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<p>Inserir Título Aqui</p><p>Inserir Título Aqui</p><p>Teorias de</p><p>Aprendizagem</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Responsável pelo Conteúdo:</p><p>Prof.ª Dr.ª Carmem Lúcia Costa Amaral</p><p>Revisão Textual:</p><p>Prof.ª Me. Natalia Conti</p><p>Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:</p><p>• A Relação da Neurociência</p><p>com a Aprendizagem;</p><p>• Neurociências e as Teorias</p><p>de Aprendizagem.</p><p>Fonte: Getty Im</p><p>ages</p><p>Objetivo</p><p>• Entender o que é neurociência e como ela auxilia na compreensão</p><p>do processo de aprendizagem.</p><p>Caro Aluno(a)!</p><p>Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-</p><p>timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material</p><p>trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.</p><p>Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você</p><p>poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns</p><p>dias e determinar como o seu “momento do estudo”.</p><p>No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões</p><p>de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e</p><p>auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.</p><p>Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de</p><p>discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de</p><p>propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de</p><p>troca de ideias e aprendizagem.</p><p>Bons Estudos!</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Contextualização</p><p>Você pode estar se perguntando: como o conhecimento sobre neurociência pode</p><p>contribuir para beneficiar o processo de ensino e aprendizagem? Qual a relação entre a</p><p>neurociência e a aprendizagem? A neurociência se preocupa com a estrutura e o funcio-</p><p>namento do sistema nervoso, enquanto para a aprendizagem nós professores criamos</p><p>condiç õ es que promovem o desenvolvimento de competê ncias, atuando desta forma</p><p>como agentes nas mudanças cerebrais que levam à aprendizagem. Isso significa que as</p><p>estratégias de ensino utilizadas por nós são estímulos que produzem a reorganização do</p><p>sistema nervoso resultando na aprendizagem.</p><p>Passamos a vida aprendendo. Aprendemos a falar, andar, sentar, ler, escrever, se co-</p><p>municar etc. e essa aprendizagem fica armazenada na nossa memória. Assim, ao apren-</p><p>dermos coisas novas as ligamos com as já existentes na nossa memória, relacionando-as</p><p>e ampliando nosso conhecimento. No entanto, isso só é possível graças à capacidade de</p><p>memorização e de interface entre informações, o que ocorre por um processo neurobio-</p><p>químico, sináptico, no nosso sistema nervoso.</p><p>Desta forma, a compreensão de como o sistema nervoso funciona permite um melhor</p><p>entendimento da aprendizagem e o consequente aprimoramento da transposição didática.</p><p>Bom estudo.</p><p>6</p><p>7</p><p>A Relação da Neurociência</p><p>com a Aprendizagem</p><p>Talvez você esteja achando estranha a inclusão dessa unidade em uma disciplina</p><p>de teorias de aprendizagem, pois, como sabemos, a neurociência não é considerada</p><p>uma teoria de aprendizagem. No entanto, o que se pretende nessa unidade é mostrar</p><p>possíveis aproximações entre as teorias da aprendizagem e as pesquisas no campo da</p><p>neurociência, pois os resultados de algumas pesquisas científicas mostram que ao aliar</p><p>os estudos da neurociência com as teorias educacionais é possível conjecturar saberes</p><p>que servirão de subsídios para a prática pedagógica do professor.</p><p>O que é neurociência? Qual sua relação com a educação?</p><p>Neurociência é uma área que estuda o sistema nervoso e suas ações no nosso corpo.