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Prévia do material em texto

ORGAN I ZADORAS
AMANDA TAVARES BORGES
ARACELI MARTINS BELIATO
CAMILLA HAGE
AUTORES
AMANDA TAVARES BORGES
ANDRÉ LUIZ HOFFMANN
ARACELI MARTINS BELIATO
ARIANE TREVISAN FIORI
BÁRBARA NASCIMENTO FLORES BORUM-KREN
CAMILLA HAGE
CAROLINA ALVES DE SOUZA LIMA
CARLOS AUGUSTO DE MIRANDA E MARTINS
DIOGO MARIANO CARVALHO DE OLIVEIRA
ERIKA HILTON
FÁBIO VICTOR TAVOLARO
FERNANDA DOS SANTOS UEDA
FLÁVIA MARTINS DE CARVALHO
FLÁVIO DE LEÃO BASTOS PEREIRA
PREFÁC IO
CAMILO ONODA CALDAS
FRANCINI IMENE DIAS IBRAHIN
JOHNY FERNANDES GIFFONI
JOSÉ HENRIQUE DE PAULA RAMOS
JÚLIO GUSTAVO VIEIRA GUEBERT
LETICIA GALAN GARDUCCI
LÍGIA LOPES BORTOLUCCI RUAS
MARCELLO PALADINO
MARCIUS VINÍCIUS GONÇALVES CORREIA
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA
MILENA GORDON BAKER
PRISCILA MARA GARCIA CARDOSO
RODRIGO RIBEIRO FRIAS
RONILDA IYAKEMI RIBEIRO
WILTON ANTONIO MACHADO JÚNIOR
EP Í LOGO
ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO
© Org. Amanda Tavares Borges, Araceli Martins Beliato e Camilla Hage
EDITORA MIZUNO 2023
Revisão: Araceli Martins Beliato
Nos termos da lei que resguarda os direitos autorais, é expressamente proibida a reprodução total 
ou parcial destes textos, inclusive a produção de apostilas, de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrô-
nico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, reprográficos, de fotocópia ou gravação. 
Qualquer reprodução, mesmo que não idêntica a este material, mas que caracterize similaridade confir-
mada judicialmente, também sujeitará seu responsável às sanções da legislação em vigor. 
A violação dos direitos autorais caracteriza-se como crime incurso no art. 184 do Código Penal, assim 
como na Lei n. 9.610, de 19.02.1998.
O conteúdo da obra é de responsabilidade dos autores. Desta forma, quaisquer medidas judiciais ou extra-
judiciais concernentes ao conteúdo serão de inteira responsabilidade dos autores.
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA MIZUNO
Rua Benedito Zacariotto, 172 - Parque Alto das Palmeiras, Leme - SP, 13614-460
Correspondência: Av. 29 de Agosto, nº 90, Caixa Postal 501 - Centro, Leme - SP, 13610-210
Fone/Fax: (0XX19) 3571-0420
Visite nosso site: www.editoramizuno.com.br
e-mail: atendimento@editoramizuno.com.br
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
C929 Crimes de ódio e intolerância: perspectivas para a efetivação dos direitos humanos no Brasil / Organizadoras Amanda 
Tavares Borges, Araceli Martins Beliato, Camilla Hage. – Leme-SP: Mizuno, 2023.
Autores: Amanda Tavares Borges, Araceli Martins Beliato, Camilla Hage, André Luiz Hoffmann, Ariane Trevisan 
Fiori, Bárbara Nascimento Flores Borum-Kren, Carolina Alves De Souza Lima, Carlos Augusto De Miranda E Martins, 
Diogo Mariano Carvalho De Oliveira, Erika Hilton, Fábio Victor Tavolaro, Fernanda Dos Santos Ueda, Flávia Martins 
De Carvalho, Flávio De Leão Bastos Pereira, Francini Imene Dias Ibrahin, Johny Fernandes Giffoni, José Henrique De 
Paula Ramos, Júlio Gustavo Vieira Guebert, Leticia Galan Garducci, Lígia Lopes Bortolucci Ruas, Marcello Paladino, 
Marcius Vinícius Gonçalves Correia, Marilene Proença Rebello De Souza, Milena Gordon Baker, Priscila Mara 
Garcia Cardoso, Rodrigo Ribeiro Frias, Ronilda Iyakemi Ribeiro, Wilton Antonio Machado Júnior.
384 p. : 16 x 23 cm
ISBN 978-65-5526-671-9
 1. Direitos humanos. 2. Crimes. I. Borges, Amanda Tavares (Organizadora). II. Beliato, Araceli Martins (Organizadora). 
III. Hage, Camilla (Organizadora). IV. Título.
CDD 341.48
Índice para catálogo sistemático
I. Direitos humanos
Eu não estou mais aceitando as coisas 
que eu não posso mudar. 
Eu estou mudando as coisas 
que não posso aceitar.
Angela Davis
Em memória de todas as vidas interrompidas
 pelo ódio e pela intolerância.
AUTORAS E AUTORES
AMANDA TAVARES BORGES
Mestra em Direitos Difusos e Coletivos pelo Centro Universitário Salesiano de São 
Paulo. Pós-graduada em Direito Penal e Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade 
Damásio de Jesus em São Paulo. Professora da Academia de Polícia “Dr. Coriolano 
Nogueira Cobra”. Professora universitária. Docente Civil na Polícia Militar do Estado 
de São Paulo. Coautora das obras “Lei Maria da Penha no Direito Policial”; “Mulhe-
res nas Carreiras Policiais: teoria e prática” e “Ações Afirmativas na Polícia Civil de São 
Paulo”. Policial Civil no Estado de São Paulo.
ANDRÉ HOFFMANN
Doutor e Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana 
Mackenzie, onde também se tornou Bacharel em Direito. Graduado em História pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor universitário. Policial Civil no 
Estado de São Paulo.
ARACELI MARTINS BELIATO
Mestra em Direito Político e Econômico e Bacharel em Direito pela Universidade Pres-
biteriana Mackenzie. Pós-graduada em Direito e Processo Penal pelas Faculdades Me-
tropolitanas Unidas (FMU). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos pela UNIBF-PR. 
Capacitada em Feminism and Social Justice pela University of California - Santa Cruz 
(EUA). Policial Civil no Estado de São Paulo. Coordenadora Pedagógica da Escola 
Superior de Direito Policial. Autora e coordenadora de obras jurídicas, entre elas: “Lei 
Maria da Penha no Direito Policial”; “Mulheres nas Carreiras Policiais: teoria e práti-
ca”, “Direito Policial – temas atuais”, entre outras. Integrante dos Grupos de Pesqui-
sa “Biopolítica e Biodireito: Poder, Violência e Direito” e “Crítica do Direito e Subjeti-
vidade Jurídica”, ambos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
ARIANE TREVISAN FIORI
Pós-doutoranda pela Universidad de Burgos - Espanha. Doutora pela UNESA com 
Intercâmbio na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestra em Direito pela Uni-
versidade do Vale do Rio dos Sinos. Advogada, professora e mediadora pela Associa-
ção Espanhola de Mediação, tendo atuação em universidades nacionais e estrangeiras.
BÁRBARA NASCIMENTO FLORES BORUM-KREN
Mãe da Rhara, Cainã e Kauai. Pertencente ao povo Borum-Kren (remanescentes Bo-
tocudos do Uaimií-indígenas do tronco Macro-Jê da região dos Inconfidentes/ MG). Vi-
ce-Presidente da Associação Cultural da Comunidade Indígena Borum-Kren; Membra 
Fundadora e integrante do Grupo de Pesquisa (UNEB) do Movimento Plurinacional 
Wayrakuna - Rede ancestral artístico-filosófica, que se vincula à reflexão e expressão 
da resistência das indígenas mulheres no Brasil e América Latina. Atuante na Asso-
ciação Multiétnica Wyka Kwara no GT Bem-Viver. Integrante da Rede Latino America-
na e da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara - Vila de Agricultura 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
8
e Justiça. Atuante no Movimento Sul da Bahia Viva. Autora dos livros: “Filhos melho-
res para o mundo: por uma educação ambiental de berço”; “Ecofeminismo e Susten-
tabilidade Ambiental em comunidades: uma análise a partir da organização social de 
comunidades indígenas e ecovilas”. Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambien-
te pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Professora, pesquisadora e escritora.
CAMILLA HAGE
Mestranda em Direito pela UNESA. Especialista em Direito Público pela UGF. Especia-
lista em Direito Penal e Processual Penal pela UGF. Bacharel em Direito pela Univer-
sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Atuou na advocacia privada. Exerceu os 
cargos públicos de Assessora Jurídica Parlamentar, Analista Jurídica do Instituto Na-
cional da Propriedade Industrial e Defensora Pública no Rio Grande do Sul. Delegada 
de Polícia atuante na DDM On-line da Polícia Civil de São Paulo. 
CARLOS AUGUSTO DE MIRANDA E MARTINS
Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), com es-
tágio internacional de pós-graduação no Centro de Estudios Avanzados da Universi-
dad Nacional de Córdoba, Argentina (Bolsa RedMacro/Santander). Bacharel e Licen-
ciado em História também pela Universidadede São Paulo. Professor. Policial Civil no 
Estado de São Paulo.
CAROLINA ALVES DE SOUZA LIMA
Livre-docente em Direitos Humanos, Doutora e Mestre em Direito pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professora de Direitos Humanos da Gradu-
ação e da Pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). 
Advogada e consultora jurídica.
DIOGO MARIANO CARVALHO DE OLIVEIRA
Doutorando e Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Pa-
raná (UENP). Bolsista de doutorado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesso-
al de Nível Superior (CAPES). Pós-graduado em Direito Penal e Criminologia pelo Cen-
tro Universitário Internacional em convênio com o Instituto de Criminologia e Política 
Criminal (ICPC). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná 
(UENP). Professor universitário. Advogado.
ERIKA HILTON
Deputada Federal eleita pelo Estado de São Paulo. Negra e transvestigênere, foi a mu-
lher mais bem votada em 2020 em todo o país, sendo eleita Vereadora na cidade de 
São Paulo, em cujo mandato presidiu a CPI que investigou as violências contra pesso-
as trans e travestis, instalada em setembro de 2021. Ativista dos Direitos Humanos, 
na luta por equidade para a população negra, no combate à discriminação contra a 
comunidade LGBTQIA+ e pela valorização das iniciativas culturais jovens e periféricas.
FÁBIO VICTOR TAVOLARO
Especialista em Direito Constitucional pela Universidade Salesiana e em Direito e Pro-
cesso do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Direito 
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Analista Judiciário – Área Judiciária do Tri-
bunal Regional Federal da 3ª Região.
9
AUTORAS E AUTORES
FERNANDA DOS SANTOS UEDA
Mulher amarela cisgênero, lésbica, casada e mãe. Doutora e Mestra em Educação, na 
Linha do Cotidiano Escolar, pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Bacharel em Di-
reito na Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Professora universitária. Profes-
sora da Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”. Coordenadora Geral do 
Centro de Estudos Superiores da Polícia Civil de São Paulo (CESPC) e integrante do 
Centro de Direitos Humanos “Celso Vilhena Vieira” (CDH) da Academia de Polícia “Dr. 
Coriolano Nogueira Cobra”. Delegada de Polícia no Estado de São Paulo.
FLÁVIA MARTINS DE CARVALHO
Doutoranda em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Pau-
lo (USP). Mestra e graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ). Graduada em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ). Juíza de Direito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Juíza auxi-
liar no Supremo Tribunal Federal. Professora e pesquisadora nas áreas de filosofia e 
teoria do direito, direito e literatura, gênero e questões raciais.
FLÁVIO DE LEÃO BASTOS PEREIRA
Pós-doutor em Direitos Humanos e Novas Tecnologias (Mediterranean International 
Centre For Human Rights Research – Reggio Calabria, Italia). Doutor e Mestre em Direito 
Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Ge-
nocídios e Direitos Humanos pelo Zoryan Institute e University of Toronto (Canada). Edi-
tor chefe do Journal of International Criminal Law (Estocolmo). Correspondente do Blog 
sobre Justiça de Transição da Universidade de Maastricht. Conselheiro do Núcleo de 
Preservação da Memória Política de SP. Coordenador do Núcleo de Direitos Indígenas 
e Quilombolas da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP. Pesquisador da Cáte-
dra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade – Folha 
de São Paulo e Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP). Professor da Facul-
dade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor convidado da 
Tecnische Hochschule Georg Simon Ohm, Nuremberg, Alemanha (2020-2023). Autor da 
obra “Genocídio Indígena no Brasil: Desenvolvimentismo entre 1964 e 1985”. Advo-
gado e Parecerista em Direitos Humanos atuante na esfera nacional e internacional 
nas áreas da Memória, Justiça de Transição, Direitos Indígenas e Crimes de Guerra.
