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Prévia do material em texto

2013
Cultura e SoCiedade na 
Modernidade
Profª. Graciela Márcia Fochi
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Profª. Graciela Márcia Fochi
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
306
F652c Fochi, Graciela Márcia
 Cultura e socidade na modernidade / Graciela Márcia Fochi. 
Indaial : Uniasselvi, 2013.
 
 198 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830-828-5
 1. Sociedade. 2. Cultura.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
III
apreSentação
Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina Cultura e 
Sociedade na Modernidade.
Estudar “Cultura e Sociedade na Modernidade” significa 
compreender um dos contextos e momentos mais complexos da história da 
humanidade. Foi o tempo quando foram colocadas em curso às mudanças e 
transformações responsáveis pela construção da sociedade contemporânea, 
ou seja, o momento histórico em que vivemos.
Para facilitar os estudos definiu-se a seguinte distribuição de temas:
Na Unidade 1 serão abordados os conceitos fundamentais de 
modernidade; posteriormente procura-se definir o período histórico no 
qual esta transcorreu; num terceiro momento reconstitui-se o contexto 
sociocultural em que a mesma ocorreu; por fim relacionam-se as principais 
técnicas, invenções e tecnologias que colaboraram para que a modernidade 
se instalasse e expandisse no interior da sociedade.
Na Unidade 2 será tratado como a modernidade foi recebida desde 
os modos e hábitos do cotidiano como nos espaços públicos e de convivência 
social; tendo em vista compreender como o meio urbano e industrial 
modificaram os comportamentos da população. Em seguida será analisado 
como a produção cultural da época acompanhou e se posicionou diante dos 
projetos de modernização; e por fim como se deu e transcorreu a experiência 
brasileira de modernidade.
A Unidade 3 apresenta reflexões sobre os custos e ganhos que a 
modernidade conferiu à sociedade, à cultura, às ciências, à economia e à 
política; bem como as expectativas de modernidade que ainda persistem e 
as possibilidades que ainda se encontram em aberto e por serem realizadas.
 
Caro(a) acadêmico(a)! Os conteúdos e temas de “sociedade e cultura 
da modernidade” fazem sentido se compreendidos num quadro maior de 
fatos, acontecimentos e movimentos históricos.
Para compor este quadro, vamos revisitar os conhecimentos que 
você já possui sobre a Idade Média, o Renascimento, a era das grandes 
navegações, a exploração e conquista das novas terras, a Revolução Francesa 
e Industrial, o Iluminismo, a independência dos Estados Unidos da América, 
as unificações dos países da Itália e da Alemanha, a prática do imperialismo 
em países africanos, chineses e indianos, entre outros.
 
IV
Portanto, iremos estudar o processo histórico que foi marcado pela 
substituição da produção artesanal e manual pela industrial; da migração da 
população do campo rumo às cidades, pelo enfraquecimento das explicações 
religiosas e o avanço das ideias racionais e científicas no interior da sociedade, 
e a diminuição/separação da presença da Igreja na composição do Estado/
governo. 
Estes processos ocorreram de forma mais acentuada no século XIX 
e nos países do continente europeu, e se estenderam em vários âmbitos da 
sociedade. O sentido que os homens e as mulheres modernas adquiriram e 
atribuíram a si mesmos, à sociedade e à cultura de seu tempo será a nossa 
maior preocupação a partir de agora. 
É necessário também mencionar que os conteúdos, temas, referências, 
abordagens que serão elencadas ao longo deste Caderno de Estudos, 
procuraram contemplar a ementa da disciplina, mas que também dizem 
respeito às escolhas e opções que são consideradas como fundamentais e 
relevantes ao estudo e reflexão do tema em questão. 
Este material também pode ser compreendido como um roteiro de 
estudos inicial, introdutório; outros olhares e abordagens podem e devem 
ser feitos, pois está longe de ser suficiente ou capaz de esgotar o tema e a 
discussão.
Desde já fazemos votos de uma provocativa jornada de estudos e 
reflexões pela frente!
Atenciosamente,
Profª. Graciela Márcia Fochi
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os 
seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que 
possuem o código QR Code, que é um código que 
permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
SuMário
UNIDADE 1 – CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE ...................................... 1
TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE 
 E CULTURA .................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 O QUE É MODERNIDADE? ........................................................................................................... 4
3 O QUE É CULTURA? ........................................................................................................................ 8
4 O QUE É SOCIEDADE? ................................................................................................................... 9
4.1 SOCIEDADE PRÉ-MODERNA OU FEUDAL................................................................ 10
4.2 A LENTA DESAGREGAÇÃO DO MUNDO FEUDAL ............................................... 12
5 DEBATE HISTORIOGRÁFICO SOBRE A CRONOLOGIA DA MODERNIDADE ........... 15
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19
TÓPICO 2 – OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE .......................................................... 21
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21
2 A NOVA CONCEPÇÃO DE TRABALHO ....................................................................................21
3 TROVADORISMO ............................................................................................................................ 22
4 A PRENSA DE TIPOS MÓVEIS ..................................................................................................... 25
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ......................................................................................................... 28
5 NOÇÕES DE TEMPO E ESPAÇO .................................................................................................. 29
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ......................................................................................................... 29
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 33
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 34
TÓPICO 3 – CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS 
 TÉCNICAS E DOS OBJETOS ..................................................................................... 35
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35
1.1 NO MEIO RURAL .................................................................................................................... 36
1.2 NOS ESPAÇOS URBANOS ................................................................................................... 36
2 COLONIALISMO E O DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA ................................... 38
2.1 O NOVO MUNDO ................................................................................................................... 39
3 A MANUFATURA ............................................................................................................................. 40
4 A SOCIEDADE OCIDENTAL DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL........................................... 41
4.1 NO PRINCÍPIO ERA O VAPOR: AS MÁQUINAS DA REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL INGLESA ...................................................................................................... 43
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ......................................................................................................... 45
4.2 O TEAR MECÂNICO .............................................................................................................. 47
4.3 AS MÁQUINAS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: ENERGIA 
ELÉTRICA E TELÉGRAFO ................................................................................................... 49
4.4 O TELEFONE ............................................................................................................................. 52
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ......................................................................................................... 53
LEITURA COMPLEMENTAR 3 ......................................................................................................... 54
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 57
VIII
UNIDADE 2 – A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE .................................................................... 59
TÓPICO 1 – A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE ................................................................ 61
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61
2 NA CIDADE: URBANIZAÇÃO, VIGILÂNCIA E HIGIENIZAÇÃO DOS ESPAÇOS ....... 62
2.1 LONDRES .................................................................................................................................... 66
2.2 PARIS ............................................................................................................................................ 70
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 75
3 DO COLETIVO AO PRIVADO....................................................................................................... 77
4 AS PERFORMANCES DO FEMININO E DO MASCULINO ................................................... 83
4.1 O FEMININO ............................................................................................................................. 83
4.2 O MASCULINO ........................................................................................................................ 87
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 90
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 92
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93
TÓPICO 2 – OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS ................................................ 95
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95
2 O MOVIMENTO DO ROMANTISMO ........................................................................................ 96
3 O DISCURSO CIENTÍFICO E O DISCURSO LITERÁRIO ..................................................... 97
4 A MÚSICA NA MODERNIDADE ................................................................................................. 103
5 A ARQUITETURA MODERNA...................................................................................................... 105
6 NAS ARTES PLÁSTICAS ................................................................................................................ 107
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 111
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 112
TÓPICO 3 – A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE ........................................ 113
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 113
2 A ESTADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA NO BRASIL ............................................... 114
3 A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA ............................................................................................ 114
4 A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA ............................................................................................... 116
5 A FORMAÇÃO DAS METRÓPOLES ........................................................................................... 117
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 126
UNIDADE 3 – VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE ........................................................ 127
TÓPICO 1 – CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE .................................... 129
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 129
2 NA POLÍTICA E NA ECONOMIA ................................................................................................ 129
3 NA CIÊNCIA ...................................................................................................................................... 132
4 NA SOCIEDADE E NA CULTURA ...............................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 138
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 139
TÓPICO 2 – OS CUSTOS DA MODERNIDADE .......................................................................... 141
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 141
2 NA ECONOMIA E NA POLÍTICA ................................................................................................ 142
3 NAS RELAÇÕES HUMANAS E NA CULTURA ........................................................................ 146
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 149
4 NA CIÊNCIA E NO MEIO AMBIENTE ........................................................................................ 152
IX
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 161
TÓPICO 3 – TEMPOS CONTEMPORÂNEOS ............................................................................... 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 163
2 O MAL-ESTAR DA HUMANIDADE ............................................................................................ 164
3 A FRAGMENTAÇÃO DO COLETIVO ......................................................................................... 166
4 PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E SENTIDOS .................................................................. 168
4.1 NO CAMPO DA CIÊNCIA .................................................................................................... 168
4.2 NOS ESPAÇOS URBANOS ................................................................................................... 170
4.3 NO CAMPO DAS TECNOLOGIAS ................................................................................... 171
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 175
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 179
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 181
TÓPICO 4 – ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E SOCIEDADE 
 NA MODERNIDADE ................................................................................................... 183
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 183
2 SUGESTÕES DIDÁTICAS .............................................................................................................. 184
2.1 ABORDAGEM CONCEITUAL ........................................................................................... 184
2.2 EXPOSIÇÃO DE OBJETOS ANTIGOS ............................................................................. 184
2.3 HISTÓRIA LOCAL E REGIONAL ..................................................................................... 184
2.4 TEXTOS PARADIDÁTICOS ................................................................................................. 185
3 MODERNIDADE: A ÉPOCA DAS IMAGENS .......................................................................... 186
3.1 O USO DE FILMES/DOCUMENTÁRIOS ....................................................................... 187
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 190
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 191
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 193
X
1
UNIDADE 1
CONCEITOS E CONTEXTOS DA 
MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• apresentar os principais conceitos que tratam da cultura e da sociedade ao 
longo da modernidade;
• definir os acordos cronológicos que delimitam o momento de início, de-
senvolvimento e declínio da modernidade;
• estudar aspectos e fatores representam os antecedentes favoráveis à reali-
zação da modernidade;
• estudar as mudanças e as transformações que a modernidade atribuiu aos 
contextos e grupos sociais e culturais;
• abordar os movimentos, as estruturas e as técnicas que colaboraram na 
realização dos projetos de modernidade.
Os objetivos de aprendizagem se encontram distribuídos em três tópicos. Ao 
longo da discussão dos temas nos interior dos tópicos, serão relacionadas 
sugestões de materiais alternativos que contemplam os conteúdos estudados. 
No final de cada tópico, estão relacionadas autoatividades que visam à 
fixação e a compreensão dos conteúdos estudados.
TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: CULTURA, SOCIEDADE, 
MODERNIDADE
TÓPICO 2 – ANTECEDENTES DA MODERNIDADE: TROVADORISMO, 
TRABALHO E PRENSA
TÓPICO 3 – CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA 
DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
Assista ao vídeo 
desta unidade.
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, 
SOCIEDADE E CULTURA
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Antes de tudo, vamos iniciar uma discussão que é 
recorrente em nossa época sobre a noção de ‘moderno’. 
Na maioria das vezes encontram-se concepções que definem o momento 
presente como ‘moderno’ reconhecendo-o como dinâmico, arrojado e sofisticado; e, 
em contrapartida, encontram-se noções depreciativas para o que é passado ou de 
outras épocas, identificando-o como ingênuo e ultrapassado. Estas duas concepções 
não procuram compreender o que é ‘moderno’, logo atribuem juízo de valor, ou seja, 
fazem julgamentos de bom e mau, sendo que a primeira supervaloriza o momento 
presente como bom, e a segunda deprecia o passado como mau.
Aqui já se faz necessário que o senso crítico/reflexivo do professor de 
História esteja atento, no sentido que se reconheça as tecnologias e equipamentos 
do presente como realizações e possíveis a partir das experiências do passado. 
Outro aspecto a ser levado em consideração também é o da velocidade 
quando ocorrem as mudanças e transformações em nossa época. Estas serão 
responsáveis por, em pouco tempo, tornar o que existe neste exato momento de 
‘novo’ em ‘antigo’, ultrapassado, superado.
Então se apresenta a provocação de que nós, mulheres e homens nascidos no 
século XX e/ou XXI, não somos os últimos e também não somos os que experimentam 
os tempos mais modernos possíveis de serem vividos. A humanidade é sempre 
surpreendida com o novo, outras invenções, de maiores aperfeiçoamentos, seguem 
por tempo indeterminado nesta trajetória. Imagine a surpresa que uma invenção 
como a imprensa causou aos homens e mulheres do século XV. Ou mesmo, o 
esplendor e expectativa do rádio ao tempo dos nossos avós? A TV colorida para os 
nossos pais, ou a internet e o telefone celular em nossos dias?
 
Diante disto chama-se atenção que a função dos profissionais da história, 
que é a despertar para outra consciência histórica, que discute as noções de 
“moderno” e “antigo” são indispensáveis à melhoria e superação das condições da 
sobrevivência do presente, que deve evitar julgamentos de qual destes conceitos 
ou momentos é o mais adequado ou conveniente. O tempo seguirá seu curso, 
somos meros mortais e não nos manteremos a salvo e ilesos neste processo, que é 
cada vez mais a técnicoe por causa da tendem estar mais presentes.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
4
2 O QUE É MODERNIDADE?
Feita esta ressalva inicial pode-se avançar no sentido de analisar os 
principais conceitos e marcos cronológicos que a modernidade reúne e conferir 
a importância e a especificidade desta época, bem como as fronteiras diante de 
outras épocas e momentos históricos. 
Mas se antecipa que se trata de fronteiras volúveis e conceitos um 
tanto imprecisos, por outro lado, reúnem também formulações contraditórias, 
ambiguidades e dualidades. Especialmente quando se admite que existam 
experiências de modernidade nas mais diversas sociedades e épocas históricas, 
mas que não receberam atenção que foi dada à experiência europeia.
Diante deste quadro de complexidades, procura-se arrolar algumas 
formulações ao conceito de ‘modernidade’, pois este processo é perpassado por 
uma superposição “desordenada” e simultânea de transformações, mudanças, 
rupturas e/ou permanências que parecem seguir uma a outra numa sequência 
extremamente veloz; que se cruzam, chocam e seguem novamente seus caminhos, 
e que por sua vez provocam efeitos e interferem nas estruturas existentes no 
interior da cultura e na sociedade.
Na tentativa de relacionar a abrangência e a dimensão dos conceitos, 
procura-se reunir referências de diversos campos do conhecimento a fim de 
formular um pouco do “estado de coisas”, do contexto histórico e social do qual 
emergirá a necessidade de mudanças e transformações que irão favorecer a 
realização do projeto de modernidade. 
A relação entre estes dois conceitos é de tensão e superação, e o de 
moderno/modernidade surgirá diante da vontade de superação em relação ao 
de antigo. Mas de que antigo se está falando neste momento? Não é somente e 
simplesmente o que foi superado pelo novo e moderno. 
Como antigo compreende-se o pensamento clássico da Antiguidade 
greco-romana, dos tempos medievais e pré-modernos. Desde o Renascimento, 
existe uma espécie de disputa pela superioridade dos modernos em relação aos 
antigos (ABBAGNANO, 2007).
Sobre esta disputa, nos escritos de Giordano Bruno (1548-1600), é possível 
identificar noções como "somos mais velhos e temos mais idade do que nossos 
predecessores". Afirmação que por sua vez possibilita os homens de seu tempo 
sentirem-se melhores e mais experientes diante do passado, mais confiantes e 
seguros com relação ao seu tempo.
 Em especial a palavra progresso foi registrada na Itália, na obra 
Pensiere diversi (pensamentos diversos) de Alessandro Tassoni (1565-1635) e 
logo se expandiu a outras regiões. A noção, que é apresentada por Tassoni, é 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
5
2 O QUE É MODERNIDADE? encontrada novamente na obra “Diálogo dos mortos” de Fontenelle (1657-1757), 
e, posteriormente, utilizada e ampliada pelo historiador Giambattista Vico (1668-
1774).
PROGRESSO
A ideia de progresso, tanto na história, na filosofia, na cultura e na sociedade, encontra-se 
relacionada à visão de acúmulo e síntese do passado; e como profecia a se cumprir no 
futuro. A concepção de progresso interpreta a humanidade como uma grande estrutura 
que ao longo das eras e épocas caminha árdua e constantemente em direção a um 
desenvolvimento glorioso e triunfante e que para se cumprir precisa estar associada ao 
campo técnico e científico.
ATENCAO
O termo “moderno” foi utilizado pela primeira vez pelo estudioso suíço 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). “A terminologia moderniste (modernista) 
ocorria antes ainda da Revolução Francesa e da independência americana; porém 
recebeu maior projeção com as reflexões feitas no campo da psicanálise e da 
democracia participativa ao longo dos séculos XIX e XX”. (BERMAN, 1986, p. 11).
A modernidade pode ser entendida como o equivalente ao "mundo 
industrializado" especialmente aos aspectos do uso de máquinas na extração 
das matérias-primas, nos meios de produção e elaboração da matéria-prima no 
interior das fábricas e nos processos de controle da natureza (GIDDENS, 2002).
Este processo representou um dos projetos mais impactantes da 
modernidade. O outro foi representado pela capitalização da economia, ou seja, a 
implantação do sistema de produção de mercadorias envolvendo tanto mercados 
competitivos de produtos (a livre concorrência) como a mercantilização da força 
de trabalho (o trabalho assalariado).
No campo da cultura a concepção de modernidade aparece nas análises 
do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), que é amplamente reconhecido 
como o profeta e um dos principais testemunhos daquele período. Baudelaire 
(1996), com sua sensibilidade poética, escreve que a modernidade é a união de 
duas partes, uma metade que representa o transitório, o efêmero, o contingente, 
sendo que a outra metade é composta pelo eterno e pelo imutável.
Ou seja, como modernidade pode-se entender a combinação de fatores e 
circunstâncias diferentes, novas, não duradouras, instantâneas e momentâneas; 
com as perguntas, expectativas e os sonhos que acompanham o homem desde as 
épocas mais antigas, que estavam presentes também no imaginário do homem da 
modernidade, e que por sua vez o provocavam a reagir com os pés no presente.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
6
Na Figura 1 tem-se uma espécie de combinação da técnica de retrato com 
fotografia do poeta Charles Baudelaire e, na Figura 2, a capa de uma das edições 
brasileiras para o livro “Sobre a modernidade”, do qual foi extraída a definição 
de modernidade mencionada acima:
FIGURA 1 – CHARLES BAUDELAIRE 
FONTE: Disponível em: <http://paulofernandomonteiroferraz.
blogspot.com.br/2010/05/embriague-se-charles-baudelaire.
html>. Acesso em: 2 jun. 2013. 
FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO SOBRE A MODERNIDADE
FONTE: Disponível em: <http://ebooksgratis.com.br/livros-e-
books-gratis/tecnicos-e-cientificos/historia-da-arte-charles-
-baudelaire-sobre-a-modernidade/>. Acesso em: 2 jun. 2013.
O conceito apresentado por Baudelaire pretende romper com as 
explicações que eram encontradas na antiguidade clássicas e nos tempos pré-
modernos (sociedade do antigo regime) que por sua vez dominavam a cultura e 
a sociedade francesa. 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
7
“Os modelos pré-modernos se caracterizavam por imitar e reproduzir as 
construções nas suas formas de edificação e as teorias proferidas pelos antigos 
pensadores, e que eram responsáveis por esvaziar as potencialidades do presente 
e o que estas poderiam apresentar como originalidade e inovação”. (BERMAN, 
1986, p. 131).
Deduz-se assim que a modernidade pretendia amenizar as obrigações com 
o passado em termos de moral, valores, cultura e tradições. A nova proposta foi 
a de perceber os eventos e o momento histórico presente, com novo e o inovador, 
no intuito de revestir e reconfigurar a cultura e a sociedade europeia da época.
Diante disto ser moderno e existir na modernidade significava que o 
homem deveria colocar-se diante do novo e do presente por inteiro, e isso exigia 
ruptura com as estruturas nas quais havia se sustentado até então; a partir disto, 
projetar-se na dimensão do momento e descobrir as possibilidades do novo, 
aventurar-se em direção ao desconhecido e do não explorado.
Como um estudante curioso e atento, você deve se perguntar: “mas 
que novo desconhecido e não explorado seriam estes”? Calma, aos poucos, 
cada aspecto destes será melhor discutido. Mas, conserve esta indagação, que 
servirá como âncora ao entendimento dos processos de modernidade que serão 
apresentados a seguir. 
Outro conceito que é pertinente aos estudos de cultura e sociedade na 
modernidade é o de belle époque. A belle époque se desenvolve do final do século 
XIX e no começo do século XX, em especial entre os anos de 1870 e 1914. Neste 
período, os resultados das políticas de progresso e modernização já eram bastante 
nítidos e já se encontravam assimilados pela população europeia, e era possível 
identificarcom facilidade mudança nos comportamentos, nas posturas, na moral 
e nos estilos de vida da população (ROSSI, 2003).
Foi momento da expansão das forças produtivas, do consumo de artigos 
de luxo e pelo progresso material. Com as conquistas da industrialização, a 
evolução dos meios de transporte e das comunicações, a expansão dos mercados 
e o aumento populacional. Instaurou-se um tempo e espírito de euforia, uma 
espécie de joie de vivre (o entusiasmo de viver), que caracterizaria a vida cotidiana 
antes da crise que culminou com a Primeira Guerra Mundial. 
É comum também encontrar os conceitos de “modernização” e 
“modernismo”, porém ambos apresentam aplicações e usos distintos. 
A modernização é relacionada aos fenômenos do liberalismo econômico, 
que é marcado pelo recuo do poder do estado e do governo tanto na esfera da 
economia como da política. “Já o modernismo é associado ao movimento e escola 
que influenciou a produção das artes plásticas e da cultura a partir dos anos de 
1900 e transcorreu ao longo das primeiras décadas do século XX”. (BERMAN, 
1986, p. 86).
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
8
Portanto, para localizar a produção cultural e artística que corresponde 
mais precisamente o momento da modernidade, deve-se levar em conta o 
movimento do Romantismo. Por Romantismo entende-se o movimento filosófico, 
literário e artístico que iniciou nos últimos anos do século XVIII e que se fortaleceu 
ao longo do século XIX. 
Caro(a) acadêmico(a)! Tanto o tema da belle époque como o do Romantismo 
serão abordados e exemplificados com maior profundidade na Unidade 2 deste 
Caderno de Estudos. 
Como síntese deste debate teórico pontuam-se como conceito de 
modernidade os processos, os mecanismos, as instituições, os agentes que 
pretendiam superar a cultura religiosa católica cristã; a sociedade agrícola e 
servil; a política estamental e monárquica, e em seu lugar implantar uma cultura 
e sociedade urbana, democrática, secular, científica e industrial.
3 O QUE É CULTURA?
A origem da palavra cultura é colo. Isto é, local do corpo feminino onde 
o bebê é amamentado. O termo colo, local onde se retira o alimento, se relaciona 
com a plantação, isto é, com a agricultura, com a terra que permite ao homem se 
alimentar. Da terra, que se retira o alimento, também é o local onde se enterram 
os mortos. Por isso, nas sociedades primitivas, se faziam os cultos aos mortos, 
através de rituais fúnebres que envolviam diversos aspectos das sociedades 
primitivas. Do culto aos antepassados, também surge o respeito e a utilização da 
sabedoria que estes deixavam para as comunidades (BOSI, 1992). 
O termo cultura no contexto da modernidade pode ser compreendido em 
duas dimensões complementares.
 
Uma que indica o aspecto da formação do homem, no que tange a seu 
refinamento e sofisticação, próximo do que o pensador inglês Francis Bacon (1561-
1626), considerado o pai da ciência moderna, propõe uma concepção de cultura 
no sentido de representar o cultivo, elevação e o aprimoramento do espírito. 
E outra dimensão, a que trata dos hábitos e modos de viver no cotidiano e 
em sociedade, “que acaba por receber a terminologia de civilização, pois se refere a 
formas de viver, pensar, portar e manifestar no interior de um determinado grupo 
e sociedade”. (ABBAGNANO, 2007, p. 225).
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
9
3 O QUE É CULTURA?
4 O QUE É SOCIEDADE?
Sociedade é uma palavra que pode designar a maneira que determinado 
grupo humano interage com o meio ambiente, com a natureza e com o próximo. 
Isto é demonstrado através da diversidade dos grupos humanos. Podemos 
refletir, através da origem etimológica, que a palavra cultura é uma síntese de um 
longo processo humano. 
A sociedade na qual estamos inseridos resulta de um todo e processo 
continuum, que por um lado é marcada por permanências, rupturas e 
descontinuidades, que, muitas vezes, somente, recebe novas combinações 
roupagens e por outro lado também se apresenta como complexa, plural e híbrida, 
que pretende abarcar as mais novas expressões e manifestações dos sujeitos, 
grupos, produtores, atores e públicos no interior de uma dada sociedade.
Grande parte das explicações que se tem para as definições de sociedade 
converge à ideia de um todo coletivo que congrega as múltiplas ações de indivíduos, 
que por sua vez são reguladas por leis, regras e valores. Que transcorrem em 
diversas instâncias e âmbitos, que são legitimadas por instituições, governos, 
regimes e modelos. Que apresentam mudanças e alterações conforme as épocas, 
os momentos históricos, os contextos, as culturas, os locais e regiões.
Abaixo se procurou elaborar um quadro-síntese para as principais 
características que definem e diferenciam a sociedade pré-moderna/feudal da 
sociedade moderna:
SOCIEDADE PRÉ-MODERNA/FEUDAL
1) Mundo rural/agrícola
2) Sociedade de ordens/estamental
3) Trocas naturais, ausência de comércio e da moeda
4) Explicações religiosas para os fenômenos da natureza
5) Elaboração de produtos de forma artesanal
6) Descentralização do poder político dos senhores feudais
7) Centralização do poder religioso na figura do papa
8) Relações de trabalho não assalariado/servil.
SOCIEDADE MODERNA
1) Mundo urbano/cidades
2) Sociedade de classes
3) Trocas monetárias
4) Explicações científicas para os fenômenos da natureza
5) Elaboração de produtos de modo industrial
6) Centralização do poder político
7) Descentralização do poder religioso com a Reforma Protestante
8) O indivíduo é o centro do poder político (cidadão)
9) Relações de trabalho assalariadas – ideia de liberdade de escolha e 
iniciativa.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
10
4.1 SOCIEDADE PRÉ-MODERNA OU FEUDAL
A sociedade europeia dos séculos XI-XIII era composta por uma 
população extremamente ligada às atividades rurais. Nestes séculos, que 
alguns historiadores denominam como Idade Média Central, tivemos o auge do 
feudalismo. O feudalismo é um sistema social baseado na unidade produtiva do 
feudo. Por feudo se compreende uma unidade de produção rural autossustentada 
(JÚNIOR, 1986). 
Nas unidades de produção rural, a elaboração de produtos e objetos era 
constituída no interior do próprio feudo. Roupas e utensílios para o trabalho ou 
lazer eram fabricados de modo rudimentar pelos próprios trabalhadores rurais. 
Ocorria uma pequena especialização do trabalho. Não havia a necessidade ou 
mesmo um incentivo para a produção do excedente, isto é, de se produzir e 
estocar mais alimentos de que se precisava. 
Tratava-se de uma sociedade composta por três ordens sociais. Oratores, 
Belattores e Laboratores, isto é, sacerdotes, guerreiros e servos. Tal composição 
social é classificada por historiadores e sociólogos de sociedade estamental. Isto 
porque as camadas sociais não eram classificadas pelo dinheiro que possuíam, 
mas, sim, pelos status que determinado indivíduo possuía na sociedade. Isto é, 
status, neste contexto específico, deve ser compreendido como a condição que o 
indivíduo possuía na sociedade. Estamento pode ser compreendido como um 
“grupo social, garantido por convenções e leis, mantido através da honra e de um 
estilo de vida específico” (WEBER, 1982). 
Neste sentido, as trocas comerciais não eram mediadas pelo dinheiro, 
mas pelas trocas naturais. Isto é, as trocas econômicas não eram mediadas por 
moedas, mas sim como troca de produto por produto: por exemplo, uma vaca por 
um cavalo. Assim, as relações de trabalho não eram assalariadas, mas vinculadas 
a um ideal de fidelidade. Isto é, a economia era funcional.
Cada ente social possuía uma função específica em relação ao corpo social. 
Os guerreiros protegiam a sociedade dos invasores, como os muçulmanos e os 
vikings. Os servos permitiam que a sociedade tivesse alimentos para a manutenção 
da vida. Os sacerdotes (os religiosos) rogavam a Deus que abençoasse aos demais 
membros do corpo social. 
Os sacerdotes tinham uma função importantepara a sociedade, pois a 
igreja era a principal instituição política do mundo medieval. Os padres e monges 
eram considerados pontes que ligavam o ser humano até Deus. O papado possuiu 
no interior desta sociedade grande prestígio, ao ser considerado o Sumo Pontífice. 
Isto é, a principal ponte do homem e Deus. 
Muitas das guerras medievais tinham como mediadores os religiosos, a 
ponto do papado instituir a Trégua de Deus e a Paz de Deus, visando diminuir 
os conflitos na Europa Ocidental. Portanto, o poder que a Igreja possuía na 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
11
4.1 SOCIEDADE PRÉ-MODERNA OU FEUDAL Idade Média não era apenas religioso, como também econômico, sendo a mesma 
detentora de uma grande quantidade de terras. Costuma-se afirmar que o papa 
possuía tanto o poder temporal quanto o poder espiritual. Era a denominada tese 
dos dois gládios, isto é, o papa era considerado Sacerdote e Rei concomitantemente. 
O poder político do papa demonstrava um grande processo de 
descentralização política na Europa. O Sacro Império Romano Germânico era um 
grupo formado por vários senhores feudais, porém, sem poder em uma grande 
extensão territorial. Tratava-se de uma sociedade onde o analfabetismo era 
constante, inclusive entre os nobres. Por isso, eram ausentes no cotidiano social 
os contratos escritos. 
Por isso, temos uma grande presença na mentalidade medieval da 
noção de fidelidade aos compromissos. Todos os indivíduos eram perpassados 
em uma série de deveres para com superiores na hierarquia social. Os servos 
deviam obrigações aos senhores, assim como os vassalos deveriam obedecer 
aos suseranos, os padres aos bispos. A hierarquia e as obrigações eram uma das 
características desta sociedade. 
A noção de hierarquia e fé também perpassava as explicações que 
os medievos ofertavam aos fenômenos da natureza. A magia fazia parte do 
cotidiano, assim como os temores pela presença do diabo. Assim, muitas das 
pessoas que possuam algumas formas de compreender a natureza de forma 
empírica, experimental, ou mesmo que conseguiam manipular plantas para a 
cura de doenças, eram acusadas do crime de bruxaria.
 
A natureza era explicada através da filosofia escolástica, que tinha como 
pressuposto um mundo plano, no qual o homem era o centro da criação e a terra 
era o centro do universo. O Universo, por sua vez, era compreendido de modo 
hierarquizado, assim como hierarquizada era a sociedade na qual os principais 
filósofos escolásticos, como São Tomás de Aquino, vivera.
Por explicação religiosa/mágica podemos compreender que Deus era 
considerado como a primeira causa dos fenômenos. Os santos também eram 
invocados. Assim, podemos entender que uma boa pesca, nos períodos pré-
modernos, era considerada como dádiva de Nossa Senhora dos Navegantes, de 
Iemanjá ou Janaína. 
Toda a natureza é encarada de modo encantado, mítico. Porém, como 
iremos observar a lenta desagregação do mundo feudal também acarretou uma 
alteração na mentalidade. Em grande parte, a técnica passa a ser o ponto central 
para explicar a natureza, algo que a ciência fez a partir da segunda metade do 
século XIX. 
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
12
4.2 A LENTA DESAGREGAÇÃO DO MUNDO FEUDAL
O mundo feudal entra em desagregação em um processo lento, que 
demorou séculos. Um dos principais motivos que possibilitou a desagregação 
do feudalismo foram As Cruzadas. O papa Urbano II, no Concílio de Clemont, 
conclamou a cristandade para as cruzadas. O preparo para As Cruzadas mobilizou 
grande parte da população europeia. Foram criadas ordens militares-religiosas. 
Entre estas, algumas se destacaram, como os Cavaleiros Teutônicos e a Ordem 
dos Templários. 
Neste período, a cristandade entra em contato com a cultura muçulmana, 
e por ela é extremamente influenciada. Assim, surge o gosto e o interesse pelas 
especiarias, isto é, pelos temperos que possibilitam melhorar o gosto das comidas, 
além da tapeçaria persa e de outros produtos que encantaram o mercado 
consumidor europeu, que ficava maravilhado com a presença de produtos com 
um grau tecnológico muito maior que a tecnologia desenvolvida na Europa feudal. 
Além disto, o Oriente vivia em uma economia organizada monetariamente. Isto 
é, ao invés de termos a presença de uma economia marcada por trocas naturais, 
temos a presença da moeda mediando às trocas de produtos e objetos. 
O interesse por estes produtos possibilitou o surgimento de feiras livres em 
algumas cidades europeias, que ficavam nos caminhos de peregrinação. Assim, 
algumas regiões, como é o caso de Champanhe, na França, foram beneficiadas 
como pontos específicos de intercâmbio de mercadorias. Além deste intercâmbio, 
podemos notar a presença de uma nova figura social: o burguês (PIRRENE, 1969). 
A burguesia era um grupo social cujo nome deriva de burgo. Os burgos 
eram castelos fortificados que ficavam nas fronteiras da cristandade latina e que 
serviam de postos militares para a defesa contra os inimigos. Por ser uma região 
com forte presença de soldados, esta proteção ofertava segurança para o comércio. 
 
Assim, podemos compreender que os burgueses se comportaram como 
uma classe de comerciantes. Porém, o mundo medieval a partir do século XIV 
acompanhou algumas novidades na civilização europeia. Uma das primeiras 
fora o chamado renascimento comercial e urbano. Por renascimento comercial 
e urbano, podemos relacionar um ressurgimento das cidades nos anos finais da 
Idade Média.
Uma das principais instituições criadas nas cidades do final da Idade 
Média foram as Corporações de Ofício. Tratava-se de instituições que de forma 
artesanal produziam objetos, como roupas e sapatos. Uma máxima medieval 
afirmava que o Ar da Cidade era o Ar da Liberdade. Isto porque nas cidades os 
indivíduos poderiam viver sem ter a presença opressora de um senhor feudal. 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
13
4.2 A LENTA DESAGREGAÇÃO DO MUNDO FEUDAL Com a presença das corporações e de um mundo urbano, em que as trocas 
eram monetárias, uma verdadeira revolução social ocorreu com a aplicação do 
assalariamento nas relações de trabalho. Com isso, temos uma nova disposição 
das formas das relações trabalhistas, pois não eram apenas mediadas por uma 
relação de fidelidade ou tradição, mas sim mediadas através de uma remuneração 
sistemática. 
Com a urbanização e o comércio em rotas de alcance intercontinental 
estiveram presentes na Europa, nos séculos finais da Idade Média, alguns problemas 
sociopolíticos, em especial, o problema da insegurança das rotas e caravanas ao 
longo da Europa, da África e da Ásia. 
Podemos lembrar Marco Polo, um aventureiro italiano que nos deixou 
os relatos de suas viagens para a Ásia. Era da antiga China que os europeus 
buscavam matérias-primas para algumas vestimentas, mais notadamente a seda. 
A famosa Rota da Seda, ao lado das rotas de especiarias, foi presença marcante na 
história das relações macroeconômicas da Europa, África e Ásia. 
Assim, podemos considerar que a diversidade de Estados na Europa feudal 
era um enorme entrave ao comércio. Isto porque os comerciantes não possuíam 
uma instituição que garantisse o monopólio da violência, fundamental para 
evitar ações de contrabando e o ataque de piratas ao longo do Mar Mediterrâneo, 
além de a cada aduana, os preços das mercadorias aumentarem devido à soma 
de diferentes impostos. 
Neste contexto de expansão comercial, o poderio do papado começa e ser 
relativizado. Em grande parte, pelo surgimento de uma nova entidade política 
na Europa feudal: o Estado. A insegurança das caravanas e a necessidade da 
unificação das moedas e dos impostos foi uma das principais motivações para 
o surgimento dos Estados, uma instituição que detém o monopólio do uso da 
violência em um território determinado por suas fronteiras (GUENEE, 1981). 
A necessidade de novas rotas para o comércio motivou que os então 
recentes países Espanha e Portugalse lançassem ao mar em busca de um caminho 
marítimo para as Índias, que não necessitasse passar pelas caravanas muçulmanas 
do norte da África. Uma necessidade que ficou maior após 1453, ano em que os 
turcos otomanos conquistaram a cidade de Constantinopla, a antiga capital do 
Império Bizantino. 
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
14
Assim, ao se lançarem ao mar, em meados do século XV, se descobriram 
duas rotas navais que possibilitaram uma ampliação sem precedentes do comércio 
mundial, possibilitando uma melhor compreensão dos homens sobre a forma do 
globo, e sobre a extensão real do planeta terra. Do ponto de vista econômico, 
se formou um sistema mundial de trocas comerciais, porém, quando pensamos 
em um sistema de trocas, devemos ter claro que as trocas não se restringem às 
questões comerciais. Os conhecimentos de diversos povos, como os asiáticos, os 
africanos e as populações nativas da América, formaram a sociedade e a cultura 
da modernidade, a cultura em diálogo com a miscigenação. Em alguns lugares foi 
vista como positiva e em outros, negativa. E por fim, o colonialismo foi o ponto 
culminante da dominação europeia ao redor do mundo. 
O sistema de colonização durou muitos séculos. Iniciou-se em 1415, 
quando os portugueses tomaram Ceuta, uma cidade do norte da África. Esta 
cidade ainda hoje se mantém apesar do forte surto de descolonização que 
ocorreu na África e na Ásia após a Segunda Guerra Mundial. Uma das principais 
características dos colonialismos foi a transposição da cultura europeia para os 
demais povos do mundo. Processo que pode ser compreendido através do termo 
“ocidentalização”. Isto é, os demais povos do mundo se sujeitaram aos ditames 
europeus. 
A expansão europeia pelo mundo passou por dois momentos distintos. 
O primeiro foi o colonialismo, com uma primeira expansão, que durou dos 
séculos XV a XVIII. Nos séculos XVIII e XIX, as colônias europeias na América 
se tornaram independentes. O Neocolonialismo, ou Imperialismo, se pautou em 
uma nova corrida por territórios. Porém, o imperialismo dos séculos XIX e XX 
apresentou como novidade a presença de dois países não europeus: os Estados 
Unidos da América e o Japão. 
O colonialismo teve como principal motivação o lucro de produtos no 
comércio mundial. Teve como ideologia o cristianismo, e foi a América o principal 
continente alvo das investidas coloniais. No Neocolonialismo, a principal 
ideologia foi o nacionalismo. As principais áreas de ação foram a África e a Ásia. 
A economia foi movida por busca de matérias-primas e expansão do mercado 
consumidor dos produtos industrializados. 
Assim, aos poucos, os laços feudais existentes na Europa foram rompidos. 
Um dos principais símbolos do fim das relações estamentais na Europa foi a 
Revolução Francesa. Pois, a partir do Código Civil Napoleônico, todos os cidadãos 
passaram a ser considerados iguais perante a lei. Algo distinto do ideário legal 
do chamado Antigo Regime, no qual os seres humanos eram considerados 
naturalmente desiguais. 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
15
5 DEBATE HISTORIOGRÁFICO SOBRE A CRONOLOGIA DA 
MODERNIDADE
Quando inicia ou termina a modernidade? Eis uma das perguntas difíceis 
de responder. Isto porque na maioria das vezes, as periodizações são impostas por 
diversos historiadores e visões de mundo distintas. Apresentamos alguns eventos 
que mostram o tipo ideal da sociedade pré-moderna e da sociedade moderna. 
Porém, não temos como precisar datas de quando um processo histórico inicia ou 
finda. Na história política, isto é, nas histórias dos países, as datações podem ser 
mais precisas.
Os Estados Unidos da América se transformaram em nação independente 
no dia 4 de julho de 1776. O Brasil se tornou independente do ponto de vista 
político em 7 de setembro de 1822. Porém, quando analisamos processos culturais, 
como fora a modernidade, não se tem a precisão de uma data, mas um debate 
aberto entre distintas escolas historiográficas. 
No rol da periodização oficial e tradicional da História ocidental, em 
especial na historiografia francesa, tem-se que a Idade Moderna se iniciou em 29 
de maio de 1453, quando ocorreu a tomada da cidade de Constantinopla pelos 
turcos otomanos; e o término a data de 14 de julho de 1798, quando a Bastilha foi 
tomada, que era constituída de uma fortaleza medieval utilizada como prisão, fato 
que passou a ser identificado como símbolo/marco da Revolução Francesa.
 
