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Raça, cor e etnia
 
SST
Duwe, Ricardo; Silva, Débora Luiza da
Raça, cor e etnia / Ricardo Duwe; Débora Luiza da Silva 
Ano: 2020
nº de p.: 12
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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Raça, cor e etnia
APRESENTAÇÃO
Nesta unidade, buscaremos constituir uma definição para o conceito de etnia, 
bem como o papel que os grupos étnicos desempenharam nas relações e 
conflitos políticos, culturais e sociais no decorrer da história. Estudaremos as 
distinções entre raça, cor e etnia, verificamos a importância da diversificação 
para a construção da cultura e da histórica de um povo, incluindo aspectos da 
estruturação da sociedade brasileira e uma reflexão sobre a importância do tempo 
para a construção da identidade de um povo. Veremos alguns dos conflitos sociais 
e políticos que marcaram a histórica brasileira e que foram essenciais para a 
construção de uma identidade nacional, analisando-a.
UM DEBATE CONCEITUAL: RAÇA, COR 
OU ETNIA? 
Um passo importante para o melhor entendimento acerca de um determinado 
conceito é o de evitar que este seja confundido com outro de significado 
aparentemente similar. Para isso, é necessário rigor em sua definição. No caso que 
iremos estudar, o conceito de etnia pode ser facilmente interpretado como uma 
espécie de sinônimo para outros conceitos, em especial, de raça ou cor. Entretanto, 
existem diferenças substanciais que distinguem esses três conceitos. 
Documentário: Etnias
Sinopse: a produção busca descrever alguns aspectos que 
compõem a diversidade do mundo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-dcyYh9Bjfo.
Saiba mais
https://www.youtube.com/watch?v=-dcyYh9Bjfo
4
Para fins práticos, vamos utilizar o exemplo de uma pessoa negra, que se 
autoidentifica como parda e que possui origem étnica zulu. Nesse caso, seria 
possível afirmar que essa mesma pessoa se identifica de formas distintas no que 
se refere a sua raça (negra), cor de pele (parda) e etnia (zulu). Um persa, um judeu e 
um árabe podem ter aparências físicas muito próximas em relação aos seus tons de 
pele, mas certamente se definem a partir de linhagens raciais distintas, bem como 
possuem origens étnicas e culturais completamente diferentes.
Elementos culturais
Raça
Etnia
Cor
Fonte: Elaborada pela autora (2020).
O conceito de etnia está intimamente relacionado ao de cultura e de que forma um 
determinado povo produz cultura ao longo do tempo. Uma das principais distinções 
entre o conceito de etnia e raça está centrada na concepção biológica e determinista da 
raça, em contraponto com o determinismo cultural e histórico da etnia. Se traços físicos 
e biológicos podem ser utilizados para definir um judeu a partir do critério racial, para 
uma abordagem dos judeus como uma etnia, um conjunto de outras referências que 
agregam essa população seriam utilizadas tais, como: língua, religião, práticas culturais, 
cultura material, rituais, símbolos e costumes próprios.
Esses três conceitos possuem origens e trajetórias específicas dentro do mundo 
acadêmico e social, tendo ganhado contornos particulares no Brasil. O conceito de raça, 
por exemplo, passou a ser utilizado em larga escala dentro dos centros acadêmicos 
brasileiros no início da década de 1870, chegando ao país juntamente com as teorias 
raciais e eugenistas desenvolvidas na Europa, no mesmo século. Despontando de 
grande popularidade entre as potências do continente, essas teorias estavam inseridas 
em um contexto de grande desenvolvimento da ciência contemporânea e passaram a 
utilizar estudos nos campos da biologia, botânica, geografia, antropologia, entre outras 
áreas, para dar contornos pretensamente científicos para muitos dos ímpetos e práticas 
imperialistas na África, Ásia e América Latina. 
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MUTAÇÕES HISTÓRICAS
De acordo com o sociólogo Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, essa geração 
de biólogos, antropólogos e naturalistas do século XIX fez uso desse conceito 
para “explicar as diferenças culturais entre os povos e o modo subordinado com 
que foram incorporados ao sistema mercantil global pela expansão e conquista 
europeias” (GUIMARÃES, 2011, p. 265). Para tal finalidade, esses intelectuais 
mobilizaram estudos que buscaram promover explicações científicas para o 
sucesso e o fracasso de diferentes raças e povos. 
Tais pesquisas estavam largamente contaminadas por perspectivas racistas e 
desprezavam fatores explicativos de ordem histórica, social, econômica e cultural 
para compreender as distintas realidades das nações e raças analisadas, atribuindo 
a diferença do desenvolvimento destas a características físicas e biológicas. 
No caso do contexto brasileiro, essas teorias raciais passaram a afirmar, por 
exemplo, que os indígenas seriam naturalmente mais preguiçosos e incompatíveis 
com o ritmo de trabalho europeu, o que impediria o desenvolvimento industrial 
do Brasil. Tais alegações estavam coadunadas com políticas favoráveis ao 
embranquecimento da população brasileira, pois compreendiam que cabia aos 
imigrantes brancos o papel exclusivo de desenvolver o país economicamente e até 
mesmo no aspecto cultural.
Documentário: Índios somos nós
Sinopse: a produção mostra os jogos olímpicos dos povos 
indígenas brasileiros.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZecRLbA7H3w.
Saiba mais
Nesse contexto do final do século XIX e início do século XX, muitos intelectuais 
passam a investigar as características raciais particulares do povo brasileiro. Como 
resultado de muitos desses debates, é desenvolvida a tese – popular, até o presente 
– de que a nação brasileira teria sido formada pelo entrecruzamento de três raças 
distintas: brancos, negros e indígenas (ou caucasoide, africana e americana). 
https://www.youtube.com/watch?v=ZecRLbA7H3w
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Para esses intelectuais, a composição racial brasileira deveria ser alterada, pois isso 
poderia auxiliar no desenvolvimento da nação. Para tanto, foram fomentadas políticas 
públicas que trouxeram imigrantes brancos – principalmente italianos e alemães – 
para o Brasil. Acreditava-se que essa importação humana ajudaria a reverter o quadro 
da degeneração da sociedade brasileira em virtude da mestiçagem; a ideia era que, com 
o tempo, ela se tornaria mais branca (OLIVEIRA, 2018, p. 244).
No decorrer do século XX, uma nova leitura ganhou terreno no campo intelectual, a qual 
se convencionou denominar democracia racial. Este termo – cunhado pelo sociólogo 
Gilberto Freyre em alguns dos seus estudos, a partir da década de 1930 – parte do 
entendimento de que um grande diferencial na construção da sociedade brasileira foi a 
miscigenação entre as suas três principais raças, o que teria impedido que o racismo, 
no Brasil, fosse expressado de forma tão rígida e violenta como nos Estados Unidos, 
onde, em muitos locais, negros não podiam frequentar os mesmos espaços que 
brancos, como no transporte público, no trabalho e até mesmo banheiros.
Autor: Gilberto Freyre
Obra: Ingleses no Brasil
Sinopse: o autor analisa a influência da cultura inglesa para a 
construção de uma identidade brasileira.
Saiba mais
Entretanto, o conceito de raça acaba caindo cada vez mais em desuso e ganha 
um contorno negativo, após a Segunda Guerra Mundial, por uma série de razões: 
1) as teorias raciais do século XIX serviram de inspiração para as políticas 
segregacionistas e de extermínio praticadas pelos nazistas durante a Segunda 
Guerra Mundial; 2) o conceito foi usado por políticas segregacionistas que 
perduraram em países como Estados Unidos e África do Sul no pós-guerra; 3) 
no caso brasileiro, muitos intelectuais passaram a questionar de forma frontal a 
concepção de democracia racial de Freyre, acusando-a de construir uma narrativa 
da história do Brasil em que temas como o racismo, a desigualdade entre as 
raças e as violências cometidas contra as populações negra e indígena ganhavam 
importância secundária ou eram deliberadamente omitidas. Nessas concepções, 
o conceito de raça estaria muito ligado a uma abordagemnão-inclusiva e/ou 
determinista a partir de critérios exclusivamente biológicos e naturais.
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A partir do momento em que o conceito de raça enfrentou duras críticas, outro 
conceito passou a ganhar mais espaço no léxico acadêmico: o de etnia. De 
forma distinta das teorias raciais do século XIX, o conceito de etnia propõe uma 
abordagem sociocultural da história dos mais distintos povos, dando destaque para 
a formação de uma identidade étnica a partir de questões linguísticas, aspectos 
religiosos, práticas culturais, costumes e cultura material. Assim, podem possuir 
uma cor de pele semelhante, traços físicos parecidos e serem considerados parte 
de uma mesma raça por determinados analistas, mas fazem partes de grupos 
étnicos absolutamente distintos.
