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<p>trabalho de conclusão</p><p>de curso</p><p>Proposta Interdisciplinar</p><p>Professora Responsável: Mônica Cruz</p><p>1º Momento</p><p>Estudo teórico</p><p>Querido(a) aluno(a):</p><p>Vamos iniciar nossos estudos?</p><p>Nas três primeiras semanas da disciplina de TCC –</p><p>TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: proposta</p><p>interdisciplinar, você realizará:</p><p>1 - Na primeira seção, o Memorial Acadêmico, a</p><p>partir da teoria dos Gêneros do Discurso, filiada aos</p><p>estudos do filósofo russo Mikhail Bakhtin (1997),</p><p>considerando o fenômeno a partir de um ponto de</p><p>vista dialógico nas três dimensões que o constituem:</p><p>conteúdo temático, estrutura composicional e estilo.</p><p>2 - Na segunda seção, os conceitos de memória e</p><p>narrativa em Benjamin (1994, 2006) e de memória</p><p>em Ricouer (2007). Com esses autores, ensaiamos</p><p>algumas reflexões sobre a experiência de composição</p><p>narrativa das memórias como fundamento</p><p>epistemológico da escrita autobiográfica.</p><p>ESCRITA DO MEMORIAL</p><p>3 - Nessas três primeiras semanas, a partir dos</p><p>estudos teóricos, você escreverá o seu Memorial</p><p>Acadêmico.</p><p>ESTUDO TEÓRICO</p><p>O estudo do gênero do discurso “Memorial</p><p>Acadêmico” requer a compreensão dos elementos</p><p>que constituem esse tipo de enunciado, uma vez</p><p>que eles refletem as especificidades de uma</p><p>determinada atividade de comunicação.</p><p>Tal perspectiva de estudos está ancorada na</p><p>obra Estética da criação verbal, em que Bakhtin</p><p>(1997) define os gêneros do discurso como</p><p>conjuntos relativamente estáveis de enunciados,</p><p>decorrentes da atividade discursiva que se institui</p><p>no interior de uma dada esfera de atividade</p><p>humana.</p><p>Conforme essa teoria, a linguagem se manifesta</p><p>sob a forma de enunciados orais e escritos,</p><p>concretos e únicos, no desempenho de uma função</p><p>social/comunicativa instituída no interior de uma</p><p>esfera de atividade humana (jornalística,</p><p>acadêmica, hospitalar, escolar, midiática, entre</p><p>muitas outras) e, assim como são inúmeras as</p><p>esferas de atividade humana, também são</p><p>diversos os gêneros do discurso.</p><p>1.GÊNERO NA PERSPECTIVA DA TEORIA BAKHTINIANA</p><p>4</p><p>A esfera acadêmica, especificamente, institui</p><p>diferentes atividades de ensino, pesquisa e</p><p>extensão. Em função disso, é possível afirmar que</p><p>muitos gêneros provêm dessa esfera, tais como:</p><p>relatórios, planos de aula, ementas, artigos,</p><p>resumos, resenhas, fichamentos, reuniões, aulas,</p><p>orientações, conversas “de corredor”, memoriais, etc.</p><p>Desse modo, essa diversidade aponta para a</p><p>existência de uma variabilidade de situações</p><p>comunicativas, em que a enunciação se ancora na</p><p>função social/comunicativa que constituem os</p><p>enunciados de um determinado gênero.</p><p>Por sua vez, de acordo com Bakhtin (1997), os</p><p>enunciados que compõem um determinado gênero</p><p>podem ser analisados em três dimensões</p><p>indissociáveis, a saber: conteúdo temático,</p><p>construção composicional e estilo, das quais</p><p>falaremos mais no próximo item deste manual,</p><p>considerando o gênero Memorial Acadêmico como</p><p>exemplar das reflexões realizadas.</p><p>5</p><p>1.1 Aspectos Temáticos</p><p>Os temas que se apresentam em uma situação</p><p>de comunicação são determinantes para a</p><p>instituição dos enunciados. Bakhtin (1997) afirma</p><p>que o enunciado é caracterizado sobretudo pelo</p><p>conteúdo temático, pois é o ponto de partida da</p><p>enunciação que será posta em curso,</p><p>determinando, assim, as demais particularidades</p><p>da sua produção: composição e estilo.</p><p>Com base nisso, salientamos que o conteúdo</p><p>temático de um Memorial Acadêmico, como a</p><p>própria terminologia do gênero permite entrever,</p><p>tem estreita ligação com memórias, recordações,</p><p>lembranças, enfim, elementos da ordem das</p><p>reminiscências. Considerando que essas</p><p>reminiscências estão atreladas a um campo</p><p>específico de atividade humana, o campo</p><p>acadêmico, observa-se que o estatuto dessas</p><p>memórias se desenvolve sob o espectro da</p><p>formação acadêmica, ou seja, da trajetória de</p><p>escolarização de um determinado sujeito.</p><p>5</p><p>Assim compreendido, o Memorial Acadêmico é</p><p>a produção resultante das contexturas que o aluno</p><p>concluinte de curso faz a partir das memórias que</p><p>se entretecem no e com o seu processo formativo</p><p>acadêmico, articulando vivências, razões e</p><p>representações dos saberes escolares e de</p><p>experiência.