FRANCINI IMENE DIAS IBRAHIN
Doutoranda em Direito (Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos) pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Mestra em Direito Ambiental e Políticas 
Públicas pela Universidade Federal do Amapá/AP. Especialista em Direito Administra-
tivo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Pós-graduada em 
Direitos Humanos pelo CEI - CERS. Pós-graduada em Inteligência Policial e Segurança 
Pública pela ESDP/FCA. Autora, coautora e coordenadora de obras jurídicas, dentre 
elas “Lei Maria da Penha no Direito Policial” e “Mulheres nas Carreiras Policiais: teoria 
e prática”. Delegada de Polícia no Estado de São Paulo.
JOHNY FERNANDES GIFFONI
Doutorando e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da 
Universidade Federal do Pará. Pós-graduado em Direito da Criança e do Adolescen-
te pela Universidade Federal do Pará. Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
10
Católica do Rio de Janeiro. Vem atuando nas áreas de Direitos socioambientais de co-
munidades tradicionais, Direitos Humanos, Direito Indigenista e Direito da Criança 
e do Adolescente. Vencedor do 14º Prêmio Innovare – Categoria Defensoria Pública 
(2017). Membro Discente da Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/UFPA). 
Pesquisador colaborador do Observatório de Protocolos Comunitários de Consulta 
e Consentimento Livre, Prévio e Informado: direitos territoriais, autodeterminação e 
jusdiversidade. Defensor Público no Estado do Pará.
JOSÉ HENRIQUE DE PAULA RAMOS
Especialista em Direito Público pela Universidade de Taubaté. Especialista em Polícia 
Judiciária e Sistema de Justiça Criminal pela Academia de Polícia “Dr. Coriolano No-
gueira Cobra”. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Barra Mansa. Profes-
sor da Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”. Delegado de Polícia no 
Estado de São Paulo. 
JÚLIO GUSTAVO VIEIRA GUEBERT
Especialista em Direitos Humanos e em Polícia Judiciária e Sistema de Justiça Criminal 
pela Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”. Especialista em Gestão Or-
ganizacional em Segurança Pública e Justiça Criminal pela Universidade de São Paulo 
(USP). Delegado de Polícia no Estado de São Paulo. Foi Diretor da Academia de Polí-
cia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra” e Delegado Geral Adjunto de Polícia do Estado de 
São Paulo. Atualmente é Diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São 
Paulo (DEMACRO). 
LETICIA GALAN GARDUCCI
Doutoranda em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ). Mestra em Direito Político e Econômico e Bacharel em Direito pela Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie. Professora universitária, advogada e assessora 
parlamentar na Câmara dos Deputados Federais. 
LÍGIA LOPES BORTOLUCCI RUAS
Especialista em Direito do Estado pela Universidade Estadual de Londrina e em Direi-
to Digital Aplicado e Compliance Digital pela UniDomBosco. Bacharel em Direito pela 
Faculdade de Apucarana-PR. Médica veterinária pela Universidade Estadual de Lon-
drina. Fiscal Agropecuária pela ADAPAR-PR.
MARCELLO PALADINO
Mestrando em Direito pela UNESA. Especialista em Direito e Administração Pública. 
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Delegado 
de Polícia no Estado de Minas Gerais.
MARCIUS VINÍCIUS GONÇALVES CORREIA
Doutor pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, com área de con-
centração em queixa escolar e cognição infantil pelo programa de pós-graduação da 
Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano. Mestre pela Universidade Federal do 
Maranhão. Médico formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com residên-
cia em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora; em neurologia 
pelo Hospital Servidor PúblicoMunicipal de São Paulo. Médico emergencista do Hospital 
Servidor Público Municipal de São Paulo e Médico assistente coordenador do serviço 
11
AUTORAS E AUTORES
de eletroneuromiografia do Hospital Regional Sul -SP e da Assistência Médica Ambu-
latorial Especialidades (AMA-E Santos-SP). 
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA
Livre-docente, Doutora e Mestra em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano 
pela Universidade de São Paulo. Graduada em Psicologia pela Universidade de São 
Paulo. Coordenadora do Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em 
Psicologia Escolar – LIEPPE; Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq Psicologia e Es-
colarização: políticas públicas e atividade profissional na perspectiva histórico-críti-
ca. Membro do Conselho Editorial da Revista Psicologia Escolar e Educacional desde 
2009. Membro da Diretoria da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacio-
nal desde 2002 e atual Presidente. Bolsista Produtividade do CNPq, nível 1C. Profes-
sora Titular da Universidade de São Paulo.
MILENA GORDON BAKER
Doutora e Mestra em Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
lo. Especialista em Direito Penal pela Universidade de Salamanca. Curso de extensão 
em Harvard – Holocausto na História, Literatura e Filme. Curso de extensão em Di-
reito Penal na Universidade de Gottingen, Alemanha. Advogada, palestrante, ativista. 
PRISCILA MARA GARCIA CARDOSO
Mestra em Direitos Sociais pela UNISAL. Pós-graduada em Direito Público pela UNI-
SAL. Graduada em Direito pela Organização Mogiana de Educação e Cultura. Atual-
mente é Presidente da Diretoria da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil 
- Seccional São Paulo; Coordenadora da Comissão da Assistência Judiciária; Coorde-
nadora Geral Pedagógica da Faculdade de Ciências Humanas do Estado de São Pau-
lo (FACIC) e Coordenadora do Curso de Direito da mesma Instituição. Conciliadora/
Mediadora no Tribunal de Justiça de São Paulo. Professora universitária. Advogada.
RONILDA IYAKEMI RIBEIRO
Doutora em Psicologia e em Antropologia da África Negra pela Universidade de São 
Paulo (USP). Pesquisadora da Universidade Paulista (UNIP) e Professora Sênior da 
Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Trabalho Psicologia e Religião (As-
sociação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia - ANPEPP) e do Coleti-
vo Coalizão InterFé em Saúde e Espiritualidade. Representante da UNIP no Fórum In-
ter-religioso para uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença (Secretaria de Estado da 
Justiça e Cidadania (São Paulo). Patronesse do Egbé Omó Oduduwa no Brasil. Ialorixá 
(Religião Tradicional Iorubá). Etnopsicóloga.
RODRIGO RIBEIRO FRIAS
Pós-doutor e Doutor em Psicologia Social, Mestre em Teoria Literária e Graduado em 
Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador na área de Etnopsicologia 
em confluência com a Literatura, a Educação e a Religião. Integra diversos coletivos 
entre os quais o Fórum Inter-religioso para uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença 
(Secretaria da Justiça e da Cidadania do Estado de São Paulo); o GT (CNPq-UNIP) Estu-
dos Transdisciplinares da Herança Africana; o InterPsi (Laboratório de Estudos Psicos-
sociais) e o Cog-R (Grupo de Estudos de Ciência Cognitiva da Religião - InterPsi), am-
bos do Instituto de Psicologia da USP e o Centro Cultural Oduduwa.
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
12
WILTON ANTONIO MACHADO JÚNIOR
Mestre em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade pela Universidade Federal de 
Itajubá (UNIFEI). Especialista em Tecnologias, Formação de Professores e Sociedade 
pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Pós-graduado em Direito Constitucio-
nal pela Faculdade de Ciências Humanas do Estado de São Paulo e em Direito Previ-
denciário. Pós-graduando em Processo do Trabalho pela Universidade Cândido Men-
des. Graduado em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas do Estado de São 
Paulo e em Gestão Empresarial pela Faculdade de Tecnologia do Estado de São Pau-
lo. Professor universitário, pesquisador e advogado.
NOTA DAS ORGANIZADORAS
Os crimes de ódio e intolerância são formas de violências direcionadas a deter-
minadas pessoas e grupos sociais, geralmente minoritários ou vulneráveis, em que o 
sujeito desviante escolhe sua vítima simplesmente por não aceitar um modo de ser, 
pensar e agir típicos de um conjunto de pessoas, apoiando-se na crença de uma su-
posta hierarquia entre os seres. Além de ser motivado por preconceitos e estereóti-
pos, muitas vezes esses atos são também perpetrados baseados em razões políticas 
ou ideológicas.
As condutas ilícitas mais comuns são feminicídio, misoginia, racismo, LGBTfobia, 
xenofobia, intolerância religiosa, intolerância desportiva, preconceito contra pessoas 
com deficiência, antissemitismo, etnocídio, entre outras. Também são frequentemen-
te alvo de ataques (perseguições, ameaças e até assassinatos) as pessoas que, embora 
não necessariamente pertençam a grupos minoritários e vulneráveis, arriscam-se para 
defender os direitos humanos.
Não se pode olvidar, ainda, dos efeitos deletérios sobre a juventude, que as-
simila o ódio a que é fartamente exposta e o reproduz, muitas vezes na forma de as-
sédios e ameaças (bullying), levando inclusive a atos extremos, como os lamentáveis 
casos de atentados em escolas, que vêm ocorrendo no mundo inteiro e no Brasil, in-
clusive. Em um contexto político e social de desvalorização da alteridade e de bana-
lização da vida, essas modalidades delitivas ganham contornos ainda mais preocu-
pantes e avançam para o golpe final: o ataque violento às instituições democráticas, 
o caos, a selvageria, a barbárie – a dominação pelo terror.
Outro ponto que não pode passar despercebido é o importante papel que 
as grandes empresas de tecnologia têm nesse cenário. Os crimes supracitados vêm 
ocorrendo de forma alarmante no ambiente virtual, considerado “sem fronteiras” 
(borderless), onde se proliferam e propagam em tempo e velocidade incalculáveis, 
a partir de discursos de ódio (hate speeches) que ressoam em câmaras de eco (echo 
chamber)1, o que amplia os desafios para sua prevenção e repressão no campo da 
segurança e das políticas públicas.
O aumento exponencial de crimes de ódio, especialmente durante as eleições 
ocorridas nos últimos anos, preocupa sobremaneira a todas e todos. As denúncias 
de racismo e xenofobia mais que dobraram em 2020 em relação a 2019. Já as denún-
cias de neonazismo cresceram 840,7% em 2020 em relação ao ano anterior. Em 2018, 
misoginia, xenofobia e neonazismo tiveram os maiores percentuais de crescimento2. 
1 “Uma câmara de eco é um ambiente onde uma pessoa só encontra informações ou opiniões que 
refletem e reforçam as suas. As câmaras de eco podem criar desinformação e distorcer a pers-
pectiva de uma pessoa para que ela tenha dificuldade em considerar pontos de vista opostos e 
discutir tópicos complicados. Eles são alimentados em parte pelo viés de confirmação, que é a 
tendência de favorecer informações que reforçam as crenças existentes”. GCF GLOBAL. What is 
an echo chamber? GCF, 2022. Disponível em: https://edu.gcfglobal.org/en/digital-media-litera-
cy/what-is-an-echo-chamber/1/. Acesso em: 18 jan. 2022.
2 SAFERNET. Safernet aponta que discurso de ódio cresceu nas duas últimas eleições. 2022. 
Disponível em: https://new.safernet.org.br/content/safernet-aponta-que-discurso-de-odio-cres-
ceu-nas-duas-ultimas-eleicoes. Acesso em: 19 maio 2022.
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
14
Aliados ao discurso de ódio, exsurgem as notícias falsas e desinformações pro-
pagadas com fins mercadológicos pelas grandes big techs e políticos inescrupulosos, 
que deturpam o exercício das liberdades e servem exclusivamente ao capital. É notá-
vel a intersecção desses fatores como estratagema para macular o processo eleitoral, 
confundir a população e usurpar (ou manutenir) o poder por via oblíqua.
