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CAPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 3 
2 HISTÓRIA DA TEORIA GERAL DO CRIME ............................................. 4 
3 CONCEITO E ELEMENTOS DO CRIME .................................................. 7 
3.1 Da conduta ......................................................................................... 8 
3.2 Da tipicidade ..................................................................................... 11 
3.3 Da ilicitude ........................................................................................ 15 
4 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ............................................................... 18 
4.1 Teoria da conditio sine qua non ....................................................... 18 
4.2 Da omissão na relação de causalidade ............................................ 20 
5 APLICAÇÃO DA LEI PENAL ................................................................... 21 
5.1 Lei penal no tempo ........................................................................... 21 
5.1.1 Crimes permanentes e continuados ............................................. 23 
5.2 Lei penal no espaço ......................................................................... 24 
6 CRIME CONSUMADO, CRIME TENTADO E CRIME IMPOSSÍVEL ...... 26 
6.1 Consumação .................................................................................... 26 
6.2 Tentativa........................................................................................... 29 
6.3 Crime impossível .............................................................................. 31 
7 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR .......................................................................... 32 
7.1 Desistência voluntária ...................................................................... 32 
7.2 Arrependimento eficaz ..................................................................... 33 
7.3 Arrependimento posterior ................................................................. 34 
8 CONCURSO DE PESSOAS ................................................................... 35 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 39 
 
3 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
2 HISTÓRIA DA TEORIA GERAL DO CRIME 
A história da teoria geral do crime remonta aos primórdios da civilização, com 
diversas civilizações antigas desenvolvendo sistemas de leis e punições para crimes. 
Assim, o Direito Penal daqueles tempos não era, nem poderia ser, organizado 
ou sistematizado, mas sim caracterizado por uma aura mística, mágica, 
ligada muito mais à religião do que à razão e influenciado pelos instintos de 
conservação pessoal e coletiva que dominavam aquelas pessoas. (SMANIO, 
2019, p. 1) 
No entanto, a formalização e sistematização desse campo de estudo ocorreram 
mais recentemente, principalmente no contexto do desenvolvimento do direito penal 
moderno. 
Entre as civilizações antigas, Grécia e Roma tiveram grande influência na origem 
da Teoria do crime. O direito penal na Grécia passou por três fases distintas ao longo 
de sua evolução. Na primeira fase, a vingança privada predominava, estendendo-se 
não apenas ao infrator, mas também à sua família. Na segunda fase, houve uma 
transição para um período religioso, no qual o Estado impunha as penas, porém 
atuando sob a delegação do deus Zeus. Neste período, aquele que cometesse um 
delito deveria buscar purificação, e ocorria uma mistura entre religião e patriotismo. Já 
na terceira fase, as penas deixaram de se basear em fundamentos religiosos, 
passando a se apoiar em valores morais e civis. É importante destacar que as 
mudanças entre as fases não foram abruptas, com conceitos novos surgindo ao lado 
dos antigos, que gradualmente foram esquecidos pela consciência jurídica da 
sociedade. Este último período, alguns denominam de político em contraste com o 
religioso, é considerado significativo pelos historiadores, pois representa uma fase de 
transição entre as legislações do Oriente e do Ocidente, situando-se na interseção de 
dois mundos e marcando um momento transcendental no desenvolvimento do 
pensamento humano. 
 
 
 
 
 
5 
 
 
As leis consideradas mais importantes eram as atenienses, que não se 
baseavam nas ideias religiosas, mas sim no conceito de Estado. A pena 
fundamentava-se na vingança e intimidação e os delitos se diferenciavam 
segundo lesionassem direitos coletivos ou individuais, sendo que para os 
primeiros reinava o arbítrio e a crueldade e para os outros, contrariamente, 
havia certa benevolência. O rol de crimes não era fechado, sendo que o juiz 
poderia castigar fatos não previstos como crime na lei, fixando-se na 
equidade. (SMANIO, 2019, p. 9) 
No Direito Penal Romano, as leis se fundamentavam no princípio da submissão 
do indivíduo à autoridade estatal. Sob essa perspectiva, o crime era interpretado como 
uma transgressão às leis do Estado, e a punição era vista como um meio de 
restabelecer a ordem social. 
De um modo geral, segundo as palavras de Paschoal (2015), diversas teorias 
buscam elucidar porque o Estado não apenas pode, mas deve sancionar aqueles que 
violam as leis penais. É importante destacar que, frequentemente, ao tentar justificar 
esse poder punitivo, há uma confusão ao considerar os objetivos da punição como 
sendo os próprios objetivos do direito penal. De um modo geral, pode-se dizer que 
Roma percorreu as mesmas etapas pelas quais outras sociedades passaram, 
iniciando com a vingança, passando pelos estágios da lei de Talião e da composição, 
até chegar à imposição de penas públicas. 
No que se refere às penas, Roma adotou em grande escala as penas 
exterminadoras. Aos patrícios, a pena de morte era realizada por 
decapitação, aos plebeus, por meios degradantes e cruéis, como a 
crucificação. Outras sanções, embora não buscassem exatamente esse fim, 
muitas vezes acabavam ocasionando a morte, tais como: trabalhos forçados 
nas galés e minas, mutilação e flagelação. (SMANIO, 2019, p. 10) 
Todas essas características do Direito Penal antigo, desencadearam uma série 
de movimentos e ideias com o objetivo de tornar o Direito Penal mais claro, justo e 
proporcional. Foi então que após algumas décadas, surgiu um marco importante na 
história da teoria geral do crime foi a contribuição de juristas como Cesare Beccaria, 
no século XVIII, cuja obra "Dos Delitos e das Penas" (1764) questionou a aplicação 
arbitrária das leis e defendeu princípios como proporcionalidade entre crime e castigo, 
bem como a necessidade de um sistema legal claro e acessível. 
 
 
 
 
6 
 
 
Já por volta do século XIX, surgiram contribuições significativasde juristas como 
Jeremy Bentham, que propôs a teoria da utilidade como base para o direito penal, 
argumentando que as leis devem buscar maximizar o bem-estar geral da sociedade. 
Segundo Zaffaroni e Pierangeli, Bentham não aceitava que houvesse qualquer 
direito subjetivo natural anterior ao Estado, sendo que o único critério para estabelecer 
se uma ação deve ou não ser considerada criminosa é a utilidade de declará-la como 
tal e de sancioná-la com uma pena. (PIERANGELI; ZAFFARONI, 2006, p. 240 apud 
SMANIO, 2019, p. 10) 
Bentham enfrentou consideráveis desafios para concretizar seu projeto, sofrendo 
perdas significativas de seu patrimônio pessoal em alguns fracassos. No entanto, 
após inúmeros esforços, em 1816, uma prisão inspirada em suas ideias foi inaugurada 
em Millbank, na Inglaterra. Contudo, foi nos Estados Unidos que suas concepções 
encontraram maior receptividade, embora não de modo integral. 
No século XX testemunhou avanços significativos na teoria geral do crime, com o 
desenvolvimento de diversas escolas de pensamento, como a Escola Clássica, a 
Escola Positivista, a Escola Sociológica e a Escola Funcionalista, entre outras. Cada 
uma dessas correntes teve sua própria abordagem para entender a natureza do crime, 
suas causas e sua prevenção. 
A Escola Clássica enfatizava o livre-arbítrio e a responsabilidade individual, 
enquanto a Escola Positivista argumentava que fatores biológicos, psicológicos e 
sociais influenciavam o comportamento criminoso. Já a Escola Sociológica explorava 
os efeitos do ambiente social na criminalidade, enquanto a Escola Funcionalista 
analisava a função social do crime e do sistema de justiça criminal. 
Insta salientar que, mesmo diante de toda a história e sua evolução acerca do 
conceito de crime e suas particularidades, sempre vão existir controvérsias opinativas, 
mas como nos diz a autora supracitada: 
É bem verdade que não é fácil definir quais são os bens jurídicos dignos 
de tutela penal. No entanto, ter em mente a necessidade de encontrá-los, 
concretizá-los já implica um modo de refrear o ímpeto criminalizador do 
legislador, e, uma vez editada a norma, o bem jurídico se transforma em um 
parâmetro para a interpretação por parte do julgador. (PASCHOAL, 2015, p. 
4) 
 
 
 
7 
 
 
Hoje, a teoria geral do crime continua a evoluir, incorporando novas descobertas 
das ciências sociais, psicologia, neurociência e outras disciplinas para fornecer uma 
compreensão mais abrangente e precisa do fenômeno criminal. No entanto, nosso 
estudo será baseado em conceitos e institutos já vigentes nas legislações e nas 
doutrinas pertinentes ao tema. 
3 CONCEITO E ELEMENTOS DO CRIME 
O estudo do conceito de crime é de certa forma bem amplo, envolvendo 
diversas perspectivas que lançam luz sobre o tema. Entre essas abordagens estão as 
visões formal, material e analítica, todas fundamentais no âmbito do Direito Penal 
brasileiro. 
O conceito formal de crime centra-se na necessidade de uma definição clara e 
específica do comportamento criminoso dentro da legislação. Assim, para que uma 
ação seja considerada crime, é imperativo que haja uma norma legal que a classifique 
como tal. Essa abordagem direciona a atenção para a interpretação da norma penal 
e sua aplicação prática. 
Por outro lado, o conceito material de crime destaca a importância do dano ou 
prejuízo causado a um bem jurídico protegido pela lei. Aqui, a ênfase recai sobre as 
consequências concretas da conduta no mundo real, sendo fundamental a análise dos 
danos provocados. 
Finalmente, o conceito analítico de crime se debruça sobre três elementos 
essenciais: a conduta, a tipicidade e a ilicitude. Segundo essa perspectiva, um ato só 
pode ser considerado crime se preencher esses três requisitos. A conduta deve ser 
uma ação ou omissão voluntária do agente, deve estar prevista como crime na 
legislação, e não pode encontrar justificativa ou permissão no ordenamento jurídico. 
Contudo, apesar das concepções filosóficas que influenciaram as distintas 
fases da teoria do delito mencionadas anteriormente terem passado por mudanças 
significativas, a estrutura do conceito analítico de crime permanece a mesma desde o 
século XIX. O crime continua sendo tradicionalmente concebido como uma conduta 
típica, ilícita e culpável. 
 