</p><p>Segundo Severino (2007, p. 245):</p><p>6</p><p>O Memorial constitui, pois, uma</p><p>autobiografia, configurando-se como</p><p>uma narrativa simultaneamente</p><p>histórica e reflexiva. Deve então ser</p><p>composto sob a forma de um relato</p><p>histórico, analítico e crítico, que dê</p><p>conta dos fatos e acontecimentos que</p><p>constituíram a trajetória acadêmico-</p><p>profissional de seu autor, de tal modo</p><p>que o leitor possa ter uma informação</p><p>completa e precisa do itinerário</p><p>percorrido.</p><p>Com a abordagem dos fatos e dos</p><p>acontecimentos dessa trajetória, o Memorial</p><p>compõe um artefato sociocultural e historicamente</p><p>contextualizado. Não se trata, portanto, de uma</p><p>narrativa simples de algumas histórias, mas, ao</p><p>contrário, de uma artesania que é, ao mesmo</p><p>tempo histórica e reflexiva. Essa característica se</p><p>enuncia precisamente porque a produção do</p><p>memorial exige o feitio de olhares entrançados a</p><p>partir de um lugar exterior. Assim, a revisitação</p><p>de memórias, vivências, razões e representações</p><p>para instituição do memorial acadêmico</p><p>oportuniza ao aluno compreender os porquês de</p><p>suas escolhas, permitindo-lhe situar sua</p><p>experiência de formação no interior da narrativa,</p><p>cujas tessituras se dão na coletividade e na relação</p><p>com o outro, ao mesmo tempo que revela a</p><p>composição de suas subjetividades.</p><p>7</p><p>Como se trata de um Memorial</p><p>Acadêmico, as vivências, as</p><p>experiências e a aprendizagem têm que estar</p><p>relacionadas com o que se passou no âmbito de</p><p>escolarização e que tenha contribuído para a</p><p>escolha da graduação e o percurso de realização</p><p>dela. Assim, é importante retomar lembranças</p><p>desde o período da Educação Básica – Educação</p><p>Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio –</p><p>tudo o que tenha sido marcante e, por isso, ganhou</p><p>um lugar especial na memória.</p><p>Cabe ressaltar que, o fato de ser acadêmico e</p><p>se reportar à academia enquanto escolarização,</p><p>cuja projeção se remete aos espaços e tempos de</p><p>Ensino escolarizado, não exclui as aprendizagens</p><p>adquiridas em espaços informais que tenham</p><p>contribuído para a consolidação dos conhecimentos</p><p>construídos nos bancos acadêmicos Como exemplos</p><p>desses espaços, podemos citar: os espaços físicos – a</p><p>moradia, o clube, a igreja, o shopping, museus,</p><p>entre outros; e os espaços virtuais – sites, redes</p><p>sociais, whatsApp, aplicativos (de jogos,</p><p>animações, apresentações, vídeos, músicas) e</p><p>tantos outros.</p><p>. 8</p><p>Os agentes que participam do</p><p>processo de ensino-aprendizagem que</p><p>constitui o profissional também não são restritos à</p><p>equipe escolar e acadêmica de professores e outros</p><p>profissionais da educação que participaram do</p><p>percurso formativo. Outros agentes, como avós,</p><p>pais, amigos, vizinhos, parentes, colegas, e uma</p><p>infinidade de pessoas com as quais nos</p><p>interrelacionamos numa troca e aquisição de</p><p>conhecimentos dos mais variados tipos, também</p><p>podem ser relembrados como participativos dessa</p><p>memória acadêmico-biográfica-profissional.</p><p>Portanto, na produção do Memorial Acadêmico,</p><p>o(a) autor(a)/aluno(a) pode recorrer e mobilizar</p><p>toda essa gama de memórias adquiridas ao longo</p><p>da sua vivência, sem deixar de levar em conta que</p><p>se trata de contextualizá-las como conhecimentos</p><p>específicos que atuam para a produtividade do</p><p>processo de ensino-aprendizagem, estreitamente</p><p>ligado aos conhecimentos acadêmicos.</p><p>9</p><p>1.2 Aspectos Composicionais</p><p>Os aspectos composicionais, isto é, a estrutura</p><p>formal dos enunciados que compõem o gênero</p><p>refere-se à arquitetura do texto, colocando em</p><p>relevo os recursos linguísticos – lexicais e</p><p>gramaticais – operacionalizados na construção da</p><p>forma de apresentação oral ou escrita do</p><p>enunciado como um todo, mas não apenas.</p><p>Conforme Bakhtin (1997), a estrutura de um</p><p>enunciado, além de manter estreita relação com as</p><p>dimensões do tema e do estilo, deve ser</p><p>compreendida como fruto de um momento sócio-</p><p>histórico em que se enuncia, o que permite levar</p><p>em conta a situação comunicativa em que se</p><p>instituem os parceiros da interlocução, o</p><p>espaço e</p><p>tempo em que a enunciação ocorre. Desse modo, a</p><p>estrutura composicional não pode ser confundida</p><p>com uma “receita” de produção textual, pois, por</p><p>mais “invariável” que se apresente a ideia de um</p><p>gênero, ele é sempre um conjunto relativamente</p><p>estável de enunciados no interior de uma dada</p><p>esfera de atividade humana.