Longe de pretender apresentar verdadesabsolutas e sugestões mágicas para 
o enfrentamento do problema, a iniciativa desta obra é, antes de tudo, um convite à 
reflexão para que se percebam os fenômenos que se desenrolam em solo nacional. 
Afinal, por que somos um país tão violento? Por que mantemos as primeiras posições 
em todos os rankings que apuram a violência contra mulheres, pessoas trans, povos 
indígenas, jovens negros? Por que constatamos, atônitos e inertes, às descobertas de 
casos e mais casos de pessoas submetidas a trabalhos análogos à escravidão?
Este livro parte, então, de uma abordagem multidisciplinar, sob as perspectivas 
de diferenciados olhares dos autores que assinam os respectivos artigos, respeitando-se 
o lugar de fala3, a representatividade e autonomia crítica de cada um, e convida 
os leitores e leitoras a contribuírem e proporem alternativas para a superação das 
matrizes de ódio e de intolerância que marcam a formação da sociedade brasileira e 
configuram indeléveis violações aos direitos humanos. 
Boa leitura!
As organizadoras
3 O lugar de fala é expressão cunhada pela filósofa Djamila Ribeiro e destaca as condições sociais 
em que foi produzido um ponto de vista e como ele está inserido em uma hierarquia de privilé-
gios. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2017.
PREFÁCIO
A publicação da obra “Crimes de Ódio e Intolerância” e a escrita deste prefácio 
ocorrem no mesmo ano em que assumi a relatoria do grupo de trabalho instituído 
pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em 2023, com a finalidade de 
estudar, discutir e propor estratégias de enfrentamento do discurso de ódio a par-
tir de uma iniciativa do Ministro Silvio Luiz de Almeida. Nesse mesmo período, a obra 
“Crítica ao Fascismo”, de autoria do professor Alysson Leandro Mascaro, publicada 
pela editora Boitempo, consagrou-se como um texto seminal para compreendermos 
a ascensão de movimentos fascistas no Brasil e no mundo. Esses fatos não ocorreram 
simultaneamente por mero acaso, mas porque as circunstâncias históricas têm exigido 
reflexões e ações urgentes para enfrentar a persistência, a renovação e a disseminação 
do discurso e dos crimes de ódio nos tempos atuais.
O livro “Crimes de Ódio e Intolerância” é um marco para todos os que estão 
interessados e engajados na luta contra o discurso de ódio e os crimes dessa natureza, 
condutas que estiveram presentes em diversos momentos do Brasil e do mundo e 
que agora se reconfiguram e se fortalecem a partir de novas estratégias e meios de 
ação. Dentre os diversos motivos para considerarmos este livro uma obra fundamental 
e incontornável, destaco dois a seguir.
Em primeiro lugar, saliento que a qualidade e a diversidade de autoras e auto-
res, oriundos dos mais variados campos do saber, constitui algo enriquecedor para 
a compreensão do fenômeno do discurso de ódio, cuja complexidade inviabiliza seu 
estudo apenas a partir de um único ponto de vista ou de apenas uma ciência. Um dos 
méritos ímpares das organizadoras deste livro, as talentosas professoras Amanda 
Tavares Borges, Araceli Martins Beliato e Camilla Hage, foi reunir acadêmicos e pro-
fissionais não apenas com excelentes qualificações, mas também com formações di-
versificadas, o que possibilita que o mesmo tema seja tratado por meio de ângulos 
distintos, uma vez que diferentes métodos e repertórios teóricos são mobilizados por 
cada um dentro de seus propósitos específicos. Se temos aqui sob análise um obje-
to multifacetado, ele é melhor compreendido porque existem diversos olhares que 
estão amalgamados por um ponto em comum: o rigor da análise e o reconhecimen-
to da necessidade de se enfrentar a odiosidade destrutiva que permeia os discursos 
e as práticas contemporâneas.
Dentre todas as áreas do conhecimento, o Direito ocupa um lugar especial 
nesta obra, pois os estudiosos dos temas jurídicos têm uma responsabilidade dobra-
da ao tratarem do discurso de ódio. O Estado e suas normas podem ser responsáveis 
pela propagação desse discurso, seja em função de sua omissão, ao não enfrentar di-
reta ou indiretamente o problema, seja por conta de sua ação, ao ser um indutor des-
se tipo de iniciativa ou abrigar em seu interior agentes públicos e/ou políticos que o 
organizam, promovem e inoculam o discurso de ódio de modo sub-reptício ou escan-
carado. Por essa razão, faz-se necessário refletir sobre o papel que as legislações e as 
instituições ocupam no enfrentamento do discurso e crimes de ódio, o que significa 
pensar não apenas em modos de reprimir esses fenômenos, mas de extinguir ou mi-
nimizar as causas que promovem uma lógica perversa na qual o discurso de ódio e a 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
16
intolerância se naturalizam, se espraiam e são adotados como meios para fins políti-
cos e ideológicos. As dimensões desse desafio fazem com que, acertadamente, não 
apenas tenhamos nesta obra autores de um único ramo do Direito, mas também es-
tejam presentes acadêmicos e profissionais de outras ciências.
O segundo aspecto que torna esta obra essencial é o momento o qual esta-
mos vivendo, em que o discurso de ódio e a intolerância – sempre presentes ao lon-
go da história de diversos modos – construíram uma simbiose com as novas tecno-
logias digitais emergentes nas últimas décadas e se tornaram instrumentos aberta e 
assumidamente utilizados pela extrema direita no Brasil e no mundo para seus pro-
pósitos políticos e eleitorais. Não utilizo o termo “simbiose” por acaso, pois na biolo-
gia ela expressa uma relação íntima e duradoura entre dois seres, que comporta, por 
vezes, benefícios recíprocos para ambos ou, em outros casos, benefícios ou prejuízos 
unilaterais. Pois é exatamente uma relação simbiótica que o discurso de ódio estabe-
leceu com as redes sociais, inclusive com situações nas quais cada parte extrai da ou-
tra benefícios específicos, como, por exemplo, o ganho político e o lucro financeiro.
O contexto acima se torna mais desafiador quando a resistência ao enfrentamen-
to do discurso e crimes de ódio adotou como estratégia retórica se arvorar no direito 
à liberdade de expressão. Esse ardil busca garantir a impunidade, pois defende que 
não haja quaisquer restrições a manifestações, sobretudo em redes sociais, inclusi-
ve as que constituem incitações nitidamente caracterizadoras desse tipo de discur-
so e com natureza criminosa. É curioso notar que, em termos históricos, a limitação 
do discurso de ódio não tem levado a ditaduras e ao fascismo, mas o contrário sim. 
Os defensores da legitimidade e da validade do discurso de ódio argumentam que as 
restrições e tentativas de controle sobre tais práticas seriam fruto de um espírito au-
toritário, que pode conduzir a regimes autocráticos. Porém, ironicamente, do ponto 
de vista histórico, o que observamos ao longo do século XX foi exatamente o oposto. 
Países que adotaram políticas para restringir ou prevenir o discurso de ódio não as-
sumiram feições ditatoriais, mas, em sentido contrário, o discurso de ódio, sobretu-
do contra minorias, esteve no cerne e na origem dos regimes totalitários fascistas e 
nazistas ou serviram de substrato ideológico para que direitos civis e políticos fossem 
negados ou inviabilizados aos negros, às mulheres, aos analfabetos, aos indígenas, à 
comunidade LGBTQIA+, às pessoas com deficiência e a outros grupos minorizados.
A presente obra colabora decisivamente no sentido de enfrentarmos as novas 
formas e consequências dos discursos e crimes de ódio na atualidade. Muito se diz 
sobre a necessidade de não apenas falarmos sobre nossas mazelas, mas de agirmos 
contra ela. Porém, a escrita de um livro sobre esse tema é uma ação, pois fruto de 
um conjunto de reflexões e pesquisas que não surgem por acaso, mas a partir de um 
esforço contínuo e paciente no sentido de investigar esse fenômeno. Sem que exis-
ta uma compreensão adequada sobre ele, as iniciativas mais bem-intencionadas po-
dem ser inócuas ou até contraproducentes.É necessário agir contra a intolerância e 
os crimes de ódio, mas as medidas adotadas precisam ser eficazes e não podem dei-
xar margem para que os promotores da odiosidade destrutiva se utilizem desse fato 
para dar ainda mais fôlego e força à lógica do ódio e às práticas que dela decorrem.
Agradeço às organizadoras da obra e em especial a duas pessoas, Araceli Mar-
tins Beliato e Leticia Galan Garducci, que me propiciaram a oportunidade e o privilé-
gio de escrever este prefácio. Talvez alguns discordem das reflexões que fiz aqui ou 
daquilo que os autores e as autoras escreveram em seus artigos, porém, tais discor-
dâncias fazem parte do processo dialético e democrático que permite aprimorarmos 
17
PREFÁCIO
nossos conceitos, ideias e propostas. O que o discurso de ódio tem feito ao longo dos 
tempos é exatamente o oposto disso, pois seu propósito é aniquilar simbólica e fisi-
camente o outro, sufocar a vitalidade e a beleza da diversidade, legitimar a posição de 
privilégio e desigualdade de uns sobre os outros. Esta é uma obra daquelas e daque-
les que assumiram um compromisso de luta contra isso e que se juntam a mulheres 
e homens que, literalmente, entregaram suas vidas para que o ódio e todas as formas 
de preconceito, discriminação, crime e opressão decorrentes dele deixassem de exis-
tir. Nós não iremos desistir e, por isso, continuaremos vencendo.
Outono de 2023 
Camilo Onoda Caldas
Pós-Doutor em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra (Portugal). 
Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito (USP). Mestre em Direito Político e Econômico pela 
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Diretor e fundador do Instituto Luiz Gama. Professor 
convidado da Escola Paulista da Magistratura (EPM). Docente permanente do programa de 
mestrado da Escola Paulista de Direito (EPD) e da graduação de Direito da Universidade São 
Judas Tadeu. Membro relator do Grupo de Trabalho voltado ao Enfrentamento ao Discurso de 
Ódio instituído pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania em 2023. 
