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1 UNIVERSIDADE ONTEM E HOJE: APONTAMENTOS PARA UMA REFLEXÃO CRÍTICA E EMANCIPADA DO SABER Profa. Dra. Caroline da Graça Jacques Profa. Ma. Guiomar da Rosa Bortot 4 O conhecimento e a ciência possuem um papel central em nossa sociedade. Desde o acesso aos medicamentos e equipamentos médicos à construção de hidrelétricas e rodovias e, até mesmo, o lançamento de satélites que impulsionam a comunicação pelo mundo, esses exemplos possuem a marca do desenvolvimento tecnológico que é fruto do conhecimento científico. A ciência, em seu formato atual, surgiu apenas no Século XVII, portanto, pode-se dizer que é um empreendimento humano recente. De fato, o conhecimento científico e seu acúmulo estão fortemente atrelados ao papel que as universidades detêm em nossa cultura. Contudo, o conceito e a função social da universidade têm variado no decorrer do tempo e do espaço. Para entender o processo de construção da universidade e a importância vital da ins- tituição para a sociedade democrática contemporânea, apresentamos a seguir uma reflexão sobre: I) o surgimento das universidades ocidentais no seu contexto histórico e cultural; II) o desenvolvimento do ensino superior no Brasil e as especificidades das universidades comunitárias, em particular, a Unesc; e III) o papel social da universida- de como espaço de pesquisa e reflexão crítica. UNIVERSIDADE NO CONTEXTO SOCIAL SURGIMENTO DAS UNIVERSIDADES OCIDENTAIS E O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Na Antiguidade Clássica (VIII a.C. – V d.C.), no Ocidente, principalmente na Grécia e em Roma, já existiam escolas de alto nível, para formar especialistas em medicina, filosofia, retórica e direito. Naquele tempo, a figura do mestre era fundamental, pois ele concentrava importante bagagem de conhecimento que era transmitida a seus discípulos. Por exemplo, Hipócrates, um médico grego e uma das figuras mais mar- cantes da história da medicina, foi responsável pela criação da Escola Hipocrática e, por consequência, da medicina como uma profissão. O declínio do Império Romano, as tumultuosas invasões bárbaras, entre os Séculos V e X, interromperam o processo das escolas de alto nível. É na baixa Idade Média (entre os Séculos XI e XV) que, de fato, surgem as universidades ocidentais. A Igre- ja Católica, instituição religiosa e, ao mesmo tempo, política, foi a responsável pela unificação do ensino superior em um só “órgão”: a universidade. Para Luckesi et al. (2005), nessas escolas, combinavam-se um forte clima religioso gerado pela fé e pelo dogmatismo, mas de forma concomitante, discussões abertas e debates públicos, ainda que sob a vigilância dos mestres e da própria igreja. As ideias dos filósofos da Antiguidade Clássica, como Platão e Aristóteles, eram debatidas, porém persistia uma concepção estática de mundo. As universidades da Europa Medieval ofereciam o estudo preparatório, conhecido como o estudo das sete artes liberais, o Trivium e o Quadrivium. O Trivium era con- siderado o ensino literário e abrangia as matérias de gramática, retórica e lógica. O 1 2 5 Quadrivium, considerado o ensino científico, abrangia o estudo da aritmética, geome- tria, música e astronomia. Os estudantes, após concluídos os estudos preparatórios, eram encaminhados para as três profissões da época: Medicina, Direito e Teologia. As primeiras universidades ocidentais foram: Universidade de Bolonha (1080), na Itália; Universidade de Paris (1158), na França; Universidade de Oxford (1167), na Inglaterra. O modelo das universidades medievais sucumbe a partir das mudanças trazidas pelo movimento da Renascença e da Reforma Protestante no Século XVI. A Idade Mo- derna desponta, trazendo o ideal individualista da Revolução Burguesa e, ao mesmo tempo, as bases de uma ciência racional moderna. O Iluminismo e o surgimento dos enciclopedistas questionam o saber dogmático das sumas medievais. De fato, a corrente filosófica do Iluminismo defende o domínio da razão em detrimento de uma visão teocêntrica de mundo. Ter coragem para fazer o uso da razão. Esse era o lema do Iluminismo. Nas palavras do filósofo alemão Immanuel Kant: O Iluminismo é a saída do ser humano do estado de não-emancipação em que ele próprio se colocou. Não-emancipação é a incapacidade de fazer uso de sua razão sem recorrer a outros. Tem-se culpa própria na não-emancipação quando ela não advém de falta de razão, mas da falta de decisão e coragem de usar a razão sem as instruções de outrem. Sapere aude! [Ouse saber!]