</p><p>Os pesquisadores da Neurociência têm como um dos seus objetivos entender como o cérebro</p><p>(principal órgão do sistema nervoso) aprende e se comporta no processo de aprendizagem.</p><p>O cérebro é o órgão que processa e responde os estímulos recebidos pelo sistema</p><p>nervoso através dos neurônios (Figura 1) que são as células que o compõe. Nosso sis-</p><p>tema nervoso possui cerca de 100 bilhões de neurônios e cada um pode estar ligado a</p><p>milhares de outros. Isto significa que existem trilhões de rotas diferentes que o estímulo</p><p>recebido pelo sistema nervoso pode percorrer para chegar ao cérebro (CALVIN, 1998).</p><p>Axônio</p><p>Bainha de</p><p>mielina</p><p>Núcleo</p><p>Corpo</p><p>celular</p><p>Figura 1 – Neurônio e suas partes</p><p>Fonte: Adaptado de Getty Images</p><p>Como podemos observar nessa figura, o neurônio é uma célula formada por três</p><p>partes principais: dendritos, corpo celular e axônio e cada parte tem uma função es-</p><p>pecífica nessa célula. Os dendritos captam os estímulos recebidos pela célula e os trans-</p><p>mitem ao corpo celular, que propaga esses estímulos na forma de impulso elétrico para</p><p>o axônio, que por sua vez o transmite para o neurônio seguinte por meio de sinapses</p><p>(Figura 2a). O neurônio seguinte ao receber esse impulso no seu dendrito faz o mesmo</p><p>processo que pode se repetir por uma cadeia de vários neurônios, formando uma rede</p><p>neural (Figura 2b). Como resultado, a informaç ã o de entrada é processada, chega a uma</p><p>determinada parte do cérebro levando-o a responder ao estímulo inicial.</p><p>7</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Figura 2</p><p>Fonte: Adaptado de Getty Images</p><p>Interrupções desses processos de comunicação entre os neurônios contribuem para os</p><p>transtornos do desenvolvimento.</p><p>Essas conexões entre os neurônios que compõem as redes neurais tornam-se mais</p><p>complexas à medida que o aprendiz interage com o meio ambiente interno e externo,</p><p>por isso crianças que não são estimuladas ou são pouco estimuladas durante a infância</p><p>podem apresentar dificuldade de aprendizagem. Desta forma, elas necessitarão de es-</p><p>tímulos e de estratégias de ensino direcionadas para terem a chance de desenvolver as</p><p>habilidades não desenvolvidas, pois como afirma Sousa e Alves (2017), a aprendizagem</p><p>ocorre por meio da estimulação das conexões entre os neurônios e essas conexões po-</p><p>dem ou não ser fortalecidas dependendo da qualidade da intervenção pedagógica.</p><p>Fonseca (2014) reforça dizendo que os neurônios podem ser considerados as células</p><p>da aprendizagem, porque as interações que recriam com outras células sustentam e</p><p>consolidam qualquer tipo de aprendizagem, seja a mais simples de tipo sensório-motor,</p><p>práxica (realização de movimentos motores complexos), não-simbólica ou não-verbal,</p><p>seja a mais complexa do tipo operacional, simbólica ou verbal, como são a leitura, a</p><p>escrita e a matemática.</p><p>Além do cérebro processar as informações recebidas dos neurônios, ele possui outra</p><p>capacidade muito importante: a plasticidade, que é a capacidade de aprender novos</p><p>caminhos, de alterar as conexões de uma rede neural já estabelecida e criar roteiros de</p><p>reação a partir de experiência e estímulos (XIMENES, 2010), ou seja, a plasticidade neu-</p><p>ral é a capacidade dos neurônios ou de regiões do cérebro de alterar suas propriedades</p><p>através do uso ou de estimulação.