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<p>Organizadores</p><p>Tatiliana Bacelar Kashiwabara</p><p>Laryssa Reis Coelho</p><p>Daniel Monteiro de Barros Dias</p><p>Gustavo da Mata Oliveira Rezende</p><p>João Victor Leite Dias</p><p>Saúde do Trabalhador e</p><p>da Trabalhadora no Brasil:</p><p>uma abordagem holística e integrada</p><p>CAPA/PROJETO GRÁFICO</p><p>Sanzio Mendonça Henriques</p><p>REVISÃO LINGUÍSTICA E NORMATIVA</p><p>Maria das Graças Gonçalves Pinho</p><p>Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do editor.</p><p>NOTA AO LEITOR</p><p>A comissão organizadora avaliou o mérito e relevância acadêmica dos trabalhos, sendo a correção ortográ-</p><p>fica e gramatical de inteira responsabilidade dos autores.</p><p>Ficha Catalográfica – Sistema de Bibliotecas/UFVJM</p><p>Bibliotecária: Jullyele Hubner Costa – CRB6/2972</p><p>Elaborado com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)</p><p>S255</p><p>Saúde do trabalhador e da trabalhadora no Brasil: uma abordagem holística e integrada</p><p>/ Organizado por Tatiliana Bacelar Kashiwabara et al. - Diamantina: UFVJM, 2021.</p><p>249 p.: il.</p><p>ISBN: 978-65-87258-16-4.</p><p>1. Saúde do trabalhador e da trabalhadora. 2. SUS. 3. Saúde ocupacional. I.</p><p>Kashiwabara, Tatiliana Bacelar. II. Título. III. Universidade Federal dos Vales do</p><p>Jequitinhonha e Mucuri.</p><p>CDD 363.11</p><p>Saúde do Trabalhador e</p><p>da Trabalhadora no Brasil:</p><p>uma abordagem holística e integrada</p><p>4</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Os organizadores desta obra, “Saúde do Trabalhador e da Tra-</p><p>balhadora: uma abordagem holística e integrada”, oferecem</p><p>aos médicos um guia com informações básicas sobre temas</p><p>comuns da especialidade. Todos os assuntos foram tratados de forma</p><p>clara e simples, compondo um grande painel com informações impres-</p><p>cindíveis ao cotidiano do consultório.</p><p>É nesse contexto que o médico tem a oportunidade de realizar</p><p>intervenções, visando à promoção de saúde e à prevenção de doenças.</p><p>Utilizem essa obra como uma fonte para obtenção de informações</p><p>que os auxiliarão no cuidado e alívio do sofrimento de seus pacientes,</p><p>vocês que, no exercício diário da profissão, procuram, continuamente,</p><p>se atualizar.</p><p>Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara</p><p>Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pediatria.</p><p>Professora titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e</p><p>sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós-doutorado</p><p>em impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP, Portugal.</p><p>A ideia de se aprofundar em pesquisas sobre a saúde do tra-</p><p>balhador e da trabalhadora no Brasil surgiu durante uma</p><p>aula expositiva sobre o assunto. Essa ideia germinou e cul-</p><p>minou no projeto de se escrever um livro. O despertar do interesse</p><p>de brilhantes alunos e futuros colegas de profissão em buscar mais</p><p>conhecimento em relação ao assunto, nos leva a uma leitura huma-</p><p>nizada e com abordagem diferente da usual. Foi, para mim, motivo</p><p>de muito orgulho orientar, organizar e participar de todo o processo</p><p>dessa empreitada que é, agora, coroada com o convite para fazer a</p><p>apresentação desta obra.</p><p>5</p><p>O livro “Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora no Brasil: uma</p><p>abordagem holística e integrada” oferece ao nosso leitor capturas de pontos</p><p>de vista diferentes dos temas discutidos. Além de toda parte técnica, as</p><p>informações contidas neste livro abordam ideias modernas sobre concei-</p><p>tos antigos e outras relativamente novas, como é o caso do teletrabalho. A</p><p>obra proporciona ao leitor conhecimentos que facilitam o entendimento</p><p>sobre a saúde ocupacional no Brasil e suas mudanças, de uma maneira</p><p>ampla, cuidadosa e integrativa, deixando em evidência a necessidade de</p><p>se preocupar com o bem-estar do trabalhador e da trabalhadora.</p><p>Ao final da leitura, como forma de agradecimento, trazemos, de</p><p>maneira contextualizada, a situação ocupacional do município de</p><p>Teófilo Otoni - MG, cidade esta que nos acolheu tão bem como dis-</p><p>centes e docentes na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha</p><p>e Mucuri - UFVJM.</p><p>Assim, este livro é direcionado a todos os estudantes e profissionais</p><p>que queiram aprofundar seu conhecimento sobre a saúde do traba-</p><p>lhador e da trabalhadora no Brasil.</p><p>Daniel Monteiro de Barros Dias</p><p>Graduado em Medicina pela Universidade do Grande Rio (2009), Residência em Clínica Médica</p><p>pelo Hospital Municipal Lourenço Jorge - RJ e Pós-Graduações em Terapia Intensiva e Medicina do</p><p>Trabalho. Médico internista, rotina da Unidade de Terapia Intensiva e Diretor Técnico do Hospital</p><p>Philadélfia e médico examinador em medicina ocupacional - Medicina do Trabalho. Supervisor do</p><p>Programa Mais Médicos do Brasil, na região de Almenara - MG. Professor Auxiliar em Clínica Médica</p><p>na Faculdade de Medicina do Mucuri (Fammuc), unidade acadêmica da Universidade Federal dos</p><p>Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).</p><p>6</p><p>DEDICATÓRIA</p><p>Agradecemos, em primeiro lugar, a Deus que fez desse pro-</p><p>jeto uma realidade. Às nossas famílias que nos apoiaram para</p><p>realização deste sonho. Aos nossos colegas que depositaram</p><p>confiança em nosso trabalho e contribuíram com a escrita dos capí-</p><p>tulos e, decerto, com a qualidade da obra. A todos os professores que</p><p>acreditaram em nossos potenciais e permitiram reflexões acadêmicas</p><p>mais aprofundadas, aumentando o embasamento e garantindo apreen-</p><p>são de conteúdos. Enfim, a todas as pessoas que fizeram parte dessa</p><p>etapa em nossas vidas.</p><p>A saúde do trabalhador e da trabalhadora no Brasil, infelizmente,</p><p>ainda é negligenciada por boa parte dos profissionais. Por isso,</p><p>dedicamos essa obra a todos os acadêmicos e profissionais que</p><p>anseiam e buscam alcançar um olhar holístico e integrado na</p><p>medicina do trabalho, tendo uma percepção abrangente do ser</p><p>humano e do processo saúde-doença para além do reducionismo</p><p>biológico, incorporando as suas dimensões, psicológicas, sociais e</p><p>ecológicas, atuando no sentido de concretizar a equidade no acesso</p><p>ao atendimento à saúde.</p><p>Laryssa Reis Coelho e Gustavo da Mata Oliveira Rezende</p><p>Acadêmicos do sétimo período de medicina da Faculdade de Medicina do Mucuri (Fammuc),</p><p>unidade acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), e</p><p>organizadores da obra “Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora no Brasil: uma abordagem holística</p><p>e integrada”.</p><p>7</p><p>PREFÁCIO</p><p>Foi com muita surpresa e enorme honra que recebi o convite para</p><p>prefaciar o livro “Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora no Brasil:</p><p>uma abordagem holística e integrada”. Certo de que essa obra já</p><p>nasce tão importante e inovadora no mercado editorial, não me surpreen-</p><p>derá se logo tornar-se um dos clássicos da literatura de saúde ocupacional</p><p>brasileira, dado a precisão e abrangência com que foi escrita.</p><p>Frente a uma população tão desassistida e carente como a nossa,</p><p>a importância do médico do trabalho é de uma magnitude muitas</p><p>vezes subestimada. Não raramente somos os primeiros profissionais</p><p>da medicina a ter contato com o cidadão, o que torna imprescindível</p><p>um olhar holístico sobre a medicina. Tratando-se de uma especialidade</p><p>transdisciplinar, havemos de estar preparados para confrontarmo-nos</p><p>com uma miríade de enfermidades, estando sempre aptos ao diagnós-</p><p>tico mais corriqueiro até o mais complexo. Além dos cuidados com</p><p>a Legislação, devemos nos manter atualizados acerca de condutas</p><p>das mais diversas especialidades, porquanto não é raro assumirmos</p><p>e identificarmos doenças que fogem da área ocupacional.</p><p>Olhar o paciente por completo, estando sempre à mesma altura</p><p>que ele, é nossa função. Engana-se aquele que coloca o piso do con-</p><p>sultório mais elevado que o “chão de fábrica”. Desde o século XIX</p><p>temos caminhado ao lado de nossos iguais: os trabalhadores. E por</p><p>eles temos a função de prezar e assistir. Nossa especialidade garante a</p><p>proteção desses homens e mulheres que produzem e fazem a economia</p><p>respirar. Qualquer desleixo e podemos retroceder a séculos sombrios,</p><p>quando a mão-de-obra era tratada como um bem descartável, quando</p><p>se submetia crianças e adultos a condições insalubres de trabalho e se</p><p>consumia essas vidas a</p><p>bem</p><p>como situações que representam riscos de acidentes e ergonômicos, com</p><p>potencial de causar danos à saúde e integridade física dos trabalhadores.</p><p>Os riscos ambientais são capazes de causar prejuízos à saúde dos</p><p>trabalhadores a depender da sua natureza, concentração, intensidade</p><p>ou tempo de exposição. (CAMISASSA, 2015).</p><p>A Portaria Nº 6.735, DE 10 DE março de 2020, estabelece que as</p><p>medidas de prevenção abordadas na Norma Regulamentadora nº 09</p><p>(NR-09) se aplicam somente aos riscos físicos, químicos e biológicos.</p><p>Entretanto, apesar de não ser obrigatório que os riscos ergonômicos</p><p>e de acidente constem no PPRA, não há impedimento para que isso</p><p>ocorra. É, inclusive, recomendado. (CAMISASSA, 2015).</p><p>Ou seja, existem cinco tipos de riscos ambientais identificáveis</p><p>em locais de trabalho, e abordá-los de maneira integral constitui a</p><p>melhor forma de garantir a saúde e integridade física dos trabalha-</p><p>dores. Segundo Camisassa (2015, não paginado) “na prática, várias</p><p>empresas já chegaram à conclusão de que uma efetiva gestão de riscos</p><p>deve abordar todos os agentes nocivos que possam acarretar prejuízo</p><p>à saúde e integridade física do trabalhador”.</p><p>Riscos Físicos</p><p>Para efeito da Norma regulamentadora nº 9 (1978, p.2):</p><p>Consideram-se agentes físicos as diversas for-</p><p>mas de energia a que possam estar expostos</p><p>os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações,</p><p>pressões anormais, temperaturas extremas,</p><p>radiações ionizantes, radiações não ionizantes,</p><p>bem como o infra-som e o ultra-som.</p><p>Segundo o Instituto do Câncer (INCA, 2019), os trabalhadores que</p><p>exercem atividades ao ar livre estão, muitas vezes, expostos à radiação</p><p>44</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>solar têm risco de desenvolver câncer de pele. Esse caso se enquadra</p><p>como exemplo de radiação não ionizante. Outros agentes físicos a que</p><p>trabalhadores estão frequentemente expostos são ruídos físicos, tempe-</p><p>raturas inadequadas, ambiente de trabalho pouco arejado e, até mesmo,</p><p>com presença de fumaça ou poluição. (FERREIRA et. Al., 2018).</p><p>Riscos Biológicos</p><p>“Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos,</p><p>parasitas, protozoários, vírus, entre outros”. (Norma Regulamentadora</p><p>nº 9, 1978, p.2).</p><p>A exposição a riscos biológicos decorre da presença desses agentes</p><p>no ambiente de trabalho e pode ser direta, quando a atividade laboral</p><p>requer a manipulação de agentes biológicos como objeto de trabalho,</p><p>a exemplo de pesquisas em laboratórios de microbiologia. Pode ser,</p><p>também, indireta, quando a atividade não envolve agentes biológicos</p><p>como objeto principal de trabalho. Exemplo disso são os profissionais</p><p>da saúde em ambiente hospitalar, clínicas médicas e odontológicas.</p><p>(Riscos Biológicos - Guia Técnico, 2008). A exposição pode ocorrer,</p><p>também, com trabalhadores envolvidos em serviços com animais,</p><p>lixo e esgoto. A exposição a tais riscos em setores como a indústria,</p><p>agricultura e construção civil é menos frequente. (BRASIL, 2018)</p><p>Riscos Químicos</p><p>De acordo com a Norma Regulamentadora nº 9 (1978, p.2),</p><p>Consideram-se agentes químicos as subs-</p><p>tâncias, compostos ou produtos que possam</p><p>penetrar no organismo pela via respiratória,</p><p>nas formas de poeiras, fumos, névoas, nebli-</p><p>nas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da</p><p>atividade de exposição, possam ter contato ou</p><p>ser absorvidos pelo organismo através da pele</p><p>ou por ingestão.</p><p>45</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>Conhecer a natureza dos agentes químicos relacionados, direta</p><p>ou indiretamente, com a atividade exercida pelos trabalhadores é</p><p>imprescindível para medidas de prevenção, como o uso de máscaras</p><p>e outros acessórios específicos de proteção. É imperiosa, também, a</p><p>identificação dos produtos químicos por meio das embalagens e rótu-</p><p>los para a correta utilização desses agentes. Frequentemente, pintores,</p><p>trabalhadores da saúde e rurais são afetados por falhas relacionadas a</p><p>informações inadequadas de produtos presentes em suas atividades</p><p>laborais. (FERREIRA et. al., 2018).</p><p>Riscos Ergonômicos</p><p>Os riscos ergonômicos são definidos por Camisassa (2015) como</p><p>todo e qualquer risco, seja ele relacionado à condição ou à organização</p><p>do trabalho e que afete diretamente os trabalhadores no seu aspecto</p><p>psicofisiológico. Dentre os riscos ergonômicos englobam-se postura</p><p>incorreta no trabalho, iluminação e ventilação deficientes, movimen-</p><p>tos repetitivos, esforço físico excessivo, ritmo e jornada de trabalho</p><p>excessivos, dentre outros.</p><p>No contexto atual, a contínua cobrança para que a mão de obra seja</p><p>cada vez mais produtiva, obrigando o trabalhador a atuar no limite de</p><p>suas capacidades, relaciona-se com os indicadores negativos que têm</p><p>obtido dentro da saúde ocupacional, como o crescimento do número de</p><p>casos de síndrome de Burnout, o aumento dos índices de LER/DORT</p><p>(síndrome constituída por vários distúrbios musculoesqueléticos dife-</p><p>rentes, relacionados às atividades laborais), bem como dos outros aci-</p><p>dentes de trabalho. (CARVALHO, Marco Antônio P. et al, 2014).</p><p>Em consonância com os riscos ergonômicos citados, bem como,</p><p>com as demais normas regulamentadoras citadas neste capítulo, temos</p><p>a NR17. Essa norma tem como objetivo estabelecer parâmetros que</p><p>permitam a adaptação das condições de trabalho às características psi-</p><p>cofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo</p><p>de conforto, segurança e desempenho eficiente. (NR17,1978).</p><p>46</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>De uma maneira geral, a ergonomia no âmbito trabalhista pode</p><p>ser conceituada como uma adaptação do trabalho ao ser humano e</p><p>tem como objeto de estudo as interações entre os trabalhadores e</p><p>tudo o que concerne ao seu ambiente de ofício. Para que a atividade</p><p>laboral se desenvolva da melhor maneira possível, devem ser levados</p><p>em consideração a organização e condições do trabalho, bem como a</p><p>natureza do trabalho. (CAMISASSA, 2015).</p><p>Para Camisassa (2015), o entendimento da organização do trabalho</p><p>deve levar em consideração as normas de produção, modo operatório,</p><p>exigência de tempo, cadência, ritmo do trabalho, dentre outros. Um</p><p>exemplo clássico que envolve risco ergonômico, relacionado à falha na</p><p>organização do trabalho, é a exigência de que um operador de maquinário</p><p>trabalhe em um ritmo incompatível com sua condição física. Muitas vezes,</p><p>o ritmo pode ser determinado por uma esteira ou linha de montagem e</p><p>o trabalhador recebe seu salário proporcional à quantidade produzida.</p><p>Já as condições de trabalho incluem os meios físicos do traba-</p><p>lho, ou seja, as ferramentas e equipamentos utilizados, o mobiliário</p><p>e a posição dos trabalhadores, assim como as condições ambientais.</p><p>Aqui podemos citar exemplos de risco ergonômico relacionado a más</p><p>condições de trabalho: iluminação deficiente em determinado setor</p><p>e mobília incompatível às características antropométricas dos traba-</p><p>lhadores. (CAMISASSA, 2015).</p><p>Sobre a natureza do trabalho, deve-se discutir os riscos ergonô-</p><p>micos inerentes a alguma função. Por exemplo, profissões que lidam</p><p>com o enfrentamento contínuo de situações de angústia e pressão</p><p>psicológica, como os médicos que, pela natureza da profissão, convi-</p><p>vem com notícias ruins frequentes, plantões longos e exigências de</p><p>ações rápidas e decisivas.</p><p>Para que possamos compreender o papel da ergonomia, deve ser</p><p>considerada a tríade: organização, condições e natureza de trabalho.</p><p>Esses são pilares fundamentais para que as implementações das medi-</p><p>das ergométricas sejam eficientes. Por fim, é notório que a ergonomia</p><p>47</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>contribui na melhoria das condições de trabalho, impactando direta-</p><p>mente na qualidade de vida dos trabalhadores. Além disso, torna os</p><p>processos de trabalho mais seguros, eficazes e adequados dentro das</p><p>limitações humanas, contexto tão importante frente ao crescimento</p><p>dos acometimentos psicossociais</p><p>e patológicos no âmbito de saúde</p><p>trabalhista, como a síndrome de Burnout. (FERREIRA, 2015).</p><p>Riscos de Acidente</p><p>De acordo com Barbosa e Ramos (2012, p.2),</p><p>Os acidentes de trabalho constituem-se em</p><p>problema de saúde pública em todo o mundo,</p><p>por serem potencialmente fatais, incapacitan-</p><p>tes e por acometerem, em especial, pessoas</p><p>jovens e em idade produtiva, o que acarreta</p><p>grandes consequências sociais e econômicas.</p><p>Apesar dos grandes esforços de órgãos fiscais e das próprias empre-</p><p>sas através de campanhas de prevenção de acidentes, a ocorrência do</p><p>acidente de trabalho continua com uma incidência elevada no Brasil</p><p>ao ser comparado com outros países. (BARBOSA e RAMOS, 2012).</p><p>Nota-se que os acidentes de trabalho, além das</p><p>consequências altamente negativas no que se</p><p>refere ao aspecto humano, dado o sofrimento do</p><p>acidentado em si, apresentam também impactos</p><p>econômicos relevantes decorrentes dos prejuízos</p><p>que atingem o trabalhador, a empresa e a socie-</p><p>dade [...]. (BARBOSA e RAMOS, 2012, p.3).</p><p>Os riscos de acidentes são definidos como todas as situações ou</p><p>características do trabalho que ameacem a plena saúde do trabalha-</p><p>dor e da trabalhadora. Como riscos geradores de acidentes pode-se</p><p>citar o ambiente físico inadequado como, ambiente insalubre, falta</p><p>de equipamentos de proteção na utilização de máquinas, maquinário</p><p>defeituoso, instrumentos inadequados, instalações elétricas impróprias,</p><p>48</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>armazenamento incorreto de materiais químicos, podendo levar a explo-</p><p>sões. (FERREIRA e PEIXOTO, 2001).</p><p>Os principais riscos de acidentes são relacionados a um ambiente</p><p>de trabalho inseguro, fator pessoal de insegurança e a um ato inse-</p><p>guro. O ambiente inseguro está relacionado a problemas físicos do</p><p>local como limpeza inadequada e ventilação insuficiente. O fator</p><p>pessoal de insegurança está relacionado ao comportamento dos tra-</p><p>balhadores, como a falta de experiência ou conhecimento acerca da</p><p>atividade a ser desempenhada, a uma deficiência física ou mental.</p><p>O ato inseguro se deve à omissão do trabalhador e da trabalhadora,</p><p>quando não se respeita uma diretriz de segurança. (ASSOCIAÇÃO</p><p>BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2001).</p><p>As doenças ocupacionais são consideradas como acidente de traba-</p><p>lho e se dividem em doenças profissionais e do trabalho. A doença do</p><p>trabalho é aquela que surge em função de condições especiais em que o</p><p>trabalho é realizado. Ou seja, é fruto de condições especiais da realização</p><p>do trabalho e não se refere, especificamente, ao cargo exercido, como</p><p>por exemplo, o colaborador que trabalhe em ambiente ruidoso. Já a</p><p>doença profissional é a que surge pelo exercício do trabalho peculiar a</p><p>determinada atividade. Nesse caso, tem-se a relação direta com a ativi-</p><p>dade ou cargo. Por exemplo, o trabalhador ou trabalhadora que exerce</p><p>função em mina de carvão e desenvolve antracose. (BRASIL, 1991).</p><p>Os riscos podem ser monitorados de diversas formas pela contri-</p><p>buição de uma CIPA atuante. A Norma Regulamentadora 5 estabelece</p><p>como atribuição da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)</p><p>“identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de</p><p>riscos” assim como</p><p>realizar, periodicamente, verificações nos</p><p>ambientes e condições de trabalho visando a</p><p>(sic) identificação de situações que venham a</p><p>trazer riscos para a segurança e saúde dos tra-</p><p>balhadores. (NR5, 1978).</p><p>49</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>O Mapa de riscos é uma representação gráfica dos locais de traba-</p><p>lho com riscos capazes de gerarem danos à saúde dos trabalhadores. O</p><p>mapa permite identificar formas de prevenção dos acidentes e formas</p><p>de remoção dos riscos do ambiente. A realização do mapa de riscos</p><p>de todos os ambientes de trabalho é uma das responsabilidades da</p><p>comissão. (FERREIRA e PEIXOTO, 2001).</p><p>Acidentes de trabalho podem ocorrer mesmo realizando medi-</p><p>das de proteção e prevenção. Por isso, existem diversas atitudes que</p><p>precisam ser tomadas, caso ocorra. A Comunicação de Acidente de</p><p>Trabalho (CAT) é um dos fatores principais que se deve realizar nessa</p><p>situação. A CAT é um documento que permite informar ao INSS o</p><p>acontecimento do acidente, sendo utilizado para possível acionamento</p><p>da previdência e para realização de cálculos estatísticos. (FERREIRA</p><p>e PEIXOTO, 2001).</p><p>O trabalhador exposto a um ambiente insalubre, ou seja, con-</p><p>taminado por diversos fatores de risco, pode vir a sofrer um aci-</p><p>dente de trabalho ou ser acometido por uma doença ocupacional,</p><p>que pode incapacitá-lo para o trabalho. Na maioria dos casos, o</p><p>trabalhador é afastado do trabalho e, após tratamento, estará apto</p><p>a retornar. Esse ciclo pode permanecer até que o profissional sofra</p><p>um acidente mais grave ou uma doença ocupacional que o incapa-</p><p>cite permanentemente para realizar atividades laborais, ou culmine</p><p>com morte. Ao agir assim, o empregador atua na consequência e</p><p>não na causa do problema. (BREVIGLIERO; POSSEBON; SPI-</p><p>NELLI, 2020).</p><p>O que se busca é a atuação na antecipação dos riscos e preven-</p><p>ção de acidentes, pois, somente assim, o trabalhador desenvolverá</p><p>suas atividades com segurança, motivação e satisfação, além de se</p><p>sentir valorizado como ser humano. Essa medida, também, atua</p><p>no crescimento das empresas através de um aumento na qualidade</p><p>da produtividade. (BARBOSA e RAMOS, 2012).</p><p>50</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>FERRAMENTAS DE CONTROLE DE RISCOS</p><p>É importante conscientizar os empregadores de que o dinheiro</p><p>gasto com segurança e saúde ocupacional não devem ser considerados</p><p>despesa, mas investimento. Diversas ferramentas estão disponíveis</p><p>para a utilização pela empresa e devem ser adotadas, como previsto por</p><p>lei. Dessa forma será possível oferecer aos trabalhadores um ambiente</p><p>seguro e controlado para o exercício de suas atividades, garantindo,</p><p>também, eficiência e produtividade.</p><p>Algumas dessas ferramentas são o Programa de Prevenção de Ris-</p><p>cos Ambientais (PPRA); a Comissão Interna de Prevenção de Aciden-</p><p>tes (CIPA); o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e</p><p>Medicina do Trabalho (SESMT); e o Programa de Controle Médico</p><p>de Saúde Ocupacional (PCMSO).</p><p>O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), por</p><p>exemplo, que corresponde à Norma Regulamentadora número 9</p><p>(NR-9), se aplica a riscos físicos, químicos e biológicos. Essa norma</p><p>estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implantação do PPRA</p><p>por todos os empregadores, objetivando a preservação da saúde dos</p><p>trabalhadores por meio da prevenção e controle dos riscos existentes</p><p>nos locais de trabalho.</p><p>A (NR-7) estabelece o Programa de Controle Médico de Saúde Ocu-</p><p>pacional (PCMSO). Essa norma tem caráter de prevenção, rastreamento</p><p>e diagnóstico de agravos à saúde, relacionados ao trabalho. Além disso,</p><p>se encarrega da constatação da existência de casos de doenças profissio-</p><p>nais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. Estabelece, tam-</p><p>bém, a realização obrigatória de exames médicos como, por exemplo, o</p><p>admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e</p><p>demissional. Tudo isso para garantir o acompanhamento da saúde dos tra-</p><p>balhadores durante toda a sua carreira laboral e impedir lesões e agravos.</p><p>A (NR-5) estabelece a Comissão Interna de Prevenção de Aci-</p><p>dentes de Trabalho (CIPA) e tem como objetivo o estabelecimento de</p><p>51</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>uma comissão constituída por representantes dos empregadores e dos</p><p>empregados, com a finalidade de discutir e aplicar ações de prevenção</p><p>de acidentes e zelar pelo bem-estar dos trabalhadores.</p><p>Por fim, a (NR-4) regulamenta as regras que constituem os Serviços</p><p>Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho</p><p>(SESMT). O objetivo dessa norma é promover a saúde do trabalhador e</p><p>da trabalhadora e garantir sua integridade nos locais de trabalho. Como</p><p>o próprio nome sugere, esse é um serviço especializado que deve ser</p><p>composto por profissionais com qualificação em Saúde do Trabalho.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Em verdade, os riscos estão presentes no ambiente de trabalho,</p><p>independentemente, da atividade laboral ou dos cuidados tomados.</p><p>Apesar disso, é dever dos empregadores seguirem estritamente as</p><p>normas regulamentadoras para garantir que os riscos a que os tra-</p><p>balhadores estão sujeitos sejam mínimos para que possam exercer</p><p>suas profissões de forma segura e digna. Além disso, compete aos</p><p>trabalhadores conhecerem as normas que regulamentam e orientam</p><p>as atividades que exercem, para que assim consigam cobrar a aplicação</p><p>de tais normas e, também, participar ativamente das discussões sobre</p><p>a segurança do local em que trabalham.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AQUINO, A. D. S. F. Saúde Ocupacional. Instituto Federal de Educação, Ciência e</p><p>Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Natal, 2014. p. 24</p><p>ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cadastro de Acidente do</p><p>Trabalho - Procedimento e Classificação. NBR 14280. Rio de Janeiro, 2001. Disponível</p><p>em: http://www.alternativorg.com.br/wdframe/index.php?&type=arq&id=MTE2Nw</p><p>Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>BARBOSA, Luana Oliveira; RAMOS, Wyuk. Importância da prevenção de acidentes</p><p>no setor de construção civil: Um estudo de caso em Uberlândia, Minas Gerais,</p><p>Brasil. Revista Conhecimento Online: Ano 4, v. 2 nov./2012. Disponível em: http://</p><p>52</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>www.feevale.br/Comum/midias/515715e1-044c-426c-8925-87cadcf46643/5%20</p><p>-IMPORT%C3%82NCIA%20DA%20PREVEN%C3%87%C3%83O%20DE%20</p><p>ACIDENTES%20NO%20SETOR%20DE%20CONSTRU%C3%87%C3%83O%20</p><p>pdf.pdf. Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Decreto-lei nº Nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos</p><p>de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213compilado.htm</p><p>BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe</p><p>sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização</p><p>e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília,</p><p>set. 1990. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/</p><p>setembro/30/Lei-8080.pdf. Acesso em:14 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. NR 17-</p><p>Ergonomia. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/</p><p>SST_NR/NR-17.pdf. Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. NR 05-</p><p>Comissão Interna De Prevenção De Acidentes Disponível em: http://trabalho.gov.</p><p>br/images/Documentos/SST/NR/NR5.pdf. Acesso em: 09 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. NR</p><p>09- Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Disponível em: https://enit.</p><p>trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf.</p><p>Acesso em: 24 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. NR 07-</p><p>Programa de Controle de Saúde Ocupacional. Disponível em: https://enit.trabalho.</p><p>gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf . Acesso em: 09 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. NR 04- Serviços</p><p>Especializados Em Engenharia De Segurança E Em Medicina Do Trabalho. Disponível</p><p>em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR4.pdf. Acesso em: 09 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Departamento</p><p>de Segurança e Saúde no Trabalho. Manual de Inspeção do Trabalho: Programa de</p><p>Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: SIT/DSST, 2018.</p><p>BRASIL. Portaria Nº 6.735, DE 10 DE março de 2020. Aprova a nova redação da</p><p>Norma Regulamentadora nº 09 - Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais</p><p>a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos.(Processo nº 19966.100181/2020-45).Diário</p><p>Oficial da União. Brasília, DF. Publicado em: 12/03/2020 | Edição: 49 | Seção: 1 |</p><p>Página: 20. Órgão: Ministério da Economia/Secretaria Especial de Previdência e</p><p>Trabalho. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-6.735-de-</p><p>10-de-marco-de-2020-247539132. Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>53</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>BREVIGLIERO, Ezio; POSSEBON, José; SPINELLI, Robson; Higiene Ocupacional:</p><p>Agentes biológicos, químicos e físicos. 10. ed. São Paulo: Senac, 2020.</p><p>CAMISASSA, Mara Queiroz. Segurança e Saúde no Trabalho: NR 1 a 36 comentadas</p><p>e descomplicadas. Rio de Janeiro: Editora Método, 2015. Disponível em: http://www.</p><p>norminha.net.br/Normas/Arquivos/NR-1-36Comentadaedescomplicada.pdf.pdf.</p><p>Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>CARVALHO, M. A. P. et al. Reumatologia: diagnóstico e tratamento. 4. Ed. Rio de</p><p>Janeiro: AC Farmacêutica, 2014. P. 222-230.</p><p>CHAGAS, A. M. D. R; SALIM, Celso Amorim; SERVO, L. M. S; Saúde e Segurança</p><p>do Trabalho no Brasil: Aspectos Institucionais, Sistemas de Informação e Indicadores.</p><p>2. ed. São Paulo: IPEA: Fundacentro, 2012. p. 22-391.</p><p>CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. 7 ed. Comp. São Paulo: Atlas, 2002.</p><p>FERREIRA, A.P. et al. Revisão da literatura sobre os riscos do ambiente de trabalho</p><p>quanto às condições laborais e o impacto na saúde do trabalhador. Revista Brasileira</p><p>de Medicina do Trabalho, [s.l.], Zeppelini Editorial e Comunicação. v. 16, n. 3, p.</p><p>360-370, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5327/z1679443520180267. Acesso</p><p>em: 14 jun. 2020.</p><p>FERREIRA, Leandro Silveira. PEIXOTO, Neverton Hofstadler. Apostila do</p><p>componente curricular Segurança do Trabalho I, 2001.</p><p>FERREIRA, Mário César. Ergonomia da Atividade aplicada à Qualidade de Vida</p><p>no Trabalho: lugar, importância e contribuição da Análise Ergonômica do Trabalho</p><p>(AET). Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 40, n. 131, p. 18-29,</p><p>dez./2005. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=100541506004.</p><p>Acesso em: 14 jun. 2020.</p><p>Guia Técnico. Brasília. 2008. Os riscos biológicos no âmbito da Norma</p><p>Regulamentadora Nº 32.</p><p>Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).</p><p>AQUINO, A. D. S. F; Saúde Ocupacional. 2014. p. 24</p><p>INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Radiações não ionizantes. São Paulo.</p><p>2019. Disponível em: https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/</p><p>radiacoes/radiacoes-nao-ionizantes Acesso em: 27 maio. 2020.</p><p>Organização Mundial da Saúde (OMS). Constituição da Organização Mundial</p><p>da Saúde 1946. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/</p><p>OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-</p><p>organizacao-mundial-da-saude-omswho.html Acesso em: 27 de maio. 2020.</p><p>RAMAZZINI, Bernardino. De Morbis Artificum Diatribe. Pádua: [s.n.], 1713.</p><p>54</p><p>Capítulo 4</p><p>LER/DORT: dominando a abordagem dessa</p><p>síndrome no Brasil</p><p>Alex Damasceno Matias1</p><p>Isis Caldeira Prates1</p><p>Mariana Eliote Prates1</p><p>Victória Vieira Fonseca1</p><p>Vinícius Teixeira Cimini2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>As lesões por esforço repetitivo, conhecidas pela sigla “LER”,</p><p>e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho,</p><p>conhecidos como “DORT” constituem uma síndrome</p><p>constituída por vários distúrbios musculoesqueléticos diferentes</p><p>relacionados às atividades laborais. No Brasil, a sigla não é uti-</p><p>lizada para dançarinos, músicos, atletas, ou outros profissionais</p><p>que pratiquem atividades que possam causar lesões por esforços</p><p>repetitivos. (CARVALHO, Marco Antônio P. et al .2014).</p><p>A sigla DORT é a mais utilizada, atualmente, trazendo uma</p><p>melhor denominação para as afecções envolvidas. Porém LER,</p><p>1 Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Médico, Neurocirurgião e Especialista na área de atuação em Dor (AMB - SBN). Professor de</p><p>Neurologia e Neurocirurgia do curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Mucuri e</p><p>Jequitinhonha – Campus</p><p>Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>55</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>ainda, é utilizada pelos profissionais da saúde para caracterizar</p><p>as doenças relacionadas ao quadro clínico. (CARVALHO, Marco</p><p>Antônio P. et al. 2014).</p><p>Os impactos da DORT na vida do trabalhador são multifatoriais,</p><p>envolvendo fatores psicossociais, ambientais, condições de trabalho,</p><p>jornadas extensas e cansativas, intervalos de descanso reduzidos ou</p><p>inexistentes, dentre outros fatores que serão abordados neste capí-</p><p>tulo. (MORAES, P. W. T; BASTOS, A. V. B, 2017). A Portaria GM</p><p>7778, do Ministério da Saúde, de 28 de abril de 2004, regulamenta o</p><p>diagnóstico e notificação compulsória referentes ao trabalho. (VIE-</p><p>GAS, L. R. T; ALMEIDA, M. M. C. D., 2016).</p><p>EPIDEMIOLOGIA</p><p>No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são</p><p>responsáveis por 70% das causas de óbito da população. A Pesquisa</p><p>Nacional de Saúde (PNS), no ano de 2013, analisou doenças crô-</p><p>nicas em 146,3 milhões de pessoas, dentre elas, 3.568.095 relata-</p><p>ram ter diagnóstico de LER/DORT. (BRASIL, MINISTÉRIO DA</p><p>SAÚDE, 2019).</p><p>Além do Brasil, em outros países como Japão, Estados Unidos e</p><p>países escandinavos, mais de 30% das afecções trabalhistas são diag-</p><p>nosticadas como LER/DORT, tendo sua principal queixa a dor e inca-</p><p>pacidade que geram sofrimento ao paciente no ambiente de trabalho.</p><p>É sabido que as LER/DORT são um dos principais agravos de saúde,</p><p>relacionado ao auxílio-doença acidentário. Entre 2011 e 2013, ela se</p><p>manteve em segundo lugar, o primeiro foi para causas externas. (BRA-</p><p>SIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).</p><p>Os distúrbios osteomusculares de membros superiores são os mais</p><p>comuns, caracterizados pelas tendinites e tenossinovites e estima-se</p><p>que afetam 50% a 80% da população economicamente ativa. Entre</p><p>2007 e 2016, 67.599 casos desse agravo foram notificados no Sinan.</p><p>56</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Nesse período, ocorreram uma média de 6.760 notificações, 3.499</p><p>do sexo feminino e 3.260 do sexo masculino. Ainda, nesse período,</p><p>observou-se um aumento de casos para o sexo feminino sobre o mas-</p><p>culino. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).</p><p>Em 2016, o coeficiente de incidência foi de 9,6/100 mil trabalhadores,</p><p>com maior pico em 2015, 9,8/100 mil trabalhadores. (BRASIL, MINIS-</p><p>TÉRIO DA SAÚDE, 2019). O gráfico 1, abaixo, demonstra os resultados:</p><p>ETIOLOGIA</p><p>Quadros clínicos diagnosticados como LER/DORT, apesar da</p><p>heterogeneidade já exposta, guardam entre si a semelhança de terem</p><p>em sua gênese o desconhecimento ou a ignorância das ferramentas de</p><p>prevenção cuja utilidade é consolidada. Portanto a doença, geralmente,</p><p>se origina quando há exposição prolongada a sobrecarga estática ou</p><p>dinâmica, jornada de trabalho excessiva, ininterrupção, técnicas de</p><p>produção inapropriadas ou ergonomia e antropometria inadequadas.</p><p>(BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Por sobrecarga estática,</p><p>entende-se a realização de força excessiva e a sustentação de peso acima</p><p>da capacidade fisiológica do indivíduo. Já a sobrecarga dinâmica é bem</p><p>exemplificada pelos esforços repetitivos. (SANTOS; MELO, 2019).</p><p>57</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>A susceptibilidade às doenças a partir da exposição a esses fatores</p><p>varia conforme a idade, o biotipo e os hábitos de vida dos trabalhado-</p><p>res. Além disso, maiores magnitude, duração e frequência da exposi-</p><p>ção são diretamente proporcionais ao dano fisiológico. A intensidade</p><p>desse, por sua vez, impõe o tempo necessário para recuperação. (VIE-</p><p>GAS; ALMEIDA, 2016).</p><p>Monteiro e Bertagni (2019) revelam a associação entre LER/DORT</p><p>e atividades laborais comuns, estando algumas delas demonstradas</p><p>no quadro 1 que segue:</p><p>Quadro 1. Relação entre atividades comuns e quadros clínicos no espectro</p><p>de LER/DORT</p><p>ATIVIDADE RELACIONADA LESÃO</p><p>Trabalhos com cotovelo apoiado Bursite olecraniana</p><p>Movimentação repetitiva do ombro Bursite subacromial</p><p>Costureiras e frentistas de posto Dedo em gatilho</p><p>Aperto de parafusos / descascar fios Epicondilite lateral / medial</p><p>Atividades manuais repetitivas Síndrome do Túnel do Carpo</p><p>Atividades repetitivas + força com o</p><p>braço Tendinite bicipital / do supraespinhoso</p><p>Torção de roupas (lavadeira) Tenossinovite de De Quervain</p><p>Digitação e operação de mouse Tenossinovite dos extensores do carpo</p><p>Flexão repetitiva das mãos Tenossinovite dos flexores do carpo</p><p>Fonte. Os autores</p><p>FISIOPATOLOGIA</p><p>O mecanismo pelo qual as LER/DORT se instalam tem em</p><p>comum o fato de se iniciarem pela sobrecarga biomecânica do tecido</p><p>58</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>musculoesquelético. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). O</p><p>evento fisiológico secundário varia conforme a estrutura corporal</p><p>acometida.</p><p>Dor</p><p>Decorre do estímulo às terminações nervosas contidas nos tecidos</p><p>acometidos por lesão, alta pressão mecânica, isquemia, extremos de</p><p>temperatura e agressão química. Esse estímulo é transmitido pelas</p><p>vias aferentes ao sistema nervoso central e nele pode ser interpre-</p><p>tado e modulado. (MONTEIRO; BERTAGNI, 2019). Quando a causa</p><p>da dor é um dano maciço ou uma inflamação crônica, pode ocorrer</p><p>hiperalgesia periférica, o que justifica o quadro progressivo da dor nas</p><p>LER/DORT. Por outro lado, durante a cicatrização do dano tecidual</p><p>ocorre inibição local e isso explica a redução álgica após o adequado</p><p>tratamento da afecção. (FAORO et al., 2018).</p><p>Isquemia</p><p>O estresse compressivo e tensional exercido reciprocamente por ten-</p><p>dões, músculos e ligamentos oblitera a microvasculatura local e induz</p><p>hipertrofia das camadas média e íntima das arteríolas, reduzindo ainda</p><p>mais o lúmen do vaso. Quando isso ocorre com intensidade, duração ou</p><p>frequência suprafisiológica, surgem lesões isquêmicas de repercussão</p><p>variável, podendo ser tão simples quanto uma dor local temporária ou tão</p><p>complexa quanto a disfunção grave. (MONTEIRO; BERTAGNI, 2019).</p><p>Dano estrutural</p><p>Cargas excessivas podem causar microrrupturas instantâneas de</p><p>fibras musculares e dano à estrutura interna dos tendões. A regeneração</p><p>dessa estrutura envolve a infiltração de vasos e nervos que, parado-</p><p>xalmente, pode degenerá-lo ou causar fibrose quando essa agressão é</p><p>crônica. (BORDACHAR, 2019). Nos esforços repetitivos, soma-se aos</p><p>mecanismos de dano celular o acúmulo de íons Ca++ no sarcoplasma</p><p>59</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>em quantidade tóxica. (HADREVI et al., 2019). Na negligência dos</p><p>intervalos, destaca-se que a manutenção da contração muscular por</p><p>períodos prolongados induz à permanência da ativação de unidades</p><p>motoras mesmo após a cessação do estímulo central. Cartilagens são</p><p>frequentemente acometidas quando ocorre atrito mecânico contínuo,</p><p>acidentes e movimentos com grande impacto articular. (MONTEIRO;</p><p>BERTAGNI, 2019). Por fim, os nervos são afetados por lesão isquêmica,</p><p>decorrente da compressão exercida pelos tecidos motores sobre o vasa</p><p>nervorun, e/ou pela compressão direta de algum de seus segmentos no</p><p>trajeto até o corno posterior. (DUNCAN; BHATE; MUSTALY, 2017).</p><p>Mais incidente do que qualquer um desses mecanismos, isola-</p><p>damente, é a coexistência de vários deles em proporções variadas,</p><p>conforme o segmento acometido e em momentos evolutivos distintos.</p><p>(BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).</p><p>SINAIS, SINTOMAS E EXAME FÍSICO</p><p>LER/DORT é uma síndrome caracterizada por queixas variadas,</p><p>visto que englobam cerca de 30 distúrbios distintos. De forma geral, os</p><p>sintomas compreendem: dor, sensação de peso e fadiga dos membros</p><p>superiores, parestesia, após fadiga e impossibilidade de recuperação dos</p><p>locais acometidos, causada por trabalho realizado em posição fixa ou com</p><p>movimentos repetitivos. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019) .</p><p>Durante a consulta médica, é imprescindível a realização de um</p><p>exame físico minucioso, com inspeção, palpação e testes especiais para</p><p>cada patologia a ser pesquisada. À inspeção, deve-se verificar</p><p>a pre-</p><p>sença de edema, coloração, simetria, atrofia, deformidades e cicatrizes.</p><p>À palpação, pesquisar alodínia, edema, temperatura e crepitação. Antes</p><p>de realizar os testes específicos, investigar a amplitude de movimento</p><p>ativa e passiva da articulação investigada. (IMBODEN et al., 2008) .</p><p>Nesta seção, serão abordados os distúrbios mais comuns na prá-</p><p>tica ambulatorial do médico do trabalho, com seus respectivos testes</p><p>específicos:</p><p>60</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Síndrome do túnel do carpo</p><p>Imboden et al. define a síndrome do túnel do carpo como uma</p><p>compressão do nervo mediano na junção do antebraço distal com</p><p>o punho. O sintoma mais marcante é a parestesia noturna na mão</p><p>com ou sem dor, frequentemente despertando o paciente do sono.</p><p>Acomete a região do nervo mediano, portanto a dormência ou for-</p><p>migamento são entre o primeiro, segundo e terceiro quirodáctilos</p><p>e lado radial do 4º quirodáctilo. (HAYEK et al., 2015).</p><p>A parestesia é, comumente, desencadeada por atividades que</p><p>requerem flexão ou extensão do punho, como dirigir, segurar um</p><p>livro ou conversar ao telefone. Apesar desse ser o sintoma mais</p><p>comum, o trabalhador pode apresentar uma dor que se estende</p><p>da mão e punho ao antebraço e cotovelo, parestesia em todos os</p><p>dedos que não os de distribuição do nervo mediano e detectável</p><p>ao exame neurológico. Em casos mais avançados o trabalhador</p><p>apresenta fraqueza e/ou atrofia da eminência tenar. (HAYEK et</p><p>al., 2019).</p><p>Rotineiramente, são realizadas duas manobras específicas: o sinal</p><p>de Tinel e a manobra de Phalen. Na primeira, o examinador per-</p><p>cute levemente os dedos sobre o nervo mediano no eixo médio do</p><p>punho e considera-se positivo se o paciente se referir à parestesia;</p><p>na segunda, realiza-se a hiperflexão ativa do punho por 1 minuto.</p><p>Haverá parestesia, caso haja compressão do nervo mediano. (IMBO-</p><p>DEN et al., 2008) .</p><p>Tendinopatias</p><p>Tendinopatia é um termo utilizado na prática clínica, enquanto</p><p>tendinite é um termo relacionado a um diagnóstico histológico, em</p><p>que há presença de células inflamatórias nos tendões acometidos . A</p><p>tenossinovite está relacionada ao acometimento histológico do tendão</p><p>e da bainha sinovial que o envolve. (HAYEK et al., 2015).</p><p>61</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>As tendinopatias mais comuns em trabalhadores são a tenossi-</p><p>novite estenosante dos flexores (dedo em gatilho) e tenossinovite de</p><p>De Quervain.</p><p>Tenossinovite estenosante dos flexores (dedo em gatilho)</p><p>O dedo em gatilho é uma das causas mais comuns de dor, edema e</p><p>limitação funcional nas mãos, causado pelo estreitamento relativo da</p><p>bainha flexora, que circunda os tendões no dedo afetado. (JUNIOR,</p><p>2008 apud ROLDÃO, 2020) . Os Tendões flexores tornam-se inca-</p><p>pazes de deslizar suavemente na polia, o que resulta em dor e no</p><p>movimento clássico em gatilho ou com estalo durante a flexão do</p><p>dedo. Posteriormente, o edema adicional leva ao travamento do dedo,</p><p>mais comumente em flexão, pois o tendão edemaciado não conse-</p><p>gue mais deslizar através da polia. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE</p><p>ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA</p><p>DE NEUROFISIOLOGIA CLÍNICA, 2012) .</p><p>De acordo com os sintomas apresentados pelo paciente, pode-se</p><p>classificar a tenossinovite em diferentes graus:</p><p>a) Grau I (ou pré-gatilho): grau em que o paciente apresenta apenas</p><p>dor local;</p><p>b) Grau II (ou ativo): o indivíduo apresenta o gatilho, mas consegue</p><p>estender ativamente o dedo;</p><p>c) Grau III (ou passivo): divide-se em grau IIIA, em que para realizar</p><p>a extensão do dedo, o paciente necessita de um movimento passivo</p><p>do mesmo; e grau IIIB, em que o paciente apresenta incapacidade</p><p>em fletir o dedo;</p><p>d) Grau IV (contratura): neste grau, o paciente apresenta uma con-</p><p>tratura fixa da articulação interfalangiana proximal do dedo.</p><p>(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATO-</p><p>LOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROFISIOLOGIA</p><p>CLÍNICA, 2012) .</p><p>62</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Doença de quervain ou tenossinovite de quervain</p><p>Doença que apresenta inflamação da bainha do abdutor longo</p><p>e extensor curto do polegar, no primeiro compartimento dorsal do</p><p>punho. O portador se refere à dor intensa à extensão e abdução</p><p>do polegar. Ocorre dor à palpação direta do compartimento e dor</p><p>quando o paciente faz o “sinal de pedir carona” com o polegar con-</p><p>tra a resistência. Há uma manobra específica a ser realizada: o teste</p><p>de Finkelstein, em que o examinador realiza a flexão completa do</p><p>punho, seguida de desvio ulnar passivo com o polegar fechado, sendo</p><p>considerado como prova positiva caso o paciente se refira à dor.</p><p>(IMBODEN et al., 2008) .</p><p>Epicondilite lateral (cotovelo do tenista) e medial</p><p>Os flexores do antebraço originam-se do epicôndilo umeral medial</p><p>e os extensores originam-se do epicôndilo umeral lateral. A inflamação</p><p>nas inserções desses músculos é chamada de epicondilite medial ou</p><p>lateral. Cotovelo do tenista é uma expressão que se refere à epicon-</p><p>dilite lateral, embora a grande maioria, sabidamente, dos pacientes</p><p>não joguem tênis. Na epicondilite lateral, a dor piora com a extensão</p><p>do punho enquanto na epicondilite medial a melhora ocorre com a</p><p>flexão do punho, podendo ocorrer fraqueza dos músculos envolvidos.</p><p>Os testes específicos que devem ser realizados pelo examinador são</p><p>os seguintes:</p><p>a) Teste de Cozen: o examinador realiza extensão do punho con-</p><p>tra resistência e com cotovelo em 90º de flexão e antebraço em</p><p>pronação. A prova é considerada positiva se for referida dor no</p><p>epicôndilo lateral.</p><p>b) Teste de Mill: o médico executa dorsiflexão do punho do paciente</p><p>com a mão fechada contra resistência. Caso o paciente refira dor</p><p>no epicôndilo lateral, a prova é dada como positiva.</p><p>63</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO LER/DORT</p><p>Sabidamente, o trabalho é um fator fundamental para a vida das</p><p>pessoas e, se bem proporcionado, pode levar a uma melhora na qua-</p><p>lidade de vida.</p><p>Após o diagnóstico de LER/DORT, os profissionais vivenciam</p><p>as consequências desta síndrome. Além dos sintomas secundários à</p><p>doença, os pacientes apresentam sentimento de culpa, insatisfação e</p><p>revolta pelo adoecimento, estresse e esgotamento acentuados, perda de</p><p>identidade e de qualidade de vida, baixa autoestima pela incapacidade</p><p>de realizar tarefas cotidianas. (PAULA et al., 2016).