</p><p>10</p><p>Todavia, o Memorial Acadêmico</p><p>cumpre a função de registrar o percurso formativo</p><p>por meio de memórias. Considerando essa</p><p>característica, a narração é sempre um traço</p><p>constitutivo da composição desse tipo de</p><p>enunciado, pois a memória somente se apresenta</p><p>em forma de pretérito, daquilo que já aconteceu e</p><p>ainda pode estar acontecendo. Como sua estrutura</p><p>não é fixa, tomada como uma “receita” de texto</p><p>esgotado, outras tipologias textuais se apresentam</p><p>no âmbito da memória, que também pode ser</p><p>descritiva, argumentativa, injuntiva, expositiva e</p><p>dissertativa. Isto é, mesmo que a narração se</p><p>comporte como o principal traço da estrutura do</p><p>Memorial, o fato mesmo de ele decorrer das</p><p>memórias permite que as recordações se</p><p>apresentem como a descrição de personagens,</p><p>espaços e objetos; como afirmações a respeito das</p><p>memórias retomadas; como argumentos na defesa</p><p>de um dado ponto de vista; como instruções</p><p>decorrentes da experiência narrada; e como</p><p>questões que se apresentam à memória do autor.</p><p>11</p><p>Nesse sentido, é importante destacar que a</p><p>narração implica elementos essenciais a essa</p><p>prática discursiva no que diz respeito à</p><p>instauração de: um narrador, um tempo, um</p><p>espaço, de fatos e personagens que se apresentam</p><p>à recordação. Vale destacar que o memorialista é,</p><p>ao mesmo tempo, o autor, o narrador e o</p><p>protagonista, por isso o uso da primeira pessoa do</p><p>discurso no singular pode ser bastante recorrente</p><p>no conjunto de enunciados que podem ser</p><p>analisados como constituintes do gênero Memorial</p><p>Acadêmico.</p><p>Como já dito, em se tratando de narrativa,</p><p>o tempo é o passado, com informações sempre</p><p>situadas em um contexto sócio-histórico, uma</p><p>retrospectiva em ordem cronológica, o que pode</p><p>não implicar linearidade, uma vez que a memória</p><p>não se apresenta em uma linha reta e invariável,</p><p>é construída por retomadas, permitindo ao</p><p>memorialista flutuar no tempo psicológico em</p><p>virtude das suas vivências subjetivas.</p><p>12</p><p>O espaço também sofre nuances entre espaço físico</p><p>(interno e externo), espaço social (coletivo,</p><p>histórico) e espaço psicológico (ambientado pelas</p><p>emoções do autor).</p><p>Quanto à apresentação escrita do Memorial</p><p>Acadêmico, prototipicamente a estrutura</p><p>composicional é organizada a partir de três</p><p>elementos, são eles: os pré-textuais, os textuais e os</p><p>pós-textuais. Os Pré-Textuais correspondem à</p><p>Capa, Folha de Rosto, Dedicatória,</p><p>Agradecimentos e Epígrafe. Os Textuais, por sua</p><p>vez, são constituídos pela Introdução,</p><p>Desenvolvimento (relato autobiográfico e reflexivo</p><p>de formação acadêmica) e Considerações Finais.</p><p>Por fim, os elementos Pós-Textuais dizem respeito</p><p>às Referências e aos Anexos (que podem se</p><p>apresentar como necessários). No Apêndice A</p><p>deste eBook, abordaremos as particularidades de</p><p>conteúdo e formatação de cada parte que compõe</p><p>a estrutura prototípica do gênero estudado.</p><p>13</p><p>1.3 Aspectos Estilísticos</p><p>O vocábulo estilo pode ter várias acepções de</p><p>sentido, dentre elas destacamos “[...] a maneira</p><p>particular e pessoal de se expressar através da</p><p>escrita[...]” (Dicionário Online da língua</p><p>Portuguesa).</p><p>Bakhtin (1997) avalia que “quando há estilo,</p><p>há gênero”. Conforme afirmamos, há uma grande</p><p>variedade de gêneros que são produzidos no</p><p>interior de uma esfera de atividade. Na esfera</p><p>acadêmica, em específico, há aqueles que</p><p>apresentam maior estabilidade no que diz respeito</p><p>à tema, composição e estilo que outros. Por</p><p>exemplo, as pesquisas científicas podem, muitas</p><p>vezes, ser analisadas com base em aspectos muito</p><p>prototípicos do discurso acadêmico, cujo rigor</p><p>científico apresenta-se por meio de um tom de</p><p>“autoridade”, advindo do método e da testagem de</p><p>hipóteses e dados desse tipo de produção humana.</p><p>A esse tom pode-se atribuir a classificação de estilo</p><p>do gênero “pesquisa científica”.</p><p>14</p><p>Entretanto, outros gêneros dessa</p><p>mesma esfera, comumente não são</p><p>determinados pelo mesmo estilo formal e de</p><p>autoridade da “pesquisa científica”. Embora se</p><p>submetam às mesmas regras de funcionamento da</p><p>esfera acadêmica, que não admite cópias e</p><p>imprecisão, por exemplo, enunciados de gêneros</p><p>como o Memorial Acadêmico podem revelar</p><p>maior variabilidade no que é tomado como o</p><p>protótipo de estatuto temático, composicional e</p><p>estilístico da enunciação. Sendo assim, mesmo que</p><p>o Memorial cumpra uma função</p><p>social/comunicativa da esfera acadêmica, seu</p><p>estilo pode ser mais pessoalizado em comparação a</p><p>outros gêneros, com traços mais evidentes da</p><p>subjetivação de quem o produz, o que advém do</p><p>fato de ser um tipo de texto que decorre das</p><p>memórias que, por sua vez, sempre causam certa</p><p>afetividade e consternação ao sujeito. Assim sendo,</p><p>o estilo do memorial advém do tom “mais</p><p>pessoalizado” de quem o produz.