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<p>DESCRIÇÃO</p><p>Apresentação dos conceitos dos diferentes títulos de crédito e contratos empresariais como</p><p>instrumentos das relações corporativas no Brasil.</p><p>PROPÓSITO</p><p>Apresentar ao aluno a legislação sobre os títulos de crédito e os atos cambiários, bem como</p><p>noções básicas acerca de letra de câmbio, nota promissória, duplicatas e cheque, além das</p><p>peculiaridades dos contratos empresariais, sua classificação e seus elementos de validade.</p><p>PREPARAÇÃO</p><p>Antes de iniciar a leitura e o estudo deste tema, tenha em mãos o Código Civil (Lei nº 10.406,</p><p>de 2002), que é a principal fonte legislativa para a compreensão do conteúdo destes módulos,</p><p>bem como o Decreto nº 57.663, de 1966, e a Lei nº 13974, de 2019.</p><p>OBJETIVOS</p><p>MÓDULO 1</p><p>Categorizar o conceito de títulos de crédito, os elementos nele contidos e suas aplicações nas</p><p>relações creditícias</p><p>MÓDULO 2</p><p>Identificar os princípios contratuais e sua aplicação nos contratos empresariais</p><p>MÓDULO 1</p><p> Categorizar o conceito de títulos de crédito, os elementos nele contidos e suas</p><p>aplicações nas relações creditícias</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Neste módulo, estudaremos os títulos de crédito, documentos com conteúdo formal previsto</p><p>em lei e dotados de atributos e princípios peculiares. Os títulos de crédito possuem grande</p><p>vantagem sobre outros documentos: facilidade, rapidez e informalidade de sua transmissão.</p><p>Além disso, eles têm a possibilidade de contar com garantia ou servir de garantia ao</p><p>pagamento e maior segurança para quem recebe o título e o crédito.</p><p>O documento ao qual a lei atribui a natureza de título de crédito pode ser físico ou eletrônico.</p><p>Mas tudo dependerá da legislação sobre ele. Vamos ver que, em muitos casos, o emitente não</p><p>pode escolher o suporte onde as informações estarão escritas ou gravadas, pois há uma</p><p>imposição legal para este.</p><p>O CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO E</p><p>SEUS ELEMENTOS</p><p>O artigo 887 do Código Civil traz o conceito de título de crédito, nesses termos:</p><p>ART. 887. O TÍTULO DE CRÉDITO, DOCUMENTO</p><p>NECESSÁRIO AO EXERCÍCIO DO DIREITO LITERAL E</p><p>AUTÔNOMO NELE CONTIDO, SOMENTE PRODUZ</p><p>EFEITO QUANDO PREENCHA OS REQUISITOS DA</p><p>LEI.”</p><p>(C.C./2002)</p><p>Esse conceito é a base para identificarmos, nas leis especiais, se o documento tem ou não</p><p>natureza de título de crédito. Isso é necessário, porque nem toda lei que o institui se refere ao</p><p>documento como tal.</p><p>Sendo preciso, então, recorrer ao Código Civil para verificar no título em questão a presença</p><p>dos elementos contidos no conceito.</p><p> EXEMPLO</p><p>Consta do artigo 6º da lei que instituiu o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) − Lei nº</p><p>9514, de 1997 −, que é título de crédito nominativo, de livre negociação, lastreado em</p><p>créditos imobiliários e constitui promessa de pagamento em dinheiro. Essa lei se refere ao CRI</p><p>como título de crédito, logo, já se percebe que o legislador indica a natureza especial do</p><p>documento, não se tratando de mero documento de dívida. Em sentido idêntico, consta na Lei</p><p>nº 5474, de 1968, que atualmente regula as duplicatas de compra e venda e de prestação de</p><p>serviços: “Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para</p><p>circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de</p><p>crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.”</p><p>Também há indicação, embora indireta, de que a duplicata é um título de crédito.</p><p>Em sentido diverso, vejamos que a Lei do Cheque (Lei nº 7357, de 1985) dispõe em seu artigo</p><p>1º: “O cheque contém: I - a denominação ‘cheque’ inscrita no contexto do título e expressa na</p><p>língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o</p><p>nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);IV - a indicação do lugar</p><p>de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente</p><p>(sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.”</p><p>Não há nenhum dado quanto ao fato de ser o cheque um título de crédito, apenas a</p><p>enumeração de requisitos a serem observados na emissão. Com isso, para nos certificarmos</p><p>de que o cheque é título de crédito, o legislador impõe que utilizemos o Código Civil, no artigo</p><p>887. Assim, é feita a identificação na regulamentação da lei especial dos elementos presentes</p><p>no conceito, como, no caso, o formalismo.</p><p>Foram destacados trechos da redação do artigo 887 do Código Civil para elucidar os</p><p>elementos presentes na redação que servem para identificar um documento como título de</p><p>crédito.</p><p>Primeiramente, percebemos que o título de crédito é um documento necessário ao exercício do</p><p>direito nele contido. Essa parte do conceito expõe o elemento (ou atributo) da cartularidade.</p><p>A cartularidade é um elemento que decorre do termo cártula, ou seja, documento. Pelo</p><p>elemento ou atributo da cartularidade, o documento (escrito manual ou com gravação</p><p>eletrônica de dados) incorpora os direitos que nele estão mencionados.</p><p>Desse modo, o portador do documento deve apresentá-lo para exercer tais direitos. Exemplo</p><p>da cartularidade é a necessidade de apresentação do cheque a pagamento, pois nele estão</p><p>contidos os direitos de crédito e seus termos, como a quantia, o nome do beneficiário etc.</p><p>Assim, o cheque é um documento necessário para o exercício dos direitos, já que incorpora,</p><p>materializa o direito de crédito.</p><p>Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock</p><p> ATENÇÃO</p><p>Embora o atributo da cartularidade, originariamente, tenha sido concebido para o papel, o</p><p>documento físico, ele se aplica a todos os títulos de crédito. Inclusive os escriturais, só que</p><p>sua aplicação também se dará para o documento eletrônico.</p><p>Para isso, o portador deverá comprovar seu direito na forma prevista na lei especial.</p><p>DUPLICATA ESCRITURAL</p><p>Um exemplo de título de crédito eletrônico é a duplicata escritural, ou seja, aquela emitida e</p><p>mantida até sua liquidação em registro perante entidade credenciada pelo Banco Central —</p><p>confira a Lei nº 13.775, de 2018, que instituiu a duplicata escritural.</p><p>De acordo com o artigo 6º da Lei nº 13.775, os gestores dos sistemas eletrônicos de</p><p>escrituração de duplicata emitida sob a forma escritural expedirão, a pedido de qualquer</p><p>solicitante, extrato do registro eletrônico da duplicata.</p><p>Esse extrato é o “documento” necessário ao exercício do direito e deverá reproduzir as</p><p>indicações da duplicata em meio eletrônico.</p><p>O direito cartular é literal e autônomo, ou seja, tem os atributos da literalidade e da</p><p>autonomia.</p><p>A literalidade nos títulos de crédito tem relação com o seu conteúdo e as declarações nele</p><p>contidas, sendo interpretada restritivamente, ou seja, literalmente. Alguns exemplos ilustrativos:</p><p>Fonte: Roman Seliutin/Shutterstock</p><p>Aquele que assinar (manual ou eletronicamente) um título sem ter poderes para tal, ou</p><p>extrapolando os poderes que recebeu, fica obrigado perante o portador;</p><p>Fonte: Akira Kaelyn/Shutterstock</p><p>Ao transmitir o crédito, se o credor insere a expressão “sem garantia”, significa que ele não</p><p>responde pelo pagamento. Isso adverte aos futuros portadores que ele não se torna devedor</p><p>solidário;</p><p>Fonte: Tero Vesalainen/Shutterstock</p><p>Caso o devedor aceite o título, mas lance “aceite parcial” ou reduza o valor ao dar seu aceite,</p><p>essa limitação é válida e pode ser oposta ao portador atual do título e portadores anteriores.</p><p>Portanto, o direito do credor que emerge do título, direito cartular, é literal e não ampliado.</p><p>O elemento ou atributo da autonomia tem relação com as obrigações lançadas no título por</p><p>pessoa capaz ou por seu representante. Havendo mais de uma obrigação no título, cada uma</p><p>delas é independente entre si. Se houver alguma invalidade com uma das obrigações, as</p><p>demais não são atingidas pela primeira.</p><p>Por fim, o documento só tem efeito como título de crédito quando contém os requisitos da lei.</p><p>Esse atributo é denominado formalismo ou rigor cambiário. Com isso, se o documento não</p><p>contiver algum desses requisitos, denominados essenciais, ele não produzirá efeito como título</p><p>de crédito. Sendo assim, o direito</p><p>e os ponderam em relação às vantagens ou lucros que poderão advir dele.</p><p>A boa-fé não é apenas interna ou subjetiva (de cunho psicológico) manifestada na intenção de</p><p>contratar. É, também, um dever de conduta de cada parte durante e após a execução do</p><p>contrato (sentido objetivo).</p><p>A boa-fé é um limitador à aplicação do princípio clássico da autonomia da vontade,</p><p>desempenhando três funções:</p><p>a) interpretativa, b) restritiva e c) criadora.</p><p>FUNÇÃO INTERPRETATIVA</p><p>FUNÇÃO RESTRITIVA</p><p>FUNÇÃO CRIADORA</p><p>FUNÇÃO INTERPRETATIVA</p><p>Representa que a interpretação do conteúdo do contrato deve lhe atribuir o sentido que</p><p>corresponder à boa-fé.</p><p>FUNÇÃO RESTRITIVA</p><p>Função restritiva da boa-fé é uma proteção ao exercício abusivo de direitos, pois cria limites</p><p>para a atuação das partes, assegurando que tal exercício se dê de forma regular. Portanto, não</p><p>se manifestando de maneira abusiva ou contraditória à boa-fé, aos bons costumes ou ao seu</p><p>fim econômico ou social (confira o artigo 187 do Código Civil, que considera ato ilícito o abuso</p><p>do direito).</p><p>FUNÇÃO CRIADORA</p><p>Função criadora da boa-fé se refere aos deveres anexos à prestação principal das partes, em</p><p>todas as etapas da negociação (pré-negocial, negocial e pós-negocial). E possui a finalidade</p><p>de incentivar a cooperação mútua entre elas, impondo-lhes alguns deveres — como, por</p><p>exemplo: esclarecimento e informação, lealdade e cooperação, diligência, proteção e cuidado.</p><p>CUIDADO</p><p>Neste sentido, dispõe o artigo 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a</p><p>guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de</p><p>probidade e boa-fé”.</p><p>PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO</p><p>Esse princípio se aplica quando determinada obrigação se torna demasiadamente onerosa</p><p>para uma das partes em razão de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (exemplo: a</p><p>pandemia de COVID 19 e as medidas de distanciamento que afetaram o funcionamento de</p><p>vários estabelecimentos).</p><p> ATENÇÃO</p><p>Nesse quadro, será possível negociar a revisão contratual, mesmo judicialmente, de modo a</p><p>assegurar, quando possível, o valor real da prestação. Mas sem anular o negócio jurídico com</p><p>javascript:void(0)</p><p>fundamento na lesão por inexperiência, diante da característica de paridade ou simetria da</p><p>relação empresarial (confira os artigos 159 e 317 do Código Civil).</p><p>Observamos que o princípio do equilíbrio econômico, embora possa, pontualmente, afastar o</p><p>princípio da obrigatoriedade dos contratos, não o anula.</p><p>As cláusulas contratuais — como instrumento de alocação de riscos definidos pelas partes</p><p>(exemplo: garantias, prazos, índices de reajuste, solução de litígios) — devem ser respeitadas</p><p>e observadas.</p><p>As partes nos contratos empresariais têm direito de definir livremente o preço de produtos e de</p><p>serviços como consequência de alterações da oferta e da demanda, exceto em mercados</p><p>regulados (exemplo: tarifa de transporte público).</p><p>Fonte: Corepics VOF/Shutterstock</p><p>A esse respeito, confira as importantes disposições do artigo 421-A do Código Civil e do artigo</p><p>3º, inciso III, da Lei nº 13874, de 2019.