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Tutoria 1.3 "Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio" (Hipócrates) 1-Reconhecer as características das etapas do crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor das crianças do nascimento até o 5o ano de vida (1ª. infância). Neste aspecto, é importante salientar que o tecido nervoso cresce e amadurece sobretudo nos primeiros anos de vida, portanto, nesse período, é mais vulnerável aos agravos de natureza diversa e às adversidades das condições ambientais que podem ocasionar prejuízos relacionados aos processos em desenvolvimento. Por outro lado, por sua grande plasticidade, é também nessa época que a criança melhor responde aos estímulos que recebe e às intervenções, quando necessárias.1,2 O estudo do desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados, quais sejam: sensorial, motor (geralmente subdividido em habilidades motoras grosseiras e habilidades motoras finas), da linguagem, social, adaptativo, emocional e cognitivo. Esses domínios influenciam-se entre si e têm como eixo integrador a subjetividade, função de dimensão psíquica que se particulariza e possibilita a singularidade de cada um dos seres humanos. No Brasil, a Caderneta de Saúde da Criança,8 utilizada para o registro dos atendimentos nos serviços de saúde, disponibiliza uma sistematização para a vigilância do desenvolvimento infantil até os 3 anos de idade. Essa ferramenta permite acompanhar a aquisição dos principais marcos do desenvolvimento. Além disso, com base na presença ou ausência de alguns fatores de risco e de alterações fenotípicas, a caderneta orienta para tomadas de decisão. Num conceito mais amplo, desenvolvimento infantil é entendido como um processo que se inicia desde a vida intrauterina e envolve vários aspectos, como o crescimento físico, a maturação neurológica e a construção de habilidades relacionadas ao comportamento nas esferas cognitiva, social e afetiva da criança. O desenvolvimento infantil envolve o aumento da capacidade do indivíduo em realizar funções cada vez mais complexas e sofre influência de vários fatores, merecendo atenção especial de profissionais da saúde e da educação. O desenvolvimento neuropsicomotor se dá no sentido craniocaudal, portanto, em primeiro lugar a criança firma a cabeça, a seguir o tronco e após os membros inferiores. A maturação cerebral também ocorre no sentido postero- anterior, portanto, primeiro a criança fixa o olhar (região occipital), a seguir leva a mão aos objetos etc. A avaliação do desenvolvimento deve ser baseada nos marcos definidos pela escala de desenvolvimento Denver II. Deve-se avaliar o desenvolvimento social, motor e linguagem. Desenvolvimento social Desenvolvimento motor Desenvolvimento da linguagem Desenvolvimento do desenho O Teste de Denver é uma escala utilizada por profissionais de saúde para avaliar e identificar crianças entre 0 e 6 anos de idade com risco para atraso no desenvolvimento (ADNPM). Essa escala não é um teste de inteligência, ou seja, não mede o QI da criança e não foi desenvolvida para diagnosticar distúrbios de aprendizagem ou emocional. O teste baseia-se principalmente na observação da execução dos itens, e no relato dos pais, comparando o desempenho de uma determinada criança com o desempenho de outras crianças da mesma idade. É dividido em 4 áreas: Pessoal-social – envolve aspectos da socialização da criança dentro e fora do ambiente familiar; Motricidade fina – coordenação olho-mão, manipulação de pequenos objetos; Linguagem – produção de som, capacidade de reconhecer, entender e usar a linguagem; Motricidade ampla – sentar, caminhar, pular e os demais movimentos realizados pela musculatura ampla A conduta motora está associada à maturação do sistema nervoso, correspondendo ao controle das aquisições motoras. A conduta de linguagem abrange as percepções de sons, imagens e suas respostas, enquanto a conduta adaptativa compreende a reação da criança frente a objetos e situações. Já a conduta pessoal-social corresponde à avaliação do comportamento frente a estímulos culturais. O TTDD-R correlaciona cada item com a idade e o percentual da população padronizada que realizou determinado item ou comportamento. Cada um dos itens avaliados é classificado como: –. normal: quando a criança executa a atividade prevista para a idade ou não executa uma atividade realizada por menos de 75% das crianças da mesma idade; –. cuidado: quando a criança não executa ou se recusa a realizar atividade que já é feita por 75 a 90% das crianças daquela idade; –. atraso: quando a criança não executa ou se recusa a realizar atividade que já é executada por mais de 90% das crianças que têm sua idade Crianças de países subdesenvolvidos concentram a grande maioria das possíveis causas que levam a atrasos no desenvolvimento. Vale ressaltar que este estudo foi realizado junto à comunidade da segunda maior favela do Estado de São Paulo. Todavia, existem outras variáveis, como educação materna, tamanho da família e ocupação do pai, as quais, neste estudo, não foram abordadas e são importantes preditores do desenvolvimento futuro da criança. Avaliação do desenvolvimento de crianças atendidas no ambulatório do Projeto Einstein na Comunidade de Paraisópolis. Segundo os autores, esses resultados se justificam, entre outros fatores, pela imaturidade neurofisiológica para a aquisição e domínio da linguagem e pelos estímulos sociais, essenciais para que os padrões linguísticos se desenvolvam. Considerando essa situação, seria importante orientar os pais sobre a necessidade de acompanhar as atividades de seu filho e utilizar estratégias que estimulem a sua verbalização, como falar pausadamente e articuladamente, cantar cantigas, ler histórias infantis, entre outras. As descobertas mais recentes mostram que o período de gestação até os 6 anos é fundamental para o desenvolvimento biológico, cognitivo, social e emocional do ser humano. Por exemplo, as experiências de movimentação intra-útero que ficam registradas no cérebro das crianças formando conexões serão utilizadas na aquisição de movimentos voluntários. O desenvolvimento das sinapses formadas pelas conexões neurais se dá muito rapidamente nos primeiros anos de vida, notadamente nos 3 primeiros. Nessa época, parece haver períodos em que o cérebro carece de um estímulo específico para estabilizar algumas estruturas duradouras. Para a visão, esse período seria o dos meses iniciais de vida. Os primeiros 2 anos estariam ligados à estabilidade emocional. Para um bom desenvolvimento neuropsicomotor, é importante que a criança tenha socialização, coordenação em manipular pequenos objetos, linguagem (produção, uso e entendimento de falas e sons), controle motor corporal, aleitamento materno adequado, alimentação adequada, estimulação, afetividade e identificação de sinais de alerta, bem como a busca de atenção adequada para as crianças. As brincadeiras, a linguagem e o amor são os 3 "alimentos" mais importantes para o crescimento da mente. As crianças precisam que as toquem, que falem e sorriam para elas, que se comuniquem com elas criando interações. A criança negligenciada perde o interesse pela vida, tem menos apetite e menos chance para um desenvolvimento normal físico ou mental. Desde o primeiro dia de vida, a criança é capaz de dar e receber afeto e construir um relacionamento. Sentindo-se amada, ela desenvolve segurança, confiança e capacidade de se relacionar bem consigo e com os outros. Ao envolver uma situação imaginária, a brincadeira pode transformar a vida mental da criança, pois ela vive experiências que estão longe da sua capacidade (ser mãe, ser médica, ser professor, ser artista, pilotar um avião, ser um monstro ou uma alma etc.) Nesses vários papéis do brincar, muitas vezes fingindo ser adulta, a criança elabora e compreende, do