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História Regional 
(Rondônia) 
 
 
 
 
Marco Antônio Domingues Teixeira 
& 
Dante Ribeiro da Fonseca 
 
 
 
 
Professores do Departamento de História 
da Universidade Federal de Rondônia 
 ii 
Direitos autorais 1998 de Marco Antônio Domingues Teixeira e 
Dante Ribeiro da Fonseca. 
 
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988 de 
14/12/73. Nenhuma parte desse livro, sem autorização prévia por 
escrito de ambos os autores, poderá ser reproduzid a ou 
transmitida sejam quais forem os meios empregados: 
eletrônicos, mecânicos, fotográf icos, gravação ou quaisquer 
outros. 
 
ISBN ________________ 
 
Capa: Encontro no rio Madeira entre engenheiros da ferrovia e 
Caripunas nos anos de 1870. 
 
 
Ficha Catalográfica. 
 
T266h Teixeira, Marco Antônio Domingues. 
História Regional/Marco Antônio Domingues 
Teixeira, Dante Ribeiro da Fonseca. Porto 
Velho, Rondoniana, 1998. 
241 p. 
 
1. Amazônia legal - História. 2 Rondônia - 
História. I. Fonseca, Dante Ribeiro II. Título 
 CDU: 981.13 
 
Prefácio 
 
 “História Regional” é uma obra ímpar no cenário das Letras 
Rondonienses, um marco pioneiro em seu gênero, dado que nada antes 
existia, em termos de trabalho didático, sobre a nossa história. 
 Os autores, Marco Antônio Domingues Teixeira e Dante Ribeiro 
da Fonseca, empreenderam minuciosa pesquisa histórica, abordando, 
inicialmente, os grupos indígenas, elementos marcantes na formação 
das matrizes culturais rondonienses. A conquista desencadeou a 
migração de populações indígenas, que af luíram da costa para a bacia 
do Madeira, fugindo à pressão do colonizador. Ocorreram também 
migrações interioranas, de modo que, quando os primeiros 
colonizadores chegaram à essa região, a área já estava povoada, por 
inúmeras comunidades indígenas. Desses grupos, a maior parte era 
Tupi, Tupi-Kawahib e Taxapakura, quanto à classif icação lingüística. 
Muitos grupos sucumbiram a presença do colonizador, chegando à 
extinção. Outros grupos passaram pelas várias etapas de contato, 
vivendo ainda hoje, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, isolados, em 
contatos intermitentes, em contato permanente ou integrados. Todos os 
grupos indígenas estão, de uma forma ou de outra, passando por 
processos de aculturação. Quando um grupo indígena entra em contato 
com a sociedade nacional, começa a sofrer uma série de modif icações 
endógenas, que respondem às transformações exógenas, resultantes 
do processo colonizador. 
 Rondônia, longínqua e bravia, nasceu sobre o inf luxo da cultura 
que desde os primórdios Portugal esforçou-se para implantar na sua 
colônia. Em 1778, por aqui andou o célebre naturalista baiano, formado 
em Lisboa, Alexandre Rodrigues Ferreira. Promovendo estudos nas 
áreas da antropologia, da botânica e da zoologia, autor de “Viagem 
Filosófica” elegeu o homem nativo e o mestiço como elementos 
humanos de uma cultura evidentemente nacional, uma vez que os 
homens f ixados no litoral brasileiro estavam perdendo, como já 
perderam, o contato diuturno com suas raízes. Isso acontecia no século 
XVIII, quando a antropologia cu ltural engatinhava. Por aqui passaram 
outros viajantes e cientistas ilustres, como Severiano da Fonseca e o 
padre Jesualdo Machetti, que deixaram livros sobre a região. 
 Os autores nos fornecem uma visão da penetração dessa região, 
por parte dos colonizadores, a partir do século XVII, obedecendo a 
determinantes econômicos da metrópole, quando do Brasil -Colônia; do 
Império e da República, quando do Brasil independente; que 
respondiam sempre aos anseios do mercado externo. Assim é que as 
primeiras expedições foram impulsionadas pela procura de produtos 
tropicais, que por volta do século XVIII, t inham mercado certo na 
Europa. Além da procura de drogas: o ouro, a exploração da terra e 
escravização de índios. 
 Nos séculos XVII e XVIII, a Igreja, através das missõ es religiosas 
desempenhou um papel fundamental, uma vez que precedia à entrada 
do colonizador, visando a catequese dos índios, atingia as regiões mais 
remotas. Muitas missões foram estabelecidas no Madeira, dentre elas, 
a dos Tupinambaranas, a de Irurí, a dos Abacaxis, a de Santo Antônio 
 ii 
das Cachoeiras, a de Sapucaiaoroca e outras mais. Assinalam ainda os 
autores, a assistência dos missionários espanhóis aos índios do 
Guaporé no século XVIII, fato que resultou na ocupação estratégica do 
colonizador português, para assegurar o território foi construído do 
Forte Príncipe da Beira, patrimônio histórico de Rondônia. 
 As pesquisas bibliográf icas registram sobre uma cidade perdida, 
erguida em 1775, no rio Madeira. Marco Antônio Domingues Teixeira e 
Dante Ribeiro da Fonseca falam sobre Balsemão, vilarejo que os 
portugueses construíram para dar garantia de desenvolvimento aos 
seus habitantes. Existia lá quase uma dúzia de prédios públicos e 
particulares e parece ter sido logo abandonada, ou seu povo poderia ter 
sido dizimado por índios ou doenças. O pesquisador da História 
Regional, Desembargador Hélio da Fonseca, descobriu num arquivo do 
Ministério das Relações Exteriores uma planta da cidade. Se existir 
alguma edif icação, alguma pedra dessa cidade, Balsemão seria, a o 
lado do Forte Príncipe da Beira, outro monumento da História de 
Rondônia. A procura do ouro e a conseqüente ocupação estratégica das 
áreas das minas, bem como a efetivação dos tratados de limites, foram 
os últ imos principais determinantes que impulsionaram a ocupação 
portuguesa na região antes do século XIX. 
 Uma vez fundada Vila Bela e Cuiabá, o objetivo principal residia 
em estabelecer uma via de comunicação rápida e efetiva através dos 
rios Guaporé, Mamoré e Madeira. Essa rota permitiu a ligação entre 
esses dois locais com Belém do Pará e a metrópole, além de assegurar 
a presença portuguesa, devido à vizinhança com os territórios da 
colônia espanhola. Com a exaustão da exploração mineral a 
colonização européia na região entrou em decadência Essa ocupaçã o, 
e o sentido predatório que a caracterizou, desorganizou e mesmo 
extinguiu drasticamente grande parte da população indígena. 
 Foi a borracha, no século XIX, o principal determinante 
econômico para a ocupação da área. Entretanto, com uma 
característica: a presença dos nordestinos e “peruanos” como 
seringueiros. Inicia-se também um novo ciclo de hostil idades 
interétnicas. Um exemplo concreto dessa nova arremetida do branco é 
o rio Madeira. Severiano da Fonseca, em 1875, passa por esse trecho e 
registra um panorama detalhado da região: “...29 barracas e 277 
trabalhadores dedicados à extração da borracha.” Com esse novo tipo 
de atividade a navegação do Madeira, que entrara em declínio e fora 
alvo das hostil idades dos Mura e Munduruku no século anterior, foi 
reativada. Em 1878, tenta-se a construção de um caminho, junto às 
cachoeiras do Mamoré e Madeira, que deveria alcançar o território 
boliviano. Este empreendimento é signif icativo pois, além de toda a 
movimentação que produziu ao longo do rio, é a primeira te ntativa 
concreta de desbravar essa região em grande escala. Fato que dá 
origem a inúmeros confrontos entre indígenas e brancos. Contudo, a 
empresa construtora não teve vida prolongada, devido ao clima, às 
doenças e aos contínuos ataques dos silvícolas, e a construção é 
abandonada. 
 A preocupação com as fronteiras e a segurança nacional, bem 
como a comercialização da borracha, redundaram em dois fatos 
 iii 
históricos contemporâneos da maior importância para Rondônia: a 
Comissão Rondon, que seria responsável pela exploração e o 
levantamento científ ico de grande parte da área e pela inovação no 
tratamento com os índios, e a construção da Estrada de Ferro Madeira -
Mamoré, responsável por uma intensa migração de trabalhadores 
estrangeiros, além da criação de inúmeras v ilas e cidades. 
 A importância fundamental da ferrovia na formação histórica, 
social e geo-econômica e na formação geopolít ica do Estado de 
Rondônia é abordada pelos autores. O “todo cultural” da EFMM 
transcendeem muito a sua condição inicial de meio de t ransporte, que, 
já à época, representava uma conexão intermodal ao atendimento das 
necessidades de escoamento de produtos extrativistas; este, por si só, 
a constituir um complexo natural e a desafiar a obra humana. Uma vez 
construída, instalada no territór io com seus assentamentos humanos, 
inexoravelmente, gerou um processo que, mesmo após o duro golpe da 
desativação e suas conseqüências, permanece latente, como que 
aguardando apenas o lógico e justo reconhecimento de que foi e é, uma 
solução correta e coerente com as necessidades características da 
região. 
 Destacam, ainda, os autores, o trabalho dos migrantes do Caribe, 
na ferrovia, presença marcante na configuração social da região, os 
barbadianos e granadinos aqui permaneceram com suas famílias, 
totalmente integrados a terra que escolheram para viver. Os seus 
descendentes são inúmeros e em Porto Velho residem quatorze 
famílias. São os Allen, Alleyne, Banfield, Blackman, Denis, Holder, 
Johnson, Julien, Maloney, Rivero, Schockness, Tommy, Winte e Wiles. 
 Posteriormente, o desaquecimento do sistema econômico 
baseado na borracha levaria a região novamente ao ostracismo. A lenta 
colonização desta área interiorana foi acelerada, destacam os autores, 
com a criação dos Territórios Federais, dentre eles o do Guapor é. 
Entidades federais que se constituíram no meio hábil para penetrar 
rápido e fundo no organismo Amazônico, levantando as causas da sua 
apatia e da sua marginalização no processo civil izatório do Brasil. A 
criação dos Territórios Federais constitui um esboço de reação contra a 
mentalidade que admitia o determinismo geográfico como regra 
imutável, segundo a qual, as sociedades humanas estão, em grande 
medida, subordinadas às condições do meio ambiente natural sem 
oportunidade de evolução, tal sua inferioridade e incapacidade de 
assimilação cultural. 
 A criação dos Territórios Federais permitiu uma maior mobilidade 
social dentro de uma hierarquia específ ica e seletiva de valores, 
negando o estereótipo generalizado, que representava uma atitude 
preconceituosa do Brasil desenvolvido em relação à terra e ao povo 
amazônico. 
 Instrumento de valorização econômica, social e polít ica, o 
Território Federal do Guaporé, contribuiu de forma decisiva na mudança 
dos elementos tradicionalmente ambientais e serviu como fator de 
desenvolvimento, que se superpôs aos limites dos padrões das 
atividades comunitárias, erigidas às margens dos rios Madeira, 
Mamoré, Guaporé, Machado e outros, valorizando o homem da ribeira e 
 iv 
dos barrancos, que deixou de ser um cidadão de segunda classe no 
corpo da cidadania brasileira. 
 Ainda na metade desse século, a ocupação da região se 
caracterizou pela descoberta de minérios, sobretudo a cassiterita, que 
impulsionaria novas levas de migrantes. A partir dos anos 60, as 
importantes mudanças polít icas com relação ao desenvolvimento da 
Amazônia seriam responsáveis pelo processo histórico que transformou 
Rondônia no maior pólo de atração de migrantes de todo o país, 
modif icando também o caráter de sua economia básica, de extrativista, 
para agrícola. 
 Quando em 1980 o Território Federal de Rondônia ascendeu à 
condição de Estado Federado, houve o reconhecimento do acerto da 
sua criação, pois implícito no conceito da comunidade, a combinação 
de forças e a aliança de objetivos, se f ixaram em interesses mais 
amplos e mais coordenados, com direções próprias que desencadearam 
o processo de transformação. 
 Ao concluir a leitura atenta de História Regional, constatei em 
toda a obra o patriotismo dos autores. Ninguém deixará a leitura desse 
livro sem se sentir mais amazônida, mais brasileiro. Constatei, também, 
que poucos têm conseguido o manejo do método histórico como Marco 
Antônio Domingues Teixeira e Dante Ribeiro da Fonseca. O rigor na 
crít ica das fontes e a precisão perfeita nas informações, são 
admiráveis. Os autores, comprovaram o que Cícero já dizia: “Aos 
homens são necessárias muitas qualidades, porém duas mais são 
necessárias ao historiador: primeiro, a de dizer sempre o que sabe que 
é verdade; segundo, a de não dizer jamais o que sabe que não é 
verdade .” 
 Por f im, trata-se de um livro que não pode faltar na estante do 
estudioso comprometido com a multifacetada vivência na Amazônia, e 
que deve ser l ido e relido por quantos apreciam a sondagem desse 
mundo verde onde indígenas, brancos e negros, construíram a nossa 
história. É uma obra imprescindível nas aulas de História Regional nos 
ensinos de 2o. e 3o. graus. Os autores prestaram um valioso serviço à 
cultura de Rondônia. 
 
 Porto Velho, 29 de setembro de 1998. 
 
 Yêda Pinheiro Borzacov. 
 Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia. 
 v 
Apresentação. 
 
 O trabalho que ora apresentamos foi elaborado com a f inalidade 
de ser util izados nas classes de sala de aula do ensino fundamental e 
do ensino médio, para vestibulares e concursos. Esta obra consiste em 
uma versão simplif icada de uma obra maior, ainda não publicada em 
sua totalidade, em que os autores reuniram suas pesquisas, algumas já 
publicadas em revistas universitárias sob a forma de artigos. A atual 
versão didática se propõe a ser uma manual que professores e alunos 
possam trabalhar, no sentido de uma maior compreensão da história de 
Rondônia. 
 A proposta dos conteúdos agrega à análise macro -histórica 
elementos que, até pouco tempo, eram desprezados como objeto do 
conhecimento histórico. Nesse sentido a nossa proposta tenta 
compreender a história não apenas a partir da ação unilateral do 
Estado, através dos chamados “grandes personagens”, ou seja, os 
generais, reis, diplomatas e polít icos mas como um processo dialéti co, 
conflituoso, em que os agentes da camadas populares atuam em 
importantes papéis. Especif icamente, em se tratando da história da 
Amazônia, a ênfase deve ser dada ao processo de conquista e 
colonização. A duas palavras não se apresentam de forma casual, por 
muito tempo os fenômenos aos quais se referem foram tratados como 
descobrimento e ocupação ou povoamento. O fato porém é que o 
processo histórico pelo qual passou a Amazônia a partir do século XVII 
constituiu-se em um processo de conquista, no qual os europeus 
entraram em guerra contra as populações nativas, conquistando seus 
territórios, escravizando-as, ou exterminando-as. Não se pode portanto 
estudar a Amazônia sem observar o processo, a que foram submetidas 
suas populações nativas, que já povoavam esse espaço. Trata-se, 
portanto de perceber a história como vida apresentando -a sem o mofo 
com que muitas vezes é relatada, sem o cheiro do mofo e dos papéis 
velhos, percebendo-a naquilo que ela possui de mais universal e útil ao 
conhecimento da humanidade. 
 História Regional é um título polêmico. A primeira pergunta que 
ocorreria a um leitor atento seria: o que é uma região? Certamente, 
Rondônia, como espaço, é uma construção de determinados agentes 
históricos. Destarte acompanhamos a construção de uma dete rminada 
identidade geo-polít ica, a partir do ponto de vista do colonialismo 
português. À área dos rios Madeira, Mamoré e Mamoré é atribuída uma 
certa unidade em face do papel que desempenhou na conquista de 
parte das regiões Norte e Centro-Oeste. Contudo, os fenômenos 
históricos que ali se passaram extrapolaram, em sua dinamicidade, as 
fronteiras e limites estabelecidos pelo Estado. Dessa forma, 
procuramos perceber o processo histórico em Rondônia sem perder de 
vista sua conexão mais global. 
 Os capítulos do livro possuem um resumo geral, e as unidades 
têm sempre ao f inal uma bateria de cinco exercícios para melhor 
f ixação do conteúdos. A cronologia que segue após o últ imo capítulo 
destina-se a ajudar o estudante a se situar pois, o tratamento dado às 
unidades nem sempre tornou possível, e às vezes mesmo tornou 
 vi 
desaconselhável, uma análise linear. Após a cronologia serão 
encontrados exercíciosrelativos a todos os capítulos. As repostas para 
todos os exercícios do livros foram colocadas na parte f inal, no 
gabarito. 
 Devemos expressar nossos agradecimentos a algumas pessoas: 
aos professores Apolônio e Miriam Teixeira, Marizélia e Zilá Fonseca, 
pelo auxílio e estímulo dado à elaboração desse trabalho; a Rosemary 
Gannon, que é mais que uma livreira, pois sem suas pesquisas não 
teríamos encontrado muitas das fontes aqui uti l izadas; a professora 
Yêda Pinheiro Borzacov, que leu e apresentou valiosas sugestões. 
Apesar do auxílio prestado por essas pessoas os autores assumem 
inteira responsabilidade pelas possíveis imperfeições encontradas no 
trabalho. Finalmente, dedicamos esse livro, um esforço modesto de 
contribuir com o processo educativo, a todos os professores e 
estudantes do estado de Rondônia. São eles, mais do que ninguém, 
que sofrem as conseqüências de viverem em um país onde, 
infelizmente, muito pouco apoio se dá à educação. 
 
Porto Velho, 29 de setembro de 1998. 
 
Marco Antônio Domingues Teixeira. 
Dante Ribeiro da Fonseca. 
 vii 
 
ÍNDICE 
 
Prefácio. 
 
Apresentação. 
 
Capítulo 1: A conquista e colonização da Amazônia e a submissão 
do indígena. 
Os primeiros contatos entre os indígenas e o colonizador. 
A legislação colonial e a submissão do indígena. 
A população indígena dos vales dos rios Madeira e Guaporé. 
O indígena, o povoamento e a colonização. 
 
Capítulo 2: A exploração, conquista e ocupação da Amazônia no 
contexto do antigo regime. 
O espaço natural. 
A exploração, as visões e o imaginário do conquistador na Amazônia. 
Os tratados de limites da Amazônia no período colonial. 
A diplomacia ibérica e a conformação das frontei ras da Amazônia 
colonial. 
A colonização da Amazônia: missionários, europeus e militares em 
conflito. 
A colonização da região do Madeira/Guaporé. 
A defesa das fronteiras: destacamentos e fortif icações. 
 
Capítulo 3: O mercantilismo e as políticas de coloniza ção dos vales 
do Madeira e do Guaporé. 
A colonização do Vale do Guaporé e a fundação de Vila Bela da 
Santíssima Trindade. 
A mineração. 
A agropecuária. 
O comércio e as rotas f luviais. 
A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. 
 
Capítulo 4: A sociedade colonial guaporeana, aspectos do 
cotidiano, a escravidão e a resistência escrava. 
A sociedade colonial no Vale do Guaporé. 
Negros, índios. europeus e mestiços: as polít icas de ocupação e defesa 
do território e as relações de poder e submissão. 
Doenças e epidemias. 
Aspectos da escravidão: a organização do trabalho, as ocupações e a 
família. 
A resistência escrava. 
A crise do sistema colonial e o abandono dos vales do Madeira e 
Guaporé. 
 
Capítulo 5: As pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira. 
O imperialismo: as propostas de internacionalização da Amazônia e o 
etnocentrismo dos viajantes. 
 viii 
A navegação no rio Madeira e a abertura do rio Amazonas à navegação 
internacional. 
Limites e fronteiras: o Tratado de Ayacucho (1867). 
A abertura do Amazonas à navegação estrangeira. 
 
Capítulo 6: A exploração e colonização do oeste amazônico. 
O primeiro ciclo da borracha. 
A exploração e colonização do Oeste Amazônico. 
Colonização brasileira do Madeira. 
A colonização boliviana do Madeira, o Noroeste Boliviano e a emp resa 
Suárez & Hermanos. 
 
Capítulo 7: O processo de ocupação e expropriação indígena na 
área do Beni. 
O indígena na Bolívia: apropriação, submissão e resistência. 
A legislação indígena e o recrutamento de trabalhadores na Bolívia. 
 
Capítulo 8: Mão de obra para os seringais do alto Madeira. 
A obtenção da mão-de-obra para os seringais e o mecanismo de 
expropriação do trabalhador direto. 
A mão-de-obra indígena no período áureo da borracha. 
 
Capítulo 9: A questão acreana e a construção da E.F.M.M. 
Os antecedentes e a Rebelião Acreana. 
Anexação do Acre ao Brasil. 
Percival Farquhar. 
A construção da EFMM. 
A força de trabalho. 
Porto Velho. 
Guajará-Mirim. 
A comissão Rondon e a linha telegráf ica. 
 
Capítulo 10: O Território Federal do Guaporé. 
Aluízio Ferreira: a intervenção e a nacionalização da EFMM. 
Precedentes da criação do Território Federal do Guaporé. 
A guerra pela borracha. 
A criação do Território Federal do Guaporé. 
A polít ica no Território Federal do Guaporé. 
Os garimpos de cassiterita e pedras preciosas. 
A abertura da BR-364. 
 
Capítulo 11: A criação do Estado de Rondônia. 
A colonização recente 
Os garimpos de ouro do rio Madeira. 
A criação do Estado de Rondônia. 
 
Exercícios de f ixação. 
Cronologia. 
Gabaritos. 
Obras consultadas. 
 ix 
 
 
Capítulo 1 
A conquista e colonização da Amazônia e a submissão do indígena. 
 
Os primeiros contatos entre os indígenas e o colonizador. 
 
 As pessoas comumente pensam no índio como “um outro povo”, 
diferente dos “brancos e civil izados”, mas os povos indígenas 
constituem-se em um conjunto diversif icado de culturas, cuja única 
identidade inquestionável reside no fato de ocuparem a América, antes 
da chegada do europeu. Apenas falando no aspecto polít ico, nesse 
primeiro contato, os conquistadores ibéricos encontraram povos que 
viviam sob o governo de um monarca, como os incas e povos que 
viviam ainda em pequenas sociedades sem o governo centralizado, 
como os tupinambás. Assim, viviam esses povos sob variados padrões 
de relações sociais como também estavam em diferentes estágios de 
domínio das técnicas para a produção de seu sustento. 
 Onde hoje é a região Norte do Brasil, na área dos estados do 
Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará e Tocantins 
existiam inúmeros povos indígenas nômades e sedentários, todos 
praticavam a agricultura mas os primeiros somente ocasionalmente 
produziam excedentes para trocas com outros grupos e os últ imos 
produziam artefatos para o comércio como a cerâmica e tecidos de 
algodão, havendo mesmo entre eles a divisão do trabalho. A 
organização polít ica desses povos comportava formas complexas como: 
chefaturas guerreiras e expansionistas sustentadas por impostos, e 
grupos com sistemas de liderança mais simples. Os Omágua possuíam 
uma estrutura polít ica que congregava várias aldeias e suas chefias 
sob a liderança de uma chefia superior. Os grupos indígenas da 
América comunicavam-se em várias línguas, muitas delas ainda 
encontradas entre os indígenas da Amazônia Brasileira e distribuíam -se 
entre os troncos lingüísticos tupi, aruak, karib, tucano, pano e jê. 
 O indígena da Amazônia era um ser perfeitamente integrado ao 
seu meio, vivia da caça da pesca e da agricultura, que dominava de 
forma suficiente e econômica: conhecia os terrenos mais férteis (as 
várzeas) e plantava nas épocas de vazante dos rios a mandioca, o 
milho, o algodão, o tabaco, certas árvores frutíferas e outros vegetais. 
Ao entrar em contato com os indígenas da Amazônia, os portugueses 
observaram que determinados povos indígenas já apresentavam 
características expansionistas, expulsando ou dominando grupos m ais 
fracos. Observaram, também, alianças polít icas para defesa comum de 
grupos ameaçados. O avanço europeu sobre o litoral do Brasil, no 
século XVI, f izera com que alguns povos indígenas daquela área 
migrassem para o interior, fugindo ao conquistador, entr ando na 
Amazônia em disputa pelo controle de territórios. 
 Os primeiros contatos dos ameríndios com os colonizadores 
iniciaram um processo de alteração violenta no desenvolvimento 
demográfico e cultural dessas populações nativas que em algumas 
regiões, como a Amazônia, dura até hoje. Na América do Sul os 
 
 
 
11 
espanhóis encontraram um império bastante desenvolvido, o Império 
Inca, cujo território se estendia do Equador até o Chile e era controlado 
de sua sede no Peru pelo monarca (denominado Inca, que signif ica 
f i lho do sol) auxil iado por um vasto aparelho burocrático e militar. 
Francisco Pizarro (c. 1475 - 1541), o conquistador do Império Inca, 
mandou executar o seu últ imo soberanoAtahualpa (c. 1500 - 1533) 
desarticulando toda a estrutura polít ica, econômica e social ao colocar-
se no governo, em nome do rei da Espanha, daquele império. 
Os espanhóis abalaram a estrutura social incaica ao abolirem o 
direito comunal à propriedade da terra, mas souberam aproveitar -se 
das formas de exploração do trabalho já util izadas entre aqueles povos. 
Os adelantados, aqueles espanhóis que primeiro conquistavam o 
território aos indígenas, adquiriam o direito às encomiendas e o 
controle da população dominada. Os encomenderos adquiriam direitos 
e deveres semelhantes àqueles que exerciam os caciques nos tempos 
incaicos, chamados curacas ou hilatacas, ou seja, de mediadores do 
poder do Inca frente a base social. A encomienda era a sujeição de 
uma população nativa ao conquistador, em nome do rei e pressupunha 
alguns serviços dessa população para o Estado, a Igreja e o 
encomendero. Os mitayos, por exemplo, consistiam na util ização 
desses indígenas nas minas, na construção de obras públicas e 
edif icações para o senhorio, o clero e o rei; os yanaconas consistiam 
no recrutamento forçado do indígena para o serviço doméstico do 
senhorio. 
Na Amazônia, o estabelecimento do primeiro núcleo colonial 
português no início do século XVII, o forte do Presépio, que daria 
origem a Belém do Pará, destinava-se a garantir a posse de um 
território ameaçado por estrangeiros, que ali estabeleceram feitorias. 
No século seguinte era premente o controle dos rios, entre eles o 
Madeira e o Guaporé, que se situavam no oeste amazônico, tanto para 
garantir fronteiras contra os espanhóis como para manter as 
importantes rotas f luviais do comércio colonial e internacional. Haviam 
ainda os grupos indígenas que reagiam bravamente contra esse 
avanço, os quais era necessário expulsar e manter afastados das novas 
áreas de colonização. 
Assim, iniciou o português o processo de “amansamento”. Era, 
predominantemente, o indígena “amansado” que colaborava tanto nas 
expedições que devassaram a Amazônia, a partir do século XVII, 
quanto como trabalhador direto nos estabelecimentos agrícolas e 
extrativistas coloniais. A serviço do colono par ticular, do missionário, 
mas também sujeito ao aparelho burocrático e militar do Estado 
Português, construíram fortif icações, abrindo estradas, nos 
destacamentos militares que garantiam as rotas de comércio, nos 
estaleiros e pesqueiros reais. Havia três fo rmas de sujeição do 
indígena: os descimentos, os resgates e as guerras justas. Os 
indígenas descidos situavam-se como livres, embora a liberdade fosse 
apenas formal. Os indígenas resgatados e provenientes de guerras 
justas eram legalmente escravizados. Os descimentos consistiam em 
expedições que entravam em contato com os grupos indígenas com o 
objetivo de convencê- los a “descerem”, ou seja, saírem de seus 
 
 
 
12 
territórios tradicionais para situarem-se em missões próximas aos 
núcleos coloniais. Os resgates eram feitos por meio de expedições dos 
colonos, que entravam em contatos com certos grupos tribais, 
praticando o escambo de mercadorias por prisioneiros de guerras inter -
tribais. Os resgatados eram chamados índios de corda porque, segundo 
os portugueses, f icavam amarrados nas aldeias de seus captores. 
 
 
Exercícios. 
 
1. Sobre os Ameríndios à época da conquista podemos af irmar que: 
a) constituíam-se em um só povo sedentário e produtor de excedentes 
agrícolas para o mercado. 
b) apresentavam-se como uma multiplicidade de povos com línguas e 
culturas diferentes. 
c) possuíam um padrão de relações sociais bastante homogêneo. 
d) compunham-se todos de pequenas sociedades sedentárias isoladas 
entre si. 
 
2. Os indígenas da Amazônia viviam em sua maioria em áreas: 
a) de montanhas. 
b) de terra f irme. 
c) de várzea. 
d) nas ilhas. 
 
3. Quanto aos incas pode-se af irmar que: 
a) constituíam-se de um povo nômade, e pouco desenvolvido. 
b) possuíam vários monarcas independentes. 
c) constituíam um império governado por um monarca. 
d) viviam em sistema de propriedade particular, semelhante ao 
europeu. 
 
4. Sobre as práticas de “amansamento” do ameríndio é certo que: 
a) visavam sobretudo fornecer mão-de-obra escrava para os 
portugueses. 
b) t inham por objetivo beneficiar o indígena, t irando -o do estado de 
miséria em que vivia. 
c) ao resgatar o prisioneiro indígena o colono pretendia somente salvar 
sua vida. 
Classificação lingüística das línguas indígenas faladas no Brasil 
Tronco Família 
Tupi Tupi -Guaraní, Mundurukú,, Juruna, Arikêm, Tuparí, 
 Ramarâma, Mondé. 
Macro-jê Jê, Maxakalí, Karirí, Borôro. 
Aruak Aruak e Arawá. 
Nãoclassif icado Karíb, Makú, Yanoâma, Tukâno, Mura, 
 Pâno, Txapakúra, Nhambikuára, Guaikurú 
 
Fonte: Melatti, 1993. 
 
 
 
13 
d) os descimentos salvavam os indígenas da escravização de seus 
inimigos tribais. 
 
5. Os indígenas descidos eram considerados: 
a) escravos por determinado tempo. 
b) escravos para toda a vida. 
c) l ivres enquanto estivesse na missão. 
d) l ivre sem qualquer condição.X 
 
A legislação colonial e a submissão do indígena. 
 
Desde antes do assentamento do primeiro núcleo colonial 
português no rio Amazonas, a metrópole preocupou -se com o papel do 
indígena na nova sociedade americana. Essa preocupação con tinuou 
durante todo o período colonial. Já no início do século XVII, o Alvará de 
30 de julho de 1609 declarava o direito do indígena à liberdade 
absoluta. No f inal do século, uma nova lei, de 01 de abril de 1680, 
revelou a necessidade de o Estado declarar aos colonos a mesma 
condição para o indígena. 
 O que houve, no espaço de 71 anos entre a publicação dessas 
duas leis, que obrigou a monarquia portuguesa a reafirmar, através de 
instrumentos legais, o mesmo princípio? No início da colonização da 
Amazônia as atividades agrícolas, pecuárias, artesanais e de coleta das 
drogas do sertão eram executadas totalmente pela mão -de-obra 
indígena. Dada a importância dessa mão-de-obra, conflitos entre 
colonos, missionários, governo colonial e metropolitano surgiam quando 
o tema tratava do seu aprisionamento e util ização como força de 
trabalho. 
Desde o século XVI decretos reais e bulas papais repetiam as 
af irmações sobre a humanidade e o direito à liberdade dos indígenas 
americanos, apesar de o teor desses documentos varia r entre o direito 
à liberdade absoluta ou condicionada. Mais que isso, reconhecia a 
legislação do século XVII que os indígenas do Maranhão e Grão -Pará 
eram os “primários e naturais senhores da terra” e tornava -os, de 
direito, súditos ao definir que deveriam ser tratados com base na Lei de 
12 de setembro de 1653, governados pelas autoridades da 
administração pública colonial, segundo o princípio da justiça secular. 
Dois anos após a publicação da Lei de 1609, surgiu uma nova 
legislação. Através da Lei de 10 de setembro de 1611, a coroa 
portuguesa instituiu o regime de capitães de aldeia que, na realidade, 
permitiu dar uma aparência legal à escravização do índio, na medida 
em que se permitia entregá-lo ao controle do colono, com garantias 
apenas formais sobre o seu tratamento. Pela Lei de 1611, era o capitão 
de aldeia que repartia os indígenas descidos, destinando -os a trabalhar 
para os colonos, missionários ou para o serviço do Estado. 
Os descimentos, depois de 1611, passaram a ser escoltados por 
militares e o comandante da escolta era o capitão de aldeia. Os 
capitães de aldeia que deviam zelar pela integridade do indígena foram 
os seus maiores exploradores, util izando-os nos estabelecimentos 
 
 
 
14 
agrícolas, de açúcar, algodão e fumo, na coleta das drogas do sertão, 
no trabalho de corte da madeira, nas construções e no transporte de 
produtos. Os índios resgatados eram denominados, na legislação de 
1611, índios de corda e o europeu queo adquiria em troca de 
mercadorias era, então, considerado seu salvador, podendo det ê-lo 
como escravo durante o prazo de dez anos. Contudo, em 1626, dez 
anos após o estabelecimento português na Amazônia, quando deveriam 
ser l ibertados os primeiros indígenas resgatados, a legislação foi 
mudada permitindo-se a escravização desses indígenas por toda a vida. 
Os jesuítas adquiriram com a publicação da Lei de 9 de abril de 
1655 o direito de autorizar e dirigir as tropas de resgates e as guerras 
justas. Essa legislação gerou a insatisfação dos colonos que, em 1661, 
revoltaram-se contra os missionários. Em 1680, esses clérigos 
retornaram e passaram a controlar as aldeias de repartição, acirrando 
novamente a fúria dos colonos. A tentativa de introdução do negro 
africano como escravo na Amazônia, através da Companhia. de 
Comercio do Maranhão e Grão-Pará, foi adotada pelo governo 
português, a conselho do padre Antônio Vieira e visava diminuir o peso 
da mão-de-obra indígena na economia daquela parte da colônia. O 
custo da mão-de-obra escrava, proibit ivo para a maioria dos colonos, 
somado ao controle dos repartimentos pelos missionários jesuítas, 
provocou outra revolta, a dos Beckman, iniciada no Maranhão e que 
resultou em nova expulsão dos jesuítas. A escassez de capitais na 
Amazônia impossibil itou a exportação do negro como opção viável de 
suprimento de mão-de-obra em escala suficiente para atender às 
necessidades mais gerais da economia. 
Em 21 de dezembro de 1686, uma nova lei foi aprovada: o 
Regimento das Missões, mantendo as aldeias de repartimento e 
retornando o controle dos índios aldeados aos jesuí tas. Contudo, a 
tarefa de repartição dos índios deveria ser feita por um conselho do 
qual fazia parte o Superior da Missões, o Governador e dois of iciais da 
Câmara. Manteve ainda o princípio das guerras justas e das tropas de 
resgate, permitindo que particulares a realizassem, desde que 20% dos 
cativos tornassem propriedade da coroa e criando inclusive um fundo 
para f inanciar essas expedições. Os descimentos, guerras justas e 
tropas de resgate passaram ao controle da Junta das Missões que as 
aprovava. Essas medidas revelam a preocupação da coroa com o 
desperdício do recurso humano indígena e, como as demais, resultaram 
em interesses contrariados. Na realidade restabeleceram o monopólio 
do trabalho indígena aos missionários, conduzindo a uma nova 
insurreição dos colonos. Acusando os missionários de não procederem 
aos repartimentos e de util izarem a nova legislação em benefício 
próprio, ou seja, de reterem os indígenas apenas em seus rendosos 
estabelecimentos os colonos passaram a atacar os aldeamentos 
missionários para roubar os indígenas. Os missionários das três ordens 
que atuavam na Amazônia (carmelitas, capuchinhos e jesuítas), que 
eram considerados funcionários da coroa portuguesa e recebiam a 
côngrua, uma espécie de salário pelos seus serviços de domestic ação 
do indígena, entraram também em confronto. Julgavam os capuchinhos 
e os carmelitas que os jesuítas haviam sido aquinhoados com as áreas 
 
 
 
15 
de maior população indígena e sentindo-se prejudicados recorreram 
inclusive ao confronto armado. 
Os documentos da época revelam que algumas ordens 
missionárias não foram executoras f iéis da polít ica metropolitana para o 
indígena. Alguns missionários chegavam mesmo a vender aos que 
partiam em expedições para a escravização dos nativos, certif icados 
em branco que declaravam ser os indígenas aprisionados na forma da 
lei. Já em meados do século XVII os missionários possuíam vasta 
fortuna que incluía fazendas de criação de gado, estabelecimentos 
agrícolas e engenhos e a maior riqueza daquela terra, um vasto 
contingente de trabalhadores indígenas. 
A demanda de mão-de-obra cresceu ainda mais por volta de 1720, 
quando uma epidemia grassou entre os indígenas escravizados do 
Grão-Pará, em Belém e regiões vizinhas. Nesse momento, iniciava -se o 
boom do cacau que iria durar todo o século XVIII, aumentando a 
demanda de mão-de-obra e, conseqüentemente, as entradas para a 
busca de índios. A intensif icação dessas buscas no rio Negro, Japurá e 
Branco explica-se em função do controle desses rios pelos membros da 
Ordem Carmelitana que, ao contrário dos Jesuítas, eram bem mais 
f lexíveis em sua participação, direta ou indireta, no negócio de 
escravos. 
Quando o Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e 
Melo) tornou-se ministro do rei português D. José I, delineou -se uma 
nova polít ica para a Amazônia. Seu atos relativos à região 
demonstravam claramente a estratégia de lusitanizar e garantir maior 
subordinação da economia amazônica aos interesse comerciais 
metropolitanos. Dentre várias medidas, Pombal modif icou a polít ica 
indígena; expulsou e confiscou os bens dos jesuítas; estimulou 
imigração de negros e açorianos para a colonização, criou uma 
companhia com monopólio do comércio e reformulou a máquina 
administrativa local. A importância da Amazônia para a polít ica de 
Pombal revela-se ainda quando nomeou Francisco Xavier de Mendonça 
Furtado, seu meio irmão, para governar o Grão Pará entre 1751 a 1759. 
A divulgação dessa nova polít ica indigenista foi cercada de todos 
os cuidados, revelando o temor antevisto pelas autoridades 
metropolitanas e coloniais em relação as possíveis reações contrárias 
dos colonos. Assim, entre a promulgação dos alvarás régios de 1755 e 
sua publicação, dois anos depois, medidas foram tomadas para fazer 
face às possíveis rebeliões dos colonos e missionários do Grão Pará e 
Maranhão. 
Publicado em 1757, o Diretório que se deve observar nas 
povoações dos índios do Pará e Maranhão enquanto sua majestade não 
mandar o contrário (Diretório dos Índios) representava uma enfática 
intervenção da coroa na questão do indígena. O interess e reiterado de 
tornar o indígena súdito com plenos direitos, como os luso -brasileiros, 
assumiu no discurso colonial duas vertentes: a primeira assegurou a 
liberdade do indígena e a segunda indicou sua aculturação. As duas 
vertentes resultariam na transformação do indígena em verdadeiro 
súdito do monarca português, igualado legalmente e para todos os 
efeitos aos luso-brasileiros. Para melhor subordinar os indígenas aos 
 
 
 
16 
interesses da coroa, os missionários foram afastados da administração 
das aldeias, que foram entregues à administração de um Diretor leigo, 
que f icava responsável também pelos descimentos. 
Contudo, não era dado ao indígena decidir se queria ou não 
trabalhar. Antecipando-se ao retorno do indígena aos seus costumes 
com relação ao trabalho, costumes considerados pelos colonos, 
missionários e autoridades coloniais como ociosidade e vadiagem, o 
Capitão-General Mendonça Furtado promulgou, em 1754, um bando 
confirmado na carta real de 1755. Nesse bando estipulava -se que os 
indígenas que estivessem sem ocupação fossem cedidos aos colonos 
que os remunerariam. 
A reação dos colonos às medidas propugnadas pelo Diretório veio 
conforme foi prevista pelas autoridade do governo. Além dos protestos 
formais, os colonos conspiraram no sentido de entregar o Grão -Pará ao 
monarca francês, desde que esse se comprometesse a manter a 
escravidão indígena naquela região. Doze anos após a publicação do 
Diretório, ainda era possível observar a prática corriqueira da 
escravização do indígena, realizada inclusive pelos próprios diretores 
que maltratavam e exploravam brutalmente, em benefício próprio, os 
indígenas sob sua responsabilidade. 
A Carta Régia de 12 de maio de 1798 extinguiu o Diretório e 
tornou obrigatório por determinado tempo o serviço do indígena no 
Corpo de Milícias e no Corpo de Trabalhadores. Quanto aos colonos 
dava-lhes a liberdade de estabelecerem-se nas áreas ainda sob o 
domínio do indígena, bastando apenas informar às autoridades sua 
intenção. Os descimentos promovidos pelos colonos, o comércio direto 
desses com os indígenas e a contratação dos trabalhadores, desde que 
estivessem livres doperíodo de serviço para a coroa,. também eram 
atividades permitidas. 
Esse estatuto vigorou até a independência, tornando -se mais 
rigoroso para o nativo ao longo do tempo. Em 1808 e 1809, novas leis 
ampliaram a permissão aos colonos para capturarem indígenas. Enfim, 
adotou-se uma permissividade quase absoluta para os padrões das 
legislações anteriores, ao entregar, na prática, o arbítrio sobre o 
destino das populações nativas ao colono, que poderia avançar sobre o 
território em verdadeiras guerras de conquista e escravização ou 
estimular as guerras inter-tribais para estabelecer a compra de 
prisioneiros. 
Com a independência do Brasil reuniu -se a Assembléia 
Constituinte dentro da qual foi criada uma Comissão de Colonização, 
Catequese e Civil ização dos Índios. O Ato Adicional de 1834 atribuiu às 
Assembléias Provinciais a responsabilidade de promover a catequese e 
civil ização dos indígenas. Contudo, no Grão -Pará, era tarde para 
quaisquer iniciativas que visassem a resolver o problema do 
trabalhador. O descaso da elite nacional e local para com a situação do 
índio e seus descendentes na Amazônia e o aviltamento crescente do 
trabalhador, ou seja, do indígena, do negro e do mestiço, re sultou num 
dos maiores levantes populares que há notícia na Amazônia e no Brasil, 
a Cabanagem. Nesse movimento, que eclodiu em 1835, na Província do 
Grão Pará, índios aldeados, tapuios, mestiços e negros levantaram -se 
 
 
 
17 
em revolta contra “tudo aquilo que era branco” ou seja toda a miséria e 
dizimação a eles imposta pelo europeu e seus sucessores. Essa 
violenta contestação que durou dez anos, foi violentamente reprimida e 
os cabanos derrotados, restando do movimento um saldo aproximado 
de 40.000 mortos. 
No período da Regência foram revogados os atos de 1808 e 1809 
que permitiam a guerra justa a determinados grupos e a escravização 
de seu membros. Em 1843 o governo, tentando dar conseqüência ao 
ato adicional à constituição que atribuía ao governo e à Assembléia 
Geral ações para catequizar e civil izar os indígenas, aprovou a Lei n o. 
317 que, entre outras providências, autorizou aos padres capuchinhos 
os afazeres de catequese. A regulamentação dessa lei distribuiu a 
responsabilidade entre o diretor de missões e os clérigos. O diretor da 
missão teria, entre outras, as atribuições de introduzir o indígena em 
um ofício e f iscalizar os contratos de prestação de serviço. 
Apesar de o índio ser considerado incapaz e sujeito à proteção 
legal, estava sujeito ao serviço das a ldeias e ao serviço público e 
militar. Poderia sofrer a penalidade de prisão de até oito dias a critério 
do diretor e ser entregue a justiça, ou seja, responder penalmente por 
suas faltas. Durante o início do período republicano pouca coisa 
mudou. Como no império a constituição não fazia menção ao indígena e 
no código civil eram considerados como incapazes a certos atos e a 
maneira de praticá-los e portanto sujeitos à tutela do Estado. 
 
Exercícios. 
 
1. Sobre a legislação colonial portuguesa que tratava da questão 
indígena no Brasil podemos af irmar que o indígena era considerado: 
a) um elemento livre sem restrições. 
b) l ivre em algumas situações. 
c) sempre sujeito à escravidão. 
d) sujeito à escravidão apenas quando não aceitasse a fé católica. 
 
2. A legislação de 1611 dotava os Capitães de Aldeia de várias 
atribuições com relação ao indígena, exceto: 
a) entregá-lo ao controle do colono. 
b) repartir os indígenas descidos. 
c) comandar as tropas de descimento. 
d) manter os indígenas em suas aldeias originais. 
 
3. Os atritos entre os colonos e os missionários resultavam: 
a) do mal tratamento que os missionários davam aos indígenas. 
b) da possibil idade de falta de mão-de-obra com os descimentos. 
c) dos privilégios que várias leis deram aos missionários. 
d) da impossibil idade de os missionários dirigirem as aldeias de 
repartição. 
 
4. Na Amazônia não foi possível substituir, em grande escala, a mão -
de-obra indígena pelo negro africano porque: 
a) o negro africano era mais rebelde e fujão. 
 
 
 
18 
b) o escravo africano possuía um preço mais alto que o indígena. 
c) o indígena como mão-de-obra era mais dócil e dedicado. 
d) havia muita dif iculdade em capturar escravos indígenas. 
 
5. Já no f inal do século XVII, uma outra lei referente ao indígena foi 
aprovada, nela constava que: 
a) os jesuítas participavam da Junta das Missões que controla va os 
repartimentos, aprovava e participava das tropas de resgate, guerras 
justas e descimentos. 
b) os funcionários da coroa decidiriam exclusivamente sobre todas as 
ações que tivessem relação com o indígena. 
c) o governo não teria nenhum direito sobre os nativos capturados. 
d) os indígenas não poderiam trabalhar para os colonos, mas apenas 
para os missionários. 
 
A população indígena dos vales do rio Madeira e Guaporé. 
 
Na região dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé e nos seus 
tributários, o português encontrou dois t ipos de grupos indígenas: os 
habitantes antigos e povos que para lá migraram, em fuga do avanço 
europeu ou do expansionismo territorial de nações indígenas mais 
fortes. Desses povos que migraram possivelmente os Tupi foram os 
primeiros a atingir a bacia deste rio. Vinham recuando de suas 
povoações que, até o século XVI, estendiam-se da foz do Amazonas 
até o sul de São Paulo. 
Os Tupinambarana, descobertos em 1639 pelo padre Acuña no rio 
Amazonas, na ilha de mesmo nome próximo à foz do Madeira, eram 
descendentes dos Tupinambá de Pernambuco. Posteriormente, outros 
grupos migrariam para aquela região, provocando guerras inter -tribais 
pelo controle do território. Dentre os moradores antigos do Madeira 
encontraram os Torá, Mura e Matanawí. Quanto aos Mura é necess ários 
esclarecer que enquanto alguns autores acreditam que o Madeira tenha 
sido o seu antigo núcleo de povoação, outros defendem a hipótese de 
que esses indígenas tenham migrado do Peru, fugindo ao domínio 
espanhol. 
 No f inal do século XVIII, alguns grupos indígenas do Tapajós 
começaram a entrar em contato com o colonizador. Conhecidos como 
Kawahib, eram uma nação que se subdividia em vários grupos, dentre 
eles os Parintintin. Esses Kawahib foram ferozmente perseguidos pelos 
Munduruku e, expulsos de seus te rritórios, subdividiram-se em vários 
grupos que se espalharam na região situada entre os rios São Manoel e 
Madeira. Os Tupí-Kawahib, após a dispersão provocada pelos Mura, 
situaram-se no rio Branco, af luente do Roosevelt e depois ampliaram 
seu território até o Ji-Paraná e seus af luentes. Os Kawahib foram 
encontrados até o f inal do século XIX no campo dos Parecis, entre a 
foz do Arinos e Juruena. Nessa mesma época o baixo e médio Mamoré 
foi objeto da migração de outro grupo indígena, os Txapakura. Viviam 
originalmente no curso do médio e alto rio Blanco (Baures), na área em 
torno do lago Chitiopa e parte de Concepción de Chiquitos (Bolívia). Os 
 
 
 
19 
Txapakura foram dominados pelos europeus no início do século XVII e 
reduzidos aos aldeamentos dos colonizadores. Alguns grupos 
penetraram a América Portuguesa. Desses, os Urupá e Jarú pertencem 
a família l ingüística Txapakura e entraram em contato com os 
portugueses no início do século XVIII. 
 A nação que mais ferozmente reagiu ao avanço português na área 
do Madeira no século XVIII foi a Mura. Essa nação uma população 
espalhada, antes do século XVIII, em uma enorme área que 
compreende os rios Madeira, Negro, Solimões e Japurá. Teria ocorrido 
que por força da guerra movida contra essa nação, no século XVIII, 
houve um rápido decréscimo da sua população e a concentração de seu 
território no rio Madeira. Inimigos tribais ao tempo da penetração 
portuguesa, primitivamente a agressividade dos Mura e dos Munduruku 
dirigiu-se ao elemento colonizador que ao longo do tempo aprendeu 
util izar a rivalidade entre as dois grupos em benefício próprio. A luta 
simultânea contra o europeue os Munduruku e diversas epidemias 
ocasionaram uma enorme mortandade entre os Muras. O golpe f inal 
veio com a aliança entre os Munduruku e os portugueses n o f inal do 
século XVIII. Alguns grupos Mura pediram a paz em 1786 e durante 
algum tempo estiveram pacif icados, habitando algumas aldeias ao 
longo do Madeira e na foz de seus af luentes. Contudo, provavelmente 
em razão das agressões dos civil izados, voltaram a atacar e depredar 
na área do Madeira. 
Os Munduruku foram também um grupo guerreiro cujo 
expansionismo encontrou obstáculo na penetração portuguesa na 
Amazônia. Os europeus passaram a realizar expedições punitivas 
contra esse grupo até que, no f inal do século XVIII, os Munduruku 
abandonaram os territórios que haviam ocupado recuando para os rios 
Canumã e seus tributários e para o rio Caruru, tributário do Tapajós. 
No f inal do século XIX, o Madeira era ainda fartamente habitado 
por várias nações indígenas. Em 1872, existiam no Madeira várias 
áreas ainda sob domínio dos indígenas. Na margem direita, em um 
pequeno trecho do rio Marmelos, havia o território dos Mura; o rio 
Machado e seus af luentes era região dos Parintintin; o rio Preto 
pertencia aos Iurá e Arara; o rio Jamarí era território dos Jacanga -
Piranga, Urutucurú, Urapa-Manaca; na margem esquerda da cachoeira 
do Macaco f icavam os Apama, além dos índios já aldeados como os 
Karipuna situados na cachoeira de Morrinhos. 
O descobrimento das lavras do Mato Grosso e Cuiabá propiciou 
uma intensa migração de paulistas, mineiros, goianos e outros 
habitantes da colônia para a região. Esse processo migratório, marcado 
pela ousadia, bravura e ganância, esteve associado também à contínua 
busca de braços cativos dos indígenas da região para o trabalho das 
minas, lavouras e para o comércio humano de diversas praças 
coloniais. 
Entre os grupos preferidos pelos sertanistas e apresadores estão 
os Borôro e os Pareci, que eram considerados de maior docilidade, 
mais fácil adaptação aos hábitos e costumes da sociedade colonial 
mercantil ista que ia sendo implantada nos confins do Guaporé. No 
entanto, a escravidão do indígena não era feita sem grande resistência 
 
 
 
20 
dos mesmos, cabendo especial destaque aos inúmeros transtornos e 
tragédias produzidos pelos Payaguá, Kabixi e Kayapó aos mineiros e às 
autoridades coloniais. 
O comércio de indígenas, mesmo proibido, era praticado, às 
vezes burlando-se as autoridades. Deve-se ressaltar que a 
precariedade do tráf ico negreiro para a Amazônia em geral e para o 
Guaporé em particular provocou a abertura de precedentes para que o 
recurso da mão-de-obra indígena fosse ainda largamente empregado. 
Contudo, não se pode dizer que houve uma substituição da escravidão 
indígena pela africana, pois as duas ocorreram ao mesmo tempo. O que 
se percebe é que, na região guaporeana, ao contrário do Madeira e de 
outras áreas da Amazônia; a escravidão de negros tomou um vulto 
muito maior, fazendo com que os números de escravos indígenas 
fossem percentualmente mín imos. 
 