</p><p>PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL</p><p>Ele se manifesta como limitador do princípio da relatividade dos efeitos do contrato. Em prol da</p><p>sociedade como um todo, as obrigações contratuais passam a ser oponíveis não apenas às</p><p>partes contratantes, mas também a terceiros, já que as relações jurídicas se manifestam dentro</p><p>de um contexto social.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Isso não ocorre com qualquer contrato empresarial, mas apenas com aqueles que possuem</p><p>contratação em massa e podem afetar o mercado (exemplo: contratos de seguro).</p><p>Com base no princípio da função social, devem as partes agir de forma a respeitar os</p><p>interesses socialmente relevantes que possam ser afetados pelo contrato (exemplo:</p><p>consumidor, meio ambiente, livre concorrência, função social da propriedade).</p><p>Dessa forma, afastaria a concepção individualista clássica de que terceiros não podem</p><p>interferir no conteúdo do contrato.</p><p>CONTRATO</p><p>O princípio da função social está amparado pelo artigo 421 do Código Civil (“A liberdade</p><p>contratual será exercida nos limites da função social do contrato”) e no parágrafo único do</p><p>artigo 2035 (“Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública,</p><p>tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social [...] dos</p><p>contratos”).</p><p>CONTRATOS EMPRESARIAIS E</p><p>BANCÁRIOS</p><p>Verificamos que os contratos empresariais são celebrados entre empresários e, nessa</p><p>categoria, enquadram-se os bancos, que são instituições financeiras (confira o artigo 17 da Lei</p><p>nº 4.595, de 1964).</p><p>javascript:void(0)</p><p>Tradicionalmente, no revogado Código Comercial, os banqueiros eram considerados</p><p>comerciantes e suas operações, atos de comércio (mercancia). Os bancos são sempre</p><p>sociedades empresárias, pois devem adotar o tipo de companhia com autorização do Banco</p><p>Central para funcionar.</p><p>Assim, sempre que as operações bancárias (ou de banco) eram realizadas através da</p><p>celebração de contratos com outros comerciantes, estavam disciplinadas pelas normas do</p><p>Código Comercial.</p><p>Atualmente, mesmo com a revogação dessas disposições, os contratos bancários</p><p>permanecem na categoria de contratos empresariais.</p><p>O elemento essencial do contrato bancário é a qualificação de, pelo menos, uma das partes</p><p>como banco. E dentro disso, estando devidamente autorizado a funcionar, sob pena de</p><p>nulidade da operação e prática de crime contra o sistema financeiro nacional. Ademais,</p><p>identifica-se o contrato como bancário em razão das operações que o banco realiza.</p><p>OPERAÇÕES BANCÁRIAS</p><p>As operações bancárias, em sentido amplo, se inserem na empresa de intermediação de</p><p>recursos em moeda nacional ou estrangeira. Mas pode também incluir a captação de poupança</p><p>de investidores — quando o banco se torna devedor desses recursos − e a aplicação dos</p><p>mesmos recursos de terceiros.</p><p>Para efeitos didáticos, as operações bancárias são classificadas quanto à natureza e à função.</p><p>Na primeira categoria, estão aquelas próprias das atividades dos bancos (denominadas</p><p>operações bancárias típicas) e outras que não são exclusivas dos bancos, mas entram na</p><p>carteira de serviços prestados por eles (operações atípicas).</p><p>São operações típicas: depósito e mútuo bancários, abertura de crédito, crédito documentário,</p><p>adiantamento de contrato de câmbio. Como operações atípicas, temos: prestação de fiança,</p><p>aluguel de cofres, serviços de cobrança e desconto de títulos, cartão de crédito.</p><p>Fonte: Syda Productions/Shutterstock</p><p>Quanto à função, as operações bancárias podem ser ativas ou passivas, respectivamente,</p><p>quando o banco se torna credor do terceiro ou devedor em razão do objeto do contrato. Como</p><p>operações ativas podemos incluir os empréstimos, desconto de títulos, abertura de crédito,</p><p>adiantamento de contrato de câmbio; como operações passivas estão os depósitos bancários,</p><p>custódia de títulos, fiança bancária.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Cabe destacar que, nas relações empresariais, não se aplica o Código de Defesa do</p><p>Consumidor (Lei nº 8.078, de 1990). Há exceção, em situações excepcionais, nas quais a</p><p>parte, mesmo empresária, prove sua condição de vulnerabilidade. Porque a ideia é de que as</p><p>relações empresariais são simétricas ou paritárias, afastando, por isso, a incidência do CDC.</p><p>Portanto, um empréstimo (mútuo bancário) concedido ao empresário não é, via de regra, um</p><p>contrato de consumo e sim empresarial.</p><p>CONTRATOS BANCÁRIOS EM ESPÉCIE</p><p>Em razão das múltiplas operações bancárias, nos mais variados segmentos de negócios,</p><p>atendendo tanto a consumidores quanto empresários, listaremos alguns contratos empresariais</p><p>bancários e suas noções fundamentais.</p><p>DEPÓSITO BANCÁRIO</p><p>É uma operação bancária típica e passiva em que o banco se obriga a restituir os bens</p><p>depositados quando a parte solicitar. Trata-se de contrato real que pressupõe a entrega dos</p><p>valores à guarda do depositário, mediante remuneração por esse serviço. Este pode utilizar os</p><p>recursos para fornecer crédito a terceiros, mas deverá tê-los à disposição para</p><p>restituição ao</p><p>depositante.</p><p>MÚTUO BANCÁRIO</p><p>É denominado, usualmente, empréstimo bancário e, por meio dele, o mutuário recebe do</p><p>mutuante (banco ou instituição financeira) determinada quantia, para devolvê-la nos prazos e</p><p>condições acordados, com incidência de juros e outros encargos.</p><p>O Código Civil se refere a esse mútuo como “a fins econômicos”, dispondo que se presumem</p><p>devidos juros, podendo haver capitalização anual (confira o artigo 591 do Código Civil), mas</p><p>limitando a taxa de juros remuneratórios a 1% ao mês (conferir artigo 406 do Código Civil c/c</p><p>artigo 161, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional).</p><p>Entretanto, essa limitação não se aplica às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas</p><p>operações realizadas por instituições que integram o sistema financeiro nacional, conforme</p><p>entendimento do Supremo Tribunal Federal (Súmula nº 596).</p><p>As taxas máximas de juros seguem as regras de livre mercado, somente podendo ser limitadas</p><p>por ato do Conselho Monetário Nacional.</p><p>Se o mútuo for para pagamento em parcelas e com finalidade de aplicação dos recursos em</p><p>certo empreendimento (rural, industrial, comercial etc.), é comum tal contrato ser denominado</p><p>“financiamento”.</p><p>Esse tipo de contrato é, na sua essência, um mútuo. No entanto, pode o contrato ser vinculado</p><p>a títulos de crédito emitidos pelo mutuário, com ou sem garantias pessoais ou reais ao</p><p>pagamento em favor do credor.</p><p>Assim, combinam-se os contratos bancários com títulos de crédito representativos de</p><p>promessa de pagamento em dinheiro, como as cédulas ou notas de crédito rural, comercial,</p><p>industrial, à exportação, a cédula de produto rural financeira e a cédula de crédito bancário.</p><p>ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE</p><p>O contrato de abertura de crédito é, também, uma variação do mútuo bancário e tem por</p><p>objetivo conceder ao cliente, que é titular de uma conta-corrente de depósito, por tempo</p><p>determinado, mas renovável, uma soma determinada (limite de crédito). E, quanto a isso, é</p><p>possível a utilização total ou parcial dos recursos.</p><p>Pela concessão do limite, o creditador pode cobrar do creditado uma remuneração, mas não os</p><p>juros. Isso porque eles só são devidos quando toda, ou parte da quantia, é utilizada. Ao</p><p>contrário do mútuo bancário, em que os juros são devidos desde o momento em que a quantia</p><p>é posta à disposição do mutuário, utilizando-a ou não.</p><p>Para a cobrança dos valores creditados e não pagos, inclusive os encargos da operação e da</p><p>mora, o credor pode se valer da cédula de crédito bancário (CCB), caso ele tenha obtido sua</p><p>emissão do creditado.</p><p>DESCONTO BANCÁRIO</p><p>Tal contrato é muito utilizado pelos empresários que querem antecipar seu recebíveis (créditos</p><p>vincendos) para obter parte do seu valor com desconto ou deságio, razão do nome dado ao</p><p>acordo.</p><p>O banco antecipa o crédito ao empresário (descontado), cobrando taxas. É uma variante</p><p>também do mútuo, só que ao invés de juros que acrescem ao valor do principal, a taxa de</p><p>desconto incide para reduzir seu valor.</p><p>Qualquer crédito, inclusive vencido, pode ser objeto de desconto, mas o comum são créditos</p><p>vincendos, passíveis de transmissão por endosso ou cessão de crédito.</p><p>O descontante, como endossatário ou cessionário, poderá realizar seu crédito tanto do devedor</p><p>constante do título adquirido e de seus garantidores como do descontado. Pois o desconto é</p><p>sempre com responsabilidade pela solvência do devedor (pro solvendo).</p><p>ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO (ACC)</p><p>A principal finalidade desse contrato é proporcionar um fluxo de caixa para o exportador no</p><p>tempo entre a contratação da exportação e o pagamento do produto pelo importador.</p><p>A instituição financeira adianta (financia), de forma imediata, até 100% do valor da exportação,</p><p>dependendo do valor do crédito disponível ao exportador. Isso sem necessidade que este</p><p>aguarde o recebimento do importador. Logo, proporciona-lhe liquidez imediata para honrar</p><p>compromissos de sua empresa.</p><p>Trata-se de operação bancária típica e ativa, com prazo máximo para liquidação de 1.500 (mil</p><p>e quinhentos) dias, contados da data de sua contratação (Circular BC nº 4002, de 2020).</p><p>O adiantamento é todo feito em moeda nacional, relativo ao valor da venda feita em moeda</p><p>estrangeira. Sendo a conversão para a moeda real feita pela taxa de câmbio corrente do dia da</p><p>contratação do ACC.</p><p>AS DIFERENTES ESPÉCIES DE</p><p>CONTRATOS EMPRESARIAIS</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1) SOBRE OS CONTRATOS EMPRESARIAIS, PODE-SE AFIRMAR QUE:</p><p>A) São irrelevantes para tais contratos os usos como critério de interpretação.</p><p>B) São contratos que não dão margem a informalidades.</p><p>C) São naturalmente onerosos.</p><p>D) São em regra de adesão, sem simetria.</p><p>2) MESMO COM A UNIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES PROMOVIDA PELO CÓDIGO CIVIL</p><p>DE 2002, QUE REVOGOU AS DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO COMERCIAL SOBRE OS</p><p>CONTRATOS, É POSSÍVEL IDENTIFICAR UM CONTRATO COMO EMPRESARIAL A</p><p>PARTIR DE DOIS ASPECTOS RELEVANTES, SÃO ELES:</p><p>A) A qualidade de empresário das partes e a função econômica vinculada, necessariamente,</p><p>ao exercício da empresa.</p><p>B) A vulnerabilidade do devedor e a função econômica vinculada, necessariamente, ao</p><p>exercício da empresa.</p><p>C) A liberdade ilimitada das partes na contratação e a qualidade de empresário do devedor.</p><p>D) A qualidade de empresário do credor e a liberdade ilimitada das partes na contratação.</p><p>GABARITO</p><p>1) Sobre os contratos empresariais, pode-se afirmar que:</p><p>A alternativa "C " está correta.</p><p>Os contratos empresariais são regidos pela onerosidade.</p><p>2) Mesmo com a unificação das obrigações promovida pelo Código Civil de 2002, que</p><p>revogou as disposições do Código Comercial sobre os contratos, é possível identificar</p><p>um contrato como empresarial a partir de dois aspectos relevantes, são eles:</p><p>A alternativa "A " está correta.</p><p>São elementos ou aspectos relevantes para identificação do contrato como empresarial a</p><p>qualidade de empresário das partes e a função econômica vinculada, necessariamente, ao</p><p>exercício da empresa.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Finalizamos o estudo do tema sobre títulos de crédito e contratos empresariais. No módulo 1,</p><p>verificamos que os títulos de crédito são documentos formais que asseguram ao portador um</p><p>direito literal e autônomo.