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W BA 01 98 _V 2. 0 AUDITORIA E CONTROLES INTERNOS 2 Veruska Evanir Pereira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 AUDITORIA E CONTROLES INTERNOS 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Israel Horácio Almeida Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ Pereira, Veruska Evanir P436a Auditoria e controles internos / Veruska Evanir Pereira, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 42 p. ISBN 978-65-89881-05-6 1. Auditoria interna. 2. Contabilidade – Normas. 3. Fraude contábil. I. Título. CDD 657.458 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Auditoria Interna e seus objetivos. Planejamento de Auditoria __________________________________________________ 05 Princípios de Controle Interno Contábil e Importância do Controle Interno _____________________________________________ 23 Estrutura conceitual para trabalhos de asseguração. Detecção e Prevenção de Fraudes _______________________________________ 38 Metodologias de Auditoria e Papéis de Trabalho: conceitos e definições ____________________________________________________ 54 AUDITORIA E CONTROLES INTERNOS 5 Auditoria Interna e seus objetivos. Planejamento de Auditoria Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Israel Horácio Almeida Silva Objetivos • Apresentar os fundamentos da auditoria, seu progresso, objetivos, classes, abordagens e tipos de auditoria. • Descrever as normas gerais que regem a atividade da auditoria interna. • Apresentar os fundamentos básicos do planejamento de auditoria interna. 6 1. Auditoria interna nas organizações Com a evolução do comércio e serviços ao longo dos tempos e com a globalização, as organizações se tornaram cada vez maiores e mais complexas em suas gestões, com o objetivo maior de se manterem competitivas no mercado, mantendo seus resultados positivos e um bom market share. Essa complexidade pode se caracterizar muito bem, quando falamos da internacionalização das organizações, ou aquelas famosas multinacionais onde temos a matriz em um país estrangeiro e filiais em outros países. Também podemos pensar que mesmo o Brasil sendo um país tão grande, temos organizações nacionais com escritórios ou filiais espalhadas por várias cidades e estados. Além de considerar o tamanho e complexidade das organizações, é importante contextualizar estas empresas com a situação econômica global e nacional na perspectiva de inovações nas práticas de gestão, substanciando diagnósticos de oportunidades de negócio e de estratégias, requerendo, então, um grau elevado de conformidade de ações com a gestão, de seus controles, visando o maior desempenho dos negócios. Nesta conjuntura, se faz necessária a figura do controle interno, porém, não na perspectiva do controle pelo controle, mas para garantir identificar, apontar e corrigir distorções do caminho planejado ou exigido, incluindo a análise de riscos de mercado. E a auditoria interna que é uma atividade do controle interno, em sua contemporaneidade, contempla além das atividades de controle, aquelas inerentes à avaliação preventiva estratégica, incluindo a análise de riscos de mercado. 7 1.1 O progresso da auditoria Relataremos, de forma sucinta, um pouco da história da auditoria, começando pela origem da palavra, do Latim audire, que significa ouvir. Portanto, a escuta é a competência fundamental para os profissionais dessa área, os auditores. Essa atividade se instalou no início do século XIX em razão da necessidade das organizações multinacionais serem capazes de controlar e avaliar as atividades de suas subsidiárias distribuídas pelo mundo, com o objetivo maior de prestarem contas aos seus investidores e também reduzir ao máximo as possibilidades de fraudes locais. As atividades de auditoria já estavam consolidadas e regulamentadas na década de 1940, principalmente nas organizações estadunidenses. É também nos Estados Unidos, em 1941, que acontece a criação do Instituto Internacional dos Auditores Internos (The Institute of Internal Auditors – The IIA), sendo um dos grandes marcos da profissão. No Brasil, em 1960, foi a fundação do Instituto dos Auditores Internos do Brasil (Audibra), o que, atualmente, se denomina IIA do Brasil, órgão filiado ao The Institue of Internal Auditors–The IIA. Outro marco importante para a evolução da prática de auditoria no mundo foi o fato da crise econômica, de 1929, pela quebra da bolsa de valores de Nova York e a consequente exigência dos investidores de maior controle para garantir segurança e credibilidade em suas decisões de investimento nas organizações. Dessa forma, as organizações iniciaram a criação de suas próprias estruturas internas de controle, originando, assim, a auditoria interna. Lembrando que as atividades de controle eram majoritariamente externas, ou, como chamamos, auditoria externa. 8 Para contar um pouco da história da auditoria, no Brasil, Souza (2019) traz a informação de que o primeiro parecer de auditoria publicado se refere ao ano de 1903, na São Paulo Tramway, Light and Power Company, depois conhecida como a Light São Paulo, com matriz em Toronto, Canadá. A primeira empresa de auditoria a se instalar no Brasil foi a Mc-Auliffe Davis Bell & Co., em 1909, que depois foi nomeada de Arthur Andersen. Em seguida, se estabelece a famosa Price Waterhouse. Com o crescimento das organizações e a evolução dos mercados, normas foram criadas para a legitimação e fortalecimento das atividades dessas empresas de auditoria. Tais normas são regidas pelo Banco Central do Brasil, (a criação da Comissão dos Valores Mobiliários–CVM (Lei n. 6385/76) e a Lei n. 6404/76, a Lei das Sociedades por Ações. 2. Objetivos da auditoria Afinal, o que é auditoria? Existem várias definições para auditoria e para auditoria interna, como, por exemplo: Auditoria é um “exame” de demonstrativos contábeis, que quando efetuado por auditor independente, serve para consubstanciar uma opinião que este deverá expressar sobre os mesmos.Uma auditoria é uma revisão das demonstrações financeiras, sistema financeiro, registros, transações e operações de uma entidade ou de um projeto, efetuada por contadores, com a finalidade de assegurar a fidelidade dos registros e proporcionar credibilidade às demonstrações financeiras e outros relatórios da administração. (PORTAL DA CONTABILIDADE, [s. d.], [n. p.]). Todas as definições, além de trazer a interpretação de cada autor, tem algo em comum convergindo paraa importância desta atividade com o objetivo final de salvaguardar o patrimônio da organização auditada, avaliando a conformidade do planejado com o realizado. http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/demonstracoescontabeis.htm 9 Especificamente a respeito da auditoria interna, uma definição bem abrangente é de Souza (2019, p.18): “auditoria interna consiste no exame sistemático da integridade, da adequação e eficácia dos controles internos, dos processos e das informações operacionais da organização”. Podemos perceber que a auditoria não é uma atividade isolada, mas sistemática, ou seja, deve integrar vários aspectos da organização, como os controles internos, sistemas de informação, visando a análise da integridade, da adequação e, muito importante, da eficácia de seus sistemas. De acordo com o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (2021), a missão da auditoria interna é ade proteger o valor organizacional, fornecendo avaliação (assurance), assessoria (advisory) e conhecimento (insight), com objetivos baseados em risco. Portanto, adotando a definição do IAA, nesse momento, verificar que se espera que a atividade de auditoria interna, em uma organização, traga não só a avaliação do estado atual da empresa, bem como atue como assessoria, fazendo recomendações para as melhores práticas e também seja fonte de disseminação de conhecimento, e tudo isso baseado na gestão de riscos. Segundo ainda o IAA Brasil, a auditoria interna deve ser guiada pelos seguintes princípios: • Demonstrar integridade. • Demonstrar a proficiência e o zelo profissional devido. • Ser objetivo e livre de influências indevidas (independente). • Estar alinhada às estratégias, objetivos e riscos da organização. • Estar devidamente posicionado e com recursos adequados. 10 • Demonstrar qualidade e melhoria contínua. • Comunicar-se de modo efetivo. • Fornecer avaliações baseadas em risco. • Ser perspicaz, ser proativo e focado no futuro. • Promover a melhoria organizacional. 2.1 Normas aplicadas na auditoria interna Já que estamos tratando do tema verificação de conformidades, nada mais natural que descrever as regras que devem ser seguidas na atividade de Auditoria Interna. São normas internacionais e nacionais que orientam os profissionais nos seus trabalhos de auditoria, estabelecendo referenciais gerais para cada atividade, bem como conduz fortemente na questão da conduta profissional com o intuito de, de uma forma geral, instituir a ordem e a disciplina dos trabalhos de auditoria. As principais normas brasileiras de Auditoria Interna foram estabelecidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que é o órgão regulador profissional contábil. Cabe salientar que a atividade mais antiga da auditoria é a auditoria contábil, sendo, por lei, de responsabilidade exclusiva dos profissionais de contabilidade. Por isso, se justifica ser o Conselho Federal de Contabilidade o principal normalizador desta atividade. Entretanto, tais normas também são baseadas por órgãos reguladores, como o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IAA Brasil), entre outros, e sob a tutela das Normas Internacionais de Auditoria (ISAs), emitidas pela Federação Internacional de Contadores (International Federation of Accountants – IFAC). 11 O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), estabeleceu as seguintes normas: Quadro 1–Normas do CFC NBC TI 01 Aprovada pela Resolução 986 de 21/112003 e refere-se à atividade e aos procedimentos de auditoria interna. NBC PG 100 De 24/01/2014, substituiu a NBC PI 01 de 24/03/1995, aprovada pela Resolução 781 e refere-se aos aspectos profissionais da pessoa do auditor. Fonte: adaptado de CFC–NBC T1 01 e NBC PG 100 (2021). Cabe destacar que, no ano de 2016, surgiu a Lei n. 13.303, que estabelece regras para o funcionamento das empresas estatais (empresa governamental), contendo uma série de mecanismos de transparência e governança a serem seguidos em sua gestão. Além dessas normas, o trabalho de auditoria interna se baseia em outros tipos de normas ou direcionadores que, segundo Souza (2019), podem ser elencadas como sendo: Quadro 2–Direcionadores do trabalho de auditoria interna Código de Ética. Baseado em princípios básicos, com relação a diretrizes gerais de comportamento e atuação e regras de conduta. Série 1000 – Normas de Atributos. Abordam as responsabilidades, funções, estrutura e aspectos que se referem ao posicionamento do auditor perante a organização. 