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Infecções Parasitárias Caros alunos, as videoaulas desta disciplina encontram-se no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Abertura Apresentação da disciplina Olá, futuro biomédico (a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Infecções Parasitárias! Nesta disciplina você irá conhecer o mundo fantástico dos parasitas que tem como hospedeiro o homem, causando doenças muito frequentes no Brasil e por isso extremamente importantes. A nossa disciplina ficou organizada da seguinte maneira: na primeira unidade você será apresentado(a) aos protoparasitas, conhecerá a sua morfologia, biologia e quais doenças eles causam no homem; na segunda unidade será a vez dos helmintos! Conhecendo melhor estes parasitas você estará apto(a) à desenvolver ações de planejamento, controle e erradicação de endemias. Além disso, a compreensão da morfologia e biologia das diferentes espécies é fundamental para que você realize futuramente, exames diagnósticos para estas parasitoses. Você com certeza não enxergará o mundo da mesma maneira depois que conhecer estes peculiares seres vivos. Espero que você tenha um ótimo proveito dessa disciplina, nos vemos em breve e bons estudos! Apresentação do Professor Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina, realizei Especialização em Biologia Aplicada à Saúde, Mestrado e Doutorado em Patologia Experimental e pós-doutorado pela mesma universidade. Ao longo destes anos de formação trabalhei com marcadores moleculares em doenças humanas, particularmente no câncer de mama, e atuei como docente nas disciplinas de Imunologia e Parasitologia, Básica e Médica. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2139894209106152 Objetivos O estudante de Biomedicina deverá conhecer o ciclo de vida, morfologia e profilaxia das principais protoparasitoses humanas; Conhecer o ciclo de vida, morfologia e medidas profiláticas das principais helmintíases humanas. http://lattes.cnpq.br/2139894209106152 Unidade 1 Principais protoparasitoses humanas. Introdução da Unidade Olá, amigo(a) discente! Seja bem-vindo(a)! De acordo com a Organização Mundial da Saúde as doenças parasitárias estão entre as principais causas de morte no mundo, principalmente em regiões da América Latina e África. Uma de cada 10 pessoas sofre da infecção por uma ou mais das principais parasitoses humanas. Além da mortalidade resultante, essas doenças comprometem o desenvolvimento normal de crianças e limitam a capacidade de trabalho de adultos reduzindo a produtividade per capita da população. Nesta Unidade você será apresentado aos principais protozoários que parasitam o homem, com ênfase em sua morfologia, biologia, sua relação com o hospedeiro e quais medidas profiláticas podem ser adotadas para que sua prevalência seja reduzida. Ao compreender a natureza do processo parasitário e suas principais implicações médicas, o estudante de Biomedicina estará apto a cooperar de forma ativa nos trabalhos de planejamento e controle ou erradicação de endemias. Objetivos O estudante de biomedicina deverá compreender a morfologia e biologia das principais espécies de protoparasitas humanos. Descrever a relação parasito-hospedeiro e o ciclo biológico dos principais protozoários parasitas do homem. Delinear medidas profiláticas para controle ou erradicação de endemias. Conteúdo Programático Aula 1: Principais parasitas do Filo Sarcomastigophora. Aula 2: Principais parasitas do Filo Apicomplexa. Aula 1 Principais parasitas do Filo Sarcomastigophora Conceitos básicos de parasitologia O relacionamento entre os seres vivos visa dois aspectos fundamentais: a obtenção de alimento e/ou proteção. O parasitismo trata-se de uma relação ecológica entre espécies diferentes em que se observa, além de uma associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica. Cada espécie de parasita possui seu próprio ciclo biológico que consiste em uma sequência de acontecimentos que ocorrem em sua vida, desde que é gerado até produzir sua própria descendência. É importante salientar que o parasita deve passar pelo menos uma parte do ciclo ou todo ele em um hospedeiro. Ao longo desta disciplina utilizaremos constantemente os termos hospedeiro definitivo e intermediário, mas qual a diferença entre eles? O hospedeiro definitivo é aquele que alberga a forma adulta do parasito ou aquele no qual ocorre reprodução sexuada, enquanto o intermediário é aquele que abriga a forma jovem do parasita ou no qual ocorre a reprodução assexuada. Alguns parasitas podem ser transmitidos por outros animais, estes são denominados vetores. Porém, existem dois tipos de vetores, os mecânicos e os biológicos. Os vetores mecânicos são apenas transmissores do parasita, ou seja, funcionam como um transporte. Enquanto nos biológicos o parasita se desenvolve, ou seja, sofre um processo evolutivo ou de multiplicação. Veremos também que algumas espécies de parasitas completam seu ciclo biológico necessitando apenas de um hospedeiro, estes parasitas são classificados como monoxenos, enquanto outras espécies necessitam de dois ou mais hospedeiros, estes são classificados como heteroxenos. Agora que você já sabe os conceitos básicos de parasitologia, vamos conhecer as principais espécies do Filo Sarcomastigophora, um grupo que reúne parasitas que apresentam flagelos ou pseudópodes! Trypanosoma cruzi O Trypanosoma cruzi é um protozoário agente etiológico da doença de Chagas que constitui uma parasitose frequente nas Américas, principalmente a Latina. Este parasita é classificado como heteroxeno pois necessita de dois hospedeiros para completar seu ciclo vida, um vertebrado e um invertebrado. Diferentes espécies de vertebrados tem sido encontradas infectadas pelo T. cruzi, incluindo além dos humanos, tatus, cães, gatos, marsupiais, morcegos, roedores, coelhos, entre outros. Já os hospedeiros invertebrados de T. cruzi são hemípteros hematófagos (se alimentam de sangue) da subfamília Triatominae, e são popularmente conhecidos como barbeiros, chupança ou bicho de parede. Estes insetos apresentam cabeça alongada e fusiforme, pescoço nítido unindo a cabeça ao tórax e medem de 1 a 4 cm de comprimento. No Brasil, pela ordem de importância, as principais espécies transmissoras do T. cruzi são as seguintes: Triatoma