Exercícios. 
 
1. Ao entrar em contato com os indígenas no Amazonas os portugueses 
observaram que: 
a) esses grupos não haviam ainda entrado em contato com o europeu. 
b) alguns desses grupos já haviam entrado em contato e, inclusive, 
negociavam com os europeus. 
c) esses grupos indígenas permitiam o fácil avanço dos colonizadores. 
d) a navegação para o interior era tranqüilamente permitida pelos 
originais moradores daqueles rios. 
 
2. Na região do Madeira/Mamoré/Guaporé os grupos indígenas 
encontrados pelos europeus eram: 
a) todos tradicionais moradores da região. 
b) todos compostos por migrações recentes. 
c) alguns habitantes antigos e outros compostos por migrantes. 
d) uma série de povos trazidos com os europeus. 
 
3. A migração provocava, entre os indígenas, a disputa pelos territ órios 
e podemos af irmar que os indígenas migravam: 
a) fugindo ao contato com o conquistador. 
b) em busca de terras mais férteis para expansão de seus excedentes 
comercializáveis. 
c) em busca de territórios ricos em ouro e pedras preciosas. 
d) à procura do Eldorado. 
 
4. Dentre os motivos da ocupação da região guaporeana podemos 
destacar: 
a) principalmente do extrativismo vegetal. 
b) o aldeamento dos Payaguá e Kabixi. 
c) a atividade de mineração. 
d) as guerras justas. 
 
 
 
 
21 
5. Dentre as causas da dif iculdade dos colonos em adotarem o esc ravo 
africano como força de trabalho predominante na região de mineração 
pode-se destacar: 
a) a oposição dos indígenas ao negro. 
b) a inaptidão do africano à vida naquela região tropical. 
c) o desconhecimento das técnicas de mineração. 
d) o elevado custo dessa mão-de-obra em relação ao indígena. 
 
O indígena, o povoamento e a colonização. 
 
 Durante o século XIX e séculos seguintes, continuou o trabalho 
de conquista e ocupação dos territórios indígenas na área hoje 
pertencente ao Estado de Rondônia. Simultaneamente, o ap resamento 
do indígena e sua escravização também continuaram sendo práticas 
comuns. Até aproximadamente 1860, a economia amazônica estava em 
crise. Com a queda nas exportações do cacau e outros produtos 
denominados drogas do sertão iniciou-se um daqueles períodos de 
estagnação econômica que ciclicamente atingem a economia 
amazônica. A borracha já era exportada porém em pequenas 
quantidades. A partir de meados do século XIX, inicia a crescer sua 
demanda, com o crescimento da produção novas áreas de extrativis mo 
foram incorporadas, resultando no avanço para os af luentes do 
Amazonas mais a oeste. Esse período foi chamado 1 o. Ciclo da 
Borracha e durou até a segunda década do século XX. Durante esse 
ciclo, o avanço sobre os seringais nativos do Madeira, Mamoré e 
Guaporé, Purus, Juruá e pelos af luentes desses rios encontrou grupos 
indígenas nativos ou remanescentes do contato com o que europeu nos 
séculos anteriores que haviam se internado naqueles sertões em fuga 
para escapar à dizimação. 
 Os remanescentes das maiores nações indígenas, ainda não 
amansados, continuaram a atacar o colonizador e a guerrear entre si. 
Entre 1870 e 1874, os Munduruku atacaram os Mura e os Parintintin no 
rio Madeira. A partir desse ano iniciam a escassear as notícias de 
ataques dos Mura. Ao contrário, os Parintintin são constantemente 
citados. Em 1867, atacam no alto Madeira os membros da expedição 
Keller, a qual deslocara-se para o Madeira a f im de estudar as 
viabilidades de superação do trecho encachoeirado. Em 1876, 
assaltaram uma embarcação e mataram toda sua tripulação, sendo 
objeto de uma expedição punitiva (guerra justa) em que morreram três 
indígenas e foram aprisionadas duas mulheres e cinco crianças. 
Severiano da Fonseca relatou em 1878 que os Parintintin eram, nessa 
época, os piores inimigos do colonizador no Madeira, assaltando os 
seringais e sendo temidos pelos seus ataques. Os Munduruku, após 
colaborarem com a repressão aos Mura, foram ocupados na economia 
extrativista, restando, após trinta ou quarenta anos, poucos 
remanescentes desses grupos em três aldeamentos of iciais no Tapajós: 
as aldeias de Santa Cruz, Cory e Ixituba. Tornados tapuios, com todas 
as conseqüências que essa processo traz, estavam a serviço do 
 
 
 
22 
colonizador, entregues à embriaguez e constantemente endividados 
ante aos donos dos barracões ou regatões. 
Os Arara ainda eram bastante numerosos no Madeira durante 
meados do século XIX. Tendo recuado para o trecho encachoeirado 
desse rio, viviam ainda em guerra com os grupos remanescentes da 
nação Mura. Esses últ imos foram definit ivamente dominados, somente 
após a segunda metade do século XIX, tendo sido identif icados com a 
cabanagem foram objetos de intensa perseguição. Alguns grupos Arara 
estavam já submetidos, vivendo em aldeamentos no Alto Aripuanã, 
próximos a outros grupos indígenas: Hiauareti -Tapué, Anera-Tapuí e 
Matanaú. Alguns Karipuna estavam já estabelecidos em aldeias 
situadasna cachoeira de Morrinhos, no alto Madeira, em 1872. 
Prestavam serviços ocasionais ao colonizador como remeiros ou 
carregadores no trabalho de sirga, carga e descarga das embarcações 
para contornar as cachoeiras. Em 1878, Neville Craig se refere a eles 
como preguiçosos e ladrões. 
Com a queda das exportações da borracha arrefeceu o genocídio. 
Essa situação porém continuou por pouco tempo. Com a Segunda 
Guerra Mundial cresceu o interesse norte -americano em reativar a 
produção da borracha amazônica, iniciando um período que se costuma 
chamar 2o. Ciclo da Borracha. A intensa migração para a Amazônia, 
que em curto período destinava-se a satisfazer as pretensões norte-
americanas, fez aumentar de intensidade a guerra sem tréguas 
promovida contra esses povos. 
Notícias da continuidade desse fenômeno prosseguiram mesmo 
após o f inal do curto 2o. Ciclo da Borracha. A partir de meados do 
século atual, a descoberta e exploração em território rondoniense de 
vários minerais e a intensa migração de colonos à procura de terras 
para a agricultura deu motivo a novas chacinas. A abertura da BR -364, 
na década de 60, facil itou o processo de ocupação das áreas ao lo ngo 
de seu leito. Essas terras eram habitadas por diversos povos indígenas, 
vít imas de grileiros e posseiros que, a exemplo dos portugueses no 
século XVII, pretendiam tornar “l impas” aquelas áreas, ou seja 
afugentar o indígena mais para o interior, ocupando seu território. O 
grande surto migratório da década de 70 em diante completou o quadro 
de desolação. 
 Apesar desses variados processos que ocasionam a destruição do 
indígena em vários aspectos, esses povos têm realizado uma heróica 
luta de sobrevivência. Um recente levantamento, ainda que incompleto, 
em virtude das lacunas de informação existentes sobre as populações 
indígena que vivem no Brasil, indica a existência de inúmeros grupos 
dentro dos limites do Estado de Rondônia. Considerando -se a 
Amazônia é espantoso observar que muitos desses povos combatem o 
colonizador desde o século XVII e ainda possuem remanescentes como 
os Torá, os Mura e os Omágua entre outros. 
 Dos 24 grupos indígenas contatados existentes em Rondônia, há 
informações sobre a população de apenas 10 grupos e totalizam 
aproximadamente 3.948 pessoas. Entre esses grupos encontram -se, 
alguns entre Rondônia e o Amazonas, ou Mato Grosso os seguintes: 
Cinta Larga, Kaxarari, Karipuna, Pakaas Nova, Suruí e Nhambikwara, 
 
 
 
23 
além dos já citados. Esses grupos indígenas têm assimilado formas de 
organização, com estatuto e registro em cartório, que lhes permitem 
penetrar, com eficácia, no mundo do homem branco de maneira a 
reivindicar, com sucesso, suas aspirações. Em Rondônia pode -se citar 
várias dessas organizações dos grupos indígenas: a Organização 
Metairelá do Povo Indígena Suruí (OMPIS), a Organização Tamaré do 
Povo Cinta Larga (OTPICL) e a Akot Pytyanipá Associação Karit iana 
(AKOT). Existe também em Rondônia uma associação que articula os 
vários povos indígenas do estado entre si, a Coordenação da União das 
Nações e Povos Indígenas de Rondônia, Norte do Mato Grosso e Sul do 
Amazonas (CUNPIR). Há também organizações não governamentais de 
apoio ao indígena como o Conselho Indigenista Missionário de 
Rondônia (CIMI/RO). 
 
Exercícios. 
 
1. A intensif icação da ocupação dos principais rios que se situam 
dentro do espaço de Rondônia durante o século XIX pode ser explicada 
por: 
a) o aumento da procura da borracha como matéria -prima. 
b) uma bem montada estratégia de ocupação por parte do governo. 
c) durante o século XIX não houve intensif icação da ocupação. 
d) o extrativismo do cacau e do café nativo. 
 
2. Durante a 2a. Guerra Mundial podemos apontar como um importante 
fator explicativo do novo surto de ocupação do futuro estad o de 
Rondônia: 
a) a fuga de brasileiros do litoral para o interior, temendo a invasão 
alemã. 
b) o interesse norte-americano na ocupação estratégica da região. 
c) o interesse norte-americano em aumentar a produção da borracha 
amazônica. 
d) o estabelecimento de indústrias de borracha no sul do Brasil. 
 
3. No início do século XIX, podemos af irmar que a povoação não 
indígena do Vale do Madeira/Guaporé encontrava -se: 
a) já amplamente solidif icada possuindo mesmo suficientes núcleos 
urbanos em toda sua extensão. 
b) sob predomínio exclusivo dos seringais não havendo nenhum núcleo 
urbano. 
c) afora alguns aldeamentos de missionários ou do governo e de 
poucos núcleos urbanos o estado geral era de abandono. 
d) somente indígenas não amansados habitavam aquela região. 
 
4. Na segunda metade do século XIX inicia a crescer a produção de 
borracha que a par das demais atividades econômicas da região 
util izava naquele momento, predominantemente: 
a) o trabalho do migrante europeu e nordestino. 
b) a mão-de-obra escrava, l iberta apenas em 1888. 
c) a mão-de-obra indígena. 
 
 
 
24 
d) o trabalho do migrante nordestino. 
 
5. Sobre os indígenas ainda vivendo em sua situação original pode -se 
dizer: 
a) não mais representavam preocupação para o colono. 
b) colaboravam no processo de colonização. 
c) que apesar da sua dizimação continuaram, até o f inal do século XIX, 
a combater o colono e a guerrearem entre si. 
d) foram bem sucedidos em defender seus territórios. 
 
Em resumo. 
 
 Os indígenas que ocupavam o território brasileiro antes da chegada o 
europeu constituíam-se em um conjunto de culturas diversif icadas. Com 
a penetração do colonizador português na Amazônia, a partir do início 
do século XVII, muitos grupos migraram para o interior fugindo ao 
contato com o colonizador, entrando em guerra pela disputa de 
territórios com grupos já estabelecidos naquelas regiões. 
 Os espanhóis desarticularam a estrutura social do Império Inca, mas 
souberam aproveitar-se das formas de exploração do trabalho já 
util izadas entre aqueles povos. Os adelantados, adquiriam o direito às 
encomiendas e o controle da população dominada. 
 Na América portuguesa não foi encontrado um império unif icado 
como o Inca, mas vários povos com línguas e culturas bastante 
diversif icadas entre si. Contudo, como na América espanhola, faltava 
ao colonizador braços para o trabalho e homens para defen der as 
fronteiras. 
 O descimento consistia em convencer os indígenas a “descerem”, ou 
seja, saírem de seus territórios tradicionais para situarem -se em 
missões. O resgate era a troca de mercadorias européias por 
prisioneiros de guerras inter-tribais. 
 A legislação colonial do século XVII considerava o indígena livre, 
porém sob determinadas condições que permitiam, de fato sua 
escravização. As diversas alterações da legislação sobre o indígena no 
século XVII devem ser entendidas como tentativas do governo 
português de manter sob o seu controle uma vasta população nativa, 
cujo interesse do estado era transformar em súditos. 
 A tentativa de substituição da mão-de-obra indígena pelo escravo 
africano não prosperou na Amazônia porque o preço do escravo negro 
era muito superior ao do escravo indígena, tornando-se inacessível ou 
pouco interessante para os colonos. 
 O avanço colonizador sobre a Amazônia provocava o deslocamento 
dos vários grupos indígenas (Tupi, Tupi -Kawahib, Parintintin, 
Munduruku, Mura e Txapakura) cada vez mais para a região do 
Madeira/Guaporé, provocando guerras inter -tribais pelo controle do 
território. 
 A ocupação efetiva da região do rio Guaporé iniciou -se com o 
descobrimento de ouro, que atraiu migrantes de outras regiões da 
colônia. A escravização do indígena precedeu à própria descoberta do 
ouro e, apesar de ser amplamente restringida, continuou sendo 
 
 
 
25 
praticada. O nativo (Borôro e Pareci) era capturado tanto para a 
util ização como mão-de-obra nas lavras, minas e faisqueiras como na 
lavoura e objeto de comércio em outras praças coloniais, outros 
grupos como os Payaguá, Kabixi e Kayapó resistiram intensamente à 
submissãoatacando as povoações coloniais. 
 O primeiro ciclo da borracha tirou a Amazônia da letargia econômica 
em que havia caído no f inal do século XVIII. Em busca de novas áreas 
de seringais nativos, grupos de seringueiros passaram a penetrar 
regiões ainda não colonizadas do Madeira, Mamoré e Guaporé e seus 
af luentes. A força de trabalho indígena continuou, durante esse 
período, a participar signif icativamente da economia amazônica, seja 
no extrativismo, na atividade de transporte ou na lavoura. Os indígenas 
amansado foram entregues às diretorias de índios, cujos dirigentes 
exploravam cruelmente o trabalho desse elemento, visando dele extrair 
o maior ganho possível. Eram ainda os nativos vendidos ou trocados 
dentro da região, havendo também casos de contrabando de indígenas 
que eram objetos de escambo 
 Durante a 2a. Guerra, a intensa migração nordestina destinada a 
satisfazer o novo crescimento da demanda de borracha, para o 
mercado norte-americano, intensif icou a ocupação dos territórios 
indígenas do Madeira/Mamoré/Guaporé. Nas décadas seguintes a 
descoberta de metais e pedras preciosas, de cassiterita e a abertura da 
BR-364 fez com que os terri tórios indígenas fossem ocupados por 
grileiros e posseiros que promoviam massacres para afugentar os 
nativos dessas áreas. 
 Apesar de todo esse processo de destruição das populações nativas 
restam ainda na Amazônia mais de duas centenas de etnias que vivem 
sob a jurisdição de quatro países diferentes. 
 
 
 
 
26 
 
Capítulo 2 
A exploração, conquista e ocupação da Amazônia no contexto do 
antigo regime. 
 
O espaço Natural 
 
 A Amazônia é um extenso conjunto de terras da América do Sul, 
situada no centro norte do sub-continente, abrangendo terras do Brasil, 
Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O 
território brasileiro corresponde a mais de 50% do total da região 
geográfica da Amazônia, abrangendo terras do Pará, Maranhão, 
Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima. 
A notável região caracteriza-se por sua extensa planície sedimentar 
aluvial, coberta pela densa f loresta equatorial e irrigada pela maior 
bacia hidrográf ica do mundo, a bacia amazônica, que empresta seu 
nome à região. 
 Os terrenos, de base sedimentar, são dispostos em tabuleiros que 
descem em direção ao rio Amazonas. Os limites ao sul correspondem 
ao Planalto Central; ao norte encontra -se o Planalto das Guianas; a 
oeste situam-se os contrafortes Andinos e a leste os l imites são o 
Planalto do Nordeste e o Oceano Atlântico. As terras de baixas 
alt itudes e muito próximas ao Equador são marcadas pela presença do 
clima equatorial-úmido, diferenciando-se em zonas de acordo com a 
maior ou menor distribuição das chuvas. Na med ida em que os terrenos 
possuem altitudes mais elevadas, observa -se a mudança progressiva 
do clima que, no Planalto Central e no Planalto das Guianas, é do tipo 
tropical. Por sua vez, a f loresta latifoliada, hidróf ila e perenefólia, 
chamada por Alexandre Von Humboldt “Hiléia Amazônica”, a f loresta 
por excelência, domina mais de dois terços da região, sendo 
substituída em determinadas áreas por variações como a f loresta 
subcaducifolia e nos limites dos planaltos pelo aparecimento dos 
campos e cerrados. Os rios, de grande volume em sua maior parte, 
nascem nas regiões altas e apresentam regimes mistos, predominando 
nos af luentes da margem direita do Amazonas as cheias em 
dezembro/março, enquanto que nos da margem esquerda as cheias 
ocorrem entre maio/outubro. Na planície, esses rios se transformam em 
grandes “caminhos das águas” e constituíram -se no meio natural de 
penetração dos colonizadores. 
 Inseridas na Região Amazônica estão as sub -regiões dos vales do 
Guaporé e Madeira. As extensões guaporeanas abrangem te rras hoje 
pertencentes ao Mato Grosso, Rondônia e Bolívia. Já o Vale do Madeira 
com seus 1.244.500 quilômetros quadrados abrange terras 
pertencentes à Bolívia, a Rondônia e o Amazonas, possuindo um total 
de 90 af luentes. 
O meio físico do Vale do Guaporé é notável. O relevo da região é 
constituído por uma extensa base sedimentar, na qual destacam -se as 
Serras dos Parecis e Pacaás Novos. Paralelamente às chapadas, o vale 
do rio Guaporé possui uma topografia de rara beleza, marcada pela 
 
 
 
27 
presença de planícies onduladas e alagadiças, onde se multiplicam as 
praias de areias muito f inas e brancas. O rio Guaporé, que nasce na 
extremidade setentrional da Serra dos Parecis em Mato Grosso, forma 
uma sub-bacia hidrográf ica, que se integra à grande bacia amazônica 
através da união do Guaporé com o Mamoré, que é um dos formadores 
do Madeira, um dos grandes af luentes do Amazonas pela margem 
direita. Nascendo em uma altitude de 1.800 m, o Guaporé tem um curso 
total de 1.716 Km, sendo que desse total, 1.500 Km são plenamente 
navegáveis. Em suas nascentes, o minério de ferro é tão comum que 
cobre suas águas de vermelho, dando-lhes um sabor típico. O alto 
Guaporé é marcado pela presença de inúmeras cachoeiras, o que 
inviabilizou seu total reconhecimento até 1789. A parte navegável vai 
da foz até a confluência com o rio Alegre (margem esquerda). 
 O clima da região é do tipo quente e úmido, sofrendo variações 
em função da alt itude. As poucas alterações de temperatura ocorrem 
nos meses de junho, julho e agosto e recebem o nome de fr iagem, 
sendo responsáveis por repentinos problemas para a população, desde 
o início dos processos de ocupação e colonização. 
 Nas regiões de baixas alt itudes da planície do Guaporé ocorrem 
as temperaturas mais elevadas com médias em torno de 26º C e 
máximas superiores a 40º C. Nas chapadas, as médias térmicas f icam 
em torno de 24º C, enquanto as máximas não ultrapassam 36º C. 
Durante o fenômeno da friagem, as massas frias de anti -ciclones 
antárticos, oriundos da Patagônia, podem provocar quedas súbitas de 
temperatura que podem chegar entre 12º C e 0º C, mantendo -se assim 
por alguns dias. 
 A cobertura vegetal apresenta uma formação exótica e 
diversif icada, compreendendo extensas áreas de f loresta subcaducifólia 
no vale do alto Guaporé, que se caracteriza por ser uma região de 
transição dos domínios amazônicos para os domínios do centro -oeste, 
onde prevalecem os cerrados e os campos arbustivos. No baixo 
Guaporé, a f loresta ganha ímpeto, caracterizando -se como uma 
vegetação típica da f loresta equatorial amazônica. 
 O relevo do Vale do Madeira caracteriza -se pela presença 
preponderante da grande planície amazônica com grandes extensões 
inundáveis durante a estação das chuvas que vai de novembro a março. 
O vale do alto Madeira possui um relevo mais acidentado. A pa rtir da 
cachoeira de Santo Antônio os terrenos elevam-se até atingir as 
encostas das serras dos Pacaás Novos e Parecis. O clima do tipo sub -
equatorial é marcado por altas temperaturas e índices pluviométricos 
superiores a 2.000 milímetros anuais. O fenômeno da friagem, mais 
acentuado no Vale do Guaporé, ocorre também no Vale do Madeira. A 
vegetação apresenta uma formação típica da f loresta equatorial 
perenifolia, subcaducifólia e latifoliada. 
 
Exercícios. 
 
1. Dentre os países que participam do extenso conjunto de terras que 
compõe a Amazônia não podemos destacar: 
a) Bolívia, Guiana e Suriname. 
 
 
 
28 
b) Chile, Argentina e Paraguai. 
c) Colômbia, Guiana e Peru. 
d) Venezuela, Colômbia e Bolívia. 
e) Equador, Suriname e Colômbia. 
 
2. A Amazônia abrange terras de vários estados brasile iros, dentre eles 
não podemos citar: 
a) Rondônia. 
b) Minas Gerais. 
c) Mato Grosso. 
d) Amazonas. 
e) Acre. 
 
3. Compõe o relevo do Vale do Guaporé: 
a) a Serra de Ibiapina. 
b) a Serra dos Órgãos. 
c) a Serra dos Parecis. 
d) a Chapada dos Guimarães. 
e) os Montes Il imani. 
 
4. No relevo do vale do rio Madeira predomina: 
a) os terrenos montanhosos. 
b) a planície amazônica. 
c) rios de pequeno porte. 
d) os alt iplanos. 
 
5. O clima daregião Amazônica é do tipo: 
a) temperado. 
b) frio e úmido. 
c) seco e frio. 
d) quente e úmido. 
e) N.R.A. 
 
A exploração, as visões e o imaginário do conquistador na 
Amazônia. 
 
 A grande expressividade territorial da Amazônia, que só no Brasil 
abrange 3.581.180 Km² (perfazendo 42,07% do território nacional) 
contrasta evidentemente com um verdadeiro vazio demográfico, uma 
região subpovoada onde a vida das populações, bem como os 
processos de conquista e colonização estiveram sempre intimamente 
vinculados aos grandes rios. A conquista e a colonização da região 
amazônica foi motivada por fatores de ordens diversas, prevalecendo 
sempre a busca contínua de r iquezas minerais, vegetais e a 
consolidação de uma base de produção mercantil ista que garantisse 
lucros imediatos às metrópoles. 
Durante os séculos XVI e XVII, vários foram os exploradores que 
percorreram os rios da Amazônia: Vicente Yañez Pinzón (c. 1460 -
c.1523), descobriu a foz do Amazonas em 1500, batizando -o de Santa 
 
 
 
29 
Maria do Mar Dulce. Em 1541, Francisco Orellana (c.1490 -1546) desceu 
o curso do grande rio desde os Andes até o Atlântico, fato que foi 
repetido entre 1559/1561 por Pedro de Ursúa (1526 -1561) e Lope de 
Aguirre (1518-1561) que, numa trágica e desvairada aventura tiveram 
seus nomes perpetuamente associados ao fracasso, ao crime, à traição 
e a morte. Respondendo à ameaça de ocupação dos espanhóis, partiu 
de Belém no ano de 1637 a expedição de Pedro Teixeira (m. em 1641) 
navegou o Amazonas, rio acima, saindo do forte do Presépio. contando 
com 40 canoas, 7 canoas grandes, 70 soldados e 1.200 índios. Essa 
expedição durou um ano e fez as primeiras demarcações portuguesas 
da bacia amazônica. 
A história da exploração e ocupação territorial dos vales do 
Madeira e do Guaporé remonta ao século XVII. A expedição mais antiga 
ao Madeira, de que se tem conhecimento, foi a de Raposo Tavares 
(c.1598-1658), que partiu de São Paulo em 1647 e, dirigindo -se ao 
Mato Grosso, atingiu os rios Guaporé e através dele o Mamoré 
continuando a navegar até encontrar o Madeira, venceu os obstáculos 
naturais deste rio, atingindo o rio Amazonas chegando a Belém em 
1650. A bandeira de Raposo Tavares está inserida no ciclo do 
bandeirismo apresador. A partir do planalto de Piratininga (São Paulo), 
bandeirantes devassavam o interior da colônia, dentro e além das 
fronteiras coloniais, na busca de indígenas e riquezas minerais e dessa 
forma marcavam a presença portuguesa nessas regiões . 
Em 1722, organizou-se no Pará a bandeira comandada por 
Francisco de Melo Palheta (c. 1670 -?), que partiu de Belém em 1723, 
navegando pelos rios Madeira, Mamoré e Guaporé e atingindo as 
missões espanholas de Santa Cruz de Cajubava e São Miguel. A 
intenção dos portugueses em f irmar posição em território mais a oeste 
do que aquele estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas transparece no 
contato que estabeleceram com os jesuítas em território espanhol. Num 
gesto admirável de audácia, Palheta, ao se despedir d os espanhóis, 
alertou aos seus anfitriões que não ultrapassassem para baixo da boca 
dos rios Guaporé e Mamoré, pois que pertenciam ao rei de Portugal 
 Em 1742, Manuel Félix de Lima, minerador falido em Mato 
Grosso, decidiu organizar uma expedição para explorar a existência de 
ouro e comerciar com os espanhóis. Contrariando o Alvará Régio de 
1733, que proibia a navegação pelo Madeira, navegou por esse rio e 
pelo rio Guaporé de onde entrou no Baure encontrando a missão 
espanhola de São Miguel. Saindo deste en trou pelo rio Itonama (ou 
Ubaí) onde encontrou a missão de Santa Maria Madalena. Não obtendo 
a boa disposição dos jesuítas em comerciarem, tomou o rumo do 
Mamoré, Madeira e Amazonas. Embora preso ao chegar a Belém, por 
desrespeitar a proibição régia à navegação do Madeira, a viagem de 
Félix de Lima mostrou à coroa portuguesa que a navegação pelo 
Madeira tornava mais segura e ef iciente a ligação entre as minas do 
Guaporé e o Grão Pará. 
 Charles Marie de La Condamine (1701-1774) foi enviado como 
chefe de uma expedição da Academia de Ciências de Paris que, na 
América espanhola, mediria o arco do meridiano do Equador. 
Permaneceu o cientista no atual Equador entre 1737 e 1743 e, no 
 
 
 
30 
retorno, navegou o Amazonas em todo seu curso da nascente à 
embocadura, tomando conhecimento da borracha e descobrindo a 
ligação entre os rios Negro e Orinoco. Entre os anos de 1783 e 1792, 
percorreu as capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e 
Cuiabá a expedição científ ica liderada por Alexandre Rodrigues Ferreira 
(1756-1815). Na Amazônia marcada pelas reformas pombalinas, essa 
expedição resultou de um projeto congregador de interesses polít icos e 
econômicos da metrópole recolhendo nessa ‘Viagem Filosófica” um rico 
acervo em diversas áreas da ciência, da antropologia à botânica e 
zoologia. 
 Apesar de várias expedições científ icas, predominaram, nos 
primeiros séculos da conquista, as expedições de reconhecimento e 
busca de riquezas fabulosas. Entre o paraíso associado ao Eldorado e 
os conquistadores desejosos de riquezas, juventude e venturas, 
interpunha-se a grande f loresta e o meio hostil com seus rios , 
cachoeiras, insetos, índios, feras e doenças tropicais. A esse conjunto 
de fatores e a essa nova visão, nem paraíso nem inferno, impunha -se a 
necessidade da colonização, a implan tação do espaço civil izado e 
cristão, que possibil itaria a obtenção de riquezas, a expansão da fé e a 
grandeza do Estado e do rei. 
Urgia definir-se os espaços, mesmo em meio às adversidades. A 
condição de mergulho nesse mundo tropical e insalubre era 
fundamental para se processar a empreitada Colonizadora. Os limites 
de Tordesilhas (1494) não mais estavam sendo respeitados. A terra de 
fato pertencente a ninguém e de direito à Espanha aguardava por 
aqueles que estivessem aptos a explorá -la. 
Nesse contexto, formularam-se diversas “visões” dos 
descobridores, exploradores e colonizadores que justif icaram e 
promoveram a empreitada colonial. Seduzidos por lendas, por 
narrativas de riqueza e crenças em mitos cujas origens remontariam ao 
período medieval, militares, religiosos e aventureiros percorreram 
obstinados, os caminhos da ilusão, construindo um espaço colonial real 
a partir de um fabuloso imaginário que os impulsionava. Relatos feitos 
pelos nativos aos primeiros exploradores davam conta da existência de 
riquezas fabulosas, de regiões edênicas e do legendário Eldorado. O 
que se buscava, na realidade, era aquilo que povoava as funções 
mentais dos viajantes e cronistas. 
 O fascínio desses relatos dos cronistas jamais se esgotava, 
confundindo-se com as lendas ouvidas ou obtidas pela força e pela 
tortura feita aos habitantes naturais da terra. Ao conjunto de 
especulações, somavam-se a fusão das crenças cristãs com os relatos 
pagãos, o espanto, o êxtase e o entusiasmo pelo encontro desses 
viajantes com o desconhecido que lhes descortinava um mundo verde, 
com uma só estação, sem invernos, com rios gigantescos e perenes e 
onde abundavam as frutas, a carne, os peixes e as aves. As imagens 
desse paraíso acompanharam os descobridores e exploradores. 
 Maravilhas e monstruosidades povoam essa terra fantástica, esse 
novo Éden sem conflitar uns com os outros, pois a própria concepção 
da época estabelece entre ambas a harmonia, uma vez que o 
monstruoso surge e é criado para a honra e glória de Deus, sendo 
 
 
 
31 
encarado de forma específ ica pela ortodoxia escolástica católica 
apenas como um fenômeno que se opõe à generalidade dos casos, mas 
não à natureza concebida como totalidade, podendo assim existir em 
todos os níveis (Humano, Animal, Vegetal, e Mineral) da criação, 
distinguindo-se por seu aspecto não comum que o afasta do curso 
habitual da natureza, desviando-lhe a forma, sem ser contudo 
necessário que perca a beleza pois sua própria existência e diversidade 
confirma a beleza da obra divina. Paralelamente a essa visão 
paradisíacaencontra-se a crença de que a Amazônia abrigaria 
fantásticos tesouros, que por si só proporcionariam riquezas sem f im, 
honra e glória aos que os encontrassem. 
A busca de riquezas, objetivo concreto de todos os 
descobrimentos e, mais tarde, da vasta empreitada colonial, levou os 
colonizadores a desastrosas aventuras de vida e morte no interior do 
vasto mundo da f loresta e dos rios amazônicos. Nestas regiões, 
acreditavam estar situado o Eldorado, escondido sob a densidade da 
f loresta, protegido por guerreiros temíveis e cercado por criaturas 
maravilhosas. 
Tais impressões são comuns nas crônicas dos descobridores do 
Amazonas e revestem-se, ainda, dos antigos conceitos e idéias dos 
grandes viajantes e exploradores do oriente no f inal do período 
medieval. A essa visão idíl ica corresponde uma visão oposta, também 
apresentada pelos cronistas, que ressaltam o heroísmo de suas 
expedições, os terrores infundidos por uma natureza que então poderia 
esconder tramas infernais, onde em nome do Rei e da Cruz as vidas 
cristãs se perderiam numa luta desigual pela evangelização e 
civil ização dos povos. 
A decepção nas buscas de riquezas, as tragédias vividas pelos 
viajantes, as hostil idades ambientais e dif iculdades de toda ordem 
proporcionavam, então, uma nova leitura da Amazônia . Charles Marie 
de La Condamine ressalta que a desilusão pelas buscas infrutíferas 
feitas a partir de: “ tantos testemunhos, e respeitáveis todos, não 
permitem duvidar da verdade de tais fatos: contudo o rio, o lago, a mina 
de ouro, o marco e mesmo a Aldeia D’ouro atestada pelo depoimento de 
tantos, tudo desapareceu como um palácio encantado, e nos sítios 
indicados se perdeu até a memória. ” 
 
Exercícios. 
 
1. Dentre os primeiros exploradores do rio Amazonas não podemos 
citar: 
a) Francisco Orellana e Pedro de Úrsua. 
b) Lope de Aguirre e Pedro Teixeira. 
c) Francisco Pizarro e Hernan Cortez. 
d) Pedro de Úrsua e Lope de Aguirre. 
e) Francisco Orellana e Pedro Teixeira. 
 
2. A expedição chefiada por Pedro Teixeira tinha como objetivo: 
a) o apresamento de indígenas. 
b) a busca de metais preciosos. 
 
 
 
32 
c) responder a ameaça espanhola sobre os territórios coloniais 
portugueses. 
d) estabelecer missões jesuíticas no curso do alto Amazonas. 
e) demarcar as fronteiras coloniais. 
 
3. A expedição organizada em 1742 por Manuel Félix de Lima, que 
navegou os rios Guaporé e Madeira, pretendia: 
a) desrespeitar o Alvará Régio de 1733. 
b) expulsar os jesuítas das missões espanholas. 
c) fundar a missão de Santa Maria Madalena. 
d) atingir a cidade de Quito. 
e) comerciar com os espanhóis. 
 
4. A expedição chefiada por Charles Marie de La Condamine pretendia 
medir o arco do meridiano do equador, contudo teve como resultado 
divulgar na Europa um produto da f loresta, que viria a ser importante 
para a economia amazônica, esse produto era: 
a) a borracha. 
b) o guaraná. 
c) a quina. 
d) o ouro. 
e) o cupuaçu. 
 
5. No primeiro século de conquista predominaram entre os cronistas as 
visões espetaculares da Amazônia, baseados nos relatos dos indígenas 
e fundidos com crenças européias surgiram vários mitos sobre a região, 
dentre esses mitos não podemos citar: 
a) a existência terrena do Olimpo. 
b) um lugar chamado El Dorado. 
c) o paraíso cristão. 
d) a civil ização Inca. 
e) N.R.A. 
 
Os tratados de limites da Amazônia no período colonial. 
 
 A expansão marítima e comercial portuguesa, ocorrida durante o 
século XV, resultou na descoberta de novos caminhos para os distantes 
mercados asiáticos, fornecedores de produtos para os mercados 
europeus. Após o contorno da costa da África e o estabelecimento de 
feitorias ao longo do caminho marítimo para as Índias, Portugal e 
Espanha, as duas maiores potências navais da época, procuraram 
garantir a posse de territórios apenas supostos à oeste do Atlântico. 
 Antes mesmo do descobrimento da América (1492), Portugal e 
Espanha procuraram garantir direitos sobre possíveis territórios a 
serem descobertos naquele oceano. Já em 1479, as duas potências 
f irmaram o Tratado de Alcáçovas, confirmado pelo Papa Sisto IV (1414 -
1484) em 1481, estipulando que a Portugal pertenceriam todas as 
terras descobertas a oeste das ilhas Canárias para baixo, f icando a 
outra parte sob o domínio da Espanha. 
 
 
 
33 
 Em 1493, o Papa Alexandre VI (1431-1503) promulgou a Bula 
Inter Coetera, determinando que todas as terras descobertas a partir de 
cem léguas (660 Km) a oeste das ilhas Açores e Cabo Verde 
pertenceriam à Espanha. Embora não se soubesse à época, a Portugal 
corresponderia apenas um pequeno trecho do Brasil atual, a parte mais 
avançada, em direção ao litoral, de alguns dos atuais estados do 
nordeste. 
 Portugal, garantindo nesses tratados as terras que fossem 
descobertas a leste das linhas de fronteira teria o controle do comércio 
com o oriente, através da costa da África. Contudo, suspeitando que 
muito pouca terra teria de quinhão no Novo Mundo, procurou negociar 
outro tratado com a Espanha. Assim, em 1494, quando reinava em 
Portugal D. João II (1455-1495), foi f irmado o Tratado de Tordesilhas. 
Como os tratados e bulas anteriores, os limites eram f ixados não por 
marcos naturais, acidentes geográficos tais como rios e montanhas, e 
sim por uma linha geodésica, ou seja uma linha imaginária tirada a 
partir de uma paralela ou meridiano. Nesse tratado, o desconhecimento 
do território da América recém-descoberta: extensão, rios, e outras 
particularidades da área, que permitisse um acordo de divisão territorial 
mais preciso, conduziu à opção do estabelecimento da fronteira através 
do meridiano de Tordesilhas. 
Pertenceriam a Portugal todas as terras encontradas até a 
distância de 370 léguas (2.442 Km) a oeste de Cabo Verde, ponto 
através do qual passava o meridiano separando as duas possessões; 
todas as terras mais para oeste dessa linha pertenceriam à Espanha. A 
linha de Tordesilhas, no Brasil, passaria ao norte pelas proximidades 
de onde hoje é a cidade de Belém (Pará) e ao sul próxima à atual 
localidade de Laguna, ou seja, toda a Amazônia seria territó rio 
espanhol. Descoberto o Brasil em 1500, os portugueses começam a 
avançar pela via do Amazonas sobre terras situadas muito mais a oeste 
do meridiano de Tordesilhas. 
Em 11 de abril de 1713, a França assina com Portugal o primeiro 
tratado de Utrecht, confinando suas fronteiras ao norte da América do 
Sul ao Oiapoque passou o Amapá definit ivamente ao domínio 
português. A Espanha, por sua vez, assinou o mesmo tratado, o que 
representava uma vitória para Lisboa, na medida em que facil itava a 
penetração portuguesa além das terras à oeste de Tordesilhas pois 
garantia aos portugueses a foz do rio Amazonas, de fundamental 
importância para a penetração lusitana para o interior, rumo às 
possessões espanholas do norte. 
No entanto continuaram os conflitos em relação às regiões 
platinas. Em 06 de fevereiro de 1715 foi assinado o segundo tratado de 
Utrecht entre Portugal e Espanha que devolveu a Colônia de 
Sacramento ao domínio Português. Não se definiram, no entanto, as 
questões relativas ao extremo oeste, para onde conve rgiam novos 
grupos sertanistas, missionários, mineradores e bandeirantes. Esse 
novo foco de tensão expandia-se até às margens do rio Guaporé, 
impulsionado pelas descobertas de jazidas auríferas, lavras e 
faisqueiras. 
 
 
 
34 
Após prolongada discussão, foi f irmado, em 13 de janeiro de 
1750, o Tratado de Limites, conhecido como Tratado de Madrid, 
ratif icado em 08 de janeiro por Sua Majestade Católica e a 26 de 
janeiro pelo Fidelíssimo Monarca de Portugal Pelas cláusulas do 
Tratado f icava estabelecido que haveria paz permanente entre os 
súditos de ambos os reinos, mesmo que essa paz fosse violada na 
Península. Caberia à Espanha a posse da Colônia e a Portugal os Sete 
Povos, sendo transferidas para o lado castelhano as missões Guarani 
da região. 
Resultante do avançoportuguês para oeste de Tordesilhas, 
prevaleceu no tratado o princípio do Uti Possidetis de Facto , 
respeitando-se a posse mansa e pacíf ica ou a ocupação real, o que 
tornou possível f ixar a linha de fronteira, no tocante ao extremo oeste e 
norte, a partir dos cursos dos rios Guaporé e Mamoré, seguindo até o 
curso médio do Madeira, próximo à atual cidade de Humaitá, de onde 
continuaria através de uma linha geodésica até as nascentes do Javari 
e deste rio subiria até o Solimões e daí até a boca do Japurá, f icando 
as margens orientais sob o domínio da colônia portuguesa. 
Mapa 
 D. José I (1714-1777), sucessor de D. João V, signatário do 
Tratado de Madri, recusou-se a entregar a Colônia de Sacramento à 
Espanha, conforme previsto no referido tratado, e o fato de os 
Guaranis levantarem-se em rebelião, recusando-se a se passarem ao 
domínio português, resultou no acordo de El Pardo (1761), que 
suspendeu o Tratado de Madri. 
 O Tratado de Santo Idelfonso (1777) determinou novamente que a 
fronteira, tal como no Tratado de Madri, fosse pelos rios Guaporé e 
Mamoré até o ponto médio do Madeira, seguindo dali por uma linha até 
encontrar a margem oriental do Javarí sem que houvesse, no espaço de 
tempo entre os três tratados, qualquer conhecimento adicional a 
respeito das nascentes daquele rio. Quanto ao Madeira o tratado 
considerou que nascia da confluência do Guaporé com o Mamoré. 
 
Exercícios. 
 
1. Antes mesmo da chegada dos europeus à América, Portugal e 
Espanha trataram de dividir territórios apenas supostos a oeste do 
Atlântico. Esses acordos, baseados em bulas e tratados, 
caracterizavam-se: 
a) pela precisão e conhecimento prévio do território. 
b) pela equidade com que foram estabelecidos. 
c) por dividir a fronteira a partir de algumas léguas de acidentes 
geográficos conhecidos. 
d) por garantir as aspirações de outras potências ao Novo Mundo. 
e) N.R.A. 
 
2. O Tratado de Tordesilhas foi f irmado em: 
a) 1750. 
b) 1867. 
c) 1769. 
 
 
 
35 
d) 1494. 
e) 1500. 
 
3. Uma das conseqüências do Tratado de Utrecht foi: 
a) o Amapá passou definit ivamente a integrar o território português. 
b) estabeleceu-se definit ivamente as fronteiras entre Portugal e 
Espanha. 
c) permitiu a criação da capitania de São José do Rio Negro. 
d) pacif icou os conflitos de fronteiras no Mato Grosso. 
e) determinou definit ivamente a nascente do Madeira. 
 
4. O princípio do uti possidetis de facto, que norteou o Tratado de 
Madri, signif icava: 
a) que os territórios coloniais poderiam ser vendidos ou repartidos entre 
as potências. 
b) garantir aos contratantes os territórios já ocupados por seus colonos. 
c) dividir o território com base nos tratados anteriores. 
d) garantir o direito legal dos contratantes aos seus territórios. 
e) N.R.A. 
 
5. O tratado de Santo Idelfonso foi f irmado em: 
a) 1750. 
b) 1769. 
c) 1777. 
d) 1567. 
e) 1801. 
 
A Diplomacia ibérica e a conformação das fronteiras da Amazônia 
colonial. 
 
 As fortes tensões entre Portugal e Espanha nos séculos XVII -
XVIII vinculam-se às questões dinásticas, à ruptura da União Ibérica e, 
sobretudo, à disputa das regiões coloniais, como a costa setentrional 
da Ribeira do Prata, na região da colônia do Sacramento, onde a 
presença de fortif icação portuguesa era considerada uma ameaça e 
uma possibil idade muito concreta para a conquista da margem sul do 
rio da Prata. Ainda existiam, também, os desagrados motivados pela 
vigorosa expansão portuguesa no norte, na região do Amazonas e o 
processo de expansão lusa para as terras centrais na região do 
Guaporé. Não sem razão, a Espanha temia pelas suas posses e 
integridade dos vice-reinados do Alto Peru e Nova Granada (atual 
Colômbia). Essa disputa que tinha início no estuário do Prata, 
prolongava-se pelo rio Paraguai e atingia o Guaporé e, através deste, a 
bacia amazônica. Ao expandir -se para o oeste, os portugueses 
procuravam metais preciosos e, encontram, porém, outras riquezas 
naturais, algumas desconhecidas na Europa, iniciando o ciclo d as 
drogas do sertão, que f ixou desde o início o destino extrativista da 
região Amazônica. 
 
 
 
36 
Essas tensões territoriais eram intensif icadas, ainda, devido a 
questões européias, dentre as quais f igurava a sucessão do trono 
espanhol, que, com a morte do últ imo representante da Casa de Áustria 
na Espanha, Carlos II (1661-1700), passaria ao Bourbon Felipe V 
(1683-1746), neto do francês Luís XIV (1638-1715). A questão dinástica 
levou a um antagonismo entre Portugal e Espanha, pois o Estado 
Português apoiou as pretensões da Inglaterra de elevar o arquiduque 
Carlos da Áustria ao trono hispânico. As conseqüências imediatas 
desse fato tiveram ref lexos na América, gerando -se atritos fronteiriços 
nas regiões ao norte, com os territórios franceses e no centro sul, nas 
fronteiras com territórios castelhanos. Com o antigo apoio português à 
França, a tensão regional ganharia rumo diplomático, evitando -se o 
confronto bélico a partir de 1700, quando pelo Tratado Provisional 
determinou-se a demolição dos fortes de Araguari e Macapá, 
permitindo aos franceses o livre acesso à região. No ano de 1701, a 
Espanha assegurava a Portugal o direito às terras platinas da Colônia. 
No entanto, o desenrolar da Guerra da Sucessão Espanhola levaria 
Portugal a romper com os franceses e a operar em prol das pretensões 
inglesas, o que, de imediato, levou os castelhanos de Buenos Aires a 
invadir as terras da Colônia em 1705. 
As soluções das questões coloniais estariam agora ligadas à 
solução da sucessão dinástica na Europa. Reunidas as partes em 
questão na cidade de Utrecht, definiu -se como legítimas as pretensões 
de Felipe de Bourbon, que assumiu o trono espanhol com o nome de 
Felipe V. 
 Ao longo de mais de 200 anos após a descoberta do Brasil, os 
portugueses haviam penetrado na região Amazônica de t al maneira que 
conheciam-na melhor que os espanhóis. Os principais af luentes 
daquele rio: Tocantins, Tapajós, Madeira, Purus e Juruá tornaram -se, 
ainda que de forma incipiente, por eles conhecidos. 
A tensão torna a atingir níveis dramáticos em 1735, mas a 
intervenção diplomática francesa impede que as desavenças 
encaminhem-se para um confronto bélico, impondo em 1737 um 
armistício, que não impede a continuidade do avanço português pelo 
oeste, na Amazônia ou no sul, na região do Rio Grande. Portugal, 
objetivando dar continuidade ao processo expansionista, ordena então 
um detalhado inquérito sobre as regiões fronteiriças, suas 
possibil idades econômicas, formações geofísicas e possibil idades de 
defesa. 
É neste contexto que podemos situar a bandeira f luvial de 
Francisco Melo Palheta e a viagem de Félix de Lima. Portugal 
preocupava-se, de imediato, em consolidar suas posições e ampliar 
ainda mais o processo expansionista. As constantes expedições de 
sertanistas e bandeirantes, bem como a ininterrupta movimentação de 
grupos populacionais na busca incessante pelo ouro possibil itavam ao 
Estado Português uma ampliação substancialmente considerável de 
seus territórios na América do Sul. 
 Com a morte de Felipe V, em 09 de julho de 1746, a situação de 
Portugal sofre sensível melhoria no âmbito diplomático espanhol. 
Fernando VI (1713-1759), o novo rei, casara-se com a infanta 
 
 
 
37 
portuguesa D. Maria Bárbara de Bragança, f i lha do rei Dom João V 
(1689-1750), levando ao f im a hostil idade acentuada de Felipe V e 
Isabel de Farnésio contra a monarquia portuguesa. Nestas 
circunstâncias, agora favoráveis, surgiram as condições necessárias 
para um entendimento diplomático entre os dois países. As 
negociações foram encaminhadas por Dom José Carvajal y Lancaster e 
por Alexandre de Gusmão 1695-1753), que representavam 
respectivamente Espanha e Portugal 
 Ao mesmo tempo em que na Europa se discutiam as cláusulas do 
Tratado de Madrid, a Coroa Portuguesa, internamente, procedia as 
deliberações que levariam à criação da Capitaniade Mato Grosso em 
09 de maio de 1748, f icando os objetivos de defesa, estratégia militar e 
implementação do povoamento e da produção de ouro a cargo do 
primeiro governante, o Capitão-General D. Antônio Rolim de Moura. A 
preocupação das autoridades coloniais e metropolita nas na região 
detinha-se, portanto, em duas questões específ icas: garantir a posse 
através de uma efetiva polít ica de defesa e conter o avanço de grupos 
missionários castelhanos que tentassem se estabelecer nas margens 
portuguesas do Mamoré e do Guaporé. É portanto, neste contexto que 
se inicia o processo de colonização e povoamento de Mato Grosso, 
quando em 1751, D. Rolim de Moura, através de uma ordem régia inicia 
a construção de Vila Bela da Santíssima Trindade. 
 Apesar da desconfiança em relação à Espanha dessa forma 
manifestada por Portugal, o tratado de Madri permitiu um relativo alívio 
das tensões entre as metrópoles, bem como definiu condições para 
uma convivência parcialmente pacíf ica nas novas áreas fronteiriças. 
Um segundo aspeto que vale ressalta r é que o tratado substituiu uma 
fronteira anterior toda baseada em uma linha imaginária, por uma 
fronteira f ísica, o que revelava um conhecimento do terreno que 
possibil itava a demarcação através dos acidentes geográficos, rios, 
montanhas, etc., com exceção da linha do Madeira ao Javarí, indefinida 
até o início do século XX. Destaque-se ainda a importância dada pela 
historiograf ia brasileira a este tratado, no qual se delimitou, em grande 
parte, o território nacional tal como hoje existente. Contudo, cabe 
colocar em relevo algumas indefinições desses limites cujas 
conseqüências para a formação histórica de duas das atuais unidades 
da federação (Rondônia e Acre) são da maior importância. 
 A região entre o Madeira e o Javari era quase que totalmente 
desconhecida e havia o problema da desinteligência e ignorância em 
relação às nascentes desses rios. Até o século XIX não havia consenso 
sobre as nascentes do Madeira e, quanto às do Javari, não se sabia 
sequer onde f icavam. Alguns af irmavam que o Madeira nascia da 
confluência do Guaporé com o Mamoré, outros que a nascente era mais 
ao sul na confluência do Mamoré com o Beni. 
 Claro está que a aceitação de qualquer uma das posições faria 
com que necessariamente o ponto médio do Madeira f icasse mais ao 
norte ou mais ao sul. Um cronista que participou da expedição de 
Palheta, que partiu de Belém em novembro de 1722, retornando àquela 
cidade em setembro do ano seguinte, descreve que do Amazonas a 
 
 
 
38 
expedição entrou pelo rio Madeira e esclarece tratar -se do mesmo rio 
que os espanhóis denominavam Venes ou Beni. 
 Apesar do comum acordo entre as duas coroas quanto à nascente 
do Madeira, havia a possibil idade da revisão da fronteira. Em 1782, o 
jesuíta Karl Hirschko enviou através do embaixador espanhol em Viena 
um Memorial ao Rei de Espanha. O jesuíta, que havia sido encarregado 
pelo vice-rei espanhol D. José Manso de assistir junto aos portugueses 
a demarcação de fronteiras resultantes do Tratado de 1750, af irmou 
que o rio Mamoré era o mesmo que os portugueses chamavam de 
Madeira. Apesar da af irmação ser contrária ao acordado no tratado de 
1777, o memorial foi considerado pela corte espanhola como uma 
valiosa contribuição e enviado para a instrução dos membros da Junta 
Espanhola de Limites com Portugal 
 
Exercícios. 
 
1. A expedição de Francisco de Melo Palheta pode ser situada dentro 
do seguinte contexto: 
a) foi uma expedição de caráter comercial. 
b) foi uma expedição com objetivos exploratórios. 
c) visava consolidar e ampliar as conquistas portuguesas. 
d) t inha por objetivo o conhecimento das cachoeiras do rio Madeira. 
e) pretendia demarcar as fronteiras do norte do Brasil. 
 