</p><p>O cérebro sozinho não possui nenhuma função, ele só estabelece um funcionamento quan-</p><p>do está em conjunto com outros sistemas que se interconectam, recebem e respondem</p><p>aos estímulos para realizar um potencial de atividades elétricas e químicas. (RELVAS, 2012)</p><p>Como podemos ver na figura 1, o axônio é envolvido por uma camada chamada</p><p>mielina, que é uma bainha lipídica de cor branca que permite o aumento da velocida-</p><p>de da transmissão do estímulo recebido pelo neurônio. Essa velocidade é aumentada</p><p>porque o impulso nervoso, em vez de se propagar continuamente pela membrana do</p><p>axônio, pula diretamente de um nódulo de Ranvier (espaço entre as bainhas de mielina)</p><p>8</p><p>9</p><p>para outro. Caso a bainha de mielina seja lesada ou destruída, os impulsos nervosos se</p><p>tornam cada vez mais lentos ou não são transmitidos. A mielinização ocorre nos primei-</p><p>ros 15 anos de vida.</p><p>As funções complexas do cérebro e do sistema nervoso são consequência da interação</p><p>dos neurônios na rede neural e não do impulso de cada neurônio isoladamente.</p><p>O impulso nervoso, como descrito acima, é transmitido de neurônio a neurônio a par-</p><p>tir de sinapse. Na sinapse, o impulso é transmitido a partir de mediadores químicos ou 7</p><p>que estão armazenados em vesículas dentro dos axônios. Izquierdo (2010) descreve que</p><p>a aprendizagem está associada ao prazer e liberação do neurotransmissor serotonina.</p><p>Sinapse: é a região que fica entre os neurônios, transmitindo o impulso nervoso de um</p><p>neurônio a outro, ou de um neurônio para uma célula muscular ou glandular. As que</p><p>envolvem liberação de neurotransmissores são chamadas de sinapses químicas.</p><p>A acetilcolina, outro neurotransmissor, é o mais importante para as funções cogniti-</p><p>vas. Pessoas com baixos níveis de acetilcolina apresentam dificuldades de concentração</p><p>e problemas de memória (ALVAREZ; LEMOS, 2006).</p><p>Os cientistas já conhecem mais de 100 neurotransmissores, sendo a maioria for-</p><p>mada por aminoácidos, aminas ou pequenos peptídeos (molécula formada por dois ou</p><p>mais aminoácidos).</p><p>A rede neural do cérebro no córtex cerebral (a camada externa do cérebro) (link a seguir)</p><p>é responsável pelo processamento cognitivo e pela inteligência humana. Essa rede sofre</p><p>modificação quando um novo conhecimento é adquirido na estrutura cognitiva do aprendiz.</p><p>Córtex cerebral. Disponível em: http://bit.ly/2n5S7hB</p><p>O córtex recobre a quase totalidade da superfície dos dois hemisférios cerebrais: o</p><p>direito e o esquerdo. Veja no link a seguir.</p><p>Funções dos hemisférios direito e esquerdo do córtex cerebral.</p><p>Disponível em: http://bit.ly/2nkNosv</p><p>Fonseca (2014) propõe uma tríade funcional para a aprendizagem, que compreende</p><p>as funções conativas, executivas e cognitivas do ser humano. As funções conativas re-</p><p>ferem-se às relações com as emoções, o temperamento e a personalidade do indivíduo.</p><p>Para Oliveira (2018, p.1) a função conativa auxilia o professor na condução da sua</p><p>prática, pois leva-o a alguns questionamentos como:</p><p>Meu aluno tem o claro objetivo de por que é necessária a realização</p><p>de determinadas tarefas?</p><p>Qual o principal objetivo da realização das atividades que proponho</p><p>para o meu aluno?</p><p>9</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Qual a real expectativa que meu aluno tem para com a atividade</p><p>que recomendo?</p><p>Qual o estado emocional de meu aluno neste momento da atividade?</p><p>A aprendizagem dificilmente acontecerá em uma atmosfera de sofrimento emocional,</p><p>de incompreensão, de autoestima negativa, porque ela tem, e assume sempre, uma sig-</p><p>nificação afetiva, isto é, conativa (FONSECA, 2014).</p><p>As executivas coordenam e integram o ato de planejar, gerir, antecipar tarefas, textos</p><p>e trabalhos, organizar, pensar, reter, memorizar e resumir.