infestans, Panstrongylus megistus, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e T. sórdida. Com menor importância pode-se citar o Rhodnius neglectus, T. vitiiceps e T. rubrofasciata. Ambos, machos e fêmeas são hematófagos obrigatórios em todas as fases da vida e apresentam hábitos noturnos. Possuem habitat silvestre, vivendo em palmeiras, cascas de árvores, ninhos de aves, buracos de tatus, tocas de roedores, etc. Porém, a medida que vai avançando a interiorização, o homem destrói a mata e constrói habitações que favorecem o abrigo destes insetos, como as casas de pau a pique, cafuas e taipas. Todas as formas evolutivas do T. cruzi apresentam uma organela especial denominada cinetoplasto, que constitui uma mitocôndria modificada, rica em DNA. No hospedeiro vertebrado são encontradas as formas amastigotas, que podem parasitar qualquer tipo celular, e as tripomastigotas presentes no sangue circulante. As tripomastigotas apresentam morfologia alongada com cinetoplasto posterior ao núcleo, o flagelo forma uma extensa membrana ondulante e torna-se livre na porção anterior da célula. A forma amastigota é arredondada ou oval, com flagelo curto que não se exterioriza. No hospedeiro invertebrado são encontradas as formas esferomastigotas, presentes no estômago e intestino do triatomíneo, formas epimastigotas, presentes em todo o intestino e tripomastigotas metacíclicas, presentes no reto, estas últimas são as formas infectantes para o hospedeiro vertebrado. A forma epimastigotaapresenta forma alongada com cinetoplasto justanuclear e anterior ao núcleo, possui membrana ondulante lateralmente disposta. A esferomastigota apresenta forma arredondada com flagelo livre, representando uma transição entre a forma amastigota e as formas flageladas. As únicas formas de T. cruzi que se multiplicam são as de amastigotas (no hospedeiro vertebrado) e de epimastigotas (no inseto vetor). Estas formas se multiplicam por um tipo de reprodução assexuada denominada divisão binária simples, através da qual ocorre duplicação e divisão celular, originando duas células filhas. O parasito é transmitido pelo triatomíneo e ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicas (eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) através da pele ou mucosa. Outras formas de transmissão menos comuns incluem: transfusão sanguínea ou transplante de órgãos e congênita. Nos últimos anos tem crescido o número de pessoas infectadas pelo consumo de alimentos contaminados com fezes e/ou urina de triatomíneos infectados pelo T. cruzi. Figura 1. Diferentes formas evolutivas do Trypanosoma cruzi. Abreviaturas: c: cinetoplasto; f: flagelo; mo: membrana ondulante; n: núcleo. Fonte: Próprio autor. Videoaula 1 Agora que você conhece os hospedeiros e as diferentes formas evolutivas do Trypanosoma cruzi assista ao vídeo para compreender o ciclo biológico do parasita! A Doença de Chagas pode ser sintomática (aparente) ou assintomática (inaparente), esta última sendo mais frequente. A fase aguda inicia-se com manifestações locais, quando o T. cruzi penetra na conjuntiva (sinal de Romaña) ou na pele (chagoma de inoculação). As manifestações gerais são representadas por febre, edema localizado e generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas. Alguns pacientes chagásicos após permanecerem assintomáticos por vários anos (forma indeterminada), com o correr do tempo apresentam sintomatologia relacionada com o sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva), ou ambos. Nesta fase o parasito encontra-se extremamente escasso e observa-se um intenso processo inflamatório. As manifestações cardíacas e digestivas apresentam alterações morfológicas e funcionais importantes, caracterizada por cardiomegalia e megaesôfago e/ou megacólon, respectivamente. Entre as medidas de profilaxia para a doença de Chagas podemos citar: melhoria das habitações rurais, de forma a reduzir esconderijos necessários para o alojamento dos barbeiros; combate ao barbeiro, através de inseticidas eficientes; triagem sorológica de doares de sangue e de órgãos; higienização correta de alimentos que possam conter fezes e/ou urina de triatomíneos; tratamento de pacientes infectados e a educação em saúde. Indicação de Leitura Para conhecer melhor este parasita e o inseto vetor leia os Capítulos 6, 11 e 39 do livro Parasitologia humana do autor David Pereira Neves (2016). Leishmania spp Os protozoários do gênero Leishmania são heteroxenos, cujos hospedeiros vertebrados incluem uma grande variedade de mamíferos e os hospedeiros invertebrados são fêmeas de insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos. Estes insetos possuem o corpo densamente coberto de pelos finos e caracterizam-se por possuir a cabeça posicionada formando um ângulo de 90° com o eixo longitudinal do tórax e quando em repouso as asas são mantidas em posição ereta. Os principais gêneros de flebotomíneos envolvidos na transmissão da Leishmania são o Lutzomyia e Phlebotomus, conhecidos popularmente como mosquito-palha, birigui ou cangalhinha. Somente as fêmeas são hematófagas e depositam os ovos em solo úmido e rico em matéria orgânica. Ao realizar o repasto sanguíneo a fêmea de flebotomíneo inocula formas promastigotas metacíclicas na derme do hospedeiro vertebrado. As promastigotas são alongadas com um flagelo livre e longo emergindo da porção anterior, com cinetoplasto em forma de bastão localizado à frente do núcleo. As formas flageladas expressam entre outras moléculas, um complexo lipofosfoglicano (LPG) e o gp63, uma metaloprotease, importantes para sua resistência no hospedeiro. As promastigotas são internalizadas por macrófagos, no interior dos quais se diferenciam em formas amastigotas. Estas formas são ovais, esféricas ou fusiformes com núcleo grande e arredondado, cinetoplasto em forma de bastonete, flagelo curto que não se exterioriza. No interior do macrófago se multiplica por divisão binária até ocupar todo o citoplasma e ocasionar a sua ruptura com consequente liberação dos parasitas no meio extracelular, os quais são internalizados por outros macrófagos. A infecção do hospedeiro invertebrado ocorre quando uma fêmea de flebotomíneo realiza repasto sanguíneo de um hospedeiro vertebrado infectado e ingere as formas amastigotas. No intestino médio do inseto as amastigotas se