</p><p>Com isso, há maior segurança para as partes que negociam, porque o direito literal está</p><p>limitado ao conteúdo do título, e este pode ser facilmente verificado por qualquer das partes ou</p><p>por terceiros.</p><p>Ademais, as obrigações contidas em um título de crédito são independentes entre si, de modo</p><p>que o credor pode cobrar de qualquer dos devedores, solidários pelo pagamento, na hipótese</p><p>de um deles não poder ser responsabilizado.</p><p>No módulo 2, observamos que os contratos empresariais são aqueles celebrados entre</p><p>empresários e cujo objeto tem relação direta com o exercício da empresa.</p><p>Sem embargo, como negócios jurídicos bilaterais, sem um tratamento legislativo distinto dos</p><p>contratos civis, os contratos empresariais estão sujeitos aos mesmos requisitos gerais de</p><p>validade quanto à capacidade, objeto e forma. E não se presume a vulnerabilidade de uma das</p><p>partes, ao contrário do que acontece nos contratos de consumo.</p><p>AVALIAÇÃO DO TEMA:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.</p><p>BRASIL. Código de Tributário Nacional. Lei no 5. 172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre</p><p>o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,</p><p>Estados e Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 de outubro de 1966.</p><p>______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da</p><p>União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.</p><p>BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário</p><p>Oficial da União, Brasília, DF, 17 março 2015.</p><p>BERTOLDI, Marcelo Marco; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito</p><p>comercial. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020.</p><p>COELHO, Fabio Ulhoa. Novo manual de direito</p><p>comercial. 31. ed. São Paulo: Revista dos</p><p>Tribunais, 2020.</p><p>COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. 4. ed. 6ª tiragem. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.</p><p>FORGIONI, Paula. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Editora</p><p>Revista dos Tribunais, 2020.</p><p>MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.</p><p>MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.</p><p>NEVES, Thiago Ferreira Cardoso. Contratos mercantis. 3. ed. Rio de Janeiro: GZ Editora,</p><p>2020.</p><p>REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 2. v.</p><p>TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. Títulos de crédito. 11. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2020. 2. v.</p><p>EXPLORE+</p><p>Leia o artigo de Antonio Marcos Fonte Guimarães e Daniel Amin Ferraz: “A Lei da Duplicata</p><p>Escritural: uma análise sob a perspectiva do fomento ao financiamento da pequena e média</p><p>empresa no Brasil e da valorização da duplicata como garantia em operações de crédito”,</p><p>publicado na Revista da Procuradoria-Geral do Banco Central, v. 13, n. 1. jun. 2019, p. 121-</p><p>134. Essa leitura ajudará a entender melhor alguns conceitos trabalhados aqui.</p><p>Leia o trabalho apresentado por Claudia Elly Larizzatti Maia e Lucimara Aparecida Main, no</p><p>XXIV Congresso Nacional do CONPEDI, em 2015, intitulado Os contratos empresariais como</p><p>instrumento do desenvolvimento sustentável, e aprofunde seus conhecimentos.</p><p>CONTEUDISTA</p><p>Alexandre Ferreira de Assumpção Alves</p><p> CURRÍCULO LATTES</p><p>javascript:void(0);</p><p>nele mencionado não terá pelo menos algum dos demais</p><p>elementos ou atributos.</p><p>No Código Civil, estão disciplinados os denominados “títulos atípicos” ou “inominados”. Ou</p><p>seja: aqueles que não possuem nome e legislação próprios e são emitidos pelas partes sem</p><p>que haja uma finalidade predeterminada em lei.</p><p>Esses títulos inominados devem conter, como requisitos essenciais (de cunho formal), a data</p><p>da emissão, a indicação precisa dos direitos que conferem e a assinatura do emitente.</p><p>PRIMEIRA</p><p>Vejamos um exemplo de dispositivo legal que foi redigido com fundamento no atributo da</p><p>autonomia.</p><p>Lei do Cheque (Lei nº 7.357, de 1985, artigo 13).</p><p>“Art. 13 - As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes.</p><p>Parágrafo único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo</p><p>que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou</p><p>assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer</p><p>outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das</p><p>quais ele foi assinado.”</p><p>javascript:void(0)</p><p>PRINCÍPIOS</p><p>A utilização de títulos de crédito traz inúmeras vantagens e maior segurança em relação aos</p><p>documentos comuns de dívida, pelos princípios de direito cambiário que norteiam a emissão, a</p><p>circulação e o pagamento. Veremos quais são estes princípios e em que momento eles podem</p><p>ser invocados.</p><p>LEGITIMAÇÃO DO PORTADOR</p><p>O possuidor de um título de crédito tem direito à prestação nele indicada. E isso pode ser a</p><p>entrega de uma mercadoria (exemplo: no conhecimento de transporte) ou o pagamento de</p><p>certa quantia em dinheiro (exemplo: na cédula de crédito bancário).</p><p>Quando o título é nominal, essa prestação só pode ser efetuada em favor do beneficiário. Mas,</p><p>quando o título for ao portador, qualquer pessoa está legitimada a receber a prestação, que é</p><p>devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente, por força</p><p>do artigo 905, parágrafo único, do Código Civil.</p><p>A despeito da legitimação do portador quanto aos direitos contidos no título de crédito, é</p><p>possível ao proprietário que o perder ou tiver extraviado, ou for injustamente desapossado</p><p>dele, obter novo título através de uma decisão judicial. Ou pode impedir que sejam pagos</p><p>indevidamente capital e rendimentos.</p><p>Fonte: Freedomz/Shutterstock</p><p> Forte em Saint Tropez ao por do sol</p><p>Dessa forma, a aplicação do princípio da legitimação do portador somente se dará se o</p><p>devedor ficar inerte e não procurar obter uma medida judicial em seu favor.</p><p>APRESENTAÇÃO AO DEVEDOR</p><p>Tal princípio está referenciado no artigo 905 do Código Civil, que assegura ao portador de título</p><p>de crédito direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Com isso, verifica-se a vantagem da legislação dos títulos de crédito, que dispensa qualquer</p><p>outra providência que poderia aumentar os custos de transação.</p><p>Advertimos que o credor deve observar os prazos de apresentação do título e de sua cobrança.</p><p>Além da necessidade pontual do protesto do título, pois a perda desses prazos ou a falta de</p><p>protesto podem acarretar a perda do direito de ação ou da pretensão à cobrança por força da</p><p>prescrição (veremos mais à frente, neste módulo).</p><p>INDEPENDÊNCIA</p><p>O título de crédito, na sua emissão, pode estar ou não vinculado a um documento. Portanto, o</p><p>princípio da independência pode ser afastado por lei especial que estipular a “dependência” do</p><p>título a outro documento.</p><p> EXEMPLO</p><p>O exemplo mais marcante de título de crédito dependente é a duplicata de compra e venda ou</p><p>a duplicata de prestação de serviço, já que ambas só podem ser emitidas com base na fatura</p><p>correspondente.</p><p>A falta de emissão do documento preliminar ou sua irregularidade vicia o título de crédito ao</p><p>qual ele se liga. Entretanto, em regra, eles são documentos independentes, isto é, valem por</p><p>eles mesmos.</p><p>E a recíproca também se verifica, pois a omissão de qualquer requisito legal (exemplo: data de</p><p>emissão ou assinatura do emitente), que retire a validade como título de crédito, não implica a</p><p>invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. Também há independência, desvinculação</p><p>do título em relação ao negócio subjacente.</p><p>ABSTRAÇÃO</p><p>Outro princípio que não é aplicável a todos os títulos de crédito é o da abstração. Ele está</p><p>relacionado apenas aos casos de circulação do título de crédito por endosso, ou seja, títulos à</p><p>ordem (veremos mais à frente).</p><p>Se o título não circular, isto é, permanecer com o credor originário ou circular por outra forma</p><p>que não seja o endosso, não haverá abstração. Ela consiste na desvinculação do título à causa</p><p>anterior ou à causa de emissão.</p><p>Com isso, o portador atual — denominado endossatário — exerce um direito abstrato em</p><p>relação ao portador e ao negócio anterior. Nos casos de transmissão diversa do endosso, o</p><p>efeito dessa transmissão é o de cessão de crédito.</p><p> EXEMPLO</p><p>Se um título de crédito for emitido em razão de um contrato de locação, poderá ser endossado</p><p>por causa distinta. Pois a causa de emissão não precisa ser a mesma nas transmissões futuras</p><p>do título. Isso dá uma grande flexibilidade ao credor de honrar compromissos com terceiros,</p><p>usando o título de crédito como instrumento de pagamento, sem precisar se prender à causa</p><p>da emissão ou da transmissão anterior.</p><p>INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS</p><p>O princípio da inoponibilidade de exceções pessoais é derivado do princípio da abstração, e</p><p>sua aplicação segue o mesmo pressuposto desse, ou seja, a circulação por endosso.</p><p>Para proteger o novo portador (endossatário) que recebe o título de boa-fé e, presumidamente,</p><p>desconhece as relações do devedor com portadores anteriores, são inoponíveis às exceções</p><p>fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes.</p><p>Há uma exceção neste caso: se o portador, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé, conforme</p><p>se extrai do artigo 916 do Código Civil.</p><p>CÓDIGO CIVIL</p><p>No mesmo sentido do Código Civil, a Lei nº 7357, de 1985 - Lei do Cheque) também</p><p>enuncia este princípio em seu “artigo 25: Quem for demandado por obrigação resultante</p><p>de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o</p><p>emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu</p><p>conscientemente em detrimento do devedor.”</p><p>Exemplo ilustrativo</p><p>A (devedor) emitiu um cheque em favor de B (credor), mas não cumpriu o contrato assumido.</p><p>Ocorre que B endossou o cheque para C, que desconhece a relação anterior, entre A e B.</p><p>javascript:void(0)</p><p>Pelo princípio em comento, A não pode invocar sua relação pessoal com B para se eximir do</p><p>pagamento perante C, exceto se C estiver agindo de má-fé para prejudicar A.</p><p>LEGISLAÇÃO SOBRE OS TÍTULOS DE</p><p>CRÉDITO</p><p>Não há um código tratando dos títulos de crédito ou uma lei que reúna todos ou a maior parte</p><p>deles. A legislação sobre esse assunto pode ser dividida em duas partes: o Código Civil</p><p>(artigos 887 a 926) e as leis especiais, que tratam dos títulos nominados ou típicos, podendo</p><p>vários títulos ser disciplinados por uma mesma lei.</p><p>Ao Código Civil cabe disciplinar os títulos de crédito inominados, aqueles que não recebem um</p><p>nome pelo legislador. Por isso, recebem essa designação. Para esses títulos, as normas do</p><p>Código são de aplicação compulsória, como se deduz da redação do:</p><p>ARTIGO 903: SALVO DISPOSIÇÃO DIVERSA EM LEI</p><p>ESPECIAL, REGEM-SE OS TÍTULOS DE CRÉDITO</p><p>PELO DISPOSTO NESTE CÓDIGO.”</p><p>(C.C./2002)</p><p>Como os títulos atípicos não são regulados em lei especial, não se aplica a ressalva contida na</p><p>primeira parte do artigo.</p><p>Em relação aos títulos regulados em leis especiais, percebemos que o Código Civil tem</p><p>aplicação subsidiária, pois suas disposições não prevalecem sobre as especiais. Por exemplo:</p><p>se houver uma norma que regule um título em espécie contendo preceito contrário ao do</p><p>Código Civil, ela prevalecerá, pois é a “disposição diversa”.</p><p>Fonte: Zerbor/Shutterstock</p><p>Os títulos de crédito podem ser utilizados</p><p>para os mais diversos fins e circular em vários</p><p>mercados. Dentre os quais, podemos citar: o financeiro e o de capitais, mas também em</p><p>negócios diretamente com o consumidor.