seu jeito, emoções e sentimentos impossíveis de serem explicados, alémde realizar desejos que lhe parecem inalcançáveis (dirigir um carro, ser um príncipe, por exemplo). Brincando, ela adquire competências e confiança para aprender habilidades necessárias na vida escolar e para enfrentar problemas e dilemas inerentes à condição da vida em sociedade, no futuro. Pais, familiares e a comunidade podem participar de brincadeiras, colaborando com ideias e materiais como caixas vazias ou objetos existentes em casa ou em escolas e que são tão bons quanto brinquedos das lojas, às vezes até mais estimulantes da criatividade e do desejo de participar. A inclusão do pai na brincadeira e mesmo nos cuidados infantis desde o pré-natal tem repercussão favorável para si e para a criança. É bom lembrar que existem diferenças importantes entre brincadeira ou jogo e brinquedo. A brincadeira ou jogo envolve uma situação imaginária, com regras e limites, características importantes para estimular a curiosidade, praticar o respeito a si e ao outro e a solidariedade nas interações sociais, descobrindo regras, uso de limite e liberdade. Já o brinquedo é tão somente um objeto que muitas vezes não permite interação e seu uso não está condicionado às regras. Desenvolvimento social • Olhar o examinador e segui-lo em 180º = 4 meses • Sorrir espontaneamente = 2 meses • Leva mão a objetos = 5 meses • Apreensão a estranhos = 10 meses • Dar tchau = 14 meses (1 ano e 2 meses) • Bater palma = 11 meses • Imita atividades diárias = 16 meses (1 ano e 4 meses) Desenvolvimento Motor • Sustento cefálico = 4 meses • Sentar-se com apoio = 6 meses • Sentar-se sem apoio = 7 meses • Pinça superior = 10 meses • Em pé com apoio = 10 meses • Andar sem apoio = 15 meses ( 1 ano e 3 meses) Desenvolvimento da Linguagem • Lalação = 6 meses • Primeiras palavras = 12 meses • Palavra frase = 18 meses (1 ano e 6 meses) • Junta duas palavras = 2 anos • Frases gramaticais = 3 anos Características do desenho infantil em cada idade: 2 anos - Rabiscos (com o passar do tempo, os rabiscos ganham um significado para a criança, que te conta o que esperava fazer com aquele desenho) 3 anos - Círculos (que podem representar praticamente tudo. Aos poucos, o círculo ganha o formato de figura humana) 4 a 5 anos - O desenho da figura humana tem mais detalhes, e representa histórias ou eventos 2 anos 3 anos 4 a 5 anos 2- Definir crescimento e desenvolvimento. Crescimento refere-se essencialmente às transformações progressivas de cunho quantitativas que ocorrem nas dimensões do corpo humano, enquanto desenvolvimento engloba simultaneamente transformações quantitativas e qualitativas, sendo resultante de aspectos associados ao próprio processo de crescimento físico, à maturação biológica e desenvolvimento dos aspectos cognitivos comportamentais. Crescimento físico é aumento no tamanho. Desenvolvimento é crescimento da capacidade funcional. Os dois processos são altamente dependentes de fatores genéticos, nutricionais e ambientais. Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui além do crescimento a maturação, a aprendizagem e os aspectos psíquicos, sociais. 3- Caracterizar os métodos de avaliação da idade gestacional. (Capurro e New Ballard). Método capurro: O método capurro estima a idade gestacional de duas formas, pelo capurro somático (avalia 5 características somáticas) e o capurro somático neurológico (avalia 4 características somáticas e 2 neurológicas). Forma da orelha: observar a encurvação do pavilhão da orelha; verificar se o bordo superior do pavilhão auricular forma uma cobertura pelos lados; Tamanho da glândula mamária: palpar o tecido que se encontra debaixo e em volta do mamilo; Formação do mamilo: observar o diâmetro dos mamilos, a aréola e os bordos; Textura da pele: verificar a presença de descamação e/ou rachaduras na pele, antebraços, mãos, pernas e pés; Pregas plantares: observar a presença de sulcos e pregas ao hiperestender as plantas dos pés. Somam-se os pontos das 5 características. Ao resultado acrescenta-se a constante 204 para Capurro Somático. O resultado divide-se por 7, que é o número de dias transformados em semanas. No capurro somático neurológico, avalia-se o formato da orelha, glândula mamária, textura da pele, pregas plantares e duas características neurológicas: sinal de cachecol (analisa a resistência à movimentação passiva dos membros superiores - até onde vai o cotovelo do RN ao ser puxado) e queda da cabeça (levanta o RN de forma horizontal, em decúbito dorsal e analisa-se o quanto a cabeça cai ou desce). Método new ballard: O New Ballard Score é um método rápido, aplicável e preciso de avaliação da Idade Gestacional de recém-nascido, sendo um preditor significativo de sobrevivência e para isso disponibiliza uma ferramenta precisa para avaliação da idade gestacional em recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer. Esse método também é pautado em avaliação física e neurológica. 4- Descrever os mecanismos de crescimento normal e as formas de avaliação. (antropometria). O período de maior crescimento da criança ocorre do nascimento até os 5 anos de idade; esse crescimento depende de fatores como: características do nascimento (principalmente o peso), a alimentação em qualidade e quantidade suficientes, os cuidados de saúde e vacinação adequados que eliminam ou reduzem a ocorrência de doenças, a moradia, o saneamento básico, a estimulação psicomotora e as relações afetivas, que refletem as condições gerais de vida às quais a criança está submetida. Quando ocorrem doenças infecciosas e/ou problemas sociais, há uma desaceleração no ritmo de crescimento normal. Entretanto, corrigida a causa e se as condições ambientais forem adequadas, observa-se um aumento da velocidade de crescimento superior ao esperado para a idade, como um crescimento compensatório. Esse fenômeno é observado na reabilitação de crianças com desnutrição grave, principalmente nas menores de 2 anos. Para isso, devem ser considerados fatores como: Alimentação: A criança até cinco anos requer cuidados específicos com a sua alimentação. Crescer consome energia: 32% das necessidades calóricas de um recém-nascido são destinadas ao crescimento. A dieta da criança deve ter qualidade, quantidade, frequência e consistência adequadas para cada idade. Para crianças com até 6 meses de idade, o leite materno exclusivo é o melhor alimento. Infecções: É essencial que as crianças sejam imunizadas, segundo o calendário de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde, para que se evite a ocorrência das doenças imunopreveníveis. Quanto à outros processos infecciosos, é necessário que sejam diagnosticados e debelados precocemente para que não evoluam para um quadro adverso, com o aumento das necessidades nutricionais, associado à diminuição do apetite e, nos casos das diarreias e doenças parasitárias, ao menor aproveitamento biológico dos alimentos. Nos processos febris, observa-se que para cada grau de temperatura acima de 38∫C, estima-se um aumento de 20% nas necessidades calóricas e proteicas da criança, além de causar perda acentuada de apetite. Dessa forma, as infecções repetidas podem levar ao retardo do crescimento e à desnutrição que, por sua vez, é responsável pela maior vulnerabilidade das crianças aos episódios infecciosos mais graves e de maior duração, caracterizando, assim, uma ação sinérgica (ação conjunta). Higiene: A higiene adequada da criança, dos alimentos, do ambiente e de todos aqueles que lidam com ela são fatores essenciais para seu bom crescimento. Isso implica na disponibilidade de água potável, de meios adequados para o esgotamento sanitário, e destinação de lixo e em conhecimentos,atitudes e práticas corretas sobre o manuseio, armazenamento, preparo e conservação dos alimentos, de higiene corporal e do ambiente. Cuidados