transformam em promastigotas que depois migram para as porções anteriores do aparelho digestivo do inseto, comprometendo a válvula do estomodeu. Figura 2. Diferentes formas evolutivas da Leishmania spp. Abreviaturas: c: cinetoplasto; f: flagelo; n: núcleo. Fonte: Próprio autor. Videoaula 2 Agora que você conhece os hospedeiros e as diferentes formas evolutivas da Leishmania spp. assista ao vídeo para compreender os detalhes do ciclo biológico desse parasita! Diferentes espécies de Leishmania podem ocasionar leishmaniose tegumentar americana e leishmaniose visceral. As leishmanioses tegumentares incluem a leishmaniose cutânea, leishmaniose cutaneomucosa e leishmaniose cutânea difusa, que são determinadas de acordo com a espécie e o estado imunológico do paciente. Tabela 1. Formas clínicas da leishmaniose tegumentar americana. Forma clínica Espécie de Leishmania Localização Leishmaniose cutânea L. amazonensis; L. braziliensis; L. guyanensis; L. lainsoni; L. naiffi Infecção confinada na derme Leishmaniose cutaneomucosa L. braziliensis Infecção na derme podendo disseminar para mucosas Leishmaniose cutânea difusa L. amazonensis Infecção confinada na derme podendo disseminar por todo o corpo A leishmaniose cutânea é caracterizada por lesões ulcerosas e indolores, únicas ou múltiplas, confinadas na derme (úlcera de Bauru), ocasionada por diferentes espécies de Leishmania (Tabela 1). A cutaneomucosa, provocada por Leishmania braziliensis se caracteriza por lesões destrutivas envolvendo mucosas e cartilagens. Enquanto a cutâneo difusa, causada por Leishmania amazonensis caracteriza-se por lesões nodulares não ulceradas confinadas na derme, espalhadas por todo o corpo. A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, trata-se de uma doença crônica, grave e de elevada letalidade, se não tratada. Causada por Leishmania donovani, L. chagasi e L. infantum, que são transmitidas pelo vetor Lutzomyia longipalpis. Cães e raposas são considerados reservatórios para esse parasita. Nesta doença ocorre a disseminação do parasita para diversos órgãos, tais como fígado, medula óssea, baço, linfonodos e intestino. As medidas profiláticas para a leishmaniose incluem: uso de repelentes, mosquiteiros de malha fina em portas e janelas, inseticidas em área domiciliar, limpeza de quintais e terrenos evitando acúmulo de lixo orgânico a fim de se evitar um criadouro potencial para o inseto vetor, construção de casas a pelo menos 500 m da mata, diagnóstico e tratamento precoce de pacientes infectados. Giardia duodenalis A Giardia duodenalis, também conhecida como G. intestinalis ou G. lamblia é a única espécie que parasita o homem, podendo infectar outros mamíferos. Cães e gatos são considerados reservatórios para este parasita. Trata-se de um parasita monoxeno, e portanto necessita de apenas um hospedeiro para completaro seu ciclo de vida. Apresenta duas formas evolutivas, o trofozoíto e o cisto. O trofozoíto é encontrado no intestino delgado, apresenta formato de pera (piriforme), simetria bilateral e achatamento dorsoventral. Esta forma apresenta quatro pares de flagelos, um anterior, um ventral, um posterior e um caudal. Trata-se de uma forma binucleada, cujos núcleos apresentam cariossomo central. Na face ventral, côncava, apresenta uma estrutura semelhante a uma ventosa conhecida como disco ventral, adesivo ou suctorial que tem por função aderir ao epitélio intestinal, um processo denominado atapetamento. Abaixo do disco é observada a presença de uma ou duas formações paralelas em forma de vírgula, conhecidas como corpos medianos ou corpos parabasais. Ao encistar-se o trofozoíto torna-se globoso, de aspecto ovóide com quatro núcleos, fibrilas longitudinais denominadas axonemas e corpos escuros em crescente correspondem a elementos estruturais que no trofozoíto originarão os flagelos e o disco adesivo, respectivamente. Figura 03. Formas evolutivas de Giardia duodenalis. A. trofozoíto com quatro pares de flagelos, binucleado e corpos medianos. B. cisto com quatro núcleos, axonemas e corpos escuros. A transmissão ocorre por via fecal-oral, sendo adquirida principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos. Além disso, pode ser transmitida por via direta de pessoa a pessoa por meio de mãos contaminadas. Videoaula 3 Assista à videoaula para compreender o ciclo biológico da Giardia duodenalis! A giardíase caracteriza-se por diarreia com fezes explosivas, esteatorreicas (oleosas) e de odor fétido. É comum os pacientes apresentarem gases, cólicas abdominais, distensão abdominal, podendo apresentar perda de peso, náuseas com ou sem vômitos e febre baixa. Em crianças a alta carga parasitária pode comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo. As medidas profiláticas para esta parasitose incluem: saneamento básico; tratamento da água; higienizar alimentos como verduras e legumes; proteger os alimentos de vetores mecânicos, como moscas e baratas; consumir sempre água filtrada ou fervida; medidas de higiene pessoal; diagnóstico e tratamento precoce de indivíduos parasitados. Trichomonas vaginalis A Trichomonas vaginalis habita o trato genitourinário do homem e da mulher, onde produz infecção e não sobrevive fora do sistema urogenital. Contrariando o que ocorre na maioria dos protozoários, não apresenta forma de cisto. A T. vaginalis é uma célula polimorfa, podendo apresentar formatos oval, esférico ou piriforme. Apresenta quatro flagelos anteriores livres e um flagelo recorrente, voltado para trás mantendo-se aderente em toda a sua extensão ao corpo celular por uma prega que constitui a membrana ondulante. Percorrendo toda a extensão do corpo celular está o axóstilo em forma de fita, constituído pela justaposição de microtúbulos (Figura 04). Figura 04. Morfologia do trofozoíto de Trichomonas vaginalis. ax: axóstilo; n: núcleo; fl: flagelo livre: fr: flagelo recorrente; mo: membrana ondulante. Fonte: Modificado de Rey, 2008. Este parasita localiza-se no trato genital feminino e na uretra e próstata do trato genital masculino, onde se replica por divisão binária. Como não apresenta forma cística, não sobrevive no meio externo e a transmissão ocorre entre humanos (único hospedeiro) por meio da relação sexual. A tricomoníase é mais evidente na mulher e pode se apresentar com corrimento, prurido, irritação