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LFG 2012 – Intensivo II – Direito Processual Penal – Prof. Renato Brasileiro	 Pág. 186
DIREITO PROCESSUAL PENAL (Intensivo II)
AULA 01 – 30/07/12
 Matéria muito importante para MP! 
QUESTÕES PREJUDICIAIS
1) Conceito:
Questão prejudicial é a questão com valoração penal ou extrapenal que deve ser enfrentada pelo juiz antes de decidir o mérito principal.
Ex.1: Crime do art. 244, do CP - abandono material. 
Art. 244, CP - Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo.
Suponha-se que o réu está sendo processado por abandono material. Ele, em sua defesa, alega que não pode responder por esse crime, pois a vítima não seria seu filho. Ele diz, ainda, que tramita no juízo cível uma ação negatória de paternidade. Então, de um lado, há o abandono material. Mas, de outro lado, discute-se a questão da paternidade. Logo, a ação de paternidade passa a funcionar como uma questão prejudicial. O juiz só pode condenar Renato por abandono material se ele reconhecer, no exemplo, que a vítima é seu filho. O crime é a “questão prejudicada”, pois o mérito principal só poderá ser enfrentado após a análise da prejudicial.
Ex.2: Lei 9.613/96 – Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
A lei de lavagem de capitais, hoje, passou a ser de terceira geração. Qualquer infração penal pode dar origem à lavagem. Então, de um lado, tem-se o crime de lavagem de capitais e, de outro lado, tem-se uma infração penal. Só se pode condenar o agente por lavagem de capitais se se conseguir demonstrar que o dinheiro é produto de infração penal anterior. Então, o crime anterior é a questão prejudicial e a lavagem de capitais é a questão prejudicada.
2) Natureza Jurídica das Questões prejudiciais: 
A natureza jurídica das questões prejudiciais é controvertida.
1ª Corrente) Uma primeira corrente – minoritária - diz que a questão prejudicial funciona como uma elementar da infração penal. Entre outros, essa é a posição de Denilson Feitosa.
Obs: Elementares são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar uma atipicidade absoluta (o fato deixa de ser crime) ou relativa (há uma desclassificação do delito). Já as circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica, podendo aumentar ou diminuir a pena. Contudo, não interferem no crime (ex. agravantes e atenuantes).
O fundamento dessa primeira corrente é o art. 92, do CPP, que fala sobre a “existência” da infração, de modo que se não houver a prejudicial, não haverá crime.
Art. 92, CPP - Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.
2ª Corrente) É a corrente que prevalece, dizendo que a questão prejudicial funciona como uma espécie de conexão, havendo um vínculo, um elo que a liga com a questão prejudicada. Essa é a posição de Mirabete, de Antônio Scarance Fernandes, etc.
3) Características das Questões Prejudiciais:
a) Anterioridade: A questão prejudicial deve ser apreciada antes da resolução do mérito principal. 
b) Essencialidade/ interdependência ou necessariedade: Há uma relação lógica entre a questão prejudicial e a questão prejudicada, cuja existência depende daquela.
Ex. Crime de receptação – Deve-se provar que o agente sabe que a coisa é proveniente de crime. Isso deve ficar provado antes de se analisar o crime, e ter relação com a receptação.
Art. 180, CP - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
c) Autonomia: A questão prejudicial pode ser objeto de uma ação autônoma. Em todos os exemplos dados, as questões prejudiciais podem ser apreciadas e decididas em um processo autônomo.
Ex. Caso do abandono material – a questão da paternidade pode estar sendo analisada no cível, autonomamente.
Ex. Lavagem de Capitais e receptação – o crime antecedente pode ser apurado em processo autônomo.
4) Distinção entre questões prejudiciais e questões preliminares:
	Questões Prejudiciais
	Questões Preliminares
	Estão relacionadas ao direito material. 
	Estão relacionadas ao direito processual.
	Relacionam-se à própria existência da infração penal.
	Dizem respeito à ausência de pressupostos processuais ou das condições da ação. 
Ex. Ilegitimidade da parte acusadora, incompetência do juiz, etc.
	São dotadas de existência autônoma, podendo ser objeto de um processo distinto daquele referente à questão prejudicada.
	Não são dotadas de existência autônoma.
	Podem ser apreciadas pelo juízo penal ou pelo juízo extrapenal.
	Só podem ser analisadas pelo juízo penal (pois não possuem existência autônoma).
	Condicionam o conteúdo das decisões referentes à questão prejudicada. O juiz fica, de certa forma, vinculado àquilo que foi dito na questão prejudicial.
	Impedem as decisões sobre as questões principais. Ex. juiz é considerado suspeito e, por isso, não pode apreciar a demanda.
5) Classificação das questões prejudiciais:
5.1) Quanto à natureza:
a) Questão prejudicial homogênea ou comum ou imperfeita: 
A questão prejudicial pertence ao mesmo ramo do direito que a questão prejudicada. 
Ex. Lavagem de capitais e a outra infração penal. 
Ex. Receptação.
Nem o art. 92, nem o art. 93, do CPP tratam das questões prejudiciais homogêneas.
Art. 92, CPP - Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. (Questão prejudicial heterogênea, ligada ao estado civil das pessoas).
Art. 93, CPP - Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. (Questão prejudicial heterogênea, que não ligada ao estado civil das pessoas, mas de qualquer situação, desde que cível).
Obs: Então, o CPP, nos art.s 92 e 93 não trata das prejudiciais homogêneas. Na verdade, o CPP resolve o problema das prejudiciais homogêneas através da aplicação das regras de conexão probatória ou instrumental, conforme art. 76, III, do CPP.
Art. 76, CPP - A competência será determinada pela conexão:
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
O ideal é julgar o crime antecedente com o crime consequente. Mas essa reunião de processos não é obrigatória (pois a prejudicial tem existência autônoma).
b) Questão prejudicialheterogênea ou jurisdicional ou perfeita: 
É a prejudicial que versa sobre outro ramo do direito.
Ex. Bigamia e validade do primeiro casamento.
Bigamia - Art. 235, CP - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento.
Ex. Furto - Art. 155, do CP – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Suponha-se que a pessoa alegue que não praticou o crime porque, na realidade, tinha comprado o objeto. Então, a coisa não era alheia. Será analisada, então, a compra do objeto no juízo cível.
5.2) Quanto à competência:
a) Questão prejudicial não devolutiva: É aquela que deve ser apreciada no próprio juízo criminal. Elas correspondem às prejudiciais homogêneas.
b) Questão prejudicial devolutiva: Ela subdivide-se em:
b.1) Questão prejudicial devolutiva Absoluta ou Obrigatória: Obrigatoriamente serão analisadas por um juízo extrapenal. Correspondem às prejudiciais heterogêneas relativas ao Estado Civil das pessoas (art. 92, do CPP). 
b.2) Questão prejudicial devolutiva Relativa ou Facultativa: São aquelas que, eventualmente, podem ser apreciadas pelo juízo extrapenal. Correspondem às prejudiciais heterogêneas que não dizem respeito ao estado civil das pessoas (art. 93, do CPP).
5.3) Quanto aos efeitos:
a) Questões prejudiciais necessárias (ou prejudiciais em sentido estrito): São aquelas que sempre acarretam a suspensão do processo. Essas são as questões prejudiciais devolutivas absolutas. Toda questão prejudicial heterogênea relativa ao estado civil das pessoas é analisada pelo juízo extrapenal. Logo, obrigatoriamente, ela levará à suspensão do processo.
b) Questão prejudicial em sentido amplo: Nem sempre acarreta a suspensão do processo, já que, tais questões podem ser apreciadas pelo juízo penal. São as questões prejudiciais não devolutivas (prejudiciais homogêneas) e as devolutivas relativas.
5.4) Quanto ao grau de influência sobre a questão prejudicada:
a) Prejudicial Total: É aquela que tem o condão de fulminar a existência do crime. A sua solução pode culminar na inexistência do crime. 
Ex. Bigamia e validade do primeiro casamento.
b) Prejudicial Parcial: É aquela que se limita ao reconhecimento de uma circunstância, deixando incólume a existência da infração penal. Nos arts. 92 e 93, do CPP, o legislador, ao tratar da questão prejudicial, diz que a prejudicial só será reconhecida se ela repercutir na existência da infração penal. Por isso, essa classificação não é muito trabalhada: segundo a doutrina, o CPP só autoriza a prejudicial se ela repercutir na existência da infração. Então, a prejudicial parcial não interessaria ao processo penal, mas somente a prejudicial total. Só se pode suspender o processo por conta de uma prejudicial se isso puder repercutir na existência da infração penal.
Então, temos a seguintes classificações das prejudiciais:
* Parcial – Não é relevante para o processo penal.
6) Sistemas de Solução das Questões Prejudiciais:
Os sistemas pensados pela doutrina para a solução das questões prejudiciais são:
6.1) Sistema da cognição incidental ou sistema do predomínio da jurisdição penal: Por força desse primeiro sistema, o juiz penal sempre terá competência para apreciar a prejudicial, ainda que pertencente a outro ramo do direito. O lado bom desse sistema é que ele oferece uma maior celeridade. O ponto negativo desse sistema, é que o juiz criminal resolverá todas as questões. Então, por ele, poderá haver uma violação ao princípio do juiz natural.
6.2) Sistema da prejudicialidade obrigatória: Por esse sistema, o juiz criminal jamais será competente para apreciar prejudicial referente a outro ramo do direito. O aspecto positivo desse sistema é que ele preserva o juiz natural. O aspecto negativo é que ele prejudica a celeridade do processo.
6.3) Sistema da prejudicialidade facultativa: Por conta desse sistema, o juiz penal poderá ou não remeter a decisão sob a prejudicial heterogênea ao juízo extrapenal.
6.4) Sistema eclético ou misto: É o sistema adotado pelo CPP. Esse sistema resulta da fusão do sistema da cognição da prejudicialidade obrigatória com o sistema da prejudicialidade facultativa. 
Quanto às prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas, vigora o sistema da prejudicialidade obrigatória.
Quanto às demais questões prejudiciais heterogêneas, vigora o sistema da prejudicialidade facultativa.
7) Questão Prejudicial Devolutiva Absoluta (relativas ao estado civil das pessoas):
7.1) Pressupostos que autorizam o reconhecimento de uma prejudicial absoluta:
a) Deve estar ligada à existência da infração: 
Essa questão prejudicial só poderá ser reconhecida se estiver relacionada à existência da infração. No caso de meras circunstâncias agravantes e atenuantes não haverá suspensão do processo.
 Pergunta de Concurso: Crime de roubo foi praticado pelo filho contra o pai. Durante o processo, o acusado diz que não é a vítima não é seu pai e que tramita no cível uma negatória de paternidade. Essa questão é prejudicial ou não?
R: No exemplo, não é prejudicial. Isto porque, roubo praticado pelo filho contra o pai, a questão da paternidade não interfere na existência do crime, pouco interessando se o roubo foi praticado contra o pai ou não. O crime de roubo continuará existindo. Se a vítima for pai, isso caracterizará mero crime contra ascendente, conforme art. 61, II, e, CP.
b) Deve se tratar de uma controvérsia séria e fundada: O juiz não pode suspender o processo por conta de qualquer coisa.
c) Deve ser uma questão prejudicial heterogênea – relacionada a outro ramo do direito – relativa ao estado civil das pessoas: Só se pode falar em prejudicial absoluta se esta estiver relacionada ao Estado civil das pessoas.
Ex. Questões relacionadas à validade do casamento, paternidade, filiação, questões relacionadas à idade das pessoas (STF, HC 77.278).
EMENTA STF, HC 77.278: Menoridade penal: força probatória do registro civil de nascimento, só elidível no juízo cível. 1. A idade compõe o estado civil da pessoa e se prova pelo assento de nascimento, cuja certidão - salvo quando o registro seja posterior ao fato - tem sido considerada prova inequívoca para fins criminais tanto da idade do acusado quanto da vítima: precedentes. 2. Conseqüente incidência não só do art. 155 - que, quanto ao estado das pessoas, faz aplicáveis no juízo penal as restrições à prova estabelecidas na lei civil - mas também o art. 92 C.Pr.Penal, que, ao disciplinar as questões prejudiciais heterogêneas, tornou obrigatória a suspensão do processo penal para que se resolva no juízo civil a controvérsia sobre o estado civil da pessoa, de cuja solução dependa a existência do crime e, sendo este perseqüível por ação penal pública, legitimou o Ministério Público para o processo civil necessário. 3. Até que se obtenha, por decisão do juízo competente, a retificação do registro civil, a menoridade do acusado, nele assentada, prevalece sobre eventuais provas em contrário e impede, por ilegitimidade passiva, a instauração contra ele de processo penal condenatório.
7.2) Consequências do reconhecimento de uma prejudicial devolutiva absoluta:
a) Inquirição das testemunhas e produção de outras provas de natureza urgente:
Cuidado!!! Art. 92, do CPP x art. 366, do CPP.
	Art. 92, CPP
	Art. 366, do CPP
	Art. 92, CPP - Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. (Aqui, a oitiva das testemunhas é obrigatória, pois sabe-se que a suspensão do processo irá demorar). A prova testemunhal deve ser obrigatoriamente produzida.
	Art. 366, CPP - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretarprisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Aqui, a prova testemunhal não deverá ser obrigatoriamente realizada). 
Súm. 455, STJ – A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366, do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo. (Criticar essa súmula em concurso do MP).
O simples decurso do tempo não autoriza a oitiva das testemunhas.
	
b) Suspensão do processo e da prescrição: Essa suspensão irá durar até o trânsito em julgado da decisão cível (art. 92 e art. 116, I, do CP).
 (
* Outras causas 
que acarretam a S
uspens
ão do processo 
E
 da 
Prescrição:
A primeira é o reconhecimento da 
questão prejudicial (art. 116, I, CP);
Causas impeditivas da prescrição
Art. 116 - 
Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: 
I -
 enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime;
Art. 366, do CPP – Trata do acusado citado por edital que não comparece e nem constitui advogado;
Art. 89, da Lei 9.099/95 – Suspensão condicional do processo.
Art. 89
, Lei 9.099/95 - 
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 6º 
Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
Art. 83, §§2º e 3º, da Lei 9.430/96 - Parcelamento do débito tributário antes do recebimento da denúncia. 
Art. 83
, Lei 9.430/96 - 
A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos 
arts
. 1º e 2º da Lei no 8.137/90
, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos 
arts
. 168-A
 e 
337-A do Código Penal
, será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente
. 
(Redação 
pela Lei 1
2.350
/1
10)
§ 1
o
 
Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal para fins penais somente será encaminhada ao Ministério Público após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento
. 
(Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
§ 2
o
 
É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal
. 
(Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
§ 3
o
 
A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva
. 
(Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
Art. 53, §§3º e 5º, da CF – Recebida a denúncia contra parlamentar, a casa pode mandar suspender o processo, através do voto da maioria da casa.
Art. 53
, CF - 
Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos
. 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 3º 
Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.
 
§ 5º 
A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
Atenção
! Não se pode suspender a prescrição sem previsão legal, pois é matéria de direito penal, prejudicial ao acusado.
)
 (
* 
C
ausas 
que acarretam a S
uspens
ão do processo, 
MAS NÃO
 
da 
Prescrição:
Doença mental 
superveniente
 à infração penal (art. 152, do CPP).
Vale ressaltar que, aqui, não se pode usar a analogia para se suspender a prescrição, pois isso prejudicaria o acusado, o que é vedado (vedação da analogia 
in malam partem
).
Art. 152, CPP - 
Se 
se
 verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2
o
 do art. 149.
§ 1
o
 
O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado.
§ 2
o
 
O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.
)
c) Intervenção do MP no processo cível:
O processo criminal ficará suspenso, assim como a prescrição. O MP (não necessariamente o mesmo promotor) deverá intervir no processo cível. Então, em virtude do princípio da obrigatoriedade, essa intervenção poderá se dar mesmo nos casos em que o MP não tenha legitimidade originária no cível.
Art. 92, CPP - Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
8) Questão Prejudicial Devolutiva Relativa (art. 93, do CPP):
Art. 93, CPP - Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.
8.1) Pressupostos que autorizam o reconhecimento de uma prejudicial relativa:
a) Deve estar ligada à existência da infração;
b) Deve-se estar diante de uma prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas: Pode ser sobre qualquer matéria (ex. administrativo, civil, tributário, trabalhista), desde que não diga respeito ao estado civil das pessoas.
Ex. Exercício arbitrário das próprias razões (STF, HC 75.169). Nesse caso, o cidadão teria retomado o seu imóvel valendo-se da força. A discussão era se o agente podia se valer do desforço imediato ou não. O STF entendeu que era uma questão não ligada ao estado civil das pessoas (posse).
EMENTA HC 75.169: Exercício arbitrário das próprias razões: inexistência: manutenção pelo agente de sua posse contra quem -conforme sentença civil transitada em julgado - jamais a detivera. 1. Constitui elemento normativo do tipo do exercício arbitrário das próprias razões (CPen., art. 345) o não enquadrar-se o fato numa das hipóteses excepcionais em que os ordenamentos modernos, por imperativos da eficácia, transigem com a autotutela de direitos privados, que, de regra, incriminam: o exemplo mais freqüente de tais casos excepcionais de licitude da autotutela privada está na defesa da posse, nos termos admitidos no art. 502 C.Civil. 2. Desse modo, saber quem detinha a posse no momento do fato constitui questão prejudicial heterogênea da existência daquele crime atribuído ao agente que pretende ter agido em defesa da sua posse contra quem jamais a tivera. 3. A eficácia no processo penal de sentença civil transitada em julgado, que haja decidido questão prejudicial heterogênea, não depende de que, para aguardá-la, tenha havido suspensão do procedimento criminal.
c) Deve haver uma ação cível em andamento.
d) Deve ser uma questão de difícil solução: O juiz criminal não deve suspender o processo em razão de uma bobagem.
e) Ausência de limitações quanto à prova fixadas pela lei civil: No direito civil, existem limitações quanto à prova (ex. art. 227, do CC). No processo criminal, não se encontra limitaçãosemelhante a essa. Então, no processo penal é possível utilizar prova testemunhal para provar negócio superior a 30 salários mínimos. 
Obs: No processo penal, vigoram os princípios da busca da verdade e da liberdade quanto aos meios de prova. Por isso, se houver restrições à prova, fixadas na lei civil, não é possível o reconhecimento da prejudicial, pois haveria evidente prejuízo se a solução da controvérsia tivesse que ocorrer no cível.
8.2) Consequências:
a) Inquirição de testemunhas e produção de outras provas urgentes.
b) Suspensão do processo e da prescrição: Cuidado! Na prejudicial relativa, o juiz criminal determina o prazo de suspensão, que pode ser prorrogado (diferentemente da prejudicial absoluta, em que o processo fica suspenso até o transito em julgado da decisão no cível). 
Aqui, é diferente: o juiz marca um prazo para suspender esse processo (p.ex. 2 anos, 4 anos). Findo esse prazo, caso não haja uma decisão no cível, o juiz penal retomará a competência para apreciar a prejudicial, ainda que incidentalmente. Então, aqui, a questão prejudicial não estará acobertada pela coisa julgada.
c) Intervenção do MP no cível.
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AULA 02 – 15/08/12
9) Recurso Cabível:
Contra a decisão que determinar a suspensão do processo, caberá RESE (Art. 581, XVI, CPP).
Art. 581, CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
Cuidado! Esse RESE só será cabível num determinado sentido, ou seja, contra uma decisão que determina a suspensão do processo (e não contra a decisão que nega). A decisão que não determinar a suspensão do processo é irrecorrível, de acordo com o CPP (art. 93, §2º, CPP).
Art. 93, §2º, CPP - Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
Mas, vale ressaltar que havendo prejuízo à liberdade de locomoção, caberá HC.
10) Decisão Cível e sua repercussão no âmbito criminal:
A decisão no âmbito cível faz coisa julgada no âmbito criminal? Faz coisa julgada a questão cível não relacionada ao estado civil das pessoas no âmbito criminal?
A decisão proferida pelo juízo penal, quanto às questões prejudiciais heterogêneas não relativas ao estado civil das pessoas, não faz coisa julgada no âmbito cível, pois a apreciação dessa controvérsia é feita de maneira incidental e não está acobertada pelos limites objetivos da coisa julgada. Se o juiz criminal resolver enfrentar uma questão heterogênea relacionada ao estado civil das pessoas, essa questão decidida não fará coisa julgada no âmbito cível (essa análise é feita de maneira incidental).
Por outro lado, a decisão do juízo cível acerca de questão prejudicial heterogênea, relativa ou não ao estado civil das pessoas, faz coisa julgada no âmbito criminal, pouco importando se houve ou não a suspensão do processo criminal. O que deve ser observado é que o juízo cível, quando provocado, o foi exatamente para analisar e decidir sobre essa questão cível.
11) Princípio da suficiência da ação penal:
Segundo a doutrina, em algumas situações, o processo penal, por si só, já é suficiente para dirimir toda a controvérsia, não sendo necessário remeter as partes ao cível para a solução da questão prejudicial. Esse é o conteúdo do princípio da suficiência da ação penal.
Isso acontece com as questões prejudiciais heterogêneas não relativas ao estado civil das pessoas, que não sejam de difícil solução.
EXCEÇÃO PROCESSUAL
1) Conceito de Exceção:
São procedimentos incidentais de competência do juízo penal nos quais se discute a ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação, objetivando o afastamento do juiz (ex. suspeição), do juízo (ex. incompetência), ou até mesmo a extinção do processo (ex. coisa julgada).
Essa matéria é importante para a Defensoria, pois essas defesas podem levar à extinção do processo.
2) Distinção entre exceção e objeção: 
Exceção é uma matéria de defesa que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz. É uma matéria que só pode ser analisada se for arguida pelo interessado nesse sentido.
Ela difere da objeção, que é a matéria de defesa que pode ser apreciada de ofício pelo juiz.
Cuidado com o CPP, sobretudo para o teor do art. 95, que diz:
Art. 95, CPP - Poderão ser opostas as exceções de:
I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.
O CPP utiliza o termo exceção, ao invés de objeção. Contudo, essas 5 matérias aqui elencadas podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz. 
Obs: Segundo a súmula 33, do STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício. Contudo, essa súmula é muito mal elaborada, pois ela não se aplica ao processo penal (mas não deixa isso claro). É obvio que o juiz criminal pode reconhecer de ofício a incompetência relativa.
Então, voltando ao art. 95, do CPP, todas as matérias ali elencadas podem ser apreciadas de ofício pelo juiz, a despeito de o artigo utilizar a palavra “exceção”. Logo, o CPP usa a expressão “exceção” equivocadamente, pois todas as matérias do art. 95, do CPP podem ser apreciadas de ofício pelo juiz. Melhor seria se o legislador tivesse utilizado o termo “objeção”.
3) Classificação das Exceções:
a) Exceções Dilatórias: São aquelas que provocam a dilação do processo, o retardamento da prestação jurisdicional. Essas exceções são importantes, pois podem ajudar uma possível prescrição. São exemplos de exceções dilatórias: suspeição do magistrado, incompetência do juízo; 
b) Exceções Peremptórias: São aquelas que provocam a extinção do processo. São exemplos de exceções peremptórias: litispendência, coisa julgada.
Discute-se se a ilegitimidade de partes é exceção dilatória ou peremptória. Não há consenso sobre tal questão.
Ex. Num crime de ação penal privada, houve oferecimento de denúncia pelo MP. Nesse caso, vai haver a extinção do processo. Se a vítima, depois, não quiser oferecer queixa, nada poderá ser feito. Nesse caso, houve ilegitimidade para a causa. A ilegitimidade ad causam é uma exceção peremptória. 
Ex. Menor de 18 anos, vítima de um crime de ação privada, ajuíza uma ação penal sem representação de seu pai, mas através de seu advogado. Nesse caso, houve ilegitimidade para o processo. Aqui, desde que o defeito de representação seja sanado, o processo continuará. O que ocorrerá é um sobrestamento do processo. Então, a ilegitimidade ad processum é uma exceção dilatória. 
4) Exceção de Suspeição, Impedimento e Incompatibilidade:
O procedimento da exceção de suspeição será o mesmo procedimento da exceção de impedimento e da exceção de incompatibilidade.
4.1) Causas de impedimento:
DICA: As causas de impedimento referem-se a causas internas do processo, que prejudicam a imparcialidade do magistrado (todas as causas de impedimento são problemas dentro do processo, como, p.ex. cônjuge do juiz é o advogado do réu).
A atuação de juiz impedido é causa de INEXISTÊNCIA do processo. O vício do impedimento é de enorme gravidade. É como se o magistrado não tivesse jurisdição, como se o ato tivesse sido proferido por um “não-juiz”, daí a inexistência do processo. As causas de impedimento são taxativas, ou seja, numerus clausus (ar. 252 e 253, do CPP), não se admitindo interpretação extensiva.
Art. 252, CPP - O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; 
Obs1: Neste rol, também está incluído o companheiro.
Obs2: Deve permanecer no processo aquele que atuou em primeiro lugar.
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
Se isso fosse possível, haveriauma violação ao duplo grau de jurisdição.
Obs1: Cuidado! Para que o impedimento esteja presente, é indispensável que tenha havido pronunciamento de fato e de direito sobre a demanda. Logo, se houve mero despacho de movimentação processual, não haverá impedimento.
Obs2: O fato de o juiz proferir sentença não é causa de impedimento para que esse mesmo magistrado possa fazer o juízo de admissibilidade de determinado recurso (STF, HC 94.089).
Ementa STF, HC 94.089: HC. NULIDADE. RE E RESP. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE REALIZADO POR DESEMBARGADOR QUE PARTICIPOU DO JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. IMPEDIMENTO NÃO-CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. 1. As hipóteses de impedimento descritas no art. 252 do Código de Processo Penal constituem um rol exaustivo. Pelo que não há ilegalidade ou abuso de poder se o juízo de admissibilidade dos recursos especial e extraordinário foi realizado por magistrado que participou do julgamento de mérito da ação penal originária. Precedentes: HCs 97.293, da relatoria da ministra Cármen Lúcia (Primeira Turma); 92.893, da relatoria do ministro Ricardo Lewandowski (Plenário); e 68.784, da relatoria do ministro Celso de Mello (Primeira Turma). Atuação jurisdicional autorizada expressamente pelo Regimento Interno do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. 2. Ordem denegada.
Obs3: É possível que um juiz julgue o mesmo acusado, duas vezes ou mais. Se um juiz atuou em determinado processo contra um acusado, não há qualquer impedimento, caso ele venha a atuar em outro processo criminal contra o mesmo acusado. Ex. juiz estadual em comarca pequena julga o mesmo acusado por 3 processos diferentes (STF, HC 83.020).
EMENTA STF, HC 83.020: PROCESSUAL PENAL. PENAL. HC. SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR. VIOLAÇÃO. AÇÃO PENAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ IMPARCIAL E NATURAL. EXCESSO DA DENÚNCIA. INÉPCIA. INCORRÊNCIA. I. - O disposto no art. 252, III, do CPP, refere-se a impedimento de juiz que no mesmo processo, mas em outra instância, tenha se pronunciado sobre a questão. II. - Inocorrência de ofensa ao princípio do juiz natural, dado que a ação penal foi submetida à livre distribuição. III. - Denúncia que atende aos requisitos do art. 41 do CPP. IV. - H.C. indeferido.
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Ex. Renato é juiz e seu pai é o acusado no processo.
Art. 253, CPP - Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
Obs: Lei 12.694/12 – Entra em vigor em 23/10/12. Essa lei é importante, pois ela estabelecerá o conceito de organizações criminosas no Brasil.
Art. 2o, Lei 12.694/12 - Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. 
Cuidado! Organização criminosa não é um crime!!! É uma forma de cometer um crime. Ninguém responde pelo “crime” de organizações criminosas. Na prática, há diferença dos crimes praticados POR organizações criminosas, pois eles ganham tratamento diferenciado em algumas situações.
Atenção! A lei passou a prever que, nesses casos, poderá ser formado um colegiado na primeira instância. A ideia da lei é tornar a decisão um pouco menos pessoal. 
Art. 1o, Lei 12.694/12 - Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente: 
Isso tem a ver com a questão da suspeição em órgãos colegiados. Nesse órgão colegiado, deve ser observado o art. 253, do CPP, não podendo atuar no mesmo órgão parentes entre si.
4.2) Causas de Suspeição:
DICA: As causas de suspeição estão relacionadas a fatos externos ao processo. 
Ex. amizade íntima – ela prejudica o processo, mas está fora dele. 
A suspeição, segundo a doutrina, é causa de NULIDADE ABSOLUTA, e está elencada no art. 564, I, do CPP.
Art. 564, CPP - A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: 
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
As causas de suspeição estão no art. 254, do CPP. Mas, cuidado! Esse artigo não prevê um rol taxativo.
Art. 254, CPP - O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; 
Essa é a amizade do juiz para com a parte ou da parte para com o juiz? A amizade deve ser por parte do juiz, e não por parte do acusado. 
Obs1: A relação de mera simpatia não é causa de suspeição.
Obs2: A amizade íntima ou inimizade capital deve partir do juiz em relação à parte, e não da parte em relação ao magistrado.
Obs3: Se a parte injuriar o juiz, ela não poderá depois arguir a suspeição, pois a ninguém é dado alegar a própria torpeza. Neste sentido dispõe o art. 256, CPP (“A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la”).
Obs4: A amizade com o advogado do réu é causa de suspeição do juiz? O advogado não é parte; é representante processual da parte. Então, a amizade íntima com o advogado que não é parte não é causa de suspeição, o que, todavia, não impede que o magistrado se afaste do processo por razões de foro íntimo.
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
4.3) Causas de incompatibilidade:
Não há consenso sobre o que seja a incompatibilidade. 
Segundo a doutrina majoritária, as incompatibilidades são causas que prejudicam a imparcialidade do magistrado, mas não estão listadas entre as causas de impedimento e de suspeição. Todas as causas que, de alguma forma, prejudicarem a parcialidade do juiz e que não estejam listadas como causas de impedimento ou suspeição, geram a incompatibilidade. Elas podem dar causa a uma nulidade absoluta e não há um rol taxativo de causas de incompatibilidade.
Obs: Resolução 82, do CNJ – Fala da suspeição por razões de foro íntimo. Essa Resolução, para evitar o “migué”, estabeleceu a obrigatoriedade de as razões de foro íntimo serem comunicadas reservadamente às Corregedorias.
Art. 1º, Resolução 82, do CNJ - No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de primeiro grau fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado, imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria local ou a órgão diverso designado pelo seu Tribunal. (aplicabilidade suspensa pelo STF)
Art. 2º, Resolução 82, do CNJ - No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de segundo grau fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado, imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria Nacional de Justiça. (aplicabilidade suspensa pelo STF)
No STF, foi impetrado o MS 28.215, ajuizado pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), em que foi deferida medida liminar para suspender a necessidade de comunicação às Corregedorias. O STF entendeu que essa matéria deveria ser regulamentada por Lei Complementar, e não por Resolução do CNJ; entendeu-se que referida Resolução estava criando verdadeiro dever funcional.
Então, hoje, trabalha-se com a ideia de impedimento prevista no CPC (art. 135, parágrafo único, CPC) e o próprio juiz pode reconhecer asrazões de foro íntimo, não havendo necessidade de se revelar os motivos às Corregedorias (ex. STF, HC 82.798).
Art. 135, CPC - Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:
(...)
Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.
EMENTA STF, HC 82.798: Juiz: suspeição por motivo íntimo: admissibilidade também no processo penal, independentemente de sua revelação pelo juiz e sem prejuízo, no caso, da validade dos atos anteriores.
Obs: Se outro magistrado perceber que está havendo um abuso do instituto da suspeição, ele pode comunicar o fato à Corregedoria.
4.4) Suspeição / impedimento / incompatibilidade do MP:
É possível que também seja arguido o impedimento, a suspeição e incompatibilidade do MP.
Art. 258, CPP - Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
Quem decide a arguição de impedimento do MP? De acordo com o CPP, a competência recai sobre o juiz de primeira instância. (ISSO CAI EM PROVA DO MP!!!)
Art. 104, CPP - Se for argüida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de três dias.
Em provas para o MP, é interessante sustentar que o art. 104, do CPP é incompatível com o sistema acusatório e com o princípio do promotor natural. 
Então, o ideal é que, havendo divergência entre o juiz e o órgão do MP, sugere-se a aplicação do art. 28, do CPP (o ideal é que o próprio MP analise isso, através do procurador).
O afastamento do promotor do processo pelo juiz com base no art.104, do CPP pode ser questionado por meio de Mandado de Segurança, ainda que o art. 104 diga que essa decisão é irrecorrível.
4.5) Suspeição / impedimento / incompatibilidade da autoridade policial:
Art. 107, CPP - Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
Esse artigo é mal redigido. A doutrina explica que o inquérito policial é um procedimento inquisitório, que deve ser repetido em judicialmente, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, inexistindo prejuízo ao acusado caso as autoridades não se declarem suspeitas. Por ser inquisitorial, investigativo, a parte não pode arguir a suspeição. Mas, isso não impede que a autoridade policial a declare.
4.6) Procedimento da exceção de suspeição/ impedimento / incompatibilidade oposta contra o juiz:
Deve o próprio juiz reconhecer de ofício a suspeição (impedimento ou incompatibilidade). 
Se não reconhecida de ofício, a suspeição deve ser arguida por escrito. Ela é a única exceção que deve ser arguida por escrito. Isto porque, quando se argui a suspeição, pode-se estar levantando dúvidas com relação à atuação do magistrado. Então, pode estar havendo prevaricação do juiz, etc.
Art. 97, CPP - O juiz que espontaneamente afirmar suspeição deverá fazê-lo por escrito, declarando o motivo legal, e remeterá imediatamente o processo ao seu substituto, intimadas as partes.
Art. 98, CPP - Quando qualquer das partes pretender recusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas.
Mas, atenção!!!! NO JÚRI, A EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO É OBRIGATORIAMENTE ORAL (suspeição dos jurados ou do próprio juiz presidente).
4.6.1) Legitimidade para arguir a suspeição:
São legítimos para arguir a suspeição: MP, advogado com poderes especiais, assistente de acusação.
As exceções, em regra, não acarretam a suspensão do processo (porque se pudessem suspender, poderia haver uma utilização abusiva pelas partes, com intuito protelatório). Contudo, a exceção de suspeição pode suspender, mas desde que haja concordância da parte contrária.
Art. 96, CPP - A argüição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente.
Art. 102, CPP - Quando a parte contrária reconhecer a procedência da argüição, poderá ser sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da suspeição. 
Quando se opõe a exceção de suspeição, os autos serão encaminhados ao juiz (excepto). O magistrado possui duas possibilidades: concordar com a arguição, caso em que será determinada a remessa ao substituto legal. Mas, se o juiz não reconheceu de ofício a suspeição, ele, discordando da exceção de suspeição, apresentará a sua resposta, remetendo os autos ao Tribunal competente. 
Art. 99, CPP - Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto.
Art. 100, CPP - Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em 24 vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.
§ 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevância da argüição, o juiz (na prática, é o tribunal quem aprecia a exceção de suspeição) ou tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais alegações.
§ 2o Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator a rejeitará liminarmente.
Qual o recurso adequado contra a exceção de suspeição? 
Obs: art. 581, III, CPP.
Art. 581, CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
Porque não cabe RESE contra a exceção de suspeição? A exceção de suspeição é a única exceção que é apreciada pelo Tribunal, e o RESE é recurso contra decisão de juiz de primeiro grau.
Apesar de não caber RESE, admite-se a interposição dos recursos extraordinários e do habeas corpus (se houver risco potencial à liberdade de locomoção).
5) Exceção de Incompetência:
5.1) Incompetência Absoluta e relativa;
 
Ambas as incompetências podem ser apreciadas de ofício no processo penal. Então, reitere-se que a súmula 33, do STJ não se aplica ao processo penal.
Ex. Suponha-se um crime praticado em Rio Branco no Acre. O juiz criminal no RS não pode julgar o feito. Ele deve se declarar incompetente, mesmo que a incompetência seja relativa, tendo em vista que no processo penal estão em jogo questões de ordem pública, como a liberdade de locomoção.
Art. 109, CPP - Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior.
O art. 109, do CPP não faz qualquer distinção quanto à natureza da incompetência. Então, tanto a incompetência absoluta quanto relativa podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz. 
No âmbito do STJ, há alguns julgados isolados (HC 95.722, 2009), em que se diz que a súmula 33 se aplica ao processo penal. Mas todos os julgados que deram origem à súmula 33 são de origem cível.
5.2) Procedimento da Exceção de Incompetência:
Através da exceção de incompetência, pode ser arguida tanto a incompetência absoluta quanto a relativa. 
Em se tratando de incompetência relativa, sua arguição deve ser feita oportunamente, ou seja, na primeira oportunidade que se tiver de falar nos autos, sob pena de preclusão.
A exceção de incompetência é apreciada pelo próprio juiz e caberá RESE se julgada procedente (Art. 581, III, CPP). Repise-se: o RESE é cabível apenas se a exceção for julgada PROCEDENTE.
Art. 581, CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
Se a exceção for julgadaimprocedente, não cabe RESE. Vale ressaltar que isso não impede que o vício referente à incompetência volte a ser arguido em preliminar de futura apelação.
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AULA 03 – 31/08/12
6) Exceção de Ilegitimidade:
6.1) Conceito:
Segundo a doutrina, é possível que se impugne tanto a legitimidade “ad causam” (condição da ação) quanto a legitimidade “ad processum” (pressuposto processual de validade – que nada mais é do que a capacidade de se exercer validamente direitos e deveres processuais).
Ex: O ofendido é menor de 18 anos, vítima de crime contra a honra (postaram uma foto sua no Orkut oferecendo serviços sexuais). Por mais que um ofendido tenha sido vítima de um crime, ele tem legitimidade “ad causam”, mas ele não possui capacidade para ajuizar uma queixa crime, (não tem legitimidade “ad processum”) e precisa que um representante legal ajuíze essa queixa.
6.2) Recursos:
Quais são os recursos cabíveis quanto à exceção de ilegitimidade? Nesse caso, devem ser diferenciadas algumas situações:
	Situações Possíveis
	Recurso Cabível
	Rejeição da peça acusatória com base na ausência dos pressupostos processuais ou condições da ação
	Se o juiz rejeitar a peça acusatória, o recurso adequado será o RESE, previsto no art. 581, I, do CPP.
	Anulação do processo em face da ilegitimidade “ad causam” ou “ad processum”
	Caso o juiz, com o processo já em andamento, verifique a ilegitimidade “ad causam” ou “ad processum” e anule o processo, cabe RESE, com base no art. 581, XIII, do CPP.
	Juiz julga procedente a exceção de ilegitimidade
	Cabe RESE, com base no art. 581, III, do CPP.
	
Magistrado reconhece a improcedência da exceção de ilegitimidade
	O CPP não prevê qualquer recurso.
Obs: O RESE do art. 581, III, CPP cabe apenas para o caso em que a exceção é julgada procedente. Apesar disto, pode-se trabalhar a matéria em sede de preliminar de futura e eventual apelação, sem prejuízo dos habeas corpus e do mandado de segurança.
Art. 581, do CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
7) Exceção de Litispendência:
7.1) Litispendência no Processo Penal:
A expressão “litispendência” significa “pendência de mais uma lide”.
 Pergunta de Concurso: É correta a expressão “lide” no processo penal?
R: A doutrina ensina que não há lide no processo penal, devendo-se evitar essa expressão. (Cuidado com o livro “Teoria Geral do Processo”, da professora Ada Pellegrini Grinover). 
Segundo a doutrina, no processo penal não há lide pelas seguintes razões: (1) não há um conflito de interesses entre o MP e o acusado: o promotor não é obrigado a pedir condenação de um inocente; (2) no processo penal sempre deverá haver resistência por parte da defesa, ainda que somente por parte da defesa técnica.
Contudo, apesar de, tecnicamente, não haver “lide” no processo penal, tal expressão consta do CPP e continua sendo utilizada.
Há litispendência no processo penal quando um mesmo acusado responde simultaneamente a dois processos penais condenatórios distintos, relativos à mesma imputação. Então só haverá litispendência quando a imputação for semelhante.
Ex. Acontece litispendência quando, por exemplo, por um mesmo crime, há denúncia por dois promotores diferentes. Aí o acusado pede reconhecimento da litispendência por estar respondendo a processos semelhantes.
Obs: Quando se pode dizer que um processo é semelhante ou idêntico a outro? 
	Critérios para se aferir a semelhança entre processos (que levará à litispendência)
	Processo Civil
	Processo Penal
	- Mesmas partes;
- Mesma causa de pedir;
- Mesmo pedido.
	- Mesmo acusado;
- Mesma imputação (independente da classificação);
- Pedido genérico de condenação.
Obs1: Com relação às partes no processo penal: É preciso identidade de partes no processo penal para que se fale em causas semelhantes? No processo penal, a parte que ocupa o polo ativo não interessa, porque existe a possibilidade da ação penal privada subsidiária da pública. Para o reconhecimento da litispendência, os dois processos condenatórios devem ter sido instaurados contra o mesmo acusado.
Ex. No exemplo que se segue, há litispendência? R: Sim.
Processo X: art. 155 (23.08.12), denúncia pelo MP. Acusado Tício.
Processo Y: art. 155 (23.08.12), denúncia por Mévio. Acusado Tício.
Obs2: Com relação à imputação no processo penal (mesma imputação): No processo civil fala-se em “causa de pedir”. No processo penal, utiliza-se a expressão “mesma imputação”. Imputação é a atribuição de um fato delituoso a determinada pessoa. A denúncia atribui a alguém a autoria ou participação em fato delituoso. Se a imputação for idêntica, haverá litispendência. E, note-se que, nesse ponto, pouco importa a classificação formulada pela acusação. O que deve ser analisado é se as imputações são semelhantes: se o fato da vida atribuído ao acusado é semelhante em ambos os processos.
Obs3: Com relação ao pedido no processo penal: O pedido é de todo irrelevante, porque no processo penal, há sempre um pedido genérico de condenação. Logo, o pedido pouco interessa no processo penal. 
EM SÍNTESE, o que interessa no momento de se arguir a litispendência no processo penal é demonstrar que o acusado é o mesmo e que a imputação é idêntica nos dois processos.
A litispendência estará presente a partir do recebimento da segunda peça acusatória, independentemente da citação válida. (Há quem diga que a litispendência já estaria presente desde o oferecimento da peça acusatória. Mas, esta posição é minoritária). A partir do momento que a denúncia é recebida, já há litispendência.
No caso de litispendência, qual processo deve ser mantido? Para fim de definição do processo que deve ser mantido, deve-se atentar para aquele que foi instaurado em primeiro lugar, respeitando-se a competência do juízo. Assim, o processo que começou primeiro é o processo que deve ser mantido, desde que ele realmente seja o juízo competente. Quando for recebida a segunda denúncia é que haverá litispendência.
Há que se verificar qual dos dois juízos é o competente. Se o juiz que praticou ato provisório no primeiro processo não era competente, o processo que deverá prevalecer é o segundo.
7.2) Recursos Cabíveis:
Quanto aos recursos cabíveis no procedimento de exceção de litispendência, deve-se notar que:
	Situações Possíveis
	Recurso Cabível
	
Se o magistrado reconhece de ofício a litispendência, mesmo sem ter sofrido qualquer provocação nesse sentido, isso acarretará a extinção do processo.
	O recurso adequado será a apelação, conforme art. 593, II, CPP (decisão c/ força de definitiva, p/a qual não cabe RESE).
Art. 593, CPP - Caberá apelação no prazo de 5 dias:
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
Caberá apelação no prazo de 5 dias, das decisões definitivas ou com força de definitivas por juiz singular, nos casos não previstos no capítulo que trata do RESE.
	Se o juiz julgar procedente a exceção de litispendência.
	Caberá o RESE (art. 581, III, CPC).
	
