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Estudante:________________________________________________Nº.____ Ano:______ Turma:_____ 
2º ANO Ensino Médio Semestre: 1o Data:___/___/___ 
Componente: Literatura Brasileira Professora: Fernanda Borges 
 
Barroco 
 
CONTEXTO HISTÓRICO: SÉC. XVII 
(1601-1768) 
 
O panorama europeu do séc. XVII foi marcado por intensos conflitos políticos, econômicos, 
sociais, científicos e, sobretudo, religiosos. Em linhas gerais, esse período trouxe um incremento 
da cultura mercantilista acelerada em função das grandes navegações. Em países onde a influência 
da igreja católica fazia-se mais forte, como Portugal e Espanha, o poder atemporal (religioso) 
influenciava diretamente o cotidiano e o pensamento da população, mas o fazia a serviço do poder 
terreno (Estado) centralizado nas mãos do rei. 
Iniciada no Concílio de Trento de meados do séc. XVI, quando a Igreja Católica dividiu a 
cristandade entre católicos e protestantes, a Contrarreforma é também relevante neste momento 
histórico. Funcionando como um con- tra-ataque à Reforma Protestante de nomes como 
Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564), mo- vimento que abalara o 
catolicismo, a Contrarreforma tinha como principais objetivos retomar a compreensão teo- 
cêntrica medieval e restituir o prestígio do catolicismo. 
De maneira bastante sumária, estão lançadas as variáveis que geraram um dos mais tensos e 
conturbados momentos históricos da Era Moderna e que são o ponto de partida para a 
compreensão do Barroco. Promovendo um diálogo entre aspectos econômicos, artísticos e 
religiosos, o quadro abaixo, proposto pelo professor da UFRGS Sergius Gonzaga, sintetiza as 
características básicas do momento: 
 
 
FEUDALISMO MERCANTILISMO 
CRISE DA SOCIEDADE 
RENASCENTISTA 
CONTRARREFORMA 
ARTE MEDIEVAL RENASCIMENTO MANEIRISMO BARROCO 
 
Teocentrismo 
Valorização da 
vida espiritual 
 
Humanismo 
Valorização 
da vida corpórea 
Dilaceramentos: 
Alma x Corpo 
Vida x Morte 
Justiça x Injustiça 
Céu x Terra 
 
Volta à religiosidade 
Persistência dos conflitos 
maneiristas 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
CARACTERÍSTICAS 
 
1. ARTE A SERVIÇO DA CONTRARREFORMA 
A base ideológica do Barroco ibérico foi a Contrarreforma, da qual foi um instrumento de 
ostentação. Arte eclesiástica, a estética barroca pretendeu basicamente propagar a fé católica 
desgastada pela Reforma Protestante, daí que nunca se tivesse produzido tantas igrejas, capelas, 
esculturas de santos e mausoléus como neste período. O discurso artístico visivelmente pagava tributo 
ao discurso religioso, demonstrando absoluta solenidade. 
 
O enorme respeito da arte barroca em relação a tudo quanto se relacionava ao catolicismo é explica- 
do pela absoluta admiração que almejava suscitar em seus espectadores. Mesmo as artes plásticas bar- 
rocas (pintura, escultura ou arquitetura) trazem in- variável tentativa de seduzir, convencer e impor os 
valores religiosos contrarreformistas. 
 
2. BIFRONTISMO HISTÓRICO E DUALISMO HUMANO 
 
O homem do séc. XVII viu-se numa encruzilhada histórico-filosófica: herdara uma tradição de dez 
séculos de teocentrismo medieval contraposta por algumas, então recentes, décadas da moderna liberdade 
antropocêntrica. A obrigatoriedade de escolher entre a vida eterna (e a consequente tentativa de 
salvação da alma) e a vida terrena (símbolo dos prazeres corpóreos) tornava a vida humana um 
constante e insuportável conflito. No fundo, o drama é histórico: a oposição entre duas ideologias: a 
religiosa, típica da Idade Média, e a humanista, afeita ao Renascimento. 
O Barroco teve como objetivo conciliar os extremos medievais e renascentistas, não logrando, no 
entanto, êxito nesta tentativa. O ser barroco experimentava então a angústia de não conseguir 
optar plenamente pela salvação de sua alma, mantendo uma fé convencional e que não o livrava de 
sofrer e de penitenciar-se ao pecar. Após assumir e vivenciar os prazeres do corpo, o indivíduo sentia-
se culpado e temia horrivelmente a danação no inferno. 
 
