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Infecções 
Parasitárias 
Caros alunos, as videoaulas desta disciplina encontram-se no AVA 
(Ambiente Virtual de Aprendizagem). 
 
 
 
Abertura 
 
Apresentação da disciplina 
Olá, futuro biomédico (a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Infecções Parasitárias! 
Nesta disciplina você irá conhecer o mundo fantástico dos parasitas que tem como 
hospedeiro o homem, causando doenças muito frequentes no Brasil e por isso 
extremamente importantes. A nossa disciplina ficou organizada da seguinte maneira: 
na primeira unidade você será apresentado(a) aos protoparasitas, conhecerá a sua 
morfologia, biologia e quais doenças eles causam no homem; na segunda unidade será 
a vez dos helmintos! Conhecendo melhor estes parasitas você estará apto(a) à 
desenvolver ações de planejamento, controle e erradicação de endemias. Além disso, 
a compreensão da morfologia e biologia das diferentes espécies é fundamental para 
que você realize futuramente, exames diagnósticos para estas parasitoses. Você com 
certeza não enxergará o mundo da mesma maneira depois que conhecer estes 
peculiares seres vivos. Espero que você tenha um ótimo proveito dessa disciplina, nos 
vemos em breve e bons estudos! 
 
Apresentação do Professor 
Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina, realizei 
Especialização em Biologia Aplicada à Saúde, Mestrado e Doutorado em Patologia 
Experimental e pós-doutorado pela mesma universidade. Ao longo destes anos de 
formação trabalhei com marcadores moleculares em doenças humanas, 
particularmente no câncer de mama, e atuei como docente nas disciplinas de 
Imunologia e Parasitologia, Básica e Médica. 
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2139894209106152 
 
Objetivos 
 O estudante de Biomedicina deverá conhecer o ciclo de vida, morfologia e 
profilaxia das principais protoparasitoses humanas; 
 Conhecer o ciclo de vida, morfologia e medidas profiláticas das principais 
helmintíases humanas. 
 
 
 
http://lattes.cnpq.br/2139894209106152
 
 
 
Unidade 1 
Principais protoparasitoses humanas. 
 
 
Introdução da Unidade 
 
Olá, amigo(a) discente! Seja bem-vindo(a)! 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde as doenças parasitárias estão entre as 
principais causas de morte no mundo, principalmente em regiões da América Latina e 
África. Uma de cada 10 pessoas sofre da infecção por uma ou mais das principais 
parasitoses humanas. Além da mortalidade resultante, essas doenças comprometem o 
desenvolvimento normal de crianças e limitam a capacidade de trabalho de adultos 
reduzindo a produtividade per capita da população. Nesta Unidade você será 
apresentado aos principais protozoários que parasitam o homem, com ênfase em sua 
morfologia, biologia, sua relação com o hospedeiro e quais medidas profiláticas podem 
ser adotadas para que sua prevalência seja reduzida. Ao compreender a natureza do 
processo parasitário e suas principais implicações médicas, o estudante de 
Biomedicina estará apto a cooperar de forma ativa nos trabalhos de planejamento e 
controle ou erradicação de endemias. 
 
Objetivos 
 O estudante de biomedicina deverá compreender a morfologia e biologia das 
principais espécies de protoparasitas humanos. 
 Descrever a relação parasito-hospedeiro e o ciclo biológico dos principais 
protozoários parasitas do homem. 
 Delinear medidas profiláticas para controle ou erradicação de endemias. 
 
Conteúdo Programático 
Aula 1: Principais parasitas do Filo Sarcomastigophora. 
 
Aula 2: Principais parasitas do Filo Apicomplexa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 1 Principais parasitas do Filo 
Sarcomastigophora 
 
Conceitos básicos de parasitologia 
O relacionamento entre os seres vivos visa dois aspectos fundamentais: a obtenção de 
alimento e/ou proteção. O parasitismo trata-se de uma relação ecológica entre espécies 
diferentes em que se observa, além de uma associação íntima e duradoura, uma dependência 
metabólica. 
Cada espécie de parasita possui seu próprio ciclo biológico que consiste em uma sequência de 
acontecimentos que ocorrem em sua vida, desde que é gerado até produzir sua própria 
descendência. É importante salientar que o parasita deve passar pelo menos uma parte do 
ciclo ou todo ele em um hospedeiro. Ao longo desta disciplina utilizaremos constantemente os 
termos hospedeiro definitivo e intermediário, mas qual a diferença entre eles? O hospedeiro 
definitivo é aquele que alberga a forma adulta do parasito ou aquele no qual ocorre 
reprodução sexuada, enquanto o intermediário é aquele que abriga a forma jovem do parasita 
ou no qual ocorre a reprodução assexuada. 
Alguns parasitas podem ser transmitidos por outros animais, estes são denominados vetores. 
Porém, existem dois tipos de vetores, os mecânicos e os biológicos. Os vetores mecânicos são 
apenas transmissores do parasita, ou seja, funcionam como um transporte. Enquanto nos 
biológicos o parasita se desenvolve, ou seja, sofre um processo evolutivo ou de multiplicação. 
Veremos também que algumas espécies de parasitas completam seu ciclo biológico 
necessitando apenas de um hospedeiro, estes parasitas são classificados como monoxenos, 
enquanto outras espécies necessitam de dois ou mais hospedeiros, estes são classificados 
como heteroxenos. Agora que você já sabe os conceitos básicos de parasitologia, vamos 
conhecer as principais espécies do Filo Sarcomastigophora, um grupo que reúne parasitas que 
apresentam flagelos ou pseudópodes! 
 
Trypanosoma cruzi 
O Trypanosoma cruzi é um protozoário agente etiológico da doença de Chagas que constitui 
uma parasitose frequente nas Américas, principalmente a Latina. Este parasita é classificado 
como heteroxeno pois necessita de dois hospedeiros para completar seu ciclo vida, um 
vertebrado e um invertebrado. Diferentes espécies de vertebrados tem sido encontradas 
infectadas pelo T. cruzi, incluindo além dos humanos, tatus, cães, gatos, marsupiais, morcegos, 
roedores, coelhos, entre outros. Já os hospedeiros invertebrados de T. cruzi são hemípteros 
hematófagos (se alimentam de sangue) da subfamília Triatominae, e são popularmente 
conhecidos como barbeiros, chupança ou bicho de parede. 
Estes insetos apresentam cabeça alongada e fusiforme, pescoço nítido unindo a cabeça ao 
tórax e medem de 1 a 4 cm de comprimento. No Brasil, pela ordem de importância, as 
principais espécies transmissoras do T. cruzi são as seguintes: Triatoma infestans, 
Panstrongylus megistus, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e T. sórdida. Com menor 
importância pode-se citar o Rhodnius neglectus, T. vitiiceps e T. rubrofasciata. Ambos, machos 
 