</p><p>A função cognitiva tem como fundamento alguns conceitos, como: integração, in-</p><p>terdependência, maturidade, complexidade, autorregulação, intercâmbio, equilíbrio</p><p>e adaptabilidade.</p><p>Para Fonseca (2018), essas funções são pouco estimuladas na escola e como conse-</p><p>quência são mal adaptadas, deficitárias, frágeis ou mesmo fracas nos estudantes que pro-</p><p>curam diariamente melhorar sua aprendizagem. Para esse autor, aprender a aprender é</p><p>praticar, treinar, aperfeiçoar e “redesenvolver” essas três funções de forma harmoniosa.</p><p>Para compreender a relação entre neurociência e aprendizagem assista ao vídeo “Neuroci-</p><p>ência e Educação”. Disponível em: https://youtu.be/zpC0bldPx0k</p><p>Memória e Aprendizagem</p><p>De acordo com Santos et al. (2016, p. 8), memória é o processo pelo qual infor-</p><p>mações são codificadas, armazenadas e posteriormente recuperadas. Aprendizagem é</p><p>um processo pelo qual os seres humanos adquirem informações do ambiente interno e</p><p>externo. Embora sejam diferentes, elas trabalham juntos.</p><p>Na educação, memorizar é considerado desde muito tempo como sinônimo de de-</p><p>corar datas, textos, nomes e fórmulas e o processo complexo do cérebro em registrar,</p><p>armazenar e recuperar intencionalmente cada pensamento que uma pessoa elabora,</p><p>cada lembrança, cada palavra que se fala e se compreende, cada ação que se executa e</p><p>foi deixada de lado. Atualmente, a memória é considerada por diversos pesquisadores</p><p>das mais diferentes áreas, a base do conhecimento e caminho para a eficácia no ensino,</p><p>se for adequadamente estimulada e utilizada (MEDEIROS; BEZERRA, 2013).</p><p>Uma boa estratégia necessária para a memória é a repetição. Por exemplo, uma</p><p>pessoa não esquece o dia do seu aniversário porque, ao longo de sua vida, essa pessoa</p><p>repetiu essa informação inúmeras vezes. Esse processo interfere na memorização por-</p><p>que toda vez que ela repete a data do seu nascimento, o estímulo ativa o mesmo circuito</p><p>neural e a ativação contínua reforça esse circuito, tornando mais fácil a posterior evoca-</p><p>ção da informação armazenada (MOURÃO JÚNIOR; FARIAS, 2015).</p><p>A memória está dividida essencialmente em três tipos (LOMBROSO, 2004):</p><p>• A declarativa (ou explícita): são aquelas que envolvem o pensamento consciente.</p><p>A parte do cérebro responsável por essa memória é o hipocampo. Lesões nessa</p><p>região impedem os indivíduos de estabelecerem novas memórias explícitas;</p><p>10</p><p>11</p><p>• Não declarativa (ou implícita): são, normalmente, memórias de procedimentos ou</p><p>associativas em sua natureza, e frequentemente são adquiridas de forma inconsciente;</p><p>• De trabalho: tem como função contextualizar o indivíduo e gerenciar as informa-</p><p>ções que estão transitando pelo cérebro. Devido ao seu conhecimento ser recente</p><p>não há consenso da sua definição entre os pesquisadores da área. Entretanto, há</p><p>alguns pontos consensuais a respeito das suas características: sua duração ultrar-</p><p>rápida (de apenas poucos segundos) e sua capacidade limitada (retém apenas 5</p><p>a 9 itens). Outra função importante desse tipo de memória é comparar as novas</p><p>informações que estamos recebendo com informações antigas, já consolidadas e</p><p>armazenadas em nossa memória de longo prazo.</p><p>Limitações na memória de trabalho dificultam a compreensão de conceitos comple-</p><p>xos e abstratos. O quadro 1 apresenta a classificação da memória quanto ao tempo de</p><p>retenção da informação e quanto a sua natureza.</p><p>Quadro 1</p><p>Classificação das memórias quanto ao tempo de retenção</p><p>Tempo de retenção Características</p><p>Ultrarrápida ou imediata Dura frações de segundos a alguns segundos;</p><p>Memória sensorial.