3. A OPRESSIVA PASSAGEM DO TEMPO 
 
O dilema existencial do homem seiscentista era potencializado pela consciência da fugacidade de sua 
vida terrena. A implacável passagem do tempo, acompanhado pela dúvida do indivíduo entre a sal- 
vação da alma ou os prazeres do corpo, é um dos temas mais repetitivos do Barroco. 
O trágico sentimento do caminhar inexorável para a morte e de que cada instante que passa não pode 
mais ser recuperado é aflitivo por dois motivos para o ser barroco: 
 
i. Em última análise, a vida eterna (alma) não passa de uma aposta, já que nada garante a 
existência de um paraíso aguardando o indivíduo de conduta terrena impoluta. Ao optar 
pela salvação da alma – portanto, abrindo mão de gozar os prazeres mundanos –, o 
homem sentia estar deixando de lado as únicas certezas de que possuía: a de que 
estava vivo e a de que seu corpo pedia que fossem satis- feitos instintos que lhe eram 
 
 
 
 
 
3 
 
 
negados. Ligada ao tema renascentista do carpe diem, o eu- lírico barroco muitas vezes 
se mostrou consciente de que a época da vida para desfrutar os prazeres que o corpo 
oferece é a juventude, isto é, o auge da beleza e da força física. Temendo a perdição no 
inferno, o sujeito poético não conseguia apagar a sensação de que cada instante que 
passava levava consigo um possível prazer. 
ii. Embora palpável, o deleite dos prazeres profanos poderia lançar o homem eternamente 
no inferno, levando-o constantemente a se perguntar: “Vale a pena arriscar prazeres 
inimagináveis e eternos (paraíso) por alguns anos de prazeres terrenos?”; “Vale a pena 
ar- der para todo o sempre no fogo do inferno por alguns anos de prazeres terrenos?”. 
 
4. AS FORMAS TORTUOSAS 
 
O Barroco apresenta uma união indissociável entre forma e conteúdo. O dilaceramento, o 
drama e a tensão do ser que não consegue optar entre os apelos de sua alma em oposição aos de seu 
corpo e que vê sua angústia aumentada pela passagem do tempo tem sua melhor expressão num 
estilo nervoso, empolado, solene e sinuoso. A alma labiríntica do homem dos seiscentos 
encontrou sua melhor tradução num estilo por si só contraditório e tortuoso, marcado por constantes 
inversões sintáticas, antí- teses e metáforas insólitas. 
Ainda que na prática as tendências muitas vezes se confundam, uma vez que são 
razoavelmente complementares, é praxe dividir o Barroco literário ibérico e, por extensão, o 
brasileiro em duas vertentes formais: o cultismo e o conceptismo. Vejamos as principais 
características de cada uma delas no quadro abaixo: 
 
 
VERTENTES 
CULTISMO, 
CULTERANISMO ou 
GONGORISMO 
CONCEPTISMO, 
CONCEPTUALIS
MO 
ouQUEVEDISM
O 
 
 
 
 
CARACTERÍSTICAS 
Estilo excessivo e rebuscado; 
Jogo de palavras; 
Cromatismo (realismo cru); 
Musicalidade (sonoridade); 
Antíteses, hipérbatos, hipérboles; 
Perífrases; 
Metáforas; 
Neologismos. 
Estilo enxuto, racional (visa expressar o 
máximo de ideias com o mínimo de palavras); 
Jogo de ideias (conceitos), ambiguidades, 
duplici- dade de sentido, sutileza de ideias; 
Requinte formal e expressivo; 
Silogismos, paradoxos; 
Metáforas elaboradas e 
alegorias. 
 