PREFÁCIO
Camilo Onoda Caldas ......................................................................................................................... 17
CAPÍTULO 1
HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
Amanda Tavares Borges | Araceli Martins Beliato | Camilla Hage ..................................... 25
1 Introdução ............................................................................................................................................... 25
2 O Ódio como Valor Moral, Projeto Político e Elemento Constitutivo do Estado ............................................. 30
3 Homofobia: Crime e Castigo ..................................................................................................................... 37
4 Criminalização da Homofobia: Projetos de Lei em Andamento e as Dificuldades para Aprovação ................... 44
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 47
CAPÍTULO 2
O FENÔMENO DOS CRIMES DE ÓDIO SOB A ANÁLISE DA CRIMINOLOGIA CONTEM-
PORÂNEA
Amanda Tavares Borges .................................................................................................................... 53
1 Introdução ............................................................................................................................................... 53
2 Manifestações do Ódio ............................................................................................................................ 54
3 Tipos de Odiadores ................................................................................................................................. 58
4 Vítimas do Ódio ....................................................................................................................................... 61
5 Controle Formal e Informal dos Crimes de Ódio ....................................................................................... 66
6 Consideraçoes Finais ............................................................................................................................... 69
CAPÍTULO 3
O HISTÓRICO TRATAMENTO POLICIAL DISPENSADO À POPULAÇÃO NEGRA E SUA 
NECESSÁRIA EVOLUÇÃO
André Hoffmann | Carlos Augusto de Miranda e Martins .............................................................. 73
1 Introdução ............................................................................................................................................... 73
2 Síntese do Desenvolvimento das Instituições Policiais no Brasil ............................................................... 74
3 O Inimigo Interno e o Racismo Estrutural ................................................................................................. 75
4 Considerações Finais ............................................................................................................................... 78
CAPÍTULO 4
DEMOCRACIA EM CRISE, DISCURSO DE ÓDIO E FAKE NEWS NA ERA DO CAPITALISMO DIGITAL
Araceli Martins Beliato | Diogo Mariano Carvalho de Oliveira ............................................... 79
1 Considerações Iniciais: Democracia em Crise ou Estado de Exceção? ........................................................ 79
2 A Questão Fundamental da Liberdade ..................................................................................................... 82
3 Ressentimento, Discurso de Ódio e Lucro a Pretexto da Liberdade ........................................................... 85
4 Fake News na Era do Capitalismo Tecnofascista ....................................................................................... 91
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 97
sumário
CAPÍTULO 5
FEMINICÍDIO: ANÁLISE JUS-SOCIOLÓGICA À LUZ DO DEVER ESTATAL DE PROTEÇÃO 
ÀS MULHERES 
Camilla Hage ......................................................................................................................................... 101
1 Introdução ............................................................................................................................................... 101
2 Análise Histórica da Violência Contra a Mulher e o Advento da Lei Maria da Penha .................................. 101
3 O Ciclo da Violência ................................................................................................................................. 103
4 Crime de Ódio - O Retrato Social e Estatístico dos Assassinatos de Mulheres ............................................ 103
5 A Nova Tipificação Penal do Feminicídio como Instrumento de Política Criminal de Proteção às Mulheres ... 107
6 Sujeito Passivo e Alcance da Proteção Estatal - Dicotomia Gênero X Sexo ................................................. 114
7 A “Legítima Defesa da Honra” como Argumento de Legitimação do Feminicídio e os Avanços Legais na Prote-
ção às Mulheres .................................................................................................................................. 115
8 Conclusão ................................................................................................................................................ 118
CAPÍTULO 6
YANOMAMIS: GENOCÍDIO ANUNCIADO, GENOCÍDIO REITERADO – UM ALERTA DO PASSADO
Bárbara Nascimento Flores Borum-Kren | Flávio de Leão Bastos Pereira......................... 121
1 Introdução ............................................................................................................................................... 121
2 Plano Coordenado com Distintas Ações ................................................................................................... 124
3 Dinâmicas Estruturais do Genocídio Yanomami ......................................................................................127
4 Povo Borum, Povo Yanomami: Após 200 Anos, a Repetição do Genocídio ............................................... 131
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 140
CAPÍTULO 7
DEFENSORAS E DEFENSORES DOS DIREITOS HUMANOS: AVANÇOS E RETROCESSOS 
NO BRASIL
Carolina Alves de Souza Lima | Francini Imene Dias Ibrahin.................................................. 145
1 Introdução ............................................................................................................................................... 145
2 Definição e Abrangência .......................................................................................................................... 146
3 Marcos Legais .......................................................................................................................................... 147
4 Situação das Defensoras e dos Defensores de Direitos Humanos ............................................................. 150
5 A Educação em Direitos Humanos e a Proteção dos Direitos das Defensoras e dos Defensores de Direitos 
Humanos ............................................................................................................................................. 154
6 Considerações Finais ............................................................................................................................... 155
CAPÍTULO 8
TRANSFOBIA E SEGURANÇA PÚBLICA: A BUSCA DA HUMANIDADE DAS PESSOAS 
TRANSVESTIGÊNERES
Erika Hilton ............................................................................................................................................ 159
1 Introdução: A Falência do Modelo de Segurança Pública no Brasil ........................................................... 159
2 Transfobia no Estado Brasileiro e seus Desdobramentos no Campo da Segurança Pública ....................... 161
3 Discutindo Casos Concretos: O Não Reconhecimento da Humanidade Transvestigênere no Sistema de 
Segurança Pública ............................................................................................................................... 165
4 Considerações Finais ............................................................................................................................... 168
CAPÍTULO 9
RACISMO ESTRUTURAL E SEUS REFLEXOS NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO
Fabio Victor Tavolaro ........................................................................................................................... 171
1 Introdução ............................................................................................................................................... 171
2 Origem do Conceito Raça ......................................................................................................................... 171
3 Racismo e sua Relação com a Escravidão Negra no Brasil ......................................................................... 172
4 Legislação Antirracista no Brasil e no Mundo ........................................................................................... 174
5 Racismo Estrutural no Brasil e seus Reflexos no Sistema Penal Brasileiro ................................................. 176
a. Seletividade penal ........................................................................................................................... 178
b. Controle social ................................................................................................................................. 178
c. Dados estatísticos ............................................................................................................................ 179
6 Considerações Finais ............................................................................................................................... 181
CAPÍTULO 10
TRANSFOBIA E SAÚDE REPRODUTIVA DE HOMENS TRANS: A QUEM IMPORTA?
Fernanda dos Santos Ueda ............................................................................................................... 185
1 Introdução ............................................................................................................................................... 185
2 Conceito de Gênero ................................................................................................................................. 185
2.1 Gênero Líquido .............................................................................................................................. 186
2.2 Masculinidade Trans ...................................................................................................................... 187
3 Transfobia e Saúde Trans ......................................................................................................................... 188
3.1 Saúde Mental e Covid-19 ............................................................................................................... 188
3.2 Trajetória de existência de homens trans ....................................................................................... 189
4 Metodologia ........................................................................................................................................... 192
5 Conclusões .............................................................................................................................................. 198
CAPÍTULO 11
O CASO ELLWANGER: UMA ANÁLISE EM PERSPECTIVA
Flávia Martins de Carvalho ................................................................................................................ 203
1 Introdução ............................................................................................................................................... 203
2 A Questão Controvertida .......................................................................................................................... 203
3 Novos Casos, Velhos Problemas ............................................................................................................... 209
4 Considerações Finais ............................................................................................................................... 210
CAPÍTULO 12
PLURALISMO JURÍDICO E O DIREITO PENAL INDÍGENA: UM OLHAR A PARTIR DAS 
NORMATIVAS ESTABELECIDAS PELO DIREITO INDIGENISTA
Johny Fernandes Giffoni ..................................................................................................................... 213
1 Introdução ............................................................................................................................................... 213
2 Racionalidades Jurídicas: Direito Indigenista e Direito Indígena ............................................................... 215
3 Pluralismo Jurídico e Direito à Autodeterminação como Instrumento de Reconhecimento do Direito Indígena ....... 222
4 Reconhecimento do Direito Indígena no Âmbito da Proteção das Indígenas Crianças e de Pessoas Indíge-
nas Acusadas, Rés, Condenadas ou Privadas de Liberdade .................................................................. 228
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 240
CAPÍTULO 13
RESSONÂNCIA CONTEMPORÂNEA ANTE A ASCENSÃO DO RACISMO: NOTAS SOBRE 
O CASO ELLWANGER
José Henrique de Paula Ramos ....................................................................................................... 245
1 Notas Introdutórias ................................................................................................................................. 245
2 Caso Ellwanger - Retrospecto Histórico ................................................................................................... 245
3 Holocaustoe a Falácia do Revisionismo Histórico ..................................................................................... 247
4 Análise Crítica de Método de Duas Decisões Judiciais ............................................................................... 250
5 Colisão de Direitos Fundamentais e as Técnicas para sua Resolução ........................................................ 254
6 Conclusão ................................................................................................................................................ 258
CAPÍTULO 14
ABORDAGEM SISTÊMICA DE GÊNERO NO ENSINO POLICIAL: A INVESTIGAÇÃO DE 
CRIMES DE ÓDIO E INTOLERÂNCIA E A DIDÁTICA EM DIREITOS HUMANOS
Júlio Gustavo Vieira Guebert | Fernanda dos Santos Ueda.................................................... 261
1 Introdução ............................................................................................................................................... 261
2 A Perspectiva de Gênero Feminino na Formação Policial ......................................................................... 262
2.1 A disciplina “Feminicídio e a Investigação sob a Perspectiva de Gênero” ........................................ 263
2.2 Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica e Crimes Sexuais .................................................. 266
3 Diversidade de Gênero e Orientação Sexual ............................................................................................ 268
4 Sistema de Justiça Criminal sob a ótica de gênero e orientação sexual ..................................................... 268
5 Proposições e Desafios para o Futuro: Didática em Direitos Humanos ...................................................... 271
6 Conclusões .............................................................................................................................................. 272
CAPÍTULO 15
CRIMES DE ÓDIO SOB A PERSPECTIVA ESTRUTURAL: A INTOLERÂNCIA COMO PROCESSO 
HISTÓRICO, POLÍTICO, ECONÔMICO E JURÍDICO
Leticia Galan Garducci ....................................................................................................................... 275
1 Introdução ............................................................................................................................................... 275
2 A Especificidade Histórica, Política e Jurídica das Minorias Sociais ........................................................... 275
3 O Cenário Brasileiro e a Prática de Crimes de Ódio no País ...................................................................... 280
4 Considerações Finais ............................................................................................................................... 281
CAPÍTULO 16
XENOFOBIA REGIONAL: OS ATAQUES AO NORDESTE BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES 
PRESIDENCIAIS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Lígia Lopes Bortolucci Ruas ............................................................................................................. 283
1 Introdução ............................................................................................................................................... 283
2 Origens da Discriminação contra o Povo Nordestino ............................................................................... 283
3 Xenofobia como Violação aos Direitos Humanos ..................................................................................... 286
4 Discriminação nos Meios Digitais ............................................................................................................ 288
5 Discriminação e Eleições ......................................................................................................................... 291
6 Considerações Finais ............................................................................................................................... 293
CAPÍTULO 17
A CONDUTA DO HATER TORCEDOR À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO
Marcello Paladino ................................................................................................................................ 297
1 Considerações Iniciais .............................................................................................................................. 297
2 Liberdade de Expressão e o Discurso de Ódio .......................................................................................... 298
3 O Torcedor Hater ...................................................................................................................................... 299
4 Casos Concretos de Crimes de Ódio Praticados por Torcedores ................................................................ 301
5 Possibilidade de Qualificação e Identificação dos Haters Virtuais pela Polícia Judiciária e o Marco Civil da 
Internet ............................................................................................................................................... 303
6 Considerações Finais ............................................................................................................................... 305
CAPÍTULO 18
CONSTITUIÇÃO E SUSTENTAÇÃO DO ATO BULLYING NA INFÂNCIA: PROCESSO DE FORMAÇÃO 
E SUAS INTERFACES COMPORTAMENTAIS NEUROFISIOLÓGICAS E EMOCIONAIS
Marcius Vinicius Gonçalves Correia ................................................................................................ 307
1 Introdução ............................................................................................................................................... 307
2 Revisando os Conceitos de Violência ........................................................................................................ 308
3 Interfaces Comportamentais, Neurofisiológicas e Emocionais do Processo de Formação do Bullying ....... 311
4 Conclusão ................................................................................................................................................ 315
CAPÍTULO 19
A INTOLERÂNCIA E A DISCRIMINAÇÃO: O QUE PODEMOS DIZER SOBRE O BULLYING 
NO CONTEXTO ESCOLAR?