Durante o século XVIII, na Inglaterra, tivemos uma nova forma de 
produção fabril: a Revolução Industrial. Com ela, as relações sociais foram 
alteradas, pois, apesar do ideal de isonomia, isto é, todos devem ser regidos pelas 
mesmas leis. Assim temos uma profunda desigualdade no mundo moderno. Isto 
porque a concentração da renda na mão de poucos é uma constante nos países do 
sistema capitalista de produção. De um lado, temos os burgueses, donos do capital 
e dos meios de produção. De outro, o proletariado, isto é, a classe trabalhadora, que 
depende do salário pago pelos burgueses para a sua sobrevivência (HOBSBAWN, 
2009). 
Esta sociedade, disciplinada pelos apitos das fábricas, composta de 
burgueses e proletários, em que a tecnologia tem uma importância vital para o 
desenvolvimento social, é o tipo ideal da sociedade moderna. 
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
16
Entretanto, outras vertentes historiográficas mencionam o caso da 
Conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415, ou a viagem de Cristóvão 
Colombo ao continente americano em 1492, ou a viagem à Índia de Vasco da 
Gama em 1498, como marcos iniciais da época moderna.
De acordo com Gandillac (1995) foi em torno do início do século V ao início 
do século XVII quando progressivamente se construiu uma civilização “moderna”, 
ou seja, uma periodização de longa duração. Transcorreu na Europa Ocidental, nas 
margens do Mar Mediterrâneo e gradualmente se estendeu em direção às águas do 
Oceano Atlântico, em especial às novas terras.
Para Gumbrecht (1998) o início da Idade Moderna está relacionado aos 
acontecimentos da “descoberta do Novo Mundo, mas aponta que a invenção da 
imprensa por Johannes Gutenberg, por volta de 1450, foi outro grande marco”. 
No processo de constituição da modernidade, ocorreram duas fases: uma, 
situada no início do século XVI, na qual ocorre a experimentação e ambientação 
da vida moderna; e uma segunda, a partir de segunda metade do século XVIII, 
quando a sociedade é surpreendida com ondas revolucionárias e convulsivas de 
modernidade (representadas pela Revolução Francesa, Revolução Industrial e 
pela urbanização) (BERMAN, 1986).
O autor enfatiza também que ao longo do processo de modernização 
ocorreram percalços, sobressaltos e descaminhos, ao ponto que em pleno correr do 
século XIX, era possível encontrar grupos e regiões parcialmente caracterizados 
pelas formas de vida e tradições conforme ocorria na Idade Média. 
Através das referências encontradas percebe-se que existem desacordos 
entre os estudiosos e as abordagens que são os marcos que delimitam o início 
e o término da modernidade. Mesmo procurando levar em conta os diferentes 
momentos em que foram encontrados, tanto para o início como do término da 
modernidade, não conseguem atender às preocupações de uma periodização 
rígida e estanque.
Diante deste impasse, a título de organização dos estudos, estipula-se 
aproximadamente o tempo transcorrido entre os anos de 1820 e 1930; ou seja, os 
primórdios do século XIX como período aproximado do auge da modernidade; e 
as primeiras décadas do século XX como declínio/término.
Em vista desta grande gama de informações a respeito, definimos a 
modernidade como um período em que temos uma desagregação das relações 
feudais. Este processo de desagregação possuiu uma primeira fase, durante o 
período do Renascimento, e tem como auge o período que inicia no século XIX e 
vai até meados do século XX. 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE,SOCIEDADE E CULTURA
17
Neste período da história temos a construção de uma sociedade urbana, 
ligada às atividades industriais na produção de artefatos, e que tem nas 
trocas monetárias o padrão da economia, racionalização do pensamento e das 
mentalidades, e afastamento da Igreja das decisões políticas e dos cargos de 
governo.
18
Cara(o) acadêmico(a)! A longo deste tópico, intitulado de “As dimensões 
dos conceitos e dos contextos”, você pôde estudar os seguintes temas:
• As concepções de moderno/modernidade, muitas vezes, são empregadas no 
sentido de desmerecer o antigo, porém, deve-se ter em mente que tanto o 
antigo como o moderno são indispensáveis à melhoria e superação a qualquer 
sociedade em qualquer tempo.
• No interior da cultura e da sociedade europeia da modernidade surgiu a 
necessidade de transformar e modificar as formas políticas, econômicas e 
sociais caracterizadas como medievais e/ou pré-modernas.
• Que a transição da produção artesanal para a manufatureira e desta para a 
produção fabril são considerados como fatores primordiais no processamento 
e à consolidação da Revolução Industrial e do capitalismo no interior da 
economia europeia.
• A decadência da nobreza feudal (primórdios das monarquias nacionais), os 
movimentos das Cruzadas, o enfraquecimento do latim, o desenvolvimento 
das escolas (primeiros esboços do que viriam a ser as universidades) 
representavam condições favoráveis aos projetos de modernidade.
• Na esfera social, associada a atividades econômicas e financeiras, surge o 
empresário capitalista, que concentrou as máquinas, as terras e as ferramentas 
de trabalho; e o proletariado, que foi submetido à disciplina nos espaços de 
trabalho. 
• Os marcos cronológicos para o início e o término da modernidade são bastante 
discutidos, diante disto optou-se pelo período entre os anos de 1820 e 1930, ou 
seja, os primeiros anos do século XIX até os primeiros do século XX, como o 
momento de auge e de declínio respectivamente.
RESUMO DO TÓPICO 1
19
Agora, procure realizar as autoatividades propostas a seguir. A 
realização destas será fundamental para o entendimento e fixação dos temas 
aqui abordados. Também representam um exercício preparatório às avaliações 
que estão previstas ao longo da disciplina. 
1 A partir dos estudos dos autores e dos respectivos conceitos o que é possível 
entender como modernidade? 
2 A revisão bibliográfica indica que existem impasses e dificuldades em 
se estabelecer marcos cronológicos precisos sobre o início e o declínio 
da modernidade. A partir das referências relacionadas no Tópico 1, que 
período pode ser considerado como o de maior intensidade e de declínio da 
modernidade?
3 Visite um site eletrônico de algum museu, e descreva de modo resumido 
as principais alterações tecnológicas (formato, funcionamento, funções) que 
um mesmo objeto sofreu com o passar dos tempos.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
20
21
TÓPICO 2
OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico serão apresentados três aspectos que procuram representar 
as condições favoráveis que a modernidade encontrou quando ainda não 
contava com projetos e técnicas claros e bem definidos, de certa forma, aspectos 
que somados fornecem as condições para se questionar a ordem e a moral 
estabelecida, propor e divulgar as novas ideias, a reformulação do conceito de 
trabalho, o movimento do trovadorismo e a invenção da prensa de tipos móveis. 
Cada um destes pontos contribuiu para que outras condições e estruturas 
se formassem posteriormente. A reformulação da concepção de trabalho consistiu 
na agregação de valor positivo e realização humana nesta atividade, o que por sua 
vez atendia à demanda dos processos de elaboração da matéria-prima e produção 
de objetos e ferramentas pela manufatura e indústria.
O Trovadorismo fazendo críticas aos dogmas católicos e aos membros 
da Igreja, que alguns anos depois foram endossados e aprofundados pelas 
teses de Martinho Lutero, através da Reforma Protestante, o que por sua vez 
foi responsável pelo enfraquecimento do poder da Igreja Católica em meio à 
sociedade e os surgimentos de outras vertentes religiosas. Os trovadores em 
grande parte viviam relacionados às cortes das realezas feudais, escarnecendo ou 
louvando membros da nobreza (MONGELLI, 2001). 
A prensa de tipos móveis favoreceu uma forma mais eficiente nos registros, 
impressão e divulgação de ideias, teorias, documentos e na popularização dos 
mesmos. Pois até então ficavam restritos aos espaços dos mosteiros e bibliotecas 
muito distantes do acesso livre ao público. Então, vamos estudar um pouco 
melhor como cada um destes aspectos surgiu e contribuiu com os projetos de 
modernidade.
2 A NOVA CONCEPÇÃO DE TRABALHO
O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre 
os povos catalães no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e 
concepção ‘trabalho’, que foi amplamente difundida na sociedade moderna 
industrial e capitalista (GANDILLAC, 1995).
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
22
A concepção mais antiga de trabalho é oriunda de tripalium, que foi extraída 
do latim e designava um instrumento de tortura reservado aos escravos. Lúllio a 
substituiu pela expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa 
a habilidade em elaborar a matéria bruta, transformando-a em obra, realização e 
propriedade humana, e dignificadora do próprio homem.
Durante muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista” 
permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, 
em lavrar e semear a terra, colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar 
animais, construir pontes, moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais, 
metais preciosos, entre outros. 
As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, como, por 
exemplo, a encontrada na Bíblia em que o trabalho não é mais visto como um 
indício da maldição de Deus a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo que 
teriam que ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Ou como na Antiguidade, 
ou como na Idade Média, trabalhar com as mãos era sinônimo de ser escravo ou 
servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores da sociedade. 
Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de 
apropriar-se da concepção positiva de trabalho e mudar o ambiente de realização 
do trabalho propriamente dito, que passou a ser realizado nas cidades, no interior 
dos espaços das fábricas. 
O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana. 
O trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador, um 
personagem social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras 
que faz a si, seus familiares e semelhantes.
A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combinará com os valores 
das mudanças no interior da produção de produtos. O homem reconhecendo que 
o trabalho não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade 
que o tornaria socialmente reconhecido, se sentiu motivado e disposto a se 
dedicar e doar a fim de preencher as oportunidades e a demanda da manufatura 
e indústria nascente, bem como o campo das invenções de máquinas e técnicas e 
o próprio sistema capitalista que estavam exigindo.
3 TROVADORISMO
O Trovadorismo foi um movimento musical e literário que surgiu na 
época medieval e se caracterizava por apresentar temas relacionados ao amor, ao 
prazer, à natureza, entre outros.
Na sociedade pré-moderna na qual a Igreja Católica detinha grande poder 
de influência nas mentalidades e no imaginário das populações, sustentada 
nas ideias de purgatório, inferno e paraíso, e que por sua vez eram utilizadas 
TÓPICO 2 | OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
23
3 TROVADORISMO
para intermediar interesses políticos também dos senhores feudais, favoreciam 
obtenção de tributos e rendas, e na prática da repressão e censura das formas de 
pensamento, na produçãoartística, intelectual e científica da época, garantindo 
assim uma espécie de paz e tranquilidade social.
Porém manifestações de desobediência e transgressões a este cenário assim 
como aos membros do clero eram registradas, a exemplo disto tem-se a trajetória 
de Guilherme IX (1071-1126), o duque de Aquitânia. O duque era um trovador 
medieval que com as letras de suas cantigas/músicas insultava publicamente 
os prelados (membros da Igreja), que por sua vez reagiam ameaçando-o de 
excomunhão, ou seja, de perder a tutela e proteção que a Igreja oferecia diante 
das incertezas da vida, do purgatório e do inferno, ou ainda da salvação da alma 
e do final feliz junto ao criador no paraíso (GUMBRECHT, 1988). 
FIGURA 3 – GUILHERME IX DA AQUITÂNIA, O TROVADOR
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fichei-
ro:William_IX_of_Aquitaine_-_BN_MS_fr_12473.jpg>. Acesso 
em: 8 maio 2013.
As críticas que Guilherme IX dirigia à Igreja eram em especial sobre a moral 
e ao conservadorismo que pregava. Nas composições do trovador fazia alusão 
a festas, às mulheres, ao sexo e demais prazeres da vida, temas considerados 
tabus (que não deveriam ser mencionados) na época, pois o homem era tido como 
pecador original e deveria se privar destas formas de vida.
A ameaça não intimidava o trovador. Até fazia questão de se mostrar 
indiferente e inclusive retribuía ameaçando os dignitários da Igreja; ridiculariza-
os e considerava-os nem mesmo dignos de serem feridos pela sua espada. 
(GUMBRECHT, 1998, p. 59).
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
24
Durante a Idade Média, a autoimagem predominante do homem era de 
um ser resultante da criação divina, cuja verdade ou estava além da compreensão 
humana, ou só poderia ser dada a conhecer pela revelação e iluminação de Deus, 
ou seja, a que se encontrava contida na Bíblia (GUMBRECHT, 1998).
Os acontecimentos relacionados às provocações de Guilherme IX indicam 
o enfraquecimento dos poderes da Igreja na sociedade, de que existiam limites e 
fragilidades das relações de poder que a Igreja mantinha com os senhores feudais, 
das negociações de cargos políticos no interior da Igreja, em especial do poder 
real de a Igreja intervir em vida ou diante da morte de seus fiéis (temporal-vida 
e atemporal-morte).
Aponta também que talvez estas práticas tenham favorecido o horizonte da 
dúvida e da especulação de dogmas e explicações com as quais se poderia pensar 
– de modo seletivo e significativo – séculos mais tarde em especial a partir da 
Reforma Protestante e no aprofundamento dos estudos no campo da astronomia, 
anatomia entre outros (GUMBRECHT, 1998).
Hoje em dia o movimento do Trovadorismo não subsiste ou não possui 
muitos apreciadores, mas é possível encontrar alguns grupos que estudam e 
interpretam as poesias desta época, como é o caso do Conjunto de Câmara de 
Porto Alegre, que segue:
DICAS
A partir do uso de instrumentos e os temas relacionados aos trovadores 
medievais, o Conjunto de Câmara de Porto Alegre traz em suas composições o cenário e o 
contexto do final da Idade Média e da época moderna, quando interpretam e musicam as 
composições dos trovadores medievais e dos poetas modernos.
TÓPICO 2 | OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
25
FIGURA 4 – CONJUNTO DE CÂMARA DE PORTO ALEGRE
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto_de_C%C3%A2ma-
ra_de_Porto_Alegre>. Acesso em: 23 out. 2013.
UNI
CONJUNTO DE CÂMARA DE PORTO ALEGRE Procure conhecer os trabalhos 
do Conjunto de Câmara de Porto Alegre que com os discos “Trovadores Medievais” de 
1995, “Tempo de Descobertas” de 2001 e “Divina Decadência”, de 2003, abordam e 
recompõem o cenário musical e poético do final de Idade Média, do Renascimento e do 
início da modernidade, fazem isto se utilizando de instrumentos, composições e poemas da 
época. Para ouvir acesse os endereços a seguir:
• Dom Afonso X - “Quen a Omagen da Virgen”. Conjunto de Câmara de Porto Alegre. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=1VdT79UaVhM>. Acesso em: 23 set. 
2013.
• Laudario di Cortona - “Onne Homo”. Conjunto de Câmara de Porto Alegre. Disponível em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=58v7UN4ku7M>. Acesso em: 23 set. 2013.
4 A PRENSA DE TIPOS MÓVEIS
A leitura e a escrita ao longo da Idade Média estavam restritas a poucos 
membros da sociedade. Estima-se que 98% da população não sabia ler ou 
escrever. A escolarização destinava-se somente aos filhos de nobres, sobretudo 
à formação de clérigos e a preencher as vagas e cargos no interior da Igreja. E ao 
mesmo tempo em que estes indivíduos se alfabetizavam, também assumiam a 
função/poder de detentores do “saber/conhecimento” e a responsabilidade pelos 
registros oficiais no interior da sociedade da época. 
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
26
Porém a partir do século XIII, este quadro passou por alterações, 
especialmente com a formação dos primeiros estudantes em finanças, 
contabilidade e técnicas de navegações, que foram rapidamente solicitados e 
procurados por reis, comerciantes, banqueiros, comerciantes e negociadores.
Outro momento foi também quando, a partir do final do século XIII, a 
transcrição dos manuscritos passou a ser feitas também em línguas vernáculas, ou 
seja, nas línguas além do latim, como o italiano, o francês, o alemão, entre outras. 
Este fato acaba por apontar um sintoma de crise maior, o gradual desequilíbrio e a 
perda de controle da Igreja sobre o saber e o conhecimento (GUMBRECHT, 1998).
Uma vez que o conhecimento e o saber não se encontravam exclusivamente 
sob domínio dos clérigos e passou a estar ao alcance dos leigos e demais 
interessados, ocorreu um significativo enfraquecimento do poder que a Igreja 
exercia sobre a sociedade. Os novos letrados, que já não se dedicavam somente 
aos temas religiosos, passaram a estudar e formular teorias e atividades que 
seriam utilizadas em escritórios contábeis, bancários, nos registros de tesouro dos 
reis, em cálculos de custos e lucros, formulações de cartilhas ao comércio entre 
outras atividades.
Este momento de mudanças em relação aos interesses pelos campos do 
saber e conhecimento foi potencializado com a invenção de Johann Gensfleish 
Gutenberg (1397-1468) que é a impressão por tipos móveis, realizada por volta do 
ano de 1450, no interior da Alemanha.
A prensa possibilitou a produção e a reprodução de livros em maior 
quantidade, em menor tempo e além de descentralizar esta tarefa que antes 
somente era feita por copistas, domínios que se resignavam no interior dos 
mosteiros e das igrejas (GUMBRECHT, 1998). 
 Outras consequências podem ser deduzidas ainda como a confecção das 
bíblias que foram utilizadas na difusão da Reforma Protestante, agora traduzidas 
e impressas fora dos domínios católicos. Por outro lado, logo a prensa foi utilizada 
na emissão de notas bancárias, cédulas, cartas de crédito, normas, leis, salvo-
condutos, entre outros.
 
Tem-se a seguir uma réplica da estrutura adaptada por Gutemberg:
TÓPICO 2 | OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
27
FIGURA 5 – RÉPLICA DA PRENSA DE GUTEMBERG
FONTE: Disponível em: <http://historiadatipografia.files.wordpress.
com/2012/05/imprensa-de-gutenberg.jpg?w=418&h=430>. Acesso em: 5 
dez. 2012.
A gravura a seguir procura ilustrar o sistema de operação e o 
funcionamento da prensa propriamente dita:
FIGURA 6 – O FUNCIONAMENTO DA PRENSA
FONTE: Disponível em: <http://etc.usf.edu/clipart/11300/11358/gu-
tenberg_11358_lg.gif>. Acesso em: 5 dez. 2012.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
28
Gradualmente, além das traduções da Bíblia para as línguas regionais, 
documentos de governo e até obras literárias foram impressas, o que acabou por 
despertar o interesse pelo conhecimento e pela leitura em meio à população de 
um modo geral.
A leitura complementar que segue traz informações mais precisas sobre o 
processo de criação e adaptação que Gutemberg desenvolveu, e como funcionou 
a tipografia e os primeiros materiais que foram impressos:
LEITURA COMPLEMENTAR 1A PRENSA DE TIPOS MÓVEIS
Pedro João Gaspar
É a Gutenberg, Johann Gensfleish (1397-1468), nascido na cidade de 
Mogúncia (Alemanha), que a história atribui o mérito principal da invenção da 
imprensa, não só pela ideia dos tipos móveis “a tipografia”, mas também pelo 
aperfeiçoamento da prensa, que já era conhecida e utilizada para cunhar moedas, 
espremer uvas, fazer impressões em tecido e acetinar o papel. 
Pode ter sido na Casa da Moeda do arcebispo de Mogúncia, onde tanto o 
pai como o tio eram funcionários, que Gutenberg aprendeu a arte da precisão em 
trabalhos de metal. Em 1428 parte para Estrasburgo onde procedeu às primeiras 
tentativas de imprimir com caracteres móveis, onde deu a conhecer a sua ideia e 
que, provavelmente em 1442, realizou a impressão do primeiro exemplar na sua 
prensa original – um pedaço de papel, com onze linhas. Vinte anos mais tarde 
regressou a Mogúncia, conheceu Johann Fust, ourives abastado que lhe emprestou 
800 ducados, e juntos formaram a Fábrica de Livros (Das Werk der Bücher).
 
Pouco tempo depois esta sociedade ganhou um novo sócio, Pedro Schoffer, 
e teria sido este que descobriu o modo de fundir e fabricar caracteres, aliando o 
chumbo ao antimônio, e teria também descoberto uma tinta composta de negro 
de fumo. 
Nos primeiros documentos impressos e produzidos contam-se várias 
edições do “Donato” e bulas de indulgências concedidas pelo Papa Nicolau V. 
No início da década de 1450, Gutenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia 
de quarenta e duas linhas (em duas colunas), publicada cinco anos mais tarde. 
Das cerca de trezentas cópias da Bíblia então produzidas, ainda existem cerca de 
quarenta (1).
Posteriormente a imprensa expande-se graças às guerras, que por sua 
vez acabaram por forçar a fuga e dispersão dos primeiros impressores, e já em 
1465 reaparece em Subiaco, perto de Roma, e pouco depois em Cracóvia, Basileia, 
TÓPICO 2 | OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
29
Viena e Paris. Em Portugal, pensa-se que foi a partir do ano de 1487, em Faro, que 
apareceu a primeira oficina de impressão (2).
(1): Instituto Multimédia - Museu Virtual da Imprensa, <http://www.imultimedia.
pt/museuvirtpress/port/persona/g-h.html>.
(2): Encarta Online encyclopedia - Gutemberg, Johannes, <http://www.encarta.
msn.com/encyclopedia_761564055/Gutenberg_Johannes.html>.
FONTE: GASPAR, Pedro João. O Milénio de Gutenberg: do desenvolvimento da Im-
prensa à popularização da Ciência. Disponível em: <https://iconline.ipleiria.pt/bitstre-
am/10400.8/112/1/O%20Mil%C3%A9nio%20de%20Gutenberg%20-do%20desenvolvimento%20
da%20Imprensa%20%C3%A0.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2013.
5 NOÇÕES DE TEMPO E ESPAÇO
As noções de tempo e espaço também sofreram alterações, no sentido 
de que ocorreu uma espécie de esvaziamento das mesmas, fazendo com que 
emergissem as experiências e formas de vida regionais e locais regidas e ditadas 
por outras referências como os relógios mecânicos e os espaços das novas regiões 
e terras ainda não exploradas.
A seguir relaciona-se o texto do estudioso Antony Giddens (1991), que 
aborda as mudanças que aconteceram a partir da modernidade no sentido 
de alterar a relação e o sentido entre tempo e espaço, aspectos considerados 
fundamentais ao desenrolar desta época na história da humanidade.
LEITURA COMPLEMENTAR 2
MODERNIDADE, TEMPO E ESPAÇO
Antony Giddens
Para compreender as conexões entre a modernidade e a transformação do 
tempo e do espaço, precisamos começar traçando alguns contrastes com a relação 
ao tempo espaço no mundo ainda pré-moderno.
Todas as culturas pré-modernas possuíam maneiras de calcular o tempo. 
O calendário, por exemplo, foi uma característica tão distintiva dos estados 
agrários quanto a invenção da escrita. Mas o cálculo do tempo que constituía a 
base da vida cotidiana, certamente para a maioria da população, sempre vinculou 
tempo e lugar – que era geralmente impreciso e variável.
Ninguém poderia dizer a hora do dia sem referência a outros marcadores 
socioespaciais: "quando" era quase, universalmente, ou conectado a "onde" ou 
identificado por ocorrências naturais regulares. A invenção do relógio mecânico 
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
30
e sua difusão entre todos os membros da população (um fenômeno que data 
em seus primórdios do final do século XVIII) constituiu a chave explicativa e 
compreensiva na separação entre o tempo e o espaço.
 
O relógio expressou uma dimensão uniforme de tempo "vazio" 
quantificado de uma maneira que permitisse a designação precisa de "zonas" do 
dia (a "jornada de trabalho", por exemplo).
O tempo ainda estava conectado com o espaço (e o lugar) até que a 
uniformidade de mensuração do tempo pelo relógio mecânico correspondeu à 
uniformidade na organização social do tempo. Esta mudança coincidiu com a 
expansão da modernidade e não foi completada até o corrente século. Um de seus 
principais aspectos foi a padronização em escala mundial dos calendários.
 
O "esvaziamento do tempo" é em grande parte a pré-condição para o 
"esvaziamento do espaço" e se tem assim prioridade causal sobre ele. Pois, a 
coordenação através do tempo é a base do controle do espaço. O desenvolvimento 
de "espaço vazio" pode ser compreendido em termos da separação entre espaço 
e lugar. É importante enfatizar a distinção entre estas duas noções, pois elas são 
frequentemente usadas, mais ou menos, como sinônimos. 
"Lugar" é melhor conceitualizado por meio da ideia de localidade, que se 
refere ao cenário físico da atividade social como situado geograficamente. Nas 
sociedades pré-modernas, espaço e tempo coincidem amplamente, na medida em 
que as dimensões espaciais da vida social são, para a maioria da população, e para 
quase todos os efeitos, dominadas pela "presença" por atividades localizadas.
A "descoberta" de regiões "remotas" do mundo por viajantes e exploradores 
ocidentais foi a base necessária para ambos. O mapeamento progressivo do globo 
que levou à criação de mapas universais, nos quais a perspectiva desempenhava 
um pequeno papel de representação da posição e forma geográficas, estabeleceu 
o espaço como "independente" de qualquer lugar ou região particular.
A separação entre o tempo e o espaço não deve ser vista como um 
desenvolvimento unilinear, no qual não há reversões ou que é todo abrangente. 
Pelo contrário, como todas as tendências de desenvolvimento, ela tem traços 
dialéticos provocando características opostas. Além do mais, o rompimento entre 
tempo e espaço forneceu uma base à recombinação em relação à atividade social. 
Isto é facilmente demonstrado tomando-se o exemplo do horário. Um 
horário, tal como uma tabela que marca as horas em que correm os trens, pode 
parecer à primeira vista meramente um mapa temporal. Mas na verdade é um 
dispositivo de ordenação tempo-espaço, indicando quando e aonde chegam os 
trens. Como tal, ele permite a complexa coordenação de trens e seus passageiros 
e cargas através de grandes extensões de tempo e espaço.
TÓPICO 2 | OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE
31
Por que a separação entre tempo e espaço é tão crucial para o extremo 
dinamismo da modernidade?
Na separação entre tempo e espaço e sua formação em dimensões 
padronizadas, "vazias", penetram nas conexões entre a atividade social e seus 
"encaixes" nas particularidades dos contextos de presença. 
Em segundo lugar, ela proporcionou os mecanismos de engrenagem para 
aquele traço distintivo da vida social moderna, a organização racionalizada. As 
organizações (inclusive os estados modernos) podem às vezes ter a qualidade um 
tanto estática, inercial, que Weber associava à burocracia, mas mais comumente 
elas têm um dinamismo que contrasta agudamente com as ordens pré-modernas.
 
As organizações modernas são capazes de conectar o local e o global de 
uma forma que seriam impensáveis em sociedades mais tradicionais, e, assim 
fazendo, afetam rotineiramente a vida de milhões de pessoas.
Em terceiro lugar, a historicidade radical associada à modernidade 
depende de modosde "inserção" no tempo e no espaço que não eram disponíveis 
para as civilizações precedentes. A "história", como a apropriação sistemática do 
passado para ajudar a modelar o futuro, recebeu seu primeiro estímulo importante 
com a primitiva emergência dos estados agrários, mas o desenvolvimento das 
instituições modernas lhe deu um novo ímpeto fundamental. 
Um sistema de datação padronizado, agora universalmente reconhecido, 
possibilitou uma apropriação de um passado unitário, mas muito de tal "história" 
pode estar sujeito a interpretações contrastantes. Feito o mapeamento geral do 
globo, o passado se torna unitário e um passado mundial; tempo e espaço são 
recombinados para formar uma estrutura histórico-mundial genuína de ação e 
experiência.
FONTE: Adaptado de: GIDDENS, Antony. As consequências da modernidade. São Paulo: 
UNESP, 1991. p. 21-24. 
De uma maneira geral, com a soma dos fenômenos da reformulação da 
concepção de trabalho, das críticas dos trovadores e da utilização da prensa de 
tipos móveis à impressão e confecções de livros, bíblias, imagens documentos 
provocaram mudanças lentas que prepararam o terreno para outros aspectos. 
Entre eles podem-se destacar a desintegração de costumes e a introdução 
de novas formas de organização da vida social, a transição da produção artesanal 
à manufatureira e desta à produção fabril, que por sua vez foi considerado como 
o fator principal para o processamento e a consolidação da Revolução Industrial 
e do capitalismo no interior da Europa.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
32
 O cenário era composto também pela decadência da nobreza feudal 
(primórdios das monarquias nacionais), pelos movimentos das cruzadas, 
enfraquecimento do latim, de crescente interesse pelo árabe e pelo grego, 
progressos das línguas regionais e das literaturas nacionais, o desenvolvimento 
das escolas (primeiros esboços do que viriam a ser as universidades), formam as 
estruturas que criam as condições necessárias aos projetos de modernidade.
A partir de então o homem percebeu a si mesmo como responsável e 
sujeito capaz de fazer perguntas, questionar, aplicar métodos racionais, obter 
resultados, saberes e construir novas verdades e novos conhecimentos, registrar 
e divulgar as ideias faz com que gradualmente, junto com as mudanças técnicas 
também passassem a ocorrer mudanças nas visões de mundo e mentalidades, 
promovendo uma grande ruptura responsável por despertar e conduzir o homem 
rumo à modernidade. 
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Caro(a) acadêmico(a)! Ao longo do Tópico 2 deste caderno, você 
pôde estudar que determinados aspectos que ocorreriam anteriormente à 
configuração de sociedade moderna propriamente dita, atuaram como fatores 
favoráveis à realização da mesma. 
• A noção de trabalho foi gradualmente reformulada, não mais identificada 
como situação de sofrimento, tortura e sacrifício, mas como sendo próprio e 
natural do ser humano.
• A noção antiga de trabalho era a de tripalium, oriunda do latim e designava 
um instrumento de tortura reservado aos escravos; e vigorou nas sociedades 
da Antiguidade e Idade Média.
• A noção moderna foi substituída pela noção de treballan, oriunda do idioma 
catalão e designava a habilidade em elaborar a matéria bruta, transformando-a 
em obra, realização e propriedade humana, e dignificadora do próprio homem.
• As composições do trovador Guilherme IX acabavam por contestar a moral e 
o conservadorismo da Igreja. Suas letras faziam alusão a festas, a mulheres, ao 
sexo e demais prazeres da vida, temas considerados tabus (que não deveriam 
ser mencionados) na época.
• A invenção de Gutenberg (1397-1468), a impressão por tipos móveis, favoreceu 
a melhoria nos números de alfabetização da Idade Média, assim como 
possibilitou a produção e a reprodução de livros em maior quantidade, em 
menor tempo e além de descentralizar esta tarefa que antes somente era feita 
por copistas que se resignavam no interior dos mosteiros e das Igrejas. 
• Com o esvaziamento das noções de tempo espaço na sociedade moderna, foi 
possível conectar o local e o global. Assim afetaram rotineiramente a vida de 
milhões de pessoas.
34
1 Quais foram as mudanças que a noção de trabalho sofreu? Construa um 
esquema explicativo.
2 Quais foram as principais contribuições ao conhecimento e ao saber a partir 
do aprimoramento da prensa em tipos móveis?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
35
TÓPICO 3
CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA 
HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
“Os homens criam as ferramentas,
as ferramentas recriam os homens”. McLuhan
As condições materiais representam fatores primordiais para 
compreendermos as transformações que levaram a humanidade até a 
modernidade. Assim, podemos compreender as distintas alterações nas formas 
do homem se relacionar com a natureza e com o próximo. Podemos estabelecer 
que a história das técnicas que os homens desenvolveram ao longo de tempo 
para um melhor relacionamento com o meio geográfico onde vivem desenvolvem 
objetos, que reunidos, podem contemplar a “cultura material” de uma época 
(BUCAILLE; PESES, 1989). 
Conforme se impunham as dificuldades e adversidades pelo caminho, o 
homem lançou mão de estratégias, mecanismos, estruturas a fim de assegurar 
sua sobrevivência, reprodução e felicidade. O homo sapiens (homem que sabe) foi 
também um homo artifex (homem artista), ou seja, inventor, engenhoso, criativo 
que reuniu cada vez mais inteligência, artifícios e tecnologias. (GANDILLAC, 
1995, p. 26).
Diante disto interpreta-se que o desejo e a necessidade de transformação, 
invenção, modernização acabou por ser um imperativo na trajetória da 
humanidade, e pode-se dizer que foi um projeto por muitas vezes empreendido 
tanto de forma individual como coletiva, mas que o homem não sessou de 
formular/sonhar/gestar e fazer/atuar/concretizar neste sentido. 
Diante desta realidade é necessário levar em consideração também 
as preocupações de que cada era, cada época conheceu seus momentos de 
modernidade, aa seu modo, a seu ritmo, e no interior de uma realidade e um 
momento histórico. Talvez as semelhanças e diferenças possam ser registradas 
analisando como cada sociedade vivenciou sua experiência de modernidade em 
termos de representatividade e repercussão em um dado momento histórico.
36
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
1.1 NO MEIO RURAL
O homem desbravou florestas, drenou pântanos, não apenas colonizou, 
no norte e no leste da Europa, imensas regiões quase desertas, mas mesmo, 
duplicou e às vezes triplicou, em média, o rendimento das terras, alcançando um 
nível de “produtividade” com o salto técnico (GANDILLAC, 1995).
A técnica e máquina de plantação conhecida como Jethro Tull ilustra este 
salto produtivo:
UNI
CURIOSIDADE: JETHRO TULL E A MÁQUINA DE SEMEAR
Em 1708, o agricultor inglês Jethro Tull (1674-1741), inventa a primeira máquina de semear, 
puxada a cavalo, o que representou um grande avanço em termos de mecanização da 
agricultura. Esta invenção facilitava o cultivo, tornando-se matriz base para as inovações 
subsequentes desse gênero. A técnica de Jethro Tull leva o nome de seu inventor, 
considerado o pai da agricultura científica.
Poucas pesquisas e trabalhos científicos se preocupam em valorizar historicamente esta 
invenção, deixando uma lacuna assim como uma oportunidade a novas pesquisas nesta 
área.
Pode-se acrescentar à técnica e máquina do Jethro Tull, o afolhamento 
trienal, esterroamento regular, multiplicações das fundições, arados de ferro e 
com rodas, a invenção da ferradura, da braçadeira de atrelagem, o jugo frontal, 
a substituição dos pavimentos romanos rígidos por um sistema elástico de 
calçamento das estradas, implantação de moinhos de vento e de moinhos 
d’água como responsáveis por modernizar a produção no interior dos campos. 
(GANDILLAC, 1995).
Todos esses aprimoramentos testemunham que uma verdadeira revolução 
técnica foi colocada em cursoe que esta não se restringiu apenas ao domínio da 
agricultura. Os acúmulos e excedentes de alimentos, de força, máquinas, possibilitaram 
que o homem lançasse suas preocupações e capitais para outros domínios. 
1.2 NOS ESPAÇOS URBANOS
Ao mesmo tempo em que os viajantes traziam do Oriente o algarismo 
arábico, o astrolábio e a pólvora; desenvolveu-se a arte e o uso do vidro, 
a fabricação de lentes e de lunetas, a cartografia, a construção de relógios 
automáticos, a indústria do papel, e logo depois o leme de grandes profundidades 
o que possibilitou a realização de viagens marítimas cada vez mais longas 
(GANDILLAC, 1995). 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
37
1.1 NO MEIO RURAL
1.2 NOS ESPAÇOS URBANOS
Por outro lado, a invenção da máquina a vapor (testada desde o século 
XVII), funcionou como um mecanismo acelerador de outras mudanças e 
transformações. Logo em seguida de sua invenção, foram registradas as invenções 
da máquina de costura (1855), o tecido rayon (1855), a dinamite (1866), a máquina 
de escrever (1868), o aço (1968), a tabela periódica (1869), o telefone (1876), a 
lâmpada elétrica (1879), o rádio (1888) o dirigível (1900); que serão retomados e 
abordados com mais ênfase na Unidade 2 deste Caderno de Estudos.
Ao passo que houve um aprimoramento técnico e acúmulo de invenções, 
ocorrem também migrações de grandes levas de pessoas rumo às cidades; que 
por sua vez forçaram o processo de fim da servidão no trabalho. 
Na esfera social, associado às atividades econômicas e financeiras, ocorreu 
o aparecimento de dois novos atores: o empresário capitalista, que concentrou 
as máquinas, as terras e as ferramentas de trabalho; e o proletariado, que foi 
submetido à severa disciplina e precisava realizar o controle sobre a produção.
As estruturas políticas existentes na Idade Média representavam um 
fator de estagnação econômica aos olhos das classes comerciais, e eram indicadas 
como responsáveis por aumentar cada vez mais os níveis de pobreza. Por outro 
lado existia também o descontentamento destas classes diante do fato da não 
participação política no interior de Estado. 
Através de alianças com outros grupos sociais, os populares em especial, a 
burguesia conseguiu alterar este quadro, sendo que na França, no final do século 
XVIII, a burguesia passou a dominar os setores manufatureiro e comercial, se 
tornando em pouco tempo a categoria econômica mais importante, assumindo o 
poder político a partir da Revolução Francesa, em 1789. A partir deste momento, 
os outros grupos sociais e politicamente favorecidos pelas antigas estruturas, 
como o clero e a nobreza, avançam cada vez mais à situação de colapso. 
As invenções e inovações, no campo da técnica, somadas às mudanças 
políticas e socais favorecem o desenrolar da modernidade. Foi questão de tempo. A 
noção de um universo vivo, orgânico e espiritual que predominava na época pré-
moderna foi substituída pela noção de mundo como máquina, e esta se converteu 
na metáfora dominante da era moderna (CAPRA, 1982).
As máquinas foram utilizadas nas atividades de uso e domínio da 
natureza, a aplicação da química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor 
favoreceu o desbravamento de novas terras e continentes, o transporte através das 
ferrovias, as comunicações por meio do telégrafo, o funcionamento dos moinhos 
e a irrigação e com a canalização dos rios, entre outros.
38
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
Surpreendidos diante desta dinâmica e propulsão de forças Marx e Engels 
(2012) transcrevem que não estava previsto uma explosão com tantas forças 
produtivas emergidas do interior da sociedade feudal, por sua vez coincidiram 
com os interesses da burguesia e do capitalismo, e gradualmente se estenderam 
ao campo da sociedade, da política, da cultura entre outros aspectos.
Ao longo da Idade Média foram desenvolvidas as máquinas de guerra 
e tortura, aos poucos e de modo grosseiro a impressora foi responsável por 
potencializar o alcance e a divulgação do conhecimento e da ciência; o canhão, 
na guerra; a bússola, esta que até certo ponto já era conhecida anteriormente, 
revolucionaram também as finanças, o comércio e a navegação (ADORNO; 
HORKHEIMER, 2000).
Por volta do século XIII, as “artes mecânicas” passam a ser compreendidas 
como sendo as “ciências” próprias ao homem que “trabalha com seus corpos”. O 
homem encantado com a praticidade e eficiência das máquinas e das tecnologias 
em termos de resultados e alcances alterou as concepções e os modos de trabalho 
existentes. 
Caro(a) acadêmico(a)! Desde já, tenha em consideração que ao mesmo 
tempo em que se realizavam os projetos modernos que causavam mudanças na 
sociedade e na cultura, ocorriam também resistências e críticas a partir dos grupos 
sociais (os sindicatos de trabalhadores) e da cultura (artes plásticas, literatura e 
música) da época, e que serão melhor estudados na Unidade 2 deste Caderno de 
Estudos.
2 COLONIALISMO E O DESENVOLVIMENTO DA 
CARTOGRAFIA
Para a descoberta do novo mundo, muitas das técnicas de navegação foram 
alteradas. Foi um longo processo de inovação técnica. Novas embarcações eram 
necessárias. Uma das principais alterações no campo das técnicas marítimas foi a 
ampla utilização do vento como forma de propelir as embarcações. A propulsão 
dos navios durante a Idade Média era através da utilização dos remos. Porém, nas 
viagens através do Atlântico, os remos se mostraram ineficientes. Neste sentido, 
na Península Ibérica, buscaram-se novas possibilidades técnicas. A denominada 
“Vela Latina” foi a que melhor se adaptou à transposição do oceano. 
A cartografia foi um dos principais ramos da cultura material que se 
desenvolveu no ocidente com o colonialismo, pois foi a cartografia uma forma 
racional de se descrever a paisagem das novas terras “descobertas” pelos europeus. 
Após o século XVIII, com o desenvolvimento da longitude na Inglaterra, temos os 
mapas como uma das principais formas de referência geográfica, para a orientação 
dos viajantes pelos mais distantes rincões do planeta Terra. Atualmente, com o 
moderno GPS, a orientação em mapas desenhados sobre papel é dado da cultura 
material do passado humano (KANTOR, 2009). 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
39
2.1 O NOVO MUNDO
Este foi o nome dado às terras descobertas no continente no hemisfério 
ocidental, a leste do Oceano Atlântico, no século XV, pelo navegador genovês 
Cristóvão Colombo. A descoberta da América, a navegação pela África e pela 
Índia ofereceram à burguesia nascente um terreno propício às oportunidades, 
aventuras e conquistas de novas riquezas e matérias-primas e isso tudo será 
melhor sucedido em terras ainda não dominadas pelo homem europeu. Na figura 
a seguir está ilustrada a chegada de Colombo à América:
FIGURA 7 – A CHEGADA DE COLOMBO À AMÉRICA EM 1492, POR JONH VANDER
FONTE: Disponível em: <http://www.zun.com.br/descobrimento-conquista-e-coloniza-
cao-das-americas/>. Acesso em: 5 dez. 2012. 
Marx e Engels (2010. p. 25) apontam que “o mercado indiano e chinês, a 
colonização da América, o intercâmbio entre as metrópoles e as colônias e, em 
geral, a intensificação dos meios de troca e das mercadorias deram ao comércio, 
à navegação e à indústria um impulso até então desconhecido, favorecendo o 
processo de desintegração da sociedade feudal”.
A necessidade da burguesia de conquistar novas terras e fontes de 
matérias-primas associou-se aos interesses da Igreja Católica, que foram os 
de expandir a fé cristã aos povos “sem fé” e sem “alma”. Inicialmente estas 
expedições foram marcadas por momentos amistosos, de trocas e negociações 
pacíficas, porém evoluíram para um quadro de choques culturais, violências, 
dizimações e destruições das culturas nativas que existiam nas novas terras.
40
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
Estas expedições preocupavam-se em obter das novas terras as matérias-
primasque serviriam à realização da modernidade europeia, interessando em 
especial os minérios como a prata e o ouro extraídos da América espanhola e 
madeiras e produtos tropicais da América portuguesa.
As novas matérias-primas e equipamentos, aos poucos, se instalaram no 
interior dos sistemas de produções e da própria sociedade. A produção ainda 
apresentava e se concentrava nas atividades manufatureiras, que por sua ela 
representa a pré-condição necessária ao processo de industrialização que viria a 
se desenvolver nos anos seguintes.
Como principal combustível inicialmente foi utilizado o carvão mineral, 
em seguida o petróleo e por fim a eletricidade. As operações industriais foram 
realizadas pelo tear mecânico e pela máquina a vapor. As informações e as notícias 
foram comunicadas pela prensa, telégrafo, rádio e telefone.
Aqui serão relacionados alguns nomes, máquinas e técnicas que fazem 
parte das principais invenções do período inicial da Revolução Industrial e da 
modernidade, outros tantos poderiam ser mencionados, porém é necessário fazer 
recortes e escolhas, eleger aspectos e abordagens, no caso em específico, escolher 
invenções e estruturas que tornaram o processo de modernização e modernidade 
uma realidade cada vez mais concreta.
3 A MANUFATURA
A manufatura se caracterizou por empregar um maior número de pessoas 
no interior dos espaços de trabalho e dos setores de produção; isto que ocasionou 
uma maior divisão e especialização de tarefas e das funções, em um mesmo espaço 
de trabalho e na elaboração de um único produto, como é possível identificar na 
imagem a seguir:
FIGURA 8 – DIVISÃO DO TRABALHO E DAS FUNÇÕES
FONTE: Disponível em: <http://www.chumanas.com/2013/01/do-artesanato-
-maquinofatura.html>. Acesso em: 31 maio 2013.
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
41
A manufatura apresentou a organização de trabalho que se caracterizou 
como uma espécie de trabalho doméstico, como uma forma de trabalho de 
subsistência e ao mesmo tempo capaz de gerar renda complementar à que já era 
obtida. Utilizavam-se ferramentas e máquinas isoladas, e como principais atores 
na produção encontravam-se o mestre artesão e o mercador manufatureiro.
Neste contexto, as especializações das profissões se acentuam, rompendo 
gradualmente com a ideia de fabricação de um produto do começo ao fim, de 
totalidade, regulamentação e no controle que era exercido e praticado pelos 
artesãos, controle também que se estendia à circulação e comercialização dos 
produtos.
4 A SOCIEDADE OCIDENTAL DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Por Revolução Industrial podemos compreender um movimento de 
ampliação do potencial humano em construir objetos úteis à vida humana em 
sociedade. Assim, a Revolução Industrial tem distintas fases, que a maior parte 
dos especialistas em história econômica as subdivide em três grandes períodos:
1ª Fase da Revolução Industrial – Século XVIII – Inglaterra – Indústria Têxtil.
2ª Fase da Revolução Industrial – Século XIX (1870) – Europa Ocidental – Estados 
Unidos e Japão – Indústria Metal – Mecânica – Fordismo.
3ª Fase da Revolução Industrial – Século XX (1950) – Europa Ocidental – Estados 
Unidos e Japão – Indústria da Informática e Mecatrônica – Toyotismo.
As distintas fases da Revolução Industrial nos permitem traçar um histórico 
do desenvolvimento da cultura material no ocidente nos últimos séculos, pois a 
Revolução Industrial foi o processo que permitiu uma aceleração do tempo em toda a 
sociedade ocidental. Isto é, o universo rural, marcado pelas estações do ano e por uma 
íntima relação do homem com a natureza, foi de maneira definitiva transformada. 
Uma sociedade urbana, disciplinada pelo apito das fábricas e que teve 
nas chaminés um símbolo de progresso, foi a principal marca do período. Uma 
forte exploração dos donos das fábricas, os capitães da indústria e um maciço 
desemprego, formando um exército industrial de reserva, marcou o período. A 
revolução agrícola também é importante ser compreendida. Na Inglaterra, com o 
chamado “cercamento dos campos”, uma grande parte da população foi expulsa 
do setor agrário para o industrial. 
Uma segunda fase da Revolução Industrial ocorreu quando não apenas 
a Inglaterra, mas as demais nações do Mundo Ocidental também realizaram 
processos acelerados de produção de objetos. A Itália, a Alemanha, a França, 
o Japão, que na era do Imperador Meiji se ocidentalizou, também possuíam 
indústrias. Os Estados Unidos da América, neste período, se destacaram como 
país e que, aos poucos, superou a Inglaterra como principal potência mundial. 
A indústria automobilística se tornou em um símbolo máximo da produção 
industrial. 
42
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
Uma terceira fase da Revolução Industrial está acontecendo no mundo 
ocidental a partir do final da segunda guerra mundial. Em 1944, no acordo 
de Breton Woods, o dólar passou a ser a principal moeda de troca do mundo, 
substituindo a libra esterlina como principal padrão nas relações econômicas 
internacionais. Com isto temos um novo momento, pois o crédito, que na libra 
esterlina era vinculado ao ouro, passou a ser, com o dólar fiduciário, isto é, o 
dólar não possui lastro em ouro (RESENDE, 2000). 
Uma nova forma de se encarar a economia surgiu no mundo do século XX, 
pois a União Soviética inspirou diversos países no mundo a adotar o “socialismo 
real”, em que a economia era planificada. Porém, o socialismo real fracassou, e o 
mundo atualmente passa por um processo no qual os objetos são produzidos de 
forma ágil, rápida e sem a necessidade de grande quantidade de trabalhadores. 
Na primeira Revolução Industrial, tivemos uma grande quantidade de 
trabalhadores saindo do campo o indo para as cidades, porém, com grande 
risco de desemprego. Na segunda Revolução Industrial, tivemos a era do “pleno 
emprego”. Hoje, vivemos a era da flexibilização das relações de trabalho, na qual 
a maior parte da população economicamente ativa trabalha no terceiro setor, ou 
setor de serviços, em relações de trabalho flexíveis. 
O mundo da Revolução Industrial é o que vamos estudar, em especial, no 
contato entre as inovações tecnológicas e a cultura material humana. Uma principal 
diferenciação da sociedade pré-industrial para a industrial é que as corporações 
de ofício da Idade Média e as manufaturas da Idade Moderna possibilitavam 
para os seus membros um sistema de ausência de concorrência. Isto é, durante 
o período do século XII ao Século XVII, não havia uma livre concorrência entre 
diferentes marcas de um mesmo produto. 
Com isso, não havia a necessidade de uma constante melhora dos 
produtos desenvolvidos. Porém, com a Revolução Industrial, tivemos o chamado 
liberalismo econômico, em que a maior parte das indústrias era concorrente entre 
si. 
Esta concorrência é o fruto da utilização da ciência nas atividades fabris, 
pois com a inovação técnica, se agrega valor a um produto, o que possibilita maior 
lucro para o dono da fábrica que o produz. Porém, este é um longo processo, que 
se inicia a partir do momento na qual os homens utilizam o vapor como principal 
meio de força (RESENDE, 2000). 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
43
4.1 NO PRINCÍPIO ERA O VAPOR: AS MÁQUINAS DA 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA 
A força disponível ao homem para a realização do trabalho e das 
atividades que já era experimentada na utilização dos ventos, pelo movimento 
da água ou da tração animal, aumentou drasticamente com o aproveitamento 
da energia a vapor, porém esta fonte de energia exigia a construção de máquinas 
mecânicas com grandes estruturas, que por sua vez passaram a ser projetadas e 
experimentadas pelos cientistas e industriais somente a partir do século XVIII. 
A máquina a vapor, amplamente utilizada no interior das fábricas 
modernas, foi aprimorada por James Watt (1736-1819) que se originou dos 
melhoramentos de um modelo preexistente desenvolvido por T.Newcome (1664-
1729), conforme ilustra a imagem a seguir:
FIGURA 9 – MÁQUINA A VAPOR
FONTE: Disponível em: <http://nadadoseuinteresse.blogspot.com.br/2012/08/primeira-
-fase-da-revolucao-industrial.html>. Acesso em: 1 jun. 2013.
Quando formulada por Newcome, a máquina foi utilizada incialmente 
na drenagem da água que acabava por se acumular e alagar o interior das minas 
de carvão, bem como para elevar as cargas de minérios até as partes externas 
das minas. As primeiras máquinas não apresentavam uma solução eficiente 
como era do interesse dos industriais, pois era responsável por consumir grandes 
quantidades de combustível e encarecer os rendimentos das atividades nas quais 
eram utilizadas. 
 