Se o magistrado julgar improcedente a exceção de litispendência.
	Não há previsão de recurso.
O CPP só prevê quando são julgadas procedentes as exceções (salvo a de suspeição). Nesse caso, a parte pode impugnar a matéria em preliminar de apelação, sem prejuízo dos remédios constitucionais do habeas corpus e do mandado de segurança.
8) Exceção de Coisa Julgada:
8.1) Conceito:
Quando não mais é cabível a interposição de recursos, a decisão transita em julgado, tornando-se imutável.
A coisa julgada protege a segurança jurídica.
8.2) Coisa Julgada Formal x Coisa Julgada Material:
Segundo a doutrina, há um fenômeno endoprocessual na coisa julgada formal, em que a imutabilidadeda decisão está restrita ao processo em que foi proferida. Quando se fala em coisa julgada formal, significa que aquela decisão não mais poderá ser modificada dentro do processo em que foi proferida (ex. arquivamento por falta de provas). Aqui, há uma decisão conforme a cláusula rebus sic stantibus. 
A coisa julgada material é aquela que pressupõe a coisa julgada formal, sendo a imutabilidade da decisão projetada para fora do processo (ex. Sentença Absolutória – coisa julgada formal e material).
8.3) Coisa Julgada x Coisa Soberanamente Julgada:
Aqui se discute se, mesmo depois do trânsito em julgado, ainda pode ser modificada a sentença. Na realidade, isso dependerá da espécie de sentença. 
Quando a doutrina se refere apenas à chamada “coisa julgada”, ela diz que a imutabilidade desta decorrente é uma imutabilidade relativa, ou seja, em situações excepcionais, essa decisão, mesmo após o trânsito em julgado, ainda pode ser alterada.
No processo penal, há coisa julgada nas hipóteses de sentenças condenatória ou absolutória imprópria transitada em julgado. Aqui, a imutabilidade é relativa, pois tais sentenças podem ser rescindidas mesmo depois do trânsito em julgado, através de revisão criminal e de habeas corpus. Assim, a coisa julgada seria aquela com natureza relativa.
A coisa julgada não se confunde com a coisa soberanamente julgada. Quando se fala em “coisa soberanamente julgada”, o que a doutrina quer dizer é que, nesse caso, a imutabilidade dessa decisão judicial é absoluta, de modo a se tornar imutável, não podendo, em hipótese alguma, ser modificada (até mesmo se tiver sido proferida por um juízo absolutamente incompetente).
Haverá coisa soberanamente julgada nas hipóteses de sentença absolutória ou no caso de decisão declaratória de extinção da punibilidade. Isto porque, no ordenamento brasileiro, não se admite revisão criminal pro societate.
Obs: Ressalva da Certidão de Óbito falsa: nesse caso, os Tribunais entendem que o processo pode ser reaberto, pois ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Nesse sentido, STF, HC 84.525.
EMENTA STF, HC 84.525: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECRETO QUE DETERMINA O DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. I. - A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. II. - Nos colegiados, os votos que acompanham o posicionamento do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se terem adotado a mesma fundamentação. III. - Acórdão devidamente fundamentado. IV. - H.C. indeferido.
8.4) Limites da Coisa Julgada:
Até que ponto o cidadão está protegido ou não pela coisa julgada? Nesse caso, deve-se observar os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada.
a) Limites Objetivos:
Dizem respeito ao fato delituoso que foi imputado ao acusado e objeto de posterior sentença, pouco importando a classificação formulada. A classificação no processo penal não é de todo relevante. O que interessa é aquilo que foi objeto de imputação. Se determinada conduta delituosa foi atribuída a determinado acusado, ele não poderá ser processado novamente, sob pena de violação do princípio do ne bis in idem.
 Pergunta de Concurso: Um cidadão foi absolvido pela autoria de um homicídio, tendo a decisão transitado em julgado. Ele pode ser processado novamente pelo mesmo homicídio, mas agora a título de participação? 
R: Cuidado! Não se pode olhar para o crime em si, mas para o fato da vida que está sendo atribuído ao acusado. Uma coisa é ser autor de um delito; outra coisa é ser partícipe. Suponha-se que, num Júri, não se reconheceu que a pessoa atirou na vítima, mas se reconheceu que aquela pessoa apenas dirigiu o carro para outra pessoa atirar na vítima. Então, o agente não foi autor, devendo ser absolvido dessa acusação. Contudo, essa descrição da autoria não se confunde com a participação: os fatos são diferentes. Nesse caso, o agente atuou como partícipe. Então, é possível que o cidadão seja novamente processado, por ter atuado como partícipe. 
Quanto aos limites objetivos da coisa julgada, é importante observar o art. 110, §2º, do CPP. Só se pode dizer que uma coisa foi atingida pela coisa julgada se ela tiver sido apreciada pelo juiz no dispositivo da sentença. Só está protegido aquilo que foi decidido pelo juiz, de modo que os fundamentos e as questões prejudiciais não estão protegidas pela coisa julgada.
Art. 110, §2o , do CPP - A exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato principal, que tiver sido objeto da sentença.
Obs: Crime continuado: Se um dos crimes praticados em continuidade delitiva não foi objeto de imputação em um primeiro processo penal condenatório, é perfeitamente possível que tal crime seja objeto de novo processo penal, vez que não está protegido pelos limites objetivos da coisa julgada. Nesse caso, nada impede que posteriormente o juiz da execução proceda à unificação das penas.
Ex. O agente praticou 4 furtos em continuidade delitiva. Foi processado por esses furtos e a condenação transitou em julgado. Pode esse agente ser processado por um 5º crime de furto? Sim.
(Há uma doutrina minoritária que diz que o agente não poderia ser processado por esse 5º furto, já que ele já teria sido processado por um “crime continuado” de furto).
Obs2: Concurso formal de delitos: No concurso formal, se o acusado for processado em relação a apenas um dos delitos, eventual sentença absolutória não faz coisa julgada em relação aos demais, salvo se o juiz reconhecer categoricamente a inexistência do fato delituoso ou que o acusado não concorreu para a infração penal.
O concurso formal de infrações ocorre quando, mediante uma ação ou omissão, a pessoa pratica dois ou mais crimes. Geralmente, o agente é processado conjuntamente pelos dois ou mais crimes. Mas, suponha-se que o agente tenha sido processado por apenas um dos crimes, por alguma razão e, nesse caso, foi absolvido. Essa decisão faz coisa julgada para o outro delito? A depender do fundamento da sentença absolutória, pode a sentença fazer coisa julgada no outro processo sim (como nos casos de a absolvição pela inexistência de autoria ou do próprio crime).
Obs3: Crime permanente e crime habitual: Se, após a propositura da peça acusatória restar demonstrado que o acusado continuou a praticar um crime permanente ou crime habitual, este novo fato delituoso pode ser objeto de novo processo penal, pois não protegido pelos limites objetivos da coisa julgada.
Crimes permanentes são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo e sobre os quais o agente ainda tem o domínio do fato. Crime habitual é aquele que exige uma prática reiterada para se configurar. 
Ex. O agente é processado e condenado por um crime permanente de quadrilha. Só que, apesar de processado e condenado, o agente ainda se mantém associado. Ele pode ser processado novamente pelo crime de quadrilha? Segundo a doutrina, é possível sim, como, por exemplo, no caso de haver uma denúncia pela quadrilha praticada entre 2004 e 2008 e, depois, nova denúncia por prática de quadrilha entre 2008 e 2012.
b) Limites Subjetivos:
Quanto aos limites subjetivos da coisa julgada, eles são determinados em face do indivíduo que figurou como acusado no primeiro processo. Nesse sentido, STJ, HC 126.064 (nesse HC, o STJ entendeu que a absolvição de um dos acusados não repercute no processo dos demais).
EMENTA RESP 126.064: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. REVISÃO CRIMINAL. SOBERANIA DOS VEREDICTOS. MANUTENÇÃO. A absolvição de um dos acusados, no caso de concurso de pessoas, pelo Tribunal do Júri, não implica a dos demais, ainda que a imputação seja a mesma, tudo a depender, por obvio, das provas produzidas contra cada um deles e desde que o veredicto popular condenatório não se revele manifestamente contrário à prova dos autos, como se deu na espécie.Ordem denegada.
8.5) Duplicidade de sentenças condenatórias com trânsito em julgado:
Nessa situação, o cidadão foi processado e condenado em dois processos distintos em relação à mesma imputação e as duas sentenças condenatórias acabaram transitando em julgado. Nesse caso, qual decisão valerá: a mais benéfica ou a que transitou em julgado primeiro? 
O STF apreciou um julgado sobre isso: HC 101.131. Nesse HC, o STF entendeu que apenas o processo que foi instaurado em primeiro lugar terá validade, pouco importando a pena fixada.
EMENTA STF, HC 101.131: PROCESSO. DUPLICIDADE. SENTENÇAS CONDENATÓRIAS. Os institutos da litispendência e da coisa julgada direcionam à insubsistência do segundo processo e da segunda sentença proferida, sendo imprópria a prevalência do que seja mais favorável ao acusado.
8.6) Recursos cabíveis:
Quais são os recursos cabíveis no caso de exceção de coisa julgada? Vide item sobre recursos cabíveis quanto à exceção de litispendência.
	Situações Possíveis
	Recurso Cabível
	
Se o magistrado reconhece de ofício a coisa julgada, mesmo sem ter sofrido qualquer provocação nesse sentido, isso acarretará a extinção do processo.
	O recurso adequado será a apelação, conforme art. 593, II, CPP (decisão c/ força de definitiva, p/a qual não cabe RESE).
Art. 593, CPP - Caberá apelação no prazo de 5 dias:
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
Caberá apelação no prazo de 5 dias, das decisões definitivas ou com força de definitivas por juiz singular, nos casos não previstos no capítulo que trata do RESE.
	Se o juiz julgar procedente a exceção de coisa julgada.
	Caberá o RESE (art. 581, III, CPC).
	
Se o magistrado julgar improcedente a exceção de coisa julgada.
	Não há previsão de recurso.
O CPP só prevê quando são julgadas procedentes as exceções (salvo a de suspeição). Nesse caso, a parte pode impugnar a matéria em preliminar de apelação, sem prejuízo dos remédios constitucionais do habeas corpus e do mandado de segurança.
NOVO PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO
 Muito Importante para MP e Juiz!!!
1) Direito Intertemporal:
Direito intertemporal é a discussão quanto ao direito a ser aplicado na hipótese de sucessão de leis no tempo.
1.1) Regras aplicadas no Direito Penal: 
A CF consagra no art. 5º, XL, o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Da mesma forma que a lei penal mais gravosa não pode retroagir, há ultratividade da lei penal mais benéfica, podendo valer quanto aos fatos praticados sob sua égide.
Quanto à aplicação da lei no direito penal, leva-se em consideração a época do fato delituoso: regra do “tempus delicti”. 
Ex. Suponha-se que um crime de injúria, com pena de 1 a 6 meses, tenha sido cometido no dia 04 de maio de 2010. Qual é o prazo da prescrição da pretensão punitiva abstrata? A prescrição tem prazo de 2 anos, pois a lei que aumentou o prazo da prescrição começou a viger em 06 de maio de 2010, ou seja, após a data do crime. Então, aplica-se a lei da data do crime, que fala em prazo de 2 anos.
1.2) Regras aplicadas no Direito Processual Penal:
A doutrina hoje vem trabalhando com duas espécies de norma processual.
a) Norma genuinamente processual: 
É aquela que cuida de procedimentos, atos processuais e técnicas do processo. Quanto ao direito intertemporal, a essas normas aplica-se o princípio da aplicação imediata, pouco importando se a norma é benéfica ou prejudicial (art. 2º, CPP - “tempus regit actum”). Em se tratando de norma genuinamente processual, olha-se para a data do ato processual (diferentemente das normas de direito penal, em que se olha para a época do fato delituoso).
Art. 2º, CPP - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Desse princípio, podem ser obtidas duas consequências importantes: 
· Entrando em vigor a lei, ela será aplicada desde logo. 
· Os atos processuais anteriormente praticados continuam válidos.
b) Norma processual mista ou norma processual material:
 