. (KANT apud SCHWARTAMAN, 1984, p. 55). O Iluminismo marca a transição de um mundo orientado pelo teocentrismo e pela metafísica para uma visão antropocêntrica de sociedade, na qual a razão, a liberdade e o indivíduo possuem papel central na explicação da natureza e da realidade social. Em decorrência dessa nova maneira de perceber o mundo, surge um novo conceito de ciência. Galileu Galilei, Kepler, Nicolau Copérnico e Giordano Bruno defenderam que o Planeta Terra não é plano e nem está no centro do universo e, por isso, pro- vocaram uma grave crise nas certezas ortodoxas da Igreja Católica e, juntamente com outros pensadores e cientistas, foram perseguidos por tentar desestabilizar um mundo organizado. Para tanto, o método científico foi estabelecido com o objetivo de explicar e controlar os fenômenos da natureza. Nesse sentido, a história do método científico se mistura SAIBA MAIS 6 A história da criação da universidade, no Brasil, surgiu de um processo complexo, marcado por rupturas e contradições. Todas as tentativas de implantação de uni- versidade, durante o período de 1843 a 1920, fracassaram. Segundo Fávero (2006), até 1808, os luso-brasileiros tinham a Europa como destino para realizar os estudos superiores, principalmente, em Coimbra, Portugal. Apesar dos esforços dos Jesuí- tas, Portugal não aceitava a criação de universidades no Brasil, como reflexo de sua política de colonização, bem como, segundo Moacyr (1937 apud FÁVERO, 2006), os brasileiros consideravam mais adequado que as elites fossem realizar seus estudos na Europa. Somente com a chegada da Família Real, em 1808, Dom Pedro I instituiu o ensino superior, criando no Brasil o Curso Médico de Cirurgia na Bahia e a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica no Rio de Janeiro, que serviram de base para as atuais Faculda- des de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA) (FÁVERO, 2006). O processo de criação enfrentou problemas e incongruências, mas possibilitou in- tensificar o debate sobre o problema universitário no país (FÁVERO, 2006). Em 1930, inicia-se um movimento de transformação do ensino superior no país: a partir da união de três ou mais faculdades, a instituição podia chamar-se universidade. Assim surgiram as Universidades de Minas Gerais, sendo reorganizadas em 1933, e a Uni- versidade de São Paulo que, em 1934, já apresentava uma preocupação de superar o simples agrupamento de faculdades (LUCKESI et al., 2005). O período que compreende os anos de 1920 a 1968 são considerados os anos mais críticos para a história da universidade no Brasil, visto que ocorreram as implantações das instituições, assumindo a configuração que permanece até hoje (MENDONÇA, 2000). Nesse sentido, Costa e Rauber (2009, p. 47) afirmam que: O ideal universitário foi se constituindo aqui no Brasil de forma endóge- na, ou seja, foi na elaboração do pensamento de República Indepen- dente e da mudança na economia que a ideia de Universidade emerge distando, assim, das propostas de outros territórios colonizados que tiveram como marca principal a organização e implantação da Universi- dade, com vistas a reforçar o processo de colonização e formação de uma nova identidade. Na década de 1960, o ensino superior no Brasil atinge o seu ápice com a criação da Universidade de Brasília (UnB), considerada a mais moderna do país. Na década com a história da ciência. René Descartes esforçou-se para estabelecer os princípios fundamentaisdo método científico. Sua obra, “O Discurso do Método”, foi conside- rada um grande marco na história da ciência, pois determinava que as ideias claras e distintas deveriam organizar e explicar o mundo empírico. A UNIVERSIDADE NO BRASIL3 7 de 1970, em