 
8 
 
 
3.1 Da conduta 
No contexto do direito penal brasileiro, a expressão "conduta" é de fundamental 
importância, pois constitui um dos elementos essenciais para a configuração de um 
crime. A conduta, de maneira geral, se refere ao comportamento humano, seja ele 
positivo (uma ação) ou negativo (uma omissão), que viola uma norma penal, isto é, 
uma conduta típica. Porém, embora a conduta seja essencial para a configuração do 
crime, é importante notar que ao longo da evolução doutrinária do direito penal, não 
houve consenso absoluto sobre esse conceito. Podemos identificar uma diversidade 
de abordagens da ação derivadas de várias teorias sobre a conduta, as quais serão 
analisadas a seguir. 
 
• Teoria causalista da ação 
 
De maneira geral, a Teoria causalista da ação, que predominava no 
pensamento jurídico-penal no início do século XX, defendia que a ação era 
simplesmente um movimento corporal voluntário, ou seja, uma contração muscular 
provocada por impulsos cerebrais, resultando em alterações no mundo exterior. 
Nesse sistema, a vontade era dissociada de seu conteúdo. 
Para uma melhor compreensão, vejamos o que nos diz Cirino dos Santos: 
O modelo causal de ação possui estrutura exclusivamente objetiva: a ação 
humana, mutilada da vontade consciente do autor, determinaria o resultado 
como uma forma sem conteúdo, ou um fantasma sem sangue, conforme a 
expressão do próprio Beling; a voluntariedade da ação indicaria, apenas, 
ausência de coação física absoluta; o resultado de modificação no mundo 
exterior seria elemento constitutivo do conceito – e, assim, não existiria ação 
sem resultado. (SANTOS, 2008, p. 84) 
A crítica central dirigida à essa teoria, reside na sua pouca ênfase atribuída à 
intencionalidade do agente, a qual só é considerada de certa importância na avaliação 
da culpabilidade. Ou seja, nessa perspectiva, o crime é primordialmente explicado 
como uma simples relação causal, negligenciando-se a presença de deliberação e 
vontade humana subjacentes ao ato criminoso. 
 
 
9 
 
 
Para os causalistas, a ação é predominantemente objetiva, entendida como 
uma sequência de eventos que culmina em um resultado específico. Nessa 
perspectiva, o dolo ou a culpa são considerados apenas como indicadores do grau de 
culpabilidade do agente. (PASCHOAL, 2015) 
 
• Teoria finalista da ação 
 
Essa teoria surge como uma resposta à abordagem puramente causalista 
adotada pela teoria anterior na explicação do crime. O âmago do finalismo reside na 
recusa de considerar a ação humana como uma mera sequência causal, mas sim 
como o resultado de uma deliberação inteligente e intencional por parte do ser 
humano. Segundo essa teoria, o ser humano nunca realiza uma ação puramente 
causal, pois, graças à sua inteligência e experiências anteriores, as pessoas podem 
antever as consequências de seus atos e, ao optarem por agir de determinada forma, 
o fazem com o objetivo de alcançar um fim específico. 
A referida teoria foi concebida por Hans Welzel, e para explicar sobre a 
diferença entra uma ação causal e uma ação final, ele recorre ao exemplo de um raio 
mortal e de um homicídio. Enquanto a morte causada pelo raio resulta de uma série 
de relações puramente causais, a morte resultante do homicídio é fruto de uma 
sequência de atos direcionados a um objetivo predeterminado: desde a aquisição da 
arma até a observação da vítima, o apontamento da arma e o acionamento do gatilho, 
entre outros. (WEZEL, 2006, p. 41, apud SMANIO, 2019, p. 217) 
Observa-se, portanto, que, ao contrário da abordagem causalista da ação, a 
perspectiva finalista daação centra-se na intencionalidade do agente, ou seja, focaliza 
o objetivo almejado. Essa abordagem resulta em uma reorganização do conteúdo dos 
elementos constituintes do conceito analítico de crime. A sequência dos elementos do 
conceito analítico de crime permanece inalterada - ação, tipicidade, ilicitude e 
culpabilidade -, porém, o dolo e a culpa, que na concepção causalista eram 
componentes da culpabilidade, no finalismo são deslocados para a conduta. Segundo 
o finalismo, o direito penal se interessa apenas pelas ações humanas com um 
conteúdo subjetivo, ou seja, as ações humanas dolosas ou culposas. 
 
 
10 
 
 
 
• Teoria social da ação 
 
De acordo com os defensores dessa teoria, cada sequência de atos humanos, 
além de uma finalidade, carrega consigo um valor que os impulsiona, podendo esse 
valor estar em conformidade ou contrariedade aos valores sociais. 
Dito de outra forma, pode-se dizer que a ideia central da teoria social é abordar 
e resumir a relação entre o “comportamento humano com seu entorno”, sendo 
considerado como ação “um comportamento humano com transcendência social”. 
(JESCHECK; WEIGEND, 2002, p. 239) 
Considerando que a ação é o cerne da teoria do delito, a filosofia adotada para 
sua explicação inevitavelmente molda os conceitos atribuídos à tipicidade, à 
antijuridicidade e à culpabilidade. No entanto, não é uma teoria desprovida de críticas. 
Cabe salientar que essas teorias apresentadas não são as únicas existentes. 
Contudo, vamos nos limitar a estas, pois bastam para a compreensão dos próximos 
tópicos abordados. 
 
• Teoria adotada no Direito Penal Brasileiro 
 
No contexto das teorias anteriores mencionadas, é importante ressaltar que 
estas não são as únicas existentes. De fato, o estudo do direito penal é vasto e 
diversificado, apresentando uma variedade de abordagens e perspectivas teóricas. É 
crucial compreender que, embora estas teorias tenham sido abordadas, não há uma 
única teoria correta ou errada. 
Como nos diz Paschoal (2019), “é necessário deixar claro que a adoção de 
determinada teoria da ação está relacionada à escolha filosófica de cada estudioso 
do direito, que deverá ser coerente com sua opção quando da análise dos demais 
institutos da disciplina.” 
Contudo, muitos autores brasileiros argumentam que, com a reforma da parte 
geral do Código Penal em 1984, o Brasil adotou a teoria finalista da ação. Como 
resultado, a maioria dos conceitos penais foi desenvolvida, tanto pela doutrina quanto 
pela jurisprudência, sob uma perspectiva finalista. 
 
11 
 
 
3.2 Da tipicidade 
A tipicidade refere-se à correspondência entre a conduta do agente e o tipo 
penal descrito na legislação. Em outras palavras, para que uma conduta seja 
considerada crime, ela deve se encaixar em um dos tipos penais previstos na lei. 
Portanto, para que uma conduta seja qualificada como criminosa, é 
imprescindível que ela se ajuste ao tipo objetivo descritivo estabelecido na legislação. 
Se a conduta do indivíduo não estiver contemplada no tipo penal, não será configurado 
crime. O art. 1º do Decreto-Lei nº 2.848 – Código Penal Brasileiro – corrobora, dizendo 
que: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação 
legal.” (BRASIL, 1940) 
Os fatos típicos são divididos em elementos objetivos e subjetivos. 
Os elementos objetivos referem-se à descrição da ação ou omissão em si, 
como por exemplo, "matar alguém". E existe ainda uma subdivisão deles, entre 
elementos descritivos e normativos. Os descritivos, como o próprio nome já diz, 
descrevem as características da conduta proibida de maneira objetiva e precisa. Eles 
definem os elementos materiais do tipo penal, ou seja, os aspectos concretos da 
conduta que devem estar presentes para que o tipo seja configurado. Por exemplo, 
no crime de homicídio, um elemento descritivo seria a ação de "matar alguém". São 
os aspectos factuais que descrevem o comportamento do agente de forma direta e 
objetiva. Já os normativos, contêm termos que demandam uma interpretação jurídica 
ou valorativa para determinar se a conduta se enquadra no tipo penal. Eles envolvem 
conceitos jurídicos ou morais que necessitam de uma aplicação subjetiva por parte 
dos julgadores. Por exemplo, em um tipo penal que proíbe "perturbação do sossego 
alheio", o termo "perturbação" é um elemento normativo, pois sua interpretação 
depende do contexto e da avaliação dos valores sociais e jurídicos. 
Assim, para definir-se se uma determinada conduta é ou não típica, se faz 
necessário uma operação intelectual de adequação/subsunção entre o fato 
concreto (praticado por alguém) e o fato abstrato previsto na lei penal. Se 
esse juízo for positivo, ou seja, se houver uma previsão em abstrato na lei 
penal na qual o fato praticado em concreto se encaixe, pode-se dizer que a 
conduta é típica. (SMANIO, 2019, p. 232) 
 
 
12 
 
 
Adentrando agora nos elementos subjetivos, estes estão relacionados com a 
vontade de realizar o resultado proibido (dolo) ou, pelo menos, com negligência ou 
imprudência (culpa). 
 
