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<p>PROJETO DE</p><p>PAISAGISMO II</p><p>PROJETO DE</p><p>PAISAGISMO II</p><p>Projeto de Paisagism</p><p>o II</p><p>Lucas Martins de Oliveira Lucas Martins de Oliveira</p><p>GRUPO SER EDUCACIONAL</p><p>gente criando o futuro</p><p>Prezado(a) estudante, na disciplina Projeto de Paisagismo II você aprenderá os prin-</p><p>cipais passos para elaborar um projeto para um espaço público urbano. O paisagismo</p><p>urbano é um campo ainda pouco explorado, se comparado a outros do curso de Arqui-</p><p>tetura e Urbanismo.</p><p>Não raro, é confundido com planejamento urbano ou, até mesmo, menosprezado por</p><p>alguns pro� ssionais. Isso é resultado de uma formação pro� ssional defasada.</p><p>O paisagismo é um ramo do conhecimento que, no Brasil, é atribuição pro� ssional ex-</p><p>clusiva de arquitetos e urbanistas. Isso poque entende-se que cabe ao arquiteto a</p><p>plani� cação dos espaços que os seres humanos habitam, nas mais diversas funções.</p><p>Você verá que o projeto de paisagismo na escala urbana exige um profundo conhe-</p><p>cimento de aspetos construtivos, geográ� cos e biológicos, portanto, é um conheci-</p><p>mento interdisciplinar. Como em todo projeto, a liberdade criativa deve ser balizada</p><p>por uma metodologia consistente, baseada em uma análise profunda e contextuali-</p><p>zada do espaço objeto de projeto.</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_Capa.indd 1,3 15/12/2020 15:48:04</p><p>© Ser Educacional 2020</p><p>Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro</p><p>Recife-PE – CEP 50100-160</p><p>*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.</p><p>Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.</p><p>Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio</p><p>ou forma sem autorização.</p><p>A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo</p><p>artigo 184 do Código Penal.</p><p>Imagens de ícones/capa: © Shutterstock</p><p>Presidente do Conselho de Administração</p><p>Diretor-presidente</p><p>Diretoria Executiva de Ensino</p><p>Diretoria Executiva de Serviços Corporativos</p><p>Diretoria de Ensino a Distância</p><p>Autoria</p><p>Projeto Gráfico e Capa</p><p>Janguiê Diniz</p><p>Jânyo Diniz</p><p>Adriano Azevedo</p><p>Joaldo Diniz</p><p>Enzo Moreira</p><p>Lucas Martins de Oliveira</p><p>DP Content</p><p>DADOS DO FORNECEDOR</p><p>Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,</p><p>Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 2 15/12/2020 15:26:15</p><p>Boxes</p><p>ASSISTA</p><p>Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-</p><p>mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.</p><p>CITANDO</p><p>Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa</p><p>relevante para o estudo do conteúdo abordado.</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;</p><p>demonstra-se a situação histórica do assunto.</p><p>CURIOSIDADE</p><p>Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto</p><p>tratado.</p><p>DICA</p><p>Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma</p><p>informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.</p><p>EXPLICANDO</p><p>Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da</p><p>área de conhecimento trabalhada.</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 3 15/12/2020 15:26:16</p><p>Unidade 1 - Paisagismo e método</p><p>Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12</p><p>Metodologia do projeto de paisagismo urbano ............................................................. 13</p><p>Fases de projeto ............................................................................................................. 13</p><p>Critérios de projeto ......................................................................................................... 17</p><p>Áreas livres públicas ...................................................................................................... 21</p><p>O paisagismo e a recuperação de áreas degradadas e de risco ............................... 27</p><p>Serviços ambientais do paisagismo ............................................................................. 28</p><p>Recuperação de áreas degradadas e de risco geológico ...................................... 30</p><p>Sintetizando ........................................................................................................................... 36</p><p>Referências bibliográficas ................................................................................................. 38</p><p>Sumário</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 4 15/12/2020 15:26:16</p><p>Sumário</p><p>Unidade 2 - Conceitos de paisagem</p><p>Objetivos da unidade ........................................................................................................... 41</p><p>Paisagem urbana .................................................................................................................. 42</p><p>Questões contemporâneas ............................................................................................ 46</p><p>Estudos preliminares e anteprojetos em escala arquitetônica e urbana ................. 49</p><p>Estudos preliminares ...................................................................................................... 49</p><p>Anteprojetos ..................................................................................................................... 57</p><p>Sintetizando ........................................................................................................................... 61</p><p>Referências bibliográficas ................................................................................................. 63</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 5 15/12/2020 15:26:16</p><p>Sumário</p><p>Unidade 3 - Abordagens do tratamento paisagístico</p><p>Objetivos da unidade ...........................................................................................................66</p><p>Tratamento paisagístico de área urbana visando à melhoria da qualidade</p><p>ambiental e da circulação ............................................................................... 67</p><p>Qualidade ambiental ................................................................................... 67</p><p>Qualidade da circulação ............................................................................. 71</p><p>Tratamento paisagístico da área urbana visando à melhoria da preservação do</p><p>meio ambiente e valorização urbana ................................................................ 76</p><p>Preservação do meio ambiente .................................................................... 76</p><p>Valorização urbana ..................................................................................... 81</p><p>Sintetizando ................................................................................................... 84</p><p>Referências bibliográficas .............................................................................. 85</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 6 15/12/2020 15:26:16</p><p>Sumário</p><p>Unidade 4 - A área de estudo na prática</p><p>Objetivos da unidade ........................................................................................................... 88</p><p>Desenvolvimento prático de aspectos formais da área de estudo ............................. 89</p><p>Percepção ........................................................................................................................ 90</p><p>Imagem mental ................................................................................................................ 94</p><p>Representação especializada do espaço ................................................................... 96</p><p>Desenvolvimento prático de aspectos socioculturais e tecnológicos da área de estudo ... 99</p><p>Aspectos socioculturais ............................................................................................... 100</p><p>Aspectos tecnológicos ................................................................................................. 104</p><p>Sintetizando ......................................................................................................................... 109</p><p>Referências bibliográficas</p><p>em áreas urbanas,</p><p>além de causar erosão, carrega consigo sedimentos e produtos químicos que</p><p>afetam a qualidade da água. A cobertura vegetal auxilia na solução</p><p>deste problema, ao reduzir a velocidade do escoamento, as-</p><p>segurar a integridade estrutural do solo com as raízes e fi l-</p><p>trando os poluentes químicos, aumentando a capacidade</p><p>de infi ltração da água.</p><p>A infraestrutura verde é um conceito que se refere à possibilidade de apro-</p><p>veitamento do projeto de paisagismo para integrar os vários elementos de</p><p>infraestrutura convencional existentes (ou infraestrutura cinza), utilizando de</p><p>estratégias de direcionamento e retenção do escoamento superfi cial (PELLE-</p><p>GRINO; MOURA, 2017).</p><p>A infraestrutura verde gira em torno de cinco tipologias de projeto que</p><p>agem em conjunto em momentos de precipitação intensa. São elas (PELLEGRI-</p><p>NO; MOURA, 2017):</p><p>• Jardins de chuva: depressões topográfi cas que recebem o escoamento</p><p>da água pluvial. O solo, tratado com compostos e outros insumos como pedris-</p><p>cos, que aumentam sua porosidade, age como uma esponja a sugar a água,</p><p>enquanto microrganismos e bactérias removem os poluentes difusos trazidos</p><p>pelo escoamento superfi cial. A adição de plantas aumenta a evapotranspira-</p><p>ção e a remoção de nutrientes;</p><p>• Biovaletas: são depressões lineares preenchidas com vegetação e ele-</p><p>mentos fi ltrantes, que processam uma limpeza da água da chuva, ao mesmo</p><p>tempo que aumentam seu tempo de escoamento, o dirigindo a água para os</p><p>jardins de chuva ou lagoa pluvial;</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 33</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 33 15/12/2020 15:29:09</p><p>• Canteiros pluviais: são jardins de chuva compactados em pequenos espa-</p><p>ços. Podem contar, além da sua capacidade de infi ltração, com um extravasor;</p><p>• Lagoas pluviais: são bacias de retenção que recebem o escoamento su-</p><p>perfi cial ou por drenagens naturais ou tradicionais. Uma parte da água pluvial</p><p>captada permanece retida entre os eventos de chuvas. Dessa forma, essas ti-</p><p>pologias acabam se caracterizando como um alagado construído.</p><p>Em áreas de risco geológico, a infraestrutura verde deve ser projetada se</p><p>associando a estratégias de estabilização do solo. Segundo Mascaró (2008), “os</p><p>métodos de combate à erosão podem ser de natureza física, reduzindo o decli-</p><p>ve através do uso de terraços ou de natureza biológica, que visa a cobertura do</p><p>solo por vegetação”. Em projetos de vegetação, devemos reconhecer o papel</p><p>das espécies arbustivas e herbáceas, especialmente as gramíneas. Analise as</p><p>espécies recomendadas no Quadro 4:</p><p>Nome comum Nome científi co Tipo de encosta</p><p>Poa comum Poa trivialis Pouco sol e muita umidade.</p><p>Poa Poa Pouco sol e muita umidade.</p><p>Poa anual Poa annua Precisa de sol e exige menos</p><p>umidade.</p><p>Raiz gras perene Lolium perene Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Cola de cachorro Ajnosurus cristatus Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Poa comumPoa comumPoa comumPoa comum</p><p>Poa</p><p>Poa anualPoa anualPoa anual</p><p>Raiz gras pereneRaiz gras perene</p><p>Poa trivialis</p><p>Raiz gras perene</p><p>Cola de cachorro</p><p>Poa trivialis</p><p>Raiz gras perene</p><p>Cola de cachorro</p><p>Poa trivialis</p><p>Raiz gras perene</p><p>Cola de cachorro</p><p>Poa trivialis</p><p>Cola de cachorro</p><p>Poa</p><p>Cola de cachorro</p><p>Poa annuaPoa annuaPoa annua</p><p>Lolium perene</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Poa annua</p><p>Lolium perene</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Lolium perene</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Lolium perene</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Lolium perene</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Ajnosurus cristatus</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>umidade.</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>umidade.</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Pouco sol e muita umidade.</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>umidade.</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Precisa de sol e exige menos</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidade</p><p>(rústica).</p><p>Precisa de sol e umidadePrecisa de sol e umidade</p><p>QUADRO 4. GRAMÍNEAS QUE PODEM SER USADAS NA PROTEÇÃO</p><p>DE ENCOSTAS</p><p>Fonte: MASCARÓ, 2008, p. 46.</p><p>A construção de terraços sucessivos consiste em criar patamares usando</p><p>toras de madeira ou bambu, implantando árvores e arbustos de raízes pivo-</p><p>tantes para consolidar o terreno. É importante que cada patamar tenha altura</p><p>igual ou menor do que 2/3 da profundidade das raízes, não devendo ter altura</p><p>maior que 1,5 m (MASCARÓ, 2008).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 34</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 34 15/12/2020 15:29:10</p><p>Em taludes com ângulos entre 45º e 90º, deve-se projetar muros de con-</p><p>tenção, que podem ser do tipo por gravidade ou por flexão composta. Como</p><p>exemplo do primeiro tipo, podemos citar o uso de gabiões, que são formados</p><p>por sacos de tecido metálico galvanizado cheios de pedras empilhadas adequa-</p><p>damente, obtendo bons resultados em alturas até três metros. Ainda podem</p><p>ser vegetados para compor o projeto (Figura 11):</p><p>Figura 11. Estrutura de contenção do solo em muro de gabião. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>Já os muros de contenção por flexão composta são indica-</p><p>dos para grandes inclinações ou contenções verticais. São</p><p>elaborados em concreto armado com o intuito de resistir</p><p>aos esforços horizontais, sempre dotados de um sistema</p><p>de drenagem para neutralizar a pressão da água que possa</p><p>ficar retida pelo muro (MASCARÓ, 2008, p. 67).</p><p>CURIOSIDADE</p><p>O muro de gabião, etimologicamente, origina-se do italiano gabbione, que</p><p>significa grande cesto de pedras. Nos dias atuais, esse elemento tem um</p><p>grande apelo paisagístico devido a sua rusticidade construtiva, contras-</p><p>tante com a vegetação. No entanto, não se trata de uma técnica constru-</p><p>tiva recente. No Egito Antigo, cerca de 5000 anos antes da era comum,</p><p>já eram utilizadas estruturas similares, feitas de pedras trançadas com</p><p>vegetação, para contenção da água.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 35</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 35 15/12/2020 15:29:20</p><p>Sintetizando</p><p>Nesta unidade, vimos que o paisagismo é a ciência que estuda, pesquisa e</p><p>projeta a qualificação de espaços abertos, ou espaços livres, e é fundamental</p><p>para promovermos a recuperação ambiental de áreas degradadas ou de risco</p><p>geológico, em área urbana.</p><p>Entendemos que o projeto de paisagismo urbano deve ser elaborado seguin-</p><p>do etapas que tem como função organizar nosso raciocínio adequadamente e</p><p>nos orientar na produção de nossos produtos, os projetos. Trata-se de uma me-</p><p>todologia de trabalho organizada em estudo preliminar, anteprojeto, projeto e</p><p>executivo e detalhamento. Cada uma destas etapas exige atenção exclusiva, pois</p><p>se uma é feita de modo inadequado, ela compromete a qualidade da seguinte.</p><p>O ato criativo de projeto deve ser baseado na elaboração de um denso levan-</p><p>tamento de informações, que podemos chamar de inventário ou diagnóstico.</p><p>Nele, reunimos informações sobre a área de projeto e seu entorno, nos aspectos</p><p>morfológicos, ambientais e sociais. Por exemplo, é fundamental termos o levan-</p><p>tamento topográfico da área que projetaremos, as restrições legais impostas</p><p>pela legislação urbana e ambiental, a análise do solo, entre outras informações.</p><p>Compreendemos que o programa de necessidades básicas de um projeto</p><p>de paisagismo urbano deve ser elaborado a partir das demandas da população,</p><p>por isso é impossível ao arquiteto e urbanista,</p><p>sozinhos, elaborarem um projeto</p><p>dessa magnitude. O projeto deve ser, sempre, participativo e interdisciplinar.</p><p>Tendo isso em mente, partimos para o zoneamento funcional e o plano de</p><p>massas, quando o projeto começa a tomar forma. Trata-se de uma etapa de li-</p><p>berdade criativa riquíssima, na qual várias opções devem ser testadas na busca</p><p>pela melhor solução de projeto. Croquis, perspectivas e maquetes são formas de</p><p>representação que devem ser exploradas exaustivamente. Lembre-se de sem-</p><p>pre usar as cores para representar suas intenções paisagísticas.</p><p>Na sequência, do anteprojeto e do projeto executivo partimos para a representa-</p><p>ção técnica completa das ideias, definindo os materiais e as espécies que utilizaremos.</p><p>Sobre as espécies, estudamos alguns critérios básicos de projeto, como a relação entre</p><p>a vegetação e a insolação, as possibilidades topográficas e as características estéticas,</p><p>funcionais e temporais das espécies. O projeto deve estar em total condição de ser</p><p>aprovado pelos órgãos competentes e pronto para ir a campo para ser implantado.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 36</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 36 15/12/2020 15:29:20</p><p>Analisamos os espaços públicos das cidades sob olhar sistêmico. O projeto</p><p>para os espaços públicos deve ser pensando pelo olhar histórico, cultural, pela</p><p>acessibilidade, segurança e sustentabilidade. Também, deve-se dar o correto en-</p><p>foque sobre os materiais, especialmente os pisos e a arborização.</p><p>Introduzimos o problema da recuperação de áreas degradadas e de risco.</p><p>Analisamos seus conceitos e a responsabilidade que o paisagismo tem para a</p><p>solução desse problema. O diagnóstico de que as cidades brasileiras não têm</p><p>a quantidade de espaços livres públicos qualificados suficientes, é importante</p><p>para reconhecermos que as áreas degradadas e de risco podem ser objetos de</p><p>grandes projetos de reconversão ambiental.</p><p>Estudamos os serviços ambientais que as áreas verdes são capazes de pro-</p><p>mover, com enfoque, neste momento, para a permeabilidade do solo urbano</p><p>e para estratégias de infraestrutura verde, quando aproveitamos o projeto de</p><p>paisagismo e da vegetação para auxiliar na retenção e absorção do escoamento</p><p>pluvial e na filtração da água.</p><p>Por fim, aprendemos que, em áreas de risco geológico, a infraestrutura verde</p><p>deve atuar associada às estratégias de estabilização do solo, como a construção</p><p>de terraços em taludes vegetados, muros de contenção por gravidade, permeá-</p><p>veis, do tipo gabião e, em casos graves, muros de contenção por flexão compos-</p><p>ta, feitos em concreto armado.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 37</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 37 15/12/2020 15:29:20</p><p>Referências bibliográficas</p><p>#ARQUITETURAFAZDIFERENÇA - parque Mangal das Garças - depoimento de</p><p>Rosa Kliass. Postado por CAU/BR. (4min. 21s.). son. color. port. Disponível em:</p><p><https://www.youtube.com/watch?v=HwmWE7RkAvA>. Acesso em: 28 set. 2020.</p><p>BRASIL. Conselho de Arquitetura e Urbanismo - CAU. Resolução n. 21, de 5 de</p><p>abril de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 23 abr. 2012.</p><p>Disponível em: <https://transparencia.caubr.gov.br/resolucao21/>. Acesso em:</p><p>28 set. 2020.</p><p>CHAKARIAN, L. Uso e ocupação do solo urbano em encostas na área de pro-</p><p>teção de mananciais da Bacia de Guarapiranga. 2008. [s. f.]. Dissertação de</p><p>Mestrado (Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,</p><p>Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <https://teses.usp.</p><p>br/teses/disponiveis/16/16139/tde-12052010-155959/pt-br.php>. Acesso em: 28</p><p>ago. 2020.</p><p>LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. 7. ed. Lisboa: Fun-</p><p>dação Calouste Gulbenkian, 2014.</p><p>MACEDO, S. S. Paisagismo brasileiro na virada do século: 1990-2010. 1. ed.</p><p>Campinas: Editora da Unicamp, 2012.</p><p>MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. 3. ed. São Paulo:</p><p>Edusp, 2010.</p><p>MAGNOLI, M. M. Espaço livre: objeto de trabalho. Paisagem e Ambiente, São</p><p>Paulo. [s. v.], n. 21, p. 175-198, 2006. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/</p><p>paam/article/view/40249>. Acesso em: 28 set. 2020.</p><p>MASCARÓ, J. L. (Org.). Infraestrutura da paisagem. 1. ed. Porto Alegre: Masqua-</p><p>tro, 2008.</p><p>MASCARÓ, J. L.; YOSHINAGA, M. Infraestrutura urbana. 1. ed. Porto Alegre:</p><p>Masquatro, 2005.</p><p>NIEMEYER, C. A. C. Paisagismo no planejamento arquitetônico. 2. ed. Uberlân-</p><p>dia: EDUFU, 2011.</p><p>PELLEGRINO, P.; MOURA, N. B. (Orgs.). Estratégias para uma infraestrutura</p><p>verde. 1. ed. Barueri: Manole, 2017.</p><p>QUAPÁ. Sobre o Quapá. Disponível em: <http://quapa.fau.usp.br/wordpress/>.</p><p>Acesso em: 28 set. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 38</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 38 15/12/2020 15:29:20</p><p>QUEIROGA, E. F. Dimensões públicas do espaço contemporâneo: resistências</p><p>e transformações de territórios, paisagens e lugares urbanos brasileiros. 2012.</p><p>282 f. Tese de Livre-docência (Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquite-</p><p>tura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:</p><p><https://teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/16/tde-07122016-101803/</p><p>pt-br.php>. Acesso em: 30 ago. 2020.</p><p>ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2010.</p><p>ROMERO, M. A. B. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. 1. ed. Bra-</p><p>sília: UnB, 2013.</p><p>SANCHES, P. M. De áreas degradadas a espaços vegetados: potencialidades de</p><p>áreas vazias, abandonadas e subutilizadas como parte da infraestrutura verde</p><p>urbana. 2011. 292 f. Dissertação de Mestrado (Arquitetura e Urbanismo) - Facul-</p><p>dade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.</p><p>Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-05122011-</p><p>100405/pt-br.php>. Acesso em: 28 ago. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 39</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 39 15/12/2020 15:29:20</p><p>CONCEITOS DE</p><p>PAISAGEM</p><p>2</p><p>UNIDADE</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 40 15/12/2020 15:27:18</p><p>Objetivos da unidade</p><p>Tópicos de estudo</p><p>Compreender o conceito de paisagem urbana;</p><p>Entender a abordagem contemporânea da paisagem;</p><p>Explorar aspectos do estudo preliminar de paisagismo;</p><p>Explorar aspectos do anteprojeto de paisagismo.</p><p>Paisagem urbana</p><p>Questões contemporâneas</p><p>Estudos preliminares e ante-</p><p>projetos em escala arquitetônica</p><p>e urbana</p><p>Estudos preliminares</p><p>Anteprojetos</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 41</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 41 15/12/2020 15:27:18</p><p>Paisagem urbana</p><p>O que é paisagem? Usualmente, associamos uma paisagem com aspectos da</p><p>natureza ou com o meio ambiente. Podemos remeter à paisagem atributos da eco-</p><p>logia, espaços de preservação ou conservação de recursos naturais. Além disso, ob-</p><p>servamos vínculos entre a paisagem e a arte, em pinturas e fotografi as, por exemplo.