Os estudos que passaram a incorporar o conceito de etnia também lançaram um 
olhar mais atento para a pluralidade e a diversidade. Ao definir as sociedades 
africanas, afrodescendentes e indígenas, fundamentando-se meramente em uma 
abordagem racial (raça negra, raça indígena etc.), as teorias raciais acabavam 
suscitando conceitos muito rígidos e pouco precisos sobre a complexidade cultural, 
social e política desses grupos. 
Como um exemplo mais preciso, o censo demográfico de 2010 demonstrou que 
existem 305 etnias indígenas no Brasil, bem como 274 línguas de origem indígena. 
Uma outra fonte rica para se ter noção da diversidade étnica que compõe diferentes 
povos é a cultura material produzida por um determinado grupo.
Documentos: Iorubá
Sinopse: a matéria destaca os elementos dessa cultura
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_lsjQ7CRnoc.
Saiba mais
Apesar dos benefícios analíticos incontestáveis que o conceito de etnia trouxe 
para o debate em torno das relações entre os povos e suas culturas, é interessante 
perceber que, apesar de abandonado no pós-segunda guerra, o conceito de raça 
retornou ao debate político-acadêmico a partir da década de 1970. De acordo com 
Guimarães, esse movimento intelectual caminhou de forma concomitante com uma 
tomada de posição política do movimento negro, que considerou ser apropriado 
retomar esse termo e dar a ele um novo significado. Nos termos do autor:
https://www.youtube.com/watch?v=_lsjQ7CRnoc
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Para os cientistas sociais, assim como para os ativistas políticos, a noção 
de raça tem vantagens estratégicas visíveis sobre aquela de etnia: remete 
imediatamente a uma história de opressão, desumanização e opróbio a 
que estiveram sujeitos os povos conquistados; ademais, no processo de 
mestiçagem e hibridismo que sofreram ao longo dos anos, a identidade 
étnica dos negros (sua origem, seus marcadores culturais etc.) era 
relativamente fraca ante os marcadores físicos utilizados pelo discurso 
racial. (GUIMARÃES, 2011, p. 266)
Essa nova configuração dada para o conceito de raça parte do entendimento de que 
ele está embebido de um peso histórico que não deve ser desprezado por aqueles 
que visam dar valor para a história de opressão e violência que determinados 
povos sofreram no decorrer da história da humanidade. Ou seja, determinados 
estudiosos e ativistas políticos consideram que existem benefícios em utilizar o 
conceito de raça, pois ele permite um duplo movimento: resgatar a história de lutas 
desses povos e dar um novo significado mais inclusivo para esse conceito que 
foi criado no século XIX com o objetivo de segregar raças. No caso do movimento 
negro, é notória a importância que esse grupo político dá ao pertencimento a uma 
raça negra, a qual é caracterizada por uma história própria e que não deve ser 
confundida com as de outras raças e povos. Como expresso por Guimarães, o 
conceito de etnia não foi capaz de criar essa forma de identidade política, sendo 
mais um conceito analítico. 
Documentário: O Movimento Negro
Sinopse: a obra relata aspectos históricos e contemporâneos do 
movimento negro.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qZqDK38fFgk.
Saiba mais
O movimento negro brasileiro define a sua própria origem com o início das lutas 
de resistência dos negros contra a escravidão, mediante a formação de quilombos, 
fugas e organização de motins.
 No final do século XIX e XX, muitos desses grupos passaram a atuar de forma mais 
organizada, mobilizando formas de assistência social para negros/as, produções 
culturais e estratégias de luta política.
https://www.youtube.com/watch?v=qZqDK38fFgk
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Filme: Zumbi dos Palmares
Sinopse: a Produção narra a articulação e resistência desse 
movimento social.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HOsuKoHgNDQ.
Saiba mais
Assim, é importante ter conhecimento de que o uso de determinado conceito 
também está relacionado ao debate político. Não obstante, é mais comum 
perceber o uso do conceito de raça pelo movimento negro, lugar no qual ele 
encontrou mais adesão e foi capaz de formar uma identidade política. Todavia, 
grupos indígenas costumam empregar o conceito de etnia, justamente pelo fato 
da manutenção de certas culturas e práticas ser um aspecto mais central para 
a sua organização. Ademais, cabe ressaltar que, neste material, optaremos pelo 
conceito de etnia, por considerar a importância que ele dá para a pluralidade 
desses povos e pela abrangência que oferece na análise dos fenômenos que 
serão estudados no decorrer da disciplina.
NAÇÕES E ETNIAS
Ao estudarmos a história dos grupos étnicos, invariavelmente nos deparamos 
com projetos de nação e identidades nacionais que atribuem uma importância 
central para determinadas etnias. É o caso da China, onde os Hans – o grupo étnico 
mais populoso do mundo, com 1,24 bilhão de pessoas – encontram-se no posto 
de principal etnia do país, gerando inclusive conflitos com outros povos, como 
os Uighures. O mesmo pode ser dito da importância dos persas para o Irã, e dos 
árabes, em geral, para diversos Estados no Oriente Médio e Norte da África. Além 
disso, como analisamos previamente, no caso brasileiro, temos o mito das três 
raças fundadoras da nação: brancos, índios e negros. 
Os discursos de identidade nacional que levam em consideração a questão 
étnica, usualmente tendem a exaltar certos grupos étnicos como fundadores 
e/ou representantes de uma nação, ao passo que tornam invisíveis outros, 
https://www.youtube.com/watch?v=HOsuKoHgNDQ
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marginalizando-os. No Brasil, o já referido mito das três raças está estruturado em 
uma narrativa edulcorada da construção da nação brasileira, que teria ocorrido de 
forma harmoniosa entre esses três grupos, sendo o maior símbolo do processo de 
miscigenação e sua contribuição para relações não-racistas entre brancos, negros 
e indígenas. Entretanto, a partir de uma análise da realidade brasileira, é possível 
verificar que o processo inclusão de alguns grupos sociais ainda não se consolidou.
Documentário: A alma brasileira
Sinopse: publicitário mais premiado da história da propaganda 
brasileira, Washington Olivetto analisa a alma do Brasil.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QXAhm07lDw0.
Saiba mais
https://www.youtube.com/watch?v=QXAhm07lDw0
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FECHAMENTO 
Nesta unidade, foi possível verificar o conceito de etnia a partir de diversos 
ângulos, viabilizando a compreensão de que a espécie humana é composta de uma 
diversidade de grupos que possuem características específicas que os distingue 
entre si. Também foi possível a reflexão de que as diferenças étnicas jamais podem 
ser elementos para criar uma segregação entre os grupos.
Percebemos que uma mesma pessoa pode identificar-se como pertencente a 
múltiplos grupos, isto porque a autoidentificação pode considerar elementos 
diversos como raça, cor de pele e etnia, cabendo lembrar que, ao longo da história, 
os elementos que caracterizam um determinado grupo de pessoas receberam 
atenção diferente pela sociedade e comunidade científica, não sendo poucos os 
exemplos de exclusão social baseado em um critério étnico.
Por fim, vimos que o Brasil também passou pelo processo de colonização europeia 
e que a miscigenação foi responsávelpela construção de uma identidade nacional 
rica em diversidade cultural. Todavia, ao passo que a cultura se tornou rica em 
elementos, socialmente ocorreu um processo de exclusão social, o que levou à 
marginalização parcela da sociedade e a graves questões sociais.
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Referências
GUIMARÃES, A. S. A. Raça, cor, cor da pele e etnia. Revista dos alunos de pós-
graduação em antropologia social da USP. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 20, p. 
1- 360, 2011. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/
view/36801/39523. Acesso em: 08 out. 2020.
OLIVEIRA, Allan de Paula. Antropologia: questões, conceitos e história. Curitiba: 
Intersaberes, 201
http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/36801/39523
http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/36801/39523
Organização social 
indígena no brasil
 
SST
Duwe, Ricardo; Silva, Débora Luiza da
Organização social indígena no brasil / Ricardo Duwe;
Débora Luiza da Silva
Ano: 2020
nº de p.:
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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Organização social 
indígena no Brasil
Apresentação
A sociedade indígena é diferente da sociedade do homem branco. Nessa 
sociedade, todos possuem direitos iguais e são tratados da mesma forma que os 
demais. Os únicos objetos que podem ser considerados de propriedade de cada um 
são os machados, arpóes, arcos e flechas, por exemplo.
Quanto à formação social, era considerada muito simples, com o exercício das 
atividades de forma coletiva. As cabanas eram de uso coletivo e todos podiam se 
utilizar delas. Os lideres importantes eram o pajé, que desempenhava o papel de 
sacerdote da tribo, e o cacique, o chefe da tribo, que a orientava. Interessante, não? 