12 Série 2000 – Normas de Desempenho. Descreve orientações aos auditores internos, quanto aos aspectos da natureza das atividades de auditoria interna, tais como, planejamento, execução, revisão, relatórios de acompanhamento de ações e os critérios de qualidade com relação ao desempenho dos auditores na execução desses serviços. Implantação. Normas direcionadas para trabalhos específicos de auditoria, tais como, atividades de avaliação (assurance) e de consultoria Fonte: adaptado de Souza (2019). Para um arcabouço que complementariam as normativas gerais, é comum e altamente recomendável que cada organização crie seus próprios códigos de ética, manuais de procedimentos gerais, manuais de auditoria próprios que convenham de acordo com seus objetivos estratégicos, mas sempre alinhados com as normas vigentes. 2.2 Classes de auditoria Conforme as práticas de auditoria foram evoluindo ao longo dos tempos, surgiu a necessidade de categorizá-las de acordo com a substancialidade de cada conjunto de atividades, buscando a otimização de seus resultados por meio de condutas especializadas. Atualmente, as principais classes ou categorias de auditoria são: auditoria externa ou independente, auditoria interna e auditoria governamental. 13 a. Auditoria independente (externa): segundo as normas NBC TA 200 a 810, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que são aplicadas para as atividades de auditoria independente, essa categoria de auditoria ocorre da aplicação de um conjunto de procedimentos técnicos que tem como objetivo a emissão de opinião, por meio do parecer, sobre a adequação, em conformidade às práticas contábeis adotadas no Brasil e legislação específica. Assim, fica evidente que o foco desta auditoria é a avaliação das demonstrações contábeis. Auditoria interna: para o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), em sua norma NBC TI 01, 12.1 – CONCEITUAÇÃO E DISPOSIÇÕES GERAIS, 12.1.1 – Conceituação e Objetivos da Auditoria Interna, 12.1.1.3 (norma vigente) tipifica que: A auditoria interna compreende os exames, análises, avaliações, levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. (NBC, 2021, [n. p.]) b. Já a definição do Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IAA Brasil), especifica que a auditoria interna tenha como missão auxiliar as organizações na busca e alcance de seus objetivos, que utilize de abordagens independentes, que tenha atuação estruturada e sistemática de avaliação e aprimoramento dos processos gerenciais e seus controles, minimizando os riscos das ameaças existentes, mantendo a sustentabilidade corporativa, ou seja, que a organização se mantenha saudável, próspera e viva. c. Auditoria governamental: como o próprio nome destaca, é uma classe de auditoria das atividades do poder público, sendo também chamada de auditoria pública, tem como objetivo assegurar a legalidade (característica das entidades públicas) e 14 legitimidade dos bens, atos e fatos administrativos públicos, bem como o de avaliar o desempenho dos resultados de suas ações, no que se refere à eficiência, eficácia, efetividade e economicidade da gestão pública. 2.3 Aspectos essenciais que distinguem a auditoriainterna da auditoria externa – Diferenças, abordagens e tipos Para Souza (2019), existem cinco diferenças básicas da auditoria interna e externa em relação ao objetivo da auditoria, à função do profissional, à sua existência e interesse, à continuidade dos trabalhos e ao produto final gerado, como segue: Quadro 3–Diferenças DIFERENÇAS BÁSICAS Objetivo da auditoria. Externa: avalia e opina sobre as demonstrações financeiras e a respectiva compatibilidade com a realidade da empresa. Interna: avalia e assessora a alta administração no efetivo desempenho de sua função. Função do profissional. Externa: o profissional é externo, independente, com responsabilidade civil e contratação sem vínculo empregatício com a organização, podendo ser terceirizado contratualmente. Interna: profissional da organização, normalmente, com vínculo. 15 Existência e interesse. Externa: obrigatória em determinadas empresas, como, por exemplo, empresas de capital aberto e de grande porte enquadradas na Lei n. 11638/2007, que modificou a Lei n. 6404/76 das Sociedades Anônimas. Empresas que faturam acima de 300 milhões e tem ativos superiores a 240 milhões de reais são obrigadas a realizarem auditorias externas. Interna: é facultativa para as organizações e obrigatória para empresas de capital de economia mista, com capital público que estão enquadradas na Lei n. 13303/2016. Continuidade dos trabalhos. Externa: atividade periódica e pontual. Interna: atividade contínua e rotineira. Produto final gerado. Externa: avaliação das demonstrações contábeis, com parecer e opinião. Àquelas que não se referirem às demonstrações contábeis, geram um certificado de conformidade. Interna: emissão de relatórios de resultados obtidos e recomendações de correções e/ou apontamentos de melhorias. Fonte: adaptado de Souza (2019). Quadro 4–Abordagens de auditoria interna e externa Abordagens de auditoria interna e externa baseadas em: Controles. A mais tradicional e utilizada pela maioria das auditorias, como, por exemplo, das demonstrações contábeis, legislações etc. 16 Processos/ gestão. Avalia as atividades inerentes de processos de gestão, com visão sistêmica e integrada de acordo com as estratégias da organização, como, por exemplo, auditorias de sistema de qualidade, ambiental etc. Apoio à alta administração. Traz um modelo de gestão próximo ao de consultoria interna, tendo como premissa mais o formato preventivo do que corretivo. Riscos. Papel estratégico e voltado para governança corporativa. Visão sistêmica de avaliação da inter-relação das oportunidades e ameaças com o objetivo de minimizar os respectivos riscos empresariais. Fonte: adaptado de Souza (2019). Quadro 5 – Tipos de auditoria TIPOS DE AUDITORIA Contábil. Avaliação da conformidade dos aspectos contábeis gerados e apropriados, aplicados pela auditoria externa e interna. Operacional. Avaliação da existência e conformidade dos controles da organização e das atividades rotineiras, aplicadas pela auditoria interna. 17 De gestão. Avaliação estruturada e sistêmica dos processos de gestão e sua inter-relação com a estratégia da organização, bem como os riscos inerentes de suas atividades. Também se aplica a avaliação de conformidades, chamada de compliance. Fiscalizatória. Auditoria específica dos órgãos públicos em relação a terceiros, como, por exemplo, auditoria da receita estadual/ federal/ municipal e de agências específicas setoriais. Púbica. Auditoria governamental realizada nas atividades de órgãos e entidades públicas. Processual e/ou de avaliação. Análise de processos judiciais, quanto à composição e conformidade das evidências apresentadas. Muito comum em órgãos do Ministério Público, como forma de apoio aos promotores e procuradores na elaboração de suas denúncias. Especial. Avaliação de fatos decorrentes de denúncias ou indícios de fraude e/ou crime. Fonte: adaptado de Souza (2019). 18 3. Planejamento de auditoria Sempre que a organização decidir pela realização de auditorias, tanto interna quanto externa, o fator fundamental e ponto crítico de sucesso é que estas sejam planejadas. O planejamento se inicia com a definição da finalidade e do objetivo da auditoria, determinação do escopo, bem como verificar preliminarmente o objeto que vai ser avaliado, sua abrangência e interações que possam ocorrer. Isso significa estudar e aplicar as variáveis para que o planejamento seja eficaz. Quais seriam estas variáveis? Destacaremos as variáveis básicas que devem ser consideradas por ocasião da análise dos pontos de auditoria. a. Materialidade: deve-se considerar o valor financeiro e orçamentário do ponto a ser auditado, dentro do contexto da organização, objetivando verificar sua representatividade no escopo da auditoria. Importante questão, pois pode acontecer da equipe de auditoria se debruçar em pontos pouco relevantes em detrimento de outros mais significativos (de maior impacto financeiro e orçamentário) e o resultado da auditoria ficar aquém do esperado. b. Relevância: em um dado contexto, esta variável determina a importância relativa de uma determinada questão, situação ou unidade organizacional. c. Criticidade: deve ser desenvolvido um panorama de situações críticas efetivas ou potenciais a ser controlada dentro do objeto a ser auditado. São elementos acerca de vulnerabilidades, fraquezas, riscos operacionais etc. Representa a organização por setores, dos pontos fracos de uma organização. Segundo Souza (2019), os principais objetivos do planejamento de um trabalho de auditoria são: 19 • Coletar informações das atividades do auditado, para identificar os principais eventos relevantes, problemas e legislação que impactem na realização do trabalho de auditoria. • Garantir a realização de um exame adequado e eficiente que atenda os objetivos do auditor. • Facilitar o controle das etapas do trabalho e o adequado gerenciamento do tempo realizado em relação ao previsto. • Estabelecer adequadamente a extensão da aplicação dos procedimentos e técnicas de auditoria, evitando a sobrecarga de trabalho. • Definir coerentemente a forma de divisão das tarefas dos membros da equipe de auditores. O planejamento de auditoria inadequado ou mesmo a falta de planejamento podem implicar em algumas ineficiências, como deixar de incluir áreas ou informações relevantes para análise, dificuldades de identificação dos riscos de auditoria, seleção inadequada da equipe de auditoria, omissão de aplicação de técnicas necessárias de auditoria, desconhecimento de fatos e evidências relevantes etc. Tudo isso pode prejudicar o resultado final da auditoria, não gerando as recomendações apropriadas. 3.1 Equipe de auditoria Um dos pontos fundamentais do planejamento de uma auditoria interna é a composição da equipe de auditores, neste momento, ressaltando que,como se trata de auditoria interna, todos os integrantes devem ter vínculo com a organização que vai ser auditada. Esses auditores devem ter competências adequadas para esta atividade, bem como experiência, formação e trabalhos similares. Isso significa que 20 auditores internos devem ser capacitados/ formados para esta função tão particular. Figura 1–Competências do auditor Fonte: elaborada pela autora. Recomenda-se que, em uma auditoria interna, nenhum auditor faça o trabalho sozinho, pois olhares diferentes acerca de uma situação podem ser benéficos evitando a possibilidade de resultado enviesado. 