</p><p>Diante dessas múltiplas possibilidades, existem títulos que representam pagamentos em</p><p>mercadorias ou em dinheiro, títulos que conferem direitos sobre bens móveis ou imóveis, títulos</p><p>de securitização e de financiamento.</p><p>Considerando essas subcategorias, apresentaremos uma relação exemplificativa da</p><p>legislação com indicação dos títulos que ela regula.</p><p>Legislação Título(s) a que se refere(m)</p><p>Decreto nº 57.663, de 1966, e</p><p>Decreto nº 2.044, de 1908</p><p>(parcialmente em vigor)</p><p>Letra de câmbio e nota promissória</p><p>Lei nº 7.357, de 1985 Cheque</p><p>Lei nº 5.474, de 1968 Duplicatas de venda e de serviço</p><p>Decreto-lei nº 167, de 1967 Duplicata rural e nota promissória rural</p><p>Decreto nº 19.473, de 1930 Conhecimento de transporte</p><p>Decreto nº 1.102, de 1903 Conhecimento de depósito e warrant</p><p>Lei nº 8.929, de 1994 Cédula de produto rural</p><p>Decreto-lei nº 167, de 1967;</p><p>Decreto-lei nº 413, de 1969; Lei</p><p>nº 6.840, de 1980, e Lei nº</p><p>6.313, de 1975</p><p>Cédulas e nota de crédito (rural, industrial,</p><p>comercial e à exportação)</p><p>Lei nº 9.514, de 1997 Certificado de recebíveis imobiliários</p><p>Lei nº 10.931, de 2004</p><p>Cédula de crédito imobiliário, letra de crédito</p><p>imobiliário e cédula de crédito bancário</p><p>Lei nº 11.076, de 2004</p><p>Certificado de depósito agropecuário, warrant</p><p>agropecuário, certificado de direitos creditórios do</p><p>agronegócio, letra de crédito do agronegócio e</p><p>certificado de recebíveis do agronegócio</p><p>Lei nº 13.986, de 2020</p><p>Cédula imobiliária rural e certificado de depósito</p><p>bancário</p><p> Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal</p><p>ATOS CAMBIÁRIOS</p><p>Denominam-se “atos cambiários” aqueles que são praticados nos títulos de crédito pelas</p><p>pessoas envolvidas na relação cambiária, com finalidades distintas: emissão, reconhecimento</p><p>do débito, transmissão ou garantia ao cumprimento de obrigação.</p><p>O objetivo é apresentar as noções mais importantes sobre cada um desses atos,</p><p>diferenciando-os entre si.</p><p>SAQUE OU EMISSÃO</p><p>Denomina-se saque (ou emissão) o ato cambiário de criação do título de crédito, englobando</p><p>tanto o seu preenchimento (ou lançamento no sistema de gravação de dados) quanto a sua</p><p>assinatura.</p><p>SAQUE</p><p>EMISSÃO</p><p>SAQUE</p><p>Em regra, o termo saque é utilizado para o título de crédito que contém uma ordem de</p><p>pagamento dada pelo “sacador” (credor) ao sacado (devedor), para que efetue a prestação ao</p><p>beneficiário, como a letra de câmbio, as duplicatas ou o cheque.</p><p>EMISSÃO</p><p>Já o termo emissão é empregado para o título que contém uma promessa de pagamento do</p><p>emitente (devedor) ao beneficiário (credor), como a nota promissória, ou as cédulas e as notas</p><p>de crédito.</p><p>Nenhum título de crédito tem validade sem saque, que é o único ato cambiário necessário e</p><p>diretamente relacionado ao elemento do formalismo ou rigor cambiário. Cabe, a princípio, ao</p><p>sacador inserir no título as declarações essenciais.</p><p>Obedecendo, para isso, a legislação de cada título típico ou, para os atípicos, os requisitos do</p><p>artigo 889 do Código Civil. Entretanto, o saque pode ser feito por procurador com poderes</p><p>especiais para emitir títulos de crédito, mediante ordem e responsabilidade do mandante.</p><p>Embora o título de crédito seja um documento formal, é possível estar incompleto no momento</p><p>de sua emissão. Nesse caso, deve ser preenchido em conformidade com os ajustes realizados</p><p>entre o emitente e o beneficiário.</p><p>Na hipótese de o beneficiário completar o título em desacordo com os ajustes, o abuso de</p><p>preenchimento não constitui motivo de oposição ao terceiro portador que o recebeu por</p><p>endosso. Salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.</p><p>ACEITE</p><p>O ato cambiário do aceite só tem aplicação nos títulos de crédito que contêm uma ordem de</p><p>pagamento a prazo. Consiste no reconhecimento do débito pelo devedor para pagamento à</p><p>data do vencimento e, também, das declarações contidas no título (ex.: valor, data de emissão,</p><p>data de vencimento, nome do beneficiário, estipulação de juros etc.).</p><p> ATENÇÃO</p><p>Em regra, o aceite decorre da assinatura do sacado, pessoa a quem é dirigida a ordem de</p><p>pagamento, no anverso do título. Mas pode ser dado por procurador com poderes especiais, tal</p><p>qual ocorre no saque.</p><p>Uma vez firmado, o aceite não pode ser cancelado, pois se trata de um ato unilateral do</p><p>sacado. Todavia, se o sacado retiver a letra de câmbio apresentada para aceite e, antes da sua</p><p>restituição ao apresentante, riscar sua assinatura, é considerado como recusado.</p><p>Nas ordens de pagamento à vista não têm cabimento o aceite, haja vista que o portador</p><p>beneficiário apresentará o título diretamente a pagamento a partir do dia do vencimento. E, se</p><p>esse não for dia útil, no primeiro dia útil seguinte (confira a respeito no artigo 6º da Lei nº 7.357,</p><p>de 1985 — Lei do Cheque).</p><p>O Código Civil não regula o aceite, mas o instituto está presente na legislação sobre letra de</p><p>câmbio e duplicatas (veremos a seguir).</p><p>ENDOSSO</p><p>O endosso é um ato cambiário relacionado à transmissão do título de crédito e de todos os</p><p>direitos nele mencionados. O endossante (aquele que transfere o título por endosso) pode</p><p>limitar o endosso.</p><p>Isso quer dizer que reserva parte dos direitos para si (exemplo: endosso no valor parcial do</p><p>título ou de parte das mercadorias representadas). Nesse caso, teremos o endosso parcial, que</p><p>é nulo, em virtude do artigo 912, parágrafo único, do Código Civil.</p><p>Em princípio, mesmo sem cláusula expressa, o título de crédito pode ser transmitido por</p><p>endosso. Alguns somente podem ser transferidos dessa forma. Portanto, são denominados</p><p>“títulos à ordem inatos”, como as duplicatas, o conhecimento de depósito e o warrant.</p><p>Fonte: justplay1412/Shutterstock</p><p>Outros títulos poderão ser transferidos por endosso ou por cessão de crédito. Nesse caso,</p><p>mediante a inserção da cláusula “não à ordem” pelo sacador, como a letra de câmbio, a nota</p><p>promissória, o cheque ou o conhecimento de transporte.</p><p>Cabe ao sacador decidir o modo de transmissão, que vincula os signatários posteriores pelo</p><p>atributo da literalidade.</p><p>A cessão de crédito é uma forma alternativa de transmissão de obrigações, mas não se trata</p><p>de instituto de aplicação exclusiva aos títulos de crédito como o endosso.</p><p>A cessão de crédito é disciplinada no Código Civil (artigos 286 a 298) e tem várias diferenças</p><p>em comparação com o endosso, das quais se destacam:</p><p>Pode não abranger a totalidade do crédito, mediante disposição expressa;</p><p>A eficácia da cessão em relação a terceiros depende da elaboração de um documento</p><p>público (lavrado por um tabelião de notas) ou particular;</p><p>O devedor deve ser notificado pelo credor da cessão do crédito, do contrário a</p><p>transmissão da obrigação não tem eficácia em relação e ele;</p><p>O devedor pode opor ao cessionário (credor atual) as exceções que lhe competirem, bem</p><p>como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o</p><p>cedente (credor anterior);</p><p>Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.</p><p>O endosso é tratado tanto no Código Civil (artigos 910 a 920) quanto em leis especiais,</p><p>prevalecendo estas quando dispuserem diversamente do primeiro (confira o artigo 903 do</p><p>Código Civil).</p><p>Tal qual o saque e o aceite, o endosso decorre de assinatura (manual ou eletrônica, conforme o</p><p>suporte do documento) do credor ou de seu procurador com poderes especiais, sendo o</p><p>primeiro endossante o credor originário.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Ao contrário dos outros atos cambiários, para a validade do endosso que se limitar a uma</p><p>simples assinatura do endossante, deve ser dado no verso do título. Sendo a assinatura do</p><p>endossante identificada como endosso, pode ser lançada no verso ou no anverso.</p><p>Ao endossar o título, o endossante pode designar ou não o beneficiário. No primeiro caso, o</p><p>endosso é em branco e o título passa a circular ao portador; no segundo, permanece como</p><p>título nominal (endosso</p><p>em preto ou completo).</p><p>Se o endossatário recebe um título de crédito endossado em branco, pode mudá-lo para</p><p>endosso em preto. Basta completá-lo com o seu nome ou de terceiro. Ele pode, inclusive,</p><p>endossar novamente o título, em branco ou em preto.</p><p>Pode, ainda, transferi-lo sem novo endosso pela tradição, mantendo o documento ao portador</p><p>(confira o artigo 913 do Código Civil).</p><p>Além de transferir todos os direitos incorporados ao título e nele mencionados, o endosso tem</p><p>outro importante efeito: não torna o endossante responsável pelo pagamento, salvo se houver</p><p>declaração em sentido contrário.</p><p>Portanto, o endosso é presumidamente sem garantia ao pagamento e o endossante não é um</p><p>coobrigado.</p><p>Já esclarecemos que as disposições do Código Civil cedem diante de disposição diversa em lei</p><p>especial. Existem algumas delas que regulam certos títulos de crédito em que se adota outra</p><p>orientação, exatamente no sentido contrário:</p><p>O ENDOSSANTE, SALVO CLÁUSULA EM CONTRÁRIO,</p><p>É GARANTE TANTO DA ACEITAÇÃO COMO DO</p><p>PAGAMENTO DA LETRA”</p><p>(Decreto nº 57663, de 1966, Anexo I, artigo 15).</p><p>Nos casos de endosso de letra de câmbio e de nota promissória, por exemplo, ele é</p><p>presumidamente com garantia e o endossante é um coobrigado. Exceto se ele excluir sua</p><p>responsabilidade pela “cláusula sem garantia”, que será aplicada aos demais signatários e ao</p><p>portador pelo atributo da literalidade.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Nos títulos típicos ou nominados, é fundamental consultar a lei especial e verificar qual efeito</p><p>ela atribui ao endosso.</p><p>O endossante, mesmo se responsabilizando como um coobrigado no título, pode proibir novo</p><p>endosso. Isto é: inserir uma cláusula acessória ao seu endosso pela qual declara que não</p><p>garante o pagamento às pessoas a quem a letra for, posteriormente, endossada.</p><p>Com isso, o endossante limita sua obrigação apenas à pessoa para quem endossou e não a</p><p>garante para os portadores posteriores. A cláusula de proibição de novo endosso não tem</p><p>previsão no Código Civil, mas é admitida em leis especiais.</p><p>O endosso pode ser realizado antes ou após o vencimento do título. Mas é importante ressaltar</p><p>que o endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.</p><p>Tal regra, presente no artigo 920 do Código Civil, não é adotada uniformemente pela legislação</p><p>dos títulos de crédito em espécie ou nominados. Em determinadas situações, o endosso</p><p>póstumo (após o vencimento) pode ter efeito de cessão de crédito.</p><p>O endosso, uma vez lançado, não pode ser cancelado, seja total ou parcialmente, exceto se o</p><p>endossante tiver pago o título e recebê-lo quitado do portador. Nesses termos, poderá riscar</p><p>javascript:void(0)</p><p>seu endosso, que será reputado cancelado, e dos endossantes posteriores a ele. Ausente essa</p><p>hipótese, o endosso cancelado é considerado não escrito.</p><p>ESPECIAIS</p><p>“Confiram-se o Decreto nº 57.663, de 1966, Anexo I, artigo 15 e a Lei nº 7.357, de 1985,</p><p>artigo 21, parágrafo único.”</p><p> DICA</p><p>Cabe alertar sobre a existência do endosso impróprio, isto é, aquele em que o endossante</p><p>transfere o título sem a finalidade de transmitir todos os direitos nele incorporados, mas com</p><p>escopo de:</p><p>Cobrança;</p><p>Garantir uma obrigação assumida com o terceiro, a quem endossa.</p><p>No primeiro caso, o endosso contém a cláusula mandato ou “por procuração”, habilitando o</p><p>endossatário a agir como mandatário (procurador) do endossante para os atos de cobrança do</p><p>título, com posterior prestação de contas.