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Autor: Prof. Luiz Felipe Scabar Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago Prof. Marcel da Rocha Chehuen Políticas Públicas e Inclusão Social Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Professor conteudista: Luiz Felipe Scabar Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Mestre em Odontologia pela Universidade Paulista (UNIP). Especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Graduado em Odontologia pela Universidade Paulista (UNIP). Professor titular da Universidade Paulista (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S677p Scabar, Luiz Felipe. Políticas Públicas e Inclusão Social / Luiz Felipe Scabar. - São Paulo: Editora Sol, 2019. 96 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-168/19, ISSN 1517-9230. 1. Políticas públicas. 2. Direito sociais. 3. Inclusão social. I. Título CDU 340.2 U502.07– 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fabrícia Carpinelli Rose Castilho Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Sumário Políticas Públicas e Inclusão Social APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ESTADO, GOVERNO, PODER E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ..........................................9 1.1 Estado ...........................................................................................................................................................9 1.2 Política e poder ..................................................................................................................................... 10 1.2.1 A teoria dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário .....................................11 1.2.2 O poder político ....................................................................................................................................... 13 1.3 Governo .................................................................................................................................................... 14 1.3.1 Forma de governo ................................................................................................................................. 14 1.3.2 Sistema de governo ............................................................................................................................... 16 1.3.3 Regime político ........................................................................................................................................ 16 2 A ATUAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E NO ALCANCE DA INCLUSÃO SOCIAL ................................................................................................................. 17 2.1 Sociedade civil ....................................................................................................................................... 17 2.2 Direitos do cidadão .............................................................................................................................. 18 2.3 Direito à saúde ..................................................................................................................................... 19 2.4 Cidadania ................................................................................................................................................. 20 2.5 Participação popular ........................................................................................................................... 20 3 POLÍTICAS DE ESTADO, POLÍTICAS DE GOVERNO, POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS ............................................................................................................................................. 21 3.1 Políticas de Estado ............................................................................................................................... 21 3.2 Políticas de governo ............................................................................................................................ 22 3.3 Políticas públicas .................................................................................................................................. 22 3.4 Políticas sociais ...................................................................................................................................... 23 4 POLÍTICAS NACIONAIS ................................................................................................................................. 24 4.1 A Política Nacional de Saúde como modelo de política pública vigente ..................... 25 4.1.1 A Política Nacional de Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS)....................................... 32 4.1.2 Os Conselhos de Saúde e as Conferências de Saúde ............................................................... 32 4.1.3 Princípios do SUS .................................................................................................................................... 34 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II 5 POLÍTICAS DE SAÚDE SOB A PERSPECTIVA DA INCLUSÃO SOCIAL ............................................. 44 5.1 A Política Nacional de Atenção Básica ........................................................................................ 45 5.2 A estratégia Saúde da Família ......................................................................................................... 57 5.3 Os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) .................... 59 5.4 A política nacional de promoção da saúde ............................................................................... 62 5.4.1 O referencial da promoção da saúde (O que é promoção da saúde?) .............................. 62 5.4.2 A política nacional de promoção de saúde como modelo de política pública vigente ................................................................................................................................................... 69 6 INTERSETORIALIDADE E O CONCEITO DE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE .................. 79 7 SOBRE O CONCEITO DE EMPODERAMENTO ......................................................................................... 81 8 A COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO INSTRUMENTOSDE EMANCIPAÇÃO, LIBERTAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL ............................................................................... 82 7 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a APRESENTAÇÃO A disciplina Políticas Públicas e Inclusão Social propõe a problematização e discussão crítica a respeito das Políticas Públicas no Brasil através da perspectiva da participação popular, abordando a inclusão social como ação política concreta para a transformação social. A partir da discussão de conceitos fundamentais que embasam as políticas públicas, a disciplina possui como objetivo problematizar acerca dos atuais desafios dos setores sociais, enfatizando o setor saúde como campo para implementação de políticas públicas em prol da inclusão social e redução das desigualdades. INTRODUÇÃO O atual cenário brasileiro tem evidenciado a importância do envolvimento da população no projeto político do País, trazendo para a discussão questões fundamentais para o exercício da cidadania e da implementação dos direitos sociais. Conhecer e se apropriar dos conceitos de Estado, governo, sociedade civil, cidadania, direitos/ deveres, participação popular, política e poder, oferece subsídios para discussão e compreensão sobre as principais diferenças entre as políticas sociais, públicas, de Estado e de governo, conceitos fundamentais na formação do profissional de saúde preparado para uma atuação crítica e cidadã. Por meio da discussão da trajetória histórica de construção da atual Política Nacional de Saúde, abordaremos os conceitos fundamentais de uma política social implementada com a participação popular, tornando-se uma política pública voltada à inclusão social. Para isso, se faz necessário discutir sobre os principais fatores de exclusão social e as potencialidades das políticas públicas no combate às desigualdades sociais por meio da promoção da saúde a partir da perspectiva dos determinantes e condicionantes da saúde, bem como dos conceitos de empoderamento, libertação, emancipação e participação popular. Além da Política Nacional de Saúde, outras políticas nacionais serão aqui apresentadas e discutidas com o objetivo de incitar a reflexão do educando sobre a problemática da inclusão social por meio de políticas nacionais. 9 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Unidade I 1 ESTADO, GOVERNO, PODER E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA Para reflexão... “Por que eu preciso estudar Políticas Públicas?” Figura 1 “A conscientização se dá na prática política, social, existencial com leitura e releitura crítica da realidade.” Paulo Freire 1.1 Estado No século XI, Nicolau Maquiavel, por meio da prestigiada obra O Príncipe, difunde o termo Estado a partir da seguinte afirmativa: “Todos os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados”. Figura 2 – Nicolau Maquiavel 10 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Segundo Bobbio (2001), ao longo do tempo palavra Estado passou de um significado genérico de situação para um significado específico de condição de posse permanente e exclusiva de um território e de comando sobre os seus respectivos habitantes, substituindo os termos tradicionais com que fora designada até então a máxima organização de um grupo de indivíduos sobre um território em virtude de um poder de comando. Atualmente, o termo Estado é empregado para a descrição de uma instituição organizada política, social e juridicamente, que ocupa um território definido e, na maioria das vezes, sua lei maior é uma Constituição. É dirigido por um governo soberano, reconhecido interna e externamente, sendo responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da coerção (CICCO; GONZAGA, 2011). A expressão sistema político tem sido utilizada como substituta do termo Estado, pois ela não traz consigo os conceitos e valores que carregam o termo Estado, tal como pressupõem tanto os conservadores que a deificam, quanto revolucionários que a demonizam, a partir do emprego do termo por Maquiavel para descrever uma “instituição” com grande concentração de poder (BOBBIO, 2001). Lembrete No texto, o termo Estado corresponde ao conceito de estado-nação, considerado como entidade que tem governo e administração particulares e reconhecidos interna e externamente, não se tratando de cada uma das grandes divisões territoriais internas de uma República Federativa. 1.2 Política e poder Etimologicamente, a origem da palavra política deriva de politikós, do grego, e se refere àquilo que é da cidade, da polis (na Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse do homem enquanto cidadão. Na Grécia Antiga, por meio de sua obra A Política, Aristóteles foi um dos pioneiros a tratar da política como uma prática intrínseca aos homens. Figura 3 – Aristóteles 11 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade, sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade. Política trata-se de uma atividade relativa à formação das decisões coletivas e à organização do poder coativo, sendo a esfera das ações que têm alguma referência à conquista e ao exercício do poder soberano em uma comunidade de indivíduos sobre um território. Fazer política pode estar associada às ações de governo e de administração do Estado e à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio Estado. Enquanto prática humana, a política conduz, consequentemente, a se pensar no conceito de poder. O fenômeno “poder” é o que promove o intercâmbio e a relação entre “Estado” e “Política”. Toda teoria política parte de uma definição ou de uma análise do fenômeno “poder”. Se a teoria do Estado pode ser considerada como uma parte da teoria política, a teoria política pode ser por sua vez considerada como uma parte da teoria do poder. 1.2.1 A teoria dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário O processo político é classicamente definido como “a formação, a distribuição e o exercício do poder”. Nesse sentido, a teoria do Estado apoia-se sobre a teoria dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário, e das relações entre eles (BOBBIO, 2001). O poder não pode ser mantido nas mãos de uma única pessoa ou instituição. Por essa razão foi necessário desenvolver formas de organização do poder político, evitando ainda atuações tiranas e autoritárias. O grande idealizador da teoria dos três poderes foi Charles de Montesquieu (1689 – 1755), que, baseado na obra de Aristóteles, publicou O Espírito das Leis, na qual sugere a implementação da “teoria dos três poderes” para organização das instituições políticas com o objetivo de solucionar as inconveniências do regime absolutista. Figura 4 – Montesquieu 12 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Na abordagem de Montesquieu sobre a Teoria dos Três Poderes são evidenciados o necessário equilíbrio entre a autonomia de cada poder e o direito de intervenção nos demais poderes em caso de eventual situação de autoritarismo. Em cada esfera política, elabora leis, fiscaliza e controla os atos do Poder Executivo Presta serviços públicos por meio de órgãos diretos (ministérios e secretarias) e indiretos (entidades administrativas) No Brasil, existem duas instâncias legislativas independentes: Câmara dos Deputados e Senado Eleitos pelo povo (por estado), criam leis sobre assuntos de interesse nacional Mandato: 4 anos São três senadores por estado. Analisam e julgam os projetos de leielaborados pela Câmara. Mandato: 8 anos Criam leis sobre assuntos de interesse estadual Mandato: 4 anos Criam leis sobre assuntos de interesse municipal Mandato: 4 anos Legislativo Executivo FEDERAL FEDERAL FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL RE GI ON AL CONGRESSO NACIONAL PRESIDENTE DA REPÚBLICA SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA TRIBUNAL DE JUSTIÇA JUÍZES DE DIREITO JUÍZES FEDERAIS JUÍZES DO TRABALHO JUÍZES ELEITORAIS JUÍZES MILITARES TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL TRIBUNAL SUPERIOR MILITARCÂMARA DOS DEPUTADOS SENADO FEDERAL ESTADUAL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DEPUTADOS ESTADUAIS MUNICIPAL CÂMARA MUNICIPAL VEREADORES Chefe de Estado e do governo, comanda as Forças Armadas Mandato: 4 anos Decide sobre causas em que há violação da Constituição, como trabalho escravo Dá o veredicto em causas decididas pelos demais tribunais (federais ou estaduais) Órgão judiciário estadual Julga processos que envolvam a União Julga causas trabalhistas no estado Fiscaliza as eleições no estado Decide ações sobre causas trabalhistas Organiza e administra as eleições e garante a execução das leis eleitorais Específico para julgar militares MINISTÉRIOS Cada um coordena uma área específica, como Saúde e Educação GOVERNADOR Por estado Mandato: 4 anos SECRETARIAS (como a de Educação) PREFEITO Por município Mandato: 4 anos SECRETARIAS OU DEPARTAMENTOS Julga de acordo com as regras da Constituição e as leis criadas pelo Poder Legislativo Judiciário O Executivo colabora com o Legislativo, sancionando ou vetando seus projetos de lei O Executivo define os menmbros do judiciário, como ministros do Supremo e dos demais tribunais Figura 5 O poder executivo O poder executivo é aquele formado pelo presidente, seu gabinete de ministros e seus secretários, os quais governam o povo e administram os interesses públicos levando em consideração o que é estabelecido pela Constituição. O presidente é eleito de maneira direta pelos cidadãos e tem um mandato de quatro anos, enquanto os ministros e secretários são eleitos pessoalmente pelo presidente em questão. 13 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL O poder legislativo O poder legislativo é aquele que tem como função elaborar normas de Direito e legislar as mais variadas esferas políticas e constitucionais do país, aprovando, rejeitando e fiscalizando as propostas feitas pelo poder executivo. Geralmente, é constituído por parlamentos, congressos, câmaras e assembleias. No Brasil, o poder legislativo é constituído pelas Câmaras de Deputados (representam a população) e pelo Senado Federal (representantes dos estados). Nos níveis municipais e estaduais, o poder legislativo é encaminhado através da Câmara de Vereadores e da Câmara de Deputados Estaduais. O poder judiciário O poder judiciário é aquele que tem a capacidade de exercer julgamentos. Esses julgamentos se dão através das regras constitucionais e leis que advém do poder legislativo. É obrigação do poder judiciário julgar de maneira imparcial qualquer conflito que surja no país. No Brasil, seus órgãos de funcionamento são o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais do Trabalho, os Tribunais Eleitorais, os Tribunais Militares e os Tribunais dos Estados. 1.2.2 O poder político Poder estaria ligado à ideia de posse dos meios para se obter vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um homem sobre outros. O poder político é o poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre governante e governados (povo, sociedade). Requer legitimação, a qual ocorre por vários motivos, como pela tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma ditadura) ou aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de governo esperado. O poder exercido pelo governante em uma democracia, por exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da sociedade. No caso brasileiro, o poder do presidente é garantido porque existe um consenso da sociedade que o autoriza e, além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias a esse consenso. A finalidade ou fim da política não pode se resumir apenas em um aspecto, pois os fins da política são tantos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propõe, segundo os tempos e as circunstâncias (BOBBIO, 2001). Um fim mínimo à política (enquanto poder de força) é a manutenção da ordem pública e a defesa da integridade nacional. Essa finalidade é mínima para a realização de todos os outros fins do poder político. Porém, é importante se atentar para o fato de que o poder político não pode ter como finalidade o poder pelo poder, pois, se assim fosse, perderia o sentido. (BOBBIO, 2001) 14 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I 1.3 Governo O governo é uma estrutura elaborada para manutenção e administração do Estado. Nesse sentido, a sua existência depende do Estado, tal como o Estado, para ser mantido de forma organizada, depende de um governo. É a organização necessária para o exercício do poder político do Estado (FILOMENO, 1997). Um governo é definido enquanto sua forma, sistema e regime político, os quais serão vistos a seguir. 1.3.1 Forma de governo A forma de governo refere-se à política base que define como o Estado exerce o poder sobre a sociedade. Maquiavel reconhece como formas de governo o que ele classificou como principiados e repúblicas, sendo que nos principiados o poder estaria nas mãos de apenas um governante. Já na República, de um governo estruturado para atender à vontade do coletivo. O essencial numa nação é que os conflitos originados em seu interior sejam controlados e regulados pelo Estado. Em função do modo pelo qual os bens são compartilhados, as sociedades concretas assumem diferentes formas. Assim, onde persista ou possa persistir uma relativa igualdade entre os cidadãos, o fundador de Estados deve estabelecer uma república. Ocorrendo o contrário, manda a prudência que seja constituído um principiado. Se não proceder assim, o governo formará um Estado desequilibrado e sem harmonia, que não poderá subsistir por muito tempo (O PENSAMENTO..., 1986, p. 41) Podemos considerar duas formas de governo presentes nas sociedades contemporâneas, sendo: • Monarquia absolutista ou não absolutista (ou constitucional). • República. Monarquia absolutista Na monarquia absolutista, o monarca exerce o poder de forma absoluta, não havendo limitações constitucionais ou divisões de poder. São exemplos atuais de monarquia absolutista os governos dos seguintes países: • Arábia Saudita. • Catar. • Cidade do Vaticano. 15 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Monarquia não absolutista Na monarquia não absolutista, ou constitucional, o monarca divide o poder com membros de cortes estabelecidas, poderes judiciários e legislativos ou ministros. São exemplos atuais de monarquias não absolutistas, em que os monarcas dividem o poder com ministros sujeitos a confiança parlamentar, os governos dos seguintes países: • Austrália. • Bélgica. • Canadá. • Espanha. • Jamaica. • Japão. • Reino Unido. • Suécia. Também são exemplos atuais de monarquias não absolutistas, onde os monarcas exercem o poder pessoalmente, mas nesses casos em confluência com outras instituições, os governos dos seguintes países: • Butão. • Emirados Árabes Unidos. • Kuwait. • Marrocos. • Mônaco. República Já na forma de governo republicana cabe ao povo a escolha dos governantes que administrarão o Estado.A participação da população na escolha dos governantes do Estado algumas vezes trata-se de um direito, outras vezes, um dever. São exemplos atuais de governos republicanos os seguintes países: • Alemanha. 16 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I • Argentina. • Brasil. • Chile. • Estados Unidos. • Itália. • Portugal. 1.3.2 Sistema de governo O sistema de governo refere-se à forma de divisão do poder no Estado. Os principais sistemas de governo são classificados em: • Presidencialismo. • Parlamentarismo. • Semipresidencialismo. Presidencialismo No sistema presidencialista, o presidente exerce o papel de chefe de governo e de chefe de Estado. Parlamentarismo No sistema parlamentarista há dependência mútua entre os poderes legislativo e executivo. O parlamento é formado por um gabinete de ministros, responsável pela aprovação das decisões que cabem ao governo, bem como leis e normas. O chefe de governo é o primeiro-ministro, ou chanceler, que exerce a função de representatividade máxima do poder executivo e o chefe de Estado é o presidente ou rei, dependendo da forma de governo. Semipresidencialismo No sistema semipresidencialista, o primeiro-ministro é o chefe de governo, responsável perante a legislatura do Estado, dividindo o poder executivo com o presidente. 1.3.3 Regime político O regime político é a forma como o Estado exerce o poder de governo sobre a sociedade. Os principais regimes políticos já praticados ao longo da história foram: 17 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL • Autoritarismo. • Democracia. • Despotismo. • Ditadura. • Oligarquia. • Plutocracia. • Teocracia. • Tirania. • Totalitarismo. Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos apresentados até aqui: A ONDA. Dir. Dennis Gansel. Alemanha: Constantin Film, 2008. 107 minutos. PRA FRENTE, Brasil. Dir. Roberto Farias. Brasil: Embrafilme, 1982. 105 minutos. EU, CLAUDIUS. Dir. Herbert Wise. Reino Unido: BBC, 1976. 650 minutos. 