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CARREIRAS JURÍDICAS CARREIRAS JURÍDICAS DIREITO EMPRESARIAL CAPÍTULO 07 1 Recado para você que está assistindo às videoaulas Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que: O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte nas revisões! Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas, razão pela qual pode ser eventualmente repetido; A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa; Esperamos que goste do conteúdo! 2 Assim, os assuntos de Direito Empresarial estão distribuídos da seguinte forma: CAPÍTULOS Capítulo 1 – Fundamentos e Teorias do Direito Capítulo 2 – Do Regime Jurídico da Empresa Capítulo 3 – Do Direito Societário Capítulo 4 – Das Sociedades Anônimas Capítulo 5 – Dos Contratos Empresariais Capítulo 6 – Da Crise na Empresa: Lei de Falências e de Recuperação Judicial Capítulo 7 (você está aqui!) – Dos Títulos de Créditos Capítulo 8 – Da Lei de Propriedade Industrial Capítulo 9 – Da Declaração de Direitos da Liberdade Econômica e da Lei Anticorrupção 3 SOBRE ESTE CAPÍTULO O presente capítulo vai tratar sobre os Títulos de Crédito, assunto muito relevante em Direito Empresarial, sobretudo para as provas de Juiz Estadual, de Defensor Público Estadual e para as carreiras da Advocacia Pública. O assunto é, como a maioria dos temas de Direito Empresarial, bastante voltado à Lei Seca. No entanto, o estudo da jurisprudência, sobretudo das súmulas do STJ, faz-se muito importante aqui. Vocês não devem se enganar: o tema é relativamente extenso. No entanto, recomendo fortemente que vocês estudem as características gerais do Código Civil, em oposição às previsões da Lei Uniforme de Genebra, pois isso vai garantir bons pontos em prova. Afinal, esses detalhes são bastante cobrados e farão toda a diferença em sua preparação. 4 SUMÁRIO DIREITO EMPRESARIAL ........................................................................................................................... 5 Capítulo 7 .................................................................................................................................................. 5 7. Títulos de Crédito ............................................................................................................................. 5 7.1 Origem Histórica ................................................................................................................................................... 5 7.2 Legislação aplicável .............................................................................................................................................. 8 7.3 Conceito .................................................................................................................................................................... 9 7.4 Características ...................................................................................................................................................... 12 7.5 Princípios ................................................................................................................................................................ 13 Literalidade............................................................................................................................................................ 13 Cartularidade ........................................................................................................................................................ 14 Autonomia ............................................................................................................................................................. 15 7.6 Classificação dos títulos de crédito ............................................................................................................ 18 7.7 Principais institutos cambiários .................................................................................................................... 22 7.8 Principais títulos de crédito em espécie .................................................................................................. 38 QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 58 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 62 GABARITO ............................................................................................................................................... 77 QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 78 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 79 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 81 JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 85 MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 89 5 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 7 Neste capítulo, estudaremos Direito Cambiário, tema de altíssima incidência no Exame da Ordem e em concursos públicos para o ingresso nas carreiras jurídicas, sobretudo da Magistratura Estadual, da Defensoria Pública Estadual e da Advocacia Pública, especialmente no que tange aos títulos em espécie e aos institutos do endosso e do aval. O tema não costuma ser muito querido pelos alunos, mas, como a maioria dos assuntos de Direito Empresarial, tem questões muito baseadas na lei seca e em súmulas, o que facilita muito o estudo e pode garantir preciosos pontos em prova. Vamos nessa?! 7. Títulos de Crédito 7.1 Origem Histórica Os títulos de crédito originaram-se, na Idade Média, tendo em vista que os comerciantes italianos não mais desejavam levar em suas viagens grandes quantidades de moeda e ao fato de que cada cidade podia cunhar a sua própria. Esses comerciantes, então, depositavam o valor de que necessitavam em um banco e este emitia documentos que consubstanciavam promessa ou ordem de pagamento e que, apresentados ao seu correspondente, autorizavam o recebimento da quantia neles mencionada, na moeda corrente no lugar da apresentação. 6 Surgiu, assim, o Direito Cambiário, definido como o ramo do Direito Empresarial que disciplina os títulos de crédito, que consubstanciam instrumentos de circulação de riqueza, tendo por função principal a de permitir que essa circulação ocorra de forma rápida e segura1. A doutrina divide a história do Direito Cambiário em quatro principais momentos. Em primeiro lugar, tivemos, conforme já apontado, o período italiano (até meados de 1650), no qual houve o surgimento dos Títulos de Crédito. Após este primeiro momento, existiu o período francês (de 1650data de emissão estampada na cártula``. Também em recurso especial repetitivo, decidiu o STJ: ``em ação monitória de cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável a menção do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula`` (REsp 1.094.571/SP). Finalmente, guarde um aspecto muito importante em relação ao cheque: prazo de apresentação e prazo de prescrição são coisas distintas. Enquanto o prazo de prescrição, contado a partir do término do prazo de apresentação do cheque, consiste no lapso temporal durante o qual pode ser executado o título, o prazo de apresentação serve para se marcar o período no qual podem ser executados os codevedores. De acordo com o art.33 da Lei 7.357/85, se o cheque for da ``mesma praça``, o prazo de apresentação é de 30 (trinta) dias. Por outro lado, se for ``de praças diferentes``, o prazo de apresentação será de 60 (sessenta) dias. Em ambos os casos, o prazo é contado da data de emissão. Há, na legislação, apenas um caso excepcional em que a perda do prazo de apresentação gera, de igual modo, a perda do direito de executar o próprio emitente, e não apenas o codevedor. É a situação mencionada no artigo 47, § 3º da Lei do Cheque: `` O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável``27. 27 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. PP.374- 376. 50 Duplicata A duplicata é título de crédito causal (diferentemente da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque), tendo em vista que só pode ser emitida na compra e venda mercantil ou na prestação de serviços28. Portanto, nenhum outro negócio jurídico admite a emissão da duplicata. Inclusive, neste exato sentido, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que é nula a duplicata emitida em virtude de contrato de leasing (REsp 202.068-SP)29. Além de ser um título causal, a duplicata é título de modelo vinculado, só podendo ser emitida com obediência rigorosa aos padrões de emissão estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional. De tal sorte, em todo o contrato de compra e venda mercantil, entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data de entrega ou despacho das mercadorias, emitirá o vendedor a respectiva fatura para apresentação ao comprador. No ato de emissão da fatura, dela poderá ser extraída duplicata para circulação (duplicata mercantil) (arts. 1º e 2º, Lei 5.474/68). As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, emitir fatura e duplicata (duplicata de serviços) (art. 20, Lei 5.474/68). 28 Vide questões 2 e 4. 29 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. PP.374- 376 51 Na hipótese de compra e venda mercantil, entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, a extração da fatura e sua apresentação ao comprador é obrigatória (art. 1º da Lei n.º 5.474/1968); já na compra e venda inferior a 30 (trinta) dias, ou no caso de prestação de serviços de qualquer valor, essa emissão é facultativa. A duplicata responde pela formação de 2 posições jurídicas, o sacador (emitente, credor, vendedor ou prestador de serviço) e o sacado (devedor, comprador ou tomador do serviço), consistindo em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor, em razão de mercadorias vendidas ou serviços prestados. Extraída a duplicata, esta deverá ser apresentada ao devedor no prazo de 30 dias a contar de sua emissão, devendo o devedor, quando a duplicata não for à vista, devolvê-la ao 52 apresentante no interregno de 10 dias, contados da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite (art. 7º, Lei 5.474/68). Na grande maioria dos casos, o sacador negocia suas duplicatas com instituições financeiras, recebendo adiantado uma quantia um pouco menor. Na data do vencimento das duplicatas, as instituições financeiras recebem o valor do sacado (considerando a pontualidade no pagamento). Requisitos formais da duplicata: Os requisitos formais da duplicata estão previstos no art. 2º, §1º, da Lei nº 5.474/68, quais sejam: Art. 2º § 1º A duplicata conterá: I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; II - o número da fatura; III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI - a praça de pagamento; VII - a cláusula à ordem; VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; IX - a assinatura do emitente. A duplicata está submetida às disciplinas do endosso, aceite e aval, na medida em que se transmite pelo endosso, completa-se pelo aceite e garante-se pelo aval. É importante destacar que o regime jurídico aplicável às duplicatas não admite a extração de duplicatas com vencimento a certo termo da vista, nem a certo termo da data. Portanto, o título em apreço só pode ser emitido com dia certo ou à vista. Trata-se, assim, de título estruturado como ordem de pagamento, cujo aceite é obrigatório. Todavia, o aceite obrigatório da duplicata de modo algum significa irrecusabilidade. 53 Essa obrigatoriedade do aceite apenas pressupõe a necessidade de justificativa plausível na hipótese de haver recusa (artigo 8º da Lei 5.474/1968). Finalmente, guarde que, na duplicata, o aceite pode ser expresso ou presumido. No segundo caso, o devedor recebe, sem reclamação, as mercadorias adquiridas e enviadas pelo credor (vendedor). A execução da duplicata com aceite expresso e com aceite presumido é distinta. No segundo caso, além da apresentação do título, são necessários o protesto e o comprovante de entrega das mercadorias, nos termos do art.15 da Lei 5.474/1968. Ao analisar a possibilidade de execução da duplicata sem aceite, o STJ é muito rigoroso, exigindo prova inequívoca do recebimento das mercadorias ou da efetiva prestação dos serviços (REsp 450.628/MG e REsp 68.735/AM). Por outro lado, o STJ também entende que a duplicata sem aceite, caso não se consiga demonstrar inequivocamente a entrega das mercadorias, pode embasar o ajuizamento da ação monitória (REsp 204.894/MG)30. Prescrição: A pretensão à execução da duplicata prescreve: 30 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. PP.374- 378. 54 I.Contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 anos, contados da data do vencimento do título; II.Contra endossante e seus avalistas, em 1 ano, contado da data do protesto; III.De qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 ano, contado da data em que haja sido efetuado o pagamento do título. Em 2018, foi publicada a Lei n.º 13.775, disciplinando a duplicata sob a forma escritural, também conhecida como duplicata virtual ou eletrônica. Trata-se de duplicata (mercantil ou de serviços, conforme Lei n.º 5.474/1968) emitida mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração, gerido por quaisquer das entidades que, autorizadas por órgão ou entidade da administração federal direta ou indireta, exerçam a atividade de escrituração de duplicadas escriturais,nos moldes descritos na Lei n.º 13.775/2018 (arts. 1º a 3º). Antes mesmo da edição da Lei n.º 13.775/2018, a duplicada virtual já era pacificamente aceita no ordenamento jurídico brasileiro, conforme entendimento do STJ (EREsp 1024691/PR). Diferentemente das duplicatas disciplinadas pela Lei n.º 5.474/1968 (com emissão de fatura e duplicata em papel), a duplicata escritural é operacionalizada por meio magnético (internet), com o envio, pelo vendedor ou prestador de serviços (emitente, sacador, credor), dos dados referentes ao negócio jurídico à uma instituição financeira. Com base nas informações recebidas, a instituição financeira encaminha para o comprador ou tomador de serviços (devedor, sacado) um boleto bancário para pagamento da obrigação decorrente do contrato. 