Quanto a esse conceito, há duas correntes doutrinárias:
Corrente Restritiva) Normas processuais mistas ou materiais são aquelas que, apesar de disciplinadas em diplomas processuais penais, dispõem sobre o conteúdo da pretensão punitiva, tais como aquelas relativas ao direito de queixa, representação, prescrição, decadência, perempção, etc. (Adotar essa corrente em prova de MP)
Ex. Crime que era de ação penal pública foi transformado em crime de ação penal privada. Para essa corrente, essa norma é de natureza processual, pois está ligada à legitimidade para agir. Mas, a partir do momento em que se transforma a ação penal do crime em privada, esse crime está sujeito à decadência, renúncia, perdão e perempção, que são causas extintivas da punibilidade. Então, isso repercute na pretensão punitiva, que é uma matéria de direito penal.
Corrente Ampliativa) Normas processuais mistas ou materiais são aquelas que estabelecem condições de procedibilidade, espécies de prisão cautelar ou de liberdade provisória, enfim, todas as normas processuais que repercutem no direito de liberdade do agente. (Adotar essa corrente em prova de Defensoria e Magistratura)
Ex. Prisão temporária, que foi criada em 1989, pela Lei 7.960/89.
Na norma genuinamente processual, aplica-se o critério da aplicação imediata. Mas, na norma processual material, deve-se aplicar o mesmo critério do direito penal, com a irretroatividade da lei mais gravosa ou, por outro lado, da ultratividade da lei mais benéfica.
Então, em se tratando de uma norma processual mista, deve-se aplicar o mesmo critério do direito penal.
1.2.1) Casuística:
a) Art. 90, da Lei 9.099/95 – As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada.
Qual a natureza da Lei dos Juizados? A lei dos juizados cuida de procedimento. Mas, ela também cuida de dispositivos que repercutem na liberdade do cidadão, como, por exemplo, transação penal, suspro, etc.
Esse artigo 90, da Lei 9.099/95 acabou sendo discutido no STF (ADI 1.719). No julgamento dessa ADI, o STF entendeu que as normas de direito penal mais favoráveis podem retroagir em favor do acusado. Como a Lei dos Juizados conjuga normas genuinamente processuais com normas mistas, repercutindo na pretensão punitiva do Estado, esta norma deverá retroagir em favor do acusado.
EMENTA ADI 1.719: PENAL E PROCESSO PENAL. JUIZADOS ESPECIAIS. ART. 90 DA LEI 9.099/1995. APLICABILIDADE. INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA EXCLUIR AS NORMAS DE DIREITO PENAL MAIS FAVORÁVEIS AO RÉU. O art. 90 da lei 9.099/1995 determina que as disposições da lei dos Juizados Especiais não são aplicáveis aos processos penais nos quais a fase de instrução já tenha sido iniciada. Em se tratando de normas de natureza processual, a exceção estabelecida por lei à regra geral contida no art. 2º do CPP não padece de vício de inconstitucionalidade. Contudo, as normas de direito penal que tenham conteúdo mais benéfico aos réus devem retroagir para beneficiá-los, à luz do que determina o art. 5º, XL da Constituição federal. Interpretação conforme ao art. 90 da Lei 9.099/1995 para excluir de sua abrangência as normas de direito penal mais favoráveis ao réus contidas nessa lei.
b) Nova redação dada ao art. 366, do CPP, pela Lei 9.271/96:
Art. 366, do CPP - O processo seguirá à revelia do acusado que, citado inicialmente ou intimado para qualquer ato do processo, deixar de comparecer sem motivo justificado.
Art. 366, do CPP - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996) 
Esse artigo é interessante, pois ele passou a prever o que acontece com o acusado citado por edital. O acusado citado por edital geralmentenão toma conhecimento do processo. Por isso, a lei prevê a suspensão do processo e da prescrição. 
Esse artigo foi alterado em 1996. Mas, antes da Lei 9.271/96, o acusado que era citado por edital e não comparecia ao processo tinha a sua revelia era decretada, com o prosseguimento do feito, assegurada nesse caso a defesa técnica.
Ao entrar em vigor a Lei 9.271/96, dando a nova redação do art. 366, do CPP o acusado, citado por edital, se não comparecesse e nem constituísse advogado, ter-lhe-ia determinada a suspensão do processo e da prescrição.
A suspensão do processo é uma norma processual. No entanto, o legislador, da mesma forma que quis proteger o acusado, suspendendo o processo (para que ele, depois, exerça sua defesa pessoalmente), também previu a suspensão da prescrição, que é uma norma de direito material (causa extintiva da punibilidade), prejudicial ao acusado.
Diante disso, foi instaurada a seguinte polêmica: diante dessa mudança trazida pela Lei 9.271/96, essa lei poderia ser aplicada para os crimes praticados anteriormente a ela?
À época, teve doutrina sustentando que o art. 366, CPP deveria ser dividido em 2 pedaços (LFG). Mas, não se pode fazer lex tertia, sob pena de se atuar como legislador positivo.
Acabou prevalecendo o entendimento de que essa lei só seria aplicada aos crimes cometidos após a vigência da Lei 9.271/96. Ou seja, como essa lei traz em seu bojo uma norma penal mais gravosa (suspensão da prescrição), só se poderá aplicá-la aos crimes cometidos após a sua vigência. Nesse sentido: STF, HC 83.864.
EMENTA STF HC 83.864: I. STF - HC - competência originária. Não pode o STF conhecer originariamente de questões suscitadas pelo impetrante e que não foram antes submetidas ao Superior Tribunal de Justiça, sob pena de supressão de instância. II. Citação por edital e revelia: L. 9.271/96: aplicação no tempo. Firme, na jurisprudência do Tribunal, que a suspensão do processo e a suspensão do curso da prescrição são incindíveis no contexto do novo art. 366 CPP (cf. L. 9.271/96), de tal modo que a impossibilidade de aplicar-se retroativamente a relativa à prescrição, por seu caráter penal, impede a aplicação imediata da outra, malgrado o seu caráter processual, aos feitos em curso quando do advento da lei nova. Precedentes. III. Contraditório e ampla defesa: nulidade da sentença condenatória fundamentada exclusivamente em elementos colhidos em inquérito policial e em procedimento administrativo. IV. Sentença: motivação: incongruência lógico-jurídica. É nula a sentença condenatória por crime consumado se a sua motivação afirma a caracterização de tentativa: a incoerência lógico-jurídica da motivação da sentença equivale à carência dela.
Então, em síntese, temos:
	Citação por edital
	Antes da Lei 9.271/96
	Depois da Lei 9.271/96
	O acusado que era citado por edital e não comparecia ao processo tinha a sua revelia era decretada, com o prosseguimento do feito, assegurada a defesa técnica.
	O acusado que, citado por edital, não comparecer ao processo e nem constituir advogado terá suspenso o processo e o prazo prescricional.
 Diante da natureza mista desta lei, prevaleceu o entendimento de que só poderia ser aplicada para os crimes cometidos após a sua vigência.
c) Lei 11.689, de 09 de agosto de 2008 e Lei 11.719, de 22 de agosto de 2008 e sua aplicação aos processos em andamento:
Essas duas leis vieram no “pacote” da reforma de 2008, alterando o procedimento do júri e o procedimento comum, respectivamente. À época em que essas duas leis entraram em vigor vários processos criminais estavam em andamento. Questionou-se se essa nova lei poderia ser aplicada aos processos que estavam em andamento.
Sobre o assunto, segundo a doutrina, há três sistemas distintos, que são utilizados para se definir a forma de incidência de lei nova sobre processos em andamento:
· Sistema da unidade processual – Apesar de se desdobrar em uma série de atos distintos, o processo apresenta uma unidade. Logo, só pode ser regulado por uma única lei, qual seja, a lei anterior, para que a lei nova não opere efeitos retroativos.
· Sistema das fases processuais – De acordo com esse segundo sistema, cada fase processual pode ser regulamentada por uma lei distinta. Por esse sistema, há possibilidade do processo ser regulamentado por leis diferentes, desde que a próxima lei se aplique à próxima fase (fase postulatória, ordinatória, instrutória, decisória, recursal).
· Sistema do isolamento dos atos processuais – É aquele adotado pelo CPP em seu art. 2º. A lei nova não é capaz de atingir os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior, porém, é aplicável aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a fase processual. Não se pode querer retroagir com a lei. Se o ato já foi praticado, significa que ele foi praticado de acordo com a lei vigente à época. Mas, a lei nova aplica-se aos atos processuais a serem praticados, pouco importando a fase em que o processo se encontrar.
No caso em questão, antes da Lei 11.719, de 22 de agosto de 2008, o interrogatório era o primeiro ato da instrução processual. Depois da lei, passou a ser o último ato.
Em alguns processos, a instrução começou antes dessa lei e o interrogatório do acusado também foi feito antes da lei (ex. em 10 de maio de 2008). À época do fato, não havia problema com o interrogatório. Mas, depois da lei, as regras mudaram. 
Nos processos em que o juiz marcou a audiência de oitiva de testemunhas para data posterior à lei e, por conseguinte, posterior ao interrogatório do acusado (ex. juiz marcou a audiência de oitiva de testemunhas para 30 de agosto de 2008), é (ou era) necessário fazer novo interrogatório? 
Se a instrução já tivesse sido encerrada, não havia mais sentido essa discussão. 
Antônio Magalhães Gomes Filho e parte da doutrina, à época, entendeu que era necessário fazer novo interrogatório.
Na prática, os juízes ignoraram essa disposição, e o caso foi parar no STF, que entendeu que se o acusado já fora interrogado antes, não havia necessidade de novo interrogatório (STF, HC 104.555).
EMENTA STF, HC 104.555: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LEI 11.719/2008 QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NOVO INTERROGATÓRIO. REALIZAÇÃO. PRETENSÃO. DESCABIMENTO. NULIDADE. ALEGAÇÃO. PREJUÍZO. INEXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I - O interrogatório do paciente ocorreu em data anterior à publicação da Lei 11.719/2008, o que, pela aplicação do princípio do tempus regit actum, exclui a obrigatoriedade de renovação do ato validamente praticado sob a vigência de lei anterior. II - Esta Corte já firmou entendimento no sentido de que não se declara a nulidade de ato processual se a alegação não vier acompanhada da prova do efetivo prejuízo sofrido pelo réu. Precedentes. III - Ordem denegada.
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AULA 04 – 10/09/12
d) Lei 11.689/08 e a extinção do protesto por novo Júri:
A Lei 11.689/08 acabou com o antigo protesto por novo Júri (revogando-o em seu art. 4º). 
O protesto por novo Júri sempre foi considerado um recurso absurdo do processo penal. Ele era cabível nos casos em que o agente era condenado por um crime (somente um) à pena igual ou superior a 20 anos. O simples fato de alguém sofrer uma pena igual ao superior a 20 anos por um crime dava direito ao acusado a um novo Júri.
Esse recurso foi extinto por causa do caso Dorothy Stang. O mandante do crime foi condenado no primeiro julgamento a mais de 20 anos e, no segundo Júri, foi absolvido (após, esse julgamento foi anulado e o acusado foi levado a um terceiro julgamento).
A lei que reformou o procedimento do Júri está ligada a esse caso Dorothy Stang e ao caso do casal Nardoni. 
Deve-se perceber que, antes da reforma que acabou com o protesto por novo Júri, nenhum juiz fixava pena superior a 20 anos, para evitar que fosse possível novo Júri (fixava-se sempre “19 anos e 5 meses”, por exemplo).
 Pergunta de Concurso: Oagente praticou, no dia 20/02/2008, um homicídio qualificado por motivo torpe. No dia 10/04/2012 houve o julgamento e o juiz condenou o agente a uma pena de 24 anos de reclusão. Quid iuris? O cidadão continua tendo direito ao protesto por novo Júri?
R: Nesse caso, o crime foi praticado antes da extinção do protesto por novo Júri. Mas, à época do julgamento, o instituto do protesto por novo Júri não existia mais. 
Essa discussão é importante para se analisar qual é a espécie de norma que trata de recurso: se se trata de lei processual pura ou lei processual mista. 
Sobre essa discussão, há duas correntes:
1ª Corrente) O artigo 4º, da Lei 11.689/08 é norma processual material, ou seja, é uma norma que está ligada ao direito de liberdade do cidadão, caso em que a norma será aplicada da mesma forma que a norma de direito penal. Logo, se o crime foi cometido antes do dia 09/08/08, o acusado terá direito ao protesto por novo Júri, pouco importando a data do julgamento. Nesse sentido, Luis Flávio Gomes. Essa corrente pode ser adotada para Defensoria Pública, mas é minoritária.
2ª Corrente) Essa corrente é a que prevalece. A doutrina e os Tribunais vêm dizendo que o art. 4º, da Lei 11.689/08 é norma genuinamente processual. Assim, a lei que se aplica ao recurso é a lei existente quando a decisão é proferida, pois, é neste momento que surge o direito adquirido para se fazer valer das regras recursais. O que realmente interessa é a data em que a decisão foi proferida (não é a lei da data da intimação, nem a lei vigor no momento da interposição do recurso). A lei que será aplicada ao recurso é aquela em vigor quando a decisão é proferida pelo juiz. No Tribunal do Júri, a decisão final é proferida no final da sessão plenária, com a leitura da sentença.
Lei a ser aplicada ao recurso: É a lei vigente ao tempo da...
 (
Interposição de Recurso
) (
Intimação das Partes
)	 (
Sentença Condenatória Publicada
) (
Crime
)
 Pergunta de Concurso: Em 08/08/08 foi proferida uma decisão de absolvição sumária (6ª feira). Dia 11/08/08, uma segunda feira, o advogado vai protocolar seu recurso. Nesse meio tempo, entrou em vigor a Lei 11.689/08. Então, no dia 08/08, o recurso cabível contra absolvição sumária era o RESE. Mas, a partir dessa data, a lei passou a prever que o recurso cabível contra a absolvição sumária era a apelação. Considerando-se esses dados, qual será o recurso que deverá ser interposto pelo advogado do acusado?
R: O recurso adequado, nesse caso, é o RESE, pois o recurso a ser interposto é o da Lei existente ao tempo em que a decisão foi proferida. É nesse exato momento que a parte passa a ter direito adquirido às regras recursais em vigor. (Vale lembrar que esse seria um bom exemplo para a aplicação do princípio da fungibilidade, caso fosse interposto o recurso errado).
1.3) Normas Processuais Heterotópicas:
Consiste na introdução de norma penal dentro de um diploma processual penal, ou vice-versa. Tal norma não se confunde com as normas processuais mistas, já que estas apresentam dupla natureza, ou seja, de direito material em uma parte e de direito processual em outra: a norma processual mista junta as duas coisas. Já a norma heterotópica não; ela é norma material em diploma processual, ou vice-versa.
Ex. Causas extintivas da punibilidade espalhadas pela legislação processual penal.
2) Classificação do Procedimento Comum:
Antigamente, o procedimento comum era classificado de acordo com a natureza da pena (por isso, às vezes, o CPP fala “nos crimes punidos com reclusão...”). Mas isso mudou. Hoje, com o advento da Lei 11.719/08, que alterou o procedimento comum, este passou a ser classificado de acordo com a quantidade de pena.
*O art. 313, I, do CPP – Cabe preventiva para os crimes com pena (apenas) SUPERIOR a 4 anos.
Se o crime não estiver sujeito a nenhum procedimento especial, será aplicado o procedimento comum (que é um procedimento subsidiário).
2.1) Observações Importantes:
Obs1: Lei Maria da Penha – Art. 41, da Lei 11.340/06.
Art. 41, Lei 11.343/06 - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099/95.
Se o crime tiver uma pena máxima não superior a 2 anos, ele estará sob o procedimento sumaríssimo, nos juizados. 
Mas se o caso for de Lei Maria da Penha, ainda que a pena máxima não seja superior a 2 anos, o processo não irá para os Juizados. Esse crime sempre será julgado por um juízo comum e a ele será aplicado o procedimento ordinário ou sumário.
Obs2: Estatuto do Idoso – art.94, da Lei 10.741/03:
Art. 94, Lei 10.741/03 - Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099/95, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do CP e do CPP. (Vide ADI 3.096-5 - STF)
Esse dispositivo do Estatuto do Idoso, quando foi editado, criou uma polêmica. Ele dizia “aos crimes previstos nesta lei”. Por isso, alguns começaram a dizer que todo crime praticado contra o idoso poderia ser submetido à lei 9.099/95 e gozar dos benefícios desta lei. Mas, isso seria um contrassenso, pois o Estatuto do Idoso foi criado justamente para beneficiar o idoso.
O tema chegou ao STF, que entendeu que não deveriam ser dados ao agente que pratica crime contra o idoso os institutos despenalizadores da Lei dos Juizados. Aplicar-se-ia e esse acusado apenas o procedimento dos Juizados para os crimes previstos no Estatuto do Idoso.
Então, segundo o STF, se a pena máxima do crime não for superior a 4 anos, no caso do Estatuto do Idoso, deve se aplicar o procedimento comum sumaríissimo (a ideia do legislador foi dar um procedimento mais rápido para esses processos). Mas, atenção! Não se aplicam os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95.
Na realidade, só serão aplicados os institutos despenalizadores no caso das infrações de menor potencial ofensivo – pena não superior a 2 anos). Foi isso que o STF decidiu na ADI 3.096.
EMENTA ADI 3.096: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 39 E 94 DA LEI 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). RESTRIÇÃO À GRATUIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO. SERVIÇOS DE TRANSPORTE SELETIVOS E ESPECIAIS. APLICABILIDADE DOS PROCEDIMENTOS PREVISTOS NA LEI 9.099/1995 AOS CRIMES COMETIDOS CONTRA IDOSOS. (...),.m 2. Art. 94 da Lei n. 10.741/2003: interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, para suprimir a expressão "do Código Penal e". Aplicação apenas do procedimento sumaríssimo previsto na Lei n. 9.099/95: benefício do idoso com a celeridade processual. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras e de interpretação benéfica ao autor do crime. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da Lei n. 10.741/2003.
2.2) Qualificadoras, privilégios, causas de aumento, causas de diminuição e concurso de crimes:
A qualificadora é levada em consideração na hora de se aplicar o procedimento? 
Ex. Crime de homicídio culposo, com pena de 1 a 3 anos; praticado em concurso material com o crime de ocultação de cadáver (art. 211, do CP, também com pena de 1 a 3 anos).
Para se analisar o procedimento a ser aplicado, consideram-se os delitos com as penas somadas ou isoladas?
Em se tratando de qualificadoras, privilégios, causas de aumento, causas de diminuição e concurso de crimes, essas circunstâncias devem ser levadas em consideração para fins de determinação do procedimento adequado. (Cuidado para não confundir com prescrição).
Na hora de se fazer essa análise, com relação às causas de aumento de pena, deve-se aumentar a pena no máximo e diminuir o mínimo possível.
As agravantes e atenuantes não são levadas em conta no momento da análise do procedimento, pois a lei não determina o quantum de aumento ou diminuição. Ademais, elas não são levadas em consideração, pois nem precisam constar da peça acusatória.
2.3) Procedimento adequado nas hipótesesde reunião de processos em face da conexão e da continência:
O primeiro passo para se definir o procedimento é a verificação do juízo com força atrativa.
Ex. Homicídio doloso conexo com o crime de tráfico de drogas. O Tribunal do Júri exerce força atrativa, salvo com relação aos crimes militares e eleitorais. Então, o procedimento a ser utilizado é o procedimento do Júri.
Ex.2: E se o juízo com força atrativa for o juízo comum? E se os dois crimes forem de competência do juízo comum, mas com procedimentos diferentes? 
Ex. Roubo, com pena de 4 a 10 anos e tráfico de drogas, com procedimento especial, previsto na Lei 11.343/06. Se o tráfico fosse julgado sozinho, seria adotado o procedimento especial. 
Sobre o assunto, vale observar que a antiga lei de drogas (Lei 6.368/76) possuía um artigo que tratava da matéria. Esse artigo dizia que, em caso de conexão e continência relativas a infrações de procedimentos distintos, deveria ser adotado o procedimento da infração mais grave. 
Mas, cuidado! Esse artigo 28, da Lei 6.368/76 foi revogado!!! Ademais, a doutrina sempre criticou esse dispositivo, mesmo antes da revogação. 
Embora a nova lei de drogas nada tenha dito sobre o assunto, o entendimento que vem prevalecendo é o de que, no caso de conexão entre crimes com procedimentos distintos, deve prevalecer o procedimento mais amplo (que, ressalte-se, não é necessariamente o mais demorado). Ou seja, deve prevalecer aquele procedimento que melhor assegura às partes o exercício de suas faculdades processuais, preservando-se o contraditório e a ampla defesa.
Então, reitere-se que não se deve adotar o procedimento do crime mais grave, mas sim o procedimento mais amplo, sendo este aquele que melhor assegura à parte o exercício de suas faculdades processuais.
No exemplo, o procedimento mais amplo é o procedimento comum ordinário (e não o da lei de drogas), pois nele, a audiência é maior, pode ser fracionada, as alegações finais podem ser substituídas por memoriais, etc. A única vantagem do procedimento especial da lei de drogas é a defesa preliminar. Mas é só essa.
Nesse sentido, STJ, HC 204.658:
EMENTA STJ HC 204.658: HABEAS CORPUS . TRÁFICO DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES. ART. 12 DA LEI Nº 10.826/03. ALEGADA INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEI 11.343/2006. CRIMES CONEXOS. ADOÇÃO DO RITO ORDINÁRIO. DEFESA PRELIMINAR APRESENTADA NOS TERMOS DO ART. 396 DO CPP. EIVA INOCORRENTE. 
1. Atribuindo-se à acusada a prática de crimes diversos, alguns previstos na Lei 11.343/06 e outros que observam o rito estabelecido no Código de Processo Penal, este deve prevalecer, em razão da maior amplitude à defesa no procedimento nele preconizado (Precedentes STJ). 
2. A não adoção do rito previsto na Lei nº 11.343/2006 não ocasionou prejuízo à paciente, pois além do procedimento ordinário ser o apropriado ao caso em comento, a apresentação de defesa preliminar lhe foi oportunizada nos termos do art. 396 da Lei Adjetiva Penal antes do recebimento da exordial acusatória, motivo pelo qual não se constata a ocorrência de vício a ensejar a invalidação da instrução criminal. 
3. A inobservância do rito procedimental previsto no art. 55 da Lei 11.343/2006, que estabelece a apresentação de defesa preliminar antes do recebimento da denúncia, implica em nulidade relativa do processo, razão pela qual deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão.
4. Não logrando a defesa demonstrar que foi prejudicada, impossível agasalhar-se a pretensão de anular o feito, pois no sistema processual penal brasileiro nenhuma nulidade será declarada se não restar comprovado o efetivo prejuízo (art. 563 do CPP). (...)
3) Oferecimento da Peça acusatória (art. 41, do CPP):
Art. 41, do CPP - A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
A peça acusatória deve estar lastreada por elementos informativos relacionados à autoria e materialidade.
4) Juízo de Admissibilidade da Peça Acusatória:
Se o promotor ofereceu denúncia, os autos serão conclusos ao juiz, que irá fazer juízo de admissibilidade, ou recebendo (juízo positivo) ou rejeitando (juízo negativo) a peça acusatória.
Qual o momento correto para a realização do juízo de admissibilidade? Quanto ao momento, há uma aparente antinomia entre os artigos 396 e o art. 399, do CPP.
	Art. 396, do CPP
	Art. 399, do CPP
	Esse artigo diz que o juízo de admissibilidade deve ser feito imediatamente após o oferecimento da peça acusatória.
Art. 396, do CPP - Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
	Uma leitura isolada desse artigo pode levar à conclusão de que, antes do juízo de admissibilidade, incumbe ao magistrado notificar o acusado para apresentar defesa preliminar.
Art. 399, do CPP - Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Hoje, vem se entendendo que o momento a ser aplicado para o juízo de admissibilidade da peça acusatória é o do art. 396, do CPP. Essa, entre outras, é a posição do STJ, no HC 138.089. (Alguns doutrinadores falam que haveria dois juízos de admissibilidade, mas isso é muito minoritário).
EMENTA STJ, HC 138.089: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 396-A DO CPP. LEI nº 11.719/2008. DENÚNCIA. RECEBIMENTO. MOMENTO PROCESSUAL. ART. 396 DO CPP. RESPOSTA DO ACUSADO. PRELIMINARES. MOTIVAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. I - A par da divergência doutrinária instaurada, na linha do entendimento majoritário (Andrey Borges de Mendonça; Leandro Galluzzi dos Santos; Walter Nunes da Silva Junior; Luiz Flávio Gomes; Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto), é de se entender que o recebimento da denúncia se opera na fase do art. 396 do Código de Processo Penal. II - Apresentada resposta pelo réu nos termos do art. 396-A do mesmo diploma legal, não verificando o julgador ser o caso de absolvição sumária, dará prosseguimento ao feito, designando data para a audiência a ser realizada. III - A fundamentação referente à rejeição das teses defensivas, nesta fase, deve limitar-se à demonstração da admissibilidade da demanda instaurada, sob pena, inclusive, de indevido prejulgamento no caso de ser admitido o prosseguimento do processo-crime. IV - No caso concreto a decisão combatida está fundamentada, ainda que de forma sucinta. Ordem denegada.
No juízo de admissibilidade, o juiz tem duas possibilidades: receber ou rejeitar a peça acusatória.
5) Rejeição da Peça Acusatória:
5.1) Causas de rejeição da peça acusatória (art. 395, do CPP):
Art. 395, do CPP - A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
a) Inépcia da peça acusatória:
Trata-se do não preenchimento de seus requisitos obrigatórios (inépcia formal). 
Ex. Denúncia genérica; crime culposo sem a descrição da modalidade da culpa.
Alguns doutrinadores falam, ainda, em inépcia material, que ocorreria quando não há justa causa para o início do processo. Essa distinção já não faz tanta diferença, pois o legislador criou uma hipótese específica de rejeição da inicial pela falta de justa causa, que é o caso do inciso III.
Segundo dos Tribunais, a inépcia da peça acusatória só pode ser arguida até a sentença, sob pena de preclusão. Se a parte permaneceu calada até o momento da sentença,conseguindo se defender, é porque a denúncia não tinha problema. Nesse sentido, STF, RHC 98.091.
EMENTA STF, RHC 98.091: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS. SENTENÇA CONDENATÓRIA FUNDAMENTADA. PRECLUSÃO DA ARGUIÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. COMPORTAMENTOS TÍPICOS ATRIBUÍDOS AOS RECORRENTES DESCRITOS NA DENÚNCIA. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. HIPÓTESES TAXATIVAS. 1. (...) 3. A arguição de inépcia da denúncia está coberta pela preclusão quando, como na espécie, aventada após a sentença penal condenatória, o que somente não ocorre quando a sentença vem a ser proferida na pendência de habeas corpus já em curso. 4. Denúncia que contém "a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias", com adequada indicação da conduta ilícita imputada aos recorrentes, de modo a propiciar a eles o pleno exercício do direito de defesa (art. 41 do Código de Processo Penal). 5. Hipóteses descritas no art. 252 do Código de Processo Penal. Rol taxativo. 6. Recurso ao qual se nega provimento.
b) Ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação:
São condições da ação a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade ad causam e o interesse de agir. Há quem entenda, ainda, que a justa causa seria uma quarta condição da ação (mas para fins de rejeição da denúncia, a justa causa é uma hipótese autônoma).
Já os pressupostos processuais, segundo a doutrina, são: pressupostos processuais de existência e pressupostos processuais de validade, assim:
	Pressupostos de Existência
	Pressupostos de Validade
	· Existência de uma demanda, que é veiculada pela peça acusatória.
· Órgão investido de jurisdição (obs: juiz impedido profere sentença inexistente, pois sem juízo imparcial, não há jurisdição);
· Presença de partes que possam estar em juízo.
	· Inexistência de vícios processuais (para que o processo possa ser considerado válido)
· Originalidade da demanda (inexistência de litispendência ou de coisa julgada).
c) Ausência de justa causa para o exercício da ação penal:
A expressão justa causa possui vários significados. Mas, para fim de rejeição da pela acusatória, justa causa é aquele lastro probatório mínimo indispensável para a instauração de um processo penal.
5.2) Rejeição parcial da peça acusatória:
 Pergunta de Concurso: É possível rejeição parcial da peça acusatória? 
R: Cuidado! Entende-se que o juiz não pode alterar a classificação constante da denúncia. A rejeição parcial da peça acusatória é plenamente possível, por mais que se entenda que não é dado ao juiz alterar a classificação dos fatos delituosos por ocasião do recebimento da peça acusatória.
Ex. Suponha-se que o promotor ofereceu denúncia por um crime de furto e por um crime de ação privada. Nesse caso, o juiz receberá a denúncia do furto, mas rejeitará a denúncia pela calúnia.
5.3) Recurso Adequado contra a rejeição da peça acusatória:
Cuidado! Antigamente, alguns doutrinadores do Sul entendiam que “rejeição” era diferente de “não recebimento” da denúncia.
Mas, hoje, entende-se que esses termos são sinônimos. Quanto ao recurso adequado, não houve qualquer alteração do CPP, continuando a ser o RESE, conforme art. 581, I, do CPP.
Art. 581, CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa;
 Pergunta de Concurso: O acusado vai participar do julgamento desse RESE, mesmo ainda não tendo sido citado? Ele deve ser chamado ao processo para apresentar contrarrazões? 
R: Sim. O acusado deve ser intimado para que apresente contrarrazões por meio de seu advogado constituído. 
Cuidado! É muito comum, nesse caso, que o juiz, antes de intimar o acusado, já lhe nomeie defensor público. Mas, antes de o juiz mandar o réu para a Defensoria, ele deve respeitar o direito de o acusado escolher o seu defensor. O juiz só pode nomear um defensor se ele permanecer inerte (se o acusado não constitui advogado, o juiz pode nomear defensor). Nesse sentido súmula 707, do STF:
Súmula 707, do STF - Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
Essa súmula é importante porque (1) demonstra a necessidade de se apresentar contrarrazões e (2) demonstra, ainda, a necessidade de intimar o denunciado para escolher seu defensor.
Obs: O recebimento da peça acusatória interrompe a prescrição. 
 Pergunta de Concurso: Suponha-se que o juiz de primeiro grau rejeitou a denúncia. O MP interpôs o RESE. O acusado é intimado e o advogado dele apresenta contrarrazões. O TJ julga o recurso e dá provimento ao RESE, recebendo a peça acusatória. O Tribunal, então, devolve os autos à primeira instância. Sabendo-se que o recebimento da denúncia é causa de interrupção da prescrição, qual é o marco de interrupção: quando o Tribunal julga o recurso ou quando os autos dão entrada na primeira instância?
R: A regra é a de que a prescrição é interrompida quando o Tribunal julga o recurso e recebe a denúncia. Então, o acórdão que dá provimento a este RESE vale desde já como o recebimento da peça acusatória, com a consequente interrupção da prescrição, mas SALVO SE RECONHECIDA A NULIDADE DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA*.
* ATENÇÃO!!! Pode ser que na hora de julgar o RESE contra a rejeição da denúncia, o Tribunal reconheça a nulidade da decisão de primeiro grau. Então, o Tribunal vai devolver os autos ao juiz de primeira instância, que deverá proferir nova decisão. E, se, nessa situação, o magistrado de primeiro grau, ao proferir nova decisão, receber a denúncia, a interrupção da prescrição ocorrerá nesse momento (em que o juiz profere a nova decisão, agora de recebimento da denúncia), e não no momento da decisão do Tribunal que anulou a decisão de primeiro grau. Nesse sentido, súmula 709, do STF:
Súmula 709, do STF - Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.
Obs2: Nos Juizados, o recurso adequado contra a decisão que rejeita a denúncia é a apelação.
Art.82, Lei 9.099/95 – Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
6) Recebimento da peça acusatória:
6.1) (Des)necessidade de Fundamentação:
A decisão que recebe a peça acusatória precisa ser fundamentada? Aqui, a doutrina é dividida.
1ª Corrente) Uma primeira corrente entende que deve haver fundamentação, pois essa decisão também é uma decisão judicial. Mas, atenção! Essa fundamentação, porém, deve ser de maneira adequada, para que não haja prejulgamento. O ideal na hora de fundamentar é colocar, a contrario sensu, as causas de rejeição, como, por exemplo: a denúncia não é inepta, há justa causa e estão presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. Essa é a posição da doutrina.
2ª Corrente) Entende que não há necessidade de fundamentação do recebimento da denúncia. Há decisões, inclusive, admitindo o recebimento tácito da denúncia (STJ, HC 68.926). 
Mas esse entendimento é excepcionado no caso de PROCDEDIMENTOS EM QUE HÁ PREVISÃO LEGAL DE DEFESA PRELIMINAR. A defesa preliminar é feita antes do recebimento da peça acusatória. Então, nesse caso, o recebimento deve ser fundamentado. Nesse sentido, STF (HC 84.919).
EMENTA STF, HC 84.919: AÇÃO PENAL. Funcionário público. Defesa preliminar. Oferecimento. Denúncia. Recebimento. Decisão não motivada. Nulidade. Ocorrência. Habeas corpus concedido para anular o processo desde o recebimento da denúncia. Oferecida defesa preliminar, é nula a decisão que, ao receber a denúncia, desconsidera as alegações apresentadas.
6.2) Consequências do recebimento da peça acusatória:
Quais são as consequências do recebimento da peça acusatória? 
· A mais importante delas é a interrupção da prescrição. Atenção! Esse efeito só existe se essa decisãode recebimento for dada por um juiz competente.
· É causa de fixação da competência por prevenção.
· Para muitos, o recebimento da denúncia ou queixa marca o início do processo. No CPPM, o art. 35 é expresso neste sentido. Mas, para uma minoria, o processo começa com o oferecimento.
Art. 35, CPPM - O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não.
6.3) Recurso Adequado contra o recebimento da peça acusatória:
Cuidado! Não há previsão legal quanto a qualquer recurso. Mas, não se pode esquecer que os Tribunais têm admitido que seja utilizado o HC, para fins de trancamento do processo, nas hipóteses excepcionais de manifesta atipicidade formal, extinção da punibilidade, ausência de justa causa e ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação. 
Obs: Embora alguns falem “trancamento da ação”, na realidade o que se está trancando é o processo, pois a ação, inclusive, já foi exercida.
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AULA 05 – 13/09/12
7) Citação do acusado:
7.1) Conceito de citação:
Citação é o ato de comunicação processual por meio do qual se dá ciência ao acusado acerca da instauração de um processo penal contra a sua pessoa, ao mesmo tempo em que o convoca para exercer seu direito de defesa.
A citação é importante porque por ela se dá ciência ao acusado do processo contra a sua pessoa e porque chama o acusado a responder. Então, ela é um misto de duas garantias constitucionais: contraditório e ampla defesa, respectivamente.
Eventual vício da citação é causa de nulidade absoluta do processo, e pode ser arguido mesmo após o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória imprópria.
Então, quando a nulidade absoluta prejudica o acusado, ela pode ser arguida mesmo após o trânsito em julgado (de uma sentença condenatória ou absolutória imprópria), através de um HC ou de uma revisão criminal.
 Pergunta de Concurso: Como se chama a citação viciada, que gera uma nulidade absoluta?
R: O vício da citação se chama “CIRCUNDUÇÃO”. A citação viciada é chamada de “citação circunduta”.
Se, a despeito do vício da citação, o acusado tomar conhecimento do processo, a nulidade não deve ser declarada. Essa é uma hipótese interessante de nulidade absoluta que não deve ser declarada, por não haver prejuízo ao acusado. Esse é um dos exemplos mais interessantes no processo penal de instrumentalidade das formas. O princípio da instrumentalidade das formas diz que, mesmo diante de um vício, se a finalidade do ato foi atingida, não há porque se declarar a sua nulidade.
Art. 570, CPP - A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.
7.2) Finalidade da Citação:
Quando se pergunta qual a finalidade de um ato processual, deve-se olhar o próximo ato processual a ser praticado (afinal, o procedimento é um conjunto de atos destinado a obter um provimento final).
O que vem depois da citação? Com o advento da Lei 11.719/08, a citação visa à apresentação da resposta à acusação. Antigamente, o acusado era citado para que fosse interrogado. Mas, hoje, é errado falar que o acusado será citado para ser interrogado. O acusado, na realidade, é citado para tomar ciência do processo e responder à acusação.
Sobre o assunto, é importante observar o art. 396, do CPP, in verbis:
Art. 396, do CPP - Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Mas, cuidado! Em alguns procedimentos especiais a finalidade da citação continua sendo o interrogatório, pois neles, o interrogatório continua sendo o primeiro ato da instrução. Isso ocorre seguintes procedimentos:
· Lei de Drogas – Art. 57, da Lei 11.343/06 - Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.
· CPPM;
· Procedimento originário dos Tribunais (art. 7º, da Lei 8.038/80) – Recebida a denúncia ou queixa, o relator designará dia e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso.
Cuidado! Há uma decisão dada pelo STF em que a Corte, analisando um caso de procedimento originário de Tribunal, entendeu que mesmo no procedimento originário daquele Tribunal o interrogatório deveria ser realizado nos moldes do que ocorre com o procedimento comum, ou seja, ao final da instrução do processo (AgR na AP 528).
EMENTA AGR NA AP 528: PROCESSUAL PENAL. INTERROGATÓRIO NAS AÇÕES PENAIS ORIGINÁRIAS DO STF. ATO QUE DEVE PASSAR A SER REALIZADO AO FINAL DO PROCESSO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 400 DO CPP. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo Tribunal Federal, em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto. Exceção apenas quanto às ações nas quais o interrogatório já se ultimou. III – Interpretação sistemática e teleológica do direito. IV – Agravo regimental a que se nega provimento.
Essa mudança de interpretação da lei feita pela jurisprudência é muito complicada: a partir do momento em que se mudam as regras do procedimento, está se comprometendo a segurança jurídica.
Se o STF entendeu assim para o procedimento originário dos Tribunais, não há razão para não se entendê-lo para os casos de procedimentos de leis de drogas e outros procedimentos. E, se o STF adotar essa interpretação para todos os casos, isso poderia levar a anulação de processos em que o interrogatório foi realizado primeiro. Ocorre que, na prática, o STF não anularia todos esses processos.
7.3) Efeitos da citação válida:
Sobre esse ponto, é importante comparar os efeitos da citação válida no processo civil e no processo penal.
No processo civil, os efeitos da citação são inúmeros. Vejamos o art. 219, do CPC:
Art. 219, do CPC - A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.
Já no processo penal, o único efeito da citação é estabelecer a angularidade da relação processual, fazendo surgir a instância. Aliás, com a reforma do CPP em 2008, esse efeito passou a constar de maneira expressa no art. 363, do CPP:
Art. 363, do CPP - O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.
No processo penal, o que torna o prevento o juízo é prática do primeiro ato decisório relacionado ao caso, ainda que anterior ao oferecimento da peça acusatória. 
Ex. Conversão do flagrante em prisão preventiva – convalidação judicial da prisão em flagrante. 
No CPP, o que interrompe a prescrição é o recebimento da denúncia.
Ainda, o que induz a litispendência é o recebimento da denúncia (pela 2ª vez, em face do mesmo acusado).
Ademais, no processo penal, só se considera interrompida a prescrição pelo juízo competente. A denúncia recebida por um juiz incompetente não interrompe a prescrição.
7.4) Espécies de citação:
a) Citação pessoal ou real: 
Éaquela feita pessoalmente, ou seja, a acusado pessoalmente toma conhecimento da existência do processo. No processo penal, essa citação é a regra e deve ser na própria pessoa do acusado, seja por carta precatória, seja por mandado.
São tipos de citação pessoal ou real: por mandado, por carta precatória, por carta rogatória, do funcionário público, do militar, do acusado preso, do acusado no estrangeiro, do acusado em legação estrangeira, citação mediante carta de ordem, etc.
 Pergunta de Concurso: É possível a citação eletrônica do acusado (ex. email)? A Lei 11.419/06, que dispõe sobre a informatização do processo judicial é aplicada no processo penal?
R: Essa lei pode sim ser aplicada no processo penal. Ver art. 1º, da Lei 11.419/06. Mas a citação não pode ser feita por meio eletrônico, pois não haveria segurança de que o acusado realmente leu o email. O art. 6º dessa lei é categórico em dizer que não cabe citação por meio eletrônico no processo penal ou em processo referente a ato infracional (ECA).
Art. 1o, Lei 11.419/06 - O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.
§ 1o Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.
Art. 6o, Lei 11.419/06 - Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.
 Pergunta de Concurso: Como se faz a citação pessoal da pessoa jurídica?
R: A citação da pessoa jurídica deve ser feita na pessoa de um representante legal ou de algum diretor que tenha poderes especiais para receber a citação. 
 Pergunta de Concurso: Como se faz a citação pessoal dos inimputáveis?
R: Há doutrinadores que entendem que a citação pessoal deve ser feita na pessoa do inimputável. Mas isso é o mesmo que dizer que a citação é inútil, porque ela não surtirá nenhum efeito. Então, no caso dos inimputáveis, o ideal é que a citação seja feita na pessoa do curador. Mas, se o inimputável ainda não tiver curador, o oficial de justiça deve constar isso no mandado de citação, para que tal informação possa levar o juiz a instaurar um incidente de insanidade mental, analisando eventual inimputabilidade. Há doutrinadores que denominam a citação feita na pessoa do curador do inimputável de “citação imprópria”.
b) Citação Ficta ou Presumida:
Segundo a doutrina, na citação ficta trabalha-se com uma presunção de que o acusado tomou ciência da acusação. 
A citação ficta é excepcional. A regra é a citação pessoal, pois ela é que dá a maior segurança de que o acusado realmente tomou conhecimento do processo penal.
No processo penal, existem duas espécies de citação presumida:
b.1) Citação por edital;
b.2) Citação por hora certa;
7.5) Tipos de Citação:
7.5.1) Citação por mandado:
A citação por mandado é a regra. 
Ela ocorre quando o acusado reside na mesma cidade em que tramita o processo e, possui requisitos intrínsecos e extrínsecos. Os requisitos intrínsecos do mandado estão colocados no art. 352, do CPP.
Art. 352, do CPP - O mandado de citação indicará: 
I - o nome do juiz; 
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa; 
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos; 
IV - a residência do réu, se for conhecida; 
V - o fim para que é feita a citação; 
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer; 
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.
Já os requisitos extrínsecos estão no art. 357, do CPP. São eles a contrafé é a cópia da peça acusatória.
Art. 357, do CPP - São requisitos da citação por mandado: (fala como é feita a leitura do mandado);
I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação;
II - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.
7.5.2) Citação por precatória:
É a que deve ser feita quando o acusado reside em comarca distinta daquela onde está tramitando o processo, MAS EM LOCAL CERTO E SABIDO.
Art. 353, do CPP - Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será citado mediante precatória.
Atenção! A doutrina chama de “carta precatória itinerante” a carta que chega em uma comarca mas o oficial de justiça toma conhecimento de que o acusado se mudou para outra localidade. Nesse caso, a carta é remetida para outra localidade. Sobre o assunto, vale ler o art. 355, §1º, do CPP:
Art. 355, do CPP - A precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de traslado, depois de lançado o "cumpra-se" e de feita a citação por mandado do juiz deprecado.
§ 1o Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.
Ainda sobre a carta precatória, é importante observar o art. 355, §2º, do CPP:
Art. 355, §2o, do CPP - Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.
Se no juízo deprecado o oficial de justiça verificar que o acusado está se ocultando para não ser citado, a precatória será devolvida para o fim da citação por hora certa. 
Atenção! O dispositivo em comento faz referência ao art. 362, do CPP, que falava da citação por edital. Mas, hoje, o art. 362, do CPP fala da citação por hora certa. Então, hoje, o réu que se oculta para não ser citado deve ser citado por hora certa, e não por edital.
Atenção! A citação por hora certa se dá independentemente de prévia manifestação do juízo deprecante. Se o acusado se oculta, ele deve ser citado por hora certa imediatamente. Então, não há mais necessidade de a carta precatória ser devolvida ao juízo deprecante para nova manifestação sobre a citação (o antigo artigo 362 exigia nova manifestação do juízo deprecante porque se referia à citação por edital).
7.5.3) Citação do Militar:
Art. 358, do CPP - A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.
A citação do militar está ligada à hierarquia e disciplina. De modo a preservar esses princípios, a citação deve ser feita por intermédio do respectivo serviço (comandante da unidade).
O artigo 358, do CPP somente é aplicável ao militar da ativa, ou seja, aquela pessoa que ainda é militar. O militar da reserva ou reformado será citado em casa.
No CPPM, em seu art. 280, diz que:
Art. 280, do CPPM - A citação a militar em situação de atividade ou a assemelhado far-se-á mediante requisição à autoridade sob cujo comando ou chefia estiver, a fim de que o citando se apresente para ouvir a leitura do mandado e receber a contrafé.
Essa modalidade de citação funciona da seguinte maneira: o militar é convidado a comparecer em auditoria e lá (na auditoria) o militar é citado, sendo-lhe lido o mandado de citação.
7.5.4) Citação do funcionário público:
Conforme art. 359, do CPP, o funcionário público, em regra, deve ser citado pessoalmente. Caso haja a necessidade de comparecimento em juízo, o chefe do órgão também deve ser comunicado. Isso ocorre porque não pode haver prejuízo à continuidade do serviço público.
Art. 359, do CPP - O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado, será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.
Atenção! Doutrinadores como Pacceli dizem que o chefe deve ser informado somente quanto à data do comparecimento, e não sobre detalhes quanto ao processo criminal, até para não haver nenhum tipo de constrangimento ao servidor com relação ao crime praticado.
7.5.5) Citação do acusado preso:
***ATENÇÃO!! ESSA É A MAIS IMPORTANTE MODALIDADE DE CITAÇÃO!!!
Deve-se observar a redação original do art. 360, do CPP, que dizia:
Art. 360, do CPP- Se o réu estiver preso, será requisitada a sua apresentação em juízo, no dia e hora designados.
Pela redação antiga do CPP, se o acusado estivesse preso, bastava a sua requisição ao diretor do presídio para que ele passasse a fazer parte do processo. Pela lei, se o acusado estivesse preso, ele nem precisava ser citado, bastando que fosse requisitado. Mas esse regramento era alvo de duras críticas pela doutrina.
O artigo 360, do CPP foi alterado pela Lei 10.792/03, que dispôs que se o acusado estivesse preso, ele deveria ser citado pessoalmente.
Art. 360, do CPP - Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Especial atenção deve ser dispensada à súmula 351, do STF, que deve ser interpretada com muito cuidado!
Súmula 351, STF – É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.
O que essa súmula está dizendo é que se, por exemplo, o acusado está preso no Estado “x” o juiz desse Estado “x” não pode citá-lo por edital. O juiz é obrigado a saber que o acusado está preso no estado em que ele exerce jurisdição.
A súmula 351 é antiga, criada pelo STF antes da Lei 10.792/03. Depois dessa lei, foi dada nova redação ao art. 360 do CPP, que determina a citação pessoal do “réu preso” (não fala em réu que está preso na mesma unidade da federação, mas apenas do acusado “preso”). 
A doutrina, diante da nova redação do art. 360, do CPP, diz que se o acusado está preso, ele deve ser citado pessoalmente, pouco importanto a localidade da prisão. Para a DOUTRINA, diante da nova redação do art. 360 do CPP, a súmula 351, do STF está ultrapassada. 
Obs: A lei de prisões criou o banco nacional de mandados de prisão, que funciona junto ao CNJ e é um instrumento para se saber a localização de um eventual acusdo preso. Se a pessoa está presa, pouco interessa onde, pois o Estado tem que ter essas informações.
Contudo, os Tribunais Superiores, e a jurisprudência como um todo, entendem que a súmula 351, do STF continua válida. Vide STJ, HC 162.339, que entendeu que, se o acusado estiver preso em outra unidade da federação, ele poderá ser citado por edital.
EMENTA STJ, HC 162.339: HABEAS CORPUS . ESTELIONATO (ARTIGO 171, § 2º, INCISO I, COMBINADO COM OS ARTIGOS 29 E 61, INCISO II, ALÍNEA H, TODOS DO CÓDIGO PENAL). CITAÇÃO POR EDITAL. ALEGADO NÃO ESGOTAMENTO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA LOCALIZAR O PACIENTE. ACUSADO PRESO EM OUTRO ESTADO DA FEDERAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA SÚMULA 351 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NULIDADE NÃO CARACTERIZADA. 1. Tendo o paciente sido citado nos dois endereços nos quais residiria, sendo um deles o de sua mãe, e que foi por ele mesmo fornecido em cadastro junto à Justiça Eleitoral, e inexistindo nos autos quaisquer outras informações que pudessem auxiliar na sua localização pelo Juízo, não se pode vislumbrar a nulidade da citação por edital, que foi implementada de acordo com os requisitos legais. Precedentes. (...) 3. O simples fato de o paciente se encontrar segregado em outro Estado da Federação à época em que iniciadas as investigações e instaurada a ação penal em seu desfavor, não é suficiente para anular o processo em exame, pois evidenciadas as inúmeras diligências efetuadas no sentido de localizá-lo. 4. Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento uniforme no sentido de que a Súmula 351 da Suprema Corte, que prevê a nulidade da "citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação em que o juiz exerce a sua jurisdição ", só tem incidência nos casos de réu segregado no mesmo Estado no qual o Juiz processante atua, não se estendendo às hipóteses em que o acusado se encontra custodiado em localidade diversa daquela em que tramita o processo no qual se deu a citação por edital. Contudo, mesmo que se pudesse estender o enunciado 351 da Súmula da Suprema Corte aos réus presos em Estados distintos daquele em que o magistrado exerce sua jurisdição, o certo é que o mencionado entendimento só pode ser adotado quando a localização do acusado era conhecida pelo Juízo, ou quando tal informação era possível no caso concreto, circunstâncias não demonstradas na hipótese em exame, na qual foram envidados todos os esforços no sentido de encontrar o paciente. 2. Ordem denegada. 
7.5.6) Citação do acusado no estrangeiro:
Sobre o assunto é importante ler o art. 368, do CPP, que diz:
Art. 368, do CPP - Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
A citação do acusado no estrangeiro, de acordo com o art. 368, do CPP será realizada através da carta rogatória, que tramita perante o Ministério da Justiça, órgão que solicita a expedição da carta ao Ministério das Relações Exteriores. Só estará expedida a carta rogatória se se puder apontar o local certo e sabido onde o acusado reside.
 Pergunta de Concurso: Qual a espécie de crime que autoriza a citação por carta rogatória?
R: Até pouco tempo atrás, a citação por carta rogatória só era possível caso a infração por ele praticada fosse inafiançável. Isso era uma pérola, que não existe mais. A citação por carta rogatória no estrangeiro do acusado que está em local certo e sabido ocorrerá tanto no caso de infração afiançável quanto inafiançável.
O legislador sabe que a citação por rogatória demora muito tempo. Por isso, passou a prever que, uma vez expedida a carta, haverá a suspensão da prescrição. Nesse caso, vale destacar que ocorrerá a suspensão apenas da prescrição. Atenção! O processo não será suspenso (se se está citando alguém, é porque o processo está em andamento). Então, essa é uma hipótese em que o processo penal está em andamento, mas a prescrição está suspensa.
Obs: Art. 222-A, do CPP e a citação por carta rogatória:
Art. 222-A, do CPP - As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio. (Incluído pela Lei nº 11.900/09)
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
O art. 222-A, do CPP é interessante porque leva o intérprete a questionar se é necessária a sua observância para que haja a expedição da carta rogatória para a citação do acusado no estrangeiro. O art. 222-A se aplica à citação por carta rogatória? Também será necessário demonstrar previamente a imprescindibilidade da carta? E a parte requerente deve pagar as custas dessa carta?
Atenção! O art. 222-A está localizado no capítulo que trata das testemunhas, e não da citação. Ele se refere à carta rogatória expedida para a oitiva de testemunhas, e não à carta rogatória expedida para a citação do acusado no estrangeiro.
O art. 222-A, do CPP foi criado pois, antigamente, muitos acusados arrolavam testemunhas que estavam no exterior para atrasar o andamento do processo. Esse artigo veio para dificultar essas práticas, de modo que, hoje, se um acusado quiser arrolar uma testemunha no estrangeiro, ele deverá pagar por essa diligência e deve, também, demonstrar a necessidade do ato.
Mas, no caso da citação, a necessidade da expedição da carta rogatória é presumida, de modo que esse dispositivo não se aplica à citação do acusado no estrangeiro, e sim à expedição de cartas rogatórias para oitiva de testemunhas no estrangeiro, apenas.
7.5.7) Citação em legações estrangeiras:
Art. 369, do CPP - As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas mediante carta rogatória. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
Legações estrangeiras são embaixadas e consulados no território brasileiro. As citações em legações estrangeiras devem ser feitas por carta rogatória.
Obs: Comparando o art. 368 e 369, do CPP:
	Citação no Estrangeiro
	Citação em Legação Estrangeira
	Art. 368, do CPP - Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-seo curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
	Art. 369, do CPP - As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas mediante carta rogatória.
No art. 369, do CPP, nada é falado a respeito da prescrição. A despeito disso, há quem diga que a prescrição também permanece suspensa nesse artigo, pois ele também trata da citação por rogatória.
Mas esse não é melhor entendimento. A suspensão da prescrição é matéria de direito penal, prejudicial ao acusado. Se se estendesse a suspensão da prescrição para o caso da citação em legações estrangeiras, haveria uma analogia in malan partem, o que é incompatível com o princípio da legalidade.
7.5.8) Citação mediante carta de ordem:
A carta de ordem é semelhante a uma carta precatória, mas é aquela expedida por um Tibunal aos juízes subordinados.
Sobre o assunto, é interessante notar a Lei 8.038/90, art. 9º, §1º, do CPP. 
Art. 9º, § 1º, Lei 8.038/90 - O relator poderá delegar a realização do interrogatório ou de outro ato da instrução ao juiz ou membro de tribunal com competência territorial no local de cumprimento da carta de ordem.
(Todas as citações citadas até agora foram pessoais, reais).
7.5.9) Citação por edital:
Quanto à citação por edital, já foi dito que ela é uma espécie de citação presumida.
Os requisitos do edital de citação constam do art. 365, do CPP:
Art. 365, do CPP - O edital de citação indicará:
I - o nome do juiz que a determinar;
II - o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo;
III - o fim para que é feita a citação;
IV - o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;
V - o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação.
Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da publicação.
Atenção! O incivo V trata do chamado “prazo de dilação”. Esse é o prazo que o edital fica publicado. Quando o edital é publicado, a citação tem um prazo para que se considere realizada. Somente se considera feita a citação no dia em que expira o prazo previsto no edital publicado.
 Art. 361, do CPP - Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias.
Cuidado! A Súmula 366, do STF, que diz:
Súmula 366, do STF - Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não lhe transcreva a deníncua ou a queiza, ou não resuma os fatos em que se baseia.
No passado, havia quem dissesse que o edital de citação deveria conter a transcrição integral da denúncia, como se fosse uma contrafé. Mas esse entendimento não prevaleceu. Por isso, a súmula diz que basta a indicação do dispositivo legal.
Nos Juizados, não cabe citação por edital e nem citação por rogatória.
São hipóteses que autorizam a citação por edital:
· Acusado em local inacessível (ex. epidemia, guerra, motivo de força maior). 
Obs: Favela não é local inacessível. Não enseja citação por edital. Nada impede que o oficial de justiça requisite auxílio de força policial para chegar ao local da citação.
Nesse caso de local inacessível, o CPP diz que se aplica subsidiáriamente o art. 231, II, do CPC, que diz:
Art. 231, do CPC - Far-se-á a citação por edital:
II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar;
§ 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento de carta rogatória.
§ 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão.
· Acusado estiver em local incerto e não sabido.
Obs: Suponha-se que o oficial de justiça foi à casa do acusado e não o encontrou. O oficial de justiça não pode fazer uma Certidão dizendo que o acusado está em local incerto e não sabido e pedir a sua citação por edital. A citação por edital é medida de natureza excepcional. Então, antes de se recorrer a ela, devem ser esgotados os meios de localização do acusado. (O oficial de justiça deve tentar encontrá-lo mais vezes). Pode-se citar um julgado do STF (HC 88.548) em que se entendeu que a citação por edital teria sido prematura por não ter havido nenhuma tentativa de localizaçao do acusado.
EMENTA STF, HC 88.548: Habeas Corpus. 1. Paciente condenado à pena de 30 (trinta) anos de reclusão, em regime integralmente fechado, mais 15 (quinze) dias-multa, pela prática dos crimes de latrocínio consumado e latrocínio tentado (arts. 157, § 3º, 2ª parte e 157, § 3º, 2ª parte c/c 14, II e 71, § único, do CP). 2. Citação editalícia diretamente determinada pelo Juízo, à vista de anterior informação, colhida na fase de inquérito, de que o então indiciado não fora localizado em seu local de trabalho e no endereço residencial que constava de sua ficha cadastral. 3. Constata-se que não foram esgotados todos os meios disponíveis para a citação pessoal do paciente, antes de proceder-se à citação por edital. 4. Não se verificando a regular cientificação do acusado, com uso de todos os meios ao alcance do Juízo para que fosse localizado, negou-se-lhe o direito ao interrogatório, ato classificado pela melhor doutrina, ao mesmo tempo, como meio de prova e de defesa, e, em acréscimo, lhe foi retirada a prerrogativa de, livremente, escolher o advogado incumbido de sua defesa, elegendo, junto com este, as testemunhas que caberia arrolar e as demais provas que poderia produzir. Precedentes. 5. Patente situação de constrangimento ilegal. 6. Ordem deferida para anular o processo a partir da citação editalícia levada a efeito pelo Juízo do 2º Tribunal do Júri da Capital de São Paulo, daí renovando-se o feito em todos os seus demais termos, devendo o Paciente ser colocado em liberdade se, por outro motivo, não estiver preso.
A consequência da citação por edital é que se o acusado não aparece no processo será aplicado o art. 366, do CPP. Se o acusado é citado por edital, mas não comparece ao processo e nem constitui advogado, aplica-se o art. 366, havendo a suspensão do processo e da prescrição.
Art. 366, do CPP - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
* Sobre o art. 366, do CPP, vide Aula 03 de lavagem de capitais.
7.5.10) Citação por hora certa:
A citação por hora certa foi introduzida no CPP pela Lei 11.719/08.
Art. 362, do CPP - Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Os requisitos para que seja feita a citação por hora certa são: 
· Acusado procurado por 3 vezes em seu endereço e não encontrado;
· Suspeita de ocultação (ex. o oficial de justiça vê que tem pessoa na casa, mas que ela não quer abrir a porta ou atender ao interfone, etc).
O procedimento da citação por hora certa funciona como dispõe o CPC:
Art. 227, do CPC - Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Art. 228,do CPC - No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência.
§ 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca.
§ 2o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.
Art. 229, do CPC - Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.
Qual é a consequência da citação por hora certa? Se o acusado que se ocultava para não ser citado não responder à acusação, o juiz DECRETARÁ A SUA REVELIA, OU SEJA, O PROCESSO RETOMARÁ SEU CURSO NORMAL COM A NOMEAÇÃO DE DEFENSOR DATIVO.
Será nomeado defensor dativo para o acusado que, citado por hora certa, não comparecer ao processo (não apresentar a resposta à acusação).
Obs: Compatibilidade da citação por hora certa com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos: A Convenção Americana, em seu art. 8º, §2º, “b”, diz que o acusado tem direito à comunicação prévia e pormenorizada da acusação formulada. A citação por hora certa é compativel com isso? Para prova de Defensoria, deve-se dizer que não. Mas, para outras provas, deve-se dizer que não há qualquer problema com a citação por hora certa, inclusive com relação à Convenção Americana de Direitos Humanos. Isto porque a citação por hora certa só será feita para o acusado está se ocultando para não ser citado. E, não se pode premiar o acusado que está agindo dessa forma, pois ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. 
Artigo 8º, CADH - Garantias judiciais
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; 
Obs2: Cabe citação por hora certa nos Juizados Especiais Criminais? A jurisprudência vem entendendo que sim. A citação por hora certa não é tão demorada quanto à citação por edital. Isso é, inclusive, o teor do Enunciado 110, do XXV FONAJE – Fórum Nacional dos Juizados Especiais Criminais: “No juizado criminal, é cabível citação por hora certa”.
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AULA 06 – 1º/10/12
8) Revelia:
Quando ocorre a revelia no processo penal? Quais são os seus efeitos? A revelia ocorre quando o acusado, citado pessoalmente ou por hora certa, deixar de apresentar a resposta à acusação ou de comparecer a ato processual para o qual tenha sido intimado (não comparece e nem constitui advogado).
A revelia no processo penal está ligada ou à citação ou intimação pessoal ou por hora certa.
 Art. 367, do CPP - O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
Quais são as consequências decorrentes da revelia? O processo prosseguirá sem a presença do acusado, assegurada, porém, a assistência da defesa técnica. (Não se pode admitir a continuação do processo sem um advogado de defesa).
Art. 362, do CPP - Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 do CPC.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo. 
Cuidado! Não se pode confundir a revelia no processo civil com a revelia no processo penal! No processo penal vigora o princípio da presunção de inocência. Então, não serão presumidos com verdadeiros os fatos alegados na denúncia ou queixa. No processo penal, por conta da regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência, a revelia não acarreta a veracidade dos fatos contidos na peça acusatória. Então, por mais que acusado seja revel, continua recaindo sobre a acusação o ônus de provar os fatos descritos na inicial.
Nem mesmo a confissão real tem valor absoluto no processo penal, devendo ser confrontada com outros elementos de prova. Logo, ainda mais a confissão presumida não pode existir no processo penal (e de fato não existe).
Art. 197, do CPP - O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.
Na prática, qual é o efeito da revelia no processo penal? O único efeito da revelia no processo penal é a desnecessidade da intimação do acusado para os demais atos processuais (já que não existe confissão ficta no processo penal).
Atenção! Há desnecessidade de intimação é “DO ACUSADO”. A defesa (advogado, defensor) deve continuar sendo intimada.
Ademais, existem hipóteses em que mesmo o acusado revel deve continuar sendo intimado: são os casos de sentença condenatória e de sentença absolutória imprópria.
Nesses 2 casos, o acusado deve continuar sendo intimado, mesmo sendo revel. Isto porque, em tais situações, o acusado tem capacidade postulatória autônoma para recorrer. Tanto o acusado quanto o seu defensor possuem capacidades postulatórias distintas para interpor os seus recursos. Então, se o acusado pode recorrer, mesmo sendo revel, ele deve ser intimado da sentença condenatória ou absolutória imprópria. Haverá intimação do acusado revel só nessas duas sentenças, porque nelas, há imposição de pena ou de medida de segurança.
A revelia decretada pelo juiz só cessará caso o acusado compareça posteriormente no processo. Evidentemente, o acusado receberá o processo no estado em que este se encontrar.
9) Reação Defensiva à peça acusatória:
Hoje, há uma grande confusão quanto aos termos a serem utilizados sobre a defesa: defesa prévia, resposta preliminar, reação defensiva, resposta à acusação, etc. Essa falta de técnica quanto às expressões gera uma confusão, pois essas peças são completamente diferentes.
9.1) A extinta Defesa Prévia:
A extinta defesa prévia estava prevista na antiga redação do art. 395, do CPP, antes da reforma processual penal de 2008. Antigamente, o acusado era citado para o seu interrogatório. A defesa prévia era apresentada depois deste interrogatório, no prazo de 3 dias.
Art. 395,do CPP - O réu ou seu defensor poderá, logo após o interrogatório ou no prazo de três dias, oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas.
Hoje, o art. 395, do CPP nem fala mais disso. A defesa prévia não existe mais.
Ainda sobre essa defesa prévia, o prazo para a sua apresentação era de até 3 dias, após o interrogatório. O momento de sua apresentação era após o interrogatório.
Segundo a doutrina e a jurisprudência, a extinta defesa prévia poderia ser apresentada tanto pelo acusado quanto por seu defensor.
A principal finalidade dessa peça era a especificação de provas pretendidas (pois o acusado já havia sido interrogado). Por isso mesmo, o acusado poderia apresentá-la. Na prática, essa peça servia mais para apresentar rol de testemunhas.
As consequências decorrentes da inobservância da extinta defesa prévia (se não houvesse defesa prévia) era a mera irregularidade, desde que houvesse intimação do acusado. A ausência da defesa prévia não era causa de nulidade.Se o acusado, por exemplo, não tivesse testemunha, essa peça não era nem apresentada.
9.2) Defesa Preliminar:
Essa defesa preliminar não está prevista em todos os procedimentos. Ela só é prevista em alguns procedimentos especiais, quais sejam:
a) Lei de Drogas;
b) Procedimento Originário dos Tribunais;
c) Juizados Especiais Criminais (em que essa defesa pode ser apresentada oralmente);
d) Crimesfuncionais afiançáveis (art. 514, do CPP);
Art. 514, do CPP - Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.
Atenção! Lembrar que, com a Lei 12.403/11, todos os crimes funcionais passaram a ser afiançáveis.
Obs: Há previsão de defesa preliminar também na Lei de Improbidade Administrativa. Mas, atenção! Essa lei não tem natureza criminal!!! É matéria de direito administrativo.
 (
Defesa Preliminar do art. 514, do CPP:
Doutrina e jurisprudência entendem que essa defesa preliminar só se aplica aos crimes funcionais típicos.
 O simples fato de se ser funcionário público não acarreta, por si só, essa defesa preliminar. É necessário que haja um crime do art. 312, do CP ao art. 326, do CP. Neste sentido, STJ, RHC 22.118. 
EMENTA R
HC 
22.118:
 RECURSO ORDINÁRIO EM 
HABEAS CORPUS 
. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADO POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO (ARTIGO 1º, INCISO II, COMBINADO COM OS ARTIGOS 11 E 12 DA LEI 8.137/1990, NA FORMA DO ARTIGO 71 DO CÓDIGO PENAL). ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA SEM NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE DEFESA PRELIMINAR. DELITO QUE NÃO SE QUALIFICA COMO FUNCIONAL. DESNECESSIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. O procedimento especial previsto nos artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal só se aplica aos delitos funcionais típicos, descritos nos artigos 312 a 326 do Código Penal. Precedentes. 
)
 (
2. No caso dos autos, o recorrente, na qualidade de funcionário público, teria concorrido para a prática de crime fiscal, consistente em fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal. 3. Hipótese que não se enquadra no conceito de "crimes de responsabilidade dos funcionários públicos", para fins de notificação para apresentação de resposta preliminar, nos termos do artigo 514 da Lei Processual Penal. 4. Recurso 
improvido
.
A necessidade dessa defesa preliminar não se aplica aos corréus particulares.
Ademais, a defesa preliminar do art. 514, do CPP só é necessária enquanto o agente estiver no exercício da função pública, já que ela existe para proteger o cargo.
Atenção para o art. 514, parágrafo único do CPP:
Art. 514, parágrafo único, do CPP - 
Se não for conhecida a residência do acusado, 
ou este se achar fora da jurisdição do juiz
, 
ser-lhe-á nomeado defensor
, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.
Esse artigo está dizendo que se o acusado estiver fora da jurisdição, ser-lhe-á nomeado defensor, sem mencionar a necessidade de sua intimação através de carta precatória.
Contudo, apesar da literalidade do dispositivo, a doutrina entende que mesmo o acusado morando em comerca diversa, ele deve ser intimado por carta precatória, pois um dos desdobramentos da ampla defesa é a possibilidade de o próprio acusado nomear o seu defensor. Então, mesmo morando em outra comarca, o acusado deve ser intimado para ter o direito de nomear seu defensor para apresentar a defesa preliminar.
)
O prazo para a apresentação da defesa preliminar varia entre 10 e 15 dias, a depender do procedimento.
O momento da defesa preliminar é entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória (essa é a principal característica para se identificar a defesa preliminar). Isso é muito favorável para o acusado, pois é uma oportunidade de ele se pronunciar antes do juiz receber a acusação.
Quanto à capacidade postulatória, a defesa preliminar só pode ser apresentada por profissional da advocacia. Logo é indispensável a existência de capacidade postulatória, pois o acusado, sozinho, não pode apresentar essa peça (até mesmo porque o objetivo da defesa preliminar é convencer o juiz a não receber a denúncia, e o acusado não tem conhecimento técnico suficiente para isso).
A finalidade de tal reação defensiva (pensar no momento em que a peça é colocada) é convencer o juiz quanto à presença de causa de rejeição da peça acusatória, evitando-se, consequentemente, a instauração de processo temerário.
A inobservância desse procedimento tem consequências polêmicas. Sobre o assunto, é importante o teor da súmula 330 do STJ, que fala sobre o procedimento especial do art. 514, do CPP:
Súmula 330, do STJ - É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial.
Para o STJ, o procedimento do art. 514, do CPP não precisa observar a defesa preliminar quando a ação penal estiver instruída por inquérito policial.
Atenção! Na prova, se cair a posição do STJ, deve-se colocar essa súmula. 
Contudo, a lei prevê a defesa preliminar nada dizendo a respeito da desnecessidade da defesa quando houver inquérito policial. Essa súmula viola o devido processo legal e é incompatível com o princípio da isonomia, pois ela dispensa a defesa preliminar somente quanto ao procedimento do art. 514, do CPP, não dispensando as demais defesas preliminares (para outros casos).
Essa súmula representa a orientação do STJ. Mas, em obter dictum no HC 85.779, o STF se posicionou contrariamente a ela. 
EMENTA STF, HC 85.779: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. DEFESA PRÉVIA. CRIME DE CONCUSSÃO COMETIDO COM GRAVE AMEAÇA: INAFIANÇABILIDADE. NÃO-APLICAÇÃO DO ART. 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. AMPLA DEFESA EXERCIDA PLENAMENTE. INOCORRÊNCIA DA ALEGADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal põe-se no sentido de não violar o princípio do contraditório e ampla defesa a não-apresentação de defesa prévia (art. 514 do Código de Processo Penal) quando o crime praticado por servidor público é exercido com violência e grave ameaça, por ser inafiançável. 2. Não se comprovou afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana na espécie. 3. Habeas corpus denegado.
De todo modo, apesar da enorme divergência e polêmica, tanto o STJ quanto o STF entendem que a ausência de defesa preliminar causa uma nulidade relativa (que deve ser arguida oportunamente, e com a comprovação do prejuízo). Nesse sentido, STF, HC 89.517; STJ, HC 173.384.
EMENTA STF, HC 89.517: AÇÃO PENAL. Funcionário público. Defesa preliminar. Art. 514 do CPP. Ausência. Superveniência de sentença condenatória. Existência de conduta típica. Prejuízo da questão preliminar. HC denegado. A superveniência de sentença condenatória, que denota a viabilidade da ação penal, prejudica a preliminar de nulidade processual por falta de defesa prévia à denúncia.
EMENTA STJ, HC 173.384: HABEAS CORPUS . CONCUSSÃO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA OU BANDO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DECORRENTE DE INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ARTIGO 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. ORDEM DENEGADA. 1. Nos termos da súmula 330 deste Tribunal Superior, é desnecessária a defesa preliminar, se a ação penal foi precedida de inquérito. 2. Eventual nulidade decorrente de não aplicação do disposto no artigo 514 do Código de Processo Penal é relativa e, como tal, só pode ser reconhecida mediante demonstração de prejuízo, o que não ocorreu na espécie. 3. Ordem denegada.
9.3) Resposta à Acusação:
A resposta à acusação está prevista em dois artigos no CPP: Art. 396, caput, e 396-A, do CPP (quanto ao procedimento comum) e art. 406, do CPP (quanto procedimento do Júri – 1ª Fase):
Art. 396, do CPP - Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 396-A, do CPP - Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. 
§1º A exceção será processada em apartado,nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. 
§2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.
Art. 406, do CPP - O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
O prazo para a resposta à acusação é de 10 dias. Cuidado! Segundo a própria lei (art. 396-A, §2º, do CPP), havendo a necesidade de nomeação de defensor dativo, este terá mais 10 dias para falar.
O momento para a apresentação da resposta à acusação é após o recebimento da peça acusatória e a citação do acusado.
No que diz respeito à capacidade postulatória, tem doutrinador que faz uma interpretação literal do art. 396, do CPP, dizendo que “o acusado”, pessoalmente, poderia apresentar essa peça.
Art. 396-A, do CPP - Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa...
Contudo, a interpretação literal não é a melhor técnica, de modo que, pelo seu conteúdo, o ideal é dizer que a resposta à acusação só pode ser apresentada por profissional da advocacia, pois o acusado não tem conhecimento técnico suficiente para apresentar essa peça.
A finalidade da resposta à acusação é convencer o juiz acerca da presença de uma das causas da absolvição sumária (art. 397, do CPP).
No caso concreto, o advogado tem que saber se é provável ou não a absolvição sumária. Isto porque, às vezes, há situações em que já é nítido que o juiz não absolverá o réu sumariamente. A parte tem que tomar cuidado para não “quimar cartucho” na primeira opotunidade. Se a defesa, já na resposta à acusação demonstrar todos os seus argumentos, ela estará mostrando para o MP qual será a estratégia de defesa.
Cuidado! Subsidiariamente, na resposta à acusação deve o defensor arguir preliminares e especificar as provas pretendidas. Às vezes, a parte está tão convicta que é caso de absolvição sumária, que ela nem fala em teses subsidiárias. Mas, a pessoa deve se preparar para o fato de o juiz poder não entender assim, pedindo então, produção de provas, arguir preliminares, juntar documentos, etc.
Se a resposta à acusação não for apresentada pela defesa, incide o art. 396-A, do CPP. A consequência decorrente da inobservância da resposta à acusação é a nulidade absoluta, tendo em vista que se trata de uma peça obrigatória.
Art. 396-A, §2º, do CPP - Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.
9.4) Reações Defensivas à peça acusatória – Quadro Comparativo
 
	
	(Extinta) Defesa Prévia
	Defesa Preliminar
	Resposta à Acusação
	
Previsão Legal
	
Antiga redação do 
art. 395, do CPP.
	Alguns proced. especiais:
Lei de Drogas;
Proced.Originário Tribunais;
JECrim;
Crimes funcionais afian-çáveis (art. 514, do CPP).
	