44
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
As transformações que a máquina a vapor exigiu em termos de 
adaptações, por outro lado permitiram a criação/aperfeiçoamento da energia que 
passou a acionar navios, locomotivas, serrarias, máquinas de drenagens e outros. 
Uma geração após Watt, o domínio do vapor conduziu a Inglaterra ao posto de 
primeira nação industrial do mundo. 
A leitura complementar que é sugerida a seguir ilustra o contexto que 
rodeava os estudiosos, engenheiros, inventores, projetistas e demais cientistas 
envolvidos nos processos de criação e desenvolvimento de máquinas e tecnologias 
da época.
Existiam questões tanto de ordem prática como teórica para ser alteradas e 
alcançadas a fim de mais reduzir o consumo de combustível e evitar o desperdício 
de matérias primas, o que por sua vez seria responsável por gerar maior eficiência, 
melhores resultados nas atividades e aumentar os lucros obtidos.
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
45
LEITURA COMPLEMENTAR 1
O APRIMORAMENTO DA MÁQUINA A VAPOR 
Luiz Alberto Tavares
Nos séculos XVII e XVIII, as atividades de mineração eram severamente 
limitadas por problemas de inundação. Não é surpreendente, portanto, que 
algumas das primeiras tentativas de empregar o vapor fossem voltadas para 
a drenagem das minas. Nesse contexto, em 1712, depois de um prolongado 
período de experimentação, Newcomen desenvolveu uma máquina a vapor para 
bombeamento da água. 
Usando somente vapor e pressão atmosférica, a máquina de Newcomen 
estava em conformidade com a capacidade da engenharia da época. Além disso, era 
robusta, confiável e baseada em um princípio de funcionamento bastante simples. 
Consequentemente, uma vez instalada, podia trabalhar por um longo período e 
com custos de manutenção quase desprezíveis.
Em razão dessas qualidades, as máquinas de Newcomen logo se tornaram 
de uso bastante difundido em mineração nas atividades do sistema hidráulico. 
Segundo G. N. Von Tunzelmann, foi depois da invenção de Newcomen que a 
máquina a vapor se estabeleceu como o modelo tecnológico usado para drenagem 
de minas.
Porém a máquina de Newcomen tinha uma deficiência significativa: seu 
consumo de combustível era alto, em razão da necessidade de alternância de 
aquecimento e esfriamento do cilindro em cada ciclo operacional. Na mineração 
de carvão, em que o abastecimento era barato e disponível, o elevado consumo 
de combustível não foi uma grande limitação. Mas em outras áreas de mineração 
– principalmente na extração de cobre e estanho nas minas de Cornwall, onde 
o carvão tinha de ser importado do País de Gales e vinha pelo mar – esse alto 
consumo de combustível impediu uma maior difusão da máquina de Newcomen.
Quando Watt iniciou seus trabalhos para produzir as primeiras máquinas, 
encontrou muita dificuldade em conseguir trabalhadores suficientemente precisos. 
Acabou recorrendo a habilidosos trabalhadores em metal empregados na fábrica 
de Boulton e na fábrica de John Wilkinson, na qual eram produzidas máquinas 
de cilindro perfurante. Esta última máquina é descrita como “provavelmente a 
primeira ferramenta de trabalho em metal capaz de fazer um trabalho duro como 
nenhuma outra”.
Como a máquina a vapor se transformou gradualmente em um fator 
importante da produção, passou-se a prestar atenção no que poderia torná-la 
mais econômica, reduzindo-se o gasto com vapor e consequentemente com água. 
46
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
A racionalização técnica da máquina a vapor converteu no problema central. 
Para a realização dessa tarefa, tornou-se imprescindível o estudo detalhado dos 
processos físicos que ocorreriam na máquina. 
O aumento da produtividade não ocorria uniformemente em todos os 
setores da produção, o que criava a obrigatoriedade de procurar outras melhorias 
tecnológicas. O desenvolvimento da indústria mecânica concentrada em grandes 
unidades produtoras teria sido impossível sem uma fonte de energia maior do 
que podiam oferecer as forças humana e animal e que independesse dos caprichos 
da natureza. A solução foi encontrada num novo transformador de energia – a 
máquina a vapor – que dependia da exploração, em escala extraordinária, do 
carvão como fonte de energia.
O desenvolvimento de máquinas a vapor como uma fonte conveniente de 
energia produzida por movimento rotacional e a competição entre máquinas de 
vapor de alta e baixa pressão implicavam em questões de eficiência. 
O ideal de aproveitamento total da energia não podia ser obtido pela 
transformação de água em vapor. Aqui, a eficiência era medida pelo trabalho 
feito pelo consumo de um alqueire de carvão. Em lugares distantes de uma área 
de mineração de carvão isto teve importância comercial. Watt, pioneiro neste tipo 
de medida e em avanços no projeto de máquina a vapor, enfatizou ainda mais 
sua importância. 
Os esforços para relacionar a mecânica da ciência com os movimentos das 
máquinas podem ser vistos nas disputas do início do século XVIII, quando existia 
um debate sobre medidas e conceitos que agora reconhecemos como impulso 
(m.v) e energia cinética (1/2 m.v). Na primeira metade do século ocorriam 
numerosas tentativas para estabelecer empiricamente os conceitos defendidos 
pelos rivais de Newton e os vários dispositivos que eram construídos para 
demonstrar publicamente as medidas de impacto. 
O poder mecânico das máquinas do século XVIII estava tanto na 
transformação das forças naturais quanto no compartilhamento e transferência 
do conhecimento de um local para outro. As ideias mecânicas foram a base da 
mensagem do domínio da natureza propagada nas conferências científicas dadas 
em clubes, sociedades, salões e teatros ao longo desse século na Inglaterra. 
Os filósofos naturais e os engenheiros civis mais antigos sabiam das 
consequências financeiras relacionadas a máquinas que frequentemente deixam 
de trabalhar de modo correto ou eficaz. Por isso, existia muita preocupação por 
parte daqueles que projetaram as primeiras máquinas a vapor em garantir que 
os benefícios fossem assegurados. Um conhecimento profundo dos princípios 
científicos fundamentais era, assim, imprescindível para gerar um nível aceitável 
de confiança e consequentemente assegurar a viabilidade econômica de novos 
empreendimentos.
 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
47
Diante disto os filósofos naturais do século XVIII estavam interessados 
em aplicações industriais e descobrindo como medir forças que poderiam ser 
precisamente definidas e regulamentadas. O objetivo era construir máquinas 
para revelar a medida de força, mas em última instância determinar o significado 
de força.
FONTE: Adaptado de: LUIZ ALBERTO TAVARES: James Watt: A trajetória que levou ao desen-
volvimento da máquina a vapor vista por seus biógrafos e homens de ciências. Dissertação de 
Mestrado em História da Ciência. Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2008. Dispo-
nível em: <http://www.ibamendes.com/2011/04/o-impacto-da-maquina-vapor-na-revolucao.
html>. Acesso em: 1 jun. 2013.
No momento em que se passou do uso da força dos ventos, das águas 
e da tração animal à energia térmica/vapor e mecânica, houve um drástico 
aumento da força aplicadae por consequência do impacto no meio em que era 
empregada. A potência da força advinda tanto da máquina a vapor como da 
energia elétrica exigiu que se reformulassem todos os meios de produção e as 
demais ferramentas acessórias; que estes fossem mais resistentes, pois diante das 
novas forças empregadas haviam se tornando frágeis, inseguros e com riscos de 
acidentes fatais.
4.2 O TEAR MECÂNICO
Como já afirmamos, um dos principais setores no qual a Revolução 
Industrial se processou foi a têxtil. O aprimoramento técnico foi uma das 
principais vetores da revolução. Uma quantidade menor de funcionários, e uma 
maior produtividade foram conquistadas com esta inovação. Dentre as inovações 
técnicas, podemos citar o tear mecânico. 
O tear foi aprimorado por Edmond Cartwrighr (1743-183) por volta 
de 1785. A capacidade produtiva dos teares manuais permitiu a confecção de 
mantas de tecidos na largura do comprimento que os braços dos trabalhadores 
alcançavam. 
A partir do tear mecânico foi possível ampliar os tamanhos dos tecidos 
confeccionados, bem como combinar até oito fios ao mesmo tempo, tornando as 
peças mais resistentes. Os primeiros teares mecânicos apresentavam estrutura 
semelhante à ilustração a seguir: 
48
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
FIGURA 10 – TEAR MECÂNICO
FONTE: Disponível em: <http://www.culturabrasil.pro.br/revolucaoindustrial.
htm>. Acesso em: 31 maio 2013.
Além da superação das proporções de tamanho, elaboração e qualidade dos 
tecidos, estima-se que esta máquina conseguia corresponder e realizar ao trabalho 
que antes exigia a força braçal e física de aproximadamente 200 funcionários. 
Muitos estúdios apontam que foi especificamente no campo da indústria 
têxtil que a Revolução Industrial provocou os princípios mais revolucionários. 
A euforia e o entusiasmo dos industriais diante destas possibilidades não 
permitiam espaço para que se pensasse e/ou prevê-se as consequências em termos 
de produção de lixo, resíduos, impactos e poluição ambiental, poluição sonora e 
muito menos os números de desempregos, miséria e exclusão social pelos quais 
seriam responsáveis.
Uma das principais utilizações das máquinas a vapor foi no setor de 
transportes. Em especial, em uma novidade do mundo no século XIX: o trem. Os 
trens são os frutos da utilização do vapor, pois os mesmos eram propelidos através 
de uma caldeira de água fervente, que ao entrar em processo de evaporação, gerava 
energia que possibilitava a tração que girava as rodas, que é encaixada nos trilhos.
Além do trem, o navio a vapor foi uma importante inovação. Pois ele 
permitiu aos homens transpor distâncias marítimas em um tempo muito menor 
que nas antigas embarcações a vela. Os “vapores”, como ficaram conhecidos os 
modernos navios, foram paulatinamente substituindo os navios de madeira. Pois, 
assim como os três eram de ferro, as embarcações também passaram a utilizar a 
mesma matéria-prima. 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
49
FIGURA 10 – TEAR MECÂNICO 4.3 AS MÁQUINAS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: 
ENERGIA ELÉTRICA E TELÉGRAFO
Uma das principais inovações da segunda Revolução Industrial foi a 
energia elétrica. A eletricidade foi descoberta por Benjamim Franklin. Além do 
campo industrial e do trabalho, os benefícios da energia elétrica foram percebidos 
a partir da possibilidade da luz ao longo da noite e uma iluminação mais eficiente 
de ambientes internos e externos.
IMPORTANTE
A primeira aplicação da eletricidade se deu no campo das comunicações, com 
o telégrafo e o telefone elétricos. Em 1882, Thomas Edison construiu as primeiras usinas 
geradoras em corrente contínua, para o atendimento de sistemas de iluminação. Em 1886, 
foi feita a primeira transmissão de energia elétrica por George Westhinghouse. 
O uso da corrente alternada e dos sistemas polifásicos desenvolvidos por Nikola Tesla, em 
conjunto com o transformador eficiente de Willian Stanley, proporcionaram a transmissão 
para grandes distâncias, bem como ao uso doméstico da energia elétrica. A facilidade de 
transporte/comunicação e de conversão direta em qualquer outro tipo de energia, fizeram 
com que a energia elétrica chegasse rapidamente aos locais tanto mais distantes como mais 
ao interior dos territórios. 
FONTE: Adaptado de: FARIAS, Leonel Marques; SELLITTO, Miguel Afonso. Uso da energia 
ao longo da história: evolução e perspectivas futuras. Revista Liberato, Novo Hamburgo, 
v. 12, n. 17, p. 01-106, jan./jun. 2011. p. 10. Disponível em: <http://www.liberato.com.br/
upload/arquivos/0119071114445125.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2013.
O físico e pintor americano Samuel Morse (1791-1872), na primeira metade 
do século XIX, formulou o primeiro sistema de telégrafo elétrico. Para operar o 
telégrafo inventou um código à transmissão das mensagens daquele aparelho, 
e a partir disto Samuel Morse (1791-1872) cria um sistema de combinação entre 
pontos, traços e pausas percutidos e transmitidos através de impulsos telegráficos 
e visuais.
50
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
FIGURA 11 – TELÉGRAFO
FONTE: Disponível em: <http://puxandoapalha.blogspot.com.br/2012/01/
aprenda-tudo-sobre-codigo-morse.html>. Acesso em: 1 jun. 2013. 
Quando Morse apresentou seu invento, já se encontrava em uso na França 
o telégrafo ótico de Claude Chappe (1763-1805) que possibilitava a transmissão 
entre distância de até cinco mil quilômetros. 
Ao longo do século XVIII e até a metade do século XIX, o desenvolvimento 
das transmissões e comunicações se deu de forma muito lenta. Em 1791, após as 
demonstrações de Chappe, ocorreu a construção de uma linha que ligava Paris a 
Lilíe (NETO, 2013).
Era um conjunto de hastes móveis que transmitiam letras e sinais de um 
código. Colocada em lugares altos ou em torres, essa máquina podia mandar 
mensagens a distancias de até 700 km em 20 minutos. E enquanto o invento de 
Morse não se popularizava, torres do telégrafo ótico foram edificadas pelo interior 
da Europa, conforme o modelo de construção a seguir: 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
51
FIGURA 11 – TELÉGRAFO FIGURA 12 – TORRE NO INTERIOR DE BARCELONA, NA ESPANHA
FONTE: Disponível em: <http://travelphotobox.blogspot.com.br/2010/11/torre-
-de-telegrafo-optico-del.html>. Acesso em: 2 jun. 2013.
Samuel Morse trabalhava no aprimoramento de seu invento, um físico 
americano, descobriu a música galvânica. A descoberta foi baseada no fato de que 
a emissão de notas musicais dependia do número de vibrações imprimidas no 
ar. O ouvido humano só pode perceber acima de 16 vibrações por segundo. Daí 
surgiu a ideia de induzir corrente num eletroímã com um número de interrupções 
superior àquele limite. Houve a surpresa: a barra imantada produziu sons. 
(NETO, 2013).
Esta invenção logo provocou inúmeras experiências no mesmo campo 
e como a ideia de transmitir os sons musicais a distância, usou-se processo 
semelhante ao do telefone elétrico. Neto (2013) arrola que Philippe Reis (1834-
1874) construiu, então, um aparelho parecido com uma orelha humana, cujo 
tímpano era um pedaço de bexiga e aparelhou o engenho. Foi desse modo que 
seus alunos puderam ouvir as músicas que ele tocava em outra sala.
Pelo fato de também transmitir a voz humana, embora de maneira 
imperfeita e quase inaudível, foi chamado de telefone "filosófico". Anos mais 
tarde, quando Graham Bell o registrou com o termo "Telefone", Philippe Reis 
reclamou a prioridade, embora nenhum dos seus aparelhos realmente houvesse 
transmitido a palavra (NETO, 2013).
52
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
NOTA
O telégrafo, através de fio elétrico, de Samuel Morse, só teve a primeira linha 
inaugurada em 24 de maio de 1844, ligando Baltimore a Washington (EUA), aplicava um 
código de sinais, também inventado por ele; o código de Morse e que ainda hoje é usado.
 O advento do telégrafo elétrico facilitou bastante as comunicações, mas só efetuavatransmissões em terra firme. Foi a 17 de agosto de 1850, graças à instalação do primeiro 
cabo submarino do mundo, que França e Inglaterra puderam ligar seus portos de Calais e 
Dover e passar a realizar a transmissão. 
FONTE: Adaptado de: NETO, Pedro Alcântara. História das comunicações e das teleco-
municações. Disponível em: <http://www2.ee.ufpe.br/codec/Historia%20das%20comuni-
caes%20e%20das%20telecomunicaes_UPE.pdf>. Acesso em: 2 jun 2013.
4.4 O TELEFONE
Caro(a) acadêmico(a)! A ideia de transmitir os sons de um local a outro foi 
um sonho, assim como o de voar, sonhado desde os tempos mais remotos e em 
diferentes momentos e sociedades humanas. Não é difícil encontrar brincadeiras 
da infância que ilustrem a atividade de telefonar usando um fio de barbante preso 
em uma lata em cada extremidade.
Nos registros científicos tem-se que em 1667, o físico inglês Robert 
Hooke (1635-1703), sugeriu o emprego de um fio esticado para transmitir o som. 
Posteriormente, em 1684, Dom Gauthier, um monge francês, realizou experiências 
de telefonia acústica, utilizando tubos pneumáticos, mas dificuldades econômicas 
impediram o desenvolvimento do seu projeto, pois custava muito caro. Na mesma 
época, um inglês imaginou uma espécie de telefone de barbante, que permaneceu 
em uso durante algum tempo, em regiões mais afastadas e que não contavam 
com outra forma de comunicação.
O telefone ainda passou por diversas etapas de transformação e 
aperfeiçoamentos e, em meio a muitos problemas e disputas, foi patenteado por 
Alexandre Graham Bell (1847-1922), em 1876. O texto que segue trata de ilustrar 
um pouco mais todo o contexto no qual o telefone surgiu e como foi utilizado.
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
53
4.4 O TELEFONE
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A INVENÇÃO DO TELEFONE E SUAS CONTROVÉRSIAS
 
Joice Brignoli
O século XIX vivenciou a urgência dos meios de se comunicar. A 
modernidade da época exigia das pessoas se tornassem livres e independentes 
em suas relações e vínculos cotidianos, locais, tradicionais, regionais. Será neste 
cenário e intenção de encurtar as relações, e aperfeiçoar os contatos que se dará 
invenção do telefone. 
A história oficial atribui a Alexander Graham Bell a criação do telefone, 
porém, existem discussões sobre o verdadeiro inventor do telefone. Nos bastidores 
da história, está o inventor italiano Antonio Meucci (1808-1889), que descobriu que 
era possível a transmissão de sons por meios de cabos eletrônicos. Aprimorando 
sua obra, em 1854, desenvolveu um sistema capaz de realizar a comunicação da 
voz simultaneamente. Surgia assim, o primeiro sistema telefônico do mundo. 
A rixa sobre a autoria do telefone inicia justamente na próxima etapa de 
uma invenção, o processo de patenteação. Meucci passou por crises financeiras 
que o impossibilitaram a patentear sua invenção. Este tinha apenas, a patente 
provisória do seu sistema telefônico. Quando finalmente, pôde patentear 
oficialmente, descobriu que Graham Bell já o havia feito, sendo concedida a ele 
a autoria completa do invento, como todo o retorno financeiro e méritos cabíveis 
de inventor. 
Mas mesmo patenteado o projeto não estava acabado, Graham Bell contava 
com a ajuda de Thomaz A. Watson (1854-1934) e atuou em aperfeiçoar o projeto de 
um professor, um aparelho que era capaz de transmitir sons. Bell teve a ideia de 
que a eletricidade poderia potencializá-lo. Com a ajuda de Watson o experimento 
foi testado ao acaso, quando Bell sofreu um pequeno acidente doméstico e pediu 
ajuda a Watson, que ouviu seu apelo através do novo aparelho, com a seguinte 
frase: “Sr. Watson, venha cá, preciso do senhor”.
As controvérsias sobre a invenção do telefone são tratadas ainda no 
campo político. Há indícios que os Estados Unidos tardou a analisar o processo 
de revogação da patente do telefone, movida por Meucci, pois havia o patrocínio 
de uma empresa estadunidense impulsionando as invenções de Bell; Segundo 
Fischer (2007, p. 41), “somente em 2002, um congresso nos EUA revogou a patente 
da invenção do telefone para Antonio Meucci”.
A criação do telefone vai além do aperfeiçoamento de técnicas de 
comunicação. Transita pelas questões de poder por trás das invenções, onde as 
54
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
potências da época tentavam impor-se através de inovações tecnológicas. As 
invenções representavam a modernidade, dando status de poder e força para 
quem estivesse vinculado e utilizando-se delas.
FONTE: Adaptado de: Fischer (2007).
No mesmo contexto de concorrências e disputas diante das invenções, 
entre os inventores e dos processos de patentes em torno do telefone, vai ocorrer 
os primeiros experimentos para com a fotografia e que serão responsáveis 
por, posteriormente possibilitar o surgimento também do cinema. Caro(a) 
acadêmico(a)! Acompanhe no texto a seguir como se deram mais estas invenções, 
bem como os impactos que conferem à sociedade e ao percurso da modernidade 
como um todo.
LEITURA COMPLEMENTAR 3
MODERNIDADE, FOTOGRAFIA E CINEMA
Joice Brignoli
Segundo Mauad (1990, p. 2), a fotografia entra neste cenário de forma 
turbulenta, com críticas por parte dos artistas plásticos ligados à corrente 
naturalista, que percebiam que a partir da fotografia a arte ficaria em segundo 
um plano, sendo que a fotografia conseguia reproduzir o real de forma plena.
A fotografia acompanhou e atendeu às teorias e às necessidades do seu 
século, o século XIX, que se ocuparam e utilizaram dela de diversas formas. 
No século XIX, as características físicas e raciais dos criminosos, sendo 
que a partir de então ganham forma cada vez mais concreta com estatuto de 
provas infalsificáveis. A partir disto, no século XX, a fotografia como forma 
de identificação se tornou comum, tanto nos documentos oficiais de registros 
pessoais como a identidade, carteira de motorista, como nas fotos do cotidiano, 
de famílias, os retratos de momentos de lazer, festas, viagens entre outros.
Com o passar dos anos, a fotografia se desenvolve, e o caráter imóvel das 
fotos, vai dando espaço para as imagens em movimento e projetadas possibilitadas 
pela mais nova invenção, o cinema, que se dará no ano 1895. 
Wollen (1996, p. 71) descreve que os irmãos Lumiére promoveram em 
Paris a primeira apresentação pública de dez de seus filmes com dois minutos de 
duração. Nasceu assim o cinema mudo, que permaneceu neste formato até o ano 
de 1926. 
TÓPICO 3 | CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
55
O cinema não possuía inicialmente a forma global e popularizada que 
possui hoje, porém, no desenrolar do século XX, novos meios de comunicação, 
como a televisão e o rádio, foram difundidos pelo mundo, e o telefone, o cinema 
e a fotografia acompanharam este processo.
Com a difusão das fotografias, a tendência de registrar para materializar, 
reforçar a capacidade de memória a aplacar o esquecimento, em fim eternizar 
os acontecimentos ganha força, tanto na esfera privada, com as fotos de família, 
como no espaço público, como os eventos políticos e mudanças estruturais nas 
cidades.
Estas mudanças estruturais da cidade serão percebidas de forma mais 
intensa com o advento da Segunda Guerra Mundial, quando o referencial europeu 
foi deixado de lado, e os olhos e holofotes foram lançados para a modernidade 
estadunidense, agora como a mais nova moda em hábitos e costumes no interior 
das cidades.
A ideia de reprodução do real foi duramente criticada por vários campos 
do conhecimento, pois tanto a fotografia como o cinema foram, como toda arte, 
subjugados à escolha, ao filtro do capturador, do artista, que exprime em sua 
obra a sua compreensão de mundo ou a influência de alguma corrente artística 
ou histórica.
FONTE: Adaptado de: Mauad (1990); Wollen (1996).
Em termos de projetos de modernidade que transcorreu em termos de 
sociedade e cultura após o longo período da Idade Média. Colaboraram neste 
processo obras da construçãocivil, represas e barragens de água, os moinhos 
de vento, as usinas de força que eram responsáveis por produzir energia. A 
modernidade exigia que o homem tomasse as rédeas da história, do presente e 
do futuro em suas mãos e que este agisse por ele mesmo em busca de sua própria 
realização.
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Ao longo deste tópico foi possível estudar os aspectos responsáveis por 
conduzir os processos de modernidade no interior dos espaços do trabalho, do 
cotidiano e em meio à natureza. É importante destacar que:
• Os projetos de modernidade consistiam em superar as concepções sociais 
e culturais que se encontravam sob a influência dos dogmas religiosos, dos 
regimes feudais e monárquicos e implantar os princípios da dúvida e da razão, 
o estado moderno e laico.
• O trabalho, amparado cada vez mais por técnicas e máquinas, deveria agir 
e intervir junto à natureza a fim de para torná-la útil e favorável ao próprio 
homem.
• A presença da manufatura foi responsável pelo processo de transição entre o 
modo de produção artesanal e o modo de produção industrial.
• O aprimoramento das máquinas e das técnicas como a prensa, a máquina 
a vapor, o tear mecânico, o novo mundo, a energia elétrica, o telégrafo e o 
telefone foram fundamentais ao processo de industrialização e modernidade.
• Existia um clima de grande expectativa que rondava os inventores e projetistas 
e os seus respectivos inventos, no sentido de que cada vez apresentassem baixo 
consumo de combustível, desperdício de matéria-prima, eficiência e precisão 
nas tarefas.
57
Caro(a) acadêmico(a)! Agora procure resolver as autoatividades que 
são sugeridas a seguir. Elas representam uma forma retomar e reforçar a 
compreensão dos principais temas e conteúdos, bem como são preparatórios 
à avaliação desta unidade e às demais que estão previstas ao longo da 
disciplina.
A técnica e a máquina são entendidas como forças colaboradoras aos 
processos de industrialização e modernização que foram empreendidos a 
partir do século XV, diante disto, procure resolver as questões a seguir:
1 No que consistia a produção organizada no modo de manufatura?
2 Que vantagens o tear mecânico oferecia à produção têxtil da época?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
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UNIDADE 2
A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• estudar as mudanças provocadas nos espaços do cotidiano de convívio, 
nas formas de viver e conviver dos homens e das mulheres da modernida-
de;
• descrever as adequações que foram feitas no interior das principais cida-
des modernas do século XIX, bem como no interior dos espaços públicos 
em termos de usos e normas de conduta/comportamento social;
• identificar como a cultura, através da literatura, das artes plásticas, arqui-
tetura e a música, compreenderam e reagiram diante dos projetos de mo-
dernidade e modernização da sociedade ao longo do século XIX;
• abordar a experiência brasileira no contexto da modernização europeia, a 
vinda da família real portuguesa em 1808, a missão artística francesa, a in-
dústria e a economia do século XIX, a formação das metrópoles brasileiras 
e a realização da Semana de Arte Moderna no início do século XX.
A Unidade 2 encontra-se dividida em três tópicos, que pretendem analisar a 
implantação dos projetos de modernidade no interior da sociedade europeia 
e do Brasil ao longo do século XIX. No transcorrer de cada tópico serão re-
lacionadas sugestões de materiais alternativos a estas temáticas e conteúdos 
abordados, a fim de ampliar e potencializar seus conhecimentos. No final de 
cada tópico, você encontrará exercícios como autoatividades que visam à fi-
xação e à compreensão dos conteúdos estudados, assim como prepará-lo(la) 
para as avaliações desta disciplina.
TÓPICO 1 – A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE 
TÓPICO 2 – OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
TÓPICO 3 – A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DE MODENIDADE
Assista ao vídeo 
desta unidade.
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61
TÓPICO 1
A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Nas palavras de Berman (1986), a modernidade foi um tempo de intensas 
mudanças e turbulências e para que as pessoas sobrevivessem a este novo tempo, 
os indivíduos, qualquer que fosse a classe ou grupo, precisaram assumir posturas 
e comportamento compatíveis com a dinâmica da flexibilidade e da fluidez que é 
típica deste momento histórico.
Homens e mulheres modernos precisaram aprender a buscar, almejar 
e motivar as mudanças, não apenas deviam estar aptos a viver as mudanças 
que eram impostas pelas novas circunstâncias tanto na vida pessoal e social; 
mas efetivamente manter-se em busca de mudanças; farejá-las e procurá-las de 
maneira ativa, levando-as adiante até as últimas possibilidades. 
Precisavam aprender a não lamentar com muita nostalgia as “relações 
fixas, imobilizadas”, que gradualmente foram deixadas para traz, sendo 
superadas/alteradas, mas viver na estonteante e deslizante mobilidade da vida 
que se encontrava em curso; empenham-se na renovação, nos progressos, nos 
desenvolvimentos, com o olhar na direção do futuro tento em termos de condições 
de trabalhos, economia, como nas relações de convívio uns com os outros.
Diante das novas circunstâncias impostas e ao mesmo tempo também 
desejadas, os homens e as mulheres da modernidade firmaram novos acordos, 
estatutos e contratos morais. Os projetos contemplavam a racionalidade e a 
cientificidade; a separação entre o estado, a Igreja e a sociedade; do progresso e do 
desenvolvimento suplantando as antigas formas de se viver e se relacionar tanto 
nos espaços domésticos, no trabalho, em sociedade como e em meio à natureza.
Começaremos analisando os espaços públicos das cidades de Londres e 
Paris, depois estudando como as mudanças foram ocorrendo no espaço do cotidiano 
e da representação dos papéis do feminino e do masculino no interior da sociedade.
Por fim tratar-se-á de como as expressões artísticas compreenderam e 
receberam a modernidade, tanto nas obras literárias, na música, nas artes plásticas 
e na arquitetura; relacionando os processos de modernidade e modernização 
no Brasil, sendo que para tanto será analisada a vinda da família real ao Brasil, 
os projetos de modernização das principais cidades do país, a missão artística 
francesa e a Semana de Arte Moderna, como situações de discussão, experiências 
e expressão de cultura de modernidade no Brasil.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
62
Caro(a) acadêmico(a)! Não esqueça que este material realiza uma 
introdução aos temas e problemáticas da modernidade, mas está distante de 
esgotar os estudos, as análises e reflexões sobre a modernidade. Procure sempre 
identificar e contextualizar as experiências regionais e locais em que você está 
inserido.
2 NA CIDADE: URBANIZAÇÃO, VIGILÂNCIA E HIGIENIZAÇÃO 
DOS ESPAÇOS
“O gênio da suspeita veio ao mundo.”
 Stendhal
A cidade foi eleita como o espaço símbolo da modernidade, porém a 
exposição pública da miséria e da pobreza, a coabitação de mendigos, vagabundos, 
prostitutas, crianças furtando alimentos e assaltando carteiras tornavam-se cada 
vez mais frequentes e pintavam um quadro assustador da realidade. 
Um vasto número de migrantes pobres foi despejado nas cidades, e 
se multiplicavam em passe de mágica do dia para a noite, representando um 
potencial altamente revolucionário para a vida urbana do século XIX (BERMAN, 
1986).
Diante disto eis que são implementadas ações políticas no sentido de 
alcançar tal aspiração. Conforme explica Foucault (1987), entrava em prática a 
ideologia de controle, que se multiplicou por todo o corpo social, formando o que 
se pode chamar de sociedade disciplinar.
 
A ideologia de controle abrangia hospitais, manicômios, prisões, escolas, 
praças, cemitérios entre outros espaços públicos de convivência, de circulação, de 
comum uso da população; e seria instalado um regime que invadiria e vigiaria o 
comportamento e os costumes dos indivíduos nestes espaços.A intervenção ocorria sempre que necessário, seja com leis, normas e/
ou punições, que por sua vez buscavam eliminar qualquer ameaça possível de: 
estado laico e secularizado, da sociedade racional, industrial e urbanizada. A 
justificativa era a de garantir o bem-estar físico, a saúde perfeita e a longevidade 
das populações.
Diante deste contexto foram realizados os sensos e as estimativas 
demográficas, que permitiram cálculos sobre a pirâmide etária da população, das 
expectativas de vida, das taxas de mortalidade, o número da população empregada 
e desempregada, população residente no campo e na cidade, o crescimento 
das riquezas e da população, registros de casamento e de mortalidade, grau 
escolaridade, profissões praticadas entre outras análises (FOUCAULT, 1987).
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
63
A partir destes dados e interpretações surgem as teses propostas dos 
estudiosos como Adam Smith (1723-1790), Thomas Malthus (1766-1834), Charles 
Darwin (1809-1882) Herbert Spencer (1820-1903).
A desconfiança dos espaços e dos hábitos relacionou-se com as intenções 
do novo Estado em se legitimar no poder e estabelecendo um regime de vigilância, 
de controle e de intervenções autoritárias.
A fim de aplicar o regime de vigilância higiênica foram observados os 
aspectos como a umidade, o arejamento total da cidade, o sistema de esgotos e 
a evacuação de água utilizada, a localização dos cemitérios e dos matadouros, 
a localização e a densidade da população no interior dos bairros. Segundo as 
autoridades higienistas e urbanistas da época, estes espaços eram os responsáveis 
diretos pelos índices e indicadores da qualidade de vida das populações.
Os aparelhos disciplinares da medicina urbana foram compostos por 
prisões, conventos, manicômios, estabelecimentos de ensino, quartéis, fortalezas 
e hospitais. No interior destes espaços, a regra será a do “olhar clínico, do 
isolamento, a meticulosa organização, repartição do espaço e no princípio do 
quadriculamento individualizado, as estruturas e os fundamentos de se garantir 
a eficiência da observação, do controle e da dominação da população”. (LIMA, 
1994, p. 90).
Além das preocupações com a disciplina e com a ordem, os aspectos da 
racionalidade organizacional e positivista dos comportamentos também foram 
implantados, e no regimento de ‘um ao lado do outro’ e em ‘filas ordenadas’. 
As posturas da racionalidade organizacional e positivista foram e ainda 
são possíveis de se observar na organização interna das escolas, nos espaços 
das salas de aula; nos hospitais, com os leitos de internação; no exército, na 
apresentação dos recrutas; nos restaurantes, em torno dos buffets; nos bancos e no 
comércio, no momento do pagamento de produtos ou serviços; e até no interior 
das Igrejas, na disposição dos bancos para os fiéis se acomodarem.
Obedecendo e adequando-se aos novos padrões os espaços, todos da 
cidade reproduziam uma organização comum, e esta padronização avançava do 
centro ao interior, do centro à periferia. Aos poucos, até os cemitérios se tornaram 
verdadeiras cidades e transmitiam a ideia de condomínios fechados, com horário 
de abertura e de fechamento; o controle sobre a entrada e saída dos visitantes.
 
As autoridades, que patrulhavam e zelavam pela ordem e segurança, 
interpretavam que o período diurno representava o melhor horário para passeios 
ou visitas aos espaços públicos. Neste turno era possível contar com a luz do sol 
para iluminar os ambientes, e assim manter o controle e a “ordem”, para melhor 
vigiar a limpeza e a higiene.
 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
64
Por outro lado, o período noturno, que era marcado pela falta de 
iluminação eficiente, pela baixa visibilidade, tornava-se um momento suscetível 
ao descontrole da ordem e a segurança pública. Os espaços escuros e mal 
iluminados poderiam também servir de refúgio a encontros que motivariam 
possíveis conspirações, os golpes e outros atos ilícitos. 
Assim, crescia gradualmente o medo e o temor em relação a qualquer 
espaço que não fosse bem iluminado ou arejado. A desconfiança recaía para com 
todo e qualquer indivíduo que não estivesse ciente, não se enquadrasse e não 
respeitasse as novas ordens e determinações. Entre estes indivíduos estavam os 
andarilhos, maltrapilhos, os marginais, loucos, infectados, doentes, entre outros.
Outras preocupações eram as de fazer “circular” os ares e manter arejado 
o interior dos ambientes, desfazer os conglomerados de pessoas, mantê-las em 
movimento e circulação, para tanto foi necessário construir ruas e avenidas 
amplas e retas. Assim o acesso e a circulação sentido-centro e periferia urbana 
ficava obstruído. O maior cerco residia no centro da cidade, onde se concentravam 
os capitais comerciais e financeiros, além do poder político, os salões, os museus, 
as galerias, os laboratórios, entre outros.
A rua e a avenida representavam o microcosmo da modernidade. 
Segundo Lefèbvre (1999), estas se repetem e mudam com a cotidianidade; reúnem 
e contemplam a sociedade e a vida cotidiana ao mesmo tempo, os lugares de 
trabalho, de residência, os lugares de distração, além de simplesmente um lugar 
de passagem, de interferências, de circulação e de comunicação. 
Do ponto de vista urbanístico, o modelo territorial estava baseado na 
corrente progressista, em moda por parte de urbanistas e planejadores de todo o 
mundo. Seus princípios eram, entre outros, transformar a cidade em um espaço 
funcional onde o viver, o trabalhar, o recrear-se e o circular deveriam estar 
presentes em todos os planos de ordenação. 
O antigo arruamento desordenado estava condenado a ser desfeito e 
destruído e o novo, com bases na geometria e simetria, deveria ser implantado. 
Como solução de espaço surgem os boulevares, que permitiram o fluir tráfico e do 
trânsito em linha reta, de um extremo a outro. A imagem é de um cartão postal 
de um bulevar francês:
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
65
FIGURA 13 – BULEVAR FRANCÊS
FONTE: Disponível em: <http://artebrasilis.blogspot.com.br/2010/05/palavras-francesas-
-no-nosso-vocabulario.html>. Acesso em: 16 jun. 2013.
Com a construção dos boulevares ocorreu a eliminação das habitações 
miseráveis, os cortiços e moradias improvisadas. Os negócios locais se 
expandiram com a nova disposição de arruamentos, o que por sua vez, ajudaram 
a custear imensas demolições municipais, indenizações, desapropriações e novas 
construções. 
Por fim, foram criados longos e largos corredores através dos quais as 
tropas de artilharia e infantaria poderiam mover-se eficazmente contra possíveis 
barricadas e insurreições populares. Nas obras, o Estado acabou ocupando as 
massas desempregadas, o que por sua vez, as mantinha ocupadas e pacificadas. 
As ruas, os bulevares e os corredores representavam apenas uma parte do 
amplo sistema de planejamento urbano que incluía também mercados centrais, 
pontes, esgotos, fornecimento de água, iluminação pública, óperas, teatros, 
galerias entre outros, que por fim constituíam-se em uma grande rede de parques 
de sociabilidade e entretenimento.
Os bulevares reuniram e catalisaram a cidade à totalidade de seus 
habitantes, criaram nova cena e espaço social: um espaço privado em público, 
onde os indivíduos podiam dedicar-se à própria intimidade, individualidade, 
solidão; sem estarem fisicamente sozinhos, distantes (BERMAN, 1986).
O trecho do poema em prosa “As multidões” de Charles Baudelaire, 
ilustra esta nova possibilidade de convivência ‘só entre a multidão’:
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
66
Não é dado a todo o mundo tomar um banho de multidão: gozar da 
presença das massas populares é uma arte... Multidão, solidão: termos iguais 
e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão 
também não sabe estar só no meio de uma multidão ocupadíssima.
O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo 
e um outro. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, 
quando quer,no personagem de qualquer um. 
Só para ele tudo está vago; e se certos lugares lhe parecem fechados é 
que, a seu ver, não valem a pena ser visitados.
O passeador solitário e pensativo goza de uma singular embriaguez 
desta comunhão universal. Aquele que desposa a massa conhece os prazeres 
febris dos quais serão eternamente privados o egoísta, fechado como um cofre, 
e o preguiçoso. Ensimesmado como um molusco. Ele adota como suas todas 
as profissões, todas as alegrias, todas as misérias que as circunstâncias lhe 
apresentem.
Através da linguagem poética, o autor propõe que ser moderno era também 
experimentar, suportar a dupla condição de indivíduo solitário na multidão, esta 
condição e sensação acabou por se generalizar. O perder-se e confundir-se na 
multidão e na solidão do indivíduo seria um exercício possibilitado e alcançado 
por poucos, assim como exigiria apresentar-se e portar-se como espectador dos 
novos ares, espaços e movimentos que transitavam e vagavam pelas cidades 
modernas.
Caro(a) acadêmico! Agora procure observar como as principais cidades/
metrópoles contemporâneas se encontram e que condições oferecem aos homens 
e mulheres que estão migrando em buscas de profissões, oportunidade e sonhos 
e, reflita sobre isso.
2.1 LONDRES
“O inferno é uma cidade semelhante a Londres, 
uma cidade esfumaçada e populosa.”
Shelley
A Londres moderna se estenderá ao longo de toda Era Vitoriana (1837-
1901), sob a política da rainha Vitória. No período, a Inglaterra experimentava 
uma espécie de pax britânica, na qual a Revolução Industrial se consolidava, a 
classe média ascendia e a política de imperialismo no exterior se consolidava. 
Ampliavam-se e expandiam-se as fontes de matérias-primas e os mercados 
consumidores, tudo seguia aparentemente bem.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
67
2.1 LONDRES
Porém esta era somente uma parte da realidade da sociedade inglesa, em 
especial a dos grupos nobres e burgueses. Bresciani (2004) explica que na Londres 
da metade do século XIX, com mais de dois milhões de habitantes, configurava-
se um cenário composto com um misto de violência, promiscuidade, diversidade 
além do fascínio e do medo constantes. 
 
O filósofo alemão Engels, em 1840, esteve em Londres e pôde percorrer os 
bairros da classe operária, e sobre estes fez as seguintes observações: 
nas ruas a animação é intensa, um mercado de legumes e frutas de 
má qualidade se espalha... nas casas até os porões são utilizados para 
morar, e em toda parte acumulam-se detritos e água suja. (...) Nesse 
centro de Londres, numerosas ruelas de casas miseráveis entrecruzam-
se com as ruas largas das grandes mansões e os belos parques públicos; 
essas ruelas lotadas abrigam crianças doentias e mulheres andrajosas e 
semimortas de fome. (BRESCIANI, 2004, p. 25).
FIGURA 14 – RUA DE LONDRES EM 1872
FONTE: Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/photo/londres-e-paris-no-se-
culo-xix>. Acesso em: 16 jun. 2013.
Bresciani (2004) aborda que todas as políticas de demolição e deslocamento 
dos bairros considerados impróprios, desenvolvida entre 1850 e 1880, resultaram 
também da ausência de um sistema de transporte barato, eficiente e que resolve o 
congestionamento nos bairros centrais de Londres.
Em termos de estatísticas, 50% da população da Inglaterra se encontravam 
nas cidades, e crescia vertiginosamente. François Fourier (1772-1837) e Michel 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
68
Chevalier (1803-1879) ao passarem por Londres neste mesmo período e apontam que 
existiam aproximadamente 117 mil pobres a cargo das paróquias, 115 mil pobres 
abandonados, mendigos, gatunos, vagabundos, prostitutas entre outros enjeitados.
Os homens que não conseguiam se colocar nos espaços de trabalho das 
indústrias, tornavam-se enjeitados, e eram facilmente vistos como de mau-caráter e 
desonestos. Assim, deixavam as regiões industriais e dirigiam-se para Londres, atraídos 
pela riqueza e as instituições de caridade que ofereciam assistência as estes casos.
 
Londres foi se tornando também o símbolo das más consequências da 
vida urbana e da industrialização, na qual poderiam se acomodar os preguiçosos, 
os mendigos, os turbulentos e os esbanjadores de dinheiro, ou melhor, um espaço 
de sociabilidade repleto de contradições (BRESCIANI, 2004).
Surgiam espaços e situações que escapavam e não se ajustavam aos padrões 
da sociedade racional, industrial e planejada da época, na forma de contradições 
geradas pelos projetos de modernidade. Entre os males modernos estava a 
miséria, a fome, o desemprego, a angústia, a solidão. Os sujeitos culpados como 
responsáveis por este estado de coisas eram os órfãos, os loucos, os andarilhos, os 
maníacos, os esquizofrênicos, as prostitutas, entre outros. Neste contexto surgiu o 
fenômeno de assassinos em série, os serial killers. O caso mais conhecido de serial 
killer é Jack, o estripador, que será apresentado a seguir:
UNI
JACK, O ESTRIPADOR (JACK THE RIPPER)
Trata-se de um criminoso em série (serial killer) que agia nas ruas de Whitechapel, interior de 
Londres na segunda metade do ano de 1888. Suas vítimas eram prostitutas e seus feitos eram 
minuciosos, no qual aplicava técnicas que indicavam conhecimentos de anatomia humana, e 
ainda não deixava vestígios à descoberta de seus atos. 
O pânico instalou-se rapidamente. Houve restrições com relação aos horários da circulação 
de pessoas nas ruas. Os jornais da época acabaram por fazer cobertura do fato, na qual 
evidenciavam a atuação frustrada e fracassada da polícia da época. 
A especulação em torno deste estado de coisas acabou por favorecer a articulação de 
curiosos, detetives, pesquisadores, investigadores liberais que procuravam desvendar o 
mistério da autoria dos crimes. 
Até hoje o cinema, a música e a literatura fazem alusões a este criminoso. No cinema conta-
se com o filme Do Inferno (From Hell), A verdadeira história de Jack, o Estripador de 2011, 
que é estralado por Johnny Depp no papel de inspetor do caso. Trata-se de um filme de 
suspense policial e foi adaptado das histórias do quadrinista britânico Alan Moore (1953).
O trailer do filme encontra-se disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=yw8US3gS37w>. Acesso em: 23 jun. 2013.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
69
FIGURA 15 – JACK, O ESTRIPADOR (Jack, The Ripper)
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:-
John_Tenniel_-_Punch_-_Ripper_cartoon.png.jpg>. Acesso em: 
19 jun. 2013.
O responsável pelos crimes acabava por dividir a opinião pública em 
relação a seu respeito, e até acabava por desfrutar de certo prestígio moral na 
sociedade da época. O fato de que em seus crimes não eram identificadas pistas 
e vestígios da autoria, parecia desafiar as autoridades e estruturas investigativas, 
policiais e criminais da época. Isso indicava certo ar de impunidade e incompetência 
que poderiam generalizar-se. Pelo fato de seus crimes serem cometidos contra 
prostitutas acabava por atender aos anseios moralizadores para com os não 
benquistos na sociedade moderna.
DICAS
Caro(a) acadêmico(a)! Existe também a adaptação da história de Jack Stripador, 
do livro O Xangô de Baker Street, escrito por Jô Soares e publicado em 1995. 
A história se passa no Brasil do século XIX, quando ocorre o roubo de um valioso violino 
stradivarius e da morte nada convencional de uma prostituta. Diante desta situação, o 
imperador D. Pedro II convidou o famoso investigador Sherlock Holmes a vir ao Brasil resolver 
tais crimes. 
A cidade dos crimes é o Rio de Janeiro de 1886, no contexto do final do regime de monarquia 
e da vida boemia carioca, e é repleta de tragicomédias envolvendo o investigador inglês numa 
região de clima tropical.
SOARES, José Eugênio. O Xangô de Baker Street. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
70
2.2 PARIS
Azevedo (1998) defende que, no contexto da modernidade, a Paris 
da Revolução Francesa não é apenas a capital da França, mas a capital dos 
Direitosdo Homem, a Cosmópolis. É-lhe atribuída a missão de fazer reinar a 
razão, conduzi-la a todas demais partes do universo. Assim, ela deixa de ser um 
território encravado na França e permeado de particularismos, e expande-se além 
das fronteiras territoriais. 
 
