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Por: Maria Alice Tinoco da Cunha Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliana Crispim França Luquetti Análise do processo de Alfabetização/Letramento por meio da empatia/afetividade dos professores alfabetizadores na Escola Municipal Francisco de Assis Introdução A afetividade e a empatia são elementos fundamentais no processo de alfabetização e letramento. A escola, como um espaço de convivência e aprendizado, reúne indivíduos com diferentes histórias, emoções e necessidades, criando um cenário diversificado e complexo. O desafio que se coloca para a escola consiste, sobretudo, em adaptar estratégias e medidas que promovam um ambiente acolhedor e afetivo, capaz de apoiar o aluno em sua jornada de aprendizado. Este estudo tem como objetivo observar como as professoras da Escola Municipal Francisco de Assis concebem a relação da afetividade e empatia no processo de alfabetização e letramento, buscando entender como os professores lidam com essas questões em suas práticas pedagógicas. Marco Teórico Alfabetização e Letramento; uma relação com o meio em que vivemos – Soares (2003), Freire (1992), Libâneo (1984), Cunha (1980),Ferreiro (1986), Frago (1993), Cagliari (1989); Afetividade no processo ensino aprendizagem –Wallon (1995), Rogers (1983),Perrenoud (2000), Soares (2003), Vygotsky (1989),Piaget (1971), Moraes (2015),Goleman (1995); No trato da pesquisa – Cardoso (1996), Gagné (1999), Ramiro (2002), Miranda (2001), Morgado (1999), Libâneo (2005). A pesquisa A razão da execução desse estudo, podemos dizer que é de ordem prática, decorrentes da necessidade de conhecer a realidade em que atuo, visto que faço parte do quadro de professoras da escola pesquisada; O desenvolvimento da pesquisa foi de cunho qualitativo, pois procurou estabelecer um contato direto e prolongado com o ambiente escolar ; Para o recolhimento dos dados fizemos observações durante 2 semanas e entrevistas com 11 professoras que atuam no bloco alfabetizador no Ensino Fundamental I. O contexto escolar A Escola Municipal Francisco de Assis é uma das mais antigas da Escolas da rede Municipal da zona urbana ; Dispõe de ampla estrutura física, funciona em três turnos, atende a 312 alunos, tem 22 professores efetivos e oferece as modalidades de Educação Infantil, Ensino Fundamental (1ª ao 5º ano) e EJA; Atende crianças, jovens e adultos do Matadouro, da Tira - Gosto e de alguns bairros periféricos, a clientela é de baixa renda, cerca de 90% dessa população, sobrevive num patamar sócio econômico baixo; são vendedores informais, pedreiros, diaristas, manicures, catadores de papel, sem renda fixa. Os sujeitos da pesquisa Para realização da nossa pesquisa observamos e entrevistamos; 9 professoras do Ensino Fundamental I 2 professoras que atuam nos anos iniciais da EJA Entrevistamos um total de 11 docentes. Os capítulos No primeiro capítulo do nosso trabalho, falamos sobre a Alfabetização e Letramento e a relação com o meio em que vivemos ; Historicidade da Alfabetização e do Letramento; A alfabetização evoluiu de um privilégio das elites na antiguidade e na Idade Média para um direito universal no século XIX com a educação obrigatória. Abordagens pedagógicas evoluíram, passando do método alfabético no início do século XX para teorias construtivistas e críticas de autores como Paulo Freire e Emília Ferreiro. Políticas educacionais como o MOBRAL e o Programa Brasil Alfabetizado visaram reduzir o analfabetismo, enquanto a BNCC de 2017 trouxe diretrizes claras para a alfabetização. Algumas Teorias e Conceitos de Alfabetização e Letramento; Paulo Freire, (1987), propõe uma educação que vai além da decodificação de palavras, focando na conscientização e transformação social, com uma metodologia baseada no diálogo. Emília Ferreiro, com sua abordagem construtivista e a teoria da psicogênese da língua escrita, mostra que crianças constroem hipóteses sobre o sistema de escrita a partir de interações sociais. Magda Soares diferencia alfabetização, o domínio do código escrito, de letramento, o uso social dessa habilidade em contextos diversos. Essas teorias influenciaram práticas pedagógicas, como métodos que valorizam o contexto cultural dos alunos e atividades que respeitam as hipóteses das crianças sobre a escrita, promovendo aprendizado significativo. A Importância da Alfabetização e do Letramento na Formação do Cidadão A alfabetização e o letramento são cruciais para o desenvolvimento social, permitindo a participação ativa na vida comunitária, econômica e política. Freire vê a alfabetização como um ato de conhecimento essencial para a emancipação social, enquanto o letramento facilita a comunicação e participação social. Segundo capítulo Abordamos as questões da afetividade no processo de ensino aprendizagem; Conceitos de Afetividade A afetividade envolve emoções, sentimentos e estados de humor que influenciam como interagimos com o mundo. É essencial na educação, impactando o bem-estar emocional, desempenho acadêmico e relações sociais