Art. 396, caput, do CPP
Art. 396-A, do CPP
Art. 406, do CPP
	
Prazo
	3 dias após o interrogatório.
	Entre 10 e 15 dias, a depender do procedimento.
	10 dias.
Se nomeado defensor dativo, este terá +10 dias
	
Momento
	Após o interrogatório.
	Entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória.
	Após o recebimento da denúncia e citação do acusado.
	Capacidade postulatória
	Podia ser apresentada tanto pelo acusado quanto por seu defensor.
	Só pode ser apresentada por profissional da advocacia.
	Só pode ser apresentada por profissional da advocacia.
	Finalidade
	Especificação de provas pretendidas.
	Convencer o juiz à rejeição da peça acusatória.
	Convencer o juiz da absolvição sumária. Subsidiariamente, arguir preliminares e especificar as provas.
	Consequências decorrentes da inobservância
	Mera irregularidade, desde que houvesse intimação do acusado.
	Nulidade relativa.
	Nulidade absoluta
9.5) Procedimentos com previsão legal de defesa preliminar e (des)necessidade de apresentação da resposta à acusação:
Um tema que vem gerando polêmica é o disposto no art. 394, §4º, do CPP.
Art. 394, §4º, do CPP - As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
Esse dispositivo determina a aplicação de 4 artigos do CPP para todo procedimento de primeiro grau, mesmo que não regulado pelo CPP. Assim, ele manda aplicar os seguintes institutos a todos os procedimentos de primeiro grau:
· Art. 395 – trata das causas de rejeição da peça acusatória;
· Art. 396 – trata do recebimento da peça acusatória e da citação do acusado;
· Art. 396-A – trata da resposta à acusação;
· Art. 397 – trata da absolvição sumária;
· Art. 398 – revogado pela Lei 11.719/08;
O que o parágrafo quarto do art.394, do CPP está dizendo é que esses dispositivos se aplicam aos procedimentos penais de primeiro grau, mesmo que não regulados pelo CPP.
Com relação à asbolvição sumária, isso não é problemático, podendo ela ser utilizada para os demais procedimentos. O mesmo acontece com a questão das causas de rejeição da denúncia ou queixa.
O problema está na resposta à acusação, principalmente com relação aos procedimentos em que há defesa preliminar, porque, nesses casos, haveria duas peças da defesa.
Por exemplo, na Lei de Drogas há previsão legal de defesa preliminar. O acusado será notificado para apresentar defesa preliminar. Depois disso, o juiz irá receber a peça acusatória. Recebida a peça acusatória, o juiz irá ordenar a citação do acusado. Aqui é que está o problema. Isto porque o parágrafo 4º do art. 394, do CPP, determina a aplicação dos arts. 396 e 396-A à Lei de Drogas. Há necessidade de apresentação da resposta à acusação no procedimento da Lei de Drogas? Se se trouxer o art. 396-A para o procedimento da Lei de Drogas, depois da citação, dever-se-ia acrescentar a resposta à acusação ao procedimento da lei de drogas, apresentando-a no prazo de 10 dias.
Isso vem gerando polêmica: O problema, é que passará a haver duas manifestações da defesa em um procedimento que deveria ser célere. Para uma prova da Defensoria Pública, poder-se-ia sustentar essas duas manifestações da defesa. Mas, de uma maneira mais pragmática, sugere-se que não se prolongue mais o processo. 
Então, a doutrina vem sugerindo que essa resposta à acusação seja tirada do momento posterior à citação e seja apresentada juntamente com a defesa preliminar, pois, dessa forma, será apresentada uma defesa ampla (o acusado apresentará as duas defesas na mesma peça). Esse entendimento respeitaria a ampla defesa e a economia processual.
10) Oitiva do MP (ou do querelante):
Quanto a essa oitiva do MP ou do querelante, não há previsão legal disso no procedimento comum. Mas, ela é necessária? Há doutrinadores que dizem que não. Contudo, depois da defesa do acusado, o juiz decidirá sobre a absolvição sumária. E, pode ser que, na defesa, o acusado tenha juntado algum documento ou se manifestado.
Então, a doutrina vem dizendo que, por força do princípio do contraditório, caso ocorra a juntada de provas novas ou documentos, das(os) quais a acusação não tinha ciência, deve ser aplicado subsidiariamente o art. 409, do CPP (que trata do procedimento do Júri). (Pode ser que, por exemplo, o acusado junte alguma prova falsa).
Art. 409, do CPP - Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.
Cuidado! Não se está dizendo que essa oitiva da acusação é sempre obrigatória! O que se está dizendo é que deverá haver a oitiva da acusação se o acusado juntar novas provas.
11) Absolvição Sumária:
A absolvição sumária sempre exitiu no procedimento do Júri. A novidade é que a absolvição sumária foi introduzida no procedimento comum pela lei 11.719/08 (com o art. 397, do CPP).
Atenção! Cuidado para não pensar que a absolvição sumária só é cabível no procedimento comum do CPP. Conforme art, 394, §4º, do CPP, o art. 397, do CPP também é aplicável aos procedimentos especiais (é aplicável a qualquerprocedimento penal de primeiro grau).
A absolivção sumária também tem sido chamada por alguns doutrinadores de ‘”julgamento antecipado da lide no processo penal”. Cuidado! A expressão “lide” deve ser evitada no processo penal, seja porque não há conflito de interesses entre MP e o acusado, seja porque a pretensão resistida é inerente ao processo penal.
A absolvição sumária está prevista no art. 397, do CPP, mas, mesmo antes da reforma processual de 2008, o julgamento antecipado do processo penal era previsto em outras leis, como, por exemplo, na Lei 8.038/90.
Art. 6º, da Lei 8.038/90 - A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusação, se a decisão não depender de outras provas.
Art. 516, do CPP - O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.
As hipóteses de absolvição sumária do procedimento comum não se confundem com as do Procedimento do Tribunal do Júri.
Art. 397, do CPP - Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente.
Art. 415, do CPP - O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; 
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; 
III – o fato não constituir infração penal; 
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. 
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do CP, salvo quando esta for a única tese defensiva
	QUADRO COMPARATIVO – ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
	
	Absolvição Súmária no Procedimento Comum
	Absolvição Sumária no 
Procedimento do Júri
	
	Para que o juiz absolva sumariamente o acusado, deve haver um juízo de certeza!!! (Já que ela acarreta a extinção prematura do processo).
	
C
A
U
S
A
S
	Art. 397, do CPP:
Causa excludente da ilicitude;
Causa excludente da culpabilidade (salvo inimputabilidade);
Atipicidade do fato (formal ou material);
Causa de Extinção da Punibilidade*;
*A doutrina costuma dizer que a decisão que extingue a punibilidade não tem natureza absolutória, mas sim declaratória. Sobre isso, Súmula 18, do STJ:
Súmula 18, do STJ - A sentença concessiva do perdão judicial é decla-ratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Essa súmula confirma que quando o juiz julga extinta a punibilidade, ele está declarando a impossibilidade de o Estado processar e punir tal fato.
	
Art. 415, do CPP:
Provada Inexistência do fato;
Provada negativa de autoria;
Atipicidade (formal ou material);
Causas excludentes da ilicitude e da culpabilidade.
	
M
O
M
E
N
T
O
	
Logo após a resposta à acusação. Logo, a absolvição sumária ocorre antes do início da instrução probatória.
Então, aqui, a absolvição sumária realmente faz jus ao nome “julgamento antecipado”, pois ela realmente acontece no início do processo. A absolvição sumária do proced.comum, então, ocorre no início do processo.
	Ocorre ao final da 1ª Fase do procedimento do Júri, ou seja, após a audiência de instrução perante o juiz sumariante.
Depois da audiência, o juiz pode absolver o réu sumariamente, impronunciá-lo, pronunciá-lo ou desclassificar o crime.
Há quem diga que no Júri também seria possível a asbolvição sumária do procedimento comum, ou seja, uma logo após a resposta à acusação e outra ao final do Júri. Mas, esse entendimento não prevalece. Sobre isso, é importante analisar o art. 394, §3º, do CPP.
Art. 394, §3º, do CPP - Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.
Ou seja, o §3º, diz que no procedimento do Júri, serão observados os arts. 406 a 497, do CPP. A absolvição sumária do procedimento comum está no art. 397, ou seja, fora desse intervalo estabelecido pelo art. 394, §3º, do CPP. Então, no procedimento do Júri não é possível a asbolvição sumária do art. 397, do CPP.
	
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Não é cabível a absolvição sumária no procedimento comum se o agente for inimpu-tável (pois lhe será aplicada medida de segurança com a absolvição sumária).
Art. 397, II, in fine, CPP.
	O não imputável pode ser absolvido no procedimento do Júri (absolvição sumária imprópria, pois haverá absolvição sumária com aplicação de medida de segurança.), DESDE QUE A INIMPUTBABILIDADE SEJA ÚNICA TESE DEFENSIVA,.
Art. 415, parágrafo único, do CPP - Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26, CP, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Mas, se o acusado tem uma outra tese defensiva, é melhor mandá-lo para o Júri, pois, para o acusado, é melhor provar por outra maneira que é inocente (não recebendo pena alguma), do que receber uma absolvição imprópria com medida de segurança.
A decisão de absolvição sumária faz coisa julgada formal e material, pois haverá uma efetiva análise do mérito. Nesse ponto, a absolvição sumária se diferencia muito da rejeição da peça acusatória, pois, nesta, o juiz só analisa aspectos processuais.
O recurso adequado para a impugnação da absolvição sumária é a apelação (art. 593, I, do CPP). 
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;
Cuidado! A doutrina faz a ressalva do caso da absolvição imprópria por extinção da punibilidade, que não tem natureza absolutória (mas declaratória extintiva da punibilidade), e deve ser impugnada por RESE (art. 581, VIII, do CPP).
Art. 581, do CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; 
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AULA 07 – 21/09/12
12) Audiência uma de Instrução e Julgamento:
A audiência é a parte final do procedimento comum.
12.1) Prévia audiência para oferecimento de suspensão condicional do processo:
A suspensão condicional do processo está prevista na Lei 9.099/95, no seu art. 89. 
Art. 89, Lei 9.099/95 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
A suspensão do processo é cabível em relação a todo e qualquer delito.
Ex. furto simples tentado, que é submetido ao procedimento comum ordinário, mas dá direito à suspensão condicional do processo.
Esse benefício do art. 89, da Lei 9.099/95 será cabível com relação a crimes cuja pena mínima cominada seja igual ou inferior a 1 ano.
Aos olhos do STF, a suspensão do processo é cabível, também, em outras hipóteses, para além desse art. 89, da Lei dos Juizados. Em alguns crimes, a pena de multa é cominada de maneira alternativa (ex. pena, reclusão de 2 a 5 anos OU multa). Geralmente, a pena de multa vem cominada de maneira cumulativa. Mas, em algumas situações raras, a pena de multa é prevista de maneira alternativa. Esse caso foi parar no STF, e discutiu-se se nesse crime seria possível a suspensão condicional do processo,afinal, poderia haver, no final do processo, uma condenação a apenas pena de multa. Então, o STF, entendeu, a despeito do texto da lei, que, se a pena de multa estiver cominada alternativamente, será cabível a suspensão do processo, ainda que a pena mínima seja superior a 1 ano. Nesse sentido, HC 83.926, STF.
EMENTA HC 83.926, STF: AÇÃO PENAL. Crime contra relações de consumo. Pena. Previsão alternativa de multa. Suspensão condicional do processo. Admissibilidade. Recusa de proposta pelo Ministério Público. Constrangimento ilegal caracterizado. HC concedido para que o MP examine os demais requisitos da medida. Interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95. Quando para o crime seja prevista, alternativamente, pena de multa, que é menos gravosa do que qualquer pena privativa de liberdade ou restritiva de direito, tem-se por satisfeito um dos requisitos legais para a suspensão condicional do processo.
O artigo 399, do CPP diz que se o juiz não absolver o réu sumariamente, ele irá designar à audiência de instrução e julgamento:
Art. 399, do CPP - Recebida a denúncia ou queixa (vale lembrar que o recebimento da inicial já ocorrera antes da resposta à acusação e citação), o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Então, rejeitado o pedido de absolvição sumária, diz o art. 399, do CPP que o juiz deve designar a audiência una de instrução e julgamento.
O problema é que, a despeito da previsão do CPP, há a possibilidade de suspensão condicional do processo. Contudo, quando da redação do CPP, nada foi mencionado sobre a audiência de proposta de suspensão condicional do processo.
No caso dos crimes que admitem suspensão condicional do processo, o que fazer? A pergunta que se faz é onde poderá ser encaixada, dentro do procedimento ordinário, a audiência de suspensão do processo? O promotor oferece a denúncia e juntamente com ela, ele oferece a proposta de suspensão do processo. A proposta de suspro deve ser oferecida ao acusado em qual momento?
Primeiramente, vale observar que o acusado jamais irá querer aceitar a suspensão do processo antes de o juiz analisar a absolvição sumária, pois a asbolvição sumária é muito melhor do que a suspro (em que são estabelecidas condições para o período de prova).
Em segundo lugar, alguns doutrinadores entendem que a suspro deve ser oferecida ao acusado logo no início da audiência una de instrução e julgamento. Ocorre que isso não faz muito sentido, pois se o MP faz a proposta de suspensão no início dessa audiência, haverá um desperdício de vários atos processuais, como por exemplo, intimação de restemunhas. Deve-se considerar que, para essa adiência, foram intimadas, pelo menos, 18 pessoas, pois a audiência é de instrução e julgamento. Se a proposta for feita nesse momento e o acusado aceitar, essas intimações todas terão sido inúteis.
Então, o melhor entendimento é o de que, rejeitada a absolvição sumária, deve o juiz designar audiência específica (não é a AIJ) para fins de aceitação da proposta de suspensão condicional do processo.
12.2) Princípio da oralidade:
Por conta do chamado princípio da oralidade, deve-se dar preponderância à palavra falada sobre a escrita.
O princípio da oralidade sempre esteve presente no processo penal, como, por exemplo, nos Juizados Especiais Criminais. Também há muita oralidade no Tribunal do Júri, como, por exemplo, na Sessão de Julgamento.
Vale ressaltar que, pela Lei 11.719/08, o legislador introduziu no CPP a chamada audiência una de instrução e julgamento, colocando-se, dentro do procedimento comum, o princípio da oralidade.
Nesse princípio, interessa o estudo de seus subprincípios.
12.2.1) Subprincípios da Oralidade: 
a) Princípio da Concentração: Por esse princípio, os atos processuais devem ser reunidos ou concentrados o quanto possível. Antes de 2008, a instrução do processo era dividida em, pelo menos, 3 audiências: uma para o interrogatório, uma para instrução das testemunhas de acusação e outra para a instrução das testemunhas da defesa. Hoje, essas três audiências foram reunidas em uma só. É bem verdade que, dificilmente, essa audiência una acaba acontecendo.
b) Princípio do Imediatismo: Por esse princípio, deve o juiz proceder diretamente à colheita das provas, em contato imediato com as partes. A prova deve ser produzida em contraditório judicial, em contato direto com o juiz e com as partes.
c) Princípio da Irrecorribilidade das decisões interlocutórias proferidas em audiência: De nada adiantaria a lei prever uma audiência una de instrução e julgamento se a parte pudesse a todo momento interpor recurso. Para que essa audiência possa fluir, não se pode admitir recurso contra essas decisões interlocutórias. 
Mas, cuidado! Apesar de a regra ser a irrecorribilidade das interlocutórias, eventual prejuízo causado às partes durante a audiência, poderá ser impugnado em preliminar de futura e eventual apelação a ser interposta contra a sentença.
Obs: Durante a audiência, é importante que as partes se certifiquem de que tudo está sendo registrado na ata. Deve-se fiscalizar para que todos os incidentes sejam colocados na ata, pois isso será necessário depois para a arguição de eventual nulidade.
d) Princípio da Identidade Física do Juiz: Por esse princípio, pelo menos em regra, o juiz que presidir a instrução deve proferir sentença. Esse princípio é extremamente importante quando da produção da prova. Em razão da Lei 11.719/08, esse princípio foi introduzido ao procedimento comum. Ele já existia nos Juizados e no Tribunal do Júri. A novidade é que pela Lei 11.719/08, esse princípio passou a valer como regra no procedimento comum também. Vejamos o art. 399, §2º, do CPP:
Art. 399, §2o, CPP - O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Sobre o princípio da identidade física do juiz, tem-se que o mesmo juiz deve presidir a instrução e proferir sentença, em regra.
No processo penal, esse princípio foi previsto de maneira extramamente lacônica. Em momento algum, o legislador do CPP toruxe qualquer exceção a ela. Mas, é óbvio que esse princípio não é aboluto e possui algumas exceções. A doutrina vem dizendo, e os Tribunais também, que, diante do silêncio do CPP, aplicam-se as exceções do art. 132, do CPC.
Art. 132, do CPC - O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. (Redação dada pela Lei nº 8.637, de 1993)
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas. (Incluído pela Lei nº 8.637, de 1993)
Essas exceções também são aplicáveis ao proceso penal. A aplicação do art. 132, do CPC no processo penal já vem sendo adotada pelos Tribunais Superiores. Nesse sentido, STJ, HC 184.838.
EMENTA STJ, HC 184.838: HABEAS CORPUS . TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (ARTIGOS 33 E 35, COMBINADOS COM O ARTIGO 40, INCISOS III E V, TODOS DA LEI 11.343/2006). SENTENÇA PROFERIDA POR JUIZ QUE SE ENCONTRAVA EM GOZO DE FÉRIAS E QUE JÁ HAVIA SIDO REMOVIDO PARA OUTRA VARA DA MESMA COMARCA. INCOMPETÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. De acordo com o princípio da identidade física do juiz, que passou a ser aplicado também no âmbito do processo penal após o advento da Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, o magistrado que presidir a instrução criminal deverá proferir a sentença no feito, nos termos do § 2º do artigo 399 do Código de Processo Penal. 2. Em razão da ausênciade outras normas específicas regulamentando o referido princípio, nos casos de convocação, licença, promoção ou de outro motivo que impeça o juiz que tiver presidido a instrução de sentenciar o feito, por analogia - permitida pelo artigo 3º da Lei Adjetiva Penal -, deverá ser aplicado subsidiariamente o contido no artigo 132 do Código de Processo Civil, que dispõe que os autos passarão ao sucessor do magistrado. Doutrina. Precedente. 3. No caso em apreço, não obstante já estivesse em vigor o § 2º do artigo 399 do Código de Processo Penal, introduzido pela Lei 11.719/2008, quando proferida a sentença, o Juiz de Direito encontrava-se em gozo de férias regulamentares, e já havia sido removido da 3ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/MG, para a 2ª Vara de Família da mesma comarca. 4. Assim, na hipótese vertente, conquanto tenha sido o responsável pela instrução do feito, o Juízo que proferiu a decisão condenatória, tanto em razão das férias, como também em virtude da remoção, não era mais o competente para se manifestar sobre o mérito da ação penal, já que, nos termos do artigo 132 do Código de Processo Civil, o juiz que presidiu a instrução, mas que por qualquer motivo esteja afastado, não proferirá sentença, devendo encaminhar os autos ao seu sucessor. 5. Constatada a incompetência do Juízo prolator do édito repressivo, cumpre reconhecer a nulidade da sentença prolatada nos autos, devendo outra ser proferida pela autoridade judicial competente. 6. Anulada a condenação, restam prejudicados os demais pedidos formulados no mandamus . 7. Ordem concedida para anular a sentença condenatória proferida contra o paciente, devendo outra ser prolatada pelo Juízo competente.
 Pergunta de Concurso: Em razão da identidade física do juiz, é possível fazer interrogatório por carta ou por videoconferência? Ou o acusado só poderá ser interrogado perante o juiz que preside o processo?
R: Esse princípio não é absoluto (além disso, está em uma lei ordinária). Ademais, alguns fizeram uma errônea interpretação do princípio, que fala em identidade “física” do juiz. Mas, não é necessária a presença “física”. O princípio da identidade física o juiz não impede a realização de atos instrutórios (e não só o interrogatório) por carta precatória, rogatória ou por meio de videoconferência, desde que preenchidos os pressupostos legais do art. 185, do CPP. Sobre o assunto, destaca-se o julgado: STJ, HC 135.456, que fala sobre a possibilidade da realização de atos instrutórios por carta precaória.
EMENTA STJ, HC 135.456: HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. NULIDADE. INTERROGATÓRIO EFETUADO POR PRECATÓRIA. IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. AGENTE PRESO EM OUTRO ESTADO. AUSÊNCIA DO RÉU NAS AUDIÊNCIAS DE INSTRUÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. ORDEM DENEGADA. 1. O princípio da identidade física do juiz deve ser interpretado de acordo com as circunstâncias do caso concreto, porque o legislador, por certo, não proibiu a realização de interrogatório por precatória, nos processos em que tal medida é a única forma de dar andamento à ação penal. 2. A ausência do paciente às audiências de instrução não caracteriza nulidade, porque foram elas acompanhadas pelo defensor constituído, com exceção de apenas uma, realizada por precatória, de cuja expedição a defesa não fora intimada. E, nesta, a nulidade decorrente é relativa, nos termos do enunciado nº 155 do Supremo Tribunal Federal, e, em princípio, o tema não pode ser apreciado em habeas corpus, por exigir exame sobre eventual prejuízo à defesa, o que seria possível somente com o exame aprofundado de todo o processo, o que é pertinente somente nas instâncias ordinárias. 3. Coação ilegal não caracterizada. 4. Ordem denegada.
 Pergunta de Concurso: Quem é o “magistrado instrutor”? (Área federal)
R: São desembargadores dos TJs ou TRFs, bem como juizes estaduais ou federais, convocados pelos Ministros do STF e do STJ, pelo prazo de 6 meses, prorrogável por igual período, até o máximo de 2 anos, para a realização do interrogatório e de outros atos da instrução nos processos de competência originária dos Tribunais Superiores. Essa figura do magistrado instrutor foi criada pela Lei 12.019/09, e, por conta dela, a lei que trata do procedimento originário dos Tribunais sofreu alteração, tendo sido introduzida essa mudança no art. 3º, III, da Lei 8.038/90.
Antes, na prática, o ministro do Tribunal Superior acabava pulverizando pelo Brasil várias cartas de ordem e cada ato processual era realizado por juizes distintos. Agora, haverá um magistrado instrutor que deve recolher o depoimento das pessoas, deslocando-se aos locais de oitiva dessas pessoas.
Art. 3º, Lei 8.038/90 - Compete ao relator: (Vide Lei nº 8.658, de 1993)
III – convocar desembargadores de Turmas Criminais dos Tribunais de Justiça ou dos Tribunais Regionais Federais, bem como juízes de varas criminais da Justiça dos Estados e da Justiça Federal, pelo prazo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período, até o máximo de 2 (dois) anos, para a realização do interrogatório e de outros atos da instrução, na sede do tribunal ou no local onde se deva produzir o ato. (Incluído pela Lei nº 12.019, de 2009)
Essa figura do magistrado instrutor é plenamente compatível com o princípio da identidade física do juiz. Sendo a identidade física do juiz consagrada por lei ordinária, obviamente, ela também poderá ser excepcionada por lei ordinária.
12.3) Instrução probatória em audiência:
Art. 400, do CPP - Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código (carta precatória), bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
12.3.1) Indeferimento de provas:
Será que o juiz pode indeferir a realização de uma prova? Como se dá o indeferimento de uma prova? Isso é interessante pois, de um lado, há o direito à prova, e de outro, há o interesse à impulsão do processo. 
O direito à prova é um desdobramento lógico do direito de ação e de defesa. Ninguém nega a importância do direito à prova, que é um consectário do direito à prova e do direito de defesa. Como a pessoa irá provar a sua inocência se ela não pode produzir provas? De que adianta dizer que o MP é titular da ação penal se ele não pode produzir provas?
Eis o problema do direito à prova: Evidentemente, o direito à prova, apesar de ser um desdoramento do direito de defesa, não pode ser exercido de forma abusiva e desleal. Nesse ponto, surge a possibilidade de o magistrado indeferir a produção de provas, desde que o faça de maneira fundamentada. 
Fundamentadamente, o juiz pode indeferir a produção das seguintes provas:
- Prova irrelevante – É aquela que apesar de tratar do objeto da causa, não possui aptidão de influenciar no julgamento. Ex. acareação por carta precatória.
- Prova impertinente – É aquela que não diz respeito à imputação constante do processo: não guarda relação com a demanda.
- Prova protelatória – É aquela que visa apenas ao retardamento do processo.
Ex. Testemunha abonatória por carta precatória. A pessoa não sabe nada sobre o crime, mas é ouvida apenas para atestar a boa conduta do acusado.
Essas três provas podem ser indeferidas pelo Magistrado. O juiz não pode, contudo, se valer de poderes advinhatórios para supor que a prova é impertinente, irrelevante ou protelatória. O juiz só pode indeferir a prova se tiver certeza da sua inutilidade para o processo.
Às vezes, o juiz pergunta ao advogado qual é o objeto daquela prova testemunhal. Nesse caso, o juiz já sabe a utilidade da prova e poderá, se for o caso, indeferí-la. Nesse sentido, STF, RHC 83.987.
EMENTA RHC 83.987: 1. (...) 2. AÇÃO PENAL. Prova. Pedido de diligências. Oitiva de testemunha. Indeferimento fundamentado. Diligência irrelevante. Pedido de caráter evidentemente protelatório.Nulidade. Inocorrência. Precedentes. Não se caracteriza cerceamento de defesa no indeferimento de prova irrelevante ou desnecessária. 3. AÇÃO PENAL. Tráfico de drogas. Causa de aumento de pena pelo concurso de pessoas. Art. 18, III, da Lei nº 6.368/76. Abolitio criminis. Ocorrência. Retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu. Ordem concedida de ofício. A Lei nº 11.343/06 revogou a majorante da associação eventual para a prática do crime de tráfico de entorpecentes, prevista na Lei nº 6.368/76.
Esse indeferimento da prova está no art.400, §1º, do CPP. Há vários artigos que falam sobre o indeferimento de provas no CPP. Um deles é este.
Art. 400, §1o, do CPP - As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Outro artigo importante sobre o indeferimento de provas é o art. 222-A, do CPP:
Art. 222-A, do CPP - As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.
Esse artigo já foi questionado perante o STF, que se manifestou por sua constitucionalidade.
Obs: Na prática, o juiz tem medo de indeferir provas, pois, de um lado, ele não pode permitir o exercício abusivo do direito à prova, mas, de outro lado, deve tomar cuidado para não cercear a defesa.
12.3.2) Diligências requeridas pelas partes ao final da instrução (fase das diligências):
Antes da reforma do CPP, a fase das diligências estava prevista no antigo artigo 499, do CPP. Com a reforma processual de 2008, essa fase passou a constar do art. 402, do CPP.
Art. 402, do CPP - Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Essa fase, na realidade, é a última possibilidade de instrução que as partes podem pedir ao juiz. Grande destaque nessa reforma é a possibilidade que ela trouxe de o assistente de acusação solicitar diligências, o que não era possível antes. 
Cuidado! Antigamente, essas diligências deveriam ser requeridas no prazo de 24 horas (o juiz dava vista às partes para requererem diligências). Mas isso não existe mais. Hoje, tal requerimento deve ser feito na própria audiência una de instrução e julgamento.
Nesse momento de requerer diligências, é possível solicitar qualquer coisa? Esse pedido deve ser feito com relação a quê? Aqui, não há tanta liberdade com relação às diligências. O requerimento deve se referir à diligência cuja necessidade tenha se revelado durante a instrução processual.
Ex. O MP costuma muito pedir FAC e CAC neste momento. Mas essas são diligências que deveriam ter sido pedidas desde o início do processo.
Qual é a consequência do deferimento ou indeferimento de uma diligência? Qual o recurso adequado a ser utilizado quando do indeferimento de diligências?
A lei não prevê qualquer recurso contra a decisão interlocutória de deferimento ou indeferimento de diligências. O que a doutrina acaba sugerindo é que se houver o (1) deferimento de diligência protelatória, pode-se interpor uma correição parcial, dizendo-se que teria havido um error in procedendo, e que, por não haver previsão de qualquer recurso, o correto seria interpor uma correição parcial. (2) Se houver o indeferimento de uma diligência indispensável, o caminho é suscitar uma preliminar de cerceamento da acusação (ou da defesa) em uma futura e eventual apelação. Como vige a irrecorribilidade das interlocutórias, deve-se suscitar essa nulidade na apelação.
Por fim, de ofício, o juiz também pode determinar a realização de diligências. Essa é uma hipótese rara, pois o juiz, na prática, prefere manter-se distante da produção das provas.
Apesar, disso, a determinação de provas de ofício é plenamente compatível como principio da busca pela verdade, desde que essa atuação de ofício do magistrado se dê de maneira subsidiária, residual. O juiz não é o protagonista na produção de provas.
Art. 404, do CPP - Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
12.4) Alegações Finais:
12.4.1) Conceito:
Consiste em ato postulatório das partes, ato este que precede à sentença final, no qual o MP, o advogado do querelante, o advogado do assistente, e o defensor devem realizar detalhada análise dos elementos probatórios constantes do processo, fornecendo subsídios ao magistrado no sentido da condenação ou absolvição do acusado.
Trata-se do último ato que as partes praticam antes de o juiz proferir sentença. É a última oportunidade das partes tentarem convencer o juiz.
12.4.2) Forma de Apresentação das Alegações Finais:
As alegações, pelo menos em regra, são apresentadas oralmente, conforme redação dada pela Lei 11.719/08. Sobre o assunto, o CPP, no art. 403, diz que:
Art. 403, do CPP - Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Então, hoje, a regra é a apresentação oral dessas alegações. O que é uma alegação oral? Na prática, as alegações orais se transformaram em um ditado feito ao escrivão. Mas, o que deve ocorrer é realização oral das alegações finais, com um breve resumo de todo o alegado para o escrivão.
Art. 405, do CPP - Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Essas alegações orais têm prazo de 20 minutos.
A Lei prevê que esse prazo pode ser prorrogado por mais 10 minutos. Cuidado! Nessas alegações orais, se houver a figura do assistente da acusação no processo, este assistent falará depois do MP. O assistente de acusação terá 10 minutos para falar. Nesse caso (em que há assistente), deverá ser dado mais 10 minutos para a defesa.
Se houver mais de um acusado, incidirá o art. 403, §1º, do CPP:
Art. 403, §1o, do CPP - Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Atenção! Cada acusado terá 20 minutos, ainda que sejam defendidos pelo mesmo advogado.
Quando as alegações orais podem ser substituídas por memoriais (peça escrita)? Nos seguintes casos:
· Diante da complexidade da causa;
· Em razão do número de acusados;
· Se houver o deferimento de diligências – caso em que a audiência não será concluídaali naquele momento. Nesse caso, não faz sentido remarcar outra audiência só para serem proferidas alegações finais e sentença (isso não está na lei, mas é algo lógico);
· Se o interrogatório do acusado for feito por carta precatória;
· Quando há acordo entre as partes (isso não está na lei. Mas, nesse caso, por mais que houvesse um erro, essa nulidade teria sido produzida por ambas as partes. Então, não se poderia falar em nulidade);
Esse prazo para os memoriais é de 5 dias, sucessivo para cada parte.
12.4.3) Conteúdo das alegações finais:
Preliminarmente, as partes devem alegar eventual nulidade. 
Mas, diante de uma nulidade, o defensor deve pedir o reconhecimento desta? Deve o defensor prestar atenção ao tipo de nulidade. Se for uma nulidade relativa, ela deve ser arguida, sob pena de preclusão. 
Mas, no caso de uma nulidade absoluta, é mais interessante para a defesa não arguir essa nulidade imediatamente, para deixá-la para um momento posterior. A nulidade absoluta, o quanto antes reconhecida, pior para o cliente (se ele estiver solto). Em se tratando de nulidade absoluta, talvez, então, seja mais interessante arguí-la posteriormente.
Por outro lado, do ponto de vista do MP, o ideal é arguir a nulidade absoluta ou a relativa imediatamente. Para o MP, é melhor reconhecer a nulidade dedse já do que permitir que ela seja reconhecida num futuro longínquo, quando do julgamento do recurso.
Quanto ao mérito das alegações finais, será feita uma ampla análise da prova produzida em juízo (sob contraditório judicial) e, subsidiariamente, dos elementos informativos produzidos ou colhidos na fase investigarória, pleiteando aquilo que interessa para a parte.
O MP poderá pedir a condenação ou a absolvição.
Já a defesa poderá pedir absolvição. Tem doutrina que diz que o advogado é obrigado a pedir a absolvição do seu cliente, sob pena de o acusado ser considerado indefeso. Na prática, em alguns casos, pedir a absolvição é inútil. Pode ser que o próprio cliente tenha confessado o crime. O pedido da defesa, então, deve ser precipuamente a asbolvição. Mas, cuidado! Pode-se pedir, por exemplo, a exclusão de qualificadoras, a exclusão de causas de aumento de pena, a desclassificação do crime, etc. Nem sempre o advogado é obrigado a pedir a absolvição. De alguma forma, o advogado deve tentar melhorar a situação do cliente. Se inprovável a absolvição, deve-se pedir outros benefícios.
12.4.4) Ausência das alegações finais:
O juiz pode julgar um processo sem alegações finais? 
A ausência de alegações finais se equipar também à deficiência delas. Se for verificada a ausência das alegações finais do MP, parte da doutrina diz que isso seria uma tentativa de desistência do processo (pelo MP). Ocorre que o MP não pode desistir da ação penal. Então, diante da ausência de alegações finais, deve-se aplicar o art. 28, do CPP.
Art. 28, do CPP - Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
No caso de ausência de alegações finais do assistente de acusação, não há problemas. O assistente à acusação é uma parte secundária, acessória, e a ausência de sua manifestação não acarreta qualquer tipo de prejuízo para o processo.
Já, no que diz respeito à ausência das alegações do advogado do querelante, deve-se distinguir duas situações:
(1st) Se for caso de ação penal privada subsidiária da pública – o MP reassumirá o polo ativo do processo, fato que se chama de “ação penal indireta”;
(2nd) Se for caso de ação penal privada exclusiva ou personalíssima – não haverá pedido de condenação, o que leva à perempção, que por seu turno, é causa extintiva da punibilidade (art. 60, III do CPP).
Art. 60, do CPP - Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
Por fim, se, por acaso, ocorrer ausência de alegações finais da defesa (processo de ação penal pública incondicionada), não será possível o julgamento da causa, sob pena de nulidade absoluta. O juiz não poderá jamais julgar um processo sem as alegações finais da defesa, pois haveria violação de ampla defesa. Nesse sentido, STF, HC 92.680 e Súmula 523, do STF.
Súmula 523, STF - No processo pena, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prejuízo para o réu.
EMENTA RE 92.680: AÇÃO PENAL. Processo. Defesa. Alegações finais. Não apresentação pelo patrono constituído. Intimação prévia regular. Nomeação de defensor dativo ou público para suprir a falta. Medida não providenciada pelo juízo. Julgamento subseqüente da causa. Condenação do réu. Inadmissibilidade. Cerceamento de defesa caracterizado. Violação do devido processo legal. Nulidade processual absoluta. Pronúncia. HC concedido, em parte, para esse fim. Precedentes. Interpretação dos arts. 5º, LIV e LV, da CF, e 261, 499, 500 e 564 do CPP. Padece de nulidade absoluta o processo penal em que, devidamente intimado, o advogado constituído do réu deixa de apresentar alegações finais, sem que o juízo, antes de proferir sentença condenatória, lhe haja designado defensor dativo ou público para suprir a falta.
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AULA 08 – ___/10/12
12.5) Sentença:
Aula do Professor Luís Flávio Gomes.
 (
Recurso Cabível:
- RESE (CPP);
- Apelação (
JECrim
);
) (
Não
 
receb
.
 da denúncia: 
- 
I
népcia;
- 
F
alta de pressuposto processual/ condição da ação;
III 
–
 