Rodriguez (2004, p. 10) descreve que Napoleão Bonaparte foi um dos 
testemunhos da Paris quando os primeiros projetos de modernidade eram 
identificados, e este diante do que presenciava, expressou-se:
Vive-se aqui muito bem, com muita preocupação de alegria; dir-se-
ia que cada um procura descontar o tempo de sofrimento e que a 
incerteza do futuro leva a nada poupar dos prazeres do presente... esta 
cidade é sempre a mesma: tudo para o prazer, para as mulheres, os 
espetáculos, os bailes, os passeios, os ateliês dos artistas.
Napoleão não estava otimista com o espírito nostálgico de belle époque que 
parecia envolver e entorpecer os(as) parisienses. 
Baudelaire também descrevia a ideia de que Paris se encontrava em 
permanente movimento, e por sua vez cai em torpor. “Tornara-se frágil como o 
vidro, ao mesmo tempo transparente e frágil, rodeadas de signos de fragilidade, 
de uma cidade de contradições tal como Londres”. (BENJAMIN, 1987, p. 18).
Um dos símbolos mais enfáticos da França é o Arco do Triunfo. Obra que 
corresponde aos anseios do governo de Napoleão ainda em 1806, num sonho 
da criação de uma imagem da cidade de Paris do século XIX adaptada a uma 
imagem da antiga Roma imperial. Na figura, o Arco do Triunfo francês, e na 
figura o Arco do triunfo romano:
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
71
2.2 PARIS FIGURA 16 – ARCO DO TRIUNFO, PARIS, 1806 
FONTE: Disponível em: <http://lidfelix.blogspot.com.br/2010/08/pontos-
-turisticos-franca.html>. Acesso em: 16 jun. 2013.
FIGURA 17 – ARCO DE CONSTANTINO, ROMA, 315 D.C. 
FONTE: Disponível em: <http://www.fotoviajero.com/puzzle/arco-de-
-constantino_377>. Acesso em: 16 jun. 2013.
Com uma diferença histórica de aproximadamente de 1500 anos entre 
o Império Roma e a França de Napoleão, os dois monumentos possuíam como 
finalidade receber e realizar as festividades em homenagem aos soldados que 
regressavam do estrangeiro ocupados nas invasões e conquistas de outras regiões 
do mundo.
Na edificação do Arco do Triunfo encontram-se gravadas as vitórias e os 
nomes de generais e combatentes que estiveram a serviço da França de Napoleão 
Bonaparte. O Arco do Triunfo francês se localiza na Praça Charles de Gaulle, 
numa das extremidades da Avenida Champs Elysées, uma das principais avenidas 
da cidade, que hoje é a concentração de unidades matrizes de diversas marcas, 
produtos e serviços em moda, perfumaria e cosméticos. 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
72
FIGURA 18 – O ARCO DO TRIUNFO EM RELAÇÃO À CIDADE DE PARIS
FONTE: Disponível em: <http://mariposeandoenparis.blogs.elle.es/2013/06/11/por-el-
-arco-del- triunfo/>. Acesso em: 16 jun. 2013.
A cidade de Paris entrou no século da modernidade com a feição que 
lhe foi dada pelo urbanista Georges-Eugène Haussman (1809-1891), amplamente 
conhecido como “artista demolidor”. Ele realizou a transformação na paisagem 
e na imagem da cidade com os meios mais humildes: pá, machadinha, alavanca 
e coisas semelhantes, porém o grau de destruição foi irreparável, porque bairros 
inteiros foram demolidos e destruídos.
 
Paris, após as ondas de protestos ocorridos em torno do ano de 1848, 
amplamente conhecidos como “a primavera dos povos”, já não oferecia 
condições de vida tranquila e pacífica, as movimentações sociais eram constantes. 
A expansão da rede ferroviária acelerou o tráfego e aumentava a concentração 
da população na cidade. As pessoas encontravam-se sufocadas nas velhas ruas, 
estreitas, sujas, confusas, e não havia outra solução ou alternativa e eficaz.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
73
FIGURA 18 – O ARCO DO TRIUNFO EM RELAÇÃO À CIDADE DE PARIS
DICAS
PRIMAVERA DOS POVOS
Também é conhecida como Revolução de 1848. Foi um conjunto de manifestações e 
revoluções que ocorreram no centro e leste europeu em torno dos anos de 1848.
 
Foram lideradas por reformadores, trabalhadores e integrantes da classe média. Possuíam 
como pano de fundo a insatisfação das classes médias diante dos governos e das crises 
econômicas em que os países se encontravam. 
Foram responsáveis por desestabilizar as monarquias, os governos absolutistas que ainda 
resistiam e por despertar o sentimento de nacionalismo entre as nações europeias. As cidades 
que reuniram os principais atos foram Paris, na França, Berlim, na Alemanha, Budapeste, na 
Hungria, Viena na Áustria e Nápoles na Itália.
O historiador Chevalier (Apud AZEVEDO, 1998) aponta que Paris do 
século XIX encontrava-se irreconhecível. Tomada por medos e receios, a ponto de 
fazer com que não se quisesse avançar para o interior da mesma. No interior desta 
se acotovelam mais de um milhão de homens em meio aos ares contaminados por 
doenças, vírus e bactérias, favorecidos ainda pelas construções grudadas uma a 
outra, ruas estreitas e com pouca entrada de sol e iluminação.
Conforme Azevedo (1998), a maior parte das ruas de Paris nada mais era 
que condutos sujos e sempre úmidos de águas contaminadas. A cólera, a sífilis e 
a tuberculose flagelava a população. Ruas entre duas fileiras de casas, povoada 
por uma multidão pálida, mal alimentada e doentia e ao mesmo tampo pelos 
trabalhadores mais bem pagos. 
A sugestão de leitura e filme que segue ao texto, ilustram e contextualizam 
este cenário, procure conferir: 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
74
DICAS
Livro O perfume: a história de um assassino, obra do escritor alemão Patrick 
Süskind, publicada em 1985 (SÜSKIND, Patrick. O perfume: A história de um assassino. Rio de 
Janeiro, Record, 2006).
A publicação é do século XX, porém a narrativa recompõe Paris do século XVIII. A narrativa 
trata de um homem, Jean-Baptiste Grenouille, que não possuía cheiro próprio, porém um 
olfato extremamente apurado. Grenouille nasceu em meio à feira de peixes, onde sua mãe 
trabalhava, logo nos primeiros dias ficou órfão. Cresceu no interior de Paris, aonde aprimorou 
os conhecimentos e seu talento na percepção de essências, aromas e odores assim como a 
fabricação de perfumes. 
A narrativa está no sentido de arrolar além de que “o perfume” estaria no sentido de disfarçar 
as questões e problemas sociais como a fome, insalubridade, prostituição, criminalidade, 
desemprego, miséria entre outros que se abatiam sobre a França da modernidade.
Veja também o trailer do filme. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=aWCF2DZkRQQ>.
Caro(a) acadêmico(a)! Enquanto os projetos de modernidade de urbanizar 
a população e industrializar a produção estavam sendo postos em prática, ao 
mesmo tempo transcorria um cenário de problemas sociais que eram decorrentes 
do próprio processo de modernização, desafiando o Estado e aos indivíduos da 
época. 
Tanto em Paris como em Londres, os governos colocaram em prática 
medidas de normatização, higienização e ordenação da população nos espaços 
urbanos. O texto “A ideia de metrópole no século XIX” do professor Ricardo M. 
de Azevedo procura abordar as estratégias que foram implementadas no sentido 
de conduzir e controlar/tutelar o crescimento e o desenvolvimento das cidades, 
que cada vez mais atraíam a população que deixava o campo.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
75
LEITURA COMPLEMENTAR
A IDEIA DE METRÓPOLE NO SÉCULO XIX 
 Desde o Império napoleônico, formulavam-se normatizações 
crescentemente rigorosas e uniformes que regulavam procedimentos e usos 
urbanos. Estabeleceram-se, também durante o XIX, gradativamente, legislações 
que regulamentavam padrões de estabilidade, salubridade e higiene para as 
construções, assim como controles sobre mecanismos de especulação da renda 
fundiária, anunciando o que iria a se constituir como a disciplina do planejamento 
urbano. 
Amparada pela positividade das ciências, pautou-se em conhecimentos 
principalmente econométricos,sociológicos e antropológicos para estipular 
estatísticas, índices, coeficientes, gabaritos... ao mesmo tempo em que 
consolidava em códigos, normas, permissões e restrições. O operar do planejador, 
diferentemente da prática do urbanista, teve como pressuposto a homogeneidade, 
característica da categoria espaço, no qual, refletidamente, acomodaram-se 
espaços, construções e objetos.
A ruptura foi evidente. No campo, as atividades estavam pontuadas 
pelas estações do ano, pela incidência solar nos dias, pelas fases lunares, pelos 
ciclos das chuvas, os fluxos temporais. Nas cidades a regulagem do tempo foi 
crescentemente condicionada pela impessoalidade da marcação rígida: horários 
de trens, abertura e encerramento de comércio e serviços, troca de guarda e 
turnos, fechamento de jornais/periódicos, programação de espetáculos, encontros 
acordados, enfim, pontualidades, compromissos. Símbolo deste processo será da 
proliferação de relógios públicos ao longo das ruas e o uso do relógio de bolso.
Nas grandes cidades, desde o século XVIII, consolidaram-se instituições, 
cujos procedimentos transformaram os modos de vida e, mais tarde, difundiram-
se em outros locais. Configuraram-se lá também novos mecanismos de observação, 
confinamento e distribuição de pessoas, classes e ocupações. Enquanto se 
disciplinava uma nova ordem urbana, vígil e policiada, impunham-se proibições, 
restrições e separações, transformando em suspeitos atos até então corriqueiros.
À concepção isonômica do espaço, corresponde à formulação de 
dispositivos panópticos, a partir dos quais foi exercida a vigilância constante e 
impessoal. A polícia aplicava a ordem impositiva, o imponderável e o aleatório 
deviam ser expurgados; as expectativas necessitavam subordinar-se a um dado 
grau de previsibilidade; as marginalidades, quando não alijadas, precisavam ser 
controladas; a regra e a regularidade impostas; os fins explicitavam os meios e 
tudo há de ser estimado e contabilizado.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
76
Porém, nem tudo poderia ser controlado e contido. Nas amplas cidades 
ocorriam agrupamentos secretos que germinam continuamente estratégias 
para burlar a vigilância e a imposição de comportamentos. Eram registradas 
conjuras, conluios e conspirações e ressumam continuamente processos de 
guetos, territorialização de grupos, seitas e tribos, ocasionando também zonas de 
meretrício, regiões de tráfico e contrabando, sistemas informais de comunicação 
entre outros.
Assim nas dilatadas concentrações urbanas geravam-se novos e agravam-
se antigos males. Apesar das inúmeras tentativas de coibir o inchamento das 
grandes cidades, a tumorosa expansão da malha urbana vazou a epiderme de 
muralhas da Idade Média. O crescimento, conduzido por interesses especulativos 
e sem qualquer coordenação urbanística, induziu a ampliação dos percursos e 
implicou em gravosas dificuldades nos deslocamentos. 
Ademais, o trabalhador da indústria, via-se frequentemente constrangido 
em percorrer longos percursos entre morada e trabalho, enquanto a burocracia e 
o comércio, concentrando-se, mobilizam vastos contingentes. A desobstrução do 
curso de mercadorias, coisas e gentes, assim como o estabelecimento de sistemas 
de transportes públicos, explicitavam o empenho de amenizar os transtornos na 
circulação das massas.
O ordenamento das metrópoles tendeu a promover a especialização dos 
espaços segundo a concentração de funções e de atividades, enquanto os abastados 
passavam a demandar separações e exclusividades no desfrute de parcelas 
específicas dos espaços urbanos: as amplas reformas urbanas e o zoneamento só 
se tornaram possíveis com a interferência e ordenação imposta pelo Estado. O 
planejador foi o grande ator e colaborador deste processo, instrumentalizado e 
impositivo, investido da missão de repor, previdente e providente, a urbanidade. 
Nestas circunstâncias, as cidades, deixaram de ser configuradas como 
entidades simbólicas e representativas, e passam a ser operadas como um 
mecanismo. Desse modo, produziu-se uma imagem para a cidade, similar 
à máquina, que viria a ser tão cara às vanguardas construtivas. Referindo 
as teorizações de Henri Lefebvre, as cidades, em vez de cuidadas e tratadas 
como obras, foram tratadas como produtos e, deixaram de se constituírem em fins, 
degradaram-se em meios para a produção e a circulação de bens e serviços.
FONTE: AZEVEDO, Ricardo Marques de. Uma ideia de metrópole no século XIX. Revista Brasi-
leira de História, São Paulo, v. 18, n. 35, 1998. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
01881998000100007>. Acesso em: 23 jun. 2013.
O texto fala dos panópticos, espécie de torres em meio aos pátios de prisões 
e penitenciárias que foram criados e que se difundiram em diversas cidades ao 
longo do século XIX.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
77
FIGURA 19 – TORRE PANÓPTICO
FONTE: Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/mo-
mentos/sociedade%20disciplinar/Pan%C3%B3ptico.htm>. Acesso em: 16 out. 
2013.
Esta construção possibilita ampla capacidade de visão, num ângulo de 360 
graus e por sua vez tornava ainda mais eficiente as táticas de vigilância, controle e 
normatização dos indivíduos no interior dos espaços públicos.
3 DO COLETIVO AO PRIVADO
Os projetos de industrialização da produção, urbanização, secularização 
da sociedade e laicização do Estado modificaram os espaços públicos e privados/
particulares e, por conseguinte, os comportamentos dos indivíduos na convivência 
no interior destes espaços.
O quadro maior em que ocorreram estas mudanças foi o de que camponeses 
e artesãos, quando procuravam atuar de forma independente não conseguiam 
mais competir com a produção industrializada e capitalista, e foram forçados a 
abandonar suas terras ou fechar seus estabelecimentos. 
As terras abandonadas foram transformadas em “fábricas agrícolas” e os 
camponeses que não abandonaram o campo se transformaram em proletários 
campesinos. Ou tornavam-se futuros migrantes e andarilhos rumo às cidades, e 
acabariam por aumentar os bolsões de miséria no interior de favelas e cortiços, 
como foi abordado anteriormente.
A produção se centralizava de maneira progressiva e os espaços das 
fábricas se automatizavam, geravam grande excedente de produção, e liberando, 
desempregando inúmeros contingentes de população. 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
78
Após a mudança na concepção de trabalho, como sendo qualidade 
humana, as pessoas que não conseguiam se inserir nas oportunidades do trabalho 
no interior das indústrias e nas cidades, ou que se encontravam em uma situação 
indefinida profissionalmente eram vistas com desdém pela sociedade moderna.
No rol das atividades desprestigiadas na modernidade estavam a 
de carvoeiro, construtores de ferrovias, vendedores ambulantes, feirantes, 
limpadores de ferrovias, de ruas entre outros. Estes compunham e representavam 
categorias, níveis indesejáveis e indignos para os valores e a moral de mundo 
moderno e civilizado.
As mudanças ocorreram também nos modelos sob os quais se constituíam 
as famílias e designavam/definiam os indivíduos, que a partir da modernidade 
passaram a ser geridos e garantidos pelo Estado. A exemplo disto, em 1791 obteve-
se a aprovação da lei do divórcio (PERROT, 1991). A partir desta lei o casamento 
tornou-se um contrato civil consentido e assinado por duas partes interessadas. E 
este definiria as questões de heranças sobre as propriedades e a tutela dos filhos.
 
Pode-se interpretar que a lei do divórcio acabou por promover uma 
espécie de suavização das relações amorosas e afetivas, na qual ocorre o recuo 
da interferência das tradições religiosas e o aumento da autoridade e do controle 
do Estado. Por outro lado, possibilita que os casamentos sejam desfeitos e outros 
fossem realizados conforte a vontade dos indivíduos.
Entre os argumentos que legitimavam o divórcio surgiu a necessidade de 
emancipação dos casais infelizes, a liberação das mulheres do despotismomarital 
e a liberdade de consciência e prática amorosa.
Por outro lado existia também um movimento que defendia a instituição 
família como a base da sociedade civil, responsável pelo gerenciamento dos interesses 
privados, que por sua vez seria responsável pelo bom andamento dos Estados e o 
progresso da humanidade como um todo. 
Na retaguarda desta concepção estavam as genealogias das famílias 
atreladas a uma rede de influência e interesses que eram mantidos a partir 
dos nomes e sobrenomes, e que por sua vez zelavam pelo conjunto de bens/
propriedades/patrimônios herdados e a serem transmitidos. (PERROT, 1991).
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
79
FIGURA 20 – RAINHA VITÓRIA E OS MEMBROS DE SUA FAMÍLIA
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbi-
d=10151785596062489&set=pb.124762957488.2207520000.1375377164.&type=3&-
theater>. Acesso em: 1 jul. 2013.
As estruturas familiares foram muito importantes aos processos de 
industrialização. Exemplo disto pode ser listado nas fábricas de fiação mecânicas, 
que se instalaram nas aldeias, o mais próximo possível da mão de obra, e incluindo 
na equipe de funcionários a família completa, o pai, a mãe e os filhos.
 
O próprio patrão procurou se acomodar à fabrica, morando nela e 
envolvendo seus familiares na administração e no controle/verificação da 
produção. Por outro lado, a família também representou a instância predominante 
de acumulação de capital e que possibilitou a formação de um número amplo de 
indústrias a partir do século XVIII e século XIX.
Walter Benjamin (1975) traduziu a percepção da vida moderna a partir 
da sensibilidade para as mudanças significativas nos modos metropolitanos, 
flagrando o impacto das inovações técnicas, acionadas por gestos bruscos, que 
vão do riscar do fósforo ao disparo do fotógrafo, bem como a produção de novos 
estímulos visuais como a seção dos classificados nos jornais.
Nos jornais, surgem os folhetins, artigos de crítica artística, literária e 
teatral, colunas de casos policiais e notas de mexericos; as exposições nacionais e 
as universais; os magazines e as passagens comerciais; descrições do desfrutar de 
parques e jardins de uso público (AZEVEDO, 1998).
Azevedo (1998) descreve que o representar foi uma exigência do cotidiano 
e, como toda representação supõe códigos, sinais discriminam ou identificam as 
condições sociais que as personagens pretendem ostentar. 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
80
Baudelaire (1998) aponta que a vida do homem, na época moderna, será 
uma vida vivida como performance, que quer apresentar-se em grande estilo, 
um grande show de moda, um sistema de aparições/desfile deslumbrantes, 
explorando toda sofisticação e riqueza técnica e material possível. 
Isto será responsável por proporcionar grande sofisticação em termos 
de decorações e estilos, porém, como exclusividade e privilégio de uma minoria 
restrita a espaços de sociabilidade, salas, cassinos, salões, teatros, galerias, 
destinados aos remanescentes da nobreza e dos ascendentes burgueses.
Caro(a) acadêmico(a)! No sentido de ilustrar estes aspectos da vida 
moderna, observe atentamente as figuras que seguem ao texto, em que a figura 
ilustra um espaço de cassino frequentado por burgueses, na qual se encontram 
homens acompanhados por mulheres arriscando e apostando suas riquezas:
FIGURA 21 – MONTE CARLO, DONATUS BUONGIORNO, 1865
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbi-
d=10151342069782489&set=pb.124762957488.2207520000.1372566902.&-
type=3&theater>. Acesso em: 30 jun. 2013
Porém no reverso desta realização eufórica e de bem viver, o sentimento 
e sensibilidade da melancolia, impotência e do fracasso pairava nos pensamentos 
dos modernos.
Os sentimentos dos franceses entre 1790 e os primeiros anos do século 
XIX revelam uma grande preocupação com o desenrolar da revolução e a seguir 
com a edificação do Império, e cada um era atingido de uma maneira – os filhos 
partem para a guerra, os padres são deportados, as igrejas se tornam lugares 
civis antes de serem reconsagradas, as terras eram vendidas em leilão, e depois 
readquiridas pelas famílias emigradas que retornam à França. (PERROT, 1991).
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
81
FIGURA 21 – MONTE CARLO, DONATUS BUONGIORNO, 1865
Georg Simmel (1858-1918) descreveu os indivíduos modernos a partir da 
caracterização da personalidade do metropolitano, produzida pela "intensificação 
da vida nervosa", e expresso nos rostos dos indivíduos com a indiferença e o 
ar blasé (cansado).
Não tardou que a impessoalidade/individualismo se tornou em uma 
conotação moral de desumanização e indiferença e que, novamente, idealizava 
a afetividade como atributo exclusivo da vida no campo ou na pequena cidade. 
Como ilustração deste contexto tem a obra de Gustavo Flaubert (1821-
1880) intitulada de “Madame Bovary” e publicada em 1857, pertencente ao 
movimento literário do Realismo, em que relata as experiências de Emma que 
se casou ainda jovem com o médico Charles Bovary, que logo ao se casar sente-
se entediada e quer viver mais próximo à cidade, participar dos bailes, festas, 
aulas de música, da vida intelectual entre outras atividades. Emma envolve-se 
em um relacionamento extraconjugal o que a deixa ainda mais desperta para as 
aventuras da vida noturna. Charles acaba contraindo cada vez mais dívidas para 
sustentar as vontades de Emma. Emma não foi correspondida pela paixão que 
sentia e no final acaba por se suicidar com a ingestão de arsênio. 
A saída que a personagem Emma Bovary encontrou ilustrava um fato que 
se generalizava gravemente no interior da sociedade da época.
Os primeiros estudos do fato e teorias sobre o suicídio datam de 1845, 
quando a ideia se enraizava no interior das massas. O sociólogo Émile Durkheim 
(1858-1917) tratou do tema com maior profundidade o que resultou na obra 
“O suicídio”, publicada em 1897, aonde explica a relação entre a sociedade e 
os indivíduos, no sentido que o indivíduo através do suicídio, respondia e se 
manifestava diante de um estado de coisas, quadro social e coletivo de perturbação, 
angústia e insatisfação que era vivenciado na sociedade moderna. 
Caro(a) acadêmico(a)! Que estado de coisas era este? Um quadro 
generalizado das aglomerações desorganizadas e clandestinas de indivíduos na 
cidade, a falta de trabalho, a falta de oportunidades, a individualização, a solidão, 
o suicídio a necessidade de sobrevivência era o que se apresentava aos grupos de 
indivíduos que chegavam até as cidades modernas.
Na imagem a seguir, o Quarto em Arles, do autor holandês Vincent Van 
Gogh (1853-1890), pode indicar um pouco do processo de individualização que a 
sociedade passou a viver no interior dos espaços urbanos e dos espaços cotidianos: 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
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FIGURA 22 – QUARTO EM ARLES, VAN GOGH, 1888
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Camera_da_Let-
to_Vincent_van_Gogh.jpg>. Acesso em: 16 jun. 2013.
No século XIX, eram poucos os solteiros definitivos, mas eram muitos os 
solitários, principalmente entre as mulheres, que cedo enviuvavam e permaneciam 
viúvas por muito tempo. Os homens se casam mais frequentemente que as 
mulheres, mesmo que mais tarde. Os homens faziam isto por diversos motivos, 
tanto que a vida do lar apresenta de comodidades, conforto e respeitabilidade. 
(PERROT, 1991).
A individualização cada vez maior do sujeito no interior de cidades 
superpovoadas criou uma espécie de ruptura na relação do indivíduo com 
o coletivo. Na sociedade da Idade Média, ou seja, sociedade hierarquizada 
e estamental, a unidade familiar e os laços com a comunidade haviam sido 
responsáveis por conferir um sentimento maior de segurança, estabilidade, 
equilíbrio aos indivíduos. 
Porém as mudanças da sociedade industrial e urbanizada revolvidas da 
modernidade desestabilizaram este quadro, e por sua vez deixaram lacunas e 
vazios, que cada vez mais precipitaram o homem à fragmentação, ao afrouxamentoe ao esfriamento das relações familiares e sociais. 
As angústias da solidão e da individualidade vividas pelos indivíduos se 
somam ao clima social da experiência com a modernidade como um todo, numa 
espécie de contradição, que foi forjada em meio a um cenário em que aconteciam 
os cortejos e desfiles das novas elites, a burguesia em especial. Os indivíduos 
desempregados e solitários percebiam-se em meio à miséria, à fome, a doenças, 
a crimes, entre outros males modernos e ainda vivendo a modernidade como 
meros telespectadores.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
83
Caro(a) acadêmico(a)! Na próxima unidade serão retomados estes 
aspectos e aprofundados como contraponto da modernidade propriamente 
dita, especialmente para os aspectos morais e éticos que foram alterados a partir 
desta dinâmica imposta pela modernidade. O homem que projetou e construiu 
a máquina e realizou a modernidade não fez sem ser transformado e alterado, 
sem mudar a si mesmo e aos demais que estavam ao seu redor, numa relação de 
criador e criatura, médico e monstro.
4 AS PERFORMANCES DO FEMININO E DO MASCULINO
Ver, apreciar e ser visto(a) e apreciado(a) era a necessidade maior dos 
homens e das mulheres da modernidade. Este cenário favorecia o desejo, a busca, 
a expectativa à promessa de felicidade.
As imagens amplamente difundidas da modernidade costumam ser de 
uma belle époque, com mulheres em elegantes saias e vestidos longos até os pés, 
espartilhos na parte superior, usando belos chapéus, elegantes com peteados, 
acompanhadas de leques e sombrinhas. Homens vestindo fraques escuros, 
cartolas, relógios de bolso e bengalas. Ambos circulando, flertando e divertindo-
se em restaurantes, cafés e salões; consumindo tabacos em cachimbos, ingerindo 
absintos e conhaques, deliciando-se com champanhes e demais prazeres da vida 
boêmia.
Os ambientes retratados são os de lareiras, cafés, chás, bibliotecas, galerias, 
museus, confeitarias, ateliês e salas de estar. Os hábitos mais praticados foram os 
de prestigiar o five o´clock tea (chá das cinco), concertos, saraus, espetáculos, bailes, 
passeios públicos, banhos de mar entre outros. Os personagens mais comuns 
eram comediantes, cantores, mágicos (prestidigitadores), hipnotizadores, artistas, 
dançarinos(as), entre outros.
 
Associado aos modos do bem vestir encontram-se também às boas 
maneiras, a gentileza, o galanteio e a cortesia, demostradas em festas, recepções, 
concertos, exposições, bailes, conversas, cartas/correspondências entre outras 
práticas privadas e públicas como o vestir-se, portar-se, o relacionar-se. 
Caro(a) acadêmico(a)! É interessante a partir de agora tratar em especial 
como cada gênero, o feminino e o masculino, se comportará em meio a este cenário e 
contexto de modernidade.
4.1 O FEMININO
No século XVIII imaginava-se que, em cada indivíduo, duelavam duas 
posturas e que por sua vez tanto abrangiam os homens como as mulheres, a 
postura racional e a postura emotiva. A postura considerada racional e objetiva 
estava associada aos homens, e os aspectos emocionais e subjetivos eram 
associados às mulheres.
 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
84
Neste contexto, os homens seriam sérios, pensativos e práticos; e as 
mulheres, frívolas, histéricas e emotivas. Madame Bovary, que foi mencionada 
anteriormente, pode ilustrar esta ideia de mulher da modernidade. A mulher 
assim interpretada, não possuía aptidões e condições para discutir a vida social, 
econômica e política na modernidade; recaindo assim para os homens resolverem, 
e por outro lado a qualificação de inteligência e sabedoria. (FERNANDES, 2009).
De uma maneira geral, a mulher será deixada de lado, ou simplesmente, 
participará como mera acompanhante dos momentos mais festivos e 
comemorativos. Somente no transcorrer do século XX é que a mulher passará a 
reclamar e ocupar maior espaço e participação nas decisões e realizações sociais.
Desta forma, na modernidade, o homem foi o indivíduo forte e que, com 
sua agressividade e inteligência, impôs o desenvolvimento da civilização urbana, 
ao passo que a mulher, por sua natureza passiva e fecunda, lhe cabia somente 
perpetuar a civilização através da maternidade.
Qualquer ação fora do quadro retratado, ou da mulher dedicada à 
maternidade ou à mulher, tanto de incapacidade e/ou recusa desse papel por 
parte da mulher definiria um caráter desviante, contraventor, transgressor e 
estranho à ordem das coisas e a própria moral da época.
Mas ainda século XIX ocorrem os principais processos de libertação da 
condição feminina diante destas condições, e ao que tudo indica um dos caminhos 
foi pelo campo do econômico e do trabalho. Na medida em que a mulher era 
empregada no interior das indústrias e que passou a receber salário e contribuir 
e até resolver sobre a vida financeira da família, foi avançando na tomada de 
decisões de outros âmbitos da família e da sociedade. 
Neste sentido, os autores Marx e Engels (2010) foram categóricos em 
defender que quanto menos habilidade e força física o trabalho manual exigiu, 
mais a indústria moderna desenvolveu-se, e neste contexto mais o trabalho dos 
homens foi dispensado e substituído pelo das mulheres e das crianças. Diante 
disto, a imagem a seguir pode ilustrar a nova configuração que se instalará nos 
espaços de trabalho, no interior das fábricas.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
85
FIGURA 23 – INTERIOR DE UMA FÁBRICA
FONTE: Disponível em: <http://imagenshistoricas.blogspot.com.br/2012/04/
revolucao-industrial.html>. Acesso em: 16 jun. 2013.
O século XIX, sem restrição, começou a empregar a mulher no processo 
de produção fora do espaço doméstico, do lar, da casa. Isso aconteceu 
predominantemente com o emprego da sua mão de obra no interior das fábricas, 
rompendo gradualmente com o modelo e moral que até então vigorava de mulher.
 O fato de trabalhar no interior das fábricas exigia novos comportamentos, 
posturas e até outra indumentária da mulher moderna. Os vestidos longos e 
rodados, os chapéus e demais acessórios ofereciam risco de acidentes se usados 
nos espaços de trabalho em meio às máquinas.
As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam 
ser justas, retas e que cobrissem o corpo o máximo possível. Benjamin (1975, 
p. 26) analisa que “assim os traços, não demoraram a surgir entre as mulheres 
operárias”. A condição e imposição do meio de trabalho foram responsáveis por 
depreciar a feminilidade, fragilidade e sensibilidade da mulher e favorecer uma 
postura rígida, tenaz e ereta.
As mulheres de famílias burguesas desfrutavam de condições diferentes. 
Na tentativa de abolir ainda mais as mulheres de suas obrigações familiares e 
maternais, encontra-se novamente nos escritos do francês Gustave Flaubert (1821-
1880), no romance Madame Bovary, mencionado anteriormente, que o exercício 
da maternidade será tomado aos cuidados do Estado, que decidirá e assumirá a 
responsabilidade dos recém-nascidos em termos de sustento, através do emprego 
de mulheres como as amas de leite, ou mães sociais.
A partir desta postura do Estado as mulheres com necessidade de sustentar 
os demais filhos estariam disponíveis para atuar no mercado de trabalho, e as 
mulheres oriundas de berços burgueses, estariam livres das obrigações maternais 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
86
e retornariam aos espetáculos, nos passeios, nas bibliotecas, nos gabinetes dos 
sábios, e como belas criaturas agora poderiam entregar-se ao prazer, as danças, 
ao luxo, à abastança, ao terror e ao horror das ruas e que a modernidade carregava 
consigo. (RODRIGUEZ, 2000).
Na figura a seguir é possível observar aspectos desta descrição:
FIGURA 24 – PATIENCE, DE LEONARD CAMPBELL TAYLOR, 1906
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook 
com/photo.php?fbid=10151661994752489&se-
t=pb.124762957488.2207520000.1372604420.&type=3&theater>. 
Acesso em: 30 jun. 2013.
Caro(a) acadêmico(a)! Percebe-se que prevaleceram duas posturas de 
“femininos” bem distintos.Um destinado a preencher os espaços de trabalho modernos, constituído 
especialmente indústrias fabris e estabelecimentos comercias, que por sua 
vez, acabavam por desfavorecer os traços e trejeitos femininos. Estas seriam 
as mulheres que em sua maioria eram oriundas de famílias desprovidas 
financeiramente e que precisavam prover os espaços de casa com mantimentos e 
artigos de sobrevivência. 
E outro, um perfil feminino que preenchia os espaços de sociabilidade 
destinados ao lazer, diversão e prestígio das atrações culturais. Este na maioria 
das vezes era composto por mulheres oriundas de grupos mais abastados 
socialmente. Por sua vez tiveram acesso às escolas, à moda, ao repertório cultural 
e literário ao longo de sua formação e desenvolvimento.
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
87
4.2 O MASCULINO
No interior da sociedade civil do século XVIII, em especial no núcleo 
familiar, o pai centralizava e arbitrava as funções da vida privada dos membros 
da família como um todo; inclusive era do pai a proveniência do sobrenome.
 
Em nome da natureza, o Código Civil, no artigo 213 previa: “O marido 
deve proteção à sua mulher e a mulher, obediência ao marido o que estabelece a 
superioridade absoluta entre os gêneros, do marido no lar e do pai na família, e a 
incapacidade da mulher e da mãe”. (PERROT, 1991, p. 11).
A este cenário colaboravam as instâncias do direito, da filosofia, da 
política, da ciência entre outras especialidades, que será alterado e irá se desfazer, 
ao longo do século XIX e em especial no século XX. No século XIX os guardiões da 
lei, tais como filantropos, legisladores, eclesiásticos passaram a defender a mãe 
solteira e a criança abandonada. Ocorreu também o crescente reconhecimento da 
capacidade das esposas, o direito do divórcio e as separações físicas.
 
Charles Baudelaire flagrou as sinuosidades impostas pela metrópole e fez 
com que surgisse outro homem/masculino em meio aos indivíduos modernos. 
Diferente do trabalhador do campo, ou da indústria, do intelectual, inventor, 
financista, o homem moderno foi nomeado como o snob, o apache, o flâneur, 
o dândi e uma passante, e tinha como principal habitat principal nos caffés, 
boulevards, cabarets e galeries. (AZEVEDO, 1998). 
Conforme se encontra em Perrot (1991), o dândi representava um homem 
público, ator do teatro urbano, que se preocupava em proteger a individualidade 
por trás de uma máscara indecifrável de aparências. Alimentava o gosto da ilusão 
e do disfarce, possuía um agudo senso de detalhes e de acessórios, tais como 
luvas, gravatas, bengalas, echarpes, chapéus, óculos, relógios, entre outros.
De certa forma se negava ser um burguês, carregava mais traços 
aristocráticos, gostava de se diferenciar, procurava fugir da massificação das 
cidades industriais. Aos hábitos noturnos, vida de boemia, o estilo, as roupas e 
seu temperamento tediam a promover esta diferenciação. 
O dandismo configurava assim uma espécie de ética, uma concepção 
de vida, que transitava entre o celibato e da vagabundagem, uma espécie de 
resistência consciente. Os dândis desprezavam o dinheiro como objetivo assim 
como a ostentação do luxo, configurando uma moral anticapitalista e antiburguesa. 
Os dândis odeiam os novos-ricos – os burgueses e os judeus, o jogo e a 
manipulação do dinheiro, e desta forma também os negócios e a vida em família, 
tanto que para eles o casamento era o pior dos cativeiros, e as mulheres, as redes 
da escravidão. (PERROT, 1991, p. 287).
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
88
Em fim, quando se fala em dândi trata-se de um homem que se reservava 
e contemplava atentamente a cidade, pela perspectiva da agitação diária que 
tomava conta dos espaços como os hospitais, bordéis e cafés. Que demostrava 
preocupação e dedicação para com o período noturno, com as novidades em 
termos de tabacos, bebidas e narcóticos, em tecidos, cortes, a arte do bem vestir 
e portar.
 
 Neste sentido procura-se ilustrar os principais traços deste masculino na 
figura a seguir:
FIGURA 25 – SUPPER AT THE SAVOY, FARBE, 1913
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.
com/photo.php?fbid=10151619807382489&se-
t=pb.124762957488.2207520000.1372610195.&type=3&theater>. 
Acesso em: 30 jun. 2013.
A imagem permite que se perceba que o dândi portava um masculino que 
tendia ao feminino, do sensível, dos gestos e do perfil, do semblante e da silhueta. 
Podem ser identificados a este perfil e performance de masculino, os autores e 
personagens como George Bryan Brummel (1778-1840), Charles Baudelaire, 
Oscar Wilde (1864-1900), Arthur Rimbaud (1854-1891), entre outros. 
De outro lado ocorriam os movimentos de unificação dos países da Itália 
e da Alemanha, em disputa pela definição de fronteiras, práticas de imperialismo 
em diversas regiões do mundo, caça a matérias-primas e um crescente sentimento 
de rivalidade e ambição entre os países europeus. 
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
89
Foi neste contexto que se fez presente o perfil de outro homem moderno, 
agora austero, sóbrio, desbravador, relacionado ao campo da diplomacia, do 
exército, da marinha, e que estaria pronto a responder e aos comandos em prol 
da defesa e da segurança do estado-nação, representados por marechais, duques, 
condes e demais nobres.
 
A exemplo do perfil deste homem moderno relaciona-se a imagem de 
Guilherme II:
FIGURA 26 – GUILHERME II, IMPERADOR ALEMÃO
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.
com/photo.php?fbid=10151685179892489&se-
t=pb.124762957488.-2207520000.1373911722.&type=3&thea-
ter>. Acesso em: 15 jul. 2013.
Guilherme II exerceu o título de Imperador entre os anos de 1888 e 1918, 
o último dos imperadores do Império Germânico, pois a monarquia foi abolida e 
proclamada a República de Weimar; que representou uma estratégia na tentativa 
de recuperar o poder diante da já perdida primeira guerra mundial.
Entre o perfil de homem moderno dândi e o austero/racional é possível 
deduzir que o segundo perfil prevaleceu e se estendeu majoritariamente ao longo da 
segunda metade do século XIX, seguiu a primeira metade do século XX, em especial 
nos momentos da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. O contexto de conflitos e 
rivalidades imperialistas dos países favorecia e exigia esta postura de homem.
A seguir apresenta-se a leitura complementar que aborda o ideal erótico 
burguês que, assim como a sociedade na qual era imaginado e projetado, acabava 
por ser conservador e contido, e que o desejo e a paixão deveriam ser satisfeitas 
através da vida material e luxuosa.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
90
LEITURA COMPLEMENTAR
O IDEAL ERÓTICO BURGUÊS
O ideal erótico burguês era o amor conjugal. Os ideais burgueses de 
virgindade, monogamia e pureza ajudavam a sustentar a finalidade última do 
amor (o amor burguês), o casamento. Geralmente, o casamento se dava por razões 
de família, dinheiro, segurança monetária ou ascensão social.
 
O puritanismo, as preocupações morais, o rigor das convicções religiosas, 
em suma, a exigente e rígida cultura da burguesia esperava de homens e, 
sobretudo, de mulheres uma reserva erótica, subordinava a concupiscência ao 
afeto no casamento legal e eterno. O ardor apaixonado era contrário ao amor 
burguês, e, ao menos como um ideal regulador, o desejo erótico devia se voltar 
para a procriação de filhos. 
Deste modo, por um lado, havia o modelo dominante do amor burguês 
que era o padrão amoroso legitimado socialmente e que expressava a cultura 
burguesa da época. Por outro, existiam algumas variações que apontavam para 
amores impulsivos, eróticos e românticos que tentavam escapar da reserva, 
das proibições e do medo de transgredir normas de conduta que, por exemplo, 
cerceavam a satisfação de desejos sexuais. 
Para grande parte da burguesia das primeiras décadas do século XIX, a 
satisfação emocional era um luxo, já que a finalidade do amor era o casamento. 
Muitos dos jovens, sobretudo das jovens, que se viam, na maioria das vezes, 
impingidos a casar independentementede seus desejos sonhavam com um amor 
que não existia em seus cotidianos e ao qual tinham acesso, por exemplo, através 
da leitura de romances. 
De acordo com Gay (1990), o século XIX foi rico na produção literária. Os 
temas dos romancistas giravam em torno das questões consideradas importantes: 
o dinheiro, a classe, a política e, preocupação fundamental, o amor (op. cit., 
120). A obra de ficção funcionava tanto como um ‘reflexo da sociedade’ (p. 125) 
quanto como um ‘narcótico’ (p. 130), um modo de aliviar e escapar de ‘realidades 
avassaladoras’ (p. 129). Esta última função era possível com romances amenos e 
agradáveis, estórias de amores previsíveis e melodramas com final feliz.
Embora houvesse uma variedade de gostos da classe burguesa bastante 
grande, assim como uma demanda voraz por romances, para Gay, ‘a maioria 
dos leitores burgueses do século XIX, em suma, não queriam saber de obras 
de ficção que explorassem conflitos psicológicos ou retratassem as vicissitudes 
desanimadoras de seu mundo emocional’ (p. 129). 
TÓPICO 1 | A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE
91
Assim, havia uma infinidade de romances nos quais a experiência 
erótica da época era distorcida, o amor – diferente do amor burguês – triunfava 
muitas vezes entre pessoas que vinham de classes sociais distintas e o prazer 
sexual era explosivo. Percebidas por puritanos e moralistas como encorajadoras 
de imoralidades e perturbadoras da ordem, estas obras de ficção eram fonte de 
inúmeros e veementes ataques e estimulavam desejos que, em sua maior parte, 
acabariam por ser satisfeitos de forma solitária ou com prostitutas.
Paralelamente, elas colocavam em marcha uma série de fantasias, as quais 
alimentavam um imaginário amoroso que se diferenciava dos amores vividos pela 
grande maioria dos burgueses e que viria a contribuir para a formação de uma 
nova ética amorosa. Retratando de forma precisa os acontecimentos, descrevendo 
e analisando, mais ou menos subjetivamente, as experiências e fantasias da época, 
expondo tendências de mudança que já se encontravam de algum modo diluídas 
e dispersas na sociedade, a vasta produção impressa – livros, artigos e guias de 
comportamento – foi, aos poucos, e não sem resistências, ajudando homens e 
mulheres a construírem outras expectativas e práticas amorosas.
FONTE: CHAVES, Jacquelinne Cavalcanti. Os amores e o ordenamento das práticas amoro-
sas no Brasil da belle époque. Análise Social, Lisboa, v. XLI (180), p. 827, 2006. Disponível em: 
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n180/n180a06.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2013.
92
RESUMO DO TÓPICO 1
Caro(a) acadêmica(a)! Ao longo deste tópico tratou-se da assimilação dos 
projetos de modernidade; de maneira geral relacionaram-se as adequações que 
ocorreram nos espaços de trabalho e de sociabilidade; as posturas e as condutas 
que foram apresentadas em termos de experiência coletiva e individual, tanto 
no universo feminino como no masculino; e diante disto, podem-se elencar os 
seguintes pontos em termos de resumo/síntese:
• A cidade passa a ocupar o status de excelência em termos de espaço e da 
sociabilidade e realização de modernidade e diante disto, ocorreu o gradual 
abandono das regiões agrícolas e a subsequente concentração da população 
nas imediações das cidades e centros industriais.
• A formação de cortiços, a grande circulação de pessoas e as questões salubres 
e de higiene representaram os temas de maior preocupação, receberam 
normatizações e vigilância constantes, diante da justificativa de promover o 
progresso, a ordem e a felicidade na sociedade da época.
• Como cidades símbolos da modernidade, estudou-se que Paris e Londres 
foram os principais centros comerciais, intelectuais e industriais da época, e 
que por sua vez reuniam, ao mesmo tempo, experiências de desigualdades, 
contradições, exclusão e miséria social.
• Posteriormente estudou-se que a individualização avançou e se instalou desde 
o campo coletivo até os espaços e ambientes cotidianos e domésticos dos 
lares; dos espaços de trabalho aos de lazer, e envolveu tanto homens quanto 
mulheres, jovens e crianças.
• Foi abordado também que o perfil e o comportamento de homem e da mulher 
passaram por alterações na modernidade. De maneira geral coube às mulheres, 
de classes médias e pobres, a função de perpetuar a família e inserir-se nas 
vagas de trabalho da indústria; e aos homens, compor os espaços de decisões 
políticas, econômicas, intelectuais, militares da sociedade moderna.
93
AUTOATIVIDADE
1 Com que realidade social, de saúde e higiene pública se deparava a 
população que chegava a Paris e Londres no século XIX?
2 Que medidas foram colocadas em prática pelos urbanistas, higienistas e 
sanitaristas do século XIX para amenizar os problemas das cidades?
3 Quais foram as principais mudanças observadas nos comportamentos e nas 
posturas do masculino e do feminino ao longo da modernidade? Procure 
descrever e comparar de forma reflexiva.
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
94
95
TÓPICO 2
OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Enquanto os projetos de modernidade e modernização da sociedade 
estavam em curso, as expressões e manifestações culturais e artísticas estiveram 
engajadas e preocupadas em retratar e/ou denunciar como transcorria esta 
experiência no interior da sociedade. O alcance dos movimentos e expressões foi 
amplo, ao ponto que conseguiram antecipar e atestar boa parte das mudanças e 
transformações que se encontravam em curso e que viriam a se cumprir somente 
tempos mais tarde.
A sensibilidade e o espírito de vanguarda inerente aos movimentos 
artísticos como a literatura, as artes plásticas, a música, a arquitetura, entre outras 
identificaram e denunciaram as narrativas globalizantes, homogeneizadoras e 
totalizadoras dos projetos de sociedade e cultura.
Denunciavam também que o caráter e o perfil de desenvolvimento 
e realização política, científica e humana e, em especial, não se realizaria de 
modo tão bem-sucedido e de modo triunfante como havia sido planejado e se 
apresentado somente. No desenrolar, no montante dos atos e dos fatos, revelaria 
contradições, exclusões, injustiças, táticas de dominação, alienação, insegurança 
e medos que também eram gerados.
Parece que a modernidade fomentava o exercício de legitimação nos 
espaços do governo e da ciência da época, e, por outro lado, não dava conta de 
acompanhar e controlar o movimento de crítica, contraponto e reflexão que eram 
produzidos no interior das manifestações e espaços culturais e artísticos da época.
 