• Dolo 
 
O dolo diz respeito à intenção deliberada do agente de cometer a conduta 
criminosa, ou seja, à sua vontade consciente de realizar o comportamento proibido 
pela lei. Sendo assim, é possível afirmar que o dolo é composto por dois elementos: 
consciência (como sinônimo de conhecimento) e vontade (como sinônimo de querer/ 
desejar). Age dolosamente aquele que conhece os elementos objetivos do tipo penal 
e deseja praticá-los. (SMANIO, 2019, p. 239) 
No direito penal brasileiro, o dolo pode apresentar diferentes formas ou 
modalidades, dependendo das circunstâncias e da intenção do agente. A seguir temos 
algumas dessas diferentes formas. 
Dolo Direto: Nesta modalidade, o agente tem a intenção direta de realizar o 
resultado proibido. Ele age com o objetivo específico de alcançar o resultado 
criminoso, ciente de que sua conduta é proibida pela lei. Por exemplo, alguém que 
atira em outra pessoa com a intenção de matá-la age com dolo direto de homicídio. O 
dolo direto pode ainda ser dividido em dolo de primeiro grau e de segundo grau. 
Dolo direto de primeiro grau relaciona-se com o fim proposto e com os meios 
escolhidos para alcançá-lo. Dolo direto de segundo grau (também chamado 
de dolo mediato ou dolo de consequências necessárias) relaciona-se com os 
efeitos colaterais da conduta, tidos como necessários. (ANDREUCCI, 2024, 
p. 51) 
Dolo indireto ou indeterminado: ocorre quando a vontade do sujeito não se 
dirige a certo e determinado resultado. O dolo indireto possui duas formas: eventual e 
alternativo. No dolo eventual, o agente prevê como possível o resultado criminoso de 
sua conduta, mas age mesmo assim, assumindo o risco de produzi-lo. Mesmo que 
não tenha a intenção direta de realizar o resultado, o agente age de forma indiferente 
à sua ocorrência. Por exemplo, alguém que dirige embriagado assume o risco de 
causar um acidente, mesmo que não tenha a intenção direta de ferir alguém. Já o dolo 
alternativo, ocorre quando o agente tem a intenção de realizar ao menos um dos 
 
13 
 
 
resultados previstos na descrição típica do crime, mas não se importa com qual deles 
ocorrerá. Por exemplo, em um incêndio criminoso, o agente pode ter a intenção tanto 
de destruir o imóvel quanto de causar a morte de alguém. 
 
• Culpa 
 
Segundo o disposto no art. 18, II, do Código Penal, o crime é culposo “quando 
o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. (BRASIL, 
1940) Portanto, para que um crime seja considerado culposo, é necessário que o 
agente tenha agido com negligência, imprudência ou imperícia, causando um 
resultado prejudicial não intencional. Isso significa que o agente não teve a intenção 
de produzir o resultado, mas deveria ter agido de forma mais cuidadosa para evitá-lo. 
De acordo com os princípios da Teoria finalista mencionada em umtópico 
anterior, para que uma conduta seja considerada típica, não basta apenas se 
enquadrar na previsão legal; é necessário também que esteja imbuída dos elementos 
subjetivos. (PASCHOAL, 2019) 
Partindo então do pressuposto que todo tipo penal demanda uma conduta, 
devemos observar que, no tipo penal culposo, o foco não está na intenção com que o 
agente realiza sua conduta, mas sim na forma como ela é executada. A marca 
distintiva da culpa é a conduta inadequadamente direcionada. Se considerarmos um 
homicídio culposo no trânsito, por exemplo, não é relevante entender a intenção por 
trás da condução do veículo pelo agente (se ele tinha a intenção de chegar em casa, 
no trabalho, no cinema, etc.), mas sim como ele estava conduzindo, ou seja, se estava 
observando ou não os deveres de cuidado objetivos necessários ao dirigir um veículo 
automotor, como velocidade adequada, condições do veículo, orientação da via, 
presença de embriaguez, etc. (SMANIO, 2019) 
Passamos agora a analisar os tipos de culpas elencados no art. 18, II citado 
anteriormente. Começando pela negligência, ela está ligada à falta de precaução ou 
de atenção por parte do agente ao realizar uma conduta, resultando em um resultado 
danoso não intencional. É quando o agente não adota as medidas adequadas de 
cautela que uma pessoa razoável adotaria em situações semelhantes. 
 
 
14 
 
 
A negligência, refere-se à falta de precaução ou de atenção por parte do 
agente ao realizar uma conduta, resultando em um resultado danoso não intencional. 
É quando o agente não adota as medidas adequadas de cautela que uma pessoa 
razoável adotaria em situações semelhantes. 
É importante consignar que a caracterização da negligência também está 
condicionada à previsibilidade e à possibilidade de evitar o resultado.1 
Existem ainda delitos que são denominados “qualificados pelo resultado. 
O art. 19 do Código Penal fala em agravação da pena pelo resultado. 
Constitui exemplo desse tipo de crime a lesão corporal, capitulada no art. 129, 
§ 3o, do Código Penal. Pois bem, o importante é apontar que, nesses casos, 
o resultado que agrava a punição somente poderá ser atribuído ao agente se 
houver sido por ele causado, pelo menos, a título de culpa, o que implica dizer 
que esse resultado há de ser previsível e evitável. (PASCHOAL, 2019, p. 64) 
 Já a imprudência, esta consiste na realização de uma conduta arriscada ou 
perigosa, sem a devida precaução, resultando em um resultado danoso não 
intencional. É quando o agente age de forma precipitada ou temerária, sem considerar 
os possíveis riscos envolvidos em sua conduta. Por exemplo, dirigir em alta velocidade 
em uma área residencial. 
Para que a imprudência se verifique, é ainda necessário que o resultado, nas 
circunstâncias fáticas, seja previsível. Não basta ser possível, pois até 
mesmo o mais absurdo dos acontecimentos, no limite, é possível (por mais 
bem alicerçada que esteja uma casa, ela pode vir a cair durante uma 
tempestade de força jamais vista). A previsibilidade está relacionada a uma 
grande probabilidade de ocorrência de determinado resultado, como 
consequência do desrespeito ao dever de cuidado. (PASCHOAL, 2019, p. 63) 
Por fim, a imperícia, que se refere à falta de habilidade ou competência técnica 
por parte do agente ao realizar uma conduta que requer certa destreza ou 
conhecimento especializado. É quando o agente não possui a habilidade ou o 
conhecimento necessário para realizar a atividade de forma segura. Por exemplo, um 
médico que realiza uma cirurgia sem a devida qualificação ou treinamento adequado. 
A imperícia pressupõe habilitação/autorização para o exercício de determinada 
atividade. Pode-se dizer que ela nada mais é do que a imprudência ou a negligência 
praticada dentro de um determinado campo profissional. (SMANIO, 2019, p. 246) 
 
 
 
 
 
15 
 
 
3.3 Da ilicitude 
A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, é um dos elementos do 
crime no direito penal brasileiro. Ela se refere à contrariedade da conduta praticada 
pelo agente em relação ao ordenamento jurídico, ou seja, à violação de uma norma 
legal ou de um dever jurídico preestabelecido. 
Em termos simples, uma conduta é considerada ilícita quando contraria as 
normas estabelecidas pelo direito, seja uma lei penal, civil, administrativa ou qualquer 
outra norma jurídica vigente. No contexto penal, a ilicitude ocorre quando a conduta 
do agente viola uma norma penal incriminadora, ou seja, quando ele pratica um 
comportamento proibido pela lei. 
É importante destacar que nem toda conduta contrária ao ordenamento jurídico 
é considerada ilícita. Apesar da independência dogmática dos elementos que 
compõem o conceito analítico de crime, há uma relação necessária entre a ilicitude e 
a tipicidade que estabelecem entre si uma situação de regra e exceção, ou seja, toda 
conduta típica será ilícita, a não ser que esteja acobertada por uma das causas de 
justificação. (SMANIO, 2019) 
 
• Causas de exclusão da ilicitude 
 
Conforme já mencionado, algumas situações específicas permitem que uma 
conduta típica não seja considera ilícita (ou antijurídica), pois são autorizadas pelo 
ordenamento jurídico. Considerando o princípio da ofensividade como balizador do 
Direito Penal contemporâneo que só se legitima por meio da proteção subsidiária de 
bens jurídicos, é possível afirmar que as hipóteses de exclusão da ilicitude previstas 
no art. 23 do CP são autorizações legais e excepcionais para lesão a bens jurídicos 
de terceiros. Vejamos: 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
 I - em estado de necessidade; 
 II - em legítima defesa; 
 III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de 
direito. (BRASIL, 1940) 
 