</p><p>O retorno ao trabalho demanda interação entre gestores,</p><p>colegas de trabalho, profissionais da área de Recursos Humanos,</p><p>familiares, entre outros profissionais. (SILVA, T. N. R. et al., 2016) .</p><p>Conforme PESTANA et al. (2017) , o profissional portador de LER/</p><p>DORT precisa lidar com a possibilidade de demissão, ressurgi-</p><p>mento de sintomas dolorosos no trabalho, descaso e desrespeito</p><p>da empresa e colegas de trabalho.</p><p>DIAGNÓSTICO</p><p>As principais ferramentas para o diagnóstico de LER/DORT</p><p>é a anamnese e o exame físico. A investigação dos acometimentos</p><p>englobados dentro da sigla “LER/DORT” deve ser bem esclarecida,</p><p>seja pelo médico do setor assistencial ou pelo médico perito. Os sinais</p><p>e sintomas clínicos devem ser correlacionados com fatores de risco</p><p>presentes na história, aspectos psicossociais e epidemiologia docu-</p><p>mentada. A partir disso, pode-se fazer uma hipótese diagnóstica,</p><p>confirmá-la e, é imprescindível, neste caso, notificá-la ao SINAN</p><p>(Sistema de informação de agravos de notificação). (LADOU; HAR-</p><p>RISON, 2016).</p><p>64</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Anamnese</p><p>História da moléstia atual: em geral, os sintomas de LER/DORT</p><p>são insidiosos em sua evolução e a queixa mais comum é a dor,</p><p>devendo ser caracterizada quanto ao tempo de evolução, local, intensi-</p><p>dade, desencadeantes, irradiação, fatores de melhora e piora e história</p><p>de trauma. Ademais, é comum a associação de instabilidade, fadiga,</p><p>edema e parestesias, sendo essa última decorrente de compressões</p><p>nervosas, decorrentes</p><p>de fatores como compressão externa e exposição</p><p>ao esforço repetitivo.</p><p>Queixas em outros aparelhos buscam elucidar se elas justificam</p><p>o quadro clínico, apresentado pelo paciente, já que algumas afecções</p><p>simulam LER/DORT. Atividades não trabalhistas de impacto muscu-</p><p>loesquelético e com movimentos de repetição devem ser investigados</p><p>com detalhes sobre a frequência e intensidade dessas ações. História</p><p>de traumas, fratura, acometimento sistêmico anterior, alterações con-</p><p>gênitas e doenças sistêmicas familiares como doenças reumatológicas,</p><p>também, devem ser pesquisadas.</p><p>Anamnese ocupacional: essa é a peça fundamental para elucidação</p><p>das queixas apresentadas e entendimento do “Nexo Técnico Previden-</p><p>ciário” – presente no tópico “Assuntos especiais” ao fim deste capítulo.</p><p>É importante colher dados sobre o local de trabalho (umidade, baru-</p><p>lho, ventilação etc.), treinamento para atividade laboral (técnicas),</p><p>ferramentas de uso, mobiliários, posturas, duração da jornada e inter-</p><p>valos adequados. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).</p><p>Exame Físico</p><p>O exame físico deverá ser direcionado às queixas musculoesque-</p><p>léticas apresentadas, porém é mandatório a realização da ectoscopia,</p><p>isto é, uma avaliação global, antes disso.</p><p>Ectoscopia: avaliação global</p><p>O sistema musculoesquelético: dividido em inspeção, palpação e</p><p>65</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>manobras clínicas, já descritas no quadro clínico geral deste paciente.</p><p>Caso, ainda, haja dúvida diagnóstica, o médico poderá solicitar exa-</p><p>mes complementares, se estiver claro ao profissional que aqueles</p><p>exames acrescentariam na confirmação do diagnóstico. (LADOU;</p><p>HARRISON, 2016).</p><p>Exames Complementares</p><p>Os exames complementares são solicitados com a intenção de</p><p>solucionar dúvidas quanto ao diagnóstico, para avaliar os possíveis</p><p>diagnósticos diferenciais. Cabe ao médico assistente relacionar os</p><p>achados dos exames complementares com a clínica do paciente.</p><p>Exames laboratoriais como PCR e VHS não devem ser solicitados</p><p>se a hipótese não estiver relacionada a causas de cunho inflamatório,</p><p>não possuindo, por exemplo, valor na detecção de um dos princi-</p><p>pais diagnósticos diferenciais, que é a Síndrome Do Túnel Do Carpo.</p><p>Ainda sobre exames laboratoriais, visando ao diagnóstico diferencial</p><p>de doenças inflamatórias reumatológicas, como a artrite reumatoide,</p><p>é válido solicitar o fator reumatoide e, de forma, mais específica, o</p><p>Anti-CCP. ( IMBODEN, 2008) .</p><p>A eletroneuromiografia (ENMG) configura-se como importante</p><p>exame de escolha para diagnóstico da Síndrome do Túnel do Carpo,</p><p>e está bem indicada para exclusão de relevantes diagnósticos dife-</p><p>renciais, como polineuropatia periférica. No caso da Síndrome do</p><p>Túnel do Carpo, o exame revela desmielinização do nervo mediano.</p><p>(HAYEK, 2015).</p><p>A ultrassonografia, também, pode ser indicada em suspeita de</p><p>inflamação localizada e, inclusive, pode ser utilizada para avaliação da</p><p>Síndrome do Túnel do Carpo e das Tenossinovites, mas cabe ressaltar</p><p>que sua especificidade e sensibilidade são menores que a eletroneu-</p><p>romiografia o que, por vezes, gera custos desnecessários frente à sua</p><p>realização. (IMBODEN, 2008).</p><p>66</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>A Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Nuclear</p><p>Magnética (RNM) são necessárias à visualização dos ossos, ligamen-</p><p>tos, cartilagens e partes moles, mas ficam reservadas para suspeitas de</p><p>massa tumoral compressivas, ressaltando-se a importância da RNM</p><p>para visualização de processos intra-articulares na tendinopatias.</p><p>(HAYEK, 2015).</p><p>As radiografias simples osteoarticulares não possuem relevância na</p><p>investigação dos principais diagnósticos diferenciais de LER/DORT,</p><p>quando comparadas aos, anteriormente, citados.</p><p>DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL</p><p>Algumas entidades nosológicas são menos conhecidas e geram</p><p>confusões porque estão associadas a processos crônicos de difícil con-</p><p>trole sintomático e são frequentemente relacionadas aos casos de LER/</p><p>DORT e merecem ser citadas:</p><p>a) Síndrome Dolorosa miofascial: cerca de 94,5% dos pacientes</p><p>portadores de LER/DORT possuem síndrome dolorosa miofas-</p><p>cial associada. Consiste em dor e aumento da tensão do apare-</p><p>lho músculo tendíneo-ligamentar que leva ao acometimento de</p><p>músculos, tendões, fáscias e ligamentos, apresentando pontos</p><p>dolorosos (pontos-gatilho) que quando pressionados ou estimu-</p><p>lados produzem um quadro de dor referida.</p><p>b) Fibromialgia: 20,2% dos pacientes com LER/DORT tinham dor</p><p>ge neralizada e 32,7% tinham tender points e trigger points de padrão</p><p>fi bromiálgico. (LIN et al., 1997). Essa concomitância de acometi-</p><p>mentos localizados com dores generalizadas tem sido frequente-</p><p>mente identi ficada entre os serviços que atendem o trabalhador.</p><p>c) Síndrome complexa de dor regional: são condições álgicas associa-</p><p>das a anormalida des neurovegetativas. Ocorrem diferentes proces-</p><p>sos neuropáticos, centrais, periféricos e psicogênicos que podem</p><p>produzir sinais e sintomas similares em dife rentes doentes. Vários</p><p>67</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>mecanismos fisiopatogênicos podem inte ragir no mesmo doente.</p><p>É classificada como distrofia simpático-reflexa ou síndrome com-</p><p>plexa de dor regional tipo I, quando não há lesão nervosa, e sín-</p><p>drome complexa de dor regional tipo II, quando há lesão nervosa.</p><p>A distrofia simpático-reflexa ou síndrome complexa de dor regio-</p><p>nal do tipo I é encontrada com frequência em pacientes com LER/</p><p>DORT e é de difícil remissão.</p><p>TRATAMENTO</p><p>A abordagem deve ser multidisciplinar, principalmente, nos qua-</p><p>dros crônicos, contando com as seguintes ações:</p><p>a) Terapia medicamentosa: o médico deverá manejar a dor aguda e</p><p>crônica, utilizando-se de uma progressão, sendo os analgésicos</p><p>e anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) primeira etapa da</p><p>analgesia, seguidos por corticoides, que também tem relevância</p><p>na sintomatologia. Ademais, a prescrição de fármacos da classe</p><p>dos antidepressivos, como os ISRS, tricíclicos e opioides podem</p><p>se associar ao tratamento ao longo da abordagem. (OMS, 2009).</p><p>b) Terapia não medicamentosa: primeiramente, os pacientes devem</p><p>ser orientados a evitar ações “de gatilho”. Para a síndrome do túnel</p><p>do carpo, por exemplo, escrever e tocar instrumentos devem ser</p><p>evitados. Ainda sobre essa síndrome, talas de pulso podem ser usa-</p><p>das e, inclusive, previnem crises compressivas. No entanto, ainda</p><p>não está bem documentado o seu regime de uso e por quanto</p><p>tempo se deve usar. A fisioterapia, para alívio sintomático e rela-</p><p>xamento da musculatura, está indicada. A psicoterapia melhora</p><p>a qualidade de vida desses pacientes, reduzindo os impactos dos</p><p>aspectos psicossociais associados ao quadro. (HAYEK, 2015).</p><p>c) Terapia ocupacional: baseia-se em medidas para auxílio da auto-</p><p>nomia para realização de atividades do cotidiano, lazer e do seu</p><p>trabalho. (PAULA; AMARAL, 2019).</p><p>68</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>d) Os procedimentos cirúrgicos não têm se mostrado úteis nos casos</p><p>de LER/DORT. Frequentemente, os pacientes com história relati-</p><p>vamente longa, submetidos a procedimentos cirúrgicos, evoluem</p><p>para dor crônica de difícil controle.</p><p>Em virtude disso, a medicina intervencionista da dor oferece novas</p><p>opções e novas maneiras de tratamento para os quadros de LER/DORT,</p><p>por meio de procedimentos minimamente invasivos. Destacam-se os</p><p>bloqueios terapêuticos com corticoides, procedimentos por radiofrequên-</p><p>cia, dentre outros que, dependendo da localização e como se apresenta</p><p>cada aspecto da LER/DORT em cada paciente, permitem a realização de</p><p>procedimentos sem a internação e com grande alívio da dor, facilitando</p><p>a reabilitação e retorno às atividades laborativas precocemente.</p><p>As medidas de prevenção são recomendadas para adequação da</p><p>atividade para proporcionar conforto, eficiência e segurança ao traba-</p><p>lhador. O Ministério da Saúde faz orientações sobre prevenção a partir</p><p>da Norma Regulamentadora</p><p>17. Podem ser realizadas adequações de</p><p>mobiliários ergonômicas, cuidados com sobrepeso físico, fiscalização</p><p>de desempenho de carga horária extra, melhor gestão dos horários de</p><p>trabalho, dentre outras. (BRASIL, 2018).</p><p>TÓPICOS ESPECIAIS</p><p>Alguns tópicos essenciais que abordam temas complementares</p><p>ao dia a dia da atuação médica diante do diagnóstico de LER/DORT.</p><p>Notificação</p><p>Diante do diagnóstico de LER/DORT, seja como médico espe-</p><p>cialista em segurança do trabalho ou médico da assistência geral</p><p>que tenha prestado o atendimento, deverá ser notificado o agravo ao</p><p>SINAN. Além disso, caso o paciente tenha carteira assinada, o médico</p><p>poderá emitir também a CAT (Comunicação por Acidente de Traba-</p><p>lho). (BRASIL, MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2020).</p><p>69</p><p>LER/DORT: DOMINANDO A ABORDAGEM DESSA SÍNDROME</p><p>NO BRASIL</p><p>Nexo técnico previdenciário (NTP)</p><p>Trata-se da nomenclatura estabelecida pela Previdência Social</p><p>para determinar o nexo entre a atividade laboral e a doença apresen-</p><p>tada. O NTP, em relação ao agravo LER/DORT, depende dos fatores</p><p>expositores analisados e significância epidemiológica relacionada ao</p><p>CID. Será inferido por ocasião de uma perícia médica, de acordo com</p><p>a Lei 8.213/1991. (BRASIL, MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019).</p><p>Lista de doenças relacionadas ao trabalho</p><p>Confira o quadro 2 baseado em dados do Ministério da Saúde:</p><p>Quadro 2. Doenças relacionadas ao trabalho</p><p>Síndrome Cervicobra-</p><p>quial (M53.1) Dorsalgia (M54.) Cervicalgia (M54.2)</p><p>Ciática (M54.3) Lumbago com Ciática</p><p>(M54.4)</p><p>Sinovites e Tenossinovi-</p><p>tes (M65.)</p><p>Dedo em Gatilho</p><p>(M65.3)</p><p>Tenossinovite do</p><p>Estiloide Radial (de</p><p>Quervain) (M65.4)</p><p>Outras Sinovites e</p><p>Tenossinovites (M65.8)</p><p>Fonte. PAULA; AMARAL, 2019.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Tendo em vista que a síndrome é caracterizada por queixas varia-</p><p>das, denota-se que a abordagem diagnóstica de LER/DORT deve se</p><p>basear em uma investigação ampla do paciente. A solicitação de exa-</p><p>mes complementares deve ser considerada como etapa esclarecedora</p><p>dos questionamentos elencados no exame clínico.</p><p>Por fim, ressalta-se que o manejo completo desse paciente se con-</p><p>diciona à realização de notificação à vigilância epidemiológica.</p><p>70</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BORDACHAR, Diego. Lateral epicondylalgia: A primary nervous system disorder.</p><p>Medical Hypotheses, Estados Unidos da América, v. 123, n. 1, p. 101-109, fev./2019.</p><p>Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.mehy.2019.01.009 Acesso em: 29 maio. 2020.</p><p>BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. 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O retorno ao trabalho de sujeitos acometidos por LER/DORT.</p><p>Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 25, n. 4, p. 735-742,</p><p>72</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>abr./2017. Disponível em: https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO0843.</p><p>Acesso</p><p>em: 1 jun. 2020.</p><p>Portaria Nº 9 DE 30.03.2007. Norma regulamentadora 17. Departamento de segurança</p><p>e saúde no trabalho. Disponível em: http://www.normaslegais.com.br/legislacao/</p><p>portariasst9_2007.htm. Acesso em: 10 maio. 2020</p><p>SANCHES, E. N. et al. Organização do trabalho, sintomatologia dolorosa e</p><p>significado de ser portador de LER/DORT. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 28,</p><p>n. 63, p. 313-324, out./2010. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/</p><p>psicologiaargumento/article/view/20207/19493. Acesso em: 18 maio. 2020.</p><p>SANTOS, G. B. D; MELO, F. X. D. 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Acesso</p><p>em: 8 maio. 2020.</p><p>73</p><p>Capítulo 5</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: pontos-</p><p>chaves a serem lembrados pelo generalista</p><p>Alice Duque Barbosa1</p><p>Jennifer Ferreira Duarte1</p><p>Rayane Paula Silveira Silva1</p><p>Sarah Rocha de Almeida1</p><p>Fernanda Arueira de Siqueira2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O conteúdo a ser expresso neste capítulo aborda as principais</p><p>Dermatoses Ocupacionais na Atenção Básica de Saúde, seu</p><p>diagnóstico e tratamento. Serão abordados diferentes e estra-</p><p>tégicos aspectos de cada agravo, desde a sua respectiva descrição,</p><p>sinonímia, etiologia, reservatório, modo de transmissão, períodos</p><p>de incubação e transmissão, até o diagnóstico, tratamento, vigilância</p><p>epidemiológica e medidas de controle e prevenção. Além dos aspec-</p><p>tos específicos de cada dermatose, serão observadas as peculiarida-</p><p>des das dermatoses no cenário de notificações dessas patologias e a</p><p>necessidade de prevenção.</p><p>1Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri – Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni – MG, Brasil.</p><p>2 Médica, formada pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte. Espe-</p><p>cializada em Dermatologia pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde – INCISA. Profes-</p><p>sora aprovada em concurso para Dermatologia e Clínica Médica na UFVJM - Campus Mucuri</p><p>(UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil</p><p>74</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA</p><p>Na ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação</p><p>(SINAN) para notificação compulsória de Dermatoses Ocupacionais</p><p>(DO), a definição de caso é descrita da seguinte maneira: toda alteração</p><p>da pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente causadas, mantidas</p><p>ou agravadas pelo trabalho. Isto é, que tenha a causa relacionada a qua-</p><p>dros psíquicos e à exposição a agentes químicos, biológicos ou físicos,</p><p>podendo ocasionar afecções do tipo sensibilizante ou, mais comumente</p><p>irritativa, que foi confirmado por critérios clínicos, epidemiológicos</p><p>ou laboratoriais. A importância de se discutir esse agravo abrange a</p><p>saúde do trabalhador e da trabalhadora e a diminuição na qualidade</p><p>de vida de ambos, os custos com os tratamentos, a baixa produtividade</p><p>do profissional e o absenteísmo, que pode resultar em demissão do</p><p>trabalho. A portaria nº 777 de 28 de abril de 2004, hoje, substituída pela</p><p>portaria n° 1984 de 12 de setembro de 2014, implementa a notificação</p><p>compulsória de agravos à saúde dos trabalhadores em serviços sentinela</p><p>específica do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo em uma lista</p><p>de 11 doenças, as DO. (MELO, 2019; SINAN, 2020).</p><p>Estudos epidemiológicos que abordam os aspectos ocupacionais</p><p>das dermatoses são raros no Brasil e, mesmo em outros países, há</p><p>uma escassez de dados estatísticos. Portanto o estudo do perfil clínico,</p><p>da frequência de casos, do perfil sociodemográfico e a notificação</p><p>compulsória são de grande relevância para elaboração de políticas</p><p>de prevenção de Dermatoses Relacionadas ao Trabalho (DRT) e para</p><p>utilização nos programas de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.</p><p>Porém é sabido que existem diversos fatores que tornam os dados</p><p>subestimados, a saber: escassez de serviços no atendimento de casos</p><p>suspeitos ou comprovados de DRT; a, ainda, precária capacitação dos</p><p>profissionais da área de saúde para estabelecer, diante de uma suspeita,</p><p>o nexo causal entre a lesão cutânea e a atividade profissional; desinfor-</p><p>mação dos trabalhadores sobre o risco da atividade exercida e o grande</p><p>número de trabalhadores informais em relação aos que pertencem ao</p><p>75</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>trabalho formal. Aqueles não são regidos pela Consolidação das Leis</p><p>Trabalhistas (CLT), não entram na estatística, portanto, os dados não</p><p>retratam a realidade. (MELO, 2019).</p><p>AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO</p><p>Para estabelecer um diagnóstico assertivo e condutas adequadas</p><p>nas dermatoses ocupacionais, confirmadas ou suspeitas, além dos</p><p>aspectos específicos de cada dermatose, alguns fatores são determi-</p><p>nantes e devem ser considerados pelo examinador. São eles: a história</p><p>de exposição ocupacional, verificar se há concordância entre o início</p><p>do quadro e o início da exposição e se o aspecto das lesões e sua</p><p>localização coincidem com os agentes etiológicos suspeitos. Além</p><p>disso, deve-se considerar a possibilidade de o trabalho ser um fator</p><p>de agravamento de doença pré-existente de origem não-ocupacional.</p><p>Outro fator importante é observar se há necessidade de afastamento</p><p>do trabalhador e, em caso positivo, verificar se houve melhora do</p><p>quadro com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho. Faz-se</p><p>necessário considerar, também, as condições em que o trabalho é</p><p>executado. No caso específico das dermatoses ocupacionais alérgicas,</p><p>deve-se buscar a identificação das substâncias alérgenas para fins de</p><p>diagnóstico e para prevenção de novos contatos e reexposição aos</p><p>agentes. O exame físico deve ser realizado sempre em local com ilumi-</p><p>nação adequada. Além disso, é necessário que seja realizado em toda</p><p>a pele do paciente. O médico assistente deve, também, estabelecer um</p><p>programa de tratamento que inclua, além da terapêutica específica,</p><p>aconselhamento em relação à eliminação e/ou proteção dos fatores</p><p>causais no ambiente de trabalho. (BRASIL, 2006).</p><p>PRINCIPAIS DERMATOSES OCUPACIONAIS: causas indiretas</p><p>e diretas</p><p>As causas indiretas incluem os fatores que predispõem o sur-</p><p>gimento de dermatoses ocupacionais ou agravam os quadros. Os</p><p>76</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>principais fatores condicionantes são idade, sexo, etnia, clima, der-</p><p>matoses concomitantes e condições de trabalho. As causas diretas</p><p>estão mais bem descritas a seguir:</p><p>Dermatite de Contato</p><p>A dermatite de contato (DC) é responsável por 90% das der-</p><p>matoses ocupacionais</p><p>diagnosticadas no Ocidente. A DC pode ser</p><p>dividida em dermatite de contato por irritante (DCI) e dermatite de</p><p>contato alérgica (DCA). As duas possuem em comum a apresentação</p><p>de reações inflamatórias, causadas por substâncias em contato com</p><p>a epiderme. Os principais fatores predisponentes são idade, sexo e</p><p>ocupação ou atividade desenvolvida pelo trabalhador ou pela traba-</p><p>lhadora. (KADDOURAH et al., 2015; BRASIL, 2006).</p><p>A DCI é causada por fatores externos, como solventes, calor,</p><p>umidade excessiva ou atrito, que prejudicam a integridade da pele.</p><p>Qualquer indivíduo pode apresentar essa dermatose, sendo que a</p><p>vulnerabilidade do tecido cutâneo se relaciona com a penetrabili-</p><p>dade e com a espessura da camada de queratina. Por consequência,</p><p>os agentes químicos causarão lesões na pele se a concentração dessa</p><p>substância ultrapassar a capacidade de proteção exclusiva de cada</p><p>indivíduo e, também, se houver exposições sucessivas da substância</p><p>irritativa. Os principais indutores ocupacionais de irritação na pele</p><p>são produtos de limpeza (sabão e detergentes), tecidos, papel, papelão,</p><p>objetos metálicos, volante, luvas, petróleo, alimentos, trabalho em</p><p>ambiente molhado, ar seco e frio, entre outros. As principais substân-</p><p>cias são álcalis, ácidos, solventes, orgânicos, umidade e ar. (LAMPEL;</p><p>POWELL, 2019).</p><p>O quadro clínico da DCI pode se manifestar em forma aguda e</p><p>crônica. A forma aguda está relacionada com acidentes, envolvendo</p><p>substâncias químicas que produzem lesões mais graves a depender da</p><p>concentração, toxicidade e tempo de contato. No local de contato, pode</p><p>se desenvolver eritema, edema, vesículas ou bolhas e até queimaduras</p><p>77</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>com necrose nos casos de exposição a substâncias como ácidos e álca-</p><p>lis fortes, causando queimação e prurido. A duração das lesões pode</p><p>estender de dias a semanas, de acordo com a intensidade de cada caso.</p><p>A forma crônica é a mais comum e se relaciona com exposições cons-</p><p>tantes aos irritantes menos nocivos, como água e produtos de limpeza</p><p>e, também, com atrito repetitivo, ocorrendo, principalmente, nas mãos.</p><p>Tradicionalmente, as lesões se iniciam com ressecamento nos espaços</p><p>interdigitais e seguem para o dorso e palma das mãos. Ocorre eritema,</p><p>descamação, espessamento da pele, fissuras e liquenificação, também,</p><p>levando a prurido e queimação como sintomas principais. (RIVITTI,</p><p>2018; FITZPATRICK, 2010).</p><p>A DCA é menos comum que a DCI, sendo responsável por 1 a</p><p>cada 5 casos de DC. Embora o número de substâncias com poten-</p><p>cial alergênico seja superior a 3700, alguns alérgenos possuem maior</p><p>relação com o local de trabalho, como trabalhadores que lidam com</p><p>equipamentos de escritório emborrachados e acessórios para compu-</p><p>tadores, pessoas que lidam com resina, como odontologistas, traba-</p><p>lhadores na indústria de pisos e na cola epóxi. Também atinge profis-</p><p>sionais em contato com formaldeído, tais como patologia anatômica,</p><p>agricultura, fabricação de móveis, indústria têxtil e trabalhadores da</p><p>limpeza. (FITZPATRICK, 2010; LAMPEL; POWELL, 2019).</p><p>O quadro clínico da DCI pode se manifestar em forma aguda e</p><p>crônica. Na aguda, as lesões apresentam-se como eritema, edema,</p><p>pápulas e vesículas que, assim como na DCI, evoluem para erosões,</p><p>crostas e descamação. Nos casos graves, podem aparecer bolhas.</p><p>Podem causar prurido e dor. Essas lesões ocorrem no local de contato,</p><p>porém as pápulas se disseminam para a periferia, podendo generalizar.</p><p>O quadro se estabelece entre 12 a 72 horas após a exposição. Na forma</p><p>crônica, os sintomas são os mesmos da forma aguda. Quanto às lesões,</p><p>o paciente pode, também, apresentar placas de liquenificação que são</p><p>mal definidas e disseminadas e, também, descamação e pigmentação</p><p>da pele. A evolução pode perdurar por meses ou até anos e há piora</p><p>após reexposição. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>78</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>No tratamento da DCI, assim como na DCA, é necessário evitar</p><p>o contato com o agente causal e realizar compressas úmidas com ads-</p><p>tringentes para reduzir a exsudação e secar as vesículas. Emolientes</p><p>como vaselina são indicados para melhorar ressecamento e prurido.</p><p>O uso tópico de corticoides também é indicado nos casos de menor</p><p>intensidade. O tratamento sistêmico inclui algumas opções de medi-</p><p>camentos, tais como, corticoides, anti-histamínicos, imunomodula-</p><p>dores tópicos, ciclosporina, metotrexato e psoralenos. (BRASIL, 2006;</p><p>FITZPATRICK, 2010).</p><p>Urticária de Contato</p><p>A urticária de contato é caracterizada pelo surgimento de uma lesão</p><p>elementar dermatológica – urtica – após o contato da substância alergê-</p><p>nica com a pele ou mucosas, em minutos ou horas. A urtica apresenta</p><p>três características típicas: edema central de tamanho variado, circun-</p><p>dado por eritema; prurido de natureza breve, voltando a pele ao normal</p><p>no período de 1 a 24h. Dentro da classificação, podem ser encontrados</p><p>4 tipos de urticária: a não alérgica (urticariogênica primária); a alérgica</p><p>ou imunológica; a combinada não alérgica urticariforme e alérgica;</p><p>e combinadas alérgica eczematosa e urticariforme. (AZULAY, 2015).</p><p>A forma não alérgica, ou não imunológica, não exige sensibilização</p><p>prévia e o quadro vai depender da natureza da substância, da área da</p><p>pele exposta, do modo e do tempo de exposição e sua concentração. A</p><p>manifestação fica restrita à área de exposição. Dentre os profissionais</p><p>que podem ser afetados, estão os jardineiros, cozinheiros, médicos e</p><p>atividades relacionadas. (SÜß, 2019).</p><p>Em contraste, a urticária de contato alérgica, ou imunológica,</p><p>necessita de uma sensibilização prévia por um agente causador especí-</p><p>fico e tem como fator predisponente a dermatite atópica. Os indutores</p><p>mais frequentes são as luvas, devido ao látex da borracha, desinfetan-</p><p>tes, alimentos e aditivos alimentares, cosméticos para o cabelo, perfu-</p><p>mes e fragrâncias. Os profissionais mais expostos são os enfermeiros,</p><p>79</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>fazendeiros, profissionais da saúde, pescadores e pessoas que lidam</p><p>com cosméticos. (SÜß, 2019).</p><p>A abordagem diagnóstica é semelhante às outras DO, destacan-</p><p>do-se a importância da anamnese, exame físico e identificação dos</p><p>agentes desencadeantes. Exames complementares para a alergia a luvas</p><p>podem ser feitos, como teste de punctura e teste de látex radioalergo-</p><p>sorvente. (CRIADO, 2019; AZULAY, 2015).</p><p>O tratamento é medicamentoso, com abordagem padrão por meio</p><p>de anti-histamínicos. Para aqueles que não tiverem resposta ou que a</p><p>apresentação da doença for grave, utilizam-se corticosteroides orais.</p><p>Seguir com protocolo habitual para possíveis complicações como</p><p>angioedema com sinais de evolução para anafilaxia. (AZULAY, 2015).</p><p>Dermatoses por Causas Físicas</p><p>Os agentes físicos causadores das DO incluem trauma mecânico,</p><p>calor, frio, urticária física e síndrome de vibração. O trauma mecânico</p><p>está associado a diversos tipos de profissões, podendo se manifestar de</p><p>várias formas, compreendendo hiperceratose/calosidade como meca-</p><p>nismo de proteção. A fricção é, possivelmente, o trauma mecânico</p><p>mais comum variando de leve a grave, que produz o calo e até mesmo</p><p>prejuízo ungueal. A pressão prolongada e excessiva sob determinada</p><p>área causa hiperpigmentação e espessamento; placas de pele espessa,</p><p>com fissuras e descamação são vistas em funcionários que lidam com</p><p>papel sensível à pressão não-carbonado ou papel de telefax, como</p><p>trabalhadores dos correios e secretárias com histórico de psoríase; a</p><p>pulpite, dermatite dolorosa, seca, com fissuras e escamosa nas polpas</p><p>digitais, são achadas em mulheres que fazem trabalhos domésticos.</p><p>As calosidades da última falange do dedo médio, a da mandíbula, dos</p><p>joelhos e da borda lateral das mãos são achados nos escritores, nos</p><p>violinistas, em faxineiras e nos polidores, respectivamente. Observa-se,</p><p>também, oníquias em trabalhadores de matadouros por traumatismo</p><p>repetido na região ungueal. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>80</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>O calor excessivo é comum em alguns ambientes de trabalho</p><p>e desencadeia o eritema ab igne, caracterizado por eritema reticu-</p><p>lado, hiperpigmentação, telangiectasias, atrofia e descamação em</p><p>regiões expostas em tempo prolongado à radiação infravermelha.</p><p>Geralmente, são assintomáticos e os profissionais mais acometi-</p><p>dos são os braseiros, pessoas que laboram com fornos a gás ou</p><p>carvão e mecânicos, devido aos radiadores a vapor. Além disso,</p><p>existe o risco de queimaduras, seja por contato direto com o fogo</p><p>ou queimaduras elétricas e por raios, podendo ser encontrados,</p><p>respectivamente, em cozinheiros, eletricistas e pessoas que traba-</p><p>lham ao ar livre, tais como geólogos, guardas florestais e pessoas</p><p>que constroem estradas. Essas últimas podem sofrer danos perma-</p><p>nentes, tais como cicatrizes, desfigurações e arritmias cardíacas.</p><p>(AZULAY, 2015; RIVITTI, 2014).</p><p>A exposição ao frio em excesso pode causar danos em três está-</p><p>gios: vasoconstrição com queda da temperatura da pele; o fenômeno</p><p>de Lewis, que consiste na vasodilatação transitória com elevação e</p><p>queda cíclica na temperatura da pele; e, por fim, o congelamento da</p><p>parte, caso a exposição ao frio permaneça constante. Portanto, o nível</p><p>do prejuízo depende da temperatura, da duração da exposição e do</p><p>grau de esfriamento. Esses agravos podem ser encontrados em pessoas</p><p>que trabalham com câmaras frigoríficas, em açougues e laticínios.</p><p>(FITZPATRICK, 2010).</p><p>A urticária física, por seu primeiro episódio, geralmente, ser</p><p>desencadeado durante o trabalho, o paciente a considera como sendo</p><p>ocupacional. Mas, na maioria das vezes, sua causa é desconhecida.</p><p>Caracteriza-se pelo surgimento da urtica, durando em torno de 12</p><p>a 18 horas. Pode se apresentar em forma de dermografismo, isto é,</p><p>surgimento de um vergão linear logo após aplicação de força mecânica</p><p>na pele e pode ser as seguintes: urticária de contato ao frio; urticária</p><p>de contato ao calor; urticária solar e urticária por forças vibratórias,</p><p>geralmente, dispositivos pneumáticos. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>81</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>A síndrome de vibração ocorre, principalmente, em trabalha-</p><p>dores de indústrias, operários de martelos hidráulicos, rebitadeiras,</p><p>moedores manuais, serras elétricas e batedores, nos quais frequências</p><p>vibratórias entre 30 e 300Hz são empregadas. Consiste em um espasmo</p><p>vascular dos dedos e das mãos, popularmente conhecido como “dedos</p><p>brancos” ou “dedos mortos”, se assemelhando ao fenômeno de Ray-</p><p>naud. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>O diagnóstico desses agravos é, essencialmente, clínico. No trata-</p><p>mento, como primeira medida e essencial, tem-se o afastamento dos</p><p>agentes causais. Nas dermatoses por frio, além de aquecer as regiões,</p><p>vasodilatadores são usados para ativar a circulação; nas urticárias</p><p>físicas, utiliza-se o mesmo tratamento usado nas urticárias de contato,</p><p>conforme citado anteriormente. (AZULAY, 2015; RIVITTI, 2014).</p><p>Dermatoses por Causas Biológicas</p><p>As dermatoses por causas biológicas podem ser divididas em infec-</p><p>ções bacterianas, infecções virais, infecções fúngicas e doenças parasi-</p><p>tárias. A exemplo de infecções bacterianas, são descritas as infecções</p><p>estafilocócicas, estreptocócicas e por pseudomonas, micobacterianas</p><p>atípicas, entre outras. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>As infecções estafilocócicas, estreptocócicas e por pseudomonas,</p><p>comumente, se desenvolvem, secundariamente, a escoriações, lacerações</p><p>e ferimentos, sendo comum a paroníquia – infecção na dobra em torno</p><p>da matriz da unha de dedo da mão. Os profissionais mais atingidos são</p><p>os que trabalham em açougue, abate e processamento de aves, mecâni-</p><p>cos de carros e caminhões e, também, profissionais que trabalham em</p><p>contato íntimo com pessoas infectadas como enfermeiras, cabelerei-</p><p>ros e manicures. O carbúnculo ou antraz se caracteriza pela infecção</p><p>bacteriana de várias unidades pilossebáceas contíguas, de forma geral</p><p>é um conjunto de furúnculos. É causado, comumente, pelo Staphylo-</p><p>coccus aureus, mas também pode ser causado pelo Bacillus anthracis.</p><p>O antraz atinge, principalmente, lavradores, açougueiros, criadores de</p><p>82</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>gado, processadores de rações, trabalhadores no processo de preparo de</p><p>pele e pelos (cabra, lã), mercadores de cargas e operários de armazéns.</p><p>Trata-se o carbúnculo colocando compressa morna, no local, 2 vezes por</p><p>dia, por 5 dias ou até a drenagem espontânea do conteúdo purulento.</p><p>(RIVITTI, 2014; GUSSO, 2012; FITZPATRICK, 2010).</p><p>Infecções micobacterianas atípicas, também, denominadas opor-</p><p>tunistas ou ambientais, são causadas por uma variedade de micobac-</p><p>térias, mais comumente a M. marinum – causadora do granuloma das</p><p>piscinas ou dos pescadores. Acomete limpadores de piscinas conta-</p><p>minadas e aquários domésticos, pescadores e cirurgiões. (RIVITTI,</p><p>2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>Além das infecções bacterianas descritas acima, ainda, existe</p><p>a tuberculose cutânea, a brucelose, a tularemia e a erisipeloide. A</p><p>tuberculose cutânea, no passado, acometia com mais frequência</p><p>médicos, patologistas e laboratoristas. Hoje, pode atingir, também,</p><p>fazendeiros e açougueiros. A brucelose possui maior prevalência nas</p><p>áreas rurais, atingindo pessoas que lidam com carnes, gados e ani-</p><p>mais domésticos. A tularemia, geralmente, atinge trabalhadores que</p><p>manuseiam pele de animais recém-mortos: caçadores, fazendeiros,</p><p>açougueiros, mercadores de peles e, também, pode afetar trabalha-</p><p>dores de laboratórios. A erispelóide acomete, principalmente, profis-</p><p>sionais que manipulam carnes – açougueiros e pescadores/peixeiros.</p><p>O tratamento das infecções bacterianas, em geral, é sintomático. A</p><p>antibioticoterapia é específica, quando necessária. (RIVITTI, 2014;</p><p>FITZPATRICK, 2010).</p><p>Dentre as DO por causas biológicas de origem viral, encontram-se</p><p>a herpes simples, as verrugas virais, entre outras. A herpes simples</p><p>é causada pelo vírus herpes simples tipo 1. Quando localizada nos</p><p>dedos, é conhecida como paroníquia herpética, caracterizada por eri-</p><p>tema e edema. Antigamente, acometia muitos profissionais da saúde,</p><p>no entanto, o uso de luvas descartáveis, máscaras e óculos reduziu a</p><p>incidência desta infecção. (RIVITTI, 2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>83</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>As verrugas virais podem ser causadas por mais de 35 tipos dife-</p><p>rentes de papilomavírus humanos. O curso dessa infecção é o mesmo</p><p>do herpes simples. Pode afetar açougueiros, trabalhadores de mata-</p><p>douros e, também, lutadores de boxe e de luta-livre. É chamada herpes</p><p>dos gladiadores. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>O Ectima Contagioso (ORF) que atinge mais fazendeiros, veteri-</p><p>nários e o nódulos dos ordenhadores, também, é outra DO de origem</p><p>viral. O tratamento das infecções virais é específico de cada derma-</p><p>tose, podendo variar do uso de antivirais a intervenções cirúrgicas.</p><p>(FITZPATRICK, 2010).</p><p>Há diversos fungos que causam infecções de pele ou até mesmo</p><p>nas unhas. Dentre as DO, destacam-se a candidíase, a esporotri-</p><p>cose, a paracoccidioidomicose e a cromomicose. (RIVITTI, 2014;</p><p>FITZPATRICK, 2010).</p><p>A Candidíase é causada pela Candida albicans e afeta, principal-</p><p>mente, trabalhadores que manipulam alimentos, mas também enfer-</p><p>meiras, assistentes dentários e aqueles que usam luvas por períodos</p><p>prolongados como equipes de limpeza e manutenção na indústria de</p><p>semicondutores. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>O agente da esporotricose é o Sporothix schenckii que vive sapro-</p><p>fiticamente na natureza e a inoculação ocorre por ferimento com</p><p>material contaminado, como palhas e espinhos, mas também com</p><p>picadas de insetos ou mordeduras e arranhaduras de animais con-</p><p>taminados, especialmente os felinos que funcionam como vetores</p><p>da doença. Os profissionais que correm risco de serem afetados</p><p>troco do lucro. Estamos aqui para mostrar que</p><p>investir em saúde é garantia de retorno no investimento. O trabalha-</p><p>dor e a trabalhadora saudáveis, física e mentalmente, construirão um</p><p>8</p><p>ambiente fraterno de produção, recompensando cada moeda gasta</p><p>com os cuidados que lhes foram dispensados.</p><p>Nesse novo mundo globalizado, a medicina ocupacional se expan-</p><p>diu e ganhou novos aliados. O que, antes, resumia-se a um tímido</p><p>graduado em medicina atrás de uma escrivaninha, ganhou tentáculos.</p><p>Hoje nos é impossível caminhar como em décadas anteriores. Igno-</p><p>rar a multidisciplinaridade é negar o mundo novo em que vivemos.</p><p>A medicina ocupacional abraça outras carreiras e, de mãos dadas</p><p>com psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros</p><p>conseguimos uma maior abrangência e acurácia ao olharmos para o</p><p>trabalhador. Cada especialidade atuando em seu rol e formando uma</p><p>única corrente de proteção àquilo que mais nos importa: o cidadão.</p><p>São novos tempos e essa obra consegue muito bem traduzir o espí-</p><p>rito da modernidade na saúde ocupacional. O olhar fundamental sobre</p><p>a saúde da mulher trabalhadora, o envelhecimento populacional e suas</p><p>implicações nas políticas trabalhistas, o teletrabalho que tanta força anga-</p><p>riou nesses tempos de pandemia são assuntos, hoje, imprescindíveis em</p><p>qualquer bom livro sobre nossa área de atuação e aqui estão, primorosa-</p><p>mente, abordados. Trata-se de obra das mais completas e já fundamentais</p><p>a quem quer se atualizar ou se instruir acerca de nossa especialidade.</p><p>Despeço-me com a certeza do sucesso dessa obra, tomo fundamental</p><p>a qualquer especialista ou entusiasta do assunto. Como disse Confúcio: “o</p><p>operário que quer fazer o seu trabalho bem, deve começar por afiar seus</p><p>instrumentos.” Esse livro é uma grande oportunidade de nos afiarmos.</p><p>Luis Fernando Gagliardi</p><p>Graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – SP. Especialização</p><p>em Medicina de Tráfego. Especialização em Medicina do Trabalho. Especialização em Ergonomia</p><p>Aplicada ao Trabalho. Título de Especialista em Medicina de Tráfego pela Associação Brasileira de</p><p>Medicina de Tráfego (Abramet). Título de Especialista em Medicina do Trabalho pela Associação</p><p>Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). Curso de Transtornos Mentais Relacionados ao</p><p>Trabalho. Pós-graduação em Perícia Médica. Diretor de Regionais Adjunto da Associação Paulista</p><p>de Medicina do Trabalho (APMT). Diretor de Divulgação da Associação Nacional de Medicina do</p><p>Trabalho (ANAMT).</p><p>9</p><p>SUMÁRIO</p><p>APRESENTAÇÃO ................................................................................04</p><p>DEDICATÓRIA ....................................................................................06</p><p>PREFÁCIO ............................................................................................. 07</p><p>CAPÍTULO 01 UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL ................................................... 11</p><p>CAPÍTULO 02 ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO</p><p>CLÍNICO EM SAÚDE OCUPACIONAL .......... 25</p><p>CAPÍTULO 03 SAÚDE OCUPACIONAL: riscos e</p><p>vulnerabilidades na prática dos trabalhadores..40</p><p>CAPÍTULO 04 LER/DORT: dominando a abordagem dessa</p><p>síndrome no Brasil ................................................54</p><p>CAPÍTULO 05 DERMATOSES OCUPACIONAIS: pontos-</p><p>chaves a serem lembrados pelo generalista ........ 73</p><p>CAPÍTULO 06 PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA ..91</p><p>CAPÍTULO 07 PRIMEIRO SOCORROS: condutas em ambientes</p><p>de trabalho ............................................................ 107</p><p>CAPÍTULO 08 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS</p><p>PREVENTIVAS: do contexto habitual à situação</p><p>de pandemia pela covid-19 .................................123</p><p>10</p><p>CAPÍTULO 09 SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO</p><p>ENVELHECIMENTO POPULACIONAL</p><p>ATIVO ................................................................... 139</p><p>CAPÍTULO 10 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO</p><p>TRABALHADOR E DA TRABALHADORA:</p><p>bem-estar e produtividade ................................. 155</p><p>CAPÍTULO 11 SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA .......................................... 167</p><p>CAPÍTULO 12 SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO ........ 186</p><p>CAPÍTULO 13 SAÚDE NO TRABALHO E ESPIRITUALIDADE:</p><p>componentes do bem-estar ................................... 202</p><p>CAPÍTULO 14 MUDANÇAS E PERSPECTIVAS DO</p><p>TRABALHO NO SÉCULO XXI: teletrabalho .... 215</p><p>CAPÍTULO 15 A SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABA-</p><p>LHADORA EM TEÓFILO OTONI-MG .......... 229</p><p>ANEXO 01 ROTEIRO DE ANAMNESE OCUPACIONAL .242</p><p>11</p><p>Capítulo 1</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Allana Aparecida Maciel Costa1</p><p>Hugo Araújo Miranda1</p><p>Isabela de Melo Silva1</p><p>Raíssa Lisboa Ramos1</p><p>Daniel Monteiro de Barros Dias2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A história da saúde dos trabalhadores decorre de transformações</p><p>ocorridas no âmbito das ciências sociais, econômicas, políticas,</p><p>ambientais e da saúde. Assim, ao se fazer uma abordagem his-</p><p>tórica da temática, é possível compreender como essas mudanças inter-</p><p>feriram diretamente no processo das atividades laborais. Ademais, ao</p><p>se fazer uma abordagem legislativa acerca do tema, é possível perceber</p><p>como a existência de leis trabalhistas foi fundamental para a consolida-</p><p>ção de um ambiente profissional seguro, capaz de proteger o trabalhador</p><p>e a trabalhadora e minimizar os acidentes e as doenças ocupacionais.</p><p>¹Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Graduado em Medicina pela Universidade do Grande Rio (2009), Residência em Clínica Médica</p><p>pelo Hospital Municipal Lourenço Jorge - RJ e Pós-Graduações em Terapia Intensiva e Medicina</p><p>do Trabalho. Médico internista, rotina da Unidade de Terapia Intensiva e Diretor Técnico do</p><p>Hospital Philadelfia e médico examinador em medicina ocupacional - Medicina do Trabalho.</p><p>Supervisor do Programa Mais Médicos do Brasil, na região de Almenara - MG. Professor Auxiliar</p><p>em Clínica Médica na UFVJM - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.</p><p>12</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: histórico e definições</p><p>Desde a Antiguidade, existem descrições acerca de doenças rela-</p><p>cionadas ao trabalho. Há relatos em papiros de dermatites prurigi-</p><p>nosas decorrentes das atividades laborais, ocorridas no Egito antigo.</p><p>(KASHIWABARA et al., 2019). Já na Grécia, Hipócrates descreveu</p><p>problemas respiratórios em mineradores. Durante o século IV a.C., o</p><p>“pai da Medicina” fez uma associação entre posição social, ambiente,</p><p>tipo de trabalho e a ocorrência de determinadas doenças. (MAR-</p><p>TINS, 2017). Em Roma, também durante a Idade Antiga, Caio Plí-</p><p>nio abordou na obra “Historia Naturalis” a tentativa de escravos, que</p><p>trabalhavam em minas, de minimizarem a inalação de substâncias,</p><p>usando panos, membranas de bexiga de carneiro e máscaras. (KASHI-</p><p>WABARA et. al., 2019).</p><p>Durante a Idade Média, Ibn Sina, médico oriental conhecido como</p><p>Avicena, ao observar a saúde de pessoas que trabalhavam em catedrais,</p><p>relacionou o uso de tinturas à base de chumbo com a ocorrência de</p><p>cólicas nos profissionais que as manuseavam e, assim, descreveu a</p><p>cólica plúmbica. (MARTINS, 2017; TIMBÓ; EUFRÁSIO, 2009).</p><p>Mais tarde, em 1700, o médico italiano Bernardino Ramazzini</p><p>publicou a obra “De Morbis Artificum Diatriba”, citada por Kashi-</p><p>wabara et. al. (2019), o primeiro livro sobre saúde ocupacional. Essa</p><p>obra foi elaborada décadas antes da Revolução Industrial, em um</p><p>momento histórico no qual a divisão do trabalho ainda não era</p><p>algo comum e o profissional conhecia e realizava todas as etapas</p><p>do processo produtivo. Desse modo, as doenças laborais tinham</p><p>características bem definidas de uma determinada profissão, sendo</p><p>separadas por ofícios como, por exemplo, “doenças dos ferreiros”,</p><p>“doenças dos marinheiros”, “dos remeiros” e “dos pescadores”. (VAS-</p><p>CONCELLOS; GAZE, 2013).</p><p>Nessa forma de classificação, a doença profissional expressava</p><p>o somatório de diversas exposições</p><p>são</p><p>fazendeiros, enfermeiros, veterinários, jardineiros que manipulam</p><p>raízes de plantas, operários florestais e outras pessoas que trabalham</p><p>ao ar livre. (RIVITTI, 2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>A paracoccidioidomicose é causada pelo Paracoccidioides brasilien-</p><p>sis, que vive no solo ou em vegetais, infectando o homem por aspira-</p><p>ção, ingestão ou inoculação. A pele é, ocasionalmente, local de inocu-</p><p>lação por ferimentos com vegetais ou materiais do solo contaminados.</p><p>84</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Os trabalhadores mais acometidos são os rurais, principalmente em</p><p>áreas endêmicas. (RIVITTI, 2014).</p><p>A cromomicose ou cromoblastomicose é uma micose profunda,</p><p>causada por diversos fungos, principalmente, o Fonsecaea pedrosoi,</p><p>geralmente, secundária a um ferimento ou trauma. A maioria dos</p><p>acometidos são trabalhadores rurais. O tratamento da DO de origem</p><p>fúngica é específico de cada dermatose, podendo variar de antifún-</p><p>gicos específicos a cada agente etiológico, a intervenções cirúrgicas.</p><p>(RIVITTI, 2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>As DO de origem parasitária têm como principais agentes os Hel-</p><p>mintos e Artrópodos. As DO mais frequentes causadas por Helmintos</p><p>são a dermatite por esquistossomo ou dermatite cercariana e a larva</p><p>migrans. A dermatite cercariana é conhecida, também, como coceira</p><p>ou sarna do nadador e acomete, principalmente, mergulhadores, sal-</p><p>va-vidas e estivadores. A Larva migrans, também conhecida como</p><p>bicho geográfico, é causada pela penetração, na derme, de larvas do</p><p>Ancylostoma braziliensis e, eventualmente, Ancylostoma caninum. Os</p><p>trabalhadores que estão mais propensos a serem acometidos pela larva</p><p>migrans são lavradores, pescadores, operários de esgoto e salva-vidas.</p><p>(RIVITTI, 2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>Entre as DO causadas por Artrópodos, destacam-se as picadas</p><p>de insetos, a escabiose e a Doença de Lyme. Picadas de insetos, como</p><p>piolhos, formigas, carrapatos, abelhas e marimbondos, frequente-</p><p>mente, causam doenças de pele ocupacionais. Podem ser afetados</p><p>operários que trabalham ao ar livre, mercadores de frangos (piolhos</p><p>de galinhas), processadores de alimentos para plantas, funcionários</p><p>de restaurantes e estivadores. A escabiose ou sarna é causada pelo</p><p>ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis e tem como principais sintomas</p><p>pequenas pápulas com crostículas encimadas e o prurido, geral-</p><p>mente, intenso. Os profissionais mais expostos estão em creches,</p><p>hospitais e asilos. A Doença de Lyme ou borreliose é dermatose</p><p>resultante da inoculação de espiroquetas do gênero Borrelia, e é</p><p>85</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>transmitida por picadas de carrapatos. (AZULAY, 2015; RIVITTI,</p><p>2014; FITZPATRICK, 2010).