Prévia do material em texto
<p>1</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2</p><p>2 RELIGIÃO ................................................................................................... 3</p><p>3 ABORDAGEM DO FENÔMENO RELIGIOSO ............................................ 5</p><p>3.1 Modelos tipológicos de ensino religioso ............................................... 7</p><p>Catequético ....................................................................................................... 8</p><p>Teológico .......................................................................................................... 9</p><p>Ciências da religião ......................................................................................... 10</p><p>Confessional e interconfessional .................................................................... 10</p><p>Ecumênico ...................................................................................................... 12</p><p>Inter-religioso (“pluralista”) .............................................................................. 13</p><p>Fenomenológico ............................................................................................. 14</p><p>3.2 Secularização ..................................................................................... 15</p><p>3.3 Pós-secularização .............................................................................. 19</p><p>3.4 Laicidade ............................................................................................ 21</p><p>3.5 Laicismo ............................................................................................. 25</p><p>4 PENTECOSTALISMO E NEOPENTECOSTALISMO ............................... 27</p><p>5 O ENSINO RELIGIOSO E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR</p><p>(BNCC) ...................................................................................................................30</p><p>6 A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL ............................................ 34</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 38</p><p>2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Prezado aluno!</p><p>O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante</p><p>ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um</p><p>aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma</p><p>pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é</p><p>que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a</p><p>resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas</p><p>poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em</p><p>tempo hábil.</p><p>Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa</p><p>disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das</p><p>avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que</p><p>lhe convier para isso.</p><p>A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser</p><p>seguida e prazos definidos para as atividades.</p><p>Bons estudos!</p><p>3</p><p>2 RELIGIÃO</p><p>Fonte: img1.gratispng.com</p><p>Considerando a religião como um dos fundamentos mais antigos da</p><p>humanidade, e considerando que sua existência é garantida pela sociedade, após</p><p>sua plena realização, dada sua presença ativa nas relações e funções sociais, faz-</p><p>se necessária à sua análise sociológica. Esse tipo de atuação ocorre principalmente</p><p>quando se depara com os traços que permeiam a vida humana. A incerteza do</p><p>futuro, a ansiedade do presente e os arrependimentos do passado são comuns na</p><p>vida pessoal. Discursos ou hipóteses científicas, quando não estão disponíveis para</p><p>a maioria dos indivíduos, ou mesmo indisponíveis, quando não podem responder a</p><p>essas qualidades, a religião aparecerá como uma resposta completa.</p><p>(VASCONCELOS, 2012).</p><p>Antes que houvesse uma sociedade secularizada, a religião determinava</p><p>completamente o ritmo de todas as atribuições humanas. A elaboração de leis é um</p><p>exemplo óbvio, pois, ao se tentar entendê-las, muitas vezes é necessário recorrer à</p><p>religião. Esse tipo de influência ainda existe hoje, por exemplo, quando as pessoas</p><p>tentam modificar conceitos jurídicos que foram "sagrados" por novas interpretações,</p><p>tentam se livrar do conceito desses termos, que estão cheios do que hoje se</p><p>considera preconceito e significado absoluto. Isso comprova a influência da religião,</p><p>“não apenas como sistema ideológico, mas também como sistema de poder”</p><p>(SANCHIS, 2011).</p><p>4</p><p>Portanto, para Sanchis (2011), não se trata apenas de uma ideologia, mas de</p><p>uma ação direta e influência na relação entre o ser humano e a sociedade. Esse</p><p>poder se manifesta por meio do coletivo, onde a religião prevalece e se materializa</p><p>por meio de objetos que se tornam sagrados.</p><p>Portanto, mesmo em uma sociedade secularizada, apesar de sua pequena</p><p>escala agora, a religião ainda consegue construir as relações sociais de tal forma</p><p>que “transforma o ‘assim é’ em ‘assim deve ser’, ou em ‘assim não pode ser’”</p><p>(OLIVEIRA, 2011, p. 179,180). Ou seja, mesmo que seu impacto não seja percebido</p><p>por todos, ainda assim consegue se tornar imprescindível nas relações sociais.</p><p>Mas antes de imaginar a religião como único motor do desenvolvimento social</p><p>sustentável, é preciso lembrar que ela é legalizada ou racionalizada pela própria</p><p>sociedade. São os membros do grupo ou comunidade que tornam a religião</p><p>importante. A necessidade contínua de transcendentes que se comunicam com a</p><p>natureza reflete a criatividade que os humanos criam para si próprios (e, portanto,</p><p>para os outros), os meios para obter respostas ou favores às suas perguntas ou</p><p>necessidades. Portanto, Danièle Hervieu-Léger fez considerações importantes</p><p>sobre a necessidade de os humanos criarem "deuses":</p><p>Os homens têm necessidade dos deuses para existir em sociedade, mas os</p><p>deuses dependem dos homens, que se dedicam, por meio do culto que lhes</p><p>prestam, a preservar sua existência. As práticas religiosas e as crenças que</p><p>racionalizam teologicamente sua necessidade social têm como função</p><p>reativar regularmente e perenizar a “emoção das profundezas”. Elas</p><p>relançam a própria dinâmica da vida coletiva, garantindo a “restauração</p><p>moral” dos indivíduos que retornam à vida profana com mais coragem e ardor.</p><p>(HERVIEULÉGER, 2009, p. 194)</p><p>Dessa forma, a religião é entendida como uma construção social necessária</p><p>à existência humana, que por sua vez cria subsídios para sua sobrevivência. Para</p><p>tanto, é criada pelo próprio homem, e tem por objetivo confirmar os requisitos</p><p>religiosos, legais e outros que constituem a doutrina religiosa. Essas normas</p><p>estabelecidas só terão efeito quando “ficarem gravadas na consciência pessoal e</p><p>nela se fundirem naturalmente, para depois se tornarem hábito” (OLIVEIRA, 2011,</p><p>p. 181). Portanto, os mais diversos desafios enfrentados pelas religiões na</p><p>sociedade justificam o papel da sociologia na análise desses eventos. É</p><p>precisamente por causa da intervenção direta da religião na sociedade que é fácil</p><p>de explicar e analisar.</p><p>5</p><p>Embora a sociedade atual seja secularizada, a intervenção da Igreja como</p><p>representante oficial e concreta da religião é mínima, mas na teoria, na prática, ainda</p><p>podemos ver alguns traços de santificação social. Em eventos históricos recentes</p><p>no Brasil, como a eleição presidencial de 2010, em função das demandas dos</p><p>próprios eleitores conservadores, principalmente no que se refere às posições</p><p>desses candidatos no pleito, pode-se observar a importância da religião na definição</p><p>das propostas dos candidatos. Ou seja, mesmo que o “dossel sagrado” que outrora</p><p>utilizava os costumes e as leis de tradição religiosa para proteger a sociedade seja</p><p>rompido (TEIXEIRA, 2011), ainda existem alguns</p><p>nos primeiros anos do</p><p>ensino fundamental - do 1º ao 5º ano - e nos anos finais - do 6º ao 9º ano, há</p><p>diferentes prioridades, objetivos e habilidades. Linz e Cruz (2017, p. 146) apresentam</p><p>um estudo sobre o Ensino Religioso na BNCC e, também, caracterizam seus objetivos</p><p>em duas fases distintas de complexidade:</p><p>[...] podemos enfatizar que esses objetivos contemplados no ER visam, num</p><p>primeiro momento, levar o educando e a educanda nos anos iniciais a</p><p>conhecer e identificar as diferentes linguagens, o sistema religioso e não</p><p>religiosos, assim como as manifestações nas diversas culturas como</p><p>fenômenos socioculturais presentes em nosso cotidiano e, por isso, enfatiza</p><p>o uso de verbos perceber, reconhecer compreender e identificar, entre outros.</p><p>Em um segundo momento, estaria o desenvolvimento de outras habilidades e</p><p>competências mais complexas do que as expostas por primeiro, assim, Linz e Cruz</p><p>(2017) afirmam que:</p><p>[...] na segunda fase, nos anos finais, o ER busca fazer com que o educando</p><p>e a educanda reflitam criticamente sobre essas diversas manifestações,</p><p>linguagens, etc., justificando a utilização de verbos como analisar,</p><p>problematizar, construir, entender e construir (LINZ; CRUZ, 2017, p. 146)</p><p>34</p><p>6 A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL</p><p>Fonte: vozdascomunidades.com.br</p><p>O conceito de intolerância religiosa é recorrente na história da humanidade e</p><p>ainda se faz presente na sociedade contemporânea. Seja em qualquer lugar ou classe</p><p>social, a intolerância, não obstante torna-se uma perseguição de extrema gravidade e</p><p>costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e ações que afrontam o</p><p>indivíduo que têm em comum certas crenças. Para Von, “A intolerância religiosa</p><p>baseia-se na crença de que uma religião é superior as demais ou a única detentora</p><p>da verdade absoluta”. Os conflitos motivados por divergências religiosas são notórios.</p><p>A questão é preocupante, porque envolve um problema de larga escala social. Para</p><p>Guimarães: “O problema da discriminação é hoje um sério desafio à humanização da</p><p>espécie humana” (SANTOS, 2017).</p><p>Cada vez mais cresce o número de casos de intolerância religiosa no Brasil. O</p><p>país da diversidade passa a usar da própria diversidade como ponto de confronto, de</p><p>violência, de intolerância. Os discursos de ódio têm se espalhado até mesmo em</p><p>pregações religiosas que, ao invés de promoverem a dignidade e a valorização da</p><p>vida, buscam elementos confessionais e dogmáticos como forma de exaurir aquilo</p><p>que se torna diferente. Há relatos em jornais, periódicos, inquéritos policiais, desde o</p><p>Brasil Colônia aos dias atuais, passando pelos primórdios da República, onde se</p><p>constatam relatos discriminatórios, preconceituosos e abusivos contra as práticas</p><p>religiosas das mais variadas matrizes – todas de características minoritárias sem</p><p>termos da população nacional (JAGUM, 2016, p. 51).</p><p>35</p><p>Para Guimarães (2004),</p><p>A intolerância está na raiz das grandes tragédias mundiais. Foi ela que</p><p>destruiu as culturas pré - colombianas e promoveu a inquisição e a caça às</p><p>bruxas. Foi a intolerância religiosa que levou católicos e protestantes a se</p><p>matarem mutuamente na Europa, ou hindus e mulçumanos a fazerem o</p><p>mesmo na Índia. Foi à intolerância que levou países a construírem um</p><p>sistema de apartheid ou a organizarem campos de concentração. Por trás de</p><p>cada manifestação de barbárie, que a humanidade teve a infelicidade de</p><p>assistir e testemunhar o que redundou em numerosos massacres e</p><p>extermínios esconde-se a intolerância como arquétipo e estrutura fundante.