 
e fêmeas são hematófagos obrigatórios em todas as fases da vida e apresentam hábitos 
noturnos. Possuem habitat silvestre, vivendo em palmeiras, cascas de árvores, ninhos de aves, 
buracos de tatus, tocas de roedores, etc. Porém, a medida que vai avançando a interiorização, 
o homem destrói a mata e constrói habitações que favorecem o abrigo destes insetos, como as 
casas de pau a pique, cafuas e taipas. 
Todas as formas evolutivas do T. cruzi apresentam uma organela especial 
denominada cinetoplasto, que constitui uma mitocôndria modificada, rica em DNA. No 
hospedeiro vertebrado são encontradas as formas amastigotas, que podem parasitar qualquer 
tipo celular, e as tripomastigotas presentes no sangue circulante. As tripomastigotas 
apresentam morfologia alongada com cinetoplasto posterior ao núcleo, o flagelo forma uma 
extensa membrana ondulante e torna-se livre na porção anterior da célula. A forma 
amastigota é arredondada ou oval, com flagelo curto que não se exterioriza. 
No hospedeiro invertebrado são encontradas as formas esferomastigotas, presentes no 
estômago e intestino do triatomíneo, formas epimastigotas, presentes em todo o intestino 
e tripomastigotas metacíclicas, presentes no reto, estas últimas são as formas infectantes 
para o hospedeiro vertebrado. A forma epimastigotaapresenta forma alongada com 
cinetoplasto justanuclear e anterior ao núcleo, possui membrana ondulante lateralmente 
disposta. A esferomastigota apresenta forma arredondada com flagelo livre, representando 
uma transição entre a forma amastigota e as formas flageladas. 
As únicas formas de T. cruzi que se multiplicam são as de amastigotas (no hospedeiro 
vertebrado) e de epimastigotas (no inseto vetor). Estas formas se multiplicam por um tipo de 
reprodução assexuada denominada divisão binária simples, através da qual ocorre duplicação 
e divisão celular, originando duas células filhas. 
O parasito é transmitido pelo triatomíneo e ocorre pela penetração de tripomastigotas 
metacíclicas (eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) 
através da pele ou mucosa. Outras formas de transmissão menos comuns incluem: transfusão 
sanguínea ou transplante de órgãos e congênita. Nos últimos anos tem crescido o número de 
pessoas infectadas pelo consumo de alimentos contaminados com fezes e/ou urina de 
triatomíneos infectados pelo T. cruzi. 
 
 
Figura 1. Diferentes formas evolutivas do Trypanosoma cruzi. Abreviaturas: c: cinetoplasto; f: flagelo; 
mo: membrana ondulante; n: núcleo. 
Fonte: Próprio autor. 
 
 
Videoaula 1 
Agora que você conhece os hospedeiros e as diferentes formas evolutivas do Trypanosoma 
cruzi assista ao vídeo para compreender o ciclo biológico do parasita! 
 
A Doença de Chagas pode ser sintomática (aparente) ou assintomática (inaparente), esta 
última sendo mais frequente. A fase aguda inicia-se com manifestações locais, quando o T. 
cruzi penetra na conjuntiva (sinal de Romaña) ou na pele (chagoma de inoculação). As 
manifestações gerais são representadas por febre, edema localizado e generalizado, 
poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações 
neurológicas. Alguns pacientes chagásicos após permanecerem assintomáticos por vários anos 
(forma indeterminada), com o correr do tempo apresentam sintomatologia relacionada com o 
sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva), ou ambos. Nesta fase o 
parasito encontra-se extremamente escasso e observa-se um intenso processo inflamatório. 
As manifestações cardíacas e digestivas apresentam alterações morfológicas e funcionais 
importantes, caracterizada por cardiomegalia e megaesôfago e/ou megacólon, 
respectivamente. 
Entre as medidas de profilaxia para a doença de Chagas podemos citar: melhoria das 
habitações rurais, de forma a reduzir esconderijos necessários para o alojamento dos 
barbeiros; combate ao barbeiro, através de inseticidas eficientes; triagem sorológica de doares 
de sangue e de órgãos; higienização correta de alimentos que possam conter fezes e/ou urina 
de triatomíneos; tratamento de pacientes infectados e a educação em saúde. 
 
Indicação de Leitura 
Para conhecer melhor este parasita e o inseto vetor leia os Capítulos 6, 11 e 39 do livro 
Parasitologia humana do autor David Pereira Neves (2016). 
 
Leishmania spp 
Os protozoários do gênero Leishmania são heteroxenos, cujos hospedeiros vertebrados 
incluem uma grande variedade de mamíferos e os hospedeiros invertebrados são fêmeas de 
insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos. 
Estes insetos possuem o corpo densamente coberto de pelos finos e caracterizam-se por 
possuir a cabeça posicionada formando um ângulo de 90° com o eixo longitudinal do tórax e 
quando em repouso as asas são mantidas em posição ereta. Os principais gêneros de 
flebotomíneos envolvidos na transmissão da Leishmania são o Lutzomyia e Phlebotomus, 
conhecidos popularmente como mosquito-palha, birigui ou cangalhinha. Somente as fêmeas 
são hematófagas e depositam os ovos em solo úmido e rico em matéria orgânica. 
Ao realizar o repasto sanguíneo a fêmea de flebotomíneo inocula formas promastigotas 
metacíclicas na derme do hospedeiro vertebrado. As promastigotas são alongadas com um 
flagelo livre e longo emergindo da porção anterior, com cinetoplasto em forma de bastão 
localizado à frente do núcleo. As formas flageladas expressam entre outras moléculas, um 
 
 
complexo lipofosfoglicano (LPG) e o gp63, uma metaloprotease, importantes para sua 
resistência no hospedeiro. 
As promastigotas são internalizadas por macrófagos, no interior dos quais se diferenciam em 
formas amastigotas. Estas formas são ovais, esféricas ou fusiformes com núcleo grande e 
arredondado, cinetoplasto em forma de bastonete, flagelo curto que não se exterioriza. No 
interior do macrófago se multiplica por divisão binária até ocupar todo o citoplasma e 
ocasionar a sua ruptura com consequente liberação dos parasitas no meio extracelular, os 
quais são internalizados por outros macrófagos. A infecção do hospedeiro invertebrado ocorre 
quando uma fêmea de flebotomíneo realiza repasto sanguíneo de um hospedeiro vertebrado 
infectado e ingere as formas amastigotas. No intestino médio do inseto as amastigotas se 
transformam em promastigotas que depois migram para as porções anteriores do aparelho 
digestivo do inseto, comprometendo a válvula do estomodeu. 
 
 
Figura 2. Diferentes formas evolutivas da Leishmania spp. Abreviaturas: c: cinetoplasto; f: 
flagelo; n: núcleo. 
Fonte: Próprio autor. 
 