</p><p>Câncer de Pele</p><p>Os tumores de pele são classificados em dois grupos: câncer de</p><p>pele melanoma (CPM) e câncer de pele não melanoma (CPNM). Entre</p><p>os cânceres de pele não melanoma temos dois subgrupos principais:</p><p>carcinoma basocelular (CBC) e o carcinoma espinocelular (CEC).</p><p>De maneira global, estes são os mais frequentemente diagnosticados</p><p>dentre todas as neoplasias malignas e, no que se refere ao câncer de</p><p>pele ocupacional, merece um olhar especial. (PEREIRA, 2017).</p><p>Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do cân-</p><p>cer de pele são os seguintes: história pessoal ou familiar, no caso do</p><p>melanoma, e exposição solar excessiva e frequente sem proteção. Vale</p><p>ressaltar que os fototipos mais baixos (pele clara) aumentam o risco</p><p>de desenvolver o agravo. (HARRISON, 2016).</p><p>A exposição contínua e excessiva à radiação ultravioleta é a princi-</p><p>pal causa de desenvolvimento de câncer de pele ocupacional. Os raios</p><p>ultravioletas atuam, diretamente, nas células da derme, promovendo</p><p>alteração fotoquímica do DNA e, indiretamente, mediante alterações</p><p>na imunidade pela indução de linfócitos T. A radiação proveniente</p><p>do sol é a principal forma de exposição ocupacional à radiação UV,</p><p>entretanto o câncer cutâneo devido à radiação UV pode ocorrer por</p><p>outras fontes que não a radiação solar, como a exposição crônica à</p><p>solda elétrica usada na indústria de soldagem. (CEZAR-VAZ, 2015;</p><p>FITZPATRICK, 2010; HARRISON, 2016).</p><p>Em relação ao CPNM, existem outras substâncias dentro do</p><p>ambiente de trabalho capazes de causar a doença, como hidrocarbo-</p><p>netos policíclicos aromáticos (HPA), arsênico e a radiação ionizante.</p><p>Os HPA podem ser encontrados em produtos frequentemente usados</p><p>nas indústrias, como alcatrão, creosoto, piche, asfalto, fuligem, óleos</p><p>minerais e lubrificantes. No caso do arsênico, a exposição acontece,</p><p>86</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>principalmente, por meio dos seus compostos inorgânicos, encon-</p><p>trados na água de algumas regiões, em substâncias químicas e em</p><p>pesticidas. A radiação ionizante constitui etiologia de apenas 1% de</p><p>todos os cânceres de pele ocupacionais não melanoma. Esse baixo</p><p>percentual se deve, principalmente, às políticas de controle para a</p><p>exposição ocupacional à radiação ionizante. (FITZPATRICK, 2010;</p><p>HARRISON, 2016).</p><p>O melanoma, apesar de menos frequente, é a forma mais grave</p><p>de câncer de pele, devido a seu alto potencial de formar metástases. É</p><p>importante salientar que o aumento do risco de desenvolver melanoma</p><p>está fortemente associado à exposição solar intermitente, principal-</p><p>mente, em áreas específicas, como cabeça, face e pescoço. Além disso,</p><p>a exposição a raios X, à radiação nuclear e a campos eletromagnéticos</p><p>de baixa frequência parecem ser fatores com valor adicional ao risco</p><p>de desenvolver. Apresenta-se como uma lesão assimétrica, de bordas</p><p>irregulares, coloração heterogênea e padrão de crescimento expansivo.</p><p>(RIVITTI, 2014; HARRISON, 2016).</p><p>O carcinoma basocelular apresenta-se como uma lesão nodu-</p><p>lar com uma ulceração central (nódulo-ulcerativa), com localização</p><p>preferencial na região da cabeça e do pescoço. A lesão encontrada</p><p>é, caracteristicamente, lisa, translúcida, com algumas telangectasias</p><p>visíveis e bordas cilíndricas. Dentre as formas de câncer de pele é</p><p>a mais benigna, raramente produzindo metástase. (RIVITTI, 2014;</p><p>AZULAY, 2015; HARRISON, 2016).</p><p>O carcinoma epidermoide, como também é chamado o carcinoma</p><p>espinocelular, origina-se, frequentemente, em locais de lesões cutâneas</p><p>preexistentes, como queratose solar, queratose arsenical, xeroderma</p><p>pigmentoso, queimaduras e ulcerações. Inicialmente, se caracteriza</p><p>por uma lesão pré-maligna, a ceratose actínica que, gradualmente,</p><p>aumenta de tamanho e torna-se uma lesão ulcerada. Na evolução, o</p><p>estágio in situ caracteriza-se por uma placa com eritema, de demar-</p><p>cação bem definida e moderadamente elevada. Quando comparada</p><p>87</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>à lesão inicial, a forma in situ se mostra com maior número de infil-</p><p>trações e escamas. As localizações mais comuns são as áreas mais fre-</p><p>quentemente expostas ao sol, como orelhas, ponta do nariz, dorso das</p><p>mãos e lábio inferior. Essa variante do câncer de pele não melanoma,</p><p>também, é comum em áreas de mucosa, especialmente a bucal e a</p><p>genital externa. As metástases podem ocorrer e são mais frequentes nas</p><p>áreas de mucosa. (RIVITTI, 2014; AZULAY, 2015; HARRISON, 2016).</p><p>Em relação ao diagnóstico dos tumores de pele, a biópsia é uma</p><p>ferramenta de extrema importância para o diagnóstico de câncer de</p><p>pele, sendo assim, toda lesão suspeita deve ser biopsiada. Ademais, é</p><p>fundamental a definição do agente cancerígeno ao qual o trabalhador</p><p>foi exposto, bem como outros fatores, dentro e fora do ambiente de</p><p>trabalho que podem influenciar na gênese do carcinoma de pele. O</p><p>câncer de pele induzido pela exposição ocupacional não demanda</p><p>tratamento diferente dos outros carcinomas de pele. (RIVITTI, 2014;</p><p>HARRISON, 2016).</p><p>Acne Ocupacional</p><p>Os agentes e formas clínicas de maior prevalência são a Acne por</p><p>óleos ou ambiental e a cloracne. A acne ambiental caracteriza-se por</p><p>uma foliculite</p><p>que consiste em pápula e pústulas foliculares na pele</p><p>em contato com óleos, principalmente, óleos pesados industriais. Os</p><p>trabalhadores mais atingidos são maquinistas, mecânicos, construtores</p><p>de telhados e operários que usam alcatrão. Também podem ser aco-</p><p>metidos atores, devido à maquiagem pesada e oleosa, trabalhadores de</p><p>“fast food”, operários que utilizam máscaras faciais por períodos pro-</p><p>longados tais como pessoas que trabalham em hospitais e em indústria</p><p>de semicondutores. (FITZPATRICK, 2010).</p><p>A Cloracne é causada por diversas substâncias químicas, sobretudo</p><p>hidrocarbonetos clorados. Inicialmente, as lesões são caracterizadas</p><p>por pequenos comedões e, com a progressão da doença, começam a</p><p>aparecer lesões miliares junto com cistos de inclusão epidermoide de</p><p>88</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>cor palha que, posteriormente, progridem para pústulas e abcessos. Os</p><p>hidrocarbonetos clorados são utilizados na indústria elétrica, mecânica</p><p>e na composição de inseticidas. (FITZPATRICK, 2010; BRASIL, 2001).</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>As dermatoses ocupacionais podem trazer grande constrangi-</p><p>mento e incômodo ao trabalhador, devido às lesões, muitas vezes em</p><p>áreas mais expostas do corpo e, também, aos sinais e sintomas do</p><p>quadro. Além disso, em casos de lesões mais severas, há a incapaci-</p><p>dade de continuar na mesma ocupação, visto o risco do agravamento</p><p>do quadro. Dessa forma, destaca-se a importância da prevenção que</p><p>pode ser dividida em três níveis: primária, secundária e terciária,</p><p>abrangendo desde a promoção da saúde do trabalhador e da traba-</p><p>lhadora com ações educativas e uso de Equipamentos de Proteção</p><p>Individual, passando pelo atendimento médico adequado e, caso seja</p><p>necessário, ações que envolvam o afastamento da atividade laboral.</p><p>O médico generalista deve estar preparado para compreender os</p><p>danos estéticos e funcionais que o ambiente de trabalho pode causar</p><p>na pele, lidando com o agravo na perspectiva da atenção integral ao</p><p>trabalhador. (BRASIL, 2006; BRASIL, 2018).</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALCHORNE, Alice de Oliveira de Avelar; ALCHORNE, Maurício Mota de Avelar;</p><p>SILVA, Marzia Macedo. Dermatoses Ocupacionais. An. Bras. Dermatol., Rio de</p><p>Janeiro , v. 85, n. 2, p. 137-147, Apr. 2010 . Disponível em: http://www.scielo.br/</p><p>scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365- 05962010000200003&lng=en&nrm=iso.</p><p>Acesso em: 6 Jun. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962010000200003.</p><p>AZULAY, R.D; AZULAY, D.R; AZULAY, L.A. Dermatologia. 6. ed. rev e atual. Rio</p><p>de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Dermatoses ocupacionais. Departamento de ações</p><p>programáticas estratégicas. Normas e Manuais Técnicos, Saúde do Trabalhador.</p><p>Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.</p><p>89</p><p>DERMATOSES OCUPACIONAIS: PONTOS CHAVES A SEREM</p><p>LEMBRADOS PELO GENERALISTA</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças</p><p>relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde.</p><p>Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 114. Brasília, 2001. Disponível em: https://</p><p>bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho_manual_</p><p>procedimentos.pdf. Acesso em: 29 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Saúde do</p><p>Trabalhador e da Trabalhadora. Cadernos de Atenção Básica, n. 41 Brasília, DF,</p><p>2018. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_trabalhador_</p><p>trabalhadora.pdf. Acesso em: 02 jun. 2020.</p><p>CEZAR-VAZ, Marta Regina et al. Câncer de pele em trabalhadores rurais:</p><p>conhecimento e intervenção de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo,</p><p>v. 49, n. 4, p. 564-571, Aug. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.</p><p>php?script=sci_arttext&pid=S008062342015000400564&lng=en&nrm=iso. https://</p><p>doi.org/10.1590/S0080-623420150000400005. Acesso em: 02 de jun. 2020</p><p>CRIADO P.R. et al. Consensus on the diagnostic and therapeutic management of</p><p>chronic spontaneous urticaria in adults – Brazilian Society of Dermatology. An</p><p>Bras Dermatol. 2019; 94(2 Suppl 1):S56-66.</p><p>FITZPATRICK, T. B. et al. Tratado de Dermatologia. 7 ed. Rio de Janeiro: Revinter,</p><p>2010.</p><p>GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de medicina de família e</p><p>comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2012. 2 v.</p><p>ISBN 9788536327631 (v.2).</p><p>HARRISON, J. L. R; CURRENT Medicina Ocupacional e Ambiental: Diagnóstico</p><p>e Tratamento. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.</p><p>Kaddourah SMEH, Costa FAA, Fábrega JF, Rabello LVA. Relação entre a ocorrência</p><p>de dermatite de contato irritativa e o uso dos equipamentos de proteção individual.</p><p>Rev. Bras. Med. Trab.2015;13(2):120-125</p><p>Lampel HP, Powell HB. Occupational and Hand Dermatitis: a Practical Approach.</p><p>Clin Rev Allergy Immunol. 2019;56(1):60‐71. doi:10.1007/s12016-018-8706-z</p><p>MELO, M.G.M; Villarinho, A.L.C.F; Leite, I.C. Sociodemographic and clinical</p><p>profile of patients with occupational contact dermatitis seem at a work-related</p><p>dermatology service, 2000 – 2014. An. Bras Dermtatol. Forthcoming 2019.</p><p>PEREIRA, Cristiane de Almeida. A importância da atuação do médico do trabalho</p><p>na prevenção do câncer de pele ocupacional: subtítulo do artigo. Revista Brasileira</p><p>de Medicina do Trabalho, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 73-79, 2017.</p><p>RIVITTI, Evandro A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti – São</p><p>Paulo: Artes Médicas, 2014.</p><p>90</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>SINAN. Intoxicação exógena - Notificações registradas no Sinan Net Brasil.</p><p>Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exesinannet/cnv/Intoxbr.def.</p><p>Acesso em: 10 jun. 2020.</p><p>SÜß H. et al. Contact urticaria: Frequency, elicitors and cofactors in three cohorts</p><p>(Information Network of Departments of Dermatology; Network of Anaphylaxis;</p><p>and Department of Dermatology, University Hospital Erlangen, Germany). Contact</p><p>Dermatitis. Jul 2019; 1–13. Disponível em: https://doi.org/10.1111/cod.1333. Acesso</p><p>em : 16 jun. 2020.</p><p>91</p><p>Capítulo 6</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA</p><p>CLÍNICA</p><p>Larissa Caroline Barbosa1</p><p>Laura Luísa de Oliveira Elias2</p><p>Marcos Gabriel Alves da Silva²</p><p>Virgílio Barroso de Aguiar²</p><p>Aurélio Augusto Guedes3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>As pneumoconioses (PNMC) são patologias do sistema res-</p><p>piratório, causadas pela inalação de partículas orgânicas ou</p><p>inorgânicas, suspensas no ar (FERREIRA, A. J. In: KUMAR,</p><p>V. et al., 2016), que provocam lesões do parênquima pulmonar com</p><p>resultante diminuição da capacidade de difusão de gases e com padrão</p><p>restritivo. (BERNARDI, F. D. C. et al. In: BRASILEIRO, G. F., 2016).</p><p>Pneumoconiose é um termo usado de maneira genérica para se referir</p><p>às pneumopatias com etiologia ocupacional, mas não inclui as neopla-</p><p>sias, asma, bronquite ou enfisema. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).</p><p>1 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo</p><p>Horizonte – MG, Brasil.</p><p>² Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>³ Médico, especialista em Clínica Médica e Gastroenterologia. Professor Auxiliar de Clínica</p><p>Médica do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri</p><p>- Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>92</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>O sistema respiratório está em constante interação com o meio</p><p>externo, desse modo necessita de mecanismos de defesa contra os pos-</p><p>síveis agressores presentes no ar inalado. Assim, o sistema de depuração</p><p>mucociliar é a primeira barreira de defesa do organismo contra vírus,</p><p>bactérias e poeiras, podendo ser estas inertes ou não. Esse sistema é</p><p>composto pelo líquido periciliar, camada de muco e os cílios que são</p><p>estruturas componentes das células do tecido epitelial de revestimento</p><p>das vias aéreas. Atuam como aliados na depuração mucociliar de modo</p><p>que o muco aprisiona</p><p>as partículas inaladas e o líquido periciliar per-</p><p>mite a plena movimentação coordenada dos cílios para a retirada dos</p><p>agentes lesivos das vias aéreas. (CLOUTIER, M. M.; THRALL, R. S. In:</p><p>BERNE, R. M.; LEVY, M. N., 2010). A preservação desses mecanismos</p><p>é, diretamente, influenciada pelos hábitos de vida, como o tabagismo,</p><p>que interfere negativamente na funcionalidade do aparelho mucociliar,</p><p>propiciando o depósito e acúmulo de partículas na mucosa das vias</p><p>aéreas. A exposição a altos índices de poluição atmosférica em gran-</p><p>des centros urbanos, em áreas circunvizinhas a indústrias ou empresas</p><p>de beneficiamento, emissoras de resíduos particulados, assim como</p><p>negligências à utilização de equipamentos de proteção individual nestes</p><p>ambientes de trabalho, também, devem ser considerados como alto risco</p><p>para ocorrência de danos aos mecanismos de defesa das vias aéreas.</p><p>Os fatores que influenciam os mecanismos de lesão, são os</p><p>seguintes:</p><p>1) Natureza do particulado (orgânica x inorgânica): determinam</p><p>diferentes reações inflamatórias no organismo, sendo mais fre-</p><p>quentes respostas alérgicas e de hipersensibilidade secundárias</p><p>às partículas orgânicas e processos fibrosantes secundários às</p><p>partículas inorgânicas.</p><p>2) Formato físico do particulado: essa característica é evidenciada</p><p>quando se compara o formato da sílica que é cristalina e não possui</p><p>característica penetrante em células, diferentemente, do asbesto</p><p>que possui o formato apiculado propício para essa ocorrência.</p><p>93</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>3) Tamanho das partículas: indica o local em que as partículas atin-</p><p>gem na árvore brônquica, já que partículas menores que 1μm são</p><p>expiradas pela corrente de ar e as partículas maiores que 10μm</p><p>são retidas pelo sistema mucociliar de depuração das vias aéreas.</p><p>Desse modo, os particulados de 1-5μm de tamanho são deposita-</p><p>dos no tecido respiratório e se acumulam, possibilitando ativação</p><p>imunológica e consequente fibrose. (PEREIRA, F. E. L. et al. In:</p><p>BRASILEIRO, G. F., 2016).</p><p>4) Tempo de exposição às partículas: Correlaciona-se com a concen-</p><p>tração e o tipo do particulado no ar. Assim, a Norma Regulamen-</p><p>tadora (NR) nº 15, traz o limite de tolerância para poeiras minerais</p><p>como inversamente proporcional à porcentagem de concentração</p><p>do particulado no ar, desse modo o limite de tolerância é o indica-</p><p>tivo numérico que busca o valor máximo suportado pela maioria</p><p>dos indivíduos no dia a dia de trabalho.</p><p>5) Concentração do particulado: Partículas inertes são formadoras</p><p>de grandes depósitos no interstício pulmonar de maneira não</p><p>fibrogênica, porém, com o curso crônico e altas densidades de</p><p>depósitos de partículas, mesmo que inertes, há predisposição de</p><p>reação inflamatória local que pode gerar fibrose. (BERNARDI,</p><p>F. D. C. et al. In: BRASILEIRO, G. F., 2016; FERREIRA, A. J. In:</p><p>KUMAR, V. et al., 2016).</p><p>No Brasil, apesar de todas as pneumoconioses serem de notificação</p><p>obrigatória, o número real de trabalhadores afetados é desconhecido</p><p>e subdiagnosticado. Isso se deve ao fato de que a maioria dos grandes</p><p>estudos epidemiológicos já ocorreram há mais de uma década. Além</p><p>disso, não existe um programa nacional de vigilância de morbidade</p><p>para essas doenças, nem registros de dados resultantes de exames</p><p>anuais de saúde de trabalhadores cujas atividades ocupacionais rela-</p><p>cionam-se a essas pneumopatias. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006;</p><p>SOUZA et al., 2017).</p><p>94</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>PNEUMOCONIOSES POR POEIRAS ORGÂNICAS</p><p>As poeiras orgânicas podem causar lesões pulmonares agudas,</p><p>do tipo crises asmatiformes ou alveolites alérgicas extrínsecas e até</p><p>pneumopatias crônicas fibrosantes. Contudo tendem a não cursar com</p><p>acúmulos ou depósitos crônicos das partículas nos pulmões. (KLEIN,</p><p>J. S.; GREEN, C. E. In: BRANT, W. E.; HELMS, C. A., 2015).</p><p>Dentre os tipos destas doenças, tem-se a bissinose, decorrente da</p><p>exposição ocupacional a poeiras, contendo fibras de cânhamo, linho ou</p><p>algodão, que produzem sinais e sintomas respiratórios frequentes em</p><p>operários da indústria têxtil, caracterizadas por resposta broncocostritora,</p><p>que cursa com desconforto respiratório e sensação de opressão torácica,</p><p>similar aos sintomas da asma. (PEREIRA, F. E. L. et al. In: BRASILEIRO,</p><p>2016; BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017). Essas</p><p>manifestações respiratórias são mais comuns no primeiro dia de trabalho</p><p>da semana, denominando-se de “dispneia da segunda-feira”. Durante a</p><p>evolução da doença, não há sintomatologia significativa nos dias sub-</p><p>sequentes da semana. Contudo, em cerca de 25% dos trabalhadores, a</p><p>doença pode ser progressiva com recidiva ou persistência da dispneia ao</p><p>longo de toda a semana. Além disso, a depender do tempo de exposição,</p><p>como em períodos maiores que 10 anos, os trabalhadores com sintomas</p><p>recidivantes são mais suscetíveis a apresentar padrão obstrutivo nas provas</p><p>de função pulmonar e há maior gravidade entre os fumantes. (PEREIRA,</p><p>F. E. L. et al. In: BRASILEIRO, 2016).</p><p>Há alveolites alérgicas extrínsecas (ou pneumonite de hipersen-</p><p>sibilidade) que recebem a denominação de pulmão do profissional.</p><p>Sua fisiopatologia consiste em reação inflamatória intersticial, com</p><p>broncoconstrição, febre, aumento da secreção de muco e eosinofi-</p><p>lia circulante. Esses sintomas ocorrem devido à resposta imune aos</p><p>antígenos da poeira orgânica. O pulmão do fazendeiro, por exemplo,</p><p>ocorre quando os trabalhadores inalam a poeira do feno, contendo</p><p>esporos de actinomicetos termofílicos (Thermoactinomycetes sp.), que</p><p>95</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>produzem pneumonite de hipersensibilidade ou “febre do feno”. O</p><p>início do quadro ocorre de 4 a 8 horas após a exposição ao material,</p><p>tendo os sinais e sintomas de febre, calafrios, tosse, mal-estar e disp-</p><p>neia sem sibilos. Na forma crônica da doença, a história de crises</p><p>repetidas após exposição semelhante é importante para distinguir essa</p><p>síndrome das outras causas de fibrose difusa (sarcoidose). Deve-se</p><p>realizar diagnóstico diferencial com a influenza ou pneumonia. Em</p><p>sua forma crônica, o pulmão do fazendeiro pode gerar fibrose difusa,</p><p>sendo importante distinguir de outras causas de fibrose. (PEREIRA, F.</p><p>E. L. et al. In: BRASILEIRO, G. F., 2016; SPEIZER, F. E. In: KASPER,</p><p>D. L. et al., 2017).</p><p>Já o pulmão dos tratadores de pássaros ocorre quando se inala</p><p>poeira rica em antígenos advindos dos excrementos das aves em cati-</p><p>veiro, a qual possui alguns alérgenos que induzem a crises asmatifor-</p><p>mes, mas sem causar alveolite. (PEREIRA, F. E. L. et al. In: BRASI-</p><p>LEIRO, G. F., 2016).</p><p>PNEUMOCONIOSES POR POEIRAS INORGÂNICAS</p><p>As PNMC mais prevalentes e que serão foco deste item são sili-</p><p>cose, asbestose, pneumoconiose dos trabalhadores do carvão (PTC)</p><p>e beriliose, conforme se pode verificar no quadro 1, a seguir.</p><p>Quadro 1. Pneumoconioses por poeiras inorgânicas</p><p>PNEUMOCONIOSE AGENTE</p><p>PATOGÊNICO EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL</p><p>SILICOSE</p><p>Dióxido de silício</p><p>(forma cristalina),</p><p>sendo as formas</p><p>amorfas menos</p><p>fibrogênicas.</p><p>Fundidor, jateadores de areia,</p><p>mineração e lapidação, constru-</p><p>ção civil, empacotamento do pó</p><p>de sílica, fabricação de sabonetes</p><p>esfoliantes, vidro e cimento, tra-</p><p>balhos com cerâmicas.</p><p>96</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>ASBESTOSE</p><p>Fibras de asbesto</p><p>(sinônimo: amianto).</p><p>Podem ser classifica-</p><p>dos de acordo com</p><p>sua forma química</p><p>em serpentinas (mais</p><p>comumente empre-</p><p>gado) e anfíbolos</p><p>(menos empregado</p><p>e mais patogênico).</p><p>Mineradores (extração e moagem</p><p>do asbesto), indústria de transfor-</p><p>mação (fibrocimento, materiais</p><p>de fricção, isolamentos, papéis/</p><p>papelões especiais, dentre outros)</p><p>e na instalação de isolamento,</p><p>profissionais de construção civil</p><p>e marítima.</p><p>PNEUMOCONIOSE</p><p>DO TRABALHA-</p><p>DOR DE CARVÃO</p><p>Carvão mineral.</p><p>Mineração de carvão e manipu-</p><p>lação do produto em qualquer</p><p>ponto da cadeia produtiva.</p><p>BERILIOSE Berílio.</p><p>Mineração, fabricação</p><p>de ligas</p><p>metálicas, cerâmicas, componen-</p><p>tes eletrônicos, rebolos (material</p><p>abrasivo), mecânicos nucleares e</p><p>soldadores.</p><p>Fonte. Os autores</p><p>Silicose</p><p>A silicose é a PNMC mais prevalente no mundo. (CARNEIRO et</p><p>al., 2020). No Brasil, o estado com o maior número de casos é Minas</p><p>Gerais. Entretanto houve queda na prevalência de silicose no setor</p><p>de mineração (um dos mais afetados pela silicose), em Minas Gerais,</p><p>no período de 1995 a 2011, possivelmente, reflexo das políticas públi-</p><p>cas e das consequentes mudanças no processo de trabalho. (SILVA</p><p>et al., 2018). Sua patogênese é resultante de reações inflamatórias,</p><p>desencadeadas pelos depósitos de sílica no parênquima pulmonar,</p><p>gerando ambiente de estímulo à fibrose que, inicialmente, leva à for-</p><p>mação de nódulos e, posteriormente, à organização de fibrose franca.</p><p>97</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>Há dois padrões histopatológicos possíveis: silicoproteinose e</p><p>nódulos silicóticos, sendo o último mais comum. A silicoproteinose</p><p>pode se desenvolver em curtos espaços de tempo de exposição à</p><p>sílica e caracteriza-se por deposição de material lipoproteináceo nos</p><p>alvéolos, semelhante ao encontrado na proteinose alveolar idiopática:</p><p>alterações no exame de imagem e sintomatologia são insuficientes</p><p>para o diagnóstico diferencial entre as duas doenças. (KLEIN, J. S.;</p><p>GREEN, C. E. In: BRANT, W. E.; HELMS, C. A., 2015; BALMES, J.</p><p>R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017; FERREIRA, A. J.</p><p>In: KUMAR et al., 2016).</p><p>Os nódulos se formam após períodos de tempo mais longos</p><p>e exposição a ambientes com concentrações menos intensas de</p><p>particulados em suspensão. Possui um curso subagudo ou crônico,</p><p>após 5-10 anos ou acima de 10 anos da primeira exposição à sílica,</p><p>respectivamente. Em geral, os nódulos são pequenos, de 1-10mm</p><p>de diâmetro, constituídos por colágenos em disposição concên-</p><p>trica. (KLEIN, J. S.; GREEN, C. E. In: BRANT, W. E.; HELMS, C.</p><p>A., 2015; BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al.,</p><p>2017; FERREIRA, A. J. In: KUMAR et al., 2016).</p><p>Esse processo pode ser progressivo e persistente, mesmo após</p><p>cessar a exposição, desde que se atinja uma carga total crítica de</p><p>inalação do particulado. (BERNARDI, F. D. C. et al. In: BRASI-</p><p>LEIRO, G. F., 2016; CARNEIRO et al., 2020; BALMES, J. R.; SPEI-</p><p>ZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017; FERREIRA, A. J. In:</p><p>KUMAR et al., 2016).</p><p>Asbestose e outras doenças relacionadas</p><p>Atualmente, há maior controle sobre o uso do asbesto em países</p><p>desenvolvidos, após a comprovação do envolvimento dessa substância</p><p>com doenças ocupacionais pulmonares fibrosantes e complicações</p><p>de alta gravidade, assim como relação direta com várias neoplasias</p><p>malignas. Neste cenário, é comum empresas envolvidas na extração</p><p>98</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>do amianto instalarem-se em países em desenvolvimento, onde não</p><p>existem normas regulamentadoras ou que sejam menos rígidas. (BER-</p><p>NARDI, F. D. C. et al. In: BRASILEIRO, 2016).</p><p>É importante ressaltar que, além da exposição ocupacional, um outro</p><p>fator de risco para doenças induzidas pelo asbesto é a contaminação</p><p>ambiental por este produto e seus derivados, que podem ser facilmente</p><p>encontrados em habitações e edifícios que contêm asbesto e seus deri-</p><p>vados em sua constituição. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). Os pri-</p><p>meiros sintomas podem ocorrer após vários anos da primeira exposição</p><p>(cerca de 20-40 anos) e, frequentemente, o diagnóstico é feito quando</p><p>o trabalhador já está aposentado. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).</p><p>Pneumoconiose do trabalhador do carvão (PTC)</p><p>O carvão isolado é uma partícula relativamente inerte, com baixo</p><p>potencial fibrogênico com diferentes apresentações clínicas relaciona-</p><p>das a PTC. Essa PNMC, em sua forma benigna, cursa com ausência</p><p>de impacto na função pulmonar. A doença é caracterizada pela pre-</p><p>sença de máculas que são compostas por acúmulos dos particulados</p><p>de carvão no interior de macrófagos alveolares. Esses acúmulos de</p><p>material pigmentado e reticulina, também, denominados antracose,</p><p>localizam-se nos espaços peribronquiolares e perivasculares, às vezes,</p><p>associados à reação colágena focal (PTC simples). Esse mesmo evento,</p><p>também, pode ocorrer em indivíduos tabagistas, residentes em cidades</p><p>industrializadas e/ou residentes em áreas rurais. Nas áreas industriais,</p><p>pela poluição atmosférica e, nas rurais, pela inalação da fumaça ori-</p><p>ginada da queima de combustíveis de biomassa sólida.</p><p>Os grandes depósitos pigmentares, geralmente, encontrados em</p><p>indivíduos com exposição ocupacional a particulados de carvão, são</p><p>vulneráveis a desenvolver um processo fibrótico secundário com</p><p>repercussão funcional. (KLEIN, J. S.; GREEN, C. E. In: BRANT, W.</p><p>E.; HELMS, C. A., 2015; BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER,</p><p>D. L. et al., 2017; FERREIRA, A. J. In: KUMAR et al., 2016).</p><p>99</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>Em alguns indivíduos, a evolução do quadro é mais abrupta,</p><p>com fibrose considerável, processo esse que é denominado fibrose</p><p>maciça progressiva (FMP ou PTC complicada). É nesse estágio da</p><p>doença que, geralmente, surgem sinais e sintomas respiratórios.</p><p>Não são bem esclarecidos os fatores que predispõem a esse qua-</p><p>dro, entretanto uma poeira mista (carvão contaminado com sílica)</p><p>ou desenvolvimento de outras doenças concomitantes (como a</p><p>tuberculose) parecem favorecer esse curso clínico. (KLEIN, J. S.;</p><p>GREEN, C. E. In: BRANT, W. E.; HELMS, C. A., 2015; BALMES,</p><p>J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017; FERREIRA, A.</p><p>J. In: KUMAR et al., 2016).</p><p>Beriliose</p><p>A Beriliose pode se manifestar como uma doença inflamatória</p><p>crônica, de padrão granulomatoso e semelhante à sarcoidose, podendo</p><p>resultar em fibrose intersticial crônica. Por essa razão, um histórico de</p><p>exposição a particulados contendo berílio, pode passar despercebido</p><p>e levar a um diagnóstico incorreto.</p><p>Em algumas situações, ocorre mesmo em baixa concentração ou</p><p>pequeno tempo de exposição, mas se manifesta após um tempo grande</p><p>em relação à primeira exposição (cerca de 10 anos). Uma minoria dos</p><p>quadros da doença ocorre devido à predisposição genética. (KLEIN,</p><p>J. S.; GREEN, C. E. In: BRANT, W. E.; HELMS, C. A., 2015; BALMES,</p><p>J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017; MINISTÉRIO DA</p><p>SAÚDE, 2006).</p><p>O berílio tem sido considerado um agente carcinogênico (RODRI-</p><p>GUEZ et al., 2015). Além disso, é importante ressaltar que a pneumo-</p><p>patia aguda pelo berílio, apesar de ter ocorrência mais rara, apresen-</p><p>ta-se como quadros denominados de pneumonite aguda. (BALMES,</p><p>J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017; MINISTÉRIO DA</p><p>SAÚDE, 2006).</p><p>100</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>DIAGNÓSTICO</p><p>No âmbito do diagnóstico dessas afecções, deve-se sempre rela-</p><p>cionar os aspectos clínicos e epidemiológicos do paciente, uma vez</p><p>que a maioria das PNMC se desenvolvem por longos anos de forma</p><p>assintomática e, em quadros de doenças fibrogênicas, apenas ao atin-</p><p>girem uma evolução com presença de fibrose avançada, como nos</p><p>casos de fibrose maciça, os sintomas começam a aparecer.</p><p>Durante a avaliação clínica do paciente com queixas respiratórias, é</p><p>necessário realizar investigações referentes às atividades e aos ambientes</p><p>de seu trabalho. É importante verificar se há alguma etapa do trabalho</p><p>que resulte em liberação de aerossóis, além da existência de poeiras</p><p>visíveis, odores químicos, dimensões e ventilação do ambiente, assim</p><p>como a presença de outros trabalhadores com queixas semelhantes. No</p><p>que tange os hábitos de vida, deve-se investigar as atividades de lazer,</p><p>local de moradia e suas características, tipo de fogão, tabagismo ativo ou</p><p>passivo ou se há exposição a outras fontes de agentes, potencialmente,</p><p>tóxicos. (BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>É importante atentar, ao exame físico, para manifestações de disp-</p><p>neia de ocorrência progressiva, sinais de hipóxia</p><p>esforço respiratório,</p><p>tosse, sibilos e estertores pulmonares. Sinais sistêmicos, como por</p><p>exemplo sinais de hipóxia, (cianose, baqueteamento digital) e/ou de</p><p>congestão (pletora, estase na veia jugular e edema de membros infe-</p><p>riores), devem ser avaliados. Questionários sobre qualidade de vida e</p><p>saúde respiratória podem ser utilizados, bem como exames comple-</p><p>mentares, guiados pelos achados clínicos. Nesse cenário, os exames</p><p>de imagem atuam como agentes centrais no manejo dessas afecções</p><p>clínicas, especialmente, as radiografias de tórax.</p><p>As radiografias devem respeitar os padrões determinados pela</p><p>Organização Internacional do Trabalho (OIT) que as classifica em</p><p>relação ao tipo das imagens encontradas, às dimensões das opaci-</p><p>dades detectadas e de acordo com a extensão do acometimento do</p><p>101</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>parênquima pulmonar. Tais exames de imagem auxiliam no moni-</p><p>toramento e detecção da resposta de fibrose pulmonar após exposi-</p><p>ção a alguns minerais e/ou metais, assim como a poeiras orgânicas</p><p>capazes de causar pneumonite de hipersensibilidade. (BALMES, J.</p><p>R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017). Contudo, em mui-</p><p>tas situações, os achados radiológicos não se correlacionam com as</p><p>manifestações clínicas. (RABAHI, M. F. et al. In: PORTO E PORTO,</p><p>2014). Ademais, a tomografia computadorizada (TC) e a tomogra-</p><p>fia computadorizada de alta resolução (TCAR) podem auxiliar nos</p><p>diagnósticos (vide quadro 2). (BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In:</p><p>KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>Os testes funcionais fornecem parâmetros importantes para os</p><p>diagnósticos e suas classificações como, por exemplo, o monitora-</p><p>mento do VEF1 a espirometria, que, se realizado antes e depois de um</p><p>turno de trabalho, é capaz de detectar uma resposta broncoconstritora</p><p>aguda. (BALMES, J. R.; BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER,</p><p>D. L. et al., 2017). O lavado broncoalveolar pode ser empregado no</p><p>diagnóstico diferencial para identificação de micoses, sarcoidose,</p><p>tuberculose, câncer, dentre outras doenças, assim como a biópsia</p><p>transbrônquica que, apesar de pouco empregada, pode ser indicada</p><p>em quadros atípicos, com evolução rápida, ou em indivíduos com</p><p>histórico de múltiplas exposições. (RABAHI, M. F. et al. In: PORTO</p><p>E PORTO, 2014). Em raros casos, a cirurgia torácica por vídeo pode</p><p>ser necessária para a obtenção de uma porção mais representativa de</p><p>tecido pulmonar com a finalidade de estudos histopatológicos. (BAL-</p><p>MES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>Somando-se aos exames complementares, têm-se ensaios das res-</p><p>postas imunes celulares específicas; testes cutâneos; dosagens de IgE</p><p>específicos para detectar resposta a agentes capazes de provocar asma</p><p>ocupacional; e dosagens de IgG precipitantes específicos para agentes</p><p>que podem causar pneumonite. (BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In:</p><p>KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>102</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Quadro 2. Achados ao exame de imagem nas principais pneumoconioses</p><p>por poeiras inorgânicas</p><p>PNEUMO-</p><p>CONIOSE ACHADOS AO EXAME DE IMAGEM</p><p>SILICOSE</p><p>Nódulos silicóticos: Caracterizam-se por fibrose nodular. Os</p><p>padrões radiológicos possíveis são o nodular, reticular (que</p><p>algumas vezes antecede o padrão nodular) e/ou reticulonodu-</p><p>lar. Inicialmente, os múltiplos nódulos localizam-se, preferen-</p><p>cialmente, no lobo superior e há calcificação em cerca de 20%</p><p>dos casos (silicose simples). Em quadros mais avançados, com</p><p>fibrose maciça progressiva e conglomerados de opacidades,</p><p>as localizações mais frequentes são nas porções superiores e</p><p>média ou superiores e posteriores, com distribuição centro-</p><p>lobular (silicose complicada). As áreas de nodulação podem</p><p>sofrer cavitação devido à isquemia ou à tuberculose associada.</p><p>A TCAR é mais sensível para o diagnóstico.</p><p>Silicoproteinose: Visualização de consolidação difusa do</p><p>parênquima.</p><p>ASBESTOSE</p><p>Caracteriza-se por fibrose difusa. Os padrões radiológicos pos-</p><p>síveis são os mesmos presentes em nódulos silicóticos. Quanto</p><p>mais avançado o processo de fibrose, mais grosseiras são as opa-</p><p>cidades. Inicialmente, tendem a se localizar, preferencialmente,</p><p>nas regiões inferiores e, posteriormente, atingem regiões médias</p><p>e superiores do pulmão, sendo possível observar padrão em</p><p>favo de mel. Opacidades mais extensas podem ocorrer como</p><p>consequência da presença de placas localizadas na pleura (que</p><p>são indicativas de exposição ao asbesto) e/ou fibroses intersti-</p><p>ciais generalizadas. Em pacientes com história de exposição ao</p><p>asbesto, a TC convencional é mais sensível para mostrar espes-</p><p>samento pleural e a TCAR melhora a detecção da asbestose. A</p><p>TC de cortes finos é o exame que mais comumente detecta o</p><p>espessamento septal interlobular e intralobular.</p><p>103</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>PNEUMO-</p><p>CONIOSE</p><p>DO TRABA-</p><p>LHADOR</p><p>DE CARVÃO</p><p>PTC simples: ausência de alterações ao exame de imagem ou</p><p>padrões reticulonodulares ou pequenas opacidades nodulares</p><p>em regiões superiores do pulmão. Em exames histopatológicos,</p><p>há observação de máculas (nódulos redondos ou estrelados</p><p>com 1-5mm de tamanho), com predileção pelos ápices</p><p>pulmonares.</p><p>PTC complicada: lesão em padrão nodular ou em massa,</p><p>medindo mais de 2-3cm de diâmetro, além de fibrose irregular</p><p>e presença de pigmento. Predileção por segmentos posteriores</p><p>dos lobos superiores e segmentos superiores dos lobos</p><p>inferiores. Essas lesões, também, podem ter cavitação central</p><p>(por isquemia, superinfecção por tuberculose ou fungos).</p><p>BERILIOSE</p><p>Alterações podem estar ausentes em quadros leves e/ou ini-</p><p>ciais. Quando presentes, as características ao exame de imagem</p><p>são indistinguíveis daquelas da sarcoidose, podendo apresen-</p><p>tar nódulos ao longo das linhas septais, linfadenopatia hilar e</p><p>mediastinal e opacidades reticulonodulares bilaterais. Além</p><p>disso, pode-se observar fibrose intersticial considerável, em</p><p>que há visualização do padrão radiológico de faveolamento ou</p><p>doença bolhosa, localizada no lobo superior. Em alguns casos,</p><p>nódulos não granulomatosos são vistos em outros órgãos.</p><p>Fonte. Os autores</p><p>Legenda. TCAR - Tomografia Computadorizada de Alta Resolução; TC- Tomografia</p><p>Computadorizada; PTC - Pneumoconiose do Trabalhador de Carvão</p><p>TRATAMENTO</p><p>O diagnóstico de uma pneumoconiose deve significar sempre o</p><p>afastamento do doente do ambiente de exposição, seja por aposenta-</p><p>doria ou troca de função, ainda que esse distanciamento não impeça a</p><p>progressão da doença. Melhoras graduais nas opacidades radiológicas</p><p>são observadas, apenas, em afecções não fibrogênicas e, de maneira</p><p>geral, não existe um tratamento específico e eficaz para as PNMC.</p><p>(BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>104</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Assim, os esforços acabam direcionados para abolir o tabagismo,</p><p>tratamento de sintomas e complicações e monitoramento de possí-</p><p>veis comorbidades, como DPOC, tuberculose e câncer de pulmão.</p><p>(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Em geral, as PNMC fibrogênicas</p><p>compartilham entre si as mesmas medidas de suporte indicadas para</p><p>quaisquer outras doenças pulmonares que cursem com fibrose paren-</p><p>quimatosa, podendo, então, utilizar, como tratamento, a reabilitação</p><p>pulmonar, (CHENG et al., 2018), oxigenoterapia domiciliar, além de</p><p>suporte respiratório mecânico a depender da gravidade. (BALMES,</p><p>J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>Além disso, transplante de pulmão pode ser considerado, em</p><p>casos avançados de silicose, PTC e asbestose. Na silicose, especifica-</p><p>mente, também, pode ser feita lavagem pulmonar total para alívio de</p><p>sintomas, durante agudizações e retardo da progressão do quadro.</p><p>(BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. In: KASPER, D. L. et al., 2017).</p><p>Em alguns casos relacionados à hipersensibilidade (principal-</p><p>mente, por partículas orgânicas, cobalto e berílio), pode ser adotada</p><p>a corticoterapia, mas essa não é indicada para os casos</p><p>fibrogênicos.</p><p>(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Atualmente, a terapia antifibro-</p><p>sante, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária com os</p><p>fármacos nintedanibe e pirfenidona, é restrita ao manejo de um tipo</p><p>específico de fibrose intersticial pulmonar, que é a fibrose pulmonar</p><p>idiopática. (SOCIEDADE DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA DO</p><p>ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2018).</p><p>Diante dessa dificuldade de manejo e tratamento, é importante</p><p>destacar que as PNMC são doenças preveníveis que acabam custando</p><p>caríssimo aos cofres públicos, de modo que cada caso, além de notifi-</p><p>cado, deve ser considerado “sentinela” para o rastreio de outros pos-</p><p>síveis expostos. Logo, é possível iniciar rastreios e tratamentos mais</p><p>precocemente, assim como orientar medidas preventivas, muitas vezes,</p><p>pautadas no uso de equipamentos de proteção que serão detalhados</p><p>no capítulo 8. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).</p><p>105</p><p>PNEUMOCONIOSES NA PRÁTICA CLÍNICA</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Alguns fatores primordiais são importantes para a fisiopatogenia</p><p>das pneumoconioses, sendo elas: natureza, concentração e formato</p><p>físico do particulado; tamanho e tempo de exposição às partículas.</p><p>A compreensão desses itens baseia-se em anamnese e exame físico</p><p>bem detalhados, que permitam, também, o rastreamento ativo para</p><p>prevenção e controle dessas doenças.</p><p>Esse controle se dá por meio do correto uso de EPI, EPC e medidas</p><p>de segurança laboral. Apesar disso, as PNMC, ainda, são altamente pre-</p><p>valentes, em países em desenvolvimento, onde a exploração dos materiais</p><p>é mais barata pelo uso de mão de obra de baixo custo e, também, porque</p><p>os trabalhadores são desprotegidos pela falta de legislação específica.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BALMES, J. R.; SPEIZER, F. E. Doenças pulmonares ocupacionais e ambientais. In:</p><p>KASPER, D. L. et al. (org.). Medicina Interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre:</p><p>AMGH, 2017.</p><p>BERNARDI, F. D. C. et al. Pulmões. In: BRASILEIRO, G. F. Bogliolo Patologia. 9. ed.</p><p>Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.</p><p>Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações</p><p>Programáticas Estratégicas. Pneumoconioses. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.</p><p>(Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Saúde do Trabalhador; 6. Protocolos de</p><p>Complexidade Diferenciada). Disponível em: http://renastonline.ensp.fiocruz.br/</p><p>sites/default/files/arquivos/recursos/Protocolo%20de%20Pneumoconioses.pdf. Acesso</p><p>em: 11 maio. 2020.</p><p>Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de vigilância em saúde. Doenças relacionadas ao</p><p>asbesto na saúde do trabalhador, Brasil, 2007-2013. Boletim epidemiológico, Brasília,</p><p>Volume 47, N° 4 - 2016.</p><p>CARNEIRO, A. P. S. et al. Inflammatory and oxidative stress biomarkers induced by</p><p>silica exposure in crystal craftsmen. Am J Ind Med, 63: 337–347, 2020.</p><p>CHENG, L. I. et al. Short-and long-term effects of pulmonary rehabilitation for</p><p>idiopathic pulmonary fibrosis: a systematic review and meta-analysis. Clinical</p><p>rehabilitation, v. 32, n. 10, p. 1299-1307, 2018.</p><p>106</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>CLOUTIER, M. M.; THRALL, R. S. Funções não respiratórias do pulmão. In: BERNE,</p><p>R. M.; LEVY, M. N. (Ed.). Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.</p><p>FERREIRA, A. J. Doenças Ocupacionais Respiratórias – Perspetivas Atuais. Revista</p><p>Internacional em Língua Portuguesa, (34), 53-76, 2018. In: KUMAR, V et al. (Ed.) Robbins</p><p>& Cotran Patologia: Bases patológicas das doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.</p><p>KLEIN, J. S.; GREEN, C. E. Doença pulmonar difusa. In: BRANT, W. E.; HELMS,</p><p>C. A. Fundamentos de Radiologia Diagnóstico por Imagem. 4. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2015.</p><p>Ministério do Trabalho. Portaria SSST n.º 01, de 28 de maio de 1991. NR 15, Norma</p><p>Regulamentadora-15 (1991) Limites de tolerância para poeiras minerais. Diário Oficial</p><p>da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 maio 1991.</p><p>OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION – OSHA. Not Just</p><p>Dust: What Employers and Workers Need to Know about Silica. Pacific Northwest</p><p>OSHA Education Center Blog, 2018.</p><p>PEREIRA, F. E. L. Etiopatogênese geral das lesões. In: BRASILEIRO, G. F. Bogliolo</p><p>Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.</p><p>RABAHI, M. F. et al. Doenças dos Brônquios, dos Pulmões e das Pleuras. In: PORTO,</p><p>C. C.; PORTO, A. L. (Ed.) Semiologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2014.</p><p>RODRIGUEZ, E. A. et al. Las enfermedades pulmonares intersticiales difusas en el</p><p>ámbito laboral. Med. leg. Costa Rica, Heredia, v. 32, n. 1, p. 125-133, Mar. 2015.</p><p>SILVA, L. L. et al. Modificação do perfil da silicose na mineração subterrânea de ouro</p><p>em Minas Gerais. Rev. Bras. Saúde Ocupacional, v. 43, e 8, 2018.</p><p>SILVA L. N., COERTJENS M., COSTA T. P. S. Existem métodos alternativos para</p><p>avaliação da repercussão funcional da pneumoconiose em mineiros? Uma revisão</p><p>narrativa. Rev. Aten. Saúde, São Caetano do Sul, v. 14, n. 50, p. 96-104, out./dez., 2016.</p><p>Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro. Comissão de</p><p>Doenças Intersticiais Pulmonares. Protocolo de diagnóstico e tratamento de fibrose</p><p>pulmonar idiopática da sociedade do estado do rio de janeiro. Rio de Janeiro: 2018.</p><p>Disponível em: http://www.sopterj.com.br/wp-content/uploads/2018/03/protocolo-</p><p>SOPTERJ-fpi-2018.pdf. Acesso em: 12 jun. 2020.</p><p>SOUZA, T. P. et al. Silicosis prevalence and risk factors in semi-precious stone mining</p><p>in Brazil. Am J Ind Med. 2017; 60: 529–536.</p><p>SOUZA, T., & MONTEIRO, I. Produção Mineral no Brasil: ensaio teórico sobre a</p><p>epidemiologia da silicose. Revista CIATEC-UPF, 11(1), 2019. 70-77. https://doi.</p><p>org/10.5335/ciatec.v11i1.9295. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/ciatec/</p><p>article/view/9295. Acesso em: 11 maio 2020.</p><p>107</p><p>Capítulo 7</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: condutas em</p><p>ambientes de trabalho</p><p>Maria Alice Otero Fernández Santos1</p><p>Maria Augusta Matos Corrêa1</p><p>Paulo Tarso Farias Teixeira1</p><p>Tamires Ayra de Carvalho Ferreira Lima1</p><p>Thiago Lorentz Pinto2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Circunstâncias que ocasionam riscos à vida, sejam em maior</p><p>ou menor complexidade, podem ocorrer nos mais variados</p><p>ambientes. Estar preparado para tomar medidas de urgên-</p><p>cia, visando a minimizar agravos é de suma importância, pois,</p><p>independentemente do tipo de acidente, os princípios de atendi-</p><p>mento serão sempre semelhantes.</p><p>No Brasil, tem havido uma importante queda nos índices de aci-</p><p>dentes de trabalho, entretanto os números, ainda, são preocupantes.</p><p>Informações do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho indicam</p><p>que, em 2017, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou</p><p>1Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>²Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Respiratória, mestre em Engenharia Biomédica,</p><p>Professor do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri</p><p>- Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>108</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>cerca de 549 mil acidentes no território nacional, uma redução de</p><p>6,19% em relação a 2016. (BRASIL, 2017a).</p><p>Segundo dados extraídos do mesmo anuário da Secretaria da Pre-</p><p>vidência, alguns setores têm se destacado, ao longo dos anos, por con-</p><p>centrarem grande parte dos acidentes de trabalho no Brasil. São eles:</p><p>o setor de serviços com 59,35% dos acidentes, a indústria com 37,22%</p><p>e o agronegócio com 3,43%. (BRASIL). Em relação ao quantitativo de</p><p>acidentes, dados preliminares do Observatório de Segurança e Saúde</p><p>no Trabalho mostraram que, em 2018, o trauma foi responsável por</p><p>mais de 339 mil notificações, seguido pelas intoxicações exógenas e</p><p>queimaduras. (OBSERVATÓRIO, 2018).</p><p>Frente ao cenário exposto, objetiva-se abordar de forma sucinta,</p><p>neste capítulo, as ações de avaliação primária e secundária das vítimas</p><p>e as principais medidas de primeiros socorros que podem ser utilizadas</p><p>nas situações</p><p>mais incidentes.</p><p>AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA</p><p>Antes de iniciar qualquer procedimento de atendimento à vítima,</p><p>independentemente do que lhe tenha ocorrido, é necessário que o</p><p>socorrista observe, atentamente, o cenário a fim de garantir a segu-</p><p>rança de todos. (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY</p><p>MEDICAL TECHNICIANS- NAEMT, 2020). Para isso, é preciso cor-</p><p>relacionar as informações recebidas pela central de atendimento, ou</p><p>por testemunhas que tenham presenciado a cena, tais como: natureza</p><p>do evento e número de envolvidos. (BRASIL, 2014a).