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GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 1 SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL O sangramento uterino anormal é uma queixa muito comum na fase reprodutiva das mulheres, sendo relatado em 70% dos casos durante a perimenopausa e pós menopausa, e em 20% dos casos na adolescência. É importante observar a frequência, duração, volume e regularidade do sangramento, além de excluir possíveis causas como problemas no colo uterino, trato genital inferior e gravidez. SUA AGUDO O sangramento uterino anormal agudo afeta 49,2% dos pacientes de forma concomitante, sendo que 53% apresentaram quadros prévios que necessitaram de tratamento. Além disso, 35% dos casos manifestaram anemia, sendo que 13,7% apresentaram anemia severa. Essa condição tem um impacto significativo na qualidade de vida, afetando 2/3 das mulheres com SUA CRÔNICO O sangramento uterino anormal crônico é caracterizado por sinais e sintomas persistentes por mais de 6 meses, porém sem a necessidade de intervenção imediata. SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 2 REPERCUSSÕES AO LONGO DA VIDA Sangramento Uterino Anormal (SUA) é a denominação utilizada atualmente para nomear as alterações da menstruação decorrentes de aumento no volume, na duração ou na frequência. Tem grande importância pela sua frequência e por afetar negativamente aspectos físicos, emocionais, sexuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres CONCEITOS EM DESUSO MENORRAGIA ➢ Sangramento uterino excessivo (80 ml/ciclo) ou prolongado (7 dias). METRORRAGIA ➢ Sangramento uterino em intervalos irregulares. MENOMETRORRAGIA ➢ Sangramento prolongado ocorrendo em intervalos irregulares. OLIGOMENORREIA ➢ Sangramento uterino em intervalo superior a 35 dias. POLIMENORREIA ➢ Sangramento uterino em intervalo inferior a 24 dias. SANGRAMENTO DE ESCAPE, INTERMENSTRUAL OU SPOTTING ➢ Sangramento uterino de pequeno volume precedente ao ciclo menstrual regular. AMENORREIA ➢ Ausência de sangramento vaginal por 3 ciclos regulares ou 6 meses em ciclos irregulares. SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL (SUD) SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 3 ➢ Sangramento uterino não relacionado a causas anatómicas ou sistēmicas, sondo diagnóstico de exclusão. Sua causa principal é a anovulação. NOVA CLASSIFICAÇÃO – SUA Em 2011, a FIGO introduziu uma nova classificação chamada PALM COEIN. Essa classificação divide os distúrbios do sangramento uterino em duas categorias principais: anormalidades estruturais do útero e sem relação com anormalidades estruturais do útero. IDADE REPRODUTIVA E AUSÊNCIA DE GESTAÇÃO PALM (CAUSAS ANATÔMICAS) P – PÓLIPOS Os pólipos são estruturas epiteliais (estroma e glândulas) benignas localizadas na cavidade endometrial e colo do útero (endocervicais), podendo levar a sintomas como sangramento intermenstrual. SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 4 A – ADENOMIOSE Já a adenomiose envolve glândulas endometriais e estroma no miométrio, podendo se apresentar de forma difusa ou como adenomiomas. O diagnóstico pode ser feito por critérios de ultrassom, sendo o aumento do volume de sangramento menstrual um dos sinais indicativos. L – LEIOMIOMA O leiomioma é um tumor sólido, fibromuscular, benigno, que pode ser submucoso ou intramural e causar distorção da cavidade endometrial. MALIGNIDADE E HIPERPLASIA É mais comum durante a perimenopausa, mas raro durante a menacme. Quando associado a fatores de risco como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e exposição estrogênica, pode aumentar o risco de malignidade e hiperplasia, sendo importante estar atento a possíveis complicações como o câncer de endométrio. COIEN (CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS) C – COAGULOPATIA A coagulopatia pode afetar adolescentes com a síndrome de Von Willebrand e outras doenças como as hemofilias, doenças plaquetárias, púrpuras, hepatopatias e leucemia. SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 5 D – DISFUNÇÃO OVULATÓRIA A disfunção ovulatória pode ocorrer em diferentes momentos da vida da mulher, desde a menarca até a menopausa. Endocrinopatias como a síndrome dos ovários policísticos, tireoidiopatias, hiperprolactinemia, anorexia, obesidade, estresse e excesso de atividade física podem desencadear esse problema. Ciclos menstruais com intervalos longos e aumento de volume e quantidade de sangramento são sintomas comuns. A SOP, que afeta de 5 a 10% das mulheres em idade fértil, pode ser uma das causas dessa disfunção. COEIN (NÃO ANATÔMICAS) E – ENDOMÉTRIO As alterações metabólicas de vias moleculares como as prostaglandinas e o plasminogênio estão associadas a esse subtipo, que é primariamente endometrial. Costuma ocorrer em ciclos com intervalos normais e regulares, com aumento de volume e quantidade, podendo também estar relacionado à DIP. SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 6 I – IATROGÊNICA As causas iatrogênicas podem estar relacionadas ao uso de medicações, procedimentos médicos e também à utilização de DIU. NÃO CLASSIFICADO SUSPEITA DIAGNÓSTICA – FAIXAS ETÁRIAS ADOLESCÊNCIA ➢ Na adolescência, a principal causa de ciclos anovulatórios é a imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise, sendo