Continue lendo nosso conteúdo. 
A organização social dos povos 
indígenas antes da colonização
Quando chegaram às terras que hoje conhecemos como o continente sul-
americano, os europeus encontraram povos nativos, como os incas, os maias e 
os indígenas. Ao desembarcar em solo brasileiro, os portugueses se depararam 
com um território povoado com a estimativa de ter entre um e cinco milhões de 
habitantes, os quais não possuíam registros do seu passado de forma documental, 
uma vez que desconheciam a escrita.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2018), 
durante o Período Colonial, discutia-se muito a origem dos índios. Algumas 
teorias defendiam que eles eram descendentes de tribos perdidas de Israel, alguns 
duvidavam inclusive que os índios eram humanos. Ainda de acordo com o que 
nos informa o Instituto, a história indígena é marcada por uma série de enganos e 
incompreensões, iniciando pelo vocabulário ocidental construído para denominar 
esses povos: “a palavra índio deriva do engano de Colombo que julgava ter 
encontrado as Índias, o ‘outro mundo’, como dizia, em sua viagem no ano de 1492” 
(BRASIL, 2019). Por isso, a palavra passou a ser usada para designar a população 
indígena.
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Os portugueses verificaram que os índios eram organizados em tribos, as quais 
estabeleciam uma relação de dependência e, principalmente, de respeito à natureza.
A organização das tribos indígenas se dava pela fixação dos povos próximos a 
rios cuja navegação era acessível, bem a solos considerados férteis. Quando os 
recursos se esgotavam, os povos migravam para outro território com condições 
sustentáveis.
Basicamente todas as atividades exercidas pelos povos indígenas 
se concentravam em torno da fauna e da flora, pois viviam da 
agricultura, da caça e da pesca, mas também possuíam sua 
própria organização política e religiosa.
Saiba mais
Diferentes de boa parte da população brasileira, os índios variam em suas 
culturas, suas línguas, nas formas de organização social e política, assim como 
em suas relações com o meio com o qual interagem. Se esses fatores causam 
estranhamento até os dias de hoje, como não poderiam causar aos europeus mais 
de 500 anos atrás?
Segundo Marchioro (2018), os índios que povoavam o território brasileiro não 
poderiam ser considerados tábulas rasas ou folhas em branco, pois eram 
organizados no âmbito político, social e religioso. Politicamente, os índios tinham 
como líder administrativo um cacique; já a transmissão cultural e dos costumes 
era tarefa do pajé, que também era responsável pelos ensinamentos religiosos e 
medicinais por meio de processos de cura realizados com o uso de plantas e ervas.
O casamento dos índios era visto como uma forma de firmar 
alianças entre as tribos, no entanto a poligamia era um costume 
disseminado entre os chefes indígenas de algumas etnias. Mais 
tarde, quando os europeus chegaram ao solo brasileiro, tentaram 
impor aos indígenas um novo modelo fundamentado nos princípios 
cristãos vigentes. Mas para os tupis, por exemplo, abandonar a 
prática de ter várias esposas era abrir mão da diferenciação social 
oriunda da guerra (MARCHIORO, 2018).
Curiosidade
5
No âmbito religioso, eram considerados povos bastante ativos, pois praticavam 
rituais místicos e sagrados, contemplando atividades como a caça, o plantio e até 
mesmo a guerra em suas cerimônias. Mas, para os portugueses, os índios eram 
vistos como indivíduos sem fé, sem rei e sem lei. De fato, não possuíam um rei, 
mas respeitavam regras e tinham a sua fé. Eles se conectavam à natureza por 
meio de celebrações que iam de rituais de iniciação a rituais fúnebres, acreditando 
estarem ligados a espíritos, divindades e subjetividades que habitavam os corpos 
dos animais e dos vegetais com os quais conviviam. Os ritos de cura vinham da 
manipulação de ervas e plantas medicinais, que o pajé preparava com o auxílio das 
índias mais velhas da aldeia.
A guerra tera considerada uma instituição inscrita na sociedade 
indígena. Diferentemente dos conflitos ocidentais, não eram os 
bens materiais que estavam em questão em suas disputas, mas 
o status social dos grupos indígenas. Por isso, nesses episódios,
cabia ao homem adulto capturar seu inimigo, sacrificá-lo e realizar
um ritual canibal (MARCHIORO, 2018).
Curiosidade
Quanto à estrutura das aldeias indígenas, suas moradias eram as ocas, uma 
espécie de cabana com paredes feitas de madeira e cipós. O trabalho das tribos 
que faziam parte dessas aldeias era dividido de acordo com o gênero. Enquanto 
aos homens cabia realizar atividades cuja força braçal era essencial, tais como a 
preparação do solo para a prática da agricultura, a construção das suas moradias 
e a caça dos animais, às mulheres competia gestar novos membros da família, 
praticar atividades artesanais e plantar e preparar os alimentos.
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A alimentação dos índios provinha do que plantavam, caçavam e 
pescavam. Entre seus principais alimentos, estavam a mandioca, 
os peixes e as carnes. Com a extração de fibras naturais, 
construíam objetos como cestos, redes, peneiras, entre outros. 
Com o barro, criavam urnas fúnebres, vasos, potes e utensílios 
para uso doméstico.
Saiba mais
As bebidas faziam parte dos rituais indígenas, nos quais a virilidade masculina era 
demonstrada. Mesmo tendo contato com os animais de caça e de grande porte, 
os índios também se preocupavam em ter seus animais domésticos, como aves, 
periquitos, tucanos e araras ou, ainda, filhotes de macacos.
A influência dos europeus na cultura indígena é bastante conhecida na 
contemporaneidade. No entanto, a influência de alguns costumes dos índios 
também pode ser percebida em nossas vidas. Podemos citar, por exemplo, a 
frequência com que os brasileiros tomam banho nos dias de hoje. O contato com os 
rios ocorria desde muito cedo na vida dos índios, por isso se acredita que o hábito 
diário do banho seja uma herança das etnias indígenas.
Muitas foram as mudanças ocorridas no Brasil, desde a chegada dos portugueses 
por aqui. Dessa forma, veremos a seguir alguns dos principais aspectos em relação 
à vida dos indígenas.
O que mudou com a chegada dos 
portugueses?
A visão dos europeus sobre o que encontraram na costa brasileira, ao 
desembarcarem,no ano de 1500, foi de grande encantamento com o que aqui 
enxergaram. Na Carta de Achamento do Brasil, escrita por Pero Vaz de Caminha, 
foram descritas as praias brasileiras, a riqueza da terra, a exuberância da floresta, 
assim como a maneira como viviam os índios com sua nudez natural (GOMES, 
2012).
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Características físicas dos índios
Fonte: Deduca, 2019.
Além dos portugueses, aventuraram-se, por terras brasileiras, navegantes de 
todo o território europeu, como ingleses, irlandeses e alemães, e não demorou 
para que eles passassem a controlar os índios e a explorar os recursos naturais 
que abundavam o nosso território. Por cerca de cinco décadas, os aventureiros 
europeus exploraram as florestas brasileiras por meio da extração do pau-brasil. Os 
próprios índios ficaram responsáveis por derrubar, cortar e transportar as árvores 
até os navios que as conduziriam para a Europa.
Os avanços tecnológicos trazidos pelos europeus chamaram a atenção dos 
índios, de modo que se tornaram seus dependentes, pois também passaram a se 
interessar pelo contato e convívio com objetos até então desconhecidos, como 
o ferro, o vidro, as miçangas, os espelhos, entre outros (GOMES, 2012). Contudo,
os índios também possuíam suas próprias ferramentas, como bordunas, tacapes,
arcos e flechas, que lhes auxiliavam na caça.
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A questão indígena nasceu com a chegada dos portugueses, mas 
será objeto de discussão durante toda a existência dos índios, os 
quais sofrem até os dias de hoje com o tratamento que recebem, 
pois há muito tempo são considerados estranhos na sua própria 
terra. Esse pensamento ocasionou um grande número de mortes 
e, consequentemente, o desaparecimento de sua cultura (GOMES, 
2012).
Atenção
Outro fator característico da influência portuguesa, na cultura indígena, deu-se pela 
troca de mercadorias entre os que por aqui se aventuravam e os índios brasileiros. 
Segundo Gomes (2012, p. 55):
De um lado, os índios contribuíram com trocas de pau-brasil e de tatajuba 
(da qual se obtém corante amarelo), algodão e pássaros domesticados, 
como papagaios e araras. Em troca recebiam machados, facas, tesouras, 
miçangas, espelhos e pentes.