2. A capitania do Mato Grosso foi criada em: 
a) 9 de maio de 1748. 
b) 10 de outubro de 1825. 
c) 9 de maio de 1848. 
d) 10 de outubro de 1725. 
e) 14 de janeiro de 1801. 
 
3. O primeiro Capitão-General da capitania do Mato Grosso foi: 
a) D. José de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres. 
b) D. Antônio Rolim de Moura. 
c) D. Ricardo Franco de Almeida Serra. 
d) D. Francisco de Melo Palheta. 
e) D. Espiridião Marques. 
 
4. A cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital de 
Mato Grosso, teve sua construção iniciada em: 
a) 1743. 
b) 1750. 
c) 1749. 
d) 1751. 
e) 1851. 
 
5. Podemos atribuir como elemento explicativo das dif iculdades de 
estabelecimento das fronteiras coloniais na Região Amazônica, durante 
o século XVIII, o seguinte fato: 
a) desinteresse de Espanha e Portugal pela região. 
 
 
 
39 
b) total ausência de tratados de limites entre Espanha e Portugal 
durante aquele século. 
c) oposição dos colonos ao estabelecimento de fronteiras. 
d) conhecimento impreciso do território. 
e) N.R.A. 
 
A colonização da Amazônia: missionários, europeus e militares em 
conflito. 
 
 No f inal do século XVI, europeus de origem holandesa, inglesa e 
francesa navegaram pelos rios da Amazônia, tentando f ixar núcleos de 
povoamento e colonização. Em 1559, os holandeses estabelecer am 
fortif icações no encontro das águas do Xingu com o Amazonas. Os 
fortes de Orange e Nassau serviam de base para o contato e comércio 
com indígenas, bem como para que se desse início ao plantio de cana -
de-açúcar e tabaco. Em 1610, o inglês Thomas Roe fund ou núcleos de 
colonização próximos à foz do Amazonas. Por volta de 1620, já se 
encontravam núcleos holandeses na ilha de Porcos, ingleses entre os 
rios Jari e Paru, holandeses nos rios Gurupá e Xingu e franceses no 
Maranhão. Tal situação motivou a intervenção dos portugueses que, 
entre 1612-1615, lutaram contra a presença francesa no Maranhão. 
Vitorioso sobre os franceses, Francisco Caldeira Castelo de 
Branco (m. em 1619) fundou, na baía de Guajará, em 12 de janeiro de 
1616, o forte do Presépio, a partir do qual surgiu a cidade de Santa 
Maria de Belém do Grão-Pará. Portugal, então sob o domínio da União 
Ibérica (1580-1640), atuou decisivamente na expulsão dos demais 
europeus do vale do Amazonas, cabendo especial destaque a atuação 
de Pedro Teixeira, que consolidou a presença portuguesa na região. 
 A partir de uma busca tão áspera mas com obstinada f ixação na 
idéia de grandes tesouros, as metrópoles ibéricas, agora unidas sob a 
dominação da Espanha, iniciam um grande esforço para manter a 
integridade de suas posses territoriais. As ameaças estrangeiras 
constituíram-se em importante motivo para que se ampliassem os 
esforços colonizadores. No entanto, a Espanha estava por demais 
envolvida com as colônias andinas, platinas e mexicanas. Caberia ao 
Estado Português a tarefa de resguardar, em benefício da União 
Ibérica, o vale do Amazonas. Pelo Tratado de Tordesilhas quase todo o 
conjunto da atual região norte do Brasil f icava sob o domínio espanhol. 
No entanto, a partir de meados do século XVII, os portugueses f ixar am 
aí sua presença. 
Com a criação do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1624 pelo 
rei Felipe IV (1605-1665), monarca da Espanha entre 1621 e 1665 que 
governou também Portugal entre 1621 e 1640 durante do Período da 
União Ibérica, foram lançadas as bases da conquista e povoamento da 
costa e do extremo norte pelos luso-brasileiros. Tendo em vista o 
aprofundamento da ocupação, a Coroa instituiu algumas capitanias na 
região como Cametá, Gurupará e Cabo do Norte. Em léguas de terras e 
costa, contava-se, por volta de 1637, a presença de 1400 a 1500 
homens brancos na região. 
 
 
 
40 
 Em seu relato (Novo descobrimento do grande rio Amazonas), o 
padre Cristóbal Acuña (1597-1675), cronista da viagem de Pedro 
Teixeira, fala dos grandes núcleos de colonizadores existentes na 
região: Belém, onde existia um grande castelo para sua defesa; 
Cametá: decadente e que em décadas passadas fora famosa por seus 
muitos moradores; Curupatuba e o forte do Desterro localizado na foz 
do rio Genipapo, com 30 soldados e algumas peçasde arti lharia . 
 A necessidade de imprimir à Amazônia os símbolos da 
colonização ibérica possibil itaram a expedição de Pedro Teixeira. As 
autoridades hispânicas em Quito e Lima, no entanto, não se sentiam 
tranqüilas com essa aventura portuguesa por uma tão vasta e rica 
região até então unicamente reservada à Espanha. 
A frágil aliança entre as duas potências estava próxima de seu 
f im. Mesmo com a União Ibérica, Portugal e Espanha mantiveram -se 
sempre como nações distintas. Nesse momento (1638), embora pelo 
Tratado de Tordesilhas a Amazônia fosse espanhola, os portugueses 
expulsaram os estrangeiros que haviam se instalado com sucesso em 
terras coloniais espanholas. Os relatos, tanto dos cronistas Rojas e 
Acuña, quanto os do próprio Pedro Teixeira deixaram clara a 
necessidade de se iniciar imediatamente o aproveitamento colonial da 
região, inserindo-a no contexto de uma economia mercantil ista, uma 
vez que suas terras eram férteis, ricas em recursos minerais, caça, 
pesca e estavam densamente povoadas por indígenas que, a part ir de 
um trabalho missionário, poderiam vir a ser ef icientes vassalos de Sua 
Majestade. 
 Estabelecidos os marcos da posse portuguesa no Amazonas por 
Pedro Teixeira, a exploração e ocupação continuou pelos séculos XVII 
e XVIII, cabendo aos missionários jesu ítas, mercedários, carmelitas e 
franciscanos a função de catequese, pacif icação e f ixação do indígena 
em aldeamentos. A atuação dessas ordens e congregações religiosas 
foi regida pelo Regimento das Missões, datado de 1686. Esse 
instrumento jurídico buscava estabelecer as bases de uma atuação 
catequética harmonizada com o processo colonizador, f ixando o caráter 
interdependente das duas atuações. Reinando em Portugal Dom Pedro 
II (1667-1706), a atuação dos missionários foi extremamente 
favorecida. 
Pela Carta Régia de 19 de março de 1693, o território da 
Amazônia foi dividido entre as diversas instituições religiosas que 
atuavam na região. Coube aos jesuítas a catequese no distrito sul do 
rio Amazonas até os limites com as colônias espanholas, incluindo -se o 
Vale do Guaporé; ainda atuariam no vale do rio Negro e em todo o 
trecho entre o Urubu e o Negro. Essas determinações foram alteradas 
pela Carta Régia de 29 de novembro de 1694, que reformava a anterior 
e estabelecia como área de catequese dos carmelitas o r io Negro, 
entregando o Urubu aos mercedários e a margem esquerda do 
Amazonas até o Urubu aos religiosos da Piedade e de Santo Antônio. 
 
Exercícios. 
 
 
 
 
41 
1. Mesmo antes dos portugueses outros povos se estabeleceram no rio 
Amazonas, entre eles: 
a) os ingleses que se estabeleceram no encontro das águas do Xingu 
com o Amazonas, em 1559. 
b) os franceses que, na Amazônia, tentaram criar a França Antártida, 
em 1517. 
c) os holandeses que se estabeleceram no encontro das águas do 
Xingu com o Amazonas, em 1559. 
d) os espanhóis que criaram fortif icação no baixo Amazonas, a partir de 
1564. 
e) N.R.A. 
 
2. O primeiro estabelecimento português no Amazonas foi: 
a) o forte Príncipe da Beira, em 1763. 
b) o forte de Coímbra, em 1654. 
c) o forte de Natal, em 1563. 
d) o forte do Presépio, em 1616. 
e) N.R.A. 
 
3. O Estado do Maranhão e Grão-Pará foi criado em: 
a) 1623. 
b) 1624. 
c) 1625. 
d) 1627. 
e) 1626. 
 
4. As ordens religiosas que atuavam na Amazônia colonial eram: 
a) l ivres para agirem. 
b) t inham sua atuação regulada pelo estado português. 
c) vinculadas e subordinadas diretamente ao papa. 
d) submetida aos conselhos coloniais. 
e) N.R.A. 
 
5. Quanto a atuação das ordens religiosas, a Carta Régia de 1693 
determinava: 
a) a determinação de áreas específ icas de catequese para cada ordem. 
b) a expulsão dos jesuítas da Amazônia. 
c) o restabelecimento do direito de padroado. 
d) a criação do conselho jesuítico. 
e) a predominância dos mercedários. 
 
A colonização da região do Madeira/Guaporé. 
 
A f ixação de núcleos de povoamento coloniais iniciou -se no 
Madeira com o estabelecimento de missões religiosas, para a 
catequese e pacif icação de indígenas pelos jesuítas. Dentre os vultos 
da Companhia de Jesus, na região do Madeira, destaca -se o padre 
João de Sampaio que, em 1728, fundou entre a cachoeira de Santo 
Antônio e a foz do Jamarí um núcleo de aldeamento, que foi 
 
 
 
42 
impiedosamente massacrado pelos Mura, considerados então o terror 
daquele rio. No entanto a presença jesuítica no Vale do Madeira é 
mais antiga. Entre 1669-1672 os padres Manoel Pires e Garzoni 
fundaram uma aldeia Tupinambarana na foz do Madeira, dando origem 
à localidade de Parintins. Na medida em que a catequese ia se 
dinamizando ao longo do rio, as possibil idades de desenvolvimento de 
atividades econômicas iam se apresentando. A região era riquíssima 
em drogas do sertão e sobretudo em cacau. 
 A penetração dos sertanistas, coletores e bandeirantes pelos 
vales do Madeira e Guaporé foi marcada pela forte hostil idade dos 
Mura e dos Torá habitantes da Mundurucânia. Coube ao Capitão -mor 
do Pará, João de Barros Guerra, o combate aos Torá, que foram se 
estabelecer na desembocadura do Mayci. No entanto, dif iculdades de 
toda ordem ainda inviabilizariam a ocupação colonial da região do 
Madeira/Guaporé, de onde chegavam notícias da presença de povos 
estrangeiros como os castelhanos, que fundavam missões 
principalmente ao longo do Guaporé. Por esse motivo, organizou-se no 
Pará uma bandeira f luvial que deveria percorrer todo o Vale do Madeira 
até suas vertentes. O comando dessa expedição foi entregue a 
Francisco de Mello Palheta, então Sargento -Mor, que partiu de Belém 
em 11 de novembro de 1722 e atingiu as missões espanholas de Santa 
Cruz de Cajubava, no Mamoré e São Miguel, no Guaporé. 
A expedição de Palheta evidenciava o avanço das missões 
jesuíticas castelhanas ao longo do Guaporé, já muito próximas às 
minas de Mato Grosso, o que representava um grande mal-estar para 
as autoridades coloniais lusitanas. O contrabando do ouro das minas 
de Mato Grosso era uma das possibil idades mais evidentes. Por outro 
lado, ao avançar pelos vales do Guaporé, Mamoré e Madeira, os 
castelhanos ameaçavam a própria soberania e o controle português 
sobre a bacia amazônica. Diante de tais possibil idades a Coroa 
Portuguesa tomou a drástica medida de proibir completamente a 
navegação pelo Madeira, através do Alvará de 27 de outubro de 1733. 
Nessa época, projetos de uma intensa colonização na região 
ainda não eram cogitados. Marcada pela insalubridade, pela hostil idade 
dos Mura e pela dif iculdade de navegação, devido às inúmeras 
cachoeiras, a região permaneceu longo tempo como um vazio 
demográfico colonial, ocasionalmente visitado por coletores e 
compradores das “drogas do sertão” além de sertanistas e 
bandeirantes que, em busca de riquezas naturais, complementavam a 
renda de suas empreitadas com a preação e venda de indígenas. 
Alguns núcleos de colonização de iniciativa do governo colonial e 
mesmo os destacamentos militares e f iscais foram criados no século 
XVIII. O primeiro governador do Mato Grosso, o Conde D. Antônio 
Rolim de Moura, ordenou ao juiz de fora Teotônio Gusmão, em 1759, a 
fundação do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto 
Grande do Rio Madeira, na cachoeira que hoje leva o seu nome. Já no 
f inal do século, o governo colonial elaborou um plano com o intuito de 
facil itar a navegação no rio Madeira, manter maior controle sobre o 
recolhimento dos quintos (impostos) devidos à coroa e defesa contra os 
ataques dos indígenas. A execução desse plano fez surgir no rio 
 
 
 
43 
Madeira, na últ ima década do século XVIII, os povoados de São João 
do Crato e São José do Montenegro, este últ imo um posto militar 
avançado do Forte Príncipe da Beira no salto do Ribeirão povoado por 
índios aldeados e escravos da Coroa. Esse destacamento, situado no 
trecho encachoeirado tinha por objetivo principal o apoio à navegação 
do Madeira e recolhimento tambémdos quintos do ouro devido à Coroa. 
Coube ao governador Luiz Pinto Souza Coutinho a fundação, no rio 
Madeira, do povoado do Balsemão, em 1768. 
A descoberta do ouro no Vale do Guaporé em 1734, pelos irmãos 
Arthur e Fernando Paes Barros, atraiu milhares de aventureiros para a 
região levando a Coroa Portuguesa a criar, em 1748, a capitania de 
Mato Grosso e Cuiabá, que abrangia a maior parte das terras que hoje 
integram o Estado de Rondônia. Em 1743, os jesuítas espanhóis em 
uma ousada investida contra a margem direita do Guaporé, nas 
proximidades da confluência com o rio São Miguel, fundaram Santa 
Rosa, uma missão que ref letia o caráter contra -ofensivo e 
expansionista da colônia espanhola. 
Coube ao padre Athanásio Theodoro iniciar as atividades 
catequéticas, apoiado por índios já pertencentes às missões de Mojos 
e Chiquitos. O local de Santa Rosa f icava a aproximadamente 100 Km 
acima da confluência do Guaporé com o Mamoré. Essa missão 
sobreviveu em mãos dos padres castelhanos até 1754, quando então 
passou ao domínio português, sendo os índios transferidos para uma 
nova missão na margem esquerda, a poucos quilômetros de distância 
da que se chamou Santa Rosa Velha. Duas outras missões foram 
fundadas na margem direita do Guaporé pelos jesuítas de Castela: São 
Miguel e São Simão. A preocupação dos portugueses era visível, pois a 
ocupação da margem oriental representava uma grave ofensiva rumo às 
minas de Mato Grosso. 
 Os receios das autoridades coloniais portuguesas tinham 
fundamento, o próprio mapa que haveria de servir para a delimita ção 
do Tratado de Madrid situava Santa Rosa na margem portuguesa do 
Guaporé. Ademais, o próprio Vice Rei do Peru, o marquês de 
Castelfuerte, havia concedido aos Mojo, em 1724, armas de fogo após 
a visita de Francisco Palheta à região. O temor português se 
completava com a confirmação da presença de índios das províncias 
de Mojos e Chiquitos nas margens do baixo Madeira, a 
aproximadamente 100 léguas das missões onde iam à busca de cacau 
e drogas do sertão. 
 Santa Rosa, São Miguel e São Simão revelavam em seu trabalho 
catequético a pretensão hispânica à margem direita do Guaporé, uma 
vez que, embora não houvesse ainda um efetivo povoamento português 
na região, entendia-se que o território que se ia ocupando pertencia à 
colônia portuguesa, mesmo que ainda não se houvesse assinado o 
Tratado de Madrid. A presença dos padres jesuítas espanhóis era vista 
como uma violação à soberania portuguesa, fonte de tensões e 
animosidades e sua expulsão deveria ser completada com a f ixação de 
missionários portugueses capazes de aglutinar indígenas em missões 
pertencentes ao governo português. Tornava-se necessária a 
catequese portuguesa, o povoamento das regiões fronteiriças e a 
 
 
 
44 
expulsão dos espanhóis da margem direita do Guaporé. Para garantir 
seu domínio sobre a região foi criado o distrito de Pouso Alegre, pela 
Provisão de 1743 que, anulada pela Provisão Régia de 1746, elevava 
Pouso Alegre à categoria de município com o nome de Vila Bela da 
Santíssima Trindade, embora o ato nunca tivesse se concretizado até a 
chegada de Rolim de Moura. 
Por outro lado, o Senado da Câmara de Mato Grosso instava a 
requerer à Coroa Portuguesa o envio de missionários jesuítas para a 
região, a f im de se estabelecer uma contra ofensiva aos planos dos 
jesuítas espanhóis. Dessa forma, foram mandados, juntamente com D. 
Rolim de Moura, dois sacerdotes inacianos, f icando um deles, o padre 
Estevão de Castro, em Santo Antônio do Madeira, em 1751 e outro 
dirigindo-se para o Guaporé, com o Capitão-General. Esse jesuíta 
chamado padre Agostinho Lourenço foi designado por Rolim de Moura 
para fundar uma missão no local denominado Casa Redonda, no local 
da desembocadura do Corumbiara com o Guaporé, em terras da 
margem espanhola. 
Essa missão foi transferida para a margem direita , situando -se 
próxima ao rio Mequens, recebendo o nome de São José, mas nunca 
chegou a prosperar, atacada por febres e epidemias que 
constantemente dizimavam sua população. No entanto, essa foi a única 
missão portuguesa no Guaporé, embora o próprio Estado reconhecesse 
sua valia e af irmasse enfaticamente o desejo de que fossem fundadas 
novas aldeias para a catequese do gentio e f ixação de povoados na 
fronteira. 
 
Exercícios. 
 
1. As primeiras tentativas de estabelecimento de missões religiosas no 
rio Madeira couberam aos padres da ordem: 
a) de Nossa Senhora da Piedade. 
b) de Nossa Senhora das Mercês. 
c) de Santo Antônio. 
d) da Companhia de Jesus. 
e) da Ordem de São Francisco. 
 
2. O aldeamento jesuítico fundado em f inais do século XVII na ilha de 
Tupinambarana representou o marco inicial da colonização do Madeira. 
Naquela ilha viria a surgir a atual localidade de: 
a) Borba. 
b) Humaitá. 
c) Manicoré. 
d) Parintins. 
e) Calama. 
 
3. A fundação do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto 
Grande do Rio Madeira, em 1759, foi ordenada por: 
a) Teotônio de Gusmão. 
b) Alexandre de Gusmão. 
c) Francisco de Melo Palheta. 
 
 
 
45 
d) Manuel Pires. 
e) Antônio Rolim de Moura. 
 
4. O estabelecimento dos núcleos coloniais de São João do Crato e 
São José do Montenegro, no f inal do século XVIII, representou: 
a) a tentativa dos colonos de conquistarem o Madeira por iniciativa 
própria. 
b) o interesse da coroa em manter maior controle sobre o recolhimento 
de impostos. 
c) o sucesso da iniciativa missionária na região do Madeira. 
d) um perigoso precedente de estabelecimento colonial espanhol na 
América Portuguesa. 
e) N.R.A. 
 
5. Na margem direita do Guaporé foram criadas várias missões: 
a) espanholas, como a de Santo Antônio. 
b) portuguesas, como a de São Miguel. 
c) espanholas, como a de São Simão. 
d) espanholas, como a de Santa Rosa. 
e) N.R.A. 
 
A defesa das fronteiras: destacamentos e fortificações. 
 
 O litígio entre as metrópoles ibéricas ref letia -se no cotidiano das 
regiões fronteiriças de suas colônias na América do Sul. Esses 
conflitos ainda demorariam muito a ser resolvidos, apesar da 
assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha em 1750. 
Na região do rio Guaporé, iriam perdurar até meados da década de 
1770, levando os então governadores da capitania de Mato Grosso a 
uma ocupação militar das áreas fronteiriças. 
Para tornar mais ef iciente a guarda das fronteiras num momento 
de graves tensões entre Espanha e Portugal Capitão-General Rolim de 
Moura criou uma Companhia de Dragões e fundou a Guarda de Santa 
Rosa Velha, no Guaporé Rondoniense, próximo à barra do Mamoré, no 
“f lanco da cachoeira que nessa paragem encrespava as águas do 
Guaporé, apenas deixando estreito canal, encostado à nossa 
margem.”. A guarnição inicial contava com um alferes, dois cabos de 
esquadra, vinte e três soldados, dez soldados pedestres, um cirurgião, 
quatro agregados e dezoito escravos. Em seus arredores 
estabeleceram-se índios em um total de aproximadamente setenta, 
procedentes das missões espanholas de Santa Rosa e São Miguel. 
Essa povoação foi transformada, em 1760, no Forte de Nossa Senhora 
da Conceição e Rolim de Moura procedeu ainda a criação de uma tropa 
auxiliar à guarda fronteiriça, composta por sertanistas, mestiços, 
negros e escravos. 
O Forte da Conceição foi remodelado em 1765-66, passando a 
contar com um aumento da guarda a partir da chegada de mais cem 
soldados, vindos do Pará e melhoria dos armamentos que passaram a 
incluir mais seis canhões. Essas reformas se realizaram durante o 
 
 
 
46 
governo do segundo Capitão-General, João Pedro da Câmara, que 
durou de 1765 a 1768, quando assumiu o poder Dom Luís Pinto de 
Souza Coutinho (1768-1771), que fundou o povoado de Balsemão na 
cachoeira do Girau, no rio Madeira, reunindo um total de 151 pessoas 
ali residentes. Esse governador mudou o nome do forte para Bragança 
e ordenou a abertura de uma estrada que estabeleceria uma ligação 
terrestre com Vila Bela com um percursototal de 185 léguas. Garantia-
se, dessa forma, o abastecimento do Forte de Bragança mesmo em 
situações em que a navegação pelo Guaporé fosse inviável devido aos 
constantes conflitos com a colônia castelhana. Souza Coutinho criou 
também a Legião dos Auxiliares ou Legião de Cuiabá, composta por um 
Estado-Maior de 6 militares, 2 companhias de granadeiros de 160 
homens, 4 companhias de fuzileiros de 280 homens, 1 companhia de 
caçadores de 50 homens e 1 companhia de cavaleiros de 50 homens. 
A consolidação da polít ica de guarda e defesa das fronteiras do 
Vale do Guaporé se daria com o projeto do Marquês de Pombal de 
erigir em algum ponto do Guaporé uma grande fortif icação. A 
manutenção das posses territoriais, a qualquer custo, deveria nortear a 
ação do quarto Capitão-General, Dom Luís de Albuquerque de Melo 
Pereira e Cárceres, que governou a capitania de Mato Grosso entre 
1772 e 1789, construindo o Real Forte Príncipe da Beira, cujas obras 
foram iniciadas em 1776 e dadas por concluídas em 1783, embora o 
forte nunca tenha sido realmente terminado. 
As plantas da fortif icação foram elaboradas por Domingos 
Sambucetti, um dos engenheiros contratados em Portugal para a 
demarcação dos limites norte e oeste da colônia portuguesa. Aprovada 
a obra pela corte de Lisboa, deu-se o início da construção a partir da 
escolha de um local situado às margens do Guaporé, na mesma 
localidade do antigo Forte de Bragança, que fora destruído por uma 
enchente, em 1771. A localização exata foi 12º25’47” de latitude sul e 
21º17’17” longitude oeste em uma área de terras f irmes, l ivre do 
alcance das enchentes e no dizer do Engenheiro e Sargento -Mor 
Ricardo Franco de Almeida Serra “estratégico por excelência .” 
 
Mapa da Cadeia de Fortif icações das Fronteiras Norte e Oeste da 
Colônia Brasileira. 
 
A construção apresentava um formato quadrangular com 119, 5 m 
de lado, circundada por um foço de 2 m de profundidade e em cada 
ângulo um baluarte com guarita e 14 canhoneiras. Sua construção foi 
marcada pela falta de material, trabalhadores qualif icados, epidemias e 
fomes. O próprio autor do projeto morreu de malária em 1780 e foi 
substituído pelo Sargento-Mor Ricardo Franco de Almeida Serra, que 
mais, tarde construiu também o Forte de Coimbra. 
José Pinheiro de Lacerda, em carta datada de 1780 e endereçada 
ao governador Luís de Albuquerque informava que trabalhavam nas 
obras 378 operários, sendo 157 trabalhadores livres, 67 escravos da 
coroa e 154 escravos de particulares. O forte era habitado por um total 
de 795 pessoas entre homens e mulheres. Se considerarmos este to tal 
e o compararmos ao número de trabalhadores fornecido pela carta de 
 
 
 
47 
José Pinheiro Lacerda, verif icaremos que quase 50% do total dos 
habitantes esteve envolvido com os trabalhos de construção. Ao seu 
redor, desenvolveu-se uma área de cultivo de frutos, mandioca e 
criação de gado bovino, que nunca chegou a prosperar. 
As enormes extensões de Mato Grosso passariam 
progressivamente a contar com um sistema de guarda e defesa das 
fronteiras que atingiria seu ponto de maior desenvolvimento com a 
construção das grandes fortif icações como o Príncipe da Beira no 
Guaporé e o forte de Coimbra às margens do Paraguai, para onde se 
deslocaram as tensões fronteiriças no século XIX. Por outro lado o 
recurso para se atrair povoadores ligava-se aos achados auríferos, 
incentivos f iscais e ao perdão de dívidas e crimes e comutação de 
sentenças capitais em obrigação de residência nas minas de Mato 
Grosso. 
Além de contribuir com a própria participação, a população 
deveria fornecer armas, munições, suprimentos de víveres, escravos , 
animais de carga, tração e montaria, bem como colaborar com o 
pagamento de tributos extraordinários, destinados à manutenção do 
empreendimento militar. As tensões fronteiriças prolongam -se por toda 
a segunda metade do século XVIII no Vale do Guaporé, aci rrando-se a 
partir da anulação do Tratado de Madrid em 1761. No entanto, em Mato 
Grosso, fazia valer pelas armas, pela colonização e pela formação de 
contingentes militares a soberania portuguesa sobre a margem direita 
do Guaporé. 
 
Exercícios. 
 
1. A insegurança de Portugal e Espanha quan to à manutenção de seus 
territórios resultou em iniciativas de defesa fronteiriça, entre elas, uma 
no rio Guaporé próximo à barra do Mamoré estabelecida por ordem de 
Rolim de Moura, foi denominada: 
a) Forte do Presépio. 
b) Forte Príncipe da Beira. 
c) Guarda de Santa Rosa Velha. 
d) Guarda de São Simão. 
e) N.R.A. 
 
Capitães Generais do Mato Grosso 
Nome Posse 
Antônio Rolim de Moura Tavares, 1751. 
João Pedro da Câmara, 1765. 
Luiz Pinto de Souza Coutinho, 1769. 
Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres, 1772. 
João de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres, 1789. 
Caetano Pinto de Miranda Montenegro, 1796. 
Manuel Carlos de Abreu e Menezes, 1804. 
João Carlos D’Oeynhausen Gravenburg, 1806. 
Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, 1819. 
 
 
 
48 
2. O Real Forte Príncipe da Beira foi construído durante o governo do 
Capitão-General: 
a) Antônio Rolim de Moura. 
b) Luiz de Souza Coutinho. 
c) Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. 
d) João Pedro da Câmara. 
e) N.R.A. 
 
3. Para construir o Real Forte Príncipe da Beira, o governo português 
contou: 
a) apenas com recursos próprios. 
b) o forte foi construído pela população guaporeana. 
c) com o auxílio espanhol. 
d) a população colaborou fornecendo trabalhadores, gêneros e pagando 
tributos extraordinários. 
e) N.R.A. 
 
4. A polít ica de atração de colonos para a fronteira guaporeana visava 
melhor garantir aquela fronteira. Dentre os elementos dessa polít ica 
podemos assinalar: 
a) um bem montado plano de colonização para o setor agropecuário. 
b) incentivos f iscais e perdão de dívidas e crimes àqueles que 
optassem por f ixar-se na região. 
c) o f inanciamento do estado à colonização. 
d) o investimento substancial na migração de elementos metropolitanos 
para a região. 
e) N.R.A. 
 
5. A construção do Forte Príncipe da Beira fazia parte de um amplo 
projeto de defesa de fronteiras elaborado pelo ministro português: 
a) Marquês de Pombal. 
b) Luiz Melo Pereira e Cáceres. 
c) Souza Coutinho. 
d) Almeida Serra. 
e) Domingos Sambucetti. 
 
Em resumo. 
 
 A Amazônia compreende terras do Brasil, Bolívia, Colômbia, 
Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela 
 No Brasil a Amazônia compreende s terras do Pará, Maranhão, 
Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amapá e 
Roraima 
 Durante o século XVI vários europeus exploraram o rio Amazonas, 
entre eles Francisco Orellana, Pedro de Úrsua, Lope de Aguirre, 
Pedro Teixeira. 
 Atribui-se a primeira exploração do rio Madeira ao bandeirante 
Raposo Tavares que partindo de São Paulo atingiu Belém em 1650. 
 
 
 
49 
Contudo, outras expedições exploraram posteriormente aquele ri o: 
Francisco de Melo Palheta em 1723 e Manuel Félix de Lima em 1742. 
 As crônicas das primeiras expedições ao Amazonas estão carregadas 
de visões imaginárias e fantasias a respeito do meio natural, as 
plantas, os animais, indígenas e seus mitos muitos deles misturados 
às concepções do imaginário europeu pelo próprios cronistas. 
 O estabelecimento dos limites territoriais entre a Espanha e Portugal 
foi um processo longo e marcado por questões dinásticas que 
afetaram as potências ibéricas, dif icultando os trata dos. 
 Na Amazônia esses tratados eram dif icultados ainda pelo 
desconhecimento do território, e pelo expansionismo português, o 
que conduzia a freqüentes correções dos acordos. 
 Portugal, desde o século XVII iniciou por estabelecer uma cadeia de 
fortif icações na fronteira norte e oeste, concluída no século XVIII 
esses fortes, como o Príncipe da Beira, o Forte de Coímbra e o Forte 
de Macapá, formaram o cinturão defensivo interno da colônia. 
 A descobertado ouro no Mato Grosso e do cacau nativo na Amazônia 
iniciaram um período de agressiva ocupação daqueles territórios, 
vindo de encontro aos interesses expansionista da coroa portuguesa. 
 No rio Madeira, a primeira tentativa de estabelecimento de um núcleo 
de povoamento colonial data do século XVII, com a fundação de uma 
missão na foz do rio Madeira, na ilha de Tupinambarana. 
Posteriormente outras tentativas foram feitas, inclusive na região do 
alto Madeira obtendo pouco sucesso. Contudo, no f inal do século 
XVIII algumas dessas povoações, poucas, conseguiram subsist ir no 
curso daquele rio. 
 
 
 
 
50 
 
Capítulo 3 
O mercantilismo e as políticas de colonização dos vales do Madeira 
e do Guaporé. 
 
A colonização do Vale do Guaporé e a fundação de Vila Bela da 
Santíssima Trindade. 
 
A conquista e posse da região guaporeana, uma terra limítrofe 
entre a planície e o planalto, entre a f loresta e o cerrado, entre a 
colônia portuguesa e a espanhola, divisora das grandes bacias 
hidrográf icas Platina e Amazônica, iniciou -se anteriormente à 
assinatura do Tratado de Madrid, num vasto empenho d e missionários, 
sertanistas, mineradores e aventureiros, procedentes tanto do norte, da 
cidade de Belém, quanto da capitania de São Paulo. 
Nessas paragens remotas, verdadeira periferia dos núcleos 
coloniais, as alternativas para enriquecimento situavam -se entre os 
atrativos das lavras e faisqueiras e a preação de índios. Nunca se 
observou uma preocupação sistematizada em dotar a região de uma 
forte produção agrícola, capaz de assentar definit ivamente a população 
e criar condições de reprodução dos modelos c lássicos de plantation 
mercantil ista como no Nordeste ou no Sudeste. A uma produção de 
riquezas sempre instável e incerta correspondeu um modelo de 
colonização f lutuante e incerto, direcionado sempre pelo fator de 
descoberta de novas lavras. 
Sendo essa uma região de acirrada disputa, o recurso encontrado 
pelo Estado Português foi a implantação de um núcleo urbano 
administrativo, formado a partir da criação da Capitania de Mato 
Grosso, bem como a instalação de um aparato militar capaz de inibir as 
pretensões espanholas de violação às cláusulas do Tratado de 1750. 
Desmembrada da Capitania de São Paulo pelo Alvará Régio de 09 de 
maio de 1748, f icava criada a Capitania de Mato Grosso, num momento 
em que as minas de Cuiabá passavam por uma grave decadência em 
sua produção, o que contribuiu para uma migração maciça dos 
habitantes de Bom Jesus de Cuiabá e arredores, rumo às minas de 
Mato Grosso e a nova vila que seria fundada com a chegada de D. 
Antônio Rolim de Moura. 
A posse definit iva da região só seria garantida a partir da 
efetivação do princípio defendido por Alexandre de Gusmão, o uti 
possidetis . (A posse da terra é garantida a quem a ocupa). Ao se criar 
a Capitania de Mato Grosso, t inha-se a clara necessidade de se 
aparelhar as fronteiras com recursos humanos , bélicos e uma rota 
comercial. A fronteira oeste vivia permanentemente em estado de 
tensão, pois de sua defesa dependia a garantia de integridade das 
minas de Cuiabá, das Minas Gerais e da própria calha amazônica. 
Partindo dessa premissa, foram desenvolvidas polít icas de 
colonização, defesa e fortif icações. 
Para dar início a uma efetiva polít ica de colonização, o Estado 
Português determinou a fundação de uma vila, capital e sede 
 
 
 
51 
administrativa da Capitania do Mato Grosso, que deveria estar situada 
às margens do rio Guaporé. As minas de Mato Grosso, então no auge 
de sua produção, já haviam levado os mineradores ao estabelecimento 
de alguns núcleos colonizadores como São Francisco Xavier, Jauru, 
Santa Ana e Pouso Alegre. 
Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada pelo primeiro 
governador, Dom Antônio Rolim de Moura, atendia aos imperativos 
polít icos-administrativos do Estado Português, uma vez que plasmava 
definit ivamente a presença colonial portuguesa na região, inibindo as 
expectativas de avanço dos vizinhos castelhanos. A nova capital 
tornava-se, desde a sua fundação, um ponto visceral na polít ica 
fronteiriça colonial de Portugal e Espanha. Era o posto mais avançado 
no conjunto do território colonial português. Sua posição estratégica 
garantia-lhe fácil acesso à bacia amazônica através do Guaporé e, por 
essa via, l igava-se as minas do Mato Grosso ao Grão-Pará e ao Porto 
de Belém. Facilitado também ficaria o acesso à bacia platina pois 
através do trajeto Vila Bela - Vila Maria (Cárceres) ou Vila Bela -
Cuiabá, estabelecia-se ligação com os rios Paraguai -Cuiabá-Taquari-
Pardo-Paraná-Tietê, atingindo-se São Paulo (embora o trajeto fosse 
mais dif ícil do que o do Guaporé-Amazonas). 
Em todo esse território vibravam as tensões fronteiriças entre as 
colônias portuguesa e espanhola. Embora revestida de grande 
importância polít ica, a criação de Vila Bela representa também um ato 
arrojado de dimensões econômicas, pois estabelece um controle 
definit ivo sobre a produção de ouro e diamantes das minas de Mato 
Grosso, inibindo o contrabando e f ixando uma rota comercial de 
grandes dimensões através do Madeira e Guaporé, a partir da 
instalação da Companhia de Comércio do Grão -Pará, bem como 
garante a regularidade no abastecimento de escravos para as minas de 
Mato Grosso. 
Em janeiro de 1752, D. Rolim de Moura chegou ao Guaporé e 
procedeu o reconhecimento dos sítios do local, buscando o melhor 
lugar para a fundação da Vila. Em suas correspondências, o 
governador Rolim de Moura apresenta as vantagens do sítio de Pouso 
Alegre, uma região de águas salobras e abundantes, com muita lenha e 
pasto para o gado, terra férti l e de muita madeira de boa qualidade, 
ótima posição estratégica, que facil itaria a defesa militar em caso de 
ataques, abundância de peixe e caça e uma topografia plana, além d e 
possuir um clima mais quente e constante do que os das chapadas, 
que eram mais frios e propensos a pleurisias e febres catarrais e, por 
f im, a grande proximidade com os sítios auríferos, lavras e faisqueiras. 
Contudo, o governador desconhecia as condições ambientais da 
região. Mesmo tendo sido informado sobre as inundações pelos 
habitantes do Vale do Guaporé, o Capitão -General obstinado e 
insolentemente manteve sua decisão de fundar a vila em uma área de 
terras baixas, infestadas de malária e continuamente sujeita a 
inundações e com um lençol freático af lorante. A nova vila foi erigida 
em 19 de março de 1752, mudando-se no ano seguinte após a violenta 
enchente que destruiu as construções. Contudo, mesmo com a 
 
 
 
52 
mudança para terras um pouco mais altas, as enchentes ainda 
chegavam a algumas de sua ruas. 
Os edif ícios públicos tinham uma construção mais elaborada. 
Neles residia o poder e a grandeza desse Estado que ampliava seu 
domínio e garantia a seus súditos a ordem, a prosperidade e a lei, nas 
terras recentemente conquistadas. Todo o material vinha de fora, 
desde a cal e a pedra canga, até as telhas e material para 
revestimentos. As obras de construção foram interrompidas diversas 
vezes devido a epidemias, falta de materiais que demoravam a chegar, 
falta de ouro na Provedoria da Capitania, carência de mão -de-obra e 
dif iculdades no abastecimento. 
Alguns problemas recebiam socorro de forma mais rápida, como 
a transferência de recursos (ouro) da Provedoria de Goiás para a de 
Mato Grosso, enviando nos primeiros anos de fundação de Vila Bela 
entre 6 e 10 arrobas de ouro/ano para dar continuidade às obras da 
fronteira. As obras públicas eram custeadas pelo governo que também 
concedia subsídios aos particulares, isentando -os de impostos, 
permitindo o uso de escravos de mortos ou de ausentes e abrandando 
o código de obras. Ao f inal do primeiro ano, após o início da 
construção, a vila contava com alguns edif ícios prontos ou em fase de 
acabamento. Os prédios públicos não continham a grandiosidade 
barroca típica dos edif íc ios das Minas Gerais, do nordeste açucareiro, 
masatestavam em suas linhas elegantes o esforço do governo colonial 
em f ixar ali sua presença. 
No entanto, para que a posse de toda a região guaporeana fosse 
assegurada, bem como f icasse garantida a implantação de um circuito 
comercial pela rede hidrográf ica do Guaporé -Madeira-Amazonas e 
ainda se promovesse uma retração do contrabando do ouro de Mato 
Grosso, pela rede f luvial, tornava-se indispensável aparelhar a 
capitania com um sistema de fortif icações e um contingente militar que 
completassem o projeto de assentamento do aparato administrativo 
colonial na região. 
A aplicação indulgente da lei, a tolerância governamental e a 
ambigüidade do poder local, no tocante a arrecadação e ao 
cumprimento das normas e das convenções, constituía-se numa 
perfeita estratégia do poder colonial, que conformada pelo poder 
metropolitano buscava concretizar a estabilidade da posse territorial 
através do colonização do Vale do Guaporé e de sua capital Vila Bela. 
A estratégia de dominação colonial de áreas limites aparece 
claramente em Vila Bela, fundada na liberalização do ordenamento 
jurídico, na aplicação tolerante e indulgente da lei pela autoridade 
colonial. 
 
Exercícios. 
 
1. Foi a primeira capital de Mato Grosso, fundada em 1752 : 
a) Vila Bela. 
b) Cuiabá. 
c) São Luís de Cárceres. 
d) Vila Boa. 
 
 
 
53 
e) Vila Rica. 
 
2. A posse portuguesa da margem direita do rio Guaporé foi garantida 
com base no princípio do uti possidetis (a terra pertence a quem a 
ocupa), defendido por Alexandre de Gusmão no Tratado de : 
a) Ayacucho. 
b) Santo Ildefonso. 
c) Badajós. 
d) El Pardo. 
e) Madrid. 
 
3. A descoberta do ouro e a f ixação da fronteira oeste do Brasil na 
margem direita do rio Guaporé levou Portugal a criar em 1748 a 
Capitania do Mato Grosso e Cuiabá, que teve como primeiro 
governador: 
a) Rolim de Moura. 
b) João Carlos D’Oeynhausen. 
c) João Pedro da Câmara. 
d) Caetano Pinto Miranda Montenegro. 
e) Luís de Albuquerque. 
 
4. Qual dos fatores abaixo não explica a construção de Vila Bela no 
Guaporé. 
a) A necessidade de consolidação da posse portuguesa da regi ão 
através da confirmação do princípio do u t i possidetis . 
b) A abundância do ouro nas lavras do Guaporé. 
c) A necessidade de controle militar e guarda das fronteiras. 
d) O extrativismo da borracha. 
e) A necessidade de impedir a ameaça da expansão espanhola na 
margem oriental do rio Guaporé. 
 
5. Quais as medidas tomadas por Rolim de Moura para f ixar a 
colonização portuguesa na região do Guaporé: 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Mineração. 
 
As descobertas de veios e aluviões auríferos datam ainda da 
primeira metade do século XVIII, cabendo aos irmãos Fernando e 
Arthur Paes de Barros, notórios sertanistas e preadores de índios, 
 
 
 
54 
naturais de Sorocaba, os primeiros descobrimentos em 1734, nos locais 
que foram chamados arraiais de Santana e São Francisco Xavier. Por 
essa ocasião a produção das lavras e faisqueiras de Cuiabá já estavam 
em visível decadência, o que de fato motivou a formação de bandeiras 
e entradas de sertanistas pelos campos de Mato Grosso, que recebeu 
este nome devido às densas f lorestas onde correm os rios Jauru e 
Guaporé, em cujas terras se abrigavam os indígenas Pareci. 
 As descobertas, conforme relata o Barão de Melgaço (Augusto 
João Manuel Leverger-1802-1880) foram acompanhadas por 
providências do governo da Capitania de São Paulo no sentido de 
eliminar, através de uma “guerra justa” os índios Payaguá, que, em 
inúmeras incursões pelos sertões, provocavam morte, terror e pânico 
entre a população de Cuiabá e Mato Grosso. Ordenada a guerra contra 
os Payaguá, observou-se também a quase dizimação dos Pareci, que 
passaram a ser ut il izados como mão-de-obra cativa nos trabalhos de 
extração mineral. A conquista do território ao nativo tornava 
imprescindível para a criação de condições de f ixação de populações 
coloniais nas novas áreas de mineração. 
Assim, a Provisão de 6 de março de 1732, editada pelo governo 
português, contra os nativos Payaguá, passou a oferecer condições 
para a ocupação de novos sítios de mineração descobertos em 1734. 
Coube ao Tenente Mestre de Campo General Manuel Reis de Carvalho 
o comando da empreitada, que com uma milícia de 842 soldados 
aprisionou 266 índios e matou cerca de 600 outros. A exploração do 
ouro em Mato Grosso levou os mineiros e faiscadores para as regiões 
ribeirinhas ao Guaporé, onde foi fundado o arraial de Pouso Alegre. 
A produção se realizava através da exploração das lavras, que 
eram estabelecimentos de algum vulto e dispunham de alguns 
instrumentos, sendo o trabalho dirigido por um feitor que empregava 
principalmente mão-de-obra de escravos negros ou indígenas. Seria 
possível explorar também as faisqueiras, onde a produção era intensa e 
efêmera, feita individualmente por faiscadores nômades, que às vezes 
se juntavam em grande número em região franqueada, onde cada um 
trabalhava por conta própria. Havia também dentre esses faiscadores 
grande quantidade de escravos que deveriam entregar cotas f ixas a 
seus senhores. 
 Os recursos técnicos util izados nas empreitadas mineradoras 
eram rudimentares e apresentaram pouca evolução ao longo do século 
XVII. O baixo desenvolvimento técnico levava a uma grande perda no 
processo de extração do minério e a um uso elevado de trabalhadores 
escravos. Para o trabalho de extração eram util izadas a alavanca, o 
almocafre, a marreta, carumbé e batéias. O “serviço de talho aberto ” 
correspondia à lavagem do cascalho, o que tornava necessária a 
existência de água corrente acima da lavra para que fosse desviado até 
o local de mineração, num trabalho dif ícil, oneroso e que exigia mão -
de-obra especializada, de dif ícil obtenção no Vale do Guaporé. Esse 
baixo nível técnico importava sempre em grandes perdas na produção, 
ao que se acrescentava o rápido esgotamento das jazidas e faisqueiras, 
levando a produção a constantes oscilações e condicionando -a à 
constante renovação dos achados e à facil idade de sua exploração. 
 
 
 
55 
 A produção inconstante levava a um constante movimento das 
massas populacionais, cuja presença estava sempre vinculada à 
abundância do metal precioso, imprescindível para a garantia da 
manutenção da polít ica colonial e da colonização na região, 
constituindo-se no verdadeiro agente motor da vida econômica local e 
por extensão em elemento básico, definidor das polít icas sociais e 
territoriais. 
 O rápido esgotamento das faisqueiras era remediado pelos 
sucessivos “achados” de outras tantas durante o século XVIII. A 
fantasiosa idéia de enriquecimento fácil e rápido renovava os sonhos 
dos mitos do Eldorado e do Lago do Ouro, promovendo uma rotineira 
mudança das povoações de um sítio de garimpo para outro. A principal 
conseqüência dessa situação a médio e longo prazo foi, no en tanto, a 
fragil idade da agropecuária local. 
 A produção do ouro foi, desta forma, a força que impulsionou a 
vida colonial no Vale do Guaporé. Os Campos D’Ouro, como eram 
conhecidas as minas do Vale do Guaporé no Pará e na Metrópole, 
produziram uma impressionante quantidade desse metal. O trabalho 
nas minas, lavras e faisqueiras era altamente insalubre, provocando um 
rápido desgaste dos trabalhadores e levando à necessidade constante 
de rápida reposição da mão-de-obra. Os escravos eram os mais 
atingidos por essa situação. Empregava-se um grande esforço nos 
trabalhos de construção de tanques, açudes e córregos para a 
realização dos trabalhos de mineração. No entanto, o rápido 
esgotamento dessas faisqueiras provocava um crônico endividamento 
dos proprietários, sobretudo a partir do últ imo quartel do século XVIII e 
nas primeiras décadas do século XIX. 
 Vários problemas com os trabalhadores nas regiões, levaram a 
administração colonial a tomar medidas extremas. A necessidade de 
reposição da mão-de-obra era constante, mas era muito limitada a 
capacidade do Estado em socorreros mineiros, por isso os 
governadores adotavam posturas de relativa transigência em relação à 
propriedade de escravos, permitindo aos proprietários util izarem -se da 
escravatura dos mortos e ausentes, evitando-se assim a interrupção ou 
paralisação dos trabalhos. 
 Ainda, buscando-se alternativa para manter o abastecimento de 
mão-de-obra para as minas, os governos coloniais tentaram sensibil izar 
as autoridades portuguesas para a necessidade de intr odução de 
portugueses na região, explorando-se a fantasiosa idéia da riqueza fácil 
e facil itando-se a estes a compra de escravos. A migração desses 
grupos deveria, segundo os governadores, ser estimulada mas também 
controlada para que se evitasse um número de habitantes superior às 
capacidades de abastecimento de gêneros alimentícios da região. 
À produção das minas do Guaporé entrou em decadência nos 
últ imos trinta anos do século XVIII. O esgotamento das jazidas ou 
mesmo a extrema redução de sua produção não foi acompanhado por 
adaptação e reordenação das forças produtivas, como aconteceu em 
outras regiões como Cuiabá, Goiás e Minas Gerais. Com o declínio das 
lavras do Guaporé, a região não atraiu recursos nem estímulos para a 
f ixação de uma prática agropastoril voltada para a exportação, tendo 
 
 
 
56 
concorrido para isso o seu isolamento geográfico, sua fama de região 
insalubre e mesmo o desinteresse dos Capitães -Generais, que a partir 
do f inal do século XVIII passam longos períodos ausentes da região e 
manifestam clara preferência por Cuiabá. 
 O contrabando, no entanto, impulsionou parcialmente a economia 
regional, tornando-se uma estratégia possível numa região fronteiriça 
onde as severas leis coloniais inviabilizavam o intercâmbio regular e 
legalizado entre as duas colônias. Foi justamente através dessa prática 
e a conseqüente obtenção da prata que se conseguiu garantir alguma 
condição de barganha entre o Vale do Guaporé e os grandes centros de 
poder colonial, o que não foi suf iciente para criar condições de 
superação da crise provocada pela decadência da mineração. Esse 
quadro sombrio agravou-se sobremaneira ao longo das primeiras 
décadas do século XIX. A região passou então por um intenso processo 
de descolonização, que se ampliou na medida em que os focos da 
tensão fronteiriça deslocaram-se progressivamente para o vale do 
Paraguai. Aos poucos, mas ininterruptamente, a decadência foi -se 
instalando, até que, com a transferência da capital para Cuiabá, o Vale 
do Guaporé passou a ser uma região notoriamente esquecid a, povoada 
somente pelos negros, descendentes de escravos que ali 
permaneceram. 
 
Exercícios. 
 
1. Os irmãos Fernando e Arthur Paes de Barros descobriram as 
primeiras jazidas de ouro no Guaporé em 1734 nos arraiais de: 
a) Girau e Santo Antônio. 
b) Santana e São Francisco Xavier. 
c) Vila Bela e Vila Boa. 
d) Cuiabá e São Luís. 
e) Forte Príncipe e Balsemão. 
 
2. Medida tomada pelo governo colonial em 1732 para facil itar a 
ocupação das áreas de mineração no Mato Grosso: 
a) doação de sesmarias no Vale do Madeira. 
b) guerra aos índios Payaguá. 
c) combate ao comércio de escravos indígenas. 
d) cartas de alforria aos escravos que descobrissem novas lavras. 
e) N.D.A 
 
3. Qual a importância do ouro para a colonização do Vale do Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
57 
 
 
4. Quando e porque o ouro do Guaporé entrou em decadência? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Quais as conseqüências da crise da mineração no Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Agropecuária. 
 
