Prévia do material em texto
IMUNOLOGIA CLÍNICA TUTORA JÚLIA BARCELLOS UNIDADE 3 SÍFILIS A sífilis é uma doença sistêmica que tem como agente etiológico o Treponema pallidum. Esse microrganismo apresenta forma de espiroqueta e característica microaeróbia (que cresce sob baixa tensão de oxigênio), com parede celular semelhante às bactérias Gram-negativas. Apesar da semelhança, o T. pallidum não se cora na coloração de Gram. São os componentes estruturais da bactéria SÍFILIS • Filamento axial: tem como função promover a movimentação do Treponema. É composto por um feixe de fibrilas que formam uma espiral em torno do Treponema, semelhante ao formato de um saca-rolhas. • Membrana celular: estrutura composta por proteínas de ligação à penicilina, lipoproteínas, glicolipídeos e cardiolipina. A cardiolipina é o principal antígeno utilizado para investigações sorológicas não treponêmicas. SÍFILIS • Periplasma: composta por uma camada que, de acordo com Ferreira, “uma membrana interna ou citoplasmática que rodeia o corpo celular e uma membrana externa protetora. Entre uma membrana e outra, encontra-se um espaço periplasmático com uma pequena camada de peptidoglicano”. É nessa região que o filamento axial fica aderido, o que confere o formato espiralado ao Treponema. É a partir desta estrutura que o movimento em hélice é possível, bem como sua capacidade de se deslocar em meios com maior viscosidade. • Membrana externa: tem como função proteger o microrganismo do meio externo, por revestir a superfície treponêmica SÍFILIS • A identificação da bactéria por microscopia óptica não faz parte das práticas laboratoriais de rotina, uma vez que é uma bactéria muito delgada, o que dificulta sua visualização no setor de microbiologia. “A pequena diferença de densidade entre o corpo e a parede do T. pallidum faz com que seja prejudicada sua visualização à luz direta no microscópio. Cora-se fracamente; daí o nome pálido, do latim pallidum” SÍFILIS • O T. pallidum é um patógeno que tem como hospedeiro apenas os seres humanos e a via de transmissão ocorre principalmente por contato sexual, porém também pode ser causado por transmissão vertical, ou seja, da gestante para o feto (quando não houver tratamento da gestante) (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). • Ao ser transmitido, o T. pallidum penetra no organismo e atinge a corrente sanguínea, sendo distribuído por diversos tecidos. SÍFILIS • Sífilis primária: nesse primeiro estágio as manifestações ocorrem de 10 a 90 dias após a infecção (período de incubação). Nessa etapa, o sinal clínico inicial é a presença de lesão no local onde a bactéria penetrou no organismo. Essa lesão, que contém muitas espiroquetas, recebe o nome de cancro duro (Figura 2), pois apresenta base endurecida e secreção, porém sem manifestação de dor. Essa lesão desaparece espontaneamente em cerca de 15 dias (BRASIL, 2010). • • Sífilis secundária: quando a sífilis não é detectada e tratada já no estágio primário as manifestações clínicas evoluem para o estágio secundário (Figura 3), em decorrência da dispersão da bactéria por todos os órgãos. A partir desse estágio, a presença de exantemas (roséolas sifilíticas), que consistem em erupções cutâneas contendo treponemas, é a manifestação clínica característica (BRASIL, 2010). SÍFILIS • Sífilis latente: caso o paciente infectado siga sem detecção e tratamento da sífilis, as manifestações clínicas cessam, configurando o estágio latente, o qual é considerado recente durante o primeiro ano de infecção e, após esse período, é considerada latente tardia (BRASIL, 2010). • Sífilis terciária: o paciente apresenta um processo inflamatório acompanhado da destruição de tecido ósseo, estabelecimento da sífilis cardiovascular (manifestada pela aortite, uma inflamação na artéria aorta) e da neurossífilis (que pode se manifestar por prejuízos auditivos, motores, visuais, depressão, perda de memória e dor) (BRASIL, 2010). É um estágio considerado grave que pode se manifestar de 10 a 30 anos após a infecção. LABORATÓRIO CLÍNICO • Conforme a doença evolui, cada fase tem um grupo de provas imunológicas próprias para diagnóstico da sífilis. De posse do conhecimento dessas diferenças, o médico avalia o paciente para, então, compreender quais testes são ideais para investigar a suspeita médica. • As provas imunológicas utilizadas para detecção de sífilis dividem-se em dois tipos: ensaios treponêmicos e não treponêmicos. TESTES NÃO TREPONÊMICOS • Como o próprio nome indica, nos ensaios não treponêmicos, os anticorpos detectados não são específicos para o T. pallidum. É possível encontrar na literatura esses testes classificados como anticardiolipínicos, ou seja, anticorpos produzidos contra moléculas chamadas cardiolipinas. • As cardiolipinas são fosfolipídios que apresentam carga negativa e, em mamíferos, estão presentes na membrana mitocondrial. Em condições patológicas, essas moléculas estão presentes em células apoptóticas, na ativação plaquetária e em complicações durante a gestação. Contudo, também são encontrados na sífilis TESTES NÃO TREPONÊMICOS • Os testes não treponêmicos estão amplamente disponíveis nos laboratórios, são de baixo custo e possibilitam o monitoramento da resposta ao tratamento. Como desvantagens, possuem baixa sensibilidade na sífilis