Falta de
 justa causa.
)
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AULA 09 – 25/09/12
13) Princípio da Correlação entre acusação e sentença:
Por esse princípio, o acusado não pode ser processado e julgado por fato diverso daquele que lhe foi imputado na peça acusatória. 
Cuidado! No processo civil, geralmente se estuda a relação entre o pedido e a sentença. No processo penal, o pedido é irrelevante, pois a denúncia e a queixa-crime, geralmente, possuem um pedido genérico de condenação. O que realmente interessa para o processo penal é aquilo que foi imputado na peça acusatória; o fato da vída cuja prática foi imputada ao acusado.
Ex. Se alguém atribui ao agente a prática de um crime de furto simples, o juiz só poderá querer condenar esse agente por furto simples. Se o juiz condena o agente por um outro fato (ex. furto qualificado), ele estará julgando ultra petita, havendo violação do princípio da correlação entre acusação e sentença.
Então, para que uma pessoa seja condenada, esse fato delituoso deve ter sido imputado a uma pessoa.
Tratando desse assunto é fundamental o estudo de dois institutos da emendatio libelli e da mutatio libelli. Tanto a mutatio quanto a emendatio sofreram modificações em 2008 pela Lei 11.719/08.
13.1) Emendatio Libelli:
A emendatio libelli ocorre quando o juiz, sem modificar a base fática da imputação, a ela atribui classificação diversa, ainda que mediante aplicação de pena mais grave. 
Nela, o juiz corrigirá a classificação. Emendatio significa correção; libelli significa acusação.
No momento da emendatio, o juiz não vai modificar a base fática da imputação. O que acontece na emendatio libelli é uma classificação mal feita (equivocada) e o juiz deve corrigir essa classificação.
Ex. Suponha-se uma denúncia em que a imputação diga respeito ao crime de furto qualificado pela fraude (o agente realiza a fraude paraafastar a vigilância da vítima exercida sobre a coisa). O furto qualificado pela fraude tem uma pena de 2 a 8 anos. A denúncia deve fazer menção à classificação. Ocorre que, no momento da classificação, o promotor, ao invés de classificar o fato como art. 155, §4º, do CP, classifica como estelionato (art. 171, do CP), com pena de 1 a 5 anos. Esse é um clássico exemplo de emendatio libelli, de modo que, na hora da sentença, o juiz não fica vinculado a essa classificação, não precisando condenar o agente pelo delito descrito na capitulação. O juiz pode, então, prolatar um decreto condenatório pela prática do crime do artigo 155, §4º, II, do CP.
Segundo grande parte da doutrina, vigora aqui o famoso brocardo “iuria novit curia” (“o juiz conhece o Direito”). A emendatio se baseia, também, no brocardo “narra mihi factum dabo tibi ius” (“narra-me o fato que lhe darei o Direito”).
É importante lembrar que, no caso de ementdatio libelli, não há necessidade de aditamento. Como o acusado se defende dos fatos, e não houve alteração da imputação, não há necessidade de aditamento), tampouco de oitiva da defesa.
Atenção! Segundo a doutrina, há três formas de emendatio libelli:
a) Emendatio libelli por defeito de capitulação: Por algum erro, a classificação do crime foi equivocada (ex. erro material).
b) Emendatio libelli por interpretação distinta: A emendatio também pode ocorrer no caso de interpretaçao distinta, em que se discute na doutrina e na jurisprudência sobre qual o crime praticado em determinada situação fática.
c) Emendatio libelli por supressão de elementar ou circunstância: Aqui, será necessário saber a diferença de mutatio para emendatio libelli. Na mutatio, ocorre o acréscimo de uma circunstância. Se a mutatio ocorre quando se acrescenta uma elementar ou circunstância, quando se suprime uma elementar ou circunstância, ocorre emendatio.
Ex. Roubo circunstânciado pelo emprego de arma de fogo. Supondo que, ao final do processo, o emprego de arma não esteja caracterizado. Há quem entenda que isso seria uma hipótese de mutatio libelli, pois haveria uma supressão de uma elementar ou circunstância. (Quem adota essa posição? Isso é pacífico na doutrina?)
13.1.1) Momento da emendatio libelli:
Sobre o assunto, é importante entender que uma corrente majoritária entende que a emendatio libelli deve ser feita pelo juiz apenas por ocasião da sentença, ou seja, o juiz, na hora em que estiver sentenciando, faz a emendatio libelli. Isso tem como primeiro fundamento a localização da emendatio no CPP (que está dentro do Título XII - Da Sentença): 
Art. 383, do CPP - O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica (classificação delituosa) diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
A maioria da doutrina entende que a mutatio só pode ser feita na sentença porque o art. 383 está localizado no Título XII, que trata Da Sentença. A doutrina majoritária faz uma interpretação gramatical e literal. Essa ainda é a posição majoritária, que deve adotada na prova objetiva.
Ainda segundo essa corrente majoritária, ao juiz não é dado alterar a classificação do fato delituoso por ocasião do recebimento da peça acusatória: o juiz não pode receber uma denúncia por crime diverso do que foi capitulado na denúncia. Se o juiz fizesse isso, ele poderia acabar em um pré-julgamento e em uma violação à garantia da imparcialidade. Essa é a doutrina majoritária.
Mas, cada vez mais, uma doutrina minoritária vem crescendo, e adotando uma posição mais acertada. Ela é sustentada por Antônio Scarance Fernandes, Gustavo Badaró, Renato Brasileiro, dentre outros.
Segundo essa corrente, apesar de prevalecer que o momento da mutatio é na sentença, a depender do caso concreto, uma classificaçao malfeita ou excessiva pode ser muito danosa ao acusado. 
Ex. Classificação equivocada entre tráfico de drogas e porte de drogas para consumo pessoal. Não há como negar que há uma zona cinzenta entre o traficante e o usuário. Às vezes, há situações em que, claramente, há um excesso da acusação. Se o juiz não puder corrigir essa classificação no começo do processo, isso pode trazer inúmeros prejuízos ao acusado: o juiz pode lhe negar a liberdade provisória, não caberá transação penal, etc.
Então, a corrente minoritária sustenta que quando houver excesso da acusação, privando o acusado de institutos despenalizadores ou de liberdade provisória, é possível, no limiar do processo, uma desclassificação incidental e provisória. É possível, então, que o juiz faça uma desclassificaçao. 
Vale dizer que essa desclassificação não é definitiva. Ela só será feita para efeitos de correção do procedimento, para análise de institutos despenalizadores, etc.
13.1.2) Emendatio libelli e necessidade de oitiva das partes:
Há necessidade de oitiva das partes na hora da emendatio?
Art. 383, do CPP - O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica (classificação delituosa) diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.
No art. 383, do CPP a lei nada diz quanto à necessidade de oitiva das partes. 
Segundo a corrente majoritária, não há necessidade dessa oitiva, ou seja, o juiz fará a emendatio libelli mesmo sem a oitiva das partes. Geralmente, a justificativa dessa corrente majoritária é a de que o acusado se defende dos fatos a ele imputados. Nesse sentido, STF, AP 461, AgR-Terceiro.
EMENTA STF, AP 461, AgR-Terceiro: PROCESSUAL PENAL. EMENDATIO LIBELLI NAS ALEGAÇÕES FINAIS. ACUSAÇÃO DE LAVAGEM DE DINHEIRO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 22, PARÁGRAFO ÚNICO, PARTE FINAL DA LEI 7.492/86. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO ART. 383 DO CPC AO CASO CONCRETO. INVIABILIDADE DE CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. IMPROVIDOS. I - Na acusação por lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98), tendo a denúncia narrado em detalhes o crime antecedente (art. 22, parágrafo único, parte final da Lei nº 7.492/86), é possível acolher, em sede de alegações finais, proposta do Ministério Público para que julgamento final ocorra apenas em vista do delito antecedente. II - Aplicação do art. 383 do Código de Processo Penal. III - Ausência de prejuízo aos réus que por mais de uma oportunidade teceram considerações escritas acerca da não materialização do crime antecedente. IV - Inviabilidade de concessão de habeas corpus de ofício, dada a complexidade das provas a serem examinadas. V - Agravos improvidos.
Cuidado! Há uma corrente minoritária, sustentada por Auri Lopes Júnior (e Gustavo Henrique Badaró), que diz que o contraditóio aplica-se tanto às questões de fato quanto às questões de direito (como ocorre na emendatio libelli). Assim, segundo essa corrente, deveria haver oitiva das partes sim, com relação à emendatio libelli, para que fosse respeitado o contraditório. 
Esse entendimento, hoje, poderia ser facilmente implementado, pois, pelo menos em tese, tudo poderia ser resolvido na audiência una.
13.1.3) Emendatio libelli nas diferentes espécies de ação penal:
A emendatio libelli pode ser feita em todas as espécies de ação penal. O art. 383, do CPP faz menção tanto à denúncia quanto à queixa. A emendatio pode ser feita tanto na açao penal pública (condicionada ou incondicionada) quanto na privada (exclusiva, personalíssima ou subsidiária da pública).
13.1.4) Possibilidade de emendatio libelli na segunda instância:
O Tribunal, ao julgar determinado recurso, pode fazer emendatio? O Tribunal pode fazer a emendatio sim, mas (atenção!) desde que não ocorra a reformatio in pejus. Se houver recurso exclusivo da defesa, deveser respeitado o princípio da non reformatio in pejus.
Sobre o assunto, o CPP prevê o princípio da non reformatio in pejus no seu artigo 617.
Art. 617, do CPP - O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença (princípio da non reformatio in pejus).
13.2) Mutatio libelli:
A mutatio libelli ocorre quando, durante o curso da instrução probatória, surge prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, como há uma alteração da base fática da imputação, há necessidade de aditamento da peça acusatória, com posterior oitiva da defesa.
Ex. Suponha-se que a denúncia impute ao acusado um crime de furto simples. Na hora da classificação, não houve maiores problemas (art. 155, caput, do CP). Mas, durante a instrução probatória, as testemunhas confirmam que teria havido o emprego de violência contra a vítima, violência esta que não consta do furto simples. Então, surgiu a prova de elementar do crime de roubo não contida na denúncia – a violência – que, por isso, não foi objeto de defesa pelo acusado. Nesta esteira, não se pode condenar o agente sem sua prévia oitiva, sob pena de se violar os princípios do contraditório, ampla defesa e do sistema acusatório. 
Mutatio significa mudança; libelli significa acusação. 
Nesse caso, então, os autos devem ser encaminhados ao MP, que irá fazer um aditamento à peça acusatória, exatamente para poder imputar ao acusado o crime que ficou evidenciado na instruçãoo da prova (no exemplo, crime de roubo). E, na sequência, será ouvia a defesa.
A mutatio deve ser feita quando surgir prova de ELEMENTAR OU CIRCUNSTÂNCIA que não estava contida na peça acusatória.
Nesse sentido, é importante saber que elementar é um dado essencial da figura típica, cuja ausência pode acarretar a atipicidade absoluta (a conduta passa a ser atípica) ou a atipicidade relativa (desclassificação).
DICA: Deve-se analisar se a ausência dessa elementar irá mudar o crime (se levará a uma atipicidade absoluta ou relativa).
Circunstância, vale dizer, é dado acessório ou periférico que gravita ao redor da figura típica básica, podendo aumentar ou diminuir a pena, não interferindo, contudo, no crime. A presença dela não repercute quanto ao tipo penal básico (o crime continua o mesmo).
Ex. Qualificadoras, causas de aumento de pena, causas de diminuição de pena, etc.
Obs: Agravantes: Estão previstas no CP, nos arts. 61 a 64 do CP. Cuidado!! As agravantes não precisam constar da denúncia para que sejam aplicadas pelo juiz. O CPP, no seu art. 385, diz que:
Art. 385, do CPP - Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Esse artigo é duramente criticado pela doutrina. Mas, aos olhos dos Tribunais, o art. 385, é tido como válido. Nesse sentido, STF, HC 93.211. Segundo o STF, as agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia.
EMENTA STF, HC 93.211: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ANULAÇÃO DA SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO NA PARTE DA FIXAÇÃO DA PENA. MANUTENÇÃO DA EXECUÇÃO PENAL. AGRAVANTE DO ART. 62, I DO CP. DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DA PACIENTE NA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. 1. Anulação do cálculo da pena e anulação da sentença são coisas distintas. A sentença transitada em julgado quando anulada apenas na parte da fixação da pena, para recálculo, mantém-se apta à execução. 2. As agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia para serem reconhecidas pelo Juiz. É suficiente, para que incidam no cálculo da pena, a existência nos autos de elementos que as identifiquem. No caso sob exame, consta na sentença que a paciente organizou a cooperação no crime, dirigindo a atividade criminosa. Ordem denegada.
Então, o promotor não faz mutatio libelli para reconhecer as agravantes, pois estas podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. A mutatio é feita para as elementares, qualificadoras, causas de aumento e causas de diminuição.
13.2.1) Fato novo x Fato Diverso:
	Fato Novo
	Fato Diverso
	Ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial constituem acontecimento criminoso completamente distinto daquele resultante dos elementos do núcleo essencial da imputação. O fato novo nada agrega à imputação inicial, mas a substitui por completo. Nessa hipótese, como não há qualquer relação com o fato inicialmente imputado ao acusado, não se aplica a mutatio libelli. Na verdade, deve ser instaurado novo processo criminal. Então, há fato novo quando, durante o processo, surge um fato completamente diferente, que nada agregará ao caso.
Ex. Cidadão estava sendo processado por um crime de furto simples de roupas. Durante o processo por furto simples, algumas testemunhas foram prestar depoimento e relataram que o mesmo cidadão teria praticado um outro furto, de uma arma, há seis meses atrás, em circunstâncias completamente distintas daquelas sob investigação. Esse fato novo não tem nada em comum com aquele sob inicial investigação.
	Ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial correspondem parcialmente aos do fato da imputação originária, porém com o acréscimo de alguma elementar ou circunstância que o modifique. É para o fato diverso que se reserva a mutatio libelli (quando se aproveita alguma coisa da imputação originária).
Ex.1: Cidadão está sendo processado por furto e descobre-se à violência. A violência soma-se ao furto, para caracterizar um roubo.
Ex.2: Cidadão processado por homicídio simples descobre-se uma qualificadora.
13.2.2) Necessidade de aditamento:
Na hora da mutatio libelli, surgindo prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória, deve ser feito o aditamento, pouco importando o quantum de pena cominado à imputação diversa. Quando surgir prova de elementar ou circunstância, deverá ser feito o aditamento, independentemente se essa imputação diversa acarretará pena maior ou menor.
	Antes da Lei 11.719/08
	Depois da Lei 11.719/08
	Art. 384, do CPP - Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de circunstância elementar, não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a defesa, no prazo de oito dias, fale e, se quiser, produza prova, podendo ser ouvidas até três testemunhas.
Parágrafo único. Se houver possibilidade de nova definição jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo de três dias à defesa, que poderá oferecer prova, arrolando até três testemunhas.
 Antes da reforma, se houvesse possibilidade de aplicação de pena mais grave em razão da emendatio, o juiz baixava o processo, a fim de que o MP aditasse a peça acusatória. Mas, se a pena não fosse mais grave, o artigo dizia que não haveria necessidade de aditamento. Então, na redação antiga, o aditamento só era obrigatório quando houvesse a possibilidade de aplicação de pena mais grave. O problema disso é que, por mais que a pena seja mais branda, o aditamento é importante para que haja uma acusação. É necessário acusar alguém para que haja uma condenação (ainda que por uma pena mais leve).
	Art. 384, do CPP - Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§1o Nãoprocedendo o órgão do MP ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código. 
§2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. 
§3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo. 
§4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
§5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. 
 Hoje, o artigo não mais fala em pena. Surgindo elementar ou circunstância, haverá aditamento, independentemente da alteração da pena para outra mais grave ou menos grave.
Ex. Uma pessoa está sendo processada por peculato doloso de uma arma. Durante o processo, uma testemunha diz que na realidade, uma outra pessoa é quem teria subtraído aquela arma, e não o acusado. Descobre-se, então, que o acusado, na realidade, “comeu mosca” e “dormiu em serviço”, na realidade, deixando a arma pendurada no coldre, sendo que um outro militar subtraiu a arma. O agente que estava sendo processado por peculato-apropriação, na realidade, praticou um peculato culposo, que tem pena mais branda. Pela atual redação do CPP, mesmo assim, deverá haver aditamento. Com o advento da Lei 11.719/08, o aditamento é necessário pouco importando se a imputação diversa acarretará uma pena mais grave ou menos grave.
13.2.3) Aditamento Provocado:
Antes da Lei 11.719/08, era o juiz quem baixava o processo a fim de que o MP aditasse a peça acusatória. Essa necessidade de o juiz baixar o processo para que houvesse o aditamento era chamada de “aditamento provocado”, pois o promotor era provocado a fazer o aditamento.
Hoje, o legislador não mais fala sobre o juiz baixar o processo. Depois a Lei 11.719/08, o art. 384, caput, do CPP prevê apenas, que “o MP deverá aditar” a denúncia ou queixa.
Art. 384, do CPP - Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Agora, o promotor já não é mais provocado pelo juiz. Então, o aditamento é espontâneo.
Mas, cuidado! Alguns doutrinadores dizem que a Lei 11.719/08 teria acabado com o aditamento provocado. Contudo, os doutrinadores que dizem isso parecem ignorar o art. 384, §1º, do CPP, in verbis:
Art. 384, §1o, do CPP - Não procedendo o órgão do MP ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código. 
Esse dispositivo diz que se o MP não fizer o aditamento espontaneamente, deve o juiz remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, nos termos do art. 28, do CPP. Isso não deixa de ser uma espécie de aditamento provocado, pois os autos só chegarão ao PGJ por conta dessa provocação feita pelo juiz.
Atenção! Há uma doutrina minoritária entende que esse artigo é inconstitucional. Nesse sentido, Gustavo Badaró (é a melhor obra sobre esse tema de correlação entre acusação e sentença). Mas essa posição não é a que prevalece.
Por fim, de acordo com o art. 384, §1º, se o promotor não fizer o aditamento, o juiz remeterá os autos ao PGJ, que tem as seguintes possibilidades:
a) Fazer o aditamento (ou designar outro órgão do MP para fazê-lo) – Nesse caso, o processo seguirá seu curso normal, e a defesa será ouvida.
b) Não fazer o aditamento - Se o PGJ não fizer o aditamento, ao juiz não restará outra opção senão julgar o acusado com base na imputação originária.
13.2.4) Procedimento da mutatio libelli:
Suponha-se que na denúncia a imputação foi quanto ao crime de roubo simples. A classificação feita pelo promotor foi correta (art. 157, caput, do CP). Durante a fase probatória, surge a prova de que teria havido o emprego de arma, uma das circunstâncias que autoriza a pena do crime de roubo.
Segundo a Lei, deve ser feito um aditamento espontâneo, para que, ao acusado, seja imputado um crime de roubo circunstanciado (art. 157, §2º, I, do CP). Esse aditamento pode ser feito oralmente (na própria audiência una de instrução e julgamento) ou por escrito (no prazo de 5 dias).
Depois disso, a defesa será ouvida, no prazo de 5 dias, antes do recebimento do aditamento (da mesma forma que a denúncia, o aditamento deve ser recebido pelo juiz, mas aqui, a defesa vai se manifestar antes desse recebimento).
Na realidade, nessa manifestação da defesa há um misto de defesa preliminar com resposta à acusação. É importante lembrar que na defesa preliminar, tentar-se-á apontar para o juiz as defesas do art. 395, do CPP (causas de rejeição da peça acusatória). Também será apresentada, desde já, uma resposta acusação, que objetivará buscar uma possível absolvição sumária.
Após a oitiva da defesa, o juiz se pronunciará, fazendo um juízo de admissibilidade do aditamento (é como se o juiz estivesse diante de uma nova denúncia). O juiz pode rejeitar o aditamento, se presente uma das hipóteses do art. 395, do CPP, ou pode receber a peça acusatória.
Deepois do recebimento, será feita uma nova instrução probatória, conforme art. 384, §2º, do CPP.
Cada parte pode arrolar até 3 testemunhas.
Então, o juiz irá designar uma nova audiência nova de instrução e julgamento. Nesse caso, mesmo que as partes não tenham nenhuma testemunha, será feita a audiência, pois deve ser feito novo interrogatório ao acusado (pois lhe foi imputado novo fato). Isto ocorre porque o acusado tem direito à autodefesa, e um dos seus desdobramentos é o direito à audiência.
Procedimento do Aditamento
13.2.5) Recurso cabível contra a rejeição do aditamento feito por conta da mutatio libelli:
O juiz não é obrigado a receber o aditamento. 
Esse aditamento pode ser feito na própria audiência. 
Se a rejeição do aditamento ocorrer através de uma decisão interlocutória, o recurso cabível será o RESE (art. 581, I, do CPP).
Mas, se essa decisão de aditamento for feita na própria audiência una, com posterior prolação de sentença, o recurso adequado será o de apelação (art. 593, §4º, do CPP). A apelação cabível contra sentença tem o condão de absorver o RESE, pelos princípios da absorção (ou consunção) e da unirrecorribilidade.
13.2.6) Possibilidade de mutatio libelli nas diferentes espécies de ação penal:
Art. 384, do CPP - Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
De acordo com uma corrente majoritária, a mutatio libelli só pode ser feita em crimes de ação penal pública (condicionada ou incondicionada) e nos casos de ação penal privada subsidiária da pública (porque o art. 384, caput, do CPP, fala em “se em virtude desta”, que se refere ao termo queixa – se houver sido instaurado processo por crime de ação penal pública no caso da queixa, ou seja, ação penal privada subsidiária). Em ambas as situações, o aditamento deve ser feito pelo MP (porque o artigo fala em “o Ministério Público deverá”). Neste sentido, Mirabete, Pacceli, Denilson Feitosa.
Cuidado! Há uma corrente minoritária, sustentada por Gustavo Badaró, que entende que a mutatio libelli também pode ser feita nos crimes de ação penal exclusivamente privada e privada personalíssima, observado o prazo decadencial.
Ex. Crimes contra a honra – Calúnia art. 138, do CP. Durante a instrução, descobre-se que a calúnia foi praticada pela internet (o que configura a causa deaumento do art. 141, III, do CP, relacionada à prática do crime por meio que facilite a propagação da ofensa). Nesse caso, é possível que a mutatio libelli seja feita em crime de ação privada, respeitado o prazo decadencial (que só começa a contar do conhecimento da elementar ou circunstância pelo acusado).
Art. 138, do CP - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Art. 141, do CP - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
13.2.7) Mutatio libelli na segunda instância:
Se a mutatio libelli pudesse ser feita na segunda instância, isso traria um sério problema, pois não se poderia apelar contra essa decisão. Então, a mutatio libelli na segunda instância não é possível, pois ela levaria à violação ao duplo-grau de jurisdição, diante da supressão da primeira instância.
Sobre o assunto, é importante notar o teor da súmula 453, do STF:
Súmula 453, do STF - Não se aplicam a segunda instância o art. 384 e parágrafo único, do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, expícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Isso, no entanto, não impede que o Tribunal anule o processo em face da inobservância do art. 384, do CPP. Se se visualiza que o juiz de primeiro grau não observou o art. 384, do CPP, o Tribunal pode anular o processo. Então, os autos retornarão à primeira instância, e lá, então, poderá ser aplicado o procedimento da mutatio libelli.
13.2.8) Imputação superveniente e possibilidade de condenação do acusado quanto à imputação originária:
Suponha-se que tenha havido a mutatio libelli e o aditamento. Nesse caso, haverá a primeira imputação (originária, que constou da denúncia) e uma imputação superveniente (que constou do aditamento).
Antes da Lei 11.719/08, diante do aditamento recebido, o juiz era livre para condenar o acusado tanto pela imputação originária quanto pela superveniente. Isso inclusive era uma hipótese chamada de “imputação alternativa”.
Mas, cuidado! Depois da Lei 11.719/08, deve-se prestar atenção na redação nova do art. 384, §4º, do CPP.
Art. 384, §4o, do CPP - Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
O parágrafo 4º do artigo acima diz que, uma vez feito o aditamento, o juiz passa a ficar adstrito aos termos do aditamento.
Diante da nova redação do art. 384, §4º, do CPP, uma vez recebido o aditamento, o juiz estará adstrito à imputação superveniente, sendo a ele vedado condenar o acusado pela imputação originária. Mas, essa regra comporta exceções, nas seguintes situações:
(Casos em que, mesmo feito o aditamento, poderá haver condenação na imputação originária):
a) No caso de imputação por um crime simples, com posterior inclusão de elemento especializante.
Ex. Denúncia de roubo simples com inclusão de elemento especializante – emprego de arma. Nesse caso, ainda que tenha sido feito o aditamento, caso o juiz entenda que o emprego de arma não restou provado, obviamente, ele poderá condenar quanto a crime de roubo simples.
b) No caso de crime complexo.
Ex. Furto seguido da imputação de roubo. Nesse caso, acrescentou-se a violência. Por mais que a violência não esteja provada, não há como negar que o acusado já teria se defendido da imputação de furto (exercendo, quanto a esse crime, sua defesa). Então, não há surpresa para o acusado, que pode ser condenado pelo crime de furto simples sim.
13.3) Disposições comuns à emendatio e mutatio libelli:
13.3.1) Mudança de Competência:
Pode ser que, por conta da mutatio ou da emendatio, ocorra a mudança de competência. Segundo a lei, os autos serão remetidos ao juízo competente. Atenção! Não há prorrogação da competência do juiz originário (art. 383, §2º, do CPP).
Art. 383, §2o, CPP - Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
13.3.2) Transação Penal e Suspensão Condicional do Processo:
Há doutrinadores mais antigos e conservadores (Nucci) que dizem que a suspensão do processo jamais pode ser dada no momento da sentença. Há quem diga que a transação penal e a suspensão do processo jamais poderiam ser dadas ao acusado no momento da sentença.
Mas, a mutatio e emendatio podem mudar a acusação e isso pode ir ao encontro dos interesses do acusado. Não é justo negar ao acusado tamanho benefício só por causa do momento processual.
Sobre o assunto, súmula 337, do STJ, diz que o fato de se estar na fase de prolação de sentença não impede a oferta da suspensão condicional do processo.
Súmula 337, do STJ – É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.
CUIDADO! Se se entender que é caso de suspro no momento da decisão final, nesse caso, não se pode proferir uma sentença condenatória. Deve-se dar uma decisão interlocutória, dizendo que não há prova da qualificadora (ou circunstância que autorizou a mutatio ou emendatio), e abrir-se a possibilidade de o promotor negociar com o acusado a transação penal ou a suspensão condicional do processo. (Se se vai negociar transação ou suspensão, porque o juiz iria condenar o acusado?).
Art. 383, §1º, do CPP – Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo (ou de transação penal), o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. 
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AULA 10 – 09/10/12
PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI
1) Fundamento Constitucional:
Art. 5º, XXXVIII, da CF/88 - É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
O constituinte coloca o Tribunal do Júri dentro dos direitos e garantias fundamentais. Apesar de o Júri ser órgão do Poder Judiciário (que é tratado a partir do art. 92, da CF), ele é tratado dentro do art. 5º, no início da CF. Isto acontece porque o Tribunal do Júri consagra a participação popular junto ao Poder Judiciário. E, de fato, é o que realmente acontece. No Júri, o acusado é julgado por seus semelhantes, de modo que esse órgão funciona como um direito de todos os integrantes da sociedade (todos têm direito de trabalhar no Tribunal do Júri). Ademais, o Tribunal do Júri vem previsto no rol de direitos e garantias fundamentais para não fosse extinto (para que fosse cláusula pétrea).
2) Princípios do Júri:
2.1) Plenitude de Defesa:
A Constituição Federal assegura a plenitude de defesa no art. 5º, XXXVIII, “a”. 
 Pergunta de Concurso: Diferencie “plenitude de defesa” de “ampla defesa”.
R: A ampla defesa também consta da CF/88, e está prevista no art. 5º, LV, CF. A ampla defesa, prevista constitucionalmente, é assegurada a todos os acusados, inclusive no Júri. Mesmo no Tribunal do Júri o cidadão tem direito a ampla defesa. Já a plenitude de defesa é exclusiva do Júri. A Constituição trata dela apenas quando vai cuidar dos princípios constitucionais do Tribunal do Júri.
Para se diferenciar “ampla defesa” de “plenitude de defesa”, é necessário saber as regras da hermenêutica constitucional, que diz que se o legislador usou palavras distintas, é porque ele se referia a significados distintos. Não há como negar que a expressão plenitude de defesa seria mais ampla. Mas as diferenças entre a plenitude de defesa da ampla defesa se dariam pelas duas características seguintes:
a) Plenitude de defesa técnica – Nesse ponto, é importante se penar na atuação do advogado no Tribunal doJúri. Na plenitude de defesa técnica, pode-se entender que o defensor não precisa se restringir a uma atuação exclusivamente técnica, podendo se valer de argumentação extrajurídica, como, por exemplo, razões de ordem emocional ou de política criminal, etc. 
Quando o acusado é julgado por um Juiz de Direito (juiz singular), a argumentação do advogado deve ser técnica (ex. pedido de absolvição por ausência de provas, ou porque o crime foi praticado em legítima defesa, etc.).
Já no Tribunal do Júri, o acusado é julgado por seus pares, pessoas singulares (do povo). Então, quanto menos técnico, melhor. Se o advogado faz com que o jurado sinta compaixão pelo acusado, é mais fácil conseguir absolvição. Para tanto, há quesitos genéricos como: “O jurado absolve o acusado?”.
Ex. São Paulo está vivendo carnificina. Vários policiais estão sendo mortos pelo PCC e muitos criminosos estão sendo mortos também. Se um policial militar executa sumariamente 2 pessoas na rua e vai à Júri, seu advogado pode levantar o histórico das duas vítimas e descobrir que elas eram traficantes, estupradores, latrocidas e homicidas. Em casos como estes, o julgamento deixa de ser do acusado, e passa a ser das vítimas. Por se tratar de São Paulo, pelo menos um dos sete jurados já sofreu algum tipo de violência. O advogado então, valendo de argumentações extrajurídicas, pode conseguir uma absolvição.
Obs: Se o acusado estiver indefeso, deve o Juiz Presidente dissolver o Conselho de Sentença e designar outra data para julgamento. O Juiz Presidente deve ficar atento ao exercício da defesa técnica. Se o juiz perceber que a atuação do advogado de defesa é muito precária, ele é obrigado a dissolver o Conselho de Sentença e marcar nova data para novo julgamento. Às vezes, o próprio advogado atua (de maldade) de forma precária, para depois o acusado pedir nova data de julgamento.
b) Plenitude da Autodefesa - O acusado é livre para apresentar a sua tese defensiva, ainda que distinta daquela apresentada por seu defensor, devendo o juiz inserir quesito específico quanto a essa tese. Isto também acontece no processo comum, mas a diferença é que, no Júri, quando essa nova tese é levantada, o Juiz Presidente é obrigado a fazer um quesito específico sobre ela (sobre a tese distinta apresentada pelo acusado).
Há vários julgados sobre o assunto. Nesse sentido, STF, HC 96.905, de 2011, relatado pelo Min. Celso de Mello. Nesse caso, o cidadão não teve a possibilidade de ouvir sua testemunha e sofreu outras limitações de defesa.
Já no STF, HC 85.969, o acusado teve seu defensor nomeado 2 dias antes do Plenário do Júri. E, além disso, o advogado se limitou a dizer que o seu cliente era inocente. Então, o Júri foi anulado.
EMENTA STF, HC 96.905: "HABEAS CORPUS" - JÚRI - TESTEMUNHA ARROLADA, COM A CLÁUSULA DE IMPRESCINDIBILIDADE, PARA SER INQUIRIDA NO PLENÁRIO DO JÚRI (CPP, ART. 461, “CAPUT”, NA REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.689/2008) - DIREITO SUBJETIVO DA PARTE - NÃO COMPARECIMENTO, CONTUDO, DE REFERIDA TESTEMUNHA, JUSTIFICADO MEDIANTE APRESENTAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO - MANIFESTAÇÃO DO RÉU INSISTINDO NA INQUIRIÇÃO, EM PLENÁRIO, DE REFERIDA TESTEMUNHA - INDEFERIMENTO DESSE PLEITO PELA JUÍZA-PRESIDENTE - IMPOSSIBILIDADE - OFENSA EVIDENTE AO DIREITO DE DEFESA DO ACUSADO - NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA - RÉU QUE EXPRESSAMENTE MANIFESTOU O SEU DESEJO DE SER DEFENDIDO POR ADVOGADO QUE ELE PRÓPRIO HAVIA CONSTITUÍDO - PLEITO RECUSADO PELA MAGISTRADA QUE NOMEOU DEFENSOR PÚBLICO PARA PATROCINAR A DEFESA TÉCNICA DO ACUSADO - TRANSGRESSÃO À LIBERDADE DE ESCOLHA, PELO RÉU, DE SEU PRÓPRIO DEFENSOR - DESRESPEITO À GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO - INVALIDAÇÃO DO JULGAMENTO PELO JÚRI - PEDIDO DEFERIDO. LIBERDADE DE ESCOLHA, PELO RÉU, DE SEU PRÓPRIO DEFENSOR.- O réu tem o direito de escolher o seu próprio defensor. Essa liberdade de escolha traduz, no plano da "persecutio criminis", específica projeção do postulado da amplitude de defesa proclamado pela Constituição. Cumpre ao magistrado processante, em não sendo possível ao defensor constituído assumir ou prosseguir no patrocínio da causa penal, ordenar a intimação do réu para que este, querendo, escolha outro Advogado. Antes de realizada essa intimação - ou enquanto não exaurido o prazo nela assinalado - não é lícito ao juiz nomear defensor dativo (ou Defensor Público) sem expressa aquiescência do réu. Precedentes. ABRANGÊNCIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO "DUE PROCESS OF LAW", QUE COMPREENDE, DENTRE AS DIVERSAS PRERROGATIVAS DE ORDEM JURÍDICA QUE A COMPÕEM, O DIREITO À PROVA.- A garantia constitucional do "due process of law" abrange, em seu conteúdo material, elementos essenciais à sua própria configuração, dentre os quais avultam, por sua inquestionável importância, as seguintes prerrogativas: (a) direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário); (b) direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; (c) direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas; (d) direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à autodefesa e à defesa técnica); (e) direito de não ser processado e julgado com base em leis “ex post facto”; (f) direito à igualdade entre as partes (paridade de armas e de tratamento processual); (g) direito de não ser investigado, acusado processado ou condenado com fundamento exclusivo em provas revestidas de ilicitude, quer se trate de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude derivada (RHC 90.376/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - HC 93.050/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO); (h) direito ao benefício da gratuidade; (i) direito à observância do princípio do juiz natural; (j) direito de não se autoincriminar nem de ser constrangido a produzir provas contra si próprio (HC 69.026/DF); (l) direito de ser presumido inocente (ADPF 144/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) e, em conseqüência, de não ser tratado, pelos agentes do Estado, como se culpado fosse, antes do trânsito em julgado de eventual sentença penal condenatória (RTJ 176/805-806, Rel. Min. CELSO DE MELLO); e (m) direito à prova.- O direito à prova qualifica-se como prerrogativa jurídica de índole constitucional, intimamente vinculado ao direito do interessado de exigir, por parte do Estado, a estrita observância da fórmula inerente ao “due process of law”.- Os juízes e Tribunais têm o dever de assegurar, ao réu, o exercício pleno do direito de defesa, que compreende, dentre outros poderes processuais, a faculdade de produzir e de requerer a produção de provas, que somente poderão ser recusadas, mediante decisão judicial fundamentada, se e quando ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. DISPENSA, POR INICIATIVA DO MAGISTRADO, SEM RAZÃO LEGÍTIMA, DE TESTEMUNHA QUE O ACUSADO ARROLOU, DE MODO REGULAR E TEMPESTIVO, COM A NOTA DE IMPRESCINDIBILIDADE: ATO JUDICIAL QUE OFENDE O DIREITO DE DEFESA CUJO EXERCÍCIO É ASSEGURADO, A QUALQUER RÉU, PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.- O fato de o Poder Judiciário considerar suficientes os elementos de informação produzidos no procedimento penal não legitima nem autoriza a adoção, pelo magistrado competente, de medidas que, tomadas em detrimento daquele que sofre persecução penal, culminem por frustrar a possibilidade de o próprio acusado produzir as provas que repute indispensáveis à demonstração de suas alegações e que entenda essenciais à condução de sua defesa.- Mostra-se claramente lesiva à cláusula constitucional do "due process" a supressão ou a injusta denegação, por exclusiva deliberação judicial, do direito à prova, que, por compor o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, deve ter o seu exercício plenamente respeitado por quaisquer autoridades e agentes públicos, que não podem impedir, sob pena de nulidade processual absoluta, que o réu, nos procedimentos de persecução contra ele instaurados, produza os elementos de informação por ele considerados imprescindíveis e que sejam eventualmente capazes, até mesmo, de infirmar a pretensão punitiva do Estado, ainda mais quando se tratar de testemunhas arroladas com a nota de imprescindibilidade (CPP,art. 461, "caput", na redação dada pela Lei nº 11.689/2008). Doutrina. Jurisprudência.
EMENTA STF, HC 85.969: DEFESA - GRAVIDADE DO CRIME. Quanto mais grave o crime, deve-se observar, com rigor, as franquias constitucionais e legais, viabilizando-se o direito de defesa em plenitude. PROCESSO PENAL - JÚRI - DEFESA. Constatado que a defesa do acusado não se mostrou efetiva, impõe-se a declaração de nulidade dos atos praticados no processo, proclamando-se insubsistente o veredicto dos jurados. JÚRI - CRIMES CONEXOS. Uma vez afastada a valia do júri realizado, a alcançar os crimes conexos, cumpre a realização de novo julgamento com a abrangência do primeiro.
2.2) Sigilo das Votações:
Atenção! Não é a votação que é sigilosa, mas sim o voto. A ninguém é dado conhecer o sentido do voto do jurado. 
Na verdade, não se pode saber se o jurado votou sim ou se votou não. Ao votar, o jurado recebe cédulas (SIM e NÃO) e deposita numa urna. Ele não revela seu voto. O jurado é uma pessoa do povo e não tem a proteção dada a um juiz. Daí a garantia do sigilo de seu voto.
Contudo, a partir do momento que a pessoa (o jurado) revela o voto (para TV, por exemplo), o problema é dela. É lógico que não se anula o Júri. O sigilo da votação vigora até que seja encerrada a Sessão de Julgamento e proclamado o veredicto pelo Juiz Presidente. Após este momento, o sigilo já não mais vigora.
2.2.1) Sala Especial:
Essa era a sala conhecida como “sala secreta”. Esta sala especial está prevista no art. 485 do CPP.
Art. 485, do CPP - Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Um detalhe importante: quem é que não está na sala especial? Não poderão acompanhar a votação o público nem o acusado. 
Cuidado com uma ressalva que é feita por poucos doutrinadores, mas que é interessante: SALVO se o próprio acusado exercer sua defesa técnica. Esta é uma hipótese raríssima. Pode acontecer de o acusado do Júri ter formação profissional de advogado e resolver fazer sua defesa técnica. O advogado de defesa tem que estar presente na votação, para fiscalizá-la. Neste caso raro, o acusado, que é também seu próprio advogado, estará presente na votação.
A expressão “sala secreta” foi retirada da lei, que hoje usa a expressão sala “especial”, fazendo isto de forma correta. O que ocorre na sala especial é uma votação mediante publicidade restrita. Não é uma votação secreta. Ali estarão presentes o juiz, o promotor, o serventuário de justiça, o advogado de defesa e os jurados.
Segundo o art. 93, IX, da CF/88, “todos os julgamento do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”.
A regra, quanto ao princípio da publicidade, é que todos os julgamentos sejam públicos. A publicidade tem que ser ampla: acesso irrestrito a todas as pessoas. Mas, a publicidade pode ser restrita, limitando-se as pessoas que vão acompanhar os atos. A depender do julgamento, o acesso poderá ser restrito às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes. 
Ex.: Crimes sexuais: há previsão expressa do sigilo no art. 234-B do CP: Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título (crimes contra liberdade sexual) correrão em segredo de justiça. 
Então, a sala especial é compatível com o princípio da publicidade, pois a publicidade pode ser restrita, autorizada pela própria Constituição. O Tribunal do Júri é composto por pessoas do povo, e, de modo a preservar a imparcialidade destas pessoas, a votação será em sala especial.
Outro assunto relacionado ao sigilo das votações é a questão ligada à incomunicabilidade dos jurados. Uma vez sorteados, os jurados não poderão se comunicar com os demais jurados e nem com terceiros. Eles recebem o aviso de que a partir daquele momento não podem se comunicar com outros jurados, nem com terceiros. Sua comunicação é restringida para garantir o sigilo do voto.
Atenção! Cuidado para não confundir o Júri no Brasil com o Júri nos EUA. Lá, os jurados conversam entre si. Aqui não. Aqui, cada um guarda para si seu voto. 
Quando o julgamento dura mais de um dia, o jurado continua com o dever de sigilo. Muitos Fóruns têm lugares para os jurados dormirem. Onde não tem estes lugares, os jurados vão para um hotel – mas não podem ficar com celular, internet, nada. 
A violação à incomunicabilidade é causa de NULIDADE ABSOLUTA, pois estar-se-á violando o princípio constitucional do sigilo das votações
Um detalhe importante: esta incomunicabilidade dos jurados diz respeito a quê? O jurado pode conversar com outra pessoa, mas não pode conversar sobre o processo.
 A incomunicabilidade vem prevista no art. 466, §1º do CPP:
Art. 466, §1o, do CPP - O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça. 
A incomunicabilidade dos jurados não tem caráter absoluto, porquanto diga respeito apenas ao processo (a incomunicabilidade está restrita ao processo). Cuidado para não achar que o jurado não pode conversar! O que ele não pode é conversar sobre o processo.
O oficial de justiça acompanha os jurados em seu sigilo, e depois atesta que a incomunicabilidade foi cumprida, e que os jurados limitaram-se apenas a ligar para os parentes avisando que foram sorteados. Neste sentido, STF, AO 1.046.
EMENTA STF, AO 1.046: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. OMISSÕES ALEGADAS QUANTO AOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS APRESENTADOS PELA DEFESA, À ALEGADA SUSPEIÇÃO DO JUIZ PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI E CONSPIRAÇÃO EM GABINETE DE MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E À FUNDAMENTAÇÃO PARA DOSIMETRIA DA PENA. INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO QUE SE PRONUNCIOU SOBRE TODOS OS TEMAS REFERIDOS. AMBIGÜIDADES: CONDENAÇÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS, VIOLAÇÃO À INCOMUNICABILIDADE DOS JURADOS, EXCESSO DE JURADOS CONVOCADOS E IRREGU-LARIDADE NA REPRESENTAÇÃO DA OAB COMO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OBJETIVO DE REFORMA DO ENTENDIMENTO JÁ EMITIDO PELO PLENÁRIO. REJEIÇÃO. INTUITO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIO. EMBARGOS REJEITADOS. IMEDIATA EXPEDIÇÃO DE MANDADO PRISIONAL. 1. (...). 2. A alegada omissão quanto aos elementos probatórios apresentados pela defesa não ocorreu. O acórdão embargado destacou que a apelação contra o veredicto popular, no que diz respeito à prova para condenação, deve demonstrar não apenas a existência de provas favoráveis à defesa, mas, para além disto, a completa ausência de indícios que respaldem a tese acusatória. Omissão rejeitada. 3. O argumento de que o juiz titular da Vara do Júri estaria suspeito para presidir o caso também foi analisado pelo acórdão embargado, ressaltando, inclusive, que referida questão foi objeto anterior de rejeição pelo Tribunal. A mera apresentação de exceções de suspeição contra o magistrado não comprova a alegação. Omissão inexistente. 4. Também a tese da conspiração em gabinete de ministro do Superior Tribunal de Justiça foi analisada e refutada no acórdão embargado, em que se salientou a completa inexistência de provas da argüição. Omissão inexistente. 5. Inexistiu a omissão referente ao alegado erro na aplicação da pena ao embargante. O acórdão embargado acolheu, inclusive, o argumento da defesa, no sentido da impossibilidade, no caso concreto, de considerar as ações penais em andamento como maus antecedentes contra o acusado. No mais, não houve qualquerimpugnação, nem razões para a reforma da sentença condenatória. 6. As ambigüidades alegadas também não ocorreram, pretendendo o embargante, no ponto, unicamente a reavaliação dos fundamentos que conduziram à prolação do acórdão embargado, o que não é permitido na via eleita. 7. Quanto ao citado desvio total da prova dos autos pelo veredicto, o acórdão embargado é cristalino e basta sua simples leitura para demonstrar a improcedência da alegação, inexistindo ambigüidade. 8. Relativamente à rejeição de nulidades referentes à suposta violação da incomunicabilidade e do número de jurados a ser convocado, o embargante não apontou em que consistiria a ambigüidade do acórdão, sendo que houve, apenas, divergência de alguns ministros quanto à conclusão do voto vencedor. 9. O afastamento da argüição de nulidade, por suposta deficiência na representação da Ordem dos Advogados do Brasil como assistente de acusação, também não apresentou quaisquer ambigüidades. A defesa não argüiu a suposta irregularidade no momento oportuno nem demonstrou o prejuízo. 10. As omissões e ambigüidades apontadas não ocorreram, razão pela qual não houve violação aos dispositivos legais e constitucionais citados nas razões recursais. 11. A fragilidade dos argumentos deduzidos nos embargos de declaração reforça a conclusão no sentido do intuito procrastinatório do recurso. 12. Embargos rejeitados. 13. Imediata expedição de mandado prisional, para evitar novas tentativas de protelar o cumprimento do que decidido no acórdão embargado, que poderia, inclusive, conduzir à prescrição da pretensão punitiva estatal.
2.2.2) Votação Unânime:
O que a votação unânime tem a ver com o sigilo das votações? Antes da lei 8.689/08, quando a votação era unânime (7 x 0) era possível saber o sentido do voto de cada jurado, o que prejudicava o sigilo das votações. Detalhe interessante é que a lei corrigiu esse problema.
Depois da Lei 8.689/08, passou-se a dispor que a votação deve ser interrompida quando forem obtidos 4 votos em determinado sentido. O legislador, de maneira sábia, percebeu que, no caso da votação unânime, o sigilo ficava prejudicado. Agora, em relação a qualquer quesito, quando o juiz completar 4 votos num mesmo sentido, ele interrompe a votação naquele momento. 
O art. 483, §1º e §2º do CPP trata da quesitação. Segundo referido dispositivo, não é mais necessário se contar até o 7º voto quando houver a maioria dos votos para um mesmo sentido. Obtidos 4 votos, interrompe-se a cotação. 
Art. 483, do CPP - Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – a materialidade do fato;
 II – a autoria ou participação; 
III – se o acusado deve ser absolvido; 
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; 
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. 
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado. 
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação: “O jurado absolve o acusado”?
Embora no dispositivo seja feita menção a essa técnica somente quanto aos quesitos I e II, esta forma de quesitação deve ser usada para todo o qualquer quesito (até o último), para preservar o sigilo constitucional das votações.
2.3) Soberania dos Veredictos:
Por conta da soberania dos vereditos, não é possível que um Tribunal formado por juízes togados modifique no mérito a decisão proferida pelos jurados. É exatamente isto que se entende pela soberania dos vereditos: os jurados, por força da própria Constituição, decidem sobre a existência de um crime doloso contra vida, e possível autoria ou participação; se os jurados disseram que o acusado é o autor do delito, então, o acusado é o autor do delito.
Sobre esse princípio, há vários questionamentos importantes.
 Pergunta de Concurso: Cabe recurso contra decisão do Júri?
R: As decisões do Tribunal do Júri são plenamente recorríveis, desde que respeitadas as 4 hipóteses de cabimento.
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; 
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
§1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.
§2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. 
§3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. 
Cuidado! Quando um Tribunal julga um recurso ele pode fazer duas análises: (1) um juízo rescindente e (2) o chamado juízo rescisório. 
(1) O juízo rescindente é inerente a todo recurso, quando ele é conhecido. Aqui o que vai acontecer é a cassação da decisão anterior. “Rescindente” significa que se está desconstituindo a decisão anterior. Então, o Tribunal, ao julgar a apelação, cassa a decisão anterior. 
(2) O juízo rescisório é a substituição da decisão anterior por outra. Através do juízo rescisório, haverá a prolação de uma nova decisão, substituindo-se a decisão anterior.
Ex.: Contra uma sentença condenatória de juiz de primeira instância pelo crime de furto, o advogado apela e pede absolvição ao Tribunal. O Tribunal conhece da apelação e dá nova decisão. Quando o Tribunal conhece da apelação, significa que a recorrida decisão está sendo desconstituída. Esse é o juízo rescindente. Na sequência, a decisão será substituída por outra: este é o juízo rescisório. 
No Tribunal do Júri deve-se tomar cuidado com o juízo rescisório, porque o Tribunal não pode sair por aí substituindo as decisões dadas pelos jurados, pois estaria violando a soberania dos vereditos. 
2.3.1) Cabimento de Apelação no Júri:
Quando o Tribunal julga o recurso, qual é a análise que ele pode fazer? O Tribunal é livre para fazer qualquer análise? O Tribunal pode julgar revisão criminal sobre a decisão do Júri?
Aqui, trata-se de recurso de fundamentação vinculada. 
Quando se apela de uma sentença proferida em procedimento comum, a apelação é de fundamentação livre, podendo-se utilizar qualquer tipo de fundamentação.
Mas, quando se apela no Tribunal do Júri, o apelante é obrigado a apontar uma das hipóteses do art. 593, III, do CPP. O seu recurso só será conhecido se ele apontar qualquer uma daquelas hipóteses previstas no art. 593, III, do CPP (nulidade, decisão injusta ou manifestamente contrária às provas dos autos ou à decisão dos jurados).
Sobre o tema, é importante analisar a súmula 713, do STF.
Súmula 713, do STF - O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição.
Se o promotor, por exemplo, apela com base em UM fundamento, o Tribunal só pode julgar aquele fundamento (Súmula 713, do STF). Se o promotor disser que a decisão é contrária à prova dos autos, o Tribunal não pode reconhecer, por exemplo, uma nulidade. O Tribunal só pode dar o que foi pedido. Não se pode estender o conhecimento do recurso a fundamentos que não foram impugnados pelo recorrente.
Ainda sobre a apelação no Júri:
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
 Pergunta deConcurso: Uma das hipóteses de cabimento da apelação no Júri é “quando ocorrer nulidade posterior à pronúncia”. Por que a lei fala em nulidade posterior (e não anterior) à pronúncia? Por que a nulidade tem que vir depois e não antes da pronúncia?
R: Se a nulidade é anterior à pronúncia, deveria ela ter sido impugnada no RESE (interposto contra a decisão de pronúncia). Se não o foi, ela estará preclusa (o recurso contra a pronúncia é o RESE).
 Pergunta de Concurso: Qual é a nulidade que pode ser impugnada nesta apelação?
R: Nesta apelação, poderão ser impugnadas nulidades absolutas e relativas. A lei não faz qualquer restrição quanto a isso, podendo a parte impugnar qualquer tipo de nulidade, seja ela absoluta ou relativa. Mas quanto às nulidades relativas, deve-se atentar que elas devem ter sido impugnadas oportunamente, sob pena de já ter se operado a preclusão. Então, pode a parte impugnar na apelação qualquer espécie de nulidade, com o cuidado de que a nulidade relativa tem que ter sido impugnada em momento oportuno.
Ex.: Eventual deficiência na quesitação deve ser impugnada de pronto ao juiz. Ao quesitar, o juiz perguntará: há alguma impugnação quanto aos quesitos? Nesse caso, os Tribunais entendem que a nulidade é relativa, e que se a parte ficar calada, não poderá impugnar tal questão futuramente.
 Pergunta de Concurso: O juízo rescindente é cassação da decisão anterior. Já o juízo rescisório é a substituição da decisão por outra. Na hipótese do art. 593, III, “a”, do CPP, qual é o juízo feito pelo Tribunal quando ele julga esta apelação?
R: Quando o Tribunal reconhece que há uma nulidade, haverá, tão somente, o juízo rescindente. E, nesta hipótese, não há violação à soberania dos vereditos, que está ligada à proteção do mérito da decisão proferida pelos jurados. Nulidade é matéria de direito e não tem nada a ver com a decisão dada pelos jurados e, neste caso, não há qualquer violação à soberania dos vereditos.
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
§1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.
Ex. Apesar do reconhecimento, pelos jurados, de uma qualificadora, o acusado é condenado por homicídio simples. Determinada qualificadora é submetida à apreciação dos jurados, que a reconhecem. O juiz é obrigado a acatar a qualificadora reconhecida pelos jurados.
 Pergunta de Concurso: Quando o TJ julga uma apelação contra a sentença do Juiz Presidente contrária à decisão dos jurados, qual juízo é feito? 
R: Aqui, o que está sendo questionada não é a decisão dos jurados, mas a sentença do Juiz Presidente. Quem errou não foram os jurados. Nestas hipóteses, o juízo “ad quem” (TJ ou TRF, dependendo do caso concreto) fará o juízo rescindente e também o rescisório. O erro é do Juiz Presidente, que não está protegido pela soberania dos vereditos. Quando o Tribunal julga esta apelação, ele pode fazer o juízo rescindente e o juízo rescisório. 
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; 
§2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. 
Apesar de muitos doutrinadores dizerem que erro e injustiça é a mesma coisa, é importante saber a distinção entre esses termos. 
	Erro
	Injustiça
	O erro está relacionado a um equívoco na fixação da pe-na ou da medida de segurança.
	A injustiça está relacionada à inadequada individualização da pena ou da medida de segurança. Nessa hipótese, o juiz analisou mal as circunstâncias judiciais do art. 59, do CP.
	Ex. O juiz fixou pena abaixo do mínimo legal.
	Ex. Acusado primário e de bons antecedentes. Todas as circunstâncias lhe são favoráveis, e mesmo assim, o juiz lhe aplica a pena no máximo na primeira fase.
 Pergunta de Concurso: Nesta hipótese (de erro ou injustiça) o juízo rescindente (que cassa a decisão recorrida) pode fazer juízo rescisório (reformar a decisão)?
R: Quem está errando? Os jurados ou o Juiz Presidente? O Juiz Presidente. Por isto, nesta hipótese, pode-se concluir que será feito tanto o juízo rescindente quanto o juízo rescisório, sem que haja qualquer violação à soberania dos vereditos. O que o Tribunal fará aqui será apenas consertar um erro do Juiz Presidente. 
Ex. Homicídio simples: réu primário e de bons antecedentes. O juiz o condenou a 20 anos. O Tribunal vai diminuir a pena.
 Pergunta de Concurso: Se o acusado for condenado por um homicídio qualificado (motivo fútil, motivo torpe, etc.), o Tribunal pode excluir a qualificadora por reconhecê-la injusta?
Ex. Num crime de aborto (praticado por terceiro sem consentimento da gestante), foi aplicada uma agravante de crime cometido contra gestante, o que não é possível, porque o crime já é crime contra gestante. Essa é uma hipótese de erro (bis in idem). O Tribunal pode tirar a agravante? Pode afastar uma qualificadora?
R: Não é possível que um Tribunal formado por juízes togados reforme a decisão proferida pelos jurados. É importante lembrar que a soberania é destinada à proteção dos jurados. Então, quando se pergunta o que o Tribunal pode reformar (tirar ou não), deve-se pensar nos jurados: as qualificadoras são apreciadas pelos jurados? SIM. As agravantes são quesitadas aos jurados? NÃO. É só pensar naquilo que é matéria apreciada pelos jurados e naquilo que é apreciado pelo Juiz Presidente:
	Matérias apreciadas pelos Jurados
	Matérias apreciadas pelo Juiz Presidente
	· Qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de pena, são quesitadas aos jurados. 
· Logo, não podem ser excluídas ou incluídas por ocasião do julgamento de eventual apelação. 
· Se, por acaso, isto acontecer, o Tribunal estaria violando a soberania dos vereditos. 
· O Tribunal não pode excluir uma qualificadora reconhecida pelos jurados, sob pena de violar a soberania dos vereditos.
	· As agravantes e atenuantes não são quesitadas aos jurados. Elas podem ser reconhecidas pelo Juiz Presidente. 
· Significa dizer que elas não estão protegidas pela soberania dos vereditos. Neste caso, como a matéria é submetida à apreciação do Juiz Presidente, ela não está mais protegida pela soberania dos vereditos.
· Então, ao Tribunal é dado excluir (ou incluir) eventual circunstância agravante ou atenuante, no julgamento da apelação. 
· Se um Tribunal decidir que houve erro sobre tal matéria, ele pode apagá-la.
Então, voltando ao exemplo da pergunta, se o Juiz Presidente aplica uma agravante de crime praticado contra gestante em crime de aborto provocado por terceiro sem consentimento da gestante, e o Tribunal reconhece esse erro, esta agravante não pode ser preservada (pois ocorreu um “bis in idem”). Então o Tribunal pode retirar esta agravante.
Art. 593, do CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
A decisão manifestamente contrária à prova dos autos é aquela que não encontra nenhum suporte nos elementos informativos e na prova constante nos autos. Os Tribunais, infelizmente, não respeitam muito isto. Se houver mínima prova, eles decidem que a decisão tem que ser respeitada.
Exemplo de decisão manifestamente contrária aos autos: Acusado diz que atirou contra a vítima. Confessa ter dado 4 tiros na cabeça da vítima. As testemunhas confirmam. Se os jurados respondem “Não” à pergunta “O acusado foi autor dos disparos?”, então esta decisão é manifestamente contrária à prova dos autos.
 Pergunta de Concurso: A apelação é compatível com a soberania dos vereditos? Quando o Tribunal diz que a decisão é manifestamente contrária aos autos, háviolação da soberania? 
R: Esta hipótese de cabimento da apelação é compatível com a soberania dos vereditos, pois o TJ (ou TRF) se limita a fazer o juízo rescindente, submetendo o acusado a novo julgamento. Se o Tribunal fizesse juízo rescisório, ele estaria invadindo o mérito da decisão. Então, haverá a cassação da decisão dos jurados e deverá ser feito novo Júri. Neste novo julgamento, não poderão participar os jurados que participaram do julgamento anterior. 
 Pergunta de Concurso: Quantas apelações podem ser interpostas com base nesta letra “d” do art. 593, III, do CPP? 
R: Em todas as hipóteses anteriores, a apelação poderia ser interposta quantas a parte quisesse. Mas, o caso do art. 593, III, “d”, do CPP, a apelação só pode ser interposta uma única vez. Esta hipótese de decisão manifestamente contrária à prova dos autos pode ser usada uma única vez, pouco importando quem usou primeiro (se o MP ou a defesa).
Art. 593, III, §3o , do CPP - Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.
2.3.2) Revisão Criminal contra decisões de Júri:
A revisão criminal é a ação rescisória do processo penal. É aquela ação a ser ajuizada depois do trânsito em julgado. Houve processo, o acusado foi processado e condenado. Cabe revisão criminal. O cabimento da revisão criminal pressupõe que tenha havido o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória imprópria.
 Pergunta de Concurso: Cabe revisão criminal contra decisão do Júri ou será que viola a soberania dos vereditos?
R: É cabível revisão criminal no Júri. Não há qualquer incompatibilidade. Não se pode perpetuar um erro judiciário sob o argumento de que aquilo foi decidido pelo Júri. Suponha-se que sejam descobertas novas provas, que levam a uma absolvição.
 Pergunta de Concurso: Quando o Tribunal de Justiça julga erro judiciário, pode ele fazer o juízo rescindente e também o rescisório?
R: Prevalece o entendimento de que o juízo “ad quem” deve fazer o juízo rescindente (cassar a decisão anterior) e o juízo rescisório. Essa é a posição que prevalece na doutrina e na jurisprudência.
Há quem diga que na revisão criminal deveria ser feita a mesma coisa que na apelação. Por esse entendimento, se o Tribunal reconhecesse um erro, ele deveria desconstituir a decisão anterior e submeter o réu a novo julgamento. Mas isto não é majoritário.
Os Tribunais entendem que o Tribunal pode, ele mesmo, desconstituir a decisão e dar novo julgamento ao réu. O motivo é que a revisão criminal só poder ser ajuizada depois do trânsito em julgado.
Ex. Caso Pimenta Neves: o processo durou 11 anos. Se se dissesse que o Tribunal submeteria o réu a novo julgamento, depois de 11 anos, o Tribunal realmente faria isso? Neste novo julgamento, estaria inviabilizada a produção da prova testemunhal, já que, depois de 11 anos seria praticamente impossível encontrar as testemunhas e pedir a elas que se lembrassem dos fatos delituosos.
Então, prepondera o entendimento de que o juízo ad quem deve fazer o juízo rescindente como também o rescisório no caso da revisão criminal no Júri.
2.4) Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida:
O Tribunal do Júri é órgão do Poder Judiciário. Da mesma forma que alguém pode ser julgado por juiz singular comum, essa pessoa ser julgada pelo Tribunal do Júri, pelos Juizados Especiais, etc. 
 Pergunta de Concurso: O Tribunal do Júri é órgão do Poder Judiciário de que Justiça? Há Tribunal do Júri na Justiça Militar? E na Justiça Eleitoral?
R: Tribunal do Júri é órgão do Poder Judiciário, mas só é organizado por lei no âmbito da Justiça Estadual (99% dos casos) e Justiça Federal. Então, só existe Tribunal do Júri estadual e Tribunal do Júri Federal.
Ex. de Tribunal do Júri Federal: Caso de Delegado da Polícia Federal que matou Corregedor da Polícia Federal. Trata-se de um crime doloso contra a vida, contra funcionário público federal no exercício das funções. O crime é de competência da Justiça Federal, e, como também é crime doloso contra a vida, foi para o Tribunal do Júri Federal.
O Tribunal do Júri terá a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida. Esta competência não pode ser afastada nem mesmo por Emenda Constitucional.
Atenção! A competência não pode ser tirada. Porém, pode ser ampliada. Trata-se de competência mínima, ou seja, uma competência que pode ser ampliada. Não se pode tirar do Júri a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida. Mas, pelo menos em tese, ele é competência mínima. Se amanhã alguém quiser dizer que o Júri também vai julgar os crimes de lavagem de capitais, ele poderá julgar. A competência pode ser ampliada.
Aliás, já é o que acontece, porque o Tribunal do Júri julga tanto dos crimes dolosos contra a vida como também os crimes conexos (ou continentes). Se, por acaso, houver infrações conexas ou continentes, as duas irão para o Júri. 
Ex. Um cidadão cometeu um crime de estupro seguido de homicídio. São crimes conexos, pois a prova de um crime influencia na do outro. O homicídio foi praticado para cobrir o estupro. Então o Tribunal do Júri julgará os dois crimes.
 Pergunta de Concurso: Quais os crimes conexos e continentes que não serão julgados pelo Júri?
R: Para se responder a essa pergunta, deve-se pensar na separação de justiças. Não serão levados a Júri os crimes eleitorais e os militares, ainda que conexos a crimes de competência do Tribunal do Júri. 
Ex: Imagine que, durante as eleições, o acusado tente comprar um eleitor. Corrupção para fins eleitorais é crime eleitoral. Mas, para impedir que esse eleitor o denuncie para as autoridades eleitorais, o acusado mata o eleitor. Nesse caso, os crimes são conexos. Contudo, cada um dos crimes vai para uma Justiça diferente: o crime eleitoral vai para a Justiça Eleitoral e o homicídio para o Tribunal do Júri.
2.4.1) Crimes que levam à morte dolosa mas que NÃO SÃO JULGADOS pelo Tribunal do Júri: 
	INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO SÃO JULGADAS PELO TRIBUNAL DO JÚRI
	Infração Penal
	Fundamento
	Órgão Competente
	
