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FISIOPATOLOGIA DOS SISTEMAS HEMATOPOIETICO, NEUROLOCOMOTOR, GENITOURINÁRIO E DIGESTÓRIO Botulismo M. V. David Augusto Fantini Clostridioses grupo de infecções e intoxicações causadas por bactérias anaeróbias do gênero Clostridium altamente letais Formadores de esporos – forma de resistência podem se manter infectantes no solo por longos períodos (40 anos) Muitos organismos deste grupo presentes no trato intestinal Características da doença Doença da vaca caída – paralisia flácida Doença geralmente fatal Infecção não febril intoxicação causada pela ingestão de neurotoxinas produzidas por Clostridium botulinum Importância em áreas onde as criações de animais sofrem de deficiência de minerais em condições extensivas Botulismo - histórico 1793 - Em Wurttemburg (Alemanha) - treze pessoas com sete óbitos – ingestão de produto embutido preparado com sangue. 1820 e 1822 - Justine Kerner – 230 casos suspeitos da doença – apresentaram sintomatologia após ingestão de salsicha 1896 - Emile Pierre Marie Van Ermengen - isolou um microrganismo anaeróbio estrito, a partir de amostras de presunto cuja ingestão causou 3 óbitos extratos do presunto analisado eram tóxicos para animais de laboratório causando paralisia; denominou o agente de Bacillus botulinus (do latim “botulus”= embutido). Botulismo - histórico 1917 - Bucckley e Shippen relatam a doença em equino 1920 - Thieler relata a doença em bovinos 1936 - Shaw e Simpson - relato de botulismo em aves (Alberta – Canadá) 1970 –Tokarnia relatou botulismo bovino no Brasil (Piauí) Etiologia Agente: Clostridium botulinum Bastonete GRAM positivo Podem formar pequenas cadeias Possuem motilidade - flagelos peritríquios. Esporos sub-terminais - bastante resistentes Podem ser destruídos a 121C por 15 minutos As toxinas são destruídas a 100C por 20 minutos. Seu desenvolvimento pode ocorrer tanto no substrato animal como vegetal. Etiologia Crescimento ocorre em matérias orgânicas (animal e vegetal) em decomposição fornecem condições ideais para crescimento esporos podem permanecer viáveis durante anos Produtores de toxina sete tipos (A a G) antigenicamente distintas modo de ação semelhante ocorrência da doença relacionada à sensibilidade das espécies e ao tipo e quantidade de toxina botulínica ingerida Etiologia Humanos Toxinas A, B, E, F e G Bovinos Toxinas C e D Condições para produção de toxinas ausência de oxigênio temperatura ideal (25-42°C) Umidade ausência de incidência de luz solar - inativa a toxina Toxina pode permanecer viável em carcaças por vários anos Epidemiologia Surtos - período de estiagem – baixa oferta de alimento e deficiência mineral em bovinos Fonte de Infecção: Solo contaminado Via de Transmissão: Carcaças em decomposição/Larvas de mosca/ Águas paradas/ Silagens/ Cama de frango Porta de Entrada: Digestiva/Cutânea Susceptível: Bovinos, Ovinos, Homem, Aves e outras espécies animais (Suínos, carnívoros e peixes são raramente acometidos) Epidemiologia Osteofagia pastagens deficientes em fósforo e inadequada suplementação mineral Presença de carcaças animais nas pastagens Maior ocorrência em animais criados a pasto Patogenia Germinação, surgimento da forma vegetativa e produção da toxina - anaerobiose Matéria orgânica em decomposição Ingestão de alimento contaminado pela toxina Absorção da toxina no intestino Transportadas aos neurônios, atuando nas junções neuromusculares Paralisia funcional motora sem interferência com a função sensorial – SN periférico Patogenia – mecanismo de ação Carcaças em decomposição; Vegetação ou Matéria orgânica em decomposição (milho, silagem mal conservada); Água estagnada; Cama de frango; Larvas Sinais clínicos evolução da doença varia de horas a 18 dias Classificada em: Super-aguda – morte em 24 horas Aguda – morte entre 24 e 72 horas Sub-aguda – morte entre 3 