primária e também na sífilis latente e tardia, além de produzirem resultados falso-positivos, devido à ocorrência de outras enfermidades que causam degeneração celular. • Assim, quando aplicamos testes não treponêmicos para investigação de sífilis, é importante ter em mente que resultados reagentes (positivos) indicam a presença de anticorpos anticardiolipínicos, que também podem ser encontrados em outras condições clínicas. Apesar de inespecíficos, são testes importantes para acompanhamento da eficácia do tratamento para sífilis, sendo de fácil realização e baixo custo. TESTES NÃO TREPONÊMICOS • Qualitativos: aplicados a triagem de amostras, indicando apenas se a amostra apresenta resultado reagente ou não. • Quantitativos: testes que determinam a quantidade de anticorpos presentes em amostras e auxiliam principalmente no acompanhamento da evolução do paciente frente ao tratamento. • Assim, quanto maiores os títulos de anticorpos anticardiolipínicos que a amostra do paciente apresenta, maior a atividade da doença em casos em que o tratamento ainda não foi aplicado ao paciente; já em pacientes em tratamento, indica que a resposta ao tratamento não é suficiente para combater a bactéria. FLUCOLAÇÃO: VDRL • O VDRL (sigla do inglês Venereal Disease Research Laboratory) é um dos principais testes não treponêmicos para diagnóstico e acompanhamento da sífilis, uma vez que é possível verificar a presença de anticorpos anticardiolipina presentes nas amostras de soro ou líquor antes e depois do tratamento. FLUCOLAÇÃO: VDRL • Para que a reação de floculação ocorra, diferentes etapas devem ser seguidas. Os passos que devem ser executados para triagem inicial de amostras em que o soro do paciente é testado puro e na diluição ⅛, chamada de VDRL qualitativo. • Caso a avaliação qualitativa da amostra analisada apresente resultado reagente pura e/ou diluída, a técnica de VDRL quantitativo deverá ser executada com o objetivo de identificar a maior titulação de anticorpos anticardiolipínicos presentes na amostra analisada VDRL Em pacientes com a doença ativa, os resultados reagentes de VDRL apresentam titulações altas, a partir de 1/16, entre a 2ª e 4ª semana após o surgimento do cancro duro, sendo necessário o início do tratamento. Além disso, pacientes pós- tratamento que apresentam titulações de VDRL ainda maiores que as mencionadas anteriormente têm indicação para repetição de tratamento SÍFILIS • Assim, para saber quando o resultado reagente realmente indica a doença, a Portaria nº 3.242, de 30 de dezembro de 2011, estabelece o fluxo de testes para sífilisque devem ser realizados e indica quais são necessários para compreender se o resultado reagente corresponde ou não a sífilis, entre outras recomendações. • Além dos casos de resultados falso-positivos, existe também a possibilidade de resultados falso-negativos – anteriormente, abordamos o fenômeno prozona, que pode gerar resultados falso-negativos diante de altas concentrações de anticorpos em amostras não diluídas. ENSAIO RPR O ensaio RPR (sigla do inglês Rapid Test Reagin) é uma variação do VDRL, porém tem como diferencial não necessitar de microscópio para visualização do resultado reagente. Isso é possível porque o kit reagente contém partículas de carvão na sua composição, o que torna a floculação visível a olho nu. A interpretação dos resultados deste teste é semelhante à apresentada no VDRL. TESTES TREPONÊMICOS • Os testes treponêmicos são provas qualitativas que detectam anticorpos antitreponêmicos, ou seja, anticorpos produzidos especificamente contra o T. pallidum. Essa detecção ocorre pela presença de antígenos treponêmicos nas técnicas utilizadas. Por detectar anticorpos, resultados reagentes são indicativos de que, em dado momento, o paciente foi exposto ao T. pallidum, o que não necessariamente indica infecção ativa. IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA • O teste FTA-Abs (sigla do inglês, Fluorescent Treponemal Antibody Absorption Test) é uma metodologia considerada padrão-ouro para sífilis, ou seja, é a melhor opção de exame, aquela que apresenta menor probabilidade de erro. Trata-se de uma técnica de imunofluorescência indireta que “utiliza T. pallidum (da cepa Nichols) fixado em áreas demarcadas de lâminas de vidro em que são feitas as reações. • Em pacientes com sífilis em estágio primário, é a primeira prova sorológica que apresenta resultado reagente. Além disso, é um teste utilizado em casos em que as manifestações clínicas são compatíveis com sífilis, porém apresenta resultado não reagente em provas não treponêmicas, situação possível em pacientes em estágio de sífilis primária, latente recente ou tardia IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA • Essa técnica pode apresentar três tipos de resultados: reagente, não reagente e inconclusivo. No caso de resultados inconclusivos, é importante atentar para possíveis problemas relacionados à qualidade dos reagentes utilizados, bem como se a amostra que apresentou tal resultado foi acondicionada e manipulada corretamente. • No caso de resultados reagentes, é importante ter em mente que se trata da investigação de anticorpos antitreponêmicos. Assim, se o paciente tiver sido infectado pelo Treponema, o organismo produzirá anticorpos para combatê-lo, os quais