16 
 
 
Dado que a ação e a tipicidade envolvem tanto aspectos objetivos (sequência 
de atos), subjetivos (dolo ou culpa) quanto valorativos (contrariedade a um valor 
social), conclui-se que a tipicidade não mais indica a antijuridicidade. Na realidade, 
para ser considerada típica, a ação deve ser antijurídica, pois deve contrariar um valor 
social. Portanto, se alguém é obrigado a matar uma pessoa para se defender, não 
cabe dizer que sua conduta foi típica, tampouco antijurídica, por ter agido em legítima 
defesa. 
Essas autorizações excepcionais são justificadas pela necessidade de imediata 
proteção dos bens jurídicos (estado de necessidade e legítima defesa) ou 
necessidade de proteção do próprio ordenamento jurídico (estrito cumprimento do 
dever legal e exercício regular de direito). (SMANIO, 2019) 
Passamos a analisar cada uma das exludentes. 
O estado de necessidade é a situação em que uma pessoa, diante de uma 
ameaça ou perigo iminente e inevitável, pratica uma conduta que seria ilícita sob 
circunstâncias normais, mas que é justificada pela necessidade de evitar um dano 
maior. 
Vê-se de plano que o estado de necessidade só está presente quando há um 
perigo atual (e não uma possibilidade de perigo) que não fora causado pelo agente, 
sendo que esse mesmo agente não teria outra forma de evitar referido perigo a um 
direito seu ou de outrem. (PASCHOAL, 2019) 
Da mesma forma expõe o art. 24 Do Código Penal: “Considera-se em estado 
de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por 
sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, 
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” (BRASIL, 1940) 
Através desse artigo, podemos concluir que existem alguns elementos 
essenciais para caracterizar o estado de necessidade, sendo eles: perigo atual não 
provocado pelo agente; direito próprio ou de terceiro; ausência do dever legal de 
enfrentar o perigo; e inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado. 
A legítima defesa é um instituto jurídico presente no direito penal que permite 
a uma pessoa agir de forma defensivapara proteger a si mesma ou a terceiros de 
uma injusta agressão iminente, utilizando meios proporcionais e necessários para 
repelir essa agressão. 
 
17 
 
 
Nas palavras de Juarez Cirino dos Santos: 
O princípio da proteção individual justifica ações típicas necessárias para 
defesa de bens jurídicos individuais contra agressões antijurídicas, atuais ou 
iminentes. O princípio da afirmação do direito justifica defesas necessárias 
para prevenir ou repelir o injusto e preservar a ordem jurídica, 
independentemente da existência de meios alternativos de proteção, porque 
o direito não precisa ceder ao injusto, nem o agredido precisa fugir do 
agressor – excetuados casos de agressões não dolosas, de lesões 
insignificantes, ou de ações de incapazes, próprias da legítima defesa com 
limitações ético-sociais. (SANTOS, 2020, p. 235) 
Resumidamente, o indivíduo que se defende pode usar os meios necessários 
para repelir a agressão, os quais são entendidos como os disponíveis para ele, porém 
deve fazê-lo de forma moderada, ou seja, sem exceder. Por exemplo, se ele é 
ameaçado com uma faca, é aceitável que se defenda com uma arma de fogo. 
Contudo, se o agressor se afasta após um tiro de advertência, não é permitido atirar 
nele. Da mesma forma, se o agressor não se afasta após o aviso e o defensor precisa 
disparar um tiro na perna, não é permitido atirar novamente quando o agressor está 
caído no chão. 
O estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito não 
estão descritos no Código Penal como o estado de necessidade e a legítima defesa. 
Contudo, se trata de uma ação considerada conforme os valores arraigados em dada 
sociedade. 
Quem exerce regularmente um direito não está agindo ilicitamente, pois uma 
conduta não pode ser simultaneamente um direito e ilícita. Portanto, mesmo que 
aquele que exerça regularmente seu direito esteja praticando uma conduta típica, esta 
não será considerada ilícita, como é o caso do médico que, ao realizar uma cirurgia, 
precisa fazer uma incisão no paciente e causar-lhe uma lesão corporal (conforme o 
art. 129 do CP). O mesmo se aplica ao boxeador que, durante a luta, causa lesões no 
rosto de seu oponente. (SMANIO, 2019) 
Importante ressaltar que, o exercício regular de um direito se distingue do 
estrito cumprimento do dever legal, principalmente no que diz respeito à 
obrigatoriedade da conduta. No estrito cumprimento do dever legal, o agente é 
compelido a praticar a conduta, pois a lei impõe esse dever, enquanto no exercício 
regular de um direito, o agente tem a opção de praticar ou não a conduta. Em ambas 
as situações, não é permitido que haja excessos por parte dos agentes. 
 
18 
 
 
4 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
A relação de causalidade se refere à relação de causa e efeito entre a conduta 
do agente e o resultado produzido por essa conduta. Ou seja, ela estabelece que a 
conduta do agente foi a causa que desencadeou o resultado, de modo que, sem essa 
conduta, o resultado não teria ocorrido. 
Nesse sentido, dispõe o art. 13 do Código Penal que “o resultado, de que 
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa”, 
considerando-se causa “a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. 
(BRASIL, 1940) 
É importante ressaltar que a relação de causalidade pode ser complexa em 
certos casos, especialmente quando há múltiplas condutas ou fatores que contribuem 
para o resultado. Nesses casos, é necessário analisar cuidadosamente todos os 
elementos envolvidos para determinar se há uma relação de causalidade válida. 
Diversas teorias foram desenvolvidas para determinar a relação de 
causalidade, no entanto, o Código Penal brasileiro expressamente adotou a teoria da 
conditio sine qua non, também conhecida como teoria da equivalência dos 
antecedentes. 
4.1 Teoria da conditio sine qua non 
Tendo em vista que se adotou, no Brasil, em relação ao resultado a teoria 
naturalística, é correto afirmar que poderemos ter crimes com resultado (aqueles que, 
na forma consumada, causam uma modificação no mundo exterior como o homicídio, 
por exemplo) e crimes sem resultado (aqueles que, mesmo na forma consumada, não 
causam qualquer modificação no mundo exterior, como a injúria ou a embriaguez ao 
volante, por exemplo). (SMANIO, 2019) 
No entanto, nos casos de um crime material consumado, é necessário, para 
responsabilizar penalmente o autor, demonstrar não apenas a ocorrência de uma 
conduta típica e um resultado típico, mas também estabelecer um nexo de 
causalidade entre eles. Em outras palavras, é essencial comprovar que o resultado 
 
19 
 
 
ocorreu como consequência direta da conduta realizada pelo agente, evidenciando 
que a conduta é a causa do resultado. 
Paschoal leciona que: 
Para que seja possível atribuir determinado resultado a alguém (morte, lesão 
corporal, dano ao patrimônio alheio etc.), o mínimo que se pode exigir é que 
esse alguém tenha, mediante uma ação, como visto, livre, final e contrária 
aos valores sociais, dado causa a esse resultado. (PASCHOAL, 2019, p. 51) 
Nos crimes materiais, será sempre imprescindível estabelecer uma relação de 
causalidade entre a conduta realizada pelo autor e o resultado alcançado para 
responsabilizá-lo. 
Grande parte da doutrina sugere que a maneira mais confiável de determinar 
se uma conduta é ou não causa de um resultado específico é por meio da aplicação 
do método de eliminação hipotética. De acordo com esse método, para verificar se 
uma conduta é a causa de um resultado, basta imaginar hipoteticamente a exclusão 
dessa conduta e observar se o resultado ainda persiste. Se o resultado desaparecer 
após a exclusão hipotética da conduta, isso indica que a conduta foi a causa do 
resultado, estabelecendo assim uma relação de causalidade entre eles. No entanto, 
se o resultado continuar presente mesmo após a exclusão hipotética da conduta, isso 
significa que a conduta não foi a causa do resultado e não há relação de causalidade 
entre eles. (PASCHOAL, 2019) 
Da mesma forma, um pai que deliberadamente se abstém de alimentar o filho 
recém-nascido, resultando em sua morte, terá o resultado atribuído a ele e poderá ser 
acusado pelo crime de homicídio na modalidade omissiva imprópria (art. 121, caput, 
combinado com art. 13, § 2º, a, ambos do CP). No entanto, um estranho que não 
assumiu qualquer responsabilidade em relação ao recém-nascido não pode ser 
responsabilizado pelo resultado fatal, mesmo que se abstenha de alimentá-lo, uma 
vez que não ocupa a posição de garantidor e não tem o dever jurídico de agir para 
evitar esse desfecho. 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
4.2 Da omissão na relação de causalidade 
No artigo 13, especificamente no parágrafo 2º, do Código Penal, o legislador 
tratou da suposta relação de causalidade em situações de omissão. Há dois principais 
grupos de crimes omissivos: um é denominado de crimes omissivos próprios; e o outro 
é chamado de crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão. 
Os crimes omissivos próprios são aqueles relativos a tipos penais elaborados 
na forma omissiva. Melhor explicando, o verbo do tipo já evidencia um deixar 
de fazer. 
Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles cujo 
tipo penal admite tanto uma realização ativa (mediante uma ação) como uma 
omissiva (mediante uma omissão), mas o verbo aparece como uma ação. 
(PASCHOAL, 2019, p. 54) 
Ainda sobre os crimes comissivos por omissão, o § 2º do art. 13 do CP nos traz 
a seguinte redação: 
§ 2o A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir 
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
(BRASIL, 1940) 
Portanto, aquele que se encontra em uma dessas três circunstânciasse 
caracteriza pelo que a doutrina denomina como posição de garante, ou simplesmente 
garantidor, uma vez que tem a responsabilidade de proteger a vítima e evitar a 
concretização do resultado. 
Por exemplo, se em um clube, uma senhora assume a responsabilidade de 
cuidar do filho de uma amiga enquanto ela vai ao banheiro, e a criança acaba caindo 
na piscina, a senhora que assumiu essa responsabilidade tem o dever de evitar o 
afogamento, ou seja, tem a obrigação de prevenir o resultado fatal, podendo ser 
responsabilizada por homicídio culposo caso não o faça. Já um terceiro que não está 
em posição de garante poderia, no máximo, ser responsabilizado por omissão de 
socorro. 
 
