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1 DESENVOLVIMENTO E SÍNDROMES NEUROLÓGICAS INFANTIL 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 SUMÁRIO DESENVOLVIMENTO E SÍNDROMES NEUROLÓGICAS INFANTIL .... 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 5 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO ..................................................................................................... 5 O TECIDO NERVOSO: UMA VISÃO MICROSCÓPICA ...................... 6 O SISTEMA NERVOSO: UMA VISÃO A OLHO NU ............................ 9 SISTEMA NERVOSO CENTRAL ................................................... 10 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO .............................................. 12 PRINCIPAIS SÍNDROMES NEUROLÓGICAS INFANTIL ..................... 15 ESCLEROSE MÚLTIPLA ................................................................... 15 ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) ................................ 16 MENINGITE ....................................................................................... 17 TRAUMATISMOS CRANIOENCEFÁLICOS (TCE) ............................ 21 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) ............................. 22 COMUNICAÇÃO E INTERAÇÕES SOCIAIS ................................. 29 LINGUAGEM .................................................................................. 29 COMPORTAMENTO, INTERESSES E ATIVIDADES .................... 30 INTELIGÊNCIA ............................................................................... 30 DIAGNÓSTICO............................................................................... 31 TRATAMENTO ............................................................................... 31 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH).......................................................................................................... 33 O DIAGNÓSTICO DE TDAH .......................................................... 34 CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO ............................................... 35 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ........................................................... 38 file:///C:/Users/rayssy.fernandes/Desktop/Nova%20pasta%20(2)/Nova%20pasta/Desenvolvimento%20e%20Síndromes%20Neurológicas%20Infantil.docx%23_Toc135648791 4 CAUSALIDADE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL........................ 41 FATORES GENÉTICOS ................................................................. 43 AMBIENTAIS .................................................................................. 44 MULTIFATORIAL ........................................................................... 45 ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO ............................................. 46 REFRÊNCIAS ........................................................................................ 49 5 INTRODUÇÃO As síndromes neurológicas do sistema nervoso podem ter um impacto profundo na vida das pessoas afetadas, causando declínios significativos nas habilidades motoras, sensoriais e cognitivas. As síndromes neurológicas são classificadas como doenças que afetam não apenas o cérebro, mas também a medula espinhal e o restante do sistema nervoso. No que diz respeito às condições neurológicas em crianças, elas geralmente estão presentes desde o nascimento, embora existam casos em que podem ser adquiridas posteriormente (MACHADO, 2007). Essas condições podem reduzir severamente a qualidade de vida das pessoas afetadas. As síndromes neurológicas, também chamadas de distúrbios do neurodesenvolvimento, são um tipo de problema neurológico que pode prejudicar a capacidade de aprender, lembrar ou utilizar certas habilidades ou conhecimentos. Esses distúrbios podem se manifestar como dificuldades de concentração, memória, percepção, linguagem, pensamento crítico ou socialização. A gravidade desses distúrbios pode variar; alguns podem ser menores e podem ser gerenciados com intervenções educacionais e comportamentais, enquanto outros podem exigir assistência mais substancial (MARTIN, 2013). ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO Os sistemas nervoso central e periférico são caracterizados por vários aspectos gerais. Segundo Machado (2007), o sistema nervoso desempenha um papel crucial na regulação das funções dos órgãos e de todo o organismo, incluindo, mas não se limitando a, batimentos cardíacos, respiração, movimentos corporais e emoções. 6 O TECIDO NERVOSO: UMA VISÃO MICROSCÓPICA O SN é um sistema altamente significativo devido à diversidade de aspectos funcionais e morfológicos de sua composição celular. O sistema é formado por apenas dois tipos de células, neurônios e células gliais, o que reforça sua importância (MACHADO, 2007). As formas e funções dos neurônios e células gliais, também conhecidas como gliócitos ou neuroglia/neuróglia, são incrivelmente diversas. Eles colaboram para criar circuitos neurogliais, que os capacitam a executar com eficácia as funções do tecido nervoso (MORRIS, 1992). As células conhecidas como neurônios (conforme representado na Figura 1) possuem as qualidades de excitabilidade e condutividade. Essas células são responsáveis por realizar e transmitir impulsos nervosos. Os neurônios se comunicam entre si e também com outros tipos de células conhecidas como células efetoras, que consistem principalmente em fibras musculares. Esta comunicação é executada principalmente através da transmissão de impulsos elétricos. Os neurônios possuem várias formas e formatos e em todas elas, são formados por (MARTIN, 2013): • Dendritos ou árvore dendrítica: ramificações ligadas ao corpo celular que recebem os impulsos elétricos; algumas protrusões que emergem dos dendritos parecem espinhos de rosas e se chamam espinhas dendríticas. • Corpo celular ou soma: região onde se localiza o núcleo e outras organelas celulares; • Axônio: prolongamento de tamanho variável capaz de gerar e/ou conduzir o impulso elétrico até seu terminal, que está em contato com outro neurônio ou célula efetuadora. 7 Figura 1 - Esquema de um neurônio Fonte: Martin, 2013. Os espinhos dendríticos são saliências minúsculas presentes nos dendritos. O axônio, que é envolvido pela bainha de mielina, origina-se do corpo celular. Na sinapse, o neurônio pré-ganglionar transmite seus axônios terminais ou terminações nervosas para o corpo celular de um neurônio pós-ganglionar (MORRIS, 1992). A Figura 2 mostra as células gliais, que são as células mais abundantes no sistema nervoso. Sua presença é estimada entre 1:10 a 1:50 em comparação com os neurônios,mas exibem menos variação em sua aparência física. Embora anteriormente se supunha que essas células forneciam apenas assistência estrutural e nutricional aos neurônios, agora se sabe que elas também 8 desempenham um papel na recuperação e proteção do sistema nervoso, segundo MARTIN (2013). Além das funções mencionadas anteriormente, as células gliais desempenham um papel vital no processamento de informações no tecido nervoso, influenciando quimicamente as ações dos neurônios, pois não são capazes de gerar ou transmitir impulsos nervosos por si mesmas, conforme Morris (1992). De acordo com sua forma e função, as células da glia são classificadas em (MACHADO, 2007): • Astrócitos: com forma semelhante a estrelas, com função de sustentação e isolamento dos neurônios; • Oligodendrócitos: são menores que os astrócitos e podem isolar axônios dos neurônios, formando as bainhas de mielina em neurônios do sistema nervoso central (SNC). A bainha de mielina, em neurônios periféricos, é formada por neuroglia, chamada células de Schwann; • Microglia: células menores que participam da defesa do tecido nervoso; • Células ependimárias: células gliais remanescentes do epitélio embrionário que formam o epitélio de revestimento nos ventrículos, aquedutos e canais cerebrais. 