</p><p>A sociedade brasileira, constituída por várias raças culturas e religiões, permeia</p><p>o preconceito manifestando toda forma de intolerância. Assim:</p><p>A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas,</p><p>discriminatórias e de desrespeito às diferentes crenças e práticas religiosas</p><p>ou a quem não segue uma religião. Sendo como um crime de ódio que fere a</p><p>liberdade, a dignidade humana e a própria democracia, a intolerância</p><p>religiosa costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação, perseguição,</p><p>ataques, desqualificação e destruição de locais e símbolos sagrados, roupas</p><p>e objetos ritualísticos, imagens, divindades, hábitos e práticas religiosas. Em</p><p>casos extremos, há atos de violência física e que atentam à vida de um</p><p>determinado grupo que tem em comum determinada crença (BRASIL, 2013).</p><p>Pela lei consiste em crime, discriminar ou ofender pessoas por causa da crença</p><p>religiosa entre outros motivos. Segundo a constituição, o crime não permite fiança</p><p>como também não prescreve, conforme Artigo 5°, incisos XLI e XLII da Constituição</p><p>Federal onde afirma que “A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos</p><p>e liberdades fundamentais.” “A prática do racismo constitui crime inafiançável e</p><p>imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei” (BRASIL, 1988). No</p><p>entanto, apesar das intervenções supracitadas, as evidências apresentadas</p><p>anteriormente mostram que parte da população ainda resiste ao respeitar toda</p><p>liberdade de expressão e manifestação de crença.</p><p>De acordo com os PCNs:</p><p>Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social</p><p>e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que</p><p>de maneira involuntária ou inconsciente representam violação dos direitos</p><p>dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo</p><p>obstáculos ao processo educacional pelo sofrimento e constrangimento a que</p><p>essas pessoas se veem expostas (BRASIL, 1997).</p><p>Para enfrentamento do problema, a Lei nº 10.639/2003 alterou a Lei de</p><p>Diretrizes e Bases (LDB - 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da</p><p>36</p><p>educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade</p><p>da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” (BRASIL, 1996).</p><p>Não obstante, os adeptos de religiões de origem africana são as vítimas que</p><p>mais sofrem preconceito no Brasil.</p><p>O racismo, que nega por todos os meios a humanidade dos negros, buscou</p><p>sempre atingir os valores culturais e civilizatórios dos descendentes de</p><p>africanos no Brasil. Tratadas depreciativamente como “curandeirismo” o u</p><p>“espiritismos”,as religiões de matrizes africanas foram criminalizadas e</p><p>duramente perseguidas em diferentes momentos de nossa história</p><p>(COLETÂNEA CERIS, 2007).</p><p>Por este ângulo, é possível constatar que o respeito mútuo entre as religiões</p><p>ainda está invisível na sociedade, e consequentemente contribuem com situações de</p><p>violência em razão das divergências e crença defendida pelo ser humano. Mesmo</p><p>com a criação da Lei 11.635/2007 que institui o Dia Nacional de Combate a</p><p>Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro percebe-se que essa problemática</p><p>ainda não extinguiu no Brasil (BRASIL, 2007).</p><p>Perante a lei, “o Brasil é um Estado laico”, aquele que acima de tudo tem um</p><p>compromisso de não favorecer, nem prejudicar as formas de práticas religiosas.</p><p>Conforme a Constituição de 1988;</p><p>Art. 19, Inciso I- É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos</p><p>Municípios:</p><p>I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvenciona-los, embaraçar-lhes</p><p>o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de</p><p>dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de</p><p>interesse público (BRASIL, 1988).</p><p>Como Estado laico, entende-se um Estado que concede liberdade religiosa aos</p><p>seus cidadãos representando uma democracia plena no âmbito religioso. Portanto</p><p>como cidadãos, se tem o direito de optar e escolher a religião que aprouver. No</p><p>entanto, isso representa um ganho qualitativo substancial se comparado a</p><p>Constituição de 1824, onde através da Lei do Padroado o Brasil era um considerado</p><p>um Estado Católico e assim oficializava o catolicismo como única religião nas terras</p><p>brasileiras. Segundo Costin (2010):</p><p>O Padroado funcionava como um instrumento</p><p>jurídico claramente em seus</p><p>aspectos administrativos, jurídicos e financeiros. Padres, religiosos e bispos</p><p>eram funcionários da coroa portuguesa no Brasil colonia l durante o período</p><p>colonial e imperial.</p><p>37</p><p>Portanto, a Constituição de 1988 veio para mostrar ao brasileiro que a religi��o</p><p>não mais se constituía no empecilho para atividades políticas, econômicas entre</p><p>outras tantas como outrora. Neste sentido, é importante salientar que as instituições</p><p>públicas, na qual há uma representação do povo, necessita tomar cautela para não</p><p>exaltar e nem ofender aquilo que é de outra percepção religiosa, ou seja, o Estado</p><p>laico não é contra a religião, mais é um Estado que pressupõe uma organização da</p><p>máquina pública não submetida a nenhuma crença religiosa (SANTOS; SIMÕES;</p><p>SALAROLI, 2017).</p><p>Dessa forma, a liberdade de culto baseia-se no conceito que o sujeito acredita</p><p>ou cultua ou até mesmo desacredita, constituindo o princípio da liberdade individual.</p><p>Nesse caso, quando se tem o ato da intolerância religiosa, se tem a violação dessa</p><p>liberdade garantida por lei. No entanto, o princípio da laicidade do Estado consagrado</p><p>no artigo 19, inciso I, representa um valor considerado fundamental e importante, pois</p><p>visa compreender a liberdade de expressão num Estado democrático onde em</p><p>sociedade, os indivíduos lhes permitam toda forma de expressão e manifestação de</p><p>crença. Esse valor que envolve o princípio da laicidade está diretamente ligado ao</p><p>Ensino Religioso na escola pública, ou seja, quando o Ensino Religioso é ministrado</p><p>em bases confessionais ou interconfessionais, crianças e adolescentes são expostos</p><p>a visões dogmáticas, ferindo o princípio da laicidade consagrado na constituição</p><p>(SANTOS; SIMÕES; SALAROLI, 2017).</p><p>Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs aborda a questão da Pluralidade</p><p>Cultural e Orientação Sexual, mencionando o papel que a escola tem a desempenhar</p><p>no processo de superação dos preconceitos e combate às atitudes discriminatórias:</p><p>A escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo. Em primeiro,</p><p>porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre crianças de</p><p>origens e nível socioeconômico diferentes, com costumes e dogmas</p><p>religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo</p><p>diversas daquela que compartilha em família. Em segundo, porque é um dos</p><p>lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio</p><p>democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola apresenta à</p><p>criança conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo, e aí a</p><p>realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e</p><p>discussões em torno de questões sociais. A criança na escola convive com a</p><p>diversidade e poderá aprender com ela (BRASIL, 1997).</p><p>38</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-modernidade. Rio de Janeiro. 1998.</p><p>BERGER, P. L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da</p><p>religião. São Paulo: Paulinas, 1985.</p><p>BRASIL. Art. 5° incisos XLI e XLII da Constituição Federal de 1988.</p><p>BRASIL. Secretaria de Educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:</p><p>pluralidade cultural, orientação sexual/ Secretaria de Educação Fundamental. –</p><p>Brasília: MEC/SEF, 1997, p. 20.</p><p>BRASIL. Altera a Lei nº 9394/96, de 20 de novembro de 1996.</p><p>BRASIL. Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a</p><p>ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro. 2007</p><p>BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. 2017.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros</p><p>Curriculares Nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Brasília:</p><p>MEC/SEF, 1997, p. 21.</p><p>BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Diversidade</p><p>religiosa e direitos humanos. 3ª ed. Brasília: Editora União Planetária, 2013, p. 9-</p><p>10.</p><p>CARNIATO, M. I. Expressões do sagrado na humanidade, 7º ano. Paulinas,</p><p>2010.</p><p>CASANOVA, J. Reconsiderar la secularización: una perspectiva comparada</p><p>mundial. Revista Acadêmica de Relaciones Interlacionales, Madrid, n. 7, nov. 2007.</p><p>CATÃO, F. Curso de Ensino Religioso Escolar: o Fenômeno Religioso. São Paulo:</p><p>Editora Letras & Letras, 1995.</p><p>39</p><p>COLETÂNEA CERIS. Direitos humanos no Brasil 2: diagnóstico e perspectivas.</p><p>São Paulo: Mauad Editora, 2007, p. 490.</p><p>CORRÊA, V. S.; VALE, G. M. V. Ação Econômica e Religião: Igrejas como</p><p>Empreendimentos no Brasil. RAC, Rio de Janeiro, 21(1): 1-18, 2017</p><p>COSTA FERREIRA, R.; BRANDENBURG, L. E. O ensino religioso e a BNCC:</p><p>possibilidades de se educar para a paz. Revista Caminhos-Revista de Ciências da</p><p>Religião, v. 17, n. 2, p. 508-522, 2019.</p><p>COSTIN, C. Administração pública. São Paulo: ed. Elsevier, 2010, p. 167.</p><p>DANTAS, D. C. A contribuição do Ensino Religioso escolar à formação ética e</p><p>cidadã. 2007.</p><p>DIAS, I.; ANDRADE, R. Distâncias e Proximidades entre Neopentecostalismo e</p><p>Religiões Afro-Brasileiras: A Constituição Social do Sentido. Sacrilegens 8(1):</p><p>129- 147, 2011</p><p>FIGUEIRA, E. O ensino religioso e a educação humanista numa era secular.</p><p>2012.</p><p>FISCHMANN, R. et al. (Org.). Ensino religioso em escolas públicas: impactos</p><p>sobre o Estado laico. São Paulo: FAFE/FEUSP/PROSARE/MacArthur Fundation,</p><p>Factash, 2008.</p><p>FONAPER. FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO.</p><p>Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. São Paulo: Mundo Mirim,</p><p>2009.</p><p>GGN – O JORNAL DE TODOS OS DIAS. Para entender o projeto de poder de</p><p>políticos e igrejas neopentecostais. 2019</p><p>GUIMARÃES, M. R. Um Novo Mundo é Possível. São Leopoldo: Ed. Sinodal, 2004,</p><p>p.28.</p><p>HABERMAS, J. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Rio de Janeiro:</p><p>Tempo Brasileiro, 2007.</p><p>40</p><p>HERVIEU-LÉGER, D. Sociologia e religião: abordagens clássicas. Aparecida:</p><p>Ideias & Letras, 2009</p><p>HUACO, M. A laicidade como princípio constitucional do Estado de Direito. Em</p><p>defesa das liberdades laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.</p><p>JAGUM, M. Intolerância religiosa: negligências seculares e providências</p><p>emergenciais. In: Santos, Babalawô; Ivanir dos Santos (orgs). Intolerância religiosa</p><p>no Brasil: relatório e balanço. Edição bilíngue – Rio de Janeiro: Klíne: CEAP, 2016.</p><p>JUNQUEIRA, S. R. A., NASCIMENTO, S. L. Concepções do Ensino Religioso.</p><p>Numen: Revista de Estudos e Pesquisa da Religião, v. 16, p. 231-257, 2013.</p><p>JUNQUEIRA, S. R. A. Ensino Religioso no Brasil: Estudo do seu Processo de</p><p>Escolarização. Educere – Revista da Educação, Toledo-PR, vol. 1, n. 2, p. 3-17,</p><p>jul.dez.2001.</p><p>LINZ, E. S.; CRUZ, J. S. Objeto de estudo, objetivos e eixos do ensino religioso</p><p>na base nacional comum curricular. RJ: Vozes, 2017. p. 143-147.</p><p>LUCHI, J. P. O lugar das religiões numa sociedade pós-secular: discussão da</p><p>perspectiva de J. Habermas. Religião e sociedade (pós) secular. Vitória: Unida,</p><p>2014. p. 96.