Marilene Proença Rebello de Souza .............................................................................................. 319
1 Introdução ............................................................................................................................................... 319
2 Comportamentos Violentos ou Discriminatórios são Constituídos Socialmente ........................................ 320
3 Como Construir Relações de Convivência Social? ...................................................................................... 322
4 A Importância da Escola enquanto Instituição de Convivência Social: Repensando a Temática do Bullying ..... 322
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 324
CAPÍTULO 20
HOLOCAUSTO E O PASSADO QUE NÃO PASSA: O ANTISSEMITISMO
Milena Gordon Baker .......................................................................................................................... 327
1 Introdução - Situação Atual ...................................................................................................................... 327
2 A Importância Do Holocausto e Suas Lições.............................................................................................. 328
3 O Antissemitismo – Um Fenômeno Complexo .......................................................................................... 330
4 Conclusão ................................................................................................................................................ 332
CAPÍTULO 21
EXPRESSÕES DE ÓDIO NO COTIDIANO DAS PROSTITUTAS: ESTIGMAS, VIOLÊNCIAS E 
A BUSCA POR RECONHECIMENTO
Priscila Mara Garcia Cardoso | Amanda Tavares Borges | Ariane Trevisan Fiori | Camilla Hage .. 3351 Introdução ............................................................................................................................................... 335
2 Estigmas, Estereótipos e a Subcultura da Prostituição .............................................................................. 336
3 Ódio e Violência contra as Mulheres na Prostituição ................................................................................ 341
4 A Busca por Emancipação e Luta por Reconhecimento ............................................................................ 343
5 A Concretização da Cidadania e Justiça Social às Prostitutas como Elemento Mitigador da Vitimização 
Odiosa ................................................................................................................................................. 346
6 Considerações Finais ............................................................................................................................... 351
CAPÍTULO 22
DISCURSOS DE ÓDIO RELIGIOSO NO ECOSSISTEMA WEB: UMA ABORDAGEM ETNOP-
SICOLÓGICA
Ronilda Iyakemi Ribeiro | Rodrigo Ribeiro Frias ......................................................................... 355
1 Introdução ............................................................................................................................................... 355
2 Infodemia ................................................................................................................................................ 356
3 Discursos de Ódio Religioso no Ecossistema Web ..................................................................................... 356
4 O Guia FGV/CONIB para Análise dos Discursos de Ódio ........................................................................... 359
5 O Paradigma Mil da Unesco .................................................................................................................... 361
6 A Psicologia Social Crítica de Ignácio Martin-Baró: Uma Abordagem Etnopsicológica de Libertação ......... 363
7 Exemplos de Ações em Prol da Eliminação de Discursos de Ódio em Favor da Liberdade Religiosa e da 
Cultura de Paz ..................................................................................................................................... 365
7.1 Ação Legislativa e Judiciária no Estado de São Paulo ...................................................................... 365
7.2 Ação do Fórum Inter-religioso para uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença, da Secretaria da Justiça 
e Cidadania do Estado de São Paulo ............................................................................................. 365
7.3 Ação da Educação e da Mídia ........................................................................................................ 366
7.4 Ação de Otros Cruces e da Red Latinoamericana y del Caribe por la Democracia (REDLAD) e a implementação 
do Proyecto Creer en Plural ............................................................................................................. 367
8 Conclusão ................................................................................................................................................ 367
CAPÍTULO 23
A REVISÃO DA LEI Nº 12.711/2012 (LEI DE COTAS) NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS 
CONTRA O ÓDIO
Wilton Antonio Machado Júnior ...................................................................................................... 369
1 Introdução ............................................................................................................................................... 369
2 Lei Nº 12.711/2012 (Lei de Cotas): Histórico e Considerações .................................................................. 370
3 Políticas de Ações Afirmativas e Crimes de Ódio ....................................................................................... 374
4 Avanços e Horizontes Possíveis para o Aprimoramento da Legislação sobre Cotas Raciais ........................ 375
5 Considerações Finais ............................................................................................................................... 377
EPÍLOGO
Antônio Carlos de Almeida Castro .................................................................................................. 381
CAPÍTULO 1
HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
Amanda Tavares Borges4
Araceli Martins Beliato5
Camilla Hage6
1 Introdução
Trabalhador homossexual da Sadia foi empalado por “colegas” com mangueira 
de ar. [...]. A agressão teria sido motivada por homofobia. Segundo o presidente 
do Sitracarnes (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Carnes), quatro 
trabalhadores e uma trabalhadora participaram do crime. Os quatro homens 
imobilizaram a vítima, enquanto a mulher introduziu a mangueira de ar comprimido 
no ânus do trabalhador, ligando-a posteriormente. 
(PRAGMATISMO POLÍTICO, 2011a).
O presente capítulo aborda uma entre as muitas violências que são perpetra-
das cotidianamente contra a população LGBTI+7, denominada homofobia8, que se 
4 Mestra em Direitos Difusos e Coletivos pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Pós-
-graduada em Direito Penal e Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Damásio de Jesus 
em São Paulo. Professora de Criminologia da Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Co-
bra”. Professora universitária. Docente Civil na Polícia Militar do Estado de São Paulo. Coauto-
ra das obras “Lei Maria da Penha no Direito Policial”; “Mulheres nas Carreiras Policiais – teoria e 
prática” e “Ações Afirmativas na Polícia Civil de São Paulo”. Policial Civil no Estado de São Paulo.
5 Mestra em Direito Político e Econômico e Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana 
Mackenzie. Pós-graduada em Direito e Processo Penal pelas Faculdades Metropolitanas Unidas 
(FMU). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos pela UNIBF-PR. Capacitada em Feminism and 
Social Justice pela University of California - Santa Cruz (EUA). Policial Civil no Estado de São Pau-
lo. Coordenadora Pedagógica da Escola Superior de Direito Policial. Autora e coordenadora de 
obras jurídicas, entre elas: “Lei Maria da Penha no Direito Policial”; “Mulheres nas Carreiras Po-
liciais: teoria e prática”, “Direito Policial – temas atuais”, entre outras. Integrante dos Grupos de 
Pesquisa “Biopolítica e Biodireito: Poder, Violência e Direito” e “Crítica do Direito e Subjetividade 
Jurídica”, ambos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
6 Mestranda em Direito pela UNESA. Especialista em Direito Público pela UGF. Especialista em Di-
reito Penal e Processual Penal pela UGF. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Esta-
do do Rio de Janeiro. Atuou na advocacia privada. Exerceu os cargos públicos de Assessora Jurí-
dica Parlamentar, Analista Jurídica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial e Defensora 
Pública no Rio Grande do Sul. Delegada de Polícia atuante na Delegacia de Defesa da Mulher On-
-line da Polícia Civil de São Paulo. 
7 Adotou-se neste capítulo a sigla LGBTI+ (significando Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Tran-
sexuais, Intersexos e variações biológicas de sexo, identidades de gênero e orientações sexuais 
não hegemônicas), para designar um coletivo de sujeitos genericamente concentrados dentro 
da categoria maior “diversidade sexual” (GASTALDI, et al., 2020, p. 9), sem qualquer restrição à 
adoção de outras variações terminológicas pelos demais autores ao longo do livro. 
8 “Homo” deriva genealogicamente do grego homós, que significa “o mesmo, igual, comum” e “fo-
bia”, vem grego fóbos, que exprime a ideia de “medo patológico ou aversão” (PRIBERAN, c2022). 
A homofobia é um termo restrito e concêntrico à violência e ao ódio contra as pessoas cisgênero ho-
mossexuais (enquadrados homens cis gays e mulheres cis lésbicas). Para designar a violência contra 
as pessoas transgênero (de orientação sexual bi, homo, hétero ououtra), a melhor terminologia 
seria LGBTfobia. 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
26
caracteriza por atos de violência verbal, física, moral ou psicológica, de forma gra-
tuita, contra uma pessoa homossexual, pelo simples fato de ela ser quem é ou o 
que representa no subconsciente do criminoso.
O ânimo delitivo pode se desenvolver por vários motivos: como produto de ex-
periências degradantes na infância, histórico de abusos sexuais, excesso do controle 
social informal (educação repressiva ofertada desde a tenra idade, fanatismo religio-
so etc.), disfunções sexuais, psicopatias, sociopatias, perversões, alterações hormo-
nais, variações de neurotransmissores pré-sinápticos (que podem causar desde falta 
de empatia até psicopatologias graves), além de outros fatores. 
A literatura, no campo da psicanálise, tende a tratar a homofobia como uma 
ameaça aos impulsos homossexuais do próprio indivíduo agressor, causando negação, 
repressão ou reação de formação, um tipo de homossexualidade latente (ADAMS et al., 
1996), ou como defesa do ego, aspecto que pode ser fartamente explorado à luz das 
teorias freudianas9, cujo mérito consiste em “relacionar o surgimento de patologias 
individuais com o processo de socialização dos sujeitos na cultura, processo caracte-
rizado pela repressão às pulsões agressivas e sexuais” (SERRA, 2019, p. 19). 
Em verdade, muitos outros estudiosos (v.g. DADICO, 2022; WILLIAMS, 2021) 
têm se dedicado a investigar os crimes de ódio na atualidade, porquanto o fenômeno 
cresceu vertiginosamente. A inquietação perpassa pela necessidade de se compre-
ender biologicamente como o ódio se opera, como ele se exterioriza socialmente, o 
que exatamente são crimes de ódio e como se diferenciam dos demais, como o ódio 
vem sendo explorado estrategicamente nas campanhas políticas, enfim, as aborda-
gens são as mais variadas possíveis e muitas perguntas ainda aguardam respostas. 
No caso da homofobia, quer-se saber o que leva alguém a se importar tanto 
com a sexualidade alheia a ponto de cometer um crime bárbaro por esse motivo. Não 
se ignora que o sexo e os corpos alheios sempre foram tabus e objetos de disputas de 
poder10 para atender a certos padrões e conveniências dos grupos dominantes de cada 
Orientação sexual “é a atração física, sexual e afetiva por indivíduos que podem ser de gênero di-
ferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero” (CNJ, 2022, p. 14).
Identidade de gênero pode ser definida como “uma experiência individual e interna de cada pes-
soa que pode ou não corresponder ao sexo designado ao nascimento. Há duas classificações: cis-
gênero e transgênero. A primeira se refere à identificação de gênero que corresponde às expec-
tativas do sexo atribuído ao nascer. Já a segunda se refere à identificação de gênero divergente do 
sexo atribuído ao nascer” (CNJ, 2022, p. 14).
9 Segundo Freud, o ser humano carrega em si, entre os dotes pulsonais, a pulsão para a morte: 
agressividade e destrutividade. O “outro” constitui um objeto de tentação também para “satisfa-
zer a tendência à agressão, para explorar seu trabalho sem recompensá-lo, para dele se utilizar 
sexualmente contra sua vontade, para usurpar seu patrimônio, para humilhá-lo, para infligir lhe 
dor, para torturá-lo e matá-lo” (FREUD, 2010, p. 77).
10 “Na civilização ocidental e provavelmente em toda civilização, o corpo é tabu, objecto de atrac-
ção e repulsão. Para os senhores da Grécia e do feudalismo, a relação com o corpo ainda era 
determinada pela habilidade e destreza pessoal como condição da dominação. O cuidado com 
o corpo (Leib) tinha, ingenuamente, uma finalidade social. O kalos kagathos (belo e bom) só em 
parte era uma aparência, o ginásio servindo, por outra parte, para preservar o poder pessoal, 
pelo menos como training para uma postura dominadora. Quando a dominação assume com-
pletamente a forma burguesa mediatizada pelo comércio e pelas comunicações e, sobretudo, 
quando surge a indústria, começa a se delinear uma mutação formal. A humanidade deixa-se 
escravizar, não mais pela espada, mas pela gigantesca aparelhagem que acaba, é verdade, por 
forjar de novo a espada. É assim que desapareceu o sentido racional para a exaltação do corpo 
viril; as tentativas dos românticos, nos séculos dezanove e vinte, de levar a um renascimento do 
corpo (Leib) apenas idealizam algo de morto e mutilado. [...] Mas o assassino, o homicida, os 
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HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
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época, mas mesmo hodiernamente, em que se pensa ter avançado em termos civili-
zatórios e de efetividade dos direitos humanos, pessoas ainda são ofendidas, amea-
çadas, perseguidas e mortas simplesmente por ter orientação sexual divergente do 
padrão hegemônico, ou seja, do padrão heteronormativo11.
Mollo (2015, p. 52) aduz que essas pessoas delinquem “por mandato de gozo”:
O sentimento de culpa associado à falta, ao castigo e ao super eu freudiano da re-
núncia é uma noção caduca; ao contrário, em nossa época, a culpabilidade se apre-
senta como uma incitação ao gozo: a época tem reconduzido a culpabilidade até o 
nível do imperativo de gozo fabricando culpáveis de não gozar. Inclusive, pode-se 
afirmar que o sentimento de culpa é um conceito forjado por Freud e logo desarticu-
lado por Lacan [...]. Paradoxalmente, na nossa época trata-se de um sentimento de 
culpa que não se situa com relação ao ideal, e sim com relação ao super eu com um 
imperativo de gozo que promove a satisfação sem limites (...) (MOLLO, 2015, p. 59). 