OBJETIVOS 
Enternecimento; 
Emoção. 
Raciocínio; 
Reflexão; 
Convencimento. 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
CONTEXTO HISTÓRICO: BRASIL 
 
 
Trazido pelos padres jesuítas, no Brasil, o Barroco encontrou ambiente propício para sua 
realização artístico-ideológica na Bahia do séc. XVII. Vivia- se o ciclo da cana-de-açúcar e os 
filhos dos senhores- de-engenho eram educados sob a rigidez jesuíta, aprendendo a desprezar seus 
desejos carnais, mas encontrando, ao voltar para suas casas, franca oferta sexual junto às escravas. 
Nossa realidade sócio-histórica tornava ainda mais dramático – uma vez que real, palpável e diário 
– o típico drama barroco alma X corpo, ilustrado pela dualidade existente entre o universo 
espiritualdas escolas religiosas e o mundo profano dos engenhos. 
Nossa literatura barroca pouco apresentou da cor local, tornando possível a afirmação de que 
constituiu um transplante dos dilemas éticos e religiosos 
europeus (exceção feita a alguns aspectos da obra do poeta Gregório de Matos, tido por alguns 
críticos como o primeiro escritor “brasileiro”). Finalmente, registre-se ainda o Barroco brasileiro 
das artes visuais, cujo líder foi Antônio Francisco Lisboa (1738- 1814), o Aleijadinho, e que se 
desenvolveu tardiamente em Minas Gerais do séc. XVIII. 
 
 
 
 
 Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto (MG) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
GREGÓRIO DE MATOS (1633-1695) 
 
Formalmente, o poeta é tido pela crítica como um seguidor do estilo 
cultista. Em relação à temática, sua obra é normal- mente dividida em 
três tendências: poesia sacra (religiosa), poesia amorosa e poesia 
satírica. 
 
1. POESIA SACRA 
A forma rebuscada que caracteriza a poesia religiosa (cultista) de 
Gregório de Matos é fixada por meio de uma linguagem bastante figurada, cujo requinte encontra-
se nas imagens evocadas e num obscuro simbolismo, não sendo raro o poeta incorrer num estilo 
retórico. 
A imagem do homem (eu poético) que, ajoelha- do diante de Jesus Cristo crucificado, 
confessa-se pecador, pede perdão e jura redimir-se é o tema mais recorrente da poesia religiosa 
de Gregório de Matos. Baseando- se na tríade pecado, pecador e penitência, esse motivo tem uma 
explicação histórica: em termos de imaginário popular, o homem do séc. XVII estava ainda 
“deslumbrado” com a possibilidade de ter absolvidos seus pecados desde que se arrependesse, 
realidade instituída a partir do Concílio de Trento. Abaixo, segue um exemplo claro do que fora dito 
anteriormente: 
 
BUSCANDO A CRISTO 
“A vós correndo vou, braços sagrados, 
Nessa cruz sacrossanta descobertos 
Que, para receber-me, estais abertos, 
E, por não castigar-me, estais cravados. 
 
A vós, divinos olhos, eclipsados 
De tanto sangue e lágrimas abertos, 
Pois, para perdoar-me, estais despertos, 
E, por não condenar-me, estais fechados. 
 
A vós, pregados pés, por não deixar-me, 
A vós, sangue vertido, para ungir-me, 
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me 
 
A vós, lado patente, quero unir-me, 
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, 
Para ficar unido, atado e firme.”. 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
COMENTÁRIOS: o poema traz a típica visão contrarreformista barroca, através do contraste 
entre a onipotência de Jesus e a pequenez humana. Note a subserviência de um homem que se vê 
abandonado diante da mesquinhez de sua vida terrena, depositando a esperança de uma possível 
salvação na sua fé e na proteção e bondade e divina. 
 