</p><p>MARTINS, I. G. S. Parecer Tratado Brasil-Santa Sé - Constitucionalidade do Artigo</p><p>11, § 1º, do Decreto nº 7.107/2010 em Face do Artigo 210, § 1º, da Constituição</p><p>Federal e do Artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Parecer. Revista</p><p>Síntese Direito Administrativo, nº 74, p. 204-221, Seção Especial – Parecer, São</p><p>Paulo, fev.2012</p><p>MELCHIOR, M. N. A religião pós-moderna em Zygmunt Bauman. In:</p><p>Sociabilidades religiosas, mitos, ritos e identidades. Anais dos XI Simpósio Nacional</p><p>da Associação Brasileira de História das Religiões. Goiânia, 2009.</p><p>MOUFFE, C. Religião, democracia liberal e cidadania. Os votos de Deus:</p><p>evangélicos, política e eleições no Brasil. Recife: Massangana, 2006.</p><p>41</p><p>MUNDO CRISTÃO. Brasil terá maioria evangélica em 2020, segundo estatísticas.</p><p>OLIVEIRA, E. M. A. de; ALVES, A. Tendências da pesquisa sobre</p><p>Neopentecostalismo no Brasil: um estudo comparativo. Revista Diálogos 10:</p><p>259:286, 2013.</p><p>OLIVEIRA, P.</p><p>A. R. A teoria do trabalho religioso em Pierre Bourdieu. Sociologia</p><p>da Religião: enfoques teóricos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, p. 177-197, 2011.</p><p>ORO, A. P. A laicidade na América Latina: uma apreciação antropológica. In:</p><p>LOREA, Roberto (Org.). Em defesa das liberdades laicas. Porto Alegre: Livraria do</p><p>Advogado, 2008. p. 83.</p><p>PASSOS, J. D. Ensino Religioso: construção de uma proposta. São Paulo:</p><p>Paulinas, 2007.</p><p>RANQUETAT JÚNIOR, C. A. A implantação do novo modelo de ensino religioso</p><p>nas escolas públicas do Estado do Rio Grande do Sul: laicidade e pluralismo</p><p>religioso. Porto Alegre, 2007. p. 66</p><p>RODRIGUES, E. Questões epistemológicas do ensino religioso: uma proposta a</p><p>partir da ciência da religião. Interações – Cultura e Comunidade, Belo Horizonte, v.8</p><p>n.14, p. 230-241, jul./dez.2013.</p><p>SANCHIS, P. A contribuição de Émile Durkheim. In: TEIXEIRA, Faustino. Sociologia</p><p>da Religião: enfoques teóricos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, p. 36-66, 2011.</p><p>SANTOS, A. S. M.; SIMÕES, M.; SALAROLI, T. P. P. O retrato da intolerância religiosa</p><p>no Brasil e os meios de combatê-la. UNITAS-Revista Eletrônica de Teologia e</p><p>Ciências das Religiões, v. 5, n. 2, p. 411-430, 2017.</p><p>SANTOS, L. L. C. P.; DINIZ-PEREIRA, J. E. TENTATIVAS DE PADRONIZAÇÃO DO</p><p>CURRÍCULO E DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL. Caderno CEDES,</p><p>Campinas, v. 36, n. 100, p. 281-300, dez. 2016.</p><p>SANTOS, M. S. RELIGIÃO E DEMANDA: O FENÔMENO RELIGIOSO EM ESCOLAS</p><p>PÚBLICAS. 2016</p><p>42</p><p>SANTOS, M. S. et al. Religião e demanda: o fenômeno religioso em escolas</p><p>públicas. 2016.</p><p>SILVA, D. E. Centralidade do dinheiro na espiritualidade neopentecostal.</p><p>Horizonte 7(13): 19-38, 2009</p><p>SILVA, J. C. O Currículo e o Ensino Religioso na BNCC: reflexões e perspectivas.</p><p>Revista Pedagógica, Chapecó, v. 20, n. 44, p. 56-65. 2019</p><p>SILVEIRA, E. J. S. O discurso religioso na sociedade pós-secular: notas reflexivas e</p><p>indícios impertinentes. In: ROSA, W. P.; RIBEIRO, O. L. (Orgs.). Religião e sociedade</p><p>(pós) secular. Vitória: Unida, 2014. p. 61-62.</p><p>SOUZA, C.; VIEIRA, R. F. Secularização, pós-secularização, laicidade e laicismo.</p><p>Protestantismo em Revista | São Leopoldo | v. 41 | p. 51-68 | maio/ago. 2016</p><p>STEIL, CARLOS A.; TONIOL, R. A crise do conceito de religião e sua incidência</p><p>sobre a antropologia. In: GIUMBELLI, E.; BÉLIVEAU, V. G. (orgs.).</p><p>TEIXEIRA, F. Peter Berger e a religião. In: TEIXEIRA, Faustino. Sociologia da</p><p>Religião: enfoques teóricos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, p. 218-248, 2011.</p><p>TIMM, A. R. Mercado da fé. 2019</p><p>VASCONCELOS, F. I. A RELIGIÃO COMO NECESSIDADE SOCIAL. Revista</p><p>Cogitationes|| ISSN, v. 2177, p. 6946. 2012</p><p>VITAL DA CUNHA, C. Religião e política: uma análise da atuação de</p><p>parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil.</p><p>Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 232p., 2012</p><p>WACHHOLZ, W. Introdução. In: JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo.</p><p>ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM TEOLOGIA E</p><p>CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. Ensino religioso no Brasil. Florianópolis, SC: Insular, 2015.</p><p>p. 19-20.</p><p>WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin</p><p>Claret, 2013.</p><p>vestígios que podem suscitar</p><p>discussões e até decidir apoiar a religião.</p><p>Como resultado da secularização da sociedade, também houve um</p><p>acirramento da competição religiosa, que eliminou a posição de monopólio das</p><p>religiões que antes ocupavam a maioria e abriu espaço para o advento de novas</p><p>religiões com novas crenças e costumes religiosos. Como resultado, uma nova</p><p>"estrutura razoável" foi finalmente estabelecida na sociedade e passou a buscar</p><p>respostas principalmente na sociologia do conhecimento. Por sua vez, devido à</p><p>“diversificação sistêmica da modernidade” (TEIXEIRA, 2011, p. 236), outro</p><p>fenômeno relacionado à pesquisa sociológica, essas estruturas capciosas passam</p><p>a sofrer instabilidade.</p><p>3 ABORDAGEM DO FENÔMENO RELIGIOSO</p><p>Fonte: image/png</p><p>6</p><p>A historicidade do Ensino Religioso (ER) no Brasil recente não se constitui</p><p>somente por fatos, controvérsias, disputas políticas e religiosas em torno da sua</p><p>presença nas redes oficiais de ensino, mas também pelos diferentes modelos</p><p>tipológicos de ER – catequético, confessional, interconfessional, fenomenológico etc.</p><p>– que almejam conferir uma “cidadania epistemológica” e consolidá-lo enquanto área</p><p>do conhecimento (FIGUEIRA, 2012, p. 13).</p><p>Muitos autores insistem que o objeto de estudo do Ensino Religioso (ER), é a</p><p>leitura e decodificação de símbolos e expressões de crenças religiosas existentes</p><p>em diferentes culturas e sociedades. Tal objeto ainda se desdobra em um segundo:</p><p>o estudo dos “fenômenos religiosos como patrimônio imaterial do povo brasileiro” é</p><p>reconhecido como plural em termos de pertença e prática religiosa (CARNIATO,</p><p>2010, Vol. 9, p. 10).</p><p>A disciplina ER se diferencia das demais disciplinas por ser a única disciplina</p><p>da escola pública que envolve os dois campos da educação do ensino (escolas) e</p><p>da religião. "Inclui não só uma dimensão humana comum, mas também as</p><p>manifestações das tradições religiosas". No entendimento de Maria Inês Carniato, é</p><p>uma disciplina diferenciada, pois além de seus objetivos, conteúdos, estratégias e</p><p>procedimentos próximos à religião, a ER é o único componente do currículo que trata</p><p>de questões humanas universais.</p><p>É justamente diante dessa questão: o sentido da vida ou o absurdo da</p><p>existência que Eulálio Figueira (2012, p. 2) sugeriu que o ER deveria ser</p><p>posicionado, mas também deveria ser combinado com outras disciplinas</p><p>educacionais para contribuir com a tarefa da educação integrada. Se o campo</p><p>científico se baseia em encontrar conhecimento factual sobre a natureza ou o mundo</p><p>empírico, em que consiste e como funciona, então a religião abrangerá moralidade,</p><p>valor ético, origem, destino e sentido da vida, transcendência e desenvolvimento</p><p>espiritual.</p><p>Essa defesa do RE como conteúdo curricular do “mistério da fé” ao não</p><p>religioso está em consonância com a jurista católica Ives Gandra da Silva Martins à</p><p>Federação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao avaliar os regulamentos que</p><p>regem o RE em nível federal, ele destacou que o "ensino religioso" é um "fenômeno</p><p>cultural e histórico" e "a atuação sociocultural é obrigatória e incluída em várias</p><p>questões de penetração religiosa" (MARTINS, 2012, p. 218).</p><p>7</p><p>Não se pode estudar, prossegue o jurista, filosofia, sem se estudar Tomas de</p><p>Aquino ou Agostinho. Não se pode (...) estudar a Idade Média, sem estudar</p><p>as Cruzadas e sem examinar a sua inspiração predominantemente religiosa.</p><p>Não se pode estudar sociologia, sem se pesquisar o papel da formação dos</p><p>povos através da religião. Não se pode estudar Astronomia, sem referência</p><p>aos estudos dos primeiros astrônomos sacerdotes – Copérnico, por exemplo.</p><p>Não se pode estudar genética, sem se referir às experiências do Padre</p><p>Mendel. Não se pode estudar arquitetura, sem se referir às catedrais</p><p>construídas pela Igreja Católica. Não se pode estudar matemática, sem fazer</p><p>referência aos grandes matemáticos da Igreja Católica. Não se pode estudar</p><p>geologia, sem aludir ao Padre Nicolau Steno, que estabeleceu a maior parte</p><p>dos princípios da geologia moderna e assim por diante.</p><p>Tal ensino é obrigatório e pode ser ministrado por professores não</p><p>confessionais.</p><p>Facultativo é o ensino confessional. É aquele em que o professor versado na</p><p>fé explica tais fundamentos a seus alunos, que completam sua formação</p><p>humana com a formação religiosa. (...). (MARTINS, 2012, p.219).</p><p>Especificamente, o autor desta defesa quer nos convencer de que a ciência</p><p>moderna faz parte do pensamento cristão, e é impossível ensinar / aprender</p><p>qualquer coisa sem se referir aos ídolos e pensadores associados à Igreja Católica.</p><p>Além disso, propõe-se distinguir os saberes escolares proporcionados nos diferentes</p><p>campos mencionados, da filosofia à geologia, e os saberes da natureza penitente</p><p>transmitidos pelo "mestre de fé", condizentes com as crenças pessoais e religiosas</p><p>declaradas pelos alunos. (SANTOS, 2016).</p><p>3.1 Modelos tipológicos de ensino religioso</p><p>No processo de "evolução" teoria-método do ER, podem ser encontrados</p><p>diversos tipos desse ensino, frequentemente citados na literatura acadêmica sobre</p><p>o assunto. Eles surgiram junto com as mudanças políticas, educacionais e sociais</p><p>no Brasil. Essas mudanças nos permitem, como Junqueira e Nascimento (2013),</p><p>vincular “o aumento da diversidade de crenças religiosas com a consolidação da</p><p>vida democrática e o desenvolvimento descentralizado de países e regiões”</p><p>(LOPES, 2013).</p><p>Em sua descrição, Junqueira (2001) descobriu três variantes do ER</p><p>recorrente: confissão, inter-fé e fenomenologia. Passos (2007) também sistematizou</p><p>três modelos: modelo orientado para o catecismo, modelo teológico e modelo das</p><p>ciências religiosas. Sem excluir essas mudanças, mas com base em pesquisa</p><p>realizada em escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte / MG,</p><p>Dantas (2007) descreveu quatro “modos de compreensão” para o assunto:</p><p>8</p><p>confissão, generalização, Mundo ("irênico") e inter-religiosos ("pluralismo"). Para</p><p>Becker, teologia e ciências religiosas são as áreas de referência para a maioria dos</p><p>modelos de ER mostrados.</p><p>Para sintetizar os modelos de ER mencionados em seu livro de caráter</p><p>introdutório, Passos recorreu à “estratégia weberiana dos tipos ideais”, a fim de</p><p>justificar que os</p><p>[...] tipos são mapas mentais extraídos da realidade a partir de práticas</p><p>concretas, não puras. As práticas são sempre impuras, contêm misturas de</p><p>elementos diversos que a tipologia ideal não expressa em seus esquemas</p><p>unívocos e simples. Contudo, os modelos esquemáticos visam</p><p>fornecer referências para a visualização e análise das práticas concretas</p><p>(2007, p. 52).</p><p>Modelos de ensino religioso</p><p>Fonte: Adaptado de: PASSOS, 2007, p. 59, 63, 66</p><p>Esta síntese “geral e comparativa” visa revelar cada conceito da “cosmovisão</p><p>religiosa” que o sustenta e o “pano de fundo político” da relação entre a Igreja e a</p><p>sociedade civil, mas também menciona o conteúdo da fonte do professor de ER.