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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROFILAXIA ANTIBIÓTICA PARA PACIENTES PORTADORES DE DIABETES MELLITUS INSULINO-DEPENDENTES SUBMETIDOS A PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS INVASIVOS GIOVANNA GABRIELLA DA SILVEIRA ZAFFALON JANAÍNA PEREIRA BARBOSA CAVALZERE SÃO PAULO 2022 GIOVANNA GABRIELLA DA SILVEIRA ZAFFALON JANAÍNA PEREIRA BARBOSA CAVALZERE PROFILAXIA ANTIBIÓTICA PARA PACIENTES PORTADORES DE DIABETES MELLITUS INSULINO-DEPENDENTES SUBMETIDOS A PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS INVASIVOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Odontologia da Universidade São Judas Tadeu, como requisito para a obtenção do título de Cirurgiã-Dentista sob orientação da Profª Juliana Zuim. SÃO PAULO 2022 AGRADECIMENTOS Agradecemos pelo ânimo e paciência da professora orientadora Juliana Zuim, que mesmo sem nos encontrarmos com frequência durante a graduação, foi capaz de nos impulsionar e direcionar de forma ética e adequada toda a nossa trajetória de pesquisas na construção desta temática. Agradecemos e dedicamos o trabalho aos nossos familiares e amigos, que nos acompanharam com repleto amor e sensibilidade, compartilhando conosco todas as emoções que a vida acadêmica pôde proporcionar durante esses 5 longos anos. À todos vocês, expressamos profunda gratidão. RESUMO Avaliando as pesquisas dos últimos anos, podemos confirmar um aumento considerável na incidência de pacientes portadores de Diabetes Mellitus, levando em consideração os novos hábitos de vida da população. Diante disso, é fundamental que o cirurgião dentista tenha conhecimentos sólidos do estado de saúde dos seus pacientes através da anamnese adequada e que possam pautar seus atendimentos baseado em ciência, a fim de reduzir o risco de complicações na realização de procedimentos cirúrgicos. O objetivo desta revisão de literatura é entender a fisiopatologia da Diabetes Mellitus, analisar quais são as melhores indicações de antibioticoterapia para pacientes que são insulinodependentes e compreender quais são os procedimentos odontológicos invasivos que mais causam complicações em pacientes com esse tipo de comprometimento sistêmico. Palavras-chave: Odontologia, Antibióticos, Profilaxia antibiótica, Diabetes Mellitus, Procedimentos cirúrgicos. ABSTRACT Evaluating research in recent years, we can confirm a considerable increase in the incidence of patients with Diabetes Mellitus, taking into account the new lifestyle habits of the population. Therefore, it is essential that the dental surgeon has solid knowledge of the health status of their patients through adequate anamnesis and that they can guide their care based on science, in order to reduce the risk of complications in the performance of surgical procedures. The objective of this literature review is to understand the pathophysiology of Diabetes Mellitus, to analyze which are the best indications for antibiotic therapy for patients who are insulin dependent, and to understand which are the invasive dental procedures that cause the most complications. Keywords: Dentistry, Antibiotics, Antibiotic prophylaxis, Diabetes Mellitus, Surgical procedures. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE ABREVIAÇÕES INTRODUÇÃO……..……………………………………………………………………..……...………8 OBJETIVOS………….………………………………………………………………………….………..9 METODOLOGIA………….…………………………………………………………………………….10 REVISÃO DE LITERATURA……………………………………………………………………...…..11 DIABETES MELLITUS TIPO I (DM1)….………..……………………………………………….….12 DIABETES MELLITUS TIPO II (DM2)……..…………………………………………………….….13 MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES PORTADORES DE DM……..……………...……14 TRATAMENTO ODONTOLÓGICO INVASIVO……………………….………...………………….15 ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO AO PORTADOR DE DM……………………………….…………15 ANESTÉSICOS LOCAIS…………………………………...…………………………………………..16 INDICAÇÃO DE PROFILAXIA ANTIBIÓTICA………………………………...…………………..16 CONCLUSÃO………………………………………………………………………………………..…..18 REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………………….