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MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII BASES DIAGNÓSTICAS EM CARDIOLOGIA ECG NO CRESCIMENTO DE CÂMARAS CARDÍACAS SOBRECARGAS ATRIAIS SOBRECARGA ATRIAL DIREITA Qualquer entidade que produza um aumento das pressões de enchimento do lado direito pode levar a um aumento volumétrico do átrio direito. Dentre as causas estão: ● Disfunção da valva tricúspide (leva a um enorme aumento do átrio direito) - atrapalha o esvaziamento do átrio direito em casos de estenose ou permite que haja um retorno de sangue do ventrículo para o átrio em casos de insuficiência ● Disfunção da valva pulmonar ● Disfunções da valva mitral em estágio avançado - haverá hipertensão pulmonar que irá sobrecarregar o átrio, pois a hipertensão do leito arterial pulmonar dificulta a ejeção de sangue do ventrículo direito, o que consequentemente congestiona o átrio direito ● Hipertensão pulmonar - pelos motivos já citados acima (ocorre em doenças como DPOC e embolia pulmonar) ● Forame oval patente ● Tetralogia de Fallot ● Atresia tricúspide ● Persistência do canal arterial ● Anomalia de Ebstein - consiste na implantação baixa da valva tricúspide com redução da cavidade do ventrículo direito e aumento da cavidade do átrio direito Características Na Sobrecarga Atrial Direita (SAD), o vetor médio do Átrio Direito desloca-se mais para frente e para direita e sofre um aumento de sua amplitude. Assim, é a onda P que nos possibilita analisar as alterações causadas no ECG pelo aumento da cavidade atrial direita. As modificações da onda P são observadas principalmente em DII e V1. A parte inicial da onda P corresponde a despolarização do átrio direito, enquanto a parte final corresponde à despolarização do átrio esquerdo. MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII Devido a isso, observa-se os seguintes achados eletrocardiográficos: ONDA P Tem sua amplitude aumentada (maior que 2,5 mm em DII e VI) e apresenta morfologia apiculada (P pulmonale) nas derivações DII, DIII, aVF e V1. Além disso, o vetor médio da onda P desvia-se para a direita, com desvio de seu eixo maior que 75 graus (normal: +30 a +70 e média de 55 graus). Em V1 com porção positiva inicial com área maior que 60 ms.mv e > 1,5 mm COMPLEXO QRS Tem sua amplitude aumentada em V2, sendo três vezes maior que em V1 (Sinal de Peñaloza-Tranchesi) - isso é explicado explicado pela anteriorização do átrio direito que está aumentado no tórax, atuando como barreira para o impulso elétrico ONDA Q Quando presente nas precordiais direitas sem evidência de infarto prévio nas paredes septais (pois após infarto, há ocorrência de onda Q), é sinal de sobrecarga atrial direita. RELAÇÃO P E SEGMENTO PR Razão P / seg PR menor que 1 (índice de Macruz) OBS.: Mesmo estando aumentado de volume, a ativação do átrio direito acaba antes que se inicie a ativação do átrio esquerdo; ou seja, a sobrecarga atrial direita não alarga a onda P Fórmula do Cor Pulmonale crônico Desvio da onda P além de +60° (negativa em aVL), alta em DII, DIII e aVF e com amplitude maior em DIII do que em DI. MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII SOBRECARGA ATRIAL ESQUERDA Qualquer entidade que produza um aumento das pressões de enchimento do lado esquerdo podeM levar a um aumento volumétrico do átrio esquerdo, como: ● HAS (causa mais comum) - leva geralmente a uma hipertrofia ventricular esquerda, o que dificulta a ejeção de sangue do ventrículo esquerdo, o que acarretará em uma sobrecarga do átrio esquerdo ● Disfunção sistólica do VE - o coração perde sua força contrátil, ocorre em IAM, insuficiência aórtica grave, miocardiopatia dilatada. Há uma elevação da pressão dentro da câmara por aumentar o volume sanguíneo residual dentro da câmara após cada sístole ● Estenose aórtica, estenose mitral, miocardiopatia hipertrófica, persistência do canal arterial, coarctação da aorta Entre os achados eletrocardiográficos, temos: ONDA P ● Aumento da duração da onda P (mais que 0,12 segundos) - como a despolarização do átrio esquerdo é representado pelo final da onda P, quando há aumento atrial esquerdo é possível observar um aumento da sua duração. ● Em relação