</p><p>Já no segundo caso, quando o endosso contém a menção “valor em penhor” ou outra garantia,</p><p>como a fiduciária, o endossante utiliza o direito de crédito que advém do título (atributo da</p><p>cartularidade) para vinculá-lo ao pagamento de obrigações que assumiu perante o</p><p>endossatário. É o que se extrai dos artigos 917 e 918 do Código Civil.</p><p>AVAL</p><p>É o ato cambiário com finalidade de garantia pessoal a uma obrigação assumida por um</p><p>signatário do título (avalizado), seja ele sacador, endossante ou avalista.</p><p>Essa garantia pode ser dada por um terceiro ou mesmo por um signatário do título,</p><p>denominado avalista, e esse pode ser representado por procurador (mandatário) com poderes</p><p>especiais.</p><p>O aval pode ser prestado antes ou depois do vencimento, a critério do avalista, produzindo, a</p><p>qualquer tempo, os mesmos efeitos.</p><p>Esse instituto é cabível nos títulos de crédito que contenham obrigação de pagar soma</p><p>determinada, disposição do artigo 897 do Código Civil, mas tal restrição pode ser afastada em</p><p>lei especial.</p><p>Ao contrário da fiança — garantia contratual acessória ao contrato principal —, o aval é ato</p><p>unilateral de vontade e independe da celebração de um contrato, sendo próprio dos títulos de</p><p>crédito.</p><p>Todavia, mesmo as obrigações assumidas nos títulos com cláusula “não à ordem” podem ser</p><p>garantidas por aval.</p><p>O AVALISTA</p><p>O AVAL</p><p>O AVALISTA</p><p>O avalista não garante o pagamento do título, mas sim da obrigação assumida pelo avalizado,</p><p>a quem se equipara. Outro fato a se observar é que mais de um avalista pode garantir, ao</p><p>mesmo tempo, a mesma obrigação (aval simultâneo).</p><p>O AVAL</p><p>O aval, também, deve ser lançado no próprio título, sendo possível ao avalista prestá-lo apenas</p><p>com sua assinatura ou, adicionalmente, com alguma palavra (exemplo: “Aval”, “Avalista”,</p><p>“Avalizo”) ou expressão (exemplo: “Em aval de”, “Bom para aval”).</p><p>Caso o aval seja resultante da simples assinatura do avalista, deverá ser lançado no anverso</p><p>do título.</p><p>De acordo com o artigo 897, parágrafo único, do Código Civil, é vedado o aval parcial, de modo</p><p>que o avalista não poderia validamente limitar a garantia a uma parte da obrigação assumida</p><p>pelo avalizado.</p><p>Contudo, registramos a existência de disposição diversa em algumas leis especiais, que</p><p>admitem, expressamente, o aval parcial, como o artigo 30 do Anexo I do Decreto nº 57.663, de</p><p>1966, e o artigo 29 da Lei nº 7.357, de 1985.</p><p>Perante o portador e beneficiário, o avalista responde solidariamente com os demais</p><p>signatários do título (sacador, endossante, aceitante) pelo aceite (quando cabível) e sempre</p><p>pelo pagamento.</p><p>Fonte: Tero Vesalainen/Shutterstock</p><p>Ao contrário da responsabilidade do fiador, que é acessória em relação ao afiançado (benefício</p><p>de ordem), a obrigação do avalista é autônoma e independente.</p><p>Além disso, ela se mantém mesmo no caso de a obrigação do avalizado ser nula por qualquer</p><p>razão que não seja um vício de forma, ou seja, ausência de formalismo do título (como visto no</p><p>início deste módulo).</p><p> RESUMINDO</p><p>Se o avalista realiza o pagamento, passa a ter direito de regresso em face do avalizado e</p><p>contra os obrigados para com este em virtude da letra. Isso ocorre, pois a ele se transferem os</p><p>direitos do credor satisfeito (opera-se a chamada sub-rogação da obrigação) emergentes do</p><p>título.</p><p>O aval, uma vez prestado, não pode ser cancelado, sendo tal ato considerado não escrito.</p><p>Todavia, a despeito dessa regra, é admitido que o avalista poderá riscar seu aval e dos</p><p>obrigados posteriores a ele. Mas isso somente se tiver pago o título e se recebê-lo quitado do</p><p>portador. Ausente essa hipótese, aplica-se a regra geral da vedação do cancelamento.</p><p>OS ATOS CAMBIÁRIOS</p><p>NOÇÕES BÁSICAS SOBRE LETRA DE</p><p>CÂMBIO, NOTA PROMISSÓRIA, CHEQUE E</p><p>DUPLICATAS</p><p>Existem muitos títulos de crédito, com as mais diversas finalidades, inclusive para oferta</p><p>pública nos mercados financeiros. Este módulo, porém, trará os tradicionais, presentes na</p><p>maioria das transações comerciais, como a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e as</p><p>duplicatas.</p><p>LETRA DE CÂMBIO</p><p>Esse é o mais antigo dos títulos de crédito e sua origem remonta ao contrato de câmbio</p><p>praticado na Idade Média entre mercadores de cidades distantes, com moedas distintas.</p><p>Daniel Jedzura/shutterstock</p><p>No Brasil, também, foi o primeiro título a ser regulado em uma lei, no caso o Código Comercial</p><p>(1850). Atualmente, existem dois diplomas legais que tratam da letra de câmbio e da nota</p><p>promissória: o Decreto nº 2.044, de 1908, e o Decreto nº 57.663, de 1966.</p><p>Vamos abrir um parêntese para falar do Decreto nº 57.663,</p><p>de 1966. Ele é conhecido como Lei</p><p>Uniforme de Genebra (LUG), fruto de uma convenção internacional realizada em 1930. Seu</p><p>objetivo era a adoção de uma lei uniforme em matéria de letra de câmbio e nota promissória e</p><p>estabelecer regras de regulação de conflitos de leis.</p><p>Para esclarecimento, o Decreto nº 2.044, de 1908, ainda permanece parcialmente em vigor</p><p>nos temas em que a LUG se omitiu (exemplos: ação cambial, ato cambiário praticado por</p><p>mandatário, anulação da letra de câmbio).</p><p>BBPPHOTO/shutterstock</p><p>Também ainda regula os dispositivos do Anexo I da LUG, que foram objeto de reserva no</p><p>Anexo II (consulte os artigos 2º, 3º, 5º, 6º, 7º, 9º, 10º, 13º, 15º, 16º, 17º e 19º do Anexo II para</p><p>verificar os dispositivos objeto de reserva).</p><p>Importante frisar que, de maneira subsidiária, o Código Civil, na parte que trata dos títulos de</p><p>crédito (confira o artigo 903), trata da letra de câmbio.</p><p>Em termos conceituais, a letra de câmbio é uma ordem de pagamento em dinheiro, à vista ou a</p><p>prazo, dada pelo sacador (credor) ao sacado (devedor) em favor do primeiro ou de terceiro</p><p>beneficiário (tomador).</p><p>O título pode ser emitido livremente por não ter o saque vinculado a certo contrato ou ato (título</p><p>de crédito abstrato). Entretanto, chamamos atenção à proibição contida no artigo 2º da Lei de</p><p>Duplicatas (Lei nº 5474, de 1968).</p><p>Esse artigo proíbe a utilização de qualquer outro título de crédito pelo vendedor para</p><p>documentar o crédito fundado em contrato de compra e venda, incluído obviamente a letra de</p><p>câmbio.</p><p>Cabe ao sacador a emissão da letra de câmbio, podendo designar para tal ato procurador com</p><p>poderes especiais (saque por conta e ordem de terceiro).</p><p>E, também, o preenchimento do título com os requisitos essenciais (confira o artigo 1º do</p><p>Anexo I do Decreto nº 57663, de 1966, para verificar quais são os requisitos essenciais, e o</p><p>artigo 2º do mesmo anexo para verificar quais são os requisitos não essenciais).</p><p> ATENÇÃO</p><p>O sacador se torna coobrigado desde o momento do saque. Ele responde pelo seu aceite e</p><p>pagamento perante o portador original e outros posteriores (cessionários ou endossatários). O</p><p>sacador não pode se exonerar de garantir o pagamento do título.</p><p>A letra de câmbio à vista deve ser apresentada para pagamento a partir do dia de seu</p><p>vencimento e, se esse não for dia útil, no primeiro dia útil seguinte.</p><p>Se for a prazo, deve ser apresentada para aceite do sacado até o dia do vencimento, salvo se</p><p>o sacador tiver inserido cláusula proibindo o aceite (confira o artigo 22 do Anexo I do Decreto nº</p><p>57.663, de 1966).</p><p>Caso o sacado dê seu aceite, torna-se obrigado principal pelo pagamento e, se tiver algum</p><p>avalista, o avalista também o será.</p><p>Não havendo aceite ou sendo parcial, o sacador garante o pagamento ao portador desde que a</p><p>recusa ao aceite seja comprovada pelo protesto, interposto em tempo hábil (confira o artigo 22</p><p>do Anexo I do Decreto nº 57.663, de 1966).</p><p>A transmissão da letra de câmbio pode ser feita por endosso (em branco ou em preto) ou por</p><p>cessão de crédito, a critério do sacador, porém para que não seja endossável é preciso a</p><p>aposição da cláusula não à ordem por esse.</p><p>Como nos demais títulos de crédito, o endosso é sempre integral e não pode ser cancelado,</p><p>exceto se o próprio endossante tiver feito o pagamento. Em que pese a corresponsabilidade do</p><p>endossante pelo aceite e pagamento (ao contrário dos títulos inominados), é possível que seja</p><p>feito sem garantia.</p><p> SAIBA MAIS</p><p>Há ainda a proibição de novo endosso, situações em que, respectivamente, o endossante não</p><p>se torna coobrigado ou limita a sua coobrigação a seu endossatário imediato (confira o artigo</p><p>15 do Anexo I do Decreto nº 57663, de 1966).</p><p>Qualquer obrigação assumida em uma letra de câmbio pode ter seu pagamento garantido por</p><p>aval, inclusive parcial, sendo o avalista equiparado ao avalizado. Logo, sendo o aval prestado</p><p>em favor do aceitante, o avalista é obrigado principal no título; sendo prestado em favor de</p><p>outro signatário, o avalista é coobrigado.</p><p>O avalizado pode ter mais de um avalista − nesse caso, os avais são simultâneos − ou um</p><p>avalista pode avalizar o anterior − os avais são sucessivos. Caso o avalista não indique o</p><p>avalizado (aval em branco), este será sempre o sacador.</p><p>Como obrigado cambiário, a obrigação do avalista é autônoma e independente da do</p><p>avalizado, não sendo admissíveis exceções pessoais ao portador, exceto em casos de vício de</p><p>forma ou má-fé comprovada. Para saber mais sobre o aval na letra de câmbio, confira os</p><p>artigos 30 a 32 do Anexo I do Decreto nº 57663, de 1966).</p><p>NOTA PROMISSÓRIA</p><p>A nota promissória é outro título bastante conhecido e muito utilizado pelo modo de operação</p><p>bem simples. Possui, apenas, duas figuras intervenientes principais: o emitente e o</p><p>beneficiário.</p><p>A legislação aplicável a esse título é a mesma da letra de câmbio, já vista. Advertimos, porém,</p><p>que todos os dispositivos relativos à nota promissória contidos no Decreto nº 2.044, de 1908</p><p>(artigos 52 a 56), estão revogados pela superveniência do Decreto nº 57.663, de 1966.</p><p>Em termos conceituais, a nota promissória é uma promessa de pagamento em dinheiro, à vista</p><p>ou a prazo, feita pelo emitente ou subscritor (devedor) ao beneficiário ou tomador (credor).</p><p>Fonte: de-focus/Shutterstock</p><p>O título pode ser emitido livremente por não estar vinculado a certo contrato ou ato (título de</p><p>crédito abstrato). Todavia, nada impede que essa vinculação ocorra, devendo constar do título</p><p>esse detalhe para ciência do terceiro.</p><p>Cabe ao devedor, na condição de emitente, preencher o título atentando aos requisitos</p><p>essenciais para sua validade (confira o artigo 75 do Anexo I do Decreto nº 57.663, de 1966,</p><p>para verificar quais são os requisitos essenciais, e o artigo 76 do mesmo anexo para verificar</p><p>quais são os requisitos não essenciais).</p><p>A identidade da legislação da nota promissória com a letra de câmbio não é casual e sim</p><p>proposital. Pois são aplicáveis às notas promissórias quase todas as disposições relativas às</p><p>letras de câmbio, tais como: endosso; vencimento; pagamento; direito de ação por falta de</p><p>pagamento; aval; e prescrição.</p><p>Cabem, contudo, algumas considerações:</p><p>NOTA PROMISSÓRIA</p><p>O ACEITE</p><p>O EMITENTE</p><p>O AVAL</p><p>NOTA PROMISSÓRIA</p><p>Na nota promissória não há o instituto do aceite, exclusivo dos títulos em que o sacador dá</p><p>ordem de pagamento ao sacado;</p><p>O ACEITE</p><p>O aceite é o “de acordo” a essa ordem;</p><p>O EMITENTE</p><p>O emitente de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma</p><p>letra, isto é, ele e seu avalista, se houver, são os obrigados principais nesse título e os</p><p>endossantes e seus avalistas, os coobrigados;</p><p>O AVAL</p><p>Se o aval não indicar a pessoa por quem é dado (aval em branco), considera-se em favor do</p><p>emitente da nota promissória.