9 Figura 2 - Esquema ilustrativo de alguns tipos de células da glia Fonte: Santos, 2020. Oligodendrócitos e Células de Schwann são as células da glia que formam a bainha de mielina em neurônios do SNC e SNP, respectivamente. Microglia atua como célula de defesa no SN e os astrócitos, como forma de estrela, se ligam em vasos sanguíneos e fornecem suporte nutricional aos neurônios (MACHADO, 2007). O SISTEMA NERVOSO: UMA VISÃO A OLHO NU Segundo Martin (2013), a divisão anatômica do SN é um método instrucional para esclarecer as várias estruturas que compõem o sistema, com a importante observação de que todas essas partes estão conectadas e inter- relacionadas tanto em termos de morfologia quanto de função. Segundo Machado (2007), o SN pode ser anatomicamente separado em duas partes: o Sistema Nervoso Central (SNC), que se localiza no interior do 10 crânio e da coluna vertebral, e o Sistema Nervoso Periférico (SNP), que se distribui por todo o corpo fora do esqueleto. O sistema nervoso central contém a quantidade mais substancial de células neuronais, suas extensões e interconexões entre si, juntamente com uma quantidade considerável de células gliais. Por outro lado, o sistema nervoso periférico é constituído por uma quantidade mínima de células neuronais, mas com um número massivo de extensões neuronais, também conhecidas como fibras nervosas (MARTIN, 2013). SISTEMA NERVOSO CENTRAL O sistema nervoso central está posicionado no esqueleto axial e é constituído pelo encéfalo, situado na cavidade craniana, e pela medula espinhal, estrutura cilíndrica que se estende do encéfalo e se situa no interior da coluna vertebral (MARTIN, 2013). Em termos de função, o cérebro é de maior complexidade do que a medula espinhal. Funciona como uma intrincada máquina de processamento de informações responsável por suprir os indivíduos tanto com suas habilidades cognitivas (como o raciocínio) quanto com sua capacidade emocional (como os sentimentos) (MACHADO, 2007). O cérebro, também conhecido como cérebro superior, é composto por múltiplos sulcos e giros ou dobras, que surgiram devido à maior expansão do tecido nervoso em relação ao tamanho do nosso crânio. Um sulco profundo divide o cérebro em dois hemisférios: o direito e o esquerdo. Os ventrículos cerebrais, que são cavidades localizadas dentro do cérebro, funcionam como amortecedores, permitindo que o líquido cefalorraquidiano flua através deles. Isso protege o cérebro de qualquer impacto que possa causar danos a ele (MARTIN, 2013). O cerebelo, também conhecido como "pequeno cérebro" ou "árvore da 11 vida", está localizado na região mais posterior do cérebro e, como o cérebro, possui uma estrutura interna semelhante. O tronco cerebral é encontrado na parte inferior do cérebro e é dividido em três partes: mesencéfalo, ponte e bulbo. Essa região serve para conectar a medula espinhal com o cérebro, conforme explicado no trabalho de MARTIN (2013). A medula espinhal é uma estrutura em forma de cilindro que ocupa o interior da coluna vertebral, começando logo abaixo da medula e continuando até a segunda vértebra lombar. A medula espinhal contém um canal central, que também é utilizado para a circulação do líquido cefalorraquidiano. A medula espinhal está envolvida na regulação das funções sensoriais e motoras, que regulam a atividade imediata do corpo. (MACHADO, 2007) A localização e os componentes do sistema nervoso central podem ser observados na Figura 3, apresentada a seguir. Figura 3 - Localização e estruturas do Sistema Nervoso Fonte: Martin, 2013. A e B, uma visão lateral do SNC. B, as sete estruturas que integram o SNC: Hemisfério cerebral e diencéfalo, constituem juntos o cérebro; 12 Mesencéfalo, ponte e bulbo, o tronco encefálico; em posição posterior, o cerebelo e na parte mais caudal em forma cilíndrica, a medula espinhal. Figura 4 - Esquema das estruturas que integram o SNC. Fonte: Lent, 2010. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Agora, fora do esqueleto axial e espalhado por toda a extensão do corpo, encontram-se as principais estruturas do SNP, os nervos (ver Figura 5), cordões esbranquiçados formados por um conjunto de fibras nervosas. Os nervos são como “cabos elétricos”, possuem uma extremidade mais grossa, ligada ao SNC (chamada de raiz nervosa) e outra extremidade mais fina que penetra no órgão. (MARTIN, 2013). Dessa maneira, esses cabos conectam o SNC com o restante do corpo. Mais uma vez, de forma didática, os nervos são separados em cranianos, aqueles que se conectam com o encéfalo, e espinhais, aqueles que se conectam com a medula. Ao todo, temos 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos espinhais (MACHADO, 2007). 13 Figura 5 - Localização dos principais nervos do Sistema Nervoso Periférico Fonte: Martin, 2013. A área da cabeça e do pescoço é inervada pelos nervos cranianos, enquanto o resto do corpo é inervado pelos nervos espinhais. Uma vez saindo do canal espinhal, os nervos espinhais podem se dividir em numerosos ramos, que formam os nervos periféricos, conforme notado por Morris em 1992. As terminações nervosas na periferia do nervo podem ser classificadas como sensitivas/aferentes ou motoras/eferentes. As terminações nervosas sensoriais são estimuladas pelo toque, calor ou luz, e transmitem sinais ao sistema nervoso central (SNC), onde são processadas de diversas formas como sensibilidade (MARTIN, 2013). 14 A conexão entre fibras motoras e órgãos efetores, músculos ou glândulas é estabelecida por meio de terminações nervosas motoras, que causam o movimento. Esses nervos podem transmitir informações sensoriais como temperatura e dor ou informações motoras, ou podem ser uma mistura de ambos os tipos, como é o caso da maioria dos nervos (MACHADO, 2007). O SNP é categorizado em duas divisões com base em seus aspectos funcionais: o somático e o visceral. A divisão somática do SNP é responsável pela conexão entre o corpo e seu ambiente. Essa divisão possui receptores dispersos por toda a pele que transmitem informações sobre as condições ambientais ao SNC. O SNC inicia então o movimento de diferentes partes do corpo através do uso de comandos direcionados aos músculos estriados esqueléticos, o que é referido como movimento voluntário (MORRIS, 1992). O SNP responsável por controlar os órgãos internos ou vísceras é o SNP visceral, que está associado à vida involuntária. Dentro dos órgãos, existem viscerorreceptores quese tornam ativos e transmitem informações por meio de nervos aferentes ao sistema nervoso central (SNC). O SNC então processa essas informações e as retransmite para o tecido apropriado, que pode incluir músculo liso, coração ou glândulas (MARTIN, 2013). A transmissão de informações do sistema nervoso central para o tecido- alvo é facilitada por nervos eferentes, que podem ser divididos em duas categorias: simpático e parassimpático, cada um com suas próprias características. No entanto, o SNP não é composto apenas por nervos. Existem também os gânglios nervosos, que são aglomerados de corpos neuronais localizados próximos ao SNC ou mesmo dentro dos próprios órgãos (MORRIS, 1992). As fibras dos nervos, que acabarão por formar os próprios nervos, podem ter sua gênese no Sistema Nervoso Central ou nos gânglios nervosos. É imperativo compreender o significado das terminações proximais e distais de um nervo para compreender os processos de dor que afligem os pacientes e sugerir tratamento adequado para cada caso individual de reabilitação ou melhoria da qualidade de vida (MACHADO, 2007). 15 PRINCIPAIS SÍNDROMES NEUROLÓGICAS INFANTIL ESCLEROSE MÚLTIPLA A Esclerose Múltipla, juntamente com a Esclerose Lateral Amiotrófica, ganhou mais atenção do público nos últimos anos devido a várias campanhas na Internet promovendo a conscientização sobre a doença e destacando sua pesquisa subfinanciada. Embora seja verdade que a Esclerose Múltipla é mais comumente diagnosticada em adultos, é fundamental reconhecer que crianças também podem ser diagnosticadas com a doença (SILVA; NASCIMENTO, 2014). É importante lembrar que, apesar do aumento da visibilidade, mais atenção e pesquisa ainda são necessárias para melhor entender e tratar a Esclerose Múltipla. Identificar a doença em crianças pode ser uma tarefa desafiadora, pois sintomas semelhantes aos encontrados na Esclerose Múltipla também podem estar presentes em outras doenças, dificultando o processo de diagnóstico (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). A esclerose múltipla é uma doença neurológica crítica que afeta principalmente indivíduos entre 20 e 40 anos. Essa condição leva a uma forma crônica e irreparável de neurodegeneração. A neurodegeneração do tipo desmielinizante causada pela EM é responsável pela degeneração da bainha de mielina que envolve os neurônios do SNC diagnosticado (SILVA; NASCIMENTO, 2014). A Esclerose Múltipla (EM) é categorizada como uma doença autoimune devido à ativação de células T que atravessam a barreira hematoencefálica e desencadeiam uma reação inflamatória que resulta em dano do axônio neuronal e desmielinização. Essas lesões não ocorrem concomitantemente em todo o sistema nervoso central (SNC), mas sim em áreas ou placas sequencialmente. Os mecanismos responsáveis por iniciar esse processo permanecem desconhecidos (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). 