continuam detectáveis mesmo após a sua cura. Dessa forma, uma vez que o paciente tenha resultado FTA-Abs reagente, novas testagens utilizando essa metodologia seguirão apresentando resultado reagente, uma vez que se trata de uma cicatriz imunológica ELISA • Nesse tipo de teste, antígenos do Treponema estão fixados a uma fase sólida (placa de poliestireno) e ligam-se aos anticorpos antitreponêmicos presentes na amostra do paciente. Seguindo a mesma lógica do FTA-Abs, por ser um teste que detecta anticorpos específicos para Treponema, uma vez que o resultado seja reagente, o paciente seguirá apresentando esse mesmo resultado ao longo de sua vida. Dessa maneira, não é um teste aplicável para acompanhamento de tratamento ou diagnóstico de reinfecção. SÍFILIS • De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico e acompanhamento aplicado à sífilis deve seguir fluxogramas de trabalho, a partir das metodologias previamente descritas: • Triagem não treponêmica confirmada por teste treponêmico (Figura 8) – fluxograma no qual a amostra é, inicialmente, testada utilizando provas não treponêmicas, como o VDRL. Casos em que o teste inicial não treponêmico apresenta resultado não reagente, tanto amostra pura quanto diluída 1/8, o fluxograma se encerra nessa etapa. Caso o paciente apresente manifestações clínicas compatíveis com sífilis, nesse caso, a equipe médica deve solicitar novamente novo exame dentro de 30 dias após a data da primeira coleta, para excluir da hipótese diagnóstica a sífilis. SÍFILIS • Diagnóstico laboratorial reverso de sífilis baseado em testes imunológicos automatizados: nesse fluxo de trabalho (Figura 9), a amostra é processada primeiro por testes automatizados treponêmicos, em que o resultado inicial determina as próximas etapas. Se o primeiro teste apresentar resultado não reagente, não é necessária mais nenhuma etapa. Caso apresente resultado reagente, ele deve ser seguido de um teste não treponêmico para confirmação diagnóstica SÍFILIS UNIDADE 3 TÓPICO 2 SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS OU SIDA) • Recentemente, tratamos vários homossexuais jovens, previamente sadios, com múltiplos episódios de pneumonia por Pneumocystis carinii, candidíase extensa de mucosa e infecções virais graves. As manifestações clínicas e os estudos da imunidade celular indicaram um grave defeito da função das células T. Esta síndrome representa uma deficiência imunológica potencialmente transmissível (GOTTLIEB et al., 1981, p. 444). SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS OU SIDA) • A evolução dos conhecimentos adquiridos sobre a AIDS, essa informação inicial foi desmistificada. Isso porque foi observado que mulheres, recém-nascidos filhos de gestantes com HIV e indivíduos que, independentemente da orientação sexual, compartilhavam agulhas para uso de drogas de abuso ou receberam doação de sangue contaminado também poderiam ser infectados pelo vírus HIV. Assim, foi possível compreender que, diferentemente das conclusões iniciais sobre a doença, além da via sexual a transmissão do HIV (Figura 10), poderia ocorrer por via vertical (mãe para filho) e via sanguínea SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS OU SIDA) • O HIV é um vírus que infecta o sistema imunológico dos seres humanos. Quando essa infecção não é devidamente tratada, ela passa a expressar um quadro conhecido como AIDS. Até o momento, trata-se de uma condição para a qual não existe cura, assim, uma vez infectado, o paciente permanece com o vírus por toda sua vida. Contudo, com os avanços no desenvolvimento de estratégias terapêuticas, pacientes infectados podem viver de modo saudável e com maior qualidade de vida atualmente VÍRUS HIV VÍRUS HIV • O HIV foi originado de um vírus presente em chimpanzés da África Central, chamado de vírus da imunodeficiência símia (SIV), e é provável que tenha sido transmitido aos humanos pelo contato com a carne de caça desses animais, bem como com o seu sangue infectado. O HIV é um retrovírus (vírus que armazena suas informações em formato de ácido ribonucleico-RNA e possui a enzima transcriptase reversa) pertencente à família Lentiviridae. • Esta subfamília de vírus tem como características um longo período de incubação antes do estabelecimento de sinais e sintomas relacionados à doença, supressão imunológica e infecção de células sanguíneas e do sistema nervoso VÍRUS HIV • Ao infectar um indivíduo, o HIV liga-se ao receptor CD4+, que está presente na membrana plasmática dos linfócitos T auxiliares (também conhecidos como linfócitos T-CD4+). A partir daí, ele utiliza a célula infectada para se reproduzir. A replicação do HIV tem início com a liberação do RNA viral dentro da célula infectada. Esse RNA é transcrito por uma enzima chamada transcriptase reversa, responsável por transcrever o RNA viral em DNA pró-viral. Uma vez sintetizado, o DNA pró-viral entra no núcleo da célula infectada e se integra ao DNA celular com o auxílio da enzima viral integrase. VÍRUS HIV • Posteriormente, a célula passa a produzir o RNA e as proteínas do HIV, que são importantes para a formação de novos virions (partícula viral completa que está estruturalmente intacta e é infecciosa) ainda imaturos. Os virionsimaturos são convertidos em vírus HIV maduros, por ação das enzimas virais