função da implantação das políticas educacionais, ocorre uma grande expansão do ensino superior pelos estados brasileiros, em função do avanço do capi- talismo e a exigência de mão de obra qualificada (COSTA; RAUBER, 2009). Segundo Brito e Cunha (2009), a universidade no Brasil é resultante de três tendências estrangeiras: o modelo clássico francês ou napoleônico, alemão ou humboldtia- no, inglês e americano. O movimento francês se inspirou na educação superior como espaços formativos, pois enfatizava uma visão de profissionalização e preparação para carreiras liberais. A segunda influência foi a alemã, “A política do livre pensar, do fomento à pesquisa e do envolvimento da Universidade na vida política do país teve influência no Brasil, com Fernando de Azevedo, e marca a criação da Universidade de São Paulo (USP), em 1934.” (BRITO; CUNHA, 2009, p. 46). Nesse movimento, o ob- jetivo da universidade era tornar o acadêmico um questionador e produtor de novos conhecimentos. A terceira influência foi o modelo norte-americano, que buscava aten- der à demanda de mercado, enfatizava a profissionalização “com mais ênfase após a II Guerra Mundial, na medida em que os ideais norte-americanos se tornam mais próximos da realidade brasileira, junto à era desenvolvimentista e à Ditadura Militar.” (BRITO; CUNHA, 2009, p. 46). Nesse sentido, esses movimentos serviram de base para que as universidades brasi- leiras se consolidassem e se organizassem, tendo como parâmetro, também, o pen- samento de República independente e as mudanças na economia. Para Buarque (2003), a universidade brasileira é fruto do regime militar e da tecno- cracia norte-americana e conseguiu dar um enorme salto quantitativo e qualitativo na área da educação superior, principalmente no período de 1964 e 1985, com um significativo aumento no número de instituições e, também, de alunos e professores. Em 1922, o movimento chamado Semana de Arte Moderna, considerado o maior impulsionador da modernização do país ao lado das transformações culturais e eco- nômicas decorrentes do processo de industrialização, contribuiu para o que culminou na chamada Escola Nova. Semana de Arte Moderna, de Luana Castro Perez. Acesse aqui! PEREZ, Luana Castro. Semana de Arte Moderna. Mundo Educação [online]. Rede Omnia, 2019. Disponível em: http://bit.ly/2wZQC6E. Acesso em: 17 jun. 2019. LEITURA COMPLEMENTAR Por conseguinte, o ritmo acelerado, na década de 1950, do desenvolvimento do país resultante da industrialização, do crescimento econômico e sociocultural reflete na tomada de consciência da precariedade em que se encontravam as universidades brasileiras. Durante o processo de discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional em torno da questão da escola pública em relação à escola privada, deixam-se os muros das universidades para a discussão além deles. https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/a-semana-arte-moderna.htm 8 O movimento pela modernização do ensino superior no Brasil, segundo Fávero (2006, p. 29): Ocorre com a criação da Universidade de Brasília (UnB). Instituída pela Lei nº 3.998, de 15 de dezembro de 1961, a UnB surge não apenas como a mais moderna universidade do país naquele período, mas como um divisor de águas na história das instituições universitárias, quer por suas finalidades, quer por sua organização institucional, como o foram a USP e a UDF nos anos 30. Esse movimento, segundo Luckesi et al. (2005), é resultante do debate de Anísio Tei- xeira e Darci Ribeiro como uma esperança nascida a partir de uma reflexão nacional numa proposta que tem como base o debate dos problemas nacionais. Porém as for- ças que impediam a renovação das ideias decorrentes do movimento de 1964 refle- tiram na equipe de professores que buscavam, por meio do debate, renovar o saber. Esses foram afastados de suas funções e passaram a contribuir com o pensamento da humanidade em outros países estrangeiros, considerando que não tinham espaço para o debate no Brasil. Nesse contexto, surge o movimento estudantil com debates sobre a autonomia univer- sitária, bem como a representatividade