Tais criminosos estariam livres do sentimento de culpa, como dito, agiriam por 
cifras reguladas pela oferta do crime, sem valores ou freios para sua conduta, para 
atingir o prazer da prática do delito e sofrimento do passivo, como em uma relação 
comercial:
Os delinquentes por sentimento de culpa já não existem. Em nossa época, o delito é 
induzido não pela culpabilidade, mas pelo mundo novo das mercancias. Ademais, o 
delinquente passa a ser uma mera cifra regulada pela oferta do crime. O delinquen-
te contemporâneo é um homo economicus. Ao mesmo tempo, os novos delinquentes 
são emergentes de uma época não regulada pelos valores tradicionais, são aqueles 
que por meio do roubo obedecem obscuramente e sem divisão subjetiva ao impera-
tivo de gozo, sem medir as consequências (MOLLO, 2015, p. 60). 
colossos animalizados, que são secretamente empregados pelos donos do poder – legais e ile-
gais, grandes e pequenos – como seus executores, os homens violentos, que estão sempre aí 
quando se trata de eliminar alguém, os linchadores e os membros da Ku-Klux-Klan, o brutamon-
tes que logo se ergue quando alguém começa a querer aparecer, as figuras terríveis às quais a 
gente se vê entregue tão logo a mão protectora do poder se retira, quando se perde dinheiro e 
posição, todos os lobisomens que vivem nas trevas da história e alimentam o medo sem o qual 
não haveria nenhuma dominação: neles, o amor-ódio pelo corpo é brutal e imediato, eles profa-
nam tudo o que tocam, aniquilam tudo o que vêem à luz, e esse aniquilamento é o rancor pela 
reificação, eles repetem numa fúria cega sobre o objecto vivo tudo o que não podem mais fa-
zer desacontecer: a cisão da vida no espírito e seu objecto. O homem os atrai irresistivelmen-
te, eles querem reduzi-lo ao corpo, nada deve continuar a viver. Essa hostilidade dos inferiores, 
outrora cuidadosamente cultivada e alimentada pelos superiores laicos e espirituais, à vida que 
neles se atrofiou e com a qual se relacionam, homossexual e paranoicamente, pelo homicídio, 
essa hostilidade foi sempre um instrumento indispensável para a arte de governar. A hostilida-
de dos escravizados à vida é uma força inexaurível da esfera nocturna da história. Até mesmo o 
excesso puritano, a bebedeira, é uma vingança desesperada contra a vida (ADORNO; HORKHEI-
MER, 1985, p. 108-110) (sic).
11 A heteronormatividade, termo cunhado em1991 por Michael Warner, diz respeito ao “padrão 
de sexualidade que regula o modo como as sociedades ocidentais estão organizadas”. Pode-
-se afirmar que a sociedade brasileira é heteronormativa e cisnormativa, ou seja, ela considera 
que o normal é ser heterossexual e cisgênero e as pessoas que não atendem a essas expectati-
vas são consideradas “anormais” por uns e até “doentes” por outros mais radicais. (SÃO PAULO, 
2021, p. 7). Ainda sobre a heteronormatividade: “Em nossa sociedade, a não heterossexualidade 
foi gravemente condenada pelo discurso hegemônico, que influenciado pelo discurso religioso e 
médico científico, legitimou instituições e práticas sociais baseadas em um conjunto de valores 
heteronormativos, os quais levaram a discriminação negativa e à punição de diversos comporta-
mentos sexuais, sob a acusação de crime, pecado ou doença” (PRADO; MACHADO, 2017, p. 12). 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
28
Em muitos casos, os infratores são movidos pelo prazer de impingir dor no 
objeto de seu ódio. É bem verdade que se consideramos apenas o animus do agen-
te, nem todos os ataques às pessoas homossexuais são perpetrados por “odiadores”, 
podendo a generalização nos levar a equívocos, como bem exemplifica Dadico, ao re-
lembrar casos não raros ocorridos nos Estados Unidos em que:
[...] ataques a gays são perpetrados por grupos de jovens do sexo masculino e tole-
rados socialmente como prática assemelhada a um rito de passagem que os ajuda 
a construir seus ideais de virilidade, estabelecer seu local na comunidade e reforçar 
laços com seus pares. Em muitos casos, os perpetradores declararam às autorida-
des policiais que os atos de violência foram praticados por “mera diversão”, “opção 
recreacional” ou um “tipo de esporte” (DADICO, 2022, p. 221).
O mesmo se aplicaria nos casos de “estupros corretivos”, nos quais as vítimas, 
em sua maioria12 mulheres lésbicas (lesbocídio)13 ou bissexuais, são estupradas por 
homens que desejam fazê-las “gostar de homem à força”14 ou “curá-las”15 da supos-
ta patologia gay.
Mas o fato é que, independentemente da real motivação subjetiva (que qua-
se nunca poderá ser identificada), o que deve ser levado em conta para caracterizar 
um crime de ódio é o aspecto discriminatório de seleção das vítimas (discriminatory 
victim selection). Em outras palavras, o “liame se dá entre a conduta e a seleção da ví-
tima com base em suas reais ou supostas características de pertencimento a grupos 
sociais minoritários, sendo irrelevante indagar por qual razão o ofensor selecionou 
aquela determinada pessoa no conjunto de pessoas que integram aquele grupo so-
cial” (DADICO, 2022, p. 223-224).
A experiência do ódio não é apenas um processo biopsicológico, circunspec-
to à subjetividade humana, mas também despertada por fatores externos. A cultu-
ra, a religião, a conjuntura sociopolítica, as experiências passadas e a influência dos 
outros podem afetar a percepção de uma pessoa em relação a outra e, portanto, de-
sencadear o ódio, que pode ou não culminar em atitude criminosa por esse motivo.
Há de se ressaltar também que sentimentos como ódio e medo são primiti-
vos; têm raízes evolutivas profundas. O ódio pode ser entendido como uma resposta 
a uma ameaça percebida, enquanto o medo é uma resposta a um perigo real ou ima-
ginado. Ambos os sentimentos são importantes para a sobrevivência de um indivíduo 
ou grupo, já que podem ajudar a identificar e lidar com situações perigosas. Quando 
os seres humanos se agrupam, especialmente em situações de tensão ou conflito, es-
ses sentimentos primitivos podem emergir e serem ampliados, bem como a percep-
ção de que há necessidade de proteger o próprio conjunto.
Além disso, os grupos tendem a ter normas sociais e expectativas específicas, e 
aqueles que se desviam dessas normas podem ser vistos como ameaças aos demais. 
Isso pode levar a uma dinâmica de “nós contra eles”, em que a hostilidade é dirigida 
12 É preciso consignar que o estupro corretivo também vitima muitos homens trans. 
13 “Definimos lesbocídio como morte de lésbicas por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e dis-
criminação contra a existência lésbica. [...] São hegemonicamente tentativas de extermínio, cata-
logadas como crimes de ódio e motivadas por preconceito” (PERES; SOARES; DIAS, 2018, p. 19).
14 Mulher de 22 anos é violentada após deixar bar na Cantareira. Segundo vítima, estuprador a le-
vou para as margens da baía e disse: “agora você vai aprender a gostar de homem” (LIMA, 2018). 
15 Justiça condena bispo evangélico por estupro de jovem LGBT+. João Batista dos Santos afirmava às 
vítimas que tinha que transar com elas para livrá-las de uma “maldição” (CARTA CAPITAL, 2020).
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HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
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a indivíduos ou grupos que são percebidos como diferentes ou ameaçadores, que es-
tão fora (exogrupo). Le Bon (2020, p. 9) chama a atenção para o fato de que em grupo 
há uma tendência de aflorar os comportamentos mais primitivos dos seres humanos; 
afirma que, em massa, ocorre um “rebaixamento da inteligência”; as pessoas se sen-
tem encorajadas para atuar de forma mais brutal, anterior ao processo de civilização; 
são dominadas pela atividade medular em vez da atividade cerebral (racional), ou seja, 
agem desprovidas do intelecto, da cognição: agem como idiotas16. 
Não por acaso, as mortes por motivação homofóbica (tal qual ocorre com as de 
natureza transfóbica e as praticadas por psicopatas misóginos) são cometidas muitas 
vezes em grupo e caracterizadas pela forma cruel, agônica, com emprego de tortu-
ra e/ou outros meios que demonstram um desprezo peculiar pela vítima. Na prática 
policial se constatam os corpos com sinais de intenso sofrimento antecedente, com 
esgorjamentos, asfixias, decapitações, pauladas, dilacerações, amputações dos ma-
milos e órgãos sexuais, ateamento de fogo e produtos acidulantes (como cáusticos), 
estando as vítimas no geral amordaçadas e amarradas aos mais diversos anteparos:
Isso significa que não se trata de atos de violência generalizada que, por acaso, atin-
gem pessoas LGBT igualmente, como partes iguais de um contexto social. São, na 
verdade, crimes pensados e planejados contra esse grupo, “algo direcionado especi-
ficamente e com modus operandi próprio e característico”. Quando as ONGs anun-
ciam os assustadores números de mortes de LGBT, elas não estão falando sobre 
acidentes de trânsito, doenças terminais ou balas perdidas. Os crimes LGBTfóbicos 
são, essencialmente, crimes de ódio, planejados e executados contra integrantes 
dos grupos que compõem a população LGBT com a finalidade de exterminar aquela 
diversidade que destoa do padrão e, por isso, incomoda. Como falar, então, em su-
jeitos “iguais” se há gente sendo morta por ser diferente? (PEDRA, 2020, p. 20).
Casos bárbaros como o da notícia epigrafada não são isolados e chocam pelo 
requinte de crueldade. Percebe-se que a prática do crime está associada ao prazer 
em vulnerar a vítima (no caso, integrante da comunidade LGBTI+) e não à necessida-
de ou livre escolha da perpetração da conduta; trata-se de um ato que traz satisfa-
ção sem qualquer culpa, remorso ou empatia, até porque, na visão dos infratores, o 
que está sendo vulnerado é um “corpo abjeto” (BUTLER, 2003), ou seja, passível de ser 
submetido à violência, desprezo e morte. 
Ora, o que pensar de cinco pessoas que ficaram incomodadas com a intimida-
de de um colega de trabalho a ponto de cometer um ato tão bestial? Por certo hou-
ve precedentes de chacotas, ofensas, ameaças etc. até a agressão chegar ao nível físi-
co. O ódio em forma de agressão verbal é quase sempre o primeiro passo para uma 
escalada violenta que pode culminar com a morte. Importante atentar que nem o 
medo de perder o emprego ou da repressão penal foi capaz de evitar que cometes-
sem a conduta delitiva supracitada, daí porque é muito importanterepensar a for-
ma mais adequada e eficiente de se combater a homofobia e evitar a ocorrência das 
condutas mais graves.
Ao contrário de Raskólnikov, personagem principal do romance “Crime e 
Castigo”17, de Fiodor Dostoievski (2007), os homofóbicos não se enxergam como 
16 Idiota: “que demonstra falta de inteligência, de discernimento ou de bom senso; estúpido, imbe-
cil, tanso, tantã, tolo, zote” (MICHAELIS, 2022).
17 A história se passa em São Petersburgo, na Rússia, no século XIX, e segue o personagem princi-
pal, um jovem pobre e desesperado que decide cometer um assassinato para provar sua supe-
rioridade e teoria de que alguns indivíduos têm o direito de cometer crimes graves em nome do 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
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criminosos e não sentem remorso ou culpa. Quase sempre agem por convicção de 
superioridade moral, podendo ou não usar a religião como justificativa para seus pre-
conceitos. Reforça-se que a discriminação e a violência não têm base em fatos objeti-
vos e racionais, mas sim em preconceitos e estereótipos infundados. A crença de que 
a homofobia é justificável em nome do bem comum é baseada em uma visão distor-
cida da realidade, que nega a dignidade e os direitos das pessoas LGBTI+.
Importante, ainda, compreender que mais do que uma aversão particular, res-
trita a determinados grupos, a homofobia se inscreve em um projeto maior de domi-
nação política e de extermínio dos grupos indesejados, daí porque a sua superação 
passa por um conjunto de medidas coordenadas, que têm na segurança pública ape-
nas parte do muro de contenção. A política é apenas a “guerra continuada por outros 
meios”, como assevera Foucault, e a função política é justamente reinserir essa guer-
ra de forma “silenciosa nas instituições, nas desigualdades econômicas, na lingua-
gem, e até nos corpos de uns e outros” (FOUCAULT, 2018, p. 15-16). 