 
2. POESIA AMOROSA 
 
A mulher é encarada basicamente de duas maneiras (opostas) na poesia dita amorosa de 
Gregório: a idealização da mulher branca e a erotização crua das negras ou mestiças. No 
primeiro caso, vemos o amor idealizado, sublimado. A mulher branca (fidalga) é tratada com total 
respeito por um eu-lírico que se esforça por sublimar seus instintos sexuais. 
Louvada a beleza da mulher branca, o eu lírico reflete sobre a transitoriedade da vida humana, 
incidindo no tema clássico do carpe diem. Sob um viés barroco, às vezes, a mulher é 
comparada a um anjo (símbolo de eternidade) e a uma flor (metáfora da fugacidade): 
 
ANGÉLICA 
“Anjo no nome, Angélica na cara! 
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: 
Ser Angélica flor, e Anjo florente1 
Em quem, senão em vós, se uniformara? 
 
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, 
De verde pé, da rama florescente? 
A quem um Anjo vira tão luzente 
Que por seu Deus o não idolatrara? 
 
Se pois como Anjo sois dos meus altares, 
Fôreis o meu custódio2, e minha guarda, 
Livrara eu de diabólicos azares. 
 
Mas vejo que tão bela, e tão galharda, 
Posto que3 os Anjos nunca dão pesares, 
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.”. 
 
Vocabulário: 
1 Florente: florido; 
2 Custódio: defesa; 
3 Posto que: ainda que. 
 
COMENTÁRIOS: ainda que idealize a figura femini- na, o soneto mantém a dubiedade 
barroca (a tensão alma X corpo), esquematizado da seguinte maneira: Angélica é dona de uma 
 
 
 
 
 
7 
 
 
enorme e casta beleza, indicada por seu próprio nome. Logo, possui algo de divino, daí o 
sujeito poético adorá-la e projetar nela sua possível salvação. Todavia, mantém sua essência 
humana, dialogando com o mundano, simbolizado no fato dela ser uma flor. Em suma, o poema 
funde tortuosamente o transcendente (alma) e o efêmero (corpo): Ser Angélica flor, e Anjo 
florente. 
Em tom lamentoso, os versos abordam ainda o carpe diem. A passagem do tempo provoca 
a perda da beleza feminina, pois assim como a flor com que é comparada, Angélica possui uma 
beleza transitória, símbolo da própria finitude humana. Conforme ilustra o poema, ao tratar da 
mulher branca, Gregório expressa-se mediante uma linguagem elevada e de bom gosto. 
 
* * * 
Por sua vez, as negras ou mestiças contam com um tratamento diametralmente oposto à 
idealização reservada à mulher branca na lírica gregoriana, sendo descritas pelo eu poético 
unicamente como um objeto sexual, uma mera genitália. Interpretados historicamente, tais poemas 
desnudam a visão de mundo de uma elite branca: fidalgo e filho de propri etário de engenho de 
açúcar, Gregório ratifica a típica relação de posse entre senhores e escravos. Prova disso é que, 
depois da posse física (aqui a relação nunca ultrapassava o caráter meramente sexual), o sujeito 
poético costuma experimentar uma espécie de misoginia1 para com a escrava, sentindo-se avilta- do 
e diminuído por ter mantido relações com uma criatura que acredita muito inferior a si. 
Entretanto, há poemas onde ocorre o reverso do que fora anteriormente descrito: o contato 
sexual entre o eu lírico (suposto senhor-de-engenho) e a mulatinha (escrava) faz com que a ordem 
social seja subvertida. Agora é o homem branco a ser “escravi- zado” pelos dotes da mulher negra, 
a subserviência racial é burlada: 
 
“Minha rica mulatinha 
Desvelo e cuidado meu, 
Eu já fora todo teu, 
E tu fora toda minha; 
Juro-te, minha vidinha, 
Se acaso, minhas qués ser, 
Que todo me hei de acender 
Em ser teu amante fino, 
Pois por ti já perco o tino 
 E ando para morrer.”. 
 