gerais com a criança: A criança pequena necessita estabelecer relações afetivas, precisa de outra pessoa para ir se estruturando como um sujeito e para ter uma identidade própria. Estabelecer, desde o nascimento, relações com pessoas que a escutem e entendam suas necessidades, que lhe dêem carinho e afeto, que lhe proporcionem oportunidades seguras de explorar e conhecer o mundo que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento e desenvolvimento da criança. As formas de avaliação envolvem padrões antropométricos, como: Peso-para-idade (P/I): Expressa a relação entre a massa corporal e a idade cronológica da criança. É o índice utilizado para a avaliação do estado nutricional, contemplado na Caderneta de Saúde da Criança, principalmente para avaliação do baixo peso. Essa avaliação é muito adequada para o acompanhamento do ganho de peso e reflete a situação global da criança; porém, não diferencia o comprometimento nutricional atual ou agudo dos pregressos crônicos. Por isso, é importante complementar a avaliação com outro índice antropométrico. Peso-para-estatura (P/E): Este índice dispensa a informação da idade; expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura. É utilizado tanto para identificar o emagrecimento da criança, como para o excesso de peso. Índice de Massa Corporal (IMC)-para-idade: expressa a relação entre o peso da criança e o quadrado da estatura. É utilizado para identificar o excesso de peso entre crianças e tem a vantagem de ser um índice que será utilizado em outras fases do curso da vida. Estatura-para-idade (E/I): Expressa o crescimento linear da criança. É o índice que melhor indica o efeito cumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança. É considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida de uma população. Trata-se de um índice incluído recentemente na Caderneta de Saúde da Criança. É muito importante acompanhar a caderneta da criança para informações relativas à vacinação, alimentação e gráficos. Além disso, existe um número de consultas mínimas que devem ser realizadas para assistência da criança: Os resultados são dados a partir do percentil. O percentil é uma forma adotada pelo MS para classificação da criança conforme as medidas antropométricas. Essas medidas têm um padrão devido a população de referência, uma população cujas medidas foram aferidas em indivíduos sadios, vivendo em condições socioeconômicas, culturais e ambientais satisfatórias, tornando-se uma referência para comparações com outros grupos. Com a distribuição gráfica das medidas de peso e altura de indivíduos normais, são construídas curvas de referência. A Organização Mundial da Saúde - OMS e o Ministério da Saúde recomendam para as crianças a referência internacional do National Center for Health Statistics - NCHS(27), publicado em 1977. 5- Reconhecer a importância do aleitamento materno, como ele deve ser feito e as necessidades alimentares na infância. Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe (mulheres que amamentam têm menos chances de desenvolver câncer de mama). A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde (MS) do Brasil e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam amamentação exclusiva por aproximadamente 6 meses e complementada até os 2 anos ou mais. Estima-se que 500 mL de leite materno no segundo ano de vida proporcionam 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína e 31% do total de energia. Graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções comuns, ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. Estima-se que o aleitamento materno poderia prevenir 50% das mortes por doenças respiratórias e 66% das causadas por diarréia. Um dos artigos de uma série publicada na revista The Lancet sobre sobrevivência infantil atribuiu ao aleitamento materno a capacidade de reduzir em 13% a mortalidade em crianças menores de 5 anos por causas preveníveis, estimadas em 6 milhões ao ano. A proteção conferida pelo leite materno é máxima nos primeiros meses de vida. Segundo a metanálise, a mortalidade por doenças infecciosas é seis vezes maior em crianças menores de 2 meses não- amamentadas, quando comparadas com crianças alimentadas no peito. Há fortes evidências epidemiológicas de que o leite materno confere proteção contra diarréia, sobretudo em crianças de baixo nível socioeconômico de países em desenvolvimento. É importante salientar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Suplementação do leite materno com água ou chás, até pouco tempo considerada inócua, pode dobrar o risco de diarréia nos primeiros 6 meses. O leite materno reduz as mortes neonatais, reduz a morbidade por infecção respiratória quando a amamentação é exclusiva, reduz o desenvolvimento de doenças crônicas, obesidade, além de proporcionar melhor nutrição, melhor desenvolvimento cognitivo, da cavidade bucal, proteção contra câncer de mama, proteção contra diabetes (para a mãe) e também efeito anticoncepcional (mulheres que amamentam apresentam períodos de amenorréia, de anovulação e de infecundidade mais prolongados, resultando em maiores intervalos inter-gestacionais e menores taxas de crescimento populacional). O leite “maduro” só é secretado por volta do 10º dia pós-parto. Nos primeiros dias, a secreção láctea é chamada de colostro, que contém mais proteínas e menos lipídios do que o leite maduro, e é rico em imunoglobulinas, em especial a IgA. A concentração de gordura no leite (e consequentemente o teor energético) aumenta no decorrer de uma mamada. Assim, o leite do final da mamada (leite posterior) é mais rico em energia e sacia melhor a criança, daí a importância de a criança esvaziar bem a mama. O leite humano possui inúmeros fatores imunológicos específicos e não-específicos que conferem proteção ativa e passiva para as crianças amamentadas. O leite materno protege a criança contra doenças infecciosas, além de diminuir a inflamação. A IgA secretória é a principal imunoglobulina, que atua contra microrganismos que colonizam ou invadem superfícies mucosas. A especificidade dos anticorpos IgA no leite humano é um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, o que proporciona proteção à criança contra os agentes infecciosos prevalentes no meio em que ela convive. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do primeiro mês, permanecendo relativamente constante a partir de então. Muitas mulheres se preocupam com a cor de seu leite. É importante saber que a cor do leite varia ao longo da mamada como decorrência das variações na sua composição e também pode variar de acordo com a dieta da mãe. Por exemplo, o leite é mais amarelado quando a mãe tem uma dieta rica em betacaroteno e esverdeado, em dietas ricas em riboflavinas. No início da mamada, o teor de água e a presença de constituintes hidrossolúveis confere ao leite coloração de água de coco (colostro); no meio da mamada, com o aumento da concentração de caseína, o leite tende a ter uma coloração branca opaca e, no final da mamada, em virtude da concentração dos pigmentos lipossolúveis, o leite é mais amarelado. O Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde adota 10 passos para alimentação saudável: 1. Dar somente leite materno até os seis meses de idade, sem oferecer água, chás ou quaisquer outrosalimentos; 2. A partir de seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais; 3. Após os seis meses, oferecer alimentação complementar (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada; 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança; 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas, purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida. 