2 O Ódio como Valor Moral, Projeto Político e Elemento Constitutivo do Estado
Daniel Borrillo (2010), sociólogo e jurista especializado em questões de gênero e 
sexualidade, argumenta que a homofobia não é um fenômeno novo, mas que existe há 
séculos em muitas sociedades. A perseguição e a discriminação de pessoas por causa 
de sua orientação sexual ou identidade de gênero têm sido documentadas ao longo 
da história, em diferentes épocas e culturas, porém, o conceito de homofobia, como 
entendemos hoje, é relativamente recente. O termo foi cunhado na década de 1960 
pelo psicólogo norte-americano George Weinberg para se referir ao medo, à aver-
são e ao ódio irracional contra pessoas homossexuais, conforme já referido, e a par-
tir daí foi ampliado para incluir não apenas a discriminação e a violência física, mas 
também outras formas de exclusão e marginalização, como a negação de direitos e 
o estigma social.
Essa definição agrega em si sentimentos de repulsa ou hostilidade às homos-
sexualidades, criando a representação no imaginário dos hostilizantes de que o ou-
tro é inferior ou anormal quando comparado ao que se deve esperar de alguém que 
se enquadra nos valores morais/sociais de um grupo dominante (BORRILLO, 2010). 
Essa desproporção entre o que os indivíduos são e o que a sociedade espera deles é 
um ponto divergente importante, que aumenta o abismo entre um ser ideal e um ser 
real e a tensão da coexistência dos grupos em sociedade:
A homofobia como termo para designar uma forma de preconceito e aversão às ho-
mossexualidades em geral tem se lançado na sociedade brasileira com alguma força 
política, conceitual e analítica nos últimos anos. Ainda que, do ponto de vista histó-
rico e analítico, não revele mais a complexidade das formas de hierarquização se-
xual, violência e preconceito social, é um conceito que hoje carrega um sem-núme-
ro de sentidos e fenômenos que ultrapassam a sua descrição conceitual primeira. O 
conceito tem sido utilizado para fazer referência a um conjunto de emoções nega-
tivas (aversão, desprezo, ódio ou medo) em relação às homossexualidades. No en-
tanto, entendê-lo assim implica limitar a compreensão do fenômeno e pensar o seu 
bem comum. Depois de cometer o crime, Raskólnikov é atormentado pela culpa e pelo medo de 
ser descoberto. Ao longo do livro, o autor explora temas como o isolamento, a justiça, a morali-
dade, a pobreza, a religião e a redenção.
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HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
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enfrentamento somente a partir de medidas voltadas a minimizar os efeitos de sen-
timentos e atitudes de “indivíduos” ou de “grupos homofóbicos’: deixando de lado as 
instituições sociais que nada teriam a ver com isso (BORRILLO, 2010, p. 7).
A naturalização da homofobia está ligada a diversos fatores, mas estudiosos 
destacam em grande parte as questões religiosas, como o cristianismo, que elegeu a 
heterossexualidade como o único comportamento “correto” que deveria ser adota-
do pelos professantes da fé; a única opção “normal” perante Deus (BORRILO, 2001). 
Além disso, a institucionalização do casamento monogâmico entre o homem e 
a mulher funcionou como o pacto para assegurar a procriação e a sucessão legítima 
do patrimônio18; ali também, para a glória de Deus e perfeito funcionamento da en-
grenagem social, definiram-se os “papéis de gênero”. 
Os valores e definições relacionados ao gênero são conceitos socialmente cria-
dos pelas categorias dominantes, que atribui às mulheres e aos homens papéis so-
ciais e identidades diferentes. Raramente as diferenças são neutras, ou seja, em qua-
se todas as sociedades o gênero é uma forma de estratificação social:
O gênero é um fator crítico na estruturação dos tipos de oportunidade e das hipó-
teses de vida que os indivíduos e os grupos enfrentam, influenciando fortemente os 
papéis que desempenham nas instituições sociais, da família ao Estado. Embora os 
papéis dos homens e das mulheres variem de cultura para cultura, não se conhece 
nenhuma sociedade em que as mulheres tenham mais poder do que os homens. De 
um modo geral, os papéis dos homens são muito mais valorizados e recompensados 
do que os das mulheres: em quase todas as culturas, as mulheres assumem a res-
ponsabilidade primária de educar os filhos e ocupar-se das atividades domésticas, 
enquanto os homens assumem tradicionalmente a responsabilidade de sustentar a 
família. A divisão de trabalho prevalecente entre sexos levou os homens e as mulhe-
res a assumirem posições desiguais em termos de poder, prestígio e riqueza. Apesar 
dos progressos das mulheres em países de todo o mundo, as diferenças de género 
continuam a servir de base para as desigualdades sociais (GIDDENS, 2008, p. 114).
Como bem disse Foucault, na obra História da Sexualidade (1999, p. 9), “o ca-
sal, legítimo e procriador, dita a lei”. Quaisquer atos contrários, que saíssem desse 
script, ou seja, união sem casamento, casamento sem a benção da Igreja Católica, di-
vórcio, filho fora do casamento, homoafetividade, poligamia, seriam considerados 
crimes contra as leis da natureza, dos homens e do próprio Deus. Tampouco se ad-
mitem mulheres que renunciam à “dádiva” de “serem” de um homem e homens que 
supostamente abdicam de sua virilidade e masculinidade quando são gays. 
Mas cumpre salientar que a homofobia não é uma questão puramente religiosa 
e que muitas pessoas LGBTs têm sua fé como uma fonte de conforto e apoio. Além 
disso, muitas religiões e seus líderes têm se posicionado contra a homofobia, argumen-
tando que a mensagem central de suas crenças é a do amor e da compaixão, e que 
todos devem ser tratados com respeito e dignidade. De igual modo, há ainda outras 
religiões, como o judaísmo e o islamismo, que igualmente alimentam preconceitos. 
18 Sobretudo com o advento do capitalismo. “Nesse sentido, é possível estabelecer uma estreita li-
gação entre o instituto da família (patriarcal) e a propriedade privada, e desta dinâmica, dentre 
outros fatores, emergiram as relações econômicasque deram origem à sociedade capitalista. A 
propriedade privada fez com que o homem sentisse a necessidade de reconhecer herdeiros le-
gítimos e garantir que esses bens econômicos se mantivessem de geração por geração, passa-
dos por herança” (BELIATO, 2022, p. 39). 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
32
Portanto, não se pode generalizar e é preciso entender que as atitudes homofóbicas 
são prejudiciais e discriminatórias, independentemente da justificativa que as pes-
soas utilizam para sustentá-las. Em nome de deuses e com base em interpretações 
equivocadas e convenientes de textos sagrados, muita violência e assassinatos foram 
praticados ao longo da história. 
Compreender o fenômeno da homofobia está muito além de criticar a rela-
ção individual entre os componentes de um determinado grupo social e subcultural 
ou entre os padrões culturais ditados pela parte dominante. Repise-se, é preciso uma 
abordagem considerando também as instituições, porque é nelas que se revelam os 
espaços de produção e reprodução de valores, discursos e práticas distorcidos, deter-
minando quais serão as possibilidades legítimas de expressões sexuais e de gêneros.
Para Dadico (2022), ancorada no referencial teórico da filosofia política, o ódio 
é elemento constitutivo do Estado Moderno, ou seja, encontra-se entranhado nas 
suas próprias dinâmicas de poder e, portanto, estrutura suas relações. Nesse senti-
do, ele está para além das emoções e das pulsões de cada indivíduo, mas em cada es-
trutura social, institucional, estatal, moldada e organizada a partir do ódio. 
Sendo, então, a estrutura política determinante para a existência/sobrevivên-
cia de determinados grupos, é fácil deduzir que alguns serão escolhidos pelo Estado 
para “viver”, para serem destinatários de suas políticas públicas, enquanto outros se-
rão deixados para “morrer”.
Consoante Mbembe (2018), o poder político não só nos limita, estabelece nor-
mas sobre como devemos viver e conviver, como também decide, toma medidas de 
quem deve morrer e de como deve morrer (necropolítica). Baseia-se em uma lógi-
ca de extermínio, na qual certos grupos são considerados dispensáveis ou inferiores 
e, portanto, merecem ser controlados ou eliminados. A homofobia, como visto, tam-
bém parte dessa mesma lógica de exclusão e marginalização de pessoas que são vis-
tas como diferentes ou anormais pela sociedade, conforme referido. Dessa forma, a 
LGBTfobia pode ser encarada como uma manifestação da necropolítica, uma vez que 
se trata de violência que se concentra na gestão da vida e da morte de indivíduos ou 
grupos com base em sua orientação sexual e/ou identidade de gênero. 
Necropolítica é fazer morrer, produzir a morte, mas também gerir condições 
mortíferas para que determinadas pessoas estejam permanentemente em situações 
de risco de morte (FRANCO, 2021, p. 02).
Dito isso, é preciso ter na devida conta que a população LGBTI+ nunca teve um 
momento de trégua na história. A depender do contexto político e social, ela foi mais 
ou menos perseguida, mas nunca esteve a salvo. Há pelo menos setenta países que 
ainda consideram a homossexualidade/homoafetividade como crime e em pelo me-
nos onze deles se pune a conduta com pena capital19. 
O documentário “Welcome to Chechnya: Inside The Russian Republic’s Dea-
dly War on Gays” (“Bem-vindo à Chechênia: por dentro da guerra mortal da repúbli-
ca russa contra os gays”), que participou do Festival de Sundance em janeiro de 2020, 
por exemplo, denunciou a política de extermínio de homossexuais que está sendo 
19 “Em seis países, a lei estabelece claramente a pena capital para os atos sexuais consensuais en-
tre pessoas do mesmo sexo: Arábia Saudita, Brunei, Iêmen, Irã, Mauritânia e Nigéria. [...] No caso 
da Nigéria, ela é executada apenas em 12 Estados do norte do país, enquanto, em Brunei, existe 
atualmente uma moratória. Já em outros cinco países - Afeganistão, Catar, Emirados Árabes Uni-
dos, Paquistão e Somália - a pena de morte é possível devido à interpretação da sharia, ou lei is-
lâmica, mas não é uma determinação legal absoluta e pode ser contestada [...]” (ROSAS, 2023).
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HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
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desenvolvida na Chechênia. Os homens gays estão sendo detidos e levados para pri-
sões secretas, onde são torturados e mortos. Além disso, há um incentivo para que 
as próprias famílias matem seus familiares gays, chamados “assassinatos de honra” 
(HASAN, 2020).
No Brasil, no período colonial, a homossexualidade era vista como um crime e 
um pecado, e era punida com prisão e castigos físicos. Com a chegada da família real 
portuguesa em 1808, as leis brasileiras foram atualizadas, mas ainda criminalizavam 
a homossexualidade até 1830, com o advento do Código Criminal do Império, que sig-
nificou certo avanço à época por não mais prever expressamente a criminalização da 
sodomia20. Todavia, “a ausência de uma rubrica penal direta não implicava nem na 
ausência total de punição, a qual poderia ocorrer com base em outros artigos, nem 
na falta de perseguição social” (DUARTE, 2022, p. 197). Pelo menos quatro artigos do 
Código Penal de 1890 permitiam punir a sedução entre homens em certos espaços, a 
prostituição masculina e o travestimento – compreendidos aqui como formas de in-
dicar facilitação para o consórcio sexo-afetivo com pessoas do mesmo gênero. Logo, 
como ficará mais evidente, verifica-se que os avanços legislativos, por si só, não têm 
o condão de transformar a realidade social e apaziguar os conflitos; agem, muitas ve-
zes, como um analgésico contra um câncer. 
Os avanços mais significativos são percebidos a partir da década de 1960, quan-
do surgiram os primeiros movimentos organizados de defesa dos direitos LGBTs no 
Brasil, a exemplo da criação da primeira organização nesse segmento, em 1969, o Gru-
po Somos, em São Paulo, a partir do qual diversos outros foram criadas em diferentes 
cidades.
Nos anos 1970 e 1980, o Brasil viveu sob uma ditadura militar, que reprimia to-
dos os tipos de movimentos sociais. Nesse período, as pessoas LGBTs eram alvo de 
perseguições e violência por parte das forças de segurança, mas apesar disso, os mo-
vimentos em prol da causa continuaram a crescer e a se organizar, oferecendo resis-
tência até o período de redemocratização do país, na década de 1980, momento em 
que foram criadas algumas leis de proteção aos seus direitos. 