55 A duplicata, nesse caso, não existe fisicamente, mas apenas em meio virtual. Até regulamentação por órgão ou entidade da administração federal, a apresentação da duplicata virtual deve ser feita em até 02 (dois) dias úteis, contados de sua emissão, em meio eletrônico (art. 12, § 1º, da Lei n.º 13.775/2018). O devedor pode recusar a duplicata, também por meio eletrônico, observando o prazo, as condições e os motivos previstos nos arts. 7º e 8º da Lei n.º 5.474/1968, ou aceitá-la no mesmo prazo acrescido de sua metade (art. 12, § 2º, da Lei n.º 13.775/2018). Duplicata Escritural Em 2018, foi publicada a Lei 13.775/2018, dispondo sobre a emissão de duplicata sob a forma escritural (também conhecida no mercado como duplicata eletrônica ou duplicata virtual). Ela será emitida mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração, gerido por quaisquer das entidades que exerçam a atividade de escrituração de duplicatas escriturais. Da lei em apreço, destacamos os seguintes dispositivos: Art. 4º Deverá ocorrer no sistema eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei, relativamente à duplicata emitida sob a forma escritural, a escrituração, no mínimo, dos seguintes aspectos: I — apresentação, aceite, devolução e formalização da prova do pagamento; II — controle e transferência da titularidade; III — prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval; 56 IV — inclusão de indicações, informações ou de declarações referentes à operação com base na qual a duplicata foi emitida ou ao próprio título; e V — inclusão de informações a respeito de ônus e gravames constituídos sobre as duplicatas. § 1º O gestor do sistema eletrônico de escrituração deverá realizar as comunicações dos atos de que trata o caput deste artigo ao devedor e aos demais interessados. § 2º O órgão ou entidade da administração federal de que trata o § 1º do art. 3º desta Lei poderá definir a forma e os procedimentos que deverão ser observados para a realização das comunicações previstas no § 1º deste artigo. § 3º O sistema eletrônico de escrituração de que trata o caput deste artigo disporá de mecanismos que permitam ao sacador e ao sacado comprovarem, por quaisquer meios de prova admitidos em direito, a entrega e o recebimento das mercadorias ou a prestação do serviço, devendo a apresentação das provas ser efetuada em meio eletrônico. § 4º Os endossantes e avalistas indicados pelo apresentante ou credor como garantidores do cumprimento da obrigação constarão como tal dos extratos de que trata o art. 6º desta Lei. Art. 7º A duplicata emitida sob a forma escritural e o extrato de que trata o art. 6º desta Lei são títulos executivos extrajudiciais, devendo-se observar, para sua cobrança judicial, o disposto no art. 15 da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968 . Para arrematarmos todo o estudo até aqui empreendido, trouxemos, a seguir, duas tabelas que sintetizam alguns dos principais conceitos que estudamos ao longo do presente capítulo. Veja: LETRA DE CÂMBIO NOTA PROMISSÓRIA CHEQUE DUPLICATA 57 ACEITE X X ENDOSSO X X X X AVAL X X X X TÍTULO À ORDEM X X X ORDEM PAGAMENTO X X X ABSTRAÇÃO (EMISSÃO) X X X REGIME JURÍDICO CAMBIÁRIO REGIME JURÍDICO CIVIL Aval => garantia cambial * específica para títulos de crédito Instrumento: próprio título Fiança => garantia contratual * específica para contratos Instrumento: pode ser em negócio separado Obrigação equivalente (total ou parcial) Não comporta benefício de ordem Obrigação acessória (total ou parcial) Admite benefício de ordem 58 QUADRO SINÓPTICO TÍTULO Origem Histórica A doutrina divide o histórico dos Direito Cambiário em quatro fases: 1) Período Italiano (até meados de 1650), no qual houve o surgimento dos Títulos de Crédito. 2) Período francês (de 1650 a 1848), quando surgiram a cláusula ``à ordem`` e o endosso. 3) Período alemão (1848 a 1930), notabilizada pela edição da Ordenação Geral do Direito Cambiário, diploma que apresentava normas gerais sobre letras de câmbio. 4) Período uniforme, iniciado em 1930. Nele, ganham ênfase a Convenção de Genebra e a subsequente aprovação, no mesmo ano, da Lei Uniforme das Cambiais, aplicável às letras de câmbio e às notas promissórias. A atualidade é marcada por relevante transição no Direito Cambiário, em virtude do surgimento da internet e do desenvolvimento tecnológico, com a consequente desmaterialização dos títulos. Legislação aplicável Na seguinte ordem, aplica-se a legislação dos títulos de crédito: 1) Leis especiais; 2) LUG; 3) Decreto nº 2.044/1908; 4) CC/02. 59 Conceito o De acordo com Cesare Vivante, trata-se do documento necess á rio para o exerc í cio do direito, literal e autônomo, nele mencionado. o Igual conceito foi adotado pelo art.887 do Código Civil. Características São 9 as principais características cambiárias, a saber: 1) Executoriedade; 2) Negociabilidade; 3) Circulabilidade; 4) “Pro solvendo”; 5) Para resgate; 6) Querable/Quesível: 7) Natureza jurídica de bem móvel; 8) Formal; 9) Eficácia processual abstrata. Princípios O Direito Cambiário rege-se por três princípios fundamentais: 1) Literalidade; 2) Cartularidade; 3) Autonomia (na qual se incluem a abstração e a inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé). Classificação dos títulos de crédito Existem quatro principais critérios de classificação dos títulos de crédito, conforme estudamos ao longo do presente capítulo. São eles: 1) Quanto ao modelo: Livre ou vinculado; 2) Quanto à estrutura: Ordem de pagamento e promessa de pagamento; 3) Quanto à circulação: Ao portador, nominativo, à ordem e não à ordem; 60 4) Quanto à emissão: causais e não causais. Principais institutos cambiários Estudamos quatro principais institutos cambiários ao longo do presente capítulo. A seguir, listaremos cada um com o respectivo conceito: 1) Aceite: ato formal pelo qual o sacado se obriga a efetuar o pagamento da ordem que lhe é dada, transformando-se em devedor principal. 2) Aval: uma garantia cambial firmada por um avalista (que pode ser um terceiro estranho ao t í tulo ou mesmo algu é m a este j á atrelado) ao avalizado (pessoa cuja obrigação é garantida), garantindo o pagamento do título. 3) Endosso: é uma forma de transferência do direito ao valor constante do título, a partir da assinatura do seu possuidor no próprio título (embora na letra de câmbio o endosso possa ser lançado no próprio título ou em uma declaração anexa, quando falte espaço na cártula). 4) Protesto: É o ato formal e solene através do qual se apresenta publicamente o título ao devedor, para que este promova o seu pagamento ou o aceite, servindo como prova da inadimplência o descumprimento de obrigação originada em títulos (como uma letra de câmbio) ou outros documentos de dívida (como um contrato de aluguel), (art. 1º da Lei 9.492/1997 – Lei de Protesto de Títulos e outros documentos de dívida Principais títulosde crédito em espécie Foram destacadas, no presente capítulo, quatro espécies de títulos de crédito, a saber: 1) Letra de câmbio: Trata-se de título de crédito que estabelece uma ordem de pagamento (“à ordem”), criado mediante “saque” (emissão), que responde pela formação de três posições jur ídicas, quais sejam sacador (emitente do título), sacado (aquele 61 contra quem se emite o t í tulo) e tomador (o beneficiário do título). 2) Nota Promissória: É uma promessa de pagamento, a partir da qual uma pessoa se compromete a pagar quantia determinada a outra. 3) Cheque: É uma ordem de pagamento em dinheiro e à vista (natureza do cheque), sacada contra um banco ou instituição financeira, em virtude dos fundos que o emitente possui naquele banco ou instituição financeira. 4) Duplicata: título de crédito causal, tendo em vista que só pode ser emitida em razão da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços. 62 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (FGV -2018) Três Coroas Comércio de Artigos Eletrônicos Ltda. subscreveu nota promissória em favor do Banco Dois Irmãos S.A. com vencimento a dia certo. Após o vencimento, foi aceita uma proposta de moratória feita pelo devedor por 120 (cento e vinte) dias, sem alteração da data de vencimento indicada no título. O beneficiário exigiu dois avalistas simultâneos, e o devedor apresentou Montenegro e Bento, que firmaram avais em preto no título. Sobre esses avais e a responsabilidade dos avalistas simultâneos, assinale a afirmativa correta. a) Por ser vedado, no direito brasileiro, o aval póstumo, os avais simultâneos são considerados não escritos, inexistindo responsabilidade cambial dos avalistas. B) O aval lançado na nota promissória após o vencimento ou o protesto tem efeito de fiança, respondendo os avalistas subsidiariamente perante o portador. C) O aval póstumo produz os mesmos efeitos do anteriormente dado, respondendo os avalistas solidariamente e autonomamente perante o portador. D) O aval póstumo é nulo, mas sua nulidade não se estende à obrigação firmada pelo subscritor (avalizado), em razão do princípio da autonomia. Comentário: Gabarito: letra ``c``. Inicialmente frisamos que, apesar de a questão em tela não possuir grande complexidade e ser da prova do exame de ordem (e não de alguma carreira jurídica), ela versa sobre o instituto cambiário do aval, muito recorrente em provas. Por este motivo, foi trazida a questão e você, caro aluno(a), deve ter atenção redobrada quando o tema for aval! Prosseguindo... A questão versa sobre o aval, com destaque para duas espécies: o aval póstumo e o aval simultâneo. 63 O aval póstumo é aquele realizado após o vencimento do título. Embora haja divergência doutrinária acerca da sua validade, o Código Civil reconhece a sua existência e a ele atribui todos os efeitos do aval dado antes do vencimento do título, conforme art. 900 do CC. Por aval simultâneo entende-se aquele em que duas ou mais pessoas avalizam um título de crédito em conjunto, garantindo uma mesma obrigação cambial, pela qual se obrigam solidariamente. Feitos os devidos esclarecimentos, observa-se que a situação narrada no enunciado é de aval simultâneo e póstumo. Assim, ainda que dado após o vencimento do título, o aval em questão é válido e produz todos os efeitos do anteriormente dado, de modo que os avalistas simultâneos estão solidariamente obrigados perante o portador. Questão 02 (FGV – 2018) Assinale a afirmativa incorreta. a) O comprador poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; vícios, desfeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; divergência nos prazos ou nos preços ajustados. b) A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão de iliquidez do título que a originou. c) Uma nota promissória pode ser sacada à vista, a um certo termo de vista, a um certo termo de data e pagável num dia fixado, com vencimentos diferentes e sucessivos; d) O avalista do título de crédito tem direito de regresso para cobrar o valor pago em face de qualquer obrigado anterior, em razão da solidariedade do direito cambiário. e) O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta corrente, não é título executivo. Comentário: 64 Gabarito: letra ``C`` (incorreta). Inicialmente frisamos que, apesar de a questão em tela não possuir grande complexidade e ser da prova do exame de ordem (e não de alguma carreira jurídica), ela versa sobre institutos cambiários de altíssima incidência em provas de concursos públicos. Por este motivo, foi trazida a questão e você, caro aluno(a), deve ter atenção redobrada! Sobre a alternativa incorreta (gabarito da questão), ressaltamos que a nota promissória não pode ter vencimentos diferentes e sucessivos, sob pena de nulidade, conforme art. 33 e 77 da LUG. A) CORRETA. Veja o Artigo 8º da Lei 5.474/68. B) CORRETA. Neste sentido, a súmula 258 do STJ. C) INCORRETA. D) CORRETA. O avalista que paga o título tem direito de regresso contra o avalizado e qualquer coobrigado anterior, conforme art. 899, §1º, do CC/02. E) CORRETA. Neste sentido, a súmula 233 do STJ. Questão 03 (FGV - 2018) Em relação aos títulos de crédito, assinale a afirmativa incorreta. E) O título de crédito emitido em branco ou incompleto pode ser completado pelo credor de boa-fé, antes da ação de execução ou protesto. F) O endosso parcial é considerado como não escrito. G) O saque de uma letra de câmbio é considerado declaração originária e necessária à constituição do crédito. H) O endosso parcial é considerado nulo. I) O endosso impróprio transfere o exercício dos direitos inerentes à cambial. Comentário: 65 Gabarito: letra “B” (Incorreta). Inicialmente frisamos que, apesar de a questão em tela não possuir grande complexidade e ser da prova do exame de ordem (e não de alguma carreira jurídica), ela versa sobre institutos cambiários de altíssima incidência em provas de concursos públicos. Por este motivo, foi trazida a questão e você, caro aluno(a), deve ter atenção redobrada, sobretudo com o tema ``endosso``, queridinho das bancas! A letra ``b`` é a alternativa incorreta e responde a questão, pois o endosso parcial é nulo, conforme art. 912, parágrafo único, do CC e art. 12 da LUG. Vejamos, adiante, as demais alternativas. A) CORRETA. Observar a súmula 387 do STF e o artigo 891 do Código Civil de 2002. B) INCORRETA. C) CORRETA. Deve-se lembrar que o saque corresponde à emissão do título. D) CORRETA. Nos termos do artigo 912, parágrafo único, do Código Civil e do artigo 12 da LUG. E) CORRETA. O endosso impróprio diz respeito ao endosso-mandato e ao endosso- caução, conforme art. 18 e 19 da LUG; Questão 04 (FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto) De acordo com a Lei n° 5.474/1968, que dispõe sobre as duplicatas, A) é vedado ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la. B) o pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, mas o aval dado posteriormente ao vencimento do título não produz efeitos. C) não se incluirão, no valor total da duplicata, os abatimentos de preços das mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura. D) a duplicata não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento. E) as fundações, mesmo que se dediquem à prestação de serviços, não podem emitir duplicata. 