2 A ATUAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E NO ALCANCE DA INCLUSÃO SOCIAL 2.1 Sociedade civil É na sociedade civil que nascem as demandas essenciais à criação das políticas públicas. São as mais diversas formas de organização social, são os grupos e comunidades organizados intencionalmente ou não, que por meio dos seus modos de vida apresentam ao governo as genuínas necessidades que subsidiam o estabelecimento dos direitos sociais e que fundamentalmente devem ser consideradas na criação de políticas públicas. “O contraste entre sociedade civil e Estado põe-se como contraste entre quantidade e qualidade das demandas e capacidade das instituições de dar respostas adequadas e tempestivas” (BOBBIO, 2001, p. 36). 18 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Sociedade civil é onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituições estatais têm o dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão. Sujeitos desses conflitos e, portanto da sociedade civil exatamente enquanto contraposta ao Estado são as classes sociais, ou mais amplamente os grupos, os movimentos, as associações, as organizações que as representam ou se declaram seus representantes; ao lado das organizações de classe, os grupos de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais, e indiretamente políticos, os movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa dos direitos civis, de libertação da mulher, os movimentos de jovens etc. (BOBBIO, 2001, p. 35-36). Em períodos de crise, é na sociedade civil que poderes legítimos perdem a sua força, em que surgem novos poderes que se tornam legítimos por ser oriundos da própria sociedade civil. É nesse sentido que a solução de crises que ameaçam a sobrevivência de um sistema político deve ser procurada, antes de tudo, na sociedade civil. Nesse sentido, consideremos a opinião pública como uma representação fundamental da sociedade civil, concretizada por meio da mídia, canais de transmissão, como rádio e televisão, redes sociais etc. A expressão dos movimentos sociais e a opinião da população só se concretiza como opinião pública quanto é efetiva e amplamente comunicada, transmitida ao público (BOBBIO, 2001, p. 37). 2.2 Direitos do cidadão A Constituição de 1988 surgiu a partir de intenso processo de mobilização e participação da sociedade civil e representa uma verdadeira conquista para os cidadãos brasileiros. Entretanto, sabe-se que a maioria dos direitos por ela garantidos ainda não foram realizados na prática. Figura 6 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Isso se deve, em parte, à falta de conhecimento da população acerca de seus direitos. É buscando retomar essas lutas do passado e socializar o conhecimento acerca dos direitos estabelecidos na Constituição que precisamos (re)discutir as políticas públicas. E assim é, pois numa sociedade plural e democrática, todos os cidadãos estão habilitados a atuar e a entender de direitos. Quer dizer, o saber sobre os direitos não pode ficar restrito aos advogados, mas, ao contrário, deve ser difundido por toda a sociedade, em especial, pelo movimento popular. Lembrete Para ser cidadão e, portanto, participar da democracia, é necessário conhecer os seus direitos. Nesse contexto, as políticas públicas – desde que elaboradas em um processo participativo e de diálogo com a comunidade – têm um papel fundamental, na medida em que podem funcionar como instrumentos de redistribuição de riquezas, de implementação de direitos e, por conseguinte, de garantia de condições dignas de sobrevivência à parcela mais excluída da população. 2.3 Direito à saúde A saúde é um direito social reconhecido constitucionalmente, o que caracteriza um importante campo de discussão. O reconhecimento da saúde como um direito social na Constituição Federal de 1988, fruto de um longo processo histórico de avanços e retrocessos na conquista da cidadania, não constituiu o final desse processo, mas uma importante etapa (VIANA; SILVA, 2012, p.1). A 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, que elaborou um processo democrático e de efetiva participação popular, entre outros estímulos de avanço ao setor da saúde, definiu o Estado como responsável pela garantia do direito à saúde, sob a perspectiva social e inclusiva, para todos os habitantes do território nacional (RELATÓRIO..., 1986). O direito à saúde é garantido por meio do texto constitucional e da Política Nacional de Saúde (PNS) brasileira. É importante destacar que a 8ª Conferência Nacional de Saúde apresentou um novo conceito de saúde, mas, sob a perspectiva do direito, cabe observar a sua abrangência, além dos objetivos da assistência e prevenção. No entanto, o conceito de saúde como ausência de doenças ainda se faz presente. Dallari (2008) destaca que o direito à saúde foi incorporado ao texto constitucional apenas em 1988, fruto de grande participação popular, consolidada na 8ª Conferência Nacional de Saúde. Nesse sentido, torna-se muito importante que haja uma participação popular e controle social constante na delimitação do direito à saúde, pois, na realidade, esse direito vem sendo consolidado em conformidade com as exigências constitucionais, porém de forma bastante incipiente. 20 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Mudanças sociais não resultam apenas da criação constitucional dos mecanismos que as possibilitem, mas, principalmente, do uso de tais instrumentos. Nesse sentido, a capacitação das organizações sociais para o exercíciolegal e competente das suas funções de advogados da saúde pública, juntamente com o efetivo envolvimento do Ministério Público na luta pelo respeito aos direitos assegurados na Constituição, é fundamental para a condução da democracia e instauração efetiva do estado Democrático de Direito no Brasil (DALLARI, 2013). Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento nestes assuntos, leia os seguintes documentos: RELATÓRIO FINAL DA 8ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. Brasília, 1986. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/8_ conferencia_nacional_saude_relatorio_final.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988. 2.4 Cidadania Cidadania pode ser traduzida em um conjunto de direitos atribuídos ao indivíduo frente ao Estado nacional. Uma forma de mediação entre Estado e sociedade (FLEURY, 1994). A distinção entre Estado e sociedade civil diz respeito à separação que se processa entre a esfera do poder político e a esfera produtiva, em que vigoram os interesses econômicos particulares, encontrando-se na polarização público/privado a expressão desse fenômeno. Nesse sentido, surgem os conceitos ação burguesa e ação cidadã. Uma ação burguesa tem como foco exclusivamente interesses privados. Chamamos de ação cidadã quando as pessoas privadas se reúnem em um público para atender ao interesse da sociedade. 2.5 Participação popular A participação popular corresponde a uma intervenção cotidiana e consciente de cidadãos (individualmente ou organizados em grupos ou associações) com vistas à elaboração, à implementação ou à fiscalização das atividades do poder público. Dentro do tema Cidadania e Saúde, a questão da participação popular não pode ser negligenciada, pois se constitui em direito garantido no texto constitucional, compondo uma das principais diretrizes do atual sistema de saúde (BOSI, 1994). 21 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL São instrumentos de participação popular garantidos pela Constituição Federal de 1988: plebiscito, referendo, iniciativa popular de leis, cooperação das associações representativas no planejamento municipal, exibição anual das contas municipais, reclamação relativa à prestação de serviços públicos, denúncia aos tribunais de contas, provocação do inquérito civil e os conselhos gestores de políticas sociais. A formalização na Constituição Federal não garante a efetividade dos instrumentos de efetiva participação popular. Ainda é necessário regulamentar para institucionalizar os mecanismos de participação. Participação popular é um processo político concreto que se reproduz na dinâmica da sociedade, mediante a intervenção cotidiana e consciente de cidadãos individualmente considerados ou organizados em grupos ou em associações, com vistas à elaboração, à implementação ou à fiscalização das atividades do poder público. Diante do exposto, podemos entender que não basta somente mudar o poder institucional se não tivermos uma sociedade civil preparada para tal mudança. Não serão a forma de Estado e o sistema de governo que permitirão a mudança, mas sim a criação de condições sociais e econômicas e o estabelecimento de canais de comunicação e participação, de uma população informada, que permitirão a mudança constante e a evolução permanente do processo democrático juntamente com as transformações do ser humano (MAGALHÃES, 1999). 3 POLÍTICAS DE ESTADO, POLÍTICAS DE GOVERNO, POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS Políticas são documentos oficiais com diretrizes elaboradas para o auxílio do governo no exercício do poder político. Devem atender aos preceitos constitucionais em benefício da garantia do acesso aos direitos sociais e alcance de metas governamentais e garantia do interesse público. Para terem efeito jurídico, as políticas devem ser reconhecidas pelo direito. Podem ser publicadas por meio de leis, decretos, portarias, emenda constitucional, ato administrativo, planos e programas de governo. O fato de não haver um padrão de norma jurídica para exteriorização de uma política muitas vezes causa anseio na sociedade, pois torna-se difícil acompanhar a implementação de ações que garantem o acesso aos direitos sociais e o interesse público. O mais comum é a publicação de uma política por meio de uma lei que apresenta planos, instrumentalizando a implementação do acesso aos direitos sociais. É importante considerar que uma vez publicada/implementada uma política pública, surge concretamente aos interessados os direitos até então abstratos, previstos no programa governamental. 3.1 Políticas de Estado Políticas de Estado são políticas que geralmente envolvem prazos maiores e metas mais amplas. Não devem ser elaboradas com base em agendas político partidárias. Devem ser amplamente discutidas, elaboradas e publicadas após a análise de diversas instâncias do poder público. Elas são criadas a partir de estudos técnicos, com análise de impacto, efeitos econômicos ou orçamentários. São averiguadas por várias instâncias, como o Parlamento. Tal burocracia se justifica, pois as políticas de Estado incidem em setores mais amplos da sociedade e muitas ocasionam mudanças em normas vigentes. 22 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I 3.2 Políticas de governo Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e implementação de determinadas medidas para responder às demandas colocadas na própria agenda política interna. 3.3 Políticas públicas As políticas públicas são mediadoras da relação entre o estado e a sociedade (FLEURY, 1994). Elas são ações governamentais que interferem na vida dos cidadãos, visando à melhoria de vida de toda a coletividade e à garantia do interesse público. É necessário manter a diferenciação entre política pública e política partidária. A primeira constitui um termo de significado mais amplo, compreendida a ideia de política como atividade de conhecimento, organização do poder e de instrumento de ação de governos, já a política partidária entende-se o exercício da política por meio da filiação a um partido político, política por meio de uma organização político partidária Podemos dizer que as políticas públicas servem de orientação para a ação dos indivíduos, de organizações e do próprio Estado, implicando em fixação de metas, de diretrizes ou de planos governamentais. Normalmente fixam metas de melhorias no âmbito econômico, político ou social. Uma política pública é eficiente quando há grande possibilidade de efetividade e quando há articulação entre os poderes e agentes públicos envolvidos, bem como quando o seu objeto for bastante conhecido pelo poder público. Tais necessidades são percebidas facilmente quando nos deparamos com os direitos sociais, os quais exigem grande esforço do Estado para efetivá-los. As políticas devem ser reconhecidas pelo direito para terem efeito jurídico. Uma política pública pode ser instituída por lei, decreto, emenda constitucional, por ato administrativo, planos ou por programas, não havendo um padrão jurídico para a sua exteriorização. Essa falta de padrão causa anseio na sociedade, visto que se torna mais complexo perceber a vinculatividade de tais políticas. A forma de exteriorização mais comum de uma política é através de planos que são materializados através de lei, estabelecendo esta os objetivos da política, os instrumentos de sua realização e condições de implementação. Importante consequência da implementação de uma política pública é que tal fato faz surgir aos interessados a titularidade de direitos previstos no programa governamental, os quais, antes, eram apenas direitos abstratos (DALLARI, 2013). Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para asrelações entre poder público e sociedade; mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. 23 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL As políticas públicas traduzem, no seu processo de elaboração e implantação e, sobretudo, em seus resultados, formas de exercício do poder político, envolvendo a distribuição e redistribuição de poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais. Como o poder é uma relação social que envolve vários atores com projetos e interesses diferenciados e até contraditórios, há necessidade de mediações sociais e institucionais, para que se possa obter um mínimo de consenso e, assim, as políticas públicas possam ser legitimadas e obter eficácia. Elaborar uma política pública significa definir quem decide o quê, quando, com que consequências e para quem. São definições relacionadas com a natureza do regime político em que se vive, com o grau de organização da sociedade civil e com a cultura política vigente. Nesse sentido, cabe distinguir políticas públicas de políticas governamentais. Nem sempre políticas governamentais são públicas, embora sejam estatais. Para serem públicas, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou benefícios, e se o seu processo de elaboração é submetido ao debate público. Nesse contexto, as políticas públicas – desde que elaboradas em um processo participativo e de diálogo com a comunidade – têm um papel fundamental, na medida em que podem funcionar como instrumentos de redistribuição de riquezas, de implementação de direitos e, por conseguinte, de garantia de condições dignas de sobrevivência à parcela mais excluída da população. Para que uma política seja pública é necessário não apenas que ela tenha por objetivo o bem comum da população, mas, também, que o seu processo de elaboração seja submetido a debate e considerações daqueles que serão beneficiados. Assim, podemos distinguir políticas governamentais (aquelas feitas unicamente pelos técnicos e burocratas do Estado) de políticas públicas (aquelas elaboradas a partir de um amplo processo de discussão e diálogo com a população). Tal processo de diálogo, quer dizer, de participação popular, é fundamental, já que as políticas públicas se realizam num campo extremamente contraditório, onde se entrecruzam interesses e visões de mundo conflitantes e onde os limites entre público e privado são de difícil demarcação. As políticas públicas são compreendidas por Höfling (2001) como as de responsabilidade do Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envolve órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. 3.4 Políticas sociais As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais. São ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico (HÖFLING, 2001). 24 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I A principais áreas de intervenção das políticas sociais são: alimentação, saúde, educação, trabalho e emprego, saneamento e habitação, previdência, transporte de massa, assistência social, organização agrária, cultura e desporto, direitos e cidadania. Lembrete Uma política social pode ser considerada uma política pública quando o seu processo de construção contou com a participação popular. 4 POLÍTICAS NACIONAIS Como já discutido anteriormente, para caracterizar uma política como pública é necessário considerar como se deu o seu processo de construção: se ele envolveu instâncias populares e se está voltado para a garantia do interesse público. Muitas políticas nacionais vigentes não necessariamente cumpriram tais requisitos, e embora estejam implementadas e em plena vigência, não podem ser consideradas políticas genuinamente públicas, o que, muitas vezes, gera situações de ingovernabilidade, pois uma política elaborada sem a participação da população dificilmente atenderá às suas necessidades. Dentre as principais políticas nacionais vigentes, destacamos algumas relacionadas às áreas da saúde, educação, assistência social e meio ambiente: • de saúde; • de promoção da saúde; • de atenção básica; • de humanização no Sistema Único de Saúde (SUS); • de enfrentamento da aids; • de saúde integral LGBT; • de saúde do idoso; • do idoso; • do meio ambiente; • de educação ambiental; 25 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL • de resíduos sólidos; • de assistência social; • para inclusão da população em situação de rua; • de educação especial na perspectiva da educação inclusiva; • de direitos humanos. 4.1 A Política Nacional de Saúde como modelo de política pública vigente Inspirado na Reforma Sanitária Italiana, em meados da década de 1970, começam a surgir no Brasil movimentos sociais que clamavam por um sistema de saúde pública para todos. Estes eram organizados e contavam com a participação de intelectuais, profissionais dos sistemas de saúde, parcela da burocracia e organizações populares e sindicais. O objetivo era a construção de política de saúde efetivamente democrática e, para isso, seria necessária uma reforma geral no setor saúde. Os diversos movimentos sociais, manifestações e encontros populares que lutaram pela garantia do direito universal à saúde e construção de um sistema único e estatal de serviços originou o que ficou conhecido como Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira. Em 1986, nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, tal expressão foi usada para se referir ao conjunto de ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde. A reforma sanitária nasceu na luta contra a ditadura, com o tema saúde e democracia, e foi estruturada nas universidades, no movimento sindical e em experiências regionais de organização de serviços. Sua consolidação na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, contou, pela primeira vez, com mais de cinco mil representantes de todos os segmentos da sociedade civil – até então a maior participação popular da história dos movimentos sociais organizados –, que discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. Sobre as Conferências Nacionais de Saúde Ocorrem desde 1941 e objetivam discutir e traçar estratégias referentes às principais demandas do campo da saúde no Brasil. Até o ano de 2017, foram 15 Conferências Nacionais, sendo a última ocorrida no ano de 2015. Confira a seguir o ano e os temas das Conferências Nacionais de Saúde. 1ª CNS 1941 Temas: 1. Organização sanitária estadual e municipal; 2. Ampliação e sistematização das campanhas nacionais contra a hanseníase e a tuberculose; 3. Determinação das medidas para desenvolvimento 26 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I dos serviços básicos de saneamento; 4. Plano de desenvolvimento da obra nacional de proteção à maternidade, à infância e à adolescência. 2ª CNS 1950 Tema: Legislação referente à higiene e à segurança do trabalho. 3ª CNS 1963 Temas: 1. Situação sanitária da população brasileira; 2. Distribuição e coordenação das atividades médico-sanitárias nos níveis federal, estadual e municipal; 3. Municipalização dosserviços de saúde; 4. Fixação de um plano nacional de saúde. 4ª CNS 1967 Tema: Recursos humanos para as atividades em saúde. 5ª CNS 1975 Temas: 1. Implementação do Sistema Nacional de Saúde; 2. Programa de Saúde Materno-Infantil; 3. Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica; 4. Programa de Controle das Grandes Endemias; 5. Programa de Extensão das Ações de Saúde às Populações Rurais. 6ª CNS 1977 Temas: 1. Situação atual do controle das grandes endemias; 2. Operacionalização dos novos diplomas legais básicos aprovados pelo governo federal em matéria de saúde; 3. Interiorização dos serviços de saúde; 4. Política Nacional de Saúde. 7ª CNS 1980 Tema: Extensão das ações de saúde por meio dos serviços básicos. 8ª CNS 1986 Temas: 1. Saúde como direito; 2. Reformulação do Sistema Nacional de Saúde; 3. Financiamento setorial. 9ª CNS 1992 Tema central: Municipalização é o caminho. Temas específicos: 1. Sociedade, governo e saúde; 2. Implantações do SUS; 3. Controle social; 4. Outras deliberações e recomendações. 27 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL 10ª CNS 1996 Temas: 1. Saúde, cidadania e políticas públicas; 2. Gestão e organização dos serviços de saúde; 3. Controle social na saúde; 4. Financiamento da saúde; 5. Recursos humanos para a saúde; 6. Atenção integral à saúde. 11ª CNS 2000 Tema central: Efetivando o SUS – Acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social. 1. Controle social; 2. Financiamento da atenção à saúde no Brasil; 3. Modelo assistencial e de gestão para garantir acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde, com controle social. 12ª CNS 2003 Tema central: Saúde direito de todos e dever do Estado, o SUS que temos e o SUS que queremos. Eixos temáticos: 1. Direito à saúde; 2. A Seguridade Social e a saúde; 3. A intersetorialidade das ações de saúde; 4. As três esferas de governo e a construção do SUS; 5. A organização da atenção à saúde; 6. Controle social e gestão participativa; 7. O trabalho na saúde; 8. Ciência e tecnologia e a saúde; 9. O financiamento da saúde; 10. Comunicação e informação em saúde. 13ª CNS 2007 Tema central: Saúde e qualidade de vida, políticas de estado e desenvolvimento. Eixos temáticos: 1. Desafios para a efetivação do direito humano à saúde no século XXI: Estado, sociedade e padrões de desenvolvimento; 2. Políticas públicas para a saúde e qualidade de vida: o SUS na Seguridade Social e o pacto pela saúde; 3. A participação da sociedade na efetivação do direito humano à saúde. 14ª CNS 2011 Tema: Todos usam o SUS! SUS na seguridade social – política pública, patrimônio do povo brasileiro. 15ª CNS 2015 Tema: Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro. 28 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Saiba mais Conheça os relatórios das Conferências Nacionais de Saúde na íntegra acessando o link: BRASIL. Ministério de Saúde. Relatórios do Conselho Nacional de Saúde, [s.d.]. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatorios. htm>. Acesso em: 28 jun. 2018. Contudo, a 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um grande marco do Movimento Sanitário (Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira), pois definiu as estratégias a serem defendidas na Constituinte de 1988 e resultou na inclusão da saúde na Constituição Federal como um direito do cidadão e um dever do Estado. A 8ª Conferência Nacional de Saúde teve como princípios: • a discussão e o estabelecimento de um conceito ampliado da saúde; • o reconhecimento da saúde como direito de cidadania e dever do Estado; • a defesa de um sistema único, de acesso universal, igualitário e descentralizado de saúde. A elaboração de um conceito ampliado de saúde foi fundamental para a criação de uma política de saúde e de estratégias que atendam às reais necessidades de saúde da população brasileira, uma vez que o conceito até então utilizado, embora considerado abrangente, não deixava claro tais necessidades, não favorecendo a elaboração de estratégias e ações. Conforme lembra Scliar (2007), o conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural, dependerá da época, lugar, classe social, valores individuais, concepções científicas, religiosas, filosóficas. O que representa saúde, assim como o que representa a doença, varia de pessoa para pessoa. Para Donato e Rosemburg (2003), dentre as diferentes formas de organização social, existem maneiras diversas de se compreender o que seja saúde ou um estado saudável. No entanto, dada a conjuntura dos fatos, em determinado momento da história da humanidade, mais precisamente na década de 1940, julgou-se necessário haver um consenso entre as nações sobre o conceito de saúde, o que seria possível de obter somente por meio de um organismo internacional, no caso a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde então, esse conceito tem sido aprimorado conforme as interpretações dos resultados das experiências obtidas no campo da saúde, em especial no campo da saúde pública, dando origem não necessariamente a novos conceitos de saúde, mas principalmente a novos meios de viabilizar as ideias e de se promover a saúde a partir da compreensão dos fatores que a determinam. 29 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Antes da 8ª Conferência Nacional de Saúde, o conceito de saúde utilizado no Brasil para a elaboração de políticas, estratégias e ações em saúde era o da Organização Mundial de Saúde de 1948, sendo: “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade” (SEGRE; FERRAZ, 1997, p. 538). Embora a definição de saúde publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948 seja considerada irreal, ultrapassada e unilateral, conforme afirmam Segre e Ferraz (1997), é inegável a sua contribuição no que tange a um primeiro movimento de ampliação do conceito de saúde na esfera popular. A saúde, até então definida apenas como a ausência de doença, passou a ser compreendida como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Segundo as conclusões da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em seu sentido mais abrangente, [...] a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (RELATÓRIO..., 1986). Para a garantia, pelo Estado, dessas condições dignas de vida e de acesso universal aos serviços de saúde, essa Conferência aprovou que a reestruturação do sistema deveria resultar na criação de um Sistema Único de Saúde, o SUS. A saúde como direito social Em 1988, com a publicação da nova Constituição Federal, a saúde ganhou garantias como um direito social, sendo um direito de todos e dever do Estado, garantido por políticas sociais e econômicas, tal como consta na Constituição Federal de 1988, nos artigos 197 ao 200: Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado (BRASIL, 1988). Cabe ao Estado garantir a oferta das ações e serviços de saúde, seja por meio de serviço exclusivamente público, parcerias público-privadas, contratação de empresas ou profissionais prestadores de serviços. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordocom as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade (BRASIL, 1988). 30 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Conforme artigo 198 da Constituição Federal, as ações e serviços de saúde devem ser organizadas de acordo com as características e necessidades de cada região e a utilização dos serviços de saúde deve ocorrer de forma hierarquizada, ou seja, o acesso deve ocorrer por meio do nível de atenção de menor complexidade, o qual, havendo necessidade, deve encaminhar (realizar procedimento de referência) ao próximo nível de atenção e assim sucessivamente. No que diz respeito à descentralização, por meio do texto constitucional fica garantida a autonomia dos estados e, em especial dos municípios, na gestão dos recursos financeiros destinados à saúde. A Constituição Federal de 1988 definiu que a cobertura do Sistema de Saúde brasileiro deve ser integral, ou seja, deve contemplar ações e serviços de prevenção, assistência e recuperação, com foco nas ações preventivas e deve contar com a participação da comunidade para o planejamento e avaliação dos serviços. Segundo artigo 199 § 1º da Constituição Federal, a assistência pode ser oferecida por instituições privadas de forma complementar ao Sistema Único de Saúde a partir da realização de contrato de direito público ou convênio, sendo que as instituições filantrópicas e as instituições sem fins lucrativos devem ter preferência nesse processo. No que diz respeito às relações do sistema de saúde com a iniciativa privada, o mesmo artigo prevê ainda que: Art. 199. § 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei (BRASIL, 1988). Considerando a relevância e complexidade de tais procedimentos, cabe à lei dispor ainda sobre procedimentos relativos à remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. As principais competências do Sistema Único de Saúde (SUS) estão definidas na Constituição Federal de 1988. Conforme artigo a seguir: I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; 31 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (BRASIL, 1988). Dessa forma, foi imprescindível a publicação de uma política nacional que regulamentasse e instrumentalizasse o acesso à saúde pública no Brasil, conforme diretrizes oriundas do relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição Federal de 1988. E assim, em setembro de 1990 foi promulgada a Política Nacional de Saúde por meio das Leis nos 8.080 e 8.142, que regulamentaram o Sistema Único de Saúde (SUS). Figura 7 Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde é considerada uma política pública, pois o processo de construção de suas diretrizes contou com a participação da população e a Política tem como propósito atender à população. 32 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I 4.1.1 A Política Nacional de Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) A Política Nacional de Saúde (PNS) foi instituída por meio das Leis 8.080 de 1990 e 8.142 de 1990, que regulamentam o Sistema Nacional de Saúde (SUS). Ambas as leis, 8.080/90 e 8.142/90, são consideradas ordinárias e/ou orgânicas da saúde, pois contêm as normas gerais para implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a Lei 8.080 de setembro de 1990, quando publicada, foi considerada incompleta no que diz respeito à participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde, entre outros temas relacionados, sendo necessária a promulgação de uma nova lei considerada complementar, a Lei nº 8142, de dezembro de 1990. A promulgação da Lei nº 8.142/90 foi primordial para que a genuína característica pública da Política Nacional de Saúde fosse mantida, pois a mesma garantiu a existência e permanência das instâncias consultivas e de participação popular na implementação, gestão e constante processo de construção do Sistema Único de Saúde por meio dos Conselhos e Conferências de Saúde. Saiba mais As leis que regulamentam o Sistema Nacional de Saúde (SUS) podem ser vistas nos links a seguir: BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 1990a. ___. Lei nº 8.142, de 29 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Oficial da União, Brasília, 28 dez. 1990b. 4.1.2 Os Conselhos de Saúde e as Conferências de Saúde Conforme a Lei nº 8.142/1990: Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: I - a Conferência de Saúde; e II - o Conselho de Saúde. 33 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL § 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. § 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo (BRASIL, 1990b). É por meio dos Conselhos de Saúde que os usuários acompanham e fiscalizam a execução da política de saúde e participam da formulação das estratégias do SUS. A Lei nº 8.142/90 garantiu a participação popular permanente e instituiu os Conselhos e as Conferências de Saúde como instância de controle social do Sistema Único de Saúde nas três esferas de governo (municipal,estadual e federal). Os Conselhos de Saúde são considerados tripartite, formados por representantes dos usuários do SUS (50%), trabalhadores da saúde (25%) e prestadores e gestores (25%), sendo garantida a paridade entre os usuários do SUS (50%) e os prestadores de serviços, profissionais de saúde e gestor/governo (50%), independentemente do número de conselheiros. Objetivam controlar as iniciativas do governo, assegurando a implementação de políticas de saúde que cumpram os princípios do SUS. As Conferências de Saúde ocorrem nas esferas nacional, estadual e municipal. São espaços institucionais importantes para o exercício do controle social. Conforme a Lei 8.142/90, a comunidade, não apenas o governo, deve participar das decisões, propor ações e programas para resolução de seus problemas de saúde e, principalmente, controlar a qualidade e o modo como está sendo desenvolvida a oferta de atenção. Deve ainda fiscalizar a aplicação dos recursos públicos destinados à saúde. Dessa forma, por meio da participação popular, deve garantir a manutenção da característica “pública” da Política Nacional de Saúde. Observação É importante compreender que o Sistema Único de Saúde (SUS) diz respeito ao conjunto de diretrizes e ações propostas e regulamentadas pela Política Nacional de Saúde (PNS). 34 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I 4.1.3 Princípios do SUS Os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) são norteados pela Lei Orgânica da Saúde, Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, conforme segue: Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; 35 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. XIV – organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei nº 13.427, de 2017) (BRASIL, 1990a). Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi construído a partir de princípios que merecem destaque e são fundamentais para compreensão e implementação do SUS. São os chamados princípios doutrinários e princípios organizacionais, instituídos, na prática, conforme a seguir: Princípios doutrinários Com base nos preceitos constitucionais, a construção do SUS norteia-se pelos seguintes princípios doutrinários: UNIVERSALIDADE INTEGRALIDADEEQUIDADE Figura 8 36 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I O princípio da universalidade O princípio da universalidade preconiza a saúde como direito de cidadania e dever dos governos municipal, estadual e federal, e visa garantir que todas as pessoas tenham direito ao atendimento independentemente de cor, raça, religião, local de moradia, situação de emprego, renda etc. Sendo assim, embora exista orientação para que o atendimento ocorra de forma organizada e hierarquizada, como veremos mais a diante, qualquer pessoa em território nacional pode e deve ser atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) se assim desejar ou necessitar. O princípio da equidade Conforme o princípio da equidade, todo cidadão é igual perante ao SUS e será atendido conforme suas necessidades, devendo-se considerar que em cada população existem grupos que vivem de forma diferente, devendo, os serviços de saúde, trabalharem de acordo com cada necessidade. Sendo assim, o SUS deve tratar desigualmente os desiguais, buscando garantir que a atenção e/ou os recursos sejam ofertados primeiro aos que mais necessitam. Quando se trata da expansão do sistema, por exemplo, o Ministério da Saúde ou gestor responsável pela ação tem o dever de analisar qual região mais carece de cobertura e priorizar o seu atendimento. O mesmo é válido para a distribuição de recursos, implantação de programas e estratégias do SUS etc. Nesse sentido, a utilização do princípio da equidade em “atender primeiro os que mais necessitam” muitas vezes não é viável no atendimento direto da população, ou seja, diante da escassez de recursos num serviço médico de pronto-atendimento, por exemplo, não é possível analisar a necessidade individual para escolher quem será atendido. Nesse caso, cabe ao profissional de saúde a adoção dos princípios éticos e protocolos de urgência e emergência – classificação de risco. Além do cuidado em atender primeiro os que mais necessitam, o princípio da equidade também preconiza que cada território, grupo e/ou indivíduo seja atendido conforme as suas necessidades, o que é fundamental para o sucesso de qualquer política pública no Brasil, considerando a extensão e as características peculiares e tão distintas de cada região do nosso país. O princípio da integralidade A integralidade é o princípio do SUS que visa garantir o atendimento integral da promoção da saúde até a reinserção do indivíduo na sociedade, passando pelas fases de prevenção, proteção e recuperação. No SUS, o atendimento deve ser integral, com prioridade para as atividades preventivas, mas sem prejuízo dos serviços assistenciais, ou seja, preconiza-se que as ações sejam combinadas e voltadas, ao mesmo tempo, para a prevenção e a cura, deixando claro que o atendimento deve ser feito para a saúde, e não somente para a doença. Isso quer dizer que o SUS, atendendo ao princípio da integralidade, deve disponibilizar atenção à saúde em todas as esferas, conforme apresenta a figura a seguir: 37 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Promoção Integralidade RecuperaçãoProteção Figura 9 • Promoção: envolve ações também em outras áreas, como habitação, meio ambiente, educação, entre outras. • Proteção: saneamento básico, imunizações, ações coletivas e preventivas, vigilância à saúde e sanitária etc. • Recuperação: atendimento médico, odontológico, tratamento e reabilitação para os doentes. No que diz respeito à assistência terapêutica, deve ser ofertada integralmente,incluindo imunizações, exames e assistência farmacêutica a todas as patologias e condições de saúde. O propósito do princípio da integralidade é que o indivíduo seja atendido em todas as suas necessidades relativas à saúde, e quando for o caso de ser submetido a tratamento que interrompa as suas atividades normais, que receba atenção necessária para ser reinserido socialmente. Conhecer, compreender e utilizar os princípios doutrinários é fundamental a todo profissional de saúde e/ou gestor sanitarista. Tal conhecimento capacita para a tomada de decisão em todos os âmbitos de atuação no SUS. 38 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Quanto aos princípios organizacionais, também conhecidos como princípios administrativos, esses orientam a organização para implementação, gestão e administração do sistema. São eles: • Regionalização/hierarquização. • Descentralização. • Participação dos cidadãos. O princípio da regionalização/hierarquização O princípio organizacional da regionalização/hierarquização preconiza o território como unidade de trabalho, ou seja, todas as ações são planejadas e programadas a partir das informações e disponibilidade de serviços do território que será atendido. Nesse sentido, cada território deve ser mapeado e estudado antes de qualquer ação, possibilitando compreendê-lo tanto geograficamente, quanto epidemiologicamente, com a finalidade de conhecer as características e necessidades da sua população, bem como a rede serviços disponíveis. A regionalização é um processo de articulação entre os serviços que já existem, visando ao comando unificado deles, que devem funcionar de forma hierarquizada na região. Nesse sentido, os serviços de saúde são organizados em três níveis, sendo: • nível primário; • nível secundário; • nível terciário. Nível primário O acesso ao SUS deve ocorrer por intermédio dos serviços do nível primário de atenção, o qual deve resolver grande parte das demandas do SUS, visto que nesse nível encontra-se a maior parte das ações de promoção e prevenção à saúde e os serviços de atenção básica que ocorrem nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Mais adiante aprofundaremos o conhecimento das ações realizadas nas Unidades Básicas de Saúde ao analisarmos a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Quando uma questão de saúde não consegue ser resolvida no nível primário, ocorre o encaminhamento para o nível secundário. Esse encaminhamento para um nível de maior complexidade é o chamado sistema de referência. 39 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Nível secundário Atualmente, fazem parte do nível secundário de atenção os seguintes serviços: Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Assistência Médica Ambulatorial – Especialidades (AMA – especialidades), Ambulatório Médico de Especialidades (AME) e hospitais de pequeno porte. Serviços como Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Assistência Médica Ambulatorial – Especialidades (AMA – especialidades) e Ambulatório Médico de Especialidades (AME) ainda não estão disponíveis em todas as regiões do Brasil. A Assistência Médica Ambulatorial (AMA) presta atendimento sem hora marcada e disponibiliza médico clínico geral e pediatra para atender casos de urgência que não trazem risco de morte, em que também são realizados exames mais simples. A Assistência Médica Ambulatorial – Especialidades (AMA – especialidades) recebe pacientes referenciados (encaminhados) pelas Unidades Básicas de Saúde para atendimento com especialistas como cardiologistas, endocrinologistas, urologistas, reumatologistas, neurologistas, ortopedistas e angiologistas. Os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) são estruturas geridas pelo governo do estado que também recebem pacientes referenciados pelas Unidades Básicas de Saúde e oferecem atendimento por médicos especialistas. No AME também são realizados vários exames e até pequenas cirurgias. Os pacientes sempre são encaminhados pela UBS. Essas estruturas de atenção à saúde foram criadas com o objetivo de tratar as demandas menos complexas, evitando a superlotação dos prontos-socorros hospitalares, que devem ser procurados apenas em casos de emergência, quando há risco de morte. As Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) foram criadas com o propósito de dar atenção às urgências e diminuir as filas nos prontos-socorros hospitalares. O objetivo é concentrar os atendimentos de saúde de complexidade intermediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a atenção básica e a atenção hospitalar. Trata-se de programa nacional, de nível intermediário – alocado entre o primeiro e o segundo níveis de atenção –, que atua de forma articulada com a Atenção Básica, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), a Atenção Domiciliar e a Atenção Hospitalar, a fim de possibilitar o melhor funcionamento da rede de atenção às urgências. A UPA 24h possui estrutura simplificada, com raio-X, eletrocardiografia, pediatria, laboratório de exames e leitos de observação, funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e podem resolver grande parte das urgências e emergências. O paciente é socorrido pela equipe médica, a qual controla o problema e detalha o diagnóstico, mantendo paciente em observação por até 24 horas ou encaminhando a um hospital da rede. As Unidades de Pronto-Atendimento devem ser procuradas nos seguintes casos: 40 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I • pressão alta; • fraturas e cortes com pouco sangramento; • infarto e derrame; • queda com torsão e muita dor ou suspeita de fratura; • febre acima de 39 °C; • cólicas renais; • intensa falta de ar; • convulsão; • dores fortes no peito; • vômito constante. As questões mais complexas que não são solucionadas no nível secundário são referenciadas ao nível terciário, no qual estão os hospitais de grande porte que atendem às demandas consideradas de alta complexidade. Nível terciário Nos hospitais de grande porte estão os aparelhos e máquinas de alta tecnologia, necessários para a realização de diagnósticos e procedimentos invasivos e/ou de maior complexidade, como a realização de cirurgias de alta complexidade, incluindo cirurgias para transplantes de órgãos e tecidos. O princípio da descentralização O princípio organizacional da descentralização prevê a redistribuição do poder e das responsabilidades entre os três níveis de governo: municipal, estadual e federal, em que cada esfera de governo é autônoma e soberana nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade. Com a finalidade de garantir a qualidade dos serviços e garantir o controle e a fiscalização por parte dos cidadãos, ao município cabe a maior responsabilidade na implementação das ações de saúde, diretamente voltadas para os seus cidadãos, devendo o Ministério da Saúde fornecer condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para o exercício das funções. 41 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL O princípio da participação popular A participação popular é o princípio organizacional garantido pela Constituição Federal, o qual garante que a população participe do processo de formulação das políticas de saúde e do controle de sua execução em todos os níveis, desde o federal até o local. Essa participação deve ocorrer por meio dos Conselhos de Saúde e das Conferências de Saúde. Resumo A problematização e discussão acerca das políticas públicas no Brasil é imprescindível para a construção de um perfil profissional crítico e capacitado para atuar na implementação dos direitos sociais, como é o caso dos profissionaisque atuam no campo da saúde. Para trabalhar no campo das políticas públicas com foco na inclusão social é indispensável conhecer os conceitos que fundamentam os seus processos de construção e implementação, bem como saber reconhecer o seu potencial como política pública inclusiva, o que requer, fundamentalmente, uma análise a partir da perspectiva da participação popular. Para tanto, se fez necessário discutir sobre os conceitos de estado, governo, sociedade civil, cidadania, participação popular, política, poder, políticas sociais, públicas, de estado e de governo. Considerando o foco de atuação no campo da saúde, foi apresentada a trajetória de construção da Política Nacional de Saúde sob a perspectiva política social e como modelo de política pública vigente. Tanto o processo de construção como a forma de gestão do Sistema Único de Saúde conferem ao mesmo a característica de uma política genuinamente pública por valorizarem a participação e popular. Exercícios Questão 1. (Enade, 2007, adaptada) Na 57ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizada em 2004, foi aprovado o documento estratégia global em alimentação saudável, atividade física e saúde. Nos princípios para a ação estabelecidos nesse documento, estão definidas as responsabilidades dos governos dos estados membros em relação às políticas multissetoriais para promover a atividade física, entre elas às de formular e rever políticas públicas que garantam a integração da atividade física na vida cotidiana, com vistas a impulsionar a mudança nos setores relacionados com transporte, segurança, trabalho, saúde e educação. 