Videoaula 2 
Agora que você conhece os hospedeiros e as diferentes formas evolutivas da Leishmania 
spp. assista ao vídeo para compreender os detalhes do ciclo biológico desse parasita! 
 
Diferentes espécies de Leishmania podem ocasionar leishmaniose tegumentar 
americana e leishmaniose visceral. As leishmanioses tegumentares incluem a leishmaniose 
cutânea, leishmaniose cutaneomucosa e leishmaniose cutânea difusa, que são determinadas 
de acordo com a espécie e o estado imunológico do paciente. 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1. Formas clínicas da leishmaniose tegumentar americana. 
Forma clínica Espécie de Leishmania Localização 
Leishmaniose 
cutânea 
L. amazonensis; L. braziliensis; L. 
guyanensis; L. lainsoni; L. naiffi 
Infecção confinada na derme 
Leishmaniose 
cutaneomucosa 
L. braziliensis 
Infecção na derme podendo 
disseminar para mucosas 
Leishmaniose 
cutânea difusa 
L. amazonensis 
Infecção confinada na derme 
podendo disseminar por todo 
o corpo 
 
A leishmaniose cutânea é caracterizada por lesões ulcerosas e indolores, únicas ou múltiplas, 
confinadas na derme (úlcera de Bauru), ocasionada por diferentes espécies 
de Leishmania (Tabela 1). A cutaneomucosa, provocada por Leishmania braziliensis se 
caracteriza por lesões destrutivas envolvendo mucosas e cartilagens. Enquanto a cutâneo 
difusa, causada por Leishmania amazonensis caracteriza-se por lesões nodulares não ulceradas 
confinadas na derme, espalhadas por todo o corpo. 
A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, trata-se de uma doença crônica, 
grave e de elevada letalidade, se não tratada. Causada por Leishmania donovani, L. chagasi e L. 
infantum, que são transmitidas pelo vetor Lutzomyia longipalpis. Cães e raposas são 
considerados reservatórios para esse parasita. Nesta doença ocorre a disseminação do 
parasita para diversos órgãos, tais como fígado, medula óssea, baço, linfonodos e intestino. 
As medidas profiláticas para a leishmaniose incluem: uso de repelentes, mosquiteiros de 
malha fina em portas e janelas, inseticidas em área domiciliar, limpeza de quintais e terrenos 
evitando acúmulo de lixo orgânico a fim de se evitar um criadouro potencial para o inseto 
vetor, construção de casas a pelo menos 500 m da mata, diagnóstico e tratamento precoce de 
pacientes infectados. 
 
Giardia duodenalis 
A Giardia duodenalis, também conhecida como G. intestinalis ou G. lamblia é a única espécie 
que parasita o homem, podendo infectar outros mamíferos. Cães e gatos são considerados 
reservatórios para este parasita. Trata-se de um parasita monoxeno, e portanto necessita de 
apenas um hospedeiro para completaro seu ciclo de vida. 
Apresenta duas formas evolutivas, o trofozoíto e o cisto. O trofozoíto é encontrado no 
intestino delgado, apresenta formato de pera (piriforme), simetria bilateral e achatamento 
dorsoventral. Esta forma apresenta quatro pares de flagelos, um anterior, um ventral, um 
 
 
posterior e um caudal. Trata-se de uma forma binucleada, cujos núcleos apresentam 
cariossomo central. Na face ventral, côncava, apresenta uma estrutura semelhante a uma 
ventosa conhecida como disco ventral, adesivo ou suctorial que tem por função aderir ao 
epitélio intestinal, um processo denominado atapetamento. Abaixo do disco é observada a 
presença de uma ou duas formações paralelas em forma de vírgula, conhecidas como corpos 
medianos ou corpos parabasais. 
Ao encistar-se o trofozoíto torna-se globoso, de aspecto ovóide com quatro núcleos, fibrilas 
longitudinais denominadas axonemas e corpos escuros em crescente correspondem a 
elementos estruturais que no trofozoíto originarão os flagelos e o disco adesivo, 
respectivamente. 
 
 
Figura 03. Formas evolutivas de Giardia duodenalis. A. trofozoíto com quatro pares de 
flagelos, binucleado e corpos medianos. B. cisto com quatro núcleos, axonemas e corpos 
escuros. 
 
A transmissão ocorre por via fecal-oral, sendo adquirida principalmente pela ingestão de água 
ou alimentos contaminados com cistos. Além disso, pode ser transmitida por via direta de 
pessoa a pessoa por meio de mãos contaminadas. 
 
Videoaula 3 
Assista à videoaula para compreender o ciclo biológico da Giardia duodenalis! 
 
A giardíase caracteriza-se por diarreia com fezes explosivas, esteatorreicas (oleosas) e de odor 
fétido. É comum os pacientes apresentarem gases, cólicas abdominais, distensão abdominal, 
podendo apresentar perda de peso, náuseas com ou sem vômitos e febre baixa. Em crianças a 
alta carga parasitária pode comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo. 
As medidas profiláticas para esta parasitose incluem: saneamento básico; tratamento da água; 
higienizar alimentos como verduras e legumes; proteger os alimentos de vetores mecânicos, 
como moscas e baratas; consumir sempre água filtrada ou fervida; medidas de higiene pessoal; 
diagnóstico e tratamento precoce de indivíduos parasitados. 
 
 
Trichomonas vaginalis 
A Trichomonas vaginalis habita o trato genitourinário do homem e da mulher, onde produz 
infecção e não sobrevive fora do sistema urogenital. Contrariando o que ocorre na maioria dos 
protozoários, não apresenta forma de cisto. 
A T. vaginalis é uma célula polimorfa, podendo apresentar formatos oval, esférico ou 
piriforme. Apresenta quatro flagelos anteriores livres e um flagelo recorrente, voltado para 
trás mantendo-se aderente em toda a sua extensão ao corpo celular por uma prega que 
constitui a membrana ondulante. Percorrendo toda a extensão do corpo celular está 
o axóstilo em forma de fita, constituído pela justaposição de microtúbulos (Figura 04). 
 
 
Figura 04. Morfologia do trofozoíto de Trichomonas vaginalis. ax: axóstilo; n: núcleo; fl: flagelo livre: fr: 
flagelo recorrente; mo: membrana ondulante. 
Fonte: Modificado de Rey, 2008. 
 
Este parasita localiza-se no trato genital feminino e na uretra e próstata do trato genital 
masculino, onde se replica por divisão binária. Como não apresenta forma cística, não 
sobrevive no meio externo e a transmissão ocorre entre humanos (único hospedeiro) por meio 
da relação sexual. 
A tricomoníase é mais evidente na mulher e pode se apresentar com corrimento, prurido, 
irritação vulvovaginal, dores no baixo ventre, dor e dificuldade para relações sexuais, dor ao 
urinar e aumento da frequência miccional. Pode gerar complicações como cervicite, 
infertilidade e câncer cervical. Em homens sintomáticos pode ocasionar uretrite, prostatite, 
balanopostite, cistite e câncer de próstata. 
A profilaxia desta parasitose inclui o uso de preservativos durante a relação sexual, abstinência 
sexual com pessoas infectadas, tratamento simultâneo de parceiros sexuais, mesmo que 
apenas um deles apresente os sintomas e evitar o compartilhamento de peças íntimas. 
 