dos alunos. Teóricos como Piaget, Wallon, Vygotsky e Carl Rogers destacam a importância da afetividade no desenvolvimento e aprendizagem. Emoções positivas melhoram a atenção e memória, enquanto negativas têm efeito oposto. A Influência da Afetividade na Alfabetização A afetividade é crucial na alfabetização, influenciando a motivação e o engajamento dos alunos. Vygotsky e Rogers destacam que um ambiente emocionalmente positivo facilita o aprendizado, enquanto emoções negativas podem causar bloqueios. Estudos mostram que o apoio emocional dos professores melhora os resultados na alfabetização, promovendo a autoestima e a confiança dos alunos. Terceiro capítulo ( análise dos dados): Afetividade no contexto da escola pesquisada Foi observado que as professoras entrevistadas consideram a afetividade muito importante porém, um desafio, elas tem a consciência que é um fator de enriquecimento no desenvolvimento global da criança, pelo desenvolvimento que se pode proporcionar. Algumas respostas “A afetividade e empatia para mim, ao meu ver, é o reconhecer os problemas dos nossos alunos e o que eles trazem de casa”. (Professora nº 8) “Para mim, tenho que entender meus alunos e dar aquilo que lhes falta em casa, muitos tem responsabilidades com irmãos e em casa e falta o carinho.” (Professora nº 6) As práticas pedagógicas ligadas à promoção da afetividade A maior parte das docentes concorda que são determinantes e que a implementação de práticas pedagógicas que promovam a afetividade é essencial para o sucesso da alfabetização e do letramento. Isso é evidenciado pela maior parte das entrevistadas com relação às estratégias usadas para promover a afetividade em sala de aula, todas as alternativas foram marcadas pelo grupo; diálogo aberto, atividades em grupo, jogos, brincadeiras e incentivo ao respeito mútuo. Práticas afetivas em sala de aula Observamos que a dificuldade das professoras entrevistadas em implementar práticas afetivas na sala de aula está relacionada ao desconhecimento sobre como abordar determinados temas, à falta de tempo, à ausência de materiais adequados e à carência de cursos de formação sobre o tema. Algumas citaram a necessidade de profissionais que pudessem auxiliar nesse sentido, como psicólogos e psicopedagogos. Uma das professoras entrevistadas destacou: "Não sabemos por onde começar quando o assunto é afetividade. Falta-nos tempo, o tempo em sala de aula é sempre curto para abordar tudo o que gostaríamos." Práticas afetivas em sala de aula Com relação as experiências afetivas vividas ao longo dos anos de profissão, 9 das 11 das nossas entrevistadas tiveram uma lembrança de momentos afetivos em sala de aula e narraram: “Tive um aluno com TEA no 1º ano do Ensino Fundamental I que estava com dificuldade na adaptação ao novo ambiente escolar, a família ficou muito receosa com tantas mudanças e achava que o processo de alfabetização seria complicado, foi nessa deixa que a afetividadeentrou e ele teve confiança na escola e no novo ambiente que estava inserido. Como era lindo ver o choro dando lugar a tantos abraços, beijos, elogios, o olhar carinhoso que tive ideia de dar e o abraço de todos os dias mudou por completo aprendizagem dessa criança numa fase tão importante.” (Professora Nº 9) Considerações Finais Os desafios enfrentados pelos professores na Escola pesquisada incluem a necessidade de equilibrar o cumprimento das metas curriculares com a atenção às necessidades emocionais dos alunos. Muitas vezes, a pressão por resultados, aplicação de conteúdos e a falta de formação específica sobre a importância da afetividade na educação podem levar a práticas pedagógicas que não valorizam adequadamente as relações afetivas. No entanto, a pesquisa revelou que os professores que conseguem integrar a afetividade em suas práticas pedagógicas observam resultados positivos. Os alunos demonstram maior interesse e engajamento nas atividades escolares, além de desenvolverem habilidades sociais e emocionais importantes para seu crescimento integral. O estabelecimento de um ambiente afetivo favorece a comunicação, a cooperação e o respeito mútuo entre alunos e professores. Considerações Finais Pudemos observar no capítulo 3 onde os professores narram experiências afetivas que deram resultados positivos, falam de ter boas lembranças dos alunos e evolução destes, ao contrário daqueles que não tiveram nada a acrescentar nessa questão da pesquisa, também não se recordam de algum sucesso escolar relevante na sua profissão. Concluímos que a afetividade é um elemento indispensável na alfabetização e no letramento. O tratamento inadequado das relações afetivas pode comprometer o desenvolvimento integral dos alunos e seu desempenho escolar. Portanto, é fundamental que as políticas educacionais, a formação de professores e as práticas pedagógicas contemplem a afetividade como um componente que tem muito a contribuir no processo de alfabetização e letramento. Principais referências ARAÚJO, S. M. F. (2018). 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