 
Vocabulário: 
1 Misoginia: aversão ao contato (sexual) feminino. 
 
Já a abordagem de Gregório para o tema sexo não se dá sob a sofisticação do erotismo, mas é 
somente agressiva, contundente, galhofeira, conforme aponta o crítico Alfredo Bosi: 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
Aqui, sua linguagem mostra-se ofensiva, ferina, licenciosa, cheia de termos 
vulgares e de extremo mau gosto. Essa poesia promove uma desclassificação da 
mulher que nunca se tomaria por esposa, situação que a cor negra potencia, e à qual 
corresponde uma violência ímpar de tom, de léxico, em suma, de estilo (BOSI, 
1992). 
 
 
3. POESIA SATÍRICA 
 
Por meio do deboche, do escárnio e de uma fina ironia, o poeta demonstra um indiscutível 
senso crítico quanto à sociedade de seu tempo. Não por acaso Gregório fora apelidado de Boca do 
Inferno, pois desde eminentes governadores, advogados e clérigos, até populares, como prostitutas e 
negros forros, ninguém podia vangloriar-se de estar livre de ser ridicularizado por seus versos 
mordazes. 
Sua lírica satírica veicula algum moralismo e uma forte tendência à caricatura e à 
tipificação. Deste modo, os padres/freiras pecam pela luxúria; as negras pela prostituição; os 
escravos pela subser- viência e luxúria; os governantes pelo despotismo ou mesmo pela burrice; os 
milicianos pela corrup- ção; os fidalgos pela soberba; os mestiços/mulatos pelo extremo oportunismo 
e, por fim, os ingleses/ comerciantes pela usura. 
A linguagem da poesia satírica de Gregório é simples e licenciosa, às vezes, pornográfica. 
Porém, a aparentesimplicidade esconde uma extrema sofisticação, uma vez que se utiliza em larga 
escala de ironia e mordacidade. Destaque-se o nativismo linguístico ou, digamos, um 
abrasileiramento linguístico. Fugindo por ora do típico léxico europeiza- do do Barroco, o poeta 
promove uma tropicalização da linguagem, chegando a utilizar termos indígenas, africanos e gírias, 
além de palavras de baixo calão. 
Ora nomeando diretamente a figura vilipendia- da, ora praticando um ataque velado, seus poemas 
satíricos constituem um amplo e lúcido painel críti- co de indivíduos e instituições da Bahia de seu 
tem- po. O poeta denunciou com realismo e coragem os vícios pessoais e coletivos da 
carnavalizada sociedade baiana (por ele chamada de “canalha infernal” num de seus poemas), 
pintando-a como uma total inversão de todos os valores edificantes, um verdadeiro palco dos 
horrores. 
 
MOTE 
 
“De dois ff se compõe 
Esta cidade a meu ver: 
Um furtar, outro foder. 
 
Se de dous ff composta 
Está a nossa Bahia, 
Errada a ortografia, 
A grande dano está posta: 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
Eu quero fazer aposta 
E quero um tostão perder, 
Que isso a há de perverter, 
E o furtar e o foder bem 
 
Não são os ff que tem 
Esta cidade ao meu ver. 
Provo a conjetura já, 
Prontamente como um brinco: 
 
Bahia tem letras cinco 
Que são B-A-H-I-A: 
Logo ninguém me dirá 
Que dous ff chega a ter, 
 
Pois nenhum contém sequer, 
Salvo se em boa verdade 
São os ff da cidade 
Um furtar, outro foder. [...]” 
 