</p><p>Pode-se partir do entendimento que a paisagem é tudo aquilo que a vista al-</p><p>cança, como uma representação de um momento, uma imagem que o espectador</p><p>defi ne, por exemplo, quando fi camos admirados com a vista de um mirante ou de</p><p>uma cobertura de um edifício alto no meio da cidade. Nessa ideia, valoriza-se a visão</p><p>contemplativa a distância. No entanto, a paisagem é mais do que apenas aquilo que</p><p>vimos e captamos em determinado momento. Ela nos revela uma realidade visível,</p><p>mas também uma realidade invisível “da sensibilidade das pessoas com seu entor-</p><p>no” (SANDEVILLE JÚNIOR, 2005, p. 53).</p><p>Essa realidade invisível é resultante de uma série de relações impressas sobre a</p><p>Terra. Bartalini (2013, p. 40) diz que “tais impressões podem e devem ser reconhe-</p><p>cidas, lidas, decifradas, interpretadas, para se atingir a realidade mais interna que</p><p>por elas se manifesta”, como por exemplo, “é possível estudar os espaços livres de</p><p>uma cidade, suas especifi cidades, funções e integração num sistema”. A paisagem é,</p><p>portanto, uma realidade objetiva, mas também subjetiva.</p><p>Tardin (2010) considera entendermos a paisagem como a transformação da na-</p><p>tureza a partir das intenções da humanidade, reconhecendo aquilo que determina</p><p>quem somos como coletividade.</p><p>Assim, a paisagem é um bem coletivo, uma mani-</p><p>festação coletiva sobre o território físico e funcional. A paisagem é, portanto, deriva-</p><p>da da cultura humana.</p><p>Viver para intervir. Desse modo, cabe ao arquiteto e urbanista a investigar, apro-</p><p>fundando-se na discussão do processo e do resultado das ações da humanidade</p><p>sobre o espaço. Sua materialidade interessa ao olhar, mas também seu signifi cado</p><p>cultural (OLIVEIRA, 2016).</p><p>As pessoas estão diretamente na paisagem, “são” na paisagem, dado</p><p>que não só se movimentam nos espaços livres, como pedestres, ci-</p><p>clistas, motoristas e passageiros, dando vida às vias públicas, como</p><p>também utilizam os espaços livres para os mais diversos fi ns, do la-</p><p>zer a manifestação pública (QUEIROGA, 2012, p. 211).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 42</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 42 15/12/2020 15:27:19</p><p>No caso de arquitetos e urbanistas (arquitetos paisagistas), a paisagem é</p><p>animada por uma intenção de conhecimento, devido à atribuição de interven-</p><p>ção que essa profissão tem, isso é, a atribuição de projeto voltada para a qua-</p><p>lificação do espaço humano. Assim, não há paisagem sem as pessoas. Mesmo</p><p>que fotografemos um fragmento de floresta intocada a partir da janela de um</p><p>avião, a paisagem existe, pois foi um ser humano que a captou. A paisagem</p><p>está, então, na interação constante entre o espaço e as pessoas.</p><p>CITANDO</p><p>[...] as paisagens só são plenamente significadas como paisagens quando</p><p>dotadas do significado das vidas das pessoas que ali constroem sua história.</p><p>Seja um chão de concreto ou de cascalho, o horizonte de cinzas das lajes</p><p>da cidade, a terra da caatinga, os verdes solares das matas, a paisagem é a</p><p>nossa casa, o habitar da memória viva e familiar inscrita em cada imaginação</p><p>e realização, ou em cada possibilidade por fazer, mesmo que nunca venha a</p><p>ser (SANDEVILLE JÚNIOR, 2012, p. 207).</p><p>Nada é mais evidente na interação entre o espaço e as pessoas do que a</p><p>cidade. Mas como pensar em paisagem urbana se, especialmente nas grandes</p><p>cidades, pouco vemos de natureza? Na verdade, com o advento da industriali-</p><p>zação na Europa, a natureza e o meio ambiente passam a ser representados na</p><p>cidade pelas primeiras iniciativas de espaços livres verdes, como jardins públi-</p><p>cos, praças e parques. Tais espaços foram pensados, inicialmente, em função</p><p>dos seus benefícios como estar ao ar livre e como ponto de encontro para a</p><p>sociedade, o ver e ser visto. Ao longo do século XIX, muito se teorizou sobre</p><p>aspectos de beleza e utilidade das áreas verdes urbanas.</p><p>No Brasil, devido à grande desigualdade socioeconômica de nossa socieda-</p><p>de, existem grandes diferenças nas paisagens urbanas, até mesmo dentro da</p><p>mesma cidade. Pode-se perceber que a paisagem está em constante processo</p><p>de transformação e adequação de seus elementos às novas demandas da so-</p><p>ciedade, apresentando um intenso dinamismo em sua transformação.</p><p>As cidades brasileiras passaram por um grande processo de cres-</p><p>cimento ao longo do último século. Como resultado, tem-</p><p>-se uma conformação urbana que podemos caracterizar</p><p>em categorias e elementos distintos (MACEDO, 2012, p.</p><p>56-58):</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 43</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 43 15/12/2020 15:27:19</p><p>• Suporte físico: trata-se do relevo, do solo, das superfícies de água,</p><p>onde se articula a ocupação humana. É o suporte topográfico para a estru-</p><p>turação urbana, influenciando diretamente na conformação da paisagem</p><p>urbana;</p><p>• Volumes urbanos: trata-se de tudo aquilo que é construído, edifícios,</p><p>viadutos, pontes; bem como tudo aquilo que foi plantado, como as árvores</p><p>e a vegetação no geral. Esses volumes configuram, fisicamente, a paisagem</p><p>urbana e, ainda, organizam os espaços pela sua verticalidade (paredes, mu-</p><p>ros, cercas etc.) e pela sua cobertura (copas de árvores, marquises etc.);</p><p>• Espaços livres de edificação: também podem ser chamados de espa-</p><p>ços abertos, são aqueles espaços por onde a vida urbana acontece, fora das</p><p>edificações. São as vias, praças, parques, quintais, jardins, clubes, praias, ou</p><p>seja, todos os espaços destinados a algum tipo de uso urbano ao ar livre,</p><p>sejam de propriedade pública ou privada;</p><p>• Parcelamentos: trata-se das formas de divisão da propriedade da ter-</p><p>ra. Por meio dos parcelamentos que se subdivide os lotes e se criam as vias</p><p>urbanas, se definem os espaços públicos, condicionando o desenho da cida-</p><p>de. Podem ser loteamentos residências, loteamentos comerciais/industriais</p><p>e loteamento de chácaras, por exemplo. Os parcelamentos são balizados</p><p>por legislações urbanas e ambientais específicas, de âmbito municipal, es-</p><p>tadual e federal;</p><p>• Seres vivos: trata-se da humanidade e dos demais seres vivos que ha-</p><p>bitam a cidade. Os modos de organização humana constroem e movimen-</p><p>tam a paisagem urbana, nos seus diversos meios de locomoção, seja a pé ou</p><p>em veículos. A avifauna, por exemplo, se utiliza das</p><p>árvores e demais vegetações em área urbana.</p><p>A Figura 1 apresenta a vista aérea de uma</p><p>região na cidade de São Paulo/SP. Consideran-</p><p>do a figura, quais elementos que compõem a</p><p>paisagem urbana podem ser analisados? Pode-</p><p>-se observar, certamente, o suporte físico topo-</p><p>graficamente irregular e quase totalmente parcela-</p><p>do e ocupado por volumes edificados, pouco espaço livre e</p><p>áreas de montanhas ao fundo.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 44</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 44 15/12/2020 15:27:19</p><p>Figura 1. Vista aérea da Vila Nova Galvão, em São Paulo/SP. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/11/2020.</p><p>Figura 2. Vista aérea do bairro Jardim Paulista, na cidade de São Paulo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/11/2020.</p><p>Na Figura 2, observe a paisagem urbana do Jardim Europa, também na ci-</p><p>dade de São Paulo/SP. Quais diferenças podem ser observadas em relação aos</p><p>elementos da paisagem? Nesse caso, existe um suporte físico mais plano, que</p><p>favorece a inserção de parcelamentos, há volumes edificados mais bem distri-</p><p>buídos em lotes de maior tamanho e volumes arbóreos mais bem distribuídos.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 45</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 45 15/12/2020 15:28:05</p><p>Questões contemporâneas</p><p>A paisagem se altera a cada momento, podendo ser por uma ação huma-</p><p>na ou natural, se tornando como uma alteração radical ou não. A paisagem</p><p>da cidade brasileira contemporânea, especialmente as cidades de médio e</p><p>grande porte, polos de serviços e da indústria, está em constante processo</p><p>de transformação, causado pela dinâmica da sociedade de adequação aos</p><p>novos modos de produção e ao crescimento da população.</p><p>O cair e as folhas no inverno, o assoreamento natural de um</p><p>estuário, a morte pelo fogo de uma árvore, o surgimento de um</p><p>loteamento com pequenas casas ou uma nova plantação de</p><p>nabos alteram [a paisagem] sempre de modo mais ou menos</p><p>radical, de acordo com o caso, a sua confi guração (MACEDO,</p><p>2012, p. 59).</p><p>O desenvolvimento econômico sempre atraiu um grande número de pes-</p><p>soas para as cidades em busca de emprego e melhor qualidade de vida. As</p><p>periferias urbanas se expandiram e se expandem, extrapolando os limites</p><p>predefi nidos pela legislação, transformando, rapidamente, áreas de campos</p><p>ou matas em novos bairros e alterando o fl uxo ecológico de córregos e rios.</p><p>Dentro das áreas urbanas já consolidadas, a pai-</p><p>sagem é sempre modifi cada por novas constru-</p><p>ções ou intervenções no sistema viário. Afi nal,</p><p>as cidades brasileiras são extremamente pla-</p><p>nejadas em função do tráfego de automóveis</p><p>em detrimento de grandes investimentos que se-</p><p>riam necessários para a qualifi cação do transporte</p><p>público e da precarização do sistema ferroviário, com raras</p><p>exceções.</p><p>Por que temos uma diferença de paisagens urbanas tão substancial? É o</p><p>valor da terra que defi ne e condiciona a existência dessa ou daquela paisagem.</p><p>É a propriedade e o modo como os investimentos públicos e privados são di-</p><p>recionados que defi nem as formas de ocupação e a qualidade da paisagem</p><p>urbana (MACEDO, 2012, p. 58).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO</p><p>II 46</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 46 15/12/2020 15:28:05</p><p>Especialmente em grandes cidades ou metrópoles, os investimentos no</p><p>transporte rodoviário, com a construção de grandes avenidas, rodovias e</p><p>anéis viários, possibilitaram um crescimento espalhado, criando imensas</p><p>áreas vazias de urbanização, notadamente glebas especulativas, isso é, que</p><p>aguardam sua valorização para serem transformadas. Essas áreas se loca-</p><p>lizam entre novos loteamentos e condomínios esparsos. A qualificação do</p><p>sistema viário de alta capacidade permitiu a dispersão urbana da região me-</p><p>tropolitana por dezenas de quilômetros de distância (REIS, 2015). A Figura 3</p><p>apresenta o cruzamento de duas importantes rodovias.</p><p>Figura 3. Cruzamento rodoviário, em Campinas/SP, entre as rodovias SP-065 (Dom Pedro I) e SP-340. Fonte:</p><p>Shutterstock. Acesso em: 13/11/2020.</p><p>Esse novo tipo de configuração do sistema viário gera grandes vetores</p><p>de desenvolvimento urbano, concentrando empreendimentos comerciais,</p><p>habitacionais, industriais e de serviços, como shoppings, condomínios habi-</p><p>tacionais, entrepostos comerciais, centros empresariais, hotéis com centros</p><p>de convenções, entre outros, como se pode ver na Figura 4. Todos esses em-</p><p>preendimentos estão centrados no deslocamento individual motorizado. Es-</p><p>sas transformações urbanas se iniciaram na segunda metade do século XX,</p><p>mas se intensificaram a partir do século XXI.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 47</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 47 15/12/2020 15:28:29</p><p>Figura 4. Rodovia Dom Pedro I (Campinas/SP) em direção a um grande shopping center. Fonte: Shutterstock.</p><p>Acesso em: 13/11/2020.</p><p>A paisagem dessa cidade contemporânea brasileira se difere da paisagem</p><p>da cidade de meados do século XX, onde na área central concentrava quase</p><p>todos os equipamentos de comércio e serviços, bem como os bairros de elite.</p><p>Nessa nova paisagem, a cidade é esparsa, com grandes equipamentos des-</p><p>centralizados.</p><p>Por fim, uma questão contemporânea fundamental a ser analisada é a pai-</p><p>sagem dos condomínios horizontais fechados. Segundo Macedo (2012, p. 65),</p><p>nas últimas décadas do século XX, o aumento dos cursos do lote urbano em</p><p>áreas consolidadas, a escassez real de lotes de novas áreas para a construção</p><p>de residências de média e alta renda e a demanda por locais de moradia mais</p><p>seguro promoveram a explosão de empreendimentos imobiliários desse tipo.</p><p>Inicialmente, esses condomínios se localizavam no entorno das grandes</p><p>cidades, ocupando áreas rurais, mas passaram a explorar a demanda repri-</p><p>mida das cidades médias. São empreendimentos que vendem a segurança, o</p><p>contato direto com o verde e status, dotados de imensas áreas ajardinadas,</p><p>áreas de lazer, bosques, superfícies d’água e lotes usualmente maiores do</p><p>que os loteamentos convencionais. A Figura 5 apresenta um exemplo desse</p><p>tipo de condomínio.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 48</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 48 15/12/2020 15:28:43</p><p>Figura 5. Condomínios residenciais horizontais fechados, em Serra/ES. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/11/2020.</p><p>Estudos preliminares e anteprojetos em escala arquite-</p><p>tônica e urbana</p><p>Após uma análise conceitual sobre paisagem urbana, é importante voltar-</p><p>mos o olhar para aspectos projetuais do paisagismo urbano. Sabemos que</p><p>o projeto envolve, no mínimo, três etapas bem delineadas:</p><p>• Estudo preliminar;</p><p>• Anteprojeto;</p><p>• Projeto executivo.</p><p>No entanto, a realidade prática mostra que esse processo está longe de ser</p><p>linear e direto, o que implica avanços e retornos em alguns momentos, segun-</p><p>do Abbud (2010, p. 163). Desse modo, abordaremos algumas características</p><p>das duas primeiras etapas, fundamentais para o aprendizado de um(a) arquite-</p><p>to(a) e urbanista em formação.</p><p>Estudos preliminares</p><p>Ao iniciarmos um projeto é importante conhecer a legislação e as restri-</p><p>ções legais a que o projeto está sujeito, sejam ligadas ao planejamento urbano</p><p>ou às questões ambientais. É imprescindível ter em mãos os levantamentos</p><p>topográfi cos com a orientação solar, o levantamento dos maciços arbóreos</p><p>existentes e o uso do solo do entorno. Especialmente, no caso de projetos de</p><p>paisagismo, deve-se estudar análises do solo, a hidrologia do local e as análises</p><p>de impacto urbano-ambiental.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 49</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 49 15/12/2020 15:28:53</p><p>Com isso, é importante montar o programa de necessidades de acordo com</p><p>as demandas do cliente e das aspirações da comunidade. Abbud (2010, p. 182)</p><p>afirma que “as praças são espaços inseridos no tecido urbano, no qual a paisa-</p><p>gem da cidade está bastante presente”. Já “os parques são áreas que podem</p><p>ou não estar dentro da cidade, mas a visão da natureza prevalece sobre a pai-</p><p>sagem urbana do entorno”.</p><p>No processo de elaboração do programa, é fundamental a participação das</p><p>pessoas envolvidas no projeto. Oficinas de projeto (workshops) estimulam a</p><p>participação e visam avaliar as expectativas e solicitações, bem como podem</p><p>ser o início do processo de aceitação do projeto de intervenção. Diante do pro-</p><p>grama predefinido, parte-se, então, para o zoneamento, onde se deve distri-</p><p>buir os elementos de acordo com os usos, estabelecendo áreas arborizadas e</p><p>superfícies d’água. Esse ponto é o início do estudo preliminar.</p><p>Vale destacar que, assim como tantos outros campos do conhecimento,</p><p>é fundamental que o(a) arquiteto(a) e urbanista desenvolva a habilidade de</p><p>desenhar com determinação e rigor, com a mesma prática constante que um</p><p>músico aprende a tocar um instrumento, por exemplo. A ênfase na rapidez e na</p><p>eficiência das ferramentas computacionais não pode desconsiderar o amadu-</p><p>recimento intelectual resultante do exercício de desenho à mão livre.</p><p>Por mais que a tecnologia aplicada ao projeto paisagístico avan-</p><p>ce a passos largos, o desenho à mão livre, ou croqui, encoraja a</p><p>observação cuidadosa e permite maior entendimento</p><p>das dimensões de projeto e da área de intervenção,</p><p>o que chamados de apreensão do lugar ou genius</p><p>loci. O croqui não é um desenho dispensável, é um</p><p>material de projeto que representa a individualidade</p><p>do ambiente na perspectiva criativa.</p><p>EXPLICANDO</p><p>A apreensão do lugar ou genius loci se refere à descoberta do “espírito”</p><p>que habita e dá sentido aos lugares que vivemos e compartilhamos com as</p><p>outras pessoas. Esse genius loci cria o contexto singular que transforma</p><p>a cidade em lugar familiar para os seus habitantes. O ato de desenhar</p><p>permite ao arquiteto vivenciar o genius loci de um lugar. O desenho é o</p><p>entendimento prévio da “magia” de um lugar (GIROTO, 2010).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 50</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 50 15/12/2020 15:28:54</p><p>Hutchison (2011, p. 11) recomenda que se tenha um caderno de croquis (Fi-</p><p>gura 6), pois consiste em um espaço para o exercício de desenho de valor incal-</p><p>culável, não importando se o seu desenho seja “bom” ou “ruim”. O que importa</p><p>é a dedicação ao registro de ideias, listas, combinações de cores, captura de</p><p>visadas interessantes, sempre com o intuito de conduzir às soluções de projeto</p><p>que serão determinadas em etapas posteriores, principalmente, no projeto de</p><p>paisagismo, em que se parte sempre da conversão de um lugar existente para</p><p>um lugar mais bem qualificado ou para alguma outra função.</p><p>Figura 6. Esboços no caderno de croquis do arquiteto inglês Edward Hutchison. Fonte: HUTCHISON, 2011, p. 11.</p><p>Desse modo, o croqui representa uma grande contribuição para a formação</p><p>do arquiteto e urbanista. Liberamos nossa mente dos pensamentos do cotidiano</p><p>e nos abrimos para a formulação de ideias que nos envolvem diretamente com</p><p>o objeto de projeto da paisagem. É uma etapa muito intuitiva, em que apuramos</p><p>nossos sentidos, comparada à meditação (HUTCHISON, 2011, p. 16).</p><p>Destaca-se, ainda, que as fotografias do lugar também são fontes impor-</p><p>tantes de registro para o desenvolvimento dos estudos preliminares, mas os</p><p>croquis nos conectam à área de estudo de modo incomparável. Diferente das</p><p>lentes</p><p>de uma câmera fotográfica, nosso cérebro faz constantes reavaliações</p><p>enquanto desenhamos. Fotografias registram fatos, croquis registram ideias.</p><p>Lembre-se que os desenhos não pretendem representar a paisagem realistica-</p><p>mente, mas de forma esquemática.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 51</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 51 15/12/2020 15:29:02</p><p>Na criação coletiva de um projeto participativo, como devem ser os pro-</p><p>jetos na escala urbana, os desenhos à mão livre são um instrumento capaz</p><p>de gerar apreciação pelas pessoas leigas à arquitetura, seja pelo desenho em</p><p>si, seja pelo esforço que as pessoas se submeteram para entender o projeto,</p><p>estimulando as dúvidas e as discussões. Isso gera um maior envolvimento e</p><p>uma boa relação entre a comunidade e os profissionais de arquitetura e urba-</p><p>nismo. A Figura 7 apresenta o estudo preliminar do Parque Ecológico da Aldeia</p><p>de Carapicuíba/SP, elaborado a partir de um processo de criação coletiva entre</p><p>arquitetos, técnicos, comunidade e estudantes.</p><p>Figura 7. Estudo preliminar para o Parque da Aldeia de Carapicuíba/SP. Fonte: DOBRY-PRONSATO, 2016, p. 115.</p><p>No contexto urbano, os desenhos à mão livre contêm informações selecio-</p><p>nadas. De outro modo, são desenhos com foco na essência de um contexto</p><p>ou de um problema a ser solucionado. Assim, as possíveis dúvidas iniciais de</p><p>projeto devem ser capturadas em croquis, que podem ser utilizados na criação</p><p>de alternativas projetuais e podem ser aprofundadas pelas ferramentas com-</p><p>putacionais de representação gráfica.</p><p>O diálogo entre as duas técnicas, os croquis e os desenhos digitais, permite</p><p>um maior dinamismo no raciocínio de ideias, gerando uma economia de ener-</p><p>gia valiosa, pois ajuda a “desempacar” em caso de travas no processo criativo.</p><p>Após melhor solucionarmos o projeto, é possível converter os croquis em de-</p><p>senho digital, possibilitando uma maior precisão das formas e espaços, assim,</p><p>legitimando as ideias iniciais, ou corrigindo-as.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 52</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 52 15/12/2020 15:29:08</p><p>DICA</p><p>Os principais softwares de representação gráfica utilizados por arquitetos</p><p>e urbanistas são pagos. Entretanto, existem vários softwares livres, ou</p><p>seja, que não são pagos e não possuem função mercadológica, que po-</p><p>dem ser utilizados, dotados de qualidade similar aos pagos. Como exem-</p><p>plo, indica-se o FreeCAD e o LibreCAD, que suportam arquivos no formato</p><p>.dwg. Busque por eles!</p><p>No projeto da paisagem, os desenhos devem destacar ideias para a vegeta-</p><p>ção, é claro, materializando os conceitos iniciais. Características de movimento,</p><p>textura e formas não são fáceis de se transmitir para o papel, mas são funda-</p><p>mentais para a representação dos estudos. Desse modo, o uso de cores é uma</p><p>boa alternativa, pois evocam a variedade de plantas, tanto nos tons de verde,</p><p>quanto nas cores do tronco, das folhas e da floração. Na Figura 8, é possível</p><p>conferir o estudo de cores e texturas feito com lápis de cor a ser utilizado em</p><p>um estudo de paisagismo. Observe a combinação de cores e as técnicas.</p><p>Figura 8. Estudo de cores e texturas em lápis de cor. Fonte: HUTCHISON, 2011, n.p.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 53</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 53 15/12/2020 15:29:12</p><p>Para Hutchinson (2011, p. 90), “ao criar um novo projeto paisagístico os ar-</p><p>quitetos paisagistas assumem uma grande responsabilidade: encontrar uma</p><p>solução que redefina e regenere um lugar”. Portanto, para apresentar as pro-</p><p>postas preliminares, os desenhos que transmitirão o projeto precisam de uma</p><p>cuidadosa preparação. Além do uso das cores, é possível usar padrões de ha-</p><p>churas e sombras, que transmitem uma hora do dia ou características for-</p><p>mais, como densidade e comprimento, conforme modelo da Figura 9.</p><p>Figura 9. Estudo de hachuras para forrações e árvores em tons de cinza. Fonte: HUTCHISON, 2011, p. 90.</p><p>Na continuidade do nosso aprofundamento sobre os estudos preliminares</p><p>e as formas de representação dos projetos de paisagismo, as perspectivas são</p><p>um ponto importante de análise. Antes do avanço tecnológico proporcionado</p><p>pelas ferramentas computacionais, os desenhos de perspectivas demandavam</p><p>uma habilidade considerável e desenhistas sensíveis para representar as solu-</p><p>ções do projeto. Se nos dias atuais o computador torna esse trabalho mais fácil,</p><p>as vantagens de se produzir uma perspectiva à mão livre não deveriam ser</p><p>subestimadas. Vamos analisar as vantagens de dois tipos: a perspectiva com</p><p>pontos de fuga e a isométrica.