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições; 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação; 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados; 10. Estimular a criança doente e convalescente (em recuperação) a se alimentar, oferecendo a sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. Quando necessário, é importante fazer a suplementação de ferro e vitamina D. O Ministério da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde adota os “10 passos” como guia para alimentação saudável para crianças nas fases pré- escolar e escolar: 1. Procure oferecer alimentos de diferentes grupos, distribuindo-os em pelo menos três refeições e dois lanches por dia; 2. Inclua diariamente alimentos como cereais (arroz, milho), tubérculos (batatas), raízes (mandioca/macaxeira/aipim), pães e massas, distribuindo esses alimentos nas refeições e lanches ao longo do dia; 3. Procure oferecer diariamente legumes e verduras como parte das refeições da criança. As frutas podem ser distribuídas nas refeições, sobremesas e lanches; 4. Ofereça feijão com arroz todos os dias, ou no mínimo cinco vezes por semana; 5. Ofereça diariamente leite e derivados, como queijo e iogurte, nos lanches, e carnes, aves, peixes ou ovos na refeição principal; 6. Alimentos gordurosos e frituras devem ser evitados; prefira alimentos assados, grelhados ou cozidos; 7. Evite oferecer refrigerantes e sucos industrializados, balas, bombons, biscoitos doces e recheados, salgadinhos e outras guloseimas no dia a dia; 8. Diminua a quantidade de sal na comida; 9. Estimule a criança a beber bastante água e sucos naturais de frutas durante o dia, de preferência nos intervalos das refeições, para manter a hidratação e a saúde do corpo; 10. Incentive a criança a ser ativa e evite que ela passe muitas horas assistindo TV, jogando videogame ou brincando no computador. Como deve ser feito o aleitamento materno? A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca quatro pontos-chave que caracterizam o posicionamento e pega adequados: 1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo; 2. Corpo do bebê próximo ao da mãe; 3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido); 4. Bebê bem apoiado. Pontos-chave da pega adequada 1. Mais aréola visível acima da boca do bebê; 2. Boca bem aberta; 3. Lábio inferior virado para fora; 4. Queixo tocando a mama. Apesar de a sucção do bebê ser um ato reflexo, ele precisa aprender a retirar o leite do peito. Com uma pega adequada – que requer uma abertura ampla da boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também parte da aréola –, forma-se um lacre perfeito entre as estruturas orais e a mama. O vedamento é fundamental para a formação do vácuo, com pressão intra-oral negativa, o que mantém o mamilo e a aréola dentro da boca do bebê, apesar de sua natureza retrátil. Para uma boa técnica de amamentação, é importante que mãe e bebê estejam em posição confortável, que não interfira com a capacidade do bebê de abocanhar tecido mamário suficiente (cerca de 2 cm de tecido mamário além do mamilo), de retirar o leite efetivamente e de deglutir e respirar livremente. A mãe deve estar relaxada e segurar com firmeza o bebê completamente voltado para si. Numa pega ótima, os lábios do bebê ficam levemente voltados para fora. Lábios apertados são indicação de que ele não conseguiu pegar tecido suficiente. É importante enfatizar que quando a criança é amamentada numa posição adequada e tem uma pega boa, a mãe não sente dor. Quando a mama está muito cheia, a aréola pode estar tensa, dificultando a pega adequada. Em tais casos, recomenda-se, antes da mamada, a expressão manual da aréola ingurgitada. A amamentação deve ser iniciada tão logo quanto possível após o parto. A sucção precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no recém-nascido, por aumentar a motilidade gastrointestinal. A sucção espontânea do recém-nascido pode não ocorrer antes de 45 minutos a 2 horas de vida do bebê, porém o contato pele-a-pele por si só traz benefícios, tais como maior prevalências do aleitamento materno de 1 a 3 meses, maior duração do aleitamento materno, melhor regulação da temperatura corpórea e dos níveis de glicose sanguínea do recém-nascido, menos choro do bebê e maior escore na interação mãe-bebê. A amamentação na primeira hora de vida está associada a uma menor mortalidade neonatal. O recém-nascido normal mama com frequência, sem regularidade quanto a horários. É comum um bebê em aleitamento materno exclusivo mamar de 8 a 12 vezes ao dia. Água, chás e sobretudo outros leites devem ser evitados, pois há evidências de que o seu uso está associado com desmame precoce e aumento da morbimortalidade infantil. A mamadeira, além de ser uma importante fonte de contaminação, pode ter um efeito negativo sobre o aleitamento materno. Tem sido observado que algumas crianças desenvolvem preferência por bicos de mamadeira, apresentando dificuldade para amamentar ao seio. Alguns autores acreditam que a diferença entre as técnicas de sucção da mama e dos bicos artificiais possa levar à “confusão de bicos”. Já está bem documentado que a suplementação do leite materno com água ou chás nos primeiros seis meses é desnecessária, mesmo em locais secos e quentes. Mesmo ingerindo pouco colostro nos primeiros 2 a 3 dias de vida, recém-nascidos normais não necessitam de líquidos adicionais além do leite materno, pois nascem com níveis de hidratação tecidual relativamente altos. Cabe a mãe manter a amamentação até que a criança a abandone espontaneamente ou que seja interrompida em um determinado momento. Muitos são os fatores envolvidos nessa decisão: circunstanciais, sociais, econômicos e culturais. Cabe ao profissional de saúde ouvir a mãe e ajudá-la a tomar uma decisão, pesando os prós e os contras. A decisão da mãe deve ser respeitada e apoiada. O ideal é que a criança se auto desmame em torno de 2 a 4 anos e também pode acontecer antes de um ano, mas nem sempre isso acontece. Nos primeiros seis meses de vida, não é necessário nem mesmo oferecer água ao bebê, pois ela está presente em quantidade suficiente no leite. A partir dos seis meses de vida, a criança deve ter sua alimentação complementada, porém o leite deve ainda ser oferecido até o segundo ano de vida. 1) Evita mortes infantis: Graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções, ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. 2) Evita diarreia: Há fortes evidências de que o leite materno protege contra diarreia, principalmente em crianças mais pobres. É importante destacar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Oferecer à criança amamentada água ou chás, prática considerada inofensiva até pouco tempo atrás, pode dobrar o risco de diarreia nos primeiros seis meses. 3) Evitainfecção respiratória: A proteção do leite materno contra infecções respiratórias foi demonstrada em vários estudos realizados em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. Assim como ocorre com a diarreia, a proteção é maior quando a amamentação é exclusiva nos primeiros seis meses. Além disso, a amamentação diminui a gravidade dos episódios de infecção respiratória. 4) Diminui o risco de alergias: Estudos mostram que a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma e sibilos recorrentes. 5) Diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes: Essa revisão concluiu que os indivíduos amamentados apresentaram pressões sistólica e diastólica mais baixas (-1,2mmHg e -0,5mmHg, respectivamente), níveis menores de colesterol total (- 0,18mmol/L) e risco 37% menor de apresentar diabetes tipo 2. 6) Reduz a chance de obesidade: Entre os possíveis mecanismos implicados a essa proteção, encontram-se um melhor desenvolvimento da autorregulação de ingestão de alimentos das crianças amamentadas e a composição única do leite materno participando no processo de “programação metabólica”, alterando, por exemplo, o número e/ou tamanho das células gordurosas ou induzindo o fenômeno de diferenciação metabólica. 