21 Também é muito interessante que a equipe de auditoria interna contenha multidisciplinaridade, propiciando conhecimentos variados que poderão ser utilizados em setores diversos da organização. Outra recomendação é que um auditor interno não audite sua própria área de origem para não gerar conflito de interesse, o que poderia arruinar a credibilidade do resultado da auditoria. Quando a equipe de auditoria não se sentir capaz de auditar assuntos muito específicos,é de praxe a contratação de um especialista para auxiliar o trabalho do auditor. 3.2 Plano de trabalho de auditoria Uma vez definida a equipe de auditoria interna, chega a hora de iniciar o plano de trabalho, que é um documento onde constará a definição do escopo da auditoria e a análise da viabilidade operacional e financeira da atividade. É no plano de auditoria que são definidas as responsabilidades e papéis de cada integrante, a extensão dos trabalhos, suas etapas, análise dos riscos envolvidos, metodologias e procedimentos e cronograma das atividades. 3.3 Pré-auditoria A fase de pré-auditoria é o momento em que a equipe de auditores reunirá o maior número de informações relevantes possíveis para basear a atividade de auditoria. Deve-se, então, ter o conhecimento apropriado sobre a área que será auditada, suas atividades e processos, a relevância e importância organizacional, para que seja minimizado o risco de não haver auditoria nos pontos principais já planejados anteriormente. 22 3.4 Programa de testes de auditoria O programa de testes, segundo Souza (2019), é um roteiro formal que serve de plano de ação e subsidia a análise e opinião do auditor, bem como para lastrear a propriedade de suas recomendações. É uma combinação de verificações (testes) de conformidade (observância). Geralmente, são constituídos de checklists, roteiros, questionários, fluxogramas etc. Assim, de forma geral, foram apresentados os pontos principais que caracterizam a auditoria interna nas organizações. Entretanto, este assunto é muito amplo, portanto, é importante continuar pesquisas para aprofundamento de estudos. Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: abordagem moderna e completa/ Marcelo Cavalcanti Almeida. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TA – de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica. Disponível em: https://cfc.org.br/tecnica/ normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/. Acesso em: 20 abril 2021. INSTITUTO DOS AUDITORES INTERNOS DO BRASIL (IIA). Disponível em: https:// iiabrasil.org.br//. Acesso em: 26 abril 2021. PORTAL DE AUDITORIA. Conceitos e definições de auditoria, [s. d.]. Disponível em: http://www.portaldeauditoria.com.br/tematica/auditoria- teoria-pratica.htm#:~:text=Em%20outras%20palavras%2C%20Auditoria%20 %C3%A9,dever%C3%A1%20expressar%20sobre%20os%20mesmos. Acesso em: 20 abril 2021. PORTAL DE CONTABILIDADE. Auditora – conceito – objetivos, [s. d.]. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/guia/auditoria.htm. Acesso em: 20 abril 2021. SOUZA, Hamilton Edson Lopes de. Auditoria interna: guia básico para formação de auditores. 1. ed. Curitiba, PR: Clube de Autores, 2019. https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/ https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/ https://iiabrasil.org.br// https://iiabrasil.org.br// http://www.portaldeauditoria.com.br/tematica/auditoria-teoria-pratica.htm#:~:text=Em%20outras%20pala http://www.portaldeauditoria.com.br/tematica/auditoria-teoria-pratica.htm#:~:text=Em%20outras%20pala http://www.portaldeauditoria.com.br/tematica/auditoria-teoria-pratica.htm#:~:text=Em%20outras%20pala http://www.portaldecontabilidade.com.br/guia/auditoria.htm 23 Princípios de Controle Interno Contábil e Importância do Controle Interno Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Israel Horácio Almeida Silva Objetivos • Apresentar o controle interno como dispositivo contábil e gerencial. • Evidenciar as características do controle interno. • Demonstrar os princípios fundamentais contábeis 24 1. Controle interno como dispositivo contábil e gerencial Vivemos em um mundo de constante mudanças, cada vez mais rápidas, considerando as tecnologias cada vez mais a serviço de uma entrega mais veloz e eficiente, como a comunicação que chega aos quatro cantos imediatamente e ao conhecimento cada vez mais disponível para todas as pessoas. Dentro desse contexto, as organizações são praticamente obrigadas a mudar na mesma velocidade, ou mesmo se anteciparem a essas mudanças para serem sustentáveis ao longo do tempo. Ainda, estar submetidas as crises econômicas, políticas e ambientais que ocorrem nos países ao redor do mundo Partindo da premissa de que as organizações, então, devem se transformar para sobreviver, essas mudanças também têm que ser sustentáveis, ou seja, devem ser controlados todos os aspectos dessas alterações em suas composições sistematicamente. Pode-se buscar maior eficiência, produtividade, melhoria de processos, internalização de novas tecnologias etc. Então, a organização passou por uma reestruturação organizacional? Lançou novos produtos? Mudou de posição no mercado? E agora? Agora é mais do que essencial que estas organizações revisem seus controles e os atualizem para atender às novas demandas. Definiremos um pouco melhor, então, o controle. Segundo Souza (2019), controle interno: É um conjunto de normas, rotinas, ferramentas e ações, exercidas por pessoas, aplicadas de forma estruturada e sistemática pelas organizações. Esse conjunto de controles devem assegurar a eficiência operacional 25 e promover a melhoria dos processos gerenciais e seus resultados de desempenho”. (SOUZA, 2019, p. 25) Os controles internos têm papel fundamental para que o gestor tenha informações pertinentes, confiáveis e tempestivas para tomar decisões acertadas. De forma geral, para um bom controle interno, é necessário que haja planejamento organizacional eficiente, onde se tem definidas as funções e responsabilidades das pessoas e também dos processos; sistema de informações, que permita adequado controle sobre os ativos, passivos, receitas, despesas etc.; controle físico sobre os ativos apropriado e procedimentos formalizados a serem seguidos pela organização. Pense em um caso prático, uma pizzaria que atende apenas o delivery. É necessário que haja, minimamente, uma rotina que proporcione que as pizzas sejam montadas de acordo com a receita. A receita, portanto, poderia ser considerada um dos procedimentos. Além disso, para que as pizzas sejam entregues como o cliente espera, o pessoal da expedição e os entregadores também devem seguir alguns processos de trabalho para manter o padrão. Temos ainda a cobrança, parte muito importante, pois é daí que vem a receita do negócio. Todas as entradas e saídas de produto, todo o mobiliário, movimentação financeira, tudo precisa ser contabilizado. Todo esse sistema de operação pode ser resumido, então, pelo que nomeamos de controle interno. 26 Figura 1–Engrenagens de controle Fonte: EtiAmmos/ iStock. Nesse ponto, é importante destacar a importância da internalização da cultura de controles internos pela gestão da organização. Portanto, podemos afirmar que é fundamental que a alta direção esteja alinhada e patrocine as questões de controle interno para que toda a estrutura organizacional esteja engajada nos mesmos propósitos de melhoria contínua e eficiência. A falta dessa visão estratégia de implementação e apoio ao controle interno, intensifica o surgimento de não conformidades e fraudes. Voltando ao nosso exemplo da pizzaria, quais seriam os controles- chave? Quais processos de trabalho seriam mais importantes de serem acompanhados de perto? Quais seriam os riscos de não controlar um ou outro processo ou ativo da empresa? Essas questões deveriam ser respondidas segundo a estratégia que a alta administração (nesse caso o senhor Irineu e sua esposa, a senhora Dejanira, sócios e fundadores, e que mantém o poder de decisão) a determinar que tipo de controle interno querem para que as pizzas cheguem quentinhas, saborosas e no tempo certo para seus clientes. 27 2. Caracterização do sistema de controle interno Sabemos, então, que cada organização decide como será seu controle interno. Assim, a cada vez que este for verificadoou testado nos momentos de auditorias, o auditor necessitará de um levantamento sobre as características e da operacionalização desses sistemas de controle interno, que podem ser obtidas das seguintes formas: • Com a leitura e compreensão dos manuais, procedimentos e instruções de trabalho internos. O auditor necessitará ter a informação dos documentos do sistema de controle interno como um todo e decidir, baseado no escopo da auditoria, quais documentos serão relevantes para esta análise. De qualquer forma, vale ressaltar que alguns documentos, em uma primeira análise, podem parecer estar fora do escopo, mas são importantes para a contextualização de uma auditoria específica. • Entrar em contato com os funcionários da organização. Vale uma conversa formal, como entrevistas, por exemplo. Além disso, também vale um bate papo mais descontraído, até mesmo tomando um cafezinho nos corredores da empresa. Dessa forma, o auditor sentirá, por meio dessa conversa, o nível de facilidade ou dificuldade para obtenção dos registros importantes e poderá se munir de informações relevantes para seu trabalho. • Inspeção física, de fato, desde o início da auditoria até o registro do razão geral (atividades de compra, venda, pagamentos, devoluções etc.). As informações levantadas sobre o controle interno pelo auditor devem ser registradas e podem se utilizar de algumas técnicas, como os relatórios narrativos, questionários padronizados ou mesmo por meio de esquemas e fluxogramas. 28 Normalmente, as empresas de auditoria elaboram seus próprios checklists com questionários-padrão de controle interno a serem preenchidos pelos seus auditores. Essa prática de utilização de checklists é muito utilizada e serve como um guia, no sentido de auxiliar o profissional na obtenção de dados, diminuindo o risco de omissão ou esquecimento de avaliação de algum ponto importante das operações da empresa, e também para padronizar a forma de descrição desse sistema. 