66 Comentário: Gabarito: alternativa “C”. A letra ``C`` é a resposta da questão, pois a Lei 5.474/68, em seu artigo 3º, § 1º estabelece o seguinte: ``Não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento,desde que constem da fatura``. Sobre as demais alternativas, vejamos: A) INCORRETA. De acordo com a Lei 5.474/68, em seu artigo 9º: É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento. B) INCORRETA. De acordo com a Lei 5.474/68, em seu artigo 12: O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o avalista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora desses casos, ao comprador. Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos que o prestado anteriormente à quela ocorrência. C) CORRETA. D) INCORRETA. Conforme o artigo 11 da Lei das Duplicatas: ̀ `A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com poderes especiais. Parágrafo único. A reforma ou prorrogação de que trata este artigo, para manter a coobrigação dos demais intervenientes por endosso ou aval, requer a anuê ncia expressa destes``. E) INCORRETA. Consoante o artigo 20 da Lei das Duplicatas: ``As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata``. Questão 05 67 (FUNDEP (Gestão de Concursos) – 2018) Quanto aos títulos de crédito, é correto afirmar: A) Os títulos de crédito podem ser à ordem ou não à ordem. Os primeiros circulam pela tradição com mera cessão civil de crédito; os últimos, mediante tradição com endosso, sendo certo que a cláusula não à ordem precisa ser explicitada. B) Na nota promissória, intervêm fundamentalmente três pessoas: sacador ou emissor, que é a pessoa que dá a ordem de pagamento; sacado, pessoa que, aceitando a nota, deve pagar seu valor; e tomador, que é a pessoa que recebe a nota promiss ória do sacador e pode cobrá-la no vencimento, ou seja, a pessoa a quem a nota deve ser paga. C) O cheque é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo, sobre quantia determinada, emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente ou oriundos de abertura de crédito. D) A omissão, pelo devedor, de quaisquer indicações pode ser completada pelo portador, até o momento de fazer valer publicamente o título, ou seja, no fim da circulação ou no momento de ingressar em juízo para a cobrança executiva. Comentário: Gabarito: letra “D”. A letra ``D`` é o gabarito da questão, uma vez que, conforme entendimento da Súmula 387 do STF: "a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto". Quanto às demais alternativas, vejamos: A) INCORRETA. A assertiva inverteu os conceitos. Os t ítulos de crédito à ordem circulam mediante tradição com endosso (assinatura no verso ou anverso do título); já os títulos não à ordem circulam pela tradição com mera cessão civil de crédito. B) INCORRETA. A assertiva se refere à letra de câmbio e não à nota promissória. C) INCORRETA. Afinal, o cheque é ordem de pagamento à vista, e não a prazo Questão 06 68 (VUNESP - Juiz Substituto – TJRJ – 2019) Considere a seguinte situação hipotética: Eva comprou mercadorias em uma loja popular e emitiu um cheque do Banco Bradesco em 10 de outubro, preenchendo a data de emissão correta, mas combinando oralmente com a vendedora que ela deveria depositá-lo apenas em 01 de novembro do mesmo ano. A vendedora endossa o cheque emitido por Eva a um de seus fornecedores, sem mencionar o que fora verbalmente combinado. O endossatário apresenta o título ao Banco Bradesco antes de 01 de novembro. O cheque é devolvido por insuficiência de fundos, e o nome de Eva é inserido no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) pelo Banco do Brasil, gestor do referido cadastro, sem que este a notifique previamente. Diante do exposto, assinale a alternativa correta. 8.5 A devolução do cheque por insuficiência de fundos implica em responsabilização tanto da vendedora perante Eva, quanto do Banco do Brasil, pela inserção do nome de Eva no CCF sem prévia notificação. 8.6 A apresentação do cheque ao Banco Bradesco pelo fornecedor antes da data combinada entre Eva e a vendedora caracteriza dano moral imputável ao fornecedor. 8.7 As ações do Banco do Brasil e do fornecedor endossatário não caracterizam dano moral. 8.8 A devolução do cheque por insuficiência de fundos não implica em responsabilização do Banco Bradesco por dano moral, mas a inserção do nome de Eva no CCF sem prévia notificação pelo Banco do Brasil caracteriza dano moral, imputável a este. 8.9 A devolução do cheque por insuficiência de fundos pelo Banco Bradesco foi indevida, caracterizando dano moral. Comentário: Gabarito: alternativa “C”. O gabarito é a alternativa ``C``, pois a pré-datação não constava escrita no t ítulo (literalidade) e o fornecedor endossatário não tinha o conhecimento do acordo oral feito entre a Eva e a loja. Logo, em razão da boa-fé , o fornecedor endossatá rio não poderia ser responsabilizado, em virtude do princípio da literalidade. Conforme mencionado, também, não há responsabilidade do Banco do Brasil, Súmula 572 do STJ. 69 A) INCORRETA. A segunda parte da assertiva, que fala da responsabilidade do Banco do Brasil, contraria a súmula 572 do STJ: “O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação``. B) INCORRETA. O fornecedor endossatário (que é aquele a quem o título foi endossado) não participou da relação contratual entre a Eva e a Loja e nem tomou conhecimento do acordo verbal feito entre elas. C) CORRETA D) INCORRETA. Em sentido contrário à assertiva, temos a súmula 572 do STJ, mencionada no comentário da letra ``A``. E) INCORRETA. A devolução do cheque pelo Bradesco, por si só, não caracteriza dano moral, uma vez que não existiam fundos suficientes na conta do correntista, razão pela qual se tem como legítima da devolução do cheque. Contudo, com base no princípio da boa-fé objetiva, poderia haver responsabilização civil do lojista, exclusivamente, uma vez que o acordo para apresentação do cheque foi feito de forma oral, não contendo qualquer menção a ele na literalidade da cártula. Questão 07 (CEBRASPE – 2016) No que concerne ao direito empresarial em sentido amplo, julgue o item a seguir. A doutrina relativa ao direito cambiário trata do princípio da abstração, um subprincípio derivado do princípio da autonomia, que destaca a ligação entre o título de crédito e o fato jurídico que deu origem à obrigação que ele representa. CERTO ERRADA 70 Comentário: Gabarito: CERTO Conforme Fábio Ulhôa Coelho, "O subprincípio da abstração é uma formulação derivada do princípio da autonomia, que dá relevância à ligação entre o título de crédito e a relação, ato ou fato jurídico que deram origem à obrigação por ele representada." A redação da assertiva foi bastante criticada, pois muitos entenderam justamente que o princípio da autonomia implicava em ligação entre o título de crédito e o fato jurídico que deu origem à obrigação por ele representada, o que estaria errado. No entanto, o ``destacar`` utilizado pelo CEBRASPE foi utilizado justamente para demonstrar o distanciamento entre o título e o negócio jurídico que lhe originou. Questão 08 (CEBRASPE – 2016) No que concerne ao direito empresarial em sentido amplo, julgue o item a seguir. A promoção prévia de protesto válido do título é condição para que o credor de título de cré dito válido movauma ação de execução contra o devedor principal. CERTO ERRADO Comentário: Gabarito: ERRADO Para o credor exigir judicialmente do aceitante ou do seu avalista a dívida cambiária não é necessário o prévio protesto do título. Esse é o entendimento da jurisprudência, vez que o 71 protesto aqui é facultativo ou probat ó rio, interessa apenas para provar a mora do sacado/avalista. Questão 09 (CEBRASPE – 2015) Acerca da letra de câmbio, julgue o item a seguir. A regra de que o aceite na letra seja somente praticado pelo sacado não é absoluta, uma vez que a Lei Uniforme acata o aceite por intervenção, diante da falta ou recusa do aceite pelo sacado, após o protesto; um terceiro, não nomeado pelo sacado, poderá́ aceitar a letra, desde que o portador da letra concorde. CERTO ERRADO Comentário: Gabarito: CERTO A responsabilidade cambial do interveniente mencionado na assertiva é equiparada à do sacado que aceita. Nesse sentido, o Decreto Lei 2.044, em seu artigo 24, dispõe: “no ato do protesto pela falta ou recusa do aceite, a letra pode ser aceita por terceiro, mediante a aquiesc ência do detentor ou portador.” Questão 10 (CEBRASPE – Delegado – DPF – 2013) De acordo com a legislação empresarial vigente, julgue o item a seguir. O denominado cheque pré-datado, apesar de usual no comércio brasileiro, não está previsto na legislação, segundo a qual o cheque é uma ordem de pagamento à vista, estando a instituição 72 bancária obrigada a pagá-lo no ato de sua apresentação, de modo que a instituição não pode ser responsabilizada pelo pagamento imediato de cheques datados com lembrete de desconto para data futura. CERTO ERRADO Comentário: Gabarito: Certo A Lei 7.357/85, no art. 32, determina que o cheque é uma ordem de pagamento à vista, considerando-se não escrita qualquer cláusula em sentido diverso. Por isso, a instituição financeira deve pagar o título a qualquer momento. Nesse sentido, o STJ entende que a Súmula 370, cujo enunciado diz que “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré -datado”, não é aplicável à instituição financeira que realizou o regular pagamento e sim ao apresentante (credor) do cheque. Questão 11 (CEBRASPE – Juiz de Direito Substituto – TJ/PA – 2019) À luz das disposições do Código Civil sobre títulos de crédito, assinale a opção correta. A) O pagamento de título de crédito que contenha obrigação de pagar soma determinada pode ser, no todo ou em parte, garantido por aval. B) O endossatário-pignoratício poderá endossar novamente o título apenas mediante endosso-mandato. C) São válidos os títulos ao portador atípicos. D) O endosso posterior ao vencimento do título produz os mesmos efeitos de uma cessão ordinária de direitos (cessão civil). 73 E) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, implicará a invalidade também do negócio jurídico que lhe tiver dado origem. Comentário: Gabarito: letra ``B`` O gabarito é a letra ``b``, pois o endossatário-pignoratício poderá endossar novamente o título apenas mediante endosso-mandato. Assim prevê o artigo 918 do Código Civil: A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título. §1º O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador. Vejamos, a seguir, as demais alternativas: 8.10 ERRADA. O pagamento de título de crédito que contenha obrigação de pagar soma determinada pode ser, no todo ou em parte, garantido por aval. Errada. Neste sentido, o artigo 897 do Código Civil. 8.11 CORRETA. 8.12 ERRADA. São válidos os títulos ao portador atípicos. Neste sentido, o artigo 907 do Código Civil: É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial. 8.13 ERRADA. O endosso posterior ao vencimento do título produz os mesmos efeitos de uma cessão ordinária de direitos (cessão civil). Vejamos, no sentido aqui apontado, dispositivos do Código Civil e da LUG: Art. 919. A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil. Art. 920. O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior. LUG - Art. 20. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. 74 8.14 A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, implicará a invalidade também do negócio jurídico que lhe tiver dado origem. Assim prevê o artigo 888 do Código Civil: ``A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem``. Questão 12 (VUNESP – 2019) Sobre o aval e a fiança mercantil, é correto afirmar: A) aval e fiança são garantias pessoais equivalentes; tanto em uma como em outra o garantidor assume a obrigação de adimplir a obrigação garantida (avalizada ou afiançada) em caso de inadimplemento do devedor principal. B) avalista e fiador fazem jus ao benefício de ordem, embora em ambos os casos tal benefício possa ser renunciado. C) a invalidade da obrigação original compromete como regra a validade da fiança, mas não a validade do aval. D) tanto os direitos conferidos pelo aval como os direitos conferidos pela fiança podem ser transferidos indistintamente pela cessão do crédito ou pelo seu endosso. E) a invalidade da obrigação original compromete como regra a validade do aval, mas não a validade da fiança. Comentário: Gabarito: Letra ``C``. O gabarito é a letra ``c``, pois no aval as obrigações autônomas. A obrigação do avalista se mantém, ainda que a do seu avalizado seja nula, exceto por vício de forma. Já na fiança o 75 contrato de fiança é acessório. Nesse caso, se a obrigação do afiançado for nula, a do fiador também será. (art. 824, CC). Nesse sentido art. 824, CC “as obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor". Sobre as demais alternativas, vejamos: A) ERRADA. O aval e a fiança não são garantias pessoais e equivalentes. A obrigação do avalista, em relação aos demais coobrigados, é solidária. Já na fiança a obrigação do fiador é subsidiaria com o seu afiançado. B) ERRADA. No aval a solidariedade é cambial, pode-se demandar individualmente ou solidariamente todos da cadeia cambial, seja devedor direito ou indireto. Não há benefício de ordem. C) CORRETA. D) ERRADA. Tanto os direitos conferidos pelo aval como os direitos conferidos pela fiança podem ser transferidos indistintamente pela cessão do crédito ou pelo seu endosso. Entretanto, guarde que não se pode confundir os conceitos de endosso, cessão de crédito, aval e fiança. O Aval é um instituto próprio do direito cambiário (natureza comercial), aplica-se aos títulos de créditos. Já a fiança (natureza civil ou comercial) é um instituto próprio do direito civil, garante qualquer obrigação. O endosso por sua vez é o instituto voltado a transferência do título, capaz de fazer circular o crédito. É aplicado apenas aos títulos de crédito, que circulam mediante cláusula a ordem. Já a cessão de crédito é um instituto voltado para direito civil, apesar de também poder ser utilizado para circulação dos títulos de crédito não ordem. E) ERRADA. No aval as obrigações são autônomas e independentes entres si. A obrigação do avalista se mantém, ainda que a do seu avalizado seja nula, exceto por vício de forma. Então a invalidade da obrigação original não compromete como regra a validade do aval. Já na fiança o contratode fiança é acessório. Nesse caso, se a obrigação do afiançado for nula, a do fiador também será. (art. 824, CC) Nesse sentido art. 824, CC “as obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor". 