</p><p>Visando a sistematizar e orientar a abordagem e avaliação inicial</p><p>da vítima, NAEMT (2020), na sua 9° publicação do livro Prehospital</p><p>Trauma Life Support (PHTLS), desenvolveu o processo mnemô-</p><p>nico “XABCDE”. Nesse acrônimo, o X representa Exsanguinação,</p><p>momento de identificar e manejar hemorragias expressivas; o A</p><p>representa Airway, ato que deve-se controlar a via aérea e coluna</p><p>109</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>cervical; o B corresponde ao Breathing, que consiste na avaliação</p><p>da respiração; o C representa a avaliação da Circulação, perfusão</p><p>sanguínea e outras hemorragias; o ato de identificar o nível de cons-</p><p>ciência e possíveis lesões ou Disfunções Neurológicas é represen-</p><p>tado pelo D; e o E corresponde à Exposição, que é o ato de expor o</p><p>paciente em busca de lesões e suas extensões. Nesse primeiro contato,</p><p>já é possível intervir de forma rápida em algum agravo que leve risco</p><p>iminente à vida.</p><p>Após a primeira abordagem, devem ser realizadas as intervenções</p><p>específicas para retirar a vítima do risco de vida. Durante a avaliação</p><p>secundária, recomenda-se a utilização da entrevista SAMPLA, com-</p><p>posta pelos seguintes itens: identificação do paciente, queixa principal</p><p>e sinais vitais (S); histórico de alergias (A); medicamentos em uso (M);</p><p>passado médico (P); tempo decorrido da última ingestão de líquidos</p><p>e/ou alimentos (L) e ambiente em que o evento ocorreu (A). Essa</p><p>rápida anamnese possibilita que o socorrista busque o que pode ter</p><p>ocasionado o problema, bem como obtenha informações úteis para</p><p>o manejo da situação. (BRASIL, 2014).</p><p>A seguir, o socorrista deve fazer uma avaliação complementar com</p><p>monitorização da pressão de oxigênio e da glicemia capilar, bem como</p><p>utilizar da inspeção, palpação, ausculta e percussão para uma varredura</p><p>minuciosa da cabeça aos pés do paciente em busca de alterações que</p><p>possam ter passado despercebidas. Vale ressaltar que, de acordo com o</p><p>Protocolo Avançado do Serviço de Atendimento Médico de Urgência</p><p>(SAMU), publicado em 2014, a avaliação secundária em pacientes crí-</p><p>ticos pode ser dispensada caso atrase o transporte da vítima.</p><p>TRAUMA</p><p>Em um atendimento eficaz ao paciente vítima de trauma, o socor-</p><p>rista deve entender a cinemática do evento, a história do impacto e as</p><p>trocas de energia envolvidas. Assim, será possível prever os padrões de</p><p>110</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>lesões e identificá-las, rapidamente, na cena, prevenir complicações e</p><p>fornecer um relatório completo à equipe médica hospitalar acerca da</p><p>gravidade do quadro. (NAEMT, 2013).</p><p>É possível dividir os traumas musculoesqueléticos em três grandes</p><p>grupos: trauma musculoesquelético isolado que não apresenta risco à</p><p>vida, como as fraturas de membros, entorses e luxações; trauma mus-</p><p>culoesquelético sem risco à vida associado a lesões multissistêmicas</p><p>graves, como no caso dos politraumatizados; e as lesões osteomuscu-</p><p>lares de risco à vida, tais como as hemorragias em virtude das fraturas,</p><p>amputações ou esmagamento de membros. A seguir serão abordadas</p><p>algumas destas lesões. (NAEMT, 2013).</p><p>Luxação e entorse</p><p>A luxação se caracteriza pela ocorrência de uma deformidade e</p><p>perda do contato entre as superfícies articulares, levando à desarmo-</p><p>nia do movimento, com comprometimento capsular e ligamentar.</p><p>A entorse, por sua vez, é uma lesão em que ocorre uma distensão</p><p>abrupta da articulação além de sua amplitude normal. (BARROS</p><p>FILHO, 2010).</p><p>Os principais sinais e sintomas da luxação e da entorse são</p><p>dor na articulação, edema e limitação com instabilidade do movi-</p><p>mento. Como em todo tipo de trauma, na suspeita de luxação ou</p><p>de entorse deve-se realizar a avaliação primária e secundária. Em</p><p>caso de necessidade, deve-se retirar ou cortar a roupa da vítima</p><p>a fim de expor o membro afetado. Além disso, é preciso avaliar o</p><p>pulso, atentando-se para alguma deformidade que possa compri-</p><p>mi-lo. Não é aconselhável realizar massagens para aliviar a dor e,</p><p>caso haja material disponível, deve-se imobilizar o membro aci-</p><p>dentado, visando a estabilizar a articulação acima e abaixo do local</p><p>lesionado. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE</p><p>GOIÁS, 2016; NAEMT, 2020).</p><p>111</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>Fraturas</p><p>Fraturas são definidas como lesões nas quais há um rompimento</p><p>ou trincamento do osso. Elas podem ser classificadas como fechadas</p><p>ou expostas. (EGOL, 2017). As primeiras, que não apresentam con-</p><p>tato com o meio externo, manifestam-se por dor, hipersensibilidade,</p><p>deformidade, hematoma, edema e crepitação. Durante a abordagem, é</p><p>importante avaliar pulso, coloração da pele, função sensorial e motora</p><p>distal ao membro acometido, sendo imprescindível a imobilização</p><p>do paciente a fim de se evitar possíveis agravamentos. (CORPO DE</p><p>BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2016). Podem</p><p>cursar com hemorragias internas, que necessitam de grande atenção</p><p>devido à potencialidade de perda sanguínea, e manifestam-se por</p><p>palidez cutânea, edema por tempo prolongado, ausência de pulso e</p><p>diminuição da temperatura. (NAEMT, 2020).</p><p>As fraturas expostas são aquelas em que ocorre um trauma ósseo</p><p>com rompimento da pele e de tecidos moles que se comunicam, dire-</p><p>tamente, com o meio externo. Essas estão sujeitas a três principais</p><p>complicações: risco de contaminação pela comunicação com o meio</p><p>externo; comprometimento dos tecidos moles por infecção; injúria</p><p>ou perda da função dos tecidos moles, músculos, circulação, tendões,</p><p>nervos, vasos sanguíneos ou ligamentos. (EGOL, 2017).</p><p>Durante a abordagem, assim como nas fraturas fechadas, deve-se</p><p>ter uma atenção especial a possíveis hemorragias. Caso aconteçam</p><p>intensamente, em grande volume ou por tempo prolongado, são</p><p>potenciais causadores de choque hipovolêmico. Não é indicado a</p><p>exploração da ferida em ambiente não estéril, devido ao risco de</p><p>contaminação. Além disso, não se deve retirar objetos estranhos</p><p>no atendimento pré-hospitalar. (AMERICAN COLLEGE OF SUR-</p><p>GEONS, 2018).</p><p>A imobilização adequada das fraturas pode diminuir o sangra-</p><p>mento e a dor do paciente ao limitar o movimento e aumentar o efeito</p><p>112</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>de tamponamento do músculo e da fáscia. (AMERICAN COLLEGE</p><p>OF SURGEONS, 2018). O objetivo é estabilizar uma articulação acima</p><p>e a outra abaixo do local lesionado, realinhando ao mais próximo</p><p>possível da posição anatômica. Não se deve tentar mais do que duas</p><p>vezes realinhar o membro. Caso haja resistência, deve-se imobilizá-lo</p><p>na posição em que se encontra. (AMERICAN COLLEGE OF SUR-</p><p>GEONS, 2018; NAEMT; 2020).</p><p>Amputação traumática e esmagamento</p><p>Amputações traumáticas podem levar o paciente a um choque</p><p>hipovolêmico devido à grande perda de sangue. Dessa forma, é de</p><p>extrema importância uma avaliação cuidadosa, devendo incluir a</p><p>avaliação do pulso, a tonalidade e a temperatura da pele.</p><p>Para controlar a hemorragia, deve-se aplicar compressões manuais</p><p>na ferida através de gaze ou tecido estéril. Além disso, pode-se aplicar</p><p>um curativo sob pressão, usando uma pilha de gaze mantida no lugar</p><p>por uma bandagem elástica circunferencial, para concentrar a pressão</p><p>sobre o sangramento. Em caso de persistência, deve-se aplicar pressão</p><p>manual na artéria proximal à lesão. Se ainda assim houver exsanguina-</p><p>ção, considerar aplicação de um torniquete. (AMERICAN COLLEGE</p><p>OF SURGEONS, 2018.).</p><p>Para que haja possibilidade de reimplante do membro amputado,</p><p>deve-se lavar completamente a parte amputada em solução isotônica</p><p>(por exemplo, lactato de Ringer) e envolvê-lo em gaze estéril úmida.</p><p>É preciso embrulhar o membro em uma toalha estéril similarmente</p><p>umedecida, colocando-o em um saco plástico, o qual deve ser trans-</p><p>portado junto ao paciente, em um baú isolado com gelo picado. Deve-</p><p>-se evitar o congelamento da parte amputada. Além disso, é importante</p><p>realizar contato com o serviço de emergência e informar a gravidade</p><p>do caso para melhor preparo da equipe. (AMERICAN COLLEGE OF</p><p>SURGEONS, 2018).</p><p>113</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>QUEIMADURAS</p><p>Queimaduras são uma forma de trauma, caracterizadas pela</p><p>lesão térmica aos tecidos corporais, passíveis de serem classificadas</p><p>de diferentes maneiras, de acordo com sua etiologia e profundidade.</p><p>(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2016;</p><p>JESCHKE M. et al., 2015).</p><p>Os diferentes agentes causais podem ser divididos em químicos,</p><p>físicos ou biológicos. Constituem os primeiros, elementos corrosivos</p><p>de origem ácida/básica, álcool e gasolina; os segundos, exposições a</p><p>fontes de calor, frio, eletricidade e radiação; e os terceiros, o contato</p><p>direto com animais, vegetais e derivados, como por exemplo látex,</p><p>águas vivas e lagartas. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO</p><p>ESTADO DE GOIÁS, 2016).</p><p>Figura 1. Profundidades da Queimadura</p><p>Fonte. Sabiston Tratado de Cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna 19ª</p><p>edição, 2015.</p><p>114</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Quanto à profundidade, a classificação baseia-se no grau de lesão</p><p>tecidual. Queimaduras de primeiro grau se limitam à epiderme. São</p><p>dolorosas, eritematosas, empalidecem ao toque, mas possuem uma</p><p>barreira epidérmica intacta. As de segundo grau, além de compro-</p><p>meterem a epiderme, envolvem porções variadas da derme. Nas</p><p>queimaduras de terceiro grau, há um comprometimento total da</p><p>epiderme e derme, sendo caracterizadas por uma escara dura indolor,</p><p>branca ou cor de cereja. Já as de quarto grau envolvem estruturas</p><p>adjacentes, como tecido adiposo, músculos, ossos e órgãos internos.</p><p>(JESCHKE M. et al, 2015; CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO</p><p>ESTADO DE GOIÁS, 2016; GUSSO et al., 2019).</p><p>A avaliação dos pacientes queimados, assim como dos politrau-</p><p>matizados deve ser dividida em primária e secundária. (NAEMT,</p><p>2020). Ao se deparar com uma queimadura, para definir a melhor</p><p>conduta, é importante avaliar sua profundidade, extensão corpo-</p><p>ral acometida e etiologia. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR</p><p>DO ESTADO DE GOIÁS, 2016). O método mais adequado para</p><p>determinação da superfície corporal é a regra dos nove, segundo a</p><p>qual, cada membro superior e cabeça equivalem a 9% da superfície</p><p>corporal total (SCT), enquanto extremidades inferiores, o tronco</p><p>anterior e posterior correspondem a 18% cada e o períneo e geni-</p><p>tália a 1%. Para queimaduras pequenas, é possível igualar a mão</p><p>do paciente a aproximadamente 1% da SCT e utilizar essa medida</p><p>como estimativa. (JESCHKE M. et al, 2015).</p><p>No atendimento a queimaduras, o passo inicial é interrom-</p><p>per o mecanismo de lesão com resfriamento da ferida. (NAEMT,</p><p>2020). Para isso, utiliza-se água corrente à temperatura ambiente</p><p>(15-25°C) nos primeiros 30 minutos após contato com o agente</p><p>causador, excetuando-se casos especiais. Água muito gelada ou gelo</p><p>não são recomendados, por agravar a extensão e profundidade da</p><p>lesão. (BERNOCHE C. et al, 2019). Nesse primeiro momento, é</p><p>importante retirar roupas e acessórios, uma vez que podem reter</p><p>calor e aumentar o dano. Além disso, pertences como anéis e cintos</p><p>115</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>podem ser causa de estrangulamento caso haja formação de edema.</p><p>(NAEMT, 2020).</p><p>Figura 2. Esquematização da Regra dos Nove</p><p>Fonte. Advanced Burn Life Support Course Provider Manual, 2018 Update</p><p>Posteriormente, deve-se cobrir a lesão, utilizando-se um lençol</p><p>limpo e seco e curativos estéreis antiaderentes. O objetivo é prevenir</p><p>contaminações que podem advir do ambiente e diminuir a dor do</p><p>paciente ao evitar contato direto das terminações expostas com o ar.</p><p>Não se deve aplicar pomadas ou antibióticos tópicos no pré-atendi-</p><p>mento, uma vez que esses podem dificultar uma futura avaliação.</p><p>(NAEMT, 2020).</p><p>116</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Pelo fato de as lesões térmicas serem extremamente dolorosas,</p><p>pode-se realizar analgesia no atendimento pré-hospitalar. Assim, em</p><p>doses apropriadas, utilizam-se analgésicos opióides como fentanil (1</p><p>micrograma [µg] por kg de peso corporal) ou morfina (0,1 miligrama</p><p>[mg] por kg de peso corporal). (NAEMT, 2020).</p><p>Algumas lesões mais graves precisam de encaminhamento a um</p><p>centro especializado o mais rápido possível. São as causadas por ina-</p><p>lação, com trauma concomitantes, de espessura parcial maior que 10%</p><p>da SCT, que afetem rosto, mãos ou pés, genitais, períneo ou articu-</p><p>lações principais. Pertencem a esse quadro as queimaduras causadas</p><p>por eletricidade, ou por produtos químicos. Também necessitam de</p><p>cuidados especiais pacientes com condições prévias complicantes ou</p><p>que necessitarão de intervenção social, emocional, e reabilitação a</p><p>longo prazo. (NAEMT, 2020).</p><p>Casos especiais</p><p>Ao abordar uma queimadura por eletricidade, deve-se, primei-</p><p>ramente, certificar-se de que a vítima está isolada eletricamente.</p><p>(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS,</p><p>2016). Os fatores que indicarão a gravidade do caso são tensão, tipo</p><p>de corrente, duração no ponto de contato, resistência e trajetória da</p><p>corrente. A última, ditando quais órgãos adjacentes foram compro-</p><p>metidos. Uma forma de identificar a lesão de alta voltagem (> 1000</p><p>volts) é por sua coloração que é, normalmente, preta metálica sobre</p><p>a pele. (NAEMT, 2020).</p><p>Queimaduras circunferenciais devem receber atenção especial pelo</p><p>risco de formação de uma escara dura que, se localizada no tórax, pode</p><p>limitar o movimento da respiração do indivíduo e, se localizada em</p><p>extremidades, pode limitar a circulação sanguínea na região. Assim,</p><p>representam tanto uma ameaça à vida do paciente quanto a perma-</p><p>nência do membro afetado. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR</p><p>DO ESTADO DE GOIÁS, 2016).</p><p>117</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>A gravidade de uma queimadura química é indicada pela natu-</p><p>reza da substância, concentração, duração do contato e mecanismo de</p><p>ação. Ao socorrer um indivíduo que sofreu esse tipo de queimadura,</p><p>procura-se tirar toda sua roupa, cortando-a, de forma a evitar a con-</p><p>taminação de olhos e boca. Caso o material seja particulado, deve-se,</p><p>primeiramente, escová-lo. A fricção vigorosa com escovas ou esponjas</p><p>deve ser evitada, pois facilita a absorção do tóxico. (BRASIL, 2013).</p><p>Além disso, o paciente deve ser lavado com um grande volume de</p><p>água. É importante uma lavagem eficiente, que retire todo o material</p><p>e impossibilite o desenvolvimento da lesão em outras partes do corpo.</p><p>(NAEMT, 2020).</p><p>A lesão por inalação deve ser considerada nos seguintes cenários:</p><p>exposição a fumaças em lugares fechados, presença de queimadu-</p><p>ras no rosto ou tórax, sobrancelhas ou pelos nasais chamuscados,</p><p>presença de fuligem no escarro, pacientes confusos ou agitados, que</p><p>apresentem rouquidão, perda de voz ou estridor. (NAEMT, 2020). A</p><p>abordagem inicial consiste na administração de oxigênio através de</p><p>máscara facial ou cateter nasal. É importante manter as vias aéreas</p><p>pérvias. (JESCHKE M. et al, 2015).</p><p>INTOXICAÇÃO EXÓGENA</p><p>Intoxicações exógenas são causadas pela introdução de agentes</p><p>tóxicos no organismo que, a depender da concentração, da natureza</p><p>da substância nociva, das condições de exposição e da suscetibili-</p><p>dade individual, podem desencadear alterações funcionais e orgânicas.</p><p>(BRASIL, 2018). Os agentes causadores de acidentes por intoxica-</p><p>ção mais notificados são medicamentos, agrotóxicos de uso agrícola,</p><p>domissanitários</p><p>e produtos químicos industriais. (BRASIL, 2017b;</p><p>GUSSO; LOPES; DIAS. 2019).</p><p>Deve-se suspeitar de intoxicação exógena aguda em pacientes</p><p>previamente hígidos que apresentem quadros súbitos de alterações</p><p>118</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>do nível de consciência, no diâmetro pupilar, distúrbios cardiocir-</p><p>culatórios, respiratórios e metabólicos, além de hálito característico.</p><p>Na ausência de dados que indiquem doença orgânica, considera-se o</p><p>quadro acima descrito. (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).</p><p>Diante de um atendimento a uma vítima suspeita de exposição</p><p>química, o manejo inicial consiste na avaliação e manutenção dos</p><p>sinais vitais. Após a estabilização do paciente, a avaliação secundá-</p><p>ria deve ser direcionada para obtenção de dados essenciais sobre a</p><p>exposição, tais como: agente tóxico, sua quantidade, concentração e</p><p>via de exposição, bem como o tempo decorrido entre o contato e o</p><p>atendimento. Vale ressaltar a importância de se entrar em contato com</p><p>Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT), para apoio</p><p>diagnóstico e tratamento adequado. (BRASIL, 2013).</p><p>Em pacientes vítimas de exposição por ingestão, é necessário pro-</p><p>ver medidas de suporte e procurar informações complementares o</p><p>mais breve possível. (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).</p><p>Deve-se procurar por manchas ou queimaduras ao redor da boca,</p><p>odores característicos em vestes, no ambiente e em hálito, respira-</p><p>ção anormal, pulso alterado em frequência e ritmo, sudorese, miose</p><p>ou midríase, sialorreia ou espuma na boca, dor abdominal, náuseas,</p><p>êmese, diarreia, convulsões e alteração do estado de consciência,</p><p>incluindo a inconsciência. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO</p><p>ESTADO DE GOIÁS, 2016).</p><p>Diante de uma intoxicação por inalação, a vítima pode apresentar</p><p>dispneia, respiração superficial e rápida, bradisfigmia ou taquisfigmia,</p><p>dificuldade visual, tosse e hipersecreção de vias aéreas, cefaleia, além</p><p>dos sinais e sintomas de exposição por ingestão citados acima. (CORPO</p><p>DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2020).</p><p>Tratando-se de uma exposição cutânea, os sinais e sintomas</p><p>mais descritos são reações na pele que podem variar desde irrita-</p><p>ção leve até queimaduras químicas, dor, aumento da temperatura</p><p>da pele, vermelhidão, edema, prurido e ardência. (CORPO DE</p><p>119</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2020). Em caso</p><p>de exposição ocular, podem ocorrer danos a estruturas, principal-</p><p>mente, à córnea. Dor, ardência, hiperemia, conjuntivite, dermatite</p><p>de contato e distúrbio da visão, podem estar presentes. O refe-</p><p>renciamento para avaliação oftalmológica é indicado. (GUSSO;</p><p>LOPES; DIAS, 2019).</p><p>As medidas de descontaminação podem ser realizadas após a esta-</p><p>bilização ou simultaneamente ao manejo inicial. (GUSSO; LOPES;</p><p>DIAS, 2019). São fundamentais para diminuir a absorção do agente</p><p>tóxico e devem acontecer conforme a via de contaminação:</p><p>a) Cutâneo-mucosa: remoção imediata de roupas contaminadas e</p><p>retirada de eventuais resíduos sólidos com auxílio de um pano ou</p><p>escova. Após isso, seguir com lavagem corporal com água corrente,</p><p>por no mínimo 15 minutos. Também está bem documentado o</p><p>uso de solução salina e, em caso de substâncias lipossolúveis, é</p><p>indicado uso de sabão neutro. Em casos de agentes corrosivos/</p><p>cáusticos, tratar como queimadura química. (BRASIL, 2013).</p><p>b) Ocular: lavagem com soro fisiológico ou água, no momento da</p><p>admissão, por 15-30 minutos. Manter as pálpebras abertas, irri-</p><p>gando sempre da região medial do olho para a lateral, a fim evitar</p><p>a contaminação do outro olho. Assim como no item anterior, é</p><p>contraindicado o uso de substâncias neutralizantes, bem como,</p><p>colírios anestésicos. (BRASIL, 2013; GUSSO, LOPES; DIAS, 2019).</p><p>Na ocorrência de dor intensa, o uso de analgésicos via endovenosa</p><p>é indicado. (BRASIL, 2013).</p><p>c) Inalatória: os cuidados com as vias aéreas devem ser realizados</p><p>no local do acidente. Primeiramente, deve-se retirar a vítima do</p><p>ambiente em que o agente tóxico esteja presente, em seguida</p><p>remover vestes contaminadas, assegurar a permeabilidade das</p><p>vias aéreas e prover oxigênio suplementar. (HERNANDEZ;</p><p>RODRIGUES; TORRES, 2017). Em caso de necessidade de rea-</p><p>nimação, deve-se evitar a realização de respiração boca a boca. É</p><p>120</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>recomendado o uso de reanimador manual (ambu) ou máscara</p><p>de proteção. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO</p><p>DE GOIÁS, 2016).</p><p>d) Oral: a descontaminação pode ser indicada quando a ingestão</p><p>ocorrer em doses de alto potencial tóxico e com tempo entre a</p><p>exposição e a assistência variando de 1 até 2 horas, salvo em casos</p><p>de ingestão de agentes que retardam o esvaziamento gástrico, nos</p><p>quais a descontaminação tardia pode ocorrer. Deve-se avaliar a</p><p>necessidade de lavagem gástrica e/ou administração de carvão</p><p>ativado, considerando riscos e benefícios. Em caso de contato com</p><p>substâncias corrosivas ou derivados de petróleo (solventes), tanto</p><p>a lavagem gástrica quanto o carvão ativado estão contraindicados.</p><p>(HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017).</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Garantir que vítimas de agravos à saúde possam ser submetidas</p><p>a atendimentos humanizados e tecnicamente respaldados melhora</p><p>o prognóstico, a sobrevida e diminui a possibilidade de sequelas. Os</p><p>primeiros socorros referem-se ao atendimento temporário e imediato</p><p>de uma pessoa que está ferida ou que adoece repentinamente. Dis-</p><p>correr acerca de condutas específicas não é o objetivo deste capítulo,</p><p>no entanto, as abordagens aqui elucidadas visam a proporcionar um</p><p>cuidado fundamental e indispensável no ambiente de trabalho.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AMERICAN BURN ASSOCIATION. Advanced Burn Life Support Course Provider</p><p>Manual. Chicago, IL: [s.n], 2018.</p><p>AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. Committee on Trauma Advanced Trauma</p><p>Life Support. 10. ed. Chicago, IL: [s.n.], 2018.</p><p>BARROS FILHO, T.E.P; CAMARGO, O.P. Ortopedia e traumatologia para</p><p>graduação. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.</p><p>121</p><p>PRIMEIRO SOCORROS: CONDUTAS EM AMBIENTES DE</p><p>TRABALHO</p><p>BERNOCHE C. et al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e</p><p>Cuidados de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arquivos</p><p>Brasileiros de Cardiologia. Rio de Janeiro. v. 113, n. 3, p. 449-663, 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria da Previdência. Anuário Estatístico da</p><p>Previdência Social: 2017. Brasília, DF, 2017a. Disponível em: http://sa.previdencia.</p><p>gov.br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf. Acesso em: 07 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Sistema Nacional de</p><p>Informação Tóxico-Farmacológicas- SINITOX. Dados nacionais: Casos Registrados</p><p>de Intoxicação Humana por Agente Tóxico e Circunstância. Brasil, 2017b. Disponível</p><p>em: https://sinitox.icict.fiocruz.br/sites/sinitox.icict.fiocruz.br/files//Brasil6_1.pdf.</p><p>Acesso em: 11 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de</p><p>Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: Queixas mais comuns na</p><p>Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 2v. 290 p.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de</p><p>Atenção Hospitalar às Urgências, Coordenação Geral da Força Nacional do SUS.</p><p>Protocolos de Suporte Básico de Vida. Brasília, DF, 2014. Disponível em: http://</p><p>www.saude.gov.br/images/pdf/2016/outubro/26/livro-basico-2016.pdf. Acesso em:</p><p>09 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos</p><p>Estratégicos. Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico e Tratamento de Intoxicações</p><p>por Agrotóxicos- Capítulo 1. [S.I. s.n.], 2018. Disponível em: http://conitec.gov.</p><p>br/images/Protocolos/Protocolo_Uso/DiretizesNacionais_IntoxicacaoAgrotoxico_</p><p>Capitulo1.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020.</p><p>CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS. Manual Operacional</p><p>de Bombeiros: Resgate pré-hospitalar. Goiânia, GO: [s.n.], 2016. 318 p.</p><p>EGOL, K.A.;</p><p>KOVAL, K.J.; ZUCKERMAN, J.D. Manual de Fraturas. 5. ed. 2017.</p><p>[S.l]: DI LIVROS EDITORA, 2017. 787 p.</p><p>GUSSO, G.; LOPES, J.M.C.; DIAS, L.C. Tratado de Medicina de Família e</p><p>Comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 2 v.</p><p>HERNANDEZ, E. M. M.; RODRIGUES, R. M. R.; TORRES, T. M. (Org.). Manual</p><p>de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações</p><p>agudas. São Paulo, SP: Secretaria Municipal da Saúde, 2017. 2 v. 465 p. Disponível em:</p><p>http://abracit.org.br/wp/principal/wp-content/uploads/2017/11/manual_toxicologia_</p><p>clinica-covisa-2017.pdf. Acesso em: 10 jun. 2020.</p><p>JESCHKE M. et al. Queimaduras. In: TOWSEND C. M. et al. Sabiston tratado</p><p>de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Elsevier, 2015. 2 v. p 930 - 977.</p><p>122</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS -</p><p>NAEMT. PHTLS: Prehospital Trauma Life Support. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett</p><p>Learning, 2020. 786 p.</p><p>NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS -</p><p>NAEMT. PHTLS: Prehospital Trauma Life Support First Response. 1. ed. Rio de</p><p>Janeiro: Elsevier, 2013. 400 p.</p><p>Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho: Notificações de</p><p>acidentes de trabalho em 2018. Disponível em: https://smartlabbr.org/sst/</p><p>localidade/0?dimensao=perfilCasosAcidentes. Acesso em: 10 jun. 2020.</p><p>123</p><p>Capítulo 8</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E</p><p>MEDIDAS PREVENTIVAS: do contexto</p><p>habitual à situação de pandemia pela</p><p>covid-19</p><p>Carolina Pimentel Orsini1</p><p>Evandro Costa Reis Iennaco Júnior2</p><p>Horrana Alves Magalhães3</p><p>Laryssa Reis Coelho4</p><p>Luciano Casali Santos5</p><p>INTRODUÇÃO E CONCEITOS</p><p>Equipamentos de proteção individual (EPIs) são definidos</p><p>pelas normas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)</p><p>como “[...] todo dispositivo ou produto, de uso individual,</p><p>utilizado pelo trabalhador e pela trabalhadora, destinado à proteção</p><p>1 Acadêmica do Curso de Medicina do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Belo</p><p>Horizonte - MG, Brasil</p><p>2 Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de</p><p>Fora - Suprema (FCMS/JF), Juiz de Fora - MG, Brasil</p><p>3 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora - Campus Gover-</p><p>nador Valadares (UFJF/GV), Governador Valadares - MG, Brasil</p><p>4 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri- Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil</p><p>5 Médico urologista e cirurgião geral e do trauma. Professor da Universidade Federal dos Vales</p><p>do Jequitinhonha e Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil</p><p>124</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”.</p><p>(BRASIL, 1978).</p><p>Os EPIs podem ser de dois tipos: do tipo produto ou do tipo</p><p>dispositivo. É considerado um dispositivo os que são usados sobre</p><p>o corpo ou sobre segmentos do corpo do trabalhador e da trabalha-</p><p>dora, sendo possível retirá-lo ou inseri-lo a qualquer momento. E os</p><p>que são produtos devem ser aplicados em superfícies tegumentares,</p><p>como por exemplo, o creme protetor de segurança, usado na proteção</p><p>contra agentes químicos. (CAMISASSA, 2015; BRASIL, 1978). Os</p><p>Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) são considerados “[...]</p><p>dispositivos ou sistemas, de âmbito coletivo, destinados à preservação</p><p>da integridade física e da saúde dos empregados” (EBSERH, 2019).</p><p>A legislação relativa à regulamentação da segurança e da saúde</p><p>do trabalhador e da trabalhadora é estabelecida pelo MTE por meio</p><p>das Normas Regulamentadoras (NRs). As NRs devem ser, obrigato-</p><p>riamente, cumpridas pelas empresas privadas, públicas e pelos órgãos</p><p>públicos que possuam empregados contratados e regidos pela Con-</p><p>solidação das Leis do Trabalho. (CAMISASSA, 2015). Em relação</p><p>às disposições a respeito do uso de EPIs e a respeito das medidas</p><p>de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços</p><p>de saúde existem duas NRs específicas, são elas: a NR 6 e a NR 32.</p><p>(CAMISASSA, 2015; FREITAS et al., 2014).</p><p>A NR 32 dispõe sobre as diretrizes voltadas para a implementação</p><p>de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores, sendo</p><p>direcionada, especificamente, aos profissionais de serviços de saúde</p><p>e para os trabalhadores das atividades de promoção e assistência à</p><p>saúde. (CAMISASSA, 2015; FREITAS et al, 2014).</p><p>Para o entendimento desta NR faz-se necessário discorrer a res-</p><p>peito do conceito de serviços de saúde por ela implementado. São</p><p>considerados serviços de saúde “[...] qualquer edificação destinada</p><p>à prestação de assistência à saúde da população, e todas as ações de</p><p>promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em</p><p>125</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>qualquer nível de complexidade”. (BRASIL, 2005). Dessa maneira,</p><p>tanto um médico quanto um auxiliar dos serviços gerais de um serviço</p><p>de saúde estão contemplados pelas deliberações desta NR (CAMI-</p><p>SASSA, 2015).</p><p>O risco biológico, que é definido como a probabilidade de expo-</p><p>sição ocupacional a qualquer micro-organismo (bactérias, fungos,</p><p>protozoários, vírus, modificados geneticamente ou não), culturas de</p><p>células, toxinas e a príons, que é próprio dos profissionais da saúde,</p><p>portanto, está contemplado pela NR 32. (BRASIL, 2005).</p><p>Em relação às medidas de proteção contidas na NR 32, as reco-</p><p>mendações quanto aos EPIs apresentam destaque, sendo alguns dos</p><p>principais pontos instituídos: o empregador deve fornecer, sem ônus ao</p><p>empregado, vestimentas adequadas e confortáveis; é responsabilidade</p><p>do empregador higienizar as vestimentas e reservar locais direciona-</p><p>dos para o fornecimento de roupas limpas e para deposição daquelas</p><p>usadas. (BRASIL, 2005).</p><p>Já a NR 6, anterior à NR 32, estabelece as regras relacionadas aos</p><p>EPIs, incluindo as responsabilidades dos empregadores, dos empre-</p><p>gados, das empresas, dos fabricantes nacionais, dos importadores e do</p><p>MTE. Ademais, a NR 6 determina que todos os EPIs deverão possuir</p><p>o Certificado de Aprovação (CA), um documento que comprova se</p><p>um equipamento atende aos requisitos técnicos aplicáveis e se oferece</p><p>proteção eficaz. (CAMISASSA, 2015).</p><p>Dentre as obrigações e os direitos dos empregadores e dos empre-</p><p>gados dispostas na NR 6, destacam-se as seguintes competências do</p><p>empregador: adquirir o EPI adequado ao risco laboral; exigir o uso</p><p>dos EPIs pelos empregados; fornecer EPIs aprovados pelo órgão</p><p>nacional; orientar e treinar o trabalhador e a trabalhadora sobre o</p><p>uso adequado, armazenamento e conservação dos EPIs; substituir</p><p>de imediato um EPI que for danificado ou extraviado; higienizar e</p><p>fazer a manutenção dos EPIs e comunicar ao MTE irregularidades</p><p>observadas. (BRASIL, 1978).</p><p>126</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Já ao empregado, compete usar os EPIs apenas para a finalidade a</p><p>que se destina; responsabilizar-se pela guarda e conservação; comuni-</p><p>car ao empregador qualquer alteração que torne o EPI impróprio para</p><p>uso e cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado</p><p>dos EPIs. (BRASIL, 1978).</p><p>A NR 6 exemplifica, também, as competências do MTE tanto em</p><p>âmbito nacional quanto em âmbito regional. Algumas obrigações do</p><p>órgão nacional são as seguintes: cadastrar ou suspender o cadastro</p><p>da empresa fabricante ou da importadora do EPI; emitir, renovar ou</p><p>cancelar o CA; fiscalizar a qualidade do EPI, dentre outras. Já o órgão</p><p>regional, deve “[...] fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e a</p><p>qualidade do EPI; recolher amostras de EPI; e aplicar, na sua esfera</p><p>de competência, as penalidades cabíveis pelo descumprimento desta</p><p>NR”. (BRASIL, 1978).</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS DE</p><p>PRECAUÇÃO</p><p>Os EPCs são equipamentos destinados a garantir a segurança do</p><p>trabalho</p><p>e riscos presentes no trabalho.</p><p>13</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>O foco não era em uma análise por sistemas ou segmentos cor-</p><p>porais como é realizado hoje. (VASCONCELLOS; GAZE, 2013).</p><p>A abordagem por ofícios contemplava, de forma mais ampla,</p><p>os componentes e situações nocivas a que o trabalhador estava</p><p>exposto. Considerando a marcante divisão de trabalho da socie-</p><p>dade contemporânea, o modelo proposto por Ramazzini é de difícil</p><p>aplicabilidade nos dias atuais.</p><p>O médico italiano, no fim do século XVII, sob a ótica integrada</p><p>de saúde-trabalho-ambiente, apontava riscos físicos, biológicos e</p><p>químicos aos quais os trabalhadores estavam expostos e recomen-</p><p>dava a adoção de medidas preventivas a acidentes e enfermidades,</p><p>como, por exemplo, o uso de equipamentos de proteção coletivos e</p><p>individuais. (VASCONCELLOS; GAZE, 2013). Aconselhava, ainda,</p><p>a adoção de outras ações, como o ato de tomar banho, a redução da</p><p>jornada de trabalho e a alternância de posições aos trabalhadores</p><p>que exerciam o ofício em pé. Ele, também, abordava a exposição</p><p>ocupacional como um fator importante para a ocorrência de doenças</p><p>crônicas. (LADOU et al., 2016).</p><p>A obra de Ramazzini constitui um marco para a saúde ocupacional</p><p>por sistematizar e caracterizar enfermidades relacionadas ao âmbito</p><p>laboral, em um período anterior ao surgimento da medicina do tra-</p><p>balho. As variáveis observadas por ele continuam, nos dias atuais,</p><p>sendo utilizadas para a classificação de doenças ocupacionais. (VAS-</p><p>CONCELLOS; GAZE, 2013).</p><p>Adicionalmente, esse médico propõe a inclusão da simples per-</p><p>gunta “qual a sua ocupação?” à anamnese, afirmando que, para desco-</p><p>brir o acometimento do trabalhador, deve-se saber qual é a sua fonte</p><p>de sustento. (KASHIWABARA et al., 2019). Apesar da sua grande</p><p>contribuição para a saúde ocupacional e de ser intitulado por muitos</p><p>como o pai da Medicina do Trabalho, o termo é, de certo modo, impro-</p><p>priamente aplicado, pois o surgimento dessa especialidade médica é</p><p>posterior à Ramazzini. (VASCONCELLOS; GAZE, 2013).</p><p>14</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>A evolução da medicina do trabalho no contexto da revolução</p><p>industrial a partir do século XVIII</p><p>A forma de viver e de produzir dos indivíduos sofreu profundas</p><p>mudanças a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, ini-</p><p>ciada na Inglaterra. Esse contexto foi acompanhado de novas exigên-</p><p>cias - tanto dos processos produtivos, quanto das forças de trabalho</p><p>- e direcionou enfoques e perspectivas inéditas para a noção de saúde</p><p>dos trabalhadores. (CAMISASSA, 2016).</p><p>A partir da industrialização, ocorreu uma ampla transição do</p><p>trabalho agrícola nos campos para o porão das fábricas, dando iní-</p><p>cio a um modelo de produção que demandava maior produtividade,</p><p>com longas jornadas de trabalho e confecção em larga escala. Isso</p><p>diferia dos trabalhos agrícolas - cuja sazonalidade climática quase</p><p>sempre determinava o ritmo laboral dos homens - ou do trabalho</p><p>artesanal - no qual o artesão detinha o protagonismo do processo</p><p>de produção. Paralelo ao avanço das primeiras indústrias, cresceu,</p><p>também, a urbanização que, por sua vez, influenciou novas deman-</p><p>das, tanto sociais, quanto econômicas, para a classe dos trabalha-</p><p>dores que formava a base da recente sociedade industrial que se</p><p>estabelecia. Diante das amplas transformações, a medicina passou</p><p>a incrementar novos laços com o mundo do trabalho. (JÚNIOR;</p><p>MELO; AGUIAR, 2020).</p><p>Nas fábricas, o vínculo entre homem e máquina estabeleceu a</p><p>submissão dos trabalhadores ao processo de produção que era mar-</p><p>cado, de forma notória, pelo ritmo acelerado e precário das condições</p><p>de trabalho, como, por exemplo, ambientes fechados, sem direito a</p><p>descanso, além do amplo recrutamento e exploração da mão de obra</p><p>de mulheres e crianças. (OLIVEIRA, 2020).</p><p>Nesse cenário de industrialização, o risco para o desenvolvi-</p><p>mento de doenças, como lesões por esforço repetitivo, alterações</p><p>psíquicas e acidentes de trabalho com máquinas, além da inalação</p><p>15</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>diária de poluentes com origem das novas fontes de energia para</p><p>impulsionar o maquinário, aumentaram os riscos para doenças</p><p>cardiopulmonares. (KASHIWABARA et. al., 2019). Na Inglaterra,</p><p>o tifo europeu foi chamado na época de febre das fábricas. (OLI-</p><p>VEIRA, 2020).</p><p>A sobrevivência dos trabalhadores e o próprio processo de pro-</p><p>dução ficaram sob risco, gerando preocupação com a força de tra-</p><p>balho e com as perdas econômicas dos empregadores que passaram,</p><p>então, a intervir nas fábricas e na saúde dos trabalhadores. O incen-</p><p>tivo à presença de médicos nas indústrias e o surgimento de leis de</p><p>saúde pública, como a Factory Law de 1802, conhecida também como</p><p>Leis das Fábricas, marcadamente abordavam a questão da saúde do</p><p>operário. Com essas intervenções, a medicina do trabalho tem o seu</p><p>marco inicial, surgindo na Inglaterra como uma especialidade médica.</p><p>(CAMISASSA, 2016).</p><p>Os primeiros serviços de medicina do trabalho eram centrados nos</p><p>profissionais médicos, sendo esses responsáveis pela prevenção e pelos</p><p>danos à saúde dos trabalhadores. No entanto as ações preventivas para</p><p>redução ou eliminação de riscos eram pouco valorizadas em detri-</p><p>mento de um foco no tratamento das consequências da insalubridade</p><p>das fábricas e dos doentes. Esse modelo se mostrou insuficiente, com</p><p>uma abordagem meramente clínico-terapêutica, no qual, apenas, se</p><p>analisava o microambiente das indústrias e a ocorrência patogênica de</p><p>certos agentes, sem levar em consideração fatores ambientais, sociais</p><p>e psíquicos do processo de adoecimento ligado às funções laborais.</p><p>(KASHIWABARA, 2019).</p><p>A transição para o conceito de medicina ocupacional e a saúde do</p><p>trabalhador na atualidade</p><p>No início do século XX, a consolidação do modelo iniciado com</p><p>a revolução industrial mostrava-se insuficiente diante das profundas</p><p>transformações políticas, econômicas e sociais que emergiram, como a</p><p>16</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>evolução da ciência, o liberalismo econômico e as teses marxistas dire-</p><p>cionadas à classe trabalhadora. As perdas de vida por acidentes laborais</p><p>ou por doenças ligadas ao exercício do trabalho eram sentidas, tanto pela</p><p>classe dos trabalhadores, cada vez mais insatisfeita, sendo mero objeto</p><p>das ações em saúde, quanto pelos empregadores, que perdiam mão de</p><p>obra produtiva, além de terem perdas econômicas diretas ou indiretas,</p><p>como o pagamento de indenizações. Esse cenário mostrava a impotência</p><p>da medicina do trabalho em resolver os agravos de saúde, resultantes</p><p>dos processos de produção. (JÚNIOR; MELO; AGUIAR; 2020).</p><p>Logo, houve a necessidade de instituir medidas e parâmetros</p><p>comuns entre os países produtores de bens industrializados, a fim</p><p>de criar uma regulamentação e organização do processo de trabalho.</p><p>Surgiu, então, a saúde ocupacional, com foco na higiene industrial,</p><p>a qual ampliava a intervenção médica sobre o ambiente de trabalho,</p><p>com antecipação, reconhecimento, avaliação e controle, além de contar</p><p>com uma atuação multidisciplinar com a parceria de outras disciplinas</p><p>e profissões, como a engenharia e as ciências sociais. A estratégia era</p><p>a intervenção nos locais de trabalho, visando ao controle dos riscos</p><p>ambientais de forma racional e científica. A toxicologia, por exem-</p><p>plo, passou a ser grande aliada nesse processo, identificando a causa</p><p>etiológica de diversas comorbidades, podendo atuar na prevenção e</p><p>na erradicação. Doenças que antes eram tidas como exclusivas dos</p><p>trabalhadores passaram a ser relacionadas a agentes etiológicos espe-</p><p>cíficos. A exposição a algumas circunstâncias de trabalho, como o</p><p>contato com substâncias tóxicas, foram sendo classificadas em agentes</p><p>causadores de patologias ocupacionais, como elementos da indústria</p><p>química (metais pesados, chumbo, mercúrio), agentes físicos (radia-</p><p>ção, extremos de temperatura, poluição sonora) e agentes biológicos</p><p>(vírus,</p><p>de uma coletividade de trabalhadores expostos a determinado</p><p>risco, devendo estar em concordância com normas nacionais e, em</p><p>certos casos, apresentar laudo técnico. São exemplos gerais de EPCs:</p><p>sistemas de combate a incêndios através de borrifadores de teto ou</p><p>sprinkle, detectores de fumaça, extintores, hidrantes, mangueiras de</p><p>incêndio, mantas de lã para abafar vítima de incêndio, redes de pro-</p><p>teção, corrimão nas escadas, sistemas de sinalização (placas, avisos,</p><p>luzes, faixas luminosas, saídas de emergências), proteções nas áreas</p><p>de perigo de máquinas, kit de primeiros socorros e cones. (CHAVES</p><p>et al. 2019; BRASIL, 2016).</p><p>Em âmbito hospitalar e laboratorial, encontram-se outros tipos</p><p>de EPCs, voltados à biossegurança: cabine histológica, em aço inox,</p><p>destinada a trabalhos histológicos; capela química, para manipulação</p><p>127</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>de produtos tóxicos; vasos de areia para neutralização de materiais</p><p>alcalinos; alça de transferência descartável (dispensa necessidade</p><p>de flambagem), para coleta e transferência de amostras, contendo</p><p>microorganismos; lâmpadas de luz ultravioleta, germicidas; disposi-</p><p>tivos de pipetagem segura (pera de borracha, pipetador automático)</p><p>e kit para limpeza em caso de derramamento biológico, químico ou</p><p>radioativo. (LIMA E SILVA, 1998).</p><p>Os EPIs, por sua vez, devem ser disponibilizados quando medidas</p><p>de proteção coletiva e medidas administrativas forem tecnicamente</p><p>inviáveis, insuficientes ou se apresentarem em fase de estudo. Dessa</p><p>forma, em congruência com a NR6, é possível dividir os EPIs em</p><p>nove grupos, de acordo com a parte do corpo protegida: grupo A</p><p>(proteção da cabeça), grupo B (proteção dos olhos e face), grupo C</p><p>(proteção auditiva), grupo D (proteção respiratória), grupo E (prote-</p><p>ção do tronco), grupo F (proteção dos membros superiores), grupo</p><p>G (proteção dos membros inferiores), grupo H (proteção do corpo</p><p>inteiro) e grupo I (proteção do usuário contra quedas de diferença de</p><p>nível). Ainda, esses grupos são subdivididos em função do tipo de ves-</p><p>timenta e da origem do risco: térmica, mecânica, química, radioativa</p><p>e meteorológica. (CAMISASSA, 2015; BRASIL, 1978, 2020c).</p><p>Ademais, é válido ressaltar que a higienização dos EPIs deve ser</p><p>realizada conforme as recomendações dos fabricantes. De maneira</p><p>geral, capacetes, protetores faciais, óculos de proteção, protetores audi-</p><p>tivos, avental impermeável, luvas não plumbíferas, calçados e cin-</p><p>turões podem ser lavados com água e sabão neutro, devendo secá-los</p><p>à sombra ou com papel absorvente. Porém, protetores respiratórios e</p><p>protetores plumbíferos apresentam particularidades: PFF1 (Peça Facial</p><p>Filtrante 1) é descartável, PFF2 e filtros não devem ser higienizados e,</p><p>para vestimentas e luvas plumbíferas, higienização com pano úmido,</p><p>água limpa e detergente neutro e desinfecção com desinfetante à base</p><p>de quaternário de amônio ou de ácido peracético. (CHAVES, 2019;</p><p>BRASIL, 2016).</p><p>128</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Nota-se que o conhecimento acerca dos conceitos de EPIs é evi-</p><p>dente entre os profissionais da saúde. Contudo, grande parcela des-</p><p>preza seu uso ou não os utiliza da maneira correta, o que inviabiliza o</p><p>equipamento, além de propiciar a autocontaminação, a contaminação</p><p>da equipe e do paciente. O uso correto pressupõe a seguinte ordem:</p><p>avental, cobrindo torso e amarrando pelas costas; máscara ou respi-</p><p>rador, verificando a vedação; óculos de proteção ou protetor facial;</p><p>gorro e, por fim, luvas. Já a ordem para remoção: luvas, atentar-se ao</p><p>lado externo, que está contaminado; avental, retirar pelo avesso; gorro;</p><p>óculos ou protetor facial, retirar pelas laterais; máscara ou respirador,</p><p>pelas alças. (ANVISA, 2020a).</p><p>Ainda sobre a prevenção da transmissão de agentes infecciosos</p><p>nos sistemas de saúde, existem as precauções. Precauções padrão são</p><p>um conjunto de medidas que devem ser aplicadas ao cuidado de todos</p><p>os pacientes em ambientes de saúde, independentemente se há casos</p><p>suspeitos ou confirmados de alguma doença contagiosa. Enquanto que</p><p>as precauções específicas configuram medidas adicionais, direcionadas</p><p>ao mecanismo de transmissibilidade dos agentes infecciosos envolvi-</p><p>dos nos casos quando, apenas, as precauções padrão são insuficientes</p><p>para prevenção. (EBSERH, 2017; SIEGEL et al., 2019).</p><p>Dentre as medidas de precauções padrão, temos a higienização</p><p>das mãos, uma medida amplamente conhecida, simples e pouco dis-</p><p>pendiosa. Pode ser realizada com água e sabão, com preparação alcoó-</p><p>lica ou anti-séptico degermante (clorexidina ou iodo). São cinco as</p><p>principais indicações para a higienização das mãos de acordo com</p><p>a Organização Mundial de Saúde (OMS): antes de tocar o paciente;</p><p>antes de realizar procedimento asséptico; após risco de exposição a</p><p>fluidos corporais; após tocar o paciente; e após contato com superfícies</p><p>próximas ao paciente. (ANVISA, 2009, 2020a).</p><p>Alguns EPIs, também, se enquadram nas precauções padrão e</p><p>devem ser utilizados quando se espera que a interação com o paciente</p><p>resulte no contato com sangue ou fluidos corporais. Sendo assim, as</p><p>129</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>luvas, a máscara cirúrgica, os óculos ou protetor facial (face shield) e</p><p>o avental ou capote devem ser utilizados na paramentação em função</p><p>da exposição esperada. É importante ressaltar que o uso de luvas não</p><p>substitui a higienização das mãos e deve sucedê-la quando indicada.</p><p>(SIEGEL et al., 2019).</p><p>Quanto às precauções específicas, podemos classificá-las em três</p><p>tipos: precauções de contato, precauções de gotículas e precauções</p><p>de aerossóis. As precauções de contato são adotadas quando se trata</p><p>de patógenos transmissíveis por contato direto ou indireto, com o</p><p>paciente ou com o ambiente. Deve ser adotado quarto privado mas,</p><p>na impossibilidade, um distanciamento maior ou igual a um metro</p><p>entre os leitos é recomendado; os EPIs devem ser colocados na entrada</p><p>e descartados antes de sair do quarto. (EBSERH, 2017; SIEGEL et al.,</p><p>2019).</p><p>As precauções contra gotículas e aerossóis visam a prevenir a</p><p>transmissão de microorganismos pela via respiratória, que são elimi-</p><p>nados através da fala, tosse ou espirro. Conceitualmente, as gotículas</p><p>são partículas maiores que 5 micra que podem se depositar à curta</p><p>distância (1 a 1,5 metros). Dessa forma, é indicado um quarto privado</p><p>e o uso de máscara cirúrgica pelo trabalhador e pela trabalhadora</p><p>da saúde que for estabelecer contato próximo com o paciente. São</p><p>exemplos de doenças transmitidas por gotículas: influenza A, B e C,</p><p>pneumonia por Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae</p><p>e Neisseria meningitidis, caxumba, rubéola, entre outros. (EBSERH,</p><p>2017; SIEGEL et al., 2019).