……19 LISTA DE ABREVIAÇÕES DM - Diabetes Mellitus CD - Cirurgião Dentista INTRODUÇÃO Atualmente, o DM atinge mais de 400 milhões de adultos e é uma das principais causas de mortalidade no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2016). Essa patologia é caracterizada por uma ausência ou dificuldade funcional da insulina, causando inúmeros distúrbios metabólicos e os principais sintomas são: Fome e sede constante, vontade de urinar diversas vezes ao dia, perda de peso, fraqueza e fadiga mesmo sem exaustão física, mudanças de humor repentina, náuseas e vômitos sem causa aparente. O DM, quando não controlado, pode provocar a longo prazo, disfunção e falência de vários órgãos (SOUZA, 2003). A finalidade desta revisão de literatura é estreitar os conhecimentos científicos do cirurgião dentista frente à patologia e determinar de forma clara qual conduta seguir previamente ao atendimento odontológico, devendo este, servir de embasamento teórico prático, com a utilização do protocolo de profilaxia antibiótica sendo indicada de forma adequada, a fim de elevar os índices de sucesso dos tratamentos propostos (SOUZA, 2003). Pacientes que são portadores de patologias sistêmicas, por segurança é recomendado o uso de profilaxia antibiótica para reduzir complicações operatórias como por exemplo, em casos de pacientes diabéticos descompensados (REM; MALMSTROM, 2007; PIECUCH et al., 1995). 8 OBJETIVOS Objetivo Geral Levantar através de revisão da literatura quais são os protocolos eficazes de profilaxia antibiótica para manejo do atendimento de cirurgias odontológicas em pacientes que são insulino-dependentes, portadores de Diabetes Mellitus. Objetivos Específicos Levantar em bases de dados PubMed, Scielo, Medline quais são as orientações científicas para execução do atendimento odontológico invasivo de forma segura em pacientes portadores da doença sistêmica Diabetes Mellitus, que são insulinodependentes. Aproveitando o ensejo do trabalho, temos como objetivo trazer com base na literatura pertinente, uma sugestão de protocolo de profilaxia antibiótica para o atendimento odontológico aos pacientes portadores de Diabetes Mellitus. 9 METODOLOGIA Essa pesquisa trata-se de dados levantados pelas bases de pesquisa: PubMed, Medline (Medical Literature Analysis and Retrival System OnLine), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), Google Acadêmico, artigos científicos, sites oficiais de informação pública à saúde, e livros didáticos. A análise desses dados possibilitou a compreensão da temática, bem como a elaboração de um protocolo para Profilaxia Antibiótica dos pacientes portadores de Diabetes Mellitus, insulinodependentes, atendidos na Universidade São Judas Tadeu. Todos os dados levantados discorreram de forma científica sobre Diabetes Mellitus e a correlação com a saúde bucal. 10 REVISÃO DE LITERATURA DIABETES MELLITUS Segundo estudos, atualmente aproximadamente 382 milhões de indivíduos no mundo têm o diagnóstico de Diabetes Mellitus (DM) confirmado. Analisando em níveis mundiais, o Brasil é o quarto país no índice dos dez países com maior número de diabéticos, apresentando-se em idade entre 20 e 79 anos e esse número de pacientes com diagnóstico confirmado ainda apresentam um grande desafio para o sistema de saúde, tanto em níveis de conscientização, como com relação à prevenção e controle (SONIS; FAZIO; FANG, 1996). Essa patologia pode ser dividida em dois grupos, sendo diferenciados de acordo com a sua etiologia, podendo ser tipo I ou tipo II. O diagnóstico da doença pode ser feito laboratorialmente e de três formas. São considerados pacientes portadores de diabetes os que apresentam os seguintes resultados: 1- glicemia em jejum >126 mg/dl ( em jejum de 8 horas); 2- glicemia casual >200 mg/dl (coletada a qualquer hora do dia e em pacientes com sintomas característicos da doença); 3- glicemia >200 mg/dl duas horas após a ingestão oral de 75 gramas de glicose. Além desse estudo em pacientes diabéticos, outros dois grupos devemser observados pois tem grande chance de se tornarem diabéticos. São eles os que apresentarem: a- glicemia em jejum >110 mg/dl e <126 mg/dl; b- glicemia entre 140 mg/dl e 200 mg/dl duas horas após ingestão oral de glicose (GUYTON; HALL, 2002). Esses pacientes já devem ser submetidos a um tratamento preventivo da doença, o qual inclui mudança de hábitos alimentares e prática de atividade física e possível uso de medicamentos. Para ter certeza do resultado e assim começar o tratamento, o médico deve solicitar o teste oral de tolerância à glicose, também conhecido como Curva Glicêmica (BARCELLOS et al., 2000; GREGORI; COSTA; CAMPOS, 1999). Durante o exame são coletadas amostras de sangue em um tempo determinado, geralmente de 30 em 30 minutos. Nos intervalos, o paciente deve ingerir um xarope de glicose. Os resultados são dispostos em um gráfico e permitem o diagnóstico preciso. O tratamento do paciente diabético envolve o controle do nível de glicose no sangue por meio de um monitor de glicemia ou por meio de bombas de insulina para evitar complicações (GUYTON; HALL, 2002). 