76 77 GABARITO Questão 1 - B Questão 2 - A Questão 3 - B Questão 4 - C Questão 5 - D Questão 6 - C Questão 7 - Certa Questão 8 - Errada Questão 9 - Certa Questão 10 - Certa Questão 11 - B Questão 12 - C 78 QUESTÃO DESAFIO Quanto ao aval, se houver o falecimento do avalista antes do vencimento do título de crédito, o que ocorre com a obrigação assumida? 79 GABARITO QUESTÃO DESAFIO Resposta Esperada: Segundo a jurisprudência do STJ, mesmo que a morte tenha ocorrido antes do vencimento do título, o falecimento do avalista causa uma transmissão da obrigação para os herdeiros. Resposta do Professor: O aval é uma garantia tipicamente cambiária pela qual, de forma autônoma, alguém se compromete a cumprir obrigação de pagamento nas mesmas condições do obrigado que ele avaliza. Por também ser uma garantia pessoal, algumas vezes é confundida com a fiança, prevista no art. 827 do Código Civil, porém são institutos que comportam diversas diferenças. Vejamos como diferencia o autor Ricardo Negrão (NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 312-312.): “Distinção entre aval e fiança: • A fiança é negócio jurídico bilateral e, como tal, ligado a uma causa contratual; o aval é declaração de vontade cambial, abstrata.• O aval é sempre prestado no título cambiário e se declarado fora dele não se presta à sua função. • O fiador dispõe de benefício de ordem, como devedor subsidiário, isto é, pode exigir que primeiro sejam executados os bens do devedor para depois serem executados seus próprios bens (CC, art. 827); o avalista ostenta, na linha de devedores do título, posição igual a do avalizado e, como tal, o portador pode empregar contra ele o mesmo direito que detém em relação ao avalizado, acionando-o em conjunto com aquele ou separadamente, independentemente de obediência a qualquer ordem ou excussão prioritária de bens (LUG, art. 47). • O fiador que paga integralmente a dívida pode demandar a cada um dos outros fiadores 80 pela respectiva cota (CC, art. 831); no aval esta situação somente ocorre em avais simultâneos, isto é, na hipótese de um mesmo devedor estar garantido por mais de um avalista. Ao contrário da fiança, que com a morte do fiador a obrigação só se transfere aos herdeiros se ele já tiver assumido a obrigação antes do falecimento (art. 836 do Código Civil), o aval permite que a obrigação seja passada aos herdeiros mesmo que o falecimento do avalista tenha ocorrido antes do vencimento do título, conforme REsp 260.004/SP. O autor Edilson Enedino das Chagas explica (CHAGAS, E. E. D. Direito Empresarial Esquematizado . 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 389-389.): “Também se distinguem porque a obrigação do avalista se transfere aos herdeiros , nos limites da herança. A obrigação não se extingue automaticamente com a morte do avalista. Com o falecimento, haverá uma transmissão anômala da obrigação aos herdeiros, mesmo que o óbito tenha ocorrido antes do vencimento do título.”. 81 LEGISLAÇÃO COMPILADA ORIGEM HISTÓRICA Código Civil: o Art.889, parágrafo 3º. – MUITO IMPORTANTE LEGISLAÇÃO APLICÁVEL Código Civil: o Art.887. – MUITO IMPORTANTE Lei Uniforme de Genebra (LUG): o Art.30. – MUITO IMPORTANTE CONCEITO Código Civil: o Art.887. – MUITO IMPORTANTE Código de Processo Civil: o Art.784. – MUITO IMPORTANTE CARACTERÍSTICAS Código Civil: o Art.82; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.84; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.889. – MUITO IMPORTANTE Código de Processo Civil: o Art.784,I. – MUITO IMPORTANTE PRINCÍPIOS Código Civil: o Art.915; - MUITO IMPORTANTE o Art.916. – MUITO IMPORTANTE 82 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO Código Civil: o Art.904; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.905; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.906; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.907; - MUITO IMPORTANTE o Art.908; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.909. - MÉDIA IMPORTÂNCIA Lei Uniforme de Genebra: o Art.10. – MUITO IMPORTANTE PRINCIPAIS INSTITUTOS CAMBIÁRIOS Código Civil: o Art.75; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.202,III; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.327; - MUITO IMPORTANTE o Art.897; - MUITO IMPORTANTE o Art.1647,III; - MÉDIA IMPORTÂNCIA Lei Uniforme de Genebra: o Art.12; - MUITO IMPORTANTE o Art.30; - MUITO IMPORTANTE Lei 5.474/1968: o Art.2º, parágrafo 1º; - MUITO IMPORTANTE o Art.8º; - MUITO IMPORTANTE o Art.15. – MUITO IMPORTANTE Decreto 2.044/1908: o Art.8º, parágrafo 3º. – MUITO IMPORTANTE Lei 9.492/97: o Art. 1º. – MUITO IMPORTANTE Lei 13.775/2018: o Art.7º. – MUITO IMPORTANTE 83 PRINCIPAIS TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE Código Civil: o Art.891; - MUITO IMPORTANTE Lei Uniforme de Genebra: o Art.1º; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.75; - MUITO IMPORTANTE o Art.77. - MUITO IMPORTANTE Lei 5.474/1968: o Art.1º; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.2º; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.7º; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.8º; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.15; - MUITO IMPORTANTE o Art.20. - MUITO IMPORTANTE Lei 7.353/1985: o Art.1º; - POUCA IMPORTÂNCIA o Art.9º; - MÉDIA IMPORTÂNCIA o Art.33; MUITO IMPORTANTE o Art.46; - MUITO IMPORTANTE o Art.47, parágrafo 3º. - MUITO IMPORTANTE Lei 13.775/2018: o Art.1º; - POUCO IMPORTANTE o Art.2º; - POUCO IMPORTANTE o Art.3º. – MÉDIA IMPORTÂNCIA Lei/Artigos Súmulas do STF 84 o Súmula 189: Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos. o Súmula 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto. o Súmula 600: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária. Súmulas do STJ o Súmula 16: A legislação ordinária sobre crédito rural não veda a incidência da correção monetária. o Súmula 26: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário. o Súmula 60: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste. o Súmula 93: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros. o Súmula 299: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito. o Súmula 248: Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência. o Súmula 370: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. o Súmula 475: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. o Súmula 476: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. o Súmula 503: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula. o Súmula 504: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título. o Súmula 531: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente,é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. 85 JURISPRUDÊNCIA OPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS EM CHEQUE PRESCRITO REsp 1669968/RO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/10/2019, DJe 11/10/2019 DIREITO EMPRESARIAL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE OU ERRO MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO. PERDA DOS ATRIBUTOS CAMBIÁRIOS. POSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO DA CAUSA DEBENDI. 1. Ação monitória fundada em cheques prescritos. 2. Ação ajuizada em 16/04/2013. Recurso especial concluso ao Gabinete em 22/05/2017. Julgamento: CPC/2015. 3. O propósito recursal, além de analisar acerca da ocorrência de negativa de prestação jurisdicional, é definir se, na hipótese, é aplicável o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao recorrente - portador dos cheques e terceiro de boa-fé. 4. Não há que se falar em violação do art. 1.022 do CPC/2015 quando o Tribunal de origem, aplicando o direito que entende cabível à hipótese, soluciona integralmente a controvérsia submetida à sua apreciação, ainda que de forma diversa daquela pretendida pela parte. 5. Nos termos do art. 25 da Lei 7.357/85, quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor, isto é, salvo se constatada a má-fé do portador do título. 6. Na hipótese dos autos, contudo, verifica-se que os cheques, que embasaram o ajuizamento da ação monitória, já estavam prescritos, não havendo mais que se falar em manutenção das suas características cambiárias, tais quais a autonomia, a independência e a abstração. 7. Perdendo o cheque prescrito os seus atributos cambiários, dessume-se que a ação monitória neste documento fundada admitirá a discussão do próprio fato gerador da obrigação, sendo possível a oposição de exceções pessoais a portadores precedentes ou mesmo ao próprio emitente do título. 8. Recurso especial conhecido e não provido, com majoração de honorários. 86 No caso concreto que originou o presente julgado, um sujeito X contratou Y para realizar determinado serviço. Ficou combinado que X iria pagar o valor do serviço em 5 cheques “pré- datados” (pós-datados), que deveriam ser descontados um em cada mês. Y não cumpriu sua parte no acordo, razão pela qual X determinou ao banco a sustação dos cheques, nos termos do art. 36 da Lei nº 7.357/85 (Lei do Cheque): Art. 36. Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito. Para piorar a situação, Y repassou os cheques sustados, como forma de pagamento, para Z. Assim, Z adquiriu, de boa-fé, os cheques de Y por meio de endosso. Z tentou sacar os cheques, mas não conseguiu recebê-los em virtude de estarem sustados. Diante disso, Z procurou um advogado para saber sobre seus direitos. O advogado verificou que Z demorou muito para agir e, portanto, os cheques já estavam prescritos. Mesmo assim, haveria uma solução: Z poderia ajuizar uma ação monitória contra X, a emitente dos cheques. Assim, Z, portador das cártulas já prescritas, ingressou com ação monitória contra a emitente. A emitente X alegou, em contestação, que o valor dos cheques não poderia ser pago, pois os serviços foram prestados. Trouxe à tona, portanto, o que, em Direito Cambiário, é conhecido como ``exceção pessoal``. Relembre, aqui, conforme vimos ao longo de nosso estudo, que, em virtude do princípio da autonomia, as exceções pessoais não são cabíveis, em regra, nos títulos de crédito. Na 87 verdade, de acordo com o artigo 916 do Código Civil, tais exceções somente podem ser alegadas na hipótese de boa-fé. Ocorre que, no presente caso, Z não agiu de má-fé e, por isso, afirmou que a exceção trazida por X não seria cabível, até porque desconhecia, à época da cobrança, que os cheques tinham sido sustados. Ao apreciar a controvérsia, o STJ entendeu que X tinha razão. É que, para a Corte, como os cheques já estavam prescritos, haviam perdido a característica da autonomia (e da consequente inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé), comum aos títulos de crédito. Portanto, no julgado aqui analisado, decidiu-se que é possível a oposição de exceções pessoais ao portador de cheque prescrito. 88 MAPA MENTAL 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a3842ed7b3d0fe3ac263bcab d2999790?categoria=8&subcategoria=66. Acesso em: 20/02/21. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2020. CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Jus Podivm, 2019. FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020. PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.a 1848), quando surgiram a cláusula ``à ordem`` e o endosso. A terceira etapa histórica corresponde ao período alemão (1848 a 1930), notabilizada pela edição da Ordenação Geral do Direito Cambiário, diploma que apresentava normas gerais sobre letras de câmbio. O quarto momento ficou conhecido como período uniforme, iniciado em 1930. Nele, ganham ênfase a Convenção de Genebra e a subsequente aprovação, no mesmo ano, da Lei Uniforme das Cambiais, aplicável às letras de câmbio e às notas promissórias. Para finalizar, destacamos que a atualidade é marcada por relevante transição no Direito Cambiário, em virtude do surgimento da internet e do desenvolvimento tecnológico, com a consequente desmaterialização dos títulos2. Apenas para que fique mais claro o que estudamos no presente tópico, veja o seguinte esquema: 1 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.337. 2 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.342. 7 Uma das grandes novidades do Código Civil de 2002 foi a permissão expressa, trazida no art.889, parágrafo 3º, de que sejam emitidos títulos de crédito a partir dos caracteres criados em computador ou em meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente. No mesmo sentido, foram editados os enunciados 460 e 461 da Jornada de Direito Civil do CJF e o STJ decidiu pela validade da chamada duplicata virtual (EREsp 1.024.691/PR e AgRg 1.559.824/MG)3. 3 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.349. 