Em 1985, foi criado o Grupo Gay da Bahia, que até hoje realiza o monitoramen-
to anual de casos de violência contra essa comunidade no Brasil. Em 1988, a Cons-
tituição Federal proibiu a discriminação por orientação sexual, ao estabelecer que 
todas as pessoas têm direito à igualdade perante a lei, sem distinção de qualquer na-
tureza, o que inclui a orientação sexual. 
Embora a Carta Magna não mencione especificamente a homofobia, esses 
princípios gerais são suficientes para fundamentar a proteção dos direitos das pes-
soas homossexuais, o que foi reforçado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao reco-
nhecer, em 2019, que a homofobia e a transfobia são formas de racismo social, que 
devem ser punidas pela lei. Com isso, as práticas discriminatórias por orientação se-
xual ou identidade de gênero passaram a ser enquadradas na Lei nº 7.716/1989, que 
já previa a punição para o racismo, que será abordado no tópico seguinte.
Nos anos 1990, houve avanços importantes, sendo criado em 1995 o Conselho 
Nacional de Combate à Discriminação, que luta contra a discriminação racial, religiosa, 
20 A prática de atos homossexuais era designada anteriormente como “sodomia” (RIOS, 2001, p. 279). 
As Ordenações Filipinas previam o crime de “pecado de sodomia”: “Toda pessoa, de qualquer qua-
lidade que seja, que pecado de sodomia por qualquer maneira cometer, seja queimado e feito por 
fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória, e todos os seus bens 
sejamconfiscados para a Coroa de nossos Reinos, posto que tenha descendência; e pelo mesmo 
caso seus filhos e netos ficarão inabilitados e infames, assim como os daqueles que cometem cri-
me de Lesa Majestade” (PORTUGAL, 1870). 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
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de gênero e orientação sexual e, em 1997, o Grupo de Trabalho LGBT+, que tem como 
objetivo elaborar políticas públicas para a comunidade em questão. Ainda em 1990, 
a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista interna-
cional de doenças. A classificação era um estigma que afetava a saúde mental e física 
de pessoas LGBTI+, que eram submetidas a tratamentos psiquiátricos desnecessários, 
muitas vezes baseados em terapias de conversão prejudiciais e ineficazes. Represen-
tou uma mudança importante na forma como a sexualidade humana é vista, reconhe-
cendo que se trata de uma orientação sexual como outra qualquer, e não uma doença 
a ser tratada ou curada. Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia proibiu psicólogos 
de oferecerem serviços que propunham a terapia de reversão sexual, popularmen-
te conhecida como “cura gay”. Em 2018, um magistrado da Justiça Federal do Distrito 
Federal havia concedido autorização, em uma ação popular, para psicólogos tratarem 
pessoas LGBTs como doentes, em terapias de reversão sexual, mas o Supremo Tribu-
nal Federal extinguiu definitivamente tal ação em 2020, fixando o entendimento de que 
não cabe aos profissionais de psicologia o oferecimento de práticas desse tipo, uma vez 
que a homossexualidade não é doença ou patologia.
Já nos anos 2000 em diante foram criadas outras leis que reconheceram direi-
tos civis importantes, com destaque para 2011, quando o Supremo Tribunal Federal 
reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar, equiparando-a, por unani-
midade (10 votos), à união estável entre homem e mulher (Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade nº 4277 e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132), 
em homenagem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da au-
todeterminação, da igualdade, do pluralismo, da intimidade, da não discriminação, e 
da busca da felicidade. Também em 2011, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça 
reconheceu, por maioria de votos (4x1), ser possível a habilitação por homossexuais 
para o casamento diretamente no Cartório de Registro Civil, sem precisar requerer na 
Justiça a conversão da união estável homoafetiva em casamento (Recurso Especial nº 
1.183.378-RS). De lá para cá, entretanto, não houve alteração quanto à lei que permi-
te o casamento civil entre casais homoafetivos.
Cabe destacar a inovação trazida pela Lei nº 13.718 em 2018, que criou a figu-
ra do “estupro corretivo” (artigo 226, inciso IV, alínea “b”), causa de aumento de pena 
dos crimes de estupro (artigo 213) e estupro de vulnerável (artigo 217-A), do Código 
Penal, quando o estupro for cometido para “controlar o comportamento social ou se-
xual da vítima”, tratando-se, portanto, de majorante vinculada ao motivo do crime.
Apesar de alguns avanços legislativos, ainda somos um país essencialmente vio-
lento; líder em LGBTfobia21, o 5º em número de feminicídios22, extremamente racista 
e xenofóbico. Esse cenário foi agravado pela conjuntura sociopolítica instalada com a 
execução do projeto necropolítico bolsonarista de 2019-2022, que, entre outras conse-
quências nefastas, ensejou o aumento dos crimes de ódio em todo o país, por meio es-
pecialmente da disseminação de discurso de ódio23 pela internet e por grupos de co-
municação instantânea, em especial pelos aplicativos WhatsApp e Telegram24. 
21 Pelo 14º ano, o Brasil é o país que mata pessoas trans: foram 131 em 2022 (VASCONCELOS, 2023).
22 Quem defende as mulheres na capital do país? (BRASIL DE FATO, 2022).
23 De acordo a UNESCO, discurso de ódio se refere frequentemente a “expressões em favor da inci-
tação a causar dano (especialmente discriminação, hostilidade ou violência), em função da iden-
tificação da vítima como pertencente a determinado grupo social ou demográfico. Pode incluir, 
por exemplo, discursos que incitam, ameaçam ou causam a prática de atos de violência. No en-
tanto, para alguns, este conceito também inclui as expressões que alimentam um ambiente de 
preconceito e intolerância, na medida em que tal ambiente pode incentivar a discriminação, hos-
tilidade e ataques violentos contra certas pessoas” (CIDH, 2015, p. 148).
24 Crimes de ódio têm crescimento de até 650% no primeiro semestre de 2022 (SAFERNET, c2023).
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HOMOFOBIA: CRIME E CASTIGO PARA ALÉM DA SEGURANÇA PÚBLICA
Amanda Tavares Borges | Araceli Martins Beliato | Camilla Hage
O cenário atual dos crimes de ódio contra a população LGBT configura-se como fenô-
meno coletivo, embora não organizado, que encontra nos discursos propagados por 
representantes políticos e figuras públicas da sociedade civil algum modo de susten-
tação. O efeito do discurso sobre os autores do crime é autorizar-lhes a pulsão, di-
minuir-lhes momentaneamente a própria angústia e projetar no corpo do outro, do 
estranho-familiar, o objeto odioso ou perigoso a ser eliminado do convívio coletivo.
Nesse sentido, os discursos de ódio são reflexos, em alguma medida, da construção 
do imaginário social sobre as sexualidades, onde num contexto de maior fragilidade 
política ou de grandes influências de discursos totalitários, como o discurso religio-
so e militar, a violência contra a população LGBT parece não apenas ser “legitimada”, 
mas “endossada” (SERRA, 2019, p. 23).
Mais uma vez o comportamento em grupo ganha destaque. Dessa vez trans-
plantado para o ciberespaço, onde milhares de pessoas podem, ao mesmo tempo, 
coordenar ou receber coordenadas de ataques (de ofensas verbais à incitação de vio-
lência e mandado para atos terroristas) contra os grupos vulneráveis e inimigos polí-
ticos, daí a urgente necessidade de reconfiguração do modelo de enfrentamento às 
novas ameaças que põem em risco os bens juridicamente tutelados e até o próprio 
Estado Democrático de Direito.
Como bem assinala Dadico (2022, p. 76), “convém relembrar, como reforço ao 
argumento de que o ódio permanece nas estruturas de poder, mesmo nas democracias, 
que o regime nazista ascendeu ao poder por meio de eleições democráticas”. Sentin-
do-se não só legitimados, mas encorajados por discursos fascistas de autoridades e 
figuras públicas, os crimes de ódio dispararam. 
Consoante relatório de mortes violentas de LGBTI+ no Brasil do Grupo Gay da 
Bahia (2021), 300 pessoas morreram de forma violenta no Brasil em 2021, 8% a mais 
do que no ano anterior: 276 homicídios (92%) e 24 suicídios (8%). 
É a primeira vez que o Sudeste concentra tantos óbitos: mais do que a soma total 
das demais regiões, Sul, Norte e Centro-Oeste. Não há regularidade sociológica que 
explique essa e muitas das ocorrências, como também, por exemplo, a redução das 
mortes nos meses de primavera. São Paulo é o estado onde ocorreu o maior núme-
ro de mortes, 42 (14%), seguido da Bahia com 32, Minas Gerais com 27 e Rio de Ja-
neiro, 26. Acre e Tocantins notificaram apenas um assassinato e Roraima foi o úni-
co estado sem registro. A capital mais perigosa para o segmento LGBTI+ em 2021 foi 
Salvador (12 mortes), seguido de São Paulo, com 10 ocorrências. Salvador, com apro-
ximadamente 3 milhões de habitantes, registrou duas mortes a mais que São Paulo, 
12 milhões, risco portanto de um LGBT baiano ser vítima de morte violenta é 3\4 su-
perior ao de um paulistano (OLIVEIRA; MOTT, 2022, p. 2-3). 
Já em 2022, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública constatou que as agres-
sões contra a população LGBTI+ aumentaram 35,2%; os homicídios, 7,2% e os estu-
pros, 88,4% em relação ao ano anterior (FBSP, 2022). 
Tais dados alarmantes mostram como o Brasil se tornou campo fértil para as 
práticas violentas, que reverberam nas questões mais cotidianas. Há pouco espaço 
para o diálogo. Qualquer indisposição, por mais insignificante queseja, é logo resol-
vida com violência, que voltou a ser prima ratio. 
Sempre ao se falar de estatísticas criminais é relevante pontuar a problemática 
das cifras ocultas, fenômeno que ocorre quando as vítimas, temendo retaliações de 
agentes públicos ou estigmatização do grupo social em que estão inseridas, não pro-
curam as instituições para denunciar os crimes sofridos (OLIVEIRA; MOTT, 2022). Nos 
Crimes de Ódio e Intolerância: Perspectivas para a Efetivação dos Direitos Humanos no Brasil
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casos de homofobia, não só é severa a subnotificação, como existe um contínuo pro-
cesso de apagamento dos casos que são notificados que pode ocorrer, por exemplo, 
quando um homicídio ou lesão corporal, por exemplo, acabam por figurar nas esta-
tísticas oficiais sem o marcador de LGBTfobia. O atendimento prestado nas delega-
cias de polícia, infelizmente, ainda é um dos principais motivos que desestimulam as 
vítimas a fazerem a denúncia (SOUZA et al., 2013).
Buarque e Cretton, da ONG Words Heal the World, apontam possíveis explicações 
para a subnotificação de crimes de ódio:
POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES PARA A SUBNOTIFICAÇÃO DE CRIMES DE ÓDIO
DO PONTO DE VISTA DA 
POLÍCIA
DO PONTO DE VISTA DAS 
VÍTIMAS DO PONTO DE VISTA LEGAL 
Ausência de políticas dentro 
da esfera policial para regis-
trar crimes de ódio 
Acreditam que não vai “dar 
em nada” 
Lei do crime de ódio não co-
bre certas formas de discri-
minação
Falta de procedimentos for-
mais para denunciar crimes 
de ódio 
Têm medo de registrar o crime 
na polícia 
Crimes de ódio não são per-
cebidos como uma questão 
importante no país 
Têm medo de retaliação 
Falta de treinamento policial 
com relação à identificação e 
ao registro de crimes de ódio 
Falta de conhecimento sobre 
a lei de crimes de ódio 
Algumas delegacias podem 
desencorajar denúncias de 
crimes de ódio devido a pre-
ocupações com sua reper-
cussão 
Se sentem muito envergonha-
das para registrar o crime 
Alguns policiais podem fa-
lhar no registro dos crimes 
porque possuem a mes-
ma visão preconceituosa do 
agressor 
Estão tão traumatizadas que 
negam o crime 
Medo de revelar sua orienta-
ção sexual, etnia, religião ou 
afiliação política
Medo de ser presa ou depor-
tada 
São desencorajadas pela po-
lícia ou por outras autorida-
des a denunciar o crime ou 
registrar uma queixa
Fonte: Buarque e Cretton (2021)

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