a morfologia, a onda P assume aspecto bífido na sobrecarga atrial esquerda. Nas derivações DI e DII é possível observar a onda P com o aspecto bífido e com entalhos que estão separados por um intervalo de mais de 0,03 segundos. ● Um sinal muito específico é o Índice de Morris caracterizado pela área negativa da onda P em V1 maior que 40 mm x ms ● Outra alteração que a onda P sofre é o desvio de seu eixo elétrico para a esquerda (entre -30° e +45°) RELAÇÃO P E SEGMENTO PR Razão P / seg R maior que 1,6 (índice de Macruz) SINAL DE SODI-PALLARES Complexos QR, Qr, qR ou qRS em V1 MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII SOBRECARGAS VENTRICULARES As sobrecargas ventriculares são resultado da hipertrofia ou da dilatação dos ventrículos. Em relação ao ECG, as alterações na parede ventricular repercutem no complexo QRS, alterando sua amplitude. Dica: Para crescimentos ventriculares, olhar a amplitude de QRS Algumas observações Ativação ventricular - Amplitude máxima do complexo QRS em pacientes com eixo normal é de 5 a 20 mm no plano frontal, e de 10 a 30 mm nas precordiais. ● Duração máxima do complexo QRS normal deve ser menor que 120 ms. ● Eixo normal do QRS é de -30 a +120º Padrão Strain - Depressão do segmento ST em derivações precordiais direitas; ● Inversão de onda T ● É um marcador de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e de prognóstico adverso em alguns estudos populacionais Depressão intrinsecóide - Tempo de ativação ventricular ● Medida entre o início do QRS e o ápice da primeira onda “R” MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA As repercussões no ECG são menos sensíveis que as do VE, uma vez que o ECG é quase uma representação exclusiva da atividade do VE. Com isso, para que a sobrecarga do VD se manifeste no ECG ele deve estar muito sobrecarregado. As principais causas são: ● Patologias da valva tricúspide e da valva pulmonar ● Comunicação interatrial ● Comunicação interventricular ● Tetralogia de Fallot ● Hipertensão arterial pulmonar (ocorre em situações de tromboembolismo pulmonar, DPOC) Os principais critérios de sobrecarga ventricular direita dependem da voltagem do complexo QRS. Critérios de Voltagem São exclusivos das derivações precordiais. Observa-se um aumento da onda R em V1 e V2 e/ou sua diminuição em V5 e V6, com o oposto acontecendo com a onda S. Tempo de ativação ventricular e Padrão Strain O aumento do tempo de ativação ventricular para maior que 50 ms e a presença do segmento ST com Padrão Strain (presença de infradesnivelamento do segmento ST com onda T negativa e assimétrica) também podem acompanhar a sobrecarga do VD. São visualizados em V1 e V2. Desvio do eixo do QRS Por consequência da mudança da orientação dos vetores resultantes, observa-se um desvio do eixo médio da despolarização ventricular para direita. ● O vetor médio do QRS fica entre +120° e +180° (DI será sempre negativo). ● Morfologia qR em V1 e padrão rS de V1 a V6 MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII Critérios diagnósticos para a hipertrofia ventricular direita *Observar critérios de Sokolow e Lewis SOBRECARGA VENTRICULAR ESQUERDA O ventrículo esquerdo é a cavidade de maior massa cardíaca. Assim, o complexo QRS é uma demonstração quase exclusiva da despolarização do ventrículo esquerdo. Isso ocorre pois os dois são ativados simultaneamente, os vetores gerados pela menor massa do VD são anulados por aqueles gerados pelo VE. Isso dificultaanalisar a sobrecarga ventricular esquerda no ECG, uma vez que ela já é dominante. Portanto a massa do VE precisa estar consideravelmente aumentada para gerar uma alteração eletrocardiográfica. As causas mais comuns são: ● Miocardiopatia hipertrófica ● HAS ● Estenose aórtica ● Coarctação da aorta ● Insuficiência aórtica ● Insuficiência mitral MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII A despolarização ventricular na presença de hipertrofia segue a mesma sequência da ativação de um coração normal. A diferença consiste nos vetores resultantes que terão amplitudes maiores. Consequentemente haverá aumento da amplitude do complexo QRS. Haverá aumento das ondas R nas derivações DI, aVL, V5 e V6 e das ondas negativas