</p><p>NOTA PROMISSÓRIA RURAL</p><p>Outro título de crédito criado por inspiração da nota promissória é a nota promissória rural,</p><p>normatizada pelo Decreto-lei nº 167, de 1967, artigos 42 a 45. A sua emissão é causal, ou seja,</p><p>só pode ser feita nas situações previstas no artigo 42, que são:</p><p>VENDAS A PRAZO</p><p>Nas vendas a prazo de bens de natureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas</p><p>diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas (o comprador é o emitente);</p><p>RECEBIMENTOS</p><p>Nos recebimentos, pelas cooperativas, de produtos da mesma natureza entregues pelos seus</p><p>cooperados (a cooperativa é o emitente);</p><p>ENTREGAS</p><p>Nas entregas de bens de produção ou de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus</p><p>associados (o cooperado é o emitente).</p><p>A nota promissória rural poderá ser emitida sob a forma cartular ou escritural. Nesse caso,</p><p>mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração, mas observados, em qualquer</p><p>das hipóteses, os requisitos essenciais previstos no artigo 43 do Decreto-lei nº 167, de 1967.</p><p>CHEQUE</p><p>O cheque tem, também, semelhanças com a letra de câmbio, por se tratar de ordem de</p><p>pagamento em dinheiro, porém exclusivamente à vista. Diante dessa característica, não há</p><p>aplicação do</p><p>instituto do aceite.</p><p>A legislação sobre o cheque, até 1985, era o Decreto nº 57.595, de 1966, que promulgou, no</p><p>Brasil, a Lei Uniforme em matéria de cheque (fruto de uma convenção internacional ocorrida</p><p>em 1931). No entanto, a Lei nº 7.357, de 1985, passou a tratar do instituto e revogou as</p><p>disposições em contrário, tornando-se o diploma vigente.</p><p>O emitente do cheque é denominado sacador e deve ter fundos disponíveis (dinheiro) em</p><p>poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato. A</p><p>infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque.</p><p>Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock</p><p>Fonte: NIKCOA/Shutterstock</p><p>O sacador, ao preencher o cheque, deve atentar para os requisitos essenciais previstos no</p><p>artigo 1º da Lei nº 7.357, de 1985, sob pena de o documento não valer como cheque. Outro</p><p>requisito de validade do cheque diz respeito ao sacado, que deve ser banco ou instituição</p><p>financeira que lhe seja equiparada (confira o artigo 3º da Lei nº 7.357, de 1985).</p><p>Após o preenchimento, o emitente deve assiná-lo, mas é admitida a assinatura por mandatário</p><p>com poderes especiais. Ou até mesmo a substituição desta por chancela mecânica.</p><p>O beneficiário do cheque pode ser o próprio emitente, pessoa por ele indicada (cheque</p><p>nominal) ou o portador. A emissão e o pagamento de cheque ao portador têm restrição, sendo</p><p>vedado se o valor for superior a R$100,00 (cem reais), tendo que ser nominal.</p><p>O beneficiário pode apresentar o cheque ao sacado para pagamento imediatamente após sua</p><p>emissão. Não importando que o cheque seja pós-datado, isto é, aquele emitido com data futura</p><p>de apresentação a pagamento.</p><p>Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock</p><p>Por ser um título exclusivamente à vista, o sacado deve efetuar o pagamento do cheque na</p><p>data de sua apresentação, mesmo que seja antes do dia indicado como de emissão.</p><p>O cheque pode ser apresentado a pagamento no estabelecimento do sacado indicado no título</p><p>(lugar de pagamento) ou a uma câmara de compensação. Não obstante, o portador deve</p><p>observar os prazos legais.</p><p>Fonte: Jne Valokuvaus/shutterstock</p><p>Quanto a isso, são: 30 dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; ou 60 dias,</p><p>quando emitido em outro lugar do País ou no exterior, sempre a partir do dia da emissão.</p><p>Se o cheque não for apresentado no prazo legal, o portador somente poderá cobrar seu valor</p><p>através da ação cambial (ação de execução) do emitente ou do seu avalista. No cheque, o</p><p>emitente é o obrigado principal e, como tal, garante o pagamento, considerando-se não escrita</p><p>a declaração pela qual se exima dessa garantia.</p><p>A forma de circulação do cheque é a mesma da letra de câmbio, por endosso ou cessão de</p><p>crédito, cabendo ao emitente a escolha. Também é vedado o endosso parcial, sendo possíveis</p><p>as cláusulas “sem garantia” e de proibição de novo endosso.</p><p>Três peculiaridades devem ser registradas:</p><p>O sacado não pode endossar o cheque, sob pena de nulidade;</p><p>Se o sacado receber o cheque por endosso, tal ato cambiário tem efeito apenas de</p><p>quitação, não podendo haver novo endosso;</p><p>O endosso do cheque após sua apresentação ou o prazo de apresentação tem efeito de</p><p>cessão de crédito (confiram-se os artigos 18 e 27 da Lei nº 7357, de 1985).</p><p>DUPLICATAS</p><p>Elas, também, são títulos de crédito com muitas semelhanças com a letra de câmbio.</p><p>São ordens de pagamento em dinheiro à vista ou a prazo dadas ao devedor pelo credor.</p><p>Entretanto, as duplicatas são títulos de crédito causais e à ordem. Isso quer dizer que a causa</p><p>de sua emissão não pode ser escolhida pelo emitente, sendo imposta por lei, e a circulação</p><p>tem que ser por endosso.</p><p>Com isso, as figuras do sacador, sacado e tomador são aquelas diretamente vinculadas ao</p><p>negócio que deu origem ao crédito.</p><p>Outros aspectos relevantes dizem respeito à necessidade de emissão prévia da fatura pelo</p><p>sacador. Sendo a duplicata uma cópia desta com efeito cambial, e a possibilidade de ação de</p><p>cobrança em face do sacado diante da recusa ao aceite.</p><p>DUPLICATA DE COMPRA E VENDA</p><p>Esta foi criada como título substitutivo da letra de câmbio para ser utilizada, facultativamente</p><p>pelos comerciantes. O objetivo era documentar o crédito oriundo do contrato de compra e</p><p>venda mercantil, podendo circular livremente por endosso, a fim de que o sacador obtivesse</p><p>capital de giro.</p><p>Com a revogação da parte primeira do Código Comercial, em 2002, pelo Código Civil, deixou</p><p>de existir o referido contrato. Mas persiste o contrato de compra e venda, que atualmente é a</p><p>causa da emissão.</p><p>O sacador da duplicata de compra e venda é o vendedor (credor); e o sacado é o comprador</p><p>(devedor). Como o vendedor se utiliza da duplicata para a cobrança do preço, ele é o</p><p>beneficiário e primeiro endossante.</p><p>Fonte: Bakhtiar Zein/Shutterstock</p><p> ATENÇÃO</p><p>Cabe ao sacador observar, na emissão da duplicata, os requisitos essenciais, inclusive indicar</p><p>o número da fatura de compra e venda (confira o artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei nº 5.474, de</p><p>1968).</p><p>Como a duplicata é sacada após a realização da venda, presume-se que quando ela é</p><p>remetida ao sacado para aceite (confira como se dá a apresentação da duplicata no artigo 6º</p><p>da Lei nº 5.474, de 1968) a mercadoria já foi entregue e recebida sem oposição.</p><p>Caso tenha havido algum problema com a mercadoria ou com as condições da venda,</p><p>reproduzidas na duplicata, o sacado tem a prerrogativa de recusar o aceite.</p><p>Havendo a comprovação de uma das causas para o não aceite, o sacado deve devolver a</p><p>duplicata ao apresentante dentro de 10 (dez) dias. Esse prazo é contado da data de sua</p><p>apresentação, acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.</p><p>javascript:void(0)</p><p>ACEITE</p><p>Sobre a recusa do aceite, vejamos o que dispõe o artigo 8º, da Lei no 5.474 de 1968: “O</p><p>comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não</p><p>recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e</p><p>risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,</p><p>devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados”.</p><p>A retenção da duplicata pelo sacado constitui ato ilícito, sendo possível o protesto por falta de</p><p>devolução para comprovar esse fato.</p><p>A obrigação de pagamento da duplicata poderá ser assegurada por aval, sendo o avalista</p><p>equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar</p><p>a sua; fora desses casos, ao comprador ou sacado.</p><p>A cobrança da duplicata não paga, com ou sem aceite, é feita por meio de ação cambial (de</p><p>execução), inclusive em face do sacado ou de seu avalista.</p><p>A emissão da duplicata de compra e venda pode ser escritural ou eletrônica, a critério do</p><p>sacador. Tal previsão, porém, não se encontra na Lei nº 5.474, de 1968, e sim em lei própria —</p><p>Lei nº 13.775, de 2018.</p><p>De acordo com essa lei, a emissão da duplicata é feita mediante lançamento em sistema</p><p>eletrônico de escrituração gerido por quaisquer das entidades que exerçam a atividade de</p><p>escrituração de duplicatas escriturais.</p><p>Todos os atos previstos na Lei nº 5.474, de 1968, referentes às duplicatas de compra e venda e</p><p>de prestação de serviços, deverão ser praticados no sistema eletrônico, tais como:</p><p>Apresentação;</p><p>Aceite;</p><p>Devolução e formalização da prova do pagamento;</p><p>Controle e transferência da titularidade;</p><p>Prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval.</p><p>Os gestores dos sistemas eletrônicos de escrituração são obrigados a expedir, a pedido de</p><p>qualquer solicitante, extrato do registro eletrônico da duplicata. Esse documento servirá de</p><p>base para a cobrança judicial da duplicata.</p><p> ATENÇÃO</p><p>Cabe destacar a fixação de prazo menor de apresentação, por meio eletrônico, da duplicata</p><p>escritural — 2 dias úteis contados de sua emissão. E o sacado, também por meio eletrônico,</p><p>poderá recusar, no prazo de 10 dias, a duplicata escritural apresentada ou, no mesmo prazo</p><p>acrescido de sua metade, aceitá-la.</p><p>DUPLICATA DE PRESTAÇÃO</p><p>DE SERVIÇO</p><p>Ela, também, é regulada pela Lei nº 5.474, de 1968, sendo-lhe aplicáveis, com as adaptações</p><p>cabíveis, as disposições referentes à fatura e à duplicata de compra e venda. Não obstante, a</p><p>emissão da duplicata de prestação de serviços não é imposta ao sacador, ao contrário da</p><p>duplicata de compra e venda.</p><p>De acordo com os artigos 20 e 22 da Lei nº 5474, de 1968:</p><p>TÊM LEGITIMIDADE PARA SACAR ESTA DUPLICATA:</p><p>AS PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS QUE SE</p><p>DEDIQUEM À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, INCLUSIVE</p><p>PROFISSIONAIS LIBERAIS; E OS QUE PRESTAM</p><p>SERVIÇO DE NATUREZA EVENTUAL”.</p><p>(Lei nº 5474, 1968)</p><p>A duplicata deverá ser sacada após a emissão da fatura, que discriminará a natureza dos</p><p>serviços prestados. O sacador deverá enviar a duplicata ao aceite do sacado, ocasião em que</p><p>este terá a oportunidade de aceitá-la, tornando-se obrigado principal pelo pagamento, ou</p><p>apresentar as razões de recusa.</p><p>Para ser considerada válida, a recusa deve estar fundada em um dos seguintes motivos:</p><p>I</p><p>Não correspondência com os serviços efetivamente contratados.</p><p>II</p><p>Vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados.</p><p>III</p><p>Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.</p><p>DUPLICATA RURAL</p><p>Essa é a única espécie de duplicata que não é regulada na Lei nº 5.474, de 1968. Sua previsão</p><p>está no artigo 46 do Decreto-lei nº 167, de 1967.</p><p>Também é um título causal associado exclusivamente a vendas a prazo de quaisquer bens de</p><p>natureza agrícola, extrativa ou pastoril. No caso da aquisição efetuada diretamente por</p><p>produtores rurais ou por suas cooperativas, que são os sacadores dessa duplicata.</p><p>Tal qual a duplicata de compra e venda, a rural poderá ser emitida sob a forma cartular ou</p><p>escritural. Nesse caso, mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração. Mas</p><p>observados, em qualquer das hipóteses, os requisitos essenciais previstos no artigo 48 do</p><p>Decreto-lei nº 167, de 1967.