42 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Para cumprir as orientações da OMS mencionadas, subscritas pelo governo brasileiro, um profissional de educação física que atue como um gestor de políticas públicas deve contatar: I – Os responsáveis pelas políticas de transporte, no sentido de proporcionar incentivos para o uso de meios de locomoção não motorizados. II – Os responsáveis pelas políticas de trabalho, para favorecer a realização de atividades físicas e de lazer associadas ao ambiente de trabalho. III – As lideranças comunitárias, para discutir condições de segurança e melhorar a aceitação de atividades ao ar livre que concretizem o conceito de esporte para todos. IV – O responsável pelas políticas de turismo, para incentivar a comercialização de pacotes voltados para a prática de esportes de aventura. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e III. B) I e IV. C) II e IV. D) I, II e III. E) II, III e IV. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: é uma função do profissional de educação física que atuará como um gestor de políticas públicas buscar alternativas e incentivos para aumentar o uso de meios de locomoção não motorizados (Ex: bicicleta e caminhada). II – Afirmativa correta. Justificativa: é uma função do profissional de educação física que atuará como um gestor de políticas públicas incentivar e favorecer a realização das diversas formas de atividades físicas ao ambiente laboral (trabalho). 43 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL III – Afirmativa correta. Justificativa: é uma função do profissional de educação física que atuará como um gestor de políticas públicas incentivar atividades ao ar livre de maneira segura. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: não é uma função do profissional de educação física que atuará como um gestor de políticas públicas incentivar a comercialização de pacotes voltados para a prática de esportes de aventura. Questão 2. (Enade, 2010, adaptada) A estratégia do trabalho em equipe multiprofissional no setor da saúde pública implantada nos últimos anos representa uma nova leitura acerca de práticas, valores, atitudes e conhecimentos de todos os indivíduos envolvidos nessas propostas sociais, ampliando as ações a serem realizadas pelos profissionais de atuação, exigindo novas habilidades e qualificações. Nesse sentido, a finalidade do trabalho em equipes multiprofissionais na área de saúde é: A) Garantir uma base comum de conhecimento, valores e práticas que permitam o efetivo trabalho dessas equipes nas unidades básicas de saúde e sua gestão com base no somente ato médico. B) Diversificar as especialidades médicas e paramédicas que têm crescido em diferentes graus de complexidade tecnológica a partir da década de 1990, o que tem possibilitado acompanhar a demanda populacional por tratamento e informações de qualidade. C) Dar condições para que, no curto prazo, o Ministério da Saúde e o Sistema Único de Saúde possam somente reduzir os gastos com o sistema hospitalar, deslocando o foco da visão tradicional da medicina curativa para as intervenções de formação e prevenção de doenças. D) Proporcionar uma reorientação nas diretrizes curriculares dos cursos da grande área da saúde, com a articulação de saberes e práticas durante a formação acadêmica dos estudantes, buscando desenvolver habilidades voltadas ao atendimento preventivo de populações em condições de risco. E) Proporcionar o enfrentamento e a resolução de problemas identificados pela articulação de saberes e práticas com diferenciados graus de complexidade, integrando distintos campos do conhecimento e desenvolvendo habilidades e mudanças de atitudes nos profissionais envolvidos. Resolução desta questão na plataforma. 44 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Unidade II 5 POLÍTICAS DE SAÚDE SOB A PERSPECTIVA DA INCLUSÃO SOCIAL Sociedade inclusiva é uma sociedade para todos, independente de sexo, idade, religião, origem étnica, raça, orientação sexual ou deficiência; uma sociedade não apenas aberta e acessível a todos os grupos, mas que estimula a participação; uma sociedade que acolhe e aprecia a diversidade da experiência humana; uma sociedade cuja meta principal é oferecer oportunidades iguais para todos realizarem seu potencial humano (SEMINÁRIO..., 2001). Figura 10 A inclusão social pode ser definida como um processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social alcancem as oportunidades e os recursos necessários para participarem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e se beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem (COMISSÃO..., 2003). Para Lopes (2006), muitas políticas sociais contemporâneas priorizam atingir os excluídos que se encontram no limite de suas privações por meio de programas focalizados que sustentam títulos de “inclusivos”. No entanto, a verdadeira inclusão social só ocorre quando o indivíduo se vê capaz de tomar as melhores decisões e ações acerca de sua própria vida e na comunidade onde está inserido, o que se torna possível por meio do processo de empoderamento. O indivíduo empoderado é capaz de decidir o que é melhor para si e para o seu entorno, por meio de informações que, somadas às suas experiências de vida, são transformadas em conhecimento. Ações para desenvolver o empoderamento de indivíduos e comunidades fazem parte de diversas estratégias de inclusão social do Sistema Único de Saúde (SUS) e estão presentes em diversas políticas, programas e estratégias do SUS. 45 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Para colocar em prática os princípios e ideais do Sistema Único de Saúde (SUS) são necessárias outras políticas, programas e estratégias, desenvolvidas a partir da Política Nacional de Saúde. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é uma das políticas que derivam da Política Nacional de Saúde (PNS). Existem Estratégias e Programas de Saúde para que as diretrizes das políticas sejamimplementadas. O programa Saúde da Família é o principal plano para implementação da Política Nacional de Atenção Básica. 5.1 A Política Nacional de Atenção Básica A atual Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), publicada por meio da Portaria 2.436, de 21 setembro de 2017, considera os termos Atenção Básica (AB) e Atenção Primária à Saúde (APS), nas atuais concepções, como termos equivalentes, de forma a associar a ambos os princípios e as diretrizes definidas na Política (BRASIL, 2017). A seguir, destacamos as principais considerações relativas à Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. §1º A Atenção Básica será a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede (BRASIL, 2017). Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) está organizado para que o usuário procure primeiramente o serviço de Atenção Básica. É na Atenção Básica que estão instituídos os serviços e ações de promoção e prevenção à saúde, além da rede assistencial do primeiro nível de atenção à saúde. § 2º A Atenção Básica será ofertada integralmente e gratuitamente a todas as pessoas, de acordo com suas necessidades e demandas do território, considerando os determinantes e condicionantes de saúde (BRASIL, 2017). As ações e serviços de saúde no SUS, em especial na Atenção Básica, são planejadas de acordo com as características e necessidades de cada território, considerando as principais questões individuais e coletivas da comunidade onde o serviço está inserido. § 3º É proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, raça/cor, etnia, crença, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade, limitação física, intelectual, funcional e outras (BRASIL, 2017). Sendo assim, todo e qualquer indivíduo em território nacional brasileiro possui direito ao atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que adota estratégias específicas para viabilizar o acesso a esse 46 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II direito, bem como para que sejam minimizadas as desigualdades/iniquidades, evitando a exclusão social por estigmatização ou discriminação de grupos e indivíduos. Os princípios e diretrizes do SUS e da RAS operacionalizados na Atenção Básica são: I - Princípios: Universalidade: possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada aberta e preferencial da RAS (primeiro contato), acolhendo as pessoas e promovendo a vinculação e corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde. O estabelecimento de mecanismos que assegurem acessibilidade e acolhimento pressupõe uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde que parte do princípio de que as equipes que atuam na Atenção Básica nas UBS devem receber e ouvir todas as pessoas que procuram seus serviços, de modo universal, de fácil acesso e sem diferenciações excludentes, e a partir daí construir respostas para suas demandas e necessidades (BRASIL, 2017). Partindo do preceito de saúde como direito de cidadania e dever dos governos municipal, estadual e federal, o princípio da universalidade garante o atendimento irrestrito, sem qualquer tipo de discriminação, garantindo que todas as pessoas tenham direito ao atendimento e à participação no Sistema Único de Saúde (SUS). Equidade: ofertar o cuidado, reconhecendo as diferenças nas condições de vida e saúde e de acordo com as necessidades das pessoas, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender à diversidade. Ficando proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, cor, crença, nacionalidade, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade ou limitação física, intelectual, funcional, entre outras, com estratégias que permitam minimizar desigualdades, evitar exclusão social de grupos que possam vir a sofrer estigmatização ou discriminação; de maneira que impacte na autonomia e na situação de saúde (BRASIL, 2017). O princípio da equidade visa, sobretudo, o reconhecimento e valorização das diferenças, a fim de garantir o atendimento de todos os cidadãos conforme suas necessidades, devendo tratar desigualmente os desiguais. Integralidade: É o conjunto de serviços executados pela equipe de saúde que atendam às necessidades da população adscrita nos campos do cuidado, da promoção e manutenção da saúde, da prevenção de 47 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL doenças e agravos, da cura, da reabilitação, redução de danos e dos cuidados paliativos. Inclui a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à saúde e o reconhecimento adequado das necessidades biológicas, psicológicas, ambientais e sociais causadoras das doenças, e manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias a estes fins, além da ampliação da autonomia das pessoas e coletividade (BRASIL, 2017). Considerando que o atendimento deve ser feito para a saúde e não somente para a doença, o princípio da integralidade visa garantir o atendimento integral da Promoção da Saúde até a reinserção do indivíduo na sociedade e/ou atenção em cuidados paliativos, sempre considerando as especificidades individuais e coletivas. Em especial na Atenção Básica, devem ser priorizadas as ações preventivas, mas sem prejuízo às ações assistenciais. II - Diretrizes: Regionalização e Hierarquização: dos pontos de atenção da RAS, tendo a Atenção Básica como ponto de comunicação entre esses. Consideram-se regiões de saúde como um recorte espacial estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de ações e serviços de saúde em determinada localidade, e a hierarquização como forma de organização de pontos de atenção da RAS entre si, com fluxos e referências estabelecidos. Territorialização e Adscrição: de forma a permitir o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com foco em um território específico, com impacto na situação, nos condicionantes e determinantes da saúde das pessoas e coletividades que constituem aquele espaço e estão, portanto, adstritos a ele. Considera- se território a unidade geográfica única, de construção descentralizada do SUS na execução das ações estratégicas destinadas à vigilância, promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde. Os territórios são destinados para dinamizar a ação em saúde pública, o estudo social, econômico, epidemiológico, assistencial, cultural e identitário, possibilitando uma ampla visão de cada unidade geográfica e subsidiando a atuação na Atenção Básica, de forma que atendam à necessidade da população adscrita e ou as populações específicas. População Adscrita: população que está presente no território da UBS, de forma a estimular o desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população, garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado e com o objetivo de ser referência para o seu cuidado. 48 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Cuidado Centrado na Pessoa: aponta para o desenvolvimentode ações de cuidado de forma singularizada, que auxilie as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, aptidões, competências e a confiança necessária para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado de saúde de forma mais efetiva. O cuidado é construído com as pessoas, de acordo com suas necessidades e potencialidades na busca de uma vida independente e plena. A família, a comunidade e outras formas de coletividade são elementos relevantes, muitas vezes condicionantes ou determinantes na vida das pessoas e, por consequência, no cuidado (BRASIL, 2017). Para o funcionamento e planejamento das ações, se faz necessário, primeiramente, definir o território que será atendido e mapeá-lo para compreender as suas características geográficas e sociais. Nesse sentido, é fundamental o cadastramento da população adscrita e o levantamento de suas necessidades, considerando que o foco na comunidade do território para conhecer as características e reais necessidades da população constitui ação de suma importância para o sucesso das intervenções e envolvimento da comunidade. Resolutividade: reforça a importância de a Atenção Básica ser resolutiva, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, centrada na pessoa, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. Deve ser capaz de resolver a grande maioria dos problemas de saúde da população, coordenando o cuidado do usuário em outros pontos da RAS, quando necessário (BRASIL, 2017). Sendo considerada porta de entrada para o sistema, evidencia-se a importância do serviço de atenção básica no encaminhamento e desenvolvimento das ações coletivas e individuais. Para isso dispõe de tecnologias de cuidado centradas na pessoa, que objetivam, sobretudo, promover saúde por meio da autonomia de indivíduos e grupos. Longitudinalidade do cuidado: pressupõe a continuidade da relação de cuidado, com construção de vínculo e responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo permanente e consistente, acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida das pessoas, evitando a perda de referências e diminuindo os riscos de iatrogenia que são decorrentes do desconhecimento das histórias de vida e da falta de coordenação do cuidado. 49 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que o planejamento das ações, assim como, a programação dos serviços de saúde, parta das necessidades de saúde das pessoas (BRASIL, 2017). Considerada a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede, cabe ao serviço de Atenção Básica garantir a longitudinalidade, bem como a coordenação do cuidado, visando à construção de vínculo, o uso adequado dos procedimentos de referência e contrarreferência (encaminhamento), acompanhamento e organização do fluxo de atendimento/tratamento, garantindo o adequado uso das estruturas do sistema e alimentando o sistema com informações da população para que ele seja permanentemente adequado às suas necessidades. Participação da comunidade: estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado, como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território. Considerando ainda o enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde, através de articulação e integração das ações intersetoriais na organização e orientação dos serviços de saúde, a partir de lógicas mais centradas nas pessoas e no exercício do controle social (BRASIL, 2017). Não há como garantir a eficácia de uma política pública sem a participação da comunidade. É na comunidade que estão os problemas – questões a serem enfrentadas pelo sistema – assim como a solução para eles. O Sistema Único de Saúde (SUS) é produto da participação popular, foi concebido pela população, para a população e a sua legitimidade em todos os níveis e serviços, como no caso da Atenção Básica, está intimamente vinculada à participação popular. A participação da comunidade nas ações de planejamento, implementação e avaliação do Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para o adequado funcionamento do sistema. 50 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II A Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica. A política permite que outras estratégias de Atenção Básica sejam reconhecidas, desde que observados seus princípios e diretrizes, e tenham caráter transitório, devendo ser estimulada sua conversão em estratégia saúde da família. A integração entre a vigilância em saúde e a Atenção Básica é condição essencial para o alcance de resultados que atendam às necessidades de saúde da população, na ótica da integralidade da atenção à saúde, e visa estabelecer processos de trabalho que considerem os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e intersetorialidade. Todos os estabelecimentos de saúde que prestem ações e serviços de Atenção Básica, no âmbito do SUS, serão denominados Unidade Básica de Saúde (UBS), sendo que todas as UBS são consideradas potenciais espaços de educação, formação de recursos humanos, pesquisa, ensino em serviço, inovação e avaliação tecnológica para a Rede de Atenção à Saúde. Dentre as principais reponsabilidades na Atenção Básica no âmbito do SUS, comuns a todas as esferas de governo, estabelecidas na Política Nacional de Atenção Básica, podemos destacar a fundamental contribuição para a reorientação do modelo de atenção e de gestão, com base nos princípios e diretrizes anteriormente discutidos, enfatizando a necessidade de apoiar e estimular a adoção da Estratégia Saúde da Família como estratégia prioritária de expansão, consolidação e qualificação da Atenção Básica. Para tanto, se faz necessário garantir o bom funcionamento das Unidades Básicas de Saúde, com espaços, mobiliário e equipamentos adequados, incluindo o desenvolvimento, disponibilização e implantação de Sistemas de Informação da Atenção Básica, bem como garantindo mecanismos que assegurem o uso qualificado dessas ferramentas. A adaptação dos acessos e espaços das Unidades Básicas de Saúde, tornando-os acessíveis às pessoas com deficiência, também constitui responsabilidade de todas as esferas envolvidas. Tornar o acesso universal, equânime e ordenado às ações e serviços de saúde do Sistema Único de Saúde também deve ser um compromisso pactuado entre todas as esferas do governo, inclusive no que diz respeito à assistência farmacêutica e uso racional de medicamentos, garantindo a disponibilidade e acesso a medicamentos e insumos em conformidade com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas,e com a relação específica complementar estadual, municipal, da União, ou do Distrito Federal de medicamentos nos pontos de atenção, visando à integralidade do cuidado. A portaria evidencia como responsabilidade de todas as esferas do governo a garantia de dispositivos para transporte em saúde, compreendendo as equipes, pessoas para realização de procedimentos eletivos, exames, entre outros, buscando assegurar a resolutividade e a integralidade do cuidado na Rede de Atenção à Saúde, conforme necessidade do território e planejamento de saúde. Estimular e desenvolver o potencial dos profissionais de saúde também deve ser uma responsabilidade de todas as esferas do governo, desenvolvendo mecanismos técnicos e estratégias organizacionais de 51 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL qualificação da força de trabalho para gestão e atenção à saúde, estimulando e viabilizando a formação, educação permanente e continuada dos profissionais, garantindo direitos trabalhistas e previdenciários, qualificando os vínculos de trabalho e implantando carreiras que associem desenvolvimento do trabalhador com qualificação dos serviços ofertados às pessoas, tendo como foco a garantia de fixação de profissionais de saúde para a Atenção Básica, fundamental para a promoção de cuidado e vínculo. E ainda nesse sentido, tendo o profissional como grande potencial do sistema, a portaria destaca o necessário comprometimento com a promoção do intercâmbio de experiências entre gestores e entre trabalhadores, por meio de cooperação horizontal, além de estimular o desenvolvimento de estudos e pesquisas que busquem o aperfeiçoamento e a disseminação de tecnologias e conhecimentos voltados à Atenção Básica. O compromisso de todas as esferas do governo com o estímulo à formação, desenvolvimento e capacitação profissional deve contemplar, inclusive, a garantia de espaços físicos e ambientes adequados para a formação de estudantes e trabalhadores de saúde, para a formação em serviço e para a educação permanente e continuada nas Unidades Básicas de Saúde. O compromisso com a oferta de serviços voltada às necessidades do território deve ser permanentemente observado, evidenciando a fundamental participação de todas as esferas do governo, bem como da população no planejamento, implementação, avaliação e reorientação das ações da Atenção Básica nos territórios. No que diz respeito à avaliação e reorientação da Atenção Básica, a portaria orienta para o estabelecimento de mecanismos de autoavaliação, controle, regulação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados pelas ações da Atenção Básica, como parte do processo de planejamento e programação, bem como para a divulgação das informações e dos resultados alcançados pelas equipes que atuam na Atenção Básica, estimulando a utilização dos dados para o planejamento das ações. Mecanismos regulares de autoavaliação para as equipes que atuam na Atenção Básica também devem ser desenvolvidos a fim de fomentar as práticas de monitoramento, avaliação e planejamento em saúde (BRASIL, 2017). A Política Nacional de Saúde define, ainda, as competências do Ministério da Saúde na gestão das ações de Atenção Básica no âmbito da União, sendo responsabilidade da União: I - definir e rever periodicamente, de forma pactuada, na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), as diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica; II - garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento da Atenção Básica; III - destinar recurso federal para compor o financiamento tripartite da Atenção Básica, de modo mensal, regular e automático, prevendo, entre outras formas, o repasse fundo a fundo para custeio e investimento das ações e serviços; IV - prestar apoio integrado aos gestores dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios no processo de qualificação e de consolidação da Atenção Básica; 52 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II V - definir, de forma tripartite, estratégias de articulação junto às gestões estaduais e municipais do SUS, com vistas à institucionalização da avaliação e qualificação da Atenção Básica; VI - estabelecer, de forma tripartite, diretrizes nacionais e disponibilizar instrumentos técnicos e pedagógicos que facilitem o processo de gestão, formação e educação permanente dos gestores e profissionais da Atenção Básica; VII - articular com o Ministério da Educação estratégias de indução às mudanças curriculares nos cursos de graduação e pós-graduação na área da saúde, visando à formação de profissionais e gestores com perfil adequado à Atenção Básica; e VIII - apoiar a articulação de instituições, em parceria com as Secretarias de Saúde Municipais, Estaduais e do Distrito Federal, para formação e garantia de educação permanente e continuada para os profissionais de saúde da Atenção Básica, de acordo com as necessidades locais (BRASIL, 2017). Nesse sentido, além de garantir as fontes de arrecadação e a destinação de recursos federais para custeio e investimento das ações e serviços da Atenção Básica, ao Ministério da Saúde cabe a revisão periódica da Política Nacional de Atenção Básica, o apoio aos processos de gestão, avaliação e qualificação da Atenção Básica, o estabelecimento de diretrizes e instrumentos voltados à gestão, formação e aperfeiçoamento dos profissionais da rede, de acordo com as necessidades de cada território. Em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde deve colaborar para o aprimoramento dos processos de formação profissional na área da saúde, contribuindo com informações relevantes aos processos de reformulação curricular, a fim de tornar os currículos de graduação e pós-graduação cada vez mais adequados à formação de profissionais com perfil para atuar na Atenção Básica. Compete às Secretarias Estaduais de Saúde e ao Distrito Federal a coordenação do componente estadual e distrital da Atenção Básica, no âmbito de seus limites territoriais e de acordo com as políticas, diretrizes e prioridades estabelecidas, sendo responsabilidades dos Estados e do Distrito Federal: I - pactuar, na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e Colegiado de Gestão no Distrito Federal, estratégias, diretrizes e normas para a implantação e implementação da Política Nacional de Atenção Básica vigente nos Estados e Distrito Federal; II - destinar recursos estaduais para compor o financiamento tripartite da Atenção Básica, de modo regular e automático, prevendo, entre outras formas, o repasse fundo a fundo para custeio e investimento das ações e serviços; 53 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL III - ser corresponsável pelo monitoramento das ações de Atenção Básica nos municípios; IV - analisar os dados de interesse estadual gerados pelos sistemas de informação, utilizá-los no planejamento e divulgar os resultados obtidos; V - verificar a qualidade e a consistência de arquivos dos sistemas de informação enviados pelos municípios, de acordo com prazos e fluxos estabelecidos para cada sistema, retornando informações aos gestores municipais; VI - divulgar periodicamente os relatórios de indicadores da Atenção Básica, com intuito de assegurar o direito fundamental de acesso à informação; VII - prestar apoio institucional aos municípios no processo de implantação, acompanhamento e qualificação da Atenção Básica e de ampliação e consolidação da Estratégia Saúde da Família; VIII - definir estratégias de articulação com as gestões municipais, com vistas à institucionalização do monitoramento e avaliação da Atenção Básica; IX - disponibilizar aos municípios instrumentos técnicos e pedagógicos que facilitem o processo de formação e educação permanente dos membros das equipes de gestãoe de atenção; X - articular instituições de ensino e serviço, em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde, para formação e garantia de educação permanente aos profissionais de saúde das equipes que atuam na Atenção Básica; e XI - fortalecer a Estratégia Saúde da Família na rede de serviços como a estratégia prioritária de organização da Atenção Básica (BRASIL, 2017). As Secretarias Estaduais de Saúde e o Distrito Federal são corresponsáveis pelo monitoramento das ações de Atenção Básica nos municípios, cabendo a eles, além de garantir a destinação de recursos estaduais, a pactuação de estratégias, diretrizes e normas para a implantação e implementação da Política Nacional de Atenção Básica, acompanhar e contribuir com os processos de gestão e avaliação da Atenção Básica, além de disponibilizar instrumentos e parcerias voltados aos processos de formação e educação permanente dos membros das equipes de Atenção Básica e de fortalecer a Estratégia Saúde da Família na rede de serviços como a estratégia prioritária de organização da Atenção Básica. Ao município compete a maior parte das responsabilidades; sendo assim, as Secretarias Municipais de Saúde são responsáveis pela coordenação do componente municipal da Atenção Básica, no âmbito de seus limites territoriais, de acordo com a política, diretrizes e prioridades estabelecidas, sendo responsabilidades dos Municípios e do Distrito Federal: 54 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II I - organizar, executar e gerenciar os serviços e ações de Atenção Básica, de forma universal, dentro do seu território, incluindo as unidades próprias e as cedidas pelo estado e pela União; II - programar as ações da Atenção Básica a partir de sua base territorial de acordo com as necessidades de saúde identificadas em sua população, utilizando instrumento de programação nacional vigente; III - organizar o fluxo de pessoas, inserindo-as em linhas de cuidado, instituindo e garantindo os fluxos definidos na Rede de Atenção à Saúde entre os diversos pontos de atenção de diferentes configurações tecnológicas, integrados por serviços de apoio logístico, técnico e de gestão, para garantir a integralidade do cuidado. IV - estabelecer e adotar mecanismos de encaminhamento responsável pelas equipes que atuam na Atenção Básica de acordo com as necessidades de saúde das pessoas, mantendo a vinculação e coordenação do cuidado (BRASIL, 2017). A definição, organização, execução e gerenciamento dos serviços e ações de Atenção Básica, de forma universal, dentro do seu território é uma responsabilidade do município. Este deve programar as ações individuais e coletivas dentro do território, de acordo com as necessidades levantadas por meio dos processos baseados nos princípios que norteiam a atenção básica. As ações devem contemplar todos os processos necessários para suprir as necessidades de saúde dos usuários (indivíduo e comunidade), utilizando todos os mecanismos e tecnologias disponibilizados pela Política Nacional de Saúde, incluindo os processos de referência e contrarreferência (encaminhamento), assumindo a coordenação do cuidado. V - manter atualizado mensalmente o cadastro de equipes, profissionais, carga horária, serviços disponibilizados, equipamentos e outros no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde vigente, conforme regulamentação específica; VI - organizar os serviços para permitir que a Atenção Básica atue como a porta de entrada preferencial e ordenadora da RAS; VII - fomentar a mobilização das equipes e garantir espaços para a participação da comunidade no exercício do controle social; VIII - destinar recursos municipais para compor o financiamento tripartite da Atenção Básica; IX - ser corresponsável, junto ao Ministério da Saúde, e Secretaria Estadual de Saúde pelo monitoramento da utilização dos recursos da Atenção Básica transferidos aos municípios (BRASIL, 2017). 55 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Compete às Secretarias Municipais de Saúde a adequada distribuição dos recursos municipais, estaduais e federais ao município, bem como garantir a implementação e gestão adequada por meio dos sistemas de informação e instrumentos de gestão disponíveis, incluindo a participação da comunidade, em atenção aos objetivos da Política Nacional de Atenção Básica. X - inserir a Estratégia de Saúde da Família em sua rede de serviços como a estratégia prioritária de organização da Atenção Básica; XI - prestar apoio institucional às equipes e serviços no processo de implantação, acompanhamento, e qualificação da Atenção Básica e de ampliação e consolidação da Estratégia Saúde da Família (BRASIL, 2017). Sendo a Atenção Básica considerada porta de entrada para o Sistema de Saúde e a Estratégia Saúde da Família tida como prioritária na organização da Atenção Básica, o apoio irrestrito à Estratégia Saúde da Família é de suma importância para a consolidação dos objetivos da Atenção Básica e do Sistema Único de Saúde como um todo. XII - definir estratégias de institucionalização da avaliação da Atenção Básica; XIII - desenvolver ações, articular instituições e promover acesso aos trabalhadores, para formação e garantia de educação permanente e continuada aos profissionais de saúde de todas as equipes que atuam na Atenção Básica implantadas; XIV - selecionar, contratar e remunerar os profissionais que compõem as equipes multiprofissionais de Atenção Básica, em conformidade com a legislação vigente (BRASIL, 2017). A seleção, contratação e remuneração de pessoal para atuar na Atenção Básica é de responsabilidade dos municípios, os quais devem dispor de mecanismos e ações para o aprimoramento de pessoal por meio de processos de formação e educação permanente/ continuada. XV - garantir recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes para o funcionamento das UBS e equipes, para a execução do conjunto de ações propostas; XVI - garantir acesso ao apoio diagnóstico e laboratorial necessário ao cuidado resolutivo da população (BRASIL, 2017) A gestão municipal é responsável pela garantia dos recursos materiais, equipamentos e insumos necessários ao cuidado integral da população, incluindo o acesso à realização de exames laboratoriais, entre outros necessários ao diagnóstico. 56 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II XVII - alimentar, analisar e verificar a qualidade e a consistência dos dados inseridos nos sistemas nacionais de informação a serem enviados às outras esferas de gestão, utilizá-los no planejamento das ações e divulgar os resultados obtidos, a fim de assegurar o direito fundamental de acesso à informação (BRASIL, 2017). Os dados inseridos nos sistemas nacionais de informação da Atenção Básica possuem a finalidade de auxiliar nos processos de gestão e avaliação dos serviços em todas as esferas, bem como de manter a população informada no que tange aos serviços oferecidos e suas estruturas de funcionamento. À esfera de gestão municipal cabe alimentar, analisar e verificar a qualidade e a consistência dos dados. XVIII - organizar o fluxo de pessoas, visando à garantia das referências a serviços e ações de saúde fora do âmbito da Atenção Básica e de acordo com as necessidades de saúde das mesmas; e XIX - assegurar o cumprimento da carga horária integral de todos os profissionais que compõem as equipes que atuam na Atenção Básica, de acordo com as jornadas de trabalho especificadas no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde vigente e a modalidade de atenção (BRASIL, 2017). Segundo a PNAB, as Redes de Atenção à Saúde (RAS) correspondem à estratégia adotada pelo SUS para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população e destacam a AtençãoBásica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde. A Estratégia de Saúde da Família é prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica; no entanto, também existem outros modos de organização da Atenção Básica nos territórios, os quais devem seguir os princípios e diretrizes da Atenção Básica e do SUS, configurando um processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades locorregionais, ressaltando a dinamicidade do território e a existência de populações específicas, itinerantes e dispersas, que também são de responsabilidade da equipe enquanto estiverem no território, em consonância com a política de promoção da equidade em saúde. Figura 11 57 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL A atenção básica considera a pessoa em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral, incorporar as ações de vigilância em saúde – a qual constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde. Além disso, visa ao planejamento e à implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população, a prevenção e o controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde. Destaca-se ainda o desafio de superar compreensões simplistas, nas quais, entre outras, a dicotomia e oposição entre a assistência e a promoção da saúde. Para tal, deve-se partir da compreensão de que a saúde possui múltiplos determinantes e condicionantes e que a melhora das condições de saúde das pessoas e coletividades passa por diversos fatores, os quais podem ser abordados na Atenção Básica. Saiba mais Conheça a Política Nacional de Atenção Básica na íntegra acessando: BRASIL. Portaria nº 2.435, de 24 de outubro de 2012. Habilita Municípios a receberem recursos federais destinados à aquisição de equipamentos e material permanente para estabelecimentos de saúde. Brasília, 2012. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/ prt2435_24_10_2012.html>. Acesso em: 15 maio 2018. 5.2 A estratégia Saúde da Família A Estratégia Saúde da Família teve origem no ano de 1991, quando foi lançado o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Com os bons resultados do PACS, principalmente na redução dos índices de mortalidade infantil, buscou-se uma ampliação e maior resolutividade das ações e, a partir de 1994, começaram a ser formadas as primeiras equipes de Saúde da Família. O Programa Saúde da Família, hoje, Estratégia Saúde da Família, foi introduzido pelo Ministério da Saúde em 1994. A Estratégia Saúde da Família supera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade. Mediante a adstrição de clientela, as equipes de Saúde da Família estabelecem vínculo com a população, possibilitando o compromisso e a corresponsabilidade desses profissionais com os usuários e a comunidade. 58 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Seu desafio é o de ampliar suas fronteiras de atuação, visando a uma maior resolubilidade da atenção, em que a Saúde da Família é compreendida como a estratégia principal, que deverá sempre se integrar a todo o contexto de reorganização do sistema de saúde. Trata-se de uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde. Essas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, além da manutenção da saúde das comunidades. O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde. A atuação das equipes ocorre nas Unidades Básicas de Saúde, nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se como porta de entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde; por ter território definido, com uma população delimitada, sob a sua responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está exposta; por prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar atividades de educação e promoção da saúde. Recomenda-se que cada equipe se responsabilize pelo acompanhamento de 2 mil a, no máximo, 3.500 habitantes localizados dentro do seu território, garantindo os princípios e diretrizes da Atenção Básica, salvos os casos em que haja recomendação diferenciada, considerando eventuais peculiaridades da população atendida. Quanto ao número de equipes, a recomendação da PNAB é de quatro equipes de Saúde da Família ou Atenção Básica por UBS, sendo o teto máximo de equipes definido pela fórmula (População/2.000). Em municípios ou territórios com menos de 2 mil habitantes, uma única equipe de Saúde da Família (eSF) ou de Atenção Básica (eAB) deve se responsabilizar por toda a população. Cabe destacar que nem toda UBS possui Estratégia Saúde da Família; no entanto, as recomendações no que diz respeito aos parâmetros populacionais são os mesmos para o caso de equipes de Atenção Básica. Composta, no mínimo, por médico, preferencialmente da especialidade medicina de família e comunidade, enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família; auxiliar e/ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde (ACS). Podendo fazer parte da equipe o agente de combate às endemias (ACE) e os profissionais de saúde bucal: cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da família, e auxiliar ou técnico em saúde bucal. O número de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, de acordo com definição local. Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas por ACS. 59 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Caberá a cada gestor municipal realizar a análise de demanda do território e ofertas das UBS para mensurar sua capacidade resolutiva, adotando as medidas necessárias para ampliar o acesso, a qualidade e resolutividade das equipes e serviços da sua UBS. 5.3 Os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) O serviço de atenção básica conta também com as equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB), o qual constitui uma equipe multiprofissional e interdisciplinar composta por categorias de profissionais da saúde, complementar às equipes que atuam na Atenção Básica. A equipe do Nasf-AB é formada por diferentes ocupações (profissões e especialidades) da área da saúde, atuando de maneira integrada para dar suporte (clínico, sanitário e pedagógico) aos profissionais das equipes de Saúde da Família (eSF) e de Atenção Básica (eAB). Compete especificamente à Equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf- AB): a. Participar do planejamento conjunto com as equipes que atuam na Atenção Básica à que estão vinculadas; b. Contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do SUS principalmente por intermédio da ampliação da clínica, auxiliandono aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários; e c. Realizar discussão de casos, atendimento individual, compartilhado, interconsulta, construção conjunta de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos populacionais de todos os ciclos de vida, e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho das equipes dentre outros, no território (BRASIL, 2017). Atuando em parceria com as equipes de Atenção Básica, as Equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) oferecem atenção e retaguarda especializada, de acordo com as necessidades do território, dispondo de tecnologias específicas e profissionais especialistas. Poderão compor os Nasf-AB as ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO) na área de saúde: • médico acupunturista; • assistente social; • profissional/professor de educação física; • farmacêutico; 60 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II • fisioterapeuta; • fonoaudiólogo; • médico ginecologista/obstetra; • médico homeopata; • nutricionista; • médico pediatra; • psicólogo; • médico psiquiatra; • terapeuta ocupacional; • médico geriatra; • médico internista (clínica médica); • médico do trabalho; • médico veterinário; • profissional com formação em arte e educação (arte educador) e • profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós- graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas. Lembrete Os profissionais de enfermagem, médico de família, ACS, ACE e profissionais de saúde bucal não estão entre os profissionais que podem compor a equipe do Nasf-AB, pois já fazem parte da eSF. A definição das categorias profissionais é de autonomia do gestor local, devendo ser escolhida de acordo com as necessidades dos territórios. 61 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Exemplo de aplicação Uma das competências específicas da Equipe do Nasf-AB é: Realizar discussão de casos, atendimento individual, compartilhado, interconsulta, construção conjunta de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos populacionais de todos os ciclos de vida, e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho das equipes dentre outros, no território (BRASIL, 2017). Imagine-se um profissional do Nasf-AB e elabore uma estratégia que utilize ações intersetoriais para a melhoria das condições de vida de uma comunidade. Em territórios onde as equipes de Saúde da Família ainda não são uma realidade, é prevista a implantação da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde nas Unidades Básicas de Saúde como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da Estratégia de Saúde da Família ou como uma forma de agregar os agentes comunitários a outras maneiras de organização da Atenção Básica. Todos os profissionais do SUS e, especialmente, da Atenção Básica, são responsáveis pela atenção à saúde de populações que apresentem vulnerabilidades sociais peculiares e, por consequência, necessidades de saúde específicas, assim como pela atenção à saúde de qualquer outra pessoa. Isso porque a Atenção Básica possui responsabilidade direta sobre ações de saúde em determinado território, considerando suas singularidades, o que possibilita intervenções mais oportunas nessas situações específicas, com o objetivo de ampliar o acesso à RAS e ofertar uma atenção integral à saúde. Assim, toda equipe de Atenção Básica deve realizar atenção à saúde de populações distintas. Em algumas realidades, contudo, ainda é possível e necessário dispor, além das equipes descritas anteriormente, de equipes adicionais para realizar as ações de saúde a populações específicas no âmbito da Atenção Básica, que devem atuar de forma integrada para a qualificação do cuidado no território. Aponta-se para um horizonte em que as equipes que atuam na Atenção Básica possam incorporar tecnologias dessas equipes específicas, de modo que se faça uma transição para um momento em que não serão necessárias essas equipes específicas, e todas as pessoas e populações serão acompanhadas pela eSF. Mas essa ainda não é uma realidade no Brasil. Nesse sentido, são consideradas equipes de Atenção Básica para Populações Específicas: • Equipe de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR). • Equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF). • Equipe de Consultório na Rua (eCR). • Equipe de Atenção Básica Prisional (eABP). 62 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Quanto à Saúde da Família, constitui uma estratégia para a organização e fortalecimento da Atenção Básica como o primeiro nível de atenção à saúde na Redes de Atenção à Saúde do SUS, procurando o fortalecimento da atenção por meio da ampliação do acesso, a qualificação e reorientação das práticas de saúde embasadas na promoção da saúde. A noção de consulta é superada por outra ação de maior amplitude, que passa a ser concebida como cuidado, uma nova atitude frente aos processos de saúde-doença da comunidade. Contudo, considerando a importância da Política Nacional de Atenção Básica na melhoria das condições de vida e saúde da população brasileira, sobretudo no que diz respeito às ações voltadas à promoção da saúde desenvolvidas pelas equipes de Atenção Básica e Saúde da Família, a mesma é considerada uma política de grande relevância para a inclusão social. Exemplo de aplicação Equipes de atenção básica para populações específicas são constituídas para viabilizar o atendimento do serviço de atenção básica a populações em situação de rua, prisional, famílias ribeirinhas e em Unidades Básicas de Saúde fluviais. Com base nas competências exclusivas do Nasf-AB e nas diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde, apresentadas anteriormente, imagine-se como um profissional do Nasf-AB e reflita sobre suas possibilidades de atuação com foco na inclusão social de populações específicas. 