do corpo docente e discente na administração universitária. Ainda, na década de 1960, a luta em defesa do ensino público defendia o modelo de universidade pública em detrimento das instituições isoladas. Como resul- tado, nasce um modelo de ensino público e gratuito nas universidades que passaram a se organizar em departamentos e institutos de forma a associar o ensino à pesquisa. De acordo com a legislação educacional brasileira publicada pelo Ministério da Edu- cação por meio do Decreto nº 5.773/06 (BRASIL, 2006), existem as universidades, os centros universitários e as faculdades. Universidades São instituições pluridisciplinares de formação de quadros profissionais, que desenvolvem atividades regulares de ensino, pesquisa e extensão. Centros Universitários São instituições pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas de conhecimento. Esses devem oferecer ensino de excelência, possuem autonomia para criação e abertura de novos cursos, porém não há exigência quanto à realização de pesquisa. Faculdades São instituições de educação com propostas curriculares em mais de uma área do conhecimento, organizadas sob o mesmo comando e regimento comum, com a finalidade de formar profissionais em nível superior. ATENÇÃO 9 Em 1965, nova Universidade é criada, por meio do Decreto Estadual nº 2.802, de 20 de maio. Fica decretada a fundação da Udesc, na época chamada Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, vinculada à Fundação Educacio- nal de Santa Catarina (FESC). Os marcos iniciais são considerados a Faculdade de Educação (FAED), criada em 1963, e a Escola Superior da Administração e Gerência (ESAG), fundada em 1964, ambas em Florianópolis. Em 1990, a Udesc é desvinculada da Fundação Educacional de Santa Catarina (FESC), é reconhecida como universidade pelo Ministério da Educação (MEC) e ganha auto- nomia por meio da criação da Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina. Torna-se pública e passa a ofertar ensino totalmente gratuito (UDESC, 2015). Ainda, na década de 1960, um movimento de expansão e interiorização do ensino superior fez com que os municípios polos se articulassem para que fossem criadas fundações educacionais com vistas a oferecer curso superior. Nesse movimento, foram cria- das 16 fundações educacionais nos municípios polos. Em 1974, essas fundações se uniram e criaram a Associação Catarinense das Fundações Educacionais – ACAFE, entidade sem fins lucrativos, com o objetivo de planejar, articular e coordenar ações integradas. Dessas Instituições, de acordo com Acafe (2017), atualmente, 11 são universidades e 5 são centros universitários. O ENSINO SUPERIOR EM SANTA CATARINA Em 1962, é instituída a primeira universidade em Santa Catarina. No dia 12 de março de 1962, no Teatro Álvaro de Carvalho, ocorreu a solenidade de instalação da Univer- sidade de Santa Catarina – UFSC. Anteriormente, em 18 de dezembro de 1960, a Lei nº 3.849 criava a Universidade Federal de Santa Catarina, sancionada pelo então pre- sidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (NECKEL; KÜCHLER, 2010). Saiba mais sobre a história da UFSC. Acesse aqui! NECKEL, Roselane; KÜCHLER, Alita Diana Corrêa (orgs.). UFSC 50 anos: trajetórias e desafios. Florianópolis: UFSC, 2010. 480 p.: il. Disponível em: http://bit.ly/2ZrWPEp. Acesso em: 28 maio 2019. LEITURA COMPLEMENTAR Saiba mais sobre a história da Udesc. Acesse aqui! UDESC. 50 anos: a trajetória da universidade dos catarinenses. Revista Udesc 50 anos, Florianópolis, maio 2015. Disponível em: http://bit.ly/2IhEyny. Acesso em: 28 maio 2019. LEITURA COMPLEMENTAR4 http://agecom.ufsc.br/files/2010/12/Livro_UFSC50Anos_2010_web.pdf http://www1.udesc.br/agencia/arquivos/13068/files/revistaUdesc50anos_VERSAOCORRETA.pdf 10 A Fundação Educacional de Criciúma – FUCRI, constituída pela Lei Municipal nº 697, de 22 de junho de 1968, assinada pelo Engenheiro Ruy Hülse, na época Prefeito Mu- nicipal de Criciúma, e consolidada pela Lei nº 2.879, de 15 de outubro de 1993, surgiu a partir de um movimento de interiorização do curso superior e como resultado de um movimento muito intenso da comunidade