vulvovaginal, dores no baixo ventre, dor e dificuldade para relações sexuais, dor ao urinar e aumento da frequência miccional. Pode gerar complicações como cervicite, infertilidade e câncer cervical. Em homens sintomáticos pode ocasionar uretrite, prostatite, balanopostite, cistite e câncer de próstata. A profilaxia desta parasitose inclui o uso de preservativos durante a relação sexual, abstinência sexual com pessoas infectadas, tratamento simultâneo de parceiros sexuais, mesmo que apenas um deles apresente os sintomas e evitar o compartilhamento de peças íntimas. Indicação de Leitura Para conhecer melhor este parasita leia os Capítulos 13 do livro Parasitologia humana do autor David Pereira Neves (2016). Entamoeba histolytica As amebas são amplamente dispersas na natureza e são caracterizadas por não terem uma forma definida, uma vez que projetam pseudópodes para locomoção e alimentação. Várias espécies de amebas podem ser encontradas parasitando o homem, porém, apenas a Entamoeba histolytica pode ser patogênica e causar amebíase. O gênero Entamoeba é caracterizado por apresentar núcleo esférico de aspecto vesiculoso e cuja membrana delgada é revestida, internamente, de grânulos cromáticos (cromatina periférica), enquanto um ou mais grânulos se reúnem no centro ou perto dele, formando uma estrutura denominada cariossoma. As amebas se distinguem uma das outras pelo tamanho do trofozoíto e do cisto, pela estrutura e pelo número de núcleos nos cistos, pelo número e formas de inclusões citoplasmáticas. As duas espécies de Entamoeba mais comuns parasitando o homem são a E. coli e a E. histolytica. O trofozoíto de Entamoeba coli mede de 20 a 50μm, o citoplasma não é diferenciado em endo e ectoplasma, o núcleo é caracterizado por apresentar uma cromatina espessa e irregular com cariossoma grande e excêntrico (situado fora do centro). Já o cisto desta espécie de ameba caracteriza-se por ser ovoide de parede cística espessa podendo conter até 8 núcleos. Podem estar presentes formações refringentes lembrando agulhas ou espículas, são os corpos cromatóides. A Entamoeba histolytica é idêntica morfologicamente à Entamoeba dispar, no entanto esta última é comensal. Ambas apresentam trofozoíto com núcleo único com cariossoma central. O citoplasma apresenta-se dividido em ectoplasma, que é claro e hialino e endoplasma que é finamente granuloso com vacúolos, núcleo e restos de substâncias alimentares. Os cistos apresentam corpos cromatoides em forma de bastonetes, quatro núcleos com cariossoma pequeno e central. Os trofozoítos normalmente vivem na luz do intestino grosso, podendo ocasionalmente, penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou em outros órgãos, como fígado, pulmão, rim e mais raramente cérebro. Já na massa fecal, algumas formas trofozoítas reduzem sua atividade, deixam de emitir pseudópodes, fagocitar e formar vacúolos digestivos, diminuem de tamanho e se arredondam para constituir uma forma pré-cística. O cisto é esférico ou oval e os núcleos podem apresentar até 4 núcleos com cariossoma pequeno situado no centro do núcleo. Os corpos cromatóides, quando presentes nos cistos, têm a forma de bastonetes ou de charutos, com pontas arredondadas. Também são encontradas reservas de glicogênio. Do cisto emerge uma forma multinucleada denominada metacisto que sofre divisões dando origem aos trofozoítos. O ciclo biológico é monoxênico e inicia-se com a ingestão de cistos maduros, geralmente com água ou alimentos contaminados. O desencistamento ocorre no intestino delgado do qual emerge uma forma tetranucleada que sofre divisões gerando 8 metacistos. Estes se alimentam e crescem alcançando a fase trofozoítica. Estas formas são muito ativas e fagocitam bactérias e outras partículas nutritivas do meio, podendo se multiplicar indefinidamente na luz do intestino grosso. Em dado momento, já na massa fecal algumas formas trofozoíticas reduzem sua atividade, deixam de emitir pseudópodes, diminuem de tamanho e formam um pré-cisto. Em torno das amebas pré-císticas é segregado um envoltório resistente, a parede cística. Aparecem corpos cromatóides e vacúolos de glicogênio, o núcleo se divide duas vezes, formando o cisto típico com quatro núcleos, capaz de resistes às condições ambientais. Figura 05. Morfologia de Entamoeba histolytica.1 e 2 trofozoítos, 3 cisto maduro, 4 cisto imaturo. c: corpo cromatóide; ec: ectoplasma; en: endoplasma; n: núcleo. Fonte: Modificado de Neves, 2016. Indicação de Leitura Para entender melhor as diferenças morfológicas entre Entamoeba histolytica e Entamoeba coli, leia o Capítulo 15 do livro Parasitologia humana do autor David Pereira Neves (2016). Cerca de 80 a 90% dos pacientes infectados por E. histolytica são assintomáticos. A forma sintomática mais comum é a colite não disentérica que se manifesta por duas a quatro evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, as vezes contendo muco ou sangue. Alguns pacientes podem apresentar a disenteria amebiana, acompanhada de cólicas intestinais e diarreia com evacuações mucossanguinolentas ou com predominância de muco ou de sangue. Embora raro, alguns pacientes podem evoluir para amebíase extra- intestinal, onde o abcesso amebiano no fígado é a forma mais comum. As principais medidas profiláticas para amebíase são: saneamento básico; tratamento dos casos e portadores assintomáticos, combate aos vetores mecânicos, como moscas e baratas; Higienização das mãos e dos alimentos; consumir sempre água filtrada ou fervida; educação em saúde. Figura 06: Ciclo biológico de Entamoeba histolytica. Fonte: Neves, 2016. Aula 2 Principais parasitas do Filo Apicomplexa Os Apicomplexa são protozoários parasitos obrigatórios intracelulares que apresentam um ciclo biológico onde se alternam a reprodução sexuada e a assexuada, caracterizam-se por possuírem no polo anterior de seu corpo alongado, durante as fases com capacidade invasora, uma estrutura celular especial denominada complexo apical, utilizada para a penetração na célula do seu hospedeiro e para a formação e manutenção do vacúolo parasitóforo. Quando bem desenvolvido, o complexo apical compreende estruturas em forma de anéis polares situados sob a membrana e centrados em torno de uma pequena depressão onde vêm terminar 2 a 8 organelas alongadas denominadas roptrias e outras