Paralelamente ao desenvolvimento das atividades de mineração, 
instalou-se no Vale do Guaporé a lavoura de subsistência, voltada 
exclusivamente para as necessidades mais prementes da população 
regional e ocasionalmente ligada a uma precária exportação de alguns 
gêneros para o Pará ou para a colônia castelhana, vizinha da margem 
esquerda do Guaporé, através do contrabando. A agricultura nunca 
conseguiu desenvolver-se plenamente na região do Guaporé Português, 
sendo considerada sempre uma atividade intrínseca à mineração e não 
chegando a atender inteiramente às necessidades do consumo local, 
embora o conjunto de suas terras fosse férti l e produtiva. A formaçã o 
de roças que garantissem uma base mínima de sustento alimentar era 
parte integrante das diretrizes da polít ica colonial regional. 
 A obsessiva preocupação com as lavras e faisqueiras deixavam 
em planos secundários a produção de gêneros, mas fatores como 
secas, pestes de ratos, inundações ou pragas de insetos são relatadas 
por todos os cronistas e viajantes que passaram pela região e 
atestaram sua carência de alimentos. A carestia atingia níveis 
insuportáveis. As terras eram férteis e garantiam produção a níveis 
muito satisfatórios. O meio oferecia consideráveis dif iculdades, 
exigindo uma grande disponibil idade de mão-de-obra e recursos, o que 
 
 
 
58 
não era viável nestas regiões de garimpo. Os custos dessa produção de 
roças eram altos e cumulativos, além de que o retorno era altamente 
incerto, bastando o surgimento de um novo importante achado para que 
se perdesse todo o cultivo. A alternativa das roças surgia com maiores 
atrativos para a fundação dos engenhos, embora as sesmarias doadas 
pelos governos no Vale do Guaporé estivessem obrigadas ao cultivo 
das roças e à criação de gado. 
A produção assumiu características próprias e ligava -se 
primordialmente ao mercado regional, sendo na maior parte das vezes 
encarada como uma atividade a mais, desenvolvida por fazendei ros que 
também eram proprietários de lavras e buscavam diversif icar seus 
negócios, obtendo lucros nos garimpos com atividades complementares 
que podiam ou não assumir características de grande vulto. Como não 
estava voltada para a exportação, a produção du rante o período 
colonial, não garantiu a expansão interna dos negócios, pois o 
proprietário era ainda obrigado a importar ferramentas, escravos e 
outros produtos. As técnicas de produção eram bastante rudimentares 
possibil itando uma produtividade baixa e insuficiente. 
O desenvolvimento da pecuária, por seu lado, esteve sempre 
intimamente ligado à questão da dispensa de direitos da entrada do 
gado na região e aos interesses externos das regiões tradicionalmente 
pecuaristas de onde provinha a maior parte da carne consumida. Esse 
comércio interessava principalmente aos paulistas que introduziam na 
área de Vila Bela o gado bovino e o muar, a partir de sua obtenção nos 
campos do Sul e do vale do São Francisco (através da rota do Goiás). 
O abastecimento precário levava, entretanto, ao estabelecimento do 
contrabando com os espanhóis das missões da margem esquerda do 
Guaporé, o que, por sua vez, concorria para a saída clandestina de 
ouro da capitania e da colônia portuguesa. A preocupação das 
autoridades situava-se entre os campos diversos. Por um lado era 
necessário coibir o contrabando com os castelhanos e para tanto seria 
necessário assegurar um abastecimento regular de carne ao Vale do 
Guaporé. Por outro, era indesejável que a atividade crescesse a ponto 
de comprometer o abastecimento de mão-de-obra para a mineração, 
numa região onde o número de habitantes sempre esteve muito abaixo 
do desejado. 
Na segunda metade do século XVIII a pecuária ganhou algum 
impulso, havendo inúmeros pedidos de concessão de sesmarias par a 
f ins pecuaristas. A maior fazenda de gado da região foi Casalvasco, 
fundada pelo governador Luís de Albuquerque de Mello Pereira e 
Cárceres. O próprio governador Luiz de Albuquerque reconhecia que 
regiões isoladas como o Forte Príncipe da Beira necessita vam de um 
abastecimento mais regularizado. 
O trabalho pecuarista era realizado tanto por indígenas quanto 
por negros e embora fosse reduzido o número de peões necessários à 
lida direta com os rebanhos, o número de trabalhadores desviados da 
mineração tendia a aumentar, em função da construção de cercas, 
currais, edif ícios residenciais, formação e manutenção depastagens e 
outras tarefas ligadas ao setor. Assim a pecuária funcionou também 
como uma atividade acessória ao processo de ocupação e manutenção 
 
 
 
59 
das lavras e fronteiras, dando margens ao estabelecimento de enormes 
latifúndios. Daí conclui -se que, de expressão limitada às atividades 
agropastoris do Vale do Guaporé colonial estiveram sempre 
subordinadas aos interesses da mineração. Perpetuava -se assim uma 
situação de abastecimento insuficiente e conseqüente dependência de 
importações a preços elevadíssimos, o que em última análise importava 
num quadro de fome, escassez e subnutrição. 
 
Exercícios. 
 
1. Quais as características da agropecuária no Vale do Gua poré 
Colonial? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Por que Luís de Albuquerque fundou a grande fazenda de gado de 
Casalvasco? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quem realizava os trabalhos agropecuaristas locais? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. De onde provinha a carne bovina e as bestas de cargas util izadas no 
Vale do Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
60 
 
 
 
 
 
 
 
5. Caracterizou a agropecuária do Vale do Guaporé no século XVIII: 
a) cultivo voltado para a exportação de produtos como café, açúcar e 
cacau. 
b) exportação de carne salgada para Belém, Santa Cruz e Cuiabá. 
c) lavouras de plantation 
d) culturas de subsistência, insuficientes para atender o consumo local. 
e) util ização inexpressiva do trabalho escravo. 
 
O comércio e as rotas fluviais. 
 
O comércio constituiu-se como principal fonte de abastecimento 
para o Vale do Guaporé no período colonial. Internamen te a produção 
agrícola de subsistência abastecia a região de gêneros de necessidade 
imediata como o milho, a mandioca, o feijão e hortaliças. No entanto os 
demais produtos vinham de fora, através de rotas estabelecidas entre 
São Paulo-Cuiabá-Vila Bela, Bahia-Vila Boa de Goiás-Cuiabá-Vila Bela 
e f inalmente Belém do Pará-Vila Bela, através do roteiro f luvial do 
Amazonas-Madeira-Mamoré e Guaporé. Entre os produtos trazidos por 
terra, através das rotas sertanistas, ou pelos rios, através das rotas 
monçoeiras estavam: escravos, tecidos, utensílios domésticos, armas e 
munições, gêneros alimentícios como sal, açúcar, vinhos, queijos e 
carnes, papel, materiais para construção, objetos para culto e 
celebrações religiosas, objetos para mineração e muitos outros. 
As rotas monçoeiras. 
A característica maior desse comércio foi sempre a 
interdependência com a produção de ouro. As rotas comerciais foram 
tanto mais ativas quanto maior foi a produção de ouro, e decaíram na 
medida em que o ouro se tornou escasso. No entanto um outro fator 
determinante para o abastecimento local através do comércio 
monçoeiro e sertanista foi a questão da polít ica fronteiriça, que 
requisitava a franquia de um roteiro f luvial suf icientemente estruturado 
para garantir o abastecimento bélico, de gêneros alimentícios, 
medicinais e recursos humanos para os trabalhos e defesa local. 
Assim, ao se estruturarem os roteiros comerciais do Vale do Guaporé 
com o restante da colônia teve-se em mente a importância da 
manutenção da produção aurífera como elemento indispensável para 
manter o abastecimento local que garantiria por sua vez a guarda 
ef iciente das fronteiras. 
Nos primeiros anos, após a descoberta das minas do Vale do 
Guaporé o comércio se realizava sempre pelas rotas que ligavam a 
região guaporeana a Cuiabá e esta a São Paulo e Rio de Janeiro. A 
primeira constatação que se faz neste caso é a precariedade do 
 
 
 
61 
abastecimento. A falta de gêneros, mesmo os de primeira necessidade 
era uma possibil idade muito real. Aos curtos períodos de euforia 
correspondentes à chegada de uma monção ou de uma tropa sertanista 
sucediam-se longos períodos de crise e desabastecimento, com 
catástrofes como a fome e o conseqüente aumento das epidemias. A 
inconstância do abastecimento era motivada por fatores diversos como 
ataques indígenas, naufrágios, excesso de chuvas, secas, epidemias, 
crise na produção aurífera ou mesmo práticas de especulação. 
Justif icando-se, a partir do elevado custo de todo tipo de gêneros 
e dos constantes períodos de desabastecimento, o governador Rolim de 
Moura passou a pleitear a abertura da rota f luvial Guaporé -Mamoré-
Madeira e Amazonas, que ligaria Vila Bela da Santíssima Trindade a 
Belém do Pará. Ao pretenderem a ligação comercial com o Pará, 
através da rota f luvial do Guaporé-Madeira e Amazonas, as autoridades 
coloniais e metropolitanas tinham em mente não só aliviar o auto custo 
de manutenção do abastecimento praticado até então através de 
Cuiabá, mas sobretudo facil itar o escoamento do ouro por um roteiro 
mais seguro, reduzindo as possibil idades de seu contrabando pelas 
rotas terrestres para São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Mesmo 
enquanto esteve legalmente proibida, a prática clandestina desse 
roteiro era de conhecimento e anuência das autoridades coloniais. 
A abertura da rota das monções do norte fo i fruto da permanente 
insistência das autoridades coloniais do Pará e sobretudo de Mato 
Grosso. Assim, pela Provisão de 14 de novembro de 1752, conhecida 
em Mato Grosso somente em 1754 f icava permitida e franqueada a 
navegação pelos vales do Guaporé, Madei ra e Amazonas, 
estabelecendo-se ligação comercial entre Vila Bela e Belém do Pará, 
proibindo-se a comunicação entre as duas capitanias por qualquer outro 
caminho f luvial que não fosse a rota do Madeira. Esse trajeto até então 
interditado por temor de uma expansão castelhana por territórios 
coloniais portugueses era agora franqueado, entre outros motivos, para 
que se inviabilizassem tentativas de contrabando de ouro de Mato 
Grosso com a colônia castelhana, bem como suas ações expansionistas 
e o comércio clandestino, realizados entre os colonos de Mato Grosso e 
as missões da margem esquerda do Guaporé. 
A abertura da rota f luvial do Madeira deveria ser consolidada com 
a fundação de arraiais ao longo de alguns pontos estratégicos que 
garantiriam apoio aos comboieiros bem como a f iscalização de suas 
cargas. As medidas de prevenção ao contrabando e proteção das 
fronteiras e rotas f luviais seriam completadas com a criação de 
destacamentos militares e fortif icações. Baseando -se nestas premissas 
surgiram os arraiais de Santo Antônio das Cachoeiras do Rio Madeira, 
a partir de uma missão jesuítica, o povoado de Nossa Senhora da Boa 
Viagem do Salto Grande, fundado pelo Juiz de Fora Teotônio Gusmão, 
na cachoeira que hoje leva o seu nome e o arraial do Balsemão, 
localizado na cachoeira do Girau. 
O estabelecimento da rota do Madeira levantou protestos por 
parte da alfândega do Rio de Janeiro que alegava que sofreria graves 
prejuízos sobre os direitos de entrada dos produtos, mercadorias e 
escravos para São Paulo e daí para o Mato Grosso. Entretanto, a 
 
 
 
62 
Capitania do Mato Grosso obteve a permissão régia e passou a ser um 
atraente mercado consumidor para os comerciantes de Belém do Pará. 
Após ser franqueada a navegação pelo Madeira o governo estabeleceu 
permanentemente sua presença, incluindo em todos os comboios 
embarcações da Coroa. 
 
Exercícios. 
 
1. Quais as características do comércio praticado no Guaporé colonial? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Como eram organizadas as rotas comerciais? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Que tipo de roteiro foi o mais util izado? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Quando foi l iberada a navegação pelo Madeira? Porque? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
 
5. Marque verdadeiro ou falso: 
( ) A abertura da navegação no rio Madeira foi uma medida tomada pela 
Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão. 
( ) Mato Grosso escoava, através do rio Madeira, toda sua produção 
agrícola e de manufaturados. 
( ) O contrabando e os ataques castelhanos atemorizavam os dirigentes 
portugueses e foram considerados causas para a interdição da 
navegação no Vale do Madeira. 
( ) A alfândega do Rio de Janeiro pos icionou-se contra a abertura da 
rota do Madeira alegando prejuízossobre os preços dos produtos. 
 
A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. 
 
A empreitada das monções eram penosas e marcadas sempre por 
grandes riscos. Além das enormes distâncias a se rem vencidas os 
comboios enfrentavam ainda obstáculos naturais como as 20 
cachoeiras do Madeira e Mamoré; ataques de nações indígenas hostis 
como os Mura e os Mundurucu, que lutavam contra a invasão de suas 
terras pelos navegadores, a escassez de alimentos e a fome. Em terra 
os perigos não eram menores: cobras, pragas de insetos, animais 
peçonhentos, formigas, onças e plantas de espinhos venenosos. Nos 
banhos de asseio corria-se o risco de ataques de piranhas, jaús, 
jacarés, piraíbas, candirús, sucuris e ar raias com ferrões venenosos. 
Na água, além do perigo das cachoeiras, haviam os gigantescos 
troncos de árvores (que deram nome ao rio Madeira), cujo choque com 
as embarcações provocava danos, naufrágios e mortes. Por f im, 
salientamos ainda o perigo das doenças tropicais, típicas da região, 
como a malária, o t ifo, a febre-amarela e a lashimoniose. Além de todos 
esses perigos reais o desconhecido povoava de fantasias e seres 
fantásticos o imaginário dos viajantes, reforçando superstições, mitos e 
crendices, contribuindo para aumentar o grau de tensão das viagens. 
Esse conjunto de fatores, tanto reais quanto imaginários 
mantinham as tripulações sobressaltadas e inquietas. Levava -se um 
ano e meio a dois anos e meio para se realizar uma viagem de ida e 
volta entre Vila Bela e Belém do Pará. O trecho encachoeirado requeria 
o trabalho de 100 a 120 homens para sirgar as embarcações ou mesmo 
arrastá-las por terra, o que provocava estragos nos cascos e 
retardamento na viagem, interrompida para consertos e reparos. Na 
maior parte das vezes as embarcações deveriam ser esvaziadas e sua 
carga levada pelos participantes, por picadas e tri lhas nas margens dos 
rios. Das vinte cachoeiras, somente umas poucas eram atravessadas a 
remo. 
As embarcações util izadas eram chamadas igar ités e tinham 
capacidade para o transporte 1000 a 2000 arrobas (15.000 a 30.000 
quilogramas) de cargas, além de possuírem velame. Para se defender 
dos perigos, eram dotadas de peças de arti lharia na popa e na proa. 
Rolim de Moura ainda adaptou-lhes bacamartes, foices e chuços de 
 
 
 
64 
ferro, para protegê-las das abordagens de indígenas, quilombolas, 
castelhanos ou salteadores. A despeito de todas essas dif iculdades 
observadas, o comércio que se estabeleceu entre Vila Bela e Belém do 
Pará foi enormemente rentável. No período áureo das lavras mato-
grossenses, entre 1760 e 1780, registravam-se a chegada de duas 
monções por ano no vale o Guaporé. Esse comércio foi intensif icado 
com a criação da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, que integrou o 
Vale do Guaporé e as minas de Mato Grosso ao mercantil ismo colonial. 
Criada pelo Alvará Régio de junho 1775, a Companhia de 
Comércio do Grão-Pará e Maranhão deveria atender às necessidades 
de desenvolvimento geral da parte norte da colônia, através da 
atividade comercial e garant ir a sua integridade territorial. A Companhia 
promovia mais do que o mero abastecimento, a canalização de toda a 
produção de drogas do sertão e principalmente do ouro retirado das 
minas do Mato Grosso, pois por ordem da Secretaria de Estado em 
Lisboa, toda a produção das lavras seria escoada pela rota do Madeira. 
Dessa forma fortalecia-se a presença do Estado Colonial na região 
fronteiriça, estimulava-se o colonização e a exploração do ouro através 
do abastecimento mais barato e mais regular, efetuado pela companhia 
e proporcionavam-se maiores lucros à praça de Belém e à Alfândega 
Real. 
O abastecimento, embora mais barato e regular do que o 
anteriormente feito pelas rotas de São Paulo e Rio de Janeiro, sempre 
foi considerado insuficiente, quer pela população , quer pelas 
autoridades de Mato Grosso. Esse fato se agravava sobremaneira no 
tocante ao abastecimento de mão-de-obra escrava. A demanda 
comercial era sustentada, principalmente, pelos mineiros e pelos 
governos. Ambos os segmentos não conseguiam assegurar seus 
pagamentos, premidos por dívidas provenientes de gastos públicos 
imprescindíveis (no caso do governo) ou, no caso dos mineiros, 
esmagados pelo alto custo dos escravos, sua baixa produtividade e 
rápida invalidez e instabilidade das lavras. Dessa forma , as dívidas 
cresciam e rolavam, como mostram os balanços das Companhia do 
Grão-Pará e Maranhão. Esse endividamento aumentava a dependência 
do comércio monçoeiro e limitava as oportunidades de acúmulos 
internos, o que, em última análise, impedia o crescime nto da capitania 
e a diversif icação das atividades produtivas. 
Com a extinção da Companhia do Grão-Pará e Maranhão em 
1778, o fornecimento de artigos e escravos sofreu uma brusca e 
repentina redução, obrigando os comerciantes a rearticularem seus 
roteiros e elevando ainda mais os já elevadíssimos preços praticados. 
Nas primeiras décadas do século XIX, a rota comercial do Madeira já se 
encontrava em profunda decadência, terminando por extinguir -se em 
meados desse mesmo século. O abastecimento cada vez mais p recário 
e esporádico passava a ser feito novamente através das rotas do Rio 
de Janeiro e São Paulo e por intermédio de Cuiabá. 
A questão da decadência da navegação pela rota do Madeira liga -
se primordialmente ao fato da decadência das próprias minas do Mat o 
Grosso, principalmente as do Vale do Guaporé, o que provocou um 
crescente endividamento da Capitania, junto à Companhia de Comércio 
 
 
 
65 
do Grão-Pará. A rota do Madeira atendeu, primordialmente, aos 
interesses da polít ica do Marquês de Pombal, constituindo -se com as 
idéias de solidif icação do f isco do ouro e do aparelhamento estratégico -
militar, para a defesa de fronteiras num dos elementos que garantiu à 
empresa mercantil ista portuguesa a plena exploração das riquezas 
produzidas nas capitanias da Amazônia. A decadência da produção 
aurífera que gerou uma grande crise econômica e f inanceira na região e 
a mudança das polít icas diplomáticas e fronteiriças sob o reinado de D. 
Maria I (1734-1816) e D. João VI (1767-1826) tiveram, portanto, efeitos 
decisivos sobre o quadro de crise geral que se instaurava no Vale do 
Guaporé e em todo o Mato Grosso o que, combinado com a desativação 
da Companhia, terminou por inviabilizar a manutenção da rota 
comercial Amazonas-Madeira-Guaporé. 
 
Exercícios. 
 
1. São dif iculdades percebidas para a navegação no circuito f luvial 
Madeira, Mamoré e Guaporé; exceto: 
a) as cachoeiras e as doenças tropicais. 
b) o ataque de insetos e de índios. 
c) os naufrágios e o choque das embarcações contra troncos no rio 
Madeira. 
d) a pouca rentabilidade do comércio. 
e) os ataques de peixes e animais ferozes. 
 
2. As embarcações util izadas pela Companhia do Grão -Pará para 
navegar pelo Madeira eram: 
a) chatas. 
b) gaiolas. 
c) vapores. 
d) pirogas. 
e) igarités. 
 
3. Redija um texto explicando o funcionamento da navegação comercial 
pelos vales do Madeira e Guaporé no período colonial. 
Texto: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Qual a importância do comércio f luvial para as regiões do Madeira e 
do Guaporé no período colonial? 
R: 
 
 
 
 
 
66 
 
 
 
 
 
 
 
5. A quem beneficiava o comércio f luvial realizado pela rota monçoeira 
do norte? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em resumo. 
 
 A mineração promoveu a colonização do extremo-oeste do Brasil, 
gerando conflitos e disputas pela posse das terras do Vale do Guaporé 
entre Portugal e Espanha. 
 A crise da mineração em Cuiabá levou os irmãos Fernando e Arthur 
Paes de Barros a explorar e descobrir a existência de novas jazidas no 
Vale do Guaporé na década de 1730. 
 Coube ao Estado Colonialista Português a instalação das bases de 
um projeto de colonização da região. Em 1748 criou -se a Capitania do 
Mato Grosso e Cuiabá. Em 1750 foi assinado o Tratado de Madrid. 
 O primeiro governador foi o Capitão-General D. AntônioRolim de 
Moura, que fundou a capital Vila Bela em 1752, o Forte de Nossa 
Senhora da Conceição e estimulou a colonização local trazendo 
escravos, criando companhias mi litares e fundando núcleos 
colonizadores no rio Madeira, como o povoado de Nossa Senhora da 
Boa Viagem do Salto Grande do Rio Madeira fundado em 1759 pelo 
Juiz-de-Fora Teotônio Gusmão na cachoeira que hoje se chama 
Teotônio. 
 A agropecuária foi sempre uma a tividade secundária no Vale do 
Guaporé. Sua prática esteve subordinada aos interesses da mineração 
e da polít ica militar fronteiriça. A maior fazenda de gado da região foi 
Casalvasco, fundada pelo governador Luís de Albuquerque de Mello 
Pereira e Cárceres. Para os trabalhos agropecuaristas locais util izava -
se a mesma mão-de-obra escrava das minas e o rendimento baixo da 
produção expunha a região a perigos e surtos de fome. 
 O comércio foi intensamente praticado e a Capitania importava quase 
tudo o que consumia, desde escravos, até tecidos, utensílios, 
alimentos, etc. As rotas comerciais eram estabelecidas através da 
navegação f luvial (rotas monçoeiras do sul ou do norte) e por terra 
 
 
 
67 
(rotas sertanistas) quando se viajava com as mercadorias em lombo de 
burro. 
 A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão monopolizou as 
atividades comerciais entre 1756 e 1777, através da rota monçoeira do 
norte (navegando-se pelos rios Madeira, Guaporé e Amazonas). 
Transportava gêneros alimentícios, escravos, tecidos, mobiliár io, 
objetos de culto religioso, armas, jóias, remédios. Levava o ouro, as 
drogas do sertão e objetos obtidos no contrabando com os vizinhos 
colonos espanhóis da margem esquerda do Guaporé. 
 
 
 
 
68 
 
Capítulo 4 
A sociedade colonial guaporeana, aspectos do cotidiano, a 
escravidão e a resistência escrava. 
 
A sociedade colonial no Vale do Guaporé. 
 
A vocação para se tornar abrigo dos indesejáveis e depósito dos 
proscritos do sistema se perpetuaria na região a partir do século XVIII 
em diante. Tanto os governos colonia is, quanto os governos 
monárquicos e mesmo os republicanos tratariam a área guaporeana e o 
Vale do Madeira como uma prisão sem paredes nem grades, onde os 
desclassif icados poderiam, f inalmente, servir de alguma util idade para 
o poder. Brancos endividados ou criminosos de outras regiões viriam a 
ser, no Vale do Guaporé, a elite dos colonizadores e, excluindo -se os 
cargos de primeiro escalão da administração pública e funções 
clericais, passariam a ocupar os principais postos e cargos da 
sociedade e do poder locais. 
Já o conjunto anônimo dos trabalhadores comuns era constituído 
predominantemente de indigentes de outras áreas, prevalecendo aí 
uma população negra ou mestiça. O governador Rolim de Moura 
ressalta, em vários pontos de sua correspondência, o percent ual ínf imo 
de brancos que existia na região, evidenciando ainda o percentual 
expressivo de negros e mulatos. Destaca, também, a sub -colonização, 
a constante necessidade de se fazer adentrar na região um maior 
contingente de colonos, as dif iculdades impostas pelo abastecimento 
precário e pelo meio hostil e as constantes ameaças castelhanas. Essa 
carência de recursos humanos era ampliada pela distância dos demais 
centros coloniais e pelas dif iculdades de se garantir o abastecimento. 
A precariedade da situação exigia das autoridades a util ização de 
todos os habitantes da Capitania em ocasiões onde fossem 
necessárias a atuação militar. 
 Acreditava-se em meados do século XVIII que as riquezas das 
minas do Vale do Guaporé eram suficientemente abundantes para 
garantir sua prosperidade, a da Capitania e de parte das sempre 
crescentes necessidades do Estado Português. Essa prosperidade 
deveria ser construída a partir do estabelecimento de uma população 
f ixa, produtora de riquezas e que espelhasse os padrões sociais do s 
demais núcleos coloniais, formando uma sociedade de ordens ou 
estados alicerçada sobretudo na prática do escravismo. 
 Em Vila Bela e no Vale do Guaporé as distinções sociais cavavam 
verdadeiros abismos entre os seguimentos da sociedade, embora sua 
constituição fosse marcada predominantemente por excluídos sociais 
(pobres e miseráveis) de diversos pontos da colônia, incluindo -se aí 
brancos pobres, endividados ou culpados junto á justiça; forros negros 
ou mestiços, indígenas e escravos. 
 A polít ica desenvolvida pelos governadores, a partir de Rolim de 
Moura permitia aos brancos, mamelucos e mestiços de cor mais clara a 
reconquista de um status social, que seria impossível de se obter em 
 
 
 
69 
outras regiões da colônia. a concessão do “privilégio de couto” (ação de 
resguardar-se das penalidades judiciais) e o perdão das dívidas junto à 
justiça era um instrumento destinado a atrair habitantes para a região, 
notadamente entre os setores mais desclassif icados da sociedade. 
Mesmo assim é interessante observar, que a escassez absoluta de 
brancos para a constituição da elite social da região levou o governo a 
aproveitar os poucos brancos e mestiços claros da melhor forma 
possível. 
 Longe de ser apenas uma mera venda de cargos, títulos e 
honrarias, a redefinição do status social desses brancos os 
transformavam em homens bons, aptos a participar da vida pública do 
Vale do Guaporé, e úteis ao sistema que os governava e com novo 
prestígio diante da imensa maioria negra ou de mestiçagem escura. 
Paralelamente a essa minoria branca que foi se transformando na elite 
social da região, observa-se uma imensa maioria de mestiços, negros e 
índios, que integraram os patamares mais baixos da sociedade, 
preenchendo as lacunas sociais desde a condição de escravos até a de 
pequenos e médios funcionários públicos (como os membros da 
Companhia dos Homens Pardos e a dos Pedestres) ou ainda como 
pequenos comerciantes, faiscadores, lavradores e comboieiros. 
 A sociedade guaporeana formava-se a partir de uma complexa 
gama de extratos sociais, tendo ao topo a elite branca encabeçada 
pelos governantes e seus auxiliares diretos, além dos ricos 
proprietários de lavras, sesmarias e grandes comércios. As camadas 
medianas compunham-se de pequenos e médios comerciantes, 
proprietários de plantéis reduzidos de escravos e donos de pequenas 
lavras. A seguir encontravam-se os homens pobres livres, geralmente 
trabalhando como autônomos em regiões de mineração franqueadas a 
todos, ou ainda cultivando pequenas roças ou mesmo integrando 
expedições sertanistas para busca de ouro e índios. Por f im, na base 
da pirâmide social encontravam-se os escravos tanto índios quanto 
negros. 
 
Exercícios. 
 
1. Como se constituiu a sociedade colonial do Vale do Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Que polít ica foi adotada pelo governo colonial para atrais habitantes 
para a região? 
R. 
 
 
 
 
70 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Como era organizada a pirâmide social do Vale do Guaporé colonial? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marque a alternativa correta: 
4. Não integrou a sociedade colonial guaporeana: 
a) o clero católico. 
b) uma elite militar branca. 
c) os escravos africanos. 
d) uma burguesia industrial e mercantil. 
e) um grupo de exilados vindos de outras partes da colônia em troca do 
perdão de seus crimes 
 
5. Formavam a base da população colonial guaporeana, exceto: 
a) escravos e pobres livres. 
b) portugueses que administravam a colônia. 
c) índios e caburés escravizados ou livres. 
d) comerciantes de Belém e Lisboa, senhores de engenho e de minas 
e) militares e missionários religiosos. 
 
Negros, índios. europeus e mestiços: as políticas de ocupação e 
defesa do território e as relações de poder e submissão. 
 
 O Vale do Guaporé abrigou no período colonial uma sociedade 
mercantil ista e escravocrata. A maior distinção social assentava -se 
sobre a condição livre/escravo, o que caracterizava a posição do 
indivíduo perante o ordenamento jurídico: pessoa ou propriedade, 
cabendo a uns o direito à cidadania e a outros não. As distinções entresenhores e escravos atingiram toda a sociedade, permeando os mais 
variados segmentos sociais e atingindo todos os aspectos da vida 
comum. Essa dicotomia exter iorizava-se nas relações raciais 
negro/branco, adquirindo nuances variáveis, como as próprias 
gradações de cor que estabeleciam. As relações de poder e submissão 
entre senhores e escravos davam-se diretamente no convívio diário, 
 
 
 
71 
havendo poucas intervenções do poder colonial na prática cotidiana 
dessas relações. 
 A elite guaporeana formou-se a partir de sertanistas e 
aventureiros, que contemplados pela sorte ou obcecados pelo sonho do 
ouro e da riqueza aventuraram-se pelos sertões em busca de índios e 
jazidas auríferas. Aos que descobriam tais riquezas era passado o 
título de guarda-mor das minas descobertas e “ receberia um hábito das 
Ordens militares com tença de 50.000 réis .” Vencer indígenas hostis, 
aprisioná-los e escravizá-los era uma forma de se adquir ir prestígio, 
honras e cargos. Aos descobridores de lavras e faisqueiras reservava -
se ainda a parti lha das terras, garantindo -lhes os melhores sítios. A 
descoberta das lavras e a tomada de posse das mesmas por uma 
reduzida porcentagem de mineiros, através de requerimentos feitos ao 
Estado, com base em serviços prestados ao governo local (combate a 
indígenas como os Kayapó e Payaguá), relevantes serviços nas lutas 
de fronteira, ou à própria Metrópole (informações sobre veios, rotas de 
navegação e serviços de espionagem), levaram a formação de algumas 
poucas e gigantescas fortunas na região. 
As ocupações polít icas também davam prestígio e possibil itavam 
a ascensão social. Integrar a Câmara do Senado era uma oportunidade 
de aproximação dos habitantes locais com as elites portuguesas no 
exercício do poder, conferia prestígio e nobreza, aumentando as 
chances de bons negócios e de bons conhecimentos. Ser nomeado um 
militar de alta patente também era sinal de status , e mesmo pertencer 
às irmandades religiosas poderia conferir prestígio e regalias. 
 A posse de grandes fortunas implicava em estratégias de 
multiplicação de investimentos, diversif icação de atividades e posses. 
Assim era-se ao mesmo tempo senhor de lavras, comerciante ligado às 
rotas monçoeiras, agricultor e pecuarista, voltado tanto para a 
exportação quanto para a subsistência. A instabilidade das lavras 
exigia a diversif icação das atividades a f im de se garantir o patrimônio. 
 A grandiosidade e o fausto vivido pelas elites do Vale do Guaporé 
são bastante evidentes. As festas eram então marcadas pela grande 
suntuosidade proporcionada pelo ouro, que possibil itava às elites suas 
ricas vestimentas de seda e o conforto de um mobiliário luxuoso. Todo 
esse esplendor foi regulado pela intensidade da produção do o uro, pela 
regularidade do comércio monçoeiro com o Pará e pela manutenção da 
polít ica de fronteiras. Ao decaírem os pilares de sua sustentação as 
elites de Vila Bela e de todo o Vale do Guaporé procuraram os rumos 
de Cuiabá que desde os f inais do século XVIII já suplantava Vila Bela 
em riqueza e desenvolvimento. 
 Quanto às camadas populares onde predominavam mestiços de 
todos os tipos prevaleceram os pequenos proprietários que cultivavam 
pequenas roças de subsistência, pequenos comerciantes que 
revendiam produtos oriundos das monções e que terminaram 
constituindo os grupos de mascates, os sertanistas preadores de 
índios, os aventureiros e uma inf inidade de pobres livres it inerantes que 
vagueavam de um arraial para outro ao sabor da produção das lavras. 
Esse mesmo segmento de livres pobres era considerado ainda um 
estorvo e um prejuízo, pois, situados à margem do processo produtivo, 
 
 
 
72 
transformavam-se em um problema social e um ônus para o Estado, 
que no objetivo de adequá-los à realidade da produção mercantil is ta 
recorria e legit imava o uso da força e da coerção.. 
 A grande massa popular anônima era util izada basicamente para 
todo tipo de serviços. Considerada inútil e marginalizada pelo sistema, 
a ela coube parte considerável do ônus da conquista, posse, 
manutenção e produção da Capitania. Assim Dom Antônio Rolim de 
Moura criou em 07 de fevereiro de 1755 uma esquadra de pedestres, 
adidos à Companhia de Dragões. Essa esquadra compunha -se do 
segmento mais baixo dos homens livres da região. Trabalhadores 
especializados integram o reverso do grupo de homens livres pobres. 
Em geral t inham uma vida bem mais cômoda do que os demais e 
adequavam-se com exatidão às exigências do sistema, sendo 
imprescindíveis a qualquer núcleo de colonização e trabalho. 
 Sendo a população guaporeana um conjunto humano 
predominantemente masculino, mestiço ou negro, é natural que a 
região tenha sido notavelmente marcada por um elevado índice de 
criminalidade e violências de toda ordem, como aliás é típico das 
regiões de mineração e de frontei ra. Os desatinos se multiplicavam e 
as autoridades, embora se empenhassem em reprimir aquilo que 
consideravam como contravenção, jamais conseguiram conter a 
impetuosidade dos aventureiros e mineiros do Guaporé. Os crimes das 
elites ligam-se à corrupção e exploração, não havendo registros nas 
Correspondências dos Capitães-Generais ou nas Crônicas e Memórias 
de crimes comuns. Poucos eram os limites impostos às autoridades; os 
acontecimentos de menor relevância, que não envolviam perdas para o 
Estado eram escamoteados, ignorados ou perdoados. 
 
Exercícios. 
 
1. Como era formada a elite social guaporeana? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Que tipo de atividades econômicas esta elite desenvolveu? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
 
3. Como viviam as camadas populares pobres e livres desse período? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Marque V ou F. 
( ) As camadas populares livres não foram aproveitadas pelo regime 
colonial no Guaporé. 
( ) Os donos de lavras e mineiros formavam a base da sociedade local. 
( ) O trabalho escravo indígena foi muito util izado no Guaporé colonial. 
( ) A comutação das penas e o perdão dos crimes foram instrumentos 
util izados pelo poder colonial para garantir o povoamento do Guaporé 
colonial. 
 
5. Assinale a alternativa adequada. 
Desenvolveu o povoamento da região guaporeana e criou a esquadra 
militar dos pedestres, constituída por homens livres muito pobres: 
a) Luís de Albuquerque. 
b) Rolim de Moura. 
c) Pascoal Moreira Cabral. 
d) Luís Pinto Souza Coutinho. 
e) João Pedro da Câmara. 
 
Doenças e epidemias. 
 
 O cotidiano da população guaporeana foi marcado também pela 
elevadíssima quantidade de doenças e epidemias. A morte era uma 
possibil idade sempre muito real e próxima em toda a região, chamada 
por Rolim de Moura de “O terror da América”. A Malária (malárias), 
maculos ou corruções, febres catarrais, pneumonias, diarréias 
sanguinolentas, tuberculose, febre amarela, t ifo e cólera foram as 
grandes causadoras de morte e terror entre os habitantes do Guaporé, 
ajudando a consolidar a triste fama da região, de ser uma sepultura a 
céu aberto. O pavor provocado pelas doenças era manipulado 
polit icamente, principalmente durante o século XIX. De Cuiabá os 
Capitães-Generais expressavam seu horror à grande incidência de 
doenças das minas do Vale do Guaporé. 
 Embora fossem duramente atingidos pelas doenças regionais, os 
brancos por estarem menos expostos a adversidade ambiental eram 
relativamente menos vulneráveis às endemias. As doenças, além do 
ônus grave à saúde e à vida, constituíam-se em sérios problemas para 
 
 
 
74 
a administração colonial. Em uma região tão infectada por males 
tropicais como o Vale do Guaporé, o ritmo dos trabalhos e da produção 
em geral era seriamente comprometido pelo surgimento e dispersão dos 
surtos epidêmicos dentre os quais as malária eram as mais comuns. 
Paralelamente a estes surtos epidêmicos “menores” e de 
conseqüências menos t rágicas para o conjunto da população, t inha -se 
ainda as grandes endemias, que vit imavam a muitos como a de 1758 
marcada por violentos cursosde sangue e tosses ou a de 1814, quando 
a varíola varreu o Forte Príncipe da Beira, levando o governo a tomar 
medidas para evitar o alastramento do mal. Epidemias de bexiga, 
sarampo, verminoses f lagelavam a população e aumentavam os índices 
de mortalidade da região. 
 A esse conjunto é importante acrescentar a questão das péssimas 
condições sanitárias que se tornavam ainda piores nos picos das 
enchentes entre março e abril. As pragas e epidemias completavam -se 
com os mosquitos que, em algumas épocas, também tornavam 
impossível o trabalho e levavam ao desespero as populações. No 
“Diário de navegação pelo rio Madeira”, expedição comandada por 
Francisco Mello Palheta, há referência a uma praga de piuns junto às 
cocheiras do Madeira que impedia a realização dos trabalhos. 
 Os ciclos das doenças e as sucessões epidêmicas mantinham as 
populações sob a constante ameaça de tremendas fatalidades. Pouco 
se sabe sobre os modos de combatê-las util izados pelos mineiros, 
militares e autoridades do século XVIII e princípio do século XIX. O 
Barão de Melgaço fala da existência de um médico francês na região de 
Pedras, em 1751, de nome Jean Baptiste Andrileu que já atuava na 
região há quase 10 anos. 
 Os tratamentos eram normalmente feitos à base dos 
conhecimentos da medicina popular, uti l izando -se muito do saber índio 
e africano. No entanto, algumas doenças eram tratadas com produtos 
da farmacopéia da Europa. Para a síf i l is uti l izava -se o mercúrio, já para 
as malária o remédio empregado desde o século XVIII era o quinino, 
extraído da Árvore da Quina, descoberto na Capitania no governo de 
Caetano Pinto de Miranda Montenegro em 1798. O maculo era tratado 
com um preparado de erva-de-bicho, l imão, pólvora pimenta e cachaça. 
Para as doenças pulmonares, febres catarrais e pleurisias o remédio 
mais util izado era a aguardente. 
 Ao romper o século XIX, a região do Guaporé registrava todo tipo 
de problemas para sua manutenção. Entre esses problemas a questão 
da descolonização e do alto índice de mortalidade f iguravam como 
muito preocupantes. Buscando reverter o quadro caótico da saúde local 
o governador João Carlos D’Oeynhausen Gravenburg mandou criar e m 
15 de agosto uma Aula de Anatomia e Cirurgia em Vila Bela, festejando 
dessa forma a chegada da Família Real ao Brasil. O projeto de 
Oeynhausen, no entanto, não foi adiante. 
 
Exercícios. 
 
1. Que tipos de doenças foram mais comuns na região guaporeana? 
R. 
 
 
 
75 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Em seu conjunto o que essas doenças ref letem? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quando as doenças se tornaram mais intensas? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Como eram realizados os tratamentos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Qual foi a doença mais comum do Guaporé Colonial? 
a) maculo. 
b) t ifo. 
c) febre-amarela. 
d) malária. 
e) pneumonia. 
 
 
 
 
76 
Aspectos da escravidão: a organização do trabalho, as ocupações e 
a família. 
 
Os trabalhos dos escravos nas grandes sesmarias, lavras e 
faisqueiras, era controlado por feitores que intermediavam as relações 
entre os senhores e os cativos. Esses feitores eram investidos de 
grande autoridade e poder e não raro eram oriundos da própria 
escravaria, sendo em grande parte das vezes mulatos, pardos ou 
negros. Na f igura do feitor de escravos repousou a autoridade e 
disciplina do trabalho nas médias e grandes propriedades. Foi através 
dele que se tornou possível ao grande proprietário a manutenção de 
sua imagem distante e patriarcal, que pairava acima dos confrontos e 
conflitos cotidianos, comuns ao meio e que decidia as grandes 
questões de forma eqüidistante. 
Entre os pequenos proprietários de escravos inexistiu a f igura do 
feitor e, na maior parte das vezes, as relações entre o senhor e seus 
cativos foram mais próximas, o que permitia uma melhor condição de 
vida para os escravos. Isso no entanto não impedia que fossem 
util izados os diversos recursos disponíveis para a coerção e imposição 
da vontade desses pequenos proprietários sobre seus reduzidos 
plantéis. 
Relativamente ao trabalho escravo, no Mato Grosso em geral e 
especif icamente no Vale do Guaporé, é necessário salientar ainda a 
questão dos Pretos Del-Rey, um numeroso plantel de escravos 
pertencentes ao Estado Português, adquirido pelos governadores da 
Capitania em épocas e situações diversas com o objetivo de tocar 
obras públicas e servir aos mais diversos propósitos, incluindo-se 
mesmo a atividade militar em momentos de forte tensão fronteiriça, 
cult ivo de sesmarias, trabalhos nas lavras, pastoreio e criação de gado, 
fabricação de pólvora e muitos outros serviços. A escravaria Del -Rey 
nunca foi considerada suficiente ou satisfatória, o que sempre obrigou 
o Estado a recorrer aos escravos de particulares, que eram alugados 
para a realização de diversos trabalhos, como na construção do forte 
Príncipe da Beira. 
O trabalho escravo era requisitado mesmo para f ins militares. Em 
1752, o governador Rolim de Moura criou uma Companhia de Homens 
Pretos, preparando-se para uma possível guerra contra os vizinhos 
castelhanos. Já o Barão de Melgaço ressalta que durante a situação de 
guerra entre Portugal e Espanha em 1763, o Capitão-General Antônio 
Rolim de Moura organizou uma tropa com “o número pouco mais ou 
menos de quinhentos homens, sendo a maior parte escravos e entrando 
também carijós, muitos de uns e outros sem armas de fogo .” 
Constituindo-se o escravo em um bem de grande valor e custo 
elevado, em meio a uma economia predominantemente instável, é 
notável a sua util ização em guerras, onde poderia morrer, fugir, ferir -se 
ou tornar-se um inválido para o trabalho. Além de todos esses fatores, 
a participação de escravos em campanhas militares ressalta, 
conseqüentemente, o seu afastamento de toda e qualquer atividade 
economicamente produtiva, tornando-o um bem ainda mais caro. No 
 
 
 
77 
entanto a escassez de população, as constantes ameaças estrangeiras 
ou de indígenas hostis e a força da polít ica de defesa fronteiriça foram 
argumentos suficientemente ef icazes para permitir e estimular a 
util ização de negros escravos, também nesse ramo de atividades. 
Sobre a escravidão no Vale do Guaporé é necessário ainda 
abordar os temas da constituição da família escrava, seu lazer e sua 
religião no contexto da escravidão colonial entre a segunda metade do 
século XVIII e a primeira do século XIX. A família escrava, no Vale do 
Guaporé, estruturou-se em seus aspectos mais gerais a part ir do 
modelo tradicional da família cristã portuguesa, mas buscando adaptar -
se às circunstâncias e dif iculdades locais, onde problemas graves como 
a desproporcionalidade do número entre homens e mulheres da região 
eram muito evidentes. O desequilíbrio entre os sexos motivava a busca 
de soluções alternativas que amenizassem o problema e permitissem 
aos escravos a formação de uniões estáveis, raras e pouco 
mencionadas na documentação referente ao século XVIII, no Vale do 
Guaporé. Mesmo util izando-se de mulheres indígenas e mestiças, a 
desproporção e o desequilíbrio entre os sexos era tão elevado que a 
maior parte da escravaria f icava sem poder contar com a proteção, o 
amparo e o socorro que o grupo familial poderia oferecer. 
A religião dos escravos do Guaporé , como de todo o restante da 
colônia, foi o catolicismo imposto pelo colonizador. Foi através do 
próprio cristianismo que a escravidão foi legit imada. Constituindo -se em 
uma religião de obrigações formalistas, o catolicismo colonial pregou os 
alicerces da ordem senhorial e da dominação escravocrata, onde a 
caridade paternalista é ditada pelo signo do temor e onde a aceitação 
pacíf ica do sofrimento e da miséria são traduções da penitência, que 
salva e assemelha ao próprio Cristo. 
As exterioridades do catolic ismo eram impostas aos escravos, que 
no mais das vezes mesclavam-nas com práticas religiosas étnicas 
oriundas da África e de culturas ameríndias. O catolicismo imposto aos 
escravos uniu-sea um conjunto de práticas ritualísticas e mágico -
divinatórias de or igem afro-indígena, que multifacetava a prática da 
religião entre os escravos e também entre os segmentos mais baixos da 
população livre, predominantemente mestiça ou negra. Essa religião 
sincrética organizou-se a partir dos moldes do catolicismo popular, 
praticado em toda a colônia e que no Guaporé foi intensamente 
marcado pelo culto de São Benedito, o santo preto dos pretos. 
Vítimas de abusos de toda sorte, vivendo no Vale do Guaporé, um 
verdadeiro inferno, sujeitados a maus tratos, castigos e suplícios, 
perseguidos e mortos ou vendidos pelos indígenas aos castelhanos, os 
negros do Guaporé buscavam também por formas diversas escapar às 
angústias do cativeiro que os atormentava. Suas atitudes em busca de 
melhores condições de vida, chegavam à medidas de re beldia que 
exigiam extrema coragem e vigor. Os escravos do Vale do Guaporé 
construíram assim uma história de lutas e resistência à escravidão, que 
deixou marcas na colonização desse rio, perceptíveis até os dias 
atuais. 
 
Exercícios. 
 
 
 
78 
 
1. Qual o papel dos fe itores na sociedade escravista? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O que eram os pretos Del-Rey? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Como constituía-se a família escrava no Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Como era a religião desses escravos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Não se vincula à escravidão guaporeana: 
a) escravidão mais intensa durante o ciclo da borracha no século XIX. 
b) negros eram o contigente mais numeroso da população. 
c) iniciou-se com a exploração do ouro. 
d) quilombos formavam a base da rebeldia escrava. 
 
 
 
79 
e) fugas constantes, facil itadas pela proximidade com as fronteiras.. 
 
A resistência escrava. 
 
No Vale do Guaporé, durante a segunda metade do século XVIII, 
foram comuns as fugas de escravos e o seu ajuntamento em quilombos, 
alguns dos quais resistiram, por longos períodos, como é o caso do 
Quariterê (ou Piolho), que se manteve ativo por quase meia década, 
desde sua fundação em 1752, até seu total extermínio em 1795. A 
resistência negra ao cativeiro assumiu, em Mato Grosso, o caráter de 
atos individuais de violência e inconformismo, da redução do ritmo dos 
trabalhos de forma intencional, aproveitando-se de fatores ambientais e 
f ísicos, como as doenças e pragas naturais e a insubordinação pura e 
simples. De qualquer forma, durante o século XVIII, o temor das 
insurreições escravas tomou corpo na colônia do Brasil e não passou 
despercebido em Mato Grosso, onde embora não se tenham registrado 
levantes da escravatura, pairava o medo de que tal fato pudesse vir a 
acontecer. Medidas restrit ivas eram constantemente tomadas, 
procurando combater as possibil idades de rebelião, motins ou 
simplesmente desordens de escravos. 
Além da prática de inúmeros crimes e contravenções, os escravos 
do Guaporé buscaram nas fugas a maneira mais imediata e ef icaz de se 
libertarem do domínio do cativeiro. No Vale do Guaporé, as fugas eram 
multiplicadas pela atração exercida pelas fronteiras. Aproveitando -se 
das constantes divergências entre as coroas de Portugal e Espanha e 
da inevitável tensão fronteiriça reinante na região, muitos escravos 
buscavam a liberdade, fugindo para a vizinha colônia castelhana, 
muitas vezes contando com a colaboração clandestina dos próprios 
castelhanos, que lhes ofereciam couto e proteção e deles obtinham 
informações quanto ao sistema de defesa e guarda das fronteiras e 
mesmo os util izavam para o desenvolvimento de técnicas para cul tivo 
da cana-de-açúcar e o algodão. Bandos e Alvarás expedidos pelas 
autoridades coloniais puniam com 400 açoites no pelourinho, o escravo 
capturado após a fuga ou com a marcação em ferro quente e, em caso 
de reincidência, a amputação de uma das orelhas. 
A devolução dos negros foragidos para os domínios castelhanos 
foi um problema vivido por todas as autoridades coloniais da Capitania 
de Mato Grosso que, invariavelmente, se viam às voltas com delicadas 
questões diplomáticas que obstaculizavam as remessas d e escravos 
mato-grossenses que viviam nos domínios coloniais dos Reis 
Católicos. Como mecanismo da resistência, as fugas se completavam 
com a formação de quilombos, que se configuravam na face mais 
concretamente estudada dos processos de resistência ao ca tiveiro. 
Exercícios. 
 
1. Foi o principal quilombo do Vale do Guaporé: 
a) Mutuca. 
b) Cidade Maravilhosa. 
c) Serra da Barriga. 
 
 
 
80 
d) Piolho. 
e) Palmares 
f) N.D.A. 
 
2. Quais as formas de resistência adotadas pelos escravos no Vale do 
Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Que tipos de castigos eram aplicados aos fugitivos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Que fatores facil itavam a fuga dos escravos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Não pode ser considerado fato ligado à resistência escrava no Vale 
do Guaporé: 
a) a fuga de escravos para a colônia espanhola. 
b) o suicídio e os crimes contra os senhores. 
c) a formação de quilombos. 
d) as revoltas armadas de escravos. 
e) a negociação com os senhores e os feitores. 
 
A crise do sistema colonial e o abandono dos vales do Madeira e 
Guaporé. 
 
 
 
 
81 
 Ao romper o século XIX, Vila Bela e todo o Vale do Guaporé 
mergulharam em um profundo estado de decadência e abandono. 
Progressivamente a cidade e a região tornaram-se letárgicas e 
incapazes de reagir à intensa crise oriunda de fatores diversos. À 
precariedade sem solução de toda a região, os senhores donos de 
escravos responderam com sua retirada para áreas mais prósperas, nas 
proximidades de Cuiabá. O próprio poder colonial só se manteve no 
Vale do Guaporé durante as primeiras décadas do século XIX. Na 
realidade os Capitães-Generais passavam muito pouco tempo em Vila 
Bela. A região, aos poucos, transformou-se em uma única e últ ima 
herança deixada aos negros pelo poder senhorial, que se retirava, em 
definit ivo, do insalubre Vale do Guaporé. 
Por outro lado, as enormes dif iculdades ambientais e a presença 
constante de sociedades indígenas hostis inviabilizaram as poucas 
tentativas feitas pelos capitães generais do Mato Grosso, de 
estabelecer bases de colonização, postos militares e f iscais, ao longo 
do vale do alto Madeira. A extinção da Companhia de Comércio do 
Grão Pará e Maranhão acelerou o processo de decadência dos vales do 
Madeira e Guaporé, na medida em que a atividade mercantil voltou -se, 
principalmente para as rotas sertanistas do centro -sul da colônia e, 
posteriormente, do império. Outro fator importante para a compre ensão 
desse processo de decadência está na expulsão da Companhia de 
Jesus da região, o que implicou no abandono das atividades 
catequéticas e missionárias, que na Amazônia foram, tradicionalmente, 
pólos de formação dos centros coloniais. Os vales do Madeir a e do 
Guaporé, abandonados pelos jesuítas, f icaram entregues à colonização 
de iniciativa dos particulares, dedicados ao decadente extrativismo do 
cacau e das drogas do sertão. 
O deslocamento das tensões fronteiriças para o vale do Paraguai e a 
quebra da atividade mineradora definiram o quadro de desinteresse 
pelas regiões do Guaporé e do Madeira, estabelecendo uma contínua 
retirada de efetivos e recursos. 
 A insuficiência de colonos nas regiões de Guaporé e do Madeira 
foi constantemente registrada pelas autoridades governamentais. Essa 
situação f ica evidenciada na atitude do governador João de 
Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que alforriou os quilombolas 
aprisionados pela bandeira de Francisco Pedro de Mello, ordenando -
lhes a fundação da aldeia da Carlota, batizando-os e estabelecendo 
com eles a relação de compadrio e doando-lhes sementes, mudas, 
ferramentas e animais, que garantissem a consolidação do povoamento 
da Carlota 
Já em 1825, a região era conhecida por suas ruínas e pelo 
abandono do povoamento europeu. Ao longo de todo o século XIX e 
durante a maior parte do século XX, o Vale do Guaporé caracterizou -se 
como uma regiãoerma, habitada somente por grupos indígenas e 
negros. Ocasionalmente o vale foi visitado por expedições científ icas e 
exploradores que ressaltaram seu abandono e precariedade. Quanto ao 
Vale do Madeira o desenvolvimento das atividades extrativistas ligadas 
à borracha determinaram um novo período de prosperidade e 
colonização. 
 