</p><p>15</p><p>Cabe destacar que não só a escolha</p><p>do gênero determina o estilo, mas</p><p>também a expressividade do locutor,</p><p>manifestada por meio de um estilo individual:</p><p>16</p><p>O querer-dizer deve limitar-se à</p><p>escolha de um determinado gênero e</p><p>apenas ligeiros matizes na entonação</p><p>expressiva (pode-se adotar um tom</p><p>mais deferente, mais frio ou então</p><p>mais caloroso, introduzir uma</p><p>entonação prazerosa, etc.) podem</p><p>expressar a individualidade do locutor</p><p>(o aspecto emocional de seu intuito</p><p>discursivo) (BAKHTIN, 1997, p. 303).</p><p>A expressividade do locutor no gênero</p><p>Memorial Acadêmico pode se manifestar pelo tom</p><p>emotivo provocado pela retomada das lembranças</p><p>do que foi vivido e que de alguma forma tenha</p><p>sido relevante para o memorialista. Não se pode</p><p>dizer que essas marcas afetaram e afeta somente</p><p>positivamente o autor, por isso os aspectos</p><p>emotivos estão ligados a valores, que podem ser</p><p>positivos e negativos, uma vez que muito do que</p><p>se aprende é resultado de desafios e frustração.</p><p>Segundo Bakhtin (1997), o estilo também é</p><p>definido na interrelação dos locutores,</p><p>inviabilizando a recorrente posição de que a noção</p><p>de gênero revela uma “receita” de texto, pois os</p><p>parceiros da interlocução sempre estão circunscritos</p><p>em uma situação sócio-histórica de comunicação</p><p>específica.</p><p>17</p><p>Nas esferas da vida cotidiana ou da</p><p>vida oficial, a situação social, a</p><p>posição e a importância do</p><p>destinatário repercutem na</p><p>comunicação verbal de um modo todo</p><p>especial. A estrutura da sociedade em</p><p>classes introduz nos gêneros do discurso</p><p>e nos estilos uma extraordinária</p><p>diferenciação que se opera de acordo</p><p>com o título, a posição, a categoria, a</p><p>importância conferida pela fortuna</p><p>privada ou pela notoriedade pública,</p><p>pela idade do destinatário e, de modo</p><p>correlato, de acordo com a situação do</p><p>próprio locutor (ou escritor).</p><p>(BAKHTIN, 1997, p. 322)</p><p>18</p><p>Como os parceiros da</p><p>comunicação estão implicados</p><p>pelo tema, pela composição e, sobretudo, pelo estilo</p><p>da enunciação que se põe em curso, quando se</p><p>produz um memorial, que é um gênero biográfico,</p><p>pessoal e acadêmico, assume-se como interlocutor</p><p>um leitor da comunidade acadêmica que,</p><p>preferivelmente, dispõe de uma formação técnica,</p><p>teórica e profissional para proceder à leitura do</p><p>texto. Em função disso, é possível compreender que</p><p>um grau maior de formalidade, ainda que o</p><p>enunciado apresente um tom mais “pessoalizado”,</p><p>recorrentemente é imposto pela situação de</p><p>comunicação, dadas as posições sócio-históricas</p><p>entre locutor e interlocutor do texto.</p><p>Por fim, a questão do estilo</p><p>está ligada à palavra alheia, a</p><p>palavra que expressa um juízo de valor. Isto é, de</p><p>acordo com esse filósofo, o estilo também é</p><p>marcado por aquilo que se retoma, pelas palavras</p><p>do Outro que compõem o enunciado do locutor,</p><p>palavras que lhe permite instituir-se no interior de</p><p>uma posição sócio-histórica que constitui a</p><p>condição dialógica da interação (BAKHTIN,</p><p>1997).</p><p>Assim, pode ser possível compreender que</p><p>o estilo está arraigado</p><p>à estrutura composicional e</p><p>ao conteúdo temático que resultam no Estilo do</p><p>Gênero e no Estilo Individual do escritor. O Estilo</p><p>do Gênero se configura na escolha dos recursos</p><p>linguísticos e discursivos utilizados na elaboração</p><p>do enunciado. Já o Estilo Individual se relaciona</p><p>com as marcas de expressividade do memorialista</p><p>no repertório de suas palavras e de palavras</p><p>alheias que lhe orientam e permitem construir o</p><p>seu discurso</p><p>19</p><p>2.1 Memória, narrativa e construção da subjetividade</p><p>Walter Benjamin é um dos pensadores mais</p><p>originais e importantes do século XX. Suas obras</p><p>abarcam temas como a história da filosofia, a</p><p>filosofia da linguagem e a complexa estrutura</p><p>entre a literatura alemã e francesa, razão pela</p><p>qual procuramos, na particularidade de suas</p><p>ideias, levantar as questões de memória e da</p><p>narrativa como fenômenos que se constituem no</p><p>campo da subjetividade.