16 A doença geralmente começa com indicações neurológicas distintas ou em combinação com outros fatores. Os pacientes que sofrem de EM podem apresentar os primeiros sinais da doença como sintomas sensoriais ou motores, ou como uma neurite óptica isolada. As síndromes dolorosas são raras nos estágios iniciais, assim como as alterações cognitivas, corticais, afasia e outros sintomas associados (SILVA; NASCIMENTO, 2014). É sempre o caso que a ataxia está ligada a outras condições, como distúrbios motores, vertigem e diplopia. À medida que os sintomas aparecem, os pacientes podem relatar sensações difusas de fadiga e desconforto. (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). À medida que as lesões causadas pela EM avançam, os pacientes inevitavelmente experimentarão surtos ou recaídas. Esses surtos são frequentemente caracterizados por vários sintomas, incluindo, entre outros, perda parcial ou total das funções fisiológicas, paralisia, hipoestesia, deficiência visual, diplopia ou ataxia diagnosticada por profissionais médicos (SILVA; NASCIMENTO, 2014). A manifestação de sintomas relacionados a danos nos nervos em pacientes com EM não depende apenas da localização da lesão, mas também da variedade de propriedades de condução exibidas pelos axônios danificados. A abordagem farmacológica para o tratamento da EM envolve a administração de medicamentos que obstruem a resposta imune e tentam minimizar o desenvolvimento de novas lesões. Como as lesões do sistema nervoso são frequentemente irreparáveis, os indivíduos com EM necessitam de intervenção fisioterapêutica para melhorar seu padrão de vida (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é um distúrbio que afeta a junção entre neurônios e músculos, tornando-se um distúrbio neuromuscular. Também é classificado como neurodegenerativo devido à perda gradual e degeneração 17 dos neurônios motores primários localizados no sistema nervoso central (SNC). Esses neurônios são encontrados em três áreas: os núcleos motores do tronco cerebral, o corno anterior da medula espinhal e as áreas motoras do córtex cerebral. Ou seja, localizam-se nas vias ou áreas motoras do SNC (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). As razões para a deterioração gradual dos neurônios motores ainda não são amplamente compreendidas. Embora se reconheça que, em alguns casos, a degeneração neuronal pode ser atribuída a fatores genéticos ou mutações, levanta-se a hipótese de que a maioria dos casos seja causada por alterações na composição química, imunológica ou proteica dos neurônios motores identificados (SILVA; NASCIMENTO , 2014). A manifestação típica da doença é súbita, marcada por declínio da força muscular, atrofia dos membros e da língua, fasciculações ou pequenas cãibras e hiperreflexia. Por ser uma doença degenerativa, os quadros pioram com o tempo, levando a uma diminuição generalizada da musculatura, culminando em tetraplegia (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). Nos estágios avançados da doença, normalmente são observados sintomas associados à morte de neurônios do tronco encefálico, como disfonia, disartria, fraqueza, atrofia e fasciculações da língua, seguidos de insuficiência respiratória, que é a forma mais grave sintoma da doença e é responsável pela maioria das mortes (COSMO; LUCENA; SENA, 2012). Embora não haja cura conhecida para a ELA, existem medicamentos utilizados em seu tratamento que visam retardar os sintomas. Além disso, a reabilitação fisioterapêutica tem demonstrado melhorar muito a qualidade de vida dos diagnosticados com essa doença (SILVA; NASCIMENTO, 2014). MENINGITE A meningite é uma condição inflamatória que afeta as meninges - as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Geralmente é 18 causada por infecções virais ou bacterianas, mas é possível que outros agentes causadores, como fungos e parasitas, sejam os responsáveis. Ao contrário do TEA ou TDAH, a meningite é uma doença neurológica que deve ser tratada imediatamente após o diagnóstico (PERES, 2006). As meninges, que consistem em três camadas chamadas de dura-máter, aracnóide-máter e pia-máter, são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. O líquido cefalorraquidiano ou LCR flui dentro da área entre a aracnóide e a pia-máter (NITRINI, 2003). A Figura 6 ilustra a estrutura da meninge. Figura 6 - Estrutura do sistema nervoso e LCR Fonte: Geocities, 2007. A meningite é uma inflamação que ocorre na aracnóide, na pia-máter e no líquido cefalorraquidiano, que então se espalha para a área subaracnóidea do cérebro e da medula espinhal. Essa inflamação acontece quando um vírus ou bactéria ultrapassa as defesas naturais do corpo e passa a residir nas meninges. Uma vez presente, o processo infeccioso se espalha rapidamente 19 pelo líquido cefalorraquidiano (MORRIS,1992). Essa inflamação pode causar a produção de pus e se espalharpor todo o sistema nervoso central, conforme explicado por Davis em 2003. Agentes infecciosos são a fonte mais frequente de meningite. No entanto, a meningite também pode ser causada por agentes químicos e neoplasias. As meninges podem sofrer irritações de curto prazo devido a contrastes radiológicos ou radioisótopos no sistema do líquido cefalorraquidiano. Isso desencadeia uma resposta inflamatória, juntamente com a presença de células polimorfonucleares, conforme citado por DAVIS em 2003 e MORRIS em 1992. A meningite, condição caracterizada pela inflamação das meninges, pode ser causada por vários microrganismos patogênicos, incluindo vírus e bactérias. Fungos, protozoários e helmintos, por outro lado, raramente infectam as meninges. Em termos de saúde pública, as meningites bacterianas e virais são as mais significativas, pois ocorrem com maior frequência e têm potencial para causar surtos (PERES, 2006). Segundo BRASIL (2005), a Tabela 1 apresenta os principais fatores causais que levam à meningite. Para que a meningite se torne uma doença infecciosa, os microorganismos patogênicos devem atravessar o corpo humano, passando tanto pela barreira hematoencefálica quanto pela barreira hematoencefálica. Se as meninges forem penetradas devido a trauma, procedimentos clínicos ou cirúrgicos ou malformações congênitas, como mielomeningocele, o LCR pode ser contaminado. Como o LCR não produz anticorpos e as imunoglobulinas do sangue não têm acesso a ele, é fácil que o microrganismo infectante se espalhe pela circulação do líquido cefalorraquidiano. Isso pode resultar em inflamação meníngea (MACHADO; GOMES, 2003). 20 Tabela 1 - Principais agentes etiológicos da meningite Fonte: BRASIL, 2005. A meningite é uma condição caracterizada por febre alta, dor de cabeça intensa, vômitos e indicações específicas de irritação meníngea. Essas manifestações são acompanhadas por alterações no líquido cefalorraquidiano. São indícios de irritação meníngea: o sinal de Kernig, que é a flexão da articulação do joelho quando a coxa é colocada em determinado grau de flexão em relação ao tronco, e o sinal de Brudzinski, que é a flexão involuntária da perna sobre o coxa e o último sobre a pelve ao tentar flexionar a cabeça do paciente. Esta informação é apoiada por BRASIL (2005) e PERES et al (2006). É possível que lactentes até nove meses não apresentem os sinais típicos de irritação meníngea. No entanto, existem outros sinais e sintomas que devem levantar a suspeita diagnóstica, como febre, irritabilidade ou agitação, choro persistente, grito meníngeo (quando a criança grita ao ser manuseada, 21 especificamente quando as pernas estão sendo dobradas para trocar a fralda) e recusa em comer, possivelmente acompanhada de vômitos, convulsões ou fontanela abaulada. Para ser considerado caso suspeito de meningite, o indivíduo deve apresentar três ou mais desses indícios citados (BRASIL, 2005; PERES et al, 2006). A meningite pode ser categorizada de acordo com o microrganismo que a causou, também conhecido como seu agente etiológico. Essa classificação inclui meningite bacteriana, meningite viral e meningite fúngica (DEVINSKY, 2001). Outra classificação classifica a meningite em piogênica aguda, geralmente causada por bactérias, linfocítica aguda, causada por vírus, e crônica, causada por bactéria ou fungo (MACHADO; GOMES, 2003; MORRIS, 1992). Alguns autores ainda classificam a meningite como bacteriana, viral e granulomatosa, que inclui tuberculose e causas fúngicas. A progressão da doença pode fornecer informações sobre sua etiologia. Na meningite viral, os sintomas agudos aparecem em apenas algumas horas, enquanto na meningite bacteriana, os sintomas se desenvolvem dentro de horas a um dia. Nos casos de meningite fúngica ou tuberculosa, os sintomas podem levar de dias a duas semanas para se manifestar. TRAUMATISMOS CRANIOENCEFÁLICOS (TCE) Uma lesão cerebral traumática (TCE) é identificada por qualquer dano infligido por uma força externa no tecido nervoso. Tal lesão pode acontecer a qualquer pessoa, independentemente da idade, através de incidentes como acidentes domésticos ou colisões de automóveis. A extensão do TCE pode ser determinada pela gravidade do dano causado e pelas áreas do cérebro que foram afetadas. A lesão cerebral definitiva decorrente do TCE é causada por mecanismos fisiopatológicos que se iniciam quando ocorre o acidente. (ANDRADE; PAIVA; AMORIM, 2009). 