 
 
82 
 
 
Exercícios. 
 
1. Quais eram as bases da polít ica colonial portuguesa no Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Presidentes da Província do Mato Grosso durante o Império. 
Posse Nome. 
1825 - José Saturnino da Costa Pereira. 
1831 - Antônio Corrêa de Costa. 
1834 - Antônio Pedro de Alencastro. 
1836 - José Antônio Pimenta Bueno. 
1838 - Estevão Ribeiro de Rezende. 
1840 - José da Silva Guimarães. 
1843 - Zeferino Pimentel Moreira Freire. 
1844 - Ricardo José Gomes Jardim. 
1847 - João Cipriano Soares. 
1848 - Joaquim José de Oliveira. 
1849 - João José da Costa Pimentel. 
1851 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço). 
1858 - Joaquim Raimundo de Lamare. 
1859 - Antônio Pedro de Alencastro. 
1862 - Herculano Ferreira Pena. 
1863 - Alexandre Manuel Albino de Carvalho. 
1865 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço). 
1867 - José Vieira Couto de Magalhães. 
1869 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço). 
1870 - Francisco Antônio Raposo. 
1871 - Francisco José Cardoso Júnior. 
1872 - José de Miranda da Silva Reis. 
1875 - Hermes Ernesto da Fonseca. 
1878 - João José Pedrosa. 
1879 - Rufino Enéas Gustavo Galvão (Barão de Maracaju). 
1881 - José Maria de Alencastro. 
1883 - Manoel de Almeida Gama Lobo D’Eça (Barão de Batovi). 
1884 - Floriano Peixoto. 
1885 - Joaquim Galdino Pimentel. 
1887 - Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis. 
1887 - Francisco Rafael de Mello Rego. 
1889 - Antônio Heculano de Souza Bandeira. 
1889 - Ernesto Augusto da Cunha Matos. 
 
 
 
83 
 
2. Porque a sociedade guaporeana entrou em decadência? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Foi fato que caracterizou a polít ica colonial guaporeana: 
a) a expulsão dos jesuítas, que arruinou as missões portuguesas da 
região. 
b) o reduzido número de escravos africanos. 
c) o grande crescimento do povoado do Forte Príncipe da Beira no 
século XIX. 
d) o f im do comércio f luvial no século XVIII. 
e) a perda de território para os espanhóis em 1759. 
 
4. Contribuiu para a decadência da região guaporeana: 
a) o ciclo da mineração. 
b) o ciclo da borracha. 
c) o ciclo das drogas do sertão. 
d) a insalubridade ambiental. 
e) a abolição da escravidão. 
 
5. Qual a importância do trabalho escravo para o Vale do Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
84 
 
Em resumo. 
 
 A sociedade colonial guaporeana constituía -se de uma reduzida elite 
branca reaproveitada de outras regiões coloniais do Brasil. A essa 
pequena parcela da sociedade foi destinada a posse das minas e lavras 
e os altos cargos públicos da administração colonial. Eram padres, 
funcionários públicos, militares e comerciantes. Possuíam grandes 
propriedades rurais e escravos. 
 Os mestiços eram aproveitados pelo sistema colonial local de acordo 
com a cor da pele. Quanto mais claros, melhor a sua sit uação social. 
Foram soldados, pequenos comerciantes e proprietários de terras e 
escravos, além de funcionários de baixo escalão. 
 Os índios sofreram violentos massacres promovidos por aventureiros 
e exploradores, mas sua util ização como escravos no Vale do Guaporé 
foi sempre muito reduzida. O Estado Português e a Igreja Católica 
fundaram diversas missões jesuítas para sua catequese e 
aproveitamento econômico nos vales do Guaporé e Madeira. 
 A preocupação com a guarda militar das fronteiras foi sempre um 
ponto vital da polít ica colonial portuguesa na região. Sempre foi 
mantido um importante contigente militar na área fronteiriça para 
prevenir invasões dos espanhóis ou tentativa de conquista de novos 
territórios. O Forte Príncipe da Beira, construído entre 1776 e 1783, foi 
o principal marco dessa polít ica militar. Sua construção ocorreu no 
governo de Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres. 
 As doenças tropicais (malária, febre tifo, febre amarela. Pneumonias, 
maculo, etc.) foram o terrores da região e eram responsáveis por 
numerosas baixas entre trabalhadores, autoridades, militares e 
escravos. Vez por outra o Vale do Guaporé foi assolado por grandes 
epidemias de varíola, t ifo, sarampo, etc. A falta de uma infra -estrutura 
sanitária mínima, de remédios e de boa alimentação e higiene foram as 
causadoras desses graves problemas. 
 A escravidão africana impulsionou a economia regional, a 
colonização e o estabelecimento dos portugueses na região. Os negros 
eram util izados em todos os tipos de trabalho. A resistênc ia à 
escravidão foi mais expressiva na formação dos quilombos do Guaporé, 
dos quais o mais notável foi o do Quariterê ou Piolho, governado pela 
rainha Tereza de Benguela. 
 A repressão aos quilombos foi realizada por grupos militares em 1770 
e 1795. Os presos sofreram penas de suplício e exposição pública e 
posteriormente foram util izados na polít ica de povoamento portuguesa 
da terra, fundando a aldeia da Carlota. 
 A crise da mineração, o deslocamento dos focos de tensão fronteiriça 
militar do Vale do Guaporé para o Vale do Paraguai e a má fama de 
insalubridade das regiões do Guaporé e do Madeira determinaram sua 
decadência e abandono no início do século XIX, Somente os negros 
permaneceram no Vale do Guaporé e garantiram a posse territorial 
f ixada no século anterior. 
 
 
 
85 
 
Capítulo 5 
As pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira. 
 
O imperialismo: as propostas de internacionalização da Amazônia e 
o etnocentrismo dos viajantes. 
 
 A expansão do capitalismo industrial e f inanceiro mundial, a partir 
do século XIX, levou a uma crescente adoção das práticas e polít icas 
imperialistas que, promovidas pelas grandes potências da Europa, o 
Japão e os USA, tiveram como alvo os territórios da África, Ásia, 
Oceania e América Latina. Em meados do século passado, os avanços 
na tecnologia, nos transportes e nos meios de produção, ocasionaram o 
surgimento de gigantescas corporações que resultaram da fusão entre 
o capital f inanceiro e o capital industrial. O avanço desse processo de 
concentração de capitais culminou com a criação de trustes, cartéis e, 
mais tarde, para fugir às legislações antitruste, holdings . Essas 
corporações visavam à obtenção de contratos privilegiados, quanto ao 
monopólio de determinados mercados, contando, para esse intento, 
com a colaboração da diplomacia e, freqüentemente, quando esta 
falhava, do exército de seus países, além da prática do dumping para 
eliminar os concorrentes. 
 Os investimentos do capital monopolista na Amazônia resultaram 
no controle de importantes concessões de serviços públicos, como 
portos e navegação, além da exclusividade nas operações de 
exportação da matéria-prima, o que dava às casas exportadoras uma 
ampla margem de controle dos preços da goma elástica. É interessante 
observar os aspectos polít ico e militar desse processo, na me dida em 
que forjaram determinada mentalidade que, de forma bem precisa, 
migrou para a Amazônia, juntamente com capitais e técnicos 
estrangeiros. Essa mentalidade desenvolveu-se a partir da forma mais 
extremada do imperialismo, efetivada na África e no Orie nte, 
particularmente na China. Ao f inal do século XIX, uma série de 
doutrinas expansionista e seus corolários desenvolveram a noção de 
um certo “Destino Manifesto”, a ser realizado pelos Estados Unidos. 
Basicamente, a doutrina do destino manifesto parte da idéia de que 
certos países possuiriam atributos, raciais, geopolít icos e/ou 
econômicos, que os tornariam superiores aos demais. Esses atributos 
justif icariam seu domínio sobre os países “inferiores”, com o objetivo de 
expansão e defesa. Por outro lado os países dominados ou sob a 
esfera de inf luência dessas potências, têm a lucrar,com o 
desenvolvimento econômico e social trazidos com o domínio 
estrangeiro. 
 As pretensões de estrangeiros, não somente sobre a navegação, 
mas também sobre o destino e a exploração do vale do Amazonas 
criaram, ao longo de todo o século XIX, sérias desconfianças por parte 
do Governo Imperial. Chegando mesmo D. Pedro II (1825 -1891) a 
registrar, em seu diário pessoal de 1862, receio em relação às 
pretensões dos E.U.A sobre o Amazonas. As desconfianças do governo 
 
 
 
86 
imperial foram herdadas pelo governo republicano e são de 
fundamental importância para a compreensão da Questão Acreana. 
Uma série de viajantes estrangeiros que correram o vale, desde o 
período colonial, descreveram de forma apaixonada e idealizada as 
potencialidades da terra. No século XIX podemos citar: Will iam H. 
Edwards (1822-1909), um naturalista norte-americano que desembarcou 
na Amazônia em 1846 e o naturalista inglês Richard Spruce (1817 -
1893), que desembarcou no Bras il em 1849 e permaneceu na Amazônia 
até 1864. De uma maneira geral, as conclusões são as mesmas: a terra 
era naturalmente dadivosa, porém pobre e despovoada, apenas em 
razão da indolência de seus povoadores. A solução então seria 
entregar aquela terra ao gênio operoso do europeu ou do anglo -saxão 
para transformá-la em um paraíso de fartura e prosperidade. 
Havia também aqueles que viam de maneira negativa, tanto os 
dotes naturais da terra, como os de sua população, estabelecendo 
comparações pouco lisonjeiras entre a natureza Européia e a 
Americana. Esse era o caso do Conde Joseph-Arthur de Gobineu (1816-
1882), embaixador da França no Brasil entre abril de 1869 e maio de 
1870, que se julgou também habilitado a emitir opiniões sobre a terra, a 
cultura, a natureza e o homem tropical. O conde, autor de um trabalho 
intitulado “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” (1853 -
1855), descreveu nesse trabalho a natureza do país: cheio de insetos e 
seres rastejantes, constituído por um povo de malandros e ociosos, 
composto de mestiços de todo o tipo, no qual era impossível ver a 
pureza do sangue europeu. Exceto a família real, evidentemente, eram 
os brasileiros a ralé do gênero humano. 
 
Exercícios. 
 
1. Que regiões foram os grandes alvos do imperialismo euro -americano 
na 2ª metade do século XIX? O que de pretendia? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Que tipos de “visões” os exploradores emitiram sobre a América 
tropical entre os séculos XVII e XVIII? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
87 
 
 
 
3. Que doutrinas imperialistas orientaram o governo norte -americano 
em suas relações com a América Latina? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. A teoria sobre a inferioridade dos povos das zonas tropicais de 
Gobineau baseia-se na idéia de que o clima e a natureza prejudicam a 
espécie humana. Que conseqüência essas idéias tiveram no século 
XX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. O que defenderam os norte-americanos interessados em explorar as 
riquezas da Amazônia Boliviana em 1853? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A navegação no Madeira e a abertura do Amazonas à navegação 
internacional. 
 
Durante praticamente todo o século XIX a navegação, pelo trecho 
encachoeirado do rio, foi realizada por bolivianos, tanto para a 
exportação e importação dos gêneros necessários à indústria 
extrativista, quanto para o escoamento de produtos agrícolas e 
 
 
 
88 
pecuários provenientes do Beni. A quina ou cascarilha, provi nha da 
província de Caupolican, de onde o produto era transportado até Reyes 
e Yacuma, e daí até o rio Mamoré, seguindo para o Madeira. Apesar de 
a Bolívia exportar a maior parte de sua produção pelo oceano Pacíf ico, 
a via do Madeira era de fundamental importância para o comércio do 
noroeste boliviano, pois o Atlântico estava mais próximo dela. Até o 
últ imo quartel do século XIX o porto mais próximo do Madeira, onde se 
encontrava linha regular de vapor, era o de Serpa (Itacoatiara), na foz 
desse rio, para onde os produtos das regiões do Beni e do alto Madeira 
eram transportados, em embarcações movidas a remo. Descia pelo 
Madeira, em direção a Itacoatiara, a produção extrativa e agropecuária 
do Beni, embarcada em batelões, que depois retornavam com produtos 
industrializados, vergalhões, ferramentas, armas e munições, bebidas, 
atavios. 
Em 1864, desceram por esse rio, provenientes do Beni, 70 canoas 
com produtos (cacau, charutos, charque, couros, graxa e gado em pé) 
que se destinavam à exportação pelo porto de Belém e ao consumo 
interno da Amazônia brasileira. No ano seguinte o número de canoas 
subiu para 98. Dessa forma, era interesse dos habitantes do noroeste 
boliviano o estabelecimento de linhas de navegação à vapor pelo 
Madeira, e uma solução, estrada ou canal, que resolvesse o problema 
da travessia do trecho encachoeirado desse rio, que beneficiaria, além 
do Beni, a ampla região de Santa Cruz e Cochabamba. À província do 
Amazonas interessava estimular esse comércio por razões f iscais. A 
questão da livre navegação no rio Amazonas e seus af luentes, assim 
como a resolução do problema do trânsito entre o alto Madeira e o 
Mamoré era o centro das preocupações dos empresários ligados à 
indústria extrativa, de polít icos e do governo imperial. Em face da 
descapitalização da economia regional, a proposta mais 
freqüentemente feita era a de atrair o capital estrangeiro para o setor 
dos transportes. 
A partir do início da segunda metade do século XIX, o governo 
norte-americano manifestou interesse em abrir a Amazônia aos ca pitais 
daquele país, particularmente no setor da navegação f luvial, cuja 
exploração por navios de bandeira estrangeira era proibida pelo 
governo imperial. Em 1849, o representante norte -americano no Brasil 
apresentou ao governo imperial um projeto de abert ura do rio 
Amazonas à navegação internacional, recusado pelo governo em nota 
de 22 de abril de 1851. As primeiras investidas das companhias de 
navegação, para revogar essa proibição, também foram mal sucedidas. 
Assim, o governo imperial recusou autorização para que a Amazon 
Steam Navigation Co. Ltd. operasse no vale Amazônico, fato que 
resultou em imediata reação da parte contrariada. Alegou o governo 
dos Estados Unidos que a posição brasileira era representativa da 
polít ica de isolamento, semelhante à chinesa, sendo contrária aos 
interesses da humanidade, na medida em que a abertura da Amazônia 
ao capital estrangeiro viria trazer a civil ização, sem nenhum perigo para 
a soberania nacional. 
O governo brasileiro pensava exatamente o contrário, ou seja, 
que se repetisse no Brasil o que ocorreu na China, ao f inal da Guerra 
 
 
 
89 
do Ópio. Reforçava o temor do governo imperial o fato de que, nos 
Estados Unidos, um oficial da marinha norte -americana, Matthew 
Fontaine Maury (1806-1873), movia intensa campanha através de 
artigos publicados em jornais, sob o pseudônimo de Inca, e mesmo em 
um memorial (The Amazon and the Atlantic slopes - O Amazonas e a 
rota do Atlântico) em 1853 endereçado ao seu governo, sustentando 
que as riquezas naturais da Amazônia mereciam ser explorada s pela 
civil ização, através da conquista científ ica, econômica e polít ica. A 
recusa do governo imperial às pretensões da Amazon Steam Navigation 
Co. Ltd., deu motivo para a campanha de Maury crescer em 
intensidade, do que resultou em denúncia secreta envia da pelo 
representante brasileiro em Washington, Teixeira de Melo, ao ministro 
das relações exteriores daquele país, considerando o fato uma ameaça 
à soberania brasileira. 
 A polít ica, baseada no temor de uma agressão á integridade 
territorial nacional, levada adiante pela chancelaria brasileira fazia 
sentido. Eram os norte-americanos com suas doutrinas Monroe e do 
Destino Manifesto que se sentiam os mais autorizados a interferirem na 
soberania dos países do continente americano, repelindo quaisquer 
pretensões européias. 
Em 1851, os Tenentes Will iam Lewis Herndon (1813 - 1857) e 
Lardner Gibbon, da marinha norte -americana, viajaram pelo rio 
Amazonasentre 1851 e 1852 para investigar as possibil idades de 
util izar a região para transmigrar a escravidão de seu paí s para a 
Amazônia. Em um ano de expedição, pouco se conseguiu coletar em 
termos de informações sobre o potencial agrícola e a transmigração em 
massa de fazendeiros do sul dos E.U.A, e seus escravos, para o vale, 
contudo o relato da viagem (Exploration of t he Valey of the Amazon - 
Exploração do vale do Amazonas) despertou interesse suficiente para a 
realização de outras expedições ao Amazonas. 
 Um novo complicador veio à adicionar -se a situação quando, em 
27 de janeiro de 1853, o presidente boliviano Manuel Isidoro Belzu 
(1808-1865) negociou com os norte-americanos o translado dos negros 
recém libertos para o norte amazônico e abriu os rios do noroeste 
boliviano à navegação internacional oferecendo, a título de estímulo, 
concessões de terras, a quem quisesse explorar àquela região. Em 15 
de abril daquele mesmo ano o governo peruano permite a navegação de 
navios estrangeiros em seus rios. O resultado da negociação estimulou 
tentativas mais agressivas sob a forma de expedições. Naquele mesmo 
ano anunciava-se, em Nova Iorque, uma nova expedição de exploração 
do rio Amazonas, comandada por um certo Tenente Porter. De forma 
bastante agressiva os expedicionários alegavam que o controle desse 
rio pelo Brasil, não lhe dava o direito de impedir a l ivre navegação dos 
navios dos países vizinhos em direção ao oceano Atlântico. 
Em notícia publicada no New York Times, de 4 de agosto de 1853, 
os expedicionários expuseram seus pontos de vista: foram convidados 
por nações, cujos af luentes desembocavam no rio Amazonas, a subirem 
aquele rio e comerciar com esses países. Pretendiam defender o direito 
das nações vizinhas ao Brasil à l ivre navegação do Amazonas. 
Afirmavam o ponto de vista que, caso o Brasil tentasse impedir o 
 
 
 
90 
intento da expedição, esta teria o direito de reagir, bem c omo de ser 
protegida pelos E.U.A. O acento ameaçador dessas declarações e a 
publicidade dada ao assunto, f izeram com que o Departamento de 
Estado norte-americano se manifestasse, desautorizando os porta 
vozes da expedição. 
A resposta foi clara: o Brasil não permitiria a livre navegação no 
vale do Amazonas, porque temia o expansionismo norte -americano, a 
recente questão da propriedade do território do istmo do Panamá, por 
onde passava uma ferrovia norte-americana, deixava clara sua intenção 
de apropriar-se daquele território, temendo o governo brasileiro uma 
ação de igual teor no Amazonas. 
Como medida preventiva, e f irmando uma posição sobre o 
assunto, o governo brasileiro decretou a monopolização da navegação 
no Amazonas. Em 1852, tendo aceitado uma oferta de subsídio 
f inanceiro de 160 contos de réis e o monopólio, com duração de 30 
anos, da exploração da navegação no rio Amazonas feita pelo governo, 
Irineu Evangelista de Souza, Visconde e Barão de Mauá (1813 -1889) 
fundou a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, com 
parte do capital investido pelo próprio Barão e o restante obtido através 
de subscrição das ações pelos comerciantes de Belém e Manaus. O 
primeiro vapor l igou Belém a Manaus naquele mesmo ano. Foi esse o 
meio encontrado pelo governo para reagir às pressões estrangeiras e 
proteger sua soberania territorial. 
 
Exercícios. 
 
1. Viajou pelo Vale do Amazonas entre 1851 e 1852 investigando as 
possibil idades de trazer para a Amazônia os negros escravos dos 
E.U.A: 
a) Tenente Lardner Gibbon. 
b) Louis Agassis. 
c) Richard Spruce. 
d) Matthew Fontaine Maury. 
e) Thayer. 
 
2. Qual o projeto do norte-americano Matthew Fontaine Maury para a 
Amazônia? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Companhia fundada por Mauá em 1852 para monopolizar a 
navegação a vapor pelo rio Amazonas: 
a) Amazon Steam Navigation. 
 
 
 
91 
b) Companhia de Comércio e Navegação do Amazonas. 
c) Companhia de navegação f luvial do Pará. 
d) Amazon Company Navigation. 
e) Companhia de navegação do Alto Amazonas. 
 
4. Qual a importância do rio Madeira para a Bolívia no século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Como eram feitos os transportes de carga pelo rio Madeira? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Limites e fronteiras: o Tratado de Ayacucho (1867) 
 
Até os anos 60 do século passado, a se tomar como base os 
limites estabelecidos pelos tratados de Madri e de Santo Ildefonso, a 
fronteira do Brasil com a Bolívia, correria do ponto médio do rio 
Madeira, próximo onde hoje é cidade de Humaitá, até a nascente do rio 
Javarí. Descendo o rio Madeira, até Humaitá, todo o lado esquerdo 
pertenceria à Bolívia, o que incluiria parte do Amazonas e todo o atual 
Estado do Acre. Contudo dois fatores devem ser lembrados: 
primeiramente que, por essa época, ainda não havia sido descoberta a 
nascente do Javarí, não se sabendo precisamente, onde devia situar -se 
a linha de fronteira; em segundo lugar era uma região pratica mente 
despovoada por cidadãos de ambos os países. Essa situação iniciou a 
mudar com o aumento do interesse internacional pelo látex a partir de 
meados do século XIX. 
Com a Bolívia, assim como os demais países latino -americanos, o 
Brasil sempre encontrou d if iculdade em estabelecer tratados de limites, 
em função da instabilidade polít ica que esses países atravessavam. 
Quarteladas e Golpes de Estado faziam com que esses governos 
mudassem, constantemente, sua orientação, quanto a polít ica externa, 
pondo a perder o trabalho de longas negociações, até que, em 1867 foi 
assinado o Tratado de Amizade, Limites, Navegação, Comércio e 
 
 
 
92 
Extradição entre Bolívia e Brasil. Conhecido também como Tratado de 
Ayacucho, e como Tratado Muñoz-Netto, sobrenome dos ministros 
representantes dos países signatários do tratado: Mariano Donato 
Muñoz, Ministro das Relações Exteriores da Bolívia e Felipe Lopez 
Netto, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil, fez 
recuar a fronteira em benefício do Brasil. 
 O presidente, à época do Tratado de Ayacucho, General Mariano 
Melgarejo (1818-1871), chegou ao poder após destituir seu antecessor 
durante o desenrolar da campanha eleitoral. Seu período de governo foi 
caracterizado por grande prosperidade, em conseqüência da descoberta 
de novas jazidas de prata, de guano e salitre. O potencial desses 
recursos naturais atraiu o capital estrangeiro, ao qual Melgarejo, para 
resolver rapidamente o problema do crescente endividamento do 
Estado, fez exorbitantes concessões. A elite da prata, concentrada no 
Potosí, aceitava todas as concessões de Melgarejo, desde que o 
Altiplano f icasse reservado às suas próprias inversões. A região do alto 
Madeira, apesar de ser naquela época povoada predominantemente por 
bolivianos, que se dedicavam à exploração da goma elástica, passou, 
por força do tratado de 1867, a pertencer ao Brasil. É compreensível, 
contudo, a facil idade com que foi f irmado o tratado de 1867: nem o 
governo boliviano, nem a elite polít ica e econômica que o apoiava, 
t inham interesses no noroeste do país, a região que hoje compreende 
os departamentos de Pando e Beni. 
 A Bolívia perdeu algo mais importante que o território, perdeu um 
porto f luvial que, após as cachoeiras, pela via Madeira -Amazonas 
chegasse sem obstáculos ao Atlântico, isto porque renunciou de 
participar da margem esquerda do rio Madeira, de condomínio entre os 
dois países, das suas nascentes até o seu ponto médio, quando 
permitiu que a linha de fronteira passasse a situar -se em Villa Bella. 
Por paradoxal que possa parecer, a navegação do Madeira continuava 
importante para o comércio com o noroeste boliviano, conforme revelam 
os termos do tratado. De 30 artigos que contém o documento: 1 declara 
paz entre as partes contratantes, apenas 5 tratam de limites, 8 versam 
sobre extradição e a maior parte, 16 artigos, sobre comércio e 
navegação. 
 Da mesma maneira evidenciam esses dezesseis artigos os 
temores e cuidados do governo imperial com relação à liberdade de 
navegação.No 6o. e 7o. artigos declara reciprocamente livre o comércio 
e a navegação mercante, com isenção de impostos, nos rios que, 
passando pela nova fronteira, vão desembocar no Oceano Atlântico, 
ressalvando porém que o privilégio é apenas para navios de bandeira 
brasileira ou boliviana. O artigo 8 o. revela precauções, em caso de o 
Brasil conceder a abertura da navegação do Madeira aos navios de 
bandeira estrangeira. Prevê o referido que, se houvesse tal concessão, 
continuaria o monopólio da navegação, previsto nos artigos anteriores, 
de Santo Antônio para cima, ou seja, desse ponto em direção à 
fronteira toda a mercadoria, mesmo estrangeira, deveria ser 
transportada por súditos e embarcações de um dos dois países. A 
ressalva pode ser entendida como uma forma de, futuramente, impedir 
o comércio direto da Bolívia com embarcações estrangeiras, pela via 
 
 
 
93 
Madeira/Amazonas, tal como vinha pretendendo desde 1853 (Belzu), 
derrubando a proibição brasileira à navegação internacional naqueles 
rios. 
 Esse últ imo artigo era de fato meramente preventivo. O trecho de 
Santo Antônio para cima é todo encachoeirado, sendo impossível nele o 
trânsito de navios. O comércio por essa parte era todo feito por canoas 
e batelões. É inteligível, contudo, porque já havia, na época, estudos 
para solucionar a dif iculdade de trânsito através do trecho 
encachoeirado. Dentre esses estudos, um que previa a construção de 
um canal que tornasse possível a navegação de navios de grande 
calado. As franquias comerciais e f iscais, estabelecidas nos artigos 7 o. 
e 8o., em favor da Bolívia, somente valeriam, para toda e xtensão do rio 
Madeira, às embarcações de bandeira boliviana. No caso de prevalecer 
a opção pelo canal, as mesmas franquias valeriam, para os navios 
estrangeiros mesmo que transportando mercadorias bolivianas, 
somente no trecho do rio Madeira que vai de sua foz até Santo Antônio, 
não valendo, daquele trecho em diante. 
 
Exercícios. 
 
1. Tomando por base os tratados de Madrid e de Santo Ildefonso as 
fronteiras entre Brasil e Bolívia, nas áreas do atual estado de Rondônia 
situariam em quais pontos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Que problemas justif icavam a indefinição das fronteiras amazônicas 
no século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Que tipos de populações predominavam no alto Madeira até a 2ª 
metade do século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
94 
 
 
 
 
 
 
 
4. O que foi o Tratado de Ayacucho? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Assinaram o tratado de Ayacucho em 1867: 
a) Barão do Rio Branco e Melgarejo. 
b) D. Pedro II e Melgarejo. 
c) Donato Munhoz e Felipe Lopez Neto. 
d) D. Pedro II e Belzu. 
e) Belzu e Herndon. 
 
A abertura do Amazonas à navegação estrangeira. 
 
A questão da navegação internacional, no rio Amazonas e seus 
af luentes, não cessou depois da criação das companhias de navegação 
nacionais. Vários segmentos, nacionais aliavam-se ao interesse do 
capital internacional no sentido de obter a liberação do governo 
brasileiro. Havia, mesmo no congresso naciona l, uma bancada de 
deputados adeptos e defensores ardorosos do livre cambismo que se 
opunham ao monopólio dado pelo estado à companhia de navegação de 
Mauá. Cedendo às pressões dos livre -cambistas, foi revogado no ano 
seguinte o monopólio concedido a Mauá, ocasionando, nos anos de 
1860, o surgimento de mais duas companhias de navegação, formadas 
por capitais nacionais: a Companhia Fluvial Paraense e a Companhia 
Fluvial do Alto Amazonas. 
 Ao mesmo tempo, a luta continuava sendo travada, também, ao 
nível da ideologia e da propaganda. Em 1865 foi a vez da expedição 
Thayer, chefiada por um renomado naturalista suíço, Louis Agassiz 
(1807-1873) e endossada pelo governo dos E.U.ª Uma participante do 
evento Elizabeth Cary Agassiz (1822-1907), esposa do Sr. Agassiz, 
defendeu que, para melhor proveito dos recursos da Amazônia, seria 
necessária sua internacionalização, para que a explorasse uma 
população mais operosa que os amazônidas. 
Em 1872 foi, f inalmente, aberto o Amazonas à navegação 
internacional. Em 1874 a Amazon Steam Navigation Company comprou 
 
 
 
95 
as três empresas de navegação que operavam na bacia Amazônica, 
monopolizando o transporte f luvial na região, inclusive até Santo 
Antônio, esse últ imo percurso subsidiado pelo governo provincial. 
Curiosamente, ao contrário do que ocorreu em 1852 com a companhia 
de navegação de Mauá, o subsídio estatal e o monopólio de fato da 
Amazon Steam Navigation Company sobre a navegação no Amazonas 
não causou protestos dos livres-cambistas. Em 1875 o Madeira já era 
navegado, irregularmente, por vapores particulares de diversos 
calados, em busca da goma elástica. Vinte anos depois, um número 
considerável de navios particulares e fretados, respondiam à demanda 
de transporte até Santo Antônio. O aumento da navegação de 
embarcações, movidas à vapor, no Madeira, justif ica-se em função do 
crescimento da importância da produção do látex na Amazônia 
Ocidental. O porto de Manaus, que durante a maior parte do século 
XIX, havia mantido uma posição secundária na atividade exportadora, 
em relação ao porto de Belém, cresceu em importância, superando -o no 
volume de exportações. Dado o volume de produção e o valor da 
borracha produzida no Madeira, o interesse pela exploração na 
navegação daquele rio continuou. Ainda em 1907 continuava a Amazon 
Steam Navigation Co. provendo o transporte na região. A sexta linha 
fazia o percurso de Belém a Santo Antônio, com parada nas localidades 
mais importantes do Madeira. 
 
Exercícios. 
 
1. O que é o livre cambismo? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Quais as companhias de navegação f luvial que passaram a concorrer 
com Mauá nos serviços de navegação a vapor no Amazonas? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quais os efeitos da abertura da navegação do Amazonas aos navios 
estrangeiros? 
 
 
 
96 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Qual era a situação da navegação pelo rio Madeira no início do 
século XX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Defendeu a internacionalização da Amazônia: 
a) Oswaldo Cruz. 
b) Visconde do Rio Branco. 
c) D. Pedro II. 
d) Barão de Mauá. 
e) Elizabeth Agassiz. 
 
Em resumo. 
 
 As necessidades de novos mercados produtores de matérias -primas, 
produtos tropicais e combustíveis levaram os E.U.A., a Europa e o 
Japão a adoção de polít icas imperialistas que foram responsáveis pelo 
neocolonialismo na África, Ásia. Oceania e parte da América Latina. 
 Progressivamente consolidou-se uma relação de desigualdade e de 
dependência econômica, onde as regiões tropicais eram sempre 
submetidas aos interesses capitalistas das grandes potências. 
 Na Amazônia o imperialismo foi praticado principalmente por ingleses 
e norte-americanos que controlaram setores importantes e estratégicos 
da economia como a comercialização do látex e a navegação f luvial. 
 Viajantes e exploradores estrangeiros que percorreram as vastidões 
amazônicas manifestaram seu interesse pela internacionalização da 
região e a sua exploração controlada por europeus e norte -americanos. 
Dentre esses viajantes citam-se Will iam H. Edwards, Richard Spruce, 
Louis Agassis, Henry Bates, Wallace e outros. 
 A produção econômica do noroeste boliviano (quinino, charutos, 
cacau, borracha, charque e gado) era remetida para os portos do 
Atlântico através da rota f luvial do Madeira. Navegava -se pelo Beni, 
Mamoré, Madeira e Amazonas. Algumas localidades bolivianas e 
 
 
 
97 
brasileiras tornaram-se importantes portos de embarque e desembarque 
dos produtos que saiam ou eram levados para a Bolívia. Dentre essa s 
localidades destacaram-se Itacoatiara, Borba, Santo Antônio, São João 
do Crato, Guayaramerín, Cachuela Esperanza e Villa Bella. 
 A polít ica de países como a Bolívia e os E.U.A. levaram o governo 
imperial de D. Pedro II a entregar, em 1852, o monopólio da 
navegação a vapor pela Amazônia ao Visconde de Mauá, Irineu 
Evangelista de Souza, que fundou a Companhia de Navegação e 
Comérciodo Amazonas. 
 Em 1867 Brasil e Bolívia assinaram o Tratado de Ayacucho versando 
sobre amizade, comércio, l imites, fronteiras, extradição e navegação. 
Por este tratado, a região do alto Madeira, que era habitada 
primordialmente por bolivianos, passou a pertencer ao Brasil. 
 A bancada parlamentar l ivre-cambista do 2° Reinado passou a 
defender a internacionalização da navegação pelo r ios da Amazônia, 
aliando-se aos interesses do capital internacional. O monopólio 
concedido por D. Pedro II a Mauá foi revogado em 1854 e em 1860 já 
existiram outras duas companhias de navegação operando na região: a 
Companhia Fluvial Paraense e a Fluvial do Alto Amazonas. 
 Em 1867 a navegação f luvial foi internacionalizada e parte dos rios 
da Amazônia passaram a ser navegados por navios de bandeira 
estrangeira. Em 1874 a companhia norte -americana Amazon Steam 
Navigation monopolizava o transporte f luvial amazônico e seus vapores 
chegavam até Santo Antônio do Rio Madeira onde eram embarcadas as 
cargas provenientes do noroeste boliviano, do Guaporé e do Mamoré 
brasileiros. 
 
 
 
 
98 
 
Capítulo 6 
A exploração e colonização do oeste amazônico. 
 
O primeiro ciclo da borracha. 
 
 Desde os primeiros contatos com os nativos da Amazônia, os 
europeus tomaram conhecimento do proveito do látex através dos 
indígenas Omágua, que o util izavam para a fabricação de vários 
artefatos, mesmo antes do descobrimento da América. Mas até o 
princípio do século XIX, esse produto era util izado em pequena escala 
na Europa, basicamente como borracha de apagar (rubber em inglês) e 
ainda, sob forma de outros utensílios como: bombas de sucção, bolas e 
botas, esses últ imos exportados sob a forma de manuf aturados que 
eram produzidos em Belém no início daquele século. 
Até a metade do século XIX, a exploração desse produto estava 
concentrada nas proximidades de Belém e nas ilhas da foz do rio 
Amazonas, particularmente na ilha de Marajó. Apesar de ser extraíd a 
em toda a Amazônia nesse período, a produção da borracha revestia -se 
de pouca importância no conjunto da economia local. Duas 
características naturais do produto constituíam-se em entraves para o 
aumento de sua demanda em escala industrial: a pouca resis tência ao 
calor, que tornava os manufaturados de borracha moles e pegajosos, e 
o excessivo enrijecimento, quando exposta a baixa temperatura. A 
descoberta do processo de vulcanização da borracha feita por Charles 
Goodyear (1800-1860) em 1839, e o advento do automóvel e da 
bicicleta, que têm pneumáticos de borracha entre seus componentes, a 
demanda de látex, pelos centros industriais europeus e norte -
americanos, cresceu enormemente. 
Assim, algumas pré-condições naturais e históricas tornavam o 
vale do Amazonas um fornecedor privilegiado da goma elástica tais 
como: abundância natural das árvores, qualidade e produtividade e uma 
secular tradição extrativista. Certas condições sociais e econômicas 
deveriam ser cristalizadas, para atender em quantidade suficiente , ao 
aumento da demanda industrial. Tais requisitos a serem preenchidos 
pela região relacionavam-se à disponibil idade de capitais que 
permitissem o aumento da produção. Esses capitais seriam investidos 
na abertura de novas áreas produtoras, no f inanciament o de novos 
seringais, no recrutamento de mão-de-obra e no setor dos transportes. 
No início da exploração comercial da borracha na Amazônia, os capitais 
necessários ao processo extrativo eram inexpressivos, podendo ser 
obtidos dentro do país ou mesmo dentro da Região Norte, mas o 
enorme crescimento da procura pelo produto no mercado internacional 
tornou impossível aos capitais nacionais a inversão em escala 
suficiente para atender à demanda. 
Em função da exigüidade dos capitais nacionais, prontamente 
foram atraídos os capitais estrangeiros que, com o passar do tempo, 
obtiveram o controle do processo produtivo, f inanciando as 
importações, o capital de giro e, freqüentemente os governos locais. 
 
 
 
99 
Dessa dinâmica resultou que, já em 1910, o endividamento absorvia 
aproximadamente 25% da renda intra -regional da Amazônia, que era 
gasto com o serviço do capital estrangeiro. A renda regional naquele 
ano totalizou, em mil réis, $485.833. Desse montante, $120.283 eram 
destinados ao pagamentos dos juros e parcelas dos empré stimos 
contraídos junto ao capital exterior. Destarte, nas últ imas décadas do 
século XIX, capitais estrangeiros controlavam a navegação f luvial 
através das f irmas Amazon Steam Navigation Co. Ltd. e Amazon River 
Steam Navigation Co. Ltd., ambas de capital i nglês. O capital 
estrangeiro controlava também vastos seringais e os portos de Belém e 
Manaus, por ele construídos e recebidos como concessões dos 
governos locais. Os maiores mercados consumidores do látex eram a 
Inglaterra e os Estados Unidos, países que mais investiam na 
Amazônia. 
A parte do f inanciamento direto à produção funcionava da 
seguinte maneira: as casas aviadoras, em geral pertencentes a 
brasileiros ou portugueses, cuidavam da importação dos produtos 
necessários à manutenção dos seringais, abrindo créditos para o 
abastecimento dos seringalistas, créditos esses pagos com a própria 
produção. Apesar da existência de alguns regatões, que navegavam 
pelos rios amazônicos, trocando diretamente nos seringais os 
aviamentos pela borracha e também de alguns seringalistas que 
negociavam sua produção diretamente com as casas exportadoras, a 
maior parte da comercialização do produto era realizada entre os 
seringalistas e as f irmas aviadoras, através do sistema dominante de 
crédito e aviamento. 
Essas casas aviadoras, por sua vez, eram f inanciadas pelo capital 
estrangeiro, especialmente inglês e norte -americano, e pagavam os 
empréstimos com a própria borracha. Essa é a razão pela qual as casas 
exportadoras monopolizavam o comércio de exportação da borracha, 
comprada das casas aviadoras, impondo os preços em razão desse 
monopólio. Assim, a obtenção da borracha para a exportação era feita 
através da presença das grandes companhias de capital transnacional, 
com f il iais nas grandes cidades da Amazônia. 
O monopólio da exportação efetuado pelas casas exportadoras 
européias e norte-americanas resultava no controle dos preços da 
goma elástica, gerando descontentamento das casas aviadoras. O 
capital regional, representado pelas casas importadoras, fez algumas 
tentativas para abolir esse monopólio da exportação, todas 
fracassadas. O controle do comércio de exportação da borracha na 
Amazônia pelo capital estrangeiro deve ser entendido, historicamente, 
dentro do contexto do período imperialista. O capital monopolista 
implantava suas indústrias nos países periféricos, monopolizando a 
oferta ao mercado consumidor e controlando o comércio das matérias 
primas desses países. 
 A queda nos preços da borracha, a partir de 1912, fez com que 
todo esse surto de exploração fosse estancado. A riqueza produzida em 
décadas não fora invertida em qualquer atividade, que permitisse o 
fortalecimento econômico da região. Findo o auge do extrativismo, a 
região do Madeira entrou em colapso, com alguns sinais de 
 
 
 
100 
recuperação da atividade econômica, duran te a primeira e segunda 
guerras. 
 
Exercícios. 
 
1. Não faz parte da economia amazônica durante a segunda metade do 
século XIX e princípios do século XX: 
a) a extração do látex. 
b) o controle da produção pelo capital estrangeiro. 
c) a submissão dos seringueiros ao barracão. 
d) o cultivo sistematizado das seringueiras. 
e) a decadência das atividades agropastoris 
 
2. São rios do oeste amazônico explorados por seringueiros 
nordestinos: 
a) Madeira, Paraguai e Jamari. 
b) Purus, Xingu e Tocantins. 
c) Tapajós, Nhamundá e Negro. 
d) Juruá, Purus e Pardo. 
e) Purus, Juruá e Madeira. 
 
3. Relacione as colunas. 
(1) Alexander Wickham ( ) processo de vulcanização. 
(2) Charles Goodyear ( ) contrabandeou sementes de 
seringueira paraa Inglaterra. 
(3) La Condamine ( ) aperfeiçoou o processo de 
impermeabilização da borracha. 
(4) Philipp Von Martius ( ) naturalista austríaco que estudou a 
 Amazônia no século XIX. 
(5) Macintoch ( )classif icou a seringueira. 
 
4. Marque V ou F. 
( ) A única árvore a produzir o lá tex, uti l izado para a fabricação da 
borracha, é a seringueira. 
( ) O extrativismo da borracha promoveu a anexação de novos 
territórios pelo Brasil em f ins do século XIX e princípios do século XX. 
( ) O controle do comércio da borracha esteve sempre ligado ao capital 
imperialista europeu e norte-americano. 
( ) As casas aviadoras não trabalhavam com o f inanciamento da 
produção da borracha. 
 
5. Que fatos explicam a crise da borracha na Amazônia a partir de 
1912? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
101 
 
 
 
 
A exploração e colonização do Oeste Amazônico. 
 
No século XVIII, o padre João Daniel (Tesouro descoberto no rio 
Amazonas) constatava a inexistência de qualquer núcleo de 
povoamento, seja de brancos ou índios mansos, entre o Madeira e o 
Javarí. Apesar dos esforços de colonização nas décadas posteriores, 
ainda em 1866, , exceto as imediações do Pará, o que havia na 
Amazônia era o “deserto”. No entanto, passadas algumas décadas, 
aquela região encontrava-se ocupada como nunca o fora antes. Manaus 
surgiu como uma moderna cidade, não com tanta rap idez, mas 
acompanhando o avanço do surto extrativista. Aumentou também a 
colonização dos rios Purus, Juruá e Madeira. 
 Com o crescimento da demanda internacional de goma elástica, 
intensif icou-se a exploração, que aliada às formas predatórias de 
extração, que matavam em pouco tempo a hévea, exauriram as zonas 
iniciais de produção do látex. Assim, novas áreas de extração tiveram 
que ser incorporadas, não somente para substituir as áreas esgotadas, 
mais próximas das capitais de Belém e Manaus, como também par a 
aumentar a produção. Em conseqüência desse processo, houve um 
avanço sobre os seringais nativos das regiões interiores, dos rios 
próximos a Belém para os rios Tapajós, Madeira, Purus, Juruá e à 
região do Acre, ainda quando pertencente a Bolívia. Na Amazô nia, as 
regiões do Acre e do Madeira detinham não somente as maiores 
reservas do produto como também foi nelas onde se passou a extrair, o 
látex de melhor qualidade. 
 Ao processo de ocupação de novas áreas antecedeu a ação do 
estado, no sentido de melhor explorar e reconhecer a bacia hidrográf ica 
composta pelos af luentes do alto Amazonas. A província do Amazonas 
foi criada em setembro de 1850, tendo como capital a cidade de 
Manaus, desmembrada da província do Grão-Pará, compreendendo a 
área da antiga capitania de São José do Rio Negro. O deputado João 
Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha foi nomeado seu presidente, 
tomando posse em janeiro de 1852. Ao assumir o governo em Manaus 
no mês de dezembro do ano seguinte, ocupou-se, entre outras tarefas, 
de estabelecer uma rota de ligação mais fácil para o Mato Grosso, pois 
nas rotas tradicionais, pelo Madeira e pelo Tapajós, existiam saltos e 
cachoeiras que tornavam dif ícil a navegação. A partir de seu governo, 
uma série de expedições exploraram e deram conhecimen to mais exato 
da bacia hidrográf ica da Amazônia Ocidental. Os presidentes que o 
sucederam no governo da província, seguiram seu exemplo. 
 Expedições de reconhecimento foram enviadas aos principais 
rios, com o objetivo de estabelecer uma rota com melhores c ondições 
de navegabilidade: uma expedição dirigiu -se ao rio Abacaxis, 
procurando uma saída para o Arinos; uma segunda explorou o Purus, 
procurando comunicação com o Beni; e outra expedição foi observar as 
 
 
 
102 
condições de navegabilidade do Juruá. Em 1860, nova expedição, como 
as anteriores, também patrocinada pelo Governo do Amazonas, 
chefiada por Manuel Urbano da Encarnação, um sertanista de origem 
indígena Mura e grande conhecedor da região, descobriu o rio Acre 
(Aquiri). 
O governo do Amazonas não estava só, no seu interesse em 
conhecer a hidrograf ia da região. Entre 1861 e 1865, Will iam 
Chandless, chefiando uma comissão da Sociedade Geográfica de 
Londres, auxiliado por Manuel Urbano da Encarnação aproximou -se das 
cabeceiras do Purus e explorou o rio Acre em toda sua extensão 
navegável, observando ali, somente a existência de indígenas. 
Chandless investiu também sobre o Alto Juruá, já conhecido desde 
1857, e navegou por um de seus af luentes, o Liberdade. Contudo, sua 
expedição f icou impedida de avançar, sofrendo violentos ataques dos 
índios Nauá, recuou. 
 Nesse entretempo, em 1864, uma expedição saiu de Manaus com 
a intenção de devassar o Ituxí (Iquirí) que, supunha -se, l igava-se ao 
Madeira. Essa expedição entrou pelo rio Mucuim indo parar realmente 
no Madeira, porém no Salto do Teotônio, o segundo acidente dos vinte 
e dois existente até o Beni/Mamoré. Nesse mesmo ano, mais de cem 
anos depois do Tratado de Madri, ainda se mantinha a antiga 
controvérsia sobre a nascente do Madeira. Para esclarecer a dúvida, 
outra expedição do Amazonas foi pesquisar se o Beni era af luente ou o 
verdadeiro tronco do Madeira, concluindo que o Beni, juntamente com o 
Mamoré e o Guaporé eram os formadores do Madeira. 
 Em 1878, o Coronel Antônio R. Pereira Lábrea formou uma 
expedição que, partindo da barraca Maravilha, no rio Madre de Dios, 
cruzou o sertão entre o Madeira e o Purus, chegando, após dezenove 
dias de viagem, à barraca Flor de Ouro, no rio Acre. Expedições 
posteriores descobriram a comunicação entre o rio Tahuamanu, 
af luente de Madeira, com o Alto Acre. 
 Ao mesmo tempo novos seringais eram organizados, 
aproximando-se cada vez mais até adentrar em território boliviano e 
ocupando cada vez mais mão-de-obra de fora da província. O 
extrativismo predatório provocava a exaustão das ser ingueiras, 
forçando a migração de populações inteiras de Cametá, Santarém, 
Óbidos e outros lugares do Pará, para o Purus, Juruá, Solimões, 
Autazes e Madeira, onde, passando as fronteiras do Amazonas, 
iniciaram a explorar seringais no Mato Grosso. 
 Assim, em 1852, estabeleceu-se no Purus o pernambucano 
Manuel Nicolau da Conceição, trazendo escravos e trabalhadores, 
recrutados no baixo Amazonas e rio Negro. Em 1862, José Manuel da 
Rocha Tury recrutou maranhenses e fundou, às margens do Solimões, 
o povoado de Codajás. Em 1869, chegaram os primeiros cearenses, 
recrutados por um seringalista que se f ixou no Baixo Purus. Em 1871, 
foi fundado o povoado de Lábrea com uma leva de imigrantes 
maranhenses. Ao mesmo tempo em que os rios do Acre eram 
explorados e povoados por brasileiros, estabeleciam-se as 
comunicações f luviais por meio de vapores. 
 
 
 
103 
 A indefinição de fronteiras, bem como determinadas facil idades 
hidrográf icas, definiram os rumos do colonização brasileira e boliviana 
na fronteira oeste. Limitações geográficas: a dif iculdade de 
deslocamento dos Andes até o Amazonas e o fato do Acre estar isolado 
do sistema hidrográf ico boliviano, tornavam dif ícil aos bolivianos o 
acesso àquela parte do seu país. O acesso à região do Acre era mais 
fácil para os brasileiros, que controlavam a embocadura do Amazonas,. 
Para os brasileiros, penetrando pelo Purus descortinava -se uma 
via de acesso desimpedida de acidentes naturais para aquele rio. 
Assim, as expedições de reconhecimento promovidas pela Província do 
Amazonas revelaram, nos af luentes do alto Amazonas, uma área rica 
em seringueiras e habitadas apenas por índios, despertando a cobiça e 
o espírito empreendedor que fez com que, durante os anos próximos a 
1880, os brasileiros ocupassem a área do Alto Purús, Yaco, Alto Juruá 
e Tarauacá. 
 
Exercícios. 
 
Responda util izando os dados abaixo: 
(1) se todas as alternativas forem verdadeiras. 
(2) se todas as alternativas forem falsas. 
(3) se somente as alternativas I e II forem verdadeiras. 
(4) se somente as alternativas II e III forem verdadeiras. 
(5) sesomente as alternativas I e III forem verdadeiras. 
 
1. ( ) 
I. A província do Amazonas foi criada em 1850 e Tenreiro Aranha foi 
seu primeiro governante Amazonas. 
II. O rio Acre (Aquiri) foi explorado pelo sertanista Mura Manoel Urbano 
da Encarnação. 
III. A exploração dos rios e sertões do oeste amazônico buscava 
oferecer subsídios para a definição das fronteiras. 
 
2. ( ) 
I. As maiores reservas de látex da Amazônia sempre se localizaram nos 
rios Tocantins e Xingu. 
II. Nos rios Juruá, Madeira e Purus a borracha era considerada boa e 
de alta qualidade. 
III. A margem esquerda do Madeira, até as proximidades de Humaitá 
pertenceu ao Peru até 1867. 
 
3. ( ) 
I. Manaus ergueu-se como uma moderna cidade no século XIX, em 
função da borracha. 
II. No século XVIII foram descobertos inúmeros núcleos de colon ização 
européia no território entre os rios Madeira e Javari. 
III. O povoado de Lábrea foi fundado em 1871 com uma leva de 
migrantes maranhenses. 
 
 
 
 
104 
4. Quais os resultados obtidos pelas expedições que exploraram o 
oeste amazônico? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Que áreas foram ocupadas nos anos de 1880 no oeste amazônico 
por seringueiros brasileiros? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A colonização brasileira do Madeira. 
 
A ocupação e colonização da região dos vales dos rios Madeira, 
Mamoré e Guaporé foi foco de preocupação dos governos do Brasil, 
desde o período colonial, em função de ser uma região de fronteira 
estratégica, tanto no que se refere às relações com as nações vizinhas, 
quanto ao comércio entre o Mato Grosso e o Pará. Ao contrário da 
região do Acre, a região do Madeira -Mamoré-Guaporé já era 
suficientemente bem conhecida desde o século XVIII. 
Durante o período colonial foram feitas várias tentativas de 
colonização da região do Madeira e do Guaporé rondoniense, 
particularmente no século XVIII, quando esses rios passaram a ser 
importantes vias de ligação para o rio Amazonas, através da qual se 
realizava o comércio entre Belém do Pará e as minas de Mato Grosso. 
Além da importância comercial da rota, esses povoados tinham por 
objetivo garantir a posse territorial e a integridade das fronteiras, 
delimitadas pelos tratados de limites. Contudo, o Madeira manteve -se 
esparsamente povoado pelo europeu. As tentativas de colonização 
concentraram-se da região das cachoeiras para baixo, conseguindo, 
f inalmente, algum sucesso no médio Madeira. Os motivos pa ra o 
fracasso da empresa colonizadora do Madeira encontram explicação 
mais comum na ferocidade dos indígenas. As povoações de Borba e 
Itacoatiara (no rio Amazonas, próximo à foz do Madeira) mudaram de 
local várias vezes no século XVIII em função dos ataque s dos Mura. 
 