1) Período Italiano: surgimento dos títulos de crédito 2) Período Francês: cláusula à ordem e endosso 3) Período Alemão: edição da Ordenação Geral do Direito Cambiário 4) Período Uniforme: Convenção de Genebra e Lei Uniforme de Genebra (LUG) Fases do Direito Cambiário 8 7.2 Legislação aplicável Quanto à sua disciplina legal no Direito Brasileiro, deve ser observada a seguinte sequê ncia, passando-se ao seguinte caso não haja o anterior ou se este for omisso: 1) Leis especiais; 2) LUG; 3) Decreto nº 2.044/1908; 4) CC/02. Conforme será também mencionado adiante, o Código Civil traz disposições residuais, aplicáveis apenas caso o título não apresente legislação específica ou na hipótese de omissão ou lacuna legal. Neste sentido, veja o que estabelece o enunciado 52 das Jornadas de Direito Civil: ``as disposições relativas aos títulos de crédito do Código Civil aplicam-se àqueles regulados por leis especiais, no caso de omissão ou lacuna``4. Por isso que, por exemplo, a famosa regra do art. 897, parágrafo único do Código Civil, que veda o aval parcial, somente se aplica a títulos atípicos/inominados, não se aplicando, pois, aos títulos típicos/nominados, uma vez que a LUG admite o aval parcial em seu art.30. Fizemos, a seguir, um quadrinho comparativo entre o Código Civil e a LUG no que concerne a alguns dos principais institutos do Direito Cambiário. Guarde com muito carinho o comparativo, pois ele vai ser essencial nos seus estudos/ revisões! Código Civil LUG É nulo o endosso parcial É nulo o endosso parcial 4 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.346. 9 Salvo cláusula em contrário, o endossante não responde pelo cumprimento da obrigação constante do título. Endossante é garante da aceitação e do pagamento da letra. Artigo 920 do Código Civil - O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior. Artigo 20 da Lei Uniforme de Genebra - Endosso posterior ao protesto por falta de pagamento ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. Artigo 897, parágrafo único do Código Civil - Vedação do aval parcial. Artigo 30 da Lei Uniforme de Genebra - O pagamento de uma letra pode ser, no todo ou em parte, garantido por aval. A obrigação do avalista subsiste no caso de nulidade da obrigação principal, SALVO o caso de vício de forma. A obrigação do avalista subsiste no caso de nulidade da obrigação principal, SALVO o caso de vício de forma. Títulos ATÍPICOS - Necessidade de outorga uxória, salvo se casados em separação obrigatória de bens (STJ). Aplicação do artigo 1647, III, do CC. Títulos TÍPICOS - Desnecessária a outorga uxória. 7.3 Conceito O conceito mais recorrentemente cobrado em provas é o idealizado por Cesare Vivante. O jurista italiano definiu título de crédito como o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. Tal conceito foi adotado pelo Código Civil, que em seu art. 887 dispõe que “o título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. 10 Assim, deste conceito, devemos destacar: O título é um documento; O título é literal, isto é, os valores exigidos só podem ser aqueles ali, expressamente firmados; O título é autônomo, isto é, se desvincula da relação que lhe deu origem. Diga-se ainda, que o disposto no CC não se aplica aos títulos de crédito que possuem legislação específica (típicos). Isto é, as normas do CC são de aplicação supletiva, destinadas a suprir lacunas em regramentos jurídicos específicos. T í tulos de crédito t ípicos/próprios são aqueles que possuem legislação espec ífica (duplicata, letra de câmbio, nota promissória e cheque). Já os títulos de crédito atípicos não possuem lei específica, aplicando-se a teoria geral dos títulos de crédito existente no CC. Enunciado 464, CJF: As disposições relativas aos títulos de crédito do Código Civil aplicam- se àqueles regulados por leis especiais, no caso de omissão ou lacuna. Sendo assim, também conhecidos como cártulas, os t ítulos de crédito constituem documentos representativos de uma obrigação pecuniária, necessários ao exercício de um direito literal e autônomo, que têm como principal função a circulação de riquezas. O rol dos títulos de crédito é taxativo (numerus clausus) e está definido em lei (princípio da tipicidade), embora haja a possibilidade de criação de t í tulos de crédito at ípicos e inominados. Os títulos de crédito que, de maneira destacada, interessam a prática empresarial, estão elencados no art. 784 do Código de Processo Civil como título executivos extrajudiciais. São eles: a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata. Tais títulos contam com legislação 11 especial, a qual, por ser mais especializada, tem aplicação direta, sendo que o Código Civil exerce função supletiva. As principais características dos títulos de crédito são a negociabilidade (capacidade de circulação) e executividade (constituem título executivo). Guarde que os títulos de crédito têm natureza jurídica de coisas móveis. Os princípios ou requisitos fundamentais dos títulos de crédito são cartularidade (ou incorporação, significando que o direito de crédito dependerá da apresentação do título, via de regra), literalidade (os tí tulos de crédito são documentos escritos e literais) e autonomia (o portador do título tem um direito autônomo em relação à relação de que se originou). Do requisito da autonomia advêm os da abstração (o título de crédito passa a circular sem qualquer vinculação com a causa que lhe deu origem) e da inoponibilidade de exceções pessoais aos terceiros de boa-fé (eventual vício que tenha atingido a relação jurídica que deu causa ao título não pode ser oposta a terceiro de boa-fé, como um endossatário de um cheque,já que exerce direito próprio, embora a ele possam ser opostos vícios formais). Há ainda autores que tratam do princ ípio da independência, segundo o qual são independentes os títulos de crédito que não dependem de qualquer documento para a sua efetividade e não independentes, por sua vez, aqueles que dependem. 12 CARTULARIDADE LITERALIDADE AUTONOMIA O crédito posto no título só poderá ser exigido pela pessoa que está na posse legítima da cártula; O título de crédito só valerá pelo que nele est á escrito; O título consubstancia direito novo, estando desvinculado da relação que o originou; 7.4 Características São nove as principais características cambiárias: 1. Executoriedade; 2. Negociabilidade; 3. Circulabilidade; 4. “Pro solvendo”; 5. Para resgate; 6. Querable/Quesível: 7. Natureza jurídica de bem móvel; 8. Formal; 9. Eficácia processual abstrata. A seguir serão analisadas cada uma das características acima listadas: a) EXECUTORIEDADE: Os t ítulos de crédito são t ítulos executivos extrajudiciais, dotados de certeza e liquidez, nos termos do artigo 784, I, do CPC, que dispõe: `` São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque``. b) NEGOCIABILIDADE: São realizados negócios comerciais/empresariais com os títulos de crédito, não havendo necessidade de aguardar o vencimento. c) CIRCULABILIDADE: É da essência dos títulos de crédito a circulação. d) “PRO SOLVENDO”: Significa “para pagamento”. O correto não é decorar que é para pagamento para explicar “pro solvendo”, a expressão “subsistir” é a chave para o conceito, ou seja, subsiste um relacionamento gigante que não cessa com o pagamento do título. André Santa Cruz esclarece que, de acordo com a característica em destaque, a relação jurídica que originou o título não 13 e) PARA RESGATE: É o sonho de cada título de crédito, isto é, o adimplemento, sua transformação em dinheiro. f) QUERABLE/QUESÍVEL: É o credor que vai em direção ao devedor para receber o seu dinheiro, como regra. g) BEM MÓVEL: conforme a doutrina, jurisprudência e lei. É neste sentido, inclusive, a disposição dos arts. 82 a 84 do Código Civil. Por força da característica em tela, os títulos de crédito também se sujeitam aos princípios norteadores da circulação de bens móveis, a exemplo do postulado de que a posse de boa-fé vale como propriedade5. h) FORMAL: Como regra, para que os títulos de crédito sejam válidos, devem ser observados os requisitos essenciais previstos na legislação cambiária6. Assim, via de regra, devem ser indicados no título o nome, o local do pagamento e a assinatura. Neste sentido, de acordo com o art.889 do Código Civil, os requisitos essenciais de um título de crédito atípico são: a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. i) EFICÁCIA PROCESSUAL ABSTRATA: Pode ser considerada a característica mais importante dos títulos de crédito. Por ela compreende-se que, quando se vai a juízo, não há necessidade de discutir a causa debendi que envolve o título. 7.5 Princípios Literalidade Sendo o título de crédito um documento, somente aquilo que nele estiver circunstanciado valerá como obrigação - sua data, valor, titular, entre outros dados -, ou seja, só vale no título o que estiver nele escrito. Se João é beneficiário de um cheque emitido por Maria no valor de R$ 10.000,00, não poderá alegar que o valor correto a lhe ser pago pela instituição financeira seria de R$ 15.000,00, pois, pelo princípio da literalidade, só vale no cheque o que estiver nele contido. 5 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Salvador: Juspodivm, 2019. P.341 6 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Salvador: Juspodivm, 2019. P.341 14 Existe uma frase que traduz bem este princípio: o que não está escrito no título não existe no mundo cambiário. Portanto, qualquer outro ato mencionado em documento à parte não ter á nenhum valor. Cartularidade Pelo princípio da cartularidade, o direito à cobrança somente pode ser exercido mediante a apresentação do título. Ademais, a mera transferência do título transfere, de igual modo, os direitos e obrigações nele contidos. O princípio em apreço foi previsto expressamente no artigo 893 do Código Civil: ``A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes``. Ainda, no mesmo exemplo citado acima, imagine-se que o cheque não foi pago, por insuficiência de fundos. Todavia, João perdeu o documento. Porém, astuto que é, providenciou a fotocópia do título. Nesse caso, não poderá promover a cobrança com a apresentação de cópia, pois segundo o princípio da cartularidade, deve-se apresentar o documento para se exercer o direito. Em matéria de títulos de crédito, tendo em vista o princípio da cartularidade, compete ao credor a iniciativa de dirigir-se ao lugar do pagamento, procurando pelo devedor, para que este quite o débito, conferindo-se a natureza quesível às obrigações cambiárias, à exceção da duplicata que pelos costumes gera uma obrigação portável, pois é o próprio devedor que, na prática, dirige-se à Instituição Financeira para efetuar o pagamento, ao invés de esta ir ao encontro dele. A doutrina vem apontando o princípio da cartularidade como um daqueles que vem sofrendo ligeira relativização, dada a crescente utilização de títulos eletrônicos. De todo o modo, o que há, na verdade, é a substituição de títulos "manuais" pelos eletrônicos (Ex. duplicata virtual 15 - STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1559824/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/12/2015.). Autonomia Cada relação jurídica existente no título é autônoma uma da outra, ou seja, o eventual v ício existente em uma relação não contamina as demais. As relações, portanto, serão formadas separadamente, como se formassem obrigações e direitos separados. O legítimo portador do t ítulo pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações que o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as acometeram. Quando se diz que os títulos de créditos são autônomos, tal autonomia não se refere à relação de débito e crédito que lhe deu origem, e sim ao relacionamento entre o devedor e terceiros. Há uma independência dos diversos e sucessivos possuidores dos títulos de crédito em relação a cada um dos outros. Assim, se X emite uma nota promissória a favor de Y, que a transfere a Z, por meio de endosso, Z será seu legítimo beneficiário, podendo receber o valor na data do vencimento. Não poderá X, no vencimento do título, alegar contra Z que não a paga por ser Y seu devedor de igual ou superior soma, pois, uma vez sendo os títulos cambiários autônomos, o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser restringido ou desconfigurado em virtude das relações existentes entre os anteriores possuidores e o devedor. Assim, temos que cada obrigação que deriva do título é autônoma em relação às demais. O princípio da autonomia, por seu turno, se desdobra em outros dois: Abstração Segundo o subprincípio da abstração, entende-se que quando o título circula, ele se desvincula da relação que lhe deu origem. Assim, no exemplo dado anteriormente, quando Y 16 endossou o título para Z, fazendo-o circular, tal título se desvinculou da operação que lhe deu origem. A abstração significa, portanto, a completa desvinculação do título em relação à causa que originou sua emissão7. Veja-se que enquanto a relação cambial é travada entre os próprios sujeitos que participaram da relação que originou o título, existe uma vinculação entre esta relação e o título dela originado. No mesmo exemplo já mencionado, se Y não circula o título para Z, há uma vinculação entre o títuloemitido e a relação de compra e venda que acarretou sua emissão. Resta claro, portanto, que a circulação do título é fundamental para que se opere a sua abstração, ou seja, para que o título se desvincule completamente do seu negócio originário. Posto em circulação, o título passará a vincular outras pessoas, que não participaram da relação originária, e que por isso assumem obrigações e direitos tão somente em função do título, representado pela cártula. Essa abstração desaparecerá com a prescrição do título, que opera não apenas a perda da executividade, mas também a perda da sua cambiaridade, ou seja, o título perde as suas características intrínsecas de título de crédito. Por isso, o STJ entende que caberá ao credor, na cobrança de título prescrito, demonstrar a origem da dívida, o locupletamento ilícito do devedor (REsp 457.556/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 16/12/2002,). lnoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé Uma vez que as relações cambiais são autônomas entre si, não pode o devedor original do título alegar em juízo as exceções (defesas) pessoais que possui contra o credor original, opondo-as ao portador de boa-fé (arts. 915 e 916, CC). Logo, o devedor somente poderá 7 Vide questão 7. 