</p><p>PRESCRIÇÃO NOS TÍTULOS DE CRÉDITO</p><p>Sabemos que todos eles têm importantes funções econômicas e uma delas é a possibilidade</p><p>de obtenção de crédito mediante sua emissão e/ou circulação, de modo mais rápido e informal,</p><p>mas com segurança para o credor.</p><p> DICA</p><p>Ao verificarmos os princípios, identificamos que o credor pode cobrar de todos os signatários,</p><p>em razão da autonomia entre as obrigações. E que, se o título circular por endosso, o devedor</p><p>não pode opor ao portador atual as exceções que teria ao pagamento perante portadores</p><p>anteriores.</p><p>Pois bem: para que tal tratamento seja dispensado ao credor no momento da cobrança, é</p><p>fundamental que ele observe os prazos para a propositura das ações de cobrança de cada</p><p>título de crédito.</p><p>Isso é de suma importância, pois os prazos não são os mesmos e podem variar conforme o</p><p>título em espécie e a pessoa que está sendo cobrada − se aceitante, sacador, endossante ou</p><p>avalista. É o que passaremos a expor.</p><p>Quando o devedor deixa de aceitar ou de pagar o título de crédito, ele descumpre uma</p><p>obrigação. O sacador, porém, é responsável pelo aceite e pagamento, bem como os</p><p>endossantes e avalista.</p><p>Caso o sacado não aceite, o portador tem direito de cobrança antes do vencimento perante os</p><p>coobrigados, tendo obtido o protesto do título. A mesma solução se dá em caso de aceite, mas</p><p>sem que o pagamento seja efetuado.</p><p>O credor tem uma pretensão à cobrança do crédito contido no título em face dos devedores</p><p>solidários, tanto na hipótese de falta de aceite (títulos que representam ordens de pagamento a</p><p>prazo) ou de falta de pagamento.</p><p>Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock</p><p>Essa pretensão deve ser exercida dentro de um prazo fixado sempre em lei e que não pode ser</p><p>reduzido ou ampliado pela vontade das partes. Esse é o prazo de prescrição que, se atingido,</p><p>vai extinguir a pretensão ao exercício daquele direito.</p><p>O Código Civil dispõe sobre esses prazos em seu artigo 206. E, quanto à prescrição, para</p><p>haver o pagamento de título de crédito, o prazo é de 3 anos, contados da data do vencimento</p><p>(confira o parágrafo 3º, inciso VIII, desse artigo).</p><p>Precisamos destacar que o próprio dispositivo legal ressalva as disposições de lei especial,</p><p>permitindo concluir que o prazo de 3 anos somente se aplica:</p><p>Para os títulos atípicos ou inominados, que não seguem lei especial;</p><p>Para os títulos nominados, caso não haja prazo prescricional fixado na lei própria.</p><p>Em razão dessa ressalva, é fundamental que o credor verifique, em primeiro lugar, se o título é</p><p>regulado por lei especial e se essa lei tem um prazo prescricional diferente do Código Civil. Ou</p><p>até mesmo se o evento fixado para o início da contagem do prazo prescricional (termo inicial) é</p><p>ou não a data do vencimento.</p><p>Havendo prazo específico em lei especial, este prevalecerá. Apresentaremos, a seguir, uma</p><p>relação exemplificativa de títulos que possuem prazos diferentes daquele do Código Civil.</p><p>Foram fixados em função da pessoa do devedor contra quem o credor exerce seu direito de</p><p>ação.</p><p>Título de crédito Prazo prescricional</p><p>Letra de câmbio e nota</p><p>promissória</p><p>(Anexo I do Decreto nº</p><p>57663, de 1966, artigo 70)</p><p>3 anos, contados do dia do vencimento, na cobrança</p><p>do aceitante e de seu avalista;</p><p>1 ano, contado da data do protesto ou da data do</p><p>vencimento (se o protesto for dispensado no título) na</p><p>cobrança do endossante, do sacador e dos</p><p>respectivos avalistas;</p><p>6 meses, contados do dia em que o endossante</p><p>pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado, na</p><p>ação dos endossantes e de seus avalistas um contra</p><p>os outros e contra o sacador e seu avalista;</p><p>Duplicatas de compra e</p><p>venda e de prestação de</p><p>serviços</p><p>(Lei nº 5.474, de 1968, artigo</p><p>18)</p><p>OBS. A duplicata rural segue</p><p>os prazos da letra de câmbio</p><p>— Decreto-lei nº 167, de</p><p>1967, artigo 60.</p><p>3 anos, contados do dia do vencimento, na cobrança</p><p>do sacado/aceitante e de seu avalista;</p><p>1 ano, contado da data do protesto, na cobrança dos</p><p>endossantes e de seus avalistas;</p><p>1 ano, contado da data em que tenha sido efetuado o</p><p>pagamento do título de qualquer dos coobrigados</p><p>contra os demais (ação de regresso de um obrigado</p><p>ao pagamento da duplicata contra outro).</p><p>Cheque</p><p>(Lei nº 7.357, de 1985, artigo</p><p>59)</p><p>6 meses, contados do término do prazo de</p><p>apresentação, na cobrança do emitente e de seu</p><p>avalista ou do endossante e de seu avalista;</p><p>6 meses, contados do dia em que o obrigado pagou o</p><p>cheque ou do dia em que foi demandado (ação de</p><p>regresso de um obrigado ao pagamento do cheque</p><p>contra outro).</p><p> Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal</p><p>Após a ocorrência da prescrição, o credor, ainda assim, poderá propor uma ação de cobrança.</p><p>Mas essa não terá mais os benefícios da ação “cambial”, ou seja, aquela própria para a</p><p>cobrança dos títulos de crédito.</p><p>Isso porque, com a prescrição, o documento deixa de ser um título executivo extrajudicial. E</p><p>terá de passar por um procedimento preliminar para se tornar, novamente, um título executivo.</p><p>Esse procedimento se dá através da ação monitória, prevista no artigo 700 do Código de</p><p>Processo Civil.</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1) MÁRIO ASSINOU COMO AVALISTA UMA NOTA PROMISSÓRIA E LIMITOU SEU AVAL A</p><p>50% (CINQUENTA POR CENTO) DO VALOR DO TÍTULO. DIANTE DE TAL LIMITAÇÃO,</p><p>QUAL DOS PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO DEVE SER APLICADO PARA MÁRIO</p><p>SE OPOR À EVENTUAL COBRANÇA DO VALOR INTEGRAL DA NOTA PROMISSÓRIA?</p><p>A) Cartularidade</p><p>B) Literalidade</p><p>C) Autonomia</p><p>D) Formalismo</p><p>2) JOANA RECEBEU DE JOSÉ, POR ENDOSSO, CHEQUE EMITIDO POR MARIA.</p><p>SABENDO-SE QUE O ENDOSSO DE JOSÉ PARA JOANA FOI EM BRANCO, JOANA NÃO</p><p>PODERÁ:</p><p>A) Mudá-lo para endosso em preto indicando novo beneficiário.</p><p>B) Endossar novamente o título, em branco ou em preto.</p><p>C) Transferi-lo a terceiro por tradição manual e sem novo endosso.</p><p>D) Realizar um endosso parcial.</p><p>GABARITO</p><p>1) Mário assinou como avalista uma nota promissória e limitou seu aval a 50%</p><p>(cinquenta por cento) do valor do título. Diante de tal limitação, qual dos princípios dos</p><p>títulos de crédito deve ser aplicado para Mário se opor à eventual cobrança</p><p>do valor</p><p>integral da nota promissória?</p><p>A alternativa "B " está correta.</p><p>Observe que Mário lançou na nota promissória uma limitação a seu aval e só pode responder</p><p>perante o portador até metade do valor do débito. Ele pode se opor ao pagamento por meio da</p><p>invocação ao princípio da literalidade, ou à exceção relativa ao conteúdo literal do título de que</p><p>trata o artigo 915 do Código Civil.</p><p>2) Joana recebeu de José, por endosso, cheque emitido por Maria. Sabendo-se que o</p><p>endosso de José para Joana foi em branco, Joana não poderá:</p><p>A alternativa "D " está correta.</p><p>É vedado à Joana realizar endosso parcial do cheque, pois ele é sempre integral,</p><p>compreendendo todo o valor indicado no título.</p><p>MÓDULO 2</p><p> Identificar os princípios contratuais e sua aplicação nos contratos empresariais</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Este módulo tem como tema central os contratos empresariais. Todo contrato é um ato jurídico,</p><p>pois decorre de um ato volitivo, ou seja, de livre manifestação da vontade (seja da pessoa</p><p>física, seja da pessoa jurídica) com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.</p><p>Além de ser um ato jurídico, o contrato integra uma categoria mais restrita, a dos negócios</p><p>jurídicos ou atos jurídicos em sentido estrito. Já que possuem sua formação e efeitos</p><p>condicionados à livre manifestação de vontade das partes.</p><p>Como, para a formação do vínculo contratual, é necessária a conjugação de vontades, ou</p><p>consensualismo, o contrato é um negócio jurídico bilateral, não se admitindo o “contrato</p><p>consigo mesmo”.</p><p>Por essa razão, por exemplo, não se denomina contrato o documento de constituição de uma</p><p>sociedade unipessoal, e sim ato unilateral ou documento de constituição.</p><p>Nem o Código Civil de 1916 e nem o atual apresentam a noção de contrato. O Código de 1916</p><p>conceituou “ato jurídico” no artigo 81 como:</p><p>ART. 18 - TODO O ATO LÍCITO, QUE TENHA POR FIM</p><p>IMEDIATO ADQUIRIR, RESGUARDAR, TRANSFERIR,</p><p>MODIFICAR OU EXTINGUIR DIREITOS”.</p><p>(C.C./1916).</p><p>O Código vigente não conceituou ato jurídico ou o negócio jurídico, limitando-se a apresentar</p><p>os requisitos de validade do negócio jurídico, em seu artigo 104.</p><p>Entretanto, como referência técnica, podemos citar a noção adotada pelo Código Civil italiano</p><p>de 1942, fonte legislativa para o Código brasileiro. Em seu artigo 1321, conceitua contrato</p><p>como o acordo de duas ou mais partes (sujeitos de direito) para estabelecer (criar), regular</p><p>(podendo modificar) ou extinguir uma relação jurídica patrimonial entre elas.</p><p>O contrato empresarial não tem natureza distinta dos demais contratos dentro da teoria do</p><p>negócio jurídico. Existem, porém, certas peculiaridades em relação a outros contratos</p><p>(exemplos: civis, administrativos, de consumo) que serão tratadas a seguir.</p><p>BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE OS</p><p>CONTRATOS EMPRESARIAIS E SUAS</p><p>CARACTERÍSTICAS</p><p>Até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, havia um tratamento particular para os</p><p>contratos e as obrigações mercantis no Código Comercial (Lei nº 556, de 1850), que dedicava</p><p>o Título V da Parte Primeira ao tema. Ocorre que toda a parte primeira do Código Comercial foi</p><p>revogada expressamente pelo artigo 2045 do Código Civil.</p><p>Em razão da revogação, deixaram de ter regras próprias, compatíveis com as características</p><p>das relações mercantis ou comerciais (exemplo: paridade, elasticidade, informalidade,</p><p>onerosidade, boa-fé, importância dos usos).</p><p></p><p>De todos os contratos, apenas o de comissão mercantil foi mantido no Código Civil de 2002,</p><p>com a denominação reduzida para “comissão” (confira os artigos 693 a 709). Os demais foram</p><p>“unificados” com os congêneres civil, que eram disciplinados no Código Civil de 1916.</p><p>Em que pese o desaparecimento de um regramento próprio (disposições gerais e contratos em</p><p>espécie), na prática, continuam sendo celebrados contratos mercantis. Atualmente, porém, são</p><p>denominados empresariais, em referência ao empresário e sua empresa.</p><p>Ou seja: substituindo a nomenclatura tradicional que se referia ao comerciante e comércio ou à</p><p>mercancia. Cabe, também, observar que muitas leis especiais — não revogadas pelo Código</p><p>Civil — continuam disciplinando contratos empresariais ou institutos relacionados ao direito</p><p>empresarial.</p><p> EXEMPLO</p><p>Alguns exemplos: arrendamento mercantil, franquia, representação comercial, ponto</p><p>empresarial, alienação fiduciária, concessão comercial, fretamento, seguro marítimo, transporte</p><p>multimodal e transporte aéreo.</p><p>DIANTE DA LACUNA LEGISLATIVA, VOCÊ DEVE</p><p>ESTAR SE PERGUNTANDO: COMO IDENTIFICAR</p><p>UM CONTRATO EMPRESARIAL? QUAIS SERIAM</p><p>AS CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS</p><p>EMPRESARIAIS?</p><p>RESPOSTA</p><p>RESPOSTA</p><p>O primeiro aspecto relevante para identificar um contrato como empresarial é a qualidade</p><p>de empresário das partes, de ambas e não apenas de uma delas. Para isso, é necessário</p><p>recorrer ao Código Civil, que conceitua, nos artigos 966 e 982, respectivamente,</p><p>empresário e sociedade empresária.