conhecidas como micronemas, além de granulações densas ou corpos esféricos. Plasmodium spp Apenas quatro espécies do gênero Plasmodium parasitam o homem: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale, sendo os dois primeiros os mais frequentes no Brasil. Estes parasitas são causadores da malária. Apesar de muito antiga, esta doença continua sendo um dos principais problemas de saúde pública no mundo. O Plasmodium trata-se de um parasita heteroxeno, cujo hospedeiro invertebrado pertence ao gênero Anopheles. No Brasil, temos quatro espécies de Anopheles: A. darlingi, A. aquasalis, A. cruzii e A. bellator. As fêmeas depositam os ovos em habitats aquáticos limpos, pobres em matéria orgânica e sais. Estes ovos são depositados isoladamente e são caracterizados por possuir flutuadores. Somente as fêmeas realizam o hematofagismo e podem transmitir o parasita, apresentam maior atividade no período crepuscular ou noturno em temperatura e umidade elevadas. O inseto adulto apresenta menos de 1cm, corpo delgado e longas pernas, quando pousados apresentam posição oblíqua à superfície. Apesar de infrequente a infecção malárica pode ser transmitida acidentalmente, como resultado de transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas contaminadas e acidentes de laboratório. A infecção congênita também tem sido relatada. A infecção humana inicia-se com a injeção, durante o repasto sanguíneo, de esporozoítos, alojados nas glândulas salivares de fêmeas de anofelinos. A eficiência da invasão e a especificidade da célula-alvo sugerem a participação de moléculas do parasita e receptores específicos na superfície da célula hospedeira. Os esporozoítos apresentam afinidade por hepatócitos e dão início ao ciclo hepático no homem. Após invadir esta célula, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos que se multiplicam por esquizogonia, um tipo de reprodução assexuada, dando origem aos esquizontes e posteriormente a milhares de merozoítas, os quais tem afinidade por eritrócitos. Nas infecções por P. vivax e P. ovale, o mosquito vetor inocula populações geneticamente distintas de esporozoítos: algumas se desenvolvem rapidamente enquanto outras ficam em estado de latência no hepatócito, sendo por isso denominadas hipnozoítos. Estas formas são responsáveis pelas recaídas tardias da doença. Ao invadirem hemácias os merozoítos iniciam o ciclo eritrocítico no homem. A interação dos merozoítos com a hemática envolve o reconhecimento de receptores específicos. No interior das hemácias ocorre a diferenciação em trofozoíto jovem, seguida pelo trofozoíto maduro, esquizonte e merozoítas, que por fim ocasionam o rompimento da hemácia e a invasão de novas células. No sangue, este ciclo esquizogônico repete-se a intervalos regulares e são característicos para cada espécie: 36 a 48 horas para P. falciparum, 48 horas para P. vivax e P. ovale ou 72 horas para P. malariae. Essa periodicidade se relaciona diretamente com o ritmo das crises febris observadas em cada forma de malária. P. falciparum ocasiona a febre terça maligna, P. vivax e P. ovale a febre terça benigna e P. malariae a febre quartã benigna. Depois de algumas gerações de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação em estágios sexuados, os gametócitos, que não mais se dividem e que seguirão o seu desenvolvimento no mosquito vetor. O gametócito feminino é denominado macrogametócito e o masculino é denominado microgametócito. Quando o anofelino suga o sangue de um paciente portador dessas formas sexuadas, os elementos do sangue são digeridos no estômago do inseto, degenerando também todas as formas evolutivas do parasito ingeridas pelo mosquito, com exceção dos gametócitos. O macrogametócito se desenvolverá em macrogameta e o microgametócito sofrerá três mitoses que resultarão oito núcleos filhos e a formação de microgametas. Cada microgameta se desprende da massa residual de citoplasma, um processo denominado exflagelação, e parte em busca de gametas femininos. Após a fusão dos gametas o zigoto, denominado oocineto, desloca-se com movimentos ameboides atravessando o epitélio e a membrana basal. Aí segrega um envoltório protetor e transforma-se em oocisto. No interior dessa estrutura sofre um processo de multiplicação esporogônica, produzindo em seu interior milhares de esporozoítos que depois migram para a glândula salivar do inseto. Os trofozoítas e esquizontes sanguíneos alimentam-se da hemoglobina, contida nas hemácias. Videoaula 1 Conhecendo os aspectos gerais do ciclo biológico do Plasmodium, assista à videoaula para esclarecer e fixar os detalhes deste parasitismo! Morfologia das formas evolutivas do Plasmodium Esporozoita: São alongados com extremidades afiladas. Possui na extremidade anterior o complexo apical, no terço médio encontra-se o núcleo alongado. A membrana externa formada por duas camadas encontra-se revestida de proteínas circum-esporozoíta Merozoíta: Assemelham-se aos esporozoítos, porém são menores e arredondados, tendo uma membrana externa composta por três camadas. Microgameta: Composta de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. Macrogameta: célula que apresenta estrutura proeminente na superfície, por onde se dá a penetração do microgamenta (fecundação). Oocineto: forma alongada de aspecto vermiforme, móvel, contém um núcleo volumoso e excêntrico (situado fora do centro). Oocisto: Esférico, envolto por uma cápsula com espessura em torno de 0,1μm, Um único oocisto pode produzir em média 1.000 esporozoítos. Figura 6. A: hemácias parasitadas com trofozoítos jovens de Plasmodium falciparum; B: hemácias parasitadas com trofozoítos jovens, no centro do campo evidencia-se um macrogametócito de Plasmodium falciparum com formato típico alongado e curvo.Tabela 02. Características morfológicas das formas eritrocíticas das diferentes espécies causadoras de malária humana. Forma evolutiva P. falciparum P. vivax P. malariae P. ovale Trofozoíto jovem Citoplasma delgado e núcleo com cromatina pequena e saliente (forma em anel). Poliparasitismo frequente Citoplasma espesso. Núcleo com cromatina única e interna. Poliparasitismo raro. Citoplasma espesso. Núcleo com cromatina média e única. Ocupa 1/3 do volume da hemácia. Citoplasma espesso. Núcleo com cromatina única e interna. Trofozoíto maduro Raro no sangue