17 formular defesa pessoal contra o legitimo credor se este e o devedor participaram da mesma relação causal que deu origem ao título. Assim, o devedor só pode apresentar exceção pessoal para o credor primitivo (aquele que deu origem à emissão do título), não podendo apresentar exceção pessoal ao credor terceiro de boa-fé. O título chega a ele completamente livre dos vícios que eventualmente adquiriu em relações pretéritas. Há autores que apontam, ainda, mais dois princípios dos títulos de crédito: a independência/substantividade e a legalidade/tipicidade. Independente seria o título autossuficiente, que não depende de nenhum outro para ser completo. Por fim, de acordo com o princípio da legalidade/tipicidade, os títulos de crédito são tipos legais. Portanto, só receberiam essa qualificação os documentos assim definidos em lei8. 8 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Salvador: Juspodivm, 2019. P.341 18 7.6 Classificação dos títulos de crédito Quanto ao modelo Quanto ao modelo, os títulos de crédito podem ser de modelo livre ou de modelo vinculado. De modelo livre – não contam com padrão legal predefinido. São exemplos de títulos de modelo livre a letra de câmbio e a nota promissória. De modelo vinculado – devem seguir padrão previamente fixado por lei, do que depende inclusive a sua válida produção de efeitos, como o cheque. Quanto à estrutura Quanto à estrutura, os títulos de crédito podem ser de dois tipos: ordens de pagamento e promessas de pagamento. Ordem de pagamento – respondem pela formação de três posições jurí dicas: a do sacador (emitente do título), a do sacado (contra quem se emite o título) e a do tomador (favorecido do título). É o caso da letra de câmbio e do cheque. Mas podem formar também duas posições jurídicas: a do sacador (emitente/credor) e a do sacado (contra quem se emite o título/devedor). É o caso das duplicatas. A letra, o cheque e a duplicata são ordens de pagamento. Promessa de pagamento – forma duas posições jurídicas: a do promitente- sacador (emitente do título que promete pagar valor determinado) e a do tomador (beneficiário do título). É o caso da nota promissória. 19 Quanto à circulação Ao portador: é aquele que não indica a pessoa a quem se transfere, sendo transmitido, portanto, pela simples tradição (entrega). A Lei 8.021/90 e o C ódigo Civil proibiram a emissão de títulos ao portador. No entanto, a regra está excepcionada pela Lei 9.069/95, ao permitir a emissão de cheques ao portador, desde que com valor igual ou inferior a R$ 100,00 (cem reais). Na tentativa de combate à sonegação fiscal, a Lei 8.021/90 proibiu, de uma maneira geral, os títulos ao portador foram no Brasil. Apesar de tais títulos terem sido disciplinados pelo Código Civil em seus arts.904 a 909, o próprio legislador ressalvou, no art.907 do CC, a excepcionalidade deles, nos seguintes termos: ``é nulo o título ao portador emitido sem autorização em lei especial``9. Nominativo: é aquele que indica ou nomina a pessoa do credor, operando-se a transferência mediante a escrituração do nome daquele em livro próprio do devedor, que só terá a obrigação de pagar o título à pessoa nominada. a. À ordem: são aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, mas que podem ser transferidos por endosso. Não se confundem com os nominativos, uma vez que sua transfer ência não está subordinada a escrituração, dependendo apenas do endosso. Em regra, os títulos de crédito típicos/nominados – letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, dentre 9 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P. 343. 20 outros – constituem títulos nominais à ordem, ou seja, devem ser emitidos com indicação expressa do beneficiário do crédito e podem circular via endosso10. b. Não à ordem: são aqueles que, embora emitidos em favor de pessoa determinada, em razão da existência de cláusula “não à ordem” , não podem ser endossados, sendo transferidos apenas através de cessão civil de crédito. A diferença entre endosso e cessão civil é que o primeiro garante a existência e o pagamento do título, enquanto que o segundo garante apenas a existência. O tema será mais detalhadamente estudado adiante. Quanto à emissão Quanto ao critério da emissão, os títulos de crédito podem ser causais ou não causais. Causais: são aqueles que só podem ser emitidos quando da ocorrência de fatos determinados por lei como causas para a sua emissão. Nesse sentido, a duplicata constitui título causal, uma vez que só pode ser emitida a partir de uma compra e venda mercantil ou prestação de serviço. Não causais: são aqueles que podem ser emitidos a partir de qualquer evento, considerando que a lei não determina causas específicas ensejadoras de sua emissão. É o caso da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque. 10 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P. 344. 21 Sobre os títulos de crédito em branco ou incompletos, destacamos o artigo 891 do Código Civil e o artigo 10 da LUG, abaixo transcritos11: Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. Art. 10. Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má-fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave. Destaca-se, aqui, que há muito tempo a jurisprudência vem permitindo a emissão dos títulos de crédito em branco ou incompletos. Prova disto é a súmula 387 do STF: ``a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto``12. 11 Vide questão 3. 12 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P. 350. 22 7.7 Principais institutos cambiários Aceite Aceite é o ato formal peloqual o sacado se obriga a efetuar o pagamento da ordem que lhe é dada, transformando-se em devedor principal. Vejamos, a seguir, como se dá este ato em alguns títulos de crédito13. Letra de Câmbio: Ao receber das mãos do sacador a letra de câmbio, o tomador deve procurar o sacado para apresentar-lhe o título e consultá-lo sobre a aceitação da ordem. Aceitando a letra, o sacado se compromete a pagar o valor constante do título ao seu beneficiário na data do vencimento. Assim, a declaração do aceite torna o sacado/aceitante devedor principal. Observe-se que o sacado não se encontra obrigado a pagar o título contra a sua vontade. Ao contrário. Na verdade, enquanto aquele (sacado) não manifestar a sua concordância por meio do aceite, não terá qualquer obrigação cambial. Sendo assim, fica claro que a letra de câmbio é passível de aceite, mas que ele é um ato facultativo. Todavia, apesar de facultativo, o aceite na letra de câmbio é irretratável. A recusa do aceite na letra de câmbio pode ensejar o vencimento antecipado do título contra o sacador (emitente). O vencimento antecipado da letra de câmbio contra o sacador depende do protesto, que deverá ser promovido pelo tomador no primeiro dia útil subsequente a recusa de aceite por parte do sacado. 13 Vide questão 09. 23 Logo, se o sacado não aceitar o título, haverá o seu vencimento antecipado apenas se observado tempestivamente o protesto, podendo assim o tomador cobrar do sacador e dos demais coobrigados cambiários (endossantes e respectivos avalistas), se houverem, o valor constante da letra. Não promovido o protesto tempestivo, perderá o tomador o direito de acionar, antecipadamente, o sacador e demais coobrigados cambiários. Se a letra de câmbio contiver a cláusula “sem protesto” ou “sem despesas”, ficará o portador do título dispensado do protesto para que possa cobrar o seu valor dos coobrigados cambiários. Em termos práticos, o aceite decorre da simples assinatura do sacado no anverso (frente) da letra de câmbio. O aceite deve ser puro e simples, ou seja, incondicionado, mas pode ser parcial. Nesse caso, o sacado fica obrigado nos termos do seu aceite (até o limite e no prazo que aceitou), não estando impedido, todavia, que o tomador proceda ao protesto pela parte não aceita, uma vez que o aceite parcial equivale à recusa do aceite (embora vincule o aceitante parcialmente), como forma de garantir seu direito de acionar os demais coobrigados cambiários pela totalidade do débito. 24 Se, como visto, na letra de câmbio o aceite é facultativo, ou seja, se o sacado pode recusar-se a aceitar o pagamento do valor total da letra, ele também poderá recusar-se de forma parcial. Assim, o aceite pode ser: Aceite limitativo: O sacado reduz o valor da obrigação que assume. Aceite modificativo: O sacado introduz mudança nas condições de pagamento da letra, postergando o seu vencimento, por exemplo. Considerando que nas duas espécies de recusa parcial do aceite está caracterizada a negativa do sacado (ainda que parcial), poderá operar-se o vencimento antecipado da cártula (desde que promovido o seu protesto tempestivo), fato que irá gerar no tomador o direito de executá-la, de imediato e pela totalidade, contra o sacador. Para evitar a antecipação provocada pela recusa do aceite, a lei possibilita ao sacador a introdução da cláusula “não aceitável” ou expressão equivalente. Inserida a cláusula “não aceitá vel", o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data designada para o seu vencimento, protegendo assim o sacador e demais coobrigados cambiários contra o risco de vencimento antecipado do título. Contudo, ainda que presente a cláusula “não aceitável”, caso o sacado aceite a letra antes do seu vencimento, este será válido. A cláusula “não aceitável” não exonera a responsabilidade do sacador, que responderá sempre pela ordem, evitando apenas o vencimento antecipado da cártula. Duplicata: Como regra, o aceite na duplicata é obrigatório, de modo que a sua falta sem justo motivo enseja no credor o direito de protestá-la (art. 2º, §1º, VIII, Lei das Duplicatas). Neste 25 sentido, para que seja possível a sua execução, deverá estar acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação dos serviços (art. 15, Lei 5.474/68). Não obstante a regra da obrigatoriedade do aceite, o comprador pode deixar de aceitar a duplicata por motivo de (art. 8º, Lei 5.474/68): I.Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II.V í cios, defeitos, e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III.Divergências nos prazos ou nos preços ajustados. Aduz a Súmula 248 do STJ que “Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência”. A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento. A falta de devolução do título pelo devedor permite que o credor emita triplicata e realize o protesto por simples indicações. O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo de 30 dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os coobrigados (endossantes e avalistas). 26 Aval O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval que é uma garantia cambial firmada por um avalista (que pode ser um terceiro estranho ao título ou mesmo alguém a este já atrelado) ao avalizado (pessoa cuja obrigação é garantida), garantindo o pagamento do tí tulo14. O aval está regulado pelo art.30 da LUG e pelo art.897 do Código Civil, nos seguintes termos: Art. 30. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra. Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafo único. É vedado o aval parcial. Segundo o STJ, o aval, por ser instituto típico do direito cambiário, é dotado de autonomia substancial, de sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à da obrigação avalizada. STJ: PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. NOTA PROMISSÓRIA. EXECUÇÃO DE SÓCIO- AVALISTA. EMPRESA AVALIZADA COM FALÊNCIA DECRETADA. SUSPENSÃO DA AÇÃO. NÃO CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE SÓCIO E SOCIEDADE FALIDA. Como instituto típico do direito cambiário, o aval é dotado de autonomia substancial, de sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à da obrigação avalizada. Diante disso, o fato do sacador de nota promissória vir a ter sua falência decretada, em nada afeta a obrigação do avalista do título, que, inclusive, não pode opor em seu favor qualquer dos efeitos decorrentes da quebra do avalizado (REsp 883.859/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 10/03/2009, DJe 23/03/2009). O aval será escrito na própria letra ou em uma folha anexa e, se não indicada a pessoa por quem se dá, ou seja, em prol de quem se presta o aval (aval em branco), entende-se que foi dado a favor do sacador (aval em branco = aval em favor do sacador). Chama-se aval em preto o que indica o favorecido. 14 Vide questões 1,2 e 12. 27 Admite-se o aval parcial em relação à letra de câmbio, nota promissória e cheque, dada a previsão nas leis específicas, mas não se permite em relação à duplicata e demais títulos, aplicando-se a regra geral que o veda (art. 897, parágrafo único, do Código Civil). O aval diferencia-se da fiança, por vários aspectos. Primeiramente, enquanto o aval é garantia cambial, submetida aos princípios do regime jurídico cambial, a fiança é garantiacivil, submissa às regras desse regime jurídico15. Por isso, o aval corresponde a obrigação autônoma em relação à dívida assumida, enquanto a fiança ostenta caráter acessório quanto à obrigação principal. Em segundo lugar, o aval não admite o benefício de ordem, havendo responsabilidade solidária entre o avalista e o avalizado. Por outro lado, a responsabilidade do fiador é subsidiária, existindo, neste contrato, o benefício de ordem. Além destas, existem outras diferenças entre os institutos, apontadas a seguir16: AVAL FIANÇA Garante títulos de crédito (garantia cambial) Garante contratos (garantia civil) 15 Vide questão 12. 16 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.359. 