No entanto, a colonização do Brasil causou uma série de episódios violentos, em 
que a guerra e o extermínio feriram e mataram milhares de índios brasileiros. Para 
se consolidar como dominadores do território do país, em cada pedaço de terra 
a ser explorada e colonizada se desencadeavam episódios de batalha entre os 
os colonizadores e os índios pois a incompatibilidade entre os dois grupos era 
inevitável (GOMES, 2012).
Esses episódios se estenderam durante todo o período em que 
o Brasil foi considerado uma colônia portuguesa. Em 1558, por
exemplo, Mem de Sá arrasou a resistência e rebeldia dos índios
tupinambás, matando entre 15 e 30 mil índios na região que hoje
é o estado da Bahia.
Curiosidade
9
Nos séculos XVI e XVIII, os jesuítas iniciaram um movimento de catequização dos 
índios. Acredita-se que a experiência vivenciada com a religião católica estaria 
muito mais centrada na questão social que espiritual. Por meio das experiências 
sociais organizadas pelos jesuítas para os índios sobreviventes das guerras, das 
epidemias e do extermínio, foi incorporado o processo de catequização em suas 
vidas, além de ensinamentos antes não conhecidos com a escrita e a leitura. 
Também, aprenderam agricultura de sobrevivência, mas a coroa portuguesa não 
ficou contente com esse processo, expulsando os jesuítas em 1759.
Fechamento
Nossa Constituição Federal de 1988 estipula importantes alterações nas relações 
entre a sociedade brasileira e a maneira que o Estado deve cuidar dos povos 
indígenas. Com isso, os povos indígenas passaram a ter a garantia de respeito 
quanto à sua forma de vida e à sua forma de se organizar, bem como a garantia de 
respeito pelos costumes, crenças, tradições e suas línguas.
Além disso, de forma novedosa, é a primeira vez em uma Constituição brasileira que 
se reconhece os direito natos dos indígenas brasileiros, possibilitando, inclusive, a 
formação de associações que incorporam em suas estruturas novas formas de lidar 
com o mundo fora da aldeia. 
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Referências
BRASIL. Fundação Nacional do Índio - FUNAI. Índios no Brasil: quem são. Brasília. 
2019. Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no- brasil/quem-
sao. Acesso em: 25 set. 2019.
GOMES, M. P. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 
2012.
MARACHIORO, M. Questão indígena no Brasil: uma perspectiva histórica. [S. L.]: 
InterSaberes, 2018.
http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
Etnias indígenas 
no Brasil
 
SST
Duwe, Ricardo; Silva, Débora Luiza da
Etnias indígenas no Brasil / Ricardo Duwe;
Débora Luiza da Silva
Ano: 2020
nº de p.: 
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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Etnias indígenas no Brasil
Apresentação
Na chegada dos português ao Brasil, em 1500, os dados estimados indicam que 
eram mais de 1000 povos em uma população próxima dos 4 milhões de pessoas. 
Nos dias de hoje,passam mais de 256 povos que se expressam em mais de 150 
línguas diferentes, o que garante uma grande diversidade das etnias indigenas no 
Brasil, desconhecida por muitos.
Quando nos referimos a “povos indígenas” estamos nos referindo a grupos que 
estão espalhados pelo mundo em diversos territórios. E é este o tema de nossa 
unidade. Bons estudos!
Política indigenista portuguesa 
A política indigenista formulada e aplicada pelos portugueses aos índios brasileiros 
era com base nas experiências vivenciadas na África do Norte e na Ásia, tendo 
como característica atos agressivos e inclementes (GOMES,2012). Entendemos 
essas políticas como políticas governamentais com foco no povo indígena. Ainda 
hoje, considera-se que o quadro político dessa temática seja algo complexo e que 
precisa evoluir em diversos aspectos.
De acordo com Gomes (2012), os índios não acolheram passivamente a brusca 
invasão dos seus territórios e a perseguição que sofreram. Seus modos de ser 
seus sistemas políticos não admitiam a obediência cega nem a hierarquização 
estatutária. As demandas impostas, mesmo em tempos de paz, eram excessivas ao 
extremo e incompreensíveis para quem sempre vivera em liberdade.
Mesmo com a chegada do Rei D. João VI ao Brasil, os povos indígenas sofreram 
com a usurpação e a escravização. Contudo, segundo historiadores e etno-
historiadores, além das guerras, as epidemias também foram responsáveis 
pela devastação dos povos indígenas do Brasil. Com a chegada dos europeus 
e, mais tarde, dos africanos, também desembarcaram em terras brasileiras 
diversas doenças, tais como varíola, sarampo, catapora, pneumonia, gripe, febre 
amarela, entre outras. Esses episódios levaram aldeias inteiras a sucumbirem e 
desaparecerem por completo (GOMES, 2012).
4
A América foi o último continente a ser povoado no mundo, 
estando praticamente isolada dos outros continentes até 1492. 
Por essa razão, os povos que habitavam o continente americano 
eram frágeis e sofreram muito com doenças vindas de outras 
partes do mundo.
Curiosidade
Por fim, aos índios que sobreviveram às guerras de extermínio e às epidemias, não 
restando outra alternativa senão serem usados como servos pelos colonizadores, 
na medida em que “[...] grupos indígenas eram alocados para servir às câmaras 
municipais e aos oficiais do rei em serviços de construção de estradas, pontes, [...] 
ou como guerreiros” (GOMES, 2012, p. 61).
Etnias antigas
Os índios que viviam nessas condições não eram considerados escravos, mas 
servos dos seus senhores, e precisavam prestar serviços quando solicitados. 
No entanto, o apoio dos índios foi fundamental para o triunfo da colonização 
portuguesa. Algumas etnias, inclusive, firmaram alianças com os colonizadores, 
entreos quais estão (BRASIL, 2019):
1. Guerreiros temiminós:
Liderados por Arariboia, aliaram-seaos portugueses para derrotar os 
franceses na baía de Guanabara, em 1560, recebendo apoio dos Tamoios.
2. Chefe tupiniquim Tibiriçá:
Valioso para o avanço português na regiãode São Vicente e no planalto 
de Piratininga, combatia rivais da própria nação Tupiniquim e dos Tapuias 
Guaianás, além de escravizar os Carijó para os portugueses.
5
3. Chefe potiguar Zorobabé: 
Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, aliou-se aos franceses, em fins do 
século XVI, e aos portugueses, tendo sido recrutado para combater os 
Aymoré na Bahia e para reprimir os nascentes quilombos de escravos 
africanos;
4.Potiguar Felipe Camarão: 
Mais notável das lideranças indígenas contra os holandeses no século XVII, 
combateu os flamengos, os tapuias e os próprios potiguares, que bandearam 
para o lado holandês, recebendo por isso o título de Cavaleiro da Ordem de 
Cristo, entre outros benefícios. Outras lideranças pró-lusitanas receberiam, 
antes e depois dele, privilégios similares, criando-se no Brasil linhagens de 
chefes indígenas nobilitados pela Coroa por sua lealdade a Portugal.
Mais tarde, entre os séculos XVI e XVIII, os padres jesuítas formaram missões, 
conhecidas como localidades,nas quais os índios passaram a ser catequizados. 
Com a catequização, os índios passaram a adquirir conhecimentos como a leitura e 
a escrita, além de não serem mais escravizados.
Além de cultivarem o ensinamento da religião, os índios que faziam parte das 
missões jesuíticas também desenvolveram habilidades agrícolas e viviam do 
que produziam. No entanto, a coroa portuguesa não se agradou do processo de 
catequização e da autonomia que os povos indígenas passaram a adquirir nesse 
período, e, em 1759, os padres jesuítas foram expulsos do território brasileiro.
A seguir, vamos conferir características históricas e culturais das principais etnias 
indígenas do território brasileiro, desde o “descobrimento” do Brasil até os dias 
atuais.
Principais etnias indígenas
Desde que os europeus chegaram em terras brasileiras, em 1500, diversas etnias 
indígenas desapareceram. No entanto, nas últimas décadas do século passado, 
mais especificamente nos anos de 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) passou a incluir a população indígena no censo demográfico. A 
partir de então, essa realidade começou a mudar. Para identificar melhor os índios, 
foram classificados em Tupi (ou Tupinambá) e Tapuia (BRASIL, 2019):
6
Tupis: designava os povos que, pela semelhança de língua e 
costumes, predominavam no litoral no século XVI.
Tapuias: correspondia aos outros grupos, isso é, aos que não 
falavam a língua que os jesuítas chamaram de língua geral ou 
língua mais usada na costa do Brasil.