proteases, rompem a célula ao qual se originaram e invadem outra célula do hospedeiro, e, assim, o ciclo se reinicia. • Ao utilizar os componentes celulares para sua replicação, o HIV destrói progressivamente os linfócitos. Os linfócitos atuam na defesa contra microrganismos patogênicos e células cancerígenas, por isso, com a redução dos linfócitos, o indivíduo infectado passa a ficar vulnerável a infecções oportunistas (infecções por microrganismos que, diante da vulnerabilidade imunológica do paciente, conseguem causar infecções generalizadas) HIV • Infecção aguda: trata-se da fase de incubação, que corresponde ao período entre o contágio e a manifestação de sinais e sintomas. Esta fase dura de 3 a 6 semanas, e por apresentar sintomas leves e similares ao de uma gripe, não recebem a devida atenção por parte do paciente. • Fase assintomática (ou latência clínica): o vírus se replica intensamente, porém o sistema imune por ainda apresentar número considerável de glóbulos brancos, consegue controlar a replicação viral, de modo que o paciente não manifesta sintomas. Essa fase pode perdurar por até 10 anos, e o indivíduo infectado pode transmitir o vírus para outras pessoas. Próximo do fim desse período, a carga viral (quantidade de cópias do vírus presente em determinado fluido corporal) passa a aumentar, enquanto os linfócitos T CD4 apresentam redução em sua quantidade. HIV • Fase sintomática inicial: por conta da redução das células CD4+, o paciente infectado se torna imunologicamente vulnerável, o que favorece o aparecimento de outras doenças, quando os linfócitos T-CD4+ apresentam concentrações abaixo de 500 células/mm3 (em condições normais, os indivíduos apresentam entre 500 e 1200 células/mm3 de linfócitos T-CD4+). Entre as manifestações clínicas possíveis, temos: tuberculose pulmonar, herpes-zoster, candidíase genital de repetição e dermatoses. • AIDS: um paciente é enquadrado nessa fase quando a contagem de linfócitos T-CD4+ é nferior a 200 células/mm3. Nessa etapa, a redução drástica das células de defesa favorece o aparecimento de doenças oportunistas como sarcoma de kaposi (Figura 12), caquexia, neurocriptococose, neurotoxoplasmose, candidíase, tuberculose extrapulmonar, diarreia crônica, entre outras LABORATÓRIO CLÍNICO • As metodologias e fluxos de trabalho aplicados ao diagnóstico do HIV foram implantados na rotina laboratorial com base nas orientações técnicas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, a partir do Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV, aprovado pela Portaria SVS/MS n° 29, de 17 de dezembro de 2013. Essa portaria deve ser seguida pelos profissionais envolvidos no diagnóstico de HIV tanto nos setores públicos quanto privados. • Os testes utilizados para detecção do HIV são divididos em gerações. Quanto maior a geração do ensaio, maior a capacidade de detecção do vírus em infecções recentes por HIV: LABORATÓRIO CLÍNICO • Primeira geração: são imunoensaios de formato indireto, que detectam a presença de IgG para HIV, e que apresenta janela de soroconversão (surgimento do anticorpo no soro) de 35 a 45 dias. Por detectar IgG, é considerado um teste pouco específico e menos sensível em comparação com as gerações seguintes, o que fez com que esta geração de testes entrasse em desuso nos laboratórios clínicos. • Segunda geração: também um imunoensaio indireto, porém sua vantagem consiste no uso de fragmentos de proteínas do HIV. A opção por este antígeno está relacionada à presença de epítopos imunodominantes (regiões antigênicas presente em certas proteínas do HIV pelo qual a resposta humoral tem maior afinidade). Assim, quanto mais epítopos imunodominantes, maior a sensibilidade do ensaio. LABORATÓRIO CLÍNICO • Terceira geração: são ensaios do tipo imunométricos, também conhecidos como sanduíche, que permitem a detecção de anticorpos anti-HIV IgM e anti-HIV anti-IgG simultaneamente. A capacidade de detecção de IgM deste tipo de teste confere maior sensibilidade em relação à primeira e segunda geração. Nestes testes, a janela de soroconversão é de 20 a 30 dias. • Quarta geração: testes que detectam tanto o antígeno p24 presente no vírus e ainda detectam os anticorpos específicos para HIV. Nestes testes o tempo médio de janela sorológica é de 15 dias LABORATÓRIO CLÍNICO • Assim, os imunoensaios mais comumente utilizados nas rotinas para HIV são os ensaios imunoenzimáticos (ELISA). De modo geral, o princípio de ensaios sorológicos para HIV não está voltado para detectar o vírus, mas, sim, detectar a presença de anticorpos específicos para HIV. Um lembrete importante é que a produção de anticorpos específicos precede a presença do patógeno investigado. Dessa forma, somente pacientes infectados pelo vírus HIV, por exemplo, poderão apresentar anticorpos para esse vírus. LABORATÓRIO CLÍNICO • Conforme citado anteriormente, a execução das provas sorológicas aplicadas ao diagnóstico de HIV deve seguir os fluxos de trabalho indicados pelo Ministério da Saúde. Os principais fluxos e seu respectivo funcionamento são: • Dois testes rápidos realizados em sequência com amostras de sangue: fluxo de trabalho que utiliza dois testes rápidos (Figura 13), que devem detectar antígenos diferentes, em amostras de sangue de punção digital (gotas de sangue extraídas da