</p><p>Também visa mostrar os “métodos” e “semelhanças” ou aproximações utilizadas,</p><p>bem como certas tendências de ensino. Observa-se também que cada modelo</p><p>possui um “objetivo” que indica o sujeito responsável por sua gestão e execução,</p><p>podendo ocultar alguns riscos, conforme observado em qualquer prática educativa</p><p>(PASSOS, 2007, pp. 54-55).</p><p>Diferentes modelos de Ensino Religioso:</p><p>Catequético</p><p>9</p><p>“O catecismo é definido como a educação permanente e sistemática da fé.</p><p>Pressupõe que a pessoa (...) ingressou num grupo religioso que faz parte da</p><p>comunidade de fé e aí celebra, cresce espiritualmente e participa” (1997, p. 13). O</p><p>modelo derivado dessa experiência - o Catecismo - é o "mais antigo" de todos os</p><p>modelos e está relacionado ao pano de fundo de "a religião goza de hegemonia na</p><p>sociedade", mas é ainda "nas muitas práticas atuais que continuam a apostar nessa</p><p>hegemonia. “Sobreviver e usar o método moderno de (...)”</p><p>(PASSOS, 2007, p. 54).</p><p>O ER catequético se baseia na ideia de relegere, a partir do entendimento da</p><p>seleção, a fim de formar seguidores e propiciar a formação do cristianismo. Também</p><p>reflete a linguagem simbólica da comunidade religiosa, suas próprias características,</p><p>razões de existência, conceitos, textos sagrados e doutrinários. Adotada durante os</p><p>períodos colonial e imperial, tem um claro caráter penitente e católico, pois a Igreja</p><p>e o Estado ainda não são domínios independentes.</p><p>Uma vez que não pode ter efeito nas circunstâncias modernas em que a</p><p>divisão da Igreja e do Estado se tornou uma realidade, a RE doutrinária só pode</p><p>existir por meio de um acordo entre esses dois poderes. Tal acordo visa se adaptar</p><p>aos seus valores fundadores de uma forma, mas não “um poder sobre outro poder”</p><p>(PASSOS, 2007, p. 59).</p><p>O catecismo é mais comum em escolas particulares, mas ainda é amplamente</p><p>utilizado por professores de escolas públicas, o que reforça as acusações de que</p><p>uniformes de ensino religioso e domesticação se tornaram os braços estendidos da</p><p>igreja cristã nas escolas (DANTAS, 2007, P. 58).</p><p>Teológico</p><p>Este paradigma assume a concepção de religare, significando religar as</p><p>pessoas a si mesmas, aos outros, à natureza e a Deus, visando torná-las mais</p><p>religiosas. Nesse contexto, o RE caracterizou-se como pastoral, ensino de ética e</p><p>valores. Sustenta-se na ideia da educação da religiosidade um valor antropológico, no</p><p>qual a dimensão transcendente marca o ser humano na sua profundidade,</p><p>independentemente de sua confissão religiosa.</p><p>Com base em uma visão de mundo multirreligiosa, sua fundação visa superar</p><p>a fé, o missionarismo e promover o diálogo com outras denominações religiosas.</p><p>Mesmo que se tenha interesse em dialogar com uma sociedade laica de religiões</p><p>10</p><p>diversas, o risco do modelo teológico está em se transformar em um “catecismo</p><p>disfarçado”. Este risco não advém da disponibilização do seu conteúdo, mas sim da</p><p>responsabilidade e do comportamento das crenças religiosas. Estes, após</p><p>assumirem a implantação da ER, podem “estender sua comunidade de confissão e</p><p>cópias de seus ensinamentos às escolas” (PASSOS, 2007, p. 61).</p><p>Ciências da religião</p><p>Para se livrar da armadilha do ensino, da confissão e da conversão, os</p><p>especialistas da área acreditam que o modelo científico da religião é "o mais ideal"</p><p>e pode manter a autonomia epistemológica das ER. Eles acreditam que a ciência</p><p>religiosa é um campo do conhecimento, “fundado em seus princípios e métodos, no</p><p>âmbito tradicional da ciência moderna” possuindo um saber próprio e sendo</p><p>compatível com a educação laica. Apesar de seu caráter científico, especialistas da</p><p>área reclamam que o ER não foi assimilado pelo sistema oficial de ensino</p><p>(MENEGHETTI, 2003, p. 94),</p><p>É neste campo do conhecimento que as pessoas devem buscar</p><p>recomendações, objetivos de orientação, vocabulário e conteúdo dos cientistas</p><p>religiosos. Eles admitem que “as crenças religiosas e as religiões são dados</p><p>antropológicos e socioculturais” (PASSOS, 2007, p. 65) são resolvidos no sistema</p><p>de ensino, mas seguem as mesmas regras ou requisitos das demais disciplinas</p><p>escolares. Para Passos (2007), isso permitirá que o ER seja retirado das disputas</p><p>entre igrejas e instituições do Estado e, portanto, fora das estruturas eclesiásticas</p><p>ou penitentes. Propõe uma "visão inter-religiosa" que transcende "religiões</p><p>específicas", a fim de buscar "uma visão ampla que possa tolerar a diversidade e ao</p><p>mesmo tempo capturar a singularidade desse fenômeno”.</p><p>Segundo Becker (2010), a proposta de um ER cientificamente neutro,</p><p>utilizando a ciência religiosa como modelo epistemológico, é quase hegemônica no</p><p>campo acadêmico atual, aparecendo em centenas de publicações profissionais e,</p><p>portanto, sujeita a diversas entidades de ensino Superior Institucional, como uma</p><p>voz discordante, Becker se opõe fortemente ao uso da ciência religiosa como um</p><p>campo de referência para o ER. Ele acredita que é impossível para professores e</p><p>pesquisadores abstrair da "participação pessoal" da disciplina de ER.</p><p>11</p><p>Para ele, o “modelo interteológico”, também conhecido como “modelo inter-</p><p>religioso” e “real”, indica a possibilidade do ER ser tematizado sob o ponto de vista</p><p>“das próprias religiões” e “responsabilizado por teólogos, membros das próprias</p><p>religiões que conhecem e valorizam sua religião”. Porém, ele mesmo admite que é</p><p>impossível implementar essa forma inter-religiosa. Afinal, no Brasil, não há</p><p>quantidade e qualidade suficientes para compensar Professor e teólogo de todos os</p><p>grupos religiosos do seminário - africanos, aborígines e orientais (BECKER, 2010, p.</p><p>291).</p><p>Confessional e interconfessional</p><p>O modelo confessional é um dos mais antigos e duradouros, surgiu nas</p><p>escolas brasileiras desde o período colonial e adotou o "conceito de hierarquia</p><p>religiosa". Junqueira (2013) fez uma breve menção ao ensino da moral e da doutrina</p><p>católica atualmente na legislação de 1827. A natureza da confissão de RE pressupõe</p><p>que todos, professores e alunos, pertencem à mesma crença religiosa, têm sua</p><p>própria visão de mundo, adoração, rituais, princípios éticos, costumes e</p><p>organizações hierárquicas. A natureza do arrependimento de RE pressupõe que</p><p>todos, professores e alunos, pertencem à mesma crença religiosa, têm sua própria</p><p>visão de mundo, adoração, rituais, princípios éticos, costumes, organizações</p><p>hierárquicas, etc. A agência oral é responsável pela entrega do conteúdo acima e,</p><p>em alguns casos oficiais, ainda é responsável por certificar a confiabilidade e o</p><p>treinamento dos professores. Nesse caso, “o ensino confessional pode ser</p><p>confundido com a educação religiosa, semelhante à educação ministrada por grupos</p><p>religiosos para formar membros de um determinado grupo” (DINIZ E LIONÇO, 2010,</p><p>p. 14).</p><p>Em escola cristã, não necessariamente católica, pode haver separação entre</p><p>credos, mas os alunos matriculados sempre “submeterão o arrependimento da</p><p>escola”, escolhidos pelos pais ou responsáveis legais (DANTAS, 2007, p. 46). A</p><p>limitação desse modelo é que se aproxima do ensino dos ensinamentos cristãos, e</p><p>se pressupõe que todos os alunos cultivem crenças religiosas, tenham status</p><p>confessional exclusivo ou participem de determinada religião; isso nem sempre</p><p>acontece se a tendência contemporânea da religião o pluralismo é levado em</p><p>consideração. Mesmo após a secularização do país, no final do século XIX, o ensino</p><p>12</p><p>confessional ainda existia não apenas nas escolas confessionais, mas também</p><p>formal ou informalmente nas escolas públicas brasileiras.</p><p>Em teoria, o propósito da proposta interconfessional não é ensinar alunos ou</p><p>ensinar uma religião em particular. Tem como proposta uma evangelização de base</p><p>ampla, seguindo o “valor da existência humana, que é sujeito e agente da sua</p><p>história, se insere e participa numa comunidade de fé, e a sua consciência e</p><p>liberdade seja respeitado "(JUNQUEIRA; NASCIMENTO, 2013, p. 235). Mesmo que</p><p>se presuma que o aluno tenha uma identidade religiosa anterior ou assumida, o</p><p>objetivo a ser alcançado ainda é o de se tornar um seguidor. O que se pretende é</p><p>educar os alunos nas chamadas crenças religiosas, entendidas como uma atitude</p><p>dinâmica e aberta ao sentido fundamental da existência humana.</p><p>Ecumênico</p><p>O ecumenismo refere-se à comunhão, unidade, movimento aberto, diálogo e</p><p>“a proximidade da igreja cristã, buscando a aceitação mútua, superando as</p><p>diferenças, compartilhando patrimônio comum e construindo a unidade” (CRUZ,</p><p>1997, p. 14). Como um modelo curricular de RE, ele se concentra mais nas</p><p>semelhanças entre as religiões cristãs (catolicismo, Igreja Ortodoxa, Igreja Batista,</p><p>Igreja Presbiteriana, Igreja Luterana, Igreja Metodista e outros ramos do</p><p>Cristianismo) do que nas diferenças. Há uma visão de que o universalismo visa</p><p>favorecer o diálogo com as diferentes</p><p>religiões, mas não se trata de uma "mistura"</p><p>ou "salada mista religiosa". Essa distinção não é um consenso, nem uma regra aceita</p><p>por todos: “Algumas pessoas aplicam o termo universalismo a todas as situações”</p><p>(CRUZ, 1997, p. 25).</p><p>A limitação a esse respeito é justamente a ênfase na matriz da confissão</p><p>cristã, que se baseia em "uma teologia que a considera uma forma privilegiada de</p><p>relação entre humanos e transcendentes, e outros modelos de credos" (DANTAS,</p><p>2007, p. 47). Para esse modelo, Carlos Steil também se opôs - citado por Dantas -</p><p>defendeu projetos de energias renováveis com base nas seguintes múltiplas</p><p>propostas:</p><p>Quando analisamos os currículos de Ensino Religioso das escolas públicas</p><p>podemos constatar que as religiões dominantes na sociedade acabam</p><p>impondo suas concepções. Do mesmo modo, quando se observa a prática</p><p>cotidiana da escola pública percebemos que nem todos os grupos religiosos</p><p>13</p><p>podem expressar, da mesma forma, o que sentem e pensam. Inserida numa</p><p>tradição científica de caráter racionalista, a tendência da escola é de</p><p>homogeneizar a diversidade religiosa dentro de uma única ‘religião humana</p><p>purificada’ que se colocaria acima das religiões e grupos religiosos concretos.</p><p>Partindo da premissa de que não há um só Deus, igual para todos, procura-</p><p>se reduzir as diferenças a um denominador comum. Este denominador, no</p><p>entanto, geralmente se apresenta como o ‘deus’ cristão das religiões</p><p>dominantes e mais racionalizadas. Para que se implante uma educação</p><p>religiosa pluralista é preciso que a escola se compreenda como um projeto</p><p>aberto, promotor de uma cultura de diálogo e comunicação entre os grupos</p><p>sociais e religiosos que se apresentam no seu cotidiano. O pluralismo é real</p><p>quando existe a possibilidade efetiva de manifestação da variedade das</p><p>crenças e concepções religiosas sem restrições impostas por preconceitos e</p><p>proselitismos. O Ensino Religioso tem um compromisso com a mudança de</p><p>atitude e mentalidade de professores, administradores e alunos numa</p><p>Perspectiva de acolhida da diversidade religiosa que aparece no espaço</p><p>escolar (STEIL apud DANTAS, 2007, p. 49-50).