 
21 
 
 
Da mesma forma, um pai que deliberadamente se abstém de alimentar o filho 
recém-nascido, resultando em sua morte, terá o resultado atribuído a ele e poderá ser 
acusado pelo crime de homicídio na modalidade omissiva imprópria (art. 121, caput, 
combinado com art. 13, § 2º, a, ambos do CP). No entanto, um estranho que não 
assumiu qualquer responsabilidade em relação ao recém-nascido não pode ser 
responsabilizado pelo resultado fatal, mesmo que se abstenha de alimentá-lo, uma 
vez que não ocupa a posição de garantidor e não tem o dever jurídico de agir para 
evitar esse desfecho. (PASCHOAL, 2019) 
5 APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
A lei penal, como ramo do direito, está sujeita a variações temporais e espaciais 
que influenciam sua aplicação e interpretação. A compreensão das normas penais 
demanda não apenas a análise do texto legal, mas também a consideração do 
contexto histórico e cultural em que foram elaboradas, bem como das peculiaridades 
do ambiente jurídico em que são aplicadas. 
Assim, a lei penal, como qualquer outra expressão da vida, está sujeita à 
influência do tempo, passando por fases de surgimento, vigência e seu fim. Podemos 
afirmar, então, que o "tempo de vida" da lei corresponde ao período entre sua 
promulgação e sua revogação, ou seja, sua vigência. 
5.1 Lei penal no tempo 
À primeira vista, parece lógico que as condutas praticadas durante a vigência 
de uma determinada lei sejam punidas conforme o que essa lei dispõe. Este é o 
princípio do tempus regit actum - a lei penal em vigor naquele momento rege a ação 
praticada naquele momento. Entretanto, no âmbito do Direito Penal, a questão não é 
tão simples, pois frequentemente ocorre um fenômeno conhecido como sucessão de 
leis penais, quando uma norma é extinta e substituída por outra. (SMANIO, 2019) 
Ocorre que essa lei nova – novatio legis – pode regular o mesmo fato de forma 
mais severa ou de forma mais branda que a lei anterior, ou ainda, simplesmente deixar 
de considerar aquela conduta como criminosa. 
 
22 
 
 
Portanto, na ocorrência de sucessão de leis penais, podemos encontrar as 
seguintes situações: 
(a) abolitio criminis (quando a nova lei descriminaliza uma determinada 
conduta); 
(b) novatio legis in mellius (quando a nova lei prevê uma condição mais 
favorável ao réu); 
(c) novatio legis in pejus (quando a nova lei prevê uma situação desfavorável 
ao réu). 
Após essas considerações iniciais, será possível questionar, e conseguir uma 
resposta sobre quando um crime foi praticado, e qual será a lei aplicada sobre ele. 
Neste ponto, é fundamental relembrarmos o princípio da legalidade e todas as suas 
ramificações, a fim de resolver os conflitos surgidos em decorrência da sucessão de 
leis penais. 
O princípio da legalidade, previsto no art. 5.º, XXXIX, da Constituição Federal, 
encontra-se expresso no art. 1.º do Código Penal, que estabelece que “não há crime 
sem uma lei anterior que o defina e não há pena sem prévia cominação legal.” 
(BRASIL, 1940) 
De acordo com esse princípio, também conhecido como "nullum crimen, nulla 
poena sine lege", ninguém pode ser punido se não houver uma lei que classifique o 
ato praticado como crime. Além disso, é chamado de princípio da reserva legal, pois 
apenas a lei pode definir os crimes e suas respectivas penas, excluindo outras fontes 
legislativas. 
Alguns argumentam que existe uma diferença entre os princípios da legalidade 
e da reserva legal. Segundo essa perspectiva, o princípio da legalidade seria o 
conceito mais amplo, do qual os princípios da reserva legal e da anterioridade seriam 
espécies distintas. Contudo, argumentos e teorias a parte, nesse tópico nos importa o 
que nos traz o Parágrafo único do art. 2º do Código Penal: 
 
Art. 2.º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, 
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória 
transitada em julgado. (BRASIL, 1940) 
 
23 
 
 
O parágrafo único do artigo aborda o princípio da retroatividade da lei penal 
mais benéfica, uma importante garantia prevista no ordenamento jurídico brasileiro. 
Esse dispositivo estabelece que, caso uma nova lei penal seja mais favorável ao réu, 
ela deve ser aplicada mesmo a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor e 
mesmo que já exista uma sentença condenatória transitada em julgado. 
Dessa exposição, podemos salientar que as leis penais, quanto aos seus 
efeitos, podem ser retroativas, ou seja, aplicáveis a fatos ocorridos no passado, antes 
de sua entrada em vigor, ou ultrativas, quando seus efeitos persistem no tempo 
mesmo após sua revogação. 
Em complemento, acerca do tempo do crime, o nosso Código Penal adotou a 
teoria da atividade no art. 4.º, que diz: "Considera-se praticado o crime no momento 
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado." (BRASIL, 1940) 
Cabe ressaltar, que não podemos, contudo, confundir o momento da ação ou 
omissão, conhecido como tempo do crime, com a consumação do delito, quando 
todos os elementos definidos legalmente estão presentes. Certos crimes se 
consumam apenas com a ocorrência da ação ou omissão, como os crimes formais e 
os de mera conduta, nos quais o tempo do crime coincide com a sua consumação. 
(ANDREUCCI, 2024) 
Por outro lado, nos crimes materiais, a data da ocorrência do resultado 
naturalístico pode ser diferente da data da conduta, o que tem relevância para a 
contagem do prazo prescricional. 
Dessa forma, o art. 111 do Código Penal estipula que um dos pontos de partida 
para a contagem do prazo de prescrição da pretensão punitiva é a data da 
consumação do delito, a qual, nos crimes materiais, ocorre no momento em que o 
resultado naturalístico é produzido. 
 
5.1.1 Crimes permanentes e continuados 
 
No que diz respeito ao momento do crime, há algumas questões que merecem 
atenção especial, especialmente quando se trata de crimes permanentes e 
continuados. 
 
 
 
24 
 
 
Entende-se por crime permanente aquele que se prolonga no tempo, ou seja, 
a consumação não é instantânea, mas perdura enquanto durar a ofensa ao 
bem jurídico, como, por exemplo: os crimes de extorsão mediante sequestro 
e cárcere privado, em que se considera que o crime está sendo praticado 
enquanto houver a restrição da liberdade da vítima, podendo o autor do crime 
ser preso em flagrante enquanto houver essa restrição. (SMANIO, 2019, p. 
174) 
Nesse caso, compreende-se que, seja a lei nova favorável ou desfavorável ao 
réu, ela deve ser aplicada ao crime em curso, uma vez que o ato criminoso ainda está 
em andamento. Nesse sentido, não se configura retroatividade da lei, pois o fato ainda 
não está consumado, mas sim em execução. 
5.2 Lei penal no espaço 
A lei penal no espaço refere-se à aplicação das normas penais em diferentes 
territórios, sejam eles nacionais ou estrangeiros. A eficácia da lei penal no espaço vem 
regulada pelo art. 5.º, caput, do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo 
de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no 
territórionacional.” (BRASIL, 1940) 
A importância da questão da eficácia da lei penal no espaço reside na 
necessidade de resolver situações em que um crime afeta interesses de dois ou mais 
países, seja porque a conduta ocorreu no território nacional e o resultado se deu no 
exterior, ou vice-versa. 
É crucial destacar que a eficácia da lei penal no espaço não deve ser 
confundida com a competência territorial. Enquanto a última trata do crime cometido 
dentro do território nacional e é regulada por normas processuais, conforme disposto 
nos artigos 69 e seguintes do Código de Processo Penal. 
Dessa forma, há alguns critérios ou princípios empregados para determinar se 
a lei de um país ou de outro será aplicável a um ato criminoso cometido em 
determinado território. 
Acerca dessa matéria, existem alguns princípios relevantes a serem estudados: 
o princípio da territorialidade; princípio da personalidade ou nacionalidade; princípio 
real ou da defesa e princípio da universalidade do direito penal ou da justiça penal 
cosmopolita. 
 
25 
 
 
• Princípio da territorialidade 
 
O princípio da territorialidade estabelece que a aplicação da lei é restrita ao 
território do Estado que a promulgou. Portanto, todos que se encontram dentro 
desse território, sejam eles nacionais, estrangeiros ou apátridas, estão sujeitos às 
leis penais desse Estado. 
 