2.1 Testes de observância e testes substantivos Os testes de observância, também chamados de teste de aderência e testes de controle, são utilizados para que o auditor verifique se os controles internos descritos nos manuais são os mesmos que estão sendo utilizados. Caso haja discrepância, cabe ao auditor apontar todas e recomendar que os manuais ou documentos, em geral, do sistema de controle interno, sejam atualizados. Assim, se determina como resultado o nível de confiança dos controles internos. Para realizar esses testes, o auditor utiliza do seu programa de trabalho ou plano de trabalho previamente definidos. Acontece com muita frequência o fato de a organização ter um sistema de controle interno excelente descrito, mas, na prática, a situação se apresentar muito diferente. Assim, o papel do auditor é avaliar o controle interno que efetivamente está sendo praticado no controle dos ativos da empresa e na produção de dados contábeis confiáveis. Já os testes substantivos, é um procedimento de auditoria aplicado com o objetivo de verificar a existência ou não de distorções materiais nas demonstrações contábeis ou a reunião de evidências suficientes para apontar as transações e saldos das demonstrações contábeis. Por 29 exemplo, exames de documentos originais, conferência de cálculos, exame de escriturações etc. Figura 2–Testes de auditoria Fonte: elaborada pela autora. 2.2 Avaliação do sistema de controle interno e determinação dos procedimentos de auditoria Segundo Almeida (2019), a avaliação do sistema de controle interno compreende as seguintes ações: • Determinar os erros ou irregularidades que poderiam acontecer. • Verificar se o sistema atual de controles detectaria de imediato esses erros ou irregularidades (não conformidades). 30 • Analisar as fraquezas ou falta de controle (vulnerabilidades), que possibilitam a existência de erros ou irregularidades (não conformidades), a fim de determinar natureza, data e extensão dos procedimentos de auditoria. • Emitir relatório com recomendações e/ou sugestões para o aprimoramento do sistema de controle interno da empresa. Exemplo de avaliação do sistema de controle interno relacionado com a atividade de vendas em uma organização, segundo Almeida (2019): Figura 3 – Exemplo de avaliação de controle interno de um processo de vendas • Um tipo de erro que poderia ocorrer seria as vendas serem contabilizadas fora da época devida. • O segundo passo seria verificar se existem controles que assegurem que todas as vendas sejam imediatamente registradas na contabilidade, como, por exemplo: emissão de nota fiscal por ocasião da venda de mercadoria e envio de cópia desta para a contabilidade; emissão de nota fiscal por ocasião da venda de mercadoria e envio de cópia desta para a contabilidade, guardas no portão da fábrica, observando se existe nota fiscal para toda mercadoria que sai. • Caso não existam controles que eliminem a possibilidade de erro mencionada, o auditor deve estudar com mais detalhe a situação. Se nessa análise ficar evidenciado que a contabilidade não registra a venda no período de sua competência, em função de atraso no envio de notas fiscais por parte do setor emitente destas, o auditor deve efetuar o seguinte procedimento de auditoria: obter na data do balanço o número da última nota fiscal, emitida junto ao setor emissor e verificar se essa nota e as de numerações anteriores foram registradas nas demonstrações financeiras sob exame. 31 • Posteriormente, o auditor deveria fazer sugestões à administração da empresa, por meio de seu relatório-comentário, no sentido de sanar essa falha de controle interno. Fonte: adaptado de Almeida (2019, p. 63). 2.3 Desfalques temporários e permanentes Quando se trata de desfalques, o resultado é sempre uma perda, diminuição, redução, fraude e até roubo e, infelizmente, essas práticas existem nas organizações e o controle interno deve identificar e apontar quando evidenciado. Nesse momento, é importante caracterizar esses desfalques e indicar a diferença entre desfalque temporário e permanente. Para que alguém na empresa possa praticar um desfalque, é necessário que esta pessoa tenha acesso aos ativos da organização para que, então, possa ser manipulado. A manipulação do sistema, causando desfalques, podem ocorrer de duas formas, sendo uma temporária e outra permanente. O desfalque temporário se caracteriza quando um funcionário se apossa de um bem da empresa e não altera os registros da contabilidade (transferindo o ativo roubado para despesas). Alguns exemplos: • O funcionário pega o dinheiro de vendas a prazo dos clientes antes que haja o registro contábil do recebimento. Como consequência, a conta duplicatas a receber fica em aberto, esperando o registro do recebimento. Esse fato poderia ser descoberto no confronto das contas duplicatas ainda não recebidas, com duplicatas a 32 receber na contabilidade, ou fazendo a verificação junto ao cliente sobre os valores já pagos ou o questionamento diretamente ao cliente sobre o motivo da duplicata ainda não haver sido quitada. • O funcionário pega o dinheiro recebido dos clientes após o registro contábil do recebimento. Ocorre que, na conta bancos, o registro a débito foi feito, aumentando seu saldo, porém, o saldo físico é menor. Esse tipo de desfalque pode ser verificado por meio da reconciliação bancária • O funcionário se apoderou de um ativo da empresa (dinheiro de caixa, cautela de títulos, estoques, imobilizado etc.). Como esses ativos estão registrados contabilmente, em um confronto entre os registros contábeis e o controle físico destes ativos, é possível identificar a diferença entre eles. O desfalque permanente ocorre quando um funcionário desvia um bem da empresa e modifica os registros contábeis, de forma que os ativos existentes concordem com os valores registrados na contabilidade, segundo Almeida (2019 p. 61). Para que o funcionário seja capaz de fazer um desfalque permanente,precisa obrigatoriamente ter acesso aos ativos da empresa, bem como aos registros contábeis. Algumas práticas que podem caracterizar o desfalque permanente, como: debitar despesa ou receita e creditar a conta do ativo correspondente ou subavaliar os débitos, e/ ou superavaliar os créditos na conta do ativo correspondentes e subavaliar os créditos em conta da receita, ou superavaliar os débitos em conta de despesa ou provisão. Alguns exemplos: O funcionário rouba a matéria-prima e baixa o correspondente para a despesa (débito despesas diversas e crédito em matéria-prima). Isso é possível a partir do momento que este funcionário seja responsável 33 pelas matérias-primas e também pela elaboração de lançamentos contábeis. O funcionário debita um valor em provisão para devedores duvidosos e credita na conta de duplicatas a receber de um recebimento recebido e desviado, registrando as duplicatas incobráveis baixadas. O ponto principal seria o fato do funcionário ter acesso a esses dois tipos de controle: o físico e o contábil. 3. Princípios fundamentais dos controles contábeis A gestão de uma organização é responsável pelo estabelecimento de seus sistemas de controle interno, e a caracterização destes auxiliam no planejamento e implementação de estratégias de fiscalização e monitoramento. Os controles internos, de forma geral, podem ser divididos em: controles internos contábeis e controles internos administrativos. Figura 4–Tipos de controles internos Controles internos contábeis Objetiva que as informações contábeis sejam feitas corretamente. Está relacionada à proteção patrimonial. Controles internos administrativos Objetiva a eficiência dos processos e do negócio. Auditoria interna. Controle de qualidade. 34 Controles físicos dos ativos. Manuais e procedimentos internos. Sistemas de relatórios contábeis. Capacitação de pessoal. Evidências das operações realizadas. Avaliações de desempenho. Fonte: elaborada pela autora. A qualquer tempo, é importante conhecer os princípios básicos contábeis, que são uma espécie de normas gerais, que fundamentam as ações da gestão organizacional para que exista verdadeiramente uma cultura estruturada de controle interno que suporte o modelo de gestão praticado pela organização. Segue o destaque de alguns princípios dos controles contábeis: Custos do controle versus benefícios: Não faz sentido o custo do controle ser maior o que os benefícios que dele se possa obter. É importante a gestão avaliar a relevância das transações que desse controle possa advir, como, por exemplo, contratar um segurança com salário de R$ 2.000, ao mês, na entrada de uma pizzaria que só atende delivery e que tem um histórico de pequenos roubos, uma ou duas vezes ao ano. Segregação de funções: Dentro do sistema de controle interno, é incompatível que um mesmo funcionário tenha funções com acesso aos ativos e aos registros contábeis ao mesmo tempo. Portanto, essas funções devem ser segregadas. 35 Acesso aos ativos: A organização deve estabelecer limites de acesso dos funcionários a seus ativos e estabelecer controles físicos sobre esses. Um bom exemplo deste acesso seria o funcionário que tem acesso à custódia de ativos, como dinheiro em caixa, cautelas de títulos, estoques, imobilizado etc. Ao longo das últimas duas décadas, muitos dos ativos físicos agora se apresentam como ativos digitais. Portanto, o controle dos ativos digitais também deve estar na mira dos fundamentos de controle de seus registros. Responsabilidade: As atribuições dos funcionários da organização devem ser estabelecidas com apontamentos de suas responsabilidades e limites de atuação, bem como a estrutura da organização e seus processos estejam estabelecidos e sejam conhecidos por todos e registradas em manuais, procedimentos ou outros documentos internos da empresa. Rotinas internas: Rotinas internas ou processos de trabalho devem ser descritos e registrados em manuais, procedimentos ou instruções de trabalho contendo as atividades e suas limitações de atuação, registrando os documentos relacionados (formulários, autorizações, validações) e, se possível, indicando responsabilidades de cada rotina interna declarada. Um exemplo clássico seria descrever quais os procedimentos para a aquisição de bens e serviços da empresa (como escolher o fornecedor, qual o limite de negociação, quais os responsáveis pela aprovação de compras etc.). A organização deve definir seus manuais, procedimentos, instruções de trabalho, a fim de institucionalizar suas rotinas internas. Essas práticas, além de direcionar a prática do trabalho também facilitam a comunicação e a gestão do conhecimento. 