</p><p>Inter-religioso (“pluralista”)</p><p>A proposta visa estreitar a distância entre as religiões, tanto na perspectiva</p><p>do discurso e da prática de cada congregação, a fim de conviver pacificamente e</p><p>solucionar os problemas que afligem a humanidade (SANCHEZ, 2010). Portanto,</p><p>não pressupõe que o aluno concorde com algum "credo" ou que pertença a uma</p><p>instituição religiosa. Com base nas categorias antropológicas de transcendência e</p><p>alteridade, cultiva o diálogo com a antropologia cultural, a psicologia, a</p><p>fenomenologia e a sociologia religiosa. Para essas disciplinas, a emoção religiosa e</p><p>sua institucionalização “é a expressão e sistematização das necessidades do grupo</p><p>humano, dos conceitos sagrados e da percepção do mundo em uma época e</p><p>contexto histórico específicos” (DANTAS, 2007, p. 54). De acordo com Steil, RE é</p><p>baseado em uma visão diversa e</p><p>[...] deve apresentar uma visão positiva da diversidade religiosa, situando-a</p><p>como parte de um contexto democrático onde a liberdade de pensamento e</p><p>de credo pode se expressar. Neste sentido, deve estimular o diálogo e a</p><p>interação entre os alunos de diferentes tradições religiosas, buscando</p><p>superar os preconceitos e revelar seus pontos de convergência. Uma</p><p>perspectiva histórica e sociológica das religiões pode ser importante para</p><p>desvendar as razões de muitos conflitos que dividem grupos e pessoas.</p><p>Muitos preconceitos e discriminações estão relacionados com fatos históricos</p><p>que, uma vez analisados, permitiriam construir uma outra imagem dos grupos</p><p>e pessoas que estão diretamente relacionados a eles. A educação religiosa</p><p>deve buscar ainda internalizar nos alunos uma ética de ação e de</p><p>comportamento dentro de um mundo plurirreligioso. Uma ética que deve se</p><p>traduzir em práticas e atitudes apropriadas para uma convivência humana</p><p>numa sociedade pluralista. Ou seja: que os impulsionem a comportar-se</p><p>responsavelmente no meio cultural democrático que se apresenta em</p><p>consonância com a afirmação da liberdade religiosa e respeito a outras</p><p>religiões diferentes da sua (STEIL apud DANTAS, 2007, p. 54-55).</p><p>14</p><p>A proposta deste ensino,</p><p>[...] dê-se a ele que nome for, traz consigo riscos de muitas violações de</p><p>direitos. Por exemplo, a afirmação frequente nesses casos de que a</p><p>divindade “é sempre a mesma”, esconde uma ânsia, ainda que inconsciente,</p><p>de submeter o outro a certa visão de fé, que não é necessariamente a dele</p><p>(FISCHMANN, 2004).</p><p>Fenomenológico</p><p>Os métodos fenomenológicos tomam como ponto de partida os fenômenos</p><p>religiosos existentes na sociedade, e todas as ciências humanas e ciências são</p><p>utilizadas como referência (JUNQUEIRA, 2001). No vocabulário das humanidades,</p><p>o fenômeno é “fazer aparecer a realidade que não pode ser percebida diretamente,</p><p>mas é alcançada por meio de sua expressão ou símbolo” (CATÃO, 1995, p.17). O</p><p>termo "fenômeno religioso" refere-se à expressão religiosa da religião. Conceito</p><p>fenomenológico</p><p>[...] reconhece o valor histórico-social e cultural da religião, assim como o</p><p>traço simbólico que confere aos sujeitos religiosos dispositivos para a</p><p>vivência da religião, pragmática e ontologicamente, promovendo entre os</p><p>educandos o conhecimento necessário para o fortalecimento de noções</p><p>como o reconhecimento da alteridade e o respeito pela diferença</p><p>(RODRIGUES, 2013, p. 231).</p><p>Após a publicação dos "Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso-</p><p>PCNER" (FONAPER, 2009), foi divulgada a proposta de ER com base na</p><p>fenomenologia religiosa. O documento foi originalmente redigido em 1995 e</p><p>encaminhado ao Ministério da Educação (MEC) um ano depois, mas não foi</p><p>institucionalizado ou incluído nas diretrizes oficiais das disciplinas da educação</p><p>básica.</p><p>No sentido processual, e também procurando se distanciar da confissão, da</p><p>doutrina e do RE teológico, os parâmetros Fonaper reúnem cinco blocos temáticos,</p><p>assim resumidos:</p><p> Culturas e tradições religiosas: aspectos relacionados à função e valores da</p><p>tradição religiosa; relação entre tradição religiosa e ética; existência histórica e</p><p>destinação humana nas diferentes culturas, etc.;</p><p> Escrituras Sagradas e/ou tradições Orais: registros escritos ou orais;</p><p>narrativas sagradas e seus contextos culturais;</p><p>15</p><p> Teologias: conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados pelas</p><p>tradições religiosas, seja a respeito das “divindades”, “verdades de fé” ou sobre “vida</p><p>além da morte” (ressurreição, reencarnação, ancestralidade ou nada após a morte);</p><p> Ritos: celebrações rituais, seus símbolos e espiritualidades;</p><p> Ethos: conjunto de valores éticos que orienta a conduta e o comportamento</p><p>dos fiéis pertencentes a uma determinada comunidade religiosa.</p><p>A complexidade dos fenômenos religiosos revela novas formas de</p><p>espiritualidade e laços religiosos cada vez mais pessoais, autônomos e menos</p><p>institucionalizados. A hipótese em torno do “transcendental” como dado anterior</p><p>“precisa ser relativizada”, porque ignora as necessidades e características atuais das</p><p>cenas sociais e religiosas. A complexidade do contexto contemporâneo transcende</p><p>normas, símbolos e discursos institucionais, o que não significa que esses aspectos</p><p>- menos institucionalizados - não tenham algum impacto na sociedade (DANTAS,</p><p>2007).</p><p>3.2 Secularização</p><p>Fonte: gestaoeducacional.com.br</p><p>A expressão “secularização” deriva de “secular” que, por sua vez, tem relação</p><p>com o chamado tempo presente, com a realidade terrena. Luchi relatou que, na Idade</p><p>Média, a palavra "secular" se opunha ao conceito de religião e</p><p>[...] a Cristandade medieval se entendia como dividida em dois âmbitos: o</p><p>mundo sacral-espiritual-religioso da redenção e o mundo temporal profano.</p><p>16</p><p>O termo secularização foi então empregado como passagem</p><p>de pessoas e</p><p>coisas do âmbito sacro para o profano: como quando um frade ou monge</p><p>deixa o mosteiro para viver no mundo ou quando propriedades religiosas são</p><p>passadas ao domínio secular (LUCHI, 2014).</p><p>Quanto à expressão “secularização”, Berger destacou que há uma carga</p><p>ideológica, que pode se revestir de conotação positiva ou negativa de acordo com a</p><p>tendência dos autores que discutem o assunto. Para os seguidores da tendência</p><p>progressista, a secularização pode significar livrar-se das várias conexões impostas</p><p>pela religião. Quanto à parte relacionada ao clero, a secularização pode</p><p>corresponder a "paganização" ou "descristianização do mundo". Apesar dessas</p><p>explicações desarmoniosas, pode-se dizer que a secularização corresponde a um</p><p>fenômeno vivido no Ocidente. Nesse fenômeno, o cristianismo tem participado de</p><p>vários campos da vida social, incluindo a política e as instituições do Estado, depois</p><p>de muito tempo em grande número. A redução da coexistência humana em locais</p><p>públicos relegou o papel das instituições religiosas a um segundo plano, na melhor</p><p>das hipóteses semelhante ao papel de outros atores sociais. Nas palavras de Berger,</p><p>[...] por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade</p><p>e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos</p><p>religiosos. Quando falamos sobre a história ocidental moderna, a</p><p>secularização manifesta-se na retirada das Igrejas cristãs de áreas que antes</p><p>estavam sob seu controle e influência: separação da Igreja e do Estado,</p><p>expropriação das terras da Igreja, ou emancipação da educação do poder</p><p>eclesiástico (BERGER, 1985).</p><p>A secularização da civilização ocidental promoveu profundas mudanças na</p><p>cultura, arte, literatura e filosofia. Ela não é mais atraída por fenômenos religiosos e</p><p>ganha autonomia em um novo mundo em desenvolvimento. Nesse novo mundo, a</p><p>argumentação científica e a racionalidade, não são mais religiosas dogma, ele se</p><p>tornará a força motriz da sociedade e um elemento de identidade e fundação</p><p>institucional. Parece que a estrutura social da secularização não é suficiente, pode-</p><p>se observar no sistema, na cultura, na economia e nas relações de poder público-</p><p>estado que essa alienação da religião também ocorre no nível individual. Para</p><p>Berger,</p><p>[...] assim como há uma secularização da sociedade e da cultura, também há</p><p>uma secularização da consciência. Isso significa, simplificando, que o</p><p>Ocidente Moderno tem produzido um número crescente de indivíduos que</p><p>encaram o mundo e suas próprias vidas sem o recurso às interpretações</p><p>religiosas (BERGER, 1985).</p><p>17</p><p>Portanto, a crença religiosa começou a se manifestar como uma das várias</p><p>possibilidades no pensamento e comportamento pessoal. Portanto, a secularização</p><p>produziu diferenças em dois campos distintos: objetivamente, no campo social, o</p><p>status quo da supremacia religiosa foi quebrado. A religião tem sido um verdadeiro</p><p>instrumento de coesão durante séculos e proporciona à sociedade transcendência e</p><p>absolutismo. O fundamento da sociedade pode estabilizar a sociedade.</p><p>Subjetivamente, a consciência pessoal dos cidadãos que aderem a esse processo</p><p>não é mais pautada por dogmas, preceitos e rituais relacionados ao sagrado, mas</p><p>pela aceitabilidade e pela ciência.</p><p>Casanova (2007) mencionou três possíveis conotações em torno do conceito</p><p>de secularização clássica, a saber: o declínio das práticas e crenças religiosas, a</p><p>privatização das religiões e a distinção entre as esferas sociais. Max Weber provou</p><p>sua visão do papel da religião no processo de racionalização, realizando</p><p>experimentos no Ocidente, especialmente na Europa após a Reforma Protestante.</p><p>Quanto à primeira conotação, pode-se dizer que a secularização é um forte influxo</p><p>de reformas protestantes, o que determina um certo grau de dessantificação,</p><p>acompanhado de dúvidas e negações dos cânones religiosos romanos. Utilizando-</p><p>se das lições de Berger sobre a comparação entre os âmbitos de relacionamento do</p><p>fiel católico e do fiel protestante com o sagrado, pode-se perceber tal influência</p><p>reformista:</p><p>No entanto, se olharmos para essas duas constelações religiosas mais de</p><p>perto, o protestantismo pode ser descrito como uma grande redução do reino</p><p>sagrado na realidade em comparação com suas contrapartes católicas. O</p><p>dispositivo sacramental foi reduzido ao mínimo, mas foi privado de suas</p><p>qualidades mais sagradas. O milagre da missa também desapareceu. O</p><p>milagre menos comum, embora não totalmente negado, perdeu todo o</p><p>verdadeiro sentido da vida religiosa (BERGER, 1985).</p><p>No entanto, a primeira conotação de secularização, o declínio das crenças e</p><p>costumes religiosos, mostrou sinais de esgotamento ao longo do tempo. Atualmente,</p><p>estamos vendo o surgimento de novas religiões e seitas, entre as quais elementos</p><p>que inicialmente eram negados pelo protestantismo estão sendo cada vez mais</p><p>reintegrados em cultos e práticas de fé. No Brasil contemporâneo, basta sintonizar</p><p>a TV em um canal religioso ou ir para a próxima esquina, onde há um templo</p><p>neopentecostal de plantão, e o interessado ficará exposto a um integracionismo que</p><p>até há pouco tempo não esperado em uma igreja surgida a partir do movimento</p><p>18</p><p>protestante. Rosas, lenços, ternos usados por missionários, tijolos, medalhas,</p><p>travesseiros e muitos outros tipos de itens são adquiridos pelos crentes após serem</p><p>ungidos por padres, bispos, missionários ou apóstolos e se tornam crenças</p><p>elementais externalizadas. Esses elementos são destinados a ser canais de contato</p><p>com o divino para resolver os mais diversos problemas do cotidiano.