</p><p>Em O narrador: considerações sobre a obra</p><p>de Nikolai Leskov, Benjamin (1994) evidencia o</p><p>papel da arte narrativa como instrumento que</p><p>opera, a partir da trama comutada dos sentidos, a</p><p>construção da memória como espaço de</p><p>comunicação da experiência histórica do homem,</p><p>e, precisamente por isso, como uma das condições</p><p>mais importante na produção da subjetividade.</p><p>2. A MEMÓRIA, O “EU” E O TEXTO</p><p>20</p><p>Ora, se presumimos o mundo como</p><p>lugar da formação dos valores e da ação,</p><p>a vida humana, no e com o mundo, não pode</p><p>cumular-se de outra coisa que não seja o fluxo de</p><p>uma intenção subjetiva que coloca o sujeito em</p><p>contato com a ideia de tempo como imagem</p><p>dialética, numa relação que se articula entre o</p><p>outrora e o agora. A esse respeito, dirá o autor:</p><p>“Não é que o passado lança sua luz sobre o</p><p>presente ou que o presente lança luz sobre o</p><p>passado; mas a imagem é aquilo em que o</p><p>ocorrido encontra o agora num lampejo, formando</p><p>uma constelação” (BENJAMIN, 2006, p. 505). É,</p><p>pois, nesse sentido, que a compreensão das tramas</p><p>do tempo e da subjetividade que nela se produz,</p><p>permite ao sujeito compreender a si mesmo, aos</p><p>outros, à cultura e aos acontecimentos de ontem e</p><p>hoje como espaço dialético, de autocrítica e de</p><p>autorrealização.</p><p>21</p><p>Assumir essa prerrogativa significa</p><p>admitir um movimento interrogativo e</p><p>contínuo em torno não só da relação que o sujeito</p><p>mantém com o passado, mas, sobremaneira, do</p><p>modo como memória e narrativa se articulam e</p><p>produzem subjetividades.</p><p>Conforme Benjamin (1994), chamamos memória</p><p>a capacidade de dar clareza, significado e valor à</p><p>experiência. A memória é o que permite ao sujeito</p><p>mover-se entre o passado e o presente, adaptar-se</p><p>ao curso da história, transitar no tempo e formar os</p><p>pontos de uma comunicação sintagmática</p><p>manifestada em entremeios: a memória “[...] tece a</p><p>rede que em última instância todas as histórias</p><p>constituem entre si” (BENJAMIN, 1994, p. 211). A</p><p>memória é o que permite ao sujeito transformar-se</p><p>em narrador: ele não só tem a capacidade de</p><p>contar histórias, mas também de contar-se nas</p><p>histórias. Ontem e hoje se entrelaçam como um</p><p>movimento, expressando a dimensão da</p><p>comunicação entre o sujeito e o mundo, entre o não</p><p>saber e o saber. A memória faz da experiência do</p><p>vivido a substância mesma de que se constitui a</p><p>história.</p><p>22</p><p>Na obra de Benjamin,</p><p>o problema da memória vai além</p><p>da capacidade do sujeito de conservar as</p><p>experiências vividas como estados de consciência.</p><p>Em textos como Passagens e Sobre o Conceito de</p><p>História, a expressão da memória encontra-se</p><p>relacionada com a representatividade do passado.</p><p>Por isso o autor traça a sua concepção de memória</p><p>colocando em questão as formas que</p><p>tradicionalmente foram discutidas na</p><p>modernidade pela filosofia e pela historiografia.</p><p>Seu ponto de partida é precisamente a crítica da</p><p>linearidade temporal. Contra o continuum do</p><p>tempo, Benjamin (1994, 2006) propõe um</p><p>movimento marcado de rupturas e</p><p>descontinuidades, de atravessamentos e, portanto,</p><p>de intensidades; frações de tempo que se</p><p>pronunciam como um clarão, uma luz intensa de</p><p>curta duração.</p><p>23</p><p>Por isso, inclusive, a memória se</p><p>exprime como uma grande</p><p>colagem de impressões, como imagens que</p><p>lembram as vivências do passado, mas que agora</p><p>estão de volta ao presente. Enquanto imagem do</p><p>passado que salta ao presente, a memória é que</p><p>permite ao homem muito mais do que apenas</p><p>situar-se na história. Ela é o que lhe permite</p><p>(re)encarnar a história como (re)significação de</p><p>suas narrativas. Algo como remissão, conforme</p><p>afirmou Benjamin (1994, p. 223): “[...] somente</p><p>para a humanidade redimida o passado é citável,</p><p>em cada um de seus momentos”. É precisamente</p><p>nesse ponto que memória e narrativa se</p><p>relacionam como fenômenos que se constituem no</p><p>campo da subjetividade.</p><p>Nesse sentido, ainda de acordo com Benjamin</p><p>(1994, p. 223): “Contar histórias sempre foi a arte</p><p>de contá-las de novo”. Em outras palavras, para</p><p>contar suas histórias, o narrador se vale de suas</p><p>memórias, e essas memórias constituem sua</p><p>experiência de ser-no-mundo. É por isso que o</p><p>narrador pode contar muitas histórias:</p><p>24</p><p>sua fala reverbera do lugar de quem</p><p>as viveu e/ou ouviu de outros narradores. Por isso</p><p>mesmo a arte narrativa é sempre uma experiência</p><p>de (trans)formação humana: uma nova</p><p>perspectiva é gerada entre o narrador e o ouvinte,</p><p>e o movimento circular do mundo é por eles</p><p>sentido e percebido.