Latrocínio
	Não é crime doloso contra a vida. É crime de natureza patrimonial (Súmula 603 do STF - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri).
	
Juiz singular
	Ato infracional 
	O ato infracional contra a vida não vai à Júri.
	Juízo da Infân-cia e Juventude
	
Genocídio 
(Lei 2.889/56)
	Não é crime doloso contra a vida. A Lei 2.889/56 tutela a existência de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. 
Atenção! Se o genocídio, porventura, for praticado mediante morte de membros do grupo, haverá concurso formal impróprio entre o genocídio e os homicídios. (Cuidado com isto, porque pode parecer que haveria a absorção, mas não há, pois esses crimes protegem bens jurídicos distintos, e, consequentemente, não é possível invocar o princípio da consunção). 
	
Justiça Comum
(juiz singular)
	
Crime político 
(art. 29, da Lei 7.170/83)
	Matar Presidente da República, do STF, do Senado ou da Câmara dos Deputados, com motivação política. 
Art. 1º, Lei de Segurança Nacional - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão: I - a integridade territorial e a soberania nacional;
Il - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; III - a pessoa dos chefes dos Poderes da União.
	Crimes políticos são julgados pela Justiça Federal (juiz singular).
	
Crime praticado por agente c/foro por prerrogativa de função previsto na CF/88
	Quando este foro é previsto na CF, por conta do princípio da especialidade, ele prevalecerá sobre a competência do Tribunal do Júri. 
Obs: Alguns foros estão previstos apenas em Constituições Estaduais, caso em que esse foro por prerrogativa não prevalecerá sobre o Júri. 
Súmula 721, do STF - A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativade função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Ex.1: Promotor de Justiça mata alguém. O foro do promotor está previsto na CF/88. A Competência será do TJ respectivo.
Ex.2: Delegado da Polícia Civil de SP vai ao Júri comum, porque seu foro por prerrogativa é estabelecido somente pela Constituição Estadual.
	
Será julgado no foro por prerrogativa de função.
	Crime contra a vida de Militar da ativa contra Militar da ativa
	Não há Tribunal do Júri Militar
	Julgado perante a Justiça Militar
	
Crime de Civil contra militar das forças armadas em serviço
	Ex. Civil matou sentinela do exército dentro do quartel onde estava em serviço. 
EMENTA STF, HC 91.003: HC. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO PRATICADO POR CIVIL CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVIÇO: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO PENAL MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do STF é no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em serviço pela justiça castrense, sem a submissão destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do o art. 9º, inc. III, "d", do CPM. 2. HC denegado.
	O STF entendeu que a competência é da Justiça Militar.
	
Tiro de abate
(art. 303, da Lei 7.565/86 - CBA)
	O CPM passou a prever que o tiro de abate será julgado pela Justiça Militar. Como o abate é feito pela força aérea brasileira, entende-se que a competência é da União. Não há nenhum caso concreto.
Art. 9º, p.ú., CPM - Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
	
Competência da Justiça Federal.
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AULA 11 – 18/10/12
3) Procedimento:
O procedimento é bifásico.
3.1) 1ª Fase: Sumário da Culpa (Judicium acusacionis):
A primeira fase do Júri conta apenas com a participação do juiz sumariante.
Esta fase tem início a partir do oferecimento da peça acusatória. Quando se trata de crime doloso contra a vida, o MP oferece denúncia ao juiz sumariante.
Geralmente, quando se faz uma denúncia, pede-se, ao final desta, a condenação do acusado. Contudo, no caso da primeira fase do Júri, o MP oferece denúncia, o pedido final não é o de condenação, porque o pedido de condenação será feito apenas perante os jurados, no dia da Sessão de Julgamento.
Então, oferece-se denúncia, pedindo ao juiz sumariante que pronuncie o acusado pela prática do crime doloso contra a vida. Não se pede a condenação. A condenação será pedida aos jurados.
 Pergunta de Concurso: É possível haver no Júri o oferecimento de uma queixa-crime? Quais são as hipóteses de oferecimento de uma queixa crime no Tribunal do Júri?
R: Sim, é possível o oferecimento de queixa-crime perante o Tribunal do Júri, em duas hipóteses:
1ª) A primeira hipótese é da ação penal privada subsidiária da pública, inclusive por força da Constituição, que dela trata. Diante da inércia do MP no caso legal, é possível o ajuizamento de uma queixa subsidiária da pública. Além desta hipótese de ação privada subsidiária, há outra hipótese.
2ª) A segunda hipótese trata da existência de um crime conexo de ação penal privada. Ao Tribunal do Júri compete não apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, como também o julgamento de demais crimes conexos. O MP vai oferecer denúncia em relação ao crime de ação penal pública (o homicídio, p.ex.) e a vítima oferece queixa em relação ao crime de ação penal privada. Nesta segunda hipótese, de crimes conexos, seria interessante o juiz determinar a separação dos processos, para não causar retardamento do feito. Sobre esse assunto, ver art. 80, do CPP (que faculta a separação dos processos em crimes conexos). 
Art. 80, do CPP - Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Ao término da 1ª Fase, o juiz sumariante profere uma de quatro das possíveis decisões: a) impronúncia; b) desclassificação; c) absolvição sumária; d) decisão de pronúncia. 
 Pergunta de Concurso: Qual é a diferença da primeira fase do Júri para o procedimento comum? 
R: No procedimento comum, o MP oferece denúncia, que vai para o juiz. O juiz pode rejeitar ou receber a denúncia. Recebida a peça acusatória, o acusado é citado para apresentar a resposta à acusação. Após, há a oitiva do MP sobre documentos, provas novas e contraditório manifestado pela outra parte. Após a oitiva do MP, juiz analisa possível absolvição sumária. Se não absolve sumariamente o acusado, designa audiência una de instrução e julgamento.
Na primeira fase do Júri: Assemelha-se ao procedimento comum ordinário, porém, há algumas diferenças, quais sejam:
	Diferenças
	Procedimento Comum
	Primeira Fase do Júri
	No procedimento comum não existe esta previsão. Mas há doutrinadores que dizem que mesmo não havendo esta previsão, ela deveria ser obser-vada no procedimento comum.
Essa disposição pode ser apli-cada ao procedimento comum.
	Ao contrário do procedimento comum, há previsão expressa de oitiva do MP após a apresentação da resposta à acusação. No CPP, há de maneira expressa menção à oitiva do MP no art. 409, do CPP, que diz: “Apresentada a defesa (resposta à acusação) o juiz ouvirá o MP ou querelante sobre preliminares de documentos em 5 dias”. 
	
No Procedimento Comum a absolvição sumária ocorre após a apresentação da resposta à acusação e antes da audiência una de instrução e julgamento. Então, no início do procedimento comum é Possi-vel que o acusado saia do pro-cesso já no início. 
	Já na primeira fase do Júri, a absolvição sumária se dá em momento distinto, ocorrendo quando do final da audiência de instrução. Então, o acusado só pode sair do processo ao final da audiência: o juiz irá processar, instruir, fazer audiência, e, só depois, poderá absolver o acusado. 
Obs: Denilson Feitosa diz que esta absolvição do procedimento comum poderia acontecer no Tribunal do Júri (havendo duas hipóteses de absolvição sumária), com base no art. 394, §2º, do CPP (Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial). Mas esta NÃO é a melhor posição, pois o mesmo art. 394, agora no §3º, do CPP§ diz que “nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código”. O ideal é dizer que no Júri a absolvição sumária é uma só e deve se dar ao final da audiência de instrução e julgamento.
	No procedimento comum, ao final da audiência, o juiz indaga às partes se haveria alguma diligência a ser realizada.
Art. 156, do CPP - A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
	Na primeira fase do Júri não há previsão expressa de requerimento de diligências ao final da audiência. 
Cuidado! No procedimento do Júri, essa possibilidade de o juiz perguntar pela realização de diligências não seria possível. Se surgir a necessidade de uma diligência, apesar do silêncio da lei, pode-se invocar o princípio da busca da verdade.
Ex.: Na hora do interrogatório, o acusado não está legal (bebeu, tomou um remédio). Pode-se invocar um novo interrogatório.
	No procedimento comum é possível a substituição das alegações finais por memoriais.A própria lei prevê a possibili-dade. 
	Não há previsão expressa de substituição das alegações orais por memoriais. No tribunal do Júri, teoricamente, as alegações deveriam ser orais.
	Indispensabilidade das alegações orais no procedimento comum. Alegações orais ou memoriais são indispensáveis.
	E se estas mesmas alegações orais forem apresentadas na primeira fase do Júri? As alegações orais no procedimento do Júri são indispensáveis? Ao final da primeira fase do Júri o acusado ainda não está sendo condenado. Desde que evidenciado que se trata de uma estratégia da defesa, e não hipótese de abandono do processo, as alegações orais podem ser apresentadas de maneira bem singela.
Ex. A defesa já percebeu que o seu cliente será pronunciado (por ser acusado confesso, p.ex.).
É importante lembrar que o acusado não será condenado nesta fase; ele será apenas pronunciado. Isto é o máximo que pode acontecer. A defesa não gosta de antecipar sua tese. Não “gastar munição” nas alegações orais é mais interessante, guardando-as para usá-las perante o juiz natural.
Nesse caso, a apresentação de alegações de maneira resumida, ou até mesmo a não apresentação de alegações, não seria causa de nulidade.
Nesse sentido, STF, HC 103.569, julgado em 2010. Neste julgado, o Supremo entendeu que a não apresentação de alegações orais não seria causa de nulidade. 
EMENTA STF, HC 103.569: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. PEÇA ACUSATÓRIA QUE DESCREVE TODO O FATO CRIMINOSO APTA A PERMITIR O EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. NULIDADE PROCESSUAL. ALEGADA DEFICIÊNCIA NA DEFESA, EM RAZÃO DA DESISTÊNCIA DA OITIVA DE TESTEMUNHAS ARROLADAS NA DEFESA PRÉVIA E FALTA DE OFERECIMENTO DE ALEGAÇÕES FINAIS. ESTRATÉGIA DEFENSIVA VÁLIDA. EXCESSO DE LINGUAGEM NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. INOCORRÊNCIA. INCLUSÃO DE QUALIFICADORAS NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. INVIABILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS EM SEDE MANDAMENTAL. QUESITAÇÃO. LEGÍTIMA DEFESA. TESE DEVIDAMENTE CONSIDERADA. ORDEM DENEGADA. 1. Não há que se falar em inépcia da denúncia, se essa descreve como teriam ocorrido e em que circunstâncias se deu o fato criminoso, ainda que sucintamente, possibilitando a mais ampla defesa. CPP, art. 41. 2. A desistência da oitiva de testemunhas arroladas pela própria defesa, que inclusive poderiam vir a ser inquiridas em plenário caso algo de relevante tivessem a dizer, e o não oferecimento das alegações finais em procedimento da competência do Tribunal do Júri constituem adequada tática da acusação e da defesa de deixarem os argumentos de que dispõem para apresentação no plenário, ocasião em que poderão surtir melhor efeito, por não serem previamente conhecidos pela parte adversária. Precedentes (...) 4. Havendo indícios suficientes para a inclusão das qualificadoras na sentença de pronúncia, não há que se falar em decisão carente de fundamentação. Revolvimento de fatos e provas, ademais, inadmissíveis na via mandamental. Precedentes (...). 5. A tese da legítima defesa foi devidamente considerada na elaboração dos quesitos, sendo, entretanto, rejeitada pelo Conselho de Sentença. Outrossim, não há notícia de que a defesa tenha protestado em ata contra a formulação do quesito, o que torna a matéria preclusa. 6. Habeas Corpus denegado.
O prazo para a conclusão da primeira fase do Júri (sumário da culpa) está previsto no art. 412, do CPP:
Art. 412, do CPP - O procedimento será concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
3.2) 2ª Fase: Judicium causae:
Essa fase conta com a participação do Juiz Presidente (os autos são remetidos a ele). Inicialmente, somente o Juiz Presidente atua. Mas, depois, no dia da Sessão de Julgamento, há a participação do Conselho de Sentença que se junta ao Juiz Presidente.
 Pergunta de Concurso: Qual momento que marca o início desta segunda fase?
R: Antes da Lei 8.689, a 2ª Fase do Júri começava com o oferecimento do libelo acusatório. Mas, o libelo acusatório acabou sendo extinto e não existe mais.
Hoje, o início desta segunda fase se dá com a preparação do processo para julgamento em Plenário. E esta preparação do processo para julgamento em Plenário ocorre após a preclusão da decisão de pronúncia (quando não couber mais recurso contra a decisão de pronúncia).
Art. 421, do CPP - Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. 
§2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Seção III - Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário (Redação pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 422, do CPP - Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
O término da 2ª Fase do Júri se dá com a Sessão de Julgamento que será realizada com Juiz Presidente e jurados. Nesta Sessão de Julgamento, poderá resultar a condenação ou a absolvição do acusado.
O prazo de conclusão da 2ª Fase não conta com previsão legal expressa. A lei não fala expressamente, mas há detalhe interessante: dentre as causas de desaforamento (deslocamento do julgamento de uma comarca para outra), está a hipótese de o julgamento não puder ser realizado até 6 meses. Sobre isso, ver art. 428 do CPP. 
Art. 428, do CPP - O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Obs: Este artigo está errado. A pronúncia é mera decisão interlocutória e ela não transita em julgado; apenas preclui. 
Assim, a doutrina extrai o prazo do término da segunda fase deste artigo, entendendo que o prazo é de 6 meses.
Obs: Na teoria, esses prazos são maravilhosos, porque o acusado que mata alguém, em tese, de acordo com a lei, teria seu julgamento concluído dentro de 9 meses: 90 dias na primeira fase e depois mais 180 dias na segunda fase. Mas, na prática, é diferente: não há pauta para se realizar as audiências e sessões de julgamento, podendo o processo demorar por 3, 4 anos, por exemplo.
4) Impronúncia:
Quando é que alguém deve ser impronunciado? A impronúncia está prevista no art.414, do CPP.
Art. 414, do CPP - Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
O acusado deve ser impronunciado quando o juiz sumariante não estiver convencido da materialidade ou de indícios suficientes de autoria ou de participação. 
4.1) Natureza jurídica da decisão de impronúncia:
Se se fosse fazer uma classificação da impronúncia, ela seria qual tipo de decisão? Sentença, decisão interlocutória? Despacho? Trata-se de uma decisão interlocutória mista terminativa: é chamada de decisão interlocutória porque nela não há apreciação do mérito (o juiz não está dizendo se o acusado é culpado ou inocente; apenas analisa-se a questão probatória - se há provas suficientes para pronúncia ou não); é mista porque põe fim a uma fase procedimental (a impronúncia marca o encerramento da primeira fase do Júri); é terminativa porque acarreta a extinção do processo.
4.2) Coisa Julgada:
Qual é a espécie de coisa julgada que se forma pela decisão de impronúncia? Ela faz coisa julgada formal? Ou coisa julgada formal e material?
A decisão de impronúncia, em regra, só faz coisa julgada formal. Naprática, isto significa dizer que diante do surgimento de provas novas, é possível o oferecimento de outra peça acusatória. 
Quando o acusado é impronunciado, não significa dizer que acabou para sempre o assunto relacionado àqueles fatos.
O melhor é impronunciar o acusado, porque se surgirem provas novas ao longo do tempo, é possível oferecer nova denúncia. Neste caso, a acusação é obrigada a oferecer outra peça acusatória. Será instaurado um novo processo contra este acusado. 
Cuidado para não se achar que será reaberto o mesmo processo! Aquele processo em que houve impronúncia acabou. Se for o caso, haverá um novo processo. Os autos anteriores podem ser apensados ao novo processo, mas é necessário um novo processo. 
Art. 414, parágrafo único, do CPP - Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Obs: Cuidado! Em regra, a decisão de impronúncia só faz coisa julgada formal. Um detalhe interessante é que antes da Lei 11.689/08, se restasse provada a inexistência do fato delituoso, a negativa de autoria ou participação ou atipicidade do fato, caberia decisão de impronúncia.
É importante notar, ainda, que a inexistência do fato não se confunde com a ausência de provas, porque quando não há provas, há dúvida. Já na inexistência do fato não há dúvida, mas sim certeza de que o fato não existiu. 
E esta era uma impronúncia diferenciada porque era uma impronúncia em que havia uma efetiva análise do mérito. Essa decisão era chamada “impronúncia absolutória” e, como ela contava com uma efetiva análise do mérito, dizia-se que ela teria o condão de produzir não apenas coisa julgada formal, mas também coisa julgada material. 
HOJE: Com o advento da Lei 11.689/08, o legislador corrigiu este equívoco. Agora estas três hipóteses (inexistência do fato delituoso, a negativa de autoria ou participação ou atipicidade do fato) não são mais caso de impronúncia, mas causa de absolvição sumária.
Diante da presença de uma destas hipóteses e, além delas, na presença de causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade, haverá absolvição sumária. 
Então, hoje, a REGRA é absoluta: a decisão de impronúncia só fará coisa julgada formal.
4.3) Despronúncia:
A despronúncia ocorre quando anterior decisão de pronúncia é transformada em impronúncia devido à interposição de RESE (recurso cabível contra pronúncia). 
Ex. O cidadão já havia sido pronunciado e seria submetido a julgamento. Mas, a defesa interpõe um RESE que é acolhido e o cidadão passa a ser impronunciado.
Se o acusado for impronunciado, quem pode despronunciar o acusado? A decisão de despronúncia pode ser feita tato pelo juiz sumariante como também pelo Tribunal de Justiça (ou TRF).
Não se pode esquecer que o RESE é dotado de juízo de retratação. Quando a parte interpõe RESE, os autos vão para o juiz sumariante. É muito difícil que o juiz se retrate. Mas, se ele se retratar, ele mesmo estará despronunciando o acusado. 
Então, a despronúncia pode ser feita tanto pelo juiz sumariante quanto pelo Tribunal de Justiça (ou TRF).
4.4) Recurso cabível contra a decisão de impronúncia:
ANTES da Lei 11.689/08 havia previsão no CPP de que o recurso cabível contra impronúncia seria o RESE.
HOJE, depois da Lei 11.689/08, o legislador colocou como recurso adequado a APELAÇÃO. Sobre o assunto, o art. 416, do CPP diz que contra a sentença de impronúncia ou absolvição sumária caberá apelação.
Art. 416, do CPP - Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
A maioria da doutrina continua entendendo que a decisão de impronúncia é uma decisão interlocutória. Sentença no processo penal é aquela que faz análise de mérito. Então, apesar do art. 416, do CPP se referir à impronúncia como sentença, trata-se de decisão interlocutória.
 Pergunta de Concurso: A Lei 11.689/08 teve sua vigência iniciada em 09/08/2008 (sábado). A decisão de impronúncia se deu no dia 08/08/2008 (sexta-feira). O recurso deve ser interposto no dia 11/08/2008 (segunda-feira). Qual o recurso adequado neste caso?
R: O RESE. A lei que se aplica ao recurso é a lei vigente quando a decisão é publicada, momento em que surge o direito de recorrer. 
Com a Lei 11.689/08, o recurso adequado passou a ser o de apelação. Questiona-se quem são os legitimados a interpor esta apelação? Os legitimados são: 
1- A acusação e também o querelante;
2- O acusado e seu defensor (seria inusitado e difícil de acontecer). O acusado poderia recorrer contra a impronúncia caso consiga demonstrar que ele tem interesse em possível absolvição sumária (que faz coisa julgada formal e material). Então, o acusado pode recorrer, desde que demonstre seu interesse; 
3- Ofendido ou seus sucessores, habilitados ou não como assistentes.
Obs: Sobre a possibilidade de interposição de recurso pelo assistente de acusação: 
Art. 584, do CPP – Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581.
§ 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598.
Art. 596, do CPP - A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Parágrafo único. A apelação não suspenderá a execução da medida de segurança aplicada provisoriamente. (Redação dada pela Lei nº 5.941, de 22.11.1973)
Art. 598, do CPP - Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.
Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em que terminar o do Ministério Público.
Existe previsão expressa de que o assistente pode recorrer. 
Mas, deve-se lembrar que o recurso do ofendido habilitado ou não como assistente é subsidiário em relação ao recurso do MP (art. 598, do CPP). O assistente da acusação só poderá interpor recurso diante da inércia do MP. Se o MP tiver interposto apelação, o recurso do assistente não será conhecido.
5) Desclassificação:
Obs: O que geralmente se chama de “desclassificação”, é a saída de um crime para outro. Mas no Júri, a desclassificação só ocorre quando não se trata de crime doloso contra a vida.
 