28 Constitui-se pela simples assinatura no título Constituição depende de cláusula contratual Obrigação autônoma Obrigação acessória Responsabilidade solidária Responsabilidade subsidiária Não admite exceções pessoais Admite exceções pessoais Sobre os institutos em destaque, é importante observar que o Código Civil tratou da mesma forma o aval e a fiança, no que se refere à necessidade de outorga conjugal para que tais garantias sejam prestadas por pessoa casada, ressalvando apenas a situação de os cônjuges serem casados no regime da separação absoluta (Artigo 1.647,III, do Código Civil). Ao apreciar a expressão ``separação absoluta``, aqui evidenciada, o STJ entendeu que ela se refere apenas ao regime de separação convencional de bens, mas não o da separação obrigatória, imposto legalmente aos cônjuges (REsp 1163074/PB). Finalmente, lembre que o STJ já decidiu que a ausência de outorga conjugal não invalida o aval dado por pessoa casada, apenas tornando-o ineficaz em relação ao cônjuge que não consentiu, e isso apenas se ele não tiver se beneficiado da operação (REsp 1644334/SC)17. O aval pode ser aposto antes ou após o vencimento do título, produzindo em ambos os casos o mesmo efeito. A simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador, considera-se como aval. A menos que o regime matrimonial seja o de separação total de bens, a constituição do aval dependerá de outorga conjugal. 17 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.360. 29 Os avais simultâneos, também denominados de coavais, ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Assim, nos avais simultâneos os avalistas são considerados uma só pessoa, razão pela qual assumem responsabilidade solidária regida pelas regras do direito civil. Em suma: eles dividem a dívida, razão pela qual se um deles pagá-la integralmente ao credor, terá direito de regresso contra o devedor principal relativo ao total da dívida, mas terá direito de regresso contra o outro avalista apenas em relação à sua parte – se forem apenas dois avalistas, por exemplo, terá direito de regresso em relação a apenas metade da dívida. Os avais sucessivos, por sua vez, também chamados de aval de aval, ocorrem quando alguém avaliza um outro avalista. Nesse caso, todos os eventuais avalistas dos avalistas terão a mesma responsabilidade do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a uma parte dela. Súmula 26, STJ: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidá rio. O cheque também poderá ser garantido, no todo ou em parte, por aval. O único que não pode ser avalista é o sacado. O aval poderá ser em branco ou em preto. O aval em preto é aquele que indica o avalizado. O aval em branco é aquele que não o indica e, neste caso, considerar-se-á avalizado o emitente do cheque. 30 Endosso O endosso é uma forma de transferência do direito ao valor constante do título, a partir da assinatura do seu possuidor no próprio título (embora na letra de câmbio o endosso possa ser lançado no próprio título ou em uma declaração anexa, quando falte espaço na cártula)18. O endosso responde pela formação de duas posições jurídicas: a do endossante (pessoa que transfere o título) e a do endossatário (pessoa para a qual o título é transferido). É vedado o endosso parcial, ou seja, aquele que diga respeito apenas a uma parte do valor constante do título. Se lançada cláusula nesse sentido, será nula. Com o endosso, ocorre a transferência integral do crédito contido no título. Ademais da propriedade do título, o endosso transfere também a garantia do seu adimplemento. Por isso, diz-se que o endosso normalmente produz dois efeitos: transfere o tí tulo ao endossatário (1º efeito) e vincula o endossante ao seu pagamento (2º efeito). Contudo, se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do título, e com isso concordar o endossatário, poderá operar-se a exoneração de sua responsabilidade através da cláusula “sem garantia”, que apenas o endosso admite. Por exemplo, A deve a B R$ 200. O título é representado por uma lera de câmbio. O tí tulo de crédito foi feito para circular. B endossa esse título para C, que coloca a cláusula “sem garantia” e transfere para D. É importante observar que o endosso sem garantia não tem forma. É o caso de, no verso do título, C escrever algo que referencie à cláusula “sem garantia” e entregue o título para D. Ao fazer isso, C se exime de responsabilidade, não garante a D e os demais que vierem na cadeia 18 Vide questão 11. 31 cambiária. D, nesse caso, poderá cobrar dos demais integrantes da cadeia cambiária ou dos avalistas. Ademais, se D transferiu para outrem, este poderá cobrar de qualquer um da cadeia cambiária, bem como dos avalistas, menos de C, que não garantirá o valor a D e aos demais que virão após ele na cadeia cambiária, em coloca essa cláusula no t ítulo se exime de responsabilidade que de uma cadeia cambiária. O devedor principal, “A”, jamais poderá fazer uso do endosso sem garantia, porque ele é o emitente, e antes dele não tem ninguém, não tem como abandonar o barco. Da mesma forma, o endosso realizado após o protesto do título produz apenas efeitos de uma cessão civil de crédito. É o chamado endosso tardio ou póstumo. O endosso pode ser em preto (completo) ou em branco (incompleto). Será em preto quando trouxer a indicação do beneficiário (endossatário) do crédito que se transfere, ou em branco quando trouxer a simples assinatura do endossante, sem a indicação do beneficiário do crédito, hipótese na qual se cria a possibilidade de livre circulação do título (o converte em tí tulo ao portador). Outra forma de endosso é o endosso impróprio, do qual são espécies o endosso-mandato e o endosso-caução (ou endosso-garantia ou endosso-pignoratício). O endosso-mandato é aquele através do qual o credor do título pode constituir um representante (endossatário- mandatário) para o exercício dos direitos que dele emanam, ou seja, para que este possa realizar a cobrança do título em nome do endossante (credor). O endosso-caução, por sua vez, é aquele no qual o título é usado como garantia de uma obrigação assumida pelo endossante. O art. 12 da LUG (Lei Uniforme de Genebra – Decreto 57.663) trata do endosso condicionado: 32 Artigo 12: O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é nulo. O endosso ao portador vale como endosso em branco. Imagine que a endossará determinado título de crédito a B, desde que B faça algo estipulado por A. B pode“chutar o balde” não fazer nada e o título mesmo assim será dele. Tal condição é desconsiderada. Essa declaração cambiária, o endosso Condicionado é válido? Tem efeitos? Sim, o título será de B (conforme ex.), gera efeito de endosso normal, porque a condição é considerada não escrita, é ignorada. Também é possível efetivar um endosso proibindo-se um novo endosso. Considere que A deve a B R$ 100. O título é representado por uma letra de câmbio. Então, B endossa para C, que coloca a cláusula que proíbe um novo endosso e transfere para D. No verso do t í tulo, C escreve algo que referencie a proibição (não h á forma predeterminada) que faça alusão à cláusula que proíbe um novo endosso e entrega o título para D. Conclui-se, assim, que o endosso que proíbe um novo endosso não tem forma. Aquele que coloca uma cláusula que proíbe um novo endosso tenta impedir a circulação do título de crédito. O que se pretende é que não apareça nenhum estranho cobrando o título. Entretanto, não tem o poder de impedir a circulação do título de crédito. Caso D queira, entregar á o título a outrem que, se quiser, entregará o título a qualquer outra pessoa. Haver á circulação, mas com efeito de cessão de cr é dito e não com efeito de endosso. Criou-se, então, alguns obstáculos a essa circulação, dentre eles a garantia quanto aos próximos da cadeia cambiária. A diferença entre esta cláusula e a do endosso sem garantia (mencionada anteriormente) é que, no endosso com cláusula “sem garantia” C não garante a D e aos demais o valor contido 33 no título de crédito. Já no endosso que proíbe um novo endosso há essa garantia. Porém, essa garantia será apenas para D e não para os demais que virão na cadeia cambiária. Outra forma sui generis de endosso é aquela com cláusula de não protesto. São expressões sinônimas do endosso com cláusula de não protesto: “endosso com cláusula sem protesto” ou “endosso com a cláusula sem despesas”. Ex: C endossa para D com “cláusula de não protesto”. A forma desse endosso é livre, isto é, não há formalidade preestabelecida. Quem coloca essa cláusula no título não quer ser protestado, prefere ser executado diretamente. Motivos: o indivíduo vai participar de uma grande negociação ou licitação e não pode ter o “nome sujo”, o que pode prejudicar sua habilitação e seu poder de negociação. Caso D queira cobrar de C, ele não irá protestar o título, cobrará diretamente por meio de uma execução de t ítulo de crédito extrajudicial. Caso D leve o título a protesto a única consequência é que ele terá que pagar os custos (emolumentos). Em regra, quando se protesta o título de alguém no Cartório de Títulos e Documentos, quem paga as despesas é o devedor (no caso, C). Ocorre que, se o protesto for indevido quem pagará às custas do cartório será o credor, no caso, D. Esta será a única penalidade, pois ao inserir a cláusula de não protesto, C avisou que não pagaria as despesas cartorárias, caso houvesse protesto. Endosso póstumo ou tardio é o endosso que acontece depois do vencimento do título, conforme previsto no art. 8º, parágrafo 3º do Decreto 2.044/1908. Art. 8º O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio. Para a validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra. 34 O endossatário pode completar este endosso. § 1º A cláusula “por procuração”, lançada no endosso, indica o mandato com todos os poderes, salvo o caso de restrição, que deve ser expressa no mesmo endosso. § 2º O endosso posterior ao vencimento da letra tem o efeito de cessão civil. § 3º É vedado o endosso parcial. Em regra, terá efeito de endosso. Porém, excepcionalmente, terá efeito de cessão quando ocorrer: 1. Depois de um protesto; 2. Depois de acabar o prazo para protestar/ Depois do fim do prazo do protesto O prazo para protestar uma duplicata é de 30 (trinta) dias depois do seu vencimento. Já o prazo para protestar a letra de câmbio e a nota promissória é o primeiro dia útil seguinte ao vencimento. Para entender os exemplos abaixo é necessário saber que o prazo para protestar a duplicata é de 30 (trinta) dias. Ex1: O vencimento 30/06 de uma determinada duplicata. O Endosso ocorreu 03/07. Este endosso será póstumo ou tardio. Não ocorreu protesto antes e o prazo para protestar não findou. Dessa forma, o endosso será válido. Ex2: O vencimento do título ocorreu em 30/06. O endosso póstumo ou tardio ocorreu em 03/07. Contudo, em 02/07 houve protesto. Dessa forma, a transferência valerá como cessão e não como endosso. Ex3: O vencimento do título ocorreu em 30/06. O endosso póstumo ou tardio ocorreu em 30/10, isto é, após o término para protestar. Então, essa transferência valerá como cessão e não como endosso. O título que circula depois do vencimento tem efeitos? Sim. Contudo, não sabemos se é de endosso ou cessão, pois isso irá depender da situação. 35 O endosso retorno acontece nos casos em que o título retorna às mãos do credor principal, isto é, quando se tem a confusão de devedor e credor principal. Então, quando se encontra na cadeia cambiária devedor e credor em uma mesma pessoa, em razão da circulação do título, haverá endosso retorno. O reendosso ocorre quando a mesma pessoa endossa mais de uma vez o título na mesma cadeia cambiária. Trata-se de um endosso por diversas vezes realizado por uma mesma pessoa. Não é possível o endosso fora do título, em virtude do princípio da literalidade. Mas pode haver uma “folha em anexo”, que é forma de extensão do título, um endosso neste anexo é um endosso no título e respeita a literalidade. Vejamos, agora, como se opera o endosso nos títulos de crédito em espécie: Letra de câmbio: Toda letra de câmbio, ainda que não traga expressa a cláusula “à ordem”, é endossável, uma vez que é da própria natureza da letra a capacidade de circulação. Se houver a intenção de impedir o endosso, deve ser lançada no título a cláusula “não à ordem”. Nesta hipótese, a letra só será transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão civil de créditos, não estando sua circulação sujeita ao regime jurídico-cambial, mas sim ao Direito Civil. Apenas para que você relembre os conceitos, trouxemos um quadro com as principais distinções e características dos institutos do endosso e da cessão civil: 36 ENDOSSO CESSÃO CIVIL Confere direito autônomo ao endossatário Confere direito derivado ao cessioná rio Endossante é codevedor solidário do título (salvo “sem garantia”) Cedente não é codevedor solidário do título Cheque: Os cheques são transmitidos por endosso, que pode ser feito pelo próprio sacador (emitente) ou por terceiro. Poderá ser feito em preto ou em branco. Protesto É o ato formal e solene através do qual se apresenta publicamente o título ao devedor, para que este promova o seu pagamento ou o aceite, servindo como prova da inadimplência o descumprimento de obrigação originada em títulos (como uma letra de câmbio) ou outros documentos de dívida (como um contrato de aluguel), (art. 1º da Lei 9.492/1997 – Lei de Protesto de Títulos e outros documentos de dívida)19. O protesto é realizado pelo tabelião de protesto de títulos, a requerimento do portador do título, do seu credor ou respectivo procurador. Sobre o protesto, é interessante fazermos um link com o Direito Constitucional e com o Direito Tributário, trazendo à tona a jurisprudência do STF, segundo a qual é constitucional o 19 Vide questão 08. 