periférico. Pequeno e compacto. Citoplasma Citoplasma irregular e com aspecto ameboide. Citoplasma compacto, arredondado. Cromatina pouco visível. Disposição Citoplasma irregular e com aspecto ameboide. espesso e cromatina indistinta. Cromatina isolada. em faixa equatorial na hemácia. Cromatina isolada. Esquizonte Raro no sangue periférico. Arredondado. Citoplasma pouco deformado. Cromatina separada em grânulos grossos. Média de 22 merozoítos. Forma ameboide. Citoplasma irregular vacuolizado. Cromatina segmentada. Média de 16 merozoítas. Cromatina pouco segmentada. Posição em banda equatorial. Média de 8 merozoítos, formando uma roseta. Forma ameboide. Citoplasma irregular. Cromatina segmentada. Média de 8 merozoítas. Macrogametócito Alongados e curvos, forma de crescente ou foice. Citoplasma abundante, contorno arredondado ou oval, núcleo grande. Ocupa quase todo volume do eritrócito. Semelhante ao do P. vivax, diferindo apenas por seu tamanho menor Semelhante ao do P. vivax, diferindo apenas por seu tamanho menor Microgametócito Mais curto e menos encurvado Citoplasma azul-pálido e cromatina frouxa Cromatina única e menos distinta e mais difusa Cromatina difusa Fonte: Adaptado de Neves (2016) Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas da malária. A passagem do parasita pelo fígado não é patogênica e não determina sintomas. A evolução clínica do paciente depende de diversos fatores, como: espécie de Plasmodium, idade, estado nutricional, estado imunológico e genética. Com o decorrer do tempo há uma tendência de sincronização das esquizogonias nas hemácias fazendo com que os acessos febris venham a intervalos regulares. Além do acesso febril característico desta doença, o paciente pode apresentar: esplenomegalia, anemia, hipoglicemia, insuficiência renal, edema pulmonar, malária cerebral e acidose metabólica. Dentre as medidas profiláticas para esta doença estão: combate ao vetor através do uso de inseticidas, eliminação de criadouros, uso de repelentes, uso de telas em portas e janelas, uso de mosquiteiros para dormir, evitar áreas de risco após o entardecer e ao amanhecer, diagnóstico e tratamento dos pacientes infectados. No ano de 2019 foi implementada no programa de imunização a vacina RTS,S em três países na África (Ghana, Kenya e Malawi), a primeira vacina contra a malária, especificamente contra o Plasmodium falciparum. Toxoplasma gondii A infecção pelo Toxoplasma gondii constitui uma das zoonoses mais difundidas no mundo. Em todos os países, grande parte da população humana e animal (mais de 300 espécies de animais, entre mamíferos e aves) apresenta parasitismo por esta espécie. Sabe-se que tanto felídeos domésticos como os selvagens são os únicos animais que podem realizar o ciclo sexuado, eliminando após a primeira infecção, milhões de oocistos imaturos nas fezes. Taquizoítos são encontrados durante a fase aguda da infecção, apresentam forma curva (de banana ou meia-lua), com uma das extremidades mais afilada e a outra mais arrendondada. Se multiplicam rapidamente por um processo denominado endodiogenia, um tipo de reprodução assexuada no qual células-filhas são geradas no interior de uma célula mãe que depois se degenera (Figura 7). Figura 7. Representação esquemática da reprodução de Toxoplasma gondii por endodiogenia. Fonte: Rey (2008). Os taquizoítos são encontrados dentro do vacúolo parasitóforo em várias células como macrófagos, hepatócitos, células pulmonares, nervosas, submucosas e musculares. Por outro lado, os bradizoítos (Figura 9) são encontrados na fase crônica da infecção. Assemelham-se morfologicamente aos taquizoitos, porém, são mais resistentes e se multiplicam lentamente, podendo permanecer viáveis nos tecidos por vários anos. Ficam localizados em vacúolos parasitóforos cuja membrana forma a cápsula do cisto tecidual. O oocisto é a forma de resistência do T. gondii, apresenta parede dupla e contém em seu interior dois esporocistos com quatro esporozoítos em cada. Estão localizados nas células intestinais dos felinos e são eliminados junto com as suas fezes. Figura 8. Representação esquemática da forma infectante (taquizoíto) de Toxoplasrna gondii caracterizada por anel polar (AP), conóide (C), micronemas (M), roptrias (R), grânulos densos (GD), apicoplasto (A), microporo (Mp), membrana plasmática (MP), complexo da membrana interna (CMI), retículo endoplasmático (RE), complexo de Golgi (CG), núcleo (N) e mitocôndria (Mi). Fonte: Neves (2016). Figura 9. Cisto com bradizoítos (Bra) em tecido muscular (fase crônica). Fonte: Neves (2016). O ciclo biológico do T. gondii desenvolve-se em duas fases distintas, uma assexuada que ocorre nos linfonodos e nos tecidos de vários hospedeiros (inclusive gatos e outros felídeos) e uma sexuada, que ocorre nas células do epitélio intestinal de gatos jovens (e outros felídeos) não imunes. Portanto, este parasita é classificado como heteroxeno. Os felídeos são considerados hospedeiros definitivos por possuírem a fase sexuada, enquanto o homem e outros mamíferos e aves, são classificados como hospedeiros intermediários, pois possuem apenas o ciclo assexuado. Um hospedeiro intermediário, o homem por exemplo, pode se infectar através da ingestão de oocistos maduros contendo esporozoítos, encontrados em alimentos ou água contaminada, cistos contendo bradizoítos encontrados em carne crua, ou mais raramente, taquizoítos eliminados no leite. Cada esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto, liberado no tubo digestivo, após rápida passagem pelo epitélio intestinal e invadirá vários tipos de células do organismo formando um vacúolo parasitóforo onde sofrerão divisões sucessivas por endodiogenia, formando novos taquizoítos, que irão romper a célula parasitada, liberando novos taquizoítos que invadirão novas células. Essa disseminação do parasito no organismo ocorre através de taquizoítos livres na linfa ou no sangue circulante. Com o desenvolvimento da imunidade, os parasitos extracelulares desaparecem do sangue, da linfa e dos órgãos viscerais, ocorrendo uma diminuição do parasitismo. Alguns parasitos evoluem para a formação de cistos. Essa fase cística, caracteriza a fase crônica. Quando um felídeo não imune, infecta-se oralmente por oocistos, cistos ou taquizoítos, desenvolvem o ciclo sexuado. Os esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos ao penetrarem nas células do epitélio intestinal do gato sofrem um processo de multiplicação por endodiogenia e esquizogonia, dando origem a vários merozoítos. O conjunto desses merozoítos formados dentro do vacúolo parasitóforo da célula é denominado esquizonte, ou meronte. O rompimento da célula parasitada libera os merozoítos que penetrarão em novas células epiteliais e se transformarão nas formas sexuadas masculinas ou femininas: os gametócitos, que após um processo de maturação formarão os microgametas e macrogametas. O macrogameta (gameta feminino) permanecerá dentro de uma célula epitelial, enquanto os microgametasmóveis (gameta masculino) saem de sua célula e fecundam o macrogameta, formando o zigoto. Este evolui dentro do epitélio, formando uma parede externa dupla, dando origem ao oocisto. A célula epitelial sofre rompimento em alguns dias, liberando o oocisto ainda imaturo. Esta forma alcança o meio exterior com as fezes. A sua maturação no meio exterior ocorre por um processo denominado esporogonia, após um período de cerca de quatro dias, e apresenta dois esporocistos contendo quatro esporozoítos cada. O oocisto, em condições de umidade, temperatura e local sombreado favorável, é capaz de se manter infectante por cerca de 12 a 18 meses. O ser humano adquire a infecção por três vias principais: ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminadas, jardins, caixas de areia, latas de lixo ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, minhocas, etc; ingestão de cistos encontrados em carne crua ou malcozida; congênita ou transplacentária. Videoaula 2 Assista à videoaula para compreender o ciclo biológico da Toxoplasma gondii! Figura 10. Oocisto de Toxoplasma gondii. Os oocistos apresentam dois esporocistos em seu interior, contendo quatro esporozoítos cada, são eliminados junto com as fezes dos felídeos. Geralmente o T. gondii parasita sem produzir sinais clínicos. Apenas em raras ocasiões o parasito causa manifestações clínicas graves. Quando o parasita se dissemina pode causar áreas de necrose no órgão envolvido e pode levar até a morte do hospedeiro. Para que ocorra a toxoplasmose pré-natal é necessário que a gestante na fase aguda da doença, onde alguns taquizoítos podem atravessar a placenta e disseminar nos tecidos fetais. As consequências da doença dependerão do grau de exposição do feto ao parasito, da virulência da cepa, da capacidade dos anticorpos maternos de protegerem o feto e do período da gestação. As manifestações clínicas da toxoplasmose pré-natal são diversas: aborto; nascimento prematuro; anomalias; coriorretinite; calcificações cerebrais; comprometimento ganglionar; hepatoesplenomegalia; miocardite; anemia; trombocitopenia; pneumonite; macro ou microcefalia e encefalite. Em imunocompetentes a toxoplasmose pós-natal costuma ser assintomática ou com quadro clínico indefinido. Pacientes imunossuprimidos podem sofrer de coriorretinite ou encefalite. As medidas profiláticas para toxoplasmose incluem: não se alimentar de carne crua ou malcozida de qualquer animal ou leite cru; controlar a população de gatos na cidade e em fazendas; os criadores de gatos devem manter os animais dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou seca, ou com ração de boa qualidade; incinerar todas as fezes dos gatos; proteger as caixas de areia para evitar que os gatos defequem nesse local; recomenda-se o exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes com ou sem histórico de enfartamento ganglionar ou aborto. Cryptosporidium spp A criptosporidíase é uma importante doença intestinal causada por protozoário do gênero Cryptosporidium, que afeta humanos e outros mamíferos. Cryptospordium parvum e C. hominis são as duas espécies que apresentam maior ocorrência e relevância em saúde pública. C. meleagridis é a terceira espécie de maior ocorrência, causando infecção em crianças imunocompetentes e indivíduos portadores de HIV, inclusive no Brasil. Trata-se de uma parasitose cosmopolita e estudos revelam que o aumento da temperatura e da precipitação está associado à maior incidência da infecção. A prevalência dessa parasitose é variável e depende de fatores que interferem na sua ocorrência, destacando-se a eles a idade, os hábitos das populações, a época do ano, área geográfica, densidade populacional, estado nutricional e imunológico. Esta prevalência costuma ser maior em crianças, entre 6 meses a 2 anos de idade. Sabe-se que mais de 150 espécies de mamíferos pertencentes a 12 ordens são hospedeiras de Cryptosporidium. Este parasita desenvolve-se preferencialmente nas microvilosidades de células epiteliais dos tratos gastrointestinal e respiratório e, ocasionalmente, epitélio renal. Esse protozoário monoxeno pode colonizar sítios extraintestinais como vesícula biliar, ductos pancreáticos, esôfago e faringe. O Cryptostporidium parasita a parte externa do citoplasma da célula, passando a impressão de se localizar fora dela, esta localização é designada por vários autores como intracelular extracitoplasmática. A duração do ciclo de vida, ou período pré-patente, varia de 4 a 22 dias antes da primeira aparição de oocistos nas fezes de indivíduos imunocompetentes ou imunossuprimidos. Ao ingerir o oocisto, as enzimas pancreáticas e os sais biliares do trato gastrintestinal agem sobre a parede do oocisto, provocando o desencistamento e a liberação de quatro esporozoítos, que invadem ativamente as células epiteliais do intestino delgado. Chegando no intestino os esporozoítos, que possuem um complexo apical, são liberados e fixam-se às células epiteliais, onde farão esquizogonia e esporogonia. A esquizogonia (também chamada de merogonia), produz uma geração de esquizonte (ou meronte tipo I) com seis a oito merozoítas do tipo I. Estes merozoítas podem invadir outras células epiteliais, completando outro ciclo de formação de merozoítas do tipo I ou gerar esquizontes com quatro merozoítas do tipo II. Estes merozoítas do tipo II não geram outros merozoítas, mas após infectarem uma célula epitelial originam as formas sexuais do parasita, o macrogametócito e microgametócito, os quais produzem macrogameta e microgametas, respectivamente, por um tipo de multiplicação sexuada denominada gametogonia. Resultam da fusão desses gametas os oocistos, dentro dos