22 Para explicar, as lesões cerebrais podem ser categorizadas como primárias ou secundárias. Lesões cerebrais primárias acontecem durante o próprio trauma, como quando um objeto penetra no cérebro. Em contraste, as lesões cerebrais secundárias resultam das interações entre fatores intra e extracerebrais e geralmente ocorrem após o acidente inicial. Esses fatores se acumulam e impossibilitam a sobrevivência do circuito neuronal afetado (ANDRADE; PAIVA; AMORIM, 2009). Os acidentes cranioencefálicos são um contribuinte significativo tanto para a mortalidade quanto para o comprometimento de longo prazo na população em geral. Indivíduos que anteriormente levavam vidas normais e funcionavam regularmente são repentinamente confrontados com lesões cerebrais traumáticas e a necessidade de se ajustar à sua nova realidade. Para ajudar esses indivíduos a se adaptarem ao seu novo estilo de vida, o tratamento fisioterapêutico é de extrema importância e auxílio (ANDRADE; PAIVA; AMORIM, 2009). TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) O autismo é um dos distúrbios neurológicos mais comuns que afetam as crianças. Vale a pena notar que, nos últimos anos, houve uma maior conscientização e cobertura da mídia sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), resultando em maior atenção do público. No entanto, é fundamental que os pais sejam informados sobre o momento adequado para buscar ajuda profissional para indivíduos com autismo (OLIVEIRA; SERTIÉ, 2017). É fundamental destacar que o autismo é uma condição que afeta várias funções dentro de um indivíduo. Além disso, é importante ter em mente que o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) impede várias habilidades, incluindo a linguagem, que acabam levando a dificuldades na interação social e no crescimento cognitivo (WHITMAN, 2015). 23 O comprometimento em múltiplas áreas do desenvolvimento é uma característica definidora do autismo. Essas áreas incluem habilidades de comunicação, habilidades de interação social recíproca e a presença de estereótipos comportamentais, de interesse e baseados em atividades. Essas condições são identificadas por prejuízos qualitativos que representam um desvio significativo em relação à idade mental ou nível de desenvolvimento do indivíduo. A determinação do TEA depende principalmente de observações clínicas, que incluem o monitoramento do comportamento da criança e a realização de entrevistas com seus pais, bem como a utilização de algumas ferramentas. É importante implementar instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento capazes de detectar alterações indicativas de TEA e aplicá-los corretamente durante as consultas de puericultura na Atenção Primária à Saúde. O relato da família sobre as modificações na conduta ou no crescimento de seu filho tem uma correlação favorável com a verificação diagnóstica futura, destacando a importância de reconhecer as observações da família durante o tratamento da criança (WHITMAN, 2015). Não é incomum o surgimento de episódios agudos e, muitas vezes, o que podemos perceber são indícios de inquietação ou hostilidade, que podem ser autoinfligidos ou direcionados a terceiros. Esses episódios podem ocorrer por vários motivos, como incapacidade de comunicar uma necessidade ou desconforto relacionado a estímulos sensoriais ou dor física. É crucial investigar acausa subjacente dos comportamentos observados para desenvolver estratégias eficazes para abordá-los (OLIVEIRA; SERTIÉ, 2017). Existem várias abordagens disponíveis, incluindo técnicas de modificação comportamental, formas alternativas de comunicação para auxiliar a compreensão e expressão, estratégias sensoriais e medidas mais invasivas como contenção física e mecânica, medicamentos e, em certos casos, intervenções de emergência em instalações médicas. Ao falar do Transtorno do Espectro Autista considera-se diferentes fenótipos, portanto diferentes manifestações (OLIVEIRA; SERTIÉ, 2017). Para o 24 diagnóstico podem ser utilizar os critérios estabelecidos pelo DSM-V, ou os parâmetros determinados pela Classificação Internacional de Doenças (CID), que na atualização da versão 10 para 11 apresentou mudanças importantes, o que pode ser verificado no quadro a seguir: Quadro 1 - Atualização da versão 10 para 11 (CID) Fonte: Asperger e autismo no Brasil (2019) As síndromes antes denominadas Asperger e Rett deixam de ser consideradas e todos os casos passam a ser enquadrados no termo Transtorno do Espectro Autista. É possível observar comportamentos específicos das crianças que apresentam o TEA (WHITMAN, 2015). 25 Figura 7 - Comportamentos específicos das crianças que apresentam o TEA Fonte: Adaptado de Whitman (2015) A figura anterior mostra uma gama de comportamentos, alguns dos quais podem se manifestar em indivíduos em níveis variados de gravidade. É possível observar essas alterações em graus leve, moderado e grave. Em certas circunstâncias, uma quantidade significativa de assistência pode ser necessária, especialmente se o indivíduo tiver uma deficiência intelectual pré-existente, 26 exibir comportamentos estereotipados, dificuldades com a comunicação visual ou tiver desafios significativos com a linguagem escrita e oral. (WHITMAN, 2015). A existência de suporte às vezes é apenas modesta e, embora haja uma linguagem oral presente, falta o contexto de frases conectadas. Nesses casos, a comunicação verbal não é utilizada como meio de transmitir significado. Essa falta de intenção comunicativa dificulta a socialização e a compreensão. (WHITMAN, 2015). Em situações de falta de apoio, iniciar interações sociais torna-se desafiador, resultando em respostas atípicas ou malsucedidas à abertura social, diminuição do interesse nas interações sociais, preservando a inteligência e aumentando a expressividade e o contato social (WHITMAN, 2015). É evidente que a gravidade do transtorno se correlaciona com a qualidade de vida do indivíduo e sua capacidade de interagir com os outros enquanto tem transtorno do espectro autista. Portanto, é vital adequar o aprendizado às necessidades únicas de cada pessoa. Os atributos do autismo incluem complicações em aspectos particulares do desenvolvimento, como socialização, comunicação e imaginação. Henriques (2009) afirma que a comunicação é impactada tanto na compreensão quanto na expressão da linguagem falada e gestual para indivíduos com TEA. Cerca de cinquenta por cento das pessoas com TEA não adquirem uma fala clara, enquanto a outra metade pode apresentar atrasos nesse domínio. A fala de indivíduos com TEA pode parecer telegráfica sem o uso de elementos coesivos, e pode consistir em enunciados curtos sem uma estrutura sintática. Não é incomum encontrar dificuldades com a aplicação prática da linguagem. Isso pode se manifestar na forma de dificuldade em manter uma conversa, transmitir informações e, principalmente, transmitir ideias complexas (DELFRATE, 2009). Há casos em que os indivíduos só são diagnosticados com esses problemas quando atingem a idade adulta. Esses indivíduos não têm 27 deficiência intelectual ou déficit profundo de linguagem, mas sentem que não estão totalmente integrados à sociedade. Eles podem atribuir suas lutas