</p><p>De acordo com Benjamin (1994, p. 201), na</p><p>narrativa “o narrador retira da experiência o que</p><p>ele conta: sua própria experiência ou a relatada</p><p>pelos outros. E incorpora coisas narradas à</p><p>experiência de seus ouvintes”. Portanto, narrar é</p><p>estabelecer diálogo e intertextualidade, é despertar</p><p>surpresa e reflexão. Ao conservar suas forças</p><p>vitais, criativas e plásticas, a arte narrativa se</p><p>relaciona direta e intensamente com a produção</p><p>subjetiva: experiências humanas comunicáveis;</p><p>tessitura de memórias.</p><p>25</p><p>A esse respeito, Gagnebin afirma que o papel</p><p>da arte narrativa é o de manter as condições de</p><p>sua participação na memória. Segundo a autora, é</p><p>característica da memória operar por meio da</p><p>tensão entre existência e não existência, da</p><p>“presença do presente que se lembra do passado</p><p>desaparecido, mas também presença do passado</p><p>desaparecido que faz sua irrupção em um presente</p><p>evanescente” (GAGNEBIN, 2006, p. 44). Assim, a</p><p>memória se constitui não apenas como um ato</p><p>político, oposto à manutenção da crença no ser</p><p>humano como sujeito abstrato, mas, especialmente,</p><p>como espaço da reflexão que o homem faz de</p><p>sobre si mesmo e sobre seu lugar no mundo.</p><p>É, então, que a própria vida e a relação</p><p>entrelaçada como experiência narrativa são</p><p>expostas como um campo transcendental, que é a</p><p>condição dos fenômenos possíveis:</p><p>26</p><p>uma narrativa é uma matéria em movimento, ela</p><p>retém pontos fixos e pode ser criada a partir dos</p><p>pontos de um movimento cíclico e diferencial: uma</p><p>nova história em cada passagem da história. A</p><p>experiência narrativa pressupõe a reconciliação do</p><p>sujeito com suas memórias. Por isso, inclusive, todo</p><p>sujeito se torna, ao mesmo tempo e de maneiras</p><p>diferentes, narrador de um discurso que retém a</p><p>forma de aprendizagem, da construção de novos</p><p>sentidos e do exercício público da memória:</p><p>“imagem de uma experiência coletiva”</p><p>(BENJAMIN, 1994, p. 215).</p><p>27</p><p>2.2 Memoriais, autobiografias e de escrita de si</p><p>Recobramos na revisitação das memórias e na</p><p>construção de memoriais o desafio de articular</p><p>espaços que permitam ao sujeito reconhecer os</p><p>quadros de sua própria existência: retratos de uma</p><p>jornada singular e marcada de intenções, desejos e</p><p>escolhas. Ao que notamos, os papéis e as</p><p>representações sociais e culturais assumidas na</p><p>modernidade demonstram a necessidade que o</p><p>sujeito possui de resgatar a experiência do</p><p>contraditório entre passado e presente como</p><p>expressão da palavra. Nesse sentido, destacamos</p><p>como a escrita de si expressa a realidade do sujeito</p><p>em suas manifestações sociais, e o modo como esta,</p><p>por meio da experiência narrativa, resgata e</p><p>insere a história particular do indivíduo no</p><p>contexto maior da própria História.</p><p>29</p><p>De partida, tomamos como</p><p>exemplo a imagem</p><p>de uma tecelagem. No interior do atelier, um</p><p>tecelão, seu tear e seus fios. Seu ofício é tecer. Ele</p><p>escolhe os fios e determina a trama. No tear, os</p><p>fios são urdidos com o propósito de produzir um</p><p>tecido novo. O tecido se compõe da trama</p><p>singularizada pelo tecelão. A ele pertencem as</p><p>intenções e os desejos pelos quais se realiza o feitio</p><p>do tecido. Na imagem da tecelagem, reavemos o</p><p>trabalho de reconciliação do sujeito com suas</p><p>memórias: escolher os fios, definir a trama, tecer.</p><p>No tear, contexto maior da própria História, as</p><p>histórias particulares do tecelão são entretecidas a</p><p>fim de que sentidos outros sejam atribuídos ao</p><p>conjunto de suas experiências. Os fios que outrora</p><p>se encontravam emaranhados, revelam, no tear, a</p><p>potência que as memórias têm de fazer produzir o</p><p>novo como experiência de liberdade.</p><p>30</p><p>É, pois, nesse sentido, que o</p><p>trabalho autonarrativo, também</p><p>chamado de autobiográfico, ou ainda, como</p><p>pretendemos destacar, de escrita de si, retoma o</p><p>sentido dos ditos e interditos nos quais se</p><p>entretecem as memórias que dão sentido à</p><p>experiência de ser e estar no mundo, de estar e ser</p><p>com o outro, de dizer de si como reconhecimento</p><p>das tramas que definem a própria vida como</p><p>estado imanente. A esse respeito, corroboramos a</p><p>tese de que “uma autobiografia é e quer ser</p><p>principalmente um “relato” de ações passadas do</p><p>ponto de vista de uma pessoa” (HÜTTENBERGER</p><p>apud ALBERTI, 2005, p. 168).