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 54</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 54 15/12/2020 15:29:23</p><p>A perspectiva com pontos de fuga à mão livre tem como qualidade se con-</p><p>centrar em uma quantidade limitada de informações, naquilo que realmente é</p><p>necessário absorver sobre o projeto. Assim, é possível construir uma perspec-</p><p>tiva com capacidade de comunicar diretamente sua mensagem, por exemplo,</p><p>as características morfológicas de uma árvore, de um material construtivo ou a</p><p>relação espacial com o entorno edificado, como ilustra a Figura 10.</p><p>Figura 10. Perspectiva em cores com ponto de fuga de um estudo preliminar para a área externa de uma edificação,</p><p>com o acesso arborizado. Fonte: HUTCHISON, 2011, n.p.</p><p>Thorspecken (2014, p. 74) afirma que somente quando agregamos o ele-</p><p>mento humano à representação da paisagem é que conseguimos nos relacio-</p><p>nar com ela. Complementa, o que torna a vegetação no espaço urbano fasci-</p><p>nante é como os arquitetos a moldam ou a deixa intocada. Na Figura 11, um</p><p>desenho para o estudo preliminar de um jardim, feito em aquarela, teve como</p><p>foco a diversidade florística de arbustos e árvores e a relação com as pessoas.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 55</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 55 15/12/2020 15:29:30</p><p>Figura 11. Perspectiva em cores com ponto de fuga de um estudo preliminar de um jardim, com foco nas cores das</p><p>florações. Fonte: THORSPECKEN, 2014, n.p.</p><p>Hutchison (2011, p. 118) comenta que o fotorrealismo que usualmente ve-</p><p>mos nas perspectivas apresentadas pelas empresas de arquitetura ou do ramo</p><p>imobiliário, que muito nos seduzem, exige um altíssimo grau de informação téc-</p><p>nica, sendo que os programas computacionais somente podem produzir uma</p><p>imagem se forem fornecidas as instruções detalhadas sobre as definições pro-</p><p>jetuais. Como resultado, “atropela-se” etapas fundamentais de maturação do</p><p>projeto paisagístico, comprometendo sua qualidade. Há, ainda, a tendência de</p><p>“pasteurizar” (purificar) o desenho digital, apresentando visões utópicas, como</p><p>o céu azul excessivo, as pessoas universalmente perfeitas e todo o ambiente</p><p>adequado de modo ideal.</p><p>Já a perspectiva isométrica é outro tipo de perspectiva que cumpre função</p><p>diferente da perspectiva com pontos de fuga. Ela permite uma maior clareza ge-</p><p>ral da proposta, sendo mais fácil de explicar os espaços para o cliente ou futuro</p><p>usuário. Sob outro aspecto, ela introduz certa leveza, em detrimento de desenhos</p><p>técnicos de difícil entendimento para o leigo, como se pode ver na Figura 12.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 56</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 56 15/12/2020 15:29:33</p><p>Figura 12. Perspectiva isométrica de uma área externa de um espaço estudantil. Observe a diversidade de pontos de</p><p>encontro para as pessoas em meio ao espaço livre. Fonte: HUTCHISON, 2011, n.p.</p><p>Anteprojetos</p><p>Abbud (2010, p. 192) afi rma que o anteprojeto “é a conclusão do processo</p><p>iniciado no estudo preliminar. Tem como meta mostrar as soluções de projeto</p><p>já defi nidas, em termos de funcionalidade, de circulação, de formas e de esté-</p><p>tica. Representa o amadurecimento das ideias projetuais em uma linguagem</p><p>gráfi ca de fácil compreensão, podendo ter desenhos em cores e perspectivas.</p><p>CURIOSIDADE</p><p>O arquiteto Benedito Abbud (2010) afi rma que para o sucesso da apresenta-</p><p>ção de um anteprojeto, é importante que o profi ssional saiba expor as ideias,</p><p>esteja entusiasmado com os resultados apresentados e, principalmente,</p><p>se utilize de argumentos e justifi cativas compatíveis</p><p>com as expectativas</p><p>do cliente. No caso de clientes do setor público, como são a maioria dos</p><p>projetos de paisagismo urbano, espera-se que os objetivos políticos, sociais</p><p>e culturais do projeto estejam bem articulados. Para começar a conversa,</p><p>uma dica é falar das coisas boas do projeto e da satisfação que foi criá-lo.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 57</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 57 15/12/2020 15:29:36</p><p>Na etapa de anteprojeto, é recomendado apresentar os materiais que serão</p><p>utilizados, a seleção das espécies vegetais, a indicação dos elementos cons-</p><p>truídos, as movimentações topográficas e, ainda, uma estimativa de custos</p><p>de execução da proposta. A partir do anteprojeto devem ser desenvolvidos os</p><p>projetos complementares, como a luminotécnica, a segurança e a irrigação, por</p><p>exemplo. Na Figura 13 é possível observar o anteprojeto de arborização para a</p><p>borda de um pequeno lago, feito com recursos computacionais.</p><p>Figura 13. Anteprojeto de arborização para a borda de uma superfície d’água. Fonte: HUTCHISON, 2011, n.p.</p><p>Já a Figura 14 apresenta um anteprojeto com estudo de áreas de acordo</p><p>com o material e vegetação, representado por cores para facilitar a leitura da</p><p>peça gráfica. Pode-se observar os principais espaços: o eixo de pedestres em</p><p>vermelho é tratado com pavimentação em tijolos, o entorno das edificações é</p><p>forrado com britados sobre células plásticas do tipo nidoplast que mantém a</p><p>estabilidade do solo e a grande área vegetada com grama e árvores pontual-</p><p>mente distribuídas.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 58</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 58 15/12/2020 15:29:39</p><p>Figura 14. Anteprojeto de paisagismo utilizando de cores para o entorno de uma edificação escolar. Fonte:</p><p>HUTCHISON, 2011, n.p.</p><p>Em relação à seleção das espécies vegetais, é importante colocar que não</p><p>se trata, ainda, de sua quantificação. Essa tarefa deve ser realizada na etapa</p><p>posterior do projeto executivo. No anteprojeto, devemos estudar as melhores</p><p>espécies que se adequam às nossas intenções, sobretudo, de acordo com o</p><p>bioma e o ecossistema que estamos projetando.</p><p>Por exemplo, no caso do projeto para o Parque Estadual do Cocó, em For-</p><p>taleza/CE, considerado um dos maiores parques urbanos do Brasil, a equipe</p><p>de projeto pesquisou espécies que promovessem a preservação e a regenera-</p><p>ção do ecossistema nativo do entorno do rio Cocó. O projeto se orientou em</p><p>três ações: a escala do construído, do desenvolvimento econômico; a escala</p><p>urbana, da costura entre o parque a cidade e a escala ecológica, dos processos</p><p>ambientais (SOUZA, 2018, n.p.).</p><p>O estudo da vegetação nativa definiu um conjunto de espécies</p><p>voltadas para a recuperação do manguezal, das dunas e da mata</p><p>e ao mesmo tempo proporcionou a seleção de um conjunto arbó-</p><p>reo capaz de espraiar pelas áreas de lazer, de cultivo e do entorno</p><p>urbano uma vegetação típica da paisagem do nordeste brasileiro</p><p>(SOUZA, 2018, n.p.).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 59</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 59 15/12/2020 15:29:41</p><p>A Figura 15 apresenta as espécies vegetais selecionadas para as áreas de</p><p>planície fluvial do Parque do Cocó.</p><p>Figura 15. Espécies vegetais selecionadas para as áreas de intervenção paisagística das planícies fluviais do</p><p>Parque do Cocó, em Fortaleza/CE. Fonte: SOUSA, 2018, n.p.</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>O concurso nacional de ideias para o Parque Estadual do Cocó, em Fortaleza/</p><p>CE, foi realizado em 2017, por meio de uma parceria entre o Governo do Estado</p><p>do Ceará e o Instituto dos Arquitetos do Brasil. A realização de concursos de</p><p>projetos é uma excelente ferramenta de garantia da qualidade de projetos</p><p>versus a prática da licitação apenas por menor preço. Por serem baseadas na</p><p>qualidade das soluções propostas e focadas nas necessidades de um projeto,</p><p>as competições resultam em soluções de alto valor e inovadoras, com grande</p><p>benefício para a sociedade (CAU, 2019).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 60</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 60 15/12/2020 15:29:46</p><p>Sintetizando</p><p>Nesta unidade, vimos que a paisagem é mais do que um lance de vista. Apesar</p><p>de o conceito ter múltiplas abordagens, em diversos campos do conhecimento,</p><p>quando voltamos o olhar para a arquitetura e urbanismo (incluindo o paisagis-</p><p>mo) entendemos a paisagem urbana como um produto e um processo da ação do</p><p>homem sobre o espaço. Produto, pois é a materialidade de onde vivemos, e pro-</p><p>cesso, por essa materialidade estar em constante transformação pela sociedade.</p><p>A paisagem tem uma realidade visível e uma invisível. A realidade invisível é</p><p>subjetiva, pois é fruto da interação da humanidade com o espaço, assim, conside-</p><p>rado como espaço humano. Devido à desigualdade social, temos em uma mesma</p><p>cidade diversas paisagens urbanas.</p><p>Estudamos, também, questões contemporâneas sobre a paisagem urbana</p><p>que vem sendo pesquisadas por esse campo do conhecimento no Brasil. As novas</p><p>formas de produção e o crescimento da população promovem intensas transfor-</p><p>mações nas paisagens urbanas das cidades, fazendo com que as manchas urba-</p><p>nas extrapolem os limites antes estabelecidos pela legislação, muito em função</p><p>dos investimentos no sistema viário de alta capacidade.</p><p>A qualificação do sistema viário em detrimento da falta de investimentos sufi-</p><p>cientes em sistemas de transporte público estimulou o espraiamento das cidades</p><p>por áreas antes rurais, gerando um grande número de áreas vazias de urbaniza-</p><p>ção, nos interstícios dos fragmentos de ocupação, estruturados por rodovias que</p><p>se comportam como vetores de desenvolvimento urbano. A teoria da urbanização</p><p>estuda esse fenômeno como “dispersão urbana”.</p><p>Um dos aspectos mais relevantes da dispersão urbana é a proliferação de em-</p><p>preendimentos imobiliários do tipo condomínios horizontais fechados, vivencia-</p><p>da, especialmente, em cidades grandes e médias. Tais empreendimentos se ven-</p><p>dem como ilhas de qualidade de vida, de qualidade ambiental, de segurança e de</p><p>status.</p><p>Em nossa análise sobre os estudos preliminares e anteprojetos de paisagismo e</p><p>seus aspectos de representação, vimos a importância de apreendermos os lugares</p><p>que projetaremos, por meio de desenhos à mão livre (croquis). Os croquis são uma</p><p>das principais ferramentas para trabalharmos a metodologia de criação coletiva em</p><p>um projeto participativo, como devem ser os projetos de paisagismo urbano.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 61</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 61 15/12/2020 15:29:46</p><p>As cores têm um papel importantíssimo para a elaboração do estudo prelimi-</p><p>nar, pois evocam a variedade de características dos vegetais. As hachuras e som-</p><p>bras nos ajudam a transmitir maiores informações de projeto. As perspectivas fa-</p><p>cilitam o entendimento do projeto e humanizam os espaços que estamos criando.</p><p>Por fim, vimos que o anteprojeto é a etapa em que temos que apresentar so-</p><p>luções amadurecidas e que permitem a avaliação por parte do cliente. É a partir</p><p>da definição do anteprojeto que partimos para o desenvolvimento dos projetos</p><p>complementares.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 62</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 62 15/12/2020 15:29:46</p><p>Referências bibliográficas</p><p>ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística.</p><p>São Paulo: Senac, 2010.</p><p>BARTALINI, V. Natureza, paisagem e cidade. Pós, v. 20, n. 33, p. 36-48, 2013. Dis-</p><p>ponível em: <https://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/80919>. Acesso</p><p>em: 02 nov. 2020.</p><p>CAU. UIA reafirma importância de concursos de projeto arquitetônico. Con-</p><p>selho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, 2019. Disponível em: <https://</p><p>www.caubr.gov.br/uia-reafirma-importancia-de-concursos-de-projeto-arqui-</p><p>tetonico/>. Acesso em: 02 nov. 2020.</p><p>DOBRY-PRONSATO, S. A. et al. Parque ecológico Aldeia de Carapicuíba: projeto</p><p>de paisagismo participativo valorizando um patrimônio histórico. Paisagem e</p><p>Ambiente, n. 37, p. 101-117, 2016. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/</p><p>paam/article/view/102043>. Acesso em: 02 nov. 2020.</p><p>GIROTO, I. R. Genius loci. Monumento e transformação urbana</p><p>na obra de Fá-</p><p>bio Penteado. Arquitextos, v. 11, n. 124.06, 2010. Disponível em: <https://www.</p><p>vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.124/3576>. Acesso em: 02 nov.</p><p>2020.</p><p>HUTCHISON, E. O desenho no projeto da paisagem. Barcelona: Gustavo Gili,</p><p>2011.</p><p>MACEDO, S. S. Paisagismo brasileiro na virada do século: 1990-2010. São</p><p>Paulo: Edusp; Campinas: Editora da Unicamp, 2012.</p><p>OLIVEIRA, L. M. Araguari: o sistema de espaços livres na forma urbana. 2016.</p><p>154 f. Dissertação (Mestrado em Paisagem e Ambiente) – Faculdade de Arquite-</p><p>tura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:</p><p><https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-05092016-155444/pt-br.</p><p>php>. Acesso em: 01 nov. 2020.</p><p>QUEIROGA, E. F. Dimensões públicas do espaço contemporâneo: resistências</p><p>e transformações de territórios, paisagens e lugares urbanos brasileiros. 2012.</p><p>284 f. Tese (Livre-docência em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arqui-</p><p>tetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível</p><p>em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/16/tde-07122016-</p><p>101803/pt-br.php>. Acesso em: 01 nov. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 63</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 63 15/12/2020 15:29:46</p><p>REIS, N. G. Dispersão urbana e modernização capitalista. Revista Cidades, v.</p><p>12, n. 21, p. 91-107, 2015. Disponível em: <https://revista.fct.unesp.br/index.</p><p>php/revistacidades/article/view/4876/3542>. Acesso em: 01 nov. 2020.</p><p>SANDEVILLE JÚNIOR, E. Paisagem. Paisagem e Ambiente, São Paulo, n. 20,</p><p>p. 47-60, 2005. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/paam/article/</p><p>view/40228/0>. Acesso em: 01 nov. 2020.</p><p>SANDEVILLE JÚNIOR, E. Paisagens partilhadas. Paisagem e Ambiente, São</p><p>Paulo, n. 30, p. 203-214, 2012. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/</p><p>paam/article/view/78117>. Acesso em: 02 nov. 2020.</p><p>SOUZA, E. Conheça a proposta vencedora no Concurso Nacional de Ideias Par-</p><p>que do Cocó, de Base Urbana e COTA760. ArchDaily Brasil, 2018. Disponível</p><p>em: <https://www.archdaily.com.br/br/893004/conheca-a-proposta-vence-</p><p>dora-no-concurso-nacional-de-ideias-parque-do-coco-de-base-urbana-e-co-</p><p>ta760>. Acesso em: 02 nov. 2020.</p><p>TARDIN, R. Ordenação sistêmica da paisagem. In: Encontro Nacional da Asso-</p><p>ciação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo,</p><p>1., 2010. Anais... Rio de Janeiro: ANPARQ, 2010. Disponível em: <http://www.</p><p>anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/18/18-231-1-SP.pdf >. Acesso em 02</p><p>nov. 2020.</p><p>THORSPECKEN, T. Guia completo de técnicas de desenho urbano. São Paulo:</p><p>Gustavo Gili, 2014.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 64</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2.indd 64 15/12/2020 15:29:46</p><p>ABORDAGENS</p><p>DO TRATAMENTO</p><p>PAISAGÍSTICO</p><p>3</p><p>UNIDADE</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 65 15/12/2020 15:27:40</p><p>Objetivos da unidade</p><p>Tópicos de estudo</p><p>Entender o projeto da paisagem sob o olhar da qualidade ambiental;</p><p>Compreender os espaços de circulação como objetos do paisagismo;</p><p>Apreender aspectos de tratamento para áreas de preservação ambiental;</p><p>Assimilar conceitos de valorização urbana a partir da apropriação social.</p><p>Tratamento paisagístico de</p><p>área urbana visando à melhoria</p><p>da qualidade ambiental e da</p><p>circulação</p><p>Qualidade ambiental</p><p>Qualidade da circulação</p><p>Tratamento paisagístico da</p><p>área urbana visando à melhoria</p><p>da preservação do meio</p><p>ambiente e valorização urbana</p><p>Preservação do meio ambiente</p><p>Valorização urbana</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 66</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 66 15/12/2020 15:27:40</p><p>Qualidade ambiental</p><p>Nosso aprofundamento conceitual sobre aspectos de qualidade urbana começa</p><p>na Revolução Industrial europeia, realizada entre os séculos XVIII e XIX. A valori-</p><p>zação da ciência e da razão aprimorou os meios de produção e a especialização dos</p><p>campos do conhecimento, inclusive do paisagismo. Isso promoveu o crescimento</p><p>econômico que resultou em melhora na qualidade de vida da população mais rica,</p><p>em detrimento do aumento da pobreza e da miséria dos trabalhadores pobres, que</p><p>respondiam por cerca de 80% a 90% de toda a população (HERZOG, 2013).</p><p>Os avanços tecnológicos obtidos pela invenção da máquina a vapor e do motor-</p><p>movido a combustão causaram grandes transformações, gerando refl exos ambien-</p><p>tais, é claro, provocados pela destruição das fl orestas na busca por lenha e carvão e</p><p>pela queima desses combustíveis, aumentando a poluição do ar. Nas cidades indus-</p><p>triais, agravavam-se os problemas causados pela falta de saneamento básico, pela</p><p>poluição de todos os tipos e pela má qualidade das moradias das classes pobres.</p><p>Tratamento paisagístico de área urbana visando à</p><p>melhoria da qualidade ambiental e da circulação</p><p>As cidades não são objetos estáticos, não são um cenário para a vida huma-</p><p>na. São organismos, que se transformam a cada momento. Por isso, é funda-</p><p>mental compreendermos a necessidade de construirmos uma fundamentação</p><p>consolidada de argumentos sobre o projeto da paisagem, ou tratamento paisa-</p><p>gístico, que interfi ra positivamente na estruturação urbana baseada no ponto</p><p>de vista ambiental/ecológico e na vida cotidiana.</p><p>Os desafi os para os arquitetos e urbanistas são grandes. Embora muitas pes-</p><p>soas acreditem que as cidades tenham destruído quase que por completo seus</p><p>sistemas naturais, eles podem ser reconstruídos a partir do redesenho de seu</p><p>estado fragmentado e, não raro, altamente prejudicado. Outro desafi o é assumir</p><p>as mudanças climáticas, que já ocasionam ondas de calor mais inten-</p><p>sas, um maior número de tempestades e a elevação do nível do mar,</p><p>efeitos que se intensifi carão no futuro. Precisamos pensar em es-</p><p>tratégias de mitigação desses impactos e de adaptação das cida-</p><p>des, que continuarão existindo enquanto houver a humanidade.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 67</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 67 15/12/2020 15:27:40</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>Na Revolução Industrial, Londres teve um desenvolvimento inigualável,</p><p>tornando-se a maior cidade da Europa, sendo a primeira a alcançar um</p><p>milhão de habitantes, ainda em fins do século XVIII. Nesse período, a</p><p>expectativa de vida subiu de 35 para 50 anos. Entretanto, a cidade cresceu</p><p>sem planejamento. O esgoto corria a céu aberto pelas ruas, as casas não</p><p>tinham ventilação adequada e a cidade não contava com espaços livres</p><p>para lazer. A poluição e os surtos de doenças minavam a qualidade de</p><p>vida. Esse contexto de crescimento ocorreu em todas as cidades indus-</p><p>triais europeias (HERZOG, 2013).</p><p>Diante de tantos problemas urbanos, os gestores passaram a pensar em</p><p>novos modelos de cidades. Segundo Magalhães (2001, p. 74), “as preocupações</p><p>com a qualidade de vida urbana e os limites do crescimento desenvolvem-se</p><p>ao longo do século XIX”. Novas regras construtivas passaram a ser exigidas</p><p>visando a um ordenamento da ocupação, especialmente dando parâmetros de</p><p>afastamento para as edificações, ordenamento da circulação de veículos au-</p><p>tomotores (recém-inventados) e de pedestres, além de infraestrutura básica.</p><p>O objetivo inicial era dar condições de salubridade e proteção como venti-</p><p>lação e segurança, por exemplo. Do ponto de vista do zoneamento urbano, as</p><p>fábricas foram direcionadas para fora das cidades, as classes ricas deixaram os</p><p>centros e ocuparam loteamentos amplamente verdejados, localizados nos li-</p><p>mites urbanos e, para os operários, foram construídos conjuntos habitacionais</p><p>com pequenos imóveis. A presença da vegetação urbana já era parâmetro de</p><p>qualidade de vida.</p><p>Como medida de salubridade e embelezamento, foram criados os primei-</p><p>ros parques urbanos em uma tentativa de aproximar o espaço das pessoas</p><p>com a natureza e recriar um clima semelhante ao do campo. A</p><p>descoberta da fotossíntese, entre outras descobertas científicas</p><p>do campo da Biologia, ainda no século XVIII, refor-</p><p>çou o argumento acerca da necessidade de áreas</p><p>verdes urbanas para a purificação do ar nas</p><p>cidades. Grandes paisagistas passaram, en-</p><p>tão, a se destacar. É o caso de Frederick Law</p><p>Olmsted que, em</p><p>1857, projetou o Central Park,</p><p>em Nova York, EUA (MAGALHÃES, 2001).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 68</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 68 15/12/2020 15:27:40</p><p>Figura 1. Vista aérea do Central Park, em Nova York, EUA. Projeto de Frederick Law Olmsted, 1857. Fonte: Shutterstock.</p><p>Acesso em: 02/12/2020.</p><p>O desenho do Central Park foi inspirado nos parques europeus ingleses,</p><p>especialmente. Ao longo de toda a sua história, o parque foi valorizado pela</p><p>população, a ponto de as pessoas acreditarem, ainda, que ele se trata de uma</p><p>paisagem natural e área de conservação, quando, na verdade, se trata de uma</p><p>natureza projetada, motivada pelo aumento da qualidade ambiental. Nesse</p><p>período, nasceu a compreensão sistêmica das complexas funções e processos</p><p>naturais que ocorrem na paisagem e a consideração de que a saúde física e</p><p>mental das pessoas estava relacionada com a possibilidade de desfrutar a na-</p><p>tureza diretamente (HERZOG, 2013).</p><p>Olmsted foi um importante arquiteto divulgador da iniciativa chamada Park</p><p>Movement (em tradução livre, Movimento do Parque), cujo objetivo era a ação</p><p>de divulgação e de prática de embelezamento urbano e de proteção de áreas</p><p>de valor natural. Sua visão de longo prazo impediu que áreas urbanas estaduni-</p><p>denses ficassem à mercê de interesse de grupos imobiliários ou privilegiados.</p><p>No Brasil, um projeto de paisagismo visando a qualidade ambiental foi o</p><p>Parque Ibirapuera, em São Paulo. Na primeira metade do século XX, a cidade</p><p>teve seus cursos naturais alterados gravemente para a ocupação urbana e a</p><p>qualificação do sistema viário. Uma das poucas áreas livres restantes deu lugar</p><p>a um parque comemorativo ao quarto centenário da cidade de São Paulo. A</p><p>área era originalmente alagável (ibirapuera significa árvore apodrecida), no en-</p><p>tanto, ao longo do tempo teve suas águas naturais drenadas, restando apenas</p><p>lagos artificiais, em uma ação embasada sem princípios ecológicos.