</p><p>Além disso, o movimento de oração e as cruzadas incluíam rituais como a</p><p>travessia do “Vale do Sal”, “banho de descarga” e “Fogueira Santa”, mostrando</p><p>finalmente quantos rituais, mágicas e encantamentos este protestante possuía. Esta</p><p>parte é o Novo Pentecostalismo. No reino católico, a renovação da graça divina, com</p><p>seus dons, cura e mistério, demonstra seu poder como um fator que pode impedir</p><p>os crentes de deixarem as fileiras de pentecostais e neopentecostais. Além do</p><p>universo cristão, também houve um renascimento espiritual. Por exemplo, no</p><p>movimento "Nova Era", a fusão de várias doutrinas metafísicas, espiritualismo e</p><p>experiência superscientífica, bem como a proposta de fusão com o meio ambiente,</p><p>natureza e o universo (SOUZA; VIEIRA, 2016).</p><p>A privatização da religião é a segunda parte da secularização, que decorre da</p><p>visão de que a religião perderá seu poder como um veículo para guiar o</p><p>comportamento de indivíduos, sociedade e estados políticos nos países ocidentais</p><p>que a vivenciaram. No plano individual, dadas as escolhas múltiplas trazidas pela</p><p>Reforma, pode-se escolher entre as várias partes religiosas que surgiram, apoiando</p><p>o determinismo prevalecente no Ocidente durante a Idade Média, em que existe a</p><p>hegemonia católico-romana. A possibilidade de escolha – marca do individualismo e</p><p>do liberalismo – seria uma das inovações trazidas e que acabariam por corroborar</p><p>para o florescer da secularização. No plano social, diante das ofertas multirreligiosas,</p><p>a competição acabará por dissolver as forças históricas e culturais determinadas</p><p>pela hegemonia milenar católica e, se não sair, pelo menos suas características</p><p>públicas institucionalizadas serão enfraquecidas (SOUZA; VIEIRA, 2016).</p><p>Inversamente, da perspectiva de um estado político, a institucionalização de</p><p>uma determinada religião não será mais concebível, ou seja, é impossível para um</p><p>estado-nação adotar uma religião oficial. Inicialmente, isso permitirá ao país garantir</p><p>sua soberania e reduzir a possibilidade de ingerência religiosa em questões de</p><p>natureza política do Estado. Portanto, o que antes era público e institucionalizado na</p><p>religião não é mais o caso, e é punido com discriminação prejudicial por parte do</p><p>19</p><p>Estado, que prejudicou outras instituições religiosas. Ao</p><p>nível do sistema político,</p><p>esta consequência do fenômeno da privatização religiosa pode ser considerada</p><p>laicismo nacional.</p><p>Atualmente, alguns países reconhecem religiões oficiais, ou seja, são países</p><p>arrependidos e mantêm relações institucionais com as religiões, incluindo</p><p>contribuições financeiras públicas. É o caso da Igreja Anglicana, que, como</p><p>autoridade máxima, constitui o verdadeiro símbolo de unidade, o monarca britânico,</p><p>embora o país não tenha deixado de figurar na lista dos países europeus mais laicos.</p><p>Nesse sentido, Ranquetat Júnior assume a seguinte posição: “observam-se em</p><p>diversos países europeus sociedades altamente secularizadas, como a Inglaterra e a</p><p>Dinamarca, onde as práticas, os comportamentos religiosos declinam, mas que,</p><p>entretanto, não são estados laicos” (RANQUETAT JÚNIOR, 2007).</p><p>A terceira consequência da secularização apontada por Casanova, ou seja, a</p><p>distinção entre as esferas sociais, é totalmente válida na experiência ocidental. Até</p><p>hoje, em termos de direito, economia, política, arte, educação e outras esferas da</p><p>vida social, eles libertaram da autoridade da religião e não mais controlado pelo</p><p>sagrado. Antes considerada o núcleo em torno de outras partes da vida social, a</p><p>religião perdeu seu poder de persuasão e, na melhor das hipóteses, tornou-se um</p><p>dos elementos que ajudam a formar as relações institucionais e a satisfazer as mais</p><p>diversas aspirações da humanidade. Portanto, quando o racionalismo e a busca de</p><p>respostas científicas e utilitárias têm se tornado cada vez mais a chave para a</p><p>solução dos principais problemas humanos, a religião começa a desempenhar um</p><p>papel (CASANOVA, 2007).</p><p>3.3 Pós-secularização</p><p>Voltando ao problema da secularização, por motivos diversos, muitas das</p><p>consequências esperadas não se concretizaram, devendo referir-se cada vez mais</p><p>as expressões nos estudos religiosos, isto é, a "pós-secularização". A pós-</p><p>secularização que Habermas disseminou em suas pesquisas incluiu um cenário</p><p>social marcado pelo retorno da religião ao campo do debate público, superando o</p><p>conceito de franca secularização de que a religião se limita ao espaço privado e à</p><p>prática religiosa. Longe das expectativas geradas pelo processo de secularização, o</p><p>20</p><p>que hoje se considera uma manifestação de uma sociedade "pós-secular" é que o</p><p>discurso religioso participa cada vez mais das vozes que participam do debate.</p><p>Habermas, ao tratar do que considera uma sociedade pós-secular, assim se</p><p>pronuncia:</p><p>A expressão “pós-secular foi cunhada com o intuito de prestar às</p><p>comunidades religiosas reconhecimento público pela contribuição funcional</p><p>relevante prestada no contexto da reprodução de enfoques e motivos</p><p>desejados. Mas não é somente isso. Porque na consciência pública de uma</p><p>sociedade pós-secular reflete-se, acima de tudo, uma compreensão</p><p>normativa perspicaz que gera consequências no trato político entre cidadãos</p><p>crentes e não-crentes. Na sociedade pós-secular impõe-se a ideia de que a</p><p>“modernização da consciência pública” abrange, em diferentes fases, tanto</p><p>mentalidades religiosas como profanas, transformando-as reflexivamente</p><p>(HABERMAS, 2007).</p><p>Portanto, para Souza e Vieira (2016), a sociedade pós-laica deve atribuir</p><p>àqueles que acreditam na religião e aos que não possuem a mesma legitimidade</p><p>atributos de expressões de cidadãos participativos nas discussões públicas. Em</p><p>particular, o primeiro requer a aceitação das divergências existentes em face de seus</p><p>conceitos religiosos e dogmas, e mesmo a diversidade de credos existentes, para</p><p>que um diálogo construtivo possa ser estabelecido entre os crentes que acreditam</p><p>na religião, diferentes daqueles que não acreditam. Em segundo lugar, é</p><p>especialmente necessário admitir que, em face de uma vida tão curta, a ciência não</p><p>pode explicar todas as doenças humanas e seus desejos. Relacionado a isso está a</p><p>posição de que os crentes precisam reconhecer a legitimidade dos outros como</p><p>portadores de diferentes discursos; no final, essa posição não irá compensar coisas</p><p>que contradizem suas visões sobre certos aspectos da existência humana e suas</p><p>mudanças.</p><p>No que diz respeito ao aspecto subjetivo, a prática religiosa dos fiéis, na era</p><p>pós-secular, novas experiências religiosas estão em ebulição, e a (re) invenção de</p><p>nuances teológicas doutrinárias pode satisfazer as mais diversas aspirações do</p><p>mundo de hoje. As tradições antigas foram reexplicadas e reinseridas no contexto</p><p>religioso e cultural de hoje, de modo a atender às expectativas contemporâneas</p><p>como se fossem produtos forjados em uma economia capitalista em rápida</p><p>expansão. Parece haver uma relação cada vez mais interna entre as necessidades</p><p>pessoais / de sobrevivência e a provisão do mercado religioso, que pode satisfazer</p><p>21</p><p>tudo, desde as necessidades seculares e extraterrestres até as mais diárias - por</p><p>que não falar sobre secular - para segurança, sucesso profissional, prosperidade,</p><p>lazer, saúde e até carinho familiar. Como se não bastasse, a possibilidade de</p><p>experimentar o êxtase tornou-se um elemento que atrai a multidão, e a experiência</p><p>pessoal é valorizada em detrimento da tradição e do dogma. (SOUZA; VIEIRA, 2016).</p><p>Nesse sentido, Silveira destaca alguns aspectos do religioso que evidenciam o</p><p>contexto pós-secular:</p><p>As ideias de felicidade, bem-estar e cura são cotidianamente ditas e reditas,</p><p>circulando inventivamente em livros, canções, cultos e pregações de padres,</p><p>pastores, lideranças umbandistas, candomblecistas, espíritas, new age e</p><p>terapeutas esotéricos, entre outros. Ser feliz é direito, mandato divino ou</p><p>quase obrigação. O corpo é festa e mais que um simples objeto de prazer, é</p><p>hierofânico ou teofânico. Por isso, letras de música gospel, mantras hindus,</p><p>pontos de umbanda, entre outros, expressam redefinições semânticas que</p><p>enfatizam a alegria, o bem-estar, a superação do sofrimento e da dor,</p><p>constituindo o corpo como índice e critério de espiritualização (SILVEIRA,</p><p>2014).</p><p>Portanto, o poder criativo da religião ainda é óbvio, é claro, para sobreviver</p><p>em um mercado competitivo que oferece bem-estar, saúde e autorrealização. Este</p><p>é um fenômeno típico das relações de consumo capitalistas. Portanto, o efeito</p><p>esperado de redução da prática religiosa em decorrência da secularização não</p><p>existe de fato na realidade contemporânea, o que sustenta e fortalece em certa</p><p>medida o argumento da pós-secularização (SOUZA; VIEIRA, 2016).</p><p>3.4 Laicidade</p><p>22</p><p>Fonte: image/jpeg</p><p>A partir de agora, partimos da análise da secularidade, como já defendemos,</p><p>podemos entendê-la como o desdobramento da secularização, portanto, há uma</p><p>relação causal entre elas. A secularização está relacionada à macro sociedade,</p><p>incluindo todos os aspectos da vida social, como cultura, educação, arte, economia</p><p>e política, enquanto a secularização envolve o tratamento jurídico e político da</p><p>relação entre a religião e o Estado. Essa é a distinção feita por Ari Pedro Oro entre</p><p>secularização e pesquisa de secularismo: na verdade, secularização é muitas vezes</p><p>considerada sinônimo de secularização. Mas aqui também não há alinhamento</p><p>conceitual. O termo secularização, usado preferencialmente no contexto anglo-</p><p>saxônico, e o de laicização ou laicidade, usados nas línguas neolatinas, não se</p><p>recobrem totalmente. A secularização também inclui a sociedade e suas formas de</p><p>crença, enquanto o secularismo se refere à forma como o Estado se liberta de</p><p>qualquer referência religiosa (ORO, 2008).</p><p>Para Souza e Vieira, (2016) assim, dizer que existe um país secularista é</p><p>chamar a relação de seu sistema político diante da religião de posição neutra e justa.</p><p>Afinal, dada a diversidade das religiões, o Estado laico não se baseia em múltiplos</p><p>dogmas religiosos, mas em um contrato entre indivíduos de convivência pacífica e</p><p>harmoniosa baseado em valores como a cidadania e a dignidade humana. Nesse</p><p>caminho, o contrato social estabelecido entre pessoas e indivíduos é a pedra angular</p><p>do país, e não é mais um deus, uma existência sagrada e transcendente, ou mesmo</p><p>uma religião que o cultua.</p><p>A partir das lições de Huaco pode-se estabelecer os seguintes consectários da</p><p>laicidade:</p><p>1ª) separação orgânica e de funções entre o Estado e as igrejas;</p><p>2ª) fundamento secular como fonte de legitimação do Estado e de seus</p><p>princípios e valores;</p><p>3ª) inspiração secular das normas legais e das políticas públicas estatais;</p><p>4ª) imparcialidade em face das diferentes orientações filosóficas ou religiosas</p><p>e suas cosmovisões e</p><p>5ª) abstenção do Estado em manifestações de fé dos diversos seguimentos</p><p>religiosos.</p><p>23</p><p>É de se dizer, contudo, que essas consequências da laicidade não podem ser</p><p>concebidas como algo dado, acabado, mas como algo em construção e em constante</p><p>evolução.</p><p>A separação orgânica entre o país e as várias igrejas que existem no seu</p><p>território é a face mais importante e evidente do laicismo. Na verdade, se não houver</p><p>separação orgânica, é impossível falar em secularismo, embora, como vimos, se</p><p>possa falar da experiência de países seculares como a Grã-Bretanha e a Dinamarca.