5.4 A política nacional de promoção da saúde 5.4.1 O referencial da promoção da saúde (O que é promoção da saúde?) A promoção da saúde é entendida como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo. Visa à saúde não como um objetivo em si, mas como um recurso fundamental para a vida cotidiana, constituindo processo em busca do empoderamento de indivíduos e comunidades (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1986). Reconhecida internacionalmente como um importante processo para enfrentar os atuais problemas de saúde pública e de desenvolvimento social, suas abordagens e projetos estão intrinsecamente relacionados aos conceitos de saúde e metas de desenvolvimento social adotados pelas políticas públicas e governos. Sendo assim, existem diferentes referenciais teóricos para o campo da Promoção da Saúde que algumas vezes são dicotômicos e outras vezes complementares entre si, mas que devem atender às necessidades sociais em saúde de determinada população ou região. 63 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Para Buss (2000), o desenvolvimento da promoção da saúde é considerado como campo conceitual e de prática que busca explicações e respostas para a articulação entre saúde e qualidade de vida, considerando a relevância das causas sociais das más condições de vida e saúde. A promoção da saúde constitui ação sobre a amplacausalidade do processo saúde-doença, sendo uma nova visão baseada em conceito positivo para ser utilizado por profissionais de modo geral e, em especial, os de saúde, para que objetivem fortalecer os indivíduos para enfrentar os momentos difíceis e vencê-los, e retornar à vida com felicidade e qualidade. As ações de Promoção da Saúde (PS) visam à capacitação e ao empoderamento como fundamentais para a emancipação da população, sendo uma condição necessária para o exercício efetivo da cidadania em busca de melhores condições de vida e consequentemente de boa saúde. A amplitude das abordagens teórico-metodológicas do campo da Promoção da Saúde (PS) configura um novo e promissor paradigma na saúde. Suas bases conceituais dão suporte à reorganização do trabalho em saúde, para que este se constitua como uma forma de resposta social organizada aos problemas e necessidades de saúde de uma dada população. Historicamente, a partir dos resultados do relatório Lalonde na década de 1970, identificou-se que o modelo biomédico utilizado até então na atenção à saúde enfatizava a prevenção, o tratamento e a recuperação, deixando de lado a educação e a promoção da saúde e ainda não incluía os aspectos socioeconômicos, políticos e culturais que influenciam o processo saúde-doença. Surgiu então um novo modelo de atenção à saúde integral e um novo paradigma para a saúde pública, a Promoção da Saúde (PELICIONI; PELICIONI, 2007). As primeiras políticas de promoção da saúde e bases conceituais com enfoque socioambiental e inclusivo foram desenvolvidas a partir das conferências internacionais de Ottawa (Canadá) em 1986, Adelaide (Austrália) em 1988, Sundsvall (Suécia) em 1991 e Jacarta (Indonésia) em 1997. Na América Latina, a Conferência Interamericana de Promoção da Saúde que ocorreu em Bogotá (Colômbia), no ano de 1992, trouxe formalmente o tema para o contexto sub-regional (BRASIL, 2002). Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global. Essa é a concepção de promoção da saúde da I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde realizada em Ottawa, no Canadá, em 1986, e até hoje muito atual para fins de construção e implementação de políticas públicas que visam à inclusão social. Ela foi uma resposta às crescentes expectativas por uma nova saúde pública, movimento que vinha ocorrendo em todo o mundo. 64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II As discussões localizaram, principalmente, as necessidades em saúde nos países industrializados, embora tenham levado em conta necessidades semelhantes de outras regiões do globo. As conversas foram baseadas nos progressos alcançados com a Declaração de Alma Ata para os Cuidados Primários em Saúde, com o documento da Organização Mundial da Saúde sobre “Saúde Para Todos”, assim como com o debate ocorrido na Assembleia Mundial da Saúde sobre as ações intersetoriais necessárias para o setor. A Declaração de Ottawa esclarece que o incremento nas condições de saúde de uma população requer uma base sólida em pré-requisitos básicos. Nesse sentido, estabelece que as condições e recursos fundamentais para a saúde são: Paz Habitação Educação Alimentação SAÚDE Renda Equidade Ecossistema estável Recursos sustentáveis Justiça social Figura 12 Nesse sentido, estabelece como campos de ação (ou eixos) para as políticas e estratégias em promoção da saúde: 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL • Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis (equidade em saúde, distribuição mais equitativa da renda, políticas sociais, intervenção multi e intersetorial sobre os determinantes da saúde). • Criação de ambientes favoráveis à saúde. • Reforço da ação comunitária (empoderamento). • Desenvolvimento de habilidades pessoais. • Reorientação do sistema de saúde. Políticas públicas saudáveis A promoção da saúde vai além dos cuidados de saúde, colocando a saúde na agenda de prioridades dos políticos e dirigentes em todos os níveis e setores, chamando-lhes a atenção para as consequências que suas decisões podem ocasionar no campo da saúde e a aceitarem suas responsabilidades políticas com a saúde. Uma política de promoção da saúde deve combinar diversas abordagens complementares, que incluem legislação, medidas fiscais, taxações e mudanças organizacionais. É uma ação coordenada que aponta para a equidade em saúde, distribuição mais equitativa da renda e políticas sociais. As ações conjuntas contribuem para assegurar bens e serviços públicos mais seguros e ambientes mais limpos e desfrutáveis. Uma política de promoção da saúde requer a identificação e a remoção de obstáculos para a adoção de políticas públicas saudáveis nos setores que não estão diretamente ligados à saúde. O objetivo maior deve ser indicar aos dirigentes e políticos que as escolhas saudáveis são as mais fáceis de realizar. Ambientes favoráveis à saúde Nossas sociedades são complexas e inter-relacionadas. Assim, a saúde não pode estar separada de outras metas e objetivos. As inextricáveis ligações entre a população e seu meio ambiente constituem a base para uma abordagem socioecológica da saúde. O princípio geral orientador para o mundo, as nações, as regiões e até mesmo as comunidades é a necessidade de encorajar a ajuda recíproca – cada um a cuidar de si próprio, do outro, da comunidade e do meio ambiente natural. A conservação dos recursos naturais do mundo deveria ser enfatizada como uma responsabilidade global. Mudar os modos de vida, de trabalho e de lazer têm um significativo impacto sobre a saúde. Trabalho e lazer deveriam ser fontes de saúde para as pessoas. A organização social do trabalho deveria contribuir para a constituição de uma sociedade mais saudável. 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II A promoção da saúde gera condições de vida e trabalho seguras, estimulantes, satisfatórias e agradáveis. O acompanhamento sistemático do impacto que as mudanças no meio ambiente produzem sobre a saúde – particularmente, nas áreas de tecnologia, trabalho, produção de energia e urbanização – é essencial e deve ser seguido de ações que assegurem benefícios positivos para a saúde da população. A proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais devem fazer parte de qualquer estratégia de promoção da saúde. Reforçando a ação comunitária (empoderamento) A promoção da saúde trabalha através de ações comunitárias concretas e efetivas no desenvolvimento das prioridades, na tomada de decisão, na definição de estratégias e na sua implementação, visando à melhoria das condições de saúde. O centro desse processo é o incremento do poder das comunidades – a posse e o controle dos seus próprios esforços e destino. O desenvolvimento das comunidades é feito sobre os recursos humanos e materiais nelas existentes para intensificar a autoajuda e o apoio social, e para desenvolver sistemas flexíveis de reforço da participação popular na direção dos assuntos de saúde. Isso requer um total e contínuo acesso à informação, às oportunidades de aprendizado para os assuntos de saúde, assim como apoio financeiro adequado. Desenvolvendo habilidades pessoais A promoção da saúde apoia o desenvolvimento pessoal e social através da divulgação e informação, educaçãopara a saúde e intensificação das habilidades vitais. Com isso, aumentam as opções disponíveis para que as populações possam exercer maior controle sobre sua própria saúde e sobre o meio ambiente, bem como fazer opções que conduzam a uma saúde melhor. É essencial capacitar as pessoas para aprender durante toda a vida, preparando-as para as diversas fases da existência, o que inclui o enfrentamento das doenças crônicas e causas externas. Essa tarefa deve ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais. Reorientação dos serviços de saúde A responsabilidade pela promoção da saúde nos serviços de saúde deve ser compartilhada entre indivíduos, comunidade, grupos, profissionais da saúde e instituições que prestam serviços de saúde e governos. Todos devem trabalhar juntos no sentido de criarem um sistema que contribua para a conquista de um elevado nível de saúde. O papel do setor saúde deve mover-se, gradativamente, no sentido da promoção da saúde, além das suas responsabilidades de prover serviços clínicos e de urgência. 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Os serviços de saúde precisam adotar uma postura abrangente, que perceba e respeite as peculiaridades culturais. Essa postura deve apoiar as necessidades individuais e comunitárias para uma vida mais saudável, abrindo canais entre o setor saúde e os setores sociais, políticos, econômicos e ambientais. A reorientação dos serviços também requer um esforço maior de pesquisa em saúde, assim como mudanças na educação e no ensino dos profissionais da área. Isso precisa levar a uma transformação de atitude e de organização dos serviços de saúde para que focalizem as necessidades globais do indivíduo como pessoa integral que é. Os cinco campos de ação da promoção da saúde são transversais a todos os setores sociais, caracterizando a proposta da promoção da saúde como genuinamente intersetorial. Considera que as condições e requisitos para a saúde são: paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Dessa forma, a Carta de Ottawa reafirma os determinantes múltiplos da saúde e trata o conceito de saúde como bem-estar que transcende a ideia de formas sadias de vida (BUSS, 2000). Outras conferências internacionais subsequentes à Jacarta (1997) contribuíram para a ampliação do campo de observação e da construção do referencial teórico-metodológico da chamada “nova Promoção da Saúde”, tais como a V Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizada na Cidade do México (México) no ano de 2000, a VI Conferência Internacional realizada na cidade de Bangcoc no ano de 2005, a VII Conferência Internacional de Promoção da Saúde, ocorrida na cidade de Nairóbi (Quênia) em 2009 e a VIII Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde realizada em Helsinki, na Finlândia, em junho de 2013, onde cerca de novecentos delegados representando países do mundo todo discutiram a implementação das decisões políticas sobre saúde, reafirmando a importância da inclusão da saúde em todas as políticas, como estratégia para aumentar as chances de uma vida mais saudável e ao mesmo tempo alcançar objetivos políticos em outras áreas. Saiba mais Conheça mais sobre as Cartas da Promoção da Saúde acessando o seguinte link: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/cartas_promocao.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018. Promover diz respeito a “dar impulso a; fomentar; originar; gerar”, mais amplo que prevenir, promover refere-se às medidas que não se dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem 68 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II para aumentar a saúde e o bem-estar gerais. As estratégias de promoção enfatizam a transformação das condições de vida e de trabalho que conformam a estrutura subjacente aos problemas de saúde, demandando uma abordagem intersetorial (CZERESNIA, 2009, p. 45). Para Czeresnia (2009, p. 39-48), a ideia de promoção envolve a de fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos condicionantes da saúde. Indo além de uma aplicação técnica e normativa, considera que não basta conhecer o funcionamento das doenças e encontrar mecanismos para o seu controle, trata-se do fortalecimento da saúde por meio da construção de capacidade de escolha, pois um dos eixos básicos do discurso da promoção de saúde é fortalecer a ideia de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais. No entanto, a perspectiva conservadora da promoção de saúde tem reforçado a tendência de diminuição das responsabilidades do Estado, delegando, progressivamente, aos sujeitos, a tarefa de tomar conta de si mesmos. Já as perspectivas progressistas ressaltam a elaboração de políticas públicas intersetoriais, voltadas à obtenção da melhoria da qualidade de vida das populações. Nesse sentido, ainda que impliquem em diferentes abordagens, a lógica dos níveis de prevenção ainda se faz presente na saúde, ao constituir-se como referência para muitos cursos de formação, produções técnicas e até mesmo políticas públicas, programas e estratégias de saúde. Sendo assim, são relevantes os esforços acadêmicos no sentido de demonstrar as principais diferenças entre as perspectivas conservadoras de promoção da saúde, voltadas à lógica preventivista desenvolvida a partir da história natural das doenças e a nova perspectiva da promoção saúde vista a partir de um conceito positivo de saúde, a qual tem impulsionado o desenvolvimento do campo da saúde pública/coletiva, por meio do reconhecimento da ampliação do escopo dos determinantes e condicionantes da saúde e consequentemente das possibilidades de ação e intervenção eficazes (SCABAR, 2014). O quadro a seguir apresenta uma analogia entre as perspectivas preventivista e da promoção da saúde, a fim de tornar mais claras as suas diferenças. Quadro 1 Categorias Promoção da saúde Prevenção de doenças Modelo de intervenção Participativo Médico Alvo Toda a população, no seu ambiente total Principalmente os grupos de alto risco da população Incumbência Rede de temas da saúde Patologia específica Estratégias Diversas e complementares Geralmente única Abordagens Facilitação e capacitação Direcionadoras e persuasivas Direcionamento das medidas Oferecido à população Impostas a grupos-alvo Objetivos dos programas Mudanças na situação dos indivíduos e de seu ambiente Focam em indivíduos e grupos de pessoas Executores dos programas Organizações não profissionais, movimentos sociais, governos locais, municipais, etc. Profissionais de saúde Fonte: Scabar, 2014 69 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Ações preventivas possuem foco assistencial e ações de promoção da saúde preconizam processo educacional e emancipatório. Trata-se de ação política com o objetivo de transformar realidades sociais por meio do empoderamento. Observação Ações preventivas são importantes e fundamentais para o alcance de boas condições de saúde de uma população; no entanto, não devem ser consideradas sinônimo de ações de promoção da saúde. 5.4.2 A política nacional de promoção de saúde como modelo de política pública vigente Tanto a Constituição Federal de 1998, quanto na Lei Orgânica da Saúde fazem menção à Promoção da Saúde; no entanto, segundo Castro (2005)e Buss (2000), apenas em 1998 surgiram as primeiras ações com o objetivo de propor políticas públicas de saúde que atuassem além do setor sanitário, tendo como referência os determinantes sociais da saúde (DSS). Embora o conceito ampliado de saúde tenha sido resultado da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986 e faça parte da Política Nacional de Saúde desde a sua criação em 1990, a criação de políticas e estratégias que trabalham as questões de saúde de forma ampliada, conforme o referido conceito, são iniciativas mais recentes e impulsionadas principalmente a partir da tradução e divulgação das Cartas de Promoção da Saúde pelo Ministério da Saúde, o que ocorreu a partir do ano de 2002. Nesse sentido, considera-se a promoção da saúde um importante instrumento para trabalhar a saúde a partir do conceito ampliado, sendo uma importante referência para a elaboração de políticas públicas que objetivam a inclusão social. No ano de 2014, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) foi revisada por meio de um processo participativo que contou com a colaboração de gestores públicos, participantes de movimentos sociais, professores e pesquisadores de universidades. A versão anterior era do ano de 2006 e já havia passado por edições que, ao longo dos anos, trouxeram contribuições e atualizações ao texto original. A atual versão, publicada por meio da Portaria 2.446, de 11 de novembro de 2014, traz em sua base o conceito ampliado de saúde e o referencial teórico da promoção da saúde como um conjunto de estratégias e formas de produzir saúde, no âmbito individual e coletivo, caracterizando-se pela articulação e cooperação intra e intersetorial, pela formação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), buscando articular suas ações com as demais redes de proteção social, com ampla participação e controle social (BRASIL, 2014). 70 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II São valores fundantes no processo de efetivação da PNPS: I - a solidariedade, entendida como as razões que fazem sujeitos e coletivos nutrirem solicitude para com o próximo, nos momentos de divergências ou dificuldades, construindo visão e metas comuns, apoiando a resolução das diferenças, contribuindo para melhorar a vida das pessoas e para formar redes e parcerias; II - a felicidade, enquanto autopercepção de satisfação, construída nas relações entre sujeitos e coletivos, que contribui na capacidade de decidir como aproveitar a vida e como se tornar ator partícipe na construção de projetos e intervenções comuns para superar dificuldades individuais e coletivas a partir do reconhecimento de potencialidades; III - a ética, a qual pressupõe condutas, ações e intervenções sustentadas pela valorização e defesa da vida, sendo pautadas para o bem comum, com dignidade e solidariedade; IV - o respeito às diversidades, que reconhece, respeita e explicita as diferenças entre sujeitos e coletivos, abrangendo as diversidades étnicas, etárias, de capacidade, de gênero, de orientação sexual, entre territórios e regiões geográficas, dentre outras formas e tipos de diferenças que influenciam ou interferem nas condições e determinações da saúde; V - a humanização, enquanto elemento para a evolução do homem, por meio da interação com o outro e seu meio, com a valorização e aperfeiçoamento de aptidões que promovam condições melhores e mais humanas, construindo práticas pautadas na integralidade do cuidado e da saúde; VI - a corresponsabilidade, enquanto responsabilidades partilhadas entre pessoas ou coletivo, onde duas ou mais pessoas compartilham obrigações e/ou compromissos; VII - a justiça social, enquanto necessidade de alcançar repartição equitativa dos bens sociais, respeitados os direitos humanos, de modo que as classes sociais mais desfavorecidas contem com oportunidades de desenvolvimento; e VIII - a inclusão social, que pressupõe ações que garantam o acesso aos benefícios da vida em sociedade para todas as pessoas, de forma equânime e participativa, visando à redução das iniquidades (BRASIL, 2014). Os princípios da equidade, participação social, autonomia, empoderamento, intersetorialidade, intrasetorialidade, sustentabilidade, integralidade e territorialidade são referenciais para a implementação da Política Nacional de Saúde. 