Indicação de Leitura 
Para conhecer melhor este parasita leia os Capítulos 13 do livro Parasitologia humana do autor 
David Pereira Neves (2016). 
 
 
Entamoeba histolytica 
As amebas são amplamente dispersas na natureza e são caracterizadas por não terem uma 
forma definida, uma vez que projetam pseudópodes para locomoção e alimentação. Várias 
espécies de amebas podem ser encontradas parasitando o homem, porém, apenas 
a Entamoeba histolytica pode ser patogênica e causar amebíase. 
O gênero Entamoeba é caracterizado por apresentar núcleo esférico de aspecto vesiculoso e 
cuja membrana delgada é revestida, internamente, de grânulos cromáticos (cromatina 
periférica), enquanto um ou mais grânulos se reúnem no centro ou perto dele, formando uma 
estrutura denominada cariossoma. As amebas se distinguem uma das outras pelo tamanho do 
trofozoíto e do cisto, pela estrutura e pelo número de núcleos nos cistos, pelo número e 
formas de inclusões citoplasmáticas. As duas espécies de Entamoeba mais comuns parasitando 
o homem são a E. coli e a E. histolytica. 
O trofozoíto de Entamoeba coli mede de 20 a 50μm, o citoplasma não é diferenciado em endo 
e ectoplasma, o núcleo é caracterizado por apresentar uma cromatina espessa e irregular com 
cariossoma grande e excêntrico (situado fora do centro). Já o cisto desta espécie de ameba 
caracteriza-se por ser ovoide de parede cística espessa podendo conter até 8 núcleos. Podem 
estar presentes formações refringentes lembrando agulhas ou espículas, são os corpos 
cromatóides. 
A Entamoeba histolytica é idêntica morfologicamente à Entamoeba dispar, no entanto esta 
última é comensal. Ambas apresentam trofozoíto com núcleo único com cariossoma central. O 
citoplasma apresenta-se dividido em ectoplasma, que é claro e hialino e endoplasma que é 
finamente granuloso com vacúolos, núcleo e restos de substâncias alimentares. Os cistos 
apresentam corpos cromatoides em forma de bastonetes, quatro núcleos com cariossoma 
pequeno e central. Os trofozoítos normalmente vivem na luz do intestino grosso, podendo 
ocasionalmente, penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou em outros órgãos, 
como fígado, pulmão, rim e mais raramente cérebro. 
Já na massa fecal, algumas formas trofozoítas reduzem sua atividade, deixam de emitir 
pseudópodes, fagocitar e formar vacúolos digestivos, diminuem de tamanho e se arredondam 
para constituir uma forma pré-cística. O cisto é esférico ou oval e os núcleos podem 
apresentar até 4 núcleos com cariossoma pequeno situado no centro do núcleo. Os corpos 
cromatóides, quando presentes nos cistos, têm a forma de bastonetes ou de charutos, com 
pontas arredondadas. Também são encontradas reservas de glicogênio. Do cisto emerge uma 
forma multinucleada denominada metacisto que sofre divisões dando origem aos trofozoítos. 
O ciclo biológico é monoxênico e inicia-se com a ingestão de cistos maduros, geralmente com 
água ou alimentos contaminados. O desencistamento ocorre no intestino delgado do qual 
emerge uma forma tetranucleada que sofre divisões gerando 8 metacistos. Estes se alimentam 
e crescem alcançando a fase trofozoítica. Estas formas são muito ativas e fagocitam bactérias e 
outras partículas nutritivas do meio, podendo se multiplicar indefinidamente na luz do 
intestino grosso. Em dado momento, já na massa fecal algumas formas trofozoíticas reduzem 
sua atividade, deixam de emitir pseudópodes, diminuem de tamanho e formam um pré-cisto. 
Em torno das amebas pré-císticas é segregado um envoltório resistente, a parede cística. 
Aparecem corpos cromatóides e vacúolos de glicogênio, o núcleo se divide duas vezes, 
formando o cisto típico com quatro núcleos, capaz de resistes às condições ambientais. 
 
 
 
 
Figura 05. Morfologia de Entamoeba histolytica.1 e 2 trofozoítos, 3 cisto maduro, 4 cisto imaturo. c: 
corpo cromatóide; ec: ectoplasma; en: endoplasma; n: núcleo. 
Fonte: Modificado de Neves, 2016. 
 
Indicação de Leitura 
Para entender melhor as diferenças morfológicas entre Entamoeba histolytica e Entamoeba 
coli, leia o Capítulo 15 do livro Parasitologia humana do autor David Pereira Neves (2016). 
Cerca de 80 a 90% dos pacientes infectados por E. histolytica são assintomáticos. A forma 
sintomática mais comum é a colite não disentérica que se manifesta por duas a quatro 
evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, as vezes contendo muco 
ou sangue. Alguns pacientes podem apresentar a disenteria amebiana, acompanhada de 
cólicas intestinais e diarreia com evacuações mucossanguinolentas ou com predominância de 
muco ou de sangue. Embora raro, alguns pacientes podem evoluir para amebíase extra-
intestinal, onde o abcesso amebiano no fígado é a forma mais comum. 
As principais medidas profiláticas para amebíase são: saneamento básico; tratamento dos 
casos e portadores assintomáticos, combate aos vetores mecânicos, como moscas e baratas; 
Higienização das mãos e dos alimentos; consumir sempre água filtrada ou fervida; educação 
em saúde. 
 
 
 
 
Figura 06: Ciclo biológico de Entamoeba histolytica. 
Fonte: Neves, 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 2 Principais parasitas do Filo 
Apicomplexa 
 
Os Apicomplexa são protozoários parasitos obrigatórios intracelulares que apresentam um 
ciclo biológico onde se alternam a reprodução sexuada e a assexuada, caracterizam-se por 
possuírem no polo anterior de seu corpo alongado, durante as fases com capacidade invasora, 
uma estrutura celular especial denominada complexo apical, utilizada para a penetração na 
célula do seu hospedeiro e para a formação e manutenção do vacúolo parasitóforo. Quando 
bem desenvolvido, o complexo apical compreende estruturas em forma de anéis polares 
situados sob a membrana e centrados em torno de uma pequena depressão onde vêm 
terminar 2 a 8 organelas alongadas denominadas roptrias e outras conhecidas como 
micronemas, além de granulações densas ou corpos esféricos. 
 