36 Confronto dos ativos com os registros: A organização deve ter estabelecido procedimentos periódicos e sistemáticos de comparação de seus ativos com os registros da contabilidade. O objetivo deste confronto é detectar possíveis desfalques de bens ou até mesmo registro contábil inadequado de ativos. Alguns exemplos desta atividade podem se dar na avaliação das conciliações bancárias (saldo da conta bancária, segundo a razão da contabilidade com o saldo pelo extrato bancário), contagem física de títulos e comparação com o saldo da conta investimento, inventário físico dos bens do estoque e do ativo imobilizado e seus registros individuas comparados ao do somatório dos saldos desses registros com saldo da respectiva conta do razão geral. Amarrações do sistema: Devem ser registradas, no sistema de controle interno, apenas as transações autorizadas, pelos seus valores corretos (reais) e em seus períodos de competência. Tais fatos exigem uma série de providências, tais como: • Conferência independente do registro das transações contábeis (exemplo: somas do razão geral e dos registros iniciais, intermediários e finais). • Conferência independente dos cálculos (exemplo: cálculo de depreciação). • Conferência da classificação contábil de todos os registros finais por um contador experiente. • Estabelecimento de controles sequenciais sobre as compras e as vendas. 37 • As rotinas internas de controle devem ser determinadas, de modo que uma área controle a outra. Auditoria interna: Um ótimo sistema de controle interno só será eficiente se puder ser verificado periodicamente e isso deve ser feito por meio de auditoria interna, que tem como objetivos a verificação do cumprimento das normas internas e avaliação da necessidade de desenvolvimento de novas normas internas ou modificação das já existentes. Limitações do controle interno: O sistema de controle interno pode ficar limitado se houver conluio de funcionários na apropriação de bens da empresa, ou se os funcionários não estiverem adequadamente instruídos com relação às normas internas ou se houver negligência na execução das tarefas por seus funcionários. Neste tema, pode ser revelada a importância dos controles internos dentro das organizações que, entre tantos benefícios, tem como principal objetivo a preservação do patrimônio e a busca da eficiência da gestão. Implementar controle é melhorar a gestão do negócio! Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: abordagem moderna e completa/ Marcelo Cavalcanti Almeida. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2018. SOUZA, Hamilton Edson Lopes de. Auditoria interna: guia básico para formação de auditores. 1. ed. Curitiba: Clube de Autores, 2019. 38 Estrutura conceitual para trabalhos de asseguração. Detecção e Prevenção de Fraudes Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Israel Horácio Almeida Silva Objetivos • Apresentar a estrutura conceitual para trabalhos de asseguração. • Definir o conceito de fraude e diferenciar do conceito de erro. • Entender as características e tipos comuns de fraude. 39 1. Estrutura conceitual para trabalhos de asseguração 1.1 As normas de auditoria contábeis Para apresentar a estrutura conceitualpara os trabalhos de asseguração, é importante conhecer o papel do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que edita as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs), que devem ser adotadas por todos os profissionais da contabilidade no Brasil. Segundo o CFC (2021): Para assegurar a evolução das Ciências Contábeis e a aplicação do conhecimento atualizado e globalizado no exercício profissional, uma das prioridades do CFC tem sido a busca da convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais. A elaboração e a revisão das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs) Técnicas e Profissionais, assim como dos Princípios de Contabilidade (Resolução CFC n. 750/93), fazem parte de um processo constante que congrega, em igual medida, o saber técnico e a aplicação prática, sem se descuidar da realidade atual da profissão contábil. (CFC, 2021, [n.p.]) É nesse arcabouço que surge a NBC TA, estrutura conceitual editada, em 2015, pelo Conselho Federal de Contabilidade, revogando a publicação de 2009 e dando nova redação aos trabalhos de asseguração dos auditores, que inclui as NBCs TA 200 a 810 (36 NBCs no total), como, por exemplo, a NBC TA 200 – OBJETIVOS GERAIS DO AUDITOR INDEPENDENTE E A CONDUÇÃO DA AUDITORIA EM CONFORMIDADE COM NORMAS DE AUDITORIA, NBC TA 230 – DOCUMENTAÇÃO DE AUDITORIA, NBC TA 810 – TRABALHOS PARA EMISSÃO DE RELATÓRIO SOBRE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONDENSADAS, entre outras. 40 1.2 Apresentação NBC TA estrutura conceitual Para a execução dos trabalhos do auditor independente, a NBC TA estrutura conceitual foi elaborada de acordo com a sua equivalente internacional International Framework for Assurance Engagements (IFAC) e traz as informações fundamentais, como um guia para o ofício. Importante salientar que não é uma norma e não estabelece nenhum requisito e foi emitida para facilitar o entendimento dos elementos e objetivos do trabalho de asseguração e dos trabalhos aos quais as NBCs TA, NBCs TR e NBCs TO (doravante referidas como Normas de Asseguração) se aplicam. A seguir, elencaremos alguns pontos importantes desta NBC TA. Essa estrutura fornece quadro de referência para: a) auditores independentes; b) outras pessoas envolvidas com trabalhos de asseguração, incluindo os usuários previstos de relatório de asseguração e aqueles que contratam o auditor independente (parte contratante); c) CFC ao emitir normas de asseguração e outras normas técnicas. O que se segue é uma visão geral desta estrutura. Figura 1–Visão geral da NBC TA estrutura conceitual Introdução. Trata dos trabalhos de asseguração executados por auditores independentes. Descrição dos trabalhos de asseguração. Descreve os trabalhos de asseguração e distingue o trabalho direto em relação ao trabalho de atestação, assim como o trabalho de asseguração razoável e o trabalho de asseguração limitada. 41 Abrangência da estrutura conceitual. Distingue trabalhos de asseguração de outros trabalhos, como, por exemplo, trabalhos de consultoria. Precondições para trabalho de asseguração. Estabelece precondições para que o auditor independente aceite trabalho de asseguração. Elementos de trabalho de asseguração. Identifica e discute os cinco elementos presentes em trabalhos de asseguração: o relacionamento entre três partes, o objeto, os critérios, as evidências e o relatório de asseguração. Explica, adicionalmente, as distinções importantes entre trabalhos de asseguração razoável e trabalhos de asseguração limitada. Esta seção também discute, por exemplo, a variação significativa no objeto dos trabalhos de asseguração, as características requeridas dos critérios adequados, a função do risco e da relevância nos trabalhos de asseguração e como as conclusões são expressas em trabalhos de asseguração razoável e trabalhos de asseguração limitada. Outros assuntos. Esta parte discute as responsabilidades de outras comunicações do auditor independente que não estejam relacionadas com seu relatório de asseguração, a documentação e as implicações da associação do auditor com o objeto ou com a informação do objeto. Fonte: adaptado de Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (2021, [s. p.]). 42 • Descrição dos trabalhos de asseguração: É o trabalho no qual o auditor busca evidências apropriadas e suficientes para expressar sua conclusão, de forma a aumentar o nível de confiança dos usuários previstos sobre o resultado da mensuração ou avaliação do objeto, de acordo com os critérios que sejam aplicáveis. • Abrangência e estrutura conceitual: Nem todos os trabalhos dos auditores são considerados trabalhos de asseguração e não são abrangidos por esta estrutura e incluem: trabalhos abrangidos pelas Normas de Serviços Correlatos (NBCs TSC, tais como procedimentos previamente acordados e trabalhos de compilação); elaboração de declarações de imposto de renda em que nenhuma conclusão de asseguração é expressa; trabalhos de consultoria (ou assessoria), tais como gerenciamento e consultorias tributárias Pré-condição para trabalho de asseguração: As seguintes precondições para trabalho de asseguração são relevantes para aceitação e continuidade: a. As funções e as responsabilidades das partes apropriadas (ou seja, parte responsável, mensurador ou avaliador e contratante, conforme apropriado) são adequadas às circunstâncias. b. O trabalho apresenta todas as seguintes características: • O objeto é apropriado. • Os critérios que o auditor independente espera que sejam aplicados, na elaboração da informação do objeto, são apropriados às circunstâncias do trabalho e estarão disponíveis aos usuários previstos. 43 • O auditor independente espera ser capaz de obter a evidência necessária para fundamentar sua conclusão. • A conclusão do auditor independente, na forma apropriada tanto para o trabalho de asseguração razoável quanto para o trabalho de asseguração limitada, será incluída no relatório. • Um propósito racional incluindo, no caso de trabalho de asseguração limitada, que o auditor independente espera ser capaz de obter nível apropriado de segurança. Elementos de trabalho de asseguração: Os seguintes elementos do trabalho de asseguração são discutidos nesta parte: • Relação de três partes envolvendo o auditor independente, a parte responsável e os usuários previstos. • Objeto apropriado. • Critérios aplicáveis. • Evidências apropriadas e suficientes. • Relatório de asseguração escrito no formato apropriado ao trabalho de asseguração razoável ou de asseguração limitada. Vale a pena o estudo sobre esta estrutura e sobre todas as NBC TA que compõem o assunto para que o auditor possa entregar o trabalho de forma segura e eficiente. 