Curiosidade
Com os dados coletados pelo IBGE, foi possível verificar qual população indígena 
habita todos os estados brasileiros, inclusive o Distrito Federal. Foi revelado, 
também, que há 69 referências de índios ainda não contatados, mas hoje o total de 
índios representa apenas 0,5% da população do Brasil.
A população indígena do Brasil
Dados demográficos da população indígena no brasil
Ano
População 
indígena total/
litoral
População 
indígena total/
interior
Total
% 
População 
total
1500 2.000.000 1.000.000 3.000.000 100,00
1570 200.000 1.000.000 1.200.000 95,00
1650 100.000 600.000 700.000 73,00
1825 60.000 300.000 360.000 9,00
1940 20.000 180.000 200.000 0,40
1950 10.000 140.000 150.000 0,37
1957 5.000 65.000 70.000 0,10
1980 10.000 200.000 210.000 0,19
1995 30.000 300.000 330.000 0,20
2000 60.000 340.000 400.000 0,20
2010 272.654 545.308 817.000 0,26
Fonte: Adaptada de Brasil (2019).
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O censo de 2010 demonstrou que 817.962 habitantes brasileiros pertencem a povos 
indígenas, totalizando cerca de 305 etnias diferentes, as quais utilizam 274 línguas 
para se comunicarem.
Atualmente, a região brasileira que apresenta o maior número de 
habitantes indígenas é o norte do Brasil, em que se concentram 
37,4% do total de índios. No estado do Amazonas estão 55%d o 
total de índios dessa região. Com o censo, ainda, concluímos que 
os índios habitam tanto a região rural quanto a região urbana do 
país.
Saiba mais
Contudo, esses dados revelam parte da história das etnias indígenas do nosso país, 
visto que, na chegada dos europeus, a diversidade étnica era estimada em cerca de 
mil povos diferentes, que totalizavam entre dois e quatro milhões de índios.
Os povos indígenas desconheciam a leitura e a escrita até a 
chegada dos europeus no Brasil, por isso, desde então, são 
batizados por “não índios”, o que causou grande confusão na 
grafia e no significado das suas etnias.
Curiosidade
A Fundação Nacional do Índio (Funai) (BRASIL, 2009) revela que, na atualidade, as 
principais etnias indígenas são constituídas pela seguinte população em números:
• Ticuna (35.000).
• Guarani (30.000).
• Caiagangue ou Caigangue (25.000).
• Macuxi (20.000).
• Terena (16.000).
• Guajajara (14.000).
• Xavante (12.000).
• Ianomâmi (12.000).
• Pataxó (9.700).
• Potiguara (7.700).
8
Veja, a seguir, as dez principais etnias indígenas do Brasil, atualmente, em número 
de pessoas (JOKURA, 2011):
1. Guarani – população: 46.566: 
Dividem-se em três grupos: caiová, ñandeva e mbya. Embora eles tenham 
costumes comuns – como viver em grandes grupos familiares (tekoha) 
liderados política e religiosamente por um dos avós –, cada grupo fala um 
dialeto particular e tem suas peculiaridades. A poligamia, por exemplo, é 
proibida entre os caiovás, mas é aceita entre os ñandeva.
2.Ticuna – população: 26.813: 
Vivem em aldeias ao longo do rio Solimões, situado no estado do Amazonas. 
São adeptos à caça e à pesca. Os núcleos familiares são agrupados em duas 
partes: clãs com nomes de aves e clãs com nomes de plantas e animais 
terrestres. Um índio ticuna sempre se casa com uma representante da parte 
oposta, e a nova família herda os hábitos do clã do homem. A língua deles é 
fonal, ou seja, a entonação muda o sentido das palavras.
3. Caingangue – população: 25.755: 
Nos casamentos, também misturam as duas partes na qual são divididos, 
como os ticunas. Mas, entre eles, a nova família vai morar junto ao pai da 
noiva. Na hierarquia das comunidades, a maior autoridade é o cacique, 
eleito entre os homens maiores de 15 anos. O cacique eleito indica um 
vice, geralmente pertencente à outra parte, com o intuito de facilitar o 
planejamento político.
4.Macuxi – população: 23.182: 
Como vivem em uma região com períodos prolongados de seca e de chuva, 
alternam entre dois modos de vida bem distintos. Durante a estiagem, 
formam grandes aglomerações e aproveitam para caçar, pescar, criar gado, 
cultivar alimentos e coletar madeira e argila– algumas aldeias também 
garimpam ouro. Na estação chuvosa, espalham-se em pequenos grupos que 
vivem dos alimentos armazenados durante a seca.
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5.Terena – população: 19.851: 
É o povo indígena mais urbanizado. Há terenas trabalhando no comércio de 
rua em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e na colheita de canadeaçúcar.
6.Guajajara – população: 19.524: 
Antigamente, não se fixavam em um mesmo lugar por muito tempo, mas 
hoje esse costume se perdeu, e as aldeias, além de permanentes, podem ser 
grandes, com mais de 400 habitantes. A agricultura é a principal atividade 
econômica, mas o artesanato também é uma fonte de renda importante.
7.Ianomâmi – população: 16.037: 
A terra indígena ianomâmi, encravada no meio da floresta tropical, é 
um importante centro de preservação de biodiversidade amazônica, 
constantemente ameaçado pelos garimpeiros. Os ianomâmis têm o costume 
de aglomerar seus membros: várias famílias vivem juntas sob o teto de 
grandes habitações, e geralmente o casamento é feito entre parentes.
8.Xavante – população:12.848: 
As cerca de 70 aldeias xavantes, no Mato Grosso, seguem a mesma 
configuração: casas enfileiradas em forma de semicírculo. Numa das pontas 
da aldeia há uma casa reservada à reclusão de meninos de 10 a 18 anos– 
eles ficam ali durante cinco anos e,ao final do período, saem prontos para a 
vida adulta. Uma festa marca essa transição. Os xavantes costumam pintar o 
corpo de preto e vermelho, além de usar uma espécie de gravata de algodão 
nas cerimônias.
9.Pataxó – população: 10.664: 
A atividade principal dos pataxós é o artesanato, com peças que misturam 
madeira, sementes, penas, barro e cipó. Nas festas, eles costumam dançar 
o típico auê, servir o mukussuy – peixe assado em folhas de palmeira – e o 
tradicional kauím – uma espécie de vinho de mandioca.
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10. Potiguara – população:10.036: 
São de origem tupi-guarani, mas hoje se comunicam utilizando a língua 
portuguesa. Eles costumam se referir aos nãoíndios como “particulares” e 
quase toda aldeia tem uma igreja católica e um santo padroeiro. O nome do 
povo significa “comedores de camarão”, porque, além de tirarem o sustento 
de atividades agrícolas, caça, pesca e extrativismo vegetal, são grandes 
coletores de crustáceos e moluscos.
Conclusão 
Na primeira Constituição Federal do Brasil de 1824, a existencia dos indígenas foi 
completamente ignorada. Somente a partir da Constituição Federal de 1988 é que 
houve importantes mudanças na forma de reconhecer os indigenas como sujeitos 
de direito. Foi a partir de 1988, então, que passaram a ser implementadas políticas 
para garantir e respeita a sua forma de vida e sua forma de se organizar, bem como 
a garantia de respeito pelos costumes, crenças, tradiçoes e suas linguas.
Hoje, como visto, há muitas etnias indigenas no Brasil, algumas com muitas raizes 
e costumes de seus antepassados e outras que acabaram se urbanizando. 
11
Referências
BRASIL. Fundação Nacional do Índio - FUNAI. Índios no Brasil: quem são. Brasília. 
2019. Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no- brasil/quem-
sao. Acesso em: 25 set. 2019.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil 500 anos: território 
brasileiro e povoamento. 2019. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov. br/
territorio-brasileiro-e-povoamento. Acesso em: 26 set. 2019.
GOMES, M. P. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 
2012.
JOKURA, T. Quais são os povos indígenas mais numerosos do Brasil? Revista 
Superinteressante, São Paulo, 2011. Disponível em: https://super.abril.com. br/
mundo-estranho/quais-sao-os-povos-indigenas-mais-numerosos-do-brasil/. 