e 7 dias Crônica – acima de 7 dias Sinais clínicos 3 a 17 dias após ingestão da toxina A intensidade dos sinais depende da quantidade de toxina ingerida Paralisia muscular progressiva – Paralisia Flácida Incoordenação motora membros posteriores depois anteriores Ausência de febre Sinais clínicos Fraqueza muscular Dificuldade respiratória (respiração abdominal) Salivação Diminuição da sensibilidade cutânea Evolução caudo-cranial Dificuldade de apreensão e mastigação do alimento Paralisia de língua (pode permanecer fora da boca) Não há perda de consciência Paralisia respiratória com morte Achados de necrópsia Não há lesões macro ou micro específicas Fragmentos de ossos ou restos de carcaças no rúmen ou retículo Evidência de osteofagia Diagnóstico Diagnóstico: Quadro clínico Dados epidemiológicos (hábitos alimentares) Ausência de lesões específicas Laboratorial: ANAMNESE X EXAME FISICO Diagnóstico Diagnóstico Laboratorial Identificação da toxina botulínica Provas de bioensaio em camundongos Soro (animal vivo) Conteúdo intestinal ou estomacal, fígado, rim (carcaças frescas) Alimentos suspeitos Enviar material congelado ou refrigerado ao laboratório ANAMNESE X EXAME FISICO Diagnóstico laboratorial Extrato do material + Tampão de Gelatina Fosfatada Incuba a 4oC/18hs Centrifugação (Refrigerada) Sedimento Isolamento do microrganismo Sobrenadante + Tripsina 1 hora a 37C Aquecimento 100oC/20min Inoculação IP de 0,5mL em camundondo Vive Morte Diagnóstico Diagnostico diferencial: Raiva Encefalomielite Envenenamento por plantas tóxicas Encefalopatia espongiforme Tratamento Antitoxinas primeiras horas após a ingestão Sem ação depois que a toxina se estabeleceu nas junções neuro-musculares casos de recuperação espontânea ou com tratamento formação de novas terminações nervosas Prevenção e controle Correção das deficiências alimentares Suplementação mineral Água de boa qualidade Manejo adequado das carcaças Retirada e incineração compostagem Vacinação - toxóide em áreas endêmicas - a partir de 3 meses de idade com reforço 45/60 dias após e anualmente; em casos de intoxicação - os outros animais do lote devem ser vacinados imediatamente Prevenção e controle Cuidados: Milho Silagem Cama de frango Água de beber FISIOPATOLOGIA DOS SISTEMAS HEMATOPOIETICO, NEUROLOCOMOTOR, GENITOURINÁRIO E DIGESTÓRIO Doenças osteoarticulares; Doenças flexurais; Afecções podais M. V. David Augusto Fantini Doenças ortopédicas do desenvolvimento Neonatos, animais em crescimento Comuns Congênitas ou adquiridas → predisposição genética, desbalanço nutricional, exercício precoce, trauma Alteração no processo de ossificação endocondral Deformidades angulares e flexurais, fisites, osteocondrose (OCD e cistos subcondrais Deformidades angulares Potros Desvio do eixo vertical do membro no plano frontal Carpo valgus é o mais comum Maior ocorrência em membros anteriores – articulação do carpo Causas Congênita: posicionamento intra-uterino, excesso de peso da mãe, ossificação incompleta de ossos cuboides Adquirida: trauma, nutrição, crescimento assíncrono da metáfise (placa epifisária) Diagnóstico: exame físico (inspeção e palpação) e radiológico Deformidades angulares desvio lateral em relação ao plano frontal desvio medial em relação ao plano frontal Diagnóstico Exame físico Em repouso Em movimento Palpação e movimentação do membro – diagnóstico diferencial Radiografia Identificar grau de rotação e severidade Até 5º - grau leve Objetivo – determinar a forma de tratamento necessária Diagnóstico - RX Tratamento Conservativo: Repouso em cocheira Bandagem elástica funcional – correção do crescimento ósseo Casqueamento a cada 15 dias Cirúrgico: Ponte transfisária Após insucesso do tratamento conservativo Retardo no crescimento Implante na superfície convexa do osso Valgus → medial, Varus → lateral Mais eficiente até os 8 meses de vida → crescimento acelerado Tratamento Cirurgia Pós-cirúrgico: Radiografia para checar a posição de implantes Bandagem e repouso por 7 dias Radiografias ao longo das semanas para definir quando será a remoção Remoção do implante: Sedação ou anestesia geral curta Nova incisão de pele Remoção Nova sutura de pele Bandagem por 7 dias Complicações: infecção, quebra de parafuso ou cerclagem, fibrose sobre implante, retardo excessivo Prognóstico favorável Transecção e elevação periosteal Estímulo do crescimento Procedimento na superfície côncava do osso: Valgus → lateral, Varus → medial Eficácia??? Deformidades flexurais Mais em potros (até 2 meses), mas pode ocorrer em adultos por lesão grave no membro Desvio do membro visto pelo plano lateral → hiperflexão ou hiperextensão quadros de contratura dos tendões Congênitas ou adquiridas Diagnóstico: exame clínico – inspeção e palpação Deformidades flexurais congênita mau posicionamento intrauterina deficiência nutricional da égua durante a fase gestacional Hereditária Consumo de substâncias teratogênicas - defeitos nas ligações cruzadas de colágeno e elastina agentes infecciosos (vírus da influenza na fase gestante) Deformidades flexurais Adquiridas rápido crescimento dieta muito concentrada e rica em carboidratos fatores ambientais potros mantidos presos por longos períodos Ausência de exercícios Falta de alongamento das estruturas do aparelho de sustentação Deformidades flexurais Principais estruturas acometidas Tendões flexores digitais profundo (TFDP) Tendões flexores digitais superficiais (TFDS) flexores do carpo estruturas articulares envolvidas Articulação do boleto Articulação do carpo Deformidades flexurais - TFDS Deformidades flexurais - TFDP Tratamento Conservativo: O mais rápido possível – animais mais velhos – resistência dos ligamentos Oxitetraciclina – relaxamento das estruturas flexoras Exercícios controlados – restrição dos movimentos Fisioterapia Talas Ferrageamento Mudança na dieta Tratamento cirúrgico Desmotomia do ligamento acessório do tendão flexor digital profundo Tratamento - hiperextensão Tratamento - hiperextensão Tratamento - hiperflexão Osteocondrose Importante causa de claudicação em atletas jovens desarranjo não infecciosos e não inflamatórios do crescimento ósseo Distúrbio da diferenciação celular na cartilagem de crescimento associada à força biomecânica sobre a articulação fragilizada A cartilagem retida não recebe irrigação adequada → necrose Causas: Crescimento rápido Raças grandes Genética Excesso de energia na alimentação Excesso de peso Exercício precoce Osteocondrite dissecante (OCD) É a manifestação clínica mais frequente da osteocondrose e a que mais comumente necessita de tratamento cirúrgico Em regiões com atrito Articulações mais acometidas: femoropatelar, tibiotársica e boleto Caracteristicas: Fissura na área de necrose da cartilagem Flap ou fragmento condral/osteocondral livre na articulação Inflamação repercussões na criação de equinos, tanto a nível econômico quanto no bem-estar Osteocondrite dissecante (OCD) - patogenia Deficiência da maturação normal da cartilagem articular cartilagem de crescimento inicia um processo de perda da união do osso subcondral desenvolvimento de uma resposta inflamatória na superfície óssea Produção de fragmentos cartilaginosos Falta de irrigação da cartilagem - necrose Sinais clínicos variáveis de acordo com a extensão e localização da lesão Dor associada à exposição do osso subcondral e a fragmentos livres em determinadas posições Aumento de volume articular Claudicação Sinais aparecem normalmente antes dos 5 anos Diagnóstico: radiografia Tratamento: debridamento e remoção de fragmento por artroscopia (artrotomia) Pós: 90 dias de repouso Prognóstico para esporte: variável Osteocondrite dissecante (OCD) Conservativo animais jovens (até 18 meses de idade) e ainda existe boa capacidade