44 2. As fraudes no contexto da organização Algum funcionário levou vantagem na hora de decidir qual o fornecedor deveria contratar? Trouxe uma nota de reembolso maior do que o realmente gasto? Alterou registros contábeis para trazer um resultado satisfatório? Em caso afirmativo, temos aí descritas algumas ações fraudulentas que acontecem nas organizações. Fraudes são atos cometidos pelos funcionários de organizações privadas ou servidores públicos que, intencionalmente, subtraem, diminuem seus ativos com obtenção de alguma vantagem injusta ou ilegal. Podem ser caracterizadas desde omissão e/ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registros, relatórios, demonstrações contábeis, de forma física, documental ou mesmo eletrônica (fraudes digitais). O Instituto dos Auditores Internos do Brasil – IAA Brasil menciona fraude como qualquer ato ou omissão com intenção de enganar outros, sendo a vítima como parte que perde e o fraudador como a parte que ganha. E ainda, menciona que a corrupção também pode ser enquadrada como fraude. E o erro? É a mesma coisa que fraude? Não. Existe uma diferença fundamental, que caracteriza erro de fraude, que é a não intencionalidade. Quando se erra, não se tem a intenção. Quanto se frauda, se tem aintenção de fazê-lo. O erro pode acontecer por falta de capacitação do funcionário para a tarefa, por falta de controles internos eficazes, má interpretação de fatos na elaboração de registros/relatórios, demonstrações contábeis, informações etc. 2.1 Características das Fraudes Tanto o erro quanto a fraude pode ser cometido por qualquer um da força de trabalho (incluindo terceirizados) em qualquer nível da 45 organização, sendo possível de aplicação em diferentes níveis de criticidade. A existência de ocorrências de erros e fraudes numa organização dependerá do modo como a empresa estabelece os seus controles internos e estrutura o modelo de monitoramento e prevenção dessas situações. Pode começar pequeno, pontualmente de forma individual, mas também pode ir aumentando de forma mais estruturada e contínua envolvendo um grupo de pessoas, incluindo os terceirizados. Estudos apontam que as organizações perdem, em média de 1% a 8% do faturamento devido a fraudes e desvios praticados pelos próprios funcionários e terceirizados, e ainda, tendo conluio com outras partes. Segundo IAA (2012), há três características comuns na maioria das fraudes, sendo: pressão ou incentivo, oportunidade e racionalização. Figura 2–Características comuns das fraudes Fonte: adaptada de Souza (2019, p. 184-185). 46 Os auditores devem, em sua análise, identificar as oportunidades e/ ou os meios que podem levar a fraudes, entendendo as formas e os contextos em que acontecem ou podem acontecer, prestando muita atenção aos sinais ou às tendências que podem ser indicadores de como evitar as fraudes. 2.2 Tipos de fraudes As fraudes, que são praticadas por indivíduos internos ou externos à organização, que ciente e intencionalmente pregam a vantagem não autorizada e ilegal para si, à organização ou para terceiros, que podem ser elencadas como: Apropriação indevida de ativos: É o roubo de ativos da organização que podem ser dinheiro, materiais, equipamentos e informações e, na maioria dos casos, o fraudador adultera os registros documentais ou eletrônicos. Técnica skimming: Quando há o desvio do dinheiro antes deste ser registrado nos livros e documentos (registros) da organização. Um exemplo disso seria o funcionário se apropriar do dinheiro de uma venda sem registrar a venda. Essa ação, geralmente, é possível de acontecer quanto há vulnerabilidades nos controles do processo. Desembolso: Ocorre quando o indivíduo estimula e convence a organização a emitir um pagamento por bens e serviços inexistentes, faturas superfaturadas ou faturas até mesmo pessoais. Alguns exemplos desta prática: pagamento de faturas de serviços que não foram prestados; solicitação 47 de seguro-desemprego por pessoas que não estão trabalhando; pedidos de algum benefício social a que não tenha direito. Reembolso de despesas: Essa é uma das fraudes bem comuns que se apresenta na oportunidade do indivíduo pedir o reembolso de despesas que não ocorreu ou mesmo superfaturadas. Por exemplo, despesas de refeição, de combustível, de viagens, entre outras. Folha de pagamento: É a prática de emissão de pagamentos por conta de pedidos falsos compensatórios. Este seria o caso de um empregado que solicita o pagamento de horas extras que não foram efetivamente trabalhadas, ou mesmo a inclusão de funcionários inexistentes na folha de pagamento. Informações falsas: Trata-se de geração de informações falsas a serem fornecidas a pessoas externas à organização, como, por exemplo, o envio de demonstrações financeiras fraudulentas ou outras demonstrações e relatórios que não exprimam a realidade com o intuito de obter alguma vantagem. Corrupção: Consiste em obter vantagens no mau uso do poder confiado a uma pessoa. A corrupção inclui o suborno e outros usos impróprios do poder. Geralmente, é uma fraude difícil de se evidenciar, pois há poucos ou não há registros evidentes. Os pagamentos de corrupção, geralmente, acontecem em espécie, informalmente e obviamente, não há registros. Normalmente, a descoberta da corrupção se dá por meio de denúncias ou reclamações de terceiros que podem ocorrer pelos canais de reclamações internos da organização ou outros meios externos. No senso comum, a maioria das pessoas relacionam corrupção a práticas 48 nas entidades governamentais somente. Entretanto, não se engane, esta prática está em todos os tipos de organização, infelizmente. Suborno: Sendo um tipo de corrupção, suborno consiste no ato de oferecer, dar, receber ou pedir qualquer coisa de valor para alterar um resultado. Podem ser oferecidos a funcionários estratégicos ou de liderança nas organizações. Um exemplo típico é quando um funcionário de compras aceita um valor por fora da negociação para beneficiar um fornecedor, em específico, em detrimento de um outra proposta que também seria vantajosa para a organização. Conflito de interesse: Essa situação ocorre quando um funcionário, em cargo de gestão ou alto executivo da organização, tem um interesse pessoal oculto em uma transação que afetaria negativamente os interesses da organização, dos acionistas ou até para proveito próprio. Como exemplo, temos um gerente que, propositalmente, realiza determinada ação visando prejudicar alguém dentro da organização, que supostamente seria seu adversário. Desvio de transação: Trata-se do ato de desviar para um funcionário da empresa ou para alguém externo à empresa uma transação potencialmente vantajosa ou lucrativa. Como exemplo, poderíamos ter um gerente de compras que privilegia a transação de compra de uma empresa que tem como sócio um parente seu em detrimento de outro fornecedor com proposta vantajosa para a organização. Aqui, também se caracteriza um conflito de interesses. 49 Uso indevido das informações: É a utilização não autorizada ou ilegal ou roubo de informações confidenciais, estratégicas ou registradas para beneficiar inadequadamente um indivíduo ou outra organização. A venda de cadastro de clientes caracteriza essa fraude. Outro exemplo ocorre quando alguém tem informações privilegiadas internas (insider information) e as repassa para outra no mercado de ações a fim de obter vantagens nas negociações das ações. Sonegação de impostos: É o caso de a declaração dos impostos devidos registrar a menor ou mesmo a abstenção destes valores, com o intuito de diminuição do valor do imposto devido a pagar Demonstração financeira: É quando há registros falsos de demonstrações financeiras, normalmente declarando-se ativos ou receita a maior ou passivos ou despesas a menor. Esse tipo de fraude se trata de fraudes contábeis com distorções intencionais com o intuito de confundir ou enganar a quem fará uso destas informações. Segundo Souza (2019 apud RIBEIRO; COELHO,2018), essas fraudes podem decorrer dos seguintes pontos: manipulação, falsificação (inclusive de assinatura) ou adulteração de registros contábeis ou documentos comprobatórios que serviram como referencial à elaboração de demonstrações contábeis; adulteração ou omissão intencional nas demonstrações contábeis de eventos, operações ou outras informações relevantes; aplicação incorreta intencional dos princípios contábeis relativos a valores, classificação, forma de apresentação ou divulgação, entre outros. A tipificação da fraude, muitas vezes, se confunde, pois os atos são muitos semelhantes, como, por exemplo, a corrupção e suborno, 50 o desvio de transação e conflito de interesse. Independente de sua tipificação, a fraude é um crime! 2.3 Prevenção de fraudes Segundo pesquisa da auditoria independente KPMG, realizada em 114 países, dos atos mais comuns de fraude, o que está no topo é a corrupção, que representou 35% dos casos e que gerou os maiores prejuízos às organizações. Figura 3–Ranking dos atos de fraude mais praticados Atos praticados. % Corrupção. 35 Desvio de materiais e mercadorias. 19 Reembolso de despesas. 14 Alterações contábeis. 10 Adulteração de boletos. 11 Inclusãoindevida de eventos ou pessoas. 09 Outros. 02 Fonte: adaptado de Hamilton (2019, p.190). As fraudes podem ocorrer em diversos níveis de uma organização e independe do nível de maturidade que esta empresa tenha em relação à prevenção de fraudes, pois sempre haverá pessoas motivadas e com intenção de cometer esses desvios, seja individualmente ou em parceria com outras pessoas. 51 Assim, a principal responsabilidade pela prevenção e detecção da fraude pertence aos responsáveis pela governança da organização e pelos seus gestores. A organização pode escolher trabalhar com a prevenção de fraudes, estabelecendo políticas e procedimentos, de capacitação das pessoas, da comunicação e engajamento de todos em relação às atividades fraudulentas. Também pode escolher em trabalhar a questão da detecção de fraudes e isso dependerá do custo e do nível de risco em que a organização esteja exposta. Se o custo para desenvolver, implementar e manter as ações de detecção sejam maiores que o custo das consequências estimadas (risco) ,talvez não seja viável esta ação, ou a organização pode implementar as duas estratégias simultaneamente, a prevenção e a detecção das fraudes. Ainda como medidas de prevenção de fraudes, cabe sinalizar que os gestores têm a responsabilidade de mitigar esses riscos com algumas ações, como: • Controles internos eficazes e eficientes, com limites de autoridade, que possibilitem a segregação de funções e sejam avaliados periodicamente pela auditoria interna. • Estabelecer um processo de gerenciamento de riscos corporativos que possibilite a avaliação periódica do risco de fraude na organização. • Implementação de Código de Ética como elemento de desenvolvimento de cultura organizacional. • Canais de denúncias que podem ser utilizados pelos funcionários, fornecedores, clientes e todas as partes interessadas. 