</p><p>A separação orgânica se traduz em autonomia mútua entre a esfera do estado</p><p>político e as associações religiosas. Portanto, as decisões tomadas nessas duas</p><p>áreas são independentes e autônomas, não havendo necessidade de se falar em</p><p>recursos ou apelações ao tribunal da igreja diante da decisão da jurisdição da</p><p>agência, ou mesmo da agência judiciária, para intervir em sua decisão.</p><p>Esse é o magistério de Mouffe (2006),</p><p>Falar de separação Igreja e Estado, portanto, é uma coisa; outra é falar de</p><p>separação entre religião e política; e outra ainda é falar de separação entre o</p><p>público e o privado. O problema está no fato de que esses três tipos de</p><p>separação são às vezes apresentados como de algum modo equivalentes e</p><p>requisitando-se mutuamente. A consequência disto é que a separação entre</p><p>Igreja e Estado é vista como implicando a exclusão de todas as formas</p><p>religiosas da esfera pública (MOUFFE, 2006).</p><p>O segundo aspecto da laicidade é a base laica como fonte de legalização do</p><p>Estado e de seus princípios e valores, o que significa que as pessoas a quem é</p><p>concedida a soberania e, portanto, têm o poder fundador da própria entidade estatal</p><p>são a fonte de seu valor e sua padronização. Considerando a diversidade religiosa,</p><p>mesmo para aqueles que acreditam que a crença e a adoração de deuses não são</p><p>importantes, construir um país baseado em valores religiosos ainda é impraticável e</p><p>muitas vezes irreconciliável, pois a diversidade de crenças limitará os direitos de</p><p>quem discorda.</p><p>Dignidade humana, fraternidade, amor e respeito pelos outros, e a</p><p>inalienabilidade do direito à vida, bem como muitos outros valores relacionados às</p><p>mais diversas partes da religião, acabam se transformando em valores públicos ao</p><p>invés de valores exclusivo para a religião. Portanto, política e religião não devem ser</p><p>vistas como classes opostas, pois um diálogo saudável pode ser estabelecido entre</p><p>uma posição secularizada e uma cosmovisão religiosa para se chegar ao consenso</p><p>ou pelo menos o resultado da tolerância quando possível. Portanto, por exemplo, se</p><p>24</p><p>considerando a nova estrutura familiar, como a existência de relações entre pessoas</p><p>do mesmo sexo, não é razoável que o Estado adote o princípio cristão da unidade</p><p>familiar, que consiste em homens, mulheres e crianças. Não é razoável impedir o</p><p>Cristianismo. Também não é razoável espalhar sua fé e se opor a essa prática</p><p>pecaminosa e violar os preceitos bíblicos que eles admiram, porque essa</p><p>cosmovisão se tornará uma das possibilidades para moldar as relações familiares</p><p>na sociedade de hoje (WEBER, 2013).</p><p>Com a vitória do racionalismo jurídico formalista, surgiu no Ocidente o tipo</p><p>ideal de domínio, lado a lado com os tipos transmitidos. O governo burocrático</p><p>não era, e não é, a única variedade da autoridade legal, mas constitui a sua</p><p>forma mais pura. [...] na autoridade legal, a submissão não se baseia na</p><p>crença e dedicação às pessoas carismaticamente dotadas, como profetas e</p><p>heróis, ou na tradição sagrada, ou na devoção aos possíveis ocupantes de</p><p>cargos e prebendas legitimados por si mesmos, através de privilégio e da</p><p>concessão. A submissão à autoridade legal baseia-se antes num laço</p><p>impessoal a um ‘dever de ofício’ funcional e definido de modo geral. O dever</p><p>de ofício – como o direito correspondente de exercer a autoridade: a</p><p>‘competência de jurisdição’ – é fixado por normas estabelecidas</p><p>racionalmente, através de decretos, leis e regulamentos, de tal modo que a</p><p>legitimidade da autoridade se torna a legalidade da regra geral, que é</p><p>conscientemente desenvolvida, promulgada e anunciada com uma correção</p><p>formal (WEBER, 2013).</p><p>Nesse sentido, pode-se dizer que legisladores ou administradores não podem</p><p>estabelecer normas jurídicas e políticas públicas baseadas em dogmas ou princípios</p><p>religiosos, mesmo que existam nas principais crenças religiosas da sociedade e</p><p>sejam punidos com a proibição do livre exercício de seus direitos. Aqueles que não</p><p>aceitam essa crença religiosa. Afinal, a função do Estado não é salvar almas ou levar</p><p>pecadores ao arrependimento, este é o tom de muitas religiões, mas proporcionar</p><p>bem-estar, paz e segurança a todas as pessoas em seu território.</p><p>A quarta característica laicidade proposta por Huaco (2008) é a neutralidade</p><p>das questões religiosas, devendo ser dito que empiricamente falando, o Estado e as</p><p>questões religiosas não são estranhos. Ao estipular regulamentos como permitir a</p><p>assistência religiosa em locais de detenção coletiva, garantir a liberdade de culto e</p><p>organização religiosa e conceder isenções de impostos às igrejas, como na</p><p>experiência do Brasil, o Estado não deve ser considerado uma instituição indiferente,</p><p>e o contrário da religião é mesmo mais importante, não o suficiente. Ao contrário de</p><p>países que proíbem religiões como a Albânia e a extinta União Soviética, nos países</p><p>25</p><p>laicos a religião é considerada um importante fator de integração social e não pode</p><p>ser rejeitada por meio de políticas públicas nacionais.</p><p>A quinta característica do secularismo é que ele não permite que o Estado</p><p>participe da expressão da fé, o que significa a distinção entre os aspectos públicos</p><p>e privados das relações sociais e jurídicas estabelecidas. Ao contrário do que</p><p>aconteceu durante a monarquia brasileira, o estado não pode patrocinar templos ou</p><p>expressões religiosas. Nem pode a disciplina religiosa envolvendo uma única</p><p>religião, mesmo que seja opcional, ser incluída no currículo oficial da educação,</p><p>porque causará desigualdade odiosa e irracional na formação religiosa de um país</p><p>neutro. No entanto, vale ressaltar que isso não exclui a possibilidade de cooperação</p><p>entre o país e as diversas igrejas de seu território estabelecido, conforme preconiza</p><p>a Constituição Brasileira (art. 19, § 1º), desde que essa cooperação tenha por</p><p>objetivo a satisfação do público, interesse, em vez de espalhar os valores e dogmas</p><p>de uma tendência religiosa particular.</p><p>Os cinco sectários laicidade identificados por Huaco (2008) ajudam a</p><p>compreender melhor esse fenômeno e permitem que as pessoas reflitam sobre até</p><p>que ponto esse princípio foi implementado no Brasil. Observa-se que devido às</p><p>raízes históricas do país, as religiões, principalmente as religiões cristãs e católicas,</p><p>ainda são bastante comuns na esfera pública brasileira, impossibilitando a</p><p>concretização plena do laicismo.</p><p>3.5 Laicismo</p><p>26</p><p>Fonte: resistencia.cc/wp-content</p><p>O laicismo se identifica como uma espécie de militância antirreligiosa, numa</p><p>cruzada que busca a redução do papel da religião na sociedade.</p><p>Huaco, ao discorrer sobre as nuances do laicismo, afirma que,</p><p>O laicismo é uma</p><p>expressão do anticlericalismo decimonômico, que propõe a</p><p>hostilidade ou a indiferença perante o fenômeno religioso coletivo que pode</p><p>acabar radicalizando a laicidade, sobrepondo-a aos direitos fundamentais</p><p>básicos como a liberdade religiosa e suas diversas formas de expressão.</p><p>Poderia se dizer que consiste em uma forma de sacralização da laicidade</p><p>que, por isso, acaba por negá-la. Por exemplo, como quando em benefício</p><p>de uma ‘neutralidade da escola pública’ se proíbe que os alunos crentes</p><p>portem livremente símbolos religiosos que definam sua identidade pessoal</p><p>(HUACO, 2008).</p><p>Portanto, o secularismo, mesmo que oculto por alguns de seus seguidores -</p><p>às vezes se intitulando seculares - tem uma forte conexão com a exclusão da religião</p><p>da esfera pública. Diferente do ambiente laico, no contexto laico a religião não pode</p><p>ter relação com a instância do poder estatal, sendo inclusive proibida ao Estado</p><p>cooperar com a Igreja para a satisfação do interesse público. Além disso, na visão</p><p>do secularismo, ele não apenas rejeita a relação entre religião e Estado, mas</p><p>também rejeita a expressão de qualquer forma de conotação religiosa na esfera</p><p>pública, difama o discurso religioso e o considera sem sentido. Portanto, entende-se</p><p>que o afastamento da religião da esfera pública – nítida proposta laicista – é medida</p><p>de viés antidemocrático e contrária à proteção da liberdade religiosa, garantia que</p><p>deve ser salvaguardada pelo Estado de Direito com todo empenho e vigor. Nesse</p><p>diapasão, pode-se inferir, agora a partir das lições de Habermas (2007), a proscrição</p><p>dessa concepção laicista:</p><p>O Estado liberal possui, evidentemente, um interesse na liberação de vozes</p><p>religiosas no âmbito da esfera pública política bem como na participação</p><p>política de organizações religiosas. Ele não pode desencorajar os crentes</p><p>nem as comunidades religiosas de se manifestarem também, enquanto tal de</p><p>forma política, porque ele não pode saber de antemão se a proibição de tais</p><p>manifestações não estaria privando, ao mesmo tempo, a sociedade de</p><p>recursos importantes para a criação de sentido (HABERMAS, 2007).</p><p>Desse modo, a proposta laica não é uma escolha razoável no contexto de um</p><p>país democrático de direito, pois não permite que as religiões participem das</p><p>discussões internas da sociedade, impedindo-a de se tornar uma das vozes</p><p>autorizadas a fazer uma proposta eficaz para a comunidade em geral.</p><p>27</p><p>4 PENTECOSTALISMO E NEOPENTECOSTALISMO</p><p>Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com</p><p>Atualmente 22,2 % da população brasileira é de denominação protestante</p><p>(BRASIL, 2019), crescendo 61% em número de adeptos nos últimos dez anos</p><p>(MUNDO CRISTÃO, 2020).</p><p>Dentre as muitas vertentes do cristianismo, o pentecostalismo tem se</p><p>destacado no Brasil pelo número de adeptos e mais recentemente por sua forte</p><p>influência política. A principal característica desse movimento é a importância dada</p><p>aos milagres divinos, ao combate à “demônios” e a ênfase dada ao bem-estar material</p><p>do indivíduo, o que chamamos de “teoria da prosperidade” (OLIVEIRA e ALVES,</p><p>2013).</p><p>De acordo com Mariano (1995) as igrejas surgidas a partir da década de 1970</p><p>que apresentam comportamento liberal, afastando-se do ascetismo protestante</p><p>original e com tendências a investir em atividades empresariais, políticas, culturais e</p><p>assistenciais, tendem a ser denominadas neopentecostais. No início da década de</p><p>1980, o neopentecostalismo que se encontrava circunscrito as grandes cidades e</p><p>capitais, começa a adentrar as cidades do interior do país, graças aos meios de</p><p>comunicação de massa. Com esses eventos, o neopetencostalismo já não era restrito</p><p>aos grandes centros, pois adentrou o interior do Brasil graças aos programas de rádio</p><p>e TV alugados e à ação de missionários que levavam a palavra e fundavam igrejas</p><p>(OLIVEIRA e ALVES, 2013).</p><p>O fato das igrejas pentecostais possuírem, além de igrejas posicionadas em</p><p>locais estratégicos da comunidade, editoras, gravadoras e estações de rádio e</p><p>28</p><p>televisão, alcançam locais onde ONGs, sindicatos e movimentos sociais não</p><p>alcançam (VITAL DA CUNHA, 2012). Para GGN (2019) esse aumento significativo de</p><p>contingente de neopentecostais na política reflete a perda de ligação da igreja católica</p><p>e das igrejas protestantes históricas com as camadas populares. Mostrando assim a</p><p>capacidade que estas igrejas têm de se adaptar, mesmo que momentaneamente, a</p><p>novas situações.