Acesso em: 26 set. 2019.
http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento.html
https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento.html
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-sao-os-povos-indigenas-mais-numerosos-do-brasil/
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-sao-os-povos-indigenas-mais-numerosos-do-brasil/
Identidades 
nacionais e Etnias
 
SST
Duwe, Ricardo; Silva, Débora Luiza da
Identidades nacionais e Etnias / Ricardo Duwe; Débora 
Luiza da Silva 
Ano: 2020
nº de p.: 11
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
Identidades nacionais e 
Etnias
APRESENTAÇÃO
Nesta unidade, faremos uma reflexão sobre as etnias, veremos alguns dos primeiros 
povos que se organizaram em sociedade e a importância da construção de uma 
identidade de grupo para a construção étnica. Perceberemos que, apesar do 
tempo, vários desses elementos étnicos se encontram presentes na sociedade 
contemporânea; faremos uma análise da correlação entre Estado e identidade étnica 
e de como esses elementos se influenciam entre si. Apesar das distintas identidades 
serem fundamentais para o processo de miscigenação dos povos, veremos que nem 
sempre essas diferenças possuem uma convivência harmônica. Assim, alguns conflitos 
étnicos que marcaram a história das civilizações também serão visitados.
Nações e etnias
Ao estudarmos a história dos grupos étnicos, invariavelmente nos deparamos com 
projetos de nação e identidades nacionais que atribuem uma importância central a 
determinadas etnias. 
A China possui o grupo étnico mais populoso do mundo. Os Hans, 
que possuem quase 1,24 bilhão de pessoas, encontram-se no 
posto de principal etnia do país, gerando, inclusive, conflitos com 
outros povos, como os Uighures.
Saiba mais
Podemos ressaltar a importância dos persas para o Irã e dos árabes, em geral, 
para diversos estados no Oriente Médio e Norte da África. No Brasil, temos o 
mito das três raças fundadoras da nação: brancos, índios e negros. Neste tópico, 
debateremos como essas relações entre etnia e nação podem ser analisadas e 
melhor compreendidas.
4
Os discursos de identidade nacional, que levam em consideração a questão étnica, 
tendem a exaltar, usualmente, certos grupos étnicos como fundadores e/ ou 
representantes de uma nação, ao passo que tornam invisíveis outros, levando a um 
processo de marginalização. 
O Estado detém um papel central na formação de quais grupos étnicos serão 
incluídos e quais serão excluídos da identidade nacional. Devido ao seu fortíssimo 
poder institucional e, principalmente, por deter o monopólio da violência, o Estado 
consegue impor não somente discursos, mas também verdadeiras sanções e 
formas de repressão contra grupos étnicos considerados indesejáveis. Em Estados 
autoritários, o uso do aparato repressivo pode ser realizado de forma sistematizada 
e com grande violência, sendo possível chegar a verdadeiros genocídios étnicos – 
os quais serão abordados com maior ênfase no último tópico desta unidade. 
A Coreia do Norte é considerada um país de regime autoritário. 
Conheça um pouco mais sobre essa nação, acessando: https://
www.youtube.com/watch?v=Fwap4lz1ma4.
Saiba mais
Importante frisar que não somente em governos autoritários tivemos perseguição 
a determinados grupos étnicos e/ou raciais. No ano de 1907, no Estado de Indiana, 
nos Estados Unidos, tivemos a aprovação da primeira lei de esterilização, que foi 
diretamente influenciada pelos princípios da eugenia e visava o “melhoramento 
da raça” (DIWAN, 2007, p. 47). Dados apontam que mais de 60 mil pessoas foram 
esterilizadas de forma compulsória por autoridades estadunidenses e, entre elas, 
grande parte era formada por hispânicos, imigrantes e afrodescendentes, com 
maior incidência de mulheres. As alegações para o procedimento, no geral, eram 
doenças mentais e, muitas vezes, era realizado em mulheres que supostamente 
sofriam de desvios sexuais e/ou epilepsia.
Outro fator que merece destaque é que, mesmo após longos anos da abolição 
da escravidão e durante parte considerável do século XX, inúmeras práticas 
segregacionistas permaneceram dentro de uma democracia formal. Desde bairros 
que acabavam sendo divididos por critérios raciais até mesmo banheiros, bebedouros, 
bares, cabelereiros e meios de transporte público que eram reservados somente para 
negros, com o objetivo de que não se misturassem com a população branca.
5
Documentário: O Apartheid
Sinopse: o enredo relata a segregação racial na África .
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lC49ROKgxeA.
Saiba mais
Os conflitos étnicos, em nível nacional, podem suscitar intensos conflitos civis, 
como é o caso de disputas por poder que ocorreram em países africanos, como 
Nigéria e Ruanda, e que estão diretamente relacionadas a questões étnicas.
Conflitos e relações étnico-raciais na 
história
O período de intenso avanço do imperialismo europeu na África, data do século XIX 
e vai até o início do século XX, com os processos de independência de diversos 
países que antes estavam submetidos à posição de colônia. É nesse contexto que 
diversos massacres étnicos ocorrem, como o promovido por alemães na Namíbia 
(1904-1908), ou o grande regime de terror perpetrado pelo Rei Leopoldo II no Congo.
Em 1885, no ano seguinte em que ocorreu a divisão da África, a região do Congo 
tornou-se propriedade privada do monarca belga Leopoldo II, que governou a região 
até 1908. Se os poderes de Leopoldoeram limitados em seu país de origem, o 
qual era organizado em um regime parlamentarista, na região do Congo ele pôde 
governar com crueldade e tirania. Localizado no centro da África, o Congo era 
pouco conhecido pelos europeus, em especial o interior do país. Logo, a região foi 
se desenvolvendo como um centro exportador de látex. 
6
Atualmente, o Congo apresenta um dos menores índices de 
desenvolvimento humano do mundo: 20 % dos congoleses são 
considerados analfabetos e o índice de mortalidade infantil é de 
79 para cada 100 nascimentos. 
Reflita
Entretanto, o grande horror começou quando Leopoldo contratou grupos 
de mercenários para fiscalizar a extração do látex, impondo metas altas de 
produtividade para os trabalhadores que, caso não fossem alcançadas, os 
trabalhadores tinham suas mãos decepadas e tornou-se comum a cena de 
mercenários carregando bacias com mãos decepadas. Estima-se que algo em 
torno de 15 milhões de congoneses foram mortos entre 1885 e 1908, não somente 
devido à repressão, mas também pelas péssimas condições habitacionais e de 
saúde, proliferação de doenças e com baixos índices nutricionais.
Outro massacre étnico de grande proporção ocorreu na Namíbia, entre os anos de 1904 
e 1908, sendo considerado um dos primeiros genocídios do século XX. Nesse período, 
estima-se que aproximadamente 100 mil pessoas das etnias herero e nama foram 
mortas por tropas alemãs. O conflito ocorreu devido às revoltas, no ano de 1903, em 
protesto à violência de alemães contra essas populações – manifestada em estupros, 
assassinatos e expulsões de seus territórios de origem. Em resposta, o imperador 
Guilherme II enviou 14 mil soldados para a região e promoveu um cruel genocídio étnico, 
em que uma das punições exemplares consistia em enviar presos para o deserto do 
Kalahari com poços de água envenenada.
Os traumas dos eventos de mais de 100 anos ainda podem ser 
percebidos na Namíbia. Um dos mais sentidos são os casos de 
parte da população que enfrenta dificuldades em lidar com a sua 
parcela de descendência alemã, fruto dos estupros em massa 
realizados no período.
Reflita
7
Ao mencionarmos o termo genocídio étnico, um evento, em especial, costuma vir 
à memória: o Holocausto e, junto dele, o plano da solução final e os campos de 
extermínio idealizados pelos nazistas. Estima-se que seis milhões de judeus foram 
mortos durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que, dentre eles, 1,1 milhão de 
judeus foram assassinados no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, além 
de 140/150 mil poloneses étnicos e 23 mil ciganos. 
Documentário: Segunda Guerra Mundial
Sinopse: o enredo retrata o conflito responsável pela morte de 
milhares de pessoas no mundo. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f4b9pGC7f08.
Saiba mais
Os campos de extermínio operados pela Alemanha nazista são um paradigma no que 
se refere aos estudos sobre os conflitos étnicos, em especial, ao método utilizado. 
Nunca, na história, houve um extermínio étnico realizado em escala tão abrangente e 
de forma tão racionalizada, com métodos e objetivos bem delineados. Em suma, esses 
campos de extermínio produziam morte em escala e métodos industriais.
É preciso destacar os riscos do racismo e da xenofobia como instrumentos que 
tentaram legitimar conflitos e genocídios ao longo da história. Tais reflexões são 
importantes, pois os eventos narrados apresentam relação direta com as teorias 
raciais desenvolvidas no século XIX. É inviável refletir a respeito de acontecimentos 
como o Holocausto sem começar pelo entendimento de que esses crimes contra a 
humanidade tiveram como base as teorias raciais.
Documentário: Auschwitz-Birkenau
Sinopse: o enredo retrata como era a vida de judeus em um campo 
de concentração nazista.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xVRz4cQgktA.