Mas foram além da crítica e da denúncia somente. As expressões artísticas 
preocuparam-se em registrar a boa vida e o bem viver, as expressões de euforia, 
os entusiasmos e deslumbramentos diante das novas invenções, dos desfrutes de 
paisagens, dos momentos de inspiração no interior dos cafés, salões, bibliotecas, 
galerias, as paixões celebradas nas festas e bailes entre outros momentos. 
Assim manifestações e expressões artísticas e culturais deste período 
ganham caráter amplo, vasto, múltiplo e complexo, pois foram responsáveis por 
fundar, legitimar os projetos de modernidade para além dos limites territoriais e 
políticos ocidentais.
 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
96
Caro(a) acadêmico(a)! Sugere-se que inicie os estudos deste tópico a partir 
dos roteiros que serão arrolados a seguir, mas reforce a atitude de autonomia 
e autodeterminação em termos de formação. Busque ainda maiores referências 
e aprofundamentos, no sentido de se aproximar ainda mais das possibilidades 
de análise e debate que gravitavam em torno da experiência da modernidade 
propriamente dita.
2 O MOVIMENTO DO ROMANTISMO
O movimento do Romantismo influenciou as artes e representou uma 
experiência estética. Esteve preocupado em promover um exercício reflexivo da 
sociedade da época. O Romantismo deve ser pensado para além do uso habitual 
e cotidiano que é dado a este termo, que na maioria das vezes é utilizado paraexplicar as situações e ações sentimentais, que comovem os indivíduos. 
O movimento do Romantismo estava relacionado ao sentido de valorizar 
os aspectos do inconsciente, os instintos, o lirismo, o melódico, o dramático, a 
liberdade criativa, a paixão, o desejo por ideais e pelo inatingível, do misticismo, 
indianismo, da boemia, vida noturna entre outros hábitos.
 
O Romantismo, ao se expressar, utilizou-se de metáforas que eram 
oriundas do campo da natureza, da poesia, do fantástico e do encantado, do 
folclore e do místico. Com estes recursos procurava denunciar o rigor da razão, 
do academicismo, do classicismo, dos regulamentos, normas, condutas, das 
demais regras e imposições que vinham ganhando espaço desde o Iluminismo e 
da Revolução Industrial.
 
Conforme Abbagnano (2007), o significado comum do termo "romântico", 
que significa "sentimental", valorizou o sentimento, que fora ignorado na 
Antiguidade Clássica e que foi reabilitado pelo Iluminismo do século XVIII, no 
sentido de que se fazia necessário conciliar razão é fé, conteúdo e forma, matéria 
e espírito, experiência e sentido.
Esta corrente artística foi inserida em um momento em que ocorreram 
outras mudanças no contexto da sociedade do século XVIII e XIX, entre elas, 
o processo de massificação da leitura e da palavra escrita. As produções de 
intelectuais – como Karl Marx – que apresentavam novas formas de compreender 
e denunciar a realidade social, numa perspectiva de preencher o ambiente crítico 
e que tendeu proceder a uma leitura crítica e dialética da sociedade, e esta foi 
feita contra a promessa de progresso e felicidade pura e simples contida na 
modernidade.
O Romantismo reuniu adeptos das mais diversas áreas do conhecimento, 
da literatura, da música, das artes plásticas. Enquanto Marx descobria o socialismo, 
na Paris de 1840, T. Gautier (1811-1872) e Flaubert desenvolviam sua mística da 
“arte pela arte”, ao passo que o círculo em torno de Comte construía sua própria 
mística paralela da “ciência pura”.
 
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
97
2 O MOVIMENTO DO ROMANTISMO
Ambos, esses grupos – às vezes, entravam em conflito entre si, às vezes, 
encontravam-se interligados – sagraram-se movimentos de vanguarda. Todos 
foram agudos e mordazes em sua crítica ao capitalismo, mas, ao mesmo tempo, 
absurdamente complacentes em relação à crença de que seriam capazes de 
ultrapassá-lo, transcendê-lo, de que poderiam viver e trabalhar livremente, para 
além de suas normas e exigências.
3 O DISCURSO CIENTÍFICO E O DISCURSO LITERÁRIO
Caro(a) acadêmica(a)! A literatura ganha valor histórico, pois contribui 
por reservar um potencial capaz de revelar aspectos que pertencem ao domínio do 
imaginário, das mentalidades, das experiências, das vivências e das expectativas 
de uma dada sociedade e época histórica, aspectos que muitas vezes se encontram 
ausentes em outras fontes e referências utilizadas nos ofícios dos historiadores e 
pesquisadores contemporâneos.
Ao longo da Idade Média, no interior do discurso científico, o autor era 
indispensável, pois o indicador e assegurador da verdade residiam na autoridade 
que este representava, ou seja, uma tese/proposição era considerada e recebia 
de seu autor o valor científico que necessitava. Porém no discurso científico, 
desde o século XVII, esta função não cessou de enfraquecer, e foi gradualmente 
substituída pela ideia na qual o autor somente atribuiria nome a um teorema, um 
efeito, um exemplo, uma síndrome (Foucault, 2008).
 
O autor deveria recuar, disfarçar-se e neutraliza-se no interior da narrativa. 
O respaldo e o teor de verdade passavam a residir nos critérios teóricos, nos 
procedimentos metodológicos utilizados, nas críticas e nas perguntas feitas a 
determinado fato ou fenômeno.
Na mesma época, em contrapartida, na ordem do discurso literário, a 
função do autor não cessou de se reforçar: as narrativas, os poemas, os dramas ou 
comédias que deixavam circular na Idade Média no anonimato foram inqueridos 
(e exigiam respostas) sobre: de onde vinham e quem os havia escrito; foi pedido 
que o autor prestasse contas da unidade de texto posta sob seu nome; pedia-se 
que se revelasse, ou ao menos sustentasse por ele mesmo seus escritos; pedia-se 
que transcrevesse sua vida pessoal e suas experiências vividas. 
Em termos de popularização e assimilação da produção literária ocorreu 
que o hábito da leitura contagiou gradualmente a burguesia, que fez questão de 
pousar e se apresentar nos espaços privados e públicos com seus livros, assim 
como passou a projetar e adequar seus ambientes domésticos com as disposições 
de salas de leitura e bibliotecas, como é possível identificar na imagem a seguir. 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
98
FIGURA 27 – LIVROS PROIBIDOS, 1897 (ALEXANDER MARK ROSSI)
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbi-
d=10151438987227489&set=pb.124762957488.2207520000.1374868596.&-
type=3&theater>. Acesso em: 26 jul. 2013.
Outro hábito que se popularizou ao longo da modernidade foi o de 
trocar correspondências ou postais, entre pessoas de diferentes localidades. As 
correspondências acabavam por encurtar as distâncias, manter contato com quem 
estava distante, levar e trazer notícias de quem se encontrava em viagem de lazer 
ou a trabalho; por sua vez os cartões postais acabaram por difundir as paisagens, 
os ambientes e/ou os modelos das cidades modernas de outras cidades.
Num momento em que o hábito da leitura se espalhava pelo interior de 
todas as classes sociais, os escritores se deparavam com um público havido por 
leitura e ao mesmo tempo cheio de expectativas, e que por outro lado fazia suas 
exigências; o público leitor procurava se identificar e se enxergar nas obras que 
liam. Assim, os romances, as novelas, os contos, as poesias, as peças de teatro 
preocupavam em ilustrar o espetáculo da vida cotidiana e coletiva na qual viviam 
os mais novos letrados da sociedade.
Os escritores como Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), Lord Byron 
(1788-1824), Edgar Allan Poe (1809-1849) e Charles Dickens (1812-1870) viveram a 
modernidade ainda na primeira metade do século XIX, quando se descortinavam 
os primeiros cenários desta época. 
Houve também os movimentos revolucionários transcorridos nos anos de 
1848 e amplamente conhecidos como a “Primavera dos Povos” que favorecerem 
os elementos materiais e de contexto à linguagem que decodificaria o espírito do 
século XIX. Estes movimentos apresentavam uma abundância de contradições 
entre as pretensões do humanismo e o progresso industrial. Para Oehler (1999) 
1848 foi o único instante da história mundial em que ocorreu a fraternização 
não somente do povo com a burguesia, mas também da literatura com a opinião 
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
99
pública, um aproximando-se dos interesses do outro. Este momento foi selado 
com a imprensa, que ao mesmo tempo foi responsável por denunciar os deslizes 
da modernidade.
UNI
O MAL DO SÉCULO: Romantismo & Tuberculose
Além dos fatos e fenômenos sociais do alcoolismo, o suicídio e a sífilis, outra doença, 
a tuberculose, ao longo do século XVIII e XIX se alastrou entre a população europeia e 
acometeu ainda na juventude artistas, músicos, escritores e demais personagens da vida 
intelectual e da boêmia da belle époque. A tuberculose, doença infecciosa que atingia os 
pulmões, mais o consumo de tabaco, narcóticos e álcool compunham o quadro psicológico 
daquela geração. 
Caro(a) acadêmico(a)! Você deve se perguntar a que estado de espírito e quadro psicológico 
se está falando? Este quadro psicológico se abatia tanto à sociedade como à própria 
existência individual, que se encontrava fortemente marcada pelo pessimismo, pela 
melancolia, morbidez, tédio, apatia, sofrimento, descrença, desesperança; quando positivas, 
eram marcadas pelo culto ao impossível, irrealizável, inatingível, as utopias; e que ambas por 
sua vez e que produziam um quadro de expressões de inquietude,desencanto, angústia, 
resignação, fracasso e desespero, que acabava por degenerar a resistência vital e física dos 
indivíduos.
Entre as principais obras literárias que são associadas ao “mal do século” pode-se relacionar: 
Os sofrimentos do Jovem Werther, de J. H. Goethe (1749-1832), Don Juan, de Lord Byron 
(1788-1824), Noites, de Alfred de Musset (1810-1857); no Brasil, Lira dos Vinte Anos, de Álvares 
de Azevedo (1831-1852), As primaveras, de Casimiro de Abreu (1839-1860), Inspirações do 
claustro, de Junqueira Freire (1832-1855), entre outros.
A título de exemplo, toma-se a peça de teatro Fausto de J. H. Goethe, 
que foi inspirado em uma lenda trágica e popular da Alemanha. Originalmente 
apresenta Dr. Fausto, um cientista estudioso que, desiludido com a ciência e o 
conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio apresentado com o 
nome de Mefistófeles, que o entusiasma e deslumbra com as possibilidades da 
técnica e do progresso moderno.
A principal obra de Goethe é Fausto, e se passa na primeira fase da 
Revolução Industrial. O personagem de Mefistófeles se apresenta como 
oportunista, exaltado, egoísta e sem escrúpulos morais, ajustava-se e poderia 
ser associado com perfeição ao perfil de um empresário capitalista havido por 
recompensas materiais e financeiras. 
Mefistófeles não cessava de persuadir o personagem de Fausto com as 
oportunidades de fazer dinheiro e capital com os projetos de modernidade. 
Mefisto induzia Fausto com a ideia de que seus empreendimentos não eram 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
100
somente em benefício próprio e imediato, mas, antes, estaria contribuindo com 
o futuro da humanidade e, a longo prazo, o que promoveria benefícios alegria e 
liberdade de todos. (BERMAN, 1986).
Os personagens de Mefistófeles e Fausto criaram uma espécie de síntese 
histórica, que combinava poder privado e poder público: Mefistófeles, o pirata 
e predador privado, que executa a maior parte do trabalho sujo, e Fausto, o 
administrador público, que concebe e dirige o trabalho como um todo. 
Desde que se começou a pensar em uma cultura moderna, a figura de 
Fausto tem sido um dos heróis culturais daquele período. Embora tenha assumido 
muitas formas, a figura de Fausto tem sido associada a um intelectual não 
conformista, um marginal e um caráter suspeito. Berman (1986, p. 33) descreve 
que Fausto começa num período cujo pensamento e sensibilidade é do século XIX 
e que se reconhece imediatamente como moderno, mas cujas condições materiais 
e sociais são ainda medievais.
 Fausto principia no recolhimento do quarto de um intelectual, no abstrato 
e isolado reino do pensamento; e acaba em meio a um imensurável reino de 
produção e troca, gerido por gigantescas corporações e complexas organizações, 
que o pensamento de Fausto ajuda a criar e que, por sua vez, lhe permitem criar 
outras mais, enfim, todas as possibilidades da modernidade, da livre iniciativa e 
concorrência. A obra termina em meio às conturbações espirituais e materiais de 
uma revolução industrial.
Fausto apresenta-se como um dos grandes problemas éticos e morais de 
sua época: vendia sua alma, valores morais e dignidade em troca de determinados 
bens materiais, que por suas vez representavam itens universalmente desejados, 
como dinheiro, sexo, poder sobre os outros, fama e glória; e tudo mais ao mesmo 
tempo, uma espécie de processo dinâmico que incluiria toda sorte de experiências 
humanas, alegria e desgraça juntas, assimilando-as todas ao seu interminável 
crescimento interior; até mesmo a destruição do próprio eu que seria parte 
integrante do seu desenvolvimento.
Na figura a seguir pode-se observar um dos momentos das aparições de 
Mefistófeles a Fausto em sua sala de estudos:
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
101
FIGURA 28 – MEFISTÓFELES E FAUSTO, GRAVURA
FONTE: Disponível em: <http://zelmar.blogspot.com.br/2011/12/o-re-
torno-da-lenda-do-fausto.html>. Acesso em: 20 jul. 2012.
Uma das ideias mais originais e frutíferas do Fausto de Goethe diz respeito 
à afinidade entre o ideal cultural do autodesenvolvimento e o efetivo movimento 
social na direção do desenvolvimento econômico. 
FONTE: Disponível em: <http://www.companhiadasletras.com.br/trecho.php?codigo=80055>. 
Acesso em: 6 dez. 2013.
Talvez seja o ponto mais almejado pela economia capitalista e que ainda 
continua presente na sociedade e governos da época contemporânea. Porém no 
campo prático dos projetos de modernidade, a cultura se desenvolveu no sentido 
de forma divorciada da totalidade da vida, tanto de valores culturais, sociais e 
morais. 
No contexto da obra, o homem Fausto precisava urgentemente afirmar-se 
contra a arrogante tirania da natureza, de enfrentar as forças naturais em nome 
do “livre espírito que protege todos os direitos”. Fausto, ao longo da realização 
de seus trabalhos em prol a este lema, experimentou algumas das mais criativas e 
algumas das mais destrutivas potencialidades da vida moderna; ele foi impelido 
e consumado a destruir e a criar; e até mesmo pobreza e morte. 
O que Fausto precisou fazer pode ser exemplificado com a situação na 
qual se faria necessário retirar um casal de velhinhos de sua casa e do lugar 
onde passaram toda a sua infância, juventude, vida adulta e no momento que 
aguardavam serenamente pela morte, precisam abandonar seu lar e espaço para 
que uma ferrovia ou uma rede de transmissão de energia elétrica fosse instalada.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
102
Porém, neste processo, ocorreu algo assustador, Fausto não sentia remorso 
ou culpa diante dos atos de destruição que provocava; mas, por outro lado, não 
era capaz de banir a ansiedade e a angústia da mente. 
Quem sabe se estivesse pensando em se realmente suas obras e projetos 
faziam sentido na vida das pessoas, se seriam capazes de compensar em termos 
de conforto e benefícios o que haviam precisado abrir mão, para agora desfrutar 
do novo, do moderno, do progresso que se apresentava.
Berman (1986) reflete que foi no século XX que o modelo fáustico assumiu 
a forma mais plena e concreta, emergindo de modo mais intenso no mundo 
capitalista, na proliferação de “autarquias públicas” e superagências concebidas 
para organizar imensos projetos de construção, sobretudo em transportes e 
energia: canais e ferrovias, pontes e rodovias, represas e sistemas de irrigação, 
usinas hidrelétricas, reatores nucleares, novas cidades, e a exploração do espaço 
interplanetário, mineradoras de carvão e de petróleo.
Berman (1986) traz que o interminável canteiro de obras de Fausto é um 
chão vibrante e de inúmeras outras possibilidades de progresso em decorrência, 
porém inseguro sobre o qual devemos balizar e construir nossas vidas.
 
Fausto constitui de um poema trágico, composto em duas partes e na 
forma de diálogo rimado. Foi apresentado pela primeira vez ainda em 1819, hoje 
continua recebendo encenações e versões tanto no cinema como no teatro. 
Caro(a) acadêmica(o)! Ao volver o olhar à consciência para o presente, em 
especial em uma época e um país que precisa urgentemente obter maiores fontes 
de energia, ampliar a estrutura de transporte/escoamento da produção, ampliar 
as obras habitacionais, infraestrutura e saneamento entre outros, isso tudo não 
nos causaria desconforto, e nem seríamos capazes e fortes o suficiente para não 
desejar estas obras e a modernidade. 
Quem sabe o foco de nossa preocupação deva ser como serão realizados 
os projetos de modernização a fim de suprir as necessidades ao desenvolvimento 
do país, se estes foram construídos de uma forma que também puderam 
contemplar os valores, as necessidades e as expectativas das comunidades que 
serão impactadas diretamente com as obras e os projetos.
A fim de contextualizar esta discussão e análise, sugere-se assistir ao filme 
Fitzcarraldo, do cineasta alemão Werner Herzog que está relacionado a seguir:
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
103
DICAS
Assista ao filme Fitzcarraldo (HERZOG, Werner. Fitzcarraldo.Alemanha, 1982. 
157 min. cor.).
O longa-metragem aborda o contexto histórico da metade do século XIX, em que o irlandês 
Fitzcarraldo (Brian Fitzgerald), procura montar uma fábrica de gelo e um teatro de ópera no 
meio da Selva Amazônica. Na realização de seus projetos, Fitzcarraldo se utiliza do dinheiro 
de sua amante, uma cafetina, e da mão de obra da população nativa da região. 
Na tentativa de realizar este sonho fáustico, não poupará as vidas daquela população e nem 
mesmo o ambiente e a natureza que encontrará pela frente. Utilizando um gramofone, 
navega pelo Rio Amazonas executando músicas do tenor italiano Caruso; assim faz 
acreditando que seria possível, através da música, conter a ferocidade dos povos nativos e 
os perigos que a floresta poderia reservar.
Fitz será apresentado como um homem austero, visionário, o empreendedor determinado; 
vestido com roupas brancas se embrenha na floresta e na lama da obra sempre que 
necessário. Fitzcarraldo incorpora o desbravador heroico e traduz o ideal de modernidade, 
de imperialismo e exploração/dominação que se encontrava latente na cultura e civilização 
europeia do período.
4 A MÚSICA NA MODERNIDADE
Na modernidade, a música e os compositores ganharam maior liberdade 
e expressividade em suas composições, ao ponto que puderam incluir suas 
excentricidades, individualidades e assombrações, tanto as que carregavam 
consigo como as que encontravam em seu meio, a sociedade moderna europeia.
Em termos de estruturação musical, a partir da época moderna 
prevaleceu a erudição e o academicismo que incorporou prelúdios, rapsódias e 
sinfonismos; em termos de técnicas, os artistas se preocuparam em alcançar o 
virtuosismo instrumental. Em contrapartida os temas das composições, muitas 
vezes, incorporaram matizes e referências nacionais, regionais e identidárias, 
especialmente as narrativas mitológicas e as literaturas folclóricas, que por sua 
vez haviam sido excluídas pelo Iluminismo do período anterior.
Além de marcar a produção literária, o Romantismo fez-se presente 
nas composições dos clássicos como W. A. Mozart (1756-1791) e Ludwig van 
Beethoven (1770-1827), e ganhou maior expressividade a partir das composições 
de Frédérich Chopin (1810-1849), que foi indicado como um dos maiores pianistas 
da história da música moderna. 
Outros nomes podem ser relacionados como Johannes Brahms (1833-
1897), Robert Schumann (1810-1856) e Franz Liszt (1811-1886), que é amplamente 
conhecido pelas revoluções nas composições e no virtuosismo em termos de 
técnicas até então utilizadas.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
104
Por fim indica-se Maurice Ravel (1875-1937), compositor francês, que em 
1928, foi responsável pela música “Bolero”, mais conhecida como “Bolero de 
Ravel” considerada a sua obra mais famosa. Trata-se de uma composição que 
explora os estudos de orquestração, com exercício que se vale da dinâmica da 
dança propriamente dita, agora reinventada e redefinida no contexto da música 
clássica e erudita. 
DICAS
Caro(a) acadêmico(a)! Neste momento procure ouvir e apreciar a música Bolero 
de Maurice Ravel. Ouvindo a música ficará mais fácil para compreender a caracterização 
que a música na modernidade recebeu. Se possível procure ouvir comparativamente com 
as canções dos Trovadores Medievais indicadas na Unidade 1. 
A música encontra-se disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=gy5Ve3338-E>.
Ravel ficou surpreendido com o reconhecimento e a popularidade que 
sua música obteve, especialmente, quando ganhou variações e interpretações por 
parte de outros maestros que até mesmo ele admirava. A música é fruto de uma 
encomenda da dançarina russa Ida Rubinstein (1885-1960), que encomendou a 
Ravel a criação de um balé a caráter espanhol. 
Na ópera pode-se indicar o artista alemão Richard Wagner (1813-1883) e o 
compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901). Para Richard Wagner destacam-
se as obras Tristão e Isolda (1857-1859) e Crepúsculo dos deuses (1869-1874). 
A narrativa de Tristão e Isolda representa uma história lendária de amor 
trágico, muito popular no imaginário e na memória do povo germânico, que 
por sua vez remonta os tempos e épocas medievais dos povos celtas, mais ao 
noroeste da Europa, quando a sociedade se encontrava ainda nos moldes feudais, 
fortemente hierarquizada, vivendo de forma dispersa em meio às propriedades 
rurais, tutelada pelos dogmas religiosos e poder político.
DICAS
Caro(a) acadêmico(a)! Ouça a obra de Wagner, em especial, sugere-se o 
prelúdio da música Tristão e Isolda, como foi mencionada acima.
Tristão e Isolda. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=fktwPGCR7Yw.>.
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
105
A lenda além de ter sido musicada pelos artistas do romantismo moderno, 
na atualidade tem recebido versões no cinema. Conforme segue:
DICAS
Filme: Tristão e Isolda. Kevin Reynolds. EUA/Reino Unido, 2006. Trailer disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=ynEwVkHw9_4>.
5 A ARQUITETURA MODERNA
Dois estilos arquitetônicos podem ser destacados: o neoclássico e a art 
nouveau (arte nova).
 
O neoclássico tenderá a retomar os modelos e padrões das edificações 
da Grécia antiga, especialmente os espaços mais sóbrios em acabamentos 
e ornamentos, a racionalidade. Valorizavam a forma e a técnica, mesmo se 
utilizando de matérias nobres como os mármores (em especial, os brancos) e 
granitos; em termos de estruturas fundamentais possuíam processos construtivos 
simplificados, porém com base em projetos complexos, utilizavam-se de cúpulas, 
da geometria e da simetria, que por sua vez remetiam aos estudos matemáticos 
gregos. 
Outro traço também ocorreu com a valorização dos espaços internos e 
íntimos no sentido de oferecer e conferir conforto e praticidade, a fim de amenizar 
a saturação de elementos e a poluição de informações, provocada pelas decorações, 
acomodações, móveis e demais utensílios que até então eram entendidos como 
correspondentes de requinte, sofisticação e bom gosto.
Entre os principais idealizadores desta tendência de arquitetura tem-se 
William Kent (1685-1748), Lorde Burlington (1695-1753), James Stuart (1713-1788) 
entre outros. 
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
106
FIGURA 29 – CHISWICK HOUSE, WILLIAM KENT, 1726-1729, LONDRES
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Chiswick_Hou-
se_136p.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2013.
A Chiswick House representa os novos ideais da arquitetura de estilo 
moderno, marcada pela simplificação e sobriedade das formas. 
Já a art nouveau, se expandiu na segunda metade do século XIX e utilizou 
os materiais oriundos da Revolução Industrial como o ferro e o aço. Como 
representantes da art nouveau tem-se Gustavo Eiffel (1833-1923), António Gaudí 
(1852-1926), Louis Comfort Tiffany (1848-1933), entre outros. 
A obra de Gustavo Eiffel, a Torre Eiffel – 1887-1889, que foi construída com 
a finalidade de observação e a transmissão de rádio. Apresenta uma estrutura em 
ferro, como se pode identificar a seguir:
FIGURA 30 – TORRE EIFFEL, PARIS/FRANÇA
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_Ei-
ffel>. Acesso em: 2 jul. 2013.
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
107
Ambos os estilos da arquitetura moderna faziam resistência aos estilos 
artísticos e arquitetônicos da Idade Média, do Barroco e do Rococó. Estes últimos 
se apresentavam tanto em termos de materiais e formas, em excessos, exageros 
e com a valorização dos armamentos e dos espaços externos. De maneira geral 
pode-se dizer que a arquitetura moderna tendeu a simplificar as formas, amenizar 
a tensão e o drama que a arte apresentava anteriormente.
A simplificação não será absoluta e rígida. Identifica-se na elaboração 
de portões, jardins, sacadas, de aparadores de escadas, janelas, temas e texturas 
de pisos e azulejos com arabescos, curvas, tons frios, com grande inspiração na 
natureza, em especial nas flores, folhagens e animais, de perfil árabe e oriental, 
com a presença demosaicos, arabescos, bordas e sinuosidades eróticas e sensuais. 
Desta forma, observa-se que a simplificação dos materiais e das formas 
da arquitetura e das composições ocorreu de forma progressiva. Os ambientes 
passaram a ser habitados e preenchidos com preocupações relacionadas com a 
praticidade aliada com aspectos de requinte e beleza, que por sua vez passaram 
a ser garantidos pela sinuosidade e ondulação, de origem da tradição oriental. 
6 NAS ARTES PLÁSTICAS
Nas artes plásticas ocorreu a tradição da art nouveau. Os principais artistas 
desta tendência foram Gustav Klimt (1862-1918) e Aubrey Vincent Beardsley 
(1872-1898). 
Aubrey foi responsável por ilustrar o livro Salomé do escritor irlandês 
Oscar Wilde, que foi escrito na forma de peça de teatro, em que o autor revisita e 
reconta a história bíblica de São João Batista e o rei de Rodes, agora a recontando 
com outra abordagem, indicando motivos emocionais e psicológicos, não mais 
religiosos e políticos, como os responsáveis pela sentença atribuída pelo rei de 
Rodes a São João Batista que foi decapitado. Na imagem a seguir é possível 
observar Salomé, enteada do Rei de Rodes, com a cabeça do São João, prestes a 
beijá-lo.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
108
FIGURA 31 – SALOMÉ, AUBREY VINCENT BEARDSLEY
FONTE: Disponível em: <http://flyingbuttresses.files.wordpress.
com/2008/11/salome_aubrey_beardsley.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2013.
Por outro lado houve mudanças para com o que era apresentado como 
arte, a então arte barroca, na qual prevaleciam os efeitos de esplendor, a opulência 
material e carregados de elementos religiosos e dramáticos, quando a partir da 
época moderna passam a prevalecer as formas e materiais dinâmicos, com tons 
mais claros e com temáticas mais leves e abstratas.
As mudanças não foram somente em termos de expressão e apresentação 
artística, o sentido e a função da arte foram questionados e reformulados. A arte 
ganhou e perdeu abordagens, temas e preocupações. A preocupação inicial da 
arte no século XIX foi a de ao mesmo tempo reunir o objeto (arte) e o sujeito 
(artista), o mundo exterior ao artista e o próprio artista. Assim, observou-se, 
nas artes plásticas, que o estilo e a tendência do expressionismo passaram a se 
acentuar.
O expressionismo pode ser entendido, conforme aponta Berman (1986, 
p. 134), “uma arte que apresentava como tema preferido a pompa da vida (la 
pompe de la vie), a pompa da vida militar, da vida elegante, da vida galante (la vie 
militaire, la vie élégante, la vie galante) nas capitais do mundo civilizado”.
Outra tendência artística na modernidade foi o Realismo. Berman (1986, 
p. 139) aponta que “o gênio poético e sua realização artística da modernidade 
foram forjadas entre a vida cotidiana – e a vida noturna – das ruas, dos cafés, das 
adegas e mansardas de Paris e Londres”. As visões transcendentais se enraízam 
em um tempo e um espaço concreto e circunscrito. O espaço foram por excelência 
as capitais da belle époque.
TÓPICO 2 | OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS
109
FIGURA 32 – GIUSEPPE DE NITTIS – LA NATIONAL GALLERY A LONDRA (1877)
FONTE: Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbi-
d=10151737237442489&set=pb.124762957488.2207520000.1372789089.&type=3&-
theater>. Acesso em: 2 jul. 2013.
Na tendência do Realismo, nas artes plásticas, foi gradualmente ganhando 
espaço outra vertente artística propriamente chamada de arte moderna. O 
Realismo foi fortemente influenciado pela invenção da fotografia. E do contato 
destes diante destes surgiu o Impressionismo, que procurou recuperar as 
questões primeiras da arte, em especial com estudos das variações das cores e 
aprimoramento das técnicas. 
Se por um lado o Realismo se acentuava por outro, com o impressionismo 
e as tendências abstratas, passou-se a identificar certo desengajamento no que se 
refere à temática social e politica no interior das artes de um modo geral.
Azevedo (1998) propõe que desde o século XVIII vinha se projetando uma 
espécie de abstração e impessoalidade que recobria o caráter metropolitano, o que ficou 
cada vez mais recorrente na arte chegando até as contribuições de Wassily Kandinski 
(1866-1944) e Piet Mondrian (1872-1944), artistas amplamente referenciados neste 
estilo e técnica. Este aspecto é possível de identificar tanto na imprecisão das formas 
como também no título que será dado à mesma.
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
110
FIGURA 33 – GORGE IMPROVISATION, WASSILY KANDINSKI, 1914
FONTE: Disponível em: <http://www.invisiblebooks.com/Kandinsky.htm>. 
Acesso em: 2 jul. 2013.
O artista genuinamente moderno percebia a metrópole como um viver e 
existir abstratos. Os artistas encontravam-se gradualmente perdendo o contato 
com a natureza, uma das fontes soberanas de inspiração e senso de beleza no 
interior das artes até então. 
A metrópole passou a ser o lugar em que se aprimorou o temperamento 
artístico matemático vindouro. Foi o lugar de onde emergiu o novo estilo, em 
busca de uma arte desmaterializada, neutra e imparcial em termos de realidade, 
desengajada politica e socialmente e que se pretendia como uma arte “pura”, que 
estivesse atenta às questões da técnica, materiais e realização da arte somente, 
aprimorando estudos em termos de cores, materiais, estilos e movimentos 
somente, no sentido de “arte pela arte”. 
Caro(a) acadêmico(a)! Não foram somente os artistas que estavam 
perdendo o contato com a natureza e vendo a cidade edificada e concretada 
expandir-se, todos os indivíduos que se encontravam nas cidades modernas 
e industrializadas sofreram este processo. Mas estes aspectos serão melhor 
pontuados e abordados na Unidade 3 deste Caderno de Estudos. Neste momento 
reservamos esta discussão para seguirmos no sentido de se apresentar como se 
deu a experiência de modernidade e modernização no Brasil.
111
RESUMO DO TÓPICO 2
Caro(a) acadêmico(a)! Ao longo desta unidade procurou-se abordar a 
assimilação da modernidade no campo da sociedade e da cultura, mostrando 
como ela, através das expressões da literatura, das artes plásticas, da literatura, 
da música, da arquitetura, compôs e forneceu os referenciais de modernidade em 
seu momento histórico, diante disto pode-se apontar:
• Ocorreu a popularização das artes, da escrita, da leitura, dos espaços de 
museus, ateliês, salões e galerias de arte, das bibliotecas entre outros.
• A burguesia procurava formular e compor seu repertório cultural (artes 
plásticas, música, literatura) de uma forma que a legitimasse e lhe atribuísse 
status de grupo social refinado e sofisticado.
• O movimento do Romantismo foi um movimento que esteve mais presente 
na música e na literatura, e procurou criticar as mudanças, especialmente 
fornecer as bases de crítica ao individualismo, à industrialização crescente e 
ao percorrer da ciência e do progresso como um todo.
• O Romantismo, que por sua vez se encontrava mergulhado num cenário 
de boemia insalubre, foi vitimado pelo mal do século, com as doenças da 
tuberculose, da sífilis e do alcoolismo.
• Os valores da sociedade capitalista, como o individualismo e o pragmatismo, 
a constante ocorrência de mudanças e novos equipamentos, acabaram por 
influenciar a produção artística.
• No campo das artes, os estilos da art nouveau, do Realismo e do Impressionismo 
se destacaram por apresentar novas preocupações desde edificações/
arquitetura até as artes plásticas.
• A art nouveau ou a arte nova preocupava-se em se utilizar dos materiais da 
Revolução Industrial, como o ferro e o aço, e por outro lado apresentava 
influência das tradições árabes e orientais diante da presença de folhagens, 
arabescos e mosaicos.
• O Realismo que se preocupou em retratar a realidade de forma mais real 
possível, encontrou como aliada a fotografia; e o impressionismo passou a 
se dedicar aos estudos da técnica e da composição artística afastando-se dos 
temas relacionados à realidade de sua época.
112
AUTOATIVIDADE
1 As expressões culturais procuraram reagirdiante dos projetos de 
modernização e modernidade da sociedade e entre as manifestações mais 
expressivas identifica-se a do Romantismo. Quais são os principais valores e 
concepções que foram defendidos no interior do movimento do Romantismo? 
2 Nos padrões de edificações percebe-se que as tendências da época passaram 
a buscar inspiração na antiguidade clássica até que na sequência surgiu a 
escola Art nouveau. O que os projetistas e arquitetos pretendiam expressar 
com esta postura e estilo de arte?
3 Assim como foram observadas a predominância e a retomada de 
determinados temas no interior das manifestações culturais como a música, 
a literatura, a arquitetura, que temas poderão ser apontados como mudança 
e diferença nas artes plásticas do século XIX?
Assista ao vídeo de
resolução da questão 3
113
TÓPICO 3
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, o ponto de vista econômico e tecnológico, ao longo dos 
primeiros 300 anos de colonização que o país sofreu, houve incentivos que se 
destinavam prioritariamente à monocultura da cana-de-açúcar que possuíam 
como prioridade atender ao mercado estrangeiro, e que se sustentavam na 
produção e fabricação a partir da utilização mão de obra escrava e se concentrava 
na região nordeste do país.
No campo político, entre as autoridades inglesas, portuguesas e brasileiras, 
ocorreu uma espécie de consenso no sentido de zelar pelo não desenvolvimento 
das atividades industriais, o que por sua vez significou fragilizar a capacidade 
produtiva do país, a autonomia e as possibilidades de independência e 
autodeterminação política, bem como as oportunidades de modernização e 
modernidade em termos de sociedade e cultura.
Neste contexto imperavam as políticas de imperialismo aplicadas pelos 
países europeus em outras regiões do mundo, como a Ásia, a América, a Índia e a 
África; o que por sua vez sugerem que coube ao Brasil se ajustar em termos de nação 
fornecedora de matérias-primas, tanto de natureza mineral e vegetal, e por outro 
lado se caracterizava por consumir os produtos manufaturados, industrializados; 
receptora, incorporadora e reprodutora de referências e exemplares ideológicos, 
artísticos e culturais europeus.
Assim, pode-se atestar que foi uma modernidade imitativa e espelhada 
em padrões, ícones e referências que não condiziam com o contexto e realidade 
brasileira, e que por sua vez provocaram a realização de projetos distorcidos 
e descompassados. Por outro lado, o caráter de não contemplar os elementos 
genuínos e típicos da cultura brasileira, foi responsável por gerar certo sentimento 
de estranhamento, marcado por dificuldades de reconhecimento à noção de 
totalidade no interior da sociedade e cultura brasileira. 
Mas, estes aspectos serão descritos e ilustrados ao longo do tópico que se 
inicia agora e seguirá nas páginas correntes. Para tanto, cabe destacar que este é 
o período da vinda da família real, da missão artística francesa, do incentivo das 
levas de imigrantes europeus, da urbanização da sociedade, bem como a formação 
e modernização das principais metrópoles brasileiras.
114
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
2 A ESTADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA NO BRASIL
Negando-se a cumprir as determinações que Napoleão Bonaparte havia 
previsto a Portugal e a fim de exilar-se da ameaça da possibilidade de serem 
transformados em presos políticos do líder político e militar francês, D. Maria I, 
D. João VI, Carlota Joaquina e mais uma comitiva de aproximadamente 20 mil 
funcionários e subordinados, a bordo de 14 embarcações, escoltados e orientados 
pela diplomacia e marinha inglesa, em 29 de novembro de 1807, partiram de 
Portugal rumo ao Brasil.
 Conforme os relatos de O´Neil (2007, p. 58):
Havia uma tropa de mais ou menos quatro mil soldados a bordo da 
frota, a qual transportava ao todo de 16 a 18 mil súditos de Portugal: 
todas as naus estavam superlotadas. [...] A frota ia acompanhada por 
mais ou menos trinta grandes navios mercantes portugueses. 
Desembarcam, na cidade de Salvador da Bahia, em 22 de janeiro de 
1808 e, no Rio de Janeiro, em 8 de março do mesmo ano. Diante de uma urgente 
acomodação foram providenciadas, às pressas, muitas estruturas em termos de 
saneamento público (água e esgoto), sistemas financeiros e bancários, espaços de 
arte, cultura, normas de higiene, posturas e condutas públicas. Inicialmente foram 
aplicadas à população do Rio de Janeiro e depois foram estendidas às principais 
cidades do país. Os portos foram abertos, casas e igrejas foram reformadas e 
novas instituições criadas.
 
O príncipe regente, D. João, percebeu a necessidade de contratar a 
chamada Missão Artística Francesa (composta por artistas, cientistas, arquitetos, 
entre outros). Estando em solo brasileiro, estes artistas de maneira geral, como 
homens livres, logo conseguiram aceitação e se projetaram como mais uma fração 
da classe burguesa no interior da sociedade brasileira. Mas afinal, você deve se 
perguntar o que foi a missão artística francesa?
3 A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA
Consistiu num grupo de artistas que veio ao Brasil em 1816, sob a 
liderança de Joachim Le Breton (1760-1819), no qual participavam Jean Baptiste 
Debret (1768-1848), pintor histórico; Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), pintor 
de paisagens e de batalhas; Auguste Henri Victor Gandjean de Montigny (1776-
1850), arquiteto; Charles de Lavasseur, arquiteto; Louis Ueier, arquiteto; entre 
outros.
Neste mesmo ano, o regente D. João VI assinou o decreto para a fundação 
da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 12 de agosto 1816, mas a realidade 
era que desde a chegada ao Brasil, os integrantes da missão passaram por grandes 
dificuldades, que se agravaram com a morte do seu líder, Joachim Lê Breton, em 
1819.
 
TÓPICO 3 | A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
115
2 A ESTADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA NO BRASIL
3 A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA
Mas mesmo assim deixaram seus frutos em terras brasileiras. Entre as 
artes por eles ensinadas, pode-se indicar a arquitetura como a expressão que 
obteve a maior e mais rápida aceitação, em especial, nas novas edificações que 
foram construídas no Rio de Janeiro. No campo da pintura, gravura, desenho 
e escultura, a arte brasileira acabou por depender das produções de artistas 
estrangeiros, viajantes ou imigrantes estrangeiros.
No campo do teatro pode-se destacar que em meio às baixas temporadas 
nos teatros e salas dos centros culturais nos meses de verão na Europa, ocorria a 
circulação de companhias e grupos europeus pelo Brasil. 
No final do século XIX, esteve no Brasil Sarah Bernhardt (1844-1923) artista 
francesa que era globalmente conhecida como “a mais famosa atriz do mundo”. 
Entre as peças em que atuou esteve “A dama das camélias”, de Alexandre Dumas, 
“Macbeth” e “Hamlet”, de Shakespeare, entre outras peças de Voltaire, Molière, 
Georgs Sands, Racine, entre outros. 
Sarah era tida como uma mulher admirável e de inigualável talento, 
ímpeto e temperamento de vanguarda. E quando esteve no Rio de Janeiro, pela 
primeira vez em 1886, a recepção que os jornais e diários fizeram, acabaram por 
fazer a cobertura destes momentos e transformá-los em eventos sensacionalistas 
(FARIA, 2001).
No final do século XIX, a arte erudita chegou a alcançar um nível 
quantitativo bastante significativo, mas sem transformações qualitativas em 
termos de estrutura e essência no interior da arte brasileira. O que foi produzido 
não passava de arte europeia. O ponto de superação ocorreu somente nas décadas 
de 20 e 30 do século XX, em especial como o movimento da Semana da Arte 
Moderna, o que por sua vez desagradava às elites conservadoras da época.
IMPORTANTE
A SEMANA DA ARTE MODERNA
A Semana da Arte Moderna foi o movimento se aconteceu de 11 a 18 de janeiro de 1922, 
em homenagem ao primeiro centenário da Independência do Brasil. Participaram artistas, 
escritores, músicos entre outros, que reivindicavam que uma arte genuinamente brasileira 
fosseprocurada e produzida, no sentido de romper com os moldes e estilos europeus que 
haviam sido legados e herdados desde a missão artística francesa. Para tal foram retomados 
temas, fatos, eventos e personagens oriundos do folclore e da cultura popular, tidos como 
nativos e genuinamente brasileiros. Entre os principais artistas que participaram da Semana 
da Arte Moderna, podem-se relacionar Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do 
Amaral, Anita Malfatti, Heitor Villa-Lobos, entre outros. 
116
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
4 A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA
O Brasil estruturou sua base manufatureira e industrial em termos de 
equipamentos, de tecnologias com a preocupação em favorecer internamente as 
atividades que não ameaçavam o mercado consumidor dos produtos europeus 
e externamente a fornecer produtos tropicais ou matérias-primas à indústria 
europeia.
 
A precaução da metrópole portuguesa era tanta que em 1785 foi publicado 
um alvará assinado por Dona Maria I (a louca) e mãe de D. João VI, que previa a 
seguinte disposição:
O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da 
terra. Os seus habitantes têm por meio da cultura, não só tudo 
quanto lhes é necessário para o sustento da vida, mais ainda artigos 
importantíssimos, para fazerem, como fazem, um extenso comércio 
e navegação. Ora, se a estas incontáveis vantagens reunirem as das 
indústrias e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, 
ficarão os mesmos totalmente independentes da metrópole. É, por 
conseguinte, de absoluta necessidade acabar com todas as fábricas e 
manufaturas no Brasil. (Alvará de 05.01.1785 in: Fonseca, 1961).
E este cenário só passou a ser alterado com a chegada da família real ao 
Brasil, que se deu em 1808. O fato de o reinado e toda a corte ser instalada no 
país fez com que muitas políticas públicas de governo fossem implementadas 
no sentido de suprir a demanda por produtos manufaturados e até mesmo de 
alimentos. 
 