 
 
105 
Uma outra explicação diz respeito à insalubridade da região, que teria 
sido responsável pelo insucesso, entre outros núcleos, da primeira 
tentativa de estabelecimento da povoação de São João do Crato. 
No entanto, com o declínio da mineração no Mato Grosso, a 
região do Madeira-Mamoré-Guaporé se despovoou e entrou em 
decadência, f icando abandonada até meados do século XIX. A partir de 
meados do século XIX e durante todo o primeiro ciclo da borracha, a 
oportunidade de colonização permanente da região do Guaporé e do 
Madeira viria concretizar-se e as margens dos rios Madeira, Ji -Paraná, 
Machado, Mamoré e Guaporé foram ocupadas por grupos isolados de 
seringueiros. Os brasileiros, em busca da goma elástica, ocuparam a 
região boliviana do Acre, pela via do Amazonas, Purus e Juruá. Essa 
ocupação foi facil itada por alguns fatores que valem ser ressaltados: a 
indefinição de fronteiras, a existência de grandes áreas ainda abertas à 
colonização e a facil idade para os brasileiros em navegarem até aquele 
território colaboravam com a sua ocupação. No caso do alto Madeira a 
situação se invertia: para os bolivianos mais fácil era o acesso à região 
através dos rios Orton, Madre de Dios e Beni, embora obstaculizados 
por acidentes naturais. Assim, foram ocupando os se ringais nativos do 
Madeira e seus af luentes: o Mutum-Paraná, o Jaci-Paraná, o Jamarí e o 
Ji-Paraná. Os núcleos de colonização, seringais e povoações, de 
propriedade e com população migrada da Bolívia, particularmente da 
região do Beni, eram exclusivos no t recho encachoeirado e 
predominantes em seu curso médio. Os seringais bolivianos estendiam -
se porém até o baixo Madeira, onde conviviam com os seringais 
pertencentes aos brasileiros. 
Alguns núcleos de colonização de iniciativa do governo colonial e 
mesmo os destacamentos militares e f iscais revitalizaram -se no 
transcorrer do século XIX, tornando-se povoações de certa importância. 
São João do Crato, criado no f inal do século XVIII foi, em 1802, 
transferido para um trecho entre as embocaduras dos rios Baetas e 
Arara, próximo aos igarapés Maguarani e Purus, e depois de várias 
outras mudanças de lugar conseguiu f ixar -se, tornando-se um núcleo de 
povoamento de certa importância. Já em 1866, entre a cachoeira de 
Santo Antônio e a foz do Madeira as povoações mais im portantes eram 
Crato e Borba. Borba e Itacoatiara (Serpa), povoados fundados também 
no período colonial, eram em 1862 os maiores portos de exportação da 
província do Amazonas, superando ambos a Manaus. Tavares Bastos 
dá notícia de uma população de 8.862 habitantes no Vale do Madeira, 
assim distribuídos: em Borba 2.335 habitantes, no Crato 5.998, em 
Canuma 529 e algumas praças em Santo Antônio. Em 1886 a população 
total do Vale do Madeira era pouco superior a 40.000, habitantes e em 
1895 a região já contava com 70.000 habitantes, sendo dignos de nota, 
nessa época, apenas Manicoré e Borba como centros de colonização. 
 Dos novos seringais vieram a surgir povoações que são hoje 
cidades à beira do Madeira. Em 1869 instalou -se, próximo ao igarapé 
do Mirari, o comendador José Francisco Monteiro, abrindo aí um 
seringal Sendo atacado freqüentemente pelos Parintintin o seringalista 
desceu o rio e, na margem esquerda, a duas milhas do Crato fundou 
Humaitá. Antes mesmo de Humaitá, foi criada a povoação de Manicoré 
 
 
 
106 
na margem direita do Madeira, entre os rios Manicoré e Mataurá e 
tornada comarca em 1878. As margens do Manicoré também estavam, 
em 1878, ocupadas por vários seringais e aldeamentos de indígenas 
Mura, Turá e Genipapo, já domesticados. Entre a cachoeira de Santo 
Antônio e a foz do Ji -Paraná vários seringais já existiam, em geral na 
foz de rios ou igarapés. 
 Na cachoeira de Santo Antônio, à margem direita, surgiu no 
século XIX a povoação de Santo Antônio do Rio Madeira, 
posteriormente vila e cabeça do município de Santo Antônio, 
pertencente à província de Mato Grosso. Como as demais povoações 
do Madeira, surgiu também em função da atividade extrativista. Era o 
ponto de embarque e desembarque para quem se dirigia a Belém ou 
Manaus ou subindo o rio em direção ao Mato Grosso e à Bolívia. 
Dependendo do caso, iniciava ou terminava naquela povoação o trecho 
encachoeirado do rio. 
 Sendo um entreposto comercial, um ponto de passagem e 
descanso em uma região agreste, sua população f ixa era minúscula, 
poucas famílias ali resid iam permanentemente, embora a aglomeração 
humana fosse signif icativa para os padrões do Madeira. Aventureiros, 
remadores, comerciantes e seringalistas da grande área de inf luência 
dos rios Beni, Madre de Dios, Guaporé e Mamoré, querendo mais 
facilmente receber ou despachar suas mercadorias para os mercados 
da Europa e dos Estados Unidos, pela via de Belém e Manaus, t inham 
que passar por Santo Antônio. Com o estabelecimento da navegação a 
vapor, uma linha regular passou a suprir regularmente a localidade, 
além de vapores particulares, e era de Santo Antônio que as 
mercadorias passavam dos batelões para os navios, ou vice -versa. 
 Na últ ima década do século XIX a povoação teve alguma 
prosperidade. Santo Antônio era um entreposto que parecia ter um 
futuro promissor. Crescia a produção da borracha, vaporesque até 
poucas décadas não chegavam naquela localidade atracavam agora em 
profusão. Vários seringalistas estabeleceram ali seus negócios, 
barracões para o estoque da borracha e dos aviamentos, e mesmo 
residência. O povoado fora elevado à categoria de vila e tudo indicava 
que seria aquela uma das cidades mais importantes do Madeira. No 
início do século XX, entre 1907 e 1912, f inalmente, foi construída a 
ferrovia, que contornou o trecho encachoeirado do Madeira. C ontudo, a 
f irma construtora a Madeira-Mamoré Railway Company, estabeleceu 
que o ponto inicial da ferrovia distaria sete quilômetros rio abaixo e 
surgiu então um novo núcleo de povoação, a cidade de Porto Velho. O 
ponto f inal da ferrovia seria Guajará -Mirim a qual, nos idos de 1890, 
não era sequer uma pequena povoação, após a construção da ferrovia 
surgiu em torno da estação a cidade. 
 Como conseqüência da criação de Porto Velho, o movimento de 
carga e descarga próximo ao trecho encachoeirado centralizou -se cada 
vez mais naquela cidade. Santo Antônio, foi sendo pouco a pouco 
despovoado. Durante alguns anos, ainda, os vapores da Amazon Steam 
Navigation Co. fariam seu movimento de carga em Santo Antônio. Com 
o abandono da vila, as casas foram transformando -se em ruínas e o 
movimento portuário passou definit ivamente para Porto Velho. 
 
 
 
107 
 
Exercícios. 
 
1. Como desenvolveu o processo de colonização dos vales dos rios 
Guaporé e Madeira no século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Quais os vales hidrográf icos rondonienses mais famosos por sua 
produção de borracha? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Como surgiu e qual a localização de Santo Antônio? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Qual o motivo do crescimento de Santo Antônio no f inal do século 
XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
5. Que fatores explicam a decadência de Santo Antônio? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Colonização boliviana do Madeira, o noroeste boliviano e a 
empresa Suárez & Hermanos. 
 
O início do processo de ocupação do Madeira pelos seringalistas 
bolivianos dá-se por volta da década de 1860, essa ocupação se 
estenderia por todo o rio até a últ ima década do século XIX. O 
extrativismo da quina no Beni e outras regiões bolivianas, estendia 
também o contato daquela região com o Madeira. Enquanto que no 
Madeira, bolivianos já exploravam a seringa, a quina explorada no Beni 
era escoada por esse rio. Batelões, impulsionados por indígenas 
bolivianos, escoavam, até Santo Antônio do Madeira, a produção que 
antes chegava ao Mamoré, vinda da província de Caupolican através de 
Reyes e Santa Cruz de Yacuma. 
A quina era o principal produto de exportação do noroe ste 
boliviano até que, em torno de 1870, intensif icou -se a concorrência da 
quina produzida nas plantações inglesas da Ásia e África com o produto 
boliviano. A concorrência resultou do contrabando de sementes de 
quina do Peru efetuado em 1840 pelo súdito inglês Clements Markham. 
Desse modo, a extração da goma elástica como produção alternativa do 
Beni iniciou naquele período e se intensif icou a partir de 1878, quando 
os preços da quina entraram em queda vertiginosa em face do aumento 
da produção das colônias inglesas. A seringa tornou-se um substituto 
imediato para o setor extrativista beniano, sendo encontrada na área de 
Caupolican e em vários rios da Amazônia boliviana, inclusive no próprio 
Beni. O sistema de aviamento, ou habilito como é chamado na Bolívia , 
foi o arranjo que permitiu o acesso ao capital inicial com que os 
seringalistas pioneiros naquele rio iniciaram o corte da hévea. Já nesse 
momento, a empresa Suárez & Hermanos desponta como a principal 
aviadora do empreendimento, vindo a tornar -se, durante o auge do 
primeiro ciclo da borracha, no maior potentado econômico da região. O 
poder econômico dessa f irma, que util izava -se do Madeira como artéria 
principal de comércio, se fez sentir inclusive em Belém e Manaus, 
através de suas f i l iais. 
Nas décadas posteriores a 1870, os seringalistas bolivianos, que 
estavam instalados no Madeira, iniciaram seu retorno ao Beni, para ali 
continuarem sua atividade extrativista. Contudo, apesar do declínio da 
hegemonia boliviana no Madeira, ao f inal do século XIX, há no tícias de 
 
 
 
109 
seringalistas bolivianos que, nessa época, ainda estavam se 
estabelecendo naquele rio. Esse retorno dos seringalistas ao território 
bolivianos durou alguns anos, deixando como marca do pioneirismo, em 
território brasileiro, o nome de várias local idades do rio Madeira. 
A maior e mais próspera povoação boliviana nesse rio era Jumas, 
um aldeamento localizado entre Crato e Humaitá, habitado por 
aproximadamente 180 homens e 90 mulheres, que falavam um dialeto 
que não era nem o português nem o espanhol , provavelmente algum 
dialeto dos indígenas mojenhos. Nesse povoado, produzia -se gêneros 
de subsistência: bananas, macaxeira, arroz; produtos extrativos como a 
castanha do Pará; além da cana de açúcar, que era transformada em 
caldo do qual se produzia aguardente em uma usina da própria 
localidade. Embora, no declinar do século XIX, o Barão de Marajó, ao 
citar povoações de alguma importância naquele rio, ainda indicasse 
nessa categoria Jumas, as demais povoações ou eram seringais 
brasileiros ou missões relig iosas, com exceção apenas de Santo 
Antônio, vila brasileira povoada por bolivianos. A inf luência boliviana 
declinava no Madeira e as povoações mais movimentadas daquele rio 
eram aquelas fundadas pelos portugueses ou brasileiros. 
 Não é possível analisar a inf luência da colonização boliviana 
sobre o Madeira sem se referir a família Suárez, embora sua 
penetração naquele rio possa ser considerada tardia. Nos anos ao 
redor de 1877, quando o alto Madeira estava sendo explorado e 
povoado por bolivianos, D. Nicolás Suárez Callaú administrava uma 
casa aviadora instalada por seu irmão Francisco em Reyes. A f irma, 
denominada Suárez Hermanos, era composta por vários irmãos, que 
praticamente monopolizavam o ramo do aviamento dos seringais e a 
exportação da goma elástica produzida no Beni. Posteriormente, D. 
Francisco passou a representar a f irma em Londres, providenciando o 
envio das mercadorias para D. Nicolás, que despachava os 
carregamentos de goma para a Europa. 
 Em 1880, esses irmãos decidiram transferir a matriz da f irma uma 
localidade próxima ao Madeira, no Beni, iniciando por dominar, além do 
setor de importação e exportação, uma imensa área de seringais. Em 
1881, a f irma Suárez fundou a povoação de Cachuela Esperanza, 
matriz de seus negócios no Beni. A partir desse ano, a f irma Suárez & 
Hermanos vai se constituir na mais poderosa empresa de capital 
regional a operar no ramo do extrativismo do látex. Essa f irma dominou, 
ao longo do tempo, 16 milhões de acres de seringais; estendeu suas 
f i l iais até as praças de Belém, Manaus e Londres; controlou o circuito 
da importação dos aviamentos para sua área de inf luência e, mais 
espantoso, conseguiu burlar o monopólio das companhias européias e 
norte-americanas, exportando diretamente para aqueles países. Em 
1896, a vila comercial projetada por Suárez & Hermanos, Cachuela 
Esperanza, estava em pleno desenvolvimento com edif ícios de 
residência para o pessoal administrativo e braçal, este últ imo composto 
por indígenas mojenhos, edif icações para os depósitos de mercadorias 
e uma pequena ferrovia para contornar a cachoeira de onde a 
localidade tirara seu nome. 
 
 
 
110 
 Em 1892, foi criado o departamento do Beni ,o que facil itou a sua 
invasão pelos comerciantes de origem espanhola do alt iplano 
(carayanas). Esses comerciantes iniciaram por so licitar o registro de 
terras indígenas e a acelerar o processo de exploração da mão -de-obra 
local. Em 1894 foi fundada a povoação de Riberalta, atual capital do 
departamento de Pando. A área, compreendida pelas localidades de 
Riberalta, Guayaramerín, Cachuela Esperanza e Baures, era o pólo 
dinâmico da economia do noroeste boliviano nessa época. Essaslocalidades, constituíam-se como núcleos comerciais de despacho e 
recebimento de mercadorias para os seringais. 
Baures contava então com uma população estimada de 5500 
pessoas, sendo a maioria indígenas, fora os elementos em trânsito 
ocupados no transporte das mercadorias. Na últ ima década do século 
XIX, viviam nessa localidade muitos seringalistas que durante as 
década anteriores haviam se dedicado à extração da goma elástica no 
Madeira. Jose Coímbra cita alguns: Pastor Oyola, que dominara a 
região entre Santo Antônio e Morrinhos, Balvino Franco, Rafael Ruiz, 
Manuel José Justiniano, Benigno Vaca Moreno, Manuel Ruiz, Fernando 
y Arístides Antelo, Urbano Melgar e José Manuel Martínez. 
 Já a capital do Beni, Trinidad, vivia um estado de decadência e 
esvaziamento populacional. Com sua economia baseada na agricultura 
e, principalmente, na pecuária, sofreu o impacto da volumosa migração 
de mão-de-obra, para a atividade extratora. Em 1887, sofrera essa 
capital uma rebelião indígena, que ocasionou a fuga da mão -de-obra 
para as margens do rio Sécure, onde resistiu às tentativas de 
dominação dos fazendeiros trinitários. 
 No f inal do século XIX, já se tem notícias de povoamen to 
brasileiro rio acima, além das cachoeiras dos Madeira. Nos anos 90 
daquele século, há referências ao povoado de Vila Murtinho, situada no 
rio Mamoré, quase em sua junção com o Beni, em frente ao povoado 
boliviano de Villa Bella, que contava com a popula ção de 800 
habitantes, muito signif icativa para a época. A então nascente 
povoação brasileira se abastecia na Bolívia. Mesmo sendo Vila 
Murtinho um núcleo de povoação habitado por brasileiros, a sua maior 
propriedade pertencia a um boliviano. Tratava -se de Gran Cruz, 
pertencente a D. Perez de Velasco, que viria a ser o primeiro vice -
presidente da Bolívia durante o conflito no Acre. 
Por volta de 1896 não existia o povoado brasileiro de Guajará -
Mirim, no rio Mamoré, cercanias da cachoeira de mesmo nome, embo ra 
já houvessem seringais pertencentes aos brasileiros naquele local. 
Contudo, na margem oposta existia a povoação boliviana de 
Guayaramerím habitada pelos seringalistas bolivianos Manuel e 
Memesio Jordán e Leonor de Castro. Na povoação propriamente dita, a 
população estimada, em 1903, era de 20 habitantes ocupados nas 
atividades de transporte de mercadorias entre Trinidad, Villa Bella e 
Riberalta. A inf luência de Suárez Hermanos ainda se mantinha f irme na 
região e, no Madeira, continuavam a manter depósitos e empregados 
na vila de Santo Antônio. 
 
Exercícios. 
 
 
 
111 
 
1. Faça um breve texto sobre a presença boliviana no Vale do Madeira 
no século XIX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Que motivo levou os seringalistas bolivianos a ocupar o Vale do 
Madeira? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Caracterize o povoado de Jumas. 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Quando se define o povoamento brasileiro nos vales do alto 
Madeira? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Qual o seringal do rio Mamoré que pertencia ao futuro vice -
presidente boliviano Dom Perez Velasco? 
a) Santo Antônio. 
 
 
 
112 
b) Aliança. 
c) Três Irmãos. 
d) Gran Cruz. 
e) Concepción de Morrinhos. 
 
Em resumo. 
 
 A borracha já era util izada pelos indígenas desde períodos anteriores 
a conquista ibérica. Cristóvão Colombo levou exemplares de bolas de 
borracha fabricadas pelos indígenas da América Central para a 
Espanha, no século XVI. 
 No século XVIII, Charles Marie de La Condamine denominou Hévea 
brasil iensis a árvore que produzia o látex na Amazônia. No princípio do 
século XIX já se exportavam produtos emborrachados de Belém para a 
Europa e EUA. No entanto, só com a descoberta do processo de 
vulcanização e do aperfeiçoamento das técnicas de impermeabilização, 
feitos por Charles Goodyear e Macintoch, é que a borracha conquistou 
os mercados mundiais. 
 A exploração do látex levou à formação de vastos seringais, que 
passavam a pertencer a latifundiários, mais tarde chamados 
seringalistas ou coronéis de barranco. Os trabalhadores eram os 
seringueiros, que podiam ser nativos (mansos) ou nordestinos (brabos). 
O regime de trabalho estruturava-se na dependência entre o 
trabalhador e o propr ietário através de um sistema de crédito/dívida 
conhecido como regime do toco ou do barracão. 
 A produção era f inanciada (aviada) pela casas de aviamento de 
Belém e Manaus. A maior parte do lucro f icou com as grande empresas 
estrangeiras e com grupos de aviamento nacionais. 
 Na década de 1870, o inglês Alexander Wickham contrabandeou 
sementes de seringueira, que foram cultivadas em Kew Garden, em 
Londres e de lá foram levadas para a Malásia. A produção asiática 
derrubou a produção amazônica entre 1912 e 1913. 
 Seringueiros nordestinos promoveram a interiorização da exploração 
da borracha pelo oeste amazônico, desbravando os vales dos rios 
Juruá, Purus, Acre, Madeira e Javari. Este fato levou a problemas 
diplomáticos entre Peru, Bolívia e Brasil. 
 As disputas territoriais entre o Brasil e a Bolívia, levaram esses 
países a formar equipes de exploração e estudos das nascentes dos 
rios fronteiriços, numa tentativa de ser estabelecerem suas fronteiras.. 
Ao mesmo tempo, formavam-se novos seringais pertencentes a 
brasileiros em áreas de fronteiras ainda incertas como os rios Purus, 
Juruá, Acre. 
 Os vales do Madeira, Mamoré e Guaporé já eram bem conhecidos 
desde o século XVIII. A borracha já era explorada nestes rios por 
seringueiros bolivianos. Com o aumento da demanda n a segunda 
metade do século XIX, a região foi invadida por seringueiros brasileiros, 
que ocuparam também o Acre, boliviano. O povoamento realizado por 
seringueiros no Vale do Madeira foi expressivo, mas levou a inúmeros 
conflitos com as populações indígenas da região. 
 
 
 
113 
 Missões, povoações militares, povoações portuárias, seringais e 
antigos núcleos de populações coloniais como Borba e Manicoré foram 
as bases de exploração e colonização do Vale do Madeira. No entanto, 
o trecho encachoeirado era ainda uma região adversa e hostil aos 
exploradores. 
 A Vila de Santo Antônio do Madeira foi um povoado estruturado no 
século XIX, servindo como entreposto f iscal e comercial para as cargas 
que subiam ou desciam o Madeira, vindas da Bolívia, de Serpa ou do 
Mato Grosso. Com as tentativas de construção da EFMM, Santo Antônio 
viveu um breve período de prosperidade. No entanto, o povoado decaiu 
com o crescimento de Porto Velho. 
 Grandes proprietários bolivianos controlaram extensos seringais no 
Madeira. Dentre eles destacaram-se a empresa Suárez & Hemanos, D. 
Ramon, D. Inácio Arauz, D. Pastor Oyola e Santos Mercado. Nos 
seringais bolivianos eram freqüentes as grandes lavouras de 
subsistência de arroz, macaxeira, bananas, café e cana -de-açúcar. 
 No f inal do século XIX, já se tinha notícias de ocupação brasileira 
nas terras do alto Madeira. Na década de 1890 a povoação de Vila 
Murtinho no Mamoré situava-se em frente ao povoado boliviano de Vila 
Bela. 
 A f irma boliviana Suárez e Hermanos monopolizou o comércio de 
látex e os aviamentos dos seringais do Beni e a partir da década de 
1880, avançou pelo seringais do Madeira dominando uma área de 16 
milhões de acres de terra, exportando borracha diretamente para a 
Europa. 
 A fundação do departamento do Beni (1892) facil itou a atividade dos 
comerciantes de origem espanhola, provenientes do Altiplano andino, 
que passaram a dominar as terras indígenas e a explorar seu trabalho. 
 Formaram-se diversos núcleos de povoamento e exploração como 
Baures, Guayaramerín, Cachuela Esperanza e Riberalta. A mão -de-obra 
tradicionalmente empregada nas lavouras e pecuária foi sendo 
progressivamente transferida para o extrativismo da quina e depois, da 
borracha. 
 
 
 
 
114 
 
Capítulo 7 
O processo de ocupação e expropriação indígena na área do Beni. 
 
O indígena na Bolívia: apropriação submissão e resistência 
 
 No noroeste boliviano, durante o século XIX, a intensificação do 
processo de exploração da mão-de-obra indígena, como no Brasil, 
ocorreu pari passu com a ocupação de seus territórios. Contudo, a 
história do processo de ocupação da terras e exploração do trabalho 
indígena, na Bolívia, nesse momento, contém, em relação ao Brasil, 
algumas peculiaridades. Durante o período colonial todos os indígenas, 
do sexo masculino, com idade entre 18 e 50 anos, eram obrigados a 
pagar um tributo. Esses tributos chegavam a participar em 25% da 
renda da coroa. No transcorrer do processo de independência da 
Bolívia, Simon Bolívar promulgou, entre 1824 e 1825, decretos que 
aboliam o recolhimento de tributos sobre os indígenas. 
A assembléia nacional, daquele país, ratif icou esses decretos 
mas, imediatamente após, percebeu que a aceitação dessa nova norma 
colocaria em dif iculdades a fazenda nacional, restabelecendo de pronto 
o tributo, que passou a representar 60% do recolhimento f iscal na 
Bolívia. Apesar de representar um pesado fardo, a carga tributária 
contribuiu para a conservação da terra em posse do indígena, contra a 
ameaça dos brancos. A decadente atividade mineradora não satisfazia 
às necessidades de ingressos f iscais e, assim, também con trariando os 
decretos de Bolívar, que colocavam em dúvida o direito do indígena 
sobre sua terra ancestral, a assembléia nacional, ratif icou, como 
legítimo, o governo comunal dos indígenas e seus títulos de 
propriedade da terra. Tratava-se, portanto, de garantir a atividade 
agropastoril, importante fonte de ingressos f iscais, para a manutenção 
do governo boliviano, naquele momento. 
 Em 1831, durante o governo de Andrés de Santa Cruz (1792 -
1865), foram restabelecidos os direitos às terras comunais dos 
indígenas bolivianos. Contudo, esses direitos não valiam para as terras 
do noroeste boliviano, de Mojos, Yucararés e Chiquitos, abertas à 
colonização de todo aquele que desejasse estabelecer fazendas, ou 
explorar a indústria extrativista. No entendimento do gover no, aquelas 
terras não possuíam proprietários e, portanto, pertencia ao governo o 
direito de dispor delas. Desconhecia, dessa forma, o direito às terras 
pelos grupos indígenas daquela região. 
 Em 1851, foi abolida a obrigação de todo indígena estar submiss o 
a um patrão. Essa instituição, remanescente dos direitos dos 
adelantados , primevos colonizadores brancos na América Espanhola, 
chamada, na época colonial, de encomienda, subordinava, como se viu, 
o trabalho indígena ao colonizador, em troca de sua “educa ção” e 
“proteção”. A partir dos anos 60 do século XIX, com o aumento da 
produção mineral na região andina e o conseqüente crescimento dos 
mercados urbanos, decresceu a importância dos tributos indígenas, 
como fonte de ingressos governamentais. Com a ascensão ao poder do 
 
 
 
115 
General Mariano Melgarejo, em 1864, a elite mineradora andina tomou 
o poder naquele país, passando, então, a dominar as polít icas livre 
cambistas. O decreto de 1866, novamente, colocou em risco a 
propriedade comunal das terras, intensif icando-se então a ocupação da 
propriedade indígena por grupos de imigrantes brancos (carayanas), 
que se dirigiram ao Beni para desenvolver a agricultura comercial. As 
medidas legais, da década de 1880, permitiram amplas concessões de 
terras, na região do Beni, e ao mesmo tempo aboliram o imposto 
indígena. 
 A conquista do Beni, e o domínio do indígena mojenho pelo 
colonizador, é um episódio que se repete, basicamente, como nas 
demais regiões da América do Sul. O acirramento de antipatias entre os 
grupos de nativos, e os demais instrumentos de cooptação, visando 
colocar o indígena a serviço da tarefa colonialista, são componentes 
comuns, tanto na América Espanhola como na América Portuguesa. 
Contudo, o domínio das nações indígenas, apesar de ser exercido de 
forma violenta, visando garantir a sujeição do trabalhador às atividades 
produtivas determinadas pelo colonizador, não era definit ivo. Durante o 
século XIX vários levantes foram promovidos pelos indígenas do Beni. 
Já no início do século, em 1811, os trinitários e demais povos de 
fala mojenha, l iderados por um indígena denominado Pedro Ignacio 
Muíba, iniciaram um movimento contra os colonizadores brancos. Os 
colonizadores (carayanas) com o auxílio dos Canichana, l iderados pelo 
cacique Juan Maraza, reprimem violentamente a revolta. Ao f inal da 
repressão, Juan Maraza recebeu, das autoridades coloniais, uma série 
de privilégios, como prêmio pela sua cooperação. Os Canichana, eram 
aliados antigos dos espanhóis e, desde o período colonial, haviam 
colaborado no esforço militar de domínio territorial e controle de 
fronteiras. Anos depois, em 1822, o governador Francisco Javier de 
Velasco, revogou todos os privilégios dados ao cacique, Maraza, 
insatisfeito, dirigiu-se a Trinidad, com a intenção de reclamar o retorno 
dos privilégios. Ao entrevistar-se com Velasco, no palácio do governo, 
Maraza foi assassinado. Os canichanas do pueblo de San Pedro, 
profundamente ofendidos com o ato do governador, tomaram Trinidad 
mataram o governador, e seus assistentes, e incendiaram o paláci o do 
governo. 
Muitas vezes, a fundação de novos pueblos indígenas em regiões 
afastadas, para escapar à exploração do colono, provoca o conflito. Em 
1842, um grupo de indígenas se instala na região entre os rios Sécure 
e o Mamoré, fundando a povoação de Trinidadcito. Durante a década 
seguinte acentua-se o processo de evasão. O endividamento, junto ao 
colonizador, e a conseqüente perda de sua propriedade, que o faz 
tornar-se peão nas hacienda , intensif ica esse processo. Há notícia de 
uma rebelião indígena, em 1855, na povoação de San Ignacio de Mojos, 
em que foi executado o corregedor local. 
Em 1877, um novo processo de resistência, de maiores 
proporções, faz crescer as povoações, surgidas com o recuo do 
indígena beniano. Um líder messiânico, Andrés Guayocho, prega, entre 
os indígenas, a existência de uma terra de liberdade e abundância, 
longe do domínio do colonizador. Sua pregação tem larga aceitação, e 
 
 
 
116 
a população indígena passa a abandonar as fazendas e mesmo a 
capital do Beni, Trinidad, dirigindo-se para o povoado de San Lorenzo. 
Apesar de pacíf ico, o ato de revolta indígena foi respondido com 
violência, as autoridades de Trinidad, preocupadas com o êxodo da 
mão-de-obra, enviaram uma expedição, para reprimir o movimento e 
fazer os indígenas retornarem aos t rabalhos nas fazendas. Os 
revoltosos, combateram a expedição de Trinidad nas proximidades da 
povoação de Trinidadcito e, apesar de alguns povoados terem sido 
destruídos e sua população enviada à Trinidad, o povoado de San 
Lorenzo conseguiu resistir, vivendo ali os indígenas livres da 
exploração do colonizador até a segunda década do século XX. Na 
maior parte das vezes, porém, após verem suas terras invadidas por 
esses comerciantes, os indígenas eram subjugados, ou recrutados por 
feitores, e enviados ao trabalho semi-escravo nas fazendas ou 
estabelecimentos extrativistas. 
 
Exercícios. 
 
1. É forma apropriação compulsória do trabalho indígena, comum na 
América no período pré-colonial e colonial: 
a) colonato e precarium. 
b) beneficium. 
c) comitatus. 
d) encomienda. 
e) patrocinium. 
 
2. Liderou o movimento rebelde em 1811 dos indígenas trimitários 
contra os colonizadores brancos (carayanas): 
a) Francisco Javier. 
b) Pedro Ignácio Muíba. 
c) Juan Maraza. 
d) Andrés Guayocho. 
e) Emiliano Zapata. 
 
3. Pregador messiânico que conduziu uma resistência pa cíf ica dos 
indígenas do Beni, em 1877, levando-os a abandonar Trindad, em 
busca de uma nova terra de liberdade, San Lorenzo: 
a) Diego Arauz. 
b) Pastor Oyola. 
c) Andrés Guayocho. 
d) Pedro Muíba. 
e) Juan Maraza. 
 
4. Que fatores levaram os indígenas benianos a se revoltarem contra 
os carayanas no século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
117 
 
 
 
 
 
5. Que fato resultou na sublevação dos Canichana contra as 
autoridades espanholas em 1842? 
a)a revogação dos privilégios dados ao seu cacique e seu posterior 
assassinato. 
b) a colonização dos elementos de origem espanhola no Beni. 
c) sua colaboração no esforço militar para dominar os demais grupos 
indígenas. 
d) a fundação do povoado de São Pedro. 
 
A legislação indígena e o recrutamento de trabalhadores na Bolívia. 
 
 As formas de recrutamento, do indígena no Beni, para o trabalho 
no setor extrativista, eram muito semelhante àquelas util izadas no 
Brasil. O recrutamento formal, consistia em convencer o indígena a 
trabalhar: como remeiro dos batelões, que levavam e traziam 
mercadorias pelo trecho encachoeirado do Madeira, ou como extrator, 
nos seringais pertencentes aos bolivianos, naquela região. Fazia parte, 
do acordo entre o agente recrutador e o trabalhador, o adiantamento 
das despesas de deslocamento e, no local do trabalho, outro 
adiantamento, composto por gêneros, necessários ao início da 
produção como: ferramentas, armas, alimentos e vestuário. Esse 
processo de obtenção da mão-de-obra, que no Brasil é conhecido por 
recrutamento , tem, na América Espanhola, vários nomes como: 
concertage (no Peru) e enganche (na Bolívia). Algumas vezes, era o 
próprio cacique indígena que f icava responsável pela contratação de 
trabalhadores, para a atividade gomífera. Apesar das diferentes 
denominações, o acordo, pelo qual se recrutava o trabalhador, 
representava o início de uma nova forma de exploração da mão-de-
obra. Essa nova forma de exploração era diferente, daquelas 
conhecidas desde o início da colonização, pois as despesas iniciais 
com o extrator, resultavam no endividamento, através da 
compulsoriedade do abastecimento do seringueiro no barracão 
(armazém) do dono do seringal, e da majoração dos preços dos 
produtos. 
 O enganche era realizado também a custa de coerção física, por 
parte de bolivianos que: ou possuíam seringais no Brasil, ou eram 
contratados, para atrair os indígenas a esses seringais. Cite-se como 
exemplo, Dom Fermin Merizalde prefeito do Beni (o equivalente a 
governador de estado no Brasil), que elaborou um relatório e o enviou 
ao governo de La Paz, dando notícia que outro prefeito, que o 
antecedeu, executou um massacre de indígenas, na praça central da 
capital daquele departamento (Trinidad), e depois mandou 250 dos 
sobreviventes para um seringal, de sua propriedade, no Brasil. Havia, 
também, o caso da contratação do indígena aculturado e sua posterior 
 
 
 
118 
venda no país vizinho. No caso dos grupos bravios, era util izado o 
recurso do combate e escravização. Respondendo à reação dos 
indígenas, à invasão de seus territórios, o colono util izava -se do terror, 
massacres e mutilações eram instrumentos de intimidação. 
 Estima-se que já em 1858, somente no alto Madeira, havia uma 
população de cinco mil pessoas. Essa população, cresceu muito após 
os anos 60. Certamente, contribuiu para esse crescimento o elemento 
indígena boliviano. Esse movimento populacional, de tão intenso, 
tornou-se motivo de preocupações. Denúncias, contra o abuso do 
transporte indiscriminado de indígenas para os seringais do Madeira, 
foram levadas ao público pela imprensa, causando certa comoção na 
Bolívia. O governo de La Paz, ciente do problema, preocupou -se, não 
com as crueldades cometidas, mas com a descolonização da região 
beniana, emitindo, em 1882, uma ordem de governo, que enviou ao 
prefeito do Beni, mandando impedir o tráf ico, sob o risco de ser 
despovoada aquela região, já então a menos povoada da Bolívia. 
Algumas evidências, demonstram a forte preocupação do governo 
boliviano, em defender os interesses econômicos, localizados dentro de 
seu território, ou seja, dentro do Beni. Por um lado, alertado para o 
perigo do despovoamento e, conseqüentemente, da escass ez da mão-
de-obra, que migrava para os seringais no Brasil, o governo boliviano 
proibiu o seu recrutamento, para o trabalho nos seringais brasileiros, o 
que dif icultou, aos seringalistas bolivianos situados no Madeira, a 
obtenção de trabalhadores. Por outro lado, a mesma lei evidencia a 
importância da navegação da via Madeira -Amazonas, ao permitir, e 
mesmo facil itar, o recrutamento de trabalhadores para aquele setor. 
 A Lei de 24 de novembro de 1883, orientada por um livre 
cambismo completamente favorável àqueles que exploravam a força de 
trabalho indígena, tornou livres os contratos de recrutamento, 
particularmente, aqueles relativos ao abastecimento de remeiros, para 
a via Madeira-Amazonas. Ao contrário de abolir o enganche, a 
legislação tendia a fortalece-lo. Apesar de, formalmente, a legislação 
de 1883 defender o trabalhador indígena, ao considerar o aviamento 
como uma simples dívida, que não sujeitava o trabalhador; proibir os 
castigos físicos e ao limitar o contrato de trabalho, ao período de oito 
meses, o processo de endividamento, e o poder de coerção dos 
seringalistas, permitiam que o extrator f icasse sujeito, por período 
indeterminado, sob o argumento formal da obrigação de pagar sua 
dívida. Assim, a realidade do isolamento e da ausência do estado, n as 
remotas regiões extrativistas, tornavam essa legislação letra morta. Nos 
anos seguintes, ampliou-se o arcabouço legal que, formalmente, 
protegia o indígena da exploração patronal. Em 1895, surge nova 
legislação, l iberando o seringueiro para abastecer -se fora do barracão 
e impedindo a vinculação, do produto da extração do seringueiro, ao 
adiantamento, em gêneros. No ano seguinte, outra legislação 
estabelece, de forma contraditória, a matrícula do contratado ante um 
tabelião. 
As transformações legais, rela tivas ao trabalho do indígena, 
ocorridas na Bolívia, durante o período áureo do extrativismo da 
borracha, satisfaziam, plenamente, à demanda de mão -de-obra do 
 
 
 
119 
setor. Contudo, tendiam a defender os interesses econômicos 
estabelecidos dentro de suas fronteiras. A intensif icação da exploração 
da goma elástica, no noroeste boliviano, a partir da década de 70 e o 
seu surto, nos anos 80 do século XIX, aumentaram a demanda, de mão -
de-obra indígena, dentro do Beni e as medidas legais, aprovadas pelo 
governo daquele país, vieram a dif icultar o recrutamento, que vinham 
fazendo os seringalistas do Madeira desde os anos 60. 
 
Exercícios. 
 
1. Como se realizavam os enganches? 
R. 
2. Que conseqüências teve o enganche de indígenas benianos para os 
seringais do Madeira? 
R. 
3. Sistema de recrutamento de trabalhadores indígenas bolivianos feito 
por agentes contratadores: 
a) barracão. 
b) toco. 
c) concertage. 
d) enganches. 
e) aviamento. 
 
4. Sobre a lei boliviana de 24 de novembro de 1883, que tratava do 
indígena beniano, podemos dizer que 
a) contrariava os interesses do setor de transporte no trecho 
encachoeirado do rio Madeira. 
b) regulava os contratos de recrutamento de trabalhadores. 
c) considerava o aviamento uma simples dívida. 
d) permitia castigar f isicamente os trabalhadores indígenas. 
e) permitia que o contrato de trabalho do indígena fosse por tempo 
indeterminado. 
 
5. Sobre as transformações legais relativas ao trabalho indígena no 
noroeste boliviano podemos dizer que: 
a) tendiam a proteger os interesses econômicos do noroeste, na medida 
em que dif icultava a transferência de mão-de-obra indígena para o 
Madeira. 
b) visavam apenas regular os contratos de trabalho, na medida em que 
havia uma oferta il imitada de mão-de-obra. 
c) surgiu com o crescimento da exploração da quina. 
d) foi uma resposta ao crescente surto de industrialização daquela 
região. 
e) facil itava os contratos de trabalho para o setor extrativista localizado 
no Brasil. 
 
Em resumo. 
 
 A mão-de-obra indígena foi largamente util izada pelos europeus na 
América Espanhola desde o período colonial. No noroeste bolivia no, 
 
 
 
120 
durante o século XIX, intensif icou-se a exploração dessa mão-de-obra, 
na medida em que ocorreu a ocupação daquelas terras. 
 Em 1831, durante o governo de Andrés de SantaCruz foram 
restabelecidos os direitos às terras comunais dos indígenas bolivianos 
do alt iplano. O mesmo direito não foi estendido às terras pertencentes 
aos indígenas das terras baixas: Mojos, Yucararés e Chiquitos. 
 Em 1851, foi abolida a encomienda e em 1864, com a ascensão do 
General Melgarejo ao poder instalou-se uma polít ica livre-cambista que 
permitiu a ocupação das terras indígenas do Beni por grupos de 
imigrantes brancos (carayanas). 
 Os indígenas pagavam pesados tributos pela posse comunal de suas 
terras. Esse tributo chegou a representar 60% da arrecadação do 
governo boliviano. Com a instalação do livre-cambismo e do direito de 
se explorar e ocupar as terras indígenas esse imposto foi abolido na 
década de 1880. 
 A extração do látex nos seringais do alto Madeira, durante a 2ª 
metade do século XIX foi feita principalmente por indígena s mojenhos. 
Durante o século XIX ocorreram diversos levantes de indígenas do Beni 
contra a dominação dos colonizadores. A resistência indígena implicou 
em atos de rebelião armada fugas e alianças com colonizadores para o 
combate contra outros povos indígenas. Na maior parte das vezes, os 
indígenas eram subjugados e submetidos ao trabalho semi -escravo. 
 A obtenção de trabalhadores para o alto Madeira f icava a cargo de 
agentes recrutados. O processo de recrutamento chamava -se 
enganche. O trabalhador recebia ad iantamento das despesas de 
deslocamento e os gêneros necessários ao início da produção ( esse 
processo é conhecido como aviamento no Brasil e na Bolívia chama -se 
habilito). O enganche podia ocorrer de forma violenta e através da 
prevaricação. Ocorria também o caso de contratação de indígenas 
aculturados e sua posterior venda no país vizinho. 
 O habilito ou aviamento submetia o trabalhador ao patrão, enquanto 
não fosse liquidada a dívida para com o barracão. 
 O processo de enganche de indígenas benianos destin ados ao 
Madeira chegou a ameaçar de despovoamento a região do Beni, o que 
levou o governo boliviano a tomar providências. No entanto o 
isolamento da região sempre dif icultou a ação do Estado e facil itou a 
exploração do trabalhador por parte dos grandes proprietários e dos 
agentes contratadores. 
 Durante o século XIX e o seguinte continuou a ocupação dos 
territórios indígenas que hoje compõem o estado de Rondônia. 
 A intensif icação da ocupação dessa região ocorreu em função da 
busca de novos seringais nativos. 
 No Madeira esse avanço encontrou nativos remanescentes da fuga 
para o interior, ocorrida nos séculos anteriores. 
 Como nos séculos anteriores o processo constitui -se pela reação do 
nativo, e massacres e retaliações dos colonos. 
 Durante a 2a. Guerra a intensa migração nordestina destinada a 
satisfazer o novo crescimento da demanda de borracha para o mercado 
norte-americano aumentou a ocupação dos territórios indígenas do 
Madeira/Mamoré/Guaporé. 
 
 
 
121 
 Nas décadas seguintes a descoberta de metais e pedras preciosas, 
de cassiterita e a abertura da BR-364 fez com que os territórios 
indígenas fossem ocupados por grileiros e posseiros que promoviam 
massacres para afugentar os nativos dessas áreas. 
 Apesar de todo esse processo de destruição das populações nativas, 
restam ainda na Amazônia mais de duas centenas de etnias que vivem 
sob a jurisdição de quatro países diferentes. 
 Práticas comuns no passado continuaram a fazer parte do cotidiano 
da destruição material ou espiritual das culturas indígenas, como por 
exemplo a denominação que os agentes do governo atribuem aos povos 
contatados. 
 Povos como os Omágua, Torá e Mura que são objetos da destruição 
do conquistador desde o século XVI ainda sobrevivem em reservas 
indígenas da Amazônia. Muitos dos remanescentes desses grupos 
vivem já desaldeados, ou seja, nas cidades ou no campo. 
 
 
 
 
122 
 
Capítulo 8 
Mão de obra para os seringais do alto Madeira 
 
A obtenção da mão-de-obra para os seringais e o mecanismo de 
expropriação do trabalhador direto. 
 
 Durante a segunda metade do século XIX, em duas regiões 
distintas do Brasil, o norte e o sul, havia, simultaneamente, forte 
demanda de mão-de-obra. O crescimento da demanda do látex, nos 
países que consumiam essa matéria -prima em suas indústrias, 
estimulou o aumento da produção extrativa, o que f ez aumentar, 
enormemente, a procura por mão-de-obra na região amazônica. Nos 
estados do sudeste, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, f irmava -
se a lavoura de café, monocultura que substituiu a decadente produção 
do açúcar como maior produto de exportação brasileiro. 
Contudo, a ampliação das áreas de monocultura cafeeira 
dependia da força de trabalho do escravo negro, que naquele momento 
sofria as restrições resultantes da pressão da Inglaterra, para que o 
Brasil extinguisse o trabalho escravo. O governo brasileiro, 
gradualmente, aprovou leis que dif icultavam o aumento do número de 
escravos nas fazendas. A abolição do tráf ico, a lei que tornava livres os 
escravos nascidos após sua promulgação (Lei do Ventre Livre), a lei 
que tornava livres os escravos que atingissem sessenta anos (Lei dos 
Sexagenários) e, f inalmente, na abolição da escravidão, forçaram à 
elite cafeeira à busca de soluções para o problema da mão -de-obra. Os 
efeitos das restrições, à ampliação do plantel de escravos foi, 
primeiramente, suprido pela compra de escravos das regiões 
açucareiras do nordeste. Com a abolição, o estímulo à imigração de 
europeus foi o meio de suprir a necessidade dos cafezais. 
 Na Amazônia, a crescente demanda de trabalhadores, resultante 
do aumento da procura externa pela goma elástica, foi resolvida em 
parte, inicialmente, pela migração intra -regional. Para as novas áreas 
extrativistas do oeste amazônico, deslocaram-se as populações dos 
antigos núcleos de colonização. Esse processo migratório, atingiu 
proporções que chegaram a preocupar as autoridades do Pará, com a 
perspectiva de descolonização daquelas regiões. 
 Mas o deslocamento de mão-de-obra das regiões tradicionais, 
para as novas áreas extrativistas da Amazônia, não foi suf iciente para 
atender ao aumento de produção, à altura das necessidades do 
mercado. Assim, o apresamento do índio continuou e até aumentou, no 
últ imo quartel do século XIX. Esses indígenas eram obrigados, pelos 
donos dos seringais, à coleta do látex e de outros produtos da f loresta. 
Contudo, seu apresamento tornava-se cada vez mais dif ícil e era 
insuficiente, para a demanda dos seringais. 
 Apesar de o movimento de nordestinos em direção à Amazônia, 
para trabalharem nos seringais, datar das primeiras décadas do século 
XIX, intensif icou-se, com o aumento da demanda da matéria -prima e 
com a pior seca do século (1879/80). Enquanto os cafezais do Sudeste 
 
 
 
123 
foram abastecidos com trabalhadores europeus, os seringais da 
Amazônia receberam trabalhadores nordestinos, que para lá migraram, 
de forma espontânea ou induzida, com a ajuda de deslocamento 
fornecida pelo Governo Brasileiro, principalmente em função de fortes 
secas que assolaram o nordeste no f inal do século passado. 
 Resolvida a questão do abastecimento de mão-de-obra para o 
crescente setor extrativista, resta examinar o mecanismo de exploração 
dessa mão-de-obra. A queda da produção regional de alimentos, 
simultaneamente ao aumento da demanda de produtos primários, é 
ocorrência típica das regiões monocultoras e de extrativismo intensivo, 
e foi um dos maiores problemas na região amazônica. Destarte, o 
desabastecimento, no auge do primeiro ciclo da borracha, foi a 
culminância do crescimento, ao longo de várias décadas do século XIX, 
do aumento da demanda de matéria -prima. Há, porém, no caso da 
borracha, um elemento que não pode ser ignorado, pois se vincula 
intimamente à questão do desabastecimento: o aumento da demanda 
externa ocorreu, simultaneamente, com o processo de intensif icação da 
exploração da mão-de-obra. Essa dinâmica é comum também nas áreasmonocultoras, contudo resultou, na Amazônia, no aperfeiçoamento e 
domínio de uma forma típica de apropriação do excedente do trabalho, 
conhecido como sistema do barracão. 
O fenômeno pode ser simplif icado da seguinte forma: um motor 
externo à região, o aumento da demanda de matéria-prima, faz com que 
o seringalista exija que o seringueiro dedique, crescentemente, seu 
tempo na extração; o seringueiro, gradualmente, vai abandonando a 
lavoura de subsistência e passa a adquirir, cada vez mais, produtos no 
barracão do seringalista; a produção aumenta e o seringalista, em face 
da crescente dependência do seringueiro em abastecer -se no barracão, 
majora os preços. Como conseqüência dessa majoração, a produção do 
seringueiro nunca é suficiente para liquidar as dívida s. Acrescente-se 
que o preço pago pela borracha extraída pelo seringueiro é manipulado 
pelo seringalista. Assim, a resultante f inal é que o produtor direto f ica 
preso ao seringalista pela dívida, prisão evidentemente garantida, não 
pela honra ao compromisso, mas por mecanismos de coerção física. 
Dois pressupostos necessários ao esquema da borracha estão 
satisfeitos, aumentou-se a produção e garantiu-se a continuidade do 
processo de extração, ao prender o extrator à produção através do 
endividamento. Uma terceira conseqüência, não menos importante, é 
que se garantiu também, pelo mesmo processo, o aumento do 
excedente apropriado pelo seringalista. 
Ao contrário do conhecimento comum, o abastecimento de 
gêneros alimentícios não provinha todo de áreas externas à região 
extrativista, mas havia um setor econômico interno dedicado à 
produção de alimentos, o que permitia estabelecer uma estratégia de 
aquisição dos produtos, destinados ao abastecimento das regiões 
produtoras da borracha, vinculada a diversos fatores ec onômicos e 
geográficos. Por exemplo: nas regiões mais próximas às nascentes dos 
af luentes do alto Amazonas e, particularmente, no alto Madeira, em 
função do seu trecho acidentado, onde o abastecimento externo de 
produtos do Pará e do exterior era mais precário por causa das 
 
 
 
124 
distâncias, antes do estabelecimento das linhas de navegação à vapor, 
procurava-se a região produtora de alimentos mais próximas, não 
necessáriamente dentro do país. Assim é que, o abastecimento do 
trecho encachoeirado, e talvez de boa parte do alto e médio Madeira, 
por volta de 1868, era feito com gêneros produzidos nos departamentos 
bolivianos de Pando e Beni. Produtos da agricultura e pecuária, 
queijos, gado, couros e aguardente daquela região rica em planícies, 
eram comprados ou até mesmo trocados por indígenas escravizados 
pelos brasileiros que atravessavam a fronteira para esse f im. 
 
Exercícios. 
 
1. Como era feito o abastecimento dos seringais do Madeira? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Como funcionou o sistema de barracão? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Como eram real izados os trabalhos nos dois grande centros 
produtores do Brasil na segunda metade do século XIX? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. A partir de que período passa a predominar o uso da mão -de-obra 
nordestina nos seringais amazônicos? 
R. 
 
 
 
125 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Que conseqüências teve a entrada dos nordestinos na Amazônia? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A mão-de-obra indígena no período áureo da borracha. 
 