Plasmodium spp 
Apenas quatro espécies do gênero Plasmodium parasitam o homem: Plasmodium falciparum, 
P. vivax, P. malariae e P. ovale, sendo os dois primeiros os mais frequentes no Brasil. Estes 
parasitas são causadores da malária. Apesar de muito antiga, esta doença continua sendo um 
dos principais problemas de saúde pública no mundo. 
O Plasmodium trata-se de um parasita heteroxeno, cujo hospedeiro invertebrado pertence ao 
gênero Anopheles. No Brasil, temos quatro espécies de Anopheles: A. darlingi, A. aquasalis, A. 
cruzii e A. bellator. 
As fêmeas depositam os ovos em habitats aquáticos limpos, pobres em matéria orgânica e 
sais. Estes ovos são depositados isoladamente e são caracterizados por possuir flutuadores. 
Somente as fêmeas realizam o hematofagismo e podem transmitir o parasita, apresentam 
maior atividade no período crepuscular ou noturno em temperatura e umidade elevadas. O 
inseto adulto apresenta menos de 1cm, corpo delgado e longas pernas, quando pousados 
apresentam posição oblíqua à superfície. 
Apesar de infrequente a infecção malárica pode ser transmitida acidentalmente, como 
resultado de transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas contaminadas e acidentes 
de laboratório. A infecção congênita também tem sido relatada. 
A infecção humana inicia-se com a injeção, durante o repasto sanguíneo, de esporozoítos, 
alojados nas glândulas salivares de fêmeas de anofelinos. A eficiência da invasão e a 
especificidade da célula-alvo sugerem a participação de moléculas do parasita e receptores 
específicos na superfície da célula hospedeira. Os esporozoítos apresentam afinidade por 
hepatócitos e dão início ao ciclo hepático no homem. Após invadir esta célula, os esporozoítos 
se diferenciam em trofozoítos que se multiplicam por esquizogonia, um tipo de reprodução 
assexuada, dando origem aos esquizontes e posteriormente a milhares de merozoítas, os 
quais tem afinidade por eritrócitos. Nas infecções por P. vivax e P. ovale, o mosquito vetor 
inocula populações geneticamente distintas de esporozoítos: algumas se desenvolvem 
rapidamente enquanto outras ficam em estado de latência no hepatócito, sendo por isso 
denominadas hipnozoítos. Estas formas são responsáveis pelas recaídas tardias da doença. 
 
 
Ao invadirem hemácias os merozoítos iniciam o ciclo eritrocítico no homem. A interação dos 
merozoítos com a hemática envolve o reconhecimento de receptores específicos. No interior 
das hemácias ocorre a diferenciação em trofozoíto jovem, seguida pelo trofozoíto 
maduro, esquizonte e merozoítas, que por fim ocasionam o rompimento da hemácia e a 
invasão de novas células. 
No sangue, este ciclo esquizogônico repete-se a intervalos regulares e são característicos para 
cada espécie: 36 a 48 horas para P. falciparum, 48 horas para P. vivax e P. ovale ou 72 horas 
para P. malariae. Essa periodicidade se relaciona diretamente com o ritmo das crises febris 
observadas em cada forma de malária. P. falciparum ocasiona a febre terça maligna, P. 
vivax e P. ovale a febre terça benigna e P. malariae a febre quartã benigna. 
Depois de algumas gerações de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação em estágios 
sexuados, os gametócitos, que não mais se dividem e que seguirão o seu desenvolvimento no 
mosquito vetor. O gametócito feminino é denominado macrogametócito e o masculino é 
denominado microgametócito. 
Quando o anofelino suga o sangue de um paciente portador dessas formas sexuadas, os 
elementos do sangue são digeridos no estômago do inseto, degenerando também todas as 
formas evolutivas do parasito ingeridas pelo mosquito, com exceção dos gametócitos. O 
macrogametócito se desenvolverá em macrogameta e o microgametócito sofrerá três mitoses 
que resultarão oito núcleos filhos e a formação de microgametas. Cada microgameta se 
desprende da massa residual de citoplasma, um processo denominado exflagelação, e parte 
em busca de gametas femininos. Após a fusão dos gametas o zigoto, denominado oocineto, 
desloca-se com movimentos ameboides atravessando o epitélio e a membrana basal. Aí 
segrega um envoltório protetor e transforma-se em oocisto. No interior dessa estrutura sofre 
um processo de multiplicação esporogônica, produzindo em seu interior milhares de 
esporozoítos que depois migram para a glândula salivar do inseto. 
Os trofozoítas e esquizontes sanguíneos alimentam-se da hemoglobina, contida nas hemácias. 
 
Videoaula 1 
Conhecendo os aspectos gerais do ciclo biológico do Plasmodium, assista à videoaula para 
esclarecer e fixar os detalhes deste parasitismo! 
 
Morfologia das formas evolutivas do Plasmodium 
 Esporozoita: São alongados com extremidades afiladas. Possui na extremidade 
anterior o complexo apical, no terço médio encontra-se o núcleo alongado. A 
membrana externa formada por duas camadas encontra-se revestida de proteínas 
circum-esporozoíta 
 Merozoíta: Assemelham-se aos esporozoítos, porém são menores e arredondados, 
tendo uma membrana externa composta por três camadas. 
 Microgameta: Composta de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. 
 Macrogameta: célula que apresenta estrutura proeminente na superfície, por onde se 
dá a penetração do microgamenta (fecundação). 
 
 
 Oocineto: forma alongada de aspecto vermiforme, móvel, contém um núcleo 
volumoso e excêntrico (situado fora do centro). 
 Oocisto: Esférico, envolto por uma cápsula com espessura em torno de 0,1μm, Um 
único oocisto pode produzir em média 1.000 esporozoítos. 
 
 
Figura 6. A: hemácias parasitadas com trofozoítos jovens de Plasmodium falciparum; B: hemácias 
parasitadas com trofozoítos jovens, no centro do campo evidencia-se um macrogametócito 
de Plasmodium falciparum com formato típico alongado e curvo.Tabela 02. Características morfológicas das formas eritrocíticas das diferentes espécies 
causadoras de malária humana. 
Forma evolutiva P. falciparum P. vivax P. malariae P. ovale 
Trofozoíto jovem 
Citoplasma 
delgado e 
núcleo com 
cromatina 
pequena e 
saliente (forma 
em anel). 
Poliparasitismo 
frequente 
Citoplasma 
espesso. 
Núcleo com 
cromatina 
única e 
interna. 
Poliparasitismo 
raro. 
Citoplasma 
espesso. 
Núcleo com 
cromatina 
média e 
única. Ocupa 
1/3 do 
volume da 
hemácia. 
Citoplasma 
espesso. 
Núcleo com 
cromatina 
única e 
interna. 
Trofozoíto 
maduro 
Raro no 
sangue 
periférico. 
Pequeno e 
compacto. 
Citoplasma 
Citoplasma 
irregular e com 
aspecto 
ameboide. 
Citoplasma 
compacto, 
arredondado. 
Cromatina 
pouco visível. 
Disposição 
Citoplasma 
irregular e 
com aspecto 
ameboide. 
 