à timidez, sensibilidade ou dificuldade em processar vários estímulos ao mesmo tempo. São percebidas como pessoas antissociais, que não gostam de conviver com outras pessoas. Alguns dos sintomas clássicos que podem ser percebidos são: • Dificuldades nos aspectos qualitativos da linguagem verbal e não verbal; • Dificuldade em manter ou desenvolver relacionamentos; • Padrões mais restritos de atividades e interesses; • Apego às rotinas e/ou padrões ritualizados de comportamento; • Poucas amizades ou dificuldade em relacionar-se; • Dificuldade em perceber e interpretar gestos e expressões faciais; • Dificuldades sensoriais, com hipersensibilidade para algumas coisas como cheiros, sons, visões; • Tendência ao isolamento e a evitar novas interações sociais; • Dificuldade em compartilhar; • Falta de empatia; • Necessidade de rotina; • Memória acima do esperado para a média da idade; • Problemas de sono e ansiedade. Do ponto de vista Neuropsicológico, os estudos mostram disfunções cognitivas nas Funções Executivas, Linguagem e Comunicação e Cognição Social (MCPARTLAND; COFFMAN; PELPHREY, 2011; CZERMAINSKI et al., 28 2014). As Funções Executivas referem-se a um conjunto de habilidades de controle cognitivo que permitem aos indivíduos regular seus pensamentos e ações e tomar as medidas necessárias para atingir seus objetivos. Também envolvem a avaliação da eficácia de diferentes estratégias, descartando as ineficazes em favor de alternativas mais eficientes, conforme observado por DELFRATE (2009). A integração das habilidades de planejamento, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória de trabalho são prejudicadas pelo autismo. Dentro do domínio da linguagem e da comunicação, certas anormalidades da fala estão ligadas ao autismo. Essas anormalidades incluem fala muito lenta ou muito rápida, ritmo irregular, entonação desconectada do conteúdo, volume anormal, ecolalia imediata (repetição de palavras ou frases ditas por outras pessoas), uso de palavras estereotipadas ou idiossincráticas que não são compartilhadas por outros e conversas com reciprocidade sustentada limitada. Em contraste com outros processos cognitivos, a cognição social depende da compreensão das normas sociais e da interpretação de sinais não- verbais (por exemplo, linguagem corporal, tom de voz, expressões faciais e contato visual). Essas habilidades podem ser comprometidas em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. O domínio da cognição social engloba habilidades sociais, como identificar emoções, bem como reconhecer linguagem figurada, incluindo sarcasmo e ironia, que são veiculadas de forma conotativa ou metafórica que exigem uma compreensão além da interpretação literal (DELFRATE, 2009). Conforme descrito por Pavarini e Souza (2010), a Teoria da Mente engloba a capacidade de deduzir as crenças e emoções dos outros, bem como de compreender, elucidar e antecipar sua conduta. 29 COMUNICAÇÃO E INTERAÇÕES SOCIAIS É comum que bebês diagnosticados com TEA exibam comportamentos únicos de aconchego e contato visual. Embora alguns bebês afetados possam ficar perturbados quando separados de seus cuidadores, eles podem não buscar conforto deles da mesma maneira que as crianças neurotípicas. Crianças mais velhas com TEA geralmente preferem brincadeiras solitárias e têm problemas para desenvolver conexões pessoais próximas, principalmente fora de sua famí- lia imediata. Eles podem lutar para estabelecer contato social, e isso pode ser evidenciado pela falta de contato visual ou expressões faciais ao interagir com outras crianças. Eles também podem ter dificuldade em discernir as emoções e expressões dos outros, o que pode exacerbar suas lutas em situações sociais. Além disso, eles podem achar difícil saber quando e como conversar com outras pessoas e podem se esforçar para reconhecer discursos inapropriados ou ofen- sivos. Essas dificuldadespodem fazer com que os outros os percebam como peculiares ou idiossincráticos, levando à sua alienação social (DELFRATE, 2009). LINGUAGEM As crianças que são severamente afetadas pelo transtorno do espectro autista podem nunca aprender a falar. Para aqueles que o fazem, geralmente ocorre muito mais tarde do que o normal, e muitas vezes lutam para usar as palavras corretamente. Eles podem repetir com frequência as palavras que são faladas para eles (também conhecido como ecolalia), usar padrões de fala me- morizados em vez de linguagem espontânea ou usar pronomes de maneira in- versa, como se referir a si mesmos como "você" em vez de "eu" ou " meu". As conversas com indivíduos com transtorno do espectro do autismo podem não ser interativas e são frequentemente usadas para rotular ou solicitar, em vez de compartilhar ideias ou sentimentos. É importante ressaltar que esses indivíduos podem apresentar ritmo e tom de fala incomuns (PAVARINI; SOUZA, 2010). 30 COMPORTAMENTO, INTERESSES E ATIVIDADES Com frequência, as pessoas com transtorno do espectro autista são muito resistentes a mudanças, tais como novos alimentos, brinquedos, organização dos móveis e roupas. Elas podem ficar excessivamente apegadas a objetos inanimados específicos. Elas com frequência fazem coisas repetidamente. Crianças mais novas e/ou mais gravemente afetadas com frequência repetem certos atos, tais como se balançar, agitar as mãos ou girar objetos. Algumas podem se ferir por meio de comportamentos repetitivos como bater a cabeça ou se morder. As pessoas menos gravemente afetadas podem assistir aos mesmos vídeos múltiplas vezes ou insistir em comer a mesma comida em todas as refeições. Frequentemente, as pessoas com um TEA têm interesses muito especializados e com frequência, incomuns. Uma criança pode, por exemplo, se interessar por aspiradores de pó (DELFRATE, 2009). As pessoas com um transtorno do espectro autista frequentemente reagem de maneira excessiva ou deficitária às sensações. Elas podem sentir repulsa extrema a certos odores, gostos ou texturas ou reagir a sensações de dor, calor ou frio de maneiras incomuns que outras pessoas consideram perturbadoras. Elas podem ignorar alguns sons e ser extremamente perturbadas por outros (PAVARINI; SOUZA, 2010). INTELIGÊNCIA Indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) freqüentemente experimentam alguma forma de comprometimento cognitivo, com um QI inferior a 70. Suas habilidades cognitivas não são uniformes; eles são mais proficientes em tarefas motoras e espaciais do que em tarefas verbais. Alguns indivíduos com TEA têm habilidades excepcionais, mas peculiares, como a capacidade de realizar cálculos aritméticos complicados mentalmente ou exibir aptidão musical impressionante. Lamentavelmente, muitas vezes não conseguem aplicar essas 31 habilidades de forma produtiva ou socialmente adequada (CZERMAINSKI et al., 2014). DIAGNÓSTICO Avaliação de um médico. O diagnóstico de um transtorno do espectro autista é feito mediante observação cuidadosa da criança em uma sala de jogos e mediante cuidadoso questionamento dos pais e professores. Testes padronizados, como o Questionário de Comunicação Social e a Lista de Verificação Modificada para o Autismo em Bebês (Social Communication Questionnaire and the Modified Checklist for Autism in Toddlers, M-CHAT-R) podem ajudar a identificar crianças que precisam de testes mais aprofundados. Psicólogos e outros especialistas podem usar os Cronogramas de observação para o diagnóstico de autismo (Autism Diagnostic Observation Schedules) e outras ferramentas. Além dos testes padronizados, os médicos devem realizar determinados exames de sangue ou genéticos para detectar distúrbios de saúde tratáveis ou hereditários primários, como distúrbios metabólicos hereditários e a síndrome do cromossomo X frágil. TRATAMENTO ❖ Terapia comportamental ❖ Fonoaudiologia ❖ Às vezes, terapia medicamentosa Os sintomas dos transtornos do espectro autista normalmente persistem durante toda a vida. O prognóstico é fortemente influenciado pela quantidade de linguagem utilizável que a criança adquiriu até a idade escolar. Crianças com um TEA com quociente de inteligência mais baixo (aquelas com pontuação abaixo de 50, por exemplo, em testes de QI padronizados) provavelmente precisarão de apoio mais intensivo como adultos (PAVARINI; SOUZA, 2010). 