11 Essas complicações podem evoluir para a amputação dos membros inferiores, cegueira e insuficiência renal. Além disso, quem tem diabetes está mais propenso a desenvolver problemas cardiovasculares, como infarto e AVC. Os aparelhos são adquiridos e usados com a orientação dos médicos. As medições devem ser feitas nos horários e nas situações corretas e com a frequência ideal (BANDEIRA et al., 2003; CASTILHO; RESENDE, 1999). Os medicamentos são escolhidos de acordo com o perfil de cada paciente. Eles ajudam o pâncreas a produzir mais insulina, diminuem a absorção de carboidratos e aumentam a sensibilidade do organismo à ação da insulina. Porém, nem sempre é necessário a introdução medicamentosa a longo prazo (BARCELLOS et al., 2000). Em caso de pacientes diabéticos tipo 2, a mudança de hábitos alimentares e prática de atividades físicas, já melhoram o quadro. Em alguns casos, o controle glicêmico é obtido com injeções de insulina e o uso do medicamento oral simultaneamente, em outros casos, apenas a injeção de insulina é o suficiente. As medicações são ajustadas ao longo do tempo conforme a idade e como o paciente foi se adaptando. Os estudos científicos possibilitam tratamentos para todos os tipos de diabetes e os tratamentos, quando seguidos corretamente, podem promover uma boa qualidade de vida, porém, a doença não tem cura (MC DERMOTT, 1997). DIABETES MELLITUS TIPO I (DM1) A diabetes mellitus tipo I é uma alteração sistêmica na qual o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina, causando um desequilíbrio nos níveis de glicose presentes na corrente sanguínea do paciente. Aparece geralmente em crianças e adolescentes, mas também pode desencadear em pacientes adultos. Nela, ocorre a destruição das células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina, por um processo imunológico, ou seja, o próprio organismo produz anticorpos de defesa contra as células beta, ocasionando a deficiência de insulina (COTRAN; KUMMER; ROBBINS, 1994). O diagnóstico da DM1 pode ser feito por exames laboratoriais, onde podem ser detectados os anticorpos: ICA, IAAs, GAD e IA-2, responsáveis pela destruição das células beta, presentes na corrente sanguínea. Como resultado dessa ação dos anticorpos, a glicose,que deveria ser usada como fonte de energia, fica acumulada na corrente sanguínea caracterizando a DM1 (AZEVEDO; GROSS ,1990). Seus sintomas aparentes envolvem: vontade frequente de urinar, fome e sede em excesso, náusea, sonolência, cansaço, perda de peso, irritabilidade e infecções frequentes como urinária e candidíase (GROSSI; CIANCIARULHO; MANNA, 2003). Uma complicação grave nos pacientes portadores de DM1 é a cetoacidose diabética. Ela ocorre devido à falta de insulina no corpo, juntamente com os níveis de glicose e a quantidade de cetonas no sangue do 12 paciente diabético muito elevados. A insulina é responsável por fazer com que a glicose que está na corrente sanguínea entre nas células e gere energia, quando há falta de insulina, o nível de açúcar no sangue vai aumentando e as células sofrem com a falta de energia, logo, para evitar que elas parem de funcionar, o organismo passa a usar os estoques de gordura do corpo para gerar energia (CASTRO et al., 2000). Nesse processo formam-se as cetonas. As cetonas são substâncias ácidas que causam desequilíbrio no ph sanguíneo. Quando não tratado, esse desequilíbrio pode levar ao coma e à morte. Alguns cuidados devem ser tomados para prevenir a cetoacidose diabética, tais como: aplicação fiel das injeções de insulina, medições frequentes da glicemia capilar, controle alimentar evitando alimentos com alto teor de açúcar e visitas regulares ao médico para acompanhamento da doença (SILVEIRA; GUIMARÃES, 1998). A cetoacidose é mais comum em pacientes diabéticos tipo 1 por não produzirem insulina, mas nos pacientes tipo 2 também pode ocorrer em episódios infecciosos ou quando não é feita a correta