de Criciúma e região. ASPECTOS HISTÓRICOS DA FUCRI/UNESC Conheça a história de 50 anos da Unesc. Acesse aqui! MÍDIA INTEGRADA A Lei previa como finalidades da Instituição: a) organizar e manter estabelecimentos de ensino em todos os níveis e graus; b) promover a divulgação de assuntos de natureza técnica, científica e cultural; c) promover ações que visem o aprimoramento do homem na sociedade, valendo-se dos meios necessários à consecu- ção de seus objetivos. (CRICIÚMA, 1987). A FUCRI sofreu alteração estatutária em 1973 e em 1988, sendo reconhecida de utili- dade pública pelos Decretos: Federal nº 72.454/73, Estadual nº 4.336/69 e Municipal nº 723/69 (UNESC, 2017a). A Fundação iniciou suas atividades nas dependências do Colégio Madre Tereza Mi- chel com o curso pré-vestibular. Em 1971, passou a funcionar na Escola Técnica General Oswaldo Pinto da Veiga – SATC e, em junho de 1974, mudou-se para o atual Campus Universitário, localizado no Bairro Universitário, em Criciúma. A priori, estabeleceu-se a necessidade de cursos nas áreas de licenciatura, para su- prir essa lacuna de professores para atuarem na área da educação. Assim, a FUCRI criou a Faculdade de Ciências e Educação – FACIECRI, com os primeiros quatro cursos de graduação, iniciando suas atividades em 1970, com: Desenho, Ciências Biológicas, Matemática e Pedagogia e, posteriormente, em 1974, ampliando a gama com os cursos de Estudos Sociais e Letras. 5 1974 https://www.youtube.com/watch?v=kbY3gJ_ZguQ 11 A nova faculdade, FACIECRI, começou a funcionar junto ao Colégio Madre Teresa Michel, deslocando-se depois para a Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão, SATC. Somente em 1974 é que passou a funcionar no Campus Universitário. Em 1974, foi criada a ESEDE, Escola Superior de Educação Física e Desporto, com o Curso de Educação Física. Em 1975, mais duas Escolas foram criadas: a ESTEC – Escola Superior de Tecnologia – com o Curso de Engenharia de Agrimensura e a ESCCA – Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas, com os Cursos de Ciências Contábeis e Administração. Segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional (UNESC, 2017c, p. 11), “em 1987, a FUCRI reavaliou suas finalidades e, com ampla mobilização, obteve a aprovação de mudan- ças em sua estrutura organizacional, garantindo a autonomia na escolha de seus dirigentes maiores, até então indicados, a partir de lista tríplice, pelo Poder Público Municipal.” A partir daí, a escolha dos dirigentes da Instituição passou a ser pelo voto direto, com participa- ção de toda a comunidade acadêmica (professores, funcionários técnicos-administrativos e acadêmicos). Após essa expansão de cursos superiores, o Conselho Federal de Educação can- celou por mais de uma década a abertura de novos cursos, entendendo que haviam sido contempladas as lacunas existentes. Enquanto Faculdade e Escolas, a FUCRI não tinha autonomia para criar novos cursos. Somente na década de 1990 é que houve, novamente, um movimento de transformar as escolas em universidades. Nesse processo, e para isso foi necessário transformar as quatro escolas existentes (FACIECRI, ESEDE, ESTEC e ESCCA) em UNIFACRI – União das Faculdades de Criciúma – com o objetivo de tornar-se universidade. A criação da UNIFACRI foi marco de significância na vida da Instituição e da região Sul Catarinense. Criar uma estrutura pré-universitária, vivenciada por mais de três anos, possibilitou uma visão mais ampla quanto à função do ensino superior e, prin- cipalmente, com relação à sua inserção na comunidade externa, ancorada no tripé: ensino, pesquisa e extensão, sob a égide da gestão universitária. Em 1997, a UNIFACRI passa a ser denominada UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense, como uma universidade comunitária, sem dono, sendo um patrimô- nio público, a qual não tem fins lucrativos e cujas decisões são colegiadas, com repre- sentação de toda a comunidade acadêmica (professores, funcionários administrativos e acadêmicos). 