37 protesto da Certidão de Dívida Ativa (ADI 5135/DF), bem como o entendimento do STJ no sentido de que a Fazenda Pública possui interesse e legitimidade para promover o protesto da CDA (REsp 1686659-SP, Recurso Repetitivo). A controvérsia surgiu a partir da edição da Lei 12.767/2012, queincluiu na Lei 9.492/97 a possibilidade de serem objeto de protesto os títulos da dívida pública. Antes de o STF decidir pela constitucionalidade da medida, muitos defenderam que ela seria inconstitucional, uma vez que o Poder Público já dispõe da execução fiscal para a cobrança de seus créditos. O argumento não foi acolhido pelo STF, nem pelo STJ, conforme demonstrado aqui20. O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução. Após o vencimento, será efetuado sempre protesto por falta de pagamento. Já o protesto por falta de devolução se dará quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite, não procedendo a sua devolução no prazo legal. Nesse caso, o protesto poderá operar-se com base na segunda via da letra ou nas indicações da duplicata. Os títulos poderão ser protestados a qualquer tempo, haja vista não constituir obrigação do tabelião de protesto examinar os prazos prescricionais dos títulos. Nos termos do art. 202, III, do Código Civil, o protesto interrompe a prescrição. Se, até o dia do vencimento, não for cumprida a obrigação, as indicações do negócio jur ídico serão encaminhadas ao Tabelionato, pelo credor ou instituição financeira encarregada da cobrança, para protesto do título por indicações (também por meio magnético). Após o protesto, persistindo a inadimplência, o credor ou o banco poderão ajuizar ação de execução de título extrajudicial em face do devedor, apresentando os seguintes documentos: boleto de cobrança bancária; instrumento de protesto por indicação; comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços (art. 7º da Lei n.º 13.775/2018). 20 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É constitucional o protesto da CDA. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1b035b71ef5f8e1e7c1d6c0c5032faa?palavra- chave=protesto+de+t%C3%ADtulos+da+d%C3%ADvida+p%C3%BAblica&criterio-pesquisa=e. Acesso em: 18/02/21. 38 Importante destacar que, para fins de protesto, considera-se praça de pagamento das duplicatas escriturais o domicílio do devedor (estabelecido conforme art. 75 do CC), salvo acordo expresso entre as partes fixando local diverso (art. 12, § 3º, da Lei n.º 13.775/2018; art. 327 do CC). Segundo o art. 10 da Lei n.º 13.775/2018, “são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta, a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural”. Ainda, “constituirá prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata emitida sob a forma escritural a liquidação do pagamento em favor do legítimo credor, utilizando-se qualquer meio de pagamento existente no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.” (art. 5º, caput, da Lei n.º 13.775/2018). No que diz respeito ao cheque, o prazo para protesto é até o término do prazo de execução. Nele, primeiro vem o prazo de apresentação (30 dias ou 60 dias, em caso de praça/município diferente). Com o término desse prazo, inicia-se o prazo de execução (6 meses). Então, o prazo para protestar o cheque é até terminar o prazo de executar o mesmo (conta-se o prazo de apresentação + o prazo de execução). 7.8 Principais títulos de crédito em espécie Letra de câmbio A letra de câmbio ou simplesmente letra, é título de crédito que estabelece uma ordem de pagamento (“à ordem”), criado mediante “saque” (emissão), que responde pela formação de 39 três posições jurídicas, quais sejam sacador (emitente do título), sacado (aquele contra quem se emite o título) e tomador (o beneficiário do título). O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para que pague o valor constante do título ao tomador. Nada obsta, entretanto, que uma mesma pessoa ocupe duas posições nessa relação, sendo, assim, sacador e sacado ou sacador e tomador simultaneamente. A letra transfere-se por endosso, completa-se pelo aceite (facultativo na letra de câmbio) e garante-se pelo aval. Requisitos formais da letra de câmbio: Os requisitos formais da letra de câmbio estão previstos no art. 1º do Decreto-Lei nº 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra): Art. 1º. A letra contém: 40 1. a palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; 2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 3. o nome daquele que deve pagar (sacado); 4. a época do pagamento; 5. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 6. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; 7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 8. a assinatura de quem passa a letra (sacador). Se a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em algarismos, havendo divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver feita por extenso. Se a indicação da quantia se achar feita por mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismo, e houver divergência entre as diversas indicações, prevalecerá a que se achar feita pela quantia inferior. 41 Dispõe a súmula 387 do STF que “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. No mesmo sentido está o art. 891 do Código Civil. Prescrição: Os prazos prescricionais na letra de câmbio são: I.As ações contra o aceitante da letra de câmbio prescrevem em 3 (três) anos, a contar do seu vencimento; II.As ações contra os endossantes e contra o sacador prescrevem em 1 (um) ano, a contar da data do protesto tempestivo ou da data do vencimento (letra com cláusula “sem protesto”). III.As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6 (seis) meses, a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado (ação de regresso). A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita. Nota promissória A nota promissória é uma promessa de pagamento, a partir da qual uma pessoa se compromete a pagar quantia determinada a outra21. 21 Vide questão 5. 42 Seu saque gera duas posições jurídicas: a do sacador (emitente, subscritor, promitente), que se compromete a pagar quantia determinada ao tomador (beneficiário, favorecido do título, também chamado “sacado”). A nota promissória não é passível de aceite, afinal, não se emite a nota promissória para o pagamento por um terceiro. No que concerne ao endosso, direito de ação por falta de pagamento, aval, prescrição, e demais elementos apontados pelo art. 77 da Lei Uniforme, são aplicáveis à nota promissória, desde que compatíveis com sua natureza, às disposições relativas às letras de câmbio. Sobre a nota promissória, é imprescindível que você tenha em mente o teor da súmula 258 do STJ, que despenca em provas: ``a nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia, em razão da iliquidez do crédito que a originou``. 43 Requisitos formais da nota promissória: Os requisitos formais da nota promissória estão previstos no art. 75 da Lei Uniforme de Genebra, quais sejam: Art. 75. A nota promissória contém: 1. denominação "nota promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; 2. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada; 3. a época do pagamento [se não possuir, presume-se que foi emitida à vista]; 4. a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento; 5. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; 6. a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissóriaé passada; 7. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor). Por fim, destacamos que há jurisprudência pacífica do STJ no sentido de que a menção expressa da data de emissão da nota promissória é requisito essencial, cuja ausência afasta a exigibilidade do título (AgInt no AREsp 1.280.469/SP e AgRg no AREsp 733.863/RJ)2223. Prescrição: A prescrição da nota promissória possui os seguintes prazos: I.Do portador contra emitente e avalista: 3 anos a contar do vencimento; II.Do portador contra endossantes e respectivos avalistas: 1 ano, a contar da data do protesto tempestivo ou da data do vencimento (nota com cláusula “sem protesto”); 22 Vide questão 5. 23 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.367. 44 III.Dos endossantes, uns contra os outros, ou seus avalistas: 6 meses, a contar do dia em que o endossante pagou o título ou em que ele foi acionado. Cheque É uma ordem de pagamento em dinheiro e à vista (natureza do cheque), sacada contra um banco ou instituição financeira, em virtude dos fundos que o emitente possui naquele banco ou instituição financeira. Trata-se de um título padronizado, ou de modelo vinculado, considerado válido apenas quando emitido por um banco ou instituição financeira com a forma determinada24. Vale ressaltar, ainda, que o cheque conta com regramento específico, na Lei 7.357/1985. Tem como grande vantagem de sua utilização a possibilidade de substituição de moeda (dinheiro “vivo”) pelo papel representativo do cheque, possibilitando assim o pagamento à distância sem a necessidade de transporte de numerário. O saque do cheque, tal como na letra de câmbio, dá origem a três posições jurídicas distintas: a do sacador (emitente, subscritor), que dá uma ordem de pagamento à vista contra o sacado (que será sempre um banco ou instituição financeira), para que este pague a quantia referida no cheque ao beneficiário ou tomador do título, que pode ser um terceiro ou o próprio sacador. 24 Vide questões 6 e 10. 45 Importante deixar claro que, no cheque, o banco ou instituição financeira (sacado) não possui qualquer obrigação cambial, visto que não garante o pagamento da cártula, não podendo ser responsabilizado ou mesmo executado pelo credor em razão da falta ou insuficiência de fundos, atuando como mero intermediador na relação. Considera-se como não escrita a cláusula inserida no cheque para pagamento em forma que não seja à vista. A espécie cheque pós-datado, muito utilizado na prática comercial brasileira, não encontra respaldo na Lei do Cheque. Assim, se um cheque é apresentado em data anterior à indicada como “boa para pagamento”, ele deverá ser pago imediatamente pelo banco ou instituição financeira, afinal, tem a natureza de uma ordem de pagamento à vista. Portanto, fica patente que a apresentação futura do cheque, decorrente de acordo neste sentido (cheque pós-datado), dependerá sempre do cumprimento do acordo pelo portador do 46 cheque. A Súmula 370 do STJ reconhece a ocorrência de dano moral quando da apresentação de cheque em data anterior a data convencionada pelas partes. A Súmula 388 do STJ aduz que a simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral, independentemente de prova do prejuízo sofrido pela vítima (dano in re ipsa). Podemos, ainda, ressaltar a importância de três modalidade de cheques. O cheque cruzado é aquele no qual o emitente, mediante a colocação de dois traços paralelos e transversais no anverso (frente) do título, faz com que o cheque só possa ser pago mediante crédito em conta. Cheque visado é aquele cuja suficiência de fundos para cobertura foi atestada pelo banco sacado. Cheque administrativo é o emitido e liquidado pelo próprio banco sacado em face de si próprio, para ser liquidado em uma de suas agências, consoante menciona o artigo 9º da Lei 7.353/85. Neste caso, o banco é, portanto, ao mesmo tempo, emitente e sacado. A Lei do Cheque trata, ainda, do cheque para ser creditado em conta, em seu artigo 46. Trata-se do cheque que o sacado não pode pagar em dinheiro, por expressa proibição no anverso do título pelo próprio emitente, consistente na colocação da expressão ``para ser creditado em conta`` ou da menção ao número da conta do beneficiário entre os traços do cruzamento25. 25 CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. Coleção Sinopses para Concursos. Salvador: Juspodivm, 2019. P.373. 47 Requisitos formais do cheque: O cheque possui seus requisitos formais previstos no art. 1º da Lei 7.357/85: Art. 1º O cheque contém: I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV - a indicação do lugar de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. Prescrição: Os prazos prescricionais são: I.A execução fundada em cheque prescreve no prazo de 6 meses, do portador contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas, contados da expiração do seu prazo de apresentação, que poderá ser de 30 dias (quando o cheque houver de ser pago na mesma cidade em que foi emitido) ou 60 dias (quando o cheque houver de ser pago em cidade diferente daquela de emissão). Conforme ilustra a seguinte tabela26: 30 dias Se o cheque é da mesma praça do pagamento (município onde foi assinado é o município da agência pagadora). 60 dias Se o cheque for de praça diferente 26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a3842ed7b3d0fe3ac263bcabd2999790?categori a=8&subcategoria=66. Acesso em: 20/02/21. 48 (município onde foi assinado é diferente do município da agência pagadora). O prazo será de 30 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é da mesma praça (mesmo município). Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) como local da emissão. O prazo será de 60 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for diferente do lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é de outra praça. Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da emissão. II.A ação de enriquecimento ilícito contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque prescreve em 2 anos, contados do dia em que se consumar o prazo prescricional da execução fundada em cheque. III.Prescritas a ação executiva e de enriquecimento ilícito, é possível ainda o oferecimento de ação monitória, cabível para cobrança de documentos que perderam a sua força executiva. Nesse sentido, a Súmula 229 do STJ estabelece que caberá ação monitória nos casos de cheque prescrito. Segundo a súmula 531 do STJ, “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.” Igualmente, a súmula 503 do STJ dispõe: ``O prazo para ajuizamento da ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à 49