71 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL As diretrizes da PNPS baseiam-se no estímulo à cooperação e à articulação intra e intersetorial, ou seja, dentro e fora do setor saúde, contando com o apoio das demais áreas do desenvolvimento social para ampliar a atuação sobre os fatores que determinam e condicionam a saúde da população, tais como a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. No que diz respeito às diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde, são baseadas no incentivo à gestão democrática, participativa e transparente, para fortalecer a participação, o controle social e a corresponsabilidade de sujeitos, coletividades, instituições e esferas governamentais e sociedade civil, considerando a fundamental participação de todos os envolvidos para o alcance da eficácia e do sucesso das ações, propondo a ampliação da governança no desenvolvimento de ações de promoção da saúde que sejam sustentáveis nas dimensões política, social, cultural, econômica e ambiental. O estimulo à pesquisa, à produção e à difusão de experiências, conhecimentos e evidências que apoiem a tomada de decisão, a autonomia, o empoderamento coletivo e a construção compartilhada de ações de promoção da saúde, constitui diretriz indispensável para a implementação, desenvolvimento e aprimoramento da PNPS, que propõe apoiar a formação e a educação permanente em promoção da saúde para ampliar o compromisso e a capacidade crítica e reflexiva dos gestores e trabalhadores de saúde, bem como o incentivo ao aperfeiçoamento de habilidades individuais e coletivas, para fortalecer o desenvolvimento humano sustentável. A PNPS deve contar com ações intersetoriais para incorporar as intervenções de promoção da saúde no modelo de atenção à saúde, especialmente no cotidiano dos serviços de atenção básica em saúde, considerando a relevância das ações desenvolvidas pela atenção básica, como porta de entrada para o Sistema de Saúde e a sua responsabilidade na organização do mesmo, incluindo a organização dos processos de gestão e planejamento, como forma de fortalecer e promover a implantação da PNPS na RAS, de modo transversal e integrado, compondo compromissos e corresponsabilidades para reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde vinculados aos determinantes sociais (BRASIL, 2014). Tais diretrizes reforçam a característica pública da Política Nacional de Saúde ao incorporar a participação das diferentes esferas da sociedade civil no seu processo de implementação e gestão. Cabe destacar a importante contribuição das universidades no último processo de revisão da PNPS, que resultou no atual texto, publicizado por meio da Portaria 2.446 de 2014. Nota-se que diversas opiniões, críticas e sugestões dadas pelo grupo aparecem nos itens da nova política, como exemplo os temas relacionados à formação e educação permanente, educação continuada e formação profissional (MINOWA et al. 2018). Minowa e colaboradores afirmam que a revisão da política é uma questão dialética, que não termina quando a política é publicada oficialmente. No que diz respeito à contribuição da universidade, trata-se de uma ação contínua, que acontecerá enquanto a política existir, pois a universidade, através de seus professores e cientistas políticos, permanece atenta, sempre observando e agindo para que a política permaneça viva e atualizada de acordo com as mudanças nas relações de poder e saber.72 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Tendo por objetivo geral promover a equidade e a melhoria das condições e modos de viver, ampliando a potencialidade da saúde individual e da saúde coletiva, reduzindo vulnerabilidades e riscos à saúde decorrentes dos determinantes sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais, são definidos como objetivos específicos da PNPS: I - estimular a promoção da saúde como parte da integralidade do cuidado na RAS, articulada às demais redes de proteção social; II - contribuir para a adoção de práticas sociais e de saúde centradas na equidade, na participação e no controle social, visando reduzir as desigualdades sistemáticas, injustas e evitáveis, com respeito às diferenças de classe social, de gênero, de orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações, étnico-raciais, culturais, territoriais e relacionadas às pessoas com deficiências e necessidades especiais; III - favorecer a mobilidade humana e a acessibilidade e o desenvolvimento seguro, saudável e sustentável; IV - promover a cultura da paz em comunidades, territórios e Municípios; V - apoiar o desenvolvimento de espaços de produção social e ambientes saudáveis, favoráveis ao desenvolvimento humano e ao bem-viver (BRASIL, 2014). Os objetivos específicos da PNPS evidenciam a preocupação com os Determinantes Sociais da Saúde – fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais (CNDSS, 2006) – orientando ações para a melhoria dos fatores de risco na população, os quais muitas vezes são responsáveis pela ocorrência dos problemas de saúde. VI - valorizar os saberes populares e tradicionais e as práticas integrativas e complementares; VII - promover o empoderamento e a capacidade para tomada de decisão e a autonomia de sujeitos e coletividades por meio do desenvolvimento de habilidades pessoais e de competências em promoção e defesa da saúde e da vida; VIII - promover processos de educação, formação profissional e capacitação específicas em promoção da saúde, de acordo com os princípios e valores expressos nesta Portaria, para trabalhadores, gestores e cidadãos (BRASIL, 2014) Como uma Política Pública que visa à inclusão social, a PNPS é comprometida com o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma 73 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL maior participação no controle deste processo, ou seja, com o empoderamento de indivíduos e grupos, capacitando-os para utilizarem as suas habilidades pessoais para tomar decisões e ter controle sobre a sua própria saúde. Nesse sentido, a Política Nacional de Promoção da Saúde compromete-se com processos de educação em saúde na formação para a cidadania ativa como ação transformadora da realidade social em busca da melhoria da qualidade de vida. IX - estabelecer estratégias de comunicação social e mídia direcionadas ao fortalecimento dos princípios e ações em promoção da saúde e à defesa de políticas públicas saudáveis; X - estimular a pesquisa, produção e difusão de conhecimentos e estratégias inovadoras no âmbito das ações de promoção da saúde; XI - promover meios para a inclusão e qualificação do registro de atividades de promoção da saúde e da equidade nos sistemas de informação e inquéritos, permitindo análise, monitoramento, avaliação e financiamento das ações; XII - fomentar discussões sobre modos de consumo e produção que estejam em conflito de interesses com os princípios e valores da promoção da saúde e que aumentem vulnerabilidades e riscos à saúde; e XIII - contribuir para a articulação de políticas públicas inter e intrassetoriais com as agendas nacionais e internacionais (BRASIL, 2014). Entre os objetivos específicos da PNPS, destacam-se, ainda, as ações de comunicação social e mídia, o estímulo à pesquisa, produção e difusão de conhecimentos no âmbito das ações de promoção da saúde, bem como a articulação inter e intrassetoriais das agendas nacionais e internacionais, todos fundamentais no alcance dos demais objetivos propostos. Operando em consonância com os seus princípios e valores, assim como com os princípios e valores do SUS, a Política Nacional de Saúde prevê trabalhar transversalmente com os seguintes temas de referência para elaboração de suas agendas, adoção de estratégias e temas prioritários: • Determinantes Sociais da Saúde (DSS), equidade e respeito à diversidade. • Desenvolvimento sustentável. • Produção de saúde e cuidado. • Ambientes e territórios saudáveis. • Vida no trabalho. • Cultura da paz e direitos humanos. 74 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II No que diz respeito ao tema determinantes sociais da saúde (DSS), equidade e respeito à diversidade, a Política objetiva desenvolver ações e programas que visam à identificação das diferenças nas condições e nas oportunidades de vida, buscando alocar recursos e esforços para a redução das desigualdades injustas e evitáveis, por meio do diálogo entre os saberes técnicos e populares, com a finalidade de promover acesso e/ou melhoria nos fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população, sendo esses fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais. Quanto ao tema desenvolvimento sustentável, a proposta é dar visibilidade aos modos de consumo e produção relacionados com o tema priorizado, mapeando possibilidades de intervir naqueles que sejam deletérios à saúde, adequando tecnologias e potencialidades de acordo com especificidades locais, sem comprometer as necessidades futuras, ou seja, viabilizando modos de desenvolvimento comprometidos com o não esgotamento dos recursos naturais para o futuro. A temática produção de saúde e cuidado representa a incorporação do tema na lógica de redes que favoreçam práticas de cuidado humanizadas, pautadas nas necessidades locais, por contarem com a fundamental participação popular, promovendo o reconhecimento e o diálogo entre as diversas formas do saber popular, tradicional e científico, construindo práticas pautadas na integralidade do cuidado e da saúde, significando, também, a vinculação do tema a uma concepção de saúde ampliada, considerando o papel e a organização dos diferentes setores e atores que, de forma integrada e articulada por meio de objetivos comuns, atuem na promoção da saúde. A partir da análise dos ambientes e dos territórios de vida e de trabalho das pessoas e das coletividades, a temática ambientes e territórios saudáveis objetiva identificar as oportunidades de inclusão da promoção da saúde nas ações e atividades desenvolvidas de maneira participativa e dialógica. O tema vida no trabalho propõe a identificação de oportunidades de operacionalização na lógica da promoção da saúde para ações e atividades desenvolvidas nos distintos locais, de maneira participativa e dialógica, seja no trabalho formal, não formal, nos espaços urbano e rural, em todos os setores da economia (primário, secundário ou terciário). Tendo como objetivo criar oportunidades de convivência, de solidariedade, de respeito à vida e de fortalecimento de vínculos, a temática cultura da paz e direitos humanos visa desenvolver tecnologias sociais que favoreçam a mediação de conflitos diante de situações de tensão social, garantindo os direitos humanos e as liberdades fundamentais, reduzindo as violências e construindo práticas solidárias e da cultura de paz (BRASIL, 2014). Como estratégias para concretizar ações de promoção da saúde, a PNPS adota os seguintes eixos operacionais: • territorialização, enquanto estratégia operacional; • articulação e cooperação intra e intersetorial; 75 Re vi sã o: N om e do revi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL • RAS, enquanto estratégia operacional; • participação e controle social; • gestão; • educação e formação; • vigilância, monitoramento e avaliação; • produção e disseminação de conhecimentos e saberes; • comunicação social e mídia. A PNPS reconhece a regionalização como diretriz do SUS e como eixo estruturante para orientar a descentralização das ações e serviços de saúde e para organizar a Rede de Atenção à Saúde considerando a abrangência das regiões de saúde e sua articulação com os equipamentos sociais nos territórios, observando as pactuações interfederativas, a definição de parâmetros de escala e acesso e a execução de ações que identifiquem singularidades territoriais para o desenvolvimento de políticas, programas e intervenções, ampliando as ações de promoção à saúde e contribuindo para fortalecer identidades regionais. O compartilhamento de planos, metas, recursos e objetivos comuns entre os diferentes setores e entre diferentes áreas do mesmo setor, garantindo a articulação e a cooperação intra e intersetorial, refere-se à estratégia fundamental para a concretização das ações de promoção da saúde. A Rede de Atenção à Saúde (RAS) deve transversalizar a promoção, favorecendo práticas de cuidado humanizadas, pautadas nas necessidades locais, na integralidade do cuidado, articulando com todos os equipamentos de produção da saúde do território, além de articular com as demais redes de proteção social, vinculando o tema a uma concepção de saúde ampliada, considerando o papel e a organização dos diferentes setores e atores, que, de forma integrada e articulada por meio de objetivos comuns, atuem na promoção da saúde. As estratégias para concretização das ações em promoção da saúde contam com eixos operacionais voltados à participação popular, fundamental para a definição e avaliação eficazes das ações, gestão democrática e participativa, formação e educação continuada, pautadas em processos pedagógicos problematizadores, dialógicos, libertadores, emancipatórios e críticos. A utilização das informações de forma sistêmica, objetivando subsidiar decisões, intervenções e implantar políticas públicas de promoção da saúde constitui importante eixo operacional, assim como a produção e disseminação de conhecimentos e saberes, bem como a comunicação social e mídia, enquanto uso das diversas expressões comunicacionais, formais e populares, contemplando informações sobre o planejamento, execução, resultados, impactos, eficiência, eficácia, efetividade e benefícios das ações (BRASIL, 2014). 76 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Segundo texto da Portaria 2.446/2014, são temas prioritários da PNPS, evidenciados pelas ações de promoção da saúde realizadas e compatíveis com o Plano Nacional de Saúde, pactos interfederativos e planejamento estratégico do Ministério da Saúde, bem como acordos internacionais firmados pelo governo brasileiro, em permanente diálogo com as demais políticas, com os outros setores e com as especificidades sanitárias: I - formação e educação permanente, que compreende mobilizar, sensibilizar e promover capacitações para gestores, trabalhadores da saúde e de outros setores para o desenvolvimento de ações de educação em promoção da saúde e incluí-la nos espaços de educação permanente (BRASIL, 2014). Capacitar para o desenvolvimento da promoção da saúde continua sendo um grande desafio do SUS. O campo da promoção da saúde é considerado relativamente novo no Brasil e ainda enfrenta muitos desafios para a sua inclusão nos processos de educação formal. Grande parte dos cursos de graduação que formam profissionais para atuação no campo da promoção da saúde não contemplam em seus projetos referencial teórico de Promoção da Saúde que possibilite a obtenção do perfil preconizado na formação de Promotores da Saúde, tornando fundamentais os processos de formação e educação permanente voltados à capacitação de gestores, trabalhadores da saúde e de outros setores para o desenvolvimento de ações de educação em promoção da saúde. II - alimentação adequada e saudável, que compreende promover ações relativas à alimentação adequada e saudável, visando à promoção da saúde e à segurança alimentar e nutricional, contribuindo com as ações e metas de redução da pobreza, com a inclusão social e com a garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2014). Realizar escolhas alimentares adequadas e saudáveis é uma questão multifatorial, permeada por diversas influências sociais e culturais que podem ser trabalhadas por meio de ações e instrumentos de promoção da saúde. III - práticas corporais e atividades físicas, que compreende promover ações, aconselhamento e divulgação de práticas corporais e atividades físicas, incentivando a melhoria das condições dos espaços públicos, considerando a cultura local e incorporando brincadeiras, jogos, danças populares, dentre outras práticas (BRASIL, 2014). Trata-se de um tema bastante desafiador. Um estudo recente realizado junto a uma universidade no estado de São Paulo constatou que estudantes e docentes de Educação Física associaram com destacada frequência o campo da Promoção da Saúde às práticas físicas e esportivas em detrimento às questões sociais e culturais, o que revela que os conceitos de Promoção da Saúde que ambos os grupos possuem, no geral, voltam-se apenas para visões restritas de saúde e para o ideal da mudança de comportamento individual (SCABAR, 2014). 77 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Existe o conceito difundido de Promoção da Saúde enquanto processo de viabilização ou incentivo à mudança de comportamentos individuais. Para a construção de competências em Promoção da Saúde, é necessário, primeiramente, compreender a promoção da saúde dentro da perspectiva da saúde coletiva, como uma estratégia para se alcançar o empoderamento individual ou coletivo, por meio do desenvolvimento de habilidades pessoais que capacitem para a tomada de melhores decisões acerca da saúde e dos demais direitos sociais. Nesse sentido, as mudanças de comportamento que propiciaram melhoras nos determinantes e condicionantes da saúde resultarão de um processo de construção de uma consciência crítica que gera uma mudança de atitude (SCABAR, 2014). Atualmente, o principal programa de promoção da saúde que aborda o tema e está diretamente vinculado à Política Nacional de Promoção da Saúde é o Programa Academia da Saúde, que corresponde a uma estratégia de promoção e produção do cuidado com a saúde a partir da implantação de espaços públicos conhecidos como polos do Programa Academia da Saúde, os quais contam com infraestrutura apropriada, equipamentos e profissionais qualificados. IV - enfrentamento do uso do tabaco e seus derivados, que compreende promover, articular e mobilizar ações para redução e controle do uso do tabaco, incluindo ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais (BRASIL, 2014). Embora existam diversos programas e ações voltadas ao controle do tabagismo no país, não há no Brasil uma política pública de combate ao tabagismo, mesmo evidenciados e reconhecidos os males e prejuízos que o consumo do tabaco e seus derivados causam à saúde, tanto ao fumante usuário quanto ao fumante passivo. Nesse sentido, tratar o tema por meio da Política Nacional de Promoção da Saúde é uma ação de suma importância para o enfrentamento desse panorama problemático e desafiador, que requer estratégias voltadas a questões biológicas e sociais. Atualmente, vinculado a Política Nacional de Promoção da Saúde, existe o Programa Nacional de Controle do Tabagismo. V - enfrentamento do uso abusivo de álcool e outras drogas, que compreende promover,articular e mobilizar ações para redução do consumo abusivo de álcool e outras drogas, com a corresponsabilização e autonomia da população, incluindo ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais (BRASIL, 2014). Trabalhar a questão do uso abusivo do álcool e outras drogas sob a perspectiva da promoção da saúde pressupõe ações voltadas aos aspectos biológicos e sociais relacionados à saúde do usuário. 78 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Na perspectiva do trabalho em rede, devem ser considerados os programas e tecnologias existentes no sistema, como o Programa de Redução de Danos, quando necessário, tendo como objetivo final desenvolver o empoderamento da população usuária. VI - promoção da mobilidade segura, que compreende: a) buscar avançar na articulação intersetorial e intrasetorial, envolvendo a vigilância em saúde, a atenção básica e as redes de urgência e emergência do território na produção do cuidado e na redução da morbimortalidade decorrente do trânsito; b) orientar ações integradas e intersetoriais nos territórios, incluindo saúde, educação, trânsito, fiscalização, ambiente e demais setores envolvidos, além da sociedade, visando definir um planejamento integrado, parcerias, atribuições, responsabilidades e especificidades de cada setor para a promoção da mobilidade segura; e c) avançar na promoção de ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais, fundamentadas em informação qualificada e em planejamento integrado, que garantam o trânsito seguro, a redução de morbimortalidade e a paz no trânsito; VII - promoção da cultura da paz e de direitos humanos, que compreende promover, articular e mobilizar ações que estimulem a convivência, a solidariedade, o respeito à vida e o fortalecimento de vínculos, para o desenvolvimento de tecnologias sociais que favoreçam a mediação de conflitos, o respeito às diversidades e diferenças de gênero, de orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações, étnico-raciais, culturais, territoriais, de classe social e relacionada às pessoas com deficiências e necessidades especiais, garantindo os direitos humanos e as liberdades fundamentais, articulando a RAS com as demais redes de proteção social, produzindo informação qualificada e capaz de gerar intervenções individuais e coletivas, contribuindo para a redução das violências e para a cultura de paz; e VIII - promoção do desenvolvimento sustentável, que compreende promover, mobilizar e articular ações governamentais, não governamentais, incluindo o setor privado e a sociedade civil, nos diferentes cenários, como cidades, campo, floresta, águas, bairros, territórios, comunidades, habitações, escolas, igrejas, empresas e outros, permitindo a interação entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável na produção social da saúde em articulação com os demais temas prioritários (BRASIL, 2014). 79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL A promoção da mobilidade segura, da cultura da paz e direitos humanos, bem como a promoção do desenvolvimento sustentável, pressupõe o desenvolvimento de ações intra e intersetoriais que têm como ação estratégica norteadora as ações de educação em saúde. No entanto, contam também com tecnologias existentes nas RAS, instrumentos de legislação, fiscalização, gestão e planejamento integrado. É fundamental que ocorra a interação de diferentes atores, leituras e interpretações na produção das políticas, bem como de seus documentos oficiais, tratando-se de elemento fundamental da análise das disputas e conflitos presentes nesse processo: o tempo todo há formulação/produção de novos textos em função dos múltiplos atravessamentos, até pela conjuntura nacional (MINOWA et al. 2018). É imprescindível que a formulação/produção de novos textos seja fruto da experiência e análise popular, com a contribuição de todas as esferas da sociedade civil, garantido a condição pública, não apenas da Política Nacional de Promoção da Saúde, como de todas as políticas vigentes no país. No contexto de garantia do bem-estar social pelo Estado é que se destaca a saúde como um importante campo do desenvolvimento social e grande potencial inclusivo, constituindo uma via legítima para a inclusão social, considerando a garantia constitucional da saúde a todo cidadão brasileiro. Segundo Buss (2000), considerando que as decisões em qualquer campo das políticas públicas, em todos os níveis de governo, influenciam diretamente a saúde da população, ressalta-se o compromisso do Estado com a viabilização das Políticas Públicas Saudáveis, conforme proposta do campo da Promoção da Saúde, o que implica diretamente na construção da prioridade política em todos os setores econômicos, do desenvolvimento social e em todas as esferas de gestão pública. Saiba mais Entre no link a seguir para ter acesso ao texto da Política Nacional de Promoção: BRASIL. Portaria nº 2.446, de 11 de novembro de 2014. Redefine a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Diário Oficial da União, Brasília, 13 nov. 2014. Seção 1, 68. 6 INTERSETORIALIDADE E O CONCEITO DE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE Para Junqueira (1998), a intersetorialidade trata da articulação de saberes e experiências na identificação participativa de problemas coletivos, nas decisões integradas sobre políticas e investimentos, com o objetivo de obter retornos sociais, com efeitos sinérgicos, no desenvolvimento econômico-social e na superação da exclusão social. Representa uma mudança de atitude que deve predispor políticos, acadêmicos e técnicos para integração e interação de saberes entre si e destes com a população. 