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 69</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 69 15/12/2020 15:28:06</p><p>O Parque foi inaugurado em 1954, com um projeto paisagístico fragmenta-</p><p>do, projetado por Uchôa Cavalcanti e Ícaro de Castro Mello (MACEDO; SAKATA,</p><p>2010), cujo destaque recai para o conjunto arquitetônico projetado por Oscar</p><p>Niemeyer, um ícone do modernismo brasileiro. Por desprezar os sistemas na-</p><p>turais, a imensa área verde pouco contribui para minimizar as enchentes nas</p><p>imediações, nos dias atuais (HERZOG, 2013).</p><p>Figura 2. Parque Ibirapuera, São Paulo, SP. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>Em Paris, na França, o projeto para o Parc de la Villette nos chama atenção</p><p>devido ao seu contexto e qualidade do resultado final. O parque foi projetado</p><p>sobre um matadouro, em uma iniciativa que procurou a urbanização da área</p><p>reunindo lazer e cultura em prol da qualidade ambiental urbana. O projeto foi</p><p>objeto de concurso público, vencido pelo arquiteto Bernard Tschumi, cujo pro-</p><p>jeto é referência internacional. A intenção projetual nasceu de</p><p>uma malha ortogonal de uma série de construções em estrutu-</p><p>ras metálicas pintadas de vermelho (chamadas de folies), que</p><p>servem para diversas finalidades, a fim de dar dinamismo e</p><p>múltiplos usos ao parque (Figura 3).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 70</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 70 15/12/2020 15:28:30</p><p>Figura 3. Parc de la Villette, Paris, França. Observe os folies. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>Qualidade da circulação</p><p>O tratamento paisagístico pode ter como elemento norteador a qualidade</p><p>da circulação. O caso do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro, é um exem-</p><p>plo. A ideia de intervenção partiu da necessidade de prover uma ligação mais</p><p>efi ciente entre o centro da cidade e o bairro de Copacabana (situado na zona</p><p>sul da cidade), passando por diversos bairros, por meio de uma via expressa.</p><p>Como toda a região já estava ocupada, a solução pensada foi a implantação da</p><p>grande avenida em um aterro sobre o mar.</p><p>Em um raro momento de esclarecimento sobre a qualidade urbana, o po-</p><p>der público enxergou na intervenção a possibilidade construção de um grande</p><p>parque central, ou parkway. Assim, em um plano coordenado pela arquiteta</p><p>Maria Carlota “Lota” Costallat de Macedo Soares, foi elaborado um projeto mo-</p><p>numental, com espaços de lazer verdejados distribuídos por toda a orla marí-</p><p>tima, ligados aos bairros por passarelas e túneis. O traçado fi nal foi projetado</p><p>pelo arquiteto Aff onso Eduardo Reidy e o projeto paisagístico foi desenvolvido</p><p>Roberto Burle Marx (HERZOG, 2013).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 71</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 71 15/12/2020 15:28:44</p><p>Figura 4. Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, construído ao longo de uma via rápida. Destaque para uma das</p><p>passarelas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>ASSISTA</p><p>Para saber sobre a história e o projeto do Parque do</p><p>Flamengo, assista ao vídeo intitulado Especial jardins</p><p>cariocas – Parque do Flamengo, produzido pela TV ALERJ,</p><p>narrado pela Professora Drª Ivete Farah, da Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro, que aborda desde a ideia da</p><p>parkway até o projeto final coordenado pela arquiteta Lota</p><p>de Macedo Soares. O vídeo apresenta ainda depoimentos</p><p>de pessoas sobre as qualidades paisagísticas do espaço.</p><p>Já ao final dos anos 1980, na França, um grande projeto se destaca pela</p><p>grandiosidade de seu espaço livre público, com foco na circulação de pedes-</p><p>tres. A ideia foi criar um novo bairro, chamado La Défense, com a intenção de</p><p>colocar a cidade como um centro financeiro internacional. O projeto foi implan-</p><p>tado na continuidade do eixo monumental do Arco do Triunfo. A “rua central”</p><p>do bairro é uma imensa esplanada de pedestres, quase totalmente impermea-</p><p>bilizada, entremeada por espelhos d’água e jardins projetados pelo arquiteto</p><p>estadunidense Dan Kiley. O acesso por transporte público de massa acontece</p><p>por estações de metrô abaixo da rua (HERZOG, 2013).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 72</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 72 15/12/2020 15:28:55</p><p>Figura 5. La Défense, Paris, França. Eixo principal de pedestres. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>Ainda analisando a qualidade da circulação, podemos pensar em aliar o</p><p>desenho urbano à infraestrutura verde na proposição de melhores práticas</p><p>de manejo das águas da chuva, por exemplo. Assim, podemos associar os es-</p><p>paços de circulação à redução das enchentes, já que as mudanças climáticas</p><p>comprovadamente já alteram a intensidade e a frequência dos eventos extre-</p><p>mos de chuva em todo o planeta. É possível apontarmos alguns problemas em</p><p>relação ao projeto de drenagem urbana convencional (MOURA, 2017).</p><p>O aumento das áreas impermeáveis nas cidades, associado ao crescimen-</p><p>to urbano, contribui para agravar os riscos de enchentes e os impactos am-</p><p>bientais sobre os cursos d’água, locais de destino final dos escoamentos. Os</p><p>custos para adaptação das infraestruturas de drenagem por redes conven-</p><p>cionais são elevados.</p><p>O uso de tubulações de maior diâmetro para suportar vazões maiores di-</p><p>minui a velocidade de escoamento nos períodos de chuvas menos intensas e</p><p>causa problemas de acúmulos de sedimentos.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 73</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 73 15/12/2020 15:29:03</p><p>Dentre essas questões, a mais grave é a impermea-</p><p>bilização do solo, que resulta em maiores impactos</p><p>sobre as bacias hidrográficas e águas superficiais,</p><p>provocando distúrbios em toda a cadeia de proces-</p><p>sos ecológicos. Por isso, a infraestrutura verde, como</p><p>uma alternativa de desenvolvimento de baixo impac-</p><p>to, ajuda a mitigar o problema da impermeabilização e garantir</p><p>uma maior longevidade aos sistemas de drenagem. Além de melhorar a quali-</p><p>dade da água que chega aos riachos e aos rios, pois esta é filtrada naturalmen-</p><p>te ao longo do processo (MOURA, 2017).</p><p>O caso do projeto para a rua Santarém, na cidade de Santo André, no esta-</p><p>do de São Paulo, apresentado por Moura (2017), é um exemplo de projeto que</p><p>mescla a qualidade da circulação ao tratamento paisagístico.</p><p>O projeto é parte</p><p>do estudo feito sobre a bacia hidrográfica do córrego Araçatuba. Nessa bacia,</p><p>foi construído um reservatório de detenção de água da chuva (usualmente co-</p><p>nhecido como piscinão), em 1991, cuja função era deter o escoamento, evitan-</p><p>do enchentes e seu transbordamento.</p><p>O reservatório funciona bem quanto à sua função de contenção de cheias,</p><p>entretanto, registram-se queixas da população do entorno em virtude da pre-</p><p>sença de mosquitos e mau cheiro. Além disso, as análises da qualidade da água</p><p>evidenciam a presença concentrada de poluentes, tais como metais pesados e</p><p>coliformes fecais, por exemplo (MOURA, 2017).</p><p>Na proposta, a área impermeabilizada foi substituída por pavimentos poro-</p><p>sos (58,70% da área total, equivalente à calçadas e rua, e 10,12% aos acessos às</p><p>garagens) e elementos de biorretenção distribuídos de maneira</p><p>equitativa por toda a extensão da rua (jardins de chuva e bio-</p><p>valetas, equivalendo a 31,18% da área total). O espaço para</p><p>carros (chamado de leito carroçável) foi estrei-</p><p>tado, já que se trata de uma rua local. Além</p><p>disso, foram aplicados princípios de ame-</p><p>nização do tráfego (traffic calming), por</p><p>meio da aplicação de sinuosidades no</p><p>desenho da rua que fazem com que os veí-</p><p>culos reduzam a velocidade (MOURA, 2017).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 74</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 74 15/12/2020 15:29:03</p><p>Legenda</p><p>Elementos de biorretenção (jardins de chuva e biovaletas) (A = 739,58 m2)</p><p>Passeios impermeáveis em bloquete intertravado poroso (A = 1393,13 m2)</p><p>Acesso de veículos aos lotes em bloquete intertravado poroso (A = 240 m2)</p><p>31,18%</p><p>58,70%</p><p>10,12%</p><p>Seção transversal da rua-jardim</p><p>Passeio permeável</p><p>Bloquete intetravado de</p><p>concreto poroso sobre</p><p>camadas de brita</p><p>Capacidade de retenção</p><p>= 0,0945 m3/m2</p><p>Elementos de biorretenção</p><p>Jardins de chuva e biovaletas</p><p>(superfícies vegetadas</p><p>sobre camadas de brita de</p><p>condução e retenção de</p><p>escoamento). Capacidade</p><p>de retenção = 0,74 m³/m²</p><p>Leito carroçável</p><p>A ser mantido</p><p>impermeável ou pouco</p><p>permeável, podendo</p><p>ter sua pavimentação</p><p>substituição por</p><p>materiais que estimulem</p><p>o trafego lento, como o</p><p>paralelepípedo</p><p>Passeio Passeio</p><p>min.</p><p>1,50 m</p><p>min. 1,50 m2,50 a 3,00 m 6 m</p><p>Biorretenção</p><p>Largura média da via pública</p><p>Leito carroçável mín.</p><p>12 m</p><p>0 1 2 3 m</p><p>Figura 6. Rua Santarém, Santo Andre, SP. Proposta para rua-jardim, ou rua verde. Fonte: MOURA, 2017, p. 56. (Adaptado).</p><p>Figura 7. Rua Santarém, Santo Andre, SP. Seção transversal da proposta de rua-jardim. Fonte: MOURA, 2017, p. 57. (Adaptado).</p><p>Com o total redesenho da rua, foram criados vazios para armazenar o escoamento</p><p>pluvial nas subcamadas de brita e macadame hidráulico dos jardins de chuva, biova-</p><p>letas, passeios (calçadas) porosos padronizados e faixas permeáveis</p><p>de acesso aos lotes. Observe, na Figura 7, um corte transversal da</p><p>proposta de rua-jardim (ou rua verde), para a rua Santarém. Veja</p><p>que a área verde criada permite a absorção e o escoamento da</p><p>água da chuva, além de possibilitar a arborização de forma correta.</p><p>Distribuição de áreas</p><p>permeáveis</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 75</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 75 15/12/2020 15:29:48</p><p>Tratamento paisagístico da área urbana visando à melhoria</p><p>da preservação do meio ambiente e valorização urbana</p><p>De acordo com Herzog (2013), nos</p><p>dias atuais, estudos mostram que</p><p>os efeitos da vida em cidades feitas</p><p>de concreto e asfalto afetam não só</p><p>a saúde do planeta, mas também</p><p>a saúde das pessoas. Os índices de</p><p>doenças, como pressão alta, ansie-</p><p>dade, depressão, entre tantas outras,</p><p>sobem à medida que as cidades cres-</p><p>cem. As causas são muitas e passam</p><p>pela falta de contato diário com a natureza, de exercícios ao ar livre, de re-</p><p>laxar e de se distrair. Diante desse contexto, neste tópico, veremos alguns</p><p>conceitos e exemplos de como podemos tratar a paisagem objetivando a pre-</p><p>servação do ambiente e valorização urbana.</p><p>Preservação do meio ambiente</p><p>As iniciativas para a preservação do meio ambiente não são uma prática</p><p>recente no mundo. Frederick Law Olmsted, entre 1880 e 1890, desenvolveu</p><p>um projeto importantíssimo chamado Emerald Necklace (em tradução livre,</p><p>colar de esmeraldas), para a cidade de Boston, nos Estados Unidos. Assim</p><p>como todas as cidades industriais, Boston enfrentava sérios problemas,</p><p>como a poluição generalizada dos cursos d’água, enchentes e falta de espa-</p><p>ços públicos de lazer, por exemplo.</p><p>Para reverter esse quadro, Olmsted desenvolveu, com apoio de Charles</p><p>Eliot, uma iniciativa pioneira de conexão de áreas ainda não ocupadas locali-</p><p>zadas nas bordas do rio local, chamado rio Muddy, em uma visão integrada da</p><p>paisagem e de seus fl uxos e processos, redesenhando e renaturalizando tais</p><p>áreas, resultando em um corredor verde ecológico com múltiplas funciona-</p><p>lidades (HERZOG, 2013) e em um sistema de parques, sendo os principais o</p><p>Back Bay Fens, o Riverway e o Jamaica Pond (MAGALHÃES, 2001).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 76</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 76 15/12/2020 15:29:51</p><p>Figura 8. Emerald Necklace, Boston, EUA. Vista para a parte baixa, chamada Back Bay Fens à margem do rio Muddy.</p><p>Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>CURIOSIDADE</p><p>Olmsted e Eliot tiveram como desafio chegar em uma alternativa de dre-</p><p>nagem urbana visualmente menos impactante e economicamente menos</p><p>dispendiosa do que a tradicional bacia construída em alvenaria para rece-</p><p>ber o excedente das chuvas, como são os “piscinões” de concreto. Como</p><p>solução, projetaram uma depressão de formato irregular, o Back Bay Fens,</p><p>que, durante as chuvas, permite reter o dobro de sua capacidade, reduzindo</p><p>a força das águas (BONZI, 2017).</p><p>As intenções projetuais de Olmsted para o Emerald Necklace foram a base</p><p>para o que, hoje, chamamos de infraestrutura verde. Todo o projeto segue o</p><p>fluxo natural de escoamento e infiltração das águas das chuvas. Nas partes bai-</p><p>xas foi reintroduzido um alagado construído, um lago artificial capaz de purificar</p><p>águas poluídas e conter enchentes. Foi um projeto implantado à frente de seu</p><p>tempo, tanto que seus princípios ecológicos somente foram retomados pelo pla-</p><p>nejamento da paisagem na segunda metade do século XX (HERZOG, 2013).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 77</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 77 15/12/2020 15:29:55</p><p>Nesse período, as intervenções na paisagem passam a apresentar uma raiz</p><p>de objetividade científica, não mais somente estética, mas uma sensibilidade</p><p>positiva cartesiana. A formulação do conceito de homeostase pela Ecologia</p><p>veio dar consistência científica aos estudos de infraestrutura verde iniciados</p><p>por Olmsted. A homeostase aplicada à paisagem trata de manter as condições</p><p>de equilíbrio de seus sistemas. Para que haja homeostase é necessário haver</p><p>(MAGALHÃES, 2001):</p><p>• Que haja livre variação e troca, originados na polaridade dos fatores, de</p><p>modo a originar gradientes que, por sua vez, formem campos contínuos;</p><p>• Que seja verificada a variação entre limites relativamente definidos para o</p><p>que é essencial à variedade.</p><p>Assim, o conceito de contínuo natural surge como o instrumento capaz de</p><p>assegurar o princípio da homeostase na paisagem, que deve obedecer a qua-</p><p>tro características (MAGALHÃES, 2001):</p><p>• A continuidade: assegurada pela circulação da água e do ar, do solo e da vege-</p><p>tação que, por sua vez, constituem habitats que permitem a circulação da fauna;</p><p>• A elasticidade: ou seja, a capacidade de o sistema se adaptar à variabilidade</p><p>dos seus elementos, dos quais o mais evidente é a água;</p><p>• A meandrização: aumentando as interfaces entre diferentes elementos da</p><p>paisagem, ou seja, aumentando o efeito de orla entre meios diferentes, onde são</p><p>maiores os gradientes entre os parâmetros físicos e biológicos;</p><p>• A intensificação: de modo a garantir uma otimização dos parâmetros físicos</p><p>e biológicos, compensando o empobrecimento ecológico das áreas urbanizadas.</p><p>O conceito de contínuo natural surge para preservar as estruturas funda-</p><p>mentais da paisagem</p><p>que, em meio urbano, penetram no tecido edificado de</p><p>modo tentacular e contínuo, como corredores verdes, assumindo</p><p>diversas formas e funções, cada vez mais urbanas, que vão des-</p><p>de as áreas de preservação a áreas de lazer, até as</p><p>ruas. Este conceito compõe a base conceitual para</p><p>a ideia de sistemas de espaços livres. Observe,</p><p>na Figura 9, o caso do plano de Berlim para</p><p>as áreas verdes, desenvolvido por Martin</p><p>Wagner, em 1929. Analise os corredores verdes</p><p>(green belts) que adentram a cidade.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 78</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 78 15/12/2020 15:29:55</p><p>Figura 9. Corredores verdes de Berlim, Alemanha. Em preto são os corredores verdes que adentram no tecido urbano,</p><p>retratado em branco. Fonte: BERLIN.DE. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>Nos anos 1960, os estudos sobre os processos naturais da paisagem se des-</p><p>tacaram sobre a identificação dos recursos naturais, em uma tentativa de de-</p><p>limitação das áreas onde não se deve edificar. Essa interpretação da paisagem</p><p>buscava uma valoração dos recursos e foi a base para os estudos de ecolo-</p><p>gia da paisagem. Essa leitura foi aperfeiçoada pelo arquiteto Ian McHarg, em</p><p>1992, ao propor um inventário ecológico que determina a capacidade da pai-</p><p>sagem para a implantação dos usos humanos, para a urbanização, agricultura,</p><p>lazer e preservação do meio ambiente (MAGALHÃES, 2001).</p><p>No Brasil, como referência histórica de tratamento paisagístico visando à</p><p>preservação do meio ambiente, temos o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de</p><p>Janeiro, RJ. No final do século XIX, as florestas do maciço da Tijuca tinham sido</p><p>praticamente eliminadas para dar lugar às plantações de café, interferindo de</p><p>maneira drástica nas nascentes dos cursos d’água que abasteciam a cidade.</p><p>Diante desse problema, Dom Pedro II ordenou o replantio da mata nativa.</p><p>Todo o projeto foi comandado pelo major Manuel Gomes Archer, importan-</p><p>te entendedor da botânica da Mata Atlântica. Foram reintroduzidas espécies</p><p>nativas e árvores frutíferas exóticas. Nas trilhas do parque, Archer elaborou ar-</p><p>ranjos de plantios de plantas ornamentais para o embelezamento das visadas.</p><p>A execução do projeto levou 13 anos (HERZOG, 2013).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 79</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 79 15/12/2020 15:29:56</p><p>Anteprojeto da</p><p>cidade de Maringá</p><p>no estado do Paraná</p><p>Escala: 1:5000</p><p>Figura 10. Parque Nacional da Tijuca, vista a partir do Pico da Tijuca. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/12/2020.</p><p>Figura 11. Anteprojeto para Maringá, anos 1940. Preservação dos corredores verdes originais. Fonte: MENEGUETTI, 2007, p. 80.</p><p>Quando nos referimos sobre o planejamento da paisagem urbana no Brasil,</p><p>uma das principais referências é o caso do plano para a cidade de Maringá, ela-</p><p>borado nos anos 1940, por Jorge de Macedo Vieira, apresentando clara influên-</p><p>cia do conceito de contínuos naturais e corredores verdes. Analise, na Figura 11,</p><p>a preservação dos corredores verdes desde a área central.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 80</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 80 15/12/2020 15:29:59</p><p>Já na década de 1980, ocorre um imenso avanço nos conceitos de trata-</p><p>mento paisagístico. O arquiteto Fernando Chacel evidencia o termo ecogênese</p><p>(CHACEL, 2001) em seus projetos de regeneração de áreas perilagunares de-</p><p>gradadas localizadas na região de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ. A intenção do</p><p>projeto era recuperar as funções ecológicas dos mangues e restingas, compro-</p><p>metidas pela intensa ocupação por empreendimentos imobiliários. Chacel de-</p><p>senvolveu os projetos para os Parque Península, Parque de Educação Ambiental</p><p>Professor Mello Barreto, Parque Natural Municipal de Marapendi e Rio Offi ce</p><p>Park, alguns associados a empreendimentos imobiliários (HERZOG, 2013).</p><p>EXPLICANDO</p><p>Ecogênese, conceito levantado por Chacel, é um termo proveniente da</p><p>Botânica, um neologismo para o método de reconstituição ecogenética.</p><p>Trata-se da reconstituição de ecossistemas parcialmente ou totalmente</p><p>degradados, por meio da sua reinterpretação por meio de espécies vege-</p><p>tais nativas recompostas em suas associações originais, em um trabalho</p><p>multidisciplinar (CURADO, 2009).</p><p>Figura 12. Áreas de mangue do Parque Natural Municipal de Marapendi, Rio de Janeiro, RJ. Fonte: Shutterstock. Acesso</p><p>em: 02/12/2020.</p><p>Valorização urbana</p><p>A função do arquiteto e urbanista, ao desenvolver projetos de tratamento pai-</p><p>sagístico, ultrapassa a indicação de espécies vegetais, e recai sobre aspectos de</p><p>planejamento urbano, em uma interação que ocorre entre os campos da Arqui-</p><p>tetura, Urbanismo, Paisagismo, Biologia, Engenharia, entre tantas outras áreas</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 81</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 81 15/12/2020 15:30:00</p><p>de estudo. (ZAGO; GONÇALVES; SOUZA, 2018). Desse modo, os benefícios para a</p><p>valorização urbana são reais e evidentes a toda a sociedade, que passa a se apro-</p><p>priar e a cuidar dos espaços livres públicos e da paisagem urbana como um todo.</p><p>A valorização ocorre quando esses espaços passam a propiciar lazer, recrea-</p><p>ção e educação para as pessoas, de modo a despertar uma consciência crítica para</p><p>a necessidade de provimento de espaços qualificados do ponto vista paisagístico.</p><p>Os espaços públicos devem propiciar às pessoas atividades de reencontro e liga-</p><p>ção com a natureza, não só dos aspectos naturais, mas, também, culturais.</p><p>Os programas de uso público para parques, praças, unidades de conserva-</p><p>ção, entre outros espaços, são ferramentas importantíssimas para promover</p><p>a valorização urbana. Tais programas têm como objetivos estimular, controlar</p><p>e nortear os diversos usos desses espaços, desde o aspecto da apropriação</p><p>pública até a proteção da natureza. Algumas questões podem nos ajudar a nor-</p><p>tear a elaboração dos programas, de acordo com os potenciais de cada espaço</p><p>(RAIMUNDO; PACHECO; COSTA, 2011):</p><p>• Como proporcionar atividades de sensibilização da natureza para comuni-</p><p>dades carentes, cujas necessidades básicas como água tratada, esgoto, educa-</p><p>ção e transporte, por vezes, não são atendidas?</p><p>• Quais são os interesses, aspirações e necessidades da comunidade do en-</p><p>torno com relação aos objetivos e serviços prestados pelos espaços públicos?</p><p>• Como um espaço, inserido na realidade de carências sociais e rápida trans-</p><p>formação do uso e ocupação das cidades, pode cumprir com seus objetivos de</p><p>valorização urbana?</p><p>Assim, os programas de uso público devem compatibilizar as aspirações de</p><p>lazer da sociedade com as ações de valorização da natureza, devendo propor</p><p>(RAIMUNDO; PACHECO; COSTA, 2011):</p><p>CITANDO</p><p>“O sentimento positivo das pessoas em relação aos lugares, a apropria-</p><p>ção, passa pela sua utilidade. Um espaço apropriado e que recebe a</p><p>atenção do Poder Público induz todo um grupo a conservá-lo. O oposto, a</p><p>depredação, é um sentimento negativo, uma reação agressiva a algo que</p><p>não permite ser apropriado, como um equipamento ou mobiliário urbano</p><p>que não tem utilidade ou que esteja deteriorado” (SAKATA, 2011).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 82</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 82 15/12/2020 15:30:00</p><p>• Ações para as oportunidades recreativas e educacionais;</p><p>• Ações para mudanças de atitudes e comportamentos da sociedade na sua</p><p>relação com a natureza;</p><p>• A estruturação de serviços e equipamentos voltados ao uso público que</p><p>atendam ao direito ao lazer.</p><p>Importante comentar que não estamos falando do simples entretenimen-</p><p>to no espaço público, mas em uma função maior, mais crítica às questões de</p><p>educação ambiental. O entretenimento é apenas uma das suas funções, aliado</p><p>à função do descanso e do desenvolvimento pessoal e social, na busca pela</p><p>valorização urbana.