</p><p>Em ambos os dispositivos, é essencial que haja o exercício profissional (com</p><p>habitualidade) de empresa. Isto é: atividade econômica organizada para produção ou</p><p>circulação de bens ou serviços.</p><p>javascript:void(0)</p><p>Em termos práticos, como o exercício regular da empresa decorre sempre do registro,</p><p>identifica-se o empresário pela sua inscrição na junta comercial, exceto o empresário</p><p>rural, que tem um regime de inscrição facultativa.</p><p>Um segundo aspecto relevante dos contratos empresariais está associado à sua função</p><p>econômica, que se vincula, necessariamente, ao exercício da empresa. Assim, ao</p><p>celebrar um contrato empresarial, as partes visam ao lucro ou à obtenção de vantagem</p><p>econômica equivalente para sua empresa.</p><p>E isso pode se dar pela aquisição de produtos ou serviços, obtenção de crédito,</p><p>prestação de garantias a obrigações de terceiros, investimento de recursos na empresa</p><p>de terceiros etc.</p><p>Cabe ressaltar que, se por acaso alguma pessoa participar do contrato não sendo empresário,</p><p>nem por isso ele se descaracteriza, pois é preciso sempre verificar se o fim é empresarial.</p><p> EXEMPLO</p><p>Uma sociedade empresária contrai um empréstimo (contrato de mútuo) para aplicar na</p><p>modernização de sua empresa. E, para liquidação do débito, é emitida pela mutuária uma</p><p>cédula de crédito bancário (título de crédito), com aval de um sócio pessoa física não</p><p>empresário.</p><p>O simples fato de um dos devedores solidários não ser empresário não descaracteriza o mútuo</p><p>como um contrato empresarial, embora regulado pelo Código Civil, pois a função econômica</p><p>está relacionada à empresa.</p><p>Podemos apontar como características dos contratos empresariais:</p><p>A paridade ou simetria;</p><p>A elasticidade;</p><p>A informalidade;</p><p>A onerosidade;</p><p>A boa-fé;</p><p>A importância dos usos como critério interpretativo.</p><p>As relações empresariais são paritárias ou simétricas, pois há equivalência de poderes e</p><p>forças entre as partes contratantes. Não há, porém, presunção de hipossuficiência e/ou</p><p>vulnerabilidade no que tange às questões contratuais.</p><p>Com isso, as cláusulas contratuais serão objeto de livre estipulação. Por serem ambas as</p><p>partes empresários, possuem conhecimento e experiência em questões econômico-financeiras</p><p>em geral. E são capazes de avaliar o fim pretendido e, desse modo, identificar vantagens,</p><p>desvantagens, riscos e potenciais de retorno em relação ao negócio.</p><p>ELASTICIDADE</p><p>A elasticidade dos contratos empresariais está presente no seu aspecto interpretativo. Afinal,</p><p>partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de</p><p>integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. Até mesmo com estímulo</p><p>à utilização da arbitragem para dirimir conflitos advindos da interpretação do contrato.</p><p>Ao contrário dos negócios civis, os negócios empresariais (unilaterais e bilaterais) são, em</p><p>regra, informais. No módulo 1, tratamos sobre a informalidade do endosso e do aval em</p><p>relação aos institutos da cessão de crédito e da fiança, pois ambos são válidos com simples</p><p>assinatura.</p><p>E são dessa forma para que o empresário tenha celeridade e menor custo de transação no</p><p>momento da</p><p>contratação e da execução. Em virtude disso, muitos contratos empresariais estão</p><p>sendo celebrados no ambiente virtual (“web space”), que se mostra propício e estimulante para</p><p>contratações em massa e a distância.</p><p>ONEROSIDADE</p><p>A onerosidade decorre, naturalmente, do objetivo do empresário ao contratar, isto é, obter</p><p>lucro ou vantagem equivalente, por isso não se concebe gratuidade nos contratos</p><p>empresariais.</p><p>Um exemplo dessa característica encontra-se no contrato de transporte. Uma vez que o</p><p>transportador se obriga, mediante retribuição, a transportar pessoas ou coisas, não se</p><p>subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.</p><p>Por fim, outra característica (marcante) nos contratos empresariais é a importância reservada</p><p>aos usos como critério interpretativo dos contratos empresariais, pois constituem uma das</p><p>fontes do direito empresarial.</p><p>Tal fato é histórico e já tinha relevância no Código Comercial. O referido Código, em seu artigo</p><p>131, apresentava bases para interpretação das cláusulas dos contratos comerciais, referindo-</p><p>se aos usos nestes termos:</p><p>ART. 131 - O USO E A PRÁTICA GERALMENTE</p><p>OBSERVADOS NO COMÉRCIO NOS CASOS DA MESMA</p><p>NATUREZA, E ESPECIALMENTE O COSTUME DO</p><p>LUGAR ONDE O CONTRATO DEVA TER EXECUÇÃO,</p><p>PREVALECERÁ A QUALQUER INTELIGÊNCIA EM</p><p>CONTRÁRIO QUE SE PRETENDA DAR ÀS PALAVRAS”.</p><p>Atualmente, os usos ainda têm função interpretativa em razão do que dispõe o artigo 113 do</p><p>Código Civil.</p><p>Os usos são práticas espontâneas públicas, uniformes, reiteradas e lícitas. Inclusive regras</p><p>corporativas contidas em documentos de autorregulamentação, adotadas pelos empresários de</p><p>um determinado lugar (“praça”), região ou país.</p><p>Ainda nos dias atuais, a lei recorre a eles, subsidiariamente, em alguns contratos como de</p><p>depósito, mandato, comissão e corretagem (confira os artigos 628, 658, 701 e 724 do Código</p><p>Civil).</p><p>CÓDIGO CIVIL</p><p>javascript:void(0)</p><p>“Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do</p><p>lugar de sua celebração.”</p><p>PRINCÍPIOS CONTRATUAIS</p><p>Eles se dividem em clássicos e contemporâneos, sendo que estes não eliminam os primeiros,</p><p>mas os completam e, por vezes, os atenuam. Os princípios clássicos têm forte caráter</p><p>individualista, onde as partes teriam total liberdade para escolher quando contratar, o que</p><p>contratar e como contratar.</p><p>Em outras palavras, definem a oportunidade da contratação (e não são forçadas a contratar), o</p><p>conteúdo da avença e sua forma.</p><p>Com o passar do tempo e de fenômenos — como a produção de bens em massa, novas</p><p>tecnologias, regulação de certas atividades econômicas, intervenção do Estado em relações</p><p>privadas, globalização, entre outras causas —, os princípios clássicos passaram a conviver</p><p>com novos princípios. E, para estes, o contrato assume um papel “social” em vez de</p><p>“individual”.</p><p>PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS</p><p>Autonomia da vontade das partes;</p><p>Obrigatoriedade dos contratos;</p><p>Relatividade dos efeitos dos contratos.</p><p>PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE DAS</p><p>PARTES</p><p>As partes contratantes têm ampla liberdade para contratar, escolher a pessoa do contratante e</p><p>estabelecer entre si os termos e condições do vínculo contratual. Somente disposições</p><p>imperativas de ordem pública podem limitar essa autonomia.</p><p> DICA</p><p>Nos contratos empresariais, que se relacionam com o exercício de atividades econômicas</p><p>pelas partes, a autonomia da vontade está alicerçada nos princípios constitucionais da livre</p><p>iniciativa e livre concorrência (confira o artigo 170 da Constituição de 1988).</p><p>Ela encontra limites nos atos anticoncorrenciais e contra a livre iniciativa (confira o artigo 36 da</p><p>Lei nº 12529, de 2011). Também constituiu limitação à autonomia da vontade as normas de</p><p>ordem pública, pontualmente presentes em alguns contratos.</p><p> EXEMPLO</p><p>Aqueles que estabelecem seus elementos essenciais e relativos à responsabilidade civil</p><p>objetiva de algum dos contratantes ou de ambos. A Lei nº 13.874, de 2019, que institui a</p><p>Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, faz essa ressalva em seu artigo 3º, inciso VIII.</p><p>Por esse dispositivo, estabelece que os negócios jurídicos empresariais paritários serão objeto</p><p>de livre estipulação das partes pactuantes. Assim sendo, aplicam todas as regras de direito</p><p>empresarial apenas de maneira subsidiária ao avençado, exceto normas de ordem pública.</p><p>PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS</p><p>CONTRATOS (PACTA SUNT SERVANDA)</p><p>Esse princípio está associado ao brocardo “pacta sunt servanda”, ou seja, “os acordos devem</p><p>ser mantidos”. É um outro princípio clássico do direito contratual, que tem mais importância no</p><p>direito empresarial do que em outros ramos do direito em razão da presunção de paridade</p><p>entre as partes e profissionalismo.</p><p>A força obrigatória dos contratos é uma consequência lógica da autonomia da vontade. Ora, se</p><p>as partes são livres para pactuar seu conteúdo, se deduz que este deve prevalecer, em nome</p><p>da própria segurança do negócio. Assim, cria-se um vínculo jurídico obrigatório, no sentido de</p><p>que “o contrato é lei entre as partes contratantes“.</p><p>Nesse sentido, em reforço à manutenção dos acordos, dispõe o artigo 421, parágrafo único, do</p><p>Código Civil, que:</p><p>ART. 421 - NAS RELAÇÕES CONTRATUAIS PRIVADAS,</p><p>PREVALECERÃO O PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO</p><p>MÍNIMA E A EXCEPCIONALIDADE DA REVISÃO</p><p>CONTRATUAL”.</p><p>(C.C./2002).</p><p>PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS</p><p>DOS CONTRATOS</p><p>Afirma-se que os efeitos dos contratos são relativos, porque eles atingem apenas as partes</p><p>contratantes (efeitos internos), não alcançando a esfera jurídica de terceiros, seja para</p><p>prejudicá-los ou beneficiá-los.</p><p>Entretanto, em situações de abuso por uma das partes ou de ambas, o princípio da relatividade</p><p>dos contratos é afastado diante do interesse da coletividade (função social do contrato), pela</p><p>presença de cláusulas abusivas ou prejuízo ao interesse público, do meio ambiente etc.</p><p>Agora, estudaremos os princípios contemporâneos, que são: supremacia da ordem pública;</p><p>consensualismo; boa-fé objetiva; equilíbrio econômico; função social.</p><p>PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM</p><p>PÚBLICA</p><p>Como o contrato é um negócio jurídico, também está sujeito aos requisitos de validade deste,</p><p>em especial quanto à licitude do seu objeto (como poderá ser observado mais à frente neste</p><p>módulo).</p><p>Dessa forma, a autonomia da vontade é relativa, sujeitando-se à supremacia da lei e da ordem</p><p>pública. Consagra o princípio em comento o artigo 2035, parágrafo único, do Código Civil:</p><p>ART. 2035 - NENHUMA CONVENÇÃO PREVALECERÁ</p><p>SE CONTRARIAR PRECEITOS DE ORDEM PÚBLICA,</p><p>TAIS COMO OS ESTABELECIDOS POR ESTE CÓDIGO</p><p>PARA ASSEGURAR A FUNÇÃO SOCIAL [...] DOS</p><p>CONTRATOS.”</p><p>(C.C./2002).</p><p>Ao se referir à convenção, o dispositivo engloba o contrato, pois este também decorre de um</p><p>acordo de vontades.</p><p>PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO</p><p>A convergência de vontades acerca do objeto e do conteúdo tem força suficiente para fazer</p><p>surgir o contrato. Mas não se exige de forma especial, para sua formação, exceto de houver</p><p>disposição expressa em contrário exigindo um ato complementar.</p><p>A legislação brasileira segue essa orientação apenas em alguns tipos contratuais, em que há</p><p>formalidades e solenidades a serem atendidas, como veremos ainda neste módulo.</p><p>A vontade deve ser livre e consciente, mesmo em contrato de adesão, sob pena de anulação</p><p>por vício de consentimento, como erro, dolo ou coação (confira o artigo 171 do Código Civil).</p><p>Nos contratos empresariais, a vontade da sociedade é manifestada pelo seu órgão de</p><p>representação (administradores ou diretores), nos termos do artigo 1022 do Código Civil, e do</p><p>empresário incapaz autorizado por meio de seu representante ou assistente (confira o artigo</p><p>974 do Código Civil).</p><p>PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA</p><p>É um dos princípios contemporâneos mais importantes, porque a boa-fé é uma das</p><p>características das relações empresariais. Nos contratos empresariais, presume-se que as</p><p>partes são informadas, estão em condição paritária, de boa-fé e têm consciência dos riscos do</p><p>negócio</p>