A partir da segunda metade do século XIX, a Amazônia inicia a 
sair da letargia econômica, que sempre caracterizou os períodos que 
intermediaram os grandes surtos extrativistas daquela região. O 
crescimento da demanda de matéria -prima, para a indústria da borracha 
da Europa e E.U.A., intensif icou a necessidade de mão -de-obra na 
região, tornando mais dif ícil a manutenção da liberdade do indígena. 
Dois processos simultâneos ocorreram então: a ampliação da 
conquista, sobre as áreas ainda de domínio indígena, com a abertura 
de novos seringais, que iniciavam por espalhar -se pelos rios mais 
remotos da Amazônia; e a intensif icação do combate ao indígena, tanto 
para expulsá-lo das mediações das novas áreas de extrativismo, como 
para escravizá-lo ao seringal. Tanto o indígena do território boliviano 
como aqueles do território brasileiro foram vit imados por esse surto 
extrativista. 
 Ao realizar a segunda tentativa, de construção da ferrovia 
Madeira-Mamoré (1878), que contornaria o trecho encachoeirado do rio 
Madeira, facil itando o comércio com o Noroeste boliviano, os norte -
americanos encontraram a região do alto Madeira, ocupada por 
bolivianos que praticavam o extrat ivismo do látex. A expedição, serviu -
se de remadores indígenas, provenientes da Bolívia, e os contatos, no 
trecho encachoeirado do Madeira foi, com exceção dos trabalhadores 
recrutados nos E.U.A, quase que exclusivamente, com bolivianos. Essa 
mão-de-obra era, à época da expedição, indispensável no Madeira, 
além de remar esses indígenas se encarregavam de todo o trabalho 
 
 
 
126 
braçal: carregar as mercadorias e arrastar as embarcações por terra, 
para contornar os acidentes do rio; levantar os acampamentos, cozinhar 
e servir as refeições. Em Santo Antônio, era esse indígena também a 
força de trabalho predominante, conduzindo os fardos, dos vapores até 
as canoas que seguiam rio acima, pelo trecho encachoeirado, ou vice -
versa. Eram, também, os construtores das edif icações da promissora 
vila e moradores de sua periferia. 
 Os administradores públicos do Beni, t inham poder para recrutar 
esses indígenas, e enviá-los ao Madeira. A remuneração desses nativos 
era irrisória: um pequeno salário ou o pagamento em tecidos, roupas e 
armas. Como no Beni, o indígena que migrava para o Madeira, estava 
sujeito ao abusos e maltratos por parte dos patrões. Os maltratos ao 
indígena transportado, pelo artif ício do engodo ou pela força, contavam 
com a colaboração, ou conivência, das autoridades brasileiras, 
interessadas em manter a produção da borracha à pleno vapor o que 
não ocorreria, sem o concurso de uma mão-de-obra extremamente 
submissa à exploração. Em 1878, o presidente da província do 
Amazonas subiu o Madeira, chegando até Santo Antôn io, onde teve 
notícias do tratamento cruel dado aos trabalhadores, principalmente os 
indígenas. Tais castigos, eram perpetrados mesmo em Santo Antônio. 
As autoridades, não somente f icavam indiferentes às agressões como 
freqüentemente auxiliavam os seringal istas a capturar o trabalhador 
que fosse embora do seu posto de trabalho. 
Outras possibil idades de obtenção de trabalhadores eram 
sugeridas. Em 1866, Tavares Bastos considerava viável a absorção de 
imigrantes ilhéus, espanhóis e portugueses, supunha mesmo a 
Amazônia como espaço privilegiado, no Brasil, para a imigração norte -
americana. Contudo era o indígena a opção imediata. Já Na segunda 
metade do século XIX Pimenta Bueno (1803-1878) declarava a 
dif iculdade em fazer valer as normas imperiais, relativas à propriedade 
fundiária, em vista do pouco valor da terra em relação à mão -de-obra. 
Nas décadas seguintes, a situação continuava semelhante. Em 1866, 
Tavares Bastos denunciou a ação de brasileiros na captura dos 
indígenas Miranha, que viviam nos rios Japurá e Içá, no território de 
Nova Granada.. 
Assim, apesar dos projetos de arregimentação de trabalhadores 
estrangeiros, o braço indígena continuou a predominar no extrativismo 
da goma elástica, até o últ imo quartel do século XIX, quando a grande 
seca no Ceará propiciou condições para a arregimentação de 
nordestinos, para os seringais do Madeira e do Purus. Contudo, mesmo 
durante o período áureo, situado entre 1880 e 1912, o braço indígena 
continuou sendo largamente usado, nas várias atividades da indústria 
extrativista. A grande migração nordestina, a partir do ano de 1879, deu 
à população amazônica a sua feição f inal. 
 
Exercícios. 
 
1. Qual o fator que provocou o aumento da demanda de mão -de-obra 
na Amazônia após a segunda metade do século XIX? 
a) a letargia econômica em que se encontrava a Amazônia. 
 
 
 
127 
b)o estabelecimento de indústrias de pneumáticos na região. 
c) a conquista de novas áreas indígenas. 
d) o crescimento da demanda de borracha pelo mercado internacional. 
e) a abertura do noroeste boliviano à navegação. 
 
2. Em 1866 denunciou a ação de brasileiros na captura dos indígenas 
Miranha, que viviam nos rios Japurá, no território de Nova Granada,: 
a) Jonatas Pedrosa. 
b) Tenreiro Aranha. 
c) José de Alencar. 
d) Plácido de Castro. 
e) Tavares Bastos. 
 
3. Qual era a posição das autoridades brasi leiras no alto Madeira em 
relação aos maltratos dispensados aos indígenas? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Para resolver a questão da demanda de mão-de-obra no Vale 
Amazônico Tavares Bastos sugeriu: 
a) a intensif icação do apresamento do indígena. 
b) a adoção do trabalhador escravo. 
c) o estabelecimento de relações de trabalho servis. 
d) a absorção de trabalhadores de outros países. 
e) a libertação dos escravos negros do sul do país e sua transmigração 
para a Amazônia. 
 
5. Que fator propiciou o abundante abastecimento de mão -de-obra não 
indígena para a Amazônia? 
a) o recrutamento de trabalhadores no noroeste boliviano. 
b) a vinda de um enorme contingente de trabalhadores europeus. 
c) a grande migração nordestina a partir de 1879. 
d) a compra de escravos negros. 
e) a oferta de salários atraentes no setor extrativista. 
 
Em resumo. 
 
 O crescimento da procura pela borracha amazônica durante a 
segunda metade do século XIX levou a uma crescente exploração da 
reduzida e insuficiente mão-de-obra local. Caboclos e tapuios eram 
recrutados, muitas vezes violentamente para o trabalho nos seringais. 
 
 
 
128 
 Como disponibil idade de mão-de-obra era insuficiente, uti l izou-se 
largamente da escravização e comercialização de indígenas capturados 
ou comprados pelos regatões para o trabalho nos seringais: A 
util ização da mão-de-obra nordestina na Amazônia já era observada 
desde as primeiras décadas do século XIX, no entanto ela ganhou 
maior relevância a partir da grande seca que f lagelou o Nordeste entre 
1877 e 1879. 
 Os nordestinos penetraram nos seringais acreanos, então 
pertencentes à Bolívia e calculou-se que em 1900 já existiam 60.000 
brasileiros no Acre. Por outro lado era intensa a presença de 
seringueiros bolivianos no alto Madeira. 
 Durante muitos anos, os seringais do Madeira possuíam lavouras e 
gado para seu próprio sustento. Contudo o aumento da demanda pela 
borracha, fez com que os trabalhos agrícolas fossem abandonados, 
passando-se a importar tudo de outras regiões ou de outros países. Ao 
redor de Belém e nas zonas de extrativismo já esgotados, f loresceu a 
atividade agrícola que forneceu os gêneros necessários aos seringais, 
os produtos industrializados vinham, principalmente, da Europa e dos 
EUA. 
 Nos seringais o sistema de aviamento ou barracão concedia crédito 
ao trabalhador que deveria pagar suas dívidas com produção. Dessa 
forma manteve-se sempre o trabalhador endividado e preso ao seringal 
 O auge do desabastecimento dos seringais ocorreu entre 1880 e 
1915, o que corresponde ao período áureo da extração da borracha no 
Brasil. 
 No Vale do Madeira os seringais empregaram largame nte a mão-de-
obra boliviana. No entanto os trabalhos desses indígenas do Beni eram 
util izados mesmo em Manaus, Serpa, Manicoré e Humaitá. Preferia -se 
o indígena boliviano ao brasileiro, pois ele era considerado mais dócil, 
higiênico e trabalhador. 
 A mão-de-obra indígena (brasileira e boliviana) foi largamente 
util izada nos seringais brasileiros mesmo durante o século XX. 
 
 
 
 
129 
 
Presidentes da Província do Amazonas durante o Império. 
Posse - Nome. 
1852 - João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. 
1853 - Herculano Ferreira Pena. 
1856 - João Pedro Dias Vieira. 
1857 - Ângelo Tomás do Amaral. 
1857 - Francisco José Furtado. 
1860 - Manuel Clementino Carneiro da Cunha. 
1863 - Sinval Odorico de Moura. 
1864 - Adolfo de Barros Cavalcânti de Albuquerque de Lacerda. 
1865 - Antônio Epaminondas de Mello. 
1867 - José Coelho da Gama Abreu. 
1868 - Jacinto Pereira Rego. 
1868 - João Wilkens de Matos. 
1870 - José de Miranda da Silva Reis. 
1872 - Domingos Monteiro Peixoto. 
1875 - Antônio dos Passos Miranda. 
1876 - Domingos Jaci Monteiro. 
1877 - Agesilau Pereira da Silva. 
1878 - Inocencio Eustaquio Ferreira de Araújo. 
1879 - José Clarindo de Queirós. 
1880 - Sátyro de Oliveira Dias. 
1881 - Alarico José Furtado. 
1882 - José Lustosa da Cunha Paranaguá. 
1884 - Theodoreto Carlos de Faria Souto. 
1884 - José Jansen Ferreira Júnior. 
1885 - Ernesto Adolpho Vasconcellos Chaves. 
1887 - Conrado Jacob de Niemeyer. 
1888 - Francisco Antônio Pimenta Bueno. 
1888 - Joaquim Cardoso de Andrade. 
1889 - Joaquim de Oliveira Machado. 
1889 - Manuel Francisco Machado. 
 
 
 
130 
 
Capítulo 9 
A questão Acreana e a construção da E.F.M.M. 
 
Os antecedentes e a Rebelião Acreana. 
 
 Na virada do século XIX os rios da Amazônia Ocidental estavam 
sendo intensamente ocupados. Os seringais produziam enormes 
quantidades da goma elástica para a exportação e os nordestinos 
continuavam chegando para abastecer de mão-de-obra o mercado. No 
Madeira, avançava a população brasileira sobre trechos que antes eram 
habitados quase que exclusivamente por bolivianos. No Acre, região 
reconhecida pela diplomacia brasileira do império e início da república 
como inquestionavelmente boliviana, o avanço brasileiro sobre os 
seringais iniciava a ocasionar conflitos. 
A conjunção de vários fatores vieram a resultar na rebelião dos 
brasileiros que ocuparam a região do Acre, contra a soberania territorial 
boliviana. Era o Acre então a maior região produtora da goma elástica 
do mundo; a borracha dali exportada era produzida por uma população 
maioritariamente brasileira. Apesar de o governo brasileiro ter 
reconhecido no Tratado de Ayacucho (1867) os direitos da Bolívia sobre 
aquela região, não haviam marcos de fronteira naquele setor que 
permitissem o estabelecimento das lindes, restando dúvidas em relação 
ao f inal do território brasileiro e início do território bolivi ano. O controle 
quase nulo daquele espaço de fronteiras pelo governo boliviano 
permitiu ao Estado do Amazonas estabelecer ali sua jurisdição, 
inclusive e principalmente no que se refere a cobrança de impostos, 
resultando daí que, apesar do território pertencer à Bolívia parte dele 
era regulado por leis brasileiras. A tentativa de controle daquele espaço 
pelo governo boliviano, no f inal do século, gerou atritos entre os 
funcionários do governo daquele país e a população brasileira ali 
residente. A ação do governo boliviano contrariou também os interesses 
f iscais dos estados do Pará e Amazonas e os interesses comerciais das 
casas aviadoras daqueles estados, que passaram a apoiar as 
aspirações separatistas dos acreanos. 
 Somente alguns anos após à assinatura do Tratado de Ayacucho, 
os governos do Brasil e da Bolívia tomaram a iniciativa que permitiria o 
estabelecimento dos marcos da fronteira. A comissão, chefiada em 
1874 pelo Barão de Tefé (1837-1931), para estabelecer os limites entre 
o Brasil e o Peru, não conseguiu chegar às nascentes do Javari. Em 
1877, reuniu-se uma comissão brasileiro-boliviana para, a partir da 
junção do Beni com o Mamoré (Villa Bella) f incar os marcos de limites 
no rio Madeira. O marco foi erigido na cachoeira do Madeira, próximo 
àquela localidade e daí seguiria para a nascente do Javari, quando 
fosse descoberta. 
 Em 1895 os ministros da relações exteriores da Bolívia, Frederico 
Diez Medina, e do Brasil, Carlos Augusto de Carvalho, assinaram um 
protocolo onde a Bolívia aceitava as conclusões da comissão brasileiro-
peruana sobre a nascente do Javari. No mesmo ano formou -se uma 
 
 
 
131 
comissão mista para dar prosseguimento as demarcações. O Coronel 
Gregório Taumaturgo de Azevedo (1851-1921), que dirigia o grupo 
brasileiro de demarcação,supondo que a nascente do Javari estava 
situada mais ao sul, discordou do referido protocolo. Voltando ao Rio 
de Janeiro o Coronel expôs à opinião pública seus argumentos. 
Segundo ele, a aceitação da decisão da comissão mista implicaria em 
que o Brasil perderia o rio Acre, Yaco, alguns af luentes do Juruá, talvez 
do Jutaí e do Javari, justamente a região que fornecia a maior 
quantidade de borracha naquela zona. Premido pela opinião pública o 
chanceler Dionísio Cerqueira (1847-1910) suspendeu a demarcação, 
determinando que se verif icasse a exata nascente do Javari. 
 Finalmente, no ano seguinte, a comissão mista brasileiro -
boliviana reuniu-se em Caquetá, na margem direita do rio Acre, f ixando 
ali o primeiro marco daquela comissão. Em 1898 Dionísio Cerqueira 
autorizou a criação de uma alfândega boliviana em Porto Acre, e 
informou ao Governador do Amazonas, Ramalho Júnior., que o aceite 
para a criação de uma alfândega boliviana no rio Acre justif icava -se por 
ser o território incontestavelmente boliviano. 
 Mantendo-se ainda incógnita a nascente do Javari, Brasil e 
Bolívia subscreveram em 1899 um novo acordo determinando a sua 
descoberta. Por este acordo concordava o Brasil com o 
estabelecimento de uma aduana em Puerto Alonso, no rio Acre, 
comprometendo-se a Bolívia a recuar a alfândega, se estivesse em 
território brasileiro, quando se definisse f inalmente os limites entre os 
dois países. Nesse mesmo ano surgiu "O Rio Acre", de autoria de 
Serzedelo Corrêa (1858-1932), polít ico paraense e deputado por aquele 
Estado na Câmara Federal. No livro Serzedelo sustentava a 
interpretação, conveniente aos interesses de Belém e Manaus mas 
absurda considerando-se o sentido do Tratado de 1867, de que a partir 
da nascente do Madeira a fronteira correria paralela à latitude 10 o 20’ 
até o ponto em que encontrasse o meridiano que passa pela nascente 
do Javari. 
 Tanto a interpretação do Coronel Taumaturgo quanto a do 
Deputado Serzedelo Corrêa baseavam-se em suposições. Apesar de 
ser uma interpretação conveniente aos interesses territoriais nacionais 
era equivocada. O tratado de 1867 não deixava margem à dúvidas pois 
determinava que da nascente do Madeira: ".para oeste seguirá a 
fronteira por uma paralela tirada de sua margem esquerda, na latitude 
10o 20’ até encontrar as nascentes do Javary ." 
Porém continha uma salvaguarda: ".se o Javary tiver suas nascentes ao 
norte daquela linha leste-oeste partirá a fronteira, desde a mesma 
latitude, por uma reta a buscar a origem principal do Javary ." 
 As condições para a rebelião da população brasileira na zona d o 
rio Acre estavam colocadas: o estabelecimento da aduana foi o estopim 
da primeira revolta e a interpretação de Serzedelo Corrêa foi o seu 
argumento de justif icação. Situada entre os seringais Riosinho e 
Caquetá, a alfândega de Puerto Alonso vinha facil it ar a coleta de 
impostos pelas autoridades bolivianas, ação de dif ícil execução na 
aduana de Villa Bella, no rio Beni pouco abaixo de sua confluência com 
o Mamoré, em função da distância da principal zona de produção 
 
 
 
132 
gomífera, o Acre. A instalação do Delegado Nacional Boliviano em 
Puerto Alonso, em 1899, acompanhado de um contingente militar de 40 
homens, fez cessar a autoridade do Superintendente e do Juiz de 
Direito da Comarca de Floriano Peixoto, autoridades ali instaladas pelo 
Governo do Amazonas. 
Os habitantes da região do Acre que viveram livres de impostos 
tinham agora que se entender com a f iscalização boliviana. Além disso 
a criação da aduana de Puerto Alonso resultava em que o Estado do 
Amazonas, que havia estendido sua jurisdição sobre aquela área, 
perderia rendas derivadas do escoamento da produção gomífera do 
Acre. 
 Em 1899, alguns meses após instalada a alfândega boliviana, 
iniciou-se a primeira tentativa separatista, conspirada no seringal 
Caquetá, de Joaquim Vítor. José de Carvalho, que fora Se cretário do 
Superintendente do Estado do Amazonas em Floriano Peixoto (Acre), 
dirigiu-se a Puerto Alonso e intimou os funcionários bolivianos a saírem 
do território do Acre. O embaixador boliviano no Rio de Janeiro, D. Luiz 
Salinas y Vega, enviou ao Acre um aviso de guerra para desalojar os 
sediciosos. 
 Contudo um incidente veio a precipitar o recrudescimento da 
rebelião dos brasileiros no Acre. Paralelamente à instalação da 
alfândega boliviana, D. José Paravicini entabulava um acordo com o 
governo dos E.U.A. No mesmo ano da instalação da alfândega em 
Puerto Alonso, foi entregue a um funcionário do consulado da Bolívia 
em Belém um documento para ser vertido para o inglês. Tratava -se da 
minuta de acordo diplomático assinada pelo cônsul da Bolívia no Pará 
(Luiz Trucco), pelo ministro da República da Bolívia e Enviado 
Plenipotenciário (José Paravicini) e pelo cônsul dos EUA (Kennedy). O 
documento previa a gestão do governo norte -americano junto ao 
governo brasileiro para que este reconhecesse os direitos da Bolí via 
aos territórios do Acre, Purus e Iaco, ocupados segundo o acordo de 
1867. O mais grave porém é que os E.U.A comprometiam -se a apoiar a 
Bolívia, em caso de guerra com o Brasil. 
Luiz Galvez Rodrigues de Arias, um espanhol que era funcionário 
do consulado da Bolívia em Belém, ciente das conseqüências desse 
acordo para Manaus, dirigiu-se àquela capital. onde informou ao 
presidente da província sobre os termos da minuta. Galvez então, 
apoiado of iciosamente pelo presidente da província do Amazonas, 
dirigiu-se ao Acre com armas, munições e 1.000 contos de réis. 
Chegando ao Acre assumiu a liderança do movimento e proclamou a 
República Independente do Acre, que tinha como limites setores dos 
rios Juruá, Purus, Acre e Beni. 
 Alguns dirigentes revolucionários, dent re eles Galvez, o líder dos 
rebeldes, julgavam que o Acre poderia ser um estado independente, 
dada a distância em que se encontrava dos poderes centrais, tanto do 
Brasil como da Bolívia. Essa pretensão contava com a oposição do 
comércio de Belém e Manaus, que naquele momento temiam que o 
movimento separatista viesse a prejudicar seus interesses na região; os 
governos do Brasil e da Bolívia e também alguns seringalistas que, 
opondo-se a esse intento, formaram uma Comissão Garantidora dos 
 
 
 
133 
Direitos Brasileiros, recusando-se a aderir ao movimento. A crescente 
oposição resultou que Galvez publicasse um decreto de estado de sit io 
e ordem de prisão dos elementos contrários ao Estado Independente. 
 A insatisfação em relação a Galvez foi crescendo até que, em 
dezembro do mesmo ano, o Coronel Antônio de Souza Braga 
proprietário dos seringais, Riosinho e Benfica, foi aclamado e 
empossado no governo e Galvez deposto e ordenada sua prisão. O 
aparente despreparo e a falta de vontade de Antônio Braga de 
continuar na chefia do governo, f izeram com que Hipólito Moreira, 
Joaquim Vítor e Rodrigo de Carvalho articulassem o retorno de Galvez 
ao poder, o que ocorreu pacif icamente um mês depois de sua 
deposição. Contudo, o Estado Independente do Acre vivia seus últ imos 
momentos. No mês de março de 1900 chegou ao Acre uma força 
expedicionária do Exército enviada pelo Governo Brasileiro, extinguiu o 
Estado Independente, prendendo Galvez, conduzindo -o a Manaus. 
 Contudo, as aspirações separatistas permaneciam. Articulava -se 
um novo governo rebelde sob a presidência de Gentil T. Norberto ao 
mesmo tempo em que foi organizado em Manaus um grupo de apoio, 
autodenominado Expedição Floriano Peixoto. Chegando ao Acre, esse 
grupo, logo no primeiro combate contra os bolivianos, os 
expedicionários foram fragorosamente derrotados abandonando 
diversos armamentos leves, munição e ainda um canhão e uma 
metralhadora. Quanto ao governo independente, no dia 4 de janeiro o 
vapor Rio Afuá atracou em Riosinho, onde se defendia a guarnição 
boliviana, levando a proposta de rendição dos chefes revoltosos, sob a 
condição de anistia geral. Com o aceite do Ministro da Guerra 
boliviano, que comandava a guarnição,o vapor retornou a Empresa. 
Informados da aceitação os rebeldes assinaram o documento de 
rendição. 
 
Exercícios. 
 
1. Dentre os fatores que vieram a resultar na rebelião dos acreanos não 
podemos destacar: 
a) o Acre era uma das maiores regiões produtoras de borracha do 
mundo. 
b) a borracha era produzida na região do Acre por uma população 
predominantemente boliviana. 
c) os marcos de limites entre o Brasil e a Bolívia eram inequívocos. 
d) o governo boliviano havia estabelecido uma vigorosa polít ica de 
colonização na região. 
 
2. A qual dos fatores abaixo pode ser atribuído o fato de que em 1899 
não haviam sido estabelecidas claramente as fronteiras entre os dois 
países na região do Acre? 
a) O desinteresse do governo brasileiro em estabelecer definit ivamente 
a fronteira naquela região. 
b) Aos golpes de estado na Bolívia que impediam o assentamento dos 
marcos de fronteira. 
c) A invasão de seringueiros brasileiros no Acre. 
 
 
 
134 
d) A incógnita quanto a nascente do rio Javari. 
 
3. Motivou a ação de Galvez no Acre: 
a) o contrato de arrendamento com o Bolivian Syndicate. 
b) a minuta de acordo diplomático entre o Brasil e os EUA. 
c) a expedição militar comandada pelo General Pando. 
d) a expedição do Tenente Porter. 
 
4. Explique os resultados do estabelecimento da aduana em Puerto 
Alonso? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Qual era o teor da minuta de acordo diplomático entre os EUA e a 
Bolívia elaborada em 1899? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A anexação do Acre ao Brasil. 
 
Entre 1892 e 1898 o Coronel José Manuel Pando, presidente da 
Bolívia durante o conflito do Acre, comandou uma expedição ao 
Território de Colônias para explorá -lo. Retornando a La Paz Pando 
alertou ao governo de seu país quanto ao perigo que a penetração 
brasileira representava para o noroeste boliviano, cuja ocupação e 
integração passou a ser motivo de constante preocupação para aquele 
governo. No entanto a solução para o problema encontrava vários 
obstáculos: havia a dif iculdade de acesso à região a partir dos Andes; 
do pouco excedente populacional, concentrado na região andina; e da 
pouca disponibil idade de recursos para aplicar na área, dado que a 
elite econômica da Bolívia continuava vinculada ao setor minerador. 
 A solução encontrada para superar o isolamento da região 
foi encontrar um grupo de capitalistas que, consorciados, pudessem ali 
investir criando condições para sua efetiva colonização. A concessão, 
nos moldes daquela que seria oferecida ao Bolivian Sindicate, chegou a 
 
 
 
135 
ser oferecida a um grupo de industriais e capitalistas brasileiros, e o 
representante desse grupo, o Coronel Rogério Guanabara reuniu -se 
com autoridades bolivianas, em julho de 1900, no rio Orton. O projeto 
porém não foi aprovado pelo governo Boliviano. Dessa forma, e m 11 de 
junho de 1901 foi f irmado em Londres o contrato de arrendamento do 
Acre, sendo signatários o ministro plenipotenciário da Bolívia, e o 
representante do Bolivian Syndicate of New York City. Curiosamente a 
presidência do truste foi dada ao primo do p residente Theodore 
Roosevelt, então presidente norte -americano. Pelo contrato foi admitido 
ao Bolivian Syndicate poderes absolutos de administração f iscal e 
policial, monopólio da exploração econômica do território e, inclusive, 
poderes para manter exército e pequena esquadra. Dentro da Bolívia 
haviam temores de que, aproveitando-se dessa larga concessão de 
terras e dos privilégios concedidos, os norte -americanos pudessem 
futuramente agredir a sua soberania territorial. Os termos do contrato 
com o Bolivian Syndicate foram motivo de acaloradas discussões, 
dentro do congresso daquele país, que resultaram na alteração de 
algumas de suas partes. 
A notícia do contrato de arrendamento da região acreana foi 
recebida com preocupação pelos brasileiros ali residentes, entre eles 
um gaúcho José Plácido de Castro (1873-1908) que trabalhava na 
demarcação de seringais. Ao receber um pacote de jornais de La Paz 
que traziam a íntegra do contrato entre o Governo boliviano e o Bolivian 
Syndicate, além da notícia de aprovação do contrato pelo congresso 
boliviano, supôs que aquele seria um precedente perigoso na medida 
em que abriria caminho para futuras intervenções norte -americanas na 
Amazônia, podendo resultar inclusive em ofensa à soberania brasileira. 
Não estava destituído de razões, a concessão ao Bolivian Syndicate 
criaria uma situação perigosa, se considerados os fatos recentes. O 
incidente de 1850, o protocolo de 1899, que motivou a ação de Galvez, 
e a recente intervenção dos EUA em Cuba, que culminaram com a 
anexação das Filipinas, de Guam e de Porto Rico permitiam tais 
previsões, aliás confirmadas pelas ações militares do governo dos EUA 
na América Central e do Sul após o ano de 1901. Aliado à população 
brasileira residente na região do Acre, Plácido de Castro proclamou a 
República Independente do Acre, o que signif icou declarar guerra à 
Bolívia. Após derrotar as poucas e mal abastecidas tropas bolivianas 
aquarteladas naquela região efetivou-se o domínio rebelde. 
Quando o governo brasileiro se manifestou publicamente a 
respeito do assunto pela primeira vez, através do Ministro dos Negócios 
Exteriores, o barão do Rio Branco (1845-1912), demonstrou 
preocupação semelhante a de Plácido de Castro. Assim é que, em 24 
de janeiro de 1903, o barão do Rio Branco enviou circular tele gráf ica 
dirigida aos jornais de La Paz. Afirmava que a concessão era uma 
monstruosidade legal porque implicava na alienação parcial da 
soberania do estado sobre um pedaço do território boliviano a uma 
companhia estrangeira sem personalidade internacional. Ressaltou que 
a região era habitada unicamente por brasileiros. A chancelaria 
brasileira mudou repentinamente sua posição quanto ao fato de ser 
aquele território inquestionavelmente boliviano, e passou a considerá -lo 
 
 
 
136 
área em litígio entre as duas nações. A lém da desconfiança quanto à 
concessão, essa mudança pode ser entendida em função das pressões 
da população brasileira por autonomia e dos interesses f iscais e 
comerciais brasileiros no Acre. 
 O governo brasileiro soube bem explorar o contrato de concessão 
no sentido de articular aliados potenciais, pois a possibil idade do 
estabelecimento de um enclave imperialista na Amazônia era 
considerada perigosa, particularmente para o Peru que seria seu 
vizinho. Um protesto formal foi enviado ao governo de La Paz em 
agosto de 1902, atitude reforçada pela retirada do cônsul brasileiro em 
Puerto Alonso e pelo embargo de mercadorias da ou para a Bolívia, 
pela via do Amazonas. Esse embargo embaraçava as atividades do 
sindicato pois esse era o acesso mais rápido via oceano para a área da 
concessão, f icando os equipamentos destinados à instalação do 
sindicato retidos no porto de Belém. As atitudes do governo brasileiro 
foram apoiadas pela maioria dos governos latino -americanos. 
Contrariamente, representantes da Inglaterra, F rança, Alemanha, Suíça 
e E.U.A protestaram contra os prejuízos causados pelo embargo. Os 
comerciantes de Belém, que até então não apoiavam as tentativas de 
rebelião no Acre, passaram a incitar a opinião pública, chegando 
mesmo três das maiores casas aviadoras de Belém a enviar seus 
reclamos ao Presidente Rodrigues Alves. 
 A reação contrária que o contrato despertara na maioria dos 
vizinhos latino-americanos fez com que a Bolívia propusesse ao 
sindicato a rescisão do contrato, que foi terminantemente recusad a sob 
o argumento de que o prazo para o início dos trabalhos da concessão 
ainda não havia esgotado. Recusada a proposta brasileira de comprar o 
Acre o governo boliviano enviou, desde La Paz até a região do Acre, 
um contingente de 1.100 homens comandados pe lo próprio presidente 
da república o General. Pando. O Brasil também enviou tropas ao Acre 
e dessa maneira visualizava-se um conflito internacional, não se 
descartando, inclusive, a participação doPeru, aliado ao Brasil. 
 Em 26 de fevereiro de 1903 o governo brasileiro comprou por 
110.000 libras os direitos, interesses e ações do Bolivian Syndicate. Na 
verdade a compra foi mais uma satisfação dada aos países que tinham 
interesse na empresa, os E.U.A e a Inglaterra. Isto porque o acordo 
com a Bolívia proibia ao concessionário a transferência da concessão a 
outro governo. Além disso, faltavam apenas oito dias para o contrato 
caducar por não cumprimento, dado o embargo exercido desde o porto 
do Pará, também em fevereiro de 1903 o embargo sobre a navegação 
estrangeira no Amazonas foi suspenso. O que o Brasil fez na verdade 
foi indenizar o sindicatos por perdas estimadas, embora formalmente 
tenha comprado e posteriormente dissolvido a empresa. 
O fato é que o conflito foi resolvido pelos dois países por via 
diplomática. Em maio de 1903 o governo brasileiro, através do decreto 
no. 4832, assinado pelo presidente Rodrigues Alves (1848 -1919), 
autorizou a abertura de crédito extraordinário no valor de 
2.366:270$2200 para ser convertida, ao câmbio da época, em 114.000 
libras esterlinas destinadas a indenização ao Bolivian Sindicante. A 
Bolívia, por sua vez, também indenizou o sindicato. Em 17 de novembro 
 
 
 
137 
do mesmo ano foi assinado o Tratado de Petrópolis, entre o Brasil e a 
Bolívia, no qual este últ imo país renunciava aos direitos sobre o 
território em litígio mediante o pagamento, pelo beneficiário, de uma 
indenização de 2.000.000 de libras esterlinas. O artigo VII daquele 
tratado obrigava ao Brasil a construir uma ferrovia que contornasse o 
trecho encachoeirado do rio Madeira, exigência do governo boliviano 
para que fossem sanados os problemas de transporte naquela área. 
Essa ferrovia teria seus extremos em Santo Antônio, no rio Madeira e 
em Guajará-Mirim, no rio Mamoré, com um ramal até Vila Murtinho, 
próximo à confluência do Beni com o Mamoré, para facil itar o transporte 
de mercadorias de Villa Bella (Bolívia). Ainda, no que tange ao espaço 
que hoje ocupa o estado de Rondônia, o delta do Madeira, formado 
pelos rios Beni e Mamoré retornou ao território da Bolívia. 
Curiosamente, não se encontrou registros de interferência norte -
americana nos moldes previstos pela minuta de 1899. É possível que 
por essa época os Estados Unidos, ocupado por inúmeras intervenções 
na América Central, não estivesse disponível para tratar com mais 
cuidado dos interesses do Bolivian Syndicate. 
 
Exercícios. 
 
1. A Bolívia, apesar de alertada desde o f inal do século dos perigos 
que a penetração brasileira representavam para sua soberania 
territorial, encontrava dif iculdades para colonizar a região do A cre. 
Dentre essas dif iculdades não podemos assinalar: 
a) a dif iculdade de acesso à região a partir dos Andes. 
b) o pouco excedente populacional, concentrado na região andina. 
c) a insuficiência de recursos para aplicar na área. 
d) a ação dos brasileiros que impediam a efetivação da colonização 
boliviana do Acre desde 1860. 
 
2. Através do contrato de arrendamento da região do Acre, estabelecido 
com o Bolivian Sindicante, a Bolívia não concedia: 
a) poderes de administração f iscal. 
b) monopólio da exploração econômica. 
c) poderes para manter exército e pequena esquadra. 
d) poderes para legislar em matéria f iscal e criminal. 
 
3. O contrato de arrendamento da região do Acre provocou: 
a) uma nova insurreição de brasileiros na região liderados por Plácido 
de Castro. 
b) uma reação de tranqüilidade do governo brasileiro através de seu 
chanceler o Barão do Rio Branco. 
c) a insurreição acreana liderada por Galvez. 
d) um telegrama do governo brasileiro parabenizando o governo 
boliviano. 
 
4. A posição do governo brasileiro o isolou de seus demais vizinhos 
sul-americanos? 
R. 
 
 
 
138 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Como o governo brasileiro resolveu a questão com o Bolivian 
Syndicate? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Percival Farquhar. 
 
 Apesar de várias tentativas de construir a ferrovia que 
contornasse o trecho encachoeirado do rio Madeira, anteriores ao 
Tratado de Petrópolis, a últ ima e bem sucedida empresa da construção 
iniciou em 1907. Entrou em cena nesse momento uma f igura, cujo perf i l 
de empreendedor que concluiu a tarefa, assim como sua atividade 
empresarial dentro e fora do Brasil, representa bem a época em que 
viveu. 
 Percival Farquhar (1864-1953), f i lho de um importante industrial 
norte-americano, foi desde cedo preparado para ser um homem de 
negócios. Cursou Engenharia na prestigiosa universidade de Yale onde, 
mais importante que o diploma, estabeleceu laços de amizade junto aos 
f i lhos e sucessores da elite empresarial de seu país, amizades estas 
que se demonstrariam importantes para seus investimento no futuro. 
Em 1898, com o término da guerra hispano-americana (independência 
de Cuba), Farquhar, como outros, dirigiu-se àquele país, ávido por 
obter concessões, as quais efetivamente obteve, na área de transporte 
(bondes) e de energia elétrica. Participou também de empreendimentos 
ferroviários em Cuba e na Guatemala. 
 Com as relações que Farquhar possuía nas f inanças 
internacionais conseguia promover a fusão de capitais, para explorar 
suas concessões monopolistas, obtidas junto aos governos estrangeiros 
através da pressão ou da inf luência polít ica. Em 1904, incorporou no 
Brasil a Rio de Janeiro Light and Power, parte de uma série de 
iniciativas que culminaram com a obtenção do controle acionário de 
empresas de energia elétrica, bondes e serviços de telefonia no Rio de 
 
 
 
139 
Janeiro, São Paulo e Salvador. Na Amazônia, obteve Farquhar, em 
1905, concessão do governo para obras no porto de Belém; em 1909 
formou a Companhia de Navegação do Amazonas que ocupou o lugar 
da Amazon River Steam Navigation Co. Ltd.; em 1911 fundou a Amazon 
Land & Colonization Co. que recebeu no mesmo ano de sua fundação, 
após uma visita de Farquhar a Belém, uma concessão de 60.000 
quilômetros quadrados de terras, onde hoje f ica o estado do Amapá. A 
concessão para a construção da ferrovia Madeira -Mamoré foi adquirida 
por compra, ao Engenheiro Joaquim Catramby, em 1907. No mesmo 
ano foi iniciada a construção da ferrovia. 
 Por volta de 1912 o grupo Farquhar controlava, em todo o Brasil, 
companhias que exploravam concessões de portos, ferrovias, bondes, 
i luminação e energia elétrica, gás, serrarias, fazendas de gado, 
frigoríf icos e hotéis. Tal apeti te empresarial impulsionou uma forte 
campanha nacionalista, que explorava o temor do controle da economia 
nacional pelo capital estrangeiro. As campanhas em jornais, nas quais 
participaram, entre outros, Alberto Torres (1865 -1917), fortaleceram o 
movimento em prol da estatização das ferrovias e da lei antitruste, além 
de incrementar o receio em relação ao “imperialismo ianque”. 
 
Exercícios. 
 
1. Que tipo de negócio tinha Farquhar no Brasil em 1912? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Em quais estados situavam-se os negócios do truste de Farquhar? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Qual a f irma fundada por Farquhar para a construção da EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
140 
 
 
 
 
 
4. Qual a empreiteira contratada para dar início às obras da EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Qual o signif icado da presença de Farquhar na economia nacional no 
início do século? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A construção da EFMM. 
 
 No f inal do século XIX, a Bolívia buscava ansiosamente uma 
alternativa para a perda de seus territórios marítimos da costa do 
Pacíf ico para o Chile, a f im de ter como escoar sua produção para os 
países compradores. No noroeste boliviano, o rio Madeira era uma 
alternativa que já estava sendo usada como corredor de importação e 
exportação. Navegando pelos rios Beni e Madre de Dios, pertencentes 
ao território boliviano, e Guaporé e Mamoré, na fronteira desse país 
com o Brasil, atingia-se o Madeira e, superando seu trecho 
encachoeirado, navegava-se em direção ao rio Amazonas e daí ao 
Oceano Atlântico.O inconveniente em superar as quedas d’água, que ocasionava 
perdas humanas e materiais, conduziu à discussão de propostas que 
viessem a facil itar o transporte naquele trecho do rio. Assim, Quentin 
Quevedo, que desceu o Madeira em 1861 a serviço do governo 
boliviano, sugeriu a sua canalização ou a construção de ferrovia entre 
as cachoeiras de Guajará-Mirim e Santo Antônio. Também o Engenheiro 
João Martins da Silva Coutinho que sugeriu ao governo da província do 
 
 
 
141 
Amazonas a construção de uma ferrovia que ligasse o Madeira ao 
Mamoré. 
Em função de necessidades diversas, tanto do Brasil quanto 
da Bolívia, foi criada em 1871, sob a direção de George Earl Church, a 
Madeira-Mamoré Railway Co. Ltd., sendo que a primeira equipe de 
engenheiros aportou em Santo Antônio em 1873. Dif iculdades diversas 
ocasionaram a desistência da empreitada de construção da ferrovia 
pela empresa inglesa Public Works, f irma construtora contratada por 
Church, em 1877. Naquele mesmo ano foi contratada a f irma norte -
americana P. & T. Collins, da Filadélf ia, que contratou serviços de 
trabalhadores especializados e não especializados, de diversas partes 
do mundo, enviando-os para Santo Antônio. No entanto, devido a 
diversos fatores, a empreiteira Collins faliu em 1881, após ter 
assentado apenas 7 Km de ferrovia. 
 As duas comissões enviadas pelo governo imperial, uma em 1883, 
comandada pelo Engenheiro Car los Morsing que f icou em Santo 
Antônio durante seis meses e outra em 1884 comandada pelo 
Engenheiro Júlio Pinkas, terminaram também desastrosamente. 
 A questão do Acre (1899-1902), que foi resolvida com a assinatura 
do Tratado de Petrópolis, entre Brasil e Bolívia (17/1/1903), retornou à 
discussão sobre a viabilização da construção da ferrovia Madeira -
Mamoré. As obras foram reiniciadas em 1907, após a concessão para a 
construção da ferrovia ter sido vendida pelo Engenheiro Joaquim 
Catramby para o norte-americano Percival Farquhar, que fundou a 
Madeira-Mamoré Railway Co., subsidiária da Brasil Railway Co. Em 
1907 chega a Santo Antônio a empreiteira May, Jekyll & Randolph Co. 
Ltd. que deu início as obras concluindo-as em 1912. 
 
Exercícios. 
 
1. Porque a Madeira-Mamoré Railway Co modif icou o projeto de 
construção da ferrovia, iniciando as obras em Porto Velho? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. A quem coube a construção da EFMM em 1905? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
142 
 
 
 
3. Qual a empreiteira encarregada da obra? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Que privilégios a empresa de Farquhar recebeu para construir a 
EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Porque o governo assumiu a responsabilidade de construir a EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A força de trabalho. 
 
Para que fosse construída uma ferrovia em plena selva, eram 
necessários trabalhadores. Na Amazônia do auge do ciclo da borracha, 
todo o insuficiente volume de mão-de-obra estava alocado na produção 
do látex. A expansão das zonas de produção era abastecida pela 
exploração do silvícola e pelo aliciamento de mão -de-obra em outras 
regiões do Brasil, principalmente do nordeste que, na Amazônia, preso 
ao endividamento, se via impossibil itado de escolher outra ocupação. 
Esses fatores dif icultavam o recrutamento local de um contingente de 
trabalhadores que fosse suficiente para a construção da ferrovia e 
também impossibil itava um f luxo constante de trabalhadores durante 
 
 
 
143 
toda a fase da construção, para repor as baixas ocasionadas por 
ataques de indígenas, feras, acidentes de trabalho e, principalmente, 
pelas doenças epidêmicas da região, previsíveis em face das tentativ as 
anteriores de construção da ferrovia. 
Para reunir o contingente humano necessário à construção da 
ferrovia foram recrutados trabalhadores nacionais e estrangeiros que, 
além de atuarem na construção da Estrada de Ferro Madeira -Mamoré, 
foram util izados também em diversas outras circunstâncias: nos 
seringais, na construção da linha telegráf ica Mato Grosso/Amazonas e 
na demarcação territorial do atual estado de Rondônia. 
O grupo de Farquhar tentou, inicialmente, a “importação” (assim 
era chamado o processo de captação de mão-de-obra) de trabalhadores 
espanhóis que haviam servido à construção das estradas de ferro em 
Cuba, onde algumas concessões pertenciam a esse mesmo grupo. 
Contudo a divulgação dos perigos e da insalubridade da região da 
Madeira-Mamoré teria afugentado esses primeiros trabalhadores. 
Então, um certo Capitão Walter Dudley propôs a idéia de aliciar 
nativos das colônias inglesas da América Central. A vantagem da 
atração desse tipo de mão-de-obra estava em que muitos já haviam 
adquirido experiência na construção de ferrovias e do canal do 
Panamá, em sua região de origem. Em segundo lugar, as perspetivas 
de absorção da força de trabalho nessas colônias eram poucas, em 
face de problemas econômicos ali existentes. 
Durante a primeira fase da construção da ferrovia, ainda no 
século XIX, já se registram a presença dos barbadianos, entre os quase 
mil trabalhadores que embarcaram rumo às selvas de Santo Antônio do 
Rio Madeira. A presença maciça desses grupos negros caribenhos só 
se tornou uma força de expressivo destaque nos trabalhos da ferrovia a 
partir do século XX. Esses operários já haviam sido util izados, com 
extremo sucesso, em outra empreitada de grandes dimensões, a 
construção do Canal do Panamá. Sua experiência em um ambiente 
tropical hostil, como as selvas panamenhas, aliadas a seu vigor f ísico e 
ritmo altamente disciplinado f izeram deles elementos chave do 
empreendimento. 
Além desses, várias outras nacionalidades se f izeram representar 
no contingente de trabalhadores da ferrovia como: italianos, norte-
americanos, ingleses, gregos, hindus, espanhóis, portugueses, 
recriando na Amazônia o mito bíblico de uma nova babel do 
imperialismo. Contudo, parece ter predominado nesse conjunto de 
operários os caribenhos. Procedentes de diversas nacionalidades 
centro-americanas, Barbados, Trinidad, Jamaica, Santa Lúcia, 
Martinica, São Vicente, Guianas, Granadas e outras ilhas das Antilhas, 
esses negros, de formação protestante e idioma inglês eram, de forma 
geral denominados “barbadianos”. 
É muito comum também encontrar-se a sugestão de que esses 
trabalhadores caribenhos foram preferidos aos demais por demonstrar 
resistência ao contágio de determinadas doenças tropicais, como a 
malária. Essa hipótese é bastante discutível dado que as informações e 
estatísticas referentes a mortandade de trabalhadores na E.F.M.M. são 
escassas e contraditórias. Contudo, a se acreditar em certas 
 
 
 
144 
informações, conclui-se que a taxa de óbitos entre os trabalhadores 
barbadianos não era menor que a mortandade dos trabalhadores das 
demais nacionalidades. Dos óbitos ocorridos entre o trabalhadores 
durante a construção da ferrovia 60% era de barbadianos. 
Esse últ imo dado é uma evidência do predomínio desses 
trabalhadores no contingente que construiu a ferrovia. Manuel 
Rodrigues Ferreira (A ferrovia do diabo) informa a seguinte composição 
dos “importados” durante o ano de 1910: 1636 brasileiros e 
portugueses, 2211 antilhanos e barbadianos, 1450 espanhóis mais 299 
pessoas de nacionalidade desconhecida totalizando 5596 trabalhadores 
não qualif icados. A predominância dos barbadianos sobre as demais 
nacionalidades confere com as informações tradicionais, contudo não 
apresenta dados sobre os demais anos de construção. Conforme o 
mesmo autor a M.M.R.C.L recrutou, entre os anos de 1907 e 1912, 
21.783 trabalhadores de várias partes do mundo. Em 1907, ano do 
início da construção, a ferrovia importou 446 e no ano seguinte 2.450 
trabalhadores, mas não discrimina a nacionalidade dos mesmos. Em 
1910 a força de trabalho de origem antilhana correspondeu a 
aproximadamente um terço do total, percentual signif icativo que reforça 
a idéia da predominância desse trabalhador, dentre os importados pela 
ferrovia. 
Contudo, a comparação entre o número de trabalhadores 
importadospela “Company” e os registros do Hospital da C andelária, a 
partir de 1909, permitem algumas conclusões. Naquele ano foram 
importadas 4.500 pessoas mas em dezembro daquele ano a construtora 
ocupava apenas 2.270 funcionários. No ano seguinte, foram importados 
6090 homens, dos quais 36,31% eram antilhanos, e em dezembro 
daquele ano estavam registrados 3900 empregados. Em 1912 a 
companhia introduziu em Porto Velho 5.664 homens, estando a serviço 
em dezembro daquele ano 3.600 homens, não havendo dados para 
1912. 
Salvo a obtenção de novas informações a esse respeito, a 
conclusão que se impõe é que nem todos os trabalhadores aliciados 
eram absorvidos pela ferrovia. É possível que muitos ao chegarem a 
Porto Velho sabendo das histórias dos perigos e das mortes, 
preferissem não se ocupar da construção, retornando ou sendo 
absorvidos por outras atividades de trabalho. Nos seringais talvez, pois 
a população registrada de Porto Velho em 1912 foi de 800 pessoas, 
muito pouco para um número tão grande de imigrantes, mesmo 
considerando que boa parte dos trabalhadores par tiu com o f inal da 
construção da ferrovia e que a parte restante pudesse estar espalhada 
em localidades ao longo de seus tri lhos. 
Para a região se deslocaram contigentes de trabalhadores, que 
organizaram ao longo do eixo da ferrovia, novos núcleos de colon ização 
e produção, enfrentando as adversidades ambientais típicas das 
f lorestas equatoriais. 
Em meio à euforia da borracha contigentes de operários 
construíram um dos maiores marcos da modernidade da Amazônia. A 
legendária Madeira-Mamoré, que interligava os trechos encachoeirados 
do Madeira ao Mamoré, deveria ser um símbolo. Como representação 
 
 
 
145 
máxima da tecnologia e da civil ização, ela deveria estabelecer e 
viabil izar as práticas do capitalismo nos ermos do extremo sertão 
oeste, em pleno mundo encharcado da Amazônia. Palco de um 
espetáculo audacioso e ao mesmo tempo trágico, os tri lhos da E.F.M.M. 
repousaram sobre as vidas de milhares de operários, que em suas 
obras vieram trabalhar. 
 
Exercícios. 
 
1. Que papel desempenharam os barbadianos na construção da EF MM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Quem eram os barbadianos? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. O que explica o elevado número de trabalhadores “importados” 
anualmente para a construção da EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Que tipos de trabalhadores atuaram na construção da EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
146 
 
 
 
 
5. Como se procurou resolver a questão da alta letalidade ambiental 
sobre o contigente humano que trabalhou na EFMM? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Velho. 
 
 Em 1907 a Madeira-Mamoré Railway Company, que então detinha 
a concessão para a construção da ferrovia determinou, contrariando as 
tentativas anteriores e o estipulado na cláusula VII do Tratado de 
Petrópolis, que o empreendimento não teria seu ponto inicial em Santo 
Antônio do Rio Madeira, situado então no estado de Mato Grosso, mas 
em um ponto situado alguns quilômetros rio abaixo, denominado Porto 
Velho, situado no estado do Amazonas. 
 A origem, portanto, da cidade de Porto Velho está em um 
empreendimento industrial, de grande vulto para a época e espantoso 
pela dif iculdade de sua execução. Contudo, essa origem detém certa 
singularidade: a companhia quando para esse local se transferiu, 
encontrou apenas a mata e, assim, construiu uma verdadeira cidade. 
Além das edif icações de uso propriamente industrial foram construídas 
residências, alojamentos, usina de geração de eletricidade, si stema de 
telefonia, captação de água, hospital, porto f luvial, armazém para o 
abastecimento dos funcionários, lavanderia e até uma fábrica de 
biscoitos e outra de gelo. 
Precedendo à primeira área residencial da cidade, o pátio da 
ferrovia, com suas casas para o pessoal qualif icado separadas dos 
demais funcionários e trabalhadores braçais e mesmo um “bairro”, o 
Alto do Bode, iniciou a surgir, uma outra cidade. Para além da linha que 
dividia o território da ferrovia do restante da urbe, signif icativamente 
denominada Avenida Divisória, surgiram as primeiras áreas residenciais 
e comerciais. Onde hoje é a Jônatas Pedrosa surgiu a Rua da Palha, 
constituída de edif icações de material precário, cobertas com palha, 
que aglutinou aqueles que não eram funcionários da f errovia e 
pequenos comerciantes. Ao redor surgiu o que hoje é o centro da 
cidade e, com o tempo, seus primeiros bairros: Baixa União (Triângulo), 
Mocambo e Favela, mais tarde o Caiari, a Arigolândia e o Olaria. 
 
 
 
147 
Em 1914, dois anos após a conclusão da ferrov ia, foi criado 
município de Porto Velho através da Lei no. 757 sancionada pelo 
governador do estado do Amazonas Jonathas de Freitas Pedrosa. 
Contudo, a “cidade” situada dentro do município era na verdade 
composta por toda a infra-estrutura criada pela administração da 
ferrovia. 
 Em 1915, chegou a Porto Velho e tomou posse, no cargo de 
intendente municipal o Major de Engenharia do Exército Fernando 
Guapindaia. Desse período até 1924, o governo municipal foi exercido 
por superintendentes, e o Poder Legislativo pelo Conselho Municipal, 
composto por intendentes. A partir de 1924, com o estabelecimento do 
governo revolucionário no Amazonas, o município de Porto Velho deixa 
de ter seu poder legislativo, situação que se mantém com a Revolução 
de 30 e prolonga-se até 1969, quando os municípios dos territórios 
federais passam a possuir Câmaras de Vereadores. 
 
Exercícios. 
 
1. Quais as origens de Porto Velho? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Como era Porto Velho entre 1907 e 1912? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quais as primeiras áreas residenciais de Porto Velho? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
148 
 
4. O que caracterizou a “cidade ferroviária” entre 1907 e 1931? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Quando Porto Velho foi elevada a município? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guajará-Mirim. 
 
 Até os anos f inais do século XIX, Guajará -Mirim constituía-se 
apenas de alguns seringais, sem nenhuma povoação que chamasse a 
atenção. Com a construção da Ferrovia Madeira -Mamoré teve início a 
formação de um núcleo urbano a partir do ponto f inal da estrada de 
ferro. A região tinha seus seringais explorados pela Guaporé Rubber 
Company, então gerenciada pelo Coronel Paulo Saldanha. 
Dentre os principais seringais locais destacavam-se o Rodrigues 
Alves, Santa Cruz e o Renascença. Os seringueiros viviam da coleta do 
látex e de um reduzido comércio com a vizinha povoação boliviana de 
Guayaramerím. Os indígenas que moravam na região representavam 
uma constante ameaça e impedimento ao trabalho dos seringueiros. 
Dentre eles destacaram-se os Pacaás Novos. 
Em 8 de outubro de 1912, foi instalado um posto f iscal em 
Guajará-Mirim, administrado pelo guarda Manoe l Tibúrcio Dutra. O 
município foi criado em 1928, pela Lei nº 991, assinada pelo presidente 
do estado do Mato Grosso, Mário Correia da Costa. A instalação do 
município ocorreu em 10 de abril de 1929, tendo como 1º Intendente 
nomeado, Manoel Boucinhas de Menezes. 
 Segundo viajantes que por Guajará-Mirim passaram na década de 
20, essa cidade não diferia muito de Porto Velho em sua origem. Ao 
lado planejado das residências e escritórios da ferrovia surgiu um 
núcleo de povoamento com edif icações improvisadas. Situação curiosa 
da de Guajará-Mirim, semelhante a de Santo Antônio do Rio Madeira. 
 