</p><p>Curta duração Dura minutos ou horas, garante o sentido de continuidade</p><p>do presente.</p><p>Longa duração Dura horas, dias ou anos, garante o registro do passado</p><p>autobiográfico e dos conhecimentos do indivíduo.</p><p>Classificação das memórias quanto a sua natureza</p><p>Tipos Subtipos Características</p><p>Regiões</p><p>cerebrais</p><p>Explícita ou declarativa</p><p>(pode ser descrita por meio de</p><p>palavras e outros símbolos)</p><p>Episódica Tem uma referência temporal: memória</p><p>de fatos sequenciados. Lobo temporal medial</p><p>Diencéfalo.</p><p>Semântica Envolve conceitos atemporais:</p><p>memória cultural.</p><p>Implícita ou não declarativa</p><p>(não precisa ser descrita por</p><p>meio de palavras)</p><p>De representação</p><p>perceptual</p><p>Representa imagens sem significado</p><p>conhecido: memória pré-consciente. Neocórtex.</p><p>De procedimentos Hábitos, habilidades e regras. Estriado cerebelo.</p><p>Associativa</p><p>Associa dois ou mais estímulos</p><p>(condicionamento clássico), ou</p><p>um estímulo a certa resposta</p><p>(condicionamento operante).</p><p>Amígdala (respostas</p><p>emocionais); Cerebelo</p><p>(respostas musculares</p><p>esqueléticas).</p><p>Não associativa</p><p>Atenua uma resposta (habituação) ou</p><p>aumenta-a (sensibilização) através da</p><p>repetição de um mesmo estímulo.</p><p>Vias reflexas.</p><p>Memória de trabalho Permite o raciocínio e o planejamento</p><p>do comportamento.</p><p>Córtex pré-frontal</p><p>(componente executivo);</p><p>Córtex parieto-occipital.</p><p>Fonte: Santos et al (2016, p. 158)</p><p>Quanto mais recursos o professor utilizar na transmissão de uma informação melhor</p><p>ela será fixada na memória de longa duração, o que tem importantes implicações peda-</p><p>gógicas para a estimulação da aprendizagem dentro e fora da escola (HOUZEL, 2009).</p><p>11</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Os tipos de memória que mais interessam para a aprendizagem são dois: de curto</p><p>e de longo</p><p>prazo. A de curto prazo está associada à capacidade do cérebro de reter</p><p>informações por um período mais curto, que varia de alguns poucos minutos até meia</p><p>ou uma hora. A de longo prazo recorda informações e acontecimentos ocorridos no</p><p>passado, sendo um tipo de memória que parece envolver mudanças na estrutura dos</p><p>neurônios (DALGALARRONDO, 2008).</p><p>Para Bassoli (2017), a memória de trabalho também tem papel importante nos pro-</p><p>cessos de aprendizagem, pois é ela que faz a ligação entre as memórias de curto e longo</p><p>prazo, possibilitando, assim, que as informações armazenadas no cérebro (conhecimen-</p><p>tos prévios) sejam resgatadas e associadas às novas informações. A autora enfatiza que,</p><p>por ser esta memória de capacidade limitada, não adianta o professor ficar jogando</p><p>matéria na aula, pois é bem provável que a informação não fique gravada.</p><p>Figura 3</p><p>Fonte: Adaptado de Wikipedia Commons</p><p>Neurociências e as Teorias</p><p>de Aprendizagem</p><p>Atualmente, os resultados encontrados pela neurociê ncia sobre o processo de</p><p>aprendizagem se assemelham ao que os teóricos como Piaget (1979), Ausubel (1980) e</p><p>Vygotsky (2001) mostraram por diferentes caminhos.</p><p>Para Ausubel (1980), há as três condições necessárias para a aprendizagem signifi-</p><p>cativa, entre elas estão os conhecimentos prévios do aprendiz. Para os estudiosos da</p><p>neurociência o fator mais importante na aprendizagem são as redes neurais já existentes</p><p>no cérebro do aprendiz.</p><p>Como descreve Schumacher (2006 apud MODA, 2017) quanto mais organizados os</p><p>conhecimentos prévios, mais fácil será o aprendizado. Para Ausubel, a estrutura cogniti-</p><p>va tende a organizar-se hierarquicamente em termos de nível de abstração, generalidade</p><p>e inclusividade de seus conteúdos.