aplicação das doses de insulina. O principal tratamento para DM1 é o controle da glicemia simultaneamente com a administração diária de insulina, além de um plano alimentar adequado e atividades físicas recorrentes. (COTRAN; KUMMER; ROBBINS, 1994). O tipo 1 da doença ocorre em 10% do total de pacientes com diabetes e sendo diagnosticada até os 25 anos de vida do indivíduo portador (AZEVEDO; GROSS, 1990). DIABETES MELLITUS TIPO II (DM2) A DM2 é uma doença metabólica crônica caracterizada por valores elevados de glicose no sangue, a hiperglicemia. Cerca de 90% das pessoas portadoras de diabetes, têm o tipo 2. Nesses pacientes, a insulina é produzida pelas células beta pancreáticas, porém, sua ação está dificultada, levando à um quadro de resistência insulínica. Esse ciclo gera um aumento da produção de insulina, com o intuito de manter os níveis de glicose no sangue normais, quando isso não é mais possível, surge a diabetes (GUYTON; HALL, 2002). A DM 2 aparece quando o organismo não consegue usar de maneira adequada a insulina que ele mesmo produz, ou não produz insulina o suficiente para controlar a taxa de glicemia no sangue (SMELTZER; BARE, 2002). A sua manifestação é mais frequente em adultos, porém, crianças também podem apresentar o quadro. Dependendo da gravidade, o quadro da doença pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar. Em casos mais graves, é recomendado o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar os níveis de glicose (AZEVEDO; GROSS, 1990). 13 O diagnóstico da patologia é feito através de exames laboratoriais como: glicemia em jejum, hemoglobina glicada e teste oral de tolerância à glicose. Os principais fatores de risco para desencadear a doenças são: excesso de peso, sedentarismo, história familiar da doença e hipertensão arterial sistêmica (MARTINEZ; LATORRE, 2006). Seus sintomas frequentes são: polidipsia (sede em excesso), poliúria (urina em excesso), xerostomia, perda de peso não intencional, dores nas pernas, cansaço e alterações visuais. Vale lembrar que a diabetes é uma enfermidade silenciosa e na maioria dos casos, os sintomas aparecem somente quando o quadro já está avançado. Se não for tratada de forma adequada, a doença pode ocasionar alterações em sistemas importantes do organismo como o circulatório, nervoso, renal e amputação de membros inferiores (SMELTZER; BARE, 2002). O tratamento do paciente diabético tipo 2 é feito com medicação oral, a qual é dosada e ajustada de acordo com cada paciente, alguns fatores relevantes como a idade e biotipo são considerados. Dependendo da evolução do quadro, esses pacientes não precisam fazer o uso da medicação a longo prazo. Em alguns casos isolados, é necessário fazer o uso das injeções de insulina (AZEVEDO; GROSS, 1990). MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES PORTADORES DE DM Os pacientes diabéticos apresentam inúmeras manifestações bucais, como por exemplo: a xerostomia, eritema, glossodínia e distúrbiosde gustação. O DM pode provocar a elevação da acidez do meio oral, proporcionando hálito cetônico e aumento da viscosidade salivar (SOUSA et al., 2003). O CD deve compreender que pacientes submetidos a insulinoterapia, possuem uma suscetibilidade maior para quadros de hipoglicemia durante a realização de procedimentos odontológicos e que os medicamentos hipoglicemiantes orais utilizados pelos portadores do diabetes mellitus tipo II, podem ter interações medicamentosas consideráveis com os fármacos que forem prescritos pelo CD (Oliveira et al, 2016; Ribeiro et al, 2019). Antigamente, associava-se a diabetes com a perda de cálcio do organismo, resultando na descalcificação óssea alveolar. Hoje, além dessa descalcificação, muitas outras manifestações bucais podem desencadear nesses pacientes. Segundo autores, a hipoplasia e a hipocalcificação do esmalte podem associar a uma quantidade significativa de cáries. Mudanças alimentares e a diminuição de açúcares na dieta, associado com o aumento de glicose e cálcio na saliva, torna-se uma situação favorável para o aumento na quantidade de cálculos e de fatores irritantes aos tecidos bucais (SCHNEIDER; BERND; NURKIM, 1995). 