 
 
149 
Pertencente ao estado do Mato Grosso comunicava -se mais 
intensamente com Porto Velho no estado do Amazonas, com a Bolívia 
através de Guayaramerím e com Vila Bela no Mato Grosso. 
Determinava essa proximidade a ferrovia e os rios Guaporé e Mamoré, 
do mesmo modo que Vila Bela comunicava-se mais intensamente com 
Guajará-Mirim e Porto Velho que com a capital do Mato Grosso. O 
dif ícil acesso por terra até Cuiabá encontrava sucedâ neo na navegação 
do Guaporé e Mamoré. Assim Vila Bela, a capital do Mato Grosso até 
1820, possuía maior vínculos com Guajará -Mirim que com Cuiabá. 
 Guajará-Mirim eraservida por algumas dezenas de embarcações 
de bandeira nacional e boliviana. Vapores de roda na popa, lanchas a 
hélice além de outros tipos de embarcação faziam o percurso de 8 a 15 
dias pelo Guaporé até Vila Bela e pelo Mamoré até a capital do Beni, 
Trinidad. Em 1931 um antigo administrador dos seringais da Guaporé 
Rubber e da Júlio Muller, o Coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, 
criou a Empresa de navegação dos rios Mamoré e Guaporé que, 
subvencionada pelo governo federal, passou a servir o trajeto para Vila 
Bela e o Forte Príncipe da Beira. Em 1943 essa empresa foi comprada 
pelo governo federal, transformando-se no Serviço de Navegação do 
Guaporé. 
 Nas primeiras décadas desse século possuía Guajará -Mirim um 
comércio regular de bens e serviços para atender à população além de 
diversos órgãos públicos. Delegacia de polícia com efetivo de 10 p raças 
e um sargento da força estadual, coletoria, posto f iscal, telégrafo e 
correio, escolas, cinema, dezenas de casas comerciais e uma 
população em torno de 1500 pessoas. Essa população, como em Porto 
Velho, era composta por elementos das mais diversas na cionalidades: 
gregos, turcos, japoneses, espanhóis, barbadianos, portugueses, 
ingleses, americanos, franceses. 
 Ressentiam-se as autoridades de Guajará-Mirim nessa época da 
ausência de um contingente militar para guarnecer a fronteira, o Forte 
Príncipe da Beira encontrava-se em ruínas. Guayaramerín, fronteiro, 
apesar de uma população estimada em 400 pessoas possuía um quartel 
com 100 praças e os of iciais, além de uma capitania do porto. Esta 
situação foi resolvida durante o período Vargas quando em 1932 for am 
criados os Contigentes Especiais de Fronteira em Porto Velho, Guajará -
Mirim e Forte Príncipe da Beira subordinados a inspetoria do Capitão 
Aluízio Pinheiro Ferreira. 
 
Exercícios. 
 
1. Qual a localização e a que estado pertencia Guajará -Mirim em 1928? 
R. 
2. Como era a região em 1912? 
R. 
3. Quando foi criado o município de Guajará -Mirim? 
R. 
4. A Empresa de Navegação dos Rio Mamoré e Guaporé ligava 
Guajará-Mirim às seguintes localidades: 
a) Vila Bela e Porto Velho. 
 
 
 
150 
b) Porto Velho e Forte Príncipe da Beira. 
c) Forte Príncipe da Beira e Vila Murtinho. 
d) Vila Murtinho e Porto Velho. 
e) Forte Príncipe da Beira e Vila Bela. 
 
5. Os contingente especiais de fronteira foram criados em: 
a) 1942. 
b) 1932. 
c) 1922. 
d) 1912. 
e) 1952. 
 
A comissão Rondon e a linha telegráfica. 
 
 A Comissão das Linhas Telegráf icas e Estratégicas do Mato 
Grosso ao Amazonas (1907) também denominada Comissão Rondon é 
de fundamental importância para o entendimento das origens e 
formação do Território Federal do Guaporé. Muitos dos municípios que 
viriam a surgir mais de meio século após a construção da ferrovia, 
vinculam-se aos trabalhos realizados pela Comissão Rondon que 
inf luenciou também, de forma incisiva nas polít icas adotadas pelo 
Governo Federal em relação à questão indígena. 
A abertura da linha telegráf ica que ligaria os ser tões do Mato 
Grosso ao Amazonas, foi uma obra de grandes proporções que se 
destinava a tirar do isolamento as regiões do extremo oeste e Norte do 
país. Tornava-se imprescindível romper os grandes “vazios” do Brasil, 
incorporando-os à civil ização. Paralelamente a construção de ferrovias, 
o telégrafo deveria ser um instrumento de modernidade, capaz de 
assegurar a chegada do progresso e de estabelecer a civil ização nos 
confins mais isolados do país. Desta forma assegurava -se o 
estabelecimento de núcleos de povoamento, garantia-se a segurança 
das fronteiras e procedia-se a uma polít ica que possibil itaria, ao longo 
do tempo, a integração dos indígenas e tapuios à sociedade brasileira, 
tornando-os “civil izados e úteis”. 
A construção da linha telegráf ica tem seus p rimórdios ligados ao 
Império. D. Pedro II deu início a construção de uma linha telegráf ica em 
1880 que ligaria a cidade de Franca, em São Paulo, a Cuiabá, no Mato 
Grosso. A obra foi dirigida pelo militar Cunha Matos. 
Cândido Mariano da Silva Rondon, cuja f igura o nome do Estado 
de Rondônia homenageia, nasceu na localidade de Mimoso, atual 
município de Barão de Melgaço, no estado de Mato Grosso, a 5 de maio 
de 1865. Órfão, ainda criança, Rondon foi educado por familiares e 
diplomou-se no Liceu Cuiabano, como professor aos 16 anos de idade, 
sendo, no entanto, impedido de assumir o magistério devido a sua 
pouca idade. Partiu então para o Rio de Janeiro em 1881, onde 
assentou praça no exército. Em 1885 matriculou -se na Escola Militar da 
Praia Vermelha onde concluiu sua preparação para Oficial do Exército 
em 1889. Nesse mesmo ano foi nomeado ajudante da Comissão 
Telegráf ica de Cuiabá ao Araguaia. Sua atuação na construção de 
 
 
 
151 
l inhas telegráf icas ligando o Centro -Oeste a São Paulo o levou a 
trabalhar com o Tenente Coronel Gomes Carneiro e o Coronel Ewerton 
Quadros (Franca-Araguaiana ). Mais tarde trabalhou no trecho 
Araguaiana-Cuiabá ao lado do Tenente Coronel Gomes Carneiro. 
A partir de 1900, Rondon chefiou os trabalhos de abertura da 
linha telegráf ica ligando São Lourenço a It iquira, Coxim e Aquidauana. 
Essa obra foi concluída em 1903. De Aquidauana, Rondon rumou para 
Corumbá e Coimbra. Após relevantes serviços prestados na construção 
e manutenção das linhas telegráf icas do oeste brasileiro, foi 
encarregado pelo presidente Afonso Pena, em 1907, de chefiar uma 
nova comissão, que ligaria por l inha telegráf ica Cuiabá ao Amazonas. 
Naquela época já havia o telégrafo ligando o Rio de Janeiro (então 
capital da República) a Cuiabá. Decidiu então o governo federal 
estender os f ios do telégrafo até a localidade de Santo Antônio do Rio 
Madeira e ao Acre. A tarefa foi realizada em três etapas nos anos de 
1907, 1908 e 1909, concomitantemente, portanto, à construção da 
ferrovia. 
Os trabalhos realizados pela Comissão das Linhas Tele gráf icas 
do Mato Grosso ao Amazonas tinham uma natureza braçal e requeriam 
ritmo, ordem e disciplina militares. O contigente de trabalhadores era 
formado por civis e militares. Grande parcela desse contigente era 
arregimentado de forma violenta através de prisões e degredos. Foi 
esse o caso dos marinheiros envolvidos na Revolta da Chibata em 
1910, colocados pelo Capitão Matos Costa para servir nos trabalhos da 
linha telegráf ica. A coerção e a violência f ísica eram util izadas para 
evitar as fugas e manter em ritmo acelerado os trabalhos. 
 Esse contigente de trabalhadores da linha telegráf ica, foi vít ima 
ainda da malária, febre amarela, ataques indígenas e carência de 
alimentos. Para atender as vítimas de doenças tropicais, acidentes e 
ataques indígenas as frentes de trabalho contavam com a atuação de 
médicos como o Doutor Joaquim Tanajura. Os trabalhos foram 
realizados através da abertura de 3 seções encarregadas da construção 
da linha telegráf ica: 
a) um ramal partiria de São Luís de Cárceres até atingir a cidade de 
Mato Grosso ( antiga Vila Bela da Santíssima Trindade ); 
b) a linha tronco ligaria Cuiabá a Santo Antônio do Madeira; 
c) essa seção realizaria trabalhos de exploração e reconhecimento da 
região. 
Os trabalhos foram realizados em ritmo acelerado. Entre os anos 
de 1907 a 1915 foram construídos 2270 Km de linhas telegráf icas com 
um total de 28 estações. A abertura dos picadões era feita 
manualmente ao longo de toda a linha, variando sua largura de 6 a 100 
metros. A importância da obra é imensurável, pois f ixou nú cleos de 
povoamento na região que mais tarde viria a ser Rondônia, como: 
Vilhena, Pimenta Bueno e Jarú. A partir do traçado da linha telegráf ica, 
o etnólogo Roquette-Pinto propôs a construção de uma rodovia. Seu 
sonho viria a se concretizar na segunda metade do século XX, com a 
abertura da BR-364. Deve-se ressaltar ainda, a importância dos 
estudos e trabalhos desenvolvidos pela Comissão Rondon nas áreas de 
botânica, zoologia, mineralogia e geografia. 
 
 
 
152Em 1913, Rondon participou de uma expedição pelos sertões do 
extremo oeste e da Amazônia brasileira juntamente com o ex -
presidente dos EUA Theodore Roosevelt. A expedição Roosevelt -
Rondon desenvolveu estudos zoobotânicos, geográficos, etnológicos e 
promoveu a exploração de vasta extensão de territórios que hoje 
integram o Estado de Rondônia. Esta expedição explorou o rio da 
Dúvida em toda sua extensão, denominando-o rio Roosevelt em 
homenagem ao ex-presidente norte-americano. Ao escrever os relatos 
de sua viagem à selvas do Brasil, Roosevelt exaltou o caráter e a 
personalidade de Rondon, considerando-o um brilhante of icial e um 
cidadão ilustre além de grande explorador e sertanista. 
À Comissão Rondon, atribuía-se também as funções de 
exploração etnológica e antropológica. Em seu avanço sobre os sertões 
do oeste pacif icou várias tribos. Dentre as populações contactadas por 
Rondon durante a abertura da linha telegráf ica encontravam -se: 
a) Parecis, destacando-se três grupos, Caxinit i, Uimaré e Cazarini 
(estes últ imos habitando as cabeceiras dos rios Juruena, Jauru, 
Guaporé, Cabaçal e Juba); 
b) Nhambiqwara, chamados de Uaikoakore pelos Parecis. 
Dividiam-se em diversos grupos, Congorê, Nenê, Uaindezês, 
Anezêse, Iquê, Mamaindê, Tomá-Indê, Malondê, Nova-Itê, Iaiá; 
c) Kepiquiri-Uat, habitavam o vale do rio Pimenta Bueno e. em 
seu grupo destacavam-se Charamein, Uapurutá, Bicop-Vat e 
Baxe-Pit; 
d) Arikeme, localizados no vale do rio Jamarí, foram perseguidos 
por bolivianos e brasileiros e migraram para as cabeceiras do 
rio Madeira. 
Um importante resultado dessa comissão foi a criação do Se rviço 
de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais 
(SPILTN) através do Decreto 8.072 de 20 de julho de 1910, assinado 
pelo presidente Nilo Peçanha (1867-1924). O SPILTN f icou subordinado 
ao Ministério da Agricultura. 
Caberia ao Estado, at ravés do SPI o exercício de ação 
civil izadora e de proteção aos índios, caipiras, bugres e tapuios. O 
Estado deveria promover a sua reabilitação social, moral e mental, 
dando-lhes condições de instalarem-se junto aos postos telegráf icos e 
estabelecimentos agrícolas. Essa expressão positivista de agir e pensar 
incluía ainda a obrigatoriedade por parte do Estado de impedir os 
massacres contra as populações indígenas e caipiras, bem como a 
demarcação das terras pertencentes aos índios. 
 
Exercícios. 
 
1. Relacione as colunas. 
1) Rondon ( ) l iderou a construção da linha 
 telegráf ica Mato Grosso-Amazonas. 
2) Joaquim Tanajura ( ) médico da Comissão Rondon. 
3) Gomes Carneiro ( ) l inha telegráf ica Araguaiana-Cuiabá. 
4) Matos Costa ( ) colocou os marinheiros da Revolta da 
 Chibata para trabalhar na Comissão 
 
 
 
153 
 Rondon. 
5) Afonso Pena ( ) ordenou a construção da linha 
 telegráf ica MT-AM 
 
2. Participou com a expedição Rondon da exploração do rio da Dúvida: 
a) Roosevelt. 
b) Church. 
c) Farquhar. 
d) Collins. 
e) Lovelace 
 
3. A criação do SPILTN através do decreto 8072 de 20 -07-1910 deu-se 
no governo de: 
a) Washington Luís. 
b) Campos Sales. 
c) Afonso Pena. 
d) Hermes da Fonseca. 
e) Nilo Peçanha. 
 
4. Cite 3 objetivos do SPILTN: 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Redija um pequeno texto (10 linhas) sobre a impor tância da obra de 
Rondon: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em resumo. 
 
 As primeiras notícias sobre o estudo para contornar as cachoeiras 
dos rios Madeira e Mamoré a f im de possibil itar a dinamização do 
comércio e a colonização da região, no século XIX, partiram da Bolívia. 
Quentin Quevedo realizou estudos em 1861 e o engenheiro brasileiro 
João Martins da Silva Coutinho, a serviço do governo do Amazonas 
 
 
 
154 
também realizou estudos sobre o aproveitamento da navegação e dos 
transportes na região. 
 Em 1871 o coronel norte-americano George Earl Church fundou a 
empresa Madeira-Mamoré Railway Co. LTD e assinou contrato com a 
empresa inglesa Public Works para dar início às obras da ferrovia. 
Church havia obtido condições para construir a EFMM, a partir de um 
empréstimo de 2000.000,00 libras esterlinas feito pelo governo 
boliviano junto aos bancos de Londres. Os primeiros engenheiros 
ingleses chegaram a Santo Antônio em 1873, mas a Publica Works foi 
batida pela insalubridade ambiental, retirando -se da região e 
processando o Coronel Church. 
 O contrato foi passado para a f irma Dorsay & Caldwel que não 
conseguiu dar prosseguimento às obras e repassou seus direitos 
contratuais à empreiteira Londrina Reed Bros. & Co, que não deu 
continuidade às obras e também processou a Madeira Mamoré Co. 
 Em 1877 Church assinou novo contrato com a f irma norte -americana 
P & T Collins, que enviou operários e engenheiros para o vale do alto 
Madeira. Em janeiro de 1878 partiu de Filadélf ia o vapor Mercedita e 
em 29 do mesmo mês o vapor Metrópolis naufragou com uma grande 
carga de gêneros, material ferroviário e passageiros destinados aos 
trabalhos da EFMM. 
 Em 1867 o governo imperial do Brasil enviou para o Vale do Madeira 
os engenheiros alemães Franz e Joseph Keller, que f izeram estudos 
preliminares sobre a topografia da região e sugeriram a construção de 
uma ferrovia para contornar o problema das cachoeiras. 
 A adversidade ambiental, os ataques de índios, animais ferozes, 
doenças e os acidentes dizimaram mais de 400 trabalhadores. Em 1881 
a empreiteira Collins faliu após ter assentado apenas 7 Km de tri lhos. 
 Entre 1883 e 1884 o governo imperial enviou para a região as 
comissões Morsing e Júlio Pinkas para a conclusão dos trabalhos 
topográficos. Ambas retiraram-se dos vales do Madeira e Mamoré 
batidas pelas adversidades ambientais. 
 O tratado de Petrópolis que resolveu a questão do Acre, impôs ao 
Brasil a Construção da EFMM. A concessão dada a Joaquim Catramby 
foi repassada ao grupo Percival Farquhar e as obras foram iniciadas em 
1907 pela empreiteira May & Jekill ( mais tarde May, Jekil l & Randolph 
Co Ltd) que iniciou a construção da ferrovia 7 Km abaixo de Santo 
Antônio, dando origem ao povoado de Porto Velho. 
 Trabalharam nas obras aproximadamente 22.000 operários e devido 
aos problemas de insalubridade, morbidade e elevada incidência de 
morte nos campos de trabalho, a f irma construtora edif icou o hospital 
da Candelária (1907-1931). As obras foram tocadas por operários de 
diversas nacionalidades e a ferrovia foi concluída em 1912, quando o 
negócio da borracha na Amazônia en trava em colapso. 
 O povoado de Porto Velho surgiu a partir do pátio ferroviário da 
Madeira Mamoré em 1907. Contava com água tratada, luz elétrica, 
jornal em inglês, fábricas de gelo e biscoito, além do moderno hospital 
da Candelária. O povoado de Porto Velho foi elevado a município em 
1914 e seu primeiro superintendente foi o Major Guapindaia que entrou 
em atritos com a administração norte -americana da ferrovia. 
 
 
 
155 
 Os primeiros bairros de Porto Velho foram o Triângulo, o Mocambo, o 
Centro e mais tarde o Caiari, a Arigolândia e o Olaria. A cidade era 
atravessada pela linha divisória (atual Presidente Dutra) que separava 
os terrenos da ferrovia dos terrenos da municipalidade. 
 Guajará-Mirim surgiu como estação terminal da EFMM. O lado 
boliviano do Mamoré já exis tia desde o século XIX, o povoado de 
Guayaramerím. Em 1902 foi instalado em posto f iscal em Guajará -Mirim 
administrado pela guarda Manoel Tibúcio Dutra. O município foi criado 
em 1928 pelo governo de Mato Grosso e teve como primeiro intendente 
e senhor Manoel Boucinhas de Menezes. 
 A comissão Rondon (1907-1915) desenvolveu trabalhos de abertura 
de picadas na f loresta e levantamento de terrenos da região entre 
Cuiabá,São Luís de Cáceres, Vila Bela e Santo Antônio. A linha 
telegráf ica instalada entre Santo Antônio e Cuiabá requereu o esforço 
de centenas de trabalhadores que foram remetidos para as selvas da 
região. 
 Os trabalhos da comissão Rondon produziram consideráveis estudos 
sobre a geografia, pedologia, mineralogia, botânica e zoologia da 
região. Nos campos de antropologia e etnologia foram contatados 
dezenas de povos indígenas. 
 Em 1910 foi criado SPILTN tendo como diretor o General Rondon. 
Dentre os objetivos de Rondon f iguravam a proteção às terras 
indígenas, o aculturamento dos indígenas e caipiras e a sua integração 
à sociedade civil izada, tornando-as úteis ao estado. 
 
 
 
 
156 
 
Capítulo 10 
O Território Federal do Guaporé. 
 
Aluízio Ferreira: a intervenção e a nacionalização da EFMM. 
 
 No processo de criação do Território Federal do Guaporé, 
destaca-se a f igura de Aluízio Ferreira, um dos patronos e principal 
defensor da idéia . Formado of icial pela Escola Militar de Realengo, no 
Rio de Janeiro, foi contemporâneo da geração de jovens militares, os 
tenentes, que opondo-se às práticas polít icas da República Ve lha: o 
domínio das oligarquias, a polít ica do café com leite, o coronelismo e o 
voto de cabresto fomentaram um movimento que f icou conhecido como 
Tenentismo. Com o fracasso da Revolução de 1924 no Amazonas, 
alguns revolucionários internaram-se nos sertões da região para não se 
entregarem às forças legalistas. O Tenente Aluízio Ferreira fugiu para o 
Vale do Guaporé, onde em Guajará-Mirim, passou a exercer atividades 
no seringal Laranjeira, de propriedade de Américo Cassara. Nesse 
seringal, o Tenente Aluízio trabalhou durante algum tempo na coleta da 
seringa, na preparação das pelas e na administração do barracão. 
Aproveitando a oportunidade que se oferecia, Aluízio Ferreira, um 
descendente dos índios Caetés, iniciou estudos sobre os indígenas 
regionais, notadamente os Makurape da região entre os rios 
Corumbiara e Branco. No ano de 1928 apresentou -se às autoridades 
militares em Belém do Pará. 
Ficou preso por sete meses, sendo julgado e absolvido. Da prisão 
escreveu ao General Rondon, expondo o resultado de suas pesquisas 
sobre os indígenas do Guaporé e ao ser l ibertado encontrou -se com 
esse sertanista que o convidou para assumir a subchefia do posto 
telegráf ico de Santo Antônio do Rio Madeira, tornado município de Mato 
Grosso em 1908, cuja chefia pertencia ao Tenente Emanuel Amarante. 
Tendo já servido como militar no Norte e no Centro -Oeste e participado 
da revolução de 1924, em 1930 estava integrado a vida polít ica da 
região, tendo contato através de suas atividades com os centros 
urbanos de Belém e de Manaus. Com a eclosão da Revolução de 1930, 
Aluízio Ferreira seguiu para Belém onde estava sendo cogitado para 
interventor do estado do Pará. Contudo, foi preterido pelo Tenente 
Joaquim Barata que assumiu o cargo. Aluízio retornou a Santo Antônio 
e a chefia do posto telegráf ico cujas atribuições o obrigavam a 
percorrer constantemente os rios e sertões da região que viria a ser 
Rondônia. 
 Seu passado como revolucionário, l igado ao movimento 
tenentista, dava-lhe credenciais junto ao governo provisório de Getúlio 
Vargas. De sua condição de líder revolucionário l igado ao movimento 
vitorioso de 1930, valeu-se Aluízio para fazer a defesa do General 
Rondon, então acusado de corrupção administrativa por l ideranças de 
revolucionários do porte de Juarez Távora (1898 -1975) que, como 
Aluízio, era ex-aluno da Escola Militar de Realengo. Da mesma 
maneira, valendo-se de sua condição de revolucionário o Tenente 
 
 
 
157 
Aluízio conseguiu impedir a derrubada dos postes da linha telegráf ica 
Cuiabá/Porto Velho/Guajará-Mirim. 
 A crise da borracha aliada a um longo período de crise do 
capitalismo internacional, iniciado com a quebra da Bolsa de Nova 
Yorque em 1929, ref letia-se vivamente nas condições de 
operacionalidade da EFMM. Os problemas enfrentados pela ferrovia 
levaram seus administradores ingleses a iniciar um processo de 
dispensa de inúmeros trabalhadores em 1930, o que ocasionou uma 
intensa agitação popular em Porto Velho. Tal situação obrigou o 
governo revolucionário do Amazonas a tomar medidas, levando seu 
representante em Porto Velho a intervir, em nome dos interesses 
nacionais, na Madeira Mamoré Railway Company. Aluízio comprometeu -
se, em nome do Governo Nacional, a contribuir com trinta contos de 
réis mensais para salvar a Companhia de uma crise ainda maior. Pela 
primeira vez a administ ração estrangeira da EFMM defrontava-se com 
uma autoridade nacional interessada em preservar os interesses dos 
trabalhadores e do próprio estado. 
Com o desenvolvimento da recessão econômica advinda da Crise 
de 1929, a situação da EFMM não sofreu nenhum alí vio, ao contrário, 
agravou-se e, em 1931, levou a direção da empresa a solicitar ao 
governo revolucionário a adoção de medidas que permitissem continuar 
o seu funcionamento. Os déficits contínuos levaram a administração da 
ferrovia a dirigir à justiça a um requerimento de citação ao governo 
brasileiro para que recebesse o acervo da ferrovia. 
A suspensão do tráfego nas linhas da EFMM, antes do término do 
prazo determinado pela justiça, com base na petição da administração 
da ferrovia, possibil itou a intervenção da União sobre a EFMM, de modo 
a garantir a normalização de seu funcionamento. O transtorno que 
causaria essa decisão à população e à economia local foram antevistos 
por agentes do governo federal. Aluízio Ferreira comunicou -se com o 
Ministro da Viação, José Américo de Almeida, que lhe deu liberdade 
para agir. Ato contínuo ocupou as instalações da ferrovia, dando início 
ao processo de intervenção, que foi concretizado em 10 de julho de 
1931, através do Decreto Lei, nº. 20.200, assinado pelo Presidente d a 
República Getúlio Vargas. 
A nacionalização da ferrovia é uma evidência do real motivo pelo 
qual o imperialismo investe em países periféricos, o lucro apenas. 
Coincidentemente com o término da construção da ferrovia, entraram 
em queda as exportações da borracha amazônica, em face da 
concorrência do látex produzido na Ásia, entrando a região em um novo 
período de estagnação econômica. Conseqüentemente, caiu o 
faturamento da companhia ferroviária que, gradativamente, foi 
perdendo o interesse pelo empreendimento. Não tendo como retorno o 
lucro considerado satisfatório, a administração da ferrovia 
desinteressou-se do papel de agente civil izador, tão defendido por 
gente como Maury, e ordenou a suspensão do tráfego em 1931. 
O contrato com a Madeira Mamoré Railway Company foi 
rescindido através do Decreto n o. 1547 de 5 de abril de 1937, sendo a 
ferrovia estatizada pelo presidente Getúlio Vargas. Dessa forma 
garantiu-se a continuidade dos serviços prestados pela EFMM até 1972. 
 
 
 
158 
A administração da ferrovia continuava sendo uma espécie de 
governo informal em sua área de inf luência, ou seja, em partes dos 
vales do Madeira e do Mamoré/Guaporé. Assim as preocupações do 
novo diretor da ferrovia extrapolavam, em muito, a tarefa de dirigir um 
simples empreendimento ferroviário. Além de iniciativas que se 
confundiam com aquelas próprias da municipalidade, a administração 
da ferrovia, Aluízio passou a ocupar-se de certas estratégias que 
garantiriam a segurança e facil itariam o contato da região com o 
restante do país. Exemplo dessas iniciativas foi a exposição de motivos 
enviada por ele ao Ministro da Guerra, cujas considerações foram 
aceitas resultando no Aviso Ministerial de 23 de setembro de 1932, que 
criava três contingentes militares de fronteira sediados respectivamente 
em Porto Velho, Guajará-Mirim e no Forte Príncipe da Beira. Uma outra 
iniciativa que se revelaria importante para o futuro do estado consistiu 
em principiar a abertura da rodovia Cuiabá/Porto Velho. Contando com 
sobras de verbas do DNOCS (Departamento Naciona l de Obras Contra 
a Seca) e algunshomens sem o auxílio de maquinário abriu alguns 
quilômetros dessa estrada que viria a ser concluída apenas na década 
de 1960. 
A extensa obra polít ica e administrativa de Aluízio Ferreira levou -
o a ser o primeiro governador do recém criado Território Federal do 
Guaporé, cargo que ocupou até 1946. Seu grande conhecimento sobre 
a região o levou a propor polít icas desenvolvimentistas e de segurança 
que garantiriam a prosperidade e a integração da região ao restante do 
país. Considerava que os problemas locais advinham de três 
circunstâncias específ icas: 
a) a distância e o isolamento regional devido à precariedade dos 
meios de transporte e comunicação; 
b) os baixos índices demográficos que dif icultavam a 
implementação de polít icas econômicas e desenvolvimentistas; 
c) o precário rendimento do trabalho humano na região, devido a 
circunstâncias naturais como a hostil idade ambiental e a 
ausência de condições materiais satisfatórias para o exercício 
das atividades. 
 A participação de Aluízio Ferreira foi decisiva para a criação do 
Território Federal do Guaporé, em específ ico, e dos demais Territórios 
Federais em geral. Além de ser o primeiro governador do Território 
Federal do Guaporé, Aluízio foi também eleito Deputado Federal pelo 
mesmo Território por três vezes, em 1946, 1950 e 1958. 
 
Exercícios. 
 
1. É correto af irmar sobre o processo de nacionalização da EFMM. 
a) Foi obra do regime militar que promoveu a intervenção na ferrovia 
através do 5º BEC. 
b) Ocorreu após o término do contrato assinado ent re Farquhar e o 
governo do Brasil. 
c) Foi um ato promovido por Aluízio Ferreira, após a criação do 
Território Federal do Guaporé. 
 
 
 
159 
d) Aconteceu após a crise do capitalismo liberal (1929), durante o início 
do governo Vargas, em 1931. 
e) Foi uma medida adotada pelo governo de Hermes da Fonseca. 
 
2. Não é característico das propostas dos tenentes dos movimentos de 
1918 a 1924: 
a) voto secreto. 
b) urbanização e industrialização. 
c) combate ao poder das oligarquias rurais. 
d) reorganização da economia nacional. 
e) preservação dos interesses das oligarquias. 
 
3. São fatos relativos à obra administrativa de Aluízio Ferreira; exceto: 
a) intervenção na EFMM em 1930. 
b) administração da EFMM a partir de 1931. 
c) principiou a abertura de uma rodovia no sentido Porto Velho Cuiabá. 
d) proposta de criação dos contingentes militares de fronteira em Porto 
Velho e Forte Príncipe da Beira. 
e) criação do município de Porto Velho. 
 
4. Que fatores eram considerados por Aluízio Ferreira como 
responsáveis pelos problemas que impediam o desenvolvimento 
regional? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. A obra polít ico-administrativa de Aluízio Ferreira atinge seu ponto 
máximo quando? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Precedentes da criação do Território Federal do Guaporé. 
 
 
 
 
160 
 A preocupação dos governos republicanos com a ocupação e 
colonização da Amazônia agravou-se durante a década de 30. A queda 
das exportações da borracha f izera com que a região entrasse em 
letargia econômica, fenômeno que repetia mais uma vez o ocorrido em 
épocas passadas, ao f inal dos surtos extrativistas. Continuava portanto 
atual o problema da ocupação da região, particularmente de seus 
extremos fronteiriços aos norte e ao extremo oeste. 
 O desmembramento do território brasileiro ocorreu por etapas. A 
maior parte da área que hoje compõe o Estado de Rondônia passou a 
fazer parte da Capitania de Mato Grosso quando essa foi criada em 
1748. O restante do território, uma área de aproximadamente 12% das 
terras que hoje integram o estado, pertencia à Capitania de São José 
do Rio Negro, mais tarde província do Amazonas. Em 1763, quando o 
Brasil foi dividido em dois estados, o Estado do Maranhão e o Estado 
do Brasil, cada qual subdividido em capitanias a área de Rondônia 
continuou pertencendo à Capitania do Mato Grosso, que pertencia ao 
Estado do Brasil. As terras rondonienses que integravam o Amazonas, 
pertenciam ao Estado do Maranhão e Grão-Pará. A reunif icação dos 
estados do Brasil e Maranhão e Grão-Pará foi realizada pelo Marquês 
de Pombal que criou a Capitania de São José do Rio Negro em 1755, 
desmembrando-a da Capitania do Grão-Pará. 
Com a independência, muitas das capitanias tornaram-se 
províncias, cujos presidentes eram nomeados pelo imperador. A área 
da Capitania do Rio Negro f icou anexada à Província do Grão -Pará. 
Apesar dos desejos de autonomia da Capitania do Rio Negro 
reportarem-se ao século XVIII , foi a indicação feita em 1844 pelo 
Deputado Tenreiro Aranha à Assembléia Legislativa do Pará para que 
encaminhasse a Assembléia Geral uma proposta para a elevação do 
Rio Negro, então comarca do Grão Pará, à categoria de província, que 
surtiu resultado. Em 1850 foi criada a Província do Amazonas. 
 Por essa época existiam propostas para o desmembramento de 
áreas do Amazonas e do Mato Grosso para a criação de novas 
províncias. O isolamento em relação às capitais dif icultava a tomada de 
decisões e a execução de ações que viessem promover o 
desenvolvimentos dessas áreas mais afastadas. Esse é o caso da 
região encachoeirada do Madeira e dos vales dos rios Mamoré e 
Guaporé. Essa parte do alto Madeira e dos demais rios, que pertenciam 
administrativamente ao Mato Grosso apesar de possuir um contato mais 
fácil e rápido com o Amazonas e mesmo de ser assistida por aquela 
província f icava, via de regra, abandonada, desassistida. 
 Ao mesmo tempo em que estava sendo discutida a proposta de 
elevação da Capitania do Rio Negro ao status de província, outros 
projetos de aspecto mais amplos visavam reorganizar a divisão 
administrativa regional. Em 1849 o Visconde de Porto Seguro, 
Francisco Adolfo de Varnhagen (1810-1878), apresentou uma dessas 
propostas. Exceto a região do Acre , que nessa época ainda pertencia a 
Bolívia, o Projeto de Varnhagen propunha, a criação de vários 
territórios que viriam a ser formados no século XX, com diferenças de 
nomes e de limites. Aproximadamente nos limites do atual Estado do 
Roraima o projeto previa a criação de uma província denominada Rio 
 
 
 
161 
Negro, da mesma maneira onde hoje se situa o Estado do Amapá seria 
criada a província do Novo Pihauy. 
 No século XX seguiram-se outros projetos que denotavam 
preocupações com a ocupação do extremo norte e noroeste do país. Os 
projetos Backheuser, um primeiro esboço ampliado daquilo que viria a 
ser o Território do Guaporé seria formado, em sua maior parte, por 
terras do atual estado do Amazonas e em menor proporção das terras 
do Mato Grosso, que hoje integram 88% da área do Estado de 
Rondônia. O rio Mamoré e parte do Guaporé constituíram -se na 
fronteira natural entre as terras pertencentes a Província do Madeira e 
os vizinhos territórios pertencentes à Bolívia. Também o Projeto de 
Fausto de Souza, apresentado em 1880 previa a criação de uma 
Província do Madeira. Diversos projetos seguiram-se a esses até a 
virada do século. 
Outros planos, a saber: Segadas Viana, Machado Guimarães, 
Juarez Távora e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro 
ocuparam-se também da criação de territórios na região do Madeira, 
embora a área do que seria o Território do Guaporé não tenha 
coincidido com as propostas desses projetos. Por exemplo, no Projeto 
Segadas Viana propunha-se a criação de dois estados, o do Guaporé e 
do Jamarí; o Projeto Juarez Távora criava dois estados: o do Guaporé e 
o do Madeira e o de Teixeira de Freitas: três estados Guaporé, Mamoré 
e Madeira. Em todos esses projetos situava-se a área do antigo 
Território Federal do Guaporé. 
 Com a resolução da questão do Acre, criou-se naquela área o 
Território Federal do Acre organizado através da Lei 1.181 de 25 de 
fevereiro de 1904 e do Decreto 5.188 de 7 de abril do mesmo ano, 
constituindo-o em três departamentos administrativos: o do Alto Acre, o 
do Alto Purus e o do Alto Juruá, cujos prefeitos eram escolhidos e 
nomeados pelo presidenteda república. 
Como foi visto, a Comissão Rondon havia integrado em seus 
efetivos também civis. Um dos grandes colaboradores de Rondon em 
seus trabalhos de abertura da linha telegráf ica, foi o médico Roquette-
Pinto, que se entusiasmou com tudo aquilo que observou de potencial 
na região e com a liderança exercida por Rondon. Quando, em 1915, 
proferiu uma palestra no Museu Nacional do Rio de Janeiro, atribuiu à 
região situada entre o Madeira e o Juruena o nome de Rondônia, 
reafirmando sua posição em artigo publicado no ano seguinte na 
Revista do Brasil. Mais do que isso, Roquette -Pinto anteviu uma 
solução para os graves problemas de comunicação entre a área 
banhada pelos seus maiores rios e o restante dessa região e supôs que 
uma estrada que seguisse o traçado da linha telegráf ica seria de 
fundamental importância, pois integraria definit ivamente a região ao 
restante do país. 
Ao iniciar a década de 40, alguns elementos da maior importância 
para a criação de uma unidade polít ico-administrativa na região já 
estavam postos. Existia já idéia de uma região, conforme a proposta 
por Roquette-Pinto, e de uma unidade polít ico -administrativa, 
razoavelmente amadurecida através de uma discussão quase secular, 
inclusive ao nível do parlamento. Com a nacionalização da ferrovia uma 
 
 
 
162 
certa unidade de ação fora obtida, pois passara a empresa a ser 
propriedade pública, ocasionando inclusive a realização da visão de 
Roquette-Pinto, iniciando-se a abertura da rodovia Br-364. Contudo, foi 
a batalha da borracha que, reativando a economia da região através de 
maciços investimentos destinados ao aumentos da produção gomífera, 
fez aumentar o interesse do governo pela idéia de criação de 
territórios. 
 
Exercícios. 
 
1. Cite 3 projetos que previam a criação de territórios no Brasil nos 
séculos XIX e XX. 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Quais os fatores que antecederam a criação do Território Federal do 
Guaporé? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Quais os municípios pertencentes ao Território Federal do Guaporé 
em 1943? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Como eram os limites do Território em 1943? 
R. 
 
 
 
 
 
163 
 
 
 
 
 
 
 
5. O Território Federal do Acre foi criado em: 
a) 1804. 
b) 1904. 
c) 1914. 
d) 1924. 
e) 1934. 
 
A guerra pela borracha. 
 
Durante as décadas de 1920 e 1930, a borracha amazônica 
perdeu preço devido À concorrênc ia da produção da Malásia. Os 
seringais caíram no abandono e grandes fortunas desapareceram. A 
ausência de investimentos em outra áreas da economia levou a 
Amazônia a mergulhar em profundo estado de decadência. Nos 
seringais a produção encontrava-se paralisada ou reduzida a níveis 
ínf imos. Os seringueiros abandonavam suas colocações em busca de 
outras atividades que lhes permitissem a sobrevivência. Essa situação 
perduraria até início dos anos de 1940. 
Como resultado do corte do abastecimento de borracha d a 
Malásia, cujos seringais caíram nas mãos dos japoneses, os norte -
americanos passaram a ter como única alternativa para o 
abastecimento de suas indústrias a borracha da Amazônia. Como as 
regiões produtoras responsáveis por 97% do suprimento de borracha 
para os E.U.A f icaram impossibil itadas de fornecer o produto, os norte -
americanos implementaram um plano, previamente elaborado, 
destinado a reativar a exploração da borracha amazônica, que supriria 
regularmente a demanda dessa matéria -prima para as industrias 
daquele país. Em 1942 foram assinados os Acordos de Washington, 
visando o esforço conjunto dos governos do Brasil e dos EUA para o 
aumento da produção da borracha amazônica e seu fornecimento às 
indústrias norte-americanas. 
 Foram criados no Brasil vários órgãos cujos objetivos ligavam-se 
à captação de mão-de-obra, melhoria da infra estrutura de transportes, 
f inanciamento e abastecimento dos seringais e comercialização do 
produto. Como resultado desses novos investimentos o futuro território, 
passou por um curto período de prosperidade. Dado o novo surto de 
exportação da borracha a iniciativa governamental se fez novamente 
presente na região de tal maneira que não se pode desvincular a 
decisão de criar o Território Federal do Guaporé e os outros territóri os 
dos interesses manifestos nos acordos de Washington. 
 Esses acordos previam iniciativas destinadas mesmo a interferir 
nas tradicionais relações de produção estabelecidas no sistema 
 
 
 
164 
extrativista. Essas medidas pretendiam eliminar o sistema de barracão 
e aviamento. O governo, para quebrar o monopólio das casas 
aviadoras, criou o Banco da Borracha S/A, que f inanciava o seringalista 
em troca da exclusividade na comercialização de seu produto. Dessa 
forma mantinha o controle sobre preços e estoques. A elimina ção do 
intermediário, o aviador, foi iniciativa seguida com o maior interesse 
pelos norte-americanos pois garantiria uma maior segurança no 
abastecimento desse produto estratégico. 
 A criação do Banco da Borracha não foi iniciativa única da 
intervenção estatal no sistema extrativista da Amazônia. Fazia parte de 
um complexo de iniciativas que abrangiam, inclusive o abastecimento 
aos seringalistas de produtos exportados pelo governo norte -americano 
diretamente para a Amazônia pela Rubber Development Corporati on e 
distribuídos internamente pela Superintendência de Abastecimento do 
Vale Amazônico - SAVA. 
Assim, várias iniciativas simultâneas intentavam acabar com o 
sistema de aviamento e de barracão, intimamente ligados. Oficialmente 
pretendiam as autoridades brasileiras e norte-americanas estabelecer 
um sistema mais moderno de relações extrativistas, via regulamentação 
das relações de trabalho e barateamento dos preços dos aviamentos 
para os seringueiros, l ivrando-os do endividamento. Para isso 
exportavam diretamente os gêneros necessários aos seringais que 
f icavam acessíveis aos seringalistas, em troca de um valor bem menor 
do que aqueles fornecidos pelo aviador. Com o f inanciamento do Banco 
da Borracha o seringalista comprava esses produtos à SAVA, uma 
forma de f inanciamento tradicional na agricultura, mas totalmente nova 
no extrativismo. Esperava-se que dessa forma os produtos chegassem 
ao extrator com preços menores, evitando o endividamento. 
Para regularizar a situação trabalhista do seringueiro foi criado 
um contrato padrão de trabalho destinado a regulamentar suas 
atividades de extração nos seringais. Essa contrato tentava 
compatibil izar alguns direitos dos extratores em face das formas 
tradicionais de exploração da força de trabalho nos seringais, a 
exemplo do trabalhadores urbanos que obtiveram, com a Consolidação 
das Leis do Trabalho certas garantias. No entanto as tentativas 
governamentais de regulamentar e regularizar a situação dos 
trabalhadores nos seringais fracassou. Continuaram a vigorar as 
antigas práticas de exploração dos seringueiros, através de sua 
vinculação ao barracão. Quanto aos aviamentos para o seringueiro, 
começaram a f icar mais caros ainda. Essas duas medidas não deram 
certo porque o endividamento do extrator fazia parte da lógica do 
sistema extrativista, era ele que sujeitava o extrator ao trabalho. 
 O fracasso de algumas medidas tomadas no período explica -se 
em parte pela falta de combinação da ação dos órgãos governamentais. 
Assim, os investimentos na Amazônia durante o período da Gue rra 
foram caracterizados por um desencontro de decisões entre os órgãos 
envolvidos, tanto do lado norte-americano quanto do lado brasileiro. 
Explica-se, dado o caráter de urgência das medidas previstas nos 
acordos, diversos órgãos foram criados para executá-las, ocorrendo 
muitas vezes a duplicidade de atribuições, ou seja, a existência de dois 
 
 
 
165 
setores encarregados da mesma atividade. Além disso as ações não 
eram coordenadas. A CAETA (Comissão Administrativa de 
Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia ) trabalhava sem 
comunicação com a SAVA. Ocorria então que quando os trabalhadores 
chegavam à Amazônia nãohavia certeza quanto a disponibil idade de 
alojamentos e alimentação para esses migrantes que se destinavam 
aos seringais. Não havia também uma ação coordenada com o SNAPP 
(Serviço de Navegação e Administração dos Portos do Pará) e 
freqüentemente ocorria que os migrantes chegavam por ocasião da 
seca quando os navios f icavam impossibil itados de chegarem aos 
seringais. A burocracia estatal não atentava sequer para a época certa 
de assentar os trabalhadores para o corte da seringa. 
 Quanto ao recrutamento e deslocamento dos trabalhadores para a 
Amazônia, em sua maior parte do nordeste, os resultados foram 
catastróf icos. Não foi ainda determinado precisamente o número de 
trabalhadores e dependentes recrutados e enviados para os seringais. 
Com base em depoimentos dados ao Congresso Nacional após a 
guerra, estimou-se que durante o período migraram para a Amazônia 
52000 pessoas somando-se aí os dependentes dos t rabalhadores. Já 
um relatório da SEMTA, de 1945, totalizava 24300 trabalhadores e seus 
dependentes, encaminhados para a Amazônia entre outubro de 1943 e 
abril de 1945. Os dados disponíveis permitem visualizar, mesmo que 
grosseiramente, a dimensão quantitat iva desse fenômeno, uma 
diáspora nordestina no dizer do ilustre historiador amazônico Samuel 
Benchimol. 
Assim, em uma relação de 1942, elaborada pela SEMTA há um 
total 4050 trabalhadores enviados para a Amazônia. Desse total 1013 
(25,01%) foram enviados para diversas localidades do rio Madeira, a 
maior parte, 985 (24,32 %) para Porto Velho, certamente para a 
distribuição nos seringais rio acima. Uma outra relação informa o 
número de trabalhadores enviados do nordeste, entre outubro de 1943 
e setembro de 1945, para o porto de Belém, totalizando 15611 pessoas. 
Desse total, 9875 (63,2%) foram enviados para Manaus, de onde 
seriam redistribuídos. 376 (2,3%) pessoas foram enviadas diretamente 
para Porto Velho e os 5360 (34,5%) foram distribuídos para várias 
localidades. Dos trabalhadores enviados para Manaus, 2345 (23,7%) 
foram enviados para Porto Velho. 172 (1,7%) retornaram aos seus 
estados de origem e o restante foi distribuído no Amazonas e para os 
seringais em outros estados. 
 O estado do Nordeste que mais contribuiu com trabalhadores para 
o esforço de guerra foi o Ceará. Outros estados do nordeste também 
contribuíram, destacando-se o Rio Grande do Norte, a Paraíba e a 
Bahia. Uma relação da SEMTA discriminando a origem dos 
trabalhadores arregimentados, totalizando 15105 pessoas permite-nos 
dimensionar o impacto da arregimentação nesses estados. A maior 
parte era proveniente do Ceará 7430 (49,19%), em segundo lugar 
vinham os migrantes da Paraíba, 4488 (29,71%), outro contingente 
provinha do Rio Grande do Norte, 2263 (14,98%) e uma outra parte 924 
(6,11%) da Bahia. Haviam também trabalhadores arregimentados em 
 
 
 
166 
outros estados, inclusive do Sul do país e também, em menor número, 
trabalhadores que vinham por conta própria. 
 Mesmo com as medidas de higienização e saneamento tomadas 
pelo governo, para diminuir a incidência de doenças tropicais, o custo 
pago em vidas humanas para o sucesso do empreendimento foi 
elevado. Ao f inal da guerra muitos dos trabalhadores arregimentados 
foram recambiados aos seus estados de origem, em lamentável estado 
de saúde. Um relatório de 1945 no qual constam as doenças contraídas 
por esses trabalhadores, recambiados para seus estados pelo porto de 
Belém, permite-nos observar os motivos do retorno. Das 2160 pessoas 
a maior parte 1195 (55,32%) voltaram por motivo de saúde. O principal 
deles, a malária: 804 (37,22%) seguida de anemia palúdica: 138 
(6,39%) e outras doenças como polinevrite, debilidade mental, doenças 
venéreas, tuberculose e outras: 253 (11,71%). Dos 965 restante 
(44,67%) foram remanejados por outros motivos, entre eles 712 (32,96) 
considerados desajustados economicamente, indivíduos não adaptados 
ao sistema de barracão, e outros por viuvez: 50 (2,31%). Uma 
Comissão de Inquérito levada a efeito pelo Congresso Nacional 
calculou em milhares o número de óbitos nos seringais durante este 
período. 
 Tentou-se ainda durante a 2ª Grande Guerra (1939-1945) a 
implantação de núcleos de colonização, baseados na agricultura, 
visando minorar o problema do abastecimento interno. No entanto, a 
economia do território continuou sendo vinculada ao setor extrativista. 
Com a reativação do abastecimento da borracha asiática, caíram 
novamente as exportações do látex amazônico e, apesar dos capitais 
dispendidos na região Amazônica durante a Guerra, ao f in al desta, a 
região retornou à situação anterior, agravada ainda pela descoberta da 
borracha sintética feita por alemães e americanos. 
 
Exercícios. 
 
1. O que eram e o que previam os “Acordos de Washington” de 1942? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Não é fato ligado ao novo surto extrativista da borracha na Amazônia 
1942-1945: 
a) a criação do Banco da Borracha. 
b) a criação da SAVA. 
c) a atuação da Rubber Development Corporation. 
d) a atuação dos Soldados da Borracha. 
e) o escândalo de Putumayo. 
 
 
 
167 
 
3. Foi conseqüência do surto extrativista do látex entre 1942 a 1945: 
a) a criação da Zona Franca de Manaus. 
b) o f im do sistema de barracão. 
c) a criação de órgãos públicos como o SNAPP, a SAVA e a CAETA. 
d) a crise da borracha na Malásia. 
e) a construção da Fordlândia. 
 
4. Por que a Europa e os EUA voltaram a comprar borracha da 
Amazônia entre 1942-1945? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. De onde provinham esses grupos de trabalhadores e como chegavam 
a Amazônia? 
R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A criação do Território Federal do Guaporé. 
 
Em 1940 Getúlio Vargas visitou Porto Velho, quando foi 
recepcionado por Aluízio Ferreira, de modo a inf luenciar o presidente a 
transformar a região em Território. Com a implementação dos Acordos 
de Washington, um novo surto migratório veio a aumentar a população 
da área, que viria a ser o Território Federal do Guaporé. A intensa 
busca pela borracha, trouxe consideráveis contigentes de trabalhadores 
oriundos, sobretudo, da região Nordeste do país para os vales do 
Madeira, Mamoré e Guaporé e seus af luentes af im de atuarem na 
coleta do látex. 
Em 1943 através do Decreto-Lei 5.812 de 13 de setembro foi 
criado o Território Federal do Guaporé. Compunha -se de partes 
desmembradas dos estados do Amazonas e do Mato Grosso. Seus 
limites passavam pelo rio Purus, em sua parte norte, o que o tornava 
maior do que é atualmente. Criado o território, foram definidos seus 
municípios pelo Decreto-Lei 5.839, de 21 de setembro do mesmo ano. 
 
 
 
168 
Foram criados quatro municípios: Lábrea, formado por partes dos 
municípios de Lábrea e Canutama, no estado do Amazonas; Porto 
Velho que pertencia ao Estado do Amazonas e manteve sua área 
municipal tornando-se a capital do Território; Alto Madeira, 
compreendendo parte do antigo município de Santo Antônio, 
pertencente ao Mato Grosso; Guajará-Mirim, compreendendo partes dos 
municípios de Guajará-Mirim e da Cidade de Mato Grosso (atual Vila 
Bela), ambos pertencentes também ao estado de Mato Grosso. 
Apesar da quase secular discussão e de inúmeras propostas para 
a criação de novas províncias ou estados na Amazônia, a criação do 
Território Federal do Guaporé apresentou dif iculdades já anteriormente 
sentidas, no tocante à questão de demarcação de seus limites. Por 
exemplo, antes mesmo da criação do Território do Guaporé a 
comunicação entre Santo Antônio do Rio Madeira, pertencente ao 
Estado do Mato Grosso, era feita de forma mais ef iciente com Manaus, 
no Estado do Amazonas, do que com a capital de Mato Grosso, Cuiabá. 
Concorria para essa situação a dif iculdade de transporte por via f luvial, 
devido a presença das inúmeras cachoeiras do Madeira que se 
interpunham entre Santo Antônio e Vila Bela. Além dessa primeira 
dif iculdade pairava ainda a insegurança quanto ao transporte terrestre 
entre Vila Bela e Cuiabá. 
Da mesma maneira, a

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