 
espesso e 
cromatina 
indistinta. 
Cromatina 
isolada. 
em faixa 
equatorial na 
hemácia. 
Cromatina 
isolada. 
Esquizonte 
Raro no 
sangue 
periférico. 
Arredondado. 
Citoplasma 
pouco 
deformado. 
Cromatina 
separada em 
grânulos 
grossos. Média 
de 22 
merozoítos. 
Forma 
ameboide. 
Citoplasma 
irregular 
vacuolizado. 
Cromatina 
segmentada. 
Média de 16 
merozoítas. 
Cromatina 
pouco 
segmentada. 
Posição em 
banda 
equatorial. 
Média de 8 
merozoítos, 
formando 
uma roseta. 
Forma 
ameboide. 
Citoplasma 
irregular. 
Cromatina 
segmentada. 
Média de 8 
merozoítas. 
Macrogametócito 
Alongados e 
curvos, forma 
de crescente 
ou foice. 
Citoplasma 
abundante, 
contorno 
arredondado 
ou oval, núcleo 
grande. Ocupa 
quase todo 
volume do 
eritrócito. 
Semelhante 
ao do P. 
vivax, 
diferindo 
apenas por 
seu tamanho 
menor 
Semelhante 
ao do P. 
vivax, 
diferindo 
apenas por 
seu 
tamanho 
menor 
Microgametócito 
Mais curto e 
menos 
encurvado 
Citoplasma 
azul-pálido e 
cromatina 
frouxa 
Cromatina 
única e 
menos 
distinta e 
mais difusa 
Cromatina 
difusa 
Fonte: Adaptado de Neves (2016) 
 
Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas da malária. A 
passagem do parasita pelo fígado não é patogênica e não determina sintomas. A evolução 
clínica do paciente depende de diversos fatores, como: espécie de Plasmodium, idade, estado 
nutricional, estado imunológico e genética. Com o decorrer do tempo há uma tendência de 
sincronização das esquizogonias nas hemácias fazendo com que os acessos febris venham a 
 
 
intervalos regulares. Além do acesso febril característico desta doença, o paciente pode 
apresentar: esplenomegalia, anemia, hipoglicemia, insuficiência renal, edema pulmonar, 
malária cerebral e acidose metabólica. 
Dentre as medidas profiláticas para esta doença estão: combate ao vetor através do uso de 
inseticidas, eliminação de criadouros, uso de repelentes, uso de telas em portas e janelas, uso 
de mosquiteiros para dormir, evitar áreas de risco após o entardecer e ao amanhecer, 
diagnóstico e tratamento dos pacientes infectados. No ano de 2019 foi implementada no 
programa de imunização a vacina RTS,S em três países na África (Ghana, Kenya e Malawi), a 
primeira vacina contra a malária, especificamente contra o Plasmodium falciparum. 
 
Toxoplasma gondii 
A infecção pelo Toxoplasma gondii constitui uma das zoonoses mais difundidas no mundo. Em 
todos os países, grande parte da população humana e animal (mais de 300 espécies de 
animais, entre mamíferos e aves) apresenta parasitismo por esta espécie. 
Sabe-se que tanto felídeos domésticos como os selvagens são os únicos animais que podem 
realizar o ciclo sexuado, eliminando após a primeira infecção, milhões de oocistos imaturos nas 
fezes. 
Taquizoítos são encontrados durante a fase aguda da infecção, apresentam forma curva (de 
banana ou meia-lua), com uma das extremidades mais afilada e a outra mais arrendondada. Se 
multiplicam rapidamente por um processo denominado endodiogenia, um tipo de reprodução 
assexuada no qual células-filhas são geradas no interior de uma célula mãe que depois se 
degenera (Figura 7). 
 
 
Figura 7. Representação esquemática da reprodução de Toxoplasma gondii por endodiogenia. 
Fonte: Rey (2008). 
 
Os taquizoítos são encontrados dentro do vacúolo parasitóforo em várias células como 
macrófagos, hepatócitos, células pulmonares, nervosas, submucosas e musculares. 
Por outro lado, os bradizoítos (Figura 9) são encontrados na fase crônica da infecção. 
Assemelham-se morfologicamente aos taquizoitos, porém, são mais resistentes e se 
multiplicam lentamente, podendo permanecer viáveis nos tecidos por vários anos. Ficam 
localizados em vacúolos parasitóforos cuja membrana forma a cápsula do cisto tecidual. 
 
 
O oocisto é a forma de resistência do T. gondii, apresenta parede dupla e contém em seu 
interior dois esporocistos com quatro esporozoítos em cada. Estão localizados nas células 
intestinais dos felinos e são eliminados junto com as suas fezes. 
 
 
Figura 8. Representação esquemática da forma infectante (taquizoíto) de Toxoplasrna 
gondii caracterizada por anel polar (AP), conóide (C), micronemas (M), roptrias (R), grânulos densos 
(GD), apicoplasto (A), microporo (Mp), membrana plasmática (MP), complexo da membrana interna 
(CMI), retículo endoplasmático (RE), complexo de Golgi (CG), núcleo (N) e mitocôndria (Mi). 
Fonte: Neves (2016). 
 
 
Figura 9. Cisto com bradizoítos (Bra) em tecido muscular (fase crônica). 
Fonte: Neves (2016). 
 
O ciclo biológico do T. gondii desenvolve-se em duas fases distintas, uma assexuada que ocorre 
nos linfonodos e nos tecidos de vários hospedeiros (inclusive gatos e outros felídeos) e uma 
sexuada, que ocorre nas células do epitélio intestinal de gatos jovens (e outros felídeos) não 
imunes. Portanto, este parasita é classificado como heteroxeno. Os felídeos são considerados 
hospedeiros definitivos por possuírem a fase sexuada, enquanto o homem e outros mamíferos 
e aves, são classificados como hospedeiros intermediários, pois possuem apenas o ciclo 
assexuado. 
 