S em aVR, V1 e V2. A diretriz brasileira de ECG da SBC recomenda o uso dos critérios para considerar um aumento de ventrículo esquerdo: ● Índice de Sokolow-Lyons ● Critério de Romhilt-Estes ● Índice de Cornell ● Índice de Cornell modificado (pouco uso na prática) ● Índice de Gubner (pouco uso na prática) ● Índice de Lewis (pouco uso na prática) OBS.: Valorizar: relação RV5/RV6 > 1 Índice de Sokolow-Lyons É o mais antigo e mais conhecido. O critério é positivo se a soma da onda S em V1 com a onda R em V5 (ou V6) for maior que 35mm. Soma-se as amplitudes. S de V1 + R V5 ou V6 ≥ 35 mm MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII Índice de Cornell Baseia-se no sexo do paciente. Deve-se somar a onda R em aVL com a onda S em V3. Se o resultado for maior que 28 mm em homens e 20 mm em mulheres, o índice será considerado positivo. S em V3 + R aVL > 28 mm (homens) e 20 mm (mulheres) Escore de Pontos: Critério de Romhilt-Estes Consiste em um grupo de critérios que associa diversas alterações relacionadas ao aumento do VE no traçado. De acordo com o peso de cada alteração foram atribuídas pontuações diferentes. Os 3 critérios maiores recebem 3 pontos cada, o critério intermediário recebe 2 pontos e os 2 critérios menores recebem apenas 1 ponto cada. Se a soma de todos for igual a 4 pontos, a presença de sobrecarga de VE é provável. Valores maiores ou iguais a 5 já confirmam o diagnóstico. São eles: Critérios Maiores - Índice de Morris: a presença de sobrecarga atrial esquerda pode ser um indício de que haja acometimento ventricular esquerdo, pois, elevações de pressões no interior do VE são transmitidas para o AE retrogradamente. Esse critério só é válido quando não há estenose mitral (causa sobrecarga de AE sem alterações em VE) - Critérios de voltagem do QRS: observa-se nas derivações horizontais; se a onda R em V5 (ou em V6) ou a onda S em V1 (ou V2) for superior ou igual a 30mm o critério será positivo. Nas derivações frontais, o critério será positivo se qualquer onda R ou S for maior que 20mm - Padrão Strain: está relacionado a uma alteração secundária da repolarização ventricular consequente às alterações da despolarização. A onda T tende a manter sua assimetria, porém assume uma polaridade oposta à do complexo QRS associado. Este padrão de inversão assimétrico da onda T é chamado de strain. Pode ser observado em V5, V6, DI e aVL. O paciente não pode estar utilizando medicamentos digitálicos (digoxina), caso esteja, o critério valerá apenas 1 ponto. MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII Critério Intermediário - A sobrecarga do VE intensifica a orientação do eixo da despolarização ventricular para este lado. Se o desvio for além de -30o, o critério é considerado positivo. Critérios menores - Tempo de ativação ventricular (TAV): é o tempo entre o início do QRS e o pico da onda R, também chamado de tempo de inscrição Intrinsecóide. Se esse tempo for maior ou igual a 50 ms (maior que um quadradinho) o critério será positivo. É melhor visualizado em V5 e V6 - Duração do complexo QRS: consiste no aumento da duração do complexo QRS para maior ou igual a 90ms em qualquer derivação 3 pontos Se S de V1 ou V2 OU R de V5 ou V6 ≥ 30mm 3 pontos Se Strain 3 pontos Se SAE - Índice de Morris 2 pontos Se desvio para esquerda além -30º 1 ponto Se QRS ≥ 90ms 1 ponto Se deflexão intrínseca em V5 ou V6 ou tempo de ativação ventricular ≥ 50ms - início do QRS ao pico de R Sobrecarga ventricular esquerda diastólica ou sistólica? Critérios de Cabrera ● Na SVE do tipo diastólica, observa-se ondas R amplas em V5 e V6, muitas vezes precedidas por uma pequena onda q, sendo o complexo QRS sucedido por ondas T positivas. MARIA JULIA S PASSERINI - LVIII SOBRECARGA BIVENTRICULAR Padrões complexos. Os efeitos de SVE podem cancelar os efeitos de SVD e vice-versa. Sinais de suspeição: ● Ondas R de alta voltagem em V1-V2 e V5-V6 ● Ondas R de alta voltagem em V1-V2 associadas a sinais de SVE ● Ondas S profundas em V5-V6 associadas a sinais de SVE. ● Deflexão intrinsecóide em V6 igual ou maior que 40 ms ● Complexos QRS isodifásicos amplos, de tipo R/S, nas precordiais intermediárias de V2 a V4 (fenômeno de Katz-Wachtel)