de regeneração lesões suaves Exercício controlado anti-inflamatórios não esteroides sistêmicos terapia intraarticular Osteocondrite dissecante (OCD) - tratamento Cirúrgico terapia de eleição artroscopia quando houver fragmentações claudicação ou efusões graves Remoção de fragmentos ósseos e debridamento do osso subcondral Osteocondrite dissecante (OCD) - tratamento Lesão subcondral cística Necrose da cartilagem retida – cisto subcondral Em regiões com forças compressivas Regiões mais acometidas: côndilo medial do fêmur, extremidade distal do metacarpo/metatarso, extremidade distal da primeira falange Sinais e diagnóstico: como na OCD Tratamento: conservativo ou cirúrgico Prognóstico: variável Lesão subcondral cística Camada de cartilagem se aprisiona do osso É absorvida levando ao desenvolvimento do cisto subcondral A cartilagem aprisionada necrosa Tratamento Artroscopia: Debridamento Infiltração do cisto Triancinolona Preenchimento da lesão com osso esponjoso, células mesenquimais, fatores de crescimento, enxerto de condrócitos Constrição do ligamento anular do boleto Ligamento anular do boleto função de direcionar e envolver os tendões fornecendo firmeza e sustentação para a biomecânica do movimento Feixes de fibras organizadas aleatoriamente tendões e ligamentos de cavalos se adaptam às diferentes cargas produzidas durante seu desenvolvimento propensos a acumular micro lesões devido à fadiga constante produzida em sua atividade atlética Constrição do ligamento anular do boleto Exercício → tenossinovite crônica na região do boleto → espessamento dos tendões flexores ou do ligamento anular Inflamação leva ao espessamento do ligamento anular ou tendões e aderências → comprimem prejudicam a biomecânica do TFDS e/ou TFDP Mais comum em membros pélvicos e animais adultos Claudicação leve a moderada Aumento de volume proximal ao ligamento anular Tenossinovite crônica pode evoluir de uma tenossinovite aguda não tratada Constrição do ligamento anular do boleto Sinais fibrose inchaço de consistência firme Inchaço frio e sem dor Diagnóstico Ultrassonografia Tratamento Cirúrgico Desmotomia do Ligamento Anular do Boleto Pós operatório: Bandagem compressiva por 2-3 semanas Repouso por 5 dias Caminhadas progressivas a partir do 6º dia → evitar aderências AINE Complicações: Aderências Infecção Laminite Sinominia: aguamento – pododermatite asséptica Inflamação dos tecidos moles do casco Diminuição da perfusão capilar no membro principal e mais grave enfermidade que acomete os cascos dos equinos Casos graves: afastamento das laminas do casco: Falange distal rotacional ou afunda Membros mais afetados: membros torácico Laminite Causas: Multifatoriais (isquêmicos, enzimáticos, inflamatórios, traumáticos) Vasoconstrição periférica - liberação de endotoxinas, resultante de fatores sistêmicos adversos do metabolismo animal Privação de glicose nos tecidos dos cascos, falência celular por ausência de energia - separação lamelar Laminite Causas: Outras enfermidades – todas causam toxemia Síndrome metabólica equina Doença de Cushing Doenças do trato gastrointestinal, principalmente as envolvidas em processos estrangulatórios obstrutivos ou inflamatórios Pleuropneumonias Excesso de grãos na dieta Problemas associados à endotoxemia Traumas Laminite do membro opostoLaminite - patogenia Ingestão excessiva de carboidratos: Aumento de fermentação e produção de ácido lático Queda de pH do TGI e morte bacteriana – liberação de endotoxinas Endotoxinas – distúrbio de permeabilidade dos capilares – diminuição da perfusão dos cascos Necrose da lâmina do casco Laminite Sinais: Claudicação Relutante para se mover Relutante para deitar e levantar Dor (sudorese, taquicardia, taquipnéia) Elevação de temperatura no casco Pulso aumentado e mais forte no casco Tratamento: AINES Gelo Repouso Fisioterapia Ferrageamento Eutanasia