• Princípio da personalidade 
 
Também chamado de princípio da nacionalidade, segundo o qual a lei penal de 
um país é aplicável ao seu cidadão, independentemente de onde se encontre. Esse 
princípio é subdividido em personalidade ativa e passiva. A personalidade ativa refere-
se à aplicação da lei nacional ao delinquente que comete um crime no exterior, 
independentemente do bem jurídico afetado pelo delito. Já em relação aos crimes 
cometidos no exterior, nos quais a lei nacional só é aplicável se o delito afeta um bem 
jurídico do Estado ou de um de seus cidadãos, é denominado de personalidade 
passiva. (SMANIO, 2019) 
 
• Princípio da defesa 
 
Também conhecido como princípio real ou princípio da proteção, este 
estabelece que a lei do país é aplicada de acordo com o bem jurídico afetado, 
independentemente da localização ou nacionalidade do agente. 
 
• Princípio da universalidade 
 
De acordo com o princípio da universalidade, cosmopolita ou da justiça 
universal, as leis penais devem ser aplicadas a todos os indivíduos, não importa onde 
se encontrem, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem 
jurídico afetado. 
 
 
 
26 
 
 
Em relação à aplicação da lei penal no espaço, o Código Penal brasileiro 
adotou como regra geral o princípio da territorialidade, o que pode ser verificado por 
meio do art.5º do Código Penal: "Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de 
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território 
nacional." (BRASIL, 1940) Lembrando que, grande parte da doutrina é adepta a ideia 
de que essa territorialidade não pode ser interpretada como absoluta, uma vez que 
ela comporta exceções nos casos previstos em lei e convenções, tratados e regras de 
direito internacional. 
Em relação ao conceito de território, este deve ser entendido em seu sentido 
jurídico. É todo espaço terrestre, fluvial, marítimo e aéreo onde é exercida a soberania 
nacional. (ANDREUCCI, 2024) 
6 CRIME CONSUMADO, CRIME TENTADO E CRIME IMPOSSÍVEL 
6.1 Consumação 
A diferenciação entre o crime consumado e o crime tentado com o passar dos 
anos se torna cada vez mais clara. O crime consumado é aquele que possui todos os 
elementos do tipo penal devidamente preenchidos pelo agente. Por outro lado, o crime 
tentado é aquele em que o agente inicia a execução do delito, mas, por razões alheias 
à sua vontade, não consegue consumá-lo. 
Art. 14. Diz-se o crime: 
Crime consumado 
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição 
legal; 
Tentativa 
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. (BRASIL, 1940) 
Ainda no teor da diferenciação, Paschoal nos diz que, o que diferencia o crime 
consumado do crime tentado é a consecução do objetivo buscado. Em ambos está 
presente a intenção (elemento subjetivo); nos dois casos, houve atos executórios, ou 
seja, a exteriorização daquela intencionalidade. (PASCHOAL, 2019) 
 
 
 
27 
 
 
No que tange a manifestação exterior abordada no artigo supracitado, 
entendemos então que um crime pode ser tentado ou consumado. E a melhor forma 
de descobrir tal fato, é analisando o Iter criminis, que é o “caminho do crime”. 
 
Para uma melhor compreensão sobre a diferença entre a consumação e 
tentativa, vamos antes analisar cada fase do iter criminis: 
 
a) cogitação; 
b) atos preparatórios; 
c) atos executórios; 
d) consumação; 
e) exaurimento. 
 
A cogitação é uma etapa interna, não manifestada externamente pelo agente. 
É o momento em que o agente pondera internamente sobre cometer ou não o crime. 
A cogitação é a simples vontade ou representação mental sobre o crime, sem 
que haja o cometimento de qualquer ato externo pelo agente. Logo, a 
cogitação nunca é punível, pelo simples fato de que não se pode punir o 
pensamento de alguém, por mais hediondo que este seja. (SMANIO, 2019, 
p. 300) 
Na fase dos atos preparatórios, o agente começa a se preparar para cometer 
o crime, adquirindo os meios necessários, planejando a execução e tomando outras 
medidas preparatórias. 
Portanto, se o agente planeja cometer o crime de extorsão mediante sequestro 
e realiza ações como alugar uma chácara para servir de cativeiro, comprar cordas 
para amarrar a vítima e adquirir uma faca para ameaçá-la, esses atos são 
considerados preparatórios. (SMANIO, 2019) 
Contudo, devemos nos atentar. Via de regra os atos preparatórios não são 
passíveis de punição, pois ainda não representam um perigo efetivo de lesão ao bem 
jurídico, e o agente pode optar por não prosseguir com seu intento. Em casos 
excepcionais, os atos preparatórios podem ser passíveis de punição, pois configuram 
tipos penais independentes. Nessas circunstâncias, a punição ocorre com base no 
 
 
28 
 
 
tipo penal que descreve o próprio ato preparatório, e não na tentativa do crime 
planejado. Assim, utilizando o exemplo anterior, se o agente, com a intenção de 
sequestrar a vítima, rouba um carro, essa conduta constitui o tipo penal de furto por si 
só. Portanto, o agente poderia ser punido pelo furto do veículo, mas não pela tentativa 
de extorsão mediante sequestro. 
Na terceira fase do iter criminis, temos os atos executórios. Aqui o agente 
inicia a execução do crime, agindo de acordo com o plano estabelecido. 
O crime efetivamente se inicia a partir do primeiro ato executório, momento em 
que se torna viável punir o agente pela tentativa. Os atos executórios se estendem até 
o momento imediatamente anterior à consumação. 
A consumação ocorre quando todos os elementos do tipo penal são 
preenchidos. Ou seja, o crime é consumado quando o resultado previsto na lei se 
concretiza, mesmo que parcialmente. 
O momento da consumação é diferente nos diversos tipos penais, e é 
importante saber identificá-la pois é da consumação do crime que se inicia a contagem 
do prazo prescricional (art. 111, I, do CP) e é o local da consumação que define a 
competência territorial para o julgamento do crime (art. 70 do CPP). 
Nos tipos penais materiais, a consumação se dá no momento em que o bem 
jurídico é lesionado, isto é, com a ocorrência do resultado. Exemplo: No tipo penal de 
homicídio, a consumação se dá no momento da morte da vítima; 
Nos tipos penais formais, a consumação ocorre no momento da prática da 
conduta descrita no tipo penal, independentemente da ocorrência do resultado. 
Nos tipos penais culposos: a consumação sempre se configurará no momento 
da ocorrência do resultado. Exemplo: no homicídio culposode trânsito (art. 302 da Lei 
no 9.503/19979) a consumação ocorre no momento da morte da vítima; 
Nos ttipos penais omissivos próprios, a consumação ocorre no momento da 
prática da conduta omissiva, ou seja, no momento em que o agente deveria ter agido, 
mas não o fez. Exemplo: No tipo penal de abandono intelectual (art. 246 do CP10), o 
crime se consuma no momento em que o agente deveria ter provido a instrução 
primária do filho em idade escolar, mas não o fez; 
 
 
 
29 
 
 
Por fim, nos tipos penais omissivos impróprios, a consumação se dá no exato 
momento em que ocorre o resultado que o autor deveria ter evitado. Exemplo: Salva-
vidas de um clube não socorre criança que caiu na piscina e esta morre afogada (art. 
121, caput, combinado com art. 13, § 2o, b, ambos do CP). (SMANIO, 2019) 
Chegamos a última fase do iter criminis, o exaurimento. Este, não se confunde 
com a consumação do crime, pois ocorre após esta última fase, ou seja, quando o 
bem jurídico já foi lesado. Tomemos como exemplo o crime de extorsão mediante 
sequestro (art. 159 do Código Penal), que é um tipo penal material. Sua consumação 
ocorre no momento em que há a restrição da liberdade da vítima, ou seja, quando ela 
é arrebatada pelo agente. No entanto, é possível que após esse evento ocorra o 
recebimento do "resgate", sendo esse ato considerado mero exaurimento. O mesmo 
raciocínio se aplica ao homicídio: após a consumação do crime, que ocorre com a 
morte da vítima, o agente pode decidir quebrar-lhe os ossos, configurando assim o 
exaurimento do delito. (SMANIO, 2019) 
6.2 Tentativa 
No Código Penal brasileiro, a tentativa é tratada como uma modalidade de 
execução do crime. Ela ocorre quando o agente pratica atos que visam à consumação 
do delito, mas não consegue concretizá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. 
Para que se configure a tentativa, é necessário que haja um início de execução 
do crime, que o agente tenha a intenção de praticar o delito e que essa execução seja 
interrompida por circunstâncias alheias à sua vontade. 
Lado oposto, a tentativa apenas será configurada quando a não consumação 
do crime não for causada por circunstâncias externas à vontade do agente. Se o crime 
não se consumar devido à vontade própria do agente, ou seja, se ele que iniciou a 
execução do crime decide não prosseguir, não se caracteriza tentativa, mas sim 
arrependimento eficaz ou desistência voluntária. 
Quanto ao aspecto subjetivo (dolo), não há distinção entre o crime consumado 
e o crime tentado. Quando o agente inicia a execução de um crime doloso, sua 
intenção é sempre consumá-lo. No entanto, se, por algum motivo externo à sua 
vontade, a consumação não ocorre, caracteriza-se como tentativa. 
 