ponta dos dedos) ou punção venosa. Contudo, um resultado só é válido em testes rápidos quando a faixa controle é marcada. LABORATÓRIO CLÍNICO • Um teste rápido utilizando fluido oral seguido por um teste rápido utilizando sangue: neste fluxo de trabalho, também são utilizados 2 testes rápidos diferentes, em que um deles utilizamos amostra de fluido oral enquanto o segundo é realizado com amostra de sangue; • Aplicação de um imunoensaio de quarta geração confirmado por teste molecular como metodologia complementar: nesse fluxo de trabalho, é utilizada metodologia de imunoensaio (ELISA) de 4ª geração que, frente a resultados não reagentes, o resultado já pode ser liberado UNIDADE 3 TÓPICO 3 HEPATITES VIRAIS Hepatite é um termo que vem da palavra grega Hepar, que significa fígado. Associada ao sufixo “ite”, que refere a inflamação, indica que se trata de um processo inflamatório localizado no fígado. Este quadro inflamatório hepático pode ter diferentes causas, como: • doenças metabólicas; • doenças autoimunes; • uso excessivo de álcool; • substâncias tóxicas; • medicamentos; • infecção viral. HEPATITES VIRAIS • Vírus da hepatite A (HAV): vírus de RNA com capsídeos formados pelo antígenos HAVAg. É encontrado no sangue e nas fezes de indivíduos contaminados e tem como meio de transmissão a via oral-fecal. Assim, dissemina-se com facilidade quando um indivíduo ingere alimentos contaminados ou por contato próximo com pessoas contaminadas. Os sintomas da hepatite A incluem náusea, icterícia, dor estomacal e fadiga, e podem durar por até 2 meses. A vacinação é a melhor forma de prevenir a contaminação por HAV HEPATITES VIRAIS • Vírus da hepatite B (HBV): vírus de DNA que é revestido com duas camadas, compostas por diferentes antígenos. A camada interna composto por HBcAg, que representa o antígeno core (do inglês, núcleo) e o antígeno HBeAg, conhecido como antígeno “e”, que é um produto do gene do cerne viral. Já a camada externa (envelope) é composta por HBsAg, que corresponde ao antígeno de superfície desse vírus. É transmitido por contato com fluídos corporais contaminados. Indivíduos com infecção recente por HBV nem sempre apresentam sintomas. Contudo, quando existem sintomas nessa fase, o indivíduo pode manifestar fadiga, icterícia, dor estomacal, náusea e redução do apetite. • A evolução do processo inflamatório desencadeado por esse vírus pode ocorrer de duas formas: como uma doença de curto prazo ou como uma infecção crônica com complicações clínicas comocâncer de fígado ou cirrose (lesão hepática crônica que formam tecido cicatricial gerando insuficiência hepática). A vacinação é a principal via de prevenção desta infecção HEPATITES VIRAIS • Vírus da hepatite C (HCV): vírus de RNA com capsídeo e um envoltório externo, composto por lipoproteínas. É disseminado por via sanguínea, sexual e instrumentos de manicure não esterilizados. A maior parte dos indivíduos infectados não apresenta sintomas por longos períodos após a infecção. Contudo, quando se dá a manifestação de sintomas, frequentemente é indicativo de problemas hepáticos em estágio avançado, apresentando complicações como cirrose e câncer de fígado. Não existe vacina própria para esse vírus. Dessa forma, evitar o compartilhamento de agulhas, instrumentos de manicure e atividade e usar preservativo são hábitos que previnem a contaminação por este vírus HEPATITES VIRAIS • Vírus da hepatite D (HDV): vírus responsável pela hepatite delta, que possui envoltório composto por HBsAg, que é o mesmo antígeno de superfície presente no HBV. O HDV depende deste antígeno para completar seu ciclo biológico e sua capacidade de invadir a célula e se replicar. Assim, a infecção por HDV depende de coinfecção (infecção simultânea) ou superinfecção, que é quando ocorre a infecção por HDV após o indivíduo ter sido contaminado por HBV. A transmissão acontece quando sangue ou fluidos corporais contaminados entram em contato com o indivíduo. A contar pela relação de dependência que o HDV tem com o HBV, a vacinação para HBV é uma via de prevenção de infecção por HDV HEPATITES VIRAIS • Vírus da hepatite E (HEV): vírus de RNA com capsídeo formado pelo antígeno HEVAg, que pode ser encontrado nas fezes de indivíduos infectados (Figura 20). Assim, a infecção se dá pelo consumo de alimentos e água contaminados. Pode ocorrer de modo assintomático, mas em casos sintomáticos, as manifestações clínicas são semelhantes àquelas presentes em infecções por HAV. Manifestações clínicas de perfil crônico por HEV são raras e ocorrem em pacientes com sistema imune comprometido. LABORATÓRIO CLÍNICO O diagnóstico das hepatites virais é baseado na detecção dos marcadores presentes no sangue, soro, plasma ou fluido oral da pessoa infectada, por meio de imunoensaios, e/ou na detecção do ácido nucleico viral, empregando técnicas de biologia molecular. O constante avanço tecnológico na área de diagnóstico permitiu o desenvolvimento de técnicas avançadas de imunoensaios, incluindo o de fluxo lateral, que são atualmente empregadas na fabricação de testes rápidos (TR). LABORATÓRIO CLÍNICO Nas hepatites virais, os fluxos de análise da amostra são diferentes frentes, resultados de triagem não reagentes e reagentes (BRASIL, 2015): • Testes rápidos de triagem com resultado não reagente para hepatite: resultado liberado com base nesse único teste aplicado. A repetição dessa análise é sugerida apenas em casos em que o paciente apresenta manifestações clínicas que reforçam a suspeita de hepatite, após 30 dias da primeira análise realizada. A recomendação de repetição após 1 mês da primeira análise tem como objetivo eliminar a possibilidade de o paciente estar passando pelo período de janela diagnóstica, que corresponde ao tempo entre a infecção e o período de detecção do marcador infeccioso investigado. • Testes de triagem com resultado reagente para hepatite: testes de triagem reagente para hepatite devem ser acompanhados de outro teste confirmatório. A aplicação deste segundo teste é realizada com o objetivo de aumentar o valor preditivo positivo (VPP), que corresponde à probabilidade de o indivíduo avaliado de fato estar doente (BRASIL, 2015). HEPATITE A • Causada pelo vírus HAV, sua detecção ocorre por sorologia IgM e IgG para HAV. De 5 a 10 dias após infecção, o IgM anti-HAV passa a ser detectável, permanecendo assim por até meio ano após o momento da infecção. Após o término da fase aguda, é possível que este marcador se torne indetectável. No caso dos anticorpos IgG, uma vez reagente, este anticorpo permanecerá detectável ao longo de toda vida do paciente. Sua aplicabilidade está associada principalmente ao acompanhamento epidemiológico da doença HEPATITE B • O antígeno e os anticorpos utilizados para diagnóstico de hepatite B permitem compreender qual o estágio da infecção. Inicialmente, a triagem é realizada pelos seguintes marcadores (BRASIL, 2015): • HbsAg: trata-se do antígeno de superfície presente no HBV, detectável na corrente sanguínea após o 1º mês de infecção. É um antígeno presente tanto na infecção aguda quanto na infecção crônica, também conhecido como antígeno Austrália. • Anti-Hbc: trata-se do anticorpo da classe IgG contra o antígeno presente no capsídeo ou core do vírus da hepatite B. Este anticorpo é passível de detecção por toda vida. HEPATITE B Além dos marcadores utilizados para triagem, existem ainda outros marcadores utilizados no diagnóstico da hepatite B (BRASIL, 2015): • Anti-HBc: trata-se de um anticorpo da classe IgM produzido contra o antígeno do capsídeo ou core do HVB, presente na fase aguda (recente) da infecção. • Anti-HBs: classe de anticorpos produzidos em resposta ao antígeno de superfície do HVB, presente em pacientes que foram imunizados contra este vírus por vacinação. • HBeAg: presente após o primeiro mês de infecção, trata-se de um marcador que indica que o paciente apresenta alta infectividade devido à presença de replicação viral intensa. Quando presente em estágios crônicos da hepatite indica que a doença está em atividade. • Anti-HBe: trata-se de anticorpo produzido contra o antígeno “e” presente no HVB. De modo geral, é indicador de bom desfecho para o paciente, uma vez que sinaliza, em hepatites agudas, resolução da infecção ou menor chance de evolução da hepatite para cirrose, pela atividade reduzida da doença, em pacientes crônicos. HEPATITE C O diagnóstico da hepatite C é realizado pela investigação de anticorpos anti-HCV como metodologia de triagem. A presença de resultado reagente indica que, em algum momento, o paciente teve contato com o vírus. Esse marcador, contudo, não é capaz de especificar em qual fase (aguda ou crônica) da infecção o paciente se encontra. HEPATITE D A investigação de infecção por HVD é realizada pela dosagem de anticorpos totais anti-HVD (IgM e IgG juntos). É importante lembrar que, nesse caso, trata-se de um vírus que depende da presença do HVB para se reproduzir, seja via superinfecção ou coinfecção (BRASIL, 2015). A interpretação dos marcadores para hepatite B, em conjunto com os resultados da dosagem de anticorpos totais para HVD, permite diferenciar se o quadro do paciente é resultado de superinfecção ou coinfecção. HEPATITE E A infecção pelo HVE é possível pela pesquisa de anticorpos anti-HVE IgM e anticorpos anti-HVE totais no soro do paciente, cuja presença de anticorpos IgM indica infecção recente e a presença de anticorpos totais indica exposição prévia ao HVE. UNIDADE 3 TÓPICO 4 CORONAVÍRUS • Coronavírus (COVs) é um termo que se refere à vasta família de vírus Coronaviridae, que compreende os gêneros Alpha coronavírus, Beta coronavírus, Gama coronavírus e Delta coronavírus. Esses vírus estão presentes no mundo todo e são comuns também em diferentes espécies animais, entre eles, os seres humanos. • Nos seres humanos, esses vírus acometem principalmente o trato respiratório superior, resultando em manifestações de diferentes gravidades, como resfriados (em casos brandos) até infecções pulmonares graves, conhecidas como síndrome respiratória aguda grave. Ainda sobre as características da família Coronaviridae CORONAVÍRUS • O mecanismo de infecção pelo coronavírus tem início com a forte ligação da proteína Spike (glicoproteína em formato de espícula) ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), presente nas células. Com a entrada do vírus na célula humana, asinformações presentes no material genético viral passam a ser traduzidas, resultando na formação de proteínas capazes de replicar o material genético do vírus, como a RNA polimerase (SANAR, 2020). • Como resultado da ação da RNA polimerase, são