7) Melhor nutrição: Por ser da mesma espécie, o leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pequena, além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de outras espécies. 8) Efeito positivo na inteligência: Há evidências de que o aleitamento materno contribui para um melhor desenvolvimento cognitivo. 9) Melhor desenvolvimento da cavidade bucal: O exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é muito importante para o desenvolvimento adequado de sua cavidade oral, propiciando uma melhor conformação do palato duro, o que é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária. 11) Proteção contra câncer de mama 11) Menos chance de engravidar: Estudos comprovam que a ovulação nos primeiros seis meses após o parto está relacionada com o número de mamadas; assim, as mulheres que ovulam antes do sexto mês após o parto em geral amamentam menos vezes por dia que as demais. 12) Outras possíveis vantagens para as mulheres: Além da proteção contra câncer de mama e diabete tipo 2, tem sido atribuído ao aleitamento materno proteção contra as seguintes doenças na mulher que amamenta: câncer de ovário, câncer de útero; hipercolesterolemia, hipertensão e doença coronariana; obesidade; doença metabólica; osteoporose e fratura de quadril; artrite reumatoide; depressão pós-parto; e diminuição do risco de recaída de esclerose múltipla pós-parto. 13) Menores custos financeiros 14) Promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho 15) Melhor qualidade de vida: O aleitamento materno pode melhorar a qualidade de vida das famílias, uma vez que as crianças amamentadas adoecem menos, necessitam de menos atendimento médico, hospitalizações e medicamentos, o que pode implicar menos faltas ao trabalho dos pais, bem como menos gastos e situações estressantes. Além disso, quando a amamentação é bem-sucedida, mães e crianças podem estar mais felizes, com repercussão nas relações familiares e, consequentemente, na qualidade de vida dessas famílias. O leite materno pode durar até 12 horas na geladeira e 15 dias no congelador, sendo uma opção para as mães que retomam sua rotina de trabalho e para que não precise suplementar com fórmula. As mães, que por algum motivo não puderam ou não conseguiram ou optaram por não amamentar seus filhos, não devem de forma alguma se sentir menos mães ou culpadas. O amor de mãe sempre será o mesmo com ou sem amamentação, pois amor não se mede. Nesses casos, a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que a fórmula seja utilizada, ao invés de leites comuns, sempre com orientação do pediatra. Ou seja, é o pediatra quem vai indicar a melhor fórmula, mas uma comumente indicada é o Nan, ninho nunca. DÚVIDA NESSA PARTE, QUAL FÓRMULA É MELHOR? 6-Descrever os principais tipos de desnutrição infantil, mecanismos e consequências para perda ponderal da criança. A desnutrição pode ocorrer precocemente na vida intrauterina (baixo peso ao nascer) e frequentemente cedo na infância, em decorrência da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo e alimentação complementar inadequada nos primeiros dois anos de vida, associada, muitas vezes, à privação alimentar ao longo da vida e à ocorrência de repetidos episódios de doenças infecciosas diarreicas e respiratórias. A desnutrição possui múltiplos determinantes e as condições sociais da família são determinantes importantes dessa condição. No conceito ampliado da desnutrição, entende-se que é o estado de desequilíbrio entre o suprimento de energia, de nutrientes e a demanda do organismo, alterando a garantia na manutenção, no crescimento e nas funções metabólicas. Interessante observar que, por esse conceito, uma criança obesa com deficiência de ferro também apresenta desnutrição. A desnutrição entre crianças de 0 a 19 anos cresceu, no Brasil, entre os anos de 2015 e 2021, afetando de forma mais grave os meninos negros. De acordo com o Panorama da Obesidade de Crianças e Adolescentes,pelo Instituto Desiderata, há um crescimento da fome nos últimos anos, levando à desnutrição em todos os grupos etários, de 0 a 19 anos de idade. De acordo com o levantamento, o índice de desnutrição caiu de 5,2%, em 2015, para 4,8%, em 2018, aumentando a partir daquele ano em todos os grupos etários acompanhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2019, essa taxa subiu para 5,6%, atingindo 5,3%, em 2021. A desnutrição entre meninos negros (pretos e pardos), entretanto, foi dois pontos percentuais acima do valor observado entre meninos brancos, ampliando a diferença a partir de 2018. O ápice foi observado em 2019 (7,5%). Em 2020, o percentual foi 7,2% e, em 2021, 7,4%. Já entre os meninos brancos, a curva foi inversa, com redução do percentual da desnutrição a partir de 2019, quanto atingiu 5,1%, passando para 5%, em 2020, e para 4,9%, em 2021. “Os meninos negros estão sendo mais afetados pela fome, pela desnutrição. A gente pode atribuir isso à desigualdade racial e de renda no Brasil. A gente sabe que a população negra ocupa as camadas mais pobres da sociedade, em detrimento da população branca, que ocupa outros grupos, como a classe média e classes mais altas”, apontou o gestor de Projetos de Obesidade Infantil do Instituto Desiderata, Raphael Barreto, doutorando em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Elaborado a partir de dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde, gerados pelas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), o Panorama mostra aumento da insegurança alimentar de 2015 a 2021, aumentando as incidências de desnutrição e de obesidade CLASSIFICAÇÃO: A desnutrição energético-proteica (DEP) pode ser classificada como: Primária: quando há baixa ingesta alimentar. Secundária: quando há uma demanda maior por parte do organismo, por exemplo tem- se uma doença disabsortiva, cardiopatia congênita. Com relação a forma clínica, a desnutrição pode ser classificada: Intensidade: (leve, moderada e grave). Tempo: Identificam-se indivíduos emagrecidos (wasted), na fase aguda e/ou com parada de crescimento (stunted), na fase crônica. As classificações antropométricas mais utilizadas e que tem se mantido ao longo do tempo são: Gomez (modificado por Bengoa). Waterloe (modificado por Batista). OMS A metodologia utilizada para a classificação da desnutrição pelo método de Gomez é a avaliação do déficit de peso apresentado pela criança em relação ao peso do percentil 50 para a sua idade.Essa classificação é preconizada para crianças menores de 2 anos. Nessa faixa etária, o peso é o parâmetro que tem maior velocidade de crescimento, variando mais em função da idade do que do comprimento da criança. Considera-se normal a criança cujo peso for superior a 91% do percentil 50. De acordo com as perdas ponderais, classifica-se as crianças como desnutridas leves, moderadas e graves. 