COMENTÁRIOS: Gregório de Matos pinta um quadro nada lisonjeiro da Bahia (Salvador) 
seiscentista. Reitere-se a atitude moralista do eu poético e o fato de que, por não apontar 
exatamente o(s) alvo(s) de sua crítica, acaba por torná-la uma legítima tábula rasa da sociedade 
baiana, cujo fio condutor a unir as duas possíveis filosofias de vida (furtar e foder) é a corrupção. 
Genericamente, pode-se dizer que a primeira postura cabe a todos os que estão investidos de 
qualquer forma de poder (governantes, milicianos, clérigos, mestiços e ingleses/comerciantes) e a 
segunda atitude, ou mesmo a indiferença, cabe àqueles alijados do poder ou esmagados por ele 
(escravos e clero). Note que o clero, detentor de poder, irá figurar em ambas as atitudes. Por um 
lado, furta ao fazer jogo de influências (simonia); por outro, fode, dando vazão à conduta luxuriosa 
com que a maioria dos padres e freiras é historicamente descrita na literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
ANTÔNIO VIEIRA (1608-1697) 
 
Obras principais: Sermões (1679-1718); Histórias do futuro (1718); 
Esperanças de Portugal (1856-1857). 
 
SERMÕES: ESTILO, ESTRUTURA E TEMÁTICA 
 
Foi o maior seguidor do conceptismo em lín- gua portuguesa. 
Aliás, o absoluto domínio da linguagem de Vieira fez com que o 
grande poeta Fernando Pessoa batizasse-o de o “Imperador da língua 
portuguesa”. Para legitimar seus sermões, o padre partia 
normalmente de exemplos e referências bíblicas, dando-lhes interpretações bastante pessoais. O 
objetivo era adequar as Escrituras Sagradas às necessidades momentâneas da pregação, tornando 
irrefutáveis seus argumentos. Ressaltemos as principais características estilísticas de Vieira: 
 
Pregador de alegorias, sua linguagem excitava a curiosidade pelo pitoresco e o 
imprevisto. Espírito sempre voltado para as abstrações da lógica e da metafísica 
escolástica, o estilo do padre Antônio Vieira, contudo, ainda que anunciando o 
Barroco, deliciava os ouvidos pela cadência enérgica e incisiva dos períodos 
ritmados. Sua imagística, denotando intensidade de visão e ideias, chegava ao 
clímax através de metáforas hiperbólicas, de negativas conduzindo a afirmações, de 
paradoxos, antíteses e preciosismos, manifestações literárias reveladoras do espírito 
do século, a impor à prosa e à poesia uma peculiar artificialidade. [...] A 
originalidade de Vieira [...] não está apenas na assimilação e técnica do 
barroquismo, mas no seu estilo ágil e breve a comandar uma imagística de 
significação simbólica, estonteante porque hiperbólica e cheia de antíteses, no 
domínio perfeito da língua portuguesa, que era como uma criança em suas mãos. 
(LITRENTO, 1974) 
 