32 Crianças com TEAs com frequência se beneficiam de técnicas intensivas de modificação do comportamento. As crianças com QIs mais elevados obtêm benefício de terapias com o objetivo de desenvolver as habilidades sociais. Educação especial individualizada é essencial e com frequência inclui terapias da fala, ocupacional, física e comportamental dentro de um programa elaborado para o tratamento de crianças com um TEA (CZERMAINSKI et al., 2014). Terapias medicamentosas não conseguem alterar o distúrbio primário. No entanto, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como fluoxetina, paroxetina e fluvoxamina, produzem resultados positivos na redução dos comportamentos ritualísticos das pessoas com um TEA. Medicamentos antipsicóticos, como a risperidona, podem ser administrados para reduzir o comportamento autoagressivo, ainda que o risco de efeitos colaterais (como ganho de peso e distúrbios motores) deva ser considerado. Estabilizadores do humor e psicoestimulantes podem ser úteis no caso de pessoas desatentas, impulsivas ou com hiperatividade. A Lei federal sobre educação para indivíduos com deficiências (Individuals with Disabilities Education Act, IDEA) exige que as escolas públicas ofereçam educação gratuita e apropriada para crianças e adolescentes com TEA. A educação deve ser fornecida no ambiente menos restritivo e mais inclusivo possível, no qual a criança tenha todas as oportunidades para interagir com outras crianças não afetadas e tenha igual acesso aos recursos da comunidade (PAVARINI; SOUZA, 2010). Embora alguns pais tentem dietas especiais, terapias gastrointestinais ou terapias imunológicas, não existem atualmente evidências concretas de que alguma dessas terapias ajude crianças com um transtorno do espectro autista. A eficácia de outras terapias complementares, tais como comunicação facilitada, terapia quelante, treinamento de integração auditiva, terapia com oxigênio hiperbárico, ainda não foi comprovada. Ao considerar tais tratamentos, as famílias devem consultar o pediatra da criança no que se refere a riscos e benefícios (CZERMAINSKI et al., 2014). 33 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) A principal característica do TDAH, uma síndrome neurológica, é a pre- sença de uma tríade de sintomas que consiste em déficit de atenção, impulsivi- dade e hiperatividade, tanto mental quanto fisicamente. De acordo com o DSM-V (2014), o TDAH é caracterizado por um padrão duradouro de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, impedindo tanto o crescimento quanto a funcionalidade. Os sintomas devem estar presentes por no mínimo seis meses e devem ter um efeito adverso na vida social, profissional e acadêmica, não compatível com o nível de crescimento. Os sintomas do TDAH incluem dificuldade em manter a concentração em atividades ou tarefas, fácil distração devido a fatores externos, incapacidade de seguir instruções e concluir tarefas atribuídas, muitas vezes incapaz de participar calmamente de atividades de lazer, frequentemente levantando-se de uma posição sentada quando se es- pera que isso aconteça, permanecer sentado, e muitas vezes inquieto, batendo as mãos ou os pés, ou se contorcendo em uma cadeira, entre outros sintomas (RAPPLEY, 2005). A marca registrada do transtorno de déficit de atenção em crianças é sua luta significativa para manter o foco em uma determinada tarefa.Quando fala- dos, eles parecem desatentos e têm dificuldade em organizar seus pertences pessoais, resultando em constantes extravios. Essa dificuldade impacta direta- mente no seu desempenho acadêmico, pois muitas vezes são percebidos como desinteressados em aprender, incapazes de acompanhar o ritmo de seus cole- gas e frequentemente entregando trabalhos atrasados ou incompletos. (SAUVÉ, 2014). Conforme pesquisa realizada por Silva em 2009 e pela Associação Bra- sileira de Déficit de Atenção em 2016, o principal aspecto que leva ao diagnóstico de TDAH é a inconsistência na concentração. Isso significa que uma criança com esse distúrbio pode ou não apresentar hiperatividade, mas sem dúvida de- 34 monstrará falta de atenção. Silva (2009) recomenda o uso do termo “instabili- dade de atenção” ao invés de “déficit de atenção”, pois crianças com TDAH po- dem apresentar ambas as características acima e apresentar atenção hiperfo- cada em assuntos ou atividades específicas que prendem sua atenção ou des- pertam seu interesse impulsivo. Conforme afirma Silva (2009), a impulsividade é marcada pela presença de certos traços, como deficiência de julgamento ou reflexão, dificuldade em re- lacionar a ação realizada com o impacto resultante e tendência à impaciência. Essas características também estão comumente presentes em crianças com TDAH. A manifestação da impulsividade pode assumir várias formas, incluindo impulsividade verbal, motora e social (SAUVÉ, 2014). Crianças diagnosticadas com TDAH apresentam sinais claros de hipera- tividade física e mental. Eles estão constantemente em movimento, incapazes de permanecer sentados nas salas de aula e exibem agitação ao mexer com os braços, pernas e boca. Além disso, tendem a agarrar qualquer coisa ao seu alcance e preferem correr a caminhar (SILVA, 2009). O DIAGNÓSTICO DE TDAH O diagnóstico clínico do TDAH é atualmente o único meio pelo qual essa condição pode ser definitivamente identificada. Mesmo os métodos mais avan- çados, como ressonância magnética funcional, PET, SPECT, eletroencefalo- grama digital ou testes de substâncias específicas no sangue ou nos fios de ca- belo, não são suficientes para determinar o TDAH por conta própria. Para diag- nosticar com precisão esta condição, várias avaliações são necessárias, muitas vezes usando uma abordagem multidisciplinar (SAUVE, 2014). Durante uma avaliação clínica com um médico, é importante coletar in- formações por meio de vários canais. Isso inclui observar a criança durante a consulta, realizar entrevistas com os pais e/ou cuidadores da criança, solicitar 35 informações à escola da criança sobre seu comportamento, sociabilidade e aprendizado, bem como utilizar escalas de avaliação para determinar a presença e a gravidade dos sintomas (RAPPLEY, 2005). Uma vez coletadas todas as informações necessárias, o médico deve avaliar se o paciente atende às diretrizes diagnósticas para o TDAH. Essas di- retrizes são descritas em manuais de classificação (MC) e são compostas por uma lista de verificação de sintomas e indicações que foram estabelecidas por uma equipe de especialistas na área. Essa lista de verificação é utilizada para padronizar a avaliação se um indivíduo tem ou não a condição (SAUVÉ, 2014). CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO O diagnóstico do TDAH requer a identificação de comportamentos específicos, presentes em mais de um contexto, como na escola, em casa ou em ambientes sociais. Além disso, estes comportamentos devem acarretar um comprometimento clinicamente importante do funcionamento social, acadêmico ou ocupacional (APA, 2014). Cerca de 80% dos indivíduos com diagnóstico de TDAH apresentam sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade e impulsividade (RAPPLEY, 2005). Entretanto, para alguns há um predomínio de um sintoma em relação ao outro, e o subtipo apropriado deve ser indicado quando o diagnóstico é realizado, com base no padrão sintomático predominante nos últimos seis meses. No Tipo Combinado estão presentes tanto critérios de desatenção quanto de hiperatividade e impulsividade. No Tipo Predominantemente Desatento, estão presentes principalmente critérios de desatenção e no Tipo Predominantemente Hiperativo principalmente critérios de hiperatividade (RAPPLEY, 2005). Ao realizar um diagnóstico de TDAH é importante diferenciar os sintomas do transtorno “de comportamentos próprios da idade em crianças ativas, tais como, correrias e barulho excessivo” (APA, 2014). Embora um diagnóstico de TDAH possa ser feito como diagnóstico adicional para crianças com retardo mental, isto é possível apenas quando os sintomas são excessivos para a idade mental da criança. Além disso, é preciso 36 diferenciar o TDAH de comportamentos apresentados por crianças provenientes de ambientes altamente desorganizados, das que apresentam comportamento opositivo, daquelas com transtorno de movimento estereotipado e com outros transtornos mentais, como transtornos do humor e de ansiedade (SAUVÉ, 2014) Quadro 2 - Critérios diagnósticos para transtorno de déficit de atenção/hiperatividade do DSM V 37 Fonte: APA, 2014. 