</p><p>Os programas devem ter aderência às práticas de lazer existentes e aos inte-</p><p>resses culturais das comunidades dos bairros do entorno de cada espaço. Essas</p><p>práticas vão desde as atividades físicas, esportivas, artísticas, sociais, turísticas,</p><p>entre outras, que devem ser estruturadas para seu uso adequado. Em suma, é</p><p>preciso entender o espaço vivido para que sejam</p><p>............................................................................................... 110</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 7 15/12/2020 15:26:16</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 8 15/12/2020 15:26:16</p><p>Prezado(a) estudante, na disciplina Projeto de Paisagismo II você aprenderá</p><p>os principais passos para elaborar um projeto para um espaço público urbano.</p><p>O paisagismo urbano é um campo ainda pouco explorado, se comparado a</p><p>outros do curso de Arquitetura e Urbanismo.</p><p>Não raro, é confundido com planejamento urbano ou, até mesmo, menos-</p><p>prezado por alguns profi ssionais. Isso é resultado de uma formação profi ssio-</p><p>nal defasada.</p><p>O paisagismo é um ramo do conhecimento que, no Brasil, é atribuição pro-</p><p>fi ssional exclusiva de arquitetos e urbanistas. Isso poque entende-se que cabe</p><p>ao arquiteto a planifi cação dos espaços que os seres humanos habitam, nas</p><p>mais diversas funções.</p><p>Você verá que o projeto de paisagismo na escala urbana exige um profundo</p><p>conhecimento de aspetos construtivos, geográfi cos e biológicos, portanto, é</p><p>um conhecimento interdisciplinar. Como em todo projeto, a liberdade criativa</p><p>deve ser balizada por uma metodologia consistente, baseada em uma análise</p><p>profunda e contextualizada do espaço objeto de projeto.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 9</p><p>Apresentação</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 9 15/12/2020 15:26:16</p><p>Às pessoas que se preocupam com a qualidade dos espaços vegetados</p><p>nas cidades brasileiras; que cuidam do seu jardim ou do seu quintal; que</p><p>valorizam as praças, os parques, os canteiros das avenidas ou qualquer</p><p>outro espaço em que a vida brote.</p><p>O professor Lucas Martins de Oliveira</p><p>é doutor (2020) e mestre (2016) em Ar-</p><p>quitetura e Urbanismo, pela Universida-</p><p>de de São Paulo – USP. É graduado no</p><p>mesmo curso pela Universidade Federal</p><p>de Uberlândia (2013).</p><p>Dedica-se, desde 2013, à atividade pro-</p><p>jetual, de ensino e pesquisa na área de</p><p>paisagismo.</p><p>Currículo Lattes:</p><p>http://lattes.cnpq.br/8147030081132631</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 10</p><p>O autor</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 10 15/12/2020 15:26:17</p><p>PAISAGISMO E</p><p>MÉTODO</p><p>1</p><p>UNIDADE</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 11 15/12/2020 15:26:31</p><p>Objetivos da unidade</p><p>Tópicos de estudo</p><p>Entender o paisagismo como ciência-chave para a recuperação ambiental;</p><p>Compreender as fases de projeto de paisagismo urbano;</p><p>Explorar aspectos de projeto para áreas degradadas;</p><p>Explorar aspectos de projeto para áreas de risco.</p><p>Metodologia do projeto de</p><p>paisagismo urbano</p><p>Fases de projeto</p><p>Critérios de projeto</p><p>Áreas livres públicas</p><p>O paisagismo e a recuperação</p><p>de áreas degradadas e de risco</p><p>Serviços ambientais do paisa-</p><p>gismo</p><p>Recuperação de áreas degra-</p><p>dadas e de risco geológico</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 12</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 12 15/12/2020 15:26:31</p><p>Metodologia do projeto de paisagismo urbano</p><p>O projeto de paisagismo é uma</p><p>atribuição defi nida para arquitetos</p><p>e urbanistas (BRASIL, 2012). Ele tem,</p><p>na sua formação, uma base teórica e</p><p>prática sobre o assunto, que ultrapas-</p><p>sa o simples entendimento de plantas</p><p>ornamentais com função estética. O</p><p>projeto de paisagismo é muito mais do</p><p>que especifi car vegetação, trata-se da</p><p>humanização do espaço exterior de acordo com as demandas das pessoas e</p><p>da sociedade.</p><p>Para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), a atividade</p><p>projetual de paisagismo consiste no conjunto de atividades de planifi cação da</p><p>paisagem, isto é, a organização dos espaços exteriores voltados ao uso social</p><p>ou recreativo, como parques, praças e jardins, o que abrange a defi nição de</p><p>serviços, circulação, comunicação visual e arborização.</p><p>Para Magnoli (2006), o objeto de projeto do paisagismo é o “espaço livre de</p><p>edifi cação ou de urbanização”. Sua defi nição é complexa, mas podemos enten-</p><p>dê-la como todos os espaços abertos não abrigados por coberturas edifi cadas,</p><p>como quintais e recuos, no caso de uma residência, ou ruas, praças, parques,</p><p>entre outros, no caso da cidade.</p><p>No caso de um projeto de paisagismo urbano, o ato de criar exige que te-</p><p>nhamos um profundo conhecimento do local de intervenção. Se projetamos</p><p>uma praça, devemos conhecer as características do bairro que a envolve. Se</p><p>projetamos um parque, devemos pesquisar sobre os aspectos do setor da ci-</p><p>dade em que ele será inserido.</p><p>Fases de projeto</p><p>Assim como os projetos de arquitetura, os projetos de paisagismo devem</p><p>ser elaborados seguindo etapas que nortearão nosso trabalho. Não são etapas</p><p>exclusivamente lineares, pois podemos voltar e repensar algo que, em ante-</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 13</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 13 15/12/2020 15:26:37</p><p>projeto, não resultou no que foi esperado no estudo preliminar. Porém as eta-</p><p>pas servem para orientar a produção do nosso projeto.</p><p>A elaboração de um projeto é dividida em estudo preliminar, anteprojeto,</p><p>projeto executivo e detalhamento. No entanto, antes de projetar o estudo pre-</p><p>liminar, devemos elaborar um inventário, que se trata dos levantamentos de</p><p>informações preliminares.</p><p>Nesse momento, fazemos uma ampla pesquisa de campo, analisando o</p><p>máximo de informações, sejam elas cedidas pelo contratante (empresa priva-</p><p>da, poder público etc.), sejam levantadas pelo próprio arquiteto por meio de</p><p>visitas técnicas, ato que chamamos de levantamento in loco. Reunimos essas</p><p>informações para melhor entender as características do lugar, seus aspectos</p><p>morfológicos, ambientais e sociais. São itens que compõem o inventário de</p><p>pesquisa (NIEMEYER, 2011):</p><p>• Levantamento planialtimétrico e cadastral junto ao poder público da área</p><p>objeto de projeto, contendo todos os elementos existentes, como curvas de</p><p>nível, vegetação, edificações, cursos d’água, afloramentos de rochas etc.;</p><p>• Particularidades da paisagem, visadas interessantes, enquadramentos etc.;</p><p>• Mapeamento das sombras, caso a área seja limitada por edifícios;</p><p>• Restrições legais de âmbito municipal, estadual e federal;</p><p>• Análise do solo (granulometria, fertilidade e Ph), visando possíveis corre-</p><p>ções e adaptações de espécies vegetais a serem inseridas;</p><p>• Condições climáticas (temperatura média, direção dos ventos, regime</p><p>de chuvas etc.);</p><p>• Condições biológicas (flora e fauna a serem preservadas ou recuperadas),</p><p>em caso de intervenção em áreas protegidas;</p><p>• Estudos de impactos possíveis.</p><p>Com o inventário feito, é necessário elaborar o programa de necessidades,</p><p>que consiste na identificação dos desejos dos habitantes sobre área em pro-</p><p>jeto. No caso de áreas públicas, é imprescindível que o programa seja</p><p>elaborado com a participação das pessoas diretamente envolvidas</p><p>(aquelas que moram no entorno). Na elaboração do progra-</p><p>ma de uma área pública, nos deparamos com expectativas</p><p>que transcendem a simples implantação de uma quadra</p><p>poliesportiva e um parque infantil.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 14</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 14 15/12/2020 15:26:37</p><p>ASSISTA</p><p>Assista ao depoimento da arquiteta Rosa Grena Kliass sobre</p><p>a origem do projeto para o parque Mangal das Garças, loca-</p><p>lizado na cidade de Belém, no Pará. Observe a importância</p><p>que a pesquisa que antecede ao desenvolvimento do projeto</p><p>teve para a identificação da vegetação nativa, da avifauna</p><p>e da relação com o ciclo hidrológico local. Ela se refletiu em</p><p>todo o método do projeto. O vídeo Parque Mangal das Gra-</p><p>ças está no canal do Youtube do CAU/BR.</p><p>Tendo como base essas informações, podemos iniciar a elaboração do es-</p><p>tudo preliminar. Começamos pelo estudo funcional, que traça as primeiras di-</p><p>retrizes de zoneamento para o projeto. Ele consiste em definirmos a localiza-</p><p>ção adequada para cada elemento do programa de necessidades, ou grupo de</p><p>elementos: áreas esportivas, bosques, estacionamentos, área administrativa</p><p>etc. Assim, organizamos os espaços de acordo com a funcionalidade. As áreas</p><p>administrativas e esportivas, por exemplo, devem estar próximas aos estacio-</p><p>namentos, devido ao público frequente e maior que recebem.</p><p>propostas novas ações.</p><p>Raimundo, Pacheco e Costa (2011), em seus estudos sobre os Parques Natu-</p><p>rais Municipais de Itapecerica da Serra e Embu das Artes, em São Paulo, obser-</p><p>varam que as práticas de lazer usuais se concentravam em atividades de nado</p><p>nas lagoas, pesca e prática de futebol, realizadas pelo sexo masculino adulto;</p><p>essa última, inclusive, com incentivo das Secretarias de Esportes com materiais</p><p>e equipamentos para as equipes.</p><p>Como tentar tornar essas práticas de lazer mais igualitárias</p><p>ao público feminino, infantil e idoso? É preciso pensar em</p><p>ações que contemplem essas pessoas e que, ainda, sejam</p><p>realizadas fora dos horários de trabalho doméstico e remu-</p><p>nerado, para atrair mais público praticante.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 83</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 83 15/12/2020 15:30:00</p><p>Sintetizando</p><p>Nesta unidade, abordamos conceitos e estudos de casos de projetos de</p><p>tratamento paisagístico de áreas urbanizadas, voltados para a melhoria de</p><p>diversos aspectos de qualidade ambiental, qualidade de circulação, preser-</p><p>vação do meio ambiente e valorização urbana. Vimos as principais especifi-</p><p>cidades teóricas e conceituais de cada um desses aspectos.</p><p>Os projetos paisagísticos visando à melhoria da qualidade ambiental, ini-</p><p>cialmente, eram norteados por princípios de embelezamento urbano, ame-</p><p>nização da poluição (especialmente do ar e da água) e por uma tentativa de</p><p>aproximação das pessoas com a natureza, como no caso do Parque Ibira-</p><p>puera, em São Paulo, que foi motivado muito mais pela comemoração do</p><p>quarto centenário da cidade do que por questões ecológicas, em uma época</p><p>que pouco se falava sobre o assunto.</p><p>Vimos que os projetos de tratamento paisagístico podem ser associados</p><p>à melhoria da qualidade da circulação, sob o aspecto da mobilidade urbana,</p><p>especialmente do pedestre. As ruas, por exemplo, podem ser redesenhadas</p><p>sob os princípios da infraestrutura verde, assim, aumentando a capacidade</p><p>de infiltração e tratamento natural para as águas das chuvas, além da ex-</p><p>pansão da arborização urbana e qualificação das calçadas.</p><p>Já os projetos objetivando a melhoria da preservação do meio ambien-</p><p>te baseiam-se em princípios hoje consolidados de ecologia da paisagem,</p><p>como o conceito de contínuo natural dos corredores verdes que devem ser</p><p>planejados de modo a conviver harmoniosamente com a mancha urbana,</p><p>enriquecendo a qualidade dos sistemas de espaços livres públicos.</p><p>Por fim, tratamos dos aspectos de valorização urbana centrados na ca-</p><p>pacidade de apropriação pública da paisagem urbana. Tal capacidade pode</p><p>ser estimulada pela elaboração de programas de uso público para os espa-</p><p>ços livres que compõem nossas cidades, orientando ações de lazer e recrea-</p><p>ção, de educação e de conservação da natureza.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 84</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 84 15/12/2020 15:30:00</p><p>Referências bibliográficas</p><p>BERLIN.DE. The history of Berlin’s urban green space: municipal development of</p><p>urban green space, 1920 to 1948 – 1920 to 1925. Disponível em: <https://www.ber-</p><p>lin.de/senuvk/umwelt/stadtgruen/geschichte/en/stadtgruen/1920_1948/1920_</p><p>bis_1935/index.shtml>. Acesso em: 02 dez. 2020.</p><p>BONZI, R. S. Paisagem como infraestrutura. In: PELLEGRINO, P.; MOURA, N. B.</p><p>(Orgs.); VARGAS, H. C. (Coord.). Estratégias para uma infraestrutura verde.</p><p>1. ed. Barueri: Manole, 2017.</p><p>CHACEL, F. Paisagismo e ecogênese. 1. ed. Rio de Janeiro: Fraiha, 2001.</p><p>CURADO, M. M. C. Paisagismo contemporâneo no Brasil: Fernando Chacel e o</p><p>conceito de ecogênese. In: Seminário Docomomo Brasil, 8., 2009, Rio de Janeiro.</p><p>Anais... Rio de Janeiro: Docomomo, 2009. [n.p.]. [n.p.]. Disponível em: <https://do-</p><p>comomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/145.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2020.</p><p>HERZOG, C. P. Cidades para todos: (re)aprendendo a conviver com a natureza.</p><p>1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2013.</p><p>MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. 3. ed., São Paulo: Edusp, 2010.</p><p>MAGALHÃES, M. R. A arquitectura paisagista: morfologia e complexidade.</p><p>1. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 2001.</p><p>MENEGUETTI, K. S. De cidade-jardim a cidade sustentável: potencialidades</p><p>para uma estrutura ecológica urbana em Maringá-PR. 2007. 207 f. Tese (Douto-</p><p>rado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São</p><p>Paulo, 2007. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/</p><p>tde-19052010-105818/pt-br.php>. Acesso em: 12 nov. 2020.</p><p>MOURA, N. B. Biorretenção como alternativa para manejo das águas urbanas</p><p>e mudanças climáticas na Grande São Paulo. In: PELLEGRINO, P.; MOURA, N. B.</p><p>(Orgs.); VARGAS, H. C. (Coord.). Estratégias para uma infraestrutura verde.</p><p>1. ed. Barueri: Manole, 2017.</p><p>RAIMUNDO, S.; PACHECO, R. B.; COSTA, B. M. Construindo um programa de</p><p>uso público para unidades de conservação em áreas metropolitanas: a expe-</p><p>riência dos parques naturais municipais de Itapecerica da Serra e Embu das</p><p>Artes – RMSP (SP). OLAM – Ciência e Tecnologia, [s.l.], v. 11, n. 1, 2011. Disponí-</p><p>vel em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/olam/article/</p><p>view/8974>. Acesso em: 12 nov. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 85</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 85 15/12/2020 15:30:00</p><p>SAKATA, F. G. Paisagismo urbano: requalificação e criação de imagens. 1. ed.</p><p>São Paulo, Edusp, 2011.</p><p>ESPECIAL jardins cariocas – Parque do Flamengo. Postado por TV ALERJ. (9m.</p><p>31s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i-g-</p><p>-dfoviRk>. Acesso em: 12 nov. 2020.</p><p>ZAGO, A. F.; GONÇALVES, A.; SOUZA, A. D. Saúde urbana: a importância do pai-</p><p>sagismo nas cidades e suas implicações com a qualidade de vida. In: Seminá-</p><p>rio dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas do campus de Campo Mourão da</p><p>Universidade Estadual do Paraná, 4., 2018, Campos Mourão. Anais... Campo</p><p>Mourão: Unespar, 2018. [n.p.]. Disponível em: <http://anais.unespar.edu.br/</p><p>iv_secisa/data/uploads/areas_afins/zago-goncalves-e-souza_saude-urbana-a-</p><p>-importancia-do-paisagismo-nas-cidades-e-suas-implicacoes-com-a-qualida-</p><p>de-de-vida-_iv-secisa-2018.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 86</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3.indd 86 15/12/2020 15:30:00</p><p>A ÁREA DE ESTUDO</p><p>NA PRÁTICA</p><p>4</p><p>UNIDADE</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 87 15/12/2020 15:28:21</p><p>Objetivos da unidade</p><p>Tópicos de estudo</p><p>Aprender a perceber os estímulos que a área de estudo oferece;</p><p>Aprender a investigar a legibilidade e identidade da área de estudo;</p><p>Relacionar a configuração espacial com as atividades de interação social;</p><p>Relacionar a configuração espacial com as atividades de interação cultural;</p><p>Explorar as possibilidades de conforto bioclimático da área de estudo.</p><p>Desenvolvimento prático de as-</p><p>pectos formais da área de estudo</p><p>Percepção</p><p>Imagem mental</p><p>Representação especializada</p><p>do espaço</p><p>Desenvolvimento prático de</p><p>aspectos socioculturais e tecnoló-</p><p>gicos da área de estudo</p><p>Aspectos socioculturais</p><p>Aspectos tecnológicos</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 88</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 88 15/12/2020 15:28:21</p><p>Desenvolvimento prático de aspectos formais da área</p><p>de estudo</p><p>Nesta unidade, você vai aprender como desenvolver a prática de alguns</p><p>aspectos determinantes do projeto. As análises práticas que faremos buscam</p><p>entender as expectativas e as necessidades da sociedade para a qual projeta-</p><p>mos e que usará o espaço. É importante que você aplique essas análises à sua</p><p>área de estudo.</p><p>Os aspectos formais se referem à forma física dos espaços e ao modo como</p><p>essa forma atende às expectativas funcionais das pessoas. É importante en-</p><p>tendermos a adequação dos espaços ao nosso uso, e se eles cumprem ou não</p><p>suas funções de acordo com sua morfologia.</p><p>Podemos iniciar o estudo pela análise da apreensão da paisagem, que se</p><p>refere às suas condições de informar às pessoas onde elas estão e como po-</p><p>dem se deslocar de um lugar para outro do espaço livre urbano sem o auxílio</p><p>de placas de sinalização, leitura de mapas ou outros elementos.</p><p>A apreensão</p><p>dos lugares dá-se, necessariamente, a partir de sua forma física.</p><p>A análise do comportamento dos espaços urbanos em relação à orientação</p><p>e identifi cação requer que examinemos sua forma a partir de seus elementos</p><p>visualmente relevantes na estruturação das informações. Esse tipo de análi-</p><p>se prática pode ser chamada de análise de desempenho topoceptivo (KOHLS-</p><p>DORF; KOHLSDORF, 2017). Observamos os efeitos topoceptivos em três níveis:</p><p>• Da percepção: informações captadas pelos sentidos humanos, na qual</p><p>analisamos, de forma sequencial, os percursos da área de estudo, registrando</p><p>e avaliando composições que poderão ser aproveitadas em projeto;</p><p>• Da formação da imagem mental: examina como evocamos os</p><p>lugares quando não estamos presentes, e trata da legibilidade do es-</p><p>paço. Fazemos essa leitura com base na análise visual</p><p>de Lynch: caminhos, limites, bairros, pontos focais e</p><p>marcos visuais (LYNCH, 1997);</p><p>• Da representação especializada do espaço:</p><p>potencial informativo dos elementos da forma, de</p><p>modo que a orientação das pessoas se processe com</p><p>facilidade.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 89</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 89 15/12/2020 15:28:21</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>O estadunidense Kevin Lynch foi um dos grandes autores do tema da leitu-</p><p>ra da paisagem urbana. Sua obra intitulada A imagem da cidade, de 1960,</p><p>destaca o modo como percebemos a cidade e as partes que a constituem.</p><p>Lynch concluiu que as pessoas estruturam a imagem da cidade em suas</p><p>mentes a partir dos elementos que a conformam, de modo lento, gradual</p><p>e contextualizado ao lugar. A base para que isso ocorra é a legibilidade</p><p>visual, entendida como a facilidade com que as partes das cidades podem</p><p>ser entendidas de modo coerente pelas pessoas (SABOYA, 2008)</p><p>Percepção</p><p>No nosso cotidiano, sentimos a satisfação ou insatisfação ao estarmos em</p><p>vários ambientes, sejam eles internos ou externos às edifi cações. Assim como</p><p>experimentamos os espaços existentes, podemos pensar sobre espaços que</p><p>ainda não existem. Essa é a tarefa de arquitetos e urbanistas: pensar o vir a</p><p>ser. Assim, se vivemos nos lugares, podemos afi rmar que os conhecemos, bem</p><p>como podemos avaliá-los e, assim, desejar melhorá-los.</p><p>Na análise da percepção, que agora iniciamos, formamos estruturas fi gu-</p><p>rativas a partir do nosso deslocamento pelo espaço livre. Ela depende de</p><p>estarmos no lugar em que projetaremos a intervenção, pois depende da visão</p><p>e das cenas que captamos como uma perspectiva cônica, implicando em movi-</p><p>mento e seleção (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017).</p><p>• Movimento: sequência de cenas de um ou mais campos visuais, defi nidas</p><p>pela posição do observador (nossa posição no momento);</p><p>• Seleção: depende da quantidade e qualidade de informação contida nas</p><p>formas. Não conseguimos capturar todas as cenas de um percurso, mas ape-</p><p>nas aquelas com nível de estímulo sufi ciente. Os locais onde registramos algum</p><p>estímulo na sequência de um deslocamento são chamados de estações.</p><p>A análise sequencial visa representar a passagem progressiva do que é ape-</p><p>nas visto para o que é percebido, na sucessão de registros selecionados da</p><p>composição morfológica da área de estudo.</p><p>Nesta técnica, escolhemos percursos a serem feitos. Por exemplo, pode-</p><p>mos escolher caminhadas na área de um futuro parque. A partir daí, elegemos</p><p>as manifestações sensíveis mais signifi cativas do espaço, baseando-se na ca-</p><p>racterização do lugar e obedecendo a critérios, como a frequência de pessoas</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 90</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 90 15/12/2020 15:28:21</p><p>(caso seja uma área já apropriada pelos habitantes), importância de paisagens</p><p>com valor histórico e acessibilidade a pontos focais, por exemplo. A maneira</p><p>como a realidade chega à percepção é chamada de efeitos visuais, que podem</p><p>ser de estrutura topológica ou perspectiva.</p><p>Os efeitos topológicos representam a elaboração a partir das referências</p><p>topológicas básicas das pessoas (na relação com o nosso corpo), isto é: à frente,</p><p>atrás, acima, abaixo, ao lado, à direita ou à esquerda. Assim, temos: alargamen-</p><p>to e estreitamento; envolvimento e amplidão; e alargamento lateral e estreita-</p><p>mento lateral. Analise a conceituação de cada um e observe alguns exemplos</p><p>na Figura 1 (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017):</p><p>• Estreitamento: os limites laterais parecem se aproximar do observador;</p><p>• Envolvimento: espaço limitado por elementos físicos, por todos os lados</p><p>do observador, de modo que se possa ter a visão para o exterior;</p><p>• Alargamento: os limites laterais parecem se afastar do observador;</p><p>• Amplidão: é oposto ao envolvimento, onde os limites físicos e do campo</p><p>visual estão distantes ou são indefinidos (a visual não é fechada);</p><p>• Alargamento lateral: um dos limites do espaço se localiza mais afastado</p><p>do observador do que o outro;</p><p>• Estreitamento lateral: uma das superfícies de delimitação lateral do es-</p><p>paço se localiza mais próxima do observador do que a outra.</p><p>Figura 1. Em sentido horário: estreitamento, alargamento, amplidão e envolvimento. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF,</p><p>2017, p. 158. (Adaptado).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 91</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 91 15/12/2020 15:28:21</p><p>Os efeitos perspectivos são produzidos pela composição plástica da cena</p><p>percebida e contida nos campos visuais do observador. Temos: direcionamen-</p><p>to, visual fechada, impedimento, emolduramento, mirante, conexão, realce e</p><p>efeito em Y. Analise a conceituação de cada um e observe alguns exemplos nas</p><p>Figuras 2 e 3 (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017):</p><p>• Direcionamento: enfatiza-se a continuidade longitudinal do espaço pela</p><p>estrutura alongada e bem definida dos planos laterais;</p><p>• Visual fechada: organiza a perspectiva de forma pouco profunda, fechan-</p><p>do-a com um plano paralelo e próximo;</p><p>• Impedimento: a visual é interrompida, mas, diferente da visual fechada,</p><p>não se impede que se abranja o final do campo visual. Como um obstáculo que</p><p>é transponível pela visão;</p><p>• Emolduramento: a visão é contida por certo enquadramento de desta-</p><p>que, sem, contudo, interromper a visada.</p><p>Figura 2. Em sentido horário: direcionamento, impedimento, emolduramento e visual fechada. Fonte: KOHLSDORF;</p><p>KOHLSDORF, 2017, p. 158. (Adaptado).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 92</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 92 15/12/2020 15:28:21</p><p>• Mirante: é um efeito de um lugar privilegiado em relação aos vizinhos,</p><p>onde as possibilidades visuais são maiores;</p><p>• Conexão: mostra descontinuidade nas paredes laterais do espaço, reali-</p><p>zada por outros canais que o interceptam. Assim, vemos intersticialidade nos</p><p>planos verticais da área de estudo;</p><p>• Realce: um elemento da cena se destaca, atraindo a atenção das pessoas</p><p>e gerando um ponto de interesse que estrutura a forma do espaço;</p><p>• Efeito em Y: a cena perspectiva mostra uma bifurcação do espaço, geral-</p><p>mente em seu eixo e segundo ângulos agudos.</p><p>Figura 3. Em sentido horário: mirante, conexão, efeito em Y e realce. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017, p. 158.</p><p>(Adaptado).</p><p>Esses efeitos podem ser de intensidade forte, média ou fraca. Quanto mais</p><p>intensos e definidos, maior será a sua contribuição à percepção da área de</p><p>estudo. Observe que os efeitos podem se misturar, assim como a intensidade</p><p>dos efeitos pode ser fraca em determinados lugares, já indicando diretrizes</p><p>práticas de intervenção.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 93</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 93 15/12/2020 15:28:21</p><p>Imagem mental</p><p>A imagem mental é a imagem do lugar formada na nossa mente quando</p><p>nos lembramos dele. Assim, fazemos esta análise quando não estamos no lu-</p><p>gar que projetamos. O estudo resulta em uma representação e interpretação,</p><p>pela memória, das características dos lugares, enriquecida pelas lembranças.</p><p>Seu caráter é menos ativo do que a percepção, mas sua análise nos ajuda a</p><p>perceber as qualidades da área de estudo, que vão contribuir para o enrique-</p><p>cimento de argumentos para as nossas decisões projetuais.</p><p>Lynch (2011) elenca cinco elementos que são</p><p>constantes em todo e qual-</p><p>quer espaço urbano e que estruturam a imagem do lugar: caminhos, bair-</p><p>ros, limites, pontos focais e marcos visuais. Vamos analisar a conceituação</p><p>de cada um e observar a representação esquemática de um mapa mental na</p><p>Figura 4 (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017):</p><p>• Os caminhos são os trajetos já existentes e que as pessoas registram,</p><p>ou caminhos potenciais que podem ser valorizados em projeto. Podem ser</p><p>formados por todos os tipos de ruas, estradas, trilhas, calçadões, becos etc.</p><p>São os principais elementos da imagem mental, pois é por eles que primeiro</p><p>percebemos as características morfológicas. Nós os representamos com pon-</p><p>tilhados ou linhas, de acordo com a intensidade de sua importância;</p><p>• Os bairros são partes da área de estudo, porções ou conjuntos morfo-</p><p>lógicos com suficiente coerência e clareza, de modo a serem diferenciados</p><p>uns dos outros. Não seguem, necessariamente, a nossa concepção usual</p><p>de bairro, caracterizada como áreas de gestão de uma cidade, muitas ve-</p><p>zes formados pela junção de vários loteamentos morfologicamente distin-</p><p>tos. São bairros as áreas com clareza morfológica (desenhos das ruas, pa-</p><p>drões de edificação, presença de arborização ou não, verticalização etc.)</p><p>e com limites bem definidos. Nós os representamos com formas fechadas</p><p>em linha menos espessa;</p><p>• Os limites, bordas ou fronteiras são elementos lineares, constituídos</p><p>de barreiras, rupturas entre duas partes (bairros) do espaço urbano, ou de</p><p>costuras, fronteiras comunicáveis com o entorno:</p><p>• Barreiras: elementos que separam as partes. São representados por</p><p>ponto-linha;</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 94</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 94 15/12/2020 15:28:21</p><p>• Costuras: elementos que limitam duas partes, mas contém caracterís-</p><p>ticas que as aproximam ou as unem. São representados por zigue-zague;</p><p>• Os pontos focais, ou nós, são pontos estratégicos de uma cidade ou da</p><p>área de estudo que se destacam por frequentes aglomerações de pessoas. Seu</p><p>atributo principal é o movimento. A eles se vai ou deles se vem. Podem ser pon-</p><p>tos de encontro e concentração de pessoas, como esquinas, praças, ou outro</p><p>lugar que irradia influência. São elementos-chave para a orientação espacial.</p><p>São convergências de caminhos. São representados por um círculo;</p><p>• Os marcos visuais também são referências, mas não necessariamente</p><p>nos aglomeramos ou entramos neles (torres de telecomunicações são um</p><p>exemplo de marcos visuais), podendo vê-los do exterior, e eles podem estar</p><p>dentro ou fora da cidade (como uma montanha, por exemplo). São repre-</p><p>sentados por estrelas.</p><p>Observe a representação da simbologia na Figura 4.</p><p>Figura 4. Exemplo de um mapa mental de uma área de estudo. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017, p. 280.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 95</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 95 15/12/2020 15:28:31</p><p>Representação especializada do espaço</p><p>Esta leitura destrincha as representações urbanísticas convencionais, a fi m</p><p>de mostrar suas composições geométricas. Além de ser menos subjetiva dos</p><p>que as outras categorias de análise topoceptiva.</p><p>Assim, podemos comparar áreas urbanizadas diversas, estabelecendo as</p><p>diferenças e as semelhanças responsáveis por suas identidades. Podemos</p><p>analisar a escala da rua, praça, bairro ou cidade, mesmo em épocas distintas,</p><p>defi nindo as permanências e as mudanças ocorridas durante sua evolução his-</p><p>tórica, e inferindo tendências para suas possíveis transformações.</p><p>Podemos analisar cinco categorias de representação especializada do espa-</p><p>ço: sítio físico, planta baixa, conjunto de planos verticais, edifi cações e elemen-</p><p>tos complementares (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017).</p><p>O sítio físico evidencia como o contexto da paisagem natural participa ou</p><p>não da confi guração da área de estudo. Devemos entender a forma do solo, o</p><p>sistema hídrico, a morfologia da vegetação e os aspectos do clima (luminosida-</p><p>de, sombras e insolação).</p><p>A planta baixa, nesse caso, refere-se à projeção do plano horizontal da</p><p>cidade sobre três aspectos: tipos de malha, tipos de parcelamentos e relações</p><p>entre cheios e vazios:</p><p>• Tipos de malha: é uma composição de linhas/segmentos obtida pela de-</p><p>marcação dos eixos dos canais de circulação em planta (ruas, avenidas, becos</p><p>etc.), formando uma composição de linhas, independentemente da largura das</p><p>vias. O que interessa, neste item, é entender se a malha urbana é irregular ou or-</p><p>togonal, isto é, a forma dos segmentos. Observe uma malha urbana na Figura 5;</p><p>• Tipos de parcelamentos: é a divisão do solo em quadras ou quarteirões,</p><p>expressas como polígonos. Macroparcelas são parcelamentos das glebas em</p><p>quarteirões. Microparcelas são parcelamentos dos quarteirões em lotes. Pos-</p><p>suem diferentes tamanhos, formas e distribuição, pois são resultado de um pro-</p><p>jeto de ocupação e loteamento (seja regular ou irregular). Analise a Figura 6;</p><p>• Relações entre cheios e vazios: é a relação entre fi gura e fundo na planta</p><p>baixa da área de estudo. O fundo é o solo liberado de volumes e a fi gura é o</p><p>conjunto de projeções horizontais dos edifícios. Neste caso, avaliamos o con-</p><p>traste entre o espaço construído e o espaço livre. Veja um exemplo na Figura 6.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 96</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 96 15/12/2020 15:28:31</p><p>Malha Microparcelas</p><p>Macroparcelas Cheios x vazios</p><p>Figura 5. Fragmento da malha urbana de São Paulo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/12/2020.</p><p>Figura 6. Em sentido horário: exemplo de malha, microparcelas, cheios x vazios e macroparcelas. Fonte: KOHLSDORF;</p><p>KOHLSDORF, 2017, p. 283.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 97</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 97 15/12/2020 15:28:56</p><p>O conjunto de planos verticais estuda a composição plástica das proje-</p><p>ções ortogonais no plano vertical, que geram os efeitos conhecidos como si-</p><p>lhuetas ou skylines das cidades. Eles caracterizam as cidades e expressam as</p><p>suas relações morfológicas, como entre o centro e os bairros, ou entre a cidade</p><p>e o meio rural, por exemplo.</p><p>Podemos entender os planos verticais em três aspectos: linhas de coroa-</p><p>mento, sistemas de pontuação e linhas de força. Analise a conceituação de</p><p>cada um desses aspectos e observe suas representações na Figura 7:</p><p>• Linhas de coroamento: delimitam a parte superior da silhueta;</p><p>• Sistemas de pontuação: indicam os contrastes de alturas presentes nas</p><p>silhuetas. São picos de linhas de coroamento e sua intensidade;</p><p>• Linhas de força: são geradas a partir do sistema de pontuação.</p><p>Silhueta 1 Silhueta 2 Silhueta 3</p><p>Figura 7. De cima para baixo: exemplos de linhas de força, pontuação e coroamento de silhuetas. Fonte: KOHLSDORF;</p><p>KOHLSDORF, 2017, p. 285. (Adaptado).</p><p>As edificações mostram como a configuração dos edifícios participam da</p><p>identidade da área de estudo. Interessa-nos as suas dimensões, as relações</p><p>dos edifícios com o lote e com os espaços livres públicos, a quantidade de por-</p><p>tas para o espaço público (expressas na fachada), os afastamentos frontais e</p><p>laterais e a presença de muros, grades ou cercas.</p><p>Por fim, os elementos complementares são caracterizados pelos elemen-</p><p>tos de informação (sinalização ou propaganda), pequenas construções (ban-</p><p>cas, coretos, pontos de ônibus, quiosques etc.), mobiliário urbano (bancos, li-</p><p>xeiras, postes etc.) e elementos de engenharia urbana (viadutos, passarelas,</p><p>pontes, píeres etc.). Esses elementos participam da organização e integridade</p><p>da área de estudo. Devemos analisar a disposição deles no conjunto, se estão</p><p>agrupados, dispersos, insuficientes ou inexistentes.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 98</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 98 15/12/2020 15:28:56</p><p>Figura 8. Parque do Ibirapuera. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/12/2020.</p><p>Observe, na Figura 8, a existência dos elementos complementares: bancos fi -</p><p>xos, postes de iluminação, placas de sinalização e equipamentos de alongamento.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>É possível analisar a importância dos elementos com-</p><p>plementares tomando como exemplo a observação</p><p>do</p><p>projeto vencedor do Concurso Público Nacional de</p><p>Ideias para Elementos de Mobiliário Urbano da Cidade</p><p>de São Paulo. O projeto partiu de vários princípios,</p><p>como a acessibilidade, modulação, reúso de água da</p><p>chuva e conforto ambiental. Leia sobre e veja fotos do</p><p>projeto vencedor na reportagem do portal Arch Daily.</p><p>Desenvolvimento prático de aspectos socioculturais e</p><p>tecnológicos da área de estudo</p><p>O desenvolvimento prático de aspectos socioculturais da área de estudo</p><p>deve ser feito a partir da investigação das relações existentes entre a confi gu-</p><p>ração espacial e os sistemas de interação das pessoas. Assim, estudamos</p><p>as maneiras de organização social realizadas na paisagem urbana, visto que o</p><p>espaço atua como um conjunto de barreiras e permeabilidades ao movimento</p><p>das pessoas, e a sociedade atua como um sistema de encontros interpessoais.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 99</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 99 15/12/2020 15:29:04</p><p>Já sobre o desenvolvimento prático de aspectos tecnológicos, seremos</p><p>balizados pelo conforto bioclimático, já que as considerações ambientais</p><p>devem ser o princípio norteador das decisões projetuais tam-</p><p>bém no campo do paisagismo. A tecnologia da arquitetura</p><p>paisagística deve buscar defi nir as condições ambientais</p><p>que melhor satisfaçam as exigências do conforto huma-</p><p>no (ROMERO, 2013).</p><p>Aspectos socioculturais</p><p>Podemos avaliar os padrões espaciais que incidem sobre as possibilidades</p><p>de encontros nos lugares. Sabemos que os lugares que constantemente rece-</p><p>bem aglomerações são áreas bem integradas da cidade. Uma das maneiras de</p><p>estudarmos essa relação é por meio da análise da axialidade.</p><p>Fazemos este estudo inserindo no sistema de espaços livres público o me-</p><p>nor número de linhas retas possível, de maneira que todas as barreiras devam</p><p>estar separadas entre si por linhas axiais. Basicamente, desenhamos sobre o</p><p>sistema viário, ou outros espaços abertos, linhas que correspondam aos eixos</p><p>de deslocamento e que se cruzam na trama, possibilitando as mais variadas</p><p>opções de acesso. Um espaço com grande quantidade de eixos que se cruzam</p><p>é considerado um espaço com potencial para a copresença, isso é, um espaço</p><p>que atrai as pessoas. A intensidade de cruzamentos varia de vermelho, para as</p><p>mais conectadas, ao azul, para as menos conectadas.</p><p>Os aspectos de conectividade relacionam-se diretamente com as centrali-</p><p>dades urbanas, já que elas se desenvolveram, ao longo do tempo, em função</p><p>da boa interligação das vias. O estudo da axialidade entende a cidade como um</p><p>sistema de espaços através de seu tecido físico, verifi cando os diferentes graus</p><p>de integração da malha urbana. Esta relação evidencia o comportamento dos</p><p>fl uxos na cidade e tem como objetivo estimar como a confi guração da malha</p><p>urbana infl uencia nos caminhos da cidade (COCOZZA, 2007).</p><p>Na avaliação de uma área de estudo da paisagem urbana, nos interessa, espe-</p><p>cialmente, as características que a articulação dos elementos tem entre si e qual</p><p>o papel de cada um deles no todo do sistema (por exemplo, se uma rua é mais ou</p><p>menos acessível, em média, do que qualquer ponto da cidade). Analise a Figura 9:</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 100</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 100 15/12/2020 15:29:04</p><p>Figura 9. Exemplo de mapa de axialidade da cidade de Araguari, Minas Gerais. Fonte: OLIVEIRA, 2016, p. 66.</p><p>CITANDO</p><p>“Argumento que a crença de que a forma espacial não tem efeitos sobre as</p><p>pessoas e a sociedade, é flagradamente absurda. Se assim fosse, poderíamos</p><p>projetar qualquer monstruosidade impunemente. Proponho que os efeitos</p><p>determináveis da forma espacial sobre as pessoas são tanto limitados quanto</p><p>precisos. A forma espacial, sugiro, cria o campo de encontros prováveis – ain-</p><p>da que nem todos possíveis – dentro do qual vivemos e nos movemos; levan-</p><p>do, ou não, à interação social [...] tal campo tem um estrutura definida, assim</p><p>como propriedades de densidade e rarefação (sic)” (HILLIER, 1989, p. 13).</p><p>Outro item analisável é o número médio de entradas por espaços, que</p><p>nos dá o grau de constitutividade do lugar, isto é, mostra se o espaço é bem</p><p>alimentado por portas, ou não, a partir dos espaços interiores. Por exemplo,</p><p>uma rua com edificações alinhadas à calçada tente a ser uma via com maior</p><p>integração, isso se as edificações estiverem em uso, é claro. Assim, se existe</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 101</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 101 15/12/2020 15:29:11</p><p>muitas portas, estes tendem a ser espaços intensamente construídos, se for-</p><p>rem poucas portas, isso gera o que chamamos de espaços cegos, isto é, espa-</p><p>ços definidos apenas por paredes, ou qualquer outro elemento sem abertura.</p><p>No caso de paredes cegas, além da via ser pouco integrada, ela tende, ainda, a</p><p>passar a percepção de insegurança.</p><p>Analise, na Figura 10, as portas existentes entre as edificações e a calçada</p><p>(passeio), que potencializam a integração do lugar.</p><p>Figura 10. Rua do centro antigo de Recife, Pernambuco. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/12/2020.</p><p>Os aspectos socioculturais da área de estudo também podem ser anali-</p><p>sados pela categoria que chamamos de vida espacial. Este nível de análise</p><p>indica certas preferências sociais em relação aos sistemas de encontros inter-</p><p>pessoais. Interessa perceber como a distribuição das atividades interfere na</p><p>utilização social dos lugares.</p><p>Nesse sentido, se qualificam as atividades por meio de rótulos, conforme</p><p>sua relação com a copresença. Por exemplo, se rotulam como potencializado-</p><p>ras de aglomerações nos espaços públicos, atividades comerciais diversifica-</p><p>das e serviços comunitários, como equipamentos institucionais, equipamentos</p><p>de saúde, terminais de transporte público etc. Vamos conhecer algumas cate-</p><p>gorias de estudo, em relação à vida espacial (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017):</p><p>• Variedade dos rótulos: os tipos de usos e atividades (rótulos), como co-</p><p>mércio, serviços, lazer e recreação, determinam os impactos gerados na área</p><p>de estudo no que se refere à geração de viagens para as edificações que abri-</p><p>gam esses usos e atividades. Essas viagens alimentam, mais ou menos, o espa-</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 102</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 102 15/12/2020 15:29:21</p><p>ço livre público de diversas formas (concentrada ou diluída ao longo do dia) e</p><p>favorece ou não a interação ente diferentes tipos de pessoas;</p><p>• Relação entre rótulos e padrões espaciais: analisa se há congruência</p><p>entre a localização dos rótulos e os atributos físicos do lugar. Por exemplo, su-</p><p>põe-se que as atividades de comércio e serviços precisem estar localizadas em</p><p>vias mais conectadas do sistema;</p><p>• Relação dos rótulos entre si: caracteriza a maneira como os rótulos se re-</p><p>lacionam entre si: se são mais conectados ou distribuídos pela área de estudo,</p><p>formando ambientes diversificados ou não. É importante uma relação conside-</p><p>rável, pois, em caso de proximidade, é possível favorecer as trocas sociais. Caso</p><p>não haja diversidade, o espaço livre público é empobrecido;</p><p>• Presença real de pessoas: potencialmente, certos padrões espaciais cor-</p><p>respondem a certos padrões de copresença. Por exemplo, um bar tende a aglo-</p><p>merar as pessoas junto ao espaço público para o qual se volta;</p><p>• Arranjos casuais versus arranjos formais: as pessoas podem se relacio-</p><p>nar com os espaços de modo diferente ao longo do tempo. Pode haver grupos</p><p>que se formam casualmente ao longo do dia, ou grupos que se reúnem em</p><p>momentos especiais, definidos ao longo de um calendário formalizado.</p><p>A diversidade de rótulos dos comércios e serviços atrai pessoas em vias</p><p>como a vista na Figura 11.</p><p>Figura 11. Rua Nossa Senhora de Copacabana, Rio de Janeiro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/12/2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 103</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 103 15/12/2020 15:29:28</p><p>Aspectos tecnológicos</p><p>A confi guração de uma área de estudo pode acentuar, potencializar ou mi-</p><p>norar sensações de conforto, tanto fi siológico quanto mental. Por isso, nesse</p><p>subtópico,</p><p>analisaremos aspectos que correlacionam as características climáti-</p><p>cas às expectativas de conforto físico das pessoas, aspecto tratado pela tecno-</p><p>logia da arquitetura paisagística.</p><p>O clima urbano sofre modifi cações em função da transformação do meio</p><p>ambiente ao longo do processo de ocupação, aumentando o calor, alterando</p><p>a direção e intensidade dos ventos, modifi cando a umidade, mudando a qua-</p><p>lidade do ar e, até mesmo, alterando as chuvas. Vamos nos aprofundar em</p><p>algumas dessas características (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017):</p><p>• Temperatura do ar: é maior nas cidades do que na área rural, formando,</p><p>por vezes, ilhas de calor;</p><p>• Umidade relativa do ar: é menor nas cidades do que na área rural;</p><p>• Nebulosidade: as massas de ar em área urbana tendem a transportar</p><p>mais nuvens do que sobre o campo;</p><p>• Ventos: a rugosidade do solo urbano construído eleva sua camada limite,</p><p>resultando na diminuição da velocidade dos ventos em algumas áreas e na</p><p>canalização dos ventos em outras. Os ventos contêm até dez vezes mais partí-</p><p>culas de poeira e até 25 vezes mais gases e fuligem do que no campo;</p><p>• Precipitações (chuvas): podem ocorrer nas cidades com maior frequên-</p><p>cia e intensidade do que no campo, devido às ilhas de calor. Em razão da gran-</p><p>de impermeabilidade do solo, a evaporação urbana da água da chuva é menor,</p><p>resultando em um ar mais seco;</p><p>• Exposição ao Sol: os volumes construídos (edifícios) modi-</p><p>fi cam a duração da exposição ao Sol, mascarando-o em de-</p><p>terminados períodos do dia ou do ano, provocando sombrea-</p><p>mento excessivo;</p><p>• Absorção térmica: os materiais de cons-</p><p>trução das edifi cações possuem uma capa-</p><p>cidade térmica mais alta do que o ambiente</p><p>natural, assim, as superfícies das edifi cações</p><p>atuam como refl etoras e radiadoras.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 104</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 104 15/12/2020 15:29:28</p><p>Figura 12. Superfície de água na cidade e no campo. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017, p. 116. (Adaptado).</p><p>Figura 13. Cidades com maior e menor densidade ocupacional. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017, p. 113.</p><p>A presença de superfícies de água dentro da cidade contribui para a melho-</p><p>ria da umidade e a amenização do microclima.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 105</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 105 15/12/2020 15:29:35</p><p>Cidades densamente ocupadas alteram os fluxos naturais dos ventos, cau-</p><p>sando prejuízos à qualidade do ar, enquanto em cidades de ocupação controla-</p><p>da tendem minimizar os impactos (Figura 13).