quais ocorre a reprodução sexuada, chamada esporogonia, gerando em seu interior quatro esporozoítos haploides. Desta forma, os oocistos esporulam no interior de seu hospedeiro e são eliminados já infectantes para o meio ambiente. Existem dois tipos de oocistos: de parede delgada, que se rompem no intestino delgado e, acredita-se que são responsáveis pelos casos de autoinfecção e; oocistos de parede espessa, que são eliminados para o meio externo juntamente com as fezes. Figura 11. Cryptosporidium parvum no epitélio intestinal do camundongo, ocupando uma posição intracelular extracitoplasmática. A. Oocisto maduro com seus quatro esporozoítos. B. Fim da esquizogonia. Fonte: Rey (2008). Videoaula 3 Sabendo as diferentes formas evolutivas e os aspectos gerais do ciclo biológico do Cryptosporidium, assista ao vídeo para revisá-lo e entender melhor todas as etapas de desenvolvimento deste parasita! Os oocistos de Cryptosporidium são pequenos, esféricos ou ovoides, medindo cerca de 2,9 a 6,5μm, contém quatro esporozoítos livres no seu interior. Por serem pequenos e leves se dispersam no ambiente através do ar, insetos, vestuário e fezes humanas e de animais, contaminando água e alimentos. Em condições adequadas de umidade e temperatura moderada permanecem viáveis e infectantes no ambiente por várias semanas. Resistem a ação da maioria dos desinfetantes usuais, inclusive ao cloro. A infecção humana ocorre por meio da ingestão ou inalação de oocistos, ou ainda pela autoinfecção. A transmissão é feita pelas seguintes vias: de pessoa a pessoa, observada em ambientes com alta densidade populacional, como em creches e hospitais e pelo contato direto e indireto. Existe a possibilidade de transmissão por meio de atividades sexuais; pelo consumo de água ou contato com água de recreação contaminada com oocistos; pelo consumo de alimentos contaminados com oocistos; contato com animais que se encontram eliminando oocistos, portanto a criptosporidíase é considerada uma zoonose; por meio de aerossóis contendo oocistos, este tipo de transmissão respiratório pode ser de relevância em ambientes fechados ou institucionalizados que favorecemo contato interpessoal. Figura 12. Oocisto de Cryptosporidium parvum corado de vermelho presente em amostra de fezes de paciente infectado. Esta forma infectante é pequena, de formato esférico e contém em seu interior quatro esporozoítas. Em humanos, a criptosporidíase se apresenta na forma de duas doenças distintas: uma autolimitada e de curta duração em imunocompetentes, e uma persistente diarreia crônica em pacientes imunodeficientes. Portanto, a gravidade da doença é determinada pela competência imunológica. Nos imunocomprometidos o desequilíbrio eletrolítico, a má absorção, emagrecimento acentuado e manifestações atípicas como doença do trato biliar, do trato respiratório e pancreatite estão associados à uma mortalidade elevada. Em crianças, os sintomas são mais graves e podem ser acompanhados de vômitos e desidratação. Crianças são vulneráveis a apresentarem infecção persistente, sobretudo nos casos associados à desnutrição. A infecção na infância pode ocasionar déficit de crescimento, perda de peso e o desenvolvimento cognitivo é prejudicado, sobretudo nos países onde a parasitose é endêmica. Atualmente não existe um tratamento específico para o Cryptosporidium e a maioria dos fármacos testados não apresentou eficácia comprovada e consistente. Em imunocompetentes geralmente há cura espontânea. A profilaxia e o controle da doença são feitos pela adoção de medidas que previnam ou evitem a contaminação do ambiente, água e alimentos com oocistos do parasito e o contato de pessoas suscetíveis com fontes de infecção. Devem ser utilizadas fossas ou privadas, com proteção dos reservatórios de água para evitar a contaminação com fezes. Cuidados especiais com higiene pessoal. Pacientes de alto risco devem ser orientados para não consumirem mariscos (moluscos bivalves) crus ou malcozidos, pois estes são animais filtradores e acumulam oocistos nos seus tecidos quando habitam ambientes aquáticos contaminados. Consumir água sempre fervida ou filtrada, inclusive para preparo de alimentos e cubos de gelo. Encerramento Nesta unidade você pôde conhecer melhor algumas espécies de protozoários que podem parasitar o homem e causar doenças. Você aprendeu que muitas espécies precisam de vetores para que o seu ciclo de vida seja completado, como é o caso do Trypanosoma cruzi e da Leishmania, por exemplo, que precisam dos triatomíneos e flebotomíneos, respectivamente. Lembre-se que estes parasitas são classificados como heteroxenos! Além disso, você aprendeu que o parasita não tem sempre a mesma morfologia, alguns são mais simples, como as amebas que apresentam formas de trofozoítos e cistos, porém algumas apresentam uma complexidade um pouco maior, como é o caso do Plasmodium. Talvez você tenha ficado um pouco confuso quando você viu o ciclo biológico de alguns parasitas, pela primeira vez, e isso é completamente normal, portanto não se desespere! O segredo está em estudar e tentar esquematizar sozinho(a) os ciclos biológicos, citando todas as formas evolutivas, tipo de reprodução e hospedeiros envolvidos! Entender o ciclo biológico de cada espécie é muito importante para traçar medidas profiláticas e controlar endemias. Além disso é entendendo o ciclo biológico no homem que entendemos como a doença acontece e como podemos diagnosticá-la! Nos vemos na próxima unidade, bons estudos!!! Referências CIMERMAN, Benjamin; FRANCO, Marco Antônio (Ed.). Atlas de parasitologia humana: com a descrição e imagens de artrópodes, protozoários, helmintos e moluscos. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. 166 p. COURA, José Rodrigues. Dinâmica das doenças infecciosas e parasitárias. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 2 v. FIGUEIREDO, Beatriz Brener de (Org). Parasitologia. São Paulo: Pearson, 2015. NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. 546 p. REY, Luís. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 883 p. Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas ao curso serão disponibilizadas pela coordenação. Grande abraço e sucesso! Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas ao curso serão disponibilizadas pela coordenação. Grande abraço e sucesso!