30 
 
 
Assim, por exemplo, se A com a intenção de matar B dispara arma de fogo 
atingindo-o no peito, o crime poderá ser consumado – caso B morra em 
virtude do tiro – ou tentado – caso B seja socorrido e sobreviva. Em qualquer 
das hipóteses, o dolo de A era o mesmo: vontade e consciência de matar B. 
(SMANIO, 2019, p. 304) 
 
Importante ressaltar, que em razão de todas essas especificações, alguns 
crimes não admitem a tentativa. Vejamos: 
 
a) tipos penais culposos: os crimes culposos não admitem tentativa, pois o 
resultado não é desejado pelo agente. Admitir-se a tentativa do crime 
culposo seria uma contradição lógica, pois seria admitir a possibilidade de 
alguém tentar obter algo que não deseja. 
 
b) tipos penais preterdolosos: sendo o tipo penal doloso composto pelo dolo 
no resultado antecedente e culpa no resultado consequente, também é 
impossível a tentativa, pelos mesmos motivos do tipo penal culposo. 
 
c) Crimes omissivos próprios: são aqueles em que a conduta omissiva é 
exclusiva. A consumação desses crimes ocorre no instante em que o agente 
deveria ter agido, mas optou pela omissão. Se o agente tentou não agir, 
porém foi incapaz de fazê-lo, isso implica que ele agiu, ou seja, seguiu a 
norma determinada, não havendo, portanto, a configuração do crime. 
 
d) Crimes habituais: são aqueles que requerem uma repetição para sua 
configuração. Ou seja, não se consumam com a prática de uma única 
conduta, mas sim com a reiteração dessa conduta. Um exemplo é o crime 
de casa de prostituição (art. 229 do CP). Portanto, ou houve reiteração e o 
crime se consumou, ou não houve reiteração, e, consequentemente, não há 
ocorrência do crime, tornando a tentativa impossível. 
 
 
 
 
31 
 
 
e) tipos penais unissubsistentes: são aqueles nos quais as condutas não 
podem ser divididas em atos separados, pois cada ato praticado configura 
um crime individual. Isso é observado, por exemplo, no caso da injúria (art. 
140 do CP). 
 
f) contravenções penais: em grande parte dos casos, seria materialmente 
possível a tentativa. Contudo, por razões de política criminal, o legislador 
optou por não expressamente admiti-la, conforme previsto no artigo 4º da 
Lei de Contravenções Penais (Lei nº 3.688/1941). 
6.3 Crime impossível 
Crime impossível refere-se a uma situação em que a conduta realizada pelo 
agente, embora direcionada à prática de um crime, esbarra em circunstâncias que 
tornam materialmente impossível a consumação do delito. 
Isso porque, do mesmo modo que não há crime sem intenção, apesar de haver 
objeto material e até resultado, não há crime quando está presente a intenção, mas 
ausente o objeto material. (PASCHOAL, 2015, p. 58) 
Um exemplo comum de crime impossível é quando alguém tenta furtar um 
objeto que, na verdade, é falso ou pertence ao próprio agente, de modo que a 
subtração seria juridicamente impossível. Nesses casos, a legislação brasileira 
considera o ato como atípico, ou seja, não se configura como crime, visto que não há 
lesão ou perigo efetivo ao bem jurídico protegido pela norma penal. 
Nestas hipóteses, simplesmente não há qualquer punição para o agente, pois 
não houve qualquer possibilidade de lesão aos bens jurídicos tutelados. O crime 
impossível é tratado no artigo 17 do CP, e diz que: “não se pune a tentativa quando, 
por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível 
consumar-se o crime.” 
A partir desse artigo, conclui-se que existem então duas hipóteses de 
configuração para o crime impossível: a ineficácia absoluta do meio, e a 
impropriedade absoluta do objeto. 
 
 
32 
 
 
A ineficácia absoluta do meio, ocorre quando o meio escolhido pelo agente para 
execução do crime é absolutamente ineficaz, inadequado para produzir o resultado 
pretendido. Exemplo: pessoa tenta matar outra com arma descarregada ou de 
brinquedo; pessoa tenta envenenar outra, mas ministra-lhe farinha pensando ser 
remédio etc. 
Já a impropriedade absoluta do objeto, ocorre quando o objeto da ação do 
agente é absolutamente inadequado para a execução do tipo penal correspondente. 
Por exemplo: administrar um remédio abortivo em uma mulher que não está grávida; 
disparar com a intenção de matar uma pessoa que já está morta; ou tentar furtar ao 
enfiar a mão no bolso de alguém que não tem nada consigo. 
Em ambas as hipóteses, é preciso atentar-se para o fato de que somente 
será reconhecida a impossibilidade do crime se a ineficácia do meio ou a 
impropriedade do objeto forem absolutas, ou seja, sem qualquer possibilidade 
de consumação. Se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto forem 
meramente relativas, está caracterizada a tentativa. Assim, se a pessoa 
ministra quantidade de veneno insuficiente para matar, a ineficácia do meio é 
relativa; e se a pessoa dispara arma de fogo contra vítima com morte cerebral, 
a impropriedade do meio é relativa. Em ambas as hipóteses, não há que se 
falar em crime impossível, e os agentes poderão ser penalmente 
responsabilizados. (SMANIO, 2019, p. 311) 
Finalmente, é viável que a ineficácia completa do objeto e a inadequação total 
do meio estejam presentes ao mesmo tempo na mesma ação, comoacontece na 
tentativa de aborto através da ingestão de analgésicos inócuos por uma mulher que 
não está grávida. 
7 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
7.1 Desistência voluntária 
Como previamente abordado, a caracterização do crime tentado requer que, 
após o início de sua execução, não ocorra a consumação devido a circunstâncias 
independentes da vontade do agente. Essas circunstâncias podem incluir a 
intervenção de terceiros ou simplesmente a não obtenção do resultado desejado, 
 
 
33 
 
 
mesmo com a utilização de todos os meios necessários para alcançar o objetivo 
pretendido. 
Contudo, há cenários nos quais, após o início da execução do crime, o 
resultado inicialmente almejado não se concretiza devido à ação do próprio agente. 
Este pode interromper os atos executórios ou, mesmo após tê-los concluído, 
pode agir para evitar a ocorrência do resultado. 
Quando o agente para os atos executórios ou decide não continuar com a 
execução, isso é chamado de desistência voluntária. Já quando, mesmo após concluir 
o delito, o agente impede que o resultado ocorra, como levar a vítima ao hospital, isso 
é conhecido como arrependimento eficaz. É considerado eficaz porque foi capaz de 
evitar o resultado prejudicial. (PASCHOAL, 2015) 
A desistência é voluntária se fundada em dó ou piedade, em motivo de 
consciência, sentimento de vergonha, medo da pena etc.; a desistência é 
involuntária se para evitar o flagrante, ou por receio de bloqueio das vias de 
fuga, ou porque o fato foi descoberto etc. (SOARES, 2008, p. 311) 
 
Uma vez reconhecida a desistência voluntária, o agente não será 
responsabilizado pela tentativa do crime que iniciou, mas apenas pelos atos já 
consumados. 
7.2 Arrependimento eficaz 
O arrependimento eficaz está associado à tentativa acabada, pois acontece 
quando o agente, após ter esgotado todas as possibilidades para consumar o crime, 
se arrepende e toma novas ações que efetivamente impedem a consumação. 
Um exemplo clássico de arrependimento eficaz é quando alguém, após 
envenenar a vítima, se arrepende e lhe fornece o antídoto, evitando assim a sua 
morte. É evidente que o agente somente se beneficiará dessa circunstância se 
conseguir evitar o resultado, pois se, mesmo após a administração do antídoto, a 
vítima falecer, o agente será responsabilizado pelo crime de homicídio doloso 
consumado. (SMANIO, 2019) 
 
 
 
34 
 
 
Tanto na desistência voluntária quanto no arrependimento eficaz, o agente é 
responsabilizado pelas ações cometidas. Isso implica que, se inicialmente pretendia 
cometer homicídio, mas conseguiu evitar que o resultado fatal ocorresse, ele será 
punido pelas lesões causadas, mas não pelo homicídio tentado. 
É importante deixar claro que os motivos que levaram o agente a desistir ou 
a se arrepender de forma eficaz são irrelevantes, ou seja, não importa se o 
agente desistiu de praticar o estupro em razão de haver pensado na dor física 
e moral da vítima ou se não perpetrou o delito em razão de ter constatado 
que a vítima estava menstruada. (PASCHOAL, 2015, p. 60) 
7.3 Arrependimento posterior 
O arrependimento posterior difere do arrependimento eficaz, uma vez que este 
ocorre antes da consumação do crime, enquanto aquele ocorre após a consumação. 
O arrependimento posterior está definido no artigo 16 do Código Penal, sendo: Nos 
crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou 
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do 
agente, a pena será reduzida de um a dois terços. 
Além disso, é importante lembrar que somente restará configurado o 
arrependimento posterior, mediante os seguintes requisitos: 
 
a) crime sem violência ou grave ameaça à pessoa. Ou seja, esse instituto não 
se aplica em casos de roubo, lesão corporal, homicídio, estupro, etc. 
Entretanto, é aplicável em casos de furto, estelionato, falsificação de 
documento público, etc. 
b) reparação do dano ou a restituição da coisa. Essa reparação deve ocorrer 
antes do início da ação penal, que se dá com o oferecimento da denúncia 
ou queixa-crime. Após esse ponto, o benefício do arrependimento posterior 
não é mais cabível. 
c) A reparação do dano ou a restituição da coisa devem ser voluntárias, ou 
seja, realizadas por vontade do agente. O benefício não será concedido se 
os bens forem recuperados pela polícia ou se o juiz ordenar sua busca e 
apreensão em posse do agente. 
 