</p><p>EXPLICANDO</p><p>Ilhas de calor são uma anomalia térmica resultante da diferença de ab-</p><p>sorção e armazenamento de energia solar pelos materiais que constituem</p><p>a superfície urbana, causada pela intensa cobertura da terra por asfalto</p><p>e concreto, poluição atmosférica derivada de veículos e indústrias e pela</p><p>deficiência de espaços vegetados nas cidades. As ilhas de calor são inten-</p><p>sificadas pela instabilidade natural de pressão atmosférica (OLIVEIRA, 2018).</p><p>Então, como podemos melhor relacionar as características da forma urba-</p><p>na que condicionam o clima nas cidades? A forma urbana pode atuar na confi-</p><p>guração do clima urbano por meio da sua influência no desempenho dos ele-</p><p>mentos climáticos resultantes das relações estabelecidas entre a morfologia</p><p>da massa edificada e a morfologia dos espaços livres:</p><p>• Conformação espacial: análise do tipo de relevo (se é côncavo, convexo ou</p><p>plano) e das edificações (observando os espaçamentos e a altura dos volumes);</p><p>• Rugosidade: análise das saliências e reentrâncias da forma urbana, visan-</p><p>do entender a passagem das correntes de ar e o excesso de sombra;</p><p>• Uso e ocupação do solo: análise da concentração ou dispersão de de-</p><p>terminados edifícios em relação ao seu uso, da centralização ou descen-</p><p>tralização das atividades e da proporção de áreas verdes. Deve-se analisar</p><p>como as atividades influenciam o aumento do calor, ruído e o aumento das</p><p>partículas poluentes;</p><p>• Orientação: análise da posição da malha urbana em relação ao Sol, aos</p><p>elementos que são naturais ou não (lagos, encostas, mar etc.) e aos efeitos</p><p>produzidos por esses elementos;</p><p>• Permeabilidade do solo: análise da área do solo urbano destinada à infil-</p><p>tração da água da chuva (restante do processo de impermeabilização);</p><p>• Propriedades físicas dos materiais constituintes: aná-</p><p>lise dos materiais que cobrem o espaço construído, sejam</p><p>edificações ou pavimentos, por tipos (cerâmica, asfalto,</p><p>concreto etc.) e cor (claras ou escuras), conforme sua inci-</p><p>dência na transmissão de calor e de poluentes;</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 106</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 106 15/12/2020 15:29:35</p><p>• Vegetação: atuam como moderadores de temperatura, absorção de ener-</p><p>gia, manutenção do ciclo do oxigênio e criação de abrigos. Análise da disposi-</p><p>ção, do porte, do tipo, da porosidade e da flexibilidade.</p><p>Figura 14. Impermeabilidade do solo urbano e arborização. Fonte: KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2017, p. 115. (Adaptado).</p><p>A diminuição da impermeabilidade do solo urbano e a arborização são dire-</p><p>trizes fundamentais para a melhoria do clima nas cidades.</p><p>O parque Portugal, popularmente conhecido como parque Lagoa do Taqua-</p><p>ral, é um exemplo de parque urbano com grande relevância de vegetação na</p><p>cidade de Campinas, usualmente pouco arborizada (como grande parte das</p><p>cidades brasileiras). Além de contribuir com o clima urbano, o parque possui</p><p>equipamentos de lazer e cultura que incentivam sua apropriação (MACEDO;</p><p>SAKATA, 2010).</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 107</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 107 15/12/2020 15:29:35</p><p>Figura 15. Parque Portugal. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/12/2020.</p><p>DICA</p><p>Cada zona climática possui características próprias em relação aos ele-</p><p>mentos do clima que devem ser controlados: temperatura, ventos, uni-</p><p>dade, radiação e precipitações. No Brasil, temos cinco zonas climáticas:</p><p>equatorial, tropical equatorial, tropical oriental, tropical central e tempe-</p><p>rada. Quando for realizar um projeto em uma cidade, é preciso buscar as</p><p>informações corretas sobre as diretrizes de projeto para a zona climática</p><p>em que a cidade ou região está inserida.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 108</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 108 15/12/2020 15:29:38</p><p>Sintetizando</p><p>Nesta unidade, você aprendeu como desenvolver aspectos práticos de aná-</p><p>lise sobre uma área de estudo de projeto paisagístico urbano. A compilação</p><p>desses elementos de análise pode ser organizada em aspetos formais, socio-</p><p>culturais e tecnológicos, sempre com o objetivo de entender as expectativas e</p><p>as necessidades das pessoas que usufruirão do espaço que projetamos.</p><p>Nos aspectos formais, capturamos informações sobre como a forma urbana aten-</p><p>de às nossas necessidades, isto é, se são adequadas à nossa apropriação. Podemos</p><p>analisar como absorvemos, ou apreendemos, a paisagem em três níveis: da percep-</p><p>ção, da formação da imagem mental e da representação especializada do espaço.</p><p>A percepção depende da visão e do modo como nos movimentamos e se-</p><p>lecionamos aquilo que nos estimula. É a maneira como percebemos e compo-</p><p>mos a morfologia do lugar. Diversos efeitos participam dessa composição. Eles</p><p>são chamados de efeitos topológicos e efeitos perspectivos.</p><p>A imagem mental nos auxilia a perceber as qualidades do lugar que pode-</p><p>mos enfatizar em projeto. Ela é estruturada em cinco itens: caminhos, bairros,</p><p>limites (barreiras ou costuras), pontos focais e marcos visuais. Já a represen-</p><p>tação especializada do espaço trata da composição geométrica da forma res-</p><p>ponsável pela sua identidade. São cinco categorias: sítio físico, planta baixa,</p><p>conjunto de planos verticais, edificações e elementos complementares.</p><p>Nos aspectos socioculturais, tratamos da relação entre a configuração es-</p><p>pacial e a interação das pessoas. A análise da malha urbana sobre a categoria</p><p>da axialidade nos revela a quantidade de cruzamentos existentes, possibilitan-</p><p>do diversas opções de caminhos e conexão, que potencializam a copresença.</p><p>Os atributos da vida espacial nos</p><p>mostram os tipos e a distribuição das ativi-</p><p>dades que influenciam o modo como utilizamos um lugar, por meio dos itens:</p><p>variedade de rótulos, relação entre os rótulos e padrões espaciais, relação dos</p><p>rótulos entre si, presença real de pessoas e arranjos casuais versus formais.</p><p>Por fim, aprendemos sobre os aspectos tecnológicos de conforto bioclimáti-</p><p>co, estudando como a temperatura e a umidade do ar, a nebulosidade, os ven-</p><p>tos, as chuvas, o Sol e a absorção térmica interferem no projeto. Bem como o</p><p>modo como a conformação espacial, a rugosidade, a ocupação do solo, a orien-</p><p>tação, a permeabilidade, os materiais e a vegetação se relacionam com o clima.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 109</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 109 15/12/2020 15:29:38</p><p>Referências bibliográficas</p><p>COCOZZA, G. P. Paisagem e urbanidade: os limites do projeto urbano na confor-</p><p>mação de lugares em Palmas. 2007. 225 f. Tese de Doutorado (Arquitetura e Urba-</p><p>nismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São</p><p>Paulo, 2007. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/</p><p>tde-29042010-114302/publico/Glauco_tese.pdf>. Acesso em: 09 dez. 2020.</p><p>HILLIER, B. The architecture of the urban object. Ekistics, [s. l.]. v. 56, n. 334/335,</p><p>pp. 5-21, jan-abr. 1989.</p><p>HOLANDA, F. O espaço de exceção. 2. ed. Brasília: FRBH, 2018.</p><p>IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Relevo e cli-</p><p>ma. Disponível em: <https://cnae.ibge.gov.br/en/component/content/article/</p><p>94-7a12/7a12-vamos-conhecer-o-brasil/nosso-territorio/1489-relevo-e-clima.</p><p>html>. Acesso em: 09 dez. 2020.</p><p>KOHLSDORF, G; KOHLSDORF, M. E. Ensaio sobre o desempenho morfológico</p><p>dos lugares. 1. ed. Brasília: FRBH, 2017.</p><p>LYNCH, K. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.</p><p>MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. 3. ed. São Paulo:</p><p>Edusp, 2010.</p><p>OLIVEIRA, B. S. Ilhas de calor em centros urbanos. Divisão de Sensoriamento</p><p>Remoto – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, 2018. Disponível</p><p>em: <www.dsr.inpe.br/DSR/educacao/uso-escolar-sensoriamento-remoto/ma-</p><p>terial-didatico-anos-anteriores/arquivos/19-ilhas-de-calor.pdf>. Acesso em: 09</p><p>dez. 2020.</p><p>OLIVEIRA, L. M. Araguari: o sistema de espaços livres na forma urbana. 2016.</p><p>152 f. Dissertação de Mestrado (Paisagem e Ambiente) - Faculdade de Arquite-</p><p>tura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:</p><p><https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-05092016-155444/pt-br.</p><p>php>. Acesso em: 09 dez. 2020.</p><p>ROMERO, M. A. B. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. 3. ed.</p><p>Brasília: UnB, 2013.</p><p>SABOYA, R. Kevin Lynch e a imagem da cidade. Urbanidades, mar. 2008. Dis-</p><p>ponível em: <https://urbanidades.arq.br/2008/03/14/kevin-lynch-e-a-imagem-</p><p>-da-cidade/>. Acesso em: 09 dez. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 110</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 110 15/12/2020 15:29:38</p><p>SOUZA, E. Primeiro lugar no Concurso Público Nacional de Ideias para Elemen-</p><p>tos de Mobiliário Urbano de São Paulo. Arch Daily, 2016. Disponível em: <www.</p><p>archdaily.com.br/br/800719/primeiro-lugar-no-concurso-publico-nacional-de-</p><p>-ideias-para-elementos-de-mobiliario-urbano-de-sao-paulo-estudio-modu-</p><p>lo>. Acesso em: 09 dez. 2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 111</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4.indd 111 15/12/2020 15:29:38</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID2</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID3</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID4</p><p>As áreas livres públicas exigem estudo das potencialidades do lugar e de vo-</p><p>cação. A densidade do setor urbano é um importante fator para dimensionar-</p><p>mos os equipamentos e o mobiliário necessários nas intervenções que serão</p><p>realizadas. Nessa fase do projeto, também é importante saber a localização</p><p>das massas vegetadas e das condições do entorno (NIEMEYER, 2011).</p><p>No plano de massas, elaboramos a estrutura do espaço de acordo com o</p><p>estudo funcional. Nesta etapa, a liberdade criativa do arquiteto deve florescer.</p><p>Disso decorrem os estudos de caso, as visitas técnicas e todo o arcabouço pro-</p><p>jetual que o arquiteto conhece. Enquanto arquitetos e urbanistas (e paisagis-</p><p>tas) em formação, devemos frequentar os espaços públicos, observar limita-</p><p>ções e potencialidades, bem como devemos pesquisar projetos significativos,</p><p>de qualidade reconhecida por outros profissionais.</p><p>No plano de massas, localizamos os acessos de pedestres e veículos, os</p><p>equipamentos de lazer, os elementos e espaços simbólicos, as melhores visa-</p><p>das e a volumetria geral básica da vegetação e das possíveis arquiteturas que</p><p>complementarão o projeto. Devem ser elaborados quantos estudos prelimina-</p><p>res forem necessários. Eles serão avaliados pelos contratantes e públicos-alvo.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 15</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 15 15/12/2020 15:26:37</p><p>É importante que o material apresentado contenha esquematizações de</p><p>plantas, cortes, elevações, croquis, perspectivas e, até mesmo, maquetes volu-</p><p>métricas. A Figura 1 mostra um estudo preliminar para uma determinada área</p><p>urbana. Analise o uso de cores, a representação da vegetação, dos caminhos,</p><p>da água e da relação com a volumetria arquitetônica. Não sabemos, ainda,</p><p>quais materiais serão especificados e quais espécies vegetais serão implanta-</p><p>das, mas já sabemos a estruturação geral do espaço livre:</p><p>Figura 1. Representação de um estudo preliminar de projeto paisagístico na escala urbana. Fonte: Shutterstock.</p><p>Acesso em: 28/9/2020.</p><p>Quando o plano de massas é aprovado, partimos para a elaboração do an-</p><p>teprojeto. Ele oferece uma clara compreensão do projeto a partir das possíveis</p><p>correções solicitadas na apresentação do estudo preliminar. Nele, devem estar</p><p>as localizações de cada item do programa, com plantas e demais desenhos téc-</p><p>nicos dotados de informações que devem permitir sua correta interpretação,</p><p>sem deixar dúvidas quanto a estruturação do projeto.</p><p>No anteprojeto, já devemos ter definidos os materiais que utilizaremos</p><p>(especialmente para os pisos), os equipamentos e as primeiras especifica-</p><p>ções do projeto de vegetação, que serão detalhados na etapa seguinte, o</p><p>projeto executivo.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 16</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 16 15/12/2020 15:26:47</p><p>No projeto executivo, elaboramos todo o projeto técnico-jurídico, com to-</p><p>dos os materiais necessários para a aprovação do projeto pelo poder público,</p><p>e seguindo todas as normativas pertinentes e necessárias para a execução do</p><p>projeto em campo. Devemos apresentar (NIEMEYER, 2011):</p><p>• Projeto de vegetação: composição paisagística da área contendo a loca-</p><p>ção exata do componente vegetal;</p><p>• Listagem quantitativa das espécies vegetais: com indicação de aspec-</p><p>tos qualitativos, como portes mínimos e espaçamentos entre os elementos;</p><p>• Especifi cações de preparo do solo e de manutenção das áreas vegeta-</p><p>das: irrigação e drenagem;</p><p>• Elementos construtivos relacionados ao paisagismo: modelagem do</p><p>terreno, paginações de piso, materiais, iluminação e mobiliários.</p><p>Critérios de projeto</p><p>O processo de elaboração de um projeto paisagístico de grande porte, como</p><p>é o caso de projetos em escala urbana, exige que tenhamos um conhecimento</p><p>amplo sobre a insolação, as possibilidades topográfi cas e as características das</p><p>espécies vegetais.</p><p>Devemos saber qual a necessidade das plantas em relação ao sol (se elas preci-</p><p>sam de sol pleno, meia sombra ou sombra total). Por exemplo, se especifi carmos uma</p><p>planta de meia sombra em uma área que recebe insolação o dia todo, causaremos</p><p>sérios prejuízos, pois esta espécie não é adaptada àquele nível de exposição solar.</p><p>Niemeyer (2011) afi rma que procedemos à especifi cação vegetal em função de</p><p>seu fotoperiodismo e características botânicas pertinentes. Devemos saber se as</p><p>plantas são heliófi tas (adaptadas ao sol pleno) ou umbrófi las (as que preferem níveis</p><p>de sombra).</p><p>• Sol pleno: espécies que precisam de incidência mínima e direta de três a quatro</p><p>horas de sol, diariamente;</p><p>• Meia-sombra: espécies que tendem a não suportar a permanência ao sol entre</p><p>o período de 10h e 17h;</p><p>• Sombra: espécies que não suportam o sol direto, devendo ser especifi cadas</p><p>em locais de luminosidade indireta, protegidas sob a copa de árvores ou estru-</p><p>turas artifi ciais.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 17</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 17 15/12/2020 15:26:47</p><p>Em uma ampla área de projeto, podemos explorar as possibilidades de</p><p>modelagem do terreno, como os aspectos de sua topografia. É claro que</p><p>a liberdade de movimentarmos um terreno tem como limite os fatores</p><p>ambientais, como a drenagem e a estabilidade do solo, e, ainda, os fato-</p><p>res financeiros, de custo de execução. As modificações topográficas têm,</p><p>como principais objetivos, (NIEMEYER, 2011, p. 73)</p><p>• Aplanar áreas para construção de edificações, estacionamentos, qua-</p><p>dras esportivas ou platôs;</p><p>• Construção de caminhos e vias;</p><p>• Prevenir erosões e ajustar a drenagem do escoamento pluvial;</p><p>• Criar elementos de valor estético, como elevações artificiais.</p><p>Ainda em relação à superfície do solo, é fundamental nos atentarmos</p><p>para a necessidade de especificarmos pisos permeáveis, como pisos eco-</p><p>lógicos drenantes, deques e saibros, além de explorarmos ao máximo as</p><p>forrações gramíneas. Nesse assunto entra a necessidade de entendermos</p><p>as características e os atributos das espécies. Niemeyer (2011, p. 74-76)</p><p>os organiza em três tipos, os atributos: estéticos, funcionais e temporais.</p><p>Atributos estéticos</p><p>• Textura: consiste em valorizarmos aspectos da planta pelo seu con-</p><p>traste em relação às outras, especialmente em relação a forma das folhas;</p><p>• Cor: trata-se de planejarmos a composição vegetal de acordo com sua</p><p>floração e com as estações do ano. Podemos explorar, ainda, os diferentes</p><p>tons de verde das folhas ou de marrom do tronco, compondo uma varia-</p><p>ção cromática diversificada;</p><p>• Arquitetura da planta: consiste em explorarmos o aspecto de porte,</p><p>de tronco e de copa, em função da composição desejada.</p><p>Observe a Figura 2, que mostra o Parque do Flamengo, na ci-</p><p>dade do Rio de Janeiro. O projeto paisagístico é assinado por Ro-</p><p>berto Burle (MACEDO; SAKATA, 2010). Nele, vemos</p><p>uma quantidade considerável de palmeiras pon-</p><p>tuadas sobre o solo, mas que não atrapalham</p><p>a contemplação da paisagem ao fundo. Isso é</p><p>possível devido aos atributos arquiteturais das</p><p>palmeiras, retilíneas e esbeltas:</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 18</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 18 15/12/2020 15:26:47</p><p>Figura 2. Parque do Flamengo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/9/2020.</p><p>Atributos funcionais</p><p>• Morfologia: consiste em termos conhecimento das limitações físicas e</p><p>ambientais das espécies em relação ao local de sua inserção. Por exemplo, em</p><p>relação ao tipo e porte da raiz;</p><p>• Odor: trata-se de podermos explorar o odor das espécies, trazendo forte</p><p>apelo emocional;</p><p>• Perenidade das folhas: consiste no grau de proteção à radiação solar em</p><p>relação ao clima. Em regiões quentes, por exemplo, devemos melhor aprovei-</p><p>tar espécies com maior perenidade;</p><p>• Estrutura: trata-se de explorarmos a capacidade da vegetação de articu-</p><p>lar e organizar o espaço, isto é, seus graus de transparência, vedação, cobertu-</p><p>ra e pisoteio;</p><p>• Preservação: consiste em evidenciarmos o equilíbrio ambiental por meio</p><p>da preservação do espaço. Em situações de fragilidade ambiental, devemos</p><p>preservar a flora e fauna, as encostas, as linhas de drenagem natural e a per-</p><p>meabilidade</p><p>do solo.</p><p>Veja o caso do Parque Barigui, em Curitiba, Paraná. O projeto é de Lubomir</p><p>Ficinski e Roberto Burle Marx (MACEDO; SAKATA), e foi concebido sobre uma</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 19</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 19 15/12/2020 15:26:52</p><p>Figura 3. Parque Barigui. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/9/2020.</p><p>área de preservação ambiental, associando o uso público com o resguardo de</p><p>uma importante área de drenagem pluvial e reserva de mata nativa para a</p><p>cidade (Figura 3):</p><p>Atributos temporais</p><p>• Ciclo de vida: consiste em conhecermos o tempo de vida das espécies, se</p><p>são bienais ou perenes;</p><p>• Velocidade de crescimento: consiste em elaborarmos as composições</p><p>vegetais de acordo com o tempo de crescimento das espécies. Fazer isso é im-</p><p>portante, pois no paisagismo podemos afirmar que o projeto se materializa</p><p>somente quando as espécies atingem a sua fase adulta;</p><p>• Florificação e frutificação: trata-se de trabalharmos as cores dos ele-</p><p>mentos vegetais ao longo dos seus períodos de floração, criando visadas de</p><p>grande variação cromática, atraindo o olhar.</p><p>A Figura 4 mostra a linha de ipês localizada no</p><p>Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O projeto é</p><p>de Uchoa Cavalcanti, Ícaro de Castro Melo e Otávio</p><p>Mendes (MACEDO; SAKATA):</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 20</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 20 15/12/2020 15:26:58</p><p>Figura 4. Linha de ipês fl oridos marcam a paisagem à beira de uma das lagoas do Parque Ibirapuera. Fonte: Shutterstock.</p><p>Acesso em: 28/9/2020.</p><p>Áreas livres públicas</p><p>Entendemos as cidades por meio da percepção de seus espaços públi-</p><p>cos. Seja a pé ou em algum veículo, identificamos ruas, praças, parques e</p><p>jardins que fazem parte de nossa história cotidiana. A vegetação participa</p><p>ativamente desses espaços, seja de maneira mais evidente, em parques e</p><p>maioria das praças, seja de maneira menos evidente, nas ruas e avenidas.</p><p>Os elementos que compõem os espaços públicos de uma cidade têm,</p><p>como principal característica, estruturá-la espacialmente. Por isso, po-</p><p>dem ser entendidos como partes de um sistema, chamado de sistema</p><p>de espaços livres.</p><p>Queiroga (2012) afirma que “compreende-se como sistema de</p><p>espaços livres urbanos, os elementos e as relações que organi-</p><p>zam e estruturam o conjunto de todos os espaços</p><p>livres de um determinado recorte urbano”. Toda</p><p>cidade, pequena ou grande, tem o seu sistema de</p><p>espaços livres, independentemente de este ser</p><p>qualificado ou não.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 21</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 21 15/12/2020 15:27:05</p><p>CURIOSIDADE</p><p>O estudo dos sistemas de espaços livres das cidades brasileiras</p><p>tem avançado à passos largos nas últimas décadas, graças aos</p><p>esforços de pesquisadores do campo do paisagismo de diversas</p><p>universidades do país. Um exemplo são as pesquisas desenvolvidas</p><p>no laboratório Quapá (Quadro do Paisagismo no Brasil), da Univer-</p><p>sidade de São Paulo. Ele pesquisa, desde 1994, aspectos históricos,</p><p>de projeto, de gestão e de apropriação a respeito do tema, espe-</p><p>cialmente dos espaços públicos. Recomenda-se que o aluno visite</p><p>seu site, disponível na bibliografia.</p><p>A rua é o principal espaço público de uma cidade. É o elemento que</p><p>interconecta todos os outros. As vias são chamadas de sistema viário, e</p><p>podemos entender que o sistema viário é um subsistema do sistema de</p><p>espaços livres. Vamos entender um pouco mais sobre os principais tipos</p><p>de espaços públicos de uma cidade.</p><p>As praças são elementos de en-</p><p>contro intencional das pessoas, de</p><p>permanência, de acontecimentos,</p><p>de práticas sociais, de manifesta-</p><p>ções de vida urbana e comunitária.</p><p>As praças contemporâneas podem</p><p>ter origem intencional ou podem</p><p>ser originadas de outros usos, como</p><p>as praças originárias dos adros das</p><p>igrejas, por exemplo. A forma da</p><p>praça pode ser quadrangular, trian-</p><p>gular, circular etc. O que importa é conferirmos a ela qualificação e signifi-</p><p>cado funcional (LAMAS, 2014).</p><p>A praça Rio Branco (do marco zero), localizada em Recife, teve sua últi-</p><p>ma versão elaborada em 1999, por de Fernando Borba, Reginaldo Estêves</p><p>e Cícero Dias (ROBBA; MACEDO, 2010). A Figura 5 mostra que se trata de</p><p>uma praça seca, sem o componente vegetal predominante. Seu desenho se</p><p>encontra na paginação de piso e no seu simbolismo em relação com a ar-</p><p>quitetura circundante. Nos dias atuais, é um ponto turístico importante da</p><p>cidade, com foco na contemplação e no suporte à eventos culturais:</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 22</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 22 15/12/2020 15:27:21</p><p>Figura 5. Praça Rio Branco, Recife. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>Os parques constituem estruturas verdes que contribuem</p><p>para caracterizar a imagem da cidade. São multifuncionais,</p><p>servindo de controle climático, auxiliando a dre-</p><p>nagem urbana e atendendo a aspectos sociais e</p><p>culturais. Os parques contemporâneos têm sua</p><p>origem na era industrial, respondendo a uma</p><p>demanda por lazer dos trabalhadores e se con-</p><p>trapondo ao ambiente urbano poluído.</p><p>Consideramos, como parques, todo espaço de uso público destinado à re-</p><p>creação de massa (qualquer que seja o seu tipo), que seja capaz de incorporar</p><p>intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é autossuficiente, isto</p><p>é, não é diretamente influenciado, em sua configuração, por nenhuma estrutu-</p><p>ra constituída em seu entorno (MACEDO; SAKATA, 2010).</p><p>O Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília, projeto coordena-</p><p>do por Roberto Burle Marx em 1975 (MACEDO; SAKATA, 2010), é uma im-</p><p>portante referência de paisagismo urbano moderno no Brasil. Apresenta</p><p>uma valorização dos espaços de lazer e prática de esportes, associados</p><p>à implantação de equipamentos arquitetônicos de usos culturais, como</p><p>museus, teatros, bibliotecas etc.:</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 23</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 23 15/12/2020 15:27:59</p><p>Figura 6. Parque da Cidade Sarah Kubitschek, Brasília. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>As vias urbanas (ruas e avenidas) são os elementos mais claramente identi-</p><p>ficáveis na forma da cidade. O conceito de vias urbanas não pode ser reduzido</p><p>ao leito carroçável, como se a calçada fosse uma categoria à parte. A calçada</p><p>é objeto de projeto de paisagismo. Uma via deve oferecer condições adequa-</p><p>das de trânsito de veículos e de pessoas, com desenho acessível e conforto,</p><p>aí incluída a arborização. Analise a Figura 7, que mostra um trecho da avenida</p><p>Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo:</p><p>Figura 7. Avenida Brigadeiro Faria Lima. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 24</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 24 15/12/2020 15:28:36</p><p>No projeto dos espaços públicos, o cliente é a população que se utilizará</p><p>daquele espaço. Devemos partir de uma realidade física da área de intervenção</p><p>e de suas especificidades, definindo uma resposta de projeto que atenda aos</p><p>anseios da sociedade. Caso contrário, as pessoas se apropriarão do espaço.</p><p>Niemeyer (2011) elenca algumas recomendações que devemos considerar no</p><p>projetar de um espaço público:</p><p>• Resgatar a história do lugar, seus significados ou representações, por</p><p>meio de desenhos e estruturas que valorizem e identifiquem o espaço</p><p>para o público;</p><p>• Buscar o máximo de fruição no desenho, com sensível expressivida-</p><p>de artística;</p><p>• Propiciar acessibilidade às pessoas com necessidades especiais e seguran-</p><p>ça no caso da localização de parques infantis e lugares de pedestres;</p><p>• Desenhar mobiliários adequados aos diferentes usos, evitando formas</p><p>que podem ocasionar acidentes;</p><p>• Dar prioridade aos pisos permeáveis e ecológicos;</p><p>• Aproveitar fatores naturais existentes, como água, vegetação, topogra-</p><p>fia e visadas;</p><p>• Dar preferência às soluções simples e funcionais, evitando recintos inseguros;</p><p>• Utilizar o potencial arquitetônico de todo componente vegetal no que diz</p><p>respeito à forma, cor, textura e porte das espécies;</p><p>• Prevalecer o uso de espécies arbóreas em uma proposta de valorização</p><p>do verde urbano e de conforto climático, com predomínio</p><p>de espécies nati-</p><p>vas regionais.</p><p>O aspecto de arborização merece ser aprofundado. A inserção de árvo-</p><p>res no ambiente urbano contribuiu para a melhoria da qualidade ambiental,</p><p>tanto pelo lado físico, quanto pelo lado mental das pessoas. Além de des-</p><p>pertar o senso estético da paisagem, as árvores purificam o ar com a fotos-</p><p>síntese, absorvem poluição, minimizam o microclima e contribuem com o</p><p>ciclo hidrológico. São algumas recomendações sobre os projetos de arbori-</p><p>zação (NIEMEYER, 2011):</p><p>• Adotar espécies com caule único, raízes pivotantes (axiais) e porte</p><p>reconhecido, de modo a não danificar as redes públicas, ainda evitando</p><p>podas radicais;</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 25</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 25 15/12/2020 15:28:36</p><p>• Especifi car espécies sem acúleos (espinhos), sem galhos quebradiços e</p><p>não perigosas à saúde;</p><p>• Implantar mudas bem formadas com porte acima de dois metros de altura;</p><p>• Indicar espécies cujo período de fl oração seja longo e espécies que garan-</p><p>tam uma fl oração variada;</p><p>• Diversifi car ao máximo as espécies, tomando como referência um percen-</p><p>tual de 15% a 20% por espécie e por área de projeto;</p><p>•Respeitar o parâmetro de afastamento entre as mudas entre 5 m e 7 m,</p><p>resguardando o devido cuidado na escolha do porte quando sob redes áreas;</p><p>• Prever afastamento mínimo de 5 m de postes e esquinas, 1 m, tomado de</p><p>seu eixo vertical, das redes subterrâneas e 4 m de pontos de ônibus;</p><p>• Plantar em calçadas prevendo abertura no pavimento (gola) de, no míni-</p><p>mo, 1 m x 1 m, coberta com forração rasteira ou grelha de ferro fundido.</p><p>Sobre o projeto de calçadas e demais pisos para espaços públicos, devemos</p><p>considerar a especifi cação de pisos resistentes e de fácil manutenção. Deve-</p><p>mos ter em mente que o piso de um espaço público deve passar</p><p>despercebido pelas pessoas, permitindo que sua atenção se</p><p>foque em outros elementos da paisagem. Analise o Quadro</p><p>1, que mostra algumas características de pisos recomenda-</p><p>dos para espaços públicos:</p><p>Revestimento Característica</p><p>Pó de tijolo ou pedrisco Espalhado com pá e com espessura entre 3 cm e 6 cm. Recomendado</p><p>para pistas de atletismo ao ar livre, caminhos e trilhas em parques.</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>de cimento</p><p>Diferentes formas e dimensões, assentados em argamassa de cimen-</p><p>to entre 3 cm e 4 cm, com lastro de cascalho ou britado. Recomenda-</p><p>do para calçadas e com tráfego eventual de veículos.</p><p>Ladrilhos cerâmicos</p><p>Diferentes formas e dimensões, além de cores variadas, assentados</p><p>em argamassa de cimento entre 2 cm e 3 cm, umedecidos e batidos,</p><p>posteriormente. Recomendado para calçadas e caminhos internos.</p><p>Lajotas de concreto</p><p>armado</p><p>Forma retangular ou quadrada, com espessura entre 6 cm e 10 cm,</p><p>assentadas sobre solo regularizado ou camada de areia. Recomenda-</p><p>do para caminhos internos.</p><p>Pó de tijolo ou pedriscoPó de tijolo ou pedriscoPó de tijolo ou pedriscoPó de tijolo ou pedrisco</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>Pó de tijolo ou pedrisco</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>Pó de tijolo ou pedrisco</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>de cimento</p><p>Pó de tijolo ou pedrisco</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>de cimento</p><p>Ladrilhos cerâmicos</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>de cimento</p><p>Ladrilhos cerâmicos</p><p>Ladrilhos hidráulicos</p><p>Ladrilhos cerâmicosLadrilhos cerâmicos</p><p>Lajotas de concreto</p><p>Ladrilhos cerâmicos</p><p>Lajotas de concreto</p><p>Ladrilhos cerâmicos</p><p>Lajotas de concreto</p><p>armado</p><p>Lajotas de concreto</p><p>armado</p><p>Lajotas de concreto</p><p>armado</p><p>Lajotas de concreto</p><p>QUADRO 1. TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE PISOS RECOMENDADOS PARA</p><p>ESPAÇOS PÚBLICOS</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 26</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 26 15/12/2020 15:28:37</p><p>Blocos articulados de</p><p>concreto</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>Peças de pedras nobres São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>Blocos articulados de Blocos articulados de Blocos articulados de</p><p>concreto</p><p>Blocos articulados de</p><p>concreto</p><p>Peças de pedras nobres</p><p>Blocos articulados de</p><p>concreto</p><p>Peças de pedras nobres</p><p>Blocos articulados de</p><p>Peças de pedras nobresPeças de pedras nobres</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>Peças de pedras nobres</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>Peças de pedras nobres</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>Peças de pedras nobres</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem</p><p>destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>para calçadas e caminhos internos.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Peças com formas especiais e colocadas conforme indicações do</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>fabricante, assentados sobre sub-base a especifi car. Recomendado</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>mendadas para áreas que exigem destaque no projeto.</p><p>São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-São polidas, porém não lustradas, para evitar escorregamentos. Reco-</p><p>Fonte: MASCARÓ, 2008, p. 111. (Adaptado).</p><p>O paisagismo e a recuperação de áreas degradadas e</p><p>de risco</p><p>Para Sanches (2011), no ambiente urbano, as áreas degradadas “são os</p><p>espaços vazios, abandonados ou subutilizados, que perderam sua</p><p>função qualitativa, do ponto de vista econômico, social ou</p><p>ambiental”. São locais desvalorizados, sem interesse de</p><p>investimento econômico; vulneráveis às atividades ilíci-</p><p>tas, favorecendo o crime; e são poluídas. Podemos elen-</p><p>car como sendo áreas degradadas:</p><p>• Lotes vazios preparados para a construção, porém abandonados;</p><p>• Lotes vazios provenientes de demolições;</p><p>• Terrenos com estruturas industriais abandonadas;</p><p>• Estruturas ferroviárias ou portuárias abandonadas, com risco de contaminação;</p><p>• Estruturas militares abandonadas;</p><p>• Terras de uso agrícola abandonadas;</p><p>• Áreas de mineração abandonadas;</p><p>• Aterros desativados;</p><p>• Passagens de dutos ou linhas de alta tensão;</p><p>• Áreas contaminadas ou com risco de contaminação;</p><p>• Áreas com limitações físicas de ocupação devido à alta declividade, ou</p><p>áreas de drenagem;</p><p>• Áreas remanescentes, pequenas e irregulares;</p><p>• Áreas ambientalmente sensíveis, vulneráveis e mal geridas, como mar-</p><p>gens de cursos d’água, nascentes, várzeas e encostas.</p><p>As áreas degradadas são um grande problema de nossas cidades. Este</p><p>assunto também é estudado internacionalmente, com os termos brown-</p><p>field ou derelict land. Existe um consenso de que essas áreas exigem uma</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 27</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 27 15/12/2020 15:28:38</p><p>reabilitação ou remediação para serem novamente utilizadas. Importante</p><p>ressaltar que as áreas degradas se diferem de áreas simplesmente vazias,</p><p>onde não há a necessidade de tratamento.</p><p>CITANDO</p><p>Os espaços abertos, que representam a base das paisagens, não podem</p><p>ser considerados vazios esperando para serem preenchidos por usos, pois</p><p>estes já têm múltiplos usos essenciais à habitabilidade e ao bem-estar da</p><p>população. Mais do que isso, são espaços vivos, no sentido literal, espe-</p><p>rando apenas pela revelação de seus signifi cados e liberação de seus</p><p>potenciais (PELLEGRINO; MOURA, 2017).</p><p>Serviços ambientais do paisagismo</p><p>A conversão das áreas degradadas em áreas verdes públicas tem se tornado</p><p>um amplo campo de atuação profi ssional. A ausência de áreas verdes urbanas</p><p>causa desequilíbrios nos ciclos e processos naturais, afetando a qualidade de</p><p>vida da população, contribuindo para inundações, promovendo o aquecimento</p><p>do clima e a erosão de encostas (SANCHES, 2011).</p><p>Macedo (2012) afi rma que, a partir dos anos 1970, tornou-se fato usual nas</p><p>cidades brasileiras a utilização de bosques residuais para a implantação de par-</p><p>ques. Entretanto, somente nas últimas três décadas, se consolidaram social-</p><p>mente as ideias de conservação e preservação do patrimônio ambiental, sendo</p><p>tomadas medidas mais consistentes a partir da Constituição de 1988.</p><p>Assim, os espaços de valor ambiental passaram a ser objetos de grandes</p><p>projetos de intervenção paisagística. Podemos entender a importância das</p><p>áreas verdes analisando seus serviços ambientais no Quadro 2:</p><p>Funções Implicações ecológicas e sociais</p><p>Fotossíntese Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>ambiental.</p><p>Biofi ltração Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>FotossínteseFotossínteseFotossíntese</p><p>Biofi ltração</p><p>Fotossíntese</p><p>Biofi ltraçãoBiofi ltraçãoBiofi ltração</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto Equilíbrio</p><p>dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>ambiental.</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>ambiental.</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>ambiental.</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>água de escoamento superfi cial.</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>Equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos, evapotranspiração e conforto</p><p>Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da Eliminação de materiais tóxicos, melhoria da qualidade do ar e da</p><p>QUADRO 2. SERVIÇOS AMBIENTAIS DAS ÁREAS VERDES</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 28</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 28 15/12/2020 15:28:38</p><p>Contenção do processo</p><p>erosivo</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Infi ltração de água</p><p>pluvial</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Movimentos de</p><p>massas de ar Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>e da fl ora</p><p>Contenção do processo Contenção do processo Contenção do processo Contenção do processo</p><p>erosivo</p><p>Contenção do processo</p><p>erosivo</p><p>Infi ltração de água</p><p>Contenção do processo</p><p>erosivo</p><p>Infi ltração de água</p><p>Contenção do processo</p><p>Infi ltração de água</p><p>pluvial</p><p>Contenção do processo</p><p>Infi ltração de água</p><p>pluvial</p><p>Movimentos de</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Infi ltração de água</p><p>pluvial</p><p>Movimentos de</p><p>massas de ar</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Infi ltração de água</p><p>Movimentos de</p><p>massas de ar</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Movimentos de</p><p>massas de ar</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Movimentos de</p><p>massas de ar</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Fluxo de organismos</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>entre fragmentos de</p><p>matas urbano-rural</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>de inundações.</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>cas e preservação</p><p>dos recursos hídricos.</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>e da fl ora</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>e da fl ora</p><p>Economia de nutrientes do solo, prevenção de deslizamentos, voçoro-</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>e da fl ora</p><p>Redução do escoamento, recarga de aquífero e prevenção</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Manutenção do clima, conforto térmico e difusão de gases tóxicos.</p><p>Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna Manutenção da diversidade genética e aumento da riqueza da fauna</p><p>Fonte: SANCHES, 2011, p. 47. (Adaptado).</p><p>Romero (2013) complementa o dito, afi rmando que um espa-</p><p>ço vegetado pode absorver maior quantidade</p><p>de radiação solar e, por sua vez, irradiar uma</p><p>quantidade menor de calor que qualquer</p><p>superfície construída, uma vez que grande</p><p>parte da energia absorvida pelas folhas é</p><p>utilizada para seu processo metabólico, en-</p><p>quanto que em outros materiais toda a energia</p><p>absorvida é transformada em calor.</p><p>Quando uma área verde pública é criada a partir da recuperação de área</p><p>degradada, são gerados uma série de benefícios. Podemos identifi cá-los</p><p>como (SANCHES, 2011):</p><p>• Aumento das áreas públicas para uso e lazer;</p><p>• Criação e expansão de habitats ecológicos;</p><p>• Colaboração e envolvimento da comunidade;</p><p>• Educação ambiental;</p><p>• Controle de enchentes;</p><p>• Renovação ambiental;</p><p>• Estímulo econômico;</p><p>• Melhoria estética da vizinhança;</p><p>• Teste e promoção de tecnologias de remediação;</p><p>• Preservação de locais históricos;</p><p>• Elaboração de projetos modelos referenciais;</p><p>• Prevenção de riscos geológicos.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 29</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 29 15/12/2020 15:28:39</p><p>EXPLICANDO</p><p>As áreas de risco geológico são, predominantemente, ocupações de</p><p>moradias em fundos de vales sujeitos a inundações ou encostas de</p><p>altas declividades com chances de escorregamentos do solo, quando</p><p>encharcado pela chuva. São, portanto, locais sujeitos à ocorrência de</p><p>fenômenos geológicos e hidráulicos que resultam em perdas materiais e</p><p>de vidas (CHAKARIAN, 2008).</p><p>Recuperação de áreas degradadas e de risco geológico</p><p>A recuperação paisagística de uma área urbana não é um</p><p>projeto simples. Ela exige iniciativa do poder público, fon-</p><p>te de financiamento, envolvimento da população</p><p>e justificativas embasadas na sustentabilidade</p><p>ambiental, social e econômica. Assim, é possí-</p><p>vel a elaboração de um planejamento de ações</p><p>que resultaram em um projeto de qualidade. Ca-</p><p>sos graves de áreas degradadas pela supressão de</p><p>mata ciliar, canalização e poluição de cursos d’água, como é o caso da</p><p>região do rio Tamanduateí, em São Paulo, exigem esforços emergenciais</p><p>para sua solução (Figura 8):</p><p>Figura 8. Rio Tamanduateí, São Paulo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 30</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 30 15/12/2020 15:28:51</p><p>O parque das Pedreiras, localizado em Curitiba, projeto de Domingos Bon-</p><p>gestabs, é um exemplo de área verde pública projetada sobre uma área de-</p><p>gradada. O parque foi implantado sobre uma antiga pedreira abandonada. Ele</p><p>foi projetado de forma a tirar o máximo proveito da paisagem local. Além da</p><p>questão ambiental, o parque atende a funções culturais, tendo um auditório</p><p>natural, cercado por uma parede de pedra que forma uma concha acústica.</p><p>Nele, também se encontra a Ópera de Arame, edifício de estrutura metálica, de</p><p>linhas contemporâneas e que acabou se tornando um cartão-postal da cidade</p><p>(Figura 9) (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 105):</p><p>Figura 9. Parque das Pedreiras, Curitiba. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>Já os desastres provocados por deslizamentos em áreas de risco, de-</p><p>vem ser entendidos como resultado de uma intensa ocupação irregular,</p><p>como no exemplo da Figura 10. Esse tipo de situação ocorre especial-</p><p>mente no verão, devido às fortes chuvas. Essas situações</p><p>caóticas remontam ao problema do alto preço do solo</p><p>urbano impulsionado pela especulação imobiliária sem</p><p>controle do poder público. Diante da supervalorização</p><p>das terras urbanas, a população mais pobre ocupa áreas</p><p>que não estão à venda legalmente, justamente por serem</p><p>áreas de preservação ou inadequadas à ocupação.</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 31</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 31 15/12/2020 15:29:01</p><p>Figura 10. Deslizamento em área de risco na cidade de Eunápolis. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/8/2020.</p><p>Podemos considerar, pelo aspecto ambiental, que os projetos de recuperação</p><p>paisagística, tanto em áreas degradadas como em áreas de risco geológico, devem</p><p>ser iniciados norteados por dois conceitos-chave: a permeabilidade do solo urbano</p><p>e a utilização de estratégias de infraestrutura verde. O solo urbano, quando não im-</p><p>permeabilizado, tem uma grande capacidade de absorção, que pode ser aproveitada</p><p>diminuindo o impacto de chuvas muito intensas. Analise o Quadro 3, que mostra a</p><p>capacidade infi ltração da água de acordo com o tipo de urbanização de uma área da</p><p>cidade. Observe que as áreas verdes chegam a 98% de infi ltração da água da chuva:</p><p>Tipo de urbanização Taxa de infi ltração</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas. 2% a 10%</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>10% a 30%</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>20% a 50%</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>trais com pátios e calçadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação muito densa, áreas urbanas cen-</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação medianamente densa, normal-</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>mente partes adjacentes ao centro, com jar-</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>dins privados e ruas calçadas e arborizadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>Edifi cação pouco densa, com recuos de jar-</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>calçadas parcialmente gramadas.</p><p>2% a 10%</p><p>dim, jardins interiores, ruas pavimentadas e</p><p>2% a 10%2% a 10%2% a 10%</p><p>10% a 30%10% a 30%10% a 30%</p><p>20% a 50%20% a 50%20% a 50%</p><p>QUADRO 3. TAXAS DE INFILTRAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS PARA DIFERENTES</p><p>TIPOS DE OCUPAÇÃO URBANA</p><p>PROJETO DE PAISAGISMO II 32</p><p>SER_ARQURB_PROPAII_UNID1.indd 32 15/12/2020 15:29:08</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>mentadas.</p><p>40% a 70%</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>50% a 80%</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>estais urbanas 70% a 98%</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>mentadas.</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>mentadas.</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>mentadas.</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>mentadas.</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>Edifi cação de baixa densidade, tipo cidade</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>jardim, grandes áreas gramadas, calçadas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>estais urbanas</p><p>predominantemente gramadas e ruas pavi-</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>estais urbanas</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>estais urbanas</p><p>Subúrbios com edifi cação esparsa, lotes</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>estais urbanas</p><p>baldios, ruas sem pavimentação e praças com</p><p>arborização, pouco impermeabilizadas.</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-Parques, campos de esportes e reservas fl or-Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>40% a 70%</p><p>Parques, campos de esportes e reservas fl or-</p><p>40% a 70%40% a 70%40% a 70%</p><p>50% a 80%50% a 80%50% a 80%</p><p>70% a 98%70% a 98%70% a 98%70% a 98%</p><p>Fonte: MASCARÓ; YOSHINAGA, 2005, p. 95. (Adaptado).</p><p>A água da chuva que segue por escoamento superfi cial</p>

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