 
Um hospedeiro intermediário, o homem por exemplo, pode se infectar através da ingestão de 
oocistos maduros contendo esporozoítos, encontrados em alimentos ou água contaminada, 
cistos contendo bradizoítos encontrados em carne crua, ou mais raramente, taquizoítos 
eliminados no leite. Cada esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto, liberado no tubo digestivo, 
após rápida passagem pelo epitélio intestinal e invadirá vários tipos de células do organismo 
formando um vacúolo parasitóforo onde sofrerão divisões sucessivas por endodiogenia, 
formando novos taquizoítos, que irão romper a célula parasitada, liberando novos taquizoítos 
que invadirão novas células. Essa disseminação do parasito no organismo ocorre através de 
taquizoítos livres na linfa ou no sangue circulante. Com o desenvolvimento da imunidade, os 
parasitos extracelulares desaparecem do sangue, da linfa e dos órgãos viscerais, ocorrendo 
uma diminuição do parasitismo. Alguns parasitos evoluem para a formação de cistos. Essa fase 
cística, caracteriza a fase crônica. 
Quando um felídeo não imune, infecta-se oralmente por oocistos, cistos ou taquizoítos, 
desenvolvem o ciclo sexuado. Os esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos ao penetrarem nas 
células do epitélio intestinal do gato sofrem um processo de multiplicação por endodiogenia e 
esquizogonia, dando origem a vários merozoítos. O conjunto desses merozoítos formados 
dentro do vacúolo parasitóforo da célula é denominado esquizonte, ou meronte. O 
rompimento da célula parasitada libera os merozoítos que penetrarão em novas células 
epiteliais e se transformarão nas formas sexuadas masculinas ou femininas: os gametócitos, 
que após um processo de maturação formarão os microgametas e macrogametas. O 
macrogameta (gameta feminino) permanecerá dentro de uma célula epitelial, enquanto os 
microgametasmóveis (gameta masculino) saem de sua célula e fecundam o macrogameta, 
formando o zigoto. Este evolui dentro do epitélio, formando uma parede externa dupla, dando 
origem ao oocisto. A célula epitelial sofre rompimento em alguns dias, liberando o oocisto 
ainda imaturo. Esta forma alcança o meio exterior com as fezes. A sua maturação no meio 
exterior ocorre por um processo denominado esporogonia, após um período de cerca de 
quatro dias, e apresenta dois esporocistos contendo quatro esporozoítos cada. O oocisto, em 
condições de umidade, temperatura e local sombreado favorável, é capaz de se manter 
infectante por cerca de 12 a 18 meses. 
O ser humano adquire a infecção por três vias principais: ingestão de oocistos presentes em 
alimento ou água contaminadas, jardins, caixas de areia, latas de lixo ou disseminados 
mecanicamente por moscas, baratas, minhocas, etc; ingestão de cistos encontrados em carne 
crua ou malcozida; congênita ou transplacentária. 
 
Videoaula 2 
Assista à videoaula para compreender o ciclo biológico da Toxoplasma gondii! 
 
 
 
Figura 10. Oocisto de Toxoplasma gondii. Os oocistos apresentam dois esporocistos em seu interior, 
contendo quatro esporozoítos cada, são eliminados junto com as fezes dos felídeos. 
 
Geralmente o T. gondii parasita sem produzir sinais clínicos. Apenas em raras ocasiões o 
parasito causa manifestações clínicas graves. Quando o parasita se dissemina pode causar 
áreas de necrose no órgão envolvido e pode levar até a morte do hospedeiro. Para que ocorra 
a toxoplasmose pré-natal é necessário que a gestante na fase aguda da doença, onde alguns 
taquizoítos podem atravessar a placenta e disseminar nos tecidos fetais. As consequências da 
doença dependerão do grau de exposição do feto ao parasito, da virulência da cepa, da 
capacidade dos anticorpos maternos de protegerem o feto e do período da gestação. As 
manifestações clínicas da toxoplasmose pré-natal são diversas: aborto; nascimento prematuro; 
anomalias; coriorretinite; calcificações cerebrais; comprometimento ganglionar; 
hepatoesplenomegalia; miocardite; anemia; trombocitopenia; pneumonite; macro ou 
microcefalia e encefalite. Em imunocompetentes a toxoplasmose pós-natal costuma ser 
assintomática ou com quadro clínico indefinido. Pacientes imunossuprimidos podem sofrer de 
coriorretinite ou encefalite. 
As medidas profiláticas para toxoplasmose incluem: não se alimentar de carne crua ou 
malcozida de qualquer animal ou leite cru; controlar a população de gatos na cidade e em 
fazendas; os criadores de gatos devem manter os animais dentro de casa e alimentá-los com 
carne cozida ou seca, ou com ração de boa qualidade; incinerar todas as fezes dos gatos; 
proteger as caixas de areia para evitar que os gatos defequem nesse local; recomenda-se o 
exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes com ou sem histórico de 
enfartamento ganglionar ou aborto. 
 
Cryptosporidium spp 
A criptosporidíase é uma importante doença intestinal causada por protozoário do 
gênero Cryptosporidium, que afeta humanos e outros mamíferos. Cryptospordium parvum e C. 
hominis são as duas espécies que apresentam maior ocorrência e relevância em saúde 
pública. C. meleagridis é a terceira espécie de maior ocorrência, causando infecção em 
 
 
crianças imunocompetentes e indivíduos portadores de HIV, inclusive no Brasil. Trata-se de 
uma parasitose cosmopolita e estudos revelam que o aumento da temperatura e da 
precipitação está associado à maior incidência da infecção. A prevalência dessa parasitose é 
variável e depende de fatores que interferem na sua ocorrência, destacando-se a eles a idade, 
os hábitos das populações, a época do ano, área geográfica, densidade populacional, estado 
nutricional e imunológico. Esta prevalência costuma ser maior em crianças, entre 6 meses a 2 
anos de idade. 
Sabe-se que mais de 150 espécies de mamíferos pertencentes a 12 ordens são hospedeiras 
de Cryptosporidium. Este parasita desenvolve-se preferencialmente nas microvilosidades de 
células epiteliais dos tratos gastrointestinal e respiratório e, ocasionalmente, epitélio renal. 
Esse protozoário monoxeno pode colonizar sítios extraintestinais como vesícula biliar, ductos 
pancreáticos, esôfago e faringe. O Cryptostporidium parasita a parte externa do citoplasma da 
célula, passando a impressão de se localizar fora dela, esta localização é designada por vários 
autores como intracelular extracitoplasmática. 
A duração do ciclo de vida, ou período pré-patente, varia de 4 a 22 dias antes da primeira 
aparição de oocistos nas fezes de indivíduos imunocompetentes ou imunossuprimidos. 
Ao ingerir o oocisto, as enzimas pancreáticas e os sais biliares do trato gastrintestinal agem 
sobre a parede do oocisto, provocando o desencistamento e a liberação de 
quatro esporozoítos, que invadem ativamente as células epiteliais do intestino delgado. 
Chegando no intestino os esporozoítos, que possuem um complexo apical, são liberados e 
fixam-se às células epiteliais, onde farão esquizogonia e esporogonia. 
A esquizogonia (também chamada de merogonia), produz uma geração de esquizonte (ou 
meronte tipo I) com seis a oito merozoítas do tipo I. Estes merozoítas podem invadir outras 
células epiteliais, completando outro ciclo de formação de merozoítas do tipo I ou gerar 
esquizontes com quatro merozoítas do tipo II. Estes merozoítas do tipo II não geram outros 
merozoítas, mas após infectarem uma célula epitelial originam as formas sexuais do parasita, 
o macrogametócito e microgametócito, os quais produzem macrogameta e microgametas, 
respectivamente, por um tipo de multiplicação sexuada denominada gametogonia. Resultam 
da fusão desses gametas os oocistos, dentro dos quais ocorre a reprodução sexuada, 
chamada esporogonia, gerando em seu interior quatro esporozoítos haploides. Desta forma, 
os oocistos esporulam no interior de seu hospedeiro e são eliminados já infectantes para o 
meio ambiente. Existem dois tipos de oocistos: de parede delgada, que se rompem no 
intestino delgado e, acredita-se que são responsáveis pelos casos de autoinfecção e; oocistos 
de parede espessa, que são eliminados para o meio externo juntamente com as fezes. 
 