</p><p>Quando estas denominações religiosas são colocadas em confronto com temas</p><p>polêmicos para as sociedades atuais, não existe consenso sobre esses temas e em</p><p>alguns casos mesmo dentro de uma mesma denominação não existe consenso</p><p>(VITAL DA CUNHA, 2012). Outra das características do neopentecostalismo é o forte</p><p>apego à “teologia da prosperidade”. Tornando a espiritualidade não somente mediada</p><p>pelo dinheiro, mas centrada no dinheiro (SILVA, 2009).</p><p>Uma das expressões da teologia da prosperidade percebida é o fato de que o</p><p>neopentecostalismo tem sido apontado como um segmento religioso fortemente</p><p>fomentador do consumo e de atividades de lazer, sendo na maioria das vezes,</p><p>perfeitamente adaptada a uma sociedade de consumo ocidental, tendo</p><p>descaracterizado totalmente o modo de pensar do segmento do qual se originou</p><p>(OLIVEIRA e ALVES, 2013).</p><p>A Bíblia é clara ao dizer que os cristãos devem devolver seu dízimo, ou seja,</p><p>de dez por cento de suas rendas. Porém:</p><p>Existe hoje, um número significativo de denominações cristãs que extrapolam</p><p>os ensinamentos bíblicos, transformando-se em verdadeiras empresas de</p><p>exploração financeira dos crentes. Certos pregadores da chamada “teologia</p><p>da prosperidade” chegam a prometer aos fiéis que, se forem generosos em</p><p>suas dádivas, poderão até escolher antecipadamente as “bênçãos” a serem</p><p>reivindicadas de Deus. Entre as opções, estão o tipo de casa e a marca de</p><p>carro que desejam ter, bem como o saldo da conta bancária que mais lhes</p><p>agrada. Agora, se a tal “bênção” não acontece como prometida, a culpa é</p><p>sempre atribuída aos próprios doadores que não exerceram a “fé” necessária</p><p>para isso! (TIMM, 2019)</p><p>Segundo Corrêa e Vale (2017), a secularização do Estado e a</p><p>desregulamentação do mercado religioso tem como consequência o surgimento de</p><p>opções religiosas, a maioria fortemente ativistas. Havendo uma ampla gama de</p><p>opções religiosas com as mais diversas orientações morais, possibilitando ao fiel</p><p>escolher aquela que mais lhe agrada. Isto segundo os autores é consequência natural</p><p>do racionalismo imposto pela modernidade.</p><p>29</p><p>O homem pós-moderno é retratado por BAUMAN (2009) como possuindo as</p><p>características: pluralidade, secularização, racionalidade e imersão no universo. O</p><p>pentecostalismo, mais particularmente seus componentes humanos, possuem todas</p><p>essas características, exceto o racionalismo. Sendo “O retorno ao sagrado, ao</p><p>esotérico, ao demoníaco e o culto ao mal, são fenômenos da pós-modernidade.”</p><p>(MELCHIOR, 2009, p. 5). Nesse contexto, o neopentecostalismo se vê em contato</p><p>com religiões de outras matrizes. Por se tratar de um conjunto de crenças que tem</p><p>como argumento central a dualidade entre o bem e o mal, é muito comum ocorrerem</p><p>rituais de exorcismo no qual o sacerdote expulsa o demônio do corpo de um fiel. Na</p><p>maior parte das igrejas neopentecostais a entidade é denominada como sendo um</p><p>orixá da matriz afrobrasileira (OLIVEIRA e ALVES, 2013; DIAS e ANDRADE, 2011).</p><p>Para MORAES (2010), a capacidade de “ressignificação” é o elemento chave para o</p><p>sucesso das igrejas neopentecostais no Brasil:</p><p>O fulcro do Pentecostalismo é essa flexibilidade, que lhe permite insistir em</p><p>existir de forma criativa, adaptando-se às novidades que despontam de</p><p>tempos em tempos na estruturação da sociedade brasileira, mesmo que esta</p><p>se apoie em pilares antigos como o sentimentalismo, a perspectiva intuitiva e</p><p>o pensamento mágico, em matéria de religião. O Pentecostalismo aproveita</p><p>esses</p><p>princípios e muda conforme a necessidade do momento. (MORAES,</p><p>2010, p. 12).</p><p>Essa dualidade se expressa de tal maneira, que é componente essencial para</p><p>a atuação de determinadas denominações neopentecostais. Ocorre nesse tipo de</p><p>culto a incorporação de práticas próximas àquelas encontradas em rituais das</p><p>religiões afro-brasileiras e espiritismo (OLIVEIRA e ALVES, 2013).</p><p>30</p><p>5 O ENSINO RELIGIOSO E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR</p><p>(BNCC)</p><p>Fonte: i.ytimg.com</p><p>A Base Curricular Comum Nacional (BNCC) fez uma proposta para coordenar</p><p>a educação no Brasil. “Tanto no Brasil quanto em diversos países do mundo, o</p><p>processo de padronização dos currículos da educação básica está em constante</p><p>expansão” (SANTOS; DINIZ-PEREIRA, 2017, p. 282). Essa padronização é de</p><p>caráter federal, abrangendo instituições de ensino públicas e privadas, e para que</p><p>diferentes aprendizados se consolidem nas diferentes etapas da educação básica.</p><p>O BNCC é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagem</p><p>básica orgânica e progressiva que todos os alunos devem desenvolver em todas as</p><p>etapas e modalidades do ensino básico, para que seja garantido o seu direito de</p><p>aprender e desenvolver-se de acordo com o previsto no Plano Educação Nacional</p><p>(PNE).</p><p>O ensino religioso no BNCC não é mais apenas um componente curricular,</p><p>mas sim uma área do conhecimento, assim como outras áreas que se consolidaram</p><p>no sistema educacional brasileiro (BRASIL, 2017, p. 27). Entre as idas e vindas das</p><p>diferentes versões da base, o espaço do ensino religioso é reconhecido na versão</p><p>aprovada deste importante documento nacional de educação. Embora faça parte do</p><p>currículo do ensino fundamental brasileiro há muitos anos, só recentemente adquiriu</p><p>características semelhantes a outros componentes curriculares.</p><p>31</p><p>O Ensino Religioso (ER), como disciplina no currículo escolar, passou nas</p><p>últimas três décadas, por processos de ressignificação e reestruturação pedagógica.</p><p>Uma complexa rede de relações políticas e interesses de grupos configurou o campo</p><p>do ER no sistema de ensino. Essa configuração de forças, todavia, ainda convive no</p><p>seio do aparelho estatal, com disputas pela hegemonia de suas crenças e conquistas</p><p>de legitimidade e poder (SILVA, 2018, p. 61).</p><p>No próprio texto do BNCC, no contexto histórico da educação religiosa,</p><p>descreve a natureza de confissão e doutrina da existência e comportamento dos</p><p>componentes curriculares que dominaram o campo da educação por muito tempo.</p><p>Como sabemos hoje, a educação religiosa é o resultado de grandes investimentos</p><p>históricos feitos por instituições gestoras de ensino e instituições que realizam</p><p>pesquisas acadêmicas no campo da educação religiosa (WACHHOLZ 2015, p. 19).</p><p>A construção histórica da educação religiosa não pode ser realizada da noite para o</p><p>dia e precisa de uma reflexão profunda.</p><p>Dentro da BNCC o Ensino Religioso passa a ter como objeto de estudo o</p><p>conhecimento religioso que, em um primeiro momento, não compactua com</p><p>tendências confessionais e catequéticas e permanece como oferta obrigatória para as</p><p>instituições de ensino público, sendo facultativo para o corpo discente (Art. 33, da Lei</p><p>9394|96). A Base propõe que o Ensino Religioso atinja os seguintes objetivos:</p><p>a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos, culturais e</p><p>estéticos, a partir das manifestações religiosas percebidas na realidade dos</p><p>educandos;</p><p>b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de consciência e de</p><p>crença, no constante propósito de promoção dos Direitos Humanos;</p><p>c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam para o diálogo</p><p>entre perspectivas religiosas e seculares de vida, exercitando o respeito à liberdade</p><p>de concepções e o pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal;</p><p>d) Contribuir para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida</p><p>a partir de valores, princípios éticos e da cidadania (BRASIL, 2017, p. 436).</p><p>A Base Nacional Comum Curricular estabeleceu dez habilidades gerais que os</p><p>alunos precisam cultivar em todo o processo de ensino básico e ensino. Sabemos</p><p>que habilidade é uma palavra polissêmica, talvez por isso, o BNCC enfatiza o</p><p>significado de habilidade:</p><p>32</p><p>[...] competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos</p><p>e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),</p><p>atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do</p><p>pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p.8).</p><p>Em termos de ser recomendado como habilidades, tem como objetivo</p><p>mobilizar e mudar ideias e atitudes ao longo do processo de formação dos alunos</p><p>da educação básica. Portanto, essa mobilização é para um exercício, uma prática</p><p>cívica. Ao analisar cada uma das dez habilidades propostas pela base, buscam-se</p><p>vários elementos com diferentes valores, a proposição do diálogo e a compreensão</p><p>dos diferentes aspectos culturais são muito claros. O termo "alteridade" é repetido</p><p>neste documento regulamentar. É importante frisar que mesmo que vislumbre os</p><p>últimos acontecimentos que estão a circular no mundo da educação, mas ao mesmo</p><p>tempo que apresentem uma tendência mais conservadora e fundamentalista, a</p><p>proposta do BNCC caminha também para um espaço de diálogo, convívio e</p><p>valorização cultural. Deve-se enfatizar que a competência geral perpassa todo o</p><p>currículo da educação básica. Aqui, não estamos falando sobre a particularidade do</p><p>ensino religioso, mas sobre todos os componentes curriculares que fazem parte do</p><p>processo educacional (COSTA FERREIRA, 2019).</p><p>Em termos de ensino religioso, o posicionamento da base preconiza a</p><p>pesquisa e o diálogo como forma de atingir habilidades específicas no ensino</p><p>religioso do ensino fundamental. Segundo Linz e Cruz (2017, p. 144), a educação</p><p>religiosa proposta pelo BNCC tem seus aspectos pedagógicos “baseados na</p><p>importância do aluno e de sua vivência, e nos princípios de compreensão, respeito</p><p>e convivência”. Podemos vislumbrar essa prerrogativa nas seguintes competências</p><p>estabelecidas para o Ensino Religioso:</p><p>1-Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos</p><p>religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos,</p><p>estéticos e éticos.</p><p>2-Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias</p><p>de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e</p><p>territórios.</p><p>3-Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza,</p><p>enquanto expressão de valor da vida.</p><p>4-Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos</p><p>de ser e viver.</p><p>5-Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura,</p><p>da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio</p><p>ambiente.</p><p>6-Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de</p><p>intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a</p><p>33</p><p>assegurar os Direitos Humanos no constante exercício da cidadania e da</p><p>cultura de paz (BRASIL, 2017, p. 437)</p><p>As habilidades específicas apresentadas são distribuídas no currículo do</p><p>ensino fundamental. Deve-se enfatizar que atualmente não há recomendações</p><p>sobre o ensino religioso nas escolas de ensino médio. Portanto, todas as questões</p><p>aqui estabelecidas classificam-se na educação básica do ensino religioso em sentido</p><p>estrito. Porém, no texto introdutório do ensino médio, a base contém a missão da</p><p>escola: “Promover o diálogo, a compreensão e a resolução não violenta de conflitos,</p><p>para que se expressem opiniões e pontos de vista diferentes, diferentes ou opostos</p><p>(BNCC, p. 467) Na escola secundária, também há tentativas de iniciar</p><p>pressuposições pacíficas.</p><p>É importante notar que existem diferenças nas expectativas da educação</p><p>religiosa nas diferentes fases da educação básica. Portanto,</p>