52 • Recrutamento, seleção, contratação de pessoal de acordo com o perfil desejado, quanto aos aspectos de qualificação técnica, valores e comportamentos desejados. • Capacitação na prevenção da fraude continuamente. • Monitoramento com acompanhamento proativo sistemático de detecção, que pode ser realizado pela auditoria, por tecnologias de trilha (data analytics), controles internos, entrevistas de demissão de funcionários, pesquisas proativas, entre outras. Vimos que o trabalho de auditoria que é executado pelo auditor e contratado pelas organizações tem uma estrutura própria aprovada pelo Conselho Federal de Contabilidade, que é um guia para a aplicação de todas as normas vigentes. Além disso, vimos também que, mesmo tendo um arcabouço de normas e controles, ainda assim, fraudes podem ocorrer nas organizações. O importante é que o auditor sempre esteja atualizado em relação às normas, conceitos e critérios e que esteja sempre se desenvolvendo, adquirindo conhecimentos, para atuar de forma eficiente e contribuir para o sucesso das organizações. Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: abordagem moderna e completa. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TA – de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica. Disponível em: https://cfc.org.br/tecnica/ normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/. Acesso em: 20 abril 2021. CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DE GOIÁS (CRCGO). Disponível em: https://www.crcgo.org.br/novo/wp-content/uploads/2015/11/ NBCTAESTRUTURACONCEITUAL.pdf. Acesso em 20 abril 2021. https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/ https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/ 53 INSTITUTO DOS AUDITORES INTERNOS DO BRASIL (IIA BRASIL). Disponível em: https://iiabrasil.org.br/. Acesso em: 20 abril 2021. SOUZA, Hamilton Edson Lopes de. Auditoria interna: guia básico para formação de auditores. 1. ed. Curitiba, PR: Clube de Autores, 2019. 54 Metodologias de Auditoria e Papéis de Trabalho: conceitos e definições Autoria: Veruska Evanir Pereira Leitura crítica: Israel Horácio Almeida Silva Objetivos • Apresentar um modelo de estrutura com a metodologia de emprego de Auditoria. • Elencar as principais etapas do trabalho de auditoria, desde sua concepção até o fim do processo. • Descrever os objetivos e características dos papéis de trabalho de auditoria. 55 1. Metodologias de emprego da auditoria As auditorias, tanto interna quanto externa, são instrumentos de avaliação e controle nas organizações e podem ocorrer em várias especialidades, como: auditoria de custos, auditoria fiscal, auditoria gerencial, auditoria interna, auditoria interna de compliance, auditoria interna de bens patrimoniais, auditoria interna de estoque, auditoria operacional, entre outras. Embora cada uma delas tenha sua especificidade de tema, as metodologias, ou seja, os caminhos para uma boa auditoria seguem praticamente o mesmo rito. Cabe relembrar o conceito de auditoria interna, segundo o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (2021): A auditoria interna é uma atividade independente e objetiva de avaliação e consultoria, criada para agregar valor e melhorar as operações de uma organização. Ela auxilia a organização a atingir seus objetivos a partir da aplicação de uma abordagem sistemática e disciplinada à avaliação e melhoria da eficácia dos processos de gerenciamento de riscos, controle e governança. Verificamos dois pontos importantes, sendo a questão do processo sistemático e disciplinado de avaliação que é a indicação de metodologia de auditoria e a questão do gerenciamento de riscos, que, embora muitos pensem ser uma novidade de gestão, não é. Gerenciamento de riscos esteve desde o início na pauta de auditorias. A metodologia de auditoria pode ser dividida em duas fases principais, que demonstraremos a seguir: o plano de auditoria e o planejamento; e execução da auditoria. 56 1.1 Plano de auditoria O plano de auditoria ou plano de trabalho de auditoria deve ser o primeiro documento a ser elaborado contendo as principais informações para que as auditorias aconteçam. Deve conter a periodicidade (ciclos) e, geralmente, é um período de doze meses, mas pode ocorrer em períodos menores, conforme a gestão da organização decida aplicar. O plano deve conter quais serão os processos, atividades, programas que serão avaliados quanto às suas conformidades ou desempenho, baseado em uma visão de riscos, ou seja, naqueles que oferecem maior risco de não atingir os objetivos estratégicos da organização. Sabemos que uma auditoria será sempre por amostragem e nunca cobrirá cem por cento do assunto, pois os recursos são, muitas vezes, limitados pelas horas disponíveis e pelo orçamento destinado à atividade. Por isso, precisa ser muito bem planejado para atingir o máximo de sua utilidade. 1.2 Planejamento e execução de auditoria O planejamento do trabalho pode ser dividido em três etapas: 1. Elaboração da declaração de planejamento: neste documento são descritos os objetivos e o escopo de auditoria, ou seja, quais serão as metas a serem alcançadas dentro do limite de atuação dos processos. Responda às perguntas: o que auditaremos? Quais hipóteses serão questionadas? Também será determinada a equipe de auditoria, bem como se haverá necessidade de agregar especialistas além de orçar orçados os custos envolvidos com o trabalho e, por fim, a coleta de todas as informações disponíveis sobre o objeto na organização. 2. Compreensão do objeto sob avaliação: nesta etapa, é importante que se obtenha informações por meio de entrevistas 57 e que sejam formalizadas por meio de narrativas ou de forma gráfica ou por meios de fluxogramas. Adicionalmente, é neste momento que deve se construir duas matrizes: Figura 1–Matrizes de compreensão do objeto de avaliação Fonte: elaborada pela autora. 3. Desenvolvimento do programa de trabalho de auditoria Baseadas nas matrizes de risco e controle interno, são definidosos procedimentos, técnicas e testes de auditoria que serão aplicados para a obtenção das evidências necessárias para a verificação de controles e conformidades. Execução ou trabalho de campo Essa fase se caracteriza pela aplicação em campo dos procedimentos e técnicas de auditoria que foram definidos no programa de trabalho de auditoria (ou programa de auditoria), para obter e formalizar as evidências necessárias para que possamos atingir os objetivos de auditoria pré-definidos na declaração do planejamento (memorando de trabalho de auditoria). Por fim, é elaborada a matriz de achados. 58 Figura 2–Esquema de execução de trabalho de campo Fonte: elaborada pela autora. 1.3.1 Comunicação dos resultados Uma vez finalizada a execução, é o momento de prosseguirmos pela nova etapa, que é a de comunicação dos resultados. Essa fase é muito importante e compreende habilidades fundamentais, como saber escrever bem e conseguir traduzir todos os achados de forma que qualquer pessoa possa entender os resultados da execução seguindo um caminho lógico e de fácil compreensão. Os resultados serão organizados e registrados no relatório de auditoria,divididos em três partes fundamentais: Parecer de auditoria: é o documento no qual o auditor expressa sua opinião, de forma clara, objetiva e assertiva, sobre as demonstrações contábeis ou outras demonstrações objetivadas no escopo, quanto ao adequado atendimento, ou não, de todos os pontos relevantes dos temas analisados. 59 Sumário executivo: nessa parte do documento se constrói a narrativa sobre o planejamento, a execução e os achados (conformidades e não conformidades) de forma clara e muito objetiva. Recomendações para melhoria: depois de relatadas todas as etapas, os achados importantes e suas conclusões, é chegado o momento, então, do auditor sugerir suas recomendações de melhoria, se houver. O ideal seria que, após emitido o relatório de ruditoria, fosse traçado um plano de ação junto aos gestores para a mitigação das não conformidades ou a implementação das oportunidades de melhoria apontadas. Uma auditoria só poderia ser considerada finalizada depois que todos os planos de ação previamente acordados, estivessem finalizados. Entretanto, esta não é uma realidade em todas as organizações. Muitas auditorias não geram planos de ação ou geram planos de ação deficitários, ocasionando logo de largada, uma nova não conformidade na auditoria posterior. O plano de ação e sua implementação é onde, de fato, os resultados advindos do trabalho de auditoria são concretizados. Pense nisso! 2. Papéis de trabalho De acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas, o auditor deve obter elementos comprobatórios suficientes (evidências) com o propósito de apoiar seu parecer sobre as demonstrações auditadas/ examinadas, como, por exemplo, descreve a NBC T 11 – Normas de Auditoria Independente das demonstrações contábeis: 11.1.3 – PAPÉIS DE TRABALHO. 60 11.1.3.1 – Os papéis de trabalho são o conjunto de documentos e apontamentos com informações e provas coligidas pelo auditor, preparados de forma manual, por meios eletrônicos ou por outros meios, que constituem a evidência do trabalho executado e o fundamento de sua opinião. 11.1.3.2 – Os papéis de trabalho são de propriedade exclusiva do auditor, responsável por sua guarda e sigilo. Assim, os auditores elaboram seus papéis de trabalho, que deverão conter todos os registros das evidências (por meio de observação, inspeção, indagação, investigação, testes, entrevistas etc.) ao longo da auditoria. Esses registros podem ser feitos manualmente ou de forma eletrônica. Segundo Almeida (2019), os principais objetivos dos papéis de trabalho de auditoria são: • Atender às normas de auditoria geralmente aceitas. • Acumular as provas necessárias para suportar o parecer do auditor. • Auxiliar o auditor durante a execução de seu trabalho. • Facilitar a revisão por parte do auditor responsável, para que se assegure de que o serviço foi efetuado de forma correta. • Servir como base para avaliação dos auditores. • Ajudar no trabalho da próxima auditoria (um conjunto de papéis de trabalho bem preparados serve de guia na auditoria do outro exercício social, concorrendo para que seja conduzida de forma mais eficiente). 