Neste cenário, a chegada da família real portuguesa ao país acaba 
por representar um momento marco que demandou tanto ações da parte das 
autoridades políticas como em termos de acomodações sociais que forçaram às 
estruturas do país a experiências de progresso, desenvolvimento e modernidade. 
Caro(a) acadêmico(a)! Não perca de vista os cuidados em se abordar este 
tema, assim como em compreender o sentido e as condições de modernidade que 
o país empreendeu, ou seja, uma espécie de modernidade aos moldes europeus.
Após a instalação das primeiras manufaturas e fábricas no país, o governo 
do império lançou algumas medidas protecionistas à produção, circulação e ao 
consumo de produtos nacionais, como também procura aumentar a margem de 
impostos que eram cobrados pela coroa nas transações comerciais. 
No ano de 1844 foi publicada a tarifa Alves Branco, decretada pelo então 
ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco, que estabeleceu 30% de impostos 
para produtos importados sem similar produzidos no Brasil e taxas de até 60% 
de imposto sobre os produtos estrangeiros que por sua vez estivessem sendo 
produzidos no Brasil.
TÓPICO 3 | A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
117
4 A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA Esta medida não foi suficiente para impulsionar de forma eficaz e 
definitiva a base manufatureira e industrial do país. Ao longo e até o final do 
século XIX, a base econômica, em sua maior fração, foi de origem agrícola. Mas 
foi a partir deste setor que a indústria brasileira conseguiu os capitais necessários 
para se estruturar e projetar.
De maneira geral pode-se elencar que as primeiras indústrias estavam 
relacionadas ao beneficiamento de alimentos e produtos agrícolas. Os principais 
produtos ao longo do século XVII – XVIII eram derivados de cana-de-açúcar, 
algodão, minérios provenientes das regiões do nordeste e sudeste; e a erva-mate, 
charque e do couro no sul do Brasil.
Na segunda metade do século XIX e primeiros anos do século XX, em 
especial com a nova dinâmica social e econômica promovida pelas levas de 
imigrantes europeus ao país, as atividades como da indústria calçadista, têxtil e 
alimentícia, instaladas e realizadas nas regiões sul e sudeste do Brasil, ampliaram 
a base industrial do país. Mas ainda se caracterizavam como indústrias de caráter 
primário. Somente ao longo do século XX é que a indústria no Brasil ganhou 
projeção significativa.
IMPORTANTE
Para maiores estudos, neste contexto, merecem destaque as ações de 
alguns brasileiros que colaboraram com empreendimentos econômicos, ou junto aos 
espaços políticos, administrativos, culturais em que atuavam, participaram do processo de 
modernização/modernidade do país, tais como D. Pedro II, Marechal Cândido Rondon, 
Barão de Mauá, Joaquin Nabuco, Ruy Barbosa, Benjamin Constant e que por sua vez 
acabavam por repercutir na esfera política, nos movimentos abolicionistas, de proclamação 
da República, entre outros. 
5 A FORMAÇÃO DAS METRÓPOLES
A modernidade urbana passou a ocorrer quando foram implantadas 
as redes técnicas de comunicação nas principais cidades brasileiras; que foi 
responsável por acabar por conectá-las umas às outras e ao restante do mundo, 
ou seja, incluiu as mesmas à dimensão global de padrões, desejos e consumo 
(VELHO, 1999).
As correntes migratórias acabaram por favorecer que os capitais de diversos 
países se expandissem para vários lugares da geografia mundial. Acrescenta-se 
que as correntes ocorridas no Brasil no final do século XIX e as do início do século 
XX trouxeram para as novas cidades muitos “imigrantes burgueses” capazes de 
118
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
movimentar e manter aquecida a economia, uma vez que traziam da Europa ou 
haviam adquirido e acumulado capitais para montar seus próprios negócios nas 
terras brasileiras.
No discurso oficial e central sobre a modernização da cidade, o progresso, 
a ordem e o êxito previam instauração de novas regras de convivência e coabitação 
que por sua vez deveriam ser reproduzidas, de forma a colocar os trabalhadores 
pobres à margem dessa vivência. 
Ocorria uma crescente valorização do trabalho disciplinado como valor 
social, e a elevação das categorias de médicos, sanitaristas, inspetores entre outros 
responsáveis pela saúde pública à condição de intelectuais prestigiados, que por 
sua vez ditavam os padrões higiênicos de comportamento. Além do controle 
realizado do trabalho no interior das fábricas, a repressão policial ocorria a céu 
aberto, contra os comportamentos tidos como desviantes, como, por exemplo, a 
prostituição, a embriaguez ou a vadiagem. 
Caro(a) acadêmico(a)! Se analisarmos em nossa época, até hoje os 
discursos dos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde e da 
salubridade possuem um status de verdade e moral que acabam sendo cumpridos 
automaticamente, não sendo discutidos ou refletidos pelos indivíduos.
Mas como estes aspectos de modernidade foram implementados nas 
metrópoles do Brasil? Quais eram estas metrópoles? Que estruturas, orientações 
foram adotadas nos espaços e nas atividades no interior das cidades?
Neste momento, tomam-se como estudos as cidades de Salvador, Rio 
de Janeiro e Porto Alegre. As cidades de São Paulo, Manaus, Belo Horizonte, 
Curitiba, Recife e outras tantas poderiam ser consideradas, mas as circunstâncias 
não permitem. Quem sabe a partir das reflexões, que serão apresentadas nesta 
unidade, possibilitem que você contextualize a experiência de modernidade 
ocorrida em sua cidade e região.
A cidade de Salvador acumulava a experiência de ter sido a capital 
do Brasil entre os anos de 1500 e 1756, e por outro lado, todos os impactos e 
mudanças por ter perdido esta categoria para a cidade do Rio de Janeiro. No 
século XIX, quando da época da modernidade brasileira, Salvador encontrava-se 
em um período em que a escravidão estava em declínio e quase extinta e a crise 
alastrava-se ao setor agrícola.
O primeiro desembarque da família real portuguesa foi em Salvador e por 
conta disto, em menos deum mês, providências e já haviam sido tomadas, sendo 
que foi fundada 1ª escola médica e cirúrgica de Salvador. Isso se deu também 
em função de que Portugal se encontrava ocupado por tropas francesas e não 
havia condições de se importar médicos, e os que aqui se encontravam eram 
insuficientes diante das necessidades de atendimentos que surgiam.
TÓPICO 3 | A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
119
Outra obra foi o Colégio da Bahia, fundado em 1837, com o nome de 
Liceu Provincial, funcionando nos espaços do Convento da Lapa. Em 1900 foi 
reinaugurado com o nome de Ginásio da Bahia, mais tarde Colégio da Bahia.
IMPORTANTE
Procure assistir aos vídeos da historiadora Mery Del Priore “Descrição de 
Salvador no século XIX” parte 1 e 2. 
Descrição de Salvador no século XIX – Parte 1. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=jaAYtJyRtX8>. Acesso em: 2 jul. 2013.
Descrição de Salvador no século XIX – Parte 2. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=qMEX7cndJRA>. Acesso em: 2 jul. 2013.
Na trajetória de modernização do Brasil pode-se dizer que o Rio de 
Janeiro, que funcionou como a capital do Brasil entre os anos de 1756 e de 
1960, especialmente após a chegada da família real, que exigiu que ocorressem 
mudanças no sentido de bem e melhor acomodar toda a comitiva que chegava 
juntamente com a expedição da coroa portuguesa. E eram aproximadamente 20 
mil pessoas.
Weid (2003) explica que o Rio de Janeiro colonial não possuía um plano 
de urbanização mais elaborado. Era uma cidade portuária habitada de forma 
concentrada ao longo das margens da baía de Guanabara, que se espremia 
entre os morros e a vegetação, ocupando um espaço conquistado através do 
dessecamento dos brejos e manguezais da região. 
Durante o século XIX ocorreram inúmeras modificações e termos de poder 
aquisitivo/econômico e nas estruturas políticas que a cidade comportava até então. 
A vinda da família real portuguesa, em 1808, foi responsável por trazer para a 
colônia uma classe até então inexistente e que necessitava boas estruturas materiais.
 
Depois da independência, em 1822, a capital transformou-se em um polo 
de atração de trabalhadores livres, tanto nacionais como estrangeiros. Weid 
(2003) descreve que o Rio de Janeiro no século XIX reunia um centro populoso, 
abrigava um conjunto heterogêneo de escritórios, lojas, bancos, depósitos, 
oficinas, trapiches, prédios públicos, armazéns (que funcionavam com cortiços ou 
estalagens construídos nos fundos, e estes espaços representavam uma fonte de 
renda complementar à sociedade), sobrados e casas térreas, que eram habitações 
particulares, e casarões transformados em casas de cômodos, serviam de moradia 
para as populações de baixa renda. 
A litografia a seguir, elaborada pelo artista Rugendas, entre os anos de 
1821-1826, ilustra as condições de vida na rua conhecida como Direita. 
120
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
FIGURA 34 – RUA DIREITA, RUGENDAS, 1821-1826
FONTE: Disponível em: <http://jeocaz.files.wordpress.com/2010/11/riodejaneiro-ruadi-
reita-rugendas-c-1827-35.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2013.
No plano inferior da litogravura é possível identificar diversos grupos 
sociais reunidos em um momento de feira, com variadas funções, atividades e 
produtos sendo comercializados. Na lateral direita é possível identificar uma 
paisagem de edificações em planta alta, composta de dois, três ou até quatro 
andares, uma igreja e mais ao fundo um aqueduto sustentado por arcos, os arcos 
da lapa, que foram edificados no final do século XVIII.
Apesar de ser a maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro foi ainda, na 
segunda metade do século XIX, um centro urbano com características tipicamente 
coloniais. Que comportava ruas estreitas, sinuosas e esburacadas, a maioria sem 
pavimentação, por sua vez congestionadas por fluxos de homens e mercadorias 
entre o terminal ferroviário, a zona portuária e o centro mercantil. (WEID, 2003).
As casas eram pequenas e simples, com fachadas desbotadas; a lama e poeira 
se alternavam dependendo das chuvas ou do calor. A população andava descalça 
e mal vestida, com escravos que transportavam cadeirinhas ou carregamentos 
de mercadorias, cruzando com vendedores ambulantes levando cestos, burricos 
carregados de hortaliças, frutas ou outras cargas.
Diante deste contexto foram feitas reformas urbanas, ruas foram calçadas, 
as feiras foram organizadas, cortiços foram demolidos.
Outra prática foi a de políticas que visavam fazer reformas urbanas, 
ocorreu o processo de expulsão das populações negras, só que isto se deu sentido 
TÓPICO 3 | A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
121
verticalizado, sendo que estas populações passaram a ocupar os morros e as 
encostas não muito distanciadas do centro (CHALHOUB, 1990).
Além das demolições deste tipo de habitações populares, ocorreram 
modificações do traçado urbano da cidade, empreendidos pelo poder público, e 
as medidas buscavam desfazer os cenários e esvaziar os significados penosamente 
construídos ao longo das longas lutas sociais contra as experiências da escravidão 
(CARDOSO, 1997). 
Encaminhados e realizados estes primeiros projetos e processos tem-se, 
segundo Mallmann (2010), a Belle Époque inicia somente no governo de Campos 
Salles a partir de 1898. A capital federal vivia uma situação privilegiada, onde 
reunia e encontrava as sedes de várias instituições de grande importância, como 
o Banco do Brasil, além de outros bancos nacionais e estrangeiros e a Bolsa de 
Valores. 
Ser moderno no Brasil do século XIX significava estar no Rio de Janeiro. 
Este era o local ideal para se encontrar oportunidades e obter sucesso e nas mais 
variadas áreas, como, por exemplo, na vida intelectual, artística ou científica 
do país. “Era a cidade com o núcleo de maior rede ferroviária do país, maior 
mercado consumidor e de oferta da mão de obra às indústrias, comportava o 3º 
maior porto em movimentações e volume de comércio do continente americano”. 
(SEVCENKO, 2001, p. 27).
Porto Alegre, na virada do século XIX, passou a ser o centro das operações 
comerciais e financeiras do estado do Rio Grande do Sul. Apresentava uma 
população de descendência estrangeira, que economicamente se encontrava 
baseada nas atividades comerciais, de produtos industriais e se encontravam 
relacionadas à circulação de produtos coloniais (UEDA, 2006).
A cidade se caracterizava por uma intensa ocupação na área da península 
central, se expandiu para os bairros mais afastados, e, consequentemente, 
demandou por maiores ampliações em termos de infraestrutura urbana; e as 
reformas urbanas deveriam atender às novas concepções pelas quais a elite porto-
alegrense almejava, ou seja, o centro deveria ser um local de conduta “civilizada” 
e “salubre”. 
Pertenciam a este contexto também as palavras como intervir e ordenar 
no espaço, pautar e regrar a conduta dos indivíduos, compor códigos de posturas 
municipais, construir, destruir e (re)construir edifícios, abrir avenidas, extinguir 
cortiços e becos, ampliar ruelas, entre outros. 
Os antigos caminhos de povoamento, que se estendiam rumo aos Campos 
da Redenção (atual Bom Fim), o Areal da Baronesa (Cidade Baixa), Floresta e bairro 
Navegantes. Nestes locais e redondezas, terrenos baldios ou antigos povoados 
foram, pouco a pouco, absorvidos pela trama e recebendo as estruturas urbanas 
e, por conseguinte, agregando valor imobiliário aos espaços (UEDA, 2006).
122
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
Ao longo do século XIX, mesmo com a implantação das inovações 
tecnológicas e das redes técnicas – que beneficiavam uma pequena parte da 
população da cidade – a cidade passou por uma crise energética, a água que 
abastecia a população era de péssima qualidade e, mesmo na área central, havia 
lugares que não eram atendidos pelas redes de esgotos. 
Na segunda metade e reta final do século XIX novos símbolos de 
modernidade começaram a ser implantados na cidade, como a construção do 
gasômetro (1874), a regularização da coleta do lixo(1876), a construção do 
saneamento básico (1878), além da implantação de linhas de bondes de tração 
animal (1874) e de linhas telefônicas (1886). Na figura a seguir é possível observar 
as ampliações que ocorreram próximas ao mercado público.
FIGURA 35 – PORTO ALEGRE NO SÉCULO XIX
FONTE: Disponível em: <http://www.riogrande.com.br/turismo/fotos_mercado_pu-
blico2.htm>. Acesso em: 8 jul. 2013.
Ainda neste contexto, tem-se a construção do Hospício de Alienados São 
Pedro (1884), o asilo de mendicidade Padre Cacique (1898) que foram dispostos 
fora dos limites urbanos, com objetivo de isolar os indesejáveis, os “outros” da 
sociedade: doentes, loucos, mendigos (MILENGROSSO, 2011).
As ruas e praças também sofreram transformações de caráter urbanístico 
e arquitetônico. Os lugares que antes se caracterizavam pelas "permanências 
coloniais" cederam lugar às ruas largas, alinhadas e com o esgoto pluvial. 
Também foram numeradas e alinhadas casas, colocando placas nas ruas, dentre 
outras ações disciplinares que se encontravam presentes nos Códigos de Postura 
Municipal. Mas foi especialmente sobre a área central de Porto Alegre que as 
ações urbanizadoras se concentraram, conforme é possível observar na imagem 
a seguir:
TÓPICO 3 | A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE
123
FIGURA 36 – PALÁCIO MUNICIPAL E MERCADO PÚBLICO. PORTO ALEGRE, 1909
FONTE: Disponível em: <http://www.riogrande.com.br/turismo/fotos_mercado_pu-
blico2.htm>. Acesso em: 8 jul. 2013.
Os novos símbolos de modernidade levaram as elites a sentir-se como 
se estivessem nos grandes centros urbanos e, sempre que possível procuravam 
comparar o perfil de implantações das redes técnicas e as transformações do 
espaço urbano que vinha sendo feito com as de outras cidades mundiais, a 
exemplo de Paris e Londres. 
DICAS
É possível encontrar maiores imagens que ilustram o processo de modernização 
destas cidades. Procure acessar os seguintes endereços:
Fotos de São Paulo antiga. Disponível em: <https://www.facebook.com/
FotosAntigasDeSaoPaulo?fref=ts>. 
Fotos de Rio de Janeiro antiga. Disponível em: <https://www.facebook.com/pages/Fotos-
do-Rio-de-Janeiro-Antigo/420285374730071>. 
Fotos de Porto Alegre antiga. Disponível em: <https://www.facebook.com/
fotosantigas?fref=ts>.
124
UNIDADE 2 | A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE
IMPORTANTE
A Belle Époque também influenciou várias cidades brasileiras, como, por 
exemplo, Manaus, Fortaleza, Recife e São Paulo. Neste momento sugere-se para que você 
em um momento oportuno e futuro consiga ampliar e contextualizar os estudos destas 
cidades também.
125
RESUMO DO TÓPICO 3
Cara(o) acadêmico(a)!
Neste tópico procurou-se descrever a experiência brasileira de 
modernidade e modernização e diante disto podem-se elencar alguns aspectos a 
título de resumo:
• A experiência brasileira de modernidade acabou por espelhar e imitar as 
tradições europeias e os projetos ganharam fôlego e ênfase com a chegada da 
família real portuguesa a partir do ano de 1808.
• A estada da família real no país acelerou o processo de modernização do país, 
pois procurava compor uma estrutura mínima de infraestrutura e serviços que 
desfrutava na Europa antes do embarque ao Brasil.
• Nas artes, o país conheceu a Missão Artística Francesa que foi encomendada 
por D. João VI para fundar escolas e compor o repertório das artes do Brasil. O 
resultado deste empreendimento foi mais arte europeia, agora feita e inspirada 
no Brasil.
• No campo da indústria e da tecnologia o século XIX foi de ações em termos de 
legislação e estímulo à imigração europeia, condições que serão fundamentais 
para o desenvolvimento destes setores ao longo do século XX.
• As metrópoles receberam os investimentos das elites em termos de mansões, 
as atividades comerciais, e por sua vez sediaram os espaços públicos como 
escolas, hospitais, ofereceram condições trabalho, de convivência social e lazer 
seguros e salubres. 
• A formação das metrópoles pode ser relacionada com o deslocamento dos 
centros políticos e econômico do final do século XVIII na região nordeste 
sentido região sudeste do Brasil.
• Entre as cidades que ganharam patamar de metrópole foram Salvador, Rio 
de Janeiro e Porto Alegre. As principais obras de modernização se deram 
nas regiões próximas aos portos, em especial nas ruas e avenidas que davam 
acesso às feiras e aos mercados; e os conjuntos de moradias populares que se 
encontravam nas regiões centrais.
126
1 Estudou-se que a experiência brasileira de modernidade transcorreu com 
grande incentivo a partir da chegada da família real portuguesa nos primeiros 
anos do século XIX. Como foi essa modernidade? 
 
2 Em que condições a indústria brasileira do século XIX se encontrava? Quais 
eram as principais atividades econômicas praticadas?
3 Que configurações as cidades, agora se projetando enquanto metrópoles, 
seguiram para realizar os processos de urbanização e modernização?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
127
UNIDADE 3
VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• relacionar as principais realizações e avanços alcançados com a experiên-
cia de modernidade em termos de sociedade e cultura;
• identificar os principais custos e perdas que os processos de modernização 
impuseram à sociedade, cultura e natureza;
• compreender a herança e a contribuição dos projetos e movimentos da 
modernidade aos tempos contemporâneos, no sentido de perceber os pro-
jetos que ainda se encontram em aberto e as orientações que podem ofere-
cer ao momento presente;
• elencar abordagens e estratégias de ensino-aprendizagem junto ao univer-
so escolar, para os temas de cultura e sociedade na modernidade.
A Unidade 3, diferente das unidades anteriores, apresenta quatro tópicos, 
sendo que os três primeiros estão relacionados à ideia de análise e balanço 
dos projetos de modernidade, e o último apresenta sugestões de materiais e 
formas didáticas que podem ser dadas no momento da transposição destes 
conteúdos. Ao final de cada tópico, encontram-se exercícios de autoativida-
des que visam à fixação e uma maior compreensão dos conteúdos estudados, 
assim como prepará-lo(la) para as avaliações previstas nesta disciplina.
TÓPICO 1 – CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE
TÓPICO 2 – OS CUSTOS AO MEIO AMBIENTE E À SOCIEDADE
TÓPICO 3 – A HERANÇA AOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
TÓPICO 4 – ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS AO TEMA DA 
MODERNIDADE
Assista ao vídeo 
desta unidade.
128
129
TÓPICO 1
CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA 
MODERNIDADE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Chegou o momento de pontuar e analisar/avaliar 
a experiência da modernidade, o processo da modernização; avaliar todo o 
processo transcorrido para sermos o que somos, estarmos onde estamos na época 
contemporânea.
Nesse sentido pretende-se interpretar os projetos modernos na perspectiva 
de mapeá-los no sentido de identificar os limites assim como as possibilidades, os 
projetos já superados e os projetos em aberto.
Existe uma literatura bastante ampla que se preocupou em fazer o mesmo 
que estamos propondo. São oriundas de diversas áreas do conhecimento, mas 
em especial sobressaem-se as análises avaliativas no sentido crítico-reflexivo e 
as abordagens que se preocupam em denunciar e atestar o aspecto de falência 
do projeto de modernidade, em especial os projetos que previam uma revolução 
econômica e social e que seriam passaportes de toda e qualquer realização e 
felicidade humana. 
Ao longo deste tópico, procura-se apresentar os pontos no qual a 
experiência da modernidade em termos de organização política, participação 
social, democratização e popularização dos objetos, equipamentos, das técnicas 
e das tecnologias da modernidade, que foi responsável por conduzir a sociedade 
e os indivíduos. 
2 NA POLÍTICA E NA ECONOMIA
No decorrer da modernidade, nas ações de governos foram elencadas 
como prioridade os problemas e fatos sociais modernos,como erradicação do 
analfabetismo, doenças, epidemias, que por sua vez representavam pontos 
nevrálgicos ao desenvolvimento. O fortalecimento e a realização destes 
projetos foram alcançados com a colaboração de entidades, instituições, centros 
educacionais e profissionais, universidades, laboratórios de pesquisas.
Em 1789 ocorreu a publicação dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
que foi resultante do processo da Revolução Francesa. Trazia em seu conteúdo 
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
130
os ideais de liberdade e igualdade; delegava ao homem moderno uma relação 
de deveres e de direitos, que seriam responsáveis por conduzi-lo à categoria de 
cidadão e indivíduo emancipado. 
Implanta-se a democracia, na qual homens e mulheres, independentemente 
da cor, raça, classe social, venham a requerer condições de concorrer, apoiar, 
eleger e ser eleito no campo político, econômico e social. 
Criam-se partidos políticos, associações, entidades, sociedades, 
organizam-se ligas e sindicatos de trabalhadores e profissões, e por conta disso, 
direitos e deveres aos trabalhadores, (minas de carvão, indústria têxtil, metalurgia, 
funcionários públicos, membros do exército e governo, construtores de ferrovias, 
entre outros) que serão regulamentados em estatutos, códigos, constituições entre 
outros.
Os trabalhadores assim estruturados passam a reivindicar por condições 
mais dignas de trabalho, mobilizando-se todo um movimento social e cultural 
neste sentido. Foi o momento em que surgiu uma gama de cartilhas, jornais, 
panfletos com literatura especializada, arrolando estratégias que previam a 
articulação, a mobilização e manifestação social tanto favorável como contrária.
O Estado moderno formulado por T. Hobbes e B. Montesquieu, foi 
aprimorado e ganhou estruturas e processos ainda mais complexos. Ocorreu 
a separação das questões religiosas das questões políticas, ou seja, a laicização 
do Estado. As experiências de república (romana) e democracia (grega), que 
haviam sido implantadas na antiguidade clássica, favoreceram os processos 
democráticos e eleitorais, marcados pelo aumento da participação popular. 
Contratos e constituições foram elaborados e deveriam ser cumpridos, bem como 
nortear tanto as ações dos governos como a dos indivíduos.
As concepções de república tratavam e atribuíam status de “público” 
aos órgãos e aos espaços dos governos, exigindo o fim da pessoalização e do 
favorecimento da estrutura do governo e de cargos públicos, diferente da que 
ocorria nos tempos dos impérios e monarquias.
A divisão do governo em três poderes, cada um com atribuições específicas, 
funcionando de forma independente e harmônica: executivo, legislativo e 
judiciário, ambos atuando para cumprir com os contratos constitucionais, 
conforme ilustra o quadro a seguir:
TÓPICO 1 | CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE
131
QUADRO 1 – ILUSTRATIVO DOS TRÊS PODERES E AS RESPECTIVAS ATRIBUIÇÕES
FONTE: Disponível em: <http://bancodeatividades.blogspot.com.br/2012/01/histo-
ria-os-tres-poderes.html>. Acesso em: 25 nov. 2013.
À Assembleia Legislativa coube analisar, projetar e votar leis, a fim de 
atender à sociedade civil, composta pelos cidadãos; o poder executivo preocupa-
se em realizar e cumprir com os projetos e leis aprovados na instância da 
assembleia; o poder judiciário, como representante da lei, cabe-lhe verificar o 
cumprimento das leis, e munido de poderes a fim de exigir que o cidadão não 
ficasse desassistido pelo Estado, bem como julgar e punir o não cumprimento 
das leis.
Abrem-se as possibilidades de o cidadão, no interior da política, 
concorrer, eleger e ser eleito. Na esfera social, de exercer a liberdade de expressar 
o pensamento, associar-se e crer. No campo econômico as possibilidades 
de empreender, negociar, persuadir e barganhar abertamente no sentido de 
conquistar, consolidar e ampliar a capacidade de exploração de mercados 
consumidores, fontes de matéria-prima e escalas de produção.
Os Três Poderes
Todas as ações do governo devem ser feitas obedecendo 
a lei. Para que não ocorram favorecimento ou desvios de 
dinheiro, existe a divisão de poderes.
Essa divisão acontece nos governos federal, estaduais e 
municipais. Observe o quadro:
Três poderes No município No estado No país
Poder executivo 
(administra de 
acordo com as 
leis)
Prefeito Governador Presidente
Poder 
Legislativo 
(elabora leis 
e fiscaliza a 
administração 
do Poder 
Executivo)
Vereadores 
(Câmara 
Municipal)
Deputados 
estaduais 
(Assembléia 
Legislativa)
Deputados 
Federais e 
senadores 
(Câmara dos 
Deputados 
e Senado 
Federal)
Poder Judiciário 
(fiscaliza e faz 
cumprir as leis)
Não há Poder 
Judiciário
Juízes 
(tribunais 
estaduais)
Juízes 
(Supremo 
Tribunal 
Federal)
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
132
O Estado em seus processos jurídicos, trâmites políticos, os códigos e 
posturas racionalizados desta forma assegurariam maior velocidade, transparência 
e segurança entre os cidadãos e os órgãos representativos do governo. A tributação 
e a arrecadação de impostos passam a representar a fonte dos recursos que 
fomentariam obras públicas e sociais, que por sua vez atenderiam às demandas 
coletivas, e não mais os interesses das elites políticas, religiosas e econômicas.
As possibilidades de atuação da economia em favor dos interesses de 
mercado foram potencializadas pelo espírito capitalista, que estava amparado 
na livre circulação de mercadorias das doutrinas do “deixe ir, deixe vir e tudo 
se autorregulará”. Esta fórmula e lei foram responsáveis por conferir ao sistema 
financeiro a dinâmica da “oferta e da procura” de produtos, a transitoriedade e 
a flutuação de preços, de lucros e de taxas de impostos, que por sua vez atribuiu 
ampla independência, liberdade e velocidade nas relações comerciais e na 
prestação de serviços.
 
O mercado preocupou-se também em perceber o potencial de consumo/
mercado, passando a intercambiar produtos entre as regiões que não eram 
capazes de produzi-los. A esta prática pode-se exemplificar os produtos ingleses, 
franceses que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos, 
americanos, africanos.
Resumidamente, o mercado atendia às demandas de economia (comércio, 
circulação e consumo de produtos) o Estado por sua vez atendia a necessidades 
de serviços junto à população (serviços educacionais, infraestrutura, habitação, 
saúde e lazer).
3 NA CIÊNCIA
A partir da modernidade a ciência alcançou uma autonomia e 
emancipação nunca observada em outros tempos históricos. As revelações, 
verdades e metáforas religiosas, ou de senso comum ou mitologias e folclores 
que desfrutavam de prestígio e autoridade no interior das sociedades passam a 
ser abordadas a partir do princípio da dúvida, do questionamento e das hipóteses 
formuladas no campo da ciência e da racionalidade. 
O percurso metodológico foi instaurado como o único procedimento 
básico para alcançar a verdade, ou seja, o caminho do laboratório, da observação, 
da análise, da descrição, da dedução, da comparação, da interpretação, da 
síntese, da antítese e da tese seriam os garantidores da veracidade dos novos 
conhecimentos que estavam sendo produzidos.
Os testes, os experimentos, tratamentos e medicamentos preventivos, 
simulações, supervisionamentos, monitoramento, o isolamento e o controle 
em laboratório, as cirurgias, as amputações, as incisões, as transfusões, as 
combinações, os enxertos, os hibridismos, a criação de ambientes artificiais, 
TÓPICO 1 | CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE
133
3 NA CIÊNCIA
induções, o uso de paliativos, isto tudo foi possível a partir da ciência moderna 
e possibilitou a verificação específica, profunda e restrita tanto de objetos, fatos e 
fenômenos.
Assim, estes novos procedimentos contribuíram no sentido de modificar as 
posturas e as soluções que o homem manifestava e apresentava diante dos fatos e 
fenômenos que o surpreenderam e que por sua vez contribuíram no sentido de que 
o homemse percebia como componente da natureza e dotado de capacidade de 
intervir, controlar e conduzir sua sobrevivência enquanto espécie humana na Terra.
Como resultado deste cenário obteve-se as descobertas e as invenções 
do termômetro clínico, lentes de A. Fresnel (1788-1827), a anestesia, a teoria da 
evolução das espécies de Charles Darwin (1808-1882), teoria microbiana de L. 
Pasteur (1822-1895) e P. V. Galtier (1846-1908), teoria atômica de J. Dalton (1766-
1844), e a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939).
As interpretações estatísticas e demográficas foram responsáveis por 
servir de base de dados e desencadear ações e práticas aos estados em termos de 
saneamento básico, como, por exemplo, oferecer água encanada, canalização de 
esgotos, controle de epidemias e doenças, construção de hospitais, laboratórios, 
escolas, orfanatos, asilos, cemitérios entre outros.
Os artefatos, os objetos, as técnicas e as tecnologias materiais representaram 
a grande sensação da modernidade. Entre os principais produtos que despertavam 
nos indivíduos o desejo de modernidade eram os que forneciam status social, 
conforto e bem-estar tanto no espaço doméstico como nos espaços públicos. 
Nesse contexto pode-se enumerar a energia elétrica, a telefonia, o transporte de 
trem, ferramentas de trabalho, utensílios domésticos, os serviços de médicos, 
boticários, dentistas e professores.
 
No momento em que a madeira foi substituída pelo ferro ou pelo aço, 
ocorreu uma grande superação em termos de resistência dos produtos. A 
durabilidade e a praticidade que os produtos ganharam a partir da substituição 
da matéria-prima da madeira pelos derivados de minérios fizeram com que o 
homem desfrutasse de uma maior praticidade, eficiência e segurança diante do 
uso e obtivesse uma maior performance de seus produtos.
 
Outros avanços e melhorias podem ser identificados como, por exemplo, 
em relação ao aprimoramento dos utensílios, a redução dos tamanhos e das 
proporções das máquinas, a redução dos desperdícios em termos de matérias-
primas e de energia, o reaproveitamento de produtos, a redução do ruído 
provocado pelos motores e pelos processamentos, assim como da poluição que 
era liberada junto ao meio ambiente. 
Os trabalhadores passaram a ser salvaguardados de situações de risco de 
morte a partir do momento em que ocorre o uso de robôs em locais e espaços de 
trabalho. A realização de tarefas que não permitiam a interrupção das atividades, 
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
134
em espaços com altas ou muito baixas temperaturas, profundidades e lugares 
muito inóspitos e íngremes, a exploração do solo em outros planetas entre outras 
condições adversas.
 Além destas conquistas todas, o homem avançou no sentido de adquirir 
cada vez mais controle diante das forças da natureza, colocá-las no intercurso e 
favorável à sua vida.
Munidos destes recursos e desfrutando de seus benefícios, os tempos 
passaram a ser menos árduos e sofridos, com maior rapidez diante de longas 
distâncias, com melhoramento das comunicações, tratamentos e soluções para 
doenças e moléstias; novas explicações e referências diante dos fenômenos e fatos 
da natureza.
4 NA SOCIEDADE E NA CULTURA
A modernidade deve ser compreendida como resultante do projeto 
maior, que foi amparado nas ideias de progresso, da democracia, de inclusão, 
de liberdade, na capacidade do homem em intervir em seu meio e destino. Para 
alcançar estas pretensões é necessário empreender suas ações obtendo o suporte 
do industrialismo, com emprego de novas técnicas e tecnologias; de teorias, 
métodos, invenções, máquinas, ferramentas, utensílios, entre outros. O campo 
teórico e material esteve se combinando para que a modernidade se cumprisse. 
(DIEHL e TEDESCO, 2001).
O ideal estipulado na modernidade foi o de que cada indivíduo poderia 
abrir-se à imensa variedade e riqueza de coisas, tanto materiais como imateriais. 
Munidos destas, este ganharia a dinâmica e a criatividade dos ares do “novo”, 
que por sua vez contagiariam com imensa alegria e colocaria em movimento o 
ambiente cultural, intelectual, dos hábitos, dos costumes, das mentalidades que 
tendiam a resistir e permanecer rígidos e fechados que eram característicos das 
formas de vida tradicionais dos tempos pré-modernos. (BERMAN, 1986, p. 26).
TÓPICO 1 | CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE
135
4 NA SOCIEDADE E NA CULTURA
FIGURA 37 – A EVOLUÇÃO DA TRANSMISSÃO E DO ARMAZENAMENTO DO SOM
FONTE: Disponível em: <http://dialog.blog.br/index.php/2013/09/dia-do-radio-no-brasil-e-co-
memorado-em-homenagem-a-roquette-pinto/>. Acesso em: 26 nov. 2013.
Os meios de comunicações foram responsáveis por anunciar os novos 
inventos e descobertas, e por sua vez comunicar às demais regiões que se 
encontravam distantes das metrópoles modernas. E nesse sentido o rádio 
conseguiu superar, não tornar obsoleto ou deslegitimar, os alcances da imprensa 
tradicional que era representada pelos jornais e folhetins, muito em voga no 
século XVIII e XIX. 
A ideia foi também a de tornar a arte e a cultura mais populares, de fácil 
assimilação, circulação e consumo, bem como democratizar os espaços de arte 
e cultura, museus, galerias, exposições, no sentido de aproximar o público dos 
artistas, os produtores dos consumidores, ou oportunizar que a arte e a cultura 
fossem de acesso ao maior número possível de indivíduos.
Durante o século XVII, coleções de curiosidade, difundidas por toda 
a Europa, recebem o nome de museu, gabinete de curiosidade ou câmara 
de curiosidade. Nesses locais, que não mais pertenciam apenas à nobreza, 
encontravam-se quadros, esculturas, livros, instrumentos científicos, objetos 
vindos de terras descobertas, peças do mundo natural, curiosidades em geral.
O primeiro museu público, o Asmoleum Museum, foi aberto em 1683 na 
Inglaterra e encontrava-se vinculado à Universidade de Oxford, mas possibilitava 
visitação somente a artistas e estudiosos. Foi na partida da Revolução Francesa, 
no século XVIII, que os museus ganharam caráter popular propriamente dito 
e, em especial, surgiram os grandes museus nacionais, voltados à educação e 
esclarecimento do povo. O Museu do Louvre foi aberto na França em 1793. Em 1810 
surgiu o Altes Museum, de Berlim, na Alemanha, o Museu do Prado na Espanha 
A evolução do som
1887
19841982
Gramofone Rádio
DiscmanCD 
(Compact 
Disc)
Formato de música 
digital MP3
MP3 Player 
Portátil
LP (Long Play) Fita Cassete
Rádio 
On-line
Walkman
Primeiro celular 
com MP3 no Brasil
1897
1991
1948
1998
1963
2000
1979
2005
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
136
em 1819 e o Museu Hermitage de Leningrado, na Rússia em 1852. Os espaços 
das cidades passam a ser compreendidos como ambientes de representação das 
diferentes manifestações sociais, religiosas e culturais. 
FIGURA 38 – MUSEU DO LOUVRE, PARIS/FRANÇA
FONTE: Disponível em: <http://passioneperviaggio.blogspot.com.br/2011/05/visitando-
-o-museu-do-louvre-em-paris.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.
Em tempos contemporâneos, a visão afirmativa da modernidade e 
modernismo foi desenvolvida nos anos 1960 por um grupo heterogêneo de 
escritores que reunia John Cage (1912-1992), Lawrence Alloway (1926-1990), 
Marshall McLuhan (1911-1980), Leslie Fiedler (1917-2003), Susan Sontag (1933-
2004), Richard Poirier (1925-2009) e Robert Venturi (1925). 
Estes defensores encontram-se veiculados aos movimentos de 
comunicação, arte economia de massa e da pop-art e estarão associados aos ideais 
de conforto e praticidade proporcionada pela industrialização e urbanização. 
Para estes autores as expressões dominantes e palavras de ordem eram as de 
“despertar para a verdadeira vida que vivemos” e “cruzar a fronteira, eliminar 
a distância”, aproximar, conviver, tolerar e ser tolerado, globalizar; viver de 
forma coletiva, desfazer-se e desvencilhar-se das tradições, dos regionalismos, de 
matizes locais, e envolver-se e entregar-se às possibilidades da modernização e 
modernidade, numadimensão que aponta a totalidade da sociedade. 
TÓPICO 1 | CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE
137
Isto significou eliminar as fronteiras entre a “arte” e as demais atividades 
humanas, e conciliar entretenimento comercial, a tecnologia industrial, a moda, 
o design, a política, a cultura. Também encorajou escritores, pintores, dançarinos, 
compositores e cineastas a romper os limites de suas especializações e trabalhar 
juntos em produções e performances inter e multidisciplinares que poderiam criar 
novas formas de arte.
138
Neste tópico foi apresentado em que aspectos os projetos de modernidade 
conseguiram se cumprir a fim de promover avanços e superações no campo técnico, 
político, econômico, social e cultural da sociedade. É possível resumir as realizações 
da modernidade nos seguintes aspectos:
• O Estado ganha uma nova estrutura de funcionamento, agora laico, separado 
do clero (Igreja), dividido em três segmentos, chamados poderes (executivo, 
legislativo e judiciário).
• Foram definidas constituições a cada país/nação que regulariam e orientariam 
as ações dos governos e dos respectivos poderes, e definiriam os direitos e 
deveres dos cidadãos.
• A economia foi desvinculada das decisões do governo/Estado e com esta 
independência pode-se autorregular e gerir em termos de atividades comerciais: 
compra, venda e circulação de produtos; definir preço, juros, percentuais de 
lucro.
• A ciência, as pesquisas e o ensino ganharam ampla importância nas políticas 
de governo moderno, e auxiliaram os governos a solucionar os problemas de 
saúde e os fatos sociais que ocorriam no interior da sociedade da época.
• Foram criados laboratórios, clínicas, centros, institutos, departamentos que 
se destinavam a assuntos e causas específicas (saúde, vigilância sanitária, 
segurança pública, imigração).
• Foram abertas à visitação pública, galerias, salões, museus, parques que 
reuniam coleções e obras, que apresentavam invenções, obras, exemplares de 
cultura e espécies diferentes de diversas partes do mundo.
RESUMO DO TÓPICO 1
139
1 Quais foram as possibilidades que os princípios da política moderna 
conferiram aos cidadãos na época moderna?
2 A partir dos pressupostos o que a ciência levará em conta a partir da 
modernidade, em termos práticos o que será possível realizar?
3 Os projetos de modernidade encontravam-se amparados nos valores da 
universalidade, de democracia, inclusão, liberdade, na total capacidade 
criativa do homem. Então se pergunta: qual foi o caráter da arte e das 
comunicações a partir da modernidade?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 2
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
Assista ao vídeo de
resolução da questão 3
140
141
TÓPICO 2
OS CUSTOS DA MODERNIDADE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
“Construímos muros demais e pontes de menos.”
Isaac Newton
O projeto e intenção da modernidade quando circunscrito em termos 
teóricos e ideais apresentava-se muito bem ajustado e de fácil realização e 
assimilação, porém no momento de serem colocados em prática acabaram fugindo 
do controle de seus inventores e trilharam caminhos indesejados, que conferiram 
altos custos à natureza, à sociedade, ao indivíduo, à humanidade como um todo.
A exemplo da Europa Ocidental e Estados Unidos na América do Norte, 
foram empreendidos projetos lineares e homogêneos de sociedade e Estado, 
de redenção absoluta do homem, porém acabaram por ser responsáveis por 
desembocar em experiências trágicas como a das guerras mundiais, revolução 
russa, chinesa entre outras.
 
De maneira ampla pode-se dizer que os projetos modernos apresentavam 
um perfil que se caracterizava por provocar segmentações, extremismos e 
polaridades como, por exemplo, barbárie versus civilidade, paz versus guerra, 
quantidade versus qualidade, razão versus emoção, resultados versus sentidos, 
técnica versus sensibilidade. 
Descreve que existiam más intenções nos projetos de modernidade 
quando somente apresentavam realizações triunfantes. “Através do personagem 
de Fausto, destaca que as ambições e os anseios que destravaram as fontes de toda 
criatividade humana e as potencialidades naturais de forma ambiciosa; cegaram 
o homem em perceber a face de destruição e horror que estes anseios exigiam e 
carregavam consigo”. (BERMAN, 1986, p. 41).
Goethe, através dos feitos do personagem Fausto, procurou denunciar 
que o espírito moderno consistia em criar e libertar esta criação ao destino 
independente, e que em pouco tempo deveria ser destruído, para que o novo 
surgisse, e as novas criações tivessem espaço. No sentido de que a obra, depois 
que o homem a finalizasse, estaria dotada de vida própria e fora do controle; e era 
exatamente assim que haveria de ser (BERMAN, 1986).
“O século XX talvez seja o período mais brilhante e criativo da história 
da humanidade, em especial pela energia criativa pela qual foi responsável por 
142
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
espalhar por todas as partes do mundo, mas o reverso deste processo é de um 
mundo onde há outro tanto de que se envergonhar e temer”. (BERMANN, 1986, 
p.18).
Os fatos transcorridos ao longo do século XX, como as guerras mundiais, 
a crise financeira de 1929, experiências das revoluções socialistas, experiências 
de fome e miséria cada vez mais graves no interior da África, as desigualdades 
sociais e a concentração da riqueza e das tecnologias cada vez mais nas mãos de 
poucos, entre outros, atestam sobre os descaminhos dos projetos de progresso e 
realização humana da modernidade. 
Caro(a) acadêmico(a)! Diante deste atestado, pergunta-se: onde foi que 
ocorreram os erros da modernidade? Procura-se identificar alguns destes pontos 
considerados como nevrálgicos da modernidade no texto que segue no Tópico 2 
desta unidade.
2 NA ECONOMIA E NA POLÍTICA
“Nós modernos, nós semibárbaros”.
Nietzsche
Para iniciar os estudos e reflexões dos custos da modernidade, 
apresentamos novamente passagens da obra de Goethe, em que o narrador 
apresenta o personagem Fausto consciente de que os projetos poderiam se revelar 
como perversos, mas justifica que as intenções eram as de promover o bem:
Ele sabe que fez pessoas sofrerem (“Sacrifícios humanos sangravam, 
gritos de horror iriam fender a noite...”). Mas está convencido de que 
são as pessoas comuns, a massa de trabalhadores e sofredores, que 
obterão o máximo benefício dessa obra gigantesca. Ele substituiu uma 
economia exaurida e estéril por outra nova e dinâmica, que “abrirá 
espaço para muitos milhões viverem, não com segurança, mas com 
liberdade para agir”. (GOETHE apud BERMAN, 1986, p. 62).
Os atos de Fausto estavam comprometidos com o percurso bem-sucedido 
da modernidade e do progresso, não importava ver os estragos e os impactos 
que isto causaria; o que lhe interessava era somente o resultado final, os projetos 
realizados, as obras concluídas, entregues; e precisava que no dia seguinte 
impreterivelmente, tudo continuasse ou que um novo projeto surgisse e fosse 
colocado em prática. 
Eis o caráter da modernidade, um estilo de maldade indireta, impessoal, 
pragmática, comprometida com os fins, os meios que fossem adulterados quanto 
e quando fosse necessário, e que as novas e complexas organizações institucionais 
estatais e jurídicas, intermediando e recepcionando o transcorrer destes processos, 
isentando, amenizando o impacto dos mesmos acarretariam na consciência dos 
indivíduos e nos códigos e valores da sociedade da época.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
143
2 NA ECONOMIA E NA POLÍTICA
Nesta discussão, Berman (1986, p. 97) utilizando-se do texto de Goethe 
apresenta a seguinte fala de Fausto: 
[...] roupas sobre nossos corpos aos teares e fábricas que as tecem, aos 
homens e mulheres que operam as máquinas, às casas e aos bairros 
onde vivem os trabalhadores, às firmas e corporações que os exploram, 
às vilas e cidades, regiões inteiras e até mesmo as nações que as 
envolvem – tudo isso é feito para ser desfeito amanhã, despedaçadoou esfarrapado, pulverizado ou dissolvido, a fim de que possa ser 
reciclado ou substituído na semana seguinte e todo o processo possa 
seguir adiante, sempre adiante, talvez para sempre, sob formas cada 
vez mais lucrativas.
Outros dois críticos da modernidade, Marx e Engels (2010, p. 26-27), 
contemporâneos a Goethe, categoricamente expressavam que a burguesia foi a 
principal responsável pelos aspectos mais revolucionários e ao mesmo tempo 
irresponsáveis da época moderna, ao ponto que ascendeu ao poder:
[...] destruiu todas as relações feudais, patriarcais, edílicas. A 
burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os 
instrumentos de produção, por conseguinte as relações de produção, 
por conseguinte todas as relações sociais. O permanente revolucionar 
da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, e a 
incerteza e o movimento eterno distinguem a época da burguesia de 
todas as outras. [...] Tudo o que era sólido, se volatiza, tudo o que era 
sagrado é dessacralizado, e os homens são por fim obrigados a encarar 
com os olhos abertos a sua posição na vida e suas relações recíprocas. 
Pelo rápido aperfeiçoamento de todos os instrumentos de produção 
pelas comunicações infinitamente facilitadas, a burguesia arrasta 
todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização.
Os autores descrevem a burguesia como inescrupulosa, capaz de 
adulterar e burlar os mais profundos valores e formas de organização social em 
que se encontrava inserida ou que pretendia se inserir, e o faria profundamente, 
atingindo as relações de produção, as dimensões religiosas e sagradas a fim de 
mobilizar a humanidade na busca de seus próprios sonhos e ambições por poder 
e riqueza. 
A expressão de Marx e Engels “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, 
que é inicialmente encontrada em seus estudos, está no sentido de que as tradições, 
os regulamentos, a moral e os valores éticos foram movidos, desregulamentados 
e até desfeitos, deixando os indivíduos desamparados e impelidos a assumir os 
novos valores, os que a burguesia estava ditando.
Que valores foram defendidos pela modernidade burguesa? “[...] riqueza 
e rapidez, eis o que o mundo admira e o que todo o mundo quer”. (BENJAMIN, 
1986, p. 61).
144
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
Neste contexto, o cenário favorável foi proporcionado pelo funcionamento 
das ferrovias, correios expressos, navios a vapor, e todas as possíveis facilidades 
de comunicação, da energia elétrica, as coisas que o mundo desejava. 
Caro(a) acadêmico(a)! Diante disto, indaga-se: seria possível melhorar as 
sociedades em termos de humanidade e civilização a partir dos ganhos e avanços 
técnicos e materiais somente?
Berman (1986) descreve que o problema do capitalismo consiste em que, 
aqui como em qualquer parte, ele destrói as oportunidades humanas por ele 
mesmo criado. Estimula, ou melhor, força o autodesenvolvimento de todos, mas 
as pessoas só podem desenvolver-se de maneira restrita e distorcida.
 