</p><p>Já os aerossóis são partículas menores que 5 micra que podem</p><p>permanecer suspensas no ar, ressecadas no ambiente e dispersar por</p><p>longas distâncias. Sendo assim, os pacientes devem ficar em área física</p><p>específica, dotada de sistema de ar com uso de filtro especial e pressão</p><p>negativa, quando estes recursos estiverem disponíveis. Além disso, é</p><p>recomendado o uso de respirador pelos profissionais da saúde para</p><p>entrar no quarto, como a máscara N95 ou equivalentes. Os principais</p><p>130</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>exemplos de doenças transmissíveis por aerossóis são o sarampo e a</p><p>tuberculose pulmonar e laríngea. (ANVISA, 2020b).</p><p>É importante ressaltar que a máscara N95 não representa uma</p><p>máscara cirúrgica, mas um EPI de uso profissional. O termo “N95”</p><p>se refere ao tipo de filtro para aerossóis que foi utilizado na constru-</p><p>ção da máscara e, tratando de proteção contra agentes biológicos,</p><p>constitui o mínimo permitido por órgãos regulamentadores. Dessa</p><p>forma, existem outros respiradores equivalentes ou superiores, que</p><p>podem ser igualmente usados,</p><p>como a peça semifacial filtrante (PFF)</p><p>para partículas tipo PFF2 e o respirador purificador de ar com peça</p><p>semifacial com filtro P2. (NICOLAI; AQUINO; VENTURA, 2020).</p><p>A peça facial filtrante (PFF) é um EPI que cobre o nariz e a boca,</p><p>com filtro para retenção de partículas da atmosfera. Assim como a</p><p>máscara N95, é classificada em função da eficiência do filtro de par-</p><p>tículas em PFF1, PFF2 e PFF3, que possuem penetrações máximas</p><p>permitidas de 20%, 6% e 1%, respectivamente, sendo a PFF2 equi-</p><p>valente a N95. (NICOLAI; AQUINO; VENTURA, 2020). Esse EPI é</p><p>encontrado em diversos formatos (dobráveis, conformadas e outros)</p><p>e podem ou não possuir válvulas de exalação. A válvula de exalação</p><p>permite a saída do ar quente expirado, reduzindo o calor e a umi-</p><p>dade dentro do respirador. É importante ressaltar que tais variações</p><p>não influenciam a eficácia da proteção respiratória, gerando somente</p><p>percepções de conforto. (ANVISA, 2006). Dessa forma, um aspecto</p><p>importante quanto ao uso das PFF, assim como de qualquer EPI, são</p><p>as indicações e uso corretos. Assim sendo, são indicados na prevenção</p><p>contra agentes infecciosos menores que 5 micra e procedimentos gera-</p><p>dores de aerossóis, como a intubação ou aspiração traqueal, ventilação</p><p>mecânica não invasiva, nebulização, ressuscitação cardiopulmonar e</p><p>coletas de amostras naso ou orotraqueal. (ANVISA, 2020a).</p><p>Quanto ao uso correto, o trabalhador e a trabalhadora devem higie-</p><p>nizar as mãos antes e após colocar ou retirar a PFF. Ao colocar, a máscara</p><p>deve ser encaixada no rosto e sob o queixo, seguido pelo posicionamento</p><p>131</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>dos tirantes (um na nuca e o outro sobre a cabeça), ajuste da pinça nasal</p><p>e avaliação da vedação, ou seja, ausência de escape de ar. Ao retirar,</p><p>deve segurar pelos tirantes, sem tocar a parte anterior e então realizar</p><p>o descarte (BRASIL, 2020a; NICOLAI; AQUINO; VENTURA, 2020).</p><p>COVID-19</p><p>A doença do Coronavírus-2019 (COVID-19) é uma enfermidade</p><p>respiratória causada pelo vírus SARS-CoV-2. O primeiro caso foi regis-</p><p>trado na cidade de Wuhan, China, em dezembro de 2019. Desde então,</p><p>tem se espalhado pelo mundo, o que levou a OMS em 11 de março</p><p>de 2020 considerar a enfermidade como uma pandemia. Os sinais e</p><p>sintomas geralmente são febre (≥37,8ºC); tosse; dispneia; mialgia e</p><p>fadiga; e sintomas respiratórios superiores. É importante salientar que</p><p>assintomáticos, também, podem transmitir a doença, o que corrobora</p><p>com o aumento súbito do número de casos. (BRASIL, 2020a).</p><p>Na constatação do diagnóstico clínico, o padrão-ouro é o teste</p><p>laboratorial pela técnica molecular, conhecido como RT-PCR, para</p><p>detecção do RNA do vírus SARS-CoV-2, devendo ser solicitado do</p><p>terceiro ao décimo dia do início dos sintomas. Outra modalidade para</p><p>o diagnóstico é o exame imunológico, denominado teste rápido (IgM/</p><p>IgG), em que se detecta anticorpos quando solicitado após sétimo dia</p><p>de início dos sintomas. (BRASIL, 2020c).</p><p>Em relação ao manejo, deve ser realizada a prescrição de fármacos</p><p>para o controle dos sintomas e orientação quanto a medidas gerais</p><p>de prevenção. Somado à ausência de imunidade prévia na população</p><p>humana e à inexistência de vacina, as intervenções não farmacoló-</p><p>gicas têm se mostrado eficazes para reduzir o contágio e diminuir a</p><p>mortalidade e morbidade da doença. (GARCIA, 2020).</p><p>Diante desse contexto de pandemia, a OMS estabeleceu o Plano</p><p>de Resposta a COVID-19 e Prontidão Estratégica. Essas diretrizes</p><p>possuem três objetivos centrais:</p><p>132</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Diminuir e interromper a transmissão, evitar</p><p>epidemias e retardar sua transmissão; prover</p><p>cuidado otimizado para todos os pacientes,</p><p>em especial aqueles mais graves; e minimizar</p><p>o impacto da epidemia sobre os sistemas de</p><p>saúde, serviços sociais e atividade econômica.</p><p>(ALMEIDA, 2020, p.4).</p><p>Nesse sentido, constata-se que o terceiro tópico aborda a proteção</p><p>da saúde do trabalhador e da trabalhadora, estando, intimamente, rela-</p><p>cionado à implementação de políticas públicas que contemplem as duas</p><p>primeiras metas. (ALMEIDA, 2020). Por conseguinte, as medidas pre-</p><p>ventivas gerais e o uso de EPI’s tornam-se essenciais no combate ao vírus.</p><p>Em relação às ações gerais de prevenção, a frequente higienização</p><p>das mãos é imprescindível para reduzir a transmissão do agente etio-</p><p>lógico. Ademais, deve-se evitar tocar nos olhos, nariz e boca, praticar</p><p>a etiqueta respiratória, tossindo ou espirrando sobre o cotovelo ou</p><p>sobre um tecido dobrado que poderá ser descartado, e usar máscara</p><p>se estiver com sintomas respiratórios e for estabelecer contato com</p><p>outras pessoas. (OLIVEIRA et al., 2020).</p><p>Outra medida preconizada pelos órgãos de saúde refere-se ao iso-</p><p>lamento social, uma vez que o coronavírus é altamente contagioso e</p><p>se dissemina de forma exponencial através do contato. Visando a uma</p><p>menor exposição dos profissionais da área da saúde, a OMS aconselha,</p><p>sempre que possível, o emprego da telemedicina e a restrição de con-</p><p>tato dos trabalhadores com os infectados através de barreiras físicas.</p><p>(WHO, 2020). Ademais, recomenda-se a limpeza e a desinfecção de</p><p>superfícies em contato com casos suspeitos ou confirmados pelo SAR-</p><p>S-CoV-2 com desinfetantes à base de cloro e/ou álcool (OLIVEIRA</p><p>et al., 2020).</p><p>Os EPIs são considerados eficazes quando atendem, em conjunto,</p><p>as áreas administrativa, ambiental e de engenharia, conforme pressu-</p><p>põe a World Health Organization. (2020, p.1)</p><p>133</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>Os controles administrativos têm como obje-</p><p>tivo garantir a disponibilidade de recursos,</p><p>como infraestrutura adequada, treinamento</p><p>da equipe, e triagem e localização adequada</p><p>dos pacientes. Já as medidas ambientais e de</p><p>engenharia visam a diminuir a propagação do</p><p>patógeno e reduzir a contaminação de super-</p><p>fícies ao garantir distanciamento adequado de</p><p>1 metro e disponibilizar salas de isolamento.</p><p>(tradução nossa)</p><p>Nesse contexto, os EPIs possuem um papel singular nessa pande-</p><p>mia, uma vez que minimizam o risco de adoecimento dos profissionais</p><p>da saúde pelo vírus SARS-CoV-2. Esse vírus, comprovadamente, é</p><p>transmitido por gotículas e pelo contato direto ou indireto, portanto</p><p>recomenda-se a adoção das precauções padrão de contato e para</p><p>gotículas. Contudo os tipos de equipamentos utilizados no combate</p><p>à COVID-19 devem se adequar às tarefas executadas por cada ser-</p><p>viço de saúde. Nesse cenário, o MS desenvolveu diretrizes específicas</p><p>de acordo com a complexidade do atendimento à saúde e o tipo de</p><p>assistência que será prestada. (BRASIL, 2020c; NICOLAI; AQUINO;</p><p>VENTURA, 2020).</p><p>Na atenção primária à saúde, os profissionais devem utilizar cal-</p><p>çados fechados, retirar adornos, não reutilizar a máscara cirúrgica,</p><p>usar as luvas, os óculos e aventais descartáveis durante atendimento</p><p>individual do paciente suspeito ou confirmado e realizar assepsia</p><p>com álcool 70% dos instrumentos utilizados durante o exame físico.</p><p>É necessário manter uma sala de priorização de atendimento e um ou</p><p>mais consultórios destinados, exclusivamente, à assistência de pessoas</p><p>com sintomas respiratórios. (BRASIL, 2020b).</p><p>Devido ao grande número de pacientes com COVID-19 que neces-</p><p>sitam de cuidados hospitalares, as recomendações são que as consultas</p><p>sejam suspensas e que o atendimento cirúrgico seja limitado àqueles</p><p>com condições ameaçadoras à vida. Ainda sobre os procedimentos</p><p>134</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>em sala cirúrgica, diante de um paciente suspeito ou confirmado de</p><p>COVID-19, sempre que envolver procedimentos que gerem aeros-</p><p>solização, tais como intubação ou aspiração traqueal, ventilação não</p><p>invasiva, ressuscitação cardiopulmonar e broncoscopia, a sala deve</p><p>conter o menor número de profissionais possível, bem como a adoção</p><p>da máscara</p><p>N95 ou equivalentes. (BRASIL, 2020a).</p><p>Além disso, devido ao aumento da demanda dos EPIs em decor-</p><p>rência da pandemia do COVID-19, a ANVISA recomenda o uso do</p><p>protetor facial (face shield) em concomitância ao uso da máscara N95</p><p>ou equivalente, visando a aumentar o seu tempo de uso e de reutili-</p><p>zação e, em última análise, reduzir os custos para o sistema de saúde.</p><p>(BRASIL, 2020a).</p><p>Segundo Nicolai, Aquino e Ventura (2020), no Brasil, não existia</p><p>ainda uma regulamentação específica quanto ao uso de proteção res-</p><p>piratória contra agentes biológicos. Sendo assim, em 2020, diante da</p><p>pandemia, a FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo</p><p>de Segurança e Medicina do Trabalho - construiu a cartilha “Proteção</p><p>respiratória: orientações de uso frente à Covid-19” para apresentar</p><p>informações gerais para a adoção de boas práticas de proteção res-</p><p>piratória, buscando reforçar orientações importantes acerca do uso</p><p>correto de máscaras cirúrgicas e PFF por trabalhadores da saúde e</p><p>público em geral.</p><p>Além dessa cartilha publicada, há também, no Brasil, o Programa</p><p>de Proteção Respiratória (PPR). O PPR é composto por um conjunto</p><p>de medidas práticas e administrativas a respeito das recomendações</p><p>de uso, de seleção e de disponibilização dos equipamentos de prote-</p><p>ção respiratória (EPRs) em ambientes laborais que apresentam risco</p><p>de doenças ocupacionais por inalação de componentes nocivos. Ins-</p><p>tituído em 1994 pelo MTE, o PPR emerge em 2020 como aliado à</p><p>saúde dos profissionais que estão na linha de frente da COVID-19. No</p><p>entanto, para que o PPR constitua um recurso eficiente no controle</p><p>de exposição, alguns requisitos precisam ser contemplados, como:</p><p>135</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>“[…] seleção de EPR adequado para os diferentes procedimentos e</p><p>atividades desenvolvidas; treinamento em proteção respiratória do</p><p>usuário; monitoramento do uso do EPR [...]”. (NICOLAI; AQUINO;</p><p>VENTURA, 2020).</p><p>Nesse sentido, é possível estabelecer uma visão comparativa da</p><p>situação brasileira com a de outros países em relação à instituição de</p><p>políticas relacionadas aos EPRs. Por exemplo, o processo de avaliação</p><p>e de aprovação de um respirador feito nos EUA e no Brasil são seme-</p><p>lhantes, ambos utilizam um fluxo de ar contendo partículas sólidas</p><p>de NaCl com diâmetro médio de 0,3 μm. No entanto, uma diferença</p><p>existente é que “[...] nos ensaios dos EUA, a penetração de partículas</p><p>é medida durante o carregamento do filtro com 200 mg de aerossol,</p><p>enquanto no Brasil, com 150 mg (...)”. (NICOLAI; AQUINO; VEN-</p><p>TURA, 2020).</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Constata-se, portanto, que as NRs são de suma relevância para</p><p>promoção da saúde do trabalhador e da trabalhadora, uma vez que</p><p>regulamentam os EPCs e os EPIs, bem como as medidas de precaução,</p><p>que são um conjunto de ações de prevenção e proteção aos profissio-</p><p>nais. Contudo não devem ser aplicadas de forma isolada ou prioritária,</p><p>demandando sua adoção em conjunto com as medidas administra-</p><p>tivas, como, por exemplo, criação e implementação de protocolos</p><p>para diagnóstico, isolamento e tratamento adequados e as medidas</p><p>de engenharia, como controle da qualidade do ar.</p><p>Diante desse contexto, segundo Freitas et al (2014), é possível</p><p>evitar 60% a 80% das exposições aos riscos em ambientes de trabalhos</p><p>por meio da implementação das ações de prevenção, efetivação e fis-</p><p>calização das medidas instituídas pelo MTE. Tais medidas devem ser</p><p>continuamente revisadas, especialmente, no contexto de surgimento</p><p>de uma nova doença, como a COVID-19, a fim de estimular boas</p><p>136</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>práticas de proteção. Ademais, os profissionais devem ser orientados</p><p>quanto às medidas a serem adotadas em cada tipo de exposição, uma</p><p>vez que, para proteção efetiva, o primeiro passo consiste na correta</p><p>seleção dos EPIs a serem utilizados, através de recomendações com</p><p>respaldo científico.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Cartilha de Proteção Respi-</p><p>ratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores de Saúde. Brasília: ANVISA,</p><p>2006, 77 p. Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/documents/214604/816023/</p><p>Cartilha+de+Prote%C3%A7%C3%A3o+Respirat%C3%B3ria+contra+A-</p><p>gentes+Biol%C3%B3gicos+para+Trabalhadores+de+Sa%C3%BAde.pdf/58075f-</p><p>57-e0e2-4ec5-aa96-743d142642f1. Acesso em: 27 maio. 2020.</p><p>AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Nota técnica N° 04/2020:</p><p>Medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a assistência</p><p>aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (SARS-</p><p>CoV-2). Brasília: ANVISA, 2020a, 73 p. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/</p><p>documents/33852/271858/Nota+T%C3%A9cnica+n+04-2020+GVIMS-GGTES-</p><p>ANVISA/ab598660-3de4-4f14-8e6f-b9341c196b28. Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Cartaz Precaução Padrão,</p><p>de Contato, para gotículas e para aerossóis. Brasília: ANVISA, 2020b, 1p. Disponível</p><p>em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/precaucoes_a3.pdf. Acesso em:</p><p>10 jun. 2020.</p><p>AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Segurança do paciente em</p><p>serviços de saúde: Higienização das mãos. Brasília: ANVISA, 2009, 105 p.</p><p>ALMEIDA, I.M. Proteção da saúde dos trabalhadores da saúde em tempos de</p><p>pandemia e respostas à pandemia. Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina</p><p>de Botucatu (UNESP), Botucatu, 2020, 18 p. Disponível em: https://preprints.scielo.</p><p>org/index.php/scielo/preprint/download/140/164/150. Acesso em: 25 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria de Trabalho. Equipamentos de segurança</p><p>são obrigatórios para reduzir riscos aos trabalhadores, [S.I.], 12 maio. 2016. Disponível</p><p>em: http://trabalho.gov.br/noticias/3252-equipamentos-de-seguranca-sao-obrigatorios-</p><p>para-reduzir-riscos-aos-trabalhadores. Acesso em: 16 abr. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Protocolo</p><p>de Manejo Clínico para o novo Coronavírus (2019-nCoV). Brasília: MS, 2020a, 32</p><p>p. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/fevereiro/11/</p><p>protocolo-manejo-coronavirus.pdf. Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>137</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS PREVENTIVAS: DO</p><p>CONTEXTO HABITUAL À SITUAÇÃO DE PANDEMIA PELA COVID-19</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Procedimento</p><p>Operacional Padronizado: Equipamento de proteção individual e segurança no</p><p>trabalho para profissionais de saúde da APS no atendimento às pessoas com</p><p>suspeita ou infecção pelo novo coronavírus (Covid-19). Brasília, DF, 2020b, 7p.</p><p>Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/POP_EPI_</p><p>APS_20200319_ver001.pdf. Acesso em: 15 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Recomendações</p><p>de proteção aos trabalhadores dos serviços de saúde no atendimento de COVID-</p><p>19 e outras síndromes gripais. Brasília, DF, 2020c, 37 p. Disponível em: https://</p><p>portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/16/01-recomendacoes-de-</p><p>protecao.pdf. Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n. 485, de 11 nov. 2005. Norma</p><p>Regulamentadora NR 32 Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. Diário</p><p>Oficial da União, Brasília, DF, 16 nov. 2005. Seção 1, p. 80.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Norma</p><p>Regulamentadora 6 - Equipamentos de Proteção Individual-EPI. Diário Oficial da</p><p>União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. Seção 1, p. 86.</p><p>CAMISASSA, M.Q. Segurança e Saúde no Trabalho: NRs 1 a 36 Comentadas e</p><p>Descomplicadas. São Paulo: Método, 2015, 909 p.</p><p>CHAVES, A.S. et al. Manual de Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva</p><p>EPI e EPC. 1. ed. Petrolina: EBSERH, 2019, 50 p.</p><p>EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. Protocolo Unidade</p><p>de Vigilância em Saúde e Qualidade Hospitalar. Uberaba: EBSERH, Hospital de</p><p>Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, 2017, 33 p.</p><p>FREITAS,</p><p>Hilda Maria Barbosa de et al. Medicina do trabalho. 1.ed. Santa Maria:</p><p>Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Técnico Industrial de Santa Maria,</p><p>Rede e-Tec Brasil, 2014, 128 p.</p><p>GARCIA, L.P. Uso de máscara facial para limitar a transmissão da COVID-19. Rev</p><p>Epidemiol. Serv. Saúde. Brasília, v. 29, e2020023, 2020. Disponível em: https://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222020000200902. Acesso em:</p><p>22 maio. 2020. Epub 22 abr. 2020.</p><p>LIMA e SILVA, F.H.A. Barreiras de Contenção. In: ODA, L.M.; ÁVILA, S.M. (Org).</p><p>Biossegurança em Laboratórios de Saúde Pública. Brasília: Ministério da Saúde, 1998,</p><p>p. 31-56.</p><p>NICOLAI, S. H. A.; AQUINO, J. D.; VENTURA, F. F. Prevenção à</p><p>Covid-19 : proteção respiratória : orientações de uso frente à Covid-</p><p>19. São Paulo: Fundacentro, 2020, 22 p. Disponível em: http://www.</p><p>fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2020/4/</p><p>138</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>prevencao-a-covid-19-protecao-respiratoria-orientacoes-de-uso-frente-a-covid-19.</p><p>Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>OLIVEIRA, A.C.; LUCAS, T.C.; IQUIAPAZA, R.A. O que a pandemia da COVID-19</p><p>tem nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução? Revista Texto & Contexto</p><p>Enfermagem. Florianópolis, v. 29, e20200106, 2020. Disponível em: https://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072020000100201&tlng=en.</p><p>Acesso em: 12 maio. 2020. Epub 8 maio. 2020.</p><p>SIEGEL, J. D. et al. Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission</p><p>of Infectious Agents in Healthcare Settings. Atlanta: CDC, 2019, 206 p. Disponível</p><p>em: https://www.cdc.gov/infectioncontrol/pdf/guidelines/isolation-guidelines-H.pdf.</p><p>Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>WORLD HEALTH ORGANIZATION. Rational use of personal protective</p><p>equipment (PPE) for coronavirus disease (COVID-19): interim guidance. Genebra:</p><p>WHO, 2020, 7 p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/rest/bitstreams/1274340/</p><p>retrieve. Acesso em: 17 maio. 2020.</p><p>139</p><p>Capítulo 9</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO</p><p>ENVELHECIMENTO POPULACIONAL</p><p>ATIVO</p><p>Celina de Vasconcelos Leite1</p><p>Lucas Cardoso Lana2</p><p>Pedro Henrique Lauar Santos²</p><p>Túlio Vieira Moreira²</p><p>Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Desde a década de 70, o Brasil enfrenta uma transição demo-</p><p>gráfica relacionada à queda da taxa de fecundidade, à redu-</p><p>ção da taxa de mortalidade e ao aumento da expectativa</p><p>de vida (PERISSE, 2019). Em consequência disso, a proporção de</p><p>idosos na sociedade cresce em um ritmo acelerado e se torna um</p><p>desafio a ser enfrentado pelos sistemas de saúde e de previdência</p><p>social. (MIRANDA, MENDES, E SILVA, 2016; GUERRA, 2016).</p><p>1Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri</p><p>- Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil. Enfermeira especialista em Docência</p><p>em Ensino Superior pelo UNILESTE – MG. .</p><p>²Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>³ Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia-</p><p>tria. Professora titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio</p><p>ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD,</p><p>pós doutorado em impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP, Portugal.</p><p>140</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>O conceito de idoso, adotado no Brasil é o mesmo usado pela</p><p>Organização Mundial de Saúde (OMS) para países em desenvolvi-</p><p>mento: é idoso o indivíduo que apresenta 60 anos ou mais de idade</p><p>(MIRANDA, MENDES E SILVA, 2016). Nesse sentido, o envelhe-</p><p>cimento deve ser visto como uma conquista, pois é consequência</p><p>de melhorias na promoção da saúde, na prevenção e no tratamento</p><p>de doenças. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).</p><p>Com o aumento da esperança de vida e do número de idosos</p><p>na população em geral, cresce, também, a participação desses</p><p>longevos na população economicamente ativa (GUERRA, 2016).</p><p>Seja pela necessidade de complementação da renda ou de reali-</p><p>zação pessoal, há um prolongamento da permanência do idoso</p><p>no mercado de trabalho (COSTA, 2018). Ao longo deste capítulo,</p><p>discutiremos acerca do impacto que o envelhecimento popula-</p><p>cional causa nos sistemas de saúde e no mercado de trabalho,</p><p>destacando o papel da Atenção Primária na promoção de um</p><p>envelhecimento saudável.</p><p>EPIDEMIOLOGIA</p><p>Entre 2000 e 2010 a proporção de idosos na população brasi-</p><p>leira passou de 8,57% para 11%, evidenciando um crescimento de</p><p>2,21% no número de pessoas com mais de 60 anos (CARDOSO,</p><p>2016). Estima-se que, em 2043, 25% da população brasileira será</p><p>idosa e que, após 2047, ela deve parar de crescer, o que favorecerá o</p><p>processo de envelhecimento populacional. Isso pode ser observado</p><p>através da mudança no formato da pirâmide etária ao longo das</p><p>décadas. Nota-se que a base se apresenta mais estreita e o meio mais</p><p>alargado, significando que os grupos etários mais jovens estarão</p><p>em menor proporção quando comparados aos grupos mais velhos</p><p>(Figura 1). (PERISSE, 2019).</p><p>141</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>Figura 1. Evolução da pirâmide etária de 1940 a 2060</p><p>Fonte. PERISSE, 2019, p 22.</p><p>Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,</p><p>2020a), a população economicamente ativa (PEA) “compreende o</p><p>potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo”.</p><p>Esse grupo é composto, principalmente, por pessoas entre 16 a 59</p><p>anos. Entretanto, a presença de trabalhadores e de trabalhadoras entre</p><p>60 e 64 anos vem crescendo pela influência do fator previdenciário</p><p>estabelecido em 1999. (GUERRA, 2016).</p><p>De acordo com o Censo Demográfico de 2000, a PEA era com-</p><p>posta por 74.810.805 milhões de pessoas, entre elas 3.290.329 apre-</p><p>sentavam 60 anos ou mais. Já de acordo com o Censo de 2010, a PEA</p><p>142</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>passou a ser de 91.548.924 milhões de trabalhadores, estando entre</p><p>eles 5.423.459 idosos, o que evidencia o aumento no número de lon-</p><p>gevos que estão prorrogando a vida ativa (CARDOSO, 2016). Além</p><p>disso, a maioria dos idosos que trabalhavam era formada por homens</p><p>(3.538.765) e por pessoas que se autodeclaravam brancos (2.996.884).</p><p>(IBGE, 2020a).</p><p>A escolaridade e o tipo de trabalho desempenhados são outros</p><p>fatores que influenciam a prorrogação da vida ativa. Sendo assim, é</p><p>possível que os trabalhadores longevos apresentem maior escolaridade</p><p>e executem funções menos extenuantes, o que lhes favorecem melhores</p><p>condições de saúde. (GUERRA, 2016).</p><p>O ritmo de crescimento da população idosa é maior em relação</p><p>aos outros grupos etários. Ao longo das décadas, o número de crian-</p><p>ças sempre foi superior ao de idosos. Entretanto, estima-se que em</p><p>2030 o percentual de jovens com até 14 anos será menor quando</p><p>comparado ao percentual da população brasileira acima de 60 anos.</p><p>(BNDES, 2017).</p><p>Nesse sentido, os principais fatores que influenciam o envelheci-</p><p>mento da população brasileira são a queda na taxa de fecundidade</p><p>e o aumento na expectativa de vida. (PERISSE, 2019). O número de</p><p>filhos por mulher tem se reduzido desde a década de 60. De acordo</p><p>com o Censo de 2010, esse valor era de 1,9, sendo que é necessário o</p><p>valor de 2,1 filhos por mulher, em média, para se ter um crescimento</p><p>demográfico sustentável nulo. (MIRANDA, MENDES E SILVA, 2016;</p><p>IBGE, 2020a). Sobre a expectativa de vida, depreende-se da Figura</p><p>2 que tanto homens quanto mulheres estão vivendo cada vez mais.</p><p>O aumento da esperança de vida ao nascer, também contribui</p><p>para a permanência de idosos no mercado de trabalho. Entre 1940</p><p>e 2018, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 30,8 anos e em</p><p>2060 o indivíduo viverá, em média, até 81 anos. Destaca-se, ainda,</p><p>que entre os longevos, a presença da mulher é maior. (PERISSE, 2019;</p><p>MIRANDA, MENDES</p><p>E SILVA, 2016).</p><p>143</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>Figura 2. Expectativa de vida ao nascer entre os anos 2000-2030</p><p>Fonte. FREITAS, 2016, p 160.</p><p>A redução da Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) está relacionada</p><p>ao aumento da expectativa de vida, o que também contribui para o</p><p>aumento do envelhecimento populacional. Ao longo das décadas, esse</p><p>valor tem diminuído significativamente. Enquanto, no Brasil, em 1950</p><p>havia, aproximadamente, 140 óbitos a cada mil nascidos vivos, em</p><p>2015, esse valor foi de 13,8. Estima-se que a TMI continue a diminuir,</p><p>uma vez que está vinculada à melhoria das condições de vida, como</p><p>saneamento básico, e à adoção de políticas públicas de saúde, como</p><p>pré-natal e imunização. (BNDES, 2017).</p><p>Quanto aos dados de Minas Gerais (MG), em especial, 1.038.973</p><p>de idosos residiam no estado em 2010. Entre esses, 589.921 mil faziam</p><p>parte da PEA. Assim como ocorre em todo Brasil, o número de óbitos</p><p>por nascidos vivos e o número de filhos por mulher está diminuindo</p><p>em MG. Também, a TMI no estado mineiro era de 11,43 em 2017</p><p>e a taxa de fecundidade está estimada em 1,52 para este ano, 2020.</p><p>(IBGE, 2020b).</p><p>144</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E O CUSTO</p><p>PARA O SISTEMA DE SAÚDE</p><p>A transição demográfica que acontece nos países em desenvol-</p><p>vimento, é acompanhada da mudança do perfil epidemiológico. Ou</p><p>seja, com o envelhecimento populacional, há uma diminuição da mor-</p><p>talidade por doenças infecciosas e parasitárias, mas há um aumento</p><p>da incidência e prevalência das doenças crônicas não transmissíveis.</p><p>(DCNT) (REIS, NORONHA E WAJNMAN, 2016). Tais doenças</p><p>possuem um alto grau de morbidade, podendo incapacitar o idoso.</p><p>Além disso, é frequente o número de complicações decorrentes dessas</p><p>patologias que requerem internações mais prolongadas. Outro ponto</p><p>a ser considerado é o fato de que a maioria desses agravos não pos-</p><p>suem cura, o que leva a uma maior demanda do serviço de saúde para</p><p>atender essa população, seja por meio de internações, consultas ou</p><p>medicamentos. (REIS, NORONHA E WAJNMAN, 2016). O quadro</p><p>1, a seguir, exemplifica as principais DCNTs.</p><p>Quadro 1. Principais Doenças Crônicas Não Transmissíveis</p><p>Doenças Cardiovasculares</p><p>Doenças Respiratórias Crônicas</p><p>Diabetes Mellitus</p><p>Neoplasias</p><p>Fonte. Ministério da Saúde, 2018.</p><p>Além do perfil das doenças, os custos relativos às internações no Sis-</p><p>tema Único de Saúde (SUS), também, apresentam uma diferença quando</p><p>é comparada à idade do paciente: uma diária para um idoso de 65 anos</p><p>chega a ser 61% mais cara do que para um adulto de 35 anos. Somado a</p><p>isso, ainda há o fato de que o acompanhamento das DCNT muitas vezes</p><p>requer a utilização de equipamentos e serviços com nível tecnológico mais</p><p>avançado. Desse modo, o aumento do número de idosos no Brasil é um</p><p>145</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>fator que reflete, significativamente, nos custos dos serviços hospitalares</p><p>e ambulatoriais. (REIS, NORONHA E WAJNMAN, 2016).</p><p>O quadro do envelhecimento populacional salienta a necessidade</p><p>de adequação do serviço de saúde para atender a população idosa. Para</p><p>isso, é necessário investimento na formação de profissionais para atuar</p><p>no cuidado integral ao idoso. Ademais, deve haver um reforço nas estra-</p><p>tégias que visem a reduzir o surgimento das DCNT e controlar as suas</p><p>possíveis complicações. Tais medidas são fundamentadas nas estratégias</p><p>de prevenção e promoção em saúde, de modo a possibilitar um enve-</p><p>lhecimento ativo e saudável. (MIRANDA, MENDES E SILVA 2016).</p><p>ENVELHECIMENTO ATIVO</p><p>De fato, o envelhecimento é um processo natural e vem acompanhado</p><p>de diversas transformações que afetam desde a composição corporal bio-</p><p>química até os diversos sistemas. As mudanças naturais compõem a cha-</p><p>mada senescência ou senectude, enquanto que as decorrentes das afecções</p><p>patológicas constituem a senilidade. Tais alterações, associadas a uma</p><p>maior prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) nessa</p><p>população, podem contribuir para um menor desempenho do idoso, além</p><p>de ser motivo de afastamento de suas atividades laborais (FREITAS E PY,</p><p>2016). O quadro 2 destaca algumas dessas alterações.</p><p>Quadro 2. Modificações fisiológicas e patológicas do idoso</p><p>Modificações fisiológicas (senescentes) Modificações patológicas (senis)</p><p>↓ da força muscular Sarcopenia</p><p>Presbiacusia Hipoacusia</p><p>↓ do equilíbrio Quedas</p><p>Enrijecimento arterial Aterosclerose</p><p>↓ da sensibilidade tátil Neuropatia</p><p>Fonte. Adaptado de FREITAS e PY, 2016.</p><p>146</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Ao longo dos anos, diversos tem sido os estudos e avanços na</p><p>medicina e na tecnologia para que o ato de envelhecer, embora ine-</p><p>vitável, não seja uma experiência negativa ou tida como um processo</p><p>patológico. Com vista nisso, a Organização Mundial da Saúde (OMS)</p><p>instituiu o conceito de “envelhecimento ativo” como forma de incenti-</p><p>var o estabelecimento de estratégias que contribuam para a melhoria</p><p>da qualidade de vida da população idosa e, consequentemente, a sua</p><p>permanência no mercado de trabalho. Desse modo, a partir de uma</p><p>investigação das necessidades individuais e coletivas, seria possível o</p><p>estabelecimento de ações de prevenção e promoção em saúde. (ANTÓ-</p><p>NIO, MANUEL, 2020).</p><p>O envelhecer ativo é muito empregado quando diz respeito à manu-</p><p>tenção da força de trabalho e da aptidão física, no entanto, também</p><p>se refere à continuidade do desenvolvimento das atividades sociais,</p><p>culturais, civis e econômicas. Ou seja, o envelhecimento ativo visa à</p><p>conservação da autonomia e da independência do indivíduo, para que</p><p>ele seja capaz de desenvolver atividades laborais externas, mas também</p><p>as atividades de lazer e as que são próprias para a sobrevivência, como</p><p>tomar banho e fazer compras. (ANTÓNIO, MANUEL, 2020).</p><p>ESTRATÉGIAS NO ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA</p><p>PARA GARANTIR UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL</p><p>O Brasil vive um processo de envelhecimento populacional, como</p><p>já foi dito, assim como o restante do mundo. O fato está relacionado</p><p>à melhoria das condições de saúde, decorrentes de um declínio dos</p><p>níveis de fecundidade, redução da taxa de mortalidade, em especial</p><p>a infantil, e o aumento da expectativa de vida. (CASTRO et al, 2018).</p><p>Entretanto, não houve planejamento para acompanhar essa nova rea-</p><p>lidade, de modo que o país não tomou as medidas que são necessárias</p><p>para um envelhecimento ativo e saudável. Assim, a população longeva</p><p>tem seu bem-estar e qualidade de vida prejudicados, uma vez que esse</p><p>envelhecimento precisa ser acompanhado de medidas que alinhem o</p><p>147</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>sistema de saúde às mudanças que são essenciais para essa nova rea-</p><p>lidade, principalmente, as que visam a manter a capacidade funcional</p><p>dos idosos. (CASTRO et al, 2018; RODRIGUES, 2019).</p><p>Nesse contexto, fica cada vez mais evidente a necessidade de reco-</p><p>nhecer que o envelhecimento é algo natural e entender o que é o enve-</p><p>lhecer saudável, termo que não significa ausência de doenças, mas o</p><p>desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, permitindo,</p><p>de fato, o bem-estar para os idosos. Capacidade funcional resulta da</p><p>interação entre a capacidade intrínseca do idoso, combinação de todas</p><p>suas capacidades físicas e mentais, com o ambiente em que vive. Desse</p><p>modo, para se atingir o envelhecimento saudável, é importante que as</p><p>metas para a saúde pública contemplem, essencialmente, a promoção</p><p>e a manutenção da capacidade funcional. (RODRIGUES, 2019).</p><p>Deve ser levado em consideração que o processo de envelhecer</p><p>aumenta o risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não</p><p>transmissíveis que, de forma geral, são capazes de interferir na capa-</p><p>cidade funcional e resultar em situações de dependência e/ou incapa-</p><p>cidade funcional para os idosos, sendo encargo do sistema de saúde,</p><p>sobretudo da atenção básica,</p><p>evitar e adiar o surgimento dessa con-</p><p>dição. (SILVA et al, 2018).</p><p>Dessa forma, a Atenção Básica (AB) atua como uma ferramenta</p><p>essencial para atingir metas necessárias para que o envelhecimento</p><p>bem sucedido seja alcançado. A AB é a porta de entrada do serviço</p><p>público e centro de comunicação para toda a rede de Atenção à</p><p>Saúde, portanto, o ponto chave para realização das diversas medidas</p><p>de prevenção e promoção de saúde em todo o país. Nesse sentido,</p><p>deve-se reconhecer que a realização das estratégias presentes na</p><p>Atenção Básica para o envelhecimento saudável, são fundamentais</p><p>durante todos os períodos de vida do indivíduo, principalmente,</p><p>durante as idades mais avançadas, visto que, à medida que as pes-</p><p>soas envelhecem, se tornam menos ativas e têm menor capacidade</p><p>funcional. (HOEPERS et al, 2016).</p><p>148</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Dentro do nível de Atenção Primária, a Estratégia Saúde da Famí-</p><p>lia (ESF), programa composto por uma equipe multiprofissional, é um</p><p>espaço notável para garantir assistência à saúde do idoso, de acordo</p><p>com os princípios que a orientam e seu papel relevante na promo-</p><p>ção da qualidade de vida. Incorporado a esse serviço, diversas ações</p><p>podem ser desenvolvidas, entre elas programas com intuito de pre-</p><p>venir o isolamento social, a violência e o abandono do idoso, bem</p><p>como ações que promovam atividades de educação em saúde, uma</p><p>das formas mais importantes de se possibilitar a promoção de saúde.</p><p>A ESF, ainda, é capaz de permitir um acolhimento digno e humani-</p><p>zado dessa faixa etária, levando sempre em consideração o bem-estar</p><p>tanto físico quanto emocional do indivíduo. (HOEPERS et al, 2016;</p><p>SILVA et al, 2018).</p><p>Várias são as ações que podem ser realizadas dentro do ESF. Exis-</p><p>tem as de caráter individual, como as orientações durante as con-</p><p>sultas, e atividades coletivas, como grupos de convivência, palestras</p><p>e orientações em ambientes da comunidade ou na própria unidade</p><p>de saúde. As atividades educativas realizadas em grupo, essencial-</p><p>mente as desenvolvidas por meio de grupos de apoio, trazem grande</p><p>repercussão nesse aspecto, porque além de transmitir conhecimentos</p><p>já pré-estabelecidos, conseguem abordar diversos temas diferentes,</p><p>possibilitando que o grupo de idosos participantes adquira não, ape-</p><p>nas, novas informações e conhecimentos, mas também emancipação.</p><p>(CASTRO et al, 2018).</p><p>Ainda, dentro da Atenção Básica, uma importante estratégia para a</p><p>otimização das ações de atenção à saúde do idoso foi a criação do Núcleo</p><p>de Apoio à Saúde da Família (NASF), que atua de forma a ampliar as</p><p>ações da Atenção Básica, com atuação na integração da ESF na rede de</p><p>serviços. Assim, o NASF, composto por uma equipe multidisciplinar,</p><p>tem um papel importante no envelhecer saudável, ao passo que cada</p><p>um de seus profissionais atuam de forma integrada, promovendo quali-</p><p>dade de vida, com ações norteadas na proposta de promoção de saúde.</p><p>(BEZERRA E FILHO, 2018; OLIVEIRA E FÉ, 2019).</p><p>149</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>É importante ressaltar que a Atenção Básica é composta, também,</p><p>por outros programas essenciais para a promoção e prevenção no</p><p>que tange o processo de envelhecimento bem sucedido, levando</p><p>qualidade de vida aos indivíduos. Entretanto, apesar da criação de</p><p>novos programas, como a ESF, que apresentam resultados prósperos</p><p>e práticas participativas e emancipatórias, o usuário, ainda, se mostra</p><p>de forma submissa aos modelos de conduta e prescrições. Além disso,</p><p>existe a necessidade de mudar a visão do cuidado ao idoso, muitas</p><p>vezes centrada no tratamento da doença e não na assistência integral</p><p>à saúde, necessária para garantia de um processo de envelhecimento</p><p>com qualidade de vida. (CASTRO et al, 2018).</p><p>O IDOSO E O MERCADO DE TRABALHO</p><p>A realidade brasileira da população idosa tem sofrido grandes</p><p>mudanças nas últimas décadas. Em 1950, o Brasil se posicionava na 16ª</p><p>colocação no ranking mundial, da população idosa, com 2,2 milhões</p><p>de idosos. A expectativa é que essa população ocupe o 6º lugar, em</p><p>2025, com 33,8 milhões de idosos, em estimativa. Em estudo do IBGE,</p><p>foi constatado, que essa população corresponde a 27% dos cargos no</p><p>mercado de trabalho. O que exige, por parte da sociedade e institui-</p><p>ções, uma reflexão acerca desse movimento e suas consequências,</p><p>como forma de apresentar uma reposta apropriada. (PAOLINI, 2016).</p><p>O trabalho, constitui um elemento de alta importância na for-</p><p>mação da identidade do homem contemporâneo, por consequência,</p><p>ele se apresenta com eminente relevância na vida dos idosos, contri-</p><p>buindo para a sensação de sentir-se “útil, responsável e produtivo”, já</p><p>que o idoso associa a inatividade com a incapacidade. (LIBARINO,</p><p>REIS, 2017, p.7).</p><p>O trabalho possui uma função significativa, sendo uma fonte de</p><p>relacionamentos pessoais, que permite a inclusão dos trabalhadores</p><p>e das trabalhadoras na sociedade. Além disso, a atividade laboral é</p><p>150</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>vista como parte essencial da vida, a qual proporciona aos indivíduos</p><p>prazer, satisfação e gratificações. (LIBARINO, REIS, 2017).</p><p>A população idosa pode contribuir com o mercado de trabalho</p><p>apesar de, às vezes, ser associada com a improdutividade ou inefi-</p><p>ciência. Suas experiências de vida viabilizam a tomada de decisões,</p><p>ante situações complexas, com maior clareza que os jovens, possibili-</p><p>tando o aumento da produtividade e a resolução de problemas. Esse</p><p>intercâmbio de aprendizados e ideias faz-se essencial a um sistema de</p><p>mercado, que está em constante evolução. Além disso, os trabalhadores</p><p>e as trabalhadoras mais experientes, dependem de um custo de prepa-</p><p>ração reduzido e podem facilitar o processo de ascensão profissional</p><p>dos mais inexperientes, nas empresas, por meio de seu vasto conhe-</p><p>cimento, que adquiriram no decorrer de suas carreiras. (PAOLINI,</p><p>2016; NOVAES, FRANCO, 2020).</p><p>No entanto, o idoso, ao continuar ou retornar às atividades traba-</p><p>lhistas, enfrenta diversas adversidades, como o preconceito em relação</p><p>à idade. Outra situação que oferece resistência à participação do idoso</p><p>em atividades laborais, é a competição com os mais jovens, que se</p><p>mostram mais atualizados e apresentam maior qualificação. Além</p><p>disso, são mais bem vistos pelos melhores indicadores de saúde, o que</p><p>se relaciona com uma mortalidade menor. (PAOLINI; LIBARINO,</p><p>REIS, 2016, 2017).</p><p>Para que o idoso possa permanecer no mercado de trabalho, tendo</p><p>em vista essa competição enfrentada, ele pode continuar exercendo</p><p>sua função trabalhista prévia, com remuneração inferior ou optando</p><p>pela realização do trabalho informal. A informalidade se torna uma</p><p>opção aos trabalhadores e às trabalhadoras que já não correspondem</p><p>ao perfil ideal do mercado de trabalho, estando sujeitos a “trabalhos</p><p>precários e nocivos à saúde”. (LIBARINO, REIS, 2017).</p><p>Diante desse descompasso de atualização profissional entre os</p><p>idosos e os mais jovens, faz-se necessário que sejam ofertados cursos</p><p>e atualizações profissionais, aos indivíduos mais velhos, como forma</p><p>151</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL NO QUADRO DO ENVELHECIMENTO</p><p>POPULACIONAL ATIVO</p><p>de garantir que haja uma competição mais justa entre os profissionais</p><p>de todas as idades. A importância dessa medida manifesta-se presente</p><p>no Estatuto do Idoso, no Artigo 28, do capítulo VI: “O Poder Público</p><p>criará e estimulará programas de: I-profissionalização especializada</p><p>para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para ativi-</p><p>dades regulares e remuneradas; [...] ”. (BRASIL, 2003; PAOLINI, 2016).</p><p>O momento da passagem para a aposentadoria é uma fase deli-</p><p>cada para os trabalhadores e as trabalhadoras, podendo culminar em</p><p>consequências financeiras, emocionais e psicológicas, sobretudo, caso</p><p>não haja um momento prévio de reflexão. A velhice em nosso contexto</p><p>social, frequentemente, representa estar excluído dos espaços, não</p><p>sendo diferente com o</p><p>trabalho. Alguns estudos demonstram que é</p><p>fundamental a existência de um programa de planejamento para apo-</p><p>sentadoria, de modo, que os futuros aposentados possam se organizar</p><p>para aproveitar essa fase em maior plenitude. Essa proposta, também,</p><p>está contemplada pelo Estatuto do Idoso, no Artigo 28, Capítulo VI:</p><p>“O Poder Público criará e estimulará programas de: II- preparação dos</p><p>trabalhadores para aposentadoria, com antecedência mínima de 1(um)</p><p>ano, por meio de estímulos a novos projetos sociais, conforme seus</p><p>interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;</p><p>[...]”. (BRASIL, 2003; PAOLINI, 2016).</p><p>Ademais, é necessário que se faça uma readequação de perspectiva</p><p>sobre esse momento final da vida trabalhista, com a possibilidade de</p><p>ser percebida, como uma oportunidade para ter mais tempo para</p><p>as atividades diferentes, como programas culturais, lazeres, viagens,</p><p>esportes e mais tempo para família. Em vista disso, que nessa fase da</p><p>vida, o indivíduo possa realizar atividades que proporcionem prazer,</p><p>os quais não eram acessíveis durante os anos de trabalho. (LIBARINO,</p><p>REIS, 2017).</p><p>Todas essas iniciativas se configuram como uma resposta dos</p><p>governos, em diversos países e no Brasil, à transição demográfica</p><p>citada acima, ao aumento das idades mínimas para aposentadoria e do</p><p>152</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>tempo de contribuição, aumentando, assim, os anos de permanência</p><p>da população em geral no mercado de trabalho. Essas medidas são</p><p>muito importantes para sustentabilidade do sistema previdenciário,</p><p>uma vez que os contribuintes diminuem, ao passo que os beneficiados</p><p>aumentam, logo, faz-se necessária essa equalização. No entanto deve-se</p><p>pensar, também, que o envelhecimento ativo não é uma realidade uni-</p><p>versal em nossa sociedade, a qual não fornece ao indivíduo o amparo e</p><p>as condições para que ele chegue em melhores condições na velhice e</p><p>possa dar continuidade às atividades laborais. O aumento do período</p><p>de contribuição do trabalhador e da trabalhadora, unicamente, pela</p><p>ótica econômica, transforma o envelhecimento ativo de direito a dever,</p><p>não podendo ser tomado como um único parâmetro, norteador de</p><p>políticas, principalmente, em um país como o Brasil, com diversas</p><p>demandas latentes. (VERAS, FELIX, 2016).</p><p>Portanto, caso o idoso opte pelo trabalho ou aposentadoria, o</p><p>importante é que ele possa tomar essa decisão de forma consciente,</p><p>realizada, antecipadamente, analisando seus desejos e necessidades.</p><p>Assim sendo, que ele não necessite se manter em uma situação devido</p><p>à falta de oportunidades vigentes, ou continuar trabalhando em condi-</p><p>ções desgastantes e nocivas, contribuindo para o declínio psicológico,</p><p>emocional e físico de sua saúde. (PAOLINI, 2016).</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANTÓNIO, Manuel. Envelhecimento ativo e a indústria da perfeição. 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Acesso em: 11 maio. 2020.</p><p>154</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sobre a Vigilância de DCNT. Disponível em: https://www.</p><p>saude.gov.br/noticias/43036-sobre-a-vigilancia-de-dcnt. Acesso em: 10 maio. 2020.</p><p>MIRANDA, G. M. D.; MENDES, A. C. G.; SILVA, A. L. A. O envelhecimento</p><p>populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev. bras.</p><p>geriatr. gerontol. Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 507-519, jun 2016. Disponível em: http://</p><p>www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232016000300507&lng=</p><p>en&nrm=iso. Acesso em: 18 maio. 2020.</p><p>NOVAES, Raphaella Neman De; FRANCO, Loren Dutra. A importância do idoso</p><p>no mercado de trabalho. Revista das Faculdades Integradas Vianna Júnior. Juiz de</p><p>Fora, v.11, n.1, jan. / jun. 2020.</p><p>OLIVEIRA, A. D. S; FÉ, M. A. D. M. 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Acesso em: 16 maio. 2020. https://doi.</p><p>org/10.1590/0034-7167-2017-0078.</p><p>VERAS, Maura Pardini Bicudo; FÉLIX, Jorge. Questão urbana e envelhecimento</p><p>populacional: breves conexões entre o direito à cidade e o idoso. Caderno Metrópoles,</p><p>v.18, n.36, p.441-459, julho de 2016.</p><p>155</p><p>Capítulo 10</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO</p><p>TRABALHADOR E DA TRABALHADORA:</p><p>bem-estar e produtividade</p><p>Caroline Lopes de Amorim1</p><p>Guilherme Augusto Torres Dalcol¹</p><p>Ingrid Beatriz Teixeira Faleiro¹</p><p>Jully Blanc Coimbra¹</p><p>Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>No século XXI, ocorreu um incremento nas horas de trabalho</p><p>e redução dos momentos destinados ao lazer. Isso resultou no</p><p>aumento da importância do trabalho na vida do trabalhador e</p><p>da trabalhadora, uma vez que a atividade laboral passou a ocupar uma</p><p>parte significativa do dia do indivíduo, o que levou a diversas interfe-</p><p>rências na vida do empregado. Estresse, sedentarismo, por exemplo,</p><p>e inúmeras outras condições podem impactar no desempenho e, con-</p><p>sequentemente, nos resultados da performance de um funcionário.</p><p>1Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri– Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni – MG, Brasil.</p><p>² Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia-</p><p>tria. Professora titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio</p><p>ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD,</p><p>pós doutorado em impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP, Portugal.</p><p>156</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Diante disso, torna-se importante que a saúde do trabalhador e</p><p>da trabalhadora seja valorizada por todas as esferas da sociedade,</p><p>levando em conta os elementos biopsicossociais que permeiam a</p><p>vivência daquele que trabalha. Com esse fim, ressalta-se a relevância</p><p>de medidas de promoção e prevenção de saúde, além de propostas</p><p>que estimulem a prática de atividades físicas que aumentem a quali-</p><p>dade de vida do trabalhador e da trabalhadora. Tais iniciativas podem,</p><p>inclusive, reduzir a incidência e prevalência das doenças crônicas não</p><p>transmissíveis (DCNT) e dos agravos ocupacionais nessa parcela da</p><p>população. (KASHIWABARA et al., 2019).