Saiba mais
8
Apesar de não ser possível criar uma relação direta e causal dos eventos da 
Namíbia com o Holocausto, existem questões que podem demonstrar conexões 
entre eles, em que a mais notória seria o emprego de campos de concentração de 
trabalho forçado na Namíbia – embora não tenham existido campos de extermínio, 
tal como preconizados na solução final nazista. 
Outra informação interessante é a de que Hermann Goering, líder nazista, 
apenas abaixo de Adolf Hitler, era filho de Heinrich Goering, o primeiro 
governador alemão na Namíbia.
No entanto, é possível perceber como foi que após os horrores do Holocausto pôde 
haver um crescimento de estudos e movimentos políticos que visavam compreender 
a diversidade étnico-cultural, bem como garantir os direitos de grupos minoritários. 
Ocorreu assim, a consolidação dos direitos de grupos étnicos – principalmente dos 
minoritários – como parte da cartilha internacional dos direitos humanos. 
Aspectos brasileiros
No Brasil, o já referido mito das três raças está estruturado em uma narrativa 
edulcorada da construção da nação brasileira. Ela teria ocorrido de forma harmoniosa 
entre esses três grupos, sendo o maior símbolo do processo de miscigenação e 
sua contribuição para as relações não-racistas entre brancos, negros e indígenas. 
Entretanto, como podemos analisar no quadro a seguir, existem agudas diferenças 
sociais, políticas e econômicas entres brancos e negros no Brasil. 
Relação de raças/etnias de acordo com o IBGE (2016-2017) e TSE (2018)
Raça/ 
Etnia
Popula-
ção
Câmara 
Deputa-
dos
Senado 
Federal
Média 
Salarial 
em R$
Taxa de 
desocu-
pação
Analfa-
betismo
Brancos/as 44,2% 75% 82,17% 2.814 9,5% 4,2%
Negros/as e
Pardos/as 54,9% 24,2% 17,28% 1.588 14% 9,9%
Fonte: Elaborado pela autora (2019). 
Como é possível perceber nos dados apresentados anteriormente, apesar de a 
maioria da população brasileira ser constituída por negros e pardos, esses grupos 
têm uma grande dificuldade em acessar direitos básicos, como constituir uma 
representatividade política relevante. No Brasil, enfrentam dificuldades históricas 
9
no que se refere ao acesso pleno à educação, trabalho e melhor remuneração 
– vide dados sobre analfabetismo, desemprego e renda. Ao analisarmos a 
representatividade política de negros e pardos no Congresso Nacional, também 
percebemos uma grande desigualdade em relação aos brancos, que constituem 
ampla maioria no parlamento. Expostas essas questões, torna-se impossível não 
relacionar tais diferenças com os três séculos de escravidão e, posteriormente, com 
a abolição que, por sua vez, não foi capaz de oferecer condições materiais para ex-
escravos serem incluídos na sociedade brasileira após 1888.
No caso brasileiro, o crescimento dos debates em prol da diversidade étnico-racial 
e da defesa das minorias étnicas cresceu com maior relevância durante o período 
da redemocratização, nas décadas de 1970 e 1980. As principais referências para 
esses estudos e grupos políticos são o legado de desigualdade social, política 
e econômica deixado pelo domínio colonial, pela escravidão e pela carência de 
políticas públicas.
As lutas do período de redemocratização nas décadas de 1970 
e 1980 construíram a força política que permitiu a inserção de 
importantes direitos na Constituição de 1988, como o art. 5º, que 
tipifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível, bem 
como o capítulo dedicado aos direitos indígenas.
Reflita
É interessante perceber como os discursos de identidade nacional podem 
ser enganosos e utilizar o poder estatal para constituir uma narrativa que não 
considera o histórico de violências e exclusão social contra a população negra. E 
esse é um ponto fundamental que deve ser levado em consideração ao realizar essa 
análise: o discurso da democracia racial no Brasil visa retirar a necessidade do 
Estado brasileiro de reconhecer a sua responsabilidade pelas violências cometidas 
de forma direta e indireta contra a sua população negra e indígena.
10
Fechamento
Nesta unidade, você pôde resgatar alguns pontos fundamentais para desenvolver 
um debate sobre os conceitos de raça e etnia. Ao contextualizarmosa origem 
desses conceitos, inserindo-os como parte de um importante momento do 
século XIX, foi possível termos um entendimento mais amplo acerca dos termos e 
implicações presentes nessas discussões iniciadas com as teorias raciais, mas que 
ganharam novas configurações, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.
Como previamente destacado, temas como a diversidade étnica e a integração da 
defesa das minorias étnicas como parte dos direitos humanos, são conquistas 
que ocorreram somente após grandes tragédias humanitárias, como o Holocausto 
e outros genocídios étnicos pelo mundo. Por fim, ainda verificamos algumas das 
peculiares que formaram a identidade nacional brasileira. 
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Referências
DIWAN, P. Raça pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: 
Contexto, 2007.
MULTICULTURALISMO E 
POLÍTICAS DE AFIRMAÇÃO 
 
SST
RASCKE, Karla Leandro
Multiculturalismo e políticas de afirmação / Karla 
Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p. 10
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MULTICULTURALISMO E 
POLÍTICAS DE AFIRMAÇÃO 
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado ao multiculturalismo 
e políticas de afirmação. Você irá estudar sobre o que é o conceito de 
multiculturalismo, e sua relevância para vivermos em sociedade de forma a 
respeitar todos os grupos societários independente de suas raças/etnias, 
manifestação religiosa, culturas, hábitos, valores entre outros aspectos. 
Também irá estudar brevemente o contexto histórico a partir da Constituição 
Federal de 1988 que foi o grande marco no reconhecimento do multiculturalismo 
no Brasil e aprenderá sobre qual o cenário atual do debate das ações afirmativas 
no Estado brasileiro. 
E, por fim, você irá conhecer algumas das principais legislações sociais brasileiras 
que balizam os direitos sociais asseguram o desenvolvimento de políticas públicas 
de afirmação para grupos que socialmente foram discriminados na sociedade. 
Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de 
conhecimento e aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos. 
Bons estudos. 
Multiculturalismo: cultura, território e 
movimento
O multiculturalismo é o “jogo das diferenças”, contendo regras criadas e moldadas 
por lutas e embates sociais em sociedades articuladas contra o racismo, a 
xenofobia, o machismo, a homofobia e tantos outros debates de cunho social 
e democrático. A partir de experiências e vivências dos grupos culturais em 
sociedade, regras são estabelecidas e constituem políticas de convivência. 
Fruto de embates, o multiculturalismo nasce no interior de sociedades marcadas 
por processos históricos de confronto entre povos culturalmente diferentes. Como 
alternativa à criação de Estados Nacionais ou sociedades modernas, os povos 
organizaram meios de unirem-se em torno desse ideal, articulando estratégias e 
proposições comuns para viver em sociedade. 
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Multiculturalismo surge das diferenças culturais
Fonte: Plataforma Deduca (2020).
No caso de países colonizados, em especial naqueles com ideia de raça como 
fundamento para leis segregacionistas, e no Brasil, em que raça opera na 
consolidação das desigualdades desde a concepção de um ser, o eurocentrismo 
imperou, procurando inculcar um único tipo de cultura como ideal, correto e 
adequado. No entanto, diante das inúmeras diferenças entre os povos desses 
países - como Estados Unidos, África do Sul, Brasil, Índia e tantos outros -, é 
necessário construir políticas públicas de Estado capazes de atender aos distintos 
grupos sociais, permitindo a todos o acesso a seus direitos constitucionais.
O reconhecimento da diferença e o direito a ela fazem parte das sociedades 
multiculturais. A coexistência de várias culturas no mesmo espaço, território ou 
país muitas vezes é vista como um problema para a unidade nacional. Acontece 
que preservar as características culturais dos povos se trata de um direito; mesmo 
que o Estado seja formado por vários povos, é seu dever atender a todos de acordo 
com os direitos garantidos constitucionalmente. 
Você sabia que, no Canadá, há muitas políticas de Estado 
atentas ao multiculturalismo existente na sociedade? Leia o 
artigo  “Multiculturalismo e educação:  do protesto de rua a 
propostas e políticas”, disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
ep/v29n1/a09v29n1.pdf >. Acesso em: 10 de out. de 2020. 
Curiosidade
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Note que o multiculturalismo não significa descuido com a igualdade de direito e 
as necessidades compensatórias. Pelo contrário, ele contribui na compreensão das 
pluralidades sociais e na necessidade de políticas públicas atentas a esses fatores. 
No caso do Brasil, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, na 
conjuntura da consolidação democrática, inúmeras são as críticas ao modo como o 
Estado e suas instâncias lidam com a multiplicidade de povos e culturas no país.
