às vias ordinárias; caso contrário, ocorreria enriquecimento injusto (JTASP 100/86). Por outro lado, as benfeitorias devem vir descritas e discriminadas. Simples menção genérica, sem conteúdo probatório no curso da ação possessória, é insuficiente para indenização e retenção. Não pode também ser admitido o direito de retenção se as benfeitorias foram introduzidas na coisa depois de iniciada a execução ou quando já em curso a respectiva ação sobre o bem. No tocante ao possuidor de má-fé, evita-se tão só o enriquecimento injusto. Este tem direito à indenização apenas das benfeitorias necessárias, sem direito de retenção e sem poder levantar as voluptuárias (art. 1.220). O rigor justifica-se como forma de punição da má-fé. Pela orientação da lei, o possuidor de boa-fé vale-se do art. 1.219 enquanto mantiver esse estado de espírito. 7 8 Cessada a boa-fé, toda e qualquer benfeitoria acrescentada à coisa sujeitar-se-á ao art. 1.220. O momento da cessação da boa-fé e da época em que foram realizadas as benfeitorias passa para o âmbito da prova. Como alertamos em nossa obra introdutória, tecnicamente construção não é considerada benfeitoria, mas outra modalidade de acessório, de acordo com o art. 61, III do Código de 1916. O presente Código preferiu omitir-se a esse respeito. No entanto, para a maioria dos efeitos com relação ao despojamento da posse, a construção é equiparada à benfeitoria, como se faz na prática forense e como decorre do art. 1.256. Os mesmos princípios aplicam-se às plantações. Como também lembramos no volume introdutório, benfeitorias não se confundem com acessões. Na acessão, a coisa acrescida pertence a proprietário diverso. Na benfeitoria, o titular da coisa tem convicção de que a coisa lhe pertence (ver, a esse respeito, a opinião de Serpa Lopes, ali transcrita (Direito civil: parte geral, seção 16.8.2). Há corrente doutrinária que entende aplicável o sistema das benfeitorias às acessões. Outra questão surge no mais recente Código, tendo em vista a definição de pertenças, presente no art. 93. Muito se deverá a atender a vontade das partes na distinção desses institutos. O art. 1.221 também introduz disposição para evitar o enriquecimento injusto: “As benfeitorias compensam-se 9 com os danos, e só obrigam ao ressarcimento, se ao tempo da evicção ainda existirem”. Trata-se de compensação autorizada por lei, de valores ilíquidos. Necessário se fará, na maioria das vezes, avaliação e perícia para a apuração da compensação. Aquele que recebe a coisa deteriorada poderá ter direito à indenização de acordo com os arts. 1.217 e 1.218 a seguir estudados. O possuidor que a entrega pode opor compensação com as benfeitorias realizadas. Essa regra não altera as consequências estampadas nos arts. 516 e 517, isto é, o possuidor de má- fé somente poderá compensar as benfeitorias necessárias, sem direito de retenção, enquanto o de boa-fé, na situação em que houver de indenizar (art. 1.217), poderá opor o valor das necessárias e úteis, mantido o direito de retenção. Nos embargos de retenção o credor poderá requerer a compensação do valor das benfeitorias com o dos frutos ou danos devidos pelo executado. O art. 519 do Código de 1916 estipulava que “o reivindicante obrigado a indenizar as benfeitorias tem direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo”. O Código de 2002 apresenta uma redação nova a esse respeito, que visa o detrimento do possuidor de má-fé e maior equidade para o de boa-fé, favorecendo o reivindicante perante o possuidor de má-fé: “O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual”. Cuida-se, evidentemente, em ambos os casos, de valores monetariamente atualizados. Optará o retomante pelo valor que lhe for mais favorável se estiver lidando com possuidor de má-fé, na orientação do Código presente. O dispositivo de 1916 sofreu muitas críticas. No entanto, o legislador procurou conciliar tanto quanto possível o injusto enriquecimento em situações em que por vezes ambas as partes sofrem prejuízos de fato. Procurou- se encontrar o meio-termo entre prejuízos que podem sofrer ambos. A solução do Código em vigor afigura-se mais justa. O reivindicante somente terá opção para pedir o valor atual ou seu custo se seu adversário for possuidor de má-fé. Se este é possuidor de boa-fé, deverá sempre indenizar pelo valor atualizado das benfeitorias, o qual, aliás, pode ser até mesmo inferior ao valor do custo. �.� INDENIZAÇÃO DOS PREJUÍZOS. INDENIZAÇÃO PELA DETERIORAÇÃO OU PERDA DA COISA A vítima do desapossamento pode sofrer prejuízo pelo prazo que deixou de dispor do bem. Sobre a questão dispunha o art. 503 do Código de 1916: “O possuidor manutenido, ou reintegrado, na posse, tem direito à indenização dos prejuízos sofridos, operando-se a reintegração à custa do esbulhador, no mesmo lugar do esbulho”. Essa indenização decorre da regra geral no sentido de que quem ocasiona um dano é obrigado a repará-lo, não havendo a mesma redação no presente diploma. A indenização é mencionada, a latere, no Código vigente, no art. 1.212. Esse ressarcimento de dano tem a mesma natureza da responsabilidade aquiliana, tecida em regra geral no art. 186, embora alguns estudiosos entendam que se trata de indenização típica e exclusiva da posse. Não foi esta última a corrente adotada pelo diploma civil deste século. Na verdade, consubstanciado o esbulho ou turbação, haverá sempre necessidade de prova de efetivos prejuízos sofridos pela parte. Desse modo, essa indenização não 10 decorre simplesmente da ofensa à posse, mas depende de efetivos prejuízos sofridos e comprovados no processo. Destarte, não se afasta da natureza indenizatória dos atos ilícitos, pois estes são turbação da posse