 
35 
 
 
8 CONCURSO DE PESSOAS 
O concurso de pessoas, também conhecido como concurso de agentes ou 
participação criminosa, é um instituto do Direito Penal brasileiro que trata da 
responsabilidade de mais de uma pessoa na prática de um crime. Sempre que ocorre 
a cooperação de mais de uma pessoa na prática de um delito, caracteriza-se o 
concurso de pessoas. No atual sistema do Código Penal, adotado em 1984 durante a 
reforma da sua Parte Geral, o concurso de pessoas assume duas modalidades: 
coautoria e participação. 
Coautores são aqueles que colaboram na execução da conduta criminosa, 
sendo essencial para o crime a função atribuída a cada um deles. É importante 
ressaltar que nem todos os coautores precisam executar todas as ações descritas 
no tipo penal, sendo fundamental apenas que exista um acordo prévio entre eles e 
uma unidade de propósitos para a realização do delito. 
Assim, se três homens se unem para roubar um banco, ajustando que um 
deles ameaçará os funcionários e clientes com uma arma, o outro pegará o 
dinheiro no cofre, enquanto o terceiro aguardará no carro para avisá-los da 
chegada da polícia e guiar durante a fuga, não se pode dizer que um pra-
ticou ameaça, o segundo o furto e o terceiro não realizou nenhuma conduta 
delitiva. (PASCHOAL, 2019, p.73) 
A participação pode ocorrer de três formas distintas: por meio do induzimento, 
da instigação ou do auxílio, que, embora não seja explicitamente mencionado no 
Código, pode ser interpretado como uma forma de cumplicidade. Induz-se quando 
alguém faz surgir na mente de outra pessoa a ideia de cometer o crime; instiga-se 
quando se incentiva uma ideia já existente. 
A esse respeito, cabe inclusive ressaltar que a participação não sobrevive 
sem a autoria. Entre ambas se estabelece uma relação de acessório e 
principal; é até por isso que o art. 31 do Código Penal estatui que o ajuste, a 
determinação, a instigação e o auxílio não são puníveis na hipótese de o 
crime não chegar, pelo menos, a ser tentado. Todos esses atos, sem o início 
da execução, são considerados meros atos preparatórios, e os atos 
preparatórios não são puníveis. (PASCHOAL, 2019, p.73) 
 
 
 
36 
 
 
O Código Penal brasileiro tratou da questão no art. 29, caput, ao prever: quem, 
de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na 
medida de sua culpabilidade. (BRASIL, 1940) 
Isso não implica que todos os envolvidos no crime receberão penas idênticas, 
mas sim que estão sujeitos aos mesmos limites mínimos e máximos estabelecidos no 
tipo penal em que incorreram. Por exemplo, os participantes de um homicídio simples 
(art. 121, caput, do Código Penal) estão sujeitos a uma pena mínima de 6 e máxima 
de 20 anos. A determinação final da pena será baseada na culpabilidade de cada um 
dos envolvidos. Contudo, todos serão responsabilizados pelo homicídio simples. 
Porém, o art. 29 do CP tem um § 1o com a seguinte redação: § 1o Se a 
participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um 
terço. 
Isso indica que, embora o legislador tenha adotado a teoria monista em relação 
ao concurso de pessoas, foi necessária a diferenciação entre autor e partícipe devido 
ao § 1º, que estabelece a redução de pena para o partícipe de menor relevância. 
Dado que a figura do autor é a mais significativa, é crucial determinar sua 
identidade. Para isso, foram elaboradas várias teorias, cada uma utilizando critériosdistintos para definir o autor. As teorias mais frequentes sobre autoria são: 
 
a) Teoria Subjetiva: Elaborada no século XIX e creditada a von Buri, esta teoria 
diferencia o autor do partícipe com base na vontade do agente. O autor é 
aquele que deseja o fato como seu próprio, agindo com animus auctoris. Já o 
partícipe é aquele que deseja o fato como alheio, agindo com animus socii. 
Esta teoria é criticada pela imprecisão decorrente de um critério puramente 
subjetivo e pelo fato de que em tipos penais que não permitem autoria mediata 
(crimes de mão própria, como o falso testemunho, por exemplo), sujeitos não 
qualificados não podem ser autores e sujeitos qualificados não podem ser 
partícipes, independentemente de seus desejos. 
 
b) Teoria Extensiva:Esta teoria defende que todos os envolvidos na prática do 
crime são considerados autores, independentemente de suas funções 
específicas. Não há distinção entre autor e partícipes, pois todos são 
 
37 
 
 
c) considerados autores. Embora esta teoria seja simples e facilite a aplicação da 
pena no caso concreto, ela é criticada por diversos motivos: (i) todos os 
participantes do crime são equiparados, sem considerar suas diferentes 
contribuições objetivas e subjetivas para a lesão do bem jurídico; (ii) sujeitos 
não qualificados podem ser considerados autores de crimes especiais (por 
exemplo, um particular pode ser considerado autor de abuso de autoridade) ou 
de delitos de mão própria (por exemplo, o marido da testemunha que a induz a 
mentir seria considerado autor do crime de falso testemunho), o que pode ser 
considerado contraditório. 
 
d) Teoria Restritiva: Essa teoria define como autor aquele que realiza o verbo, ou 
seja, o núcleo do tipo penal, enquanto considera como partícipe aquele que 
contribui para o crime, mas sem executar o verbo, o núcleo do tipo penal. Por 
exemplo, em um crime de homicídio, o indivíduo que dispara contra a vítima 
seria o autor, enquanto aquele que fornece a arma e munição seria o partícipe. 
Essa construção teórica tem o mérito de fundamentar a distinção entre autor e 
partícipe com base na relação com a conduta típica, estabelecendo um critério 
formal e funcional rígido para todas as situações de autoria direta e de mão 
própria. No entanto, essa teoria não explica de forma satisfatória a 
diferenciação entre autor e partícipe em crimes de autoria mediata (por 
exemplo, quando um herdeiro entrega um bombom envenenado a sua tia rica 
usando seu filho inimputável) e coautoria (quando um herdeiro distrai a atenção 
da tia rica para que sua esposa possa adicionar veneno ao café dela). Segundo 
a teoria restritiva, nos exemplos mencionados, o herdeiro que planejou a morte 
da tia rica seria considerado o partícipe, pois não realizou o verbo núcleo do 
tipo penal: "matar". 
 
e) Teoria do domínio do fato: a teoria do domínio do fato pode ser explicada da 
seguinte forma: o autor é aquele que controla a realização do evento criminoso, 
decidindo sobre sua continuidade ou interrupção, enquanto o partícipe é aquele 
que não exerce controle sobre a execução do crime. Parece plenamente viável 
adotar a teoria do domínio do fato no sistema penal brasileiro. Como já 
 
38 
 
 
discutimos anteriormente, essa distinção entre autores e partícipes é 
necessária e prudente, especialmente à luz do princípio da culpabilidade. Isso 
ocorre porque o Código Penal, no artigo 29, não adota a teoria monista de 
maneira absoluta, mas sim de forma "temperada". (SMANIO, 2019) 
 
No que diz respeito ao princípio da culpabilidade, que se refere à aplicação de 
pena de forma proporcional à censurabilidade da conduta do condenado, o legislador 
previu no artigo 30 do Código Penal que as circunstâncias de natureza pessoal, exceto 
quando forem elementos essenciais do crime, não se comunicam, ou seja, não se 
estendem ao coautor ou ao partícipe. 
Acerca desse tema, é importante lembrar que alguns delitos que não permitem 
a coautoria, apenas a participação, mesmo que esta seja essencial para a realização 
do crime. Estes são conhecidos como crimes de mão própria. É importante não 
confundir os crimes de mão própria com os crimes próprios, nos quais o sujeito ativo 
deve necessariamente preencher certas características, como ser funcionário público, 
por exemplo. 
Nos crimes de mão própria, apenas o agente pode executar o núcleo do tipo 
penal. Embora ele possa ser induzido, instigado ou auxiliado, somente ele pode 
realizar a ação. Um exemplo disso é o falso testemunho, onde somente a testemunha 
pode prestar depoimento durante a audiência. Portanto, a coautoria não é admitida, 
apenas a participação. (PASCHOAL, 2024) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
PASCHOAL, Janaina Conceição. Direito penal: Parte Geral. 2.ed. - Barueri, SP: 
Manole, 2015. 
 
PARDAL, Rodrigo. Direito Penal: parte geral. 2. ed. - São Paulo: Rideel, 2023. 
 
SMANIO, Gianpaolo Poggio. Direito penal: parte geral. – 1. ed. – São Paulo: Atlas, 
2019. 
 
PIERANGELI, José Henrique; ZAFFARONI, Eugenio Raul. Manual de Direito Penal. 
Parte Geral. 6. ed. Editora RT. São Paulo. 2006. 
 
ANDREUCCI, Ricardo A. Manual de Direito Penal / Ricardo A. Andreucci. - 16. ed. - 
São Paulo: SaraivaJur, 2024. 
 
SANTOS, Juarez C. dos. Direito penal. Parte Geral. 3. ed. Curitiba: ICPC, Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2008. 
 
WELZEL, Hans. El nuevo sistema del derecho penal: una introducción a la doctrina 
de la acción finalista. Trad. José Cerezo Mir. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2006. 
 
JESCHECK, Hans-H; WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal. Parte General. 
5. ed. Trad. Miguel Olmedo Cardenete. Granada: Comares, 2002. 
 
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. Imprenta: São Paulo, Tirant lo 
Blanch, 2020.

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