</p><p>Em Lejeune (2008) apresenta-se uma definição</p><p>bastante referenciada sobre o texto autobiográfico:</p><p>trata-se de uma narrativa em prosa, na qual</p><p>pessoas reais revisitam suas memórias com ênfase</p><p>em sua vida individual e na história de sua</p><p>personalidade. Escrever sobre si carrega consigo</p><p>um processo de abertura subjetiva, das dimensões</p><p>pessoais e factuais</p><p>31</p><p>que permitem o acesso aos lugares privados,</p><p>íntimos e lamentáveis da vida em diferentes</p><p>níveis. Desse modo, a escrita de si constitui</p><p>também uma direção de mudança que visa</p><p>legitimar o modo de ser no mundo. Dizer de si não</p><p>apenas retrata os processos de construção de uma</p><p>identidade pessoal e coletiva, como também</p><p>destaca os diversos vínculos propostos na relação</p><p>que se constitui entre o sujeito e o mundo.</p><p>O processo descrito por Lejeune, também</p><p>chamado de ato reminiscente, não se reduz à</p><p>forma simplificada da recordação. Ao contrário,</p><p>tem a ver com o conjunto das experiências que</p><p>fazem com que a pessoa se lembre de diferentes</p><p>contextos, pessoas e situações, sensações e emoções,</p><p>como se tudo isso fossem elos de uma corrente,</p><p>assinala Benjamin (1994, p. 211).</p><p>32</p><p>Parece-nos claro que, justamente por isso, a escrita</p><p>de si na forma de memoriais carrega consigo uma</p><p>dimensão subjetiva que transcende a linguagem</p><p>dos documentos burocráticos e dos discursos</p><p>formais. A redação de memoriais coloca o sujeito e</p><p>suas experiências no centro da narrativa, e as</p><p>reflexões que aí se desenvolvem marcam a</p><p>tradição do olhar interior como experiência</p><p>autobiográfica.</p><p>Quando nos remetemos à tradição do olhar</p><p>interior, especialmente evidenciada pela filosofia</p><p>cristã medieval, não nos remetemos a um</p><p>movimento de reflexões ensimesmadas cujo</p><p>propósito se encerra na busca de respostas íntimas</p><p>e particulares.</p><p>33</p><p>Contrário disso, referimo-nos ao processo que</p><p>resgata o sujeito em sua inteireza e complexidade.</p><p>Ora, (re)conhecer-se na trama das memórias</p><p>individuais pressupõe compreender que nenhuma</p><p>vida humana é possível sem um mundo que,</p><p>direta ou indiretamente, testemunhe a presença de</p><p>outros seres humanos que se encontram, que</p><p>vivem juntos e que fazem do ato discursivo um</p><p>meio de persuasão, de troca de experiência e de</p><p>aquisição de saber.</p><p>Em A memória, a história, o esquecimento,</p><p>Ricouer (2007, p. 107) afirma que “a defesa do</p><p>caráter originário e primordial da memória</p><p>individual tem vínculos nos usos da linguagem</p><p>comum e na psicologia sumária que avalia esses</p><p>usos”. Ou seja, em nenhum registro da experiência</p><p>viva, a aderência da autodesignação do sujeito ao</p><p>termo de suas intenções se constitui como uma</p><p>experiência de totalidade.</p><p>34</p><p>É precisamente porque toda experiência se</p><p>constitui no campo dialético que a relação de</p><p>correspondência que aí se implica ocorre no modo</p><p>como cada sujeito elabora o mundo e se elabora</p><p>no mundo, por meio do outro. São, por assim dizer,</p><p>processos em que a intenção do sujeito de refletir</p><p>sobre suas itinerâncias tem como fim a</p><p>ressignificação da trajetória individual que é</p><p>rememorada, organizada, ordenada e sintetizada</p><p>como produto de outra experiência e sensibilidade.</p><p>Ainda conforme o autor, são três ostraços</p><p>que definem o caráter privado da memória: (i) a</p><p>singularidade da lembrança; (ii) o vínculo da</p><p>consciência com o passado; (iii) o sentido da</p><p>orientação na passagem do tempo (RICOUER,</p><p>2007).</p><p>35</p><p>Nesse sentido, o caminho que o sujeito percorre não é</p><p>outro senão o da busca por si mesmo, pela</p><p>compreensão dos atos de intencionalidade, das</p><p>escolhas, dos desejos, das sensações e de todo o estado</p><p>de percepções que tramam sua singularidade e, por</p><p>conseguinte, sua capacidade de interpretar e</p><p>representar a si mesmo no âmbito maior da</p><p>existência. “[...] a memória é passado, e esse passado</p><p>é o das minhas impressões; nesse sentido, esse</p><p>passado é o meu passado”, destaca Ricouer (2007, p.</p><p>107). É precisamente nesse sentido que os memoriais,</p><p>enquanto escrita de si, funcionam como recurso</p><p>narrativo capaz de articular as lembranças no plural</p><p>e a memória no singular; de remontar</p><p>diacronicamente o presente vivido ou os</p><p>acontecimentos mais distantes; e, por fim, de fazer</p><p>da dialética de temporalidades o espaço em que o</p><p>narrador testemunhe suas próprias memórias.