As disponibilidades, impulsos e talentos que o mercado pode aproveitar 
são pressionados (quase sempre prematuramente) na direção do crescimento 
e desenvolvimento e sugados até a exaustão; tudo o que não é atraente para o 
mercado é reprimido de maneira drástica, ou se deteriora por falta de uso, ou 
nunca tem uma chance real de se manifestar. Os interesses são os de alcançar 
resultados econômicos e financeiros.
Colaboradores deste cenário seriam também as descobertas nas ciências 
físicas, a industrialização da produção, que transformam conhecimento científico 
em tecnologia, criam novos ambientes humanos, mas destroem os antigos, 
aceleram o próprio ritmo de vida, geram novas formas de poder corporativo e 
acirram a competitividade e as lutas de classes.
Prossegue analisando que a explosão demográfica, que penaliza milhões 
de pessoas arrancando-as de seu habitat ancestral, empurrando-as pelos caminhos 
das cidades e em direção a novas formas de vida; os sistemas de comunicação 
de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento, que embrulham e amarram, no 
mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades (BERMAN, 1986).
Sobre as críticas à burguesia, Marx & Engels (2012) defendem que ela foi 
responsável por estilhaçar sem piedade os laços feudais que subordinavam o 
homem e seus superiores naturais, e não deixou subsistir entre os homens outro 
laço senão o interesse e a concorrência nua e crua, senão o frio “dinheiro vivo”, 
reduzindo a dignidade do indivíduo a simples valor de troca e aos interesses 
financeiros.
O Estado se legitimou na lei, posteriormente, na cooptação e na 
desnacionalização do patrimônio público. “Essa instância se expressou 
modernamente como pouco interventora no mercado, antes como facilitadora da 
autoridade e autonomia do indivíduo, da burguesia e do capital, o bem comum e 
o bem-estar social foram conduzidos a um segundo plano”. (DIEHL; TEDESCO, 
2001, p. 12).
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
145
Por outro lado, os Estados nacionais se tornaram cada vez mais poderosos, 
agora estruturados e geridos de forma burocrática, que lutavam para expandir 
seu poder sobre as grandes massas e nações, a fim de obter algum controle sobre 
suas vidas; enfim, dirigindo e manipulando pessoas e instituições rumo a uma 
economia/mercado capitalista mundial.
Em termos econômicos e políticos, os indivíduos e a sociedade civil foram, 
gradualmente, enfraquecidos. O acúmulo de fatos, objetos e tecnologias tornaram 
os indivíduos incapazes de se situarem diante das proporções que a economia e o 
capital galgavam, o que, por sua vez, favoreceu ainda mais o quadro do processo 
civilizatório da globalização.
 
A exigência que a economia fazia era a de que cada vez mais o Estado 
reduzisse a sua estrutura e interferência nas formas de obtenção de matéria-prima, 
nos modos de produção e nas relações e transações do comércio. Assim no interior 
da sociedade, abriu-se o caminho para que instituições financeiras terceirizadas 
atuassem no sentido de garantir o bem-estar e serviços de infraestrutura que 
deveriam ser oferecidas pelo Estado. (DIEHL e TEDESCO, 2001).
O cerne da modernização econômica exigiu uma transformação política. O 
capitalismo se instaurou no interior dos governos, fazendo com que as estruturas 
democráticas e o exercício de cidadania por parte da população fosse anulado. 
O essencial foi que a revolução provocada pela ciência e pela tecnologia só pode 
começar depois que esta revolução política ocorreu. (DIEHL, 1993).
Os colapsos políticos e econômicos do século XX com a crise de 1929 no 
período entre guerras que se abateu tanto nos Estados Unidos como na Europa 
e novamente das primeiras décadas do século XXI continuam a evidenciar 
que continuamos presos ao mesmo modo de sociedade que foi instaurado na 
modernidade.
DICAS
Capitalismo: uma história de amor
O filme/documentário procura remontar os momentos e situações políticas que foram 
responsáveis por desencadear a crise econômica do início dos anos 2000 no país. Denuncia 
a ação dos bancos em deixar a crise se agravar bem como a preferência do governo norte-
americano em injetar dinheiro nos bancos para evitar a falência dos mesmos ao invés de 
atender à população que se encontrava desempregada e perdendo suas propriedades 
imobiliárias pelas hipotecas assumidas com os bancos. Por outro lado, o documentário se 
preocupa em demonstrar as respostas da população ao governo e aos bancos, em termos 
de manifestações e reocupação das casas.
Capitalismo: uma história de amor. Michael Moore, EUA, 2009. 120 min. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=BwgmNh3VCrI>. Acesso em: 9 set. 2013.
146
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
3 NAS RELAÇÕES HUMANAS E NA CULTURA
Marx & Engels (2012) apontam que a burguesia despojou a ‘aura’, a 
dimensão sagrada e espiritual de todas as atividades humanas. Transformou o 
médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em assalariados. Atribuiu 
um valor financeiro a toda e qualqueração humana. Assim, a burguesia, rasgou 
o véu de emoção e de sentimentalidade que existiam nas relações familiares e 
reduziu-as a mera relação monetária.
Outro aspecto foi o da secularização da sociedade, que consistiu no 
movimento da distinção, separação, distanciamento entre o campo da fé, do 
espiritual, do religioso, do sagrado e do eterno (poder invisível) e relação ao 
campo do temporal, do método, do racional, do profano e do leigo (poder visível 
e palpável).
O resultado deste processo foi percebido pelo pensador Friedrich 
Nietzsche (1844-1900), que procurou definir como “a morte de Deus” e “o advento 
do niilismo”. Nietzsche (2012, p. 125) afirma que:
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! 
Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o 
mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu 
exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse 
sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, 
que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste 
acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós 
próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu 
acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará 
a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a 
história até hoje! 
Nietzsche discutiu que sentimento de niilismo deve ser entendido 
juntamente com as noções de “desvalorização dos valores” e “a morte de deus”, 
que foi ocasionada pelo afastamento dos valores sagrados e espirituais das 
explicações e formulações humanas, e em especial a dissociação entre o mundo 
visível e sensível, com a supervalorização do primeiro diante do segundo, 
produzindo assim uma espécie de vazio existencial. 
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
147
3 NAS RELAÇÕES HUMANAS E NA CULTURA
O Niilismo está relacionado aos sentimentos de descrença e desengajamento 
diante da promessa de progresso e realização/felicidade humana, contidos no interior dos 
projetos modernos de globalizantes/totalizantes ou grandes narrativas que se pretendiam 
e apresentavam como atemporais e universais, nos esquemas de verdade, liberdade e 
igualdade, história, progresso e felicidade, razão, revolução e redenção, ciência, industrialismo 
e bem viver. Que por sua vez desabilitavam as experiências históricas contidas no passado 
e reconheciam somente como campo e horizonte do presente e do futuro como o terreno 
de realização humana primordial.
ATENCAO
Nietzsche empregou o conceito também para qualificar sua oposição radical 
aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas, na qual o 
niilismo não é somente um conjunto de considerações sobre o tema “tudo é vão”, 
não é somente a crença de que tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão 
na massa, em destruir. E o filósofo aponta que as gerações que sucederam a geração 
da modernidade nasceram em meio a esta noção de sociedade. 
A noção de niilismo causava certo deslocamento nas formulações mentais 
de sentido do ser humano, causando certa secura espiritual e existencial. 
Este quadro foi identificado como o sentimento de angústia e desespero 
humano que já havia sido representado e retratado na obra do filósofo dinamarquês 
Soren Kierkegaard (1813-1855) nas obras Temor e Tremor (1843) e O desespero 
humano (1849) abordando este processo no campo do existencialismo, no campo 
da religião e da ética e no interior do cristianismo. 
Alguns anos depois o artista plástico norueguês Edvard Munch (1863-
1944) expressou esta ideia na obra O grito (1893), como é possível verificar na 
figura a seguir:
148
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
FIGURA 39 – O GRITO. EDVARD MUNCH, 1893
FONTE: Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noti-
cia/2012/10/29/977841/conheca-grito-edvard-munch.html>. Acesso em: 
26 jul. 2013.
Benjamin (1975, p. 27) também identificou nos escritos do poeta moderno 
Baudelaire a ideia de perda dos sentidos/significados, da tradição e da dimensão 
sagrada na sociedade moderna, quando esta passou a valorizar a riqueza material 
somente. O poeta interpretava que a modernidade pairava como uma “má estrela 
e guia à vida, se revelaria como fatalidade e atraía uma espécie de maldição às 
realizações humanas”, especialmente ao status que era conferido pela posse das 
coisas, dos produtos e da riqueza.
O autor Zigmunt Bauman (2007) interpretou que as relações humanas, 
familiares, conjugais e amorosas foram gradualmente abaladas a partir da 
modernidade, no sentido de que se tornaram mais frágeis, incertas e menos 
resistentes ao tempo, acabam sendo desfeitas com frequência. Acompanhe o 
texto que segue e compreenda melhor as implicações e os impactos que os valores 
modernos modificaram no interior das relações conjugais e amorosas.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
149
LEITURA COMPLEMENTAR
A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS: AMOR LÍQUIDO
Os tempos modernos e, agora, os tempos contemporâneos são marcados 
por um estado de fusão líquida da sociedade humana, e a transformação se deu 
do estado sólido para o líquido. A metáfora “líquido mundo moderno” evidencia 
um dos principais conceitos propostos pelo pensador e pode ser entendida como 
sendo oriunda de um contexto semelhante ao da frase que foi proposta por Marx: 
“tudo o que é sólido desmancha no ar”, proposta ainda no século XIX, quando a 
modernidade estava em pleno curso. Esta mesma serviu de base interpretativa a 
Bauman, que foi utilizada ao longo desta obra. 
O livro Amor Líquido reúne uma reflexão crítica do cotidiano do homem 
moderno, e preocupa-se em analisar a sociedade contemporânea e ressaltar 
“a fragilidade dos laços humanos”. Encontra-se dividido em quatro capítulos: 
Apaixonar-se e desapaixonar-se; Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociedade; 
Sobre a dificuldade de amar o próximo; Convívio destruído. Ao final das análises e 
reflexões o autor pontua que o “cidadão da líquida sociedade moderna” constitui um 
homem sem vínculos e inserido em um quadro e esboço imperfeito e fragmentado.
Nos dois primeiros capítulos, Bauman (2004) analisa a fragilidade que o 
“líquido mundo moderno”, de certa forma, impôs ao relacionamento humano. Em 
“Apaixonar-se e desapaixonar-se”, o autor atrela amor à cultura consumista e de 
mercado. O sentido que amar tornou-se como um passeio no shopping center, visto 
“tal como outros bens de consumo”; neste contexto a vida deve ser consumida 
instantaneamente, despreocupadamente (não requer maiores treinamentos nem 
uma preparação prolongada) é usada uma só vez, sem preconceitos, receios e 
critérios, a experiência da vida deve ser fluida e deliberadamente flexível.
A cultura consumista do amor, então, serve de cenário para o segundo 
capítulo “Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociedade”. Neste momento, 
o autor discute que o sentimento do imediatismo e rapidez oferece consequências 
e custos à “líquida, consumista e individualizada sociedade moderna”, e o 
resultado de intensificação da velocidade globalizante é o de que a dimensão da 
solidariedade da vida e das relações humanas perde valor, e sobre estas passa a 
ocupar espaço e a triunfar o mercado consumidor’. 
Quem seria, portanto, o responsável por este contexto de mudanças? De 
acordo com Bauman (2004), é o próprio homem mediante a (des)configuração 
que este sofreu diante das exigências competitivas do mundo moderno. Hoje, 
mais do que nunca, o homem necessita de produtos pré e/ou fabricados, e em 
função destes são programadas as demais necessidades do homem como o tempo 
livre, os horários de intervalo, as refeições, as férias entre outros.
150
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
Em “Sobre a dificuldade de amar o próximo”, o autor remonta a atmosfera 
que ronda os relacionamentos humanos e a interpreta à luz do conceito bíblico 
de amar ao próximo como a si mesmo. Segundo Bauman (2004), o amor próprio 
é construído a partir do amor que é oferecido e atribuídopor outros. Ou seja, a 
construção de amar a si mesmo somente é possível quando o mesmo sentimento 
é manifestado pelos outros, que “devem nos amar primeiro para que comecemos 
a amar a nós mesmos”, assim o amor e o cuidado de si e autovalorização e 
autoestima, bem como o amor gratuito e incondicional que poderia ser oferecido 
aos outros não faz mais sentido neste contexto. 
No quarto e último capítulo de “Amor líquido”, o autor reflete sobre a 
vertiginosa indústria do medo que criou um novo espectro: o da xenofobia, ou 
seja, a aversão ao estrangeiro. Os imigrantes passam a ser acusados como sendo 
os principais causadores da epidemia financeira do líquido mundo moderno, 
que estas ainda fornecem à sociedade atual as ameaças reais aos Estados-nação. 
Assim instaura-se uma indústria do medo com relação aos imigrantes, entendidos 
como criminosos, configurando um cenário favorável ao sensacionalismo e à 
especulação aos meios de comunicação. A pauta, dentro dessas redações, são e 
continuaram sendo as mesmas. Roubos, assassinatos, e principalmente, atentados 
terroristas são reflexos da invasão imigratória de indivíduos oriundos de países 
periféricos e/ou miseráveis.
Atualmente e cada vez mais os seres humanos buscam contatos com seus 
pares numa espécie de irmandade, construída a partir do mundo virtual, e procuram 
substituir e compartilhar fracassos, frustrações, desequilíbrios e solidões com a 
agilidade, praticidade e velocidade da Internet. 
Bauman (2004) utiliza como reflexo da metamorfose da relação humana o 
testemunho de um universitário polonês que afirma categoricamente que dentro 
do líquido mundo moderno tudo se resolve na base do delete, do bloqueio – um 
simples toque no mouse e tal como um passe de mágica, os problemas desaparecem. 
Basta limpar a lixeira, ocultar as ações e alterar as configurações de privacidade e 
tudo estará resolvido. É nítido e avassalador o contato físico e em especial o recuo 
dos momentos e espaços de real sociabilidade. O resultado não poderia ser outro 
e está anunciado no subtítulo do livro de Bauman (2004): “a fragilidade dos laços 
humanos”. 
A partir do momento em que os verdadeiros cidadãos perceberem o 
tamanho do labirinto onde se encontram, e moverem-se no sentido de buscarem 
saídas, alternativas e soluções ao problema real e complexo que os envolve, é que 
se poderá avançar rumo à retomada da vida humana na sua dimensão individual, 
social, integral ao universo. Caso contrário, permanecerá aprofundando o 
isolamento, confundindo coisas/produtos/mercadorias com seres/existências/
experiências/histórias e multiplicando os ambientes virtuais.
FONTE: Adaptado de: FERNANDES, Jorge Marcos Henriques. A fragilidade dos laços humanos. 
Revista Ciências Humanas, Taubaté, v. 11, n. 2, p. 173-174, jul./dez. 2005. Disponível em: <http://
www.fesppr.br/~daiane/Sociologia%20Jur%EDdica/bauman.pdf>. Acesso em: 6 out. 2013.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
151
Bauman é sociólogo polonês estudioso dos escritores da Escola de Frankfurt, 
dos temas da modernidade, pós-modernidade, globalização, identidade e holocausto. 
Representa um dos teóricos mais influentes e estudados em nossa época. Possuí 
diversas obras traduzidas e publicadas no Brasil, entre elas estão Modernidade 
líquida, Identidade, Mal-estar na pós-modernidade, Amor líquido, Medo Líquido, 
Globalização: as consequências humanas e Vidas desperdiçadas. 
Adorno & Horkheimer (2000) discutem que a arte sofreu do mesmo 
processo que se estendia a outros bens e produtos humanos, ou seja, foi 
influenciada pela visão mercadológica e voltada ao consumo das grandes massas, 
que é denominado como indústria cultural. 
DICAS
INDÚSTRIA CULTURAL
A indústria cultural, cujo início simbólico é a invenção dos tipos móveis de imprensa por 
Gutemberg, no século XV, caracteriza-se como fenômeno da industrialização no século 
XVIII. Segundo Coelho (1997, p. 217), “possui os mesmos princípios que regem a economia: 
uso crescente da máquina, submissão do ritmo humano ao ritmo da máquina, divisão e 
alienação do trabalho. Sua matéria-prima, a cultura, não é mais vista como instrumento da 
livre expressão e do conhecimento, mas como produto, como mercadoria com cotação 
individualizável e quantificável”.
A indústria cultural traz em seu bojo todos os elementos característicos 
do mundo industrial moderno e nele exerce um papel específico, o de portadora 
da ideologia dominante, que outorga sentido a todo um sistema. Aliada à 
ideologia capitalista, a indústria cultural contribuiu eficazmente para falsificar 
as relações entre os homens, bem como dos homens com a natureza. (ADORNO; 
HORKHEIMER, 2000).
Berman (1986) defende que no intervalo em que ocorreu a modernidade, 
a “cultura” era vista como obstáculo para uma política de emancipação dos 
indivíduos. Para o Iluminismo, “cultura” significava aqueles apegos regressivos 
que impediam a sociedade de ingressar na dimensão de cidadania do mundo, a 
ligação sentimental a um lugar, a nostalgia pela tradição, a preferência pela tribo, 
reverência pela hierarquia, isso tudo representavam empecilho ao transcorrer da 
modernidade.
Considerando que o Iluminismo teve como finalidade libertar os homens do 
medo, tornando-os senhores e liberando o mundo da magia e do mito, e admitindo-
se que essa finalidade foi alcançada por meio da ciência e da tecnologia, tudo levaria 
152
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
a crer que o Iluminismo instauraria o poder do homem sobre a ciência e sobre a 
técnica; mas ao invés disso, liberto do medo do mágico, o homem tornou-se vítima 
novamente, agora do progresso da dominação técnica.
Freud (apud BERMAN, 1986, p. 25) analisava que as massas possuem almas 
que são carentes de tensão interior e dinamismo; suas ideias, suas necessidades, 
até seus dramas não são próprias, foram programadas; suas vidas interiores são 
inteiramente administradas, pensadas para produzir exatamente aqueles desejos 
que o sistema social pode satisfazer. Nada mais além disso.
A partir da modernidade o indivíduo buscou sua realização nos bens 
adquiridos; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos, 
suas casas, suas cozinhas equipadas, ou seja, na capacidade de consumo e no que 
os produtos puderam lhe proporcionar.
Neste aspecto, as reflexões de From (1987) se fazem pertinentes no ponto 
em que ele discute que a técnica nos tornou onipotente (pode-se tudo); a ciência 
nos fez onisciente (sabe-se tudo). Na modernidade estivemos a caminho de 
nos tornar deuses, seres supremos com o poder de criar um segundo mundo, 
utilizando o mundo natural apenas como matéria-prima para nossa criação 
original. A nova cidade terrestre do progresso substituiu a cidade de Deus; as 
novas fabulosas foram as realizações materiais e intelectuais da era industrial.
Na medida em que a modernidade se desenvolveu, o lugar da cultura foi o 
de oposição (Romantismo) ou de complementação, uma forma de crítica política 
ou uma área protegida venerada ou ignorada, centralizada e marginalizada. “A 
cultura não mais foi uma descrição do que o homem era, mas do que poderia ser 
ou costumava ser”. (EAGLETON, 2005, p. 32).
O autor destaca também que nas sociedades industriais modernas, 
“cultura” e “sociedade” acabaram por ficar excluídas tanto da política como 
da economia. Assim, a própria noção de cultura de hoje foi baseada em uma 
alienação peculiarmente moderna do social em relação ao econômico, ou seja, em 
relação à vida material (EAGLETON, 2005).
4 NA CIÊNCIA E NO MEIO AMBIENTE
 A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
 Sabiá, mas não pode medir seus encantos.
 A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
 Existem nos encantos de um sabiá.
 Quem acumula muita informação perde o condão de 
 adivinhar: divinare.
 Os sabiás divinam.
 Manoel de Barros.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
153
4 NA CIÊNCIA E NO MEIO AMBIENTE
Tanto para Santos (1999) como para Giddens (2002), a ciênciae a tecnologia 
revelaram-se ao longo do processo histórico como instrumentos de interesses 
militares e econômicos. A modernidade inaugurou uma espécie de "guerra total" 
em que a capacidade destrutiva potencial dos armamentos é assinalada acima 
de tudo pela existência de armas nucleares ou biológicas, capazes de destruição 
instantânea e em massa.
Os projetos do Iluminismo e da Modernidade estiveram empreendidos 
em livrar o mundo do feitiço, contradição, incerteza, dualidade e conforme 
apontam, sua pretensão foi a de dissolver os mitos e anular a imaginação, por 
meio do saber. 
No campo metodológico da construção do conhecimento foi observada 
uma espécie de aversão à dúvida, a precipitação nas respostas, 
o pedantismo cultural, o receio de contradizer, a parcialidade, a 
negligência na pesquisa social, o fetichismo verbal, a tendência a 
dar-se por satisfeito com conhecimentos parciais, o que por sua vez 
impediu o entendimento humano de estabelecer uma relação profunda 
e conciliadora com a natureza das coisas e foram, em vez disso, 
responsáveis por constituir uma ligação com conceitos fúteis, amorais 
e experimentos não planejados. (ADORNO & HORKHEIMER, 2000 
p. 22).
Na modernidade o objetivo da ciência era o domínio e o controle da 
natureza, afirmando que o conhecimento científico podia ser usado para tornar 
o homem o senhor e dominador da natureza. O rigor científico por sua vez 
encontrava-se fundado no rigor matemático, um rigor que quantifica e que, ao 
quantificar desqualifica, um rigor que, ao objetivar os fenômenos, os objetualiza 
e os degrada, que, ao caracterizar os fenômenos, os caricaturiza. (SANTOS, 1995).
Nestes termos, o conhecimento ganhou em rigor, mas perdeu em riqueza, 
relevância e justificativa social, por outro lado a retumbância dos êxitos da 
intervenção tecnológica escondeu os limites da nossa compreensão e do mundo, 
e reprimiu a pergunta pelo valor e sentido humano e científico.
Desde a Antiguidade, os objetivos da ciência tinham sido os da sabedoria, 
da compreensão da ordem natural e da vida em harmonia com ela. As teorias de 
Francis Bacon, que deliberavam a postura de desvendar os segredos e mistérios 
da natureza mudaram profundamente as concepções e os pressupostos das 
investigações científicas.
Ao longo da Idade Média existia uma concepção e postura de mundo 
que se caracterizava por ser orgânica, que implicava um sistema de valores e 
comportamentos ecológicos, a exemplo disto tinha-se a realização da prática de 
uso rotativo no plantio e cultivo da terra, e frações de terras no interior dos feudos 
reservadas como terras de pouso, bosques, florestas, pomares, pântanos entre 
outros. 
154
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
Galileu Galilei, de certa forma, defendia uma espécie de resguardo em 
relação às explorações do homem em meio à natureza, e postulou este aspecto 
quando previu que os cientistas de seu tempo deveriam restringir-se ao estudo 
das propriedades essenciais dos corpos e materiais, em especial aos aspectos de 
formas, quantidades e movimento, as quais podiam ser medidas e qualificadas às 
demais propriedades, como o som, a cor, sabor ou cheiro. (CAPRA, 1982).
O homem moderno estava ávido e sedento por mais, e alcançar cada vez 
mais níveis mais específicos, profundos e complexos, a partir de então, a natureza, 
os corpos e os materiais tinham de ser “acossados em seus descaminhos”, 
“obrigados a servir” e “escravizados”. O comando foi o de “reduzir à obediência”, 
e o objetivo do cientista foi de “extrair da natureza, sob tortura, todos os seus 
segredos”. (CAPRA, 1982, p.52).
Os custos desta abordagem apontam que foi prejudicado e até perdidos 
os sentidos da visão, do som, do gosto, do tato e do olfato, comprometendo-se 
também a sensibilidade estética e ética, os valores, os sentimentos, as emoções, as 
intenções, a alma, a consciência, o espirito.
Ou seja, a fim de estudar o sistema digestivo, este era isolado do sistema 
respiratório, dos sistemas nervoso e circulatório, quando que cada um possuía 
relação com os demais sistemas e estruturas do organismo.
A visão do mundo e da vida moderna foi conduzida a partir de duas 
distinções fundamentais, entre o conhecimento científico e o conhecimento do 
senso comum, por um lado, e entre a natureza e a pessoa humana, por outro, 
ambos completamente dissociados (SANTOS, 1995).
Diante do aumento da taxa de suicídio na Europa do século XIX, os 
estudiosos e pesquisadores sociais procuravam pelos motivos reais dos suicidas 
na verificação de condições tais como o sexo, o estado civil, a existência ou não 
de filhos, na religião dos suicidas, o trabalho entre outros e não nas relações mais 
íntimas, pessoais, subjetivas, mentais, nas literaturas que liam ou nas cartas que 
estes escreviam (SANTOS, 1995).
Empreendida esta operação e amplamente difundida, a ciência moderna 
passou a desconfiar sistematicamente das evidências da nossa experiência 
imediata, e por outro lado, de que a intuição, as emoções e as sensações podem 
nos enganar e de que precisamos manter critérios, métodos e pressupostos ao 
observar, analisar e compreender o mundo.
Francisco Goya (1746-1828) pintor e gravador espanhol produziu uma 
sequência de pinturas denominadas “Os caprichos” que entre as obras encontra-
se uma intitulada “O sonho da razão produz monstros” que ainda no século XIX 
já denunciava o caráter da modernidade:
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
155
FIGURA 40 – O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS. F. GOYA
FONTE: Disponível em: <http://galeriadefotos.universia.com.br/
uploads/2013_06_13_20_16_220.jpg>. Acesso em: 17 set. 2013.
A excessiva ênfase dada ao método cartesiano, o de que todos os 
aspectos dos fenômenos complexos podem ser compreendidos 
se reduzidas as suas partes constituintes, levou à fragmentação 
característica do nosso pensamento em geral e das nossas disciplinas 
acadêmicas, e levou à atitude generalizada de reducionismo na ciência. 
(CAPRA, 1982, p. 55).
A concepção mecanicista da natureza conduziu às concepções de 
determinismo, na qual a gigantesca máquina cósmica foi interpretada como 
causal e determinada. Neste contexto, as ideias de acaso, ciclicidade, aleatoriedade 
foram eliminadas pela trajetória da modernidade.
Já mencionamos aqui diversos escritos do século XIX que apontavam para 
esses descaminhos dos projetos de modernidade. A seguir apresentam-se outros 
que tratam em especial dos experimentos científicos no interior da ciência.
156
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
DICAS
LIVRO: FRANKSTEIN OU O MODERNO PROMETEU
Foi escrito por Merry Shelley (1797-1851), entre os anos de 1816 e 1817. Trata-se de um 
romance de terror gótico na forma de correspondências, que narra a história de Victor 
Frankenstein, um estudante de ciências naturais, que depois de muito tempo dedicado 
e compenetrado em seus estudos no interior de um laboratório acabou por descobrir o 
segredo da geração da vida. Depois de muitos ensaios e experimentos cria Frankenstein, um 
ser humano gigantesco, para o qual se dedicou até obter o sucesso almejado. 
Depois de concluído, Frankenstein resolve abandonar sua criação e se refugia junto à sua 
família no interior de Genebra. Logo, diversos crimes passam a acontecer e Frankenstein se 
dá conta que estariam relacionadas à sua criatura. 
A partir de então passaram a acontecer ameaças e perseguições por parte da criatura, 
reclamando que havia sido abandonado, por ser uma aberração, que outros humanos não 
o aceitavam, o agrediam, vivia solitário e sua vida não fazia sentido algum. O monstro exigia 
que Frankenstein construísse uma companheira semelhante, mas o cientista temendo que 
estaria colocado a humanidade em risco resolve não corresponder à criatura. A partir de 
então os crimes e as perseguições à família do cientista se agravam, ao ponto de o criador 
querer vingar-se da própria criatura, o que por sua vez foi responsável por levar o cientista à 
morte, a partir disto a criatura se compadece e resolve fugirpara cometer suicídio e deixar 
a humanidade em paz.
FILME: Frankstein, de Merry Shelley. Kenneth Branagh, E.U.A, 1994. 1h58min. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=JVFEixfdQHo>. 
LIVRO: O MÉDICO E O MONSTRO DE ROBERT L. STEVENSON 
Outra dica de livro é “O médico e o monstro” ou “O estranho caso de Dr. Jekill e Mr. Hyde”, 
escrito por Robert L. Stevenson, em 1886. Trata-se de uma narrativa de terror, drama e 
suspense para o cenário de medo, insegurança e ainda de forte névoa do final do século 
XIX em Londres, na qual os primeiros estudos e experimentos de inconscientes eram 
empreendidos pelos cientistas e psicanalistas da época.
Em torno de um médico muito virtuoso, o Sr. Jakill buscava através de experimentos 
científicos separ o lado bom e mau da natureza e também resolver as contradições de sua 
própria personalidade, que se encontrava dividida entre um homem respeitoso da sociedade 
e outro que buscava a libertinagem, sua face/consciência de mal e bem, bem como ajustar 
seu comportamento em uma sociedade povoada de contradições e injustiças sociais. 
O enredo à história foi inspirado por uma história real, a de William Brodie, um marceneiro 
de Edimburgo, vítima de dupla personalidade/esquizofrenia; que ao longo do dia era simples 
trabalhador e à noite cometia furtos na cidade onde morava.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
157
No mundo moderno, aqueles que pareciam mais seguros e felizes na 
tranquilidade doméstica ou nos afazeres que possuíam, por sua vez se tornavam 
vulneráveis às contradições existentes que povoavam a sociedade e a cultura da 
época; a rotina diária dos parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-
se, dos abraços e beijos costumeiros, talvez não fosse apenas infinitamente bela e 
festiva como era anunciada, mas também fosse infinitamente frágil e precária em 
termos de equilíbrio e sanidade (BERMAN, 1986).
O estigma da modernidade parecia ser de um instinto de ironia e valentia 
diante de tudo/todos e por tudo/todos. A vida moderna e a modernidade 
se apresentaram com uma beleza peculiar, autêntica e sublime, porém não 
conseguiram se divorciar de seu reverso que era também de miséria, angústia e 
horror.
Diante de toda a poluição, destruição, mortes inocentes, injustiças, 
tortura, perseguição entre outros terrores que foram acumulados, o mundo 
moderno exigia do homem que se desprendesse, suportasse e seguisse 
caminhando indiferentemente; porém para conseguir este feito foi necessário que 
ele se desfizesse dos valores morais que conheceu no campo da comunidade e 
localidade, dos saberes familiares, religiosos e culturais.
Para potencializar seus conhecimentos e aprofundar as discussões em 
torno deste debate sugere-se um livro e o respectivo filme que foi produzido 
inspirado na obra.
158
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
DICAS
LIVRO: CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. 22 ed. São Paulo: Cultrix, 1992.
Capra é um estudioso da física, ciência e das questões ambientais contemporâneas. Nesta 
obra o autor discute a crise dos paradigmas modernos, os modelos de Newton e Descartes, 
as concepções mecanicistas da sociedade, os problemas econômicos mundiais, o lado 
sombrio do crescimento, as concepções alternativas de vida e sociedade.
O livro encontra-se na íntegra, em pdf, no endereço eletrônico: <http://pt.scribd.com/
doc/5014979/O-ponto-de-mutacao>. 
FILME: O ponto de mutação (Mindwalk). Bernt A. Capra, Estados Unidos, 1990. Cor.
O longa-metragem é dirigido por Bernt A. Capra, irmão de Fritjof Capra, autor do livro de mesmo 
nome, que foi publicado ainda em 1982. 
Através dos personagens de um poeta (angustiado com o sentido e a falta de sentido da vida 
humana), um político liberal (que experimenta uma crise por não ter vencido as eleições) 
e uma física (que se encontra frustrada por ver suas experiências e conhecimentos sendo 
pervertidos e utilizados para fins militares e de destruição) o filme aborda a trajetória e as 
implicações do conhecimento humano a partir das teorias científicas do século XV no 
âmbito da física, economia, política, psicologia, ecologia etc., que serão implementadas na 
modernidade e que se encontram ainda em voga na atualidade.
O filme encontra-se disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7tVsIZSpOdI>. 
FIGURA 41 – FRITJOF CAPRA
FONTE: Disponível em: <http://metodologiacientfica.blogspot.
com.br/2011/06/link-do-livro-o-ponto-de-mutacao.html >. Aces-
so em: 15 set. 2013.
TÓPICO 2 | OS CUSTOS DA MODERNIDADE
159
FIGURA 42 – CAPA DO LIVRO O PONTO DE MUTAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://www.pensamento-cultrix.com.
br/pontodemutacaoo,product,978-85-316-0309-9,113.aspx>. 
Acesso em: 15 set. 2013.
160
Caro(a) acadêmica(o)! Ao longo deste tópico foram abordados os 
impactos dos projetos de modernidade no interior da sociedade e da cultura. 
Os pressupostos da ciência e os descaminhos que estes foram responsáveis por 
produzir, bem como a desregulamentação que ocorreu no interior da política 
diante das necessidades do mercado e da economia. Neste contexto podem-se 
destacar os seguintes aspectos:
• Os projetos de modernidade foram pensados e planejados levando em 
consideração apenas os resultados tecnológicos e modernizadores que 
proporcionariam, não foram calculados os potenciais de riscos, destruição e 
nem os custos ambientais que estes exigiriam.
• A burguesia consistiu no grupo social, mas interferiu e influenciou as decisões 
políticas e econômicas da modernidade, fazendo com que sua capacidade de 
atuação na economia não sofresse restrições políticas em termos de obtenção 
de matérias-primas, circulação de produtos, preços e taxas de lucros. 
• Com a forte presença da economia no interior da sociedade moderna, ocorrerá 
o enfraquecimento do poder de atuação do Estado/governo, o aumento da 
terceirização dos serviços públicos e o recuo do exercício da cidadania por 
parte da população.
• O mercado atribuiu valor financeiro e submeteu ao modo de industrialização 
não somente aos objetos e tecnologias, mas o fez também com relações de 
trabalho, bem como com a relação que os indivíduos estabeleciam com os 
objetos, com a arte e com a cultura, na qual a posse sobre os bens passaram a 
ter mais sentido e importância.
• Os projetos de modernidade de secularização da sociedade fizeram com que 
as comunidades e os indivíduos rompessem com as práticas de tradições e 
valores que eram responsáveis por atribuir sentido e orientação aos mesmos, 
restando em seu lugar um vazio espiritual que foi responsável por gerar 
angústia, medos e outras formas de dominação.
• Com a individualidade e a impessoalidade nas relações sociais, ocorrem 
mudanças. O interior das relações familiares, conjugais e amorosas passaram 
a ser cada vez mais frágeis e desfeitas com maior frequência.
RESUMO DO TÓPICO 2
161
AUTOATIVIDADE
1 Como a economia e a política foram ajustadas para atender aos interesses 
dos grupos burgueses no interior da sociedade moderna? Que impacto isto 
atribuiu ao Estado e à sociedade?
2 Quais foram as principais mudanças que os projetos de modernidade 
atribuíram à sociedade e à cultura?
3 Como a ciência e a técnica passam a abordar os fatos, os objetos, a natureza 
a partir da época moderna? Que implicações isto teve na compreensão dos 
fenômenos e na formulação do conhecimento?
162
163
TÓPICO 3
TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
“Não voltaríamos atrás, mas nos sentimos pouco à vontade onde 
estamos agora”.
Z. Bauman
Ao estudar os modernos e a modernidade não se deve exatamente 
admirá-los ou condená-los; assim como deixá-los à vontade na expectativa de 
que preparem o solo ou se mantenham decididamente abertos à totalidade do 
ser em construção. Antes disto, nos encontramos em um momento que ainda 
não conseguimos captá-los em sua complexidade, pois, quando neste ponto 
chegarmos, teremos chances de superá-los (DIEHL, 1997).
Então, neste momento, cabe-nos estudá-los, mapear sua trajetória histórica 
e perceber as possibilidades nãorealizadas que se encontram latentes e quem 
sabe possam nos orientar e situar diante das questões do passado e do momento 
presente.
 
Nos tempos contemporâneos conta-se com a possibilidade de 
visualizar os desdobramentos da modernidade no qual é possível 
identificar uma espécie de ligação e/ou oposição entre comunidade e 
sociedade, objetividade e subjetividade, moralidade e contratualismo, 
economia e natureza, indivíduo e institucionalização, racionalização 
e encantamento, normatização e liberdade, público e privado, macro 
e micro, tanto na esfera do poder, do espaço físico, da política, da 
economia, da cultura e sociedade. (DIEHL e TEDESCO, 2001, p, 12).
Neste momento, segue-se relacionando o debate e os pontos nos quais 
estas narrativas e projetos modernos falharam, em especial, os descaminhos 
percorridos pelos processos de secularização, racionalização, industrialismo e 
urbanização e que perduram na época contemporânea.
Antecipa-se que este complexo de processos não ocorreu ao mesmo tempo 
e de forma integral, dependendo do contexto e da realidade em que transcorreram, 
cumpriram-se de forma parcial, de forma paralela e até desarticulada. Ou seja, 
nem sempre se processaram na mesma dinâmica de tempo e espaço, intensidade 
e profundidade; muitas vezes foram interrompidos ao longo do processo, ora 
somente se realizaram numa das dimensões e perspectivas.
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
164
Alguns países se industrializaram, porém não se secularizaram, como é o 
caso de cidades da Itália, Espanha, Portugal e do Brasil. Em outros casos, as cidades 
somente se urbanizaram e não se industrializaram, como é o caso de cidades 
gregas; em outras, ocorreu a industrialização, secularização, racionalização e 
urbanização por completo, como é a realidade dos países da Holanda, Bélgica, 
Suíça, Inglaterra e França; assim como realidades nas quais nem um dos processos 
de modernização se processaram, como grupos e tribos no interior da África, 
cidades, aldeias indígenas no interior do Brasil, que sobrevivem segundo o próprio 
modo de organização e sistema de valores. Ou situações em que as sociedades e 
grupos se modernizaram em termos de sistema econômico e mantiveram intactos 
modelos políticos de monarquias, como é o caso da China; ou modernizaram-se 
em termos de estrutura política e econômica, mas em termos de valores, tradições 
e mentalidades culturais e religiosas continuam vivendo como seus antepassados 
mais antigos. 
Por outro lado há lugares em que estes processos, ao modo e padrão 
europeu ou norte americano, pode ser que nunca ocorram, neste caso incluem-se 
diversos países da América Latina, África e Índia, que procuraram espelhar-se 
nos modelos de modernização estrangeiros.
2 O MAL-ESTAR DA HUMANIDADE
Rousseau, ainda aos primeiros tempos dos processos de modernidade e 
cientificidade, fez o seguinte questionamento: 
Há alguma relação entre a ciência e a virtude? Há alguma razão de 
peso para substituirmos o conhecimento vulgar (senso comum) da 
natureza e da vida e que partilhamos com os homens e mulheres da 
nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos 
e inacessível à maioria? Contribuiu a ciência para diminuir o fosso 
crescente na nossa sociedade entre o que se é e o que aparenta ser, 
o saber dizer e o saber fazer, entre teoria e a prática? A resposta de 
Rousseau será não. (SANTOS, 1999, p. 7).
Parece que passados mais de duzentos anos das questões colocadas 
por Rousseau, continuamos com as mesmas perguntas em aberto. Mesmo com 
o tempo transcorrido e os avanços dos projetos de modernidade em meio à 
sociedade, os ideais não foram alcançados.
Vive-se no mundo das revoluções frustradas, solo muito fértil para 
o crescente potencial de risco e destruição, no sentido de que prevaleçam as 
possibilidades lucrativas de uma guerra ou de um atentado; o descumprimento 
dos direitos humanos, as intolerâncias, a repressão e a censura praticada no interior 
de regimes políticos, a polarização entre ricos e pobres, entre outros.
A promessa contida no Iluminismo, de utilizar a força da razão para criar 
condições de superar as restrições impostas pela superstição, pelo dogmatismo, 
pela desigualdade social e pelas desigualdades econômicas, não só não foi 
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
165
2 O MAL-ESTAR DA HUMANIDADE
cumprida, como também foi transformada no guia prático do desenvolvimento 
das sociedades, criando ela mesma novos mecanismos de dominação, submissão 
e violência. 
A modernidade encontra-se em crise diante do fato de que apresentou um 
caráter de forma unilateral e autoritária, não foi capaz de tolerar e respeitar as 
diferenças e as próprias contradições. Não oportunizou condições de escolha, de 
reflexão e de debate no interior do próprio processo, preocupou-se em extinguir, 
soterrar, ultrajar os contrapontos, as críticas que emergiam ao longo do caminho. 
A crise contemporânea situa-se numa geografia peculiar, entre as 
revoluções das expectativas crescentes e otimistas projetadas no 
futuro e as revoluções das expectativas frustradas do presente, ou 
seja, a visão mecanicista de progresso linear e constante e a ideia de 
redenção da humanidade no futuro. (DIEHL, 1997, p. 12-13)
Não se pode esquecer, historicamente, dos processos ocorridos com a 
crise do império romano, do bizantino, da baixa Idade Média etc., que também 
ruíram e se fragmentaram. A ansiedade por proteção, a busca de um apoio como 
contraponto, ou mesmo uma solução de fuga das frustrações crescentes, fez com 
que se busca incessantemente pelo “não moderno” ou “pelo pré-moderno”, 
recuperados através de identidades e movimentos saudosistas, numa espécie de 
eterno retorno intelectual (DIEHL E TEDESCO, 2001).
Desta, a sociedade tem nos dado exemplos de quanto o futuro frustra, e 
quanto o passado reconforta, numa espécie de Iluminismo às avessas, gerando, 
assim, forças antagônicas: uma para frente, projetada para o futuro, a outra para 
trás, disposta a reabilitar o passado no presente. Isso ocorre quando o presente é 
frustrante e desilude, e o passado assume um papel de conforto, uma espécie de 
retorno ao útero materno.
Nesse sentido tem-se como exemplo as práticas de ambientações, 
roupagens e as customizações com objetos e utensílios antigos e vintage. Os 
movimentos de grupos étnicos e folclóricos que buscam viver exatamente como 
os antepassados viviam, as festas de famílias tradicionais, que buscam refazer as 
genealogias e hierarquias dos integrantes das famílias. Revisitam-se fotografias 
e imagens, reúnem-se documentos, rememoram-se antigas histórias, cantam-se 
antigas canções, e reconciliam-se o desconforto e a desorientação provocados 
pelos processos de modernização.
O desenvolvimento das máquinas artificiais, rumo à autonomia 
crescente e à auto-organização e o desenvolvimento futuro das 
inteligências artificiais, fazem-se imaginar a era das metamáquinas que 
associadas às micromáquinas nas nanotecnologias, liberariam os seres 
humanos de todas as obrigações secundárias e tarefas subalternas, 
permitindo-lhes viver poeticamente, dedicar-se ao desenvolvimento 
moral e espiritual. (MORIN, 2007 p. 77).
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
166
A condição e crise contemporânea podem ser percebidas também 
na multiplicação e na pulverização dos centros de poder e de atividades; no 
enfraquecimento da autoridade cultural do Ocidente e de suas tradições políticas 
e intelectuais. (CONNOR, 2000).
Em nossa caminhada continuamos a perceber que a relação entre ética, 
ciência e política continua desequilibrada. Entre a ciência e a política, a ética é 
residual, marginalizada e impotente. A ética está desarmada entre a ciência amoral 
e a política frequentemente imoral (MORIN, 2007). Uma ciência que pretende 
ser neutra de pretensões e posições políticas, e uma política que muitas vezes 
acaba privilegiando o interesse de pessoas e não os públicos, que se utilizam da 
estrutura/máquina e dos recursos públicos em benefíciopróprio.
O mal-estar e a sensação de crise na contemporaneidade nos obrigam a 
retomar os conceitos de racionalidade, de identidade, de temporalidade, 
de sujeito, cultura e poder, pensados no interior da modernidade 
civilizadora, e remetê-los à pluralidade, à diferença, à possibilidade 
do dissenso, sem cair num presentismo descomprometido. (DIEHL; 
TEDESCO, 2001, p. 14).
3 A FRAGMENTAÇÃO DO COLETIVO
“Tudo o que é sólido se desmancha no ar”.
Karl Marx
Percebe-se que ao longo da revisão de literatura dos estudiosos aqui 
utilizada, algumas concepções convergem e até comungam da mesma matriz 
interpretativa, como é o caso dos autores como Marx, Berman e Bauman, que 
foram utilizados ao longo deste caderno.
Percebe-se que estes autores construíram suas teorias a partir da dimensão 
conceitual de fragmentação do coletivo, a para este processo Marx e Engels 
utilizaram a terminologia de “tudo o que é sólido se desmancha no ar” e ao se 
desmanchar no ar, fragmentam-se e deslocam-se também as relações entre os 
sujeitos.
 As relações humanas e o universo mental haviam sido modificados, 
desengajados socialmente, haviam recuado para o campo doméstico, do cotidiano, 
do individual e do particular.
Esta interpretação de recuo das manifestações do sujeito não quer dizer 
que os indivíduos, numa esfera social mais ampla, passam a agir apenas com base 
em condições históricas criadas por outros, utilizando os recursos materiais e de 
cultura que lhes foram fornecidas pelas gerações anteriores e que não poderiam 
de nenhuma forma ser os “autores” ou os agentes de sua própria história.
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
167
3 A FRAGMENTAÇÃO DO COLETIVO
As saídas deste labirinto de enclausuramento intimista e particular 
demoraram para surgir, mas estiveram plasmadas ao longo do século XX, em 
especial a partir dos anos de 1960, através de movimentos como do feminismo, 
dos panteras negras e movimentos ecológicos, os chamados “novos movimentos 
sociais”, juntamente com as revoltas estudantis, de contracultura e antibelicistas, 
que reclamavam pelo retorno às lutas pelos direitos civis, os movimentos 
revolucionários do terceiro mundo, as questões pela paz, entre outros.
Percebeu-se assim o nascimento histórico do que veio a ser conhecido como 
a política das identidades, e em especial uma identidade para cada movimento: 
sexuais: gays e lésbicas; raciais: negros; gênero: mulheres; antibelicistas: paz. 
Criaram-se nichos, partículas ou mônadas sociais circunscritas, fracionadas, 
segmentadas em guetos e redutos específicos, distantes do todo que forma o 
coletivo e a sociedade.
FIGURA 43 – MULHERES QUEIMANDO SUTIÃS. PARIS. 1935 
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Louise_Weiss.jpg>. 
Acesso em: 1 dez. 2013.
Nestes movimentos todos, pode-se indicar que o feminismo contribuiu 
no reconhecimento de outros grupos no interior da sociedade e da política, mas 
também favoreceu diretamente com a fragmentação conceitual do sujeito, nas 
relações que estabeleciam do campo público ao privado, do trabalho ao lar, vida 
profissional à vida pessoal, divisão doméstica do trabalho; no campo de atuação 
política, da família, da sexualidade, ao cuidado das crianças entre outros aspectos.
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
168
4 PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E SENTIDOS
“Prazer da pura percepção os sentidos sejam a crítica da razão.”
Paulo Leminski
4.1 NO CAMPO DA CIÊNCIA
Em termos científicos vivemos ainda no século XIX e o século XX ainda 
não começou, nem talvez comece antes de terminar, e em termos de século XXI 
tem-se muito a trilhar ainda para sentirmos os ares anunciados nos tempos da 
modernidade (SANTOS, 1995).
O processo de modernidade nos conduziu a um tempo um tanto 
esquizofrênico e caduco, em que nos movemos e nos orientamos através de 
sombras e imagens que emergem do passado, que por alguns momentos 
pensamos que já não somos mais, e que já superamos. Ora nos identificamos 
como se estivéssemos diante de um espelho; em outros momentos, como se 
fôssemos sombras e imagens que vêm do futuro; ora pensamos que estas são 
somente imagens, espectros e que nunca viremos a ser. 
Pode acontecer que queiramos voltar atrás e esta seja a maneira de seguir 
adiante. Lembrar os modernistas do século XIX talvez nos dê a visão e a coragem 
para criar os modernistas dos quais precisamos no século XXI. Esse ato de 
lembrar, relembrar, rememorar o passado pode nos ajudar a levar o modernismo 
de volta às suas raízes, para que ele possa nutrir-se e renovar-se, tornando-se apto 
a enfrentar as aventuras e perigos que estão latentes em nosso presente assim 
como por vir (BERMAN, 1986).
Apropriar-se da modernidade de ontem pode ser, ao mesmo tempo, 
uma crítica às modernidades de hoje assim como um ato de fé e confiança nas 
modernidades – e nos homens e mulheres modernos – contemporâneos de amanhã 
e do dia depois de amanhã (BERMAN, 1986).
No campo da racionalidade científica, ao nos apropriarmos dos projetos 
modernos, pode ser que nos encontremos com os pensamentos mais profundos 
de Einstein que foram o da relatividade e da simultaneidade, que considerava o 
micro e o macro, o particular e o todo, dependentes e interdependentes ao mesmo 
tempo (SANTOS, 1995).
O princípio da neutralidade científica, tanto defendida pelos modernos, 
deve ser questionado, pois não é possível observar ou medir um objeto sem 
interferir nele, sem alterar, ao ponto que o objeto que sai de um processo de 
medição e observação não é mais o mesmo para retornar ao seu campo de partida.
 