 
 
 
Figura 11. Cryptosporidium parvum no epitélio intestinal do camundongo, ocupando uma posição 
intracelular extracitoplasmática. 
A. Oocisto maduro com seus quatro esporozoítos. B. Fim da esquizogonia. 
Fonte: Rey (2008). 
 
Videoaula 3 
Sabendo as diferentes formas evolutivas e os aspectos gerais do ciclo biológico 
do Cryptosporidium, assista ao vídeo para revisá-lo e entender melhor todas as etapas de 
desenvolvimento deste parasita! 
 
Os oocistos de Cryptosporidium são pequenos, esféricos ou ovoides, medindo cerca de 2,9 a 
6,5μm, contém quatro esporozoítos livres no seu interior. Por serem pequenos e leves se 
dispersam no ambiente através do ar, insetos, vestuário e fezes humanas e de animais, 
contaminando água e alimentos. Em condições adequadas de umidade e temperatura 
moderada permanecem viáveis e infectantes no ambiente por várias semanas. Resistem a 
ação da maioria dos desinfetantes usuais, inclusive ao cloro. 
A infecção humana ocorre por meio da ingestão ou inalação de oocistos, ou ainda pela 
autoinfecção. A transmissão é feita pelas seguintes vias: de pessoa a pessoa, observada em 
ambientes com alta densidade populacional, como em creches e hospitais e pelo contato 
direto e indireto. Existe a possibilidade de transmissão por meio de atividades sexuais; pelo 
consumo de água ou contato com água de recreação contaminada com oocistos; pelo 
consumo de alimentos contaminados com oocistos; contato com animais que se encontram 
eliminando oocistos, portanto a criptosporidíase é considerada uma zoonose; por meio de 
aerossóis contendo oocistos, este tipo de transmissão respiratório pode ser de relevância em 
ambientes fechados ou institucionalizados que favorecemo contato interpessoal. 
 
 
 
 
Figura 12. Oocisto de Cryptosporidium parvum corado de vermelho presente em amostra de fezes de 
paciente infectado. Esta forma infectante é pequena, de formato esférico e contém em seu interior 
quatro esporozoítas. 
 
Em humanos, a criptosporidíase se apresenta na forma de duas doenças distintas: uma 
autolimitada e de curta duração em imunocompetentes, e uma persistente diarreia crônica em 
pacientes imunodeficientes. Portanto, a gravidade da doença é determinada pela competência 
imunológica. Nos imunocomprometidos o desequilíbrio eletrolítico, a má absorção, 
emagrecimento acentuado e manifestações atípicas como doença do trato biliar, do trato 
respiratório e pancreatite estão associados à uma mortalidade elevada. 
Em crianças, os sintomas são mais graves e podem ser acompanhados de vômitos e 
desidratação. Crianças são vulneráveis a apresentarem infecção persistente, sobretudo nos 
casos associados à desnutrição. A infecção na infância pode ocasionar déficit de crescimento, 
perda de peso e o desenvolvimento cognitivo é prejudicado, sobretudo nos países onde a 
parasitose é endêmica. Atualmente não existe um tratamento específico para 
o Cryptosporidium e a maioria dos fármacos testados não apresentou eficácia comprovada e 
consistente. Em imunocompetentes geralmente há cura espontânea. 
A profilaxia e o controle da doença são feitos pela adoção de medidas que previnam ou evitem 
a contaminação do ambiente, água e alimentos com oocistos do parasito e o contato de 
pessoas suscetíveis com fontes de infecção. Devem ser utilizadas fossas ou privadas, com 
proteção dos reservatórios de água para evitar a contaminação com fezes. Cuidados especiais 
com higiene pessoal. Pacientes de alto risco devem ser orientados para não consumirem 
mariscos (moluscos bivalves) crus ou malcozidos, pois estes são animais filtradores e 
acumulam oocistos nos seus tecidos quando habitam ambientes aquáticos contaminados. 
Consumir água sempre fervida ou filtrada, inclusive para preparo de alimentos e cubos de gelo. 
 
 
 
 
 
 
Encerramento 
Nesta unidade você pôde conhecer melhor algumas espécies de protozoários que podem 
parasitar o homem e causar doenças. Você aprendeu que muitas espécies precisam de vetores 
para que o seu ciclo de vida seja completado, como é o caso do Trypanosoma cruzi e 
da Leishmania, por exemplo, que precisam dos triatomíneos e flebotomíneos, 
respectivamente. Lembre-se que estes parasitas são classificados como heteroxenos! Além 
disso, você aprendeu que o parasita não tem sempre a mesma morfologia, alguns são mais 
simples, como as amebas que apresentam formas de trofozoítos e cistos, porém algumas 
apresentam uma complexidade um pouco maior, como é o caso do Plasmodium. Talvez você 
tenha ficado um pouco confuso quando você viu o ciclo biológico de alguns parasitas, pela 
primeira vez, e isso é completamente normal, portanto não se desespere! O segredo está em 
estudar e tentar esquematizar sozinho(a) os ciclos biológicos, citando todas as formas 
evolutivas, tipo de reprodução e hospedeiros envolvidos! Entender o ciclo biológico de cada 
espécie é muito importante para traçar medidas profiláticas e controlar endemias. Além disso 
é entendendo o ciclo biológico no homem que entendemos como a doença acontece e como 
podemos diagnosticá-la! Nos vemos na próxima unidade, bons estudos!!! 
 
Referências 
CIMERMAN, Benjamin; FRANCO, Marco Antônio (Ed.). Atlas de parasitologia humana: com a 
descrição e imagens de artrópodes, protozoários, helmintos e moluscos. 2. ed. São Paulo: 
Atheneu, 2011. 166 p. 
COURA, José Rodrigues. Dinâmica das doenças infecciosas e parasitárias. 2.ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2013. 2 v. 
FIGUEIREDO, Beatriz Brener de (Org). Parasitologia. São Paulo: Pearson, 2015. 
NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. 
NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. 546 p. 
REY, Luís. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4. 
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 883 p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o 
funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas 
ao curso serão disponibilizadas pela coordenação. 
Grande abraço e sucesso! 
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serão disponibilizadas pela coordenação. 
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