Antônio Vieira não se limitou ao trato de causas religiosas, investindo contra as mazelas 
políticas de sua época. Seguindo a moral jesuíta, seu intuito era o de erradicar os vícios de seus 
fieis, encaminhando-os ao caminho da virtude. No entanto, Viei ra unia ao discurso religioso 
aspectos históricos, po líticos e econômicos de seu tempo. 
Foi figura ímpar na vida colonial brasileira, defendendo um tratamento mais humano para os 
escravos negros e colocando-se contra a escravidão indígena. No que tange à realidade imediata 
portuguesa, defendeu os judeus torturados pela Inquisição e saiu em defesa dos cristãos-novos 
(muitas vezes os próprios judeus), cujo poder aquisitivo acreditava ser imensamente útil para 
aquecer o mercado econômico interno de Portugal. 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
A UTOPIA DO QUINTO IMPÉRIO DE PORTUGAL 
Três fatos da história portuguesa elucidam a chamada Utopia do Quinto Império, defendida 
por Vieira: 1578 – na tentativa de aumentar as colônias lusas na costa africana, D. Sebastião, 
então o rei do país, empreendera uma incursão em território inimigo, o que motivou a batalha de 
Alcácer-Quibir, na qual D. Sebastião acabou morrendo (ou apenas sumindo, pois nunca foi 
encontrado o seu corpo). 
Como o monarca não havia deixado descendentes, Portugal caiu sob o domínio espanhol no 
ano de 1580. D. Sebastião era considerado uma espécie de símbolo da pátria lusitana como 
grande império mundial. Após sua trágica morte, os portugueses passaram a acreditar no 
sebastianismo, ou seja, no retorno do grande líder como uma saída mística para o 
ressurgimento luso enquanto grande potência política e econômica. Em 1640, enfim os 
lusitanos conseguiram de volta a sua autonomia política junto à Espanha, dando fim à União 
Ibérica. Tendo presenciado bastante de perto a retomada da soberania lusa, Vieira passou a 
pregar apaixonadamente as futuras glórias portuguesas. 
Em Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo, o padre defendeu a tese de que um 
príncipe português, o Encoberto, derrotaria os inimigos da fé católica, conquistando a Terra Santa 
e redimindo o mundo. A mítica figura do Encoberto corresponderia à ressurreição de D. João IV, 
rei que era o guru histórico-espiritual de Vieira, além de seu amigo pessoal e protetor. Após a 
morte do rei em 1656, o jesuíta passou a profetizar sua ressurreição como ponto de partida do 
Quinto Império de Portugal, um reino que duraria mil anos e conseguiria a façanha de unir todas 
as raças sob a autoridade da fé católica, representada pelo rei de Portugal, no plano temporal, e 
pelo papa, no plano espiritual. 
 
OS MAIS IMPORTANTES SERMÕES 
 
Das mais de duas centenas de sermões escritos por Antônio Vieira, merecem destaque: 
Sermão da sexagésima; Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda; 
Sermão de Santo Antônio (ou Aos peixes); série de Sermões da Rosa Mística (especialmente o 
XX, o XIV e o XVII); Sermão da primeira dominga da quaresma; Sermão da quinta dominga da 
quaresma; Sermão XIV de Nossa Senhora do Rosário e Sermão do bom ladrão. Vejamos, a 
seguir, a temática preponderante de alguns dos sermões do jesuíta. 
 
Sermão de Santo Antônio aos Peixes 
O padre crítica com veemência os exageros de violência contra os escravos negros, colocando-se 
contra a escravidão indígena. Também execra a vida mundana e viciosa dos colonos do interior 
(Maranhão). 
 
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda 
Num texto de genial poder de retórica e eloquência, cobra de Deus que ajude os 
portugueses a expulsar os holandeses de solo pernambucano. Os discursos histórico e 
 
 
 
 
 
12 
 
 
religioso unem-se: Vieira argumenta junto aoTodo Poderoso que, no contexto das grandes 
expansões ultramarinas, coubera aos lusitanos expandir o catolicismo, vencendo, entre outros, os 
hereges holandeses, motivo por que agora Deus deveria dar a vitória na disputa pelo solo 
brasileiro aos seus desde sempre aliados. 
Sermão da Sexagésima 
Alicerçado na parábola bíblica do semeador, o jesuíta promove uma ferina crítica aos pregadores 
que enveredavam para o gongorismo vazio e retórico, estilo cujo acúmulo de antíteses 
dificultava a compreensão dos sermões, haja vista que os espectadores não possuíam a sofisticação 
necessária para entendê-los. 
 
Trecho do Sermão do bom ladrão (1655), de Padre Antônio Vieira 
 
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como 
fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o 
muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, 
respondeu assim. 
— Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma 
armada, sois imperador? 
— Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz 
os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as 
qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco 
pone latronem et piratam, quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o Rei de 
Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos 
têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. 
O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de 
que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do 
mesmo nome e do mesmo predicamento, distingue muito bem S. Basílio Magno(...) 
Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para 
lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a 
quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a 
administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. 
— Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam 
debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes 
furtam e enforcam. 
Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de 
varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: — Lá vão os 
ladrões grandes a enforcar os pequenos. Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as 
outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir 
a enforcar um ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um 
cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes 
mesmos ladrões triunfantes? (...)

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