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Determinantes sociais da saúde (DSS) são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população” (CNDSS, 2006). Para Tarlov: “DSS são as características sociais dentro das quais a vida transcorre” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). A Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde tem trabalhado usando como referência tanto o antigo conceito de saúde concebido pela Organização Mundial da Saúde de 1948, o qual diz respeito a um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente à ausência de doenças, quanto com o preceito Constitucional, resultante da 8ª Conferência Nacional de Saúde: “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Como nos lembram esses autores, desde o início do século passado já havia uma tensão acerca da definição dos determinantes do processo saúde-doença na comunidade acadêmico-científica quando da interrogação sobre o foco de pesquisa do campo da Saúde Pública, sendo feitas pesquisas em laboratório para compreensão das características biológicas dos organismos infecciosos ou em ambientes onde viviam os indivíduos ou comunidades, suas casas e locais de trabalho. Estava, assim, travado o conflito entre os enfoques biológico e social do processo saúde-doença, o qual sempre esteve presente ao longo da trajetória do campo da saúde pública. Por longos anos, e por influência inicial da Escola de Saúde Pública da Universidade de Johns Hopkins, a Saúde Pública dirigiu os seus esforços para o controle de doenças com base nos estudos microbiológicos, distanciando-se das questões políticas e dos esforços por reformas sociais e sanitárias de caráter mais amplo. Há que se considerar que o cenário de morbimortalidade pordoenças infecciosas, especialmente no Brasil no início do século XX, alarmava, indicando medidas sanitárias de urgência, o que muito contribuiu para o empenho na pesquisa microbiológica com a finalidade de descobrir meios de imunização e controle das doenças, o que não tornaria menos relevante a necessidade de conhecer as condições e os hábitos de seus hospedeiros. Buss e Pellegrini-Filho (2007) citaram ainda que essa tensão permeou as atividades da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo com o início de suas atividades a partir de um conceito hoje já um tanto obsoleto, mas que na época representou um grande avanço em termos de reconhecimento dos determinantes da saúde (ainda que poucos) para além da questão biológica e do enfoque na doença. Os autores consideram que a literatura acerca dos determinantes da saúde tem apresentado importantes contribuições para o entendimento da relação entre as formas de organização e desenvolvimento social e a situação de saúde das populações; no entanto, destacam a importância de estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações por meio das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, uma vez que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito. Fica claro, por exemplo, que macroindicadores de riqueza de uma sociedade não possuem relação direta com os indicadores de saúde, assim como a soma de indicadores de saúde de indivíduos não 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL corresponde diretamente ao indicador de saúde de um grupo ou população, ou seja, as diferenças de mortalidade constatadas entre classes sociais ou grupos ocupacionais não são explicadas pelos mesmos fatores aos quais se atribuem as diferenças entre indivíduos, ou seja, se controlarmos os hábitos e comportamentos de diversos indivíduos, as diferenças entre estes estratos sociais permaneceriam praticamente inalteradas. Nesse sentido, compreende-se que os resultados dos indicadores de saúde de uma sociedade estão diretamente relacionados às formas de organização social e política, conforme destaca o atual e ampliado conceito de saúde, resultante da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Trabalhar a saúde sob a perspectiva dos DDS pressupõe, fundamentalmente, desenvolver ações intersetoriais, o que requer uma metodologia de formulação de políticas que têm a possibilidade de atuar sobre as iniquidades por meio de ações sobre os determinantes dos problemas de saúde nos múltiplos setores onde eles se localizam (WESTPHAL; ZIGLIO, 1999). Lembrete Nesse sentido, conhecer e compreender os determinantes sociais da saúde torna-se fundamental aos profissionais em geral, principalmente para os da saúde, que se propõem a trabalhar sob a perspectiva de um ampliado conceito de saúde. Não obstante, Fernandez (2012) destaca a importância de se considerar os determinantes sociais da saúde no contexto de ação transformadora e de participação social da promoção da saúde, para que a teoria dos DSS não se transforme em apego às determinações e determinismos comuns às relações de poder. 7 SOBRE O CONCEITO DE EMPODERAMENTO Nos últimos anos muito se tem falado sobre empoderamento. Temas como as diferenças de gênero e sexualidade incentivam discussões que propõem aos indivíduos e grupos o resgate de valores e o uso do seu poder como cidadãos livres e que possuem direitos e deveres. Vamos conhecer um pouco mais sobre o conceito de empoderamento e a sua relação com a promoção da saúde e o processo de inclusão social. O empoderamento corresponde a um dos campos de atuação da promoção da saúde, previstos pela Carta de Ottawa, importante referência que traduz Promoção da Saúde como processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 1986). Trata-se de um importante campo de ação e principal objetivo da Promoção da Saúde. 82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Para Cerqueira e Coe (1996), o empoderamento é um processo em que grupos de indivíduos, organizações e comunidades utilizam o seu “poder” para coletivamente analisar problemas, propor soluções, administrar recursos e agir efetivamente para transformar suas vidas e seus ambientes sob a perspectiva da saúde. Para os autores, empoderar-se é desenvolver habilidades para ter controle sobre a sua própria saúde. Segundo Pelicioni e Pelicioni (2007), o empoderamento envolve a preparação de cada indivíduo para assumir o controle e a responsabilidade sobre a sua própria saúde e da comunidade, para a participação, a tomada de decisões, o controle social, para exigir direitos, atuar sobre os fatores determinantes e condicionantes da sua saúde e qualidade de vida. Sob essa perspectiva, a educação em saúde como processo político de formação para a cidadania ativa e para a ação transformadora da realidade social em busca da melhoria da qualidade de vida viabiliza o empoderamento por meio da promoção da saúde (PELICIONI; PELICIONI, 2007) Concordando com essas ideias, para Silva (2009), a participação e o empoderamento da população são processos desafiadores, no entanto, possíveis de serem viabilizados por meio de processo educacional crítico e político capaz de promover a transformação dos indivíduos para o desenvolvimento de suas habilidades pessoais e consequente exercício da cidadania. 8 A COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO INSTRUMENTOS DE EMANCIPAÇÃO, LIBERTAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL As políticas públicas emancipatórias e libertadoras surgem com a intenção de combater panoramas de opressão e dominação social causados pelo lado perverso da lógica capitalista, que gera submissão aos sistemas econômico e de governo, falta de comunicação social eficiente e consequente situação de alienação e exclusão social. Um processo de emancipação prevê um processo de comunicação social efetiva e livre de manipulações midiáticas. Um projeto de libertação tem como foco o diálogo, a experiência, a convivência e a sociabilidade do conhecimento. Tais processos requerem racionalidade radicalmente democrática, comunicativa e crítica, para que todos os cidadãos tenham oportunidade de debater sobre a realidade social em que vivem, para chegar ao entendimento sobre os problemas e soluções que dizem respeito a um mundo partilhado intersubjetivamente. Nesse sentido, a educação popular, no sentido da educação política, prepara o indivíduo para participação popular que visa transformar realidades sociais opressoras. Uma sociedade emancipada se traduz em uma sociedade democrática e cidadã. O exercício da verdadeira soberania popular pela qual a sociedade civil, de forma organizada, passa a controlar os órgãos públicos, que representam o poder do Estado, a política e os sistemas burocráticos, promoverá a emancipação política, cultural e social e superará a alienação. 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Para Pelicioni et al. (2013), é por meio do processo educativo formador que as pessoas motivadas vão incorporando significados à sua vida e passam a agir levando em conta tais valores. Para que haja uma efetiva mudança, é preciso que as atitudes sejam incorporadas pelos indivíduos, pois elas são indutoras dos comportamentos. Viana e Silva (2012) apresentam o conceito de educação em saúde que se baseia na concepção de que o indivíduo aprende a cuidar da sua saúde, que é resultante de múltiplos fatores intervenientes no processo saúde-doença, e em seu texto corrobora com a ideia de Pelicioni e Pelicioni (2007) e Pelicioni et al. (2013) de que a educação deveser crítica, problematizadora da realidade, um processo compartilhado, reflexivo, construído a partir de ações conjuntas. A construção de habilidades e competências para uma atuação profissional com base em uma perspectiva emancipatória pode ser viabilizada por meio da temática da promoção da saúde, sendo esta a principal estratégia na área da saúde para desenvolver projetos de emancipação social e consequentemente evitar a exclusão social, o que se viabiliza por meio das ações de empoderamento de indivíduos e grupos. Fica evidente, portanto, que a promoção da saúde é uma questão fundamentalmente política (SCABAR, 2014). Muitas vezes, as questões são abordadas como se dependessem exclusivamente de uma opção do indivíduo, quando, muitas vezes, as decisões fundamentam-se muito mais da possibilidade de acesso aos serviços, no caso da saúde, de um sistema mais igualitário e mais justo, que possibilite que as diferenças desnecessárias desapareçam (PELICIONI et al., 2013). É fundamental compreender que a adoção de um comportamento saudável implica em necessário processo de criação de uma consciência crítica perante a vida e a sociedade. Conforme destacam Pelicioni et al. (2013), somente compreendendo os fatos, refletindo sobre eles e tomando decisões conscientes é que as pessoas mudarão os seus comportamentos. Relembrando a teoria freireana, devemos considerar que “ninguém educa ou conscientiza ninguém”, somos, enquanto profissionais, cidadãos comprometidos com a mudança social, responsáveis por problematizar e promover condições para que os indivíduos, no seu contexto social, por meio da sua prática social e existencial, promovam a sua consciência crítica, se empoderem e se emancipem socialmente. Isso resultará em mudanças de atitude que gerarão transformações de comportamento, e no âmbito da saúde levarão a alcançar melhores condições (SCABAR, 2014). Nesse sentido, apenas a consciência sobre a realidade não vai gerar mudanças, é preciso ir além. Segundo Pelicioni et al. (2013), para mudar determinado estado das coisas ou influir no comportamento das pessoas, não basta dar informações, é preciso garantir que a comunicação ocorra, ou seja, a ação educativa deve ser de comunicação para atingir o ser humano, não como um ser abstrato, mas como um ser inserido em uma realidade histórica, reconhecendo a capacidade do indivíduo de refletir e de assumir o papel de sujeito de sua procura. É necessário, portanto, efetivar o processo de comunicação para educação em saúde, produzindo significados por meio de trocas simbólicas entre indivíduos e grupos. 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Dessa forma, entende-se que a mudança de atitude para o alcance de melhores condições de vida e saúde sofre influências do contexto social e de vida do indivíduo, embora a decisão pela mudança de atitude esteja imbricada também por sua participação no processo de construção da sua consciência crítica. Somos sujeitos de uma sociedade que tem a sua relação com o estado regida por políticas que legitimam o exercício do poder do governo nas decisões acerca dos direitos sociais garantidos pelo estado, entre eles, a saúde. Portanto, somos sujeitos, mas não únicos responsáveis pela determinação da nossa saúde. E é nesse contexto que a promoção da saúde moderna apoia-se, isto é, no entendimento de que a saúde é resultado do conjunto de fatores que determinam a qualidade de vida, compreendidos a partir do ambiente físico, social, político, econômico e cultural, por meio da implementação de políticas públicas e da viabilização de condições favoráveis ao desenvolvimento da saúde, as quais propiciarão escolhas saudáveis e o reforço da capacidade dos indivíduos e comunidades (empowerment), de acordo com Buss (2000). Ainda segundo Buss (2000), os programas ou atividades que visam promover a saúde concentram-se em propostas educativas ou de orientação voltadas a mudanças nos comportamentos sob o controle dos próprios indivíduos. Dentro dessa perspectiva, os indivíduos e comunidades são considerados os únicos responsáveis pela sua situação de saúde, ou seja, cabe ao profissional orientar e simplesmente informar, cabendo ao indivíduo ou comunidade a “simples” decisão de “comportar-se” de acordo com as orientações do profissional, como se não houvesse outros fatores que influenciassem na decisão de adotar um comportamento saudável, que não aqueles sob exclusivo controle dos indivíduos ou comunidades (SCABAR, 2014). Nesse sentido, se considerarmos que a situação de saúde de um indivíduo ou comunidade, conforme conceito de saúde da 8ª Conferência Nacional de Saúde: [...] é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (RELATÓRIO..., 1986). Propostas educativas ou de orientação voltadas apenas para mudanças nos comportamentos sob o controle dos próprios indivíduos serão ineficazes sob o ponto de vista da promoção da saúde integral, já que existem alguns fatores determinantes que não podem ser diretamente controlados apenas pela área da saúde, mas precisam da contribuição e parceria de outros setores. Apenas comunicar não leva à ação educativa, ou seja, campanhas de propaganda e ações informativas não cumprem com o objetivo de construir um conhecimento acerca de determinada questão. O processo de comunicação que instrumentaliza a ação educativa deve ser efetivo, ou seja, que produza significados a partir da informação transmitida pelo comunicador e da realidade de vida de cada indivíduo (SCABAR, 2014). A comunicação ganha importante espaço dentro do campo da promoção da saúde por conta de sua intrínseca relação com a ação educativa, sendo o processo de comunicação um importante instrumento para se atingir os objetivos do processo educativo. Como lembram Pelicioni et al. (2013), a ação educativa 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL deve ser de comunicação se quiser atingir o ser humano, não como ser abstrato, mas como um ser concreto inserido em uma realidade histórica. As mesmas autoras destacam a diferença entre um efetivo processo de comunicação e a simples transmissão de informações, afirmando que para mudar determinado estado de coisas ou influir no comportamento das pessoas não basta dar informações, é necessário garantir que a comunicação ocorra. É preciso desenvolver a responsabilidade social das pessoas que atuam nos meios de comunicação, potenciais indutores e formadores da opinião pública, e de atitudes e que podem atuar com a população nas ações de pressão junto ao governo para que esse, no exercício soberano do poder político, atue democraticamente a favor dos interesses e do bem comum. É necessário, no entanto, que a população exerça a sua cidadania e não se deixe cooptar pelos interesses capitalistas da grande massa midiática que apoia e incentiva a lógica de mercantilização de importantes direitos sociais como a saúde e a educação, a qual age na contramão dos interesses da maior parte da população (SCABAR, 2014). Se comunicar significa estabelecer o entendimento, compartilhar ideias e/ou sentimentos, trocar informações entre a fonte emissora e o receptor, Pelicioni et al. (2013) acreditam que para que a aprendizagem ocorra, ou seja efetiva, é preciso que a mensagem seja recebida, compreendida e incorporada ao universo de conceitos e comportamentos do indivíduo. Nesse sentido, a valorização da participação do destinatário da mensagem na interpretação do seu significado ocupa lugar central no processo de comunicação. Assim, o processo de comunicação supera a proposta de divulgar e informarao se estruturar sob uma proposta sociopolítica que visa, a partir de uma dada informação, produzir um novo sentido existencial, isto é, uma nova perspectiva. Sendo assim, a partir da informação é fundamental incentivar a reflexão do indivíduo sobre o seu comportamento para que o mesmo incorpore novas perspectivas e novas atitudes. Somente compreendendo os fatos, refletindo sobre eles, e tomando decisões conscientes é que as pessoas mudarão os comportamentos esperados, farão exames preventivos, tomarão remédios corretamente, deixarão de comer excessivamente, farão exercícios físicos, seguirão uma dieta adequada, procurarão ajuda psicológica ou psiquiátrica, buscarão atenção odontológica, manterão ambientes saudáveis. Isto é Promoção da Saúde! (PELICIONI et al., 2013, p. 199-211) Não obstante a formação de atitudes individuais, as autoras destacam também a importância de se considerar os aspectos socioeconômicos e de vontade política que determinam as possibilidades de acesso aos serviços. Embora o conceito de saúde não fique restrito aos comportamentos mencionados, ou seja, não são apenas os comportamentos que determinam a saúde do indivíduo, cabe considerar que é recorrente a situação em que o indivíduo recebe informações e orientações como prescrições acerca de comportamentos que levariam a uma condição melhor de saúde, que são consideradas equivocadamente 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II ações de educação em saúde, mas que não resultam em efetivo processo de mudança de atitude. É importante lembrar, conforme Pelicioni et al. (2013), que o termo “Educação em Saúde” não se aplica às situações de aprendizagem que limitam seus objetivos à mudança de comportamentos individuais. Observação Políticas públicas que objetivam a inclusão social devem estimular a emancipação, libertação e o empoderamento dos indivíduos e comunidades. Resumo O setor saúde corresponde a um importante campo para implementação de políticas públicas em prol da inclusão social e redução das desigualdades. Dando continuidade à análise das Políticas Nacionais, foram discutidas as Políticas Nacionais de Atenção Básica e de Promoção da Saúde sob a perspectiva da inclusão social, reconhecendo em ambas importantes ações e estratégias programadas a partir de conceitos fundamentais para uma política pública e inclusiva, como a Estratégia Saúde da Família e o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB). Por meio dos determinantes sociais da saúde é possível compreender as reais necessidades de uma população para a elaboração de políticas e estratégias eficientes e eficazes que atuem no combate às desigualdades sociais. O desenvolvimento de uma política pública de saúde a partir da perspectiva dos determinantes sociais da saúde e da promoção da saúde viabiliza a construção de estratégias e ações que contam com a participação popular e focalizam o empoderamento da população, tendo como objetivo a tão almejada inclusão social. Políticas públicas que incentivam a comunicação e a educação em saúde são fundamentais no processo de construção de uma consciência crítica, que viabiliza o empoderamento e a participação social efetiva, fundamentais no processo de inclusão social e no combate às desigualdades sociais. 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Exercícios Questão 1. (Enade, 2010, adaptada) Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) foram criados por meio da Portaria nº 154, de 24/1/2008, que faz a seguinte referência à Política Nacional de Promoção da Saúde: A Política Nacional de Promoção da Saúde compreende que as práticas corporais são expressões individuais e coletivas do movimento corporal advindo do conhecimento e da experiência em torno do jogo, da dança, do esporte, da luta, da ginástica. São possibilidades de organização, escolhas nos modos de relacionar-se com o corpo e de movimentar-se, que sejam compreendidas como benéficas à saúde de sujeitos e coletividades, incluindo as práticas de caminhadas e orientação para a realização de exercícios, e as práticas lúdicas, esportivas e terapêuticas, como a capoeira, as danças, o Tai Chi Chuan, o Lien Chi, o Lian Gong, o Tuiná, a Shantala, o Do-in, o Shiatsu, a Yoga, entre outras. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 154, 24 de janeiro de 2008. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/legislacao/ portaria154_24_01_08.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2010 (adaptado). Considerando as propostas para a Política Nacional de Promoção da Saúde, analise as afirmativas que se seguem. I – Os NASFs incluem o profissional de Educação Física em equipes multidisciplinares para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS). II – Os profissionais de Educação Física atuam por meio das atividades físicas e corporais, buscando a promoção de saúde em suas várias dimensões. III – As práticas terapêuticas previstas para a atuação do profissional de Educação Física nos NASFs são todas oriundas da medicina tradicional chinesa. IV – As atividades dos profissionais de Educação Física nos NASFs devem ser adequadas à clientela em relação a suas necessidades, faixa etária, gênero e nível sociocultural, de acordo com os aspectos da saúde social, psicológica e biológica. É correto o que se afirma em: A) I e II, apenas. B) I e III, apenas. C) I, II e IV, apenas. D) II, III e IV, apenas. E) I, II, III e IV. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade II Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: de acordo com a Portaria nº 154, que cria o NASF, há indicação do profissional de Educação Física como um dos possíveis integrantes das equipes multiprofissionais dos NASF. II – Afirmativa correta. Justificativa: o uso das atividades físicas e corporais é a base da atuação do profissional de Educação Física. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: não há restrição ao uso de nenhum tipo de prática de atividade física ou corporal. Esse uso fica a cargo do profissional. IV – Alternativa correta. Justificativa: a ação profissional em Educação Física deve ser adequada às características e necessidade da clientela. Questão 2. (Enade, 2010) Os NASFs têm os objetivos de ampliar a abrangência e o escopo das ações da tenção básica no setor da saúde e incrementar a estratégia de Saúde da Família na rede de serviços oferecidos pelo governo à população. O compromisso dos NASFs está embasado em ações de promoção da saúde destinadas a garantir condições de bem-estar físico, mental e social às populações. Considerando o exposto, que ações poderão ser planejadas e desenvolvidas pelo profissional de Educação Física que atuará nos NASFs? I – Incentivar a criação de espaços que possibilitem a inclusão social. II – Desenvolver atividades físicas e práticas corporais nas comunidades. III – Avaliar fisicamente cada equipe multiprofissional que atua nos NASFs. IV – Proporcionar educação permanente em atividades físicas/práticas corporais, nutrição e saúde. 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a POLÍTICAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL Estão corretas apenas as ações: A) I e III. B) I e IV. C) II e III. D) I, II e IV. E) II, III e IV. Resolução desta questão na plataforma. 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 THINKER-3025789_960_720.PNG. Disponível em: <https://cdn.pixabay.com/photo/2017/12/18/09/54/ thinker-3025789_960_720.png>. Acesso em: 12 jun. 2018. Figura 2 540PX-SANTI_DI_TITO_-_NICCOLO_MACHIAVELLI%27S_PORTRAIT.JPG. Disponível em: <https:// upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1e/Santi_di_Tito_-_Niccolo_Machiavelli%27s_portrait.jpg/540px-Santi_di_Tito_-_Niccolo_Machiavelli%27s_portrait.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2018. Figura 3 ARISTOTLE_ALTEMPS_DETAIL.JPG. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/6/62/Aristotle_Altemps_Detail.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2018. Figura 4 3C30773R.JPG. Disponível em: <http://lcweb2.loc.gov/service/pnp/cph/3c30000/3c30000/3c30700/3c3 0773r.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2018. Figura 6 401PX-CF_1988_BRASIL_MEC.JPG. 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