</p><p>Por isso é importante que o professor faça o diagnóstico dos conhecimentos prévios</p><p>dos alunos antes de iniciar o conteúdo, pois só assim ele poderá escolher a metodologia e</p><p>as estratégias de ensino mais adequadas, de acordo com o nível de aprendizado retratado,</p><p>12</p><p>13</p><p>pois ele é o mediador e estimulador da aprendizagem do seu aluno. Se o estímulo for pre-</p><p>cário, as sinapses provocadas no cérebro deste aluno também serão ineficientes durante</p><p>esse processo de aprender.</p><p>A repetição de uma atividade, a retomada de um conceito sempre do mesmo jeito,</p><p>ou práticas repetitivas do professor ativam sempre as mesmas conexões sinápticas no</p><p>cérebro do aluno, o que não favorece a aprendizagem do ponto de vista da memória,</p><p>comprometendo a assimilação do conteúdo (MODA, 2017).</p><p>Na sala de aula, muitas vezes acreditamos que o aluno não sabe um conteúdo, quan-</p><p>do na verdade a sua falta de compreensão é devido à falta de conhecimentos prévios.</p><p>Isto significa que o tempo de ensino é diferente do tempo de aprendizagem.</p><p>Quanto à condição do aluno querer aprender, os estudos da neurociência ratificam</p><p>que o cérebro aprende com mais facilidade aquilo que ele gosta, onde há o interesse e</p><p>quando este conhecimento pode lhe ser útil. Por isso é preciso despertar emoção no alu-</p><p>no, pois ela serve para armazenar e recordar de uma forma mais eficaz (MORA, 2017).</p><p>Para aprofundar a questão da emoção no processo de aprendizagem assista à palestra do</p><p>prof. Mora. Disponível em: https://youtu.be/oqu0sCRHqv0</p><p>Durante o processo de aprendizagem significativa, as redes neurais passam por</p><p>modificações, formando novas sinapses e/ou conexões funcionais com novos neurô-</p><p>nios, levando à neuroplasticidade cerebral. À medida que as informações são incorpo-</p><p>radas a estrutura cognitiva, a qualidade, e a extensão das conexões neurais també m se</p><p>intensificam (SANTOS et al., 2016).</p><p>Segundo Piaget (1973), a aprendizagem é o resultado de trocas com o meio, onde o</p><p>indivíduo se adapta a novas situações através de mecanismos de assimilação. Esta ação</p><p>modifica a rede neural, que modifica a mente e proporciona o desenvolvimento intelectual.</p><p>Para Piaget (1973), a origem do conhecimento do sujeito envolve três processos</p><p>complementares e, por vezes, simultâneos. O primeiro é chamado de assimilação,</p><p>o segundo de acomodação e o terceiro de equilibração. Só há aprendizagem quando</p><p>há acomodação, que leva a uma reestruturação da estrutura cognitiva do aprendiz. Esta</p><p>ação modifica as redes de neurônios e proporciona o desenvolvimento intelectual.</p><p>Na estrutura neurológica a acomodação do conhecimento provoca uma mudança</p><p>física no cérebro e a rede neural é responsável pelo processamento de informações por</p><p>todo o córtex cerebral. Quando a informação chega ao cérebro chama-se esse primeiro</p><p>momento de aquisição (CARTER, 2012), Piaget a chama de assimilação.</p><p>No córtex cerebral a informação é filtrada e se for relevante para o sujeito passará</p><p>pela fase de consolidação. Piaget chama essa fase de equilibração, ficando na memó-</p><p>ria de longo prazo (RODRIGUES; ABREU, 2017).