importante investigar distúrbios da coagulação, como a doença de von Willebrand. MENACME ➢ Durante a menacme, a principal causa de ciclos anovulatórios é a síndrome dos ovários policísticos (SOP), e o sangramento perimenopausa está relacionado a alterações estrogênicas, que marcam a primeira fase do climatério. MENOPAUSA ➢ Na menopausa, é a principal causa de atrofia endometrial que deve ser investigada, assim como TODOS OS SANGRAMENTOS PÓS-MENOPAUSA. INVESTIGAÇÃO ANAMNESE ➢ PALM-COEIN ➢ Padrão menstrual ➢ HPP / HGO / Doenças sistêmicas e uso de fármacos EXAME FÍSICO Durante o exame físico, deve ser realizado o exame especular e toque vaginal bimanual. Além disso, é necessário se atentar a outros sinais como bócio e outros nódulos da tireoide, galactorreia, acantose nigricans, petéquias e equimoses EXAMES LABORATORIAIS ➢ Hemograma ➢ Beta HCG ➢ Outros de acordo com a suspeita diagnóstica SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 7 EXAMES DE IMAGEM Os exames, quando associados à anamnese, exame físico e exames laboratoriais, baseados no PALM-COEIN, fornecem informações completas e precisas para o diagnóstico e tratamento adequados. A ultrassonografia é essencial para a avaliação endometrial e estrutural, incluindo a detecção de pólipos, miomas e tumorações. Além disso, a histerossonografia aumenta a sensibilidade na avaliação do endométrio. Para uma avaliação mais precisa, a biópsia endometrial é considerada o PADRÃO-OURO, sendo ainda mais eficaz quando combinada com histeroscopia. A cureteragem uterina é tanto um método diagnóstico quanto terapêutico, enquanto a histeroscopia é o melhor exame para avaliar a cavidade uterina, sendo também um método diagnóstico e terapêutico. TRATAMENTO O tratamento para o sangramento uterino anormal é conservador na maioria dos casos, sendo comprovado que a utilização de hormônios possui maior eficácia. AINES ➢ Ação na vasculatura endometrial – inibem prostaglandinas – vasoconstrição ➢ Inibidores de COX-1 e COX-2 – mais utilizado ácido mefenâmico / naproxeno / ibuprofeno SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 8 ANTIFIBRINOLÍTICO ➢ Inibem ativadores de plasminogêneo ➢ Ácido tranexâmico PROGESTERONA E PROSTÁGENOS ➢ Fase lútea – coordena ciclos anovulatórios ➢ Noretisterona 5mg 3x ao dia – 5° ao 26° dia do ciclo ➢ Acetato de medroxiprogesterona– trimestral – bom controle após uso prolongado ANTICONCEPCIONAL ORAL ➢ Levam a atrofia endometrial ➢ Avaliar sempre critérios de elegibilidade ESTROGÊNIOS ➢ Para sangramentos moderados: estrogênios conjugados 1,25mg ou estradiol 2mg, 4/4 horas por 24 horas, e após 1x ao dia por 7 dias ➢ Após uso de estrogênio terapia progestagênica e sangramento por deprivação DIU COM LEVONORGESTREL ➢ Doses mínimas diárias de levonogestrel – suprime crescimento endometrial ANTIESTROGÊNICOS ➢ Danazol – atuação no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano – suprime ovulação – atrofia endometrial ➢ Efeitos adversos androgênicos ANTIPROGESTÁGENO ➢ Gestrinona (“chip de beleza”) – efeitos androgênicos AGONISTA DE GNRH ➢ Goserelina – inibição das gonodatrofinas – hipogonadismo ➢ Menopausa medicamentos ➢ SUD grave – sem prole constituída ➢ Após supressão gonadal iniciar TRH TRATAMENTO CIRÚRGICO ABLAÇÃO ENDOMETRIAL ➢ Supressão da camada basal endometrial ➢ Laser, radiofrequência, energia elétrica ou térmica ➢ Não histeroscópica – técnicas pouco utilizadas – requer biópsia endometrial prévia CURETERAGEM UTERINA ➢ Redução temporária do sangramento ➢ Tende a aumentar o sangramento nos ciclos subsequentes ➢ Não é curativa POLIPECTOMIA MIOMECTOMIA HISTERECTOMIA ➢ 50% anátomos patológicos por cx – úteros normais SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 9 ➢ Maior morbidade e mortalidade ➢ Solução definitiva – melhora da qualidade de vida RESUMO O sangramento uterino anormal é um problema de saúde feminino frequente sendo classificado pela FIGO como PALM - COEIN. O diagnóstico geralmente requer uma anamnese cuidadosa e exame físico, com exames complementares muitas vezes necessários. O tratamento agudo envolve resgate volêmico para manter a estabilidade hemodinâmica. Para o tratamento da SUA crônico, é essencial investigar a causa. O tratamento medicamentoso frequentemente controla os sinais e sintomas da SUA, mas o tratamento cirúrgico deve ser considerado com cuidado. OPÇÕES E EFICÁCIA MEDICAMENTOSA NO TRATAMENTO DA SUA SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL GINECOLOGIA GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA - TXXII 10 CASO CLÍNICO S.M.R, 47 anos, procura pronto atendimento ginecológico por sangramento menstrual exacerbado há 3 dias. Refere que há 1 ano vem apresentando alteração do seu ciclo, com 2 menstruações por mês, fluxo moderado, de duração 5 dias. Relata apresentar mal estar, cefaleia e tonturas durante os dias de sangramento. Associado a alteração de sangramento vem apresentando episódios de insônia, e sente-se mais aérea, com percepção de perda de memória MAC: Laqueadura tubária bilateral há 10 anos G4Pn2PC2A0 / Acompanhamento ginecológico anual sem alterações Prática AP 3x na semana Considera sua alimentação saudável IMC 22,6 Nega comorbidades Nega uso de medicações Nega tabagismo e etilismo Nega hx familiar de Ca / Dça CV