Em sociedades marcadas pelos impactos do colonialismo e do neoliberalismo, 
como os países da América, é necessário pensar em políticas multiculturais, 
refletindo as diversas lutas de grupos sociais ditos “minoritários” em busca de 
reconhecer suas diferenças e lutar por direito a tê-las e mantê-las, alcançando 
igualdade de oportunidade, mesmo se tratando de povos e culturas diferentes. 
O que podemos entender é que as transformações cotidianas, como a globalização, 
os multiculturalismos e a socialização dos conhecimentos advindos da internet 
proporcionam mudanças na sociedade e isso faz com que as relações sociais e 
raciais mudem também. Porém, a pergunta é: as pessoas estão prontas para tantas 
mudanças e informações? Efetivamente, não existe alguém pronto, pois todos 
somos construtos sociais e necessitamos lidar com sociedades em mudança, 
dinâmicas próprias dos sistemas sociais.
Políticas públicas de reparação: 
ações afirmativas em debate
Para o movimento da Constituinte que culminou na promulgação da nova Constituição 
Federal no ano de 1988, o Movimento Negro levou as suas pautas, havendo avanços 
importantes como o reconhecimento do racismo como crime inafiançável e 
imprescritível, da igualdade de todos, independentemente de sexo, raça, cor, religião 
e algumas questões específicas da população inseridas especialmente na parte que 
trata da cultura e no reconhecimento das comunidades remanescentes de quilombos. 
Há de se observar que a Constituição Federal de 1988 e buscou garantir os direitos 
culturais de maneira ampla, todavia, desejou assegurar as manifestações culturais 
populares, especialmente as dos povos indígenas e afro-brasileiros como as práticas 
religiosas, danças, músicas, formas de organização e produções artísticas. A 
ênfase nas manifestações culturais desses dois grupos deu-se por toda a carga de 
preconceito, por conta do etnocentrismo sofrido durante toda a história de nosso país. 
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No artigo 216, a Constituição Federal fez questão de frisar e reconhecer como 
patrimônio cultural todo o referencial de formação da sociedade brasileira, na qual 
se inclui o patrimônio cultural dos povos vindos da África e suas interações com 
as demais culturas formadoras da identidade brasileira. A partir disso, os governos 
brasileiros passam a fazer parte de várias conferências e convenções dedicadas ao 
combate à discriminação. 
Dessa maneira, o Estado brasileiro assinou a Convenção 169 da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT), tornada legislação em 2004, que estabelece um 
padrão de relacionamento entre Estado e grupos étnicos, garantindo a autonomia 
destes. Na década de 1990, houve significativas mudanças acerca das questões 
raciais no Brasil. Podemos mencionar dois grandes momentos desse processo. 
Primeiro, o ano de 1995, quando se comemorou o tricentenário da morte de Zumbi 
dos Palmares, muitos grupos promoveram forte mobilização social que garantiu a 
inserção das questões raciais na pauta da agenda nacional. No dia 20 de novembro 
foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial para aValorização da População 
Negra, que aproximou o movimento negro do Estado. 
Com a criação e implantação do Programa Nacional de Desenvolvimento 
das Populações Tradicionais, o Brasil reconheceu a existência de 13 grupos 
diferenciados (caiçaras, faxinalenses, povos ciganos, quebradeiras de coco 
babaçu, pantaneiros, geraizeiros, entre outros), além dos quilombolas e 
indígenas, com modos de vida e culturas específicas. Contrariando os esforços 
pela homogeneização, esses grupos continuam identificando-se e mantendo sua 
forma de viver, dando uma clara demonstração de resistência frente à realidade 
que os cerca. 
A união é o caminho para superação das desigualdades.
Fonte: Plataforma Deduca (2020).
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Em 2001, o Brasil participou da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, 
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na África do Sul. 
Um dos efeitos dessa participação foi a criação da Secretaria Especial de Políticas de 
Promoção da Igualdade Racial, que visa a articular as diferentes políticas ministeriais 
em torno da promoção da igualdade racial, bem como da Secretaria de Educação 
Continuada, Alfabetização e Diversidade, criada em julho de 2004, com o objetivo 
de reduzir as desigualdades educacionais e ampliar o acesso à educação. Um dos 
desdobramentos mais importantes da institucionalização do tema da diversidade 
no âmbito educacional foi a criação de uma legislação específica, obrigando as 
escolas, públicas ou privadas, a incluírem em seus currículos a História da África e 
dos descendentes de africanos no Brasil (Lei nº 10.639/2003), agora ampliada para 
contemplar também a introdução da História indígena (Lei nº 11.465/2008).
Assista ao filme “Quanto vale ou é por quilo?”, que joga com as 
temporalidades. A trama faz uma analogia entre o comércio de 
escravos, no passado, e a exploração da miséria, no presente, 
como um meio de promoção pessoal, de marketing. O filme tem 
direção de Sérgio Bianchi. 
Curiosidade
Ações afirmativas no cenário atual 
brasileiro
Atualmente, há diversas iniciativas que prezam pela visibilidade e empoderamento 
de diferentes grupos étnico-raciais nos mais variados campos, como educação, 
saúde e trabalho. Toda essa movimentação social é o pano de fundo perfeito para 
o processo de implantação de políticas e ações afirmativas que vem ocorrendo no 
Brasil, como, por exemplo, o sistema de cotas e o Estatuto de Igualdade Racial. 
No Brasil, as cotas raciais, como um modelo de ação afirmativa, ganharam visibilidade 
nos anos 2000. Algumas universidades, estaduais e federais, adotaram o sistema de 
cotas para amenizar as desigualdades educacionais, sociais e econômicas. Doze anos 
depois dessas iniciativas, foi sancionada a Lei nº 12.711/2012, garantindo que metade 
das matrículas por curso, nas universidades e institutos federais, sejam destinadas 
a alunos que tiveram seu ensino em escolas públicas. Também será levado em 
consideração o percentual de negros e indígenas nessa sistemática. 
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A implantação do sistema de cotas será progressiva, acontecendo de maneira 
gradual, ou seja, a cada ano o percentual deverá aumentar. O critério de 
raça será por meio da autodeclaração. As ações afirmativas são medidas e 
programas criados com o propósito de minimizar desigualdades sociais, raciais 
e de gênero vivenciadas pelos grupos historicamente marginalizados. Visam 
a possibilitar oportunidades e equidade no usufruto dos direitos humanos, 
garantidos constitucionalmente. 
Políticas Públicas são políticas criadas a partir de demandas sociais, de movimentos 
ativistas e diferentes organizações da sociedade civil, sendo desenvolvidas pelo 
Estado visando a assegurar direitos presentes em nossa constituição, de acordo 
com a noção de dignidade da pessoa humana.
Ações afirmativas são maneiras de combater o racismo
Fonte: Plataforma Deduca (2020).
Algumas políticas de ações afirmativas discutidas e aprovadas em forma de lei 
no Brasil nos últimos 15 anos foram: inclusão nos currículos escolares de história 
e cultura afro-brasileira e africana no Brasil (Lei nº 10.639/2003), ampliada para 
contemplar também a introdução da história indígena (Lei 11.465/2008); a Lei nº 
12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, que garante metade das matrículas por 
curso, nas universidades e institutos federais, para alunos que tiveram seu ensino 
em escolas públicas. O critério raça também é garantido por essa Lei; e o Estatuto 
da Igualdade Racial, instituído pela Lei 12.888/2010, que garante à população negra 
a igualdade de oportunidades, defesa dos direitos e o combate à discriminação e 
demais formas de intolerância étnica. 
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Fechamento 
Aprendemos sobre o conceito de multiculturalismo, e sua relevância para vivermos 
em sociedade de forma a respeitar todos os grupos societários Também estudamos 
brevemente como se deu historicamente o debate a respeito das ações afirmativas 
a partir da Constituição Federal de 1988 e aprendemos a respeito de como está o 
cenário atual do debate a respeito das ações afirmativas no Estado brasileiro. 
E, por fim, podemos ter acesso e informação a respeito de algumas das principais 
legislações sociais brasileiras que balizam os direitos sociais assegurando o 
desenvolvimento de políticas públicas de afirmação para grupos que socialmente 
foram discriminados na sociedade tanto em relação ao processo de educação 
como outros direitos.
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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 out. 2020. 
BRASIL. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições 
federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>. 
Acesso em: 10 out. 2020. 
BRASIL. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de 
Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras 
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
l10.639.htm>. Acesso em: 10 out. 2020. 
BRASIL. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, 
de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, 
para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática 
“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 10 out. 2020. 
BRASIL. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 
5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 
1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm>. Acesso em: 10 out. 2020.

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