</p><p>Piaget sistematizou o desenvolvimento cognitivo da criança em quatro estágios, dividi-</p><p>dos pelo critério de idade e esses critérios são universais. Alguns pesquisadores acreditam</p><p>13</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>que essa teoria não se sustenta, embora tenha importância histórica e mereça uma dis-</p><p>cussão contínua. Esses pesquisadores justificam dizendo que, atualmente, os estudos têm</p><p>mostrado que como as pessoas são diferentes, seu cognitivo també m o é . Ou seja, esses</p><p>estágios não são universais, pois há muitos fatores que podem influenciar no desenvol-</p><p>vimento mental dos sujeitos: hereditariedade, cultura, estímulos e experiências pessoais</p><p>(SIMÕES; NOGARO; YUNG, 2018).</p><p>Entre esses pesquisadores está Vygotsky, que acreditava que o desenvolvimento</p><p>cognitivo é uma construção coletiva, que ocorre por meio da interação da criança com</p><p>o meio social, e não por meio de estágios e que as características específicas do ser hu-</p><p>mano são desenvolvidas ao longo da vida. E já está evidenciado pela neurociência que</p><p>nosso cérebro evoluiu com as interações sociais.</p><p>Para Vygotsky (1984), o processo de ensino-aprendizagem ocorre por meio de me-</p><p>diação e interação, e quanto mais o sujeito interage com agentes externos mais ele</p><p>constrói a significação das funções mentais superiores (a linguagem, o pensamento, a</p><p>atenção, a memória, o comportamento e a aprendizagem).</p><p>A maior expressão desta ideia se encontra no conceito de Zona de Desenvolvimento</p><p>Proximal que pode ser compreendida como a diferença entre aquilo que a criança sabe</p><p>e é capaz de executar sem auxilio de outra pessoa e aquilo que apresenta potencialidade</p><p>para aprender, embora, devido à sua falta de maturidade cognitiva ou fisiológica, ainda</p><p>necessite de auxílio para concluir (CRISPI, et al. 2017). Esse conceito pode ser estendido</p><p>para o que na neurociência é chamada de plasticidade cerebral, que como descrito</p><p>acima é a capacidade do cérebro reorganizar-se e reestruturar-se em diversos níveis</p><p>mediante estímulos externos.</p><p>A teoria de Vigotsky evidencia a importância de o professor ampliar e desafiar o</p><p>aluno à construção de novos conhecimentos através das relaç õ es mediadas, as quais es-</p><p>timulam e ampliam a sua estrutura cognitiva. Assim, por exemplo, ao dominar a escrita</p><p>o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento</p><p>psicológico, ou seja, amplia a sua estrutura cognitiva.</p><p>Entretanto, como salienta Relvas (2012), aprendemos com a cognição, mas sem dú-</p><p>vida alguma, aprendemos também com a emoção. Assim, o desafio é unir conteúdos</p><p>coerentes, desejos, curiosidades e afetos para uma aprendizagem prazerosa.</p><p>14</p><p>15</p><p>Material Complementar</p><p>Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:</p><p>Livros</p><p>Cem milhões de neurônios?</p><p>LENT, R. Cem milhões de neurônios? conceitos fundamentais de neurociência. 2a Ed.</p><p>São Paulo: Atheneu,2010. (e-book)</p><p>Vídeos</p><p>Programa Ponto de Encontro: “Neurociência na Educação”</p><p>https://youtu.be/HXkim5FDLCI</p><p>Vídeos com a professora Marta Alves</p><p>http://bit.ly/2ncHbz9</p><p>Leitura</p><p>Las teorías del aprendizaje en la neuroeducación: ¿cómo aprende el cerebro humano?</p><p>http://bit.ly/2nauSn6</p><p>15</p><p>UNIDADE</p><p>A Relação da Neurociência com a Aprendizagem</p><p>Referências</p><p>ALVAREZ, A.; LEMOS, I. C. Os neurobiomecanismos do aprender: a aplicação de</p><p>novos conceitos no dia-a-dia escolar e terapêutico. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 23,</p><p>n. 71, p. 181-190, 2006.</p><p>BASSOLI, F. O papel da neurociência para um ensino mais eficiente, 2017. Dis-</p><p>ponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2017/06/26/o-papel-da-neurociencia-para-</p><p>-um-ensino-mais-eficiente/>. Acesso: 4 set 2019.</p><p>CALVIN W. Como o cérebro pensa. São Paulo: Rocco; 1998.