produzidas fitas de RNA que constituirão, após ligação com proteínas virais, as partículas virais. A conclusão do processo de montagem viral ocorrerá no complexo de Golgi e no retículo endoplasmático da célula infectada SARS-COV-1 • Desde o início dos anos 2000, os coronavírus têm apresentado novas cepas infectantes tanto em populações humanas quanto animais. Em 2003, uma destas cepas de coronavírus foi identificada como causadora da epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave, comumente identificada pela sigla SARS- CoV-1 (do inglês, acute respiratory syndrome coronavirus), responsável pela morte de 10 a 50% das pessoas infectadas, com porcentagem variando conforme a faixa etária. SARS-COV-1 • O desenvolvimento da SARS é caracterizado pela perda sequencial da integridade da membrana capilar alveolar, acúmulo de líquido no espaço extravascular e perda de volume de troca gasosa pulmonar, mais proeminente nas áreas dependentes dos pulmões. As anormalidades resultantes de áreas com baixa relação ventilação/perfusão e atelectasia ou consolidação franca conduzem a manifestações clínicas de insuficiência respiratória – hipoxemia arterial e insuficiência mecânica do pulmão. SARS-COV-1 • Ocorre que células tubulares renais, células miocárdicas, neurônios, células do sistema imune e células da mucosa intestinal, por exemplo, também possuem o receptor ECA2, que seria a “porta de entrada” do SARS-CoV-1 nas células. Assim, todas as células que apresentam este receptor acabam se tornam alvos primários deste agente infeccioso. Um dos efeitos observados nesta ligação foi a significativa elevação na concentração de citocinas pró-inflamatórias, que são proteínas produzidas pelas células infectadas que promovem o estabelecimento de um processo inflamatório SARS-COV-2 • Apesar de pertencer à mesma família do SARS-Cov-1, apresentar similaridades genéticas, e a preferência de ambos por interagir com o receptor ECA2 para invadir as células, existem diferenças que permitiram que a pandemia causada pelo SARS-CoV-2 perdurasse e resultasse em um maior número de mortes. Inicialmente, podemos destacar o número efetivo de reprodução (R) maior que o identificado no SARS-Cov-1, o que explica sua maior eficiência para se disseminar. SARS-COV-2 • Ainda sobre as diferenças do SARS-CoV-2, sabemos que, apesar de se ligar ao mesmo receptor ECA 2 que o SARS-CoV-1, o SARS-CoV-2 apresenta diferenças em suas proteínas de superfície que permite uma maior ligação com o receptor ECA2 e, com isso, maior eficiência na invasão das células hospedeiras. Além disso, SARS-CoV-2 tem maior afinidade com o trato respiratório superior (nariz externo, cavidade nasal, faringe, laringe e porção superior da traqueia), o que permite facilidade da infecção das células nestas regiões e facilidade para se disseminar com maior facilidade pelas vias aéreas. SARS-COV-2 • Em contraste, o SARS-Cov-2 tem seu pico de carga viral no trato respiratório, observado no início da manifestação dos sintomas ou durante a primeira semana da doença, o que denota maior potencial infectante imediatamente antes ou durante os primeiros dias do início dos sintomas. Sabendo dessa característica, é possível compreender a importância do distanciamento social, mesmo com indivíduos que não apresentam sintomas, uma vez que este pode estar infectado sem ainda ter apresentado sintomas SARS-COV-2 • No que diz respeito ao potencial patogênico do SARS-Cov-2, Vaduganathan et al. (2020) apontam o impacto da infecção por SARS-Cov-2 no sistema renina- angiotensina. Assim como previamente descrito no SARS-CoV-1, a entrada do SARS-CoV-2 ocorre pela ligação da proteína S, presente na superfície do vírus, com o receptor ECA2 presente nos pneumócitos tipo II. Com a entrada do vírus na célula, ocorre downregulation da expressão do receptor ECA2, por duas vias: pela destruição da célula que invadiu ou por estar ocupando o receptor ao ligar- se a ele. Com isso, a angiotensina II passa a ficar acumulada, e isso intensifica o agravamento da Covid-19, nome dado às manifestações clínicas que caracterizam a infecção por SARS-Cov-2. LABORATÓRIO CLÍNICO O diagnóstico de Covid-19 é um importante instrumento no combate à disseminação dos vírus, porque permite que as equipes médicas identifiquem os pacientes infectados, isolando-os dos demais indivíduos não infectados, a fim de impedir o contágio. Existem diferentes metodologias utilizadas para detecção de SARS-CoV-1 e SARS- CoV-2, tanto por detecção do vírus quanto pela presença de anticorpos produzidos contra esse vírus. A principal metodologia para detecção direta é realizada por RT- PCR, que pertence ao setor de Biologia Molecular. LABORATÓRIO CLÍNICO Com relação às metodologias sorológicas para detecção de SARS-CoV, as principais metodologias utilizadas são os testes imunocromatográficos, que podem realizar a detecção de antígeno ou de anticorpos IgM e IgG, ELISA e imunofluorescência (IFA). Nesse momento, é importante lembrarmos que todas as metodologias apresentam limitações que podem prejudicar os resultados das provas sorológicas. No caso de metodologias aplicadas à detecção do SARS-CoV, não é diferente. Um dos principais elementos que se tem conhecimento que interfere na detecção de anticorpos e antígenos por ELISA e imunocromatografia, as