1- GOMEZ: 2-WATERLOW: A classificação de Waterlow baseia-se nos índices de estatura/idade (E/I) e peso/estatura (P/E). É preconizada para criança de 2 a 10 anos de idade. Nessa fase, o crescimento é mais lento e constante, fazendo com que o peso da criança varie mais em função da estatura do que da idade. Temos 4 possibilidades: * Eutrofia: E/I superior a 95% e P/E superior a 90% do p50; * Desnutrido atual ou agudo (wasting): E/I superior a 95% e P/E inferior a 90% do p50; * Desnutrido Crônico (wasting and stunting): E/I inferior a 95% e P/E inferior a 90% do p50; * Desnutrido Pregresso (stunting): E/I inferior a 95% e P/E superior a 90% do p50; OBS: Na presença de edema comprovadamente nutricional, independentemente do índice P/I, a criança será considerada como desnutrida de 3° grau. 3- OMS: Quanto à gravidade: -Moderada -Grave (Marasmo, Kwashiorkor e Kwashiorkor-marasmático) Por muito tempo, o Kwashiorkor, forma grave, não foi reconhecido como desnutrição. As causas do Kwashiorkor são complexas, mas, de acordo com Golden, a causa primária da DEP grave, em geral, associa-se com a qualidade nutricional pobre (incluindo deficiência de zinco, fosforo e magnésio), com consequente perda de apetite, comprometimento do crescimento e resposta desfavorável a infecções, modificando a resposta da criança diante do estresse ambiental. A má desnutrição energético-proteica, é um déficit energético decorrente de uma deficiência de todos os macronutrientes. Normalmente abrange deficiência de muitos micronutrientes. A DPE (desnutrição protéico-energética) pode ser repentina, gradual ou total. A gravidade varia de deficiências subclínicas até fraqueza absoluta (com edema, perda de cabelo e atrofia cutânea). Múltiplos órgãos e sistemas são prejudicados. O diagnóstico inclui testes laboratoriais, como albumina sérica. O tratamento consiste na correção de líquidos e déficits nutricionais com soluções e na gradual reposição dos nutrientes, por via oral, conforme as possibilidades. Classifica-se a desnutrição proteico-energética em leve, moderada ou grave. A classificação é determinada calculando-se a porcentagem do peso esperado em relação à estatura ou à altura esperada utilizando-se padrões internacionais (normal, 90 a 110%; leve:85 a 90%; moderada, 75 a 85%; grave, < 75%). A inanição total (carência de algo essencial à vida) é fatal em 8 a 12 semanas. Assim, certos sintomas da DPE não têm tempo de se desenvolver. A partir do momento que a criança passa a consumir alimentos proteicos é importante que tenha na sua dieta: Proteína: vegetal (carne, fígado, peixe, galinha e ovos de capoeira, queijo, leite, rim, língua, tripa, camarão, iogurte etc) e animal (leguminosas e cereais (feijões, favas, lentilhas, trigo integral, arroz integral, aveia, soja, farelo de trigo). Sementes (de jerimum, girassol, gergelim, amendoim, castanha-de-caju, castanha-do-pará, amêndoas, nozes). Folhas (de chuchu, macaxeira, beterraba,couve, jerimum). Vitaminas e minerais: são alimentos ricos em vitaminas e sais minerais que protegem nosso corpo contra as doenças, infecções, gripes, aumentando a resistência do organismo. Participam da formação e fortalecimento dos ossos e tecidos. Previnem certos tipos de câncer e evitam o envelhecimento precoce. Participam de todas as reações químicas do organismo. Alguns minerais estão envolvidos no processo de crescimento. Como o corpo não é capaz de produzi-los, devem ser obtidos através da grande variedade de alimentos em que estão presentes. Os principais minerais são: cálcio, fósforo, ferro, sódio, potássio, magnésio, manganês, flúor, iodo, cobre, zinco. As vitaminas e sais minerais se encontram em todos os legumes, verduras, folhas verdes e frutas: goiaba, banana, laranja, limão, manga, abacaxi, pimentão, cenoura, beterraba, folhas de macaxeira,batata-doce, chuchu, couve, bredo, mostarda, espinafre. Água: A maior parte de nosso corpo é formada de água. A água também faz parte de uma boa alimentação. Ela desempenha papel essencial em quase todas as funções do corpo humano. É utilizada para digestão e absorção, para o transporte de nutrientes, e ajuda a manter a temperatura do corpo estável. Tem ainda grande importância na prevenção da desidratação, bem como para evitar a sobrecarga renal e a prisão de ventre. Fibras: As fibras alimentares são substâncias presentes nas frutas e hortaliças que não fornecem energia. A maioria das fibras provém das frutas, vegetais, feijões, ervilhas e outros leguminosas, cereais, grãos e sementes. Entre os principais efeitos das fibras na dieta estão a prevenção da prisão de ventre, sensação de saciedade, pelo atraso do esvaziamento do estômago, tornando mais lenta a digestão e absorção de nutrientes, aumento do bolo fecal, regularização do trânsito intestinal. Ainda auxilia na redução dos níveis elevados de colesterol no sangue, diminui a probabilidade de doenças do coração, câncer de cólon, diabetes e outros distúrbios gastrintestinais e ajuda a controlar o peso. 7-Reconhecer as consequências das principais carências alimentares e nutricionais na 1ª infância e a oferta de alimentos inadequados. Apesar de grandes avanços ocorridos nas últimas décadas, pelo menos uma em cada três crianças menores de 5 anos ao redor do mundo – o que corresponde a aproximadamente 250 milhões de crianças – não está se desenvolvendo de forma adequada devido à desnutrição crônica ou ao excesso de peso, segundo dados do relatório Situação mundial da infância 2019. 3 A deficiência de vitaminas e outros nutrientes essenciais atinge pelo menos uma em cada duas crianças menores de 5 anos e quase duas em cada três crianças entre 6 meses e 2 anos não recebem os alimentos de que precisam. Essa carência, além de colocar em risco seu desenvolvimento físico, provoca dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infecções e, em muitos casos, pode levar à morte. Por outro lado, há cerca de 40 milhões de crianças menores de 5 anos de idade com excesso de peso, que corresponde a sobrepeso e obesidade. Na América Latina e no Caribe, o UNICEF, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial estimam que 7,5% das crianças menores de 5 anos, o que corresponde a cerca de 4 milhões de crianças, apresentavam excesso de peso em 2020 – índice maior do que a média global, que é de 5,7%.4 Isso se deve principalmente à mudança de estilo de vida e aos hábitos alimentares com destaque para o consumo cada vez maior de alimentos ultraprocessados, a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e à falta de atividade física. Os dados comprovam essa realidade. Somente duas em cada cinco crianças com menos de 6 meses de idade são amamentadas exclusivamente, conforme recomendado. Apenas uma em cada cinco crianças de 6 a 23 meses de famílias que vivem em áreas rurais mais pobres recebe a diversidade alimentar mínima recomendada para um crescimento e desenvolvimento saudável. Sob essa ótica, teremos crianças com a imunidade comprometida, mais suscetível as doenças infecto contagiosas, apresentando seja desnutrição leve, moderada, grave ou obesidade, afetando todos os seus sistemas, impactando na saúde pública e aumentando o risco de morte. 8- Relacionar condições socioeconômicas e culturais com o crescimento e desenvolvimento infantis A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a estratégia global para alimentação de lactentes e crianças pequenas, que visa a revitalizar os esforços no sentido de promover,proteger e apoiar adequadamente a alimentação das crianças. Em todo o mundo cerca de 30% das crianças menores de cinco anos apresentam baixo peso, como consequência da má alimentação e repetidas infecções. Mesmo em países em desenvolvimento, com escassez de recursos, a ênfase em ações de orientação alimentar pode conduzir a melhores práticas alimentares, levando ao melhor estado nutricional. Nas últimas décadas, avançou-se muito nas evidências das necessidades biológicas das crianças, o que possibilita recomendar práticas alimentares que propiciam o crescimento adequado das crianças. A partir dos seis meses de idade, a alimentação tem a função de complementar a energia e outros nutrientes necessários para o crescimento saudável e pleno desenvolvimento das crianças. As situações mais comuns relacionadas à alimentação complementar oferecida de forma inadequada são: anemia, deficiência de vitamina A, outras deficiências de micronutrientes, excesso de peso e desnutrição. Aproximadamente 200 milhões de crianças menores de cinco anos, residentes em países em desenvolvimento, não atingem seu potencial de desenvolvimento. E as deficiências nutricionais, entre elas a anemia é apontada como um dos determinantes que prejudicam o desenvolvimento das crianças. Essas crianças possuem maior probabilidade de baixo rendimento escolar, o que provavelmente contribuirá para a transmissão intergeracional da pobreza