A desclassificação vem prevista no Código, em seu art. 419, que diz:
Art. 419, do CPP - Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Quando se dá a desclassificação? A desclassificação ocorre quando o juiz entender que a imputação não versa sobre crime doloso contra a vida. O juiz sumariante só pode mandar à Júri os crimes dolosos contra vida e os conexos. Se o juiz sumariante entender que aquela imputação não versa sobre crime doloso contra a vida, ocorrerá a desclassificação. 
Ex. O exemplo mais comum é o de dolo eventual na direção de veículo automotor que é desclassificado para culpa consciente. Hoje delgados e promotores tem preferido dolo eventual e então, o processo vai a Júri.
 Pergunta de Concurso: Imagine uma denúncia que versa sobre o crime de homicídio. Ao final da primeira fase do procedimento do Júri, o juiz sumariante se convence de que, na verdade, o que teria ocorrido não seria propriamente um homicídio, mas um delito de infanticídio. Na verdade quem matou o feto foi a própria mãe, logo após o parto, fazendo-o sob a influência do estado puerperal. Qual será a decisão do juiz nesse caso? Impronúncia? Desclassificação? Absolvição?
R: A desclassificação versa sobre crime doloso contra a vida. A desclassificaçãoque aqui estudada é a desclassificação da primeira fase do Júri, quando o juiz entende que não há crime doloso contra a vida. Se o juiz entender que há prova de infanticídio e há indícios suficientes de autoria e participação o caminho será a prolação de uma pronúncia.
Atenção! A desclassificação não se confunde com a desqualificação:
	Desclassificação
	Desqualificação
	
O juiz entende que não se trata de crime doloso contra a vida.
	É a exclusão de qualificadoras pelo juiz sumariante, por ocasião da pronúncia.
Ex.1: A denúncia foi oferecida contra o acusado pela prática do art. 121, §2º, II, do CP (homicídio qualificado pelo motivo fútil). O juiz sumariante entende que esta qualificadora não teria restado provada. Então, ele pronuncia o acusado apenas por homicídio simples e tira a qualificadora. O próprio juiz sumariante, por ocasião da pronúncia, exclui qualificadora, fazendo a desqualificação do crime.
Ex.2: Ciúme é motivo fútil? Existe discussão doutrinária. Se o juiz entender que ciúme não é motivo fútil, o juiz pode desqualificar? 
A desqualificação é excepcional, o juiz sumariante não pode sair excluindo qualificadoras. A desqualificação é cabível apenas quando a qualificadora for manifestamente improcedente. O juiz sumariante não está julgando o caso. A competência para julgamento das qualificadoras é dos jurados (Conselho de Sentença). Quem tem que discutir se ciúme é motivo fútil ou não são os jurados. Nesse sentido, STJ, HC 178.687: A análise de qualificadoras deve ser feita precipuamente pelo Tribunal do Júri. O juiz só pode excluir qualificadora de maneira excepcional, quando ela for manifestamente descabida.
EMENTA STJ, HC 178.687: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. OCULTAÇÃO DE CADÁVER. FURTO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A MANUTENÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR. MATÉRIA QUE NÃO FOI ALVO DE DELIBERAÇÃO PELA CORTE ESTADUAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 1. O pleito referente à revogação da prisão preventiva do paciente não foi alvo de deliberação pelo Tribunal de origem, circunstância que impede qualquer manifestação desta Corte Superior de Justiça sobre a matéria, sob pena de operar-se em indevida supressão de instância. 
HOMICÍDIO QUALIFICADO. MOTIVO FÚTIL. ASFIXIA. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. PRONÚNCIA. EXCLUSÃO. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Em respeito ao princípio do juiz natural, somente é cabível a exclusão das qualificadoras na sentença de pronúncia quando manifestamente improcedentes e descabidas, porquanto a decisão acerca da sua caracterização ou não deve ficar a cargo do Conselho de Sentença, conforme já decidido por esta Corte. 2. Na hipótese em apreço, não se pode dizer que a incidência das qualificadoras do motivo fútil e da morte por asfixia na decisão de pronúncia seria manifestamente improcedente ou descabida, tendo em vista que esta apenas traz a descrição da conduta, sem realizar qualquer juízo de valor sobre a sua caracterização na hipótese fática, em respeito à competência constitucionalmente atribuída ao Tribunal do Júri. 3. A análise acerca da motivação e forma como foram praticadas as condutas supostamente delituosas é tarefa que deve ser feita de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia, com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo legal, a cargo da Corte Popular, juiz natural da causa, o que impede a afirmação ou exclusão das qualificadoras por este Sodalício. (...) 2. Writ parcialmente conhecido e, nesta extensão, denegada a ordem.
5.1) Nova Capitulação Legal:
Imagine que denúncia impute o acusado prática de homicídio qualificado. Na hora de dar sua decisão o juiz entende por bem dar uma desclassificação: entende que o acusado teria matado porque teria havido um crime de latrocínio (no contexto de subtração patrimonial). Pode o juiz, na hora da desclassificação apontar o art. 157, §3º, “in fine”?
 O juiz sumariante não deve dizer qual é o novo delito, porque estaria fazendo pré-julgamento do acusado e invadindo competência de outro juízo (já que não é mais crime contra a vida).
O juiz sumariante deve se abster de fixar a nova capitulação legal, por dois motivos: primeiro para evitar o pré-julgamento; depois porque ele não tem competência para tanto. A competência é para analisar crimes dolosos contra a vida e se não se trata deste delito, cabe a remessa a novo juízo. O juiz pode dizer que a seu ver o crime teve cunho patrimonial, pelos motivos tais, mas não precisa fazer a capitulação do novo delito, e deve, então, remeter os autos ao juízo competente (Vara Criminal comum).
5.2) Procedimento a ser observado pelo juízo competente ao receber os autos:
Imagine que, no final da 1ª fase do procedimento do Júri, na audiência de instrução, o juiz sumariante delibera pela desclassificação (pois entendeu que não se trata de crime doloso contra a vida por não restar provado o “animus necandi”, como, p.ex., na lesão corporal seguida de morte). Com a desclassificação, vai se dar a remessa dos autos ao juízo competente (Obs: Se é uma comarca de Vara Única, o mesmo juiz acaba resolvendo tudo).
A questão eu se pergunta é: o juiz que recebe os autos já pode sentenciar?
ANTES da Lei 11.689/08 havia previsão expressa de oitiva obrigatória da defesa, ainda que o juiz sumariante também fosse o juiz competente para o julgamento da imputação desclassificada. A lei previa que, obrigatoriamente, a defesa tinha que ser ouvida. 
Mas, surgiu um problema: DEPOIS da Lei 11.689/08, esta lei NADA dispôs sobre o assunto, ficando silente em relação ao tema. Então, diante deste silêncio, ainda é preciso ouvir a defesa ou não? 
Os livros escritos por promotores de justiça dizem que o silencio seria um “silêncio eloquente” do legislador, pois se a lei não fez menção e não repetiu a lei antiga no sentido que a oitiva da defesa seria obrigatória, é porque doravante, não seria preciso ouvir a defesa.
Mas, pensando sobre o tema, vê-se que, no caso, o acusado está se defendendo de uma imputação e, de repente, o juiz sumariante desclassifica o delito. Não será importante ouvir a defesa? Não é porque a lei não falou nada que se deve esquecer que acima da lei estão princípios constitucionais. Assim, a despeito do silêncio da lei, a oitiva da defesa continua sendo obrigatória. Este é o melhor entendimento. O acusado não pode ser surpreendido, conforme princípios da ampla defesa e da identidade física do juiz. Teoricamente, se o juiz que julga o caso é aquele que deve ter feito a instrução do processo, a partir do momento que houve desclassificação, o novo juízo para o qual foram remetidos os autos, teria que se renovar a instrução com nova oitiva da defesa.
5.3) Infração Conexa:
Ex. A denúncia que está perante o juiz sumariante versa sobre dois crimes: homicídio (art. 121, “caput”, do CP) e crime conexo de estupro (art. 213, “caput”, do CP). O juiz sumariante entende que não teria havido o homicídio e delibera pela desclassificação. 
A pergunta que se faz é: diante da desclassificação, o que vai acontecer com o crime conexo? Ele vai junto para o juízo competente ou fica como juiz sumariante? As 4 decisões possíveis ao final da 1ª fase do Júri (impronúncia, desclassificação, condenação e pronúncia) devem ser dadas pelo juiz sumariante olhando APENAS para o crime doloso contra a vida. Se não há crime doloso contra a vida, a pessoa não vai para o Júri. A preocupação não deve ser com o crime conexo, mas se existiu crime doloso contra a vida.
Então, com relação à infração conexa: diante da desclassificação, a infração conexa também deve ser remetida ao juízo competente (art. 81, parágrafo único, do CPP). 
Art. 81, parágrafo único, do CPP - Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.
Nessa hipótese, este novo juízo competente deve aguardar o julgamento de eventual RESE interposto contra a desclassificação. Isso porque se o Tribunalder provimento ao RESE, pronunciando o acusado, a competência para o julgamento do crime doloso contra a vida e da infração conexa voltará a ser do Tribunal do Júri.
Então é só lembrar das 4 decisões: todas elas têm como foco principal o crime doloso contra a vida. O crime conexo fica esperando seu destino. Se se disser que não houve crime doloso contra a vida, desclassifica-se a infração e remete-se o feito para o juiz competente. O juiz que está recebendo os autos não pode julgar imediatamente esse processo, devendo aguardar o RESE interposto contra a desclassificação. Se o Tribunal pronunciar o acusado, este será submetido ao julgamento pelo Júri pelos dois crimes.
5.4) Situação do acusado preso:
Imagine que o juiz sumariante resolva desclassificar. O que acontece como acusado que está preso? Ele é posto em liberdade imediatamente? A desclassificação não acarreta obrigatoriamente a soltura do acusado preso. Tudo depende do caso concreto.
Ex.1: Pode haver desclassificação de homicídio para latrocínio, e não se vai soltar o acusado, que permanecerá preso. 
Ex.2: Desclassificação de tentativa de homicídio para lesão corporal leve, com remessa aos Juizados. Nesse caso, não faz sentido manter o acusado preso.
Segundo o art. 419, parágrafo único, do CPP:
Art. 419, do CPP - Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no §1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
5.5) Recurso adequado:
Diante da desclassificação qual é o recurso adequado e quem pode interpor esse recurso?
Quanto ao recurso adequado, não houve mudanças, e o recurso continua sendo o RESE, com base no art. 581, II do CPP. 
Imagine uma decisão de desclassificação dada pelo juiz sumariante. O promotor interpõe um RESE, apresenta razões e, depois, a defesa também apresenta suas contrarrazões. Os autos voltam para as mãos do próprio juiz sumariante. Este RESE é dotado de juízo de retratação. Então, os autos voltam para o juiz sumariante porque ele é dotado de juízo de retratação.
Imagine que o juiz sumariante resolva se retratar. Na hora do juízo de retratação, o juiz resolveu se retratar, reconhecendo que não era caso de desclassificação, mas de pronúncia. Então ele altera a decisão, pronunciando o acusado. Diante desta pronúncia, o quê a defesa pode fazer? Qual é o recurso contra a pronúncia? RESE. Continua sendo o RESE. Contra a decisão de pronúncia a defesa poderá interpor o RESE.
Um detalhe interessante é que já houve RESE anterior, com apresentação de razões e contrarrazões. Então, não vão ser apresentadas novas razões e contrarrazões. Este RESE será interposto então através de uma simples petição, sem a necessidade de novas razões e contrarrazões. Nesse caso, uma vez interposto o RESE, ele vai diretamente para o Tribunal de Justiça. [Cuidado para não achar que volta pra o juiz sumariante novamente para novo juízo de retratação!]. 
Art. 589, do CPP - Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.
Com relação aos LEGITIMADOS E INTERESSADOS para interpor RESE contra decisão de desclassificação, tem-se:
1- Acusação: MP e o querelante;
2- Defesa: Não há como negar que o acusado e seu defensor também têm interesse para impugnar eventual desclassificação. Mas, às vezes, é melhor ir par ao Júri que ser julgado por um juiz singular. 
Ex. Policial militar que mata criminoso no meio da rua. Às vezes, para um policial militar, é melhor ir para o Júri, pois o advogado pode comover o Júri, dizendo que o militar matou um estuprador, traficante, e matou defendendo a sociedade.
3- Assistente da acusação: Será que o assistente do MP pode recorrer contra a decisão de desclassificação? Aqui, não há previsão expressa. Então, há duas correntes: na prova objetiva, deve-se dizer que não pode o assistente de acusação recorrer, porque diante da desclassificação, seus interesses patrimoniais estariam preservados. Esta é a doutrina tradicional. Mas, HOJE, há uma doutrina (cada vez mais comum) que entende que o interesse do assistente não é meramente patrimonial, logo, também pode recorrer contra a desclassificação. Renato prefere sustentar que o assistente pode recorrer.
Hoje, o assistente, por força de lei, pode requerer o desaforamento. A lei passou a prever que agora o próprio assistente pode requerer o desaforamento (o deslocamento da competência). O assistente passou a ter legitimidade para deslocar a competência, portanto também pode impugnar eventual desclassificação através do RESE.
5.6) Conflito de Competência:
 Pergunta de Concurso: O juiz sumariante desclassifica a infração. Há impugnação através de RESE e o recurso é julgado por uma Câmara qualquer do Tribunal de Justiça. Mantivera-se a desclassificação: ou seja, os autos vão ser encaminhados ao juízo competente. A pergunta é: este juiz que acaba de receber os autos do processo é obrigado a concordar com o reconhecimento de que não é crime doloso contra a vida? Ou ele pode suscitar um conflito de competência (dizendo que é sim crime doloso contra a vida)?
R: Sobre esse tema do conflito de competência, há duas correntes:
1ª Corrente) Não é possível que o novo juízo suscite conflito negativo de competência, porquanto teria ocorrido preclusão da decisão de desclassificação. Renato sugere que seja adotada esta corrente em provas objetivas e provas mais tradicionais e conservadoras (MPSP, p.ex.). O Desembargador não gosta de ver vários recursos todos os dias.
2ª Corrente) Posição mais nova. Doutrinadores mais modernos (Guilherme de Souza Nucci e Ada Pelegrini). A decisão quanto à competência deve ser proferida não por uma Câmara qualquer do Tribunal, mas sim pela Câmara Especial, que é o juízo natural para dirimir eventuais conflitos de competência. Logo, é plenamente possível que o novo juízo venha a suscitar um conflito negativo de competência. Pode-se adotar essa corrente para prova aberta e MPMG, Procurador da República.
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AULA 12 – 23/10/12
6) Absolvição Sumária:
Os fundamentos da absolvição sumária estão no art. 415, do CPP.
Essa absolvição sumária não se confunde com a absolvição sumária do procedimento comum (art. 397, do CPP).
	Absolvição Sumária
	Procedimento do Júri
	Procedimento Comum
	Art. 415, do CPP - O juiz, fundamen-tadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; 
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; 
III – o fato não constituir infração penal; 
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. 
	Art. 397, do CPP - Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver suma-riamente o acusado quando verificar: (Redação pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; 
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente. 
Outro detalhe importante quanto à absolvição sumaria no Júri é a situação do inimputável do art. 26, caput, do CPP. O inimputável do art. 26, caput, do CP pode ser absolvido sumariamente no procedimento do Júri?Ao contrário do que acontece no procedimento comum, o inimputável pode ser absolvido sumariamente com base na inimputabilidade, desde que esta seja sua única tese de defesa.
Então, deve-se tomar cuidado para não confundir a situação do inimputável no procedimento comum com o procedimento do Júri.
	Absolvição Sumária
	Procedimento do Júri
	Procedimento Comum
	Sobre o assunto, o art. 415, p.ú., do CPP, diz: 
Art. 415, parágrafo único, do CPP - Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. 
	Art. 397, do CPP - Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver suma-riamente o acusado quando verificar: (Redação pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
	SE HOUVER INIMPUTABILIDADE AQUI (ÚNICA TESE DE DEFESA), ABSOLVE-SE SUMARIAMENTE.
	ENTÃO, SE HOUVER INIMPUTABILIDADE, AQUI, NÃO SE ABSOLVE SUMARIAMENTE.
Neste caso, o juiz sumariante deve submeter o inimputável ao cumprimento de medida de segurança. Essa decisão se chama “absolvição sumária imprópria”.
Para que se possa absolver sumariamente o acusado pelas hipóteses do art. 415, do CPP, é necessário um juízo de certeza. Poderia ser feito o seguinte paralelo:
	Grau de Convencimento do Juiz
	Decisão tomada ao final da 1ª Fase do Júri
	Certeza da Existência do Crime + 
indícios de autoria ou participação
	Pronúncia
	Dúvida quanto à existência do crime
	Impronúncia
	Certeza quanto à inexistência do crime
	Absolvição Sumária
A absolvição sumária é a mais incomum das decisões, pois se houve inquérito, oferecimento e recebimento de denúncia, dificilmente o crime não terá existido.
6.1) Infração Conexa:
O que o juiz deve fazer quanto à infração conexa ao crime contra a vida no caso de absolvição sumária? 
Ex. Denúncia de homicídio e ocultação de cadáver. O acusado convence o juiz de que agiu em legítima defesa e é, então, absolvido sumariamente. O que acontecerá com o crime conexo?
A absolvição sumária diz respeito apenas ao crime contra a vida. O juiz deve se abster de fazer qualquer análise quanto à infração conexa. Então, a infração conexa deve ser encaminhada ao juízo competente (art. 81, parágrafo único, do CPP).
Art. 81, do CPP - Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos.
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.
Quando os autos são encaminhados a esse juízo competente, este deve aguardar o julgamento de eventual apelação interposta contra a absolvição sumária. Ele não deve julgar de plano a infração conexa, pois o MP, muito provavelmente, recorrerá da decisão de absolvição sumária.
6.2) Natureza Jurídica da Decisão de Absolvição Sumária e Coisa Julgada em torno dela formada:
Quanto à natureza jurídica, essa decisão é uma sentença absolutória, mesmo que ela seja proferida no início do processo. O importante é o conteúdo da decisão e, nela, o juiz ingressa no mérito do processo. 
Como haverá análise do mérito, a coisa julgada que se forma em torno da decisão é a coisa julgada formal e material.
6.3) Recurso adequado contra a decisão de absolvição sumária:
Antigamente, a lei previa o cabimento de RESE. Mas, hoje, houve uma mudança, o recurso cabível é apelação (art. 416, do CPP).
Art. 416, do CPP - Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Em relação a essa apelação, são necessárias várias observações. 
Se o acusado estiver preso, ele deve ser colocado imediatamente em liberdade. Essa apelação interposta contra a absolvição sumária não é dotada de efeito suspensivo. Então, a decisão já é capaz de produzir seus efeitos de imediato.
Art. 596, do CPP - A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Parágrafo único. A apelação não suspenderá a execução da medida de segurança aplicada provisoriamente. (Redação dada pela Lei nº 5.941, de 22.11.1973)
Quem pode interpor essa apelação contra a absolvição sumária? Quem são os legitimados e interessados?
1 – MP e querelante;
2 – Assistente de acusação;
3 – Pode o acusado? Sem dúvida, o acusado e seu defensor podem recorrer eventualmente contra uma absolvição sumária imprópria. Ele pode preferir provar a sua inocência, independente de medida de segurança.
Já no caso de absolvição sumária própria, da qual não resulte a imposição de medida de segurança, o acusado tem interesse recursal se demonstrar que a mudança do fundamento da absolvição lhe pode ser mais benéfica por também fazer coisa julgada no juízo cível.
Obs: O professor Pacceli, neste ponto, diz que a decisão de absolvição sumária não faz coisa julgada no cível, pois ela seria uma decisão que se dá com base numa cognição sumária. Mas, essa posição é isolada, pois para que o acusado seja absolvido sumariamente deve haver um juízo de certeza.
(Ex. No processo civil, o julgamento antecipado na lide faz coisa julgada, e tem cognição exauriente, mesmo sendo dado no limiar do processo).
6.4) “Recurso de Ofício” ou reexame necessário ou duplo-grau obrigatório:
A doutrina diz que esse não é um recurso propriamente dito, mas uma condição de eficácia da decisão. Se a decisão deve ser submetida a reexame necessário, ela não produzirá efeitos enquanto não for confirmada pelo Tribunal.
O RECURSO DE OFÍCIO CONTRA A ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA FOI EXTINTO PELA LEI 11.689/08 (essa lei deixou de fazer menção do recurso de ofício contra a decisão de absolvição sumária). Logo, o art. 574, II, do CPP FOI TACITAMENTE REVOGADO, segundo a maioria da doutrina.
Art. 574, do CPP - Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.(TACITAMENTE REVOGADO PELA LEI 11.689/08).
7) Pronúncia:
A pronúncia caracteriza um juízo de admissibilidade quanto à imputação de crime doloso contra a vida. A decisão do Júri é imprevisível. Portanto, deve-se tomar cuidado ao mandar alguém para o Tribunal do Júri: não se pode fazer isso automaticamente.
Quando a decisão de pronúncia deve ser proferida? A decisão de pronúncia ocorre quando o juiz sumariante estiver convencido da existência do crime e de indícios suficientes de autoria ou de participação.
7.1) Natureza Jurídica da Decisão de Pronúncia:
A pronúncia não condena ninguém. Ela apenas admite a acusação. Logo, a sua natureza jurídica é de mera decisão interlocutória mista não terminativa. É decisão interlocutória porque não há apreciação do mérito; é mista, pois não encerra a primeira fase do Júri; e é não terminativa, pois não põe fim ao processo.
7.2) Pressupostos da pronúncia:
Art. 413, do CPP - O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
O primeiro pressuposto é de que o juiz esteja convencido da materialidade (existência do crime). Quanto à existência do crime há necessidade de um juízo de certeza. A materialidade pode ser provada por exame de corpo de delito direto ou indireto.
Além da materialidade, é necessária a existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. A palavra “indício” é utilizada significando prova semiplena.(
Obs
:
 O primeiro significado da palavra indício é aquele constante do art. 239, do CPP (indício como prova indireta, que é a prova mais comum do processo penal). 
Art. 239
, do CPP - 
Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias
.
 (prova indireta).
O segundo significado da palavra indício é como prova semiplena, ou seja, uma prova com menor valor persuasivo (é neste sentido que ela é usada no caso da pronúncia ao Júri).
)
O próprio CPP, ao tratar da pronúncia, já usa palavras distintas exatamente para evidenciar essa diferença: ele fala em convencimento da materialidade e indícios suficientes de autoria.
Então, não há necessidade de um juízo de certeza quanto à autoria. Há a mera probabilidade.
7.3) Princípio aplicável no caso de dúvida:
A doutrina majoritária diz que na decisão de pronúncia, o princípio a ser aplicado em caso de dúvida é o in dubio pro societate. Na dúvida, deve-se pronunciar o réu.
Renato, contudo, adverte que para que o juiz possa pronunciar o acusado, ele precisa estar convencido da materialidade, e é necessário que haja indícios de autoria e participação. Então, não pode haver dúvida quanto à materialidade e, com relação à autoria, deve haver indícios.
Pesquisando-se no STF, a Corte possui julgados dizendo que, diante da dúvida quanto à existência do crime, o acusado deve ser impronunciado. Então, o STF acaba contrariando esse entendimento da doutrina majoritária, dizendo que o princípio a ser aplicado é o in dubio pro reo. Nesse sentido, STF, HC 81.646 e STF, HC 95.068. Neste último HC, o cidadão foi denunciado por aborto sem o consentimento da gestante (art. 125, do CP), pois ele, na condição de médico, teria demorado a realizar o parto. Ele foi pronunciado, pois a discussão no caso era se o médico teria praticado esse aborto a título doloso ou culposo. O juiz, na dúvida, pronunciou o réu. No STF, a Corte disse que o crime teria sido resultado de negligência, então o réu deveria ter sido impronunciado.
EMENTA STF, HC 81.646: I. Habeas-corpus: cabimento: direito probatório. 1. Não é questão de prova, mas de direito probatório - que comporta deslinde em habeas-corpus -, a de saber se é admissível a pronúncia fundada em dúvida declarada com relação à existência material do crime. II. Pronúncia: inadmissibilidade: invocação descabida do in dubio pro societate na dúvida quanto à existência do crime. 2. O aforismo in dubio pro societate que - malgrado as críticas procedentes à sua consistência lógica, tem sido reputada adequada a exprimir a inexigibilidade de certeza da autoria do crime, para fundar a pronúncia -, jamais vigorou no tocante à existência do próprio crime, em relação a qual se reclama esteja o juiz convencido. 3. O convencimento do juiz, exigido na lei, não é obviamente a convicção íntima do jurado, que os princípios repeliriam, mas convencimento fundado na prova: donde, a exigência -que aí cobre tanto a da existência do crime, quanto da ocorrência de indícios de autoria, de que o juiz decline, na decisão, "os motivos do seu convencimento". 4. Caso em que, à frustração da prova pericial - que concluiu pela impossibilidade de determinar a causa da morte investigada -, somou-se a contradição invencível entre a versão do acusado e a da irmã da vítima: conseqüente e confessada dúvida do juiz acerca da existência de homicídio, que, não obstante, pronunciou o réu sob o pálio da invocação do in dubio pro societate, descabido no ponto. 5. Habeas-corpus deferido por falta de justa causa para a pronúncia.
EMENTA STF, HC 95.068: PROCESSO PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. COMPETÊNCIA DE ASSENTO CONSTITUCIONAL. TRIBUNAL DO JÚRI. ABORTO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE. ALEGADA DEMORA NA REALIZAÇÃO DO PARTO PELO MÉDICO. QUADRO EMPÍRICO REVELADOR DA AUSÊNCIA DE AÇÃO DOLOSA E DE OMISSÃO IGUALMENTE INTENCIONAL. CAPITULAÇÃO JURÍDICA DA CONDUTA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O Supremo Tribunal Federal distingue entre a capitulação jurídica dos fatos (ou seja, o enquadramento típico da conduta) e o revolvimento de matéria fático-probatória. Motivo pelo qual, fixado o quadro empírico pelas instâncias competentes, pronunciamento desta colenda Corte sobre o enquadramento jurídico da conduta não extrapola os limites da via processualmente contida do habeas corpus. 2. Na concreta situação dos autos, enquanto o Juízo da Vara do Júri de Sobral/CE rechaçou a tese da materialidade delitiva, embasado no mais detido exame das circunstâncias do caso, o voto condutor do acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (acórdão que pronunciou o paciente contra até mesmo a manifestação do Ministério Público Estadual) limitou-se a reproduzir, ipsis literis, os termos da denúncia. Reprodução, essa, que assentou, de modo totalmente alheio às contingências fáticas dos autos, a prevalência absoluta da máxima in dubio pro societate. Desconsiderando, com isso, as premissas que justificam a incidência da excepcional regra do § 2º do art. 13 do Código Penal. 3. Premissas que não se fazem presentes no caso para assentar a responsabilização do paciente por crime doloso, pois: a) o paciente não se omitiu; ao contrário, atendeu a gestante nas oportunidades em que ela esteve na Casa de Saúde; b) o paciente não esteve indiferente ao resultado lesivo da falta de pronto atendimento à gestante; c) o paciente agiu, dentro do possível, para minimizar os riscos que envolvem situações como a retratada no caso. 4. Ordem parcialmente concedida.
7.4) Fundamentação:
A decisão de pronúncia deve ser fundamentada, como toda e qualquer decisão judicial, sob pena de nulidade absoluta (art. 93, IX, CF). 
Mas, o juiz precisa saber que a pronúncia não é uma sentença condenatória. Deve o juiz sumariante se limitar a apontar a existência do crime e os indícios de autoria e de participação, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de não exercer indevida influência no animus dos jurados.
A pronúncia com excesso de fundamentação é chamada de “eloquência acusatória”.
Essa eloquência acusatória é causa de nulidade da pronúncia, pois isso atenta contra a competência dos jurados para deliberar sobre os crimes contra a vida.
Como fica a eloquência acusatória diante da Lei 11.689/08: ela ainda existe? Deve-se atentar para uma discussão dentro do HC 96.123, em que o Min. Marco Aurélio disse que diante da Lei 11.689/08 não mais seria possível o reconhecimento da eloquência acusatória, pelo fato de que a pronúncia não pode ser lida durante os debates como argumento de autoridade.
De fato, a Lei 11.689/08, trouxe uma novidade de que não pode mais a parte não pode ler a pronúncia como argumento de autoridade. 
Art. 478, do CPP - Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Segundo o Min. Marco Aurélio, como a pronúncia não pode mais ser lida na Sessão de Julgamento, a eloquência acusatória não mais existiria.
Contudo, o CPP continua prevendo que após o sorteio, o jurado recebe cópia da pronúncia. Logo, eventual eloquência acusatória ainda pode influenciá-lo.
Art. 472, do CPP - Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão: Assim o prometo.
Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo. (Incluído pela Lei nº 11.689,de 2008)
Então, por isso, eventual eloquência acusatória deve ser declarada nula.
Ademais, o art. 480, §3º, do CPP diz que o jurado tem livre acesso aos autos, de modo que eventual eloquência acusatória pode prejudicar o acusado que tiver acesso a esses autos e, por conseguinte, ao teor da pronúncia:
Art. 480, do CPP - A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.
§3º Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente.
Qual é a consequência do reconhecimento da eloquência acusatória? Cuidado! Algumas decisões da 6ª Turma do STJ disseram que uma vez reconhecida a eloquência acusatória, não há motivo para se anular do processo, bastando a determinação de desentranhamento da pronúncia (Nesse sentido, STJ, REsp 982.033).
EMENTA STJ, RESP 982.033: PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONÚNCIA. EXCESSO DE LINGUAGEM. RECONHECIMENTO. INQUESTIONÁVEIS INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVA. PROVIDÊNCIA APROPRIADA: DESENTRANHAMENTO E ENVELOPAMENTO DA INTERLOCUTÓRIA MISTA. 1. Ontologicamente, a pronúncia deve se revestir de comedimento, sob pena de comprometer a imparcialidade dos juízes leigos. Desbordando dos limites linguísticos, reconhecimento de indícios de autoria e materialidade delitiva, tem entendido a colenda Sexta Turma que o mais apropriado é riscar os trechos excessivos ou, como in casu, determinar o desentranhamento e o envelopamento da interlocutória mista, certificando-se a condição de pronunciado. 2. Ordem concedida, em parte, apenas para determinar o desentranhamento da pronúncia, envelopando-a junto aos autos, de tal forma a evitar que os jurados tenham contato com seus termos, certificando-se a condição de pronunciado do recorrente, prosseguindo-se o processo. (com voto-vencido)
Data venia, esse julgado foi dado por razões políticas, pois se sabe que essa é a hipótese mais comum de nulidade da primeira fase do Júri. O STJ decidiu assim, pois senão haveria a anulação de milhares de processos.
Então, a despeito da posição do STJ, o STF, através de sua 1ª Turma, no HC 103.037 disse que esse modus operandi do STJ não é possível, devendo ser anulada a pronúncia, e devendo o juiz sumariante prolatar outra decisão de pronúncia.
EMENTA STF, HC 103.037: HABEAS CORPUS. PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO SIMPLES. MAGISTRADO APOSENTADO. SENTENÇA DE PRONÚCIA. EXCESSO DE LINGUAGEM. NULIDADE ABSOLUTA. VOTO MÉDIO PROFERIDO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA . DESENTRANHAMENTO DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA: INVIABILIDADE. AFRONTA À SOBERANIA DO JÚRI. ORDEM CONCEDIDA. 1. O Tribunal do Júri tem competência para julgar magistrado aposentado que anteriormente já teria praticado o crime doloso contra a vida objeto do processo a ser julgado. Precedentes. 2. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o defeito de fundamentação na sentença de pronúncia gera nulidade absoluta, passível de anulação, sob pena de afronta ao princípio da soberania dos veredictos. Precedentes. 3. Depois de formado o Conselho de Sentença e realizada a exortação própria da solene liturgia do Tribunal do Júri, os jurados deverão receber cópias da pronúncia e do relatório do processo; permitindo-se a eles, inclusive, o manuseio dos autos do processo-crime e o pedido ao orador para que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada. 4. Nos termos do que assentado pelo Supremo Tribunal Federal, os Juízes e Tribunais devem submeter-se, quando pronunciam os réus, à dupla exigência de sobriedade e de comedimento no uso da linguagem, sob pena de ilegítima influência sobre o ânimo e a vontade dos membros integrantes do Conselho de Sentença; excede os limites de sua competência legal, o órgão judiciário que, descaracterizando a natureza da sentença de pronúncia, converte-a, de um mero juízo fundado de suspeita, em um inadmissível juízo de certeza. Precedente. 5. A solução apresentada pelo voto médio do Superior Tribunal de Justiça representa não só um constrangimento ilegal imposto ao Paciente, mas também uma dupla afronta à soberania dos veredictos assegurada à instituição do júri, tanto por ofensa ao Código de Processo Penal, conforme se extrai do art. 472, alterado pela Lei n. 11.689/2008, quanto por contrariedade ao art. 5º, inc. XXXVIII, alínea “c”, Constituição da República. 6. Ordem concedida para anular a sentença de pronúncia e os consecutivos atos processuais que ocorreram no processo principal.
Ademais, os quesitos feitos aos jurados são feitos com base na pronúncia. Se ela está envelopada e lacrada, como serão feitos os quesitos?
7.5) Emendatio e Mutatio Libelli:
		