14 Apesar de terem restrições quanto ao uso de açúcar e da secreção deficiente de imunoglobulinas na saliva, esses pacientes têm a mesma suscetibilidade à cárie e doenças relacionadas à placa dentária dos indivíduos normais (MOIMAZ et al., 2000). Pacientes com controle inadequado da diabetes têm significativamente mais sangramento gengival e gengivite do que aqueles com controle moderado e bom e do que pacientes que não apresentam a doença. Os tecidos periodontais dos portadores de DM2 quando comparados aos pacientes saudáveis apresentam: maior grau de vascularização, maior grau de espessamento de parede vascular, alterações vasculares nos tecidos gengivais, e estas parecem estar relacionadas ao caráter hiper inflamatório desses pacientes (BARCELLOS et al., 2000; CASTRO et al., 2000; LAUDA; SILVEIRA; GUIMARÃES, 1998; ROSA; SOUZA, 1996; SCHNEIDER; BERND; NURKIM, 1995; SOUZA, 2001). Ocorre inflamação gengival, desenvolvimento de bolsas periodontais ativas, abscessos recorrentes, perda óssea rápida e progressiva, havendo também osteoporose trabecular e cicatrização lenta do tecido periodontal. A evolução da doença periodontal é maior em diabéticos que apresentam a doença há muito tempo, particularmente naqueles que demonstram complicações sistêmicas, e diabéticos com doença periodontal avançada sofrem mais com complicações do tipo abcessos, do que pacientes que não apresentam a doença (MANSON; ELEY, 1999). TRATAMENTO ODONTOLÓGICO INVASIVO De acordo com a literatura, todos os procedimentos que envolvam manipulação de tecido gengival, da região periapical ou perfuração da mucosa oral, como por exemplo: cirurgias orais, raspagem, polimento e alisamento radicular, colocação de implantes ou reimplantes dentais; instrumentação endodôntica são considerados procedimentos invasivos (NASCIMENTO ET AL 2011). DISCUSSÃO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO AO PORTADOR DE DM O tratamento odontológico deve ser realizado preferencialmente durante o período da manhã, aproximadamente uma hora e meia após o desjejum. Durante este período, os níveis endógenos de corticosteróide estão altos, e os procedimentos que induzem liberação de adrenalina podem ser mais tolerados, tendo em vista que poderá ocorrer o aumento da glicemia (MINAS GERAIS, 2006). Alguns outros autores sugerem que o atendimento odontológico seja realizado em qualquer horário do dia (SOUZA, 2003; HORLIANA, 2005). 15 Desde o primeiro contato com o paciente, o CD deve realizar a anamnese rigorosa e precisa e cabe ao profissional expor de forma clara as orientações necessárias para que a realização do atendimento seja um sucesso (CARNEIRO et al., 2012). O cirurgião-dentista, ao prescrever qualquer tipo de fármaco, deve estar atento às interações medicamentosas, realizando uma anamnese prévia de forma completa e relacionando a farmacodinâmica de cada medicamento, evitando assim qualquer emergência durante o atendimento (OLIVEIRA, ALEIXO & RODRIGUES, 2010). ANESTÉSICOS LOCAIS O anestésico local adequado para ser administrado em pacientes com diabetes mellitus deve possuir uma baixa toxicidade sistêmica, tendo em vista que não poderá promover irritação aos tecidos e nem lesões das estruturas nervosas. O efeito do anestésico deve iniciar o mais breve possível e sua ação necessita de uma duração disponível por tempo suficiente para ser realizado o procedimento sem promover dor ou desconforto ao paciente. A lidocaína apesar de ser considerada um anestésico seguro e de curta duração, não devem ser considerado como a primeira opção para ser utilizado em pacientes diabéticos (Labolita et al, 2020; Oliveira et al, 2016; Ribeiro et al, 2019; Zimpel et al, 2016). A mepivacaína 3% sem vasoconstritor, bem como a prilocaína com felipressina são opções indicadas para serem utilizadas em pacientes diabéticos (Labolita et al, 2020; Oliveira et al, 2016; Ribeiro et al, 2019). A felipressina pode ser utilizada em pacientes que estão com seus níveis controlados por insulinoterapia ou através de medicamentos hipoglicemiantes orais. Já a epinefrina proporciona um efeito oposto à insulina, diante disso, contribui para o aumento dos níveis de glicose, em especial em pacientes com DM descontrolado (Labolita et al, 2020; Oliveira et al, 2016; Ribeiro et al, 2019; Zimpel et al, 2016). INDICAÇÃO DE PROFILAXIA ANTIBIÓTICA De acordo com a literatura, não existem evidências científicas que justifiquem a profilaxia antibiótica em pacientes que são portadores de diabetes mas que estão com seus níveis controlados, e só deve ser realizado quando existirem sinais e sintomas sistêmicos de infecções ou quadro clínico da patologia estando em níveis descompensado (LEMOS, 2014). A profilaxia antibiótica é uma medida preventiva utilizada com o intuito de minimizar a incidência de infecções, proporcionando altas concentrações de antibiótico no sangue, impedindo a proliferação, migração e disseminação de bactérias do meio oral para outras partes do corpo (GUTIÉRREZ et al., 2006). 