61 • Representar na Justiça (no caso de ser movida uma ação contra o auditor ou a firma de auditoria) as evidências do trabalho executado. Um aspecto interessante é a característica de cada auditor em relação aos papéis de trabalho que podem revelar seus diferentes níveis de conhecimento específicos, bom senso, imaginação, capacidade de comunicação (clareza, objetividade e organização). Portanto, há de se insistir na capacitação e desenvolvimento constante de conhecimentos, habilidades e atitudes na formação dos auditores e, em especial, na confecção de seus papéis de trabalho. Para que o auditor prepare um papel de trabalho de máxima utilidade, segundo Motta (1988), deve: • Fazer trabalho completo sobre os dados necessários. • Organizar e arquivar os papéis de maneira que seja facilitada a referenciação dos mesmos para uma rápida identificação por aqueles que necessitem (diretores, gerentes, supervisores de auditoria). Podemos afirmar que papéis de trabalho completos são aqueles que refletem fidedignamente todos os dados e informações que foram observadas dos documentos, registros, entre outros, em conjunto com os métodos e técnicas de verificação aplicados e todas as outras evidências necessárias para a construção do relatório de auditoria. Ao registrar seus papéis de trabalho, o auditor deve pensar adiante. Deve pensar sistemicamente e imaginar quais serão os problemas substanciais a serem relatados posteriormente e, então, fazer anotações em seus papéis que colaborem para o entendimento e facilitação de referenciamento dos fatos sumarizados no relatório de auditoria. Tudo deve estar devidamente explicado. 62 Assim, não se deve limitar a receber apenas informações quantitativas, mas devem ser incluídas tantas notas e explicações suficientes que indiquem claramente o caminho feito pelo auditor, suas motivações para aplicar e seguir certos procedimentos, suas opiniões sobre os dados avaliados, a adequação dos controles internos e a competência dos profissionais responsáveis pelas operações ou registros sob revisão. De fato, é um trabalho muito meticuloso. 2.1 Tipos de papéis de trabalho O programa de auditoria é um tipo de papel de trabalho. Geralmente, as empresas de auditoria têm um formulário padrão a serem preenchidos pelos auditores, abarcando as mais diversas demonstrações financeiras, o que facilita muito o trabalho do auditor. Sendo assim, a depender do nível de complexidade da empresa auditada, é possível que haja procedimentos no programa de auditoria que não sejam aplicáveis (e aí deve haver a menção de não aplicável) ou outros procedimentos de auditoria que não estejam descritos, devam ser aplicados em circunstâncias particulares. 63 Figura 3–Esboço gráfico de um programa de auditoria Fonte: Almeida (2019, p.83). Existem outros tipos de papéis de trabalho como cartas de confirmação de terceiros (contas correntes bancárias; aplicações financeiras; contas a receber; estoques, investimentos e imobilizados em poder de terceiros; seguros; fornecedores a pagar; empréstimos a pagar; advogados) e cópias de documentos importantes (estatuto social; contratos; manuais de procedimentos internos; atas de reuniões de acionistas, conselhos de administração, conselhos fiscais e diretora, carta de representação da administração). 2.2 Cuidados e técnicas na preparação dos papéis de trabalho Motta (1988) e Almeida (2019) fazem a indicação de alguns cuidados fundamentais para a preparação dos papéis de trabalho, a fim de que estes cumpram seus objetivos de forma útil e eficiente, como segue: 64 Figura 4 – Quadro de cuidados e técnicas de preparação dos papéis de trabalho Cada papeldeve ser devidamente identificado, e o cabeçalho deve incluir identificação, como, por exemplo, o nome da empresa (ou área auditada), descrição da informação apresentada e período coberto pela auditoria. Papéis separados devem ser usados para cada tópico. Qualquer informação de valor significativo para inclusão nos papéis de trabalho merece uma folha com cabeçalho descritivo. Somente um lado da folha é usado. Cada papel de trabalho deve ser identificado com o nome ou iniciais de quem o preparou e revisou. Identificação completa e específica das contas analisadas, empregados entrevistados e documentos examinados. Todos os papéis de trabalho devem ser referenciados (codificados) em relação ao papel de trabalho das demonstrações verificadas. A fonte de dado apresentado em cada papel de trabalho deve ser claramente identificada. A extensão e o escopo de teste devem ser claramente indicados em cada fase da auditoria em que este procedimento é explicado. Papéis de trabalho devem ser guardados a qualquer tempo. A fim de evitar explicações adicionais, é de grande utilidade o uso de marcas coloridas (desenhos/ tiques/ marcas) na identificação e evidenciação de procedimentos seguidos na preparação de papéis de trabalho. 65 No caso de registros eletrônicos, cuidado especial em concatenar planilhas e guias. Recomenda-se que os papéis de trabalho manuais sejam registrados inicialmente à lápis e que, se houver necessidade de alteração durante a auditoria, o processo de revisão seja facilitado. O auditor também pode utilizar notas para dar explicações pertinentes dos papéis de trabalho. Os registros nos papéis de trabalho devem ser apenas os necessários, com redação clara e sucinta. Fonte: adaptado pela autora de Motta (1988, p. 63) e Almeida (2019, p. 79-80). E por fim, papéis de trabalho refeitos são considerados evidência de ineficiência e planejamento inadequado. 2.3 Natureza dos papéis de trabalho Os papéis de trabalho podem se caracterizar como correntes ou permanentes. A diferença principal é que os papéis de trabalho correntes devem ser utilizados em apenas um ano social, e os permanentes além de mais de um ano social. 66 Figura 5 – Exemplos de papéis de trabalho correntes e permanentes Correntes Permanentes Caixa e bancos; contas a receber, estoques, aplicações financeiras; investimentos; imobilizado; intangível; contas a pagar; Imposto de Renda; provisões; patrimônio líquido; receitas e despesas; revisão analítica; demonstrações financeiras; questionário de controle interno. Estatuto social ou contrato social; cópias de contratos bancários de financiamentos a longo prazo; cópias de contratos de assistência técnica; cartões de assinaturas e rubricas das pessoas responsáveis pela aprovação das transações; manuais de procedimentos internos; cópias de atas de reuniões (as decisões tomadas devem abranger mais de um exercício social); legislações específicas aplicáveis à empresa auditada. Fonte: adaptadode Almeida (2019). 2.4 Revisão dos papéis de trabalho e controle físico O objetivo principal da atividade de revisão dos papéis de trabalho é garantir que o trabalho de auditoria seja executado de acordo com o planejado e, é claro, de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas. Quem realiza essa revisão? De que forma? Geralmente, tanto na auditoria externa quanto na externa, temos uma equipe de auditores e, entre eles, há uma classificação de senioridade ou maturidade. De forma genérica, segundo Almeida (2019), em uma equipe de auditoria interna, a composição é de auditores assistentes, semi seniores, sênior, gerente e sócio. O auditor assistente tem de zero a doisanos de experiência; os semis sêniores tem de dois a quatro anos 67 de experiência; o sênior de quatro a oito anos; o gerente de oito a doze anos; e o sócio acima de doze anos. A revisão dos papéis de trabalho é feita em três etapas, sendo a primeira pelo auditor sênior, a segunda pelo gerente e a terceira e última pelo sócio, considerando que a primeira e segunda revisões são feitas detalhadamente, cada papel de trabalho. A terceira revisão, que é feita pelo sócio, será de forma mais generalista. Ressaltando que todos os papéis de trabalho devem conter a rubrica ou assinatura de quem os elaborou, bem como de quem os revisou. Outro ponto importante é que as revisões sejam feitas no próprio escritório do cliente, antes da emissão do parecer. Se houver alguma inconsistência apontada no momento das revisões, o auditor revisor deve tomar notas em folhas separadas que também serão apensadas como papel de trabalho e guia para que os auditores possam readequar as informações necessárias. Já em relação a auditoria interna, também é recomendado que a equipe de auditores classifique os membros de sua equipe em relação à sua experiência, para que seja possível deliberar a respeito das funções de revisão. Isso é importante quando pensamos em uma certa hierarquia para a função de revisões. Em relação ao controle físico, cabe evidenciar a importância do resguardo da confidencialidade do cliente, bem como a proteção desses papéis de trabalho do acesso de terceiros não autorizados, pois se deve garantir que os registros não sejam alterados, resguardando as técnicas específicas desenvolvidas pela empesa de auditoria. De acordo com as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), os papéis de trabalho devem ser guardados e conservados pelo prazo de cinco anos, a partir da data 68 de publicação da ata que aprovou as demonstrações financeiras da companhia auditada. Pudemos verificar, durante esta leitura, que a atividade de auditoria, seja interna ou externa, utiliza uma metodologia desenhada para atender a todos os pontos importantes do processo do trabalho e abarcar o desenvolvimento de documentos cruciais para a eficiência deste. Um dos documentos principais elaborados são os papéis de trabalho que conterão todos os registros das evidências investigadas e servirão de base conceitual e de provas no rito do desenvolvimento total da auditoria. Portanto, temos aqui, demonstrado de certa forma, sistemicamente, a receita de um caminho eficiente para a execução de um trabalho de auditoria! Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: abordagem moderna e completa/ Marcelo Cavalcanti Almeida. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MOTTA, João Mauricio. Auditoria: princípios e técnicas. São Paulo: Atlas, 1988. SOUZA, Hamilton Edson Lopes de. Auditoria interna: guia básico para formação de auditores. 1. ed. Curitiba, PR: Clube de Autores, 2019. PORTAL DE CONTABILIDADE. Normas de Auditoria Independente das demonstrações contábeis. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com. br/nbc/t11.htm. Acesso em: 20 abril 2021. http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t11.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t11.htm 69 BONS ESTUDOS! Sumário Auditoria Interna e seus objetivos. Planejamento de Auditoria Objetivos 1. Auditoria interna nas organizações 2. Objetivos da auditoria 3. Planejamento de auditoria Referências Princípios de Controle Interno Contábil e Importância do Controle Interno Objetivos 1. Controle interno como dispositivo contábil e gerencial 2. Caracterização do sistema de controle interno 3. Princípios fundamentais dos controles contábeis Referências Estrutura conceitual para trabalhos de asseguração. Detecção e Prevenção de Fraudes Objetivos 1. Estrutura conceitual para trabalhos de asseguração 2. As fraudes no contexto da organização Referências Metodologias de Auditoria e Papéis de Trabalho: conceitos e definições Objetivos 1. Metodologias de emprego da auditoria 2. Papéis de trabalho Referências