38 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A definição de deficiência intelectual passou, ao longo do tempo, por modificações, como, por exemplo, a mudança do termo. Em 2010, foi publicada a 11ª edição do manual “Deficiência Intelectual: Definição, Classificação e Níveis de Suporte”, pela AAIDD (Associação Americana em Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento), que manteve a definição de 2002, mas incorporou a mudança do termo “retardo/ deficiência mental” para deficiência intelectual com a seguinte redação: Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais – DSM-V, publicado pela Associação Americana de Psicologia em 2014, as características essenciais da deficiência intelectual incluem prejuízos nas funções intelectuais que envolvem raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem pela educação escolar e experiência e compreensão prática. Outra característica se refere a déficits no funcionamento adaptativo, que envolve três domínios: conceitual, social e prático. O domínio conceitual envolve memória, raciocínio matemático, leitura e escrita, linguagem, solução de problemas; o domínio social envolve empatia, habilidades de comunicação, julgamento social, percepção de pensamentos, sentimentos e experiências dos outros. Já o domínio prático envolve aprendizado e autogestão, cuidados pessoais, controle de dinheiro, organização de tarefas, entre outros. Por fim, a deficiência intelectual também é caracterizada por seu início durante o período de desenvolvimento (APA, 2014). Em relação aos comportamentos adaptativos, são definidos como habilidades conceituais, sociais e práticas que as pessoas aprendem para atuar em sua rotina diária, como comunicar, se alimentar, ler, utilizar conceitos 39 matemáticos. As habilidades adaptativas são a comunicação, que diz respeito às habilidades de compreender e expressar informações por meio de comportamentos simbólicos, como palavras faladas ou escritas, ou comportamentos não simbólicos, como expressões faciais e movimentos corporais (ALMEIDA, 2012). A habilidade de autocuidado também é adaptativa e se refere às habilidades que asseguram a higiene pessoal, alimentação, vestuário, uso do sanitário, entre outros. Habilidades de vida no lar dizem respeito às habilidades necessárias para o funcionamento do lar, como cuidado com roupas, com o ambiente doméstico. As habilidades sociais estão relacionadas às trocas sociais, como receber e responder a solicitações adequadamente, reconhecer sentimentos, demonstrar autocontrole, compartilhar e cooperar, respeitar limites e normas e demonstrar comportamento social e sexualadequado. O desempenho na comunidade são habilidades relacionadas ao uso apropriado dos recursos da comunidade, compras em lojas e mercados, utilizar transporte e serviços públicos; as habilidades de auto direção estão relacionadas a fazer escolhas, cumprir planejamentos, tomar iniciativas, completar tarefas e auto advocacia. As habilidades de saúde e segurança dizem respeito às habilidades para cuidar da saúde em termos de alimentação, identificação, tratamento e prevenção de doenças, além de cuidar da própria segurança (ALMEIDA, 2012). As habilidades acadêmicas funcionais se referem a habilidades como ler, escrever, utilizar conceitos básicos e práticos de matemática. A habilidade de lazer diz respeito às habilidades para desenvolver interesses e participar de atividades de entretenimento; por fim, tem-se as habilidades de trabalho, que se referem a manter um trabalho em tempo parcial ou total, comportamentos sociais apropriados e habilidades relacionadas ao trabalho, como cumprir horários, gerenciar dinheiro, enfrentar críticas e aplicar as habilidades acadêmicas funcionais. A deficiência intelectual pode ser classificada em leve, moderada, severa e profunda; com base no funcionamento intelectual do indivíduo. No entanto, é o funcionamento adaptativo que determina o nível de apoio necessário que esse indivíduo precisa para realizar diversas atividades (APA, 2014). 40 Assim, foram definidos quatro níveis de suporte/apoio para as pessoas com deficiência intelectual: apoio intermitente, apoio limitado, apoio amplo e apoio permanente (ALMEIDA, 2012). ❖ O apoio intermitente é oferecido conforme as necessidades do indivíduo. É caracterizado como de natureza episódica, pois a pessoa nem sempre necessita dele. Geralmente se faz necessário por períodos curtos durante transições ao longo da vida, como, por exemplo, perda do emprego ou uma crise médica aguda. O apoio intermitente pode ser de alta ou baixa intensidade. ❖ A intensidade de apoio limitado é caracterizada por consistência ao longo do tempo. Por exemplo, o treinamento para o emprego no mercado de trabalho por um tempo limitado ou o apoio na transição da vida escolar para a vida adulta (ALMEIDA, 2012). ❖ O apoio amplo é caracterizado pelo apoio regular (por exemplo, apoio diário) em pelo menos alguns ambientes (por exemplo, no trabalho, na escola) e não por tempo limitado (por exemplo, apoio permanente nas atividades de vida diária) (ALMEIDA, 2012). ❖ Apoio permanente é caracterizado pela constância e alta intensidade. É oferecido nos ambientes onde a pessoa vive e é de natureza vital para a sustentação da vida do indivíduo (ALMEIDA, 2012). É importante destacar que não há instrumentos padronizados que avaliam as condutas adaptativas dos indivíduos e os níveis de apoio que eles necessitam. Assim, um indivíduo não pode ser diagnosticado com deficiência intelectual apenas por testes de QI – quociente de inteligência, outros testes devem ser utilizados para indicar limitações no comportamento adaptativo, que envolve habilidades conceituais, sociais e práticas; considerando o ambiente cultural e da comunidade que o indivíduo está inserido, a diversidade linguística e diferenças culturais. Também se deve considerar o sistema de suporte/apoio que a pessoa necessita (ALMEIDA, 2012). 41 CAUSALIDADE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Na medicina permanecem diversos livros que falam sobre as causas da deficiência intelectual, sendo a decorrência de anos de pesquisas, e muitas destas análises foram retiradas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO), que visa à propagação do entendimento do que se tem estudado até então sobre as causas da deficiência intelectual. ❖ Dano genético: causado por genes anormais herdados dos pais. ❖ Dano causado dentro do útero: resultado e um desenvolvimento inapropriado do embrião ou do feto durante a gravidez. A rubéola é um exemplo comum de doença que pode afetar o bebê assim como o vírus HIV que pode também danificar o crescimento do cérebro. ❖ Dano ocorrido no nascimento ou logo depois: quando o bebê tem problemas durante o parto, como por exemplo, se não recebe oxigênio suficiente por muito tempo. ❖ Acidentes e doenças: Lesões causadas no cérebro decorrentes de quedas ou acidentes podem causa deficiências intelectuais, assim como algumas doenças, como sarampo ou meningite pode estar na origem de uma deficiência mental, se não forem tomados todos os cuidados de saúde necessários. ❖ Causas sociais: Crianças que são extremamente privadas de carinho, afeição e estimulação também podem apresentar casos extremos de deficiência intelectual. Porém, estudos apontam que um terço ou mais de crianças não encontraram uma causa para sua deficiência. Recomendando que a mesma causa possa produzir efeitos diferentes, ou seja, cada caso é um caso restrito. A criança pode crescer e se desenvolver de maneira muito parecida com as demais crianças. Enquanto algumas, com o mesmo dano genético possuem uma deficiência intelectual abrangida. Muitas causas da deficiência intelectual podem ser evitadas com ações de prevenção em diversos campos (médico, social, comportamental e educacional). Quando os profissionais possuem conhecimento das causas, estes se tornam sujeitos importantes na prevenção, 42 estimulação e orientação das pessoas com DI e suas famílias (HAASE et al., 2011). Tabela 2 – Descrição das etiologias pré, peri e pós natal Fonte: Gonçalves e Machado (2008). A identificação do fator etiológico da Deficiência Mental (DM) permite que se possa instituir a sua prevenção e controle. Entretanto, muitas vezes torna-se difícil o reconhecimento das causas, tornando-as fatores suspeitos ou hipóteses etiológicas, porém não comprovadas (HAASE et al., 2011). Em alguns casos, muitos fatores poderão estar simultaneamente envolvidos, devendo-se, portanto, determinar quais os fatores primários e os secundários que ocasionaram a deficiência mental. Os fatores etiológicos