</p><p>SEDENTARISMO E SEUS IMPACTOS</p><p>Com o advento das revoluções industriais e tecnológicas, o com-</p><p>portamento humano sofreu inúmeras alterações. As mudanças podem</p><p>ser observadas em todos os níveis da sociedade, como nas relações</p><p>sociais, nos meios de comunicação, transporte e, sobretudo, no tra-</p><p>balho. Isso resultou em estilos de vida cada vez menos ativos e, por</p><p>consequência, menos saudáveis. (THIVEL et al., 2018).</p><p>No ambiente de trabalho, por exemplo, as extensas jornadas, com</p><p>predomínio de horas sentadas, atreladas a movimentos repetitivos e</p><p>com baixos gastos energéticos, corroboram com um estilo de vida</p><p>sedentário. Dessa forma, o sedentarismo deve ser visto com atenção</p><p>pelas empresas e essas devem buscar a promoção da saúde no ambiente</p><p>laboral. Essa prática interfere na saúde biopsicossocial do indivíduo,</p><p>o que, naturalmente, influencia a produtividade do trabalhador e da</p><p>trabalhadora e reduz gastos com serviços médico-hospitalares por</p><p>parte das empresas e do Estado. (KASHIWABARA et al., 2019).</p><p>Reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS)</p><p>como um problema de saúde pública, o comportamento seden-</p><p>tário apresenta elevada repercussão no surgimento de doenças</p><p>crônicas não transmissíveis (DCNT). (SILVA et al., 2018). Nesse</p><p>157</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA: BEM-ESTAR E PRODUTIVIDADE</p><p>aspecto, condições que são influenciadas pelo sedentarismo, como</p><p>hipertensão, sobrepeso, obesidade, intolerância à glicose e disli-</p><p>pidemia, podem gerar desfechos responsáveis por altos níveis de</p><p>morbimortalidade e hospitalizações. A exemplo disso, tem-se as</p><p>doenças coronarianas, doenças cerebrovasculares, doenças vas-</p><p>culares periféricas, diabetes, osteoporose e cânceres. Ademais,</p><p>evidências apontam que a atividade física exerce influência sobre</p><p>o equilíbrio emocional e a sociabilização. A prática contrária, atre-</p><p>lada a longas horas de serviços e tempo escasso para o lazer, é um</p><p>potencial colaborador para o surgimento de condições psiquiátri-</p><p>cas, como a depressão e a ansiedade.</p><p>Além de interferir na saúde do empregado, o sedentarismo implica</p><p>prejuízos para o empregador, visto que, além da piora nos níveis de</p><p>saúde, há também uma interferência no desenvolvimento das funções</p><p>do empregado. Nesse sentido, as consequências do sedentarismo para</p><p>o empregador geram impactos financeiros significativos num contexto</p><p>de globalização, em que a otimização do rendimento passou a ser o</p><p>grande objetivo das empresas. Assim, a perda da produtividade vai</p><p>desde o aumento do absenteísmo, dos afastamentos de trabalho e dos</p><p>processos, até as despesas com serviços médico-hospitalares.</p><p>É sabido, ainda, que tudo isso impacta direta e economicamente no</p><p>Estado, uma vez que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)</p><p>e as suas complicações são as maiores responsáveis por hospitalizações</p><p>(MOREIRA et al., 2017). Além disso, também são crescentes os custos</p><p>onerados na Previdência pela incapacidade laboral e pelos afasta-</p><p>mentos de trabalho, decorrentes, em sua maior parcela, pelas DCNT.</p><p>Dessa forma, os investimentos em estratégias que visem à redução</p><p>do comportamento sedentário contribuem com o empregado, com o</p><p>empregador e com o Estado. Portanto a melhora na qualidade de vida</p><p>do empregado influencia, diretamente, a minimização de impactos</p><p>socioeconômicos.</p><p>158</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>ESTRATÉGIAS À QUALIDADE DE VIDA DO</p><p>TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>Muito se ouve a respeito da insatisfação no trabalho por parte</p><p>do trabalhador e da trabalhadora. Inúmeras vezes, há relatos de más</p><p>condições de trabalho e esgotamento mental, o que possibilita o sur-</p><p>gimento de problemas na saúde, tanto físicos quanto psicológicos.</p><p>A pesquisa realizada por Lua et al. (2018) mostra a autoavaliação</p><p>negativa da saúde entre trabalhadoras de enfermagem da Atenção</p><p>Básica, possivelmente, causada pela incompatibilidade entre serviço</p><p>contratado e serviço prestado, sobrecarga doméstica e alta demanda</p><p>de trabalho. O contato estressante com pessoas, a imensa demanda</p><p>de serviço, dentre outros fatores, estão presentes na vida da maioria</p><p>dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo, sendo, possivelmente,</p><p>causas de adoecimento, de queda no rendimento no trabalho e de</p><p>afastamentos, como mostrado no estudo conduzido por Lima, Coelho</p><p>e Ceballos (2017). Esse estudo analisou a associação entre o desenvol-</p><p>vimento de Transtornos Mentais Comuns (TMC) e a agressão verbal,</p><p>física, entre outras formas, sofridas por professores da Rede Pública</p><p>de Ensino em um município de Pernambuco.</p><p>Para evitar esses transtornos, tanto ao trabalhador e à trabalha-</p><p>dora, quanto à empresa e às pessoas</p><p>ao redor, é importante que o</p><p>processo de trabalho, bem como o ambiente laboral sejam saudáveis.</p><p>De acordo com Freeman (2018), ambiente saudável, dieta balanceada</p><p>e bom condicionamento físico, bem como a promoção das habilidades</p><p>de enfrentamento de problemas, a autoconfiança e o autocontrole são</p><p>fatores condicionantes para a obtenção da saúde.</p><p>Nesse sentido, para assegurar a promoção e proteção da saúde,</p><p>bem como a redução da morbimortalidade dos trabalhadores, foi</p><p>instituída, em 2012, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e</p><p>da Trabalhadora (PNSTT). Um dos objetivos desta política dispõe</p><p>sobre a promoção da saúde e de ambientes e processos de trabalhos</p><p>159</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA: BEM-ESTAR E PRODUTIVIDADE</p><p>saudáveis. A promoção da saúde é entendida pela Política Nacional</p><p>de Promoção de Saúde (PNPS) como</p><p>[...] uma estratégia de articulação transversal</p><p>na qual se confere visibilidade aos fatores que</p><p>colocam a saúde da população em risco e às</p><p>diferenças entre necessidades, territórios e cul-</p><p>turas presentes no nosso país, visando à cria-</p><p>ção de mecanismos que reduzam as situações</p><p>de vulnerabilidade, defendam radicalmente a</p><p>equidade e incorporem a participação e o con-</p><p>trole sociais na gestão das políticas públicas.</p><p>(BRASIL, 2006, p. 12)</p><p>Para que a promoção em saúde do trabalhador e da trabalhadora</p><p>seja posta em prática, as estratégias são pensadas de acordo com as</p><p>demandas observadas por meio da vigilância em saúde e/ou pesqui-</p><p>sas científicas, como previsto e estimulado pela PNSTT. Em pesquisa</p><p>realizada por Teodoro e Longen (2017), foi percebida sobrecarga</p><p>psicofisiológica e ambiental em trabalhadores da produção de</p><p>cerâmica na região sul do estado de Santa Catarina, o que levou</p><p>a sugerirem algumas propostas de ações de promoção de saúde e</p><p>prevenção de agravos. São elas: criação e manutenção de espaços</p><p>de diálogo nas empresas; viabilização de melhor acessibilidade do</p><p>trabalhador e da trabalhadora aos meios de transporte público;</p><p>refeições; gratificações e oportunidade de desenvolver novas</p><p>habilidades; constante atenção às medidas protetivas coletivas, bem</p><p>como individuais; dentre outras medidas.</p><p>Muitas são as possibilidades de intervenção para promover saúde</p><p>aos trabalhadores. Seja por meio de educação em saúde, de criação</p><p>de grupos de discussão, de meditação, de espaço de convivência para</p><p>os funcionários, entre outros. Uma outra opção é a atividade física.</p><p>Sempre indicada pelos profissionais de saúde a, praticamente, toda a</p><p>população, a atividade física conta com diversos benefícios para as pes-</p><p>soas, atuando na promoção de saúde, prevenção de agravos e até como</p><p>160</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>forma terapêutica. Dias et al. (2017), em pesquisa com professores de</p><p>escolas públicas, analisou a associação da atividade física insuficiente</p><p>no tempo livre com os fatores ocupacionais. Eles perceberam, nesse</p><p>estudo, que alguns fatores, como percepção negativa acerca das car-</p><p>gas e condições de trabalho bem como certo desequilíbrio entre vida</p><p>pessoal e profissional, colaboravam para a insuficiência na prática</p><p>de exercícios físicos. Tal fato deixa claro que, além de o serviço não</p><p>promover estratégias para a melhora na qualidade de vida, ele pode</p><p>atrapalhar, de certa forma, a busca por uma boa saúde.</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SEUS IMPACTOS</p><p>A atividade física (AF) e o exercício físico são conceitos comu-</p><p>mente adotados como sinônimos, mas que guardam diferenças entre</p><p>si. A AF engloba diferentes tipos de atividade corporal, entre eles, o</p><p>exercício físico. O exercício físico é um subgrupo específico da AF</p><p>que trabalha uma sequência de movimentos, de forma planejada, que</p><p>desenvolve e mantém a aptidão física, a saúde e o bem-estar gerais.</p><p>Além do exercício físico, a AF inclui atividades corporais de lazer,</p><p>transporte (caminhada ou ciclismo), tarefas domésticas, brincadeiras,</p><p>jogos, esportes e atividade ocupacional, no contexto de atividades</p><p>diárias, familiares e comunitárias.</p><p>Para que todos os tipos de AF sejam executados de maneira a melho-</p><p>rar a saúde, eles devem envolver grupos musculares relevantes, intensidade</p><p>e frequência suficientes e tempo de recuperação adequado. Segundo as</p><p>Recomendações Globais de Atividade Física para a Saúde da OMS, adultos</p><p>de 18 a 64 anos devem fazer, durante a semana, pelo menos 150 minutos</p><p>de AF aeróbica de intensidade moderada ou 75 minutos de AF aeróbica de</p><p>intensidade vigorosa ou ainda uma combinação equivalente de atividade</p><p>de intensidade moderada e vigorosa (OMS, 2010).</p><p>Os benefícios da AF na saúde e na qualidade de vida são consenso</p><p>na literatura e mostram que pessoas, fisicamente, ativas têm um perfil</p><p>161</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA: BEM-ESTAR E PRODUTIVIDADE</p><p>de risco mais baixo para o desenvolvimento de uma série de condições</p><p>médicas e taxas mais baixas de diferentes doenças crônicas não trans-</p><p>missíveis do que pessoas inativas. Podem-se destacar, principalmente,</p><p>benefícios nas seguintes condições de saúde: doença cardíaca coro-</p><p>nária, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, hipertensão,</p><p>diabetes, obesidade, osteoporose, câncer e depressão.</p><p>O local de trabalho é um espaço importante para promoção da AF</p><p>haja vista o tempo que o empregado vive nesse local que é de, apro-</p><p>ximadamente, um terço de todo seu período economicamente ativo.</p><p>Neste sentido, Sjøgaard et al. (2016) analisaram 15 ensaios clínicos</p><p>randomizados realizados na Dinamarca, abrangendo cerca de 3500</p><p>trabalhadores, que observaram os impactos da introdução de AF no</p><p>local de trabalho. Os grupos de trabalho foram selecionados de forma</p><p>a incluir uma variedade de exposições de emprego, desde trabalho</p><p>repetitivo monótono e trabalho repetitivo pesado a trabalho dinâmico,</p><p>sendo eles profissionais de escritório, de computação, de indústria, de</p><p>limpeza, de construção, de saúde e pilotos de caça. Em todos os grupos</p><p>de trabalho, foram documentadas melhorias significativas no grupo</p><p>ativo quando comparado ao controle no que diz respeito às condições</p><p>de saúde e/ou a seus indicadores de risco.</p><p>Os resultados dos estudos foram associados ao grupo de trabalho e</p><p>foram divididos em duas categorias principais: distúrbios musculoes-</p><p>queléticos e cardio-metabólicos. Dor no pescoço, dores no antebraço</p><p>e lombalgia foram reduzidas em diferentes grupos de trabalho. Mar-</p><p>cadores de distúrbios cardiometabólicos, como IMC, percentual de</p><p>gordura corporal e colesterolemia, também, foram melhorados. Além</p><p>disso, foram relatadas melhoras funcionais, como aumento de força</p><p>muscular, menor estresse e mais energia, que tiveram efeitos positivos</p><p>no desempenho no trabalho, em consonância com outra revisão siste-</p><p>mática, a qual também apontou benefícios em relação à produtividade.</p><p>Assim, Sjøgaard et al. (2016) concluem que a AF beneficia o tra-</p><p>balhador e a trabalhadora em termos de indicadores de risco à saúde,</p><p>162</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>capacidade e função física, bem como saúde autorrelatada e quali-</p><p>dade de vida. Somado a isso, a implementação de programas de AF</p><p>organizados e supervisionados por especialistas no local de trabalho</p><p>mostrou um custo-efetivo vantajoso para as empresas em relação à</p><p>produtividade e economia em despesas de saúde, uma vez que má</p><p>qualidade de vida dos empregados implica custos substanciais para os</p><p>empregadores. Os gastos se relacionam tanto ao absenteísmo (ausên-</p><p>cia ou afastamento do trabalho) quanto ao presenteísmo (redução do</p><p>desempenho enquanto no local de trabalho). Neste caso, o presen-</p><p>teísmo foi avaliado a partir de autorrelatos dos empregados quando</p><p>perguntados em relação à produtividade, ao empenho, à quantidade</p><p>e à qualidade do trabalho.</p><p>Para estimular a AF a seus empregados, as estratégias adotadas</p><p>pelos empregadores podem ser diversas, de acordo com algumas variá-</p><p>veis, como a dimensão</p><p>da empresa, o número de trabalhadores, os</p><p>recursos financeiros e a política institucional. Algumas possibilidades</p><p>são ginástica laboral, abertura de espaço fitness no local de trabalho,</p><p>parcerias com academias, fisioterapeutas e educadores físicos, além da</p><p>formação de equipes de caminhadas, corridas, dança e esportes. Por</p><p>fim, cabe destacar que a AF e a saúde do trabalhador e da trabalhadora,</p><p>também, são questões de saúde pública. Afinal, assim como consta no</p><p>Plano de Ação Global para a Atividade Física 2018-2030, elaborado</p><p>pela OMS, o não aumento da atividade física levará a um aumento de</p><p>gastos, com um efeito negativo sobre os sistemas de saúde, o ambiente,</p><p>a economia, o bem-estar social e a qualidade de vida (OMS, 2018).</p><p>GINÁSTICA LABORAL</p><p>A Ginástica Laboral (GL), também chamada, internacionalmente,</p><p>de Intervenções de Exercício Físico no Ambiente de Trabalho (Wor-</p><p>kplace Physical Activity Intervention), abrange vários movimentos</p><p>que trabalham os músculos mais usados no decurso do trabalho e</p><p>estimulam os grupos musculares pouco exercitados, habitualmente,</p><p>163</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA: BEM-ESTAR E PRODUTIVIDADE</p><p>durante o período de serviço (NEVES et al., 2018). Em 1925, quando</p><p>foi publicado o primeiro registro na Polônia, a GL era conhecida como</p><p>“Ginástica de pausa”, e começou a ser propagada no Brasil em 1969,</p><p>trazida por empreendedores japoneses, com finalidades físicas, fun-</p><p>cionais e organizacionais. (LIMA, 2018).</p><p>Atualmente, de acordo Lima (2019), há três variantes mais conhe-</p><p>cidas de ginástica laboral: preparatória ou aquecimento; de pausa ou</p><p>compensatória; final de expediente ou relaxamento. Essas modalida-</p><p>des são praticadas antes, durante e/ou no fim da jornada de trabalho,</p><p>respectivamente, e costumam englobar exercícios de aquecimento,</p><p>alongamento e relaxamento. A frequência e a duração da execução</p><p>dessas atividades são variáveis, devendo ser determinadas ao consi-</p><p>derar os objetivos e o ambiente em que são empregadas, como Lima</p><p>(2018) afirma.</p><p>A GL acarreta inúmeros benefícios físicos, psicológicos e sociais</p><p>para o trabalhador e para a trabalhadora, dentre os quais podem-se</p><p>citar: melhora da autoestima; condução à autognose; aperfeiçoamento</p><p>da capacidade respiratória e da postura corporal; avanços no con-</p><p>tato interpessoal; desenvolvimento de flexibilidade e de coordenação</p><p>motora; controle das dores, da fadiga, do estresse e de distúrbios emo-</p><p>cionais (LOURENÇO et al., 2019). Ademais, tais exercícios permitem</p><p>a promoção do condicionamento físico, combate ao sedentarismo,</p><p>prevenção de lesões e, também, possibilitam vantagens aos gestores,</p><p>por reduzir os gastos médicos e o absenteísmo, conforme é reiterado</p><p>por Beneli e Acosta (2019).</p><p>Tal prática de atividades físicas no próprio ambiente laboral tem</p><p>relevância multidisciplinar e ganhou notoriedade depois que as empre-</p><p>sas constataram que sua adoção poderia elevar o desempenho/produ-</p><p>tividade do trabalhador e da trabalhadora, prevenir e reduzir agravos</p><p>de saúde, além de mitigar as taxas de acidente de trabalho. Conse-</p><p>quentemente, o número de afastamentos por doenças relacionadas à</p><p>ocupação tende a diminuir, acarretando maior recompensa financeira</p><p>164</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>para o empregador. Laux (2016) observou que, no intervalo em que</p><p>houve a prática da ginástica laboral, o número de atestados médicos</p><p>para justificar a falta no trabalho em uma determinada companhia de</p><p>tratamento de resíduos industriais reduziu 51,52% em comparação ao</p><p>período em que a GL não era realizada.</p><p>É necessário destacar que, para se obter os benefícios propor-</p><p>cionados pela ginástica laboral, é imprescindível uma avaliação do</p><p>trabalhador e da trabalhadora, assim como planejamento e execução</p><p>orientada por profissional capacitado. Além disso, para efetividade e</p><p>maior adesão ao programa de exercícios no trabalho, é importante</p><p>uma prática constante, com periodicidade das sessões, e apoio da</p><p>empresa (LIMA, 2019).</p><p>A GL ainda tem como vantagem a possibilidade de ser realizada</p><p>em instituições de trabalho privadas ou públicas, e a viabilidade de</p><p>execução por funcionários que desempenham as mais diversas obriga-</p><p>ções, pois é adequável à realidade local (LIMA, 2019). Assim, indubi-</p><p>tavelmente, a Ginástica Laboral é uma útil ferramenta na promoção da</p><p>qualidade de vida do trabalhador e da trabalhadora, e na modificação</p><p>do paradigma de ambiente laboral monótono.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Diante do exposto, percebe-se que a introdução da atividade</p><p>física nos ambientes de trabalho traz benefícios ao trabalhador e à</p><p>trabalhadora, combatendo o sedentarismo e melhorando a qualidade</p><p>de vida global; à empresa, aumentando produtividade, diminuindo</p><p>gastos e absenteísmos; e a toda população que, também, se beneficia</p><p>com a melhora dos resultados do trabalho dessas pessoas. Por isso, é</p><p>imprescindível que os diretores ou responsáveis pelos funcionários e a</p><p>Vigilância em Saúde, bem como a comunidade em geral, por meio do</p><p>controle e participação social, também, previsto na PNSTT, estejam</p><p>sempre atentos a essas questões.</p><p>165</p><p>ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA: BEM-ESTAR E PRODUTIVIDADE</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BENELI, L. M., ACOSTA, B. F. Efeitos de um programa de ginástica laboral sobre</p><p>a incidência de dor em funcionários de uma empresa de software. Revista Saúde e</p><p>Meio Ambiente, v. 4, n. 1, p. 66-76, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufms.br/</p><p>index.php/sameamb/article/view/3155. Acesso em: 12 Maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política</p><p>Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial [da] República</p><p>Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 ago. 2012. Seção I, p. 46-51. Disponível em: http://bvsms.</p><p>saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/ prt1823_23_08_2012.html. Acesso em: 18 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política Nacional</p><p>de Promoção da Saúde. Portaria n° 687 MS/GM, de 30 de março de 2006. Brasília:</p><p>Ministério da Saúde, 2006. 60 p. (Série B. Textos Básicos em Saúde).</p><p>DIAS, Douglas Fernando et al. Insufficient free-time physical activity and occupational</p><p>factors in Brazilian public school teachers. Revista de saúde pública, v. 51, p. 68, 2017.</p><p>FREEMAN, T R. Manual de Medicina de Família e Comunidade de McWhinney.</p><p>Porto Alegre; Artmed, 2018. E-PUB. 9788582714652. Disponível em: https://integrada.</p><p>minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582714652/. Acesso em: 16 Maio. 2020.</p><p>KASHIWABARA, Tatiliana Bacelar; ROCHA, Lamara Laguardia Valente; BARROS,</p><p>Nelson; LIMA, Letícia Guimarães Carvalho de Souza; CARVALHO, Ester Viana;</p><p>KASHIWABARA, Ysadora Mayume Bacelar; KASHIWABARA, Yutaka Bacelar;</p><p>KASHIWABARA, Yoriko Bacelar; KASHIWABARA, Ludmila Messias Rocha (org.).</p><p>Medicina ambulatorial VI: com ênfase em medicina do trabalho. 6. ed. Montes</p><p>Claros: Dejan Gráfica e Editora, 2019. 462 p.</p><p>LAUX, Rafael Cunha; PAGLIARI, Paulo; EFFTING JUNIOR, João Viannei;</p><p>CORAZZA, Sara Teresinha. Programa de Ginástica Laboral e a Redução de Atestados</p><p>Médicos. Ciencia & Trabajo, [s.l.], v. 18, n. 56, p. 130-133, ago. 2016. SciELO Agencia</p><p>Nacional de Investigacion y Desarrollo (ANID). http://dx.doi.org/10.4067/s0718-</p><p>24492016000200009. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_</p><p>arttext&pid=S0718-24492016000200009&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 19 maio. 2020.</p><p>LIMA, Alyne Fernanda Torres de; COELHO, Vanessa Maria da Silva; CEBALLOS,</p><p>Albanita Gomes da Costa de. Violência na escola e transtornos mentais comuns em</p><p>professores. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Porto, n. 18, p.</p><p>31-36, dez. 2017. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_</p><p>arttext&pid=S1647-21602017000300005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 19 maio. 2020.</p><p>http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0189.</p><p>LIMA, Valquíria de. Ginástica Laboral e saúde do trabalhador: saúde, capacitação</p><p>bactérias, parasitas). Doenças respiratórias graves, por exemplo,</p><p>que acometiam os trabalhadores expostos à fumaça e poeira de fábricas</p><p>ou da mineração, passaram a ser reconhecidas como patogênicas e</p><p>consideradas como agentes etiológicos das chamadas pneumoconio-</p><p>ses. (KASHIWABARA et. al., 2019).</p><p>17</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>A saúde ocupacional é aperfeiçoada, especialmente, pelas rei-</p><p>vindicações dos movimentos sociais dos trabalhadores, organizados</p><p>em sindicatos, os quais passaram a exigir maior participação nas</p><p>questões de saúde e segurança. Em 1919, foi criada a Organiza-</p><p>ção Internacional do Trabalho (OIT) com agenda voltada para a</p><p>incorporação de reivindicações dos trabalhadores nas legislações.</p><p>Frente ao surgimento de novas tecnologias, como a automação</p><p>industrial, houve um deslocamento do perfil de comorbidades,</p><p>como a hipertensão arterial sistêmica ligada ao sedentarismo. A</p><p>saúde do trabalhador ganhou espaço nas políticas de saúde pública,</p><p>especialmente, após a criação da Organização Mundial da Saúde</p><p>(OMS), em 1948. Ademais, o processo de adoecimento do traba-</p><p>lhador passou a ser foco de intervenção das instituições de saúde</p><p>dos Estados. (CAMISASSA, 2016).</p><p>Em 1995, o conceito de saúde ocupacional foi revisto e ampliado</p><p>pelo Comitê Misto OIT/OMS. Essa modificação visou à adaptação</p><p>do trabalho ao homem e cada homem à sua atividade, por meio</p><p>da promoção e manutenção da saúde biopsicossocial dos trabalha-</p><p>dores; da prevenção dos danos causados pelas condições laborais;</p><p>do resguardo dos trabalhadores em suas funções, protegendo dos</p><p>riscos resultantes de fatores adversos à saúde; e da adaptação fisio-</p><p>lógica e psicológica para alocação e manutenção do trabalhador.</p><p>(ANAMT, 2017).</p><p>Atualmente, o modelo da saúde ocupacional, ainda, é predomi-</p><p>nante nos países industrializados, com uma concreta legislação de</p><p>proteção aos trabalhadores, ao meio ambiente e à colaboração de</p><p>órgãos fiscalizadores.</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: legislação</p><p>A saúde ocupacional é uma área das ciências médicas que prevê</p><p>o estudo, a prevenção, a assistência e a vigilância aos agravos à saúde</p><p>18</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>relacionados ao trabalho. Assim, para desenvolver a atenção integral à</p><p>saúde dos trabalhadores, faz-se imprescindível o conhecimento acerca</p><p>das legislações que regulamentam as relações laborais.</p><p>Surgimento das leis</p><p>Com a Revolução Industrial, a relação do homem com o trabalho</p><p>mudou substancialmente. Essas modificações ocorridas na dinâmica</p><p>laboral propiciaram o adoecimento frequente dos trabalhadores. As</p><p>extensas jornadas de trabalho, o crescente uso de máquinas, a execução</p><p>de movimentos repetitivos, as grandes concentrações de operários em</p><p>pequenos espaços e as péssimas condições de higiene e de salubridade,</p><p>corroboraram para o aumento dos agravos à saúde ligados à atividade</p><p>laboral. (ALMEIDA; LIMA, 2018).</p><p>Já no que diz respeito ao Brasil, a preocupação com o adoecimento</p><p>dos trabalhadores começou, aproximadamente, um século após, com</p><p>o início da Revolução Industrial na Europa, primordialmente depois</p><p>da promulgação da Lei Áurea em 1888. Até o final do século XIX, o</p><p>Brasil caracterizava-se por ser um país de formação colonial, com</p><p>uma economia essencialmente agrícola e um sistema econômico cons-</p><p>truído em torno da relação escravista de trabalho. Assim, durante o</p><p>período escravocrata, não havia, no Brasil, um panorama social pro-</p><p>pício à introdução de normas disciplinadoras da relação empregatícia.</p><p>Embora a Lei Áurea não tenha qualquer caráter justrabalhista, ela</p><p>pode ser considerada um marco que propiciou o início das discussões</p><p>a respeito das regras disciplinadoras do trabalho. Isso porque essa lei</p><p>findou a escravidão no país, permitindo o crescimento do trabalho</p><p>livre, o que tornou essencial o debate acerca das regulamentações das</p><p>relações de trabalho. (DELGADO, 2019).</p><p>Consolidação das leis trabalhistas (CLT)</p><p>Entre os anos de 1888 e 1930, as movimentações trabalhistas no</p><p>Brasil eram esparsas e insipientes, pois as relações empregatícias se</p><p>19</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>concentravam, principalmente, no setor agrícola cafeeiro e na emer-</p><p>gente industrialização. Foi, apenas, na Era Vargas que a temática</p><p>trabalhista passou a integrar, de forma mais significativa, as pautas</p><p>governamentais. (DELGADO, 2019).</p><p>Desse modo, no ano de 1931, foi criado o Departamento Nacional</p><p>do Trabalho, que estabeleceu, em 1934, a comunicação compulsória</p><p>dos acidentes laborais, bem como permitiu a nomeação de inspeto-</p><p>res médicos para estudar doenças e acidentes de causas trabalhis-</p><p>tas. (KASHIWABARA et. al., 2019). Já no ano de 1943, por meio</p><p>do Decreto de Lei 5.452, foi desenvolvida a Consolidação das Leis</p><p>Trabalhistas (CLT), que representou uma intensa sistematização das</p><p>normas disciplinadoras do vínculo empregatício. Assim, a CLT surgiu</p><p>com o intuito de regulamentar as relações individuais e coletivas de</p><p>trabalho. (DELGADO, 2019).</p><p>Apesar das diversas alterações ulteriores em seu texto original,</p><p>a CLT continua em vigor até os dias atuais, mesmo depois de ter</p><p>passado pela edição de quatro constituições federais (1946, 1967,</p><p>1969 e 1988). Dentre as principais modificações realizadas na CLT</p><p>ao longo do tempo, destaca-se a implementação do Fundo de Garantia</p><p>por Tempo de Serviço (FGTS) em 1966. Esse fundo, que objetivava</p><p>compensar o trabalhador e a trabalhadora pela perda do direito à</p><p>estabilidade, também, se destinava ao financiamento do sistema habi-</p><p>tacional. (ALMEIDA; LIMA, 2018). Ademais, ainda no ano de 1966,</p><p>em decorrência dos altos índices de acidentes e doenças do traba-</p><p>lho, foi criada a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e</p><p>Medicina do Trabalho (Fundacentro), por meio da Lei n. 5.161. Essa</p><p>instituição surgiu com a finalidade de promover estudos e pesquisas</p><p>em segurança, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho, além</p><p>de instituir a capacitação técnica de empregadores e empregados.</p><p>Atualmente, a instituição recebe o nome de Fundação Jorge Duprat</p><p>Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho – Fundacentro.</p><p>(MONTEIRO, 2013).</p><p>20</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Outra mudança importante foi a edição da Lei n. 6.514, que modi-</p><p>ficou o Capítulo V do Título II da CLT, a qual aborda sobre a Segu-</p><p>rança e a Medicina do Trabalho. Essa alteração legislativa foi seguida</p><p>por uma ampla regulamentação trazida no âmbito do poder executivo</p><p>pelo Ministério do Trabalho por meio das Normas Regulamentadoras.</p><p>(ALMEIDA; LIMA, 2018.).</p><p>Ademais, o advento da Constituição Federal de 1988 propiciou</p><p>algumas modificações expressivas no que tange ao direito do trabalho</p><p>no Brasil. Dentre as alterações, destacam-se as seguintes:</p><p>A redução da jornada semanal de 48 para 44</p><p>horas; a generalização do regime do fundo</p><p>de garantia com a consequente supressão</p><p>da estabilidade decenal; a criação de uma</p><p>indenização prevista para os casos de dis-</p><p>pensa arbitrária; a elevação do adicional</p><p>de horas extras para o mínimo de 50%; o</p><p>aumento em 1/3 da remuneração das férias;</p><p>a ampliação da licença da gestante para 120</p><p>dias; a criação da licença-paternidade, de 5</p><p>dias; a elevação da idade mínima de admis-</p><p>são no emprego para 14 anos; a descaracte-</p><p>rização, como forma destinada a incentivar</p><p>a iniciativa patronal, da natureza salarial</p><p>da participação nos lucros; a instituição da</p><p>figura do representante dos trabalhadores</p><p>nas empresas com mais de 200 emprega-</p><p>dos; a reformulação da obrigatoriedade de</p><p>creches e pré-escolas e a inclusão, agora em</p><p>nível constitucional, de três estabilidades</p><p>especiais, a do dirigente sindical, a do diri-</p><p>gente das Comissões Internas de Prevenção</p><p>de Acidentes e a das empregadas gestantes.</p><p>(NASCIMENTO, A.; NASCIMENTO, S.,</p><p>2014, p. 84).</p><p>21</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>Posteriormente, já no ano de 2016, retomou-se, no Brasil, discus-</p><p>sões acerca de teses ultra liberalistas.</p><p>e</p><p>orientação ao profissional de educação física. São Paulo: Coleção Literária 20 Anos</p><p>da Instalação do CREF4/SP, 2019.</p><p>166</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>LIMA, Valquíria de. Ginástica Laboral: atividade física no ambiente de trabalho.</p><p>4. ed. São Paulo: Phorte, 2018.</p><p>LOURENÇO, Antonia Jussara da Silva et al. Ginástica Laboral: contribuições para</p><p>Saúde do Trabalhador numa Instituição de Ensino Superior do Ceará. Encontro de</p><p>Extensão, Docência e Iniciação Científica (EEDIC), [S.l.], v. 5, n. 1, mar. 2019. ISSN</p><p>2446-6042. Disponível em: http://publicacoesacademicas.unicatolicaquixada.edu.br/</p><p>index.php/eedic/article/view/3121. Acesso em: 11 Maio. 2020.</p><p>LUA, Iracema et al. Autoavaliação negativa da saúde em trabalhadoras de enfermagem</p><p>da atenção básica. Trabalho, Educação e Saúde, v. 16, n. 3, p. 1301-1319, 2018.</p><p>MOREIRA, Márlon Martins et al. Impacto da inatividade física nos custos de</p><p>internações hospitalares para doenças crônicas no Sistema Único de Saúde. Arquivos</p><p>de Ciências do Esporte, v. 5, n. 1, 2017.</p><p>NEVES, Robson da Fonseca et al; A ginástica laboral no Brasil entre os anos de 2006</p><p>e 2016: uma scoping review. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, [s.l.], v. 16,</p><p>n. 1, p. 82-96, 2018. Zeppelini Editorial e Comunicação. http://dx.doi.org/10.5327/</p><p>z1679443520180078. Disponível em: https://www.rbmt.org.br/details/297/pt-BR/a-</p><p>ginastica-laboral-no-brasil-entre-os-anos-de-2006-e-2016--uma-scoping-review.</p><p>Acesso em: 13 maio. 2020.</p><p>SILVA, Francisco Orlando et al. DOENÇAS CAUSADAS PELO SEDENTARISMO:</p><p>OBESIDADE, DIABETES E HIPERTENSÃO ARTERIAL. Anais da EXPO, v. 2018,</p><p>n. 01, p. 4-4, 2018.</p><p>SJØGAARD, Gisela et al. Exercise is more than medicine: The working age population’s</p><p>well-being and productivity. Journal of Sport and Health Science, v. 5, n. 2, p. 159-165, 2016.</p><p>TEODORO, Daniela Leandro; LONGEN, Willians Cassiano. Qualidade de Vida</p><p>e carga psicofisiológica de trabalhadores da produção cerâmica do Extremo Sul</p><p>Catarinense. Saúde em Debate, v. 41, p. 1020-1032, 2017.</p><p>THIVEL, David et al. Physical Activity, Inactivity, and Sedentary Behaviors:</p><p>Definitions and Implications in Occupational Health. Frontiers in Public Health,</p><p>v. 6, p. 1–5, 2018.</p><p>WHO - World Health Organization. Global action plan on physical activity 2018–</p><p>2030: more active people for a healthier world. Disponível em: http://apps.who.int/</p><p>iris/bitstream/handle/10665/272721/WHO-NMH-PND-18.5-eng.pdf?ua=1. Acesso</p><p>em: 20 maio. 2020.</p><p>WHO - World Health Organization. Global recommendations on physical</p><p>activity for health. Genebra: WHO; 2010. Disponível em: http://whqlibdoc.who.</p><p>int/publications/2010/9789241599979_eng.pdf. Acesso em: 20 maio. 2020.</p><p>167</p><p>Capítulo 11</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E</p><p>DA TRABALHADORA</p><p>Andressa Gonçalves Pereira Paschoa1</p><p>Letícia Alves Gualberto1</p><p>Letícia Gonçalves Reis da Mata1</p><p>Thaís Fernanda Santos Silva2</p><p>Thiago Rodrigo Fernandes da Silva3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (TMRT)</p><p>merecem atenção por ocuparem o terceiro lugar do total de</p><p>benefícios por afastamentos concedidos pela Previdência</p><p>Social (MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria da Previdência,</p><p>2017) com estatísticas que crescem exponencialmente na Nova</p><p>Divisão Internacional do Trabalho. Tal destaque não se deve, ape-</p><p>nas, ao gasto de dinheiro público com uma população que deveria</p><p>ser ativa economicamente, mas também porque esses transtornos</p><p>1 Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri – Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni – MG, Brasil.</p><p>2 Graduada em Medicina pela Universidade de Itaúna (UIT), Itaúna – MG, Brasil.</p><p>3 Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Residência</p><p>Médica em Psiquiatria pelo Instituto Raul Soares/FHEMIG. Membro da Associação Brasileira de</p><p>Psiquiatria (ABP). Membro da American Psychiatric Association (APA). Professor colaborador</p><p>da Faculdade de Medicina da UFMG. Colaborador do Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade</p><p>e Saúde (NAVeS/UFMG.</p><p>168</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>afetam o potencial de desenvolvimento pessoal e contribuição para</p><p>a sociedade, atributos incalculáveis. (UNIVERSIDADE FEDERAL</p><p>DE SÃO PAULO, Centro de Economia em Saúde Mental, 2016).</p><p>Neste capítulo, abordaremos a definição de saúde e, especifica-</p><p>mente, da saúde mental (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO</p><p>PAULO, Centro de Economia em Saúde Mental, 2016), o papel</p><p>do trabalho e sua carga psíquica, responsável pelo sofrimento ou</p><p>bem-estar do indivíduo, a epidemiologia no âmbito da saúde men-</p><p>tal do trabalhador e da trabalhadora, os agravos, as consequências</p><p>e os transtornos mentais associados, além da prevenção para que</p><p>esses últimos sejam, na medida do possível, evitados.</p><p>CONCEITOS PRELIMINARES</p><p>O conceito de saúde tem evoluído ao longo dos tempos. Por</p><p>muitos séculos, acreditou-se que saúde era uma condição marcada</p><p>pela ausência de doenças e com equilíbrio de parâmetros físicos.</p><p>No entanto a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, defi-</p><p>niu saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e</p><p>social e não, apenas, a ausência de doença ou enfermidade”. (WORLD</p><p>HEALTH ORGANIZATION,1946).</p><p>Baseado nisso, o conceito de saúde mental, também, não se resume</p><p>à ausência de problemas de ordem psíquica. De acordo com Huber et</p><p>al. (apud Manwell et al, 2015), a melhor definição de saúde mental é a</p><p>habilidade de ajustamento e autogerenciamento do ser como solução</p><p>diante das situações apresentadas. Portanto, pode-se dizer que é o</p><p>desenvolvimento da resiliência.</p><p>TRABALHO: FONTE DE PRAZER</p><p>O trabalho pode ser entendido como um pro-</p><p>cesso transformador da vida, no qual o indi-</p><p>víduo constrói sua identidade social e traça</p><p>169</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>uma relação entre homem e natureza, produ-</p><p>zindo significado. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,</p><p>Secretaria de Vigilância em Saúde, p.40, 2020)</p><p>Em relação à saúde mental, o trabalho pode oferecer um espaço para</p><p>aprimorar a capacidade de adaptar as diversas situações-problema da</p><p>coletividade em fonte de prazer e satisfação pessoal. Ou seja, o trabalho é</p><p>indispensável para manutenção da saúde do ser humano como um todo</p><p>(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, Instituto de Saúde Coletiva,</p><p>2019). Contudo precisamos considerar que algumas variáveis são impor-</p><p>tantes para se manter esses benefícios do trabalho. Dentre elas temos</p><p>a compreensão de seu trabalho como importante para a sociedade e a</p><p>satisfação no trabalho. (BLAKE et al, 2016; LU, ZHAO, WHILE, 2019).</p><p>A visão do trabalho como algo significativo relaciona-se com</p><p>uma maior satisfação na vida e aumenta a tolerabilidade aos estres-</p><p>sores do trabalho. Entretanto ter somente essa variável não seria</p><p>o suficiente, pois os mecanismos de adaptação podem se esgotar</p><p>devido ao alto número de estressores. Um exemplo corriqueiro</p><p>pode ser visto no ambiente educacional. Um professor pode con-</p><p>siderar sua função como importante para o desenvolvimento do</p><p>futuro da sociedade, por conseguinte crer que seu trabalho seja</p><p>significativo. Todavia, com os diversos estressores como a baixa</p><p>remuneração, falta de estrutura e de reconhecimento tornam essa</p><p>uma das áreas mais acometidas por problemas de saúde mental</p><p>que levam a afastamentos devido à baixa satisfação com o trabalho.</p><p>(BLAKE et al, 2016; LU, ZHAO, WHILE, 2019).</p><p>EPIDEMIOLOGIA</p><p>Estima-se que 1 a cada 4 adultos terão algum tipo de sofrimento</p><p>mental sem a busca por tratamento devido à discriminação e ao pre-</p><p>conceito, 10% de todos os trabalhadores do mundo já se ausentaram</p><p>do trabalho devido ao transtorno depressivo e a cada ano 400 milhões</p><p>de dias de trabalho são perdidos como consequência dessa doença.</p><p>170</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>(WORLD FEDERATION FOR MENTAL HEALTH, 2017). Na Europa,</p><p>o estresse ocupa a segunda posição entre todas as condições de saúde</p><p>relacionadas ao trabalho, afetando cerca de 40 milhões de pessoas.</p><p>Embora o estresse não seja considerado uma doença, é apontado</p><p>como um dos primeiros sinais de disfunção do organismo, segundo</p><p>a Organização Internacional do Trabalho (OIT). (MINISTÉRIO DA</p><p>FAZENDA, Secretaria da Previdência, 2017).</p><p>O presenteísmo, também, é um problema visto que 6 em cada 10 pes-</p><p>soas relatam que uma saúde mental comprometida implica diretamente a</p><p>sua concentração. Ademais, 94% dos sintomas cognitivos do transtorno</p><p>depressivo, por exemplo, como dificuldade de concentração, de recor-</p><p>dação e de tomada de decisão, estão presentes em 94% dos episódios de</p><p>depressão. (WORLD FEDERATION FOR MENTAL HEALTH, 2017).</p><p>No Brasil, os transtornos mentais e comportamentais são a terceira</p><p>causa de incapacidade para o trabalho, englobando os afastamentos</p><p>temporários e as aposentadorias por invalidez (MINISTÉRIO DA</p><p>FAZENDA, Secretaria da Previdência, 2017). Cerca de 92% dos auxí-</p><p>lios concedidos entre 2012 e 2016, relacionados a transtornos mentais</p><p>e comportamentais foram auxílios-doença não relacionados ao tra-</p><p>balho, seguido por auxílio-doença por acidente de trabalho (7,92%),</p><p>aposentadoria por invalidez e, por último, aposentadoria por invalidez</p><p>por acidente de trabalho. A maior parte dos auxílios são concedidos</p><p>às mulheres (56,98%) na faixa de 30-49 anos, de cor branca, com nível</p><p>médio de escolaridade, com vínculos formais. (Instituto de Saúde</p><p>Coletiva, 2019; MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria da Previ-</p><p>dência; UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017).</p><p>Entre as causas mais prevalentes nos afastamentos não rela-</p><p>cionados ao trabalho estão os episódios depressivos (30,67%),</p><p>outros transtornos ansiosos (17,90%), transtorno depressivo recor-</p><p>rente (10,48%), o transtorno afetivo bipolar (7,97%) e transtornos</p><p>mentais e comportamentais, devido ao uso de múltiplas drogas e</p><p>outras substâncias psicoativas (7,47%). As causas mais prevalentes</p><p>171</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>relacionadas a acidente de trabalho são as “reações ao “stress”</p><p>grave e transtornos de adaptação” (31,05%), episódios depressivos</p><p>(27,11%), outros transtornos ansiosos (21,10%), transtorno depres-</p><p>sivo recorrente (8,65%). (MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria</p><p>da Previdência, 2017).</p><p>FATORES DE AGRAVO E ADOECIMENTO</p><p>Inúmeros aspectos predispõem ao adoecimento psíquico dos</p><p>trabalhadores. Os chamados fatores psicossociais contribuem para</p><p>o aumento da prevalência dos TMRT na atualidade. São característi-</p><p>cas intrínsecas ao trabalhador ou presentes no ambiente de trabalho.</p><p>Podem estar relacionados à organização e ao conteúdo do trabalho</p><p>(remuneração por metas, trabalho em turnos noturnos, empregos que</p><p>lidam diretamente com pessoas), às relações interpessoais no ambiente</p><p>profissional e, ainda, aos aspectos individuais do trabalhador, como</p><p>fatores culturais e psíquicos. (PALMA et al, 2019).</p><p>Figura 1. Ilustração Fatores de Agravo e Adoecimento</p><p>Fonte. Ministério Da Saúde, 2014, P. 4</p><p>172</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>A organização de trabalho no mundo atual é marcada pela globa-</p><p>lização. Devido à alta concorrência entre empresas e a busca, cada vez</p><p>maior, pela alta produtividade com menor custo, é nítido observar o</p><p>crescimento de condições laborativas precárias, como a terceirização</p><p>em larga escala, subcontratação, excessiva fragmentação das etapas</p><p>de trabalho, repetitividade, monotonia, sobrecarga de trabalho, má</p><p>utilização das habilidades dos funcionários, aumento extenuante das</p><p>jornadas e a troca de turnos (ARAÚJO; PALMA; ARAÚJO, 2017). A</p><p>instituição e aceitação desses fatores pelo trabalhador deve-se, sobre-</p><p>tudo, à intensa precarização social do trabalho associada à vulnerabi-</p><p>lidade e insegurança devido à possibilidade de desemprego (ARAÚJO;</p><p>PALMA; ARAÚJO, 2017) e fácil substituição da mão de obra. Somados</p><p>a esse cenário, estão diversos estressores ocupacionais que levam ao</p><p>desequilíbrio psíquico do indivíduo e à supressão do prazer em tra-</p><p>balhar. (PENIDO, 2011).</p><p>Dentre os estressores ocupacionais estão os diversos tipos de vio-</p><p>lência, como o assédio moral e sexual ou o mobbing (diversas formas</p><p>de pressão psicológica ou moral). Segundo a Legislação do Município</p><p>de São Paulo, o assédio moral consiste em práticas repetitivas sejam</p><p>por palavras, gestos ou ações capazes de fazer o indivíduo assediado</p><p>duvidar de si e de sua competência. Tal violência pode ser entendida</p><p>como a perseguição a um funcionário e pode ser exemplificada pela</p><p>atribuição de tarefas com prazos impossíveis, pelo rebaixamento de</p><p>função, por críticas constantes e tentativa de prejuízo à imagem. O</p><p>assédio sexual, por sua vez, majoritariamente vivenciado por mulhe-</p><p>res e há anos banalizado, é marcado pela discriminação em razão do</p><p>gênero, de forma a corroborar a narrativa da mulher como ser frágil</p><p>e incapaz. Frente a esse quadro, o assediado, por muitas vezes, encon-</p><p>tra-se enfraquecido por não conseguir superar tal situação e, ainda,</p><p>incapaz de controlar suas emoções no ambiente profissional estressor.</p><p>(SÃO PAULO apud PENIDO, 2011).</p><p>Em relação aos fatores pessoais do trabalhador, pode-se citar a</p><p>coexistência de estressores ocupacionais e transtornos mentais não</p><p>173</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>relacionados ao trabalho. Segundo a Organização para Cooperação e</p><p>Desenvolvimento Econômico (OECD, 2018) dois aspectos se mostram</p><p>prejudiciais àqueles portadores de transtornos mentais no ambiente</p><p>laboral. Primeiro, o início precoce dos problemas de saúde mental</p><p>na vida e a convivência com tal agravo e suas consequências frente à</p><p>sociedade por muitos anos anteriores ao emprego. Segundo, embora</p><p>a maioria dessas pessoas possuam empregos, essas enfrentam dificul-</p><p>dades para mantê-los e para encontrá-los. A psicofobia (preconceito</p><p>contra indivíduos com algum transtorno e/ou deficiência mental)</p><p>é o principal obstáculo para essas pessoas. O olhar estigmatizante,</p><p>incorporado ao imaginário coletivo devido à ideia de periculosidade e</p><p>incapacidade do doente mental, também, está presente no ambiente de</p><p>trabalho. (NASCIMENTO; LEÃO, 2019). Tal valor cultural é caracte-</p><p>rizado por uma visão de desvalorização, já que sua condição não pode</p><p>ser explicada por uma causa física. Vergonha, humilhação retardam</p><p>a busca por ajuda. (ROCHA; HARA; PAPROCKI, 2015). Ademais,</p><p>a incorporação dessa visão discriminatória como falha pessoal, ina-</p><p>bilidade pessoal e fraqueza (ARAÚJO; PALMA; ARAÚJO, 2017) por</p><p>quem se encontra em sofrimento mental provoca sentimentos de baixa</p><p>autoestima, menor resistência ao estresse ocupacional e incapacidade,</p><p>acelerando o adoecimento psíquico ou reiniciando o ciclo vicioso</p><p>rumo ao afastamento laboral daqueles que já sofriam com um trans-</p><p>torno mental. (ROCHA; HARA; PAPROCKI, 2015).</p><p>Além disso, os problemas da vida privativa relativos à família,</p><p>às finanças, aos relacionamentos conjugais e sociais somam-se aos</p><p>enfrentados na vida profissional, dificultando o equilíbrio psíquico. A</p><p>dupla jornada das mulheres é um exemplo de agravo à saúde mental.</p><p>Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019),</p><p>enquanto os homens, economicamente, ativos dedicam 10,3 horas a</p><p>trabalhos domésticos e/ou cuidados de pessoas por semana, as mulhe-</p><p>res, economicamente, ativas despendem cerca de 80% a mais, em torno</p><p>de 18,5 horas. Acrescido a esses dados, verifica-se uma média salarial</p><p>relacionada ao gênero masculino maior do que ao feminino, com</p><p>174</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>ambos desempenhando a mesma função. Ademais, ao se comparar</p><p>funções diferentes, os homens ocupam, majoritariamente, as posições</p><p>de chefia nas grandes empresas. Sendo assim, é possível constatar a</p><p>maior carga mental atribuída à mulher, de forma a corroborar os dados</p><p>sobre maiores números de notificações e concessão de benefícios de</p><p>TMRT referentes ao sexo feminino.</p><p>No entanto, ainda que, estatisticamente,</p><p>a maior parte dos bene-</p><p>fícios sejam concedidos às mulheres, os homens recebem um maior</p><p>valor médio e ficam por mais tempo afastados. Essa diferença pode</p><p>ser explicada pela desigualdade salarial em relação ao gênero e pela</p><p>dificuldade do homem em reconhecer a própria fragilidade e vulne-</p><p>rabilidade. (MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria da Previdên-</p><p>cia, 2017). Isso ocorre devido à construção sociocultural baseada no</p><p>machismo e patriarcado, levando a busca por auxílio somente com o</p><p>agravamento do quadro.</p><p>Como via final, resultante dos agravos por fatores psicossociais,</p><p>estressores ocupacionais ou, ainda, por exposição a fatores químicos</p><p>neurotóxicos, (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA,</p><p>2014) o trabalhador pode apresentar sintomas subjetivos como raiva,</p><p>irritabilidade, falta de concentração, humor depressivo, reações ansiosas,</p><p>tensão e apatia. Além disso, o trabalhador pode apresentar transtorno</p><p>psiquiátrico e/ou comportamental somatizados ou não a alguma mani-</p><p>festação física, como as tensões musculares ou os acidentes de trabalho,</p><p>influenciados pelo estresse ocupacional, o que leva a intenso prejuízo</p><p>em seu desempenho profissional. (HARRISON; LADOU, 2016).