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
169
4 PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E SENTIDOS
4.1 NO CAMPO DA CIÊNCIA
Eis que surge a oportunidade para pensarmos e fortalecermos as condições 
de resguardo, respeito e dignidade para com os indivíduos, as comunidades e as 
outras espécies. Que se leve em conta todas as implicações, que se planeje e meça 
o grau de impactos, riscos e benefícios que poderão recair sobre estes. 
Assim se pode atribuir uma visão diferenciada sobre a natureza do cosmos, 
desconstituindo a simples noção de harmonia, de certeza, de ordem, de controle, 
previsibilidade e de constância do universo, que sustentou o pensamento científico 
desde Galileu Galilei; agora é possível considerar que o sentido de ordenação e 
processo é composto por diversos fatores que sofrem interferência de diversos 
agentes, inclusive pelo acaso e pela aleatoriedade não programados.
Uma revolução científica que será aplicada em uma sociedade também 
precisa revolucionar a própria ciência. O paradigma a emergir dela 
não pode ser apenas um paradigma científico, tem de ser também um 
paradigma social, um paradigma de conhecimento prudente, de uma 
vida descente e digna de se viver. (SANTOS, 1999, p. 39).
O conhecimento e a ciência emergente devem ser um conhecimento 
não dualista, um conhecimento que se funda na superação das distinções tão 
familiares e óbvias que até há pouco considerávamos insubstituíveis, tais como 
natureza/cultura, natural/artificial, vivo/inanimado, mente/matéria, observador/
observado, subjetivo/objetivo, coletivo/individual, animal/pessoa. Deve ser 
formulado e proposto numa lógica em que as ciências naturais se aproximem das 
ciências sociais, estas por sua vez se aproximam das humanidades. 
Santos (1999, p. 45) propõem que:
Não virá logo o dia em que a física das partículas nos fale do jogo 
entre as partículas, ou a biologia nos fale do teatro molecular ou a 
astrofísica do texto celestial, ou ainda a química da biografia das 
reações químicas. Cada uma destas analogias desvela uma ponta do 
mundo. A nudez total, que será sempre a de quem se vê no que vê, 
resultará das configurações de analogias que soubermos imaginar: 
afinal, o jogo pressupõe um palco, o palco exercita-se com um texto e 
o texto é a autobiografia do seu autor.
Que as tecnologias passem a se preocupar ainda mais com os impactos 
destrutivos nos ecossistemas; a medicina verificando que a hiperespecialização 
do saber médicotransformou o doente numa quadrícula sem sentido quando, de 
fato, nunca se está doente senão em geral no todo. 
A farmácia descobrindo o lado destrutivo e de dependência provocada 
pelos medicamentos, que esteja comprometida com uma nova lógica de 
combinação química atenta aos equilíbrios orgânicos. Atenta também para 
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
170
as formas de como um número maior de indivíduos, se possível todos que 
precisarem, possam ter acesso aos medicamentos e realizarem seus tratamentos 
sem qualquer discriminação social. (SANTOS, 1999, p. 46).
O direito, que reduziu a complexidade da vida jurídica redescubra o 
mundo filosófico e sociológico em busca da prudência perdida; a economia, que 
legitimou o reducionismo quantitativo e tecnocrático com o pretendido êxito 
das previsões econômicas, reconheça a pobreza dos resultados, que a qualidade 
humana e sociológica dos agentes nos processos econômicos seja reforçada. 
Que ganhem vez também projetos de economia que agregam capital social 
e não somente capital financeiro aos indivíduos. Para isto podem ser fortalecidas 
as experiências de economia solidária e alternativa, dos mutirões comunitários, de 
cooperativismo, de produção autossuficiente, e que tudo isto caminhe lado a lado 
com projetos que visam à equidade, justiça social, descapitalização da economia, 
descentralização das decisões, empoderamento de comunidades e localidades. 
4.2 NOS ESPAÇOS URBANOS
Ao analisar as disposições das cidades contemporâneas percebe-se que a 
urbanização se fez a partir da concentração da população e de forma desordenada 
nas cidades, configurando uma espécie de centro nervoso. Nestes espaços 
gravitam seres humanos em busca de oportunidades e procurando por serviços 
concentrados nas cidades, e em meio a isso sobrevivendo e improvisando-se em 
espaços sem infraestrutura de habitação e moradia.
A valorização das áreas urbanas povoadas pelos espaços e equipamentos 
urbanos por sua vez, gerou um processo de concentração e disputa pelos espaços, 
o acesso às redes de distribuição de energia, saneamento básico, vias de transporte 
e escoamento da produção, a proximidade de supermercados, escolas, centros 
bancários e demais espaços comerciais. Por outro lado, favoreceu a desvalorização 
de espaços rurais e aumentou significativamente a especulação financeira dos 
locais que concentram as novas demandas modernas.
Os centros das cidades se encontram ocupados por espaços de 
supermercados, shoppings centers e conveniências; complexos com o maior 
número de produtos e serviços possíveis reunidos em um mesmo lugar, o que 
por sua vez acaba gerando uma grande procura por estes espaços, exigindo 
grandes áreas estacionamentos. Os estacionamentos representam espaços cujo 
uso e finalidade pouco retorno social e cultural proporcionam. Nos horários e nos 
momentos em que estes espaços não se encontram em funcionamento conferem 
à paisagem urbana um aspecto desértico, mórbido despossuído de atividades 
criativas e vivas.
Para que estes espaços fossem edificados foi preciso que áreas como de 
residências, com vegetação e paisagens naturais fossem retiradas. Outras ações 
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
171
4.2 NOS ESPAÇOS URBANOS
como o desvio do curso de rios, desfeitas praças e parques de circulação pública, 
ruas, vias, construções antigas e pontos históricos e culturais. 
No campo dos projetos urbanos e da arquitetura devem ocorrer 
maiores projetos e investimentos em termos de planejamentos como 
tecidos urbanos, com perfil de desenvolvimento focado em planos 
urbanos de criativas e escalas de longa duração, e não somente 
de projetos de alcance metropolitano, tecnologicamente racionais, 
eficientes, sustentados por uma arquitetura despojada e fragmentada. 
(HARVEY, 1992, p. 69)
Que ultrapasse a concepção de metrópole cidade aos pedaços, que não 
deseja somente ser representante às tradições vernáculas, ou às histórias locais, 
aos desejos, necessidades e fantasias particulares; ou que não contenha somente 
formas arquitetônicas especializadas e altamente sob medida; que por sua vez 
possam variar dos espaços íntimos e personalizados e ao mesmo tempo estar ao 
alcance público, ultrapassando a monumentalidade tradicional.
4.3 NO CAMPO DAS TECNOLOGIAS
As ilustrações que seguem foram elaboradas pelo artista e datam de 1910 
e eram distribuídas e encartadas juntamente com as embalagens de produtos 
de alimentos na época. Tratam-se de uma série de ilustrações denominadas de 
“Utopia” e que representavam as previsões que rondavam o imaginário, dos 
sonhos e dos desejos da população dos anos de 1910 para os anos de 2000. Observe 
atentamente:
FIGURA 44 – NO ANO 2000. VILLEMARD, 1910
FONTE: Disponível em: <http://www.urbanghostsmedia.com/2011/03/1910-vintage-post-
cards-depict-year-2000/> Acesso em: 2 dez. 2013.
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
172
A primeira figura trata das expectativas que eram atribuídas às 
comunicações, em especial ao telefone, que havia acabado de ser inventado; a 
imaginação e o desejo estavam lá, o que ainda não seria possível eram a solução 
às condições materiais e plásticas. O telefone do início do século XX só permitia 
falar e ouvir; a transmissão ocorria de forma interrompida, ainda não era possível 
realizar uma conversação de forma instantânea.
 
Desde a data da ilustração, mais de um século se passou, mudanças e 
transformações transcorreram e percebe-se que os equipamentos telefônicos 
perderam tamanho, foram compactados, se tornaram portáteis, de operação e 
uso individual. Permitem o envio de mensagens, o acesso à internet, visualizar 
vídeos, realizar fotos, pesquisar conteúdos, traçar rotas, interagir em sessões de 
bate-papo, obter informações meteorológicas, notícias instantâneas, armazenar 
músicas e imagens, entre outros serviços.
 
Porém a vontade/desejo que está representada é a de visualizar a imagem 
projetada em tamanho e tempo, em tempo real, da pessoa com quem se está 
falando, e que neste exato momento ainda não é possível esta façanha, tem-se 
a opção de chamadas de vídeo, todavia é possível que sejamos surpreendidos a 
qualquer momento com mais esta realização e superação tecnológica. 
Já a próxima figura apresenta o antigo sonho humano de voar sendo 
realizado, porém retratado quando se tornaria um problema coletivo, o caos dos 
transportes e o trânsito em espaços urbanos. O avião também havia acabado 
de ser inventado (por volta da última década do século XIX), observa-se um 
contingente grande de aeronaves e que por sua vez demandariam a presença de 
guardas regulando e orientando a circulação dos mesmos.
FIGURA 45 – NO ANO 2000 II. VILLEMARD, 1910
FONTE: Disponível em: <http://www.urbanghostsmedia.com/2011/03/1910-vintage-post-
cards-depict-year-2000/>. Acesso em: 2 dez. 2013.
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
173
Em nossa época a opção pelas viagens aéreas é muito comum, 
principalmente para cruzar o país no eixo das capitais dos estados e ligar com 
as principais cidades do interior. Existe também a opção de taxis aéreos que são 
utilizados pelos grandes escalões de governos, empresários e quem atua com 
eventos. 
Estas opções que se dão diante dos problemas das condições das estradas 
no país, do tempo gasto com congestionamentos, engarrafamentos e da distância 
percorrida no deslocamento por caminhos acidentados, acrescidos da lentidão, 
interrupções de vias, acidentes, entre outros. A grande procura pela viação aérea 
tem sido marcada por problemas como atrasos, panes, apagões, no qual escalas se 
chocam entre outros problemas, caracterizando a baixa estrutura dos aeroportos.
Vendo estas imagens pode-se perceber um pouco do imaginário e das 
mentalidades do homem moderno, que se encontrava em um momento de 
grandes mudanças e superações e que ao mesmo tempo procurava superar o mais 
novo bem como a si mesmo. Seus pés estavam no ano de 1910, mas as angústias, 
os desejos e os sonhos, bem como a capacidade de autoprojetar-se e planejar-sealcançavam com muita lucidez e clarividência as décadas seguintes até o nosso 
tempo presente, ou até o que ainda não veio a ser presente, que é futuro, como a 
situação dos guardas regulando o trânsito aéreo.
Outro aspecto é o de que parece que nós, os contemporâneos, fomos de 
certa forma programados, que estamos representando papéis em uma história que 
já está pronta; e ainda que estamos sendo observados, analisados e até ironizados 
pelos que costumamos chamar de velhos, ultrapassados e antiquados, que são as 
gerações anteriores às nossas.
Por outro lado, pode ocorrer que as respostas e as soluções que foram 
apresentadas no passado ainda podem vir a ser reabilitadas e aplicadas no 
presente. Diante da velocidade e da rapidez com que o novo é incorporado, o 
antigo acaba sendo deixado de lado, sem se fazer uma devida avaliação se 
realmente o novo conseguiria alcançar os resultados esperados ou se garantiriam 
os que eram apresentados pelas tecnologias antigas. 
Isso pode ser observado quando os projetistas e modelistas acabam 
buscando designs e estilos de objetos, de moda, de receitas, dietas, os modos de 
fazer como eram no passado. Como é o caso da rede social Instagram, que acabou 
recuperando o design da antiga câmera Polaroid para seu emblema e marca. 
Observe as figuras a seguir:
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
174
FIGURA 46 – EMBLEMA DO INSTAGRAM
FONTE: Disponível em: <http://instagram.com/>. Acesso em: 27 
nov. 2013.
FIGURA 47 – CÂMERA POLAROID
FONTE: Disponível em: <http://umgoledeutopia.blogspot.com/2012/08/
cameras-polaroid-e-as-fotos.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
Em outros casos observa-se que além de serem recuperados os designs 
e estilos antigos, as próprias matérias-primas acabam sendo retomadas. Como 
é o caso do resgate das popularmente conhecidas “buchinhas” ou esponjas de 
fibra natural que eram muito utilizadas pelos nossos antepassados na limpeza e 
tratamento da pele. 
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
175
FIGURA 48 – BUCHINHA. ESPONJA DE FIBRA VEGETAL
FONTE: Disponível em: <http://lauricioreinheimer.blogspot.com/2012/11/
bucha-vegetal-ou-esponja sintetica.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
As esponjas de fibra natural têm sido preferidas e retomadas diante do 
uso das esponjas sintéticas, pois proporcionam um esfoliamento menos agressivo 
e mais profundo à pele.
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É chegado o momento de se perceber que há mais profundidade e 
complexidade em nossas vidas do que realmente supomos. De perceber uma 
imensa comunidade de pessoas, nas mais diversas partes do mundo e em 
diferentes momentos históricos, enfrentando dilemas e desafios semelhantes aos 
nossos, e concordarmos que “assim caminha a humanidade”.
No campo da arte tem-se a contribuição de Paul Klee (1879-1940), artista 
da fase avançada da modernidade, porém com uma arte e técnica que se encontra 
associada ao mesmo tempo ao Expressionismo do final do século XIX, e dos 
movimentos artísticos do século XX, como o Cubismo, o Surrealismo, Futurismo. 
Na obra Angelus Novos encontram-se elementos que são recorrentes 
da arte expressionista, como é o caso dos traços, dos olhos, das asas, do corpo 
e até da cor utilizada que rompe com as formas tradicionais de perspectiva e 
expectativa, normalmente atribuídas à representação de um anjo, especialmente 
em se tratando do imaginário ocidental.
Observe a figura a seguir e procure fazê-lo no sentido da direita à esquerda:
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
176
FIGURA 49 – ANGELUS NOVUS. PAUL KLEE, 1920
FONTE: Disponível em: <http://www.usp.br/ran/ojs/index.php/angelus-
novus/index>. Acesso em: 1 dez. 2013.
Benjamin é um homem do século XX, mas que acabou de se despedir do 
século XIX, o século por excelência da modernidade. Walter Benjamin recuperou 
na obra de Klee alguns pontos que podem servir à reflexão sobre o conceito de 
história, de historiador, de indivíduo e cidadão em termos de consciência e agir 
diante de seu momento histórico no qual nos encontramos e que foi gestado ao 
longo da modernidade.
Benjamin (1987, p. 226) propõe a interpretação da obra de Klee nos 
seguintes aspectos:
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um 
anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. 
Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. 
O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o 
passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma 
catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as 
dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos 
e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-
se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa 
tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira 
as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa 
tempestade é o que chamamos de progresso.
TÓPICO 3 | TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
177
Tanto a obra de Paul Klee como o texto de Walter Benjamin expressam um 
anjo que comporta a atribuição e o sentido de um anjo salvador/redentor diante 
da tragédia provocada pela maré do progresso.
No Angelus Novus percebe-se certo descaso em relação ao futuro, ao devir, 
pois seu olhar encontra-se fixo no passado. Quem sabe o que mais interessa ao 
Angelus Novus esteja realmente no passado. Pois existem inúmeras possibilidades 
que se encontram encobertas pelas ruínas e destroços do progresso, e esperam 
pelo agir e atuar dos indivíduos, no sentido de revirar o passado, desentulhar 
projetos, sonhos e expectativas que foram esquecidas e que estes podem trazer 
orientação e caminhos ao presente.
Vive-se em uma época e em um cenário abalados por crises e enigmas 
que aguardam por respostas, mudanças, rupturas e descontinuidades, tanto do 
homem com ele mesmo, em relação ao outro, com seu passado, com seu presente 
e futuro. Não foi diferente ao longo da trajetória humana, mas não é tempo ainda 
de conformismos e alienações.
Berman (1986, p. 17), parafraseando Nietzsche, descreve que somente 
atingimos nossa bem-aventurança, superamos nossa zona de conforto quando 
estamos realmente em perigo. E prossegue que “o homem do amanhã e do 
dia depois de amanhã” precisa colocar-se em oposição ao de hoje, e para tanto 
necessita de coragem e imaginação para “criar novos e outros valores”, para abrir 
seu caminho através dos perigosos infinitos em que povoam abaixo de seus pés. 
É o momento de se pensar a sociedade como um todo, para além dos 
particularismos, de preferência resgatando o arsenal presente e pouco explorado 
na modernidade. De optar, em vez da eternidade, pela história; em vez do 
determinismo, pela imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, pela interpretação, 
pela espontaneidade e a auto-organização; em vez da ordem, pela desordem; em 
vez da necessidade, pela criatividade e pelo acidente. (SANTOS, 1995).
Depois da euforia científica do século XIX e da consequente aversão 
às reflexões filosóficas, históricas e sociológicas expressas pelo pensamento 
positivista, chegamos ao início do século XXI possuídos pelo desejo quase 
desesperado de complementarmos cada vez mais os conhecimentos que 
possuímos das coisas, isto é, em especial do conhecimento que supomos ter sobre 
nós próprios.
Necessitando de estruturas sociais, grupos, experiências indivíduos 
pensando e refletindo sobre a trajetória humana, atribuindo real necessidade, 
equilíbrio, valores e sentido ao trabalho, produção, remuneração, bem-estar, 
satisfação e realização pessoal; experiências de consumo consciente, em ciclos 
de reaproveitamento e com o mínimo desperdício de materiais, de economia 
solidária e ecologicamente sustentável, na qual o ser humano possa expressar 
e desenvolver dignamente suas capacidades criativas nos campos da poesia, da 
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
178
literatura, das artes plásticas, do cinema, do artesanato, da dança, da música, da 
culinária, na transmissão de experiências,saberes, história e memórias, de cultivo 
de tradições e culturas milenares, e condições para que outras sejam resguardadas 
e até que novas sejam criadas.
Que subsistam e sejam ampliados espaços, locais e momentos que 
possibilitem a religação entre do homem com sua dimensão espiritual, do profano 
e do sagrado, de contemplação e reflexão das obras humanas; de percepção da 
grandeza e da exuberância do universo, no sentido de viver em harmonia consigo 
e com o outro diante dos mistérios da vida. Enfim, tem-se muito a viver e a fazer, 
e o tempo não volta atrás e muito menos para, logo nos resta seguir adiante!
179
Caro(a) acadêmico(a)! Ao longo dos temas e reflexões deste tópico, você 
pôde estudar que:
• A sociedade contemporânea encontra-se profundamente relacionada aos 
projetos modernos, isto significa que é preciso mapear e captar a complexidade 
dos projetos que foram empreendidos pelos modernos, a fim de compreendê-
los e avaliá-los; assim teremos as ferramentas e as condições necessárias para 
darmos um passo adiante.
• Os projetos de modernidade não ocorreram ao mesmo tempo e de forma 
integral, isto dependeu muito do contexto e da realidade, da dinâmica de 
tempo e espaço em que se realizaram. Existem experiências que transcorreram 
de forma parcial, de forma paralela, desarticulada e que muitas vezes foram 
interrompidas ao longo do processo. 
• O mal-estar e a frustração na qual se encontra mergulhada a humanidade está 
relacionado à visão mecanicista e linear de progresso de modernidade que 
transcorreu sem tolerar e respeitar as diferenças e perceber as contradições 
que estavam produzindo.
• As relações humanas e o universo mental haviam sido modificados e desengajados 
socialmente. Ocorreu um recuo para o campo doméstico, do cotidiano, do 
individual e do particular. Somente irá ressurgir a partir da segunda metade 
do século XX com os novos movimentos sociais, entre eles com o feminismo, os 
panteras negras e movimentos ecológicos etc.
• O desafio e as possibilidades das ciências contemporâneas estão em levar em 
conta a sociedade em seus projetos, comprometida com um paradigma de 
conhecimento ético e prudente, que promova a vida de forma descente e digna 
de se viver.
• É possível que existam respostas e soluções no passado que ainda podem 
vir a ser aplicadas no presente, isso pode ser observado quando designs e 
estilos de objetos, de moda, de receitas, dietas, os modos de fazer e viver, 
são recuperados e atualizados no presente, como por exemplo o design da 
Instagram e as esponjas de fibra natural.
• Existem inúmeras possibilidades que se encontram encobertas pelas ruínas e 
destroços do progresso moderno, e esperam pelo agir e atuar dos indivíduos, 
no sentido de revirar o passado, desentulhar projetos que foram esquecidos e 
que podem trazer orientação e caminhos diante das angústias do presente.
RESUMO DO TÓPICO 3
180
• Necessitamos de projetos e experiências que privilegiem as reais necessidades 
dos indivíduos, o equilíbrio, os valores e os sentidos, concilie trabalho e 
satisfação pessoal; que valorizem a cultura, a história, a memória; experiências 
de consumo consciente, solidária e ecologicamente sustentáveis.
181
AUTOATIVIDADE
1 A que contexto se encontra relacionada a crise na qual os paradigmas, as 
teorias, os modelos da época contemporânea bem como ao mal-estar vivido 
pela humanidade?
2 Com relação às ilustrações datadas dos anos de 1910, que projetam os tempos 
dos anos de 2000, o que é possível compreender com relação aos sonhos, aos 
desejos e às expectativas do homem da modernidade?
3 No que consiste a função da história/historiador em meio ao progresso/
modernidade interpretado por Walter Benjamim a partir da obra Ângelus 
Novus, de Paul Klee?
182
183
TÓPICO 4
ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E 
SOCIEDADE NA MODERNIDADE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Neste tópico apresentam-se algumas possibilidades 
pelas quais é possível realizar a transposição didática nos espaços de ensino-
aprendizagem, dos conteúdos e temas estudados ao longo da disciplina de Cultura 
e Sociedade na Modernidade. Mais uma vez reforça-se a ideia de que se tratam 
de possibilidades. Você, com suas referências e bagagens, possui toda a liberdade 
de pensar e implementar outras tantas alternativas que não foram mencionadas 
neste material.
A disciplina de Cultura e Sociedade na Modernidade encontra-se vinculada 
diretamente a outras disciplinas da grade curricular do curso de História. São elas: 
História Moderna, História do Imperialismo e História do Brasil Império e do 
Brasil, que são articuladas complementarmente à História Medieval, História da 
América e História do Brasil Republicano. Procure sempre ancorar estes temas aos 
conteúdos que pertencem a estas disciplinas, assim, estudar cultura e sociedade 
na modernidade ganhará sentido e relevância no universo de aprendizagem.
Um pressuposto didático importante está em não perder de vista que 
se estará criando situações de ensino-aprendizagem, de cultura e sociedade na 
modernidade, a jovens estudantes com um vasto horizonte intuitivo e sensível de 
interesses e não a futuros historiadores.
 
Sugere-se que se encontre abordagem e problematizações locais e regionais 
e do momento presente dos estudantes, a fim de sensibilizá-los e despertar o 
interesse e a curiosidade para com os conteúdos e temas aqui apresentados.
No sentido de identificar que coexistem diferentes processos de 
modernização, marcados por diferentes dinâmicas, que ocorreram em outras 
sociedades e em diferentes épocas, o que por sua vez tendem a romper com a 
tradicional cronologia e abordagem que é veiculada ao tema.
Quebrar com as explicações eurocêntricas e incluir a experiência brasileira 
é uma tarefa bastante fértil, porém não se pode esquecer que ao longo do século 
XIX a modernidade é o que mais se aproxima da experiência brasileira, pois foi 
o período em que o país se configurou como Estado-nação. Foram realizados 
projetos sociais e culturais, que acorreram as levas de imigrantes europeus, 
formação das primeiras metrópoles, a abolição da escravatura, entre outros fatos.
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
184
Quem sabe a abordagem factual/cronológica e espacial possa ser atribuída, 
mas que seja em termos de introdução e contextualização dos estudos, e que estes 
sejam apresentados como flexíveis. Se preferir manter a discussão no espaço 
do continente europeu procure relacionar as mudanças econômicas, sociais e 
culturais que se encontravam em cursos e que forçavam as estruturas da baixa 
Idade Média e que foram potencializadas pelo Renascimento.
2 SUGESTÕES DIDÁTICAS
2.1 ABORDAGEM CONCEITUAL
A possibilidade de abordagem inicial à Cultura e Sociedade na 
Modernidade está em construir uma discussão crítica e reflexiva para os conceitos 
de moderno, antigo, velho e ultrapassado; problematizando as compreensões de 
tempo “melhores” ou “piores” em que vivemos; no sentido de restituir a cada 
qual seu contexto, processo, circunstâncias, condições, opções e desafios que 
existem.
Quando discutidos, amadurecidos e assimilados estes conceitos e sentir 
segurança tanto pessoal como no grupo de estudantes, é possível que se tenha as 
condições favoráveis para avançar na discussão dos conceitos como industrialismo, 
urbanização, racionalização e secularização.
2.2 EXPOSIÇÃO DE OBJETOS ANTIGOS
A ideia é a de preparar uma exposição de objetos antigos, a partir do 
empréstimo dos estudantes e familiares. Podem ser solicitados diferentes 
exemplares que pertencem a épocas diferentes. Podem ser analisados e 
identificados nos aspectos de usos, funções, superações e inovações. 
É interessante eleger alguma turma em específico para realizar a exposição 
e oferecê-la à escola como um todo. Os estudantes podem ser divididos em 
equipes de trabalho que serão responsáveis por mobilizar os objetos, recebê-los, 
acomodá-los, identificá-los e expô-los. Pesquisas podem ser feitas no sentidode 
remontar a invenção, os diferentes modelos que existem de um mesmo objeto; 
usos antigos e atuais que recebem.
2.3 HISTÓRIA LOCAL E REGIONAL
A estratégia didática estaria em pesquisar e enumerar as histórias de 
povoamento e desenvolvimento local, as obras de construções de estradas e 
vias de transporte, hospitais, escolas, as primeiras soluções ao abastecimento de 
energia elétrica, os primeiros comércios, moinhos, indústrias, bancos, a criação de 
espaços públicos como prefeituras, praças, igrejas e os respectivos deslocamentos 
TÓPICO 4 | ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E SOCIEDADE NA MODERNIDADE
185
2.3 HISTÓRIA LOCAL E REGIONAL
2.4 TEXTOS PARADIDÁTICOS
destes espaços e da própria população. Podem ser utilizados relatos/entrevistas 
e palestras com antigos moradores, mapas, fotos, rotas de diferentes épocas 
históricas e a visita aos locais históricos e de memória das cidades.
Pode-se trabalhar também com a estratégia de comparação entre fotos 
antigas e atuais para determinados espaços considerados marcos e símbolos de 
modernidade de forma descritiva e comparativa. 
Sugere-se os livros de História da Vida Privada, especialmente os 
textos e artigos presentes nos volumes 2 e 3, que apresentam abordagens mais 
culturais, sociológicas e do ponto de vista da história das mentalidades, do 
imaginário, da história do cotidiano da época moderna. Bem como as referências 
complementares ou que podem ser trabalhadas na forma de projetos com outras 
disciplinas da grade escolar, relacionando obras literárias, obras de arte e filmes 
que correspondam ao período em estudo.
Podem ser utilizados trechos de textos como: 
• MARTINHO LUTERO: 95 teses. 
• CARLO GUINZBURG: O queijo e os vermes; Os andarilhos do bem: feitiçaria 
e cultos agrários no século XVI e XVII. 
• AGNER HELLER: O Homem do Renascimento. 
• FRACISCO FALCON: Tempos modernos. 
Sugere-se que além dos grandes temas já presentes no título da 
disciplina, que são “cultura e sociedade”, sejam acrescentados “técnica/
máquina, urbanização/cidade, cidadania/ética, ciência/meio ambiente” numa 
abordagem que contemple a produção, circulação e consumo de produtos 
no rol da modernidade e no seu prolongamento e repercussão da experiência 
humana na contemporaneidade. Que favoreçam o diálogo, a criação de projetos 
e a discussões no campo interdisciplinar do conhecimento, que podem ser feitas 
com as áreas da geografia, sociologia, da física, biologia, filosofia, entre outras se 
houver possibilidade.
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
186
IMPORTANTE
FONTES LITERÁRIAS:
• ARTHUR CONAN DOYLE (1859-1930): Um estudo em vermelho e As aventuras de 
Sherlock Holmes.
• CHARLES BAUDELAIRE (1821-1857): As flores do mal.
• ERASMO DE ROTERDÃ: Elogio à loucura.
• EDGAR ALAN POE (1809-1849): O poço e o pêndulo, O corvo e A máscara da morte 
rubra.
• J. H. GOETHE (1749-1832): Fausto e Os sofrimentos do jovem Werther.
• MARQUES DE SADE (1740-1814): Justine e A filosofia na alcova.
• MIGUEL DE CERVANTES (1567-1616): Dom Quixote de La Mancha.
• WILLIAN SHAKESPEARE (1564-1616): Hamlet, Macbeth e A comédia dos erros.
MÚSICA: 
• ANTÔNIO VIVALDI (1678-1741): As quatro estações.
• WOLFGAN AMADEUS MOZART (1756-1791): A flauta Mágica.
• FRANZ LIZT (1811-1886): Sinfonia Dante e Sinfonia Fausto.
• RICHARD WAGNER (1813-1883): O crepúsculo dos deuses e As Valquírias.
• CARL ORFF (1895- 1982): Carmina Burana.
3 MODERNIDADE: A ÉPOCA DAS IMAGENS 
A modernidade, de que se tratou ao longo deste Caderno de Estudos, 
se desenrolou enquanto experiência histórica ao longo do período histórico do 
século XIX e no continente europeu. Mas não conseguiu conter-se sem fazer-se 
mostrar, exibir-se e desfilar em outros espaços geográficos e momentos históricos. 
Este aspecto não representava somente uma vontade excêntrica pulsante 
no consciente e inconsciente da burguesia da época, mas também dos grupos 
sociais e de outras partes do mundo que se encontravam percorrendo os processos 
de modernização e procuravam se espelhar no que circulava e era ostentando no 
eixo Paris e Londres.
Para tanto, era necessário congelar momentos, capturar lances, esboçar 
perfis, flagrar trejeitos, posturas, performances; revelá-las, reproduzi-las, 
multiplicá-las, difundi-las; para isto conta com um grande volume de imagens no 
formato de pinturas, gravuras, retratos, ilustrações, fotografias e com o cinema. 
Conta-se também com as produções de artistas plásticos, os acervos 
fotográficos, guardados com as famílias, os disponíveis em museus e arquivos, 
ou digitalizados e acessíveis através de bancos de dados e galerias de sites 
especializados, assim como os registros cinematográficos amplamente 
popularizados. 
TÓPICO 4 | ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E SOCIEDADE NA MODERNIDADE
187
3 MODERNIDADE: A ÉPOCA DAS IMAGENS 
IMPORTANTE
ARTES PLÁSTICAS
• SANDRO BOTTICELLI (1445-1510): O nascimento de vênus; A primavera; e A coroação 
da virgem.
• PETER BRUEGUEL (1525-1569): Provérbios flamengos; A luta entre carnaval e quaresma; 
Jogos para criança.
• HIERONYMOS BOSCH (1450-1516): O jardim das delícias; A nau dos insensatos; O juízo 
final.
• FRANCISCO GOYA (1746-1828): Os caprichos; Os desastres da guerra.
• WILLIAN BLAKE (1757-1827): O casamento do céu e do inferno; A criação de adão; O 
eterno. 
• VINCENT VAN GOGH (1853-1890): Homem velho com a cabeça em suas mãos; Os 
comedores de batata.
DICAS
FANPAGE
Existe uma grande variedade de imagens realizadas de retratos, obras de arte, cartões 
postais, para o final do século e XIX e início do século XX que se encontram reunidas junto 
à fanpage da: Belle Époque Europe. Disponível no endereço: <https://www.facebook.com/
pages/Belle-%C3%89poque-Europe/124762957488?fref=ts>. Acesso em: 17 set. 2013.
3.1 O USO DE FILMES/DOCUMENTÁRIOS 
No caso especial de filmes, Cardoso e Mauad (1997) destacam que ao se 
utilizar o cinema e as fontes cinematográficas, é preciso que se revele e decodifique 
o que diz respeito às matrizes ideológicas que se encontram latentes na produção.
 
Compreendê-los como imagem-objeto, cujas significações não são 
somente e meramente cinematográficas; integrá-los ao mundo social, ao contexto 
em que surgiram, abordar inclusive os elementos não cinematográficos como os 
autores, as produções, os públicos, regimes políticos a que estiveram veiculados.
Deve-se compreender um filme como:
Uma mensagem de mensagens, de considerável complexidade, 
reunindo e combinando diversas modalidades e graus de incidência: 
imagens/fotografia, textos escritos, falas gravadas e incorporadas ao 
filme, música/trilha, e os ruídos pretensamente naturais: trata-se de 
uma mista e complexa narrativa e trama (CARDOSO; MAUAD, 1997, 
p. 413). 
UNIDADE 3 | VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE
188
Diante destes pressupostos faz-se necessário decodificar os aspectos 
e elementos explícitos e implícitos na obra, como a imagem, a palavra/fala/
linguagem, o som, o gênero, bem como os anos de produção, a montagem e 
as movimentações de câmera, as tecnologias disponíveis, os roteiros de forma 
contextualizada e problematizada; as mensagens subliminares e sutis tanto em 
termos de fotografia, figurino, trilha sonora, além dos conteúdos dos diálogos.
Burke (2004) discute que tanto o cinema, como a fotografia e os cartões 
postais devem ser tratados como documentos históricos. As imagens são 
importantes meios de interpretação de fatos históricos, através delas pode-se 
perceber como as pessoas se portavam, se apresentavam, reagiam em determinados 
momentos. Em resumo, imagens nos permitem “imaginar” o passado de forma 
mais vívida e próxima do que ela realmente existiu.
Procure assistir aos filmes antes de projetá-los. Quando for projetá-los aos 
estudantes, elabore uma espécie de roteiro mínimo de observação que evidencie 
os temas relacionados aos conteúdos históricos em questão, presentes no filme, 
para que os estudantes avancem para além das tramas, dos suspenses e romances 
que se apresentam. 
Procure organizaruma sessão cinema. Se houver possibilidade e conforme 
as normas de conduta da escola, sugira que os estudantes tragam alguma coisa 
para comer e beber ao longo da projeção, assim o ambiente ficará mais convidativo 
e divertido.
DICAS
FILMES E DOCUMENTÁRIOS
• Maria Antonieta. Sophia Cappola, França/Estados Unidos, 2005. 2h30 min.
O filme pode servir à problematização e contextualização da vida no interior da nobreza 
francesa, anterior ao processo da Revolução Francesa. Maria Antonieta, de família austríaca, 
ainda muito jovem vai à França para se casar com Luís XVI, se depara com uma família 
repleta de disputas, especulações e fofocas. A vida no palácio de Versalles era muito regrada 
por normas e posturas, o que não a deixava à vontade e sim melancólica, por sua vez resolve 
mergulhar em um mundo particular de diversão e festas, enquanto que no cenário político 
e social a Revolução Francesa estava pronta para eclodir.
Deans: um grito de justiça. Stijn Coninx, Bélgica, 1992. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=FGPhfhBkAxc>.
Filme que aborda as condições de trabalho na Bélgica do século XIX e que passará pelo 
processo de industrialização e incluirá mão de obra infantil e feminina e as condições de 
trabalho no interior das minas de carvão e fábricas da época.
TÓPICO 4 | ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E SOCIEDADE NA MODERNIDADE
189
• Carlota Joaquina: a princesa do Brasil. Carla Camurati, Brasil, 1995. 1h40 min.
Filme que discute a trajetória da família real portuguesa, em especial a história de D. João 
VI e Carlota Joaquina, a fuga ao Brasil e o respectivo retorno a Portugal, o país precisando 
se modernizar às pressas e aos moldes europeus, a fim de acomodar a nova situação e 
conjuntura política. Também serão tratados os problemas internos da família, da corte, com 
as elites regionais, a presença inglesa e as relações internacionais que o país estabelecia na 
época.
• Barão de Mauá: o imperador. Sérgio Resende. Brasil, 1999. 135 min. Disponível em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=EX105CnUhOU>.
O longa metragem nacional conta a trajetória de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o 
Barão e Visconde de Mauá, um homem visionário e empreendedor que desde jovem pensava 
em modernizar o Brasil e defendia ideias de abolição do trabalho escravo e mudanças no 
modelo político e econômico do país. Quando adulto se dedicou às atividades comerciais e 
industriais, empreendeu negócios bancários, construção de ferrovias e portos, associando-
se a empresas estrangeiras. Porém, era severamente prejudicado pelas políticas do governo 
imperial.
• Os Miseráveis. Josée Dayan, França, 2000. 360 min.
Filme inspirado no livro de Victor Hugo, escrito em 1862, que procura denunciar os problemas 
sociais vividos no interior da França, num momento em que a população abandona o campo 
e vai para a cidade em busca de sobrevivência. O cenário será expressivo em representar a 
fome, a miséria, o desemprego, a mendicância, a prostituição, a criminalidade, os movimentos 
políticos e a repressão policial da época.
• Germinal. Claude Berri, Bélgica, Itália, França, 1993. 170 min.
O filme foi adaptado do livro de Émile Zola (1840-1902) em que descreve as condições de 
trabalho dos operários numa mina de carvão no interior da França. A obra segue traçando 
toda a organização social e política dos movimentos sindicais bem como os enfrentamentos 
com o governo da época.
190
Caro(a) acadêmico (a)! Ao longo deste tópico foram apresentadas algumas 
formas de como abordar de forma didática e pedagógica os conteúdos de cultura 
e sociedade na modernidade, e você pôde compreender que:
• É importante ancorar os temas e os conteúdos de cultura e sociedade aos 
conteúdos e temas que são correspondentes à época pré-moderna, moderna 
e contemporânea, para que estes adquiram maior sentido e relevância no 
universo de aprendizagem dos estudantes.
• É possível contemplar temas locais e regionais e o momento presente dos 
estudantes, a fim de sensibilizá-los e despertar o interesse e a curiosidade para 
com os temas da época moderna.
• Incluir a experiência brasileira pode ser uma estratégia relevante, pois foi o 
período em que o país se configurou como Estado-nação, em que ocorreu 
a chegada das levas de imigrantes europeus, a formação das primeiras 
metrópoles, a abolição da escravatura, entre outros fatos.
• Como sugestões didáticas sugeriram-se também discussões conceituais, 
exposição de objetos antigos, realização de visitas a lugares históricos e 
de memória, realização de entrevistas e palestras com antigos moradores 
das cidades, textos paradidáticos, referências da literatura, a utilização de 
fotografias, obras de arte, músicas e filmes.
• Destacou-se que quando forem utilizados os recursos do cinema, seja tomado 
o cuidado de interpretá-los além das tramas e cenários históricos, que sejam 
problematizados com relação aos autores, as produções, os públicos, regimes 
políticos a que estiveram veiculados.
• Que as trilhas sonoras, as fotografias, os roteiros, os cenários, os figurinos, 
as tomadas de câmera, os efeitos, sejam percebidos também como criações 
artísticas.
• As imagens representam importantes meios de interpretação de fatos 
históricos, através delas é possível perceber como as pessoas se portavam, se 
apresentavam, reagiam em determinados momento históricos nos quais eram 
flagradas. 
RESUMO DO TÓPICO 4
191
AUTOATIVIDADE
1 Procure elaborar um projeto de exposição de objetos antigos que possa 
ser desenvolvido no espaço escolar, que contenha objetivos, temáticas da 
exposição e os principais procedimentos e cuidados que serão tomados ao 
longo da exposição. 
2 Procure elaborar um roteiro de estudos, análise e debate, para a experiência 
brasileira de modernidade, a partir do filme Carlota Joaquina: a princesa do 
Brasil, de Carla Camurati.
192
193
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