</p><p>CRISPI, L.; NORO, D.; PERRUZZO, V.; NÓBILE, M.F. Contribuições de Vigotsky e</p><p>luria para a neurociência cognitiva e para os processos de ensino e aprendizagem no</p><p>ambiente escolar. In: IV Congresso Nacional de Educação, 4, 2017. João Pessoa, PB.</p><p>Anais João Pessoa, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/revistas/co-</p><p>nedu/trabalhos/TRABALHO_EV073_MD1_SA17_ID6354_04092017224132.pdf>.</p><p>Acesso: 10 set 2019.</p><p>DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2008.</p><p>FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendiza-</p><p>gem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag. São Paulo, v. 31, n. 96,</p><p>p. 236-253, junho, 2014.</p><p>HOUZEL, S.H. Neurociências na educação. Rio de Janeiro: CEDIC, 2009.</p><p>LOMBROSO, P. Aprendizado e memória. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 26, n. 3,</p><p>p. 207-210, setembro, 2004.</p><p>MEDEIROS, M.; BEZERRA, E.L. Contribuições das neurociências à compreensão</p><p>da aprendizagem significativa. Revista Diálogos, Brasília, n.10, p. 180-187, Novembro</p><p>de 2013.</p><p>MODA, C. Plasticidade neural: sua importância na aprendizagem escolar. 2017.</p><p>Disponível em: <https://www.eloseducacional.com/educacao/plasticidade-cerebral-sua-</p><p>-importancia-na-aprendizagem-escolar/>. Acesso: 7 set 2019.</p><p>MORA, F. Neuroeducacion: Solo Se Puede Aprender Aquello Que Se Ama. Espa-</p><p>nha: Alianza Editorial, 2017.</p><p>MOURÃO JUNIOR, C. A.; FARIA, N. C. Memória. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre,</p><p>v. 28, n. 4, p. 780-788, dezembro, 2015.</p><p>OLIVEIRA, S. G. Aprendizagem e avaliação: um processo intrínseco. Revista Educa-</p><p>ção Pública, v.18, ed.7, p.1, 2018. Disponível em: <https://educacaopublica.cecierj.edu.</p><p>br/artigos/18/7/aprendizagem-e-avaliao-um-processo-intrnseco>. Acesso: 5 set. 2019.</p><p>PIAGET, J. A Epistemologia Genética. Rio de Janeiro: Vozes, 1973.</p><p>16</p><p>17</p><p>RELVAS, M. Estudos da Neurociência Aplicada à Aprendizagem Escolar, 2012.</p><p>Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/estudos-da-neurociencia-aplica-</p><p>da-a-aprendizagem-escolar>. Acesso: 6 set. 2019.</p><p>RELVAS, M. Estudos neurocientíficos pedagógicos colaboram para o reconheci-</p><p>mento: “não existem pessoas que não aprendem no processo escolar. 2018. Disponível</p><p>em: h<ttp://www.martarelvas.com.br/2018/05/11/ola-mundo/>. Acesso: 3 set 2019.</p><p>RODRIGUES, W.M.A.; ABREU, A.J. A relação da neurociência com as teorias de</p><p>Piaget: Contribuições para as metodologias pedagógicas, 2017. Disponível em: <https://</p><p>www.psicopedagogia.com.br/index.php/3253-a-relacao-da-neurociencia-com-as-teorias-</p><p>-de-piaget-contribuicoes-para-as-metodologias-pedagogicas>. Acesso: 3 set 2019.</p><p>SANTOS, F.S.; FRANCISCO, A. C.; KLEIN, A.I.; FERRAZ, D.F. Interlocução entre</p><p>neurociência e aprendizagem significativa: uma proposta teó rica para o ensino de</p><p>genética. R. Bras. Ens. Ci. Tecnol., Ponta Grossa, v. 9, n. 2, p. 149-182, mai./ago. 2016.</p><p>SIMÕES, E.M.S.; NOGARO, A.; YUNG, H.S. Teorias da aprendizagem e neurociê ncia</p><p>cognitiva: possí veis aproximaç õ es. Revista COCAR. Pará, v.12, n.23, p. 85 a 113,</p><p>Jan./Jun. 2018.</p><p>SOARES, S. Filosofias e neurociência, 2015. Disponível em: <http://filosofiaseneuro-</p><p>ciencias.blogspot.com/2015/05/conhecendo-o-cerebro.html>. Acesso: 1 set 2019.</p><p>VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.</p><p>XIMENDES, E. As bases neurocientí ficas da criatividade o contributo da neuro-</p><p>ciência no estudo do comportamento criativo. Disponível em: <https://repositorio.</p><p>ul.pt/bitstream/10451/7285/2/ULFBA_tes%20373.pdf>. Acesso: 30 ago 2019.</p><p>YZQUIERDO, I. A arte de esquecer: cérebro e memória. 2. ed. Rio de Janeiro: Vieira</p><p>e Lent, 2010.</p><p>17</p>