2012 12 Com a autonomia universitária, dada sua origem, expande sua atuação e suas ações com cursos de graduação e pós-graduação nas diferentes modalidades e áreas, ar- ticulados, evidentemente, com a pesquisa e a extensão, direcionando todos os seus esforços para empreender e disseminar ações, programas e projetos que concretizem sua finalidade, seus objetivos e sua Missão: “Educar, por meio do ensino, pesquisa e extensão, para promover a qualidade e a sustentabilidade do ambiente de vida.” (UNESC, 2017b). Conheça um pouco da Unesc. Acesse aqui! MÍDIA INTEGRADA A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE PESQUISA E DE REFLEXÃO CRÍTICA Após refletirmos sobre o surgimento da universidade e da ciência moderna, além de destacarmos a trajetória do espaço acadêmico no Brasil, resta-nos uma questão fundamental: VAMOS REFLETIR Que tipo de universidade queremos em nossa sociedade? Talvez a forma mais direta de se dizer qual universidade desejamos seja reafirmando um modelo de universidade que não queremos. Luckesi et al. (2005) destaca que o espaço acadêmico não é simplesmente o lócus do ensino. Portanto, nas palavras do autor, “a universidade sem pesquisa não deve, rigorosamente, ser chamada de uni- versidade.” (LUCKESI et al., 2005, p. 5). Portanto devemos rejeitar um modelo de universidade em que o ensino é repetitivo, verbalístico e desvinculado da realidade concreta que vivemos. O professor não pode ser o único sujeito a deter verdades prontas e incontestáveis, ao mesmo tempo, o alu- no não pode ser um simples ouvinte, apenas apto a memorizar informações que lhe são transmitidas. O ensino não deve bloquear o espaço da criação, da argumentação, do diálogo nem limitar o exercício da crítica. A universidade que queremos deve envolver toda a comunidade acadêmica – profes- sores, alunos, funcionários técnicos-administrativos e gestão – em um ambiente de intercâmbio de ideias, um verdadeiro espaço de liberdade que assegure a reflexão crítica. Nesse sentido, a realidade deve ser compreendida, questionada, avaliada e entendida em todos os seus ângulos e relações para que possa ser continuamente transformada. A pesquisa assume papel de destaque e a universidade se torna o 6 https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=E5bLvqqFfQo 13 lócus da consciência crítica da sociedade. Nas palavras de Luckesi et al. (2005, p. 8), “queremos uma universidade democrática e voltada inteiramente para as lutas democráticas. [...], uma universidade onde possamos lutar para conquistar espaços de liberdade.” CONCLUSÃO Como conclusão, podemos destacar que, historicamente, o conhecimento vem sen- do construído. Contudo a ciência, como hoje está constituída, é ainda muito recente. De acordo com o que foi abordado no texto, o modelo atual das universidades é pro- duto do movimento da Renascença e da Reforma Protestante. Esse desenvolvimento ocorreu como consequência da corrente filosófica do Iluminismo que elegeu a razão humana e a ciência como um contraponto à visão teocêntrica de mundo. Por outro lado, postulou-se que a criação da universidade no Brasil enfrentou proble- mas e incongruências, mas se fortaleceu por meio do debate, tendo como base os modelos estrangeiros para sua consolidação e organização. A partir da década de 1960, sua expansão se deu nas capitais dos estados do Brasil e, como reflexo de sua interiorização, surgiram as universidades comunitárias, dentre elas a nossa universi- dade: a Unesc. Assim, as universidadesvêm com o propósito de desenvolver o seu papel social ao produzirem conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, ao cons- truírem espaços privilegiados de produção do saber com o intuito de contribuir para o progresso da ciência e a melhoria da qualidade de vida da humanidade. REFERÊNCIAS ACAFE. Conheça a ACAFE. Florianópolis: ACAFE, 2018. Disponível em: http:// www.new.acafe.org.br/acafe/. Acesso em: 28 maio 2019. BRASIL, Ministério da Educação. Decreto nº 5.773/06. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/127-perguntas- frequentes-911936531/educacao-superior-399764090/116-qual-e-a-diferenca- entre-faculdades-centros-universitarios-e-universidades Acesso em 31 jul. 2020. 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