principais metodologias utilizadas, está relacionado ao tempo de evolução clínica dos pacientes IMUNOCROMATOGRAFIA DE FLUXO Nessa metodologia, a tira de membrana é pré-revestida com anticorpo anti-SARS- CoV-2, imobilizado na linha de teste. Assim, amostras de secreção nasofaríngea contendo antígenos de SARS-CoV-2, passam pela membrana e reagem com o anticorpo anti-SARS-CoV-2, formando um conjugado Ag-Ac. Como resultado é possível observar a formação de tira colorida na região teste. A amostra utilizada é raspado nasofaríngeo, coletado por swab, uma haste flexível semelhante a um cotonete. Além da execução do teste dentro do período correto, outro elemento que pode prejudicar os resultados desta técnica por gerar resultados falso-negativos são erros de coleta de swab nasofaríngeo. IMUNOCROMATOGRAFIA DE FLUXO Essa metodologia qualitativa é utilizada principalmente para triagem de pacientes, devido a sua rapidez e praticidade. Os kits comerciais disponíveis possuem diferentes apresentações, como: • Testes rápidos que diferenciam IgM e IgG: são aqueles que apresentam três bandas (faixas) – controle, IgM e IgG –, permitindo discernir qual anticorpo está ou não reagente. Ressalta-se que resultados que não apresentarem a banda controle serão sempre considerados testes inválidos • Testes rápidos que não diferenciam anticorpos são aqueles que apresentam duas bandas (faixas): controle e teste, permitindo apenas determinar a presença de anticorpos, sem diferenciá-los. Ressalta-se que resultados que não apresentarem a banda controle serão sempre considerados testes inválidos ELISA Para que os resultados sejam fidedignos às condições imunológicas do paciente no momento da coleta, é importante atentar para o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a coleta. O período para coleta, a partir do qual seria possível a detecção de anticorpos para SARS-CoV-2, seria entre o 7º e o 10º dia após início dos sintomas. Assim, não é uma técnica útil para detecção de anticorpos nos estágios iniciais da infecção. De modo geral, o IgM é detectável mais cedo que o IgG. ELISA Quando a finalidade do teste for identificar a exposição anterior ao SARS-CoV-2, podem ser usados testes sorológicos para detecção de IgG ou IgM (para determinar se um indivíduo foi previamente infectado), do tipo imunocromatográficoou ELISA, que poderá ser quantitativo, caso o título do anticorpo seja necessário. Caso os achados clínicos permitam, o indivíduo testado não exigiria quarentena e poderia se associar a indivíduos não infectados ou infectados com risco mínimo de transmissão ou nova infecção UNIDADE 3 TÓPICO 5 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO • O lúpus é uma doença autoimune que afeta diferentes tecidos no corpo humano. Por ser uma doença que acomete principalmente o tecido conjuntivo, é classificada como uma condição clínica pertencente ao grupo das colagenoses. Assim, o lúpus apresenta um processo inflamatório crônico e multissistêmico em que a presença de autoanticorpos resulta em prejuízo tecidual. As manifestações clínicas presentes na doença são comumente confundidas com sintomas de outras doenças. Neste contexto, se torna, por vezes, uma doença de difícil diagnóstico. LABORATÓRIO CLÍNICO • Em pacientes com suspeita de LES, os exames laboratoriais devem ser realizados para detectar a presença dos autoanticorpos, que são os principais marcadores da doença. Anticorpos antinucleares são encontrados em mais de 90% dos pacientes de LES, embora a sua presença não seja específica para esta doença, podendo aparecer em outras doenças autoimunes, infecciosas ou mesmo em indivíduos normais. ANTICORPOS ANTINUCLEARES (FAN) A detecção de anticorpos antinucleares, também conhecida como fator antinuclear (FAN) é um método que utiliza como princípio a imunofluorescência indireta utilizado na investigação de lúpus por estar presente na corrente sanguínea de pacientes com doenças autoimunes sistêmicas associadas ao tecido conjuntivo Apesar de integrar parte dos 11 critérios diagnósticos paro lúpus, não se trata de um exame patognomônico paro lúpus, uma vez que outras doenças autoimunes, como síndrome de Sjögren, artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto, também apresentam esses autoanticorpos FALSO POSITIVO Um problema muito expressivo no dia a dia do laboratório é a positividade do teste sem que haja correlação clínica. Em soro puro ou em baixas diluições, virtualmente toda a população apresenta reatividade na pesquisa de FAN; daí a necessidade de um valor de corte adequado. Mudanças na distribuição dos títulos dos auto- anticorpos na população são idade e sexo dependente. Para minimizar essa situação, vários laboratórios adotam um valor de corte de 1:80. Ainda assim, até 13,3% da população sadia pode ter um teste positivo. Geralmente, quanto mais alto o título, mais significativo o resultado do exame, especialmente em pacientes jovens. FALSO POSITIVO Como podemos perceber, o resultado apresentando titulação reagente para FAN não necessariamente indica presença de doença autoimune. Além do resultado reagente apresentando titulação, existem antígenos-alvo que formam padrões nucleares. Esses padrões são utilizados pelas equipes médicas para reforçar ou descartar a suspeita clínica de lúpus. E PRA FINALIZAR...