da Deficiência Mental podem ser de origem genética, ambiental, multifatorial e de causa desconhecida. Embora esses fatores etiológicos sejam muito variáveis, podem ser, ainda, subdivididos em fatores pré-natais (de origem genética, 43 ambiental e multifatorial), perinatais (ambiental) e pós-natais (ambiental) (MERCADANTE, 2007). A ocorrência da Deficiência Mental de etiologia desconhecida apresenta uma prevalência de 28 a 30% dos casos. Os fatores que atuam no período pré- natal envolvem causas genéticas e ambientais, consistindo nos fatores etiológicos mais importantes no surgimento da DM, com cifras ao redor de 50% dessa população (ALMEIDA, 2012). FATORES GENÉTICOS Monogênicos: 1 a 2% dos nascidos vivos. Herança dominante: Neuroectodermatoses (Esclerose tuberosa, Angiomatoses cerebrais, Deficiências mentais com alterações ósseas, Disostose craniofacial, Oligrofenia com acrocéfalo, Oligrofenia com aracnodactilia, Oligrofenia com discondroplasia). Herança recessiva: Distúrbio de metabolismo lipídico (Idiota amaurótica, Doença de Bielschowsky-Jansky, Doença de Spielmeyr-Vogt, Doença de Kufs, Doença de Normann-Wood, Síndrome de Niemann-Pick, Doença de Gaucher); Distúrbio do metabolismo de mucopolissacarídeo (Doença de Hurler, Doença de Morquio, Doença de Scheie, Doença de Sanfilipo, Doença de Matoteaux); Distúrbio do metabolismo glicídio (Glicogenose, Galactosemia); Distúrbios de metabolismo protídico (Fenilcetonúria, Doença do carope de bordo, Cistationinuria, Doença de Wilson, Doença de Hartnup); Outras formas (Microcefalia familiar, Doença de Sjögren-Larson, Síndrome de Laurence Moon). Herança ligada ao sexo: Doença de Hunter, Doença de Pelizaeus Merzbacher, Fatores genéticos ligados a vários genes, Fatores cromossômicos. ü Anomalias de número de cromossomossomáticos: Trissomia do 21 (Síndrome de down), Trissomia do 18 (Síndrome de Edward), Trissomia do 13-15 (Síndrome de Patau). Anomalias do número de cromossomos sexuais: Síndrome de 44 Klinefelter, Microcefalia com malformações múltiplas e criptorquidia (Cariótipo XXXY), Disgenesia gonádica e oligofrenia (Síndrome de Turner), Superfêmea (Cariótipo XXX). AMBIENTAIS - Fatores pré-natais: agentes infecciosos (citomegalovírus, toxoplasmose congênita, rubéola congênita, lues, sífilis congênita, varicela); - Fatores nutricionais; - Fatores físicos: radiação; - Fatores imunológicos; -Intoxicações pré-natais (álcool e drogas, gases anestésicos, anticonvulsivantes); -Transtornos endócrinos maternos: diabetes materna, alterações tireoidianas; -Hipóxia intra-uterina (causada por hemorragia uterina, insuficiência placentária, anemia grave, administração de anestésicos e envenenamento com dióxido de carbono). Fatores perinatais: -Anóxia neonatal; -Traumatismo obstétrico (distócicos de parto com hipoxemia ou anoxemia); - Prematuridade (anóxia, hemorragia cerebral). Fatores pós-natais: -Infecções: meningoencefalites bacterianas e as virais principalmente por -herpesvírus; -Traumatismos crânio- encafálicos; -Alterações vasculares ou degenerativas encefálicas; -Fatores químicos: oxigênio utilizado na encubadeira; -Intoxicação pelo chumbo; 45 -Fatores nutricionais: graves condições de hipoglicemia, hipernatremia, hipoxemia, envenenamentos, estados convulsivos crônicos. MULTIFATORIAL Causas desconhecidas (28 a 30% dos casos) O Citomegalovírus é um dos agentes infecciosos mais comuns, podendo ocasionar retardo no crescimento intra-uterino, microftalmia, corioretinite, surdez, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e hepatoesplenomegalia. A Sífilis apresenta como fator etiológico o Treponema pallidum, e caso a gestante tenha contato até a 20ª semana, pode acarretar a lues congênita, com malformações físicas (tíbia em sabre, nariz em sela, fronte olímpica e dentes de Hutchinson). Além disso, a sífilis pode acarretar outras alterações, como por exemplo, a surdez, malformações de dentes, alteração óssea, hidrocefalia e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor (ALMEIDA, 2012). Infecções por varicela podem acarretar, dependendo da idade gestacional, alterações musculares e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor. Contato com Toxoplasma gondi pode ter como repercussão a toxoplasmose, e da mesma maneira, dependendo da idade gestacional, ter como consequência a toxoplasmose congênita com a manifestação da tétrade de Sabin (deficiência mental, microcefalia, calcificações intracranianas e corioretinite). Para a prevenção da toxoplasmose deve-se evitar carne crua e o contato com animais. A rubéola congênita ocorre pelo efeito teratogênico do vírus da rubéola. A infecção do feto é o resultado de infecção primária materna na gravidez ou até o terceiro mês antes do parto. A infecção durante as primeiras 8 semanas produz uma taxa de infecção fetal de 50%, depois disso, diminui progressivamente. As lesões mais frequentes no momento do nascimento sãos as cardiovasculares, hematológicas, baixo peso ao nascer, alterações esqueléticas, hepáticas, defeitos oculares (retinopatia, microftalmia, hipoplasia da íris, glaucoma 46 congênito e cataratas), lesões no Sistema Nervoso Central (perda da audição, deficiências intelectuais e motoras, meningoencefalite crônica), complicações pulmonares. Os distúrbios de audição são a manifestação mais comum, provavelmente por uma infecção no final do segundo ou terceiro mês de gestação (ALMEIDA, 2012). Em relação ao uso de drogas, deve-se observar que o uso de substâncias alcalóides como a nicotina e cafeína pela gestante, dependendo da quantidade e da idade gestacional, pode levar a retardo no crescimento intra-uterino pela anóxia e uma maior probabilidade de parto prematuro (2 vezes mais) e baixo peso. O uso de álcool pela gestante afeta 1 a 2% das mulheres férteis, podendo acarretar a síndrome alcoólica fetal, caracterizada pela deficiência mental, deficiência no crescimento pré e pós-natal, alterações de Sistema Nervoso Central, anomalias craniofaciais como epicantus, ponte nasal baixa, filtrum hipoplásico e face achatada. A prevenção de sua ocorrência é a abstinência. ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO A etiologia da DI é heterogênea. Lesões, infecções e toxinas tornaram-se causas menos frequentes por causa da melhoria dos cuidados pré-natais, enquanto que fatores genéticos tem se tornado mais proeminentes. Nenhuma etiologia específica pode ser encontrada em até 40% dos casos, particularmente na DI leve. Influências ambientais (por exemplo, desnutrição, e experiências de privação emocional e social, por exemplo, em orfanatos mal administrados) pode também causar ou agravar a DI. Compreender a etiologia da DI levanta a possibilidade de tratamento ou prevenção em alguns casos, enquanto que em outros pode permitir predizer dificuldades específicas (ALMEIDA, 2012). 47 Tabela 3 - Causas comuns de deficiência intelectual Fonte: Almeida, 2012. 48 Muitos fatores têm sido confirmados como causa ou como associados a DI. Esses fatores, que influenciam o desenvolvimento e a função do cérebro da criança nos períodos pré-natal, perinatal ou pós-natal, podem ser divididos em três grupos: orgânico, genético e sociocultural. Trissomia do 21 e X frágil são as causas genéticas mais comuns diagnosticáveis de deficiência intelectual (MERCADANTE, 2007). É pouco provável que toda deficiência intelectual se encaixe perfeitamente nestes três grupos - sobreposição de fatores genéticos, ambientais e fatores socioculturais são susceptíveis de ser relevantes em muitos casos. Por outro lado, em cerca de dois terços dos casos leves e um terço dos casos graves, as causas não são encontradas, o que destaca a necessidade de mais pesquisas. 49 REFRÊNCIAS ALMEIDA, M. A. (Org.). Deficiência intelectual: realidade e ação. Secretaria da Educação. Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado – CAPE. São Paulo: SE, 2012. p. 133-144. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014, p. 33- 41. ANDRADE, A.F.; PAIVA, W.S.; AMORIM, R.L. et al. Mecanismos de lesão cerebral cerebral no traumatismo cranioencefálico. Rev Assoc Med Bras 2009; 55(1): 75- 81. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. 2016. Disponível em: http://goo.gl/L3dDQE. BRASIL. Meningites. In: Guia de vigilância epidemiológica. 6. ed. Brasília, 2005, p. 541-569. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Guia_Vig_Epid_novo2.pdf. CAMPÉAS, A. E.; CAMPÉAS, M. V. S. 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