16 A profilaxia tem como objetivo elevar a concentração plasmática de antibióticos durante o procedimento cirúrgico e após algumas horas de sua execução. Acredita-se que a profilaxia antibiótica mais assertiva é a administração de Amoxicilina, integrante da Classe medicamentosa das Aminopenicilinas, que atua atingindo de forma efetiva a síntese do peptidoglicano, conhecido também como mucopeptídeo, sendo este, responsável pela integridade da parede bacteriana (HALL, et al., 1996). Após a absorção oral, a medicação atua de forma efetiva na parede celular das bactérias, onde dentro da bactéria, junta-se com as proteínas ligadoras de penicilina (PLP) inibindo-as, impedindo a divisão celular, impossibilitando o seu crescimento e a principal via de eliminação deste fármaco é por via renal (YAGIELA et al., 2011). Já em pacientes que são alérgicos a penicilinas, é recomendado a administração via oral de de clindamicina tendo em vista as suas características bacteriostáticas e bactericidas. (GUTIÉRREZ et al., 2006). A presença de infecções leva à estimulação da resposta inflamatória resultando em situação de estresse, que aumenta a resistência dos tecidos à insulina, piorando o controle do diabetes. Observou-se que a terapia periodontal reduziu as necessidades de administração de insulina pelo diabético. Os procedimentos dentários cirúrgicos causam bacteremias em mais de 80% dos pacientes, e o tratamento periodontal, quando precedido da administração sistêmica de antibióticos, melhora o controle metabólico dos pacientes (MELGAÇO, 2002). De forma geral, a necessidade ou não da medicação depende do controle metabólico do paciente. No caso de infecção dental aguda em pacientes diabéticos não controlados, a utilização do antibiótico deverá se iniciar antes do procedimento invasivo e continuarpor vários dias após a drenagem e o controle primário. Profilaxia antibiótica preconizada segundo American Heart Association (Associação Americana do Coração) Via de administração: Via Oral Medicação: Amoxicilina 2g; Alérgicos a Penicilina: Clindamicina 600 mg ou Azitromicina 500 mg. De 30 a 60 minutos antes do procedimento. 17 CONCLUSÃO O DM é um grave problema de saúde pública tendo em vista a sua grande prevalência na população. A importância do conhecimento deste distúrbio exige métodos de atendimento que possam ser benéficos e efetivos aos pacientes portadores da fisiopatologia, sem serem expostos a riscos, estando os profissionais, preparados para atuar de forma efetiva em casos de hipoglicemia e hiperglicemia durante o procedimento odontológico. Apesar de ser um assunto de grande importância clínica e de saúde pública, ainda são necessários mais estudos científicos, portanto, é de extrema importância que os CD tenham conhecimento claro sobre a fisiopatologia do DM, visto que os procedimentos odontológicos podem causar alterações sistêmicas importantes em portadores dessa doença. Dentro deste contexto, o profissional deve realizar minuciosa anamnese buscando informações pertinentes sobre o quadro de saúde de seu paciente, avaliando quais são os tipos de medicamentos que faz uso contínuo e se mantém controle médico adequado, para que a profilaxia antibiótica possa proporcionar, com segurança, maior efetividade e menor probabilidade de complicações pós-operatórias. 18 REFERÊNCIAS ● AZEVEDO, M. I. ; GROSS, J. L. Aspectos especiais da dieta no tratamento do diabetes mellitus. Rev. Assoc. Méd Bras. v. 34, p.181-186, jul./set. 1990. ● BARCELLOS, I. F.; et al. Conduta odontológica em paciente diabético. R. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 57, n. 6, p. 407- 410, nov./dez. 2000 ● CASTRO, M. V. M.; et al. Atendimento clínico conjunto entre o periodontista e o médico. Parte I: diabetes e doenças isquêmicas. ROBRAC, Goiânia, v. 9, n. 28, p. 55-58, dez. 2000. ● COTRAN, S. R. ; KUMAR, V. ; ROBBINS, S. L. Pâncreas. In: ______ . Patologia básica. 5. ed. 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