</p><p>36</p><p>Até aqui ensaiamos um tanto</p><p>daquilo que pretendíamos: colocar em</p><p>questão a escrita de si, e o modo como esta, por meio</p><p>da experiência narrativa, resgata e insere a história</p><p>particular do sujeito no contexto maior da própria</p><p>História. Parece-nos claro que os memoriais possuem</p><p>não só uma dimensão institucional e individual,</p><p>como também uma dimensão autobiográfica capaz</p><p>de fazer emergir as reflexões mais fundamentais</p><p>sobre a trajetória profissional-pessoal do sujeito,</p><p>alterando sua natureza pela maior incorporação das</p><p>dimensões subjetivas e dos diferentes níveis de</p><p>subjetivação entretecidas ao longo do tempo.</p><p>Destacamos, por fim, que a abordagem</p><p>autorreflexiva da escrita de si, com maior carga</p><p>subjetiva, assinala o desenvolvimento de</p><p>sensibilidades, habilidades e competências capazes</p><p>de conduzir o sujeito à compreensão de como se</p><p>chega a ser o que se é e das outras tantas</p><p>possibilidades de vir-a-ser, da mesma maneira que</p><p>referencia o narrador em relação ao outro em seu</p><p>passado lembrado, presente vivido e futuro</p><p>projetado.</p><p>37</p><p>escrita do memorial</p><p>A escrita de um trabalho acadêmico deve</p><p>apresentar-se de acordo com uma ordem na</p><p>organização dos elementos que constituem o texto.</p><p>Confira essa organização no quadro a seguir:</p><p>3. eSCRITA DO MEMORIAL ACADÊMICO</p><p>39</p><p>Elementos</p><p>Pré-textuais</p><p>Elementos</p><p>Textuais</p><p>Elementos</p><p>Pós-textuais</p><p>Capa</p><p>Folha de rosto</p><p>Agradecimento</p><p>Dedicatória</p><p>Epígrafe</p><p>Introdução</p><p>Desenvolvimento</p><p>Conclusão</p><p>Referências</p><p>Anexos</p><p>Adaptado de Santos et al.(2010, p. 31):</p><p>Elementos mais utilizados em trabalhos acadêmicos na Uniube</p><p>A partir dos estudos teóricos</p><p>realizados nas primeiras semanas,</p><p>você deverá escrever o seu Memorial Acadêmico.</p><p>Neste momento, você deverá cuidar da escrita dos</p><p>elementos textuais, são eles:</p><p>INTRODUÇÃO: A introdução deve ser sucinta,</p><p>apresentando ao leitor o assunto a ser abordado. Ao</p><p>final da introdução, o leitor deve ter uma ideia sobre</p><p>o que o trabalho propõe alcançar. Por isso, é</p><p>importante que o texto seja atrativo, motivando o</p><p>desejo do leitor em prosseguir com a leitura.</p><p>DESENVOLVIMENTO: O desenvolvimento é o</p><p>corpo do trabalho, ou seja, a parte mais extensa</p><p>(mínimo: 5 páginas; máximo: 8 páginas). Nessa</p><p>parte do seu TCC, você relatará a sua trajetória</p><p>acadêmica, por isso mantenha a ordem lógica das</p><p>ideias, de forma que o seu texto fique claro</p><p>e</p><p>compreensível.</p><p>40</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS: A conclusão é uma das</p><p>partes mais importantes, pois finaliza o assunto</p><p>desenvolvido em todo o trabalho. Não se trata de</p><p>repetir o que já foi dito resumidamente, mas fechar o</p><p>conteúdo a partir do que foi relatado, interligando as</p><p>ideias para que se compreenda o percurso</p><p>apresentado, além de propor reflexões sobre projetos</p><p>futuros.</p><p>Os demais elementos constituintes do trabalho</p><p>acadêmico, elementos pré-textuais e pós-textuais,</p><p>serão retomados em outro momento de estudos,</p><p>quando trataremos das regras de formatação do</p><p>trabalho acadêmico.</p><p>41</p><p>ALBERTI, Verena. Fontes orais: histórias dentro da História. In:</p><p>PINSKY, Carla Bassanezí. Fontes históricas. São Paulo: Contexto,</p><p>2005. p. 155-202.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da</p><p>criação verbal. Tradução de Maria Emsantina Galvão G.</p><p>Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1997.</p><p>BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios</p><p>sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo:</p><p>Brasiliense, 1994.</p><p>DICIO. Dicionário Online de Português. Disponível em:</p><p>www.dicio.com.br/estilo. Acesso em: 06 mar. 2021.</p><p>______ . Passagens. Belo Horizonte: Editora da UFMG; São</p><p>Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.</p><p>LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à</p><p>internet. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2008.</p><p>RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento.</p><p>Tradução de Alain François [et al]. Campinas, SP: Editora da</p><p>Unicamp, 2007.</p><p>SANTOS, Fábio Rocha et al. Metodologia da Pesquisa. São</p><p>Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.</p><p>SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho</p><p>científico. 21.ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 2000.</p><p>43</p><p>REFERÊNCIAS</p>

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