com implicações para o desenvolvimento de um país. 9- Reconhecer a importância da puericultura para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil pela atenção primária à saúde A PUERICULTURA NO CONTEXTO DA CONSULTA PEDIÁTRICA A consulta médica pediátrica é a etapa do processo de atenção integral à saúde da criança que envolve procedimentos técnicos, particularmente diagnósticos e terapêuticos, associados a um conjunto de ações comportamentais, cognitivas e humanas, bem como a atitudes e interações que compõem a relação médico-paciente- família. Ela é composta por diversas ações, em especial: o acompanhamento do processo de crescimento e desenvolvimento. a identificação de situações de risco as quais as crianças estão submetidas. a identificação, o diagnóstico e o encaminhamento terapêutico de processos mórbidos. o estabelecimento de condutas gerais de acompanhamento de saúde da criança, incluindo a orientação antecipatória. Entre as consultas pediátricas, as consultas de puericultura, também chamadas de “consultas de revisão”, ocupam uma parcela preponderante da atividade do pediatra e envolvem ações de cuidados de saúde preventivos da criança, desde o pré-natal até́ o final da adolescência. Na atualidade, a puericultura é uma ciência que agrega noções de fisiologia, de higiene e de sociologia em um complexo abrangente de ações promotoras de saúde exercidas com foco na criança (mas contemplando sua família e sua comunidade), da gestação até o fim da adolescência, de modo a propiciar-lhe o melhor nível de desenvolvimento físico, emocional, intelectual, moral e social. Tais ações incluem práticas definidas, como apreciação de fatores individuais e ambientais de proteção e de ameaça à saúde, monitoração do desenvolvimento, imunizações, testes de rastreamento, orientação antecipatória (sobre inúmeros condicionantes da saúde, como nutrição, hábitos de vida, disciplina e segurança) e aspectos selecionados do exame físico. ANAMNESE ► A anamnese é o procedimento no qual os pais ou a própria criança fornecem informações que definirão seu contexto e sua história, bem como a história de uma eventual situação mórbida. Trata-se de um momento fundamental, já que aí se reconhece a relação de dependência da criança com seu microambiente, compondo um complexo de dados que precisam ser adequadamente interpretados. Roteiro de Anamnese: IDENTIFICAÇÃO MOTIVO DA CONSULTA ► Registro das queixas que motivaram a consulta ou seus objetivos, usando as palavras do informante e uma numeração que respeite prioridades. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL ► Resumo cronológico do problema, duração, pro- gressão, intervenções prévias e procedimentos terapêuticos (orientados ou não por profissional de saúde). REVISÃO DOS SISTEMAS ► Geral (febre, cefaleia, irritabilidade, ganho ou perda ponderal), pele (alterações nos fâneros, ardência, cianose, coloração anormal, equimoses, lesões, palidez, petéquias, prurido, rubicundez, secura) Olhos: (secreção, hiperemia), nariz : (coriza, obstrução nasal), orelha (otalgia, acuidade auditiva), respiratório (tosse, expectoração), digestório (vômito, dor abdominal, diarreia, constipação, eliminação de vermes), geniturinário (disúria, hematúria, enurese, polaciúria), musculoesquelético (dor, calor, rubor em articulações ou músculos, parestesias ou paralisias de grupos musculares especiais), sistema nervoso (tremores, convulsões, desmaio), personalidade (desobediência, hiperatividade, irritabilidade, medo, preguiça, temperamento difícil ou destrutivo, timidez, tristeza), comportamento (hábito de chupar dedo, dificuldade de relacionamento, fobia escolar, gagueira, masturbação, transtornos alimentares, distúrbios do sono, problemas sexuais, roubo, uso de drogas [álcool, tabaco, outras drogas]). SUPERVISÃO DE SAÚDE ► Teste de triagem (neonatal/teste do pezinho, visão, audição e coraçãozinho/oximetria de pulso); história vacinal (número de doses e idade em que foram aplicadas as vacinas, assim como possíveis efeitos adversos); prática de exercício físico (frequência, tipo de exercício); hábitos de segurança (assento/cinto de segurança no automóvel, grades em piscinas/ janelas, uso de boia/colete salva-vidas, conhecimento de normas de conduta do pedestre no trânsito, possibilidade de contato com medicamentos, plantas tóxicas e produtos químicos); cuidados dentários (visitas ao dentista, aplicação tópica de flúor, escovação, fio dental). HISTÓRIA PERINATAL ► Número de consultas pré-natais, testes sorológicos, intercorrências durante a gestação, tipo de parto, idade gestacional, peso e comprimento ao nascer, índice de Apgar, dados antropométricos ao nascer (peso, comprimento, perímetro cefálico, perímetro torácico), período neona- tal imediato (problemas respiratórios, cianose, icterícia, problemas alimenta- res, infecção, convulsão, necessidade de tratamento especial – incubadora, oxigênio, medicação, fototerapia, cateterismo de vasos umbilicais, ventilação mecânica, tempo de hospitalização, condições de alta, peso na alta). CRESCIMENTO ► Uso de curvas padronizadas para monitoração do crescimento. Tendência à obesidade. DESENVOLVIMENTO: conquista dos marcos do desenvolvimento (controle esfíncteriano, disciplina, relacionamentos, marcos sociais, período do sono, despertares noturnos, onde dorme), processo de adaptação e rendimento escolar. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA ► Resumo de doenças significativas, trau- mas, internações, cirurgias, alergias, doenças crônicas e uso de medicamen- tos em longo prazo, uso de hemoderivados. HISTÓRIA ALIMENTAR ► Período de amamentação exclusivo, início do processo de desmame, aceitação dos alimentos pela criança, padrão alimentar atual. HISTÓRIA FAMILIAR ► Desenho de um heredograma; registro da idade e do estado de saúde de pais e irmãos e doenças familiares (alergia, asma, diabetes, cardiopatia, convulsões com ou sem febre, hemofilia, hipertensão arterial, pneumopatia crônica, retardo de desenvolvimento, tuberculose). HISTÓRIA SOCIAL ► Perfil socioeconômico, característica da habitação (quantas pessoas residem, condições de saneamento básico, umidade, ventilação, animais domésticos), formação educacional dos pais, situação conjugal dos pais, lazer (quais brincadeiras, com quem brinca, frequência de passeios, quantas horas diárias assiste televisão, utiliza computadores, videogames ou telefone celular), quem toma conta da criança e onde, ocorrência de bullying no ambiente escolar.Convém ressaltar que o bullying é um problema de saúde pública com dimensões cada vez maiores. Envolve atos de violência sica ou psicológica, intencionais e repetidos. Ocorre principalmente nas escolas e pode ser detectado precocemente com a observação da alteração do comportamento. A revelação pela criança quanto à ocorrência de maus-tratos é rara, por ter vergonha ou medo de represálias. Reconhecendo o problema, cabe ao pediatra orientar as formas de prevenção e conduta a pais, crianças e docentes; quando necessário, deve-se encaminhar para auxílio psicológico; deve-se atuar na prevenção da violência escolar defendendo os direitos da criança. EXAME FÍSICO ► O exame começa no instante em que a criança entra no consultório. A simples observação fornece informações valiosas sobre o desenvolvimento, a postura e o relacionamento. Deve-se oferecer à criança alguns momentos para que se familiarize com o examinador e com o ambiente. A ordem em que os sistemas orgânicos são examinados deve levar em conta a manutenção de uma criança tranquila. Torna-se importante o estabelecimento de um grau de confiança, evitando-se a iminência de dor ou uma resposta emocional. Os procedimentos dolorosos ou desagradáveis devem ser deixados para o fim do exame. ESTADO GERAL ► Deve-se caracterizar genericamente como bom, regular ou ruim, e descrever o tipo de expressão facial ou a presença de fácies típicas de determinadas doenças (p. ex., síndrome de Down). No caso de fácies incaracterística, deve-se evitar o uso da expressão “atípica”, a qual indica desvio da normalidade. ATITUDE ► Devem ser observados atividade, posições eletivas, choro fácil, irritabilidade, depressão, torpor. AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA ► Deve-se registrar os dados de peso, estatura, índice de massa corporal, perímetro cefálico nos gráficos apropriados. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ► Devem ser observados panículo adiposo ou ema- ciação. SINAIS VITAIS ► Temperatura em recém-nascidos: deve-se aferir a temperatura axilar com termômetro eletrônico; entre um mês e cinco anos, a temperatura axilar deve ser medida com termômetro eletrônico ou de mudança de fases (matriz de pontos), ou ainda termômetro infravermelho timpânico; em maiores de cinco anos, a temperatura oral ou retal deve ser medida com termômetro eletrônico. Frequência de pulso: a medida da frequência de pulso na criança é feita por palpação dos pulsos periféricos ou ausculta cardíaca direta. Frequência respiratória: devem ser observadas, além da frequência, a amplitude e a facilidade ou dificuldade dos movimentos respiratórios, das incursões abdominais (principalmente no início da infância, quando predomina a respiração diafragmática e a incursão torácica é mínima); ausculta do tórax e observação direta ou palpação do movimento torácico, nas crianças maiores. Os valores das frequências cardíaca e respiratória variam de acordo com a idade. Pressão arterial (PA): a PA deve ser medida rotineiramente a partir dos três anos na criança assintomática. A escolha do manguito apropriado para cada criança é essencial na mensuração adequada da PA. A bolsa de borracha do manguito deve circundar 80 a 100% da circunferência do braço; sua largura deve ser no mínimo igual a 40% da circunferência do braço. Ao ser colocado no braço, o manguito deve deixar espaço suficiente, tanto na fossa antecubital, para a colocação do estetoscópio, como na parte superior, evitando a obstrução da axila. É conveniente, ao registrar o exame físico, descrever o manguito utilizado e a posição em que foi mensurada a PA. Devem-se registrar os percentis correspondentes aos níveis tensionais sistólico e diastólico, consultando as tabelas de PA para idade e altura. Pele e anexos: deve-se observar alterações na coloração (cianose, icterícia, palidez, rubicundez) e na textura da pele. Deve-se também descrever as lesões (hemangiomas, nevos, máculas, pápulas, pústulas, petéquias, etc.), bem como sua localização. CABEÇA ► NEUROLÓGICO ► Deve-se avaliar a função cerebral por meio de comportamento geral, consciência, memória, orientação, comunicabilidade e compreensão, fala, escrita e atividade motora. Os reflexos, a motricidade e a função cerebelar devem ser avaliados por meio de testes simples de coordenação, de equilíbrio e de marcha. CARDIOVASCULAR ► Deve-se palpar o ictus e avaliar presença de frêmitos, ausculta cardíaca (deve-se determinar se há́ sopros ou estalidos, aspecto das bulhas), palpação de pulsos. RESPIRATÓRIO ► Deve-se avaliar expansibilidade torácica, tipo respiratório, ritmo, ausculta murmúrio vesicular e ruídos adventícios (crepitantes, sibilos, estridor). ABDOME ► A forma e o volume devem ser avaliados, assim como hérnias, ausculta de ruídos hidraéreos, palpação superficial e profunda, determinação da presença ou ausência de massas e/ou visceromegalia. REGIÃO GENITAL E PERIANAL ► Na genitália feminina, deve-se inspecionar a vulva e o orifício himenal, e verificar a presença de secreção vaginal e sinéquia de pequenos lábios. Na genitália masculina, deve-se verificar a retração do prepúcio e palpar os testículos. A criança deve ser colocada em um dos cinco estágios de desenvolvimento sexual segundo os critérios de Tanner. MEMBROS ► Deve-se descrever deformidades e simetria, e avaliar articulações, observando sinais inflamatórios (edema, calor, rubor e dor), alterações da mobilidade (limitação ou hipermobilidade), nódulos. Articulação do quadril: no recém-nascido, deve-se realizar a manobra de Ortolani: posiciona-se a criança com as coxas flexionadas em ângulo reto e se realizam manobras de abdução. Suspeita-se de luxação quando há́ limitação da abdução, assimetria ou percepção tátil da fuga da cabeça do fêmur do acetábulo. Nos lactentes, deve-se comparar a simetria da abdução, das pregas glúteas e das fossas poplíteas. Mãos e pés: deve-se observar dedos extranumerários, baqueteamento digital, linha simiesca, clinodactilia, sindactilia; examinar os pés sob o ponto de vista estático (sem carga: criança sentada; com carga: criança em pé) e dinâmico (observação da marcha), e fazer manipulação passiva para avaliar a flexibilidade dos pés. AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA BÁSICA ► Deve sempre ser feita durante o exame físico, assim como durante a anamnese. A avaliação dos seguintes itens poderá dar um perfil psiquiátrico da criança, acrescido da história relatada pelo responsável: (a) atitude frente ao ambiente e ao examinador; (b) temperamento; (c) desenvolvimento perceptivo; (d) nível intelectual; (e) comportamento emocional; (f) expressão verbal. Frequência de consultas: Nos primeiros 2 anos de vida as consultas são mais frequentes devido ao processo de crescimento e desenvolvimento ser mais intenso, por isso, no 1° ano de vida é recomendado um mínimo de 7 consultas de rotina, na 1°/2°/4°/6°/9° e 12° mês. No 2° ano de vida, deve se ter um mínimo de 2 consultas de rotina: no 18°e 24° mês. A partir dos 2 anos de idade as consultas podem se tornar anuais. 10- Reconhecer a aplicação dos programas de vigilância nutricional do Ministério da Saúde (SISVAN). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional busca descrever as condições de nutrição e alimentação de uma população, e seus fatores determinantes, com fins ao planejamento e avaliação dos efeitos de políticas, programas e intervenções. A Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN - destina-se ao diagnóstico descritivo e analítico da situação alimentar e nutricional da população brasileira, contribuindo para que se conheça a natureza e a magnitude dos problemas de nutrição, identificando áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais. Um outro objetivo é avaliar o estado nutricional de indivíduos para obter o diagnóstico precoce dos possíveis desvios nutricionais, seja baixo peso ousobrepeso/obesidade, evitando as consequências decorrentes desses agravos à saúde. O Sistema atenderá a clientela assistida pelo SUS. A população atendida é formada por indivíduos, de qualquer fase do ciclo de vida (criança, adolescente, adulto, idoso e gestante) que procurar por demanda espontânea um Estabelecimento Assistencial de Saúde - EAS ou que é assistida pelos Programas Saúde da Família - PSF e Agente Comunitário de Saúde - PACS e outros vinculados ao SUS. Princípios que norteiam as ações do SISVAN: Sistema: uma organização com atividades padronizadas, complementares ou interdependentes e com tarefas definidas, tendo o papel de receber dados, transformá-los em informação e divulgá-las à sociedade, buscando dar respostas aos resultados encontrados por intermédio de ações de promoção à saúde, prevenção e cura de doenças. Com essas ações, o sistema possibilita a identificação de grupos de risco biologicamente vulneráveis e utiliza os resultados para o monitoramento da saúde e nutrição da população; Vigilância: atividades continuadas e rotineiras de observação, coleta, análise de dados e informação; Alimentar: aspectos que envolvem a produção, a comercialização e o acesso aos alimentos; Nutricional: refere-se ao estado nutricional do indivíduo, ou seja, o resultado do acesso e ingestão dos alimentos e de sua utilização biológica.