</p><p>De forma geral, alguns comportamentos do trabalhador ou</p><p>da trabalhadora merecem encaminhamento para avaliação de um</p><p>médico. São eles: humor instável, comportamentos erráticos, expo-</p><p>sição a algum trauma associado ao risco de morte, recente histórico</p><p>de traumatismo craniano fechado, uso de qualquer tipo de violência</p><p>para com os colegas ou alteração inexplicável do rendimento profis-</p><p>sional. (HARRISON; LADOU, 2016).</p><p>175</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>No momento da consulta, alguns possíveis transtornos podem ser</p><p>diagnosticados, como o transtorno de adaptação e a reação ao estresse</p><p>grave, sendo os mais prevalentes. Somados a isso encontram-se os</p><p>transtornos de ansiedade, o transtorno do estresse pós-traumático</p><p>(TEPT), a fadiga crônica, os distúrbios do sono, o transtorno depres-</p><p>sivo maior, o alcoolismo crônico, o burnout, entre inúmeros outros.</p><p>(MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria da Previdência, 2017).</p><p>Outros transtornos que, também, merecem destaque pela posi-</p><p>ção ocupada nas concessões de benefícios do INSS são aqueles rela-</p><p>cionados ao abuso de substâncias. Esses configuram entre o que os</p><p>especialistas chamam de comportamento para aguentar e/ou lidar</p><p>com determinada situação ou, também, conhecido como “coping</p><p>behaviour” (MINISTÉRIO DA FAZENDA, Secretaria da Previdência</p><p>Social, 2017). O diagnóstico de abuso de substâncias pode ser feito</p><p>ao observar sintomas como dependência, tolerância e abstinência.</p><p>(LADOU; HARRISON, 2016).</p><p>Apesar do conhecimento desses dados, a dificuldade de precisar</p><p>exposição e adoecimento é uma das grandes barreiras para os profis-</p><p>sionais de saúde estabelecerem o nexo causal e realizarem o correto</p><p>diagnóstico dos TMRT, fator que contribui para suas subnotificações.</p><p>(PALMA et al, 2019). Tais profissionais de saúde, em sua maioria,</p><p>carecem de uma visão holística sobre o paciente, principalmente, nas</p><p>consultas de rotina. A impossibilidade, ou dificuldade de se obter</p><p>as informações necessárias pode acarretar atraso de diagnóstico e</p><p>agravamento do sofrimento psíquico e/ou psicossomático, levando à</p><p>subnotificação e ao aumento do número de afastamentos temporários</p><p>por TMRT. (PALMA et al. 2019).</p><p>SÍNDROME DE BURNOUT</p><p>A Síndrome de Burnout foi reconhecida pelo Ministério da Saúde</p><p>por meio da Portaria nº 1339 em 18 de novembro de 1999, pois não</p><p>176</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>está descrita na décima edição da Classificação Estatística Internacio-</p><p>nal de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 10). A</p><p>CID 11, prevista para entrar em vigor em 2022, institui a Síndrome</p><p>de Esgotamento Profissional em sua listagem. (OPAS, 2018).</p><p>Esgotamento físico e psíquico, indiferença, perda de personalidade</p><p>e baixa satisfação profissional. São esses os três sinais clínicos clássi-</p><p>cos da Síndrome de Burnout. Tal fenômeno é abordado em diversos</p><p>artigos publicados nos últimos anos, especificando seu conceito, os</p><p>sinais e sintomas, as consequências e as medidas para sua prevenção.</p><p>Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho</p><p>(ANAMT), o conceito mais usado para tal condição é</p><p>[...] um estado físico, emocional e mental de</p><p>exaustão extrema, que resulta do acúmulo</p><p>excessivo em situações de trabalho emocional-</p><p>mente exigentes e principalmente estressantes,</p><p>que demandam muita competitividade ou res-</p><p>ponsabilidade. (ANAMT, 2019).</p><p>A exaustão extrema ocorre, principalmente, em profissionais</p><p>que iniciam suas carreiras com o objetivo de ajudar outras pessoas.</p><p>Segundo a ANAMT (2019), os trabalhos mais estressantes envol-</p><p>vem bombeiros, militares, policiais, jornalistas, altos executivos,</p><p>médicos, enfermeiros que trabalham em UTI e emergências, econo-</p><p>mistas e professores. Esses profissionais podem desenvolver sinais</p><p>e sintomas, como dor de cabeça frequente, alterações no apetite,</p><p>fadiga, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais</p><p>e alteração nos batimentos cardíacos, além de cansaço excessivo,</p><p>insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de fracasso</p><p>e insegurança, negatividade constante, sentimentos de derrota,</p><p>desesperança e incompetência, alterações repentinas de humor e</p><p>isolamento social. (ANAMT, 2019). Dessa forma, configuram-se</p><p>como sinal de alerta do esgotamento emocional, indicando a busca</p><p>por avaliação e intervenção precoces.</p><p>177</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>A Síndrome de Burnout tem consequências nos aspectos psicoló-</p><p>gico, físico e laboral. No âmbito físico, os possíveis efeitos são hiperco-</p><p>lesterolemia, diabetes tipo 2, doença cardíaca coronariana, internação</p><p>por desordem cardiovascular, dor musculoesquelética, alterações nas</p><p>experiências de dor, fadiga prolongada, dores de cabeça, problemas</p><p>gastrointestinais, problemas respiratórios, lesões graves e mortalidade</p><p>abaixo dos 45 anos. Já no aspecto psicológico, as consequências dessa</p><p>síndrome incluem insônia, sintomas depressivos, uso de medicamen-</p><p>tos psicotrópicos e antidepressivos, internação por transtornos mentais</p><p>e sintomas psicológicos de saúde. O Burnout também provoca proble-</p><p>mas no trabalho, como insatisfação, absenteísmo, aposentadoria por</p><p>invalidez, demandas de emprego, recursos do trabalho e presenteísmo.</p><p>(SALVAGIONI et al., 2017).</p><p>Diante das consequências graves que podem decorrer da Síndrome</p><p>de Burnout, nota-se a importância da avaliação e intervenção precoces</p><p>nesses quadros. Ademais, a prevenção através de medidas educacionais</p><p>para empregadores, programas de assistência aos trabalhadores, além</p><p>de outras medidas mostram-se fundamentais para que os profissionais</p><p>que cuidam dos outros não descuidem de si.</p><p>CONSEQUÊNCIAS DOS TRANSTORNOS MENTAIS</p><p>RELACIONADOS AO TRABALHO PARA AS</p><p>ORGANIZAÇÕES</p><p>Os transtornos mentais relacionados ao trabalho trazem diversas</p><p>consequências tanto para os indivíduos, como já discutidas, quanto</p><p>para as organizações. Dentre os efeitos para as instituições estão o</p><p>presenteísmo, o absenteísmo, a baixa produtividade e os problemas</p><p>em segurança do trabalho.</p><p>O presenteísmo pode ser definido como o fato de se estar</p><p>no trabalho mesmo percebendo limitações, físicas ou psíquicas,</p><p>que podem reduzir a capacidade laborativa. Tais dificuldades</p><p>178</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>manifestam-se por falta de vontade de ir ao trabalho, indisposi-</p><p>ção, desânimo e/ou falta de concentração para realizar as tarefas. A</p><p>prevalência do presenteísmo entre os trabalhadores da indústria é</p><p>de 57,6%, segundo Pie et al. (2020). Esse estudo permitiu concluir</p><p>que ser mais jovem e com maior escolaridade, referir dor ou des-</p><p>conforto, ter qualidade do sono comprometida, apresentar estresse</p><p>e sentimentos negativos em relação à vida são fatores associados à</p><p>percepção de prejuízo na capacidade para o</p><p>trabalho. Além disso, o</p><p>presenteísmo pode ser resultado da forte competitividade e do fato</p><p>de a presença assídua ser critério de valorização em determinadas</p><p>carreiras. (PIE et al., 2020).</p><p>As condições de saúde mental no trabalho mostram uma alta</p><p>carga de custo para as organizações. Segundo estudo japonês, rea-</p><p>lizado por Nagata et al. (2018), ao avaliar os custos totais, o valor</p><p>monetário devido ao presenteísmo por pessoa por ano é de US$</p><p>3.055 (64%). Já o valor monetário devido ao absenteísmo - ausência</p><p>ao trabalho – é de US$ 520 por pessoa por ano (11%). As pesquisas</p><p>apontam, de modo geral, que ir ao trabalho com limitações, sejam</p><p>físicas ou psíquicas, tem maior prevalência e maior proporção de</p><p>custos do que a falta ao emprego.</p><p>Além do presenteísmo e do absenteísmo, a depressão está entre as</p><p>condições de maiores perdas de produtividade. Devido ao desânimo, a</p><p>falta de concentração e a insegurança, o trabalhador deprimido passa</p><p>a ter um rendimento menor em sua atividade laboral, o que causa</p><p>frustração, agravando seu quadro depressivo. Esse estado clínico, por</p><p>sua vez, culmina em afastamentos. (ANAMT, 2019).</p><p>Por outro lado, há uma relação multifatorial entre estresse ocu-</p><p>pacional e problemas de segurança no ambiente de trabalho. A alta</p><p>demanda da função representa fator independente para lesão ocupa-</p><p>cional. Uma pesquisa realizada com motoristas de ônibus demons-</p><p>trou que as demandas psicológicas da função estiveram relacionadas</p><p>com lesão da coluna vertebral. Além disso, o estresse relacionado ou</p><p>179</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>não ao trabalho foi associado de forma consistente aos transtornos</p><p>dolorosos do membro superior. (LADOU; HARRISON, 2016). Dessa</p><p>forma, as lesões e acidentes provocados pelo estresse ocupacional</p><p>geram gastos para as empresas.</p><p>PREVENÇÃO</p><p>A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, em 2015, a</p><p>seguinte meta a ser alcançada pelos países até 2030: “assegurar uma</p><p>vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”,</p><p>contemplando, assim, a promoção da saúde mental. Porém, para que</p><p>essa meta seja concretizada, é necessário se atentar para os aspec-</p><p>tos psíquicos dos trabalhadores. Apesar de não haver consenso de</p><p>medidas para a saúde mental no trabalho, percebe-se a importância</p><p>de investir em intervenções que elevem a produtividade, reduzam o</p><p>absenteísmo e os custos. (WORLD FEDERATION FOR MENTAL</p><p>HEALTH, 2017; Wagner S.L. et al, 2016).</p><p>No ambiente laboral, pode-se desenvolver a prevenção pri-</p><p>mária, secundária e terciária. A primária consiste na redução do</p><p>surgimento de novos casos de adoecimento mental, por meio da</p><p>alteração ou eliminação dos riscos ligados ao comprometimento</p><p>mental. A secundária objetiva prover mecanismos para que o cola-</p><p>borador possa enfrentar os fatores estressores. E a prevenção ter-</p><p>ciária relaciona-se com funcionários já, mentalmente, enfermos</p><p>e seu processo de reabilitação e retomada das atividades laborais.</p><p>(CAHILL, 1996; HURRELL & MURPHY, 1996; KELLOWAY et al.,</p><p>2008; LAMONTAGNE et al., 2007; LAMONTAGNE et al., 2012</p><p>apud MEMISH et al., 2017).</p><p>Dessa forma, uma das ações profiláticas é o incentivo ao autocui-</p><p>dado e autoconsciência, a fim de o trabalhador ser capaz de identificar</p><p>seu esgotamento, seu limiar profissional e seus sofrimentos. (SAN-</p><p>CHEZ-REILLY et al., 2013). A técnica de Mindfulness, que consiste</p><p>180</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>em atenção plena no presente, com senso de curiosidade e aceitação</p><p>(HILTON et al., 2019), tem sido considerada uma efetiva interven-</p><p>ção para a redução do estresse, da ansiedade e da depressão, além de</p><p>promover um aumento da atenção e concentração do trabalhador.</p><p>(BOTHA, GWIM, PURPORA, 2015).</p><p>Outra atividade relatada como benéfica para a redução do estresse</p><p>ocupacional é a prática de exercício físico como intervenção sobre</p><p>a saúde mental dos funcionários. (CALOGIURI et al., 2016; KET-</p><p>TUNEN et al., 2015 apud PARK & JANG, 2019). Para Calogiuri et</p><p>al (2016), o estímulo à atividade física impacta, significativamente,</p><p>sobre a saúde mental dos trabalhadores, ainda mais se acontecer em</p><p>ambientes abertos, em contato com a natureza.</p><p>Além de tais ações, outras podem ser estimuladas e/ou promovidas</p><p>pelos empregadores, dentre elas, têm-se o incentivo a atividades de</p><p>lazer e abordagens que visem ao equilíbrio entre a vida profissional</p><p>e pessoal. (KASCHAKA et al., 2009; SHANAFELT et al., 2012 apud</p><p>WORLD FEDERATION FOR MENTAL HEALTH, 2017). Em nível</p><p>coletivo, os empregadores podem criar sistemas de valorização dos</p><p>funcionários; melhoria dos ambientes laborais, a fim de torná-los mais</p><p>agradáveis; programa de reconhecimento precoce de sinais de burnout;</p><p>campanhas de prevenção do bullying; e promoção do gerenciamento</p><p>do estresse. (NICE, 2015; MASLACH & LEITER, 2008; ALLEN et al.,</p><p>2015; GÜNTHNER & BATRA, 2012 apud WORLD FEDERATION</p><p>FOR MENTAL HEALTH, 2017).</p><p>Desse modo, percebe-se que as intervenções profiláticas na saúde</p><p>mental podem trazer repercussões relevantes no cenário individual,</p><p>social e financeiro. Isso ocorre porque ter boa saúde física e mental</p><p>colaboram para qualidade de vida, comprometimento e produtividade</p><p>no trabalho. (MCBAID, 2008 apud WORLD FEDERATION FOR</p><p>MENTAL HEALTH, 2017).</p><p>181</p><p>SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Diante dos inúmeros dados e das explanações apresentados neste</p><p>capítulo, pode-se ressaltar a importância da saúde mental para uma</p><p>melhor qualidade de vida não só do trabalhador e da trabalhadora</p><p>brasileiros, mas para todo o núcleo familiar e social dos indivíduos,</p><p>assim como para a economia nacional. Embora apresentadas as van-</p><p>tagens econômicas em fomentar a saúde mental, percebem-se os bai-</p><p>xos investimentos realizados nessa área e a dificuldade de tomada de</p><p>consciência dos diversos setores da sociedade. Sendo assim, apesar dos</p><p>avanços já alcançados por meio da difusão de iniciativas promotoras</p><p>de saúde mental, salienta-se a necessidade de esforço contínuo para</p><p>que a mentalidade mecanicista do modo de organização capitalista</p><p>vigente seja substituída pela perspectiva holística.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALLEN, B.C., HOLLAND, P., REYNOLDS, R. (2015). The effect of bullying on</p><p>burnout in nurses: the moderating role of psychological detachment. Journal of</p><p>Advanced Nursing, Fev; 71 (2):381-90.</p><p>AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de</p><p>Transtornos Mentais [recurso eletrônico]: DSM - 5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.</p><p>ANAMT - Associação Nacional de Medicina do Trabalho. 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Para esse estudo, se faz necessário observar o papel da</p><p>mulher no ambiente familiar e na sociedade ao longo do tempo, para</p><p>que possamos definir como foi formado seu papel como trabalhadora.</p><p>A nova divisão sexual do trabalho, no capitalismo, diferenciou</p><p>não somente o trabalho entre homem e mulher, mas também suas</p><p>1 Acadêmicos do Curso de Medicina, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Médica de Família e Comunidade, Homeopata, Mestre em Educação e Professora do Curso</p><p>de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Campus Mucuri</p><p>(UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>187</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>experiências e suas vidas. Dessa forma, a crença social de que existem</p><p>tarefas que devem ser exercidas pelos homens e outras que devem ser</p><p>exercidas pelas mulheres, destinou a mulher ao “cuidar”, que é visto</p><p>como característica inerente ao feminino.</p><p>A feminilidade, como criação histórico-cultural, portanto, deter-</p><p>minou a posição social da mulher, sua atividade laboral e, consequen-</p><p>temente, os impactos disso no processo de adoecimento. Apesar do</p><p>aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, ainda,</p><p>nos deparamos com ações pouco resolutivas diante da saúde da tra-</p><p>balhadora e do que é próprio da mulher. Neste capítulo, abordaremos</p><p>as condições de trabalho e vida femininos, os impactos específicos</p><p>em sua saúde e como é fundamental serem propostas, estratégias que</p><p>contemplem essas especificidades.</p><p>SEGURANÇA E SAÚDE DA TRABALHADORA</p><p>O movimento feminino para garantir a segurança e a saúde</p><p>da mulher, possui vitórias bastante tardias na História. O Brasil</p><p>acompanhou o cenário mundial, visto que foi apenas na Constitui-</p><p>ção de 1934 que se assegurou, por exemplo, a assistência médica e</p><p>sanitária à gestante, antes e depois do parto, sem prejuízo do salário</p><p>e do emprego. (CARVALHO; SILVA; SANTOS, 2018).</p><p>A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que os homens e as</p><p>mulheres são iguais em direitos e obrigações, o que foi uma grande</p><p>conquista diante da posição de inferioridade e submissão em que</p><p>viviam as mulheres. Em relação às trabalhadoras, é importante</p><p>ressaltar que a discriminação no mercado de trabalho passou a ser</p><p>proibida. (BRASIL, 1988).</p><p>Foi a referida Constituição que atribuiu ao Sistema Único de Saúde</p><p>(SUS) todas as ações em saúde do trabalho por meio da Política Nacional</p><p>de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNST), oficialmente insti-</p><p>tuída em 2012. Nesse contexto, é importante considerar as especificidades</p><p>188</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>da mulher dentro da Política Nacional, assim como as demais Políticas</p><p>Públicas Nacionais existentes e analisar as estratégias propostas para pro-</p><p>teção e promoção da saúde da trabalhadora. (BRASIL,1988).</p><p>A PNST alinha-se com as políticas de saúde do SUS e considera a</p><p>transversalidade das ações em saúde e o trabalho como um dos deter-</p><p>minantes do processo saúde-doença. Essa política possui princípios</p><p>a serem observados pelas três esferas de gestão, de modo a garantir</p><p>atenção integral à saúde do trabalhador e da trabalhadora, com ênfase</p><p>na vigilância, na promoção, na proteção da saúde dos trabalhadores</p><p>e na redução da morbimortalidade. (BRASIL, 2012).</p><p>Em suas diretrizes, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde</p><p>da Mulher se propõe a atender dois eixos: a perspectiva de gênero,</p><p>de raça e de etnia, que deve nortear a política, e a ampliação da saúde</p><p>sexual e reprodutiva para todos os aspectos da saúde feminina.</p><p>Apesar dos resultados positivos dessa política, alguns desafios</p><p>podem ser vistos. Dentre eles podemos citar as dificuldades em</p><p>garantir a saúde das mulheres de forma integral, devido a aborda-</p><p>gens biomédicas reducionistas, a não contextualização da mulher no</p><p>campo das relações de gênero, o domínio da heteronormatividade,</p><p>os comprometimentos na prestação dos serviços de saúde e as</p><p>questões estruturais que reduzem o acesso à saúde. (BRASIL, 2011</p><p>apud GOMES, 2017).</p><p>Essas dificuldades traduzem-se, na prática, em fatores que impac-</p><p>tam a qualidade de vida. Marcacine et al (2019) analisaram a quali-</p><p>dade de vida de mulheres trabalhadoras por meio do Instrumento</p><p>Abreviado de Avaliação de Qualidade de Vida (WHOQOL-bref). Os</p><p>autores evidenciaram que o domínio do meio ambiente, que avalia,</p><p>entre outros aspectos, segurança física e proteção, recursos financeiros,</p><p>cuidados de saúde e ambiente físico, foi o que contribuiu de forma</p><p>mais negativa no bem-estar geral das participantes. Nesse domínio,</p><p>a faceta de cuidados em saúde, no sentido de acesso aos serviços de</p><p>saúde, foi a que obteve pior pontuação.</p><p>189</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>Percebe-se, assim, a necessidade de adequações nos serviços</p><p>que os deixem mais alinhados com a realidade da população à qual</p><p>se destinam: grande parte das Unidades Básicas de Saúde - as quais</p><p>devem promover o atendimento de rotina e o cuidado continuado</p><p>dos pacientes - funcionam em regime de 40 horas semanais, o que</p><p>dificulta o acesso da população que trabalha nesse mesmo esquema</p><p>de horário.</p><p>A ampliação dos horários de atendimento - como possibilitado</p><p>pela Portaria n° 930 do Ministério da Saúde, de 15 de maio de 2019</p><p>- seria um dos mecanismos para melhoria dessa realidade, mas a</p><p>questão continua sendo desafiadora, uma vez que o simples fato de</p><p>o local físico da Unidade encontrar-se aberto por mais tempo, não</p><p>garante o acesso ao cuidado. Há também, por exemplo, de se suprir a</p><p>necessidade de mais profissionais de saúde qualificados para atender</p><p>a essa</p><p>população.</p><p>De acordo com publicação federal da Secretaria Especial de Polí-</p><p>ticas para as Mulheres (2017), no Brasil, a ausência de políticas públi-</p><p>cas deve-se a uma sociedade que, ainda, acredita na manutenção das</p><p>mulheres em trabalhos precários e informais ou no cumprimento das</p><p>tarefas domésticas. No que tange a saúde, a existência de um sistema</p><p>público e universal é indispensável para a assistência às mulheres e</p><p>o comprometimento com suas necessidades específicas. Assim, são</p><p>fundamentais ações de promoção e prevenção à saúde; prevenção</p><p>e atendimento ao câncer, a doenças sexualmente transmissíveis;</p><p>às doenças infecto-contagiosas, à anemia falciforme e às doenças</p><p>cardiovasculares, entre outras.</p><p>Os direitos sociais trabalhistas que se destinam à manutenção</p><p>de um ambiente laboral saudável para as mulheres devem objetivar</p><p>a dignidade da pessoa, sua segurança jurídica e social, de modo a</p><p>promover a qualidade de vida da mulher. É notável o desrespeito aos</p><p>direitos femininos quando analisamos o atual cenário laboral das</p><p>mulheres, especialmente o das gestantes e lactantes. (CARVALHO;</p><p>190</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>SILVA; SANTOS, 2018). Quando se trata da mulher, há a discrimi-</p><p>nação nas relações de trabalho, a sobrecarga de responsabilidades no</p><p>trabalho doméstico e outras agendas que serão discutidas no decorrer</p><p>deste capítulo.</p><p>DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E SAÚDE DA MULHER</p><p>A história da mulher no trabalho é marcada pela divisão sexual,</p><p>a qual foi fomentada pela ideologia da sociedade capitalista do século</p><p>XlX, que associou à figura feminina o papel “natural” de provedora de</p><p>cuidados do lar. Tal função é tida como “invisível” e não remunerada,</p><p>ao passo que aos homens foi atribuída a tarefa de sustento financeiro,</p><p>que conferia poder e prestígio. (SOUSA; GUEDES, 2016). Nesse con-</p><p>texto, as mulheres que pertenciam a classes sociais menos favorecidas,</p><p>as quais necessitavam trabalhar em troca de seu sustento, encontra-</p><p>vam-se sujeitas a remunerações insignificantes, longas jornadas de</p><p>trabalho e condições de trabalho precárias – desvalorização e explo-</p><p>ração mais intensa do que a sofrida pelos homens. (DAVIS, 2016).</p><p>No Brasil, até 1989, o artigo 446 da Consolidação das Leis do</p><p>Trabalho (CLT) reforçava o papel de “cuidadora” da mulher, visto</p><p>que conferia ao marido o direito de requerer na justiça a rescisão do</p><p>contrato de trabalho quando este fosse “suscetível de acarretar ameaça</p><p>aos vínculos da família ou perigo manifesto às condições peculiares</p><p>da mulher” (BRASIL, 1943), ou seja, quando atrapalhasse os afazeres</p><p>domésticos. (HIGA, 2016).</p><p>Atualmente, apesar dos avanços alcançados com o movimento</p><p>feminista e das evoluções vivenciadas no âmbito socioeconômico e</p><p>cultural, a sociedade, ainda, apresenta resquícios do modelo patriar-</p><p>cal. Tal realidade se evidencia na divisão sexual do trabalho ainda</p><p>presente, uma vez que a ascensão da mulher no mercado não tem</p><p>sido acompanhada de diminuição das responsabilidades domésticas,</p><p>bem como ainda persiste a hierarquia e maior valorização do trabalho</p><p>191</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>masculino. (SOUSA; GUEDES, 2016). Nesse sentido, torna-se perti-</p><p>nente a avaliação dos impactos que tal realidade pode causar sobre a</p><p>saúde da trabalhadora.</p><p>Na trajetória de reconfigurações sociais, a mulher encontra-se</p><p>em um contexto de sobrecarga laboral. Tal situação deve-se ao fato</p><p>de que o modelo tradicional vem, progressivamente, cedendo lugar</p><p>ao modelo de conciliação, no qual as mulheres apropriam-se tanto da</p><p>vida profissional como da vida doméstica, uma vez que sua entrada no</p><p>mercado de trabalho não as isentam de responsabilidades primárias</p><p>com a família. (PASSOS; GUEDES, 2018).</p><p>Assim, a maioria das mulheres estão sujeitas a uma dupla jornada</p><p>de trabalho ou, inclusive, tripla (quando engajadas em processos de</p><p>capacitação profissional) visto que apenas uma pequena parte, com nível</p><p>de renda mais elevado, tem a oportunidade de comprar os serviços de</p><p>cuidados e de tarefas domésticas. (PASSOS; GUEDES, 2018). Nessa con-</p><p>juntura, a sobrecarga laboral, enfrentada pela mulher, pode tornar mais</p><p>vulnerável tanto a sua saúde física, quanto, principalmente, a mental.</p><p>Nesse contexto, segundo estudo realizado por Pinho e Araújo</p><p>(2012), os Transtornos Mentais Comuns (TMC), caracterizados por</p><p>sintomas como fadiga, esquecimento, irritabilidade, insônia, dificul-</p><p>dade de concentração, dores de cabeça e queixas psicossomáticas,</p><p>acometem mais frequentemente as mulheres. Além disso, de acordo</p><p>com o mesmo estudo, há uma maior prevalência dos transtornos em</p><p>questão entre mulheres com sobrecarga doméstica e com falta de ajuda</p><p>na realização das tarefas de casa.</p><p>Outrossim, a ausência de atividades regulares de lazer também</p><p>está relacionada à maior prevalência de TMC, revelando que a sobre-</p><p>carga de trabalho, e a conseguinte diminuição do tempo livre, pode</p><p>comprometer a saúde psíquica das mulheres, ocasionando sofrimento</p><p>mental. (PINHO; ARAÚJO, 2012).</p><p>O acesso das mulheres ao estudo e trabalho vem se fortalecendo.</p><p>Contudo, como forma de mediar as tarefas internas e externas, elas</p><p>192</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>buscam alternativas como flexibilização no trabalho, trabalhos tem-</p><p>porários e/ou em tempo parcial. Essas práticas, porém, se mostram</p><p>danosas, profissionalmente, pois dificultam sua melhor inserção e</p><p>permanência em empregos melhores e bem remunerados. (PASSOS;</p><p>GUEDES, 2018).</p><p>Ademais, as mulheres enfrentam, na sociedade, o fenômeno “teto</p><p>de vidro”. Trata-se de uma metáfora utilizada pela literatura para desig-</p><p>nar a existência de uma barreira invisível que dificulta a ascensão delas</p><p>no mercado de trabalho e restringe as suas chances de alcançarem</p><p>melhores postos e rendimentos laborais. (PASSOS; GUEDES, 2018).</p><p>Tal fenômeno é sustentado pelo fato de que, apesar da sua progres-</p><p>siva qualificação, ainda há sub-representação feminina nos altos postos</p><p>de comando, ao passo que os homens estão mais concentrados nos car-</p><p>gos superiores de todos os setores econômicos, bem como nas esferas de</p><p>chefia, gerência, diretoria e presidência das empresas. (FERNANDEZ,</p><p>2019). Dessa maneira, o “teto de vidro” apresenta-se como mais uma</p><p>potente base para a discrepância salarial entre homens e mulheres.</p><p>Nesse contexto, tal desvalorização do trabalho feminino também</p><p>se caracteriza como uma realidade, potencialmente, desfavorável à</p><p>vida saudável, pois os impactos da inserção no trabalho sobre a saúde</p><p>e bem-estar dependem da posição ocupada no sistema produtivo e do</p><p>tipo de trabalho exercido. (IGUTI; MONTEIRO, 2017).</p><p>Assim, ocupações mal remuneradas, de baixa qualificação e</p><p>prestígio, inseguras, que restringem o grau de autonomia e o poder</p><p>decisório, não favorecem a saúde, ao contrário do que ocorre com</p><p>os trabalhos mais qualificados. (BUTTERWORTH et al, 2011 apud</p><p>IGUTI; MONTEIRO, 2017).</p><p>Além disso, o sentimento de solidão está presente duas vezes mais</p><p>nas mulheres com menor nível socioeconômico. (IGUTI; MON-</p><p>TEIRO, 2017). Dessa forma, tendo em vista que a remuneração e o</p><p>nível socioeconômico se influenciam mutuamente, perpetua-se um</p><p>círculo vicioso que prejudica a saúde da trabalhadora.</p><p>193</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>Torna-se evidente, portanto, a importância de realizar estudos</p><p>sobre a influência da divisão sexual do trabalho na saúde das mulhe-</p><p>res, a fim de fomentar o planejamento de políticas públicas efetivas.</p><p>MATERNIDADE E TRABALHO</p><p>A consolidação dos direitos trabalhistas das mulheres foi con-</p><p>cebida conjuntamente aos direitos trabalhistas gerais, por meio da</p><p>Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em 1943. Esses direitos</p><p>tratam, em linhas gerais, da maternidade - da gestação aos primei-</p><p>ros anos de vida das crianças - dentro do mercado de trabalho.</p><p>Assim, por meio desse documento, foram estabelecidos o direito</p><p>à licença gestante e horário especial de trabalho para proteção</p><p>à</p><p>amamentação, entre outros importantes aspectos que protegem</p><p>a saúde do binômio mãe/bebê. A Reforma Trabalhista de 2017</p><p>não trouxe extensas alterações no que diz respeito a tais garantias,</p><p>abordando a funcionária gestante apenas no que diz respeito à</p><p>atividades insalubres.</p><p>A Constituição Federal de 1988 reiterou diversos pontos da CLT,</p><p>assim como estabeleceu “a proteção do mercado de trabalho da</p><p>mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei» e vedou</p><p>“a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde</p><p>a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.”</p><p>As determinações supracitadas contribuíram para maior inser-</p><p>ção e manutenção das mulheres no mercado de trabalho, ao tentar</p><p>coibir que a maternidade se configure um motivo para a exclu-</p><p>são feminina do mercado. Cabe ressaltar o direito à creche como</p><p>grande pilar dentro desse cenário, uma vez que extrapola o campo</p><p>legal. Essa garantia estabelece-se, na prática, como uma rede fun-</p><p>cional de apoio à mulher e às famílias, possibilitando que a mulher</p><p>trabalhadora mantenha-se em sua ocupação e que isso possa ser</p><p>feito “sem o sacrifício da vida cotidiana, sem dupla jornada, sem</p><p>194</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>penalização das crianças, elementos fundamentais para redefi-</p><p>nir a divisão do trabalho doméstico. (SOUZA-LOBO, 2011 apud</p><p>SCHIFINO, 2015).</p><p>Os direitos adquiridos na Constituição devem ser vistos não ape-</p><p>nas como facilitadores do trabalho feminino após a maternidade, mas</p><p>também como ferramenta na remodelação das relações entre gêneros</p><p>e dos papéis socialmente estabelecidos a cada um deles. Conforme</p><p>discutido, anteriormente, neste capítulo, é relevante o processo de</p><p>redução das desigualdades de direitos individuais, sociais, políticos</p><p>e econômicos.</p><p>Contudo, mesmo com as garantias determinadas por lei, na prá-</p><p>tica, a manutenção da mulher no mercado de trabalho após a mater-</p><p>nidade, ainda, não é tão efetiva. Um estudo realizado por Machado e</p><p>Neto (2016) evidenciou que as taxas de mulheres empregadas no mer-</p><p>cado de trabalho formal caem de forma acentuada, principalmente,</p><p>cinco meses após o parto, período de proteção no emprego, e que três</p><p>anos depois, quase metade dessas mulheres estava fora do mercado de</p><p>trabalho formal. Tal pesquisa também evidenciou que mulheres com</p><p>maior nível educacional tinham maior probabilidade de se manterem</p><p>empregadas após a licença-maternidade. Ou seja, mulheres com menor</p><p>escolaridade e, provavelmente, menores salários, são mais facilmente</p><p>substituídas em suas ocupações e mais sujeitas a aumento de sua vul-</p><p>nerabilidade social e econômica após a maternidade.</p><p>Apesar de o estudo supracitado ser apenas uma análise de dados e</p><p>não contar com as justificativas do afastamento das mulheres do mer-</p><p>cado formal de trabalho, é necessário questionar quais mecanismos</p><p>presentes, ou ausentes, em nossa sociedade produzem esse cenário</p><p>em que a maternidade se relaciona com o desligamento do mercado</p><p>formal. Esses resultados podem apontar para uma, ainda, frágil rede</p><p>de apoio à mães trabalhadoras, especialmente, em classes menos</p><p>favorecidas economicamente, e uma necessidade de correção dessas</p><p>deficiências para garantir equidade de direitos entre classes e gêneros.</p><p>195</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>SAÚDE SEXUAL DA MULHER TRABALHADORA</p><p>Para compreender a necessidade de discorrer sobre a saúde sexual</p><p>da trabalhadora, precisamos evocar alguns fatos da História do Brasil.</p><p>Escravas africanas eram violentadas antes mesmo de chegarem em</p><p>terras brasileiras. (GOMES, 2019). Diversos acontecimentos como</p><p>esse inundam a história das mulheres trabalhadoras e são fatores que</p><p>afetam suas vidas até hoje. (DAVIS, 2016).</p><p>Vivemos em uma sociedade em que o patriarcado dita as relações</p><p>de gênero e sexo. Ainda hoje, as mulheres são oprimidas e definidas</p><p>como objetos que devem servir às necessidades dos homens. Isso se</p><p>reflete no ambiente de trabalho, assim como em outros ambientes</p><p>ocupados por mulheres. O trabalho pode ser um dos principais lugares</p><p>de assédios sexuais, assédios morais e violência. Tendo em vista esse</p><p>cenário é necessária uma discussão sobre a saúde sexual da mulher</p><p>trabalhadora. (MIGUEL; BIROLI, 2014).</p><p>As relações de poder envolvidas no trabalho, assim como a desi-</p><p>gualdade de gênero, são as causas principais da violência sofrida</p><p>por mulheres no âmbito profissional. Danos psicológicos e físicos,</p><p>são consequências diretas dos atos de assédio. Existe a possibilidade</p><p>do desenvolvimento de Síndromes Depressivas, Síndrome de Bur-</p><p>nout, automutilação e em casos mais graves, o assassinato da vítima.</p><p>(GUSSO, LOPES e SILVA, 2018). Queda de produtividade, destruição</p><p>das relações organizacionais e diminuição da rentabilidade são con-</p><p>sequências institucionais do assédio. (FONSECA, 2018).</p><p>O papel dos profissionais de saúde é essencial no atendimento e pre-</p><p>venção à violência contra mulheres. Estes devem zelar pela proteção à</p><p>integridade física e emocional das vítimas de violências, em atendimentos</p><p>emergenciais e, também, participar de ações preventivas, como as de edu-</p><p>cação em saúde nas comunidades. Segundo o Código de Ética Médica,</p><p>o profissional médico tem a obrigatoriedade de denunciar atos relatados</p><p>em consultas, conforme explicitado no parágrafo que segue:</p><p>196</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Parágrafo único. Caso ocorram quaisquer</p><p>atos lesivos à personalidade e à saúde física ou</p><p>mental dos pacientes confiados ao médico, este</p><p>estará obrigado a denunciar o fato à autoridade</p><p>competente e ao Conselho Regional de Medi-</p><p>cina”. (CFM, 2018).</p><p>Ter uma visão holística e construir um bom relacionamento médico-</p><p>-paciente é essencial para criar um ambiente seguro durante a consulta,</p><p>permitindo que as mulheres violentadas se sintam mais confortáveis ao</p><p>pedir ajuda. (HIGA, 2016). A informação de que os atos de assédio, ou</p><p>qualquer outra violência, podem ser combatidas e denunciadas, e que</p><p>existem meios de proteção às vítimas, também, é encargo dos profis-</p><p>sionais de saúde. O desamparo das mulheres pode ser menor, se todos</p><p>cumprirem sua função. (GUSSO, LOPES e SILVA, 2018).</p><p>ATUAÇÃO FEMININA NA SAÚDE E DIFICULDADES</p><p>ENFRENTADAS</p><p>A crescente força de trabalho feminina no âmbito da saúde é acom-</p><p>panhada pela desigualdade de gênero em vários aspectos da prática</p><p>profissional. Tal realidade torna-se, ainda, mais visível em contextos de</p><p>pandemias. Diante disso, faz-se pertinente a análise das dificuldades</p><p>enfrentadas por elas na carreira.</p><p>De acordo com Mainardi et al (2019), os homens apresentam</p><p>chances quatro vezes maiores de alcançar os mais elevados postos de</p><p>remuneração na carreira médica. Vale ressaltar que, segundo o mesmo</p><p>estudo, tal desigualdade persiste, inclusive, diante de condições com-</p><p>paráveis de trabalho: carga horária e número de plantões semanais,</p><p>tempo de prática e especialização, apontando para a possibilidade de</p><p>a desigualdade de gênero configurar base única para tal discrepância.</p><p>Muitos são os fatores estressores associados às pandemias enfren-</p><p>tados pelos profissionais da saúde, tais como: risco aumentado de ser</p><p>197</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>infectado, sobrecarga, convívio direto com muitas mortes, limitação de</p><p>recursos e afastamento de familiares e amigos. Contudo, as mulheres,</p><p>as quais atuam de forma maciça na linha de frente do COVID-19,</p><p>tendem a apresentar maiores níveis de ansiedade, depressão e estresse.</p><p>(Wang et al, 2020 apud SCHMIDT et al, 2020).</p><p>Outrossim, dentre as dificuldades enfrentadas, particularmente,</p><p>por elas, pode-se incluir, também, a possível indisponibilidade de</p><p>Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) com dimensões propor-</p><p>cionais ao tamanho feminino (ONU, 2020).</p><p>Ademais, outro entrave deve-se ao fato de que as profissionais da</p><p>linha de frente no cenário de surto estão mais expostas ao assédio no</p><p>ambiente de trabalho, pois costumam ficar confinadas junto aos agres-</p><p>sores e, muitas vezes, não conseguem denunciar os insultos sofridos.</p><p>(SCHMIDT et al, 2020).</p><p>Vale ressaltar que, nesse período, a sobrecarga pode ser ainda mais</p><p>intensa para as profissionais de saúde que são mães. Isso se deve ao fato</p><p>de que instituições que participam do cuidado diário dos filhos, como</p><p>escolas e creches, encontram-se fechadas diante da necessidade de iso-</p><p>lamento social. Nesse contexto, tais trabalhadoras podem se encontrar,</p><p>ainda, mais expostas aos danos à saúde física e mental, ocasionados</p><p>pela dupla jornada de trabalho já mencionados ao longo do capítulo.</p><p>Torna-se notório, portanto, que a pandemia evidenciou ainda mais</p><p>a situação paradoxal vivenciada pelas profissionais da saúde: apesar</p><p>de comporem a maior parte da força de trabalho, ainda enfrentam</p><p>demasiadas desigualdades de gênero. Nesse sentido, o cenário atual</p><p>denuncia a necessidade de transformações sociais e de políticas em</p><p>prol da maior valorização do trabalho feminino no país.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Fica evidente, portanto, que a evolução dos direitos trabalhistas das</p><p>mulheres foi discreta. É fundamental entender a relação direta entre a</p><p>198</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>promoção de saúde das trabalhadoras e compreender que os direitos</p><p>sociais sustentam uma vida digna. Não há saúde sem segurança social.</p><p>Pensar na progressão desses direitos, é entender a necessidade de polí-</p><p>ticas públicas, alinhadas com a realidade dessas mulheres. Tais polí-</p><p>ticas devem considerar a remodelação de seu papel na sociedade, no</p><p>mercado laboral e no núcleo familiar, assim como propiciar o aumento</p><p>de sua escolaridade,e permitir que a trabalhadora decida, de forma</p><p>livre e segura, sobre temas como a maternidade e o seu planejamento</p><p>familiar. É dever da sociedade tornar possível às mulheres que sua</p><p>inclusão no mercado de trabalho seja efetiva e igualitária. Para além</p><p>disso, que o vínculo empregatício não seja um fator de adoecimento,</p><p>mas sim uma oportunidade de realização pessoal e progressão social</p><p>para as mulheres e suas famílias.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Cadernos de Formação. Mulheres: Mundo do trabalho e autonomia</p><p>econômica. Caderno 5: As mulheres nas Políticas Públicas, 2017. Disponível em:</p><p>http://www.cesit.net.br/wp-content/uploads/2017/11/Caderno-5-web.pdf. Acesso</p><p>em: 8 jun. 2020.</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil</p><p>de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 maio. de 2020.</p><p>BRASIL. [Decreto-lei 5452/43]. Decreto-lei n.º 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova</p><p>a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 21 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 930, de 15 de maio de 2019. Institui o</p><p>Programa “Saúde na Hora”, que dispõe sobre o horário estendido de funcionamento</p><p>das Unidades de Saúde da Família. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/</p><p>portaria-n%C2%BA-930-de-15-de-maio-de-2019-10456221. Acesso em: 21 maio. 2020.</p><p>BRASIL. [Lei 13.467/17]. Lei n° 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação</p><p>das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de</p><p>1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212,</p><p>de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.</p><p>Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.</p><p>htm. Acesso em: 11 jun. 2020.</p><p>199</p><p>SAÚDE DA MULHER NO TRABALHO</p><p>BRASIL. [Portaria 1.8223/12] Portaria No 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a</p><p>Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Disponível em: http://</p><p>fasubra.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Portaria_1823_12_institui_politica.pdf.</p><p>Acesso em: 8 jun. 2020.</p><p>BUTTERWORTH P.; LEACH L.S.; STRAZDINS L.; OLESEN S.C.; RODGERS B.;</p><p>BROOM D.H. The psychosocial quality of work determines whether employment</p><p>has benefits for mental health: results from a longitudinal national household</p><p>panel survey. Occupational and Environmental Medicine, v. 68, p. 806-812, 2011.</p><p>Disponível em: https://oem.bmj.com/content/68/11/806. Acesso em: 15 jun. 2020.</p><p>Apud IGUTI Aparecida Mari, MONTEIRO Inês. Saúde e trabalho de mulheres:</p><p>gênero como determinante de desigualdades sociais. Campinas, SP: Unicamp.</p><p>BFCM, 2017. 185 P.</p><p>CARVALHO, Daniela Tiffany Prado de; SILVA, Elisa Maria Taborda da; SANTOS,</p><p>Polianna Pereira dos. Mulheres na sociedade: desafios para a visibilidade feminina.</p><p>1 ed. 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Creche e feminismo: desafios atuais para</p><p>uma educação descolonizadora. Campinas, SP: Edições Leitura Crítica; Associação</p><p>de Leitura do Brasil – ALB; São Paulo: Fundação Carlos Chagas - FCC, 2015.</p><p>SCHMIDT, Beatriz et al . Saúde mental e intervenções psicológicas diante da</p><p>pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estud. psicol. (Campinas), Campinas,</p><p>v. 37, e 200063, 2020 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_</p><p>arttext&pid=S0103-166X2020000100501&lng=en&nrm=iso Acesso em: 21 maio.</p><p>2020. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200063.</p><p>SOUSA, Luana Passos; GUEDES, Dyeggo Rocha. A desigual divisão sexual do trabalho:</p><p>um olhar sobre a última década. Estud. av. São Paulo , v. 30, n. 87, p. 123-139, Aug.</p><p>2016 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-</p><p>40142016000200123&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 16 maio. 2020.</p><p>SOUZA-LOBO, Elisabeth. 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Epub May 18,</p><p>2020. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200063.</p><p>202</p><p>Capítulo 13</p><p>SAÚDE NO TRABALHO E</p><p>ESPIRITUALIDADE: componentes do</p><p>bem-estar</p><p>Camilla Rodrigues Paiva1</p><p>Débora Rodrigues Tolentino2</p><p>Isadora Guimarães Martins3</p><p>Roberta Evelyn Furtado4</p><p>Daniel Moreira Pinto5</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A produção científica sobre a influência da espiritualidade e reli-</p><p>giosidade na saúde física e mental tem crescido nos últimos anos.</p><p>Apesar da relação existente entre os conceitos de espiritualidade,</p><p>religião e religiosidade, é essencial sedimentar as diferenças, a fim de se</p><p>compreender porque a espiritualidade é indicada como uma importante</p><p>dimensão para a área da saúde. (FORTI; SERBENA; SCADUTO, 2020).</p><p>1 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana (FASEH), Ves-</p><p>pasiano - MG, Brasil.</p><p>3 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS), Belo Horizonte - MG, Brasil.</p><p>4 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Barbacena (FAME), Barba-</p><p>cena-MG, Brasil.</p><p>5 Médico de Família e Comunidade e Professor do Curso de Medicina da Universidade Federal</p><p>dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>203</p><p>SAÚDE NO TRABALHO E ESPIRITUALIDADE: COMPONENTES DO</p><p>BEM-ESTAR</p><p>Para Koenig (2012), a espiritualidade é uma busca pessoal para</p><p>entender questões relacionadas ao sagrado e ao transcendente, com</p><p>referência ao domínio do espírito. Para Puchalski (2014), a espiritua-</p><p>lidade é considerada um aspecto da prática humana em que se busca e</p><p>expressa significado, propósito e transcendência, além de experimentar</p><p>conexão pessoal, com os outros, com a natureza e com o sagrado.</p><p>A religião é definida como o aspecto institucional da espiritualidade</p><p>e determina a organização de crenças e práticas que facilitam a proxi-</p><p>midade com o transcendente. (KOENIG, 2012). Já a religiosidade, pode</p><p>ser entendida como a maneira que cada um acredita e segue a religião,</p><p>podendo ser organizacional (ir à igreja ou templo) ou não organizacional</p><p>(livros, orações individuais). (FORTI; SERBENA; SCADUTO, 2020).</p><p>O termo espiritualidade, frequentemente, é associado à religio-</p><p>sidade, devido à confusão no entendimento dos conceitos. Deve-se</p><p>entender que qualquer indivíduo pode ter espiritualidade, porém,</p><p>sem praticar uma religião. A religiosidade seria, portanto, a forma</p><p>como cada sujeito experiencia a religião, enquanto a espiritualidade</p><p>é o sentido atribuído à vida. (FORTI; SERBENA; SCADUTO, 2020).</p><p>O PAPEL DA ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE</p><p>Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a</p><p>qualidade de vida como multidimensional, descrevendo as dimen-</p><p>sões física, psíquica, social e espiritual como fatores a serem consi-</p><p>derados. A Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) afirma que,</p><p>na saúde, a espiritualidade possui implicações significativas para</p><p>prevalência, diagnóstico, tratamento, desfechos clínicos e preven-</p><p>ção de doenças. (FORTI; SERBENA; SCADUTO, 2020). As evi-</p><p>dências demonstram forte relação entre espiritualidade, religião,</p><p>religiosidade e os processos de saúde e doença, compondo com</p><p>os aspectos físicos, psicológicos e sociais a visão integral do ser</p><p>humano. (STEINHAUSER et al., 2017).</p><p>204</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Précoma et al (2019), na Diretriz de Prevenção Cardiovascular,</p><p>discorreram sobre a influência da espiritualidade e dos fatores psicos-</p><p>sociais na Medicina Cardiovascular. Segundo os autores, por serem</p><p>elementos constituintes da subjetividade dos indivíduos, é fundamen-</p><p>tal que os profissionais de saúde saibam lidar com a religiosidade e a</p><p>espiritualidade de maneira adequada. A maioria dos estudos demons-</p><p>tram a relação</p><p>E foi nesse cenário que, em 13 de</p><p>julho de 2017, a Lei nº 13.467 foi aprovada. Amplamente conhecida</p><p>como Reforma Trabalhista, essa lei, que vigora desde 11 de dezembro</p><p>de 2017, foi responsável por alterar, criar e revogar diversos artigos e</p><p>parágrafos da CLT. (DELGADO, 2019).</p><p>Uma das principais mudanças instituídas pela reforma foi a</p><p>introdução do Artigo 611-A na CLT, permitindo que acordos cole-</p><p>tivos tenham prevalência sobre a lei. No Artigo 611-B, lista-se aquilo</p><p>que não é passível de negociação, sendo basicamente itens que cons-</p><p>tam na Constituição Federal, como, por exemplo, número de dias de</p><p>férias, licença maternidade e normas de saúde, higiene e segurança</p><p>do trabalho. Ademais, o Artigo 611-A permite estabelecer acordos</p><p>que flexibilizam a jornada de trabalho. Outro ponto importante da</p><p>reforma diz respeito ao Artigo 59-A, que legaliza, para qualquer</p><p>trabalhador e trabalhadora, a jornada de doze horas consecutivas de</p><p>trabalho, seguidas de trinta e seis horas de repouso. Anteriormente,</p><p>apenas categorias específicas tinham permissão para estabelecer esse</p><p>tipo de jornada. Já o Artigo 384 foi revogado, não sendo mais obriga-</p><p>tório o intervalo mínimo de quinze minutos entre a jornada normal</p><p>e as horas extras. Além disso, foi instituído o Artigo 394-A, que</p><p>permite o trabalho de gestantes em atividades insalubres em graus</p><p>médio e mínimo, exceto mediante apresentação de atestado médico.</p><p>Há, também, o Artigo 461, que diminui as garantias antidiscrimi-</p><p>natórias no contexto de equiparação salarial. (CARVALHO, 2017).</p><p>Essas são algumas das modificações implementadas pela Reforma</p><p>Trabalhista. Pode-se perceber, pois, que as peculiaridades do período</p><p>contemporâneo acarretaram em transformações importantes no que</p><p>diz respeito ao direito trabalhista. A globalização, o avanço tecnoló-</p><p>gico e os índices de desemprego afetam as relações laborais, levando</p><p>o estado a atenuar os efeitos negativos dessas transformações por</p><p>meio de leis. (ALMEIDA; LIMA, 2018).