É possível a realização da emendatio e da mutatio no procedimento do Júri? Hoje é pacífico que a emendatio e a mutatio podem ser feitas no procedimento do Júri. A emendatio está prevista no art. 408 e a mutatio está no art. 411, §3º, do CPP.
Art. 418, do CPP - O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 411, do CPP - Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o disposto no art. 384 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
7.6) Conteúdo da Pronúncia:
O juiz, na hora de pronunciar o acusado, fará menção ao crime. 
Deve-se fazer menção ao tipo básico (ex. art. 121, caput, do CP). Segundo o CPP:
Art. 413, §1o, do CPP - A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Além do dispositivo legal, deve-se fazer menção às qualificadoras (STJ, REsp 1.102.422) e às causas de aumento de pena. Havendo dúvidas sobre essas circunstâncias, elas devem ser levadas ao Plenário.
EMENTA STJ, RESP 1.102.422: PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. QUALIFICADORAS ACEITAS NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO PARCIALMENTE PROVIDO. EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. IMPOSSIBILIDADE. DÚVIDAS. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO CONSELHO DE SENTENÇA. RECURSO PROVIDO. 1. Compete ao Tribunal do Júri, conforme disposto na Constituição da República, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e todas as suas circunstâncias. 2. Na espécie, tendo o juiz singular pronunciado os réus pelo crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2°, II, III e IV, do CP), não cabe ao Tribunal a quo afastar a qualificadora do meio que impossibilitou a defesa da vítima sob o fundamento de que a mera superioridade numérica daqueles em relação à vítima não constitui motivo suficiente para incidir a majorante, pois, havendo dúvidas acerca da existência de tal qualificadora, a questão deve ser submetida ao conselho de sentença. 3. Recurso especial a que se dá provimento a fim de restabelecer a sentença de pronúncia.
Obs: Uma novidade interessante está ligada à Lei 12.720/12, que entrou em vigor no dia 28/09/12, e que definiu o crime de milícia, criando o art. 288-A, do CP, que fala em constituição de milícia privada.
Art. 4o, Lei 12.720/12 - O Código Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte art. 288-A: 
“Constituição de milícia privada 
Art. 288-A,do CP. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: 
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.” 
Como se cria um crime sem definir o crime? Isso é uma violação à legalidade (taxatividade), pois o legislador não define o que é uma milícia privada.
Essa mesma Lei 12.720/12 acresceu o §6º ao art. 121, do CP, dispondo uma causa de aumento de pena de 1/3 até ½, se o crime de homicídio for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança.
Art. 2o, da Lei 12.720/12 – O art. 121, do Código Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte § 6o: 
“Art. 121. ......................................................................
§6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.”
Então, se o crime foi praticado a partir de 28 de setembro de 2012, e sob atividade de grupo de extermínio, incidirá essa causa de aumento de pena.
Se é causa de aumento de pena, deve constar da pronúncia.
Na pronúncia, o juiz também deve acrescentar o tipo penal por extensão eventualmente existente no caso concreto (art. 13, §2º, do CP; art. 14, II, do CP; art. 29, caput, do CP). 
Então, da pronúncia deve constar: tipo básico, qualificadoras, causas de aumento e tipo penal por extensão.
Por outro lado, não deve constar da pronúncia: as causas de diminuição de pena (matéria a ser levada ao Plenário pela defesa), agravantes e atenuantes (são matérias do Juiz Presidente, não sendo quesitadas aos jurados), e hipóteses de concursos de crimes (matéria do Juiz Presidente).
7.7) Infrações Conexas:
O que acontece com as infrações conexas quando o acusado é pronunciado?
Ex. E se o juiz sumariante entender que não há prova do crime conexo?
Ex. Se o juiz sumariante entender que, quanto à infração conexa, ela foi praticada em legítima defesa?
Não se pode separar os processos, pois a partir do momento em que se está pronunciando o acusado, este passa a ter sua competência reconhecida.
Então, as infrações conexas devem ser encaminhadas ao Júri, pouco importando se há ou não prova nos autos quanto à sua ocorrência.
7.8) Constatação do envolvimento de outras pessoas:
Suponha-se que o juiz sumariante, quando da pronúncia, visualiza que o crime envolve outras pessoas. O que ele faz? Nesse caso, incide o art. 417, do CPP:
Art. 417, do CPP - Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Então, o juiz deve baixar os autos ao MP.
Com os autos em mãos, o que o promotor irá fazer? Conforme art. 80, do CPP, o MP receberá os autos para o fim de aditar a denúncia.
Art. 80, do CPP - Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
O art. 80, do CPP trata da separação dos processos. Quando se faz o aditamento, mantêm-se os acusados no mesmo processo. Mas, o art. 80, do CPP permite a separação de processos. Assim, essa vista dos autos do processo pode ser para fins de oferecimento de outra denúncia.
Logo, tudo dependerá do caso concreto.
Quando o acusado está solto, é melhor fazer o aditamento. Mas, no caso de acusados presos, é melhor extrair cópia para separar os processos, oferecendo-se outra denúncia.
7.9) Efeitos da Pronúncia:
a) Submissão do acusado a julgamento perante o Júri.
b) Limitação da acusação em Plenário:
Antes da Lei 11.689/08, o libelo era a fonte dos quesitos. Mas, o libelo acusatório foi extinto com essa lei. Daí surgiu esse tópico da limitação da acusação em Plenário, pois com o advento da Lei 11.689/08, a pronúncia limita a acusação em Plenário, o que significa, por exemplo, que se o acusado foi pronunciado em relação ao homicídio simples, a quesitação será feita com base no homicídio simples; se, por exemplo, o acusado foi pronunciado por homicídio qualificado, a quesitação envolverá a qualificadora, independentemente de ser sustentada a exclusão da qualificadora no Plenário.
Alguns doutrinadores estão chamando isso de “princípio da correlação entre pronúncia e quesitação” (Guilherme de Souza Nucci). 
Mas, cuidado! Com esse nome, fica parecendo que a pronúncia e os quesitos são idênticos. Mas, não é bem assim, pois os quesitos podem ir além do conteúdo da pronúncia. A pronúncia limita a acusação, de modo que a defesa pode formular quesitos para além da pronúncia (art. 482, p.ú., do CPP).
Art. 482, do CPP - O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
A defesa não está limitada pela pronúncia (ex. os quesitos de causa de diminuição de pena não estão na pronúncia).
c) Preclusão das nulidades relativas: A pronúncia é um dos marcos preclusivos das nulidades relativas. Se ocorrer uma nulidade relativa até a decisão de pronúncia, e não se arguir essa nulidade até a pronúncia, ela estará preclusa.
d) Causa de interrupção da prescrição, ainda que ocorra desclassificação pelos jurados. Essa é a posição que prevalece, ainda que haja posicionamentos contrários (hoje já superados). Sobre o assunto, a súmula 191, do STJ diz que:
Súmula 191, do STJ - A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.
e) Preclusão da pronúncia e sua imodificabilidade:
Art. 421, do CPP - Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Preclusa a pronúncia, esta não poderá ser modificada, salvo se houver circunstância superveniente que altere a classificação do crime.
Ex. Tentativa de homicídio cuja vítima venha a óbito. Nesse exemplo, para que haja a mudança da pronúncia, a morte tem que ocorrer até quando? O ideal é que a morte ocorra até antes do julgamento (para se juntar a Certidão de Óbito e o aditamento). E se, por acaso, o óbito ocorre durante o julgamento? Nesse caso, pede-se ao juiz a dissolução do Conselho de Sentença. A lei prevê que, havendo uma diligência imprescindível quando do julgamento, deve-se promover a dissolução do Conselho de Sentença, para que seja analisada a causa mortis. O problema é se óbito ocorrer após o trânsito em julgado? Nessa hipótese, nada mais poderá ser feito, pois ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação (princípio do ne bis in idem).
f) Prisão Preventiva (e outras medidas cautelares): 
Antes da Lei 11.689/08, a prisão era um efeito automático da pronúncia, desde que o acusado fosse reincidente ou tivesse maus antecedentes. Isso era sempre discutido pela doutrina (pois não necessariamente estavam presentes os requisitos da preventiva). 
Então, essa regra foi sanada e corrigida, de modo que, depois das Leis 11.689/08 e 12.403/11, a prisão deixou de ser um efeito automático da pronúncia.
Art. 413, §3o, do CPP - O juiz decidirá,motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Na hora da pronúncia o acusado pode estar preso ou solto. 
Se o acusado estava preso por ocasião da pronúncia, ele deve permanecer preso, salvo se o juiz entender que não subsiste a necessidade do cárcere. Mas, esta decisão deve ser fundamentada. Ademais, se o juiz deliberar pela manutenção da prisão preventiva, deve ele explicitar os motivos que o levam a acreditar que as medidas cautelares diversas da prisão seriam insuficientes para resguardar a eficácia do processo.
Por outro lado, se o acusado estava em liberdade por ocasião da pronúncia, assim estava porque o juiz não vislumbrou qualquer hipótese que autorizasse sua prisão preventiva. Logo, deve permanecer em liberdade, salvo se surgir alguma hipótese que autoriza a decretação de sua prisão preventiva. Ademais, da mesma forma que se pode decretar a preventiva, pode-se decretar outras cautelares diversas da prisão, sempre de maneira fundamentada.
7.10) Intimação do acusado acerca da Pronúncia:
Antes da Lei 11.689/08, a intimação do acusado se dava pessoalmente. 
Mas, antigamente, o problema era que, caso o acusado não fosse encontrado, a intimação por edital só era possível quando o crime fosse afiançável. Se o crime fosse inafiançável, como não se poderia intimar o acusado por edital, o processo ficava paralisado com a prescrição em andamento.
O fenômeno de o processo ficar parado e a prescrição em andamento se chamava “crise de instância”. A crise de instância era um absurdo, pois o acusado fugia, o juiz determinava a sua prisão e, enquanto o acusado não fosse preso, o processo ficava parado e a prescrição correndo.
Para corrigir isso, a Lei 11.689/08 passou a dispor que a intimação será pessoal, mas, se o acusado não for encontrado, a intimação passará a ser feita por edital, sem estabelecimento de distinção quanto à natureza de delito. Então, hoje, tanto nos crimes afiançáveis quanto inafiançáveis, haverá a intimação da pronúncia por edital.
Art. 420, do CPP - A intimação da decisão de pronúncia será feita: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público; 
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste Código. 
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado. 
Vale ressaltar que será intimado por edital o acusado SOLTO que não seja encontrado. Com relação ao acusado preso, sua intimação deverá ser pessoal (independentemente da unidade da federação).
Cuidado! Aos olhos da jurisprudência, esse novo regramento da intimação por edital não se aplica aos crimes cometidos antes da Lei 9.271/96 (que fala da nova redação ao art. 366, do CPP). Quem praticava um crime antes de 1996 e era citado por edital, não tinha suspenso o processo e a prescrição. Então, se se intimasse o acusado por edital da pronúncia, haveria uma clara violação da ampla defesa, pois o acusado teria sido intimado durante todo o processo por edital e, depois, também na pronúncia, seria intimado por edital. Logo, deveria haver intimação pessoal. (STJ, HC 172.382).
EMENTA STJ, HC 172.382: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS . HOMICÍDIO. CITAÇÃO FICTA. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. INTIMAÇÃO POR EDITAL. FATOS OCORRIDOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI N.º 9.271/96. APLICAÇÃO RETROATIVA DO ART. 420, PARÁGRAFO ÚNICO, E ART. 457 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. I. Antes do advento da Lei n.º 11.689/08, a sentença de pronúncia que determinava a submissão do réu ao julgamento perante o Tribunal do Júri, somente produzia efeitos a partir da intimação pessoal desse. II. Com o advento da Reforma Processual de 2008, operou-se em nosso ordenamento jurídico importante alteração legislativa, tornando possível a submissão do réu pronunciado à sessão de julgamento no Tribunal do Júri, ainda que não tenha sido pessoalmente intimado da decisão de pronúncia, e a sua presença já não é mais imprescindível em Plenário. III. A lei nova aplica-se imediatamente na instrução criminal em curso, em decorrência do princípio estampado no brocardo jurídico tempus regit actum, respeitando-se, contudo, a eficácia jurídica dos atos processuais já constituídos. IV. A nova redação conferida aos arts. 420, parágrafo único, e 457, ambos do CPP não pode ser aplicada aos processos submetidos ao rito escalonado do Júri, em que houve a citação por edital e o réu não compareceu em juízo ou constituiu advogado para defendê-lo, os fatos apurados ocorreram antes da Lei n.º 9.271/96 e ocorreu a paralisação do feito, decorrente da regra anterior inscrita no art. 414 do CPP. V. Os princípios constitucionais do devido processo legal - em seus consectários do contraditório e da ampla defesa - impossibilitam que um acusado seja condenado pelo Conselho de Sentença sem nunca ter tomado conhecimento da acusação. VI. Hipótese dos autos em que a conduta delituosa imputada ao paciente ocorreu em 06.01.1992. Não tendo ele sido citado pessoalmente da acusação, por consequência também não poderia ser intimado da pronúncia por edital. VII. Ordem concedida.
7.11) Recurso Cabível contra a pronúncia:
Não houve mudanças. O recurso adequado continua sendo o RESE (art. 581, IV, do CPP).
Art. 581, do CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Quem são os legitimados para esse RESE?
1 – O acusado e seu defensor;
2 – O MP e o querelante (há o interesse, pois, o MP pode ter pedido a impronúncia do acusado. Ademais, o juiz pode excluir qualificadoras, excepcionalmente. E o MP pode recorrer disso);
3 – Assistente de acusação? A doutrina fala que não, mas a jurisprudência já admite (STF, HC 84.022).
EMENTA STF, HC 84.022: PROCESSO PENAL. PENAL. SENTENÇA DE PRONÚNCIA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO DO ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO: LEGITIMIDADE. CPP, arts. 271, 584, § 1º, e 598. MANDADO DE SEGURANÇA. INTIMAÇÃO DO DEFENSOR: AUSÊNCIA: NULIDADE. C.F., art. 5º, LV. I. - O assistente do Ministério Público tem legitimidade para recorrer da sentença de pronúncia. Precedente do Supremo Tribunal Federal: HC 71.453/GO, Ministro Paulo Brossard, "DJ" de 27.10.94. II. - Mandado de Segurança, impetrado pelo assistente do Ministério Público, contra ato que inadmitiu seu recurso em sentido estrito. Sua denegação. Interposição de recurso ordinário para o STJ, que o proveu. Acontece que o réu não foi citado para integrar a lide como litisconsorte necessário. Tampouco o seu defensor foi intimado para apresentação de razões finais. Nulidade reconhecida. III. - H.C. deferido.
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AULA 13 – 25/10/12
8) Desaforamento:
O desaforamento consiste no deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra, a fim de que nesta seja realizado o julgamento pelo Júri. 
Ex. O crime doloso contra a vida teria que ser julgado na cidade de Valinhos. Por algum motivo, esse julgamento tem que sair dessa comarca, para ser julgado em outra.
No CPP, o desaforamento só é possível no âmbito do Júri, mais especificamente, na segunda fase do Júri. Tanto é verdade que o desaforamento vem previsto no CPP na parte que trata do Júri.
No CPPM, o desaforamento é diferente, sendo cabível, em tese, em relação a qualquer delito. O CPPM, no seu art. 109, prevê que o desaforamento pode ocorrer em qualquer delito.
Caso de desaforamento 
Art. 109, do CPPM - O desaforamento do processo poderá ocorrer: 
a) no interêsse da ordem pública, da Justiça ou da disciplina militar; 
b) em benefícioda segurança pessoal do acusado; 
c) pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade de constituí-lo ou mantê-lo retarde demasiadamente o curso do processo. 
Esse desaforamento ora comentado não se confunde com o incidente de deslocamento de competência. O IDC (ou federalização dos crimes envolvendo direitos humanos) é matéria prevista na CF, em seu art. 109, §5º e é um deslocamento da competência de Justiça. O IDC é diferente do desaforamento, pois o desaforamento é deslocamento de competência territorial. Então, no desaforamento, não se altera a Justiça. 
8.1) Legitimidade para o requerimento de desaforamento:
Quem pode pedir o desaforamento? O CPP é bem tranquilo neste ponto, pois ele prevê uma legitimidade bem ampla, com o MP, o querelante e o acusado. A novidade sobre o assunto é o assistente de acusação. O assistente teve sua importância aumentada também pela Lei 11.689/08, pois ele tem o interesse de uma decisão justa. O desaforamento também pode se dar por representação do juiz.
De todo modo, independentemente de quem requeira o desaforamento, em todas as hipóteses é obrigatória a oitiva da defesa (salvo quando o próprio acusado requereu).
A decisão que decreta o desaforamento é uma decisão judicial. Não pode o desaforamento ser determinado, por exemplo, pela Corregedoria (porque uma Vara tem mais ou menos processos que outra).
Art. 427, do CPP - Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Súmula 712, STF - É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do Júri sem audiência da defesa.
8.2) Momento para o Desaforamento:
O desaforamento só pode ocorrer após a preclusão da pronúncia. Quando houver a preclusão da pronúncia, não cabendo mais recurso contra essa decisão, significa que o acusado será levado a Júri. Então, se o acusado vai a Júri, poderá haver o desaforamento.
O desaforamento pode ocorrer após o julgamento? A lei prevê, e a doutrina explica, que mesmo após o julgamento ainda é possível o desaforamento, mas desde que presentes dois requisitos: (1) se houver a nulidade da decisão (o julgamento teve a nulidade declarada) e (2) o fato que deu ensejo ao desaforamento deve ter ocorrido durante ou após a realização do julgamento anulado.
Se não houvesse esses dois requisitos, o acusado poderia usar o desaforamento para alterar a decisão proferida.
Art. 427, §4o, da CF - Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
8.3) Hipóteses de Desaforamento:
O desaforamento deve ser utilizado sempre a título excepcional. A regra é que o julgamento seja feito onde o crime se consumou. O crime provoca um clamor na comunidade em que foi praticado. Por isso, o interessante é que o crime seja julgado onde houve o crime. A população precisa ter uma resposta do Poder Judiciário até mesmo para que haja uma prevenção geral da pena e do processo. 
Então, as hipóteses de desaforamento são excepcionais. São elas:
(1) Interesse de ordem pública: A prisão de alguém pode ser decretada com base na garantia de ordem pública. O interesse de ordem pública deve se dar nos casos de crimes que provocam uma convulsão social ou risco à incolumidade dos jurados.
Ex. STJ, HC 85.707/BA. Nesse caso, na comarca de Tucano, na Bahia, o STJ entendeu que haveria o motivo de desaforamento para Feira de Santana, porque os acusados seriam integrantes de uma quadrilha responsável por inúmeros assassinatos na região e um ônibus cheio de pistoleiros chegou na cidade para resgatar os réus em caso de condenação.
EMENTA STJ, HC 85.707: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO (MEDIANTE PAGA E À TRAIÇÃO, EMBOSCADA OU OUTRO RECURSO QUE IMPOSSIBILITE A DEFESA DO OFENDIDO). ART. 121, § 1o., I E II DO CPB. DESAFORAMENTO. INTERESSE DE ORDEM PÚBLICA DEMONSTRADO POR MEIO DE FATOS CONCRETOS. PACIENTES MEMBROS DE UMA QUADRILHA, QUE DEMONSTROU A INTENÇÃO DE INVADIR A SESSÃO PLENÁRIA E RESGATAR OS RÉUS, EM CASO DE CONDENAÇÃO. ORDEM DENEGADA. 1. É certo que o desforamento é medida excepcional; todavia, na hipótese, restou comprovado nos autos o temor da realização do julgamento dos pacientes na Comarca de Tucano/BA, pois seriam integrantes de quadrilha responsável por inúmeros assassinatos e outros crimes na região, e um ônibus, cheio de pistoleiros, chegou à cidade para assistir o julgamento, ameaçando invadir a Sessão plenária e resgatar os réus em caso de condenação, com ameaça a segurança de todos os presentes. 2. Dessa forma, presente o interesse de ordem pública, não há ilegalidade no desaforamento deferido para a comarca de Feira de Santana/BA, localidade mais próxima à de Tucano, e que apresenta melhores condições de segurança. 3. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 4. Ordem denegada.
(2) Dúvida sobre a imparcialidade do Júri: Há situações em que há uma dúvida quanto à imparcialidade dos jurados – seja porque o crime gera uma paixão quanto à opinião pública ou porque o crime gera uma animosidade aos jurados.
Ex. STJ, HC 90.801. Nesse caso, um ex-prefeito estava sendo julgado. O problema é que a maioria dos jurados era composta de funcionários públicos por ele contratados como comissionados.
EMENTA STJ, HC 90.801: HABEAS CORPUS. DESAFORAMENTO. IMPARCIALIDADE DO CONSELHO DE SENTENÇA. LISTA DE JURADOS COMPOSTA POR DIVERSOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO. NOMEAÇÃO NA GESTÃO DO PACIENTE COMO PREFEITO MUNICIPAL. COMPROMETIMENTO DA LISURA E ISENÇÃO NA DECISÃO DO JÚRI POPULAR. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA À TRANSMUDAÇÃO DO JULGAMENTO PARA OUTRA COMARCA. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. Via de regra, a teor do disposto no art. 70 do CPP, o acusado deve ser julgado no distrito da culpa, podendo, nos casos de crimes dolosos contra a vida, nas hipóteses previstas no art. 427 do CPP (antigo 424), em medida excepcionalíssima, sem ofender o princípio do juiz natural, ser levado a julgamento em outra comarca. 2. Estando suficientemente comprovado que grande parte da lista dos jurados é composta por funcionário público municipal nomeado pelo paciente, na qualidade de prefeito, acertada a decisão que acolhe pleito de desaforamento requerido pelo Ministério Público, ao fundamento de existência de forte dúvida a respeito da imparcialidade dos membros que poderão integrar o Tribunal do Júri. 3. A alegação, por si só, de que os fatos ocorreram há muito tempo não é suficiente para desconstituir desaforamento determinado em obediência ao art. 424 do CPP (atual 427), especialmente se diversos Magistrados, tanto de Primeiro quanto de Segundo Graus, deram-se por impedidos para participar do feito referente ao paciente que, além de gozar de grande influência política na região, está sendo acusado de crimes graves e de larga repercussão. 4. Sob pena de comprometimento da lisura no julgamento popular, a existência de motivos concretos e objetivos quanto à ligação dos jurados com o paciente, é motivo bastante a gerar dúvida pertinente à imparcialidade dos juízes leigos, autorizadora do deslocamento do Tribunal do Júri para outra comarca, sem, por isso, caracterizar constrangimento ilegal. 5. Ordem denegada.
(3) Quando visualizada a falta de segurança pessoal do acusado.
Ex. Casal Nardoni.
(4) Não realização do julgamento no prazo de6 meses, contados da preclusão da pronúncia, desde que comprovado o excesso de serviço e desde que evidenciado que a demora não foi provocada pela defesa. Essa hipótese, se interpretada rigorosamente, iria levar a muitos desaforamentos.
Atenção! Nesta última hipótese não é possível que o juiz represente pelo desaforamento.
Art. 428, do CPP - O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Ainda dentro dessa última hipótese, vale atentar para a chamada “aceleração de julgamento”. Se o Tribunal entender que não há excesso de serviço, ele poderá determinar a realização imediata do julgamento. Essa aceleração de julgamento foi criada pela Lei 11.689/08 e tem sido muito comum hoje.
É comum o acusado impetrar HC alegando que o processo está já demorando muito e, nesse caso, o Tribunal determinar que o juiz julgue o caso. Isso ocorre principalmente com acusados perigosos. No bojo do HC, o Tribunal vai expedir uma ordem de aceleração de julgamento.
O STF faz isso até com o STJ (o STF determina que o STF coloque o processo em pauta na próxima sessão).
Art. 428, §2o, do CPP - Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Obs: A lei fala apenas que “o acusado” pode requerer a aceleração de julgamento. Mas, a lei faz essa restrição indevida, pois nem sempre só o acusado vai pedir para ser julgado. Então, o interessante é admitir que o MP, querelante e assistente de acusação possam requerer, também, a aceleração do julgamento. Todas as partes têm interesse na garantia da razoável duração do processo. 
8.4) Crimes conexos e coautores:
O que acontece com os crimes conexos e coautores no caso de desaforamento? Crimes conexos e coautores também serão desaforados. O desaforamento não atinge apenas um crime e uma pessoa.
Ex. Se, num processo, há dois crimes e 4 acusados, e o Tribunal determinar o desaforamento, serão deslocados todos os crimes e acusados para a comarca próxima.
8.5) Comarca para a qual o processo será desaforado:
O desaforamento é sempre feito para a capital do Estado? Não.
Em regra, o desaforamento é feito para a localidade mais próxima. O julgamento será deslocado para outra comarca da mesma região, de preferência as comarcas mais próximas, onde não existam os motivos que deram ensejo ao desaforamento.
 Pergunta de Concurso: É possível fazer o desaforamento em outro Estado da Federação?
R: No âmbito da Justiça Estadual não é possível o desaforamento para outro Estado da Federação (pois o desaforamento é julgado pelo TJ). Porém, na Justiça Federal, esse deslocamento é possível, desde que dentro da competência territorial do respectivo TRF.
Ex. Caso do ex-Deputado Federal Ildebrando e do grupo de extermínio que atuava no Acre. O julgamento saiu do Acre e foi para o DF, pois ambas localidades eram abrangidas para o TRF1.
8.6) Efeito Suspensivo:
O desaforamento é apreciado pelo Tribunal, através de uma Câmara ou Turma. Antigamente, não havia previsão legal sobre efeito suspensivo do pedido de desaforamento. Mas, em razão da Lei 11.689/08, esse efeito suspensivo passou a constar do art. 427, §2º, do CPP.
Art. 427, §2o, do CPP - Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
8.7) Recursos Cabíveis:
Em relação ao desaforamento, não há previsão de recurso. Não cabe RESE nem apelação. A Lei não prevê nenhum recurso. Mas, no STJ, já foram impetrados vários HCs, desde que haja constrangimento à liberdade de locomoção.
Indeferido o requerimento de desaforamento, nada impede que seja formulado novo pedido. A decisão que indefere o pedido de desaforamento é baseada na cláusula rebus sic stantibus. O Tribunal indefere o desaforamento com base nas circunstâncias existentes. Diante da mudança dos pressupostos fáticos, é possível que seja protocolado novo pedido de desaforamento.
O CPPM prevê dispositivo expresso sobre o assunto, em seu art. 110.
Art. 110, CPPM - O pedido de desaforamento, embora denegado, poderá ser renovado, se o justificar motivo superveniente.
8.8) Reaforamento:
Reaforamento nada mais é do que o retorno do processo desaforado à comarca de origem. 
A maioria dos Tribunais (Regimentos Internos) diz que não é possível o reaforamento. Uma vez desaforado, o processo não mais volta à comarca de origem, ainda que desapareçam os motivos que deram ensejo ao desaforamento.
A vedação ao reaforamento, contudo, não impede novo desaforamento.
Ex. Processo estava para ser julgado em Ubatuba. Foi desaforado para Taubaté. Agora pode ser desaforado para outra cidade, que não a Comarca de origem (isto é, Ubatuba).
9) Preparação do Processo para Julgamento em Plenário:
Após a preclusão da pronúncia, os autos são encaminhados ao Juiz Presidente (art. 421, do CPP).
Art. 421, do CPP - Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Assim que o juiz receber os autos do processo, ele determinará a intimação das partes para especificação de provas. As partes terão o prazo de 5 dias para especificarem provas.
Caso as partes queiram ouvir testemunhas no Plenário do Júri, esse é o momento de arrolá-las. Na segunda fase do Procedimento do Júri, pode-se arrolar até 5 testemunhas para cada parte. 
Na hora de arrolar essas testemunhas, a parte fazê-lo sob a cláusula de imprescindibilidade: deve-se dizer que não se abre mão do depoimento da testemunha em hipótese alguma; que o seu depoimento é imprescindível. Além disso, deve-se requerer a intimação por mandado no endereço indicado.
É importante acrescentar essas informações no rol de testemunhas, porque o CPP prevê que apenas se isso for feito é que o julgamento será adiado no caso do não comparecimento da testemunha (o julgamento tem que ser adiado, pelo menos uma vez). Se a testemunha não for arrolada sob a cláusula de imprescindibilidade, nada poderá ser feito em caso de ausência da testemunha e julgamento prosseguirá.
Art. 461, do CPP - O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente suspenderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido, ordenando a sua condução. 
§2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha não ser encontrada no local indicado, se assim for certificado por oficial de justiça. 
Outro detalhe importante quanto ao rol de testemunhas é que o assistente de acusação pode arrolar testemunhas, segundo a doutrina majoritária, desde que respeitado o limite máximo de 5 testemunhas para a acusação. O assistente pode complementar o rol apresentado pelo MP. Se o MP já tiver arrolado as 5 testemunhas, o assistente pode indicartestemunhas para serem ouvidas como testemunhas do juízo.
 Pergunta de Concurso: É possível pedir a oitiva de uma testemunha que more em outra comarca? A testemunha que mora em outra comarca é obrigada a se deslocar para o dia do julgamento em Plenário? É possível o requerimento de expedição de precatória para a intimação de testemunhas? Essa testemunha que acaba de ser intimada por precatória tem obrigação de ser intimada até a Sessão de Julgamento? 
R: A testemunha tem o direito de prestar o depoimento na comarca onde reside. Esta testemunha pode ser ouvida por precatória. O seu depoimento pode ser trazido para o dia do julgamento. Por outro lado, essa testemunha, querendo, pode se deslocar para ser ouvida no local do julgamento. Mas, não se pode pegar a testemunha e trazê-la a força para o julgamento.
Após a especificação de provas pelas partes, haverá o ordenamento do processo.
O ordenamento do processo se assemelha a um verdadeiro despacho saneador. Nesse despacho saneador (ordenamento do processo), o juiz vai ordenar as diligências necessárias, dizer quais foram as provas solicitadas pelas partes, se não há nenhuma nulidade e vai preparar o processo para o julgamento. Ademais, será feito um relatório do processo, que é um resumo imparcial dos principais incidentes.
O relatório deve ser feito de maneira imparcial. Este relatório não pode ser exaltado, pois ele é entregue aos jurados.
Art. 472, parágrafo único, do CPP - O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
A última coisa que o juiz deve fazer é a inclusão do processo em pauta da reunião do Júri. A Lei teve uma preocupação em estabelecer a ordem desse julgamento. Essa inclusão deve ser feita pelo juiz com a observância do art. 429, do CPP.
Art. 429, do CPP - Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência: 
I – os acusados presos; 
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão; 
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados. 
§ 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a lista dos processos a serem julgados, obedecida a ordem prevista no caput deste artigo. 
§ 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reunião periódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado.
A ordem de inclusão de processos na pauta de julgamento é a colocada nesse artigo, salvo motivo relevante.
Há uma resolução do CNJ que determina que haja um controle periódico da prescrição.
Obs: Habilitação do assistente para atuação no Plenário do Júri. Essa habilitação tem que ser feita até 5 dias antes da Sessão de Julgamento, exatamente para não causar uma surpresa indevida ao advogado de defesa.
Art. 430, do CPP - O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Passada a fase de preparação do processo para o julgamento em Plenário, há a organização do Júri.
10) Organização do Júri:
O Júri é composto pelo Juiz Presidente e por mais 25 jurados, dos quais 7 irão compor o Conselho de Sentença.
O MP e o advogado compõem o Tribunal do Júri? NÃO. Eles atuam perante o Tribunal do Júri, mas não se pode dizer que eles façam parte do Tribunal do Júri.
10.1) Requisitos para que alguém possa ser Jurado:
· Cidadão com 18 anos completos ou mais;
· Notória idoneidade do cidadão (geralmente quem informa são Instituições de Ensino, Entidades Associativas, Conselhos de Classe, etc).
· Brasileiro no gozo de seus direitos políticos (nato ou naturalizado);
· O cidadão que atinja 70 anos ou mais pode pedir dispensa do Júri;
· O jurado deve residir na mesma comarca onde ocorrerá o julgamento. A ideia do Júri é que a pessoa seja julgada por seus pares.
· O jurado deve ser alfabetizado. Não é necessário ensino superior completo.
· O art. 436, §1º, do CPP diz que:
Art. 436, do CPP - O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Obs: Grau de Instrução x Alfabetização: O jurado deve ser alfabetizado, independentemente do grau de instrução. Pode ter qualquer grau de instrução, desde que seja alfabetizado.
· O jurado deve ter a audição, visão e voz em perfeitas condições (segundo a maioria da doutrina), ou seja, não pode ser cego, surdo ou mudo. Atenção! O Juiz de Direito pode ser sim deficiente visual, auditivo ou surdo-mudo. O jurado não pode ter essas deficiências, porque o ele é incomunicável e não se sabe até que ponto o intérprete pode ou não quebrar a sua incomunicabilidade.
· Cuidado com a vedação ao “jurado profissional”. A Lei 11.689/08 quis assegurar a participação de todos os cidadãos da sociedade no Júri. O jurado profissional era aquele jurado que participava de todos os julgamentos; que já estava acostumado com o Júri e quando o advogado de defesa apresentava teses mirabolantes, ficava fazendo caras e bocas para o promotor. 
Art. 426, §4o, do CPP - O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Então, se a pessoa que foi chamada para Plenário do Júri tiver integrado o Conselho de Sentença (não é só estar dentro dos 25 jurados, mas sim estar nos 7 que entram no Conselho de Sentença), ela fica excluída da próxima lista.
· A Lei prevê algumas pessoas que estão isentas do Júri, conforme art. 437, do CPP.
Art. 437, do CPP - Estão isentos do serviço do júri: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;
II – os Governadores e seus respectivos Secretários;
III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais; 
IV – os Prefeitos Municipais;
V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública; 
VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; 
VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; 
VIII – os militares em serviço ativo;
IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa; 
X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento. 
O inciso X traz uma cláusula aberta, que apela para o bom senso do juiz e da pessoa.
Ex. Mulher no período de amamentação.
Obs1: Impugnação da Lista dos Jurados: A lista geral dos jurados é publicada até o dia 10 de outubro, e é afixada na porta do Plenário do Júri.
Art. 581, do CPP - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
Este recurso tem o prazo de 20 dias (é um prazo diferente dos demais casos de RESE) e deve ser julgado pelo PRESIDENTE DO TJ.
Tem havido uma certa polêmica na doutrina, pois há quem diga que o instrumento cabível seria o RESE. Mas, a Lei 11.689/08 mudou o procedimento do Júri e há quem entenda que, por conta dessa mudança, a impugnação contra a lista dos jurados já não seria mais através do RESE, já que a Lei 11.689/08 passou a prever uma reclamação ao Juiz Presidente, que pode ser feita até o dia 10 de novembro. A doutrina critica isso porque o RESE para o Presidente do TJ atrasa o serviço desta autoridade.
Art. 426, do CPP - A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Obs2: Jurado pratica crime funcional? Sim. O jurado responde sim por crime funcional. O jurado, para fins penais, é funcionário público, conforme art. 327, do CP.
Funcionário público
Art. 327, do CP - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Obs3: Recusa injustificada do Jurado a participar do Júri. O art. 433, §2º, do CPP, diz que:
Art. 433, do CPP - O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quinto) e o 10o (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião. 
§ 2o A audiência de sorteio não será adiada pelo não comparecimento das partes. 
§ 3o O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente incluído para as reuniões futuras. 
Isso vale para o jurado que não aparece ou que abandona a Sessão do Júri.
 Pergunta de Concurso: O jurado pode ser preso por desobediência?
R: Quando a lei prevê a sanção e não ressalva expressamente a possibilidade de responsabilização pelo delito de desobediência, é como se a lei tivesse delimitado a sanção. Isso significa dizer que a multa é a única sanção que pode ser imposta ao jurado. Significa que o jurado não pode ser responsabilizado pelo crime de desobediência. Nesse sentido, STJ HC 22.721.
Ex. Multa do jurado (não há previsão de crime de desobediência) x art. 219, do CPP (há previsão de crime de desobediência – Art. 219, do CPP – “O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência”).
EMENTA STJ, HC 22.721: PENAL. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. DETERMINAÇÃO JUDICIAL ASSEGURADA POR MULTA DIÁRIA DE NATUREZA CIVIL (ASTREINTES). ATIPICIDADE DA CONDUTA. Para a configuração do delito de desobediência, salvo se a lei ressalvar expressamente a possibilidade de cumulação da sanção de natureza civil ou administrativa com a de natureza penal, não basta apenas o não cumprimento de ordem legal, sendo indispensável que, além de legal a ordem, não haja sanção determinada em lei específica no caso de descumprimento. (Precedentes). Habeas corpus concedido, ratificando os termos da liminar anteriormente concedida.
Obs3: Direitos dos Jurados: O CPP, no seu art. 439, diz que:
Art. 439, do CPP - O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
O que se entende pela expressão “exercício efetivo”? Basta estar entre os 25 convocados ou deve-se estar entre os 7 que compõem o Conselho de Sentença? Há divergência na doutrina. Mirabete entendia que bastava estar entre os 25. Mas, a Lei fala em exercício efetivo. Então, deve a pessoa ter participado do Conselho de Sentença. Essa é a posição majoritária (Tourinho Filho).
Art. 440, do CPP - Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Jurado tem direito à prisão especial? O art. 295, X, CPP fala sobre as pessoas que tem direito à prisão especial. 
Art. 295, do CPP - Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função; (TACITAMENTE REVOGADO)
A maioria da doutrina continua colocando que o jurado tem sim direito a prisão especial. Contudo, se se analisar o art. 439, do CPP, na sua redação antiga e redação nova (dada pela Lei 12.403/11), verifica-se que houve uma mudança de sua redação.
	Artigo 439, do CPP antes da redação dada pela Lei 12.403/11
	Artigo 439, do CPP depois da redação dada pela Lei 12.403/11
	Art. 439, do CPP - O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
	Art. 439, do CPP - O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
A redação antiga falava sobre prisão especial, e foi alterada ano passado pela Lei das Prisões. Depois da Lei 12.403/11 o art. 439, do CPP não mais assegura prisão especial ao jurado. Por isso, há doutrinadores como Gustavo Badaró que vem dizendo que jurado deixou de ter direito à prisão especial.
Cuidado! O jurado deixou de ter direito à prisão especial. Portanto, o art. 295, X, do CPP foi tacitamente revogado.
Por fim, deve-se analisar o direito do jurado quanto à Escusa de Consciência. Por conta de sua religião, pode ser que alguém não possa julgar o seu semelhante. O problema é que no Júri, muitas pessoas diziam que a sua religião não permitia que ele fosse jurado para escapar da função pública. 
Antigamente, a Lei não previa prestação alternativa para o jurado cumprir. A novidade é que, com o advento da Lei 11.689/08, o CPP passou a prever a prestação alternativa para o jurado que alega escusa de consciência. E, agora, se a pessoa não quiser prestar o serviço do Júri invocando a escusa de consciência, ela terá que cumprir a prestação alternativa, sob pena de ter seus direitos políticos suspensos.
Art. 438, do CPP - A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
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AULA 14 – 05/11/12
11) Sessão de Julgamento: 
Atenção! Sessão de Julgamento não se confunde com reunião periódica:
	Sessão de Julgamento
	Reunião Periódica
	Ato processual concentrado no qual ocorre o julgamento em si.
	É a época do ano em que o Tribunal do Júri se reúne para as Sessões de Julgamento.
Obs: A depender da comarca e da Lei de Organização Judiciária do Estado, a época do ano em que os julgamentos serão realizados irá variar conforme cada cidade. Geralmente, nas Capitais, os Tribunais do Júri funcionam permanentemente. Em comarcas de primeira e segunda entrância, o Júri se reúne 4 vezes por ano. 
Ex. Se o Júri se reúne em março, por exemplo, em março há uma reunião periódica. Pode-se falar, então, que em uma reunião periódica há várias sessões de julgamento.
11.1) Ausências injustificadas à Sessão de Julgamento:
É muito comum alguém faltarà Sessão de Julgamento. A depender de quem se ausentar nessa Sessão, o ato processual poderá continuar ou não.
a) Ausência do órgão do MP: Antigamente (antes da Lei 11.689/08), o CPP previa que se o promotor não comparecesse no dia do julgamento, o juiz deveria proceder à nomeação de promotor ad hoc (ad hoc = para o ato). Mas, a nomeação de promotor ad hoc não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Por conta da CF/88, as funções do MP só podem ser exercidas por indivíduo previamente aprovado em concurso público (art. 129, §2º, da CF).
Art. 129, §2º, da CF - As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Após a reforma do CPP, não é possível que o julgamento ocorra. Então, o julgamento será adiado para uma data livre naquela Reunião Periódica. Ainda nesse caso, é importante que se comunique à Corregedoria, Procurador Geral, etc. para que as medidas disciplinares cabíveis sejam tomadas.
b) Ausência do advogado do acusado: O julgamento não pode ser realizado sem a presença do advogado de defesa.
Art. 456, do CPP - Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão. (Redação pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Não se pode julgar o réu sem advogado de defesa. Por outro lado, não se pode passar em cima da vontade do acusado de escolher seu defensor imediatamente. O problema é que pode acontecer de o acusado dizer que quer constituir novo advogado e esse novo advogado faltar à próxima Sessão de Julgamento. Aí está um problema, pois, nesse caso, se se permitisse tal prática, poderia haver sucessivas faltas ao julgamento. 
Deve ser respeitado o direito do acusado de constituir o seu defensor. Cabe a ele buscar o defensor de sua confiança. Mas, a fim de se evitar fraude processual (manobras indevidas para procrastinar o andamento do processo), deve o juiz intimar a Defensoria Pública com antecedência mínima de 10 dias para que um defensor fique de sobreaviso na hipótese de nova ausência injustificada do advogado constituído. Deve-se buscar conciliar os interesses do acusado e do Estado. Não aparecendo o advogado, a Defensoria Pública já terá sido intimada e poderá fazer a defesa técnica do acusado.
c) Ausência do acusado solto: Antes da Lei 11.689/08, se o crime era inafiançável, a presença do acusado no Júri era obrigatória. A lei fazia uma distinção de acordo com a natureza do delito. Se o crime fosse afiançável, não era necessária a presença do acusado.
Mas, depois da Lei 11.689/08, se o acusado for intimado e não comparecer ao Júri, o julgamento será realizado normalmente, pouco importando a natureza do delito, conforme art. 457, do CPP.
Art. 457, do CPP - O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal do Júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
A autodefesa é exatamente o que assegura ao acusado o direito de comparecer ao Júri. O direito de audiência (direito de ser ouvido pelo juiz) e o direito de presença (direito de estar presente para acompanhar o julgamento proferido contra a sua pessoa) são desdobramentos da autodefesa.
A autodefesa é renunciável. Se o acusado não quer comparecer ao julgamento e não quer exercer a sua autodefesa, a escolha é dele.
A mudança do art. 457, do CPP está diretamente relacionada ao Direito ao Silêncio (é preferível ao acusado não ir ao julgamento do que ir e ficar calado na presença dos jurados).
	Ausência do Acusado Solto à Sessão de Julgamento
	Antes da Lei 11.689/08
	Depois da Lei 11.689/08
	Crime Afiançável
	Acusado poderia não comparecer.
	Se o acusado for intimado e não comparecer, o julgamento será realizado normalmente, pouco importando a natureza do delito.
	Crime Inafiançável
	Presença do acusado era obrigatória.
	
d) Ausência do Acusado Preso: O fato de o acusado estar preso não o priva do exercício da autodefesa. O acusado preso tem o direito de estar presente à Sessão de Julgamento. Não se pode querer privar o acusado preso do direito de acompanhar o seu julgamento por dificuldades estruturais do Estado: o preso tem direito de ser escoltado para ir à Sessão de Julgamento. Do mesmo modo que o acusado solto, o acusado preso pode querer não comparecer ao julgamento. Caso não queira participar da Sessão de Julgamento, deve subscrever pedido nesse sentido, em conjunto com seu advogado. 
e) Ausência do Advogado do Assistente:
Art. 457, do CPP - O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
A lei contém uma impropriedade. Quem é o assistente? É a vítima, que, no homicídio consumado, morreu. Tecnicamente, o que deveria a lei dizer não é “o assistente”, mas seu advogado. Se o assistente não é advogado, ele não tem capacidade postulatória. Então, o que interessa não é a presença do assistente, mas sim a do advogado dele.
Se o advogado do assistente não comparecer à Sessão de Julgamento, o julgamento não será adiado.
f) Ausência do Advogado do Querelante:
Obs: Em quais situações o querelante pode estar no Júri?
f.1) Ação penal privada subsidiária da pública: Nesse caso, se o advogado do querelante não comparecer à Sessão de Julgamento, verificada negligência do querelante, o MP reassume o processo como parte principal (ação penal indireta).
Pode ser que o promotor não esteja preparado para o julgamento. Então, ele pode pedir, nesse caso, o adiamento da Sessão de Julgamento.
f.2) Ação penal exclusivamente privada ou ação penal privada personalíssima: Pode haver conexão entre um crime de ação penal pública ou ação penal privada personalíssima. Nestes casos, verificada a ausência do advogado do querelante, isso é causa de perempção, havendo extinção da punibilidade do acusado. Isto porque se o advogado do querelante não estiver presente, não haverá pedido de condenação, o que configura causa de perempção e extinção da punibilidade. A perempção e a extinção da punibilidade só irão repercutir em relação ao crime de ação privada. A perempção não irá atingir o crime conexo de ação penal pública.
g) Ausência de Testemunha: A testemunha de fora da Comarca (testemunha de “fora da terra”) não tem a obrigação de se deslocar à comarca onde está acontecendo o julgamento. Mas, se a testemunha que mora na comarca não comparecer, o julgamento não será adiado, salvo se ela tiver sido arrolada com a cláusula de imprescindibilidade e a parte, após indicar seu endereço, tiver requerido sua intimação por mandado. Neste caso (testemunha arrolada com a cláusula de imprescindibilidade), o julgamento será adiado. Mas, antes do adiamento, deve ser verificada a possibilidade de condução coercitiva. À testemunha faltosa também é possível a aplicação de uma multa (multa de 1 a 10salários mínimos, a depender da condição econômica da testemunha), conforme art. 458, do CPP.
Art. 458, do CPP - Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2o do art. 436 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 436, do CPP - O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado. (Incluído pela Lei 11.689/08)
Se, por acaso, comparecerem todas as testemunhas, deve ser preservada a incomunicabilidade das mesmas. Pela letra da Lei, não se pode permitir que uma testemunha tenha contato com outra. Neste sentido, art. 460, do CPP:
Art. 460, do CPP - Antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhas serão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
h) Ausência do Juiz-Presidente: Neste caso, o julgamento será adiado, devendo ser designada nova data. É importante a comunicação deste fato ao Presidente do Tribunal, Corregedor, CNJ, etc.
11.2) Verificação da Presença de, pelo menos, 15 jurados:
Para a Sessão de Julgamento, são convocados 25 jurados. Para que se possam começar os trabalhos, o número mínimo necessário é de 15 jurados.
 Pergunta de Concurso: Jurados excluídos por impedimento e suspeição são levados em consideração para esse número de 15 jurados?
R: Sim. Mesmo sendo excluído, o jurado continua sendo levado em consideração para esse cômputo de 15 jurados presentes. Jurados excluídos por impedimento ou suspeição são levados em consideração (mesmo que não possam participar do Conselho de Sentença).
 Pergunta de Concurso: O que se entende por “empréstimo de jurados”? Isso é possível?
R: “Empréstimo de jurados” é a chamada de jurados incluídos na lista convocada para outros julgamentos previstos para a mesma data, em diferentes Plenários do Júri, a fim de atingir o número mínimo de 15 jurados para a instalação dos trabalhos. (Isso só é faticamente possível em Comarcas em que há julgamentos simultâneos, com mais de um Plenário de Júri). Há doutrinadores que admitem o empréstimo de jurados. Mas, isso é minoria. Para o STF e o STJ, o empréstimo de jurados não é possível, pois no Júri, é possível a recusa a 3 jurados de maneira imotivada. E, para que se exerça as três recusas, é preciso se conhecer previamente os jurados. No Brasil, essa pesquisa dos jurados não é muito comum. Mas, há alguns promotores que pesquisam a vida do jurado. Logo, se o jurado é “pego emprestado” no julgamento ao lado, não seria possível exercer a recusa com o devido conhecimento do jurado. Nesse sentido, STF, HC 88.801. Há doutrinadores que são favoráveis a tal prática, alegando que da mesma forma que se conhece os 25 convocados para o seu plenário, é possível conhecer os jurados convocados para os demais plenários do Júri. Mas, na prática, isso é inviável.
EMENTA STF, HC 88.801: I. STF - HC – (...). II. Júri: nulidade do julgamento pela utilização de jurados convocados para compor outro Plenário: demonstração de prejuízo: prova impossível. 1. Dada a relevância para as partes do conhecimento prévio dos jurados convocados para a sessão do Júri e que, assim, poderão compor o Conselho de Sentença, é de observância imprescindível o art. 442 C.Pr.Penal, segundo a qual a instalação da sessão depende do comparecimento de pelo menos 15 jurados, quorum que, se não atingido, implica nova convocação para o dia útil imediato. 2. Daí que, não alcançando o quorum legal entre os convocados para determinado julgamento, é inadmissível, para atingi-lo a chamada de jurados incluídos na lista convocada para outros julgamentos previstos para a mesma data em diferentes "plenários" do mesmo Tribunal do Júri. 3. É de prova impossível a efetiva influência do jurado ilegalmente convocado no resultado do julgamento, dado que o Conselho de Sentença, do qual participou, afastou, por 4 votos a 3, a atenuante proposta. 4. (...).
11.3) Suspeição, Impedimento e Incompatibilidade dos Jurados:
Em relação a esse ponto, aos jurados aplicam-se as mesmas causas de impedimento, suspeição e incompatibilidade daquelas relacionadas aos juízes togados. As causas de impedimento dos jurados estão previstas no art. 448, do CPP.
Art. 448, do CPP - São impedidos de servir no mesmo Conselho: (Redação pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – marido e mulher; 
II – ascendente e descendente; 
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; 
V – tio e sobrinho; 
VI – padrasto, madrasta ou enteado. 
§1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar. 
§2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. 
Art. 449, do CPP - Não poderá servir o jurado que: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior;
Às vezes acontece de o primeiro julgamento ser anulado. Nesse caso, é óbvio que o jurado que participou do julgamento que foi anulado não pode participar do segundo. Esse artigo quase reproduz o teor do art. 206, do STF.
Súmula 206, do STF - É nulo o julgamento anterior pelo júri com a participação de jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo.
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado; 
Pode ser que ocorra o desmembramento do processo. Havendo a separação de processos, não se pode permitir a atuação do mesmo jurado para os dois acusados relativos ao mesmo caso.
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado. 
Como funciona a suspeição, impedimento e incompatibilidade? Na prática, como se dá a arguição desse impedimento/suspeição? O juiz faz a leitura desses artigos (448 e 449 do CPP) para que os jurados, voluntariamente, reconheçam a suspeição. Se, por acaso, nenhum jurado se declarar suspeito/impedido, as partes deverão arguir a imparcialidade dos jurados, comprovando tal circunstância de plano. Esta é a grande dificuldade, pois a lei não prevê a suspensão do julgamento para o caso de a parte alegar que o jurado é suspeito.
 
 Pergunta de Concurso: Qual a consequência da participação de jurado impedido no mesmo Conselho de Sentença? 
R: Antes da Lei 11.689/08, como o veredicto dos jurados era colhido por maioria (7x0; 6x1; 5x2; 4x3), tratava-se de nulidade relativa, pois o prejuízo devia ser comprovado. Se a votação terminasse 7x0; 6x1 ou 5x2, a nulidade não seria reconhecida, pois o voto do jurado impedido não teria exercido qualquer influência no julgamento. Mas, se a votação terminasse 4x3, a nulidade deveria ser reconhecida, pois o voto do jurado impedido foi determinante para o resultado do julgamento. Mas, depois da Lei 11.689/08, a votação será automaticamente interrompida quando 4 votos forem atingidos em um mesmo sentido. Logo, não e mais possível estabelecer qual terá sido o grau de influência do voto do jurado impedido. A prova do prejuízo não pode mais ser feita. Se não é possível a comprovação do prejuízo, tem-se que este é presumido. Logo, trata-se de nulidade absoluta.
11.4) Composição do Conselho de Sentença:
O juiz irá fazer o sorteio e depois, abre-se o momento para as recusas.
Há uma primeira espécie de recusa, que é chamada de recusa motivada. A recusa motivada é fundamentada com base nas causas de suspeição, impedimento ou incompatibilidade. Podem ser usadas quantas recusas motivadas quanto forem necessárias. 
Por outro lado, há as chamadas recusas imotivadas, também chamadas pela doutrina de “recusas peremptórias”. Nestas recusas peremptórias, não há necessidade

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