</p><p>22</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Normas regulamentadoras</p><p>As atividades laborais demandam legislações eficientes que pos-</p><p>sibilitem ao trabalhador e à trabalhadora atuarem em um ambiente</p><p>íntegro, digno e que seja capaz de proporcionar saúde e bem-estar.</p><p>Nesse cenário, em 1978, o Ministério do Trabalho publicou a Portaria</p><p>3.124, que aprovou as Normas Regulamentadoras (NRs), caracteri-</p><p>zadas por serem disposições complementares ao Capítulo V da CLT.</p><p>Atualmente, são 36 normas referentes à Segurança e à Medicina do</p><p>Trabalho com o objetivo de estabelecer regras que visam a ações de</p><p>prevenção de acidentes de trabalho e redução de doenças ocupacio-</p><p>nais. Com o decorrer do tempo, surgiram demandas e transformações</p><p>no âmbito da saúde ocupacional e assim as NRs foram revisadas e/</p><p>ou atualizadas, obedecendo aos princípios do art. 37 da Constituição</p><p>Federal de 1988: moralidade, legalidade, responsabilidade, impes-</p><p>soalidade, publicidade/transparência, subsidiariedade e eficiência.</p><p>(BRASIL, 2018a).</p><p>Política nacional de saúde do trabalhador e da trabalhadora</p><p>(PNSTT)</p><p>Em 23 de agosto de 2012, por meio da Portaria 1.823, a Política</p><p>Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT) foi</p><p>instituída. Ela define os princípios, as diretrizes e as estratégias referen-</p><p>tes à saúde ocupacional, objetivando uma atenção integral. Para isso,</p><p>a PNSTT prevê a construção de ambientes e processos de trabalhos</p><p>saudáveis; o fortalecimento da vigilância; a promoção e a proteção da</p><p>saúde; e a redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de</p><p>desenvolvimento e dos processos produtivos. (PEREZ; BOTTEGA;</p><p>MERLO, 2017).</p><p>A PNSTT tem como público-alvo todos os trabalhadores (homens</p><p>e mulheres), independentemente, da localização (rural ou urbana),</p><p>da forma de inserção no mercado (formal ou informal) e do vínculo</p><p>empregatício (público ou privado). Ademais, também, estão sujeitos</p><p>23</p><p>UM BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL</p><p>a essa política, os trabalhadores assalariados, autônomos, avulsos,</p><p>temporários, cooperativados, aprendizes, estagiários, domésticos,</p><p>aposentados e desempregados. (BRASIL, 2018b).</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, Junior Cesar de; LIMA, Isaura Alberton de. A segurança e saúde no</p><p>trabalho no regime CLT e no regime estatutário: uma abordagem no planejamento</p><p>governamental comparando o tema nos dois regimes. Revista Brasileira de</p><p>Planejamento e Desenvolvimento. Curitiba, v. 7, n. 1, p. 2 – 28, jan./abr. 2018.</p><p>Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rbpd/article/view/5679. Acesso em:</p><p>31 maio. 2020.</p><p>BRASIL. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO. HISTÓRIA</p><p>DA MEDICINA DO TRABALHO. 21 de fev. de 2017. Disponível em: https://www.</p><p>anamt.org.br/portal/historia-da-medicina-do-trabalho/. Acesso em: 25 maio. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Guia de</p><p>elaboração e revisão de Normas Regulamentadoras em Segurança e Saúde no</p><p>Trabalho. Brasília, 2018a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/</p><p>Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---GUIA-DE--ELABORAO-E-</p><p>REVISO-DE-NORMAS-V.5.pdf. Acesso em: 04 jun. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. CAB Nº 41 – Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.</p><p>Cadernos de Atenção Básica, Brasília, 2018b. Disponível em: http://189.28.128.100/</p><p>dab/docs/portaldab/publicacoes/cadernoab_saude_do_trabalhador.pdf. Acesso em:</p><p>07 jun. 2020.</p><p>CAMISASSA, M. História da Segurança e Saúde no Trabalho no Brasil e no mundo,</p><p>23 março 2016. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2016/03/23/historia-da-</p><p>seguranca-e-saude-no-trabalho-no-brasil-e-no-mundo/. Acesso em: 23 maio. 2020</p><p>CARVALHO, Sandro Sacchet de. Uma visão geral sobre a reforma trabalhista. Boletim</p><p>mercado de trabalho - conjuntura e análise. Brasília, ano 23, n. 63, p. 81 – 94,</p><p>out. 2017. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8130/1/</p><p>bmt_63_vis%c3%a3o.pdf. Acesso em: 03 jun. 2020.</p><p>DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista</p><p>e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e</p><p>jurisprudenciais posteriores. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. 1776 p.</p><p>JÚNIOR, M. F. G.; MELO, V. S.; AGUIAR, W. M. A.; Acidentes e doenças do trabalho</p><p>- uma revisão de fatores históricos associados a ocorrência. Revista interfances do</p><p>conhecimento. Barra do Garças - MT, v. 02, n. 01, p. 65 - 76, jan 2020. Acesso em:</p><p>24 maio. 2020.</p><p>24</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>KASHIWABARA, T. B. et al. Medicina ambulatorial VI com ênfase em medicina</p><p>do trabalho. Montes Claros, MG: Dejam, 2019.</p><p>LADOU, J.; HARRISON, R. J. Current Medicina Ocupacional e Ambiental. Porto</p><p>Alegre, RS: AMGH, 2016</p><p>MARTINS, R. A. Saúde do Trabalhador. Londrina, PR: Editora e Distribuidora</p><p>Educacional S.A., 2017.</p><p>MONTEIRO, Juliana Santos. Fundacentro: fundação social da política sobre acidentes</p><p>de trabalho no período ditatorial brasileiro (1966 a 1976). 2013. 139p. Dissertação</p><p>(Mestrado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.</p><p>Disponível em: https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/12798/1/Juliana%20</p><p>Santos%20Monteiro.pdf. Acesso em: 18 jun. 2020.</p><p>NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Curso de direito</p><p>do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e</p><p>coletivas do trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 1170 p.</p><p>OLIVEIRA, C, C; Mistanásia: responsabilidade estatal e o acesso à saúde. Editora</p><p>Thoth. Londrina - PR. v. 01, n. 1, p. 44 - 46. JAN 2020.</p><p>PEREZ, Karine Vanessa; BOTTEGA, Carla Garcia; MERLO, Álvaro Roberto Crespo.</p><p>Análise das políticas de saúde do trabalhador e saúde mental: uma proposta de</p><p>articulação. Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 41, n. especial 2, p. 287 – 298, jun.</p><p>2017. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2017.v41nspe2/287-298.</p><p>Acesso em: 28 maio. 2020.</p><p>RAMAZZINI, Bernardino. De Morbis Artificum Diatribe. Pádua: [s.n.], 1713.</p><p>benéfica entre espiritualidade e variáveis fisiológicas</p><p>e fisiopatológicas de muitas condições clínicas, além dos efeitos em</p><p>aspectos comportamentais. A ciência vem mencionando a espiritua-</p><p>lidade como contribuição a ser considerada na saúde, tendo em vista</p><p>que os resultados observados parecem ser favoráveis aos componentes</p><p>psíquico, social e biológico, além do bem-estar do indivíduo.</p><p>Uma estratégia muito eficaz de abordagem da dimensão espiri-</p><p>tual na saúde é o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP). Ele</p><p>promove um entendimento integrado do paciente porque considera</p><p>os aspectos clínicos, as experiências de vida e as perspectivas sobre o</p><p>adoecimento, buscando compreender a pessoa a partir de suas crenças,</p><p>sentimentos e vivências. (STEWART et al., 2017).</p><p>Nesse contexto, a abordagem integral permite que o profissional da</p><p>saúde identifique a dimensão espiritual do paciente, podendo estabele-</p><p>cer como a espiritualidade é usada no enfrentamento das dificuldades</p><p>(coping). O coping religioso/espiritual é um importante parâmetro a</p><p>ser analisado porque as crenças tanto podem trazer benefícios durante</p><p>o adoecimento, quanto podem ser prejudiciais. Ele é denominado</p><p>coping negativo quando há uma situação estressora relacionada a uma</p><p>tradição religiosa, como acreditar que a doença é um castigo divino.</p><p>Por outro lado, no coping positivo, o paciente recorre a um método de</p><p>enfrentamento que considera sagrado em resposta ao seu adoecimento.</p><p>(ESPERANDIO et al., 2018).</p><p>Considerando que todas as manifestações religiosas ocupam seu</p><p>espaço na espiritualidade, fica evidente a importância dessa abordagem</p><p>na saúde, não só dos trabalhadores e trabalhadoras, mas também na</p><p>205</p><p>SAÚDE NO TRABALHO E ESPIRITUALIDADE: COMPONENTES DO</p><p>BEM-ESTAR</p><p>saúde de qualquer indivíduo. No contexto brasileiro, 95% da popu-</p><p>lação declara ter religião, 83% considera religião muito importante</p><p>para suas vidas, 37% frequenta um local religioso pelo menos uma</p><p>vez por semana e 10% frequenta mais de uma religião. (MOREIRA-</p><p>-ALMEIDA et al., 2016 apud MOREIRA-ALMEIDA, LUCCHETTI,</p><p>2010). A grande maioria dos estudos longitudinais têm relatado os</p><p>efeitos favoráveis da religiosidade e espiritualidade do indivíduo sobre</p><p>a saúde física e mental. (BRAGHETTA, 2017).</p><p>Koenig (2005) verificou que 90% dos pacientes dizem que crenças</p><p>religiosas e suas práticas são importantes formas pelas quais eles podem</p><p>enfrentar e aceitar melhor suas doenças físicas, e mais de 40% indicam</p><p>que a religião é o fator mais importante que os ajudam nessas horas.</p><p>Assim, observa-se uma reavaliação da influência da espiritualidade nas</p><p>condições de vida cotidiana, incluindo-se a sua participação no processo</p><p>saúde-doença. (YAWAR, 2001; GUIMARÃES; AVEZUM, 2007).</p><p>De modo geral, a saúde do trabalhador e da trabalhadora influen-</p><p>cia, diretamente, a execução de suas tarefas diárias externas e o seu</p><p>bem-estar laboral. A espiritualidade entra como um fator importante,</p><p>visto que possibilita transcendência e reflexão, permitindo, portanto,</p><p>atribuição de significado às atividades exercidas.</p><p>OS DESAFIOS NO AMBIENTE DE TRABALHO</p><p>Apesar dos vários conceitos apresentados, é fácil concluir que a</p><p>ideia central da espiritualidade é ser usada como método de alcançar</p><p>bem-estar na vivência individual e coletiva. Diante da relevância do</p><p>contexto espiritual para a saúde e qualidade de vida dos trabalhado-</p><p>res, é importante indicar quais seriam os principais obstáculos para o</p><p>desenvolvimento de uma atividade laboral saudável. (SILVA FILHO;</p><p>FERREIRA, 2015; SOARES; LEITE, 2019).</p><p>Um dos aspectos mais discutidos sobre os desafios no</p><p>ambiente de trabalho é o mercado estar se tornando cada vez mais</p><p>206</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>competitivo. Isso estimula uma exploração laboral que afeta a saúde</p><p>individual de maneira decisiva, porque prejudica todos os parâ-</p><p>metros, físicos, psicológicos, sociais e espirituais do trabalhador.</p><p>Além disso, o assédio moral, o ambiente de trabalho negativo e a</p><p>pressão por produtividade podem afetar drasticamente a possibi-</p><p>lidade de conexão entre os companheiros de trabalho, que é um</p><p>dos principais requisitos para o bem-estar laboral. (SILVA FILHO;</p><p>FERREIRA, 2015; SOARES; LEITE, 2019).</p><p>Em nível espiritual, vale destacar a percepção de como a vida</p><p>interior dos trabalhadores é viabilizada pelo contexto laboral,</p><p>exerce influência sobre ele e, ainda, propicia um trabalho que é</p><p>significativo para o indivíduo e seus colegas. Um ambiente sem</p><p>empatia, sem autonomia do trabalhador, onde a competição é esti-</p><p>mulada, gera um local de trabalho hostil que atrapalha o processo</p><p>de criação de significado com a tarefa e o vínculo social. (SILVA</p><p>FILHO; FERREIRA, 2015).</p><p>A partir dos desafios citados, percebe-se como a atividade laboral</p><p>pode desencadear estresse, ansiedade e depressão (como abordado no</p><p>capítulo 11). Nesse sentido, uma das soluções é propor intervenções</p><p>no domínio da espiritualidade, tanto promovidas pela empresa como</p><p>pelos próprios funcionários e profissionais de saúde. (SILVA FILHO;</p><p>FERREIRA, 2015).</p><p>É importante salientar que faz parte do cuidado a promoção de</p><p>alternativas aos pacientes, levando em consideração todos os fatores</p><p>que garantam o bem-estar integral, a valorização das experiências e</p><p>o olhar centrado na pessoa. (STEWART et al., 2017). abordaremos</p><p>algumas estratégias a serem usadas.</p><p>ESPIRITUALIDADE E BEM-ESTAR LABORAL</p><p>A espiritualidade no trabalho, de acordo com Menegat,</p><p>Sarmento e Díaz, (2014), tem implicações diretas nas relações</p><p>207</p><p>SAÚDE NO TRABALHO E ESPIRITUALIDADE: COMPONENTES DO</p><p>BEM-ESTAR</p><p>interpessoais, na visão de resultados, na liderança, no gerencia-</p><p>mento de pessoas, na ecologia, na educação, no desenvolvimento</p><p>e no bem-estar físico, emocional e espiritual. Para ele, a espiri-</p><p>tualidade no ambiente laboral é uma forma de conviver com a</p><p>diversidade generalizada, desde o ponto de vista das ideias até as</p><p>emoções e os sentimentos dos indivíduos.</p><p>O bem-estar no trabalho é considerado por Silva Filho (2015)</p><p>como o resultado da avaliação positiva de características variadas</p><p>do contexto laboral. Assim, é a satisfação de necessidades e a rea-</p><p>lização de desejos dos indivíduos ao desempenhar suas ativida-</p><p>des. A espiritualidade desenvolve o sentido de conexão pessoal à</p><p>comunidade de trabalho pela possibilidade de realizar tarefas que</p><p>dão significado à vida, sendo entendida como uma das dimensões</p><p>promotoras do bem-estar no ambiente laboral. Esse sentimento</p><p>de pertencimento ajuda o indivíduo a enxergar o trabalho como</p><p>propósito, tanto individual como em grupo, passando a ver sentido</p><p>na função exercida.</p><p>Estudos sobre o papel da espiritualidade e da religiosidade no</p><p>enfrentamento de situações do cotidiano têm aumentado nas últi-</p><p>mas décadas. Por isso, atualmente, foram desenvolvidas escalas com o</p><p>intuito de evitar a tendência de sobreposição das definições desses con-</p><p>ceitos. Essas escalas podem ser usadas tanto no contexto de pesquisa</p><p>quanto no contexto clínico. No clínico, usualmente, são utilizadas</p><p>entrevistas abertas que levantam uma história sobre a espiritualidade</p><p>do indivíduo. No contexto de pesquisa, são amplamente utilizadas as</p><p>escalas com análise quantitativa, que resultam em escores, testados e</p><p>validados por meio de análises psicométricas. (BRAGHETTA, 2017).</p><p>Um exemplo de escala bastante utilizada é a Escala de Bem-Estar</p><p>Espiritual - EBE (Spiritual Well-Being Scale), idealizada por Paloutzian</p><p>e Ellison em 1982. Nessa escala, aqueles com altos escores tendem</p><p>a ser menos solitários, mais habilidosos socialmente e com maior</p><p>autoestima, enquanto os menores escores foram associados a valores</p><p>208</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>individualistas. Caso fosse aplicada a funcionários, por exemplo, uma</p><p>empresa poderia usar os resultados para agrupá-los de acordo com</p><p>seus atributos sociais, contribuindo para uma convivência harmônica</p><p>e,</p><p>TIMBÓ, M. S. M.; EUFRÁSIO, C. A. F. O meio ambiente do trabalho saudável e suas</p><p>repercussões no brasil e no mundo, a partir de sua evolução histórica. Revista Pensar.</p><p>Fortaleza, v. 14, n. 2, p. 344-366, jul./dez. 2009. Disponível em: https://periodicos.</p><p>unifor.br/rpen/article/view/1708/1558. Acesso em: 31 maio. 2020.</p><p>VASCONCELLOS, F. C. L.; GAZE, R. Saúde, trabalho e ambiente na perspectiva da</p><p>integralidade: o método de Bernardino Ramazzini. Revista em Pauta. Rio de Janeiro,</p><p>v. 11, n.32, p. 65-88, nov. 2013. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/</p><p>index.php/revistaempauta/article/view/10156/8139. Acesso em: 31 maio. 2020.</p><p>25</p><p>Capítulo 2</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E</p><p>RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Gustavo da Mata Oliveira Rezende1</p><p>Laryssa Reis Coelho1</p><p>Rafael Magno Leonhardt1</p><p>Renata Garcia Abrão Pereira2</p><p>Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Trabalhar, hoje em dia, é um ato que vai muito além de alcançar</p><p>um crescimento pessoal e profissional. Sem dúvidas, o trabalho</p><p>ocupa a maior parte do tempo da população e influencia a qua-</p><p>lidade de vida e o bem-estar. Decerto, a ocupação pode desencadear o</p><p>adoecimento físico e ou mental dos indivíduos. Assim, é importante</p><p>que os médicos generalistas estejam atentos e capacitados para avaliar</p><p>a relação saúde-trabalho-doença e os impactos sobre os pacientes.</p><p>(CERATTI, ANDO e QUEIROZ, 2012).</p><p>1 Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS/BH), Belo Horizonte - MG, Brasil.</p><p>3 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia-</p><p>tria. Professora titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio</p><p>ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD,</p><p>pós doutorado em impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP, Portugal.</p><p>26</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>ANAMNESE E RACIOCÍNIO CLÍNICO</p><p>A palavra anamnese vem do grego e significa trazer de volta à</p><p>mente todos os fatos relacionados à doença e à pessoa doente. (DICIO,</p><p>2020). Esse processo, utilizado há muitos anos, na prática clínica, tor-</p><p>nou-se padronizado para grande maioria dos profissionais. Contudo a</p><p>anamnese pode ser aperfeiçoada para melhorar sua aplicação e garantir</p><p>uma boa entrevista clínica com um olhar mais holístico e integrado.</p><p>(COVAS e MOREIRA, 2013).</p><p>Um dos grandes desafios nos atendimentos do trabalhador e da</p><p>trabalhadora, em especial aos generalistas, é compreender o processo</p><p>saúde-trabalho-doença, para se evitar encaminhamentos inadequados</p><p>aos especialistas. Ceratti, Ando e Queiroz (2012) destacam que, parte</p><p>disso, concentra-se no fato de que, diferentemente do médico do traba-</p><p>lho, instalado dentro da empresa, o generalista ou o médico de família</p><p>e comunidade (MFC), nas Estratégias de Saúde da Família (ESF), têm</p><p>que lidar com a quase impossibilidade de realizar uma visita às unidades</p><p>produtivas em que as pessoas trabalham. Essa visita seria um elemento</p><p>fundamental na vigilância do fator de risco e no entendimento da pato-</p><p>logia ocupacional para posterior promoção e prevenção de saúde.</p><p>Uma alternativa para se obter melhor compreensão da história</p><p>do paciente seria aliar às questões-chave da investigação médica na</p><p>saúde ocupacional o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP):</p><p>Tal método dá ênfase à importância de abor-</p><p>dar na consulta três aspectos: a perspectiva do</p><p>médico, relacionada aos sintomas e à doença;</p><p>a perspectiva do paciente, que inclui suas</p><p>preocupações, medos e experiência de adoe-</p><p>cer; e a integração entre as duas perspectivas.</p><p>(BARBOSA e RIBEIRO, 2016, p.219).</p><p>Sendo assim, adotar um “olhar” biopsicossocioespiritual para</p><p>a saúde do trabalhador e da trabalhadora possibilita ter um amplo</p><p>27</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>domínio das afecções que acometem o ser humano, melhor segurança</p><p>para negociação e decisão sobre o tratamento e coopera para garantir</p><p>a promoção e a prevenção de saúde. Ceratti, Ando e Queiroz (2012,</p><p>p.605) apontam, ainda, que “será sempre mais fácil prescrever um</p><p>corticóide tópico, por exemplo, a um trabalhador com dermatite de</p><p>contato, do que tentar afastá-lo da exposição ao alérgeno no emprego,</p><p>com negociação de mudança de função.” Portanto torna-se funda-</p><p>mental o olhar integrado para caracterização do ofício do indivíduo.</p><p>O Anexo 1 contém um roteiro de anamnese ocupacional que</p><p>norteará esse atendimento diferenciado. Inicialmente, é preciso</p><p>colher os dados ocupacionais da pessoa. Porém, para não reduzir</p><p>essa etapa à simples pergunta “qual é o seu trabalho?”, é importante</p><p>incluir também na avaliação e caracterizar bem outros questiona-</p><p>mentos como: há quanto tempo está nessa função? Quais produtos</p><p>ou instrumentos você costuma manusear/estar em contato? Há</p><p>colegas do serviço em situações semelhante à sua? (CERATTI,</p><p>ANDO e QUEIROZ, 2012).</p><p>Além da ocupação atual, é importante investi-</p><p>gar as ocupações anteriores, dada a variabili-</p><p>dade dos períodos de latência requeridos para</p><p>o surgimento de uma patologia relacionada</p><p>ao trabalho: de algumas horas, como no caso</p><p>de uma conjuntivite por exposição a irritantes</p><p>químicos ou para o desencadeamento de um</p><p>quadro de asma ocupacional, a períodos supe-</p><p>riores a 20 anos, como no caso da silicose e de</p><p>alguns cânceres. (SAÚDE, 2001, p.30).</p><p>Outro ponto fundamental, na abordagem, é avaliar se o indivíduo</p><p>atua ou não na modalidade de teletrabalho. Além disso, atentar-se à</p><p>idade é ponto crucial na avaliação do paciente, principalmente, para os</p><p>mais idosos. Assim como é válido conversar sobre a renda mensal do</p><p>paciente, já que é um fator preponderante caso seja preciso prescrever</p><p>alguma medicação. (MELO et al., 2016).</p><p>28</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Em saúde ocupacional, normalmente, o início da investigação</p><p>da queixa ocorre pela história da moléstia atual (HMA). Contudo</p><p>o paciente, também, poderá ir ao médico já com algum diagnóstico</p><p>prévio, de doença ou danos à saúde, sem ter tido, anteriormente, a</p><p>devida investigação clínica. Sendo assim, cabe ao médico pesquisar</p><p>se há algum fator ou condição laboral que justifique ou que esteja</p><p>relacionado àquela queixa do paciente. (SAÚDE, 2001).</p><p>Para verificação da relação causal com o trabalho, o médico</p><p>durante a avaliação do trabalhador ou da trabalhadora, pode usar a</p><p>Classificação de Schilling - um método que busca estabelecer uma</p><p>relação de causa e efeito entre patologias e o trabalho.</p><p>De acordo com a Classificação de Schilling, o</p><p>trabalho é considerado causa necessária (Tipo</p><p>I)? Fator de risco contributivo de doença de</p><p>etiologia multicausal (Tipo II)? Fator desen-</p><p>cadeante ou agravante de doença preexistente</p><p>(Tipo III)? No caso de doenças relacionadas</p><p>ao trabalho, do tipo II, as outras causas, não-</p><p>-ocupacionais, foram devidamente analisadas</p><p>e hierarquicamente consideradas em relação</p><p>às causas de natureza ocupacional? (BRASIL,</p><p>2001, p.31).</p><p>Tendo em vista esses aspectos, é inegável que o raciocínio clínico</p><p>possa ajudar a compreender essa relação saúde-trabalho-doença. Pei-</p><p>xoto, Santos e Faria (2018, pág.73) apontam que tal ferramenta cogni-</p><p>tiva ajuda a “estabelecer o diagnóstico correto e propor uma conduta</p><p>adequada frente a um problema clínico encontrado”. Daí a necessidade</p><p>de conciliar a história clínica, com a epidemiologia e, se preciso for, aos</p><p>exames complementares. O fluxograma a seguir evidencia as etapas</p><p>da investigação de nexo causal entre doença e trabalho, conduzindo</p><p>o médico a identificar os elementos de sustentação para sua hipótese</p><p>diagnóstica e conclusão.</p><p>29</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Fluxograma. Etapas da Investigação de nexo causal entre doença e trabalho</p><p>Legenda. * DP/DRT(doença</p><p>profissional ou doença relacionada ao trabalho) **DNO (dano</p><p>não-ocupacional); Fonte. Adaptado de BRASIL (2001) p.32</p><p>Outrossim, na história patológica pregressa não se deve esquecer</p><p>de perguntar sobre o histórico de doenças crônicas, uso de medica-</p><p>ções diárias, realização de procedimentos e cirurgias, alergias medi-</p><p>camentosas e alimentares, cartão vacinal e histórico psiquiátrico, dada</p><p>30</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>tamanha relevância dos transtornos mentais nos afastamentos dos</p><p>trabalhadores na contemporaneidade. (PORTO, 2014).</p><p>Avaliar o histórico da família pode contribuir não só para identi-</p><p>ficar a relação genética com alguma comorbidade, mas também para</p><p>compreensão da dinâmica de funcionamento da casa desse trabalhador</p><p>ou trabalhadora e ajudar a perceber se há algum impacto de sobrecarga</p><p>nesses indivíduos, em especial, as mulheres que, constantemente, além</p><p>de garantirem o sustento das residências, ainda, têm que assumir o papel</p><p>de mãe sem contar com a ajuda de seus parceiros. (MELO et. al., 2016).</p><p>No histórico fisiológico, é relevante caracterizar o padrão do sono,</p><p>a alimentação e os hábitos de vida praticados pelo paciente, como</p><p>tabagismo, sedentarismo, etilismo, com intuito de verificar os possíveis</p><p>reflexos dessas questões no exercício da profissão. Além disso, deve-se</p><p>avaliar o uso de drogas ilícitas. (MELO et. al., 2016).</p><p>Ao longo da consulta, é imperioso identificar os temores e preocu-</p><p>pações, bem como entendimento do trabalhador ou da trabalhadora</p><p>acerca da forma como o seu trabalho afeta a sua saúde e registrar as</p><p>conclusões no prontuário.</p><p>A maioria dos(as) trabalhadores(as) da saúde</p><p>reconhece a importância do trabalho na</p><p>determinação do processo saúde-doença das</p><p>pessoas, porém, alguns apresentam dificulda-</p><p>des para estabelecer a relação entre as queixas</p><p>ou o adoecimento e a ocupação e/ou situação</p><p>de trabalho do(a) usuário(a). (BRSIL, 2018,</p><p>p.40 e 65).</p><p>Por fim, há o interrogatório sobre os diversos aparelhos (ISDA).</p><p>Nesse tópico, abordam-se questões, ainda, não levantadas. Além disso,</p><p>é nesse momento que entram aquelas queixas do paciente que não</p><p>foram elencadas como as principais. É interessante seguir uma ordem</p><p>sistemática para se evitar esquecimentos. É importante investigar os</p><p>sentidos, em especial a audição e a visão. (MELO et al., 2016).</p><p>31</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Após o exame físico e o levantamento das hipóteses diagnósticas,</p><p>parte-se para o plano de cuidado que deve ser discutido junto com</p><p>os pacientes e adequado às diversas realidades. O plano de cuidado</p><p>da pessoa pode ser dividido em quatro pontos: a) conduta prope-</p><p>dêutica (exames complementares como os laboratoriais, de imagem</p><p>e biópsias); b) conduta terapêutica (seja medicamentosa, seja não</p><p>medicamentosa); c) conduta administrativa (atestados, notificações,</p><p>relatórios, promoção e prevenção de saúde); d) conclusão (encami-</p><p>nhamentos, internações, afastamentos, retornos e altas). (CERATTI,</p><p>ANDO e QUEIROZ, 2012).</p><p>Pelo fato de ser uma especialidade, ainda, muito negligenciada,</p><p>as consultas em saúde do trabalhador deixam muito a desejar. Fruto,</p><p>decerto, da falta de capacitações e ensino em saúde ocupacional tanto</p><p>no ambiente acadêmico quanto no profissional.</p><p>As equipes são pressionadas a reduzir a mortali-</p><p>dade infantil, materna, os casos de sífilis congê-</p><p>nita, as internações por diabetes, além de tantas</p><p>outras metas realmente justas e importantes.</p><p>Mas a saúde do trabalhador não gera, nem de</p><p>longe, o mesmo tensionamento. (CERATTI,</p><p>ANDO e QUEIROZ, 2012, p. 614-615).</p><p>Portanto, cabe a nós, profissionais e estudantes da saúde, romper</p><p>com essa visão reducionista e criarmos uma visão integrada para essa</p><p>área, principalmente, nos atendimentos na atenção básica, haja vista</p><p>que Mori e Naghettini (2016, pág. 30) demonstraram que os profis-</p><p>sionais da saúde “percebem a importância das ações voltadas para o</p><p>atendimento ao trabalhador, mas que estes não possuem experiência</p><p>acadêmica e nem profissional para entender a influência do trabalho</p><p>na saúde do paciente”. Sendo assim, um bom caminho de mudança,</p><p>encontra-se no Anexo 1, com um roteiro completo e holístico para</p><p>avaliação dos pacientes em saúde ocupacional.</p><p>32</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>EXAME FÍSICO NA SAÚDE DO TRABALHADOR E DA</p><p>TRABALHADORA</p><p>O exame físico deve ser realizado de forma detalhada e de maneira</p><p>a não ser exaustivo nem para o avaliador nem para o paciente, dire-</p><p>cionando para a atividade laborativa do paciente ou para sua queixa.</p><p>O examinador deve ficar atento ao que foi colhido na entrevista para</p><p>facilitar a compreensão de possíveis achados no exame físico.</p><p>Exame físico geral</p><p>O exame físico geral pode ser dividido em qualitativo e quan-</p><p>titativo. Com base em Porto (2014), no exame físico qualitativo é o</p><p>momento em que o avaliador examina de forma objetiva o paciente e</p><p>pode classificá-lo em cruzes quando necessário. O quadro 2.1 resume</p><p>a avaliação inicial que é dividida em seis partes, contemplando alguns</p><p>aspectos importantes dentro de cada uma delas.</p><p>Quadro 2.1. Divisão da avaliação inicial do paciente</p><p>Estado geral: nível de consciência, mobilidade, fáscies, biótipo, atitude, postura.</p><p>Grau de palidez: mucosa palpebral da conjuntiva, mucosa oral, leito ungueal e</p><p>palma das mãos.</p><p>Grau de hidratação: mucosas, turgor da pele e olhos.</p><p>Presença de icterícia: coloração da palma da mão, esclera e freio da língua.</p><p>Presença de cianose: coloração mais azulada no lábio, leito ungueal e outras</p><p>extremidades.</p><p>Padrão respiratório: sinais de esforço respiratório.</p><p>Fonte. Adaptado de PORTO, 2014.</p><p>Os aspectos mensuráveis do paciente são conferidos a partir do</p><p>exame físico quantitativo como pressão arterial, frequência cardíaca,</p><p>frequência respiratória, altura e peso para obter o IMC e quantificar</p><p>33</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>o grau de obesidade e a circunferência abdominal.</p><p>Exame físico específico</p><p>Ainda na avaliação do paciente, é importante pesquisar linfonodo-</p><p>megalia pelas cadeias linfonodais. Na avaliação facial, deve-se atentar</p><p>à paralisia muscular, aos movimentos involuntários, às lesões e às</p><p>deformidades. Na garganta, pesquisar presença de infecções e defor-</p><p>midades e, no pescoço, é importante avaliar alterações tireoidianas,</p><p>realizando inspeção, palpação e ausculta. (PORTO, 2014). Quanto aos</p><p>olhos, avaliar se há ptose palpebral, nistagmo, estrabismo, alterações</p><p>do globo ocular. Bates (2018) ainda faz um enfoque quanto à acuidade</p><p>visual, por ser essa uma causa comum. Como ferramenta, poder-se-á</p><p>utilizar o teste de Snellen.</p><p>Para o exame cardiovascular, deve-se realizar inspeção, obser-</p><p>vando se há presença de circulação colateral, turgência jugular, pulso</p><p>carotídeo e edema de membros inferiores; à palpação, verificar pulsos</p><p>carotídeo, tibial, femoral, poplíteo e pedioso, detecção de frêmito, bem</p><p>como do ictus cordis. A ausculta cardíaca deve ser realizada nos cinco</p><p>focos, buscando por presença de sons patológicos, como sopros. Ade-</p><p>mais, é importante classificar o ritmo cardíaco do paciente. (BATES,</p><p>2018; PORTO, 2014).</p><p>Para Porto e Bates (2018), no exame físico do aparelho respi-</p><p>ratório, deve ser feita inicialmente, a inspeção dinâmica e estática.</p><p>Por meio desta, busca-se observar lesões de pele, retrações/abaula-</p><p>mentos da caixa torácica, determinar o tipo de tórax e disposição</p><p>óssea, como cifose, lordose, escoliose. Já na inspeção dinâmica,</p><p>pode ser observado o tipo de padrão respiratório, amplitude, ritmo</p><p>respiratório e presença de sinais de esforço respiratório, como bati-</p><p>mento das asas nasais, tiragens intercostais, uso da musculatura</p><p>abdominal e/ou cervical.</p><p>Na palpação, deve-se examinar a expansibilidade pulmonar, além</p><p>de sentir o frêmito toracovocal. Com a percussão, avaliar os espaços</p><p>34</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA</p><p>ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>intercostais de cima para baixo, sempre comparado um lado com</p><p>o outro e identificar os sons normais (claro pulmonar, sub-maciço,</p><p>maciço, hipersonoro, timpânico). Pela ausculta, deve-se classificar o</p><p>tipo de murmúrio e se atentar para presença de ruídos adventícios.</p><p>(PORTO, 2014).</p><p>Durante a inspeção do abdômen, observar se há lesões, deformi-</p><p>dades, estrias, circulação colateral, abaulamentos, retrações e clas-</p><p>sificar formato do abdômen. Em relação à ausculta, deve-se avaliar</p><p>motilidade intestinal por meio da presença dos ruídos hidroaéreos e</p><p>sopros abdominais da aorta e seus ramos. Realizar, também, a per-</p><p>cussão para pesquisar sons maciços nas regiões abdominais, em geral,</p><p>(exceto hipocôndrio direito), avaliar ascite através do sinal de piparote</p><p>e macicez móvel, realizar hepatimetria e avaliar se há esplenomega-</p><p>lia. Realizar palpação superficial e profunda em busca de resistência,</p><p>massas e dor. Palpar fígado, por meio da manobra em garra, e avaliar</p><p>textura pela borda. (BATES, 2018 e PORTO, 2014).</p><p>Bates (2018) sugere a execução das seguintes manobras especiais</p><p>e seus possíveis achados diagnósticos: (1) Murphy (colecistite), (2)</p><p>Blumberg (irritação peritoneal), (3) Rovsing (apendicite), (4) Psoas</p><p>(apendicite), (5) Obturador (apendicite), (6) Torris Homini (abscesso</p><p>hepático).</p><p>Outro aspecto a ser abordado, refere-se à avaliação osteomuscular</p><p>que pode ser dividida em três etapas: inspeção, palpação, e manobras</p><p>clínicas (BRASIL, 2012). Neste capítulo, incluímos, também, a mobi-</p><p>lização, conforme citado por Porto (2014).</p><p>O sistema musculoesquelético e o sistema neurológico periférico</p><p>possuem muitas avaliações e testes em comum no exame físico, podendo</p><p>ser avaliados em conjunto. A inspeção se inicia no momento em que</p><p>o paciente entra no consultório, observando posturas anormais, tro-</p><p>fismo muscular, deformidades, edemas, abaulamentos, compensações,</p><p>necessidade de ajuda para realização de certos movimentos, claudicação</p><p>durante a marcha. Durante a palpação, avalia-se temperatura, edema,</p><p>35</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>tônus muscular, flacidez, dor, contraturas musculares, mobilidade arti-</p><p>cular. A mobilização é realizada em cada articulação a fim de encontrar</p><p>limitações de amplitude de movimento, tanto de forma passiva quanto</p><p>de forma ativa. (PORTO, 2014; YOSHIKAWA, 2015).</p><p>Nas manobras clínicas, realizam-se testes específicos que direcio-</p><p>nam o avaliador a chegar em um diagnóstico. Quando se fala em Saúde</p><p>do Trabalhador e da Trabalhadora, o foco são lesões de membros</p><p>superiores, região cervical e escapular, de acordo com o protocolo do</p><p>Ministério da Saúde (2012). O quadro 2.2, a seguir, resume algumas</p><p>das principais manobras às quais necessitamos nos atentar na avaliação</p><p>da queixa do paciente.</p><p>Quadro 2.2. Testes especiais para o sistema osteomuscular</p><p>Avaliação Descrição Representação</p><p>Síndrome</p><p>do Pronador</p><p>Redondo</p><p>- Compressão do trajeto do nervo</p><p>mediano na face ventral do ante-</p><p>braço na região do músculo prona-</p><p>dor redondo.</p><p>- Manobra considerada positiva</p><p>quando dor ou parestesia no trajeto</p><p>do nervo.</p><p>Epicondilite</p><p>Lateral ou</p><p>Cotovelo de</p><p>Tenista</p><p>- Teste de Cozen: manobra com o</p><p>cotovelo fletido em 90º com a mão</p><p>posicionada em pronação.</p><p>- A extensão do punho contra resis-</p><p>tência provoca dor no epicôndilo</p><p>lateral.</p><p>36</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>Epicondilite</p><p>Medial ou</p><p>Cotovelo de</p><p>Golfista</p><p>- Manobra: cotovelo fletido em</p><p>90º com a mão posicionada em</p><p>supinação.</p><p>- A flexão do punho contra resis-</p><p>tência provoca dor no epicôndilo</p><p>medial.</p><p>Tendinopa-</p><p>tia de Infra-</p><p>-espinhoso</p><p>- Teste de Patte: ombro a 90o de</p><p>abdução e rotação externa e 90o de</p><p>flexão de cotovelo.</p><p>- Faz-se resistência no dorso da mão</p><p>em sentido de rotação interna, teste</p><p>considerado positivo em presença</p><p>de dor.</p><p>Tendinopa-</p><p>tia de Supra-</p><p>-espinhoso</p><p>- Teste de Jobe: avalia o tendão do</p><p>músculo supraespinhoso, realiza-</p><p>-se a abdução dos braços à 90o com</p><p>rotação interna.</p><p>- Examinador faz uma força no sen-</p><p>tido para baixo e o paciente deve</p><p>resistir a essa força. Teste positivo</p><p>para tendinopatia em caso de dor.</p><p>Tendão do</p><p>Músculo</p><p>Subescapular</p><p>- Teste de Gerber, o dorso da mão</p><p>do paciente deve estar em contato</p><p>com a região dorsal do paciente,</p><p>com cotovelo em flexão e ombro</p><p>em rotação interna.</p><p>- O paciente deve tentar afastar sua</p><p>mão em sentido posterior, teste</p><p>positivo em caso de dor.</p><p>37</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Tendão</p><p>da Cabeça</p><p>Longa do</p><p>Bíceps</p><p>Braquial</p><p>- Teste de Speed: o ombro fica a 90o</p><p>e supinado, o examinador realiza</p><p>uma resistência para baixo.</p><p>- Teste de Yergason: realizado com</p><p>flexão de 90o de cotovelo e prona-</p><p>ção de antebraço, junto ao corpo,</p><p>paciente deve fazer a supinação</p><p>contra a resistência instituída pelo</p><p>examinador.</p><p>- Considerados positivos quando</p><p>dispara dor.</p><p>Teste de Speed</p><p>Teste de Yergason</p><p>Fonte. Adaptado de BRASIL, 2012.</p><p>Outrossim, de acordo com o Manual de Semiologia Médica (2015),</p><p>para avaliação da região cervical, há o teste de compressão que, em</p><p>caso de aumento da dor ou parestesia de um ou ambos os membros</p><p>superiores, é considerado positivo. Ademais, o manual destaca que,</p><p>nas alterações dos ombros, há, principalmente, acometimentos do</p><p>manguito rotador, constituído pelos tendões dos músculos supra-espi-</p><p>nhal, infra-espinhal, redondo menor e subescapular. Entre os testes de</p><p>reflexos tendinosos profundos estão os tendões dos músculos bicipital,</p><p>tricipital, estilo-radial, cúbito-pronador, flexor do punho e extensor</p><p>do punho. (BRASIL, 2012).</p><p>A avaliação do ouvido leva em consideração o teste de Weber e</p><p>o teste de Rinne, realizados com diapasão. (YOSHIKAWA, 2015).</p><p>Faz-se, ainda, a otoscopia tradicional para visualização das estruturas</p><p>do ouvido externo e membrana timpânica. Para se avaliar o equi-</p><p>líbrio do paciente, existe o teste de Romberg que será considerado</p><p>38</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>positivo caso haja tendência a quedas. Durante a prova da marcha,</p><p>pede-se para o paciente dar alguns passos no consultório, para frente</p><p>e depois para trás, quando se pode observar instabilidades e dese-</p><p>quilíbrios. (PORTO, 2014).</p><p>Com a coleta de informações bem realizada, torna-se possível</p><p>identificar alterações importantes, o que permite ao examinador</p><p>chegar a um diagnóstico precoce, planejar ações de adequações de</p><p>trabalho, tratamento e acompanhar a evolução do paciente. Portanto,</p><p>a importância de anamnese e de um exame físico sem negligências,</p><p>respeitando às necessidades do sujeito como um todo, trará enormes</p><p>benefícios, os quais implicam tanto uma boa relação médico-paciente</p><p>quanto a melhora da compreensão do elo saúde-trabalho-doença.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANAMNESE. DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7 Graus, 2020.</p><p>Disponível em: https://www.dicio.com.br/anamnese/. Acesso em: 29 maio. 2020.</p><p>BARBOSA, M. S.; RIBEIRO, M.M.F. O método clínico centrado na pessoa na</p><p>formação médica como ferramenta de promoção de saúde. Rev Med Minas Gerais</p><p>2016; 26 (Supl 8): S216-S222.</p><p>BATES, Barbara; BICKLEY, Lynn S.; SZILAGYI; Propedêutica Médica. 12. ed. Rio</p><p>de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil.</p><p>Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços</p><p>de saúde / Ministério da Saúde do Brasil, Organização Pan-Americana da Saúde no</p><p>Brasil; Elizabeth Costa Dias (org). Ministério da Saúde do Brasil, 2001.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância</p><p>em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora. Ministério da Saúde, Secretaria</p><p>de Atenção à Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Cadernos de Atenção Básica, n.</p><p>41 – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 136 p. il. Disponível em: http://189.28.128.100/</p><p>dab/docs/portaldab/publicacoes/cadernoab_saude_do_trabalhador.pdf.</p><p>Acesso em:</p><p>13 maio. 2020</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento</p><p>de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao</p><p>trabalho: lesões por esforços repetitivos (LER) : distúrbios osteomusculares</p><p>relacionados ao trabalho (DORT) / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância</p><p>em Saúde, Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador.</p><p>39</p><p>ANAMNESE, EXAME FÍSICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO EM SAÚDE</p><p>OCUPACIONAL</p><p>Brasília. Editora do Ministério da Saúde, 2012. 68 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais</p><p>Técnicos) (Saúde do Trabalhador; 10. Protocolos de Complexidade Diferenciada).</p><p>Disponível em: http://sindisaudecriciuma.com.br/img/publicacoes/arquivo_7.pdf.</p><p>Acesso em: 13 maio. 2020</p><p>CERATTI, A; ANDO, NM; QUEIROZ, O. Abordagem à saúde ocupacional na</p><p>Atenção Primária à Saúde. In: GUSSO, G.; LOPES, J. M. C. (Org.). Tratado de</p><p>medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2012. p. 600-616.</p><p>COVAS, DT; MOREIRA, AC. Comunicação médico-paciente e anamnese. In:</p><p>MARTINEZ, JB; DANTAS, M; VOLTARELLI, JC. Semiologia geral e especializada.</p><p>1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013.</p><p>MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE. Doenças</p><p>Relacionadas ao Trabalho. Brasília, Ministério da Saúde: Editora MS, 2001</p><p>MELO, AAR et al. Apostila de Propedêutica: Anamnese, Exame Clínico e Promoção</p><p>de Saúde. 2 ª Edição. Extensão Médica Acadêmica da FMUSP, 2016.</p><p>MORI, EC; NAGHETTINI, AV. Formação de médicos e enfermeiros da estratégia</p><p>Saúde da Família no aspecto da saúde do trabalhador. Rev. esc. enferm. USP. 2016,</p><p>vol.50, n.spe [cited 2020-05-21], pp.25-3. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.</p><p>php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342016001100025&lng=en&nrm=iso. ISSN</p><p>1980-220X. Acesso em: 10 maio. 2020.</p><p>PEIXOTO, JM; SANTOS, SME; FARIA, RMD. Processos de Desenvolvimento</p><p>do Raciocínio Clínico em Estudantes de Medicina. Rev. bras. educ. med. 2018,</p><p>vol.42, n.1 [cited 2020-05-21], pp.75-83. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.</p><p>php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022018000100075&lng=en&nrm=iso. ISSN</p><p>1981-5271. Acesso em: 5 maio. 2020.</p><p>PORTO, Celmo Celeno. Semiologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2014.</p><p>SILVEIRA, Andréa Maria. Saúde do Trabalhador. Belo Horizonte: Nescon/UFMG,</p><p>Coopmed, 2009</p><p>STEWART, M et al. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico.</p><p>3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.</p><p>YOSHIKAWA, Gilberto; CASTRO, Roberto Chaves; orgs. Manual de Semiologia</p><p>Médica: a prática do exame médico. Belém: EDUEPA, 2015.</p><p>40</p><p>Capítulo 3</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: riscos</p><p>e vulnerabilidades na prática dos</p><p>trabalhadores</p><p>Daniel Martins Bastos1</p><p>Pérola Semil de Sousa Martins¹</p><p>Ramana Carvalho Matos¹</p><p>Thainara Liberato do Carmo¹</p><p>Rhaíza Colares Franco2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Este capítulo tem como objetivo esclarecer a definição de Saúde</p><p>Ocupacional e demonstrar sua importância na prática dos traba-</p><p>lhadores, abordar os principais riscos e vulnerabilidades presentes</p><p>nos ambientes de trabalho, bem como citar, brevemente, algumas das</p><p>ferramentas disponíveis para reduzir ou anular tais riscos, promovendo</p><p>a saúde, bem-estar e integridade física do trabalhador e da trabalhadora.</p><p>É extremamente necessário que se faça uma conexão entre o capí-</p><p>tulo 1 (Histórico do Surgimento da Saúde Ocupacional) e o presente</p><p>capítulo. Pois, para que seja possível compreender os programas e</p><p>1 Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>2 Médica da Estratégia de Saúde da Família, Docente de Saúde da Família na Faculdade de</p><p>Medicina do Mucuri (Fammuc) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri</p><p>- Campus Mucuri (UFVJM/TO), Teófilo Otoni - MG, Brasil.</p><p>41</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>medidas adotados, atualmente, para a melhoria da saúde laboral, é</p><p>preciso fazer uma viagem no tempo, conhecendo toda a caminhada</p><p>realizada até agora.</p><p>Qual a definição de saúde? Qual a definição de Saúde Ocupacional?</p><p>Qual a importância da Saúde Ocupacional na prática dos trabalhadores?</p><p>Quais são os principais riscos e vulnerabilidades às quais os trabalha-</p><p>dores estão expostos? Quais são as medidas adotadas para reduzir ou</p><p>anular riscos, acidentes e doenças relacionadas ao trabalho? Essas e</p><p>outras indagações é o que se pretende elucidar ao longo deste capítulo.</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: definição e importância</p><p>É sabido que o trabalho pode ser fonte de lesões, adoecimento e</p><p>morte desde a Antiguidade. Há citações de acidentes de trabalho em</p><p>diversos documentos antigos, mesmo que de modo esparso. Além</p><p>dos acidentes de trabalho que possuem relação direta com a atividade</p><p>laboral, também, existem descrições sobre doenças provocadas pelas</p><p>condições especiais em que o trabalho era executado. Como exemplo,</p><p>temos a obra De Morbis Artificum Diatriba de Bernardino Ramazzini</p><p>na qual o autor descreve minuciosamente doenças relacionadas ao</p><p>trabalho. (Ramazzini, apud CHAGAS; SALIM; SERVO, 2012).</p><p>Antes da Revolução Industrial, poucos registros eram feitos sobre</p><p>acidentes e doenças provenientes do trabalho. Mas, devido ao número</p><p>crescente de máquinas sendo utilizadas, aglomeração de operários,</p><p>longas jornadas laborais e das péssimas condições de salubridade nos</p><p>ambientes fabris, houve um aumento notável do número de agravos</p><p>relacionados ao trabalho. (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2012).</p><p>Como já discutido no capítulo 1 deste livro, vários passos foram</p><p>dados, de acordo com o contexto de cada época, para se alcançar</p><p>o que se tem hoje sobre Saúde Ocupacional. Mas, para dar início a</p><p>discussões sobre essa temática, é necessário entender o conceito de</p><p>saúde e como ele se relaciona com o trabalho.</p><p>42</p><p>SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA NO BRASIL:</p><p>UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E INTEGRADA</p><p>De acordo com a Constituição da Organização Mundial da Saúde</p><p>(OMS, 1946), saúde é um estado de completo bem-estar físico, men-</p><p>tal e social. Ou seja, saúde não é apenas a ausência de doença, ela</p><p>abrange fatores determinantes e condicionantes, como a alimenta-</p><p>ção, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a</p><p>renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços</p><p>essenciais. (BRASIL, 1990).</p><p>A lei 8080 de 1990, também inclui, no campo de atuação do Sis-</p><p>tema Único de Saúde (SUS), a execução de ações ligadas à saúde do</p><p>trabalhador e da trabalhadora, tais como ações de vigilância epide-</p><p>miológica e vigilância sanitária, promoção e proteção da saúde dos</p><p>trabalhadores. Essa lei visa, também, a ações de recuperação e reabi-</p><p>litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos</p><p>advindos das condições de trabalho.</p><p>A partir dessa época, saúde e trabalho passaram a ser concei-</p><p>tos indissociáveis, tal como trazia a Constituição Federal de 1988 e</p><p>endossava a Lei da criação do SUS 1990. Surgiram conceitos como</p><p>Segurança do Trabalho, Saúde Ocupacional e vários outros que, ainda</p><p>hoje, continuam em discussão.</p><p>De acordo com Chiavenato (apud AQUINO, 2014, p.24), a saúde</p><p>e a segurança do trabalho referem-se ao conjunto de normas e pro-</p><p>cedimentos que visam à proteção da integridade física e mental do</p><p>trabalhador, preservando-o dos riscos de saúde inerentes ao desen-</p><p>volvimento da função e ao ambiente físico no qual essas tarefas são</p><p>executadas. Quais os riscos ambientais aos quais o trabalhador pode</p><p>estar exposto? Como eles são classificados? Abaixo serão apresentados</p><p>alguns dos riscos que podem estar presentes no ambiente de trabalho.</p><p>RISCOS AMBIENTAIS</p><p>O meio ambiente de trabalho é o “local onde o trabalhador desen-</p><p>volve suas atividades relacionadas ao ofício”. (FERREIRA et. Al., 2018,</p><p>43</p><p>SAÚDE OCUPACIONAL: RISCOS E VULNERABILIDADES NA</p><p>PRÁTICA DOS TRABALHADORES</p><p>p.361). De acordo com Camisassa (2015), para cada ambiente de tra-</p><p>balho podem-se identificar agentes físicos, químicos e biológicos,</p>

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